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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA IMPACTO DAS TRANSFORMAÇÕES SOMÁTICAS DO PÚBERE SOBRE A PERCEPÇÃO CORPORAL, RELAÇÕES COM A DESTREZA MANUAL E CAPACIDADE DE LOCALIZAÇÃO PROPRIOCEPTIVA DAS MÃOS MAURÍCIO JOSÉ DE SIQUEIRA CAGNO SÃO PAULO 2014

IMPACTO DAS TRANSFORMAÇÕES SOMÁTICAS DO ... - usjt.br · sobre a percepÇÃo corporal, relaÇÕes com a destreza manual e capacidade de localizaÇÃo proprioceptiva das mÃos

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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA

IMPACTO DAS TRANSFORMAÇÕES SOMÁTICAS DO PÚBERE

SOBRE A PERCEPÇÃO CORPORAL, RELAÇÕES COM A DESTREZA

MANUAL E CAPACIDADE DE LOCALIZAÇÃO PROPRIOCEPTIVA

DAS MÃOS

MAURÍCIO JOSÉ DE SIQUEIRA CAGNO

SÃO PAULO

2014

UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA

IMPACTO DAS TRANSFORMAÇÕES SOMÁTICAS DO PÚBERE

SOBRE A PERCEPÇÃO CORPORAL, RELAÇÕES COM A DESTREZA

MANUAL E CAPACIDADE DE LOCALIZAÇÃO PROPRIOCEPTIVA

DAS MÃOS

MAURÍCIO JOSÉ DE SIQUEIRA CAGNO

Tese apresentada à Universidade São Judas

Tadeu, como requisito parcial para

obtenção do título de Doutor em Educação

Física, sob a orientação da Profª. Drª. Eliane

Florencio Gama.

SÃO PAULO

2014

Cagno, Maurício José de Siqueira

C131e Impacto das transformações somáticas do púbere sobre a Percepção

Corporal, relações com a destreza manual e capacidade de localização

proprioceptiva das mãos / Maurício José de Siqueira Cagno. - São Paulo,

2014.

xx f. : il. ; 30 cm.

Orientadora: Eliane Florencio Gama.

Tese (doutorado) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2014.

1. Percepção corporal. 2. Puberdade. I. Gama, Eliane Florencio. II.

Universidade São Judas Tadeu, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu

em Educação Física. III. Título

CDD 22 – 612.044

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca

da Universidade São Judas Tadeu Bibliotecário: Ricardo de Lima - CRB 8/7464

AGRADECIMENTOS

A Deus pela força, sabedoria e serenidade concedida para que eu pudesse direcionar o

percurso desta pesquisa.

À minha amada esposa, por todo carinho, apoio, incentivo e compreensão dados

durante todo o processo de construção da tese e aos meus queridos filhos, pelos inúmeros

olhares, sorrisos, abraços e beijos que me motivaram a permanecer firme neste propósito,

mesmo entendendo os apelos por minha presença.

À minha orientadora e inspiradora, Drª Eliane Florencio Gama que apontou caminhos,

alicerçou o estudo com suas contribuições e permitiu que eu tivesse liberdade para expressar

meus pensamentos.

À Drª Maria Luíza de Jesus Miranda por incentivar-me a ingressar no doutorado.

Ao Drª Aylton Figueira Junior, pelo incentivo para que eu ingressasse no doutorado, por

participar da banca e pelas discussões efetuadas durante o processo.

À Universidade São Judas Tadeu, por subsidiar integralmente o Doutorado.

Ao professor Daniel Teixeira Maldonado, por viabilizar o contato com a escola e

acompanhar gentilmente o processo de coleta de dados, e à diretora, coordenadoras, professores,

funcionários, púberes e responsáveis pelos avaliados, pois, sem a colaboração de todos, esta

pesquisa não teria sido realizada.

À Drª Claudia Borim, por alicerçar todo o tratamento estatístico desta Tese.

À Drª Bianca Elizabethe Thurm, por ter participado da banca de pré-qualificação, por

compartilhar materiais de pesquisa e pelas discussões efetuadas na defesa e grupo de estudos

que muito contribuíram.

Ao Pró-Reitor de Graduação Luís Antônio Baffile Leoni, por todo o incentivo e apoio

nesta caminhada. Sempre com uma palavra de encorajamento.

Ao Coordenador do curso de Educação Física Durval Luís da Silva, por compreender

todo o processo de estudo e dar suporte.

À coordenação e professores da graduação da USJT e da FMU que sempre me

incentivaram.

Ao prof. Drº Romeu Rodrigues de Souza pelas aulas brilhantes sobre Percepção e Ação.

À todos os professores das disciplinas cursadas no programa de Doutorado.

Às Drªs Sandra Maria Ribeiro e Laura Beatriz Mesiano Maifrino, pelo gesto de carinho

ao aceitarem participar da composição da Banca e pelas brilhantes contribuições.

À querida amiga Drª Marilda Gioeilli Torres de Carvalho, por sempre me incentivar,

apoiar, pela sua participação na Banca e pelas reflexões imprescindíveis que muito contribuíram

para o processo de elaboração da discussão desta pesquisa.

SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS................................................................................................................iii

LISTA DE TABELAS........................................................................................................................vi

LISTA DE GRÁFICOS......................................................................................................................ix

LISTA DE FIGURAS.........................................................................................................................x

LISTA DE QUADROS....................................................................................................................xiv

LISTA DE ABREVIATURAS E GLOSSÁRIO.....................................................................................xv

RESUMO.....................................................................................................................................xvi

ABSTRACT.................................................................................................................................xviii

APRESENTAÇÃO..........................................................................................................................xx

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 17

1.1 Justificativa ........................................................................................................................ 23

1.2 Objetivo Geral ................................................................................................................... 23

1.3 Objetivos Específicos ........................................................................................................ 24

1.4 Hipóteses Iniciais............................................................................................................... 24

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................................ 26

2.1 Crescimento durante a puberdade ................................................................................... 26

2.2 Esquema Corporal ............................................................................................................. 31

A Formação de Mapas ............................................................................................... 35 2.2.1

O Corpo, sede da Somatopercepção e Somatorepresentação ................................. 39 2.2.2

2.3 Imagem Corporal .............................................................................................................. 43

2.4 Princípios do desenvolvimento.........................................................................................48

3 MÉTODO .................................................................................................................................. 54

3.1 Caracterização dos participantes ...................................................................................... 54

3.1.1 Critérios de Inclusão ..................................................................................................54

3.1.2 Critérios de Exclusão..................................................................................................54

3.2 Desenho Experimental ...................................................................................................... 55

3.3 Procedimento para a avaliação da maturidade sexual ..................................................... 57

Análise dos dados da maturação sexual ................................................................... 60 3.3.1

3.4 Avaliação do Esquema Corporal (IMP) ............................................................................. 60

Instrumentos ............................................................................................................. 60 3.4.1

Procedimento para a mensuração do Esquema Corporal (IMP) .............................. 61 3.4.2

Análise de dados do IMP ........................................................................................... 68 3.4.3

3.4.3.1 Análise quantitativa dos dados do IMP .............................................................68

3.4.3.2 Escala de Análise da Percepção Corporal...........................................................71

3.4.3.3 Análise da projeção gráfica dos dados do IMP...................................................74

Procedimento para identificação autorreferida do Esquema Corporal .................... 74 3.4.4

3.5 Teste de Destreza Manual ................................................................................................ 75

3.5.1 Objetivo do teste ......................................................................................................75

Instrumentos ............................................................................................................. 75 3.5.2

Procedimentos .......................................................................................................... 76 3.5.3

Análise dos dados do Teste de Destreza Manual ...................................................... 78 3.5.4

3.6 Teste de Capacidade de Localização Proprioceptiva das Mãos (CLPM) ........................... 78

Objetivo do teste ....................................................................................................... 79 3.6.1

Instrumentos ............................................................................................................. 79 3.6.2

Procedimentos .......................................................................................................... 81 3.6.3

Análise dos dados do Teste (CLPM) .......................................................................... 85 3.6.4

4 ANÁLISE ESTATÍSTICA ............................................................................................................ 85

5 RESULTADOS .......................................................................................................................... 86

5.1 Característica da Amostra ................................................................................................. 86

5.2 Percepção Corporal ........................................................................................................... 90

6 DISCUSSÃO...........................................................................................................................107

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................................130

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................... 133

ANEXO – I .................................................................................................................................141

ANEXO – II ................................................................................................................................145

APÊNDICE – I ............................................................................................................................. 147

APÊNDICE – II.............................................................................................................................148

vi

LISTA DE TABELAS

Tabela 1

Distribuição dos participantes por faixas etárias e sexo.............................................................86

Tabela 2

Número de participantes distribuídos por faixas etárias, segundo a classificação da

maturação sexual de ambos os sexos (n=100)............................................................................87

Tabela 3

Comparação das horas semanais dispendidas com atividades de Praxia Fina

entre os participantes que acumularam meses de atividades motoras

pregressas desde a infância com os que não realizaram (n=100)...............................................89

Tabela 4

Comparação das horas semanais de Inatividade Motora Global entre os

participantes que acumularam meses de atividades motoras pregressas

desde a infância com os que não realizaram (n=100).................................................................90

Tabela 5

Comparação entre o IPC Geral dos jovens do sexo feminino com o do masculino (n=100).......90

Tabela 6

Média e desvio padrão do IPC Geral dos participantes distribuídos pelos estágios de

maturação sexual (n=100)...........................................................................................................92

Tabela 7

Média e desvio padrão dos IPC Segmentares de todos os participantes (n=100)

da pesquisa e separados por sexo (n=50 cada sexo)...................................................................93

Tabela 8

Correlação de Pearson entre o IPC Geral com os IPC Segmentares (n=100)..............................93

Tabela 9

Frequência de respostas sobre a percepção dos jovens do sexo feminino e

masculino referentes às partes do corpo que mais cresceram no período

do estirão de crescimento (n=100). ............................................................................................96

Tabela 10

Percepção dos púberes do sexo feminino e masculino sobre as partes do

corpo que mais cresceram durante o período do estirão de crescimento,

que estão relacionadas ao IMP e que não estão relacionadas (n=100)......................................97

vii

Tabela 11

Correlações de Pearson entre o IPC Geral de todos os participantes com os

meses de atividades motoras pregressas e com as horas semanais de

inatividade motora global (n = 100)............................................................................................98

Tabela 12

Correlação entre IPC Geral de cada estágio de maturação sexual com as

Atividades Motoras Pregressas (AMP) e com a Inatividade Motora Global (IMG) (n=100)........98

Tabela 13

Comparação dos IPC Geral entre os participantes que acumularam meses de

atividades motoras pregressas (AMP) com os que não realizaram (n=100)...............................99

Tabela 14

Correlação de Pearson entre IPC Geral com os meses acumulados de atividades

motoras pregressas (AMP) no grupo de ativos e com as horas semanais de inatividade

motora global (IMG) no grupo de ativos e de não ativos (n=100)..............................................99

Tabela 15

Correlações de Pearson efetuadas entre o IPC Geral (IPCG) com a destreza manual

dominante (DMD), a destreza manual não dominante (DMND), a capacidade de

localização da mão dominante (CLMD) e a capacidade de localização da

mão não dominante (CLMND) (n = 100)...................................................................................100

Tabela 16

Correlações de Pearson efetuadas entre o IPC dos ombros de todos os participantes

(n =100) com as atividades motoras pregressas (AMP) e com as horas dispendidas

com praxia fina (HPF)................................................................................................................101

Tabela 17

Correlações de Pearson efetuadas entre o IPC dos ombros de todos os

participantes (n =100) com a destreza manual dominante (DMD), a destreza

manual não dominante (DMND), a capacidade de localização da mão dominante

(CLMD) e a capacidade de localização da mão não dominante (CLMND).................................101

Tabela 18

Média e desvio padrão do IPC do ombro em cada estágio de maturação

sexual (n = 100).........................................................................................................................102

Tabela 19

Correlações de Pearson entre os meses acumulados de atividades motoras pregressas

(AMP) com as horas semanais dispendidas com as atividades de praxia fina (HPF) e

com o IPC dos ombros (n=100). ................................................................................................102

viii

Tabela 20

Correlações de Pearson entre o IPC dos ombros com a destreza manual dominante

(DMD) e não dominante (DMND) e com a capacidade de localização das mãos

dominante (CLMD) e não dominante (CLDND) em cada estágio de maturação

sexual (n=100)...........................................................................................................................103

Tabela 21

Correlações de Pearson entre as Atividades Motoras Pregressas (AMP) com a

Destreza Manual (DM) e Capacidade de Localização das Mãos (CLM) e entre

as horas de praxia fina (HPF) com a destreza manual (DM) e capacidade de

localização das mãos (CLM).......................................................................................................104

Tabela 22

Correlações de Pearson entre as Atividades Motoras Pregressas (AMP) com a Destreza Manual (DM) e com a Capacidade de Localização das Mãos (CLM), nos estágios de maturação sexual e correlações entre as Horas de Praxia Fina (HPF) com a Destreza Manual (DM) e com a Capacidade de Localização das Mãos (CLM), nos estágios de maturação sexual (n=100)...................................................105

Tabela 23

Média, desvio padrão e comparação dos meses acumulados de atividades motoras

pregressas, das horas semanais de praxia fina e das horas semanais de inatividade

motora global entre cada estágio de maturação sexual (n=100)..............................................106

ix

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1

Distribuição dos participantes (n=100) segundo a classificação dos

estágios de maturação sexual, apresentados em porcentagem.................................................87

Gráfico 2

Tempo acumulado de atividades motoras pregressas dos participantes da

pesquisa distribuídos por intervalos de vinte meses..................................................................88

Gráfico 3

Distribuição dos IPC dos participantes de acordo com a Escala de Análise da

Percepção Corporal graduada em frações de 10%......................................................................91

x

LISTA DE FIGURAS

Figura 1

Nomenclaturas de diversos autores encontradas na literatura se referindo

ao conhecimento corporal (ilustração elaborada com base nos apontamentos

de Fonseca, V. (2008)..................................................................................................................31

Figura 2

Elementos da percepção corporal expressa com base nos pressupostos dos

autores apresentados no texto, elaborado segundo a nossa ótica............................................ 33

Figura 3

Representação cortical dos homúnculos sensitivo à esquerda e motor

à direita (MACHADO, 2000).........................................................................................................39

Figura 4 A e B

Inter-relação entre os elementos que compõem o esquema corporal e a interação

entre o esquema corporal com os espaços funcionais (modelo elaborado com base nos

autores citados)...........................................................................................................................41

Figura 5

Etapas percorridas para a aprovação do projeto de pesquisa....................................................55

Figura 6

Esboço dos sujeitos que compuseram a amostra e os testes realizados................................... 56

Figura 7

Regiões corporais em que são fixados os adesivos para a avaliação do esquema

corporal por meio do IMP...........................................................................................................62

Figura 8

Posição inicial para a realização do teste do IMP........................................................................63

Figura 9

Ilustração representativa do avaliado imaginando sua imagem projetada no espelho..............64

Figura 10

Ilustração representativa do avaliado apontando na parede com o dedo indicador

o ponto tocado em seu corpo, como se estivesse vendo-se no espelho. ..................................64

Figura 11

Ilustração do teste (IMP).............................................................................................................65

Figura 12

Aproximação do participante à parede para a marcação dos pontos reais................................66

xi

Figura 13

Marcação dos pontos reais com o auxílio de um esquadro de 90º.............................................67

Figura 14

Identificação dos pontos projetados pelo participante (pontos vermelhos, pretos e

azuis) e das dimensões reais do avaliado (pontos verdes)..........................................................68

Figura 15

Ilustração dos pontos representativos da altura para a realização do cálculo

do IPC da cabeça.........................................................................................................................69

Figura 16

Pontos representativos das dimensões do ombro, cintura e quadril.........................................70

Figura 17

Escala de Análise da Percepção Corporal, a partir do Índice de Percepção

Corporal (IPC).....................................................................................................................73

Figura 18

Caixa contendo 150 blocos para a avaliação do teste de destreza manual................................76

Figura 19

Realização do teste de destreza manual.....................................................................................77

Figura 20

Plataforma de vidro contendo o alvo para a realização do teste de percepção

proprioceptiva de localização das mãos......................................................................................79

Figura 21

Plataforma de vidro contendo o alvo para a realização do teste de percepção

proprioceptiva de localização das mãos......................................................................................80

Figura 22

Visualização do dedo indicador ativo do avaliado posicionado sobre o ombro e o

passivo sendo posicionado pelo pesquisador no alvo central, demarcado embaixo

da área de trabalho, antes da realização da tarefa.....................................................................81

Figura 23

Posição inicial do teste de capacidade de localização proprioceptiva das mãos........................82

Figura 24

Posição das mãos para realização do teste.................................................................................82

xii

Figura 25

Ilustração da ação de uma das mãos tendo como objetivo sobrepor o dedo indicador

ativo sobre o passivo, exatemente sobre o alvo central. ...........................................................83

Figura 26

Alvo ilustrativo do teste de capacidade de localização proprioceptiva das mãos .....................84

Figura 27

Projeção gráfica do IMP – 12 anos Feminino sujeito n° 33 IPC Geral = 91,30%..........................95

Figura 28

Projeção gráfica do IMP – 11 anos Feminino sujeito n° 27 IPC Geral = 145,69%........................95

Figura 29

Projeção gráfica do IMP – 15 anos Masculino sujeito n° 48 IPC Geral = 99,64%........................95

Figura 30

Projeção gráfica do IMP – 15 anos Masculino sujeito n° 47 IPC Geral = 125,20%......................95

Figura 31

Correlação entre as Atividades Motoras Pregressas, as Horas de Praxia Fina, a

Maturação Sexual e as Horas Semanais de Inatividade Motora Global sobre a

Percepção Corporal Geral.........................................................................................................108

Figura 32

Figura ilustrativa dos desajustes das projeções gráficas dos traçados do IMP ........................111

Figura 33.

Influência das gratificações externas sobre o foco da atenção (esquema elaborado

com base nos apontamentos de (TAVARES, 2003))..................................................................115

Figura 34.

Desenvolvimento da atenção durante o processo de maturação (modelo elaborado

com base nos apontamentos de (LADEWIG, 2000 E ANDRADE, 2004))....................................116

Figura 35

Relações entre as Atividades Motoras Pregressas com o IPC Geral e dos Ombros..................122

Figura 36

Relação entre a Percepção das Dimensões Corporais Geral e dos Ombros

com a Destreza manual e com a Capacidade de Localização Proprioceptiva das Mãos...........122

xiii

Figura 37

Relação entre as Atividades Motoras Pregressas e as Horas Semanais de

Praxia Fina com os desempenhos da Destreza Manual............................................................123

Figura 38

Relações entre as Atividades Motoras Pregressas e as Horas Semanais de Praxia Fina

com a Capacidade de Localização Proprioceptiva das Mãos.....................................................125

xiv

LISTA DE QUADROS

Quadro 1

Representação da velocidade de crescimento das dimensões corporais

referentes à Altura Tronco-Cefálica e Membros Inferiores, em diferentes

faixas etárias (tabela elaborada segundo a nossa ótica com base nos dados

de Malina & Bouchard, 2002)......................................................................................................28

Quadro 2

Crescimento das dimensões corporais e suas respectivas correspondências

com a idade do início do estirão de crescimento, com a idade do pico de

velocidade de crescimento e com o ganho puberal (quadro elaborado com

base nos apontamentos de Chipkevitch, 1995)..........................................................................29

Quadro 3

Classificação do Índice de Percepção Corporal segundo os critérios de

Bonnier (1995) e Segheto et al. (2010).......................................................................................72

xv

LISTA DE ABREVIATURAS

EC ............Esquema corporal

IC ............Imagem corporal

IMP ............Image Marking Procedure

IPC ............Índice de Percepção Corporal

IMG ............Inatividade Motora Global

HPF ............Horas de Praxia Fina

AMP ............Atividades Motoras Pregressas

IE ............Início do estirão

PVC ............Pico de Velocidade de Crescimento

INI ............Inativos desde a Infância

DMD ............Destreza Manual Dominante

DMND............Destreza Manual Não Dominante

CLMD............Capacidade de Localização Proprioceptiva das Mãos Dominante

CLMND.........Capacidade de Localização Proprioceptiva das Mãos Não Dominante

GLOSSÁRIO

HPF - Atividades de Praxia Fina ou de coordenação motora fina: se refere às horas

semanais dispendidas com atividades manuais realizadas fora do ambiente escolar,

como: jogar videogame, manipular teclado/mouse do computador e similares.

AMP - Atividades Motoras Pregressas: acúmulo de meses de atividades motoras

extracurriculares esportivas ou recreativas, praticadas desde a infância até o momento

da coleta de dados (indivíduos considerados ativos desde a infância).

INI - Inativos desde a Infância: indivíduos que não realizaram atividades

extracurriculares esportivas ou recreativas desde a infância.

IMG – Inatividade Motora Global: tempo semanal em que os jovens permanecem

sentados em frente a televisão, computador, videogame e similares sem exercer

atividades motoras globais.

Lado Dominante – Uso preferencial de um segmento corporal em relação ao outro

segmento. Preferência de uso de uma das mãos (dominante) em relação a outra (não

dominante).

Lado Não Dominante- Uso não preferencial de um segmento corporal em relação ao

outro.

xvi

RESUMO

Cagno, M. J. S. Impacto das transformações somáticas do púbere

sobre a percepção corporal, relações com a destreza manual e

capacidade de localização proprioceptiva das mãos. Tese de Doutorado

em Educação Física – Programa de Doutorado em Educação Física,

Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2014.

A presente pesquisa teve como objetivo identificar a percepção das dimensões

corporais de púberes de ambos os sexos e sua relação com o desempenho da destreza

manual e capacidade de localização proprioceptiva das mãos durante o período do

estirão de crescimento. O estudo foi realizado com 100 indivíduos de 9 a 15 anos, sendo

50 do sexo masculino de 11 a 15 anos e 50 do sexo feminino de 9 a 13 anos, todos os

grupos com maturação sexual de I a IV. Cada grupo foi composto por 10 jovens de cada

faixa etária. Os testes utilizados foram: 1) teste de autoavaliação na determinação da

maturação sexual, proposto por Morris & Udry (1980) sugerido pelo LADESP –

GEPETIJ/EEFE – USP (MASSA, 2006); 2) Procedimento de Marcação do Esquema

Corporal (Image Marking Procedure – IMP) proposto por Askevold (1975) com

alterações propostas por Thurm (2007); 3) Teste de destreza manual (Box and Block

Test of Manual Dexterity BBT – Mathiowetz et al. 1985); e 4) Teste de Capacidade de

Localização Proprioceptiva das Mãos, elaborado para este estudo. Utilizamos as

técnicas estatísticas como média, desvio-padrão, frequência e porcentagem, e os dados

foram submetidos ao teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov e Levene para

verificar homogeneidade das variâncias. Efetuamos comparações entre os sexos por

meio do “t” – Student para variáveis independentes. Recorremos à Análise de Variância

(ANOVA de um fator) para verificar possíveis diferenças entre os IPC Geral em cada

estágio de maturação sexual. Foram realizadas Análises de Variância (ANOVA) com

medidas repetidas para verificar eventuais diferenças entre a percepção dos segmentos

corporais com fator sexo, complementado pelo teste de Bonferroni. Efetuamos

correlações de Pearson entre o IPC Geral e dos Ombros com destreza manual e com a

capacidade de localização das mãos e com as demais variáveis. O critério de

significância adotado foi de 5%. As análises estatísticas foram realizadas por meio do

programa computacional SPSS (Statistical Package for Social Sciences) versão 21.0,

para Windows. Após a análise dos dados constatamos que: a percepção das dimensões

corporais se desajustaram à medida que se alteraram as dimensões corporais, que elas

xvii

não diferiram entre os sexos e que 91% dos jovens perceberam-se maiores do que

realmente são; os indivíduos apresentaram assimetrias e descentralizações referentes à

percepção das dimensões dos segmentos corporais; os jovens não perceberam os

segmentos corporais que se modificaram durante a fase de estirão de crescimento; a

maturação sexual e as horas de inatividade motora global não ocasionaram desajustes à

percepção corporal geral e segmentar; as horas semanais de praxia fina ocasionaram

ajustes à percepção da dimensão corporal dos ombros, os desajustes da percepção

corporal geral e dos ombros não se relacionaram aos desempenhos da destreza manual e

à capacidade de localização proprioceptiva das mãos; as atividades motoras pregressas

não ocasionaram alterações dos desempenhos da capacidade de localização das mãos,

porém influenciaram os desempenhos da destreza manual; as horas semanais de praxia

fina ocasionaram melhorias do desempenho da destreza manual dominante e não

influenciaram os desempenhos da destreza manual não dominante, e a capacidade de

localização das mãos e as horas de inatividade motora global não influenciaram os

desempenhos da destreza manual e da capacidade de localização proprioceptiva das

mãos. Finalizando, a percepção sobre as dimensões corporais não influenciaram os

desempenhos referentes à capacidade de localização das mãos e os desempenhos da

destreza manual.

Palavras-chave: esquema corporal, imagem corporal, percepção corporal, puberdade,

destreza manual, espaço peripessoal.

xviii

ABSTRACT

Impact of somatic transformations of pubescent on body perception,

relations to manual dexterity and to the proprioceptive localization of

the hands.

The study aimed to identify the perception of body dimensions of pubescent

boys and girls and its relation to manual dexterity performance and to the capacity for

proprioceptive localization of the hands during the growth spurt period. The study was

carried out with 100 individuals aged 9 to 15 years: 50 boys aged 11 to 15 years and 50

girls aged 9 to 13 years, all groups at sexual maturity stages I - IV. Each group was

composed of 10 individuals from each age group. The following tests were used: 1)

self-assessment test in the determination of sexual maturity, proposed by Morris & Udry

(1980) and suggested by LADESP – GEPETIJ/EEFE – USP (MASSA, 2006); 2) Image

Marking Procedure – IMP, proposed by Askevold (1975) with alterations proposed by

Thurm (2007); 3) Box and Block Test of Manual Dexterity – BBT, proposed by

Mathiowetz et al. (1985); and Test of Capacity for Proprioceptive Localization of the

Hands, designed for this study. We utilized statistical techniques such as mean, standard

deviation, frequency and percentage, and the data were submitted to the Test of

Normality (Kolmogorov-Smirnov and Levene) to verify the homogeneity of variance.

We made comparisons between sexes by means of Student’s t-test for independent

variables. We employed the Analysis of Variance (one-factor ANOVA) to verify

possible differences among the General Body Perception Index (BPI) at each stage of

sexual maturity. Analyses of Variance (ANOVA) were performed with repeated

measures to verify possible differences between the perception of body segments and

the sex factor, complemented by the Bonferroni Test. Pearson correlations were

performed between the General/Shoulders BPI and manual dexterity, capacity for hand

localization and the other variables. The significance criterion that was adopted was 5%.

The statistical analyses were performed by means of the SPSS computer program

(Statistical Package for Social Sciences), version 21.0 for Windows. After the data

analysis we verified: that the perception of body dimensions misadjusted itself as the

body dimensions were altered, that it did not differ between sexes and that 91% of the

individuals perceived themselves as bigger than they really are; the individuals

presented asymmetries and decentralizations referring to the perception of the

dimensions of body segments; the individuals did not perceive the body segments that

xix

were modified during the growth spurt period; sexual maturity and the hours of global

motor inactivity did not misadjust the general and segmental body perception; the

weekly hours of fine praxis caused adjustments to the perception of body dimensions

and of shoulder dimensions; the misadjustments to the general body perception and to

shoulders perception were not related to manual dexterity performance and to the

capacity for proprioceptive localization of the hands; previous motor activities did not

cause alterations in the performance of the capacity for hand localization; however, they

influenced the manual dexterity performance; the weekly hours of fine praxis improved

the performance of the dominant manual dexterity and did not influence the

performance of the non-dominant manual dexterity; and the capacity for hand

localization and the hours of global motor inactivity did not influence manual dexterity

performance and the capacity for proprioceptive localization of the hands. Finally, the

perception of body dimensions interferes neither in the performance referring to the

capacity for hand localization nor in the manual dexterity performance.

Keywords: body scheme, body image, body perception, puberty, manual dexterity,

peripersonal space.

xx

APRESENTAÇÃO

Sou formado em Educação Física e Psicologia, especialista em Psicomotricidade

e Mestre em Psicologia da Educação. Atuei como profissional de Educação Física por

muitos anos no âmbito escolar ministrando aulas para crianças desde a faixa etária de

um ano e meio (minimaternal) até os jovens do ensino médio, depois como coordenador

da respectiva área em uma escola particular de São Paulo e, posteriormente, como

docente no ensino superior, contribuindo com a formação de profissionais de Educação

Física.

Ao atuar com adolescentes, identifiquei que grande parte dos jovens apresentava

dificuldades para executar habilidades motoras com desempenhos adequados,

apresentando-se muitas vezes incoordenados.

Durante a práxis educativa, procurei direcionar a aprendizagem de habilidades

motoras conciliadas à estimulação das seguintes funções psicomotoras: tonicidade,

equilibração, percepção corporal, lateralização, orientação espacial e temporal, e pude

intuir que a estimulação direcionada à percepção corporal parece ter ocasionado

benefícios ao desempenho de diferentes habilidades motoras.

Diante do exposto, emergia a seguinte inquietação: será que as crianças são

desajustadas porque não possuem um esquema corporal ajustado? Esse acarreta déficits

motores também em decorrência das alterações corporais que ocorrem na puberdade?

Será que existe um esquema corporal generalizado que possibilita aos indivíduos a

realização de diferentes habilidades motoras com bons desempenhos? Ou será que há

esquemas corporais específicos que, uma vez estimulados por meio de práticas

específicas, favorecem os desempenhos adequados das habilidades treinadas e não de

outras? Esse treinamento compensa as alterações somáticas dessa fase?

As inquietações apresentadas me conduziram a fazer especialização em

psicomotricidade. No entanto, percebi a necessidade de me aprofundar neste assunto

altamente intrigante, fascinante e difícil de ser investigado. Encontrei no Laboratório de

Percepção Corporal e Movimento da Universidade São Judas Tadeu, coordenado pela

Drª Eliane Florencio Gama, profissionais e amigos que se dedicam em pesquisar esta

área, e, ao ingressar neste grupo, fui impulsionado a entrar no Doutorado em Educação

Física para pesquisar a percepção das dimensões corporais dos púberes e sua relação

com a destreza manual e capacidade de localização das mãos.

17

1. INTRODUÇÃO

A fase da adolescência é caracterizada por modificações de natureza psicológica,

social e biológica, como as mudanças hormonais, a maturação óssea e a maturação

sexual. Essa etapa acontece entre a infância e a idade adulta Gallahue et al. (2013), com

transformações corporais que ocorrem em um período curto de tempo, a qual é difícil de

ser identificada por meio da idade cronológica (MARCONDES et al., 1979). Já a

puberdade é uma etapa da adolescência caracterizada pelas mudanças biológicas que

acontecem nessa fase (MARDONDES et al., 1979; GALLAHUE et al., 2013). Segundo

Gallahue et al. (2013), a adolescência é a passagem para a vida adulta que começa na

puberdade (o início da puberdade é caracterizado pelo despertar da maturação sexual) e

termina no início da vida adulta que é caracterizada pela independência financeira e

emocional em relação à família. Neste estudo focamos o período da puberdade, e nosso

olhar para os púberes foi direcionado predominantemente para as transformações

corporais decorrentes dessa fase, embora ocorram modificações também em outras

esferas como a cognitiva e a afetiva.

Durante a puberdade ocorre a fase de aceleração de crescimento que se encerra

no pico de velocidade de crescimento, alcançado pelas meninas por volta dos 11 anos e

pelos meninos aproximadamente aos 13 anos (GALLAHUE et al., 2013). De acordo

com Marcondes et al. (1979), os jovens nesse período crescem em média de 9,0 a 10,3

cm/ano. Para Malina (2002), na fase do estirão do crescimento, iniciam-se

transformações corporais de forma acelerada como o aumento do comprimento dos

membros inferiores e superiores e com modificações verticais ainda mais acentuadas do

segmento superior (comprimento da cabeça, pescoço e tronco) e horizontais (largura dos

ombros, cintura e quadril).

À medida que o corpo se transforma aceleradamente, alterando assim sua

configuração corporal, a percepção que o jovem tem do seu corpo, também se modifica

(MARCONDES et al., 1979; BRÊTAS, 2003; NETO, 2009).

O corpo pode ser percebido por dois elementos distintos e indissociáveis que

integram informações sensoriais, conceitos e ideias sobre a constituição dinâmica do

18

corpo em suas interações com o ambiente: a Imagem Corporal e o Esquema Corporal. A

Imagem Corporal refere-se à representação mental sobre o corpo carregada de

afetividade e conceitos valorativos sobre esse (TAVARES et al. 2010). O Esquema

Corporal é uma representação sensorial e motora do corpo que direciona as ações, é

uma representação inconsciente de caráter neurofisiológico que é imprescindível para o

controle das ações motoras nas relações com o espaço (VIGNEMONT, 2010). O

Esquema Corporal se refere ao conhecimento corporal no que diz respeito às percepções

e conceitos sobre o corpo que não estão sujeitos às influências culturais (MULLIS,

2008).

Segundo Marcondes et al. (1979), a partir das diversas modificações corporais

que ocorrem na fase da puberdade é comum a emergência relativamente frequente de

sensações de desproporcionalidade, pois as alterações corporais, quando

incompreendidas, podem gerar desconforto aos jovens, uma vez que o Esquema

Corporal desajustado pode não refletir as dimensões corporais reais do indivíduo. Para o

autor, é a partir do corpo que o jovem pode se aperceber.

As dimensões corporais, ao se alterarem, ocasionam desajustes no Esquema

Corporal e na orientação espacial, o que gera desordens na capacidade de controlar o

corpo no espaço, passando o púbere a esbarrar nos objetos, tropeçar e reduzir sua

precisão, por exemplo. Os desajustes referentes à coordenação motora que ocorrem

nesse período podem ser derivados da incongruência existente entre o Esquema

Corporal anteriormente estabelecido e a falta de reconhecimento e apropriação das

dimensões deste novo corpo em processo de transformação, fruto do processo vivido

durante o estirão de crescimento (BRÊTAS, 2003). Para o autor, o crescimento com

transformações corporais desiguais é evidentemente representado no corpo afetando

assim o Esquema Corporal estruturado ao longo dos anos.

Ao longo da vida ocorre uma série de mudanças decorrentes das interações entre

as restrições do indivíduo, da tarefa e do ambiente. Durante o processo de

desenvolvimento, o ser humano passa por períodos críticos que se referem à maior

sensibilidade do organismo para receber estímulos ambientais apropriados em períodos

específicos, potencializar o processo de desenvolvimento e a aprendizagem de

habilidades específicas que refletirão de forma mais positiva nos estágios posteriores. A

19

falta de estímulos adequados nos diferentes períodos críticos do desenvolvimento

poderá ocasionar impactos negativos ao desenvolvimento normal (GALLAHUE et al.,

2013). O desenvolvimento do Esquema Corporal ocorre durante todos os ciclos da vida,

e à medida que a maturação neurológica é associada às experiências corporais, a

percepção sobre o corpo se amplia, se desenvolve (OLIVEIRA, 2011).

Gradativamente, durante as fases de desenvolvimento, a criança percebe cada

parte do corpo e integra-as, formando assim uma percepção particularizada das partes e

ao mesmo tempo do corpo como um todo. Contudo, para que isso ocorra de forma

efetiva, se faz necessário que os educadores durante os diferentes estágios de formação

do Esquema Corporal auxiliem as crianças a direcionar a atenção sobre si de modo a

viabilizar o processo de maior interiorização do corpo, possibilitando assim a

apropriação do corpo e o estabelecimento de relações harmoniosas entre esse com o

meio que o cerca (OLIVEIRA, 2011).

De acordo com os relatos encontrados na literatura, é por meio do

desenvolvimento do Esquema Corporal que o ser humano amplia o conhecimento sobre

seu corpo e integra de forma mais harmoniosa suas partes, o que resulta em

desempenhos motores harmônicos em relação ao meio que o circunda (HOLMES &

SPENCE, 2004).

Um Esquema Corporal mal estruturado se traduz em deficiências referentes à

organização espaço-temporal, à coordenação motora e à falta de segurança nas próprias

atitudes motoras, circunstâncias que dificultam uma adequada comunicação com o

mundo exterior (NETO, 2009).

Longo et al. (2010) relataram que Tanner considerou que o desajuste da

propriocepção em adolescentes derivado do estirão de crescimento pode ultrapassar a

capacidade somatoperceptiva para atualizar o modelo de corpo (Esquema Corporal) por

meio da localização proprioceptiva, produzindo essas alterações, equívocos sistemáticos

sobre a localização de partes do corpo no espaço exterior. Ainda de acordo com Longo

et al. (2010), estudos recentes demostraram que o início dos desajustes de coordenação

são intensificados com o aumento da velocidade de crescimento, porém pouco se sabe

sobre a natureza específica do modelo de localização do corpo.

20

Atualmente no Brasil diferentes estudos realizados com a Escala de

Desenvolvimento Motor – EDM, proposta por Rosa Neto (2002), constataram

defasagens do esquema corporal de crianças brasileiras em relação a idade cronológica.

Rosa Neto et al. (2011), reconhecendo a importância do esquema corporal para o

desenvolvimento global da criança, avaliaram 39 crianças de 6 a 10 anos de uma escola

pública de Florianópolis e constataram que todos os participantes avaliados

apresentaram defasagens tanto na idade motora como no Esquema Corporal e que tais

atrasos aumentaram conforme o avanço da idade cronológica dos participantes. No

mesmo estudo, os autores citaram ainda experimentos realizados com escolares,

praticantes de natação, futebol de salão e crianças com dificuldades de aprendizagem, e

em todos os experimentos, os participantes apresentaram déficit do esquema corporal.

Em outro estudo realizado por Rosa Neto et al. (2007), cujo objetivo consistiu

em avaliar o desenvolvimento motor e as características psicossociais de crianças com

indicadores de dificuldade na aprendizagem escolar, realizado com 31 crianças de

ambos os sexos de 6 a 13 anos, constatou-se que 51,2% dos participantes apresentaram

déficits do esquema corporal, precedido de 38,4% que exibiram defasagem da

organização espacial e 35,2% da organização temporal.

Silva et al. (2009) investigaram 50 crianças de ambos os sexos, de escola pública

e privada, de 11 anos de idade, por meio da Escala de Desenvolvimento Motor de Rosa

Neto e constataram que as crianças exibiram defasagens na avaliação do esquema

corporal uma vez que elas apresentaram a idade do esquema corporal abaixo da idade

cronológica.

Rosa Neto et al. (2011) constataram que os dados obtidos em seu estudo

confirmam a relação com os achados de outros autores de que tais déficits se agravam

com o aumento da idade cronológica. Assim sendo, com o avanço da idade as crianças

passam a apresentar maior dificuldade para desempenhar tarefas que envolvam o

controle e o reconhecimento do próprio corpo.

21

Por meio das citações efetuadas, hipotetiza-se que as alterações corporais

derivadas do estirão de crescimento desajustam o esquema corporal, e esse desorganiza

as ações motoras globais e finas dos púberes.

Para Holmes & Spence (2004), ao manipular objetos para alcançar um objetivo é

necessário ter uma representação neural do corpo integrada (espaço pessoal - espaço

delimitado pela pele) ao espaço circundante (espaço peripessoal – espaço próximo ao

corpo). Pode ser considerado como espaço peripessoal o espaço situado imediatamente

ao redor do nosso corpo, o qual nos permite alcançar objetos sem que precisemos nos

locomover. As representações do corpo e do espaço peripessoal envolvem as

modalidades sensoriais visuais, somatossensoriais e proprioceptivas e operam tendo

como parâmetro as referências do corpo. Para alcançar objetos ao redor do corpo com as

mãos, o cérebro precisa calcular a posição dos braços no espaço em relação ao objeto;

para isso, é necessário fazer uso de uma variedade de quadros de referência como

direcionar o olhar para o objeto recorrendo a um mapa retinotópico e evocar

representações topográficas (somatotópicas) sobre a localização de partes do corpo.

Conforme os autores, a área cortical parietal posterior é responsável por manter um

modelo atualizado da posição do corpo no espaço, e o córtex visual pelo processamento

dos objetos vistos no espaço peripessoal. As informações sobre o corpo e sobre o objeto

são integradas e processadas no córtex parietal posterior e no córtex ventral pré-motor.

O esquema corporal e o espaço peripessoal são elementos que emergem de uma rede de

integração tanto dos centros corticais como subcorticais.

Segundo Fagard & Wolff (1991), o ser humano utiliza as mãos para efetuar

diversas ações relacionadas à comunicação, manutenção do corpo e alimentação. As

habilidades manuais se constituem em um elemento essencial para manusear objetos e

construir ferramentas. Segundo os autores, o ato de preensão faz parte do

comportamento inteligente, portanto a forma como a criança exerce as ações manuais

pode resultar em um desenvolvimento restrito ou ampliado da cognição.

O desempenho eficiente das habilidades manuais requer a organização do

sistema nervoso central que, para planejar ações manuais, necessita de informações

neuro-anatômicas do ombro, cotovelo, punho, mãos e dedos (ROSA NETO, 2002;

FAGARD & WOLFF, 1991). Para pegar um objeto é necessário coordenar a ação dos

22

dedos, afastá-los o suficiente para apreender o mesmo; para efetuar tal ato, é necessário

perceber a forma e o tamanho do instrumento. Ao segurá-lo emergem informações

sobre a força a ser executada para deslocá-lo, e esses ajustes contemplam a prévia

interpretação visual. O córtex pré-motor é responsável pela motricidade fina e está

relacionado ao controle das mãos e dedos (ROSA NETO, 2002). A habilidade de

preensão manual envolve alcançar e segurar, ações desenvolvidas durante a infância que

dão sustentação às várias habilidades manuais (FAGARD & WOLFF, 1991).

23

1.1 Justificativa

Ao longo de décadas, no discurso de vários profissionais encontram-se várias

referências e expressões que afirmam que as alterações corporais decorrentes do período

de estirão de crescimento ocasionam desajustes do Esquema Corporal, e esse

desorganiza as ações motoras e espaciais. No entanto, não localizamos dados precisos

que revelassem qual é a percepção dos púberes sobre as dimensões corporais geral e

segmentar, nem se essas de fato se desajustam em decorrência das alterações corporais

que se processam durante o período da puberdade e ocasionam aos púberes

desorganizações motoras em relação aos desempenhos da destreza manual e da

capacidade de localização proprioceptiva das mãos.

Com base nos apontamentos efetuados anteriormente, idealizamos contribuir

com a comunidade científica ao fornecer informações sobre o índice de percepção das

dimensões corporais dos púberes, tema tão inexplorado e controverso. Por meio do

instrumento utilizado para avaliar a percepção sobre as dimensões corporais e critérios

de análise, será possível identificar qual é a percepção dos púberes sobre as dimensões

do contorno corporal, sua aproximação ou afastamento das dimensões reais. Será

possível também constatar se a percepção sobre as dimensões corporais está associada

aos desempenhos da destreza manual e à capacidade de localização proprioceptiva das

mãos, identificar possíveis fatores relacionados a esses desempenhos e por meio do

instrumento por nós idealizado, avaliar a capacidade de localização proprioceptiva das

mãos.

1.2 Objetivo Geral

Identificar a percepção das dimensões corporais dos púberes de ambos os sexos

durante o período do estirão de crescimento e sua relação com o desempenho motor.

1.3 Objetivos Específicos

1. Avaliar os aspectos quantitativos e qualitativos da percepção das dimensões

corporais entre os sexos feminino e masculino.

24

2. Verificar a influência da maturação sexual, das atividades motoras pregressas,

das horas semanais de praxia fina e das horas semanais de inatividade motora global

sobre a percepção das dimensões corporais.

3. Analisar a influência da percepção das dimensões corporais geral e dos

ombros sobre a destreza manual e capacidade de localização proprioceptiva das mãos.

4. Verificar a influência da maturação sexual; das atividades motoras pregressas,

da inatividade motora global e das horas semanais de praxia fina sobre os desempenhos

da destreza manual e capacidade de localização das mãos.

5. Identificar, nos quatro estágios de maturação sexual, o IPC Geral e sua relação

com os desempenhos da destreza manual e da capacidade de localização das mãos.

1.4 Hipóteses Iniciais

1. a A Percepção Corporal se desajusta à medida que se alteram as dimensões

corporais.

1. b A Percepção Corporal entre os sexos difere.

1. c Os indivíduos apresentam assimetrias e descentralizações referentes à

percepção das dimensões dos segmentos corporais.

1. d Os jovens não percebem os segmentos corporais que se modificam durante

a fase de estirão de crescimento.

2. a A maturação sexual e as horas de inatividade motora global ocasionam

desajustes da percepção corporal geral e segmentar.

2. b As atividades motoras pregressas ocasionam ajustes à percepção das

dimensões corporais geral.

2. c As horas de praxia fina ocasionam maior ajuste à percepção corporal dos

ombros.

3.a Os desajustes da percepção corporal geral e dos ombros ocasionam prejuízos

aos desempenhos da destreza manual e menor precisão da capacidade de localização

proprioceptiva das mãos.

25

4. a A maturação sexual ocasiona prejuízos à destreza manual e à Capacidade de

Localização das Mãos.

4. b As atividades motoras pregressas não influenciam os desempenhos da

destreza manual e à capacidade de localização das mãos.

4. c As horas semanais de praxia fina ocasionam melhorias no desempenho da

destreza manual e na capacidade de localização proprioceptiva das mãos.

4. d As horas de inatividade motora global não influenciam os desempenhos

motores.

5. a Com o avanço da Maturação Sexual, a Percepção sobre as dimensões

corporais deve se desajustar e ocasionar prejuízos à capacidade de localização das mãos

e a destreza manual.

26

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Crescimento durante a puberdade

A fase da adolescência é caracterizada, segundo Massa (2006), por intensas

mudanças biológicas, tais como: mudanças hormonais, maturação óssea e maturação

sexual, assim como mudanças comportamentais. Essa fase se localiza entre a infância e

a idade adulta (GALLAHUE, 2013; MASSA, 2006).

A puberdade é caracterizada pelas mudanças biológicas que ocorrem na fase da

adolescência. A partir dos 8 ou 9 anos, ocorre o desencadeamento da produção de

hormônios, os quais promovem mudanças nas dimensões corporais e as características

sexuais secundárias (ABERASTURY, 1981).

O surto de crescimento da puberdade se inicia um ou dois anos antes que os

órgãos sexuais amadureçam e, depois disso, perdura por aproximadamente seis meses a

um ano (MALINA & BOUCHARD, 2002; ABERASTURY, 1981).

A fase do estirão de crescimento ocorre aproximadamente dos 9 aos 15 anos,

tendo o pico de velocidade de altura (PVA) dos 11 aos 13 anos com desaceleração dos

13 aos 15 anos aproximadamente (MALINA & BOUCHARD, 2002).

Para avaliar a velocidade de crescimento deve-se levar em consideração o ritmo

maturacional dos púberes que pode variar em função dos estágios de maturação sexual;

assim, os jovens poderão ter o ritmo de crescimento caracterizado como normal,

precoce ou tardio em relação à idade cronológica (GALLAHUE, 2013; MASSA, 2006).

Quando nos referimos ao pico de velocidade de altura, faz-se necessário relatar que há

uma correlação moderada a alta entre a as idades do PVA com as características sexuais

secundárias. Nota-se que as crianças precoces ou tardias em maturação sexual são

também avançadas ou atrasadas em relação ao período do estirão de crescimento. Além

dos aspectos até aqui apresentados, outro fator relevante consiste em destacar que as

meninas tendem a ser dois anos mais precoces que os meninos em todas as fases

(MALINA & BOUCHARD, 2002).

O estirão de crescimento em estatura contém três fases distintas. As meninas

iniciam a aceleração do crescimento aproximadamente aos 9 anos, e os meninos aos 11

anos, a velocidade de pico ocorrerá por volta dos 11 anos para as meninas e aos 13 para

os meninos, e a desaceleração se iniciará em média aos 13 anos para as meninas e aos

15 para os meninos com a estabilização da estatura entre os 16 e 18 anos para as

27

mulheres e entre os 18 e 20 anos para os homens (GALLAHUE, 2013; MALINA &

BOUCHARD, 1991).

Sabe-se que o aumento da estatura sofre forte influência genética e que a dieta e

o estilo de vida ocasionarão pouca variabilidade no crescimento que ocorre ao longo do

eixo temporal (GALLAHUE, 2013).

O rápido crescimento em estatura na fase da puberdade se deve em grande parte

ao aumento acelerado do comprimento dos membros inferiores; porém quando se

compara o crescimento dos membros inferiores ao comprimento tronco-cefálico, fica

evidente que a altura tronco-cefálica prossegue até o final da adolescência e

provavelmente até a segunda década de vida, enquanto o cessar do crescimento dos

membros inferiores ocorre antes disso, porque, em termos proporcionais, a altura

tronco-cefálica é maior que o comprimento dos membros inferiores na fase adulta; a

altura tronco-cefálica se processa mais tarde, porém por um período mais lento e mais

longo (MALINA & BOUCHARD, 2002; CHIPKEVITCH, 1995).

As dimensões do crescimento do tronco das meninas é um pouco maior que o

dos meninos no período da puberdade, e até os 14 anos o crescimento do tronco dos

jovens não se equipara ao das meninas. porém, após essa fase, eles chegam a ultrapassá-

las (MALINA & BOUCHARD, 2002).

No início da puberdade, o comprimento dos membros inferiores da menina é um

pouco maior que o dos meninos, e, aproximadamente aos 12 anos, eles as ultrapassam

(MALINA & BOUCHARD, 2002).

Na primeira infância, o recém-nascido tem um tamanho pequeno dos membros

inferiores em relação ao tronco e, dos 6 anos até o início da adolescência, há certa

proporcionalidade estabelecida entre o tamanho dos membros inferiores com relação ao

tamanho do tronco. Na fase da puberdade, nota-se que há uma distinção entre os sexos,

as meninas dos 10 aos 14 anos possuem um crescimento acelerado do tamanho do

tronco em relação ao tamanho dos membros inferiores, e os meninos dos 12 aos 14 anos

idem. Essa aceleração rápida ocorre na fase do estirão de crescimento. Dessas idades até

a fase adulta, etapa em que o crescimento já está consolidado, gradativamente o

crescimento tronco-cefálico ultrapassará o crescimento dos membros inferiores

tornando-se proporcionalmente maior até a fase adulta. O ganho de estatura no período

da puberdade está associado ao maior comprimento do tronco do que dos membros

inferiores. Esses dados podem ser apreciados no quadro 1 (PAYNE & ISAACS, 2007;

MALINA & BOUCHARD, 2002).

28

Quadro 1 – Representação da velocidade de crescimento das dimensões corporais

referentes à Altura Tronco-Cefálica e Membros Inferiores, em diferentes faixas etárias (quadro

elaborado segundo nossa ótica com base nos dados de Malina & Bouchard, 2002)

Sexo Idades Altura Tronco-Cefálica Membros Inferiores

Fem/Masc Recém-nascido Grande Pequena

Fem/Masc 6 anos/ início adolescência Proporcional Proporcional

Feminino 10-12 anos Menor Maior

Masculino 12-14 anos Menor Maior

Feminino Acima de 12 anos Maior Menor

Masculino Acima de 14 anos Maior Menor

Resumindo, podemos relatar que, na infância, o crescimento dos membros

inferiores é mais intenso que o do tronco, e, na puberdade, o crescimento do tronco

passa a ser mais acentuado que o crescimento dos membros inferiores (CHIPKEVITCH,

1995).

Quanto ao crescimento das dimensões biacromial (ombros) e bitrocantérica

(fêmur), as meninas, do final da infância até o final da adolescência, apresentam maior

largura bitrocantérica quando comparadas aos meninos; porém, eles se equipararão às

meninas no final da adolescência. Ao se comparar a largura biacromial entre os sexos,

os meninos apresentam dimensões maiores em todas as idades, exceto na fase do estirão

de crescimento das meninas que ocorre entre os 10 e 12 anos, etapa em que suas

dimensões são relativamente maiores. Durante o estirão de crescimento, os meninos

aumentam as dimensões biacromiais mais do que as meninas e elas por sua vez ampliam

as dimensões bitrocantéricas mais que os meninos. Na vida adulta, como resultado do

processo de crescimento, os homens em geral apresentam ombros mais largos

(dimensões biacromiais) que as mulheres, e as dimensões dos quadris (bitrocantéricas)

são equivalentes a elas em termos de proporcionalidade (MALINA & BOUCHARD,

2002).

Outro dado relevante é que os meninos aumentam o dobro em largura biacromial

em comparação ao ganho de amplitude bitrocantérica durante a fase da adolescência.

Nas meninas, embora ocorra um ganho acentuado das dimensões bitrocantéricas nessa

29

fase, há uma pequena diferença no ganho das duas dimensões ao serem comparadas,

biacromial e bitrocantérica (MALINA & BOUCHARD, 2002).

A seguir, apresentamos um quadro sinóptico (2) reproduzido parcialmente de

(CHIPKEVITCH, 1995). Neste quadro, observam-se as características peculiares dos

diferentes segmentos corporais de cada sexo durante o período de estirão de

crescimento. Na linha horizontal, estão dispostas as dimensões corporais como: estatura,

altura tronco-cefálica, comprimento dos membros inferiores e dimensões biacromiais e

bitrocantéricas. Na linha vertical, estão dispostos os parâmetros que dizem respeito à

idade do início do estirão de crescimento (IE), à idade do pico de velocidade de

crescimento (PVC) e ao ganho puberal expresso em centímetros, do início ao final do

estirão de crescimento. Segundo o autor, os meninos iniciam o estirão de crescimento

dos segmentos corporais aproximadamente dois anos após as meninas. Verifica-se que

em ambos os sexos, na fase do estirão, o ganho puberal dos segmentos superiores

(altura tronco-cefálica) é maior do que o dos membros inferiores, e o ganho puberal das

dimensões biacromiais é maior do que as bitrocantéricas. O ganho biacromial dos

meninos é consideravelmente maior do que o das meninas. O ganho biacromial puberal

masculino corresponde a 21% e nas meninas a 17% do tamanho adulto. No que diz

respeito à dimensão bitrocantérica, as meninas têm um crescimento maior (21% do

tamanho adulto) do que o dos meninos (17% do tamanho adulto).

Quadro 2 – Crescimento das dimensões corporais e suas respectivas correspondências

com a idade do início do estirão (IE) de crescimento, com a idade do pico de velocidade de

crescimento (PVC) e com o ganho puberal (reprodução parcial do quadro elaborado por

(CHIPKEVITCH, 1995)).

Feminino

Parâmetros Estatura Altura

Tronco-Cefálica Membros

Inferiores Dimensão

Biacromial Dimensão

Bitrocantérica

Idade IE 10,3 anos 10,4 anos 10,2 anos 10,4 anos 10,1 anos

Idade PVC 11,9 anos 12,2 anos 11,6 anos 12,2 anos 12,3 anos

Ganho Puberal 25,3 cm 13,5 cm 11,5 cm 6,2 cm 6,0 cm

Masculino

Parâmetros Estatura Altura

Tronco-Cefálica Membros

Inferiores Dimensão

Biacromial Dimensão

Bitrocantérica

Idade IE 12,1 anos 12,1 anos 12,0 anos 12,0 anos 12,1 anos

Idade PVC 13,9 anos 14,3 anos 13,6 anos 14,2 anos 14,0 anos

Ganho Puberal 27,6 cm 15,4 cm 12,1 cm 8,5 cm 4,8 cm

30

As alterações das proporções corporais, principalmente as dos membros

inferiores e segmento superior (tronco-cefálica) que ocorrem na fase da puberdade,

alteram a localização do centro de gravidade, e essa alteração ocasiona prejuízos ao

equilíbrio e ao desempenho motor, principalmente na época do pico de velocidade de

altura que ocorre nos meninos aproximadamente aos 13,7 anos e nas meninas aos 11,8

anos (PAYNE & ISAACS, 2007). Segundo os mesmos autores, Tanner constatou que

os desajustes do equilíbrio podem perdurar durante 6 meses e que Ostyn e

colaboradores identificaram que há um número significativo de meninos que declinaram

o desempenho motor nesse período. A esse fenômeno se atribui a denominação de

desajuste do adolescente. De forma geral, as alterações da estatura, altura tronco-

cefálica, dos membros inferiores, da largura biacromial e trocantérica ocasionam

desajustes do desempenho motor. O aumento das dimensões bitrocantéricas em meninas

parece ocasionar desvantagens referentes aos desempenhos relacionados à corrida e

saltos e benefícios em atividades de balanceios uma vez que as dimensões do quadril

(dimensões birocantéricas) se somam aos membros inferiores mais curtos que o dos

meninos. As dimensões biacromiais ampliadas e conciliadas ao aumento dos membros

superiores proporcionam aos meninos melhores desempenhos nas habilidades de

arremessar (PAYNE & ISAACS, 2007).

Além das transformações corporais mencionadas, surgem outras modificações

características dessa fase, importantes para este estudo.

Durante três anos e um ano após a puberdade, a menina ganha aproximadamente

dezessete quilos. No que diz respeito às alterações corporais, durante a puberdade é

possível verificar que a cabeça tem um crescimento lento em relação ao resto do corpo,

porém a testa se torna mais larga e alta, e o nariz cresce em ritmo acelerado, a boca se

torna mais larga, os lábios ganham volume tornando-se mais espessos, o queixo adquire

um aspecto mais pronunciado, as dimensões dos quadris e ombros se ampliam, os

membros inferiores e superiores se tornam mais longos e mais cheios como resultado do

aumento de tecido adiposo que também se concentra nas regiões das mamas, quadris e

coxas. É comum nessa fase o aparecimento de pelos nas axilas, face, membros e púbis.

A voz se altera assim como a cor e a textura da pele. Mudanças no sistema digestório,

circulatório, endócrino e respiratório também acontecem. Os ovários e o útero

amadurecem e crescem aceleradamente aproximadamente até os 12 anos, fase em que

geralmente ocorre a menarca. As transformações corpóreas dos meninos ocorrem

simultaneamente ao aparecimento dos caracteres sexuais secundários. Observa-se o

31

aumento das dimensões dos ombros (dimensões biacromiais) e um maior

desenvolvimento muscular, pois o surto puberal é acompanhado pelo aumento do

tamanho das células musculares sob a influência dos andrógenos. Quanto à gordura

subcutânea (tecido adiposo), há um acúmulo desde os 8 anos até a adolescência, fase em

que essa deposição diminui coincidindo com o pico de velocidade de crescimento. O

recomeço de um novo acúmulo de gordura ocorre no final da adolescência (MALINA &

BOUCHARD, 2002; ABERASTURY, 1981). Segundo Gallahue (2013), o aumento de

peso nos meninos se deve principalmente ao ganho de massa muscular e da altura.

Com relação à circunferência dos braços há um aumento maior da massa

muscular, principalmente entre os rapazes na fase do estirão de crescimento. Quanto à

circunferência da cabeça, um pequeno estirão se manifesta mais cedo nas meninas que

nos meninos. Vale lembrar que o crescimento mais acelerado da cabeça ocorre

aproximadamente até os 6 anos de idade (MALINA & BOUCHARD, 2002).

Observamos que nos estudos realizados sobre o crescimento das dimensões

corporais, há certa preocupação quanto a relação entre as partes do corpo com o todo, à

medida que esse cresce.

2.2 Esquema Corporal

De acordo com a literatura, vários autores atribuem nomenclaturas diferentes ao

se referirem ao conhecimento que o indivíduo tem sobre seu corpo (figura 1), tais como:

Esquema Postural de Head, Esquema de Bonnier, Imagem de si de Van Bogaert,

Somatopsíquico de Janet, Imagem do Eu Corporal de Merleau-Ponty, Imagem do Corpo

de Shilder, Noção do Corpo de Ribot, Imagem Espacial do Corpo de Picq e Imagem do

Nosso Corpo de Lhermitte (FONSECA, V., 2008).

Figura 1 – Nomenclaturas de diversos autores encontradas na literatura

se referindo ao conhecimento corporal

(ilustração elaborada com base nos apontamentos de (FONSECA, V., 2008)).

32

Há tempos se estuda o corpo como instrumento de materialização da

humanização, e nesse sentido foi a partir das especulações filosóficas sobre o corpo que

surgiram os estudos neurológicos com o intuito de compreender o funcionamento do

cérebro e suas patologias, posteriormente os psicólogos e psicanalistas também o

estudaram com o objetivo de compreender o desenvolvimento da personalidade da

criança e suas respectivas perturbações (FONSECA, V., 2008).

Fonseca, V. (2008) considerou que é difícil estabelecer fronteiras nítidas entre os

conceitos de Imagem Corporal e Esquema Corporal, devido à natureza psicofisiológica

do ser humano.

De acordo com Vignemont (2010), até o final do século XIX o conhecimento

corporal foi concebido como um pacote de sensações internas. O autor relatou que em

1905, Bonnier introduziu o termo esquema para se referir à organização espacial,

momento esse em que quase todos os neurologistas da época passaram a admitir que

havia uma representação mental sobre o corpo, ou esquema corporal, cujo termo na

atualidade também é chamado de imagem do corpo. No entanto, evidenciou-se uma

confusão difundida sobre a natureza e as propriedades da referida noção, que até hoje

perduram.

Embora haja divergências na literatura quanto aos conceitos utilizados acerca do

conhecimento corporal, Vignemont (2010), em seus estudos, diferencia os conceitos de

Imagem e Esquema Corporal. O autor ao discutir os aspectos do conhecimento corporal,

utiliza o termo Percepção Corporal, a qual durante o seu processo de construção integra

informações sensoriais, conceitos e ideias sobre a constituição dinâmica do corpo e suas

interações com o ambiente. O autor considera que a Percepção Corporal é composta por

dois elementos distintos, porém indissociáveis, o Esquema Corporal e a Imagem

Corporal, conforme pode-se observar na figura 2.

Vignemont (2010) relata que a Imagem Corporal consiste na representação sobre

o corpo carregada de afetividade e conceitos valorativos sobre esse, e, segundo Mullis

(2008), a Imagem Corporal pode ser considerada como um conjunto de disposições

referentes às crenças e percepções deslocadas ao corpo. Reforçando ainda as

explanações efetuadas sobre Imagem Corporal, pode-se destacar que a Imagem está

relacionada à concepção atitudinal sobre o corpo que diz respeito às emoções e

cognições do sujeito em relação à sua aparência somática (TAVARES et al. 2010).

33

O Esquema Corporal pode ser considerado, segundo Vignemont (2010), como

uma representação sensório-motora do corpo que guia as ações, atribuindo ao Esquema

Corporal um caráter neurofisiológico.

Figura 2 – Elementos da percepção corporal expressa com base nos pressupostos dos

autores apresentados no texto, elaborado segundo nossa ótica.

Head & Holmes (1911) atribuíram ao conceito um enfoque essencialmente

neurológico. O córtex cerebral recebe informações de diversas partes do corpo como

das vísceras, das sensações e percepções táteis, térmicas, visuais e auditivas, o que

possibilita a formação de uma noção de corpo e de suas posturas, tanto do presente

como do passado. O autor relatou que, a partir do estudo dos nervos periféricos e das

funções nervosas associadas às sensações, constatou-se a existência da sensibilidade

proprioceptiva e atribuiu-se a ela o papel fundamental relacionado à condução das

informações corporais à consciência, sobre as posições adotadas pelo corpo e as

mudanças por ele geradas. O autor elegeu o córtex sensorial como o armazém das

impressões passadas, que seriam transformadas em modelos organizados e que

poderiam ser chamados de Esquema, sendo esse responsável por servir de alicerce a

todas as realizações futuras de movimentos (OLIVIER, 1995).

34

O Esquema Corporal se compõe por informações somatossensoriais multimodais

que permitem ao ser humano, a todo tempo, receber informações atualizadas sobre seu

corpo e suas partes nas relações com os objetos e com o espaço circundante

(MARAVITA; IRIKI, 2004).

O Esquema Corporal é plástico e não inflexível, é uma estrutura em constante

transformação ou reconstrução, devido às infinitas posições adotadas pelo corpo

(OLIVIER, 1995). É plástico, pois qualquer alteração postural do sujeito em relação ao

meio que ative a propriocepção ou exterocepção gerará novas informações que, uma vez

analisadas, implicarão novas adaptações do sujeito ao meio, possibilidades essas

resultantes deste elemento plástico, o Esquema Corporal (MARAVITA; IRIKI, 2004).

Ao se pensar no Esquema Corporal como um elemento plástico, que permite ao

homem adaptar seus movimentos em relação às diferentes situações ambientais que a

ele se apresentam, é interessante refletir sobre os apontamentos de Head e Holmes que

já em 1911 relataram que todas as sensações seriam enviadas a esse Esquema Modelo

(Modelo Postural de Corpo) e confrontadas com os registros sobre ele existentes e, a

partir daí, modificadas, permitindo que diferentes posições fossem expressas. Assim

sendo, todas as novas posições adotadas pelo corpo emergiriam carregadas de relações

com as anteriormente executadas, e, concomitantemente, todas as sensações, posições

ou movimentos novos seriam armazenados no Esquema, o que tornaria seus registros

permanentemente modificados (MULLIS, 2008).

De acordo com os relatos de Head, o Esquema Corporal pode ser considerado

então como um modelo postural de corpo que localiza a posição de um segmento e que

tem um papel importante no controle do movimento, pois ele envolve aspectos de

ambos os sistemas centrais e periféricos, como os receptores sensoriais e o sistema

proprioceptivo.

A organização das sensações proprioceptivas é indispensável no processo de

organização dos movimentos, pois a propriocepção permite ao ser humano perceber as

formas do corpo, a localização de cada parte, assim como ter ciência sobre as posturas

adotadas pelo corpo antes e durante a execução de movimentos. A propriocepção

integrada aos demais sistemas sensoriais permite ao ser humano perceber sua dimensão

corporal (MARAVITA; SPENCE; DRIVER, 2003).

Portanto, pode-se pensar que o Esquema Corporal consiste em um conjunto de

processos que permitem a identificação das diferentes posições, das diferentes partes do

corpo e do corpo como um todo no espaço, e todas as vezes que ocorrem os

35

movimentos corporais ele é atualizado. Essas ações são consideradas inconscientes e

são utilizadas para a estruturação espacial da ação. Entende-se que o Esquema Corporal

refere-se a informações continuamente atualizadas, não conceituais e inconscientes

sobre o corpo e que proveem a avaliação necessária para a execução de nossos

programas motores generalizados e de forma refinada. As informações do Esquema

Corporal não são conscientes; por esse motivo, não é preciso pensar para executar o ato

de levantar de uma cadeira, esse gesto está automatizado desde criança, porém ao

aprender habilidades novas como segurar a rédea de um cavalo, exige um esforço

consciente e atenção. Todas as demandas inesperadas que ocorrerem na realização de

tarefas motoras requererão nossa atenção consciente (MEIJSING, 2000).

O Esquema Corporal é a representação que o indivíduo tem sobre o seu corpo,

representação adquirida, elaborada e organizada no cérebro por meio da aprendizagem

(FONSECA, V., 2008).

O Esquema Corporal, portanto, consiste em uma representação espacial do corpo

que permite ao sujeito saber o comprimento, a configuração, a forma da superfície dos

seus segmentos corporais e a localização desses no espaço (MARAVITA; IRIKI, 2004).

Na literatura, identificamos muitas vezes o termo representações, utilizado como

sinônimo de esquema corporal e de imagem corporal. Para que possamos esclarecer os

termos empregados nesta pesquisa sobre esquema corporal, faz-se necessário abordar a

noção sobre o conceito de mapas, elemento essencial para a compreensão da percepção

corporal. Para tanto, utilizaremos os pressupostos escritos por Damásio em sua obra E o

cérebro criou o homem (2009).

2.2.1 A formação de Mapas

A formação da mente emerge a partir da atividade dos neurônios, que em sua

maioria se concentram no sistema nervoso central que envia sinais ao corpo e

recepciona informações do corpo e do mundo exterior. Os neurônios desenvolvem

microcircuitos que ao se combinarem constituem circuitos maiores, formando redes ou

sistemas. A mente se origina quando a atividade dos microcircuitos se organiza em

grandes redes neurais formando padrões, os quais representam objetos e fenômenos

situados fora do cérebro como o corpo ou o mundo exterior. Todos os padrões

representativos sejam eles simples ou complexos, concretos ou abstratos, foram

denominados por Damásio Mapas. Para o autor, esses mapas são vivenciados como

36

imagens na mente; ele relata que o termo imagem diz respeito às imagens advindas de

nossos sentidos como os visuais, os auditivos, os táteis e os viscerais, os quais, quando

acionados concomitantemente, são integrados de forma a possibilitar o planejamento de

ações correspondentes.

A construção de mapas se constitui por uma ação constante que se processa de

fora para dentro do cérebro, nas interações com o corpo e com o mundo exterior e,

também, quando se evocam objetos que fazem parte da memória. O cérebro tem a

capacidade de representar as características das coisas e acontecimentos que não

pertencem a ele incluindo as ações corporais. Ele é um compositor nato de mapas

mutáveis, pois somos seres em constante movimento, e a arte ou ciência de compor os

mapas começou com o mapeamento do corpo o qual contém o cérebro (DAMÁSIO,

2009).

Segundo Damásio (2009), as informações contidas nos mapas podem ser

utilizadas de maneira inconsciente para guiar com eficácia o comportamento motor.

Medina & Coslett (2010), Vignemont (2010) e outros utilizam o termo esquema

corporal ao se referirem às informações inconscientes sobre o corpo que possibilitam ao

ser humano guiar suas ações. Assim sendo, utilizaremos também, ao longo deste estudo,

o termo mapa para nos referir ao esquema corporal. A seguir, discutiremos os conceitos

de Somatopercepção (Esquema Corporal) e de Somatorepresentação (Imagem Corporal)

constituídos a partir das sensações corporais.

2.2.2 O Corpo, sede da Somatopercepção e Somatorepresentação

O corpo é um objeto único no mundo, sede de nossas sensações. As sensações

extrínsecas (superfície do corpo) ou intrínsecas têm um caráter privado que se difere dos

estimulos visuais e audidivos compartilhados publicamente (LONGO et al., 2010).

O corpo poderá ser sentido e refletido a partir das sensações internas como um

objeto de percepção direta ou a partir das percepções externas sobre ele. É importante

distinguir entre a forma como se percebe o corpo para ser e como lembramos ou

acreditamos que ele seja. A percepção sobre o corpo e sobre os objetos em contato com

o corpo diz respeito à somatopercepção, e as crenças, atitudes e o conhecimento abstrato

sobre os corpos em geral referem-se à somatorepresentação (LONGO et al., 2010).

Longo et al. (2010) consideram que o corpo é um canal direto para a formação

da somatorepresentação (Imagem Corporal), a qual possibilita a construção de uma

37

representação consciente sobre o que o corpo é, assim como para a formação da

somatopercepção (Esquema Corporal) que possibilita as percepções sobre a posição

atual do corpo e de suas partes e sobre a posição do corpo em relação ao espaço.

Embora a somatopercepção e a somatorepresentação sejam elementos essenciais para a

constituição da percepção corporal, discorreremos apenas sobre a somatopercepção

(Esquema Corporal) que é o foco predominante deste estudo. Os autores relataram que,

em um dado momento, considerando-se a somatopercepção, o corpo é o objeto de

percepção de si (percepção do próprio corpo) e, em outro, é a via de percepção dos

estímulos do mundo (percepção dos estímulos externos). Em ambos, o processo envolve

a construção perceptual de mapas do estado presente do corpo e das entradas dos

estímlos sensoriais.

A Somatopercepção é o processo de perceber o próprio corpo, e,

particularmente, de assegurar sua constância perceptiva somática. Longo et al. (2010)

citaram vários elementos-chave da somatopercepção e, com base em estudos de

diferentes autores, relataram suas bases neurais correspondentes. Destacaremos apenas

três categorias de mapeamentos: (1) Esquema Postural, mapa dinâmico da posição

atual do corpo, cujas bases neurais estão representadas no córtex Parietal Superior e

Intraparietal lateral do hemisfério direito; (2) Modelo de Tamanho e Forma do Corpo,

percepção sobre o tamanho das partes do corpo, provavelmente localizado nos lobos

parietais do hemisfério direito; e (3) Esquema Superficial de Corpo, responsável por

mediar a localização de sensações somáticas na superfície do corpo, localizado no lobo

parietal anterior.

Assim como Longo (2010), Medina & Coslett (2010) também relataram que o

Esquema Corporal é constituído a partir de três representações (mapas) distintas: o

Esquema Postural, o Modelo de Tamanho e Forma do Corpo e o Esquema Superficial

de Corpo. A seguir, discorreremos mais especificamente sobre as três categorias de

mapeamento corporal descritas por (LONGO et al., 2010).

Esquema Postural

O termo Esquema Postural, introduzido por Head e Holmes (1911), permite a

identificação das posições assumidas pelo corpo como um todo, a percepção sobre o

grau de flexão e extensão de cada articulação e a localização das partes do corpo no

espaço externo. As constatações sobre as posições corporais são provenientes das

38

aferências proprioceptivas que informam o sistema nervoso central sobre as posturas

corporais atuais, constantemente confrontadas com as anteriormente adotadas.

A cada movimento, novas sensações corporais são geradas e registradas no

córtex que ininterruptamente compara as ações atuais com as anteriormente

armazenadas. Por esse motivo, considera-se que o esquema corporal é plástico, pois ele

atualiza constantemente as perpétuas alterações posturais que o corpo efetua, permitindo

ao indivíduo perceber constantemente as posturas adotadas pelo corpo (LONGO et al.,

2010).

O esquema postural tem vital importância para a elaboração de movimentos a

serem realizados, pois para efetuá-los é necessário perceber a localização atual das

partes do corpo e das posturas por ele adotadas, como ponto de partida para a

programação e realização dos movimentos.

Modelo de tamanho e forma do corpo

O modelo de tamanho e forma do corpo corresponde à representação sobre as

dimensões corporais.

Recorre-se ao modelo de tamanho e forma do corpo para reconhecer a

localização tátil e o tamanho dos objetos que tocam a pele.

A percepção sobre a localização tátil e sobre o tamanho dos objetos que tocam a

superfície do corpo refere-se a:

a) aptidão para discriminar a distância entre os pontos tocados;

b) capacidade para distinguir a extensão do toque (área de abrangência do toque)

sobre a superfície da pele.

A percepção das distâncias entre os pontos tocados na pele (sensibilidade

epicrítica) está fortemente relacionada à sensibilidade tátil dos diferentes segmentos

corporais e da magnificação cortical correspondente aos segmentos, ou seja, tal

percepção depende do tamanho dos segmentos corporais, da densidade numérica dos

mecanorreceptores concentrados em cada parte do corpo e da representação das regiões

dos proprioceptores e exteroceptores em mapas sensoriais corticais (Homúnculo).

Segundo Machado (2000), o Homúnculo sensitivo, assim denominado por Pienfield e

Rasmussen, refere-se à correspondência entre as partes do corpo com as áreas

somestésicas do córtex e o Homúnculo motor à representação das partes do corpo no

córtex motor (figura 3).

39

Figura 3 – Representação cortical dos homúnculos sensitivo à esquerda e motor à

direita (MACHADO, 2000).

Para dimensionar o tamanho de um objeto em contato com uma parte do corpo, é

fundamental comparar o tamanho do objeto com a representação do tamanho e forma do

corpo. A identificação do tamanho dos objetos ocorre também por meio da preensão

exercida sobre ele ao apertá-lo. Por exemplo, ao apertar um objeto com o polegar e com

o indicador, as sensações táteis associadas às proprioceptivas referenciam o quão longe

está o polegar do indicador, recorrendo-se para isso ao modelo de propriedades métricas

do corpo.

Esquema Superficial de Corpo

O Esquema Superficial de Corpo correspondente à percepção da superfície do

corpo delimitada pela pele. Tal representação permite ao sujeito localizar as sensações

táteis da superfície da pele.

O Esquema Superficial possibilita a construção de percepções reais sobre a

localização de um toque em uma determinada parte do corpo associada aos mapas pré-

existentes do corpo que são informados a partir de estímulos visuais, auditivos e táteis,

sendo os estímulos táteis essenciais para esse processo. Assim, as percepções táteis

sobre o tamanho real, forma, localização e especificidade dos objetos que tocam a pele

40

serão influenciadas pelos julgamentos dos diferentes tipos de mapas do corpo (LONGO

et al., 2010).

A fim de explicar a interação entre os três mapas corticais do corpo – Esquema

Superficial, Modelo de Tamanho e Forma do Corpo e o Esquema Postural, Longo et al.

(2010) elucidaram a simples ação de golpear com a mão direita uma mosca que está

andando sobre a mão esquerda.

Os autores relataram que, para golpear a mosca, primeiramente o sujeito

necessita localizar a mosca na superfície do seu corpo (Esquema Superficial), em

seguida identificar a posição de suas articulações e segmentos corporais (Esquema

Postural) e, por fim, obter informações sobre o comprimento dos seus segmentos

(Modelo de Tamanho e Forma do Corpo).

Com base nos conceitos efetuados pelos autores, consideramos que o esquema

corporal é composto pela interação entre os três mapas somatotópicos (esquema

superficial, esquema postural e modelo de tamanho e forma do corpo) representados em

áreas corticais distintas e que, em detrimento de situações específicas (estimulações

particularizadas sobre o corpo), embora atuem de forma integrada (figura 4 A), um

predomina sobre os demais (figura 4 B). Vale ressaltar que os mapas somatotópicos e

seus predomínios também interagem com os espaços funcionais em que o corpo atua: o

pessoal, peripessoal e extrapessoal. A figua 4 B ilustra de forma hipotética o espaço

pessoal e a respresentação do modelo postural sendo ativados de maneira integrada,

com predomínio desses sobre os demais espaços funcionais e representações (mapas)

corporais, como por exemplo, planejar a simples ação para levantar-se de uma cadeira.

A representação desses espaços funcionais têm localizações neurais em

diferentes regiões corticais, conforme (HOLMES E SPENCE, 2004; BERTI, CAPPA E

FOLEGATTI 2007):

a. Espaço Pessoal: consiste na representação neural que se refere ao espaço

relativo à superfície do corpo, delimitado pela pele e que possibilita a

representação da forma do corpo e de suas dimensões corporais. Esse espaço

corporal está representado no giro supramarginal e angular do Lóbulo

parietal inferior.

b. Espaço Peripessoal: consiste na representação neural relativa ao espaço

imediatamente próximo do corpo que pode ser alcançado pelas mãos; tal

representação está localizada na parte mais caudal do giro pós-central.

41

c. Espaço Extrapessoal: consiste na representação neural referente ao espaço

que vai além do alcance dos membros estendidos, ou seja, diz respeito ao

espaço ambiental que para ser alcançado necessita de deslocamento corporal

ou do deslocamento do objeto do plano extrapessoal para o peripessoal,

como a atitude de recepcionar uma bola.

Figura 4 A Figura 4 B

Figura 4 A e B – Inter-relação entre os elementos que compõem o esquema corporal e a

interação entre o esquema corporal com os espaços funcionais

(modelo elaborado com base nos autores citados)

O Esquema Corporal é resultado das experiências corporais e das sensações por

ele vividas, tais como: andar, correr, saltar, e outras que permitem ao ser, experimentar

as diversas posições corporais coordenadas com a ação do equilíbrio; portanto, o

Esquema Corporal regula a postura e o equilíbrio (OLIVEIRA, 2011). O Esquema

Corporal é resultado da integração entre as partes corporais que participam no

movimento e das relações existentes entre elas com os objetos externos (FONSECA, V.,

1995).

Ao analisar o desenvolvimento do Esquema Corporal é importante salientar que

a noção que a criança tem de seu corpo fornece a referência para que ela consiga agir no

mundo exterior de maneira adequada e coerente. Para que ocorra a aprendizagem sobre

o Esquema Corporal, a criança necessita conhecer os dois lados do seu corpo, além de

suas diferenças e posições relativas, ou seja, não é suficiente aprender apenas o que é

42

direita e esquerda, é preciso estabelecer uma relação entre ambos, de forma controlada e

discriminada (FONSECA, V., 1995). O Esquema Corporal é também uma forma de

expressar a individualidade, pois, ao se conhecer, a criança terá maior habilidade para se

diferenciar. O desenvolvimento da criança é o resultado da interação do seu corpo com

os objetos e pessoas do meio em que ela vive, estabelecendo relações afetivas e

emocionais com o mundo (OLIVEIRA, 2011).

Como nesta pesquisa nos propomos identificar, por meio da avaliação do

Esquema Corporal, qual é a percepção das dimensões corporais dos adolescentes

durante o período de estirão de crescimento e qual é a relação entre a percepção das

dimensões corporais com a destreza manual e com a capacidade de localização

proprioceptiva dos membros superiores, vale salientar que serão considerados como

foco de análises apenas o espaço pessoal e o espaço peripessoal, pois objetivamos

estabelecer relações entre a percepção das dimensões corporais (espaço pessoal) com a

capacidade de localização das mãos e com a destreza manual (espaço peripessoal).

O espaço peripessoal envolve o espaço imediatamente próximo do corpo que

pode ser alcançado pelas mãos (HOLMES; SPENCE, 2004; BERTI; CAPPA;

FOLEGATTI, 2007). Ele se estabelece pela interação do indivíduo com os objetos no

ambiente próximo ao corpo; portanto, requer a integração entre informações relativas ao

local onde o objeto se encontra com a posição do corpo e o tamanho de suas partes

(CANZONERI et al., 2013).

Para segurar um objeto e interagir adequadamente com o espaço, o cérebro

necessita calcular com precisão o local onde está o alvo, o tamanho e a localização

espacial do corpo, assim como de suas partes (CARDILALI et al., 2009). Para tanto, a

organização das sensações proprioceptivas é indispensável no processo de organização

dos movimentos, pois a propriocepção permite ao sujeito perceber as formas do corpo, a

localização de cada parte e ter ciência sobre as posturas adotadas antes e durante a

execução dos movimentos. A propriocepção integrada aos demais sistemas sensoriais

permite perceber a dimensão corporal (MARAVITA; SPENCE; DRIVER, 2003).

A representação cortical do espaço peripessoal apresenta características plásticas

as quais se alteram após o uso de ferramentas, refletindo assim em alterações do

esquema corporal. Estudos recentes demonstraram que a percepção sobre o

comprimento dos braços se altera após o uso de ferramentas, pois os participantes,

depois de seu uso, incorporaram a mesma ao espaço peripessoal (CANZONERI et al.,

2013; CARDINALI et al., 2009).

43

A representação cortical do espaço peripessoal se organiza durante o processo de

desenvolvimento. O desempenho da criança no espaço peripessoal está centrado no

reconhecimento espacial viso-tátil. Para que as mãos possam ocupar localizações

específicas no espaço, a visão tem um papel primordial, pois a precisão de localização

das mãos depende da confiabilidade das informações visuais e espaciais. Estudos

neurocientíficos indicam que as representações do Espaço Peripessoal emergem de dois

mecanismos distintos de integração sensorial. Um corresponde ao mecanismo de

dependência visual espacial que integra as informações visuais às corporais e depende

substancialmente da provável localização da mão, e o outro corresponde ao mecanismo

de remapeamento postural que atualiza as correspondências espaciais incorporando as

informações sobre a localização atual das mãos (BREMNER; HOLMES; SPENCE,

2009).

Embora o Esquema Corporal se distinga da Imagem Corporal, consideramos que

ambos são faces distintas da mesma moeda, portanto, são indissociáveis. O Esquema

Corporal se constitui por meio do substrato neurofisiológico que dá alicerce à

organização da Imagem Corporal. Neste estudo, embora não tenhamos como foco

principal de discussão a Imagem Corporal, para que se possa compreender melhor o

universo referente à percepção das dimensões corporais abordaremos brevemente este

tema.

2.3 Imagem Corporal

A Imagem Corporal diz respeito à representação mental do corpo, permeada pela

afetividade e por conceitos valorativos sobre o mesmo (TAVARES et al., 2010;

VIGNEMONT, 2010). A Imagem Corporal refere-se à percepção do indivíduo sobre

sua aparência corporal impregnada de emoções e cognições que influenciam suas

atitudes (TAVARES et al., 2010). Segundo Mullis (2008), consiste em um conjunto de

crenças e percepções deslocadas ao corpo. De acordo com as ciências psicológicas, o

conceito de Imagem Corporal diz respeito à maneira como o próprio corpo é percebido

e/ou concebido, segundo Tiemersma (1989) e Medina & Coslett (2010), implica em uma

representação consciente.

A Imagem Corporal está relacionada ao conceito de corpo e especialmente às

dimensões do espaço corporal. A cognição, as atitudes, os sentimentos e o ego são

incorporados nas definições psicológicas de Imagem Corporal (TIEMERSMA, 1989).

44

Os conceitos, ideias e emoções sobre o próprio corpo se estabelecem a partir das

informações sensoriais advindas do corpo e do meio ambiente, e tais elementos não são

atributos necessários para a efetivação do movimento (VIGNEMONT, 2010).

A Imagem Corporal é um elemento que se estrutura a partir das experiências

individuais de cada ser em combinação com processos neurais, sociais e psicológicos

(TAVARES, 2003).

Thurm et al. (2011) inferiram, de acordo com os estudos de Bertucchi e Aglioti,

que as regiões corticais relacionadas à Imagem Corporal correspondem ao sistema

límbico e à área pré-frontal. Longo et al. (2010), subsidiados por diferentes autores,

relataram que as emoções sobre o corpo se localizam na ínsula anterior, e o

conhecimento semântico e enciclopédico sobre o corpo (nomenclatura sobre o corpo) se

localiza em regiões ainda desconhecidas.

Para explicar o desenvolvimento da Imagem Corporal, Tavares (2003)

inicialmente faz referência à formação da imagem de um objeto. A imagem é formada

pela integração de informações percebidas sobre o objeto e se modifica à medida que

descobrimos novas informações sobre o mesmo. Segundo a autora, a imagem que

formamos do objeto advém de seus vários registros, e esses formam um conjunto que

dão sentido à imagem final. A imagem mental não se forma apenas pela integração dos

elementos percebidos sobre o objeto (corpo), mas também de conceitos e valores

incorporados que foram aprendidos durante as experiências sociais. Para a autora,

quanto maiores e mais precisas forem as experiências sobre o objeto (corpo), mais

completa será sua imagem. Para desenvolver a Imagem Corporal, é necessário ter várias

informações sobre o corpo real provenientes das conexões com as sensações corporais,

que podem ser assumidas como verdadeiras diante de elementos culturais, fisiológicos e

afetivos. A integração entre as sensações corporais possibilita ao ser humano o contato

com o mundo interior, o que facilita a adaptação ao mundo exterior; portanto, o contato

com as sensações corporais se constitui em um alicerce para construção da identidade

corporal. O desenvolvimento da imagem corporal engloba a produção de imagens e a

estruturação da identidade do corpo. Nascemos com um corpo, e esse se constrói como

identidade; porém, para que ele possa se manifestar e existir como unidade é necessário

experimentá-lo (TAVARES, 2003).

A formação de imagens mentais depende da capacidade do sistema nervoso de

processar e integrar várias percepções que alicerçarão a construção da identidade

corporal. A identidade corporal se constitui a partir da experimentação das sensações

45

corporais no contexto existencial do homem. Nascemos com um esboço de nossa

imagem corporal, traçada previamente pelas idealizações dos pais que são fortemente

influenciados por uma cultura: os pais constroem um corpo imaginário que não

corresponde ao corpo concreto do ser. A autora afirma que a identidade corporal se

desenvolve a partir das sensações que emergem do corpo real diante do corpo

imaginário, as sensações que surgem do nosso corpo são influenciadas pelas projeções

do entorno. Diante dessas afirmações, podemos inferir que às sensações corporais serão

atribuídos valores socioculturais que influenciarão a percepção sobre o corpo que se tem

(TAVARES, 2003).

Nossas ações estão conectadas às nossas percepções que, por um lado, refletem

o nosso mundo interno e, por outro, as expectativas do mundo externo. Segundo

Oliveira (2011), no início da vida, o prazer está vinculado à satisfação de realizar

atividades como levar a mão e o polegar à boca, posteriormente, de acordo com Tavares

(2003), ao engatinhar para alcançar um objeto pretendido e depois a satisfação pode ser

deslocada às recompensas que a criança passa a receber durante seu processo de

formação, por realizar tarefas aceitas socialmente. Desde criança, recebemos

gratificações sociais pelos comportamentos que apresentamos; ao recebermos essas

gratificações, podemos deslocar nossas percepções para o mundo exterior de forma a

satisfazer apenas as expectativas do entorno sobre o que culturalmente é aceitável e

considerado prazeroso. Fato esse que pode nos manter desconectados das sensações

corporais mais singulares e inerentes à formação do eu corporal. Dessa forma, a

identidade do ser sensível poderá permanecer mascarada de forma que as experiências

sensoriais não sejam percebidas de maneira a refletir o mundo interior. Nessa condição,

o ser humano fica fadado a atender as exigências do mundo exterior, a agir buscando

receber recompensas, direcionando suas percepções ao mundo exterior em um processo

repetitivo (TAVARES, 2003).

Em geral, as sociedades em um determinado momento histórico e cultural têm um

modelo de corpo ideal que, veiculado através dos meios de comunicação de massa,

estabelecem a noção de normalidade e do que é aceitável esteticamente, o que de certa

forma traz em si a competitividade. Sendo o adolescente um questionador nato de sua

própria normalidade, compara-se constantemente com os modelos idealizados e tende,

em suas buscas, a assemelhar-se ao modelo ideal, seja ele um cantor, jogador ou um

ídolo. As diferentes tentativas de moldar o corpo são influenciadas pelos valores

culturais que geram em meninas e rapazes preocupações distintas quanto à aparência

46

física. O desconhecimento sobre as transformações decorrentes dessa fase de

crescimento do seu corpo, associadas à falta de informações ou informações incorretas,

levam o adolescente a ter muitas preocupações. As comparações entre os pares da

mesma idade levam-o à constatação de que é diferente, muitas vezes se vê atrasado ou

adiantado em relação a outrem (CHIPCKEVITCH, 1995).

Além das preocupações mencionadas, há também as preocupações associadas ao

surgimento de alguns fenômenos puberais específicos. As meninas, por volta da idade

da menarca, preocupam-se com o aumento de peso e, nos anos posteriores, com a maior

deposição de tecido adiposo e com as estrias que se localizam nas mamas, abdômen,

nádegas, coxas e pernas. De forma geral, as queixas mais frequentes das meninas são:

puberdade adiantada ou atrasada, excesso de peso, irregularidade menstrual, o tamanho

e aparência das mamas, acne, altura excessiva, crescimento exagerado dos pés,

desajustes posturais (cifose e lordose) e rubores faciais. As queixas mais frequentes dos

meninos são: puberdade atrasada ou adiantada, pênis pequeno, pelos escassos, pouca

força muscular, magreza ou obesidade, cintura escapular pequena, ginecomastia, acne,

crescimento exagerado dos pés, falhas da voz, voz fina, atraso da espermarca, baixa

estatura, estrias e rubores faciais (CHIPCKEVITCH, 1995).

O processo de individuação do adolescente ocorre simultaneamente ao

conhecimento e a sua adaptação ao corpo, que passa por mudanças e se transforma em

um corpo diferente de todos os corpos conhecidos em fases anteriores. A consolidação

da identidade pessoal se alicerça também na construção de uma Imagem Corporal

consistente e estável. O processo de autoconhecimento e a formação da imagem

corporal leva tempo para se constituir. Tempo designado para se olhar, se sentir,

aprender sobre si, conhecer o tamanho dos membros superiores e inferiores de modo a

permitir que o sujeito, mesmo de olhos fechados, possa saber dimensionar onde

alcançará a ponta dos dedos com os membros estendidos, que cresceram rapidamente

nos últimos meses. A estruturação da Percepção Corporal (Esquema Corporal) é um

processo de elaboração e reelaboração, de autorreformulações constantes,

principalmente durante esse processo de mutação. É natural o adolescente contemplar-

se diante do espelho, mudar o penteado, espremer espinhas, todas as ações mencionadas

são condutas que levam os adolescentes a se conhecerem. Com a intenção de exercer

controle sobre as transformações corporais que se processam rapidamente, os

adolescentes fazem regimes para emagrecer ou para engordar, praticam musculação

objetivando aumentar a força muscular, ingressam em academias de ginástica, procuram

47

cirurgias plásticas e utilizam vestimentas para aumentar ou ocultar partes do corpo, etc.

Essas manifestações podem ser consideradas normais neste período da vida

(CHIPCKEVITCH, 1995).

Para Tavares (2003), desenvolver a Imagem Corporal pode indicar diferentes

aspectos, tais como: ampliar a percepção das partes do corpo, reconhecer e valorizar as

sensações corporais, apreciar o corpo, atribuir um senso de satisfação ou insatisfação em

relação ao corpo, reconhecer como o corpo é ou descobrir as possibilidades e limitações

do corpo de forma a ampliar as possibilidades de ação. Perceber-se como um ser real e

valorizado pela sua singularidade é um dos elementos essenciais para o

desenvolvimento de uma identidade corporal integrada e positiva.

Os efeitos das recompensas recebidas durante a infância geralmente se

perpetuarão durante o processo de desenvolvimento e em diferentes situações do

cotidiano, o que levará o ser humano em desenvolvimento a realizar tarefas que não são

condizentes com suas necessidades internas, mas apenas direcionadas às aprovações

sociais (TAVARES, 2003). Como exemplo, podemos relatar a condição atual dos

adolescentes que vivem imersos em sociedade consumista, repleta de imagens,

informações e conceitos que os direcionam ao consumo. Nessa fase, o púbere tende a se

transformar em um consumidor potencial. Ao se modificar, seu corpo rapidamente o

leva a trocar roupas e sapatos frequentemente; seu apetite acentuado o faz consumidor

de alimentos, muitas vezes industrializados; sua curiosidade proveniente das

transformações emocionais e cognitivas o leva a interessar-se por jogos, videogames,

computadores, etc. (CHIPCKEVITCH, 1995).

Consideramos que os adolescentes são movidos a agir por impulsos que foram e

são reforçados pelo meio exterior e que os levam ao consumo. As gratificações sociais

que se recebe desde criança pelos vários comportamentos adotados não garantem a

satisfação pela vida. Elas tendem a deslocar as percepções para o exterior levando-as a

se satisfazer com o que culturalmente é aceitável. Direcionar sua atenção ao mundo

exterior e não às sensações corporais que emergem diante das ações é um fato limitante

para o desenvolvimento da Imagem Corporal. Se não percebermos a conexão entre as

sensações das ações e as recompensas, correremos o risco de estarmos apegados aos

créditos socialmente fornecidos diante das ações efetuadas e passarmos a dirigir nossa

atenção aos ganhos secundários, provenientes do mundo exterior. Diante dessas

considerações, seremos levados a estabelecer menos contato com o nosso eu corporal.

Quanto mais o ser humano estiver vinculado às suas sensações corporais, mais apto

48

estará para preservar-se, perceber-se e adaptar-se ao mundo externo de forma mais

consciente (TAVARES, 2003).

2.4 Princípios do desenvolvimento

O conceito de desenvolvimento motor “refere-se ao processo de mudança

contínuo no movimento relacionado à idade, bem como às interações das restrições

(fatores) do indivíduo, do ambiente e das tarefas que induzem essas mudanças”

(HAYWOOD e GETCHELL, 2010, p. 25). Para os autores, o desenvolvimento é

definido por três características: a primeira está relacionada ao processo de mudanças na

capacidade funcional para movimentar-se; a segunda está relacionada ao avanço da

idade, pois o desenvolvimento se processa à medida que ela aumenta; e a terceira se

refere à mudança sequencial ordenada e irreversível decorrente das interações entre os

elementos que se processam dentro do indivíduo e entre o indivíduo e o ambiente.

Segundo Gallahue (2013), Haywood e Getchell (2010), a perspectiva

maturacional do desenvolvimento com caráter cumulativo foi formulada por Gesel ao

observar em seus estudos que o desenvolvimento físico se expressava de forma

ordenada e sequencial: o autor considerou serem esses avanços derivados da

maturação do sistema nervoso. Diante das constatações de que o desenvolvimento se

efetua de forma ordenada e sequencial, emergiram as leis do desenvolvimento

céfalocaudal (desenvolvimento que se processa da cabeça em direção aos pés) e

próximodistal (desenvolvimento que se processa do centro do corpo às suas periferias).

O desenvolvimento céfalocaudal é notavelmente observado em bebês, durante a

formação do feto. O crescimento se efetua de forma ordenada e sequencial: primeiro se

constitui a cabeça, depois os membros superiores, e posteriormente os inferiores. Aos

dois meses de vida intrauterina, a cabeça do feto representa 50% do tamanho corporal,

ocorre uma progressão gradual da formação do corpo e controle muscular, da cabeça em

direção aos pés. O controle motor pós-natal se expressa de maneira semelhante. O bebê

exerce primeiro o controle sobre a cabeça e pescoço, depois sobre o tronco e, por

último, sobre os membros inferiores e pés. No início da vida, as crianças apresentam-se

desajeitadas com um controle precário dos membros inferiores. Talvez isso se deva ao

desenvolvimento céfalocaudal incompleto e à complexidade da tarefa referente à

caminhada autônoma. Assim sendo, a progressão do desenvolvimento motor parece não

se efetuar apenas em decorrência da maturação, mas também pela interação entre a

49

maturação com as demandas da tarefa, fatos estes que levaram os estudiosos a se

contraporem à visão maturacionista. Quanto ao desenvolvimento próximodistal, o

crescimento se processa do centro do corpo para as extremidades, ou seja, primeiro se

efetua o crescimento do tronco, depois da cintura escapular, braços, antebraços e mãos.

O controle motor desses segmentos também se processa nessa ordem e com base nesse

princípio. Muitas escolas propõem tarefas motoras menos refinadas no início e mais

refinadas e complexas com o avanço do desenvolvimento. Tanto o desenvolvimento

céfalocaudal como próximodistal parecem direcionar o processo de desenvolvimento do

ser humano ao longo da vida, até que na fase de envelhecimento ocorra a inversão

desses princípios, quando o ser humano apresenta regressões referentes ao controle

motor aparentemente instaladas primeiro nas ações dos membros inferiores. Durante o

processo de desenvolvimento motor, é importante considerar que há períodos críticos e

sensíveis de desenvolvimento que se referem a um estado de maturação em que há

maior sensibilidade do organismo e facilidade para receber determinados estímulos e

aprender habilidades específicas. São períodos da vida em que o fornecimento de

estímulos ambientais apropriados, associados à maior sensibilidade do organismo,

facilitarão a aprendizagem de habilidades características desses períodos que se

refletirão de forma mais positiva nos estágios posteriores. Deve-se levar em

consideração que a falta de estímulos adequados aos diferentes períodos sensíveis

(ótimos para a aprendizagem) poderão ocasionar impactos negativos ao

desenvolvimento normal. Embora se saiba que há reconhecidos períodos sensíveis em

que se pode aprender habilidades de forma mais eficiente, eles não devem ser definidos

de forma muito restrita, pois a velocidade de desenvolvimento varia de indivíduo para

indivíduo e de fase para fase. A aprendizagem continua por toda a vida e sofre

influências do processo de envelhecimento do sistema nervoso e motor, efeitos que

podem ser amenizados por meio do uso contínuo desses sistemas (GALLAHUE, 2013).

Com objetivo de compreender melhor as interações entre o ambiente e a

maturação, é imprescindível discutir o que são habilidades filogenéticas e

ontogenéticas. São consideradas habilidades filogenéticas as habilidades derivadas

predominantemente do processo de maturação que determina a ordem e a sequência do

aparecimento de características, como as habilidades de manipulação, de alcançar, pegar

e soltar objetos; as habilidades de estabilização em que a criança adquire controle dos

grandes grupos musculares resistindo à ação da gravidade e as habilidades de

locomoção, de andar, saltar e correr. Essas habilidades são consideradas filogenéticas

50

pela predominância da maturação e não do ambiente no processo de melhoria do

controle das ações. As habilidades ontogenéticas são aquelas que para se

desenvolverem dependem do processo de aprendizagem e das oportunidades que o

ambiente viabilizar, elas emergem apenas em decorrência da prática e são culturalmente

estabelecidas, tais como andar de bicicleta, nadar, patinar, etc. Com base nesses

apontamentos, supõe-se que o desenvolvimento com base filogenética emerge

predominantemente como fruto das manifestações da biologia do sujeito e que o

desenvolvimento ontogênico é grandemente influenciado pelas oportunidades de

prática, pelos estímulos e instruções derivados do processo de ensino e pelas condições

do ambiente, fatores expressivamente relevantes para o desenvolvimento de habilidades

voluntárias (GALLHAHUE, 2013). Com base em estudos realizados, o autor relata que

é necessário que as crianças sejam submetidas à prática de habilidades no momento em

que estão prontas para aprendê-las e desenvolvê-las, e, para isso, o profissional deve ser

capaz de identificar o momento em que os indivíduos estão maduros para aprender e,

posteriormente, propor experiências educacionais apropriadas às condições

maturacionais. O autor destaca ainda que a interação entre os fatores biológicos e

ambientais modificam o curso do desenvolvimento motor nas diferentes fases da vida: a

infância, a adolescência e a idade adulta.

Sabe-se que o desenvolvimento está intrincado com uma vasta variedade de

fatores, dentre eles se destacam os domínios do comportamento cognitivo, psicomotor e

afetivo (do indivíduo), assim como os fatores da tarefa e do ambiente. Neste estudo,

estamos enfocando mais especificamente as relações entre as restrições do indivíduo, da

tarefa e do ambiente que influenciam diretamente o processo de desenvolvimento motor

e da percepção corporal. Para melhor compreender essas interações, utilizaremos o

modelo de Karl Newell descrito por (HAYWOOD & GETCHELL, 2010).

Consideramos que estudar o desenvolvimento por meio desse modelo nos

favorece entender as interações dinâmicas entre as restrições que ocorrem

constantemente durante o processo de desenvolvimento e nos possibilita compreender

melhor o impacto das transformações corporais que ocorrem com avanço da idade sobre

a percepção corporal e sobre o desenvolvimento psicomotor, elementos focais desta

pesquisa.

As mudanças do indivíduo (estruturais ou funcionais) modificam sua interação

com o ambiente e com a tarefa. Desta forma, inevitavelmente, os padrões de execução

do movimento também se transformam (HAYWOOD & GETCHELL, 2010).

51

À medida que as dimensões corporais de uma criança em desenvolvimento se

modificam, a localização de seu centro de gravidade se altera, e consequentemente suas

atitudes posturais e a forma de executar habilidades motoras em diferentes ambientes se

modificam. Os fatores mencionados, como as dimensões corporais, a localização do

centro de gravidade e a relação com o ambiente, são chamados de restrições. Restrições

correspondem às limitações que, ao mesmo tempo em que desencorajam o indivíduo a

realizar um movimento, permitem ou encorajam a realização de outros. Restrições

devem ser consideradas como canais que possibilitam que determinados movimentos

sejam utilizados com mais facilidade em detrimento de outros, portanto não devem ser

tratados como bons ou ruins. Por exemplo, uma criança irá rastejar ao invés de andar

enquanto não estiver madura para andar, e um arremesso será efetuado abaixo do ombro

quando o sujeito sentir dor ao tentar arremessar com o braço elevado. Ao mesmo tempo

em que um rio impede que a água saia de seu fluxo, ele o direciona a um lugar

específico. Quanto ao movimento, as restrições dão forma a ele (HAYWOOD &

GETCHELL, 2010).

Para que se possa melhor compreender as interações entre as restrições do

indivíduo, do ambiente e da tarefa expressaremos o sentido de cada um dos elementos

citados.

Restrições individuais são compostas por dois elementos: as restrições

estruturais (anatômicas) e as funcionais (mentais) de uma pessoa.

As restrições estruturais estão relacionadas à estrutura anatômica do indivíduo

que se altera lentamente durante o processo de crescimento e envelhecimento, tais

como: altura, comprimento dos membros, largura das dimensões corporais, massa

muscular, sistema nervoso etc.

As restrições funcionais estão relacionadas aos sentimentos e emoções que

direcionam o comportamento do indivíduo, tais como: o medo, a coragem, a ansiedade,

o foco de atenção, a angústia, etc. Esses sentimentos darão forma ao movimento. Para se

mover, a composição anatômica como: a altura, o comprimento dos membros inferiores

e superiores, a força e a flexibilidade que correspondem às restrições estruturais e a

motivação que se refere às restrições funcionais determinarão a forma como um

indivíduo se movimentará. Determinadas deficiências físicas de um cadeirante podem

modificar a forma como ele se movimenta, mas não o impedem de se locomover.

As restrições ambientais são os elementos que estão ao redor do sujeito, físicos

ou socioculturais. As restrições físicas estão relacionadas à temperatura, quantidade de

52

luz, umidade, gravidade e o tipo de superfície de pisos e paredes. As restrições

socioculturais relacionam-se aos valores de uma cultura específica que encorajam ou

desencorajam comportamentos específicos.

As restrições da tarefa referem-se às metas e regras de uma tarefa. Em um lance

livre do basquetebol, arremessar uma bola à cesta tem como meta a conversão da

mesma, ou seja, há um objetivo claramente definido. Durante um jogo de basquetebol,

os jogadores devem obedecer à regra de correr quicando a bola, e, dessa forma, o

movimento é restringido pela tarefa, composta por metas e regras que deverão ser

adaptadas pelos profissionais segundo a compreensão sobre as restrições individuais em

cada etapa de desenvolvimento (HAYWOOD & GETCHELL, 2010).

De acordo com as elucidações expostas, as mudanças das restrições do

indivíduo, da tarefa e do ambiente modificam o movimento derivado de suas interações.

Consideramos que, assim como ocorrem alterações referentes ao movimento, também

ocorrem alterações relacionadas à percepção corporal modificada de uma faixa etária

para outra ou de um estágio de maturação para outro, assim como a criança em

desenvolvimento que em um momento engatinha e posteriormente de acordo com a sua

evolução fica em pé e anda. Sabe-se que a percepção corporal se altera durante o

processo de desenvolvimento, porém não se tem ciência de quais são os índices

perceptuais em cada etapa do desenvolvimento.

Haywood & Getchell (2010) relatam que o modelo apresentado por Newell

contempla as bases da teoria ecológica do desenvolvimento; por esse motivo, utilizam-

na como base para explicar o processo de desenvolvimento motor. Apontam que a

perspectiva ecológica considera as restrições ou os fatores intrínsecos como os sistemas

cardiovascular, muscular, nervoso, etc., assim como, as restrições fora do corpo que

estão relacionadas ao ecossistema social e cultural ao analisar o desenvolvimento que

ocorre ao longo da vida. Para os autores, a característica de movimento de um indivíduo

não está apenas relacionada a seu corpo ou ao ambiente, mas à complexa rede de

interações existentes entre os fatores intrínsecos e entre os intrínsecos e extrínsecos.

A perspectiva ecológica tem duas ramificações, uma relacionada ao controle

das ações (sistemas dinâmicos) e a outra direcionada à percepção (percepção-ação),

ambas estão inter-relacionadas e consideram que o desenvolvimento motor não é fruto

apenas do desenvolvimento do sistema nervoso, mas de múltiplos sistemas. A

abordagem ecológica sustenta que a percepção do ambiente é direta e que a

coordenação dos músculos agindo em conjunto reduz a quantidade de decisões

53

necessárias dos centros superiores do cérebro para realizar uma determinada ação. Essa

visão se contrapõe ao modelo de processamento de informações. A teoria dos sistemas

dinâmicos sugere que o comportamento motor controlado é flexivelmente estruturado.

Esse sistema flexível permite o ajuste do movimento de forma a adaptá-lo a diferentes

situações, ele é considerado com um sistema de auto-organização espontânea dos

sistemas corporais. O movimento derivado das interações entre as restrições se auto-

organizam a partir dessas relações, ou seja, quando uma das restrições se altera o

movimento pode mudar. Sabe-se que os sistemas corporais (restrições) amadurecem em

tempos diferentes; essas restrições são consideradas como limitadores de taxa ou

controladores. Um sistema desenvolvido mais lentamente em relação a outros pode ser

considerado como um limitador de taxa ou um controlador, uma vez que o

desenvolvimento dos sistemas controla a taxa de desenvolvimento naquela etapa da

vida. A segunda ramificação da perspectiva ecológica diz respeito à abordagem da

percepção-ação proposta por Gibson (1979, 1998) que estabeleceu relações entre o

sistema perceptivo e o motor. Segundo Haywood & Getchell (2010), nessa proposta não

é concebível estudar a percepção dissociada do movimento se quisermos considerar

nossas descobertas ecologicamente válidas. Atualmente esse modelo tem direcionado

vários pesquisadores em suas descobertas científicas. Na perspectiva da percepção-

ação, o termo affordance é comumente utilizado com intuito de descrever a função que

o objeto tem no ambiente, quanto a seu tamanho e forma, na interação com o indivíduo

em um contexto particularizado. Uma superfície no plano horizontal permite ao

indivíduo sentar-se e, no plano vertical, a encostar-se. Por meio desse exemplo,

verificamos a intrincada relação do indivíduo com o ambiente e avaliação que o

indivíduo efetua sobre esse com base em suas características físicas, ou seja, se

estabelece um julgamento sobre as propriedades do objeto com base nas percepções de

si e não com base nas características do objeto. A operacionalização dos movimentos

que o indivíduo efetua em relação ao ambiente tem como referência a escala corporal:

um adulto ao decidir subir uma escada avançando dois degraus por vez, parte da

premissa que seu tamanho corporal o possibilita a efetuar essa habilidade motora, já

uma criança começando a andar escolherá outras estratégias para subir os degraus da

escada (HAYWOOD & GETCHELL, 2010).

54

3 MÉTODO

A presente pesquisa se caracteriza, de acordo com Cervo e Bervian (2002), como

sendo uma pesquisa transversal de natureza descritiva exploratória.

3.1 Caracterização dos participantes

Participaram da presente investigação 100 púberes cujos responsáveis legais

autorizaram a sua participação por meio da assinatura do Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido TCLE (Apêndice II). Avaliamos 100 púberes de 9 a 15 anos, sendo

50 do sexo masculino de 11 a 15 anos e 50 do sexo feminino de 9 a 13anos, ambos os

grupos compostos por dez participantes de cada faixa etária. Todos os indivíduos

convidados para participar dessa pesquisa estavam matriculados no ensino fundamental

de uma escola regular de São Paulo-Capital, localizada na região urbana, porém

periférica da zona Leste. Os indivíduos da presente pesquisa, durante cada ano letivo,

participaram das aulas curriculares de educação física, ministradas duas vezes por

semana, com o tempo de duração de 45 minutos cada, cuja matriz curricular está

pautada na Cultura Corporal de Movimento. A proposta pedagógica norteadora da

Educação Física das Escolas Municipais do Estado de São Paulo tem a mesma matriz

curricular, e dessa forma as aulas de Educação Física ministradas visam o alcance dos

mesmos objetivos, minimizando assim os efeitos das aulas sobre a percepção corporal

dos púberes. Vale salientar que não tivemos como objetivo avaliar as propostas

pedagógicas, mas por meio delas minimizar a heterogeneidade do grupo pesquisado,

uma vez que propostas muito diferenciadas quanto a suas especificidades poderiam

promover alterações à percepção das dimensões corporais dos sujeitos avaliados.

3.1.1 Critérios de Inclusão

Fizeram parte desta investigação os púberes com estágios de maturação sexual

de I a IV.

3.1.2 Critérios de Exclusão

1. Foram excluídos os púberes com estágio de maturação sexual V.

55

3.2 Desenho Experimental

As figuras 5 e 6 ilustram os passos realizados para a efetivação do projeto de

pesquisa e coleta de dados. Inicialmente o projeto foi apresentado à diretora e

coordenadoras pedagógicas da escola onde foi realizada a pesquisa. Tanto a diretora

como as coordenadoras demonstraram preocupações referentes à integridade

psicoafetiva dos participantes, por considerar que os púberes poderiam ficar

constrangidos ao realizarem os testes de autoavaliação da maturação sexual (por

visualizar imagens dos órgãos genitais) e o teste de marcação do esquema corporal

(Image Marking Procedure – IMP) (por serem tocados pelo avaliador, principalmente

nos segmentos corporais da cintura e quadril). Ao explicar mais detalhadamente os

testes e ao relatar que antes de os púberes participarem da pesquisa, os pais além de

receberem a descrição dos testes a serem realizados no TCLE poderiam solicitar

esclarecimentos ao pesquisador, se necessitassem e, somente a partir daí, assinarem o

termo de consentimento autorizando ou recusando ao menor sua participação. Após

esses esclarecimentos, a diretora e a equipe educacional consentiram a realização da

pesquisa. Com o intuito de preservar a integridade psicoafetiva dos jovens, no teste de

autoavaliação da maturação sexual, não foi coletada a idade da menarca. Após a

autorização da escola, o projeto foi encaminhado ao comitê de ética em pesquisa da

Universidade São Judas Tadeu e aprovado com o protocolo de número 089/11

(ANEXO-II).

Figura 5 – Etapas percorridas para a aprovação do projeto de pesquisa

1- Apresentação do Projeto de Pesquisa

Escola de Ensino Fundamental

3 - Aprovação da Escola

Carta de Autorização

4 - Aprovação do Comitê

de Ética em Pesquisa

Protocolo: 089/11

2- Cuidados da Direção

Preservação da integridadade Psicoafetiva dos jovens

2.1 - Maturação Sexual

IMP - Toque em partes corporais

Preocupações / Precauções

56

Na figura 6, pode-se visualizar as etapas da realização do experimento. Como já

mencionamos anteriormente, participaram da presente pesquisa 100 jovens de 9 a 15

anos, sendo 50 do sexo feminino e 50 do sexo masculino, todos com maturação sexual

de I a IV, cujos responsáveis legais assinaram o TCLE. O Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido foi enviado à aproximadamente 150 responsáveis, porém apenas

100 consentiram a participação do menor na pesquisa.

Figura 6 – Esboço dos sujeitos que compuseram a amostra e os testes realizados

Inicialmente, foi necessário identificar os estágios de maturação sexual dos

indivíduos para compor a amostra com os pré-púberes e púberes, excluindo assim os

pós-púberes. Incorreríamos em um erro grave se investigássemos as alterações do

esquema corporal levando-se em consideração apenas a faixa etária, uma vez que

poderíamos ter na amostra púberes precoces ou tardios com faixas etárias mais

avançadas ou atrasadas em relação à idade cronológica. Portanto, a utilização da

avaliação da maturação sexual foi um procedimento necessário para incluir ou excluir

os sujeitos que compuseram a amostra.

(1) 100 indivíduos

Assinatura do TCLE

Maturação I a IV

Autoavaliação - maturação sexual (Morris; Udry, 1980)

(2) Entrevista

1. Percepção

Segmentos Corporais

2. Meses AMP

3. Horas Semanais:

3.1. Praxia Fina

3.2. IMG

(3) IMP

(Image Marking Procedure)

Procedimento de Marcação

do Esquema Corporal

Askevold (1975) alterações Thurm (2007)

(5) Teste de Destreza Manual

O teste Box and Block

Test of Manual

Dexterity – BBT

(Mathiowetz at al., 1985)

(4) Teste de Capacidade

de Localização

Proprioceptiva das Mãos

Teste elaborado pelos autores deste estudo

50 Feminino

9 a 13 anos

50 Masculino

11 a 15 anos

50% dos pais (aproximadamente) não consentiram a realização

da pesquisa

57

Para avaliar a maturação sexual foi aplicado o teste de autoavaliação na

determinação da maturação sexual, instrumento proposto por Morris e Udry (1980)

sugerido pelo LADESP – GEPETIJ/EEFE – USP (MASSA, 2006).

Posteriormente foi realizada uma entrevista semiestruturada objetivando identificar

se os jovens percebiam quais eram as partes do corpo que se alteraram durante o

período do estirão de crescimento, se eles praticaram atividades motoras desde a

infância e desde quando. Para verificar o acúmulo de meses de atividades motoras

pregressas, objetivamos também identificar o tempo de horas semanais dispendidas com

atividades de coordenação motora fina e o tempo em que os jovens permaneciam

inativos, sentados ou deitados sem exercer atividades motoras globais.

Em seguida efetuamos o teste de marcação do esquema corporal (IMP) e

posteriormente o teste de Capacidade de Localização Proprioceptiva das Mãos e o teste

de Destreza Manual.

3.3 Procedimento para a avaliação da maturidade sexual

Para avaliar a maturidade sexual dos púberes utilizamos o teste de autoavaliação

na determinação da maturação sexual, instrumento proposto por Morris & Udry (1980)

sugerido pelo LADESP – GEPETIJ/EEFE – USP (MASSA, 2006) (Anexo I).

As características sexuais a serem identificadas pelos meninos correspondem a

um dos cinco estágios de evolução referentes à aparência da (G) genitália e dos (P)

pelos púbicos. As características a serem indicadas pelas meninas referem-se à

aparência de um dos cinco estágios de desenvolvimento das (M) mamas e dos (P) pelos

púbicos.

De acordo com as figuras específicas das características de maturidade sexual

(Anexo I), é possível identificar cinco estágios para as meninas e cinco para os meninos.

Abaixo pode-se observar os estágios de desenvolvimento dos caracteres sexuais

secundários do sexo masculino e feminino, conforme os modelos de ficha utilizada pelo

58

LADESP – GEPETIJ/EEFE-USP adaptado de Morris & Udry (1980), citados por

Massa (2006) e redigido literalmente conforme a descrição do autor.

ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO DOS GENITAIS MASCULINO

Estágio I: Estágio Infantil.

Estágio II: Os testículos e os escrotos são maiores. A pele do escroto muda de

textura. O escroto fica mais para baixo. O pênis torna-se um pouco maior. Início da

puberdade.

Estágio III: Aumento do comprimento do pênis. Os testículos são maiores e

mais baixos do que em G 2.

Estágio IV: Aumento da largura e comprimento do pênis. O escroto escurece e

aumenta em virtude do aumento dos testículos. A glande desenvolve-se, aumentando de

tamanho.

Estágio V: Aspecto adulto.

ESTÁGIOS DE PILOSIDADE PUBIANA MASCULINA

Estágio I: Sem pelos. Estágio infantil.

Estágio II: Pequena quantidade de pelos longos, finos e esparsos. Devem ser

lisos e levemente encaracolados. Localizados na base do pênis.

Estágio III: Os pelos são mais escuros, mais grossos e mais encaracolados.

Localizados na junção da púbis.

Estágio IV: Os pelos são mais grossos, cobrindo uma área maior do que em P 3.

Estágio V: Os pelos cobrem uma área maior – mais espalhados, com aparência

de adulto. Estágio adulto.

59

A seguir serão apresentados os estágios de desenvolvimento feminino.

ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO DE MAMAS

Estágio I: O mamilo tem pequeno relevo. O seio é ainda plano. Estágio infantil.

Estágio II: Estágio do broto mamário. Aumento do diâmetro da auréola. Maior

relevo do mamilo do que em M 1. O seio tem uma pequena elevação. Início da

puberdade.

Estágio III: A auréola e o seio são maiores do que em M 2. Similar ao seio

adulto pequeno.

Estágio IV: A auréola e o mamilo sobressaem sobre o seio. Algumas garotas

não apresentam esse estágio, indo direto do M 3 para o M 5.

Estágio V: Estágio adulto. Somente o mamilo sobressai. A auréola toma a forma

do seio.

ESTÁGIO DE PILOSIDADE PUBIANA FEMININA

Estágio I: Sem pelos. Estágio infantil.

Estágio II: Pequena quantidade de pelos longos, finos e esparsos. Devem ser

lisos e levemente encaracolados. Localizados ao redor dos grandes lábios.

Estágio III: Os pelos são mais escuros, mais grossos e mais encaracolados.

Localizados na junção da púbis.

Estágio IV: Os pelos são mais grossos, cobrindo uma área maior do que em P 3.

Estágio V: Os pelos cobrem uma área maior, mais espalhados, com aparência de

adulto. Estágio adulto.

60

3.3.1 Análise dos dados da maturação sexual

Após as avaliações classificou-se o estágio de maturação sexual dos púberes

conforme os indicadores descritos abaixo.

Estágio 1: Pré-púberes;

Estágio 2, 3 e 4: púberes;

Estágio 5: pós-púberes.

A avaliação das características sexuais dos adolescentes serviu como diagnóstico

para incluir ou excluir os sujeitos da pesquisa, pois fizeram parte da mesma apenas os

participantes alocados entre os estágios de maturação sexual de I a IV.

Fez-se necessário avaliar a maturação sexual dos jovens para minimizar os

possíveis vieses. Os jovens com maturação sexual precoce (estágio V), em geral,

iniciam a aceleração do crescimento antes da idade prevista, e, se estiverem alocados

nos grupos com idades inferiores a sua maturação sexual, esses adolescentes iniciarão o

processo de transformações corporais antecipadamente, podendo essas interferir na

organização do esquema corporal precocemente e, consequentemente, nos resultados.

Assim, identificar a maturação sexual dos participantes nos possibilitou analisar apenas

o índice de percepção corporal dos sujeitos alocados na fase que antecede a pós-

puberdade (estágio V).

3.4 Avaliação do Esquema Corporal (IMP)

3.4.1 Instrumentos

A fim de verificar a percepção das dimensões geral e segmentar (altura da

cabeça, largura dos ombros, cintura e quadril) dos adolescentes de ambos os sexos em

cada estágio de maturação sexual. Mensuramos o Esquema Corporal por meio do IMP

(Image Marking Procedure) ou Procedimento de Marcação do Esquema Corporal,

61

proposto por Askevold (1975) com alterações propostas por Thurm (2007). Para a

realização da avaliação, foram utilizados os seguintes materiais:

a. Adesivos da marca Pimaco, nas cores preta, azul e vermelha, com diâmetro

de aproximadamente 1 cm, e um na cor verde com diâmetro aproximado de

1,5 cm;

b. Uma régua;

c. Um esquadro;

d. Fita crepe;

e. Uma câmera digital da marca Sony, modelo Cyber-shot, 5.0 mega pixels

com tripé para câmera digital.

3.4.2. Procedimento para a mensuração do Esquema Corporal (IMP)

O procedimento de marcação do Esquema Corporal (IMP) foi realizado de

acordo com o protocolo de Askevold (1975) com alterações propostas por Thurm

(2007), conforme descrição a seguir.

Para efetuar a realização do teste, sugere-se que adesivos vermelhos sejam

fixados nas seguintes regiões corporais dos participantes: articulações acromioclavicular

direita e esquerda, curvas da cintura direita e esquerda, trocânteres maiores do fêmur

direito e esquerdo (figura 7). O ponto mais alto da cabeça foi tocado pelo avaliador no

momento da realização do teste, porém não foi fixado nenhum adesivo nessa região.

Esse procedimento teve por objetivo garantir que os mesmos pontos fossem tocados

durante as três execuções em que o teste foi efetuado. É aconselhável que durante o

teste os participantes, se possível, estejam trajando roupas justas para facilitar a

marcação dos pontos.

62

Figura 7 – Regiões corporais em que são fixados os adesivos

para a avaliação do esquema corporal por meio do IMP

Para avaliar o esquema corporal através do IMP, os participantes devem ser

posicionados de frente para a parede em posição ortostática, com os pés ligeiramente

afastados e em posição confortável de modo a evitar deslocamentos com os pés durante

63

o teste. Os cotovelos devem estar ligeiramente flexionados (ângulo de 90º

aproximadamente) a uma distância cujas mãos possam alcançar a parede (figura 8).

Figura 8 – Posição inicial para a realização do teste do IMP

Antes de iniciar o teste com os voluntários, são fornecidas as seguintes

instruções verbais:

64

a. Imagine que a parede é um espelho e que você está se vendo refletido nele

(figura 9);

Figura 9 – Ilustração representativa do avaliado

imaginando sua imagem projetada no espelho

b. Tocarei um dos pontos que estão marcados em seu corpo e você deverá

apontar com o dedo indicador, projetando na parede diante de si o ponto

tocado como se você conseguisse se ver no espelho (figura 10);

Figura 10 – Ilustração representativa do avaliado apontando

para a parede com o dedo indicador o ponto tocado em seu corpo,

como se estivesse vendo-se no espelho

c. Os toques efetuados no lado direito do corpo deverão ser indicados com a

mão direita e os no lado esquerdo com a mão esquerda. Apenas os toques

efetuados no alto da cabeça deverão ser indicados sempre com a mão direita;

d. Mantenha as mãos ao lado do corpo entre as marcações.

65

A seguir coloca-se a venda nos olhos do participante e se inicia o procedimento.

O primeiro ponto anatômico a ser tocado é o alto da cabeça. Nesse momento, o avaliado

é orientado a fazer uma apneia inspiratória (MATSUDO, 2005) e em seguida apontar

com o dedo indicador direito, projetando na parede o local correspondente ao ponto

tocado; em seguida, suspende-se a apneia inspiratória e tocam-se as seguintes regiões

corporais: ombro, cintura e quadril do lado direito; e depois: ombro, cintura e quadril do

lado esquerdo; e a cada toque o participante indica o ponto tocado (figura 11).

Figura 11 A – O avaliado efetua a apneia

inspiratória e o pesquisador toca o ponto mais

alto da cabeça

Figura 11 B – O avaliado projeta o dedo

indicador na parede indicando o ponto tocado

Figura 11 C – Tocam-se os pontos demarcados

do lado direito, e o participante aponta para a

parede projetando o ponto tocado

Figura 11 D – Tocam-se os pontos demarcados

do lado esquerdo, e o participante aponta para a

parede projetando o ponto tocado

Figura 11 – Ilustração das etapas do teste (IMP)

66

Realiza-se três medidas consecutivas, sem que o examinado veja as marcações

anteriores. Sugere-se que as marcações referentes aos pontos tocados e indicados pelo

participante sejam efetuadas seguindo a ordem das cores vermelha, preta e azul.

Após a marcação dos pontos indicados pelo participante, referentes à altura da

cabeça, ombros, cintura e quadril, solicita-se que ele se aproxime da parede em linha

reta. Para isso, o avaliador o auxiliará colocando um anteparo ao lado dos seus pés (o

avaliador poderá antes de iniciar o teste e posicionar o avaliado, marcar com fita crepe

duas linhas paralelas no chão), para que ele não se desvie da posição em que projetou os

pontos durante o teste. Em seguida, o avaliador marcará com adesivos verdes as

dimensões reais da cabeça, ombros, cintura e quadril (figura 12).

Figura 12 – Aproximação do participante à parede para a marcação dos pontos reais

A marcação das dimensões corporais reais será realizada com o auxílio de um

esquadro com ângulo de 90º, esse será colocado na parede, e sua extremidade nos

67

pontos em que o sujeito foi tocado para que se possa identificar as dimensões reais,

local em que serão colocados os adesivos verdes de 1,5 cm de diâmetro (figura 13).

Figura 13 – Marcação dos pontos reais com o auxílio de um esquadro de 90º

Para evitar erros de marcação dos pontos reais, o pesquisador solicitará ao

avaliado que efetue um pequeno afastamento lateral dos braços, coloque os dedos das

mãos direita e esquerda na parede na altura dos mamilos, mantenha o olhar para frente e

o corpo imóvel objetivando, assim, evitar possíveis oscilações do corpo durante a

marcação das medidas reais (adaptação proposta por nós durante a realização do teste).

Anteriormente a este estudo, Thurm (2007) propôs que o pesquisador estabilizasse a

região cervical com o apoio da mão impedindo o balanço postural correspondente à

oscilação natural que o corpo apresenta quando está em postura ereta, segundo as

observações efetuadas por Mochizuki & Amadio (2003). Consideramos que o ajuste por

nós proposto, em se tratando de adolescente, além de estabilizar o corpo como

totalidade durante a marcação de todos os pontos reais, evita possíveis constrangimentos

em relação ao toque na região cervical do avaliado.

68

Para cada avaliação efetuada, fixa-se um número próximo às marcações dos

pontos percebidos (vermelhos, pretos e azuis) que foram projetados na parede para que

se possa identificar os avaliados e, a seguir, fotografa-se a imagem para efetuar as

análises posteriores (figura 14).

Figura 14 – Identificação dos pontos projetados pelo participante (pontos vermelhos, pretos e

azuis) e da dimensões reais do avaliado (pontos verdes)

3.4.3 Análise de dados do IMP

3.4.3.1 Análise quantitativa dos dados do IMP

Após a realização do IMP, foi calculado o Índice de Percepção Corporal (IPC)

Segmentar e Geral.

O índice de percepção corporal referente à altura da cabeça foi calculado da

seguinte forma.

69

As imagens digitalizadas com as marcações dos pontos percebidos (vermelho,

preto e azul) e reais (verde) foram impressas (figura 15).

Figura 15 – Ilustração dos pontos representativos da altura para a

realização do cálculo do IPC da cabeça

Para medir as distâncias dos pontos representativos da altura da cabeça,

traçamos uma linha horizontal abaixo das marcações referentes à altura do quadril

(conforme linha A da figura 15) e, com o auxílio de uma régua, anotamos as distâncias

entre a linha traçada até os adesivos: vermelho, preto e azul, que correspondem às

dimensões corporais percebidas da altura da cabeça, e verde, que corresponde à

dimensão corporal real. Em seguida calculamos a média das três marcações vermelho,

preto e azul, correspondentes às dimensões percebidas da altura da cabeça, e

posteriormente dividimos os valores referentes ao tamanho percebido (média das três

distâncias correspondentes aos adesivos vermelho, preto e azul) pelo tamanho real

(distância obtida por meio do adesivo verde) e multiplicamos por 100 (ASKEVOLD,

1975).

Linha A

70

Os índices de percepção corporal segmentares referentes à largura dos ombros,

cintura e quadril foram calculados a partir das imagens impressas contendo as

marcações dos pontos percebidos (vermelhos, pretos e azuis) e reais (verdes). Embora a

distância entre dois pontos possa ser assimétrica, as medidas foram efetuadas sempre na

horizontal conforme ilustração da figura 16. Um erro comum que deve ser evitado

consiste em medir a distância entre dois pontos indicados pela linha vermelha

pontilhada, medindo a distância na diagonal e não na horizontal.

Figura 16 – Pontos representativos das dimensões do ombro, cintura e quadril

Para efetuarmos o cálculo do IPC de cada segmento corporal adotamos os

seguintes passos:

a. primeiramente, com o auxílio de uma régua posicionada na horizontal,

registramos em centímetros as distâncias entre os adesivos vermelhos, pretos, azuis

(dimensões percebidas) e verdes (dimensões reais) de cada segmento corporal (primeiro

dos ombros, depois da cintura e posteriormente do quadril);

71

b. calculamos a média das três distâncias registradas entre os adesivos

vermelhos, pretos e azuis de cada segmento corporal (dimensões percebidas);

c. depois, calculamos o IPC de cada segmento corporal, que consiste em: dividir

o tamanho percebido (obtido por meio da média das três distâncias) pelo tamanho real

(correspondente à distância obtida por meio do adesivo verde) e multiplicar por 100

cujo resultado final é expresso em valores percentuais (ASKEVOLD, 1975).

Após o cálculo dos IPC segmentares, calculamos o IPC Geral que se obtém por

meio do cálculo da média dos IPC segmentares correspondentes à altura da cabeça,

largura dos ombros, cintura e quadril.

3.4.3.2 Escala de Análise da Percepção Corporal

Diante da escassez de estudos no que se refere à interpretação da percepção das

dimensões corporais de adolescentes, idealizamos a Escala de Análise da Percepção

Corporal para identificar o quão próximo ou distante está o índice de percepção corporal

dos púberes em relação às dimensões corporais reais.

Segundo Thurm (2007), Bonnier foi o primeiro autor a classificar o índice de

percepção corporal (IPC) em três categorias, sendo elas o IPC adequado,

hipoesquemático e hiperesquemático. O autor considerou como adequado o valor do

IPC igual a 100%; como hipoesquemático o valor abaixo do IPC de 100%; e como

hiperesquemático o valor acima de 100%.

Segheto (2010), ao referir-se aos estudos realizados pelos integrantes da equipe

do laboratório de Percepção Corporal e Movimento da USJT tais como: Neto (2009),

Pereira et al. (2010), Fonseca, C. (2008) e Thurm, (2007), constatou que nenhum dos

resultados obtidos nas avaliações do IMP foram classificados como adequados quando

os parâmetros de análise tiveram como referência a classificação de Bonnier. Conforme

os apontamentos efetuados, raramente encontraremos sujeitos que tenham uma

percepção corporal adequada, com IPC de 100%. Segheto et al. (2010), considerando os

apontamentos de Campana e Tavares (2009) que relataram que a busca de um padrão de

normalidade é uma questão sem resposta, propuseram parâmetros de categorização da

72

percepção corporal para adultos por meio da distribuição dos valores em percentis,

considerando a Percepção Corporal como adequada quando os valores do IPC estiverem

alocados entre os percentis 25 e 75 e como inadequados quando os valores estiverem

abaixo de 25 ou acima de 75.

Consideramos que, se analisarmos os resultados dos IPC dos adolescentes da

presente pesquisa com base na classificação proposta por Bonnier, ou por Segheto

(Quadro 3), estaremos sujeitos a interpretar os resultados de forma equivocada. Se

efetuarmos as análises de acordo com os critérios de Bonnier, classificaremos apenas os

sujeitos como hipoesquemáticos e/ou hiperesquemáticos sem conseguirmos identificar o

quanto os jovens se afastam ou se aproximam da normalidade (IPC de 100%). Se

interpretarmos os valores dos IPC segundo os percentis propostos por Segheto para

adultos, talvez não consigamos retratar qual é o perfil perceptual das dimensões

corporais dos jovens que passam pelo estirão de crescimento e que, possivelmente,

fujam aos padrões de normalidade do adulto.

Quadro 3. Classificação do Índice de Percepção Corporal segundo os critérios

de Bonnier (1995) e Segheto et al. (2010)

Como não identificamos estudos que propusessem parâmetros para classificar o

IPC na fase da puberdade, sugerimos que se analisem o afastamento e/ou a aproximação

dos valores do IPC das dimensões corporais reais (IPC de 100%), tanto acima como

73

abaixo do valor referente às dimensões corporais reais, por meio da escala de

fracionamento do IPC, por nós idealizada, graduada em frações de 5% a partir do IPC

de 100%. Quanto mais o IPC se afastar de 100% mais desajustada é a percepção das

dimensões corporais. Os valores acima de 100% indicam tendência à superestimação e

abaixo à subestimação.

Podemos visualizar na figura 17, o modelo de Escala de Análise da Percepção

Corporal. A Base Central da Pirâmide corresponde ao IPC de 100%, o Polo Negativo

Esquerdo representa os índices de percepção corporal subestimados e Polo Positivo

Direito os superestimados.

Quanto mais próximos os valores do IPC estiverem da Base Central da

Pirâmide (IPC 100%), mais ajustado será a percepção corporal; quanto mais próximos

os valores do IPC estiverem do Polo Positivo Direito, maior será a superestimação da

percepção corporal; e quanto mais próximo do Polo Negativo Esquerdo, maior será a

subestimação. Os intervalos compreendidos entre os valores de IPC de 65% a 135% são

apenas ilustrativos, pois deverão ser escalonados para mais ou para menos, de acordo

com as necessidades do sujeito ou grupo avaliado.

Figura 17 – Escala de Análise da Percepção Corporal,

a partir do Índice de Percepção Corporal (IPC).

Os valores dos IPC inferiores e superiores são apenas limites ilustrativos que devem ser

escalonados de acordo com a população estudada.

74

Esse procedimento de análise possibilitará apenas identificar o quanto o IPC

geral do adolescente se afasta ou se aproxima das dimensões corporais reais. Os valores

mais próximos do IPC 100% sinalizam uma boa percepção das dimensões corporais, e

os mais distantes expressam menor ajuste da percepção das dimensões corporais.

3.4.3.3 Análise da projeção gráfica dos dados do IMP

As marcações das diferentes dimensões corporais sinalizadas por meio dos

adesivos fixados no quadro de avaliação foram digitalizadas, e as respectivas marcações

foram analisadas qualitativamente. Para isso, efetuamos comparações visuais referentes

à presença de distorções e similaridades entre as dimensões reais e percebidas (as

dimensões reais foram representadas pelo traçado preto e as dimensões percebidas pelo

traçado vermelho). Para analisar os diferentes segmentos corporais (cabeça, ombros,

cintura e quadril), verificamos as respectivas projeções mais altas ou baixas, estreitas ou

largas e/ou descentralizadas em relação ao eixo central do corpo, que corresponde à

localização da posição da cabeça e tronco.

Tais traçados são configurados pela união dos pontos referentes à altura da

cabeça, largura do ombro, largura da cintura e largura do quadril. Quanto mais próximas

estiverem as linhas vermelha e preta, melhor será a expressão do Esquema Corporal.

3.4.4 Procedimento para identificação autorreferida do Esquema Corporal

Com o objetivo de identificar se os adolescentes perceberam quais foram as

partes do corpo que mais se modicaram durante o período da puberdade, por meio de

entrevista, efetuamos a princípio, a seguinte pergunta aberta: Você percebeu quais

foram as partes do corpo que mais cresceram nos últimos tempos? Se a pergunta fosse

adequadamente compreendida pelo sujeito e se a resposta atendesse ao objetivo do

avaliador, o interrogatório cessava, caso contrário outras interlocuções eram efetuadas.

Consideramos que esse procedimento foi útil para compreender melhor os dados

referentes ao IPC dos segmentos corporais, pois, por meio das respostas obtidas,

pudemos refletir sobre as discrepâncias existentes entre as medidas reais em relação às

75

percebidas, confrontar as respostas verbais (que sinalizam as partes que mais cresceram)

com os resultados obtidos por meio do IPC dos segmentos corporais e, assim, analisar

se as diferenças identificadas no teste foram também percebidas pelo(a) adolescente.

Em seguida, em casos de respostas afirmativas em que o púbere constatou modificações

corporais, perguntamos se essas alterações interferiram nas atividades do dia a dia.

Perguntamos também se o jovem sentia dor em alguma parte do corpo, a fim de

verificarmos, em casos de discrepâncias entre as dimensões reais e percebidas, se essas

poderiam ser decorrentes da dor e não de outros motivos quaisquer, uma vez que a dor

tende a ampliar a percepção sobre as dimensões corporais, conforme Thurm (2007).

Identificamos também, os meses acumulados de Atividades Motoras Pregressas

– AMP (atividades motoras extracurriculares esportivas ou recreativas, praticadas desde

à infância até o momento da coleta de dados), as horas semanais de Praxia Fina - HPF

(tempo dispendido com atividades de coordenação motora fina como: escrever,

manipular o mouse do computador, teclado, joystick e similares) e as horas semanais de

Inatividade Motora Global – IMG (tempo por semana em que os jovens permanecem

sentados em frente a televisão, computador, videogame e similares sem exercer

atividades motoras globais) com o intuito de analisar as possíveis influências dessas

variáveis sobre os resultados (Questionário Apêndice I).

3.5 Teste de Destreza Manual

3.5.1 Objetivo

O teste Box and Block Test of Manual Dexterity – BBT (MATHIOWETZ et al.,

1985) tem por objetivo verificar o desempenho referente à destreza manual dos lados

dominante e não dominante.

3.5.2 Instrumentos

O teste de destreza manual foi realizado com os seguintes materiais:

76

a. Uma caixa de madeira com comprimento de 53,7 cm X 25,4 cm de largura e

8,5 cm de altura, com uma divisória de madeira mais alta que as bordas medindo 15,2

cm de altura, que divide a caixa em dois compartimentos com dimensões iguais (figura

18);

b. 150 blocos de madeira em forma de cubos medindo 2,5 cm X 2,5 cm;

c. Um cronômetro;

d. Uma planilha para anotações.

A caixa com os blocos pode ser observada na figura a seguir:

Figura 18 – Caixa contendo 150 blocos para a aplicação do teste de destreza manual.

3.5.3 Procedimentos

A avaliação teve como objetivo transportar o maior número de blocos de um

compartimento da caixa para o outro durante o tempo de um minuto. Foram pontuados

os desempenhos considerados corretos segundo os critérios descritos abaixo. Antes do

início do teste, todos os blocos foram colocados em apenas um dos compartimentos da

caixa, localizado do lado oposto ao lado dominante do avaliado, pois o sujeito iniciou o

teste com a mão dominante, conforme podemos observar na ilustração abaixo (figura

19).

77

Figura 19 – Realização do teste de destreza manual (os olhos do avaliado foram vendados

apenas para preservar a sua identidade, pois o teste é realizado sem a venda nos olhos).

O teste foi aplicado em um ambiente silencioso, com o avaliado sentado em uma

cadeira adequada à sua altura. A caixa foi colocada horizontalmente à sua frente em

uma mesa com a altura localizada um pouco acima da linha da cintura para que se

pudesse visualizar a área e os equipamentos a serem utilizados. Antes de iniciar a prova,

diz-se ao sujeito:

a. queremos ver com que rapidez você consegue pegar um bloco por vez,

carregá-lo até o outro compartimento da caixa e soltá-lo;

b. se você pegar e transportar dois blocos ao mesmo tempo, será considerado

apenas um ponto;

c. a ponta dos dedos deve chegar até o outro compartimento. Só então poderá

soltar o bloco para ser considerado ponto;

d. se você derrubar algum bloco na mesa ou no chão tendo a sua mão

ultrapassado a divisória da caixa, será computado um ponto, mas se a mão

não tiver ultrapassado a divisória, não perca tempo em pegá-lo, pois não será

considerado ponto;

e. você tem alguma dúvida?

78

Vale ressaltar que antes da realização do teste foi efetuada uma demonstração

pelo avaliador e, depois, o sujeito teve 15 segundos de treino para que pudesse

compreender a forma correta de proceder.

Antes de iniciar o teste definitivo, o avaliado era avisado: “Lembre-se de realizar

a tarefa o mais rápido que conseguir”.

Utilizamos um cronômetro para poder interromper a tarefa após exatamente 1

minuto. Após a realização do teste com uma das mãos, realizamos o mesmo com a mão

não dominante (avaliado realizou o teste três vezes com cada mão de forma alternada).

3.5.4 Análise dos dados do Teste de Destreza Manual

O resultado do teste foi expresso por um escore que indicou o número de blocos

transportados de um compartimento para o outro por minuto (BL/MIN). Quanto maior é

o número de blocos transportados maior é a habilidade de destreza manual.

Ao término do teste, perguntamos ao sujeito quais são as habilidades manuais

mais efetuadas por ele, a fim de identificar as possíveis relações entre os resultados

obtidos no teste de destreza manual com as habilidades manuais por ele exercidas.

3.6 Teste de Capacidade de Localização Proprioceptiva das Mãos (CLPM)

Com o objetivo de identificar um instrumento para avaliar a capacidade de

localização proprioceptiva das mãos, realizamos uma revisão sistemática (foram

analisados 36 artigos na língua inglesa) a fim de verificar os instrumentos e as técnicas

utilizadas para mensurar o desempenho no Espaço Peripessoal que avaliassem com

precisão a capacidade de localização das mãos e que quantificassem o grau de

aproximação ou dispersão das mãos entre si ou em relação a um alvo específico.

Ao efetuarmos o estudo, não localizamos instrumentos e técnicas que avaliassem

com precisão a capacidade de localização das mãos no Espaço Peripessoal e que

quantificassem o grau de aproximação ou dispersão das mãos entre si ou em relação a

um alvo específico. Por não localizar na literatura instrumentos que nos dessem alicerce

para analisar e mensurar a precisão de localização proprioceptiva das mãos e que fosse

79

exequível no âmbito escolar e de baixo custo operacional, idealizamos o teste de

localização proprioceptiva das mãos, a partir dos testes descritos por (GRAZIANO et

al., 1994, 1997, 1999).

3.6.1 Objetivo do teste

O teste tem por objetivo mensurar a precisão referente à capacidade de

localização proprioceptiva das mãos.

3.6.2 Instrumentos

Para a realização do teste de localização proprioceptiva das mãos foram

utilizados os seguintes instrumentos:

a. Uma venda colocada sobre os olhos do avaliado antes da realização do teste

e após o fornecimento das instruções iniciais.

b. Uma plataforma de vidro quadrada (mesinha) (figura 20) com 40 cm de

comprimento por 40 cm de largura, com quatro apoios laterais medindo 10

cm de altura, dispostos em cada uma de suas extremidades, de forma a

permitir que o avaliado coloque a sua mão embaixo da mesa para a

realização do teste, conforme as ilustrações abaixo.

Figura 20 – Plataforma de vidro contendo o alvo para a realização do teste de

localização proprioceptiva das mãos

80

Com distância de 5 milímetros entre si, 30 círculos estão dispostos um dentro do

outro, do menor para o maior, com um alvo central, tendo o círculo exterior o diâmetro

de 30 cm.

A disposição do alvo central e dos círculos permitirá ao avaliador verificar a

aproximação ou o distanciamento do dedo indicador do sujeito sobre o alvo.

Além dos círculos, a partir do ponto central (figura 21), estarão demarcados dois

eixos em forma de cruz, o anteroposterior e o transversal latero-lateral e em cada uma

de suas extremidades as seguintes indicações:

a. Tendo como referência o eixo anteroposterior:

a.1. Pontos proximais do avaliado: (i) inferior.

a.2. Pontos distais do avaliado: (s) superior.

b. Tendo como referência o eixo transversal latero-lateral:

b.1. Pontos localizados à direita do eixo central (d) / à direita do

avaliado.

b.2. Pontos localizados à esquerda do eixo central (e) / à esquerda do

avaliado.

Figura 21 – Plataforma com vidro contendo o alvo

para a realização do teste de localização proprioceptiva das mãos

Latero - Lateral

E S

E I

D S

D I

An

teropo

sterior

81

c. Uma planilha para a anotação dos resultados.

3.6.3 Procedimentos

Nesta avaliação, o sujeito de olhos vendados teve como objetivo colocar o dedo

indicador ativo no centro do alvo de forma a sobrepor o dedo indicador ativo sobre o

passivo. O dedo indicador do participante posicionado pelo pesquisador embaixo da

mesa é chamado de dedo indicador passivo e outro de dedo indicador ativo. O dedo

passivo foi posicionado pelo experimentador no alvo central demarcado embaixo da

superfície de trabalho, antes da realização da tarefa (figura 22).

Dedo indicador passivo

embaixo da mesa

Dedo indicador ativo

sobre o ombro

Figura 22 – Visualização do dedo indicador ativo do avaliado posicionado

sobre o ombro e o passivo sendo posicionado pelo pesquisador no alvo central,

demarcado embaixo da área de trabalho, antes da realização da tarefa

82

Para a realização do teste o avaliado sentou-se em uma cadeira adequada à sua

altura, e à sua frente foi disposto o alvo posicionado aproximadamente à altura do

umbigo para que o participante pudesse movimentar confortavelmente os membros

superiores.

O teste foi explicado ao sujeito com a realização de demonstrações simultâneas

efetuadas pelo avaliador antes que o participante fosse vendado. Explicamos ao avaliado

que o teste seria realizado com uma venda colocada em seus olhos para que ele não

visualizasse o alvo (figura 23).

Figura 23 – Posição inicial do teste de localização proprioceptiva das mãos

A seguir posicionamos o dedo indicador passivo de uma das mãos (não

dominante) no alvo localizado embaixo da mesa e o dedo indicador ativo sobre o ombro

(acrômio) (figura 24).

Figura 24 – Posição das mãos para realização do teste.

83

Em seguida, explicamos que ele teria como objetivo colocar o dedo indicador

que está em seu ombro, em cima da mesa, exatamente sobre a ponta do dedo que está

embaixo da mesa de forma que um fique sobre o outro (figura 25).

Figura 25 – Ilustração da ação de uma das mãos tendo como objetivo sobrepor o dedo

indicador ativo sobre o passivo, exatamente sobre o alvo central

Após as explicações e demonstrações perguntamos se havia dúvidas para que

pudéssemos explicar novamente o teste, se fosse necessário.

Instruções e procedimentos

Instruímos o participante para que fizesse a tarefa com calma e sem pressa e que,

quando encostasse o dedo indicador ativo sobre a mesa, não alterasse o posicionamento

do dedo.

A tarefa foi realizada por três vezes e o intervalo entre as tentativas foi de

aproximadamente 5 segundos, tempo necessário para buscar conforto anatômico para a

realização das próximas tentativas.

O teste foi iniciado com a mão dominante perfazendo três tentativas e em

seguida com a mão não dominante.

Registramos cada tentativa anotando o número referente ao posicionamento do

dedo indicador ativo e as siglas correspondentes aos quadrantes demarcados pelos eixos

vertical e horizontal, que indicam a posição do dedo indicador em relação aos eixos

centrais do alvo, conforme podemos observar abaixo:

84

a. à direita e superiror (ds); ou

b. à direita e inferior (di); ou

c. à esquerda e superior (es); ou

d. à esquerda e inferior (ei).

Para obtermos maior precisão em relação ao registro dos dados, adotamos os

seguintes critérios:

Consideramos como posição medial do dedo indicador ativo, a região medial da

unha. A partir dessa referência, registramos o valor correspondente ao número indicado

entre os círculos, sendo 1, 2, 3 até o número 29 (figura 26). O número 1 está localizado

logo após o círculo central, e o número 29 está localizado entre o penúltimo e último

círculo. Nos casos em que o ponto indicado pelo avaliado coincidiu com uma linha

demarcatória dos espaços entre dois círculos, por exemplo, a linha demarcatória entre os

círculos 4 e 5, consideramos o valor mais distal, ou seja, a pontuação correspondente ao

círculo 5. Esse critério foi estabelecido como forma de padronização para que

pudéssemos manter o mesmo rigor ao registrar cada uma das tentativas.

Figura 26 – Alvo ilustrativo do teste de capacidade de localização proprioceptiva das mãos

85

3.6.4 Análise dos dados do Teste de Capacidade de Localização

Proprioceptiva das Mãos (CLPM).

As anotações referentes à numeração dos círculos indicam a localização do dedo

indicador em relação à aproximação e ao afastamento desse em relação ao alvo central.

O resultado do teste realizado com a mão dominante é expresso por um escore

indicativo registrado em milímetros, representado pela média dos três desempenhos, e o

resultado realizado com a mão não dominante, idem.

Quanto mais o dedo indicador ativo se aproximar do alvo central, mais apurada é

a Capacidade de Localização Proprioceptiva das Mãos, assim, quanto mais próximos os

resultados registrados estiverem do alvo central, maior será a sinalização de boa

percepção de localização dos membros superiores.

4 ANÁLISE ESTATÍSTICA

Com o intuito de analisar os dados, no presente estudo foram utilizadas as

técnicas estatísticas como média, desvio-padrão, frequência e porcentagem a fim de

caracterizar e conhecer a distribuição da amostra estudada. Em seguida, os dados foram

submetidos ao teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov e todas as variáveis

seguiram uma distribuição normal e Levene para verificar homogeneidade das

variâncias. A comparação entre o índice de percepção corporal dos sexos feminino e

masculino foram efetuadas por meio do “t”- Student para variáveis independentes.

Recorremos à Análise de Variância (ANOVA de um fator) para verificar possíveis

diferenças entre os IPC Geral de cada estágio de maturação sexual. Foram realizadas

Análises de Variância (ANOVA) com medidas repetidas para verificar eventuais

diferenças entre a percepção das dimensões corporais da cabeça, ombro, cintura e

quadril e com fator sexo complementado pelo teste de Bonferroni. Com o intuito de

verificar as prováveis correlações entre a destreza manual com a capacidade de

localização das mãos foi aplicada a correlação de Pearson. Em todas as análises foi

adotado o critério de significância de 5%. As análises estatísticas dos dados foram

realizadas por meio da utilização do programa computacional SPSS (Statistical Package

for Social Sciences) versão 21.0, para Windows.

86

5 RESULTADOS

As análises deste estudo foram efetuadas com o propósito de: caracterizar os

participantes da pesquisa; identificar a percepção da dimensão geral e por segmentos

(cabeça, ombros cintura e quadril) utilizando o IPC; analisar qualitativamente os dados

do teste IMP; verificar a influência da maturação sexual, das atividades motoras

pregressas e das horas semanais de inatividade motora global sobre o IPC Geral e dos

ombros; analisar a influência do IPC Geral e dos ombros sobre a destreza manual e

capacidade de localização das mãos; assim como verificar a influência das atividades

motoras pregressas, da inatividade motora global e das horas semanais de praxia fina

sobre os desempenhos da destreza manual e capacidade de localização das mãos.

5.1 Característica da Amostra

Fizeram parte da presente investigação 100 adolescentes de 9 a 15 anos, sendo

50 do sexo masculino, de 11 a 15 anos, e 50 do sexo feminino, de 9 a 13anos. Cada

grupo foi composto por dez participantes de cada faixa etária (tabela 1).

Tabela 1 – Distribuição dos participantes por faixas etárias e sexo

Feminino n Masculino n

9 anos 10 11 anos 10

10 anos 10 12 anos 10

11 anos 10 13 anos 10

12 anos 10 14 anos 10

13 anos 10 15 anos 10

Total 50 Total 50

As diferenças referentes às faixas etárias dos grupos se deve ao fato de que as

meninas apresentam maturação precoce em relação aos meninos, cerca de dois anos. As

idades correspondentes a cada grupo estão relacionadas ao período em que se processa o

estirão de crescimento. Todos os participantes avaliados são estudantes pertencentes a

uma escola do ensino fundamental da rede Municipal de Ensino de São Paulo-Capital.

87

Como neste estudo muitas análises foram realizadas levando-se em consideração

os estágios de maturação sexual dos participantes, apresentamos na tabela 2 a

classificação maturacional dos participantes do sexo masculino e feminino distribuídos

por faixas etárias. Por meio dos dados expostos, pode-se notar que há uma concentração

maior de participantes no estágio IV, sendo 20% do grupo feminino e 37% do

masculino.

Tabela 2 – Número de participantes distribuídos por faixas etárias, segundo a

classificação da maturação sexual de ambos os sexos (n=100)

Estágios de Maturação

Sexual Feminino (n = 50)

Estágios de Maturação

Sexual Masculino (n = 50)

Idade I II III IV Idade I II III IV

09 04 05 01 -- 11 -- 03 06 01

10 02 04 03 01 12 -- 01 02 07

11 01 03 02 04 13 -- -- 01 09

12 -- -- 03 07 14 -- -- -- 10

13 -- 01 01 08 15 -- -- -- 10

Total 07 13 10 20 Total 00 04 09 37

No gráfico 1, pode-se observar a distribuição dos participantes (n=100) segundo

a classificação dos estágios de maturação de I a IV. Nota-se que mais da metade dos

participantes (57%) apresentaram índices de maturação sexual no estágio IV.

Gráfico 1 – Distribuição dos participantes (n=100) segundo a classificação dos estágios

de maturação sexual, apresentados em porcentagem

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

I II III IV

7%

17% 19%

57%

Estágios de maturação sexual

88

No gráfico 2, segundo as respostas dos participantes, pode-se observar que 40

participantes, desde a infância até o momento da coleta de dados, não participaram de

atividades extracurriculares direcionadas às atividades motoras esportivas ou recreativas

dentro ou fora do âmbito escolar, 45 somaram o tempo de 1 a 20 meses de prática e

apenas 15 relataram acumular um tempo superior a 21 meses. Considerando-se o total

de participantes (n=100), constatamos que 40 não realizaram atividades motoras

pregressas desde à infância e 60 realizaram.

±

Gráfico 2 – Tempo acumulado de atividades motoras pregressas

dos participantes da pesquisa distribuídos por intervalos de vinte meses

Verificamos que os participantes (n=100) acumularam em média 13,8 meses de

atividades motoras pregressas (atividades motoras extracurriculares esportivas ou

recreativas praticadas desde a infância).

Ao calcularmos a média de horas semanais dispendidas com atividades de

coordenação motora fina (praxia fina) que se refere às atividades manuais realizadas

fora do ambiente escolar, como: jogar videogame, manipular teclado/mouse do

computador e similares, verificamos que os participantes (n=100) ocuparam em média

12h46min exercendo atividades de coordenação motora fina.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Zero

1 a

20

21

a 4

0

41

a 6

0

61

a 8

0

81

a 1

00

10

1 a

18

0

40

45

6 5 1 1 2

me

ro d

e p

arti

cip

ante

s

Tempo de prática em meses

89

Na tabela 3, é possível identificar as horas semanais de praxia fina dos

participantes Ativos (AMP) que acumularam meses realizando atividades motoras

extracurriculares (esportivas ou recreativas) desde a infância até o momento da coleta de

dados e dos Inativos (INI) que não realizaram. Ao efetuarmos por meio do teste “t” de

Student, as comparações entre as horas semanais de praxia fina dos ativos em relação

aos inativos, constatamos que não há diferenças estatisticamente significantes.

Tabela 3 – Comparação das horas semanais dispendidas com atividades de Praxia Fina

entre os participantes que acumularam meses de atividades motoras pregressas desde a infância

com os que não realizaram (n=100)

Horas Semanais de Praxia Fina

Participantes n ̅ dp t P

(AMP) Ativos desde a Infância 40 14,37 13,35 1,49 0,139

(INI) Inativos desde a Infância 60 10,17 12,06

(AMP) Ativos desde a Infância: realizaram atividades extracurriculares

esportivas ou recreativas desde a infância; (INI) Inativos desde a Infância: não

realizaram atividades extracurriculares esportivas ou recreativas

extracurriculares desde a infância.

*P≤0,05

Verificamos que os púberes permanecem fora do ambiente escolar, 36h28min

em média (por semana), sentados em frente à televisão e ocupados com atividades no

computador.

Na tabela 4, observam-se as horas semanais de inatividade motora global dos

participantes que acumularam meses realizando atividades motoras e dos que não

realizaram atividades motoras extracurriculares desde a infância até o momento da

coleta de dados. Ao efetuarmos as comparações entre as horas semanais de inatividade

motora global dos ativos em relação aos inativos, por meio do “t” – Student constamos

que não há diferenças estatisticamente significantes.

90

Tabela 4 – Comparação das horas semanais de Inatividade Motora Global entre os

participantes que acumularam meses de atividades motoras pregressas desde a infância com os

que não realizaram (n=100)

Horas Semanais de Inatividade Motora Global

Participantes n ̅ dp t p

(AMP) Ativos desde a infância 40 38,04 18,47 1,42 0,159

(INI) Inativos desde a infância 60 33,20 16,58

(AMP) Ativos desde a Infância: realizaram atividades extracurriculares esportivas ou

recreativas desde a infância; (INI) Inativos desde a Infância: não realizaram atividades

extracurriculares esportivas ou recreativas extracurriculares desde a infância.

*P≤0,05

5.2 Percepção Corporal

Apresentaremos abaixo os dados obtidos por meio do IMP (procedimento de

marcação do Esquema Corporal) para avaliar o Índice de Percepção Corporal dos púberes,

conforme foi descrito no método da presente pesquisa.

Ao analisarmos os dados coletados por meio do IMP verificamos que a média do

IPC Geral dos 100 púberes participantes deste estudo foi de 112,03% e o desvio padrão

de 18,74%.

Na tabela 5, pode-se observar que não há diferenças estatisticamente

significantes entre o Índice de Percepção Corporal dos meninos quando comparados ao

das meninas.

Tabela 5 – Comparação entre o IPC Geral dos jovens do sexo feminino com o do

masculino (n=100)

IPC Geral (%)

Sexo n ̅ dp t p

Feminino 50 124,52% 21,79 1,334 0,185

Masculino 50 119,53% 14,90

*P≤0,05

91

Como não houve diferenças estatisticamente significantes entre o IPC Geral do

sexo feminino comparado ao masculino, não efetuamos análises específicas

direcionadas a cada sexo.

Durante o transcorrer deste estudo, realizamos grande parte das análises tendo

como parâmetros a Escala de Análise da Percepção Corporal a qual nos possibilitou

identificar o quão próximos ou distantes estão os índices de percepção corporal dos

púberes em relação às dimensões corporais reais (IPC 100%).

No gráfico 3, é possível visualizar a porcentagem de participantes distribuídos

segundo a Escala de Análise da Percepção Corporal. Ao analisarmos os resultados,

notamos que 9% dos jovens percebem-se menores do que realmente são e 91%

apresentam uma percepção das dimensões corporais superestimada.

Gráfico 3 – Distribuição dos IPC Geral dos participantes de acordo com os critérios

da Escala de Análise da Percepção Corporal graduada em frações de 10% (n=100)

Na tabela 6, podemos visualizar os valores médios dos IPC Geral dos púberes

em cada estágio de maturação sexual de I a IV. Por meio dos resultados, pode-se

observar que os índices de percepção corporal dos púberes tendem a se ajustar com o

decorrer da maturação. O IPC Geral de 134,43% no estágio I declinou para 119,36% no

estágio IV, se aproximando do índice de 100%, o qual é considerado ideal; no entanto,

ao efetuarmos a Análise de Variância (ANOVA de um fator) para verificar possíveis

0

5

10

15

20

25

30

35

9%

18%

31%

15%

11% 9%

4% 1% 1% 1%

% d

e p

arti

cip

ante

s

Valores do IPC distribuídos em frações de 10%

IPC 100%

92

diferenças entre os IPC Geral de cada estágio de maturação sexual, constatamos

(F=1,57; p=0,200) que não há diferenças estatisticamente significantes.

Tabela 6 – Média e desvio padrão do IPC Geral dos participantes distribuídos pelos

estágios de maturação sexual (n=100)

IPC Geral

Maturação n ̅ dp

I 07 134,43% 37,20

II 17 124,84% 14,90

III 19 122,96% 18,44

IV 57 119,36% 16,46

Na tabela 7, pode-se identificar a média e o desvio padrão dos IPC segmentares

de todos os participantes da pesquisa e dos grupos separados por sexo. Por meio dos

valores dos IPC segmentares expostos, pode-se notar que as percepções sobre as

dimensões dos segmentos corporais do grupo feminino apresentaram-se semelhantes às

do grupo masculino. Ambos superestimaram muito as dimensões corporais da cintura e

depois as do quadril e um pouco menos as dos ombros, percebendo, assim, essas

dimensões maiores do que realmente são, quanto ao IPC da cabeça ambos apresentaram

subestimação, percebendo-se menores. Para verificar eventuais diferenças entre a

percepção das dimensões corporais da cabeça, ombro, cintura e quadril de todos os

participantes, foram realizadas Análises de Variância (ANOVA) com medidas repetidas

(n=100) e com fator sexo. Por meio dos resultados, constatou-se que há diferença

estatisticamente significante entre os IPC segmentares (F=186,89; p=0,001) e pelo teste

de Bonferroni identificou-se que todos os IPC segmentares são estatisticamente

diferentes. Constatou-se também que não há interação entre os IPC segmentares do sexo

feminino com o masculino (F=1,428; p=0,242), assim como não há diferença por sexo

(F=1,78; p=0,185).

93

Tabela 7 – Média e desvio padrão dos IPC Segmentares de todos os participantes

(n=100) da pesquisa e separados por sexo (n=50 cada sexo)

Feminino e Masculino

(n=100)

Masculino

(n=50)

Feminino

(n=50)

IPC ̅ dp ̅ dp ̅ dp

Cabeça 96,35% 5,60% 98,44% 5,58 94,27% 4,83

Ombro 115,50% 21,66% 116,09% 24,97 114,91% 18,00

Cintura 151,01% 34,27% 156,30% 38,99 145,72% 28,21

Quadril 125,24% 23,74% 127,24% 27,67 123,24% 19,10

Na tabela 8, estão dispostos os dados das correlações entre o IPC Geral com os

IPC Segmentares, e, por meio dos resultados, pode-se observar que há correlações

estatisticamente significantes entre todas as variáveis investigadas. As correlações mais

fortes entre os IPC Segmentares com o IPC Geral referem-se primeiro ao IPC da

cintura, depois do quadril, seguida do IPC do ombro. O IPC da cabeça apresentou uma

correlação fraca, desta forma; constatamos que os índices de percepção corporal geral

são mais influenciados pelos IPC Segmentares da cintura, quadril e ombros com menor

influência do IPC da cabeça, talvez porque a percepção referente à altura é a que menos

se altera.

Tabela 8 – Correlação de Pearson entre o IPC Geral com os IPC Segmentares (n=100)

Correlação r p

IPC Geral x IPC da Cabeça 0,290 0,003*

IPC Geral x IPC do Ombro 0,889 0,000*

IPC Geral x IPC da Cintura 0,951 0,000*

IPC Geral x IPC do Quadril 0,905 0,000*

*P≤0,05

94

Além de realizarmos as análises quantitativas sobre os IPC, efetuamos

apreciações qualitativas dos dados do IMP. As imagens projetadas dos pontos

percebidos (tracejado vermelho) e reais (tracejado preto) foram digitalizadas e

analisadas qualitativamente por meio de comparações visuais. Essas tiveram como

objetivo identificar as distorções e similaridades referentes às dimensões reais (tracejado

preto) confrontadas com as percebidas (tracejado vermelho) das dimensões da altura da

cabeça, largura e altura dos ombros, cintura e quadris. Avaliamos também a presença ou

não de assimetrias e centralização.

A seguir, é possível observar quatro ilustrações dos traçados do IMP, sendo duas

do sexo feminino (figuras - 27 e 28) e duas do sexo masculino (figuras 29 e 30)

extraídas da amostra avaliada (n=100); foram selecionadas de forma aleatória com o

intuito de representar o IMP subestimado e superestimado.

Os participantes com o IMP subestimado e superestimado (representado pelas

figuras 27 / 28 e 29 / 30), apresentaram assimetrias distintas uns em relação aos outros,

quanto aos diferentes segmentos corporais, estando esses mais altos ou baixos, estreitos

ou largos e/ou descentralizados em relação ao eixo central do corpo (localização da

posição da cabeça e coluna vertebral). Verificamos que não há padrões de semelhança

entre os traçados e que cada sujeito apresentou particularidades que o diferencia dos

demais, não existindo, portanto, um padrão entre as projeções dos traçados em nenhum

dos grupos analisados.

Ressaltamos a figura 29 que representa um traçado hipoesquemático (IPC

99,64%), cujo valor está muito próximo de um IPC adequado de 100%. Contudo ao

analisarmos as projeções do seu traçado, verificamos assimetrias em relação à

percepção das diferentes partes do corpo, dado que revela que os IPC, mesmo próximos

dos valores ideais (IPC 100%), podem apresentar assimetrias e descentralizações,

traçados esses que revelam uma percepção desajustada das dimensões corporais.

95

Com o intuito de identificar se os adolescentes percebiam quais foram as partes

do corpo que mais se modicaram durante o período da puberdade, por meio de

entrevista efetuamos, a princípio, a seguinte pergunta aberta: Você percebeu quais

foram as partes do corpo que mais cresceram nos últimos tempos? Se a pergunta fosse

adequadamente compreendida pelo sujeito e se a resposta atendesse ao objetivo do

avaliador, a entrevista cessava, caso contrário outras interlocuções eram efetuadas.

Após o registro das respostas sobre as partes mencionadas, elencamos duas

categorias de análise: a) partes do corpo autorreferidas que possuem relação com as

dimensões corporais avaliadas por meio do IMP; b) partes do corpo autorreferidas que

não estão relacionadas com as dimensões corporais avaliadas por meio do IMP.

Conforme os dados apresentados na tabela 9, identificamos que, dos 100 jovens

Subestimação (IPC Geral com valores abaixo de 100%)

Superestimação (IPC Geral com valores acima de 100%)

Figura 28 – 11 anos Feminino

sujeito n° 27

IPC Geral = 145,69%

Figura 30 – 15 anos Masculino

sujeito n° 47

IPC Geral = 125,20%

Figura 27 – 12 anos Feminino

sujeito n° 33

IPC Geral = 91,30%

Figura 29 – 15 anos Masculino

sujeito n° 48

IPC Geral = 99,64%

96

inqueridos, apenas 14 respostas, sendo sete de cada sexo, condizem com as dimensões

corporais que se modificam durante a fase do estirão do crescimento, tais como: altura-

tronco cefálica, dimensão biacromial e trocantérica (CHIPKEVITCH, 1995) e que são

avaliadas por meio do IMP. Observamos que 43 participantes, 27 do sexo feminino e 16

do masculino, indicaram partes que se alteram durante o estirão de crescimento e que

não estão associadas às alterações das dimensões avaliadas por meio do IMP.

Verificamos ainda que 43 jovens, 27 do sexo feminino e 16 do sexo masculino, não

identificaram alterações das parte do corpo, o que talvez denote a falta de percepção

sobre as alterações corporais que se processam durante o estirão de crescimento.

Tabela 9 – Frequência de respostas sobre a percepção dos jovens do sexo feminino e

masculino referentes às partes do corpo que mais cresceram no período do estirão de

crescimento (n=100)

Percepção sobre as partes do corpo n Feminino Masculino

Que se alteram durante o estirão e

são avaliadas por meio do IMP

14 07 07

Que se alteram durante o estirão e que

não são avaliadas por meio do IMP

43 27 16

Sujeitos que não perceberam

alterações corporais

43 27 16

Total 100 61 39

Na tabela 10, pode-se observar a frequência de respostas dos jovens do sexo

masculino e feminino referentes à percepção sobre as partes do corpo que se

modificaram durante o estirão de crescimento e que são avaliadas por meio do IMP e as

partes que se alteraram e não são avaliadas por meio do IMP. As partes do corpo mais

citadas relacionadas ao IMP foram as dimensões dos membros inferiores, sendo duas

respostas do sexo feminino e quatro do masculino. As partes mais indicadas que não

estão relacionadas ao IMP foram as mamas com 19 respostas do sexo feminino e os pés

com 13 respostas, sendo cinco do sexo feminino e oito do masculino.

97

Tabela 10 – Percepção dos púberes do sexo feminino e masculino sobre as partes do

corpo que mais cresceram durante o período do estirão de crescimento, que estão relacionadas

ao IMP e que não estão relacionadas (n=100)

Partes do corpo relacionadas ao IMP Partes do corpo não relacionadas ao IMP

Partes do Corpo Feminino Masculino Partes do Corpo Feminino Masculino

Altura 02 01 Bigode x 01

Abdômen x 02 Mamas 19 X

Cintura 01 x Membros superiores 02 X

Região Glútea 01 x Mãos x 03

Membros inferiores 02 04 Pelos 01 X

Corpo Todo 01 x Genitália x 04

X x x Pés 05 08

Total 07 07 Total 27 16

Sabe-se que há vários agentes que podem interferir na percepção das dimensões

corporais durante o período de estirão de crescimento. Como os jovens estão expostos a

vários estímulos, consideramos relevante identificar se as atividades motoras pregressas

– AMP (atividades recreativas e/ou esportivas praticadas desde a infância) e as horas de

inatividade motora global semanal - IMG (que correspondem ao tempo dispendido

sentado em frente à televisão, computador, videogame e similares) poderiam ser fatores

contribuintes que explicassem as variações do IPC geral na fase da puberdade, uma vez

que 99% dos jovens desta pesquisa apresentaram IPC Geral superestimado, de acordo

com os dados expostos no gráfico 3. Ao efetuarmos as correlações entre o IPC Geral

com as atividades motoras pregressas e com as horas de inatividade motora global,

constatamos (tabela11) que tanto o acúmulo de meses dispendidos com atividades

motoras pregressas (atividades recreativas e/ou esportivas praticadas desde a infância),

assim como o tempo de inatividade motora global semanal (tempo dispendido sentado

em frente à televisão, computador, videogame e similares) não tiveram influência sobre

a percepção das dimensões corporais, pois não foram encontrados valores

estatisticamente significantes.

98

Tabela 11 – Correlações de Pearson entre o IPC Geral de todos os participantes com os

meses de atividades motoras pregressas e com as horas semanais de inatividade motora global

(n = 100)

Correlação r p

IPC GERAL x Atividades Motoras Pregressas 0,003 0,974

IPC GERAL x Inatividade Motora Global -0,089 0,379

*P≤0,05

A fim de verificarmos se os diferentes valores do IPC Geral apresentados em

cada estágio de maturação sexual (tabela 12) foram influenciados pelos meses

acumulados de atividades motoras pregressas (AMP) e pelas horas semanais de

inatividade motora global (IMG), por meio da correlação de Pearson identificamos que

não há correlação estatisticamente significante entre as variáveis correlacionadas.

Tabela 12 – Correlação entre IPC Geral de cada estágio de maturação sexual com as

Atividades Motoras Pregressas (AMP) e com a Inatividade Motora Global (IMG) (n=100)

Estágios Maturação Sexual

I II III IV

r P r p r p r p

IPC Geral x AMP

IPC Geral x IMG

0,74 0,06 -0,24 0,33 0,34 0,14 0,30 0,82

-0,25 0,57 -0,17 0,49 0,20 0,40 0,22 0,87

*P≤0,05

Na tabela 13, é possível identificar o IPC Geral dos participantes Ativos (AMP)

que acumularam meses praticando atividades motoras extracurriculares esportivas ou

recreativas, desde a infância até o momento da coleta de dados e dos Inativos (INI) que

não realizaram. Ao efetuarmos a Análise de Variância (ANOVA de um fator) para

verificar possíveis diferenças entre o IPC Geral dos participantes Ativos (AMP) com os

Inativos (INI), constatamos (F=1,64; p=0,203) que não há diferenças estatisticamente

significantes.

99

Tabela 13 – Comparação dos IPC Geral entre os participantes Ativos (AMP) que

acumularam meses de atividades motoras pregressas extracurriculares com os Inativos (INI) que

não realizaram (n=100)

IPC Geral

Participantes n ̅ dp F p

(AMP) Ativos desde a infância 60 123,98% 20,81 1,64 0,203

(INI) Inativos desde a infância 40 119,10% 14,90

*P≤0,05

Com o intuito de verificar se os meses acumulados de atividades motoras

pregressas e o tempo semanal de inatividade motora global influenciaram os resultados

do IPC Geral, efetuamos a correlação de Pearson entre o IPC Geral com as Atividades

Motoras Pregressas (AMP) e com a Inatividade Motora Global (IMG) no grupo de

Ativos e não constatamos valores estatisticamente significantes (tabela 14). Dessa

forma, as atividades motoras pregressas e o tempo de inatividade motora global não

influenciaram o IPC Geral. Ao realizarmos a correlação de Pearson entre o IPC Geral

com a IMG no grupo de inativos (INI), também não identificamos valores

estatisticamente significantes e assim consideramos que tanto as atividades motoras

pregressas como as horas semanais de inatividade motora global não interferiram nos

resultados do IPC Geral.

Tabela 14 – Correlação de Pearson entre IPC Geral com os meses acumulados de

(AMP) atividades motoras pregressas no grupo de ativos e com as horas semanais de (IMG)

inatividade motora global no grupo de ativos e de não ativos (n=100)

Participantes Correlação r p

(AMP) Ativos desde a infância

(n=60)

IPC GERAL x AMP 0,24 0,057

IPC GERAL x IMG -0,23 0,690

(INI) Inativos desde a infância

(n=40)

IPC GERAL x IMG -0,28 0,833

(AMP) Ativos desde a Infância: realizaram atividades extracurriculares esportivas ou recreativas

desde a infância; (INI) Inativos desde a Infância: não realizaram atividades extracurriculares

esportivas ou recreativas extracurriculares desde a infância; (IMG) tempo semanal em que os jovens

permanecem sentados em frente a televisão, computador, videogame e similares sem exercer

atividades motoras globais.

*P≤0,05

100

Propusemo-nos também investigar a relação entre o IPC Geral com os

desempenhos referentes à destreza manual (dominante e não dominante) e a capacidade

de localização das mãos (dominante e não dominante). Foi possível observar (tabela 15)

que o IPC geral não apresentou correlação estatisticamente significante com a destreza

manual, nem com a capacidade de localização das mãos; portanto, podemos afirmar que

os desempenhos referentes à destreza manual e à capacidade de localização das mãos

não são influenciados pelo índice de percepção corporal geral (IPC Geral).

Tabela 15 – Correlações de Pearson efetuadas entre o IPC Geral (IPCG) com a destreza

manual dominante (DMD), a destreza manual não dominante (DMND), a capacidade de

localização da mão dominante (CLMD) e a capacidade de localização da mão não dominante

(CLMND) (n = 100)

Correlação r p

IPC GERAL x DMD 0,05 0,58

IPC GERAL x DMND 0,71 0,48

IPC GERAL x CLMD -0,60 0,55

IPC GERAL x CLMND -0,05 0,61

*P≤0,05

Como já mencionamos anteriormente, suspeita-se que as acentuadas

transformações corporais decorrentes da puberdade podem desajustar a percepção das

dimensões corporais dos púberes e refletir em prejuízos à coordenação motora.

Levando-se em consideração que, de todos os segmentos corporais avaliados nessa

pesquisa, a cintura escapular é a única que está diretamente relacionada à coordenação

motora fina e que as modificações das dimensões desse segmento (dimensões dos

ombros, comprimento dos antebraços e braços e comprimento das mãos e dedos),

poderiam alterar a percepção dos púberes sobre a dimensão dos ombros e refletir em

prejuízos ao desempenho da destreza manual e capacidade de localização das mãos,

propusemo-nos inicialmente identificar o IPC dos ombros que corresponde à 115,50% +

21,67 e, posteriormente, verificar (tabela 16) se a percepção sobre a dimensão dos

ombros dos púberes foi influenciada pelas (AMP) atividades motoras pregressas

(atividades recreativas e/ou esportivas praticadas desde a infância) e pelas (HPF) horas

semanais de praxia fina (tempo dispendido sentado em frente a televisão, computador,

videogame e similares). Ao efetuarmos as correlações entre o IPC dos ombros com as

101

variáveis explicitadas, constatamos que há correlação estatisticamente significante

apenas entre o IPC dos ombros com as horas de praxia fina. Por meio dos dados

obtidos, verificamos que a aproximação entre as dimensões corporais percebidas em

relação às reais, é influenciada pelo aumento do número de horas semanais exercidas

com atividades de coordenação motora fina.

Tabela 16 – Correlações de Pearson efetuadas entre o IPC dos ombros de todos os

participantes (n =100) com as atividades motoras pregressas (AMP) e com as horas dispendidas

com praxia fina (HPF)

Correlação r p

IPC Ombro x Atividades Motoras Pregressas -0,11 0,91

IPC Ombro x Horas Praxia Fina -0,21 0,03*

*P≤0,05

Analisamos também as possíveis correlações entre o IPC dos ombros com os

desempenhos referentes à destreza manual (dominante e não dominante) e com a

capacidade de localização das mãos (dominante e não dominante), e, após efeturarmos

as análises (Tabela 17), foi possível constatar que não há correlações estatisticamente

significantes, o que nos permite afirmar que o IPC dos ombros não influenciou os

desempenhos referentes à destreza manual e a capacidade de localização das mãos dos

lados dominante e não dominante.

Tabela 17 – Correlações de Pearson efetuadas entre o IPC dos ombros de todos os

participantes (n =100) com a destreza manual dominante (DMD), a destreza manual não

dominante (DMND), a capacidade de localização da mão dominante (CLMD) e a capacidade de

localização da mão não dominante (CLMND)

Correlações r p

IPC Ombro x Destreza Manual Dominante 0,09 0,33

IPC Ombro x Destreza Manual Não Dominante 0,10 0,31

IPC Ombro x Capacidade de Localização das Mãos Dominante -0,05 0,58

IPC Ombro x Capacidade de Localização das Mãos Não Dominante -0,04 0,66

*P≤0,05

102

Na tabela 18, é possível observar a média e o desvio padrão dos IPC do ombro

dos púberes em cada estágio de maturação sexual (de I a IV). Nota-se que, nos estágios

mais adiantados de maturação sexual, localizam-se os IPC mais ajustados. Por meio da

análise estatística Kruskal Wallis, constatamos que não há diferenças estatisticamente

significantes dos IPC dos ombros entre os estágios de maturação sexual.

Tabela 18 – Média e desvio padrão do IPC do ombro em cada estágio de maturação

sexual (n = 100)

IPC do Ombro

Maturação Sexual n ̅ dp F P

I 07 127,28% 40,15 0,95 0,81

II 17 116,52% 17,99

III 19 115,57% 23,53

IV 57 113,75% 19,12

*P≤0,05

Ao analisarmos, por meio da correlação de Pearson, se o IPC do ombro em cada

estágio de maturação sexual fora influenciado pelo acúmulo de meses de atividades

motoras pregressas e pelas horas semanais de atividades de praxia fina (Tabela 19), nos

certificamos que não há correlação estatisticamente significante entre o IPC do ombro

com as atividades motoras pregressas e com as horas de praxia fina, em nenhum estágio

de maturação sexual; assim sendo, consideramos que essas variáveis não influenciaram

a percepção sobre as dimensões corporais do ombro.

Tabela 19 – Correlações de Pearson entre os meses acumulados de atividades motoras

pregressas (AMP) com as horas semanais dispendidas com atividades de praxia fina (HPF) e

com IPC dos ombros (n=100)

IPC Ombro – Estágios de Maturação Sexual de I a IV

I II III IV

Correlação r p r p r p r p

AMP x IPC Ombro 0,73 0,59 -0,30 0,23 0,83 0,73 0,03 0,80

HPF x IPC Ombro 0,34 0,45 -0,12 0,96 -0,36 0,12 -0,19 0,15

*P≤0,05

103

Com o intuito de analisar em cada estágio de maturação sexual (I, II, III e IV), as

possíveis correlações entre o IPC dos ombros com os desempenhos referentes à destreza

manual (dominante e não dominante) e a capacidade de localização das mãos

(dominante e não dominante), efetuamos por meio da correlação de Pearson as análises

mencionadas e, por meio dos dados apresentados na tabela 20, observamos que não há

correlação estatisticamente significante entre as variáveis analisadas.

Tabela 20 – Correlações de Pearson entre o IPC dos ombros com a destreza manual

dominante (DMD) e não dominante (DMND) e com a capacidade de localização das mãos

dominante (CLMD) e não dominante (CLDND) em cada estágio de maturação sexual (n=100)

Estágios de Maturação Sexual

I II III IV

Correlações r p r p r p r p

IPC Ombro x DMD 0,10 0,83 0,39 0,11 0,15 0,52 0,14 0,29

IPC Ombro x DMND -0,61 0,14 0,37 0,14 0,24 0,31 0,21 0,10

IPC Ombro x CLMD 0,09 0,83 -0,26 0,31 -0,10 0,67 0,03 0,80

IPC Ombro x CLMND 0,57 0,18 0,26 0,29 -0,30 0,20 -0,13 0,30

*p≤0,05

Para verificarmos se as atividades motoras pregressas e as horas dispendidas com

atividades de coordenação motora fina poderiam influenciar os desempenhos da

destreza manual e da capacidade de localização das mãos, efetuamos as correlações

entre as variáveis explicitadas e nos certificamos (tabela 21) que há correlação

estatisticamente significante apenas entre os meses acumulados de atividades motoras

pregressas com a destreza manual dominante e não dominante. Constatamos que as

atividades motoras globais efetuadas desde a infância ocasionaram melhorias ao

desempenho da destreza manual.

Identificamos também correlação estatisticamente significante apenas entre as

horas semanais de atividades exercidas com atividades de coordenação motora fina

104

(HPF) com a destreza manual dominante indicando que a quantidade de horas

dispendidas com atividades de coordenação motora fina ocasionou melhorias ao

desempenho da destreza manual dominante.

Tabela 21 – Correlações de Pearson entre as Atividades Motoras Pregressas (AMP)

com a Destreza Manual (DM) e Capacidade de Localização das Mãos (CLM) e entre as horas de

praxia fina (HPF) com a destreza manual (DM) e capacidade de localização das mãos (CLM)

(n=100)

Correlações r p Correlações r p

AMP x DMD 0,25 0,01* HPF x DMD 0,19 0,05*

AMP x DMND 0,25 0,01* HPF x DMND 0,15 0,12

AMP x CLMD -0,76 0,45 HPF x CLMD 0,13 0,19

AMP x CLMND -0,01 0,85 HPF x CLMND 0,11 0,25

*p≤0,05

Buscamos identificar, nos quatro estágios de maturação sexual, se os resultados

da destreza manual e da capacidade de localização das mãos estariam relacionados ao

acúmulo de atividades motoras pregressas e às horas dispendidas com atividades

motoras finas. Efetuamos as devidas correlações e de acordo com os resultados

apresentados na tabela 22, constatamos que há correlações estatisticamente significantes

entre as atividades motoras pregressas com a destreza manual dominante e não

dominante apenas no estágio de maturação sexual IV. Esse dado indica que o acúmulo

de atividades praticadas desde a infância influenciou positivamente na melhoria do

desempenho da destreza manual.

Pudemos identificar também, no estágio de maturação sexual I, correlação

estatisticamente significante entre as horas de praxia fina (HPF) com a capacidade de

localização da mão não dominante (CLMND), nos revelando que a imprecisão da

capacidade de localização da mão não dominante pode estar relacionada às quantidades

inexpressivas de horas de praxia fina. A correlação positiva indica que a imprecisão

105

referente à localização manual do lado não dominante está associada ao pouco tempo de

atividades dispendidas com tarefas manuais específicas.

Tabela 22 – Correlações de Pearson entre as Atividades Motoras Pregressas (AMP)

com a Destreza Manual (DM) e com a Capacidade de Localização das Mãos (CLM) nos

estágios de maturação sexual e correlações entre as Horas de Praxia Fina (HPF) com a Destreza

Manual (DM) e com a Capacidade de Localização das Mãos (CLM), nos estágios de maturação

sexual (n=100)

Estágios de Maturação Sexual

I II III IV

Correlações r p r p r p r p

AMP x DMD 0,28 0,53 -0,13 0,62 0,08 0,72 0,28 0,03*

AMP x DMND -0,18 0,68 -0,09 0,73 -0,13 0,57 0,31 0,01*

AMP x CLMD 0,13 0,76 -0,13 0,59 0,16 0,51 -0,17 0,20

AMP x CLMND 0,44 0,31 -0,23 0,36 -019 0,42 -0,06 0,62

Estágios de Maturação Sexual

I II III IV

Correlações r p r p r p r p

HPF x DMD -0,51 0,23 0,27 0,29 -0,24 0,31 0,15 0,24

HPF x DMND -0,56 0,23 0,20 0,43 -0,25 0,28 0,16 0,22

HPF x CLMD 0,23 0,61 -0,03 0,89 0,06 0,80 0,07 0,57

HPF x CLMND 0,83 0,01* -0,15 0,54 0,04 0,84 0,05 0,69

AMP – Meses Acumulados de Atividades Motoras Pregressas; HPF – Horas Semanais de Praxia

Fina; DMD – Destreza Manual Dominante; DMDN – Destreza Manual não Dominante; CLMD –

Capacidade de Localização Manual Dominante; CLMND – Capacidade de Localização Manual Não

Dominante

*p≤0,05

Por meio da correlação de Pearson, investigamos as possíveis associações entre

as horas semanais de praxia fina com as horas semanais de inatividade motora global e

constatamos que há correlação estatisticamente significante (r=0,58 ; p=0,001) entre as

horas de praxia fina (HPF) com as horas de inatividade motora global (IMG).

Observou-se que do estágio de maturação sexual I ao IV, há uma concentração maior de

jovens que apresentam maior quantidade de horas semanais exercendo atividades de

106

coordenação motora fina e, assim, permanecendo mais tempo sentados, navegando na

internet, vendo televisão, etc.

Nos resultados da tabela 23, pode-se observar que a cada estágio de maturação

sexual, em geral, os jovens aumentam os meses acumulados de atividades motoras

pregressas, aumentam o número de horas semanais exercidas com atividades de praxia

fina e as horas semanais de inatividade motora global. Ao efetuarmos a Análise de

Variância (ANOVA de um fator), constamos diferenças estatisticamente significantes

entre os estágios de maturação sexual, apenas em relação às horas de praxia fina e às

horas semanais de inatividade motora global. Esses dados indicam que com o avanço

dos estágios maturacionais os jovens tendem a exercer menor número de horas semanais

de atividades motoras globais e a aumentar a quantidade de horas semanais exercidas

com atividades de coordenação motora fina.

Tabela 23 – Média, desvio padrão e comparação dos meses acumulados de atividades

motoras pregressas, das horas semanais de praxia fina e das horas semanais de inatividade

motora global entre cada estágio de maturação sexual (n=100)

AMP HPF IMG

Maturação n ̅ dp ̅ dp ̅ dp

I 07 4,71 5,96 2,84 4,18 13,70 4,78

II 17 5,18 11,19 8,04 7,12 30,61 12,88

III 19 9,42 9,49 9,33 8,80 28,85 13,15

IV 57 18,95 32,62 16,00 14,25 42,20 18,27

F 1,87 F 4,39 F 8,94

p 0,139 P 0,006* P 0,000*

AMP = Média de meses acumulados de atividades motoras pregressas; HPF = Média de horas semanais

dispendidas com atividades de praxia fina; IMG = Média de horas semanais de inatividade motora global.

*P≤0,05

107

6 DISCUSSÃO

Neste estudo, avaliamos os aspectos quantitativos e qualitativos da percepção

das dimensões corporais dos púberes entre os sexos feminino e masculino.

Verificamos a influência da maturação sexual, das atividades motoras

pregressas, das horas semanais de praxia fina e das horas semanais de inatividade

motora global sobre a percepção das dimensões corporais.

Analisamos a influência da percepção da dimensão corporal geral e dos ombros

sobre os desempenhos da destreza manual e capacidade de localização das mãos.

Investigamos a influência da maturação sexual, das atividades motoras

pregressas, da inatividade motora global e das horas semanais de praxia fina sobre os

desempenhos da destreza manual e capacidade de localização das mãos.

Por fim, nos quatro estágios de maturação sexual, analisamos a percepção da

dimensão corporal geral e dos ombros e sua relação com os desempenhos da destreza

manual e da capacidade de localização das mãos.

Para facilitar a compreensão das discussões efetuadas, organizamos o texto na

seguinte ordem de análise: Percepção da Dimensão Corporal Geral; influência da

maturação sexual, das atividades motoras pregressas, das horas semanais de praxia fina

e das horas semanais de inatividade motora global sobre a percepção das dimensões

corporais; Percepção Corporal Segmentar; Desempenho da Destreza Manual e do

Desempenho da Capacidade de Localização das mãos.

Ao analisar a percepção das dimensões corporais, identificamos que 91% dos

jovens de ambos os sexos percebem as dimensões corporais maiores do que realmente

são e que as percepções corporais geral e segmentar do sexo feminino não diferiram do

masculino.

Segheto et al. (2011), ao analisar o esquema corporal de 52 adultos de

aproximadamente 22 anos de ambos os sexos, por meio do Image Marking Procedure

(IMP), verificaram que a maior porcentagem do sexo feminino apresentou

hiperesquematia e a maior porcentagem dos homens apresentou hipoesquematia e

esquema corporal adequado. A superestimação apresentada pelas mulheres adultas

coincide com os resultados por nós encontrados; já os dados referentes à adequação e

subestimação da percepção corporal dos homens adultos divergem da percepção

108

corporal dos púberes do sexo masculino, pois, assim como as meninas do presente

estudo, rapazes também apresentaram superestimação das dimensões corporais.

Baseados nos apontamentos de Segheto et al. (2011) e nos dados obtidos nesta

pesquisa, consideramos que estes resultados merecem atenção no sentido de propor

intervenções desde a adolescência para ambos os sexos, com o intuito de evitar que os

desajustes da percepção corporal, tais como a subestimação, superestimação, assimetrias

e descentralizações se acentuem.

Conforme discutimos anteriormente, segundo Gallahue (2013), Haywood &

Getchell (2010), o desenvolvimento (da percepção das dimensões corporais) se processa

devido às interações entre as restrições do indivíduo, da tarefa e do ambiente; assim,

neste estudo indagamos se essas interações, durante a puberdade, poderiam influenciar a

percepção das dimensões corporais. Verificamos por meio dos resultados obtidos nesta

pesquisa (figura 31) que o processo de maturação sexual, as horas semanais de praxia

fina, as horas semanais de inatividade motora global e os meses acumulados de

atividades motoras pregressas não tiveram influência sobre a percepção da dimensão

corporal geral. Portanto, inferimos que os desajustes da percepção das dimensões

corporais identificados nos jovens deste estudo podem estar associados às alterações

anatômicas (transformações corporais) que ocorrem na puberdade.

Figura 31. Correlação entre as Atividades Motoras Pregressas, as Horas de Praxia Fina, a

Maturação Sexual e as Horas Semanais de Inatividade Motora Global sobre a Percepção Corporal Geral.

Notamos que as restrições estruturais do indivíduo referentes à alteração

somática das dimensões corporais parecem ocasionar desajustes à percepção das

dimensões corporais, pois há indícios de que as transformações corporais decorrentes da

puberdade talvez não tenham sido reintegradas ao esquema corporal anteriormente

estabelecido a essa fase. Ivanenko et al. (2011) avaliaram recentemente o papel

109

desempenhado pela percepção das dimensões do corpo durante a locomoção e o cálculo

da distância percorrida quando alterações no tamanho do corpo são adquiridas

artificialmente. Para isso, os autores investigaram o desempenho de adultos andando

com pernas de pau por um trajeto com uma distância previamente determinada. Os

autores notaram que a coordenação dos membros inferiores modificou-se

acentuadamente após o alongamento dos membros, ocasionando esse aumento,

mudanças no movimento angular dos segmentos, com passadas mais curtas durante a

caminhada e com velocidade mais lenta. Os pesquisadores relataram que os erros

reportados possivelmente sejam decorrentes do desajuste referente à representação do

comprimento do passo, indicando que a perna de pau não foi incorporada ao esquema

corporal, fato que talvez tenha impossibilitado uma boa adaptação à tarefa proposta. Os

investigadores citaram que todos os indivíduos antes da execução da tarefa estavam

cientes de que o comprimento dos membros inferiores aumentou em 50%, porém esse

conhecimento imediato que se processou em posição estática não foi efetivamente

adaptado à situação dinâmica. Os autores explicaram que a inadaptação à tarefa possa

ser derivada da dissociação entre o esquema corporal anteriormente estabelecido (sem a

perna de pau) em confronto com as informações atuais (com a perna de pau).

Ivanenko et al. (2011) citaram ainda o experimento de Nobre efetuado com

usuários experientes de pernas de pau, que utilizaram esse instrumento diariamente por

mais de seis anos. Esse estudo revelou que os experientes realizaram a tarefa

apresentando menor redução no comprimento do passo e menor cautela que o grupo de

novatos. Com base nesses dados, Ivanenko et al. (2011) descreveram que a adaptação

incompleta às proporções dos membros modificados parece indicar que os mapas

somatotópicos do córtex não são fixos e podem ser alterados pela experiência. Dessa

forma, suspeitou-se que a inconsistência apresentada na adaptação ao uso de pernas de

pau pelos novatos talvez seja derivada do pouco tempo de experiência oferecido. Os

investigadores relataram que os participantes novatos, em suas ações do cotidiano, eram

menos habituados a usar uma ferramenta com os pés do que, por exemplo, com as

mãos. Segundo Holmes & Spence (2004), Iriki e colaboradores demonstraram que o uso

de uma ferramenta pode estender a representação visuotátil do espaço peripessoal, dado

também observado por Canzoneri et al. (2013); Cardinali et al. (2009) e ainda, segundo

Holmes & Spence (2004), para Farnè & Làdavas a ferramenta é incorporada ao espaço

peripessoal (esquema corporal) com pouco tempo de uso. Tais afirmações emergiram de

experimentos em que Farnè & Làdavas propuseram aos participantes que fossem

110

desafiados a alcançar objetos usando um instrumento (ferramenta/haste) com as mãos.

Com base nesses apontamentos, Ivanenko et al. (2011) relataram que se pode incorporar

o tamanho de uma ferramenta ao modelo postural (esquema corporal) com pouco tempo

de uso (manual), da mesma forma que se incorpora ao esquema corporal as dimensões

dos segmentos corporais que são utilizados de forma habitual, o que não aconteceu com

os novatos ao usarem as pernas de pau, pois elas não são uma ferramenta usual e, desta

forma, parece que o Sistema Nervoso (esquema corporal) não as integra em um espaço

curto de tempo. Com base nesses apontamentos e fazendo analogias entre o estirão de

crescimento e o uso de pernas de pau, elucubramos que, durante o estirão, os desajustes

perceptuais das dimensões corporais podem ser derivados das alterações corporais que

não são imediatamente incorporadas ao esquema corporal. Talvez algumas partes do

corpo que se modificam rapidamente durante o período da puberdade possam ser

incorporadas ao esquema corporal pelo seu uso habitual e principalmente em função da

especificidade dos estímulos direcionados aos esquemas: Postural e de Tamanho e

Forma do corpo (nomenclatura utilizada por Longo et al., (2010); Medina & Cosllet,

(2010)), como talvez tenha ocorrido com o ajuste da percepção das dimensões dos

ombros por influência das atividades de coordenação motora fina, relações que serão

discutidas com maior propriedade mais adiante.

Segundo Head e Holmes (1911), o esquema corporal é adaptável e conservador.

A criança em crescimento, até a fase da puberdade, parece se adaptar rapidamente às

transformações corporais, assim como o ser humano é capaz de integrar ao esquema

corporal a extensão de uma ferramenta (como um bastão), por meio de seu uso. No

entanto, o esquema corporal é conservador, pois as sensações corporais organizadas em

mapas corticais se mantêm permanentes. Parece que o esquema corporal, para se

adaptar a transformações corporais mais acentuadas como o aumento do comprimento

dos membros superiores, inferiores e dimensões horizontais do corpo no período da

puberdade, sofre resistência de sua própria característica conservadora a qual parece

manter os registros armazenados antes da puberdade e, assim, dificultar a incorporação

de novas dimensões corporais que não são habitualmente utilizadas nas atividades do

cotidiano.

Segundo os autores, as diferentes e novas posturas corporais adotadas pelo ser

humano são constantemente confrontadas com as anteriormente armazenadas no córtex

cerebral, onde se localizam os mapas corporais permanentes que foram adquiridos e

atualizados ao longo da vida, de forma a configurar os modelos posturais atuais. No

111

entanto, parece que as informações derivadas das ações recentes (novos modelos

posturais) perduram pouco tempo no córtex, e seus registros tendem a se diluir a não ser

que sejam constantemente acionados, de forma a produzir informações corporais

constantes, advindas das diferentes sensibilidades somáticas, principalmente das vias

proprioceptivas, as quais, uma vez atualizadas de forma frequente, tendem a se tornar

permanentes, como ocorreu com os indivíduos experientes que incorporaram as pernas

de pau ao esquema corporal e, por isso, se adaptaram à tarefa de se locomover com esse

instrumento, apresentando melhor desempenho que os inexperientes.

Assim, com base nos apontamentos de Segheto et al. (2010), consideramos que

para haver ajustes da percepção das dimensões corporais talvez seja necessário

promover atividades corporais direcionadas a canais perceptuais específicos, como o

esquema corporal Postural e de Tamanho e Forma (esquema proposto por Longo et. al.,

2010), ativado pela sensibilidade proprioceptiva. Assim, inferimos que os meses de

atividades motoras globais, realizadas desde a infância pelos púberes desta pesquisa,

não propiciaram a ativação de canais sensoriais específicos. Talvez por não realizarem

as ações de forma mais constante, com estímulos específicos e com a atenção

direcionada as particularidades das ações corporais.

Ao efetuarmos análises qualitativas sobre a percepção das dimensões

corporais, por meio das projeções dos traçados do contorno corporal (IMP),

verificamos que não há padrões de semelhança entre os traçados, pois cada jovem

apresentou características peculiares que diferiram dos demais, tais como: distorções,

assimetrias e descentralizações entre os traçados (figura 32).

Figura 32. Figura ilustrativa dos desajustes das projeções gráficas dos traçados do IMP.

112

Os desajustes referentes à percepção das dimensões corporais nessa fase, além

dos apontamentos efetuados anteriormente sobre a necessidade de promover ações

corporais constantes que estimulem os canais sensoriais específicos e as características

conservadoras do esquema corporal, podem também ser derivados, conforme Longo et

al. (2010), com base nos apontamentos de Tanner, aos desajustes da propriocepção dos

adolescentes advindos do estirão de crescimento. Os autores relataram que as alterações

do crescimento nos adolescentes podem ultrapassar a capacidade somatoperceptiva

(esquema corporal) para atualizar o modelo de corpo por meio da localização

proprioceptiva, produzindo essas alterações, equívocos sistemáticos sobre a localização

de partes do corpo no espaço exterior. Ainda segundo Longo et al. (2010), estudos

recentes demostraram que o início dos desajustes de coordenação são intensificados

com o aumento da velocidade de crescimento, porém pouco se sabe sobre a natureza

específica do modelo de localização do corpo. Baroni et al. (2006), considerando os

apontamentos de Ekert e Gallahue, relataram que a aceleração do crescimento do

tamanho e forma do corpo parece não se adaptadar ao ritmo do desenvolvimento do

sistema sensório-motor, provocando assim baixo desempenho devido aos desajustes da

propriocepção. Embora haja apontamentos referentes à desorganização proprioceptiva

que ocorre durante a puberdade, Quatman-Yates (2012) manifestaram inquietações

referentes ao amadurecimento dos mecanismos sensório-motores relatando que não se

sabe ao certo quais mecanismos estão amadurecidos até a fase da adolescência.

Conforme relatamos anteriormente, por meio da análise dos traçados do

contorno corporal (IMP), constatamos que as dimensões dos diferentes segmentos

corporais são percebidas de forma irregular e, por meio dos dados obtidos através da

entrevista semiestruturada sobre a percepção das partes do corpo que se modificaram

durante a puberdade, verificamos que 86% dos púberes não identificaram as regiões

corporais (avaliadas por meio do IMP) que se alteraram durante o estirão de

crescimento. Esses dados revelam a imprecisão perceptual sobre as partes do corpo que

se alteram nesse período. Tais resultados evidenciam a desorganização da

somatopercepção (esquema corporal) e somatorepresentação (imagem corporal) e nos

permitem inferir que os jovens, durante a puberdade, desajustam a percepção sobre as

dimensões corporais, conforme ocorrem as alterações somáticas, as quais não são

identificadas e/ou são distorcidas também pelas influências do contexto sociocultural.

Os indivíduos poderão não identificar suas dimensões corporais reais, por decorrência

das transformações aceleradas do corpo e por estarem com sua atenção focada nas

113

gratificações exteriores, ao idealizarem que seus corpos sejam semelhantes aos modelos

considerados ideais (TAVARES, 2003). Não tendo a atenção focada no próprio corpo,

mas no exterior, e ao confrontar o corpo real com o idealizado, os indivíduos poderão

distorcer a percepção referente ao corpo real sobrepondo a esse o modelo ideal. Lawler

e Nixon (2011), ao investigarem 239 adolescentes com idade média de 16 anos,

verificaram que os diálogos entre os pares revelaram o emergir de críticas ao contrapor

a aparência ideal com o modelo real internalizado. Essa contraposição parece ser um

dos preditores significativos de insatisfação corporal; os autores relataram que, embora

a massa corporal exerça um diferencial para a insatisfação corporal, o anseio pelo corpo

ideal pode representar um processo psicológico subjacente à insatisfação corporal.

Mendonça et al. (2012) investigaram a influência de diferentes programas de

exercício físico na composição corporal e nas dimensões psicológicas de mulheres no

que se refere à satisfação corporal. Os autores relataram que poucas mulheres

investigadas nesse estudo tinham corpos com dimensões ideais (magro e menos

volumoso) e por esse motivo demonstraram-se insatisfeitas. Eles relataram ainda um

experimento realizado com o intuito de verificar a satisfação referente à imagem

corporal atual quando confrontada com o tipo físico ideal de mulheres e verificaram que

55% das mulheres almejaram atingir uma silhueta mais esguia e que apenas 24%

mostraram-se satisfeitas.

É importante mencionar que, além dos fatores discutidos, há também aspectos

relacionados aos estados de humor que poderão ocasionar desajustes à percepção das

dimensões corporais. Lawler e Nixon (2011) descreveram que a insatisfação com a

imagem corporal pode gerar depressão e que esse é um foco importante de investigação.

Lautenbacher et al. (1992) investigaram, por meio de diferentes técnicas, a percepção

sobre as dimensões corporais e a satisfação sobre o corpo de dois grupos de jovens do

sexo feminino, um que se alimentava de forma exacerbada e um de maneira restrita. Por

meio dos resultados obtidos, os autores relataram que os sujeitos que se privaram de

alimentação tendiam a superestimar o tamanho das dimensões corporais. A insatisfação

referente às dimensões corporais parece estar relacionada também aos estados

depressivos, e o estado depressivo pode afetar os aspectos visuais ou sentitivos que

predispõem os sujeitos a equívocos evidentes sobre a percepção do tamanho corporal.

É importante ressaltar também que as sociedades em um determinado momento

histórico e cultural estabelecem um modelo de corpo ideal, que, veiculado através dos

meios de comunicação de massa, propõem a noção de normalidade e do que é aceitável

114

esteticamente, o que de certa forma traz em si a competitividade. Sendo o adolescente

um questionador nato de sua própria normalidade, compara-se constantemente com os

modelos idealizados e tende, em suas buscas, a assemelhar-se com o modelo ideal, seja

ele um cantor, um jogador ou um ídolo. As diferentes tentativas de moldar o corpo são

influenciadas pelos valores culturais, os quais geram em meninas e rapazes

preocupações distintas quanto à aparência física (CHIPCKEVITCH, 1995).

Bell e Dittirma (2011) examinaram o tipo de mídia consumida, a respectiva

identificação com os modelos de corpos ideais e seus impactos sobre a imagem corporal

de 199 adolescentes do sexo feminino, de 14 a 16 anos do Sudeste da Inglaterra. Após

os resultados, concluiu-se que os modelos de corpos perfeitos veiculados por meio da

mídia geram insatisfação à imagem corporal, principalmente às meninas que se

identificam com os modelos expostos na mídia. Para Chipckevitch (1995), de forma

geral, os adolescentes que vivem imersos em uma sociedade consumista, repleta de

imagens, informações e conceitos que os direcionam ao consumo, tendem a se

transformar em consumidores potenciais. Seu corpo ao modificar-se rapidamente leva-

os a trocar roupas e sapatos frequentemente, seu apetite acentuado os faz consumidor de

alimentos, muitas vezes industrializados, sua curiosidade proveniente das

transformações emocionais e cognitivas os leva a interessar-se por jogos, videogames,

computadores, etc. Consideramos que nessa condição os adolescentes são movidos a

agir por impulsos que foram e são reforçados pelo meio exterior e que os levam ao

consumo e ao distanciamento de uma leitura corporal mais ajustada.

Com base nesses argumentos, percebe-se que a superestimação das dimensões

corporais da grande parcela de jovens desse estudo pode ser decorrente das alterações

corporais provenientes do período de estirão de crescimento, como também estar

associada a hábitos alimentares inadequados (que não foram investigados neste estudo),

inspirados pelo modelo ideal de corpo, induzida pelos estados de humor e pelos meios

de comunicação de massa.

No início da vida, o processo de recompensas iniciou-se diante das ações mais

singulares como engatinhar e andar, por exemplo; tais recompensas, em geral, são

fornecidas pelas pessoas do entorno ao valorizar os desempenhos das crianças, e

posteriormente, durante o curso do desenvolvimento, pelas pessoas do convívio social

mais amplo e pelo macrossistema. As gratificações sociais que se recebe desde criança

pelos vários comportamentos adotados não garantem a satisfação pela vida (figura 33).

Elas tendem a deslocar a atenção do indivíduo para o exterior que passa a se satisfazer

115

com o que culturalmente é aceitável; assim, as gratificações sociais poderão ao longo

dos anos levar o ser humano a se desconectar de suas sensações corporais e a agir de

forma inconsciente em busca de recompensas, direcionando, portanto, sua atenção ao

mundo exterior e não às sensações corporais que emergem diante das ações, aspecto

limitante para o desenvolvimento do ajuste da Percepção Corporal (TAVARES, 2003).

Dessa forma, consideramos que talvez a satisfação deslocada às recompensas advindas

do ambiente durante seu processo de formação e o anseio por realizar tarefas aceitas

socialmente se traduzam em um dos motivos do desajuste da percepção das dimensões

corporais na fase da puberdade, pois dessa forma a atenção não está centrada em si, em

seu corpo, mas no mundo exterior.

Figura 33. Influência das gratificações externas sobre o foco da atenção (esquema elaborado

com base nos apontamentos de (TAVARES, 2003)).

Segundo Oliveira (2011) e Tavares (2003), para que ocorra o desenvolvimento

da percepção corporal é necessário direcionar a atenção ao corpo e suas partes. Segundo

Meijsing (2000) e Mullis (2008), o processo inicial de aprendizagem de novas

habilidades exige grande esforço cognitivo e demanda de atenção. Nesse sentido,

consideramos que para o adolescente perceber, interiorizar e integrar as novas

dimensões do corpo que se alteram durante o estirão de crescimento, talvez seja

necessário promover estimulações específicas direcionando a atenção do adolescente às

dimensões corporais particulares, de forma a possibilitar que uma nova referência

interna de corpo seja estruturada. Para tanto, é importante considerar que a atenção

evolui com o avanço da maturação. Segundo Ladewig (2000), no início da vida a

atenção da criança é exclusiva, posteriormente inclusiva e na adolescência seletiva, e,

116

segundo Andrade (2004), o lobo frontal tende a amadurecer no final da puberdade

permitindo ao jovem que aprimore a atenção seletiva e tenha maior capacidade para

direcionar sua atenção aos aspectos relevantes ignorando os irrelevantes. No entanto,

vimos que só a maturação atencional não é suficiente para que o jovem processe

seletivamente as informações sobre o próprio corpo e suas partes (figura 34).

Consideramos que é necessário também, para promover o ajuste da percepção corporal,

direcionar a atenção a si de forma a identificar, conforme Damásio (2009), os marcos

somáticos que correspondem ao reconhecimento das emoções derivadas do corpo (self

objeto) e inerentes ao corpo, que propiciam o emergir (self conhecedor) da consciência

de si e do próprio corpo.

Figura 34. Desenvolvimento da atenção durante o processo de maturação (modelo elaborado

com base nos apontamentos de (LADEWIG, 2000 E ANDRADE, 2004)).

Ao analisarmos a percepção das dimensões corporais segmentares,

identificamos que os púberes de ambos os sexos da presente pesquisa perceberam as

dimensões segmentares de forma distinta. Identificamos que a percepção de cada

segmento corporal do sexo feminino não diferiu do masculino, dado que demonstra que

a percepção de ambos são similares para todos os segmentos. Verificamos ainda que os

adolescentes de ambos os sexos superestimaram as dimensões corporais dos ombros,

quadril e cintura sendo a cintura e depois o quadril as dimensões mais superestimadas.

117

Quanto à percepção das dimensões da cintura, identificamos que não houve

diferença estatisticamente significante entre os sexos e que essa foi a região que

apresentou maior superestimação em relação aos demais segmentos.

Embora tenhamos verificado que a percepção das dimensões corporais das

meninas não diferiu estatisticamente dos meninos, identificamos que as meninas

superestimaram as dimensões da cintura mais que os meninos. Ao contrapormos os

resultados da presente pesquisa com os dados obtidos por Segheto et al. (2010),

notamos que a superestimação da cintura das mulheres adultas é ainda maior que a dos

adolescentes do sexo feminino do nosso estudo. Esses dados nos fazem inferir que o

período da puberdade talvez sinalize o início dos desajustes da percepção das dimensões

corporais do sexo feminino, pois a superestimação da cintura das mulheres adultas é

maior que a dos adolescentes do sexo feminino. Essas informações podem demonstrar

que, da adolescência à fase adulta, a superestimação tende a se intensificar.

Na tentativa de compreender esse fenômeno, apresentaremos algumas reflexões

acerca dos fatores que talvez possam ter ocasionado tais desajustes perceptuais.

Identificamos em nosso estudo que os jovens de ambos os sexos com o avanço

da maturação sexual aumentaram o tempo de inatividade motora global. Inferimos que,

como consequência, também apresentem baixa concentração de atividades motoras

efetuadas com a região da cintura, resultando em não expansão da representação cortical

dessa região no homúnculo sensitivo. Segundo Medina & Cosllet (2010), as partes do

corpo mais estimuladas por meio de seu uso têm representações corticais mais

expandidas. A reduzida atividade corporal, somada à baixa concentração dos receptores

sensoriais localizados na região da cintura, talvez leve os indivíduos a ter uma

percepção difusa dessa região. Vale ressaltar ainda que a cintura não tem limite ósseo;

assim, sua constituição anatômica, associada aos estados variantes de vacuidade e

repleção gástrica, pode gerar imprecisão perceptual dessa região.

Consideramos ainda que o aumento do tempo de inatividade motora global,

associado aos aspectos anátomo-funcionais da região da cintura, somados aos

apontamentos de Tavares (2003), de que muitos idealizam um corpo perfeito, talvez seja

outro aspecto relevante a ser considerado na tentativa de explicar os motivos pelos quais

os púberes da presente pesquisa apresentaram uma percepção superestimada da cintura.

Graup et al. (2008) investigaram a percepção da imagem corporal e as possíveis

associações com alguns indicadores antropométricos, como o IMC, a porcentagem de

gordura, o perímetro da cintura e do quadril, de 467 escolares de 9 a 16 anos. Seus

118

achados revelaram que a insatisfação entre a imagem corporal atual com relação à ideal

está relacionada ao excesso de peso em ambos os sexos, principalmente no que se refere

à porcentagem de gordura. Segundo os autores, o sexo masculino idealiza ter um corpo

mais magro e robusto (musculoso) e o feminino, um corpo mais esguio.

Consideramos que, se tal região não for devidamente estimulada por meio de

atividades corporais específicas, que ativem principalmente os esquemas: superficial,

postural e o de tamanho e forma, essas representações corticais do esquema corporal

talvez sejam pouco estimuladas, e se paralelamente os jovens não forem instigados a

refletir sobre os aspectos sociais inerentes à cultura em que estão inseridos, que

estabelece um modelo ideal de corpo, dificilmente ocorrerão ressignificações da

somatorepresentação, e dessa forma, tendemos a considerar que os desajustes

perceptuais das dimensões corporais se perpetuarão da adolescência à fase adulta.

Em nosso estudo, verificamos que os jovens de ambos os sexos percebem as

dimensões da altura da cabeça menores do que realmente são, porém há pouca

diferença entre as dimensões percebidas com relação às reais (100%). Verificamos que

os resultados do nosso estudo são semelhantes aos dados de experimentos realizados

com adultos. De acordo com Segheto et al. (2011), Gama et al. (2009) e Thurm (2007),

a percepção das dimensões da cabeça são as que mais se aproximam de uma percepção

corporal segmentar real (100%). Segundo Segheto et al. (2011), a pouca diferença entre

a percepção da altura da cabeça em relação à dimensão real (100%) talvez se deva ao

fato de que a cabeça, por conter o encéfalo, possibilite ao indivíduo ter uma percepção

mais apurada do senso de posição e direção. Consideramos que esse dado é interessante

de se observar, pois o adolescente poderia desajustar muito a percepção da altura uma

vez que, ao passar pelo estirão de crescimento, sua estatura se modifica aceleradamente.

No entanto, observamos, de acordo com os resultados obtidos, que a percepção da altura

da cabeça parece ter se ajustado rapidamente às dimensões reais (IPC – 100%).

Supomos que a pequena diferença entre a dimensão real e percebida talvez possa ser

decorrente também da postura cifótica adotada por muitos adolescentes. Embora não

tenhamos avaliado as atitudes posturais, denotamos importante relatar os apontamentos

de Smith et al. (2011), que revelaram a combinação entre a inatividade física e o

aumento de peso como fatores associados à adoção de atitudes posturais inadequadas,

sendo uma delas a cifótica (tronco fletido). Inferimos que, ao adotar tal postura, os

púberes, possivelmente, quando estão em pé, passam grande parte do tempo olhando

119

para o chão, fato que pode fazer com que os jovens distorçam o senso de posição da

cabeça em relação à dimensão real, mesmo sendo a altura da cabeça uma das dimensões

corporais que é constantemente notada, principalmente quando o jovem se vê no

espelho. Fonseca, C. (2008), ao analisar a influência da dança de salão no esquema e

imagem corporal de indivíduos iniciantes, identificou que os praticantes constantemente

olhavam para baixo por apresentarem dificuldades referentes à sincronização dos pés. A

autora relatou que a atenção constante do olhar direcionado para baixo pode ter

resultado na percepção subestimada da dimensão da altura (dimensão da cabeça).

Portanto, seria importante pesquisar a relação da direção do olhar e a adoção de atitudes

posturais cifóticas com a percepção da dimensão corporal da altura. Além das

considerações efetuadas, Caetano (2010) relatou que para Gomes quando os indivíduos

são envergonhados, tendem a adotar uma postura cifótica (com anteriorização da

cabeça) como ocorre com algumas meninas que, na fase da adolescência, tentam

esconder as mamas. Esse é um dado importante a se considerar, pois, segundo

Chipkevitch (1995), a fase da adolescência é caracterizada por um processo de

elaboração e reelaboração, de autorreformulações constantes, e a incompreensão

referente às alterações somáticas podem gerar desconforto emocional.

No que se refere às dimensões do quadril, identificamos que essa foi a segunda

região mais superestimada. Valença e Germano (2009) relataram o estudo realizado por

Conti que objetivou verificar a percepção da imagem corporal de 147 adolescentes, 52

meninos e 95 meninas; para tal, avaliou o estado nutricional (IMC) e a imagem

corporal. Seus resultados revelaram que a maior insatisfação corporal dos meninos

concentrou-se nas regiões dos ombros e costas (região dorsal) e das meninas nas partes

como o rosto, cabeça, quadril, abdômen, cintura, tórax e mamas. Os autores concluíram

que na adolescência há conflitos referentes à percepção da imagem corporal que estão

relacionados aos distintos padrões de beleza socialmente impostos para os sexos

feminino e masculino, que estimulam os indivíduos a almejar transformar as partes do

corpo consideradas indesejáveis. De acordo com esse estudo, apenas as meninas

demostraram insatisfação em relação ao quadril.

Se levarmos em consideração que, durante o período do estirão de crescimento,

segundo os apontamentos de Malina & Bouchard (2002), a largura dos quadris

(bitrocantéricas) nas meninas se expandem mais que nos meninos, inferimos que a

percepção corporal do quadril de ambos os sexos deveria se diferir, as garotas

120

apresentando uma percepção mais superestimada das dimensões do quadril do que os

rapazes. No entanto, de acordo com os resultados obtidos nesta pesquisa, constatamos

que a percepção das dimensões dos quadris entre os sexos não diferiu (IPC do quadril

feminino = 127,24% e masculino = 123,24%), porém as alterações (somáticas) dos

quadris dos jovens do sexo masculino e feminino diferem, o que nos faz indagar que

talvez não sejam as alterações somáticas que promovem uma percepção superestimada

dessa região.

Se tentarmos justificar a percepção superestimada do quadril como um

fenômeno derivado dos anseios de se ter um corpo perfeito, talvez fosse um relato

afirmativo para as meninas ao serem influenciadas por um modelo de corpo esguio, mas

seria essa justificativa plausível aos anseios do sexo masculino? Segundo o estudo de

Valença e Germano (2009), os rapazes não indicaram insatisfação referente à região do

quadril, apenas as meninas. Por não encontrarmos justificativas aceitáveis,

consideramos que essa inquietação merece investigações mais específicas.

Quanto às dimensões do ombro, identificamos que os jovens de ambos os sexos

perceberam as dimensões dos ombros maiores do que são. Verificamos que as horas

semanais de atividades de coordenação motora fina proporcionaram ajustes à percepção

da dimensão corporal dos ombros. Segundo Gama et al. (2009), as ações corporais

ativam as aferências cinestésicas e proprioceptivas, e essas enriquecem os inputs

sensoriais ocasionando ajustes do esquema corporal. Contudo, de acordo com Segheto

et al. (2011) as influências das atividades motoras sobre o desenvolvimento do esquema

corporal ainda não foram bem esclarecidas. Os autores, ao analisarem a relação entre o

nível de atividade física e o esquema corporal de adultos, não encontraram relações.

Eles relataram que os resultados encontrados foram contraditórios aos da literatura e

supuseram que as atividades precisariam ser direcionadas a um canal perceptual

peculiar a fim de promover efeitos no ajuste do esquema corporal.

Consideramos que as atividades do cotidiano efetuadas pelos adolescentes,

realizadas com as mãos, possivelmente tenham ativado a sensibilidade proprioceptiva e

cinestésica da articulação dos ombros. Tais movimentos, além de estimularem a

sensibilidade proprioceptiva e cinestésica, conforme Longo et al. (2010), também

ativam a representação cortical referente ao esquema corporal de tamanho e forma das

dimensões dos segmentos estimulados, o que pode ter levado os púberes da presente

pesquisa, por meio de movimentos efetuados cotidianamente, como escovar os dentes,

121

pentear os cabelos, coçar, escrever, manipular o mouse do computador, teclado,

joystick, etc., a ajustarem a percepção das dimensões corporais deste segmento.

Observamos ainda, que a percepção da largura dos ombros das meninas e

meninos desta pesquisa, não diferiu, contudo as alterações corporais (somáticas) dos

ombros dos jovens do sexo feminino e masculino diferem. Segundo Malina &

Bouchard (2002), durante o estirão de crescimento os meninos expandem a largura dos

ombros (dimensões biacromiais) mais do que as meninas. Conforme Chipkevitch

(1995), o ganho masculino da puberdade à fase adulta, referente à largura dos ombros

(biacromial) corresponde a 21% e do feminino a 17%. Por não encontrarmos respaldo

científico que explicasse a não distinção da percepção corporal dos ombros entre os

sexos, sugerimos que investigações a respeito sejam efetuadas.

Antes de discorrermos sobre a análise do desempenho da Destreza Manual, é

interessante refletir sobre os apontamentos de Schimidt & Wrisberg (2010), defendidos

por Schimidt, de que, ao nos movimentar, utilizamos um programa motor generalizado

que corresponde à existência de um padrão de movimento flexível e não específico, o

qual possibilita ao ser humano movimentar-se de forma variada sem necessitar de um

esquema para cada alteração do movimento corporal. Segundo o autor, o programa

motor generalizado possibilita ao indivíduo o ajuste das ações corporais em função das

demandas do ambiente para alcançar um determinado fim. Vignemont et al. (2010)

relataram que o Esquema Corporal permite ao ser humano localizar as partes do corpo,

identificar os ângulos articulares, suas dimensões e formas, possibilitando ao indivíduo

guiar suas ações. De acordo com os apontamentos de Vignemont e Schimidt,

consideramos que o Modelo Postural de Corpo (Esquema Corporal) opera de forma

semelhante ao Programa Motor Generalizado, pois ambos são esquemas que

possibilitam ao indivíduo guiar suas ações. Deduzimos então que os autores atribuem

nomenclaturas diferentes a uma estrutura corporal com características muito similares.

Schimidt & Wrisberg (2010) citaram o estudo de Raibert que investigou o

fenômeno da flexibilidade do Programa Motor Generalizado demonstrando que, ao

escrever uma sentença utilizando diferentes sistemas efetores, tais como: escrever com a

mão direita (dominante), com o punho imobilizado, com a mão não dominante, com a

caneta presa entre os dentes e com o pé, embora se tenha utilizado diferentes sistemas

efetores, os desempenhos foram semelhantes. Dessa forma, o autor relatou que o

programa motor generalizado é flexível e possibilita que diferentes movimentos possam

122

ser adaptados às situações, para isso recorre-se à percepção corporal (esquema corporal)

para o planejamento e organização de respostas imediatas, diante de diferentes situações

ambientais. Considera-se então que o programa motor generalizado possibilita que se

efetuem habilidades motoras de caráter filogenético (alcançar, segurar, soltar, andar,

correr, girar) com variações sem que haja a necessidade de programas específicos para

cada variação das ações.

No entanto, vimos por meio dos resultados obtidos nesta pesquisa que as

atividades motoras pregressas (atividades motoras generalizadas praticadas desde a

infância) não ocasionaram ajustes à percepção da dimensão corporal geral e dos ombros

(figura 35) e tais dimensões não apresentaram relações com a destreza manual, nem

com a capacidade de localização das mãos (figura 36).

Figura 35. Relações entre as Atividades Motoras Pregressas com o IPC Geral e dos Ombros.

Figura 36. Relação entre a Percepção das Dimensões Corporais Geral e dos Ombros com a

Destreza manual e com a Capacidade de Localização Proprioceptiva das Mãos.

123

Se o esquema corporal, conforme Vignemont et al. (2010) é dotado de um

sistema flexível que possibilita ao indivíduo guiar as diferentes ações de forma

eficiente, consideramos que deveria existir relações entre a percepção da dimensão

corporal geral e dos ombros com a destreza manual e capacidade de localização das

mãos, mas não houve. Contudo identificamos que as atividades motoras pregressas

associadas às atividades motoras específicas, como as horas dispendidas com atividades

de coordenação motora fina, promoveram progressos do desempenho da Destreza

Manual Dominante (figura 37), lado mais estimulado pelas atividades do dia a dia, dado

que nos faz pensar que há esquemas corporais específicos que especializam suas

funções por meio de estimulações corporais mais particularizadas, uma vez que as

representações corticais de cada parte do corpo apresentam representações

somatotópicas específicas. Assim, consideramos que talvez haja um esquema corporal

geral e outros específicos. Conforme Gallahue & Ozmunn (2013), as habilidades mais

específicas (ontogenéticas) necessitam de estimulações apropriadas para serem

aprendidas, como foi o caso da melhoria do desempenho da destreza manual dominante.

Tabela 37. Relação entre as Atividades Motoras Pregressas e as Horas Semanais de Praxia Fina

com os desempenhos da Destreza Manual.

Embora tenhamos exposto as considerações acerca das estruturas gerais e

específicas do esquema corporal, de acordo com os resultados encontrados no teste de

destreza manual, inferimos que, para efetuar habilidades motoras mais complexas e

específicas (ontogenéticas) como transportar blocos com as mãos, é necessário que se

pratique ações corporais de forma específica até que essa seja integrada ao esquema

corporal. É possível que as práticas específicas direcionadas a cada parte do corpo

possibilitem a melhoria de desempenhos particulares, por estabelecerem alças

exclusivas entre sistemas sensório-motores peculiares, com representações específicas

124

do esquema corporal, formando dessa maneira mapas neuromotores específicos que,

uma vez integrados, poderão possibilitar ações diversificadas (generalizadas) para

atender às demandas do ambiente.

Constatamos também que o desempenho da destreza manual dominante

melhorou no estágio de maturação IV. Conforme Haywood & Getchell (2010), com o

processo de desenvolvimento do indivíduo, ocorre o aumento do número de sarcômeros

e a melhoria da capacidade de ativar maior número de unidades motoras. Consideramos

que talvez esses fatores possam resultar em melhoria da coordenação neuromuscular

quando associadas a atividades do cotidiano. Inferimos que esses controladores de taxa

(sarcômeros e capacidade de ativar unidades motoras) associados às atividades motoras

pregressas tais como segurar, arremessar, lançar, volear, empurrar, puxar, etc., são ações

que estimulam também o movimento dos membros superiores e das articulações dos

ombros e que, conciliadas às horas semanais dispendidas com atividades de

coordenação motoras fina, são fatores relevantes que contribuíram para a melhoria do

desempenho da destreza manual dominante.

Identificamos também que as horas de praxia fina não ocasionaram progressos

do desempenho da destreza manual do lado não dominante, mas influenciaram

positivamente os desempenhos do lado dominante. Possivelmente, pelo tempo de

prática e pela especificidade do seu uso. Isso nos permite pensar que apenas as

restrições do indivíduo (maturação, sarcômeros e a capacidade de ativar unidades

motoras) não são, por si só, suficientes para ocasionar a melhoria do desempenho da

destreza manual.

Pensamos que seja necessária a interação entre as restrições do indivíduo, do

ambiente e da adequação das tarefas (prática), principalmente no que se refere ao

emprego de tarefas específicas, que possibilitem o desenvolvimento de esquemas

corporais específicos. Para Mulllis (2008), há esquemas que permitem affordances

naturais na relação com o meio e um sistema integrado de programas motores que

permitem a realização de movimentos específicos como os artísticos e esportivos e que

refletem affordances diante de objetos e contextos específicos. Portanto, consideramos

que o esquema corporal é flexível e possibilita o planejamento de ações corporais para

guiar as habilidades motoras mais habituais; contudo, sugerimos que talvez haja

esquemas corporais específicos, que, uma vez desenvolvidos, darão sustentação à

125

solução de ações particularizadas. O autor relata ainda que a prática é essencial para

desenvolver affordances de natureza específica.

Com base nessas considerações, julgamos que, para avaliar a relação do

esquema corporal com os desempenhos motores, será necessário avaliar o desempenho

de habilidades motoras específicas que talvez sejam provenientes de modelos posturais

específicos (esquemas corporais específicos) e da integração de capacidades motoras

específicas que se expressam durante a realização de ações particularizadas, pois os

indivíduos dotados de excelentes desempenhos manuais não necessariamente terão bons

desempenhos pedais. Tais desempenhos poderão diferir pela localização da

representação cortical de cada parte do corpo, pelas capacidades motoras geneticamente

estabelecidas e pelas especificidades das tarefas propostas a cada indivíduo.

Ao analisar os desempenhos da capacidade de localização proprioceptiva das

mãos, verificamos que as horas dispendidas com atividades de coordenação motora fina

e os meses de atividades motoras globais praticadas desde a infância, não ocasionaram

progressos aos desempenhos da capacidade de localização das mãos (figura 38).

Figura 38. Relações entre as Atividades Motoras Pregressas e as Horas Semanais de Praxia Fina

com a Capacidade de Localização Proprioceptiva das Mãos.

Com base nos apontamentos de Longo et. al (2010), consideramos que o

indivíduo, para efetuar tarefas que exijam a capacidade de localização das mãos, antes

de realizar a ação, recorre aos esquemas de tamanho e forma e ao modelo postural, e,

com base em Bremner et al. (2009), durante a ação o sistema nervoso é orientado e guia

o movimento por meio da sensibilidade proprioceptiva, pois a tarefa é efetuada sem o

auxílio da visão. Dessa forma, os desempenhos referentes à capacidade de localização

das mãos estão associados essencialmente às informações proprioceptivas e às áreas

corticais correspondentes.

126

Conforme discutimos anteriormente, inferimos que o esquema corporal não se

adaptou às alterações corporais na mesma velocidade com que as transformações

anatômicas se processaram durante a puberdade. Segundo Vignemont (2010), durante a

realização de ações motoras, há um confronto entre as informações atuais de curto prazo

(posições corporais atuais) com as informações corporais de longo prazo anteriormente

armazenadas (adquiridas ao longo dos anos). Tais informações são confrontadas para

ajustar as ações atuais e para prever ações futuras. Presumimos que as dimensões

corporais atuais (comprimento dos membros superiores, largura dos ombros)

provenientes da fase da puberdade, não sendo rapidamente incorporadas ao esquema de

tamanho e forma, provavelmente levem os indivíduos a ter dificuldades para atualizar

com precisão a angulação das articulações para predizer e planejar ações futuras; talvez,

por esse motivo, os jovens não demonstraram progressos referentes aos desempenhos da

capacidade de localização das mãos.

Segundo Ivanenko et al. (2011), perceber as dimensões espaciais do corpo e

segmentos é essencial para que uma pessoa possa se mover no espaço; é necessário

também perceber a posição de cada articulação e do corpo como um todo para elaborar

um programa de ação e reconhecer a posição do corpo em relação ao espaço e objetos

móveis e imóveis. Se levarmos em consideração que os desempenhos da capacidade

proprioceptiva de localização das mãos, diferentemente da destreza manual, dependem

mais das representações de tamanho e forma associadas à sensibilidade proprioceptiva,

sem o auxílio da visão, deduzimos que, para promover melhorias, é necessário estimular

suas vias específicas de representação para a concretização dos movimentos,

conciliando ao movimento o toque sobre a pele nas regiões corporais específicas

envolvidas na ação.

Cañeiro et al. (2003) averiguaram o efeito do uso de Brace no senso de posição

articular do tornozelo de 14 indivíduos sadios: os achados indicaram que esse

instrumento pode ser benéfico como um instrumento facilitador para sensibilizar as vias

proprioceptivas, uma vez que ele estimula o fuso neuromuscular, via receptores

cutâneos, possibilitando assim o aumento da capacidade de reconhecimento e

reposicionamento de determinados ângulos articulares. Conforme os autores, a pressão

exercida pelo Brace flexível pressiona a musculatura, a cápsula articular subjacente e a

pele do segmento estimulado, excitando assim os receptores de adaptação rápida

(corpúsculos de Meisser, discos de Merkel e folículos pilosos). Por meio desse

127

experimento, os autores concluíram que a pressão exercida sobre os receptores cutâneos

aumentou a precisão do senso de posição.

Constatamos em nosso estudo que o desempenho da capacidade de localização

proprioceptiva das mãos dos púberes não sofreu influência das horas semanais de praxia

fina, nem das atividades motoras pregressas, talvez porque as atividades do dia a dia não

estimulem de forma associada os receptores proprioceptivos e táteis. O estímulo

proprioceptivo ativa o esquema corporal de tamanho e forma, responsável pela

localização e pela identificação do tamanho das partes do corpo, e os estímulos táteis

ativam o esquema corporal superficial, referente à percepção das dimensões do contorno

corporal.

Medina & Cosllet (2010) relataram que os estudos efetuados por Penfield e

colaboradores revelaram que diferentes áreas da superfície da pele têm organizações

somatotópicas específicas. Segundo os autores, as partes do corpo mais estimuladas por

meio do uso têm representações corticais mais ampliadas e com maior desenvolvimento

da sensibilidade. Segundo Medina & Cosllet (2010), Penfield e colegas não

investigaram desde a infância como a organização somatotópica do cérebro se altera de

acordo com as experiências. Os autores relataram que estudos realizados com animais

indicaram que a estimulação específica na superfície da pele resultou na expansão das

representações somatosensoriais das áreas estimuladas. Eles revelaram também que a

falta de estimulação tátil ocasiona a deteriorização de mapas somatosensoriais, como no

caso da amputação. Ainda segundo os autores, estudos efetuados com humanos

indicaram também que a estimulação sobre a pele ocasiona a expansão de

representações corticais. Medina & Cosllet (2010) relataram que um estudo efetuado

com violinistas e não violinistas indicou que as representações no sulco intraparietal

referentes à área dos dígitos dos violinistas eram significativamente maiores do que os

indivíduos não violinistas do grupo controle. Os autores citaram ainda um estudo

efetuado com leitores da escrita Braile revelando que as áreas dos dígitos mais

utilizadas ocupavam maior representação somatosensorial do que as menos estimuladas

e principalmente ao se comparar a mão treinada com a não treinada. Os autores

descreveram também que os pianistas desenvolvem maior discriminação tátil em

relação aos não músicos pertencentes ao grupo controle. Esses estudos demonstraram

que o uso diferencial da superfície da pele ocasiona aumento do tamanho da

representação somatosensorial e melhoria da percepção tátil. Segundo Longo et al.

(2010), para identificarmos as dimensões das partes do corpo é necessário recorrer ao

128

esquema superficial e ao modelo de tamanho e forma do corpo. Com base nos

apontamentos efetuados, inferimos que para isso é imprescindível estimular esse

esquema por meio de vias específicas para o alcance de um bom desempenho da

capacidade de localização das mãos, não sendo qualquer atividade motora inespecífica

responsável por ocasionar melhorias de seu desempenho. Segundo Ivanenko et al.

(2011), o processamento proprioceptivo tende a diferir em posições estáticas e em

movimento. Quando em movimento, o sistema de controle da ação tende a estabelecer

relações entre os parâmetros da ação com as proporções do tamanho dos segmentos. De

acordo com Ivanenko et al. (2011), segundo Capaday & Cooke (1981), em condições

dinâmicas a sensibilidade dos receptores dos fusos nos músculos encurtados é

diminuída, e a informação relativa à posição do membro durante o movimento é

originária principalmente dos músculos alongados. Assim, vemos que a entrada

sensorial que vem de vários canais proprioceptivos é processada de maneira diferente

em condições estáticas e dinâmicas. Dessa forma, nota-se que para efetuar ações

motoras com os segmentos corporais que exijam precisão, como a tarefa de localização

proprioceptiva das mãos, não basta apenas identificar o tamanho e a forma dos

segmentos corporais, é necessário incorporar o tamanho e a forma, também de maneira

dinâmica ao modelo postural, ou seja, por meio da ação corporal. Vimos anteriormente

que os praticantes novatos ao utilizar pernas de pau não incorporaram esse instrumento

ao esquema corporal, mesmo tendo consciência em posição estática do tamanho

adicionado aos membros inferiores, conforme o experimento de Ivanenko et al. (2011).

Portanto, utilizam-se de forma integrada os seguintes componentes do esquema

corporal: o postural, o de tamanho e forma (métrico) e o superficial que são

representações do corpo evocadas para o planejamento das ações motoras, ou seja, tais

elementos antecedem a ação. Tal processo envolve a construção perceptual de mapas do

estado presente do corpo e das entradas dos estímulos sensoriais. A integração dos três

componentes do esquema corporal são essenciais para que as ações corporais sejam

ordenadas de forma eficiente, e o desajuste de um desses componentes pode ocasionar

prejuízos ao desempenho das ações motoras.

Neste estudo identificamos algumas limitações como: a constatação de que o

teste de marcação do esquema corporal (IMP) não foi suficiente para avaliar a relação

entre a Percepção das Dimensões Corporais com os desempenhos manuais, pois o IMP

avalia os Esquemas: Superficial, Postural e o de Tamanho e Forma das regiões da

129

cabeça, ombros, cintura e quadris, porém não avalia a percepção sobre as dimensões dos

membros superiores, informações fundamentais para o controle das ações manuais

(destreza manual/capacidade de localização das mãos). Por meio dos estudos realizados

constatamos que o esquema superficial tem relações com as adaptações do corpo ao

espaço e não com o controle das ações motoras, as quais necessitam de provas motoras

específicas para serem avaliadas. Identificamos que a distribuição dos participantes

pelos estágios de maturação sexual de I a IV caracterizou-se como heterogênea.

Julgamos que, para obter resultados ainda mais precisos referentes aos aspectos

investigados, se faz necessário compor a amostra com grupos homogêneos em termos

de distribuição da maturação sexual e, por fim, consideramos que a realização de uma

avaliação da classe social e econômica possibilitaria compreender melhor as

características particularizadas do grupo e suas influências sobre a percepção das

dimensões corporais.

130

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio dos resultados obtidos, constatamos que os púberes apresentaram

desajustes da Percepção das Dimensões Corporais e que não há diferença entre os sexos.

A desorganização das projeções dos traçados do IMP e a não identificação das

partes do corpo que se alteram durante a puberdade evidenciaram desajustes da

Somatopercepção (Esquema Corporal) e Somatorepresentação (Imagem Corporal).

As atividades motoras praticadas desde a infância, as horas semanais

dispendidas com atividades de coordenação motora fina e as horas semanais de

inatividade motora global não apresentaram relações com os resultados da percepção

das dimensões corporais gerais dos jovens. Consideramos que o desajuste da percepção

das dimensões corporais geral e segmentar dos púberes talvez se deva à falta de

estimulação proprioceptiva conciliada à tátil e a falta de consciência dos fatores sociais

e culturais que direcionam a percepção dos púberes. Embora apresentemos essas

hipóteses, estudos referentes precisam ser realizados.

As horas semanais de praxia fina ocasionaram ajustes à percepção da dimensão

corporal dos ombros.

Identificamos que os desajustes da Percepção das Dimensões Corporais Geral e

dos Ombros não influenciaram os desempenhos motores (destreza manual e capacidade

de localização proprioceptiva das mãos).

As atividades motoras pregressas ocasionaram melhorias ao desempenho da

destreza manual dominante e não dominante; contudo, as horas semanais de praxia fina

promoveram melhorias apenas ao desempenho da destreza manual dominante.

Deduzimos que a melhoria do desempenho ocorreu porque o uso mais contínuo da mão

dominante ativou predominantemente o Esquema Postural e de Tamanho e Forma por

meio da estimulação de vias neurais específicas, indicando que possivelmente, as

práticas específicas ativam representações corporais específicas (Modelo Postural e de

Tamanho e Forma) e estas, favorecem o planejamento adequado das ações resultando

em melhorias do desempenho motor.

131

Identificamos que, ao amadurecer, os jovens diminuem o tempo dispendido com

atividades motoras globais, permanecem mais tempo sentados e aumentam o tempo

dispendido com atividades de coordenação motora fina, escrevendo, manipulando o

mouse do computador, teclado, joystick, etc.

Os desempenhos da capacidade de localização proprioceptiva das mãos não

foram influenciados pelas atividades motoras pregressas, pelas horas semanais de

inatividade motora global e nem pelas horas semanais de coordenação motora fina.

Consideramos que, para haver melhoria do desempenho da capacidade de localização

proprioceptiva das mãos, talvez seja necessário estimular por meio de atividades

específicas os receptores proprioceptivos e os táteis, de forma a ativar a representação

cortical de tamanho e forma e superficial dos segmentos corporais. No entanto,

propomos que sejam efetuadas pesquisas específicas para comprovar tal suposição.

Entendemos que atividades motoras pregressas efetuadas pelos púberes não

estimularam o Esquema Superficial responsável pela percepção das dimensões do

contorno corporal, pois os desajustes referentes à percepção da dimensão corporal geral

não apresentaram relações com as atividades motoras globais praticadas desde a

infância. Talvez o Esquema Superficial para ser ativado necessite principalmente das

estimulações táteis integradas às proprioceptivas. O Esquema Superficial é estimulado

principalmente por meio do toque sobre a pele. Dessa forma, inferimos que para ajustar

a percepção sobre a dimensão corporal geral seja necessário estimular, além do

Esquema Superficial, o Esquema Postural e o de Tamanho e Forma, associados aos

marcos somáticos (emoções derivadas do corpo), a fim de que as sensações corporais

possam emergir de forma consciente (self conhecedor) possibilitando ao indivíduo

ampliar a percepção sobre suas dimensões corporais reais.

A percepção das dimensões corporais podem ter apresentado desajustes também

por falta de amadurecimento atencional, o que pode ter impossibilitado o direcionar da

atenção às partes corporais que se modificaram na fase da puberdade.

Julgamos não ser correto relatar que o Esquema Corporal está ajustado ou

desajustado, pois ao nosso ver, isso é uma afirmação genérica. Se considerarmos que há

três componentes do esquema corporal que o constituem, como o Postural, o de

132

Tamanho e Forma e o Superficial, é necessário identificar qual deles está defasado ou

ajustado. Portanto, sugerimos reflexões acerca da avaliação do esquema corporal no

sentido de identificar seus atributos, tais como, a percepção sobre: a dimensão do

contorno corporal, a localização das partes, o tamanho e forma dos segmentos, a

localização tátil do toque sobre a pele etc. Assim procedendo, poderemos obter

informações mais específicas para promover intervenções apropriadas.

Para finalizar, consideramos importante que novas pesquisas sejam efetuadas

como:

– Relacionar o esquema superficial que corresponde à percepção referente às

dimensões corporais (mensurado por meio do teste de marcação do esquema corporal–

IMP), à adequação do corpo ao espaço.

– Efetuar pesquisas com o mesmo desenho experimental ampliando o número de

participantes e com distribuição homogênea dos índices de maturação sexual de I a IV.

– Avaliar a reprodutibilidade dos testes de Marcação do Esquema Corporal

(IMP) e do teste de Capacidade de Localização Proprioceptiva das Mãos.

– Analisar os efeitos da estimulação proprioceptiva conciliada à estimulação do

toque sobre a pele, sobre a percepção das dimensões corporais aplicadas a grupos

controle e experimental.

– Analisar o efeito de intervenções que levem os indivíduos a direcionar a

atenção de forma a reconhecer as emoções derivadas do corpo (marcos somáticos – self

conhecedor) relacionadas à percepção das dimensões corporais, aplicadas a grupos

controle e experimental.

– Analisar a relação entre a percepção das dimensões de diferentes segmentos

corporais com habilidades motoras efetuadas com distintos segmentos corporais.

133

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141

ANEXO – I

PRANCHAS DE AVALIAÇÃO DOS CARACTERES SEXUAIS FEMININO

Compare-se com cada figura e assinale com um X a que mais se parece com você.

Compare-se com cada figura e assinale com um X a que mais se parece com você.

142

FICHA CADASTRAL – SEXO FEMININO – No. _____________

Nome: _____________________________________________ Série: ______________

Idade: _________________ Período: _____________ Data: _____/ ________ / ______

ESTÁGIO DE DESENVOLVIMENTO DAS MAMAS

( ) M 1

( ) M 2

( ) M 3

( ) M 4

( ) M 5

ESTÁGIO DE PILOSIDADE PUBIANA FEMININA

( ) P 1

( ) P 2

( ) P 3

( ) P 4

( ) P 5

Já teve a primeira menstruação?

( ) Sim: com quantos anos?_____________ ( ) Não

143

PRANCHAS DE AVALIAÇÃO DOS CARACTERES SEXUAIS MASCULINO

Compare-se com cada figura e assinale com um X a que mais se parece com você.

Compare-se com cada figura e assinale com um X a que mais se parece com você.

144

FICHA CADASTRAL – SEXO MASCULINO – No. _____________

Nome: _____________________________________________ Série: ______________

Idade: _________________ Período: _____________ Data: _____/ ________ / ______

ESTÁGIO DE DESENVOLVIMENTO DOS GENITAIS

( ) G 1

( ) G 2

( ) G 3

( ) G 4

( ) G 5

ESTÁGIO DE PILOSIDADE PUBIANA MASCULINA

( ) P 1

( ) P 2

( ) P 3

( ) P 4

( ) P 5

145

ANEXO II

146

147

APÊNDICE – I

Questionário de Atividades Motoras Atuais e Pregressas

Ficha de dados Pessoais:

Nome:______________________________________________________

Idade: _______________________ Data de nascimento ___/ ____/ _____

Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino

Você percebeu alguma parte do corpo que cresceu rapidamente nos últimos tempos (durante a

sua adolescência)? Quais? Essas alterações interferem (ou interferiram) em alguma atividade do dia a dia?

Explique?_____________________________________________________________

________________________________________________________________

1. Além das aulas de Educação Física você pratica alguma atividade física, recreativa

(passeios, etc.) ou esportiva?

a. ( ) Sim b. ( ) Não

2. Se não, por quê?

a. ___________________________________________________________________

_____________________________________________

3. Se sim, quais?

Modalidades Vezes /

Semana

Tempo de

Duração

Tempo Total Observações

1-

2-

3-

4-

5-

4. Quais foram as atividades físicas, recreativas ou esportivas que você já praticou?

Atividades Desde quando Até quando Tempo Total

1-

2-

3-

5. Quanto tempo você gasta assistindo TV, jogando Videogame, mexendo no Computador ou

realizando outras atividades (sentado(a) ou deitado (a))?

Modalidades Vezes /

Semana

Tempo de

Duração

Tempo Total Observações

1- 1-TV

2- Game

3-Computador

4-

5-

148

APÊNDICE – II

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

Eu, ________________________________________________________________, responsável pelo (a)

menor_______________________________________________________________ tenho ciência que o

mesmo foi convidado (a) para participar da pesquisa sobre IMPACTO DAS TRANSFORMAÇÕES

SOMÁTICAS DO PÚBERE SOBRE A PERCEPÇÃO CORPORAL, RELAÇÕES COM A DESTREZA

MANUAL E CAPACIDADE DE LOCALIZAÇÃO PROPRIOCEPTIVA DAS MÃOS, de

responsabilidade dos pesquisadores Maurício José de Siqueira Cagno e Eliane F. Gama, do Programa de

Pós Graduação em Educação Física da Universidade São Judas Tadeu em São Paulo. Fui informado (a)

que o participante será submetido a uma avaliação sobre a Percepção da dimensão corporal e localização

de partes do corpo. Assim declaro que tomei conhecimento dos seguintes pontos que envolvem a

pesquisa:

1. O objetivo da presente pesquisa consistirá em identificar qual é a Percepção Corporal de

adolescentes de ambos os sexos em cada faixa etária que compõe o período do estirão de crescimento

(período de crescimento acelerado que ocorre na fase da adolescência) e verificar se a Percepção Corporal

do adolescente condiz com a dimensionalidade (proporções que o corpo tem) corporal real;

2. O teste será realizado nas dependências da escola, sempre acompanhado por um representante

da instituição e em horários que os responsáveis pela escola julgarem mais adequados para que não haja

prejuízos no rendimento escolar. Para a realização do teste de Percepção Corporal (Esquema Corporal), o

avaliado deverá usar camiseta, bermuda e ficar sem calçado. Durante a avaliação ele (a) ficará com os

olhos fechados e vendados em posição ortostática (isto é, em pé). O examinador tocará nos seguintes

pontos do corpo: cabeça, ombros, cintura e quadril e o avaliado deverá apontar com o dedo indicador

onde se projetam esses pontos na parede à sua frente, como se estivesse diante de um espelho. Em

seguida, será aproximado à parede pelo examinador para que ele faça a marcação real do seu Esquema

Corporal dos mesmos pontos;

3. Com o objetivo de identificar a Percepção do sujeito sobre o seu crescimento perguntaremos

ao (a) adolescente. Você percebeu alguma modificação (ou alteração) no crescimento de alguma parte do

seu corpo durante este ano? Essa alteração interfere (ou interferiu) em alguma atividade do dia a dia?

Explique?

4. Para a avaliação da maturidade biológica, será proposta a autoavaliação das características

sexuais secundárias, o adolescente receberá uma prancha (folha), elaborada por profissionais da área da

saúde e largamente utilizada em diversas pesquisas científicas. A prancha masculina (meninos) contém

cinco desenhos diferentes dos órgãos genitais e pelos pubianos, e a prancha feminina contém cinco

desenhos diferentes das mamas (seios) e pelos pubianos. Com explicação prévia e de forma individual, o

adolescente indicará uma imagem que corresponde a um dos cinco estágios em que seu corpo se encontra

naquele momento. As imagens focalizam apenas a silhueta (contorno) das regiões citadas, e cada uma se

refere a um estágio de maturação biológica. Cada desenho representa uma etapa de maturação biológica

da adolescência em que as aparências se modificam com o avanço da idade.

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5. Para verificarmos a relação entre a coordenação das mãos com a percepção das dimensões

corporais, aplicaremos um teste cujo objetivo consistirá em transportar com uma das mãos o maior

número de blocos de madeira de um lado para o outro lado da caixa, durante o tempo de um minuto. O

teste será aplicado em um ambiente silencioso, com o avaliado sentado em uma cadeira adequada à sua

altura. A caixa será colocada horizontalmente à sua frente (com a parte central da caixa coincidindo com

o eixo central do avaliado) em uma mesa com a altura localizada um pouco acima da linha da cintura. Ao

término do teste perguntaremos ao sujeito quais são as habilidades manuais mais exercidas por ele, a fim

de identificarmos as possíveis relações entre os resultados obtidos no teste de destreza manual com as

habilidades manuais por ele exercidas.

6. Com o objetivo de identificarmos a percepção de localização das mãos, será utilizado o teste

de Capacidade de Localização Proprioceptiva das Mãos. Nessa avaliação, o sujeito de olhos vendados

será solicitado a colocar o dedo indicador de uma das mãos sobre o outro que estará localizado embaixo

de um alvo que estará sobre uma mesa à sua frente. O teste será aplicado em um ambiente silencioso. O

avaliado deverá se sentar em uma cadeira adequada à sua altura e à sua frente será colocada uma mesa de

vidro contendo o alvo. O teste será explicado ao sujeito com a realização de demonstrações simultâneas

efetuadas pelo avaliador. O teste será realizado com uma venda colocada em seus olhos para que ele não

visualize o alvo. A seguir, o dedo indicador de uma das mãos (mão não dominante) será posicionado no

alvo localizado na parte central da mesa e embaixo da mesma e o outro dedo indicador sobre o ombro

(acrômio) correspondende a este segmento. Em seguida, o sujeito será orientado a colocar o dedo

indicador que está em seu ombro (em cima da mesa) exatamente sobre a posição em que está a ponta do

dedo que está embaixo da mesa, de forma que um fique sobre o outro. Após as explicações e

demonstrações será perguntado a ele se há alguma dúvida; caso haja, a tarefa será explicada quantas vezes

forem necessárias. A tarefa será realizada por três vezes. Após a realização de cada tentativa serão

anotados os números correspondendes à localização do dedo colocado sobre o alvo.

7. Ele não será obrigado(a) a participar da pesquisa e não terá nenhum prejuízo se não quiser

participar ou desistir a qualquer momento;

8. O menor que represento não terá nenhum gasto financeiro e também não será remunerado (a)

pela sua participação nesta pesquisa.

9. Os resultados serão utilizados para fins acadêmicos e científicos o que inclui a publicação dos

resultados em revistas científicas e apresentação em eventos, tais como congressos e simpósios, porém a

minha identidade e a do(a) adolescente serão preservadas em absoluto sigilo, pois não haverá menção dos

nossos nomes ou imagens. Ao final da pesquisa, serei notificado sobre os resultados obtidos;

10. Eu tomei conhecimento que não haverá riscos previsíveis à saúde do avaliado ao participar

desta pesquisa, porém estou ciente que o adolescente ao identificar como se avalia a maturidade biológica

(indicação de uma dos desenhos contendo as características sexuais) poderá se constranger e até se

recusar em efetuar a avaliação;

11. Sei que o teste é uma avaliação e não tem poderes de desenvolver a Percepção Corporal a

não ser que haja orientação específica durante os testes.

12. Os resultados obtidos na pesquisa são confidenciais. Sei que se eu tiver qualquer dúvida

sobre esta pesquisa poderei procurar os pesquisadores para esclarecimento, através dos e-mails:

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[email protected] e [email protected], ou pelos telefones: xxxx-xxxx (Maurício José de

Siqueira Cagno) e xxxx-xxxx (Eliane F. Gama). Ou ainda, para obter informações da veracidade do

projeto ou denunciar qualquer irregularidade, posso contatar o Comitê de Ética da Universidade São

Judas Tadeu, nos telefones 2799-1944/2799-1946, ou pessoalmente na sede da Universidade São Judas,

sito a Rua Taquari, 546, Mooca, São Paulo.

13. Assino este original e fico com uma cópia do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Afirmo que fui suficientemente esclarecido sobre a pesquisa e seus procedimentos e desta forma autorizo

a participação do menor nesta pesquisa.

Data: ____/____/____.

________________________________

Assinatura do responsável pelo menor

Pesquisadores Responsáveis

Data ___/_____/_______

Eliana F. Gama

Data ____/____/________

Maurício José de Siqueira Cagno