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IGEPP
Preparatório para os concursos de Assistente Administrativo do Legislativo
Objetivo deste material: 1) tomar conhecimento dos requisitos de um edital típico dos CESPE;
2) refletir sobre os conceitos de dissertação e de argumentação;
3) propor um modelo funcional de argumentação, com base no silogismo;
4) fornecer elementos para a elaboração de um texto dissertativo-argumentativo.
EXEMPLOS DE PROVA DISCURSIVA DO CESPE
1) ||CNJ13_014_48N615688|| CESPE/UnB – CNJ – NÍVEL MÉDIO
Considere que uma empresa necessite divulgar seus projetos e produtos para os
colaboradores internos e externos da corporação. Em face dessa situação, elabore um texto
dissertativo acerca dos aspectos tecnológicos que devem ser considerados no processo de
implantação da campanha de divulgação das informações da empresa em tela, atendendo ao que
se pede a seguir.
< Estabeleça a diferença entre Internet e intranet, com base na funcionalidade e no perfil
do usuário. [valor: 16,00 pontos]
< Apresente a descrição dos equipamentos necessários à implantação da infraestrutura
(servidores, interconexão de redes de
computadores etc.). [valor: 11,00 pontos]
< Indique os aspectos que devem ser considerados ao se desenvolver a interface de
interação com o usuário (interface gráfica,
ergonomia e usabilidade). [valor: 11,00 pontos]
2) MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO - TÉCNICO ADMINISTRATIVO, 2010 -
UnB/CESPE – MPU
Os atrasos na criação e na aprovação de projetos de infraestrutura e a falta de
planejamento para a Copa do Mundo de 2014 estão preocupando os membros do Sindicato
Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva. Segundo um dos representantes
regionais dessa organização, esses atrasos podem gerar prejuízos de tempo e de dinheiro, visto
que as obras e os serviços tenderão a ficar mais caros.
Internet:<www.atarde.com.br> (com adaptações).
Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter unicamente motivador, redija
um texto dissertativo acerca do seguinte tema.
A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO (ESTRATÉGICO, TÁTICO E O
PERACIONAL) PARA O SUCESSO DA REALIZAÇÃO DA COPA DO MUNDO DE 2014
NO BRASIL
3) CARGOS DE NÍVEL SUPERIOR E DE NÍVEL INTERMEDIÁRIO
TÉCNICO-ADMINISTRATIVO EM EDUCAÇÃO
||FUB14_001_01N831350|| CESPE/UnB – FUB – Aplicação: 2014
PROVA DISCURSIVA
2
Nesta prova, faca o que se pede, usando, caso deseje, o espaco para rascunho indicado no
presente caderno. Em seguida, transcreva o texto para a FOLHA DE TEXTO DEFINITIVO DA
PROVA DISCURSIVA, no local apropriado, pois não será avaliado fragmento de texto escrito
em local indevido.
Qualquer fragmento de texto alÉm da extensão máxima de linhas disponibilizadas será
desconsiderado.
Na folha de texto definitivo, identifique-se apenas no cabecalho da primeira pagina, pois nao
será avaliado texto que tenha qualquer assinatura ou marca identificadora fora do local
apropriado.
Ao domínio do conteúdo serão atribuídos ate 20,00 pontos, dos quais ate 1,00 ponto será
atribuído ao quesito apresentação (legibilidade, respeito às margens e indicação de parágrafos) e
estrutura textual (organização das ideias em texto estruturado).
O sociólogo italiano Domenico De Masi afirma em novo livro que, apesar da desigualdade
social, o Brasil pode colaborar para a construção de um novo modelo social para o mundo. O
patrimônio histórico e cultural do país é insubstituível, segundo o autor, conhecido
principalmente pelo livro O ócio criativo. Segundo ele, ―a História ensina que quando velhos
modelos não satisfazem mais, mais cedo ou mais tarde floresce um novo‖.
O Globo, 26/1/2014, p. 49 (com adaptações).
Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um
texto dissertativo acerca do seguinte tema.
O BRASIL E O DESAFIO DE CONSTRUÇÃO DE UM NOVO MODELO DE SOCIEDADE
PARA O MUNDO
Ao elaborar seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes aspectos:
< sinais de esgotamento do modelo vigente na sociedade contemporânea: crises econômicas e
perda de referências; [valor: 6,50 pontos]
< fundamentos do modelo histórico-cultural brasileiro que poderiam orientar a sociedade global
pós-industrial; [valor: 6,50 pontos]
< desigualdades a serem superadas pela sociedade brasileira. [valor: 6,00 pontos]
4) MINISTÉRIO DA JUSTIÇA – CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA
ECONÔMICA (CADE)
CONCURSO PÚBLICO PARA PROVIMENTO DE VAGAS EM CARGOS DE NÍVEL
SUPERIOR E DE NÍVEL INTERMEDIÁRIO. Aplicação: 9/3/2014
Cargo 1: Analista Técnico-Administrativo
CADE aprova fusão entre Oi e Portugal Telecom
Despacho do CADE aprovou sem restrições a fusão entre a operadora Oi e a Portugal Telecom
(PT), que será chamada de Corp Co e controlará as atividades das duas empresas no Brasil e no
mundo.
O documento do CADE indica que a nova operadora de telecomunicações vai atuar em países
de língua portuguesa. A aliança estratégica já tinha sido anunciada em 2011 e, então, aprovada
pelo conselho.
O CADE também entende que a fusão não vai trazer problemas concorrenciais no Brasil, já que
a PT abriu mão da participação acionária que tinha na operadora Vivo. Além do mais, os
técnicos do conselho lembram que a PT atua no Brasil indiretamente, por meio da operadora Oi.
No documento, o coordenador-geral substituto de Análise Antitruste, Paulo Vinícius Ribeiro de
Oliveira, registra que, se forem mantidas as condições previamente consideradas pelo CADE,
não haverá prejuízo ao ambiente concorrencial.
3
Internet: <http://agenciabrasil.ebc.com.br> (com adaptações).
Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter unicamente motivador e considerando
a natureza jurídica de empresa privada
concessionária do serviço público de telecomunicação, redija um texto dissertativo acerca dos
serviços públicos. Ao elaborar seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes aspectos:
< conceito de serviço público; [valor: 4,00 pontos]
< formas de prestação dos serviços públicos e classificação, em relação à forma, do serviço
público prestado por empresa privada concessionária do serviço público de telecomunicação;
[valor: 8,00 pontos]
< distinção entre serviços públicos uti singuli (individuais) e serviços públicos uti universi
(gerais) e classificação, considerando-se essa divisão, do serviço público de telecomunicação.
[valor: 7,00 pontos]
O que se entende por texto dissertativo?
(Do guia do participante do Enem 2013 – a redação no Enem –, elaborado, entre outros, pela
Universidade de Brasília – Centro de Seleção e Promoção de Eventos – Cespe.)
MATRIZ DE REFERÊNCIA PARA REDAÇÃO 2013 – DETALHAMENTO POR
COMPETÊNCIA
2.1 Competência 1 – Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa
2.2 Competência 2 – Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de
conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-
argumentativo em prosa.
2.3 Competência 3 – Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões
e argumentos em defesa de um ponto de vista.
2.4 Competência 4 – Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a
construção da argumentação.
2.5 Competência 5 – Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando
os direitos humanos.
Texto dissertativo-argumentativo
A banca propõe um tema. Este se traduz, em geral, por uma frase nominal, em que não
há uma tomada de posição, mas que traz indicações para que se possa produzir uma tese.
Esse tema pode ser, por exemplo:
A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO (ESTRATÉGICO, TÁTICO E O PERACIONAL)
PARA O SUCESSO DA REALIZAÇÃO DA COPA DO MUNDO DE 2014 NO BRASIL
Mas o tema não é a tese.
Por tese, nesse contexto, deve-se entender a defesa de um ponto de vista, de uma ideia.
Outro modo de dizer ―tese‖ pode ser ―aquilo de que o autor quer nos convencer‖.
No caso do tema acima, pode-se transformá-lo em tese incluindo um propósito, um
dever ser, com o auxiliar modal ―dever‖ (da lógica deôntica):
O Brasil deve adotar o planejamento estratégico, tático e operacional para as ações da Copa do
Mundo de Futebol, em 2014.
Essa é a tese, isto é, esse ponto de vista é aquele que o candidato deve sustentar. E essa
interpretação está autorizada pelo modo como a banca esboçou o tema.
Em seguida, é necessário verificar que, para sustentar uma tese (convencer o auditório
de algo), é necessário que haja bases para isto. Que haja fundamentos. Estes podem ser de
4
natureza legal, técnica, filosófica, doutrinária, ou mesmo uma combinação de todos esses
elementos.
Mas, para desdobrar essa tese (extraída do tema), precisamos de um modelo lógico
produtivo. Esse modelo nos é dado pela teoria da argumentação.
Requisitos básicos do texto dissertativo-argumentativo
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Argumentos
Estratégias argumentativas
Competências avaliadas para a defesa de um ponto de vista
Competências avaliadas para a defesa de um ponto de vista
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O que evitar?
PLANO-PADRÃO DE UMA ARGUMENTAÇÃO, segundo Othon M. Garcia (Comunicação
em Prosa Moderna)
1. Proposição
(afirmativa, suficientemente definida e limitada; não deve conter em si mesma
nenhum argumento, isto é, prova ou razão)
1.2. Análise da proposição
2. Formulação dos argumentos (evidência)
a) fatos
b) exemplos
c) ilustrações
d) dados estatísticos
e) testemunho
Conclusão
Os atrasos na criação e na aprovação de projetos de infraestrutura e a falta de
planejamento para a Copa do Mundo de 2014 estão preocupando os membros do Sindicato
Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva. Segundo um dos representantes
regionais dessa organização, esses atrasos podem gerar prejuízos de tempo e de dinheiro, visto
que as obras e os serviços tenderão a ficar mais caros.
A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO (ESTRATÉGICO, TÁTICO E O
PERACIONAL) PARA O SUCESSO DA REALIZAÇÃO DA COPA DO MUNDO DE 2014
NO BRASIL
Um modelo operacional para montar uma argumentação se baseia no silogismo,
que é uma ferramenta da lógica clássica, composto por três partes, a saber:
11
Premissa Maior (PM): de conteúdo geral, genérico, totalizante, com a
possibilidade de inclusão total (todos de uma categoria), ou exclusão total (nenhum de
certa categoria). Pode haver, também, inclusões parciais (alguns, de uma categoria); e
exclusões parciais (alguns, de uma categoria). Exemplos: todo ser humano é mortal;
nenhum humano é imortal; alguns brasileiros são elegíveis para o cargo de presidente da
República; alguns brasileiros não são elegíveis para cargos públicos.
premissa menor (pm): apresenta um caso particular:
– o ser humano Joaquim Barbosa; os ministros de Estado serão escolhidos dentre
brasileiros maiores de vinte e um anos e no exercício dos direitos políticos (Constituição
Federal, art. 87);
– nos dez primeiros anos de existência o Tribunal de Contas de um novo Estado
brasisleiro terá três membros, nomeados, pelo governador eleito, dentre brasileiros de
comprovada idoneidade e notório saber (Constituição Federal, art. 235, inciso III);
– são inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos (CF, art. 14, § 4º);
– são inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes
consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República,
de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os
haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato
eletivo e candidato à reeleição (CF, art. 14, § 7º);
– o alistamento eleitoral e o voto são obrigatórios para os maiores de dezoito
anos(CF, art. 14,§ 1º, I);
– o alistamento eleitoral e o voto são facultativos para os analfabetos (CF, art.
14,§ 1º, II, a);
Conclusão (C): proposição que, utilizando-se da Premissa Maior como marco
para o julgamento, considera a premissa menor como caso específico e deles extrai uma
conclusão coerente, congruente, válida e verdadeira.
PM: Os analfabetos são inelegíveis [onde Os = Todos os brasileiros];
pm: Ora, o Sr. Batatinha Quando Nasce é analfabeto;
Logo, O Sr. Batatinha Quando Nasce é inelegível.
Condições: verdade e validade.
Verdade: é verdade que todos os analfabetos são inelegíveis? É verdade que o
Sr. Batatinha Quando Nasce é analfabeto? Se essas duas proposições forem verdadeiras,
a conclusão (O Sr. Batatinha Quando Nasce é inelegível) é verdadeira.
Validade: O sujeito sintático da PM corresponde ao termo que está no predicado
da pm. E o predicado da PM corresponde ao predicado da Conclusão.
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Para usar o silogismo como modelo funcional para montar uma argumentação,
procedemos de maneira inversa à ordem convencionada para o silogismo: em vez de
irmos da PM para a C, vamos da C para a PM; e desta para a pm.
Primeiro passo: Escreva a Conclusão (corresponde àquilo de que o autor quer
nos convencer, isto é, à tese sustentada):
PM
pm
C O Brasil deve adotar o planejamento estratégico, tático e operacional para as
ações da Copa do Mundo de Futebol, em 2014.
Segundo passo: transforme sua Conclusão (que é afirmativa), em uma questão:
PM
pm
Por
que
O Brasil deve adotar o planejamento estratégico, tático e operacional para as
ações da Copa do Mundo de Futebol, em 2014.
?
Terceiro passo: coloque a resposta obtida no lugar da PM (isto é, deve ter o
caráter de generalidade, o que equivale dizer a inclusão ou exclusão; estas, por sua vez,
podem ser totais ou parciais:
PM [Somente] o planejamento estratégico, tático e operacional é capaz de assegurar
a obtenção dos resultados esperados, no tempo previsto, com os custos
estimados.
pm
C O Brasil deve adotar o planejamento estratégico, tático e operacional para as
ações da Copa do Mundo de Futebol, em 2014.
Quarto passo: transforme sua PM (que é afirmativa), em uma questão:
Por
que
[Somente] o planejamento estratégico, tático e operacional é capaz de assegurar
a obtenção dos resultados esperados, no tempo previsto, com os custos estimados
?
pm
C O Brasil deve adotar o planejamento estratégico, tático e operacional para as
ações da Copa do Mundo de Futebol, em 2014
Quinto passo: responda, no campo da pm, à questão formulada pela PM, com os
casos particulares, os argumentos específicos:
Por que [Somente] o planejamento estratégico, tático e operacional é capaz de
assegurar a obtenção dos resultados esperados, no tempo previsto, com os
custos estimados
?
pm
(fase 1=
- [porque] há atrasos na criação e na aprovação de projetos de infraestrutura;
- [porque] segundo o Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e
13
negativos)
Engenharia Consultiva é preocupante a falta planejamento para a Copa do
Mundo de 2014;
- [porque] esses atrasos podem gerar prejuízos de tempo e de dinheiro, visto
que as obras e os serviços tenderão a ficar mais caros.
pm
(fase 2=
positivos)
- [definição de planejamento estratégico e suas vantagens];
- [definição de planejamento tático e suas vantagens];
- [definição de planejamento operacional e suas vantagens];
ou
- [definição de planejamento estratégico, tático e operacional e suas
vantagens];
C O Brasil deve adotar o planejamento estratégico, tático e operacional para as
ações da Copa do Mundo de Futebol, em 2014
Como resultado, o candidato dispõe de um planejamento de texto; isto é, ele tem
um projeto discursivo esboçado. Desse projeto, poderá desenvolver os parágrafos para
cada proposição encontrada.
Outro exemplo de planejamento de texto. Desta vez, tomamos o texto original,
resumimos este em seus argumentos e, em seguida, extraímos o planejamento.
Uma vez que a arma banaliza a vida, diminuir e controlar o acesso às armas de fogo no
Brasil certamente favorecerá a proteção da pessoa. Constata-se que o Brasil ocupa, entre 50
países pesquisados pelas Nações Unidas, o segundo lugar no tocante a mortes provocadas por
armas de fogo, logo após a África do Sul, cujo índice de homicídios é duas vezes maior que o
do Brasil. Mas o que impressiona no caso brasileiro é que 88% dos homicídios são praticados
por armas de fogo.
Indicadores de violência como esses ameaçam a própria estabilidade do Estado de
Direito, a qual está intrinsecamente ligada com a capacidade de o Estado manter a ordem e
aplicar a lei; e, por outro, lado, com a disposição de cada um de nós de não violar os direitos dos
outros. Trata-se de uma construção social sem a qual todos saem perdendo.
Por serem instrumento da violência presente nos indivíduos e na sociedade, obviamente,
as armas, por si só, não matam ninguém. O fato, porém, é que, pela falta de controle, muitos dos
conflitos inerentes ao convívio social têm sido resolvidos por intermédio das armas.
É significativo que mais de 50% dos homicídios ocorridos numa grande metrópole
como São Paulo sejam cometidos por indivíduos sem nenhum histórico policial. São situações
em que a ausência de arma de fogo certamente evitaria a perda de uma vida. São brigas de bar,
conflitos no trânsito, desavenças familiares ou entre vizinhos, além de outros acidentes fatais.
Por outro lado, a facilidade com que adolescentes em conflito com a lei obtêm e portam
armas de fogo em nossas ruas potencializa o risco de pessoas mortas como decorrência de
crimes patrimoniais.
Em virtude de todos esses fatores, deve-se reforçar os programas que buscam diminuir o
número de armas circulantes. Para que a população se sinta estimulada a se desarmar, é
necessário que perceba uma efetiva melhora na segurança oferecida pelo Estado. Entretanto, não
basta a atuação das instituições estatais. Por isso, é necessária uma campanha de desarmamento
que envolva toda a sociedade. Esta deve ser um estímulo para se repensar e rearticular o modo
pelo qual os brasileiros têm solucionado seus conflitos.
Como se vê, diante do quadro de violência, que é agravado pelo descontrole sobre as
armas, deve-se buscar o desarmamento da população, com normas legais específicas, como é o
caso do Estatuto do Desarmamento.
14
Parágrafo: tópico frasal
Uma vez que a arma banaliza a vida, diminuir e controlar o acesso às armas de fogo no
Brasil certamente favorecerá a proteção da pessoa.
Parágrafo: desenvolvimento
Constata-se que o Brasil ocupa, entre 50 países pesquisados pelas Nações Unidas, o segundo
lugar no tocante a mortes provocadas por armas de fogo, logo após a África do Sul, cujo índice
de homicídios é duas vezes maior que o do Brasil. Mas o que impressiona no caso brasileiro é
que 88% dos homicídios são praticados por armas de fogo.
Resumo do texto “Desarmar é preciso”, de José Gregori
1. Controlar armas favorece proteção pessoas.
2. Mortes por armas de fogo: Brasil é o 2º país (em 50); 88%; 1º: em África do Sul: com 2x.
Brasil: 88%
3. Armas: instrumentos da violência das pessoas; pela falta de controle, conflitos são resolvidos
a bala.
4. +50% homicídios em São Paulo: não-bandidos.
5. Sem armas, evitar-se-iam: mortes em: brigas: trânsito, bar, família, vizinhos, acidentes.
6. Fácil acesso dos delinqüentes: mortes nos crimes de roubo.
7. Campanha: sociedade e órgãos estatais.
8. População precisa confiar capacidade proteção Estado.
9. Repensar resolução de conflitos.
10. Estado de Direito: capacidade Estado manter ordem e aplicar lei; + disposição pessoas
respeitar direitos outros.
11. Necessidade do momento: reforçar Estado de Direito: pelo cumprimento da lei, pacificação e
desarmamento população. (125 palavras; 15 linhas; 704 caracteres)
Plano para a dissertação cuja tese seja a do desarmamento da população
Proposição
inicial Armas banalizam a vida.
Argumento
s:
Problema
1. Violência no Brasil e no mundo: Brasil é o 2º;
2. 88% homicídios por armas de fogo;
3. + de 50% homicídios por não-bandidos;
4. Facilidade acesso a armas leva a morte nos crimes de roubo;
Solução 5. Campanha: desarmamento envolvendo sociedade e órgãos de segurança;
6. Campanha: pessoas mudarem modo de resolver conflitos;
7. Estado deve garantir segurança para cidadão se desarmar: garantir aplicação
da lei.
Conclusão É necessário desarmar a população.
O SILOGISMO E A LÓGICA DO TEXTO ARGUMENTATIVO
Premissa Maior: Todo homem é mortal.
Premissa menor: Sócrates é homem.
Conclusão: Logo, Sócrates é Mortal.
SILOGISMOS ENVOLVIDOS NO TEXTO
15
PM Tudo que ameaça a vida humana deve ser combatido. Pm Ora, a violência ameaça a vida das pessoas. c Logo, a violência deve ser combatida.
SILOGISMOS ENVOLVIDOS NO TEXTO
PM Se a violência deve ser combatida, tudo que a alimenta também deve ser combatido. Pm Ora, armas são fator de aumento da violência. c Logo, o uso de armas deve ser combatido.
SILOGISMOS ENVOLVIDOS NO TEXTO
PM Pessoas são sensíveis a campanhas (Publicidade). Pm Ora, o desarmamento pode ser objeto de campanhas. c Logo, deve ser feita uma campanha para o desarmamento.
PM Segurança pública é responsabilidade do Estado. Pm Ora, a violência afeta a segurança pública. c Logo, o Estado deve combater a violência. SILOGISMOS ENVOLVIDOS NO TEXTO
PM Nenhum Estado é capaz de vencer sozinho o problema da violência. Pm Ora, o desarmamento faz parte do problema da violência. c Logo, o Estado, sozinho, é incapaz de resolvê-lo. SILOGISMOS ENVOLVIDOS NO TEXTO
PM As pessoas devem buscar os melhores meios de preservar a vida humana. Pm Ora, a violência por armas de fogo ameaça a vida. c Logo, a violência deve ser combatida pelas pessoas.
Como configurar o planejamento de um texto, com base no silogismo
Primeiro passo: escreva a conclusão de sua dissertação:
O Estado e a sociedade devem criar uma política de desarmamento dos
cidadãos comuns
Segundo passo do planejamento: faça uma pergunta à frase que escreveu como sendo
conclusão:
Por
que
O Estado e a sociedade devem criar uma política de desarmamento dos
cidadãos comuns
?
Terceiro passo do planejamento: responda à pergunta da conclusão, no lugar da PM
(Premissa Maior)
As armas potencializam a violência.
O Estado e a sociedade devem criar uma política de desarmamento dos
cidadãos comuns
Quarto passo do planejamento: faça uma pergunta à afirmação da PM, com “Por quê” ou
com “Como” (para extrair as provas)
Por que As armas potencializam a violência. ?
16
ou
Como
O Estado e a sociedade devem criar uma política de desarmamento dos
cidadãos comuns
Quinto passo do planejamento: responda à pergunta, com os fatos, exemplos, ilustrações,
dados estatísticos, etc. (argumentos)
Por que
ou
Como
As armas potencializam a violência. ?
negativos 1. Violência no Brasil e no mundo: Brasil é o 2º;
2. 88% homicídios por armas de fogo;
3. + de 50% homicídios por não-bandidos;
4. Facilidade acesso a armas leva a morte nos crimes de roubo;
positivos 5. Campanha: desarmamento envolvendo sociedade e órgãos de
segurança;
6. Campanha: pessoas mudarem modo de resolver conflitos;
7. Estado deve garantir segurança para cidadão se desarmar:
garantir aplicação da lei.
O Estado e a sociedade devem criar uma política de desarmamento
dos cidadãos comuns
Exercício para montagem de uma argumentação
Em seguida, analisaremos a regulamentação sobre propaganda dirigida a crianças, editada pelo
Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
TEXTO 1 – ARTIGO DE HÉLIO SCHWARTSMAN
Propaganda infantil
SÃO PAULO - Sou pai de gêmeos com o furor consumista típico de garotos de 12 anos.
Sou, portanto, solidário com pais que se queixam dos excessos da propaganda infantil. É
covardia anunciar para crianças, já que elas têm muitos desejos, nenhuma renda e uma
capacidade infinita de apoquentar seus genitores.
Ainda assim, parece-me despropositada a resolução n° 163 do Conselho Nacional dos
Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) que passou a considerar abusiva toda e
qualquer publicidade dirigida ao público com menos de 12 anos. O tema foi objeto de dois
interessantes artigos publicados no sábado na Folha.
O ponto central, creio, é que o Conanda exorbitou de seus poderes. O órgão não poderia
banir ou limitar a liberdade de empresas anunciarem seus produtos. A Constituição
simplesmente não dá espaço para isso. O artigo 220 da Carta, que estabelece a possibilidade de
restrições legais à publicidade, só as prevê para uma relação finita de produtos: "tabaco, bebidas
alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e terapias". É forçoso, assim, concluir que, para tudo o
que esteja fora dessa lista, a regra é a da plena liberdade.
Aceitar essa conclusão não implica abandonar os pais à tirania de seus rebentos. Embora
militantes de causas adorem uma leizinha, existem outros mecanismos civilizadores até mais
eficientes que normas jurídicas. Especialmente no mundo do marketing, imagem é tudo. Apenas
fixar o meme de que a propaganda dirigida a crianças não é ética --uma ideia que já está em
circulação – tende a fazer com que publicitários e anunciantes peguem leve.
Alguns diriam que é pouco. Talvez, mas recorrer a esse expediente e outras medidas,
como a autorregulamentação, tem a enorme vantagem de preservar um dos pilares da
democracia, que é a liberdade de expressão. Eu pelo menos não a trocaria por alguns momentos
de paz e mais alguns tostões na carteira.
17
TEXTO 2: RESOLUÇÃO Nº 163 CONANDA, DE 13/03/2014 (DOU DE 4/4/2014)
O CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE -
CONANDA, no uso de suas atribuições estabelecidas na Lei n° 8.242, de 12 de outubro de 1991
e no Decreto n° 5.089, de 20 de maio de 2004 e no seu Regimento Interno,
Considerando o estabelecido no art. 227 da Constituição Federal;
Considerando o disposto nos arts. 2º, 3º, 4º e 86 da Lei n° 8.069, de 13 de julho de 1990;
Considerando o disposto no § 2º do art. 37, da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990;
Considerando o Plano Decenal dos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes,
especialmente o objetivo estratégico 3.8 – ―Aperfeiçoar instrumentos de proteção e defesa de
crianças e adolescentes para enfrentamento das ameaças ou violações de direitos facilitadas
pelas Tecnologias de Informação e Comunicação‖,
RESOLVE:
Art. 1º Esta Resolução dispõe sobre a abusividade do direcionamento de publicidade e de
comunicação mercadológica à criança e ao adolescente, em conformidade com a política
nacional de atendimento da criança e do adolescente prevista nos arts. 86 e 87, incisos I, III, V,
da Lei n° 8.069, de 13 de julho de 1990.
§ 1º Por ―comunicação mercadológica‖ entende-se toda e qualquer atividade de
comunicação comercial, inclusive publicidade, para a divulgação de produtos, serviços, marcas
e empresas independentemente do suporte, da mídia ou do meio utilizado.
§ 2º A comunicação mercadológica abrange, dentre outras ferramentas, anúncios
impressos, comerciais televisivos, spots de rádio, banners e páginas na internet, embalagens,
promoções, merchandising, ações por meio de shows e apresentações e disposição dos produtos
nos pontos de vendas.
Art. 2º Considera-se abusiva, em razão da política nacional de atendimento da criança e
do adolescente, a prática do direcionamento de publicidade e de comunicação mercadológica à
criança, com a intenção de persuadi-la para o consumo de qualquer produto ou serviço e
utilizando-se, dentre outros, dos seguintes aspectos:
I - linguagem infantil, efeitos especiais e excesso de cores;
II - trilhas sonoras de músicas infantis ou cantadas por vozes de criança;
III - representação de criança;
IV - pessoas ou celebridades com apelo ao público infantil;
V - personagens ou apresentadores infantis;
VI - desenho animado ou de animação;
VII - bonecos ou similares;
VIII - promoção com distribuição de prêmios ou de brindes colecionáveis ou com apelos
ao público infantil; e
IX - promoção com competições ou jogos com apelo ao público infantil.
§ 1º O disposto no caput se aplica à publicidade e à comunicação mercadológica
realizada, dentre outros meios e lugares, em eventos, espaços públicos, páginas de internet,
canais televisivos, em qualquer horário, por meio de qualquer suporte ou mídia, seja de produtos
ou serviços relacionados à infância ou relacionados ao público adolescente e adulto.
§ 2º Considera-se abusiva a publicidade e comunicação mercadológica no interior de
creches e das instituições escolares da educação infantil e fundamental, inclusive em seus
uniformes escolares ou materiais didáticos.
§ 3º As disposições neste artigo não se aplicam às campanhas de utilidade pública que
não configurem estratégia publicitária referente a informações sobre boa alimentação,
segurança, educação, saúde, entre outros itens relativos ao melhor desenvolvimento da criança
no meio social.
Art. 3º São princípios gerais a serem aplicados à publicidade e à comunicação
mercadológica dirigida ao adolescente, além daqueles previstos na Constituição Federal, na Lei
nº 8.069, de 13 de julho de 1990, Estatuto da Criança e do Adolescente, e na Lei nº 8.078, de 11
de setembro de 1990, Código de Defesa do Consumidor, os seguintes:
I – respeito à dignidade da pessoa humana, à intimidade, ao interesse social, às
instituições e símbolos nacionais;
II – atenção e cuidado especial às características psicológicas do adolescente e sua
condição de pessoa em desenvolvimento;
18
III – não permitir que a influência do anúncio leve o adolescente a constranger seus
responsáveis ou a conduzi-los a uma posição socialmente inferior;
IV – não favorecer ou estimular qualquer espécie de ofensa ou discriminação de gênero,
orientação sexual e identidade de gênero, racial, social, política, religiosa ou de nacionalidade;
V – não induzir, mesmo implicitamente, sentimento de inferioridade no adolescente, caso
este não consuma determinado produto ou serviço;
VI – não induzir, favorecer, enaltecer ou estimular de qualquer forma atividades ilegais;
VII – não induzir, de forma alguma, a qualquer espécie de violência;
VIII – a qualquer forma de degradação do meio ambiente; e
IX – primar por uma apresentação verdadeira do produto ou serviço oferecido,
esclarecendo sobre suas características e funcionamento, considerando especialmente as
características peculiares do público-alvo a que se destina;
Art. 4º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.
MIRIAM MARIA JOSÉ DOS SANTOS
TEXTO 3: MAURÍCIO DE SOUSA DEFENDE PUBLICIDADE INFANTIL
Criador da Mônica postou foto no Instagram em que uma criança segura placa contra a
proibição deste tipo de propaganda. Cartunista controla licenciamento bilionário
por Piero Locatelli — publicado 11/04/2014 12:16, última modificação 11/04/2014 18:07
O cartunista Maurício de Sousa, criador da Turma da Mônica, colocou em
seu Instagram a foto de uma criança defendendo a publicidade infantil. Na placa, segurada pela
garota identificada como Verônica, está escrito: ―Eu tenho direito de assistir publicidade
infantil. A televisão não é só para adultos. Alguém sabe quais produtos infantis foram lançados
nesse ano?‖
Na semana passada, o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
(Conanda) recomendou o fim da veiculação de propagandas voltadas às crianças. Segundo o
órgão, ―a prática do direcionamento de publicidade e comunicação mercadológica à criança com
a intenção de persuadi-la para o consumo de qualquer produto ou serviço é abusiva e, portanto,
ilegal segundo o Código de Defesa do Consumidor.‖
O bolso de Maurício de Sousa é diretamente afetado pela decisão. Segundo reportagem
do jornal O Estado de São Paulo, de 2012, a marca do cartunista tem mais de 3 mil produtos
licenciados e faturava 2,7 bilhões de reais por ano
TEXTO 4: VETO A PUBLICIDADE INFANTIL GERA CRISE
Para anunciantes, resolução de conselho ligado à Presidência não é lei; ministérios e Procons
armam fiscalização
Restrição completa dois meses ainda sem consequência para o consumidor, mas coloca fogo no
disputa política
Na próxima quarta-feira (4) completam-se dois meses desde que uma resolução de um
conselho ligado à Presidência da República determinou que qualquer publicidade para crianças,
inclusive em embalagens, é abusiva. Propagandas de produtos infantis podem existir, desde que
dirigidas a adultos.
De lá para cá, o que mudou nas prateleiras de lojas de brinquedos e nos intervalos das
TVs infantis? Nada.
Mas, se para os olhos de pais e crianças a resolução 163 do Conselho Nacional dos
Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) ainda não trouxe consequências, nos bastidores
políticos ela jogou álcool em brasa.
Faz mais de uma década que esse é tema de disputa acirrada – afinal, calcula-se que o
mercado de produtos infantis movimente mais de R$ 50 bilhões por ano no país.
De um lado, ONGs ligadas aos direitos da criança tentam aprovar restrições e até vetos
legais à publicidade.
De outro, o mercado publicitário defende que o controle sobre propagandas abusivas deve
se dar por autorregulamentação – desde 2006 o Conselho Nacional de Autorregulamentação
Publicitária (Conar) cumpre esse papel.
19
Até 4 de abril, data da publicação da resolução, o cenário da polêmica era o Legislativo,
onde projetos propõem leis para os dois lados.
O texto da resolução é praticamente o mesmo de uma das versões do projeto de lei de
Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR). Apresentado em 2001, é o que está, entre outros do mesmo
assunto, com a tramitação mais avançada.
Agora o Poder Executivo entrou no ringue e aí está o ponto desse segundo round:
associações do mercado publicitário dizem não reconhecer o valor legal da resolução, porque só
o Legislativo, e não o Conanda, teria esse poder.
―É absurdo por dois aspectos. O Conanda é um órgão consultivo, não pode legislar.
Depois, as regras são tão radicais que talvez só em Cuba e na Coreia do Norte a lei seja assim",
disse Rafael Sampaio, vice-presidente executivo da Associação Brasileira dos Anunciantes
(ABA).
Anunciantes e agências têm recorrido às consultorias jurídicas das associações. ―A
resolução gerou grande insegurança. Anunciantes cogitam deixar de investir em publicidade
infantil temendo o desgaste e o risco de multas‖, disse Paulo Gomes de Oliveira Filho, consultor
jurídico da Associação Brasileira de Agências de Publicidade (Abap).
Por ora, a estratégia é evitar uma disputa jurídica, até que a primeira propaganda sofra
uma ação. Enquanto isso, um projeto de lei foi apresentado pelo deputado Milton Monti (PR-
SP) propondo a ilegalidade da resolução.
O Conanda faz parte da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e é
formado por representantes do governo e da sociedade civil. Foi criado por lei federal que
coloca entre suas atribuições ―elaborar as normas federais da política nacional de direitos da
criança‖.
Já há proibição, prevista no Código de Defesa do Consumidor, à publicidade que ―se
aproveite da deficiência de julgamento da criança‖.
O que o Conanda fez foi regulamentar o que é abusivo, afirma Miriam José dos Santos,
presidente do órgão. Não propõe punição, diz ela, por já estar prevista no código, sob forma de
multas.
"A resolução está respaldada pela Constituição, pelo ECA [Estatuto da Criança e do
Adolescente] e pelo Código de Defesa do Consumidor", disse Miriam à Folha.
O QUE É ABUSIVO?
A discórdia deve chegar logo à Justiça. O Instituto Alana, ONG que desde 2006 denuncia
propagandas que considera abusivas e atua em favor da restrição legal, acaba de enviar ao
Ministério Público Federal (MPF) relatório sobre os intervalos de canais infantis de TV, em que
lista propagandas voltadas a crianças.
―Caberá à Justiça analisar cada caso, mas temos claro que o direcionamento da
publicidade à criança é sempre abusivo‖, disse Isabella Henriques, diretora do Alana.
O Conanda terá, a partir desta semana, reuniões com MPF, Ministério da Justiça e Procon
para definir como será a fiscalização e a aplicação de punições. ―Não queremos que ninguém
seja punido, mas é triste ver que nada mudou. Não vamos esperar‖, disse a presidente do órgão.
O Ministério da Justiça, via Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), mostrou-se
disposto a entrar na disputa em favor da restrição. O mesmo se dá com o MPF. ―Vamos
investigar o que for denunciado e chamaremos a empresa para negociar. Se não houver acordo,
partiremos para uma ação civil pública‖, disse Jefferson Aparecido Dias, procurador regional
dos Direitos do Cidadão do MPF de SP.
Para o diretor-executivo da Fundação Procon, Paulo Arthur Góes, "não será matemático
definir o que é abusivo". "A sociedade terá de se apropriar da discussão porque a criança está
exposta de forma excessiva ao consumo."
Os anunciantes defendem que as restrições ferem a liberdade de expressão e são,
portanto, inconstitucionais. ―Não vemos chance de que a resolução seja colocada em prática por
qualquer juiz razoavelmente lúcido‖, disse Rafael Sampaio, da ABA.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/168869-veto-a-publicidade-infantil-gera-
crise.shtml
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TEXTO 5: NOS 55 ANOS DA BARBIE, PAIS E EDUCADORES SE DIVIDEM ENTRE
CRÍTICAS E ELOGIOS À BONECA, ACUSADA DE ESTEREOTIPAR A MULHER
POR MARINA COHEN
01/06/2014 7:00 / ATUALIZADO 13/06/2014 14:05
―Você pode ser o que quiser, desde que seja loura e magra‖, diz fundadora de ONG para a
infância
RIO - Enormes olhos azuis, cabelos lisos e louros, pernas longas, seios grandes e uma
cintura tão fina que só teria espaço para acomodar metade de um rim e alguns centímetros de
intestino. Essa é a Barbie, a boneca mais vendida do mundo, que, mesmo cinquentona, ainda
suscita polêmica. Alvo de críticas de quem crê que ela promove a imagem nada saudável da
mulher e incentiva clichês sexistas, ela agora estrela a série de documentários ―The Barbie
Project‖ (o projeto Barbie), nos quais crianças são gravadas interagindo com exemplares do
brinquedo, enquanto os pais são confrontados com a pergunta ―o que você acha da Barbie?‖
Grande parte das respostas é negativa, e o fato de os vídeos serem produzidos pela
própria fabricante da boneca, a Mattel, poderia sugerir uma inequívoca abertura às críticas. Mas
o que o ―experimento‖ tenta mesmo provar é que, enquanto os pais estão preocupados se a
boneca é uma boa influência, as crianças só estão interessadas em ―se divertir e criar histórias‖.
— As crianças sabem que a Barbie é só um brinquedo. É uma personagem representada
em vários formatos: entretenimento, animação, boneca, publicação etc. Pessoas reais são a
principal influência em muitos temas, incluindo uma imagem corporal saudável – defende, por
e-mail, Michale Shore, vice-presidente mundial de pesquisa com consumidores na Mattel.
– A Barbie é uma ferramenta para o jogo criativo, a criança tem a oportunidade de
projetar várias personalidades sobre a boneca.
A visão da Mattel está longe de ser unânime. Mãe de três filhos e cofundadora do
Movimento Infância Livre de Consumismo, Debora Diniz até deixa Ana Cecília, de 6 anos,
João Felipe, de 9, e Pedro Gabriel, de 11, brincarem com a Barbie, mas está sempre atenta ao
comportamento que ela estimula.
– Antes as meninas brincavam com imitações de bebês. Ou seja, eram treinadas para
serem mães. A Barbie tem muitas profissões, o que parece uma ideia interessante. Porém,
observando mais de perto, percebemos que ela colocou um padrão de beleza e consumo
inatingíveis. Você pode ser o que quiser, desde que seja loura, alta, magra e rica. É muito cruel
– afirma Debora, que, em sua militância, luta por uma regulamentação maior da publicidade
direcionada às crianças.
Na casa da educadora Helena Altmann, professora do programa de pós-graduação em
Educação da Unicamp, as Barbies de sua filha de 9 anos dividem espaço na caixa de brinquedos
com carrinhos, animais em miniatura, corda de pular etc.
– A melhor opção é apresentar outras possibilidades – observa a professora.
– Na época da posse da (presidente) Dilma (Rousseff), minha filha, que assistia à TV
comigo no momento, pegou um carrinho conversível e reproduziu a cena com suas bonecas. As
crianças de fato criam novas possibilidades de inserção social.
Um luxuoso resort na Sardenha (Itália) vem sendo criticado por oferecer a meninas de 2 a
13 anos pacotes de lazer inspirados na Barbie. Para as entidades que lutam contra a
discriminação de gênero, as atividades reforçam estereótipos de beleza e comportamento. Os
pacotes ―Pink‖ e ―Glamour‖, por exemplo, incluem programas como a ―Academia Fashion da
Barbie‖, onde as garotas aprendem técnicas de maquiagem, penteados e até como andar. Eles
custam a partir de R$ 1.363 por semana. A revista americana ―Sports Illustrated‖ também foi
alvo de reclamações por exibir na capa de sua edição de fevereiro a foto de uma Barbie, em
homenagem aos 55 anos da boneca. Ambos – revista e boneca – foram acusados de promover
um ideal da ―mulher perfeita‖ distante do real.
―Estimula a criatividade‖, diz mãe
Diferentemente dos militantes, Aparecida Vasconcelos, mãe de Rafaela, de 11 anos, não
vê a boneca como má influência e incentiva que sua filha brinque com ela.
– Estimula a criatividade e o sonho de ter uma profissão e ser bem-sucedida – opina a
administradora, que mora em São Paulo.
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– A boneca é apenas um brinquedo. O que influencia as crianças são os exemplos das
pessoas reais, como as que aparecem na TV e nas revistas. A Gisele Bündchen é um modelo,
não a Barbie.
Autora do livro ―Barbie na educação de meninas: do rosa ao choque‖, a pedagoga
Fernanda Roveri, que pesquisou a influência da boneca na formação de garotas, acredita que a
boneca funciona como um espelho, perante o qual as meninas aprendem que juventude,
magreza e consumismo significam sucesso e prestígio:
– Muitas crianças deixam de vivenciar uma infância saudável em função da busca doentia
pelo embelezamento, como se quisessem se parecer com suas bonecas. Basta observarmos a
quantidade de bens de consumo que antigamente eram restritos ao mundo adulto, como o salto
alto, o sutiã e a maquiagem, e que hoje são vendidos abundantemente ao público infantil.
Algumas ações, porém, têm surgido como alternativas ao modelo longilíneo da Barbie.
Uma das mais bem-sucedidas é a linha de bonecas Lammily, que tem as medidas de uma garota
comum americana de 19 anos. O artista digital Nickolay Lamm usou parâmetros do Centro
Americano de Controle de Doenças e Prevenção para criar sua ―Barbie normal‖. E, via
financiamento coletivo, ele já conseguiu a verba necessária para produzir as primeiras 5 mil
Lammilies.
http://oglobo.globo.com/sociedade/voce-pode-ser-que-quiser-desde-que-seja-loura-
magra-diz-fundadora-de-ong-para-infancia-12677908#ixzz36L1gM4Ei
TEXTO 6: MERCADO TENTA SUSPENDER NO CONGRESSO EFEITOS DE VETO A
PUBLICIDADE INFANTIL
MARIANA BARBOSA
DE SÃO PAULO
12/04/2014 03h00
Anunciantes, agências de publicidade e veículos tentam suspender no Congresso
Nacional os efeitos de resolução da SDH (Secretaria de Direitos Humanos) de proibir
propaganda infantil para crianças no país, anunciada há uma semana.
O deputado Milton Monti (PR-SP), presidente da Frente Parlamentar da Comunicação
Social, apresentou anteontem um projeto de decreto legislativo para sustar os efeitos da
resolução 163 do Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente),
ligado à SDH.
Publicada no Diário Oficial no dia 4, a resolução considera abusiva ―a publicidade e a
comunicação mercadológica dirigida à criança [até 12 anos] com a intenção de persuadi-la para
o consumo de qualquer produto ou serviço‖.
Especificamente, o Conanda veta o uso de linguagem infantil, de pessoas ou celebridades
com apelo infantil, personagens, trilha sonora de música infantil, desenho animado ou
animação, promoção com distribuição de prêmios e com competições ou jogos com apelo ao
público infantil.
A norma afeta toda e qualquer atividade de divulgação de produtos, serviços e marcas em
eventos, espaços públicos, internet, televisão e no interior de creches e escolas.
Segundo a secretaria, a resolução tem ―força normativa‖ e o cumprimento é
―obrigatório‖. A fiscalização ficará a cargo do Conselho Nacional de Autorregulamentação
Publicitária (Conar), do Procon e do Ministério Público.
No projeto, Monti argumenta que ―compete à União legislar sobre propaganda comercial‖
e que o meio para isso são ―lei federais, e não normas de menor hierarquia‖.
―O Conanda não só exorbita do poder regulamentar como invade área de competência do
Congresso.‖
MAURÍCIO DE SOUSA
O cartunista Maurício de Sousa virou alvo de críticas nas redes sociais ao postar uma foto
de uma fã com um cartaz defendendo a publicidade infantil. A polêmica se deu menos pela
defesa desta tese, mas pelo fato de ele usar a foto de uma criança.
22
―Como sempre valorizei a voz das crianças, fiz por impulso, mas isso gerou
interpretações errôneas‖, disse.
―Minha empresa faz, sim, publicidade de produtos que levam a marca dos meus
personagens. Mas de maneira responsável e criteriosa.‖
Colaborou YGOR SALLES, de São Paulo
TEXTO 7: ASSOCIAÇÃO DIVULGA APOIO INTEGRAL E IRRESTRITO AO
CONAR NA FUNÇÃO DE EVITAR OS ABUSOS DA COMUNICAÇÃO COMERCIAL.
ADNEWS - 09/04/2014
Recentemente, o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda),
ligado à Presidência da República, aprovou uma resolução que proíbe o direcionamento de
publicidade para menores de idade no Brasil. Porém as agências, veículos e anunciantes, que
defendem a autorregulamentação do segmento e a atuação do Conselho Nacional de
Autorregulamentação Publicitária (Conar) contra campanhas abusivas, não concordaram com a
notícia.
A Associação dos Profissionais de Propaganda (APP) divulgou um manifesto público de
apoio integral e irrestrito ao Conar na função de evitar abusos da comunicação comercial, de
acordo com as Leis vigentes no País. Para a APP o Conar é o melhor e mais eficiente caminho
para o controle de práticas abusivas em matéria de publicidade comercial.
Leia abaixo a íntegra do Manifesto da APP :
A Associação dos Profissionais de Propaganda (APP), através do seu Conselho de
Administração e Diretoria Executiva manifesta integral e irrestrito apoio ao Conselho Nacional
de Autorregulamentação Publicitária (Conar), que, junto com as leis vigentes no país, exerce a
função de evitar os abusos da comunicação comercial.
O Brasil possui um dos mais sofisticados sistemas de controle da propaganda abusiva
para crianças e adolescentes, amparado por um composto de leis e da autorregulamentação
representada pelo Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária.
É imperativo que esses mecanismos sejam preservados e valorizados pelos brasileiros
como forma democrática de garantir a qualidade da propaganda nacional e que o conjunto de
leis e o Código ético são conquistas de uma sociedade amadurecida que não necessita de tutores
que de forma arbitrária, sem nenhum critério tentam impor a total proibição da comunicação
comercial de produtos destinados às crianças e adolescentes.
A APP, além de representar o conjunto dos colaboradores de todos os setores produtivos
da propaganda, também é a voz dos mais de 60 mil alunos regularmente matriculados nos
cursos de publicidade e propaganda do Brasil. Esse contingente de futuros profissionais se
orgulha de estudar a autorregulamentação publicitária como forma eficiente de ampliar o debate
permanente com a sociedade. O que, definitivamente, não é possível com as iniciativas
autoritárias das quais temos notícias nos últimos dias.
A Associação dos Profissionais de Propaganda foi fundada em 1937, em pleno Estado
Novo, com o objetivo de preservar a liberdade da atividade profissional que já naquela época
era alvo de grupos interessados em ditar as regras da comunicação comercial.
Diante da ameaça à liberdade de expressão representada pela Resolução 163 de 13 de
março de 2014 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), o
conjunto dos profissionais de propaganda, por meio da APP, reafirma que, segundo a
Constituição do Brasil, somente o Congresso Nacional tem poder para legislar sobre a atividade
publicitária, que vamos continuar zelosos de nossa responsabilidade de produzir uma
propaganda ética e de qualidade e combativos contra qualquer tentativa de asfixiar a liberdade
de expressão em nosso país, preservando a construção da nossa sociedade informada, livre e
democrática.
http://www.anj.org.br/app-apoia-a-autorregulamentacao-da-propaganda-infantil-dp3
TEXTO 8: CRIANÇAS, CORES E IMAGINAÇÃO
TENDÊNCIAS/DEBATES
Publicidade dirigida a crianças deve ser proibida?
NÃO
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Embora a discussão sobre a necessidade de regulamentar a publicidade infantil no país
seja pertinente, uma resolução do Conselho Nacional da Criança e do Adolescente (Conanda),
ao tentar evitar excessos, atingiu, por tabela, um sem-número de atividades econômicas e
culturais destinadas única e exclusivamente à criança.
Trata-se do licenciamento de marcas, pelo qual o criador de uma música, um personagem
ou uma animação infantil cede o direito de uso de sua criação ao fabricante de um produto. É o
licenciamento que, no final, permite que essas criações sobrevivam, dado o limitadíssimo
consumo cultural em nosso país.
A resolução, de abril deste ano, além de estabelecer que é abusiva a conduta de direcionar
a publicidade à criança, com a intenção de persuadi-la para o consumo de produtos e serviços,
também considera abusiva toda a comunicação mercadológica dirigida à criança que contenha
linguagem infantil, excesso de cores, trilhas sonoras e personagens infantis, desenhos animados
e bonecos. A mesma resolução define comunicação mercadológica não apenas como a
publicidade propriamente dita, mas também páginas na internet, embalagens, ações em shows e
disposição dos produtos em lojas e supermercados.
Na tentativa de coibir eventuais abusos, a resolução provoca efeitos certamente
indesejáveis. Estranho imaginar, por exemplo, uma boneca embalada em papel pardo na vitrine
da loja de brinquedos ou uma caixa de lápis de cor que, por fora, seja inteira em preto e branco.
Difícil aceitar também que se queira substituir o papel crucial que os pais exercem na educação
de seus filhos. Aos pais cabe impor regras saudáveis de consumo de produtos e limitar compras
de artigos que considerem prejudiciais às crianças.
Ao considerar abusivo o uso de criações desenvolvidas para a criança em embalagens de
produtos infantis, a resolução afetará diretamente a produção cultural voltada às crianças.
Curioso notar que a nova norma abre uma exceção ao permitir o uso dos personagens, cores e
trilhas sonoras infantis em campanhas de utilidade pública – como se essas mesmas criações
brotassem de fonte natural e não fossem produzidas por músicos, artistas, cartunistas e
escritores para serem comercializadas, direta ou indiretamente, por meio do licenciamento.
Esses, sim, serão diretamente afetados caso a resolução se mantenha.
Quem se espanta com a posição desses artistas ―ao trocar suas criações por dinheiro‖ e
acredita que a publicidade é a mais nefasta das profissões deve lembrar não apenas os casos de
abuso existentes no passado e no presente e cujos exemplos proliferam nas redes sociais. Mas
também aqueles que, ao atingirem em cheio o universo infantil, levaram à criança muito mais
do que um simples produto. Como o lápis de cor que inseriu no imaginário infantil um valioso
pedacinho da música popular brasileira ao imortalizar a ―Aquarela‖ de Toquinho envolta em
cores e desenhos na TV.
A sociedade responsavelmente cobra dos órgãos públicos mais atenção na prevenção aos
riscos a que a criança está exposta. Mas, certamente, não é seu desejo passar uma borracha nos
desenhos, personagens e animações que fazem parte do universo infantil. Tampouco creio que
as famílias queiram evitar o excesso de cores ou as músicas infantis que tanto encantam seus
filhos em qualquer situação.
Ainda assim, ao agir com o legítimo intuito de coibir práticas comerciais abusivas
direcionadas à criança, a resolução acabou por recomendar que se apaguem algumas das luzes
do universo infantil.
O que precisamos mais do que tudo neste momento é ouvir a sociedade e debater o tema
sem radicalismos, para que se chegue a um consenso do que é, no fim das contas, o melhor para
a criança.
MONICA DE SOUSA, 53, é diretora-executiva da Mauricio de Sousa Produções
TEXTO 9: UM MERCADO FORA DA LEI
Publicidade dirigida a crianças deve ser proibida?
SIM
Há quase três meses foi publicada a resolução nº 163 do Conanda (Conselho Nacional
dos Direitos da Criança e do Adolescente), que passou a considerar abusiva toda e qualquer
publicidade ou comunicação mercadológica dirigidas ao público infantil com menos de 12 anos.
24
No entanto, o que se verifica é um completo desrespeito à norma. A publicidade que fala
diretamente com a criança com a intenção de seduzi-la para o consumo continua firme e forte
nos canais televisivos segmentados infantis, na tevê aberta, nos cinemas, nas escolas, nos
parques, nos clubes, na distribuição de brindes colecionáveis das cadeias de fast food e em
outros inúmeros espaços de convivência.
E como justificar isso? Como explicar para mães e pais cansados do bombardeio
publicitário que atingem seus filhos que a norma está em vigor, mas praticamente o mercado
inteiro não a cumpre? Não há como. Só mesmo a constatação de que, para as empresas
anunciantes, para as agências de publicidade e para os veículos de comunicação envolvidos, os
interesses financeiros e corporativos são enormemente mais importantes que o saudável
desenvolvimento das nossas crianças.
A publicidade e a comunicação mercadológica que se dirigem diretamente às crianças,
além de ilegais, são antiéticas e imorais. Aproveitam-se da peculiar fase de desenvolvimento
dos pequenos, justamente quando não conseguem entender o caráter persuasivo das mensagens
ou mesmo diferenciar o conteúdo de entretenimento do comercial. A publicidade infantil
intensifica problemas sociais como o consumismo infantil, a formação de valores materialistas,
o aumento da obesidade infanto-juvenil, a violência e a erotização precoce.
O mercado, de maneira geral, está infringindo despudoradamente uma norma que foi
aprovada por unanimidade em um Conselho Nacional de Direitos vinculado à Secretaria
Especial de Direitos Humanos, criado pela lei nº 8.242/91 com competência para formular,
deliberar e controlar as políticas referentes à infância e adolescência. Conselho que nasce da
Constituição cidadã e é formado, de maneira paritária, por representantes da sociedade civil
organizada atuantes no âmbito da promoção e proteção dos direitos da criança e por
representantes do Poder Executivo federal.
Na prática, a Resolução nº 163, em conjunto com o artigo 37 do Código de Defesa do
Consumidor, deveria significar o fim dos abusos mercadológicos desferidos às crianças, ou seja,
o fim do direcionamento da publicidade ao público infantil, à medida que se trata de uma norma
emanada de um conselho deliberativo, com poder vinculante e, obrigatoriamente, precisaria ser
observada e cumprida em território nacional.
No entanto, o mercado age à revelia da norma, acreditando estar acima dela, acima do
Conanda, da própria sociedade que o compõe e do clamor social pela proteção das crianças.
Pensa ser até mesmo intocável pela Constituição Federal ou pelo Código de Defesa do
Consumidor. Nada lhe atinge. Só o que lhe interessa é o expressivo volume financeiro que
movimenta ao convencer crianças de que elas precisam consumir cada vez mais.
Ocorre que a sociedade brasileira atual exige a responsabilização daqueles que infringem
os direitos sociais, inclusive o das crianças a uma infância plena, sadia e feliz.
É por isso que, como única forma de se frear esse assédio, caberá aos Procons, à
Secretaria Nacional do Consumidor, aos Ministérios Públicos, às Defensorias Públicas e ao
próprio Poder Judiciário, coibir as ilegalidades cometidas, inclusive com a aplicação das
respectivas sanções, a fim de se garantir a construção de um país que verdadeiramente honre
suas crianças.
ISABELLA HENRIQUES, 39, advogada, é diretora do Instituto Alana, dedicado à defesa dos
direitos da criança
EXERCÍCIO DE TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO
Tomando como base a Resolução nº 163, de 2014, do Conselho Nacional dos Direitos
da Criança e do Adolescente (Conanda), que considera abusiva a prática do direcionamento de
publicidade e de comunicação mercadológica à criança, com a intenção de persuadi-la para o
consumo de qualquer produto ou serviço, redija um texto dissertativo, em que contemple,
necessariamente, os seguintes aspectos:
a) características psicológicas do adolescente e sua condição de pessoa em
desenvolvimento;
25
b) discriminação de gênero, orientação sexual e identidade de gênero, racial, social,
política, religiosa ou de nacionalidade;
c) liberdade de expressão.
O texto deverá ter até 30 linhas.