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LIVRO – DIREITO MATERIAL DO TRABALHO 2015 Prof. Gáudio R. de Paula [email protected] DURAÇÃO DO TRABALHO Temas: Duração do trabalho. Fundamentos e objetivos. Jornada de trabalho e horário de trabalho. Trabalho extraordinário. Acordo de prorrogação e acordo de compensação de horas. Banco de horas. Horas in itinere. Empregados excluídos do direito às horas extras. Art. 62 da CLT. Jornadas especiais de trabalho. Bancário. Função de confiança. Trabalho em regime de revezamento e em regime de tempo parcial. Trabalho noturno. Repousos. Repousos intrajornada e interjornada. Repouso semanal e em feriados. Remuneração simples e dobrada. Descanso anual: férias. 1. INTRODUÇÃO 1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO A doutrina costuma recordar que, inicialmente, os limites em torno da duração do trabalho humano eram ditados pela própria natureza. Assim, a noite obrigava o descanso, diante da impossibilidade física de se trabalhar no período noturno sem a luz necessária. Da mesma forma, o inverno, nos países com estações climáticas melhor definidas, impunha severas restrições ao labor e, desse modo, obrigava o repouso em tais épocas. Contudo, com o engenho humano cuidou de elastecer artificialmente as fronteiras que a natureza impunha, por meio de processos de iluminação e calefação artificiais. Como resultado, o homem passou a desrespeitar os seus próprios limites, em jornadas de trabalho muito além das suas possibilidades. Tal fenômeno produziu efeitos nefastos em diversos âmbitos: social (privação do convívio entre os pares), econômico (exaurimento dos recursos humanos) e, sobretudo, sanitário (séria degradação da saúde dos trabalhadores). A propósito, eis interessante quadro que ilustra a evolução da quantidade de horas anuais de trabalho no último milênio 1 : 1 Compiled by Juliet B. Schor from various sources; Germany figure from OECD data.

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DURAÇÃO DO TRABALHO Temas: Duração do trabalho. Fundamentos e objetivos. Jornada de

trabalho e horário de trabalho. Trabalho extraordinário. Acordo de prorrogação e acordo de compensação de horas. Banco de horas. Horas in itinere. Empregados excluídos do direito às horas extras. Art. 62 da CLT. Jornadas especiais de trabalho. Bancário. Função de confiança. Trabalho em regime de revezamento e em regime de tempo parcial. Trabalho noturno. Repousos. Repousos intrajornada e interjornada. Repouso semanal e em feriados. Remuneração simples e dobrada. Descanso anual: férias.

1. INTRODUÇÃO

1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO

A doutrina costuma recordar que, inicialmente, os limites em torno da

duração do trabalho humano eram ditados pela própria natureza. Assim, a noite

obrigava o descanso, diante da impossibilidade física de se trabalhar no período

noturno sem a luz necessária. Da mesma forma, o inverno, nos países com estações

climáticas melhor definidas, impunha severas restrições ao labor e, desse modo,

obrigava o repouso em tais épocas.

Contudo, com o engenho humano cuidou de elastecer artificialmente

as fronteiras que a natureza impunha, por meio de processos de iluminação e

calefação artificiais. Como resultado, o homem passou a desrespeitar os seus próprios

limites, em jornadas de trabalho muito além das suas possibilidades. Tal fenômeno

produziu efeitos nefastos em diversos âmbitos: social (privação do convívio entre os

pares), econômico (exaurimento dos recursos humanos) e, sobretudo, sanitário (séria

degradação da saúde dos trabalhadores).

A propósito, eis interessante quadro que ilustra a evolução da

quantidade de horas anuais de trabalho no último milênio1:

1 Compiled by Juliet B. Schor from various sources; Germany figure from OECD data.

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Período Tipo de Trabalhador e Local Horas de

trabalho por

ano

Século

XIII

Camponês adulto, Inglaterra 1620 horas

Século

XIV

Trabalhador comum,

Inglaterra

1440 horas

Idade

Média

Trabalhador comum,

Inglaterra

2309 horas

1400-

1600

Mineiro e agricultor, adultos,

Inglaterra

1980 horas

1840 Trabalhador comum,

Inglaterra

3105-3588

horas

1850 Trabalhador comum, Estados

Unidos

3150-3650

horas

1987 Trabalhador comum, Estados

Unidos

1949 horas

1988 Trabalhador na indústria,

Inglaterra

1855 horas

2000 Trabalhador comum,

Alemanha

1362 horas

Nesse contexto, no ápice da Revolução Industrial, evidenciou-se a

necessidade de o próprio Estado estabelecer restrições à autonomia da vontade para

devolver ao trabalhador o direito aos repousos que a própria natureza antes já

assegurava.

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Note-se que a questão da jornada de trabalho assumiu uma

centralidade indiscutível na pauta de reivindicações dos trabalhadores e que levou ao

próprio surgimento do Direito do Trabalho. Basta lembrar o lema dos trabalhadores

ingleses (que estavam no epicentro da Revolução Industrial): “Eight hours to work,

eight hours to play, eight hours to sleep, eight shllings a day”. Também é de se

observar que a primeira convenção internacional da OIT versava precisamente sobre

o tema (a Convenção 01, de 1919 estabelecia um limite de 8 horas diárias e 48

semanais)2.

Trata-se de um aspecto tão fundamental que a Declaração Universal

dos Direito do Homem, de 1948, em seu art. XXIV garante:

Artigo XXIV - Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e férias periódicas remuneradas.

1.2. FUNDAMENTOS

Segundo os clássicos ensinamentos de SUSSEKIND3, os fundamentos da

limitação do tempo de trabalho são:

2 A redução da jornada de trabalho para 10 horas diárias foi reconhecida: na Inglaterra em 1847, na

França, em 1848, na Áustria, em 1885 e na Rússia, em 1887. 3 SUSSEKIND, Curso de Direito do Trabalho, p. 326. Rio de Janeiro: Renovar.

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Na mesma direção, podem ser citados os escólios de ALICE MONTEIRO

DE BARROS:

As normas sobre duração do trabalho têm por objetivo primordial tutelar a integridade física do obreiro, evitando-lhe a fadiga. Daí as sucessivas reinvindicações de redução da carga horária de trabalho e alongamento dos descansos. Aliás, as longas jornadas de trabalho têm sido apontadas como fato gerador do estresse, porque resultam em um grande desgaste para o organismo. O estresse, por sua vez, poderá ser responsável por enfermidades coronárias e úlceras, as quais estão relacionadas também com a natureza da atividade, com o ambiente de trabalho e com fatores genéticos. A par do desgaste para o organismo, o estresse é responsável ainda pelo absenteísmo, pela rotação de mão-de-obra e por acidentes do trabalho.

Além desse fundamento de ordem fisiológica, as normas sobre duração do trabalho possuem, ainda, um outro de ordem econômica, pois o empregado descansado tem o seu rendimento aumentado e a produção aprimorada. Já o terceiro fundamento, capaz de justificar as normas sobre duração do trabalho, é de ordem social: durante o dia o empregado necessita de tempo para o convívio familiar e para os compromissos sociais4.

4 BARROS, Curso de Direito do Trabalho, p. 615. São Paulo: LTr, 2006.

De

nat

ure

za b

iólo

gica

Porque elimina ou reduz os problemas psicofisiológicos oriundos da fadiga

De

cará

ter

soci

al

Por ensejar a participação do trabalhador em atividades recreativas, culturais ou físicas, propiciar-lhe a aquisição de conhecimentos e ampliar-lhe a convivência com a família

De

ord

em e

con

ôm

ica Porquanto restringe

o desemprego e aumenta a produtividade do trabalhador, mantendo-o efetivamente na população economicamente ativa.

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1.3. DISTINÇÕES CONCEITUAIS

Para bem compreender as regras básicas sobre a duração do trabalho,

vale a pena recordar dois conceitos importantes para entendermos as regras adiante5:

É de se observar que MAURÍCIO GODINHO DELGADO alude a três

conceitos:

Duração do trabalho é a noção mais ampla entre as três correlatas. Abrange o lapso temporal de labor ou disponibilidade do empregado perante seu empregador em virtude do contrato, considerados distintos parâmetros de mensuração: dia (duração diária, ou jornada), semana (duração semanal), mês (duração mensal), e até mesmo o ano (duração anual).

[...]

5 Essa terminologia não é consensual, mas é a adotada por autores como ALICE MONTEIRO DE

BARROS: “Jornada é o período, durante um dia, em que o empregado permanece à disposição do

empregador, trabalhando ou aguardando ordens (art. 4º da CLT). Já o horário de trabalho abrange o

período que vai do início ao término da jornada, como também os intervalos que existem durante o seu

cumprimento”. Op. cit, p. 616.

Horário

• Descreve início, intervalos e fim da jornada diária

• V.g. 08:00 às 12:00 e de 14:00 às 18:00

Jornada

• Descreve os limites diários, semanais, mensais... do tempo que o empregado coloca à disposição do empregador

• V.g. 8 horas diárias, 44 semanais, ...

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Jornada de trabalho é expressão com sentido mais restrito do que o anterior, compreendendo o tempo diário em que o empregado tem de se colocar em disponibilidade perante seu empregador, em decorrência do contrato. O tempo, em suma, em que o empregador pode dispor da força de trabalho de seu empregado em um dia delimitado.

[...]

Já a expressão horário de trabalho traduz, rigorosamente, o lapso temporal entre o início e o fim de certa jornada laborativa6.

Nesse contexto, GODINHO7 alude, ainda, a três tipos existentes de

jornada laborativa:

1.4. CRITÉRIO DO TEMPO À DISPOSIÇÃO

Uma das premissas fundamentais para compreender as regras relativas

à jornada de trabalho, suas prorrogações e sistemas de pausas interruptivas e

suspensivas (além de conceitos como o de horas “in itinere” e tempo de sobreaviso e

prontidão), é a inscrita no art. 4º da CLT, segundo o qual:

6 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho, p. 693. São Paulo: LTr, 2006.

7 Op. cit., p. 693.

•Com horário de trabalho definido, sujeito a controle pelo empregador (art. 74, §§ 2º e 3º, CLT)

Jornadas controladas

•Sem efetivo controle do horário de trabalho pelo empregador (art. 62, I e II, CLT)

Jornadas não controladas •Era o específico do empregado

doméstico, que não tinha jornada padrão fixada por norma jurídica estatal, antes do advento da EC 72/13 (art. 7º, a, CLT; Lei n. 5.859/72; art. 7º, parágrafo único, CF/88)

Jornadas não tipificadas

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Art. 4º - Considera-se como de serviço efetivo o período em que o empregado esteja à disposição do empregador, aguardando ou executando ordens, salvo disposição especial expressamente consignada.

Tal preceito elege como critério central para determinação da jornada

de trabalho o do tempo à disposição do empregador. Assim, como regra, não

importaria o tempo de efetivo labor, mas o tempo que o empregado coloca à

disposição do empregador, sob pena de haver a transferência indevida dos riscos da

atividade empresarial deste último para o primeiro, em afronta ao princípio da

alteridade inscrito na parte final do art. 2º da CLT.

É o que tem sustentado a doutrina predominante, consoante se colhe

do magistério de GODINHO:

O segundo critério considera como componente da jornada o tempo à disposição do empregador no centro de trabalho, independentemente de ocorrer ou não efetiva prestação de serviços. Amplia-se, portanto, a composição da jornada, em contraponto com o critério anterior — agrega-se ao tempo efetivamente trabalhado também aquele tido como à disposição do empregador.

A ordem jurídica brasileira adota este critério como regra padrão de cômputo da jornada de trabalho no país (art. 4º, CLT).

Ressalte-se que a expressão centro de trabalho não traduz, ne-cessariamente, a idéia de local de trabalho. Embora normalmente coincidam, na prática, os dois conceitos com o lugar em que se presta o serviço, pode haver, entretanto, significativa diferença entre eles. É o que se passa em uma mina de subsolo, em que o centro de trabalho se situa na sede da mina, onde se apresentam os trabalhadores diariamente, ao passo que o local de trabalho localiza-se, às vezes, a larga distância, no fundo da própria mina (art. 294, CLT)8.

A jurisprudência segue na mesma linha, tal como se pode depreender,

ilustrativamente, dos seguintes arestos:

8 Op. cit., p. 693.

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RECURSO DE EMBARGOS REGIDO PELA LEI Nº 11.496/2007. HORAS EXTRAS. PERÍODO ENTRE ANOTAÇÃO DO CARTÃO DE PONTO E O INÍCIO DA EFETIVA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO. TEMPO À DISPOSIÇÃO DA EMPREGADORA. ARTIGO 4º DA CLT E SÚMULA Nº 366 DO TST. Discute-se, no caso, se o período em que o empregado se encontra dentro da empresa, entre a anotação do cartão de ponto e o início da efetiva prestação de serviço, é considerado tempo à disposição da empregadora, na forma do artigo 4º da CLT. Conforme se extrai do teor da Súmula nº 366 do TST, os minutos residuais correspondem ao tempo necessário para que o empregado atenda necessidades pessoais, no início e ao final da jornada diária, ligadas ao trabalho realizado, como, por exemplo, a uniformização, o lanche e a higiene pessoal, o qual deve ser considerado no cômputo da jornada diária, por ser tempo à disposição do empregador. É importante ressaltar que a edição desse verbete sumular veio, exatamente, ampliar a incidência do entendimento consagrado na Orientação Jurisprudencial nº 326 da SBDI-1 do TST (cancelada pela Resolução nº 129, de 20/4/2005, exatamente por sua conversão, juntamente com a Orientação Jurisprudencial nº 23 da SBDI-1 desta Corte, na referida súmula), já que essa tratava, especificamente, do tempo gasto na troca de uniforme, no lanche e na higiene pessoal. Destaque-se, por oportuno, que cabe ao empregador fiscalizar a atividade de cada empregado e, se o cartão de ponto é marcado, como no caso ora em análise, presume-se que esse deve ser considerado tempo à disposição do empregador, estando o trabalhador submetido, ainda, ao poder disciplinar dele. É inequívoco que essa presunção é relativa, podendo ser elidida por prova em contrário. No entanto, é encargo da reclamada demonstrar que o reclamante não ficava à sua disposição, não obstante o registro efetuado no seu cartão de ponto. Nesses casos, a prova deve ser individualizada, ou seja, em relação ao empregado específico, verificando suas atividades em todo o período em que esse se encontra nas dependências da empresa, para que se possa demonstrar, de forma efetiva e pormenorizada, se, durante a jornada de trabalho registrada no cartão de ponto, o empregado estaria ou não à disposição do empregador. Frise-se, ainda, que o Tribunal Regional foi expresso ao afirmar que os trabalhadores, antes do início do turno, tinha a obrigação de fazer a -pré-montagem-, verificando as ferramentas, trocando as baterias dessas ou as próprias ferramentas, sendo irrelevante o fato de serem concedidos benefícios aos trabalhadores, como veículos confortáveis para transporte, café da manhã e vestiários para troca de roupas e higiene pessoal. Assim, é forçoso concluir que o período entre a marcação do cartão de ponto e o início efetivo da prestação de serviço deve ser considerado tempo à disposição do empregador, na forma do

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artigo 4º da CLT, motivo por que a decisão da Turma encontra-se alinhada com o que dispõe a Súmula nº 366 do TST. Embargos não conhecidos. (TST-E-RR-424300-70.2007.5.09.0670, Rel. Min. José Roberto Freire Pimenta, SbDI-1, DEJT de 23/05/2014)

INTERVALO INTRAJORNADA. FERROVIÁRIO MAQUINISTA. INTERVALO PARA REFEIÇÃO USUFRUÍDO NO LOCAL DE TRABALHO. TEMPO À DISPOSIÇÃO DO EMPREGADOR. COMPATILIBILIDADE ENTRE OS ARTIGOS 71, CAPUT E § 4º, E 238, § 5º, DA CLT. Discute-se, no caso, o direito do ferroviário maquinista ao intervalo intrajornada previsto no artigo 71, § 4º, da CLT e a compatibilidade com o artigo 238, § 5º, da CLT. Esta Subseção, em 18/04/2013, em sua composição completa, por maioria, ao julgar o E-RR-65200-84.2007.5.03.0038, redator designado o Ministro Aloysio Corrêa da Veiga, adotou o entendimento de que não há incompatibilidade entre os artigos 71, § 4º, e 238, § 5º, da CLT, concluindo que o maquinista ferroviário tem direito ao pagamento, como hora extra, do período correspondente ao intervalo intrajornada, bem como ao respectivo adicional, na forma do artigo 71, § 4º, da CLT e da Súmula nº 437, item I, do TST, pois o intervalo para refeição, nesse caso, é usufruído no local de trabalho, constituindo tempo à disposição do empregador. Embargos conhecidos e providos. (TST-E-RR-34385-60.2004.5.15.0108, Rel. Min. José Roberto Freire Pimenta, SbDI-1, DeJT de 02/08/2013)

MINUTOS ANTERIORES E POSTERIORES À MARCAÇÃO DO PONTO, DESPENDIDOS COM TROCA DE UNIFORME, HIGIENIZAÇÃO E DESLOCAMENTO INTERNO. TEMPO À DISPOSIÇÃO DO EMPREGADOR. Esta Corte tem se orientado no sentido de considerar como período à disposição do empregador o tempo gasto pelo empregado, antes do registro de início da jornada e após o de final, no interior do estabelecimento empresarial, em atividades desempenhadas no interesse do serviço, como in casu, em que a Corte Regional afirma que a reclamante despendia vinte minutos diários -no percurso da portaria até o vestiário; na troca de uniforme no início e fim do expediente; na higienização das botas e mãos; no percurso vestiário-refeitório e no registro do ponto antes do início da jornada-. Ilesos os arts. 4º da CLT e 5º, II, da Lei Maior. Agravo de instrumento conhecido e não provido. (TST-AIRR-755-90.2012.5.18.0191, Rel. Min. Hugo Carlos Scheuermann, 1ª Turma, DeJT de 20/09/2013)

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No mesmo sentido, eis um dos desdobramentos de tal critério

apresentados por ALICE MONTEIRO DE BARROS quanto à participação do empregado

em cursos e treinamentos:

A participação em cursos e treinamentos é tempo à disposição do empregador e, por conseguinte, gera direito às horas extras?

A matéria é polêmica, como se infere das notas de rodapé. Entendemos que é tempo à disposição do empregador, quando comprovada a obrigatoriedade atestada por meio de controle de presença. Evidentemente, mesmo que o curso traga vantagens para o empregado, o maior beneficiário é o empregador, que conta com mão-de-obra mais qualificada e produtiva. Logo, se a freqüência aos cursos implica protraimento à jornada do empregado, o tempo a eles correspondente deverá ser pago como hora extra9.

Trata-se de um entendimento que vem granjeando a simpatia da

jurisprudência do TST:

HORAS EXTRAS. TEMPO À DISPOSIÇÃO. PARTICIPAÇÃO EM CURSOS E TREINAMENTO. O Tribunal Regional, com base na análise da prova documental e oral produzida, concluiu que havia a obrigatoriedade da participação nos cursos de aperfeiçoamento. Assim, para se concluir de forma distinta, e entender que não foram realizadas horas extras, necessário seria o reexame das provas produzidas nos autos, o que é vedado a esta Corte em sede de recurso de revista, nos termos da Súmula 126 do TST. Por incidência dessa Súmula, inviável a aferição de violação legal e de divergência jurisprudencial. Convém destacar que a participação do empregado em tais expedientes se deu em virtude da atividade profissional exercida e perfazia interesse do reclamado, uma vez que se beneficiou com a capacitação de sua empregada. O empregador, ao oferecer cursos e treinamentos periódicos, de participação obrigatória, o tempo a eles destinado deve ser considerado como de efetivo serviço e remunerado como horas extras, no caso de serem realizados fora da jornada normal de trabalho. Portanto, revela-se adequada a remuneração das horas de cursos e palestras como se efetivo trabalho fossem, em consonância com o art. 4.º, da CLT. Recurso de revista não conhecido. (TST-RR-128300-37.2006.5.12.0025, Rel. Min. Delaíde Miranda Arantes, 7ª Turma, DEJT de 01/07/2014)

9 Op. Cit., p. 622.

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HORAS EXTRAS. PARTICIPAÇÃO EM CURSO DE TREINAMENTO. Recurso calcado em ofensa a dispositivo de lei e divergência jurisprudencial. Registrado pelo e. Tribunal Regional que a participação do trabalhador no curso de -Treinamento de Operador de Máquina I - Módulo II - Específico Papelão Ondulado- era obrigatória, são devidas como extras as horas em que o trabalhador frequentou o curso, porquanto se caracterizam como tempo à disposição do empregador nos termos do art. 4º da CLT. Arestos que partem da premissa de que não é devido o pagamento de horas extras pela frequência em cursos cuja participação do empregado não é obrigatória são inespecíficos por não guardarem a necessária identidade fática com o caso. Incidência da Súmula 296/TST. Recurso de revista não conhecido. (TST-RR-80700-08.2008.5.04.0531, Rel. Min. Alexandre de Souza Agra Belmonte, 3ª Turma, DeJT de 10/05/13)

Tal diretriz se estende, igualmente, aos casos de viagem a serviço:

HORAS EXTRAS. TEMPO DESPENDIDO COM DESLOCAMENTO EM VIAGEM. Nos termos do artigo 4º da Consolidação das Leis do Trabalho, -considera-se como de serviço efetivo o período em que o empregado esteja à disposição do empregador, aguardando ou executando ordens, salvo disposição especial expressamente consignada-. Nesses termos, o empregado, durante o deslocamento em viagens para participação em reuniões e cursos de frequência obrigatória, no interesse e em benefício do empregador, encontra-se à sua disposição, tendo jus às horas extras. Recurso de revista de que se conhece e a que se dá provimento. (TST-RR-6527-53.2010.5.12.0035, Rel. Desembargador Convocado Valdir Florindo, 7ª Turma, DeJT de 24/05/2013)

HORAS EXTRAS. DESLOCAMENTO EM VIAGENS. TEMPO À DISPOSIÇÃO DO EMPREGADOR. ART. 4º DA CLT. Inviável o conhecimento do recurso de embargos por violação dos arts. 5º, II, 7º, XXXV e XVI, da Constituição Federal, 58, 59 da CLT e contrariedade às Súmulas 90, 324 e 325 do TST, os quais não tratam de horas extras decorrentes de deslocamento em viagens. Com efeito, o pagamento, como extra, do tempo à disposição do empregador durante o período de deslocamento em viagens encontra amparo legal no art. 4º da CLT, segundo o qual -considera-se como de serviço efetivo o período em que o empregado esteja à disposição do empregador, aguardando ou executando ordens, salvo disposição especial expressamente consignada-. Ademais, a própria reclamada assevera que as viagens foram executadas por sua determinação, restando imperativa a incidência do dispositivo celetista transcrito. Há

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precedentes. Recurso de embargos não conhecido. (TST-E-ED-RR-1883400-76.2000.5.09.0003, Rel. Min. Augusto César Leite de Carvalho, SbDI-1, DeJT de 12/08/2011)

Naturalmente, nos sistemas de estipulação do salário por unidade de

produção (unidade de produto ou tarefa), o critério do tempo de efetivo labor é, ao

menos indiretamente, levado em conta (CLT, art. 78 e CF, art. 7º, VII), conforme

lembra o já citado GODINHO:

[...] a lei brasileira admite o sistema de cálculo salarial estritamente por peça (respeitado o mínimo legal a cada mês: art. 7º, VII, CF/88; art. 78, CLT), em que se computa o valor do salário segundo o total da produção efetivada pelo trabalhador. Ora, esse sistema salarial provoca, indiretamente, uma relação proporcional muito estreita entre o tempo de trabalho efetivo e o montante salarial pago, alcançando efeitos próximos ao critério do tempo efetivamente laborado10.

A esse respeito, é de se destacar que, mesmo quando o salário é fixado

por produção, o TST vem mitigando a tese do tempo de efetivo labor, ao reconhecer a

possibilidade excepcional do pagamento de horas extras (com o respectivo adicional)

aos que trabalham no corte da cana de açúcar, dado o caráter penoso da atividade,

nos termos da OJ 235 da SbDI-1:

HORAS EXTRAS. SALÁRIO POR PRODUÇÃO. O empregado que recebe salário por produção e trabalha em sobrejornada tem direito à percepção apenas do adicional de horas extras, exceto no caso do empregado cortador de cana, a quem é devido o pagamento das horas extras e do adicional respectivo.

1.5. JORNADAS CONVENCIONAIS E DIFERENCIADAS

10

Op. cit., p. 692.

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A jornada, no ordenamento jurídico pátrio, observa dois limites

principais (CF, 7º, XIII e CLT, 58): 8 horas diárias e 44 semanais. Esses, naturalmente,

são limites máximos11.

Há, contudo, algumas categorias profissionais que têm jornadas

diferenciadas ou especiais. Eis uma tabela que sumariza as principais hipóteses:

CATEGORIA JORNADA PECULIARIDADES

Empregados em

frigoríficos (CLT, 253)

Telegrafistas e

telefonistas com

horários variáveis

Radialistas do setor de

cenografia e

caracterização (Lei

6.615/78, 18, III)

7 horas

Cabineiros de elevador 6 horas Não se aplicava aos antigos

11

GODINHO lembra, entretanto, que haveria algumas categorias que estariam sujeitas a jornadas mais

amplas, embora as normas que as contemplam possam ser, nesse ponto, de questionável compatibilidade

com o atual Texto Constitucional (CF, art.7º, XIII): “Há pequeno grupo de jornadas especiais, criadas por

lei, que extra¬polam o padrão diário fixado para o mercado de trabalho no país (8 horas). O debate acerca

de sua validade mantém-se aberto nos tribunais trabalhistas, conforme já referido. E forte o entendimento

de que a duração diária também tem de se ajustar ao teto de 8 horas fixado na Carta Magna (assim como

ao teto de 44 horas semanais, é claro). A seu lado, há também o entendimento pela adequação parcial de

regras, isto é, o parâ¬metro diário legal mais elevado permaneceria válido, em respeito às circunstâncias

especiais valorizadas pela lei, mas desde que se incorporas¬se o padrão semanal básico fixado pela Carta

de 1988(44 horas). Noutras palavras, para esta segunda vertente, a especificidade diária preservar-se¬-ia,

respeitado, porém, o parâmetro semanal imposto pela Constituição.

É o que se passa com um reduzido número de categorias profissi¬onais (ou determinadas frações dessas

categorias), que, em face das peculiaridades do setor, tendem a se submeter à fixação de lapsos

tem¬porais diários mais amplos de trabalho (sem prejuízo do padrão geral semanal de 44 horas, repita-

se). São exemplos significativos dessas categorias que têm jornadas eventualmente superiores a 8 horas

ao dia os aeronautas; os trabalhadores nos setores de petróleo, petroquímica e indústria de xisto; os

eletricitários; os ferroviários”. Op. cit. p. 656.

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(Lei 3.270/57. 1)

Artistas (Lei 6.533/78,

21, I)

Telegrafistas e

telefonistas (CLT, 227)

Operadores

cinematográficos (CLT,

234)

Aeroviário em pista

(Decreto 1.232/62, 20)

Atividades em minas

de subsolo (CLT, 293)

operadores de telex (OJ 213

SbDI-1 12 ), mas passou a se

aplicar aos operadores de

telemarketing (com o

cancelamento da OJ 273 da

SbDI-113)

Bancários 14

(CLT, 224)

6 horas Se exercer cargo de confiança c/

gratificação = ou > 1/3 do

salário, a jornada será de oito

12

OJ 213 da SbDI-1 - TELEX. OPERADORES. ART. 227 DA CLT. INAPLICÁVEL. O operador

de telex de empresa, cuja atividade econômica não se identifica com qualquer uma das previstas no art.

227 da CLT, não se beneficia de jornada reduzida. 13

OJ 213 da SbDI-1 - "TELEMARKETING". OPERADORES. ART. 227 DA CLT. INAPLICÁVEL.

(cancelada) - A jornada reduzida de que trata o art. 227 da CLT não é aplicável, por analogia, ao

operador de televendas, que não exerce suas atividades exclusivamente como telefonista, pois, naquela

função, não opera mesa de transmissão, fazendo uso apenas dos telefones comuns para atender e fazer as

ligações exigidas no exercício da função. 14

Importante recordar que o empregado de cooperativa de crédito não é equiparável ao bancário, nos

termos da OJ 379 da SbDI-1: “EMPREGADO DE COOPERATIVA DE CRÉDITO. BANCÁRIO.

EQUIPARAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. Os empregados de cooperativas de crédito não se equiparam

a bancário, para efeito de aplicação do art. 224 da CLT, em razão da inexistência de expressa previsão

legal, considerando, ainda, as diferenças estruturais e operacionais entre as instituições financeiras e as

cooperativas de crédito. Inteligência das Leis n.os 4.594, de 29.12.1964, e 5.764, de 16.12.1971”. Por

outro lado, recorde-se o teor da Súmula 239 do TST: “BANCÁRIO. EMPREGADO DE EMPRESA

DE PROCESSAMENTO DE DADOS. É bancário o empregado de empresa de processamento de dados

que presta serviço a banco integrante do mesmo grupo econômico, exceto quando a empresa de

processamento de dados presta serviços a banco e a empresas não bancárias do mesmo grupo econômico

ou a terceiros”.

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horas diárias (CLT, 224, § 2º e

Súmula 102 do TST15)

Se exercer cargo de gestão, c/

gratificação = ou > 40% salário

(CLT, 62, II, e § único), não terá

direito a horas extras, como

regra (Súmula 287 do TST16).

Radialistas — do setor

de autoria e locução

(Lei 6.615/78, 18, I)

5 horas

Músicos (Lei 3.857/60,

41 a 48)

5 horas O tempo destinado aos ensaios

será computado no período de

trabalho.

A duração normal do trabalho

15

Súmula nº 102 do TST. BANCÁRIO. CARGO DE CONFIANÇA.

I - A configuração, ou não, do exercício da função de confiança a que se refere o art. 224, § 2º, da CLT,

dependente da prova das reais atribuições do empregado, é insuscetível de exame mediante recurso de

revista ou de embargos.

II - O bancário que exerce a função a que se refere o § 2º do art. 224 da CLT e recebe gratificação não

inferior a um terço de seu salário já tem remuneradas as duas horas extraordinárias excedentes de seis.

III - Ao bancário exercente de cargo de confiança previsto no artigo 224, § 2º, da CLT são devidas as 7ª e

8ª horas, como extras, no período em que se verificar o pagamento a menor da gratificação de 1/3.

IV - O bancário sujeito à regra do art. 224, § 2º, da CLT cumpre jornada de trabalho de 8 (oito) horas,

sendo extraordinárias as trabalhadas além da oitava.

V - O advogado empregado de banco, pelo simples exercício da advocacia, não exerce cargo de

confiança, não se enquadrando, portanto, na hipótese do § 2º do art. 224 da CLT.

VI - O caixa bancário, ainda que caixa executivo, não exerce cargo de confiança. Se perceber gratificação

igual ou superior a um terço do salário do posto efetivo, essa remunera apenas a maior responsabilidade

do cargo e não as duas horas extraordinárias além da sexta.

VII - O bancário exercente de função de confiança, que percebe a gratificação não inferior ao terço legal,

ainda que norma coletiva contemple percentual superior, não tem direito às sétima e oitava horas como

extras, mas tão somente às diferenças de gratificação de função, se postuladas. 16

Súmula nº 287 do TST - JORNADA DE TRABALHO. GERENTE BANCÁRIO. A jornada de

trabalho do empregado de banco gerente de agência é regida pelo art. 224, § 2º, da CLT. Quanto ao

gerente-geral de agência bancária, presume-se o exercício de encargo de gestão, aplicando-se-lhe o art. 62

da CLT.

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poderá ser elevada:

a) a 6 horas, nos

estabelecimentos de diversões

públicas, tais como - cabarés,

buates, dancings, táxi-dancings,

salões de danças e congêneres,

onde atuem 2 ou mais

conjuntos;

b) excepcionalmente, a 7 horas,

nos casos de fôrça maior, ou

festejos populares e serviço

reclamado pelo interêsse

nacional (nesse caso, a hora de

prorrogação será remunerada

com o dobro do valor do salário

normal)

Em todos os casos de

prorrogação do período normal

de trabalho, haverá

obrigatòriamente, um intervalo

para repouso de 30 minutos, no

mínimo.

As prorrogações de caráter

permanente deverão ser

precedidas de homologação da

autoridade competente.

Jornalistas

(CLT, 303)

5 horas Ainda que trabalhe em empresa

não jornalística,o jornalista faz

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jus à jornada diferenciada,

desde que exerça na empresa

atividade típica se sua categoria

diferenciada (OJ 407 da SbDI-

117)

Advogados

(Lei 8.906/94, 20)

4 horas 8 horas se houver contrato c/

dedicação exclusiva ou

negociação coletiva (art. 20 da

Lei 8.906/94).

Artistas

(Lei 6.533/78, 21)

6 horas • Radiodifusão, fotografia e

gravação - 6 h/diárias e

30h/semanais.

• Cinema - 6 h/d

• Teatro - 8 sessões semanais

• Circo - 6 h/d e 36 h/s

• Dublagem - 6 h/d e 40 h/s

Médicos / Engenheiros

(Leis 3.999/61 e 4.950-

A/66 / Súmula 370

TST18)

Não há jornada máxima

específica (continua sendo

8 horas diárias e 44hs

semanais), mas apenas

referência p/ cálculo

salário

Professores 4 aulas consecutivas ou Se cumprir sua jornada máxima

17

OJ 407 DA SBDI-1 DO TST - JORNALISTA. EMPRESA NÃO JORNALÍSTICA. JORNADA

DE TRABALHO REDUZIDA. ARTS. 302 E 303 DA CLT. O jornalista que exerce funções típicas de

sua profissão, independentemente do ramo de atividade do empregador, tem direito à jornada reduzida

prevista no artigo 303 da CLT. 18 SÚMULA 370 TST - MÉDICO E ENGENHEIRO. JORNADA DE TRABALHO. LEIS NºS

3.999/1961 E 4.950-A/1966.

Tendo em vista que as Leis nº 3.999/1961 e 4.950-A/1966 não estipulam a jor-nada reduzida, mas apenas

estabelecem o salário mínimo da categoria para uma jornada de 4 horas para os médicos e de 6 horas para

os engenheiros, não há que se falar em horas extras, salvo as excedentes à oitava, desde que seja

respeitado o salário mínimo/horário das categorias.

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(CLT, 318) 6 intercaladas (4 aulas consecutivas ou 6

intercaladas), tem direito ao

salário mínimo integral (OJ 393

da SbDI-119)

No caso dos professores, seguem alguns precedentes que destacam que

o instrutor de idiomas pode ser enquadrado como tal para fins de determinação de

sua jornada de trabalho:

INSTRUTOR DE IDIOMAS. ENQUADRAMENTO SINDICAL. APLICAÇÃO DE NORMAS COLETIVAS DA CATEGORIA DOS PROFESSORES. PREVALÊNCIA DO PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DA REALIDADE. Discute-se, no caso, se, para o reconhecimento do enquadramento do empregado como professor e consequente aplicação das normas coletivas da categoria dos professores, seria imprescindível a habilitação legal e o registro no Ministério da Educação. No caso dos autos, ficou expressamente consignado que a reclamante lecionava inglês no curso de idiomas reclamado, mas não tinha habilitação legal para desempenhar a profissão de professora de inglês nem registro no Ministério da Educação. A não observância de mera exigência formal para o exercício da profissão de professor, no entanto, não afasta o enquadramento pretendido pela reclamante. A primazia da realidade constitui princípio basilar do Direito do Trabalho. Ao contrário dos contratos civis, o contrato trabalhista tem como pressuposto de existência a situação real em que o trabalhador se encontra, devendo ser desconsideradas as cláusulas contratuais que não se coadunam com a realidade da prestação de serviço. De acordo com os ensinamentos de Américo Plá Rodriguez, o princípio da primazia da realidade está amparado em quatro fundamentos: o princípio da boa-fé; a dignidade da atividade humana; a desigualdade entre as partes contratantes; e a interpretação racional da vontade das partes. Destaca-se, aqui, a boa-fé objetiva, prevista expressamente no artigo 422 do Código Civil, que deve ser observada em qualquer tipo de contrato, segundo a qual os contratantes devem agir com probidade, honestidade e lealdade nas relações sociais e jurídicas.

19

OJ 393 DA SBDI-1 DO TST - PROFESSOR. JORNADA DE TRABALHO ESPECIAL. ART.

318 DA CLT. SALÁRIO MÍNIMO. PROPORCIONALIDADE. A contraprestação mensal devida ao

professor, que trabalha no limite máximo da jornada prevista no art. 318 da CLT, é de um salário mínimo

integral, não se cogitando do pagamento proporcional em relação a jornada prevista no art. 7º, XIII, da

Constituição Federal.

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E, ainda, a interpretação racional da vontade das partes, em que a alteração da forma de cumprimento do contrato laboral, quando esse é colocado em prática, constitui forma de consentimento tácito quanto à modificação de determinada estipulação contratual. Diante disso, tem-se que, no caso dos autos, não se pode admitir, como pressuposto necessário e impeditivo para o enquadramento do empregado na profissão de professor, a habilitação legal e o prévio registro no Ministério da Educação. Evidenciado, portanto, na hipótese dos autos, que a reclamante, efetivamente, exercia a função de professora, não é possível admitir que mera exigência formal, referente à habilitação e ao registro no Ministério da Educação, seja óbice para que se reconheçam a reclamante os direitos inerentes à categoria de professor. Embargos conhecidos e providos. (E-RR-8000-71.2003.5.10.0004, Redator Min. José Roberto Freire Pimenta, SbDI-1, DeJT de 07/06/2013)

INSTRUTORA DE INFORMÁTICA. ENQUADRAMENTO COMO PROFESSORA. POSSIBILIDADE. A falta de um dos requisitos formais previstos no artigo 317 da CLT, concernente ao registro profissional da reclamada perante o Ministério da Educação, não obsta que, considerada a realidade fática consignada no acórdão regional, de que a reclamante desenvolvia atividade eminentemente docente, se a reconheça como integrante da referida categoria profissional diferenciada, com todas as vantagens daí decorrentes. Isso porque vigora, no direito do trabalho, o princípio da primazia da realidade, preponderando o conteúdo pactuado sobre as formalidades estabelecidas. Assim, há de considerar, para fins de reconhecimento da profissão da reclamante, a atividade efetivamente desempenhada pela obreira no curso do contrato de trabalho. Recurso de revista conhecido e não provido neste tema. (TST-RR-6800-19.2007.5.04.0016, Rel. Min. José Roberto Freire Pimenta, 2ª Turma, DeJT 19/12/2011)

Vale observar que há quem defenda o contrário quanto aos instrutores

que não contam com habilitação legal e registro perante o MEC:

RECURSO DE REVISTA. INSTRUTOR DE CURSO PROFISSIONALIZANTE. ENQUADRAMENTO SINDICAL. PROFESSOR. ARTIGO 317 DA CLT. PROVIMENTO. Em hipóteses nas quais os instrutores de cursos profissionalizantes não possuem habilitação legal nem registro no Ministério da Educação, não há como enquadrá-los na categoria profissional dos professores, uma

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vez que não foram preenchidos os requisitos previstos no artigo 317, caput, da CLT. Precedentes. Recurso de revista de que se conhece e a que se dá provimento. (TST-RR-91400-40.2012.5.17.0014, Rel. Ministro: Guilherme Augusto Caputo Bastos, 5ª Turma, DEJT 22/08/2014)

De outro lado, note-se que, segundo a jurisprudência do TST,a

concessão do intervalo entre as aulas (destinado ao “recreio” dos alunos) não

descaracteriza a consecutividade para definir a jornada do professor:

PROFESSOR. JORNADA. ARTIGO 318 DA CLT. HORAS EXTRAS. A existência de um intervalo (de recreio) entre as aulas não tem o condão de caracterizá-las como intercaladas, pois assim se caracterizam apenas as aulas não consecutivas, haja ou não o recreio entre elas; mormente se esse intervalo do professor configura-se como tempo à disposição do empregador, na forma do artigo 4º da CLT. De tal modo, não há violação do artigo 318 da CLT quando configurada a sobrejornada além do limite nele estabelecido, de não poder o professor, em um só estabelecimento escolar, dar mais de quatro aulas consecutivas, nem mais de seis aulas intercaladas. Recurso de revista não conhecido. (TST-RR-841600-96.2002.5.09.0009, Rel. Min. Augusto César Leite de Carvalho, 6ª Turma, DeJT de 28/06/2013)

Convém ter em conta que a atual jurisprudência do TST vem

determinando a aplicação do intervalo interjornadas contemplado no art. 66 da CLT

também ao professor:

DESRESPEITO AO INTERVALO INTERJORNADA. EFEITOS. APLICABILIDADE AO PROFESSOR. Esta Corte tem entendido que é aplicável aos professores o intervalo interjornada previsto no artigo 66 da CLT. Por sua vez, acerca dos efeitos decorrentes do desrespeito ao intervalo interjornada mínimo, deve ser observado o preconizado na Orientação Jurisprudencial nº 355 da SBDI-1 do TST: -INTERVALO INTERJORNADAS. INOBSERVÂNCIA. HORAS EXTRAS. PERÍODO PAGO COMO SOBREJORNADA. ART. 66 DA CLT. APLICAÇÃO ANALÓGICA DO § 4º DO ART. 71 DA CLT (DJ 14.03.2008). O desrespeito ao intervalo mínimo interjornadas previsto no art. 66 da CLT acarreta, por analogia, os mesmos efeitos previstos no § 4º do art. 71 da CLT e na Súmula nº 110 do TST, devendo-se pagar a integralidade das horas que foram

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subtraídas do intervalo, acrescidas do respectivo adicional-. Recurso de revista conhecido e provido. HORAS EXTRAS. ÔNUS DA PROVA. Cinge-se a controvérsia em perquirir se, no período em que exerceu a atividade de coordenador, o reclamante elastecia o trabalho, no período matutino, até às 12 horas. De acordo com as regras processuais que disciplinam a distribuição do ônus da prova entre as partes (arts. 818 da CLT e 333, I e II, do CPC), cabe ao reclamante comprovar os fatos constitutivos do seu direito, e à reclamada, por sua vez, incumbe demonstrar a existência dos fatos modificativos, impeditivos ou extintivos porventura por ela alegados. No caso, a reclamada, ao impugnar a jornada de trabalho do reclamante, sustentando ser inviável a prestação de labor até às 12 horas, tendo em vista que as atividades do departamento do curso de direito se encerravam às 11 horas, atraiu para si o ônus da comprovar esse fato impeditivo do direito do reclamante. Conforme se infere dos depoimentos transcritos no acórdão regional, nada consta acerca do funcionamento do departamento somente até 11 horas. Ao contrário, ficou registrado que o reclamante -dava expediente na coordenação após as aulas da manhã-. Nesse contexto, o Tribunal Regional, ao entender que incumbia ao reclamante comprovar o labor em sobrejornada, não obstante a alegação do correspondente fato impeditivo pela reclamada, incorreu em violação do art. 818 da CLT. Recurso de revista conhecido e provido. (TST-RR-111000-35.2008.5.20.0004, Rel. Min. José Roberto Freire Pimenta, 2ª Turma, DEJT 08/08/2014)

Para ilustrar o que o TST vem entendendo compor a jornada do

professor, seguem alguns precedentes:

PROFESSOR. HORAS EXTRAS. ATIVIDADES EXTRACLASSE. As atividades extraclasse realizadas pelo professor, tais como elaboração e preparação de aulas e de provas, correção de exercícios e provas, configuram prestação de serviço ínsita à atividade do professor e às aulas que ministra, não ensejando o pagamento de horas extraordinárias. Precedentes. Recurso de revista não conhecido. (TST-ARR-1962-55.2010.5.04.0201, Rel. Min. Lelio Bentes Corrêa, 1ª Turma, DEJT 22/08/2014)

HORAS EXTRAS. PROFESSOR. REUNIÕES PEDAGÓGICAS. O Regional, amparado no conjunto probatório, consignou haver documentos que justificam a jornada arbitrada na sentença, que por sua vez registrou o comparecimento do reclamante a três reuniões pedagógicas de curso por semestre letivo durante o período contratual imprescrito, com duração de duas horas cada

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uma, sendo tais horas laboradas de forma excedente à jornada pactuada. Diante do quadro fático delineado, cujo teor é insuscetível de reexame nesta instância superior, nos termos da Súmula 126 do TST, descabe cogitar de violação dos arts. 818 da CLT e 333, I, do CPC. Agravo de instrumento conhecido e não provido. (TST-AIRR-260-40.2011.5.04.0201, Rel. Min. Dora Maria da Costa, 8ª Turma, DeJT 23/08/13)

PROFESSOR. JORNADA DE TRABALHO. ATIVIDADES EXTRACLASSE. Esta Corte firmou entendimento de que são indevidas as horas extraclasse do professor, a teor do artigo 320 da CLT, segundo o qual a remuneração dos professores será fixada pelo número de aulas semanais, em conformidade com os horários, não havendo, em tal dispositivo, nenhuma distinção entre trabalhos internos e extraclasse. Precedentes. (TST-AIRR-260-40.2011.5.04.0201, Rel. Min. Dora Maria da Costa, 8ª Turma, DeJT 23/08/13)

HORAS EXTRAS. PROFESSOR. PARTICIPAÇÃO EM TCC. O Regional asseverou que a presunção de veracidade da jornada declinada na inicial foi afastada pela existência de documentos que justificam a jornada arbitrada em sentença e que não há prova de que as bancas de TCC fossem realizadas no recesso escolar. Assim, para se concluir que o reclamante laborou em período de recesso escolar ou pela veracidade da jornada declinada na inicial, seria necessário o revolvimento de fatos e provas, o que esbarra no óbice contido na Súmula 126 do TST. Ilesos, portanto, os arts. 74, § 2º, da CLT e 359 do CPC e a Súmula 338 do TST. Agravo de instrumento conhecido e não provido. (TST-AIRR-260-40.2011.5.04.0201, Rel. Min. Dora Maria da Costa, 8ª Turma, DeJT 23/08/13)

Ainda a propósito da jornada do professor, eis interessante julgado

acerca da possibilidade de ampliação da jornada em caso de professor municipal,

diante da exigência de concurso público:

I - AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. PROFESSOR MUNICIPAL. ALTERAÇÃO DE JORNADA DE 20 PARA 40 HORAS. NOVA CONTRATAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE CONTRATO NULO. HORAS EXTRAS. ADICIONAL. Segundo o e. TRT da 9ª Região, a prestação de horas extras de forma a dobrar a jornada contratada de professora de escola pública municipal já aprovada em concurso corresponde, na verdade, é uma forma de burlar a

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exigência constitucional de contratação de novos professores concursados, então seriam aquelas horas extras nulas, na forma da Súmula nº 363 do TST. Nesse contexto, para prevenir possível violação do artigo 37, II, da Constituição Federal de 1988 pelo i. Juízo a quo, impõe-se a reforma do r. despacho denegatório do recurso de revista para melhor exame das razões contidas nesse último. Agravo de instrumento provido. II - RECURSO DE REVISTA. PROFESSOR MUNICIPAL. ALTERAÇÃO DE JORNADA DE 20 PARA 40 HORAS SEMANAIS. NOVA CONTRATAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE CONTRATO NULO. HORAS EXTRAS. ADICIONAL. O Tribunal Regional deu provimento ao recurso ordinário do Município para excluir da condenação as horas extras e reflexos. Entendeu que para suprir a necessidade de mais um turno, o Município deveria contratar mais professores por meio de concurso público, e, por isso, a dobra da jornada de 20 para 40 horas semanais desrespeitou a regra imposta no art. 37, II, da CF, sendo nula nos termos da Súmula 363 do TST. No caso dos autos, mostrou-se incontroverso que a autora prestou concurso público para ingresso nos quadros do Município; diante disse, tem-se que a alteração na jornada de trabalho não depende de nova submissão a concurso, pois se está diante de um contrato uno, não havendo como considerar a existência de um novo contrato, sucessivo ao primeiro regularmente instituído, pela alteração da jornada de trabalho da empregada de 20 para 40 horas semanais. Em caso de excesso de jornada, esta c. Corte entende que as horas que ultrapassem aquela máxima permitida ao professor (art. 318 da CLT) devem ser remuneradas com o adicional de 50%. Incidência da Orientação Jurisprudencial nº 206 da SBDI-1. Precedentes. Recurso de revista conhecido, por violação do art. 37, II, da Constituição Federal e provido. (TST-RR-869-52.2011.5.09.0017, Rel. Min. Alexandre de Souza Agra Belmonte, 3ª Turma, DEJT de 01/07/2014)

Em relação aos integrantes de categorias diferenciadas e de profissões

liberais, a Corte Superior do Trabalhista vem ressaltando que a jornada prevista no

respectivo estatuto jurídico próprio deve prevalecer sobre aquela estabelecida para os

integrantes da categoria profissional definida a partir da atividade econômica.

No primeiro caso (categoria diferenciada), já foi citado o caso dos

jornalistas (OJ 407 da SbDI-1). Também pode ser lembrada na mesma esteira a Súmula

117 do TST:

BANCÁRIO. CATEGORIA DIFERENCIADA. Não se beneficiam do regime legal relativo aos bancários os empregados de

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estabelecimento de crédito pertencentes a categorias profissionais diferenciadas.

No segundo caso (profissão liberal), pode ser mencionada a situação do

advogado:

[...] ADVOGADO EMPREGADO. DIREITO À JORNADA DE TRABALHO DO BANCÁRIO. IMPOSSIBILIDADE. 1. A jurisprudência desta Corte uniformizadora tem consagrado entendimento no sentido de que os profissionais liberais devem ser equiparados aos integrantes de categoria diferenciada, visto que suas atividades encontram-se reguladas em normatização própria. 2. Nesse contexto, tem-se que não se aplicam aos advogados empregados de instituições bancárias as disposições contidas no artigo 224, cabeça, da Consolidação das Leis do Trabalho, relativas à jornada do bancário. Precedentes da SBDI-I. 3. Frise-se, de outro lado, que, consoante entendimento consagrado na Orientação Jurisprudencial n.º 403 da SBDI-I desta Corte superior, -o advogado empregado contratado para jornada de 40 horas semanais, antes da edição da Lei n.º 8.906, de 04.07.1994, está sujeito ao regime de dedicação exclusiva disposto no art. 20 da referida lei, pelo que não tem direito à jornada de 20 horas semanais ou 4 diárias-. Essa é exatamente a hipótese dos autos. 4. Irretocável, pois, a decisão proferida pela egrégia Turma, no sentido de não conhecer do recurso de revista obreiro, mantendo, assim, o acórdão prolatado pela Corte de origem, mediante o qual se afastou a jornada de seis horas diárias, ao entendimento de que o reclamante se enquadra na exceção prevista na parte final do artigo 20 da Lei n.º 8.906/1994. 5. Recurso de embargos conhecido e não provido. (TST-E-ED-RR-100000-21.2003.5.02.0002, Rel. Min. Lelio Bentes Corrêa, SbDI-1, DEJT 22/08/2014)

HORAS EXTRAS - JORNADA DE TRABALHO - ADVOGADO BANCÁRIO - DEDICAÇÃO EXCLUSIVA. O advogado empregado de banco que exerce atribuições inerentes à advocacia não se enquadra no artigo 224 da Consolidação das Leis do Trabalho, pois, sendo profissional liberal, se equipara aos membros de categoria diferenciada, uma vez que exerce atividade regulada em estatuto profissional próprio, devendo observar a regulamentação de jornada específica de sua categoria, que se encontra prevista na Lei nº 8.906/94. Assim, configurada a dedicação exclusiva, "serão remuneradas como extraordinárias as horas trabalhadas que excederem a jornada normal de oito horas diárias" (parágrafo único do artigo 12 do Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia e da OAB). Desse modo, nos termos da jurisprudência desta Corte, a reclamante não faz jus ao

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pagamento de horas extras além da sexta hora diária. Recurso de revista conhecido e desprovido. (TST-RR-697100-59.2008.5.12.0035, Rel. Min. Renato de Lacerda Paiva, 2ª Turma, DeJT 01/07/2013)

Ainda quanto ao advogado, mister destacar que o critério para

identificar a dedicação exclusiva, para efeito de definição de sua jornada, é a

existência de previsão contratual expressa, ou, no caso de empregado público, a

previsão editalícia:

HORAS EXTRAS. JORNADA DE TRABALHO. ADVOGADO EMPREGADO. CONTRATAÇÃO POSTERIOR AO ADVENTO DA LEI Nº 8.906/94. DEDICAÇÃO EXCLUSIVA. Nos termos do artigo 20 da Lei nº 8.906/94, a jornada de trabalho do advogado empregado, no exercício da profissão, não poderá exceder a duração diária de quatro horas contínuas e vinte horas semanais, salvo acordo ou convenção coletiva ou em caso de dedicação exclusiva. Na hipótese, a reclamante, contratada como advogada posteriormente ao advento da referida norma legal, trabalhava em jornada de 7 horas, de segunda a sexta-feira. Ressalvado o meu entendimento pessoal, esta Corte Superior vem firmando jurisprudência no sentido de que a inexistência de cláusula escrita prevendo expressamente o regime de dedicação exclusiva torna devidas, como extras, as horas que ultrapassarem a 4ª diária e a 20ª semanal. Precedentes desta Corte. Recurso de revista de que se conhece e a que se dá provimento. (TST-RR-132-97.2010.5.04.0025, Rel. Min. Cláudio Mascarenhas Brandão, 7ª Turma, DEJT 15/08/2014)

HORAS EXTRAS. ADVOGADO. EMPREGADO DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. LEIS 9.527/97 E 8.906/94. DEDICAÇÃO EXCLUSIVA. 1. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento da Medida Cautelar em Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.552-4/DF determinou a suspensão parcial da eficácia das expressões -às empresas públicas e às sociedades de economia mista- do art. 4º da Lei 9.527/97, excluindo da incidência da norma as empresas públicas e sociedades de economia mista exploradoras de atividade econômica não monopolística. 2. A Caixa Econômica Federal constitui empresa pública que presta atividade econômica em regime de concorrência com as demais instituições bancárias, não se podendo falar em exercício de atividades monopolísticas. Nesse contexto, a seus advogados empregados aplicam-se as disposições contidas na Lei 8.906/94. 3. Para o advogado empregado admitido após a edição da Lei

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8.906/94, a configuração do regime de dedicação exclusiva depende de previsão expressa em contrato individual de trabalho, a teor do art. 12 do Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil. (TST-ED-E-ED-RR-73500-49.2006.5.22.0003, Rel. Min. João Batista Brito Pereira, SbDI-1, DeJT de 21/06/2013)

ADVOGADO EMPREGADO. APROVAÇÃO EM CONCURSO PÚBLICO. SUJEIÇÃO ÀS CONDIÇÕES CONTRATUAIS PREVISTAS NO EDITAL E EM PLANO DE CARGOS E SALÁRIO. DOCUMENTOS JUNTADOS AOS AUTOS. AUTENTICAÇÃO. 1. Não importa em afronta ao artigo 830 da Consolidação das Leis do Trabalho decisão pela qual, a par da juntada em cópias reprográficas não autenticadas, confere veracidade aos documentos juntados aos autos, amparando-se no fundamento de que se presumia que os reclamantes, no exercício da função de advogados da reclamada, tinham o conhecimento do teor desses documentos, constituídos por normas coletivas, planos de cargos e salários e no próprio edital do concurso público a que se submeteram para ingressarem no quadro de carreira da reclamada. 2. Inviabiliza-se o intuito de processamento do recurso de revista com amparo na alegação de afronta aos artigos 334, II, 343, § 2º, 345 e 348 do Código de Processo Civil, tendo em vista que, muito embora o preposto da reclamada tenha afirmado que -não havia questão de exclusividade quanto ao trabalho dos advogados empregados-, entendeu o Tribunal Regional tratar-se de afirmativa insuficiente para se traduzir como verdadeira -confissão-, de tal sorte a esvaziar a força probatória conferida aos documentos juntados aos autos, que, de forma cristalina, apontavam para a obrigatoriedade de submissão dos advogados empregados a uma jornada de 8 (oito) horas diárias, configurando-se a hipótese de dedicação exclusiva. 3. É incorreto falar em afronta ao artigo 224, cabeça e § 2º, da Consolidação das Leis do Trabalho, quando se revela, segundo as premissas assentadas no acórdão recorrido, que os reclamantes ingressaram nos quadros da reclamada mediante aprovação em concurso público para o exercício da função de advogado, submetendo-se às condições registradas no edital, que expressamente fixara a jornada em 8 (oito) horas diárias. Nesse caso, inviabiliza-se o intuito de que se proceda ao enquadramento dos autores como bancário e, por seu turno, à submissão de uma carga diária de 6 (seis) horas. 4. Agravo de instrumento não provido. (TST-AIRR-62940-17.2005.5.06.0007, Rel. Min. Lelio Bentes Corrêa, 1ª Turma, DeJT 23/08/2013)

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Antes de passar adiante, recorde-se que, no caso do servidor público, o

retorno à jornada inicialmente contratada não acarreta nulidade da alteração

contratual, à luz da OJ 308 da SbDI-1:

JORNADA DE TRABALHO. ALTERAÇÃO. RETORNO À JORNADA INICIALMENTE CONTRATADA. SERVIDOR PÚBLICO.

O retorno do servidor público (administração direta, autárquica e fundacional) à jornada inicialmente contratada não se insere nas vedações do art. 468 da CLT, sendo a sua jornada definida em lei e no contrato de trabalho firmado entre as partes.

1.6 SITUAÇÕES DE EXCLUSÃO DO REGIME DE LIMITAÇÃO DE JORNADA

Há duas situações básicas de exclusão do regime de duração máxima

da jornada, contempladas pela CLT no art. 62:

A “zona de exclusão” imposta em tais circunstâncias alcança todos os

direitos diretamente decorrentes da impossibilidade de mensuração da jornada

(como é o caso das horas extras e dos intervalos intra e interjornadas), conforme a

jurisprudência tem destacado:

Atividade externa (CLT, 62, I)

• Sem horário fixo

• Sem controle jornada

• Um exemplo que se costumava citar era o do motorista de transporte de cargas, em relação ao qual o tacógrafo não era meio de prova apto a demonstrar o controle de jornada (OJ 332 da SbDI-1). Contudo, o atual regramento da categoria assegura o direito ao controle de jornada (Lei 12.619/12, art. 2º, V)

Cargos de gestão (CLT, 62, II)

• Há dois elementos para caracterização dessea situação:

• Objetivo - percepção de gratificação de confiança cujo valor mínimo será de 40% do salário (CLT, 62, § único)

• Subjetivo - amplos poderes de mando e gestão (caso do gerente geral de agência bancária (Súmula 102 do TST)

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INTERVALO INTRAJORNADA. GERENTE GERAL DE AGÊNCIA. ARTIGO 62, II, DA CLT. 1. A controvérsia se refere a definir se o empregado enquadrado no artigo 62 da CLT tem direito ao pagamento de hora extra decorrente da não concessão ou da concessão parcial do intervalo intrajornada. 2. O caput do artigo 62 da CLT expressamente excetua do regime previsto no capítulo II do Título II da CLT, que dispõe sobre a duração do trabalho (artigos 57 a 75), os empregados enquadrados nos incisos I e II, sendo certo que a previsão legal relativa ao intervalo intrajornada está inserida no referido capítulo (artigo 71). 3. Trata-se de uma presunção legal que se fundamenta na inviabilidade de efetivo controle e fiscalização da jornada trabalhada de tais empregados. 4. Especialmente em relação ao inciso II do artigo 62 da CLT, que se refere ao exercente de cargo de gestão, a sua exclusão do capítulo que regula a duração normal do trabalho decorre da autonomia desse empregado para estabelecer o seu próprio horário de trabalho, o que evidencia a dificuldade ou até mesmo a impossibilidade da sua sujeição a controle de horário, logo, também não haveria como se verificar se o trabalhador realmente usufruiu o intervalo intrajornada. 5. Nesse contexto, conclui-se que o empregado enquadrado no artigo 62 da CLT não tem direito ao pagamento de hora extra decorrente da inobservância do intervalo intrajornada. Precedente desta Subseção Especializada. Recurso de embargos conhecido e provido. (TST-E-ED-RR-34300-85.2007.5.04.0331, Rel. Min. Dora Maria da Costa, SbDI-1, DeJT de 10/05/2013)

No entanto, não se afasta todo o conjunto de direitos previstos no capítulo relativo à duração do trabalho da CLT, tal como poderia sugerir uma interpretação mais literal do art. 62 da CLT. É o que se depreende do seguinte julgado da SbDI-1 do TST:

CARGO DE CONFIANÇA - INTERPRETAÇÃO DO CAPUT DO ART. 62 DA CLT - DIREITO AO ADICIONAL NOTURNO - ART. 7º, IX, DA CONSTITUIÇÃO DE 1988 - NORMA DE ORDEM PÚBLICA. 1. O adicional por labor noturno está previsto no art. 7º, IX, da Constituição, que encerra norma de ordem pública, por se tratar de direito pertinente à saúde do trabalhador. 2. A redação do dispositivo, diversamente do que se infere do inciso XIII do mesmo artigo, não denota a possibilidade de estabelecimento de exceções à aplicação da regra nele inserta, ainda que por meio de lei. 3. O caput do art. 62 da CLT deve, assim, ser interpretado à luz do texto constitucional, que assegura a todos os trabalhadores, indistintamente, "remuneração do trabalho noturno superior à do

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diurno" (art. 7º, IX). 4. Desse modo, ainda que o empregado exerça função de confiança, na forma do art. 62, II, da CLT, tem jus ao adicional noturno. Embargos parcialmente conhecidos e providos. (TST-RR-636994-42.2000.5.12.5555, Redatora Min. Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, SbDI-1, DeJT de 09/05/2008)

1.7. PROVA DA JORNADA

Quanto à prova da jornada, o dispositivo mais relevante na CLT é o art.

74, sobretudo em seu § 2º, segundo o qual:

CLT, art. 74 - O horário do trabalho constará de quadro, organizado conforme modelo expedido pelo Ministro do Trabalho, Industria e Comercio, e afixado em lugar bem visível. Esse quadro será discriminativo no caso de não ser o horário único para todos os empregados de uma mesma seção ou turma.

§ 1º - O horário de trabalho será anotado em registro de empregados com a indicação de acordos ou contratos coletivos porventura celebrados.

§ 2º - Para os estabelecimentos de mais de dez trabalhadores será obrigatória a anotação da hora de entrada e de saída, em registro manual, mecânico ou eletrônico, conforme instruções a serem expedidas pelo Ministério do Trabalho, devendo haver pré-assinalação do período de repouso. (Redação dada pela Lei nº 7.855, de 24.10.1989)

§ 3º - Se o trabalho for executado fora do estabelecimento, o horário dos empregados constará, explicitamente, de ficha ou papeleta em seu poder, sem prejuízo do que dispõe o § 1º deste artigo.

Do aludido preceito legal podem se extrair as seguintes diretrizes

essenciais:

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No tocante ao uso inadequado do termo “estabelecimento” pelo art.

74, § 2º, da CLT, eis alguns precedentes do TST:

HORA EXTRA. ÔNUS DA PROVA. ART. 74, § 2º, DA CLT. OBRIGAÇÃO LEGAL DE CONTROLE DE HORÁRIO QUANDO HÁ MAIS DE DEZ EMPREGADOS NA EMPRESA E NÃO NA UNIDADE PRODUTIVA. 1 - De acordo como art. 74, § 2º, da CLT, é obrigatório o controle de jornada nos -estabelecimentos com mais de dez trabalhadores-. 2 - A Súmula nº 338 do TST, que interpreta o dispositivo de lei federal, refere-se a -empregador-, e, no termos do art. 1142 do CCB de 2002, -considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária-. 3 - A interpretação finalístico-teleológica da legislação, mormente considerando o princípio da proteção ao empregado, ponto central do Direito do Trabalho, leva à conclusão de que o legislador pretendeu endereçar o comando à -empresa- como unidade econômica autônoma, e não à unidade técnica subordinada. 4 - No caso dos autos, depreende-se do acórdão recorrido que, conquanto a reclamada tivesse mais de dez empregados, não juntou aos autos os cartões de ponto, tampouco comprovou jornada de trabalho diversa da alegada na petição inicial. Era seu o ônus da prova, do

Alcance subjetivo

• A exigência de manutenção do controle de jornada impõe-se aos empregadores com mais de 10 empregados

• A expressão “estabelecimento” foi empregada de forma imprópria pelo dispositivo. Na verdade, trata-se de empresa e não de estabelecimento.

• No caso do trabalhador temporário, trata-se de obrigação do Tomador de Serviços (IN 26/10, 5º, I)

• Em se tratando de grupo econômico, havendo compartilhamento de local trabalho, a obrigação é de todos os integrantes (IN 26/10, 5º, II)

Alcance objetivo

• Deve haver a anotação dos seguintes dados:

• Horário – entrada e saída

• Repousos - pode haver pré-assinalação em sistemas eletrônicos (CLT, 74, § 2º)

• No trabalho externo, a anotação será realizada em ficha em poder do próprio empregado (CLT, 74, § 3º)

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qual não se desincumbiu. 5 - Recurso de revista de que se dá provimento. (TST-RR-947-41.2010.5.10.0021, Rel. Min. Kátia Magalhães Arruda, 6ª Turma, DEJT 23/05/2014)

HORAS EXTRAORDINÁRIAS. VIOLAÇÃO DE LEI E ERRO DE FATO. NÃO CONFIGURAÇÃO. NÃO PROVIMENTO. [...], a respeito do alcance do referido preceito legal [CLT, 74, § 2º], esta Corte Superior tem entendimento no sentido de que, embora faça ele menção ao termo -estabelecimento-, dirige-se, em verdade, à -empresa-, que, como se sabe, pode ser criada na modalidade individual (precedente: ED-E-RR - 416131-15.1998.5.05.5555 , Redator Ministro: João Oreste Dalazen, Data de Julgamento: 02/04/2003, 1ª Turma, Data de Publicação: 23/05/2003). [...] (TST-RO-151300-32.2007.5.04.0000, Rel. Min. Guilherme Augusto Caputo Bastos, SbDI-2, DeJT de 15/02/13)

HORAS EXTRAS. CONTROLE DA JORNADA DE TRABALHO. ART. 74, § 2.º, DA CLT. ALCANCE DA EXPRESSÃO -ESTABELECIMENTOS-. Cinge-se a controvérsia em se determinar o alcance da expressão -estabelecimentos- contida no art. 74, § 2.º, da CLT, para fins de se determinar se a referida expressão refere-se à empresa ou a cada estabelecimento da empresa. A presente discussão já foi apreciada por esta Corte, quando da uniformização de jurisprudência do item I da Súmula n.º 338. Na ocasião, firmou-se o entendimento de que o termo -estabelecimentos- se refere à empresa como um todo, e não a cada estabelecimento da empresa. Isso porque se entendeu que a norma celetista, ao exigir a anotação da jornada de trabalho dos empregados, é direcionada ao empregador - à empresa -, e não ao estabelecimento, que nem sequer tem personalidade jurídica e não é demandado judicialmente. Dessarte, a decisão regional afigura-se contrária à diretriz emanada desta Corte, visto que partiu da premissa de que o quantitativo de empregados deveria ser aferido pelo local de trabalho da Reclamante, desconsiderando-se, por completo, a própria confissão do preposto, no sentido de que a empresa, como um todo, tinha mais de 1.800 (mil e oitocentos) empregados. Recurso de Revista conhecido e provido, no tópico. (TST-ARR-26500-13.2009.5.04.0791, Rel. Min. Maria de Assis Calsing, 4ª Turma, DeJT de 16/03/12)

HORAS EXTRAS. ÔNUS DA PROVA. INVERSÃO. ART. 74, § 2º, DA CLT. EXPRESSÕES "EMPRESA" E ESTABELECIMENTO. 1. À luz de uma exegese mais alinhada com os princípios gerais e específicos do direito do trabalho, especialmente o da proteção, não há como deixar de conferir caráter processual à regra do art. 74, § 2º, da CLT, que traz previsão da obrigatoriedade de formação de prova que, pré-constituída pelo empregador, destina-se a amparar o

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empregado na produção de elementos probatórios destinados à comprovação de jornada de trabalho. 2. Tratando-se de norma cujos objetivos são eminentemente processuais, forçoso convir que, embora impropriamente se refira a "estabelecimento", o comando inscrito no artigo 74, § 2º, da CLT dirige-se à "empresa". 3. Se quem comparece em juízo é, naturalmente, a "empresa" e não o "estabelecimento", e se é sobre a primeira que recai o ônus processual referido, não faz sentido entender que ao segundo se enderece o aludido comando legal. 4. Não repugna, por outro lado, à inteligência da Súmula nº 338 do TST o acolhimento de horas extras após a oitava, com base em inversão do ônus da prova e presunção da jornada alegada na petição inicial, se incontroversa a inexistência de controle de ponto, a que está obrigado o empregador, por lei. 5. O descumprimento patronal de manter o registro de ponto do empregado, em observância à lei (CLT, art. 74, § 2º), equivale a dispor do registro de ponto e recusar-se imotivadamente a apresentá-lo ao órgão judicante quando instado a tanto. (TST-ED-E-RR - 416131-15.1998.5.05.5555, Redator Min. João Oreste Dalazen, Data 1ª Turma, DJ de 23/05/2003)

Relativamente à possibilidade de pré-assinalação dos intervalos nos

cartões de ponto, seguem alguns julgados do TST:

INTERVALO INTRAJORNADA. AUSÊNCIA DE CONTROLE DE JORNADA E DE PRÉ-ASSINALAÇÃO. ÔNUS DA PROVA. O § 2º do artigo 74 da CLT exige a anotação da hora de entrada e de saída dos empregados nos estabelecimentos com mais de 10 trabalhadores. Acerca do tempo de intervalo, a referida norma determina apenas a sua pré-assinalação. Contudo, no caso dos autos, o Regional consigna que não houve a apresentação dos controles de jornada, não tendo sido demonstrada, portanto, a pré-assinalação do intervalo, conforme exige o supracitado dispositivo legal. A aferição da alegação recursal de que houve pré-assinalação dos intervalos ou da veracidade da assertiva do Tribunal Regional dependeria de nova análise do conjunto fático-probatório dos autos, procedimento vedado nesta instância recursal, nos termos da Súmula nº 126 do TST. Recurso de revista não conhecido. (TST-RR-2153-46.2010.5.09.0562, Rel. Min. Augusto César Leite de Carvalho, 6ª Turma, DEJT 14/03/2014)

INTERVALO INTRAJORNADA. PRÉ-ASSINALAÇÃO. ÔNUS DA PROVA. SÚMULA Nº 338, III. NÃO APLICAÇÃO. No que tange aos intervalos intrajornadas, não há falar em cartões de ponto britânicos, uma vez que a pré-assinalação dos registros é autorizada por norma legal (artigo 74, § 2º, da CLT), gerando

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presunção relativa de veracidade quanto aos horários assinalados. Logo, na hipótese de apresentação de registros de pontos com os horários de intervalo pré-assinalados, não incide o teor da Súmula nº 338, III, não sendo aplicável a inversão do ônus probatório, permanecendo com o trabalhador o encargo de demonstrar o descumprimento do período de repouso e descanso para fazer jus às respectivas horas extraordinárias. Inteligência do artigo 818 da CLT. No caso, todavia, a Corte Regional não decidiu a lide com base nessa regra de julgamento subsidiária, mas sim com espeque na prova emprestada que corroborou as alegações constantes da petição inicial do autor, sendo suficiente para demonstrar o fato constitutivo do direito pleiteado. Incólumes, pois, o artigo 74, §, 2º, da CLT, e a Súmula nº 338. Recurso de revista não conhecido. (TST-RR-1950-50.2011.5.09.0562, Rel. Min. Guilherme Augusto Caputo Bastos, 5ª Turma, DeJT de 23/08/2013)

INTERVALO INTRAJORNADA. NÃO APRESENTAÇÃO DOS CARTÕES DE PONTO. ÔNUS DA PROVA. A jurisprudência desta Corte firmou entendimento no sentido de que é do Reclamante o ônus de comprovar o trabalho durante o intervalo intrajornada, ainda que o empregador não tenha explicitado a assinalação do início e do fim dos aludidos intervalos nos cartões de ponto, uma vez que inexiste previsão legal sob tal perspectiva, bastando, conforme a jurisprudência citada, a mera pré-assinalação (CLT, art. 74 § 2º). Contudo, na hipótese dos autos, consoante assinalado pelo TRT, o Reclamado não apresentou os cartões de ponto. Partindo desse contexto fático-probatório, em que o Reclamado não apresentou os cartões de ponto, não pode a Reclamante ser prejudicada por tal fato, razão pela qual deve incidir a presunção relativa de veracidade, em relação ao intervalo intrajornada, nos termos da Súmula 338, I/TST. Recurso de revista conhecido e provido. (TST-RR-189-88.2012.5.11.0013, Rel. Min. Mauricio Godinho Delgado, 3ª Turma, DeJT de 23/08/2013)

Não se admite, por outro lado, a pré-marcação do próprio horário de

trabalho, com a apuração por exceção (dos casos de prorrogação de jornada),

consoante se vê do seguinte precedente:

HORAS EXTRAS. NÃO COMPROVAÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO. INVALIDADE DO SISTEMA DE ACOMPANHAMENTO DE FREQUÊNCIA (SAF). Diante da obrigação legal da empregadora quanto ao controle da jornada de trabalho na forma do art. 74, § 2º, da CLT, os cartões de ponto são prova pré-constituída, donde resulta a melhor aptidão da reclamada para demonstrar em juízo a carga horária efetivamente cumprida, conforme a Súmula nº 338, I, do TST. A presunção de validade dos cartões de ponto, a

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qual deve ser infirmada pelo reclamante, evidentemente se refere às provas documentais servíveis (Súmula nº 338, II, do TST), e não àquelas que, de plano, são consideradas inadmissíveis pelo julgador. No caso dos autos, não havia controle de jornada, mas mero controle de frequência, em sistema previsto em norma coletiva da empresa (SAF), consistente em pré-marcação de horário e apuração por exceção, pelo que foi considerado inválido. Assim, nos termos da Súmula nº 338, III, do TST, tem-se como verdadeira a jornada alegada na petição inicial, uma vez que a reclamada não se desincumbiu do seu ônus de provar a verdadeira jornada de trabalho do reclamante por meio de registros de horários válidos. Decisão do Regional em conformidade com a Súmula nº 338 do TST. Recurso de revista de que não se conhece. (TST-RR-117600-32.2007.5.04.0011, Rel. Min. Kátia Magalhães Arruda, 6ª Turma, DeJT 24/08/2012)

No concernente ao trabalho externo, vale destacar que vem ganhando

força a tese segundo a qual seria ônus (obrigação e não faculdade) do empregador a

realização do controle de jornada, sempre que esse se mostrar tecnicamente

possível (sem grande impacto financeiro ou dificuldades operacionais significativas). É

o que se pode extrair, exemplificativamente do seguinte aresto:

HORAS EXTRAS. Conforme consta na decisão combatida, o trabalho do reclamante era exercido 'fora do estabelecimento' como ajudante de carga e descarga. Ficou registrado nos autos que as rotas eram estabelecidas pelo motorista, sendo certo que eram estipuladas pela empresa. O Regional consignou tratar-se de situação onde há possibilidade de controle de jornada, sendo aplicável ao caso a determinação contida no artigo 74, § 3º, da CLT. Com isso, não tendo a reclamada controlado o horário do reclamante através da papeleta de serviços externos, entendeu a Corte a quo ser o caso de inversão do ônus da prova, e deste encargo a reclamada não se desincumbiu, na medida em que não produziu outras provas. Diante desse contexto, o recurso não merece conhecimento, posto que não há como verificar violação do artigo 62, I, da CLT. Não conhecido. (TST-RR-156600-75.2008.5.02.0038, Rel. Min. Emmanoel Pereira, 5ª Turma, DeJT de 09/04/10)

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No caso específico do motorista, a própria Lei 12.619/12, em seu art.

2º, assim assegura como direito explícito seu a realização de controle de jornada, o

que poderia, a rigor, ser estendido a outras categorias profissionais em que houvesse

trabalho externo:

Lei 12.619/12, art. 2º - São direitos dos motoristas profissionais, além daqueles previstos no Capítulo II do Título II e no Capítulo II do Título VIII da Constituição Federal:

[...]

V - jornada de trabalho e tempo de direção controlados de maneira fidedigna pelo empregador, que poderá valer-se de anotação em diário de bordo, papeleta ou ficha de trabalho externo, nos termos do § 3º do art. 74 da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, ou de meios eletrônicos idôneos instalados nos veículos, a critério do empregador.

Tal preceito não passou desapercebido pela jurisprudência do TST,

como se vê:

TRABALHADOR EXTERNO. CONTROLE DE JORNADA. RASTREAMENTO VIA SATÉLITE. O rastreamento de caminhões por satélite é realizado por um aparelho que capta sinais de GPS e, portanto, diferentemente do tacógrafo, que serve somente para mensurar a velocidade do veículo, o rastreador consegue verificar com precisão a localidade em que o empregado se encontra, bem como se o veículo está parado ou em movimento, sendo, portanto, meio hábil para controlar a jornada do motorista de caminhão. Ressalte-se, ainda, que a Lei n.º 12619/2012, que dispõe sobre o direito dos motoristas profissionais, estabelece como um direito desses trabalhadores terem sua jornada de trabalho controlada de maneira fidedigna pelo empregador, inclusiva por -meios eletrônicos idôneos instalados nos veículos, a critério do empregador-. (TST-RR-476-17.2011.5.03.0043, Rel. Min. Maria de Assis Calsing, 4ª Turma, DEJT de 07/06/2013)

Quanto ao meio para realização do controle da jornada, há duas

possibilidades, em essência:

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Observe-se que não é imprescindível, como condição de validade, a

assinatura dos cartões de ponto, conforme vem ressaltando o TST:

HORAS EXTRAORDINÁRIAS - CARTÕES DE PONTO APÓCRIFOS - VALIDADE - INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA - IMPOSSIBILIDADE. A mera ausência de assinatura nos registros de frequência não ocasiona a sua invalidade, por não existir no art. 74, § 2º, da CLT imposição de que os controles sejam chancelados pelo empregado. Pontue-se que as instruções do Ministério do Trabalho, editadas com espeque naquele dispositivo, não acenam com exigência de tal jaez, como se infere da leitura da Portaria nº 3.626/91 (atualizada pela Portaria nº 41/2007). Desse modo, se os registros foram apresentados pela reclamada e continham horários variáveis, não há razão para se presumir, de plano, a veracidade da jornada de trabalho declinada na inicial, competindo ao reclamante o ônus de provar a existência de labor em horário diverso do constante nos registros de frequência, por se tratar de fato constitutivo do seu direito. Por corolário, no caso vertente, não se há de cogitar na inversão do ônus da prova da jornada de trabalho. Recurso de revista conhecido e provido. (TST-RR-782-20.2010.5.05.0025, Rel. Min. Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, 7ª Turma, DeJT de 23/08/13)

Manual

• Por meio de cartões de ponto

Eletrônico

• Registros eletrônicos (SREP - Portaria 1.510/09 e IN 85/10)

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HORAS EXTRAS. CARTÕES DE PONTO APÓCRIFOS. VALIDADE. 1. A ausência de assinatura do trabalhador nos cartões de ponto traduz vício formal, que não enseja, por si só, sua invalidação, na medida em que tal exigência não encontra respaldo legal. Precedentes desta Corte. 2. Assim, não comprovada a irregularidade dos registros de frequência quanto aos horários de entrada e saída, imperativa será a confirmação de validade dos documentos. Recurso de revista conhecido e provido. (TST-RR-125500-80.2008.5.02.0401, Rel. Min. Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, 3ª Turma, DeJT de 23/08/13)

Os registros da jornada (manuais ou eletrônicos) tem a natureza jurídica

de obrigação administrativa, cujo descumprimento gera sanções no plano

administrativo, mas também projetam efeitos processuais, uma vez que se reputam

provas pré-constituídas. É o que se pode inferir da Súmula 338 do TST:

JORNADA DE TRABALHO. REGISTRO. ÔNUS DA PROVA.

I - É ônus do empregador que conta com mais de 10 (dez) empregados o registro da jornada de trabalho na forma do art. 74, § 2º, da CLT. A não-apresentação injustificada dos controles de freqüência gera presunção relativa de veracidade da jornada de trabalho, a qual pode ser elidida por prova em contrário.

II - A presunção de veracidade da jornada de trabalho, ainda que prevista em instrumento normativo, pode ser elidida por prova em contrário.

III - Os cartões de ponto que demonstram horários de entrada e saída uniformes são inválidos como meio de prova, invertendo-se o ônus da prova, relativo às horas extras, que passa a ser do empregador, prevalecendo a jornada da inicial se dele não se desincumbir.

Trata-se, pois, de ônus prova do empregador, que independe de

determinação judicial, acarrentando a presunção relativa veracidade, em caso de não

exibição dos controles em juízo, sempre que se discutir a jornada de trabalho do

empregado. Tal consequência ocorre nos seguintes casos: a) ausência de controle – se

a empresa não realizar o registro da jornada, tendo mais de 10 empregados; b)

realização de controle britânico – em que os registros são invariáveis e, por isso,

inverossímeis; e c) invalidação do controle por outros meios de prova – se for

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comprovado (por meio de prova testemunhal, por exemplo) que os registros não

correspondem à realidade.

2. PRORROGAÇÃO

2.1. LIMITES PARA AS HORAS EXTRAS

O limite previsto pela nossa legislação trabalhista para a prorrogação da

jornada (prestação de horas extras, ou seja, trabalho além dos limites que vimos) é de

2 horas por dia (CLT, 59), sendo necessária a concordância do empregado para sua

realização. Se ultrapassado esse limite, além de pagar como horas extras todas as

horas laboradas em sobrejornada (Súmula 376, I, TST20), o empregador sofre multa

administrativa (CLT, 75) aplicada pela fiscalização do trabalho (Ministério do Trabalho

e Emprego).

Em se tratando de servidor público, ainda que celetista (empregado

público), registre-se a necessidade de ato administrativo fundamentado para

autorizar a realização que horas extras:

ADMINISTRATIVO - SERVIDOR PÚBLICO - HORAS EXTRAS - CARÁTER EXCEPCIONAL E TEMPORÁRIO - INOBSERVÂNCIA DO LIMITE LEGAL DIÁRIO - AUSÊNCIA DE ATO AUTORIZATIVO ESCRITO E DE CONTROLE QUANTITATIVO - POSSIBILIDADE DA OCORRÊNCIA DA COMPENSAÇÃO RESPECTIVA - DANO AO ERÁRIO - PRINCÍPIO DA LEGALIDADE - PAGAMENTO INDEVIDO. A Lei 8.112/90 autoriza a prestação de horas extraordinárias somente para atender a situações excepcionais e temporárias, impondo o limite máximo de duas horas por jornada. O Decreto nº 948/93, que disciplina a aplicação dos arts. 73 e 74 da Lei nº 8.112, dispõe que a execução do serviço extraordinário será previamente autorizada. O Tribunal de Contas da União (Decisão Plenária nº 479/2000) já decidiu que a prestação de horas extras deve ser precedida de ato administrativo devidamente fundamentado. O recorrente pretende o pagamento de 2.400 horas extras, prestadas desde 29.10.1999, sob a alegação de que a Vara do Trabalho de Laranjal do Jari-AP é carente de pessoal, o

20

SÚMULA 376 TST - HORAS EXTRAS. LIMITAÇÃO. ART. 59 DA CLT. REFLEXOS.

I - A limitação legal da jornada suplementar a duas horas diárias não exime o empregador de pagar todas

as horas trabalhadas. (..)

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que obrigava os servidores ao cumprimento de uma jornada de 12 horas diárias, inclusive sábado, domingos e feriados. O quadro fático-jurídico delineado é incontroverso, no sentido de que a alegada carência de pessoal na Vara do Trabalho de Laranjal do Jari não é excepcional e temporária e que não houve controle das horas prestadas e/ou compensadas. Nesse contexto, ausentes os requisitos legais que autorizam a prestação de horas extraordinárias e a inobservância das exigência legais, além da falta de elementos probatórios que possibilitem a efetiva apuração quantitativa das horas extras prestadas e não compensadas, impõe-se o não-provimento do recurso. Acresça-se que o ato administrativo válido exige a observância dos atributos que lhe são peculiares, sendo que a Lei nº 8.112/90, no mínimo, exige forma escrita do ato que autoriza a prestação de horas extras, com a devida fundamentação, além da observância do limite fixado, não respaldando o pedido o invocado -acordo de cavalheiros-. Recurso em matéria administrativa conhecido e não provido. (TST-RMA-57400-23.2003.5.08.0000, Rel. Min. Milton de Moura França, Seção Administrativa, DJ de 17/06/2005)

Importante registrar que determinadas categorias ou pessoas não

podem realizar horas extras em qualquer hipótese por vedação legal ou apenas

podem fazê-lo em situações excepcionais, ou, ainda, mediante condições particulares.

Isto ocorre, por exemplo, nas seguintes situações:

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Nestas hipóteses, contudo, ainda que a lei vede a realização destas

horas extras, caso o trabalhador acabe trabalhando em sobrejornada (horas extras),

possuirá o direito de receber por todas as horas extras laboradas, visto que não se

pode devolver a força de trabalho e não podemos admitir que o empregador se

enriqueça sem causa (princípio da vedação do enriquecimento sem causa). Quando o

juiz constatar esta irregularidade, determina ele o pagamento das horas extras e a

consequente aplicação, pela fiscalização do trabalho, de multa administrativa no

empregador.

Por outro lado, excepcionalmente pode o trabalhador ultrapassar o

limite de 2 horas extras diárias em algumas hipóteses previstas em norma coletiva ou

lei. Citemos duas hipóteses mais corriqueiras:

a) trabalho no regime 12x36 (trabalho em dias alternados – labora 12 horas e

folga 36 horas);

b) necessidade de trabalho extraordinário por motivo de força maior ou para

atender serviço inadiável ou cuja inexecução acarrete prejuízo manifesto.

•Não podem realizar horas extras (CLT, 59, § 4º)

Trabalhadores em regime de tempo parcial

•Apenas excepcionalmente podem realizar horas extras, sendo a regra a sua proibição (CLT, 413)

Menores

•A duração do trabalho do aprendiz não excederá de seis horas diárias, sendo vedadas a prorrogação e a compensação de jornada (CLT, 432)

Aprendizes

•Nas atividades insalubres, quaisquer prorrogações só poderão ser acordadas mediante licença prévia das autoridades competentes em matéria de higiene do trabalho, as quais, para esse efeito, procederão aos necessários exames locais e à verificação dos métodos e processos de trabalho, quer diretamente, quer por intermédio de autoridades sanitárias federais, estaduais e municipais, com quem entrarão em entendimento para tal fim (CLT, 61)

Atividades insalubrides

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Na hipótese da letra “a”, o trabalhador faz até quatro horas extras, mas

estas são compensadas pela folga própria do regime 12x36. Entretanto, como seria

isto possível se a lei veda mais de duas horas extras (art. 59 da CLT)? Isto ocorre

porque este regime de compensação é possível ser estabelecido em norma coletiva (a

qual tem previsão constitucional – art. 7º, XXVI, CF) e esta fórmula de trabalho é

vantajosa para o trabalhador, o qual pode trabalhar 4 dias em uma semana e três em

outra. Este e o entendimento do TST. Todavia, é fundamental a exigência de norma

coletiva. Transcrevemos a Súmula 444 do TST:

JORNADA DE TRABALHO. NORMA COLETIVA. LEI. ESCALA DE 12 POR 36. VALIDADE. É valida, em caráter excepcional, a jornada de doze horas de trabalho por trinta e seis de descanso, prevista em lei ou ajustada exclusivamente mediante acordo coletivo de trabalho ou convenção coletiva de trabalho, assegurada a remuneração em dobro dos feriados trabalhados. O empregado não tem direito ao pagamento de adicional referente ao labor prestado na décima primeira e décima segunda horas.

Quanto à letra “b”, veremos esta hipótese de forma mais detalhada nas

situações especiais do item 2.2 adiante.

2.2. SITUAÇÕES ESPECIAIS

Há algumas situações particulares em que a CLT prevê regras específicas

para a prorrogação da jornada, nas quais se dispensa o mútuo consentimento (CLT,

61), podendo o empregador exigir do empregado a prestação de horas extras. Vejamos

quais são as principais delas nesse quadro esquemático:

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Sistema Limite Pressuposto Pagamento

Serviços Inadiáveis

ou cuja inexecução

possa acarretar

prejuízo manifesto.

12 horas diárias

Sem necessidade de

previsão contratual ou

de acordo ou

convenção coletiva

Comunicação à SRT no

prazo de 10 dias

Hora

trabalhada +

adicional de

50%

Força Maior

12 horas diárias

(doutrina21), visto que a

CLT não especifica.

Sem necessidade de

previsão contratual ou

de acordo ou

convenção coletiva

Comunicação à SRT no

prazo de 10 dias

Hora

trabalhada +

adicional de

50% (CLT é

omissa, mas

doutrina

majoritária

admite22)

Recuperação de

horas em

decorrência de força

maior ou acidente

10 horas diárias

2 horas extras por dia

45 dias por ano

Sem necessidade de

previsão contratual ou

de acordo ou

convenção coletiva

Prévia autorização da

Hora

trabalhada +

adicional de

50% (CLT é

omissa, mas

doutrina

21

Eis o argumento de que lança mão ALICE MONTEIRO DE BARROS: “Embora o texto consolidado

não preveja limite expresso de horas de trabalho exigível, quando do evento da força maior, concluímos

que são no máximo 12 horas, haja vista que, entre duas jornadas, devem existir 11 horas de intervalo para

o sono e, após cada seis horas de trabalho, uma hora para refeição. Portanto, esta é outra revisão a ser

feita na CLT: deve ser estabelecido um limite à jornada extraordinária em caso de força maior”. Op. cit.,

p. 616. 22

Veja-se, mais uma vez, o que leciona ALICE MONTEIRO DE BARROS: “A redação da CLT também

não previu o adicional de horas extras para o trabalho realizado em decorrência de força maior, salvo para

o menor e para a mulher (art. 376 da CLT, revogado em junho de 2001). O sobretempo era pago apenas

como hora normal. Hoje, em face do art. 7º, XVI, da Constituição de 1988, o adicional mínimo, de 50%,

deve ser assegurado também nessa hipótese, uma vez que o dispositivo constitucional não prevê

exceção”. Op. Cit, p. 616.

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SRT majoritária

admite23)

Em relação a tais situações, a jurisprudência do TST vem destacando o

fato de serem expecionais, destacando que não podem se perenizar como prática nas

empresas:

HORAS EXTRAS - ADICIONAL. A teor do caput do art. 59 da CLT, -a duração normal do trabalho poderá ser acrescida de horas suplementares, em número não excedente de duas, mediante acordo escrito entre empregador e empregado, ou mediante contrato coletivo de trabalho-. A limitação traçada neste dispositivo legal - igualmente apreendida pela Constituição Federal, art. 7º, XIII - possui relevância notável porque advém da evolução do Direito do Trabalho, atendendo a normas de saúde no trabalho, além de, contemporaneamente, consistir em um dos mais eficazes mecanismos de combate ao desemprego. Por outro ângulo, o art. 61 da CLT estipula que, -ocorrendo necessidade imperiosa, poderá a duração do trabalho exceder do limite legal ou convencionado, seja para fazer face a motivo de força maior, seja para atender à realização ou conclusão de serviços inadiáveis ou cuja inexecução possa acarretar prejuízo manifesto-. Nessas hipóteses, segundo o § 1º do mesmo preceito legal, o excesso poderá ser exigido independentemente de acordo ou contrato coletivo. Tais extrapolações excepcionais, vinculadas ao jus variandi empresarial (art. 61, CLT), entretanto, não podem se tornar permanentes, em face de sua própria natureza, justificando-se em razão de fatores objetivos excepcionais, de curta duração, atuantes sobre a empresa. Consideradas tais normas em seu conjunto, regra geral, a fixação de adicional de horas extras para o tempo laborado além da 10ª hora diária via instrumento normativo não pode, de plano, ser considerada regra jurídica inválida. Isso porque tal lapso temporal extraordinário poderia se referir às situações singulares previstas no caput do art. 61 da CLT. Em tais prorrogações não ordinárias, nada mais justo do que o estabelecimento de um percentual de adicional de horas

23

Nesse sentido, ALICE MONTEIRO DE BARROS: “Já na recuperação do tempo perdido em

decorrência da força maior, as horas extras não poderão exceder de duas horas diárias e por período não

superior a 45 dias por ano, consecutivos ou não. Embora o texto da CLT também não preveja o adicional

de horas extras para o trabalhador adulto masculino, ele procede, em razão do disposto no art. 7º, XVI, da

Constituição”. Op. Cit., 617.

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extras mais benéfico do que aquele fixado para as primeiras duas horas extras. Não obstante, reputa-se lesivo aos interesses dos empregados o adicional de horas extras estipulado para as horas laboradas depois da 10ª diária neste caso concreto. Da análise da cláusula, infere-se que o percentual fixado para as duas primeiras horas extras foi de 50% (mínimo que a Constituição Federal prevê para a remuneração do serviço extraordinário - art. 7º, XVI), e, para as demais, 60%. Ora, a sobrejornada não pode ser estabelecida em desrespeito à sensatez, à racionalidade, à razoabilidade e proporcionalidade, além do próprio respeito à higidez física e mental do prestador de serviços. Assim, admitir a remuneração das horas laboradas além da décima diária com o acréscimo ínfimo de 10% em relação às duas primeiras horas extras equivaleria a consentir com a adoção de extensa jornada de trabalho sem a contraprestação equivalente e justa, submetendo o empregado a extenuante carga de trabalho sem sobrerremuneração compatível. A esse propósito, pontue-se que esta Seção de Dissídios Coletivos, em respeito ao princípio protetivo da higidez do trabalhador, tem deferido o percentual de 100% (cem por cento) a título de adicional de horas extras, como forma de evitar a prática de algumas empresas de prorrogar a jornada de trabalho. Em face da jurisprudência desta Corte, portanto, não se pode legitimar cláusula convencional que institua o pagamento das horas laboradas além da 10ª hora diária com o adicional de 60% - apenas 10% a mais do que o mínimo constitucional previsto para a prorrogação da jornada além da 8ª hora diária. Por esses fundamentos, não se considera válida cláusula da convenção coletiva que assente, de forma genérica, o trabalho extraordinário após a 10ª hora diária com o adicional de 60%. Recurso ordinário desprovido, no aspecto. (TST-RO-1671-31.2011.5.08.0000, Rel. Min. Mauricio Godinho Delgado, SDC, DeJT 01/03/2013)

Em atividades insalubres, a prorrogação só pode ser admitida se houver

autorização do MTE (CLT, 60), e o TST não tem mais admitido a negociação coletiva

para afastar a necessidade de autorização (cancelamento da Súmula 349 TST24).

24 SÚMUA 349 TST - ACORDO DE COMPENSAÇÃO DE HORÁRIO EM ATIVIDADE IN-SALUBRE, CELEBRADO

POR ACORDO COLETIVO. VALIDADE. A validade de acordo coletivo ou convenção coletiva de compensação de jornada de trabalho em atividade insalubre prescinde da

inspeção prévia da autoridade competente em matéria de higiene do trabalho (art. 7º, XIII, da CF/1988; art. 60 da CLT).

(CANCELADA)

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Lembre-se ainda de que, em duas hipóteses, não haverá, como regra, a

possibilidade de pagamento de horas extras, mesmo em caso de prorrogação de

jornada (CLT, 62):

2.3. TURNOS ININTERRUPTOS DE REVEZAMENTO

Os denominados turnos ininterruptos de revezamento caracterizam-se

pela alternância de turnos (empregado ora trabalha no período diurno, ora no

noturno), não sendo necessário que a atividade empresarial seja ininterrupta para sua

configuração (24 horas por dia e 7 dias por semana – OJ 360 da SbDI-125).

Não descaracteriza os turnos ininterruptos de revezamento a concessão

de: a) intervalo intrajornada; b) intervalo interjornadas; ou c) repouso semanal

remunerado (Súmulas 11026 e 36027 do TST).

25

OJ 360 DA SBDI-1 DO TST - TURNO ININTERRUPTO DE REVEZAMENTO. DOIS

TURNOS. HORÁRIO DIURNO E NOTURNO. CARACTERIZAÇÃO. Faz jus à jornada especial

prevista no art. 7º, XIV, da CF/1988 o trabalhador que exerce suas atividades em sistema de alternância

de turnos, ainda que em dois turnos de trabalho, que compreendam, no todo ou em parte, o horário diurno

e o noturno, pois submetido à alternância de horário prejudicial à saúde, sendo irrelevante que a atividade

da empresa se desenvolva de forma ininterrupta. 26

SÚMULA 110 TST - JORNADA DE TRABALHO. INTERVALO.

Atividades externas

• Se não houver controle de jornada (caso dos vendedores externos, por exemplo)

Exercício de cargo de gestão

• Mediante o atendido a dois requisitos:

• Subjetivo - se empregado detiver amplos poderes de mando e gestão – como é o caso do gerente geral de agência bancária (Súmula 287 do TST)

• Objetivo - a gratificação ou salário pago for igual ou superior a 40% do salário em relação ao salário do que não exerce este encargo ou do trabalhador diretamente subordinado.

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Diante do inegável desgaste sofrido pelos trabalhadores nesse tipo de

escala, a Constituição previu uma jornada reduzida de 6 horas diárias (CF, 7º, XIV).

Contudo, esse limite pode ser ampliado mediante negociação coletiva

(CF, 7º, XIV), desde que respeitado o limite de 8 horas diárias, segundo o TST (Súmula

423 do TST28).

Devemos destacar que o TST entende que o trabalho em turnos

ininterruptos de revezamento não afasta o direito à redução ficta da hora noturna –

52 minutos e 30 segundos (OJ 395 da SbDI-129)

Note-se que, de acordo com o TST, não é válida a norma coletiva

(acordo coletivo ou convenção coletiva) que, para regularizar situações pretéritas,

estabelece jornada de oito horas para o trabalho em turnos ininterruptos de

revezamento (OJ 420 da SbDI-11).

2.4. DIVISOR

Vale notar que, para o cálculo das horas extras, deve-se ter em conta o

chamado divisor. Podemos dizer que divisor é o número utilizado para determinar o

valor do salário-hora de um empregado. O divisor normalmente corresponde ao

número médio de horas trabalhadas por mês. Assim, por exemplo, se alguém recebe

R$ 800,00 por mês e o seu divisor é 200, isso significa que seu salário-hora seria de R$

4,00 (800 dividido por 200).

No regime de revezamento, as horas trabalhadas em seguida ao repouso semanal de 24 horas, com

prejuízo do intervalo mínimo de 11 horas consecutivas para descanso entre jornadas, devem ser

remuneradas como extraordinárias, inclusive com o respectivo adicional. 27

SÚMULA 360 TST - TURNOS ININTERRUPTOS DE REVEZAMENTO. INTERVALOS

INTRAJORNADA E SEMANAL. A interrupção do trabalho destinada a repouso e alimentação, dentro de cada turno, ou o intervalo para

repouso semanal, não descaracteriza o turno de revezamento com jornada de 6 (seis) horas previsto no art.

7º, XIV, da CF/1988. 28

SÚMULA 423 TST - TURNO ININTERRUPTO DE REVEZAMENTO. FIXAÇÃO DE

JORNADA DE TRABALHO MEDIANTE NEGOCIAÇÃO COLETIVA. VALIDADE. Estabelecida jornada superior a seis horas e limitada a oito horas por meio de regular negociação coletiva,

os empregados submetidos a turnos ininterruptos de revezamento não tem direito ao pagamento da 7ª e 8ª

horas como extras. 29

OJ 395 DA SDI1 DO TST - TURNO ININTERRUPTO DE REVEZAMENTO. HORA

NOTURNA REDUZIDA. INCIDÊNCIA. O trabalho em regime de turnos ininterruptos de revezamento

não retira o direito à hora noturna reduzida, não havendo incompatibilidade entre as disposições contidas

nos arts. 73, § 1º, da CLT e 7º, XIV, da Constituição Federal.

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A CLT, em seu art. 64, nesse contexto estabelece que o salário-hora

normal, no caso de empregado mensalista, será obtido dividindo-se o salário mensal

correspondente à duração do trabalho, por 30 vezes o número de horas dessa

duração. Ressalta, entretanto o parágrafo único que, “sendo o número de dias inferior

a 30 (trinta), adotar-se-á para o cálculo, em lugar desse número, o de dias de trabalho

por mês”.

Nesse contexto, o divisor é obtido, fundamentalmente, a partir do

seguinte cálculo:

DIVISOR = Nº horas semanais / Nº dias de trabalho da semana (em

regra, 6) X Nº dias do mês (30)

Exemplificativamente, vamos imaginar alguém que trabalha 40 horas

por semana. Teríamos:

40 / 6 x 30 = 200

Se fossem 44 horas semanais: 44/6 x 30 = 220

Eis os principais divisores, como regra, de acordo com a CLT e a

jurisprudência do TST (Súmulas 12430 e 43131 do TST):

30

SÚMULA 124 TST - BANCÁRIO. SALÁRIO‐ HORA. DIVISOR.

I - O divisor aplicável para o cálculo das horas extras do bancário, se houver ajuste individual expresso ou

coletivo no sentido de

considerar o sábado como dia de descanso remunerado, será:

a) 150, para os empregados submetidos à jornada de seis horas, prevista no caput do art. 224 da CLT;

b) 200, para os empregados submetidos à jornada de oito horas, nos termos do § 2º do art. 224 da CLT.

II – Nas demais hipóteses, aplicar‐ se‐ á o divisor:

a) 180, para os empregados submetidos à jornada de seis horas prevista no caput do art. 224 da CLT;

b) 220, para os empregados submetidos à jornada de oito horas, nos termos do § 2º do art. 224 da CLT. 31

SÚMULA 431 TST - SALÁRIO-HORA. EMPREGADO SUJEITO AO REGIME GERAL DE

TRABALHO (ART. 58, CAPUT, DA CLT). 40 HORAS SEMANAIS. CÁLCULO. APLICAÇÃO

DO DIVISOR 200. Para os empregados a que alude o art. 58, caput, da CLT, quando sujeitos a 40 horas

semanais de trabalho, aplica-se o divisor 200 (duzentos) para o cálculo do valor do salário-hora.

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3. COMPENSAÇÃO

3.1. MODALIDADES

Há duas modalidades de acordos de compensação de jornada (em que

o empregado trabalha mais em um dia e menos em um outro): a individual (firmada

diretamente com o empregado) e a coletiva (ajustada por negociação coletiva com a

necessária participação dos sindicatos), com as diferenças que assim sintetizamos:

Acordo Requisitos Limites

Individual (CF, 7º, XIII e

CLT 59, § 2º / Súmula 85

TST32)

Acordo individual escrito Diário – 10 horas

Semanal - 44 horas (a

compensação deve ocorrer

32 SÚMULA 85 TST - COMPENSAÇÃO DE JORNADA. I. A compensação de jornada de trabalho deve ser ajustada por acordo individual escrito, acordo coletivo ou convenção coletiva.

II. O acordo individual para compensação de horas é válido, salvo se houver norma coletiva em sentido contrário.

III. O mero não atendimento das exigências legais para a compensação de jornada, inclusive quando encetada mediante acordo

18

0 2

00

15

0

22

0

Para quem trabalha 44 horas por semana

Para quem trabalha 40 horas por semana

Para quem trabalha 36 horas por semana

Para quem trabalha 30 horas por semana

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durante a semana)

Coletivo -

Várias espécies:

a) “Banco de horas” (CF,

7º, XIII e CLT 59, § 2º)

b) semana espanho-la (OJ

323 da SDI-I)

c) regime 12x36 (Súmula

444 do TST)

Acordo ou convenção

coletiva de trabalho

Diário – 10 horas, exceto

no regime 12x36 (onde são

12 horas diárias)

Semanal – não há a

limitação das 44 horas (a

compensação pode ocorrer

em tempo superior a uma

semana, desde que ocorra

no período de 12 meses

após o excesso de jornada)

3.2. HIPÓTESES

Além disso, há alguns modelos típicos de compensação de jornada,

entre os quais se destacam33 34:

tácito, não implica a repetição do pagamento das horas excedentes à jornada normal diária, se não dilatada a jornada máxima semanal, sendo devido apenas o respectivo adicional.

IV. A prestação de horas extras habituais descaracteriza o acordo de compensação de jornada. Nesta hipótese, as horas que

ultrapassarem a jornada semanal normal deverão ser pagas como horas extraordinárias e, quanto àquelas destinadas à compensação, deverá ser pago a mais apenas o adicional por trabalho extraordinário.

V. As disposições contidas nesta súmula não se aplicam ao regime compensatório na modalidade “banco de horas”, que somente

pode ser instituído por negociação coletiva. 33

SÚMULA 444 DO TST - JORNADA DE TRABALHO. NORMA COLETIVA. LEI. ESCALA

DE 12 POR 36. VALIDADE. É valida, em caráter excepcional, a jornada de doze horas de trabalho por

trinta e seis de descanso, prevista em lei ou ajustada exclusivamente mediante acordo coletivo de trabalho

ou convenção coletiva de trabalho, assegurada a remuneração em dobro dos feriados trabalhados. O

empregado não tem direito ao pagamento de adicional referente ao labor prestado na décima primeira e

décima segunda horas. 34

OJ 323 SBDI-1 TST - ACORDO DE COMPENSAÇÃO DE JORNADA. "SEMANA

ESPANHOLA". VALIDADE. É válido o sistema de compensação de horário quando a jornada adotada

é a denominada "semana espanhola", que alterna a prestação de 48 horas em uma semana e 40 horas em

outra, não violando os arts. 59, § 2º, da CLT e 7º, XIII, da CF/88 o seu ajuste mediante acordo ou

convenção coletiva de trabalho.

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3.3. CONSEQUÊNCIAS DO DESCUMPRIMENTO

Quando a compensação de jornada é regularmente ajustada e

cumprida, o empregado não tem direito a qualquer acréscimo no salário. Todavia,

pode ocorrer casos em que as regras de compensação são descumpridas.

O descumprimento das regras da compensação de jornada (quando

ocorre a compensação dentro de uma semana) pode ocorrer de várias formas:

a) o acordo individual foi feito de forma verbal, quando deveria ser escrita

(Súmula 85, I – A compensação de jornada de trabalho deve ser ajustada por

acordo individual escrito, acordo coletivo ou convenção coletiva);

b) o acordo individual foi feito de forma escrita, mas havia norma coletiva

vedando a compensação de jornada (Súmula 85, II do TST – O acordo

individual para compensação de horas é válido, salvo se houver norma

coletiva em sentido contrário);

c) o acordo individual sequer foi ajustado expressamente, mas apenas de forma

tácita (o empregador começa a exigir horas extras e realiza a compensação

sem nada ajustar expressamente com o empregado, o qual aceita a situação).

Jornada 12x36

• Trabalham-se 12 horas consecutivos e, depois, folgam-se 36 horas seguidas – é válida se prevista em norma coletiva (Súmula 444 do TST - 14)

Semana espanhola

• 48 horas em uma semana e 40 na seguinte – é válida, segundo o TST, se firmada por negociação coletiva, uma vez que, em algumas semanas, ultrapassa a jornada máxima semanal (OJ 323 SbDI-1 - 15)

Semana inglesa

• Dilui jornada semanal (44 horas) de segunda a sexta – é válida, mesmo por acordo individual, porque os limites diários (10 horas) e semanais (44) são respeitados (CLT, 59)

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d) o acordo de compensação foi devidamente realizado formalmente, mas o

empregador continua a exigir horas extras que não são compensadas.

Nestas hipóteses das letras “a”, “b” e “c”, caso as horas extras diárias

tenham sido compensadas com diminuição de jornada em outro dia de forma que a

jornada semanal não seja ultrapassada (ex: trabalho de 9 horas de segunda a quinta e

8 horas na sexta, sem qualquer trabalho nos sábados e domingos, o que totaliza 44hs

semanais), as horas laboradas após o limite da jornada diária estão inseridas dentro da

jornada semanal, o que significa que já estão todas quitadas dentro do salário (no

exemplo a 9ª hora passou das oito diárias, mas foi compensada, visto que a semana

continuou com 44hs semanais). Assim, será devido apenas o adicional de horas extras.

Apenas para que se possa compreender de forma mais clara, note-se no

exemplo anterior que o trabalhador laborou 9hs de segunda a quinta e 8 horas na

sexta, compensando no sábado. Nesta situação, o obreiro passou de oito horas

durante quatro dias, mas estas horas extras estão, conforme dito, dentro das 44hs

semanais. Logo, a hora trabalhada já está paga no salário, o qual quita 44hs semanais.

Entretanto, como se trata de hora extra, ainda resta o pagamento do adicional de 50%.

Logo, serão devidos 4 adicionais de 50% (referentes à 9ª hora de segunda a quinta).

O TST consagra este entendimento na Súmula 85, III:

O mero não atendimento das exigências legais para a compensação de jornada, inclusive quando encetada mediante acordo tácito, não implica a repetição do pagamento das horas excedentes à jornada normal diária, se não dilatada a jornada máxima semanal, sendo devido apenas o respectivo adicional.

Na hipótese da letra “d”, imagine que determinado empregado labore

de segunda a quinta por 9hs, sexta por 8hs e sábado por 4hs. Isto importa em um total

de 48 horas. Assim, o problema anterior é agravado, uma vez que, ao invés do

trabalhador descansar no sábado, compensado as horas extras de segunda a quinta,

ele continua a trabalhar. Logo, não há compensação efetiva. Assim, o TST determina

que sejam pagas apenas o adicional em relação às horas que ultrapassaram a jornada

diária, mas não ultrapassarem a semanal (no exemplo 4 adicionais de 50% de segunda

a quinta), bem como as horas extras com adicional para as horas que passaram da

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jornada semanal (no exemplo, 4hs com adicional de 50% relativas ao sábado). Vejamos

a Súmula 85, IV:

A prestação de horas extras habituais descaracteriza o acordo de compensação de jornada. Nesta hipótese, as horas que ultrapassarem a jornada semanal normal deverão ser pagas como horas extraordinárias e, quanto àquelas destinadas à compensação, deverá ser pago a mais apenas o adicional por trabalho extraordinário.

Já quando a compensação das horas extras ocorre em período superior

a uma semana, é necessária negociação coletiva. Tanto é assim que o TST inseriu o

inciso V na Súmula 85 ao tartar do banco de horas:

As disposições contidas nesta súmula não se aplicam ao regime compensatório na modalidade “banco de horas”, que somente pode ser instituído por negociação coletiva.

Havendo descumprimento das exigências legais, são devidas as horas

extras com adicional de todas as horas extras que ultrapassaram a jornada diária ou

semanal, não sendo aplicável a Súmula 85 nos demais incisos.

O regime 12x36 também necessita de norma coletiva, a teor da já

mencionada Súmula 444 do TST. Todavia, caso haja o descumprimento das exigência

para a regular compensação, o TST vem admitindo a aplicação da Súmula 85, III e IV

no regime 12x36.

4. TRABALHO EM TEMPO PARCIAL

4.1. CONCEITO

É um regime de trabalho em que o empregado trabalha no máximo 25

horas por semana e recebe salário proporcional à jornada (CLT, 58-A).

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Convém salientar que tal regime não pode ser adotado no caso de

empregados que se submetam a jornadas reduzidas diferenciadas, como é o caso dos

professores, segundo o TST:

PROFESSOR. JORNADA REDUZIDA. SALÁRIO PROPORCIONAL. IMPOSSIBILIDADE. O regime de tempo parcial tipificado na CLT (art. 58-A da CLT) existe somente com respeito a obreiros naturalmente inseridos na jornada padrão de 8 horas e correspondente módulo de 44 horas na semana - mas que, singularmente, sejam contratados para duração de labor até 25 horas semanais. O regime mencionado não abrange, é óbvio, empregados que tenham jornada especial reduzida por força de norma jurídica própria, como é o caso da categoria dos professores, cuja jornada está prevista no art. 318 da CLT (-num mesmo estabelecimento de ensino não poderá o professor dar, por dia, mais de 4 (quatro) aulas consecutivas, nem mais de 6 (seis), intercaladas-). Nesses casos, portanto, não é possível o pagamento proporcional à jornada prevista no art. 7º, XIII, da Constituição Federal, devendo haver o pagamento de um salário mínimo. Inteligência da OJ nº 393 da SBDI-1. Recurso de revista não conhecido no aspecto. (TST-RR-312140-11.2009.5.21.0020, Rel. Min. Mauricio Godinho Delgado, 3ª Turma, DeJT de 08/03/2013)

REMUNERAÇÃO. FÉRIAS. DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO. PROFESSOR. CONDIÇÕES ESPECIAIS DE TRABALHO. ATIVIDADE QUE NÃO SE ENQUADRA NO REGIME DE TEMPO PARCIAL. A jornada e as condições de trabalho da categoria dos professores encontra disciplina especial no art. 317 e seguintes da CLT. Assim, não se vislumbra ofensa ao art. 130-A da CLT, pois tal dispositivo está relacionado aos trabalhadores submetidos ao regime de tempo parcial, previsto no art. 58-A da CLT. 3. VALE-TRANSPORTE. ÔNUS DA PROVA. O acórdão regional se encontra em harmonia com a jurisprudência pacífica e atual desta Corte, no sentido de que é do empregador o ônus de provar o fornecimento ou ausência de necessidade do benefício. Hipótese de incidência da Súmula nº 333 do TST e do art. 896, § 4º, da CLT. Agravo de instrumento conhecido e não provido. (TST-AIRR-240-75.2010.5.04.0721, Rel. Min. Dora Maria da Costa, 8ª Turma, DeJT de 20/04/2012)

4.2. REQUISITOS

Para que seja admitido o regime de trabalho em tempo parcial, exigem-

se, cumulativamente os seguintes requisitos (CLT, 58-1, § 2º):

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Observe-se que a mera submissão à jornada de 25 horas não acarreta a

presunção de caracterização do regimento de trabalho por tempo parcial:

DIFERENÇAS SALARIAIS. O Tribunal Regional consignou que, apesar de a reclamada alegar que a reclamante estava sujeita à tomada de 180 horas mensais, o que justificaria o pagamento abaixo do mínimo legal e do piso da categoria, a recorrente não comprovou a observância do procedimento previsto no parágrafo segundo do artigo 58-A da CLT, qual seja -opção manifestada perante a empresa, na forma prevista em instrumento decorrente de negociação coletiva-, esclarecendo que a CCT não dispõe sobre regime de tempo parcial ou qualquer forma de redução de jornada ou salarial. Diante de contexto fático, insuscetível de revisão nesta instância recursal, a teor da Súmula nº 126 do TST, não é possível aferir violação dos arts. 7º, IV, V, XIII, da Constituição Federal e 58-A, § 1º, 442, 443 e 444 da CLT. (TST-AIRR-2404-77.2010.5.02.0362, Rel. Min. Dora Maria da Costa, 8ª Turma, DeJT de 07/06/2013)

4.3. REGRAS

O salário será proporcional à jornada. Assim, se o empregado

trabalhava 40 horas por semana e recebia R$ 1.000,00, passando a trabalhar 20 horas

por semana, receberá R$ 500,00 (CLT, 58-A, § 1º). Saliente-se que seria possível o

pagamento de valor inferior ao salário mínimo mensal, proporcionalmente à jornada

Negociação coletiva

Concordância individual

Tempo parcial

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laborada (aplicação analógica da OJ 358 da SbDI-135), desde que respeitado o salário

mínimo-hora. É o que, “a contrario sensu”, pode ser inferido do julgado a seguir:

DIFERENÇA SALARIAL. REGIME DE TEMPO PARCIAL. INEXISTÊNCIA DE CONTRATO. EXTRAPOLAÇÃO DA JORNADA. O salário mínimo constitui um direito constitucionalmente assegurado ao trabalhador. O trabalho em regime de tempo parcial, que possibilita o pagamento de salário proporcional à duração da jornada, é válido quando previamente firmado ajuste formal entre as partes, em virtude do seu caráter excepcional. Precedentes. Ocorre que o Tribunal a quo foi explícito ao afirmar que não foi colacionado aos autos qualquer contrato de trabalho escrito, além de não ter sido registrada na CTPS essa jornada de tempo parcial. Acrescente-se ainda a conclusão do e. TRT da 21ª Região de que a empregada extrapolava a jornada de tempo parcial, prevista no art. 58-A da CLT, o que é vedado pelo § 4º, do art. 59, da CLT. Agravo de instrumento a que se nega provimento. (TST-AIRR-128900-42.2010.5.21.0001, Rel. Min. Alexandre de Souza Agra Belmonte, 3ª Turma, DeJT de 21/09/2012)

Naturalmente, para não desvirtuar o regime de trabalho, não pode

haver prestação de horas extras, nem, tampouco, compensação de jornada (CLT, 59, §

4º).

Se for ultrapassada a jornada máxima de 25 horas, será reconhecida a

invalidade do regime, assegurando-se o direito do empregado ao piso da categoria:

DIFERENÇAS SALARIAIS. CONTRATO DE TRABALHO EM REGIME DE TEMPO PARCIAL. INVALIDADE. O Regional, soberano no exame da prova, considerou inválido o contrato de tempo parcial, uma vez que os horários registrados nas folhas de ponto adunadas pela reclamada ultrapassavam o máximo de 25 horas semanais, o que descaracterizava o contrato na forma prevista no artigo 58-A da CLT. Além disso, afirmou o Tribunal de origem que os intervalos intrajornadas, em sua quase totalidade, não foram registrados nas folhas de frequência, nem havia pré-assinalação nesse sentido, como determinado pelas convenções coletivas de trabalho, demonstrando a ausência de fruição desse interstício, o que contribuiu, também, para ultrapassar a carga semanal de 25 horas. Desse modo, reconhecida a nulidade do

35

OJ 358 da SbDI-1 - SALÁRIO MÍNIMO E PISO SALARIAL PROPORCIONAL À JORNADA

REDUZIDA. POSSIBILIDADE.

Havendo contratação para cumprimento de jornada reduzida, inferior à previsão constitucional de oito

horas diárias ou quarenta e quatro semanais, é lícito o pagamento do piso salarial ou do salário mínimo

proporcional ao tempo trabalhado.

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contrato de trabalho por tempo parcial, restaram devidas as diferenças salariais pleiteadas, uma vez que o reclamante percebia por hora, quando deveria receber como mensalista, de acordo com o piso da categoria, a teor do disposto na cláusula convencional. Diante desse quadro, não se constata afronta aos arts. 7º, XXVI, da CF e 58-A, § 1º e 2º, da CLT. Arestos inservíveis. (TST-ARR-324-84.2011.5.06.0010, Rel. Min. Dora Maria da Costa, 8ª Turma, DeJT de 07/06/2013)

4.4. FÉRIAS

No caso dos empregados sujeitos ao regimento de trabalho em tempo

parcial, o período de férias depende do número de horas de trabalho por semana

(CLT, 130-A):

Horas de trabalho por semana Dias de férias

> 22 / 25 18

> 20 / 22 16

> 15 / 20 14

> 10 / 15 12

> 5 / 10 10

< 5 08

Lembre-se de que, se empregado em tempo parcial tiver mais de 7

faltas injustificadas no período aquisitivo terá período de férias reduzido à metade

(CLT, 130-A, § único).

Além disso, se o empregado estiver sob o regime de tempo parcial, não

pode vender férias (abono pecuniário – CLT, 143, § 3º).

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5. HORAS “IN ITINERE”

5.1. CONCEITO

O tempo despendido no trajeto entre a residência do empregado e o

local da prestação de serviços, em regra, não integra a jornada de trabalho.

Entretanto, em algumas circunstâncias, tais horas de percurso computado na jornada,

quanto, então, passam a ser consideradas in itinere ou itinerárias.

As horas in itinere correspondem ao tempo despendido no trajeto,

quando compõe a jornada de trabalho, sobretudo para fins de horas extras.

5.2. REQUISITOS

Para que o tempo de deslocamento possa a integrar a jornada de

trabalho, são exigidas as seguintes condições cumulativas (CLT, 58, § 2º e 3º / Súmula

90 TST36):

36 SÚMULA Nº 90 DO TST HORAS "IN ITINERE". TEMPO DE SERVIÇO (incorporadas as Súmulas

nºs 324 e 325 e as Orientações Jurisprudenciais nºs 50 e 236 da SBDI-1) - Res. 129/2005, DJ 20, 22 e

25.04.2005

I - O tempo despendido pelo empregado, em condução fornecida pelo empregador, até o local de trabalho

de difícil acesso, ou não servido por transporte público regular, e para o seu retorno é computável na

jornada de trabalho. (ex-Súmula nº 90 - RA 80/1978, DJ 10.11.1978)

II - A incompatibilidade entre os horários de início e término da jornada do empregado e os do transporte

público regular é circunstância que também gera o direito às horas "in itinere". (ex-OJ nº 50 da SBDI-1 -

inserida em 01.02.1995)

III - A mera insuficiência de transporte público não enseja o pagamento de horas "in itinere". (ex-Súmula

nº 324 – Res. 16/1993, DJ 21.12.1993)

IV - Se houver transporte público regular em parte do trajeto percorrido em condução da empresa, as

horas "in itinere" remuneradas limitam-se ao trecho não alcançado pelo transporte público. (ex-Súmula nº

325 – Res. 17/1993, DJ 21.12.1993)

V - Considerando que as horas "in itinere" são computáveis na jornada de trabalho, o tempo que extrapola

a jornada legal é considerado como extraordinário e sobre ele deve incidir o adicional respectivo. (ex-OJ

nº 236 da SBDI-1 - inserida em 20.06.2001)

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Nesse contexto, eis a descrição de horas “in itinere” oferecida por Alice

Monteiro de Barros:

As horas in itinere correspondem ao tempo à disposição do empregador, quando a empresa encontra-se fora do perímetro urbano, via de regra, em local de difícil acesso, ou seja, impossível de ser atingido pelo obreiro sem o uso de transporte. Por essa razão, as empresas optam pela alternativa de propiciar condução a seus empregados, visando a obter mão-de-obra pontual e assídua. Assim, o tempo gasto pelo empregado no percurso, até o local de trabalho, em veículo fornecido pelo empregador, identifica-se com a hipótese prevista no art. 4º consolidado e autoriza o pagamento pelo tempo gasto no transporte, nos termos da Súmula n. 90 do TST [...]37.

Vale ressaltar que, se o transporte for fornecido pelo empregador, o

empregado fará jus às horas “in itinere” quando o local da prestação de serviços (não

da residência ou domicícilio do empregado) for de difícil acesso ou (requisito

alternativo) não for servido por transporte público regular, conforme tem esclarecido

o TST: 37

Op. Cit.,

Fornecimento de transporte

pelo empregador

Local (prestação serviços) de difícil

acesso OU

não servido

por transporte

público regular.

Horas in itinere

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HORAS IN ITINERE - REQUISITOS ALTERNATIVOS - ADICIONAL DEVIDO 1. Os requisitos para o pagamento das horas in itinere, inexistência de transporte público regular ou local de trabalho de difícil acesso, são alternativos, e não cumulativos, conforme dispõem a Súmula nº 90, I, do TST e o art. 58, § 2º, da CLT. 2. Inaplicável a Súmula nº 90, item IV, do TST à hipótese dos autos, pois a existência de transporte público regular em parte do trajeto deve ser constatada na rota percorrida pela condução da empresa. 3. Ademais, a matéria, tal como posta pelo Eg. TRT, reveste-se de cunho fático-probatório, cujo reexame é vedado, nos termos da Súmula nº 126 do TST. 4. Extrapolada a jornada legal em razão das horas in itinere, o tempo excedente é considerado como extraordinário e sobre ele deve incidir o adicional respectivo. Inteligência do item V da Súmula nº 90 do TST. Recurso de Revista parcialmente conhecido e provido. (TST-RR-620-98.2010.5.05.0033, Rel. Des. Conv. João Pedro Silvestrin, 8ª Turma, DeJT 14/02/2014)

HORAS -IN ITINERE-. AUSÊNCIA DE TRANSPORTE PÚBLICO REGULAR E FORNECIMENTO DE CONDUÇÃO PELO EMPREGADOR. SUFICIENTE CUMPRIMENTO DOS REQUISITOS DA SÚMULA Nº 90. NÃO PROVIMENTO. Os requisitos para a concessão das horas in itinere elencados na Súmula nº 90 são alternativos, e não cumulativos. Ou se exige que o local de trabalho seja de difícil acesso ou que não esteja servido por regular transporte público. Dessa forma, concluindo o egrégio Tribunal Regional que havia fornecimento de condução pelo empregador e que o local de trabalho não estava servido por transporte público regular, correta a manutenção das horas in itinere, sendo irrelevante a discussão quanto à caracterização do local de trabalho como de -difícil acesso-. Agravo de instrumento a que se nega provimento. (TST-AIRR-1590-52.2010.5.09.0562, Rel. Min. Guilherme Augusto Caputo Bastos, 5ª Turma, DeJT de 04/10/2013)

A respeito da caracterização da dificuldade de acesso, eis interessante

julgado do TST:

HORAS EXTRAS. HORAS IN ITINERE. ACÓRDÃO DO E. TRT DA 18ª REGIÃO QUE INDEFERE A PRETENSÃO POR CONCLUIR, COM BASE NO SENSO COMUM QUANTO ÀS CIDADES DE PEQUENO E MÉDIO PORTE E AINDA COM FULCRO EM CONSULTA AO SÍTIO DA INTERNET DENOMINADO -GOOGLE MAPS-, QUE O LOCAL DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS NÃO ERA DE DIFÍCIL ACESSO. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA. SÚMULA Nº 90, I, DO TST. De acordo com o quadro fático descrito pelo Tribunal Regional, a empresa

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fornecia transporte da cidade onde residia o Autor até o local da prestação de serviço, situado em zona rural acessível somente por uma rodovia, não servido por transporte público regular; e ainda, por força de norma coletiva, não era pago valor algum a título de horas in itinere. Nesse contexto, o fundamento usado pelo i. Juízo a quo para indeferir as horas in itinere relativamente ao tempo do trajeto gasto do ponto de espera até o trevo de saída da cidade - a saber, que o trecho referido, por estar compreendido dentro do perímetro de uma cidade de pequeno ou médio porte, não poderia jamais corresponder a um local de difícil acesso, para efeito da Súmula nº 90 do TST - é manifestamente improcedente, data maxima venia, pois a única hipótese possível de restrição territorial da vantagem é aquela prevista no item IV do referido Verbete Sumular (qual seja, quando houver transporte público apenas em parte do trajeto até o local de trabalho), o que não ocorreu no presente caso. Com efeito, por força da antiga Orientação Jurisprudencial nº 50 da e. SBDI-1 (hoje convertida no item II da Súmula 90 do TST), até mesmo locais servidos por transporte público regular podem ensejar o pagamento de horas in itinere, desde que os horários daquele transporte sejam incompatíveis com o início e o término da jornada de trabalho; com muito mais razão, portanto, há de ser admitida a possibilidade de reconhecimento desse direito naquelas cidades de pequeno e médio porte, onde sequer há transporte público regular, como no feito ora sub judice. Por fim, quanto ao fundamento adotado para indeferir as horas in itinere no trecho entre o trevo de saída da cidade e o local de trabalho propriamente dito - a saber, de que a distância respectiva seria de -apenas- três quilômetros, insuficientes para descaracterizar o local como de difícil acesso -, de igual sorte, é contrário à Súmula nº 90 do TST por três razões: primeiro, porque não é juridicamente possível classificar-se como sendo ou não de difícil acesso um determinado local a partir apenas da parte final do trajeto necessário para atingi-lo; segundo, porque, uma vez atendidos os requisitos sumulares para a caracterização das horas in itinere, não é plausível invocar-se um duvidoso senso comum, ou a consulta a um mero sítio de mapas na Internet, sem amparo algum em prova concreta, de que os empregados podem valer-se de meios alternativos de transporte, ou mesmo deslocar-se a pé para o local de trabalho, sem prejuízo de sua eficiência no trabalho na ida ou de sua incolumidade física na volta para casa; e terceiro, porque mesmo se houvesse consenso acerca da subjetiva ilação de que a distância e o tempo seriam pequenos, ainda assim é certo que o item IV do referido Verbete sumular, ao estipular que as horas in itinere podem ser devidas em apenas parte do período do trajeto do trabalhador, deixaram evidente a desnecessidade de esse

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período ser de grande monta se comparado com outros deslocamentos urbanos possíveis ou mesmo com a duração integral da jornada. Nesse contexto, faz jus o autor às horas in itinere. Recurso de revista conhecido, por contrariedade à Súmula 90, I, do TST e provido. (TST-RR-140-61.2013.5.18.0128, Rel; Min. Alexandre de Souza Agra Belmonte, 3ª Turma, DeJT 13/06/2014)

O principal efeito do reconhecimento das horas “in itinere” será a

integração do tempo de descolamento à jornada de trabalho, com o eventual

pagamento de horas extras. Cumpre destacar, entretanto, que o transporte fornecido

pelo empregador não pode ser considerado uma utilidade salarial, nos termos do art.

458, § 2º, III, da CLT:

Art. 458 - Além do pagamento em dinheiro, compreende-se no salário, para todos os efeitos legais, a alimentação, habitação, vestuário ou outras prestações "in natura" que a empresa, por fôrça do contrato ou do costume, fornecer habitualmente ao empregado. Em caso algum será permitido o pagamento com bebidas alcoólicas ou drogas nocivas.

§ 2o Para os efeitos previstos neste artigo, não serão consideradas como salário as seguintes utilidades concedidas pelo empregador:

[...]

III – transporte destinado ao deslocamento para o trabalho e retorno, em percurso servido ou não por transporte público; [...]

5.3. REGRAS

Recordemos algumas regras previstas na Súmula 90 do TST a respeito

da matéria:

a) A incompatibilidade entre horários de trabalho e os do transporte

público regular dá direito às horas in itinere. Isto porque é o empregador que

normalmente escolhe o horário de trabalho do empregado, devendo arcar com a

consequência de ajustar horário que não há transporte público regular;

b) A mera insuficiência de transporte público não obriga o pagamento

de horas in itinere. Neste caso a culpa não é do empregador, mas da Administração

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Pública que não fornece o serviço público de forma suficiente. Assim, existe o

transporte, mas esta não atende completamente a demanda da população. O

empregador não pode ser onerado por fornecer melhor qualidade de transporte ao

empregado; Nesse ponto, o TST vem ressaltando que se a oferta de meios de

transporte público não for compatível com o número de trabalhadores da empresa, tal

situação equivale à da inexistência:

HORAS IN ITINERE. A Corte de origem consignou ser incontroverso que a reclamada fornecia condução gratuita aos empregados e que - a prova produzida acerca do transporte coletivo intermunicipal é insuficiente para eximir a reclamada do pagamento das horas in itinere -. Registrou, ainda, o Regional que o transporte existente era incapaz de atender a demanda dos trabalhadores, os quais, segundo o preposto da reclamada, eram cerca de 4.200. Assentou então que a situação em análise -transborda dos limites da 'mera insuficiência' do transporte público-. Com base neste contexto fático-probatório, o Tribunal de origem asseverou estar correta a sentença quanto à condenação ao pagamento de horas in itinere. Incidência das Súmulas 126 e 90 do TST. (TST-AIRR-1718-68.2012.5.18.0201, Rel. Min. Dora Maria da Costa, 8ª Turma, DeJT de 27/09/13)

c) Se o transporte público regular atende apenas parte do trajeto, as

horas in itinere limitam-se ao trecho não alcançado pelo transporte público;

d) O tempo que extrapola a jornada (somadas as horas in itinere) é

considerado como extraordinário e sobre ele deve incidir o adicional respectivo de

horas extras (50%). As horas in itinere nem sempre geram horas extras, já que podem

contar dentro dentro de jonada e esta não ser ultrapassada. Apenas configuram horas

extras quando, somadas com a jornada diária, ultrapassarem o limite legal ou

convencional desta; e

e) O fato de o empregador cobrar, parcialmente ou não, pelo transporte

fornecido não afasta o direito às horas "in itinere" (Súmula 320 do TST38).

38

SÚMULA 320 DO TST - HORAS "IN ITINERE". OBRIGATORIEDADE DE CÔMPUTO NA

JORNADA DE TRABALHO.

O fato de o empregador cobrar, parcialmente ou não, importância pelo transporte fornecido, para local de

difícil acesso ou não servido por transporte regular, não afasta o direito à percepção das horas "in itinere".

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De outro lado, observe-se que o TST tem entendido que o tempo gasto

entre a portaria da empresa e o local da prestação de serviços deve ser pago pelo

empregador, se superar 10 minutos diários.

Em um primeiro momento, o Tribunal entendia se tratar de horas “in

itinere”, conforme se depreende da OJ 36 da SbDI-1:

HORA "IN ITINERE". TEMPO GASTO ENTRE A PORTARIA DA EMPRESA E O LOCAL DO SERVIÇO. DEVIDA. AÇOMINAS. Configura-se como hora "in itinere" o tempo gasto pelo obreiro para alcançar seu local de trabalho a partir da portaria da Açominas.

Tal diretriz poderia levar o empregador a suprimir a concessão do

transporte, com o objetivo de obstar a aquisição do direito ao pagamento de tal

período de deslocamento.

Contudo, o TST não faz mais alusão a horas in itinere, o que torna

desnecessário ou indeferente o fornecimento do transporte pelo empregador, à luz da

Súmula 429 do TST:

TEMPO À DISPOSIÇÃO DO EMPREGADOR. ART. 4º DA CLT. PERÍODO DE DESLOCAMENTO ENTRE A PORTARIA E O LOCAL DE TRABALHO. Considera-se à disposição do empregador, na forma do art. 4º da CLT, o tempo necessário ao deslocamento do trabalhador entre a portaria da empresa e o local de trabalho, desde que supere o limite de 10 (dez) minutos diários.

Vale notar que a apuração do efetivo tempo de descolocamento, nessas

circunstâncias, pode ser transferida para a liquidação de sentença:

HORAS EXTRAS. PERÍODO DE DESLOCAMENTO ENTRE A PORTARIA E O LOCAL DE TRABALHO. 1. Na forma da Súmula 429 do TST, o período de deslocamento entre a portaria da empresa e o local de trabalho materializa tempo à disposição do empregador, nos termos do art. 4º da CLT, desde que supere o limite de 10 (dez) minutos diários. 2. A constatação, em sede de recurso de revista, de tempo à disposição do empregador transfere para a liquidação de sentença a apuração do lapso temporal destinado à travessia do percurso interno. Recurso de revista conhecido e provido. (TST-RR-117200-37.2008.5.02.0464, Rel. Min. Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, 3ª Turma, DEJT 12/09/2014)

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5.4. FLEXIBILIZAÇÃO

Para microempresas e empresas de pequeno porte, a CLT autoriza,

expressamente, a uniformização do pagamento (pela média) das horas in itinere (CLT,

58, § 3º). A Jurisprudência do TST admite uniformização (para qualquer tipo de

empresa, inclusive as de grande porte, desde que realizada também por norma

coletiva) mas não supressão das horas in itinere por meio de negociação coletiva.

Assim, normas coletivas (acordos e convenções coletivas) podem

uniformizar tempo para efeito de pagamento (se deslocamento durar cerca de 40

minutos, poderia fixar em 30 minutos, para efeito de pagamento de horas extras), mas

não podem suprimir, totalmente, o pagamento das horas in itinere. Isso ocorre não só

nos casos de microempresas e empresas de pequeno porte, em que há autorização

legal expressa (CTL, 58, § 3º), mas de qualquer tipo de empresa, segundo a

jurisprudência do TST.

Eis alguns precedentes do TST que ilustram tal diretriz:

HORAS -IN ITINERE-. NEGOCIAÇÃO COLETIVA. SUPRESSÃO DE DIREITO. INVALIDADE. Não há dúvidas de que o art. 7º, inciso XXVI, da Constituição Federal chancela a relevância que o Direito do Trabalho empresta à negociação coletiva. Até a edição da Lei nº 10.243/2001, o conceito de horas -in itinere- decorria de construção jurisprudencial, extraída do art. 4º da CLT, não havendo, à época, preceito legal que, expressamente, normatizasse o instituto. Estavam os atores sociais, em tal conjuntura, livres para a negociação coletiva. Modificou-se a situação com o diploma legal referido, quando acresceu ao art. 58 da CLT o § 2º: a matéria alcançou tessitura legal, incluindo-se a remuneração das horas -in itinere- entre as garantias mínimas asseguradas aos trabalhadores. Assim, não se poderá ajustar a ausência de remuneração do período de trajeto. Não há como se chancelar a supressão de direito definido em Lei, pela via da negociação coletiva. Além de, em tal caso, estar-se negando a vigência, eficácia e efetividade de norma instituída pelo Poder Legislativo, competente para tanto, ofender-se-ia o limite constitucionalmente oferecido pelo art. 7º, VI, da Carta Magna, que, admitindo a redução de salário, não tolerará a sua supressão. Recurso de revista conhecido e provido. (TST-ARR-632-17.2011.5.12.0055, Rel. Min. Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, 3ª Turma, DeJT 12/09/2014)

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HORAS IN ITINERE. SUPRESSÃO POR NORMA COLETIVA. IMPOSSIBILIDADE. Após a vigência da Lei nº 10.243/2001, é inválido o instrumento coletivo que procede à supressão total do direito às horas in itinere, disciplinado no artigo 58, § 2º, da CLT, por se tratar de norma cogente. Precedentes desta Subseção Especializada. Recurso de embargos conhecido e não provido. (TST-E-ED-RR-111900-69.2009.5.03.0064, Rel. Min. Dora Maria da Costa, SbDI-1, DeJT de 02/08/2013).

De início, o TST entendia ser válida a limitação no pagamento das horas

in itinere, independentemente do tempo efetivamente despendido no trajeto:

HORAS IN ITINERE - NORMA COLETIVA - LIMITAÇÃO Acordo Coletivo de Trabalho estabeleceu a limitação do pagamento das horas in itinere a 1 (uma) diária. O tempo efetivo de percurso era de 3 (três) horas e 40 (quarenta) minutos. Afirma-se a validade da cláusula, forte nos artigos 58, §§ 2º e 3º, da CLT, 7º, incisos VI, XIII e XXVI, e 8º, inciso III, da Constituição da República, pois não se cogita de supressão total do direito. Qualquer discussão em torno da razoabilidade ou não dos limites traçados em negociação coletiva é valorativa e fundada em argumentos de política e não de princípios. Deve-se privilegiar a racionalidade da decisão, colocada no plano da Constituição (arts. 7º, VI, XIII e XXVI, e 8º, III) e da lei ordinária (art. 58, §§ 2º e 3º, da CLT), que autorizam o que foi coletivamente ajustado nos autos, sendo válida a limitação das horas in itinere, que não importou na supressão do direito. Embargos conhecidos e providos. (TST-E-RR-1195-51.2010.5.15.0026, Red. Min. Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, SbDI-1, DeJT de 15/02/2013)

Em um segundo momento, contudo, o Tribunal passou a invocar o

princípio da razoabilidade para restringir a autonomia privada coletiva nesses casos:

EMBARGOS. HORAS IN ITINERE. LIMITAÇÃO DE PAGAMENTO PREVISTA EM NORMA COLETIVA. FIXAÇÃO DE MONTANTE NUMÉRICO. VALIDADE. PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE ENTRE A QUANTIDADE EFETIVAMENTE REALIZADA E AQUELA ACORDADA. Deve ser mantido o v. acórdão que declarou válida norma coletiva que fixa montante numérico ao pagamento de horas in itinere, quando decorre de percurso que não foge aos limites da razoabilidade. Embargos conhecidos e desprovidos. (TST-E-RR-606-58.2011.5.15.0112, Relator Ministro: Aloysio Corrêa

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da Veiga, Data de Julgamento: 15/08/2013, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: 23/08/2013)

HORAS IN ITINERE. RURÍCOLA. NORMA COLETIVA. VALIDADE. PREFIXAÇÃO DO QUANTITATIVO DE HORAS DE PERCURSO. AFASTAMENTO DA NATUREZA SALARIAL DA PARCELA. ARTIGO 58, § 2º, DA CLT. NORMA COGENTE 1. A jurisprudência predominante do TST confere validade às normas coletivas que fixam previamente o quantitativo de horas in itinere, desde que haja razoabilidade e proporcionalidade em face do tempo efetivamente despendido no trajeto de ida e volta, descartada, em todo caso, a pretexto de limitação das horas de percurso, a supressão do direito assegurado por lei. Precedentes das Turmas e da SbDI-1 do TST. 2. É válida cláusula de acordo coletivo de trabalho que limita em uma hora diária in itinere o tempo de percurso médio efetivo (ida e volta) de duas horas diárias. Razoável a média de horas de percurso estabelecida na norma coletiva, mormente se o processo evidencia tempos de trajeto distintos, a depender do local da execução das tarefas, em virtude de a empregada rurícola ativar-se em diversas fazendas. Tal circunstância, a par de demonstrar a dificuldade na quantificação do tempo de trajeto de fato despendido, sinaliza para a concreta possibilidade de fixação de um tempo médio de percurso, alcançada mediante válida negociação coletiva. 3. Os sindicatos não detêm poder de disposição amplo sobre direitos trabalhistas garantidos por norma cogente, de ordem pública, como é o caso da norma expressa do § 2º do artigo 58 da CLT, que determina o cômputo das horas in itinere na jornada de trabalho, para todos os efeitos legais e, assim, assegura natureza salarial à parcela. A lei preocupou-se em estabelecer um patamar mínimo de proteção ao empregado, infenso à negociação coletiva, no particular. Inteligência do item V da Súmula nº 90 do TST. 4. Inválida cláusula de acordo coletivo de trabalho no que afasta a natureza salarial das horas in itinere, em flagrante contraposição à expressa determinação legal. 5. Embargos conhecidos, por divergência jurisprudencial, e parcialmente providos. (TST-E-RR- 414600-67.2009.5.09.0325, Relator Ministro: João Oreste Dalazen, SbDI-1, DeJT de 01/07/2013)

RECURSO DE EMBARGOS. HORAS IN ITINERE - INSTRUMENTO COLETIVO FIXANDO O NÚMERO DE HORAS A SEREM PAGAS EM QUANTIDADE MUITO INFERIOR AO TEMPO GASTO NO TRAJETO - INVALIDADE - EQUIVALÊNCIA À RENÚNCIA. A SBDI-1 do TST vinha considerando válida norma coletiva que fixa previamente a quantidade de horas in itinere, atendendo ao princípio da prevalência das normas coletivas, consagrado no art. 7º, XXVI, da

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Constituição Federal. Com efeito, em julgado da SBDI-1 completa (E-RR - 2200-43.2005.5.15.0072), ocorrida em 8/11/2012, este Colegiado entendeu pela possibilidade da flexibilização por meio de norma coletiva, quanto ao número de horas in itinere a serem pagas. Consignou que, uma vez prevista referida limitação em instrumento coletivo, imperioso respeitar-se o ajuste estabelecido. Ou seja, decidiu ser irrelevante a eventual disparidade entre a jornada fixada em norma coletiva (limitação) e a efetivamente gasta durante o percurso. Todavia, em recentes decisões sobre a matéria, a SBDI1 vem se posicionando em sentido diverso, ou seja, que a flagrante disparidade entre o tempo de percurso efetivamente utilizado pelo autor para chegar a seu local de trabalho e aquele atribuído pela norma coletiva leva à conclusão de que o direito à livre negociação coletiva foi subvertido, ante a justificada impressão de que, na realidade, não houve razoabilidade no ajuste efetuado pelas partes. Nesses casos, em face da manifesta inexistência de concessões recíprocas pelos seus signatários, frente o desequilíbrio entre o pactuado e a realidade dos fatos, beneficiando apenas o empregador, entendeu que não houve concessões mútuas, mas, tão somente, mera renúncia do empregado ao direito de recebimento das horas concernentes ao período gasto no seu deslocamento de ida e volta ao local de suas atividades laborais. Precedentes. Recurso de embargos conhecido e provido. ( E-RR - 91-51.2011.5.09.0092 , Relator Ministro: Renato de Lacerda Paiva, Data de Julgamento: 13/06/2013, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: 01/07/2013)

Um critério objetivo que alguns ministros têm defendido é de não

admitir redução superior a 50% quanto ao tempo efetivamente gasto no

deslocamento:

HORAS IN ITINERE. LIMITAÇÃO POR NORMA COLETIVA. A SDI-1 desta Corte fixou a tese de que, além das hipóteses de supressão total, também a redução desproporcional do direito às horas in itinere configuram a invalidade na norma coletiva. E, não obstante a dificuldade em se estabelecer um critério pautado na razoabilidade para, em função dele, extrair a conclusão acerca da validade ou da invalidade da norma coletiva, fixou-se um critério de ponderação, segundo o qual, se a diferença entre o tempo de percurso e o tempo pago em razão da norma coletiva não exceder a 50%, admite-se a flexibilização pela via negocial. In casu, verifica-se do acórdão regional que o tempo de percurso diário era de duas horas e que a cláusula coletiva prefixou as horas in itinere em uma hora diária. Nesse contexto, afronta o art. 7º, XXVI, da

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Constituição da República a decisão que desconsidera cláusula de acordo coletivo de trabalho, a qual prevê a limitação do pagamento das horas in itinere no patamar da razoabilidade. Recurso de revista conhecido e provido. (TST-RR-503-86.2013.5.15.0110, Rel. Min. Dora Maria da Costa, 8ª Turma, DEJT 12/09/2014)

HORAS IN ITINERE - LIMITAÇÃO POR NORMA COLETIVA - RAZOABILIDADE NA FIXAÇÃO DE TEMPO MÉDIO DO PERCURSO DE TRANSPORTE - MUTUALIDADE DE CONCESSÕES - REDUÇÃO NÃO INFERIOR A 50%. Esta Corte firmou posicionamento no sentido de ser válida a limitação de horas in itinere, por meio de norma coletiva, nos termos do art. 7º, inciso XXVI, da Constituição da República, mesmo na vigência da Lei nº 10.243/2001, sendo vedada apenas a supressão do direito. O tema foi objeto de constantes debates por esta Corte, sendo que a Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, em recente decisão, concluiu pela viabilidade da limitação desde que demonstrada a razoabilidade no ajuste efetuado pelas partes e o equilíbrio entre o pactuado e a realidade dos fatos, para se evitar o benefício apenas do empregador com a ausência de concessões mútuas e a consequente renúncia dos empregados ao direito de recebimento das horas concernentes ao período gasto no seu deslocamento de ida e volta ao local de suas atividades laborais, tendo fixado entendimento quanto à razoabilidade da redução não inferior a 50% do tempo efetivamente gasto no percurso. Agravo de instrumento desprovido. (TST-AIRR-2577-22.2011.5.22.0003, Rel. Min. Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, 7ª Turma, DeJT de 27/09/2013)

HORAS -IN ITINERE-. MONTANTE NUMÉRICO PREVISTO EM NORMA COLETIVA (ART. 58, § 3º, CLT). POSSIBILIDADES E LIMITES DA REGRA COLETIVA NEGOCIADA (CCTs e ACTs). A negociação coletiva trabalhista pode criar vantagens materiais e jurídicas acima do padrão fixado em lei, modulando a natureza e os efeitos da vantagem inovadora instituída. Contudo, regra geral, não tem o poder de restringir ou modular vantagens estipuladas por lei, salvo se esta efetivamente assim o autorizar. No caso das horas in itinere, estão instituídas e reguladas pela CLT, desde o advento da Lei nº 10.243, de 2001 (art. 58, §2º, CLT), sendo, portanto, parcela imperativa, nos casos em que estiverem presentes seus elementos constitutivos. Entretanto, o §3º do mesmo art. 58 da CLT, inserido pela Lei Complementar nº 123/2006, autorizou à negociação coletiva fixar o tempo médio despendido, a forma e a natureza da remuneração, permitindo assim certo espaço regulatório à negociação coletiva trabalhista nesse específico tema. Naturalmente que não pode o instrumento

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coletivo negociado simplesmente suprimir a parcela, nem lhe retirar o caráter salarial ou até mesmo excluir a sobrerremuneração do adicional mínimo de 50%. Nesse norte, pacificou a SDI-1 do TST no sentido de que se situa na margem aberta à negociação coletiva a abstrata estimativa do tempo médio pré-agendado, sabendo-se que esse tempo não leva em conta situações individualizadas, porém o conjunto da dinâmica da(s) empresa(s) envolvida(s), com as inúmeras e variadas distâncias existentes ao longo dos pontos de acesso e frentes de trabalho. Nesta medida, a SDI-I assentou, ainda, que eventual diferença entre o número de horas fixas e o número de horas efetivamente despendidas no trajeto pode ser tolerada, desde que respeitado o limite ditado pela proporcionalidade e pela razoabilidade na definição do número fixo de horas a serem pagas, com o fim de não desbordar para a supressão do direito do empregado, se a negociação resultar na fixação de uma quantidade de horas inferior a 50% do tempo real despendido no percurso (Processo E-ED-RR-46800-48.2007.5.04.0861, DEJT 06/09/2013). Na hipótese, o TRT manteve a sentença que considerou válido o tempo das horas itinerantes fixados na norma coletiva (mais de 50% do tempo real gasto no percurso), afastando apenas o caráter indenizatório da parcela, razão pela qual não prospera o inconformismo da Reclamada, haja vista que foi respeitado acordo entre as partes. Recurso de revista não conhecido integralmente. (TST-RR-40700-77.2009.5.09.0567, Rel. Min. Mauricio Godinho Delgado, 3ª Turma, DeJT de 27/09/2013)

6. MINUTOS RESIDUAIS

6.1. CONCEITO

Constituem um tempo de tolerância na marcação de ponto (para

empregado e empregador). Isso significa que, de um lado, o empregado pode chegar

atrasado ou sair mais cedo, sem sofrer descontos em seus salários, desde que

respeitado esse tempo de tolerância. De outro lado, o empregador não precisa pagar

horas extras se empregado chega mais cedo ou sai mais tarde, desde que também seja

respeitado esse tempo de tolerância.

6.2. REGRAS

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A principal regra aqui é, essencialmente a seguinte: variações, na

marcação de ponto, não excedentes a 5 minutos por marcação e 10 minutos diários

não são consideradas (CLT, 58, § 1º e Súmula 366 TST39).

Importante lembrar que, caso o tempo máximo seja excedido (o

empregado registra mais de dez minutos diário a mais de trabalho, considerando as

variações de registro), deverá ser considerado na jornada, inclusive para fins de horas

extras, todo o período registrado.

O TST não admite a flexibilização do tempo de tolerância, nem mesmo

por norma coletiva, depois da introdução do § 1º no art. 58 da CLT (Súmula 449 do

TST40).

39

SÚMULA 366 TST - CARTÃO DE PONTO. REGISTRO. HORAS EXTRAS. MINUTOS QUE

ANTECEDEM E SUCEDEM A JORNADA DE TRABALHO. Não serão descontadas nem computadas como jornada extraordinária as variações de horário do registro

de ponto não excedentes de cinco minutos, observado o limite máximo de dez minutos diários. Se

ultrapassado esse limite, será considerada como extra a totalidade do tempo que exceder a jornada

normal. 40

Súmula 449 do TST - MINUTOS QUE ANTECEDEM E SUCEDEM A JORNADA DE

TRABALHO. LEI Nº 10.243, DE 19.06.2001. NORMA COLETIVA. FlEXIBILIZAÇÃO.

IMPOSSIBILIDADE. A partir da vigência da Lei nº 10.243, de 19.06.2001, que acrescentou o § 1º ao

art. 58 da CLT, não mais prevalece cláusula prevista em convenção ou acordo coletivo que elastece o

limite de 5 minutos que antecedem e sucedem a jornada de trabalho para fins de apuração das horas

extras.

5minutos

• Por marcação

10 minutos

• Por dia

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7. SOBREAVISO E PRONTIDÃO

7.1. CONCEITO

Os conceitos relativos ao sobreaviso e à prontidão podem ser extraídos

da própria legislação (CLT, art. 244):

Esses dois institutos nasceram com os ferroviários, como exceções à

regra estabelecida no art. 4º da CLT segundo a qual deve ser considerado (para fins de

jornada e de pagamento de salário) o tempo que o empregado coloca à disposição do

empregador, não importando o tempo de efetivo labor.

Todavia, a jurisprudência vem reconhecendo a possibilidade de

aplicação por analogia a outras categorias além do ferroviário, como é o caso do

sobreaviso dos aeronautas (por força de lei – Lei 7.183/84, art. 2541), dos petroleiros

41

Lei 7.183/84 - Art. 25 Sobreaviso é o período de tempo não excedente a 12 (doze) horas, em que o

aeronauta permanece em local de sua escolha, à disposição do empregador, devendo apresentar-se no

aeroporto ou outro local determinado, até 90 (noventa) minutos após receber comunicação para o início

de nova tarefa.

§ 1º O número de sobreavisos que o aeronauta poderá concorrer não deverá exceder a 2 (dois) semanais

ou 8 (oito) mensais.

§ 2º O número de sobreavisos estabelecidos no parágrafo anterior não se aplica aos aeronautas de

empresas de táxi aéreo ou serviço especializado.

Sobreaviso

• É o tempo computado (parcialmente) na jornada de trabalho em que o empregado permanece em casa, aguardando ordens do Empregador (CLT, art. 244, § 2º).

Prontidão

• É o tempo computado (parcialmente) na jornada de trabalho em que o empregado (ferroviário) permanece nas dependências da Estrada (da empresa), aguardando ordens do Empregador (CLT, art. 244, 3º).

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(Lei 5.811/72, art. 5º, §1º42) e dos eletricitários (por força da jurisprudência – Súmula

229 do TST43).

7.2. DISTINÇÕES

As principais distinções entre o sobreaviso e a prontidão são as

seguintes:

Sobreaviso Prontidão

Tempo de permanência em casa,

aguardando ordens. O empregado está em

casa fazendo o que quiser, mas deve

aguardar ser chamado.

Tempo de permanência nas dependências

da Estrada, aguardando ordens. Também o

empregado está livre durante este período,

tendo obrigação apenas de aguardar nas

dependências por eventual chamado.

24 horas 12 horas

1/3 do salário/hora 2/3 do salário/hora

Em relação aos aeronautas, há dois regimes: sobreaviso e reserva,

segundo a Lei 7.183/84, em seus arts. 25 e 26:

42

Lei 5.811/72 - Art. 5º Sempre que for imprescindível à continuidade operacional durante as 24 (vinte e

quatro) horas do dia, o empregado com responsabilidade de supervisão das operações previstas no art. 1º,

ou engajado em trabalhos de geologia de poço, ou, ainda, em trabalhos de apoio operacional às atividades

enumeradas nas alíneas "a" e "b" do § 1º do art. 2º, poderá ser mantido no regime de sobreaviso.

§ 1º Entende-se por regime de sobreaviso aquele que o empregado permanece à disposição do

empregador por um período de 24 (vinte quatro) horas para prestar assistência aos trabalhos normais ou

atender as necessidades ocasionais de operação.

§ 2º Em cada jornada de sobreaviso, o trabalho efetivo não excederá de 12 (doze) horas. 43

Súmula nº 229 do TST - SOBREAVISO. ELETRICITÁRIOS. Por aplicação analógica do art. 244,

§ 2º, da CLT, as horas de sobreaviso dos eletricitários são remuneradas à base de 1/3 sobre a totalidade

das parcelas de natureza salarial.

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No caso dos motoristas, a Lei 12.619/12 instituiu dois regimes próximos

aos da prontidão e do sobreaviso, o tempo de espera e o tempo de reserva:

Sob

reav

iso

Conceito

• Permanecimento em local de sua escolha

• À disposição do empregador

Limites

• Tempo < 12 horas

• Apresentação em 90 minutos após comunicação

• Número - 2 semanais ou 8 mensais

• não se aplica a empresas de táxi-aéreo ou serviço especializado

Pagamento

• Incluído na remuneração (?!) R

eser

va Conceito

• Permanecimento em local de trabalho à sua disposição

Limites

• Tempo - até 6 horas

• empresas de táxi aéreo ou de serviços especializados - até 10 horas

• >3 horas - empregador deverá assegurar acomodações adequadas p/ descanso.

Tempo de espera

• CLT, 235-C, § 8º

• Quem?

• Motorista transporte rodoviário cargas

• Quando?

• Jornada extraordinária

• Carga / descarga veículo no embarcador ou destinatário

• Fiscalização mercadoria transportada em barreiras fiscais ou alfandegárias

• Motorista fora da base da empresa que ficar com o veículo parado por tempo superior à jornada normal de trabalho, se exigida permanência junto ao veículo

• O que acontece?

• Não computadas como horas extras

• Indenização – 30% salário-hora normal

Tempo de reserva

• CLT, 235-C, § 6º

• Quem?

• Motorista transporte rodoviário cargas

• Quando

• Longa distância

• Revezamento de motoristas trabalhando em dupla no mesmo veículo

• Tempo que exceder a jornada normal de trabalho

• Em repouso no veículo em movimento

• O que acontece

• Será remunerado em 30% hora normal

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7.3. SOBREAVISO E TELETRABALHO

A mera utilização de BIP ou celular não gera direito às horas de

sobreaviso, quando o empregado não permanece em sua residência aguardando

ordens do empregador, a não ser que o empregado seja submetido a regime de

plantão, de acordo com a Súmula 428 do TST:

SOBREAVISO. APLICAÇÃO ANALÓGICA DO ART. 244, § 2º, DA CLT.

I ‐ O uso de instrumentos telemáticos ou informatizados fornecidos pela empresa ao empregado, por si só, não caracteriza regime de sobreaviso.

II – Considera‐se em sobreaviso o empregado que, à distancia e submetido a controle patronal por instrumentos telemáticos ou informatizados, permanecer em regime de plantão ou equivalente, aguardando a qualquer momento o chamado para o serviço durante o período de descanso.

8. TRABALHO NOTURNO

O trabalho noturno, em virtude do particular desgaste físico que gera,

além da privação que acarreta quanto ao convívio social, sofre uma série de restrições.

As principais regras são as que se seguem:

CATEGORIA PERÍODO ADICIONAL HORA REDUZIDA

Urbano comum

(CLT, 73)

22:00 / 05:00 20% 52’30’’

Advogado (Lei

8.906/94, 20)

20:00 / 05:00 25% (s/ previsão legal)

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Vigia Banco (Súmula

59 TST44 - cancelada)

22:00 / 05:00 20% (s/ previsão legal)

Engenheiro (Lei

4.950-A/66, 7º)

22:00 / 05:00 25% (s/ previsão legal)

Portuário (Lei

4.860/65, 4º)

19:00 / 07:00 60 minutos

Aeronauta (Lei

7.183/84, 41)

Pôr ao nascer do

sol

20% 52’30’’

Rural – Lavoura

(Lei 5.889/73, 7º)

21:00 / 05:00 25% (s/ previsão legal)

Rural – Pecuária

(Lei 5.889/73, 7º)

20:00 / 04:00 25% (s/ previsão legal)

Se o empregado inicia sua jornada no período noturno, desde que a

cumpra integralmente (22:00 às 05:00) e a prorroga durante o dia (22:00 às 09:00), as

horas diurnos recebem a mesma proteção das noturnas, o que significa que, além do

adicional de horas extras, receberá o adicional noturno. Eis o que a Súmula 60, II, do

TST define:

Cumprida integralmente a jornada no período noturno e prorrogada esta, de- vido é também o adicional quanto às horas prorrogadas. Exegese do art. 73, § 5o, da CLT).

A mesma situação ocorre com a aquele que trabalha no regime 12x36.

Transcrevemos a OJ 388 da SDI-I do TST:

JORNADA 12X36. JORNADA MISTA QUE COMPREENDA A TOTALIDADE DO PERÍODO NOTURNO.

44

Súmula nº 59 do TST - VIGIA (cancelada) - Vigia de estabelecimento bancário não se beneficia da

jornada de trabalho reduzida prevista no art. 224 da CLT.

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ADICIONAL NOTURNO. DEVIDO. O empregado submetido à jornada de 12 horas de trabalho por 36 de descanso, que compreenda a totalidade do período noturno, tem direito ao adicional noturno, relativo às horas trabalhadas após as 5 horas da manhã.

Lembre-se, também, de que o adicional noturno não se incorpora ao

salário do empregado. Independentemente do tempo que trabalhar à noite, se for

transferido para o período diurno, perde o direito ao adicional (Súmula 265 do TST45).

Ressalte-se, ainda, que, para o trabalhador urbano, a hora noturna é

contada de forma fictícia, ou seja, 52 minutos e 30 segundos cada hora noturna, por

determinação legal (art. 73 da CLT), ao passo que isto não ocorre com o trabalhador

rural, cuja hora noturna é de 60 minutos.

No caso do trabalhador portuário, como visto, a jornada noturna será

das 19hs às 7hs e a hora será de 60 minutos (art. 4º da Lei 4.860/65). Neste sentido

ainda a OJ 60 da SDI-I do TST:

PORTUÁRIOS. HORA NOTURNA. HORAS EXTRAS. (LEI 4.860/65, ARTS. 4º E 7 º, § 5º)

I - A hora noturna no regime de trabalho no porto, compreendida entre dezenove horas e sete horas do dia seguinte, é de sessenta minutos.

Quando o trabalhador encontra-se em situação de exposição a

periculosidade durante o período noturno, o adicional noturno deve considerar o

adicional de periculosidade na base de cálculo. Veja a OJ 259 da SDI-I do TST:

ADICIONAL NOTURNO. BASE DE CÁLCULO. ADICIONAL DE PERICULOSIDADE. INTEGRAÇÃO

O adicional de periculosidade deve compor a base de cálculo do adicional noturno, já que também neste horário o trabalhador permanece sob as condições de risco.

45

SÚMULA 265 TST - ADICIONAL NOTURNO. ALTERAÇÃO DE TURNO DE TRABA-LHO.

POSSIBILIDADE DE SUPRESSÃO. A transferência para o período diurno de trabalho implica a perda do direito ao adicional noturno.

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9. INTERVALOS

9.1. INTERJORNADAS

Trata-se de uma pausa concedida entre o final de uma jornada de

trabalho e o início da seguinte, que tem a natureza, como já recordamos, de

suspensão do contrato de trabalho (não há pagamento de salário).

O período mínimo, como você deve se lembrar, certamente, é de 11

horas, segundo a lei trabalhista (CLT, 66). Todavia, a lei prevê outros intervalos

diferentes, como, por exemplo:

Se esse limite for desrespeitado, o empregador, além de sofrer sanção

administrativa (CLT, 75), deverá pagar as horas descumpridas como horas extras (OJ

355 SbDI-1 TST46)

As 11 horas do intervalo interjornadas somam-se às 24 horas do

repouso semanal remunerado (Súmula 110 TST1). Assim, entre o final da jornada de

46

OJ 355 SDI1 TST - INTERVALO INTERJORNADAS. INOBSERVÂNCIA. HO-RAS EXTRAS.

PERÍODO PAGO COMO SOBREJORNADA. ART. 66 DA CLT. APLICAÇÃO ANALÓGICA

DO § 4º DO ART. 71 DA CLT. O desrespeito ao intervalo mínimo interjornadas previsto no art. 66 da CLT acarreta, por analogia, os

mesmos efeitos previstos no § 4º do art. 71 da CLT e na Súmula nº 110 do TST, devendo-se pagar a

integralidade das horas que foram subtraídas do intervalo, acrescidas do respectivo adicional.

Jornalistas

• 10 horas (art. 308 da CLT)

Ferroviários

• 14 horas (art. 245 da CLT);

Operadores cinematográficos

• 12 horas (art. 235, § 2º da CLT).

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sábado e o início da jornada de segunda, deverá haver uma pausa de 35 horas, pelo

menos.

9.2. INTRAJORNADA

É uma pausa concedida dentro de uma jornada de trabalho destinada ao repouso e

alimentação, que, conforme visto, tem a natureza, como regra, de suspensão do

contrato de trabalho (não é computado na jornada de trabalho – CLT, 71, § 2º)

Vejamos os intervalos mínimos para repouso e alimentação:

JORNADA DIÁRIA INTERVALO MÍNIMO INTERVALO MÁXIMO

Até 4 horas ------- -------

Mais de 4 horas

Até 6 horas

15 minutos -------

Mais de 6 horas 1 hora 2 horas

Vale notar que a jornada que define o intervalo mínimo é a

efetivamente desenvolvida e não a contratada ou legal. Assim, as horas extras

habituais devem ser consideradas para esse fim (Súmula 437 TST47).

47

SÚMULA 437 TST - INTERVALO INTRAJORNADA PARA REPOUSO E ALIMENTAÇÃO.

APLICAÇÃO DO ART. 71 DA CLT.

I - Após a edição da Lei nº 8.923/94, a não-concessão ou a concessão parcial do intervalo intrajornada

mínimo, para repouso e alimentação, a empregados urbanos e rurais, implica o pagamento total do

período correspondente, e não apenas daquele suprimido, com acréscimo de, no mínimo, 50% sobre o

valor da remuneração da hora normal de trabalho (art. 71 da CLT), sem prejuízo do cômputo da efetiva

jornada de labor para efeito de remuneração.

II - É inválida cláusula de acordo ou convenção coletiva de trabalho contemplando a supressão ou

redução do intervalo intrajornada porque este constitui medida de higiene, saúde e segurança do trabalho,

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Lembremos que o intervalo intrajornada mínimo não pode ser

reduzido, em princípio (CLT, 71). Há uma exceção, entretanto:

Hipóteses Requisitos

Autorização do MTE (CLT,

71, § 3º)

Atendimento exigências quanto à organização de

refeitórios

Inexistência de elastecimento da jornada (horas

extras)

Assim, apenas na hipótese de autorização administrativa é que se pode

cogitar de redução do intervalo. Esta redução não pode, por outro lado, ser realizada

por negociação coletiva. Neste sentido a Súmula 437, II do TST.

Vale lembrar que, no caso dos motoristas, cobradores, fiscalização de

campo e afins nos serviços de operação de veículos rodoviários, empregados no setor

de transporte coletivo de passageiros, a CLT autoriza, em seu art. 71, § 5º, o

fracionamento do intervalo intrajornada, nos seguintes termos:

Os intervalos expressos no caput e no § 1o poderão ser fracionados quando compreendidos entre o término da primeira hora trabalhada e o início da última hora trabalhada, desde que previsto em convenção ou acordo coletivo de trabalho, ante a natureza do serviço e em virtude das condições especiais do trabalho a que são submetidos estritamente os motoristas, cobradores, fiscalização de campo e afins nos serviços de operação de veículos rodoviários, empregados no setor de transporte

garantido por norma de ordem pública (art. 71 da CLT e art. 7º, XXII, da CF/1988), infenso à negociação

coletiva.

III - Possui natureza salarial a parcela prevista no art. 71, § 4º, da CLT, com redação introduzida pela Lei

nº 8.923, de 27 de julho de 1994, quando não concedido ou reduzido pelo empregador o intervalo mínimo

intrajornada para repouso e alimentação, repercutindo, assim, no cálculo de outras parcelas salariais.

IV - Ultrapassada habitualmente a jornada de seis horas de trabalho, é devido o gozo do intervalo

intrajornada mínimo de uma hora, obrigando o empregador a remunerar o período para descanso e

alimentação não usufruído como extra, acrescido do respectivo adicional, na forma prevista no art. 71,

caput e § 4º da CLT.

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coletivo de passageiros, mantida a mesma remuneração e concedidos intervalos para descanso menores e fracionados ao final de cada viagem, não descontados da jornada.

A esse propósito, segue julgado a respeito do tema:

INTERVALO INTRAJORNADA. REDUÇÃO. NEGOCIAÇÃO COLETIVA. MOTORISTA DE EMPRESA DE TRANSPORTE COLETIVO. A Orientação Jurisprudencial 342 da SBDI-1 do TST foi cancelada em 14/9/2012, ante a superveniência da Lei nº 12.619/2012, e o seu item I foi convertido no item II da Súmula 437. Muito embora o referido enunciado tenha sido cancelado, para o período anterior à edição dessa lei, o TST tem se posicionado pela manutenção do entendimento então consagrado pelo seu item II, quanto à validade das normas coletivas que dispunham sobre o intervalo intrajornada dos condutores empregados de empresas de transporte público coletivo urbano, desde que garantidas a remuneração, a redução da jornada para, no mínimo, 7 horas diárias e 42 semanais, não prorrogada, e a concessão de intervalos para descanso menores e fracionados ao fim de cada viagem. Ocorre que, no caso em análise, era habitual a prestação de horas extraordinárias. Em razão disso não é possível conferir validade ao acordo coletivo que previu a redução do intervalo intrajornada. Recurso de Revista não conhecido. (TST-RR-1580-67.2010.5.01.0000, Rel. Min. Márcio Eurico Vitral Amaro, 8ª Turma, DEJT 12/09/2014)

Releva pontuar que, no caso do maquinista ferroviário, há previsão na

CLT, em seu art. 238, § 5º, que autorizaria uma possível flexibilização do referido

intervalo:

CLT, art. 238 - Será computado como de trabalho efetivo todo o tempo, em que o empregado estiver à disposição da estrada.

[...]

§ 5º O tempo concedido para refeição não se computa como de trabalho efetivo, então para o pessoal da categoria c, quando as refeições forem tomadas em viagem ou nas estações durante as paradas. Esse tempo não será inferior a uma hora, exceto para o pessoal da referida categoria em serviço de trens.

Contudo, o TST não tem admitido tal interpretação, consoante se extrai

dos seguintes precedentes:

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HORAS EXTRAS. INTERVALOS INTRAJORNADA. MAQUINISTA. Segundo entendimento consolidado na Súmula nº 446 desta corte, -a garantia ao intervalo intrajornada, prevista no art. 71 da CLT, por constituir-se em medida de higiene, saúde e segurança do empregado, é aplicável também ao ferroviário maquinista integrante da categoria 'c' (equipagem de trem em geral), não havendo incompatibilidade entre as regras inscritas nos arts. 71, § 4º, e 238, § 5º, da CLT.- Estando o acórdão regional moldado a tais parâmetros, o conhecimento do recurso de revista encontra óbice no art. 896, § 4º, da CLT. Recurso de revista não conhecido. (TST-RR-2224-76.2011.5.02.0087, Rel. Min. Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, 3ª Turma, DEJT 12/09/2014)

INTERVALO INTRAJORNADA. MAQUINISTA. Esta Corte tem entendido que a garantia ao intervalo intrajornada é aplicável também aos ferroviários maquinistas, porquanto o artigo 71 da CLT não excepciona nenhuma categoria de trabalhadores, não se verificando incompatibilidade entre as regras inscritas nos artigos 71, § 4º, e 238, § 5º, da CLT. Nesse mesmo sentido, a SDI-1, em sua composição plenária, decidiu recentemente na sessão do dia 18/4/2013, no julgamento do E-ED-RR- 65200-84.2007.5.03.0038. Agravo de instrumento conhecido e não provido. (TST-AIRR-1138-13.2011.5.24.0005, Rel. Min. Dora Maria da Costa, 8ª Turma, DeJT de 04/10/2013)

HORAS EXTRAS - INTERVALO INTRAJORNADA - FERROVIÁRIO MAQUINISTA. A SBDI, em sua composição completa, na sessão do dia 18/4/2013, nos termos da decisão proferida no processo nº TST-E-ED-RR-65200-84.2007.5.03.0038 , da relatoria do Exmo. Sr. Ministro Aloysio Corrêa da Veiga, decidiu, por maioria de votos, pela aplicação do artigo 71 da Consolidação das Leis do Trabalho aos ferroviários maquinistas, consignando que o intervalo assegurado na referida norma, de natureza tutelar, constitui-se em medida de higiene, saúde e segurança do trabalhador, não havendo, por esse motivo, que se falar em incompatibilidade entre as regras nele inscritas e as disposições constantes no artigo 238 e seguintes do mesmo diploma legal (com ressalva de posicionamento pessoal). Recurso de embargos conhecido e provido. (TST-E-ED-RR-13700-32.2004.5.15.0108, Rel. Min. Renato de Lacerda Paiva, SbDI-1, DeJT de 13/09/2013)

Já no que diz respeito ao intervalo intrajornada máximo, este pode ser

prorrogado por (CLT, 71 - Em qualquer trabalho contínuo, cuja duração exceda de 6

(seis) horas, é obrigatória a concessão de um intervalo para repouso ou alimentação, o

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qual será, no mínimo, de 1 (uma) hora e, salvo acordo escrito ou contrato coletivo em

contrário, não poderá exceder de 2 (duas) horas):

Importante registrar que a mulher não pode ter este intervalo

intrajornada elastecido para mais de duas horas, como se percebe no art. 383 da CLT

(Durante a jornada de trabalho, será concedido à empregada um período para refeição

e repouso não inferior a 1 (uma) hora nem superior a 2 (duas) horas salvo a hipótese

prevista no art. 71, § 3º). O TST entende que a norma é de efetiva proteção e

constitucional, visto que protege a mulher que não precisa esperar horas para iniciar a

segunda etapa da jornada diária (após o intervalo).

No caso dos rurícolas, o limite máximo (apenas este segundo a

jurisprudência do TST e não o mínimo) pode observar os usos e costumes da região

(Lei 5.889/73, 5º). É que o decreto 73.626/74 que regulamenta a Lei do rurícola prevê

expressamente intervalo mínimo de 1h:

Art. 5º Os contratos de trabalho, individuais ou coletivos, estipularão, conforme os usos, praxes e costumes, de cada região, o início e o término normal da jornada de trabalho, que não poderá exceder de 8 (oito) horas por dia.

§ 1º Será obrigatória, em qualquer trabalho contínuo de duração superior a 6 (seis) horas, a concessão de um intervalo mínimo de 1 (uma) hora para repouso ou alimentação, observados os usos e costumes da região.

Se desrespeitado o intervalo mínimo, há o direito ao pagamento de

horas extras (com adicional de 50%). O pagamento deve feito integralmente, mesmo

Acordo individual

escrito

Acordo coletivo

Convenção coletiva de

trabalho

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que desrespeito tenha sido parcial (Súmula 437, I do TST). Assim, se empregado

deveria ter intervalo de 1 hora e teve apenas 30 minutos, deve receber uma hora

extra. Importante lembrar que a verba paga tem natureza salarial, projetando reflexos

se era devida com habitualidade (ou seja, se o descumprimento era corriqueiro). Nesta

direção a Súmula 437, IV do TST.

Existem outros intervalos intrajornada previstos em lei, os quais podem

ser incluídos ou não na jornada, dependendo de cada norma.

Normalmente, tratam-se de atividades laborais que, em razão do

especial desgaste físico que geram, exigem a concessão de intervalos a cada período

de tempo, sem que sejam deduzidos da jornada de trabalho. Eis os principais

exemplos:

ATIVIDADE TRABALHO INTERVALO

Mecanografia - digitação,

datilografia, escrituração e

cálculo (CLT 72 e Súmula

346 TST48)

90 minutos 10 minutos

Câmaras frias (CLT, 253 –

Súmula 438 TST49)

100 minutos 20 minutos

Minas em subsolo (CLT,

298)

3 horas 15 minutos

48

SÚMULA 346 TST - DIGITADOR. INTERVALOS INTRAJORNADA. APLICAÇÃO

ANALÓGICA DO ART. 72 DA CLT. Os digitadores, por aplicação analógica do art. 72 da CLT, equiparam-se aos trabalhadores nos serviços

de mecanografia (datilografia, escrituração ou cálculo), razão pela qual têm direito a intervalos de

descanso de 10 (dez) minutos a cada 90 (noventa) de trabalho consecutivo. 49

SÚMULA 438 TST - INTERVALO PARA RECUPERAÇÃO TÉRMICA DO EMPREGADO.

AMBIENTE ARTIFICIALMENTE FRIO. HORAS EXTRAS. ART. 253 DA CLT. APLICAÇÃO

ANALÓGICA. O empregado submetido a trabalho contínuo em ambiente artificialmente frio, nos

termos do parágrafo único do art. 253 da CLT, ainda que não labore em câmara frigorífica, tem direito ao

intervalo intrajornada previsto no caput do art. 253 da CLT.

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Ressalte-se que, quando os intervalos são incluídos na jornada (como

todos os acima mencionados no quadro), dizemos que são intervalos remunerados (o

salário já paga a jornada, a qual inclui os intervalos). Todavia, quando os intervalos não

são incluídos a jornada, dizemos que são intervalos não-remunerados.

Quando os intervalos são remunerados, estamos diante de uma

interrupção contratual e não de suspensão.

Exemplo de intervalo não-remunerado previsto em lei: os 15 minutos

para descanso da mulher e do menor antes da realização das horas extras (art. 384 da

CLT - Em caso de prorrogação do horário normal, será obrigatório um descanso de 15

(quinze) minutos no mínimo, antes do início do período extraordinário do trabalho;

art. 413, parágrafo único da CLT - Aplica-se à prorrogação do trabalho do menor o

disposto no art. 375, no parágrafo único do art. 376, no art. 378 e no art. 384 desta

Consolidação).

9.2.1. INTERVALOS INTRAJORNADA NÃO PREVISTOS EM LEI

Há, ainda, os intervalos não previstos em lei.

Estes intervalos podem ser previstos em norma coletiva, contrato de

trabalho ou mesmo não serem previstos em qualquer norma, mas concedidos por

mera liberalidade pelo empregador.

Quando previstos em norma coletiva, estes intervalos podem ou não

ser contados na jornada, dependendo da previsão em norma coletiva, mas esta deve

atender a parâmetros de razoabilidade sob pena de ser inválida.

Se o empregador concede intervalo por mera liberalidade

(espontaneamente) ou por previsão contratual, sem que a lei o obrigue a isso, tal

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intervalo é considerado integrante da jornada de trabalho e deve ser pago (Súmula

118 TST50). São exemplos: a pausa para cafezinho, a ginástica laboral, as dinâmicas de

grupo oferecidas aos empregados pelo empregador.

10. REPOUSO SEMANAL REMUNERADO

Os principais marcos normativos acerca do repouso semanal

remunerado são:

Deve-se ter presente que alguns dos dispositivos da CLT são

incompatíveis com a Lei 605/49, prevalecendo esta última, pelos princípios da

especialidade, posterioridade e mesmo da norma mais favorável. Quanto a esse ultimo

principio, note-se que a CLT não previa a necessidade de remuneração do repouso,

que passou a ser obrigatória apenas com o advento do aludido diploma legal51.

50

SÚMULA 118 TST - Meca 51

Há, entretanto, autores que defendem a total compatibilidade entre os arts. 67 a 70 da CLT e a Lei

605/49, como é o caso de SUSSEKIND (Instituições de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr) e de

RUSSOMANO (Curso de Direito do Trabalho. Curitiba: Juruá).

CF

•Art. 7º, XV

CLT,

•Arts. 67-70

Lei 605/49

•Regulamentada pelo Decreto 27.048/49

Convenções OIT

•14, 31 e 106

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10.1. CONCEITO, NATUREZA E ALCANCE

Cuida-se de uma pausa semanal com duração de 24 horas, que deve

coincidir, preferencialmente, com os domingos (CF, 7º, XV, Lei 605/49, 1º), cuja

natureza é a de uma interrupção condicional do contrato de trabalho.

Quem tem direito ao DSR (alcance subjetivo) e a que tem direito

(alcance objetivo)? É o que pretendemos relembrar com o seguinte quadro:

ALCANCE SUBJETIVO ALCANCE OBJETIVO

Empregados convencionais (Lei 605/49,

1º)

Descanso semanal de 24 horas

consecutivas (CF, 7º, XV, Lei 605/49, 1º)

- soma-se ao período do intervalo

interjornadas (11 + 24 – Súmula 110 TST52)

- c/ direito à respectiva remuneração

Domésticos (CF, 7º, § único e Lei 11.324,

9º)

Rurícolas (Lei 605/49, 2º) - salvo

parceria / meação

Domingos

Avulsos (CF, 7º, XXXIV) Feriados

10.2. CONDIÇÕES

O repouso semanal remunerado (RSR ou DSR) é um período de

interrupção condicional do contrato de trabalho, como já salientamos algumas vezes.

52 SÚMULA 110 TST - JORNADA DE TRABALHO. INTERVALO.

No regime de revezamento, as horas trabalhadas em seguida ao repouso semanal de 24 horas, com prejuízo do intervalo mínimo de

11 horas consecutivas para descanso entre jornadas, devem ser remuneradas como extraordinárias, inclusive com o respectivo

adicional.

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Assim, para ter direito à remuneração do repouso semanal, o empregado tem que

atender a duas condições (Lei 605/49, 6º):

Se esses requisitos não forem observados, o empregado não perde o

direito ao repouso, mas apenas à remuneração respectiva. Assim, o empregado terá

eventual falta ao serviço descontado do salário e ficará, ainda sem remuneração

referente ao dia de repouso daquela semana (mas gozará o repouso).

10.3. REGRAS

O repouso semanal remunerado deve ser concedido em cada período

de 7 dias consecutivos de trabalho (OJ 410 da SbDI-153).

Não precisa haver inclusão em rubrica especifica do valor do RSR no

contracheque para os trabalhadores mensalistas ou quinzenalistas (segundo alguns,

isso seria uma exceção à proibição do chamado salário complessivo – Súmula 91 do

TST54). Tal diretriz tem apoio no art. 7º, § 2º, da Lei 605/49:

53

OJ 410 DA SDI1 DO TST - REPOUSO SEMANAL REMUNERADO. CONCESSÃO APÓS O

SÉTIMO DIA CONSECUTIVO DE TRABALHO. ART. 7º, XV, DA CF. VIOLAÇÃO. Viola o art.

7º, XV, da CF a concessão de repouso semanal remunerado após o sétimo dia consecutivo de trabalho,

importando no seu pagamento em dobro. 54

SÚMULA 91 TST - SALÁRIO COMPLESSIVO.

Assiduidade

•Não pode haver faltas (injustificadas)

Pontualidade

•Não pode haver atraso (acima dos limites de tolerância – 5 minutos por marcação e 10 por dia – CLT, 58, § 1º)

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§ 2º Consideram-se já remunerados os dias de repouso semanal do empregado mensalista ou quinzenalista cujo cálculo de salário mensal ou quinzenal, ou cujos descontos por falta sejam efetuados na base do número de dias do mês ou de 30 (trinta) e 15 (quinze) diárias, respectivamente.

Os critérios que definem o valor a ser pago encontram-se delineados no

art. 7º da Lei 605/49 e podem ser assim resumidos:

Quanto ao pagamento da remuneração relativa ao repouso semanal, o

TST editou os seguintes verbetes:

Súmula 172 do TST - REPOUSO REMUNERADO. HORAS EXTRAS. CÁLCULO. Computam-se no cálculo do repouso remunerado as horas extras habitualmente prestadas.

Nula é a cláusula contratual que fixa determinada importância ou percentagem para atender

englobadamente vários direitos legais ou contratuais do trabalhador.

• O valor do RSR corresponde a um dia de serviço, computadas as horas extraordinárias habitualmente prestadas

Salário fixado por dia, semana, quinzena ou mês

• O valor do RSR corresponde à sua jornada normal de trabalho, computadas as horas extraordinárias habitualmente prestadas

Salário fixado por hora

• O valor do RSR corresponde ao salário relativo às tarefas ou peças feitas durante a semana, no horário normal de trabalho, dividido pelos dias de serviço efetivamente prestados ao empregador

Salário fixado por tarefa ou peça

• O valor do RSR corresponde ao quociente da divisão por 6 (seis) da importância total da sua produção na semana

Empregado em domicílio

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Súmula 225 do TST - REPOUSO SEMANAL. CÁLCULO. GRATIFICAÇÕES POR TEMPO DE SERVIÇO E PRODUTIVIDADE. As gratificações por tempo de serviço e produtividade, pagas mensalmente, não repercutem no cálculo do repouso semanal remunerado.

Súmula 351 do TST - PROFESSOR. REPOUSO SEMANAL REMUNERADO. ART. 7º, § 2º, DA LEI Nº 605, DE 05.01.1949 E ART. 320 DA CLT. O professor que recebe salário mensal à base de hora-aula tem direito ao acréscimo de 1/6 a título de repouso semanal remunerado, considerando-se para esse fim o mês de quatro semanas e meia.

OJ 103 da SbDI-1 - ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. REPOUSO SEMANAL E FERIADOS. O adicional de insalubridade já remunera os dias de repouso semanal e feriados.

OJ 394 da SbDI-1 - REPOUSO SEMANAL REMUNERADO - RSR. INTEGRAÇÃO DAS HORAS EXTRAS. NÃO REPERCUSSÃO NO CÁLCULO DAS FÉRIAS, DO DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO, DO AVISO PRÉVIO E DOS DEPÓSITOS DO FGTS. A majoração do valor do repouso semanal remunerado, em razão da integração das horas extras habitualmente prestadas, não repercute no cálculo das férias, da gratificação natalina, do aviso prévio e do FGTS, sob pena de caracterização de “bis in idem”.

No caso do comissionista misto, cumpre registrar que a jurisprudência

do TST reconhece a necessidade de aplicar os parâmetros da Súmula 340 do TST55

também quanto ao cálculo do valor do repouso semanal, com base na aplicação

analógica da OJ 397 da SbDI-156:

HORAS EXTRAS. FORMA DE CÁLCULO. EMPREGADO COMISSIONISTA MISTO. SÚMULA Nº 340 DESTA CORTE. Nos termos da Orientação Jurisprudencial nº 397 da SBDI-1 desta Corte, a remuneração do trabalho extraordinário prestado

55

Súmula nº 340 do TST -COMISSIONISTA. HORAS EXTRAS. O empregado, sujeito a controle de

horário, remunerado à base de comissões, tem direito ao adicional de, no mínimo, 50% (cinqüenta por

cento) pelo trabalho em horas extras, calculado sobre o valor-hora das comissões recebidas no mês,

considerando-se como divisor o número de horas efetivamente trabalhadas. 56

OJ 397 da SbDI-1. COMISSIONISTA MISTO. HORAS EXTRAS. BASE DE CÁLCULO.

APLICAÇÃO DA SÚMULA N.º 340 DO TST. O empregado que recebe remuneração mista, ou seja,

uma parte fixa e outra variável, tem direito a horas extras pelo trabalho em sobrejornada. Em relação à

parte fixa, são devidas as horas simples acrescidas do adicional de horas extras. Em relação à parte

variável, é devido somente o adicional de horas extras, aplicando-se à hipótese o disposto na Súmula n.º

340 do TST.

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pelo empregado comissionista misto deve observar o entendimento da Súmula nº 340 desta Corte quanto à parcela variável do salário, decorrente do recebimento de comissões ou prêmios. Assim, com relação à parte fixa, é devido o valor da hora normal de trabalho acrescido do adicional convencional de horas extras e, em relação à parte variável, o empregado faz jus somente ao adicional convencional. Recurso de revista de que se conhece e a que se dá provimento. (TST-RR-73300-48.2008.5.04.0011, Rel. Min. Fernando Eizo Ono, 4ª Turma, Data de Publicação: 06/09/2013)

Na hipótese de descumprimento na concessão do repouso, há

pagamento de indenização (dobro do valor do RSR), sem prejuízo da remuneração

relativa ao repouso semanal, caso não compensado com descanso em outro dia da

semana - Dec. 27.048/49, 6º, § 3º, e Súmula 146 TST:

TRABALHO EM DOMINGOS E FERIADOS, NÃO COMPENSADO. O trabalho prestado em domingos e feriados, não compensado, deve ser pago em dobro, sem prejuízo da remuneração relativa ao repouso semanal.

Esclareça-se que não se trata de pagamento em triplo. O empregado

manterá o direito à remuneração do repouso semanal (como regra, já embutida no

salário mensal), além de indenização (dobra) relativa ao labor não compensado nos

domingos. É o que recorda a Súmula 461 do STF:

Súmula 461 do TSTF - É DUPLO, E NÃO TRIPLO, O PAGAMENTO DO SALÁRIO NOS DIAS DESTINADOS A DESCANSO.

Cumpre acrescentar que o labor no dia destinado ao repouso semanal

também acarreta o pagamento de horas extras (pagas com adicional de 100%), se for

ultrapassada a jornada semanal, não havendo qualquer incompatibilidade entre a

indenização aludida e o adicional de 100% relativo à sobrejornada conforme

preleciona o TST:

REPERCUSSÃO DAS HORAS EXTRAS NOS SÁBADOS E FERIADOS. APLICAÇÃO DO ADICIONAL DE 100%. O Tribunal Regional registrou que, -uma vez mantida a decisão quanto à tese de que a empresa atua no ramo financeiro, são aplicáveis a Súmula 55 do TST, o artigo 224 da CLT e os Instrumentos

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Normativos atinentes aos bancários-. Concluiu que -todavia, ao reconhecer a recorrida como bancária, são devidas as horas a partir da 6.ª, diária, e da 30.ª, semanal, com adicional de 50% para os dias normais e 100% quando prestadas nos dias destinados ao repouso hebdomadário (sábados, domingos e feriados). Logo, não há que se falar em contrariedade à Súmula nº 113 desta Corte. Recurso de revista não conhecido. (TST-RR-83200-71.2008.5.06.0020, Rel. Min. José Roberto Freire Pimenta, 2ª Turma, DEJT 22/08/2014)

HORAS EXTRAS. DOMINGOS E FERIADOS TRABALHADOS. Do labor prestado em domingos e feriados podem surgir duas consequências jurídicas distintas, quais sejam: a ocorrência de labor extraordinário, além do limite legal (diário e semanal) e a não fruição do repouso semanal remunerado previsto na lei. Desse modo, se a jornada semanal for extrapolada em razão do trabalho prestado em um domingo, por exemplo, o tempo excedente é considerado extraordinário e deve ser pago com o acréscimo de 100%. A par disso, a não concessão do repouso semanal garantido por lei gera para o trabalhador direito à dobra do dia que estava destinado ao repouso remunerado, conforme expressamente previsto na Lei nº 605/49. Como visto, as parcelas em questão têm natureza jurídica e fatos geradores absolutamente distintos, razão pela qual podem ser concedidas cumulativamente, não havendo, pois, a duplicidade de condenação alegada pela recorrente. (TST-RR-405800-74.2004.5.09.0018, Rel. Min. Kátia Magalhães Arruda, 5ª Turma, DeJT de 27/08/2010)

10.4. DERROGAÇÃO DA COINCIDÊNCIA COM OS DOMINGOS

O trabalho aos domingos pode ser admitido em algumas situações, em

que se derroga (afasta) a exigência de coincidência do RSR com o domingo, mas não

retira do empregado ao descanso semanal (que será usufruído em outro dia da

semana). Lembre-se de que o repouso é preferencialmente aos domingos, o que não

obriga que haja a coincidência, razão pela qual veremos as hipóteses em que o labor

aos domingos é autorizado.

Há três situações, essencialmente, que podem ser assim resumidas:

DERROGAÇÃO DERROGAÇÃO COMÉRCIO EM GERAL (LEI

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PERMANENTE TEMPORÁRIA 10.101/00)

Conveniência pública ou

por sua própria natureza

(necessidade imperiosa do

serviço) (CLT, 67 e 68,

parágrafo único)

Força maior

Comunicação à SRTE - em

10 dias – (art. 8º, a do

Regulamento a que se

refere o Decreto

27.048/49)

Autorização em norma

coletiva

Exigência técnicas da

empresa (Lei 605/49, 8º)

Serviços inadiáveis (CLT,

68)

Autorização prévia SRTE -

validade de 60 dias

Observância legislação

municipal quanto ao

horário de funcionamento

(CF, 30, I)

Autorização do MTE -

critérios de ordem

econômica e

peculiaridades locais

O repouso semanal

remunerado deverá

coincidir, pelo menos uma

vez no período máximo de

3 semanas, com o domingo

Elencos teatrais (CLT, 67,

parágrafo único) - será

estabelecida escala de

revezamento,

mensalmente organizada e

constando de quadro

sujeito à fiscalização.

Note-se que, mesmo quando se autoriza a derrogação (permanente ou

temporária) da coincidência do RSR com o domingo, há diretriz do Ministério do

Trabalho no sentido de que as empresas autorizadas a desenvolver suas atividades nos

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domingos devem conceder aos seus empregados a folga aos domingos, ao menos,

uma vez a cada sete semanas. É o que prevê a Portaria 417/66 do MTE, de seguinte

teor:

Art. 1º Obedecido o limite mínimo estabelecido por lei e respeitados os direitos individuais dos empregados, a empresa, de acordo com os interesses do serviço, poderá por acordo individual ou convênio coletivo, estipular em mais de 24 horas o período semanal de repouso.

Art. 2° Os agentes da Fiscalização do Trabalho, no tocante ao repouso semanal, limitar-seão a exigir:

a) das empresas não autorizadas a funcionar ao domingos e feriados, o estrito cumprimento do art. 67 caput da Consolidação das Leis do Trabalho;

b) das empresas legalmente autorizadas a funcionar nesses dias, a organização de escala de revezamento ou folga, como estatuído no parágrafo único do mesmo artigo, a fim de que, em um período máximo de sete semanas de trabalho, cada empregado usufrua pelo menos um domingo de folga.

Art. 3º A escala de revezamento será efetuada através de livre escolha da empresa.

A jurisprudência vem chancelando tal diretriz, como se vê do seguinte

julgado, no qual se registra a possibilidade de condenação ao pagamento em dobro do

domingo laborado, em desrespeito à aludida escala:

REPOUSO SEMANAL REMUNERADO. PORTARIA Nº 417/66 DO MINISTÉRIO DO TRABALHO. TRABALHO AOS DOMINGOS. Muito embora os artigos 1º da Lei nº 605/49 e 7º, XV, da Constituição Federal estipulem que o repouso semanal remunerado deva ser concedido preferencialmente aos domingos, o Ministério do Trabalho, visando regulamentar a matéria, fixou por intermédio da Portaria nº 417/66 a diretriz de que as empresas autorizadas a funcionar aos domingos, no máximo a cada sete semanas de trabalho, devem conceder ao empregado o descanso semanal remunerado no domingo. Não cumprindo o empregador com tal determinação, devido é o pagamento em dobro de um domingo a cada sete trabalhados. Incólumes os artigos 1º da Lei nº 605/49 e 7º, XV, da Constituição Federal. Recurso de revista não

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conhecido. (TST-RR-162700-57.2009.5.04.0781, Rel. Min. Dora Maria da Costa, 8ª Turma, DeJT de 01/03/2013)

Nesse contexto, registre-se a existência de debate, ainda não pacificado,

em torno da validade do regime de trabalho conhecido como “5x1”, no qual o

repouso semanal remunerado coincide com o domingo apenas uma vez a cada sete

semanas. Eis precedentes em sentido antagônico:

DOMINGOS TRABALHADOS. REGIME 5X1. In casu, estando incontroverso nos autos que o reclamante laborava em um sistema de trabalho de 5X1, conclui-se que ao menos em um domingo a cada sete semanas usufruía o repouso remunerado, e não cabe o pagamento em dobro dos domingos, porquanto o reclamante usufruía folga compensatória, embora, em outro dia da semana. Assim, a decisão está em desarmonia com o que dispõe o art. 7º, XV, da Constituição Federal, que garante o repouso semanal remunerado preferencialmente aos domingos, mas não impõe a obrigação de que seja concedido nesse dia da semana. Recurso de revista a que dá provimento. (TST-RR-91600-65.2008.5.09.0093, Rel. Min. Kátia Magalhães Arruda, 6ª Turma, DeJT de 30/08/2013)

JORNADA 5x1. COMPENSAÇÃO DO LABOR PRESTADO NOS FERIADOS. NORMA COLETIVA. 1. Conquanto esta Corte superior venha se pronunciando reiteradamente no sentido de prestigiar a autonomia de vontade das partes, homenageando o princípio insculpido no artigo 7º, XXVI, da Constituição da República, a jornada 5x1, apesar de estabelecida mediante norma coletiva, não observa a previsão contida no artigo 7º, XV, da Constituição da República, na medida em que o regime em questão importa no gozo do dia de descanso em dias da semana, de forma a coincidir com o domingo somente a cada sete semanas. Ademais, referido regime laboral afronta o preceito consagrado no inciso XIII do artigo 7º da Lei Magna, relativamente à duração normal do trabalho de oito horas diárias e quarenta e quatro semanais. Ora, o regime 5 X 1 importa que, em cada seis semanas de sete trabalhadas, o empregado extrapole o limite semanal de quarenta e quatro horas. Resulta claro, daí, que o sistema consagrado na norma coletiva, ademais de atentar contra a letra expressa do texto constitucional, não compensa os feriados trabalhados. 2. Nesse sentido, resulta inválido o acordo de compensação ajustado mediante norma coletiva. 3. Recurso de revista conhecido e não provido. (TST-RR-1104-19.2011.5.09.0017, Rel. Min. Lelio Bentes Corrêa, 1ª Turma, DeJT de 23/08/2013)

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No caso do comércio em geral, a Lei 10.101/00, após sucessivas

alterações, passou a estabelecer, em seus arts. 6º, 6º-A e 6º-B:

Art. 6o Fica autorizado o trabalho aos domingos nas atividades do comércio em geral, observada a legislação municipal, nos termos do art. 30, inciso I, da Constituição.

Parágrafo único. O repouso semanal remunerado deverá coincidir, pelo menos uma vez no período máximo de três semanas, com o domingo, respeitadas as demais normas de proteção ao trabalho e outras a serem estipuladas em negociação coletiva.

Art. 6o-A. É permitido o trabalho em feriados nas atividades do comércio em geral, desde que autorizado em convenção coletiva de trabalho e observada a legislação municipal, nos termos do art. 30, inciso I, da Constituição.

Art. 6o-B. As infrações ao disposto nos arts. 6o e 6o-A desta Lei serão punidas com a multa prevista no art. 75 da Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943.

Parágrafo único. O processo de fiscalização, de autuação e de imposição de multas reger-se-á pelo disposto no Título VII da Consolidação das Leis do Trabalho.

O TST vem restringindo a possibilidade de flexibilização da coincidência

do repouso semanal remunerado com o domingo às atividades de comércio:

DOMINGOS E FERIADOS. SUPRESSÃO POR ACORDO COLETIVO. REDUÇÃO DA JORNADA SEMANAL. O art. 7°, XIII, da CF prevê a possibilidade de redução da jornada mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho, contudo, não permite a alteração do contrato de trabalho dos empregados para que laborem nos repousos remunerados incidentes em domingos e feriados. As disposições normativas sobre o trabalho nestes dias são de caráter cogente, constituindo-se em preceitos de ordem pública que dizem respeito à segurança, medicina e saúde do trabalhador, insuscetíveis de flexibilização por meio de negociação coletiva e de renúncia ao direito. A possibilidade de trabalho em domingos e feriados cinge-se às atividades do comércio, nos

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termos do artigo 6º-A da Lei 10.101 de 19 de dezembro de 2000, não ficando demonstrado ser este o caso dos autos, uma vez que as atividades da reclamada não se enquadram entre aquelas desenvolvidas pelo comércio em geral. Portanto, excetuados os casos em que a execução dos serviços for imposta pelas exigências técnicas da empresa, é vedado o trabalho nos feriados e dias de repouso, os quais, salvo motivo de conveniência pública ou necessidade imperiosa do serviço, devem coincidir com o domingo (art. 67/CLT). Também não prevalece a tese de norma mais benéfica. Os acordos firmados aparentemente trouxeram benefícios aos trabalhadores, reduzindo a jornada diária e semanal, todavia, o mesmo não ocorreu com o descanso dominical e os feriados, que passaram a ser dia de trabalho. Violação do art. 7º, XV, da CF, demonstrada. Precedentes. Recurso de revista a que se dá provimento. (TST-RR-268-32.2010.5.11.0015, Rel. Min. Kátia Magalhães Arruda, 6ª Turma, DeJT de 21/09/2012)

COMÉRCIO VAREJISTA - PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS AOS DOMINGOS E FERIADOS - AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO EM NORMA COLETIVA (violação aos artigos 7º, XIII, XV e XXVI, da CF/88). In casu, o acórdão recorrido, ao entender que o litisconsorte se inseria na exceção prevista no Decreto 27.048/49, sendo, portanto, inexigível a negociação coletiva para autorizar a prestação de serviços em dias de domingo e feriado, apenas deu a exata subsunção dos fatos à hipótese regida pela norma, não sendo possível vislumbrar violação direta e literal aos incisos XIII, XV e XXVI, do artigo 7º, da CF/88, que reconhecem, respectivamente, o direito à duração normal do trabalho não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada mediante acordo ou convenção coletiva; o repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos- e o -reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho-. Recurso de revista não conhecido. (TST-RR-128500-55.2005.5.08.0004, Rel. Min. Renato de Lacerda Paiva, 2ª Turma, DeJT de 24/08/2012)

10.4.1. REGRAS DE REVEZAMENTO

O fato de haver possibilidade de trabalho aos domingos não dispensa,

como regra, a necessidade de revezamento, de forma que, de tempos em tempos,

existe a obrigatoriedade de coincidência da folga semanal com o domingo.

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No caso das mulheres, esta previsão está inserida no art. 386 da CLT, o

qual prevê:

Havendo trabalho aos domingos, será organizada uma escala de revezamento quinzenal, que favoreça o repouso dominical.

Na hipótese de trabalho no comércio em geral, revezamento assim

funciona no já mencionado art. 6º, parágrafo único da Lei 10.101/00, que estabelece

um revezamento com ciclos de 3 semanas.

Todavia, e se a mulher trabalhar no comércio? Deve-se atentar, nesse

caso, para a parte final do preceito legal sobre o labor no comércio quando menciona

“respeitadas as demais normas de proteção ao trabalho”, o que significa que o

revezamento mais favorável do art. 386 prevalece.

No caso do homem, o Ministério do Trabalho estipula um revezamento

que promova a coincidência da folga com o domingo pelo menos uma vez a cada sete

semanas (Portaria 417/66).

A idéia de revezamento já constava na CLT de forma genérica no art. 67,

parágrafo único:

CLT, art. 67 - Nos serviços que exijam trabalho aos domingos, com exceção quanto aos elencos teatrais, será estabelecida escala de revezamento, mensalmente organizada e constando de quadro sujeito à fiscalização.

Ressalte-se que apenas os elencos teatrais estão dispensados do

revezamento (CLT, 67).

Conforme lembar VÓLIA BOMFIM57, para sistematizar tais informações,

a escala de revezamento estaria sujeita a regras próprias em quatro situações:

57

CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho, p. 746. Rio de Janeiro: Impetus, 2011.

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10.5. FERIADOS

Apenas podem ser considerados feriados para fins trabalhistas os

reconhecidos como tais por lei.

As normas que disciplinam essa matéria, em nosso país, são as Leis

9.093/95 e 10.607/02, segundos as quais há dois tipos de feriados: os civis e

religiosos, indicados no quadro a seguir:

FERIADOS CIVIS (LEI 9.093/95, 1º) FERIADOS RELIGIOSOS

Declarados em lei

federal (Lei

10.607/02)

Data magna do

Estado fixada em

lei estadual

Dias de guarda –

católicos

Declarados em lei

municipal

• CLT, 67, § único e Decreto 27.048/49, 6º, § 2º

• Não necessitariam de escala de revezamento

• Alcançaria situações congêneres (atividades artísticas, circenses e desportivas

Elencos teatrais

• Lei 10.101/00, 6º

• Sujeito a escala de 3 semanas

Comércio

• CLT, 386

• Sujeitas a escala quinzenal

Mulheres

• Decreto 1.232/62, 13

• Sujeitos a escala mensal

Aeroviários

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1º de janeiro –Ano

Novo

Distrito Federal

(Brasília) - 21 de

abril

Santa Maria Mãe de

Deus (Janeiro, 1º)

De acordo com a

tradição local

21 de abril –

Tiradentes

Acre – 15 de

junho

Alagoas – 16 de

setembro

Amapá – 5 de

outubro

Amazonas – 5 de

setembro

Corpus Christi (1ª quinta-

feira após domingo

Santíssima Trindade)

Em número não

superior a quatro

1º de maio – Dia

do Trabalho

Imaculada Conceição

(Dezembro, 8)

Incluída a Sexta-

Feira da Paixão

7 de setembro –

Independência do

Brasil

Natal (Dezembro, 25)

12 de outubro –

Nossa Sra.

Aparecida

2 de novembro –

Finados

Bahia – 2 de

julho

15 de novembro –

Proclamação da

República

Espírito Santo –

23 de maio

25 de dezembro –

Natal

Maranhão – 28

de julho

Mato Grosso do

Sul – 11 de

outubro

Minas Gerais –

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21 de abril

Pará – 15 de

agosto

Paraíba – 5 de

agosto

Paraná – 19 de

dezembro

Pernambuco – 6

de março

Piauí – 19 de

outubro

Rio Grande do

Sul – 20 de

setembro

Rondônia – 4 de

janeiro

Roraima – 5 de

outubro

Santa Catarina –

11 de agosto

São Paulo – 9 de

julho

Sergipe – 8 de

julho

Tocantins – 5 de

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outubro

Não se pode identificar os dias feriados com os chamados “dias

festivos”, consoante esclarece VÓLIA BOMFIM:

Não se deve confundir dias festivos com dias feriados. Apenas nestes os empregado tem direito ao repouso remunerado. São dias festivos, por exemplo, dia da abolição da escravatura, da bandeira, do descobrimento do Brasil, os dias de carnaval, etc58.

Observe-se que carnaval não seria, a rigor, feriado oficial. Trata-se,

portanto de uma opção para o empregador liberar os obrigados do trabalho, a não ser

que haja previsão em lei municipal, embora haja jurisprudência no sentido de que se

trata de feriado consuetudinário, consagrado pelos usos e costumes, o que bastaria

para que se exigisse a folga.

Veja-se, a esse respeito, a jurisprudência a seguir:

FERIADO. PAGAMENTO EM DOBRO. CARNAVAL. CORPUS CHRISTI. AUSÊNCIA DE PREVISÃO EM LEI FEDERAL E EM LEI MUNICIPAL. Discute-se o pagamento em dobro dos dias em que o reclamante trabalhou no carnaval e no de corpus christi. No caso, o Tribunal Regional entendeu que, sendo o direito costumeiro fonte formal autônoma do Direito do Trabalho, deve ser reconhecida como válida a suspensão do trabalho no carnaval e no dia de corpus christi , diante da sua prática reiterada, uniforme e geral. Acresceu que a suspensão do trabalho naquelas datas é fato notório, que independe de prova. Porém, os arts. 1.º e 2.º da Lei 9.093/95 dispõem, respectivamente, que são feriados civis os declarados em lei federal e feriados religiosos os declarados em lei municipal. Nesse contexto, embora exista a tradição em vários municípios estabelecendo o não expediente nas empresas, a legislação não trata o carnaval como feriado. Quanto ao dia de corpus christi, infere-se da tese regional não haver lei municipal definindo-o como feriado. Precedente desta Turma. Recurso de revista conhecido e provido. (TST-RR-607-52.2011.5.18.0082, Rel. Min. Delaíde Miranda Arantes, 2ª Turma, DeJT 12/09/2014)

TERÇA-FEIRA DE CARNAVAL - FERIADO - PAGAMENTO EM DOBRO INDEVIDO. Não obstante o art. 1º da Lei nº 605/49 faça alusão -à tradição local-, esta disposição não pode

58

Op. Cit., p. 751.

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ser lida isoladamente, mas deve ser interpretada em conformidade com a Lei nº 9.093/95, segundo a qual todo feriado - civil ou religioso, nacional ou local - deriva de lei. Em verdade, a própria Lei nº 605/49, já dispunha - no revogado art. 11 - que os feriados, conquanto devessem observar a tradição local, deveriam necessariamente ser -declarados em lei-. Como cediço, a terça-feira de carnaval não faz parte do rol de feriados nacionais enumerados no art. 1º da Lei nº 662/49, com redação dada pela Lei nº 10.607/2002. Tampouco há, na espécie, notícia de legislação local declarando feriado nesta data. Revela-se, pois, indevido o pagamento em dobro do trabalho ocorrido nas terças-feiras de carnaval, por não se tratar de hipótese de prestação de serviços em dia de feriado. (TST-RR-272-13.2010.5.18.0003, Red. Des. Conv. João Pedro Silvestrin, Data de Julgamento: 11/02/2014, 2ª Turma, DeJT 07/03/2014)

FERIADO CONVENCIONAL DO DIA DO TRABALHADOR (2ª FEIRA DE CARNAVAL). PAGAMENTO EM DOBRO. Não merece prosperar o recurso de revista por violação do art. 7º, XXVI, da Constituição Federal, diante do registro contido no acórdão regional de que -não há que se falar em pagamento dobrado dos domingos e feriados trabalhados em jornada de 12X36, mormente em casos como o da espécie, em que existe previsão convencional no sentido de serem normais os dias de domingos e feriados laborados nessa jornada especial (...) Por essas razões, o reclamante não tem direito a qualquer contraprestação extra pelo labor em domingos e feriados, nestes se incluindo o do 'Dia do Trabalhador' (segunda feira de carnaval), feriado instituído em norma coletiva (...) e que se submete ao mesmo tratamento dado à jornada especial de 12 x 36, que não o distinguiu dos demais feriados- (fl. 440). (TST-AIRR-2209-08.2011.5.03.0014, Rel. Min. Hugo Carlos Scheuermann, 1ª Turma, DeJT de 19/04/2013)

TRABALHO NA SEGUNDA-FEIRA DE CARNAVAL. PAGAMENTO EM DOBRO. PREVISÃO EM CONVENÇÃO COLETIVA. O Tribunal Regional assentou que as convenções coletivas preveem o pagamento em dobro do trabalho prestado na segunda-feira de carnaval, destacando, ainda, que tal data não pode ser enquadrada como feriado. A questão foi decidida, portanto, à luz das normas coletivas, razão pela qual descabe cogitar de ofensa ao art. 7º, XXVI, da CF/88. Ademais, a recorrente não colacionou divergência jurisprudencial a fim de demonstrar eventual equívoco na interpretação das cláusulas convencionais, conforme preconiza o art. 896, -b-, da CLT. Recurso de revista não conhecido. (TST- RR-962-44.2010.5.03.0105, Rel. Min. Dora Maria da Costa, 8ª Turma, DeJT 17/06/2011)

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Há, entretanto, conforme já salientado decisões em sentido contrário,

como é o caso do seguinte julgado da lavra do Min. HORÁRIO DE SENNA PIRES:

CARNAVAL. TERÇA-FEIRA. FERIADO. PAGAMENTO EM DOBRO. A Lei 605/49, em seu art. 1º, diz que são feriados os dias considerados -tradição local-, o que abrange a terça-feira de carnaval, considerada feriado em todo o País e responsável pela projeção do Brasil no cenário cultural internacional. Ademais, o inc. III do art. 62 da Lei 5.010, de 30/05/66, dispõe que o feriado de carnaval abrange a segunda e a terça-feiras. Destarte, correta a decisão revisanda que reconheceu que o trabalho realizado no carnaval, e não compensado, deve ser remunerado em dobro. Recurso de revista parcialmente conhecido e não provido. (TST-RR-2064500-39.2006.5.09.0007, Rel. Min. Horácio Raymundo de Senna Pires, 3ª Turma, DeJT de 06/08/2010)

Na mesma esteira, eis aresto do TRT da 18ª Região:

FERIADO DE CARNAVAL. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. IRRELEVÂNCIA. Em que pese não haver previsão legal de feriado na Terça-feira de Carnaval, os usos e costumes são fontes de direito e, sendo habitual, há décadas, a guarda desse dia como feriado, a praxe consuetudinária determina o pagamento em dobro do labor prestado nessa data. (TRT-18-RO-01358-2008-002-18-00-0, Rel. Des. Platon Teixeira de Azevedo Filho, DJE de 04/09/2009).

11. FÉRIAS

11.1. CONCEITO

As férias consistem em um período de interrupção contratual de 30 dias

para cada 12 meses de trabalho (CF, 7º, XVVI / CLT, 129 e 130, § 2º). Eis a definição de

férias apresentada por ALICE MONTEIRO DE BARROS:

As férias constituem um direito do empregado de abster-se de trabalhar durante um determinado número de dias consecutivos por ano, sem prejuízo da remuneração e após cumpridas certas exigências, entre elas a assiduidade59.

59

Op. Cit, p. 692.

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A Convenção 132 da OIT (ratificada pelo Brasil e promulgada pelo

Decreto 3.197/99), principal referência normativa internacional sobre a matéria,

estabelece, em seu art. 3º, item 1, que:

C-132 OIT, Artigo 3º

1. - Toda pessoa a quem se aplique a presente Convenção terá direito a férias anuais remuneradas de duração mínima determinada.

A propósito da aplicação da aludida convenção no país, seguem os

escólios de GODINHO DELGADO:

A partir de 23.9.1999, a Convenção 132 da OIT, regulatória das férias, entrou em vigor no país, ensejando o debate sobre conflito de normas jurídicas em face do próprio texto da Consolidação (arts. 129 a 153 da CLT).

Na verdade, contudo, o referido diploma internacional, concluído pela OIT em 1970, já havia inspirado a redação do novo capítulo celetista de férias, que passou a vigorar no Brasil em 1977 (arts. 129 a 153, CLT). Em decorrência, não despontaram disparidades significativas entre os dois diplomas. Ao revés, no cômputo estrito entre essas diferenças, a Convenção chega a apresentar maior número de regras menos favoráveis, o que cria a dúvida sobre se sua recente adoção não terá vindo essencialmente somar-se ao caminho flexibilizatório de normas justrabalhistas perfilado oficialmente na década de 1990 no país.

De fato, ilustrativamente, seu prazo mínimo de férias é inferior (3 semanas, e não 30 dias), enquanto seu prazo de gozo da parcela é mais tolerante (18 meses, e não 12). Mais grave do que isso: a Convenção, em diversos momentos, adota conduta normativa francamente oscilante, flexível, valorizando, sobremaneira, até mesmo a mera pactuação bilateral em contraponto a suas próprias regras, atenuando a imperatividade já classicamente acolhida no país quanto aos dispositivos regulatórios de férias.

Nesse quadro, as poucas regras efetivamente favoráveis que contém (exclusão dos feriados do cômputo do prazo de férias e pagamento da parcela proporcional em qualquer situação rescisória) não lhe deferem o status de diploma normativo superior, se adotado o Critério do conglobamento para

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exame da hierarquia normativa no presente caso. Apenas se adotado o critério da acumulação, cientificamente menos consistente, conforme se sabe, é que se poderia coletar, de maneira tópica e localizada, os poucos dispositivos mais favoráveis, fazendo-os prevalecer na ordem jurídica pátria. Não é o que sugere, porém, a teoria de hierarquia de normas jurídicas, que vigora no Direito do Trabalho60.

11.2. REQUISITOS

Para que o empregado possa adquirir o direito às férias, é

imprescindível o trabalho por 12 meses, após os quais, o empregador tem mais 12

meses para conceder a oportunidade para a fruição desse direito.

Assim, há dois períodos, que todos conhecemos (CLT, 130):

A Convenção 132 da OIT, em seu art. 5º alude a um período de

aquisitivo de 6 meses61:

C-132 OIT, Artigo 5º

60

Op. cit., p. 745. 61

Diversos doutrinadores sustentam que esse lapso temporal seria utilizado para o deferimento das férias

proporcionais. Nesse sentido, seria menos benéfico que a legislação pátria, que estabelece um período de

um mês ou fração igual ou superior 15 dias para aquisição proporcional (1/12) de férias (CLT, art. 146).

Para aquisição do direito

12 meses

Aquisitivo

Para fruição do direito

12 meses

Concessivo

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1. - Um período mínimo de serviço poderá ser exigido para a obtenção de direito a um período de férias remuneradas anuais.

2. - Cabe à autoridade competente e ao órgão apropriado do país interessado fixar a duração mínima de tal período de serviço, que não poderá em caso algum ultrapassar 6 (seis) meses.

3. - O modo de calcular o período de serviço para determinar o direito a férias será fixado pela autoridade competente ou pelo órgão apropriado de cada país.

4. - Nas condições a serem determinadas pela autoridade competente ou pelo órgão apropriado de cada país, as faltas ao trabalho por motivos independentes da vontade individual da pessoa empregada interessada tais como faltas devidas a doenças, a acidente, ou a licença para gestantes, não poderão ser computadas como parte das férias remuneradas anuais mínimas previstas no parágrafo 3 do Artigo 3 da presente Convenção.

Contudo, nesse ponto, tanto a doutrina quanto a jurisprudência vem

acentuando o caráter programático da norma, não lhe reconhecendo eficácia

concreta.

De outra parte, o TST vem reconhecendo alguma eficácia ao aludido

texto convencional em algumas situações: a) ao reconhecer o direito às férias

proporcionais ao empregado dispensado sem justa causa antes de completar o

período aquisitivo (Súmula 171 do TST); e b) ao invalidar, por exemplo, cláusula

coletiva que afasta o direito às férias proporcionais aos empregados que se demites

antes de completar seis meses de trabalho:

JUSTA CAUSA. FÉRIAS PROPORCIONAIS. CONVENÇÃO Nº 132 DA OIT. NÃO APLICAÇÃO. PROVIMENTO. Discute-se nos autos a aplicação do artigo 146 da CLT em conflito com a convenção 132 da OIT, que garante ao trabalhador o direito às férias proporcionais, independente do motivo da rescisão contratual em conflito. Quanto à matéria, esta Corte Superior solucionou a questão por meio da edição da Súmula nº 171, entendendo que, mesmo após a edição da referida convenção, o empregado dispensado por justa causa não tem direito às férias proporcionais. Recurso de revista de que se conhece e a que dá

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provimento. (TST-RR-776-50.2013.5.15.0018, Rel. Min. Guilherme Augusto Caputo Bastos, 5ª Turma, DEJT 12/09/2014)

FÉRIAS PROPORCIONAIS. DISPENSA POR JUSTA CAUSA. CONVENÇÃO 132 DA OIT. Salvo na hipótese de dispensa do empregado por justa causa, a extinção do contrato de trabalho sujeita o empregador ao pagamento da remuneração das férias proporcionais, ainda que incompleto o período aquisitivo de 12 (doze) meses (art. 147 da CLT)- (Súmula 171/TST). Recurso de revista conhecido e provido. (TST-RR-41400-65.2009.5.04.0026, Rel. Min. Rosa Maria Weber, 3ª Turma, DeJT de 23/09/2011)

DISPENSA POR JUSTA CAUSA. PAGAMENTO DE FÉRIAS PROPORCIONAIS ACRESCIDA DO TERÇO CONSTITUCIONAL. CONVENÇÃO Nº 132/OIT E ARTIGO 146 DA CLT. CONFLITO DE NORMAS. SÚMULA Nº 171/TST. Os tratados internacionais devem ser interpretados à vista do princípio da especialidade das leis, segundo o qual certas normas de direito interno não podem ser derrogadas in absoluto pelo conteúdo do tratado, ainda que sejam aparentemente conflitantes entre si. Tal hipótese verifica-se quando as leis - (nova e anterior) forem gerais, ou especiais. No conflito entre o artigo 136, parágrafo único da CLT, e os artigos 4º e 11 da Convenção nº 138/OIT deve se considerar que se tratam de normas de idêntico valor, não havendo necessariamente a prevalência de uma sobre a outra. Portanto, em ocorrendo a concomitância de normas disciplinando a mesma matéria, a escolha deverá considerar o confronto entre o conjunto normativo relativo a cada quaestio iuris apresentada a exame e a realidade fática dos autos. Desse modo, "a percepção da norma mais favorável faz-se considerando-se seu sentido no universo do sistema a que se integra"(in Maurício Godinho Delgado, Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2007, p. 1.396), disso resultando que a escolha não pode recair sobre dispositivos específicos de uma e outra norma, considerados isoladamente mais benéficos. Considerando as peculiaridades de que se reveste a Convenção nº 132 da OIT, no ordenamento jurídico brasileiro, este Tribunal Superior do Trabalho solucionou a questão por meio da reedição da Súmula nº 171 que se posicionou no sentido de que o empregado dispensado por justa causa não tem direito às férias proporcionais. Recurso de revista conhecido e provido. (TST-ARR-967-81.2011.5.04.0403, Rel. Min. Aloysio Corrêa da Veiga, 6ª Turma, DeJT de 14/06/2013)

ACORDO COLETIVO DE TRABALHO. HOMOLOGAÇÃO. FÉRIAS PROPORCIONAIS. EMPREGADO COM MENOS DE SEIS MESES DE CONTRATO. 1. Acerca do pagamento de férias proporcionais ao empregado que tem o contrato extinto

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antes de completado o período aquisitivo de doze meses, a jurisprudência deste Tribunal Superior firmou entendimento pacífico, consubstanciado nas Súmulas nº 171 e nº 261, no sentido de que tem direito às férias proporcionais tanto o empregado que se demite, quanto o empregado que tem seu contrato de trabalho extinto por iniciativa do empregador antes de completar doze meses de serviço, salvo na hipótese de dispensa por justa causa. 2. Destaque-se, ainda, no mesmo sentido, o artigo 4º da Convenção nº 132 da Organização Internacional do Trabalho - OIT (ratificada pelo Brasil por meio do Decreto 3.197/99). 3. Nesse contexto, não se revela passível de homologação cláusula de acordo coletivo que exclui o direito às férias proporcionais do empregado que se demite com menos de seis meses de contrato de trabalho. (TST-RO-3528-60.2010.5.04.0000, Rel. Min. Walmir Oliveira da Costa, SDC, DeJT de 21/10/2011)

11.3. REGRAS

11.3.1. DURAÇÃO E CONTAGEM

As férias, como sabemos, serão de 30 dias, de acordo como o

ordenamento jurídico pátrio (CLT, 130). Nesse aspecto, a Convenção 132 da OIT

revela-se menos benéfica ao assegurar, em seu art. 3º, item 3, que:

C-132 OIT, Artigo 3º

3. - A duração das férias não deverá em caso algum ser inferior a 3 (três) semanas de trabalho, por 1 (um) ano de serviço.

De outro lado, não são computados, como regra, os eventuais feriados

ocorridos no período de férias. Vale notar que a Convenção 132 da OIT, em seu art. 6º,

contém diretriz em sentido diverso:

C-132 OIT, Artigo 6º

1. - Os dias feriados oficiais ou costumeiros, quer se situem ou não dentro do período de férias anuais, não serão computados como parte do período de férias anuais remuneradas previsto no parágrafo 3 do Artigo 3 acima.

2. - Em condições a serem determinadas pela autoridade competente ou pelo órgão apropriado de cada país, os

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períodos de incapacidade para o trabalho resultantes de doença ou de acidentes não poderão ser computados como parte do período mínimo de férias anuais previsto no parágrafo 3, do Artigo 3 da presente Convenção.

O TST não vem reconhecendo a aplicabilidade de tal preceito

internacional, entretanto:

CONVENÇÃO 132 DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. FÉRIAS. DESCONSIDERAÇÃO DOS FERIADOS. 1. A Convenção n.º 132 da Organização Internacional do Trabalho estabelece, em seus artigos 3º, item 3, e 6º, item 1, que o trabalhador terá direito a um período mínimo de três semanas de férias remuneradas anuais, excluindo os feriados que eventualmente vierem a ocorrer nesse período. 2. O artigo 130 da Consolidação das Leis do Trabalho, por sua vez, estabelece um padrão normativo superior, prevendo que, em condições normais, o empregado gozará de um período corrido de 30 (trinta) dias de férias a cada doze meses de trabalho. 3. Ainda que no período de férias de 30 (trinta) dias intercalem alguns feriados, será preservado o padrão mínimo estabelecido na Convenção da OIT, ante a inexistência, no calendário nacional, de um período de trinta dias corridos em que intercalem mais de nove dias feriados. 4. Aplica-se, assim, aos empregados do Banco, em face do princípio da norma mais favorável, as regras da Consolidação das Leis do Trabalho. 5. Precedentes desta Corte superior. 6. Recurso de revista não conhecido. (TST-RR-14800-29.2002.5.12.0026, Relator Juiz Convocado Hugo Carlos Scheuermann, 1ª Turma, DeJT de 09/12/2011)

Sobreleva notar que, no período aquisitivo, é computado o tempo de

vigência contratual e não o de prestação efetiva de serviços, à luz dos arts. 4º, 130 e

133 da CLT, computando-se inclusive os lapsos de suspensão e interrupção contratual,

em princípio, tal como recorda VÓLIA BOMFIM:

O direito às férias é adquirido após 12 meses de vigência do ajuste contratual seja por prazo determinado ou indeterminado. Com isto verifica-se que o legislador preferiu computador o tempo de vigência e não o período de efetivo

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serviço, inserindo na contagem, como regra geral, os períodos de interrupções e alguns casos de suspensões contratuais [...]62.

No caso dos trabalhadores marítimos, há duas particularidades dignas

de nota: possibilidade de soma de períodos aquisitivos relativos a tomadores de

serviços diversos e de acúmulo de dois períodos aquisitivos. É o que estabelece o art.

150 da CLT:

Art. 150 - O tripulante que, por determinação do armador, for transferido para o serviço de outro, terá computado, para o efeito de gozo de férias, o tempo de serviço prestado ao primeiro, ficando obrigado a concedê-las o armador em cujo serviço ele se encontra na época de gozá-las.

§ 1º - As férias poderão ser concedidas, a pedido dos interessados e com aquiescência do armador, parceladamente, nos portos de escala de grande estadia do navio, aos tripulantes ali residentes.

§ 2º - Será considerada grande estadia a permanência no porto por prazo excedente de 6 (seis) dias.

§ 3º - Os embarcadiços, para gozarem férias nas condições deste artigo, deverão pedi-las, por escrito, ao armador, antes do início da viagem, no porto de registro ou armação.

§ 4º - O tripulante, ao terminar as férias, apresentar-se-á ao armador, que deverá designá-lo para qualquer de suas embarcações ou o adir a algum dos seus serviços terrestres, respeitadas a condição pessoal e a remuneração.

§ 5º - Em caso de necessidade, determinada pelo interesse público, e comprovada pela autoridade competente, poderá o armador ordenar a suspensão das férias já iniciadas ou a iniciar-se, ressalvado ao tripulante o direito ao respectivo gozo posteriormente.

§ 6º - O Delegado do Trabalho Marítimo poderá autorizar a acumulação de 2 (dois) períodos de férias do marítimo, mediante requerimento justificado:

I - do sindicato, quando se tratar de sindicalizado; e

II - da empresa, quando o empregado não for sindicalizado.

62

Op. Cit., p; 783

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Não é possível descontar do empregado as faltas (mesmo injustificadas)

do seu período de férias anuais (CLT, 130, § 1º).

Contudo, admite-se uma redução proporcional (não um para um – um

dia de férias para cada dia de falta), nos seguintes termos (CLT, 130):

FALTAS FÉRIAS

5 30

6 / 14 24

15 / 23 18

24 / 32 12

* Note-se que o número máximo de faltas cresce na razão de 9, enquanto o número de

dias de férias decresce na razão de 6.

Não será considerada falta ao serviço para efeito de redução

proporcional do período de férias (CLT, 131):

a) ausências justificadas (CLT, 473);

b) durante licenciamento compulsório da empregada por motivo de

maternidade ou aborto (não-criminoso);

c) acidente do trabalho ou enfermidade atestada pelo INSS (até 6

meses, ainda que descontínuos). Ex. Imagine que empregado se afasta por dois meses

em virtude de doença, retorna ao final do prazo e 45 dias depois volta a se afastar por

9 6

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mais três meses. Não houve afastamento por mais de seis meses. Logo, o tempo de

afastamento não pode ser considerado como falta;

d) justificada pela empresa (interrupção do contrato). A CLT entende

que é justificada pela empresa a falta que não é descontada do salário do empregado;

e) suspensão preventiva para responder a inquérito administrativo ou

de prisão preventiva, quanto for impronunciado ou absorvido;

f) nos dias em que não tenha havido serviço (até 30 dias).

Entretanto, recorde-se que ocorrerá a perda do direito às férias

quando, no curso do período aquisitivo (CLT, art. 133):

• Deixar o emprego e não for readmitido dentro de 60 dias. Ex. o empregado pede demissão e volta para a mesma empresa 70 dias depois

Readmissão

• Permanecer em gozo de licença remunerada por mais de 30 dias. Ex. O empregado sai de licença de 40 dias para realizar uma viagem de intercâmbio com autorização do empregador

Licença remunerada

• Deixar de trabalhar, com percepção do salário, por mais de 30 dias, em virtude de paralisação parcial ou total dos serviços da empresa

Paralização atividade empresarial

• Percepção de prestações de acidente de trabalho ou de auxílio-doença por mais de 6 meses, mesmo descontínuos. Ex. Imagine que empregado se afasta por dois meses em virtude de doença, retorna ao final do prazo e 45 dias depois volta a se afastar por mais CINCO meses. Houve afastamento por mais de seis meses. Logo, o empregado perde o direito às férias;

Benefício previdenciário

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Lembre-se de que o tempo de trabalho anterior à apresentação do

empregado para serviço militar obrigatório será computado no período aquisitivo,

desde que compareça ao estabelecimento dentro de 90 dias da data da baixa militar

(CLT, 132). Ex. o empregado trabalhou quatro meses e foi convocado para o exército,

sendo que, após servir as Forças Armadas e ter a baixa, apresenta-se no empregador

dentro no 10º dia. Neste caso, os quatro meses anteriores serão contabilizados e a

contagem continuará a partir de sua apresentação ao empregador.

Registre-se que, durante as suas férias, o empregado não poderia

prestar serviços a outro empregador, a não ser que já mantivesse com esse último

contrato de trabalho anteriormente celebrado:

CLT, art. 138 - Durante as férias, o empregado não poderá prestar serviços a outro empregador, salvo se estiver obrigado a fazê-lo em virtude de contrato de trabalho regularmente mantido com aquele.

É essa a interpretação sugerida por ALICE MONTEIRO DE BARROS:

As férias, hoje, têm a seguinte natureza jurídica: para o empregado constitui um ir3ºto gozá-las dentro dos 12 meses subseqüentes ao período aquisitivo e um dever não trabalhar para outro empregador nesse período, a menos que tenha duplo contrato de trabalho; para o empregador ela constitui um dever, isto é, ele deverá concedê-las nos 12 meses subseqüentes ao término do período aquisitivo e tem ele o direito de exigir que o empregado não trabalhe durante o seu curso, salvo se estiver obrigado a fazê-lo por ter outro contrato de trabalho63.

Veja-se, a esse respeito, o que assenta o art. 13 da Convenção 132 da

OIT:

C-132 OIT, Artigo 13

A autoridade competente ou órgão apropriado de cada país poderá adotar regras particulares em relação aos casos em que uma pessoa empregada exerça, durante suas férias, atividades remuneradas incompatíveis com o objetivo dessas férias.

63

Op. cit., p. 693.

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11.3.2. CONCESSÃO E ÉPOCA DAS FÉRIAS

Quem define o momento em que as férias serão fruídas é o

empregador, segundo o direito pátrio (CLT, 136). Consigne-se, no entanto, que a

Convenção 132 da OIT, em seu art. 10, C-132 OIT, determina que devem ser levadas

em conta tanto as necessidades do trabalho, como as possibilidades de repouso, em

uma tentativa de composição dos interesses do empregador e do empregado:

C-132 OIT, Artigo 10

1. - A ocasião em que as férias serão gozadas será determinada pelo empregador, após consulta à pessoa empregada interessada em questão ou seus representantes, a menos que seja fixada por regulamento, acordo coletivo, sentença arbitral ou qualquer outra maneira conforme à prática nacional.

2. - Para fixar a ocasião do período de gozo das férias serão levadas em conta as necessidades do trabalho e as possibilidades de repouso e diversão ao alcance da pessoa empregada.

De todo modo, segundo a legislação nacional, o empregador deverá

observar algumas regras:

Fracionamento (CLT, 134)

• Excepcionalmente é possível, desde que em 2 períodos, sendo um dos quais de pelo menos 10 dias corridos

• Menores de 18 anos e maiores de 50 anos não podem fracionar

Comunicação (CLT, 135)

• Por escrito

• Com antecedência de, no mínimo, 30 dias

• Interessado dará recibo.

Direito de coincidência (CLT, 136)

• Membros de uma família, que trabalharem no mesmo estabelecimento ou empresa, terão direito a gozar férias no mesmo período, se não resultar prejuízo para o serviço

• Estudante, menor de 18 anos, terá direito a fazer coincidir com as férias escolares

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Quanto ao fracionamento de férias, a Convenção 132 da OIT

determina, em seus arts. 8º e 9º:

C-132 OIT, Artigos 8º e 9º

Artigo 8º

1. - O fracionamento do período de férias anuais remuneradas pode ser autorizado pela autoridade competente ou pelo órgão apropriado de cada país.

2. - Salvo estipulação em contrário contida em acordo que vincule o empregador e a pessoa empregada em questão, e desde que a duração do serviço desta pessoa lhe dê direito a tal período de férias, numa das frações do referido período deverá corresponder pelo menos a duas semanas de trabalho ininterruptos.

Artigo 9º

1. - A parte ininterrupta do período de férias anuais remuneradas mencionada no parágrafo 2 do Artigo 8 da presente Convenção deverá ser outorgada e gozada dentro de no máximo 1 (um) ano, e o resto do período de férias anuais remuneradas dentro dos próximos 18 (dezoito) meses, no máximo, a contar do término do ano em que foi adquirido o direito de gozo de férias.

2. - Qualquer parte do período de férias anuais que exceder o mínimo previsto poderá ser postergada com o consentimento da pessoa empregada em questão, por um período limitado além daquele fixado no parágrafo 1 deste Artigo.

3. - O período mínimo de férias e o limite de tempo referidos no parágrafo 2 deste Artigo serão determinados pela autoridade competente após consulta às organizações de empregadores e trabalhadores interessadas, ou através de negociação coletiva ou por qualquer outro modo conforme à prática nacional, sendo levadas em conta as condições próprias de cada país.

11.3.3. FÉRIAS CONCEDIDAS INTEMPESTIVAMENTE

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Se a concessão das férias ocorrer depois do prazo de 12 meses

posterior ao período aquisitivo (12 meses), empregador pagará indenização (dobro do

valor respectivo – CLT, 137). Vencido o prazo, além disso, o empregado pode ajuizar

reclamação pedindo a fixação, por sentença, da época de gozo das mesmas (sentença

pode impor pena diária de 5% do salário mínimo, devida ao empregado até que seja

cumprida – CLT, 137, §§ 1º e 2º).

Se apenas uma parte das férias for concedida após o prazo, a

indenização será aplicada apenas em relação ao dias de férias gozados depois do

período concessivo (Súmula 81 TST1)

Lembre-se de que, segundo o TST, a indenização (dobra) inclui o 1/3

constitucional. Assim o valor seria calculado assim: (salário + 1/3) x 2.

De outro lado, a indenização será calculada com base na remuneração

devida na época da ação trabalhista ou da extinção do contrato de trabalho (Súmula 7

TST64).

A jurisprudência do TST e parte da doutrina têm entendido que a

indenização é devida também em outros casos (OJ 386 da SbDI-165):

64 SÚMULA 7 TST – FÉRIAS.A indenização pelo não-deferimento das férias no tempo oportuno será calculada com base na

remuneração devida ao empregado na época da reclamação ou, se for o caso, na da extinção do contrato. 65 OJ 386 DA SDI1 DO TST - FÉRIAS. GOZO NA ÉPOCA PRÓPRIA. PAGAMENTO FORA DO PRAZO. DOBRA

DEVIDA. ARTS. 137 E 145 DA CLT. É devido o pagamento em dobro da remuneração de férias, incluído o terço constitucional,

com base no art. 137 da CLT, quando, ainda que gozadas na época própria, o empregador tenha descumprido o prazo previsto no

art. 145 do mesmo diploma legal.

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Por fim, recorde-se que, durante as férias, empregado não pode prestar

serviços a outro empregador, salvo se estiver obrigado a fazê-lo em virtude de

contrato de trabalho regularmente mantido com aquele (CLT, 137, § 3º).

11.5. REMUNERAÇÃO

No tocante à remuneração das férias, eis o que prevê a Convenção 132

da OIT, em seu art. 7º:

C-132 OIT, Artigo 7º

1. - Qualquer pessoa que entre em gozo de período de férias previsto na presente Convenção deverá receber, em relação ao período global, pelo menos a sua remuneração média ou normal (incluindo-se a quantia equivalente a qualquer parte dessa remuneração em espécie, e que não seja de natureza permanente, ou seja concedida quer o indivíduo esteja em gozo de férias ou não), calculada de acordo com a forma a ser determinada pela autoridade competente ou órgão responsável de cada país.

2. - As quantias devidas em decorrência do parágrafo 1 acima deverão ser pagas à pessoa em questão antes do período de férias, salvo estipulação em contrário contida em acordo que vincule a referida pessoa e seu empregador.

• Do salário de férias ou do 1/3

• Fora do prazo estabelecido (2 dias antes do início das férias)

Pagamento

• Em mais de 2 períodos ou em que 1 deles seja inferior a 10 dias

Fracionamento

• Por escrito ou fora do prazo

Ausência de comunicação

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De acordo com o ordenamento jurídico doméstico, o valor das férias

(CLT, 142) corresponde à remuneração (+ 1/3) devida na data da concessão e não à

média salarial percebida, a não ser que:

Se houver instituição de abono extra de férias (quer dizer, de parcela

de 1/3 ou mais como acréscimo de férias) por acordo ou convenção coletiva, caso o

empregador tenha pago qualquer valor a este título, pode promover a compensação

com o terço de férias da Constituição, visto que visam o mesmo objetivo, qual seja,

dar um acréscimo ao trabalhador por ocasião das férias. Nesta direção, eis OJ

Transitória 50 da SDI-I do TST:

FÉRIAS. ABONO INSTITUÍDO POR INSTRUMENTO NORMATIVO E TERÇO CONSTITUCIONAL. SIMULTANEIDADE INVIÁVEL. O abono de férias decorrente de instrumento normativo e o abono de 1/3 (um terço) previsto no art. 7o, XVII, da CF/1988 têm idêntica natureza jurídica, des- tinação e finalidade, constituindo-se “bis in idem” seu pagamento simultâneo, sendo legítimo o direito do empregador de obter compensação de valores porventura pagos.

A base de cálculo das férias inclui o valor dos adicionais de trabalho em

horas extras, noturno, insalubre ou perigoso (CLT, 142, § 5º).

Salário for pago por hora com jornadas

variáveis

• Considera-se a média do período aquisitivo, aplicando-se valor do salário na data da concessão

Salário for pago por tarefa

• Considera-se a média da produção no período aquisitivo, aplicando-se o valor da remuneração da tarefa na data da concessão

Salário for pago por percentagem,

comissão ou viagem

• Considera-se a média percebida pelo empregado nos 12 meses que precederem à concessão.

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O empregado pode converter 1/3 do período de férias em dinheiro

(CLT, 143). Assim, por exemplo, um empregado com trinta dias férias pode substituir

dez dias (1/3) das férias por trabalho (é o que os leigos denominam de “vender parte

das férias”). A CLT chama este instituto de abono pecuniário (que não se confunde

com o abono de 1/3 a mais da remuneração previsto no art. 7º, da CF).

Este abono da CLT deve ser requerido até 15 dias antes do término do

período aquisitivo. Em caso de férias coletivas, a conversão será objeto de negociação

coletiva (acordo coletivo ou convenção coletiva), independendo de requerimento

individual.

Por fim, cumpre recordar que o valor não tem natureza salarial, desde

que não excedente de 20 dias do salário. Tal situação está expressa no art. 144 da CLT

(O abono de férias de que trata o artigo anterior, bem como o concedido em virtude

de cláusula do contrato de trabalho, do regulamento da empresa, de convenção ou

acordo coletivo, desde que não excedente de vinte dias do salário, não integrarão a

remuneração do empregado para os efeitos da legislação do trabalho). Alguns

estudantes perguntam como pode um terço de férias sequer chegar a 20 dias, já que

as férias são de no máximo 30 dias. Expliquemos. Imagine que, em determinada

empresa um certo empregado tenha férias contratuais de 70 dias por ano. Ora, neste

caso o abono de 1/3 representará mais de 20 dias. Assim, neste exemplo, o pagamento

pelos dias de trabalho (1/3) passará a ter natureza salarial.

As férias (remuneração + 1/3) e o abono eventual, devem ser pagos até

2 dias antes do início das férias (CLT, 145). Importante lembrar que, caso as férias e o

terço não sejam pagos no prazo mencionado, será devido o valor respectivo em dobro.

Neste sentido a Súmula 450 do TST:

FÉRIAS. GOZO NA ÉPOCA PRÓPRIA. PAGAMENTO FORA DO PRAZO. DOBRA DEVIDA. ARTS. 137 E 145 DA CLT. É devido o pagamento em dobro da remuneração de férias,

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incluído o terço constitucional, com base no art. 137 da CLT, quando, ainda que gozadas na época própria, o empregador tenha descumprido o prazo previsto no art. 145 do mesmo diploma legal.

11.5. FÉRIAS COLETIVAS

As férias coletivas poderão ser concedidas a todos os empregados de

uma empresa ou de determinados estabelecimentos ou setores da empresa (CLT,

139).

Elas poderão ser gozadas em 2 períodos anuais desde que nenhum

deles seja inferior a 10 dias corridos (CLT, 139, § 1º)

Para que sejam válidas, as férias coletivas devem observar as seguintes

exigências (CLT, 139, § 2º):

Para empregados contratados há menos de 12 meses, as férias

coletivas serão consideradas proporcionais e haverá o início de novo período

aquisitivo (CLT, 140). Se as férias coletivas tiverem duração maior do que as férias

proporcionais a que faria jus, o período residual será considerado como licença

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Antecedência mínima de 15 dias

Explicitando - datas de início e fim das férias e quais os estabelecimentos ou setores abrangidos

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remunerada, conforme a doutrina predominante (hipótese de interrupção do contrato

– o empregado recebe salário, conta tempo de serviço, mas não trabalha).

11.6. EFEITOS DA CESSAÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO

Quanto às férias já adquiridas, na cessação do contrato de trabalho,

qualquer que seja a sua causa, será devida ao empregado remuneração simples ou em

dobro, correspondente ao período de férias cujo direito tenha adquirido (CLT, 146).

Já no tocante às férias proporcionais, em que o empregado receberá o

equivalente a 1/12 por mês de serviço ou fração superior a 14 dias. Assim, se

trabalhou de 20.3.2013 a 07.8.2013, trabalhou 4 meses (20.3 a 19.7) e 19 dias (20.7 a

07.8 – considerando que julho possui o dia 31), o que perfaz 5/12 de férias

proporcionais.

A natureza da remuneração das férias é salarial, ainda quando devida

após a cessação do contrato de trabalho (CLT, 148).

De outro lado, não se esqueça de que o prazo prescricional quanto às

férias começa a fluir apenas após o final do período concessivo, quando ocorre,

efetivamente, a lesão para o empregado (CLT, 149). Isto porque o empregador escolhe

o melhor momento para que o empregado tire férias durante o período concessivo.

Logo, apenas quando este período acaba, é que surge para o empregado o direito de

exigir as férias (principio da “actio nata”).