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~-.~- ." Implicações funcionais e biológicas do conhecimento da leitura e da escrita Alexandra Reis y Alexandre Castro-Caldas laboratório de Estudos de Linguagem. Centro de Estudos Egas Moniz. Hospital de Santa Maria. Lisboa, Portugal. /""""" Resumo. O estudo comparativo de duas populações homogéneas a nível cultural, social, funcional e que apenas se distinguiam pelo conhecimento,da regra de correspondência grafema-fonema, tem vindo a mostrar que a aprendiza- gem estruturada da dimensão visuo-gráfica da linguagem oral modula a funcionalidade do sistema cognitivo para o processamento da informação. Esta modulação funcional tem a sua manifestação em aspectos particulares do subs- tracto neurobiológico subjacente a este sistema. Sucintamente podemos afirmar que: 1) o grupo analfabeto revela uma dificuldade particular na análise dos aspectos explícitos da forma da linguagem oral, o que faz com que o seu processamento se apoie mais no conteúdo semântico da informação do que na forma lexical ou sub-Iexical; 2) o não desenvolvimento dos mecanismos que permitem análises explícitas do estímulo da fala mostrou repercussões na or- ganização dos processos biológicos subjacente a esta actividade cognitiva. Os analfabetos para repetir pseudo-pa- lavras activaram em PET as mesmas estruturas cerebrais que foram activadas durante a repetição de palavras, en- quanto que os letrados activam estruturas diferentes consoante a natureza da tarefa; 3) Os analfabetos afásicos, cujo acesso ao conteúdo da informação se encontra comprometido apresentam características particulares em compa- ração com o que se encontra nos controlos letrados; 4) o comportamento de sujeitos analfabetos, em provas que en- volvem transferência interhemisférica de informação visuo-motora e espacial, é significativamente pior que o do gru- po cuja prática da leitura e da escrita estimula esta transferência; 5) o menor processamento de informação entre os dois hemisférios cerebrais, associa-se à menor dimensão do Corpo Caloso nos analfabetos, precisamente na região desta estrutura que faz a ligação entre o córtex parietal direito e esquerdo, região esta responsável pela transferência de informação relevante para a leitura e para a escrita. Palavras clave: Leitura. Escrita. Analfabetismo. Abstract. Two populations ofthe same cultural and, social backgrounds which are only distinguished only by lhe fact of knowing or not the rules for graphemic-phonemic matching are compared in a series of expriments. The goal is to r-,w if lhe structured learning process of lhe visuo-graphic dimension of the orallanguage modulates lhe functiona- , of the cognitive system for the processing of information and its biologic counterpart. Results showed that: 1) lhe illiterate group reveals particular difficulty in analysing lhe explicit aspects ofthe oral representation of language, cau- sing its processing to be based more on lhe semantic content of the information rather than on the lexical or sub-Ie- xical forms; 2) lhe non-development of the mechanisms that make it possible to perform explicit analysis of lhe spe- ech stimulus showed repercussions in the organisation of the underlying biological processes of this cognitive acti- vity. IIliterates in arder to repeat pseudo-words, activated in PETlhe same brain structures which are activated during word repetition while literates activate different patterns in each circumstances; 3) the illiterate aphasics in whose ac- cess to semantics is compromised, have particular clinical characteristics which distinguish that frem literate apha- sics; 4) the behaviour of illiterate subjects in tasks that involve inter-hemispheric transfer of visuo-motor and spatial information is significantly different from lhe group whose practise in reading and writing stimulates this inter-he- mispheric transfer; 5) the less amount of processing of information between lhe two cerebral hemispheres is associa- ted to a smaller size ofthe Corpus Calosum in illiterates, exactly in the regiDo of this structure that links lhe right to the left parietal corteces. It is this region that is responsible for the transfer of relevant information for reading and writing. Key words: Reading. Writing. llliteracy. INTRODUÇÃO zação funcional do cérebro humano depende da interacção entre factores genéticos e factores ambientais (23). Relativa- mente aos factores genéticos é possível, a nível experimen- tal, criar paradigmas para estudar a sua influência na organi- zação funcional e biológica do cérebro humano, tanto em animais como em humanos. No que respeita aos factares am- bientais tem sido demonstrado, em experimentação animal, que a estimulação do meio molda as estruturas neuronais (16,27,44). O estudo da influência da estimulação externa no desenvolvimento funcional e biológico nos humanos é mais difícil de fazer, exceptuando os casos das crianças sel- Aceita-se como verdade estabelecida no campo das Neu- rociências Cognitivas de Desenvolvimento que a organi- Correspondência: Alexandra Reis Laboratório de E.ftudo.f de Linl?uagem Centro de Estudos Egas Monil. Hospital de Santa Maria 1600 Lisboa. Portugal 66 NEUROPSYCH LATINA (Barc) 1998; 4 (2): 66-72

Implicações funcionais e biológicas do conhecimento da ...w3.ualg.pt/~aireis/papers/npl_reis_1998.pdf · o processamento da linguagem escrita. Estas duas vias con-vergem num sistema

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Implicações funcionais e biológicas doconhecimento da leitura e da escritaAlexandra Reis y Alexandre Castro-Caldas

laboratório de Estudos de Linguagem. Centro de Estudos Egas Moniz. Hospital de Santa Maria. Lisboa,Portugal./"""""

Resumo. O estudo comparativo de duas populações homogéneas a nível cultural, social, funcional e que apenas sedistinguiam pelo conhecimento,da regra de correspondência grafema-fonema, tem vindo a mostrar que a aprendiza-gem estruturada da dimensão visuo-gráfica da linguagem oral modula a funcionalidade do sistema cognitivo para oprocessamento da informação. Esta modulação funcional tem a sua manifestação em aspectos particulares do subs-tracto neurobiológico subjacente a este sistema. Sucintamente podemos afirmar que: 1) o grupo analfabeto revelauma dificuldade particular na análise dos aspectos explícitos da forma da linguagem oral, o que faz com que o seuprocessamento se apoie mais no conteúdo semântico da informação do que na forma lexical ou sub-Iexical; 2) o nãodesenvolvimento dos mecanismos que permitem análises explícitas do estímulo da fala mostrou repercussões na or-ganização dos processos biológicos subjacente a esta actividade cognitiva. Os analfabetos para repetir pseudo-pa-lavras activaram em PET as mesmas estruturas cerebrais que foram activadas durante a repetição de palavras, en-quanto que os letrados activam estruturas diferentes consoante a natureza da tarefa; 3) Os analfabetos afásicos, cujoacesso ao conteúdo da informação se encontra comprometido apresentam características particulares em compa-ração com o que se encontra nos controlos letrados; 4) o comportamento de sujeitos analfabetos, em provas que en-volvem transferência interhemisférica de informação visuo-motora e espacial, é significativamente pior que o do gru-po cuja prática da leitura e da escrita estimula esta transferência; 5) o menor processamento de informação entre osdois hemisférios cerebrais, associa-se à menor dimensão do Corpo Caloso nos analfabetos, precisamente na regiãodesta estrutura que faz a ligação entre o córtex parietal direito e esquerdo, região esta responsável pela transferênciade informação relevante para a leitura e para a escrita. Palavras clave: Leitura. Escrita. Analfabetismo.

Abstract. Two populations ofthe same cultural and, social backgrounds which are only distinguished only by lhe factof knowing or not the rules for graphemic-phonemic matching are compared in a series of expriments. The goal is tor-,w if lhe structured learning process of lhe visuo-graphic dimension of the orallanguage modulates lhe functiona-

, of the cognitive system for the processing of information and its biologic counterpart. Results showed that: 1) lheilliterate group reveals particular difficulty in analysing lhe explicit aspects ofthe oral representation of language, cau-sing its processing to be based more on lhe semantic content of the information rather than on the lexical or sub-Ie-xical forms; 2) lhe non-development of the mechanisms that make it possible to perform explicit analysis of lhe spe-ech stimulus showed repercussions in the organisation of the underlying biological processes of this cognitive acti-vity. IIliterates in arder to repeat pseudo-words, activated in PETlhe same brain structures which are activated duringword repetition while literates activate different patterns in each circumstances; 3) the illiterate aphasics in whose ac-cess to semantics is compromised, have particular clinical characteristics which distinguish that frem literate apha-sics; 4) the behaviour of illiterate subjects in tasks that involve inter-hemispheric transfer of visuo-motor and spatialinformation is significantly different from lhe group whose practise in reading and writing stimulates this inter-he-mispheric transfer; 5) the less amount of processing of information between lhe two cerebral hemispheres is associa-ted to a smaller size ofthe Corpus Calosum in illiterates, exactly in the regiDo of this structure that links lhe right to theleft parietal corteces. It is this region that is responsible for the transfer of relevant information for reading and writing.Key words: Reading. Writing. llliteracy.

INTRODUÇÃO zação funcional do cérebro humano depende da interacçãoentre factores genéticos e factores ambientais (23). Relativa-mente aos factores genéticos é possível, a nível experimen-tal, criar paradigmas para estudar a sua influência na organi-zação funcional e biológica do cérebro humano, tanto emanimais como em humanos. No que respeita aos factares am-bientais tem sido demonstrado, em experimentação animal,que a estimulação do meio molda as estruturas neuronais(16,27,44). O estudo da influência da estimulação externano desenvolvimento funcional e biológico nos humanos émais difícil de fazer, exceptuando os casos das crianças sel-

Aceita-se como verdade estabelecida no campo das Neu-rociências Cognitivas de Desenvolvimento que a organi-

Correspondência:

Alexandra Reis

Laboratório de E.ftudo.f de Linl?uagemCentro de Estudos Egas Monil.Hospital de Santa Maria1600 Lisboa. Portugal

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IMPLICAÇÕES FUNCIONAIS E BIOLÓGICAS DO CONHECIMENTO DA LEITURA E DA ESCRITA

vagens (12, 22), ou, os casos de privação sensorial, como oconjunto de estudos realizados por Neville (30), utilizando omodelo natural da privação auditiva. Neste caso foi possívelcompreender que a estimulação externa, através da lingua-gem ouvida desempenha um papel importante na organi-zação do sistema cognitivo.

Os primeiros trabalhos experimentais a explorar a possí-vel relação entre escolaridade e organização cerebral para alinguagem surgiram na década de 70 e, utilizaram como mo-delo de estudo populações com lesão cerebral e a probabili-dade destas lesões provocarem afasia (4,13,14). Na sequên-cia destes trabalhos, Lecours e col. (24, 25, 26) estudaram,em grupos com e sem lesão cerebral, a influencia de escola-ridade no desempenho em provas neuropsicológicas e verifi-caram um desempenho significativamente inferior na maio-ria das provas realizadas pelos analfabetos, tanto nos contro-los como nos doentes com lesão hemisférica direita como,ainda, nos doentes com lesão hemisférica esquerda. A im-portância destes trabalhos residiu no facto de, pela primeiravez, se ter equacionado a importância da aprendizagem deuma determinada capacidade na organização funcional docérebro humano. Porém, a hipótese levantada por estes tra-balhos dizia respeito exclusivamente à questão da represen-tação hemisférica dos processamentos relacionados com alinguagem.

Estudos realizados em sujeitos com escolaridades distin-tas, mas sem lesão cerebral, têm igualmente questionado aimportância da aprendizagem escolar na organização funcio-nal do cérebro humano e tem estimulado o interesse pelacontinuação das pesquisas nesta área (1,2,5,15,17,24,29,31, 39, 42, 43).

De forma a analisarmos a importância da ausência deaprendizagem de uma capacidade, mais propriamente a lei-tura e a escrita, na organização funcional e neurobiológicados sistemas que suportam a linguagem oral e cognição emgeral, escolhemos como modelo de estudo uma populaçãoanalfabeta. A frequência relativamente elevada de sujeitosanalfabetos em Portugal, permite isolar, a nível experimentalum grupo de sujeitos que, por motivos exclusivamente so-ciais, não teve oportunidade de aprender e praticar a repre-sentação escrita de sistemas simbólicos como, por exemplo,o sistema alfabético através da leitura e escrita, ou o sistemanumérico através do cálculo matemático. Para avaliar a re-

percussão funcional e neurobiológica da aprendizagem destaoperação pelo sistema cognitivo, comparámos os desempen-hos desta população analfabeta com uma população do mes-mo meio socio-cultural que apenas se distinguia pelo conhe-cimento da regra de correspondência grafema-fonema.

A primeira abordagem, nos grupos estudados, foi a se-lecção de uma população homogénea, baseada na inteligên-cia e nos aspectos culturais (avaliado com os instrumentosapropriados), onde a única característica que distinguisse osdois grupos fosse o simples facto do grupo letrado conhecera forma dos grafemas e as respectivas correspondências fo-némicas. É necessário ser cuidadoso na definição de analfa-betismo, de forma a seleccionar a população correcta a serincluída nos estudos, não só respeitante aos sujeitos analfa-betos como, também, aos seus controlos letrados. Tem sido

largamente reconhecido, que um número significativo de su-jeitos, após o período normal para a frequência da escola nainfância, e após terem aprendido a ler e a escrever, se tornamanalfabetos funcionais na idade adulta. Isto deve-se à perdade hábitos de leitura. Os analfabetos funcionais têm que serdistinguidos dos analfabetos que, por razões exclusivamentesocio-económicas e não por defeito de aprendizagem, nãofrequentaram a escola. O facto de um sujeito ter estado algu-ma vez exposto à aprendizagem da leitura faz com que o sis-tema não se possa considerar inexperiente para o desempen-ho das estratégias pedidas no trabalho experimental. Consi-deramos sempre por isso, como analfabetos, os sujeitos quenunca tenham sido expostos a qualquer contacto com a re-presentação simbólica escrita, através da operação de corres-pondência fonema-grafema.

Dentro do modelo do analfabetismo privilegiámos comoobjecto de estudo, para a exploração das consequências fun-cionais e biológicas da aquisição da escrita, a linguagemoral. A escolha desta função justifica-se, não só pela sua uti-lização na maioria dos domínios cognitivos mas, também,pelo facto de serem acessíveis à experimentação e equacio-namento teórico dois níveis de processamento - um implíci-to e outro explícito. O processamento implícito da lingua-gem oral caracteriza-se por uma forte componente biológica-maturativa, interactiva com o meio social, desenvolvendo-secomo procedimento sensorio-motor automático a um nívelinconsciente. Complementarmente ao processamento implí-cito, o segundo nível de processamento permite análises fo-nológicas explícitas do estímulo fala e depende da aquisiçãoformal de uma competência específica - a dimensão visuo-gráfica da linguagem. As operações realizadas a este nívelsão do domínio da consciência.

Tanto quanto sabemos, os autores dos modelos propostospara o processamento cognitivo da linguagem oral e escrita,têm dado pouca importância à influência que a aprendiza-gem da linguagem escrita -sistema grafémico- pode exercersobre a linguagem oral, pelo menos no que respeita à onto-génese do sistema. O modelo elaborado por Patterson e She-well (33) considera dois mecanismos de processamento pa-ralelos para a linguagem: o oral e o escrito. Ambos os meca-nismos estão apoiados em três formas interrelacionadas deprocessamento da informação: a semântica, a fonológica e alexical. Resumindo o funcionamento deste modelo, podemosdizer que consoante a modalidade de apresentação do estí-mulo (auditiva ou visual), este pode ser processado ou pelavia para o processamento da linguagem oral, ou pela via parao processamento da linguagem escrita. Estas duas vias con-vergem num sistema de processamento cognitivo central(semântica) que apoia a compreensão e a produção da lin-guagem, independentemente da sua modalidade de apresen-tação. Para além das duas vias, que dependem da modalida-de sensorial de apresentação do estímulo, as três formas deprocessamento da informação (a fonológica, a lexical e asemântica) tratam a informação e estabelecem uma ligaçãoentre a entrada da informação e a saída desta. Relativamenteao processamento da linguagem oral, o modelo elaboradopor Patterson e Shewell (33) explica, por exemplo, a repe-tição de pseudo-palavras através de um processamento fono-

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ALEXANDRA REISY ALEXANDRE CASTRO-CALDAS

lógico, processamento este que pode igualmente apoiar a re-petição de palavras, que por sua vez podem ser apoiadas emmecanismos lexicais e semânticos. Estes dois últimos saõ

competentes para a repetição de palavras e não para a repe-tição de pseudo-palavras.

É a partir da consciencialização dos segmentos da lin-guagem oral -que até certa altura do desenvolvimento semantêm como função procedimental (implícita)- que é pos-sível aprender a leitura e a escrita alfabética, ou seja, paraque a correspondência fonema-grafema se estabeleça, é ne-cessário tomar explícita a estrutura fonológica implícita(41).

Na formulação teórica que nos norteia, assumimos que,para cada processamento cognitivo concorrem múltiplas viasparalelas de processamento de informação, sendo algumasinerentes ao desenvolvimento biológico-maturativo do indi-víduo em contexto social e, outras, criadas no organismoapós a aprendizagem formal, como o caso da leitura e da es-crita. De acordo com Mesulam (28), estas novas vias vão so-brepor-se às existentes aumentando a eficácia do sistema emmomentos de tomada de decisão.

o CONTRIBUTO EXPERIMENTAL PARA O ESTUDODE UMA POPULAÇÃO ANALFABETA

o processamento da linguagem oral

Os trabalhos de Morais e col. (29) e Adrián (I), sobre aconsciência fonológica do discurso, são merecedores de des-taque, pois sustentam em grande parte, as hipóteses por nósinvestigadas. Morais e col. (29) demonstraram que sujeitosanalfabetos adultos eram incapazes de retirar ou adicionarfonemas na parte inicial de pseudo-palavras. Apoiado pelosresultados de Morais e col. (29), Adrián (I) comparou o de-sempenho de dois grupos, que apenas se distinguiam pelofacto de conhecer ou não a linguagem escrita, em provas me-talinguísticas de segmentação e análise de palavras. O com-portamento dos grupos observados confirmou os resultadosobtidos por Morais e col. (29). Ambos os trabalhos demons-tram a dificuldade dos analfabetos em provas que requeremconsciência fonológica, provando uma ligação entre a cons-ciência fonológica e a escolaridade alfabética. Estes factospermitem consolidar a hipótese de que a aprendizagem e otreino da leitura e da escrita, participam na tomada de cons-ciência das unidades implícitas de segmentação do discurso.

No sentido de avaliarmos a importância da aquisição dadimensão gráfica da linguagem sobre o processamento dalinguagem oral desenhámos, entre outras, duas provas cujodesempenho poderia estar relacionado com o conhecimentoda leitura e da escrita (ver 37). Numa prova de repetição depseudo-palavras -sequências fonológicas sem representaçãoléxico-fonológica e léxico-semântica na língua Portuguesa-que activam simultaneamente mecanismos implícitos (deaprendizagem casual), como explícitos (aprendizagem for-mal), de análise fonológica, os analfabetos revelaram um de-sempenho significativamente inferior quando comparadoscom uma população letrada (Fig. I). Esta discrepância no de-

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Pseudo-Palavras

Figura 1. Média de respostas correctas (palavras vs.pseudo-palavras).

sempenho naõ se verificou quando os grupos repetiram pa-lavras, ou seja, sequências fonológicas com representaçãoléxico- fonológica e léxico-semântica (Fig. I). A dificuldadeapresentada pelo grupo analfabeto na repetição de pseudo-palavras, sugere que a ausência de aprendizagem da capaci-dade para segmentar a linguagem em unidades pequenas (fo-nemas), quando apoiada por um sistema de referência de re-presentação gráfica dos sons (grafemas), faz com que oautomatismo da utilização da análise fonológica se percapara o objectivo de processamento dos aspectos explícitos dalinguagem. Este grupo processa a linguagem oral apoiadonuma análise fonológica não consciente e enquadrada porum referencial semântico, limitado ao conteúdo da infor-mação. Quando forçados ao uso de uma análise fonológicamais precisa e, como tal, explícita, os analfabetos apresen-tam dificuldades particulares. Assim, podemos concluir queo uso de uma via directa ou fonológica, apoiada por meca-nismos fonológicos de uma memória de trabalho, se encon-tra particularmente condicionada devido à ausência de re-forço visuo-gráfico das unidades auditivas da linguagemoral. Pelo contrário, os letrados, para processar a linguagemoral, usam simultaneamente e em paralelo, todo um conjun-to de estratégias (análise fonológica implícita e explícita, en-quadramento semântico e representação visuo-gráfica da lin-guagem).

Sendo o conteúdo semântico da palavra um suporte im-portante para as operações cognitivas nos analfabetos, de-senhámos uma segunda prova de associação de pares de pa-lavras (37). Nesta prova foram construidas duas listas de pa-res de palavras, onde o critério de associação entre os paresobedecia a um critério semântico (ex., boca-dente), ou a umcriterio fonológico (ex., mala-pala). Os analfabetos obtive-ram um desempenho significativamente mais baixo, quandocomparados com os letrados, em ambos os critérios de asso-ciação de pares de palavras, evidenciando igualmente, umadissociação significativa no desempenho entre os pares se-

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Figura 2. Média de associações correctas (fonológicas vs.semânticas).

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manticamente relacionados e os pares fonologicamente rela-cionados. Por seu lado, os letrados não mostraram diferençasno desempenho entre os dois critérios de associação (Fig. 2).

O comportamento do grupo não escolarizado sugere queeste, quando confrontado com problemas que podem ser re-solvidos pela «forma» e pelo conteúdo semântico, prefereclaramente o último. A organização conceptual destes sujei-tos está mais apoiada em associações léxico-semânticas, doque em associações relacionadas com os atributos léxico-fo-nológicos das palavras.

A modulação cognitiva resultante do não acesso ao sim-bolismo visual da informação, não se limita à linguagem or-tográfica alfabética mas acontece, igualmente, no que respei-ta aos dígitos (7, 34). Neste caso, a ausência da representaçãosimbólicalabstracta dos dígitos é acrescida do funcionamen-to menos eficaz da memória fonológica. Este mecanismoque se considera necessário para a repetição de séries de dí-gitos (18, 19), está, naturalmente, menos desenvolvido nosanalfabetos visto que a ele não recorrem para as operaçõesverbais que fazem habitualmente. Os analfabetos para alémde terem pontuações globais mais baixas que os letrados, ti-veram um desempenho significativamente inferior numaprova de digit span constituída por séries de dígitos consti-tuídas por dígitos superiores a 5, quando comparado com odesempenho em séries compostas por dígitos inferiores a 5.Este resultado é sugestivo de uma interferência da compo-nente magnitude dos dígitos (semântica) nos processos de ar-quivo e recuperação de séries de dígitos. Podemos comentarque, numa população analfabeta, a semântica desempenhaum papel fulcral nas operações cognitivas, quando outras re-presentações não foram desenvolvidas. Um sujeito letradorecorre, além da semântica, à representação abstracta dos dí-gitos para a execução de provas de digit span que lhe permi-te maior operacionalidade e por isso melhor desempertho.

Estes achados foram depois validados com resultados ob-tidos com doentes com lesão cerebral. Procurou-se esta vali-

dação em duas circunstâncias. Em primeiro lugar, num gru-po de doentes com Afasia Transcortical (35). Neste tipo deafasia está particularmente preservada a capacidade de repe-tição. Dividiu-se este grupo em dois, baseado no critério dacompreensão auditiva -os que compreendem e os que nãocompreendem-, e no da fluência -os fluentes e os não fluen-tes- enquadrados, assim, nas duas variantes deste tipo deafasia: a Afasia Transcortical Sensorial (quando o discurso éfluente e há defeito de compreensão) e a Afasia Transcorti-cal Motora (quando o discurso é não fluente e não há defeitode compreensão). Comparou-se o desempenho num prova dedigit span destes doentes, tendo em conta a escolaridade, everificou-se que o facto de não haver compreensão só afec-tava o desempenho dos doentes analfabetos reforçando, as-sim, que os dígitos são processados no sistema nervoso des-tes indivíduos através do seu conteúdo semântico a que estesdoentes, por estarem afásicos, não tinham acesso.

Com base nestes resultados procuramos efeitos semel-hantes no caso da doença de Alzheimer (20, 21) em que adisfunção cognitiva afecta predominantemente os processa-mentos semânticos (32). Os resultados mostraram que o di-git span é significativamente mais baixo nos dementes anal-fabetos, quando comparado com os seus controlos do quenos indivíduos letrados (dementes e controlos), confirmandoassim o valor dos achados na população sem lesão cerebral.

As implicações biológicas da não aprendizagem da leitu-ra e da escrita ficaram demonstradas no estudo da neuro-ana-

tomia funcional do processamento da linguagem (8, lI). Re-correndo ao paradigma da repetição de pseudo-palavras queem estudo comportamental prévio revelara diferenças com-portamentais entre grupos com escolaridades distintas (37),estudámos a activação neuro-funcional na execução destaprova, comparando com a capacidade de repetir palavras re-ais. A modulação neuro-funcional, decorrente do desempen-ho nestas provas, foi posta em evidência nas imagens obtidascom a Tomografia de Emissão de Positrões (PET Scan). Osletrados mostraram a activação de um conjunto de estruturascortico-subcorticais, relacionadas com a adaptação a si-tuações novas de carácter procedimental, e de estruturas re-lacionadas com mecanismos de memória imediata, aquandoda repetição de pseudo-palavras. Nos analfabetos registou-sea activação das estruturas corticais envolvidas no processa-mento dos aspectos semânticos, estruturas estas que tambémse activaram na repetição de palavras reais, sugerindo a limi-tação ao acesso a mecanismos múltiplos para o tratamento dainformação, bem como a capacidade de fazer face a uma in-formação nova. Fica assim provado, através do estudo de ac-tivação funcional, que a não aprendizagem das regras quevão permitir a análise explícita dos aspectos fonológicos serepercute na organização dos processos biológicos, respon-sáveis pela actividade cognitiva.

o ESTUDO DA AFASIA

Como ficou dito acima, há na literatura elementos quepermitem suspeitar que as características da afasia dos indiví-duos analfabetos podem ser diferentes daquelas dos letrados.O trabalho de Cameron e cal. (4) levantou a suspeita de que

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Fonológicas Semânticas

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as lesões do hemisfério esquerdo mais raramente produziamafasia nos indivíduos analfabetos. Estes resultados foram

contrariados alguns anos depois (13, 14) e, mais recentemen-te, Lecours e col. (25, 26) verificaram que os indivíduos anal-fabetos, tanto os controlos como os casos com lesão cerebralhemisférica direita e hemisférica esquerda têm pior desem-penho em provas de nomeação visual, compreensão e repe-tição. Estes autores concluem que embora não se possa afir-mar que a linguagem está diferentemente lateralizada nosanalfabetos, o hemisfério direito participa de forma mais im-portante nos processos de linguagem nos analfabetos. O co-mentário fundamental que fazemos a estes resultados resultada questão inicial do material de teste utilizado. Na verdade,como já dissemos acima, os analfabetos têm pior desempen-ho em provas neuropsicológicas. Na. nossa experiência essedesempenho é particularmente inferior nas provas em que seusaram desenhos de objectos (38). A bateria usada por Le-cours e col. é composta por testes de nomeação e compre-ensão de desenhos a duas dimensões. Parece assim ficar ex-

plicado o achado referente à nomeação e à compreensão. Poroutro lado, o mau desempenho nas provas de repetição podeser incorporado no contexto do modelo que tem orientado anossa pesquisa, isto é, a dependência do sistema semânticoem detrimento dos processos de análise fonológica que sãopouco sofisticados nos analfabetos (9, 35). Fomos então ana-lisar os nossos ficheiros que contêm presentemente cerca de3000 doentes afásicos como resultado de Acidente Vascular

Cerebral. A análise de quadros, caracterizados por pertur-bação na compreensão auditiva da linguagem, revelou que,para os analfabetos, o acesso ao conteúdo da informação éimportante para a realização de outras operações cognitivascomo, por exemplo, a repetição de palavras e a repetição deséries de dígitos. Verificámos, numa população analfabetacom Afasia de Wernicke, uma estreita relação entre provas decOlT'f1reensãoauditiva de nomes e provas de repetição oral depalavras, ou seja, quanto melhor fosse a capacidade de com-preensão melhor era a capacidade de repetição. Os indivíduosanalfabetos necessitam de compreender a informação, ouseja, aceder ao seu conteúdo semântico, para a utilizar emoperações futuras. Esta dependência ou estreita associaçãoentre estas duas operações não se verificou nos indivíduos le-trados com o mesmo quadro afásico. Nos letrados, a possibi-lidade de utilizar vias alternativas permite repetir através deprocessos de análise fonológica independentes do acesso à re-presentação conceptual da informação, justificando assim amenor associação entre identificação e a repetição (10).

Foi também feita uma análise dos erros cometidos porafásicos de Condução, analfabetos e letrados. Neste estudo,os letrados evidenciaram não só a possibilidade de fazer usode vias paralelas, como também a capacidade de recorrer amecanismos de feedback autocorrectivos. O recurso a estaestratégia só se compreende, por uma utilização mais eficazdos mecanismos de memória e análise fonológicas (10).

FUNÇÕES NÃO VERBAIS

Um outro aspecto a merecer destaque é a influência daaprendizagem da leitura e da escrita sobre funções não ver-

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bais usualmente recrutadas para o processamento destasmesmas actividades de leitura e de escrita. As funções de lere de escrever, apesar de aparentemente serem lateralizadas etradicionalmente consideradas como hemisféricas esquer-das, por estarem relacionadas com a linguagem, recrutam,durante a sua execução, outros procedimentos que podem serconsiderados resultado da função de operadores localizadosno hemisfério direito, como a análise visual de padrões quecarecem de aproximação «gestáltica», actividade visuo-mo-tora exploratória e análise espacial. Esta parceria dos doishemisférios cerebrais pressupõe um aumento significativode processamento paralelo de ambos os lados implicando,naturalmente, aumento de transferência calosa.

Esta constante transferência da informação inter-hemis-férica estimulada pela leitura e pela escrita, estimulou a rea-lização de dois estudos onde se estudou do ponto de vistamorfológico e funcional o Corpo Caloso. No primeiro estu-do que envolveu 18 analfabetos e 23 letrados (6), a imagendo Corpo Caloso foi obtida através de Ressonância Magnéti-ca e posteriormente digitalizado o seu contorno. Foi feita adivisão em 100 partes, e a dimensão de cada segmento foicomparada entre os grupos. Foram encontradas diferençasentre os grupos, na região desta estrutura correspondente à li-gação entre o córtex parietal direito e esquerdo. Esta regiãodo Corpo Caloso, responsável pela transferência de infor-mação que considerámos acima relevante para o processo daleitura e da escrita, mostrou-se mais pequena no grupo nãoescolarizado. As diferenças encontradas, nesta estrutura bio-lógica que suporta a passagem de informação entre os he-misférios, podem revelar a importância da estimulação ex-terna, promovida pelo aeto de ler e de escrever, no desenvol-vimento estrutural do cérebro.

A repercussão funcional deste menor suporte biológicoprovou-se no estudo funcional sobre o comportamento ex-ploratório visuo-motor no espaço (36). Os analfabetos reve-laram um desempenho mais lento em provas que envolviama conjugação de uma actividade visuo-motora numa deter-minada região do espaço, particularmente quando essa con-jugação envolvia a situação utilizada pelos letrados na leitu-ra e na escrita: o uso da mão direita conjugado com uma ex-ploração visuo-espacial no lado esquerdo do espaço. Esteachado pode completar alguma evidência anteriormente re-latada por Ardila e col. (3) em que os factores culturais po-dem ser determinantes da lateralização manual.

Outro achado revelador da importância da aprendizageme treino da leitura e escrita, foi obtido como já mencionadoacima em provas de nomeação visual de representações bidi-mensionais (38). Uma imagem iconográfico, tal como a re-presentação gráfica para a leitura e escrita (alfabeto), não émais que uma representação gráfica bidimensional conven-cional e, como tal, aprendida. A aprendizagem e o treino darepresentação bidimensional de informação simbólica é feitana escola, local onde se aprende, não só a leitura e a escrita,mas também o desenho e, por isso, o domínio da represen-tação gráfica a duas dimensões. Fomos assim comparar o de-sempenho de analfabetos e letrados em provas de nomeaçãovisual de objectos representados Bi e Tri-Dimensionalmente(desenhos, fotografias e o correspondente objecto real). Pro-

IMPLICAÇÕES FUNCIONAIS E BIOLÓGICAS DO CONHECIMENTO DA LEITURA E DA ESCRITA

Entrada

Saída

r--Figura 3. Esquematiza-se o ganho existente quando váriosmecanismos contribuem para a resolução problemas.

vámos que para os analfabetos é particularmente difícil o re-conhecimento de material iconográfico (representações bidi-mensionais de objectos). Para que este reconhecimento suce-da é necessário uma abstracção das linhas desenhadas. Salvoalgumas excepções, é apenas através da aprendizagem esco-lar que se treina a manipulação de objectos no espaço, ouseja, o reconhecimento de um objecto quando não é forneci-da informação contextual suficiente.

CONCLUSÃO

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o conjunto de conhecimentos, de que hoje dispomos so-bre este campo de estudos, permite concluir que aaprendiza-gem formal da operação de emparceiramento grafema-fone-ma, cria uma ponte fundamental entre o sistema visual e osistema auditivo. A existência desta ponte cria o acesso a no-vos recursos para o tratamento da informação a múltiplos ní-veis. Naturalmente, é necessário ter em atenção o factodepoder haver outros factores sociais com importância decisi-va sobre os resultados, porém, o rigor posto na selecção leva-nos a considerar que os nossos achados retlectem a presençade novas estratégias resultantes da aprendizagem da leitura eda escrita, como tem vindo, aliás, a ser relatado por outrosautores em populações diferentes da nossa (39).

A presença de novos mecanismos de processamento dainformação associados, em paralelo, aos previamente exis-tentes correspondem a uma rentabilização de recursos. Na fi-gura 3 representa-se à laia de modelo o que consideramos sera melhoria do sistema de processamento em paralelo.

AGRADECIMENTOS

Este projecto foi apoiado pela Junta Nacional de Investi-gação Científica e Tecnológica (Projecto n° SAU/ 1395/95).

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