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IMAGENS DA PAULISTANIDADE: AS ILUSTRAÇÕES E O ENSINO DO REGIONALISMO PAULISTA Professor do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino da UEPG o texto apresenta e analisa a produção historiográfica tradicional paulista, filtrada pelas ilustrações presentes nos materiais didáticos, e seu papel na formação dos elementos que compõem o cotidiano da escola em São Paulo. Palavras-chave: história e ensino, cotidiano escolar, imagens, regionalismo paulista, bandeirantes, Revolução Constituciorialista de 1932 Pensem bem no valor desse Profeiro~ e à ~mpo"'/Jncia do ensino na Escola Primária; das primeiras lições, da mesma forma que das primeiras orações, ensinadas pelas miíes, ficam através da vida inteira [...}. E lá vem um dia, em que, talvez, alguém possa dizer como disse o grande, o imortal Ibrahim Nobre: 'querem tirar, daqui, esse amor a São Paulo? Arranquem meu coração! '. *Membro do GEPEMEMO - Grupo Memória - Pesquisa em Ensino de História. Faculdade de Educação. Unicamp.

Imagens da paulistanidade: ilustrações e o ensino do regionalismo paulista

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O texto apresenta e analisa a produção historiográfica tradicional paulista,filtrada pelas ilustrações presentes nos materiais didáticos, e seu papel na formaçãodos elementos que compõem o cotidiano da escola em São Paulo.

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IMAGENS DA PAULISTANIDADE: AS ILUSTRAÇÕESE O ENSINO DO REGIONALISMO PAULISTA

Professor do Departamento de Métodos eTécnicas de Ensino da UEPG

o texto apresenta e analisa a produção historiográfica tradicional paulista,filtrada pelas ilustrações presentes nos materiais didáticos, e seu papel na formaçãodos elementos que compõem o cotidiano da escola em São Paulo.

Palavras-chave: história e ensino, cotidiano escolar, imagens, regionalismopaulista, bandeirantes, Revolução Constituciorialista de 1932

Pensem bem no valor desse Profeiro~ e à ~mpo"'/Jncia doensino na Escola Primária; das primeiras lições, da mesmaforma que das primeiras orações, ensinadas pelas miíes, ficamatravés da vida inteira [...}. E lá vem um dia, em que, talvez,alguém possa dizer como disse o grande, o imortal IbrahimNobre: 'querem tirar, daqui, esse amor a São Paulo? Arranquemmeu coração! '.

*Membro do GEPEMEMO - Grupo Memória - Pesquisa em Ensino de História. Faculdade de Educação.Unicamp.

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Estava tão enraizado esse amor; que ninguém poderiaarrancá-lo, e é isso que épreciso fazer: que as aulas sejam menosteóricas, mais vividas, mais profundas, mais sentidas, para quecada criança não se esqueça do amor à terra em que nasceu.

dição para a cidadania liberal, entendida politicamente, bem como promes-sa de ascensão social para as famílias mais pobres. Posteriormente, com odesenvolvimento tecnológico, o acesso à escola passa a significar a únicachance de uma colocação razoável no mercado de trabalho, e hoje é possí-vel dizer que os contingentes excluídos da escola serão brevemente os ex-cluídos da sociedade em processo de automatização e informatização. Es-ses contingentes destruirão a sociedade, ou a sociedade os destruirá.

A escola, enfim, torna-se em nossa sociedade o passaporte para acidadania entendida amplamente, como a condição de participação dignaem torno dos aspectos políticos da vida em sociedade. É possível notar,portanto, que a centralidade da escola para a sociedade vem numa linhaascendente do século XIX para o século XX, concomitantemente ao pro-cesso de sua massificação.

A escola, enquanto instituição politicamente responsável pelo ama-durecimento do homem no sentido de fornecer-lhe grande parte das habili-dades imprescindíveis para a vida cotidiana de sua camada social, é o ele-mento que organizará, além do cotidiano futuro do indivíduo, o seu própriocotidiano enquanto criança e adolescente. Essa afirmação é válida para oscontingentes em crescimento da população que passam pela escola, apesarde todos os problemas nacionais relativos à repetência e evasão nas cama-das populares. Além de definir o dia-a-dia dos escolares, a instituição éefetivamente também responsável pelo processo de fragmentação do indi-víduo, na definição de seus papéis sociais e no reforço das condições demanipulação social e alienação (HELLER, 1972, p.22, 24 e outras). É interes-sante notar que os momentos que HeIler denomina elevação ao humanogenérico, ou seja, a realização ampla das capacidades integrais da pessoacomo ser humano, expressos na ciência, na arte, nas atitudes revolucionári-as, são registrados pelo conhecimento como avanço qa humanidade, trans-formados em saber transmissível e assim passados meçanicamente para osescolares. Uma primeira característica do cotidilUlf>:.escolar que envolveprincipalmente o professor e o aluno (sendo para o primeiro,:uma situaçãode trabalho e para o segundo um cotidiano preparador dacotidianidadeadulta) seria então a "anulação" do humano-genérico pela sua conversãoem informação. Na química, na história, na biologia, o cotidiano da escolaresume-se em informar os rompimentos da cotidianidade através de proce-dimento mecânico e repetitivo; daí a concepção tradicional em educação deque a escola é o lugar da reprodução do conhecimento, enquanto a produ-ção do mesmo ocorre na universidade, nos laboratórios e em outros lugares

Segundo Alcir Lenharo (1986), a categoria cotidiano ainda está,n~fogo cruzado do debate historiográfic'o, sob a suspeita de um es.tatuto teon-co insuficiente e sob a suspeita de fragmentar de tal modo o obJeto.de es~-do dos historiadores, que chegaria mesmo a impossibilitar sua mtelegI-bilidade como um todo' . Mesmo assim, segundo o historiador, estando emetapa de construção e carregando uma "fluidez conceitu~l" própria de.ssacondição, é uma categoria que tem aberto novas alternativas de pesqUIsa,enriquecendo e rejuvenescendo a pesquisa histórica. . _

Para Agnes HeIler (1972), o cotidiano é uma sItuaçao que absoluta-mente todos os seres humanos vivem e que absorve a todos de forma pre-ponderante. É o momento em que a pessoa inteira é chamada a resp~n~erao meio com todas as suas capacidades ao mesmo tempo, o que determmaque tod~s elas realizem-se com baixa intensidade, incapacitando o ser defixar-se em apenas um aspecto dos que lhe demandam a ate~ção. Destaca,assim, que a vida cotidiana compõe-se de uma heterogeneIdade de partesorgânicas que estabelecem entre si uma hierar~uização qu.eacompanha asatividades principais de cada tempo, classe e tipo de relaCIOnamentoentreo homem e a natureza.

No nosso caso, é importante refletir sobre um momento esp~~ficodo cotidiano na história deste nosso século: a escola, e nela, o cotIdIanocom caracterí~ticas específicas. Somente na medida em que situarm~s .aescola para a sociedade atual é que poderemos traçar algumas caract~nst~-cas da sua cotidianidade. É a civilização ocidental que introduz uma mstI-tuição mantida pelo Estado ou por ele fiscalizadalorien~da, com o o~jetivode transmitir sistematicamente a bagagem de conhecImentos gerais acu-mulada pelas gerações anteriores. Essa instituição, inicialmente, será con-

I No artigo "História e Cotidiano", esse autor discute a situação d~ deb~te s~bre a cat~goria, p~u~dosituá-Ia enquanto possibilidade teórica e metodológica de pesquIsa hlstónca no ensmo de Históna.

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----==40 ~--~----privilegiados da criação onde encontr" "apud HELLER, 1972, p.29)2. a-se o homem mtetramente" (LUKÁCS

Uma outra característica da ".cíclica e repetitiva pela qual ela tr:Otld~amdade da ~scola é a maneiraprogramas de cada série em si nsmlte os conhecimentos, tanto noscívico escolar. É este quan~o~no.caso da história, pelo calendário"t d' _ o espaço pnvIleglado pra Içoes inventadas" ., ara que se generalizem asf4 r ' Ja que estas constit "orma Ização e ritualização cara t . uem um processo deque apenas pela imposição da re;e~~::~~ por referir-se ao passado, mesmo

~ ?ptamos, então, por abordar aI HOBSBAWM & RAN~ER, 1984, p,12).mecamco de transmissão que ocorre guns ~s~ectos centrais desse processonossa busca da ideologia da paulistan~:a~~~ldlano da escola tradicional, emEstudamos os materiais dida't' tal como se expressa na escolaICOSentendidos I .recursos materiais que auxilia ' fi ~mp,amente como todos osmissão dos conhecimentos ta: o pro e~s~re a mstltuição escolar na trans-conhecidas pesquisas bibli~g 'fiOnas ativIdades de sala de aula quanto nasd . . ra Icas nas quais o aI: matenals e publicações dis onív~i .. uno recorre a todo tipo

sao, dessa maneira, organizad~ d s na ~I~hoteca. Os recursos didáticosa ser utili~ado na vida cotidian:~: ~::mona que subsistirá co~o recurso~este artigO, especificamente ' o adulto que passa pela Instituição.Imagens que povoam o cotid' ' tremos nos deter na análise do padrão dastir do qual a paulistanidade Ipa~rodesficolarpaulista até 1982, momento a par-"es ' e orça após uma bqueclmento" paulatino da id t'd d ' que ra no processo de

O 'd' en I a e pauhsta4

. cotl lano escolar portanto 'fi .o ntual da aula, as ativid:des ext ' e

lormado por uma série de elementos:

o p d - d ra-c asse a estrutu - da .rao e relacionamento entre os' raçao o espaço fisico,Anahsaremos aqui um aspect d agentes do processo e muitos outros.

o e um desses elementos: a imagem enquan-

zÉclaroque . '._, as novas eXlgencias deproduçao mdustrial ar ,_, um mercado globalizado acab 'se atividad 6 ~ a a cnaçao científica, na medida :un Impondo esquemas de) O te es ~on mlcas fundamentaisnessa no d em que a própna ciência e cultura tomam

nno paullstanidade em restad ' va or em, -sentimento/condiçãode' e~ o do historiador Alfredo Ellis Jr é utilizad .comoa atribuição de de=ina~ ao es

ltado pa~l.istaentendidocomo ~munidadeo aqUIno sentido de

constru _ da h os va ores poSitiVOSa d ' e ao mesmo lempo. çao istória paulista que contrib ' , e.~sacon ição.A esses sentidossoma- .

própnos da condição de paulista.Trata- UI para a Idelade homogeneidadedo grupo e d se ~bndaaao etnocentrismo se, portanto,dadenominaçãode . e atn utos4 R fi ' ' umcomportamentoap tad

e enmo-nos à tese defendidapel aren operlodo de 1930-35o seu ápice en~ :~:~ deste artigo, segundo a qual a paulistanidade que tes~ presença no cotidiano, situ~çãoreverti rocesso de decadênciamarcadopela escassez'cresce m noCidadede São Paulo (1954) ou os 50 anos: ~~valr~s mom~tos. especificas, como os 400;: ~o uçao Constltuclonalistade 1932,

to presença comunicativa da ideologia. Para tanto, nos valeremos de algu-mas imagens utilizadas como materiais didáticos, que estavam documenta-dos em instituições como a biblioteca da Escola Estadual Cesário Coimbrae a Biblioteca Municipal, em Araras (sp), o Centro de Memória da UNlCAMP .

e o Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas.O cartunista e ilustrador Belmonte (pseudônimo de Benedito Canero

Bastos Barreto) é um dos maiores, senão o maior responsável pela transfor-mação em representação gráfica da construção literária do bandeirante, fei-ta pela historiografia tradicional paulista entre o fim do século XIX e oinício do XX. Colaborou em vários jornais e revistas desde 1914 (quandoestreou na revista Rio Branco, após desistir do curso de medicina) e publi-cou vários álbuns de desenhos e caricaturas, consolidando sua carreira naFolha da Noite, a partir de 1931, além de colaborar também em periódicosfranceses, americanos e argentinos. Seu principal personagem foi o JucaPato, que lhe deu projeção internacional. Ilustrou as obras infantis deMonteiro Lobato, delineando a imagem dos seus personagens. Paulistan

o,

simpatizante e militante da "causa paulista" de 1932, não é exageroidentificá-Io como o traço matriz das representações imagéticas do bandei-rante, principalmente as do livro didático, cartazes e outros materiais queacabam compondo parte do cotidiano dos estudantes paulistas no séculoXX. Não queremos, com isso, afirmar que Belmonte é o exclusivoinaugurador da imagem tradicional do bandeiranteS, mas sim que ele é omais significativo pesquisador, estruturador e divulgador dessa imagem.

O livro No Tempo dos Bandeirantes, deste artista, editado primeira..,mente pelo Departamento de Cultura do Estado de São Paulo em 1939, éuma amostra significativa do trabalho do autor em que se constrói essaimagem do bandeirante através de uma pesquisa histórica nos inventáriosdas faffil1iasvicentinas do século XIV e várias obras de Taunay, AlcãntaraMachado e outros "bandeirologistas". Não tem preocupação em disfarçaressa intenção de "invadir os domínios dos historiadONS", apesar de serreverente e pedir licença. Descreve tanto livida material9,uanto o semblan-te que imagina dos antigos paulistas, utilizando, além do texto, uma esme-. ,rada técnica artística em bico-de-pena. ''; .

As limitações políticas desta obra, recuando a paulistanidade para o

S Basta verificar,entreoutros, oquadro"DomingosJorgeVelhoe SeuLugar-Tenente".datadode 1922-do aclamado BeneditoCalisto. tambémestudiosode história e especialistaem pinturas históricas.

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período da América Portuguesa, precisam ser contextualizadas a partir dacensura e da repressão a todos os tipos de afirmação regional, próprias doEstado Novo. O bandeirante é uma figura politicamente aceitável pelo regi-me na medida em que incorpora o mito do Estado que luta pela expansão edesenvolvimento do país, ou seja, a partir do momento em que afasta-se desuas origens regionalistas e assume feições de integração nacional, adequa-das ao caráter centralizador daquela conjuntura política6• Restará decifrarse Belmonte, militante da paulistanidade em 1932, adere ao Estado Novo,como Menotti deI Picchia (assessor do governador aclamado de São Paulodurante a revolução e depois funcionário do D.I.P. no Estado), ou se conti-nua resistindo na medida do possível, como Alfredo Ellis Jr. e AurelianoLeite (combatentes nofront constitucionalista que permanecem imunes aosapelos do Estado Novo).

O rigor historiográfico na obra, em que pesem as licenças pedidasaos historiadores, não é uma característica fundamental. O caráter de divul-gação fica patente. Já na primeira ilustração, Belmonte mostra um grupo de

. índios preparando-se para atacar as fortificações vicentinas, momento emque o bandeirismo ainda estaria na defensiva e no nascedouro. Todos osnativos da gravura estão decentemente vestidos com uma espécie de calçãorústico, de algum tecido, tapando-Ihes completa e convenientemente (parao leitor urbano e polido) as "vergonhas" de que falava Pero Vaz de Cami-nha.

A constatação documental de que um dos habitantes da São Paulocolonial inventariados tinha em seu poder um trecho de Os Lusíadas leva oautor a imaginar o épico camoniano inspirando "os lusíadas das selvas" àssuas famosas aventuras no sertão sul-americano. O perfil sombreado de umbandeirante sentando num tronco e lendo algumas folhas de Os Lusíadastem por fundo uma caravela portuguesa projetada nas nuvens (Figura I).Segundo Canétti (1983, p.433 e ss.), as posições representadas não são gra-tuitas. Estar sentado corresponde a uma situação de distinção e de poder,pois exerce pressão sobre uma coisa indefesa e que não exerce contrapressãoativa, num simbolismo de superioridade. O estar sentado expressa, alémdisso, dignidade, segurança e duração, solidez, que manifesta-se no pesofísico que o home!Jl sentado aparenta, paralelo à sua própria força. O ban-

• Sobre a apropriação da mitologia do bandeirante pelo Estado Novo e o papel do escritor CassianoRicardo na mesma, ver Atcie Lenharo. A sucra/ilJlção da política.

ais ue um aventureiro, um ser que domi-deirante da gravura representa, ~ _ q ele estabelece uma relação comna, um poderoso, e é nesta poslçao que As epopéias dos descobrimen-outros mitos, os navegadores ~rtug~eses'assíveis de colocação num mes-tos e do desbrav~e~to ~o se~o IS:~rPainda que esta gravura remete àmo patamar de glona. E posslve fiormaça-o do bandeiran-., h rança portuguesa nanecessidade de maxlmlza~ ~ e. o éia do mesmo: apesar de louvar ote, reforçando a pr~do~manc~a~:Jografia tradicional paulista sobre oinfluxo do sangue mdlgena,. . 1997 .66) para exigir de seutema é suficientemente euro~e~tn~a:R~ranca 'lste tema fica ainda mais"super-homem" uma pr~do~nan~~: os peq~enos núcleos urbanos o~-interessante para refletIr se trnagt _ m a população indígena alIaginais da região vicentina em comparaçao coda, muitas vezes superior em número.

'o L 'das"Figura 1- O bandeirante e ' S USla

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Um outro exemplo da construção da imagem do bandeirante é o quese vê na Figura 2, na qual são representados em seus trajes "típicos" comque identifica-se rapidamente, pela associação promovida pelo uso, o per-sonagem. As botas de cano alto e o chapéu de abas largas, além do colete decouro, a malha ou o gibão, são as marcas registradas7• Na figura, o chapéuescuro reforça o ar de gravidade, de seriedade dos indivíduos, ao passo quea barba e o bigode (bem aparados, para evitar a idéia de desleixo, que seriacompreensível no meio da selva), indispensáveis nessa figura, afirmam avirilidade do bandeirante assim construído. O que chama a atenção e refor-ça esta virilidade não é apenas a caracterização dos dois personagens, maso fato deles estarem em pé, em perfeito equilíbrio. Esta posição tem umsignificado psicológico de orgulho devido ao fato de eles não se apoiaremem nada e de estarem livres. O estar em pé produz a impressão de umaenergia que ainda não foi gasta (pois é o primeiro momento de qualquerdeslocamento) e leva à superestimação do sujeito que assim se encontra.

ue tal característica também passa através do. tempo ~ .das ger~çõe~ de~aulistaso as características dos bandeirantes senam genetlcas. Alem ~IS~O,

as armas' estão firmemente seguras pelas mãos, e o ato de agarrdar,~SICO0-o o d d r de ommar umgicamente representa o primeiro ato deCISIVO o po e, .

objeto cap~z de garantir a segurança e a dominação sobre os de~als (C;N~~~~1983, p.225 e ss). Note-se como os mesmos elementos antenormen edos aparecem na Figura 5.

Quem se levantou se encontra no final de um certo esforço e este é o pontomais elevado que consegue alcançar. Porém, quem permanece já há algumtempo de pé expressa uma certa força de resistência, seja por não mud.ardelugar, como uma árvore, seja por poder ver-se por inteiro, sem temor e semse ocultar. Quanto mais serenamente a pessoa estiver parada, quanto menosse virar e olhar em diferentes direções, tanto mais segura parece ser. Nemsequer teme um ataque pelas costas, apesar de não ter olhos nessa região.(OAVIDOFF, 1986, p.432)

Esses itens repetem-se em outras ilustrações (Figura 3), e na Figura4, a sombra do chapéu, projetada sobre o rosto do bandeirante, produz oefeito de seriedade, já que o chapéu claro cumpre menos essa função. Fir-memente em pé.e corpulento, o bandeirante aparece com a solidez de umaárvore que nada fará mover, a não ser a própria vontade. Essa solidez trans-mite-se ao garoto com o gesto de sustentação do pai, passando a idéia de

1Esta construção contradi1; o que aprendemos na escola: os "protopaulistas" entravam na mata compouca ou nenhuma proteção, tanto pela carência de recursos devida à miserabilidade em que viviam,quanto pelo aprendizado das técnicas indíg~ de sobrevivência nesse ambiente. Essa frugalidade novestuário é a origem do tenno "emboabas", celebrizado na GuelTlldos Emboabas. tenno pejorativo dosbandeirantes para os portugueses recém-chegados às minas. que protegiam o corpo para enfrentar ascaminhadas nas malas. Para melhores infonnaçõcs. ver Davidoff. BandeirantismlJ. verso e reverso.

Figura 3 - Trajes e apetrechos do bandeirante

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Mas a contribuição de Belmonte não se restringiu à imagem do ban-deirante. Participante da Revolução Constitucionalista de 1932, utilizou obico-de-pena como arma de propaganda. De vários cartazes e gravuras (mui-tas dessas peças não assinadas, mas com traços que lembram o artista),selecionamos o cartaz para a Campanha do Ouro Para o Bem de São Paulo(Figura 6), em que a composição expressa a idéia da unidade popular emtomo do movimento, uma vez que são representados "todos" os setores dasociedade paulista: os senhores de posses entregando a pequena arca e aprópria aliança, um negro idoso e com o terno em desalinho, que parecerepresentar os desfavorecidos em geral, a dama que está a tirar um brinco,a rica senhora a entregar um vaso precioso e o menino doando sua pequenaeconomia. Essas figuras, dispostas em primeiro plano, estão à frente deuma multidão que adentra o recinto, com um significado claro: todos ossetores devem contribuir, e todos os membros de cada estrato da sociedadesão chamados e estão colaborando. A expressão serena, levementeenternecida, expressa a disposição em desfazer-se de um bem por vontadeprópria em favor de uma causa, gesto que engrandece o sujeito, como naimagem bíblica de Jó: "Deus deu, Deus tirou, bendito seja o nome do Se-nhor" (o deus, no presente caso, é São Paulo, personificado como uma en-tidade coletiva). Por fim, esse grupo em primeiro plano reúne-se em tornode dois símbolos importantes: o monte e a mesa. O significado do monte éancestral, simboliza a colheita, a festa, enfim, a celebração do trabalho co-letivo, comunitário, que é o que deu origem àquele amontoado de benefíci-os: "Um monte significa que se tem muito à disposição, não precisandotrazer mais as coisas de longe" (CANETII, 1983, p.96).

A Campanha do Ouro é mais que uma campanha financeira: ela écapaz de demonstrar que a comunidade dos paulistas está' saciada, conse-gue amontoar os frutos de seu trabalho, seu sustento convertido em objetosvaliosos, e desfazer-se deles porque seu poder tornaráfácil produzir mais,reaver os tesourosll• É uma demonstração de pujança' e superioridade pe-rante o inimigo empobrecido das outrasl regiões, fas~inado perante esse es-

~,' - ,

petáculo. O tesouro, que além do monte é um outro símbolo de massa, s6

• Este sentimento de superioridade é intensificado durante a ocupação da cidade de São Paulo porsoldados nordestinos. resultando daí um dos embriões do preconceito contra nordestinos que marca oestado. A literatura paulista da época da cidade ocupada é pródiga em exemplos de cenas de clarodeboche e desprezo pelas tropas de ocupação. como podemos ver em Comélio Pires. Chorando eRindo ... Episódios e llnedocras da Guerra Paulista, p.36- 7.

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A gravura reproduzida na Figura 7 tornou-se também um dos íconesda memória do movimento constitucionalista. Evoca a ligação genética!hereditária entre o bandeirante e o soldado constitucionalista. A posiçãosuperior do bandeirante no desenho, e o fato de ele e o soldado seguraremfirmemente na mão esquerda uma arma coloca-os na aparência de pai efilho, como se o bandeirante fosse a sombra cronológica do voluntárioconstitucionalista.

p~de crescer pela confiança na durabilidade do valor das peças que o com-poem. A população doando o ouro, no cartaz, expressa também essa confi-an~a, e a ~on~an~a de que o tesouro será capaz de garantir outra durabilida-de. a de SI propno e de seu modo de vida.

Figura 6 - Gravura de propaganda para a Campanha do Ouro, em prol das forçaspaulistas em 1932

Figura 7 - Gravura evocativa da Revolução Constitucienalista de 1932!

Valem aqui as considerações já comentadas s~t~e' o ~to ~e ágarrar, apartir da interpretação de Elias Canetti. A mulher paulista, eni posição in-termediária, pode ser lida tanto como a mulher do tempo do bandeirantequanto a do tempo do soldado, apoiadora e incentivadora de ambos,partilhante da mesma bravura. Sua posição na gravura também a dispõecomo elo temporal, além de familiar, de presença do conjunto da popula-ção, caracterizando o movimento como mais amplo que o combate entre

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homens adultos. Observemos que Belmonte aqui utiliza, como nas gravu-ras anteriores, o recurso da sombra nos olhos para demonstrar a compene-tração e a seriedade no alcançar do objetivo. O brasão de armas do estadode São Paulo aparece decomposto, com o escudo estabelecendo outra liga-ção entre o bandeirante e o soldado, ao passo que a fita do brasão estádistribuída por todos os elementos da gravura, como que a amarrá-Ios. Nafita, o artista insere os dizeres "9 de Julho de 1932", além de trocar o "PróBrasilia Fiant Eximia" original por "Pró S. Paulo Fiant Eximia" (Por SãoPaulo F~çam-se Grandes Coisas)9. Esse aspecto da gravura mostra a faltade interesse numa representação nacional e nacionalista do movimento,expondo o seu aspecto regionalista.

Podemos considerar também que todo material de propaganda daRevolução Constitucionalista de 1932, a princípio, pode ser abordado comoum material didático, tanto das massas quanto da população estritamenteestudantil, tanto no "calor dos combates" quanto nos momentos derememoração. Várias peças de propaganda, por serem reproduzi das emnovos cartazes, panfletos, e principalmente nos manuais e obras de referên-cia, acabam por ganhar essa força de imagens didáticas.

Muito provavelmente, o cartaz mais difundido no meio escolar quandose trata de ensinar história com a memória tradicional de 1932 é o represen-tado na Figura 8. Produzido pela organização M.M.D.C., que fazia a propa-ganda, o alistamento do voluntariado, a organização de batalhões e todo otrabalho de retaguarda, o cartaz acabou virando um sinônimo visual domovimento, e como tal foi reutilizado pelos professores com o sentido deestudo de um documento histórico ou ilustração do conteúdo sobre 1932.10

Figura 8 _ Cartaz de recrutamento para as forças constitucionalistas em 1932

O cartaz é inegavelmente inspirado em seu congênere norte-.amen-cano de convocação para o alistamento militar em 1917, em que o T10Sam(que encarna nas roupas a bandeira dos Estados Unidos) aponta par~ ~s. d·' "I Want You To the U S Army". A força dessa composlçaoJovens a lzer. . . , . ré tanta que, anos depois da versão constitucionalist~, tambem o l~tegra lsmoconvocaria adeptos através de um indivíduo devidamente tra~ado c~m ~uniforme da organização, apontando para.a frente, c~m a bandeira do ;~gmao fundo, com os dizere~: "O Br.asil ~reclsa de Yoce!.Fora do Inte~ra l::~não há Nacionalismo". A primeua vista, ,o que Ime4latamente atrai a a

ção são os olhos do voluntário. Não ,estão à toa, ma~ firme~en~e fidlxoslhna1 d lh 'A expenencla e o arpessoa que olha para o cartaz, devo ven o o o tIf·· ~,' . f

nos olhos é muito delicada, muito íntima, reveladora, e nao;e.fortUito.o at~

d'd rmos o "olho no olho" como um momento deCISIVo,de smcen-e conSI era . ão de

dade em que duas pessoas ficam presas uma à outra numa sltua.ç _tensão na qual desviar o olhar equivale à fuga. Por ser íntima, essa sltu~aoé uma intimação, um chamado que dirige-se ao âmago de quem rece e~:mensagem. A convocação para o cumprimento do dever para com a R

• Esta "má tradução" ~ão é incidental. Pelo cOnlrário, é muito comum nos documentos de época.principalmente os merws policiados pelo resto do país e mais destinados aos próprios paulislas, comoalguns panfletos e a imprensa interiorana (referimo-nos especificamente aos exemplares da Tribunll doPovo do período. semanário da cidade de Araras, consultados no decorrer da pesquisa).10 Sobre a transformação de ícones produzidos sem intenção didática em materiais de ensino de história,ver Circe Biuencourt. Procedimentos metodoltiKicos em pesquisa Jobre illwKellS no ensino de Hisrtiria,p.265 seq.

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A mão funcionou como modelo e estímulo, não apenas como um todo. Tam-bém os dedos em separado, e principalmente o dedo indicador estendido,adquiriram um significado. O dedo se afinava na extremidade e se apresen-tava armado com uma unha; a sensação ativa do espetar foi dada primeira-mente por ele. (grifo do autor)

tante da frase. Em letra de imprensa, ainda que menos espessa, está a palavracumprir, formando com a sua semelhante uma mensagem: você cumprir. Oapelo à consciência e à noção de dever é feito em letra cursiva, e vem comple-mentar com a argumentação moral a convocação primordial do cartaz.

Além da bandeira, símbolo da unidade semi-nacional do estado, ocapacete de aço do soldado é também símbolo da RevoluçãoConstitucionalista de 1932, na medida em que faz referência a mais umacampanha de mobilização, a subscrição para financiar a produção do capa-cete. De fato, os armamentos improvisados pelas forças constitucionalistasacabaram tornando-se referências obrigatórias da memória do movimento.Isto é atestado, por exemplo, pela marchinha "Trem Blindado", grande su-cesso do carnaval de 1933, em que a matraca, o capacete de aço, os canhõesfalsos para enganar a aviação e o próprio trem blindado são utilizados paraironizar o movimento dos paulistas. Do outro lado, esses mesmos objetossão conservados e expostos como relíquias, ou mesmo como fetiches doheroísmo daqueles tempos.

No estudo dos rituais escolares, discutindo um caso específico deeducação católica, McLaren (1992, p.112) destaca a importância dos sím-bolos visuais para a criação de um ambiente religioso: essa característicada escola é dada pela visibilidade daqueles símbolos. Na escola públicapaulista, não é simples definir um eixo que forme e defina o ambiente daescola, pois há uma multiplicidade de apelos em suas figuras expostas. Nocaso da escola Cesário Coimbra, um grande crucifixo ocupa um lugar rela-tivamente central no hall de entrada, mas antes que o vejamos, passamospelos mastros das bandeiras nacional, estadual e do município, um retratode Anchieta, um outro do patrono da escola (por sinal, fazendeiro na cida-de, senador e comandante militar da região no período da RevoluçãoConstitucionalista, exilado pelo Governo Provisório), além de um muralque é ocupado periodicamente pelos temas do calendário cívico e resulta-dos de trabalhos. Há, portanto, uma multiplicidade d6 símbolos, e o hall éapenas uma amostra. Nessa multiplicidade, a ide"()lógia-dapaulistanidadeainda é capaz de guardar um espaço devido à presença d~ mapa pitorescopintado por José Washt Rodrigues (cf. MARTINS, 1954), em um quadroposicionado na parede da biblioteca, representando as batalhas de 19321\(Figuras 9 elO).

lução Constitucionalista de 1932 não é feita, por esse cartaz, de uma manei-ra genérica, dispersa: ela é mirada para cada indivíduo, não para a massa.Mesmo com o olhar desviado, o cartaz continua olhando e cobrando, mag-netizando o olhar, exigindo uma atitude para aliviar a tensão estabelecida.Não é outro o objetivo da propaganda: provocar uma atitude no consumi-dor, aqui um consumidor de ideologias e seu sistema de valores. É consoan-te ao sentido da individualização da mensagem publicitária: do "comprem!"ao "compre!".

O dedo que aponta para quem alha, além de consolidar em definitivoa intimação, tem um caráter bélico na definição dos objetivos da convoca-ção. Segundo Canetti (1983, p.242):

o dedo apontado é a origem psicológica da formação das armas deimpacto e de arremesso. O gesto de apontar é, portanto, bastante adeqJladopara convocar para a atividade guerreira.

O vento é um outro símbolo de massa que aparece indiretamentenessa peça de propaganda, fazendo tremular a bandeira de São Paulo. Asbandeiras têm mais força de atração quando em posição dinâmica, movidaspelo vento, que quando estaticamente caídas sobre os mastros, sem movi-mento. O vento, variável na intensidade e no som que produz, age com osimbolismo de um ser vivo, e imprime uma direção, consolida um objetivoexpresso na figura e no texto (cumprir um dever). Sendo invisível, o ventopresta-se a simbolizar as massas que não estão visíveis na figura, mas quesão capazes dê marchar numa direção, e fazem tremular a bandeira - querepresenta a.unidade regional - de São Paulo. Sobre o caráter da bandeira,Canetti afirma ser a mesma "o vento que se toma visível", como as nuvens,porém com as características determinadas pelos homens; chamando a aten-ção pelo movimento, a bandeira é utilizada pelos povos para demonstrarque o ar que existe acima deles lhes pertence.

Contribui para a intimação a maneira em que aparece a palavra você:destacada pela espessura superior a qualquer outro grupo na composição,em letra de imprensa, centralizada e no alto da página. É o mesmo queenfatizá-la com a voz, aumentar o volume de sua pronúncia perante o res-

" Vale destacar, como comprovação da tese de que a paulistanidade, ao menos no formato em que aabordamos nesta pesquisa. vem se diluindo, o fato de que esse quadro, registrado por nossas observaçõesdurante as pesquisas em 1996, não está mais presente no local desde janeiro de 1998, pelo menos.

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Figura 10

Figura 10 - Cartaz de propaganda paulista contra oGoverno Provisório de Vargas

Figura 9 - Uma leitura cartográfica e alegórica da Revolução de 1932, do pontode vista dos paulistas nela engajados

A eloqüência das imagens talvez sirva de indício empírico da razãoregionalista de 1932, que as suas lideranças e cultores preocupam-se tãoveementemente em negar. O mapa de Rodrigues opõe muito claramente astropas paulistas, dentro do círculo formado pelo avanço das tropas federais,através da bandeira paulista hasteada nos acampamentos e trincheiras, aopasso que os inimigos são os portadores da bandeira nacional. Não há, por-tanto, a preocupação dos govemantes paulistas em expor a bandeira brasi-leira para comprovar a motivação nacional do movimento; pelo contrário,destaca-se a oposição entre os sentimentos regional e nacional, que choca-ram-se violentamente e continuam produzindo reflexões. Um outro indíciodisto é o conjunto de brasões e bandeiras do canlt>super;iord~reito:há umapredominância de bandeiras paulistas em relação às nacionais, e na repro-dução do brasão de armas do estado criado pela revolução aparece de novoo lema adulterado: de "Pró Brasília Fina Eximia" para "Pró S. Paulo FiantEximia". No canto oposto da figura é representado outro mote do discursotradicional da revolução: 1932 é a grande expressão da paulistanidade noséculo XX, valendo para este o que foi o bandeirismo no período colonial,numa reivindicação da continuidade histórica e genética entre o bandeiran-

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te e o soldado constitucionalista representados.O terceiro cartaz de época que analisaremos por ganhar uma proje-

ção didática é o da Figura 10. Além de ter sido peça da propagandaconstitucionalista, o cartaz foi publicado em grande escala pelo Arquivo doEstado de São Paulo em 1990, numa campanha para a preservação dopatrimônio histórico documental do estado. Valem para ele as considera-ções já feitas sobre a bandeira e o vento. De novidade, temos a maneiracomo está representado o bandeirante: de forma agigantada, como a proje-tar graficamente as palavras de Saint-Hilaire: "raça de gigantes". O volun-tário da farda cáqui também é grande, ainda que nem tanto quanto o bandei-rante, que parece representar mais propriamente, por sua tradição, o autên-tico e poderoso sentimento de paulistanidade. Nesse sentido, o voluntárioaparece como descendente, como filho do bandeirante. Já foi discutido osentido de poder do ato de agarrar; dele deriva o sentido do ato de esmagar,que é a ação que está sendo executada, num simbolismo do desprezo paracom aquele que está sob o poder do gigante, tendo suas pernas trituradas(CANETTI, 1983, p.225). Não há como dizer, pela questão da semelhançafisica, que o indivíduo sofrendo a pressão do bandeirante seja Getúlio Vargas;trata-se, na verdade, de uma alegoria de todo o Governo Provisório ..Nãohouv~ a intenção de caricaturizar Getúlio, e nisso podemos ler que é todoum regime que a raça de gigantes quer esmagar e que ela está consciente deque esse ato só ocorre depois de luta, representada na arma fumegante.Portanto, a luta é coletiva, contra entidades abstratas: "Abaixo a Dictadura".

imagens visuais (sim, as imagens podem ser não-visuais), como a fotogra-fia, o cartum, o mapa. A cada uma delas é preciso dedicar uma atençãoespecial no que se refere à teoria, ao método, à implementação dos planeja-mentos de ensino.

Nada é inocente na educação. Desde o crucifixo à porta de entradaaté as contracapas dos livros fornecidos pelo MEC ou pela Secretaria deEducação, passando pela disposição das carteiras, os salários e as políticaseducacionais. É necessária uma disposição constante de olhar para além oupara alhures de onde o discurso quer enviar nosso olhar; uma busca cons-tante de uma hermenêutica dos símbolos, imagens e relações. Essa é umadas posturas fundantes da prática do professor pesquisador (que se consti-tui tanto por práticas diferenciadas quanto por - anteriormente - uma for-ma diferenciada de encarar o próprio oficio e o mundo).

Cabe ao professor chamar atenção, perante sua turma, para alegibilidade pouco explorada do mundo das relações sociais, do qual a es-cola é também um subuniverso. Vivemos, enquanto seres sociais de umasociedade de classes e dominação, num universo de símbolos que não sãomeros adornos mas formadores de nós mesmos, constituintes da "carne"de nosso pens;mento (e por que não dizer, de nosso corpo, uma vez que aíse determina o que comemos e o que nos enoja, o cabelo bonito e o cabelodo qual se ri, o peso desejáveL). Sem atenção a tudo isso, a idéia de form~um cidadão capaz de compreender autonomamente seu mundo para aglfsobre ele segundo seus interesses pessoais e coletivos fica grave e perigo-samente incompleta. Construir desejo e habilidades para transformar semconstruir a base do olhar crítico que tem o questionamento por métodoprimeiro é formar excelente massa de manobra para interesses su~lim~nare~.Em outras palavras, é preciso garantir que a preparação para agIr nao sejauma preparação para ser agido.

Com esta análise, procura-se dar uma contribuição ao conjunto daspesquisas sobre o ensino de história bem como ao professor da disciplina,nos seguintes sentidos:

I) Permitir ao professor exercer o seu oficio com toda a consciênciacrítica dos conteúdos e das finalidades da história escolar.

2) Fornecer, através da análise exemplar de gravuras específicas, al-gumas indicações para o trabalho em sala de aula com gravuras, partindode um posicionamento antes de tudo crítico, capaz de olhar além damaterialidade, capaz de entender a gravura como uma multiplicidade deinformações, significados e intencional idades, e não apenas como ilustra-ção do que se diz em forma escrita. Ainda que existam elementos comuns econsiderações permutáveis, é preciso afirmar as especificidades de outras

This essay presents and analyses the "paulista" traditional histo~ograp~icproduction, as seen in the illustrations in didactic material, and its role m shapmg