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As intenções foram vendidas à grande massa brasileira como nobres e necessárias ao desenvolvimento nacional. No entanto, a “cultura trabalhista” de Vargas, ao passo que concedeu trabalho, privou a grande massa de sua liberdade individual. A Aliança Nacional Libertadora, surgida em 1935, aparece como alternativa ao ideário trabalhista varguista buscando a construção de um governo amplo, popular e revolucionário. Tal projeto, devido a fragilidades organizacionais e de caráter ideológico, não consegue força suficiente para agregar em torno de uma ideia comum setores sociais, políticos e profissionais tão distintos, que apresentavam necessidades específicas e que, por vezes, entravam em conflito. Aproveitando-se dessas fragilidades, o governo de Getúlio Vargas passa a perseguir e decreta a ilegalidade da frente aliancista. Assim o grupo se desfaz e parte de seus integrantes passam a ser os alvos preferenciais das elites nacionais.
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ISSN 18088449 1
XX Encontro de Iniciao Pesquisa Universidade de Fortaleza
20 24 de Outubro de 2014
Aliana Nacional Libertadora (ANL): Uma alternativa ao projeto trabalhista de
Vargas e a decretao de sua ilegalidade
Andr Luiz Vieira de Brito 1 (IC), Felipe Monteiro Andrade Arajo 2 (IC), Mateus Oliveira de Freitas 3 (IC).
1. Universidade de Fortaleza Curso Direito 2. Universidade de Fortaleza Curso Direito 3. Universidade de Fortaleza Curso Direito
Palavras-chave: Getlio Vargas. Direitos Civis. Trabalhismo. Aliana Nacional Libertadora.
Resumo
As intenes foram vendidas grande massa brasileira como nobres e necessrias ao
desenvolvimento nacional. No entanto, a cultura trabalhista de Vargas, ao passo que concedeu trabalho,
privou a grande massa de sua liberdade individual. A Aliana Nacional Libertadora, surgida em 1935,
aparece como alternativa ao iderio trabalhista varguista buscando a construo de um governo amplo,
popular e revolucionrio. Tal projeto, devido a fragilidades organizacionais e de carter ideolgico, no
consegue fora suficiente para agregar em torno de uma ideia comum setores sociais, polticos e
profissionais to distintos, que apresentavam necessidades especficas e que, por vezes, entravam em
conflito. Aproveitando-se dessas fragilidades, o governo de Getlio Vargas passa a perseguir e decreta a
ilegalidade da frente aliancista. Assim o grupo se desfaz e parte de seus integrantes passam a ser os alvos
preferenciais das elites nacionais.
Introduo
O trabalho dignifica o homem
Se at hoje a frase de efeito encontra ferrenhos defensores, no governo Vargas o dito popular era
lei. Era por meio do Estado que o cidado ocuparia um lugar na sociedade e se relacionaria com o Estado.
Ao aparato estatal, caberia promover a justia social para assegurar a realizao plena do cidado. Mas o
que fazer com os marginalizados, os no-inseridos no mercado de trabalho?
Aos que obedeciam as leis trabalhistas que materializavam o esprito do Estado Nacional tudo e
aos demais quase nada. nesse cenrio de conflito que surge em 1935 a Aliana Nacional Libertadora
(ANL), que apresenta uma proposta de unio nacional para a defesa da ptria. A grande frente pretendia
romper com o isolamento da classe operria com a proposta de criao de um governo popular em que os
direitos civis pudessem ser assegurados. A opresso trabalhista deveria dar lugar a liberdade individual.
No entanto, decretada a ilegalidade da ANL pelo governo varguista por meio do decreto especial n 299, do
dia 11 de julho de 1935, o grande projeto que a tantos entusiasmou acaba por fracassar.
Metodologia
O presente artigo foi produzido a partir de pesquisa bibliogrfica em livros, peridicos e base de
dados, levando em considerao o perodo que antecede a formao da Aliana Nacional Libertadora
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(ANL) at a decretao da sua ilegalidade (1934-1935). Colocamos em discusso a construo do projeto
trabalhista do governo Vargas como meio de controle da sociedade pelo Estado. Tambm analisamos o
papel da ANL enquanto um projeto poltico alternativo que tinha por intuito estabelecer um dilogo com as
massas em prol de um governo democrtico, livre e popular.
Resultados e Discusso
1. Os Direitos Civis e a Cultura Trabalhista na Era Vargas
Comumente desrespeitados na Amrica Latina, especialmente no Brasil, os direitos civis so
definidos por T. H. Marshall como aqueles que so imprescindveis liberdade individual. Esses direitos
esto relacionados liberdade de ir e vir, liberdade de imprensa, pensamento e f, o direito propriedade
e de concluir contratos vlidos e o direito justia.
Mesmo quando constam do texto constitucional costumam ser ineficazes, a exemplo do que
ocorrera com a Constituio de 1934. Em seu artigo 113, o caput prev a inviolabilidade dos direitos
concernentes liberdade, subsistncia, segurana individual e propriedade, e em seu inciso IX,
afirma que livre a manifestao do pensamento, sem dependncia de censura. No entanto, essas
garantias no se efetivam dentro do projeto trabalhista construdo pela ditadura varguista e imposto
nao brasileira. Considerava esse projeto que pelo trabalho o cidado encontraria sua posio na
sociedade e estabeleceria relaes com o Estado. (GOMES, 1982, p. 127). Dessa forma, caberia ao
Estado assegurar a realizao da classe trabalhadora enquanto promotor nico e individual da justia
social. A relao trabalhista vincularia os cidados ao Estado, como se o trabalho fosse o nico elo de
ligao possvel a permitir o exerccio da cidadania e a participao das massas no destino da nao.
Elementos considerados nocivos ao projeto trabalhista de Vargas como o subversivo, os
anarquistas e comunistas no encontravam espao dentro desse projeto poltico, uma vez que pleiteavam
um projeto poltico-ideolgico que contrariava os interesses do Estado getulista. Outro elemento tambm
excludo era o malandro, que se recusava conscientemente integrar-se ao mercado de trabalho,
projetando um mundo em que a justia e a felicidade eram encontradas fora das regras polticas vigentes.
(GOMES, 1982, p. 164). Essa grande massa de excludos que foi se avolumando ao passar do tempo
encontrou na Lei de Segurana Nacional uma das mais significativas tentativas de barrar o seu poder de
atuao na construo desse projeto poltico alternativo. Dizia a referida Lei, promulgada em 04 de abril de
1935, em seu Art. 20 que promover, organizar ou dirigir sociedade de qualquer espcie, cuja atividade se
exera no sentido de subverter ou modificar a ordem poltica ou social por meios no consentidos em lei,
ficava vedado, apenando aqueles que a descumprissem de 06 meses a 02 anos de priso.
Tal lei praticamente colocava qualquer reao das classes marginalizadas a perigo, visto que o
governo varguista poderia coibir atos, opinies e manifestaes de livre pensamento como uma tentativa
de subverter a ordem ora estabelecida na cena poltica nacional. sabido que, durante o seu governo, o
movimento operrio controlado pelo Ministrio do Trabalho, rgo que no s regula a liberdade de ao
trabalhista, como justifica ideologicamente o comportamento a ser dado. (CARONE, 1976, p.133). A
postura repressora de Vargas por muitos considerada antidemocrtica e fascista, nesse nterim a
sociedade brasileira, no mais suportando os desmandos cometidos pela ditadura trabalhista, clama por
um novo regime poltico em que haja espao para a democracia, a livre liberdade de expresso e a
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construo de uma efetiva unidade com o dilogo e a participao dos diferentes setores da vida poltica
nacional. Porm, tal projeto ainda parecia algo distante, pois Getlio encontrava-se
Prestigiado pelo Exrcito, pela Marinha, pela Ao Integralista Brasileira, e as
organizaes brasileiras, que nesta hora se congregam no mesmo esprito de
nacionalismo, disciplina, culto das tradies nacionais e sustentao do Poder
central. (CARONE, 1976, p.194)
O que significa dizer que Getlio Vargas tinha em suas mos todos os poderes que lhe foram
conferidos pelos atores sociais que a si atriburam o direito de falar em nome do Brasil. justamente nesse
conturbado cenrio de conflitos e choque de interesses que Roberto Sisson, membro influente da Aliana
Nacional Libertadora, percebe a atuao desse partido como um meio de se dirimir esses conflitos levando
a questo a uma soluo pacfica. Dizia ele que a ANL no uma fora de extremismos. um partido de
democratas que tem por fim especial e imediato o prestgio da democracia do Brasil. (CARONE, 1976,
p.225). na construo dessa democracia que oportunamente esse movimento poltico e social procurar
trabalhar.
2. Movimento Popular, Resistncia e Opresso: O Surgimento da ANL
Data de janeiro de 1935, as primeiras notcias sobre a Aliana Nacional Libertadora. Sua luta se
resume na sigla USA, que significa a Unio Patritica Nacional, a defesa da siderurgia nacional e a ampla
anistia para os presos polticos do Brasil. O movimento desejava a unio nacional para a defesa da ptria,
sob a direo do Presidente da Repblica. (CARONE, 1976, p.226), ou seja, no se desejava um completo
rompimento com as estruturas sociais vigentes. O que se desejava era uma ampliao dos setores sociais
partcipes na construo da nao.
A ANL reunia socialistas, comunistas, liberais e anti-fascistas, procurando incorporar os pontos de
vista e as necessidades desses segmentos sociais e polticos. Como prioridades, o novo grupo poltico
ideolgico pretendia combater o imperialismo e o fascismo. Uma das dificuldades verificadas na formao
do movimento aliancista era a incorporao dos comunistas. Estes aceitavam e defendiam uma poltica de
unio entre todos os setores da sociedade, mas no pretendiam abandonar a sua ilegalidade e nem sua
organizao partidria. Foi somente com a proposta da criao da ANL, em maro de 1935, que o PCB
conseguiu formular um programa justo e que permitiu um novo, embora brevssimo, avano do movimento
de massas. (ANTUNES, 1982, p.162). Os desdobramentos de toda essa movimentao poltica,
inicialmente, no poderiam ser previstos pelo governo varguista.
A classe assalariada brasileira, enfim, as massas em geral viram a possibilidade de romper com o
isolamento que at ento lhes afastava da participao nas decises polticas do pas. A ANL acabou por
incorporar em seu grupo operrios, camponeses, soldados, marinheiros, estudantes, intelectuais e a
pequena burguesia urbana em uma luta que se tornou comum a todos: o enfrentamento da misria, da
extrema pobreza e da fome em que se encontrava significativa parcela da populao brasileira. Assim
sendo, pretendia-se criar um governo popular revolucionrio que atendesse aos anseios desses segmentos
sociais. Tal fato acabou por gerar grande descontentamento entre as elites brasileiras e o governo Vargas.
Para realizar seu projeto poltico, a Aliana Nacional Libertadora defendia uma interveno direta e
efetiva das massas populares no Estado brasileiro. Essa interveno se daria a partir de aes como o
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rompimento com o imperialismo norte-americano e a extino do latifndio rural. Por si s, alm de
polmicos, esses objetivos em muito contriburam para acirrar os nimos entre segmentos sociais to
distintos que, inicialmente, se uniram na perspectiva de construir uma nao integrada, coesa, mas dirigida
pelo Presidente da Repblica.
O apogeu aliancista se deu entre os meses de maro a julho de 1935, e apenas aps 04 meses da
sua criao, o governo Vargas decreta a sua ilegalidade.
3. A Ilegalidade da Aliana Nacional Libertadora
O discurso de 05 de julho de 1935, comemorativo da data das revolues tenentistas de 1922 e
1924, pretexto para o governo de Getlio invadir e fechar as sedes da Aliana Nacional Libertadora em
todo o Brasil (CARONE, 1991, p. 200). A chance de usar a to conturbada e polmica Lei de Segurana
Nacional havia aparecido. As acusaes contra a ANL se evidenciaram na imprensa, fazendo com que
fosse decretada sua ilegalidade em 13 de julho de 1935, com a alegao de que o movimento praticava
atividade subversiva de ordem poltica e social.
Tal ao estatal tinha apoio na Lei n 38, de 04 de Abril de 1935, a Lei de Segurana Nacional,
conhecida por seus opositores como Lei Monstro, que definia os crimes contra a ordem poltica e social.
O objetivo desta era transferir para uma legislao especial os crimes contra a segurana do Estado,
submetendo-os a um regime mais rigoroso, com o abandono das garantias processuais. Prevendo
movimentos radicais de oposio, o governo getulista, antes mesmo da criao oficial da ANL, levou ao
Congresso o projeto da LSN, conseguindo aprovao com pouca resistncia devido ao sentimento de
perigo iminente do comunismo lanado sobre o Congresso, de forma estratgica. Claramente esta foi uma
medida de carter autoritrio e centralizador, podendo ser considerada o embrio da ditadura que surgiria
com o golpe de 1937. Ao mesmo tempo em que os direitos sociais e as liberdades civis eram garantidas
pela Constituio de 1934, essas ltimas eram constantemente violadas pelo prprio governo federal, ou
seja, as garantias constitucionais so esquecidas em nome da manuteno do poder.
Com o fechamento da ANL, a 11/07/1935, muitos elementos da sua liderana, especialmente
aqueles que no eram comunistas ou que eram oriundos das camadas mdias, abandonaram a
organizao, que a partir da passou a ser dirigida pelos comunistas. (ANTUNES, 1982, p.165). Aps a
decretao da ilegalidade pelo governo Vargas, o movimento em muito reduziu as suas possibilidades de
implantar um governo com uma participao popular atuante. Os ideais de um governo popular e
revolucionrio se tornaram cada vez mais distantes.
A reao aptica do movimento aliancista diante do decreto de ilegalidade da ANL pode ser em
parte justificada por seu breve perodo de existncia legal, no suficiente, para unir em torno de um projeto
comum, setores sociais to distintos como comunistas, tenentistas, camponeses, operrios entre outros.
Outro relevante aspecto que em muito contribuiu para a decretao dessa ilegalidade pelo governo Vargas
foi o manifesto, escrito por Lus Carlos Prestes e lido por Carlos Lacerda, no qual se afirmava que a ANL
era uma continuao da luta dos 18 do Forte de Copacabana. (CARONE, 1976, p. 259). Em mais um
episdio da histria nacional a classe operria no conquistaria seus direitos a liberdade, sendo fortemente
reprimida quanto manifestao de pensamento e opinio. O sonho da conquista dos direitos civis pela
grande massa mais uma vez seria adiado.
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Concluso
Por sentena de 11 de Dezembro de 1935, do Juiz Federal da 1 Vara do Distrito
Federal, Dr. Edgard Ribas Carneiro, foi julgada procedente a ao sumria
intentada pela Unio Federal, pelo 2 Procurador da Repblica, interino, Dr.
Himalaia Virgolino, e, em consequncia, decretada, para defesa dos mais altos
interesses da Nao, a dissoluo da sociedade civil Aliana Nacional
Libertadora. Considerou o juiz, fundamentando longamente a sua deciso, que
os autos provaram de modo completo que a referida Aliana constitua um foco
pernicioso ordem legal. (COSTA, 1964, pp. 66-67).
E assim, em dezembro de 1935, tinha fim o movimento que pretendia unir toda a nao brasileira
para a defesa da ptria. No entanto, o brevssimo movimento de massas que deu voz a operrios,
camponeses, soldados, marinheiros, estudantes, intelectuais e a pequena burguesia foi sufocado. A
extino do latifndio rural e o rompimento com o imperialismo no puderam se tornar realidade.
Os aliancistas ainda foraram uma sada insurrecional, em novembro de 1935, que por no contar
com o apoio e a efetiva resistncia das camadas populares foi facilmente vencida. Cerca de um ms
depois, a Unio Federal consegue o seu intento por meio de deciso judicial que dissolve a Aliana
Nacional Libertadora. Quem sabe esse acontecimento histrico tenha nos trazido grandes lies, pois
como nos dizia Lukcs: Mesmo nos momentos de falsa conscincia existe uma tendncia objetiva para a
verdade. Que a histria continue nos dando grandes lies.
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Referncias
ANTUNES, Ricardo. Classe Operria, Sindicatos e Partido no Brasil. So Paulo, Cortez, 1982.
CARONE, Edgard. A Repblica Nova (1930-1937). So Paulo, Difel, 2 ed. 1976.
CARONE, Edgard. A Segunda Repblica (1930-1937). So Paulo, Difel, 2 ed. 1974.
CARONE, Edgard. O Estado Novo (1937-1945). So Paulo, Difel, 1977.
COSTA, Edgard. Os Grandes Julgamentos do Supremo Tribunal Federal Segundo Volume. Rio de
Janeiro, Civilizao Brasileira S.A., 1964.
OLIVEIRA, Lcia Lippi; VELLOSO, Mnica Pimenta; CASTRO GOMES, ngela Maria. Estado Novo:
Ideologia e Poder. Rio de Janeiro, Zahar, 1982.
ROSA, ngelo Fernando Vaz. O cerceamento dos direitos civis durante o Estado Novo em
decorrncia da extino da Justia Federal. Revista CEJ, Braslia, v. 16, n. 57, p. 81- 87, maio/ago.
2012.
Agradecimentos
Inserir os agradecimentos s pessoas, entidades e/ou agncias de fomento (ARIAL, 10) Ateno para no ultrapassar as margens laterais.