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Etapas para implantação de mecanismos de compliance Fernando S. Marcato 1 e Andréa C. Vasconcelos 2 No final de agosto de 2013, foi publicada a Lei federal n° 12.846/2013, (“Lei Anticorrupção”). A Lei traz três grandes inovações: (i) a responsabilização objetiva da pessoa jurídica que pratique atos de corrupção; e (ii) introdução de acordos de leniência; e (iii) o reconhecimento de que a existência de mecanismos de compliance estruturados na companhia servem como atenuante no caso de imposição de sanções, em razão de atos de corrupção. A Lei Anticorrupção ainda depende de regulamentação no que diz respeito aos desenhos de políticas de compliance internas que possam ser consideradas para fins de atenuar ou evitar penalização, em razão de atos de corrupção. Entretanto, alguns Municípios 3 já elaboraram suas próprias regulamentações, dentre os quais se inclui o Município de São Paulo. A regulamentação paulistana reforça 4 que a existência de determinados mecanismos de compliance permite a diminuição das possíveis sanções aplicáveis às pessoas jurídicas . Além disso, traz diretrizes para a estruturação dos programas corporativos de compliance, dentre as quais se incluem: (i) mecanismos e procedimentos consistentes de compliance e monitoramento; (ii) controles internos efetivos e eficientes; (iii) a utilização de códigos de ética e de conduta para funcionários e colaboradores; (iv) a existência de sistemas de recebimento e apuração de denúncias que assegurem o anonimato; (v) a adoção de medidas de transparência na relação com o setor 1 Professor da DIREITO GV (FGV/SP) e Sócio da GO Associados. 2 Advogada na GO Associados. 3 Município de Cubatão editou o Decreto n° 10.168/2014. 4 O art. 7°, VIII, da Lei federal prevê que os mecanismos e procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à denúncia de irregularidades e a aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito da pessoa jurídica, serão levados em consideração na aplicação de sanções.

Implantação de Compliance

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Page 1: Implantação de Compliance

Etapas para implantação de mecanismos de compliance

Fernando S. Marcato1 e Andréa C. Vasconcelos2

No final de agosto de 2013, foi publicada a Lei federal n° 12.846/2013, (“Lei Anticorrupção”). A Lei traz três grandes inovações: (i) a responsabilização objetiva da pessoa jurídica que pratique atos de corrupção; e (ii) introdução de acordos de leniência; e (iii) o reconhecimento de que a existência de mecanismos de compliance estruturados na companhia servem como atenuante no caso de imposição de sanções, em razão de atos de corrupção.

A Lei Anticorrupção ainda depende de regulamentação no que diz respeito aos desenhos de políticas de compliance internas que possam ser consideradas para fins de atenuar ou evitar penalização, em razão de atos de corrupção.

Entretanto, alguns Municípios3 já elaboraram suas próprias regulamentações, dentre os quais se inclui o Município de São Paulo.

A regulamentação paulistana reforça4 que a existência de determinados mecanismos de compliance permite a diminuição das possíveis sanções aplicáveis às pessoas jurídicas .

Além disso, traz diretrizes para a estruturação dos programas corporativos de compliance, dentre as quais se incluem: (i) mecanismos e procedimentos consistentes de compliance e monitoramento; (ii) controles internos efetivos e eficientes; (iii) a utilização de códigos de ética e de conduta para funcionários e colaboradores; (iv) a existência de sistemas de recebimento e apuração de denúncias que assegurem o anonimato; (v) a adoção de medidas de transparência na relação com o setor público; e (vi) a realização periódica de treinamentos com o intuito de promover a política interna de compliance5.

Naturalmente, o decreto paulistano não cria um modelo único de compliance. A elaboração e a implantação de programas dessa natureza devem se ajustar às características próprias de cada setor e de cada empresa. Contudo, ainda que não haja um modelo único para uma política corporativa de compliance, há metodologias eficazes para a criação e melhoria dessas políticas. Passamos a detalhar duas dessas metodologias.

I – Metodologia MATIM para a elaboração e implantação de políticas corporativas de compliance .

A metodologia MATIM consiste em cinco etapas: (i) mapeamento dos riscos do negócio; (ii) plano de ação para adequação do companhia às melhores práticas; (iii) treinamento de todos os profissionais da empresa; (iv) implantação dos mecanismos de compliance (códigos de ética, canais de denúncia, mecanismos de report, entre outros); e (v) monitoramento da implementação.1 Professor da DIREITO GV (FGV/SP) e Sócio da GO Associados.2 Advogada na GO Associados.3 Município de Cubatão editou o Decreto n° 10.168/2014.4 O art. 7°, VIII, da Lei federal prevê que os mecanismos e procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à denúncia de irregularidades e a aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito da pessoa jurídica, serão levados em consideração na aplicação de sanções.5 Art. 24, do Decreto n. 55.107/2014.

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II – Compliance em perspectiva transversal

Ainda que a Lei Anticorrupção seja o motivo mais evidente para a criação de políticas de compliance, um programa estruturado deve levar em consideração todas as ações e atividades da empresa. Uma visão transversal de compliance¸ por sua vez, depende de um esforço multidisciplinar com o engajamento de todos os profissionais da companhia.

Quatro dimensões são fundamentais a serem consideradas na estruturação do programa: (i) anticorrupção, políticas de meio ambiente, políticas de defesa da concorrência e políticas aduaneiras.

Como políticas anticorrupção, podem ser citadas a elaboração de códigos de ética e de conduta para o relacionamento com autoridades governamentais, bem como redação ou revisão de políticas internas e treinamento para empregados, executivos, consorciados, representantes e parceiros de negócio.

Na perspectiva do meio ambiente, é importante mencionar que, com o avanço da norma internacional ISO 14001 de Sistema de Gestão Ambiental (“SGA”)6, a gestão ambiental empresarial é abrangida por uma norma geral que a torna passível de certificação. Esta certificação possibilita que a empresa melhore a sua imagem perante a sociedade, fortaleça a competitividade, facilite empréstimos bancários, bem como favoreça o trato das empresas com os órgãos ambientais. Esses certificados precisam ser sistematicamente verificados, cumpridos e o seu cumprimento avaliado regularmente. Além disso, é fundamental a implantação de mecanismos de autocontrole como relatórios de sustentabilidade, políticas internas de reciclagem e mobilização socioambiental e o fortalecimento de relacionamento com ONGs e com a sociedade civil em geral.

As políticas de compliance no setor aduaneiro , por sua vez, devem levar em consideração as principais etapas críticas dos processos de exportação e importação no dia a dia das organizações (demora na liberalização de cargas, gastos de armazenagem, possível paralisação do comércio entre outros) para facilitar um comércio mais forte.

Já no âmbito da defesa da concorrência, é indispensável analisar os riscos de operações de concentração econômica, avaliação de riscos de práticas comerciais específicas, bem como adotar medidas preventivas em sede de due diligence (para evitar o gun jumping) e de elaboração de contratos que possam mitigar eventuais condutas comerciais consideradas como ilícitos contra a ordem econômica. As políticas corporativas antitrust também permitem melhor o desenho de editais e RFPs, reduzindo o risco da companhia de ser vítima de cartéis e otimizando suas compras.

O Brasil está lentamente adotando padrões de melhor governança social e responsabilidade empresarial. A estruturação de uma política de compliance é passo fundamental nesse forço. Certamente permite às empresas mitigarem seus riscos, além de melhorar sua imagem perante seus consumidores e autoridades governamentais. Mãos a obra!

6 A ISO 14001 é uma norma internacionalmente reconhecida que define o que deve ser feito para estabelecer um SGA efetivo. A norma é desenvolvida com objetivo de criar o equilíbrio entre a manutenção da rentabilidade e a redução do impacto ambiental com o comprometimento de toda a organização.