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anl Poder Judiciário do Estado de Goiás tribunal Comarca de Goiânia de justiça 70 Vara Cível , do estado de goiás Gabinete do 10 Juiz de Direito Sentença Protocolo : 201201825835 Natureza : Revisional Requerente : Marcio Jose das Neves Duarte Requerido : Banco Safra S/A Vistos etc, O Autor Marcio Jose das Neves Duarte propôs ação revisional cumulada com consignação em pagamento e antecipação de tutela em desfavor do Banco Safra S/A, alegando que firmou com o requerido o contrato de financiamento bancário para a aquisição do veículo automotor de número 0103600010051606, havendo no mesmo encargos abusivos ou ilegais, motivo pelo qual pediu a sua revisão conforme o ordenamento jurídico vigente. Teceu comentários sobre diversas normas legais e jurisprudenciais que entende aplicáveis no contrato firmado entre as partes. Pediu, em síntese: a) a limitação dos juros em 12% (doze por cento) ao ano; b) a proibição da capitalização de juros; c) a exclusão da comissão de permanência; d) a aplicação da multa moratória conforme contratado; e) a aplicação de correção monetária pelo índice INPC-IBGE; f) a condenação do banco demandado nas custas e honorários advocatícios. Pediu, em sede de tutela antecipada: a) a exclusão ou proibição da inclusão de seu nome nos órgãos de proteção ao crédito e protestos; b) a manutenção na posse do bem; c) a consignação em pagamento das parcelas restantes, conforme valores declinados na inicial. Requereu, também, a exibição do contrato firmado entre as partes pela requerida. Foi indeferido o pedido de tutela anteppada autora, fls.46. Foi deferido apenas a consignação do vglor int r da parte ral cliasi7,celas www.tjgo.jus.br 1 Rua 10, St. Oeste. Goiânia — CEP 74120-020 — Edifício Palácio da Justiça Heitor Fleury - Telefone (62)3216-2478 — 80 andar

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anlPoder Judiciário do Estado de Goiás

tribunal Comarca de Goiâniade justiça 70 Vara Cível

, do estado de goiás Gabinete do 10 Juiz de Direito

Sentença

Protocolo : 201201825835

Natureza : Revisional

Requerente : Marcio Jose das Neves Duarte

Requerido : Banco Safra S/A

Vistos etc,

O Autor Marcio Jose das Neves Duarte propôs ação revisional

cumulada com consignação em pagamento e antecipação de tutela em desfavor do

Banco Safra S/A, alegando que firmou com o requerido o contrato de financiamento

bancário para a aquisição do veículo automotor de número 0103600010051606,

havendo no mesmo encargos abusivos ou ilegais, motivo pelo qual pediu a sua

revisão conforme o ordenamento jurídico vigente. Teceu comentários sobre diversas

normas legais e jurisprudenciais que entende aplicáveis no contrato firmado entre as

partes.

Pediu, em síntese: a) a limitação dos juros em 12% (doze por

cento) ao ano; b) a proibição da capitalização de juros; c) a exclusão da comissão de

permanência; d) a aplicação da multa moratória conforme contratado; e) a aplicação

de correção monetária pelo índice INPC-IBGE; f) a condenação do banco

demandado nas custas e honorários advocatícios.

Pediu, em sede de tutela antecipada: a) a exclusão ou proibição

da inclusão de seu nome nos órgãos de proteção ao crédito e protestos; b) a

manutenção na posse do bem; c) a consignação em pagamento das parcelas

restantes, conforme valores declinados na inicial. Requereu, também, a exibição do

contrato firmado entre as partes pela requerida.

Foi indeferido o pedido de tutela anteppada

autora, fls.46. Foi deferido apenas a consignação do vglor int

r da parte

ral cliasi7,celas

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U tribunalde justiçado estado de cloiasdo estado de golas

Poder Judiciário do Estado de GoiásComarca de Goiânia7a Vara CívelGabinete do 1° Juiz de Direito

conforme contratado. Foi determinada a exibição do contrato e demais documentos

entabulados entre as partes, em desfavor da parte requerida, sob pena de

presunção de veracidade dos fatos que o documento pretende provar.

O requerido, citado fls.181, contestou tempestivamente.

O requerido contestou alegando a inaplicabilidade dos preceitos

legais citados pelo Autor, a inexistência de abusividade ou ilegalidade no contrato

firmado entre as partes, e que prevalecem as condições da obrigação assumida pela

parte requerente, pacta sunt servanda, defendendo a capitalização dos juros e

demais encargos contratados.

Requereu a improcedência dos pedidos da inicial com a

condenação da parte requerente nos ônus da sucumbência processual.

Impugnando a contestação, reiterou a parte autora os

argumentos da inicial.

Assim, vieram os autos conclusos.

Relatei. Decido.

A lide está apta a receber julgamento imediato, uma vez que o

feito, conforme artigo 330, 1 do CPC, cuida de matéria só de direito sem necessidade

de maior dilação probatória além dos documentos juntados aos autos.

"O julgamento antecipado da lide, quando a questão proposta é

exclusivamente de direito, não viola o princípio constitucional da

ampla defesa e do contraditório."'

' STF — 2" Turma, Ai 203.793 -5 -MG, AgRg, rei. Min. Mauricio Correa,j.3.11.97, Vegarám provjrfientov.u., DJU em 19.12.97, p.53.

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do estado de goiás

tribunalde justiça

Poder Judiciário do Estado de GoiásComarca de Goiânia7' Vara CívelGabinete do 1' Juiz de Direito

Por qualquer ângulo que se olhe a petição inicial, inexiste

causa de extinção liminar do feito pelos arts.267, 295 e 301 do CPC, cabendo a este

juiz examinar o mérito da causa.

No contrato firmado entre as partes, incidem as normas do

Código de Defesa do Consumidor, pois a parte Requerente é destinatária final do

serviço (art.2° do Código de Defesa do Consumidor), ocupando a parte Ré a posição

de fornecerinra pelo exercício habitual e profissional de fornecimento de crédito

(produto) no mercado de consumo, art.3°, caput, e §2° do Glie.

Cite-se a Lei 8.078/1990, previsão do art.5°, XXXII e art.170, V

da Constituição Federal de 1988, bem como do art.48 de sua ADCT. Tal posição

restou confirmada pelo julgamento da ADI n° 2591/DF perante o Supremo Tribunal

Federal, consagrando entendimento já pronunciado pelo Superior Tribunal de Justiça

(Súmula 297).

Conforme o diploma consumerista, é possível a revisão das

cláusulas contratuais, desde que as prestações sejam efetivamente

desproporcionais, que fatos supervenientes venham a tornar excessivamente

onerosas as prestações ou que existam obrigações iníquas, abusivas ou que

coloquem o consumidor em exagerada desvantagem, inteligência dos artigos 6°, V, e

51, IV, do Código de Defesa do Consumidor. Este Código, fazendo uso de cláusulas

gerais e conceitos abertos, positivou o dirigismo estatal nas relações de consumo,

autorizando o magistrado a integrar o contrato, proferindo sentença determinativa.

O princípio da força obrigatória dos contratos, ou pacta sunt

servanda, está relativizado; no sentido de que os contratos, e a composição de

vontades das partes, agora estão submetidos a parâmetros ou limites determinados

em lei, incidência do dirigismo contratual, onde os parâmetros são a boa -fé objetiva,

a função social do contrato e a eticidade previstos no Código Civil Bra54 (art.421

e 422).

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do estado de golas

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Poder Judiciário do Estado de GoiásComarca de GoiâniaT Vara CívelGabinete do 1° Juiz de Direito

O fato de a parte autora ter sido cientificada de todos os

encargos e taxas contratuais quando da celebração do contrato e, mesmo assim, tê-

lo aceito em todos os seus termos quando firmou o respectivo instrumento, não tem

o condão de afastar a revisão contratual, mesmo porque, trata-se de típico contrato

da espécie adesiva, enquadrado na acepção do artigo 54 do Código Consumerista,

eis que a parte contratante somente declarou seus dados pessoais e bem desejado,

seguindo todas as condições do financiamento e cláusulas pré -impressas, quedeverão ser interpretadas. no caso de dúvida, em favor do consumidor (arts. 40, 1 e

47 do CDC).

Determina o artigo 424 do Código Civil Brasileiro que, quando

houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á

adotar a interpretação mais favorável ao aderente.

Como esclarece Sílvio de Salvo Venosa, "o contrato com

negociação paritária ocupa hoje pequena parcela do Direito Privado. Podemos

afirmar que persiste como reminiscência romântica do antigo Direito. Na sociedade

de consumo, a contratação em massa faz girar nossa vida negocial"2. Assim,

perfeitamente possível a revisão do contrato, segundo as circunstâncias que aponta

a parte contratante.

Examinando todo o contrato submetido à revisão contratual,

tenho que os juros nele cobrados são o preço pago pelo uso do dinheiro, é fruto,

compensação, aluguel pelo uso do capital por dado lapso temporal, tem caráter

remuneratório, é prêmio pelo risco do empréstimo da coisa, é o lucro3.

Os juros, em quaisquer contratos, eram limitados pela redação

anterior do art.192, §3° da Constituição Federal de 1988, nos seguintes termos:

"Art.192, §3° da CF/88. As taxas de juros reai las incluídas

e' Código Civil Interpretado. -2. ed. - São Paulo: Atlas, 2011. p.510.COSER, José Reinaldo. Juros. São Paulo: Editora de Direito, 2000, p.20,

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do estado de goiás

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comissões e quaisquer outras remunerações direta ou

indiretamente referidas à concessão de crédito, não poderão ser

superiores a doze por cento ao ano; a cobrança acima deste

limite será conceituada como crime de usura, punido, em todas

as suas modalidades, nos termos que a lei determinar."

Com a Emenda Constitucional n°40, de maio de 2003, foi

revogado tal parágrafo e, rnnqpquentemente, deixou de existir limitação

constitucional acerca das taxas de juros aplicáveis nos contratos em geral, inclusive

aqueles firmados peias instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional,

superando a polêmica gerada em torno da auto -aplicabilidade ou não do §3° do

art.192 da CF/88, acima discorrido. Sobre o tema, foi publicada a Súmula 648 do

Supremo Tribunal Federal, nos seguintes termos:

"A norma do §3° do artigo 192 da Constituição, revogada pela

EC 40/2003, que limitava a taxa de juros reais a 12% ao ano,

tinha sua aplicabilidade condicionada à edição de lei

complementar."

Ainda sobre o assunto é a edição da Súmula Vinculante n°07, do

Supremo Tribunal Federal, de 20/06/2008:

"A norma do §3° do artigo 192 da Constituição, revogada pela

Emenda Constitucional n°40/2003, que limitava a taxa de juros

reais a 12% ao ano, tinha sua aplicação condicionada à edição

de Lei Complementar."

Também não há limitação dos juros pela Lei da Usura (Decreto

Lei 22.626 de 1933), diante da Lei 4.595/1964 e enunciado da Súmula 596 do

Supremo Tribunal Federal:

"As disposições do Decreto n°22.626 de 19

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Poder Judiciário do Estado de GoiásComarca de Goiânia7' Vara CívelGabinete do 1° Juiz de Direito

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Fus

taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas operações

realizadas por instituições públicas ou privadas, que integram o

sistema financeiro nacional."

Também não incide, por força da legislação especial que rege o

Sistema Financeiro Nacional (Lei 4.595/1964), as disposições do art.406 e 591 do

Código Civil Brasileiro, que remetem ao art.161, §1° do Código Tributário Nacional,

dispondo que, na ausênci dp disposição diversa em lei, serão adotados juros de

1% (um por cento) ao mês.

Os juros estão limitados, apenas, pelo conceito de abusividade

das cláusulas contratuais (art.51 do CDC, quando aplicável), onerosidade excessiva

e função social do contrato (art.421 do Código Civil Brasileiro). Qualquer outra

limitação deve estar prevista em lei especial, ou ato regulamentar nesse sentido

(Resoluções do CMN, do BACEN, etc.).

Portanto, em qualquer ação revisional a redução dos juros com

fundamento na abusividade ou onerosidade contratual, per se4, não autoriza a

redução automática dos encargos contratados, pois remete à condição pessoal do

devedor, a ser demonstrada em cada caso concreto discutido em Juizo.

A segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, tendo como

referência os arts.543-C do Código de Processo Civil e 51 do Código de Defesa do

Consumidor, aprovou parcialmente o projeto apresentado pelo Ministro Fernando

Gonçalves, editando-se a Súmula 381 do Superior Tribunal de Justiça, nos seguintes

termos:

"Súmula 381 do STJ. Nos contratos bancários, é vedado ao

julgador conhecer, de oficio, da abusividade das cláusulas."

Por cuidar de posição jurisprucjenciaY dominpnte, na

Locução (expressão) latina, significando "por si mesmo", ou "por OnWprópria".

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II Poder Judiciário do Estado de Goiástribunal Comarca de Goiâniade justiça 7' Vara Cíveldo estado de doias Gabinete do 1° Juiz de Direito

interpretação da lei, deve a mesma se estender a todos os feitos em curso. Pois, se

não demonstrada a abusividade, quando se pede na inicial, não cabe ao juízo

presumi-la.

No que diz respeito à capitalização de juros, quando esta é

combatida pela parte Autora na inicial, também chamada de anatocismo, consiste no

cálculo de juros sobre juros, incidentes sobre determinado capital, para amortização

de um saldo devedor. A capil:Alização, que não a anua!, somente é permitida nas

operações regidas por leis especiais, como é o caso da Cédula de Crédito Bancário

e Cédula de Crédito Industrial. Não havendo norma que a autorize, deve ser

afastada conforme Súmula 121 do Supremo Tribunal Federal:

"É vedada a capitalização de juros ainda que expressamente

convencionada."

Reforçando esse entendimento, o artigo 591 do atual Código

Civil confirma o que já estabeleciam os artigos 1.062 e 1.262 do Código Civil de

1916, ou seja, que nos contratos de mútuo em geral os juros não devem ser

capitalizados em período inferior a um ano. Considerado que os contratos bancários

estão sujeitos a regramento específico, não foram demonstradas disposições do

CMN, segundo a Lei Especial 4.595/1964, no sentido de permitir a capitalização de

juros.

A Medida Provisória n°2.170-36/2001 realmente dispõe, em seu

art.5°, que pode ser estabelecida, caso contratado expressamente, a capitalização

mensal de juros. Esta é a posição em diversos julgados proferidos pelo Superior

Tribunal de Justiça. Entretanto, independentemente da discussão sobre a

competência ou não desta MP diante do ordenamento jurídico para permitir a

cobrança capitalizada de juros, temos que tal Medida P sória teve seus efeitos

suspensos, quanto ao permissivo da capitalização de j ros, pelo Supremo Tribunal

Federal. Isto porque na ADIn n°2.316 ainda p ndente e julgamento, por

determinação do Ministro Sydnei Sanches, foi de rida ji1 ínar t ara suspenfie'r a

w".tjgo.jus.brRua 10, St. Oeste, Goiânia — CEP 74120-020 — Edifício Palácio da Justi

7Fleury - Telefche (62)3216-2478 — 8° andar

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de justiça 7 Vara Cíveldo estado de goiás

'Gabinete do 1° Juiz de Direito r r i

eficácia do art.5° desta MP, suspendendo-se a permissão para a capitalização

mensal de juros diferente da anual.

Logicamente, quando se pede a exclusão deste encargo na

inicial, ficam afastadas todas as formas de capitalização dos juros, como a Tabela

Price (criada pelo matemático, filósofo e teólogo inglês Richard Price), conhecida

como "Sistema Francês de Amortização" (em razão de que teria se desenvolvido na

França, c i o X iX ) , P r a i S o mesma rnntigi ira um sistema de cálculos de juros sobre

juros na amortização de empréstimos ou financiamentos' no momento da

contrafação das parcelas fixas. Incidindo o sistema de amortização constante (SAC),

calculando-se os juros de forma simples, capitalizados apenas anualmente, pois

afastada a capitalização diária e mensal dos juros.

Uma vez que a correção monetária substitui, no contrato

discutido entre as partes, a comissão de permanência, deve ser utilizado um índice

que melhor reflete o custo na cadeia final do mercado de consumo, que é o INPC-

IBGE (calculado pelo Sistema Nacional de Preços ao Consumidor - SNIPC, com

base nos preços adotados pelos estabelecimentos comerciais e de prestação de

serviços, além de concessionárias de serviços públicos e domicílios - aluguel e

condomínio). Este é, inclusive, o índice adotado por este Juízo na correção dos

débitos judiciais.

"EMENTA: APELAÇÃO CIVEL. ACÃO REV1SIONAL DE

CLAUSULAS CONTRATUAIS C/C CONSIGNACAO EM

PAGAMENTO. CONTRATOS BANCARIOS. SUMULA 297 DO

STJ, ART. 6°, V E 51, IV DO CDC E ART. 113 DO CODIGO

CIVIL BRASILEIRO. CAPITALIZACAO MENSAL.

INADMISSIBILIDADE. COMISSÃO DE PERMANENCIA.

INACUMULAVEL COM OUTROS ENCARGOS MORATORIOS.

HONORAR1OS ADVOCATICIOS. [...] 4 -7A- CA-SE A

CORRECAO MONETAR1A DE ACORDO COM O INDICE DO

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Cf. SOBRINHO, José Dutra Vieira. Matemática Financeira. 6aed.,, São Paulo: AtI4S, 1997, p.220.

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Wi."—"= do estado de goias

tribunalde justiça

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INPC, MAIS BENEFICO AO CONSUMIDOR; [...] APELACAO

CONHECIDA E IMPROVIDA."

No que trata dos juros moratórias nos contratos bancários, estes

devem corresponder à 1% (um por cento) ao mês, a exemplo da mora em relação à

Fazenda Nacional, art.161, §1° do Código Tributário Nacional, atualmente de 1%

(um por cento) ao mês. Esta é a limitação que deve ser aplicada na obrigação

firmada entre as pados, conforme anaJogia r nm a mora da Fazenda Nacional citada

nos arts.406 e 591 do Código Civil Brasileiro, e ainda com a posição jurisprudencial

dominante. Por todos, cite-se:

"Súmula 379 do STJ. Nos contratos bancários não regidos por

legislação específica, os juros moratórias poderão ser

convencionados até o limite de 1% ao mês.

Portanto, essa é a taxa a ser aplicada sobre cada prestação

paga fora da data do seu vencimento.

Já a multa moratória é o encargo cobrado pelos simples atraso

no pagamento das parcelas contratadas, uma única vez, visando desestimular a

inadimplência do devedor. Por determinação expressa do CDC, deve ater-se em 2%

(dois por cento) do valor das parcelas em atraso, conforme art.52, §1° do CDC. Por

ser esta a taxa legal, prevalece a multa de 2% (dois por cento) sobre cada prestação

em atraso, independente de outra argumentação das partes.

Prosseguindo na fundamentação dos encargos bancários que

este juiz entende aplicáveis e não aplicáveis nos contratos bancários, os encargos

tributários incidentes no contrato, a exemplo do IOF (Imposto Sobre Operações

Financeiras) e IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), por cuidar de tributos

incidentes indistintamente sobre o negócio jurídico, ou seja, tendo como fato gerador

1A CAMARA CIVEL, 200903986617, DES. VITOR BARBOZA LENZS 15098Ó-0/178 - APELACAOr n , .1,1,,11,11-1.411

L.,1 V CL, UJ D.)/ Ci IL/Ui/LU I U.

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1 = - 1 = do estado de goiás

tribunalde justiça

Poder Judiciário do Estado de GoiásComarca de Goiânia7' Vara CívelGabinete do 10 Juiz de Direito

o produto industrializado ou o contrato de compra e venda/financiamento sob a

supervisão do poder público, devem prevalecer como contratado entre as partes.

Ou seja, não são encargos que compõem o lucro da instituição

financeira, mas sim o custo do capital emprestado ao contratante do mútuo. Logo,

afastada a sua revisão ou exclusão dos contratos bancários firmados entre

consumidores e fornecedores.

A consignação em pagamento busca a quitação das parcelas

vencidas, e as que se vencerem no curso da lide, excluindo-se a mora.

Cuidando-se de sentença com resolução do mérito, os valores

depositados nos autos se destinam à quitação do saldo devedor contratual, ficando

retidos a favor do banco, ainda que alegada a insuficiência do depósito. Obviamente,

se não há depósito nenhum nos autos, é improcedente o pleito consignatório.

Quando há depósito de apenas parte do débito, ocorre a liberação parcial do

Consignante, julgando-se parcialmente procedente o pleito consignatório.

Trago à colação:

"EMENTA: RECURSO ESPECIAL N° 1.048.554 - MT

(2008/0080856-3). RELATOR : MINISTRO SIDNEI BENET!.

DECISÃO. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL.

PREQUESTIONAMENTO. TEMA CENTRAL. CONSIGNAÇÃO

EM PAGAMENTO. DEPÓSITO PARCIAL. PROCEDÊNCIA NA

MESMA. EXTENSÃO. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. BUSCA E

APREENSÃO. ADIMPLEMENTO. SUBSTANCIAL.

IMPROCEDÊNCIA. POSSIBILIDADE. DESPROVIMENTO. 1. [...]

II. "Esta Corte de Uniformização Infraconstitucional firmou

2 7entendimento no sentido de que o depósito efetuad menor

em ação de consignação em pagameryto não acarret a total

improcedência do pedido, na medida/em çl‘ a obrigação é

www.tjgo.jus.br ORua 10, St. Oeste, Goiânia — CEP 74120-020 — Edifício Palácio da Justiça Heitor Fj‘ur/Telefone (62)3216/2478 — 8°,.erdrlar

."—=do estado de golas

tribunalde justiça

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parcialmente adimplida pelo montante consignado, acaetana4U

a liberação parcial do devedor. O restante do débito,

reconhecido pelo julgador, pode ser objeto de execução nos

próprios autos da ação consignatária (cf. REsp n° 99.489/S0,

Rel. Ministro BARROS MONTEIRO, DJ de 28.10.2002; REsp n°

599.520/TO, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, DJ de 1.2.2005;

REsp n° 448.602/SC, Rel. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR,

DJ de 17.2.2003; AgRg no RFsp n° 41.953/SP, Rel. Ministro

ALDIR PASSARINHO JÚNIOR, DJ de 6.10.2003; REsp n°

126.326/RJ, Rel. Ministro BARROS MONTEIRO, DJ de

22.9.2003)." (REsp 613552/RS, Rel. Min. Jorge Scartezzini,

Quarta Turma, Unânime, DJ: 14/11/2005, p.329). 8.- Ante o

exposto, nega-se seguimento ao Recurso Especial. Intimem-se.

Brasília (DF), 08 de junho de 2011. Ministro SIDNEI BENETI.

Relator (Ministro SIDNEI BENET!, 15/06/2011).

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Evidentemente, preservado o direito do banco à reclamação das

diferenças devidas, porventura apuradas com o trânsito em julgado do feito.

A ação revisional tem como causa de pedir a abusividade do

contrato, que deu origem à propositura da ação revisional. Obviamente, se o

contrato é abusivo, mediante a revisão de uma ou mais cláusulas/encargos

contratuais, é de rigor a condenação do banco requerido nas despesas processuais

e honorários advocatícios de sucumbência, dicção do art. 20 do CPC.

Quando há ação de busca e apreensão em apenso, em qualquer

estágio da instrução processual, deve-se verificar se a ação revisional reconheceu a

abusividade de pelo menos um, ou mais encargos, no contrato firmado entre as

partes. Se procedida a revisão de apenas um destes encargos, não há mora desde

o início do cálculo do saldo devedor, pois este encontra-se viciado, contaminado

pela nulidade já referida, ao menos em parte. Assim, cite-se,4 dicção do art.3 6 do

Código Civil Brasileiro, dispondo que não há mora por fato ão,ir tado devedor

www.tjgo.jus.br T 4 7 11

Rua 10, St. Oeste, Goiânia — CEP 74120-020 — Edifício Palácio da Justiça Heitor Fleury - TelefQ_ (62)3216-2478 — 8°andar

Utribunalde justiçado estado de goiásdo estado de goiás

Poder Judiciário do Estado de GoiásComarca de Goiânia7' Vara CívelGabinete do 1° Juiz de Direito

(adesão à contrato com cláusulas abusivas).

Destarte, a desconstituição da mora, que é pressuposto e

condição para a propositura da ação de busca e apreensão, enseja a extinção desta,

sem resolução do mérito, art.267, IV do CPC c/c art.3° do Decreto -Lei 911/69.

A inicial pediu diversas providências em sede de tutela

A presente sentença procedeu à revisão do contrato firmado

entre as partes, conforme dispositivo. Logicamente, está presente a prova

inequívoca e verossimilhança da alegação, tornando necessário, neste momento

processual, DEFERIR o pedido de tutela antecipada a favor da parte Autora,

evitando-se o prolongamento dos prejuízos narrados na inicial, dicção do art.273 e

520, VII do CPC.

Disponho.

Ante o exposto, JULGO PROCEDENTES os pedidos do autor.

DETERMINO a exclusão da capitalização diária ou mensal de

juros nas parcelas do contrato entabulado entre as partes.

PROÍBO a cobrança de comissão de permanência na obrigação

firmada entre as partes.

DETERMINO, após o vencimento de cada parcela, a cobrança

2-4apenas de correção monetária peio INPC-IBGE, juros de mora de 1% (um ,por cento)

ao mês, e multa moratória de 2% (dois por cento) sobre cada prestÇ. ayipaga em

atraso.

MANTENHO as demais disposições coAtt-tuais.

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=!!"--= do estado de goiás

tribunalde justiça

Poder Judiciário do Estado de GoiásComarca de Goiânia7' Vara CívelGabinete do 1° Juiz de Direito

DEFIRO os efeitos da tuteia, neste momento processual, em

favor da parte autora, EXPEÇAM-SE ofícios para os órgãos de restrição ao crédito,

SPC e SERASA, para que se abstenham e/ou excluam o nome da autora Ana dos _

Reis Brito do cadastro de inadimplentes com relação ao crédito discutido neste

processo.

t i i n n PARr1A MFNTE PROCEDENTE o pedido

consignatário, com efeito liberatório do autor quanto ao montante incontroverso do

débito depositado em Juízo.

JULGO EXTINTA a busca e apreensão em apenso, sem

resolução do mérito, art.267, IV do CPC.

JUNTE-SE cópia desta sentença nos autos da busca e

apreensão em apenso.

CONDENO o banco no pagamento das custas e das despesas

processuais, com honorários fixados no montante único de 20% (vinte por cento)

sobre o valor da causa da ação revisional, art.20, §4° do CPC.

Entregue a prestação jurisdicional, pagas as custas, ARQUIVE-

SE. Não pagas, EXTRATE-SE, REMETAM-SE ao

ARQUIVEM-SE, conforme orientação da Ilustre CGJ.

P.R.I.

Goiânia, 28 de janeiro de 2014

Ricardo Teixeíra Vemos

Juiz de Direito

2014-19

www.tjgo.jus.brRua 10, St. Oeste, Goiânia — CEP74120-020— Edifício Palácio da Justiça HeitoEge

Fisco, ANOTEM-SE e

R Ex C E JVIReces~m cartór iGoiânia, 44=64e

13e(62)3216-2478 — 8°andar

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Aosc20/1002/,,M, Junto é:nNrentefp4 Petição ( ) Mandado( )C.Precatória ( ) Oficio ( .1 Carta "AR'

) Edital.

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