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IMPACTO DAS CONVENÇÕES INTERNACIONAIS NOS CONTRATOS DE FINANCIAMENTO DE AERONAVES Regina Lynch São Paulo, 12 de novembro de 2009 Seminário sobre Direito Aeronáutico Britcham - São Paulo

IMPACTO DAS CONVENÇÕES INTERNACIONAIS NOS … · estabelecendo regras claras para sua regulamentação. 4-Assegurar que os direitos relativos a esse tipo de equipamento sejam reconhecidos

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IMPACTO DAS CONVENÇÕES INTERNACIONAIS NOS CONTRATOS DE

FINANCIAMENTO DE AERONAVES

Regina Lynch

São Paulo, 12 de novembro de 2009

Seminário sobre Direito Aeronáutico

Britcham - São Paulo

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Convenção da Cidade do CaboConvenção da Cidade do Cabo

Convenção da Cidade do Cabo sobre Garantias Internacionais Incidentes sobre Equipamentos Móveis e o Protocolo relativo a Questões Específicas ao Equipamento Aeronáutico

– Projeto do Instituto para a Unificação do Direito Privado -UNIDROIT.– Consiste na assinatura de uma Convenção-Quadro e três Protocolos

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– Consiste na assinatura de uma Convenção-Quadro e três Protocolos adicionais sobre tema específico, a saber:

• Equipamento Aeronáutico• Equipamento Espacial• Equipamento Ferroviário

– A Convenção e o Protocolo foram abertos para assinatura em 16 de novembro de 2001 e entraram em vigor no dia 1° de março de 2006.

– Nesta palestra referência à Convenção incluirá o Protocolo.

OBJETIVOSOBJETIVOS

- Facilitar o financiamento da compra e da utilização de equipamento aeronáutico de grande valor.

- Facilitar operações de leasing e de “asset-based financing”, estabelecendo regras claras para sua regulamentação.

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- Assegurar que os direitos relativos a esse tipo de equipamento sejam reconhecidos e protegidos de forma universal.

- Estabelecer um arcabouço jurídico para direitos internacionais relativos a esses equipamentos e para tanto criar um sistema de registro internacional para sua proteção.

Países signatáriosPaíses signatários

– Até o momento 32 paises ratificaram ou aderiram à Convenção da Cidade do Cabo, mas apenas 3 na América Latina.

– O governo dos EUA tem sido o maior defensor da Convenção, incentivando os demais países a aderirem, por intermédio de descontos oferecidos pelo EXIMBANK.

– O desenvolvimento mais importante relativo à Convenção, nos últimos tempos, foi a adesão por parte da União Européia, que entrou em vigor em 1° de agosto de 2009.

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em 1° de agosto de 2009.– A adesão da EU não implica na ratificação ou adesão automática de

seus membros. Cada um deles deverá conduzir esse processo internamente.

– França, Itália, Alemanha, Suíça e Reino Unido assinaram, mas ainda não ratificaram a Convenção.

– Os únicos que já ratificaram são Luxemburgo e Irlanda, onde estão localizados os Registros Internacionais.

Registro InternacionalRegistro Internacional

– O Registro Internacional está localizado na Irlanda.

– Administrado por Aviareto sob supervisão da OACI.

– Registro eletrônico

– Disponível 24/7

– Prioridade para o primeiro registro

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– Prioridade para o primeiro registro

– Protocolo prevê a possibilidade de designação de pontos de entrada obrigatórios para a informação de registro de células de aeronaves e de helicópteros e para utilização facultativa para motores.

A importância das declaraçõesA importância das declarações

– Certas disposições do Protocolo dependem de decisões dos Estados Contratantes. A Convenção prevê um sistema de declarações que permitem essas escolhas. Essas declarações são específicas para cada tipo de Equipamento e não podem ser feitas independentemente do Protocolo.

– As escolhas dos Estados Contratantes com relação a certas dessas

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– As escolhas dos Estados Contratantes com relação a certas dessas declarações são consideradas extremamente importantes de forma a assegurar a certeza de regras necessária para que a Convenção atinja seus objetivos.

– Para ter direito a certos “descontos” oferecidos pelas agências de crédito à exportação (“ECAs”), os Estados Contratantes precisam fazer certas declarações e deixar de fazer outras consideradas indesejáveis.

Declarações RelevantesDeclarações Relevantes

As declarações que o Estado Contratante deve fazer são as seguintes:

– Insolvência – Alternativa A e período de espera máximo de 60 dias

– Cancelamento de Matrícula – Autorização irrevogável para cancelamento de registro e pedido de exportação (“IDERA”)

– Lei Aplicável – as partes deverão eleger livremente a lei aplicável ao

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– Lei Aplicável – as partes deverão eleger livremente a lei aplicável ao contrato entre elas

– Exercício de Direitos em caso de inadimplência – “self-help”

– Recursos eficientes:• Preservação, posse, imobilização – 10 dias corridos

• Arrendamento ou administração, venda, aplicação do produto da venda –30 dias corridos

InsolvênciaInsolvência

– Existem duas alternativas de recursos relativos a insolvência que podem ser escolhidas pelo Estado Contratante, o qual, por ocasião da ratificação ou acessão, poderá declarar que aplicará a Alternativa A em sua totalidade ou a Alternativa B em sua totalidade,

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em sua totalidade ou a Alternativa B em sua totalidade, indicando quais os tipos de procedimento de insolvência aos quais aplicará a Alternativa A e quais os que terão aplicação da Alternativa B, indicando ainda o prazo aplicável (Art. XXX (3) do Protocolo).

Insolvência Insolvência –– Alternativa AAlternativa A

– Na ocorrência de procedimento de insolvência ou intenção declarada do devedor de suspender pagamentos quando o credor estiver impedido de exercer seus recursos nos termos da Convenção (“evento de insolvência”), o administrador ou o devedor, conforme for o caso, dará a posse da aeronave ao credor, na data que ocorrer primeiro entre:

• o final do período de espera declarado pelo Estado Contratante;• a data em que o credor faria jus à posse do equipamento aeronáutico se

essa disposição não fosse aplicável.

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essa disposição não fosse aplicável.

– A não ser que e até que ao credor seja dada a oportunidade de tomar posse da aeronave:

• o administrador ou o devedor, conforme for o caso, tomarão as medidas necessárias à preservação da aeronave e manutenção de seu valor de acordo com o contrato; e

• o credor terá direito a requerer qualquer outra forma de proteção provisória disponível de acordo com a lei aplicável.

Insolvência Insolvência –– Alternativa AAlternativa A

– O administrador ou o devedor poderão manter a posse da aeronave se até o final do período de espera, tiver sanado todas as inadimplências e tiver assumido o compromisso de cumprir todas as obrigações futuras nos termos do contrato.

– Os direitos relativos a cancelamento de matrícula e exportação da aeronave se aplicam também no caso de insolvência.

– Nenhum exercício dos recursos previstos na Convenção poderá ser

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– Nenhum exercício dos recursos previstos na Convenção poderá ser suspenso por prazo mais longo do que o período de espera ou o prazo em que o credor teria direito à posse da aeronave.

– Nenhuma obrigação do devedor nos termos do contrato poderá ser modificada sem o consentimento do credor.

– Nenhum direito terá prioridade sobre direitos registrados no caso de insolvência, a não ser, no caso de declaração do Estado Contratante nesse sentido quanto a alguns direitos não consensuais.

Cancelamento de MatrículaCancelamento de Matrícula

– O registro aeronáutico do Estado Contratante, sujeito à aplicação de leis e regulamentos de segurança, honrará o pedido de cancelamento de matrícula e exportação, se:

• o pedido for devidamente submetido pela parte autorizada nos termos de uma autorização de pedido de cancelamento de registro e exportação irrevogável e devidamente registrada; e

• a parte autorizada demonstrar ao registro aeronáutico que todos os

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• a parte autorizada demonstrar ao registro aeronáutico que todos os direitos registrados que tenham preferência sobre o direito do credor assim autorizado foram liberados ou que seus detentores concordaram com o cancelamento de matrícula e exportação;

• o credor tenha dado aviso prévio com prazo razoável do cancelamento de matrícula e da exportação ao devedor, aos garantidores e a terceiros interessados.

Cancelamento de MatrículaCancelamento de Matrícula

– Com relação aos recursos de cancelamento de matrícula e exportação:

• os mesmos serão concedidos pelo registro aeronáutico do Estado Contratante não mais do que 5 dias úteis após notificação a essa autoridade pelo credor nesse sentido;

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• as autoridades competentes deverão cooperar de maneira expediente e auxiliar o credor no exercício desses recursos, em conformidade com as leis e regulamentos de segurança de vôo aplicáveis (aplicação sujeita a declaração, Art. XXX (1) do Protocolo).

Lei AplicávelLei Aplicável

– As partes de contrato de hipoteca, um contrato de venda com reserva de domínio, um contrato de leasing ou um contrato de venda, contrato de garantia ou contrato de subordinação, podem livremente escolher a lei que será aplicável aos seus direitos e obrigações contratuais, no todo ou em parte.

– A escolha da lei de um determinado Estado não inclui as

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– A escolha da lei de um determinado Estado não inclui as regras de direito internacional privado do mesmo para evitar “renvoi”;

– Para que essa disposição do Protocolo seja aplicável, o Estado Contratante precisa fazer uma declaração nos termos do Art. XXX (1) do Protocolo

SelfSelf--Help / Tutela AntecipadaHelp / Tutela Antecipada

– Os Estados Contratantes deverão indicar que os recursos disponíveis aos credores mediante ação, poderão também ser exercidos de maneira privada

ou– Que os seguintes recursos poderão ser exercidos de maneira eficiente (tutela

antecipada:• Estado contratante deverá assegurar que um credor que apresenta prova de

inadimplência do devedor, antes da decisão final do caso e na medida em que o devedor tenha a qualquer tempo concordado, poderá obter do juízo uma proteção rápida, na forma de uma ou mais das seguintes determinações que o credor venha a

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rápida, na forma de uma ou mais das seguintes determinações que o credor venha a requerer:

– preservação do equipamento e seu valor;– posse, controle ou custódia do equipamento;– imobilização do equipamento aeronáutico;– arrendamento e administração do equipamento aeronáutico e frutos dele decorrentes– a qualquer momento em que credor e devedor assim acordarem, venda do equipamento

aeronáutico e aplicação dos resultados da venda

Self Help / Tutela AntecipadaSelf Help / Tutela Antecipada

– O credor e o devedor ou qualquer outra pessoa interessada, poderão acordar quanto a não aplicação da proteção antes mencionada contra atos do credor (aplicação sujeita a declaração, Art. X (5) do Protocolo).

– A exportação e o cancelamento de matrícula da aeronave devem ocorrer dentro de 5 dias úteis (conforme previsto nos artigos X(6) e IX (1) do Protocolo).

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nos artigos X(6) e IX (1) do Protocolo).– Os recursos visando a preservação, posse, controle,

custódia ou imobilização da aeronave devem ser concedidos dentro de 10 dias úteis.

– Os recursos visando a venda ou arrendamento da aeronave devem ser concedidos dentro de 30 dias úteis.

Declarações RelevantesDeclarações Relevantes

As declarações que um Estado Contratante não deve fazer são as seguintes:

– Não deve optar por negar tutela antecipada (C, art. 55, permitindo “opt out”)

Ou– Permitir Self-help (C, art 54(2))

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– Permitir Self-help (C, art 54(2))– Não deve optar pela não aplicação da disposição que faz

com que a Convenção de Cape Town revogue a Convenção de Roma ( P, art. XXIV)

– Impedir o uso do arrendamento como recurso do arrendador (C, art. 54 (1))

Declarações Relevantes Declarações Relevantes -- ASUASU

– Desenvolvido no âmbito da OECD o novo “Aircraft Sector Understanding” estabelece os termos e condições sob os quais os agentes de crédito à exportação dos EUA, da União Européia, do Brasil, do Canadá e do Japão podem fornecer financiamento de crédito à exportação de aeronaves novas e usadas (com os motores), motores e peças sobressalentes e contratos de serviços de manutenção.

– Nos termos do ASU há um desconto chamado de “Cape Town Discount” disponível para os tomadores localizados em Estado Contratante da Convenção de Cape Town, desde que esse Estado tenha

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Contratante da Convenção de Cape Town, desde que esse Estado tenha feito as declarações relevantes (“qualifying declarations”). Além disso, é necessário que a Convenção seja de fato aplicável, ou seja, que tenha força de lei e prevaleça sobre a legislação inconsistente. Finalmente, esse Estado deve constar na lista acordada de Estados que tem acesso ao “Cape Town Discount” (“Qualifying State”).

– Têm também acesso ao “Cape Town Discount” os tomadores localizados nos paises participantes do ASU, no financiamento de aeronaves de Categoria 2 e 3.

Cape Town na América LatinaCape Town na América Latina

– Os únicos países da América Latina que ratificaram ou aderiram à Convenção até agora são: Panamá, México e Colômbia.

– Destes, apenas o Panamá é um “Qualifying State” nos termos do ASU. Por ser membro do ASU, os tomadores localizados no Brasil tem direito ao “Cape Town Discount” no financiamento de aeronaves Categorias 2 e 3.

– Os demais participantes do ASU são: Austrália, Canadá, União Européia, Japão, Coréia do Sul, Nova Zelândia, Noruega, Suíça e Estados Unidos.

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Japão, Coréia do Sul, Nova Zelândia, Noruega, Suíça e Estados Unidos.– A Colômbia optou por sujeitar quaisquer medidas dos credores à esfera judicial

e não fez a declaração relativa à autorização de cancelamento de matrícula.– O México também optou por ter todas as medidas dos credores sujeitas à

manifestação judicial e relativamente à insolvência, optou pela Alternativa B.– O Chile assinou a Convenção, mas ainda não a ratificou. A Argentina vem

considerando a adesão, mas até o momento isto não ocorreu.

Cape Town no BrasilCape Town no Brasil

– O Brasil não assinou a Convenção nem o Protocolo, mas apenas a Ata Final da Confência.

– A Consultoria Jurídica do Itamaraty emitiu parecer favorável à constitucionalidade e juridicidade da Convenção e do Protocolo Aeronáutico (Parecer CJ/CGDI/ n° 143/2008).

– O assunto foi encaminhado à Casa Civil pela Exposição de Motivos n°00185 DNS/DAI-MRE-PAIN-ETRA, em 22 de maio de 2009.

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00185 DNS/DAI-MRE-PAIN-ETRA, em 22 de maio de 2009.

– Encaminhado ao Congresso Nacional pela Mensagem N° 808 de 9 de outubro de 2009.

– Encaminhado às Comissões de Relações Exteriores e de Defesa Nacional, Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio e Constituição e Justiça e de Cidadania em 21 de outubro de 2009.

– Tramita em regime de prioridade.

Declarações do BrasilDeclarações do Brasil

–– PONTO DE ENTRADA (“DESIGNATED ENTRY POINT”):PONTO DE ENTRADA (“DESIGNATED ENTRY POINT”):ANAC, por intermédio do Registro Aeronáutico Brasileiro. As exigências do RAB previstas no Código Brasileiro de Aeronáutica e no Regulamento Aeronáutico Brasileiro, devem ser inteiramente cumpridas antes da transmissão de qualquer informação do RAB ao Registro Internacional (Artigo XIX, parágrafo 1° do Protocolo).

–– INSOLVÊNCIA:INSOLVÊNCIA: Alternativa A, integralmente a todos os casos de

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–– INSOLVÊNCIA:INSOLVÊNCIA: Alternativa A, integralmente a todos os casos de procedimentos de insolvência, sendo que o período de espera para fins do Artigo XI, parágrafo 3°, dessa Alternativa, será de 30 dias corridos (Artigo XXX, parágrafo 3°, relativo ao Artigo XI do Protocolo).

–– AUTORIZAÇÃO DE CANCELAMENTO DE MATRÍCULA AUTORIZAÇÃO DE CANCELAMENTO DE MATRÍCULA (“IDERA”):(“IDERA”): o Brasil aplicará o Artigo XIII do Protocolo.

Declarações do BrasilDeclarações do Brasil

–– LEI APLICÁVEL:LEI APLICÁVEL: O Brasil aplicará o ArtigoVIII do Protocolo (Artigo XXX, parágrafo 1°, relativo ao Artigo VIII do Protocolo).

–– “SELF HELP”:“SELF HELP”: Todas as medidas disponíveis ao credor em decorrência de qualquer disposição da Convenção ou do Protocolo, somente poderão ser tomadas mediante autorização do Poder Judiciário, exceto o remédio previsto no Art. XIII do Protocolo (Autorização de Cancelamento de Matrícula), o qual será exercido sem autorização judicial (Artigo 54, parágrafo 2° da Convenção).

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–– TUTELA ANTECIPADA:TUTELA ANTECIPADA: O Brasil aplicará o Artigo X do Protocolo integralmente. Os prazos são os seguintes:

• Medidas cautelares especificadas no Artigo 13, par. 1°, a a c, d da Convenção (conservação do bem aeronáutico e do seu valor; posse, custódia ou controle do bem aeronáutico; imobilização;) – 10 dias corridos.

• Medidas cautelares especificadas no Artigo 13, par. 1°, d e e da Convenção (arrendamento ou a gestão do bem aeronáutico e da renda daí proveniente; venda e aplicação do produto da venda) – 30 dias corridos

Declarações do BrasilDeclarações do Brasil

– O Brasil não pretende fazer as declarações negativas (“opt out”) seguintes:

• Não optará por negar tutela antecipada (C, art. 55, permitindo “opt out”)

• Não optará pela não aplicação da disposição que faz com que a Convenção de Cape Town revogue a Convenção de Roma ( P, art. XXIV)

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XXIV)

• Não impedirá o uso do arrendamento como recurso do arrendador (C, art. 54 (1))

– Portanto, se a Convenção for aprovada nos termos propostos, os arrendatários e devedores brasileiros farão jus ao “Cape Town Discount”.