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o Isa IMPACTO DA MICROGERAÇÃO NA QUALIDADE DE ENERGIA DE UMA REDE DE BAIXA TENSÃO Ricardo Manuel Adriano de Sousa Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Electrotécnica e de Computadores Júri Presidente: Professor Doutor Paulo José da Costa Branco Orientador: Professora Doutora Sónia Maria Paulo Ferreira Pinto Co-orientador: Professor Doutor José Fernando Alves da Silva Acompanhante: Engenheiro José Manuel Ferreira Pinto Vogal: Professor Doutor João José Esteves Santana Outubro de 2009

Impacto Da Microgeração Na Qualidade Da Energia

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  • o

    Isa

    IMPACTO DA MICROGERAO NA QUALIDADE DE

    ENERGIA DE UMA REDE DE BAIXA TENSO

    Ricardo Manuel Adriano de Sousa

    Dissertao para obteno do Grau de Mestre em

    Engenharia Electrotcnica e de Computadores

    Jri

    Presidente: Professor Doutor Paulo Jos da Costa Branco

    Orientador: Professora Doutora Snia Maria Paulo Ferreira Pinto

    Co-orientador: Professor Doutor Jos Fernando Alves da Silva

    Acompanhante: Engenheiro Jos Manuel Ferreira Pinto

    Vogal: Professor Doutor Joo Jos Esteves Santana

    Outubro de 2009

  • ii

    Resumo

    O objectivo deste trabalho estudar o impacto da microgerao na qualidade de energia de uma

    rede elctrica de Baixa Tenso (BT). Nesse sentido, recorrendo PowerSystem toolbox do

    Matlab/Simulink, desenvolveu-se um modelo de uma rede de baixa tenso que compreende uma

    alimentao em Mdia Tenso (MT), um transformador MT/BT, os modelos das linhas de distribuio,

    vrios tipos de cargas e os modelos dos microgeradores monofsicos e trifsicos.

    Na construo do modelo da rede BT faz-se o dimensionamento de cada um destes

    componentes, recorrendo a dados fornecidos pelos fabricantes e a medies efectuadas para diversos

    tipos de carga, de forma a obter comportamentos coerentes com os observados numa rede real.

    Com base no modelo construdo so estudados vrios cenrios de carga, com e sem

    microgerao, considerando a harmnica mais significativa da mdia tenso (5 harmnica), e

    admitindo que a tenso de sada do transformador igual tenso nominal ou est 5% acima desse

    valor.

    Os ensaios realizados com o modelo desenvolvido, permitem avaliar o impacto da microgerao

    numa rede de baixa tenso, nomeadamente na Taxa de Distoro Harmnica (TDH) e no Factor de

    Potncia.

    Palavras-chave: Qualidade de Energia Elctrica (QEE), Microgerao, Rede de Baixa Tenso,

    Modelos das Cargas Elctricas, Taxa de Distoro Harmnica.

  • iv

    ndice

    Agradecimentos ................................................................................................................................. i

    Resumo ............................................................................................................................................. ii

    Abstract ............................................................................................................................................ iii

    Lista de smbolos e variveis ............................................................................................................ vi

    1 Introduo .............................................................................................................................. 1

    1.1 Objectivos ........................................................................................................................... 3

    1.2 Estrutura do relatrio ......................................................................................................... 3

    2 Modelo da Rede BT ................................................................................................................ 5

    2.1 Parmetros de QEE a analisar ............................................................................................ 5

    2.2 Mdia tenso ..................................................................................................................... 6

    2.3 Transformador MT/BT........................................................................................................ 7

    2.4 Modelo dos cabos da rede elctrica de baixa tenso ........................................................ 8

    2.5 Cargas lineares ................................................................................................................. 12

    2.5.1 Cargas resistivas ...................................................................................................... 13

    2.5.2 Cargas indutivas ....................................................................................................... 13

    2.6 Cargas no lineares .......................................................................................................... 15

    2.6.1 Rectificador monofsico .......................................................................................... 15

    2.6.2 Rectificador trifsico ................................................................................................ 21

    3 Microgerao ........................................................................................................................ 24

    3.1 Inversor monofsico ......................................................................................................... 24

    3.1.1 Dimensionamento do controlador de corrente ...................................................... 25

    3.1.2 Sincronizao da corrente com a tenso da rede ................................................... 28

    3.2 Inversor trifsico .............................................................................................................. 29

    3.2.1 Dimensionamento do filtro de ligao rede ......................................................... 30

    3.2.2 Dimensionamento dos controladores de corrente ................................................. 31

    3.2.3 Sincronizao das correntes com as tenses da rede ............................................. 32

    4 Simulao da Rede BT........................................................................................................... 35

    4.1 Estrutura da rede BT sem microgerao .......................................................................... 35

    4.2 Estrutura da rede BT com microgerao .......................................................................... 37

    4.3 Resultados das simulaes ............................................................................................... 39

    4.4 Cenrio 1 PT em vazio ................................................................................................... 40

    4.5 Cenrio 2 Ponta do PT ................................................................................................... 48

  • v

    5 Concluses ............................................................................................................................ 57

    6 Bibliografia ............................................................................................................................ 59

    Anexo A ........................................................................................................................................... 61

    Anexo B ........................................................................................................................................... 66

    Anexo C ........................................................................................................................................... 67

    Anexo D ........................................................................................................................................... 69

    Anexo E............................................................................................................................................ 71

    Anexo F ............................................................................................................................................ 73

  • vi

    Lista de smbolos e variveis

    t Intervalo de tempo

    V Variao mxima da tenso sada do rectificador

    Vmx Queda de tenso mxima

    Vmin Queda de tenso mnima

    abc Sistema de coordenadas abc

    am Mdia geomtrica das distncias entre eixos dos condutores

    AT Alta Tenso

    Bm Susceptncia de magnetizao

    BT Baixa Tenso

    C Capacidade do condensador

    C(s) Compensador

    CA Corrente alternada

    CC Corrente contnua

    CML Capacidade do condensador do rectificador da mquina de lavar

    Cn_clientes Coeficiente de simultaneidade do nmero de clientes em cada sada

    Cn_sadas Coeficiente de simultaneidade do nmero de sadas do PT

    cos(_RL) Desfasagem entre a primeira harmnica de tenso e a da corrente no

    frigorfico

    CTV Capacidade do condensador do rectificador do televisor

    d Dimetro da alma condutora

    DGEG Direco Geral de Energia e Geologia

    dq Referencial sncrono com as tenses da rede

    f Frequncia fundamental

    fc Frequncia de comutao dos semicondutores

    FP Factor de potncia

    Gm Condutncia de magnetizao

    Hd Componente d da modulante

    Hq Componente q da modulante

    I0av Valor mdio da corrente de sada

    I1 Componente fundamental da corrente

    Ic Corrente da rede na fase T

    Ih Componentes harmnicas da corrente

    Im Corrente de magnetizao

    IN Corrente nominal

    Iod Componente d da corrente de sada do conversor

  • vii

    Iodref Componente d da corrente de referncia

    Ioq Componente q da corrente de sada do conversor

    Ioqref Componente q da corrente de referncia

    IR Corrente da rede na fase R

    Iref Corrente de referncia

    IS Corrente da rede na fase S

    isol Espessura do isolamento do condutor

    IT Corrente do condensador

    Kd Ganho do conjunto modulador mais inversor

    KI Ganho da corrente

    L Indutncia

    L_cabo Coeficiente de auto-induo aparente mdio para um condutor

    L_inv1F Indutncia da bobine de ligao do inversor monofsico rede

    L_inv3F Indutncia da bobine de ligao do inversor trifsico rede

    LML Indutncia da bobine para o rectificador de uma mquina de lavar

    LTV Indutncia da bobine para o rectificador de um televisor

    MAT Muito Alta Tenso

    Microgerao 1 Cenrio com potncia injectada na rede igual a 10% de Sn

    Microgerao 2 Cenrio com potncia injectada na rede igual a 25% de Sn

    MT Mdia Tenso

    NP EN 50160 Norma Portuguesa

    P Potncia activa

    p ndice de pulsao

    P_MT Potncia da mdia tenso

    P_RL Potncia activa do frigorfico

    P0 Perdas em vazio do transformador

    PI Compensador Proporcional-Integral

    PML Potncia da mquina de lavar

    Sn Potncia nominal do transformador

    PT Posto de Transformao

    PTV Potncia activa do televisor

    PWM Pulse Width Modulation - Modulao por Largura de Impulso

    Q_RL Potncia reactiva do frigorfico

    R Resistncia

    r(t) Portadora

    R_cabo Resistncia da alma condutora do cabo a 20C

    R_inv1F Resistncia do filtro indutivo de ligao do inversor monofsico rede

    R_inv3F Resistncia do filtro indutivo de ligao do inversor trifsico rede

  • viii

    R1 Resistncia do enrolamento primrio do transformador

    R2 Resistncia do enrolamento secundrio do transformador

    Ri Resistncia interna da bobine

    Rm Resistncia de magnetizao do transformador

    RML Resistncia que simula a carga equivalente de uma mquina de lavar

    Rt Resistncia total dos enrolamentos do transformador

    RTV Resistncia que simula a carga equivalente de um televisor

    s Dimetro do condutor mais isolamento

    S_RL Potncia aparente do frigorfico

    Scontratada Potncia contratada por um cliente ou conjunto de clientes

    SGC Potncia consumida por um cliente ou conjunto de clientes

    Sk Semicondutor k

    SPT Potncia nominal do Posto de Transformao

    T Perodo

    Tc Perodo de comutao

    Tconcordia Transformao de Concordia

    Td Constante de tempo do conjunto modulador mais conversor

    TDH Taxa de Distoro Harmnica

    TDHi Taxa de Distoro Harmnica da corrente

    TDHu Taxa de Distoro Harmnica da tenso

    Tp Constante de tempo do compensador

    TPark Transformao de Park

    Tz Constante de tempo do compensador

    U1 Componente fundamental da tenso

    uc Tenso modulante

    uc max Valor mximo da tenso modulante

    UDC Tenso de alimentao do inversor

    Uh Componentes harmnicas da tenso

    Un Tenso nominal

    V0av Valor mdio da tenso de sada do rectificador

    Vc Tenso aos terminais do condensador

    Vcc Tenso de curto-circuito

    Vod Componente d da tenso de sada do conversor

    Voq Componente q da tenso de sada do conversor

    VR Tenso da rede na fase R

    VRMS_MT Valor eficaz da mdia tenso

    VS Tenso da rede na fase S

    VT Tenso da rede na fase T

  • ix

    V Componente da tenso

    V Componente da tenso

    X Reactncia

    X1 Reactncia do enrolamento primrio do transformador

    X2 Reactncia do enrolamento secundrio do transformador

    Xm Reactncia de magnetizao

    Xt Reactncia total dos enrolamentos do transformador

    Nome do referencial

    Frequncia angular

  • 1

    1 Introduo

    Nos ltimos anos, a nova realidade do sector energtico e a presso econmico-ambiental tm

    levado necessidade de recorrer a novas formas de produo de energia, passando pela utilizao de

    pequenos geradores junto das cargas, a partir de fontes de energia renovvel. Este tipo de produo de

    energia designa-se por produo distribuda ou microgerao. Na maioria dos casos esta produo

    descentralizada faz uso das chamadas energias renovveis e da responsabilidade de operadores

    independentes ou mesmo de consumidores finais. So geralmente designadas por fontes de energia

    renovvel, as fontes de energia que possam considerar-se inesgotveis ou cujo potencial energtico se

    possa renovar. So includas neste mbito: a energia elica, geotrmica, solar, energia das ondas,

    energia das mars e o aproveitamento da biomassa.

    Como exemplos mais comuns de sistemas de microgerao tem-se a produo de energia

    elctrica, em baixa tenso, a partir de painis fotovoltaicos (energia solar) e de aerogeradores (energia

    elica). Estes pertencem categoria das fontes de energia renovvel em que mais se tem apostado na

    ltima dcada.

    A energia solar no polui durante o seu uso e os painis solares so a cada dia mais potentes ao

    mesmo tempo que o seu custo vem decrescendo, tornando esta forma de produo de energia uma

    soluo cada vez mais vantajosa. Como desvantagens, a energia produzida pelos painis fotovoltaicos,

    depende das condies climticas e da luz solar, o que obriga a que existam meios de armazenamento

    da energia produzida durante o dia. Em relao eficincia dos painis solares, estes apresentam

    rendimentos baixos quando comparados com outras fontes de energia.

    A utilizao de energia elica comporta numerosas vantagens face aos outros aproveitamentos

    de energias renovveis, devido ao seu maior desenvolvimento tecnolgico. Apresenta ainda a vantagem

    de ser inesgotvel, no emitir gases poluentes nem gerar resduos de longa durao, alm de que os

    aerogeradores no necessitam de abastecimento de combustvel e requerem escassa manuteno. Por

    outro lado, os geradores elicos apresentam como desvantagens o impacto visual das turbinas e o rudo

    produzido pelas mesmas.

    De um modo mais genrico, a microgerao pode apresentar grandes vantagens econmicas e

    tecnolgicas [www.renovaveis.tecnopt.com/], tais como:

    - Reduo das perdas de energia na rede de distribuio de energia elctrica;

    - Maior fiabilidade no fornecimento de electricidade aos consumidores;

    - Contribuio para a diminuio da forte dependncia energtica portuguesa relativamente ao

    exterior;

    - Adiamento de investimentos pesados no reforo das infra-estruturas da rede;

    - Melhoria do desempenho ambiental do sistema energtico no seu todo;

    - Criao de maiores oportunidades para a indstria portuguesa de bens de equipamento e

    componentes para o sector elctrico;

  • 2

    - Gerao de um novo cluster industrial e de servios com impacto importante na criao de

    emprego e no crescimento econmico;

    - Mais autonomia e poder de deciso dos consumidores individuais e das comunidades locais.

    No entanto, a gerao de energia pelo prprio consumidor utilizando equipamentos de pequena

    escala, nomeadamente painis solares, microturbinas, microelicas ou outro tipo de tecnologia,

    naturalmente ter o seu impacto na rede de distribuio elctrica. O estudo prvio do impacto da

    microgerao na qualidade de energia elctrica da rede poder minimizar as perturbaes e os custos

    associados a este tipo de produo de energia.

    Nas ltimas dcadas, com a evoluo do sector energtico a natureza e exigncia das cargas tem

    vindo a alterar-se, gerando uma preocupao crescente com a qualidade de energia elctrica. Se no

    inicio do sculo XX as cargas eram pouco poluidoras, aps a dcada de 70, o desenvolvimento e a

    proliferao de sistemas electrnicos, aumentou consideravelmente a utilizao de cargas no lineares,

    com consequente poluio harmnica da rede de energia elctrica. Actualmente, estima-se que em

    2010 cerca de 80% de toda a energia elctrica seja consumida por cargas no-lineares [Fernando Silva,

    2007].

    As cargas no-lineares utilizam conversores electrnicos de potncia, geralmente rectificadores

    no comandados a dodos e representam grande parte do equipamento domstico, comercial e

    industrial. A nvel domstico e comercial podem ser encontradas na maioria dos electrodomsticos

    (televisores, leitores/gravadores DVD, mquinas de lavar, microondas), nos computadores, impressoras,

    carregadores de telemveis e UPS. A nvel industrial esses equipamentos esto presentes na maioria dos

    accionamentos elctricos e variadores de velocidade.

    Estas cargas, embora poluidoras da rede, tambm so, muitas vezes, mais sensveis qualidade

    de energia elctrica. Nos ltimos anos, a melhoria da qualidade de energia elctrica tornou-se

    fundamental para garantir a produtividade, competitividade e sustentabilidade da grande maioria das

    actividades econmicas, especialmente as de tecnologia mais avanada.

    Consequentemente, se at dcada de 80 a qualidade de energia era sensivelmente adequada

    s necessidades dos consumidores, actualmente existe uma percepo muito diferente relativamente

    ao conceito de qualidade de energia elctrica, que pode ser analisado em trs vertentes: qualidade do

    produto, qualidade de servio e qualidade comercial.

    De um modo genrico, as perturbaes mais comuns presentes na forma de onda de tenso so:

    - Cavas de tenso;

    - Sobretenses transitrias;

    - Distoro harmnica;

    - Tremulao (flicker);

    - Variao da frequncia;

  • 3

    - Desequilbrio do sistema trifsico de tenses;

    - Interrupes (curtas e longas).

    Neste trabalho deu-se particular nfase distoro harmnica, uma vez que a injeco de

    harmnicas de corrente na rede d origem a harmnicas de tenso e causa diversos problemas, tais

    como:

    - Sobreaquecimento dos cabos e transformadores;

    - Destruio de condensadores;

    - Binrios oscilatrios;

    - Saturao de transformadores;

    - Diminuio da preciso dos instrumentos de medio;

    - Mau funcionamento de equipamentos electrnicos que utilizem a tenso da rede como

    referncia.

    Os equipamentos de microgerao no produzem formas de onda sinusoidais perfeitas e, por

    isso, tambm eles so perturbadores da qualidade de energia da rede elctrica de baixa tenso,

    injectando harmnicas de corrente na rede.

    1.1 Objectivos

    Nesta dissertao pretendem caracterizar-se algumas das perturbaes produzidas por

    equipamentos de microgerao numa rede de distribuio de energia elctrica, nomeadamente a taxa

    de distoro harmnica.

    O objectivo principal do trabalho consiste em construir e simular um modelo de uma rede

    elctrica rural de baixa tenso e comparar os resultados de ensaios, sem microgerao e com

    microgerao monofsica e trifsica. Para o efeito recorre-se ferramenta Simulink, do MATLAB, no

    desenvolvimento do modelo da rede de distribuio, onde se inclui o dimensionamento dos vrios

    componentes da rede: transformador de mdia para baixa tenso, linhas de distribuio, cargas

    lineares, no lineares e microgeradores.

    Com base nos modelos desenvolvidos so avaliadas a taxa de distoro harmnica e as variaes

    no valor eficaz da tenso da rede.

    1.2 Estrutura do relatrio

    O presente relatrio encontra-se dividido em cinco captulos.

    No primeiro captulo introduzido o tema da dissertao e so definidos os objectivos da tese.

  • 4

    No segundo captulo, construdo o modelo de uma rede elctrica tipicamente rural, de baixa

    tenso. dimensionado o modelo do transformador MT/BT, das linhas de distribuio e das cargas

    lineares e no lineares mais representativas da rede.

    No terceiro captulo so apresentados os modelos dos microgeradores monofsicos e trifsicos e

    dimensionados os respectivos controladores.

    No quarto captulo so descritos os diferentes cenrios criados para as simulaes do modelo.

    So apresentados e discutidos os resultados de simulao obtidos nos ensaios feitos rede, em

    diferentes situaes de carga, com e sem microgerao.

    No quinto captulo apresentam-se as concluses gerais do trabalho.

  • 5

    2 Modelo da Rede BT

    A estrutura de um sistema de energia elctrica pode ser dividida em gerao, transporte e

    distribuio. A energia produzida pelas centrais elctricas entregue rede de transporte, em muito

    alta tenso (MAT). Atravs de transformadores, a energia flui para as redes de distribuio em alta (AT),

    mdia (MT) e baixa tenso (BT), que a distribuem pelos consumidores. As instalaes de produo de

    baixa potncia de natureza descentralizada ou local fotovoltaica, elica ou cogerao so

    directamente ligadas rede de baixa tenso, ou rede de distribuio.

    Com o objectivo de se monitorizar as perturbaes que estas unidades introduzem numa rede de

    baixa tenso, desenvolveu-se um modelo equivalente de uma rede BT em ambiente Simulink. De forma

    a minimizar o peso computacional da simulao fizeram-se algumas simplificaes, agrupando

    consumidores de acordo com a sua proximidade geogrfica.

    O processo de construo do modelo da rede pode ser comparado ao projecto de

    desenvolvimento de um laboratrio de teste de uma rede BT. Assim, fez-se o ensaio de cada uma das

    cargas individualmente e o modelo final da rede BT resultou da associao dos modelos do

    transformador de mdia para baixa tenso, das linhas de distribuio e das cargas previamente

    dimensionadas.

    A partir de dados obtidos em catlogos de fabricantes foi possvel dimensionar o transformador

    MT/BT e os cabos BT. Recorrendo a medidas efectuadas com um analisador de qualidade de energia da

    Fluke para diferentes tipos de cargas, foi possvel fazer o dimensionamento das cargas mais

    representativas da rede BT. Desta forma obteve-se um modelo equivalente de uma rede BT recorrendo

    ao PowerSystem toolbox do Simulink.

    2.1 Parmetros de QEE a analisar

    Com o modelo dimensionado possvel efectuar simulaes da rede e quantificar alguns

    parmetros de Qualidade de Energia (QEE), nomeadamente a Taxa de Distoro Harmnica (TDHU) (2.1)

    e o Factor de Potncia.

    A TDH definida como sendo o quociente entre o valor eficaz (Root Mean Squared RMS) das

    componentes harmnicas da tenso (Uh) e a fundamental (U1):

    1

    50

    2

    2

    U

    U

    TDHh

    h

    U

    2.1

    As tenses harmnicas so tenses sinusoidais cujas frequncias so mltiplos inteiros da

    frequncia fundamental (50 Hz) da tenso da rede. As tenses harmnicas podem ser avaliadas:

    individualmente, segundo a sua amplitude relativa (Uh) em relao tenso fundamental U1, em que h

  • 6

    representa a ordem da harmnica [Norma Portuguesa EN 50160, 1995]; ou globalmente, pelo valor da

    TDH.

    Neste trabalho, apenas se consideram as primeiras 50 harmnicas no clculo da TDHU, uma vez

    que so estas as harmnicas medidas pelos medidores de qualidade de energia.

    Os factores de potncia so obtidos de (2.2) onde cos(1) representa a desfasagem entre a

    primeira harmnica da tenso e a primeira harmnica da corrente e TDHI a taxa de distoro

    harmnica da corrente (2.1).

    2

    1

    1

    )cos(

    ITDH

    FP

    2.2

    A avaliao dos resultados ser feita tendo em conta a norma Portuguesa EN 50160 [Norma

    Portuguesa EN 50160, 1995].

    2.2 Mdia tenso

    Uma vez que o objectivo do trabalho avaliar o impacto da microgerao na forma de onda de

    tenso da rede BT, para efeitos de simulao considerou-se um bloco de gerao, a 10KV, em MT (Tab

    2.1).

    Tabela 2.1 - Parmetros do gerador de mdia tenso

    VRMS_MT (KV) f (Hz) P_MT (KVA)

    10 50 250

    Figura 2.1 Bloco do gerador de mdia tenso seguido das fontes de tenso que geram a quinta harmnica

    As perturbaes existentes na baixa tenso reflectem-se na mdia tenso e algumas dessas

    perturbaes devem-se presena de harmnicas na tenso da rede BT. Uma vez que o transformador

    MT/BT est ligado em tringulo do lado da mdia tenso, no se considera a existncia de terceira

    harmnica em MT e assume-se unicamente a existncia de 5 harmnica (que a harmnica mais

    significativa em MT) [Fernando Silva, 2007]. Esta harmnica representada por um gerador de tenso

    ligado em srie, com cada uma das fases (figura 2.1). Cada gerador fornece uma tenso mxima igual a

    2% do valor da mdia tenso (163.3 Volt) frequncia de 250 Hz.

    R

    S

    T

    MT

    A

    B

    C

    5 harmnica

  • 7

    2.3 Transformador MT/BT

    A ligao da mdia baixa tenso efectuada por um transformador de 250 KVA ligado em

    tringulo-estrela com neutro solidamente ligado terra (figura 2.2). A ligao do primrio do

    transformador em tringulo no permite a passagem da 3 harmnica da baixa para a mdia tenso.

    Figura 2.2 Transformador de potncia

    No dimensionamento do transformador necessrio calcular as resistncias e as reactncias de

    disperso dos enrolamentos primrio, secundrio e de magnetizao. Dos dados do fabricante

    conhecem-se as caractersticas elctricas do transformador e os resultados dos ensaios em vazio e em

    curto-circuito [France Transfo] (tabela 2.2).

    Tabela 2.2 Caractersticas elctricas do transformador MT/BT

    Caractersticas do

    transformador

    Potncia (KVA) 250

    Tenso MT (KV) 10

    Tenso BT (V) 400

    Ensaio em vazio

    Tenso em vazio V0 (p.u.) 1

    Perdas em vazio P0 (p.u.) 0.0026

    Corrente de magnetizao Im (p.u.) 0.02

    Ensaio em curto-circuito

    Corrente nominal IN (p.u.) 1

    Tenso de curto-circuito Vc.c. (p.u.) 0.04

    Perdas em carga Pc.c. (p.u.) 0.013

    Do ensaio em vazio obtm-se a resistncia e a reactncia de magnetizao. O valor da resistncia

    de magnetizao Rm dado por (2.3) onde Gm a condutncia de magnetizao.

    mm

    GR

    1

    2.3

    A condutncia de magnetizao Gm resulta do quociente entre as perdas em vazio e a tenso em

    vazio (2.4).

    20

    0

    V

    PGm

    2.4

    A reactncia de magnetizao Xm obtida por (2.5).

    T

    7

    S

    6

    R

    5

    N1 4

    T 1

    3

    S1

    2

    R1

    1

    Transformador MT /BT

    A1+

    A1

    B1+

    B1

    C1+

    C1

    A2+

    A2

    B2+

    B2

    C2+

    C2

  • 8

    mm

    BX

    1

    2.5

    Onde Bm a susceptncia de magnetizao que se obtm de (2.6).

    2

    2

    0m

    mm G

    V

    IB

    2.6

    Na tabela 2.3 apresentam-se os valores obtidos para a resistncia e reactncia de magnetizao.

    Tabela 2.3 Caractersticas elctricas do transformador MT/BT

    Rm (p.u.) 384.615

    Xm (p.u.) 50.51

    Do ensaio em curto-circuito obtm-se a resistncia e a reactncia de disperso dos enrolamentos

    primrio e secundrio. Assim, o valor da resistncia total Rt obtm-se da relao entre as perdas em

    curto-circuito (consideradas aproximadamente iguais s perdas em carga nominal) e a corrente nominal

    (2.7).

    2N

    cct

    I

    PR

    2.7

    A reactncia de disperso total dos enrolamentos, Xt obtida pela expresso (2.8).

    2

    2

    ..t

    N

    cct R

    I

    VR

    2.8

    Assumindo que os dois enrolamentos tm o mesmo valor de resistncia e de reactncia de

    disperso obtm-se os resultados da tabela 2.4.

    Tabela 2.4 Caractersticas elctricas do transformador MT/BT

    R1 = R2 (p.u.) 0.0065

    X1 = X2 (p.u.) 0.0189

    2.4 Modelo dos cabos da rede elctrica de baixa tenso

    Na rede de baixa tenso a distribuio de energia elctrica pode ser realizada com cabos areos,

    subterrneos ou solues mistas. Neste trabalho considerou-se uma rede area por ser a rede

    tipicamente usada num cenrio rural.

    As linhas areas podem ser em condutores nus (cobre) ou isolados em feixe, cabos torada

    (alumnio). Por razes econmicas, facilidade de instalao e manuteno as redes areas de baixa

  • 9

    tenso so na sua maioria constitudas por condutores do tipo LXS (cabos torada) semelhantes aos da

    figura abaixo:

    Figura 2.3 Exemplo de cabo LXS (condutores isolados agrupados em feixe)

    Estes cabos so constitudos por condutores multifilares de alumnio e o isolamento de

    polietileno reticulado. As seces usadas na simulao deste trabalho so: 50mm2 e 70mm

    2.

    Os parmetros que caracterizam as linhas elctricas so a impedncia longitudinal e a admitncia

    transversal. No entanto, nos cabos em torada, habitualmente apenas se considera a resistncia e a

    reactncia longitudinal. A resistncia da linha responsvel pelas perdas por efeito de Joule. A

    reactncia (X=L) tem influncia na capacidade de transporte e na queda de tenso da linha.

    O esquema do circuito elctrico do cabo areo simulado encontra-se representado na figura

    seguinte:

    Figura 2.4 Modelo de simulao de um troo de cabo areo da rede BT

    Para este caso, em que a linha trifsica tem neutro acessvel, as quedas de tenso por unidade de

    comprimento dos condutores de fase e neutro so dadas por (2.9) [Sucena Paiva, 2007].

    cncbnbanannnnn

    ncnbcbacaccccc

    nbnabacbcbbbbb

    nancacbabaaaaa

    IMjIMjIMjILjRIV

    IMjIMjIMjILjRIV

    IMjIMjIMjILjRIV

    IMjIMjIMjILjRIV

    2.9

    Admitindo que as indutncias mtuas so iguais entre si e que a soma das correntes nas trs

    fases e no neutro nula, obtm-se (2.10).

    Medidas

    1

    N1

    8

    T1

    7

    S1

    6

    R1

    5

    N

    4

    T

    3

    S

    2

    R

    1

    U_T

    v+ -

    U_Sv

    + -

    U_R

    v+ -

    R_T

    R_S

    R_R

    R_N

    L_T

    L_S

    L_R

    L_NI_T i

    +-I_S i

    +-I_R i

    +-

  • 10

    nnnnn

    ccccc

    bbbbb

    aaaaa

    IMLjRIV

    IMLjRIV

    IMLjRIV

    IMLjRIV

    )(

    )(

    )(

    )(

    2.10

    De acordo com (2.10), as indutncias da figura 2.4 representam a diferena entre os coeficientes

    de induo prpria e os de induo mtua.

    O comportamento do cabo areo ir depender das caractersticas lineares dos condutores:

    resistncia e indutncia.

    No dimensionamento de cada cabo consideraram-se os quatro condutores com igual dimetro e

    todos circulares cilndricos. O valor da resistncia R_cabo [/km] foi retirado do guia tcnico da Solidal

    [Solidal Condutores Elctricos, 2007]. O valor da indutncia L_cabo [H/km] foi calculado de duas formas

    diferentes. Na primeira, utilizou-se a expresso (2.11) [Solidal Condutores Elctricos, 2007].

    3

    __ 10)2

    log(2.005.0

    d

    aL mSolidalcabo

    2.11

    Para calcular o valor da indutncia do cabo (2.12) foi necessrio calcular a mdia geomtrica am

    (2.10) das distncias entre os eixos dos condutores e obter o dimetro d da alma condutora que dado

    pelo fabricante [Solidal Condutores Elctricos, 2007], (tabela 2.5).

    sam

    6

    1

    2

    2.12

    O dimetro d de cada condutor, incluindo a espessura isol do isolamento, dado por (2.13).

    disols 2

    2.13

    Tabela 2.5 Valores utilizados no clculo dos parmetros lineares de cada cabo areo

    Tipo de cabo e seco

    R_cabo (/km)

    L_cabo_Solidal (mH/km)

    am (mm)

    s (mm)

    d (mm)

    isol (mm)

    LXS 450 0.641 0.276 12.908 11.5 8.4 1.6

    LXS 470 0.443 0.273 15.378 13.7 10.1 1.8

    R_cabo resistncia da alma condutora a 20oC

    L_cabo coeficiente de auto-induo aparente mdio do condutor

    d dimetro da alma condutora

    am mdia geomtrica das distncias entre eixos dos condutores

    s dimetro do condutor mais isolamento

    isol espessura do isolamento do condutor

    Os valores obtidos para o coeficiente de induo por fase calculados (2.9) encontram-se na

    tabela (2.6).

  • 11

    Tabela 2.6 Valores obtidos para o coeficiente de induo por fase

    Tipo de cabo e seco

    L_cabo_Solidal (mH/km)

    LXS 450 0.276

    LXS 470 0.273

    Uma outra forma de calcular o coeficiente de induo por fase dada por (2.14) [Sucena Paiva,

    2007].

    )

    'ln(102 4__

    r

    DL SPcabo

    2.14

    A equao (2.12) representa a indutncia equivalente por fase para uma linha trifsica (sem

    condutor de neutro). De acordo com [Sucena Paiva, 2007], D [mm] representa a mdia geomtrica das

    distncias entre eixos dos condutores e r [mm] representa o raio equivalente do condutor.

    O valor de r dado por (2.15) [Sucena Paiva, 2007] onde r [mm] representa o raio do condutor.

    rr 778.0' 2.15

    Os valores obtidos para o coeficiente de induo por fase calculado pela expresso (2.3.6)

    encontram-se na tabela (2.7).

    Tabela 2.7 Valores utilizados para o clculo do coeficiente de induo por fase

    Tipo de cabo e seco

    L_cabo_SP (mH/km)

    LXS 450 0.277

    LXS 470 0.273

    Dada a semelhana entre os valores calculados pelas duas expresses (2.11) e (2.14)

    consideraram-se os valores obtidos pela expresso (2.11) presente em [Solidal Condutores Elctricos,

    2007].

    Um dos critrios do dimensionamento de uma rede de baixa tenso presente no Regulamento de

    Segurana de Redes de Distribuio de Energia Elctrica em Baixa Tenso (RSRDEEBT) so, as quedas de

    tenso mximas admissveis ao longo da rede. Segundo o regulamento, no ponto mais afastado de uma

    rede rural a queda de tenso no deve exceder os 8% da tenso nominal. Do Guia Tcnico das Redes em

    condutores de torada em BT, editado pela DGE e do Quadro 3.13 do RSRDEEBT obtiveram-se os

    comprimentos mximos para cada cabo e a respectiva queda de tenso [Carlos Campos, 2007] [EDP

    Distribuio, 2007].

  • 12

    Tabela 2.8 Comprimento mximo do cabo e respectiva queda de tenso

    Outro factor a ter em conta no dimensionamento dos cabos de uma rede de baixa tenso a

    relao entre o comprimento mximo do cabo e a corrente mxima para a qual este se encontra

    protegido. Na tabela 2.9 [EDP Distribuio, 2007] possvel verificar essas relaes para os

    comprimentos (aproximados) dos cabos utilizados na simulao.

    Tabela 2.9 Relao entre correntes e comprimentos mximos de um cabo

    Tipo de cabo e seco

    Corrente Nominal

    (A)

    Corrente Mxima

    (A)

    Comprimento Mximo

    (m)

    LXS 450

    63 290 430

    80 420 295

    100 540 230

    125 600 205

    160 870 145

    200 1200 105

    250 1460 85

    315 2500 50

    LXS 470

    125 600 290

    200 1200 145

    250 1460 120

    315 2050 85

    400 2960 60

    Neste trabalho, a monitorizao da rede foi feita sada de cada cabo, ou seja, nos pontos onde

    so alimentados cada um dos grupos de consumidores. Para alm das formas de onda da tenso e da

    corrente possvel observar a taxa de distoro harmnica total da tenso e o factor de potncia nestes

    pontos da rede.

    2.5 Cargas lineares

    Consideraram-se dois tipos de cargas lineares: as resistivas puras que representam por exemplo a

    iluminao incandescente, alguns fornos elctricos ou aquecedores e as indutivas que podem, por

    exemplo, representar frigorficos.

  • 13

    2.5.1 Cargas resistivas

    O esquema da carga resistiva encontra-se na figura 2.5.

    Figura 2.5 Carga resistiva pura (iluminao)

    O que distingue as vrias cargas resistivas que podem existir numa rede de baixa tenso a sua

    potncia. Assim, para as cargas mais pequenas, tais como as lmpadas incandescentes definiu-se uma

    potncia unitria de 100 W, enquanto que para os fornos elctricos e os aquecedores se definiu uma

    potncia de 1000 W por unidade.

    As cargas resistivas puras so cargas lineares e por isso no tm impacto negativo na rede.

    2.5.2 Cargas indutivas

    Na figura 2.6 encontra-se o bloco que representa uma carga do tipo indutivo, por exemplo, um

    frigorfico.

    Figura 2.6 Carga indutiva RL (frigorfico)

    Nas figuras 2.7 e 2.8 apresentam-se as formas de onda da corrente absorvida pela carga para o

    modelo simulado no Simulink (figura 2.7) e a medida no frigorfico utilizando o analisador de qualidade

    de energia da Fluke (figura 2.8).

    Neutro

    2

    Fase

    1

    Carga resistiva

    neutro

    2

    fase

    1

    Carga RL

  • 14

    Figura 2.7 Tenso e corrente de entrada de um frigorfico (Simulink)

    Figura 2.8 Tenso e corrente de entrada de um frigorfico (Fluke)

    A carga RL foi dimensionada a partir de dados medidos num frigorfico, com um analisador de

    qualidade de energia da Fluke, com o qual se obtiveram os valores da tabela 2.10:

    Tabela 2.10 Parmetros da carga RL

    S_RL (VA) P_RL

    (W)

    Q_RL

    (VAr) cos(_RL)

    150 90 120 0.8

    A taxa de distoro harmnica da tenso medida no analisador espectral Fluke junto a um

    frigorfico foi de 4.0%. No entanto, essa taxa de distoro harmnica no unicamente devida carga

    em estudo. Depende, principalmente, da rede a montante.

  • 15

    2.6 Cargas no lineares

    A maioria dos equipamentos electrnicos modernos alimentada em tenso contnua. Aos

    circuitos ou sistemas destinados a transformar corrente alternada em contnua d-se o nome de

    rectificadores (conversores CA/CC).

    Neste trabalho consideraram-se dois rectificadores monofsicos distintos e um rectificador

    trifsico, todos no comandados (com dodos) e de onda completa. Na rede de baixa tenso simulada,

    os rectificadores monofsicos representam as cargas no lineares de baixa potncia tipicamente usadas

    em aplicaes de electrnica de consumo (televisores, computadores e pequenos electrodomsticos).

    Os rectificadores trifsicos representam as cargas de potncia mais elevada como por exemplo um

    equipamento de uma pequena indstria.

    2.6.1 Rectificador monofsico

    Na figura 2.9 est representada a topologia de um rectificador monofsico constituda por quatro

    dodos em ponte.

    Figura 2.9 Rectificador monofsico

    Num rectificador com carga capacitiva o condensador carrega-se com a tenso prxima do valor

    de pico da tenso de entrada (aparte a queda de tenso nos dodos). Quando a tenso de entrada

    menor do que a tenso no condensador, os dodos ficam bloqueados e a corrente de sada fornecida

    exclusivamente pelo condensador, que vai descarregando, at que os dodos fiquem novamente

    directamente polarizados e entrem em conduo, recarregando o condensador. Assim, quanto maior

    for a capacidade do condensador (maior constante de tempo da carga) menor ser o tremor da tenso

    de sada.

  • 16

    No dimensionamento da carga utilizaram-se as equaes (2.16) e (2.20) e obtiveram-se os

    valores da resistncia R que, embora no exista fisicamente, representa a carga equivalente do

    equipamento a jusante [Fernando Silva, 2006] e da capacidade C do condensador de filtragem.

    O clculo de R depende do valor mdio da tenso sada do rectificador Voav e da potncia da

    carga P (potncia do equipamento, por exemplo, do televisor).

    P

    VoR av

    2

    2.16

    O valor mdio da corrente I0av fornecida pelo rectificador dada por (2.17).

    R

    VoIo avav

    2.17

    A corrente no condensador C de sada do rectificador pode ser relacionada com a respectiva

    tenso, de acordo com (2.18).

    dt

    dvCi CC

    2.18

    Admitindo que a tenso aos terminais do condensador varia de uma forma aproximadamente

    linear, a corrente no condensador, ser dada aproximadamente por (2.19).

    t

    VCi CC

    2.19

    Quando os dodos esto inversamente polarizados, a corrente de carga fornecida

    exclusivamente pelo condensador. Nestas condies, substituindo (2.16) em (2.18) e resolvendo em

    ordem a C, obtm-se o valor da capacidade do condensador C (2.20).

    C

    av

    V

    t

    R

    VoC

    2.20

    Na equao (2.20) V representa a variao mxima da tenso de sada do rectificador. Assume-

    se que, sendo o valor mximo da tenso nominal da rede prximo de 325 V e admitindo que o valor

    mdio da tenso de sada V0av do rectificador aproximadamente igual a 300 V, ento a variao total

    da tenso aos terminais do condensador de 50 V. O intervalo de tempo t em que os dodos no

    conduzem depende do ndice de pulsao p do rectificador [Fernando Silva, 2006]. No caso do

    rectificador monofsico em ponte, p=2, pelo que t ser aproximadamente igual a metade do perodo.

    p

    Tt

    2.21

  • 17

    A forma de onda da corrente de entrada do rectificador muito diferente de uma sinuside,

    apresentando impulsos de corrente nos intervalos de tempo em que os dodos esto em conduo e o

    condensador recarregado.

    A bobine de entrada do rectificador alisa a corrente solicitada rede e calculada como uma

    percentagem do valor da carga. Para o caso do televisor, no clculo de LTV (2.22) habitual considerar-

    se 3% do valor da carga do televisor. O valor calculado para esta bobine encontra-se na tabela 2.11.

    f

    RLTV

    2

    03.0

    2.22

    Os valores utilizados no rectificador monofsico de um televisor so apresentados na tabela 2.11.

    Tabela 2.11 Parmetros do rectificador monofsico utilizado para simular, do ponto de vista da ligao rede elctrica, o televisor

    Vrms

    (V)

    T

    (ms) p

    V (V)

    t (ms)

    Voav (V)

    PTV

    (W)

    RTV

    () CTV

    (mF)

    LTV (mH)

    230 20 2 50 10 300 200 450 0.133 42.9

    Na figura 2.10 pode ver-se a tenso de sada do rectificador monofsico simulado no Simulink,

    utilizando os parmetros da tabela (2.11).

    Figura 2.10 Tenso de sada do rectificador de um televisor (Simulink)

    Verifica-se que, com o rectificador dimensionado, se obtm uma corrente de entrada com forma

    de onda prxima da medida num televisor com um analisador de qualidade de energia da Fluke (figuras

    2.11 e 2.12).

  • 18

    Figura 2.11 Corrente de entrada do rectificador de um televisor (Simulink)

    Figura 2.12 - Tenso e corrente de entrada de um televisor (Fluke)

    Para simular, do ponto de vista da rede elctrica, uma mquina de lavar, tambm se utilizou um

    rectificador monofsico. No entanto, a potncia do equipamento (Tab 2.12) superior utilizada para

    simular um televisor.

    Para rectificadores com este nvel de potncia, usual considerar-se que a impedncia associada

    bobine LML (2.23) de ligao do rectificador rede corresponde a 10% do valor da carga. O valor

    calculado para a bobine LML encontra-se na tabela (2.12).

    Os valores da resistncia RML de carga equivalente e da capacidade CML de sada do rectificador

    monofsico que representa uma mquina de lavar so calculados de (2.16) e (2.20) e so apresentados

    na tabela (2.12).

  • 19

    Tabela 2.12 Rectificador de uma mquina de lavar

    Vrms

    (V)

    T

    (ms)

    p V (V)

    t (ms)

    Voav (V)

    PML

    (W)

    RML

    () CML

    (mF)

    LML (mH)

    230 20 2 50 10 300 2000 45 1.33 14.3

    Na figura 2.11 pode ver-se a tenso de sada do rectificador utilizado para simular uma mquina

    de lavar.

    Figura 2.13 Tenso de sada do rectificador utilizado para simular uma mquina de lavar

    Nas figuras 2.14 e 2.15 encontram-se as formas de onda da corrente simulada e da corrente

    medida numa mquina de lavar com um analisador de qualidade de energia da Fluke.

  • 20

    Figura 2.14 - Corrente de entrada do rectificador de uma mquina de lavar (Simulink)

    Figura 2.15 Tenso e corrente de entrada de uma mquina de lavar (Fluke)

    Por consumirem correntes muito distorcidas, estes equipamentos tm um impacto negativo na

    qualidade da forma de onda da tenso da rede.

    Na tabela 2.13 encontram-se os valores de taxa de distoro harmnica de corrente (TDHI)

    medidos no Simulink para os rectificadores simulados. Tambm se mediram esses valores para um

    televisor e uma mquina de lavar, utilizando um analisador de qualidade de energia Fluke.

  • 21

    Dos resultados obtidos verifica-se que o rectificador da mquina de lavar tem um

    comportamento muito semelhante ao de uma mquina de lavar real. O rectificador de televisor

    apresenta um erro na ordem dos 14% relativamente ao televisor real medido. No entanto estes valores

    so meramente indicativos, uma vez que equipamentos diferentes tero taxas de distoro harmnica

    de corrente tambm diferentes.

    Tabela 2.13 Valor da taxa de distoro harmnica total da corrente para cada rectificador

    Rectificador

    TV- Simulink

    TV real - Fluke

    Rectificador Mquina de Lavar

    - Simulink

    Mquina de lavar real -

    Fluke

    THDI(%) 75.20 65.60 49.18 46.7

    2.6.2 Rectificador trifsico

    Neste trabalho dimensiona-se um rectificador trifsico para simular um pequeno equipamento

    industrial ligado rede de baixa tenso (figura 2.16).

    Figura 2.16 Rectificador trifsico

    As expresses utilizadas no dimensionamento do rectificador trifsico so anlogas s expresses

    do rectificador monofsico. Admite-se que a variao mxima da tenso sada do rectificador V

    igual a 10% de Voav. Este rectificador apresenta um ndice de pulsao p=6 e o tempo mximo de

    descarga do condensador t igual a 1/6 do perodo. Assim, a partir das equaes (2.16) e (2.20)

    obtiveram-se os resultados da tabela (2.14).

    Para o clculo das indutncias do rectificador trifsico considerou-se 3% da carga (2.23) e, por

    isso, o clculo da bobine L3F do filtro de entrada do rectificador trifsico igual ao da bobine do

    rectificador monofsico de um televisor LTV.

    R

    L3

    L2

    L1

    Fase3

    Fase2

    Fase1

    Dodo 6

    Dodo 5

    Dodo 4

    Dodo 3

    Dodo 2

    Dodo 1

    C

  • 22

    Tabela 2.14 Rectificador trifsico

    Vrms

    (V)

    T

    (ms)

    p V (V)

    t (ms)

    Voav (V)

    P3F

    (W)

    R3F

    () C3F

    (mF)

    L3F (mH)

    400 20 6 54 3.3 538 15000 19.45 1.697 1.9

    Na figura 2.17 pode observar-se a tenso obtida sada do rectificador trifsico.

    Figura 2.17 - Tenso de sada do rectificador trifsico (Simulink)

    A corrente de entrada do rectificador trifsico simulado a representada na figura 2.18.

    Figura 2.18 - Corrente de entrada do rectificador trifsico

  • 23

    O valor da taxa de distoro harmnica total da corrente TDHI, medido no rectificador trifsico

    simulado igual a 32.52%.

  • 24

    3 Microgerao

    A microgerao (ou produo descentralizada) a gerao de energia pelo prprio consumidor

    (empresa ou particular) utilizando equipamentos de pequena escala, nomeadamente painis solares ou

    aerogeradores.

    Os produtores entregam a totalidade da energia produzida rede elctrica de servio pblico

    mediante um regime remuneratrio definido pelo decreto-lei n. 363/2007, de 2 de Novembro de 2007

    [Decreto-lei, 2007] [www.renovaveisnahora.pt].

    A interligao dos microgeradores rede de energia realizada atravs de inversores de tenso,

    que de acordo com as caractersticas dos equipamentos homologados [Ingecon Sun, 2008] injectam na

    rede elctrica correntes com taxas de distoro harmnica inferiores a 3% de modo a assegurar uma

    perturbao reduzida na qualidade da forma de onda da tenso da rede.

    Neste trabalho consideraram-se dois inversores de tenso: um monofsico e o outro trifsico. Os

    inversores monofsicos destinam-se s aplicaes de baixa potncia e os trifsicos s aplicaes de

    potncia mais elevada.

    Em seguida explica-se o funcionamento de cada um dos inversores utilizados na simulao da

    rede, nomeadamente o dimensionamento dos controladores e do filtro de ligao rede de baixa

    tenso.

    3.1 Inversor monofsico

    A topologia do inversor monofsico est representada na figura 3.1.

    Ri L

    Fonte DC Vfase

    S1

    S4S2

    S3 Ifase

    Figura 3.1 Inversor monofsico

    Na simulao do inversor monofsico, utilizou-se o comando por modulao de largura de

    impulso de trs nveis. Neste tipo de modulao a tenso de sada positiva se a onda modulante

    maior que as duas portadoras, nula se estiver compreendida entre as duas, e negativa se for menor que

  • 25

    qualquer das portadoras. As portadoras foram definidas como duas ondas triangulares com 1V de

    amplitude, frequncia de comutao, simtricas e desfasadas de um quarto do perodo. A figura 3.2

    exemplifica este tipo de modulao.

    Figura 3.2 Exemplo do comando por modulao de largura de impulso de trs nveis [Fernando Silva, 2006]

    O dimensionamento da bobina L_inv1F (3.1) de ligao do inversor rede depende da tenso UDC

    de entrada do inversor, do perodo de comutao dos semicondutores, que se considera prximo dos

    10kHz, da topologia do inversor (ponte completa) e do tipo de comando escolhido (PWM de trs nveis).

    Este dimensionamento efectuado de modo a limitar o tremor iL da corrente, que no dever exceder

    10% da mxima corrente que o microgerador pode injectar na rede.

    L

    CDC

    i

    TUL

    4_inv1F

    3.1

    Os valores obtidos para o filtro indutivo de interligao do inversor rede de baixa tenso so

    apresentados na tabela (3.1).

    3.1 Valores do filtro indutivo do inversor monofsico

    L_inv1F (H)

    Ri ()

    Rrede ()

    R_inv1F ()

    iL (A)

    0.0067 0.01 15.3 15.31 1,5

    3.1.1 Dimensionamento do controlador de corrente

    Na ligao do inversor rede de energia elctrica, a tenso imposta pela rede, pelo que o

    inversor controlado em corrente de forma a ser possvel extrair a mxima potncia do microgerador.

  • 26

    O diagrama de blocos do controlador linear de corrente do inversor monofsico est

    representado na figura (3.3), onde Iref representa a corrente de referncia calculada com base na

    potncia injectada na rede pelo microgerador, e Ifase representa a corrente injectada na rede pelo

    inversor. Ambas so multiplicadas por um ganho KI (factor de escala) e a diferena entre as duas, ou

    seja, o erro de corrente resultante, aplicada ao compensador C (s). Este compensador gera a tenso

    modulante uc que, depois ir ser utilizada pelo modulador do inversor. A corrente injectada na rede

    calculada a partir da tenso de sada do inversor V0 subtrada tenso da rede Vfase, considerando o

    filtro de ligao do microgerador rede.

    KIIref

    KI

    Compensador

    C(s)

    Modulador

    +

    Conversor

    Filtro+

    -

    uc IfaseVo

    Vfase

    +

    -

    Figura 3.3 Diagrama de blocos da cadeia de controlo do inversor monofsico

    O modulador garante que, em cada perodo de comutao o valor mdio da grandeza comutada

    seja proporcional ao valor mdio da tenso modulante uc (sada do compensador). Para isso faz-se uma

    comparao entre a modulante uc e a portadora r(t) (funo peridica, geralmente triangular com

    frequncia igual frequncia de comutao fc desejada). Da comparao entre as duas funes resultam

    os sinais de comando dos dispositivos semicondutores de potncia que definem o instante de passagem

    conduo e de passagem ao corte de todos os semicondutores.

    Para dimensionar o controlador da corrente, possvel representar a associao

    modulador+inversor como uma funo de primeira ordem com um ganho KD e um atraso Td. Essa

    funo de transferncia designada por G(s) (3.2):

    d

    D

    sT

    KsG

    1)(

    3.2

    O valor do ganho KD (3.3) dado pelo quociente entre a tenso de alimentao UDC do inversor

    e a amplitude mxima da modulante UCmax [Fernando Silva, 2006].

    maxC

    DCD

    U

    UK

    3.3

    Usualmente, considera-se que o atraso mdio Td (3.4) na resposta do conversor, igual a metade

    do perodo de comutao Tc [Fernando Silva, 2006].

    2C

    d

    TT

    3.4

  • 27

    O compensador C(s) do tipo Proporcional-Integral (PI), assegurando uma dinmica de 2 ordem

    em cadeia fechada. Estes compensadores garantem erros estticos nulos com tempos de subida

    aceitveis [Fernando Silva, 2006].

    p

    z

    sT

    sTsC

    1)(

    3.5

    No dimensionamento dos parmetros Tz e Tp, do compensador C(s) (3.5) considera-se que o zero

    do compensador cancela o plo de menor frequncia [Fernando Silva, 2006] introduzido pelo filtro de

    ligao rede. Nessas condies, o zero de (3.5) determinado por (3.6), onde L_inv1F representa a

    bobina do filtro de ligao rede e a resistncia Rinv1F (3.7) representa o valor da associao srie da

    resistncia interna Ri da bobine com a resistncia equivalente da rede Rrede no ponto de ligao do

    microgerador rede.

    Finv

    Finvz

    R

    LT

    1_

    1

    3.6

    redeiFinv RRR 1_

    3.7

    O desacoplamento da perturbao pode ser conseguido aproximadamente pela introduo de

    uma resistncia, Rrede, definida pelo quociente entre o valor eficaz da tenso da rede e o valor eficaz da

    corrente injectada pelo inversor na rede.

    fase

    rederede

    I

    VR

    3.8

    O valor de Tp calculado por (3.9), onde KI o ganho da corrente, KD e Td so o ganho e o

    tempo de atraso do conjunto modulador mais conversor.

    Finv

    dIDp

    R

    TKKT

    1_

    2

    3.9

    Os valores utilizados no controlador de corrente so apresentados na tabela (3.2):

    Tabela 3.2 Valores utilizados no controlador de corrente do inversor monofsico

    P_inv1F (W)

    Iref (A)

    T (s)

    Rrede ()

    Rinv1 ()

    KD KI UCmax (V)

    Td (ms)

    Tz (s)

    Tp (s)

    3450 15 0.02 15.3 15.31 40 2 10 0.05 0.6667 0.8

    A partir do resultado da comparao entre a modulante e a portadora, os semicondutores so

    comandados ao corte ou conduo obtendo-se, sada do inversor, a forma de onda para a corrente

    injectada na rede i0fase que se representa na figura 3.4.

  • 28

    Figura 3.4 Corrente sada do inversor monofsico sincronizada com a tenso da rede

    3.1.2 Sincronizao da corrente com a tenso da rede

    A sincronizao do inversor monofsico com a rede simulada consegue-se por manipulao da

    corrente de referncia. A tenso medida na rede dividida pelo seu valor eficaz, obtendo-se uma forma

    de onda igual da tenso da rede mas com amplitude de 1V. Esta tenso depois multiplicada por uma

    constante com o valor da corrente de referncia. O resultado uma onda com a mesma forma da

    tenso da rede mas com a amplitude da corrente de referncia (figura 3.5).

    Multiplicador

    Divisor

    Iref

    Va

    Valor

    RMS

    Iref

    sincronizado

    Figura 3.5 Sincronizador do inversor monofsico

    Este inversor ser utilizado no captulo seguinte para simular os microgeradores.

  • 29

    3.2 Inversor trifsico

    A topologia do inversor trifsico simulado est representada na figura 3.6.

    RR LR

    Fonte DCVR

    S1

    S4S2

    S3

    RS LS

    VSRT LT

    VT

    S5

    S6

    IR

    IS

    IT

    Figura 3.6 Inversor trifsico

    O modelo do inversor trifsico, em coordenadas RST pode ser definido pelo sistema de equaes

    (3.10).

    T

    T

    T

    TT

    T

    TNT

    S

    SN

    S

    SS

    S

    SNS

    R

    R

    R

    RR

    R

    RNR

    L

    v

    L

    iR

    L

    v

    dt

    di

    L

    v

    L

    iR

    L

    v

    dt

    di

    L

    v

    L

    iR

    L

    v

    dt

    di

    3.10

    Por aplicao da transformao de Park (3.11) (=t) a (3.10) possvel obter-se o modelo de

    estado do inversor trifsico em coordenadas dq.

    2

    1)

    3

    4()

    3

    4cos(

    2

    1)

    3

    2()

    3

    2cos(

    2

    1)()cos(

    3

    2

    sen

    sen

    sen

    TPark

    3.11

    A matriz de Park ortogonal e a sua inversa igual sua transposta. As tenses e correntes no

    novo referencial so obtidas por (3.12)

    c

    b

    aT

    Parkq

    d

    x

    x

    x

    T

    x

    x

    x

    0

    3.12

    O modelo de estado do sistema (3.11) no novo referencial invariante no tempo.

  • 30

    qq

    q

    ddd

    HL

    iL

    R

    dt

    di

    HL

    iL

    R

    dt

    di

    1

    1

    3.13

    Com base neste modelo de estado possvel dimensionar os controladores do sistema, onde as

    tenses de comando Hd e Hq resultam directamente dos controladores das correntes id e iq.

    3.2.1 Dimensionamento do filtro de ligao rede

    Para o inversor trifsico considerou-se o comando por modulao de largura de impulso de dois

    nveis. Neste tipo de modulao a tenso de sada positiva se a onda modulante maior que a

    portadora, e negativa se for menor que a portadora. A portadora foi definida como uma onda triangular

    1V de amplitude frequncia de comutao. A figura 3.7 exemplifica este tipo de modulao.

    Figura 3.7 Exemplo do comando por modulao de largura de impulso de dois nveis [Fernando Silva, 2006].

    Tal como no inversor monofsico, tambm se dimensionou o filtro indutivo de ligao do

    inversor rede de baixa tenso. O valor da bobina calculado considerando que a variao iL mxima

    da corrente 10% da mxima corrente injectada na rede, multiplicada pelo perodo de comutao, pela

    tenso contnua de entrada do inversor e por um factor que depende da topologia do inversor (ponte

    completa) e do tipo de comando escolhido (PWM de dois nveis).

    L

    CDCFinv

    i

    TUL

    63_

    3.14

  • 31

    Os valores obtidos para o filtro indutivo so os indicados na tabela (3.3).

    Tabela 3.3 Valores do filtro indutivo do inversor monofsico

    UDC (V)

    Fc (KHZ)

    Tc

    (s)

    iL (A)

    L_inv3F (H)

    Ri ()

    600 10 50 1,5 0.0067 0.01

    3.2.2 Dimensionamento dos controladores de corrente

    Assim como no inversor monofsico, o inversor trifsico apenas necessita de ser controlado em

    corrente uma vez que a tenso imposta pela rede. O principio do controlo de corrente do inversor

    trifsico ser semelhante ao do inversor monofsico.

    O diagrama de blocos do controlador linearizado da corrente injectada pelo inversor trifsico na

    rede est representado na figura (3.8) [S. Ferreira Pinto e J. Fernando Silva, 2006] onde Iodref e Ioqref

    representam as referncias das componentes dq das correntes injectadas na rede, Iod e Ioq, representam

    as correntes injectadas na rede e Vod e Voq representam as componentes dq da tenso de sada do

    inversor.

    Compensador

    Compensador

    Conversor

    +

    Modulador

    Filtro de ligao

    rede

    wL

    wL

    Hd

    Hq

    Iod

    Ioq

    Iodref

    Ioqref

    Vod

    Voq

    + -

    + -

    +

    + -

    +

    Figura 3.8 - Diagrama de blocos da cadeia de controlo do inversor trifsico

    O dimensionamento do compensador do inversor trifsico foi feito da mesma forma que no

    inversor monofsico e utilizaram-se as expresses (3.5), (3.6) e (3.7) para calcular os parmetros Tz e Tp.

    O valor de Rinv3F igual resistncia interna da bobine (3.15)

    iFinv RR 3_

    3.15

    A partir das equaes (3.3) e (3.4) determina-se o ganho KD e o atraso Td do inversor. Continua a

    considerar-se que Td igual a metade do perodo de comutao, mas KD passa a ter um ganho unitrio

  • 32

    devido correco da perturbao wL [Fernando Silva, 2006] [S. Ferreira Pinto e J. Fernando Silva,

    2006]. Os valores utilizados no controlador de corrente do inversor trifsico encontram-se na tabela

    (3.4).

    Tabela 3.4 Parmetros do controlador de corrente do inversor trifsico.

    P_inv3F (W)

    Iref (A)

    T (s)

    KD KI UCmax (V)

    Td (ms)

    Tz (s)

    Tp (s)

    10350 15 0.02 1 1 10 0.05 0.6667 0.01

    A partir do resultado da comparao da tenso portadora com a modulante, os semicondutores

    so comandados ao corte ou conduo obtendo-se sada do inversor as formas de onda

    representadas na figura 3.9, para cada uma das fases da corrente i0:

    Figura 3.9 Correntes injectadas na rede pelo inversor trifsico sincronizadas com as respectivas tenses da rede

    3.2.3 Sincronizao das correntes com as tenses da rede

    No inversor trifsico tambm necessrio sincronizar as correntes de referncia com as

    respectivas tenses da rede. Para fazer essa sincronizao necessrio determinar a posio angular

    das tenses da rede. Neste trabalho utilizou-se o mtodo de sincronizao vectorial [Bruno Costa, 2007]

    que se encontra representado pelo diagrama de blocos da figura 3.10.

  • 33

    RST/

    VR

    cos()

    VT

    VS

    V

    V

    FPBx

    FPBx

    |V|=sqrt(V^2+V^2)

    V/|V|

    V/|V| sen()

    Figura 3.10 Diagrama de blocos do sincronizador vectorial para o inversor trifsico

    Nesse processo de sincronizao necessrio calcular as tenses da rede em coordenadas

    recorrendo transformao de Concordia (3.16) que permite transformar um sistema trifsico, em

    coordenadas RST, num sistema bifsico equivalente, em coordenadas .

    2

    1

    2

    3

    2

    1

    2

    1

    2

    3

    2

    1

    2

    101

    3

    2ConcordiaT

    3.16

    Por aplicao da transformao inversa de Concordia (3.16) (como a matriz ortogonal a sua

    inversa igual sua transposta) s tenses VRST da rede, possvel obter essas tenses (3.17) em

    coordenadas .

    T

    S

    R

    x

    x

    x

    x

    x

    x

    2

    1

    2

    1

    2

    1

    2

    3

    2

    30

    2

    1

    2

    11

    3

    2

    0

    3.17

    s tenses calculadas em coordenadas aplicado um filtro do tipo passa-baixo (figura 3.10)

    para eliminar o rudo na aquisio do sinal. A rapidez do sincronizador est essencialmente dependente

    do atraso includo pelo filtro. Depois de calculada a amplitude do vector de tenso, pode-se calcular o

    valor do co-seno e seno do ngulo desse vector de tenso da rede. Esse ngulo posteriormente

    utilizado na transformao de Park do modelo de estado do sistema (3.10) garantindo que as correntes

    injectadas na rede pelos inversores trifsicos esto em fase com as respectivas tenses.

    O bloco utilizado na simulao do sincronizador vectorial encontra-se na figura 3.11.

  • 34

    Figura 3.11 Blocos do mtodo de sincronizao vectorial

    Como os inversores no fornecem correntes sinusoidais perfeitas, so responsveis pela injeco

    de algumas harmnicas na rede, nomeadamente harmnicas de alta frequncia, na proximidade da

    frequncia de comutao.

    O impacto que cada inversor tem na qualidade da forma de onda da tenso pode ser

    quantificado pela taxa de distoro harmnica da corrente injectada na rede. Na tabela 3.5 encontram-

    se representadas as taxas de distoro harmnica totais para o inversor monofsico e inversor trifsico

    simulados. Verifica-se que estes valores esto dentro do limite mximo garantido pelo fabricante:

    Tabela 3.5 Valor da taxa de distoro harmnica total para cada inversor

    Inversor

    monofsico Simulink

    Inversor trifsico Simulink

    Inversor Fabricante

    THD(%) 1.59 0.71

  • 35

    4 Simulao da Rede BT

    4.1 Estrutura da rede BT sem microgerao

    Neste trabalho considerou-se para o modelo da rede BT uma topologia radial, ou seja, uma rede

    que a partir de um ponto de alimentao, constituda por linhas que se vo ramificando sem se

    encontrarem num ponto comum. Esta soluo tipicamente utilizada na rede de distribuio e se no

    existir produo a elas ligada, o sentido do trnsito de energia do ponto de alimentao para a carga.

    O modelo da rede BT simulada foi baseado nas caractersticas da rede elctrica portuguesa e em

    dados de uma rede area de baixa tenso. As redes areas so tipicamente usadas num cenrio rural

    desenvolvendo-se de modo arborescente com reduo progressiva de seces, estando os clientes

    ligados nos vrios troos em derivao. Normalmente, o comprimento mximo entre o PT e o cliente

    no deve exceder os 700 a 1000 metros.

    Dos dados da rede area de baixa tenso conhece-se a sua estrutura topolgica, os valores

    tpicos do PT, as potncias contratadas por cada cliente e o tipo e comprimento dos cabos usados na

    distribuio.

    Usualmente, a distribuio das cargas pela rede feita de maneira a que estas fiquem prximas

    do PT. Desta forma os custos associados ao comprimento dos cabos so menores e podem ser utilizados

    cabos de maior seco. Eventualmente pode ser necessrio alimentar cargas isoladas e afastadas do PT.

    Nestes casos, dependendo da potncia consumida por essas cargas, pode optar-se por instalar um cabo

    de maior comprimento e menor seco ou pela instalao de um novo PT junto a essa carga.

    No modelo da rede no se consideraram os clientes individuais, mas grupos de clientes. Esta

    considerao implica potncias mais elevadas para cada grupo de consumidores e, por isso, o

    comprimento dos cabos foi adaptado ao nvel de potncia das cargas.

    A potncia correspondente a cada grupo de clientes SGC foi calculada e obtm-se da expresso

    (4.1)

    clientesnsadasncontratadaGC CCSS __ **

    4.1

    Este valor foi estimado a partir da potncia contratada pelo grupo, afectada pelos coeficientes de

    simultaneidade Cn_sadas do nmero de sadas do PT (4.2) e do nmero de clientes Cn_clientes em cada sada

    (4.2). Consideraram-se quatro sadas para o PT da rede simulada.

    nCn

    8.02.0

    4.2

  • 36

    Do valor de SGC calculado, faz-se uma estimativa da carga total atribuda a cada grupo de

    consumidores. A carga total dividida em carga linear e carga no-linear. Posteriormente varia-se o

    valor da carga atribuda a cada grupo e criam-se diferentes cenrios para o modelo da rede BT.

    Esses cenrios so simulados e os valores da taxa de distoro harmnica da tenso (por fase)

    so medidos, entrada de cada grupo de consumidores. De seguida, adicionam-se os inversores ao

    modelo da rede BT e comparam-se os resultados obtidos para os vrios ensaios de forma a avaliar o

    impacto da microgerao numa rede area de baixa tenso.

    A figura (4.1) representa a topologia da rede BT simulada. Os barramentos numerados

    correspondem a grupos de clientes. Na figura podem ler-se os comprimentos e tipo dos cabos utilizados,

    a potncia do transformador e as potncias contratadas pelos grupos de consumidores.

    1MT 2

    3

    4 5

    6 7

    8 9

    10

    BT

    250KVA

    LXS50

    114 m

    LXS70

    140 m

    LXS70

    14 m

    LXS70

    84 m

    LXS50

    95 m

    LXS50

    161 m

    LXS50

    335 m

    LXS50

    335 m

    LXS50

    302 m

    LXS70

    262 m

    86.25KVA

    79.20KVA

    193.20KVA

    134.60KVA

    189.45KVA

    203.60KVA

    104.00KVA169.00KVA

    107.10KVA

    58.65KVA

    Sada 1

    252 KVA

    Sada 2

    273 KVA

    Sada 3

    393 KVA

    Sada 4

    407 KVA

    Figura 4.1 Estrutura da rede BT simulada

    Nos cenrios criados procurou obter-se um sistema equilibrado, no que diz respeito

    distribuio das cargas por fase. Procurou tambm manter-se a relao entre as cargas lineares e as

    cargas no-lineares assumindo-se que habitualmente, a percentagem de cargas no-lineares numa rede

    com caractersticas rurais, no excede os 50%.

  • 37

    importante referir que em todos os cenrios simulados, considerada a 5 harmnica na mdia

    tenso.

    Tambm, so efectuadas algumas simulaes com a tenso de sada do Posto de Transformao

    (PT) acima do valor nominal.

    4.2 Estrutura da rede BT com microgerao

    Nas simulaes com microgerao, criaram-se dois cenrios designados Microgerao 1 e

    Microgerao 2 que diferem na quantidade de microgeradores ligados rede e na forma como se

    encontram distribudos por cada fase.

    Na distribuio da microgerao, teve-se em conta o regime jurdico aplicvel produo de

    electricidade por intermdio de instalaes de pequena potncia. Segundo o decreto-lei n. 363/2007 a

    actividade de microproduo pode ser restringida, nos casos em que o somatrio da potncia injectada

    pela microgerao ligada a uma rede ultrapasse 25% da potncia do posto de transformao da

    respectiva rede. Nesse sentido, considerou-se um primeiro cenrio de microgerao, abaixo desse limite

    Microgerao 1, em que o somatrio da potncia dos microgeradores de 10% relativamente

    potncia do PT. Num segundo cenrio Microgerao 2, estuda-se a situao limite, em que a potncia

    total instalada em microgerao equivalente a 25% da potncia do PT.

    Outro factor a ter em conta o limite da potncia injectada por cada produtor de electricidade, o

    qual no pode exceder 50% da potncia contratada por cada um. Apesar desta limitao no ser

    aplicvel s instalaes elctricas em nome de condomnios (grupos de consumidores), houve o cuidado

    de garantir que as potncias injectadas em cada grupo fossem inferiores a 50% das respectivas

    potncias contratadas.

    Para o primeiro cenrio Microgerao 1, so ligados sete microgeradores na rede BT simulada

    (figura 4.2) os quais representam 10% da potncia nominal do PT, perfazendo um total de 24.15 kVA de

    microgerao instalada.

  • 38

    1MT 2

    3

    4 5

    6 7

    8 9

    10

    BT

    250KVA

    LXS50

    114 m

    LXS70

    140 m

    LXS70

    14 m

    LXS70

    84 m

    LXS50

    95 m

    LXS50

    161 m

    LXS50

    335 m

    LXS50

    335 m

    LXS50

    302 m

    LXS70

    262 m

    3450 W

    Fase S

    3450 W

    Fase R

    3450 W

    Fase S

    3450 W

    Fase R

    3450 W

    Fase T

    3450 W

    Fase R

    3450 W

    Fase T

    Figura 4.2 Estrutura da rede BT com Microgerao 1, com 10% da potncia do PT instalada em microgerao

    No segundo cenrio designado Microgerao 2 existem dezasseis microgeradores (quinze

    microgeradores monofsicos e 1 microgerador trifsico no grupo 6) ligados rede totalizando uma

    potncia igual a 25% da carga nominal do PT (62,1 kVA). Esta rede est representada na figura 4.3.

  • 39

    1MT 2

    3

    4 5

    6 7

    8 9

    10

    BT

    250KVA

    LXS50

    114 m

    LXS70

    140 m

    LXS70

    14 m

    LXS70

    84 m

    LXS50

    95 m

    LXS50

    161 m

    LXS50

    335 m

    LXS50

    335 m

    LXS50

    302 m

    LXS70

    262 m

    10350 W

    RST

    3450 W

    Fase R

    3450 W

    Fase T

    3450 W

    Fase S

    3450 W

    Fase T

    3450 W

    Fase T

    3450 W

    Fase R

    3450 W

    Fase S

    3450 W

    Fase R

    3450 W

    Fase S

    3450 W

    Fase T

    3450 W

    Fase R

    3450 W

    Fase S

    3450 W

    Fase T

    3450 W

    Fase R

    3450 W

    Fase S

    Figura 4.3 - Estrutura da rede BT com Microgerao 2, com 25% da potncia do PT instalada em microgerao

    4.3 Resultados das simulaes

    Em seguida, descrevem-se dois cenrios criados para o modelo da Rede BT (cenrio de vazio e de

    ponta) e apresentam-se os resultados obtidos em doze ensaios. Para cada cenrio so apresentadas as

    caractersticas da rede, nomeadamente a distribuio de cargas, as quedas de tenso, os factores de

    potncia, e os valores da taxa de distoro harmnica da tenso (TDHU) para as diferentes situaes sem

    microgerao e com microgerao. Os ltimos, foram ilustrados em grficos de forma a facilitar a

    comparao entre os cenrios com e sem microgerao. Para alm destes dados, tambm se ilustraram

    as formas de onda, para a tenso e para a corrente, medidas sada do transformador e no grupo mais

    afastado deste (grupo 5 a 475 metros).

    Em cada cenrio efectuaram-se dois ensaios diferentes com microgerao. No primeiro,

    Microgerao 1, ligaram-se apenas sete inversores monofsicos (10% da potncia nominal do PT),

    enquanto no segundo, Microgerao 2, ligaram-se dezasseis inversores (quinze inversores

  • 40

    monofsicos e 1 inversor trifsico) rede (25% da potncia nominal do PT). Desta forma possvel

    verificar o impacto de diferentes valores de potncia injectada pelos microgeradores.

    Para os mesmos cenrios, repetiram-se as simulaes com a tenso de sada do PT, 5% acima do

    valor nominal.

    As simulaes so efectuadas em Simulink, e os dados da taxa de distoro harmnica da tenso

    (TDHU) foram obtidos com o auxlio da ferramenta Powergui.

    A avaliao dos resultados feita tendo em conta a norma Portuguesa EN 50160 [Norma

    Portuguesa EN 50160, 1995] que descreve as caractersticas principais da tenso da rede de baixa ou

    mdia tenso, em condies de explorao normais.

    Segundo a NP EN 50160, a taxa de distoro harmnica TDHU no deve ultrapassar 8% em 95%

    dos perodos de 10 minutos. No caso de sistemas trifsicos com quatro condutores a tenso nominal

    normalizada (Un) para as redes BT igual a 230 Volt entre cada fase e o neutro. Em condies normais

    de explorao, no considerando as interrupes de alimentao, 95% dos valores eficazes mdios de

    10 minutos para cada perodo de uma semana devem situar-se na gama de Un 10%.

    4.4 Cenrio 1 PT em vazio

    O primeiro cenrio corresponde rede num perodo de vazio. O PT encontra-se a 20% da

    potncia nominal (20% SPT) e 50% das cargas so no lineares.

    A distribuio das potncias por grupo de consumidores e por sada do PT est representada na

    figura 4.4.

  • 41

    1MT 2

    3

    4 5

    6 7

    8 9

    10

    BT

    250KVA

    LXS50

    119 m

    LXS70

    140 m

    LXS70

    14 m

    LXS70

    84 m

    LXS50

    95 m

    LXS50

    161 m

    LXS50

    335 m

    LXS50

    335 m

    LXS50

    302 m

    LXS70

    262 m

    Sada 1

    9.50 KVA

    Sada 2

    10.30 KVA

    Sada 3

    14.80 KVA

    Sada 4

    15.35 KVA

    3.30 KVA

    2.20 KVA

    4.05 KVA

    6.35 KVA3.90 KVA

    7.70 KVA

    7.15 KVA

    5.10 KVA

    3.00 KVA

    7.30 KVA

    Figura 4.4 - Modelo da rede BT para a distribuio de cargas do cenrio 1

    Da simulao do cenrio 1 obtiveram-se as formas de onda da tenso e da corrente medidas nos

    vrios pontos da rede. Nas figuras 4.5 e 4.6 representam-se as formas de onda da tenso e da corrente

    sada do PT e no grupo de cargas mais afastado do PT (grupo 5). Verifica-se que as formas de onda da

    tenso so coerentes com a realidade - formas de onda quase sinusoidais com valor eficaz prximo de

    230 V, embora apresentem um ligeiro desequilbrio entre fases. Esse desequilbrio coerente com a

    distribuio de cargas deste cenrio, que tambm no esto perfeitamente equilibradas nas trs fases.

    As correntes apresentam uma elevada distoro que resulta da elevada percentagem de cargas no

    lineares consideradas.

  • 42

    Figura 4.5 Formas de onda da tenso e da corrente sada do PT no cenrio 1

    Figura 4.6 Formas de onda da tenso e da corrente no grupo 5 no cenrio 1

    Na tabela 4.1 esto representadas as quedas de tenso (mxima e mnima) registadas ao longo

    da rede. Em todas as medies efectuadas verificam-se valores coerentes com um cenrio real e

    inferiores aos 10% impostos pela norma NP50160 [Norma Portuguesa EN 50160, 1995].

    Tabela 4.1 Quedas de tenso ao longo da rede para o cenrio 1, tenso nominal e sem microgerao

    Quedas de tenso (% da tenso nominal)

    Vmin Vmx

    1.0 1.6

    Nas figuras 4.7, 4.8 e 4.9 apresentam-se as medies do factor de potncia, em cada grupo, sem

    microgerao e com microgerao. Tendo em conta que o factor de potncia medido numa rede real

    aproximadamente 0.9, considera-se que os valores obtidos so aceitveis no cenrio sem microgerao.

    No entanto, a ligao dos microgeradores rede num perodo de vazio altera bastante o valor do factor

    de potncia nos pontos de ligao.

  • 43

    Figura 4.7 - Comparao grfica do factor de potncia para cada grupo na fase R, num cenrio de vazio (20% SPT), tenso nominal

    Figura 4.8 - Comparao grfica do factor de potncia para cada grupo na fase S, num cenrio de vazio (20% SPT), tenso nominal

    -1 -0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1

    Grupo 10

    Grupo 9

    Grupo 8

    Grupo 7

    Grupo 6

    Grupo 5

    Grupo 4

    Grupo 3

    Grupo 2

    Grupo 1

    PT

    Sem Microgerao "Microgerao 1" "Microgerao 2"

    -1 -0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1

    Grupo 10

    Grupo 9

    Grupo 8

    Grupo 7

    Grupo 6

    Grupo 5

    Grupo 4

    Grupo 3

    Grupo 2

    Grupo 1

    PT

    Sem Microgerao "Microgerao 1" "Microgerao 2"

  • 44

    Figura 4.9 - Comparao grfica do factor de potncia para cada grupo na fase T, num cenrio de vazio (20% SPT), tenso nominal

    Com a ferramenta Powergui do Matlab obtiveram-se as taxas de distoro harmnicas da tenso

    (TDHU) nos dez grupos de consumidores. Verifica-se que os valores da TDHU, para o cenrio sem

    microgerao, variam de acordo com o tipo, quantidade e distribuio das cargas.

    Nos dois cenrios com microgerao os valores medidos so geralmente superiores aos do

    cenrio sem microgerao.

    Nas figuras 4.10, 4.11 e 4.12 podem observar-se trs grficos, que permitem comparar os valores

    da TDHU (no clculo da TDH consideraram-se unicamente as 50 primeiras harmnicas) de cada grupo de

    consumidores, nas diferentes fases (RST) e em cada cenrio de microgerao. Da anlise dos resultados

    verifica-se que a introduo da microgerao leva a um aumento generalizado da TDHU em todos os

    pontos da rede. No cenrio com 10% de microgerao a TDHU tem uma variao pouco significativa, no

    ultrapassando os 0.05%. No cenrio com 25% de microgerao a TDHU chegou a aumentar 0.4%.

    Nos ensaios realizados, apesar das medies da TDHU serem mais elevadas aquando da

    introduo da microgerao, nunca se verificam valores prximos do limite de 8% imposto pela norma

    NP50160 [Norma Portuguesa EN 50160, 1995].

    -1 -0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1

    Grupo 10

    Grupo 9

    Grupo 8

    Grupo 7

    Grupo 6

    Grupo 5

    Grupo 4

    Grupo 3

    Grupo 2

    Grupo 1

    PT

    Sem Microgerao "Microgerao 1" "Microgerao 2"

  • 45

    Figura 4.10 - Comparao grfica da TDH de cada grupo na fase R, num cenrio de vazio (20% SPT), tenso nominal

    Figura 4.11 - Comparao grfica da TDH de cada grupo na fase S, para num cenrio de vazio (20% SPT), tenso nominal

    0,00

    0,50

    1,00

    1,50

    2,00

    2,50

    3,00

    3,50

    4,00

    4,50

    5,00

    PT G1 G2 G3 G4 G5 G6 G7 G8 G9 G10

    TD

    Hv

    (%

    f)

    Fase R

    S/ Microgerao C/ Microgerao 1 C/Microgerao2

    0,00

    0,50

    1,00

    1,50

    2,00

    2,50

    3,00

    3,50

    4,00

    4,50

    5,00

    PT G1 G2 G3 G4 G5 G6 G7 G8 G9 G10

    TD

    Hv

    (%

    f)

    Fase S

    S/ Microgerao C/ Microgerao 1 C/Microgerao2

  • 46

    Figura 4.12 - Comparao grfica da TDH de cada grupo na fase T, num cenrio de vazio (20% SPT), tenso nominal

    Em seguida apresentam-se os resultados das simulaes do cenrio 1 com a tenso sada do

    transformador 5% acima do valor nominal. Verifica-se que os valores da TDHU so ligeiramente

    superiores aos medidos no caso anterior (com a tenso no valor nominal) continuando coerentes com

    valores medidos numa rede real.

    Da observao dos resultados nas figuras 4.13, 4.14 e 4.15 verifica-se que o impacto da

    microgerao num cenrio 1 com a tenso 5% acima do valor nominal muito semelhante ao caso do

    cenrio com a tenso da rede igual nominal.

    Apesar das medies da TDHU serem ligeiramente mais elevadas no cenrio acima da tenso

    nominal, continuam a verifica-se valores inferiores aos 8% do limite imposto pela norma NP50160

    [Norma Portuguesa EN 50160, 1995].

    0,00

    0,50

    1,00

    1,50

    2,00

    2,50

    3,00

    3,50

    4,00

    4,50

    5,00

    PT G1 G2 G3 G4 G5 G6 G7 G8 G9 G10

    TD

    Hv

    (%

    f)

    Fase T

    S/ Microgerao C/ Microgerao 1 C/Microgerao2

  • 47

    Figura 4.13 - Comparao grfica da TDH de cada grupo na fase R, num cenrio de vazio (20% SPT), a 5% acima da tenso nominal

    Figura 4.14 - Comparao grfica da TDH de cada grupo na fase S, num cenrio de vazio (20% SPT), a 5% acima da tenso nominal

    0,0

    0,5

    1,0

    1,5

    2,0

    2,5

    3,0

    3,5

    4,0

    4,5

    5,0

    PT G1 G2 G3 G4 G5 G6 G7 G8 G9 G10

    TD

    Hv

    (%

    f)

    Fase R

    S/ Microgerao C/ Microgerao 1 C/Microgerao2

    0,00

    0,50

    1,00

    1,50

    2,00

    2,50

    3,00

    3,50

    4,00

    4,50

    5,00

    PT G1 G2 G3 G4 G5 G6 G7 G8 G9 G10

    TD

    Hv

    (%

    f)

    Fase S

    S/ Microgerao C/ Microgerao 1 C/Microgerao2

    5% acima da tenso nominal

    5% acima da tenso nominal

  • 48

    Figura 4.15 - Comparao grfica da TDH de cada grupo na fase T, num cenrio de vazio (20% SPT), a 5% acima da tenso nominal

    4.5 Cenrio 2 Ponta do PT

    O segundo cenrio corresponde a um perodo de ponta na rede. O PT encontra-se a 80% da carga

    nominal (80% SPT) e 50% das cargas so no lineares.

    A distribuio das potncias por grupo de consumidores e por sada do PT est representada na

    figura 4.16.

    0,00

    0,50

    1,00

    1,50

    2,00

    2,50

    3,00

    3,50

    4,00

    4,50

    5,00

    PT G1 G2 G3 G4 G5 G6 G7 G8 G9 G10

    TD

    Hv

    (%

    f)

    Fase T

    S/ Microgerao C/ Microgerao 1 C/Microgerao2

    5% acima da tenso nominal

  • 49

    1MT 2

    3

    4 5

    6 7

    8 9

    10

    BT

    250KVA

    LXS50

    119 m

    LXS70

    140 m

    LXS70

    14 m

    LXS70

    84 m

    LXS50

    95 m

    LXS50

    161 m

    LXS50

    335 m

    LXS50

    335 m

    LXS50

    302 m

    LXS70

    262 m

    Sada 1

    38.05 KVA

    Sada 2

    10.30 KVA

    Sada 3

    59.35 KVA

    Sada 4

    15.35 KVA

    13.00 KVA

    8.90 KVA

    16.20 KVA

    25.50 KVA15.70KVA

    30.75 KVA

    28.60 KVA

    20.30 KVA

    12.00 KVA

    29..10 KVA

    Figura 4.16 - Modelo da rede BT para a distribuio de cargas do cenrio 2

    Nas figuras 4.17 e 4.18 representam-se as formas de onda da tenso e da corrente medidas

    sada do PT e no grupo mais afastado deste (grupo 5). Verifica-se que as formas de onda das tenses so

    coerentes com a realidade, apresentando formas aproximadamente sinusoidais com valor eficaz de 230

    V e ligeiramente desequilibradas o que est de acordo com a distribuio de cargas deste cenrio. As

    correntes apresentam alguma distoro, que se deve elevada percentagem de cargas no lineares.

  • 50

    Figura 4.17 Formas de onda da tenso e da corrente sada do PT, no cenrio de ponta (80% SPT)

    Figura 4.18 Formas de onda da tenso e da corrente no grupo sete, no cenrio de ponta (80% SPT)

    Na tabela 4.2 esto representadas as quedas de tenso (mxima e mnima) registadas ao longo

    da rede. Em todas as medies efectuadas verificam-se valores coerentes com um cenrio real e

    inferiores aos 10% impostos pela norma NP50160 [Norma Portuguesa EN 50160, 1995].

    Tabela 4.2 Quedas de tenso ao longo da rede para o cenrio 2, tenso nominal e sem microgerao

    Quedas de tenso (% da tenso nominal)

    Vmin Vmx

    2.4 5.1

    Nas figuras 4.19, 4.20 e 4.21 apresentam-se as medies do factor de potncia em cada grupo,

    sem e com microgerao. Tendo em conta que o factor de potncia medido numa rede real

    aproximadamente 0.9, consideram-se estes valores aceitveis.

  • 51

    Figura 4.19 - Comparao grfica do factor de potncia para cada grupo, na fase R, no cenrio de ponta (80% SPT), tenso nominal

    Figura 4.20 - Comparao grfica do factor de potncia para cada grupo, na fase S, no cenrio de ponta (80% SPT), tenso nominal

    -1 -0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1

    Grupo 10

    Grupo 9

    Grupo 8

    Grupo 7

    Grupo 6

    Grupo 5

    Grupo 4

    Grupo 3

    Grupo 2

    Grupo 1

    PT

    Sem Microgerao "Microgerao 1" "Microgerao 2"

    -1 -0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1

    Grupo 10

    Grupo 9

    Grupo 8

    Grupo 7

    Grupo 6

    Grupo 5

    Grupo 4

    Grupo 3

    Grupo 2

    Grupo 1

    PT

    Sem Microgerao "Microgerao 1" "Microgerao 2"

  • 52

    Figura 4.21 - Comparao grfica do factor de potncia para cada grupo, na fase T, no cenrio de ponta (80% SPT), tenso nominal

    Das simulaes efectuadas ao cenrio 2, obtiveram-se as taxas de distoro harmnicas da

    tenso (TDHU) nos dez grupos de consumidores.

    Verifica-se que, para o cenrio sem microgerao a TDH varia de acordo com o tipo, quantidade e

    distribuio das cargas.

    Nos dois cenrios com microgerao, os valores medidos so ligeiramente superiores aos do

    cenrio sem microgerao. De forma a facilitar esta comparao representam-se estes valores em

    figuras.

    Da observao das figuras 4.22, 4.23 e 4.24, verifica-se que o impacto da microgerao no

    cenrio de ponta do transformador muito pouco significativo. Neste cenrio, com 10% de

    microgerao, a TDHU varia muito ligeiramente existindo grupos onde os valores praticamente no se

    alteram. Com 25% de microgerao, existe um aumento ligeiramente superior, embora no seja

    significativo (aproximadam