15
II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial Nelson Boeira Faedrich e a Revolução nos Livros Ilustrados da Antiga Editora Globo Paula Viviane Ramos 1 Centro Universitário Ritter dos Reis/UniRitter Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS Resumo O trabalho apresenta e discute aspectos da obra em ilustração de Nelson Boeira Faedrich (1912-1994), um dos mais renomados artistas gráficos brasileiros do século XX, que construiu sua trajetória a partir da experiência junto à antiga Editora Globo, de Porto Alegre. Ao lado de João Fahrion (1898-1970) e de Edgar Koetz (1914-1969), o artista revolucionou as publicações da editora sulina, deixando sua marca em obras primas como Contos de Andersen (1958-1961), Lendas do Sul (1953) e Contos Gauchescos (1983). Tendo como base um amplo levantamento historiográfico e de fontes primárias até então não sistematizadas, o trabalho, oriundo da tese de doutorado da pesquisadora, apresenta e contextualiza as inovações presentes na obra de Faedrich. A partir do estudo de sua trajetória e referências visuais, e analisando as relações entre texto e imagem estabelecidas pelo artista, o artigo mostra como essa produção foi fundamental não somente para a conquista de novas linguagens gráficas, mas também no processo de oxigenação das percepções do público e na constituição de uma visualidade moderna, sobretudo no Rio Grande do Sul. Palavras-chave Nelson Boeira Faedrich; Editora Globo; ilustração; revolução gráfica e visual. 1 Paula Viviane Ramos é jornalista e crítica de arte, com mestrado (UFRGS, 2002) e doutorado (UFRGS, 2007) em Artes Visuais, ênfase em História, Teoria e Crítica de Arte. É professora adjunta de História da Arte e História do Design junto ao UniRitter e professora substituta de História da Arte junto à UFRGS, ambas em Porto Alegre/RS. É associada à Intercom, ligada ao Núcleo de Pesquisa em Produção Editorial. É também membro da ANPAP, Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas, e da AICA, Associação Internacional de Críticos de Arte. E-mail: [email protected]

II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial · “Secção de Desenho” da Editora Globo: ... tiveram na Secção de Desenho uma espécie de curso completo de artes

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial · “Secção de Desenho” da Editora Globo: ... tiveram na Secção de Desenho uma espécie de curso completo de artes

II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial

Nelson Boeira Faedrich e a Revolução nos Livros Ilustrados da Antiga Editora Globo Paula Viviane Ramos1 Centro Universitário Ritter dos Reis/UniRitter Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS Resumo O trabalho apresenta e discute aspectos da obra em ilustração de Nelson Boeira Faedrich (1912-1994), um dos mais renomados artistas gráficos brasileiros do século XX, que construiu sua trajetória a partir da experiência junto à antiga Editora Globo, de Porto Alegre. Ao lado de João Fahrion (1898-1970) e de Edgar Koetz (1914-1969), o artista revolucionou as publicações da editora sulina, deixando sua marca em obras primas como Contos de Andersen (1958-1961), Lendas do Sul (1953) e Contos Gauchescos (1983). Tendo como base um amplo levantamento historiográfico e de fontes primárias até então não sistematizadas, o trabalho, oriundo da tese de doutorado da pesquisadora, apresenta e contextualiza as inovações presentes na obra de Faedrich. A partir do estudo de sua trajetória e referências visuais, e analisando as relações entre texto e imagem estabelecidas pelo artista, o artigo mostra como essa produção foi fundamental não somente para a conquista de novas linguagens gráficas, mas também no processo de oxigenação das percepções do público e na constituição de uma visualidade moderna, sobretudo no Rio Grande do Sul. Palavras-chave Nelson Boeira Faedrich; Editora Globo; ilustração; revolução gráfica e visual.

1 Paula Viviane Ramos é jornalista e crítica de arte, com mestrado (UFRGS, 2002) e doutorado (UFRGS, 2007) em Artes Visuais, ênfase em História, Teoria e Crítica de Arte. É professora adjunta de História da Arte e História do Design junto ao UniRitter e professora substituta de História da Arte junto à UFRGS, ambas em Porto Alegre/RS. É associada à Intercom, ligada ao Núcleo de Pesquisa em Produção Editorial. É também membro da ANPAP, Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas, e da AICA, Associação Internacional de Críticos de Arte. E-mail: [email protected]

Page 2: II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial · “Secção de Desenho” da Editora Globo: ... tiveram na Secção de Desenho uma espécie de curso completo de artes

“Secção de Desenho” da Editora Globo: Aprendizado e Visibilidade

O nome de Nelson Boeira Faedrich (1912-1994) está umbilicalmente ligado à história de

uma das mais importantes experiências gráficas e editoriais brasileiras de todos os tempos:

a Livraria e Editora Globo. Nascida em 1883 como uma modesta papelaria junto à antiga

Rua da Praia, em Porto Alegre, a Globo se transformou, ao longo das décadas de 1930 e

1950, na segunda maior casa editora do país (MICELI, 2001; TORRESINI, 1999). Seus

títulos tinham circulação nacional e muitos foram os responsáveis pelo conhecimento que

os brasileiros passaram a ter de autores fundamentais da literatura universal, pela primeira

vez acessíveis em língua portuguesa (AMORIM, 1999). Nomes como Virginia Woolf,

Thomas Mann, Marcel Proust e Aldous Huxley tiveram seus textos traduzidos por

intelectuais do porte de Mario Quintana, Herbert Caro e Erico Verissimo. Mas uma boa

tradução não bastaria para chamar a atenção do possível leitor. O livro precisaria também

contar com um tratamento gráfico e visual diferenciado. E este aspecto, que tanto

caracterizou as publicações da Globo, ficava a cargo da chamada Secção de Desenho.

No período áureo da Globo, ou seja, até o final da primeira metade do século XX, a Secção

de Desenho foi coordenada pelo alemão Ernst Zeuner (1898-1967), formado pela Academia

de Artes Gráficas de Leipzig, na Alemanha, um dos principais centros de estudo em artes

gráficas da época.2 Zeuner chegou ao Brasil em 1922, fixando-se em Porto Alegre, cidade

com forte presença teuta. Provavelmente foram os seus conhecimentos diferenciados e

atualizados no assunto que o levaram a assumir a direção da Secção de Desenho. O

departamento foi criado em 1929, devido ao surgimento da Revista do Globo (1929-1967) e

diante da expectativa de um aumento considerável da demanda de impressos. Segundo

Leonardo Menna Barreto Gomes, coube a Zeuner, desde o princípio, atuar como mestre,

ensinando aos ilustradores e aos jovens aprendizes a “cozinha da gráfica” (GOMES, 2001).

Já trabalhavam para a casa artistas como João Fahrion (1898-1970) e João Faria Viana

2 Lá, Zeuner foi aluno ouvinte de Walter Tiemann (1876-1951), também professor de Jan Tschichold (1902-1974), autor do clássico Die Neue Typographie (1928), que revolucionou o design gráfico ao longo do século passado (GOMES, 2001).

Page 3: II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial · “Secção de Desenho” da Editora Globo: ... tiveram na Secção de Desenho uma espécie de curso completo de artes

(1905-1975), que buscavam na Globo uma alternativa de atuação diante de um mercado

artístico praticamente inexistente. Em 1929, passa a integrar a Secção o novato Edgar

Koetz (1914-1969), que ali ficou até 1945. Outros importantes nomes, como Sotero

Cosme (1896-1937) e Francis Pelichek (1896-1937), conhecidos dos leitores de revista da

época, também foram colaboradores assíduos da editora, bem como, a partir de meados da

década de 1930, o foi o jovem Nelson Boeira Faedrich, personagem do nosso estudo e que

trabalhou na Globo em duas fases: de 1932 a 1939 e de 1944 a 1947, embora, mais tarde,

também tenha realizado outros trabalhos sob encomenda (RAMOS, 2007).

Os profissionais ligados à Secção de Desenho criavam não apenas as capas, ilustrações,

capitulares e vinhetas de livros e revistas, como também anúncios publicitários, cartazes e

tudo o mais que houvesse de solicitação em se tratando de desenho e projeto gráfico. Um

fato notável é que, por necessitarem da máquina para reproduzir seus trabalhos, eles estão

entre os primeiros artistas rio-grandenses a utilizar os processos mecânicos de reprodução

de imagens, o que os obrigou à renovação, ao aperfeiçoamento técnico e à modernização

constantes (SCARINCI, 1982).3 Esta fase, que toma impulso maior no início dos anos 30,

prolongando-se até o final dos 50, foi particularmente valiosa para o ensino e a renovação

das artes no Rio Grande do Sul. Acerca disso, é imprescindível lembrar que a Secção de

Desenho assumiu um papel nevrálgico no incipiente campo artístico sulino, representando,

para os ilustradores que a compunham: (1) um espaço de formação, espécie de instituição

paralela à Escola de Belas Artes4; (2) um espaço de atuação, representando uma

possibilidade imediata de trabalho para vários profissionais; (3) um espaço de divulgação,

já que, por meio das capas para as revistas, dos cartazes e dos livros ilustrados, os nomes

desses artistas também circulavam, tornando-se conhecidos do público (RAMOS, 2007).

3 É importante comentar que muitos desses citados ilustradores tiveram na Secção de Desenho uma espécie de curso completo de artes gráficas e ilustração, e talvez o caso mais notório seja o de Edgar Koetz, que iniciou na Globo com apenas 15 anos, vindo a se tornar premiado e requisitado ilustrador não apenas no Brasil, mas também na Argentina, onde viveu de 1945 a 1950. 4 A Escola de Belas Artes, primeira instituição acadêmica para o ensino de Artes Visuais no Rio Grande do Sul, foi criada em 1908. É o atual Instituto de Artes da UFRGS.

Page 4: II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial · “Secção de Desenho” da Editora Globo: ... tiveram na Secção de Desenho uma espécie de curso completo de artes

Nelson Boeira Faedrich soube, quando do contato com Zeuner, explorar as possibilidades

de aprendizado oferecidas pelo mestre. Também soube, desde o princípio, exibir o seu

trabalho, publicando-o nos veículos da editora sulina e projetando-o nacionalmente. Apenas

para a Revista do Globo, ao longo de seus dez primeiros anos (1929-1939), Faedrich

assinou 26 capas. Mais que ele, só Koetz, com 33 imagens, e o líder absoluto, João Fahrion,

com 48 das 267 capas do período assinalado. Além das capas para a Revista do Globo,

Faedrich encontrou nos livros ilustrados um campo fértil à sua produção, tendo seu nome

ligado a algumas das maiores obras-primas da ilustração brasileira de todos os tempos,

como Lendas do Sul e Contos Gauchescos, ambos de Simões Lopes Neto, e Contos de

Andersen, títulos nos quais demonstrou suas múltiplas facetas e qualidades como

desenhista. Nas imagens para essas obras, ao mesmo tempo em que explorou ora a

linguagem do pontilhismo, ora a linha suave e plena, ora tão somente hachuras e, em outros

tantos momentos, a surpreendente técnica do scratchboard5, ele também conseguiu

demonstrar a conquista de um estilo próprio. E isso apesar das portentosas influências que o

seu trabalho poderia ter sofrido, a começar pela do seu tio, o pintor impressionista Oscar

Boeira (1883-1943). A conquista de uma identidade para seu trabalho plástico foi percebida

por Ângelo Guido (1893-1969), então o mais importante crítico de arte do Estado, que em

1948 assim escreveu, resgatando, inclusive, o início da trajetória de Faedrich:

Foi em 1935, no Pavilhão Cultural da Exposição Farroupilha, que Nelson Boeira Faedrich apresentou pela primeira vez à apreciação pública uma série de seus desenhos e ilustrações. Na mesma sala figuravam, com os trabalhos de outros expositores novos, alguns belos e sugestivos desenhos de Sotero Cosme e, em sala vizinha, surpreendiam ao visitante, pelo encanto do colorido e o conteúdo de lirismo pictórico, diversos admiráveis quadros de Oscar Boeira. Nelson Faedrich começou a aparecer como ilustrador precisamente quando Sotero Cosme afirmava em Porto Alegre seu nome brilhante no mesmo gênero artístico, no qual experimentara novos processos e encontrara na linha, estranha e sutilíssima subjetividade expressiva. Poder-se-ia supor que Nelson, entre a projeção que iam tendo os desenhos de Sotero e o fascínio exercido pela pintura do mestre Oscar Boeira, não resistisse à influência de um ou de outro, senão a de ambos. Ele encontrou, sem dúvida, entre o surto

5 Este processo, hoje praticamente alijado das técnicas de ilustração, parte de uma base em papel preparada com uma fina camada de gesso e coberta, pelo desenhista, com nanquim. Com um estilete, o artista, depois de traçar o desenho a lápis sobre o nanquim seco, raspa a camada de nanquim de acordo com o que quer salientar, a figura ou o fundo, deixando aparecer o branco do gesso. A imagem resulta num belo efeito produzido pela quantidade de pontos mais ou menos raspados pelo desenhista.

Page 5: II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial · “Secção de Desenho” da Editora Globo: ... tiveram na Secção de Desenho uma espécie de curso completo de artes

que a ilustração começou a ter aqui e a arte, toda a sensibilidade do tio, ambiente em particular sugestivo para o despertar em certo sentido do seu talento de artista.6

Formação e Trajetória

Nelson Boeira Faedrich nasceu em Porto Alegre no dia 2 de janeiro de 1912, vindo a

falecer no dia 4 de junho de 1994. Era o filho mais velho do dentista prático Carlos

Faedrich e de Helena Boeira, da tradicional e prestigiada família Boeira, dona do bazar

homônimo que ficava na Rua Uruguai, no centro da capital. Em 1935, ao participar da

Exposição Farroupilha, ele estava sendo também “lançado” ao mundo da arte, como nos

indica Ângelo Guido.7 Naqueles idos, seu nome já era conhecido entre os intelectuais; já

havia assinado várias capas da Revista do Globo, bem como ilustrações internas para o

quinzenário; já havia ilustrado também alguns livros de autores locais, como Festa de Luz e

de Cor (1933), de Damaso Rocha, Canções de Luz e Sombra (1934), de Nilo Ruschel, e O

Anel de Vidro (1934), de Ovídio Chaves; era um artista que despontava suscitando grande

admiração e deslumbramento, pela plasticidade e harmonia de seus desenhos.

Faedrich não teve uma formação tradicional, sendo praticamente um autodidata. A

convivência com o tio Oscar Boeira foi inegavelmente a sua “primeira grande escola”, uma

vez que, quando menino, acompanhava-o em suas incursões pelas redondezas de Porto

Alegre. Mas, ao que tudo indica, desde o princípio o sobrinho também soube tirar daquele

contato o aprendizado de procedimentos técnicos, e não a apropriação de uma linguagem;

esta, ele só desenvolveu depois, e evidentemente não sem outras influências, sendo que as

mais notórias são dos ilustradores Aubrey Beardsley (1872-1898) e Will Bradley (1868-

1962), reconhecidamente marcados pela estética art nouveau.

Do ilustrador “de final de tarde” junto à antiga ferragem Casa Pimenta, onde trabalhou

quando jovem, até chegar às capas e imagens feitas para a Globo, foi um estalo. A questão

6 Excerto de uma crítica escrita por Ângelo Guido em 1948 e publicada em reportagem de Antônio Hohlfeldt. In: HOHLFELDT, Antonio. Nelson Boeira Faedrich: O Traço leve, o Fluir do Braço, a Linha. Correio do Povo. 11 set. 1971. Caderno de Sábado, p. 7-10. 7 Lembrando que o próprio Ângelo Guido foi o organizador e “curador” da mostra de artes plásticas do evento. Podemos dizer que foi ele, portanto, quem projetou Faedrich.

Page 6: II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial · “Secção de Desenho” da Editora Globo: ... tiveram na Secção de Desenho uma espécie de curso completo de artes

é que as imagens de Faedrich rapidamente impressionavam e emudeciam o público. E isso

talvez se deva à estética adotada pelo artista, eminentemente pautada no formato do cartaz.

Muitas das capas que Faedrich produziu para a Revista do Globo são “cartazes em

miniatura”, priorizando composições com poucos elementos e de grande impacto, seja

pelas cores, formas ou dinamicidade. Na verdade, Faedrich parecia estar se “encontrando”

nesse formato. Ao longo da década de 1930, produziu vários cartazes para a antiga

Cervejaria Continental, de Porto Alegre. E, no final da década, quando se muda para o Rio

de Janeiro com a família, é cartazes que vai produzir, quando passa a dirigir o

Departamento de Arte da Empresa de Publicidade Prosper, que desenvolvia, entre outros,

os cartazes para a Loteria Federal. Foi a Prosper que iniciou a modalidade de cartazes de 6

a 8 folhas, gigantescas peças gráficas que cobriam os muros e tapumes das capitais. A

maioria desses impressos traz uma grande e vistosa imagem, contraposta a um texto

simples, geralmente o mesmo: Mil Contos – Loteria Federal, acrescido da data do sorteio.

Cartazes produzidos por Nelson Boeira Faedrich (anos 1930 e 1940).

A exuberância das imagens, em seu surpreendente tratamento de linha e cores, deve ter

provocado um grandioso impacto junto ao público. Impacto não apenas instantâneo, em

vista do encanto das imagens, mas, principalmente, no que tange ao desenvolvimento de

uma nova forma de olhar. Sobre isso, Pierre Francastel nos lembra: “[...] o papel

desempenhado pelo cartaz só é comparável ao do cinema. Ele transformou o gosto,

desenvolveu a faculdade de leitura de uma imagem despojada em função de novos

reflexos” (FRANCASTEL, 1990, p. 191).

Page 7: II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial · “Secção de Desenho” da Editora Globo: ... tiveram na Secção de Desenho uma espécie de curso completo de artes

Em 1944, Faedrich resolveu voltar ao Rio Grande do Sul. O motivo do retorno foi um

convite irrecusável de Henrique Bertaso, então diretor da Secção Editora: ilustrar as Lendas

do Sul e também Os Contos de Andersen. No entanto, por diversos motivos, as Lendas

acabaram sendo publicadas pela editora paulista Martins em 1953, saindo pelo selo dos

Bertaso apenas em 1974, na edição comemorativa ao décimo aniversário da APLUB.8

Faedrich: Idéias Sobre o Papel do Ilustrador

Ao convidar Faedrich para ilustrar Andersen e Lopes Neto, Henrique Bertaso o fazia

baseado, entre outros, no enorme sucesso conquistado pelo artista em livros de temática

semelhante, pautados no mágico e maravilhoso. Esse era, de fato, o recorte favorito do

artista, para quem, inclusive, não havia qualquer problema em assumir-se como ilustrador,

fato que geralmente incomodava alguns artistas de formação acadêmica que trabalhavam

no meio. Sobre o trabalho do ilustrador, o próprio artista nos deixou o seguinte depoimento:

O artista plástico pode seguir por diversas veredas a fim de exteriorizar [...] sua filosofia em relação ao conceito de arte. Ele [...] poderá ser um retratista, um paisagista, um pintor de natureza morta ou um criador, isto é, o artista que usa a sua imaginação sem necessidade de usar a natureza como modelo. Eu me incluo nesta última categoria. Este posicionamento levou-me logicamente para o campo da ilustração, onde a imaginação se desenvolve a partir do tema apresentado pelo escritor. Tenho especial predileção pelo fantástico, isto é, o irreal, quando a criatividade é muito exigida, a ponto do ilustrador deixar de ser um simples colaborador para tornar-se um co-autor ou até mesmo suplantar o escritor [grifo meu]; a história exemplifica: Gustave Doré.9

Este depoimento é bastante significativo, uma vez que, por meio dele, Faedrich deixa claro

como se via: um ilustrador. E, para ele, o ilustrador não era “inferior” a um retratista ou a

um paisagista; diferentemente destes, era um criador. Pelo “tom” e pela própria palavra

usada [criador], parece que o ilustrador é alguém mais “dotado” que um retratista ou um

paisagista, já que usa a sua imaginação como “modelo”. Por outro lado, a predileção pelo

fantástico toma maior fôlego neste momento, já que, em obras do gênero, o artista deixa de

“[...] ser um simples colaborador para tornar-se um co-autor ou até mesmo suplantar o

8 Sobre os trâmites relacionados à edição das Lendas, ver RAMOS, 2007. 9 Fonte primária: FAEDRICH, Nelson Boeira. Considerações sobre o Tema Arte-Artistas (Depoimento escrito). Porto Alegre [s/d]. Material escrito pelo próprio artista, de posse da família Faedrich.

Page 8: II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial · “Secção de Desenho” da Editora Globo: ... tiveram na Secção de Desenho uma espécie de curso completo de artes

escritor”. Na visão de Faedrich, portanto, a partir de textos fantasiosos, o ilustrador também

pode se “soltar mais”, assumindo um papel até mais importante que o do próprio escritor.

Ilustrar, Interpretar

Dos trabalhos iniciais de Faedrich como ilustrador, um dos destaques é o livro Rosa Maria

no Castelo Encantado (1938?), de Erico Verissimo, com selo da Biblioteca de Nanquinote,

uma das 17 coleções da Globo.10 Os livros da série, voltados a um público entre 6 e 8 anos,

constituem alguns dos melhores exemplos do diálogo entre texto e imagem. E isso pode ser

observado na primeira página de Rosa Maria..., livro marcado por tons cítricos e

fluorescentes, cujo resultado é um verdadeiro delírio cromático. O texto de Verissimo diz:

Eu sou um mágico. Moro num castelo encantado. Os homens grandes não sabem de nada. Só as crianças é que conhecem o meu segredo. Quando um homem passa pela minha casa, o que vê é uma casa como as outras: com portas, janelas, telhado vermelho, sacada de ferro... Só as crianças é que enxergam o meu castelo encantado. Com torres de açúcar e chocolate. Pontes que sobem e descem, puxadas ou empurradas por anõezinhos barrigudos vestidos de verde. Os trincos das portas, vocês pensam que são de metal? Nada disso. São de marmelada, de goiabada, de cocada. Quando um homem grande entra na minha casa, tem de subir toda a escada, degrau por degrau.11

Capa e primeira página de Rosa Maria no Castelo Encantado (1938 ?)

10 A maioria dos lançamentos da Editora Globo era estruturada em coleções. Tal estratégia representava menos problemas burocráticos: os livros eram padronizados, com diagramação e formato semelhantes, o que também demonstra a aposta da Globo numa estratégia de comunicação, visando a melhor comercialização do produto e a pronta identificação, por parte do consumidor. 11 Fonte primária: VERISSIMO, Erico. Rosa Maria no Castelo Encantado. [Capa e ilustrações de Nelson Boeira Faedrich] Biblioteca de Nanquinote (Volume 3). 1. ed. Porto Alegre: Editora Globo, 1938 (?), p. 3.

Page 9: II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial · “Secção de Desenho” da Editora Globo: ... tiveram na Secção de Desenho uma espécie de curso completo de artes

Faedrich criou, para esta página, um curioso paralelo entre a cidade moderna que os adultos

vêem, com suas ruas retas e altos edifícios, e o castelo onírico, cujo caminho é curvilíneo e

luminoso, com torres de açúcar e chocolate, percebido pelas crianças, no qual mora o

mágico, o autor do livro. Dividindo a página em três colunas verticais praticamente da

mesma largura, o artista representou a cidade dos adultos na coluna da esquerda; a das

crianças na coluna da direita, mantendo o texto no centro. Ao pé da página, tendo diante de

si os dois caminhos, estão o adulto e a criança. Trata-se, sem dúvida, de uma solução

diferenciada, explorando a grande extensão da página e as possibilidades do próprio texto.

O artista ilustrou vários livros para o público infantil, tanto para a Biblioteca de

Nanquinote, como para outras coleções. Entretanto, sua obra-prima no segmento são os

Contos de Andersen, lançados entre 1958 e 1961 e publicados em cinco volumes, sendo três

ilustrados por ele e os outros dois por Roswitha Wingen-Bitterlich (1920). No anúncio

elaborado para a divulgação da coleção, ênfase para os números do projeto: 1648 páginas;

163 ilustrações em preto; 42 ilustrações a cores. Nas cerca de 312 páginas de cada volume,

há uma média de 30 ilustrações em preto e 10 coloridas. Isso dá uma imagem a cada 7,5

páginas. Ou seja: diferentemente dos livros fartamente ilustrados, como os da série

Nanquinote, aqui o ilustrador precisou delimitar o que ilustraria.

Em algumas situações, Faedrich – como é característica da maioria dos ilustradores – optou

por tomar um aspecto do clímax narrativo. Todavia, os seus desenhos estão muito mais

relacionados a potentes imagens mentais sugeridas por fragmentos de texto. É o que temos

no conto O Presente da Fortuna (volume IV, p. 27), em que o protagonista, podendo

realizar todos os seus desejos, pensa em desvendar o que está oculto no coração das

pessoas. E eis que entra no coração de uma mulher: “[...] parecia-se esse com uma enorme

catedral. Sobre o altar-mor, flutuava a pomba branca da inocência, e o interno de boa

vontade ficaria ali de joelhos, mas tinha de ir ligeiro para o coração mais próximo”.12 Da

12 Fonte primária: ANDERSEN, Hans Christian. Contos de Andersen IV – O Presente da Fortuna. Compilação e Tradução de Pepita de Leão. [Capa e ilustrações de Nelson Boeira Faedrich] Coleção Cinderela. 1. ed. 2. impressão. Porto Alegre: Editora Globo, 1963. 312 p.

Page 10: II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial · “Secção de Desenho” da Editora Globo: ... tiveram na Secção de Desenho uma espécie de curso completo de artes

passagem, Faedrich pinçou a síntese: “...o coração parecia-se com uma enorme catedral”,

usando a frase como legenda. E lá estão as artérias como se fossem as estruturas das

abóbadas de leque ou corola, encontradas nas catedrais inglesas do gótico flamejante. A sua

interpretação se pauta, portanto, numa metáfora visual que é elaborada com grande minúcia

e descrição, aspectos que marcam a sua poética.

Ilustração para O Presente da Fortuna. Abaixo da imagem, a legenda:

“...o coração parecia-se com uma enorme catedral”.

Em muitos dos livros ilustrados da Globo e em praticamente todos ilustrados por Faedrich,

há, sob as ilustrações maiores, a frase que inspirou o desenho, um trecho ou mesmo a

síntese dela. Esta frase estabelece a ligação entre o texto e a imagem, e muitas vezes é

necessária, já que o artista pode não ter trabalhado uma cena específica, mas sim um

aspecto “menor”, que foi o que aconteceu no exemplo acima. A escolha por motivos

paralelos à narrativa, ou seja, por elementos que não constituem propriamente o ápice da

história, talvez também tenha sido uma opção de Faedrich para “escapar” de soluções já tão

fartamente exploradas por outros ilustradores. Sua obra ficou, assim, muito diferente das

verificadas em outros livros que têm como base o mesmo texto.

Na imagem para o pequeno conto A Pena e o Tinteiro (volume IV, p. 55), outro tratamento

surpreendente. A história começa assim:

Page 11: II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial · “Secção de Desenho” da Editora Globo: ... tiveram na Secção de Desenho uma espécie de curso completo de artes

Era no gabinete de um poeta. O tinteiro achava-se sobre a mesa, e alguém disse: - É estranho quanta coisa pode sair de um tinteiro! Qual será a próxima obra? É na verdade estranho! - Sim – disse o tinteiro. – É prodigioso! E é o que estou sempre a dizer. – Dirigindo-se à pena e aos outros objetos que estavam ali e podiam ouvi-lo, continuou: - É quase inacreditável. Realmente, não sei qual será a futura obra que vai sair, quando o homem se põe a me sugar. Uma gota que tira de dentro de mim basta para encher meia página de papel, e quanta coisa pode estar contida nela! Sou na verdade uma coisa muito singular! É de mim que saem todas as obras do poeta, todos esses seres vivos que o leitor julga conhecer; os sentimentos ternos, o humor; as encantadoras descrições da natureza... Eu mesmo não o compreendo, porque não conheço a natureza; mas tudo está em mim! Foi de mim que saíram e continuam saindo aquelas multidões de moças, lindas e graciosas, de galhardos cavalheiros, montando soberbos corcéis; de cegos e aleijados – e nem eu mesmo sei quanta coisa mais. Mas, palavra de honra! Faço tudo isso sem pensar!13

Ilustração para A Pena e o Tinteiro. Do tinteiro, emerge o universo do ilustrador...

O trecho, portanto, traz um diálogo entre a pena e o tinteiro de um poeta. O que sai da

junção dos dois? Palavras poderia ser a resposta mais objetiva. Contudo, saem muitas

outras coisas; saem imagens, ou melhor, a capacidade de imaginar. E Faedrich faz surgir

do pequeno tinteiro uma profusão de seres e de personagens, muitos dos quais relacionados

a alegorias do campo da arte: a representação da morte; Euterpe, a musa da música e da

poesia lírica; um cavaleiro bárbaro sobre o seu cavalo... Pode-se dizer que Faedrich

aproveitou-se da frase “É estranho quanta coisa pode sair de um tinteiro” e transpôs para a

sua imagem realmente coisas que ele, enquanto ilustrador, fazia surgir do tinteiro. Dialogou

plenamente, assim, com o escritor: enquanto este sacava do objeto palavras, frases e

13 Fonte primária: idem.

Page 12: II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial · “Secção de Desenho” da Editora Globo: ... tiveram na Secção de Desenho uma espécie de curso completo de artes

histórias, Faedrich tirava personagens, alegorias, cenários, paisagens... apresentava imagens

de seu universo, do universo do ilustrador.

Nelson Boeira Faedrich lê Simões Lopes Neto

Os outros grandes envolvimentos de Faedrich como ilustrador estão nos livros Lendas do

Sul e Contos Gauchescos, ambos escritos por Simões Lopes Neto (1865-1916) e publicados

em edições comemorativas pela Globo, respectivamente em 1974 e 1983.14 E se o foco das

Lendas está em mitos e histórias do imaginário rio-grandense, como A Mboitatá, A

Salamanca do Jarau e O Negrinho do Pastoreio, os Contos apresentam “causos”

gauchescos na voz de Blau Nunes, o peão pobre e guasca de bom porte, que só tinha de seu

um cavalo gordo, o facão afiado e as estradas reais. É Blau quem assume o papel de

narrador por excelência na obra de Lopes Neto.

Comparando as ilustrações presentes nos dois livros, percebe-se que, apesar do traço

unificador do artista, o tratamento é diferenciado. O que marca as imagens de Contos

Gauchescos é a sua função descritiva. É claro que, quando o artista opta por trabalhar cenas

de ação, essas são representadas no seu momento de ápice. Todavia, há várias outras

ilustrações que têm como cerne hábitos dos gaúchos, como picar fumo, declamar versos,

levar os arreios para a montaria. Nessas, o artista reproduz com destreza não somente certos

sinais, posturas corporais e feições típicas, como detalhes das vestimentas e da

ornamentação das peças. Todas as figuras são colocadas contra um fundo branco, trazendo,

quando muito, uma sutil representação de chão. Elas aparecem isoladas e “congeladas” na

ação, num sintoma de certa tensão entre os pressupostos narrativos da imagem e uma

atenção à presença descritiva. Encontramos esse especial e minucioso tratamento na

representação da velha com os olhos como retovo de bola. Ela aparece segurando uma

trouxa nas mãos, que, na história, daria ao imperador Dom Pedro II, de passagem pelo Rio

Grande. No conto, ela não tem qualquer importância, mas sua imagem é das mais

marcantes do livro, pelo alto grau de detalhismo com que é representada: as mãos e a pele

14 Lendas do Sul tem formato 31,5 x 23,5 cm, enquanto Contos Gauchescos tem 32 x 22 cm. As ilustrações, apresentadas em página inteira e ímpar, sem texto atrás, têm 25,2 x 16,4 cm, em ambos os livros.

Page 13: II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial · “Secção de Desenho” da Editora Globo: ... tiveram na Secção de Desenho uma espécie de curso completo de artes

excessivamente enrugadas; os olhos miúdos, com a testa a pesar-lhe; a boca sumindo na

ausência de dentes; o manto rendado cobrindo-lhe o corpo.

Contos Gauchescos: ênfase na função descritiva da imagem

Nas imagens de potros e gado correndo pelo campo, ou mesmo de tropas avançando contra

o inimigo, Faedrich geralmente trabalha com as manadas saindo de um canto a outro da

página, vindo de cima para baixo, ou vice-versa. Há uma equiparação por justaposição,

relacionando o perto e o longe, o pequeno e o grande, por meio de uma imagem que é

microscópica e, ao mesmo tempo, telescópica, numa relação muito estreita com a estética

das antigas gravuras japonesas, que tanto influenciaram, por seu turno, diversos ilustradores

do final do século XIX, como o já citado Aubrey Beardsley.

Já nas Lendas, o elemento principal explorado por Faedrich é a função narrativa das

imagens, que dialoga com a linguagem de Lopes Neto, cuja grandeza lembra os relatos

míticos e bíblicos, convocando a plena capacidade de estesia do leitor. Entre as várias

histórias, chama a atenção a interpretação do artista para a Salamanca do Jarau¸

assombrosa lenda do híbrido de mulher e lagartixa que envolve um sacristão em pleno

período das reduções jesuítico-guarani no Estado, no século XVIII. Ela o seduz como

mulher e, na narrativa de Lopes Neto, está entre as mais lindas e exuberantes de todas as

Page 14: II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial · “Secção de Desenho” da Editora Globo: ... tiveram na Secção de Desenho uma espécie de curso completo de artes

criaturas sobre a terra. Porém, na imagem de Faedrich, a “princesa moura encantada” exibe

a sua maldição: meio mulher, meio animal, incitando o leitor a imaginar a temperatura de

seu corpo, as sensações provocadas pelo toque em sua pele de réptil. Em nenhum momento

o autor indica isso, mas não é necessário: o ilustrador é co-autor.

Lendas do Sul: ênfase na função narrativa da imagem

O interessante é como, ao longo das 19 ilustrações para A Salamanca do Jarau, Faedrich

alinhavou os personagens e as passagens mais dramáticas da história. Ele o fez tanto por

meio das cores, como por meio de determinados símbolos e detalhes que introduziu nas

cenas, e que se repetem, estabelecendo visualmente o fio narrativo.

Nelson Boeira Faedrich: intérprete absoluto de Simões Lopes Neto. De fato, suas telúricas

imagens, de forte apelo e impacto emocional, estão entre as mais encantadoras

representações da paisagem e dos hábitos dos gaúchos, de tal forma que, para muitas

Page 15: II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial · “Secção de Desenho” da Editora Globo: ... tiveram na Secção de Desenho uma espécie de curso completo de artes

pessoas, a figura do gaúcho campeiro está indissociavelmente ligada às linhas ágeis e

sinuosas de Faedrich. Sem exageros, pode-se dizer que a importância de Faedrich para

Lopes Neto está como a de Gustave Doré para Dante Alighieri, Cervantes e John Milton.

Assim como, sem exageros, pode-se dizer que as imagens e o tratamento gráfico de

Faedrich revolucionaram não somente a estética dos livros ilustrados da antiga Editora

Globo, como a própria visualidade e o imaginário de seus milhares de leitores.

Referências

AMORIM, Sônia Maria de. Em Busca de um Tempo Perdido – Edição de Literatura traduzida pela Editora Globo (1930-1950). São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Com-Arte; Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 1999. 184 p. FRANCASTEL, Pierre. Pintura e Sociedade. São Paulo: Martis Fontes, 1990. 292 p. GOMES, Leonardo Menna Barreto. Ernst Zeuner: Artista e Designer. 2001. 296 f. Dissertação (Mestrado em Comunicação Social). Faculdade dos Meios de Comunicação Social, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2001. MICELI, Sérgio. Intelectuais à Brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. 436 p. RAMOS, Paula. A Experiência da Modernidade na Secção de Desenho da Editora Globo – Revista do Globo (1929-1939). 2002. 273 f. Dissertação (Mestrado em Artes Visuais). Instituto de Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2002. RAMOS, Paula. Artistas Ilustradores – A Editora Globo e a Constituição de uma Visualidade Moderna pela Ilustração. 2007. 444 f. Tese (Doutorado em Artes Visuais). Instituto de Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007. SCARINCI, Carlos. A Gravura no Rio Grande do Sul (1900-1980). Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982. 224 p. TORRESINI, Elisabeth Rochadel. Editora Globo. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Com-Arte; Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 1999. 120 p.