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RESENHA IMAGINÁRIOS SOCIAIS EM MOVIMENTO De: Júlia Miranda, Ismael Pordeus e François Laplantine (orgs.) Imaginários sociais em movimento: orali- dade e escrita em contextos multiculturais Campinas: Pontes Editores, 2006 Por: GLAUCO BARREIRAMAGAlHÃES FILHO Professor do Faculdade de Direito da UFC e Doutorando em Sociologia/UFC A Obra da qual agora faço esta resenha é intitula- da Imaginários Sociais em Movimento: oralidade e escrita em contextos multicultu- rais. Os autores são professores da Universidade Federal do Ce- ará e da Universidade de Lyon 2, na França, além de alunos do Curso de Doutorado do Programa de Pós-graduação em Sociologia da UFC. Os variados trabalhos, resultantes de um pro- jeto comum, de oito anos, foram organizados pelos seguintes docentes: Iúlia Miranda (UFC), Ismael Pordeus Jr. (UFC) e François Laplantine (Universi- dade de Lyon 2). Os capítulos refletem pesquisas amadurecidas por sociólogos brasileiros e franceses no Colóquio Internacional sobre Oralidade, Textualidade e Trans- formações dos Imaginários Sociais. De acordo com a apresentação da obra por [úlia Miranda, a pesquisa perfilhou três linhas no estudo do imaginário, consi- derando seu movimento, inteligibilidade e relações: 1) A dinâmica do esgotamento, ressurgimento e re- composições dos imaginários sociais; 2) O estudo das imagens, mitos e narrativas em Lyon e Fortaleza; 3) A identificação dos símbolos e mitos que compõem as representações sociais. O objeto geral da pesquisa - os imaginários sociais - é considerado em formas variadas (rituais, assim como discursos escritos e orais) em circuns- tâncias bem diferentes. O enfoque é orientado por questões ligadas ao movimento vital das imagens, à sua continuidade descontínua através da memória e à mudança de forma (transposição da oralidade à textualidade) . A primeira parte - RECOMPOSIÇÃO DOS IMAGINÁRIOS SOCIAIS EM CONTEXTOS MUL- TI CULTURAIS - inicia com a análise feita por [úlia Miranda sobre religião e política, em duas situações concretas bem definidas: as candidaturas de Fátima Leite, da Renovação Carismática Católica (RCC), e de representantes de grupos pen- tecostais, com destaque para a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Acerca de Fátima Leite, observa-se que não era uma candidata oficial da instituição religiosa a que estava vinculada, embora o fato de ter um programa radiofônico disse- minador de suas convicções religiosas, bem como a prática de rezar o terço nos bairros, tenham tornado pública a sua profissão de fé. Apesar de ter atribuído sua vitória nas urnas ao livre sentimento religioso do povo simples, procurou a orientação cardinalícia para sua condução na arena política, logo após o resultado das eleições. Os candidatos da IURD, por sua vez, têm sido normalmente indicados por seus dirigentes, sendo escolhidos entre pastores sem experiência anterior na vida política. Tais candidatos alimentam seus discur- sos com a idéia da necessidade de defender a Igreja dos ataques "preconceituosos" da sociedade. O fiel é chamado para se submeter à indicação do candidato a partir do seu sentimento de fidelidade aos ideais da Igreja. Já os candidatos da Assembléia de Deus se apresentam espontaneamente, sendo recomendados pelos pastores, depois de consulta ao povo. Iúlia Miranda observa haver nesses grupos um desprezo pelo partido escolhido pelo candidato, bem como a inexistência de um projeto político global- participativo, já que os programas não passam estra- tégias para fins corporativos. José Machado Pais trata do "poder da linguagem no imaginário da sedução': A linguagem é compreen- dida em sentido amplo, incluindo as expressões oral, corporal e textual. Há uma análise dos relacionamen- tos virtuais com sua dialética de identidade/encobri- mento. Os conceitos de "amor líquido" (Bauman) e "máscaras", bem como a "hermenêutica do desejo" (Foucault) também são ferramentas de estudo. Machado Pais mostra a fragilidade dos rela- cionamentos virtuais expressa no uso do termo "co- néctar-se" Também desvela o hedonismo moderno, apontando-o como imaginativo e auto-ilusório. 1 143

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RESENHA

IMAGINÁRIOS SOCIAIS EM MOVIMENTO

De: Júlia Miranda, Ismael Pordeus eFrançois Laplantine (orgs.)Imaginários sociais em movimento: orali-dade e escrita em contextos multiculturaisCampinas: Pontes Editores, 2006Por: GLAUCO BARREIRAMAGAlHÃES FILHOProfessor do Faculdade de Direito da UFC e

Doutorando em Sociologia/UFC

AObra da qual agora façoesta resenha é intitula-da Imaginários Sociais

em Movimento: oralidade eescrita em contextos multicultu-rais. Os autores são professoresda Universidade Federal do Ce-ará e da Universidade de Lyon2, na França, além de alunos do Curso de Doutoradodo Programa de Pós-graduação em Sociologia daUFC. Os variados trabalhos, resultantes de um pro-jeto comum, de oito anos, foram organizados pelosseguintes docentes: Iúlia Miranda (UFC), IsmaelPordeus Jr. (UFC) e François Laplantine (Universi-dade de Lyon 2).

Os capítulos refletem pesquisas amadurecidaspor sociólogos brasileiros e franceses no ColóquioInternacional sobre Oralidade, Textualidade e Trans-formações dos Imaginários Sociais. De acordo com aapresentação da obra por [úlia Miranda, a pesquisaperfilhou três linhas no estudo do imaginário, consi-derando seu movimento, inteligibilidade e relações:1) A dinâmica do esgotamento, ressurgimento e re-composições dos imaginários sociais; 2) O estudo dasimagens, mitos e narrativas em Lyon e Fortaleza; 3)A identificação dos símbolos e mitos que compõemas representações sociais.

O objeto geral da pesquisa - os imagináriossociais - é considerado em formas variadas (rituais,assim como discursos escritos e orais) em circuns-tâncias bem diferentes. O enfoque é orientado porquestões ligadas ao movimento vital das imagens, àsua continuidade descontínua através da memóriae à mudança de forma (transposição da oralidade àtextualidade) .

A primeira parte - RECOMPOSIÇÃO DOSIMAGINÁRIOS SOCIAIS EM CONTEXTOS MUL-TI CULTURAIS - inicia com a análise feita por [úliaMiranda sobre religião e política, em duas situaçõesconcretas bem definidas: as candidaturas de FátimaLeite, da Renovação Carismática Católica (RCC), e de

representantes de grupos pen-tecostais, com destaque para aIgreja Universal do Reino deDeus (IURD).

Acerca de Fátima Leite,observa-se que não era umacandidata oficial da instituiçãoreligiosa a que estava vinculada,

embora o fato de ter um programa radiofônico disse-minador de suas convicções religiosas, bem como aprática de rezar o terço nos bairros, tenham tornadopública a sua profissão de fé. Apesar de ter atribuídosua vitória nas urnas ao livre sentimento religioso dopovo simples, procurou a orientação cardinalícia parasua condução na arena política, logo após o resultadodas eleições.

Os candidatos da IURD, por sua vez, têm sidonormalmente indicados por seus dirigentes, sendoescolhidos entre pastores sem experiência anterior navida política. Tais candidatos alimentam seus discur-sos com a idéia da necessidade de defender a Igrejados ataques "preconceituosos" da sociedade. O fiel échamado para se submeter à indicação do candidatoa partir do seu sentimento de fidelidade aos ideaisda Igreja. Já os candidatos da Assembléia de Deus seapresentam espontaneamente, sendo recomendadospelos pastores, depois de consulta ao povo.

Iúlia Miranda observa haver nesses grupos umdesprezo pelo partido escolhido pelo candidato, bemcomo a inexistência de um projeto político global-participativo, já que os programas não passam estra-tégias para fins corporativos.

José Machado Pais trata do "poder da linguagemno imaginário da sedução': A linguagem é compreen-dida em sentido amplo, incluindo as expressões oral,corporal e textual. Há uma análise dos relacionamen-tos virtuais com sua dialética de identidade/encobri-mento. Os conceitos de "amor líquido" (Bauman) e"máscaras", bem como a "hermenêutica do desejo"(Foucault) também são ferramentas de estudo.

Machado Pais mostra a fragilidade dos rela-cionamentos virtuais expressa no uso do termo "co-néctar-se" Também desvela o hedonismo moderno,apontando-o como imaginativo e auto-ilusório.

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Maria Auxiliadora Lemenhe orienta sua pesqui-sa para as diferentes figurações do Presidente Lula:traidor, companheiro e populista. Suas observaçõespartem do que é veiculado pelos meios de comuni-cação.

Segundo Lemenhe, Lula é caracterizado comotraidor pela ala esquerda de seu partido, por outrospartidos de ideologia socialista, pelo PSDB e, prin-cipalmente, pelo PFL. Tal figuração decorre de inú-meras medidas contrárias a posições anteriormentedefendidas pelo PT.

a Lula "companheiro" traduz sua lendáriaposição de líder sindical. A memória dessa situaçãopretérita do Presidente é conservada por sua quebrade ritos, pela linguagem coloquial e outras açõesnas quais procura demonstrar proximidade com opovo.

a Lula "populista" se revela nos contatos diretoscom o povo, personalismo e ausência de mediação departidos; também é garantido por políticas de com-pensação social. a populismo de Lula, entretanto, nãoé tão inclusivo como o foi o de Getúlio Vargas.

Raymond Mayer analisa o imaginário que seefetivou sobre uma personalidade política na França:Charles de Gaulle. A sua pesquisa considera as trans-formações do imaginário social em diferentes contex-tos de referência, bem como as ligações e passagensdo imaginário individual para o coletivo.

11A segunda parte da obra trata de IMAGENS,

NARRAÇÕES E RITUAIS. Inicia com um examefeito por Ismael Pordeus [únior dos "processos dereetinização da umbanda pelos grupos indígenas doCeará':

Pordeus [únior observa, curiosamente, a adesãodos índios Pitaguari e Tremembé à umbanda comouma forma de reforçar a construção de suas identi-dades étnicas. Explica que os índios representam agrande força da umbanda no Ceará.

Irlys Barreira examina narrativas como for-mas de vivenciar e apresentar uma cidade, no caso,Lyon. Sua pesquisa parte de guias turísticos, rituaisde visitação, cartografias, relatos orais e catálogos.Considera a pluralidade de narrativas, entre as quaisdestaca a que é feita para os visitantes (apresentação

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da cidade) e a que é feita para os moradores (integra-ção dos habitantes). Inspira-se nas reflexões de ÍtaloCalvino, tomando-as como uma metáfora para suasconsiderações sociológicas.

Roseane Freitas Nicolau relaciona os rituais daRenovação Carismática com transformações das prá-ticas católicas. Ressalta a presença de excitação típicados espetáculos populares nas reuniões carismáticas.Identifica a presença de uma nova significação deelementos do pentecostalismo dentro da religiosi-dade católica, mas também observa uma retomadade pontos do catolicismo popular. Conclui que as"novas práticas" são provenientes de transmutaçõesdas velhas.

François Laplantine procura definir sua pers-pectiva nas pesquisas que realizou no Brasil. Seusitinerários são do oral ao escrito, do oral ao oral, doescrito ao oral e do escrito à tela. Relaciona corpoe narração, entendendo esta última como oposta àabstração: a narração é um exercício da linguagemcom engajamento do corpo.

Laplantine propõe a adoção de uma nova dis-ciplina - a etnocenologia - para distinguir os com-portamentos cotidianos daqueles que são codificadospor ritos (como os da umbanda ou do candomblé). a"espetáculo" (teatro) seria um modelo privilegiado noimaginário social brasileiro, enquanto nos EUA seriao cinema e na França seria a literatura.

Laplantine ainda constata a influência francesano kardecismo brasileiro, bem como destaca a impor-tância dos enunciados performativos no pentecosta-lismo e o caráter icônico do catolicismo.

Titus Riedl expõe sua pesquisa sobre bilhetes ecartas de promessas e súplicas em Juazeiro do Norte.Destaca a ausência de critérios morais (auto-crítica ouarrependimento) na tradução das aflições de muitosdaqueles que fazem os votos, pois identifica entre osperegrinos muitas pessoas que se lamentam da per-da de coisas cuja posse ofenderia a moral religiosaoficial.

Nobert Bandier considera o aprofundamento doimaginário social da população de Fortaleza, fazendouma reconstrução da influência do grupo poético"Padaria Espiritual': Bandier informa que esse grupocontemporizou a violência simbólica que se seguiu àproclamação da República, e, em face disso, procura

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explicar as relações da "Padaria Espiritual" com oprocesso de modernização.

Nadine Decourt estuda a "arte de contar" - agênese do conto, o trajeto do conto, a recitação doconto, o contar e o recontar - entre as populaçõesemigradas da cidade de Lyon.

Martine Kunz descobre a "história" do impera-dor Carlos Magno num folheto nordestino. Constataa presença do ciclo carolíngio da canção de gesta fran-cesa na literatura de cordel do Nordeste. A partir daí,estuda os modelos de valentia na literatura de cordelcomo herdeiros dos ideais guerreiros da Idade Média,com seus princípios cavalheirescos de honra.

Abdelhafid Hammouche se propõe a compre-ensão das redefinições de autoridade em relação aosimigrantes magrebinos, através da linguagem práticados símbolos e das estruturas de socialização.

Martin Soares comenta a tensão entre duasperspectivas sobre etnia no Brasil. A primeira delas,defendida por Gilberto Freyre, considera a afetividadebrasileira sem levar em conta a experiência diaspóri-ca. Julgava-se que isso favoreceria a uma democraciaracial, principalmente com o encontro do negro como branco no mulato. Essa idealização, entretanto,supunha uma benevolência do colonizador portu-guês. A segunda visão ressalta um retorno às origensraciais, colocando os afro-descendentes de um ladoe os "luso-descendentes" de outro.

O termo afro-brasileiro ou afro-descendentetraduz a preocupação de associar dois espaços geográ-ficos e culturais distintos: África e Brasil. Imaginam-sepedaços da África inseridos no Brasil com demarca-ção étnica definida. Martin Soares não vê aí apenasuma categoria, mas uma dinâmica que interferirá naconstrução política do Brasil.

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A última parte trata de CONFLITOS POLÍTI-COS, PATRIMÔNIO CULTURAL E IMAGINÁRIOSSOCIAIS.

César Barreira comenta sobre a influência dahonra e da violência na formação do imaginário docorso.

A ilha de Córsega localiza-se no Mar Mediterrâ-neo, sendo administrada política e economicamentepelo governo francês. O sentimento de autonomia

do corso, porém, o leva a fazer a distinção entre o"sistema continental" (francês) e o "sistema insular".Já as lutas, guerras e rivalidades que caracterizam ahistória da ilha contribuem para a formação da ima-gem de um "povo guerreiro': com forte sentimento dehonra. Tal ênfase fomenta sentimentos de vingançae ocasiona o aparecimento dos "bandidos de honra",exigindo medidas fortes de segurança do governofrancês. Paradoxalmente, há também um discurso deemancipação orientado pelo paradigma da moderni-dade democrática, o que gera uma situação pendularna definição da identidade da sociedade corsa.

Thierry Valentin faz uma avaliação crítica deum artigo escrito por Fernando Pamplona acerca dodebate racial no Brasil, tendo em vista as políticasde ação afirmativa nas universidades. Pamplona en-tende que o Brasil é composto de um povo mestiçocom múltiplas e indivisíveis heranças. Sugere umademocracia racial com um discurso que recorda o deGilberto Freyre. Valentin comunga da preocupaçãode Pamplona de evitar a racialização em um país quemostra a esperança de formar uma identidade globala partir de heranças diferentes. No entanto, concluique as reivindicações raciais ainda são melhores quea dominação encoberta em fantasias lusotropicais.

Beatriz M. A. de Heredia e Moacir Palmeiradistinguem o voto de escolha do voto como adesão.O voto-escolha é uma decisão individual em umdeterminado momento. A adesão é um progressivocompromisso de um indivíduo, uma família ou um-grupo, que ultrapassa o tempo da política.

Durante o tempo da política, as famílias indife-rentes ao processo político, passam a se engajar nele,de modo que as facções passam a ser identificadas.Nessa hora, as múltiplas partes da sociedade disputampor participação, influência e favores.

Em algumas regiões (principalmente rurais),a política é vista como atividade masculina. O votodo chefe da família define o dos seus componentes,garantindo a unidade familiar. Isso leva os políticosa realizarem visitas aos chefes de família com o fimde obter sua adesão.

A adesão pode aparecer como uma manifestaçãode gratidão resultante de favores e dádivas recebidos.A compra do voto, entretanto, se submete a algumasregras de discrição. Certas práticas ostensivas podem

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ter o efeito indesejado, ou seja, a perda dos votos.Maria Neyára de Oliveira Araújo elabora uma

análise dos SELs na França. Trata-se de sistemas detrocas local que funcionam como espaço aberto epragmático de troca de bens, trabalho e saberes. Nelesse procura a segurança coletiva através da proximida-de e da solidariedade. A entrada depende da adesão aum conjunto de condições previamente definidas.

Nos SELs,há uma "unidade de conta" (símbolode trocas) que funciona (embora não se queira ad-mitir) como uma moeda paralela. Os SELs não são aparte pequena do Mercado Grande, mas o espaço denegação dos seus atributos (anonimato da divisão dotrabalho, indefinição do limite de troca). Apesar disso,o Mercado permanece sendo o limite dos SELs.

A emergência dos SELs "se justifica pelo enfra-quecimento das normas sociais do passado". Resultamdo desejo por um novo socialismo fundado no mutu-alismo, na auto-gestão e na organização cooperativados produtores e consumidores. Enquanto o séculoXIX testemunhou o surgimento da esfera pública bur-guesa, o início do século XXI é o marco do surgimentoda "esfera pública plebéia" (Habermas). Surge, assim,mediante os SELs, a possibilidade de uma "sociedadede bem estar" na qual uma nova modalidade de re-gulação dos conflitos para substituir o espaço públicoregulado pelo Estado aparece como proposta.

Linda M. P. Gondim aborda o papel político-cultural do Centro Dragão do Mar (CDM) em For-taleza.

O CDM foi construído em 1998 pelo governoestadual. É fruto das políticas públicas desenvolvidasnas últimas décadas do século XX, cujos projetosurbanísticos ocupam-se da promoção da imagem dacidade. Tais projetos conduzem um planejamento es-tratégico que vislumbra o espaço como fonte de lucro.Desse modo, as representações da cidade se submetemà lógica cultural do capitalismo tardio.

Os discursos científicos ou técnicos no contextopós-moderno fomentam a produção ficcional da his-tória; daí a associação do Centro cultural com "Dra-gão do Mar" (Francisco José do Nascimento), pois édito que o famoso cearense guardava sua jangada nasproximidades do CDM.

O CDM revitalizou a área portuária e se tornouobjeto de uma ousada política cultural que procura

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inserir Fortaleza na categoria de "cidade global". En-quanto a economia cearense se encontra numa fasede modernização incompleta, o CDM reflete umapaisagem urbana pós-moderna.

IVA obra IMAGINÁRIOS SOCIAIS EM MOVI-

MENTO: ORALIDADE E ESCRITA EM CONTEX-TOS MULTICULTURAIS reúne, portanto, diversaspesquisas com variados objetos e perspectivas. Os as-suntos se comunicam em torno da preocupação coma dinamicidade dos imaginários sociais. A existênciade trabalhos de brasileiros e franceses, por outro lado,promove uma orientação globalizante. Por tudo isso,sua leitura é recomendada, tornando-se atrativa paraestudiosos de várias orientações e interesses.

n.l 2007