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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA Impactos da participação de pessoas em Cooperativas Populares de Trabalho sobre outras esferas de sua vida Emileane Costa Assis de Oliveira Monografia apresentada ao Departamento de Psicologia da Universidade Federal de São Carlos como parte dos requisitos exigidos para obtenção do título de Bacharel em Psicologia, sob orientação da Profa. Dra. Ana Lúcia Cortegoso. -São Carlos- Dezembro de 2004

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

Impactos da participação de pessoas em Cooperativas Populares de Trabalho sobre outras esferas de sua vida

Emileane Costa Assis de Oliveira

Monografia apresentada ao Departamento de Psicologia da Universidade Federal de São Carlos como parte dos requisitos exigidos para obtenção do título de Bacharel em Psicologia, sob orientação da Profa. Dra. Ana Lúcia Cortegoso.

-São Carlos- Dezembro de 2004

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...... às minhas queridas amigas:

Elaine, Daniela, Vanessa, Marcela e Thaís que sempre estiveram presentes em todos os

momentos durante os anos de faculdade e sem dúvida contribuíram para este trabalho.

...... Sentirei saudades!

...... à Ana Lúcia,

pelo modelo de profissional e de dedicação ao trabalho;

pela enorme paciência e compreensão que demonstrou comigo em muitos momentos

e por todas oportunidades de aprendizagem que me proporcionou neste e em muitos outros

trabalhos ao longo dos anos de graduação.

..... às cooperadas e seus familiares,

que com dedicação, compreensão, respeito e carinho compartilharam comigo um pouco de

suas vidas, tornando possível este trabalho.

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ÍNDICE

Resumo ................................................................................................................................05

Capítulo I. Impactos da participação de pessoas em cooperativas populares de trabalho

sobre outras esferas de sua vida............................................................................................06

Capítulo II. Identificação de impactos decorrentes da participação de pessoas em um

empreendimento solidário: coleta e análise de dados...........................................................12

- Participantes.....................................................................................................12 - Instrumentos e Materiais...................................................................................12

- Local..................................................................................................................12

- Informações obtidas: Sobre a participação do indivíduo no empreendimento

cooperativo........................................................................................................13

- Informações obtidas: Sobre impactos da participação no grupo cooperativo em

outras esferas da vida destes participantes......................................................14

- Procedimento de coleta de dados.....................................................................14

- Procedimento de análise dos dados..................................................................15

Capítulo III. Mudanças ocorridas em diferentes esferas da vida de membros de um

empreendimento solidário a partir da inserção no grupo: ocorrência e caracterização do

ponto de vista dos próprios membros....................................................................................24

Capítulo IV. Situações para as quais houve generalização de comportamentos aprendidos

ao participar de cooperativa, do ponto de vista dos cooperados...........................................35

- IVi. Indicadores Positivos e Negativos de impacto da generalização de

condutas aprendidas na participação de cooperados em um Empreendimento

Solidário............................................................................................................37

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Capítulo V. Mudanças ocorridas em diferentes esferas da vida de membros de um

empreendimento solidário a partir da inserção no grupo: ocorrência e caracterização do

ponto de vista dos familiares dos cooperados.......................................................................44

Capítulo VI. Conseqüências da participação em um empreendimento solidário: impactos

positivos na vida de cooperados............................................................................................69

- VIi. Dados que indicam a ocorrência de mudanças na vida do cooperado em

função da participação em uma cooperativa de trabalho: Visão dos

Cooperados.......................................................................................................69

- VIii. Dados que indicam a ocorrência de mudanças na vida do cooperado em

função da participação em uma cooperativa de trabalho: Visão dos Familiares

e Amigos............................................................................................................74

- VIiii. Dados que indicam a generalização de comportamentos adquiridos no

âmbito cooperativista para outras esferas da vida de cooperados: Facilitações

decorrentes de generalização de condutas.......................................................77

- VIiv. Dados que indicam a generalização de comportamentos adquiridos no

âmbito cooperativista para outras esferas da vida de cooperados: Conflitos

decorrentes de generalização de condutas.......................................................78

- Crítica Metodológica: Limitações do estudo impostas pelo método de coleta de

informações......................................................................................................79

- Decorrência dos dados ao Grupo Solidário e à Economia Solidária..............80

Referências Bibliográficas..................................................................................................81

Apêndices.............................................................................................................................83

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RESUMO

No âmbito de uma organização solidária são esperados, da parte de seus membros,

comportamentos compatíveis com a proposta cooperativista. Entretanto, estes

empreendimentos, e as pessoas que deles participam, estão inseridas em uma sociedade

capitalista cujos princípios e comportamentos selecionados e mantidos são, em geral, bem

diferentes. A confrontação entre essas duas situações pode gerar necessidades de mudança

na vida de pessoas, uma vez que, ao entrar em contato com um novo ambiente, estes

indivíduos podem deparar-se com novas exigências comportamentais, inclusive

contraditórias. O impacto da participação em cooperativas populares de trabalho pode

acontecer sobre diferentes “esferas” da vida social da pessoa (família, comunidade etc.), ou

seja, ao entrar nesse tipo de organização as pessoas podem ou não estender a outros lugares

certos comportamentos adquiridos nesse ambiente. O objetivo deste trabalho foi identificar

possíveis impactos da participação de pessoas em empreendimentos solidários sobre outras

esferas de sua vida. Participaram deste estudo 32 pessoas, sendo 16 delas membros de um

grupo cooperativista e a coleta de dados foi feita por meio de entrevistas, uma com o

cooperado e outra com um parente/amigo indicado pelo membro. A análise dos resultados

aponta para a ocorrência de mudanças na vida da pessoa em função da participação no

grupo, sendo estas consideradas positivas tanto pelo cooperado quanto por seu familiar ou

amigo entrevistado. A maioria dessas mudanças ocorreram na maneira das pessoas se

comportarem, apresentando-se mais comunicativas, compreensivas, tolerantes, organizadas

em casa, participativas em atividades; além de estarem mais calmas, felizes e adoecendo

menos, de acordo com relatos. Estes relatam ainda o aumento das relações de amizade e da

freqüência de atividades fora de casa, envolvendo o cooperado. No geral, a qualidade do

relacionamento com a família melhorou desde a inserção no grupo. Entretanto, a maior

parte dos conflitos relatados aparecem nesse âmbito, à medida em que o tempo reduzido em

casa, em função das atividades na cooperativa, gera reclamações dos familiares. Constatou-

se, porém, que apesar de alguns conflitos, o desenvolvimento de novos repertórios

comportamentais relacionados à participação no empreendimento solidário mostra-se

importante não apenas para a adaptação do membro ao ambiente no qual inseriu-se, mas

estes novos comportamentos também são capaz de generalizar-se para outras esferas,

acarretando melhoras na vida da pessoa.

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CAPÍTULO I - IMPACTOS DA PARTICIPAÇÃO DE PESSOAS EM

COOPERATIVAS POPULARES DE TRABALHO SOBRE OUTRAS ESFERAS DE

SUA VIDA

O capitalismo é o modo de produção em que os meios para produzir e distribuir,

assim como o trabalho, tornam-se mercadorias, apropriadas privadamente, sendo que os

meios de produção tornam-se capital à medida que se concentram nas mãos de uma

minoria, enquanto a maioria se limita à posse de sua capacidade individual de trabalho

(Singer, 2000, p.11). Desse modo, a aplicação dos princípios capitalistas alcança, como

resultado natural, a desigualdade e a competição. Em decorrência disso, ao longo do

desenvolvimento capitalista, uma característica fundamental desse modo de produção foi o

aproveitamento incompleto da capacidade de trabalho do proletariado, ou seja, o que Marx,

segundo Singer (2000, p.12), chamou de “exército industrial de reserva”, gerando o

elemento estrutural do capitalismo, que é o desemprego.

Em meio às desigualdades crescentes provocadas pelo capitalismo surge, então, a

economia solidária como modo de produção e distribuição alternativo ao capitalismo,

criado e recriado periodicamente pelos que se encontram (ou temem ficar) marginalizados

do mercado de trabalho. De acordo com Singer (2002, p.18), os princípios básicos da

economia solidária são a propriedade coletiva ou associada do capital e o direito à liberdade

individual. A aplicação desses princípios une todos os que produzem numa única classe de

trabalhadores que são possuidores de capital por igual em cada cooperativa ou sociedade

econômica. Sendo assim, o resultado natural é a solidariedade e a igualdade.

O modo solidário de produção e distribuição tem como unidade típica a cooperativa

de produção, cujos princípios organizadores são posse coletiva dos meios de produção

pelas pessoas que as utilizam para produzir; gestão democrática da empresa ou por

participação direta (quando o número de cooperadores não é demasiado) ou por

representação; repartição da receita líquida entre os cooperadores por critérios aprovados

após discussões e negociações entre todos e destinação do excedente anual (denominado

“sobras”) também por critérios acertados entre todos os cooperadores (Singer, 2000, p.13).

Dessa forma, o cooperativismo como sistema e as cooperativas como a unidade

econômica e espaço de convívio têm um pensamento que procura construir uma nova

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maneira de processar a economia baseando-se no trabalho, na ajuda mútua, nos valores e

necessidades humanas e não no lucro, na concorrência e competição, na acumulação

individual do dinheiro ou na exploração do trabalho de pessoas. Para tanto, o

cooperativismo visa, segundo Veiga & Fonseca (2001, p. 20), ao aprimoramento do ser

humano em todas as suas dimensões - social, econômica e cultural -, preocupa-se com a

qualidade de seus produtos e serviços, busca o preço justo e construir uma sociedade mais

eqüitativa, democrática e sustentável. O cooperativimo mostra-se, portanto, quando

referente a organizações humanas e modo de produção do trabalho, como o sistema mais

adequado, participativo, justo, democrático e indicado para atender às necessidades e aos

interesses específicos dos trabalhadores, ou seja, como melhor salienta Veiga & Fonseca

(2001), “é o sistema que propicia o desenvolvimento integral do indivíduo por meio do

coletivo” (pg. 17).

A construção de cooperativas é um processo que envolve inúmeros investimentos

por parte dos seus realizadores para seu real funcionamento. Em relação aos membros de

uma cooperativa, ou seja, seus cooperados, é possível afirmar que, no que se refere a

condutas humanas, alguns comportamentos compatíveis a uma proposta cooperativista são

esperados no âmbito dessa organização, dentre eles os denominados como cooperação. A

ocorrência desses comportamentos é um aspecto importante em grupos que trabalham para

atingir o bem-comum. Entretanto, vivendo em uma sociedade capitalista, em que a

competição está claramente presente no cotidiano das pessoas, e, a todo momento,

comportamentos de competitividade são reforçados, os quais afastam-se muito dos

princípios cooperativistas, a confrontação entre essas duas situações pode gerar conflitos na

vida de pessoas que se inserem nesse meio, denominado mais amplamente como economia

solidária.

De acordo com Sato (1999, p. 220), é possível entender uma organização, tal como

é a cooperativa, como um processo social movido pela interação de pessoas, pelo conflito e

pela harmonia, na qual está usualmente presente grande diversidade de interesses:

subjetivos, sociais, econômicos e políticos. O conflito se dará, segundo esta perspectiva,

pois interesses diferentes e até mesmo contraditórios são colocados sempre frente a frente,

assim como a harmonia, pois interesses semelhantes e comuns também são compartilhados.

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Com isso, o motor nuclear dessas interações seria o binômio cooperação-confrontação

(Sato, 1999, p. 221).

Para Sato (1999), é esse binômio que explica situações inusitadas, em que pessoas

que defendem interesses diferentes, e até mesmo contraditórios, aliam-se e desenham

movimentos cooperativos, como também pessoas que se dispõem a partilhar de uma

construção comunitária enfrentam-se e podem impedir que o projeto siga em frente.

Existem também, segundo a autora, pessoas que ora defendem e ora atacam os mesmos

interesses e objetivos, e isso pode ser compreendido pelo fato de as pessoas mudarem de

posição em relação ao coletivo continuamente, sendo que posições definem interesses. É o

chamado “deslocamento de posições”.

Em uma perspectiva comportamental, a ocorrência de possíveis conflitos

decorrentes da confrontação entre essas duas situações (ambiente usual versus meio

cooperativista) pode ser explicada porque as pessoas, ao entrarem em contato com um novo

ambiente, ou seja, um tipo de ambiente com o qual nunca tiveram contato prévio ou ao qual

ainda não estão acostumadas, podem sofrer impactos em sua vida – e particularmente em

seu repertório comportamental – relacionados às novas exigências que estes ambientes

impõem, exigências estas que podem ser de diferentes ordens e tipos. Tendo isso em vista,

isso ocorrerá também quando falamos da participação de pessoas em atividades, trabalhos

ou organizações nesse novo ambiente, o que pode gerar impactos de diferentes tipos e

naturezas.

Quando indivíduos que nunca estiveram em contato com um ambiente de trabalho

cooperativista ingressam nesse meio, as relações de trabalho sofrem algumas alterações em

relação ao modo como estavam organizadas em outros ambientes (não cooperativos). São

estabelecidas novas contingências comportamentais para determinadas situações e outros

comportamentos são requeridos, alguns até que podem não fazer parte de seu repertório

habitual, ou mesmo serem incompatíveis com o repertório desenvolvido em sua história de

vida. Cooperar na realização de tarefas; ajudar na resolução de problemas do grupo;

aprender a ouvir; engajar-se em atividades sociais e políticas; tomar decisões; debater

objetivos e metas de interesse coletivo; participar ativamente de atividades do grupo e

respeitar decisões tomadas pela maioria são alguns dos comportamentos que os indivíduos

devem desenvolver no âmbito de uma cooperativa popular de trabalho. Tudo isso pode

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gerar impactos na vida das diferentes pessoas envolvidas, do indivíduo que é submetido às

novas condições aos que convivem com ele em outros ambientes que não o grupo

cooperativo, assim como também para os membros deste grupo.

O impacto da participação em cooperativas populares de trabalho, por sua vez, pode

dar-se sobre outras esferas da vida social da pessoa, ou seja, ao entrarem nesse tipo de

organização as pessoas podem ou não estender a outros lugares certos comportamentos

adquiridos no ambiente cooperativista. Quando é possível observar a apresentação de

comportamentos similares àqueles instalados e mantidos no ambiente cooperativo, em

outros ambientes diferentes, pode estar ocorrendo um processo de generalização destas

condutas; por outro lado, quando os comportamentos promovidos no âmbito de um grupo

cooperativo restringem-se a este ambiente, é possível considerar que esteja ocorrendo um

processo de discriminação entre os dois tipos de situações.

Generalização e Discriminação: processos comportamentais

Generalização, segundo Catania (1999), é a difusão dos efeitos de reforço (ou de

outras operações como a extinção ou a punição) durante um estímulo, para outros estímulos

que diferem do original ao longo de uma ou mais dimensões. Se o responder é similar

durante dois estímulos diferentes, diz-se que o organismo generaliza entre eles. Se o

responder é idêntico durante estímulos diferentes, a generalização entre eles é completa

(ausência de discriminação).

A discriminação e a generalização de comportamentos adquiridos no âmbito

cooperativista quando da participação de pessoas em cooperativas populares de trabalho

podem, portanto, gerar impactos sobre outras esferas da vida social de pessoas. Alguns dos

possíveis impactos podem dar-se do ponto de vista da interação com outras pessoas,

havendo conflitos ou uma melhora na relação com os outros, pelo aumento da interação

com os membros da família, da comunidade e com companheiros de trabalho em um

eventual segundo emprego. Impactos para própria pessoa também podem surgir, na forma

de conflitos pessoais; na melhora da relação da pessoa consigo mesma; no desenvolvimento

de referências diferentes; na compreensão de aspectos da vida e na maneira de lidar com o

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mundo. Ainda outros impactos podem ser referentes à participação em atividades

comunitárias, políticas, em iniciativas sociais, e nas opções políticas dessas pessoas que

participam ou participaram do processo cooperativista.

Um estudo conduzido por Rosalind Barnett (2002), mostrando os benefícios que o

trabalho acarreta à família e vice-versa, indica que homens com relacionamentos positivos

e gratificantes em casa estão protegidos do estresse psicológico que eles experienciariam

quando suas situações de trabalho estão problemáticas. O estudo indica, ainda, que quanto

mais o marido está envolvido na criação dos filhos, melhor é seu bem estar psicológico e

mais alta é a avaliação que a esposa faz do casamento.

Isso mostra que pode existir uma relação boa entre esses dois âmbitos, pois alguns

comportamentos que são adquiridos no ambiente familiar, como cuidar dos filhos e ter uma

boa relação com a esposa, podem de certa forma ser generalizados para o ambiente de

trabalho, à medida que esses comportamentos diminuem os estressores do trabalho, ou seja,

à boa relação em casa corresponde uma igualmente boa relação no ambiente de trabalho.

Ter uma boa relação no ambiente familiar significa saber lidar com problemas, como por

exemplo com filhos, problemas financeiros, com a esposa, e para isso é necessário alguns

requisitos como paciência, capacidade de conciliação, argumentação, saber escutar. Sendo

assim, tendo essas habilidades, desenvolvidas no âmbito doméstico, a pessoa pode

generalizá-los para seu ambiente de trabalho, fazendo com que o estresse desse ambiente,

que é por sua vez causado pela ausência do que foi citado, seja diminuído. Desse modo, o

conflito que seria gerado pelo confronto desses dois âmbitos, trabalho e família, é

diminuído, ou acaba desaparecendo.

Em um outro estudo, realizado no Brasil por Seidl (1991) e relatado por Seidl e

Oliza (1997), teve como objetivo investigar o processo compartilhado de soluções

construídas para tarefas específicas e o tipo de interação envolvida, comparando-os com as

estratégias usadas nas soluções individuais de crianças do um ano de idade. Em tarefas

envolvendo a compreensão de procedimentos de LOGOS foi observado que as crianças

discutiram abertamente, negociaram e construíram um significado comum para a tarefa,

mas elas não agiram desse modo quando as tarefas foram de natureza diferente. Assim, a

interação e a aprendizagem cooperativa parecem ser facilitadas pelo tipo de tarefa e são

possíveis na parceria com o computador.

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Tendo em vista que a participação de pessoas em cooperativas populares de trabalho

gera impactos em outras esferas da vida social dessas pessoas, o presente trabalho

pretendeu investigar se existem, e quais são os tipos de impactos, em suas diferentes

dimensões, decorrentes da participação de pessoas em cooperativas de trabalho, em esferas

da vida destas pessoas que fazem parte deste tipo de empreendimento.

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CAPÍTULO II - IDENTIFICAÇÃO DE IMPACTOS DECORRENTES DA

PARTICIPAÇÃO DE PESSOAS EM UM EMPREENDIMENTO SOLIDÁ RIO:

COLETA E ANÁLISE DE DADOS

Participantes

Participaram deste estudo 16 membros de um grupo de trabalho com proposta de

organização cooperativa, atendido pontualmente pela por uma incubadora universitária de

cooperativas populares, e instalado em uma cidade de médio porte do interior do estado de

São Paulo, bem como familiares ou amigos indicados por cada um dos cooperados

participantes, totalizando 16 pessoas.

Instrumentos e materiais

Foram utilizados como instrumentos de coleta de dados dois roteiros de entrevistas,

uma realizada com os cooperados e outra com um familiar/amigo indicado por eles. Nesse

roteiro havia perguntas específicas e questões gerais, a partir das quais puderam ser

desenvolvidos diálogos com os participantes a respeito de assuntos “chave”, isto é, aqueles

sobre os quais o experimentador queria obter informações. As entrevistas foram feitas

individualmente com cada participante e em local privado. Os roteiros utilizados podem ser

observados nos Apêndices 1 e 2.

Foi utilizado um gravador para o registro das entrevistas feitas com os cooperados e

familiares a fim de se obter maior fidedignidade do tratamento dos dados obtidos. O uso do

gravador, bem como a participação no estudo foram autorizados pelos participantes,

conforme termo de consentimento livre e esclarecido, que podem ser vistos no Apêndice 3.

Local

A coleta de dados com os membros cooperados deu-se no próprio ambiente de

trabalho dos cooperados - a cooperativa - em um local reservado e com o menor ruído

possível, para que o cooperado se sentisse à vontade durante a condução da entrevista pela

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pesquisadora. As entrevistas com os familiares e amigos deram-se em local escolhido por

estes: ambiente familiar, de trabalho ou na própria cooperativa. Nestes locais

permaneceram apenas a entrevistada e a entrevistadora, sendo desta forma garantida a

privacidade dos entrevistados e minimizadas as influências de estímulos externos sobre

suas respostas.

Informações obtidas

Sobre a participação do indivíduo no empreendimento cooperativo:

Foram utilizados critérios mínimos, estabelecidos pela pesquisadora, para a seleção

dos cooperados que participaram do estudo. Um dos critérios consistiu em um tempo

mínimo de inserção no grupo (seis meses), visando garantir que o cooperado possuísse uma

efetiva participação no contexto cooperativo, capaz de ter produzido condutas específicas,

compatíveis a este contexto.

Outro critério utilizado como pré-requisito para a participação no estudo foi a

presença, no cooperado, de um repertório comportamental compatível com os princípios

cooperativistas, tais como: freqüência mínima a reuniões do grupo, participação em

atividades de trabalho ou de apoio no grupo, relação com o grupo etc. Essas informações

foram obtidas por meio de perguntas específicas presentes na primeira parte do roteiro de

entrevista.

Sobre impactos da participação no grupo cooperativo em outras esferas da vida destes

participantes:

Tendo sido assegurada a presença, no repertório do indivíduo, de comportamentos

indicativos de uma efetiva participação no grupo cooperativista (comportamentos

compatíveis com os princípios cooperativistas), desenvolvidos em função de sua exposição

a esta condição de trabalho cooperativo, foram obtidas informações sobre os impactos deste

novo repertório comportamental sobre outros contextos da vida destes participantes, quanto

à:

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1) aquisição de comportamentos novos nestes outros contextos, ou seja, que não

faziam parte de seu repertório de entrada ao ingressar na cooperativa;

2) eliminação ou enfraquecimento de comportamentos que faziam parte de seu

repertório de entrada na cooperativa, ou seja, o abandono de comportamentos

que estavam presentes quando do ingresso na cooperativa;

3) mudanças no tipo e qualidade de interação com membros fora do grupo, ou seja,

fora do ambiente cooperativista: na comunidade, família, etc...

4) mudanças em termos de participação em atividades fora do ambiente

cooperativista: participação em iniciativas sociais, em atividades junto à família,

comunidade, atividades políticas, etc..

5) dificuldades e melhorias observadas na interação destes indivíduos com pessoas

e situações presentes em outras esferas de sua vida a partir da inserção no grupo

cooperativo,

6) alcance de comportamentos adquiridos no âmbito do grupo cooperativo para

outras esferas de sua vida e suas decorrências (transferência para outros

contextos, limitação a contextos específicos etc.)

Procedimento de coleta de dados

A primeira entrevista foi feita com os membros da cooperativa e buscava

informações relativas à participação do indivíduo no empreendimento solidário e à

eventuais impactos da participação no grupo cooperativo em outras esferas da vida deste

participante, segundo a visão dele próprio (Apêndice 1). A entrevista conduzida pela

experimentadora era composta por duas partes; na primeira, havia um conjunto de

perguntas com relação às condições mínimas requeridas para a participação no estudo e, na

segunda parte da entrevista, questões relativas aos impactos da participação em uma

cooperativa.

Outras fontes de dados para obtenção de informações sobre eventuais impactos do

novo repertório comportamental sobre outras esferas da vida destes participantes, foram

relatos de indivíduos que fazem parte de outras situações que não as da cooperativa, como

familiares, amigos, membros da comunidade etc. indicados pelo próprio cooperado. Isso

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também foi feito por meio de uma entrevista formulada e conduzida pelo experimentador

(Apêndice 2). As informações obtidas junto a estes indivíduos referem-se à: aquisição,

eliminação ou enfraquecimento de comportamentos; mudanças no tipo e qualidade de

interação com membros fora do grupo e também em termos de participação fora do

ambiente cooperativista; dificuldades e melhorias observadas na interação com pessoas e

situações presentes em outras esferas de sua vida e ainda quanto ao alcance de

comportamentos adquiridos no âmbito do grupo cooperativo para essas esferas.

O acesso às pessoas que faziam parte das outras esferas da vida social dos

cooperados (familiares, amigos, membros da comunidade etc.) foi feito mediante

autorização concedida pelo participante da pesquisa (Apêndice 3). A própria participação

destes cooperados assim como dos membros das “outras esferas” também foram realizados

mediante autorização dos respectivos participantes (Apêndice 3).

Procedimento de análise dos dados

As informações geradas por meio das entrevistas foram sistematizadas construindo-

se categorias para o agrupamento dos tipos de mudanças relatados por cooperados e

familiares. Cada tipo de mudança recebeu um valor atribuído (Por exemplo: maior

capacidade; aumento/diminuição; aumento/redução da freqüência etc.) que caracteriza a

natureza da mudança apontada pelo cooperado (positiva ou negativa). As mudanças

positivas, sinalizadas por um sinal “(+)”, referem-se a melhorias na vida do cooperado

desde que este inseriu-se no grupo solidário, enquanto a indicação “(-)” indica que houve

piora/conflito decorrente da mudança ocorrida. As categorias construídas a partir dos

depoimentos foram:

1) Relações Humanas

Nesta categoria encontram-se indicações de mudanças apontadas por membros

cooperados e seus parentes referentes ao relacionamento interpessoal cooperado-cooperado

e cooperado-familiar. Foram incluídas nesta categoria mudanças comportamentais (novos

comportamentos ou propriedades dos comportamentos considerados) ocorridas na vida do

cooperado desde a entrada no grupo solidário ao relacionar-se com outras pessoas.

16

Desse modo, a categoria “relações humanas” abrange mudanças como a maior

capacidade do membro de conviver com pessoas diferentes em um grupo; de compreender

e aprender com o outro; de reconhecer diferenças e pensar em grupo; de ser flexível,

sensível ao outro; brincar com as pessoas e de adaptar-se à situações diferentes. Foram

incluídas, também, como mudanças em termos de relações humanas: aumento da

freqüência por parte do cooperado em atentar ao que o outro diz; cooperar e compartilhar

as coisas com os outros; aumento ou diminuição das relações de amizade e uma diminuição

da freqüência de julgar os outros. Os tipos de mudanças foram definidos a partir do modo

como foi relatado pelo cooperado/familiar, resultando nas seguintes classes de

comportamentos ou variáveis:

- Conviver com pessoas diferentes em um grupo: capacidade da pessoa de

conviver bem/ de maneira agradável, sem conflitos, em um ambiente de grupo

onde existem pessoas “diferentes”, ou seja, que não faziam parte de seu círculo

de amizade ou trabalho habituais;

- Compreender o outro: capacidade do indivíduo de compreender aquele com

quem convive no ambiente de trabalho/familiar, acolhendo, colocando-se na

situação do outro etc;

- Aprender com o outro: capacidade do indivíduo em aprender com aqueles com

quem convive, por meio de ensinamentos, relatos de experiência de vida (ex:

problemas passados) que lhes são relatados;

- Reconhecer diferenças: capacidade do indivíduo em discriminar que cada

pessoa se comporta de uma certa maneira e os comportamentos apresentados

por elas podem ser diferentes daqueles apresentados por si próprio, como

também diferentes de pessoa para pessoa. Desse modo, “reconhecer

diferenças” indica a compreensão de que cada um indivíduo é diferente do

outro e cada um tem uma maneira de ser, aprendendo a aceitar, sem conflitos,

essas diferenças;

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- Atentar ao que o outro diz: capacidade de ouvir (com atenção) o que o outro

diz, atentando para aquilo que está sendo exposto pela pessoa na forma de

relato (problemas familiares, do trabalho ou questões cotidianas);

- Pensar em grupo: capacidade do indivíduo de conciliar suas idéias e opiniões

pessoais com a opinião das outras pessoas do grupo ao tomar uma decisão;

- Julgar os outros: ato de julgar os comportamentos apresentados por outras

pessoas, sem antes procurar saber a função de tais comportamentos, atribuindo-

lhes a “culpa” pela ocorrência de determinadas coisas;

- Ser flexível: capacidade do cooperado de contornar situações difíceis de forma

habilidosa;

- Compartilhar: capacidade de dividir coisas (materiais, problemas pessoais e

profissionais etc.) com outras pessoas, não concentrando para si todos os bens

ou “problemas”;

- Ser sensível ao outro: capacidade do indivíduo em discriminar as

conseqüências de suas ações na interação com os outros, ou seja, ser sensível

àquilo que suas ações provoca nos outros;

- Brincar com as pessoas: capacidade da pessoa em desenvolver brincadeiras

com os colegas (fazer piada de situações, contar histórias bem-humoradas...)

ou aceitar brincadeiras vindas deles;

- Adaptar-se à situações: capacidade do indivíduo em ser sensível às

conseqüências, adaptando-se às novas contingências presentes no novo meio

(ambiente cooperativo) no qual inseriu-se;

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- Cooperar: freqüência em que a pessoa ajuda e é solidária com outras pessoas

na realização de tarefas;

- Relações de amizade: aumento ou diminuição da quantidade de

amigos/interações de amizade mantidas pelo cooperado desde sua inserção no

grupo solidário.

2) Humor

A categoria “Humor” contempla indicações feitas pelos participantes da pesquisa

relativas a mudanças ocorridas no estado de humor apresentado pelo cooperado desde sua

inserção no grupo solidário. São mudanças comportamentais (alterações no humor) no

modo como o cooperado reage aos eventos de sua vida, percebidas pelos membros e seus

familiares. Essas alterações relacionam-se a aspectos como o aumento ou diminuição da

calma/tranqüilidade e da felicidade, definidas pela pesquisadora a partir dos relatos de

cooperados e familiares, como:

- Calma/tranqüilidade: condição de redução do estado “nervoso”; estado de

calma e tranqüilidade apresentados pelo cooperado desde a inserção no grupo;

- Felicidade: estado de felicidade, bem-estar e animação apresentados pelo

membro cooperado.

3) Crenças e Pensamentos

Os aspectos comportamentais indicativos de mudanças presentes na categoria

“Crenças e Pensamentos” estão relacionados a mudanças ocorridas na vida do cooperado

em termos do modo como este percebe as relações entre si e os eventos ambientais. Trata-

se da alteração, desde o ingresso no grupo, de algumas auto-regras (crenças

comportamentais) construídas ao logo de sua história de vida.

As indicações de mudanças relativas a crenças e pensamentos apresentados pelos

cooperados referem-se à redução ou aumento da freqüência na ocorrência de pensamentos

negativos e à maior capacidade para acreditar, ter esperança; sentir-se útil; para valorizar

19

o trabalho; de compreensão do mundo e de ter humildade. Tais mudanças foram definidas

da seguinte maneira:

- Ocorrência de pensamentos negativos: freqüência em que ocorrem pensamento

negativos, sobre doença, por exemplo;

- Capacidade de acreditar, ter esperança: capacidade apresentada pela pessoa de

ficar sob controle de conseqüências reforçadoras futuras, mantendo-se

comportando mesmo que os reforços imediatos não ocorram ou ocorram em

baixa freqüência;

- Compreensão do mundo: capacidade do indivíduo de passar a discriminar

situações e eventos presentes no meio em que vive, o que antes do ingresso no

grupo não fazia, ou seja, perceber de maneira diferente as coisas que o cercam;

- Sentir-se útil: capacidade apresentada pela pessoa de discriminar que seus

comportamentos produzem conseqüências positivas para o grupo;

- Humildade: capacidade do indivíduo de apresentar-se mais consciente sobre o

fato de não ter razão sobre tudo;

- Valorizar o trabalho: capacidade apresentada pelo indivíduo de aprender a

valorizar seu próprio trabalho, ou seja, ficar mais sensível às conseqüências

reforçadoras produzidas por este.

4) Padrões de Conduta

Os aspectos comportamentais inseridos nesta categoria tratam-se de mudanças

relacionadas aos padrões de conduta mantidos pelo cooperado, ou seja, na forma como

comporta-se, usualmente, nos meios em que vive (casa, comunidade, trabalho etc...) e em

suas interações com as pessoas, desde que inseriu-se no empreendimento solidário.

Aspectos referentes a mudanças no modo do cooperado comportar-se em função do contato

20

com um novo ambiente são: a maior capacidade de comunicabilidade; tolerância;

responsabilidade; julgamento; extroversão; compreender-se; concentração e de

amabilidade. São categorizados também como mudanças comportamentais em termos de

padrões de conduta o aumento da segurança e da liberdade.

- Comunicabilidade: capacidade do indivíduo de comunicar-se bem e com alta

freqüência com os outros;

- Tolerância: capacidade do indivíduo de tornar-se mais tolerante com relação às

falhas dos outros, resistindo a brigas, discussões e à frustração outrora

decorrentes, em função das diferenças individuais;

- Responsabilidade: capacidade do indivíduo em demonstrar maior

comprometimento com as coisas, ao assumir e cumprir responsabilidades;

- Extroversão: capacidade dos cooperados de apresentarem-se mais soltos e

menos comedidos depois da entrada no grupo;

- Compreender-se: capacidade do indivíduo de conhecer-se melhor, ou seja, ser

mais consciente sobre o modo como se comporta e seus determinantes;

- Julgamento: capacidade do indivíduo em discriminar o “certo” e o “errado”;

- Concentração: capacidade do indivíduo de estar mais atento (prestando mais

atenção) às tarefas que realiza, tanto no âmbito familiar quanto do trabalho e as

fazendo com mais calma;

- Amabilidade: capacidade do indivíduo de ser mais amável e afetuoso com as

pessoas;

21

- Segurança: capacidade do indivíduo de estar mais seguro (auto-confiante) para

falar sobre determinados assuntos e mais confiantes durante a realização de

tarefas;

- Liberdade: sensação de liberdade apresentada pelo indivíduo ao pensar

(diminuição das punições ao expressar o que “pensa”); durante o trabalho de

criação do artesanato e para expor seu trabalho;

5) Interação com a família

Esta categoria abrange os aspectos de mudanças comportamentais relatados pelos

familiares de cooperados relacionados ao modo de interação deste com a família. São tipos

de mudanças referentes à melhora na qualidade do relacionamento com a família; ao

aumento da freqüência para disponibilidade para atividades domésticas e para a ocorrência

de atividades fora de casa e diminuição da preocupação com parentes. Cada um destes

aspectos foi definido como:

- Qualidade do relacionamento com a família: melhora ou piora na qualidade do

relacionamento entre os membros da família desde a entrada para o grupo, em

função de o cooperado apresentar-se mais feliz/alegre, menos nervoso, mais

comunicativo, mais interativo e atencioso dentro de casa etc.;

- Disponibilidade para atividades domésticas: aumento ou diminuição da

freqüência em que o cooperado permanece dentro de casa realizando tarefas

domésticas como cuidar dos filhos e afazeres do lar ou mostra-se participativo

e interagindo mais nesses assuntos;

- Ocorrência de atividades fora de casa: aumento ou diminuição da freqüência

em que o cooperado sai de casa para lazer ou para realizar outros tipos de

atividade como cursos de artesanato;

22

- Preocupação com parentes: aumento ou diminuição do nível de preocupação

que o cooperado mantém com relação aos seus familiares.

6) Hábitos e Interesses

Esta categoria é composta por indicativos de mudanças indicadas por cooperados e

familiares relacionadas aos hábitos e interesses mantidos pelos cooperados desde que este

passou a fazer parte do ambiente cooperativo. Os aspectos de mudança são relativos ao

aumento ou diminuição de atividades fora de casa; maior interesse pelo cooperativismo;

por política; artesanato; religião e em aprender coisas novas; aumento da ocupação; da

freqüência de viagens e da participação em grupos. A seguir estão as definições adotadas

para a categorização:

- Atividades fora de casa: aumento ou diminuição da freqüência de atividades

fora do âmbito familiar, como atividades de lazer, desde o ingresso no grupo

solidário;

- Cooperativismo: contato do cooperado com situações e eventos ligados ao

cooperativismo;

- Aprender coisas novas: aumento ou diminuição do interesse do cooperado em

aprender coisas novas para ele, como inglês, computação e administração e

entrar em contato com ambientes diferentes, como a universidade;

- Ocupação: aumento ou diminuição da freqüência em que o cooperado mostra-

se ocupado, ativo e disposto na realização de tarefas;

- Participação em grupos: aumento ou diminuição da participação do cooperado

em grupos comunitários, igreja e participação em iniciativas sociais;

- Viagens: freqüência de viagens em função da entrada no grupo;

23

- Política: aumento ou diminuição do interesse por questões e movimentos

político desde o ingresso no grupo;

- Artesanato: interesse em aprender coisas relacionadas ao artesanato;

- Religião: interesse e participação na igreja e em movimentos relacionados a ela

desde a entrada na cooperativa.

7) Saúde

A categoria “saúde” engloba os indicativos de mudanças feitos pelos cooperados

relacionados à saúde física e psicológica do cooperado desde a entrada na cooperativa.

Trata-se de mudanças relacionadas à melhora ou piora na condição física do membro e ao

aumento ou diminuição no adoecer.

- Condição física: melhora ou piora na condição/estado de saúde física (cansaço,

doenças...) apresentado pelo cooperado desde o ingresso no grupo;

- Adoecer: aumento ou diminuição na freqüência dos problemas de saúde e

pensamento sobre doença apresentados pelo cooperado.

24

CAPÍTULO III- MUDANÇAS OCORRIDAS EM DIFERENTES ESF ERAS DA

VIDA DE MEMBROS DE UM EMPREENDIMENTO SOLIDÁRIO A PA RTIR DA

INSERÇÃO NO GRUPO: OCORRÊNCIA E CARACTERIZAÇÃO DO P ONTO DE

VISTA DOS PRÓPRIOS MEMBROS

Todas as pessoas entrevistadas, 16 cooperados, relataram a ocorrência de mudanças

em suas vidas desde a entrada na cooperativa. Nas tabelas a seguir podem ser observadas as

distribuições das indicações de mudança feitas pelos cooperados, em função de categorias

propostas.

Na Figura 1 podem ser encontradas as distribuições de indicações feitas pelos

cooperados entrevistados relativas aos tipos de mudanças em termos de Relações Humanas

observadas a partir de sua participação no grupo, o valor (positivo ou negativo) atribuído a

cada uma das mudanças indicadas e o número de pessoas que relatou cada uma destas

mudanças.

8

6

4

3

2

5

3

2

4

0

1

2

3

4

5

6

7

8

me

ro d

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dic

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es

Mudanças relatadas pelos Membros

Maior capacidade (+)

Aumento da frequência (+)

Redução da frequência (+)

Tipos de Mudanças

A B C D E F G H I J L M

A - Conviver com pessoas D - Reconhecer diferenças H - Brincar com as pessoas diferentes em um grupo E - Pensar em grupo I - Atentar ao que o outro diz B - Compreender o outro F - Ser flexível J - Compartilhar C - Aprender com o outro G - Adaptar-se a situações L - Cooperar M - Julgar os outros

Figura 1. Distribuição das indicações feitas pelos membros entrevistados de tipos e valores de mudanças observadas a partir da inserção no grupo em termos das relações humanas.

25

Como pode ser visto na Figura 1, todas as mudanças indicadas pelos cooperados,

relativas à categoria Relações Humanas, foram consideradas como positivas pelos

entrevistados. Dessa forma, os valores atribuídos a estas variáveis, maior capacidade, aumento

da freqüência e redução da freqüência, referem-se a melhorias relacionadas a aspectos

comportamentais e da vida do cooperado, ocorridas desde a entrada na cooperativa.

Os tipos de mudanças mais freqüentes nos relatos dos cooperados, em termos de

número de pessoas que relatou tal mudança, foram conviver com pessoas diferentes em um

grupo; compreender o outro e atentar ao que o outro diz com oito, seis e cinco indicações

respectivamente. Segundo estes cooperados, desde a entrada na cooperativa eles aprenderam a

conviver em grupo, com pessoas diferentes; estão mais compreensivos, entendendo mais o

outro e passaram a ouvir mais as pessoas com as quais convivem, atentando aos seus

problemas.

Em seguida, apontado por quatro cooperados, foram indicadas, como mudanças nas

vidas dos cooperados, a maior capacidade de aprender com o outro e a redução da freqüência

em julgar os outros. Os cooperados relataram, ainda, que a inserção no grupo fez com que

aprendessem a aprender com as outras pessoas, com seus problemas e a não julgarem mais os

outros, não culpá-los por coisas ruins que acontecem em suas vidas e a partilhar a

responsabilidade pelas ocorrências.

Aparecem também, como mudanças observadas pelos entrevistados desde sua inserção

na cooperativa, com três indicações cada, o desenvolvimento de uma maior capacidade de

pensar em grupo e reconhecer diferenças e o aumento da freqüência em compartilhar.

Conforme apontado pelos cooperados que disseram estar mais capazes de reconhecer

diferenças desde sua inserção no grupo, eles aprenderam a compreender que uma pessoa é

diferente da outra e cada uma tem uma maneira de ser. De acordo com aqueles que relataram

maior capacidade de compartilhar, passaram a dividir mais as coisas com os outros, desde o

ingresso na cooperativa, e, segundo o relato de uma das cooperadas:“passei a não querer

resolver os problemas do mundo”.

São mencionadas, ainda, pelos membros cooperados, mudanças ocorridas nas

capacidades de adaptar-se a situações, brincar com as pessoas e de ser flexível, por meio de

26

um maior “jogo de cintura”, além do aumento da freqüência em cooperar, ser mais solidário e

ajudar mais as pessoas.

Outras indicações de mudanças no âmbito das Relações Humanas apontadas por

cooperados, não representadas pela figura, foram a maior capacidade de expressar

sentimentos/opiniões, ser sensível ao outro e de expressar e acolher opinião desfavorável e

apareceram apenas uma vez. Segundo estas pessoas, a entrada no grupo trouxe a

aprendizagem da importância de “falar as coisas que sente e saber o que o outro pensa” e de

dizer e ouvir “não”.

Na Figura 2 podem ser vistas as distribuições de indicações referentes aos tipos de

mudanças em termos de Humor apontadas pelo entrevistado a partir da inserção no grupo,

como também o valor atribuído a cada uma das mudanças indicadas e o número de pessoas

que as relatou.

Figura 2. Distribuição das indicações feitas pelos membros entrevistados de tipos e valores de mudanças observadas a partir da inserção no grupo em termos de humor.

As indicações apontadas pelos entrevistados, relativas à categoria Humor, são relativas

a mudanças relacionadas à calma/tranqüilidade e felicidade, e todas foram indicadas como

mudanças positivas, com aumento destas condições a partir da inserção nos grupos. O aspecto

Mudanças relatadas pelos membros

4

1

Calma/Tranqüilidade - Aumento (+) Felicidade - Aumento (+)

27

de mudança mais indicado pelos entrevistados foi calma/tranquilidade, relatada por quatro

pessoas. Segundo elas, antes da entrada na cooperativa eram mais estouradas, “tinha os

nervos à flor da pele”; porém, desde então, apresentam-se menos nervosas. Em seguida é

mencionado o aumento da felicidade, com uma indicação. A cooperada que relata estar mais

feliz depois da inserção no grupo diz estar assim pois “aqui (a cooperativa) não é um

trabalho, é uma terapia e como eu nunca tinha trabalhado antes, então estou muito

satisfeita.” Ela indica, também, que antes ficava muito em casa, atendo somente aos afazeres

domésticos, e completa: “ (...) agora aqui eu venho, passeio quando venho pra cá, tem sido

uma vantagem a mais na minha vida. Antes não tinha nada para fazer e agora na cooperativa

eu trabalho, eu me divirto, eu brinco, dou risada e sou feliz aqui.”

Na Tabela 1 encontram-se as distribuições de indicações relativas aos tipos de

mudanças em termos de Crenças e Pensamentos, além do valor atribuído a cada uma das

mudanças indicadas e do número de pessoas que as relatou.

Tabela 1. Distribuição das indicações feitas pelos membros entrevistados de tipos e valores de mudanças observadas a partir da inserção no grupo em termos de crenças e pensamentos.

COMPORTAMENTO

VALOR ATRIBUÍDO (+/-) No. PESSOAS

Ocorrência de pensamentos negativos

Redução da freqüência (+) 3

Capacidade de acreditar, ter esperança

Maior capacidade (+) 1

Humildade Maior capacidade (+) 1 Valorizar a vida Maior capacidade (+) 1

Compreensão do mundo Maior capacidade (+) 1

Todas as indicações de mudanças referentes a Crenças e Pensamentos feitas pelos

cooperados, como demonstrado acima, têm caráter positivo, indicando que houve melhoras

nos aspectos comportamentais citados. A redução da freqüência na ocorrência de

pensamentos negativos foi apontada por três pessoas, e é evidenciada pela diminuição de

pensamentos ruins sobre doença e em outras coisas negativas. Maior capacidade para

28

acreditar, ter esperança; humildade, valorizar a vida e compreensão do mundo foram

indicadas como resultado da participação no grupo.

A maior capacidade de acreditar, ter esperança, segundo a cooperada, foi o

aprendizado, decorrente da participação na cooperativa, de que “tudo que se quer, se sonha, e

se corre atrás é possível, por maior dificuldade que exista”. A humildade, relatada por outra

entrevistada, é demonstrada, de acordo com ela, por uma maior consciência de não ter razão

sobre tudo. Já a maior capacidade de compreensão do mundo decorre do fato de ter havido

uma mudança na maneira de ver e avaliar as coisas, ocorrida após a entrada no grupo

cooperativo.

Na Figura 3 estão as distribuições de indicações de mudanças feitas pelos cooperados

em termos de Interação com a família. Podem ser vistos na tabela, também, os valores

atribuídos a cada tipo de mudança apontada e o número de pessoas que relatou cada uma

delas.

5

2

1

2

1 1

0

1

2

3

4

5

6

Núm

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dica

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Mudanças relatadas pelos Membros

Maior capacidade (+)

Redução frequência (+)

Aumento frequência (+)

Redução frequência (-)

Tipos de Mudanças

A B C D E F G

A - Organização D - Criticidade G- Disponibilidade para B - Tolerância (Paciência) E - Ocorrência de atritos atividades domésticas C- Compartilhamento F - Ocorrência de atividades de tarefas fora de casa

Figura 3. Distribuição das indicações feitas pelos membros entrevistados de tipos e valores de mudanças observadas a partir da inserção no grupo em termos de interação com família.

De todas as indicações de mudanças feitas pelos entrevistados, apenas uma,

disponibilidade para atividades domésticas, tem caráter negativo e foi relatada por somente

um membro. Para este, a redução da freqüência em atividades como cuidar dos netos e

fazer certas coisas para maridos e filhos, em função da ausência de tempo, é tida como algo

ruim.

Aos demais tipos de mudanças apontados pelos cooperados, relativos à Interação

com família, foram atribuídos valores positivos. O comportamento indicativo de mudança

mais relatado pelos cooperados foi a maior capacidade de organização, com cinco

indicações. Estas pessoas relataram estar, desde a entrada no grupo, mais organizadas em

casa; mais disciplinadas; organizando-se melhor com relação a horários e afazeres e

otimizando melhor seu tempo disponível. Logo após, aparecem a maior capacidade de

tolerância (paciência) em casa e a redução da freqüência com relação à “criticidade”,

também no âmbito familiar. As cooperadas dizem estar menos “rabugentas” em casa e

mais paciente com os filhos; relatam ainda estar menos “críticas” em casa e cobrando

menos dos filhos e marido.

Outros tipos de mudanças citados pelos membros foram: a redução da freqüência na

ocorrência de atritos, apresentando-se menos estressada em casa; o maior

compartilhamento de tarefas em casa, através da maior divisão de tarefas e o aumento da

freqüência na ocorrência de atividades fora de casa, pois a entrada na cooperativa tornou-

se uma “distração” para a cooperada, fazendo com que saísse mais casa e não ficasse

somente restrita aos serviços domésticos.

Na Figura 4 encontram-se as distribuições de indicações de mudanças relatadas

pelos membros em termos de Padrões de Conduta, juntamente com o valor atribuído a cada

comportamento de mudança e o número de pessoas que as indicou.

30

Como mostra a Figura 4, de acordo com os valores atribuídos aos comportamentos

apontados pelos membros, todos os tipos de mudanças relatadas têm caráter positivo,

indicando melhora na vida do cooperado desde sua inserção no grupo.

Os aspectos comportamentais mais citados pelos membros foram tolerância e

comunicabilidade, tendo sido atribuído a estes valores positivos, relacionados a uma maior

capacidade. A maior tolerância com os outros, segundo essas pessoas, aconteceu por elas

terem aprendido, neste processo, que cada pessoa tem um temperamento e uma maneira de

agir, tornando-se mais tolerante com as falhas dos outros, já que em um ambiente onde

convivem várias pessoas as diferenças individuais são muitas. Para as cooperadas, a maior

comunicabilidade é caracterizada por estarem conversando mais; terem mais assunto, mais

palavras para dar conselhos, consolar alguém e por apresentarem-se mais comunicativas.

As pessoas que relatam mudanças relativas a extroversão, consideram que estão

mais soltas e menos comedidas após a entrada na cooperativa e aquelas que citam a maior

capacidade de responsabilidade percebem-se mais comprometidas com as coisas, dando o

“melhor de si” e comprometendo-se mais em assumir e cumprir responsabilidades. Já a

5

3

2

4

2

0

1

2

3

4

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Mudanças relatadas pelos Membros

Maior capacidade (+)

Aumento (+)

Tipos de Mudanças

A B C D E F G H

A - Tolerância D - Responsabilidade G - Extroversão B - Comunicabilidade E - Compreender-se H - Segurança C - Paciência F - Concentração

Figura 4. Distribuição das indicações feitas pelos membros entrevistados de tipos e valores de mudanças observadas a partir da inserção no grupo em termos de padrões de conduta.

31

maior capacidade de compreender-se significa que as cooperadas aprenderam a

conhecerem-se melhor e a entender suas próprias limitações.

O aumento da segurança relatado pelas integrantes da cooperativa é justificado,

pelas entrevistadas que mencionam este aspecto, por sentirem-se mais seguras com relação

ao que sabem fazer, mais confiantes em fazer as coisas (“agora sei que posso fazer as

coisas”) e também por estarem menos inseguras para falar sobre determinados assuntos.

Os membros da cooperativa que participaram do estudo relataram também, como

uma mudança positiva em função da entrada no grupo, a maior capacidade de

concentração, verificada por estarem mais atentas às tarefas que estão fazendo,

principalmente nos trabalhos de casa, e por não fazerem mais as coisas apressadamente:

“(...) não faço mais as coisas correndo, não curtia aquilo que eu fazia e hoje não”.

O aumento da liberdade, citado por uma cooperada, aparece, de acordo com ela, na

forma de uma maior liberdade para pensar, para criar seu artesanato, expor seu trabalho, já

que antes trabalhava em um ambiente sob regime autoritário, o qual inibia seu processo

criativo. Para ela, na cooperativa está “livre para fluir a sua vontade”. A diminuição do

orgulho, relatada por outra cooperada, dá-se em função de ter perdido o preconceito com

trabalhos relacionados ao bordado. Em uma de suas falas, diz: “Eu acho que eu fiquei

menos orgulhosa, porque sempre tive um pouco de preconceito com esse negócio de

bordadeira, porque fiz um curso superior (...). Aprendi a ver as coisas mais pelo lado

humano, que você pode ser feliz com aquilo que tem no momento”.

A maior capacidade em compartilhar, de julgamento e de afetividade reveladas por

diferentes integrantes do grupo, segundo estas participantes, ocorre por terem deixado de

“centralizar” tanto as coisas em si mesmas, desde a entrada na cooperativa, tendo aprendido

que não pode querer resolver os problemas de todo mundo; por ter aprendido a discriminar

melhor entre certo e errado e a fazer as coisas com amor.

Foram citados, ainda, como características de mudanças ocorridas na vida de

participantes, a maior capacidade de ponderação e o maior equilíbrio emocional. Segundo

uma cooperada, a cooperativa a ensinou a ser mais ponderada, pois antes era muito

estourada, falava as coisas sem pensar e acabava magoando as pessoas. Ela conta que

passou a pensar mais antes de falar as coisas. Outra cooperada relata que aprendeu a

equilibrar mais suas emoções, a controlar melhor o estado emocional, abalado por

32

problemas pessoais e financeiros, a fim de que estes não interferissem com o trabalho no

grupo. De acordo com ela, aprendeu a separar os problemas de casa dos problemas da

cooperativa.

Na Tabela 2 estão as distribuições de indicações feitas pelos membros entrevistados

relativas aos tipos de mudanças em termos de Hábitos e Interesses.

Tabela 2. Distribuição das indicações feitas pelos membros entrevistados de tipos e valores de mudanças observadas a partir da inserção no grupo em termos de hábitos e interesses.

TIPO DE MUDANÇA

VALOR ATRIBUÍDO (+/-) No. PESSOAS

Atividades fora de casa Redução da freqüência (-) 2 Cooperativismo Maior interesse (+) 1

Notícias Maior interesse (+) 1 Distração Aumento da freqüência (+) 1 Ocupação Aumento da freqüência (+) 1

Aprender coisas novas Maior interesse (+) 1

Conforme os dados apresentados na Tabela 2, todas as indicações de mudanças

apontadas pelos membros entrevistados foram consideradas positivas, com exceção feita a

realização de atividades fora de casa, que foi apresentada como tendo um caráter negativo.

Esse aspecto foi apontado por dois cooperados, para os quais a redução da freqüência em

atividades fora do âmbito familiar, como em atividades de lazer, em função da ausência de

tempo, constitui-se em uma mudança negativa.

Os demais aspectos comportamentais mencionados pelos membros cooperados

aparecem uma única vez e estão relacionados a um maior interesse pelo cooperativismo,

por notícias (como em jornais e TV) e em aprender coisas novas. De acordo com a

cooperada, o contato com a cooperativa fez com que adquirisse habilidades de

administração, em função de lidar com essa parte dentro da organização. A entrada para o

grupo cooperativo também resultou em um aumento da freqüência de distração, à medida

em que a cooperada relata estar distraindo-se mais (entretendo-se mais) desde a entrada no

grupo e de ocupação, por não permanecer mais tanto tempo no ambiente doméstico e tendo

“algo a mais para fazer”, segundo ela.

Outra categoria identificada a partir dos relatos de indicações de mudanças feitos

pelos cooperados, observadas a partir da inserção no grupo, foi denominada de Saúde. A

33

única indicação que aparece têm caráter positivo e refere-se a uma melhora na condição

física verificada desde a entrada na cooperativa.

Na Tabela 3 podem ser vistas as distribuições da quantidade de pessoas e do

número de indicações por cada categoria considerada, relativas aos tipos de mudanças

relatados pelos cooperados desde o ingresso no grupo.

Tabela 3. Número de pessoas que citou cada tipo de mudança ocorrida desde a entrada na cooperativa e o número de vezes que cada categoria apareceu nos relatos.

CATEGORIAS DE MUDANÇAS (TIPO)

Nº DE PESSOAS

Nº TOTAL DE INDICAÇÕES

MÉDIA DE INDICAÇÕES

POR COOPERADO

Relações entre pessoas 16 57 3, 56 Padrões de conduta 16 36 2,26

Interação com família 6 13 2,16 Hábitos e interesses 4 7 1,75

Humor 5 6 1,2 Saúde 1 1 1

Crenças e pensamentos 6 7 0,16

De acordo com a tabela, o maior número de indicações e de pessoas que as fizeram

concentram-se nas categorias Relações entre pessoas e Padrões de conduta, com 57 e 36

indicações respectivamente e 16 cooperados relatando cada conjunto de indicações. Em

seguida está a categoria Interação com família, com 13 indicações feitas por seis pessoas.

Com sete indicações aparecem as categorias Crenças e pensamentos e Hábitos e interesses,

com seis e quatro cooperados apontando-as respectivamente.

Com relação aos aspectos comportamentais relativos à categoria Humor, o número

de indicações foi seis e a quantidade de pessoas que as fizeram, cinco. Por último,

recebendo uma indicação, vêm a Saúde.

Na Tabela 4 estão distribuídas as indicações de mudanças relatadas pelos

cooperados segundo sua natureza, favorável (caráter positivo) ou desfavorável (caráter

negativo).

34

Tabela 4. Natureza das indicações de mudanças em cada categoria.

CATEGORIAS DE MUDANÇAS (TIPO)

INDICAÇÕES FAVORÁVEIS

INDICAÇÕES DESFAVORÁVEIS

Relações entre pessoas 57 - Padrões de conduta 36 -

Interação com família 12 1 Crenças e pensamentos 7 -

Humor 6 - Hábitos e interesses 5 2

Saúde 1 -

Como mostra a tabela, a quase totalidade das indicações de mudanças feitas, em

todas categorias, foi considerada como favorável, ou seja, são mudanças de caráter positivo

e que acarretaram melhoras na vida do cooperado, desde sua entrada no grupo. Apenas três

são indicações de mudanças desfavoráveis, as quais revelam aspectos negativos acarretados

pela inserção na cooperativa.

35

CAPÍTULO IV- SITUAÇÕES PARA AS QUAIS HOUVE GENERALI ZAÇÃO DE COMPORTAMENTOS APRENDIDOS AO PARTICIPAR DE COOPERAT IVA, DO

PONTO DE VISTA DOS COOPERADOS

Na Tabela 6 são apontadas as indicações feitas pelos membros entrevistados de

aspectos da vida do cooperado em que houve impacto das aprendizagens adquiridas no

âmbito cooperativo, ou seja, situações para as quais houve generalização de

comportamentos de mudança adquiridos desde a inserção no grupo. Podem ser vistos,

ainda, os valores atribuídos, pelos entrevistados, ao impacto (bom ou ruim), assim como a

natureza do impacto ocorrido (facilitação de relações ou conflitos). Na Tabela 6 podem ser

vistos, ainda, o número de indicações apontadas para cada impacto e o total de pessoas que

indicou cada aspecto da vida no qual houve generalização.

Tabela 5. Distribuição das indicações de aspectos da vida do cooperado para os quais houve generalização de condutas aprendidas ao participar de cooperativas, relatadas pelos cooperados.

Aspecto da Vida do Cooperado em que

Houve IMPACTO das Aprendizagens (Generalização)

Valor Atribuído ao

Impacto Bom/Ruim

IMPACTO

Facilitação de Relações/Conflitos

No. de Indicações

Total de Pessoas

Bom

Facilidade

6

Participação em

atividades (em geral, junto à comunidade, à família,

grupos...)

Ruim

-

-

6

Bom

Facilidade

8

Qualidade do relacionamento com a

família

Ruim

Conflito

5

12

Bom

Facilidade

5

Qualidade do

relacionamento com as pessoas (em geral,

amigos, da comunidade...)

Ruim

Conflito

1

6

Participação em

atividades políticas

Bom

Facilidade

1

36

Ruim

-

-

1

Como demonstra a Tabela 5, foram apontados pelos membros entrevistados quatro

aspectos da vida do cooperado nos quais houve generalização de comportamentos

adquiridos no âmbito cooperativista, sendo a maioria delas impactos de caráter positivo, à

medida que houve uma facilitação de relações desde a entrada no grupo. Quanto à

participação em atividades junto à família, comunidade, grupos ou em outras atividades

gerais, o valor atribuído ao impacto é bom, tendo gerado, segundo os seis entrevistados que

relataram tal mudança, facilidade em suas vidas. Mais adiante serão apresentados os

indicadores mencionados pelos entrevistados, em relação a mudanças positivas ou

negativas.

Com relação à qualidade do relacionamento com a família, doze pessoas fizeram

indicações de mudança nesse aspecto, sendo que oito delas relataram a ocorrência de

mudanças positivas, as quais resultaram em facilidade na vida, e cinco atribuíram valor

“ruim” às transferências de aprendizagens para outras situações de suas vidas.

No que se refere à qualidade do relacionamento com as pessoas em geral, amigos e

membros da comunidade, as conseqüências da participação na cooperativa foram boas para

cinco pessoas, as quais apontaram impactos positivos ocorridos nesse aspecto da vida,

acarretando facilitação de relações. Apenas um delas atribuiu valor negativo a impactos das

aprendizagens aprendidas no âmbito do trabalho cooperativo, tendo as generalizações de

condutas acarretado conflitos em sua vida.

Quanto ao aspecto da vida relacionado a participação em atividades políticas,

apenas um cooperado mencionou mudança nesse campo e o valor atribuído ao impacto na

vida da pessoa foi bom, havendo um maior interesse em atividades políticas do município.

37

IVi. Indicadores Positivos e Negativos de impacto da generalização de condutas aprendidas na participação de cooperados em um Empreendimento Solidário

Na Tabela 6 encontram-se descritos os indicadores positivos e negativos de impacto

da generalização de condutas aprendidas ao participar de cooperativa e o aspecto da vida do

cooperado correspondente em que houve o impacto das aprendizagens.

Tabela 6. Indicadores positivos e negativos de impacto da generalização de condutas aprendidas ao participar de cooperativa e as indicações do aspecto da vida do cooperado em que houve a generalização de aprendizagens.

Indicadores de IMPACTO da Generalização de Condutas Aprendidas ao Participar de Cooperativa

Aspecto da Vida do Cooperado em que

Houve IMPACTO das Aprendizagens (Generalização)

POSITIVOS

NEGATIVOS

Participação em atividades

(em geral, junto à comunidade, à família,

grupos...)

• Freqüência de reuniões,

congressos, feiras... • Possibilidade de conversas

(comunicabilidade)

Qualidade do relacionamento com a

família

• Compartilhar as coisas • Comunicabilidade • Criticidade • Extroversão • Felicidade • Proximidade • Tranqüilidade • Diminuição na ocorrência

de atritos • Ocorrência de atividades

fora de casa

• Tempo reduzido em casa gera reclamações dos familiares (ocorrência de atritos)

• Término do casamento

• Ausência de retorno financeiro

Qualidade do relacionamento com as

pessoas (em geral, amigos, da comunidade...)

• Comunicabilidade • Compreender o outro • Confiança • Atentar ao que o outro diz • Extroversão • Tranqüilidade • Participação em atividades

junto à comunidade

• Tempo reduzido para conversas e atividades com amigos e comunidade

38

O aumento da participação em atividades junto à família, comunidade, grupos ou

em outras atividades gerais gerou facilidades, pois permitiu um contato maior do cooperado

com os membros familiares, integrantes da comunidade e outras pessoas em geral,

resultando em uma maior integração entre eles. Isso se deu através do aumento da

freqüência em reuniões no âmbito familiar, possibilitando mais conversas entre parentes:

“A família ficou um pouco mais unida porque agora a gente se reúne

aos fins de semana para conversar, porque esse é o tempo que a gente tem

para fazer isso”.

Esta participação aumentou, também, pelo aumento do engajamento em atividades

junto à comunidade, como a realização de trabalhos com moradores de rua e em

instituições beneficentes; participação em eventos do município, como feiras e exposições e

maior participação em grupos ligados ao artesanato, melhorando também o relacionamento

com a comunidade. Os relatos apresentados a seguir, apresentados por duas cooperadas,

ilustram as mudanças ocorridas:

“Eu me interesso pelas coisas que estão acontecendo na cidade, os

eventos, as feiras, lugares que vão abrir para vender as obras de arte das

pessoas, exposições, eu estou querendo saber de tudo, muito, se eu posso

eu vou. Agora eu estou mais por dentro do que acontece e antes eu não

era assim, eu estava socada em casa e não conseguia ver o mundo lá

fora”.

“Estou participando mais de congressos, de cursos, de feiras, de

eventos para aprender mais sobre o cooperativismo, coisas que antes não

interessavam. Vou às feiras ver as tendências, novidades, tenho mais

interesse, em saber o que o mercado quer, essa preocupação eu não tinha

(...)”.

As facilidades geradas pela melhora na qualidade do relacionamento com a família

ocorreram em função de várias mudanças, entre elas a maior comunicabilidade e

compartilhamento das coisas entre os membros e seus familiares, resultando em mais

39

integração entre eles. A forma de dialogar com a família também mudou, através do

aumento da “criticidade” e da exposição de suas opiniões e idéias aos parentes, como

mostram trechos de relatos de cooperadas:

“Com certeza está melhor (relacionamento com a família),

principalmente na forma de dialogar, porque eu passei 10 anos naquele

regime (lecionando em colégio militar), escutava e executava, em que você

não podia contestar, passar idéia e aqui é tudo muito conversado. Eu

descobri como é gostoso você sentar, conversar, trabalhar rindo. Em casa

é a mesma coisa, você estar expondo as idéias, antes o meu marido falava

uma coisa e eu falava:“você resolve, faz como você quer”, agora não,

decido também.”

Outros aspectos de generalização responsáveis pela melhora no relacionamento com

a família foram o aumento na extroversão e felicidade dos cooperados e a maior

comunicabilidade e proximidade entre estes e seus familiares. Desde a inserção no grupo

cooperativo, alguns membros relatam ter mais assuntos; passaram a conversar mais com os

parentes e a reunir-se mais com a família, apresentando-se mais soltos, alegres e felizes,

como mostram os trechos abaixo:

“Melhorou (relacionamento com a família) porque eu não gostava de

me reunir com a família do meu marido, agora eu estou mais solta e levo

numa boa”.

“(...) Com a minha família sim, porque estou mais feliz, mais

animada, mais alegre e conversando mais. Meus filhos acham que a

cooperativa fez bem pra mim, porque eu não saia de casa, agora estou

saindo, tenho para onde ir, tenho com quem conversar”.

A participação de pessoas em um empreendimento solidário acarretou ainda

transferências de aprendizagens que contribuíram na qualidade do relacionamento com a

família, à medida que aumentou a ocorrência de atividades fora de casa e a tranqüilidade

dos cooperados em casa e diminuiu a ocorrência de atritos neste mesmo ambiente. Alguns

40

membros relataram que a relação com a família melhorou desde a entrada na cooperativa,

pois antes estavam muito estressados e deprimidos, em função de conviverem com a rotina

do lar; entretanto, o trabalho na cooperativa favoreceu que saíssem de casa, fazendo com

que esquecessem um pouco seus problemas. O relato a seguir ilustra estes pontos:

“Está melhor (o relacionamento com a família) porque eu estava à

beira de uma depressão, de um estresse muito grande, porque eu estava na

rotina da casa e agora eu saio de casa exclusivamente pra isso, e isso foi

ótimo pra mim e eu esqueço os problemas mais complicados da minha

casa enquanto estou aqui. Com a minha família a relação mudou, está

melhor agora. Eu sempre fui aberta a diálogos e relacionamentos em

casa, mas ultimamente eu estava muito estressada, irritada e sempre que

alguém vinha falar comigo a resposta era meio no grito, alterada., e

agora eu estou mais maleável com eles, eu melhorei no tato com todo

mundo (ao lidar com eles).”

Por outro lado, a generalização de comportamentos adquiridos no âmbito

cooperativista gerou também dificuldades para a vida da pessoa, principalmente no que se

refere à qualidade do relacionamento com a família, piorando para alguns membros, os

quais relataram a ocorrência de atritos no ambiente familiar. Para a maioria, a relação com

a família mudou em função do menor tempo disponível em casa, gerando reclamações por

parte do marido e filhos, como exposto abaixo:

“(...) Mudou (relacionamento com a família) porque agora quase

não fico em casa e eles reclamam a minha ausência. Minha família

também acha que eu mudei para melhor porque agora eu sorrio mais,

brinco mais, estou mais extrovertida”.

“(...) meu tempo está muito apertado, está sendo muito difícil e meu

marido e meus filhos cobram isso, reclamam disso (...)”.

“Houve algumas dificuldades. Ano passado meu filho começou a

fugir da escola porque eu estava me dedicando demais aqui, ele começou

41

a sentir; de terça e quinta ele inventa de vir pra cá, quer almoçar aqui. O

mais velho também tem sentido porque eu fui sempre uma mãe muito

presente e isso foi uma das coisas que eles sentiram muito. Meu marido

não sentiu tanto (...) até a cachorra sentiu. Meu marido é compreensivo,

muito até”.

Para duas entrevistadas, a entrada na cooperativa acarretou no término do

casamento, pois o marido não entendia o trabalho, reclamava muito em função da ausência

em casa e do trabalho não dar retorno financeiro. Dessa forma, a ausência da mãe-esposa

em casa, evidencia-se como a maior causa de conflitos, de acordo com os relatos abaixo:

“Não mudou (relacionamento com a família). No começo piorou um

pouco o relacionamento com meu marido da época, pois ele não entendia

meu trabalho, reclamava muito, falava que eu trabalhava e não tinha

retorno. Eu não parava em casa e ele não entendia e aí acabou”.

“Meu ex- marido não entendia o que eu faço, ele achava que tudo o

que faço não vira, não está certo, que eu não deveria trabalhar de graça.

Meu marido nunca apoiou. Em casa não mudou nada”.

A generalização observada em relação ao aspecto qualidade do relacionamento com

as pessoas (amigos, comunidade...) gerou facilidades para a vida das pessoas que

participaram da cooperativa à medida que estas se tornaram mais comunicativas;

extrovertidas; passaram a respeitar mais a opinião dos outros; a atentar melhor ao que

dizem e a expor melhor e com mais segurança suas opiniões. Sendo assim, de acordo com

os relatos de cooperadas:

“Houve melhoras no sentido de dialogar mais com todo mundo,

respeitar opiniões, não ter medo de falar, porque às vezes você não

concorda coma a pessoa e não tem coragem de falar”.

42

“Está melhor (relacionamento com amigos e família) porque tenho

mais assunto, incentivo elas (parente, amigas...) a também trabalharem

em coisas como a cooperativa”.

Facilidades surgiram também em função da maior participação em grupos ligados

ao artesanato, aumentando a interação com a comunidade, como mostra o relato abaixo:

“Aumentou (interação com pessoas da comunidade) porque agora eu

conheço mais pessoas, me relaciono com mais pessoas, com visões

diferentes.... estou acompanhando um grupo de (...), onde estão montando

uma casa para turistas, tentando qualificar o artesanato de lá,

organizando um espaço...estou participando das reuniões. Acho que o

relacionamento com a comunidade melhorou porque agora as pessoas

vêem perguntar as coisas, pedir conselhos, as pessoas acabam tendo você

como referência”.

Um aspecto de conflito é relatado no que se refere à qualidade do relacionamento

com amigos e membros da comunidade, decorrente da ausência de tempo. Algumas

dificuldades relatadas por essas pessoas ocorrem, pois os cooperados não dispõem mais do

mesmo tempo de antes para conversas, esclarecimento de dúvidas ou ensinar coisas sobre

artesanato aos amigos.

“Houve alguma dificuldade na interação com as pessoas, pois

algumas delas sempre vinham até minha casa para eu ensiná-las, porque

eu faço muitas coisas, e eu sempre ensinava, mas agora eu não tenho mais

tempo de ensinar, não que eu não queira, eu não tenho mais tempo”.

43

CAPÍTULO V. MUDANÇAS OCORRIDAS EM DIFERENTES ESFERA S DA VIDA

DE MEMBROS DE UM EMPREENDIMENTO SOLIDÁRIO A PARTIR DA

INSERÇÃO NO GRUPO: OCORRÊNCIA E CARACTERIZAÇÃO DO P ONTO DE

VISTA DOS FAMILIARES DOS COOPERADOS

Na Figura 5 podem ser encontradas as distribuições de indicações feitas pelos

familiares dos cooperados, relativas aos tipos de mudanças em termos de Relações

Humanas observadas a partir de sua participação no grupo; o valor atribuído a cada uma

das mudanças indicadas e o número de pessoas que relatou cada uma delas.

Das indicações de mudanças em termos de relações humanas feitas pelos familiares

dos cooperados que foram entrevistados, quase todas relacionam-se a aspectos positivos

ocorridos desde a entrada na cooperativa. O aumento da freqüência nas relações de

amizade aparece como o tipo de mudança mais citado, com sete indicações, seguido pelo

aumento da freqüência em compartilhar as coisas, com quatro pessoas mencionando tal

7

4

1

2

0

1

2

3

4

5

6

7

Núm

ero

de

Ind

ica

çõe

s

Mudanças relatadas pelos Membros

Aumento (+)

Aumento da frequência (+)

Maior capacidade (+)

Diminuição (-)

Tipos de mudanças

A B C D E

A - Relações de amizade C - Atentar ao que o outro diz D - Ser flexível B - Compartilhar E - Relações de amizade - Brincar com as pessoas - Ser sensível ao outro

Figura 5. Distribuição das indicações feitas pelos familiares dos cooperantes de tipos e valores de mudanças observadas a partir da inserção do parente/amigo no grupo em termos das relações humanas.

44

mudança. Os familiares relataram que seu parente, depois da entrada no grupo, conheceu

mais pessoas, desenvolveu mais relações de amizades e passou a interagir mais com amigos

e comunidade, estando menos solitário. De acordo com o depoimento de alguns deles:

“(...) quando ela veio para (nome da cidade) ela ficava sozinha, sem

amizade e agora aqui não (depois que entrou para a cooperativa), ela tem

amizades, ela me fala mais agora sobre amigos e vizinhos do que antes”.

“Agora ela tem o que fazer e conhece mais pessoas. (...) agora está

conversando mais e fazendo mais amizades”.

“Ela conheceu pessoas novas e está empolgada com o trabalho na

cooperativa (...)”.

“(...) a cabeça dela está evoluindo bastante, porque está convivendo

com mais pessoas. Ela tem mais amigas agora, comenta das amigas”.

O aumento da freqüência em compartilhar as coisas ocorre, segundo os familiares

dos cooperados, pois estes passaram a contar mais sobre as coisas que fazem no trabalho e

porque compartilham mais seus problemas com outras pessoas. Os trechos a seguir ilustram

as opiniões de parentes/amigos nesse aspecto:

“Ela está mais animada, mais entusiasmada, conta sempre sobre as

coisas que ela está fazendo, aprendendo na cooperativa (...)”.

“(...) agora (depois da entrada no grupo) ela está conversando mais

sobre tudo, todo dia chega em casa e conta o que acontece na

cooperativa”.

“Pra gente de casa ela sempre chega contando o que elas

conseguiram, sobre patrocínio, ela está sempre animada com a

cooperativa, pra ela foi muito bom”.

45

“Ela está menos preocupada, mais animada, mais útil... não guarda

mais tanto os problemas só pra ela, compartilha com outras pessoas e isso

é bom para ela (...)”.

Dentre os relatos de familiares e cooperados, em alguns casos há concordância entre

o par (cooperado-familiar) sobre a ocorrência e tipo de mudança observada. Em termos de

Relações Humanas, aparece uma concordância entre uma das duplas, referente ao aspecto

diminuição nas relações de amizade.

Esse aspecto foi apontado por dois familiares entrevistados como sendo um aspecto

negativo decorrente da inserção no grupo solidário. Segundo um deles, a restrição das

amizades ocorreu poeque a esposa está freqüentando menos as casas de outras pessoas, e

tendo sua casa menos freqüentada pelos outros, devido à falta de tempo. Segundo o marido,

ela:

“... está ficando mais dentro de casa agora, fazendo as tarefas da

cooperativa, antes os outros iam mais em casa, ela ia mais na casa dos

outros. Antes ela ficava na vizinhança, na casa das vizinhas conversando,

sobrava tempo, agora ela não tem mais tempo, ela fica mais na

cooperativa”.

Este aspecto de mudança apontado pelo marido também aparece na fala da esposa

cooperada, evidenciando concordância entre os relatos. De acordo com ela, a entrada no

empreendimento cooperativo também acarretou em uma diminuição na interação com

amigos, em função do menor tempo disponível. Trechos do depoimento dado pela

cooperada encontram-se abaixo:

“A relação com os amigos mudou porque agora eu não tenho mais

tempo de ficar na rua batendo papo, de ir pra casa de uma amiga e ficar

conversando, meu tempo agora é contado. Meu tempo está muito

apertado, está sendo muito difícil (...). Houve alguma dificuldade na

interação com as pessoas pois algumas delas sempre vinham até minha

casa para eu ensiná-las, porque eu faço muitas coisas, e eu sempre

46

ensinava mas agora eu não tenho mais tempo de ensinar, não que eu não

queira, eu não tenho mais tempo.”

Para o outro familiar que apontou uma diminuição nas relações de amizade, isso se

deu porque, em função da entrada na cooperativa, muitas pessoas passaram a aproximar-se

da cooperada visando algum interesse. Segundo o filho, a mãe:

“(...) está restringindo mais as amizades, o ciclo de amizades dela,

porque muitas pessoas estão se aproximando dela por interesse, para se

aproveitar de algum sucesso que ela venha a ter”.

As demais indicações de mudanças foram citadas apenas uma vez, todas

apresentando caráter positivo, sendo elas: a maior capacidade de ser sensível ao outro;

brincar com as pessoas e de ser flexível e o aumento da freqüência em atentar ao que o

outro diz.

O aspecto ser sensível ao outro apontado acontece porque, segundo o familiar,

desde a entrada no grupo o membro passou a perceber melhor que os outros também tem

problemas.

“(...) agora ela está vendo que os outros também têm problemas, que

não é só com ela”.

Ser flexível, outro aspecto relatado, refere-se ao fato de que o cooperado apresenta-

se menos rígido com as pessoas da família, e atentar ao que o outro diz aparece como

indicativo de mudanças no sentido de estar mais atenciosa com as pessoas em geral.

Segundo os parentes:

“Ela era muito rígida, tratava a família de modo diferente do que ela

trata agora, era mais rígida, mais revoltada com as coisas, agora

melhorou bastante essa parte”.

“Está dando mais atenção à família (...) agora apresenta mais

interesse pelas pessoas, dá mais calor humano para as pessoas. Isso foi

47

muito bom para minha irmã. (...). Ela está participando mais de visitas às

pessoas quando tem alguma necessidade, algum doente. Ela conversa com

eles, tem interesse pela saúde dos outros. Ela não fazia isso antes”.

Na Figura 6 encontram-se as distribuições de indicações referentes aos tipos de

mudanças em termos de Humor apontadas pelos familiares dos cooperados, a partir da

inserção no grupo, como também o valor atribuído a cada uma das mudanças indicadas e o

número de pessoas que as relatou.

Figura 6. Distribuição das indicações feitas pelos familiares entrevistados de tipos e valores de mudanças observadas a partir da inserção do parente/amigo no grupo em termos de humor.

As indicações de mudanças relatadas pelos familiares dos cooperados, relativas ao

humor, relacionam-se a aspectos de felicidade/alegria e calma/tranqüilidade. O aumento

destas características, como valor atribuído pelos informantes, tem caráter positivo e foi

apontado por nove e seis pessoas respectivamente, como tendo acarretado melhorias em

aspectos comportamentais e da vida do cooperado, desde a inserção no grupo.

A maior calma apresentada pelos cooperados, relatada por seus familiares, é

representada por uma maior tranqüilidade em casa; menor nervosismo e revolta e pelo fato

Mudanças relatadas pelos membros

1

69

Calma - Diminuição ( -) Calma - Aumento (+) Felicidade/Alegria - Aumento (+)

48

do membro mostrar-se menos estressado e ansioso. Segundo os relatos de alguns dos

familiares/amigos:

“Depois que ela (esposa) entrou aqui ela começou a mudar o

comportamento em casa, não tem mais tanta dor de cabeça, está menos

nervosa e está bem empolgada. (...). Antes ela ficava muito nervosa

porque só eu é que punha dinheiro em casa”.

“(...) agora ela (a mãe) conversa mais, dá mais risada, quando ela

consegue fazer as coisas ela fica animada, quando não consegue fica

nervosa, mas agora fica nervosa com alguma coisa diferente, não é com

os antigos problemas. (...) ela está mais despreocupada, mais calma, mais

feliz e a relação com a família melhorou por isso”.

“(...) o que mudou desde que ela (a mãe) entrou para a cooperativa foi

a ansiedade. Ela era muito ansiosa, agora não dá tempo dela ser

ansiosa”.

“Antes ela (a esposa) era nervosa, agora está mais calma. Agora tem

o que fazer e conhece mais pessoas (...)”.

“Ela (a mãe) está conversando mais com as pessoas, está mais

tranqüila em casa, está se divertindo mais”.

Os dois últimos trechos apontados acima, relatados por um marido e uma filha de

cooperadas, mostram coerência com o relato das integrantes, para as quais a calma também

é um indicativo de mudança ocorrida em função da inserção no grupo solidário. Os

depoimentos, respectivamente, da esposa e mãe cooperadas encontram-se abaixo:

“(...) na cooperativa eu aprendi a ter paciência, ser mais calma (...)

o relacionamento com a família e com as pessoas melhorou, porque estou

mais calma”.

49

“Aprendi a conviver mais em grupo, estou mais calma, mais

tranqüila (...) Estou menos nervosa”.

A diminuição da calma é relatada por um dos entrevistados como um aspecto

negativo decorrente da participação de seu familiar na cooperativa. De acordo com o filho

que relatou tal mudança, a mãe apresenta-se mais nervosa desde que se inseriu no grupo,

decorrente do excesso de trabalho:

“(...) o que mudou é que ela está um pouco nervosa, porque está

trabalhando muito”.

Já o aumento da felicidade/alegria deve-se ao fato do membro mostrar-se, no

convívio diário com a família e amigos: mais animado, alegre, empolgado e menos

deprimido e mal humorado. De acordo com eles:

“Agora ela (a amiga) não fica mais tanto em casa naquela

depressão, a cooperativa surgiu como uma coisa pra ela sair de casa. A

cooperativa é uma forma dela por suas idéias e criações pra fora (...) ela

está mais alegre, mais feliz”.

“A entrada para a cooperativa trouxe coisas boas para ela (a

esposa) e para mim. Agora ela está mais feliz, alegre, mais ativa. Ela está

interagindo mais em casa, conversa mais, está mais alegre”.

“(...) o que mudou com a cooperativa foi que agora ela está mais

ativa, mais animada com tudo, mais alegre e menos mal humorada”.

“(...) depois que entrou aqui (na cooperativa) ela (a mãe) está mais

alegre, mais disposta a fazer as coisas”.

“(...) ela (a esposa) está mais animada, mais entusiasmada. Ela está

mais feliz, está gostando disso (de participar da cooperativa), está se

dedicando a isso (...) ela levantou o astral”.

50

Os dois últimos depoimentos apontados acima, relatados por um filho e um marido

de cooperadas, também são condizentes com o relato das cooperadas, para as quais a

felicidade/alegria também é um indicativo de mudança ocorrida em função da entrada na

cooperativa. Os relatos, respectivamente, da mãe e da esposa cooperadas encontram-se

abaixo:

“Estou muito feliz de estar aqui porque aqui não é um trabalho é uma

terapia e como eu nunca tinha trabalhado antes, então estou muito

satisfeita (...). Antes eu ficava só em casa, fazendo serviço de casa, agora

aqui eu venho, passeio quando venho pra cá, tem sido uma vantagem a

mais na minha vida. Antes não tinha nada para fazer e agora na

cooperativa eu trabalho, eu me divirto, eu brinco, dou risada e sou feliz

aqui. Minha família também acha que estou mais feliz, mais animada,

mais alegre, conversando mais”.

“Minha família acha que eu mudei para melhor porque agora eu

sorrio mais, brinco mais, estou mais extrovertida”.

Na Tabela 8 estão as distribuições de indicações apontadas pelos familiares dos

cooperados, relativas aos tipos de mudanças em termos de Crenças e Pensamentos,

ocorridas desde a entrada no grupo. Encontra-se ainda o valor atribuído a cada uma das

mudanças indicadas e o número de pessoas que relatou cada uma delas.

Tabela 8. Distribuição das indicações feitas pelos familiares dos cooperados de tipos e valores de mudanças observadas a partir da inserção do parente/amigo no grupo em termos de crenças e pensamentos.

ASPECTOS/COMPORTAMENTOS

INDICADOS

VALOR ATRIBUÍDO (+/-) No. PESSOAS

Compreensão de mundo Maior capacidade (+) 3

Sentir-se útil Maior capacidade (+) 2

Capacidade de acreditar, ter esperança Maior capacidade (+) 1 Valorizar o trabalho Maior capacidade (+) 1

51

Todas as indicações de mudanças relativas à Crenças e Pensamentos apontadas

pelos familiares dos cooperados são de caráter positivo. A maior capacidade de

compreensão do mundo e de sentir-se útil, como valor atribuído pelo familiar às mudanças

ocorridas na vida do cooperado, é relatada por três e duas pessoas, respectivamente.

Segundo elas, o familiar está apresentando idéias diferentes, vendo as coisas de modo

diferente e sentindo-se mais útil desde que entrou para o grupo cooperativo. Algumas falas

dos parentes relacionadas aos aspectos mencionados são:

“Desde que entrou para a cooperativa ela (a esposa) conversa mais,

tem umas idéias diferentes, isso é por causa do convívio com outras

pessoas, ela tem mais assunto”.

“(...) ela (a irmã) vê tudo agora com outros olhos depois que entrou

para a cooperativa. Agora ela vive mais voltada para os trabalhos da

cooperativa”.

“(...) hoje, fora de casa, ela consegue ver o mundo como é de

verdade, que as pessoas ao redor que são diferentes, outra vida e outra

mãe”.

“Desde que entrou lá ela (a esposa) se sentiu mais útil, mais

participativa em grupos e levantou o astral, porque ela ficava só dentro de

casa, ela voltou a estudar. Ficou uma mulher mais empreendedora”.

A maior capacidade de acreditar, ter esperança e de valorizar o trabalho são

indicativos de mudanças apontados apenas uma vez. De acordo com um familiar e uma

amiga que relataram tais mudanças, depois que a cooperado entrou no grupo, está

mostrando-se mais esperançosa, com mais perspectivas para vida e está aprendendo que seu

trabalho pode ser valorizado. De acordo com o depoimento dessas pessoas:

“(...) a personalidade dela (da amiga) mudou, ela estava muito

desanimada, sem rumo na vida, agora está mais esperançosa nas coisas”.

52

“Desde que entrou na cooperativa ela (a mãe) ficou empolgada,

dona de casa não é empolgada, é viciada, e aprendeu a dar valor para

horário, porque meu pai sempre teve horário para entrar, horário do

almoço, então se atrasava um pouquinho, ela já vinha: “Pô, mas já

atrasou!”. Hoje ela vê que os atrasos são necessários, as entradas mais

cedo, as saídas mais tarde; a responsabilidade com o que faz, porque tudo

o que a gente faz que vira rotina, como acender e apagar a luz, limpar o

chão, tudo vira rotina, não tem muito valor e as pessoas não percebem o

que fazem. Agora quando faz alguma coisa que é fora de casa, seje qual

for o trabalho, as pessoas valorizam todo o tempo do mundo. Isso mudou e

esse é um dos aspectos que minha mãe mais mudou”.

Na Figura 7 podem ser encontradas as distribuições de indicações feitas pelos

familiares dos cooperados relativas aos tipos de mudanças em termos de Interação com

Família observadas a partir de sua participação no grupo. Está demonstrado também o

valor atribuído a cada uma das mudanças indicadas e o número de pessoas que relatou cada

uma delas.

10

7

6

2

4

1

01

23

456

78

91011

Núm

ero

de

Indi

caçõ

es

Mudanças re latadas pelos Membros

Melhora (+)

Aumento dafreqüência (+)

Diminuição (+)

Diminuição dafreqüência (-)

Piora (-)

Tipos de Mudanças

A B C D E F

A e F - Qualidade do relacionamento com a família C e E - Ocorrência de atividades fora de casa B - Disponibilidade para atividades domésticas D - Preocupação com parentes Figura 7. Distribuição das indicações feitas pelos familiares dos cooperantes de tipos e valores de mudanças observadas a partir da inserção do parente/amigo no grupo em termos de interação com família.

53

As indicações de mudanças em termos de interação com família, feitas pelos

familiares/amigos dos cooperados entrevistados relacionadas a aspectos positivos ocorridos

desde a entrada na cooperativa, foram: qualidade do relacionamento com a família;

disponibilidade para atividades domésticas; ocorrência de atividades fora de casa e

preocupação com parentes. Desse modo, o valor atribuído pelos informantes a estas

características foi melhora para a primeira; aumento da freqüência para as duas mudanças

seguintes e diminuição para a última.

A melhora na qualidade do relacionamento com a família aparece como o tipo de

mudança mais citado, com dez indicações, seguida pelo aumento da freqüência de

disponibilidade para atividades domésticas e da ocorrência de atividades fora de casa com

sete e seis pessoas mencionando tais características, respectivamente.

Os familiares relataram que o relacionamento com o membro cooperado melhorou,

depois que este se inseriu no grupo solidário, pois está mais alegre/feliz, menos nervoso e

conversando mais. Os maridos, filhos, amigos e outros parentes relatam que os cooperados

estão interagindo mais com os membros da casa, da família; estão mais atenciosos com os

filhos, e participando mais na realização de tarefas das quais, antes do ingresso na

cooperativa, não costumavam participar ou participavam pouco. Dos dez relatos de

familiares apontando melhora no relacionamento com a família, sete deles estão de acordo

com relatos dados pelo próprio cooperado e dois em desacordo. Abaixo encontram-se

alguns depoimentos da dupla familiar (F)- cooperado (C) que mostraram concordância:

F: “(...) acho que na família ela (a mãe) esta ajudando mais, quando a

gente quer fazer alguma coisa ela ajuda, dá apoio e está mais atenciosa

com os filhos”.

C: “(...) está melhor pois não reclamo mais tanto como antes e estou menos

nervosa”

F: “(...) ela (a esposa) está uma pessoa mais interessada nas coisas e meu

relacionamento com ela melhorou bastante. Antes ela ficava muito

nervosa porque só eu é que punha dinheiro em casa. Ela mudou em casa,

está interagindo mais comigo (marido), com todos”.

54

C: “Antes eu chegava em casa muito desesperada, estressada, na base

do grito, era muita cobrança e hoje não, é diferente. Eu era uma pessoa

muito crítica, muito rabugenta (...) Eu era muito intolerante em tudo,

achava que tinha razão em tudo, agora acho que estou mais tolerante. A

cooperativa influenciou na organização em casa, como a gente divide,

como cobra dos filhos, agora eu aprendi até que ponto cobrar e também

estou mais paciente com os filhos. A relação com a família está melhor

principalmente na forma de dialogar. eu descobri como é gostoso você

sentar, conversar, trabalhar rindo. Em casa é a mesma coisa, você estar

expondo as idéias, antes o meu marido falava uma coisa e eu falava

“você resolve, faz como você quer”, agora eu decido também.”.

F: “ela (a mãe) está interagindo mais em casa, agora ela vem mais com

novidades, porque antes ela vivia naquele mundinho dentro de casa e ela

tem curso superior, é bibliotecária e ela não tinha emprego, o emprego

dela agora e a cooperativa. (...) agora ela faz muito mais coisas do que

antes, por exemplo: agora ela vive fazendo bolsa pra gente (...)”.

C: “A relação com a família está melhor porque eu estava à beira de uma

depressão, de um estresse muito grande porque eu estava na rotina da

casa e agora eu saio de casa exclusivamente pra isso, e isso foi ótimo pra

mim e eu esqueço os problemas mais complicados da minha casa

enquanto estou aqui. Com a minha família a relação mudou, está melhor

agora. Eu sempre fui aberta a diálogos e relacionamentos em casa, mas

ultimamente eu estava muito estressada, irritada e sempre que alguém

vinha falar comigo a resposta era meio no grito, alterada, e agora eu

estou mais maleável com eles, eu melhor no tato com todo mundo (ao lidar

com eles)”. F: “(...) a relação mudou porque ela (a mãe) está mais comunicativa,

conversando mais (...) até hoje não aconteceu nada de ruim (desde a

entrada na cooperativa). Não aconteceram problemas e dificuldades. Pelo

contrário, hoje nós conseguimos inclusive falar com ela sobre o mundo

55

atual, porque mãe quando não trabalha participa somente da televisão, é

a televisão que influencia a cabeça delas, o que tem que ser, como é, como

não é. Eu não tenho o que reclamar da minha mãe trabalhando. Se eu

soubesse, eu teria incentivado antes”.

C: “a relação com a família está melhor porque tenho mais assunto,

incentivo eles a também trabalharem em coisas como a cooperativa”.

Os dois relatos dados por cooperadas e familiares que mostram discordância no

que se refere à qualidade do relacionamento com a família encontram-se abaixo. A filha de

uma cooperada relata que a relação com mãe melhorou, pois esta interagiu mais casa e está

mais atenciosa com os filhos, enquanto a cooperada diz que a entrada na cooperativa

acarretou piora no relacionamento familiar, provocando o divórcio do marido.

F: “(...) ela (a mãe) está interagindo mais em casa, porque antigamente

ela não tinha tempo para nós, agora se dedica mais em casa, ela fica em

casa com meus irmãos o dia inteiro, agora ela brinca com meus irmãos

enquanto ela está fazendo as coisas da cooperativa, ajuda eles a fazer

tarefa. Antes de entrar na cooperativa ela só ia pro baile, não ficava em

casa.”

C: “ No começo piorou um pouco o relacionamento com meu marido da

época, pois ele não entendia meu trabalho, reclamava muito, falava que

eu trabalhava e não tinha retorno. Eu não parava em casa e ele não

entendia e aí acabou”.

Para a irmã de uma cooperada a relação desta com a família (marido, filhos e

parentes) melhorou bastante desde a entrada no grupo. Já no relato da cooperada, isso não

se verifica, pois relata que a relação com o marido piorou.

F: “(...) tem muitas mudanças depois que ela (a irmã) entrou para a

cooperativa, dentro de casa melhorou bastante, com o marido, com os

filhos (...) ela está dando mais atenção à família, agora apresenta mais

56

interesse pelas pessoas, dá mais calor humano para as pessoas. Isso foi

muito bom para minha irmã. Até com meu marido (o cunhado), ela está

tratando-o de um modo tão diferente, está mais doce. (...) Ela era muito

rígida, tratava a família de modo diferente do que ela trata agora, era

mais rígida, mais revoltada com as coisas, agora melhorou bastante essa

parte (...) a relação com a família melhorou, ela está interagindo mais

com o marido, filhos, com toda a família”.

C: “Meu marido não entende o que eu faço, ele acha que tudo o que faço

não vira, não está certo, que ela não deveria trabalhar de graça. O

marido nunca apoiou”.

O aumento da freqüência da disponibilidade para atividades domésticas é notado,

segundo os parentes, pois o familiar do cooperado mostra-se mais preocupado e dedicado

com as tarefas e coisas relativas à casa, estando mais participativo e interagindo mais

nesses assuntos. Um dos motivos apontados pela irmã de uma cooperada para a maior

participação desta no ambiente doméstico é atribuído ao fato da irmã estar convivendo com

pessoas diferentes no âmbito cooperativo:

“desde que ela entrou para a cooperativa ela está mais ativa, tanto

em casa quanto fora, porque agora ela está no meio das pessoas então ela

fala mais, conversa mais....”

Outro familiar, um marido, diz que a maior dedicação da esposa ao lar se dá em

função da cooperada estar consciente de que está muito ausente de casa, devido ao trabalho

no grupo:

“(...) ela está interagindo mais em casa, em casa ela está se

preocupando mais, porque acha que está muito ausente”.

Dos relatos positivos dados por parentes/amigos de cooperados relativos ao aspecto

disponibilidade para atividades domésticas, um deles, narrado por uma filha, não está de

acordo com o relato da cooperada. Segundo a filha, a mãe está participando mais das

atividades que ocorrem no âmbito familiar, enquanto para a cooperada isso não acontece,

57

pois diz ter deixado de fazer algumas coisas depois que entrou para a cooperativa, como

cuidar dos netos.

F: “Ela (a mãe) está participando mais em casa, participa de tudo agora,

de todas as conversas, de todos os assuntos, dentro e fora de casa, até o

monetário, financeiro, de custo-benefício ela participa. Nem compra

sozinha ela fazia, ela era dependente (...)”.

C: “Antes eu só vivia para o marido e para os filhos e agora tenho que

dizer não para muitas coisas. Deixei de olhar meus netos e a fazer

algumas coisas para meus filhos pois tenho menos tempo, estou mais

ocupada”.

O aumento da freqüência na ocorrência de atividades fora de casa acontece, de

acordo com os parentes/amigos, porque o cooperado está saindo mais de casa, como pode

ser notado através dos depoimentos abaixo:

“O que mudou desde que ela (a mãe) entrou na cooperativa foi que

agora ela tem vontade de sair de casa, porque antes ela ficava muito

dentro de casa”.

“(...) o que mudou com a cooperativa é que antes ela (a esposa) ficava

muito em casa e só se preocupava com os problemas da família dela, com

problemas da mãe, dos irmãos, agora não, ela têm outras coisas com que

se preocupar, tem alguma coisa pra fazer.”

“Agora, depois da cooperativa, ela (a amiga) não fica mais tanto em

casa naquela depressão, a cooperativa surgiu como uma coisa pra ela sair

de casa. A cooperativa é uma forma dela por suas idéias e criações pra

fora”.

58

“Antes da cooperativa ela (a mãe) só ficava em casa e se preocupando

muito com os problemas dos filhos, agora sai de casa, está se ocupando

com alguma coisa, está mais animada, mais despreocupada com os

problemas da família”.

O relato acima, obtido do filho de uma cooperada, dizendo que a mãe sai mais de

casa em função da entrada no grupo mostra concordância com relato da própria, para a

qual a cooperativa também foi uma oportunidade de sair de casa.

“Antes eu ficava só em casa, fazendo serviço de casa, agora aqui eu

venho, passeio quando venho pra cá, tem sido uma vantagem a mais na

minha vida. Antes não tinha nada para fazer e agora na cooperativa eu

trabalho, eu me divirto, eu brinco, dou risada e sou feliz aqui (...)”.

A diminuição da preocupação com parentes, apontado por dois familiares, é um

aspecto positivo segundo estes, pois o parente, depois da entrada para a cooperativa, está

menos preocupado com problemas relacionados à família, e sobre os quais não poderia

exercer nenhum tipo de controle.

“Ela (a mãe) só ficava em casa e se preocupando muito com os

problemas dos filhos, agora sai de casa, está se ocupando com alguma

coisa, está mais animada, mais despreocupada com os problemas da

família”.

“Antes ela (a esposa) ficava muito em casa e só se preocupava

com os problemas da família dela, com problemas da mãe, dos irmãos,

agora não, ela têm outras coisas com que se preocupar, tem alguma coisa

pra fazer (...) agora ela não fica pensando mais nos problemas da casa

dela, da família”.

As indicações de mudanças em termo de interação com família que possuem caráter

negativo, apontadas pelos familiares/amigos dos cooperados, foram: a diminuição da

59

freqüência na ocorrência de atividades fora de casa, com quatro indicações e a piora na

qualidade do relacionamento com a família, apontado por uma pessoa.

A diminuição da freqüência na ocorrência de atividades fora de casa ocorre,

segundo os parentes, porque o familiar está restringindo atividades que antes da entrada na

cooperativa costumava fazer, em função do pouco tempo livre disponível, e passa muito

tempo em casa fazendo trabalhos da cooperativa. Segundo um marido entrevistado, sua

esposa, desde a inserção no grupo, diminuiu a ida à casa de amigos; para a filha de outra

cooperada, a atuação da mãe em iniciativas sociais está menor, também devido à escassez

de tempo. Os depoimentos de três familiares que apontaram tais mudanças encontram-se a

seguir:

“Ela (a esposa) está ficando mais dentro de casa agora,

fazendo as tarefas da cooperativa, antes os outros iam mais em casa, ela

ia mais na casa dos outros. Antes ela ficava na vizinhança, na casa das

vizinhas conversando, sobrava tempo agora ela não tem mais tempo, ela

fica mais na cooperativa”.

“(...) antes da cooperativa ela (a mãe) freqüentava um Centro

de Assistência Social e agora não vai mais, ela fica muito cansada por

causa da cooperativa”.

“Ela (a mãe) está participando um pouco menos de trabalhos

comunitários em função das atividades na cooperativa. Antigamente ela se

dedicava mais (...) toda hora ela só fala e faz coisas da cooperativa. Ela

corre bastante atrás das coisas da cooperativa, quando tem que fazer

entrega, se as mulheres não conseguem ela passa o tempo inteiro

fazendo.”

O relato acima, vindo da filha de uma cooperada, mostra um aspecto negativo

decorrente da participação no grupo, a diminuição da freqüência na ocorrência de

atividades fora de casa, e está de acordo com o relato da cooperada, pois esta diz ter

diminuído algumas atividades em função da cooperativa.

60

“(...) Parei de freqüentar piscina. Não tenho mais tempo, todo tempo

que tenho de folga venho para a cooperativa”.

A piora na qualidade do relacionamento com a família é outro aspecto negativo

apontado por um familiar, a irmã de uma cooperada, e é decorrente da menor atenção

dispensada à filha pela cooperada.

“a única coisa ruim da cooperativa é o fato dela ficar o tempo inteiro

fazendo o trabalho dela, mesmo em casa. Não acho isso ruim, só a filha

dela que reclama às vezes, por ela não dar tanta atenção, porque ela fica

toda hora fazendo o trabalho, mas nada que prejudique”.

Na Tabela 9 encontram-se as distribuições de indicações apontadas pelos familiares

dos cooperados, relativas aos tipos de mudanças em termos de Padrões de Conduta,

ocorridas desde a entrada no grupo. Encontra-se ainda, nesta tabela, o valor atribuído a cada

uma das mudanças indicadas e o número de pessoas que relatou cada uma delas.

Tabela 9. Distribuição das indicações feitas pelos familiares dos cooperados de tipos e

valores de mudanças observadas a partir da inserção do parente/amigo no grupo em termos

de padrões de conduta.

ASPECTOS/COMPORTAME

NTOS INDICADOS

VALOR ATRIBUÍDO (+/-)

No. PESSOAS

Comunicabilidade Maior capacidade (+) 11 Responsabilidade Maior capacidade (+) 2

Atentar à realidade Maior capacidade (+) 1

Acomodação Diminuição (+) 1

Independência Maior capacidade (+) 1

Inteligência Maior exercício (+) 1

Amabilidade Maior capacidade (+) 1

Criatividade Maior capacidade (+) 1 Extroversão Aumento (+) 1

61

Como mostra a Tabela 9, todas as indicações de mudanças relacionadas a Padrões

de Conduta apontadas pelos familiares dos cooperados têm caráter positivo, indicando,

portanto, melhora nesses aspectos. A mudança mais apontada pelos familiares, por onze

deles, foi a maior capacidade de comunicabilidade apresentada pelo cooperado desde que

entrou para o grupo. De acordo com seus relatos, os parentes cooperados estão conversando

mais e têm mais assunto para conversar, tendo desenvolvido um repertório verbal maior em

função da participação no grupo. Abaixo pode ser encontrado o depoimento dado pela

amiga de uma cooperada, descrevendo as mudanças provocadas pela cooperativa na vida da

amiga, apontando que ela está mais comunicativa, extrovertida e mais animada. A maior

capacidade de comunicabilidade e o aumento da extroversão apontados pela amiga como

indicativos de mudança estão de acordo com relato da cooperada, pois esta também

observou tais mudanças em seu comportamento.

“Houve mudança desde que ela (a amiga) entrou aqui. Ela era uma

pessoa bem fechada, não conversava com ninguém, até mesmo no ônibus

quando a gente ia para a escola e chegava lá ela sentava, fazia as coisas e

pronto, já ia embora, não conversava com quase ninguém. Agora não, ela

conversa, ela está solta, dá risada, conta piada, até besteira ela fala, é

totalmente diferente do que ela era antes”.

Assim como no caso acima, outros sete relatos dados por familiares indicando

mudanças positivas relacionadas à comunicabilidade também estão em concordância com o

relato dado pelo cooperado. Segundo o depoimento da irmã de uma cooperada (F), esta está

conversando mais, pois agora está convivendo com mais pessoas. O relato da cooperada é

condizente (C).

F: “Sim, houve mudanças desde que ela (a irmã) entrou para a

cooperativa. Não sei dizer, mas ela esta mais ativa, tanto em casa quanto

fora, porque agora ela está no meio das pessoas então ela fala mais,

conversa mais”.

62

C: “Sim, acho que houve uma melhora (desde a entrada na cooperativa)

com relação á comunicação pois eu era uma pessoa muito fechada,

muito reservada e agora estou mais solta, converso mais”.

De acordo com o relato da mãe cooperada e de sua filha:

F: “Ela (a mãe) está conversando mais com as pessoas, está mais

tranqüila em casa, está se divertindo mais”.

C: “A interação com pessoas melhorou desde que entrei aqui pois agora

tenho mais assunto, mais palavras para dar conselhos, consolar alguém.

Escuto mais”.

Para um marido entrevistado, a esposa cooperada também está mais comunicativa em

função do convívio com outras pessoas. Ela também relata que está mais comunicativa; no

entanto, isto parece não se generalizar totalmente para o ambiente familiar, já que diz não

ser na cooperativa o que é em casa.

F: “Agora ela (a esposa) conversa mais, tem umas idéias diferentes, isso

é por causa do convívio com outras pessoas, ela tem mais assunto”.

C: “Sim (aprendeu alguma coisa nova desde que entrou na cooperativa),

com as novas amizades se aprende mais coisas. Estou mais comunicativa

agora e a relação com as pessoas melhorou porque estou mais solta e

converso mais (...) aqui sou mais aberta, falo mais, em casa sou mais

fechada. Aqui eu brinco, me solto. O que eu sou aqui eu não sou na

minha casa. Aqui eu falo palavrão, brinco e essas coisas eu não faço em

casa”.

63

Segundo o relato de uma filha, a mãe cooperada adquiriu um maior repertório

verbal desde que entrou para o grupo e apresenta-se, portanto, mais comunicativa. Em

seguida está o relato da filha (F) e da mãe cooperada (C):

F: “Desde que entrou para a cooperativa mudou algumas coisas,

o contato dela verbal, as palavras, o vocabulário dela mudou, cresceu

(...) ela participa de tudo agora, de todas as conversas, de todos os

assuntos, dentro e fora de casa (...)”.

C: “(...) está melhor (o relacionamento com as pessoas e família

desde que entrou para a cooperativa) porque tenho mais assunto (...)”.

Na Figura 8 estão as distribuições de indicações feitas pelos familiares dos

cooperados relativas aos tipos de mudanças em termos de Hábitos e Interesses observadas

a partir de sua participação no grupo. Está indicado também, nesta figura, o valor atribuído

a cada uma das mudanças indicadas e o número de pessoas que relatou cada uma delas.

7

4

2

1

6

3

2

1

3

1

0

1

2

3

4

5

6

Núm

ero

de In

dica

ções

Mudanças relatadas pelos Membros

Aumento dafreqüência (+)

Maior interesse (+)

Redução dafreqüência (-)

Menor interesse (-)

Tipos de Mudanças

A B C D E F G H I J

A - Ocupação C - Distração E e J - Aprender coisas novas G - Artesanato B e I - Participação em grupos D - Viagens F - Política H - Religião

Figura 8. Distribuição das indicações feitas pelos familiares dos cooperantes de tipos e valores de mudanças

64

A maior parte dos indicativos de mudanças relacionados a hábitos e interesses

apontados pelos familiares dos cooperados tem caráter positivo. O aumento da freqüência

de ocupação, o maior interesse em aprender coisas novas e o aumento da freqüência da

participação em grupo foram as indicações de mudanças mais apontadas pelos familiares

entrevistados, por sete, seis e quatro pessoas respectivamente.

O aumento da freqüência de ocupação está relacionado ao fato dos cooperados,

segundo os familiares, estarem mais ocupados, mais ativos e mais dispostos na realização

de tarefas. Em seguida está o depoimento dado por filho de uma cooperada:

“desde que entrou aqui ela está mais disposta para fazer as coisa,

porque é um projeto em que ela está confiante”.

O maior interesse em aprender coisas novas ocorreu, de acordo com relatos de

familiares, porque os cooperados mostram-se mais interessados em aprender coisas em

geral, como computação e inglês; estão tendo contato com coisas diferentes, como política

e universidade; estão se preocupando e ocupando-se mais com outras coisas, fora a casa e

família e pelo retorno ao estudo. Alguns relatos de familiares ilustram estas indicações:

“Ela (a amiga) está fazendo coisas que antes não fazia, está fazendo

curso de computação, para melhorar na cooperativa, crescer. (...) ela está

mais interessada em assuntos políticos, mas não participa porque não dá

muito tempo”.

“(...) ela (a esposa) voltou a estudar, ficou uma mulher mais

empreendedora”.

“(...) ela (a mãe) mudou muito e para melhor, sempre (desde que

entro para a cooperativa). Agora ela até quer aprender inglês, porque o

artesanato é vendido para estrangeiros”.

O aumento da freqüência da participação em grupo é indicado, de acordo com os

relato de familiares, porque o parente cooperado está participando mais de grupos, como de

65

igreja e grupos comunitários, e de iniciativas sociais e atividades junto à comunidade, desde

que entrou para o grupo cooperativo. Alguns relatos ilustram esse maior engajamento em

grupo:

“(...) ela (a esposa) está participando mais de grupos da igreja e do

centro comunitário e se interessou a aprender mais coisas (artesanato)”.

“Ela (a irmã) está muito mais dedicada com as tarefas da casa e da

igreja, agora ela é ministra da eucaristia (...) Ela está participando mais

de visitas às pessoas quando tem alguma necessidade, algum doente. Ela

conversa com eles, tem interesse pela saúde dos outros. Ela não fazia

isso antes”.

Outros indicativos de mudanças presentes nos depoimentos dos familiares

entrevistados foram o maior interesse por política e artesanato, apontados por três e duas

pessoas respectivamente e o aumento da freqüência de distração, indicado também por dois

familiares. De acordo com os parentes dos cooperados, estes estão apresentando um

interesse maior por assuntos políticos e envolvendo-se mais em atividades dessa ordem;

estão mais interessados em aprender coisas relacionadas ao artesanato e encontram-se,

desde a inserção no grupo, divertindo-se e distraindo-se mais. Abaixo estão alguns relatos

de familiares apontando essas mudanças:

“Ela (a amiga) está mais interessada em assuntos políticos, mas

não participa porque não dá muito tempo”.

“Só com relação a política, que ela (a mãe) está se envolvendo

mais. Antes não gostava muito, agora está mais interessada”.

“A cooperativa mudou no sentido de ser uma forma dela estar

saindo, sendo útil e fez bem para a cabeça dela. É uma forma dela estar

se distraindo, porque ficava muito dentro de casa (...)”.

66

O aumento da freqüência de viagens e o maior interesse em religião são indicativos

de mudanças que aparecem apenas uma vez nos relatos de familiares, relatados por um

marido e irmã de cooperadas. Para um marido, a esposa está viajando mais desde que

entrou para o grupo, em função das atribuições da cooperativa e, para outro familiar, a irmã

de uma cooperada, esta está mais religiosa desde que entrou para o grupo solidário.

Dois indicativos de mudanças apontados por familiares/amigos que apresentam

caráter negativo foram menor interesse em aprender coisa novas e redução da freqüência

da participação em grupos, apontadas por uma e três pessoas respectivamente. De acordo

com a amiga de uma cooperada, esta parou de estudar depois que entrou para a cooperativa

e, segundo filhas e uma amiga de cooperadas, estas estão participando menos de iniciativas

sociais, trabalhos comunitários ou atividades políticas em função do tempo escasso.

Por último, foram identificados indicativos de mudanças apontados pelos familiares

dos cooperados relativos à categoria Saúde. Foi relatada, por um familiar, piora na

condição física de seu parente, depois da entrada no grupo. De acordo com o filho que

relatou tal aspecto negativo, a mãe está apresentando problemas físicos, de cansaço,

decorrentes da participação na cooperativa:

“Assim que ela veio pra cá, no começo, começou a ter problemas

físicos, de cansaço...”.

Três familiares apontaram que notaram uma diminuição da freqüência no adoecer,

desde que seu parente se engajou no grupo. Isso foi percebido, segundo eles, pela

diminuição dos problemas de saúde e dos pensamentos sobre doença antes apresentados

pelo familiar, como pode ser visto nos relatos a seguir:

“Depois que ela entrou aqui ela começou a mudar o comportamento

em casa, não tem mais tanta dor de cabeça, está menos nervosa e está

bem empolgada”.

67

“(...) a cooperativa serviu para ela (a esposa) distrair a cabeça

depois que fez uma cirurgia, agora não fica mais pensando tanto nisso

(na doença)”.

“Ela (a esposa) mudou. Porque ela vivia quieta, doente e triste e

agora não está mais”.

Este último relato, apresentado pelo marido de uma cooperada, está em

concordância com o relato dado pela própria cooperada. Segundo ela, sua saúde também

melhorou e os pensamentos sobre doença diminuíram.

“(...) minha saúde melhorou (depois que entrou para a

cooperativa), agora não fico pensando tanto nisso”.

Na Tabela 10 podem ser vistas as indicações de mudanças já descritas

anteriormente em relação à concordância e discordância, em cada categoria, considerando

os relatos dos membros e de seus familiares/amigos entrevistados, em termos do número de

duplas (membro- familiar/amigo indicado) em cada caso.

Tabela 10. Distribuição das indicações de mudanças feitas pelos membros e familiares/amigos

entrevistados que estão em concordância e discordância, para cada categoria, e o número de duplas

(membro-familiar/amigo indicado por este) que relataram tais mudanças.

ACORDO

Número de duplas que concordaram

DESACORDO

Número de duplas que descordaram

Relações Humanas

• relações de amizade (-)

1

Relações Humanas

Humor

• calma (+) • tranqüilidade (+)

1

1

Humor

68

• felicidade (+)

2

Interação com família

• ocorrência de atritos (-) • qualidade do relacionamento

com a família (+) • ocorrência de atividades fora

de casa (+)

1

7 1

Interação com família

• qualidade do relacionamento com a família (-)/(+)

• disponibilidade para atividades domésticas ( -)/(+)

2 1

Padrões de conduta

• comunicabilidade (+) • extroversão (+)

8 1

Padrões de conduta

Hábitos e Interesse

• aprender coisas novas (+)

1

Hábitos e Interesse

Saúde

• condição física (+)

1

Saúde

69

CAPÍTULO VI. CONSEQUÊNCIAS DA PARTICIPAÇÃO EM UM

EMPREENDIMENTO SOLIDÁRIO: IMPACTOS POSITIVOS NA VID A DE

COOPERADOS

VI i. Ocorrência de mudanças na vida do cooperado em função da participação em

uma cooperativa de trabalho: ponto de vista dos cooperados

Impactos positivos

A análise dos dados referentes às mudanças ocorridas em função da participação

em um empreendimento solidário, na visão dos cooperados, permite concluir que a grande

maioria destes apontou que a participação na cooperativa causou impactos em suas vidas,

sendo estes descritos, também pela maior parte das pessoas, como impactos de caráter

positivo. Isso indica que a exposição dessas pessoas às novas contingências

comportamentais presentes em um ambiente solidário pode ter sido capaz de promover a

aquisição de novos comportamentos, que poderão passar a fazer parte de seu repertório

comportamental, nesta e em outras situações. O desenvolvimento de novos

comportamentos compatíveis com a proposta cooperativista possivelmente tenha se

mostrado necessário para a adaptação do indivíduo às novas contingências presentes, já que

este novo ambiente dispunha de condições às quais esses indivíduos não estavam

habituados.

Os indicativos de mudanças mais apontados pelos cooperados referem-se a

comportamentos desenvolvidos como resultante do contato destes com o âmbito

cooperativista. Entretanto, a indicação de desenvolvimento desses comportamentos não

significa que, necessariamente, estes não faziam parte do repertório comportamental

habitual do indivíduo: eles podem ter sido ampliados em função da exposição às novas

contingências.

Todas estas mudanças apontadas pelos cooperados fazem parte de um repertório

compatível e necessário à adaptação de um indivíduo ao ambiente cooperativo.

Compreender o outro; comunicar-se; tolerar; organizar-se etc... são, portanto,

imprescindíveis a um convívio harmônico entre pessoas diferentes que trabalham em um

70

mesmo ambiente e onde passam grande parte de seu tempo. Em termos de contingências, é

possível supor que, em uma cooperativa, quando o indivíduo se comporta das maneiras

indicadas, por exemplo, sendo comunicativo, compreensivo e tolerante com o outro, ele

tenha seus comportamentos seguidos por conseqüências reforçadoras, as quais por sua vez

são responsáveis pela manutenção destes comportamentos cooperativos.

Desse modo, os dados permitem supor que a cooperativa criou

oportunidades/condições favorecedoras e demandas para o desenvolvimento de novas

condutas necessárias para lidar com as exigências comportamentais desta forma de

organização.

Um estudo conduzido por Vieira e Cortegoso (2001), que teve por objetivo

identificar Classes de Comportamentos de Indivíduos e de Organizações na incubação e no

Funcionamento de Cooperativas de Trabalho, mostrou comportamentos relevantes de

cooperados nesse âmbito. Através de coleta de informações que poderiam oferecer “pistas”

sobre comportamentos desejáveis de indivíduos para atuar em cooperativas, as autoras

identificaram quatro grandes conjuntos (categorias) de comportamentos componentes da

rede de relações envolvidas no processo de incubação de cooperativas populares:

• “comportamentos” de cooperativas populares;

• comportamentos de indivíduos que compõem a cooperativa;

• “comportamentos” da incubadora de cooperativas;

• comportamentos de indivíduos (mediadores e administradores) que compõem a incubadora. A partir das informações obtidas em diversas fontes, foram elaboradas expressões

indicativas de comportamentos desejáveis de cooperados e da própria cooperativa. As

classes de comportamentos identificadas por meio desse procedimento foram organizadas

por níveis de especificidade, gerando “diagramas”, a partir dos quais foi possível identificar

novas classes de comportamentos de diferentes níveis de especificidade. As expressões

indicativas dos comportamentos foram, então, completadas de forma a indicar esses

comportamentos, entendidos como relações entre condições ambientais antecedentes

(aquelas que indicam a necessidade ou oportunidade para apresentar a ação prevista e as

que são necessárias para esta ação ocorrer) e subseqüentes (aquilo que deve resultar, ser

71

produzido ou gerado pela ação) e a ação indicada no diagrama, conforme expressa por

Botomé (1981).

As classes de comportamento “desejáveis” de cooperados foram analisadas em

cinco âmbitos: administrativo; profissional; trabalho em equipe; comunicação e motivação

para o trabalho. É possível afirmar, a partir da análise das classes de comportamentos

indicados como desejáveis neste estudo de Vieira e Cortegoso (2001), que alguns destes

comportamentos correspondem a comportamentos que, em outro contexto, foram

apontados por cooperados como indicativos de mudança pela participação no grupo

cooperativo (presente estudo).

No âmbito administrativo da cooperativa, uma classe de comportamentos de

cooperados indicada como desejável no trabalho de Vieira e Cortegoso (2001), é participar

da administração da cooperativa, sendo para isso necessário, entre outras classes de

comportamentos, participar dos processos de decisão e encaminhamentos do grupo e lidar

com as dificuldades que o sistema capitalista impõe à cooperativa. É possível dizer que

alguns destes comportamentos “desejáveis” são coincidentes, em outro contexto, a certos

comportamentos apontados no presente estudo como resultantes de mudança pela

participação na cooperativa, como: ser flexível; organização; criticidade e interesse por

política.

No âmbito profissional da cooperativa algumas classes de comportamentos

desejáveis são conciliar atividades particulares e de trabalho; cumprir compromissos

assumidos com a cooperativa e engajar-se em atividades de aquisição de novos

conhecimentos (ler, novos conhecimentos), os quais podem estar relacionados a

comportamentos como: responsabilidade; aprender coisas novas; organização, entre

outros.

Com relação às classes de comportamentos de cooperados relacionadas ao trabalho

em equipe, algumas delas identificadas por Vieira e Cortegoso (2001) foram: trabalhar de

modo a considerar a necessidade da coletividade e contribuir para o trabalho em equipe,

sendo para isso necessário respeitar as decisões tomadas; rever as expectativas individuais

em função das expectativa do grupo; ajudar o grupo a rever suas dificuldades e

funcionamento; tomar decisões em conjunto; lidar com pessoas diferentes de si etc... É

possível afirmar que tais comportamentos “desejáveis” correspondem, em outro contexto, a

72

alguns comportamentos indicados pelos cooperados e familiares como indicativos de

mudança decorrentes da participação no empreendimento solidário, como: conviver com

pessoas diferentes em um grupo; atentar ao que o outro diz; compreender o outro;

reconhecer diferenças; adaptar-se à situações; cooperar; julgar os outros; entre outros.

Uma classe de comportamentos desejáveis de cooperados relacionados a

comunicação é promover comunicação entre cooperados, sendo necessário para isso, entre

outras classes comportamentais, estimular o cooperado a expressar para outros a sua

idéia/opinião. Aspectos de mudanças relatados por cooperado e familiares que

possivelmente podem estar relacionados a estas classes de comportamento são: a maior

comunicabilidade; atentar ao que o outro diz; maior segurança para expor idéias e opiniões

etc.

Por último, foram identificadas, por Vieira e Cortegoso (2001) classes de

comportamentos desejáveis relacionadas à motivação para o trabalho, sendo algumas delas:

motivar a si mesmo e aos outros para trabalhar na cooperativa; enfrentar situações de

frustração e desenvolver atividades fora do âmbito profissional de forma a manter coesão

entre os cooperados. Sendo assim, certos comportamentos de mudança, como os relatados

por cooperado na presente pesquisa: sentir-se útil; valorizar o trabalho; ocorrência de

atividades fora de casa; participação em grupos etc. podem estar relacionados à essas

classes de comportamentos desejáveis, no sentido de serem uma decorrência delas ou

fornecendo condições para que tais classes ocorram e seja mantidas no ambiente

cooperativo.

Outro estudo, também conduzido por Vieira e Cortegoso (2002), identificou

condições presentes no funcionamento de cooperativas populares de trabalho que podem

constituir condições favorecedoras ou desfavorecedoras de comportamento verbal

inadequado (boato, fofoca, calúnia, queixa), de modo a ser possível planejar e arranjar

contingências ambientais destinadas a promover comportamentos compatíveis com os

objetivos da existência destas cooperativas. É possível notar, a partir dos dados do estudo,

que algumas condições desfavorecedoras de comportamento verbal inadequado, como por

exemplo exposição de idéias dos membros da cooperativa durante reuniões gerais do grupo;

fontes de acesso dos membros da cooperativa às informações; presença de sistematização

interna das informações e percepção de ansiedade dos membros associada à não obtenção

73

de informações abrangem/requerem comportamentos “chave” apontados pelos cooperados,

no presente estudo, como indicativos de mudanças ocorridas em função da participação no

grupo. Desse modo, certos comportamentos apontados como decorrentes da participação

em uma cooperativa (ser sensível ao outro, compartilhar, tolerar, comunicar-se etc)

mostram-se necessários/devem estar presentes em condições desfavorecedoras de

comportamento verbal inadequado: para os cooperados exporem idéias durante reuniões

uma boa comunicabilidade deve estar presente; para perceber comportamentos ansiosos dos

membros estes devem mostrar-se sensíveis ao outro e para que haja a veiculação e

sistematização de informações entre os membros dentro da cooperativa deve haver, entre

outras coisas, compartilhamento, organização e atenção ao que o outro diz.

Impactos negativos-

Foram poucos os indicativos de mudanças decorrentes da participação na

cooperativa apontadas pelos membros como responsáveis por impactos negativos em sua

vida. Os dois únicos impactos com esse caráter decorrentes da participação no grupo, a

diminuição da disponibilidade para atividades domésticas e a redução de atividades fora

de casa, possivelmente foram apontados como tal porque provocaram uma alteração na

rotina de vida e afetaram diretamente os familiares. Estar menos disponível para atividades

domésticas, como cuidar dos filhos, marido e das tarefas domésticas, traz como

conseqüências, para a cooperada estímulos aversivos, como cobranças e repreensões do

marido e dos filhos, o que possivelmente leva à conclusão de que a participação na

cooperativa trouxe alguns impactos negativos (problemas) para sua vida. Esta mudança

mostrou-se, portanto, como um indicativo de conflito decorrente da inserção no grupo.

A redução de atividades fora de casa em função do menor tempo disponível, algo

que outrora constituía em atividade prazerosa para cooperadas, parece gerar privações de

estímulos reforçadores positivos para estas (conversar com amigos, ir ao clube...),

contribuindo para o fato de apontarem este aspecto de mudança como um impacto negativo

decorrente da participação no grupo.

Entretanto, a ocorrência destes dois tipos de impactos negativos sobre aspectos de

sua vida nos relatos de cooperadas entrevistadas não foram suficientes para estas avaliarem

74

de forma negativa a experiência cooperativa. Isso mostra um certo comprometimento

dessas cooperadas com a organização, a despeito dos impactos negativos que esta venha a

ter sobre suas vidas, fato que pode estar ligado à motivação de pessoas que se inserem e se

mantém em um empreendimento solidário como uma cooperativa. A motivação, por sua

vez, pode estar relacionada, segundo Barros e Cortegoso (2003), tanto à disponibilidade de

reforço, quanto à qualidade das conseqüências disponíveis ou, mais especificamente, pelo

valor que estes participantes atribuem aos eventos que a participação em um

empreendimento desta natureza tornam ou podem tornar acessíveis.

De acordo com estas autoras (Barros e Cortegoso, 2003), apesar dos poucos

recursos disponíveis, e da necessidade de manter-se e manter a família, muitas pessoas

permanecem participando de cooperativas, sendo possível supor que existam condições

associadas a essa permanência, tais como a satisfação pessoal, a construção de relações

humanas baseadas em amizade, as melhores condições de vida no próprio trabalho, a

responsabilidade na administração do empreendimento, etc... Segundo elas, é possível

supor, ainda, que o valor atribuído pelos indivíduos aos diferentes resultados alcançados ou

pretendidos a partir da participação em um empreendimento solidário seja diferente, em

cada caso.

No estudo conduzido por Barros e Cortegoso (2003), no qual foi investigado se a

permanência ou saída de uma pessoa na constituição de uma nova cooperativa pode ser

influenciada pelo valor atribuído a diferentes resultados ou conseqüências da participação

nesses empreendimentos, além da remuneração, mostrou que a permanência de pessoas

num empreendimento solidário é influenciada por esses resultados / conseqüências, tais

como o envolvimento com outros membros, o prazer em desempenhar determinado

trabalho e a participação nas decisões. A influência dos efeitos da participação num grupo

de trabalho, como relacionamentos interpessoas, na permanência ou não por parte das

pessoas, também fica evidente com os dados obtidos.

VI ii. Ocorrência de mudanças na vida do cooperado em função da participação

em uma cooperativa de trabalho: ponto de vista dos Familiares e Amigos

Impactos positivos

75

A maioria dos parentes/amigos de membros do empreendimento entrevistados

indicam que a participação na cooperativa trouxe impactos na vida do cooperado, tendo a

maioria destes caráter positivo. Isto indica que as pessoas que convivem com os

participantes do grupo solidário, em casa ou no círculo de amizades, são sensíveis às

mudanças sofridas pelo familiar/parente/amigo, pois foram capazes de discriminar

mudanças ocorridas em seu repertório comportamental, assim como a aquisição de novos

comportamentos pelos membros. A maioria deles também é capaz de atribuir as mudanças

ocorridas às novas contingências vividas pelo cooperado. Por exemplo: “ela está mais

comunicativa porque está convivendo com mais pessoas, está em contato com coisas novas

(...)”

As diferentes mudanças apontadas pelos familiares e as causas destas mudanças

atribuídas por eles encontram-se inter-relacionadas. Por exemplo, muitos familiares

apontam como causas do impacto melhora na qualidade do relacionamento com família

outros indicativos de impacto também apontados por eles: alegria; calma;

comunicabilidade; aumento da disponibilidade para atividades domésticas etc...

A melhora na relação com a família, um dos indicativos de mudança mais

apontados pelos familiares, mostra-se como um importante impacto decorrente da inserção

no grupo em função de vários novos comportamentos adquiridos pelos cooperados. Além

da aquisição de novo repertório como causa da melhora na qualidade do relacionamento

com a família, há ainda a possibilidade de que, pelo fato dos cooperados passarem mais

tempo fora de casa em função das atividades da cooperativa, quando efetivamente

encontram-se no ambiente familiar dispensem uma maior atenção aos parentes, a qual

outrora distribuía-se ao longo do dia. Desse modo, pelo fato das cooperadas passarem

pouco tempo no ambiente familiar, concentram sua atenção (conversam, mostram-se

alegres, realizam os afazeres domésticos...) nos parentes nestes poucos momentos em casa,

mostrando-se mais receptivos a eles. Uma perda de quantidade de atenção plenamente

compensada por uma melhora qualitativa desta atenção nas oportunidades de interação.

Os parentes e amigos de cooperados que foram entrevistados indicam discriminar

que estes estão mais engajado em atividades do que antes do ingresso no grupo. Eles

percebem que o familiar/amigo encontra-se mais ocupado; participando mais de grupos;

interessado em aprender coisas novas; relacionando-se mais com outras pessoas (tendo

76

mais amizades) e saindo mais de casa. Essa discriminação da mudança de comportamento

apresentada pelo familiar/amigo cooperado certamente ocorre porque estes passaram a

comportar-se de forma diferente do que era o habitual. As cooperadas passam menos tempo

dentro de casa, por conta das atividades da cooperativa; apresentam-se mais comunicativas

(maior comunicabilidade), contando mais sobre aquilo que fazem e compartilhando

acontecimentos e “feitos” do trabalho com parente e amigos com empolgação

(felicidade/alegria).

O aumento da ocorrência de atividades fora de casa também se evidencia como um

importante impacto decorrente da participação em grupo cooperativo. Grande parte das

cooperadas do grupo estudado era dona-de-casa e muitas delas nunca haviam trabalhado

antes da experiência cooperativa ou não exerciam nenhum tipo de atividade fora do lar

havia algum tempo. Para estas mulheres, portanto, “sair de casa” era algo pouco freqüente,

não fazia parte de suas rotinas domésticas. A cooperativa, no entanto, proporcionou a essas

mulheres oportunidades favorecedoras para desenvolverem novas condutas.

Impactos negativos-

De modo geral, nos relatos de familiares/amigos dos cooperados encontram-se

mais indicativos de mudanças negativas do que nos relatos dos próprios membros,

possivelmente porque estes são mais críticos quanto aos aspectos de mudança ocorridos em

função da participação no grupo, e por que estes não experimentam tão diretamente as

possíveis conseqüências reforçadoras advindas do trabalho e do convívio no ambiente

cooperativo. Muitos familiares nunca haviam experimentado a ausência do membro em

casa durante parte do tempo e isso possivelmente provoca neles sentimentos de “perda”,

privações de atenção, entre outras conseqüências tidas por eles como aversivas.

Outro fator que pode ter levado familiares/amigos a apontarem aspectos negativos

decorrentes da participação no grupo talvez seja porque estes dão grande valor ao fator

financeiro como indicativo de mudança ou por considerarem a melhora na qualidade de

vida do membro familiar/amigo como uma decorrência da melhora na situação financeira.

E isso não é o que ocorria na situação em que se encontrava a cooperativa, pois o retorno

financeiro era pouco ou inexistente, na época da realização do estudo.

77

Tendo em vista os indicativos de mudança, apontados pelos familiares/amigos dos

cooperados, que apresentam caráter negativo, é possível supor que atuem como fatores

determinantes para a ocorrência destes impactos negativos o excesso de trabalho e a

decorrente escassez de tempo disponível. Estes, por exemplo, contribuem para a

diminuição da ocorrência de atividades fora de casa, a qual, por sua vez, dá condições para

a diminuição das relações de amizade, já que o tempo disponível para interações é pouco,

assim como para a participação em grupos e para aprender coisas novas.

VI iii. Generalização de comportamentos adquiridos no âmbito cooperativista

para outras esferas da vida de cooperados: facilitações decorrentes de

generalização de condutas

Foram apontados pelos cooperados quatros aspectos de suas vidas para os quais

houve generalização de condutas adquiridas no âmbito cooperativo e a maioria dos

impactos foi considerada como tendo caráter positivo, pois foi indicada ocorrência de

facilitação de relações desde a entrada no grupo. A generalização parece ter ocorrido à

medida que comportamentos aprendidos sob as contingências de um âmbito cooperativo

estenderam-se à outras esferas da vida do indivíduo como casa, bairro e comunidades que o

cooperado participa, ou seja, estes passaram a se comportar nestes ambientes, sob controle

de outras contingências não necessariamente iguais, da mesma forma ou de maneira similar

à que comportam-se na cooperativa.

O aspecto da vida dos cooperados para o qual houve a maior quantidade de

generalizações de condutas cooperativas, gerando muitas facilidades, assim como também

conflitos, foi na qualidade do relacionamento com a família. A maioria das pessoas que

apontaram a ocorrência de generalizações de condutas cooperativas para outros ambientes

o fizeram para esse campo. O desenvolvimento de repertórios comportamentais

relacionados a compartilhar as coisas; comunicabilidade; tranqüilidade; proximidade;

felicidade; extroversão etc, contribuíram para uma facilitação no relacionamento com a

família, pois eram comportamentos compatíveis com condutas desejadas/esperadas no

âmbito familiar.

78

- Engajamento em atividades comunitárias, familiares e políticas

Este também é um importante aspecto da vida do cooperado para o qual foram

indicadas generalizações de condutas desenvolvidas no âmbito do trabalho cooperativo. À

medida que a cooperativa proporcionou às pessoas que dela fazem parte a possibilidade de

contato com outras experiências (feiras, informações, reuniões, encontros...), nos quais

podem ser desenvolvidos novos comportamentos, com ocorrência de novas aprendizagens

(comunicabilidade, extroversão...), estes comportamentos generalizaram-se para outras

esferas da vida do cooperado nas quais ele interage (família, comunidade, política...), de

acordo com os entrevistados. Isso parece relevante na medida que a generalização desses

comportamentos trouxe impactos positivos para a vida do cooperado, ou seja, a mudança

no modo como o cooperado se comporta nos outros ambientes em que vive trouxe para ele

conseqüências reforçadoras positivas na forma de um melhor convívio com a família,

amigos e pessoas da comunidade.

VI iv. Dados que indicam a generalização de comportamentos adquiridos no âmbito

cooperativista para outras esferas da vida de cooperados: conflitos decorrentes de

generalização de condutas

A generalização de aprendizagens adquiridas na cooperativa para o âmbito familiar

também gerou conflitos, acarretando piora na qualidade do relacionamento com a família.

As principais contribuições para os conflitos foram o tempo reduzido em casa, gerando

reclamações dos familiares (ocorrência de atritos) e também dos amigos e a ausência de

retorno financeiro.

- Ausência de retorno financeiro

Esta parece ter sido uma importante causa de conflitos no ambiente familiar, pois

os familiares, principalmente os maridos, parecem não ter compreendido (ou aceito) como

se dá a estrutura cooperativista, em particular o retorno financeiro lento, e ter considerado

que o trabalho da esposa não trazia tantas conseqüências reforçadoras, que “o esforço não

compensava”, visto que ela despendia muito tempo na atividade. Os conflitos geraram

79

discussões, brigas e culminaram, em dois casos, no término do casamento. Nestes casos não

é possível afirmar se foram as mudanças geradas pela participação no empreendimento

solidário as causas estritas do término nos casamentos. Uma possível análise é que a

ocorrência de mudanças comportamentais na vida das cooperadas (passar menos tempo em

casa, menor disponibilidade para atividades domésticas...) evidenciaram dificuldades que já

existiam no casamento, as quais, por sua vez, deram condições para a ocorrência de

divórcio.

VI v. Crítica Metodológica: Limitações do estudo impostas pelo método de coleta de

informações

A observação direta de condutas e fenômenos, em um estudo como este, para

verificar a ocorrência ou não dos comportamentos de mudança a serem investigados,

encontra dificuldades em função da investigadora não estar inserida no contexto de trabalho

e na rede de relações interpessoais do grupo investigado. No entanto, mesmo que isso fosse

possível, o pesquisador ainda encontraria dificuldades, como por exemplo, o grande tempo

necessário para que tais comportamentos de mudanças pudessem ser observados no

cooperado por uma pessoa que não faz parte de seu meio de relações. Para tanto, o método

de investigação utilizado no presente estudo foi a análise do relato verbal dos membros do

grupo e dos familiares e amigos indicados por estes.

De acordo com Beckert (2001) há, no entanto, uma restrição quanto ao uso deste

método, no que diz respeito ao que é denominado na literatura por falta de correspondência

verbal e não verbal, ou correspondência dizer - fazer. Na interação entrevistador -

entrevistado, a verbalização do segundo pode estar sob controle de variáveis estranhas à

correspondência com seu comportamento não verbal, com o que ele realmente faz. Essa

verbalização pode constituir uma resposta de fuga de uma situação constrangedora, em que

o entrevistado pode dizer o que imagina ser dele esperado, recebendo assim o reforço social

do entrevistador. Neste caso, o comportamento verbal e o comportamento não - verbal

corresponderiam a classes de respostas distintas.

No presente estudo, o procedimento utilizado para análise das informações obtidas,

ou seja, o confronto entre os relatos dos cooperados e relatos de familiares/amigos dos

80

mesmos foi a alternativa eleita para averiguação da correspondência verbal e não verbal

dos relatos dos cooperados.

Como proposta para estudos futuros, permanece o desafio do desenvolvimento de

metodologias que permitam ao pesquisador obter dados mais diretos sobre os fenômenos de

interesse, por exemplo “conferindo” no grupo a efetiva ocorrência de novos

comportamentos, de acordo com os outros participantes; observando situações de trabalho

etc.

VI vi. Decorrência dos dados ao Grupo Solidário e à Economia Solidária

A participação de indivíduos em um grupo cooperativo pode promover mudanças

de comportamento e a conseqüente generalização destas novas aprendizagens adquiridas no

âmbito cooperativista para outras esferas da vida social, acarretando facilidades na vida do

indivíduo e provendo conseqüências reforçadoras positivas para este e todos aqueles que

convivem com ele. Conseqüências negativas (dificuldades, conflitos..) também ocorrem, no

entanto em menor quantidade. Isso faz com que tais condutas cooperativas, por sua vez,

sejam mantidas pelo indivíduo, assim como pode favorecer a manutenção das mesmas em

outros ambientes. Como disse Skinner (1978) “os homens agem sobre o mundo,

modificando-o e, por sua vez são modificados pelas conseqüências de sua ação”. Desse

modo, mudanças no modo como o indivíduo se comporta no ambiente em que vive traz

conseqüências, as quais acabarão por modificar o próprio meio cultural no qual está

inserido pois é o comportamento dos indivíduos que constrói a cultura e a mantém.

Isso é compatível com uma proposta cooperativista e de uma economia solidária à medida

que estas propõem uma rede de mudança cultural e a construção de uma nova cultura que

garanta uma sobrevivência mais digna para todos.

81

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Catania, A. C. (1999). Aprendizagem: Comportamento. Linguagem e Cognição.

Porto Alegre: Artes Médicas, 4a edição.

Barnett, R. (2002). Making work your family´s ally. …….33 (7). (?)

Barros, T. S. & Cortegoso, A. L. (2002). Valor do reforço: Identificação de

condições associadas à manutenção de colaboradores em cooperativas

populares de trabalho. Monografia realizada como parte dos requisitos para

formação de Bacharel em Psicologia no Curso de Graduação em Psicologia da

Universidade Federal de São Carlos.

Beckert, M.E. (2001). A partir da queixa, o que fazer? Correspondência verbal –

não – verbal: um desafio para o terapeuta. Sobre Comportamento e Cognição –

Explorando a variabilidade.Vol.7, 217 – 226.

Botomé, S. P. (1981). Objetivos de ensino, necessidades sociais e tecnologia

educacional. Tese de Doutorado apresentada ao Instituto de Psicologia da

Universidade de São Paulo.

Sato, L. (1999). “Djunta Mon” : O Processo de Construção de Organizações

Cooperativas. Psicologia USP, 10 (2), 219-225.

Seidl, M. L.& Oliva, A D. (1997). Condições facilitadoras da aprendizagem

cooperativa num ambiente de comunicação eletrônica em rede: o papel do

professor. Temas em Psicologia, No 1, 119-134.

Singer, P. (2002). Introdução à Economia Solidária. 1a ed. São Paulo: Editor

Fundação Perseu Abramo.

82

Singer, P. & Souza, A.R. (org.) (2000). A Economia Solidária no Brasil. São Paulo:

Contexto.

Skinner, B. F. (1978). Comportamento Verbal. São Paulo: Editora Cultrix.

Veiga, S. M. & Fonseca, I. (2001). Cooperativismo: uma revolução pacífica em

ação. Rio de Janeiro: DP&A: Fase.

Vieira, K.A.L. & Cortegoso, A.L. (2001). Classes de Comportamentos de

Indivíduos e de Organizações na incubação e no Funcionamento de

Cooperativas de Trabalho- Universidade Federal de São Carlos. Trabalho

não publicado.

Vieira, K.A.L. & Cortegoso, A.L. (2002). Contingências para comportamento

verbal em cooperativas populares de trabalho. Monografia realizada como parte

dos requisitos para formação de Bacharel em Psicologia no Curso de Graduação

em Psicologia da Universidade Federal de São Carlos.

83

APÊNDICE 1 e 2

ROTEIROS DE ENTREVISTAS

84

APÊNDICE 1

PARTE 1

Informações sobre a participação do indivíduo no empreendimento cooperativo:

caracterização do repertório comportamental em relação ao contexto cooperativo

(critérios mínimos)

1) Há quanto tempo você faz parte desta cooperativa popular de trabalho?

2) Você já fez parte de alguma outra cooperativa popular de trabalho? Durante quanto

tempo?

3) Você participa de trabalhos comunitários ou iniciativas sociais em seu bairro,

cidade, escola? Descreva-os. Já participou? Descreva-os.

4) Como é a divisão de tarefas domésticas em sua casa ? Quem participa?

5) Desde que ingressou na cooperativa você considera que aprendeu alguma coisa

nova, algum comportamento novo? Qual, quais?

6) Desde seu ingresso na cooperativa você acha que aprendeu que alguns

comportamentos são mais adequados que outros para determinadas situações? Quais

comportamentos? quais situações?

7) Você considera que tenha abandonado ou diminuído alguns comportamentos que

você apresentava antes de entrar na cooperativa ? Qual/quais?

8) Em que atividades você participa dentro do ambiente cooperativista ?

9) Com que freqüência você vai às reuniões do grupo (sempre, ás vezes, nunca...)?

85

10) Como você define a sua relação com o grupo de trabalho cooperativo (boa, ruim,

razoável...)?

11) Quanto você acha que interage com os membros do grupo (muito, pouco...)?

PARTE 2

Informações sobre eventuais impactos da participação no grupo cooperativo em

outras esferas da vida destes participantes: visão do cooperado.

1) Você considera que utiliza algum comportamento novo que aprendeu na

cooperativa em outros lugares (casa, bairro, escola etc...)? Qual(is)? Onde? Como?

2) Você acha que os comportamentos que você aprendeu na cooperativa se limitam a

alguns contextos apenas? Qual (is)? Por quê?

3) Você acha que seu relacionamento com a família, amigos, pessoas da comunidade,

ou seja, com membros fora do ambiente cooperativista está melhor (mudou) depois

que entrou para a cooperativa? Qual? Como? Por quê?

4) Você considera que sua participação em atividades fora do ambiente cooperativista:

participação em iniciativas sociais, em atividades junto à família, comunidade,

atividades políticas, etc... aumentou (está melhor, mudou) desde que entrou para a

cooperativa? Em qual (is) dela(s)?Como?

5) Você acha que houve alguma dificuldade ou melhora na sua interação com pessoas

e situações presentes fora da cooperativa depois que se inseriu nesse ambiente?

Qual (is)?

86

APÊNDICE 2

Informações sobre eventuais impactos da participação no grupo cooperativo em

outras esferas da vida destes participantes: visão dos membros das outras esferas

(família, membros da comunidade, amigos etc.)

Perguntas gerais:

1) Ocorreram mudanças no modo dele (a) ser ou fazer as coisas, depois que ele (a)

entrou para a cooperativa? Qual/Quais?

2) E estas mudanças trouxeram coisas boas? Quais?

3) Trouxeram problemas, dificuldades, coisas ruins? Quais?

Formas alternativas e mais específicas que poderão ser utilizadas, caso as questões

gerais não permitam conseguir as informações desejadas.

1) Existe algum comportamento que ele está apresentando agora e que não

apresentava antes? Qual (is)

2) Existe algum comportamento que ele deixou de apresentar? Qual (is)

3) Você considera que em casa ele está participando mais na realização de tarefas

que, antes do ingresso na cooperativa, não costumava participar ou participava

pouco? Qual (is)? Como?

4) Você acha que ele está participando mais de trabalhos comunitários ou iniciativas

sociais, políticas desde que se inseriu na cooperativa? Qual? Como? Por quê?

87

5) Você acha que ele está interagindo mais com os membros da casa, da família

depois que entrou para a cooperativa? Como? A relação mudou? Em quê mudou?

6) Você acha que ele está interagindo mais com os membros fora do grupo

(comunidade, amigos...)? Você acha que a relação mudou em alguma coisa? Em

quê?

88

APÊNDICE 3

TERMOS DE CONSENTIMENTO

89

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA Incubadora Regional de Cooperativas Populares da UFSCar-

INCOOP

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA PARTICIPAÇÃO EM PESQUISA CIENTÍFICA

Eu, _________________________________________________aceito participar

do trabalho de pesquisa “Impactos da participação de pessoas em Cooperativas

Populares de trabalho sobre outras esferas de sua vida social” na forma de informante

em atividades de entrevista, sob orientação da docente do Departamento de Psicolgia da

UFSCar, Dra. Ana Lucia Cortegoso, e declaro estar ciente do objetivo do projeto, que é o

de avaliar os efeitos da participação de pessoas em cooperativas de trabalho, da garantia de

resguardo de minha identidade, da possibilidade de publicação dos resultados da pesquisa. e

de uso destes resultados para finalidades exclusivamente acadêmicas e científicas.

_____________________________________________________

Nome do participante

Responsáveis: ____________________________________ ___________________________________

Emileane C. Assis de Oliveira Dra. Ana Lúcia Cortegoso São Carlos, _____de ______________de 2003.

90

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA Incubadora Regional de Cooperativas Populares da UFSCar- INCOOP

TERMO DE AUTORIZAÇÃO LIVRE E ESCLARECIDA

PARA PARTICIPAÇÃO DE FAMILIARES E OUTRAS PESSOAS LI GADAS AO PARTICIPANTE

EM PESQUISA CIENTÍFICA Eu, _________________________________________________autorizo que os

pesquisadores do trabalho de pesquisa “Impactos da participação de pessoas em

Cooperativas Populares de trabalho sobre outras esferas de sua vida social”, sob

orientação da docente do Departamento de Psicolgia da UFSCar, Dra. Ana Lúcia

Cortegoso, entrem em contato com meus familiares, amigos ou outras pessoas do meu

convívio cotidiano na forma de informantes em atividades de entrevista, a fim de que estes

possam fazer relatos sobre minha pessoa, os quais serão utilizados como dados da pesquisa.

Declaro ainda estar ciente dos objetivos do projeto, que é o de avaliar os efeitos da

participação de pessoas em cooperativas de trabalho, da garantia de resguardo de minha

identidade e de meus familiares, amigos e afins, assim como da possibilidade de

publicação dos resultados da pesquisa e de uso destes resultados para finalidades

exclusivamente acadêmicas e científicas.

_____________________________________________________

Nome do participante

Responsáveis: ____________________________________ ___________________________________

Emileane C. Assis de Oliveira Dra. Ana Lúcia Cortegoso São Carlos, _____de ______________de 2003.

91

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA Incubadora Regional de Cooperativas Populares da UFSCar- INCOOP

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

PARA PARTICIPAÇÃO DE FAMILIARES E OUTRAS PESSOAS L IGADAS AO PARTICIPANTE

EM PESQUISA CIENTÍFICA Eu, ___________________________________________________aceito participar

da coleta de dados do trabalho de pesquisa “Impactos da participação de pessoas em

Cooperativas Populares de trabalho sobre outras esferas de sua vida social”, na forma

de informante em atividade de entrevista, sob orientação da docente do Departamento de

Psicolgia da UFSCar, Dra. Ana Lúcia Cortegoso, oferecendo informações

sobre__________________________________, meu (minha)_____________________ , a

respeito de alguns aspectos de sua vida relacionados a entrada deste na Cooperativa, os

quais serão utilizados como dados da pesquisa.

Declaro ainda estar ciente dos objetivos do projeto, que é o de avaliar os efeitos da

participação de pessoas em cooperativas de trabalho, da garantia de resguardo de minha

identidade e das informações oferecidas assim como da possibilidade de publicação dos

resultados da pesquisa e de uso destes resultados para finalidades exclusivamente

acadêmicas e científicas.

_____________________________________________________

Nome do participante

Responsáveis: ____________________________________ ___________________________________

Emileane C. Assis de Oliveira Dra. Ana Lúcia Cortegoso São Carlos, _____de ______________de 2003.

92