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II – INOVAÇÃO E COMPETITIVIDADE

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II – INOVAÇÃO E COMPETITIVIDADE

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45 Brasil: o estado de uma nação

Inovação tecnológica – É definida pela introduçãono mercado de um produto(bem ou serviço)tecnologicamente novo ousubstancialmenteaprimorado ou pelaintrodução na empresa deum processo produtivotecnologicamenteaprimorado ou novo. A inovação tecnológica poderesultar de novosdesenvolvimentostecnológicos, de novascombinações de tecnologiasexistentes ou da utilizaçãode outros conhecimentosadquiridos pela empresa.

II – INOVAÇÃO E COMPETITIVIDADE

qualidade de vida dos cidadãos, o sucesso das empresas e o nível dedesenvolvimento das nações dependem, em grande parte, da formacomo estas produzem, absorvem e utilizam conhecimentos científicos

e inovações tecnológicas. As que melhor se apropriam desses avanços são as quemais se desenvolvem.

É indiscutível que a importância do conhecimento e da inovação tem aumenta-do de forma sem precedentes. Estima-se, por exemplo, que cerca de 80% dos cien-tistas da história da humanidade nasceram no século XX e continuam vivos. Hoje,os investimentos na produção e disseminação de conhecimentos e inovações, con-siderados “intangíveis”, são fundamentais para o crescimento. As atividades dire-cionadas à produção e à distribuição desses conhecimentos respondem, especial-mente nas economias avançadas, por parcelas crescentes do emprego e da renda,enquanto os investimentos “tangíveis” em máquinas, prédios e outros bens mate-riais vêm perdendo progressivamente sua importância relativa.

O dinamismo da inovação nas economias mais avançadas é resultado da inte-ração de um complexo conjunto de influências; e não, como era comum pensar nopassado, de um processo mais ou menos linear iniciado pela pesquisa básica, a par-tir da qual seriam produzidos conhecimentos que acabariam por se transformar eminovações tecnológicas. Nesse modelo simplificado que tanta influência exerceu nopassado, colocava-se ênfase excessiva na oferta de conhecimentos científicos e nopapel das instituições de pesquisa como determinantes do processo de inovação.

1.1. Inovação: muito mais que iniciativas isoladas

Atualmente, os especialistas em política científica e tecnológica já se convence-ram de que o processo é bem mais complexo e de que a inovação depende de umsistema nacional de inovação1, isto é, de “uma rede de instituições públicas e pri-vadas cujas atividades e interações iniciam, modificam e difundem novas tecnolo-gias” (Freeman, 1995).

Esta concepção de sistema é uma construção mais social do que governamental einclui “o ambiente no qual a inovação é estimulada e apoiada; a qualidade das rela-ções entre fornecedores, produtores e usuários; o sistema de treinamento e educa-ção; organizações públicas ou privadas que facilitam a mudança técnica; leis, regula-mentações e, mesmo, idéias e atitudes em relação à mudança técnica” (Perez, 2000).

O fato é que as economias com sistemas nacionais de inovação capazes de gerarum número significativo de novos produtos ou processos para o mercado mundial

A

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Pesquisa eDesenvolvimento (P&D) –Corresponde ao trabalhocriativo, empreendido deforma sistemática, com oobjetivo de aumentar oacervo de conhecimento e ouso destes conhecimentospara desenvolver novasaplicações, tais comoprodutos ou processosnovos ou tecnologicamenteaprimorados. O desenho, aconstrução e o teste deprotótipos e de instalações-piloto constituem muitasvezes a fase mais importantedas atividades de P&D. Incluitambém o desenvolvimentode softwares, desde que esteenvolva um avançotecnológico ou científico*.

* Conceito utilizado pela pesquisaPintec/IBGE (Pesquisa Industrial sobreInovação Tecnológica) – 2000.

desfrutam de vantagens competitivasexcepcionais. Seus produtos – inéditosou criados a partir de processos ino-vadores – não encontram concorrentesdiretos. Em geral, novos produtosencontram sempre mercados dispostosa comprá-los em quantidades cres-centes e a pagar preços mais elevadospor eles.

Além disso, produtos que não sãoinovadores, quando produzidos a par-tir de novos processos, quase sempreapresentam custos menores do que ospredominantes entre os concorrentes.Assim, vantagens tecnológicas cons-tituem a base da competitividade daseconomias mais avançadas, o que lhespossibilita, além de padrões de vidaelevados ou promissores, financiar acontinuidade dos esforços de pesquisae desenvolvimento (P&D) necessáriosà manutenção de sua liderança noprocesso de inovação.

Este não costuma ser o caso daseconomias em desenvolvimento, cujoprocesso de mudança técnica em geralse restringe à absorção e ao aperfeiçoa-mento de inovações geradas em outraseconomias. Isso condiciona profunda-mente suas posições competitivas. O mercado para seus produtos éocupado por concorrentes. As taxas decrescimento dos mercados já não sãoas mesmas que vigoraram nos anosque se seguiram ao lançamento dos

produtos. As margens de lucro iniciaisforam corroídas pela expansão da pro-dução e pela entrada de imitadores.

Países imitadores quase nunca têmacesso às tecnologias mais avançadasou eficientes. Mesmo quando, excep-cionalmente, obtêm a melhor tecnolo-gia disponível, costumam utilizá-la, aomenos inicialmente, com eficiênciareduzida. Isso ocorre porque muitosdos conhecimentos necessários paraoperar qualquer tecnologia não sãoóbvios nem podem ser transmitidospor instruções ou manuais. Sua trans-ferência exige investimento de tempo erecursos para sua efetiva absorção.

Enquanto utilizarem tecnologiasobsoletas ou tecnologias modernasempregadas de forma pouco eficiente,os imitadores precisarão compensar essadeficiência por meio de mecanismoscomo o pagamento de salários maisbaixos, a obtenção de subsídios ou pro-teção estatais ou o uso predatório derecursos naturais. A dependência dessesmecanismos espúrios para assegurar acompetitividade2 mantém-se enquanto oimitador seguir a trajetória do menoresforço tecnológico, tratar a tecnologiacomo se esta fosse uma espécie de caixa-preta, e não investir efetivamente no seudomínio e aperfeiçoamento. Por isso, aestratégia de aprendizado tecnológicopassivo não representa uma verdadeiraalternativa de desenvolvimento3.

QUADRO 1 – Imitadores, Inovadores e Competitividade

Fonte: Adaptado de Viotti (2004).

IMITADORESEconomias cujo processo de mudança técnica é basicamente restrito àabsorção e ao aperfeiçoamento de inovações geradas em outraseconomias.

COMPETIÇÃO COM BASE EM CUSTOS BAIXOS OU PROTEÇÃOBaixos salários, exploração de recursos naturais, subsídios ou proteçãoestatais.

COMPETITIVIDADE ESPÚRIACapacidade de manter ou aumentar a participação de determinadopaís nos mercados internacionais às custas do comprometimento dopadrão de vida (presente e futuro) de sua população.

INOVADORESEconomias cujo processo de mudança técnica é capaz de gerar númerosignificativo de produtos ou processos que são novos para o mercadomundial.

COMPETIÇÃO COM BASE EM VANTAGENS TECNOLÓGICASProdutos ou processos novos ou significativamente melhorados.

COMPETITIVIDADE AUTÊNTICACapacidade de manter ou aumentar a participação de determinadopaís nos mercados internacionais a médio e longo prazo,proporcionando melhor padrão de vida à população.

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Produtos maduros – Os produtos apresentamuma espécie de ciclo de vida. Um novo produtointroduzido com sucessoapresenta pequeno númerode produtores, mercadoaceleradamente crescente einúmeras oportunidadestecnológicas para oaperfeiçoamento de suasqualidades e de seu processode produção. Ao aproximar-se da fase madura, muitosimitadores passam acompetir por ele. Com suamaturidade e a aproximaçãodos limites de saturação domercado, as taxas decrescimento das vendas sereduzem, e fica cada vezmais difícil descobrir novasformas de aperfeiçoá-lo ouaprimorar seu processo deprodução.

Em linhas gerais, os imitadores nãoobtêm os lucros extraordinários querecompensam os inovadores e quepodem, entre outras vantagens, finan-ciar a continuidade tanto do esforço deinovação quanto da liderança tecno-lógica. As margens de lucro dos imita-dores são menores porque sua produ-tividade é mais baixa. Além disso, suapauta de produção é dominada porprodutos maduros e menos dinâmi-cos, o que reduz suas potencialidadesde crescimento e desenvolvimentoeconômico e social. Esses produtos,por disputarem mercados mais oumenos saturados, trabalham com aper-tadas margens de ganho. O inversogeralmente acontece com os produtosde mais alta intensidade tecnológica.

De uma maneira geral, quanto maisbaixa é a intensidade tecnológica de umproduto, mais maduro ele é. Em outraspalavras, os produtos que já foramintroduzidos no mercado há muitotempo geralmente apresentam tecnolo-gias relativamente consolidadas combaixas oportunidades tecnológicas paranovos desenvolvimentos. Por isso, é re-

lativamente fácil a sua difusão e a con-seqüente multiplicação de imitadores.

1.2. A relação entre tecnologia eexportação

O gráfico 1 mostra como as taxasanuais de crescimento das exportaçõessão muito maiores para os produtos dealta intensidade tecnológica. O índicede crescimento das exportações mun-diais de produtos primários foi de ape-nas 3,8% ao ano no período 1985-2000, enquanto o de produtos manu-faturados de alta intensidade tecnoló-gica chegou a 13,2% ao ano, nomesmo período. Esse avanço foi lidera-do por produtos diretamente vincula-dos a novas tecnologias da informaçãoe comunicações (TIC), que cresceram auma taxa de 15,4% ao ano. As expor-tações de produtos manufaturadosbaseados em recursos naturais aumen-taram 6,6% ao ano, índice bem supe-rior ao dos produtos primários (3,8%),mas muito inferior ao dos produtos debaixa (8,9%), média (8,5%) e alta(13,2%) intensidade tecnológica.

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Como pode ser visto no gráfico 2,esse descompasso entre as taxas decrescimento dos diferentes tipos deprodutos provocou, em apenas quinzeanos, uma mudança profunda naestrutura do comércio mundial. Fez

com que a participação dos produtosprimários no total das exportaçõesmundiais alcançasse em 2000 uma pro-porção (12,4%) equivalente a poucomais da metade daquela que vigoravaem 1985 (23,1%).

Por sua vez, a participação dos pro-dutos de alta intensidade tecnológicapraticamente dobrou no mesmo perío-do, passando de 11,6%, em 1985, para22,9%, em 2000. Os produtos de baixae média intensidade, por terem cresci-do a taxas próximas da média de todosos setores (primários mais manufatura-dos), que foi de 8,2%, alteraram poucosua participação na estrutura das ex-portações mundiais.

Tudo isso mostra que a intensidadetecnológica ou a maturidade da pautade produção e exportação de umaeconomia condiciona e influencia seu

desenvolvimento. Quanto mais impor-tantes são os setores de alta intensi-dade tecnológica na estrutura produti-va e na pauta de exportações de umpaís, maiores suas oportunidades decrescimento. E, ao contrário, quantomais suas estruturas produtivas e pau-tas exportadoras são dominadas porsetores mais maduros, menores suaschances de desenvolvimento.

1.3. Os limites da imitação

Há ainda que se considerar o fato deque quanto mais maduras são as

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tecnologias, menores costumam ser asoportunidades para a incorporação deinovações incrementais ou radicais aosprocessos produtivos. Existe uma certacircularidade nesse fenômeno: a pautaprodutiva de uma nação é maduraporque seu processo de incorporaçãode conhecimento e inovações é poucodinâmico; ao mesmo tempo, esseprocesso é menos dinâmico porque ossetores mais modernos, que geral-mente apresentam mais oportunidadesde inovação, têm pequena presençaem sua estrutura produtiva.

Em síntese, para que desapareçaefetivamente o hiato que separa a imi-tação da melhor prática no empregoda tecnologia, é necessário que sedesenvolvam esforços simultanea-mente em três direções. Primeiro, épreciso procurar absorver rapidamenteas tecnologias mais avançadas, ou seja,reduzir ao mínimo o tempo decorridoentre o momento em que as inovaçõessão introduzidas na economia mundiale o momento em que uma determina-da empresa ou setor produtivo de umpaís as absorve. Segundo, é precisoaumentar deliberadamente o domíniosobre a tecnologia absorvida até que seatinja um grau de eficiência equiva-lente à melhor prática do empregodessa mesma tecnologia. Terceiro, épreciso desenvolver um processo deaperfeiçoamento capaz de incorporarinovações incrementais à pauta produ-tiva com a rapidez dos melhores con-correntes.

Ou seja, para que determinado paísimitador alcance padrões de eficiênciasimilares aos dos líderes da concorrên-cia, reduzindo seu atraso tecnológicoou sua defasagem em termos de pro-dutividade, é necessário absorver rapi-damente e dominar, de fato, as tecno-logias mais avançadas. Ao mesmo

tempo, é preciso gerar um processo deinovação incremental no mesmo ritmode seus mais eficientes competidores.A busca desses três objetivos é o quecaracteriza a chamada estratégia deaprendizado tecnológico ativo.

A maioria dos países em desenvolvi-mento permanece presa aos limitesestreitos do aprendizado passivo. Noentanto, alguns imitadores foram ouestão sendo capazes de realizar proces-sos bem-sucedidos de absorção e aper-feiçoamento de tecnologias. As estraté-gias de aprendizado tecnológico ativopermitem a essas economias seguir tra-jetórias de contínuo e aceleradoaumento de produtividade e moder-nização da pauta de produção e, comisso, mover-se de modo progressivo emdireção à competitividade autêntica.Um exemplo é o Japão, que seguiu comsucesso uma trajetória de aprendizadoativo no século XX e conseguiu superarnas últimas décadas os limites de umprocesso dominado pela imitação, tor-nando-se uma economia realmenteinovadora.

O exemplo de uma economia quesuperou os limites do processo de imi-tação não reduz, porém, a importânciadas dificuldades estruturais que exis-tem nas economias em desenvolvimen-to para a absorção de tecnologias, comconseqüências que afetam sua compe-titividade. Essas dificuldades impedemas economias imitadoras de alcançarníveis altos de renda e eqüidade. Valelembrar que a elevação de salários, umrequisito do processo de desenvolvi-mento, pode comprometer uma daspoucas vantagens competitivas comque essas economias podem contarquando se mantêm nos limites doaprendizado tecnológico passivo.

É preciso ainda ressaltar que adependência de custos baixos de mão-

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de-obra como fator principal de com-petitividade torna-se uma armadilha alongo prazo. Com o passar do tempo,novos competidores com custos salari-ais mais baixos acabam aparecendo nomercado internacional. Aperfeiçoamen-tos tecnológicos que substituem a mão-de-obra também são continuamenteintroduzidos, corroendo as vantagenscompetitivas baseadas em mão-de-obrabarata e forçando o rebaixamento adi-cional do trabalho. Assim, uma estraté-gia competitiva que se baseia nessefator e desconsidera o progresso técni-co é, a longo prazo, um obstáculo aodesenvolvimento nacional.

Por essas razões, um dos principaisobjetivos das políticas públicas deve sera criação de um sistema nacional deinovação e aprendizado que estimuleas empresas, cada vez mais, a competircom base em sua capacidade tecnoló-gica de absorver e aperfeiçoar tecno-logias, assim como gerar inovações deprodutos e processos. Dessa forma,seria possível livrar a economia danecessidade de manter baixos ossalários ou depender de outras vanta-gens competitivas espúrias.

1.4. Conhecimento e inovação noBrasil

O dinamismo na incorporação doconhecimento e das inovações aoprocesso produtivo é um importantecondicionante da produtividade do tra-balho4. Por isso, o comportamento daprodutividade reflete o grau de dina-mismo com que ocorre a incorporaçãode conhecimento e inovações aoprocesso produtivo de determinadaeconomia. Um indicador da produtivi-dade média do trabalho5 de umaeconomia pode ser obtido por intermé-dio da divisão do Produto Interno

Bruto (PIB) pelo número de pessoasempregadas. Medida desse modo, aprodutividade média do trabalhadorbrasileiro dobrou entre 1960 e 1980.Esta tendência de crescimento foi inter-rompida e, entre 1981 e 2002, ocor-reram períodos de queda de produtivi-dade, seguidos de períodos de recupe-ração parcial. Na segunda metade dadécada de 1990 e nos primeiros anosdo século XXI, houve crescimento deprodutividade na maior parte dos anos,o que permitiu recuperar níveis que seaproximavam, em 2002, daquelevigente no ano de 1980. Em síntese, aprodutividade média do trabalhadorbrasileiro em 2002 não foi significativa-mente diferente daquela que havia sidoatingida em 1980 (Viotti, 2004).

Esse baixo desempenho reflete-se naqueda da relação entre a produtividadedo trabalhador brasileiro e o da econo-mia industrial líder, os Estados Unidos.A produtividade média do brasileiro,que havia atingido cerca de 35% daprodutividade do norte-americano em1980, passou a representar apenas24% da produtividade daquela econo-mia em 2002, índice semelhante ao de1960, como indicado no gráfico 36.Essa performance comprometeu semdúvida a competitividade da economiado país e as possibilidades do cresci-mento da renda per capita dos bra-sileiros.

Um trabalhador norte-americanoproduzia aproximadamente o mesmoque quatro brasileiros no ano de 1960.Essa proporção reduziu-se para três em1980. Mas, em 2002, já eram neces-sários, novamente, cerca de quatrobrasileiros para produzir o mesmo queum norte-americano. O que significaque a produtividade relativa do traba-lhador brasileiro retornou, em 2002, aum nível semelhante ao de 1960.

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A menor competitividade causadapela progressiva queda da produtivi-dade, ocorrida no Brasil nas últimasduas décadas do século XX, não é umfenômeno generalizado entre países emdesenvolvimento, como pode ser vistono gráfico 3, que apresenta a evoluçãoda produtividade do trabalho de paísesselecionados, medida como proporçãoda produtividade do trabalhador norte-americano. Os dois casos mais bem-sucedidos de processos de industrializa-ção recente na América Latina e no sudeste asiático são apresentados ali.Como o gráfico indica, a produtividadedo trabalho dos quatro países seguiutrajetória de aproximação gradual daprodutividade da economia industriallíder entre 1960 e aproximadamente1980, divergindo a partir daí. Depois de1980, Coréia do Sul e Taiwan conti-nuaram sua trajetória de empare-lhamento (catching up) com os EUA,enquanto México e Brasil ficaram paratrás na corrida da competitividade.

Essa é uma clara indicação de queMéxico e Brasil seguiram uma estraté-gia de aprendizado tecnológico passi-vo, enquanto Coréia do Sul e Taiwandesenvolveram, com sucesso, umaprendizado ativo e já se qualificampara abandonar o grupo de países imi-tadores. Também é prova de que areprodução do círculo vicioso doaprendizado passivo, a competitivi-dade espúria e a manutenção do sub-desenvolvimento pode ser superadapor países em desenvolvimento.

Analisar a rapidez com que umaestrutura produtiva se moderniza, ab-sorvendo e desenvolvendo setores detecnologia mais avançada, é outraforma de inferir o dinamismo na incor-poração de conhecimento e inovaçõesao processo produtivo. Em geral, quan-to mais lentamente uma economiaabsorve conhecimentos e inovações dealta tecnologia, menor é o peso dessessetores em sua pauta de produção e exportação.

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O gráfico 4 apresenta o modo comoas exportações do Brasil distribuem-seproporcionalmente entre cinco catego-rias de produtos, classificados pelograu de tecnologia envolvida em seuprocesso de produção (ver quadro 2),e como se comparam com a média dasexportações mundiais7. A diferença en-tre o peso das exportações brasileirasde commodities primárias e a médiamundial é o fato que mais se destacana comparação. Os produtos primáriosrepresentaram 40% das exportaçõesbrasileiras em 2003, proporção maisde três vezes superior à média mundi-al de 2002, que foi de apenas 11%. A categoria de produtos que maiscrescem e mais oportunidades tecno-lógicas apresentam, a dos manufatura-

dos de alta tecnologia, é exatamenteaquela em que o Brasil, nesse aspecto,está em pior situação. Pouco menos deum terço (30%) das exportaçõesmundiais são de produtos de altatecnologia, enquanto apenas poucomais de um oitavo (12%) das expor-tações brasileiras são de produtosdesse tipo. A comparação também édesfavorável ao Brasil nas exportaçõesde manufaturados de média intensi-dade. Apenas 19% das exportações dopaís estão classificadas nessa categoria,que representa 30% das exportaçõesmundiais. As exportações brasileiras deprodutos de baixa tecnologia e inten-sivos em trabalho e recursos naturaisrepresentam proporções similares àsdas respectivas médias mundiais.

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53 Brasil: o estado de uma nação

Se o volume das exportações de pro-dutos de alta tecnologia for tomadocomo indicador do dinamismo doprocesso de incorporação de conheci-mentos e inovações à estrutura produ-tiva, o sistema de inovação ou apren-dizado brasileiro apresenta sinais de sermuito pouco dinâmico quando com-parado com a média das economias domundo, desenvolvidas ou subdesen-volvidas.

Tanto a baixa intensidade tecnoló-gica da pauta de exportações doBrasil, quanto o declínio da produtivi-dade do trabalho dos brasileiros,quando examinada em relação à dosnorte-americanos, são fatos reve-ladores do papel limitado que a incor-poração de conhecimentos e ino-vações desempenhou no processo dedesenvolvimento do país ao longo dasúltimas décadas.

Crescimento acelerado da produçãocientífica

É preciso observar, no entanto, que,entre 1981 e 2002, cresceu cerca de500% o número de artigos científicosoriginais – isto é, artigos que con-tribuem para a expansão das fronteirasdo conhecimento científico – publicadospor brasileiros, em revistas científicasinternacionais de primeira linha (verquadro 3). O número desses artigossaltou de 1.887 para 11.285 no período.A produção científica brasileira cresceu auma taxa mais de sete vezes superior àtaxa média mundial, que aumentou70%. Em razão desse dinamismo, osbrasileiros residentes no Brasil, que eramresponsáveis por apenas 0,44% da pro-dução científica mundial em 1981, pas-saram a responder por 1,55% dessa pro-dução em 2002 (ver gráfico 5).

EXEMPLOS

Commodities primáriasbebidas, fumo, cereais, óleos vegetais, pasta de celulose, carnes e minérios

Manufaturados intensivos em trabalho e recursos naturaistêxteis, móveis e calçados

Manufaturados de baixa intensidade tecnológicaprodutos de ferro e aço

Manufaturados de média intensidade tecnológicamáquinas, automóveis e motores

Manufaturados de alta intensidade tecnológicacomputadores, equipamentos de comunicação, aviões, instrumentos, cosméticos e produtosfarmacêuticos

Fonte: Unctad (2002).

QUADRO 2 – Classificação de produtos por intensidade tecnológica

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Uma forma de estimar o desenvolvimento da ciência em um país é comparar sua produção

científica ao tamanho de sua população. No caso do Brasil, apesar da expressiva expansão e

conseqüente ampliação da capacidade de pesquisa, é preciso atentar para o fato de que

nossa participação na produção científica mundial ainda corresponde a cerca da metade de

nossa participação na população mundial.

Tomando-se como base a produção científica no país entre 1999 e 2001, foram publica-

dos 38,8 artigos científicos por 1 milhão de habitantes. No mesmo período, Coréia do Sul e

Taiwan publicaram respectivamente 206,8 e 330,3 artigos por milhão de habitantes. A média

dos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), uma

organização formada basicamente por países desenvolvidos, foi de 490,3 artigos por milhão

de habitantes8.

QUADRO 3 – Medindo a produção científica

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55 Brasil: o estado de uma nação

A expansão acelerada da produçãocientífica brasileira deve-se, em grandeparte, ao maior número de mestres edoutores formados no país. O númerode brasileiros que receberam o título demestre e doutor a cada ano entre 1987e 2003 cresceu 757% e 932%, respecti-vamente. Em 2003, 27.630 brasileirosconcluíram cursos de mestrado, e8.094 o de doutorado (ver gráfico 6).Durante os últimos sete anos, onúmero de brasileiros que receberam otítulo de mestre e de doutor tem cresci-do a uma taxa de aproximadamente15% ao ano. Os índices de aumento daconcessão de bolsas e de matrículas emcursos de doutorado, nos últimos anos,permitem estimar que o país chegue aformar cerca de 10 mil doutores já em2006, chegando a alcançar a titulaçãode 16 mil doutores em 2010 (Capes,2004). A importância desse fato podeser inferida quando se verifica que a ti-tulação de doutores nos Estados

Unidos ficou estabilizada nos últimosdez anos no patamar de aproximada-mente 41 mil doutores por ano9.

A maioria expressiva desse contin-gente de recursos humanos de altonível permanece no segmento do mer-cado de trabalho formado pelas insti-tuições de ensino e pesquisa. Uma ele-vada proporção dos mestres e a quasetotalidade dos doutores trabalham emuniversidades (Velloso s/d, apudCapes, 2004). Um levantamento efe-tuado com base na Pesquisa Industrialde Inovação Tecnológica, realizadapelo IBGE, permitiu estimar em ape-nas cerca de 3 mil o número de pós-graduados envolvidos em atividadesde pesquisa e desenvolvimento nasempresas industriais inovadorasbrasileiras no ano de 2000 (Viotti etalii, 2005). Apenas nesse mesmo ano,mais de 18 mil novos mestres e de 5mil doutores entraram no mercado detrabalho brasileiro.

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Em síntese, o Brasil conseguiudesenvolver uma pós-graduação cujaqualidade, diversidade de áreas equantidade de titulados têm crescidode maneira sistemática e acentuada aolongo das últimas décadas. É fato quea produção científica brasileira con-tribui de modo crescente e significativopara a expansão das fronteiras do co-nhecimento científico universal. Assim,conclui-se que a falta de dinamismo naincorporação de conhecimentos e ino-vações ao processo produtivo nãopode ser atribuída à dinâmica da ofer-ta de conhecimentos científicos e derecursos humanos do mais alto nívelacadêmico no Brasil.

Na verdade, esse potencial é aindapouco explorado pelo processo de ino-

vação brasileiro. O número limitado depatentes concedidas a brasileiros nosEstados Unidos, como indica o gráfico7, parece reforçar esta observação.10 Noano de 2002, por exemplo, foram con-cedidas a brasileiros apenas 96patentes de um total de mais de 167mil patentes concedidas pelo escritórionorte-americano de patentes e marcas,ou seja, 0,06% do total – proporção emtorno da qual situa-se a produçãobrasileira de patentes americanasdesde o início da década de 1990. Seessa produção fosse comparada à deartigos científicos, também em 2002, opercentual de patentes concedidas abrasileiros representaria 1/25 do per-centual de artigos científicos publica-dos por brasileiros.

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1.5. Capacitação tecnológica: achave da nova estratégia de desenvolvimento

A oferta crescente de mestres edoutores e a capacidade de produzirconhecimentos científicos constituem,sem dúvida, uma base importante paraa construção de um sistema nacional deinovação e aprendizado tecnológico quepossa ser a peça-chave da estratégia dedesenvolvimento econômico e social do

Brasil. O país pode contar, ainda, comoutros elementos essenciais que o qua-lificam para buscar o caminho da supe-ração do círculo vicioso estabelecidoentre um processo de aprendizadotecnológico passivo, um elevado hiatode produtividade em relação às econo-mias líderes e a dependência de vanta-gens competitivas espúrias, fatores queconcorrem para a reprodução do subde-senvolvimento e do atraso tecnológico(ver quadro 4).

A aproximação entre empresas, universidades e instituições de pesquisa

com foco na inovação e no aprendizado tecnológico está na base da criação

da nova Lei de Inovação (Lei nº 10.973, de 02/12/2004). Um debate com a

sociedade, do qual participaram instituições acadêmicas, científicas e do setor

empresarial, marcou o início do processo. A seguir, o Executivo elaborou e

submeteu à análise do Congresso um projeto de lei, que foi aperfeiçoado e

aprovado pelos parlamentares. São três seus objetivos principais:

• Estimular a constituição de parcerias estratégicas e a cooperação entre

universidades, institutos de pesquisa públicos e empresas privadas

voltadas para a realização de atividades de pesquisa e desenvolvimento,

que tenham como meta a geração de inovações.

• Incentivar a transferência para o setor privado de tecnologias geradas

em instituições públicas de pesquisa.

• Estimular a geração de inovações diretamente nas empresas nacionais.

QUADRO 4 – Inovar agora é lei

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58Brasil: o estado de uma nação

Esses elementos favoráveis incluem,por exemplo, uma estrutura produtivadiversificada e integrada, um mercadointerno de escala considerável, umaimportante rede de instituições depesquisa e desenvolvimento, uma in-dústria aeronáutica relevante, além deuma agropecuária crescentementecompetitiva (ver quadro 5). O sistemabrasileiro de inovação e aprendizado,porém, ainda se apresenta poucodinâmico na incorporação de conheci-mentos e inovações ao processo produ-

tivo. A grande maioria das empresasnacionais parece não ter acumuladocapacitação tecnológica suficiente parase tornar agente ativo do processo deabsorção e geração de inovações.

Este parece ser o ponto crucial quetem limitado o processo de desenvolvi-mento tecnológico e econômico dopaís. Por isso, o grande desafio que seimpõe ao Brasil de hoje é o de mobi-lizar a capacidade de inovação eaprendizado tecnológico da empresabrasileira.

Entre os diversos mecanismos para estimular as inovações, a lei prevê

autorizações para a incubação de empresas inovadoras por instituições públi-

cas e a possibilidade de compartilhamento de infra-estrutura, equipamentos

e recursos humanos, públicos e privados, para o desenvolvimento tecnológi-

co e a geração de processos e produtos inovadores. Também estabelece

regras para a participação de instituições e de pesquisadores em receitas

obtidas pela transferência de tecnologia e a licença não-remunerada de

pesquisadores para a constituição de empresas de base tecnológica.

A lei autoriza ainda a participação minoritária do governo federal no capital

de empresas privadas que tenham como propósito específico o desenvolvimen-

to de inovações, assim como a concessão de recursos financeiros, sob a forma

de subvenção econômica, financiamento ou participação acionária, visando ao

desenvolvimento de produtos e processos inovadores. A administração pública

também fica autorizada a realizar encomendas tecnológicas de soluções de pro-

blemas técnicos específicos ou de produtos e processos inovadores que aten-

dam objetivos de interesse público.

O fomento à inovação tecnológica na empresa mediante a concessão de

incentivos fiscais será objeto de nova lei a ser proposta ao Congresso Nacional.

CONTINUAÇÃO

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59 Brasil: o estado de uma nação

QUADRO 5 – Inovações na agricultura: aumento de produtividade e viabilização de culturas

A agricultura constitui uma exceção. Nela, o crescimento anual médio de 3,3% em sua pro-

dutividade11, entre 1975 e 2002, e de 6,04%, entre 2000 e 2002, é explicado pela pesquisa e

desenvolvimento conduzida no país, particularmente pela Embrapa. Esses ganhos de produtivi-

dade fizeram com que, em uma década, a produção brasileira de grãos saltasse de 80 para 120

milhões de toneladas com crescimento mínimo da área plantada.

As inovações introduzidas na produção agrícola em decorrência das pesquisas realizadas

abrangeram a melhoria genética, com o desenvolvimento de novas espécies utilizadas na pro-

dução de grãos, com maior potencial produtivo e mais resistentes a doenças, assim como a

adoção de métodos mais eficientes de plantio, o chamado sistema de plantio direto.

Economia com combustível, tempo de plantio e hora-máquina são as principais razões para

a adoção tão rápida do sistema de plantio direto. Estima-se em 25 milhões de hectares a

abrangência desse sistema. Um estudo feito no estado de Goiás comparando o sistema de

plantio direto com o convencional observou que ele propiciou um ganho de US$16,6 por

hectare. Com a soja, o plantio direto proporciona redução de 44% nas perdas de solo em

relação ao sistema convencional com arado de discos (Resck, 2004).

Inovações concomitantes em máquinas e equipamentos utilizados no campo, com a utiliza-

ção de eletrônica embarcada em tratores e colheitadeiras, reforçaram o impacto das pesquisas

da Embrapa na produtividade agrícola. O financiamento governamental concedido ao abrigo

do Moderfrota12 propiciou a difusão desses equipamentos para os produtores.

A tendência do mercado nos últimos cinco anos tem sido em direção aos tratores de maior

potência, acima de 100 cavalos-vapor. Em 1999, esses tratores representavam 38,6% das ven-

das; em agosto de 2004 passaram a representar 58,6%. Com o crescimento do mercado inter-

no, as empresas brasileiras ganharam escala e investiram em eficiência e desenvolvimento de

produto, o que favoreceu as exportações: só em 2004 a exportação de colheitadeira e tratores

alcançou US$1,8 bilhão, com crescimento de 80% em relação a 2003.

Ganhos importantes foram registrados em várias áreas. Atualmente o Brasil cultiva a metade

da área que era semeada com arroz em 1987, mas continua produzindo a mesma quantidade

de grãos: de 10 a 12 milhões de toneladas. O acréscimo de 20% na produção nacional de fei-

jão acontece em um cenário de decréscimo de área plantada.

O desenvolvimento e o lançamento no mercado de variedades melhoradas e de híbridos de

milho constituem exemplos de saltos qualitativos e quantitativos. Um exemplo de grande

sucesso do melhoramento genético é o milho BR 201, o primeiro híbrido duplo de milho com

adaptação aos solos de cerrado que, lançado em 1981, abriu as portas para a conquista de

região, proporcionando avanços significativos na produção nacional (Gama, Santos, 2004).

A cultura de soja no Brasil fornece um dos melhores exemplos da contribuição da pesquisa

e das inovações (Toledo, 2004). Atualmente, existem mais de 200 cultivares disponíveis que são

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60Brasil: o estado de uma nação

CONTINUAÇÃO

semeados em mais de 55% da área cultivada com soja no país. A produtividade média do cul-

tivo de soja, que era de 2033 kg/ha em 1995, é, hoje, de 2800 kg/ha.

Os ganhos de produtividade foram ainda maiores no caso do algodão, cuja média nacional

saltou de 1424 kg/ha para 3460 kg/ha (2003-2004). O sistema de produção é mecanizado em

todas as etapas do processo produtivo, incluindo o manejo integrado de pragas, o uso de re-

guladores de crescimento, o descaroçamento na propriedade e a venda direta à indústria

(Toledo, 2004).

Desafios para o futuro

Uma série de mudanças tecnológicas tende a alterar radicalmente o panorama da

agropecuária, alcançando vantagens comparativas hoje existentes entre os diversos países. É o

caso da agricultura de precisão, da rastreabilidade e garantia de origem, além da transgenia.

A agricultura de precisão utiliza a microeletrônica (semicondutores), softwares e bons mo-

delos de previsão climática para adaptar a quantidade e a espécie de insumos aplicados às ca-

racterísticas do solo, de modo a obter um melhor aproveitamento da área cultivada, aumento

de produtividade e redução no custo de produção.

A rastreabilidade já é uma exigência de muitos compradores internacionais para assegurar

níveis aceitáveis de agrotóxicos, produtos de origem animal e vegetal livres de doenças, ates-

tar origem do manejo de madeiras e mesmo para prevenção de biopirataria. Assim, uma parte

das disputas internacionais por mercados deve passar pela certificação de origem e rastreabi-

lidade de culturas, o que significa que o Estado e os produtores devem intensificar seus inves-

timentos para fazer frente ao desafio.

A transgenia promete mudanças radicais. Em termos mundiais verifica-se um notável cresci-

mento da produção de variedades transgênicas. No Brasil, o que tem ficado em foco é a

questão da soja13, que é a ponta de um imenso iceberg.

Sendo o Brasil um dos maiores detentores de biodiversidade do planeta, a biotecnologia

assume um papel central no projeto de desenvolvimento do país, particularmente a partir do

setor agropecuário. Os marcos legais – lei de biossegurança e lei de acesso ao patrimônio

genético – são fundamentais para delinear o contorno dos investimentos e o perfil do

agronegócio do futuro.

A manutenção da competitividade brasileira no campo exige, pois, um forte investimento,

público e privado, em pesquisa aplicada de organismos geneticamente modificados.

A Embrapa, que liderou a transformação do agronegócio brasileiro a partir de meados dos

anos 1970, tem potencial para transformar-se na líder de tecnologias de base agrícola

(particularmente sementes), fornecendo soluções para a agricultura familiar, para o grande

agronegócio, e inserindo-se internacionalmente na disputa da propriedade intelectual.

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61 Brasil: o estado de uma nação

Preço-Prêmio – Diferençaentre o preço do produto deuma empresa inovadora e opreço do produto das suasconcorrentes que nãoinovaram. A inovação é umadas principais fontes decrescimento econômico (vera respeito da discussão nocapítulo Estabilidade eCrescimento, seção 3.2).Joseph Schumpeter,economista austríaco, trata ainovação como um processode “destruição criativa”: umafirma que inove com sucessoreceberá lucros mais altos,gerando, com isso,competição entre suas rivaispor uma inovação superior.A inovação pode serincentivada por meio dagarantia de um preço-prêmio que compense aempresa pelo risco de inovar.A patente é um exemplodesse tipo de garantia.

2. COMO ESTÃO AS EMPRESASBRASILEIRAS EM MATÉRIA DE INOVAÇÃO E TECNOLOGIA?

No contexto industrial14 contem-porâneo, a reestruturação contínua dasempresas é peça-chave das suas estra-tégias competitivas e do padrão tecno-lógico que emerge desses processos. OBrasil esteve afastado dessa dinâmicaaté recentemente. Nos últimos catorzeanos, porém, com a exposição mais in-tensa da indústria nacional à concor-rência mundial, verificou-se uma amplareestruturação das empresas nacionais.Estas passaram por grandes mudançasnas formas de gerenciamento e deorganização da produção, incluindo-seaí a introdução de novos insumos eequipamentos e a renovação de sua li-nha de produtos.

Os estudos econômicos e sobregestão empresarial mostram que a ino-vação, principalmente a que gera pro-dutos diferenciados no mercado, éuma estratégia que possibilita àsempresas maiores ganhos, porque pro-dutos novos podem ser vendidos apreços mais altos. Ou seja, as empresasauferem um preço-prêmio por essaespécie de inovação15. A importância da

estratégia competitiva das empresaspara seus negócios foi difundida porPorter (1993), que estabeleceu umadiferença básica a esse respeito: con-corrência por diferenciação de produ-tos e concorrência por preço. A diferen-ciação de produto é uma estratégiamais vantajosa, pois a concorrência porpreço geralmente sustenta-se em me-nores salários, maiores jornadas de tra-balho ou melhor acesso a recursos naturais (commodities) que sofrem flu-tuações de preços.

Há poucos estudos amplos sobre oesforço de inovação na indústriabrasileira. Para suprir essa lacuna, oIpea realizou um grande projeto depesquisa intitulado Inovação, padrõestecnológicos e desempenho das firmasindustriais brasileiras, reunindo o maiorconjunto de informações sobre aindústria brasileira jamais obtido, querepresenta 72 mil firmas industriais ecerca de 90% do valor da produçãoindustrial. Isso foi possível pela ar-ticulação inédita das principais basesde dados nacionais: PIA (PesquisaIndustrial Anual), Pintec (Pesquisa deInovação Tecnológica na Indústria),ambas do IBGE; Base de dados decomércio exterior (Secex/MDIC); Carac-

Tabela 1 – Área de produção de transgênicos por país (milhões de ha)

EUA 42,88 47,6 11% milho transgênico, soja tolerante a herbicida e algodão transgênicoArgentina 13,85 16,2 17% milho Bt e soja transgênciaCanadá 4,39 5,4 23% milho, soja e canelaBrasil 3,01 5,0 66% soja transgênicaChina 2,80 3,7 32% algodão transgênicoParaguai – 1,2 – soja transgênicaÍndia 0,10 0,5 400% algodão transgênicoÁfrica do Sul 0,40 0,5 25% milho branco transgênico, milho amarelo, soja transgênica e algodão transgênicoUruguai 0,10 0,3 200% milho transgênico e soja transgênicaAustrália 0,13 0,25 100% algodão transgênicoRomênia – 0,1 – soja transgênicaMéxico – 0,075 – diversosEspanha 0,03 0,058 80% milho BtFilipinas 0,02 0,052 160% milho BtColômbia – 0,01 – algodão Bt

2003País

Fonte: ISAAA (2005). Obs.: 1,0ha = 2,47 acres = 10.000m2.

2004 Cresc. % Produto(s) chave(s)

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62Brasil: o estado de uma nação

terísticas do emprego e do trabalhador(Rais-MTE); Censo de capitais estran-geiros e registro de capitais brasileirosno exterior (Bacen).

O conceito de inovação utilizadopela Pintec é amplo, podendo significartanto a introdução de um equipamen-to novo para a empresa embora há

muito conhecido no mercado, quantoo lançamento de um produto inexis-tente no mercado, o que gera umpreço-prêmio para a empresa, indican-do que o produto diferencia-se poralgum motivo (inovação tecnológica,marca, serviço associado ao produtoetc.) (ver quadro 6).

Nesse estudo, em que o assunto é a inovação, as empresas industriais foram classificadas

conforme suas estratégias competitivas:

• Empresas que inovam e diferenciam seus produtos (Categoria A) – Nesse grupo estão

incluídas as empresas que adotam estratégias competitivas mais vantajosas e tendem a

criar mais valor. Elas compõem o segmento mais dinâmico da indústria. Destacam-se por

terem realizado inovação de produto para o mercado e obtido preço-prêmio acima de

30% em suas exportações quando comparadas com os demais exportadores brasileiros16

do mesmo produto.

• Empresas especializadas em produtos padronizados (Categoria B) – O foco de sua

estratégia competitiva está na redução de custos, ao invés da criação de valor.

Encontram-se aqui as empresas exportadoras não incluídas na categoria anterior e as

não exportadoras cuja eficiência iguala-se ou é superior à das empresas que exportam

nesse mesmo grupo. Elas tendem a ser atualizadas no que se refere a características

operacionais como fabricação, gestão da produção, qualidade e logística – imperativos

para sustentação de custos relativamente mais baixos –, mas mostram-se defasadas em

relação a outros fatores competitivos como pesquisa e desenvolvimento, marketing e

gerenciamento de marcas.

• Demais empresas (Categoria C) – Todas as que não pertencem às categorias anteriores,

ou seja, não diferenciam produtos e apresentam produtividade de trabalho menor em

relação às firmas do grupo anterior.

QUADRO 6 – As empresas e suas estratégias competitivas

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63 Brasil: o estado de uma nação

Produto tecnologicamentenovo (ou substancialmenteaprimorado) – É um produto(bem ou serviço) cujascaracterísticas fundamentais,como suas especificaçõestécnicas, usos pretendidos,software ou outrocomponente imaterialincorporado, diferemsignificativamente de todosos produtos previamenteproduzidos pela empresa. Jáo aperfeiçoamentotecnológico é atribuído a umproduto previamenteexistente, cujo desempenhofoi substancialmenteaumentado ou aperfeiçoado.Um produto simples podeser aperfeiçoado e obtermelhor desempenho oumenor custo, por meio dautilização de matérias-primas ou componentes demaior rendimento. Umproduto complexo, comvários componentes ousubsistemas integrados,pode ser aperfeiçoado viamudanças parciais em umdos componentes ousubsistemas.

Processo novo (ousubstancialmenteaprimorado) – Correspondeà introdução de tecnologiade produção nova ousignificativamenteaprimorada, assim como demétodos para manuseio eentrega de produtos(acondicionamento epreservação). O resultado daadoção desses novosprocessos deve sersignificativo para o nível e aqualidade do produto oupara seu custo de produçãoe entrega. Os objetivos paraa introdução dessesprocessos podem ser: (i) aprodução ou entrega deprodutos tecnologicamentenovos ou substancialmenteaprimorados que nãopossam se utilizar dosprocessos previamenteexistentes, ou (ii)simplesmente o aumento daeficiência da produção e daentrega de produtos jáexistentes.

2.1. A inovação tecnológica nasempresas

Se o conteúdo tecnológico e asatividades voltadas para a inovação sãoarmas importantes para competir nosmercados doméstico e internacional,como encontram-se as empresas brasi-leiras nesse aspecto?

Na indústria brasileira, a proporçãode empresas com mais de dez empre-gados que realizam algum esforço deinovação é de 31,5 %. Embora não seja

desprezível, esse índice – chamado detaxa de inovação – é muito baixo secomparado com o que se verifica empaíses mais avançados.

Isso fica evidente nos dados apresen-tados no gráfico 8: em comparação compaíses europeus, entre os anos 1998 e2000, a indústria brasileira apresentauma taxa de inovação (31%) superiorapenas à da Grécia (26%) e muitomenor do que a dos países líderes –Alemanha, Bélgica, Holanda e Dinamar-ca, cujas taxas variam entre 49 e 60%.

A qualidade da inovação praticadapelas empresas brasileiras também estámuito aquém do exigido para o desen-volvimento do país. A inovação de qua-lidade, isto é, aquela que gera maiorescondições de competitividade em ra-zão de criar novos produtos ou novosprocessos de produzir, sob a ótica domercado, é muito pequena. Das em-presas que inovam para o mercado,

apenas 4,1% inovam em produto, emenos ainda, 2,8%, inovam em proces-so (ver tabela 3).

A introdução de produtos tecno-logicamente novos ou processosnovos, tanto para a empresa quantopara o mercado, amplia as vantagenscompetitivas. As inovações para o mer-cado podem ser consideradas, portanto,de qualidade muito superior àquelas

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64Brasil: o estado de uma nação

que são novidade apenas para asempresas. As inovações pioneiras ape-nas para a empresa estão bem maispróximas do conceito de difusão (ou

absorção) de inovações do que do con-ceito de inovação propriamente dita. O gráfico 9 mostra a desvantagem daempresa brasileira nesse aspecto.

É flagrante a desvantagem do Brasil,cuja taxa de inovação em produto parao mercado é a mais baixa entre os paí-ses selecionados. Essa desvantagemainda é ressaltada quando se leva emconta que a pesquisa européia consi-dera inovação para o mercado aquelaque é pioneira para o mercado no qualatua a empresa, que pode ser tanto opróprio país quanto o mercado interna-cional, enquanto a pesquisa brasileiraconsidera inovação aquela que é pio-neira apenas para o mercado nacional.

A tabela 2 mostra que das 72 milempresas com mais de dez emprega-dos de propriedade do capital nacio-nal, apenas 1,7% inova e diferencia

produtos; 21,3% delas são especia-lizadas em produtos padronizados. A grande maioria, portanto, é de empresas que não diferenciam seusprodutos e apresentam produtividademenor. Dessa forma, elas não se benefi-ciam significativamente da inovação.As empresas de capital estrangeiroapresentam-se melhor posicionadas namédia, o que é razoável esperar, umavez que já se destacaram em seus paí-ses de origem, internacionalizando-se.No entanto, é preciso cuidado ao fazercomparações sob esse ângulo, comoserá visto mais adiante na análise doesforço que as empresas realizam parainovar.

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65 Brasil: o estado de uma nação

Categoria

Tabela 2 – Número de firmas na indústria brasileira, segundo estratégiascompetitivas e padrões tecnológicos e propriedade do capital

TotalNacional Estrangeira Mista

Propriedade do capital (%)

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) – Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Indústria, Pesquisa Industrial –Inovação Tecnológica (2000). Elaboração: Ipea/Diset, a partir da transformação dos dados obtidos na fonte e com a incorporaçãode dados da PIA/IBGE, Secex/MDIC, CBE/Bacen, CEB/Bacen, ComprasNet/MPOG e Rais/MTE.

(A) Inovam e diferenciam produto 1.199 742 394 63(1,7%) (1,1%) (21,3%) (17,2%)

(B) Especializadas em produtos padronizados 15.311 13.876 1.243 192(21,3%) (19,9%) (67,2%) (52,5%)

(C) Não diferenciam e têm produtividade menor 55.486 55.161 214 111(77,1%) (79,0%) (11,5%) (30,3%)

Total 71.996 69.779 1.851 366(100%) (100%) (100%) (100%)

Tabela 3 – Taxa de inovação segundo as estratégias competitivas das firmas (1998-2000)

CategoriaTotal

Novopara

mercado

Novopara

empresaTotal

Novopara

mercado

Novopara

empresa

Inovadoras de produto Inovadoras de processo

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Indústria, Pesquisa Industrial – Inovação Tecnológica (2000). Elaboração:Ipea/Diset, a partir da transformação dos dados obtidos na fonte e com a incorporação de dados da PIA/IBGE, Secex/MDIC,CBE/Bacen, CEB/Bacen, ComprasNet/MPOG e Rais/MTE.

(A) Inovam e diferenciam produtos 100,0 100,0 28,4 70,6 35,7 48,5

(B) Especializadas em produtos padronizados 26,2 4,5 23,1 35,6 5,7 31,6

(C) Não diferenciam e têm produtividade menor 13,4 1,9 11,7 21,4 1,3 20,4

Total 17,6 4,1 14,4 25,2 2,8 23,3

É importante observar ainda que70,6% das empresas brasileiras que ino-varam e diferenciaram produtos tam-bém inovaram no processo de produção,sendo que 35,7% delas foram respon-sáveis por novos processos para o mer-cado, conforme mostra a tabela 3. Issoindica que criar produtos novos para omercado exige também um esforço deinovação em processo. Já as empresas

especializadas em produtos padroniza-dos apresentam baixo percentual tantode inovação de produtos como de novosprocessos para o mercado. Essa dife-rença nas estratégias competitivas deve-se ao fato de que, para essas últimas, ainovação é utilizada para sua atualizaçãotecnológica e dos produtos ofertados,razão pela qual prevalece a difusão deinovações já conhecidas.

Cabe uma análise específica sobre asempresas industriais que não diferen-ciam produto e têm produtividademenor. Elas são a maioria, estão dis-tribuídas em todo o território nacional

e têm grande relevância na geração deemprego17. Cerca de três quartos delasnão apresentaram nenhuma inovação,segundo a Pintec – ou seja, sequerintroduziram mudanças já conhecidas

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66Brasil: o estado de uma nação

no processo produtivo. Quando su-cede, a inovação é decorrente da mu-dança de equipamentos, o que destacaa importância de programas para

apoio à modernização industrial deempresas pequenas e médias, como éo caso do Modermaq18, lançado em2004.

Tabela 4 – Principal responsável pela inovação: percentual por categoriaem relação ao total de firmas inovadoras de produto e de processo, 1998-2000

CategoriaEmpresa

Outraempresa do

grupo

Empresa emcooperação

Outrasempresas

Produto

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Indústria, Pesquisa Industrial – Inovação Tecnológica (2000). Elaboração:Ipea/Diset, a partir da transformação dos dados obtidos na fonte e com a incorporação de dados da PIA/IBGE, Secex/MDIC,CBE/Bacen, CEB/Bacen, ComprasNet/MPOG e Rais/MTE.

(A) Inovam e diferenciam produtos 65,6 17,0 12,3 5,0

(B) Especializadas em produtos padronizados 72,6 6,0 9,9 11,5

(C) Não diferenciam e têm produtividade menor 71,6 0,5 5,9 21,9

Total 71,4 3,8 7,8 17,0

CategoriaEmpresa

Outraempresa do

grupo

Empresa emcooperação

Outrasempresas

Produto

(A) Inovam e diferenciam produtos 30,7 6,6 15,2 47,5

(B) Especializadas em produtos padronizados 13,1 2,5 6,3 78,1

(C) Não diferenciam e têm produtividade menor 8,1 0,1 3,5 88,3

Total 10,6 1,2 4,9 83,3

Os dados apresentados na tabela 4acrescentam evidências de que adifusão de tecnologia domina o com-portamento inovador das firmas espe-cializadas em produtos padronizados:78% delas indicaram que o principalresponsável pela inovação foi outraempresa. Esse percentual é de 88,3% nocaso de pequenas e médias empresas.

O estabelecimento de acordos coo-perativos e parcerias faz parte tambémdo processo de inovação de umaempresa. As parcerias são distintas deacordo com a estratégia competitivadas firmas.

Um dado especialmente interes-sante é que 23,1% das empresas queinovaram em produtos para o mercado

atribuíram alta importância a essaestratégia para o enquadramento àsnormas do mercado externo. Essenúmero sugere que há uma parcelanão desprezível de firmas na indústriabrasileira que consideram o mercadoexterno dentro de sua estratégia.

2.2. Competitividade e inovação

A contribuição da inovação para acompetitividade é, logicamente, bas-tante significativa. Arbache (2005),por meio de estudos econométricosaplicados às bases de dados aquirelatadas, mostra que inovação eexportação implicam maior tamanho emelhor desempenho da empresa.

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67 Brasil: o estado de uma nação

Tabela 6 – Inovação e escala das firmas industriais brasileiras

CategoriaPessoal

ocupado(N)

Faturamento(Milhões R$)

Valor datransformação

industrial(Milhões R$)

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Indústria, Pesquisa Industrial – Inovação Tecnológica (2000). Elaboração:Ipea/Diset, a partir da transformação dos dados obtidos na fonte e com a incorporação de dados da PIA/IBGE, Secex/MDIC,CBE/Bacen, CEB/Bacen, ComprasNet/MPOG e Rais/MTE.

(A) Inovam e diferenciam produtos 545,9 135,5 51,1

(B) Especializadas em produtos padronizados 158,1 25,7 10,6

(C) Não diferenciam e têm produtividade menor 34,2 1,3 0,45

Tabela 5 – Indicadores de competitividade das firmas por categoria,média em 2000

Categoria

Produtividadedo

trabalhador(Milhões R$)

Eficiênciatécnica

Liderança

Gastos emP&D

(% fatura-mento)

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Indústria, Pesquisa Industrial – Inovação Tecnológica (2000). Elaboração:Ipea/Diset, a partir da transformação dos dados obtidos na fonte e com a incorporação de dados da PIA/IBGE, Secex/MDIC,CBE/Bacen, CEB/Bacen, ComprasNet/MPOG e Rais/MTE.

(A) Inovam e diferenciam produtos 74,1 0,30 0,02 3,06

(B) Especializadas em produtos padronizados 44,3 0,18 0,004 0,99

(C) Não diferenciam e têm produtividade menor 10,0 0,11 0,00028 0,39

Mostra ainda que a produtividademédia do pessoal ocupado naquelasque inovam e diferenciam produtos é67,3% maior do que a encontrada em

empresas especializadas em produtospadronizados, e mais de sete vezessuperior à das demais empresaspesquisadas.

A forte correlação entre inovação ediferenciação de produto e o nível departicipação do mercado também estáexposta na tabela 5. As organizaçõesque aplicam maiores recursos empesquisa e desenvolvimento (P&D),procurando inovar e diferenciar produ-tos, são as que apresentam índice maiselevado de participação em seus mer-cados, o que lhes garante melhorposição competitiva quando compara-das com as empresas das outras cate-gorias. O baixo investimento em P&Ddas especializadas em produtos padro-nizados e das que não diferenciam pro-dutos e têm produtividade menor podecomprometer sua competitividade amédio e longo prazo19.

2.3. Grandes empresas, maiores inovações

O tamanho da empresa, medidopelo faturamento, também conta mui-to para as diferenças encontradas comrespeito ao panorama de inovação naindústria brasileira. A tabela 6 deixa is-so claro. As empresas que inovam ediferenciam produtos registram fatura-mento médio de R$ 135,5 milhões,enquanto o das especializadas em pro-dutos padronizados é de R$ 25,7 mi-lhões. As diferenças se multiplicamquando são consideradas outras va-riáveis para medir o tamanho da em-presa, como pessoal ocupado e valorda transformação industrial.

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68Brasil: o estado de uma nação

Tabela 7 – Inserção das firmas no comércio exterior por categoria competitiva, média em 2000

CategoriaExportações

(US$ milhões)

Importações(US$

milhões)

Coeficientede expor-

tação(%)

Coeficientede impor-

tação(%)

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Indústria, Pesquisa Industrial – Inovação Tecnológica (2000). Elaboração:Ipea/Diset, a partir da transformação dos dados obtidos na fonte e com a incorporação de dados da PIA/IBGE, Secex/MDIC,CBE/Bacen, CEB/Bacen, ComprasNet/MPOG e Rais/MTE.Obs.: Coeficiente de exportação: valor exportado /faturamento; Coeficiente de importação: valor importado / faturamento;(*) Dado em revisão.

(A) Inovam e diferenciam produtos 11,4 12,01 0,11 0,15

(B) Especializadas em produtos padronizados 2,1 1,8 0,21 0,10

(C) Não diferenciam e têm produtividade menor 0,0 0,0024 0,00 0,01(*)

2.4. As empresas brasileiras que inovam e a inserção no comércio exterior

A importância da inovação para acompetitividade e para o país se mani-festa também no momento de disputaros mercados externos. As empresasque inovam e diferenciam produtosexportam em média muito mais do que

as demais, embora exibam valores deimportação semelhantes ao que expor-tam, conforme mostra a tabela 7. Porela, vê-se que a razão entre impor-tações e faturamento, ou seja, o coefi-ciente de importação, é 50% maior nasempresas que inovam em relação àsoutras empresas brasileiras inseridas nocomércio internacional.

Isso se explica pelo fato de que asempresas que diferenciam seu produtoobtêm melhor preço no mercado inter-nacional, mas demandam maior nú-mero de componentes ou outros produtos complementares às linhas deprodução doméstica não fabricados nopaís. Ou seja, como o Brasil não é sufi-cientemente competitivo em segmen-tos industriais de alta intensidade tec-nológica, as empresas que adotam umaestratégia baseada na inovação de pro-dutos precisam constantemente impor-tar componentes de maior conteúdotecnológico para sua linha de pro-dução, ao mesmo tempo em que com-plementam a linha de produtos queelas oferecem ao mercado doméstico.

A maior parte dessas importaçõesocorre entre empresas de um mesmosetor industrial e de um mesmo grupo

empresarial, caracterizando um padrãode comércio intra-indústria e intrafirmae revelando a complementaridade tec-nológica com o exterior. É importanteassinalar que apenas mediante umredobrado esforço de inovação poderáser alcançado um melhor equilíbrio en-tre exportações e importações nos seg-mentos industriais.

As empresas que fabricam e expor-tam produtos padronizados – aquelesmenos diferenciados, mais homogê-neos e de menor conteúdo tecnológico– utilizam-se em maior grau de fatoresde produção como mão-de-obra bara-ta e recursos naturais, encontrados deforma abundante no país. Como essasempresas dependem menos de impor-tações, suas exportações acabam porcontribuir com uma parcela maior emseu faturamento (ver quadro 7).

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69 Brasil: o estado de uma nação

Tabela 8 – Balança comercial das empresas por categoria competitiva eintensidade tecnológica do produto (2000-2003)

Intensidade tecnológica do produto

Exp. Imp. Saldo Exp. Imp. Saldo

Empresas que inovam ediferenciam produtos

Empresas especializadasem produtos padronizados

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Indústria, Pesquisa Industrial – Inovação Tecnológica (2000). Elaboração:Ipea/Diset, a partir da transformação dos dados obtidos na fonte e com a incorporação de dados da PIA/IBGE, Secex/MDIC,CBE/Bacen, CEB/Bacen, ComprasNet/MPOG e Rais/MTE.Obs.: Definição de intensidade tecnológica de produto da Unctad.

Commodities 3.805 3.252 552 44.171 8.473 35.698

Trabalho e recursos naturais 3.112 1.880 1.231 17.706 3.509 14.197

Baixa intensidade 1.974 1.343 631 14.314 2.082 12.231

Média intensidade 17.227 17.037 190 10.221 14.215 -3.994

Alta intensidade 18.375 18.797 -422 11.485 23.308 -11.824

Não classificados 576 606 -30 13.066 27.247 -14.181

TOTAL 45.068 42.915 2.152 110.964 78.836 32.128

Uma das principais deficiências do comércio exterior brasileiro é o pequeno número deempresas que dele participa. Chama atenção o fato de que uma firma que se dedica à inovaçãotecnológica tenha 16% mais chances de exportar do que aquela que não a pratica.

A importância da inovação para o aumento da base exportadora justifica maiores esforçosnessa direção. Para demonstrar esse fato, basta observar que se o número de empresas quehoje exportam crescesse 14% – ou seja, se 2.500 firmas passassem a exportar como resultadodo aumento de escala e de sua capacidade de inovar –, haveria um ganho adicional de US$ 1,4 bilhão de exportações por ano. O impacto desse reforço na balança comercial seriaequivalente, segundo estimativas feitas pelo Ipea, ao da eliminação de todas as barreiras ta-rifárias para o mercado dos Estados Unidos e Canadá, somado ao impacto da eliminação dasbarreiras tarifárias para a Europa.20

QUADRO 7 – Comércio exterior: as chances de quem inova

US$ Milhões

A relação entre as estratégias com-petitivas das empresas e a intensidadetecnológica dos produtos comercializa-dos com o exterior está indicada natabela 8. As empresas especializadasem produtos padronizados são as queapresentam maior saldo comercial,com destaque para os produtos maissimples (commodities), segmento noqual a inovação não tem papel rele-vante no desempenho externo da firma(Fernanda De Negri, 2005). A balançavai se invertendo conforme aumenta a

intensidade tecnológica do produto. A desagregação dos dados mostra queos déficits reduziram-se bastante entre2002 e 2003, o que indica um esforçode produção interna de vários produ-tos importados de alta tecnologia.Uma das lacunas importantes da pro-dução brasileira dá-se em compo-nentes eletrônicos, segmento que a Po-lítica Industrial, Tecnológica e deComércio Exterior (Pitce), implementa-da no final de 2003, pretende dina-mizar (ver quadro 8, na seção 4).

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70Brasil: o estado de uma nação

Tabela 9 – Características da mão-de-obra empregada nas firmas por categoria, média em 2000

CategoriaRemuneração

média (R$/mês)

Escolaridademédia (anos)

Tempo deemprego

médio(meses)

Trabalhadormais tempoempregado

(meses)

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Indústria, Pesquisa Industrial – Inovação Tecnológica (2000). Elaboração:Ipea/Diset, a partir da transformação dos dados obtidos na fonte e com a incorporação de dados da PIA/IBGE, Secex/MDIC,CBE/Bacen, CEB/Bacen, ComprasNet/MPOG e Rais/MTE.

(A) Inovam e diferenciam produtos 1.254,64 9,13 54,09 250,30

(B) Especializadas em produtos padronizados 749,02 7,64 43,90 191,55

(C) Não diferenciam e têm produtividade menor 431,15 6,89 35,41 130,96

Esses resultados mostram as faixasde produtos nas quais cada uma dasduas categorias de empresa abordadasna tabela 8 é mais competitiva interna-cionalmente. Enquanto as firmas queinovam e diferenciam produto são com-petitivas em produtos de maior conteú-do tecnológico, as especializadas emprodutos padronizados são competiti-vas especialmente em commodities.Esses dados comprovam que aobtenção de um certo grau de dife-renciação de produto e a obtenção depreços-prêmio está relacionada comuma maior intensidade tecnológica. Osdados permitem argumentar que as fir-mas que inovam e diferenciam produtopossuem uma inserção diferenciada e,até certo ponto, mais virtuosa nocomércio internacional do que as firmasespecializadas em produtos padro-nizados, em virtude da maior presençade produtos intensivos em tecnologiaem sua pauta de exportações.

2.5. Características da mão-de-obraocupada

Inovação e competitividade tam-bém se traduzem em maiores saláriose em maior estabilidade no emprego.A tabela 9 mostra que a remuneraçãomédia mensal do pessoal ocupado é R$ 1.254,64 nas empresas que inovame diferenciam produtos, R$ 749,02nas especializadas em produtos pa-dronizados, e R$ 431,15 nas demais.

A escolaridade média do trabalhadornas empresas que inovam e diferenciamprodutos é significativamente maior.Em média, seu empregado tem 9,13anos de estudos. O tempo médio depermanência do trabalhador nesse tipode empresa também é maior: 54,09meses. Vista por esse ângulo, a estraté-gia baseada em inovação e dife-renciação de produto parece ser maisinclusiva socialmente (ver capítulo 3 –Pobreza e Exclusão Social).

O potencial de uma empresa é forte-mente baseado na qualidade de seustrabalhadores. A escolaridade e o tem-po de permanência do pessoal ocupa-do são variáveis relevantes na análisede toda estratégia competitiva. O tem-po de permanência do trabalhadorreflete o aprendizado tecnológico, as-sim como sua escolaridade média é

uma medida indireta do nível de tecno-logia da empresa.

Aquelas com maior conteúdo tecno-lógico tendem a precisar de mão-de-obra mais qualificada, o que, por suavez, lhes dá mais condições de diferen-ciar e garantir a qualidade daquilo queproduz. Ao mesmo tempo em que amelhor qualificação da mão-de-obra

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71 Brasil: o estado de uma nação

amplia o potencial da empresa, suacompetitividade é positivamente influ-enciada pela possibilidade de ela ope-rar com conteúdo tecnológico maior.

Empresas de maior conteúdo tecno-lógico tendem a exigir trabalhadoresmais escolarizados e melhor treinados.Por isso mesmo, dispensá-los tem umcusto elevado, pois significa perda deinvestimento – aquele realizado paratreinar essa mão-de-obra –, o que tor-na a rotatividade mais cara. Assim,emprego mais estável favorece oaprendizado tecnológico e retroalimen-ta as potencialidades da empresa, aomesmo tempo em que reduz as despe-sas relativas a treinamento, atração edemissão de pessoal.

Também há o prêmio salarial pagopelas firmas que inovam e diferenciamprodutos quando comparado com asdemais empresas21. Como mostra a ta-bela 9, as empresas que inovam e dife-renciam produtos pagam em médiasalários quase três vezes maiores doque as empresas que não diferenciam e67% maiores que a média das empre-sas especializadas em produtos padro-nizados. No entanto, esse dado precisaser qualificado, pois as empresas quediferenciam produtos são maiores efaturam mais. Bahia (2005) elaborouum estudo para isolar o efeito dasestratégias competitivas sobre os sa-lários, controlando cerca de 200 va-riáveis pertinentes. Ainda assim, com-parando empresas equivalentes emtudo, menos em suas estratégias com-petitivas, os empregados daquelas queinovam e diferenciam produtos ga-nham 11% a mais do que os que traba-lham nas especializadas em produtospadronizados.

As evidências de que as empresasque competem por inovação e diferen-ciação de produto tendem a remunerarmelhor seus funcionários sugerem que

uma política de incentivo à inovaçãotecnológica e à diferenciação de produ-tos deve ter efeitos positivos no que dizrespeito a salários.

2.6. Organização territorial da indústria e sua dinâmica competitiva22

A indústria brasileira é, no geral,bastante concentrada espacialmente.O mesmo vale para as firmas que ino-vam e diferenciam produto. Elas loca-lizam-se em grande parte nas se-guintes aglomerações industriais, relacionadas em ordem decrescente,pelo valor de transformação indus-trial: São Paulo, Rio de Janeiro, PortoAlegre, Belo Horizonte, Curitiba, Sal-vador, Vitória, Fortaleza e Recife.Cada uma delas engloba um muni-cípio principal e os demais circunvi-zinhos nos quais constata-se uma in-fluência direta23.

A área de influência direta da capitalpaulista engloba 120 municípios, indode Santos a Ribeirão Preto, estendendo-se pelo Vale do Paraíba. As empresasque inovam e diferenciam produtos res-pondem por 37% do valor da transfor-mação industrial nesse aglomeradoindustrial espacial, e as empresas espe-cializadas em produtos padronizados,por 57%. Após São Paulo, a aglome-ração de Curitiba é a que apresentamaior participação de empresas queinovam e diferenciam produto (34% em10 municípios) e lidera o corredor indus-trial regional que abrange Blumenau,Joinville, Curitiba, Londrina e Maringá. A seguir, vem Porto Alegre (18% em 28municípios), que lidera o corredor atéCaxias do Sul; Belo Horizonte (24% em17 municípios); Rio de Janeiro (17% em7 municípios); Salvador (14% em 6municípios); Fortaleza (4% em 7 municí-pios); Recife (4% em 9 municípios) eVitória (3% em 6 municípios).

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72Brasil: o estado de uma nação

MAPA 2

MAPA 1

Distribuição Espacial das EmpresasCategoria A

Distribuição Espacial das Empresas

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Indústria, Pesquisa Industrial – Inovação Tecnológica (2000). Elaboração:Ipea/Diset e Cedeplar, a partir da transformação dos dados obtidos na fonte e com a incorporação de dados da PIA/IBGE,Secex/MDIC, CBE/Bacen, CEB/Bacen, ComprasNet/MPOG, Rais/MTE, Atlas do Desenvolvimento Humano/Ipea-FJP, Simbrasil/Ipea-Ufpe e Ipeadata.

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Indústria, Pesquisa Industrial – Inovação Tecnológica (2000). Elaboração:Ipea/Diset e Cedeplar, a partir da transformação dos dados obtidos na fonte e com a incorporação de dados da PIA/IBGE,Secex/MDIC, CBE/Bacen, CEB/Bacen, ComprasNet/MPOG, Rais/MTE, Atlas do Desenvolvimento Humano/Ipea-FJP, Simbrasil/Ipea-Ufpe e Ipeadata.

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73 Brasil: o estado de uma nação

MAPA 3

Distribuição Espacial das EmpresasCategoria B

MAPA 4

Distribuição Espacial das EmpresasCategoria C

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Indústria, Pesquisa Industrial – Inovação Tecnológica (2000). Elaboração:Ipea/Diset e Cedeplar, a partir da transformação dos dados obtidos na fonte e com a incorporação de dados da PIA/IBGE,Secex/MDIC, CBE/Bacen, CEB/Bacen, ComprasNet/MPOG, Rais/MTE, Atlas do Desenvolvimento Humano/Ipea-FJP, Simbrasil/Ipea-Ufpe e Ipeadata.

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Indústria, Pesquisa Industrial – Inovação Tecnológica (2000). Elaboração:Ipea/Diset e Cedeplar, a partir da transformação dos dados obtidos na fonte e com a incorporação de dados da PIA/IBGE,Secex/MDIC, CBE/Bacen, CEB/Bacen, ComprasNet/MPOG, Rais/MTE, Atlas do Desenvolvimento Humano/Ipea-FJP, Simbrasil/Ipea-Ufpe e Ipeadata.

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74Brasil: o estado de uma nação

2.7. Internacionalização com foco na inovação tecnológica

A internacionalização concorre paraa inovação. Empresas brasileiras queconstituíram unidades no exterior uti-lizam-nas como fonte principal de ino-vação tecnológica24. Essas empresas remuneram melhor a mão-de-obra,empregam pessoal com maior esco-laridade e, portanto, geram empregosde melhor qualidade. Além disso, asempresas internacionalizadas apresen-tam maior percentual de dispêndio emtreinamento de mão-de-obra emrelação ao faturamento, o que impul-sionaria de alguma forma a qualifi-cação da mão-de-obra doméstica.Também exportam mais, além de agre-garem valor aos bens exportados25. A abertura de mercados externos ge-raria maior potencial de expansão ecrescimento da empresa, e a própriainternacionalização criaria mecanismosde retroalimentação de sua capaci-tação tecnológica.

3. COMO AS EMPRESAS ESTÃO BUSCANDO A INOVAÇÃO?

A resposta a essa pergunta trazdados relevantes para a avaliação dopotencial das empresas brasileiras. Essaanálise pode ser feita a partir dosdados da Pintec sobre gastos em ino-vação e, entre esses, em pesquisa edesenvolvimento (P&D). Nela, os gastoscom inovação englobam a aquisição demáquinas, aquisição externa de P&D ede outros conhecimentos, e atividadesinternas de P&D. Mas é importanteressaltar que há diferença entre umaempresa que realiza P&D interno eoutra que o compra externamente: ogasto das duas é de natureza diferente.Aqui, são considerados como esforçopróprio de P&D apenas os gastos inter-

nos, que representam melhor o queacontece dentro da empresa no país.Esses gastos podem ser relacionados aoutras variáveis da empresa, como ofaturamento; pode-se ainda controlarvariáveis para isolar o efeito de deter-minadas características das firmas rela-tivas a inovação etc.

De acordo com a pesquisa, 31,5 %das empresas brasileiras consideraramter realizado algum tipo de inovaçãoentre 1998 e 2000. Mas apenas 4%afirmaram ter lançado um produto ino-vador no mercado. Algo semelhanteocorre quando são analisados os gas-tos em inovação tecnológica. O dadobruto da Pintec mostra que o dispêndiodas empresas de capital estrangeiro émaior do que o das empresas de capi-tal nacional26. Isso levou muitos analis-tas a concluírem que há uma grandedistância entre as atividades de ino-vação tecnológica realizadas no Brasilpelas empresas multinacionais em rela-ção às nacionais.

Ocorre que a comparação direta nãoé adequada, pois contrapõe um nú-mero restrito de grandes empresasmultinacionais com um enorme e he-terogêneo conjunto de empresas brasi-leiras: compara-se, assim, uma giganteautomotiva com a tornearia familiar,podendo induzir a uma consideraçãode que a simples atração de multina-cionais impulsiona atividades de P&Dno país. Estudo da Anpei (2004) dá umpasso adiante ao comparar os gastosde P&D em relação à receita líquida devendas apenas para empresas commais de 500 funcionários, mostrandoque a defasagem entre as nacionais eas estrangeiras se reduz significativa-mente27.

Araújo (2004), aprofundando aanálise de dados nas bases menciona-das anteriormente, calculou firma afirma o esforço inovativo (gastos de

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75 Brasil: o estado de uma nação

P&D interno em relação ao faturamen-to), controlando diversas variáveis,como número de funcionários, setor,coeficientes de importação e expor-tação etc. Descobriu que os dispêndiosmédios efetuados internamente comP&D em relação ao faturamento dasempresas estrangeiras foram menoresem comparação aos das firmas domés-ticas28: 0,62% e 0,75%, respectiva-mente. Sofisticando a análise, foramconstruídos modelos para comparar aprobabilidade relativa do esforço ino-vativo entre uma firma nacional e umaestrangeira, e o diferencial de gastosrelativo a esse esforço. Assim, verificou-se que, nas firmas de capital nacional,os gastos em P&D interno como pro-porção do faturamento foram 80,8%maiores do que aqueles realizadospelas firmas de capital estrangeiro noperíodo 1998-200029.

4. O QUE É NECESSÁRIO PARA ESTIMULAR O ESFORÇO DE INOVAÇÃO DAS EMPRESAS?

O panorama exposto permite afir-mar que o esforço inovativo da indús-tria brasileira é insuficiente para que aeconomia alcance maiores taxas decrescimento e possa inserir-se plena-mente no comércio internacional. Mas,como estimular iniciativas que permi-tam avançar nessa direção?

Essa questão pode ser abordada apartir do que dizem as próprias empre-sas. As dificuldades apontadas nãodiferem muito nas diversas categoriasempresariais ou mesmo entre empresasinovadoras ou não inovadoras. Entre osprincipais obstáculos para a inovaçãotecnológica, são indicados o “riscoeconômico”, “elevados custos” e“escassez de fontes de financiamento”.Esses três fatores estão fortemente cor-relacionados, pois o risco econômico

de uma atividade inovadora é direta-mente proporcional ao custo dessaatividade e à possibilidade de uma empresa obter fontes adequadas definanciamentos no que diz respeito acarências, prazos e juros. Cooperação,parcerias e disponibilidade de compar-tilhar informações, que a princípioparecem ser atributos importantespara a inovação, não são vistos comoelementos tão restritivos.

O fator recursos remete aos gastosem P&D. No Brasil, a fonte de recursosprópria é duas vezes mais importantepara uma empresa alcançar a inovaçãotecnológica do que recursos de ter-ceiros, incluindo o financiamentopúblico. Isso reflete o padrão atual definanciamento público, voltado para aaquisição de equipamentos e poucopara a inovação de produtos.

Estudos do Ipea mostram que, nasituação atual, um aumento na partici-pação das fontes próprias em dez pon-tos percentuais sobre o total dos gastosem P&D aumentaria em 2,8% a proba-bilidade de a firma chegar à inovaçãotecnológica. Se os recursos públicospara as atividades de P&D aumentaremem dez pontos percentuais, essa proba-bilidade aumenta em 1,4%.

Ainda com relação aos gastos emP&D, no caso da inovação de produto,a fonte de recursos própria continuasendo a mais importante para determi-nar a probabilidade de a empresa seruma inovadora de produto, seguidapor fontes privadas e, por último, porfontes públicas. Já no caso da inovaçãode processo, a fonte pública é queexplica a probabilidade da empresarealizar esse tipo de inovação.

Os dados indicam a clara necessi-dade de propiciar instrumentos deapoio à inovação nas empresas, comoo financiamento para reduzir custos,fundos para redução de risco e instru-

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76Brasil: o estado de uma nação

Não é por acaso que a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio

Exterior (Pitce) implementada entre o final de 2003 e o início de 2004 tem

como pilar básico estimular a inovação na indústria brasileira. Além do foco

em inovação e desenvolvimento tecnológico, preocupa-se horizontalmente

com a inserção externa, a modernização industrial, o ambiente institucional, a

capacidade e a escala produtiva. Entre suas opções estratégicas verticais estão

os semicondutores, softwares, bens de capital, fármacos e medicamentos. Há,

ainda, um destaque especial para atividades consideradas “portadoras de

futuro”, como biotecnologia, nanotecnologia e biomassa.

No plano institucional, busca a desoneração progressiva sobre o investi-

mento, a Lei de Inovação, que possibilita uma melhor relação entre universi-

dades e institutos de pesquisa e empresas, a articulação de ações transversais

nos fundos setoriais, a reestruturação do Instituto Nacional de Propriedade

Industrial (Inpi), a criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial

(CNDI) e da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e também

a criação de fundos para a redução do risco da inovação (Funtec). Outra

providência diz respeito ao regime fiscal para o incentivo à inovação, que o

Executivo deve enviar ao Congresso ainda no primeiro semestre de 2005,

como decorrência da nova Lei de Inovação.

QUADRO 8 – Política com foco na inovação

mentos financeiros para desenvolvi-mento de empresas nascentes de basetecnológica. Essas demandas represen-

tam parte do que se espera da PolíticaIndustrial, Tecnológica e de ComércioExterior (ver quadro 8).

Parece razoável que, no caso da ino-vação de processo, a fonte pública sejaindicada como relativamente mais im-portante do que as outras fontes definanciamento. Afinal, fontes públicas definanciamento, como BNDES e Banco doBrasil, têm possibilitado a compra demáquinas e equipamentos que são uti-lizados na inovação de processo. Osresultados mostraram que os recursos

públicos são mais importantes para ino-vação de processo do que de produto, eque, no caso dos gastos em P&D, osrecursos próprios ganham mais relevân-cia. Os dados mostram, ainda, que háfontes públicas para financiamento dainovação de processo – por exemplo,Finame e demais linhas do BNDES – , masque elas não existem na mesma pro-porção que para a inovação de produtos.

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77 Brasil: o estado de uma nação

Tabela 10 – Dispêndios em atividades inovativas em milhões de eurospara as empresas industriais com atividade inovadora e suas respectivasproporções com relação ao faturamento, 2000, países selecionados

País

Fatu

ram

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em m

ilhõ

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Percentual de dispêndios em atividades inovativas

Fonte: Eurostat (2004b); IBGE (2004) e Bacen (2004). Elaboração: Viotti, Baessa e Koeller (2005). Obs.: Os dispêndios em reais foram convertidos para euros pela taxa de câmbio diária média de 2000 segundo o Bacen (R$ 1,6898 = € 1). Empresas com atividade inovadora são todas as que, durante o período a que se refere a pesquisa, introduziraminovações ou tiveram projetos de inovação que não foram bem-sucedidos ou que ainda não estavam concluídos.

Alemanha 1.238.953 2,7 0,2 2,9 1,5 0,1 0,8

França 650.268 2,5 1,0 3,6 nd nd 0,3

Itália 494.207 1,2 0,3 1,5 2,1 0,2 0,4

Brasil 297.638 0,7 0,1 0,9 2,3 0,2 1,0

Espanha 272.691 0,8 0,2 1,0 1,1 0,2 0,3

Holanda 163.749 2,2 0,5 2,7 0,5 0,2 0,2

Bélgica 146.250 2,1 0,4 2,5 1,7 0,2 1,1

Portugal 68.793 0,4 0,2 0,6 2,4 0,1 0,4

Dinamarca 46.493 0,6 0,1 0,6 0,1 0,0 0,4

Grécia 22.434 nd 0,1 nd 2,4 nd 0,4

A tabela 10 compara os gastos ematividades inovativas entre alguns paísese o Brasil. As empresas inovadorasbrasileiras investiram em 2000 apenas0,7% de seu faturamento em P&D inter-no (projetos desenvolvidos dentro daprópria firma), o que significa um terçomenos do que fizeram as da Bélgica(2,1%), Holanda (2,2%), França (2,5%) eAlemanha (2,7%). No que diz respeitoao investimento em P&D externo (rea-lizado por outras empresas, institutosou laboratórios de pesquisa), nenhumdos países representados na tabelainvestiu menos do que o Brasil (0,1%).Esses dados indicam dificuldades noprocesso de interação de empresasbrasileiras com instituições de P&D, quepodem ser atribuídas a um descompas-

so entre as demandas tecnológicas dasempresas e a qualificação e a vocaçãodas instituições de P&D nacionais.

Mas é possível, também, que a maio-ria das empresas brasileiras não tenhaacumulado uma base de capacitaçãotecnológica mínima necessária paracontratar um serviço de P&D externo ousimplesmente não tenha sentido neces-sidade de contratá-lo. Certamente, umacombinação desses e de outros fatoresexplicaria o fato de que no Brasil apenas3% do total dos gastos com atividadesinovadoras são destinados a P&D exter-no, conforme mostra o gráfico 10. Osoutros países indicados no gráfico gas-tam percentuais maiores, sendo que asempresas holandesas investem 14% emP&D externo.

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78Brasil: o estado de uma nação

As dificuldades que as empresasbrasileiras enfrentam para inovardevem-se também à qualidade da mão-de-obra. As empresas que inovamprocuram mão-de-obra relativamentemais escolarizada. Das quatro variáveisque mais afetam a probabilidade deuma empresa ser inovadora, duas delasestão diretamente vinculadas à mão-de-obra: treinamento e escolaridade. Asempresas que se internacionalizaramcom foco na inovação também em-pregam mão-de-obra mais capacitada.Isso revela que um processo de desen-volvimento produtivo baseado na ino-vação tende a requerer pessoal commaior nível de escolarização. Pode acon-tecer que um país tenha uma populaçãoaltamente escolarizada e uma baixadinâmica de inovação na sua indústria,mas dificilmente haverá país com popu-lação de baixa escolaridade e altadinâmica de inovação em sua indús-tria30. Seria extremamente benéfico parao país aliar uma estratégia de desen-

volvimento – que passa pela mudançade patamar da indústria brasileira rumoà inovação e diferenciação de produto –com uma política que melhorasse aqualidade do ensino básico e ampliasseo alcance e o status do ensino técnico.

É fato que a escolarização da forçade trabalho por si só não leva as em-presas automaticamente à inovação e àinternacionalização, mas a escolarida-de pode ter, no caso brasileiro, efeitopositivo sobre a capacidade inovadora,além de outras vantagens.

As evidências mostram que é absolu-tamente relevante estimular o gasto pri-vado em P&D e reduzir o risco da ino-vação, não só para pequenas e médias,mas também para grandes empresas.

Outra forma de apoio à inovação épromover a internacionalização dasempresas nacionais com foco na ino-vação tecnológica. Há espaço parapolíticas públicas que incentivem ainternacionalização com esse intuito. É importante ressaltar que a inovação

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tecnológica exibe rendimentos cres-centes a longo prazo, muitas vezes nãoquantificáveis em exercícios estáticos.Entretanto, o custo de curto prazo deuma política de incentivo como, porexemplo, uma linha de financiamentopara estimular a internacionalização,pode ser reduzido se esta for focada nainovação tecnológica e restrita porações pré-estruturadas que levem asempresas de capital nacional que bus-cam inovações a ampliar seu potencial,internacionalizando-se.

Fica claro que a ação pública develevar em conta exemplos de sucessoempresarial que poderiam ser seguidosprincipalmente por aquelas empresasque já fazem esforço inovador signi-ficativo. Deve ser ressaltado, enfim,que os incentivos à internacionalizaçãocom foco na inovação tecnológica pre-cisam estar também associados amecanismos que incentivem o aumen-to dos gastos privados em atividadesinovadoras no Brasil.

5. INOVAÇÃO PARA SUSTENTAR ODESENVOLVIMENTO E MELHORAR O PADRÃO DE RENDA

Os dados e argumentos expostosneste capítulo deixam claro que umaestratégia de desenvolvimento susten-tado passa pela dinamização do parque produtivo brasileiro rumo à ino-vação. As empresas que lançam produ-tos inovadores no mercado abremnovos nichos e criam necessidades,diferenciando-se das demais “porcima”. O Brasil, como um país de rendamédia, sofre “por baixo”, com a com-petição de países cuja estratégia é aprodução de baixo custo a partir debaixos salários e condições de trabalhorelativamente menos vantajosas, etambém “por cima”, com a competiçãode países cuja estratégia é pautada

pela produção diferenciada, de altovalor agregado, proporcionada porinovação tecnológica.

A estratégia de buscar uma saída“por cima” para o caso brasileiro passapela inserção internacional de sua pro-dução agrária e industrial, pelo for-talecimento de marcas nacionais, dis-tribuição internacional, apoio ao esforçode inovação das empresas, pela melho-ria da infra-estrutura pertinente – comometrologia científica e rede metrológica,Instituto Nacional de PropriedadeIndustrial (Inpi), bases de dados etc. – edas condições necessárias a uma políticaindustrial e tecnológica inclusiva, inte-grada à melhoria do ensino básico, pro-fissionalizante e superior, assim como aodesenvolvimento regional.

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NOTAS

1 Sobre a abordagem de sistemas nacionais de inovação e aprendizado veja, por exemplo, as obras de Freeman(1987, 1988 e 1995); Lundvall (1988 e 1992); Nelson (1993); e Edquist (1997).

2 O uso continuado deste tipo de mecanismos para manter ou ganhar participação em mercados internacionaisé considerado uma forma de obter vantagens competitivas caracterizadas como espúrias por comprometerema qualidade de vida das atuais ou futuras gerações (Fanjylber, 1988).

3 Veja Viotti (2002 e 2004), sobre sistemas nacionais de aprendizado passivos e ativos, competitividade edesenvolvimento econômico.

4 A produtividade do trabalho depende também e entre outros fatores da quantidade de máquinas eequipamentos à disposição dos trabalhadores, o que é muitas vezes analisado pelos economistas como umefeito completamente separado do efeito resultante da incorporação de conhecimentos ou tecnologias aoprocesso produtivo. No entanto, quando um trabalhador passa a utilizar uma máquina com a qual ele nãopodia contar antes, sua atividade produtiva passa a ser exercida com base em um novo conjunto deconhecimentos tecnológicos incorporados naquele equipamento. De qualquer forma, os dois efeitos estãogeralmente associados.

5 A possibilidade de ser analisada a evolução da produtividade no tempo é assegurada quando se utilizamvalores do PIB medidos em termos reais, isto é, quando se convertem os valores nominais do PIB para um únicoano descontando-se as variações decorrentes da variação dos preços. A comparabilidade internacional épossibilitada pela conversão dos valores do PIB real, medidos na moeda de cada país, para uma única moeda,utilizando-se índices de paridade de poder de compra (PPC). Com isso, assegura-se que, independentementedas flutuações das taxas de câmbio, um mesmo montante de renda (calculado em termos de PPC) possaadquirir quantidades e qualidades similares de produtos e serviços em qualquer país.

6 Muitos fatores contribuíram para esse desempenho, como, por exemplo, a instabilidade macroeconômica dasúltimas duas décadas. Mas não há como deixar de reconhecer que fatores como esse comprometeramgravemente o próprio processo de incorporação de conhecimentos e inovações à economia brasileira.

7 A classificação dos produtos por intensidade tecnológica adotada na construção do gráfico 4 (Unctad, 2002),é parcialmente diferente daquela em que se baseia a construção dos gráficos 1 e 2 (Lall, 2001).

8 NSB, 2004. p. 5-40.

9 NSF, 2004. Table 1, p. 3.

10 As patentes de invenção obtidas nos Estados Unidos são comumente utilizadas para inferir a capacitaçãotecnológica ou a performance inovadora de economias, porque sua obtenção assegura a propriedadeintelectual de invenções ou inovações no maior e mais próspero mercado mundial, além de facilitar seureconhecimento nos demais países.

11 Produtividade total dos fatores. Os desenvolvimentos dessa seção são baseados em Gasques et alii, 2004.

12 Programa federal que financia a compra de máquinas e equipamentos agrícolas com prestações fixas e prazode carência.

13 Uma comparação dos resultados econômicos da soja transgênica vis-à-vis a variedade convencional pode serencontrada em Roessing e Lazzarotto (2004).

14 Seria importante entender como as empresas brasileiras de todos os setores se apresentam em termos de suacapacidade de inovação e aprendizado tecnológico. Contudo, diante da dificuldade de tal tarefa, há razõesque justificam a concentração da análise nas empresas do setor industrial, em particular. A mais importanterazão para isso refere-se ao fato de a indústria desempenhar papel-chave no processo de geração e difusão deconhecimentos e inovações tecnológicas para a economia e a sociedade como um todo. Ademais, com aPesquisa Industrial sobre Inovação Tecnológica 2000 (Pintec 2000), realizada pelo IBGE, hoje é possível,diferentemente do que ocorre com os demais setores da economia, ter informações detalhadas sobre oprocesso de inovação das empresas industriais brasileiras.

15 É utilizada também a expressão “lucro de monopólio”, no sentido de que a empresa obtém um ganho extrapelo fato de que, num determinado horizonte, seu produto se diferencia dos demais, criando uma situaçãosimilar a um monopólio de fato.

16 A classificação é feita por produto (NCM) e por mercado de referência. Dois problemas metodológicos podemsurgir quando o preço-prêmio é estimado para cada produto e mercado. Primeiro, a firma pode exportar maisde um produto para um mesmo mercado. Neste caso, o preço-prêmio foi calculado para cada produto dafirma e posteriormente foi estimada a média do preço-prêmio ponderada pelo valor dos produtos exportadospela firma. Segundo, a firma pode ser a única exportadora brasileira de um produto específico para umdeterminado mercado. Neste caso, não haveria preço-prêmio, pois o preço médio da indústria é o preço médioda firma. Nesse caso, o cálculo do preço-prêmio levou em conta a participação da firma no total exportadopela indústria brasileira no mercado de referência.

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81 Brasil: o estado de uma nação

17 Análise baseada em dados trabalhados por Victor Prochnik (IE-UFRJ) e Rogério Dias (Ipea-Diset) para o projetodo Ipea Inovação, padrões tecnológicos e desempenho das firmas industriais brasileiras.

18 O Modermaq é adequado para pequenas e médias empresas porque as prestações são fixas, o que facilita ocálculo de juros, e o acesso é relativamente mais fácil comparativamente a linhas tradicionais do BNDES, queexigem projeto específico, sendo mais apropriadas para grandes empresas que têm estrutura para tanto.

19 Isso supondo que os gastos em P&D em relação ao faturamento indicam conteúdo tecnológico. Essa suposiçãoé razoável, pois a pesquisa toma por base o produto (NCM) e, para o mesmo tipo de produto (e, porconseqüência, o mesmo setor econômico), o maior conteúdo tecnológico tende a se concentrar na empresacom maior gasto de P&D.

20 Ver De Negri, Arbache (2003) e De Negri, Arbache e Falcão Silva (2003).

21 Ver Bahia et alii (2004).

22 Os dados e análises são baseados em Lemos et alii, 2005.

23 Ao tomar-se por áreas metropolitanas, a área de Campinas apresenta VTI superior ao da área metropolitanado Rio de Janeiro (19,23% do total para a RM São Paulo, 6,47% para RM Campinas, 5,75% para RM Rio deJaneiro).

24 Ver Arbix, Salerno e De Negri (2004).

25 Os resultados aqui descritos foram obtidos por meio de análises econométricas e de saldo de comércio dediversos tipos de firmas (capital nacional internacionalizado, não internacionalizado, capital estrangeiro etc.).O saldo comercial das empresas de capital nacional internacionalizado com foco na inovação tecnológica foide US$0,5 bilhão em 2000.

26 Para o ano-base de 2000, média de R$161.347,00 para as empresas nacionais em seu todo, contraR$4.997.478,00 para as estrangeiras. Tomando apenas as que declararam terem realizado algum tipo deinovação, tem-se R$527.963,61 para as inovadoras nacionais versus R$8.079.478,00 para as inovadorasestrangeiras.

27 A média de gastos por empresa apontada pelo estudo é de R$2.727.000,00 para empresas de capital nacionalcom 500 ou mais trabalhadores, e de R$5.643.000,00 para empresas de capital estrangeiro nas mesmascondições. A relação entre gastos de P&D e receita líquida de vendas é de 0,69% para o primeiro grupo deempresas e de 0,87% para o segundo.

28 O autor utilizou a metodologia do Censo de Capitais Estrangeiros do Banco Central para definir empresamultinacional e empresa doméstica.

29 Modelos probit e mínimos quadrados ordinários. Ver Araújo (2004).

30 A Argentina tem força de trabalho mais escolarizada, mas sua indústria é menos inovativa que a brasileira(Chudnovsky, López e Pupato, 2004); há análises que atribuem o forte papel inovativo das empresas alemãs àlegislação trabalhista, que as força a contratarem trabalhadores qualificados (devido ao esquema de formaçãoprofissional que passa pela empresa) ao mesmo tempo em que dificulta as demissões imotivadas – a empresa,“forçada” a contratar pessoal bastante qualificado, é “tentada” a inovar. Evidentemente, tais relações só fazemsentido dentro da dinâmica econômica e empresarial de cada país.

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