128
A IGREJA EVANGÉLICA LUTERANA DO BRASIL NO NORDESTE E SEU DESAFIO PARA A PASTORAL URBANA WALDYR HOFFMANN

IELB NO NORDESTE

Embed Size (px)

DESCRIPTION

A presença da Igreja Evangélica Luterana do Brasil na região Nordeste

Citation preview

Page 1: IELB NO NORDESTE

1

A IGREJA EVANGÉLICA LUTERANA DO BRASIL NO NORDESTE E SEU DESAFIO PARA A PASTORAL URBANA

WALDYR HOFFMANN

Page 2: IELB NO NORDESTE

2

Diagramação e CapaLeandro R. Camaratta

RevisãoAline Lorentz Sabka

Assistente EditorialDaiene Bauer Kühl

EditorNilo Wachholz

ConcórdiaE d i t o r a

Av. São Pedro, 633 - São GeraldoPorto Alegre - RS - CEP 90230-120editora@editoraconcordia.com.brwww.editoraconcordia.com.brFone: (51) 3272.3456Fax: (51) 3272.3482

Page 3: IELB NO NORDESTE

3

WALDYR HOFFMANN

A IGREJA EVANGÉLICA LUTERANA DO BRASIL NO NORDESTE E SEU DESAFIO

PARA A PASTORAL URBANA

Dissertação apresentada e submetida à avaliação pelo Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil para obtenção de Título de

Mestre em Teologia.

ORIENTADORA Profa. Dra. Joyce E.W. Every-Clayton

RECIFE2008

Page 4: IELB NO NORDESTE

4

WALDYR HOFFMANN

A IGREJA EVANGÉLICA LUTERANA DO BRASIL NO NORDESTE E SEU DESAFIO PARA A

PASTORAL URBANA

Dissertação apresentada ao Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil como requisito parcial para obtenção do título de Mestre

em Teologia

Aprovado em 07 de abril de 2008

BANCA EXAMINADORAProf. Dr. Zaqueu Moreira de Oliveira

Prof. Dr. Roberto SchulerProf. Dr. Ney Silva Ladeia

Profa. Dra. Joyce E.W. Every-Clayton - Orientadora

Page 5: IELB NO NORDESTE

5

RESUMO

Este trabalho tem como foco a inserção da IELB no Nordeste. Ela tem um crescimento lento na região e, por isso, se torna objeto de aná-lise. O objetivo é examinar a caminhada de algumas frentes missio-nárias da IELB no Nordeste, nas capitais, especialmente, a fim de tirar lições de sua inserção neste contexto, visando a uma pastoral urbana mais expressiva. A pesquisa foi feita a partir de referenciais teóricos e entrevistas realizadas com pastores e membros da denominação, da região. Traz um relato histórico – síntese – da inserção dos alemães no Brasil, a formação da IELB e sobre as primeiras cidades alcançadas com o Luteranismo no Nordeste. Além disso, traz a visão de missão da IELB bem como algumas de suas principais estratégias missionárias de implantação no Brasil. A análise atual da atuação na região é feita especialmente a partir das entrevistas. As considerações finais visam a uma inserção missionária mais eficaz na região.

Palavras chaves: IELB, Nordeste, Evangelismo e crescimento lento.

Page 6: IELB NO NORDESTE

6

ABSTRACT

This work focuses on the IELB’s integration in the Northeast. It has a slow growth in the region and, for this reason is the object of our analysis. The goal is to examine the growth of some of the IELB missionary fronts in the Northeast, in the capitals especially, in order to draw lessons from its insertion in this context, with a view to a more expressive urban pastoral activity. The research was made using theo-retical material, and interviews held with pastors and church members in the region. It brings a history - synthesis - of the German insertion in Brazil, the formation of the IELB and the first cities reached with Lu-theranism in the Northeast. Besides, it brings IELB’s vision of mission as well as some of its main missionary strategies in Brazil. The analysis of the current performance in the region is made especially from the interviews. The final consideration points the way for a more effective missionary insertion in the region.

Key Words: IELB, Northeast, Evangelism and slow growth.

Page 7: IELB NO NORDESTE

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................. 7

1 A INSERÇÃO DO LUTERANISMO NA REGIÃO NORDESTE A PARTIR DE 1950 ..................................................................... 12

1.1 Os imigrantes alemães no Brasil; uma síntese .................... 131.2 A formação da IELB; uma síntese histórica .......................... 181.3 A formação histórica da religiosidade brasileira e nordestina 211.4 As primeiras cidades alcançadas ........................................ 26

1.4.1 Salvador ................................................................... 281.4.2 Recife ...................................................................... 301.4.3 Campina Grande ..................................................... 321.4.4 João Pessoa ............................................................. 331.4.5 Aracaju .................................................................... 341.4.6 Maceió ................................................................... 361.4.7 Natal ........................................................................ 361.4.8 Fortaleza .................................................................. 37

1.5 Dificuldades nas missões ................................................ 37

2 CONCEITO DE MISSÃO NA IELB E PRÁTICAS MISSIONÁRIAS 412.1 Conceito de Missão na IELB ............................................ 41

2.1.1 O evangelismo começa com Deus ............................ 432.1.2 O pecado torna o evangelismo urgente e necessário 442.1.3 O evangelismo está centrado em Jesus Cristo .......... . 452.1.4 O Espírito Santo e o evangelismo ............................. 462.1.5 Evangelismo é Cristo para todos ............................... 472.1.6 Evangelismo requer envolvimento pessoal ............... 48

2.2 Projetos ou estratégias missionárias usadas na IELB ......... 492.2.1 PEM (Programa de Evangelização e Mordomia) ......... 502.2.2 Projeto Macedônia .................................................... 532.2.3 Projeto Felipe ............................................................ 542.2.4 Treinamento “Cristo para todos” ................................ 552.2.5 Festival Missionário .................................................. 56

2.3 Missões e a conservação da identidade denominacional .... 58

Page 8: IELB NO NORDESTE

8

3 A REALIDADE DO LUTERANISMO NO NORDESTE ................ 633.1 Análise da situação atual das Igrejas Luteranas no Nordeste 643.2 Razões do lento crescimento da IELB no Nordeste ............. 68

3.2.1 Formação dos pastores ........................................... 683.2.2 Qualificação dos pastores como evangelistas ........ 763.2.3 O pastor e a cultura local ........................................ 773.2.4 Equipando os santos ................................................. 793.2.5 O afastamento de membros ...................................... 803.2.6 Falta de empenho das congregações ......................... 853.2.7 A família moderna e o crescimento da igreja ............... 863.2.8 Compromisso com a Palavra .................................... 863.2.9 Semelhança com a Igreja Católica ........................... 873.2.10 Portas abertas ......................................................... 893.2.11 Distribuição de tarefas ........................................... 893.2.12 Baixo número de pastores ...................................... 903.2.13 Mensagens ............................................................... 913.2.14 Culto, liturgia e música ........................................... 933.2.15 Pentecostalismo ....................................................... 973.2.16 Liberdade cristã e disciplina .................................... 973.2.17 Finanças ................................................................... 983.2.18 Tempo de Doutrinamento para Profissão de Fé ........ 99

CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................... 101

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................ 107

ANEXOS ANEXO A – Grupos familiares; um exemplo ............................ 112ANEXO B – Projeto Festival Missionário ................................. 113ANEXO C – Liturgia Luterana ................................................... 115ANEXO D – Questionário para pastores .................................... 122ANEXO E – Questionário para membros ................................ 124

Page 9: IELB NO NORDESTE

9

INTRODUÇÃO

Estudar a trajetória missiológica de uma determinada denomi-nação num contexto multicultural é, sem dúvida, um grande desafio. Ao mesmo tempo, numa época em que muitas igrejas buscam ou se enquadram num mercado da fé, perceber o seu caminhar evangelísti-co poderá trazer luz para aquilo que uma denominação é ou oferece para a sociedade.

A trajetória da inserção da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (doravante neste trabalho apresentada pela sigla IELB1) em terras brasi-leiras é cheia de desafios, incógnitas, alegrias, avanços e fracassos, ao ponto de requerer uma leitura crítica de tempos em tempos a fim de se buscar os porquês de seu crescimento lento. Mesmo contando com uns 230 mil membros batizados, segundo dados estatísticos de 20062, há motivos para análise no que diz respeito ao seu crescimento. No perfil da IELB na Região Nordeste do país em particular, vemos carac-terísticas de uma inserção difícil, bem como um histórico recheado de oportunidades em todo o seu tempo.

A atividade ministerial/pastoral no contexto nordestino tem sido um desafio constante para todos os pastores. Se por um lado qualquer denominação evangélica tem seus pressupostos teológicos e doutrinários, por outro deve ampliar a sua visão quanto ao ambien-te em que atua, mas sem perder a sua identidade. A Igreja Luterana tem sido demandada através de seus concílios a estar estrategicamen-te nas capitais do Nordeste, mas ao longo desses anos de inserção, o seu número de fiéis é reduzido, o que também é objeto de crítica por parte dos líderes em reuniões conciliares especialmente por não exis-

1 A IELB foi fundada em 24 de junho de 1904, em São Pedro do Sul, RS.2 Dados fornecidos à Direção Nacional, no site www.ielb.org.br/old/recursos/pdfs/Anuário07.pdf.

Page 10: IELB NO NORDESTE

10

tir na região uma estrutura financeira independente do Sínodo3 geral. Não se questiona os aspectos doutrinários porque esses não são

negociáveis, independentemente em que Estado a IELB esteja atuan-do. Porém, o mesmo não diz respeito à práxis missionária que ainda carece de um estudo mais detalhado e aprofundado a fim de se encon-trar caminhos mais adequados. Talvez o problema desta demora por estabelecer um caminho missionário possa estar na formação dos seus obreiros, distante da realidade de trabalho, uma vez que a formação toda está centralizada na Região Sul. Seminário e professores todos estão distantes da realidade do Nordeste o que dá um norte na con-dução do seu ensino que não contempla a região. Esporadicamente, por ocasião de algum encontro de pastores e líderes da região, um dos professores é convidado a estar presente. Porém, estas visitas são pontuais, o que torna ainda mais limitado o seu conhecimento in loco a fim de contribuir melhor na formação do candidato ao ministério pastoral para a região.

Com exceção de três, os pastores que atuam no Nordeste neste momento são oriundos da Região Sul e isso vem se mantendo assim desde o início da missão. Estes pastores trazem a sua cultura, formação familiar e acadêmica para uma sociedade até então desconhecida, e têm que levar adiante o trabalho que lhes é proposto, limitados em conhecimento da realidade, e nem sempre dando continuidade ao trabalho do seu antecessor.

Um resultado de tudo isso é uma igreja fragilizada no ministé-rio pastoral, ilhada entre si, uma vez que a IELB contempla as regiões metropolitanas de Salvador, Aracaju, Maceió, Recife, João Pessoa, Natal e Fortaleza4. Uma exceção à regra é a cidade de Campina Grande que sai do roteiro das capitais5. Em cada Estado e capital há somente um pastor da IELB e este é o responsável por representá-la no seu local. E o agravante é a sua dependência financeira da admi-nistração central, especialmente tendo em vista o pouco crescimento numérico de sua membresia na região, hoje contando com 1284

3 Sínodo, palavra de origem grega, sin, junto, odós, caminho, significa “caminhada conjunta”.4 Os Estados do Piauí e Maranhão não serão contemplados neste trabalho.5 Estas cidades mencionadas serão o foco desta Dissertação.

Page 11: IELB NO NORDESTE

11

membros batizados, conforme estatística de 20066.A constatação desta realidade ao longo de uma experiência mi-

nisterial de 16 anos que tive na região levanta a seguinte problemática, norteadora da presente dissertação: a partir de um exame da cami-nhada de algumas frentes missionárias da IELB no Nordeste, quais as lições que poderiam ser apreciadas visando uma inserção mais expres-siva da referida denominação na região?

A nossa hipótese é que embora a IELB tenha dificuldade de in-serção na região por causa de um conjunto de fatores, tais como culto e liturgia, falta de evangelização mais efetiva, formação dos pastores inadequada para esta realidade, problemas internos, ela tem uma ba-gagem teológica que pode suprir tais dificuldades, havendo uma refor-mulação de sua ação missionária, adequando-a para a região.

O texto do trabalho contempla, num primeiro momento (capí-tulo 1), a inserção do Luteranismo no Nordeste a partir da década de 507, levando em conta dados que servem como base para os capítulos seguintes, tais como o germanismo e o que isso significou para o início das atividades da IELB na região. Também é apresentada uma síntese histórica da formação da IELB no Brasil bem como das primeiras ci-dades alcançadas pela IELB na Região Nordeste, salientando algumas dificuldades decorrentes dessa caminhada, especialmente tendo em vista o aspecto cultural e religioso da região que é peculiar à mesma. Até a década de 50, toda a ação da IELB estava na Região Sul, e a in-serção no Nordeste se deu a partir desta data em duas capitais, Recife e Salvador, e somente a partir da década de 80 nas demais cidades mencionadas neste trabalho. Trata-se, portanto, de um trabalho recen-te na maioria das capitais.

Para entendermos melhor a proposta missionária da IELB, estare-mos refletindo (capítulo 2) a respeito do conceito de missão na IELB e suas práticas missionárias, ressaltando especialmente a sua visão teoló-gica, suas estratégias e seus projetos missionários. Eles servem como pa-râmetro para a análise feita da realidade das igrejas na Região Nordeste.

6 Dados fornecidos à Direção Nacional da IELB, no site www.ielb.org.br/old/recursos/pdfs/Anuário07.pdf.7 Uma meta enfatizada nesta década foi a abertura de novos campos de trabalho onde a IELB ainda não estava presente, especialmente o Centro Oeste, Norte e Nordeste do Brasil.

Page 12: IELB NO NORDESTE

12

A fim de apurar alguns dados mais específicos desta caminhada (capítulo 3), foi feito um formulário de entrevista com os pastores da região e representantes leigos8 pertencentes às igrejas. As entrevistas foram reveladoras na medida em que expuseram elementos importan-tes para análise, servindo como balizadores para um entendimento mais aprofundado da questão em pauta. Elas revelam também o perfil de cada pastor e a membresia das igrejas (Uma gratidão especial aos colegas pastores e aos leigos que preencheram os questionários).

Estes aspectos apontam para algumas sugestões ou alternativas de ação (Considerações Finais) que poderiam possibilitar um cresci-mento da denominação na região.

A dissertação foi pautada em duas frentes: pesquisa bibliográfica e de campo, ambas importantes neste processo. Quanto à fundamentação teórica, as seguintes obras foram de grande valor: os livros de Paulo Wil-le Buss (Um Grão de Mostarda: a História da Igreja Evangélica Luterana do Brasil), Antônio Gouvêa Mendonça (Introdução ao Protestantismo no Brasil), Carlos H. Warth (Crônicas da Igreja), Martin Norberto Dreher (Igreja e Germanicidade; Estudo crítico da história da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil) e vários periódicos da IELB, especial-mente a revista Mensageiro Luterano9 e o Suplemento Teológico10.

Por mais difícil que seja olhar para a realidade de uma deno-minação, é preciso fazê-lo, resgatando a história, aprendendo com os erros do passado e olhando para as luzes que abrirão o caminho a ser seguido no futuro. O desafio de se ter uma ação mais efetiva, visando uma pastoral urbana mais adequada e afinada com a sua realidade sócio-cultural, continua para todas as igrejas. Por outro lado, é preciso fazer uma leitura crítica daquilo que de fato configura como modelo de intervenção missiológica para não cair num conteúdo teológico vazio, sob pretexto de segurar alguém na Igreja, um modismo que tem levado igrejas a perderem a sua identidade eclesiástica. Por isso, uma avaliação deve ser feita continuamente.

8 Leigo é um termo usado na IELB para indicar um membro da Igreja que não tenha a formação teológica, ou seja, não é pastor.9 O Mensageiro Luterano é uma revista mensal da IELB, publicado pela Editora Concórdia, de Porto Alegre.10 O Suplemento Teológico é produzido pelos professores e alunos do Seminário Concórdia, da IELB.

Page 13: IELB NO NORDESTE

13

No que diz respeito à delimitação do presente trabalho, o mes-mo não leva em conta a inserção de outros grupos evangélicos, mes-mo que sejam oriundos de imigrantes. Caso sejam mencionados, será na perspectiva de informação. Por isso, o foco principal será a IELB e a sua trajetória missionária na Região Nordeste.

Este trabalho, portanto, longe de ser a conclusão sobre o assun-to, é um simples ensaio. O ponto de vista não é definitivo, mas abre-se o leque para um aprofundamento da pesquisa, pois o objetivo princi-pal do mesmo é fornecer elementos para uma análise mais acurada e, a partir daí, fazer os julgamentos. Esta pesquisa, de caráter explorató-rio, não se respalda em dados estatísticos ou pré-categorização; as es-colhas das categorias de análise acontecerão à medida que as resposta dos entrevistados as revelarem.

Page 14: IELB NO NORDESTE

14

1 A INSERÇÃO DO LUTERANISMO NA

REGIÃO NORDESTE A PARTIR DE 1950

A IELB, fundada no Rio Grande do Sul em 1904, tinha uma inserção inicial maior nos Estados do Sul do país. Meio século mais tarde, ela se abriu para um novo desafio, a Região Nordeste do país. Entretanto, para entendermos melhor a trajetória da IELB no Nordeste, é preciso observar as suas raízes culturais desde a sua fundação. Como suas raízes são de uma cultura tradicional e conservadora11, esses ele-mentos acabam norteando a sua prática missionária em todo o país. Por isso, não podemos deixar de observar a sua origem, que passa a dar o norte da sua ação em solo brasileiro.

Cada região do país tem a sua particularidade. No caso especí-fico do Nordeste, seus elementos de cultura são singulares e represen-tam um desafio para qualquer denominação religiosa que queira se inserir na região. É necessário conhecer esta realidade a fim de que a prática missionária se torne mais eficaz.

Neste capítulo, portanto, queremos abordar esta inserção do Luteranismo no Nordeste, ressaltando a sua formação histórica e ob-servando cada passo desta entrada da IELB na região. Em cada local, uma estratégia, um modelo, de acordo com a compreensão do pastor que estava atuando, ou seja, o início de cada trabalho refletia o perfil de cada obreiro e a visão de cada um quanto à formação e fundação de novas igrejas luteranas.

11 Germânica, especialmente.

Page 15: IELB NO NORDESTE

15

1.1 Os imigrantes alemães no Brasil: uma síntese

A imigração foi possível com a abertura dos portos, tanto na Europa como no Brasil12. Abriu-se a possibilidade de imigrantes euro-peus tentarem a vida em outras partes do mundo, entre elas o Brasil. Os primeiros imigrantes a chegar ao país – depois dos portugueses – foram os alemães.

Os alemães vieram ao Brasil especialmente a partir do reina-do de D. João VI, que trouxe a coroa portuguesa ao Brasil e queria branquear a raça brasileira. Com os imigrantes alemães, veio também o Luteranismo. A “primeira leva de imigrantes radicou-se em Nova Friburgo, em 3 de maio de 1824, formando uma colônia de 334 imi-grantes acompanhados do seu pastor, Friedrich Oswald Sauerbronn (1784-1864)” (REILY, 2002, p. 58). Entre 1824 e 1829, “cerca de 4 mil alemães chegaram à região” (REHFELDT, 2003, p.19). Assim con-tinuou nos anos seguintes, e a maioria trouxe a sua religião protes-tante, formando pequenas comunidades independentes entre si, as-sistidas por pastores que também vinham voluntariamente da Europa para o Brasil.

Também em 1824, foi fundada a cidade de São Leopoldo, no Rio Grande de Sul. Este foi um marco inaugural da imigração alemã naquele Estado. Seu fluxo migratório foi estabelecido ainda no final do Primeiro Reinado, com o objetivo de ocupar terras ameaçadas pe-los vizinhos espanhóis e de equilibrar a economia do Sul, dominada pelos grandes latifúndios e pela pecuária extensiva. Há registros de que entre 1824 e 1830 cerca de sete mil alemães chegaram ao Rio Grande do Sul.

Um fator favorável era a promessa de subsídio oferecida pelo Governo Imperial13 àqueles que se fixavam na Região Sul, tendo em vista a necessidade do povoamento da mesma. Apesar da omissão do Governo Imperial, que cumpriu poucas das promessas feitas aos imigrantes, os alemães arrancaram seu sustento das terras, geralmente pouco férteis, a eles destinadas; uniram-se em grupos fechados para

12 Após a derrota de Napoleão e o fim do bloqueio continental imposto por ele.13 O governo procurou atrair gente, pagando a viagem, prometendo terras, semente, gado, material de construção e prometeu gozo de todos os direitos civis e liberdade de crença.

Page 16: IELB NO NORDESTE

16

preservar a cultura e as tradições de seu país de origem, e introduzi-ram na região culturas agrícolas até então desconhecidas. As vilas por eles fundadas transformaram-se em algumas das cidades mais promis-soras do Sul do Brasil.

Já em 1845, os alemães também chegaram ao Espírito Santo14, fixando-se ali, bem como nas regiões do Rio de Janeiro e São Paulo15. Eles tiveram papel importante num projeto colonizador com motiva-ções geopolíticas, idealizado e, em parte, implementado pelo Gover-no brasileiro, embora a imigração não estivesse restrita ao meio rural, e boa parte das colônias surgisse da iniciativa de companhias particu-lares com apoio dos governos provinciais.

Calcula-se que entre 1886 e 1936 o Brasil tenha recebido cerca de 280 mil imigrantes alemães, sendo que a maior parte dos primei-parte dos primei-ros imigrantes alemães no Brasil era composta de camponeses. Mas também vieram muitos artesãos que contribuíram para o início da in-dustrialização no Sul do país. Seu objetivo era procurar no Brasil con-dições para progredir social e economicamente, que não encontravam mais na Alemanha.

As comunidades alemãs aqui no Brasil mantiveram a língua materna por muitas décadas: “Usavam a língua materna nas igrejas e escolas, e muitos entenderam que a manuntenção do idioma era es-sencial à conservação da fé evangélica” (REILY, 2002, p. 58). O pastor Wilhelm Rotermund, fundador do Sínodo Rio-grandense16, em 1886, e da gráfica Rotermund, de São Leopoldo, falava de um espírito [Geist]

14 Os primeiros imigrantes foram da região de Hunsrück, na Alemanha. Eram 39 famílias, 26 luteranas e 13 católicas. Sua intenção era se fixar no Sul, onde o clima era semelhante ao de sua terra natal. Entretanto, D. Pedro II resolve desenvolver a região central do Espírito Santo, ainda habitado por índios bodocudos. Os imigrantes fixaram-se na região montanhosa e de clima ameno.15 A presença dos alemães foi importante para o desenvolvimento do comércio e da indústria local. Muitos deles eram engenheiros e mestres-de-obras, o que contribuiu também com o processo de urbanização. 16 Sínodo Rio Grandense – formado a partir das comunidades alemãs independentes do Rio Grande do Sul. Este Sínodo, juntamente com o Sínodo Evangélico Luterano de Santa Catarina, Paraná e outros Estados do Brasil, a Associação de Comunidades Evangélicas de Santa Catarina e Paraná e o Sínodo Evangélico do Brasil Central, formaram a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).

Page 17: IELB NO NORDESTE

17

alemão17, que era cultivado “falando alemão, pensando em alemão, vivendo à maneira alemã” (WILLEMS, 1940, p. 305). Rotermund afir-mava: “O cultivo da germanidade está no sangue da Igreja Evangélica, que, com razão, foi designada de fruto da união do Evangelho com o espírito germânico (DREHER, 1984, p. 92). Ou, nas palavras do pastor Max Dedekind na época: “acentua-se, com razão, com isso também o trabalho de nossa Igreja no sentido nacional e queremos ser e perma-necer alemães até a medula” (DREHER, 1984, p. 96).

Entretanto, isto também não foi fácil porque apesar do uso da língua materna ser um dos elementos imprescindíveis para a Igreja manter o seu status quo, houve necessidade de adequar-se ao novo momento. H. Richard Niebuhr (1992, p. 131) afirma:

De todas as igrejas europeias na América, salvo aquelas cuja língua nativa era o inglês, foi exigido que se ajustassem à nova língua. A questão da língua foi um dos mais difíceis problemas que as igrejas de imigrantes tiveram de enfrentar porque envolvia o problema de renascer em nova civilização.

Como viviam à margem da cultura brasileira, os imigrantes en-contravam na leitura bíblica e no culto doméstico uma forma para preservar a sua identidade e fé. Mesmo assim, as igrejas de imigrantes foram envolvidas em conflitos entre o grupo nativo e estrangeiro. Ha-via rivalidade religiosa e a necessidade de uma autoafirmação religio-sa por parte dos imigrantes18.

Entretanto, no que diz respeito à liberdade religiosa, o Gover-no deveria ter previsto que viriam muitos protestantes entre os colo-nos. Acontece que, pela Constituição do Império, de 1824, o art. 5º afirmava que “a Religião Católica Romana continuará a ser a religião oficial do Império e todas as outras religiões serão permitidas com seu culto doméstico ou particular, em casas para isto destinadas, sem

17 Os imigrantes e seus descendentes construíram uma cultura própria - a teuto-brasilidade -, distinta da alemã. Eles viviam uma espécie de esquizofrenia: tinham no Brasil a sua pátria, consideravam-se cidadãos brasileiros, recolhiam impostos, ajudaram no desenvolvimento econômico do país, mas consideravam-se ligados à nação alemã pela língua, costumes e espírito (Geist).18 A rivalidade religiosa se dava especialmente entre católicos e protestantes (luteranos).

Page 18: IELB NO NORDESTE

18

forma alguma exterior de templo”. Ou seja, a liberdade de confissão prometida aos colonos era inconstitucional. Por isso, seus cultos só podiam ser realizados em recinto privado, em casas que, por fora, não tivessem caráter de igreja. As mesmas dificuldades eram vividas quanto à validade civil de casamentos entre os protestantes, registros de filhos protestantes nascidos no Brasil, sepultamento de seus mor-tos, que foram regulamentados somente a partir de 1863. Em termos formais, a omissão do poder público diante dessas demandas conferia aos não adeptos da religião oficial o status de “cidadãos de segunda categoria”(DREHER, 1984, p. 58), um quadro que persistiu até a sepa-ração entre Igreja e Estado com a Proclamação da República no Brasil.

Por outro lado, devido à união, em 1817, dos luteranos e refor-mados, na Prússia, o que coincidiu com o início da imigração alemã para o Brasil,

a influência do Pietismo19 já tendia a diminuir a importância das distinções confessionais e o decreto unionista do rei oficialmente as obliterou. As primeiras comunidades que se formaram no Brasil, portanto, não eram nitidamente luteranas senão igrejas protestantes alemãs sem muita preocupação denominacional (REILY, 2002, p. 202).

Portanto, isto significa que não havia uma pressão externa no convívio da fé diária. “Não tendo surgido como resultado de esforço missionário do exterior, as igrejas protestantes alemãs nunca estiveram propriamente sujeitas a juntas missionárias alemãs20, muito embora recebessem obreiros e outros auxílios de lá” (REILY, 2002, p.202). Elas, portanto, nasceram de organização das comunidades existentes e não de missão. Com isso, apontam para a sua pouca característica missionária, e o trabalho, propriamente dito, consistia numa manuten-ção das comunidades existentes. Há também quem perceba um déficit

19 Movimento religioso do século XVII, que sublinhava a experiência do crente com Deus, sua condição de pecador e o caminho para a sua salvação. Salientava a necessidade de conversão individual e do nascer de uma nova conduta, desapegada do mundo material e firmada no apoio mútuo da comunidade reunida em culto ao redor do estudo da Bíblia.20 Ao contrário do protestantismo de missão que estavam vinculados a seus países de origem.

Page 19: IELB NO NORDESTE

19

eclesiológico nesse protestantismo autônomo pela falta de instâncias normativas capazes de orientar as comunidades no tocante a sua “mis-são a cumprir” (DREHER, 1984, p.57).

Essa característica também esteve presente no início do Lutera-nismo no Nordeste a partir da década de 1950. E ainda hoje, como a maioria dos pastores que trabalham na Região Nordeste é oriunda de comunidades com esta mentalidade, isso também estabelece o seu perfil de ação, não adquirindo suas igrejas características missionárias tal como se é requerido.

As igrejas luteranas foram sendo implantadas em várias cidades do Sul e tinham a característica de serem independentes entre si, não vinculadas a um sínodo [os sínodos foram organizados mais tarde, como é o caso da IELB, formada em 1904]. Além disso, em sua forma de culto é provável que cada pastor trazia sua liturgia da Alemanha e a adaptava aqui. Carl Joseph Hahn (1989, p. 98) afirma:

Os missionários eram, portanto, de modo geral francamente conservadores em teologia, havendo indícios de que os pastores que acompanhavam os imigrantes alemães e suiços-alemães trouxeram com eles as liturgias históricas usadas em suas respectivas regiões e tentavam adaptá-las às difíceis condições do novo mundo.

Como a prática litúrgica não foi a primeira grande preocupação de Lutero, cada região, onde o Luteranismo estava presente, adotava uma forma litúrgica que levava em conta a essência litúrgica, porém adequan-do-a de acordo com o seu local. Hahn, analisando o fato, argumenta:

Lutero não se apressou em fazer uma liturgia evangélica até que todos entendessem a teologia que estava por trás da liturgia. Esta visão do Reformador é a que os modernos liturgistas devem ter em mente se eles verdadeiramente aspirarem ir ao coração e aos propósitos da Igreja Reformada. A liturgia deve enraizar-se na teologia e expressar a teologia (HAHN, 1989, p. 91).

Apesar de tudo isso, as igrejas luteranas no Brasil ainda preser-vam os principais elementos da liturgia da Reforma.

Page 20: IELB NO NORDESTE

20

Em meio a esta imigração germânica, a vinda de protestantes, luteranos, e que se uniam em pequenas comunidades, necessitando de pastores que conduzissem o rebanho, as igrejas assim fundadas acabaram se filiando e formando alguns sínodos no Brasil. Entre esses sínodos, como já vimos, está a IELB, uma iniciativa de pastores vindos dos Estados Unidos, no final do século XIX e início do século XX. O que segue é uma síntese histórica da fundação da IELB.

1.2 Fundação da IELB: síntese histórica

No início do século XX, a pedido do pastor Johann Friedrich Brutschin que trabalhava em Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, a Igreja-mãe21, do Sínodo de Missouri22, dos Estados Unidos, enviou ao Brasil o pastor Christian J. Broders que, no dia 24 de junho de 1904, fundou, em São Pedro do Sul, a Igreja Evangélica Luterana do Brasil, com aproximadamente três mil membros, tendo W. Mahler como seu primeiro presidente.

Durante praticamente toda a primeira metade do século XX, na IELB, era comum a língua germânica. Somente por um período curto da Segunda Guerra mundial é que foi proibida a língua germânica. O teólogo Mário L. Rehfeldt (2003, p. 31) conta que “a maioria dos mem-bros do Sínodo de Missouri [...] era de origem germânica e que a lín-gua falada era, ainda, a língua alemã” ou, conforme Hans-Jürgen Prien (2001, p. 525), “em 1938, 85% das prédicas ainda eram proferidas em língua alemã, porque os membros das comunidades simplesmente entendiam pouco o português”.

21 Igreja-mãe é uma expressão usada para significar que a IELB surgiu de uma missão americana, do Sínodo de Missouri (LC-MS), e que por longos anos estava vinculada a este sínodo até a sua independência, na década de 70.22 Sínodo de Missouri corresponde aos luteranos dos Estados Unidos, formados especialmente por imigrantes alemães. Segundo as atas da constituição do Sínodo e das reportagens nos jornais mantidos por esta organização, o Sínodo de Missouri foi fundado em 1847. Este sínodo enviou os primeiros pastores para o Brasil no final do século XIX. A IELB, por um longo período, era um Distrito deste Sínodo aqui no Brasil. Por isso, também é conhecida em alguns meios como Igreja de Missouri.

Page 21: IELB NO NORDESTE

21

No mesmo período da primeira metade do século XX havia uma carência muito grande de pastores luteranos no Brasil o que configurava uma barreira para um crescimento mais rápido do traba-lho missionário. Outro fato agravante foi a falta de experiência dos pastores em relação ao contexto brasileiro. “Com algumas poucas exceções, os pastores que vieram ao Brasil eram jovens formados pelos seminários23 de Saint Louis ou Springfield e não possuíam ex-periência ministerial” (REHFELDT, 2003, p. 68). Conforme veremos mais adiante, esta mesma dificuldade é encontrada hoje na Região Nordeste, onde quase todos os pastores enviados para as frentes avançadas de missão24 são recém formados, sem nenhuma experiên-cia da cultura da região25.

O crescimento da IELB na primeira metade de século XX deu-se especialmente entre os de origem germânica. Prien, citando Rehfeldt, afirma que este

admite sem rodeios que o crescimento exterior do distrito bra-sileiro26 dificilmente pode ser atribuído a conversões individu-ais - em 1950, por exemplo, foram batizados e confirmados apenas 202 adultos -, e, sim, à assunção de comunidades in-teiras de luteranos nominais. O trabalho ‘missuriano’ no Brasil não tem as características de um trabalho missionário entre gentios, mas é principalmente missão interna (home mission) entre luteranos e luteranos nominais de origem alemã (PRIEN, 2001, p 254).

Este fato, por exemplo, fez com que a IELB e IECLB, seguida-mente passassem por tensões devido às transferências de membros entre as duas igrejas.

A IELB conta hoje com cerca de 230 mil luteranos, sendo que

23 Seminários dos Estados Unidos.24 Frentes avançadas de missão - são as igrejas da IELB que se localizam nas regiões Norte e Nordeste do país.25 A IELB indica em seu site (posição em 2001) que possui 524 pastores ativos. Apresenta, porém, uma lista de 691 nomes, o que significa que a lista inclui pastores aposentados e licenciados. Em todo caso, dentre esses 691 nomes, há 612 de origem alemã, o que representa um percentual de 88,5%.26 Assim era conhecida a IELB na LC-MS

Page 22: IELB NO NORDESTE

22

sua maior concentração se dá na Região Sul. Tem um Seminário Te-ológico27 em São Leopoldo, Rio Grande do Sul. A sua administração nacional28 também está centralizada em Porto Alegre e conta com um Presidente, 1º e 2º Vice Presidentes, Secretário e Tesoureiro.

A IELB está organizada em Distritos, hoje em número de 58, e estes levam em conta o número de pastores e membros, sendo que é preciso haver pelo menos 7 pastores em cada distrito. Os distritos também contam com uma diretoria, um pastor conselheiro e um líder leigo distrital. Estes conselheiros e líderes leigos formam o Conselho Diretor que se reúne uma vez ao ano para definir os caminhos e estra-tégias que a denominação deve seguir. A cada quatro anos ocorre uma Convenção Nacional onde são representantes todos os pastores e um líder leigo de cada Paróquia da IELB29.

Ao mesmo tempo a IELB conta com departamentos específicos que facilitam o seu trabalho como um todo. Podemos citar a JELB (Ju-ventude Evangélica Luterana do Brasil), LSLB (Liga de Servas Luteranas do Brasil), LLLB (Liga de Leigos Luteranos do Brasil), além de Escola Dominical, Serviço Social, entre outros. Estes departamentos mobi-lizam toda a igreja local no seu engajamento de comunhão, serviço social e evangelização.

Um trabalho muito importante é a CPTN30. Esta entidade merece ser citada nesta dissertação porque contribuiu efetivamente no início de muitas das missões da IELB no Nordeste, como veremos adiante. Tem a sua sede em São Paulo e se torna uma agência co-evangelizadora da

27 A formação de pastores da IELB se dá nos campus da ULBRA (Universidade Luterana do Brasil) e no próprio Seminário. Seu curso de Teologia é reconhecido pelo MEC. Os professores do Seminário também são professores na ULBRA.28 A diretoria nacional é eleita numa Convenção Nacional para um período de quatro anos, podendo haver reeleições. A sede nacional da IELB está localizada em Porto Alegre, onde também residem todos os membros da Diretoria.29 Paróquia consiste num grupo de Igrejas da IELB, sob a supervisão de um pastor. A IELB não faz distinção entre Congregação, igreja ou comunidade.30 CPTN – Cristo Para Todas as Nações. Antes conhecido como Hora Luterana, um programa da IELB, existente há mais de 60 anos. Tem a sua sede em São Paulo e em todo este tempo tem programas de rádio, tais como Cinco Minutos com Jesus e Hora Luterana. Além disso, oferece Cursos Bíblicos por Correspondência e uma vasta literatura com temas bem atuais como AIDS, Violência, Abuso Sexual, Drogas e Estresse.

Page 23: IELB NO NORDESTE

23

IELB, andando lado a lado com as igrejas locais, e dando suporte ao seu trabalho de divulgação do Evangelho, seja através dos programas de Rádio [há mais de 60 anos], bem como de sua literatura e Cursos Bíblicos por Correspondência.

A IELB, mesmo com características que a enquadrem na catego-ria de “igrejas históricas”, com um perfil mais conservador, busca, a partir de sua prática, uma inserção em outros contextos do país, entre os quais o Nordeste. E isso não sem tensões ou dificuldades. Assim sendo, não é possível dar o recorte desta inserção, sem antes conhecer um pouco desta sua nova realidade, o Nordeste, seus costumes, e sua religiosidade, entre outras coisas.

1.3 Formação histórica da religiosidade brasileira e nordestina

A formação da religiosidade brasileira vem ocorrendo desde a sua colonização. Tanto os índios que aqui viviam como os negros e europeus que vieram para cá contribuíram para esta formação.

Estima-se que os índios que aqui viviam eram uma população de 5 milhões de habitantes, número superior à população de Portugal. A língua falada por eles até 1730 era o tupi guarani. Deles vêm cren-ças tais como o espírito da floresta, curupira, saci pererê e algumas cantigas de ninar. Infelizmente, no processo da colonização, houve uma negação da cultura indígena – como se imaginava que eles não ti-vessem nada, os portugueses impunham suas próprias regras culturais.

Os negros que para cá vieram foram cerca de 10 milhões. Pode-ríamos dizer que havia uma “ponte cultural” entre a África e o Brasil. Eles vieram para substituir o trabalho dos índios (que também eram escravos). Com o passar do tempo, a população negra foi se aproprian-do das festas promovidas pelos seus senhores (nos casarões) e também se apropriam da religiosidade dos mesmos (experiência religiosa). Po-deríamos ainda dizer que eles reavaliaram os seus deuses a partir da situação de se tornarem escravos, derrotados. Embora a maioria dos escravos trazidos da África tenha sido convertida ao Catolicismo Ro-mano, algumas de suas religiões conseguiram sobreviver ou através

Page 24: IELB NO NORDESTE

24

de práticas secretas como o Candomblé ou através do sincretismo re-ligioso como a Umbanda, dando origem às religiões afro-brasileiras.

O negro africano contribuiu para o desenvolvimento populacio-nal e econômico do Brasil e tornou-se, pela mestiçagem, parte inse-parável de seu povo. Os africanos espalharam-se por todo o território brasileiro, em engenhos de açúcar, fazendas de criação, arraiais de mineração, sítios extrativos, plantações de algodão, fazendas de café e áreas urbanas. Sua presença projetou-se em toda a formação humana e cultural do Brasil com técnicas de trabalho, músicas e danças, práticas religiosas, alimentação e vestimentas.

Os portugueses eram simples. Vieram, após o “Descobrimen-to”, pessoas indesejáveis em Portugal para cumprir pena aqui. Esses acabaram sendo acolhidos pelos grupos indígenas que viviam no li-toral e reconstruíram a sua história no Brasil. Após essa primeira leva, especialmente pelo fato do Governo português sentir-se ameaçado por piratas e por outras potências da Europa que rondavam o território bra-sileiro, decidiu-se definitivamente pela colonização do Brasil. Então vieram todos os tipos, tais como fazendeiros, aventureiros, prostitutas, mulheres órfãs e empresários falidos. O foco principal desta imigração foi a Região Nordeste, uma vez que as plantações de cana-de-açúcar estavam em desenvolvimento. Nesta região, desenvolveu-se uma so-ciedade açucareira rígida formada pelos portugueses, os senhores do engenho, e os escravos africanos. A miscigenação ocorreu entre os portugueses, africanos e indígenas.

Quadro 1: Imigração portuguesa para o Brasil (1500-1991)Décadas Número de imigrantes

1500-1700 100.0001701-1760 600.0001808-1817 24.0001827-1829 2.0041837-1841 6291856-1857 16.1081881-1900 316.2041901-1930 754.1471931-1950 148.6991951-1960 235.6351961-1967 54.7671981-1991 4.605

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

Page 25: IELB NO NORDESTE

25

Os portugueses achavam que estavam tendo uma grande chan-ce para a construção de uma sociedade cristã com a Igreja Católica Romana, mas a religiosidade desenvolvida, mesmo sendo considera-da católica, tinha características próprias com o sincretismo que incluía uma religiosidade animista, e contava com o poder do sobrenatural para influir sobre coisas da vida, como o amor, a sorte no jogo, entre outras.

Os protestantes também procuraram se fixar no Brasil no início da colonização. As duas primeiras experiências protestantes das quais temos conhecimento, foram a dos franceses no Rio de Janeiro e a dos holandeses em Recife em 1630. Nassau, por exemplo, era calvinista e, durante o reinado dos holandeses no Nordeste, os calvinistas organi-zaram 24 igrejas e congregações. Entretanto, a experiência terminou com a derrota holandesa. Já na época, para a população em geral, a verdadeira fé era a Católica, e os protestantes, como já era de se es-perar, eram contrários. Criou-se a ideia de que ser protestante era ser contra a unidade da nação e consequentemente contra a essência de ser brasileiro.

Mais tarde, no século XIX, chegaram outros protestantes e fixa-ram-se na Região Sul do país, especialmente em virtude do interesse do Governo de povoar as terras do Sul. A grande crítica aos protes-tantes é de que estes desenvolveram uma contra cultura cristã com a ideia fixa de que ser protestante é ser diferente do católico. Esta ideia permeia ainda hoje na Região Nordeste, dificultando a prática da evangelização.

Uma forte guinada na religiosidade nordestina ocorre a partir de 1910, com a chegada do Pentecostalismo que chegou primeiro ao Ama-zonas. No ciclo da borracha, os nordestinos que por lá trabalharam, ao retornarem, trouxeram o Pentecostalismo para sua região. Dentre as características dos pentecostais percebe-se o espaço dado às mulheres e aos leigos, além de um sistema doutrinário rigoroso (será analisado em 3.2.15). As igrejas pentecostais da região contam na sua membresia um expressivo percentual de mulheres (o mesmo fenômeno se dá nas outras denominações, inclusive na Igreja Católica Romana).

Enfim, compreender a nossa cultura, inclusive a religiosa, impli-ca compreender a história da África e não só a da Europa. Ao olharmos para o passado, o que chama a atenção é a experiência da colonização:

Page 26: IELB NO NORDESTE

26

violenta, escravista e excludente. Estes mesmos traços dos colonizado-res estão presentes ainda hoje. Temos a impressão de estarmos vivendo o trauma do passado. Segundo Ênio José da Costa Brito (PUC-SP),

Há necessidade de se resgatar a nossa identidade e para isto devemos resgatar os nossos mitos. Este resgate vai nos ajudar a buscar pela nossa identidade, caráter nacional: a) resgate místico; b) resgate de nossas raízes (índios, afros e portugueses) e c) resgate de nossas raízes religiosas. Estas raizes religiosas construiram o Brasil.31

Quanto à cultura, o mesmo especialista diz que é preciso levar em conta as particularidades de cada cultura, que não devemos nos aproximar da cultura popular com ideias preconcebidas; mas reconhe-cer que no passado em função da herança cultural herdada tanto pe-los negros como pelos índios, e a experiência do povo simples, estes transformavam as suas próprias vidas.

Dentro do aspecto cultural, é preciso também levar em conta as mudanças ocorridas na Região Nordeste uma vez que o indivíduo nordestino tem assumido cada vez mais o seu papel urbano, mas não consegue se desvencilhar do seu lado rural. A população sertaneja, por exemplo, é hoje majoritariamente feminina. Se olharmos para as igrejas, também a participação feminina é considerável, superando a dos homens.

Além disso, há de se considerar os aspectos morais, éticos e cul-turais gerais do nordestino que não deixam de ser fortes, e muitas igre-jas têm dificuldade para trabalhar com questões culturais. Para elas, a cultura é profana, e o recém convertido deverá adquirir os novos va-lores do cristianismo evangélico, rechaçando por completo toda uma cultura adquirida até então, como, por exemplo, a festa junina (alguns mudam o nome para Festa com Jesus, Festa do Milho ou Festa da Co-lheita). Enquanto isto há um grande esvaziamento ou rotatividade de membros entre as igrejas protestantes.

Entretanto, não podemos desmerecer o prévio conhecimento da religiosidade popular nordestina no nosso trabalho de evangelizar.

31 Em palestra proferida no 1a. Semana Teológica promovida pelo CESMAC/Arquidiocese de Maceió, no dia 04 de novembro de 2002.

Page 27: IELB NO NORDESTE

27

Muitas igrejas descartam a religiosidade e as festas populares, consi-derando-as de menor importância a pretexto de um “Evangelho puro”. Mas para o povo, especialmente as camadas mais populares, estes são temas do seu dia a dia. A própria rotina diária é interrompida várias vezes no decorrer do ano para a participação nas diversas festas que representam lazer e trabalho para aqueles que se dispõem a festejar, sejam eles católicos, ou pertencentes às religiões afro-brasileiras. A festa toma uma dimensão de propriedade do nordestino.

Religião e cultura acabam se encontrando ao ponto de podermos considerar a religião como um elemento da cultura. Os limites entre o sagrado e profano, especialmente em termos de Nordeste, estão muito próximos, como diz Émile Durkheim (1989, p. 456): “Talvez não haja júbilo onde não exista algum eco de vida séria. No fundo, a diferença está mais na proporção desigual em que esses dois elementos são com-binados”. A aproximação do indivíduo e a inter-relação do mesmo com a religião propiciam-lhe uma possibilidade de transgressão às normas previamente estabelecidas, especialmente quando existe abertura para tal. Por isso, Durkheim (DURKHEIM, 1989, p. 372) salienta que “nos dias de festa, a vida religiosa atinge grau de excepcional intensidade”. As festas teriam surgido com a finalidade de se separar o tempo em dias sagrados e profanos (DURKHEIM, 1989, p. 373). Sobre o descanso reli-gioso, ele salienta que “o caráter distintivo dos dias de festa correspon-de, em todas as religiões conhecidas, à pausa no trabalho, suspensão da vida pública e privada à medida que estas não apresentam objetivo religioso” (DURKHEIM, 1989, p. 372). Estas festas se repetem, num ci-clo, e continuam afirmando os valores culturais de cada região, sendo um elemento constitutivo de vida do povo brasileiro.

As festas se ligam à religião, e, desde o período colonial, a so-ciedade brasileira se encontra relacionada à realização de festas, con-sistindo numa identidade nacional. No caso específico do Nordeste, a festa serve também como liberação periódica de instintos comprimi-dos pelas regras sociais e como transgressão ritual de regras que o sa-grado impõe à vida cotidiana. A religiosidade popular, especialmente, é, conforme mencionamos, vivida e praticada pelos mais pobres e, em especial, pelo Catolicismo popular32.

32 Popular aqui entendido como distorção do original ou expressão cultural das classes subalternas.

Page 28: IELB NO NORDESTE

28

Estas informações, embora resumidas, são de caráter primordial para qualquer Igreja que queira trabalhar no Nordeste, e a IELB não está isenta. Ela busca por respostas as suas indagações sobre um mo-delo eficaz de inserção na região, bem como sobre o ritmo lento do seu crescimento. Veremos a seguir um histórico das primeiras cidades nordestinas alcançadas pela IELB.

1.4 Primeiras cidades com presença da IELB no Nordeste

A Região Nordeste do Brasil sempre foi alvo das missões das igrejas protestantes [devido à sua singularidade cultural e religiosa que se destaca em relação às demais regiões do país]. Sua população é significativa, contando hoje33 com 51.609.027 milhões de habitantes, formada especialmente de descendentes africanos, índios e portugue-ses. Esta mistura, conforme vimos, trouxe elementos próprios de cul-tura e religião, o que torna a região um objeto de análise da parte de estudiosos, bem como de igrejas protestantes que optaram pela evan-gelização no local. A área geográfica é de 1.558.196 Km².

A presença evangélica na região ainda é pequena34, compa-rando com as outras regiões do país35. Assim sendo, suas populosas regiões metropolitanas e as cidades do interior, de igual modo, são alvos da evangelização por parte dos protestantes, pentecostais e neo-pentecostais, crescendo o número de seus adeptos.

A IELB também tem presença no Nordeste, apesar de estar limi-tada às regiões metropolitanas das capitais, sendo Campina Grande exceção à regra. A sua entrada no Nordeste, a partir de 1950, não foi simples, pois se deu em meio a grandes mudanças de cenário no Brasil. A população brasileira era de cerca de 51 milhões e “a maioria

33 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2006.34 Menos de 15%, segundo o IBGE, Censo 2000.35 A porcentagem de evangélicos na região é somente 6,8% enquanto o país inteiro tem 11% de evangélicos. Se tirar o Nordeste do cálculo, o restante do país 12,6%, quase 2 vezes a porcentagem no Nordeste. A Região Norte é a que apresenta o maior percentual de Evangélicos, chegando a 27% no Estado de Rondônia.

Page 29: IELB NO NORDESTE

29

absoluta dessa população se declarava católica romana e essa Igreja julgava estender a sua ação a todas as camadas da população” (BUSS, 2006, p. 20). Então, logo após a Segunda Guerra Mundial, “em 1950, foram completados os planos de enviar os primeiros missionários para o Nordeste do Brasil, para Salvador e Recife. Em 1951, os primeiros missionários do Sínodo de Missouri iniciaram o trabalho nos Estados da Bahia e de Pernambuco” (REHFELDT, 2003, p. 163). Ou seja, a inserção da IELB no Nordeste, foi consequência de uma tomada de decisão da direção nacional da referida denominação 50 anos após a sua fundação no Brasil. Após a guerra, a IELB, que antes usava a língua alemã em seus cultos, adotou a língua nacional e decidiu ir ao encontro de outras culturas brasileiras. “Agora, a Igreja estava pronta para sair do isolamento étnico e ir mais decididamente ao encontro do povo brasileiro em regiões não colonizadas por alemães” (BUSS, 2006, p. 20). Como Recife e Salvador eram as duas capitais mais emergentes da região, foi para lá que se abriu a possibilidade de dar início ao trabalho.

O destaque da época foi o pastor Rodolpho Hasse, então presi-dente da IELB36 e “um dos mais dedicados missionários da IELB, res-ponsável pelo início da missão em todo o Nordeste” (BUSS, 2006, p.21). “A estratégia adotada era iniciar o trabalho nas capitais dos Es-tados, procurando ouvintes da Hora Luterana, mas principalmente as famílias de origem alemã e que, de preferência, já tivessem tido algum vínculo com a Igreja Luterana” (BUSS, 2006, p. 37).

A inserção na região ficou limitada, por um período de 30 anos, a estas duas cidades, com atendimento a distância às famílias luteranas que moravam em Maceió, Campina Grande e Aracaju. E o crescimento foi lento, configurando uma grande rotatividade de sua membresia, seja por transferência ou abandono, algo que pode refletir uma fragilidade dos membros no que diz respeito a aspectos doutrinários e práticos.

Esta rotatividade também se deve ao fato de pessoas oriundas do Sul do Brasil morarem nesta região por um curto período de tempo. Tradicionalmente, estes membros sulistas eram, na sua maioria, de origem germânica, o que levou as igrejas mais antigas de Salvador e Recife a terem os seus ofícios religiosos na língua alemã e portuguesa

36 Rev. Rodolfo Hasse foi presidente da IELB entre 1943 e 1957.

Page 30: IELB NO NORDESTE

30

por um longo período. Quando há falência de suas empresas ou por quererem retornar ao seu Estado de origem, estes membros pedem transferência. Naturalmente, tais pessoas muito contribuem financei-ramente para o orçamento interno das igrejas nordestinas, e sua saída gera uma série de crises nas comunidades. As constantes crises finan-ceiras são sentidas ainda hoje e todas as igrejas luteranas no Nordeste sobrevivem graças a subsídios vindo da direção nacional, fazendo-as dependentes e sendo elas denominadas “frentes avançadas de missão” e subsidiadas. As ofertas internas não são suficientes para cobrir todas as despesas.

Entretanto, em cada cidade em que a IELB começou a se fazer presente no Nordeste, vemos características próprias com modelos distintos de inserção, com grande destaque para o impacto da Hora Luterana na região. A mesma serviu como uma grande porta para a IELB. Veremos a seguir uma síntese de como isso foi possível.

1.4.1 Salvador

O trabalho da IELB em Salvador tem muito a ver com uma visita feita pelo então presidente da denominação, o pastor Rodolpho Has-se, após uma viagem a Recife, onde havia reunido famílias para um culto, no dia 9 de novembro de 1950. Inicialmente, o contato foi com ouvintes da Hora Luterana. Durante o pouco tempo que ali ficou, Has-se encontrou várias famílias evangélicas alemãs, visitou pessoas sem assistência religiosa, e “ouviu de algumas delas a solicitação de que a IELB enviasse um pastor a Salvador. O primeiro culto naquela cidade foi realizado no dia 12 de novembro de 1950, com a presença de 26 pessoas. O local deste culto foi um templo inglês, cedido pelo diretor do Banco de Londres” (BUSS, 2006, p. 35).

A direção nacional da denominação, através da sua Comissão Missionária, encaminhou um chamado37 ao pastor Nestor Welzel para trabalhar em Salvador. Este já estava na cidade em 1951 e fundou uma igreja em junho do mesmo ano. O seu trabalho foi entre brasileiros e

37 Chamado é o sistema de convite feito a um pastor da IELB para trabalhar numa determinada igreja. A igreja o elege e emite um “chamado”.

Page 31: IELB NO NORDESTE

31

luteranos estrangeiros, especialmente refugiados da Segunda Guerra Mundial. Já em novembro do mesmo ano, esta igreja contava com 52 membros batizados. Entretanto, os cultos em alemão ainda eram muito mais frequentados do que os em português. Basta informar que em 27 de janeiro de 1952 houve dois cultos: “No culto em português, a presença foi de oito adultos, e, no culto alemão, de 37 adultos e seis crianças” (BUSS, 2006, p. 41). Isto também está evidente na informa-ção que temos de que “em 1956, informava-se que o pastor Welzel conseguiria ‘recentemente’ organizar também uma pequena congre-gação38 brasileira, ao lado da congregação de fala alemã organizada anteriormente” (BUSS, 2006, p. 36).

Quanto ao papel da Hora Luterana na cidade de Salvador, ela era conhecida, mas poucos aceitavam o convite de participar dos cul-tos luteranos. Também foram pastores nesta cidade: Paulo Klaudat, Paulo Sousa, Lauro Schneider e Walter Daniel de Oliveira.

Hoje, a Região Metropolitana de Salvador [que tem 3.222.389 de habitantes39] conta com três igrejas luteranas e duas escolas, e o nú-mero total de membros batizados é de cerca de 180. Há três pastores que trabalham de tempo integral. Além disso, a partir destas igrejas surgiram pontos de missão nas cidades de Feira de Santana, Iambupe e Palmeiras (Chapada de Diamantina).

Uma dessas igrejas está localizada na periferia de Salvador, Bairro Paripe, onde também há uma escola com 80 alunos. O aten-dimento religioso é feito através de capelania semanal. O objetivo de evangelização na escola é secundário, conforme o pastor local, Pau-lo Sérgio Braga. Outros pastores que trabalharam nesta igreja foram: Paulo Klaudat, Luisivan Strelow, Walter Daniel de Oliveira, Fredolino Seiboth Filho e Elemar Nimer.

Ainda, na grande Salvador, no município de Simões Filho há ou-tra escola estadual administrada pela igreja e conta com a filosofia lute-rana de educação, hoje com mais de 1600 alunos. Neste espaço, surgiu uma pequena igreja através do pastor Paulo Klaudat e, por longos anos, mantém um número reduzido de membros, frutos deste trabalho.

38 Para a IELB, congregação é outra referência dada à igreja local, independentemente se ela é ou não autônoma.39 Segundo dados do IBGE, Censo 2000.

Page 32: IELB NO NORDESTE

32

1.4.2 Recife

A chamada da IELB para Recife, em 1950, então a terceira maior cidade brasileira, teve como um dos pontos de partida o tabelião Isauro Dias de Oliveira, um ouvinte da Hora Luterana. Num primei-ro culto realizado, no dia 05 de novembro de 1950, havia a presença de 84 pessoas, sendo nove ouvintes da Hora Luterana. Este culto foi dirigido pelo pastor Rodolpho Hasse num “domingo, à noite, no salão de música da Escola Técnica Industrial” (BUSS, 2006, p. 35). Entretanto, este início foi mais direcionado àqueles de origem ger-mânica, pois: “Moravam no Recife muitos técnicos vindos da Alema-nha, que trabalhavam nas fábricas de tecidos Lundgren” (WARTH, 1979, p. 109). Durante o pouco tempo que permaneceu em Recife, Hasse, “fazendo visitas nos dois dias seguintes, encontrou regular número de famílias alemãs de afinidade luterana e sem igreja qual-quer. Em dois, dias visitou em Recife e na cidade de Paulista, nas fá-bricas Lundgren, cerca de 50 chefes de família alemães, geralmente técnicos e do comércio” (BUSS, 2006, p. 35). Ele ainda teve contato com o cônsul suíço que o auxiliou, emitindo convites convocando a colônia suíça para o culto. Para Hasse, Deus estava chamando a IELB para aquela cidade: “Tive a impressão de que nunca tivemos entrada tão promissora num campo de missão do Brasil como esta” (BUSS, 2006, p. 35). Num culto realizado na terça-feira, dia 7 de novembro, compareceram 70 ouvintes.

O primeiro obreiro enviado foi o pastor Arnaldo Schuler que chegou a Recife em meados de janeiro de 1951. “Os primeiros cultos foram realizados no Colégio Batista Americano” (WARTH, 1979, p. 109). Como a sua estratégia de trabalho era a visitação às pessoas de origem germânica, criou-se um problema com a Igreja Evangélica Unida40, que também prestava assistência espiritual a este grupo, antes da chegada da IELB. A referida denominação também resolveu reco-meçar o seu trabalho de visitação, ocasionando uma cisão entre os interessados a se tornarem luteranos. Depois de 60 visitas no primeiro mês, fez-se uma avaliação do trabalho:

40 Igreja entre os de origem germânica.

Page 33: IELB NO NORDESTE

33

A colônia alemã é diminuta. E um corpo da Federação Sinodal41 resolveu reencetar suas atividades aqui, quando ouviu que nos mobilizávamos para levar amparo espiritual a famílias abandonadas e descuradas da colônia, que nos haviam chamado bem-vindos. Gerou-se uma inevitável cisão entre o já pequeno contingente, ficando a parte que não nos tocou mais uma vez praticamente ao desamparo, pois receberá tão somente duas visitas anuais. Só podemos lamentar esses fatos. O futuro do trabalho está entre o elemento nativo. E aqui precisamos exclamar: “Abençoada Hora Luterana, que entre seus ouvintes preparou o trabalho do missionário, e moveu o coração de alguns a nos chamar para cá” (BUSS, 2006, p. 35).

Schuler continuou em Recife até 1952, sendo seguido por um estagiário em Teologia, Alfonso Krick.

Uma das dificuldades que se apresentava para o missionário lu-terano era encontrar um local adequado para os cultos, sendo sanado este problema com a compra de um terreno no bairro de Casa Amarela em 1954. “Com a ajuda da Igreja-mãe, foi construído um templo e a casa pastoral. Em 26 de maio de 1955, foi organizada a congregação, e, em 30 de outubro do mesmo ano, deu-se a consagração do templo” (WARTH, 1979, p. 109). Nesta época, o pastor já era o Winfredo Be-cker que ficou em Recife até 1965.

Entre 1966 a 1974, a Paróquia foi atendida pelo pastor Geraldo Stanke, sendo substituído pelo pastor Martinho Lutero Hoffmann, que ficou até 1985, sendo por sua vez substituído pelo pastor Luiz dos San-tos (1986 a 1988), pastor Leonardo Neitzel (1989 e 1990), pastor Wal-dyr Hoffmann (1991 a 1998), pastor Fernando Henrique Huff (1998 a 2004), e novamente o pastor Waldyr Hoffmann entre 2005 a 2007.

Entre 1986 e 2004, a Igreja do Recife mantinha uma Escola para Deficientes Auditivos (Escola Especial Concórdia). Esta, longe de ser uma agência missionária, trouxe grandes prejuízos à comunidade, tanto financeiramente bem como, infelizmente, pelo afastamento de muitos líderes da igreja, por questões de crises internas provocadas na administração da Escola.

Entre os anos de 1993 a 1995, a igreja mantinha um programa

41 Isto é, Igreja Evangélica Unida

Page 34: IELB NO NORDESTE

34

de veiculação de cartazes no metrô de Recife, num projeto feito em parceria com a CPTN. Ao todo, foram entregues mais de 20 mil li-vretos gratuitos com temas da atualidade. Era fornecido o número do telefone da igreja.

De Recife também começou-se um trabalho no bairro de Sucu-pira, Jaboatão, e uma igreja foi organizada ali em 15 de outubro de 1967. Em 1979, a paróquia Recife contava com cerca de 200 pessoas batizadas. Hoje, a IELB na região metropolitana do Recife tem desafios a serem vencidos. Enquanto a população da cidade é de 3.289.42142, a Igreja Luterana conta com um pastor para atender seus 188 membros e, ao mesmo tempo, iniciar novos pontos de pregação.

Uma oportunidade para o trabalho social da Igreja de Recife é o CCJ (Centro de Comunicação e Juventude) que é desenvolvido no espaço anexo à igreja de Casa Amarela em parceria com a Diaconia43, UFPE44, Peixearte45, Crescendo no Morro46, Pé no Chão47, Equip48 e Volens49. O projeto visa oportunizar aos jovens, oriundos da periferia de Recife e Olinda, a comunicação como um direito à cidadania. Os cursos ofereci-dos são: filmagem, fotografia, web design, redação e rádio comunitária.

1.4.3 Campina Grande

No Estado da Paraíba, a IELB, diferentemente dos outros Es-tados, começou por uma cidade do interior, Campina Grande [com

42 Segundo dados do IBGE, Censo 2000.43 A Diaconia é uma instituição formada por 11denominações evangélicas, dentre as quais a IELB, fundada em 1967. Tem seu campo de atuação nos Estados do Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará, com três projetos distintos: PPCA (Programa de Promoção da Criança e do Adolescente – Recife e Fortaleza), PAAF (Programa de Apoio a Agricultura Familiar – Afogados de Ingazeira e Umarizal) e PAADI (Programa de Apoio a Ação Diaconal das Igrejas – Recife, Natal e Fortaleza).44 Projeto Conexão dos Saberes45 Projeto da Diaconia em Peixinhos, Olinda.46 Projeto da Diaconia no Morro da Conceição, Recife.47 ONG com atuação em Santo Amaro e Arruda, Recife.48 Escola Quilombo dos Palmares – ONG com atuação em vários Estados do Nordeste.49 Entidade Belga com atuação social no Nordeste, especialmente na área de Comunicação.

Page 35: IELB NO NORDESTE

35

371.060 habitantes50]. E começou a partir do Programa Hora Lutera-na, pois um grupo de pessoas desta cidade ficou impressionado pelas mensagens radiofônicas e entrou em contato com a IELB para o envio de um pastor para lhes dar atendimento. “Foram atendidos inicialmen-te pelo pastor de Recife, Geraldo Stanke. Um dos primeiros ouvintes paraibanos da Hora Luterana, Gilvan Leonardo Cromwell Ferreira de Azevedo Filho, ingressou, pouco depois no Seminário Concórdia e veio a se tornar pastor da IELB” (BUSS, 2006, p. 87).

Em 1969, a IELB designou o recém-formado pastor Martinho Lutero Hoffmann para ser o primeiro pastor da IELB a residir na Para-íba. Ele atendeu aquele trabalho até 1972. Depois dele, a igreja ficou quase 10 anos sem um pastor residente. Em 1981, chegou o seu pri-meiro pastor residente, Hermes Schneider, e em 7 de março de 1982 foi inaugurada a primeira congregação da IELB no estado da Paraíba, a Congregação da Graça, localizada no bairro da Prata, próximo ao centro da cidade. O pastor seguinte foi Leonério Faller, seguido dos pastores Flavio Hörlle, Walter Daniel de Oliveira, Nivaldo Garcia e Glaydson Freire.

Por um longo tempo, a IELB em Campina Grande investiu tam-bém na educação. No dia 08 de março de 1982, foi fundado o Centro Educacional Luterano. Muitos se tornaram luteranos a partir deste tra-balho. A Igreja Luterana local, na ocasião, somava 42 membros. Este Centro, no entanto, devido a crises financeiras, hoje é mantido por terceiros, sem vínculos com Igreja.

A Igreja Luterana se propagou pelos bairros da cidade e hoje já conta com quatro templos, e o número de membros batizados é 170.

1.4.4 João Pessoa

Em João Pessoa, capital da Paraíba, hoje com 890.107 habi-tantes51, o trabalho missionário foi iniciado em 1987. Famílias oriun-das do Sul do país, que não estavam sendo assistidas espiritualmente, solicitaram à IELB um pastor. Atendendo a esta solicitação, e também

50 Segundo dados do IBGE, Censo 2000.51 Segundo dados do IBGE, Censo 2000.

Page 36: IELB NO NORDESTE

36

dentro de uma estratégia de estar presente em todas as capitais de Es-tado do país, o Departamento de Missão (DM) da IELB comissionou o pastor Nivaldo Garcia para começar este trabalho.

Também ali, o pastor iniciou as atividades com visitas aos ou-vintes da Hora Luterana, e, conforme o historiador Buss, “a missão em João Pessoa, Paraíba, crescera de oito membros, em 1987, para 27 membros em 1992. Duas comunidades filiais foram organizadas. A primeira, iniciada em fevereiro de 1991 em Santa Rita, somava 40 membros ativos em 1992. A segunda, em Guarabira, contava com 16 membros em 1992” (BUSS, 2006, p.301). Atualmente, a igreja conta com 175 membros batizados. Nestes seus 20 anos de história, ela foi atendida por dois pastores, Nivaldo Garcia e, atualmente, Arno Eller.

1.4.5 Aracaju

Em Aracaju, hoje com 668.84 habitantes52, havia o programa Hora Luterana e, graças ao interesse de ouvintes do mesmo, foi solici-tado à IELB que enviasse um pastor para dar atendimento. Foi comis-sionado seu primeiro pastor residente, Ronaldo Holdorf, em 1981. Ele permaneceu na cidade até 1988, quando foi seguido pelo pastor Ed-son Nimbu. Este é de origem indígena, da tribo Terenas, e o primeiro índio formado pela IELB. Nimbu ficou por lá durante 16 anos. A igreja é totalmente composta por pessoas do Nordeste e somava 125 cristãos luteranos em 1997. Em Aracaju, a IELB conta com duas igrejas, e ao longo de sua história, teve somente 3 pastores.

Um fato interessante é que esta igreja foi a primeira do Nordeste a sediar um Congresso Nacional de Jovens Luteranos (JELB), em 2003. Uma de suas estratégias missionárias mais usadas no momento con-siste na formação de um grupo de teatro, que se apresenta em locais públicos da cidade. Mulheres e jovens compõem a maioria da igreja que está localizada num bairro popular da cidade, o que facilita o acesso de todos. O relato de Luiz Antônio Pinto Cruz53, um dos gran-des líderes da igreja de Aracaju, é instrutivo:

52 Segundo dados do IBGE, Censo 2000.53 Este relato foi feito a partir de uma entrevista feita com membros da IELB no Nordeste.

Page 37: IELB NO NORDESTE

37

A minha congregação, Luz do Mundo, é bem conceituada dentro da realidade nordestina e até mesmo entre a liderança nacional da IELB. Ela enfrenta vários problemas como as demais congregações luteranas, mas é o único local que sinto a vontade para cultuar a Deus. É o meu segundo lar, alimento comunhão com meus irmãos e gosto muito de auxiliar a atividade pastoral. Sou um luterano vocacionado mesmo! É incrível imaginar que todo um processo reformista iniciado por Lutero, lá por volta do século XVI, tenha encontrado terreno fértil nos corações dos sergipanos.Na universidade, no trabalho ou nos congressos científicos, quando falo que sou luterano, as pessoas ficam admiradas. Elas normalmente afirmam: “tem luterano nordestino? Nossa! eu não sabia”. Como se fosse impossível haver luterano no Nordeste. A existência e, principalmente, a permanência da IELB no Nordeste do Brasil demonstram que o esforço de missionários e da liderança leiga não foi em vão. Apesar das muitas dificuldades, existem avanços.Homens, mulheres e crianças se esforçam e se esforçaram e avançaram na construção de um Nordeste mais luterano. A doutrina cristã luterana ajudou a me desprender de um catolicismo arcaico. Mas esse processo foi lento, e não uma mudança brusca. Mesmo porque o meu batismo católico, feito com tanto carinho pelos meus pais, é respeitado pelos luteranos. Os primeiros luteranos nordestinos da década de 1980 foram, em sua maioria, jovens desbravadores. Enfrentaram tanta coisa, e hoje estamos colhendo os frutos desses missionários. Aqueles jovens do passado, hoje, são líderes consagrados de cada congregação nordestina da IELB. É uma honra poder participar dessa história.

O relato reflete a IELB ainda desconhecida na região até mesmo entre as pessoas com determinado nível de conhecimento. Isso mostra que a IELB tem um grande caminho pela frente a fim de que as pessoas a conheçam.

Page 38: IELB NO NORDESTE

38

1.4.6 Maceió

O trabalho da IELB em Alagoas tem muito a ver com a família Simões54, que se mudou de Recife para Maceió no início de 1978. Alguns cultos eram realizados na residência desta família. Ao mesmo tempo, em São Luís do Quitunde (50 km de Maceió), uma luterana, a Sra. Nair Grzelack, buscava informações de como a IELB poderia estar presente naquele Estado, fato este concretizado com o envio do pastor João Carlos Tom em agosto de 1981. Ele permaneceu ali por 11 anos.

A igreja foi organizada no centro da cidade com ouvintes da Hora Luterana e pessoas oriundas do Sul, que ainda ocupam quase 50% da comunidade. Em 1991, a IELB em Maceió contava com 88 membros.

Com a saída do pastor Tom em 1992, a igreja passou por suces-sivas mudanças de obreiros, cada um permanecendo no máximo por um ano e meio até 1999, sendo intercalados por vários meses de va-cância. Neste período, ela foi pastoreada pelos pastores Wando Wolf, Odil Sontag e Leandro Hübner. De 1999 a 2005, foi pastoreada pelo pastor Waldyr Hoffmann. Em 2004, foi formada a segunda igreja da IELB em Maceió, no bairro Acauã, com um grupo totalmente de pesso-as da região. Os desafios são grandes, uma vez que a capital alagoana conta com 962.397 habitantes55.

1.4.7 Natal

Em 1986, o único Estado do Nordeste que não tinha pastor da IELB era o do Rio Grande do Norte. O DM comissionou o pastor Ita-mar Elói Schlender para Natal em 1985. Este chegou a esta cidade em 28 de fevereiro de 1986. “A atividade missionária iniciou com visitas aos ouvintes da Hora Luterana. Os primeiros frutos do trabalho vieram no ano seguinte. No dia 24 de abril de 1987, as primeiras quatro pes-soas foram recebidas na Igreja por Profissão de Fé” (BUSS, 2006, p. 241). Hoje, a igreja conta com 128 membros batizados.

Natal ficou por um período de dois anos sem pastor, entre 1993

54 Selma, Kenny e Clayton.55 Segundo dados do IBGE, Censo 2000.

Page 39: IELB NO NORDESTE

39

a 1994. Seu segundo pastor, o qual permanece até hoje, é Airton Schroeder. A partir da igreja sede, no bairro Cidade Satélite, outras igrejas luteranas menores surgiram na redondeza. Natal continua sen-do um desafio. Hoje, a sua população é de 946.981 habitantes56. A localização da igreja está na Zona Sul da cidade.

Um destaque para a IELB em Natal é o fato de o seu atual pastor trabalhar também para a Diaconia, como técnico de Programa Social (PAADI), o que auxilia na evidência da igreja para a região.

1.4.8 Fortaleza

O trabalho da IELB no Estado do Ceará precedeu a uma pesqui-sa missionária encomendada pela direção nacional da IELB em 1978, feita pelo pastor Paulo Hasse em Fortaleza. Os primeiros pastores enviados para esta cidade foram Leonardo Neitzel e Eiter Schneider que iniciaram o trabalho missionário em março de 1979. Como pra-ticamente foi feito em todas as frentes avançadas de missão da IELB, eles também visitaram ouvintes da Hora Luterana. “A Congregação Esperança, primeira congregação da IELB em Fortaleza, foi fundada em 19 de junho de 1979. Vinte nove membros batizados faziam parte da mesma no ano seguinte” (BUSS, 2006, p.169). A partir da sede, mais uma igreja foi fundada e a missão conta hoje com cerca de 130 membros batizados.

A igreja ainda foi atendida pelos pastores Waldemar Stange, Rui Staats, Paulo Verdin e atualmente pelo pastor Holdair Drefs. Fortaleza também é uma cidade populosa, com 2.431.453 habitantes57 e se tor-na grande para um único pastor da IELB.

1.5 Dificuldades nas missões

O trabalho da IELB no Nordeste sempre está na pauta das reuni-ões denominacionais. Há uma impaciência com o lento crescimento e com os altos custos de cada frente missionária, impaciência essa

56 Segundo dados do IBGE, Censo 2000.57 Segundo dados do IBGE, Censo 2000.

Page 40: IELB NO NORDESTE

40

expressa tanto na administração nacional bem como em reuniões me-nores como o Conselho Diretor, ou nas convenções nacionais, onde há uma representação de todas as igrejas da IELB.

A ansiedade também está presente entre os pastores que são encaminhados para o Nordeste, pois nem sempre o resultado é o es-perado, e a rotatividade de membros tem dado uma descontinuidade muito grande nos processos de evangelização e formação iniciados. Além do mais, os recursos necessários para se fazer um bom trabalho na região são escassos consistindo uma dependência financeira de to-das as igrejas da IELB no Nordeste até os dias de hoje, o que também não é entendido pelos líderes da IELB de outras regiões, especialmente as do Sul. Os limites financeiros também representam limites de ativi-dades, deixando a igreja local à mercê de ofertas ocasionais a fim de conquistar os seus objetivos.

Outra dificuldade é que muitos pastores não vieram preparados para a realidade nordestina e experimentam dificuldades em se adap-tar à cultura da região.

Este choque cultural se manifestava de muitas maneiras: na diferença da cor da pele; na maneira de falar e no vocabulário diferente; na religiosidade que desconhecia o Luteranismo e se voltava ao Catolicismo ou a cultos afro-brasileiros; na alimentação; nas tradições. A população local, muitas vezes, julgava que os missionários eram estrangeiros (americanos) devido à cor clara da pele (BUSS, 2006, p. 247).

A IELB, de tempos em tempos, abre discussão sobre o assunto, como em 1986 quando o DM ofereceu capacitação missionária a to-dos os pastores subsidiados58. Os cursos eram realizados em Fortaleza, São Paulo e Florianópolis, e conduzidos pelo pastor Rodolfo Blank, da Venezuela, sob o tema “A missiologia com ênfase especial no cres-cimento da Igreja”. Entretanto, como a rotatividade dos pastores na Região Nordeste também é grande, o novo pastor recém chegado, começa da estaca zero, por não ter o acúmulo de informações dos pro-cessos iniciados pelo seu antecessor a respeito do trabalho que estava sendo realizado, dando uma descontinuidade no trabalho.

58 Subsidiados – dependentes financeiramente da Direção Nacional.

Page 41: IELB NO NORDESTE

41

Mesmo assim, as preocupações acerca do crescimento lento continuaram nos anos seguintes e seguem até os dias atuais. Num arti-go publicado pela revista da IELB, o Mensageiro Luterano, em agosto de 1987, o Secretário Executivo do DM, pastor Geraldo W. Stanke, revelou insatisfação com o crescimento lento das missões da IELB. Após fazer uma menção dos investimentos feitos com construções e em assistência social, ele concluiu:

Apesar da maioria das missões ter belos templos, ou pelo menos “locais agradáveis de reunião pública [...] não temos verificado um crescimento qualitativo e numérico na maioria das missões que foram equipadas”. Citando conclusões de um membro do DM, pastor Daltro Kautzmann, o Secretário preconiza que os missionários devem ser incentivados a fazer maior uso do transporte coletivo em capitais e cidades grandes. Missionários do norte não necessitam de tratamento diferenciado. O custo de vida é praticamente igual em todo país. Os CIM59 precisam nascer pequenos e crescer com a congregação. Deve-se cuidar para que o pastor não se envolva em questões puramente administrativas da missão em detrimento da evangelização. Conclui o pastor Stanke que há “necessidade de revisão das atividades e mentalidades de lideranças em várias frentes”. Talvez devido às reações dos missionários a essas críticas, o DM, em artigo publicado na mesma revista, um ano mais tarde, revela outra atitude em relação aos missionários: o Departamento de Missão, juntamente com o Departamento de Assistência Social, está preocupado com as dificuldades que os pastores missionários e seus familiares enfrentam em suas missões espalhadas pelo Brasil. Um programa específico para o encontro periódico destes obreiros e os seus mais queridos está em elaboração, visando reuni-los em atendimento as suas necessidades mais prementes em ministério e família. É um programa de acompanhamento, encorajamento e orientação (BUSS, 2006, p. 247).

Entretanto, pouco se fez para garantir aos pastores missionários uma infraestrutura melhor para desenvolverem o seu ministério pas-

59 CIM – Centro Integrado de Missão. Vários foram construídos na Região Norte do país.

Page 42: IELB NO NORDESTE

42

toral. A direção nacional continua distante da realidade nordestina e cobra que seus missionários apresentem resultados de suas ações como se tudo dependesse deles próprios, inclusive o crescimento da denominação na região.

A IELB tem uma teologia apurada em nível missiológico e eviden-cia isso teoricamente na formação dos pastores e em seus documentos. Além de prezar pelo conteúdo teológico, ela procura por caminhos para uma prática missionária mais efetiva. O que segue são elementos do complexo doutrinário que orienta a sua prática missionária.

Page 43: IELB NO NORDESTE

43

2CONCEITO DE MISSÃO NA IELB

E PRÁTICAS MISSIONÁRIAS

Vivemos num país pluricultural e plurireligioso, com as suas especificidades em cada região, do Norte ao Sul. Os valores éticos, morais e religiosos de cada pessoa estão presentes nas suas falas, na forma como celebram a espiritualidade, nas suas expressões culturais, levando-se em conta a história de cada um. É evidente que, com o passar do tempo, muitas modificações dos valores começam a surgir, alheios até a nossa vontade, mas que acabam desviando a forma origi-nal de alguns, até mesmo no viver da sua religiosidade.

A teologia está sempre presente na vida das pessoas. Assim, elas celebram a sua religiosidade. Não importa onde este povo esteja vi-vendo, cada um, por si, alimenta a sua experiência da fé. As igrejas fa-zem um contrabalanço a estas experiências, enfatizando os seus dog-mas e referenciais teológicos, o que se torna em elemento de unidade entre elas. A IELB também tem a sua visão a respeito do conceito de missão, bem como sua prática, que passamos a expor a seguir.

2.1 Conceito de Missão na IELB

O conceito de missão da IELB está ligado a sua filosofia de cres-cimento da Igreja onde a “palavra missão expressa a ideia de enviar” (HUNTER, 1993, p. 26). A igreja não se limita ao seu espaço de culto onde as pessoas se reúnem para adoração, mas ela “está reunida no

Page 44: IELB NO NORDESTE

44

dia do Senhor em torno da Palavra e sacramentos60 apenas para se es-palhar novamente através da comunidade próxima” (HUNTER, 1993, p. 26). Com isso, se entende que a missão da Igreja se torna efetiva quando o povo se sente enviado a proclamar o Evangelho ao mundo. Entende-se Evangelho como boa nova, e evangelizar como levar a boa nova do Reino a todos, cristãos ou não cristãos, levando-os à fé. Diz Martinho Lutero:

Vivemos na terra com nenhum outro propósito senão o de ser útil aos outros. Se não fosse assim, seria melhor para Deus tirar a nossa vida logo após o Batismo, quando começamos a crer. Mas Ele permite que vivamos a fim de que levemos outros à fé, fazendo por eles o que Deus tem feito por nós (Manual de Evangelização61, p. 9).

Ou, conforme diz o teólogo luterano, Erni Walter Seibert (1988, p.83):

Como a Igreja tem por missão pregar o Evangelho, evangelizar é algo que ela não pode deixar de fazer. Da execução desta tarefa resulta, mediante ação do Espírito Santo, a criação da fé verdadeira em Jesus Cristo, o Salvador. É através do testemunho da Igreja que Deus planejou levar a boa nova da salvação a todas as pessoas. Quando a Igreja é infiel no cumprimento desta tarefa, ela não apenas se retrai do contato com os meios da graça62 de Deus, mas também presta um desserviço ao mundo, deixando de ser sal e luz.

Uma ênfase na IELB é que o evangelismo deva partir de uma

teologia sadia, e uma teologia ligada à vida diária. Não pode haver uma dissociação. Robert Kolb, teólogo luterano, diz que:

60 A IELB aceita como Sacramentos o Batismo e a Santa Ceia. Têm como características o fato de serem instituídos por Deus, ligados à Palavra de Deus, o uso de meios externos ou visíveis e oferecerem perdão dos pecados.61 O Manual de Evangelização foi compilado em 2000, faz parte do Projeto do PEM e tem como objetivo ser uma ferramenta para pastores e leigos com vistas ao treinamento evangelístico. 62 Meios da Graça = Palavra e Sacramentos.

Page 45: IELB NO NORDESTE

45

Teologia não pode existir à parte de sua aplicação à vida das pessoas e, acima de tudo, à parte da vida daqueles que estão fora da fé, em necessidade do poder transformador do Evangelho. Programas de Evangelismo nada são, se não transmitem a mensagem bíblica e a aplicam de forma exata e efetiva (Manual de Evangelização, p. 10).

Isto significa uma construção de referenciais ou matrizes te-ológicas da missão, levando em conta um alicerce teológico sem, no entanto, desconsiderar as necessidades daqueles que são objetos da nossa prática missionária. O que segue é um resumo dos princípios teológicos que norteiam a prática missionária da IELB, tendo por base o seu Manual de Evangelização.

2.1.1 O Evangelismo começa com Deus

O princípio da evangelização, a partir de Deus, já começou com Adão e Eva (Gn 3.8-9, 15). O intuito de Deus foi buscar e redimir o homem caído. Fez a promessa de enviar o Salvador. Fez aliança com Abraão, Isaque, Jacó, Moisés e Davi, reafirmando o Seu propósito de salvar o Seu povo, reconciliando-o consigo (2 Co 5.19). A Igreja tem um papel importante, como instrumento de Deus. “A Igreja é Igreja devido à ação graciosa de Deus e, se ela está em missão no mundo, é porque Deus a comissionou para tal (cf. Mt 5.13,16; 2 Co 2.15, 3.2-2; 1 Pe 2.9-10, 3.15)” (Manual de Evangelização, p. 11). O desejo de Deus sempre foi que todos sejam salvos pela fé em Jesus Cristo (Ef 2.8,9) e cheguem ao pleno conhecimento da verdade.

A Igreja tem uma missão conferida por Deus. “A tarefa da Igreja sempre estará incompleta enquanto houver pessoas que não conhe-cem ou não creem em Jesus Cristo como o Salvador” (SEIBERT, 1988, p. 25). Todos são convocados a exercerem a evangelização do mun-do. Não há lugar para acomodados. Seibert (1988, p. 29) afirma:

O testemunho é a ação da Igreja no sentido de levar aos que não creem o amor que o Salvador Jesus Cristo teve e tem por todos. É através desta atividade que se manifesta com mais

Page 46: IELB NO NORDESTE

46

clareza o propósito de Deus salvar o mundo. Quando a Igreja não se envolve no evangelismo, nega o que lhe é próprio. Pode-se dizer que no evangelismo encontramos a pedra de toque de todo o trabalho da Igreja.

Para que isso se torne possível, é necessário que a Igreja se or-ganize, envolvendo a todos no trabalho e preparando pessoas e líderes para execução das tarefas. A capacitação de cada um depende muito da liderança desenvolvida pelo seu pastor.

2.1.2 O pecado torna o evangelismo urgente e necessário

A Bíblia Sagrada narra a história da misericórdia de Deus para com o homem por causa do seu pecado. O homem, ao dar ouvidos ao diabo, cai e traz todas as consequências do seu ato para a humanida-de. Seu desejo se tornou um grande erro, e, por esta razão, o ser hu-mano ficou privado de uma comunhão mais próxima de Deus – sem levar em conta o seu resultado final, a morte. O homem está distante de Deus, quebrou o laço de harmonia atraindo a ira de Deus (Jo 3.36) e sofrerá castigo e destruição eterna (2 Ts 1.8-9) se não se arrepender. Segundo Lutero:

Ensina-se, outrossim, entre nós que depois da queda de Adão todos os homens naturalmente nascidos são concebidos e nascidos em pecado. Isto é, que desde o ventre materno todos estão plenos de concupiscência e inclinação más, e por natureza não podem ter verdadeiro temor de Deus e verdadeira fé em Deus. Também que essa inata pestilência e pecado hereditário verdadeiramente é pecado e condena à eterna ira de Deus a quantos não renascem pelo Batismo e pelo Espírito Santo (Livro de Concórdia, 1983, p. 29).

As atitudes do ser humano não condizem com a realidade de paz estabelecida por Deus. O próprio Senhor Jesus testifica isso quan-do afirma que “é do coração do homem que procedem maus desíg-

Page 47: IELB NO NORDESTE

47

nios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias” (Mt 15.19). Então, cada indivíduo traz consigo as marcas do pecado e age de forma descompromissada com o Evangelho de Deus, com atitudes de violência contra o outro, seja esta verbal ou com ações, gerando enormes dificuldades nas relações humanas.

Por isso, é urgente a evangelização. A mensagem do Evangelho tem como propósito resgatar o pecador de sua vida ímpia e levá-lo a refletir sobre as promessas e perdão da parte de Deus. Esta condição do ser humano é um reflexo do pecado herdado, original, e de suas práticas diárias, contrapondo, assim, com a vontade de Deus revelada nas Escrituras Sagradas. Somente a partir do ouvir da Palavra que o indivíduo é convertido, fazendo parte do povo de Cristo novamente.

2.1.3 O evangelismo está centrado em Jesus Cristo

A iniciativa do resgate do homem pecador está em Deus e se concretiza em Jesus Cristo, que se tornou homem (Jo 1.14) a fim de dar a sua vida por todos. Desde o texto de Gênesis 3.15, quando é feita a promessa do Salvador, passando pelos profetas e todo o Antigo Testamento e se cumprindo com o nascimento, morte e ressurreição de Jesus, é que vemos a centralidade de Jesus na história da salvação. Ele, por meio do seu sangue derramado, reconcilia o homem a Deus. Diz Kent R. Hunter (1993, p. 33):

Deus deu ao seu povo uma promessa. Era um raio de esperança. Ele disse a Abraão que iria abençoá-lo (Gn 22.17). Ele manteve esta promessa aos descendentes de Abraão. A promessa se tornou bem específica com Davi (2 Sm 7.8ss). A promessa se cumpriria na linhagem real de Davi. Deus continuou seu plano da promessa através dos profetas. Isaías proclamou: “Eis que a virgem conceberá, e dará a luz um filho, e lhe chamará Emanuel” (Is 7.14b).

Jesus fez tudo como planejado por Deus. Torna-se o centro da promessa e corresponde, com a sua vida, morte e ressurreição, ao cuidado de Deus para com o ser humano. Por isso o apóstolo Paulo

Page 48: IELB NO NORDESTE

48

afirma: “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; por intermédio de quem obtive-mos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes” (Rm 5.1,2). Diz Hunter (1983, p. 34):

A cruz é a maior demonstração da paciência de Deus em favor da salvação da humanidade. Ele não poupa nem seu único Filho (Rm 8.32). Quando Jesus declarou: “Meu Deus, meu Deus, por que me desamparaste?” (Mc 15.34), ele não estava apenas passando por um momento de fraqueza e solidão próximo da morte. Jesus foi abandonado por Deus, em favor de todas as pessoas. Ele tomou sobre si o julgamento de Deus que os homens mereciam. Embora Jesus fosse perfeito em todos os sentidos, ele tomou sobre si o pecado da humanidade. O resultado foi morte e separação do Pai. Quando o plano de Deus atingiu este ponto, Jesus pode dizer “está consumado” (Jo 19.30). O plano do perdão estava realizado. A obra de Cristo em favor da salvação do homem estava feita. Mas o plano de Deus incluía a ressurreição.

Esta é a mensagem proclamada pelos cristãos de todas as épo-cas. “A Igreja proclama com alegria Jesus Cristo e a sua obra redentora como o centro de sua mensagem evangelística, pois não há salvação em nenhum outro. É por meio do nome de Jesus, e de ninguém mais no mundo, que podemos ser salvos (cf. Jo 14.6; At 4.12)” (Manual de Evangelização, p. 12).

2.1.4 O Espírito Santo e o evangelismo

O Espírito Santo está intrinsecamente ligado ao evangelismo. Ele convence o mundo do pecado e da incredulidade (Jo 16.8). O Espí-rito Santo usa a Palavra inspirada por ele mesmo como meio para atuar nos corações das pessoas, criando e mantendo a fé em Jesus Cristo (cf. 1 Co 2.1-4, 13; Gl 4.7; Tt 3.5-7). Cria uma nova vida, de paz e liberda-de. Por isso, o homem, fortalecido pelo Espírito Santo, pode “afogar a sua velha natureza e viver em novidade de vida, testemunhando Cristo

Page 49: IELB NO NORDESTE

49

e auxiliando a edificar o corpo de Cristo (Gl 5.22-26; Ef 4.22-24; 1 Co 12.4-13, 25)” (Manual de Evangelização, p. 13). Por esta razão, a Igreja continua evangelizando o mundo na certeza de que o Espírito Santo tem lhe dado este poder.

O Espírito Santo quebra as barreiras culturais do nosso tempo assim como o fez entre gentios e judeus (At 10.44-48). “Ele continua atuando por meio da palavra pregada e da administração dos sacra-mentos” (Manual de Evangelização, p. 13). E a Igreja de Cristo cresce à medida que estes meios da graça são colocados à disposição das pessoas. Diz Hunter: “Sempre que há um amplo crescimento da Igreja é porque o Espírito Santo está chamando as pessoas a si, reunindo a Igreja Cristã, iluminando as pessoas com seus dons e santificando (alimentando) e mantendo elas na fé verdadeira” (HUNTER, 1993, p. 36). Portanto, sempre é de Deus a iniciativa de trazer o homem ao arrependimento e à fé e ele o faz pela Palavra e Sacramentos. Diz Jere-mias: “Se Deus não nos converter não seremos convertidos” (Jr 31.18). “Foi a graça que moveu a Deus a redimir o homem pela morte de seu Filho, e é a graça, e em nenhum sentido o mérito do homem, que move a Deus a converter o homem, e dar-lhe as bênçãos da redenção de Cristo” (KOEHLER, 1981, 125). Estas são as marcas registradas da Igreja Cristã.

2.1.5 Evangelismo é Cristo para todos

Desde o ano de 1991, a IELB tem adotado o lema Cristo para to-dos, por entender que a evangelização é universal. Não escolhe etnia ou posição social (Jo 1.29, 2 Co 5.19). A Palavra de Deus surtirá efeito na vida de qualquer pessoa quando houver o seu anúncio. E o evange-lismo começa onde está a Igreja, seja ela local ou individual (At 1.8). E a evangelização interna é tão necessária quanto a externa. A mensa-gem do amor de Deus pelos pecadores é de reconciliação (Rm 5.8ss). Todos os cristãos passam a ser embaixadores de Deus (2 Co 5.20). Este lema tem o seu respaldo no próprio Cristo que antecipa Sua comissão de evangelizar o mundo quando diz, em Mateus 5.14, “vós sois a luz do mundo”, e em Mateus 5.16, “assim brilhe também a vossa luz

Page 50: IELB NO NORDESTE

50

diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus”. Mais tarde, Ele ordena: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação dos séculos” (Mt 28.19,20). Ele ordena a evangelização e promete estar junto. E assim continua até os dias de hoje. O Espírito Santo, o Consolador, foi enviado para nos acompanhar.

A Igreja se torna cooperadora deste Cristo para todos. O tempo da salvação continua o mesmo (2 Co 6.2). Enquanto a Igreja se cala, os amigos, parentes e mesmo os inimigos estão morrendo sem a fé no Salvador. Seus interesses pelo materialismo e/ou mundanismo são cada vez maiores. Por isso, Deus está desafiando a cada cristão e a cada Igreja a serem evangelistas, rompendo com o comodismo missionário.

2.1.6 Evangelismo requer envolvimento pessoal

A partir do momento que se sente chamado à comunhão com Deus, por meio da fé em Jesus Cristo, o cristão quer ter um envolvi-mento pessoal com o seu Salvador. O próprio Jesus afirma que o cris-tão é “sal” e “luz” (Mt 5.13-16). Neste espírito, ele vai testemunhando a sua fé e espalhando o Evangelho da vida. Naturalmente, se espera que o crente vá nutrindo a sua relação com Deus com o

estudo da Palavra (cf. Sl 119.105; Jo 5.39-40; 2 Tm 3.14-17; 1 Ts 5.8-11); partilhando com os demais irmãos as dificuldades, bênçãos e alegrias (cf. Rm 1.11-12, 15.32; Hb 10.19-25), orando uns pelos outros (cf. Ef 6.18-20; Cl 4.2-4; 2 Ts 3.1-5), testemunhando e encorajando uns aos outros (cf. Rm 12.9-10, 15; Cl 3.13-14) (Manual de Evangelização, p. 14).

Isto significa que o cristão tem a sublime tarefa de testemunhar, bem como a de se integrar ao trabalho da Igreja, nas suas mobilizações para a evangelização. Em suma, evangelismo é o povo de Deus em ação.

Diante do exposto, tem-se a ideia de que a IELB precisaria estar em missão. Leonardo Neitzel (1992, p. 13), teólogo luterano, afirma:

Page 51: IELB NO NORDESTE

51

A missão da IELB é a missão de Deus (missio Dei). Em outras palavras, a IELB está em missão no mundo; está no mundo a serviço do Pai. Essa missão, Jesus Cristo, a Cabeça da Igreja, tornou transparente em todo o seu ministério, e resume-se numa frase: Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido (Lc 19.10). Esta é a missão da IELB: tornar a salvação em Cristo conhecida a todos os perdidos. Dessa forma, cada cristão individualmente – independente de sexo, raça, idade ou contexto em que vive – é um instrumento na propagação do kerygma da salvação em Cristo.

Com isso em mente, a IELB manifesta a sua consciência pela ne-cessidade de cumprir com a Grande Comissão de Jesus. O seu progra-ma PEM (Programa de Evangelização e Mordomia), criado em 1990, tem contribuído nesta reflexão. Ano após ano, mais comunidades e indivíduos são alertados, instruídos e motivados a assumirem o seu compromisso dentro do Reino. A partir deste programa, foram ideali-zadas algumas estratégias evangelísticas que estão sendo usadas pelas igrejas da IELB, espalhadas pelo país.

2.2 Projetos ou estratégias missionárias usadas na IELB

Ao longo da história da IELB, ela tem desenvolvido diferentes projetos ou estratégias missionárias. Alguns deles surgiram de sua pre-ocupação com a área da mordomia das ofertas. As estratégias a seguir, na verdade, foram compiladas nos últimos 15 anos e refletem a abertura que a IELB está dando, tendo em vista um novo modelo de ação missio-nária e visando especialmente o seu crescimento. No entanto, nem to-das as igrejas luteranas (da IELB) aplicam tais estratégias, preferindo um modelo mais tradicional de acompanhamento aos seus congregados, especialmente um trabalho de manutenção. Os pastores e as igrejas que assim procedem acabam se restringindo a uma prática de manutenção do trabalho da IELB, sem engajamento missionário efetivo.

Entretanto, especialmente nestes últimos 15 anos, alguns pas-tores e congregações da IELB têm aderido aos programas de evange-lização e transformado a vida das pessoas com práticas missionárias

Page 52: IELB NO NORDESTE

52

mais abrangentes. As igrejas luteranas do Nordeste precisariam ser parceiras destes programas, adequando-os a sua realidade local. Entre-tanto, na prática, isso nem sempre é possível. Por isso, merece atenção apontar quais são as principais estratégias ou programas missionários da IELB, e quais seriam as possibilidades deles serem desenvolvidos na Região Nordeste.

2.2.1 PEM (Programa de Evangelização e Mordomia)

O PEM é um programa-processo de educação cristã na IELB, que surgiu a partir da 52ª Convenção Nacional, ocorrida em abril de 1990. Na época, dados estatísticos revelaram um baixo crescimento numérico, bem como pouca frequência aos cultos e participação na Santa Ceia. A partir de 1992, o PEM foi implantado nas igrejas da IELB, com o objetivo maior de mobilizar toda a Igreja com vistas à evan-gelização e mordomia. Neste mesmo período, a IELB adotou o lema Cristo para Todos, com diferentes enfoques a cada ano.

Quadro 2: Enfoques da IELB para cada ano.

Ano Lema1992/1993 Respondendo ao amor de Deus

1994 Agindo como família de Deus1995 Sendo cooperadores de Deus1996 Vivendo como testemunhas de Deus1997 Servindo como povo de Deus1998 Adorando como Filhos de Deus1999 Esperando com Fidelidade a Deus2000 Avançando com gratidão a Deus

2001/2002 Missão de Deus – Desafio da Igreja2002/2004 Cristo para todos – Ontem, Hoje e Sempre

2005 Nascidos como filhos de Deus2006 Moldados pela ação de Deus2007 Unidos pelo amor de Deus2008 Abençoados com a presença de Deus

O cartaz para o ano de 2008 é o que segue (Figura 1):

Page 53: IELB NO NORDESTE

53

A fundamentação bíblica para o PEM está em Mateus 28.18-20: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os [...] e ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado”. Além disso, pode-se mencionar João 20.21: “Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio”; e Atos 1.8: “Recebereis poder ao des-cer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas [...] até os confins da terra”.

Os objetivos do PEM podem ser resumidos no que segue:a) Cristo salvou o ser humano do pecado para o serviço e adoração;b) O ser humano, agora livre, tem a tarefa de administrar toda a

sua vida para a honra e glória de Deus;c) Também deve administrar todo o seu dinheiro e bens promo-

vendo o sustento e o bem-estar de sua família, bem como promoven-do a expansão da Igreja;

d) Toda a ação da Igreja tem como objetivo central a evangelização;e) Os departamentos de servas, leigos, jovens e infantil também

cooperarão para alcançar estes objetivos; f) Cursos de capacitação e treinamento.A estratégia do PEM (ANEXO A) está fundamentada na formação

de grupos menores (celulares). Com isso, se pretende: a) valorizar e

Page 54: IELB NO NORDESTE

54

fortalecer a ação dos grupos já existentes nas comunidades, tais como: Grupos de Estudo Bíblico, Departamentos infantil, mulheres, homens jovens e casais, coral, grupos musicais e artísticos, comissões de culto e altar, de patrimônio, comunicação, evangelização e serviço social; b) direcionar a ação dos grupos com estudo bíblico, comunhão cristã e tarefas como visitação e apoio mútuo interno; c) escolher e treinar líderes; e d) organizar novos grupos, de acordo com as necessidades da igreja local.

Como estrutura, o PEM consiste de um coordenador nacional, coordenadores distritais (regiões) e coordenadores paroquiais (comu-nidade local).

Quadro 3: Estrutura do PEM

Estes coordenadores estão sendo municiados com informações e treinamento, visando a eficácia do programa nas comunidades da IELB. Desde o seu início, inúmeros líderes estão sendo treinados e, ao mesmo tempo, aplicam os seus dons a serviço do Reino. Igrejas que estavam praticamente paradas tomaram um grande impulso mis-sionário. São feitas avaliações anuais e se observa cada vez mais que

Page 55: IELB NO NORDESTE

55

a IELB está procurando por melhores caminhos para a evangelização, rompendo com o seu perfil mais conservador.

2.2.2 Projeto Macedônia As palavras do versículo bíblico de Atos 16.9 servem para apre-

sentar o Projeto Macedônia: “À noite, sobreveio a Paulo uma visão, na qual um varão macedônio estava em pé e lhe rogava, dizendo: Passa à Macedônia e ajuda-nos”.

O projeto nasceu no final dos anos 80, em São Paulo, numa parceria entre a Igreja Luterana de Jundiaí, a CPTN e o Instituto Con-córdia de São Paulo63 (ICSP). O projeto consiste em visitar pessoas que entraram em contato com a CPTN, antiga Hora Luterana – A Voz da Cruz, entidade pertencente à IELB há mais de 60 anos. Conforme já observamos, muitas frentes missionárias, especialmente do Norte e Nordeste, tiveram o seu início através do programa de rádio, Cinco minutos com Jesus.

Especificamente, o projeto está atrelado às mensagens radiofô-nicas de 30 segundos, da CPTN, onde são oferecidas literaturas com temas diversos64. Após o contato do ouvinte com a CPTN, uma equipe treinada faz uma visita ao interessado, oferecendo, inclusive, cursos bíblicos por correspondência.

Há uma caminhada muito grande pela frente, pois recursos lo-cais visando a veiculação de mensagens radiofônicas são escassos. Onde o Projeto está sendo aplicado, percebe-se uma boa mobilização da igreja, especialmente por parte dos jovens. Além do Brasil, o Pro-jeto está sendo implantado em outros países, tais como a Argentina, Uruguai e Paraguai.

O Projeto Macedônia consiste nas seguintes etapas: a) elabora-ção de infra-estrutura; b) oficina sobre Crescimento de Igreja; c) treina-mento dos visitadores, e visitação; d) treinamento para a 2ª. Visita; e e) inscrição do interessado em algum curso bíblico por correspondência, cursos estes oferecidos pela CPTN.

63 Instituto Concórdia de São Paulo é o segundo Seminário Teológico da IELB, localizado no bairro de Campo Limpo. Ele interrompeu suas atividades em 2003.64 Temas como AIDS, Drogas, Alcoolismo, Família e Violência.

Page 56: IELB NO NORDESTE

56

Quadro 4: Etapas do Projeto Macedônia:

2.2.3 Projeto Filipe

O Projeto Filipe é um programa missionário que visa despertar, encorajar e treinar os cristãos para o testemunho pessoal. É uma adap-tação de um programa da Liga Bíblica Mundial. Com material simples, como folhetos, o livrete intitulado Encontro com Deus e a Bíblia, os interessados poderão fazer o seu trabalho missionário. A dinâmica consiste em semear, cultivar, colher e enviar (círculo evangelístico).

Quadro 5: Projeto Filipe

Dinâmica do Projeto Felipe

Page 57: IELB NO NORDESTE

57

O treinamento se dá com pequenos grupos de voluntários inte-ressados na evangelização que se reúnem regularmente para estudo do material, capacitando-se para entregar o livrete para as pessoas que escolheram, bem como reunir-se com elas para estudo e aprofunda-mento do material. É, por assim dizer, o ponto de partida para uma empreitada missionária pessoal. A adesão a este Projeto ainda é lenta, uma vez que os temores individuais sobre o falar do Evangelho não são pequenos. É algo que precisa ser trabalhado na IELB, e seus mem-bros precisam ser encorajados para esta tarefa.

2.2.4 Treinamento Cristo para todos

A IELB disponibiliza este treinamento, Cristo para Todos, para os seus líderes especialmente para o testemunho junto a alunos e pais de alunos das Escolas Luteranas, além de preparar líderes missionários nas congregações com iniciativas missionárias. O material toma como base um texto de dois educadores, pastores da LC-MS, Richard Schulz e Dale E. Griffin. O treinamento se dá em nove reuniões para peque-nos grupos de cinco pessoas:

1ª reunião - Por que envolver-se com evangelização? [Funda-mentação bíblica e motivação.] 2ª reunião - Sentimentos que nos atrapalham. [Medo, au-toimagem, culpa, compreensão distorcida e como enfren-tá-los.] 3ª reunião - Compreendendo bem a mensagem. [O conte-údo do testemunho. Como desenvolver o próprio testemu-nho! Esboços para a apresentação do Evangelho a partir de alguns textos bíblicos.] 4ª reunião - Testemunhando na prática. [Princípios para o tes-temunho. Situações simuladas para o treinamento.]5ª reunião - Pontos de contato. [Medo da morte, insegurança, culpa, orgulho, interesses e necessidades corporais.] 6ª reunião - O Líder e seu testemunho. [Meu testemunho para você! Como prepará-lo. Anunciar e praticar o amor.] 7ª reunião - Visita aos Pais. [A visita e o compartilhar das experiências.]

Page 58: IELB NO NORDESTE

58

8ª reunião - Criando Oportunidades para a Evangelização. [Es-tudo de diferentes oportunidades para o testemunho.] 9ª reunião - Treinando estudantes para o testemunho. [Como envolver alunos, crianças e jovens no testemunho.] (Manual de Evangelização, pp. 46, 47)

Apesar da boa iniciativa, não são publicados relatos de como isso vem ocorrendo dentro do âmbito da IELB. Isso não significa que um trabalho de Capelania não esteja acontecendo nas Escolas lutera-nas, pois a cada ano cresce o número de pastores capelães na IELB.

Figura 2: Capa livro

2.2.5 Festival Missionário

O Festival Missionário consiste num evento que mobiliza toda a Igreja para missão e evangelização. A organização do evento inicia com a escolha de uma data, tema, pregadores, grupos musicais, entre outras coisas. São poucas as igrejas da IELB que optaram por esta es-tratégia, até mesmo pela falta de acúmulo do que isso representa em

Page 59: IELB NO NORDESTE

59

termos de responsabilidade e preparação de cada membro e igrejas. Os resultados onde foi implantado sempre são surpreendentes, porque se observa uma mobilização dos membros na organização bem como uma participação expressiva de visitantes nas atividades configurando um crescimento da Igreja.

Para exemplificar esta estratégia missionária (confira o ANEXO B), um plano piloto foi aplicado nas realidades de Recife e Maceió nestes últimos anos. O primeiro evento realizado em Recife, em 1993, na comunidade de Sucupira, em quatro noites de atividades (de quinta-feira a domingo) contou com cerca de 380 pessoas, dos quais 200 eram visitantes. O mesmo ocorreu em Maceió, na sua primeira versão, em 2001, quando também o número de visitantes ultrapassou os 60% em relação à presença luterana.

Os projetos descritos são um reflexo da busca da IELB por estratégias missionárias que visem mobilizar as igrejas e seus mem-bros individualmente. O objetivo sempre é motivar e instrumenta-lizar para a missão. Entretanto, nenhum deles teve origem nordes-tina. Todos foram preparados a partir do Sul e Sudeste. O trabalho é complexo, mas aos poucos vai tomando corpo. Há um caminho longo para ser percorrido. E, no que se refere à atuação na Região Nordeste, a IELB precisa entender melhor a formação histórica da religiosidade brasileira e nordestina. Assim, ela terá maior conhe-cimento de causa e, com isso, sua ação será mais eficaz. Entender sobre quem é o nordestino, sua cultura, seus gostos e anseios são passos decisivos para a evangelização. O Festival missionário, por exemplo, pode perfeitamente ser aplicado à realidade nordestina e trará bons resultados para a IELB. O Programa do PEM carece de maiores esclarecimentos por parte dos membros da IELB, especial-mente, para que possam assumir o desafio de evangelizar a partir de grupos menores. Entretanto, como veremos adiante, a partir das pesquisas, os luteranos no Nordeste não se sentem capacitados para a evangelização, esperando que o pastor faça esse trabalho sozinho, sendo, inclusive, cobrado caso os resultados de seu trabalho não sejam satisfatórios.

Page 60: IELB NO NORDESTE

60

2.3 Missões e a conservação da identidade denominacional

Um grande desafio para todas as denominações protestantes hoje é manter e preservar a sua identidade confessional. Isso também tem sido objeto de tensões na IELB, especialmente por estarmos em um país continental com diferentes formas de expressão de cultura e fé. Adequar-se a uma nova região e respeitar os limites culturais da mesma e, ainda, não perder a sua identidade denominacional é algo necessário e decisivo para a atuação missionária da Igreja.

Em se tratando da IELB no Nordeste, um aspecto a ser apreciado é o litúrgico. A denominação preza pelo seu aparato litúrgico, o que a torna unida em todo o país. Entretanto, por mais que se queira adequar a liturgia a partir de seu aspecto local/cultural, há um choque, vindo de três fontes: igreja, pastor e membro.

A IELB preza pela liturgia e impinge tal valor como uma marca. Desde a formação do pastor na IELB, um grande tempo é despendido no estudo e análise da liturgia. Até mesmo algumas diferentes liturgias são produzidas (chamadas de liturgias especiais), mas que não fogem do “esqueleto” pré-estabelecido. Portanto, são uma nova roupagem sem qualquer mudança. Em todos os cultos na IELB, vamos observar uma sequência lógica que contempla as seguintes partes litúrgicas:

Hino de InvocaçãoInvocaçãoExortação / Alocução confessionalConfissão e AbsolviçãoIntróito (Introdução) ou Salmo Glória PatriKyrieGlória In Excelsis SaudaçãoOraçãoLeituras: Antigo Testamento, Epístola e EvangelhoConfissão de fé HinoSermão

Page 61: IELB NO NORDESTE

61

OfertórioRecolhimento das Ofertas Oração GeralCelebração da Santa Ceia (Prefácio, Pai Nosso, Palavras da Insti-

tuição, Pax Domini, Agnus Dei, Distribuição, Nunc Dimittis, Ação de graças, saudação e Benedicamus)

Bênção Avisos Hino de Encerramento.Certas partes do culto variam e outras não. Por exemplo, o in-

tróito, a oração do dia, a leitura do Antigo Testamento, a leitura da Epístola e a leitura do Evangelho são alteradas a cada domingo. Po-rém, o Credo, o Kyrie e a Bênção continuam os mesmos. Cada parte já tem a sua fórmula pronta, fazendo com que o membro decore e recite (ou cante) em cada culto a mesma coisa (ANEXO C, a liturgia lutera-na). O teólogo luterano Paulo Gerhard Pietzch (1999, p. 50), falando sobre as reformas litúrgicas, disse:

A liturgia, no entender de Lutero, apoiava-se na ideia de que a Palavra não devia ser estática, mas fluente e animada, e ter vida em seu uso na igreja. Por isso, trabalhou ardentemente a fim de dar a uma liturgia velha, novas roupagens, mais sonoras e vibrantes, mais atraentes e brilhantes. Ao indivíduo, é restabelecido o seu lugar no culto; o homem sente-se novamente alguém que é alvo do amor de Deus, não de sua ira. É, portanto, alguém que louva com algo que brota do seu coração cheio de fé e gratidão. Não repetia mais aquelas velhas frases que ninguém entendia o significado.

Os pastores, por sua vez, receosos da perda da identidade,

não ousam criar uma nova sequência de culto, menos formal e que lide com os sentimentos do indivíduo, com palavras do cotidiano, palavras estas que chegam mais perto das necessidades do ouvinte. Por isso, além da frustração, acabam por acomodar-se às críticas, es-pecialmente dos visitantes que querem ver uma igreja diferente dos moldes católico-romanos.

Os membros, acostumados a ver o pastor com a túnica, com

Page 62: IELB NO NORDESTE

62

a liturgia responsiva (cantada), com a ordem de culto imutável, tam-bém se sentem ameaçados se qualquer mudança é introduzida. Até dizem que a descaracterização da igreja é perigosa porque ela per-deria a sua identidade.

O tema do culto e a liturgia têm sido debatido frequentemente ao longo da história da IELB no Nordeste. Em 1991, num artigo para um debate conciliar, realizado com a liderança da IELB do Nordeste, incluindo pastores e leigos, em Recife, o Rev. João Carlos Tom, então pastor em Maceió, expôs a respeito da seguinte forma: “A igreja deve distribuir aos membros, no primeiro domingo do mês, o planejamen-to mensal dos cultos: leituras bíblicas, temas de cada domingo, hinos [...] a fim de que possam durante a semana, preparar-se para o culto”. Quanto ao modelo litúrgico, ele continuou: “Que não se descaracte-rize a identidade litúrgica do nosso culto. Que todas as comunidades aprendam, conheçam e pratiquem a liturgia oficial da IELB”. Quanto à celebração da Santa Ceia, “que se celebre a Ceia regularmente, sem retalhar a liturgia da mesma, mas com toda a solenidade, reverência, beleza e alegria que o momento exige”. E quanto à mensagem central do culto, “sendo o sermão o que mais atrai e segura as pessoas, con-vém que haja sempre pregação (pelo pastor – as pessoas não querem ouvir leigos)”.

O mesmo pastor, num outro artigo para este mesmo concílio, intitulado Culto com mais emoção? argumentou que o “orgasmo emo-cional psicológico é muito mais uma fuga doentia do mundo, da reali-dade e seus problemas, e não vamos ao culto para fugir da realidade, mas para compreendê-la melhor e aprender como encará-la e resolver os problemas com a ajuda de Deus que está conosco”. Ainda sobre este tema, no mesmo artigo, ele afirmou:

Uma emoção sadia é a que respeita sentimentos de solidariedade – humanitárias – que me induzem à ação no decorrer da semana; envolve-me em compromisso com o irmão sofredor, em dar algo de mim, não apenas receber, me saciar ou me extasiar; a emoção apenas no sentido de satisfazer meus anseios, me enlevar, fazer esquecer os problemas – é sentimentalismo, emocionalismo que não constrói, apenas vicia a fugir da realidade, e induz à busca de emoções cada vez

Page 63: IELB NO NORDESTE

63

mais fortes, desequilibrando a personalidade e trazendo mais dor e sofrimento, cada vez que preciso encarar a realidade fria, sem emoção.

Ao olharmos para a mulher nordestina e o homem nordestino, porém, algumas características se afloram. Sua sensibilidade é aguça-da, seja lá qual for o sentimento: dor, raiva, tristeza ou alegria. Ela/ele não reprime seus sentimentos, mas os manifesta com extrema fa-cilidade. Por isso, a Igreja, consciente de seu papel, deverá sempre construir pontes de aproximação com as pessoas. Neste sentido, a Igreja Luterana pode fazer uso de algumas de suas características, tais como a sua história, sua doutrina e sua liturgia e os símbolos, contudo, adequando-os a sua realidade de ação.

Entretanto, alguns obstáculos se destacam, entre eles: a) sua rou-pagem cultural; b) sua hinologia, não adequada à musicalidade nor-destina; e c) a falta de uma renovação litúrgica. Enfim, o fato de não ser sensível à realidade nordestina dificulta a sua inserção mais efetiva. O que podemos perceber, em termos de IELB, é que há uma preocu-pação pela bandeira denominacional, algo que até pode estar acima do Evangelho, ocasionando a perda de muito tempo “adestrando” os novos convertidos à nova forma litúrgica ou de culto, em detrimento de uma capacitação mais adequada na formação de missionários que levem o Evangelho de Cristo para todos. Isso vem ocorrendo desde o princípio das missões luteranas no Nordeste.

No que diz respeito à questão de identificação com a cultura local, seu povo e a forma como expressa a sua fé, outras igrejas já se manifestaram a respeito, como é o caso da Igreja Católica Romana. Ela, através do documento Evangelii Nuntiand:

As igrejas particulares, profundamente amalgamadas não apenas com as pessoas, como também com as aspirações, as riquezas e as limitações, as maneiras de orar, de amar, de encarar a vida e o mundo, que caracterizam este ou aquele aglomerado humano, têm o papel de assimilar o essencial da mensagem evangélica, de transpô-la, sem a mínima traição a sua verdade essencial, para a linguagem que esses homens compreendem e, em seguida, de anunciá-la nessa mesma linguagem. Tal

Page 64: IELB NO NORDESTE

64

transposição há de ser feita com o discernimento, a seriedade, o respeito e a competência que a matéria exige, no campo das expressões litúrgicas, como de igual modo no que se refere à catequese, à formulação teológica, às estruturas eclesiais secundárias e aos ministérios (evang. Nunt. 69).

Portanto, no caso da IELB, o que se requer é a busca de meios para se construir mensagens do Evangelho que falem ao coração de cada um, à realidade do ouvinte, sem perder de vista o texto e sua in-terpretação. Não se trata de uma nova leitura do Evangelho, pois este já fala por si, mas que a ênfase seja adequada à ansiedade de cada um. Naturalmente, não se espera contribuir para a alienação das pessoas, mas simplesmente comunicar-lhes o Evangelho de Jesus, e situar a Igreja dentro da história de vida de cada um.

Devemos manter uma tensão dialética entre duas verdades muito diferentes, mas complementares: primeira, precisamos estar abertos para novas formas de ver a natureza da Igreja dentro de um tempo e de uma situação histórica específicos. Segunda, em razão do elo entre objetivo e mensagem da Igreja ao longo da história, devemos afirmar a existência de somente uma realidade, e o mesmo Senhor da Igreja, ontem, hoje e sempre (Hb 13,8) (ENGEN, p. 98).

Neste particular temos o próprio exemplo de Jesus que também rompeu com as barreiras sociais no Seu ministério. Foi à casa do fa-riseu para jantar (Lc 7.36; 11.37; 14.1), deixou ser ungido por uma pecadora (Lc 7.36-50), e conversou com publicanos e samaritanos. Enfim, todos estes eram alvos da evangelização de Jesus, e, em cada situação, Ele tinha uma palavra específica.

O que segue no próximo capítulo é um olhar crítico da reali-dade existente, considerando as suas múltiplas facetas no campo da evangelização e presença da IELB no Nordeste. Também serão exami-nados alguns dados e depoimentos a partir de questionários aplicados a algumas pessoas e que possibilitaram ampliar a reflexão em relação ao assunto em pauta.

Page 65: IELB NO NORDESTE

65

3A REALIDADE DO LUTERANISMO

NO NORDESTE

No capítulo anterior, apresentamos o posicionamento bíbli-co-teológico da IELB sobre Missão. No presente capítulo, será feita uma apreciação da realidade do Luteranismo no Nordeste a partir de uma pesquisa de campo realizada na região, nas cidades de Salvador, Aracaju, Maceió, Recife, João Pessoa, Campina Grande, Natal e Forta-leza, onde há a presença da IELB.

Como já dissemos antes, na Introdução, a pesquisa foi realizada com pastores e membros das cidades citadas acima. Foram entregues 10 formulários para os pastores (conforme ANEXO D) e 50 formulá-rios para os membros (conforme ANEXO E), sendo 5 de cada cidade. Estes formulários foram feitos de forma subjetiva, a fim de que cada um pudesse, livremente, discorrer sobre as questões levantadas. As perguntas tinham como conteúdo básico a formação dos pastores es-pecialmente no quesito Missiologia, e o porquê do lento crescimento da IELB na região. O período da pesquisa foi de agosto a dezembro de 2007. Destes, 35 responderam ao questionário. Os entrevistados foram escolhidos levando em conta os diferentes graus de instrução, idade e tempo na Igreja Luterana. As pessoas foram escolhidas pelo seu comprometimento nas suas respectivas comunidades. Devido às distâncias geográficas não foi possível realizar a pesquisa com aqueles membros afastados. As respostas passam a ser objetos de reflexão nes-te capítulo e as conclusões do mesmo são frutos das respostas, bem como meu ponto de vista pessoal a partir da experiência de 16 anos trabalhando na região.

Page 66: IELB NO NORDESTE

66

Gráfico 1: Leigos e pastores que responderam a pesquisa

Os entrevistados foram críticos o suficiente, mas nunca desmerecem as iniciativas da denominação, seus caminhos até aqui, e suas expectativas futuras. São unânimes na esperança de ver uma igreja forte atuando nesta região, com autonomia, contextualização e identidade eclesial.

Através das entrevistas, foram detectadas situações que reme-tem a uma análise mais acurada, a fim de se encontrar subsídios da-quilo que se espera da IELB e sua prática na região. Mesmo os aspectos considerados como positivos apresentam elementos para certa crítica, a fim de que não se tornem um fim em si mesmo ou venham dificultar o trabalho da IELB e seu objetivo de levar Cristo para todos.

Além de analisar os dados, tentaremos trazer respostas sobre possíveis entraves, sejam estes de estrutura da igreja ou da compreen-são que os pastores tenham a respeito da própria missão.

3.1 Análise da situação atual das Igrejas Luteranas no Nordeste

Já se passou mais de meio século de atuação da IELB na região e o que se vê é um número reduzido de adeptos e uma perspectiva lenta de crescimento. Os números que seguem foram extraídos das estatísticas paroquiais anuais encaminhadas para a direção nacional, e revelam unicamente o perfil de crescimento da IELB nas cidades de es-

Page 67: IELB NO NORDESTE

67

tudo deste trabalho. Estão em dois blocos, tendo em vista que a IELB, em sua estrutura organizacional, contempla regiões denominadas dis-tritos e, neste trabalho, estão sendo analisados dois distritos: Nordeste Verdes Mares e Nordeste Coqueiros.

Quadro 6: Dados de crescimento das Igrejas Luteranas

do Distrito Nordeste Coqueiros

Igre

ja19

95

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

Salv

ador

C

entro

68

70

7060

6678

7782

9210

0

Salv

ador

Pa

ripe

47

76

7675

102

104

104

108

127

111

Sim

ões

Filh

o 3

9 3

939

3940

6466

6454

64

Ara

caju

118

125

128

137

137

134

126

129

173

163

Mac

eió

52

5258

6272

6478

8193

99

Page 68: IELB NO NORDESTE

68

Quadro 7: Dados de crescimento das Igrejas Luteranas do Distrito Nordeste Verdes Mares

Pode-se perceber, através dos quadros acima, que o crescimen-to lento está nas cidades de Salvador Centro, Simões Filho, Aracaju, Recife, João Pessoa e Campina Grande. Em 1998, em Campina Gran-de, houve um decréscimo acentuado. A explicação é de que muitos luteranos que não participavam mais das atividades da igreja foram retirados do Rol de Membros. Já em Recife e Salvador – centro, o lento crescimento, como vimos antes (1.4.1 e 1.4.2), pode estar re-

Igre

ja 1

995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

Reci

fe17

8 20

218

418

818

819

520

320

718

018

4

João

Pe

ssoa

9610

287

9095

9310

612

113

413

8

Cam

pina

G

rand

e17

318

519

711

614

515

215

415

718

016

0

Nat

al35

4860

6571

8198

102

9210

7

Forta

leza

93

8586

101

9210

412

813

913

315

2

Page 69: IELB NO NORDESTE

69

lacionado a diversos fatores, entre eles: a) o processo inicial de aten-dimento a germânicos que viviam nestas cidades em função de suas atividades em grandes empresas que acabaram falindo, provocando um esvaziamento da igreja; b) a falta de unidade interna entre os membros; c) a falta de visão missionária mais ousada que pudesse alastrar o número de membros e de igrejas (mais templos); d) a grande rotatividade dos membros.

Por outro lado, os quadros mostram um crescimento mais acen-tuado em outras cidades tais como: Natal (205%), Salvador – Paripe (170%) e Maceió (78%). Quais teriam sido as razões para tal cresci-mento? Em Natal há um modelo de trabalho de envolvimento da li-derança nas atividades múltiplas da igreja tais como professores de Escola Dominical, líderes de Estudo Bíblico e do grupo de jovens. Nos últimos anos, tem-se investido com a contratação de duas diaconisas que trabalham com Educação Cristã e Música. Há um entendimen-to local de que as pessoas precisam estar engajadas nos projetos da igreja, multiplicando seus esforços, com resultados animadores. Isso levou a igreja a ser mais dinâmica, participativa, e, em conjunto com a membresia, ela encontrou melhores meios para a sua ação.

Já em Salvador, no bairro Paripe, a Igreja Luterana está localiza-da num populoso bairro de periferia, rodeada de pessoas de classe bai-xa. Há um prédio grande, com escola inclusive, e a proposta de ação foi abarcar pessoas dos bairros, levando em conta todo o seu contexto sócio-econômico-religioso. Daí podemos afirmar que as igrejas que mais crescem são aquelas que estão perto das pessoas, literalmente perto de suas casas. Além disso, ali há um grande envolvimento da liderança no local.

Em Maceió destaca-se a permanência do pastor Waldyr Hoff-mann por quase seis anos consecutivos e com o firme propósito em descentralizar o trabalho, isto é, sair da sede. A construção de uma segunda igreja e a formação de uma nova congregação foi significativa para o crescimento, pois a igreja precisa estar onde está o povo. Num mundo como o nosso, onde o tempo é limitado, as pessoas não po-dem, para participar de uma igreja, se deslocar em grandes distâncias.

Page 70: IELB NO NORDESTE

70

3.2 Pesquisa aponta razões do lento crescimento da IELB na Região Nordeste

A pesquisa feita revela pontos fortes, bem como as fragilidades da ação missionária da IELB na Região Nordeste, e, por isso, são im-portantes para esta análise. Muitos fatores podem ser apontados como indicadores para o pouco crescimento da IELB no Nordeste. Por exem-plo, há os que afirmam ser a estrutura um modelo inadequado para a região; que os seus pastores acabam aderindo a tal modelo, sem criatividade missionária com medo de se perder a identidade da igreja. Entende-se por modelo estrutural duas coisas: estrutura em si e pro-posta litúrgica. Ambas têm estreita relação com a proposta missionária para o Nordeste e ambas carecem de uma reflexão mais profunda, tendo em vista uma busca por um referencial que venha contribuir com a ação da Igreja. Nas páginas que seguem, o objetivo é levantar as razões para o lento crescimento da IELB no Nordeste, apontadas pelos entrevistados. Metodologicamente, sempre que houver os dados descritos haverá uma síntese que será apresentada graficamente.

3.2.1 Formação dos pastores

Tanto os pastores como os membros da IELB entrevistados são unânimes em afirmar que a formação dos pastores da IELB, enquanto teológica, é boa. Teoricamente, todos são bem preparados. Isto está evidente especialmente no conteúdo das mensagens e estudos bíbli-cos. São fiéis depositários das Confissões da Fé da Igreja, não abrindo mão do seu saber teológico diante de qualquer assunto que lhes é apresentado. É evidente o apreço que se dá aos professores de Teolo-gia do Seminário Concórdia como grandes responsáveis pela manu-tenção da pureza doutrinária da IELB, herdada da Reforma Protestante.

Entretanto, a pesquisa aponta que a teologia teórica aprendida no Seminário não é totalmente afinada com a realidade nordestina, região onde a cultura é totalmente diferente do Sul do país. A pre-sença afro e de portugueses no Nordeste é marcante, ao passo que no Sul, conforme já vimos, os imigrantes alemães, especialmente,

Page 71: IELB NO NORDESTE

71

trouxeram e ainda vivem outros costumes. Os próprios professores do Seminário não são oriundos do Nordeste, mas sim do Sul e, natu-ralmente, o seu repasse é a partir do seu contexto pessoal. Atualmen-te sete pastores das cidades pesquisadas são do Sul, dois do Sudeste e um do Centro Oeste.

Estrategicamente, a IELB ainda não acordou para uma ação mis-sionária mais efetiva pautada num preparo mais aculturado. Os pas-tores enviados para o Nordeste, conforme dados da pesquisa, nunca tiveram acesso ao sistema cultural da região. E, ainda, vão com a ex-pectativa de encontrar uma igreja pronta, estruturada, independente financeiramente, autônoma. Entretanto, quando chegam, a realidade é totalmente outra. Eles se deparam com igrejas pequenas, sem in-fraestrutura adequada, dependentes da Direção Nacional, e precisam adequar todo o seu aprendizado e suas expectativas a esta realidade alheia. Os 10 pastores entrevistados foram unânimes em afirmar que não tiveram formação sobre a cultura nordestina e tiveram que apren-der na prática. O mesmo se refere quanto à formação transcultural, sendo que sete não tiveram sequer capacitação na área e os outros três, um pouco somente.

A preparação missionária destes obreiros é mínima, elementar, mas lhes é cobrado um crescimento numérico do seu trabalho. Mes-mo uma iniciativa como o Laboratório de Missão65 que faz parte do preparo, ainda está distante daquilo que é requerido dos pastores nos campos avançados de missão da IELB. Se o candidato ao ministério pastoral no Nordeste pudesse ter pelo menos uma experiência na re-gião juntamente com um pastor local (um estágio, por exemplo) du-rante dois anos, com certeza, isso faria uma grande diferença na sua formação e na sua percepção das questões missiológicas. Ou até mes-mo a possibilidade de um Professor de Teologia ter uma experiência também por um período de dois anos, já facilitaria o seu repasse para os alunos a respeito desta realidade. De qualquer maneira, nossa con-clusão é que a formação dos obreiros da IELB precisava incluir uma formação missionária mais abrangente que contemplasse, também, dados da Região Nordeste.

65 Laboratório de Missão, com algumas iniciativas evangelísticas junto à Igrejas e Escolas da IELB na região metropolitana de Porto Alegre, com envolvimento dos alunos do Seminário Concórdia.

Page 72: IELB NO NORDESTE

72

As entrevistas entre os pastores revelam que todos tiveram um bom curso teórico sobre Crescimento de Igreja nos Seminários Teo-lógicos. Entretanto, desde que estão no campo de trabalho, apenas 3 tiveram capacitação na área. Até mesmo quanto à Missiologia, quatro destes pastores não tiveram ainda capacitação sobre o assunto. Isso também traz um reflexo na formação dos membros para o evangelis-mo, sendo que 16 entrevistados afirmaram ter recebido capacitação, enquanto nove responderam negativamente. Além disso, a maioria dos membros evangeliza a partir do cotidiano, conforme demonstra o quadro a seguir:

Tabela 1 – Como membros da igreja colocam em prática o evangelismo

Respostas NúmeroNo cotidiano 10 pessoas

Não evangeliza 12 pessoasA partir das atividades da igreja 3 pessoas

Gráfico 2 – Como membros da Igreja colocam em prática o evangelismo

Page 73: IELB NO NORDESTE

73

As entrevistas revelam que 21 pessoas consideram que deveria haver uma atenção especial na formação dos pastores para o Nordes-te, ao passo que quatro estão satisfeitas. Os comentários dos entrevis-tados sobre esse assunto são os seguintes:

Tabela 2 – Formação dos pastores

Respostas Número

Deveriam receber formação diferenciada 10

Deveria haver uma preparação como para missionários e não tradicional 7

Deveriam ver como lidar com pessoas diferentes 5

Dar mais abertura e acompanhamento a estudantes do Nordeste 1

Ter um seminário no Nordeste 1

É boa a formação teológica 1

Gráfico 3: Resumo dos dados sobre a formação dos pastores

Page 74: IELB NO NORDESTE

74

Numa entrevista feita com o diretor do Seminário Concórdia, Prof. Gerson Linden, ele expressou suas impressões pessoais sobre o assunto devido ao fato de não ter informações mais detalhadas sobre a realidade, mas apenas a partir de visitas a estagiários de Teologia e pa-lestras em encontro de pastores. Foi-lhe perguntado sobre a formação dos obreiros que serão candidatos a trabalhar no Nordeste, bem como a sua visão a respeito do trabalho da IELB na região. Como se trata de uma única entrevista e, considerando a natureza de sua reflexão sobre o assunto, optamos em transcrevê-la na íntegra:

A formação proporcionada pelo Seminário tem uma forte ênfase na fundamentação teológica de toda práxis pastoral. Entende-se que o estudante precisa ser preparado para, em princípio, atuar no ministério em qualquer região do Brasil e mesmo no exterior. A área de missão tem recebido nos últimos anos uma atenção especial, tanto no aspecto ligado ao currículo (hoje são cinco disciplinas da área, sendo que duas delas de caráter teórico-prá-tico) como no proporcionar oportunidades práticas de atuação do estudante (trabalho em hospitais, escolas, universidades, em bairros carentes com estudantes de outros cursos, etc.). Uma formação específica tendo em vista uma determinada região do país, por exemplo, o Nordeste, não acontece, se considerarmos o currículo da instituição. No entanto, outros mecanismos são utilizados na busca de uma formação que contemple diversas atividades que o egresso poderá ter de encarar. Exemplificando, uma das formas tem sido o envio de estagiários para as mais diversas regiões do país. A expe-riência tem mostrado que o ano do estágio no Nordeste, por exemplo, não apenas enriquece a formação do próprio estagi-ário, mas também dos seus colegas, no retorno ao Seminário, ao compartilharem as experiências daquele ano. Além disso, o trabalho de conclusão de curso no Seminário - de caráter mais prático-pastoral - tem oportunizado aos estudantes for-mandos escreverem sobre sua experiência no estágio, o que acaba sendo compartilhado com a comunidade acadêmica como um todo. Meu conhecimento do trabalho da IELB no nordeste é bastan-te limitado e, por isso, parcial. Posso referir-me a certas im-

Page 75: IELB NO NORDESTE

75

pressões que colhi ao visitar algumas das cidades em que a IELB atua. Em primeiro lugar, parece-me bastante evidente a preocupação dos missionários em trabalhar na busca dos melhores resulta-dos. Fica evidenciada em boa parte dos missionários certa frus-tração com resultados que não correspondem a sua expectativa pessoal. A convicção de manter os princípios teológicos a partir das Confissões Luteranas enfrenta um natural questionamento quando se evidenciam os resultados advindos de outras deno-minações evangélicas, especialmente. Um dos fatores que, me parece, precisa ser mais bem articulado é o apoio ao missio-nário por parte da Igreja (Sínodo), em cada um dos níveis de sua estrutura (nacional, distrital). Muitos dos pastores (senão to-dos) atuando em frentes avançadas de missão sentem-se solitá-rios. O tratamento dado a eles deve priorizar um apoio fraterno e oportunidades de comunhão, reflexão teológica e treinamen-to (o Seminário está iniciando um trabalho com centros de aper-feiçoamento pastoral, um dos quais será no Nordeste, tendo em vista chegar mais perto dos pastores nas diversas regiões do Brasil). Deve-se evitar um espírito de cobrança por resultados. Tal abordagem não apenas produz resultados discutíveis, como é incompatível com uma visão positiva, e ao mesmo tempo realista, sobre o ministério e a missão. Ao considerar o trabalho e os resultados, seria importante analisar caso a caso, pois o Nordeste (e o trabalho da IELB no Nordeste) não é uma reali-dade única, apesar de todas as semelhanças que, sem dúvida, existem nos diversos locais e no trabalho da Igreja. Além disso, é minha convicção pessoal que numa frente avan-çada, distante de outros pastores, dever-se-ia enviar não apenas um, mas dois pastores, orientados para desenvolverem um mi-nistério compartilhado. A presença de um colega, com o desen-volvimento positivo de um trabalho em conjunto, parece-me ser um fator que pode auxiliar o desempenho do ministério e a fixação do pastor no seu local de trabalho.

A entrevista acima vem ao encontro das questões levantadas

neste trabalho, ressaltando, especialmente o aspecto positivo de se enviar estagiários à região, um maior apoio aos pastores que estão nas frentes avançadas da IELB, com menos cobrança por resultados e a

Page 76: IELB NO NORDESTE

76

indicação de um trabalho mais efetivo com a presença de, no mínimo, dois pastores em cada Igreja Luterana da região.

Também foi realizada uma entrevista com o 1º. Vice presidente da IELB, pastor Arnildo Schneider, por quatro anos responsável pela área missionária da IELB (entre 1998 a 2002) e, na atual gestão (2006-2010), responsável pela área de Formação e Recursos Humanos na IELB. Também, devido ao fato de ser um posicionamento da Direção Nacional sobre o assunto, é oportuno reproduzir suas preocupações:

(Passo a responder o seu e-mail e antes de tudo agradeço, por poder me manifestar, dizendo o que penso sobre a IELB, seus pastores e suas missões.)A IELB tem se preocupado em dar uma boa formação acadêmica e prática aos seus pastores. Nos últimos anos, foram tomadas algumas decisões visando qualificar ainda mais os pastores. Entre estas posso citar: exigência maior na seleção de candidatos a ingressar no curso de Teologia; mescla entre conhecimento acadêmico e atividades práticas; curso de Teologia em seis anos, o que significa um semestre a mais; incentivo para que pastores continuem se aperfeiçoando ao longo da carreira pastoral.Acredito que, com a base oferecida pelo Seminário, o pastor recém formado tem um bom nível de conhecimento para iniciar o ministério pastoral, não somente no Nordeste do Brasil, mas também em outros países. Daí para frente depende muito de cada candidato. Algumas sugestões: o jovem pastor precisa ter iniciativa própria; estar disposto a se adaptar ao contexto social para o qual foi enviado e não esperar que as pessoas se adaptem a ele; estar disposto a desfazer as malas e as caixas de livros, pensando num trabalho a longo prazo; ter ao seu lado uma esposa fiel que valoriza o ministério pastoral e participa na igreja com os dons que recebeu. Penso que estas são algumas sugestões valiosas para que o ministério pastoral transcorra com bênçãos.Ao longo dos anos que estive envolvido com as atividades da Área de Missão da IELB e agora na Área de Formação e Recursos Humanos, tenho observado que os pastores que permaneceram por mais tempo pastoreando uma congregação no Nordeste ou em outras regiões colheram bons frutos do seu trabalho para o Reino de Deus. Onde houve constantes mudanças de pastores, o trabalho missionário estagnou ou retrocedeu.

Page 77: IELB NO NORDESTE

77

Em meio a esta grande confusão de seitas que há hoje no Brasil, a grande palavra é “credibilidade”. Credibilidade é algo que se conquista com o passar dos anos, realizando um trabalho fiel e dedicado. Daí a necessidade do pastor permanecer por mais tempo numa congregação, formando lideranças que darão continuidade ao trabalho pastoral. Outro ponto que julgo importante é a necessidade da congregação ter um planejamento a curto, médio e longo prazo. O planejamento pertence à congregação e não ao pastor. O planejamento é conhecido pelos líderes da congregação, pois participaram da sua construção. De modo que, se muda o pastor, o planejamento não sofre um processo de descontinuidade, pois os líderes zelarão pelo seu cumprimento.Quanto ao crescimento numérico das congregações não há como estabelecer um critério. Cada campo de missão tem suas peculiaridades próprias. A IELB é uma Igreja que historicamente cresce. É um crescimento lento, mas constante. Nossa missão é semear a Palavra com zelo, perseverança e fidelidade. Onde isto está sendo feito, há crescimento na fé e nos seus frutos.Concluo dizendo que um culto litúrgico contextualizado, um bom e constante programa de visitas pastorais, uma sólida instrução das crianças, jovens e adultos, uma constante preparação de líderes e um constante aproveitamento de oportunidades que surgem para pastor ou membros participarem em ações e conselhos comunitários são o oxigênio que fazem pulsar a vida de uma congregação.

Em ambas as respostas, percebe-se que há uma tentativa em sanar esta dificuldade na formação dos pastores que virão a atuar no Nordeste, especialmente na grade curricular, envio de estagiários de Teologia para a região, e incentivando os candidatos ao ministério pastoral no Nordeste a se aprofundarem, antecipadamente, nos as-pectos sócio-culturais e religiosos da região. Há também uma preo-cupação da Direção Nacional quanto à família pastoral, a fim de que haja uma adaptação ao local, especialmente, visando um trabalho a longo prazo.

Page 78: IELB NO NORDESTE

78

3.2.2 Qualificação dos pastores como evangelistas

A qualificação dos pastores como evangelistas é outro aspecto a ser repensado quando se fala sobre a IELB no Nordeste. Muitos pasto-res que para cá vieram não tinham a mínima ideia do que isso repre-sentaria para a sua vida ministerial. Tensões de todos os lados foram surgindo e, o que deveria ser prazeroso, passou a ser difícil. É evidente para todos que os pastores têm uma boa formação pastoral, entretan-to, pouco ou nenhum preparo missionário, e isso vai desencadear na comunidade onde os membros acabam não sendo bem preparados para o evangelismo, ou tomam uma atitude defensiva, afirmando não estarem aptos para tal tarefa.

Esporadicamente, os próprios pastores fazem uma reflexão sobre este assunto, ou participam de um treinamento; entretanto, também isso está atrelado a orientadores que nem sempre estão pre-sentes na Região Nordeste. Se o pastor é autodidata e procura trazer novos elementos para a sua prática missionária, especialmente res-saltando a sua nova realidade de trabalho, ele tende a ser mais pro-dutivo. Porém, como isso não fez parte da sua formação teológica, com extrema rapidez também cai em desuso, e o pastor se limita ao atendimento pastoral.

Mesmo entendendo que a essência da Igreja é missão, com as suas atividades que incluem a missão interna, especialmente, para os que já são membros, ainda assim é pouco para o grande objetivo de levar Cristo para todos. As estratégias missionárias ado-tadas pelos pastores, muitas vezes, são fracas e, quando estes saem da região para assumir outro campo de trabalho, a igreja fica sem referencial. Em outras palavras, a igreja local se ressente por não ter um programa permanente de evangelismo que possa ser adequado de acordo com a necessidade do momento, independente de quem seja o seu pastor.

Nas entrevistas realizadas com os pastores sobre o seu curso de Teologia, especialmente sobre a Missiologia, as respostas são as que seguem:

Page 79: IELB NO NORDESTE

79

Tabela 3 - Sobre o curso de teologia:

Respostas NúmeroNão voltado para a missão 3Faltou capacitação evangelística 2Teve treinamento evangelístico 1Completo 1Muito bom 2Forte em doutrina 1Bom, mas deixou a desejar no item evangelismo 1

Gráfico 4: Resumo sobre o curso de Teologia

3.2.3 O pastor e a cultura local

Uma formação acadêmica com ênfase missiológica ajudaria no preparo de um ministério pastoral mais eficaz, pois ajudaria na questão de aculturalizar-se, caminho essencial de quem pretende le-var a mensagem de Deus às pessoas de outra cultura. Criar raízes no seu novo local de trabalho, não transparecer um elemento neutro ou avesso à realidade nova, não ter um ar de superioridade devido a sua formação e origem seriam atitudes indispensáveis.

Por mais que se identifique no seu papel missionário, seja

Page 80: IELB NO NORDESTE

80

como evangelista, visitador, orador e músico, o fato é que, em termos práticos, o candidato a trabalhar na missão Luterana no Nordeste entra no seu campo de trabalho sem conhecimento da sua nova realidade cultural. O mais agravante é que ele se torna, muitas vezes, a referên-cia da igreja como administrador, pastor e músico, acaba impondo o seu ritmo e as suas ideias, e nem sempre leva em conta os anseios de seus congregados. E, como em cada cidade há apenas um pastor da IELB, os membros das igrejas não têm parâmetros para analisar e com-parar. Ainda, por estarem sujeitos às orientações da Direção Nacional, eles não têm muito que opinar e precisam aceitar aquela nova situação ministerial em seu meio.

Por isso, o choque cultural é inevitável. Até que o pastor venha perceber e adequar os seus preceitos culturais já foram muitas as ten-sões e até o esfriamento dos membros. A reconquista é um caminho que nem sempre se dá em curto espaço de tempo, mas num processo lento, e ainda assim, sob tensão. O pastor não pode depender da im-posição de sua cultura para garantir sucesso no seu trabalho. A Igreja é pluricultural, portanto a denominação Luterana pode se identificar com os novos modelos de expansão cultural existentes também na Região Nordeste.

O mesmo assunto precisa ser analisado pela família pastoral. Igrejas luteranas do Nordeste já sofreram muito pela falta de identifica-ção da esposa do pastor com os aspectos culturais da região, ao ponto de o casal solicitar transferência. Encarar preconceituosamente as pes-soas do Nordeste é um caminho para a derrota, e acaba prejudicando um trabalho promissor, como já ocorreu em Maceió, Simões Filho e Recife. Nestes lugares, houve situações em que as esposas, oriundas do Sul, não se identificaram com a região, entrando, inclusive, em depressão. Um dos pastores, em Maceió, permaneceu somente três meses à frente do trabalho e, de um momento para o outro, deixou a congregação. Um seminarista em Simões Filho, BA, interrompeu suas atividades de estágio de Teologia pelo fato da esposa não se adaptar também àquela realidade cultural.

O Evangelho está acima de qualquer cultura, mas esta, por fazer parte do indivíduo, precisa ser fortalecida e, em meio a ela, a Pala-vra também cria caminhos para um resultado mais eficaz. O objetivo

Page 81: IELB NO NORDESTE

81

maior da denominação Luterana é levar Cristo para todos. Por isso, pastores que trabalham no Nordeste, mesmo que curtam o seu chimar-rão, por exemplo, precisam saber que isto faz parte de sua cultura e não do nordestino. As queixas vêm de todos os lados: o pastor acredita que a sua formação cultural é superior à do nordestino, reclama dos membros e faz muita comparação com os procedimentos da IELB no Sul. Os membros, por outro lado, precisam adequar-se ao seu pastor, ocorrendo situações de constrangimento, em alguns casos até por não serem adeptos do chimarrão.

3.2.4 Equipando os santos

A partir do momento em que pastor e congregação se afinam nos pontos acima, abre-se um espaço para o discipulado e capacitação, fortalecendo suas bases na doutrina da Igreja, e se preparando para a evangelização, a razão principal da Igreja. Como a Região Nordeste é composta por diversas ramificações religiosas, é fundamental afinar o discurso a partir da compreensão das Escrituras Sagradas. O pastor tem este papel de dirigir a comunidade para que ela obedeça ao que a Palavra de Deus orienta. Dos membros entrevistados, 16 disseram que tinham feito cursos de evangelismo, ao passo que nove não fizeram.

Todavia, se a leitura da Região nos seus aspectos social, espiritu-al, econômico e cultural não for feita adequadamente, também o equi-par pela Palavra será descasado da realidade, podendo não conseguir o objetivo desejado. Significa que o pastor precisa estar atento tão logo chegue ao seu novo ambiente de trabalho para, através de pesquisa, visitas e convívio com as pessoas, perceber suas necessidades espiri-tuais a fim de supri-las adequadamente, por meio de uma aplicação apropriada das Escrituras. Em se tratando da Região Nordeste, devido à rotatividade dos membros das igrejas, este equipar é contínuo, é um processo desgastante, apesar de necessário.

As entrevistas apontam para isso como uma lacuna na maioria das congregações. Daí acontece de haver dois discursos, o dos pastores e o dos membros. Os pastores dizem que os membros são equipados constantemente através de estudos bíblicos, catecismo e mensagens, e

Page 82: IELB NO NORDESTE

82

que isso é o suficiente. Os membros, no entanto, se sentem incapacita-dos para a tarefa evangelística, e respondem timidamente aos impulsos e desafios colocados. Talvez as expectativas de ambos estejam equivo-cadas. Este equipar, muitas vezes, pode sobrecarregar alguns, devido ao pequeno número de membros nas comunidades. Isso faz parecer o trabalho mais lento e menos produtivo. São todos fatores que acabam influenciando negativamente o crescimento da igreja, além de provo-carem o esfriamento de muitos.

A sobrecarga também é sentida pelo pastor. Ele, apesar de ter boa vontade, e sentindo a responsabilidade sobre os seus ombros, aca-ba se frustrando e, em muitos casos, solicita a sua remoção do lugar, deixando a congregação reiniciar todo este processo com a vinda de um novo pastor. Tal ruptura no equipar traz prejuízo ao trabalho e é uma prática comum na IELB no Nordeste. É urgente repensar o mo-delo existente, mesmo que para isso se faça um grande investimento financeiro. Se houvesse um segundo pastor em cada cidade, salvo al-gumas exceções, isso não ocorreria. Portanto, é preciso que a IELB repense a sua estratégia de um único pastor em cada cidade, conforme o modelo atual. Estes aspectos também foram destacados nas entrevis-tas feitas com o Professor Gerson Linden e o pastor Arnildo Schneider, vistas anteriormente.

3.2.5 O afastamento de membros

Assim como nas outras denominações, também nas igrejas da IELB muitos membros se afastam e, em alguns casos, por definitivo. As entrevistas apontam para falhas na própria igreja local e até na condu-ta e postura do pastor. Uma vez que o objetivo da Igreja é conduzir as almas para Cristo, é seu dever encontrar e apontar para caminhos que sejam coerentes e que encontrem respaldo bíblico. Entretanto, a partir do momento que os interesses pessoais ficam mais evidentes, há tensões e rupturas no interior das igrejas. Como se tratam de igrejas pequenas, as tensões muitas vezes não são localizadas num setor, mas se tornam generalizadas. O quadro a seguir é o resultado das entrevis-tas realizadas com os membros:

Page 83: IELB NO NORDESTE

83

Tabela 4 – Por que muitos se afastam?

Respostas NúmeroRelacionamento interno ruim 1Frieza espiritual ou falta de espiritualidade 1Falta de convicção 3Falta de atenção às pessoas 1Falta de reconhecimento do erro 1Poucos cultos por semana 2Maioria dos nordestinos não possui uma cultura letrada 1Os pastores deveriam cultivar mais uma identidade cristão-luterana 1

Normalmente ser evangélico no nordeste é ser pentecostal 2

A emoção exagerada fala mais do que a própria razão 1Não encontrar respostas aos seus dilemas 2Querem ser o centro das atenções 1Concentração de atividades no pastor 2Conflito de ideias 2Culto e liturgia antiga 2Desentendimento com o pastor 2

Gráfico 5: Resumo da pergunta por que muitos se afastam

Page 84: IELB NO NORDESTE

84

A falta de convicção aliada a certa frieza espiritual, portanto, é o maior causador de afastamento dos membros. A incapacidade de desenvolver a fé pode ser decorrente de um fraco ensino por parte do pastor, bem como de um desleixo do membro quanto à Palavra de Deus. Aliado a isto está a superficialidade do conhecimento bíblico dos membros, o que faz com que se percam no debate com membros de outras igrejas. Acabam sendo presas fáceis de outras formas de pen-sar a teologia. Como a região nordestina está repleta de igrejas pro-selitistas, estas acabam absorvendo com facilidade aqueles que têm um conhecimento elementar da Bíblia, da igreja e da doutrina cristã. Muitos ex-membros da IELB estão nestas igrejas no momento.

Entre estes movimentos religiosos estão os que defendem a Teo-logia da Prosperidade. Como as igrejas estão localizadas nas periferias pobres da cidade, e frequentadas por um alto percentual de mulheres e jovens pobres, desempregados e dependentes financeiramente, a proposta de uma Igreja como a Luterana que prega a Palavra, salien-tando a bondade e o cuidado de Deus, nem sempre vem ao encontro das necessidades do indivíduo. Até mesmo as mensagens numa Igreja Luterana, com um perfil mais racional e menos emotivo, nem sempre encontram corações ávidos para ouvir.

Além disso, a denominação Luterana perde muitos dos seus membros através de transferência para outros Estados ou cidades do interior onde não têm presença da IELB, e, não tendo firmeza doutriná-ria, acabam se filiando a outras igrejas. Problemas de relacionamento interno, muitas vezes, revelam imaturidade espiritual do membro que não é capaz de superar os problemas, e a acaba cedendo espaço aos seus interesses pessoais, facilitando, assim, o seu isolamento e, con-sequentemente, a sua saída do grupo, fragilizando ainda mais aquela congregação pequena. O desgaste que isso traz aos pastores e líderes é muito grande, havendo até temor de um abandono em massa. Há, ainda, aqueles membros que, quando o pastor aceita um chamado para trabalhar em outro lugar, nem sempre têm afinidade com o novo pastor que chega. Isso gera descontentamento e leva o membro a se afastar.

Não se pode esconder o fato de que alguns se afastam por causa da conduta de seus pastores, seja por arrogância, falta de visitas pas-torais ou conduta reprovável. Ora numa situação, num lugar, ora em

Page 85: IELB NO NORDESTE

85

outro, os prejuízos contabilizados com diferentes pastores da região ao longo da história foram significativos.

Por último, vale mencionar que um dos problemas de afasta-mento de membros das igrejas do Nordeste vem sendo a falta de capa-cidade para gerenciar conflitos que envolviam a prática social da de-nominação especialmente em se tratando de algumas de suas escolas. Em Recife, por exemplo, diversos líderes se afastaram por completo em função disso. O mesmo aconteceu em Maceió, Salvador e Campina Grande. Ou seja, ficou evidente que os interesses particulares ficaram acima da proposta inicial de intervenção social. Muitas tensões ocorri-das nas igrejas foram ocasionadas pelas escolas existentes. Em diversas comunidades luteranas do Nordeste há escolas desativadas ou funcio-nando precariamente. Na década de 1970, muitos recursos vieram dos Estados Unidos por parte da LC-MS (Lutheran Church – Missouri Synod), e foram revertidos na construção de Centros Integrados de Missão (CMI). No entanto, à medida que os recursos se tornaram mais parcos, as dificuldades aumentaram. Aumentaram também as tensões na relação da igreja (instituição) com os empregados, e muitos proces-sos trabalhistas foram levados a efeito. E o que era para integrar serviu como um elemento desagregador da comunidade.

A mesma pergunta sobre as razões de afastamento, feita aos pas-tores, revela o seguinte:

Tabela 5 – Fatores que levaram a sair

Respostas NúmeroMudança de cidade – transferência 4Amizade com o pastor – o membro se afasta quando o pastor vai embora 1

Doutrina – outras interpretações 2Pentecostal – forte na região 2Brigas – internas ou com o pastor 1Falta de comprometimento 2Forma de culto 1Desleixo espiritual 4A igreja não vem ao encontro das necessidades do ouvinte 2

Page 86: IELB NO NORDESTE

86

Gráfico 6: Resumo dos fatores que levam as pessoasa saírem da igreja

Os membros entrevistados também deram suas opiniões sobre o porquê do lento crescimento da IELB na região. As perguntas reve-lam a necessidade de se aprofundar sobre o assunto. Eis as respostas:

Tabela 6 – Razões para a falta de crescimento:

Respostas Número

Falta de empenho ou comodismo 1Submissão ao pastor 1Falta de compromisso com o Evangelho 3O Nordeste tem tendência ao pentecostalismo e a IELB parece com o Catolicismo Romano 5

As pessoas procuram por igrejas legalistas e pentecostais 1Falta de trabalho com os membros 1A mensagem não é atrativa 1Não aceita as doutrinas da prosperidade e de curas e milagres 3

Poucos pastores e pouco treinamento de líderes 1Pouca divulgação da IELB e distância da direção nacional 1

Falta de preparo dos membros e esses deveriam ser mais determinados 1

Pastores do Sul tentando implantar os modelos de fora 1

Page 87: IELB NO NORDESTE

87

Falta de um plano contínuo de evangelismo 1Escassez de recursos financeiros 2Predominância da cultura do Sul 2

Gráfico 7: Resumo das razões para o crescimento lento

A percepção de um número expressivo de entrevistados que entende que questões de culto e liturgia influenciaram na decisão de não poucos se afastarem da igreja será examinada em 3.2.14.

3.2.6 Falta de empenho das congregações

A falta de empenho missionário dos membros da IELB na região é apontada como uma causa para o lento crescimento. Esta falta de empenho pode ser originada pelos seus líderes e pastores. A centrali-dade de todo o trabalho na pessoa do pastor foi apontada como razão para dificuldades de mobilização. Uma vez que ele se sente sozinho na cidade em que está, ele acaba tendo que ser pastor e administrador, com muitas tarefas que o desviam do foco pelo qual foi chamado. E

Page 88: IELB NO NORDESTE

88

quando o pastor desanima, toda a igreja sofre e acaba não mais reali-zando uma ação evangelística efetiva.

3.2.7 A família moderna e o crescimento da igreja

Outro fator significativo apontado na pesquisa é o dilema da fa-mília moderna. A família urbana tem sido bombardeada por causa dos avanços tecnológicos, do desequilíbrio ou desigualdade no mercado de trabalho, da mídia, dos valores éticos tradicionais modificados, e das religiões de mercado que oferecem uma variedade grande de op-ções e escolhas. A instituição família está sofrendo uma desestrutu-ração muito grande. O trabalho mais efetivo com as famílias precisa ser feito, pois, se as igrejas não se adequarem a esta nova realidade, terão inúmeras dificuldades em curto prazo. Isso afeta o crescimento da IELB na região, especialmente, porque a sua membresia é formada por pessoas individuais e não por famílias completas, diferentemente de outras realidades da IELB, no Sul, por exemplo, onde a família toda é luterana66.

3.2.8 Compromisso com a Palavra

A falta de compromisso com a Palavra de Deus é outro agravan-te que contribui para a lentidão do crescimento da Igreja. Não é a prá-tica da IELB fazer Escola Dominical de adultos, por exemplo, limitan-do os seus encontros a um culto semanal em algumas congregações, a um Estudo Bíblico no meio da semana, com uma participação limitada de membros(cerca de 10%), porque nem todos comparecem. Na rea-lidade, muitos faltam a essas programações, o que os torna ainda mais distantes da Palavra de Deus. Como não há um programa contínuo de leitura diária da Bíblia, ela fica no esquecimento. Um resultado disso é a imaturidade espiritual de muitos, o que leva a uma fragilização e até ao afastamento da Igreja.66 Nas Comunidades da IELB do Nordeste há inúmeros casos em que a família não está completa na Igreja, causando fragilização das relações entre eles especialmente diante das crises. Inclusive, há membros da família que não estão inseridos em nenhuma Igreja.

Page 89: IELB NO NORDESTE

89

3.2.9 Semelhança com a Igreja Católica

Um assunto que mais chamou a atenção nas entrevistas foi a indicação da semelhança que a Igreja Luterana tem em relação à Igreja Católica Romana. Para muitos, a mesma estaria favorecendo um crescimento lento da IELB. É como se o povo, querendo fugir do Catolicismo Romano, tivesse aversão a tudo aquilo que pudesse lembrar a sua religião anterior. A IELB usa os paramentos do altar – cruz e velas - e o pastor usa a túnica com a estola. Além disso, é uma igreja litúrgica que usa como confissão da fé as palavras do Credo Apostólico e ainda faz a oração do Pai Nosso. Tudo isso a identifica com a Igreja Católica Romana, na opinião de muitos. Entre as entre-vistas, uma se destaca a este respeito. Foi feita com o João Batista Zizuíno, membro da Igreja Luterana Emanuel, de Sucupira, Jaboatão dos Guararapes, PE.

À primeira vista, a nossa denominação parece ser uma Igreja “Católica”, eis dois episódios que presenciei. Certa vez, logo no início quando comecei a frequentar a Igreja Luterana, em Sucupira, estavam umas cinco pessoas e eu na igreja, esperando a hora do culto. De repente, chega à igreja um homem bêbado – e isso é bem comum ali visto todo aquele número de bares e botecos na rua da igreja – pedindo dinheiro. Para tentar nos persuadir ele, olhando para o altar e para cruz no centro, começa a dizer-nos que “gosta muito de rezar o Terço e Aves Maria”. Devemos levar em conta que aquele homem estava bêbado – se bem que não se encontrava totalmente insano – mas a sua primeira vista, pensou que estava numa Igreja Católica. Outra vez, agora mais recentemente, foi que eu entrei num perfil de uma menina da igreja no “Orkut”. No Orkut mostra, dentre outra coisas, a religião a que a pessoa diz que pertence. E no Orkut dessa menina da igreja (luterana) estava que ela era “católica” e não “protestante” como deveria ser, visto que ela é luterana. Ao indagá-la sobre isso ela me respondeu da seguinte forma: “Aquele perfil quem preencheu não fui eu, mas uma colega que fez pra mim. Eu acho que ela pensou que eu era católica, sei lá... a Igreja se parece né...”. Esses dois episódios são exemplos de que o pensamento da

Page 90: IELB NO NORDESTE

90

população aqui do NE em relação a nossa Igreja é que somos um “meio termo”. E, num contexto dividido antagonicamente entre catolicismo romano e evangelicalismo tradicional (batista e assembleia), fica bem difícil o trabalho missionário luterano ou das outras denominações “meio termo”.Assim, deparamo-nos com um problema ainda mais grave; ficamos entre “a cruz e a espada”. Se continuarmos com nossa liturgia tradicional – que é, em minha opinião, o que nos caracteriza como luteranos e, Igreja histórica – à primeira vista, podemos ser mal interpretados e julgados como romanistas. Por outro lado, se tentarmos nos assemelhar às igrejas evangélicas “tradicionais” aqui do NE, (assembleia e batista), para angariarmos um maior número de fiéis, correremos o risco de perder nosso “ethos” luterano, ou seja, nossa característica, nosso ser luterano. Nisso incorreríamos num problema mais grave: teríamos quantidade, mas não teríamos qualidade – no sentido de característica luterana.Acredito que a única solução, a não ser nos descaracterizarmos como luteranos, seria uma maior ênfase missionária no sentido de explicar à população a história da Igreja Cristã e o que nos diferencia e nos liga à Igreja Romana. Mostrar que em nossa Igreja, apesar de os pastores estarem vestidos como “padres”, e de no altar estarem a cruz e velas, prega-se o Evangelho genuíno. Esclarecer à população toda nossa riqueza litúrgica que herdamos da Igreja antiga. Acredito que apenas assim, esclarecendo à população e com ação missionária, é que poderemos um dia ver nossa Igreja Luterana nordestina com um maior número de membros. Isso sem, contudo, deixarmos de lado toda nossa tradição cristã germânica antiga; luterana. Mas, a meu ver, a tendência atual é uma maior aproximação – em relação à liturgia de culto – com as denominações “tradicionais”. Isso fica evidente quando se omite certas partes daquela liturgia tradicional luterana e acrescentam-se outras – de características bem marcante ao evangelicalismo tradicional nordestino – para melhor “contextualizar” nossa forma de culto.

Este depoimento reflete com certa fidelidade a percepção po-pular acerca de semelhanças entre a denominação Luterana e a Igreja

Page 91: IELB NO NORDESTE

91

Católica Romana. E pessoas desinformadas a respeito do que é a IELB, frequentemente, acabam não cedendo aos apelos evangelísticos de se tornarem membros da mesma.

3.2.10 Portas abertas

Como vimos em 3.2.8, as igrejas luteranas do Nordeste, em sua grande maioria, funcionam nos mesmos moldes de outros Estados do Sul e Sudeste do país, com um encontro semanal. Entretanto, para a realidade nordestina, por mais que se insista de que a semana é a da família e que é importante este diálogo em casa a fim de que haja comunhão e crescimento no lar, as outras denominações fazem um caminho inverso. Elas acreditam que o lugar da família é na igreja, e, com isso, acabam abrindo as suas portas todos os dias. E ainda argu-mentam que isso evita que os seus membros fiquem enfraquecidos na fé. A IELB ainda não se apercebeu das implicações deste fato.

3.2.11 Distribuição de tarefas

Enquanto pastores luteranos argumentam que distribuir tarefas é algo trabalhoso, as outras denominações fazem isso, distribuindo tarefas a líderes, presbíteros e diáconos. Estes são os responsáveis. Entretanto, por parte da IELB, há um interesse maior em preservar a doutrina luterana e, no entender de muitos pastores e membros, a ver-dade está unicamente com aquele que dirige a igreja, seu pastor. Com isso, não se dá oportunidade de mudar o modelo existente de ação missionária no Nordeste. Porém, quem está interessado em ouvir uma palavra de orientação espiritual não vai esperar até o domingo, e sairá de casa entrando na primeira igreja que encontrar aberta. No caso da IELB, a igreja é aberta por um espaço curto de tempo, somente uma ou duas vezes por semana ao ponto das pessoas dizerem: “Essa igreja funciona? Sempre eu passo lá e está fechada”.

Page 92: IELB NO NORDESTE

92

3.2.12 Baixo número de pastores

Aliado ao ponto anterior está o número de pastores para a re-gião. Entre Salvador e Fortaleza (litoral e Campina Grande) dez são os pastores da IELB e isso numa história de 55 anos de presença na região. Estrategicamente, por questões financeiras, a IELB optou por este modelo. Garante a sua presença em todas as capitais do Nordeste, porém, sem qualidade.

Um pastor em cada cidade é desgastante. Não tem com quem compartilhar, e trabalha sozinho. Suas frustrações são grandes, além do medo do fracasso. Todas as cidades são grandes para um único pastor e os seus desafios são imensos. Se não bastasse isso, o mesmo pastor é responsável pelo Estado inteiro. Se eventualmente um membro do interior solicita a presença da IELB, este pastor é demandado a seguir e dar atendimento àquela família. São viagens longas, muitas vezes.

Um dos perigos, como já foi mencionado acima, é a centralidade do pastor na igreja local. Tudo gira em torno dele. Muitas vezes, isso gera tensões e até contribui para o distanciamento das pessoas. Se o ministério fosse compartilhado, com certeza, muitas tensões estariam diminuídas ou nem existiriam. Além disso, é de se considerar que a distância geográfica entre os colegas pastores da região é grande, o que prejudica especialmente a troca de experiências, bem como o apoio mútuo nas dificuldades que alguns passam, devido ao próprio isola-mento. O trabalho feito juntamente com outro colega daria um impulso maior para a missão como um todo. Considerando ainda que as outras denominações façam um grande investimento na região e consigam crescer em virtude disso e que o trabalho luterano, sendo intensificado, dará melhores resultados, inclusive visando a sua independência finan-ceira, é necessário que a IELB reveja a sua prática, enviando mais um pastor, pelo menos, para cada congregação da IELB no Nordeste.

Aliado a este problema foi apontado como relevante a dis-tância da Direção Nacional do Nordeste, não somente geografica-mente, mas dos seus dirigentes. As exigências da sede são grandes, mas a presença, o acompanhamento mais de perto, é inexistente. Até mesmo erros cometidos por pastores e congregações não podem ser mensurados pela direção da IELB por estarem distantes. Mesmo

Page 93: IELB NO NORDESTE

93

que a região tenha os seus representantes67 diante da Direção Nacio-nal, ainda assim, a distância desta compromete a sua eficácia. Como mencionado acima, o fato de haver um único pastor em cada cidade e que responde diretamente à Diretoria Nacional, a ausência desta na região não abre espaço para um diálogo mais aberto sobre a mis-são e suas necessidades. Pastores e congregações se ressentem disso, já manifestaram as suas opiniões, entretanto tal aproximação ainda está distante de se tornar uma realidade no Nordeste.

3.2.13 Mensagens

Este é um dos aspectos muito importantes para a evangelização e doutrinamento dos membros da Igreja. Uma boa mensagem leva o indivíduo à reflexão de sua vida e faz com que ele perceba o quanto quer se comprometer com o Evangelho. Por isso, expor com equilíbrio a Lei e o Evangelho68 é fundamental para a pregação. As entrevistas com os membros revelaram algo sobre isso:

Tabela 7 – Opinião sobre as mensagens

Respostas NúmeroCentrada nas Escrituras 2Muito boas e claras 5Deveriam ser mais objetivas, numa linguagem mais acessível 2

Depende do pastor 1Pregação de Lei e Evangelho 1Pouco crescimento espiritual 1Perde-se oportunidade de temas atuais por causa das Perícopes do dia. 3

Poderiam ser mais dinâmicas 6Muito curtas 1Excelente, mas falta mais cobrança. 2Bem preparadas. 1

67 Representantes são os Pastores Conselheiros e Líderes leigos eleitos para 4 anos.68 Lei e Evangelho é assunto doutrinário por excelência na IELB

Page 94: IELB NO NORDESTE

94

Gráfico 8: Resumo sobre as mensagens

Quanto ao preparo das mesmas, bíblicas e doutrinárias, parece não haver problemas para a maioria. Entretanto, isto não significa que elas atinjam os efeitos esperados. Por isso, a crítica de que de-veriam ser mais dinâmicas e objetivas é importante neste contexto. A racionalidade da mensagem é evidente, mas acaba não dizendo ao coração do ouvinte. Uma vez que o contexto social do país é de miséria, as pessoas procuram algo a mais e não encontram isso nas igrejas luteranas.

Há temas relevantes e atuais que acabam perdendo a sua força nos rituais de culto da igreja que insistem em afirmar “Estamos no mundo, mas dele não somos” (Hinário Luterano). Como as liturgias pré-estabelecem leituras próprias (série trienal) para cada dia do ano e para toda a IELB, os pastores acabam pregando sobre um dos textos, alheios aos problemas mais prementes e que precisam de uma palavra imediata para aquela situação.

Ainda, na Região Nordeste, a figura do pastor é quase que vene-rada, e sua mensagem, portanto, pouco passível de crítica. Um trecho da entrevista feita com o Luiz Antônio, de Aracaju, ilustra isso:

Ouvir a palavra do pastor na mensagem é ouvir a Palavra di-zendo o que Deus quer de nós. Eu sempre pensei assim, a própria liturgia apresenta o sermão como um dos momentos mais importantes, pois é a lição do culto que você carrega

Page 95: IELB NO NORDESTE

95

para casa, para família e, principalmente, para a vida pessoal.Qualquer pastor luterano, para um luterano nordestino, é re-vestido por uma veneração ou autoridade divina, natural. Entre-tanto, quando ele “quebra” essa veneração ou vacila em algum erro, o pastor perde a sua santidade. E o membro nordestino, que antes o adorava, não pensa duas vezes em destruí-lo. O sentimentalismo do nordestino é um verdadeiro paradoxo, ama intensamente, mas, se vacilar, odeia profundamente. Alguns membros têm mania de viver cultuando amarguras passadas ou duvidando se está realmente na Igreja certa.O pastor é um líder espiritual, mas é um homem como outro qualquer. Como a maioria dos nordestinos não sabe diferenciar as coisas, vê o pastor como pastor sempre. Ainda mais quando ele resolve tomar uma cerveja ou sair para curtir um show de MPB – não pega bem essa vida libertina. O senso comum do nordestino diz que ser crente é ser pentecostal, mas não lutera-no. A liberdade dos luteranos incomoda e assusta outros irmãos evangélicos, e estes falam que somos irmãos dos católicos e não deles.Se o pastor tem que ser pastor sempre, que ele cultive certas particularidades somente no seio de sua família ou com amigos mais próximos ou de outras regiões quando em férias.Se o pastor souber cultivar a verdade teológica com seus mem-bros, sem tomar partido de um ou outro grupo, cultivando ape-nas espiritualidade das pessoas, ele terá em sua volta, uma lide-rança mais espiritualizada e membros muito dedicados e aten-ciosos. Muitos nordestinos são exemplos de liderança na IELB.Ser pastor não é fácil, mas é importante para Deus e para a evangelização.

3.2.14 Culto, Liturgia e Música

Conforme vimos (3.2.5) questões de culto e liturgia têm levado alguns a se afastarem das igrejas luteranas. Neste item, examinaremos o assunto de maneira mais detalhada.

Há aqueles que gostam de louvar com as canções produzidas na própria Região Nordeste. Em algumas igrejas locais há instrumentos

Page 96: IELB NO NORDESTE

96

de percussão, com ritmos alegres e envolventes, com tempero de nor-destinidade, que evidenciam alguns sinais de mudança nesta área. Sobre esse assunto, Pietzch (1999, p. 55) escreve:

A Igreja Luterana, desde que estabeleceu-se no Brasil, tem seguido uma cultura musical importada, a qual, na maior parte dos casos, já ultrapassa alguns séculos. Não queremos, de forma alguma, dizer que tais hinos devam ser abolidos do uso congregacional, pois assim estaríamos jogando fora uma riqueza teológica e poética. O que queremos enfatizar é que mais hinos em estilo e ritmo brasileiro sejam usados em nossos cultos de adoração, buscando assim uma maior identificação com a cultura brasileira.

Apesar disso, o culto luterano é igual em todo o país. Pode ad-quirir algumas características próprias, especialmente na Região Nor-deste. Entretanto, na prática, ele se torna uma uniformidade. Nas en-trevistas com os membros o resultado foi:

Tabela 8 – Opinião dos membros sobre culto

Respostas NúmeroFalta pouco mais de tradicionalismo 1Com ordem e decência 5Momento de devoção 2Centro da vida da igreja 1Participativo 2Preparação 1Falta de reverência da parte dos membros 2Tradicional 1Muita liturgia e pouco fervor missionário 2Organizado e ordenado 3Satisfatório 1Bom 3Ritual bonito 1

Page 97: IELB NO NORDESTE

97

Gráfico 9: Resumo sobre as opiniões sobre o culto

Percebe-se que o culto tem característica de ser muito organi-zado, com ordem e decência. O ritual é bonito, porém com um ritmo diferente do que a região requer. Torna-se um fim em si mesmo e não apela para as emoções do indivíduo. Apesar de tudo, há no seu con-teúdo uma característica de elevação e preparação para a mensagem (sermão) e participação da ceia, mas nem sempre as pessoas estão conscientes disso e precisariam ser educadas a respeito.

Quanto à liturgia, elemento importante dentro do culto, as res-postas também revelaram certo descontentamento, e necessidade de atenção quanto a este item. Os membros entrevistados responderam da seguinte forma:

Tabela 9 – Opinião dos membros sobre liturgia luterana

Respostas NúmeroO modelo da IELB – bonita e completa 1Organizada, preocupada com cada tópico 3Importante para manter a ordem 3É o momento do culto 1Poderiam ser modificadas 4Muito amarrada e fria, sem vibração espiritual 3Nos liga às igrejas históricas 1

Page 98: IELB NO NORDESTE

98

Básica 1Necessidade de alternativas 3Só é necessária em momentos especiais 1Precisa ser entendida 2Um pouco cansativa 2

Gráfico 10: Resumo a respeito da liturgia

As músicas dos cultos da IELB no Nordeste também foram ava-liadas por pastores e membros e os resultados são apresentado a seguir:

Tabela 10 – Opinião sobre as músicas

Respostas NúmeroMuito boas 4O ritmo é pesado, precisa de um toque nordestino 2Alegres e reflexivas 5Em harmonia com a teologia 2Poderiam ser mais ensaiadas 3Deveriam ser usadas do hinário luterano 1Deixam muito a desejar 3Deve ser respeitada a cultura local e seus instrumentos 4Poderiam ser mais divulgadas 1

Page 99: IELB NO NORDESTE

99

Gráfico 11: Resumo sobre as músicas da IELB no Nordeste

3.2.15 Pentecostalismo

Os movimentos pentecostal e neo-pentecostal têm crescido no Brasil. As teologias de curas e milagres bem como da prosperidade têm influenciado muitos daqueles que estão à procura de uma Igreja que possa proporcionar-lhes este bem estar material e espiritual.

A Região Nordeste, nas capitais, têm muitas pessoas pobres oriundas do Sertão em busca de melhores condições de vida. Entretan-to, a cidade também está passando por dificuldades, e o povo acaba criando mais favelas. Como as condições econômicas são ruins –saú-de precária, fome, violência e miséria – resta somente a fé no milagre, seja do santo ou do pastor. Neste pormenor, as igrejas pentecostais têm um discurso que se aproxima das necessidades dos seus ouvintes e que ajuda os mesmos na compreensão de sua difícil realidade.

3.2.16 Liberdade Cristã e Disciplina

A IELB tem como característica enfatizar a liberdade cristã, ou seja, a liberdade de se viver a fé sem regras impostas. Esta prática tanto

Page 100: IELB NO NORDESTE

100

atrai membros, como também pode ser um motivo de afastamento. Há uma preferência no Nordeste por igrejas legalistas, mas no Sul do Brasil beber cerveja, dançar e fumar não são proibidos. Entretanto, é preciso deixar claro que não são incentivados. Causa estranheza, portanto, para um vizinho, ver uma família luterana no Nordeste com bebidas em casa ou mesmo, ver alguém fumando. A IELB, com isso, acaba perdendo membros.

A disciplina eclesiástica está atrelada a este conteúdo. A queixa é de que na Igreja Luterana não há disciplina.

3.2.17 Finanças

Todas as igrejas da IELB no Nordeste dependem financeiramen-te de subsídio para a sua manutenção e isto desde o princípio de sua inserção. Esta dependência também gera desconforto por parte dos seus representantes e pastores, pois os recursos necessários para traba-lhar são escassos.

O início das missões nesta região foi mal dimensionado, com verbas oriundas dos Estados Unidos, provocando um grande paterna-lismo ainda hoje requerido pelas igrejas. Como elas não têm autono-mia financeira, esse paternalismo se manifesta a cada ano por ocasião do envio de pedido de subsídio. Como há dependência, as igrejas sequer têm direito a chamar um pastor. A responsabilidade sempre está na Direção Nacional. Esta relação acabou fragilizando as igrejas luteranas do Nordeste.

Muitos dos seus membros são formados por jovens e mulheres e estes nem sempre estão inseridos no mercado de trabalho, o que traz dificuldade em suas ofertas. Por outro lado, como há uma injeção de dinheiro estrangeiro, isso, de certa forma, acomodou os membros com envio de projetos para o FAPI69 na expectativa de serem atendidos. A cada ano é um drama para pastores e congregações quando há cortes no envio de subsídios. Até mesmo distorção da teologia já foi feita ao

69 FAPI – Fundo de apoio a pequenos investimentos da IELB. Os projetos variam desde compra de hinários, Bíblias e instrumentos bem como projetos maiores de construção e preservação do patrimônio

Page 101: IELB NO NORDESTE

101

requerer resultados missionários com mais membros, a fim de se equi-librar o orçamento da congregação.

Há campanhas de mordomia, mas ainda são pequenos os resul-tados quando comparados com as necessidades da igreja local. É evi-dente que, com mais recursos, muito mais poderia ser feito. Ao mesmo tempo há comunidades luteranas que poderiam muito bem, sozinhas, bancar financeiramente uma missão no Nordeste. Há dinheiro sobran-do em algumas comunidades da IELB, mas elas não conseguem olhar para os campos missionários.

3.2.18 Pouco tempo para profissão de fé (doutrinamento)

A IELB faz um curso preparatório para que o indivíduo se torne membro da igreja, chamado de Doutrinamento para a Profissão de Fé. Varia de pastor para pastor quais são os manuais de instrução a serem usados. Normalmente na Região Nordeste os encontros são em torno de 10, onde o prospecto recebe as orientações gerais sobre a IELB e seu entendimento doutrinário. Após isso, numa cerimônia pública, é feita a Profissão de Fé quando o fiel também começa a participar da Ceia com os demais membros da igreja.

Como a IELB não tem um programa continuado de doutrina-mento (como, por exemplo, a Escola Dominical para jovens e adul-tos), facilmente o indivíduo esquece o seu aprendizado e se torna vul-nerável quando passa por um momento de crise na igreja, afastando-se do convívio ou buscando outra denominação religiosa que supra as suas necessidades espirituais do momento. Por isso, é muito fácil um luterano se tornar membro de outra denominação. A crítica levantada nas entrevistas, sobre esse assunto, se torna relevante uma vez que se busca por mecanismos para segurar os membros na denominação, evi-tando o esvaziamento da igreja. É de se considerar aqui, também, que muitos que se tornaram membros da IELB no Nordeste vêm de classes mais baixas, sendo inclusive, analfabetos.

Não é fácil detectar e reconhecer as fragilidades em qualquer denominação religiosa que se propõe a levar o Evangelho do Reino

Page 102: IELB NO NORDESTE

102

para as pessoas. Entretanto, é salutar que isso aconteça a fim de se bus-car pelos melhores caminhos, visando uma ação evangelística mais eficaz. Esse também foi o foco desta dissertação. Acreditamos serem possíveis algumas mudanças de atitudes na IELB e que possibilitem um olhar mais de perto de sua ação na Região Nordeste. As entrevis-tas apontaram para as razões do lento crescimento na região. Estas, sendo apreciadas com cuidado, apontarão para possíveis mudanças na intervenção.

Page 103: IELB NO NORDESTE

103

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Trabalhar na Região Nordeste do Brasil, levando em conta a sua cultura, é um grande desafio para a IELB e seus pastores. É uma região onde a presença do Catolicismo Romano é forte, aliada aos cultos afro-brasileiros também expressivos, e ao Pentecostalismo. En-tretanto, ao observarmos outras igrejas evangélicas na região, elas têm um crescimento acentuado, diferentemente da IELB que vem ao longo dos anos sentindo um crescimento lento. Muitas razões já foram apon-tadas neste trabalho e merecem ser analisadas com seriedade, porque apontam para lacunas na inserção e práxis missionária da IELB bem como desafiam a todos à busca de soluções.

Especialmente nestes últimos anos, tem havido uma preocupa-ção maior com a evangelização e a pastoral urbana devido às mudan-ças verificadas nas últimas décadas, especialmente no Brasil e América Latina que se transformaram rapidamente de sociedades rurais para sociedades urbanas. Hoje, 80% da população70 vive na cidade. Há necessidade de se levar uma mensagem mais contextualizada. Neitzel (2001, p. 54) fala sobre isso:

Quando falamos de missão urbana contextualizada partimos da compreensão bíblica e apostólica da mesma. O processo de encarnação tem seu princípio em Deus (Gn 3.15). Está claramente sintetizado no hino cristológico de Fp 2.5-11. Deus se contextualizou, humanou, no sentido de que veio a nós, ao nosso contexto, em carne através de seu Filho Jesus Cristo, assumindo nossos pecados, nosso lugar na morte, para que pudéssemos ser perdoados e receber de graça a vida eterna.

70 América Latina e Brasil

Page 104: IELB NO NORDESTE

104

A IELB no Nordeste pode ampliar a sua visão de mundo e do contexto em que trabalha, reconhecendo a diversidade cultural e vi-sando uma evangelização mais contextualizada. Isso não fará com que perca a sua identidade eclesiológica, mas lhe dará uma maior abertura para o seu compromisso de levar Cristo para todos. Não pode ser ingê-nua aos novos momentos do mundo atual ou estar alheia ao contexto cultural de sua inserção. Com maturidade e discernimento, deve en-frentar os desafios e problemas originados dos mesmos.

Talvez uma mudança de paradigma de modelo de inserção deva ser analisada a fim de se ter um novo modelo para as suas ações. Isso não se resolve num curto espaço de tempo, mas é preciso come-çar. A questão é estrutural e envolve um tripé: a) aspectos administra-tivos que permeiam a IELB como um todo, b) formação pastoral e c) ações de campo. Esses aspectos precisam ser apreciados a fim de se construir novas matrizes para a evangelização mais efetiva, visando o crescimento da IELB na região. Em seu depoimento na entrevista, Luiz Antônio fala sobre esse assunto:

Lutero não era luterano de berço. Ele enfrentou todo um tra-dicionalismo católico e toda estranheza dos alemães. Muitos o acharam um louco por peitar a instituição de maior poder na época, mas a verdade teológica que ele acreditava foi tão envolvente que ele pensou como chegar ao povo alemão. Lutero foi original, criativo neste aspecto. Não mediu esfor-ços para atingir a sociedade alemã com a mais pura verdade cristã, sem mentiras, sem indulgências, sem relíquias, sem medo da morte.A IELB precisa aprender com as lições do reformador, com as lições do apóstolo Paulo, com as lições dos luteranos brasilei-ros, sejam eles do Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Norte ou Nordes-te. Pensando em construir ações teológicas múltiplas, mas que atinjam os mais diferentes corações.Quando analisamos o material produzido pela IELB, existe uma uniformidade sadia e importante, mas até quando a Igreja fe-chará seus olhos para as especificidades do luterano nordesti-no? Ao analisar certas ações ielbianas, às vezes, tenho a impres-são que a Igreja quer transformar o luterano nordestino num luterano gaúcho.

Page 105: IELB NO NORDESTE

105

Criar raízes cristão-luteranas no povo nordestino, alimentando uma maior identificação com a IELB.A IELB precisa expandir suas atividades para o interior nordesti-no, pois ela está concentrada nas capitais estaduais.

Um exemplo de como uma mudança de paradigmas pode ser benéfica, ocorreu em Maceió, entre 1999 e 2005, quando era pastor naquela localidade. Não havia preocupação com o uso das vestes ta-lares e os cultos aconteciam de igual modo. As pessoas não se quei-xavam disso. Numa congregação formada a partir da sede, os cultos eram livres, com muita música, boa mensagem, testemunhos, entre outras coisas e a igreja ficava cada vez mais cheia.

O recém convertido ao Protestantismo não precisa deixar para trás suas raízes culturais e históricas construídas ao longo dos anos em nome da religião. As igrejas evangélicas, muitas vezes, acabam impingindo novos valores culturais e religiosos, tolhendo as pessoas nesta nova visão espiritual. Algumas igrejas procuram abrir esse espa-ço e nelas encontramos festas juninas e bloco evangélico em carnaval. Porém, em termos gerais, o nordestino perdeu, - com o avanço das igrejas evangélicas especialmente - com o quase desaparecimento de alguns dos seus aspectos culturais mais comuns como danças/folgue-dos populares típicas nordestinas - reisado, taieira, São Gonçalo; o fim de crendices, costumes, superstições que fazem parte da folclore re-gional. A Igreja, portanto, tem o desafio de inverter o caminho e voltar às origens culturais, dando credibilidade aos seus adeptos e evangeli-zando a partir do seu status quo.

Além disso, há uma dificuldade da IELB de se expor mais, ou seja, de deixar de viver à margem das questões prementes da socie-dade, tais como AIDS e violência social, sob pretexto de pureza da Palavra ou que isto é coisa da autoridade civil. Alguns luteranos abrem mão da denúncia, imaginando que sua membresia dificilmente cairá nestes problemas.

Enquanto as demais denominações protestantes usaram como estratégia missionária a educação, a IELB se limitou ao arrebanhamento e atendimento às pessoas de origem germânica, o que também não a coloca dentro do Protestantismo missionário e sim, de imigração. So-mente há 30 anos que ela efetivamente quer sair de sua característica

Page 106: IELB NO NORDESTE

106

tradicional visando alcançar novos adeptos. Entretanto, ainda está lenta na sua adequação e preparação para estas mudanças. Um exemplo disso está nos seus pastores, especialmente aqueles que trabalham no Nordeste. Muitos deles vieram para esta região recém-formados e re-produzem no seu início de ministério os mesmos modelos dos seus an-tecessores. Levam um bom tempo para perceber as nuances do local e se desprender um pouco do seu modelo de formação tradicional dando espaço a iniciativas que sejam mais autóctones.

Um fator a ser considerado nesta inserção da IELB no meio ur-bano, que também tem as suas características próprias, é o fato de que até pouco tempo atrás sua atuação era maior no meio rural. Até o missionário se ambientar a sua nova realidade, urbana, leva-se um tempo grande. O crescimento maior é vegetativo71 do que através de um trabalho missionário. Por isso, entendemos com Mendonça que “as igrejas de imigração, como os luteranos [...] estão sujeitas às regras da etnia e com teologia mais definida na relação com as suas fontes – fontes mais estáveis e menos conflituosas –, essas igrejas passaram a gozar, há algum tempo, no campo religioso brasileiro, de maior ob-jetividade e liberdade de ação. Quanto ao crescimento, embora vege-tativo, por ocorrer dentro da etnia, constituem exceção em face das de origem missionária” (MENDONÇA, 1984, p. 24).

O desafio da IELB no Nordeste sempre foi e será grande. Já hou-ve muitos avanços, acertos e desacertos. É a partir de um olhar crítico que se pode resgatar os verdadeiros valores da Igreja bem como de cada membro individualmente. É preciso cada vez mais um aprofun-dar-se no seu contexto sócio/político/econômico a fim de ocupar espa-ços que abrem ao diálogo na evangelização.

As questões levantadas na presente dissertação servem apenas para aguçar as reflexões sobre a prática da IELB, sem, contudo, ressal-tar o quanto de aprendizagem já se observou nesta caminhada. Afinal de contas, a IELB está aí e tem uma grande mensagem do amor de Deus para este povo tão sedento da boa nova. Porém, a sociedade está em mudança e requer um olhar mais criativo na evangelização. Conforme dizia o poeta alemão Goethe: “A humanidade está sempre avançado e o homem continua o mesmo” (FLOR, p.23).

71 Filhos de pais luteranos.

Page 107: IELB NO NORDESTE

107

É de se levar em conta, portanto, tudo aquilo que sirva para reflexão, mesmo que seja em meio às tensões. Viver e aprender com o momento, com a cultura de um povo, nada mais é do que seguir o exemplo do próprio Jesus que se infiltrou dentro de um contexto reli-gioso e político não muito favorável a Sua prática de levar o Evangelho a todas as pessoas.

As esperanças de cada uma das pessoas entrevistadas são grandes. Querem algo melhor e apontam alternativas, como veremos a seguir:

Tabela 11 – Alternativas para a IELB no Nordeste

Respostas NúmeroMaior suporte ao pastor 1Um trabalho de visitação mais acentuado 1A Igreja precisa ser mais insistente 2Gerar novos líderes 1Usar os meios de comunicação 2Músicas mais alegres 1Dar maior apoio aos departamentos de crianças, jovens e servas 1

Pastores mais preparados para esta realidade cultural e missionária 4

Seminário mais perto 1Maior investimento financeiro 2Cursos de capacitação para os pastores – área de missiologia 1

Aprender com as outras denominações 1Maior ação missionária 2IELB no Nordeste com a cara do Nordeste 1Parecer menos católica 1Trabalhar mais com música, crianças e jovens 1Construir ações teológicas múltiplas 1

Page 108: IELB NO NORDESTE

108

Gráfico 12: Resumo das alternativas de ação da IELB no Nordeste

Em suma, muitos são os desafios para a IELB no Nordeste e cabe a ela ter a sensibilidade em perceber as suas lacunas, redirecionar, se for preciso, a fim de que haja uma alavanca propulsora para o seu crescimento mais acentuado no Nordeste. Tem bons pastores, dispos-tos a se engajarem na obra, mas precisam ser apoiados e incentivados a buscarem pelo melhor. Este trabalho, portanto, quer servir de apoio para que as questões levantadas sejam objetos de análise, a fim de melhorar a inserção da IELB, com crescimento e menos tensões. Lem-brando que, acima de tudo, o crescimento vem de Deus, mas precisa-mos semear, regar e cultivar.

SOLI DEO GLORIA

Page 109: IELB NO NORDESTE

109

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

A MISSÃO de Deus cresce no Sergipe. Mensageiro Luterano, Porto Ale-gre, RS, 80, no. 04, abr. 1997. ANUÁRIO LUTERANO 2007. http:// www.ielb.org.br/old/recursos/pdfs/Anuário07.pdf. Acesso em 11 fev. 2008.BRUNEAU, Thomas C. Catolicismo brasileiro em época de transição. Tradução: Margarida Oliva. São Paulo: Loyola, 1974.BUSS, Paulo Wille. Um grão de mostarda: a história da Igreja Evangélica Luterana do Brasil. Vol. 2. Porto Alegre: Concórdia, 2006.CARNEIRO, J.F. 1950. Imigração e colonização no Brasil. Rio de Janeiro, Faculdade Nacional de Filosofia, Cadeira de Geografia do Brasil, Publica-ção Avulsa, 2. CAVALCANTI, Edward Robinson B. Nossa Missão em: Recife. Mensagei-ro Luterano. Porto Alegre, RS, 51, no. 3, p. mar.1968. CARRIKER, C. Timóteo. Missões na Bíblia; Princípios gerais. São Paulo: Vida Nova, 1992.CENSO. http://www.ibge.gov.br/cidadesat/default.php. Acesso em 15 Jan. 2008.DREHER, Martin Norberto. Igreja e Germanicidade; Estudo crítico da his-tória da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. São Leopoldo: Sinodal, 1984.DURKHEIM, Emile. As Formas elementares da Vida Religiosa. São Paulo: Ed. Paulinas, 1989.ENGEN, Charles Van. Povo Missionário, Povo de Deus; por uma redefini-ção do papel da igreja local. São Paulo: Vida Nova, 1996.EXORTAÇÃO Apostólica Evangelii Nuntiandi ao episcopado, ao clero, aos fiéis de toda a Igreja sobre a Evangelização no mundo contemporâ-neo. 8. Ed. São Paulo: Paulinas, 1985.

Page 110: IELB NO NORDESTE

110

FIGUR, Nilo Lutero. Prioridade à evangelização. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, RS, 69, no. 7, jul. 1986. FLOR, Paulo Frederico. Assim como eu vos amei. Porto Alegre: Concór-dia, 197-.FOUQUET, C. 1974. O imigrante alemão e seus descendentes no Brasil: 1808-1824-1974. São Paulo, Instituto Hans Staden; São Leopoldo, Fede-ração dos Centros Culturais 25 de Julho. FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala. 2. ed. Rio de Janeiro: Schmidt, 1936.GARCIA, Nivaldo. Um retrato da missão de João Pessoa. Mensageiro Lu-terano, Porto Alegre, RS, 75, no. 4, abr. 1992. HAHN, Carl Joseph. História do culto protestante no Brasil. Tradução: Antonio Gouvêa Mendonça. São Paulo: ASTE, 1989.HARRE, Alan F. Feche a porta dos fundos. Porto Alegre: Concórdia, 2001.HOLDORF, Ronaldo Sérgio. Sergipe: a grandiosidade do menor Estado brasileiro. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, RS, 71, no. 11, nov. 1988. ______. Aracaju: uma missão jovem que começou com jovens. Mensagei-ro Luterano, Porto Alegre, RS, 74, no. 10, out. 1991. HUNDER jahre deutschtum in Rio Grande do Sul, Herausgegeben vom Verband deutscher Vereine Porto Alegre. Porto Alegre: Typographia do Centro, 1924.HUNSCHE, Carlos Henrique. Protestantismo no Sul do Brasil. São Leo-poldo: EST, 1983.HUNTER, Kent R. Fundamentos para o Crescimento da Igreja. São Paulo: ICSP, 1993.KOEHLER, Edward W. A. Sumário da Doutrina Cristã. 2. Ed. Tradução: Arnaldo Schuler, Porto Alegre: Concórdia, 1981.LÉONARD, Émile G. O Protestantismo Brasileiro. 3. ed. São Paulo: ASTE, 2002.LIVRO de Concórdia. 3. Ed. Tradução: Arnaldo Schuler, Porto Alegre: Concordia e São Leopoldo: Sinodal, 1983.LÜDKE, Reinaldo M. A Igreja na cidade. Vox Concordiana. São Paulo, SP, 15, no. 1. 2000.MENDONÇA, Antônio Gouvêa. O Celeste Porvir; a Inserção do Protes-tantismo no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1984.

Page 111: IELB NO NORDESTE

111

______. Protestantes, Pentecostais & Ecumênicos. São Paulo: UMESP, 1997.MENDONÇA, Antônio Gouvêa; VELASQUES filho, Prócoro. Introdução ao Protestantismo no Brasil. São Paulo: Loyola, 1990.MIRANDA, Juan Carlos. Manual de Crescimento da Igreja. São Paulo: Vida Nova, 1991.NATAL – difícil começo. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, RS, 70, no. 09, set. 1987. NEITZEL, Leonardo. A missão da IELB. Vox Concordiana. São Paulo, SP, 8, no. 2, 1992.______. A missão de Deus. Vox Concordiana. São Paulo, SP, 15, no. 1, 2000. ______. Missão Urbana e família – Desafios e perspectivas. Vox Concor-diana. São Paulo, SP, 16, no. 2, 2001.NICHOLLS, Bruce J. Contextualização: Uma teologia do Evangelho e Cultura. São Paulo: Vida Nova, 1987.NIEBUHR, H. Richard. As Origens Sociais das Denominações Cristãs. Tradução: Antônio Gouvêa Mendonça. São Paulo: ASTE, 1992.NOTÍCIAS da IELB: Paraíba, maior Igreja Luterana do Nordeste. Mensa-geiro Luterano, Porto Alegre, RS, 65, no. 06, Jun. 1982.O EVANGELHO e a cultura. São Paulo: ABU, 1983. PELA SEARA: Recife. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, RS, 34, no. 4, abr 1951.PELA SEARA: Salvador da Bahia. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, RS, no. 3 mar. 1951.PIETZCH, Paulo Gerhard. Importância da música no culto divino. Igreja Luterana. São Leopoldo, RS, 58, no.1, Jun. 1999.PLANEJAMENTO IELB 2010. Porto Alegre: Concórdia, 2004. PRIEN, Hans Jürgen. Formação da Igreja Evangélica no Brasil: das comu-nidades teuto-evangélicas de imigrantes até a Igreja Evangélica de Con-fissão Luterana no Brasil. Tradução: Ilson Kayser. São Leopoldo: Sinodal; Petrópolis: Vozes, 2001.QUEIROZ, Carlos. Igrejas Protestantes no Contexto Nordestino. AÇÃO DIACONAL: UMA REFLEXÃO NO CONTEXTO NORDESTINO. Série Ler para Servir, ano II, no. 2. Recife, 2000.

Page 112: IELB NO NORDESTE

112

REHFELDT, Mário L. Um Grão de Mostarda: a história da Igreja Evangéli-ca Luterana do Brasil. Vol. 1. Tradução: Dieter Joel Jagnow. Porto Alegre: Concórdia, 2003.REILY, Duncan Alexander. História Documental do Protestantismo no Brasil. 3. ed. São Paulo: ASTE, 2002SCHNEIDER, Eiter e Neitzel, Leonardo. Em Fortaleza, uma missionária. Lar Cristão, Porto Alegre, RS, 32, 1981.SEIBERT, Erni Walter. Congregação Cristã; Enfoques Teológicos e Práti-cos. São Paulo: ICSP, 1988.STATISTICAL yearbook of the Lutheran Church-Missouri Synod for the year 1951. Saint Louis: Concordia Publishing House, 1952.STANKE, Geraldo W. A IELB e sua missão. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, RS, 70, no. 8, ago. 1987.STEYER, Walter O. Os imigrantes alemães no Rio Grande do Sul e o lute-ranismo. Porto Alegre: Singulart, 1999.TOMM, João Carlos. Caderno da IELB: Dez anos da missão de Maceió, Alagoas, Mensageiro Luterano, Porto Alegre, RS, 74, n. 7, Dez. 1991.______. Culto com mais emoção? Maceió, 1991.______. Culto (liturgia e canto para o contexto nordestino). Maceió, 1991.______. A IELB no contexto nordestino. Concílio de pastores. Recife, 1991.______. Perfil e orientações para o pastor luterano para o nordeste. Con-cílio de pastores. Recife, 1991.MANUAL de evangelização da IELB. Porto Alegre: Concórdia, 2000.WARTH, Carlos H. Crônicas da Igreja. Porto Alegre: Concórdia, 1979.WHAT Luther Says? St. Louis: Concordia Publishing House, 1986.WELZEL, Nestor. Gute Nachrichten aus Bahia. Kirchenblatt, Porto Alegre, RS, 42, no. 08, abr. 1952.WILLEMS, Emílio. Assimilação e populações marginais no Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1940.

Page 113: IELB NO NORDESTE

113

ANEXOS

Page 114: IELB NO NORDESTE

114

ANEXO A – Grupos familiares; um exemplo

OBJETIVOS: CUIDADO PASTORALINTEGRAÇÃORECUPERAÇÃOCOMUNHÃO CRISTÃ L = LíderESTUDO F = FamíliasTAREFA

IMPORTANTE:Os objetivos, tanto dos grupos menores como da congregação,

precisam estar bem definidos para não haver prejuízo. Os grupos me-nores sempre precisam estar a serviço e em sintonia com os objetivos gerais da congregação.

6 F

Page 115: IELB NO NORDESTE

115

ANEXO B - Projeto Festival Missionário

JUSTIFICATIVAS / DESCRIÇÃO DO PROJETOProgramação em tal cidade / igreja com participação de pastores

de outras localidades.Necessidade da agressividade missionária;Visibilidade da Igreja na cidade / região

PERÍODO:Poderá a igreja escolher o período, que vai de 4 a 7 dias, com

programações à noite, preferencialmente. LOCAL: O local poderá ser a sede da igreja, ginásio, teatro ou outro sa-

lão escolhido para o desenvolvimento do Festival.

TEMÁTICA: Bom seria se houvesse uma temática dirigida para o Festival.

Ex.: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” – Jo 14.6.OBJETIVOS:Tornar conhecida a IgrejaEstimular o membro ao EvangelismoFavorecer o crescimento espiritual dos membrosFavorecer o crescimento espiritual dos visitantesLevar a mensagem de Cristo àqueles que não o conhecem.

ESTRATÉGIA:Convites pessoaisFaixas e cartazesCarro de somCultos missionários à noiteEquipes de recepção/contato após o FestivalProjeto-piloto Lotar Bancos Projeto-piloto Visita a VisitantesCampanhas evangelísticas

Page 116: IELB NO NORDESTE

116

PROGRAMAÇÃO: Ex.:Campanhas evangelísticas – todos os dias à tarde(5ª f – 19h30) – abertura – Pregador: (6ª f – 19h30) – 2º dia – Pregador: (Sab – 19h30) – 3º dia – Pregador: (Dom – 19h00) – Encerramento – Pregador: A mensagem poderá ser dirigida por um pregador em todas as

noites, como também há possibilidade de outros. Além disso, poderá ter apresentações de grupos musicais, corais, etc.

ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO:Durante: comissõesApós: visitasDe acordo com o andamento do planejado e as programações.

Page 117: IELB NO NORDESTE

117

ANEXO C – Liturgia Luterana

1. HINO DE INVOCAÇÃO

2. INVOCAÇÃOO.: Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.C.: Amém.

3. CONFISSÃO E ABSOLVIÇÃOO.: Amados no Senhor. De coração sincero nos acheguemos a

Deus nosso Pai e lhe confessemos os nossos pecados, suplicando-lhe em nome de nosso Senhor Jesus Cristo que nos conceda o perdão.

O.: O nosso socorro está em nome do Senhor.C.: Que fez o céu e a terra.O.: Dizia eu: Confessarei ao Senhor as minhas transgressões.C.: E tu perdoaste a maldade do meu pecado.

- I -

O e C : Onipotente Deus e misericordioso Pai, eu, pobre e miserável pecador, te confesso todos os meus pecados e iniquidades com que provoquei a tua ira, merecendo mui justamente o teu castigo temporal e eterno. Lamento de todo coração estas minhas culpas e arrependo-me sinceramente. Suplico-te, mediante a tua profunda mi-sericórdia e a santa, inocente e amarga paixão e morte de teu amado Filho Jesus Cristo, que tenhas piedade e misericórdia de mim, pobre pecador. Amém.

O.: Diante de Deus vos pergunto: é esta a vossa sincera con-fissão, que vos arrependeis verdadeiramente de vossos pecados, que credes em Jesus Cristo, e que tendes o sincero e firme propósito de corrigir a vossa vida pecaminosa, pelo auxílio de Deus Espírito Santo? Se é, afirmai-o dizendo SIM.

Em virtude desta vossa confissão, na qualidade de ministro da Palavra, chamado e ordenado, vos anuncio a graça de Deus, e da parte

Page 118: IELB NO NORDESTE

118

e por ordem de Jesus Cristo, meu Senhor, vos perdoo todos os vossos pecados, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

C.: AMÉM.

- II -

O.: Onipotente Deus, nosso Criador e Redentor, nós, pobres pecadores, te confessamos que somos por natureza pecaminosos e impuros, e que temos cometido pecado contra ti por pensamentos, palavras e ações. Recorremos, portanto, ao refúgio de tua infinita com-paixão, buscando e implorando a tua graça, por amor de nosso Senhor Jesus Cristo.

O e C.: Ó misericordioso Deus, que deste o teu Filho unigêni-to, para que morresse por nós, tem compaixão de nós, e por amor de Jesus, nos concede a remissão de todos os nossos pecados e, pelo teu Santo Espírito, aumenta em nós o conhecimento verdadeiro de ti e de tua vontade, e a reta obediência à tua palavra, a fim de, por tua graça, alcançarmos a Vida Eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém.

O.: O Deus Todo-Poderoso, nosso Pai Celestial, teve compai-xão de nós e entregou o seu Filho unigênito, para que morresse por nós, e por amor de seu nome, nos perdoou todos os nossos pecados. E aos que creem em seu nome, lhes deu o poder de serem feitos filhos de Deus e lhes prometeu o seu Espírito Santo. Quem crer e for bati-zado será salvo.

O.: Concede-o, ó Senhor, a todos nós.C.: Amém.

4. SALMO (OU INTROITO)

GLORIA PATRIGlória ao Pai e ao Filho e ao Santo Espírito, como era no princí-

pio, agora é e por todo o sempre há de ser! Amém.

Page 119: IELB NO NORDESTE

119

5. KYRIESenhor, tem piedade de nós. Cristo, tem piedade de nós. Se-

nhor, tem piedade de nós.

6. GLORIA IN EXCELSIS

O.: Glória a Deus nas alturas!C.: E na terra paz, boa vontade para com os homens. Nós te

louvamos, bendizemos, adoramos; nós te glorificamos e te damos gra-ças, por tua grande glória, ó Senhor Deus, Rei dos céus, Deus Pai onipotente. Ó Senhor, unigênito Filho, Jesus Cristo; ó Senhor Deus, Cordeiro de Deus, Filho do Pai, que tiras os pecados do mundo, tem compaixão de nós. Tu, que tiras os pecados do mundo, recebe a nos-sa deprecação. Tu, que estás sentado à mão direita de Deus Pai, tem compaixão de nós, porque só tu és santo, só tu és o Senhor. Só tu, ó Cristo, juntamente com o Espírito Santo, és o Altíssimo na glória de Deus Pai. Amém.

7. SAUDAÇÃOO.: Senhor seja convosco.C.: E com o teu espírito.

8. ORAÇÃOC.: Amém (após a oração)

9. LEITURAS

Antigo Testamento:Epístola:C.: Aleluia! Aleluia! Aleluia!

10. HINO

11. EVANGELHO

C.: Glórias a ti, Senhor! (Antes da leitura do Evangelho)

Page 120: IELB NO NORDESTE

120

C.: Glórias a ti, ó Cristo! (Após a leitura do Evangelho)

12. HINO

13. MENSAGEM

14. CONFISSÃO DE FÉ

CREDO APOSTÓLICO

Creio em Deus Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra.E em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, o qual foi

concebido pelo Espírito Santo, nasceu da virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu ao inferno; no terceiro dia ressuscitou dos mortos, subiu ao céu e está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os mortos.

Creio no Espírito Santo, na Santa Igreja Cristã - a comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne e na vida eterna. Amém.

CREDO NICENO

Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra, tanto das coisas visíveis como das invisíveis.

E em um só Senhor Jesus Cristo, Filho unigênito de Deus, nas-cido do Pai antes de todos os mundos, Deus de Deus, Luz de Luz, verdadeiro Deus do verdadeiro Deus, gerado, não criado, de uma só substância com o Pai, por quem todas as coisas foram feitas; o qual por nós homens e pela nossa salvação desceu do céu e se encarnou pelo Espírito Santo na virgem Maria e foi feito homem; foi também crucificado por nós sob Pôncio Pilatos, padeceu e foi sepultado; e ao terceiro dia ressuscitou segundo as Escrituras, e subiu aos céus, e está sentado à direita do Pai, e virá novamente em glória a julgar os vivos e os mortos, cujo Reino não terá fim.

E no Espírito Santo, Senhor e Doador da vida, o qual procede

Page 121: IELB NO NORDESTE

121

do Pai e do Filho, que juntamente com o Pai e o Filho é adorado e glorificado; que falou pelos profetas. E numa única santa Igreja Cristã e Apostólica. Confesso um só Batismo para remissão dos pecados, e espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo vindouro. Amém.

15. OFERTÓRIOC.: Cria em mim, ó Deus, um puro coração e renova em mim

espírito reto. Não me lances fora da tua presença e não retires de mim o teu Espírito Santo. Torna a dar-me a alegria da tua salvação e sustém--me com um voluntário espírito. Amém.

16. RECOLHIMENTO DAS OFERTAS (Canta-se um hino)

17. ORAÇÃO GERAL

18. HINO

19. SANTA CEIA

PREFÁCIOO.: O Senhor seja convosco.C.: E com o teu espírito.O.: Levantai os vossos corações.C.: Levantemo-los ao Senhor.O.: Demos graças ao Senhor nosso Deus.C.: Assim fazê-lo é digno e justo.O.: É verdadeiramente digno, justo e do nosso dever, que em

todos os tempos e em todos os lugares te demos graças, ó Senhor, san-to Pai, onipotente, eterno Deus, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor. Portanto com os anjos e arcanjos e com toda a companhia celeste louvamos e magnificamos o teu glorioso nome, exaltando-te sempre, dizendo:

SANCTUSC.: Santo, santo, santo é o Senhor Deus dos Exércitos. Os céus e

a terra estão cheios de sua glória. Hosana, hosana, hosana nas alturas!

Page 122: IELB NO NORDESTE

122

Bendito, bendito, bendito aquele que vem em nome do Senhor! Hosa-na, hosana, hosana nas alturas!

PAI NOSSOO.: Pai nosso, que estás nos céus. Santificado seja o teu nome.

Venha o teu reino. Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dá hoje. E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também perdoamos aos nossos devedores. E não nos deixes cair em tentação. Mas livra-nos do mal.

C.: Pois teu é o reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém.

PALAVRAS DA INSTITUIÇÃOO.: Nosso Senhor Jesus Cristo, na noite em que foi traído, to-

mou o pão, e, tendo dado graças, o partiu e o deu aos seus discípu-los, dizendo: tomai, comei, isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória minha. E, semelhantemente, também, depois da ceia, tomou o cálice e, tendo dado graças, lho entregou, dizendo: bebei todos deste; este cálice é o Novo Testamento no meu sangue, que é derramado por vós para remissão dos pecados; fazei isto, quan-tas vezes o beberdes, em memória minha.

PAX DOMINI (A Paz do Senhor)O.: A Paz do Senhor seja convosco para sempre!C.: Amém.

AGNUS DEICordeiro divino, morto pelo pecador, sê compassivo.Cordeiro divino, morto pelo pecador, sê compassivo.Cordeiro divino, morto pelo pecador, a paz concede. Amém.

DISTRIBUIÇÃO

NUNC DIMITTISC.: Senhor, agora despedes em paz o teu servo, segundo a tua

palavra, pois os meus olhos viram a tua salvação, a qual preparaste perante a face de todos os povos, Luz para alumiar as gentes e para

Page 123: IELB NO NORDESTE

123

glória de teu povo Israel. Glória ao Pai e ao Filho e ao Santo Espírito, como era no princípio, agora é e por todo o sempre há de ser! Amém.

AÇÃO DE GRAÇASO.: Todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice:C.: Anunciais a morte do Senhor até que venha.O.: Demos graças ao Senhor e oremos: Onipotente Deus, nós te

rendemos graças, porque nos reconfortaste por este dom da salvação. Suplicamos-te que concedas por tua graça, que o mesmo nos fortaleça a fé em ti, e nos de ardente caridade para como o nosso próximo, me-diante Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor.

C.: Amém.

SAUDAÇÃOO.: O Senhor seja convosco.C.: E com o teu espírito.

BENEDICAMUSO.: Bendigamos ao Senhor.C.: Demos graças a Deus.

20. BÊNÇÃOO.: O Senhor te abençoe e te guarde. O Senhor faça resplande-

cer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti. O Senhor sobre ti levanta o seu rosto e te dê a paz.

C.: Amém. Amém. Amém.

21. AVISOS

22. HINO DE ENCERRAMENTO

Page 124: IELB NO NORDESTE

124

ANEXO D – Questionário para pastores

Estimado Colega pastor. Estou na fase da dissertação do Mestra-do em Teologia, pelo Seminário Batista do Norte do Brasil, Recife e escolhi discorrer sobre a inserção da IELB no Nordeste, especialmente levando em conta o fato de ela ter sua origem germânica e como isso tem se desenvolvido na região, destacando seus aspectos positivos e negativos. Peço, por gentileza, sua ajuda respondendo para mim as perguntas que seguem a fim de que isso possa me dar mais recursos para um dos capítulos da dissertação.

Nome do pastor:

Cidade onde nasceu:

Formação (em qual seminário)

Outros cursos

Cidade em que sua igreja está

Data de fundação da sua igreja

Local da fundação da igreja (nas dependências da igreja ou em outro lugar?).

Localização da igreja (quantos km do centro?).

Nomes dos membros fundadores

Número de membros hoje

Qual o máximo de membros que a igreja já teve?

Em que ano foi isso?

Page 125: IELB NO NORDESTE

125

Quais os fatores que levaram membros da igreja a sair da mesma?

Descreva a liturgia da igreja

Como os membros da igreja interagem na liturgia, no culto?

Há acólitos ou auxiliares?

Que hinário usa?

Os membros recebem instrução sobre evangelismo?

Qual a estratégia missionária de sua igreja?

Quantos membros da igreja são de origem germânica e que es-tão na igreja hoje?

Entre jovens, mulheres e homens, como está o percentual de membros e participação?

Como foi o seu curso de teologia?

Teve instrução sobre Crescimento de Igreja?

Capacitação nesta área. Quando?

Teve capacitação sobre cultura nordestina?

Sobre Missiologia?

Sobre missões transculturais?

Desde quando está na Região Nordeste?

Dê a sua opinião sobre o trabalho da IELB no NE.

Page 126: IELB NO NORDESTE

126

ANEXO E – Questionário para membros

Estimado irmão. Estou na fase da dissertação do Mestrado em Teologia, pelo Seminário Batista do Norte do Brasil, Recife e escolhi discorrer sobre a inserção da IELB no Nordeste, especialmente levan-do em conta o fato de ela ter sua origem germânica e como isso tem se desenvolvido na região, destacando seus aspectos positivos e negati-vos. Peço, por gentileza, sua ajuda respondendo para mim as pergun-tas que seguem a fim de que isso possa me dar mais recursos para um dos capítulos da dissertação.

Nome

Idade

Cidade em que nasceu

Profissão

Formação ( ) Ensino fundamental ( ) Ensino médio ( ) Superior ( ) Pós-graduação

Se tem formação no Ensino Superior e Pós-graduação, em que área?

Como e quando se tornou luterano?

Cidade em que sua igreja está

Dê a sua opinião sobre os seguintes tópicos:a) Culto

b) Liturgia

c) Músicas

d) Mensagens

Page 127: IELB NO NORDESTE

127

O que você pensa sobre a formação dos pastores?( ) Adequada para a Região( ) Merece uma atenção especialComente:

Em sua opinião, quais seriam algumas dificuldades para o lento crescimento da IELB na região?

Quais os fatores que levaram membros da Igreja a sair da mesma?

Você já recebeu instrução sobre evangelismo? Como você tem aplicado isso?

Quais seriam algumas alternativas que ajudariam o trabalho da IELB no Nordeste?

Fale um pouco mais sobre a sua comunidade.

Page 128: IELB NO NORDESTE

128

SEMINÁRIO TEOLÓGICO BATISTA DO NORTE DO BRASIL

WALDYR HOFFMANN

A IGREJA EVANGÉLICA LUTERANA DO BRASIL NO NORDESTE E SEU DESAFIO PARA

A PASTORAL URBANA

RECIFE2008