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Impacto de um programa de treino por estações de alta intensidade na qualidade e quantidade de sono em adolescentes com sobrepeso e obesidade. Dissertação apresentada com vista á obtenção do 2º Ciclo em Atividade Física e Saúde, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, ao abrigo do decreto de lei nº, 74/2006 de 24 de março Orientador: Professor Doutor Daniel Gonçalves Co-orientador: Professor Doutor José Oliveira Orientando: Maria de Fátima Baltar Martins dos Santos Porto, 2017

Impacto de um programa de treino por estações de alta ... · PDF fileImpacto de um programa de treino por estações de alta intensidade na ... obesidade, assim como na ajuda para

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Impacto de um programa de treino por estações de alta intensidade na

qualidade e quantidade de sono em adolescentes com sobrepeso e

obesidade.

Dissertação apresentada com vista á obtenção

do 2º Ciclo em Atividade Física e Saúde, da

Faculdade de Desporto da Universidade do

Porto, ao abrigo do decreto de lei nº, 74/2006

de 24 de março

Orientador: Professor Doutor Daniel Gonçalves

Co-orientador: Professor Doutor José Oliveira

Orientando: Maria de Fátima Baltar Martins dos Santos

Porto, 2017

II

Santos, M. (2017). Impacto de um programa de treino por estações de alta intensidade na qualidade e quantidade de sono em adolescentes com sobrepeso e obesidade. Porto: Maria Santos. Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto Palavras-chave: OBESIDADE PEDIÁTRICA; ATIVIDADE FÍSICA; QUALIDADE DO

SONO; QUANTIDADE DO SONO; SONOLÊNCIA DIURNA.

III

À minha mãe.

IV

V

Agradecimentos

Esta dissertação representa a concretização de um sonho que se iniciou

há 5 anos naquela que passaria a ser a minha segunda casa, a Faculdade de

Desporto da Universidade do Porto. Foi um percurso trabalhoso, mas muito

gratificante. Também foi neste trabalho que reaprendi que “o sucesso é um

percurso e não um destino”.

Ao longo deste percurso de escrita relembrei todo o esforço e dedicação

neste caminho que optei e sem dúvida que foi a escolha certa.

Em primeiro lugar tenho de agradecer à pessoa que permitiu a

concretização de tudo, à minha mãe, por ter estado incondicionalmente do meu

lado nesta escolha, pela atenção, pela dedicação e principalmente por acreditar

sempre em mim.

Tenho de agradecer à minha família, à minha madrinha por me relembrar

que “desistir não é uma palavra que conste no meu dicionário”, à minha Tia Naná

e ao meu Padrinho por estarem sempre do meu lado nas minhas escolhas, à

minha prima por ser um exemplo para mim e representar todos os valores

académicos que eu sempre tentei seguir, aos meus primos, obrigada por serem

sempre os meus companheiros.

À minha Mel que me acompanhou sempre nos meus estudos.

Agradecer ao meu orientador, Professor Doutor Daniel Gonçalves pela

disponibilidade e pela orientação certa para mim. Ao meu co-orientador,

Professor Doutor José Oliveira, por permitir a participação neste projeto, que

revelou ser uma grande mais valia na aprendizagem de novos conhecimentos.

Àquelas pessoas importantes no inicio e ao longo do meu percurso

académico pela sua dedicação e paixão à área, como a Professora Maria José

Rocha por ter acreditado nas minhas capacidades, ser a minha “Madrinha de

faculdade” e representar sempre um exemplo para mim. À Marisa Sousa, a

minha eterna professora de Natação dos Pré-requisitos, colega, coordenadora,

mas principalmente pela amizade e pelos conselhos que me indicaram sempre

o caminho certo.

À minha grande amiga de curso Tatchi pela presença constante nos

melhores momentos deste longo percurso.

VI

Ao Sport Club do Porto (secção de ginástica), à Professora Alda Côrte-

Real e aos meus colegas pela oportunidade, pela constante aprendizagem e

realização de objetivos pessoais e profissionais.

À Aefadeup por me permitir crescer, pelo associativismo e pelo que me

ensinou.

A todos os meus amigos agradeço a amizade única que me transmitem e

a uma muito especial que permitiu a continuação deste desafio. Não esquecer

um agradecimento especial ao Professor Fontoura e aos alunos do ZarcoFit pela

simpatia e por me receberem tão bem na sua “casa”.

VII

índice geral

AGRADECIMENTOS .................................................................................................... V

ÍNDICE DE TABELAS .................................................................................................. IX

LISTA DE ABREVIATURAS ........................................................................................ XI

RESUMO ................................................................................................................... XIII

ABSTRACT ............................................................................................................... XV

1. INTRODUÇÃO....................................................................................................... 1

1.1 Estrutura do trabalho .................................................................................... 2

2. REVISÃO DA LITERATURA .................................................................................. 3

2.1. Obesidade .................................................................................................... 3

2.2. O sono, distúrbios de sono e a sua relação com a obesidade .................. 6

2.2.1. Avaliação do sono ............................................................................ 13

2.3. Exercício Físico e Sono .......................................................................... 20

3. OBJETIVO DO ESTUDO ..................................................................................... 31

4. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................... 33

5. RESULTADOS .................................................................................................... 37

Caracterização da amostra .............................................................................. 37

Impacto do programa de treino nas variáveis do sono avaliadas pelo

questionário PSQI ............................................................................................. 38

Caraterização da sonolência diurna pelo questionário ESS ........................... 39

6. DISCUSSÃO ....................................................................................................... 41

7. CONCLUSÃO ...................................................................................................... 43

8. BIBLIOGRAFIA .................................................................................................... 45

9.1. Questionário PSQI (Versão Adaptada) ..................................................... 51

9.2. Questionário ESS ...................................................................................... 54

9.3. Interpretação questionário PSQI ............................................................... 55

VIII

IX

Índice de tabelas

Tabela 1 Indicadores Antropométricos de Obesidade para adolescentes .......... 4

Tabela 2 Classificação pelo IMC ........................................................................... 5

Tabela 3 Ganho de peso gestacional. ................................................................... 6

Tabela 4 Estágios de Sono .................................................................................... 7

Tabela 5 Distúrbios de sono ................................................................................ 11

Tabela 6 Métodos para avaliação do sono ......................................................... 13

Tabela 7 Questionários para avaliação do sono ................................................. 14

Tabela 8 Impacto do exercício no sono .............................................................. 22

Tabela 9 Caraterização da amostra .................................................................... 37

Tabela 10 Caraterização da qualidade do sono e das suas componentes,

independentemente do género, no primeiro momento (antes da intervenção) e

segundo momento (após intervenção), de acordo com o questionário PSQI. .. 38

Tabela 11 Caraterização da qualidade do sono e das suas componentes,

dependente do género, no primeiro momento (antes da intervenção) e segundo

momento (após intervenção), pelos dados do PSQI .......................................... 39

Tabela 12 Caraterização da sonolência diurna, independentemente do sexo, no

primeiro momento (antes da intervenção) e segundo momento (após

intervenção), pelos dados do ESS. ..................................................................... 40

Tabela 13 Caraterização da sonolência diurna, dependente do sexo, no

primeiro momento (antes da intervenção) e segundo momento (após

intervenção), pelos dados do ESS. ..................................................................... 40

X

XI

Lista de abreviaturas

AF – Atividade Física

ASA - American Sleep Association

ASDA - American Sleep Disorders Association

Bpm – Batimentos por minuto

CA – Circunferência abdominal

CSHQ - Children’s Sleep Habit Questionnaire

DM2 - Diabetes mellitus tipo 2

ESS - Escala de Sonolência de Epworth

FCmax – Frequência Cardíaca Máxima

FFM – Fat- Free Mass

IMC – Índice de Massa Corporal

IOM – Institute of Medicine

KPAS - Kaiser Physical Activity Survey

LGA - Large for gestacional age,

NREM - No-rapid-eye-moviment

NSF - Nactional Sleep Foundaton

NSF - National Sleep Foudantion

OMS – Organização Mundial de Saúde

PSQI - Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh

REM - Rapid eye moviment

SAOS – Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono

SDSC - Sleep Disturbance Scale for Children

TBW – Total body water

TMB – Taxa metabólica basal

XII

XIII

Resumo

Introdução: O excesso de peso e a obesidade representam um problema de

saúde muito importante. Apesar dessa consciência, todos os dias cresce o

número de indivíduos, mesmo em idades pediátricas, com excesso de peso e

obesidade. Uma das complicações associadas com esta condição é alteração

do sono tanto em qualidade como em quantidade. A prática regular de atividade

física é reconhecida como uma das formas de tratamento e prevenção da

obesidade, assim como na ajuda para melhorar os problemas do sono. Contudo,

existe ainda um défice de estudos que avaliem a influência do exercício físico na

melhoria da qualidade e quantidade do sono em idades pediátricas. Objetivo: O

objetivo deste estudo é verificar se a prática regular de exercício físico tem

influência na melhoria da qualidade e quantidade do sono em adolescentes com

sobrepeso. Material e métodos: Este estudo possui uma amostra composta por

13 alunos (4 do sexo masculino e 9 do sexo feminino; idade= 17±1 anos; Peso=

73,2±16,4 Kg; IMC=26,6±4,9) da escola Secundária João Gonçalves Zarco, que

participaram ao longo de 8 meses num programa de treino em circuito de alta

intensidade, 3 vezes por semana. Foram realizadas avaliações antropométricas

para a caracterização basal. Para a avaliação do sono foram utilizados dois

questionários: o Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh e a Escala de

Sonolência de Epworth. Resultados: O nosso estudo sugere que o treino em

circuito de alta intensidade melhora a latência do sono no sexo masculino, sendo

esta a única componente do sono a apresentar melhorias significativas do 1º

momento para o 2º momento (1,5 ± 1,0 vs. 0,5±1,1; p<0,05). Em relação à

sonolência diurna, avaliando a totalidade da amostra, a variável “sentado a

conversar” piorou do 1º momento para o 2º momento (0,0 ±0,0 vs. 0,3±0,5;

P=0.046). O mesmo se verificou para a variável “sentado a seguir ao almoço,

sem ingestão de álcool” (0,9 ± 0,8 vs. 1,3± 1,0; P=0.025). Ao realizar uma

subanálise por género, não verificamos diferenças no grupo dos rapazes.

Contudo, o grupo das raparigas continuou a apresentar um aumento significativo

para as variáveis “sentado a conversar” (0,0±0,0 vs. 0,4 ± 0,5; P=0.046) e

“sentado a seguir ao almoço, sem ingestão de álcool” (1,0 ± 0,7 vs. 1,4± 1,0;

XIV

P=0.046). Conclusão: O presente estudo não permite esclarecer com certeza

qual o impacto de programa de exercício físico em circuito de alta intensidade na

qualidade do sono de adolescentes com excesso de peso.

Palavras-chave: OBESIDADE PEDIÁTRICA; ATIVIDADE FÍSICA; QUALIDADE

DO SONO; QUANTIDADE DO SONO; SONOLÊNCIA DIURNA.

XV

Abstract

Introduction: Overweight and obesity are a very important health problem.

Despite this awareness, the number of individuals being overweight and obese,

even at paediatric ages, is growing every day. One of the complications

associated with this condition is alteration of sleep in both quality and quantity.

Regular physical activity is recognized as one of the ways to prevent and treat

obesity, as well as help in improving sleep problems. However, there is still a

shortage of studies that evaluate the influence of physical exercise on improving

the quality and quantity of sleep at paediatric ages. Objective: The objective of

this study is to verify if regular practice of physical exercise has an influence on

the quality and quantity of sleep in adolescents. Material and Methods: This

study has a sample composed of 13 students (4 males and 9 females, age = 17

± 1 years, weight = 73.2 ± 16.4 kg, BMI = 26.6 ± 4, 9) from João Gonçalves Zarco

Secondary School, who participated for 8 months in a high intensity circuit-

training program, 3 times a week. Anthropometric evaluations were performed for

the basaline characterization. Two questionnaires were used to assess sleep: the

Pittsburgh Sleep Quality Index and the Epworth Sleepiness Scale. Results: Our

study suggests that high intensity circuit training improves sleep latency in males,

being the only sleep component to present significant improvements from the 1st

moment to the 2nd moment (1.5 ± 1.0 vs. 0.5 ± 1.1, p <0.05). As for daytime

sleepiness, the "sitting to talk" variable worsened from the 1st moment to the 2nd

moment (0.0 ± 0.0 vs. 0.3 ± 0.5; P = 0.046). The same was observed for the

variable "sitting after lunch, without alcohol intake" (0.9 ± 0.8 vs. 1.3 ± 1.0, P =

0.025). When performing a subanalysis by gender, we did not observe

differences in the boys' group. However, the girls' group continued to show a

significant increase for the "sitting-to-talk" variables (0.0 ± 0.0 vs. 0.4 ± 0.5; P =

0.046) and "sitting after lunch, without alcohol intake "(1.0 ± 0.7 vs. 1.4 ± 1.0, P

= 0.046). Conclusion: The present study does not allow us to clarify with

certainty the impact of a physical exercise program on high intensity circuit in

sleep quality of overweight adolescents.

Keywords: PEDIATRIC OBESITY; PHYSICAL ACTIVITY; SLEEP QUALITY;

SLEPP QUANTITY; DAYTIME SLEEPINESS.

XVI

1

1. Introdução

A obesidade é hoje considerada a epidemia do século, afetando quer a

população adulta quer a pediátrica. Os efeitos nefastos para a saúde associados

ao excesso de peso e à obesidade são vários e têm vindo a ser comprovados

em diversos estudos, os quais demonstram um aumento do risco de doenças

metabólicas, cardiovasculares e alguns tipos de cancro (Daniels, 2006;

Freedman et al., 1999; Ludwig et al., 2001). De notar que crianças com

sobrepeso e obesidade encontram-se em risco acrescido de desenvolverem

várias complicações, bem como de se tornarem adultos obesos com diversas

comorbilidades e mortalidade precoce (Dollman et al., 2007; Iglowstein et al.,

2003).

Entre as complicações da obesidade e excesso de peso encontram-se os

distúrbios do sono. Um sono restaurador está fortemente relacionado com um

melhor bem-estar físico, cognitivo e psicológico. Contudo, foi já verificada uma

associação inversa entre o aumento da obesidade pediátrica e a

quantidade/qualidade do sono (Arain et al., 2013). A diminuição ou restrição do

sono parece levar a alterações no comportamento, nomeadamente a maior

propensão para ingestão de alimentos hipercalóricos (Arain et al., 2013), que

parece ser explicada por alterações hormonais e alterações físicas e

comportamentais. Estes fatores demonstram que o sono tem uma grande

responsabilidade na saúde mental e física durante a adolescência (Brand &

Kirov, 2011). Por isso, qualquer distúrbio ou alteração no sono é capaz de

influenciar diversos fatores, o que torna tão importante o estudo do mesmo, das

suas causas, consequências e mais importante o seu tratamento através de uma

vida mais ativa. Neste sentido, existem evidências que a prática de exercício

físico pode melhorar a qualidade e quantidade do sono (Antunes et al., 2008),

sendo no entanto pouco conhecido qual o melhor tipo de exercício que possibilita

os melhores benefícios.

2

1.1 Estrutura do trabalho

Esta dissertação está dividia em 8 capítulos. O primeiro diz respeito à

introdução que corresponde a uma breve apresentação global do trabalho. O

segundo é relativo ao enquadramento teórico dos temas em estudo que

representam o suporte e justificação do mesmo. São desenvolvidas as temáticas

da obesidade em idade pediátrica com enfâse na adolescência, a sua relação

bidirecional com os distúrbios do sono (causa e/ou consequência), e o papel do

exercício físico como ferramenta para a melhoria da qualidade do sono. O

terceiro e quarto capítulos contemplam o objetivo do estudo e a metodologia,

onde é apresentado o desenho do estudo, as características dos participantes e

do programa de treino, bem como os instrumentos e protocolos de avaliação. No

quinto capitulo são apresentados os resultados obtidos após a análise

estatística. O sexto diz respeito à discussão, limitações do estudo e

apresentação de sugestões para futuras intervenções. Na sétima parte é

apresentada a conclusão do trabalho e por fim, no oitavo capitulo são

apresentadas as referências bibliográficas utilizadas para suporte do trabalho.

3

2. Revisão da literatura

2.1. Obesidade

O excesso de peso e obesidade pediátrica representam um problema de

extrema importância não só pelas proporções que tomou, mas também pelas

suas consequências para a saúde atual e futura dos indivíduos (Rolland-

Cachera, 2011). De acordo com Organização Mundial de Saúde (OMS),

obesidade é definida como uma acumulação exagerada de tecido adiposo que

resulta de um desequilíbrio energético, ou seja, a quantidade de energia que é

consumida é superior à que é despendida (World Health Organization, 2016). A

etiologia da obesidade é multifatorial, podendo ser determinada por fatores

hereditários, genéticos, ambientais, metabólicos, comportamentais, culturais e

socioeconómicos, sendo que todos eles interagem entre si de forma a promover

a doença (Krebs et al., 2007).

Estima-se que a obesidade afete cerca de 20% da população mundial com

a sua prevalência a duplicar desde 1980 (World Health Organization, 2016). No

ano 2014 a OMS estimou que 1,9 biliões de adultos com 18 anos ou mais

possuíam excesso de peso; 13% dos adultos eram obesos (11% dos homens e

15% das mulheres); 39% dos adultos com 18 anos ou acima apresentavam

excesso de peso (38% dos homens e 40% das mulheres). Ainda de acordo com

a OMS, estima-se que 41 milhões de crianças com menos de 5 anos sejam

obesas ou tenham excesso de peso. De notar que esse aumento do peso

também se verifica em países pouco desenvolvidos, como em África, em

ambientes citadinos (World Health Organization, 2016). A nível europeu, a

obesidade e excesso de peso afetam aproximadamente 14 milhões de crianças

e anualmente são somadas mais 400 000 (Abela et al., 2014; Direção Geral de

Saúde, 2017). Em 36 países da europa foi verificado que mais de 27% de

adolescentes com 13 anos de idade apresentam prevalência de excesso de

peso. Entre adolescentes com 15 anos os valores variam entre cada país, sendo

que a Grécia apresenta o valor mais alto, com uma percentagem de 23%

enquanto que a Arménia, a Lituânia e a Rússia apresentam o valor mais baixo,

4

mas ainda assim revelam uma prevalência de excesso de peso 10% (Bancaleiro,

2014). Relativamente à população portuguesa, a Direção Geral de Saúde (DGS)

estima que mais de 30% da população infantil tem excesso de peso (Direção

Geral de Saúde, 2017), com 31% dos rapazes e 18% das raparigas, sendo que

aos 15 anos a obesidade atinge entre os 24% e os 17% para cada sexo,

respetivamente (Bancaleiro, 2014). Na população entre os 10 e os 18 anos a

prevalência do excesso de peso é superior a 30% e da obesidade cerca de 8%

(DGS, 2015).

Para a avaliação da obesidade e excesso de peso podem ser utilizados

vários indicadores antropométricos tais como o índice de massa corporal (IMC),

a relação cintura – quadril, a circunferência da cintura e percentagem de gordura

corporal (Javedan et al., 2016). Na tabela 1 são apresentados os indicadores

antropométricos mais utilizados para classificar a obesidade, que permitem

detetar a percentagem de gordura corporal elevada em adolescentes do sexo

masculino e sexo feminino.

Tabela 1 Indicadores Antropométricos de Obesidade para adolescentes

(Pelegrini et al., 2015)

Indicadores

Antropométricos

Curva de

ROC (IC

95%)

Ponto de

Corte

Sensibilidade Especificidade %

(IC 95%)

Sexo Masculino

IMC 0,84 (0,81) 22,7 63,0 (53,7) 89,5 (85,8-92,4)

Rácio cintura-estatura

(RCE) 0,84 (0,81) 0,43 63,0 (53,7)

81,7 (77,3 – 85,6)

Perímetro da cintura (PC) 0,84 (0,81) 75,7 63,0 (53,7) 88,1 (84,3 – 91,2)

Índice de conicidade (IC) 0,84 (0,81) 1,12 63,0 (53,7) 74,0(69,1 – 78,4)

Sexo Feminino

IMC 0,79 (0,76) 20,1 78,5 (73,9) 64,9 (59,8 – 69,8)

Rácio cintura-estatura

(RCE)

0,79 (0,76) 0,41

78,5 (73,9) 76,4 (71,7 – 80,7)

Perímetro da cintura (PC) 0,79 (0,76) 67,7 78,5 (73,9) 81,1 (76,7 – 85,0)

Índice de conicidade (IC) 0,79 (0,76) 1,06 78,5 (73,9) 68,5 (63,5 – 73,2)

5

O IMC é uma medida que procura classificar o nível de obesidade da população,

sendo utilizados os mesmos valores para ambos os sexos e para todas as idades

da população adulta. Apesar disso, deve ser utilizada como uma medida global,

pois o IMC semelhante para duas pessoas pode não corresponder ao mesmo

grau de gordura (World Health Organization, 2016). A OMS diferencia a forma

como deve ser identificada a obesidade em adultos, crianças com menos de 5

anos e crianças entre os 5 e os 19 anos. Para esta última, considera-se excesso

de peso para a idade quando o IMC maior que 1 desvio padrão acima da

mediana de crescimento da OMS; considera-se presença de obesidade quando

o IMC é maior que 2 desvios-padrão acima da mediana de referência de

crescimento da OMS (World Health Organization, 2016). Na tabela 2 estão

apresentadas as classificações pelo IMC para a população adulta.

Tabela 2 Classificação pelo IMC

(World Health Organization, 2000)

A obesidade contribui para várias doenças crónicas tais como diabetes

tipo II, doenças cardiovasculares, osteoarticulares e alguns tipos de cancro

(Kopelman, 2007). Existem evidências claras que a obesidade na infância e

adolescência traz complicações na idade adulta, como um aumento do risco de

mortalidade prematura e morbilidade (Reilly & Kelly, 2011).

Também é possível referir que o ganho de peso na fase gestacional acima das

diretrizes atualizadas em 2009 pela IOM, incorporadas pela OMS (tabela 3) pode

ser associado a um maior risco de efeitos adversos infantis e de formação. Um

ganho de peso gestacional acima das diretrizes da IOM foi associado a maior

risco de macrossomia e cesariana (Goldstein et al., 2017).

Classificação IMC (𝐾𝑔/𝑚2) Risco de comorbidades

Baixo peso <18,5 Baixo (mas risco aumentado de outros

problemas clínicos)

Peso Normal 18,5 a 24,9 Médio

Sobrepeso 25,0 a 29,9 Aumentado

Obesidade Classe I 30,0 a 34,9 Moderado

Obesidade Classe II 35,0 a 39,9 Grave

Obesidade Classe III ≥40,0 Muito grave

6

Tabela 3 Ganho de peso gestacional.

IMC Materno (𝐾𝑔/𝑚2) Denominação Ganho de peso recomendado

<18,5 Baixo peso 12,5 a 18 Kg

18,5 – 24,9 Peso normal 11,5 a 16 Kg

25 – 29,9 Excesso de peso 7 a 11 Kg

≥30 Obesos 5 a 9 Kg

(adaptado de Goldstein et al., 2017)

A obesidade e o excesso de peso na adolescência encontram-se

igualmente associados a maior risco de complicações tais como o aumento do

risco da mortalidade, desenvolvimento de doenças cardiovasculares

(começando com uma aterosclerose na infância e progredindo para lesões

ateroscleróticas na aorta e coronária), diminuição da sensibilidade à insulina e

aumento dos níveis circulantes de insulina, prevalência de diabetes tipo 2,

desenvolvimento da esteatose hepática não alcoólica, excesso de stress no

músculo esquelético, problemas psicossociais que podem levar à depressão e

distúrbios de sono (Daniels, 2009; Hargens et al., 2013).

2.2. O sono, distúrbios de sono e a sua relação com a obesidade

Segundo a American Sleep Association (ASA), o sono é considerado uma

atividade dinâmica, controlado por neurotransmissores que atuam sobre

diferentes células ou neurónios no cérebro (Association, 2017). O sono é um

importante regulador do crescimento, maturação e saúde em crianças e

adolescentes (Gozal & Kheirandish-Gozal, 2012). O sono é uma característica

biológica universal que está presente em todas as espécies e diz respeito a uma

condição global de inércia com uma capacidade de resposta muito restringida

aos estímulos ambientais. O sono está dividido em duas fases: sono REM (rapid

eye moviment) e sono NREM (no-rapid-eye-moviment). O sono NREM está

dividido em quatro Estágios. No Estágio 1 existe uma rápida transição entre o

sono e a vigília e de seguida surgem o Estágio 2 (ou sono de ondas lentas) e

Estágios 3 e 4 (sono profundo). Na tabela 4 são apresentadas as características

gerais de cada Estágio.

7

Tabela 4 Estágios de Sono

Sono NREM

Denominação Estágio Caraterísticas principais Consequências

do despertar

Sono leve Estágio

1

• Movimento ocular muito lento;

• Diminuição da atividade muscular

• Alguns:

❖ Súbitas contrações musculares - mioclonias

hypnic ou mioclonia noturna

❖ Sensação de queda.

• Lembranças de

imagens

fragmentadas

Sono de

ondas lentas

Estágio

2

• Movimento ocular nulo;

• Ondas cerebrais lentas;

• Aparecimento súbito de ondas rápidas – fusos de

sono.

-

Sono

Profundo

Estágio

3

• Ondas cerebrais extremamente lentas - ondas delta

– intercaladas com pequenas ondas, mais rápidas;

• Sem movimento ocular.

• Dificuldade em

acordar;

• Sensação de

desorientação e

atordoamento;

• Crianças podem

apresentar

episódios de:

❖ incontinência

urinária;

❖ Pesadelos;

❖ Sonambulismo

Estágio

4

• Produção de ondas delta;

• Sem movimento ocular.

Sono REM

Caraterísticas principais Consequências do despertar

• Respiração mais acelerada, irregular e superficial

• Movimento ocular aparece;

• Aumento da pressão arterial;

• Sexo masculino: ereções penianas;

• Músculos dos membros temporariamente

paralisados

• Aumento da frequência cardíaca

• Sonhos - o indivíduo lembra-se de imagens

fragmentadas e contos bizarros.

(ASA,2017)

8

O sono REM sucede 70 a 90 minutos após adormecer. Um ciclo de sono

completo demora cerca de 90 a 110 minutos, sendo que nos primeiros ciclos de

sono, o sono REM é relativamente curto e os Estágios 3 e 4 (de sono profundo)

representam longos períodos de sono. Ao longo da noite, o tempo de sono REM

aumenta enquanto que o sono profundo diminui. Perto do despertar, de manhã,

o tempo de sono é gasto nos Estágios 1, 2 e REM (ASA, 2017).

O sono para ser restaurador e para contribuir para uma boa qualidade de

vida tem de corresponder a um certo número de horas, que variam de acordo

com a fase do ciclo de vida. Os recém-nascidos devem dormir cerca de 16 a 18

horas por dia, número este que vai diminuindo até aos 12 meses, passando

então a dormir entre 12 a 13 horas por dia. Aos 2 anos é importante dormir as

12 horas e dos 3 aos 5 passam a ser 10 a 12 horas por dia. Entre os 6 e os 10

anos é recomendado entre as 9 e 10 horas (ASA, 2017). O adolescente dorme

em média 7 horas por dia (Turco et al., 2013). Em relação aos adultos, estes

geralmente necessitam apenas de 7 a 8 horas, havendo, contudo, indivíduos que

apenas requerem 5 horas (short sleepers) ou outros que requerem pelo menos

10 horas (long sleepers) de sono (MasalÁN A, Sequeida Y, & Ortiz C, 2013; ASA,

2017).

Embora se verifique que uma boa noite de sono represente um bom

indicador de qualidade de vida, tem-se observado que tem vindo a ocorrer um

decréscimo na duração do sono na sociedade moderna nas últimas décadas

(Van Cauter & Knutson, 2008). Tem-se também vindo a verificado uma relação

entre o défice de sono com a adiposidade e curta duração do sono, com estes

dois fatores a serem considerados importantes fatores de risco para a obesidade

na infância e na vida adulta (Xiao et al., 2016). O stress e a utilização de

tecnologias estão relacionadas com a redução do período de sono,

principalmente em crianças e adolescentes (Segura-Jiménez et al., 2015). Isto

tem implicações na medida em que existe evidência de uma relação entre

perturbação do sono (em quantidade e em qualidade) e modificações a nível

neuro-cognitivo e hormonal, que influenciam o desenvolvimento atual e futuro

das crianças (Bocicor et al., 2016). De facto, o excesso de sono ou a sua

limitação afetam de forma negativa o sistema endócrino, interferindo com os

níveis de hormonas que regulam o apetite como a grelina (estimula o apetite) e

leptina (inibe o apetite) (Chaput et al., 2007; Spiegel et al., 2004).

9

O desequilíbrio entre as duas hormonas pode traduzir-se num aumento do

apetite, seleção de alimentos mais hipercalóricos, diminuição do gasto

energético e consequentemente promover a obesidade. Por sua vez, o défice de

sono dá origem a um aumento da ingestão de alimentos com alto teor energético,

ou seja, havendo falta de energia o corpo vai procurar obtê-la através de

alimentos que consumimos com mais densidade energética, promovendo assim

o aumento do peso (Crispim et al., 2007). Este fator em conjunto com o aumento

do período livre para consumir os alimentos e a curta duração do sono

representam um risco aumentado para ganho de peso (Cappuccio et al., 2008;

Chaput et al., 2007; Penev, 2012; Scharf & DeBoer, 2015). Isto pode explicar em

parte a relação existente as perturbações do sono e o risco acrescido de

obesidade, resistência à insulina e síndrome metabólico (Koren et al., 2016).

Os distúrbios de sono são considerados um problema de saúde pública,

estimando-se que 30 % das crianças apresentem alterações no sono durante a

sua infância. O Chile está entre os 8 países onde as crianças e adolescentes

sofrem mais com estas desordens (MasalÁN A et al., 2013). Num estudo

realizado pela National Sleep Foudantion (NSF) em 2006 a crianças e

adolescentes entre os 11 e 17 anos, verificou-se que aproximadamente 27% de

crianças em idade escolar e 45% dos adolescentes afirmaram que dormiam

menos do que o recomendado (National Sleep Foundation, 2006). Existem

vários distúrbios de sono, tal como é referido na tabela 4. Os distúrbios de sono

podem ser influenciados por fatores culturais, fatores psicológicos e/ou sociais

(Brand & Kirov, 2011). Há uma relação bidirecional entre problemas noturnos e

modificações diurnas, ou seja, o comportamento ao longo do dia pode fazer com

que altere o sono durante a noite (Arain et al., 2013; Brand & Kirov, 2011).

Além da aparente relação causal entre distúrbios do sono e

desenvolvimento de obesidade, a evidência também tem vindo a demonstrar

uma maior prevalência de distúrbios de sono em indivíduos já com sobrepeso ou

obesos (Sokwalla et al., 2017), sugerindo então que a obesidade também pode

funcionar como fator de risco para os distúrbios de sono. Os distúrbios que

possuem uma maior prevalência na população em geral são a insônia e a

síndrome da apneia obstrutiva do sono (Roth et al., 2002). O distúrbio mais

comum na infância que é influenciado pelos efeitos da obesidade é a Síndrome

da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) (Turco et al., 2013). As crianças obesas

10

apresentam risco de desenvolverem todo o tipo de perturbações respiratórias do

sono, sendo o ronco um dos primeiros indicadores, o qual parece resultar da

resistência irregular das vias aéreas superiores (Verhulst et al., 2009). A SAOS,

que corresponde ao principal distúrbio respiratório do sono nas crianças obesas,

é caraterizado por uma obstrução parcial ou completa das vias aéreas

superiores, que consequentemente interrompe a ventilação normal (Sokwalla et

al., 2017; Verhulst et al., 2009). A obesidade é então considerada um fator de

risco muito importante na progressão, manutenção e severidade da SAOS (DGS,

2015). No adulto, a literatura também demonstra que existe uma robusta relação

entre a SAOS e a obesidade, indicando que mais de 70% dos indivíduos com

este distúrbio são clinicamente obesos, para além de possuírem outras doenças

crónicas, como hipertensão, diabetes mellitus tipo II, acidentes vasculares

cerebrais.

A insónia corresponde a outro distúrbio com elevada prevalência na

população obesa, sendo caracterizada pela má qualidade do sono e também

dificuldade em iniciar o sono ou a manutenção do mesmo em conjunto com a

disfunção diurna (Dollman et al., 2007; Guilleminault et al., 2003; Iglowstein et

al., 2003). A insónia pode por si só contribuir também para o excesso de

consumo de energia e ganho de peso (DGS, 2015). Num estudo em que

avaliaram a insónia, descobriu-se que o sono curto (5 horas comparativamente

às 8 horas normais) estava relacionadas com níveis de leptina mais baixos,

independentemente do IMC, sugerindo que a curta duração do sono poderá levar

a um aumento do apetite e consequentemente ao consumo excesso de

alimentos (Taheri et al., 2004).

Na tabela 5 estão descritos os diversos distúrbios de sono.

11

Tabela 5 Distúrbios de sono

Distúrbio de

sono Definição Principais caraterísticas Prevalência

Insónia

Dificuldade em iniciar ou manter o

sono.

• Despertares noturnos;

• Sensação de sono não renovador.

• População infantil

• Austrália N= 535; Idade≥ 16 anos Prevalência de insónia superior

nas mulheres (24,9% vs. 17,3%)

• Espanha N=4065; Idade≥ 15 anos Prevalência de insónia 20,8%

Narcolepsia Sonolência exagerada durante o dia.

• Sonolência excessiva durante o dia;

• Situações de cataplexia;

• Alucinações hipnagógicas;

• Paralisia do sono.

• 4 em cada 10 mil habitantes;

• 25% pacientes com sonolência diurna;

• 16,6% das crianças e adolescentes com os 4 sintomas;

• Entre os 10 e 20 anos de idade.

Sonilóquio

Fala ou emissão de sons durante o

período de sono, sem qualquer

objetivo determinado.

• Murmúrios, palavras ou frases com

significados obscuros ou um

discurso coerente;

• Amnésia posterior.

• 20 % em 3 a 10 anos – 1 ou mais vezes/semana;

• 50 % - Uma vez ao ano;

• Raro - adolescentes e adultos

Sonambulismo

Sequência de comportamentos

complexos que se iniciam no sono

REM, principalmente nos Estágios 3 e

4 (sono profundo) que origina uma

deambulação durante o sono.

• Duração de menos de um minuto ou

até mesmo 20 minutos.

• 30 % - Crianças entre 3 a 10 anos

• 5% - Pré-adolescentes

• 2% dos casos podem estender der até à fase adulta.

Ranger dos

dentes ou

“bruxismo”

Desordem do movimento

estereotipado.

• Apertar ou ranger os dentes por

intervenção de forças excessivas

sobre a musculatura mastigatória.

• 10 a 15% - 5 até aos 20 anos;

• Crianças com paralisia cerebral e/ou problemas mentais tem

maior prevalência.

Pesadelos Sonhos aflitivos que ocorrem durante

o sono REM.

• Despertar com sensação de

ansiedade e medo.

• Frequentes em crianças de 3 e 5 anos;

• 11% - Adolescentes do sexo feminino;

• 5% - Adolescentes sexo masculino.

12

Distúrbio de

sono Definição Principais caraterísticas Prevalência

Distúrbios de

Movimentos

Rítmicos

Balanço rítmico e demorado da

cabeça antes ou durante o sono.

• Movimentos lentos, rítmicos,

localizados, duradouros, ocorrendo

sempre nas mesmas condições.

• Crianças com deficiência mental, autismo e portadoras de

síndromes genéticas podem apresentar na adolescência e idade

adulta.

Enurese

noturna

Disfunção que se manifesta através

da perda involuntária de urina. • Fazer “chichi” na cama.

• 15 a 20% nas crianças até 5 anos.

• 5% até aos 10 anos.

• 1 a 2% em adolescentes.

Apneia

Obstrutiva do

sono

Obstrução parcial ou completa das

vias aéreas superiores, que

consequentemente interrompe a

ventilação normal (Sokwalla et al.,

2017; Verhulst et al., 2009).

• O fluxo aéreo é suspendido na

apnéia ou reduzido na hipopnéia;

• Privação de ventilação alveolar

apropriada usualmente resulta em

dessaturação da oxihemoglobina;

• Eventos continuados - aumento

crescente da pressão parcial de gás

carbônico no sangue arterial

(PaCO2)

• Prevalência superior em indivíduos do sexo masculino em

relação ao sexo feminino;

• Sexo feminino – acima dos 65 anos (1,2%)

• Sexo masculino – 45 aos 64 anos (3,9%)

• População adulta, com 2% -4%

• Grande proporção de indivíduos sem diagnóstico (93% das

mulheres e 82% dos homens) com SAOS clinicamente

significativa.

(adaptado de Antunes et al., 2008; Hargens et al., 2013; Martins et al., 2007; Ohayon & Sagales, 2010; Turco et al., 2013; World

Health Organization, 2000)

13

2.2.1. Avaliação do sono

Existem diversos métodos para avaliar o sono ou mesmo a presença de

distúrbios, mas é importante explicar que existem várias dimensões do sono a

ter em conta quando este é avaliado, tais como: quantidade, qualidade,

arquitetura e programação do sono (Sadeh, 2015). Cada método apresenta

vantagens e desvantagens e a escolha para a sua utilização vai depender do

que se pretende avaliar, tal como podemos observar na tabela 6.

Tabela 6 Métodos para avaliação do sono

Método Vantagens Desvantagens

Polissonografia

• Informações mais detalhadas sobre a

arquitetura do sono e diagnóstico clínico;

• Ajuda na avaliação objetiva da sonolência

diurna;

• Caro;

• Intrusivo;

• Trabalho intensivo de

contagem;

• Menos informativo para o sono

de dia, despertares noturnos

regulares, insônia de

comportamento e desordens

de horário;

• Confiança e validez

insuficientes;

Videosomnografia

• Não intrusivo;

• Monitorização a partir de casa e triagem

para desordens clínicas;

• Documenta o comportamento específico da

criança, a intervenção dos pais e o

envolvimento.

• Requer uma instalação

doméstica e uma posterior

inspeção visual e pontuação;

• Consumo de tempo e

preocupações com a

privacidade;

• Limita o local onde a criança

pode dormir.

Actigrafia

• Relação custo-benefício,

• Não intrusivo;

• Monitorização de 24 horas em casa por

longos períodos;

• Não requer instalação.

• Só mede atividade e não

fornece dados sobre a

respiração ou

comportamentos específicos;

• Artefactos relacionados com o

movimento externo induzido,

remoção do dispositivo e

vigilância imóvel são ameaças

à sua validez.

14

Método Vantagens Desvantagens

Relatórios Subjetivos

Questionários e diários -métodos mais fáceis,

rentáveis e medem vários parâmetros de

sono em relação a vários contextos

A informação retirada pode ser

influenciada por múltiplos

fatores.

(adaptado de Sadeh, 2015)

Dentro dos relatórios subjetivos do sono, existem vários questionários

desenvolvidos para avaliar parâmetros do sono como podemos verificar na

tabela 7.

Tabela 7 Questionários para avaliação do sono

Questionário Descrição/Avaliação Pontuações Autor

Questionário

sobre distúrbios

de sono (QDS)

• 27 itens

• Avalia a presença de um

distúrbio de insónia e

outros distúrbios de sono

respeitando os critérios

DSM – 5

Classificação hierárquica das desordens

do sono:

• Bons dormitórios

• Insónia DSM

• Excessiva sonolência DSM

• Sub sonolência excessiva

• Outros distúrbios de sono.

0-4 impacto do índice de distúrbios de

sono.

Violani

et

al. 2004

Índice de

gravidade da

insónia (ISI)

• 7 itens

• Avalia a gravidade da

insónia.

• Pontuação total varia entre 0 a 28.

• 0-7 insónia não-clinicamente relevante

• 8-14 sub-insónia

• 15-21 insónia moderada

• 22-28 insónia severa

Morin

1993

Bastien

et

Al.,2001

Índice da

qualidade do

sono de

Pittsburgh

(PSQI)

19 itens

Avalia a qualidade do sono

percebida:

• Latência do sono;

• Duração do sono;

• Eficiência habitual do

sono;

• Distúrbios do sono;

• Uso de drogas hipnóticas;

Desordens durante o dia

Pontuação total varia entre 0 a 21.

Menor ou igual a 5 - boa qualidade do

sono;

Maior que cinco – fraca qualidade do sono

Buysse

et

al. 1989

15

Questionário Descrição/Avaliação Pontuações Autor

Inventário

multidimensional

de fadiga (MFI-

20)

20 itens

Avalia a gravidade dos

sintomas de fadiga.

Subescalas:

• Fadiga geral;

• Fadiga física;

• Atividade reduzida;

• Motivação

reduzida;

Fadiga mental.

Pontuação varia entre 4 a 20.

Pontuação alta indica maior gravidade

(Não há ponto de corte validado*)

Não se pode avaliar a pontuação total de

esforço.

Smets

et

al. 1995

(adaptado de (Devoto et al., 2016)

Os questionários que avaliam o sono permitem obter informações sobre

os padrões de sono, problemas de sono, contexto de sono e comportamentos

relacionados com o sono de forma muito rentável (Sadeh, 2015), o que poderá

ser bastante positivo quando estudamos grandes populações ou amostras em

que não é tão fácil a utilização de métodos invasivos. Também são utilizados

questionários quando queremos avaliar o sono em crianças mais novas, pois

como é uma população específica necessita de ter os seus próprios

questionários para a sua melhor compreensão.

O Sleep Disturbance Scale for Children (SDSC) é um questionário

validado que avalia problemas ao nível do sono, através de 6 fatores: dificuldade

em começar e manter o sono; distúrbios respiratórios do sono; modificações na

transição do ciclo sono-vigília; distúrbios no despertar; distúrbios de sonolência

e hiperidrose do sono (Hart et al., 2011; Hawley et al., 2014; Ludwig et al., 2001).

O Children’s Sleep Habit Questionnaire (CSHQ) é outro questionário sobre o

sono, no qual é atribuída uma pontuação a 8 parâmetros: resistência à hora de

dormir; duração do sono; ansiedade do sono; despertar noturno; parasomnia;

distúrbios respiratórios e sonolência diurna (Freedman et al., 1999). Estes

questionários referidos anteriormente são indicados para crianças até 10 anos

com problemas de sono em que os pais demonstram dificuldade em identificar

as causas dos problemas a nível do sono dos seus filhos.

Todos estes questionários descritos na tabela, excetuando o PSQI,

avaliam o sono de uma forma muito específica, focando-se muito no distúrbio de

16

sono mais comum, a insónia, sendo que o último avalia mesmo a fadiga em si e

não o sono, como se pretende.

O Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI) é um questionário

de autorresposta e foi criado e validado em 1988 por Buysse e colaboradores na

Universidade de Pittsburgh, inicialmente para avaliar uma população clinica.

Este possui 19 questões gerais e 5 questões sobre o companheiro de cama e

colega de quarto, sendo necessários apenas 5 ou 10 minutos para o seu

preenchimento. As 19 questões estão agrupadas em 7 componentes, que são

avaliadas numa escala de 0 a 3. As sete componentes são somadas para obter

uma pontuação total do PSQI, num intervalo de 0 a 21. Pontuações altas indicam

uma má qualidade de sono. As 7 componentes dizem respeito ou estão a avaliar

os seguintes fatores: a qualidade subjetiva do sono, latência do sono, duração

do sono, eficiência habitual do sono, distúrbios de sono, o uso de medicamentos

para o sono e disfunção diurna (Buysse et al., 1989). Este questionário foi

validado para português em novembro de 2016 por Del Rio João et. Al., onde foi

demonstrado que o PSQI-PT é um instrumento válido e confiável para a

avaliação da qualidade de sono (Del Rio Joao et al., 2017).O PSQI é apropriado

para uma variedade de populações clínicas e também permite a sua utilização

focando-se não só na doença, mas dando ênfase à promoção da saúde. Este

permite a medição de várias componentes, não intrusivo e pode abranger uma

grande população. Apesar disso, as respostas podem ser influenciadas por

múltiplos fatores (Buysse et al., 1989; Del Rio Joao et al., 2017). Estes múltiplos

fatores referidos anteriormente dizem respeito a diversas situações que podem

ser provocadas por parte de quem responde, pois este pode não se lembrar

concretamente ou não ter uma ideia clara relativamente à resposta que deve dar,

pode mentir nas respostas, pode não entender corretamente as perguntas. Uma

vez que o questionário apenas avalia de uma forma qualitativa o sono, torna-se

difícil eliminar possíveis fatores influenciadores.

Em 2014 foi realizado um estudo transversal em que foi utilizado o PSQI

para relacionar a qualidade de sono e a síndrome metabólica numa amostra de

1481 adultos (549 do sexo masculino e 932 do sexo feminino) com idades

compreendidas entre os 20 anos, com o objetivo de verificar se apresentavam

distúrbios de sono, tendo em consideração os 7 fatores que o questionário

permite avaliar. O diagnóstico da síndrome metabólica foi feito tendo em

17

consideração se os participantes apresentavam obesidade abdominal ou outros

dois componentes (hipertensão, diminuição da tolerância à lactose e

dislipidemia). Caso a pontuação global fosse maior ou igual a 6 em relação à

pontuação global do PSQI, considerava-se que apresentavam distúrbios de

sono. Os resultados foram os seguintes: 52 (9,5%) participantes do sexo

masculino e 133 (14,3%) do sexo feminino tiveram seis ou mais pontos a nível

global; participantes com síndrome metabólica apresentaram um nível mais

elevado de pontuação em relação às componentes de latência do sono e

distúrbio de sono (Noriyuki et al., 2014). A conclusão deste estudo foi de que a

pontuação global do PSQI e os seus componentes está associada à síndrome

metabólica, principalmente quando nos referimos à latência de sono e distúrbios

de sono. Segundo os autores este estudo possui algumas vantagens em relação

a estudos anteriores, tais como, a capacidade de se fazerem associações

abrangentes tendo em conta os estilos de vida e a depressão; avaliação da

duração do sono e várias componentes do mesmo, a qualidade do sono,

latência, eficiência, sono habitual e suas perturbações (Noriyuki et al., 2014).

Num estudo realizado em 2014, foi feita uma pesquisa online em que se

utilizou o questionário PSQI em conjunto com o método de autorrelato do seu

peso e altura, para calcular o índice de massa corporal (IMC). Nesta pesquisa

foram efetuadas várias análises de regressão logística univariada e multivariada

através dos elementos do PSQI, os quais foram utilizados para prever o excesso

de peso (IMC ≥ 25). Foi utilizada uma amostra de conveniência de 515

estudantes universitários, que demonstrou que um terço dessa amostra possuía

um IMC ≥ 25 e 51% fraca qualidade de sono (PSQI> 5). Apenas os distúrbios do

sono foram relacionados com o excesso de peso, sendo que há uma

probabilidade de estes aumentarem com a idade. As limitações deste estudo

foram principalmente a forma como os dados foram recolhidos, através de

autorrelatos, não utilizando medidas diretas e desprezando o nível de atividade

física ou a ingestão alimentar dos participantes (Vargas et al., 2014).

O facto deste estudo ter sido transversal fez com que não se possa ter

estabelecido uma relação causal entre o distúrbios de sono e o IMC (Vargas et

al., 2014).

Outro estudo realizado em 2015 com o objetivo de associar uma pobre

qualidade de sono e diferentes medidas de obesidade, utilizando vários

18

métodos: o PSQI para avaliar o sono; enfermeiros especializados para a

medição do peso, altura e circunferência da cintura; composição corporal através

da impedância bioelétrica. A amostra foi de 753 indivíduos com idades entre os

35 e 65 anos. Os resultados foram: 65,3% dos participantes apresentaram boa

qualidade de sono (PSQI ≤ 5) e 34,7% pobre qualidade de sono (PSQI> 5). Estes

resultados demonstraram que existe uma associação considerável entre uma

pobre qualidade de sono com a obesidade geral e a gordura corporal, avaliada

pela pontuação do PSQI tendo em consideração o estilo de vida e fatores

sociodemográficos (Rahe et al., 2015).

As componentes que mais se destacaram e que levaram a estes

resultados foram, a latência do sono, distúrbios de sono e a disfunção diurna.

Com estes resultados, os autores puderam concluir que uma fraca qualidade de

sono pode dar origem ou prognosticar a obesidade e uma elevada quantidade

de massa gorda. Uma das limitações e ao mesmo tempo estudos futuros que os

autores apresentam é a avaliação destas componentes através de métodos

diretos, com medidas objetivas (Rahe et al., 2015).

Num estudo publicado em fevereiro de 2017 utilizou-se o PSQI em 2400

adolescentes entre os 12 e 18 anos, com o intuito de avaliar a relação entre a

utilização dos telemóveis ao final da noite e a duração do sono. Os resultados

deste estudo indicaram que 1720 utilizam o telefone depois das nove da noite,

56,1% das raparigas e 38,9% dos rapazes afirmaram que têm uma má qualidade

no que diz respeito ao sono. Ainda foi possível verificar que os adolescentes

sedentários apresentam maior latência do sono comparando com adolescentes

mais ativos. Este e outros estudos aconselham a utilização de medidas mais

objetivas para se conseguir criar uma relação de causalidade entre a obesidade

e as componentes avaliadas no PSQI. Apesar disso, o PSQI permite a avaliação

de várias componentes do sono, o que torna o estudo mais completo e válido,

uma vez que podemos relacionar estes componentes com a obesidade ou fazer

uma previsão da mesma (Amra et al., 2017).

Essas informações podem ser utilizadas para a concretização de campanhas a

favor de uma qualidade de vida mais saudável (Amra et al., 2017).

O questionário, Escala de Sonolência de Epworth (ESS) é um

questionário simples e de autorresposta. Este foi criado por Johns em 1991 com

o objetivo de avaliar de forma geral e subjetiva a sonolência diurna. Esta escala

19

possui oito questões baseadas em oito situações diárias, que são avaliadas

numa escala de 0 a 3, em que 3 corresponde a grande probabilidade de

adormecer (Johns, 1991). Em 1992, o mesmo autor realizou um estudo sobre a

confiabilidade e análise fatorial da ESS, onde participaram 87 estudantes de

medicina e em 54 pacientes com síndrome da apneia obstrutiva do sono. Os

resultados deste estudo provaram que o ESS possuiu uma grande consistência

interna, o que levou a concluir que apesar de ser um método simples é também

confiável na avaliação da sonolência diurna em adultos (Johns, 1992). Este

método foi validado para a língua portuguesa do Brasil em 2009 (Bertolazi et al.,

2009). Foi realizado um estudo em 2016 de forma a avaliar o vício da utilização

da internet associado ao sono e qualidade de vida de adolescentes obesos.

Neste estudo foram utilizadas várias formas e métodos de avaliação dos fatores

em questão, a nível sociodemográfico, uma escala de dependência na Internet,

um Inventário Pediátrico de Qualidade de Vida e os questionários em questão, o

PSQI e o ESS. A amostra deste estudo foi de 71 adolescentes obesos e 64

adolescentes não obesos. Relativamente aos resultados determinaram que os

adolescentes obesos têm mais tendência a serem dependentes da internet,

menor qualidade de vida e uma maior sonolência diurna, ou seja, há uma grande

relação entre a dependência da internet e obesidade. Este estudo demonstrou

que estes questionários podem ser utilizados com diversos objetivos, quer para

avaliar diretamente a qualidade do sono, quer para ajudar a relacionar vários

fatores com a obesidade (Eliacik et al., 2016).

Sabendo isto, é possível confirmar que a qualidade de vida é influenciada pela

qualidade do sono que por sua vez influência a obesidade, nomeadamente em

adolescentes obesos que possuem um estilo de vida diferente das restantes

populações. O facto de os questionários não necessitarem de utilização de

equipamento nem pessoal especializado torna a recolha da amostra mais fácil e

abrangente.

Os resultados tornam-se muito subjetivos, mas no caso de se avaliar uma

amostra em que não há a possibilidade de haver um grande controlo na

utilização dos métodos mais objetivos e diretos ao longo de um grande período

de tempo é preferível a utilização deste tipo de questionários, que englobam

bastantes fatores.

20

2.3. Exercício Físico e Sono

Uma boa qualidade de vida não está assente só na ideia de ausência de

excesso de peso ou obesidade, como também numa vida ativa. Por isso, é de

conhecimento comum que a atividade física acarreta inúmeros benefícios para

a qualidade de vida. Segundo a OMS, a atividade física é fundamental para

manter uma vida saudável. Atividade física é definida como qualquer movimento

corporal que solicite gasto de energia pelos nossos músculos como por exemplo

na lida da casa, atividades de lazer, entre outras (World Health Organization,

2017). Pelo facto de a atividade física ser um conceito tão global, quando nos

referimos a uma atividade em que possuímos um objetivo concreto, que neste

caso, possa ser a perda de peso, estamos a entrar no conceito de exercício

físico, por isso é necessário saber a sua distinção. Exercício físico é considerado

uma subcategoria da atividade física, que possui um plano concreto, uma

estruturada organizada, uma atividade que é repetida e possui objetivos

definidos, como aperfeiçoar ou preservar um ou mais elementos da condição

física (World Health Organization, 2017). A opinião da população em geral e da

população científica sustenta que a atividade física pode ser utilizada como uma

forma não farmacológica e uma medida preventiva para um sono mais

restaurador/eficiente. O exercício é defendido pela American Sleep Disorders

Association (ASDA) como uma intervenção não-farmacológica com vista a

melhorar o sono. (Driver & Taylor, 2000).

O impacto do exercício físico sobre o sono pode ser explicado através de

duas teorias. A primeira diz que a prática de atividade física traz modificações

fisiológicas vantajosas para a regulação do sono homeostático e a segunda diz

que o exercício agudo aparenta regularizar o sistema circadiano e a sonolência

diurna (Driver & Taylor, 2000). Ainda não existem muitos estudos que abordem

o tema atividade física e qualidade do sono, mas são vários os estudos que

apontam que o exercício agudo e crónico aumenta o sono de ondas lentas e o

tempo total de sono, mas diminui a latência de início do sono e o sono REM

(Kubitz et al., 1996).

21

Existem modelos teóricos que procuram explicar os efeitos do exercício

físico sobre o sono e estão associados a três hipóteses; a hipótese termo

regulatória, hipótese da conservação da energia e restauração corporal.

Relativamente à primeira hipótese, esta é descrita por (Horne & Moore, 1985)

em que depois do exercício com o aumento da temperatura corporal através da

utilização de roupas extras sucedia um aumento do sono de ondas lentas, o que

não se verificou em exercícios que ocorria arrefecimento rápido após a

finalização do mesmo. Segundo esta teoria o início do sono começa com a

redução da temperatura corporal que ocorre no principio da noite, ou seja,

quando um indivíduo faz exercício físico, este aumenta a sua temperatura

corporal, o que facilita o início do sono, pelo facto de estimular o hipotálamo e

este ativar os sistemas de dissipação de calor e os mecanismos de indução do

sono. Para a segunda e terceira hipóteses, falam dos mecanismos

homeostáticos reguladores do sono pois ambas as teorias afirmam que a

duração total do momento do sono e a quantidade de sono de ondas lentas

aumenta consoante o aumento do gasto energético (Martins et al., 2001), ou

seja, durante o sono existe atividade anabólica e durante a vigília atividade

catabólica, o exercício pode facilitar o sono pela diminuição das reservas

energéticas corporais e aumentar a necessidade do sono. Estamos perante duas

versões, a primeira diz-nos que o sono reduz o metabolismo abaixo do gasto

durante a vigília e a segunda afirma que o sono limita o gasto energético. Ambas

permitem um balanço energético positivo. Por isso pode-se afirmar que o

exercício ajuda no sono pelo facto de ampliar o gasto energético. A função do

sono aqui seria repor o que foi gasto durante o exercício, por isso este torna-se

uma ferramenta para restabelecer o equilíbrio. Quanto mais gastarmos durante

a vigília, mais necessidade teremos em repor durante o sono.

Na tabela 8 estão descritos alguns artigos que avaliam a influência do

exercício na qualidade do sono importantes na tentativa de perceber os efeitos

benéficos deste no sono e que tipo e intensidade deve ser prescrito.

22

Tabela 8 Impacto do exercício no sono

Referência Objetivo Metodologia Resultados

(Mendelson

et al., 2016)

Avaliar o impacto do treino na melhoria da

duração e qualidade do sono e da atividade

física.

Amostra:

20 adolescentes obesos (idade= 14,5 ± 1,5 anos; IMC= 34,0 ±

4,7 Kg/𝑚2) e 20 adolescentes saudáveis

Métodos:

1 polissonografia e acelerómetro durante 7 dias

Programa:

Programa de treino combinado durante 12 semanas, 180

min/semana

Antes da intervenção:

- Duração do sono é maior em adolescentes saudáveis.

- Adolescentes obesos demonstraram maior índice de

apneia—hipopneia.

Após a intervenção:

- Aumento da duração do sono

- Aumento da qualidade do sono

- Aumento dos níveis de atividade física.

(Brand et

al., 2010)

Relacionar o exercício vigoroso crónico

com a melhoria do sono e funcionamento

psicológico e se existe variação consoante

o sexo.

Amostra:

434 adolescentes (258 atletas, 176 para grupo controlo) com

uma média de idade de 17,2 anos.

Métodos:

Registo de sono durante 7 dias consecutivos e questionários de

autoavaliação.

Programa:

17,96 horas/semana e 4,69 horas/semana, respetivamente.

Após a intervenção:

- a qualidade do sono é maior em atletas;

- Pouca latência no inicio do sono em atletas.

-Menos despertares;

-Menos cansaço e maior concentração durante o dia;

-Menor ansiedade e sintomas depressivos em atletas;

-Menores variações do sono no sexo feminino;

-o exercício vigoroso apresenta uma relação positiva com o sono

e funcionamento psicológico dos adolescentes.

23

Referência Objetivo Metodologia Resultados

(Kline et al.,

2013)

Avaliar a eficácia de um programa de treino

de 12 semanas para reduzir a gravidade da

apneia obstrutiva do sono (AOS) e

melhorar a qualidade do sono e explorar

possíveis mecanismos pelos quais o

exercício pode reduzir a gravidade da AOS.

Amostra:

339 mulheres no Estudo de Saúde da Mulher em toda a Nação

Estudo do sono (52,1 ± 2,1 y)

Métodos:

Sono avaliado por questionários, diários, polissonografia

domiciliar (PSG).

Atividade física (AF) avaliada em três domínios (Vida Ativa,

Domicílio / Cuidados, Desportos / Exercício) utilizando o Kaiser

Physical Activity Survey (KPAS) até 4 vezes mais de 6 anos

anteriores às avaliações do sono. A associação entre AF

recente e sono foi avaliada utilizando scores KPAS

imediatamente anteriores.

As avaliações do sono. A associação entre o padrão AF

histórico e o sono foi examinada categorizando AF em cada

domínio KPAS.

• Maior atividade recente de desportos / exercícios - melhor

qualidade do sono (diário "descanso”

• maior continuidade do sono (sono diário Eficiência -

menor poder NREM beta EEG e profundidade (maior

poder eletroencefalográfico do delta NREM [EEG]

• menor probabilidade de diagnóstico de insônia

• Maior consistência na atividade de desportos / Exercício -

melhor Scores no Pittsburgh Sleep Quality

do índice )

• Poucas associações entre sono e vida ativa ou casa /

cuidar

24

Referência Objetivo Metodologia Resultados

(Pa et al.,

2014)

Comparação dos efeitos de diferentes tipos

de

AF e mental sobre a qualidade do sono

auto-relatado num programa de

mais de 12 semanas em idosos com

problemas cognitivos e queixas ao nível do

sono.

Amostra:

Setenta e dois idosos inativos

com auto-relato de sono e alterações cognitivas.

(Idade média 73,3 6,1, 60% mulheres).

Métodos:

- 7 perguntas do questionário sobre distúrbios de sono do

inquérito do exame nacional de saúde e nutrição de 2005 a 2006

(escala 0-28, com as contagens mais elevadas que refletem pior

qualidade do sono).

Programa:

12 semanas.

Repartição aleatória para quatro braços utilizando um desenho

fatorial dois a dois:

• treino aeróbio + cognitivo,

• aeróbio + DVD educacional

• alongamento + treino cognitivo

• alongamento + DVD educacional braço (60 min / d, 3 d /

wk

Após intervenção:

• Mudança na qualidade do sono ao longo do tempo;

• Os índices de qualidade do sono melhoraram

significativamente no alongamento + braço DVD

educacional em relação ao alongamento + treino cognitivo,

aeróbio + educação DVD ou treino aeróbio + cognitivo

• As diferenças entre os braços foram mais fortes ao acordar

à noite e tomar medicação para dormir.

25

Referência Objetivo Metodologia Resultados

(Myllymaki et al.,

2011)

Efeitos do exercício

vigoroso noturno no solo.

Amostra:

11 jovens adultos fisicamente aptos (7 homens

e 4 mulheres) com uma média de idade de

27±3 anos)

Métodos:

Polissonografia, actigrafia e qualidade do sono

subjetiva.

Realizadas medições do sono em laboratório

após dois momentos:

1. Exercício vigoroso tarde-noite;

2. Após um dia de controlo sem exercício.

Programa:

Ciclo ergómetro até exaustão voluntariadas

que começou às 21:00±00:28 horas, durou

35±3 minutos e terminou às 2:13:00h19 horas

antes de dormir.

A intensidade do exercício foi leve (50-63% da

FCmax) durante 12±3 min, moderada (64-

76% da FCmax) durante 9±3 min, vigorosa

(77-93% da FCmax)

Durante 12±2 min e muito duro (94-100% de

FCmax) durante 2±2 min.

• Pós-intervenção (dia do exercício):

Maior proporção do sono-REM relativamente ao dia de controlo.

• Não foram observadas diferenças no actigráfico ou na qualidade de sono subjetivo.

• A frequência cardíaca (FC) foi maior após o dia do exercício em relação ao dia

controlo (54 ± 7 bpm versus 51 ± 7 bpm, P <0,01)

• O exercício noturno não perturba o polisomnográfico, actigráfico ou qualidade, o

que contrasta com a higiene geral do sono segundo as recomendações da AASM

de 2001.

• Apesar disso, o exercício resultou num aumento da frequência cardíaca (FC)

durante as primeiras 3 horas de sono em comparação ao dia do controlo, mas não

influenciou a variação da FC durante o sono.

• Variação da FC similar durante os dois dias.

26

Referência Objetivo Metodologia Resultados

(Dworak et al.,

2008)

Investigar os efeitos do

exercício físico moderado e

intenso sobre o estado de

vigilância e os padrões de

sono em crianças em idade

escolar

Amostra:

11 crianças saudáveis (12,6±0,8 anos)

Métodos:

Polissonográfico

Polissonomnográficas e fisiológicos (com

oximetria) – realizadas em 3 noites com ordem

aleatória e separadas por 1 semana.

Programa:

2 sessões de exercícios na bicicleta

ergométrica – 3-4 horas antes de deitar com

duração de 30 minutos e variação da

intensidade.

2. Intensidade moderada – 65-70% da FC

máxima

3. Alta intensidade – 85-90% FC máxima

até à exaustão

Testes de vigilância realizados antes e após os

3 períodos de sono.

• Só o exercício de alta intensidade resultou numa proporção significativamente

elevada de sono de ondas lentas e menor no estágio 2 do sono

• Maior eficiência do sono.

• Menor latência de inicio de sono.

• Não foram encontrados significativos sobre o sono REM.

27

Como se pode verificar na tabela 8, ainda existe um défice de informação

relativamente à utilidade do exercício físico como ferramenta para melhorar a

qualidade do sono, principalmente em adolescentes com excesso de peso ou

obesos. Ainda não é possível identificar qual o melhor tipo de exercício para

melhorar a qualidade do sono. Mas do que se pode retirar dos vários estudos

encontrados é que o exercício melhora a qualidade do sono quando existe uma

prática regular. No entanto, foi possível constatar que a população mais

estudada sobre este aspeto são os atletas, logo qualquer extrapolação para

outra população, nomeadamente os adolescentes obesos, encontra-se limitada.

Também se pode confirmar que a latência do sono, ou seja, o tempo que

demoramos a adormecer, diminui quando comparamos indivíduos ativos com

indivíduos sedentários ou com pouca prática de exercício físico diário, sendo que

os primeiros apresentam uma maior duração do sono, menos despertares

noturnos, consistência, uma menor probabilidade de apresentarem distúrbios de

sono, nomeadamente, a insónia e consequentemente uma maior concentração

durante o dia e menor cansaço, pois dormem um sono restaurador. Dos estudos

descritos o tipo de exercício que parece ser mais utilizado quando se pretende

avaliar o impacto do exercício no sono é o treino aeróbio. Apesar disso, os

estudos encontrados não examinam apenas a qualidade do sono isoladamente.

Esta variável tem sido estudada maioritariamente no contexto de populações

com patologias diversas.

A latência do inicio de sono é o fator que mais tem sido identificado

quando se estuda a qualidade do sono. Este tem vindo a ser sugerido como

representação do processo diário de restituição, sendo associado ao aumento

da hormona de crescimento e secreção de cortisol (Åkerstedt & M Nilsson, 2003).

Também se verificou que quando comparamos exercício de intensidade

moderada e intensidade alta, a última apresenta valores maiores. Alguns

estudos sugerem que quando o exercício de intensidade moderada é realizado

próximo do horário de dormir, a temperatura pode ser mais importante para

proporcionar o sono do que os efeitos perturbadores do sono sobre o corpo

podem causar (O'Connor et al., 1998). Exercícios de intensidade moderada

realizados até 1 hora antes de dormir provocam um aumento da temperatura

28

corporal, mas não perturbam a qualidade subjetiva do sono (O'Connor et al.,

1998). Quando realizamos exercício de intensidade moderada no início da noite,

a qualidade subjetiva do sono não parece ser afetada (Yoshida et al., 1998;

Youngstedt et al., 2000). Yoshida et.al (1998) e Youngstedt et al. (2000)

relataram efeitos positivos do exercício noturno sobre o sono e na redução da

sonolência diurna do dia seguinte. Por isso é possível afirmar que exercícios

antes do horário de dormir, sejam de intensidade moderada ou vigorosa, não

perturbam a qualidade do sono subjetiva (Yoshida et al., 1998; Youngstedt et al.,

2000).

A corroborar/completar a interpretação da tabela 8, apresentamos as

conclusões de uma meta-análise de 2015 que tinha como objetivo verificar quais

os efeitos da atividade física sobre o sono (Kredlow et al., 2015). Neste artigo

foram utilizados 66 estudos e através das análises revelou-se que os efeitos do

exercício apresentam pequenos benefícios no tempo total de sono, latência do

inicio de sono, eficiência, Estágio 1 do sono e sono de ondas lentas. Demonstrou

ter um efeito benéfico moderado no tempo de vigília após o inicio de sono e efeito

no sono REM. Ou seja, o exercício regular apresenta pequenos benefícios para

o tempo total de sono, pequenos a médios efeitos benéficos na latência de inicio

do sono e efeitos moderados na qualidade do sono. Os efeitos foram moderados

por sexo, idade, nível de atividade física dos participantes e o tipo de exercício,

do dia, duração e adesão. Não foi encontrada moderação significativa para a

intensidade do exercício, aeróbia/anaeróbia. Com esta meta-análise podemos

verificar que o exercício tem impacto na qualidade do sono, na medida em que

pode melhorá-la, apesar disso ainda se conhece pouco o tipo e intensidade de

exercício mais adequada para uma possível melhoria na qualidade do sono. Este

estudo também permitiu confirmar que existe uma tentativa de tentar explicar

quais os benefícios do exercício para o sono, mas que ainda existe um défice de

informação, por haver falta de estudos que se concentrem num tipo e intensidade

de exercício de forma a se poder “prescrever” um programa mais indicado

(Kredlow et al., 2015).

A literatura consultada sugere então que o exercício traz melhorias

importantes na qualidade do sono, o que significa que exercício físico poderá

29

possivelmente ser uma forma eficaz e não-farmacológica de melhorar a saúde

dos adolescentes obesos através da melhoria da qualidade do sono. Contudo,

como ficou claro, são necessários mais estudos nesta população, sendo

igualmente necessários explorar qual o melhor tipo de exercício físico para

potenciar os seus benefícios ao nível da qualidade do sono.

30

31

3. Objetivo do estudo

O presente trabalho tem como objetivo avaliar o impacto de um programa

de treino em circuito alta intensidade na qualidade e quantidade de sono em

adolescentes com sobrepeso.

32

33

4. Material e métodos

Participantes

Para a realização deste estudo, contámos com a participação voluntária de

estudantes da Escola João Gonçalves Zarco (Matosinhos). Foram considerados

os seguintes critérios de inclusão: 1) frequentar o ensino secundário; 2) possuir

um IMC igual ou superior a 25 Kg/m2. Quanto aos critérios de exclusão, foram

considerados: 1) presença de contraindicação para a realização de exercício

físico; 2) a não entrega do consentimento informado e pedido de autorização,

devidamente assinados pelos participantes e encarregado de educação. Todos

os alunos com estas características foram convidados a integrar o programa de

exercício físico, sendo que apenas 30 indivíduos se voluntariaram para

participar. Os participantes preencheram questionários para caracterização

geral, questionário para avaliar a qualidade do sono e sonolência diurna e foram

submetidos a avaliação da composição corporal antes, a meio e no fim do

programa de exercício físico. O estudo foi realizado em concordância com a

declaração de Helsínquia da Associação Médica Mundial. Para a análise final

foram apenas considerados os dados de alunos que realizaram todos os

momentos de avaliação, o que resultou numa amostra final de 13 indivíduos (4

do sexo masculino e 9 do sexo feminino).

Programa de treino

O protocolo de exercício físico consistiu num programa de longa duração

(8/9 meses) de treino em circuito de alta intensidade, com 4 sessões semanais

de 60 minutos cada. Cada sessão de treino consistia em 3 partes: 1)

aquecimento e mobilidade geral, 2) trabalho por estações com exercícios

funcionais (ex: burpees, walking lunges, abdominais, squats, saltos á corda, etc.)

e retorno à calma.

34

Medidas antropométricas

A estatura, o perímetro da cintura e a composição corporal foram medidos

de acordo com os procedimentos estandardizados. A estatura foi medida através

de um estadiómetro (Holtain Ltd., UK), o perímetro da cintura mediu-se com uma

fita métrica (Holtain Ltd.) e para a composição corporal foi utilizada uma balança

digital (Tanita®, BC-418MA, USA).

A avaliação decorreu entre as 8:00 e as 11:30 da manhã e todos os

participantes obedeceram ás recomendações estipuladas: 1) a não realização

de atividade física no período anterior à medição, 2) a não ingestão de alimentos

ou bebidas nas ultimas 2 horas ou substâncias diuréticas (incluindo cafeína), e

3) utilização de vestuário adequado e prático para as avaliações.

Avaliação do sono

Para avaliar a qualidade e quantidade do sono foi utilizado o Índice de

Qualidade do Sono de Pittsburgh criado por Buysse et al. 1989, que diz respeito

a um questionário de 19 itens que avalia a qualidade do sono percebida

(qualidade subjetiva do sono; latência do sono; duração do sono, eficiência do

sono, distúrbios do sono, uso de medicamentos para dormir e distúrbios durante

o dia). Este questionário foi adaptado, excluindo as perguntas que se referiam

aos colegas de quarto e companheiros. Para a interpretação dos resultados

foram avaliadas as 7 componentes. A contagem de cada componente é

igualmente equilibrada numa escala de 0 a 3, sendo que valores inferiores

indicam um significado positivo e valores mais altos identificam problemas, tal

como se segue: 1) qualidade do sono subjetiva (Muito boa para muito má); 2)

latência do sono (≤15 minutos para >60 minutos); 3) duração do sono (0 - 7 horas

a 5 horas); eficiência do sono (85% a 65%); distúrbios do sono (nunca durante o

último mês para 3 vezes ou mais por semana); uso de medicação para dormir

(nunca para 3 vezes ou mais por semana); 7) Sonolência e disfunção diurnas

(nunca para 3 vezes ou mais por semana). As sete contagens das componentes

35

são somadas para dar origem a uma contagem global que varia de 0 a 21

(consultar Anexos 9.1 e 9.3).

Para avaliar a sonolência diurna utilizou-se a escala de Sonolência de

Epworth, criado por Johns em 1991. Trata-se de um questionário simples e de

autorresposta com oito questões baseadas em situações diárias, avaliadas

numa escala de 0 a 3. Para a interpretação deste questionário é utilizada uma

escala que varia de 0 a 4, em que 0 é “sem probabilidade de adormecer”; 1

corresponde a “pequena probabilidade de adormecer”; 2 é “moderada

probabilidade de adormecer” e 3 “alta probabilidade de adormecer”. Nos

resultados utilizaram-se várias escalas: <10 sono anormal improvável; 10 - 16

quantidade média de sonolência diurna e 16+ excesso de sono provável

(consultar Anexos – 9.2).

Análise estatística

Para a análise estatística foi usado o programa SPSS versão 23. A

avaliação da normalidade da distribuição da amostra foi verificada através do

teste de Shapiro-Wilk. Nos casos em que a foi apresentada distribuição normal,

as variáveis foram analisadas através do Teste T de medidas repetidas. Em

alguns casos que se verificava que a distribuição não era normal, utilizou-se o

teste não paramétrico equivalente ao teste paramétrico, neste caso, o teste de

Wilcoxon, de forma a analisar as diferenças ao longo do tempo, em dois

momentos distintos (antes e após a execução do programa de treino). As

diferenças foram consideradas estatisticamente significativas quando o valor de

P foi inferior a 0,05.

36

37

5. Resultados

Caracterização da amostra

A tabela 9 apresenta a caraterização geral dos participantes. Os

resultados analisados correspondem apenas aos 13 participantes (4 do sexo

masculino e 9 do sexo feminino) que realizaram o primeiro e segundo momento

de avaliação. Dos restantes indivíduos, 4 não realizaram a primeira avaliação, 3

não realizaram a segunda avaliação e 10 desistiram por desmotivação.

Tabela 9 Caraterização da amostra

Estatísticas Descritivas

Mínimo Máximo Média DP

Idade 15 18 16,7 1,0

Altura 150,0 182,3 166,1 9,3

Peso 50,9 111,7 73,2 16,4

IMC 19,9 37,8 26,6 4,9

CA 74,1 116,9 88,5 12,2

% Gordura 17,7 40,9 30,6 7,4

Massa gorda (Kg) 13,3 40,3 22,7 8,8

TMB (Kj) 5050,0 10004,0 6846,7 1328,3

TMB (Kcal) 1207,0 2391,0 1633,8 314,6

FFM (Kg) 36,2 71,4 50,7 10,7

TBW (Kg) 26,5 52,3 37,1 7,9

Legenda: IMC – Índice de massa corporal; CA – Circunferência da anca; TMB –

Taxa metabólica basal; FFM – Massa gorda livre; TBW – Água total do corpo;

DP – Desvio padrão.

38

Impacto do programa de treino nas variáveis do sono avaliadas

pelo questionário PSQI

Na tabela 10 estão apresentados os valores basais e finais (após a

intervenção), independentemente do género, das variáveis do sono em estudo.

De um modo global, podemos verificar que o programa de exercício não induziu

modificações significativas nas variáveis em estudo (P>0.05). Destacaríamos

apenas a latência do sono e a duração do sono por terem sido as variáveis com

valor mais próximo da significância estatística, sugerindo então uma tendência

para melhoria após o programa

Tabela 10 Caraterização da qualidade do sono e das suas componentes,

independentemente do género, no primeiro momento (antes da intervenção) e segundo

momento (após intervenção), de acordo com o questionário PSQI.

Na tabela 11 são apresentados os valores das variáveis do sono antes da

intervenção e após a intervenção, tendo em consideração a subanálise por

género. Apenas os valores da latência do sono no sexo masculino apresentaram

uma melhoria significativas após a intervenção (1,5 ± 1,0 vs. 0,5±1,1; p<0,05).

PSQI Geral

1º momento 2ºmomento

Variáveis Média DP Média DP p

Qualidade subjetiva do sono 1,2 0,8 1,0 0,7 0,257

Latência do sono 1,3 0,9 0,9 0,9 0,059

Duração do sono 0,1 0,3 0,3 0,6 0,083

Eficiência do sono 3,0 0,0 3,0 0,0 1,000

Distúrbios do sono 1,3 0,6 1,2 0,7 0,317

Uso de medicação para dormir 0,3 0,6 0,4 0,9 1,000

Sonolência e disfunções diurnas 1,2 0,9 1,4 0,8 0,366

Qualidade do Sono - Global 8,4 3,0 8,2 3,2 0,756

39

Tabela 11 Caraterização da qualidade do sono e das suas componentes, dependente

do género, no primeiro momento (antes da intervenção) e segundo momento (após

intervenção), pelos dados do PSQI

Caraterização da sonolência diurna pelo questionário ESS

Na tabela 12 estão apresentados os valores da sonolência diurna antes da

intervenção e após a intervenção, independentemente do género. A

apresentação dos resultados é realizada de acordo com as 8 variáveis

determinadas pelo questionário ESS de forma a averiguar a sonolência diurna

total. As únicas variáveis que sofreram alteração significativa foram a variável

“sentado a conversar” (0,0 ±0,0 vs. 0,3±0,5; P=0.046) e “sentado a seguir ao

almoço, sem ingestão de álcool” (0,9 ± 0,8 vs. 1,3± 1,0; P=0.025).

Sexo Masculino Sexo Feminino

1º momento 2ºmomento

momento

2ºmomento

Variáveis Média DP Média DP p Média DP Média DP p

Qualidade subjetiva

do sono 1,3

0,5 1,0 1,0 0,317 1,2

0,8 1,0 0,7 0,594

Latência do sono 1,5 1,0 0,5 1,1 0,046 1,2 0,9 0,9 0,9 1,000

Duração do sono 0,0 0,0 0,3 0,3 0,317 0,1 0,3 0,3 0,6 0,157

Eficiência do sono 3,0 0,0 3,0 3,0 1,000 3,0 0,0 3,0 0,0 1,000

Distúrbios do sono 1,3 0,5 1,0 1,2 0,317 1,3 0,6 1,2 0,7 0,564

Uso de medicação para dormir

0,0 0,0 0,0 0,6 1,000 0,4 0,6 0,4 0,9 1,000

Sonolência e disfunções diurnas

0,8 0,5 1,5 1,3 0,083 1,3 0,9 1,4 0,8 1,000

Qualidade do Sono - Global

7,8 1,0 7,3 2,2 0,495 8,7 3,0 8,2 3,2 0,917

40

Tabela 12 Caraterização da sonolência diurna, independentemente do sexo, no

primeiro momento (antes da intervenção) e segundo momento (após

intervenção), pelos dados do ESS.

Na tabela 13 estão apresentados os valores da sonolência diurna antes da

intervenção e após a intervenção, consoante o género. As variáveis no sexo

feminino “sentado a conversar” (0,0±0,0 vs. 0,4 ± 0,5; P=0.046) e “sentado a

seguir ao almoço, sem ingestão de álcool” (1,0 ± 0,7 vs. 1,4± 1,0; P=0.046).

Tabela 13 Caraterização da sonolência diurna, dependente do sexo, no primeiro

momento (antes da intervenção) e segundo momento (após intervenção), pelos

dados do ESS.

ESS Geral

1º momento 2ºmomento

Variáveis Média DP Média DP p

Sentado a ler 1,3 1,1 1,2 1,0 1,000

Ver TV 1,8 1,0 1,8 1,0 0,861

Sentado, lugar público 1,2 1,1 1,3 1,1 0,480

Viajar de carro 1h 1,9 0,9 2,1 0,8 0,317

Deitado a descansar 2,4 0,8 2,3 0,9 0,564

Sentado a conversar 0,0 0,0 0,3 0,5 0,046

Sentado a seguir ao almoço, sem ingestão de álcool 0,9 0,8 1,3 1,0 0,025

No carro, no trânsito 0,4 0,5 1,0 1,2 0,062

Sonolência diurna total 9,9 3,3 11,3 5,1 0,148

Sexo Masculino Sexo Feminino

1º momento 2ºmomento

momento

2ºmomento

Variáveis Média DP Média DP p Média DP Média DP p

Sentado a ler 0,8 1,0 1,0 0,8 0,391 1,6 1,1 1,3 1,1 0,622

Ver TV 1,3 1,0 1,0 0,8 0,638 2,0 1,0 2,1 1,0 0,854

Sentado, lugar público 0,5 1,0 1,0 1,4 0,157 1,4 1,0 1,4 1,0 1,000

Viajar de carro 1h 1,3 1,0 1,8 0,5 0,157 2,2 0,7 2,2 0,8 1,000

Deitado a descansar 2,0 1,2 2.3 1,0 0,317 2,6 0,5 2,3 0,9 0,157

Sentado a conversar 0,0 0,0 0,0 0,0 1,000 0,0 0,0 0,4 0,5 0,046

Sentado a seguir ao almoço, sem ingestão de álcool

0,8 1,0 1,0 0,8 0,317 1,0 0,7 1,4 1,0 0,046

No carro, no trânsito 0,0 0,0 0,3 0,5 0,317 0,6 0,5 1,3 1,2 0,083

Sonolência diurna total 6,5 3,1 8,3 2,9 0,102 11,33 2,2 12,7 5,5 0,440

41

6. Discussão

Este estudo teve como objetivo analisar o impacto de um programa de

treino em circuito de alta intensidade na qualidade do sono em adolescentes com

excesso de peso. Os nossos resultados sugerem que o nosso programa de

exercício foi capaz de melhorar a latência do sono, mas apenas nos rapazes.

Quanto à sonolência diurna, não verificamos influência positiva do programa de

treino, com o grupo das raparigas a apresentarem aumento da sonolência diurna

nas circunstâncias “sentado a conversar” e “sentado a seguir ao almoço, sem

ingestão de álcool”.

De um modo geral, a literatura científica sustenta na ideia que a atividade

física pode ser uma ferramenta importante na promoção de uma boa higiene do

sono (Driver & Taylor, 2000). Apesar disso, não há ainda consenso sobre o

melhor tipo e intensidade de exercício para potenciar esses benefícios (Kredlow

et al., 2015). Adicionalmente, a literatura tem-se focado especialmente na

população atleta, não sendo abundante a evidencia científica relativamente a

outros grupos populacionais, nomeadamente em indivíduos com excesso de

peso. Num estudo recente, realizado por Mendelson et.al. (2016), foi avaliado o

impacto do treino combinado na melhoria da duração e qualidade do sono em

adolescentes obesos comparativamente a normoponderais. Os resultados deste

estudo demonstraram aumento da duração do sono e aumento da qualidade do

sono (Mendelson et al., 2016).Outro estudo com adolescentes, comparando

atletas e não atletas, avaliou o impacto do exercício vigoroso crónico no sono.

Também estes dados comprovaram a relação positiva com o sono e

funcionamento psicológico dos adolescentes (Brand et al., 2010). No nosso

estudo, apenas encontramos melhoria significativa na latência do sono no sexo

masculino, avaliado através do questionário PSQI. Esta observação corrobora

outros estudos anteriores que demonstram que existe uma melhoria da latência

do sono com o treino em adolescentes saudáveis com peso normal (Åkerstedt &

M Nilsson, 2003; Dworak et al., 2008; Kubitz et al., 1996).

42

Curiosamente, verificamos um aumento da sonolência diurna nos casos

de “sentado a conversar” e “sentado a seguir ao almoço, sem ingestão de álcool”

no grupo das raparigas através da análise do questionário ESS. O nosso estudo

não permite esclarecer se este resultado se deve às propriedades do programa

(ex: elevada intensidade) ou, por exemplo, aos comportamentos no tempo que

antecede a hora de dormir. Eliacik e colaboradores mostraram recentemente que

os adolescentes com excesso de peso ou obesos apresentaram mais propensão

para utilização da Internet à noite, bem como maior dependência, o que poderá

refletir-se na maior sonolência diurna (Eliacik et al., 2016). Embora não tendo

sido significativo, verificamos uma diminuição do tempo de sono. A curta duração

do sono e a utilização de tecnologias até horas tardias pode ter condicionado um

sono não restaurador e consequentemente a um aumento da sonolência nas

tarefas diárias.

Existem vários fatores, que merecem consideração, que poderão ter

influenciado os resultados obtidos. Primeiramente, o numero reduzido da nossa

amostra, que foi condicionado principalmente pela elevada taxa de abandono do

programa. De facto, uma das dificuldades que encontramos com este programa

de 8 meses foi precisamente manter a adesão dos participantes. Em segundo,

não houve possibilidade de incluir um grupo controlo, sendo que cada

participante foi controlo de si mesmo. Em terceiro, reconhecemos que nestas

condições, a utilização de métodos indiretos para avaliação da qualidade do

sono e da sonolência diurna poderão estar condicionados, não tendo

possivelmente sido capazes de detetar diferenças de menor magnitude. Por fim,

é necessário ter em consideração que não efetuamos controlo rigoroso de

comportamentos de risco que influenciam a hora de deitar (ex: utilização de

internet).

43

7. Conclusão

O presente estudo não permite esclarecer com certeza qual o impacto de

programa de exercício físico em circuito de alta intensidade na qualidade do sono

de adolescentes com excesso de peso.

44

45

8. Bibliografia

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51

ANEXOS

9.1. Questionário PSQI (Versão Adaptada)

As seguintes questões são referentes aos hábitos de sono durante o último mês.

As tuas respostas devem indicar o que aconteceu, o mais corretamente possível,

na maioria dos dias do mês passado. Por favor, responde a todas as questões.

1) Durante o último mês, a que horas te deitaste à noite na maioria das vezes?

Horário de deitar: ______________

2) Durante o último mês, quanto tempo (em minutos) demoraste para adormecer, na maioria das vezes?

Quantos minutos demoraste para adormecer: _______________

3) Durante o último mês, a que horas acordaste de manhã, na maioria das vezes?

Horário de acordar: ______________

4) Durante o último mês, quantas horas de sono dormiste por noite?

Horas de sono por noite: _______________

Para cada uma das questões seguintes, escolhe a resposta (uma) que achas mais correta.

5) Durante o último mês, com que frequência tiveste dificuldade em

adormecer porque:

a) Não conseguiste adormecer em 30 minutos.

Nenhuma no último mês Menos de uma vez/semana 1 ou 2 vezes/semana 3 ou mais vezes por semana

b) Acordaste a meio da noite ou de manhã cedo.

Nenhuma no último mês Menos de uma vez/semana 1 ou 2 vezes/semana 3 ou mais vezes por semana

52

c) Precisaste de ir à casa de banho.

Nenhuma no último mês Menos de uma vez/semana 1 ou 2 vezes/semana 3 ou mais vezes por semana

d) Não conseguiste respirar confortavelmente.

Nenhuma no último mês Menos de uma vez/semana 1 ou 2 vezes/semana 3 ou mais vezes por semana

e) Tossiste ou ressonaste.

Nenhuma no último mês Menos de uma vez/semana 1 ou 2 vezes/semana 3 ou mais vezes por semana

f) Sentiste muito frio.

Nenhuma no último mês Menos de uma vez/semana 1 ou 2 vezes/semana 3 ou mais vezes por semana

g) Sentiste muito calor.

Nenhuma no último mês Menos de uma vez/semana 1 ou 2 vezes/semana 3 ou mais vezes por semana

h) Tiveste pesadelos.

Nenhuma no último mês Menos de uma vez/semana 1 ou 2 vezes/semana 3 ou mais vezes por semana

i) Tiveste dor.

Nenhuma no último mês Menos de uma vez/semana 1 ou 2 vezes/semana 3 ou mais vezes por semana

53

j) Outra(s) razão(ões), por favor descreve:

j.1) com que frequência tiveste dificuldade em dormir devido a essa razão.

Nenhuma no último mês Menos de uma vez/semana 1 ou 2 vezes/semana 3 ou mais vezes por semana

6) Durante o último mês, como classificarias a tua qualidade de sono de uma

maneira geral?

Muito boa Boa Má Muito Má

7) Durante o último mês, com que frequência tomaste medicação (prescrito

ou por vontade própria) para te ajudar a dormir?

Nenhuma no último mês Menos de uma vez/semana 1 ou 2 vezes/semana

3 ou mais vezes por semana

8) Durante o último mês, com que frequência tiveste dificuldade em manter-

te acordado enquanto dirigias, comias ou participavas numa atividade

social (festa, reunião de amigos, trabalho, estudo)?

Nenhuma no último mês Menos de uma vez/semana 1 ou 2 vezes/semana

3 ou mais vezes por semana

9) Durante o último mês, o quão problemático foi para ti manter o entusiasmo

(ânimo) para fazer as coisas (atividades habituais)?

Nenhuma dificuldade Um problema leve Um problema razoável Um problema muito grande

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9.2. Questionário ESS

Qual a probabilidade de adormecer e não apenas sentir cansaço? Considera o

estilo de vida que tens levado recentemente. Mesmo que não tenhas feito

algumas destas coisas recentemente, tenta imaginar como te afetariam.

Escolhe o número mais apropriado para responder a casa questão: 0 = nunca

adormeceria, 1 = pequena probabilidade de adormecer, 2 = probabilidade média

de adormecer, 3 = grande probabilidade de adormecer.

Situação 0 1 2 3 Sem resposta

Sentado a ler

Ver televisão

Sentado, quieto, num local público (por ex: numa reunião,

teatro ou palestra)

Viajar de carro durante uma hora sem parar como passageiro

Deitado para descansar durante a tarde quando as

circunstâncias permitem.

Sentado a conversar com alguém.

Sentado, quieto, a seguir ao almoço sem ingestão de álcool.

Num carro parado no trânsito por alguns minutos.

55

9.3. Interpretação questionário PSQI

56

57