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Tiragem: 13613 País: Portugal Period.: Diária Âmbito: Economia, Negócios e. Pág: 4 Cores: Cor Área: 23,00 x 27,65 cm² Corte: 1 de 5 ID: 55884485 26-09-2014 O que separa Seguro e Costa na economia? Pouco ou mesmo nada Márcia Galrão e Marta Moitinho Oliveira [email protected] Costa chegou a admiti-lo e Segu- ro insistiu nessa tecla toda a cam- panha: é pouco aquilo que dis- tingue em termos de programa económico e social os dois candi- datos às primárias do PS. Por isso, a linha de orientação de um futuro primeiro-ministro socia- lista - seja Seguro ou Costa - não será divergente. É na atitude e na capacidade de impor uma nova agenda de mudança económica e social que os economistas ouvi- dos pelo Diário Económico no- tam a grande diferença entre os dois candidatos. Costa fica em vantagem nesta análise. Há ainda um outro ponto dis- tinto que acompanhará o futuro líder de um Governo PS consoan- te ganhe um ou outro: Seguro comprometeu-se mais, fez mais promessas e terá uma margem mais curta para inovar quando for confrontado com o poder. Costa, por seu lado, foi muito cauteloso durante toda a campanha, evitou comprometer-se com medidas concretas e foi sempre dizendo que a seu tempo apresentará um programa de Governo. Manuel Caldeira Cabral, um independente próximo do PS, afirma que “não é na parte eco- nómica que os dois candidatos apresentam mais diferenças”. “Ambos têm uma visão de estra- tégia de consolidação orçamental diferente da do actual Governo e que dá mais ênfase ao crescimen- to económico, mantendo uma consolidação mais moderada”, justifica. Aliás, num estudo pu- blicado pelo Instituto de Políticas Públicas Thomas Jefferson - Cor- reia da Serra, os autores - entre eles o economista Paulo Trigo Pe- reira - defendem que é possível respeitar as regras do Tratado Or- çamental e, ao mesmo tempo, Primárias Domingo, 230 mil eleitores escolhem o candidato do PS a primeiro-ministro. Ao Diário Económico, os economistas apontam poucas diferenças entre os dois programas económicos. deixar deslizar a meta do défice de 2015 dos actuais 2,5% para 2,9%. Esta revisão em alta permi- tirá uma redução do défice estru- tural de, pelo menos, 0,5 pontos percentuais do PIB, como exigem as regras do Tratado Orçamental. Além disso, Caldeira Cabral salienta outro aspecto em que, na política económica, Seguro e Costa estão unidos. Os dois apoiam uma alteração da posi- ção portuguesa na União Euro- peia e da própria UE, mais ainda quando já surgem líderes euro- peus a destacar a necessidade de dar mais espaço ao crescimento económico. Até porque, por exemplo, no caso do Tratado Or- çamental, os dois candidatos têm dúvidas quanto à sua execu- ção. Seguro é mais taxativo ao dizer que a Europa precisa de um novo Tratado. Já Costa defende uma “leitura inteligente” do ac- tual documento (ver infografia). José Reis, professor da Facul- dade de Economia da Universi- dade de Coimbra, acredita que o que separa os dois candidatos são as capacidades de liderança. “O que os distingue é a capacidade de afirmação de uma linha polí- tica e da capacidade para a ro- bustecer”, afirma o economista. Assumindo que o país precisa de uma “rotação da política econó- mica”, lembra que é necessário “força política para impor essas mudanças”. Lembra, por isso, que Seguro “terá uma base de política económica organizada, mas ninguém o ouve, nem reve- lou o clique para a difusão no país das alternativas. Quero admitir que com Costa essa possibilidade existe”, até porque lembra que o autarca de Lisboa “tem essa ca- pacidade para consensos”. Uma opinião partilhada por Manuela Arcanjo, que admite ser uma apoiante de Costa e que re- corda que já nos governos por onde passou, o autarca era conhe- cido pela capacidade de negocia- ção que acabou por transpor para os acordos políticos que conse- guiu fazer em Lisboa e que permi- tiram um maioria no executivo camarário. A ex-secretária de Es- tado do Orçamento lembra que “sendo os dois do mesmo partido, há uma linha ideológica que natu- ralmente é comum” e o caminho, quer seja um ou outro primeiro- -ministro, “é estreito”. Ainda as- sim, acredita que Costa tem “per- sonalidade mais forte, é mais afir- mativo”, o que “vai ser importan- te no caso do PS não ter maioria”, diz a economista. Manuel Caldeira Cabral reco- nhece que a forma de exercer a liderança “reflecte-se sempre na forma de executar” as políti- cas, mas o mais importante é que o próximo líder seja capaz de “unir o partido e alargar a sua base de apoio para poder vencer as eleições legislativas com maioria absoluta”. Seguro encurtou a sua margem de manobra enquanto primeiro- -ministro, fazendo promessas que terá de cumprir, sob pena de ter de se demitir (como garantiu que aconteceria se tivesse de quebrar a a promessa de não aumentar impostos). Também assegurou que irá reduzir o IVA da restaura- ção e repor os cortes que foram feitos a pensionistas e a funcioná- rios públicos. É certo que acabou a campanha a fazer depender essa reposição do crescimento econó- mico, mas no caso dos impostos poderá ter de dar muitas voltas para consolidar as contas sem au- mentar a carga fiscal. Costa não se comprometeu com soluções para a dívida pú- blica, evitou falar em impostos e dizer como reformará a Segu- rança Social. No domingo, serão 230 mil os simpatizantes e mili- tantes que vão escolher quem será o melhor candidato do PS a primeiro-ministro. Unidade Seguro acha que tem “melhores condições para unir”. Costa fala já como se fosse o vencedor e desvaloriza desunião. Com as primárias decididas no próximo domingo, o PS chega a segunda-feira com um ou dois problemas urgentes. A divisão profunda resultante de uma luta centrada em ataques pessoais e com acusações duras é certa. E se António Costa for o vencedor, haverá uma segunda: terá um candidato a primeiro-ministro, mas um secretário-geral derrota- do, que mesmo se demitindo dei- xará um vazio de poder até novas directas. Costa ou Seguro terão pela frente um duro trabalho para vol- tar a unir o partido. O secretário- -geral está convencido de ter “melhores condições” para levar a cabo essa tarefa, lembrando que, ao longo destes três anos, D DESTAQUE PRIMÁRIAS NO PS “Seguro terá uma base da política económica organizada, mas ninguém o ouve. Quero admitir que com Costa essa possibilidade existe”, diz José Reis. “O caminho para a saída da crise, ganhe Costa ou Seguro, é estreito. Ambos já afirmaram que um dos elementos chave será o crescimento económico”, diz Manuela Arcanjo. Manuel Caldeira Cabral diz que “não é na parte económica que os dois candidatos apresentam mais diferenças”.

ID: 55884485 26-09-2014 Corte: 1 de 5 D DESTAQUE … · uma leitura inteligente do ac-tual documento (ver infografia). José Reis, professor da Facul-dade de Economia da Universi-dade

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Page 1: ID: 55884485 26-09-2014 Corte: 1 de 5 D DESTAQUE … · uma leitura inteligente do ac-tual documento (ver infografia). José Reis, professor da Facul-dade de Economia da Universi-dade

Tiragem: 13613

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Economia, Negócios e.

Pág: 4

Cores: Cor

Área: 23,00 x 27,65 cm²

Corte: 1 de 5ID: 55884485 26-09-2014

O que separa Seguroe Costa na economia?Pouco ou mesmo nadaMárcia Galrãoe Marta Moitinho [email protected]

Costa chegou a admiti-lo e Segu-ro insistiu nessa tecla toda a cam-panha: é pouco aquilo que dis-tingue em termos de programaeconómico e social os dois candi-datos às primárias do PS. Porisso, a linha de orientação de umfuturo primeiro-ministro socia-lista - seja Seguro ou Costa - nãoserá divergente. É na atitude e nacapacidade de impor uma novaagenda de mudança económica esocial que os economistas ouvi-dos pelo Diário Económico no-tam a grande diferença entre osdois candidatos. Costa fica emvantagem nesta análise.

Há ainda um outro ponto dis-tinto que acompanhará o futurolíder de um Governo PS consoan-te ganhe um ou outro: Segurocomprometeu-se mais, fez maispromessas e terá uma margemmais curta para inovar quando forconfrontado com o poder. Costa,por seu lado, foi muito cautelosodurante toda a campanha, evitoucomprometer-se com medidasconcretas e foi sempre dizendoque a seu tempo apresentará umprograma de Governo.

Manuel Caldeira Cabral, umindependente próximo do PS,afirma que “não é na parte eco-nómica que os dois candidatosapresentam mais diferenças”.“Ambos têm uma visão de estra-tégia de consolidação orçamentaldiferente da do actual Governo eque dá mais ênfase ao crescimen-to económico, mantendo umaconsolidação mais moderada”,justifica. Aliás, num estudo pu-blicado pelo Instituto de PolíticasPúblicas Thomas Jefferson - Cor-reia da Serra, os autores - entreeles o economista Paulo Trigo Pe-reira - defendem que é possívelrespeitar as regras do Tratado Or-çamental e, ao mesmo tempo,

Primárias Domingo, 230 mil eleitores escolhem o candidato do PS a primeiro-ministro. Ao DiárioEconómico, os economistas apontam poucas diferenças entre os dois programas económicos.

deixar deslizar a meta do déficede 2015 dos actuais 2,5% para2,9%. Esta revisão em alta permi-tirá uma redução do défice estru-tural de, pelo menos, 0,5 pontospercentuais do PIB, como exigemas regras do Tratado Orçamental.

Além disso, Caldeira Cabralsalienta outro aspecto em que,na política económica, Seguro eCosta estão unidos. Os doisapoiam uma alteração da posi-ção portuguesa na União Euro-peia e da própria UE, mais aindaquando já surgem líderes euro-peus a destacar a necessidade dedar mais espaço ao crescimentoeconómico. Até porque, porexemplo, no caso do Tratado Or-çamental, os dois candidatostêm dúvidas quanto à sua execu-ção. Seguro é mais taxativo aodizer que a Europa precisa de umnovo Tratado. Já Costa defendeuma “leitura inteligente” do ac-tual documento (ver infografia).

José Reis, professor da Facul-dade de Economia da Universi-dade de Coimbra, acredita que oque separa os dois candidatos sãoas capacidades de liderança. “Oque os distingue é a capacidadede afirmação de uma linha polí-tica e da capacidade para a ro-bustecer”, afirma o economista.Assumindo que o país precisa deuma “rotação da política econó-mica”, lembra que é necessário“força política para impor essasmudanças”. Lembra, por isso,que Seguro “terá uma base depolítica económica organizada,mas ninguém o ouve, nem reve-lou o clique para a difusão no paísdas alternativas. Quero admitirque com Costa essa possibilidadeexiste”, até porque lembra que oautarca de Lisboa “tem essa ca-pacidade para consensos”.

Uma opinião partilhada porManuela Arcanjo, que admite seruma apoiante de Costa e que re-corda que já nos governos poronde passou, o autarca era conhe-

cido pela capacidade de negocia-ção que acabou por transpor paraos acordos políticos que conse-guiu fazer em Lisboa e que permi-tiram um maioria no executivocamarário. A ex-secretária de Es-tado do Orçamento lembra que“sendo os dois do mesmo partido,há uma linha ideológica que natu-ralmente é comum” e o caminho,quer seja um ou outro primeiro--ministro, “é estreito”. Ainda as-sim, acredita que Costa tem “per-sonalidade mais forte, é mais afir-mativo”, o que “vai ser importan-te no caso do PS não ter maioria”,diz a economista.

Manuel Caldeira Cabral reco-nhece que a forma de exercer aliderança “reflecte-se semprena forma de executar” as políti-cas, mas o mais importante éque o próximo líder seja capazde “unir o partido e alargar asua base de apoio para podervencer as eleições legislativascom maioria absoluta”.

Seguro encurtou a sua margemde manobra enquanto primeiro--ministro, fazendo promessas queterá de cumprir, sob pena de terde se demitir (como garantiu queaconteceria se tivesse de quebrara a promessa de não aumentarimpostos). Também assegurouque irá reduzir o IVA da restaura-ção e repor os cortes que foramfeitos a pensionistas e a funcioná-rios públicos. É certo que acabou acampanha a fazer depender essareposição do crescimento econó-mico, mas no caso dos impostospoderá ter de dar muitas voltaspara consolidar as contas sem au-mentar a carga fiscal.

Costa não se comprometeucom soluções para a dívida pú-blica, evitou falar em impostos edizer como reformará a Segu-rança Social. No domingo, serão230 mil os simpatizantes e mili-tantes que vão escolher quemserá o melhor candidato do PS aprimeiro-ministro. ■

UnidadeSeguro acha que tem “melhorescondições para unir”. Costafala já como se fosse o vencedore desvaloriza desunião.

Com as primárias decididas nopróximo domingo, o PS chega asegunda-feira com um ou doisproblemas urgentes. A divisãoprofunda resultante de uma lutacentrada em ataques pessoais ecom acusações duras é certa. E seAntónio Costa for o vencedor,haverá uma segunda: terá umcandidato a primeiro-ministro,mas um secretário-geral derrota-do, que mesmo se demitindo dei-xará um vazio de poder até novasdirectas.

Costa ou Seguro terão pelafrente um duro trabalho para vol-tar a unir o partido. O secretário--geral está convencido de ter“melhores condições” para levara cabo essa tarefa, lembrandoque, ao longo destes três anos,

D DESTAQUE PRIMÁRIAS NO PS

“Seguro terá umabase da políticaeconómicaorganizada, masninguém o ouve.Quero admitir quecom Costa essapossibilidadeexiste”, diz JoséReis.

“O caminho para asaída da crise, ganheCosta ou Seguro, éestreito. Ambos jáafirmaram que umdos elementos chaveserá o crescimentoeconómico”, dizManuela Arcanjo.

Manuel CaldeiraCabral diz que“não é na parteeconómica que osdois candidatosapresentam maisdiferenças”.

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Tiragem: 13613

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Economia, Negócios e.

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Área: 23,00 x 27,28 cm²

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NÚMEROS

no partido é preocupação central pós-primáriasREGULAMENTO

Guia para votarAs eleições primárias doPS decorrem no próximodomingo, dia 28 deSetembro, entre as 9he as 19h. Será possívelvotar nas sedes dasestruturas locais do PSpor todo o país. Osmilitantes terão de votarobrigatoriamente nasecção de residência.Os simpatizantes votarãonas assembleiaseleitorais de residênciacorrespondentes àfreguesia onde estãorecenseados. Para votaré preciso apresentarum documento oficialde identificação.

150 milNum processo inédito, o PS conseguiuangariar 150 mil simpatizantespara votar nas primárias.

90 milÉ o número de militantes do PS, emboranas eleições federativas, menos de 40 miltivesse capacidade para votar.

990 milAs audiências dos debates foram descendo.Se o primeiro teve 1,5 milhões de telespectadores,o último não chegou a um milhão.

Infografia: Mário Malhão | [email protected]

sempre “contribuiu para essaunião”. Mas como ficará a relaçãode António José Seguro, porexemplo, com os senadores dopartido, aqueles que acusou defazerem parte do “partido invisí-vel” ligado a interesses e negó-cios? E como reage no futuro umsecretário-geral que viu MárioSoares dizer publicamente que“se quisesse ter um gesto de pa-triotismo, em vez de dizer asnei-ras, como está a dizer, demitia-se- porque ainda podia salvar qual-quer coisa, mas se não o fizer saimuito mal”? Ao Diário Económi-co, o secretário nacional EuricoBrilhante Dias não mostrou gran-de preocupação neste ponto: “Opartido tem uma história de 40anos e ela vai continuar, mas o PSnão tem senadores”.

Convencido da vitória, Costadiz que agora é tempo de o par-tido “se concentrar naquilo queé importante - os problemas do

país e como os resolver”. E em-bora até diga que “o PS não estádividido”, admite que “há [in-ternamente] algumas bolsas deacrimónia, mas são facilmenteultrapassáveis no seu conjunto”.Os seus apoiantes estão conven-cidos que Costa tem todas ascondições para voltar a unir opartido, até porque dizem queprocurou ter mais contençãonos ataques durante esta cam-panha exactamente para acau-telar o futuro do partido. “Elevai ter a inteligência de chamarlogo dois ou três dos apoiantesdo Seguro para o seu lado”, as-sume um dos apoiantes do au-tarca. Também António Vitori-no, que recentemente manifes-tou apoio a Costa, apontou essaunidade como o “trabalho maisurgente” e disse acreditar que oautarca de Lisboa é aquele queestá em melhores condiçõespara o conseguir.

No dia seguinte, os candidatosterão outras decisões a tomar. Se-guro já disse que se demite, masnão é claro como é que fica o PSaté novas directas e Congresso,apontado apenas para Dezembro.E fica o secretário-geral comodeputado na Assembleia da Re-pública? Quanto a Costa, comoirá conviver com a direcção so-cialista até essas directas ? Se ga-nhar sai de imediato da Câmarade Lisboa cedendo o lugar a Fer-nando Medina, ou acumula du-rante uns meses as duas funções?A indicação que o Diário Econó-mico tem é que Costa manter-se--á como presidente da capital atéser eleito secretário-geral, apesarde publicamente já ter confirma-do que vai manter-se como Pre-sidente da Câmara Municipal deLisboa até às eleições legislativas2015. E se perder? Fica como pre-sidente de Câmara e esquece quetentou ser líder do PS? ■ M.G.

“Seguro, sequisesse ter umgesto depatriotismo, emvez de dizerasneiras, comoestá a dizer,demitia-se”,defendeu ontemMário Soares.

“O partido temuma história de40 anos e ela vaicontinuar[com Segurona liderança],mas o PS não temsenadores”,diz EuricoBrilhante Dias.

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Tiragem: 13613

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Economia, Negócios e.

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Área: 23,00 x 27,65 cm²

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D DESTAQUE PRIMÁRIAS NO PS

PSD preparamudança deestratégia seCosta ganhar

Inês David [email protected]

Oficialmente e publicamente odiscurso do PSD passa por ten-tar desvalorizar uma preferên-cia pelo adversário do PS quecorrerá ao lado de Passos nas le-gislativas de 2015. Para o PSD, éindiferente que ganhe Seguroou Costa nas primárias do pró-ximo domingo. Mas este é o dis-curso oficial. Nos bastidores osentimento é outro. E nos basti-dores o PSD sabe que terá demudar a estratégia e o discursose o autarca ganhar.

Não é fácil encontrar entre ossocial democratas e os membrosdo Governo quem diga que gos-tava que Seguro perdesse aseleições. Pelo contrário. “Óbvioque António Costa será um ad-versário mais difícil para o Go-verno”, diz ao Económico umdirigente ‘laranja’, reflectindoum pensamento transversal aopartido. Aliás, na São Caetano àLapa já se diz que Passos terápoucas hipóteses frente a Antó-nio Costa numas legislativasporque, na sequência de trêsanos de austeridade, o partidotem até “perdido uma parte doseu núcleo duro de eleitores”.Isto é, aquela franja de eleitoresque vota sempre PSD. É aquique a estratégia de Passos teráde mudar, embora o primeiro--ministro não se canse de ga-rantir que se recusa a actuar emtermos eleitoralistas. Seja pelaseleições ou não, o PSD e o Go-verno já começaram a aligeirar

o discurso austero, tentandouma mensagem mais positiva eoptimista. O aumento do saláriomínimo nacional já foi um pas-so, mas o Governo e o PSD estãojá a trabalhar noutras formas dedesapertar um pouco o cintoaos portugueses. “É necessáriorecuperar eleitorado PSD que seperdeu e indecisos”, adianta aoEconómico um deputado so-cial-democrata.

A opinião expressa pelo ex--líder do PSD Marcelo Rebelode Sousa no seu último comen-tário é aquela que todos dizemem surdina mas dificilmenteassumem publicamente: “Decoração quero que ganhe Segu-ro, pela razão digo que vai ga-nhar Costa”.

Ao longo dos anos em queesteve (e ainda está) à frente doPS António José Seguro foi ga-nhando eleições, mas nuncacom uma expressão que desseao PS a garantia de uma vitóriae que significasse uma capitali-zação do desgaste do Governo.Antes de Costa avançar, Passose a sua ‘entourage’ estava con-fiante numa vitória em 2015.Mas o autarca de Lisboa sur-preendeu não só o secretário--geral do PS como o próprioGoverno ao desafiar Seguro. Nasede do PSD tocaram de ime-diato os alarmes. E os social--democratas começaram a fi-car nervosos.

Se António Costa ganhar nodomingo, Passos e o PSD sa-bem que terão de preocupar-senão apenas com a governaçãomas com a estratégia de oposi-ção ao autarca. Seguro era vistocomo um candidato que nãoconseguia grande fôlego. Costaé visto no PSD como “um ad-versário forte e com carisma”.E “mais facilmente vai capita-lizar o descontentamento como Governo do que Seguro”, re-mata um histórico do PSD. Do-mingo, joga-se o futuro do PSmas também do PSD. ■

Eleições Oficialmente, São Caetano à Lapa tentadesvalorizar vencedor no PS. Masnos bastidores todos temem vitória de Costa.

Não se encontraentre a maioriados deputadose militantes quemdiga que gostavaque Seguro perdesse.

ATAQUES PESSOAIS DOMINARAM DEBATES TELEVISIVOS

“António Costa foi desleal e traiu o PS (...) Violouuma regra do PS: todos os líderes do PS tiverama possibilidade de disputar legislativas (...) “Istotem duas palavras: deslealdade e traição”.

“Tenho-te ouvido comevangélica paciência.”

É um gesto de arrogânciaque te fica mal.”

“Tu tratas comotraidores e inimigos osteus camaradas e nãofoste capaz de fazerfrente ao Governo.”

“Há um partido invisívelde poderes fáticos [e]as pessoas que estãoassociadas a essesinteresses apoiamAntónio Costa.”

Candidato-me porum imperativo deconsciência” e “o paísestá num impasse.”

Miguel A. Lopes / POOL / Lusa

José Sena Goulão / POOL / Lusa

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Tiragem: 13613

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Economia, Negócios e.

Pág: 7

Cores: Cor

Área: 4,81 x 25,48 cm²

Corte: 4 de 5ID: 55884485 26-09-2014

MANUEL FALCÃODirector-Geral da Nova Expressão,Planeamento de Media e Publicidade

As estações de televisão não tive-ram razão de queixa com os resul-tados obtidos nas transmissõesdos debates entre os candidatos àsprimárias do PS: na generalidadeseguraram as respectivas audiên-cias em pleno horário nobre. Nãohouve surpresas, ou seja, o debatemais visto foi o primeiro, queaconteceu na TVI, em segundolugar ficou o da SIC e em terceiro oda RTP. A ordem corresponde àordem de emissão, mas sobretudoà ordem de audiências médias ob-tidas por estes canais. Outros ca-lendários ou outra ordem deemissão não teriam certamenteprovocado grandes alterações.

Fazendo as contas verifica-seque 3,7 milhões de espectadoresseguiram o conjunto dos três de-bates. Claro que uma percenta-gem, admito que significativa,viu todas as conversas, o que fa-ria diminuir o número total depessoas impactadas. Na melhordas hipóteses os candidatos con-seguiram, no total, interessarmenos de metade do universo detelespectadores.

O debate inaugural, na TVI, a 9de Setembro, foi visto por milhãoe meio de pessoas – o que quer di-zer que existia uma razoável cu-riosidade sobre o que os candida-tos diriam. Era lícito pensar aliásque a TVI, pelo seu histórico deaudiências naquele horário, teriaa maior audiência dos três debatese foi isso que aconteceu. Não sepercebe portanto porque é queAntónio Costa se preparou tão malpara aquele momento. Logo nodia a seguir a SIC teve menos 300mil espectadores e os comentado-res oscilam entre dizer que o re-sultado da oratória foi um empateou uma ligeira vitória de Costa. Jáno terceiro debate, que foi o maisduro em termos de ataques pes-soais, os comentadores dão a vi-tória a Costa – mas a última con-versa teve apenas 990 mil espec-tadores. Feitas as contas Costaperdeu uma oportunidade, apesarde ser quem tem maior experiên-cia de presença em televisão. ■

DEBATES SEGURO-COSTA

Audiênciassem surpresas

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Âmbito: Economia, Negócios e.

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Área: 17,19 x 11,36 cm²

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Domingo, 230 mil eleitores escolhem ocandidato do PS a primeiro-ministro. O Diário

Económico ouviu economistas sobre o que une eo que separa os dois programas económicos. A

unidade do partido é a preocupação centraldepois da votação. ➥ P4 A 7

Saiba o quesepara Costa

e Segurona economia

ELEIÇÕES PRIMÁRIAS NO PS