Upload
truongthuy
View
215
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Aníbal Cavaco Silva
ROTEIROS........... IX ...........
INTERVENÇÕES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA NO ANO DE 2014 | 2015
Índice
11 Prefácio
39 I. Portugal Inteiro
43 Comunicação ao País a Propósito das Eleições para o Parlamento Europeu PaláciodeBelém,19demarçode2014
47 Sessão Solene Comemorativa do 40º Aniversário do 25 de Abril AssembleiadaRepública,25deabrilde2014
55 Sessão de Abertura da Conferência “Portugal – Rotas de Abril: Democracia, Compromisso e Desenvolvimento”
Lisboa,9demaiode2014
61 Sessão de Encerramento da Conferência “Portugal – Rotas de Abril: Democracia, Compromisso e Desenvolvimento”
Lisboa,10demaiode2014
63 Mensagem Dirigida às Comunidades Portuguesas por Ocasião do Dia de Portugal Guarda,9dejunhode2014
65 Cerimónias Militares das Comemorações do Dia 10 de Junho Guarda,10dejunhode2014
69 Sessão Solene Comemorativa do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas Guarda,10dejunhode2014
75 Cerimónia Comemorativa dos 104 Anos da Proclamação da República Lisboa,5deoutubrode2014
83 Mensagem Evocativa do Centenário da Primeira Grande Guerra Lisboa,18deoutubrode2014
85 Mensagem de Ano Novo PaláciodeBelém,1dejaneirode2015
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
6
89 II. Economia e Crescimento Sustentável
93 Cerimónia Comemorativa do 90º Aniversário da Nestlé Avanca,10demarçode2014
95 Sessão de Abertura da Conferência “Portugal – Rumo ao Crescimento e Emprego. Fundos e Programas Europeus: solidariedade ao serviço da economia portuguesa”
Lisboa,11deabrilde2014
101 Sessão de Encerramento do Encontro “FAZ – Empreendedorismo Inovador na Diáspora Portuguesa”
Lisboa,6dejunhode2014
105 Sessão de Encerramento da Conferência dos 60 Anos da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemã
Lisboa,24dejunhode2014
109 Cerimónia de Homenagem à Indústria Portuguesa de Calçado Guimarães,14denovembrode2014
113 Sessão de Abertura do 24º Congresso das Comunicações da APDC Lisboa,19denovembrode2014
117 Cerimónia Comemorativa do 30º Aniversário da Transinsular Lisboa,30dejaneirode2015
121 Sessão de Abertura do X Congresso Nacional do Milho Lisboa,11defevereirode2015
125 Sessão de Encerramento do 11º Encontro Nacional de Inovação COTEC Lisboa,26defevereirode2015
129 III. Desenvolvimento e Coesão Social
133 Cerimónia de Inauguração do Complexo Porto Salus BrejosdeAzeitão,17deabrilde2014
137 Cerimónia de Agraciamento de Instituições Ligadas ao Combate à Exclusão Social PaláciodeBelém,4dejunhode2014
139 Sessão Solene de Boas-Vindas na Câmara Municipal da Guarda Guarda,9dejunhode2014
143 Cerimónia Comemorativa dos 900 Anos do Foral de Arganil Arganil,7desetembrode2014
147 Visita ao Concelho de Borba Borba,10denovembrode2014
151 Visita ao Concelho de Estremoz Estremoz,10denovembrode2014
155 Visita a Castelo de Vide CastelodeVide,29denovembrode2014
159 Cerimónia de Entrega das Medalhas de Ouro do Eixo Atlântico do Noroeste Peninsular Corunha,19defevereirode2015
161 Cerimónia de Inauguração da Requalificação da Frente Marítima de S. Bartolomeu do Mar Esposende,7demarçode2015
7
ÍNDI
CE
165 IV. Saúde, Educação, Ciência e Cultura
169 Cerimónia de Reabertura da Charola do Convento de Cristo Tomar,16deabrilde2014
171 Sessão de Encerramento do Colóquio “O Valor das Línguas” Xangai,14demaiode2014
175 Visita à Escola Portuguesa de Macau Macau,18demaiode2014
177 Visita ao Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto Porto,20dejunhode2014
181 Cerimónia de Concessão de Honras de Panteão Nacional a Sophia de Mello Breyner Andresen
Lisboa,2dejulhode2014
183 Cerimónia de Atribuição do Prémio Champalimaud de Visão 2014 Lisboa,10desetembrode2014
185 Cerimónia de Inauguração do Museu Diocesano de Santarém Santarém,12desetembrode2014
189 Sessão de Abertura da Conferência “O Futuro da Europa é a Ciência” Lisboa,6deoutubrode2014
195 Visita à Fundação de Serralves Porto,3dedezembrode2014
199 Cerimónia de Agraciamento de Personalidades do Fado Lisboa,27dejaneirode2015
203 Sessão de Encerramento da Conferência “José Medeiros Ferreira - o cidadão, o político, o historiador” Lisboa,20defevereirode2015
207 V. Portugal na Europa e no Mundo
211 Banquete Oficial em Honra do Presidente da República de Singapura PalácioNacionaldaAjuda,5demaiode2014
213 Almoço Oferecido pelo Presidente do Município de Xangai Xangai,13demaiode2014
215 Sessão de Abertura do Seminário Empresarial China-Portugal Xangai,14demaiode2014
219 Sessão Solene na Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim Pequim,16demaiode2014
225 Sessão de Encerramento do Seminário Económico China-Portugal Pequim,16demaiode2014
229 Inauguração da Exposição “Onde é a China?” Pequim,16demaiode2014
231 Banquete Oferecido pelo Chefe do Executivo da Região Administrativa Especial de Macau
Macau,17demaiode2014
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
8
235 Encontro com as Comunidades Portuguesas de Macau e Hong Kong Macau,18demaiode2014
239 Almoço Organizado pela Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa Macau,18demaiode2014
241 Visita ao Instituto Politécnico de Macau Macau,18demaiode2014
243 Banquete Oficial em Honra do Presidente dos Estados Unidos do México
PalácioNacionaldaAjuda,5dejunhode2014
247 Sessão de Encerramento do Seminário Económico Portugal-México Lisboa,6dejunhode2014
251 Cerimónia de Atribuição dos Prémios Norte-Sul do Conselho da Europa Lisboa,12dejunhode2014
255 Banquete Oficial em Honra do Presidente da República Federal da Alemanha PalácioNacionaldaAjuda,24dejunhode2014
259 Banquete Oficial em Honra do Presidente da República de Moçambique PalácioNacionaldaAjuda,1dejulhode2014
263 Almoço de Retribuição Oferecido pelo Presidente da República de Moçambique PaláciodaCidadela,2dejulhode2014
265 Almoço Oficial em Honra dos Reis de Espanha PalácioNacionaldeQueluz,7dejulhode2014
269 Sessão de Abertura do Seminário Económico Coreia-Portugal Seul,21dejulhode2014
273 Almoço Oferecido pela Presidente da República da Coreia Seul,21dejulhode2014
275 Banquete Oficial em Honra do Presidente da República da Indonésia PalácioNacionaldaAjuda,19desetembrode2014
279 Primeira Sessão Plenária da XXIV Cimeira Ibero-Americana Veracruz,8dedezembrode2014
283 Cerimónia de Apresentação de Cumprimentos de Ano Novo pelo Corpo Diplomático
PalácioNacionaldeQueluz,21dejaneirode2015
291 Anexos
293 Comunicado da Presidência da República sobre a não promulgação do diploma do Governo que altera o valor dos descontos para a ADSE, SAD e ADM
13demarçode2014
295 Mensagem a propósito das eleições para o Parlamento Europeu PaláciodeBelém,24demaiode2014
297 Mensagem por ocasião da apresentação do Relatório da Comissão Global dos Oceanos
27dejunhode2014
9
ÍNDI
CE
299 Mensagem à Assembleia da República a propósito do diploma relativo ao Regime do Segredo de Estado
28dejulhode2014
301 Mensagem dirigida ao X Congresso dos Juízes Portugueses 1deoutubrode2014
303 Entrevista concedida ao semanário EXPRESSO 8denovembrode2014
313 Mensagem à Assembleia da República a propósito do diploma relativo ao Regime Jurídico do Referendo Regional na Região Autónoma dos Açores
20dejaneirode2015
317 Comunicado da Presidência da República a propósito da dissolução da Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira
28dejaneirode2015
319 Homenagem a Personalidades da Vitivinicultura Porto,18defevereirode2015
321 Passos da Agenda
11
Prefácio
Diplomacia Presidencial
Os constitucionalistas Gomes Canotilho e Vital Moreira publicaram, em
1991, um pequeno livro sobre OspoderesdoPresidentedaRepública,espe-
cialmenteemmatériadedefesaepolíticaexterna, o qual reproduz o parecer
elaborado a pedido do então Presidente da República.
Os autores confirmam que compete ao Governo a condução da política ex-
terna, mas concluem que, na área das relações internacionais – tal como
na da defesa –, “não é possível conduzir nenhuma política governamental
eficazmente sem o Presidente da República e muito menos contra ele”.
O estatuto do Presidente da República no domínio das relações externas
resulta das suas competências constitucionais específicas e das suas im-
plicações implícitas. Representa a República, garante a independência na-
cional, nomeia os embaixadores, acredita os representantes diplomáticos
estrangeiros, ratifica os tratados internacionais, declara a guerra e a paz.
Segundo aqueles constitucionalistas, “assumem especial profundidade os
deveres governamentais de informação e consulta, bem como de conside-
ração pelas opiniões do Presidente da República, pois nada do que interes-
sa às relações externas – e à defesa – lhe pode ser alheio”. O Presidente da
República é porta-voz “das posições do País, aquelas que estão acima das
divergências de opinião acerca da política externa”, e está-lhe reservada “a
formulação de convite a chefes de Estado para visitar o País”.
Mais do que em qualquer outra área, afirmam, as relações entre o Presi-
dente da República e o Governo em matéria de política externa devem pau-
tar-se por “um estrito respeito do princípio da lealdade institucional e um
espírito de cooperação e concertação institucional”.
As revisões constitucionais que ocorreram depois da publicação do livro
de Gomes Canotilho e Vital Moreira mantiveram inalteradas as compe-
12
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
tências explicitamente atribuídas ao Presidente da República. No entanto,
assistiu-se, neste início do século XXI, a um reforço do papel do Presidente
no domínio da política externa, de tal forma que esta é hoje uma das suas
principais funções.
Por um lado, em resultado da globalização dos mercados e da intensificação
da diplomacia económica. As empresas portuguesas, para assegurarem a
sua sobrevivência, sentiram a necessidade de aumentar a sua presença
em novos mercados, nomeadamente fora do espaço da União Europeia. O
Programa de Assistência Económica e Financeira, subscrito com as insti-
tuições internacionais, em maio de 2011, tornou mais óbvia a importância
estratégica do investimento privado e das exportações para o crescimento
da economia portuguesa e o combate ao desemprego. Houve que estender
a presença de Portugal a todos os países onde existissem potencialidades
de aumento das nossas exportações e de captação de investimento.
Alargou-se assim a área geográfica a exigir contactos políticos ao mais alto
nível, visando a valorização da imagem de Portugal no estrangeiro, o apoio
à internacionalização da economia portuguesa e à difusão dos nossos pro-
dutos e o conhecimento das potencialidades do País na localização de in-
vestimentos produtivos. O Presidente da República reforçou o seu papel no
desempenho dessa tarefa, em coordenação com o Governo, nomeadamente
durante as suas deslocações a países estrangeiros e por ocasião das visitas
a Portugal de outros Chefes de Estado.
A diplomacia económica, contudo, por mais importante que seja, é apenas
uma das múltiplas vertentes da política externa que o Presidente da Repú-
blica promove durante as suas visitas ou quando recebe em Portugal altos
dignitários de países estrangeiros.
A crise da dívida soberana da Zona Euro, o aprofundamento da União Eco-
nómica e Monetária e o programa de ajustamento acordado pelo governo
português com a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo
Monetário Internacional foram igualmente razões de reforço da ação pre-
sidencial no plano externo.
Antes de assumir as funções de Presidente da República, participei ativa-
mente na construção da União Monetária Europeia e debrucei-me, em pro-
PREF
ÁCIO
13
fundidade, sobre a sua dinâmica, tendo proferido múltiplas conferências
no País e no estrangeiro e até mesmo publicado dois livros.
Estava em condições para, nos contactos internacionais, me pronunciar so-
bre as questões de política europeia e a crise do euro, defendendo as orien-
tações que mais se adequavam aos interesses nacionais. Foi assim, por
exemplo, que defendi o aprofundamento da União Económica e Financeira,
um papel mais ativo do BCE na estabilização da Zona Euro e na preservação
da integridade da política monetária europeia, a criação de instrumentos
de apoio aos países enfrentando dificuldades de financiamento e de uma
efetiva União Bancária Europeia, assim como a adoção de uma agenda eu-
ropeia de crescimento económico e criação de emprego.
Face à situação de emergência económica e financeira a que Portugal tinha
chegado, houve que mobilizar toda a nossa capacidade diplomática, incluin-
do a ação do Presidente da República, para explicar, junto das mais variadas
geografias, instituições internacionais e líderes políticos, a execução do Pro-
grama de Assistência Financeira, no sentido de suscitar a confiança dos nos-
sos parceiros e investidores, ganhar credibilidade no plano externo e con-
seguir apoios para as posições portuguesas. Fi-lo em dezenas de encontros.
Por outro lado, o aumento da importância das Forças Armadas como ins-
trumento da política externa do Estado português, principalmente através
da participação de contingentes em operações militares no exterior do ter-
ritório nacional, constituiu uma terceira razão do crescimento do papel do
Presidente da República no domínio da política externa.
Nos termos da Lei de Defesa Nacional, o emprego de forças militares em
operações no estrangeiro requer a concertação entre o Presidente da Re-
pública, como Comandante Supremo das Forças Armadas e Presidente do
Conselho Superior de Defesa Nacional, e o Governo.
O Presidente da República deve, assim, estar preparado para analisar a confor-
midade das propostas que lhe sejam apresentadas pelo Governo e pelo Chefe
do Estado-Maior-General das Forças Armadas com o interesse nacional e para
defender as posições portuguesas nos seus contactos com entidades externas.
Durante os meus mandatos como Presidente da República, as Forças Ar-
madas participaram em operações de manutenção da paz da ONU, da União
14
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
Europeia e da NATO no Afeganistão, no Kosovo, na Bósnia-Herzegovina, no
Líbano, na Somália, no Mali, na República Centro-Africana, nos países bál-
ticos, na Islândia e em Timor-Leste.
A atuação do Presidente da República no plano externo requer uma ade-
quada coordenação e concertação com o Governo, de forma a assegurar a
sintonia de posições entre os dois órgãos de soberania na defesa dos inte-
resses nacionais. Nas suas linhas essenciais, a voz de Portugal em matéria
de política externa deve ser a mesma, seja ela expressa pelo Presidente da
República, pelo Primeiro-Ministro ou por outros membros do Governo.
A convergência de posições em matéria de política externa é realizada atra-
vés de um processo que envolve vários intervenientes. São particularmen-
te relevantes as reuniões do Presidente da República com o Primeiro-Mi-
nistro e com o Ministro dos Negócios Estrangeiros, os contactos regulares
da Assessoria para as Relações Internacionais da Presidência da República
com a Assessoria Diplomática do Primeiro-Ministro e com o Gabinete do
Ministro dos Negócios Estrangeiros, e as informações preparadas pelos
serviços do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Face às mudanças verificadas nas duas últimas décadas, o exercício da di-
plomacia presidencial coloca hoje exigências acrescidas ao Presidente da
República. Na era da globalização, o conhecimento dos dossiês, a capaci-
dade de apresentação e de argumentação sobre os temas em agenda e a
confiança suscitada junto dos interlocutores assumem tal importância na
defesa dos interesses nacionais que as relações pessoais entre líderes polí-
ticos, embora importantes, deixaram de ser, por si só, suficientes.
Para além do conhecimento das regras básicas e especificidades que enfor-
mam o relacionamento entre Estados e da situação portuguesa nas suas
múltiplas vertentes, o Presidente da República tem de ser capaz de domi-
nar em toda a sua complexidade as relações bilaterais com os países com
quem interage. Tem de ser capaz de abordar, com conhecimento de causa,
os assuntos políticos, económicos, sociais, militares, científicos, culturais e
ambientais, assim como as questões de política europeia, que correspon-
dam aos interesses do País, e identificar as mensagens relevantes que de-
vem ser transmitidas.
PREF
ÁCIO
15
Por outro lado, o Presidente da República não pode deixar de ter um bom
conhecimento dos aspetos essenciais da situação dos países com quem
Portugal mantém relações históricas e culturais privilegiadas e tem de ser
capaz de abordar as grandes questões de política internacional da atualida-
de e sobre elas estar informado do posicionamento dos seus interlocutores.
É por tudo isto que, nos tempos que correm, os interesses de Portugal no
plano externo só podem ser eficazmente defendidos por um Presidente da
República que tenha alguma experiência no domínio da política externa
e formação, capacidade e disponibilidade para analisar e acompanhar os
dossiês relevantes para o País.
As visitas do Presidente da República ao estrangeiro e as dos Chefes de
Estado estrangeiros a Portugal constituem momentos privilegiados do
exercício da diplomacia presidencial. Nesses encontros, o Presidente da
República promove e faz-se acompanhar não só por empresários e par-
ceiros sociais, mas também por agentes da vida cultural e académica,
procurando sempre contactar e dar visibilidade às comunidades portu-
guesas.
Neste ano do meu mandato, visitaram oficialmente Portugal os Chefes de
Estado de Singapura, México, Alemanha, Moçambique, Espanha e Indoné-
sia. Em Braga, teve lugar o X Encontro do Grupo de Arraiolos, com a pre-
sença de Chefes de Estado europeus.
Pela minha parte, visitei oficialmente a China, a Coreia e os Emirados Ára-
bes Unidos e participei na X Cimeira da CPLP, em Timor, e na XXIV Cimeira
Ibero-Americana, no México.
Singapura
Em maio de 2014, recebi em Visita de Estado a Portugal o Presidente de Sin-
gapura, Dr. Tony Tan, retribuindo a visita que tinha efetuado a Singapura,
em maio de 2012. Foram as primeiras visitas entre os dois países ao nível
de Chefes de Estado.
O objetivo principal consistiu no aprofundamento das relações comerciais
e de investimento entre os dois países e em dar a conhecer aos empresários
16
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
singapurenses as potencialidades de Portugal como membro da União Eu-
ropeia e país que mantém relações especiais com África e a América Latina.
Durante a visita, os empresários portugueses tiveram oportunidade de es-
tabelecer contactos frutuosos com os membros da delegação empresarial
que acompanhava o Presidente de Singapura.
Singapura, que detém um elevado poder de compra, é o principal mercado
das exportações portuguesas no conjunto dos países da ASEAN e uma im-
portante plataforma para a penetração nos mercados asiáticos. Singapura
é a segunda maior praça financeira mundial no que respeita a transações
em moeda chinesa.
No domínio do investimento, a visita do Presidente Tony Tan tinha um
propósito específico: contribuir para acelerar as negociações entre a PSA
International – um dos cinco maiores operadores portuários do mundo –
e a Administração do Porto de Sines e as autoridades portuguesas para a
extensão do Terminal XXI de contentores do Porto de Sines.
Pretendia-se reforçar a importância estratégica do Porto de Sines como via
de entrada na Europa, tendo presente o alargamento do Canal do Panamá
e a perspetiva de ligação ferroviária rápida entre Sines e Espanha. Esta era
uma questão que, durante a minha visita a Singapura, em 2012, já tinha sido
abordada no encontro com o Presidente Tony Tan e fora objeto de compro-
misso da parte do Presidente da PSA, que reconhecera o potencial do porto
de águas profundas de Sines.
Na véspera da visita do Presidente de Singapura a Portugal, alcançou-se
o acordo que permitiu a assinatura de um Memorando de Entendimento
para a extensão do terminal de contentores de Sines.
No que se refere à agenda política da visita, de destacar o apoio manifesta-
do por Portugal à adesão de Timor-Leste à ASEAN, conhecidos que eram
os obstáculos colocados por Singapura, tendo sido sublinhados os esforços
desenvolvidos por Timor-Leste para exercer a presidência da CPLP a partir
do mês de julho seguinte.
Ao mesmo tempo, foi manifestado o apoio de Portugal às negociações en-
tre a União Europeia e Singapura para o estabelecimento de um Acordo de
Parceria e Cooperação e de um Acordo de Comércio Livre.
PREF
ÁCIO
17
China
A Visita de Estado à República Popular da China, em maio de 2014, a convi-
te do Presidente Xi Jinping, foi uma das mais importantes dos meus man-
datos como Presidente da República.
Em 2014, celebraram-se 35 anos de sucesso nas relações diplomáticas en-
tre os dois países e quinze anos sobre a transferência para a China da ad-
ministração de Macau.
A visita foi cuidadosamente preparada no sentido de contribuir para o apro-
fundamento, nos planos político, económico, científico e cultural, da parceria
estratégica entre Portugal e a China, estabelecida em 2005.
Acompanharam-me o Vice-Primeiro-Ministro e os Ministros dos Negócios Es-
trangeiros, da Economia e da Educação e Ciência, cinco deputados dos parti-
dos representados na Assembleia da República, dirigentes de oito Universida-
des e Institutos Politécnicos e uma importante delegação empresarial.
O ponto alto da visita foi a reunião de trabalho com o Presidente Xi Jin-
ping, no Grande Palácio do Povo, no dia 16 de maio, depois das coloridas
cerimónias de boas-vindas na Praça Tiananmen. A reunião decorreu num
clima de grande abertura e simpatia, para o que contribuiu o facto de, como
Primeiro-Ministro, em 1987, em Pequim, ter sido o signatário do acordo so-
bre a transferência da administração de Macau para a China, cujo processo
sempre foi visto como muito positivo e fonte de confiança política entre os
dois países. Acrescia o facto de eu ser o único político europeu em exercício
que se tinha encontrado com Deng Xiaoping. “Um velho amigo da China”,
para utilizar as palavras dos meus interlocutores políticos.
Passámos em revista as relações bilaterais nos domínios político, comer-
cial e de investimento, científico e cultural, sendo reconhecido o espírito de
amizade, confiança e respeito mútuo que as tem marcado.
Discutimos a possibilidade de desenvolvimento de novas áreas de coope-
ração, como a economia do mar, a proteção ambiental, as energias renová-
veis, o turismo, a ciência e o ensino do português.
A cooperação triangular, principalmente com países com os quais Portugal
mantém fortes relações histórias e culturais, foi igualmente objeto de análise.
18
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
O Presidente da China manifestou forte empenho em aprofundar e fortale-
cer as relações entre os dois países.
As conversações incidiram igualmente sobre a Agenda 2020 para a par-
ceria estratégica entre a União Europeia e a China, estabelecida em 2013,
assim como sobre a situação económica europeia e as mudanças na Zona
Euro visando assegurar a estabilidade financeira, incluindo a criação da
União Bancária.
Houve também uma interessante troca de impressões sobre as reformas
económicas levadas a cabo na China, as perspetivas futuras da economia
chinesa, nomeadamente sobre o denominado “sonho chinês” do Presidente
Xi, e as questões políticas da agenda internacional.
O Presidente Xi Jinping felicitou Portugal pelo esforço desenvolvido para
corrigir os desequilíbrios económicos e financeiros e pela conclusão bem-
-sucedida do programa de assistência financeira negociado em 2011 com as
instituições internacionais.
O mesmo espírito positivo e amistoso esteve presente nas reuniões que
mantive com o Primeiro-Ministro Li Keqiang, com o Presidente do Con-
gresso do Povo, Zhang Dejiang, e com o Presidente da Câmara de Xangai.
A troca de pontos de vista sobre assuntos de interesse comum com o Pre-
sidente Xi Jinping continuou, de modo mais informal, durante o banquete
que ofereceu à comitiva portuguesa.
Testemunhámos a assinatura de três acordos entre governos e cinco acor-
dos entre empresas, a que se seguiu uma conferência de imprensa con-
junta, em que o Presidente Xi teve palavras de elogio a Portugal e profe-
riu declarações que, segundo o nosso embaixador em Pequim, configuram
“orientações políticas de líder” para as relações entre a China e Portugal.
A visita foi programada de forma a que o desenvolvimento das relações co-
merciais e de investimento entre Portugal e a China tivesse um lugar de
particular relevo.
A China apresenta-se, de facto, como um país com um grande potencial de
expansão para novas exportações e para a captação de fluxos turísticos.
Dada a dimensão do mercado chinês, um pequeno ganho de quota de mer-
cado traduz-se num grande impulso às exportações portuguesas.
PREF
ÁCIO
19
Daí a integração do Ministro da Economia na comitiva e a presença de des-
tacados empresários portugueses com vocação exportadora e interessados
em encontrar interlocutores chineses.
Nesse sentido, proferi intervenções em dois Seminários Económicos, um
em Xangai e outro em Pequim, e estive presente em três pequenos-almoços
de trabalho – em Xangai, Pequim e Macau – com grandes empresários chi-
neses com propensão para investir na Europa.
Em Macau, associei-me aos esforços desenvolvidos pela Câmara de Comér-
cio Luso-Chinesa na promoção dos contactos entre empresários portugue-
ses e macaenses. Foram ocasiões para evidenciar as potencialidades de
Portugal como localização competitiva para o investimento internacional
e as vantagens que resultariam de uma ligação aérea direta entre os dois
países.
Os empresários portugueses tiveram oportunidade de realizar múltiplos
contactos com empresários chineses, que consideraram muito proveitosos.
Foram assinados dez memorandos de entendimento entre empresas por-
tuguesas e chinesas.
A visita, que foi considerada o maior esforço alguma vez feito para impul-
sionar as relações comerciais, de turismo e de investimento com a China,
teve também uma importante componente científica e cultural.
Em Xangai, na Universidade de Estudos Internacionais, participei no coló-
quio sobre “O valor económico das línguas”, que contou com a participação
de especialistas portugueses e chineses, e visitei o Instituto de Matéria Mé-
dica, onde testemunhei a assinatura de um memorando de entendimento
com uma empresa de biotecnologia portuguesa.
Em Pequim, na Universidade de Estudos Estrangeiros, proferi uma confe-
rência sobre Portugal para estudantes de língua portuguesa (a quem, ante-
riormente, a minha mulher tinha dado uma aula sobre a poesia de Sophia
de Mello Breyner e de Luís Vaz de Camões). Em Macau visitei a Universida-
de, o Instituto Politécnico e a Escola Portuguesa.
Foram intensos os contactos entre os representantes das universidades
portuguesas e os seus congéneres chineses, tendo sido assinados quinze
memorandos de entendimento entre universidades e instituições de inves-
20
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
tigação dos dois países, a maior parte sobre cooperação no ensino da língua
portuguesa.
Foi com emoção que presenciei, em Pequim e em Xangai, o entusiasmo com
que um elevado número de estudantes se dedicava ao estudo da nossa lín-
gua e da nossa cultura. Em Macau, encontrei um empenho na preservação
e divulgação da língua portuguesa que ultrapassou as minhas expectativas.
O interesse crescente pelo estudo da nossa língua, que testemunhei duran-
te a minha visita à China, é um claro sinal do seu valor económico e interna-
cional e da sua capacidade de afirmação como língua de cultura, de ciência
e de empreendedorismo.
Em Xangai, encontrei-me com a comunidade portuguesa – mulheres e ho-
mens entusiasmados com a experiência que estavam a viver, empenhados
em atuar como embaixadores de Portugal na divulgação dos nossos produ-
tos e da nossa riqueza turística.
A visita terminou em Macau, num clima de calorosa hospitalidade. Tive
a oportunidade de constatar que a secular presença cultural portuguesa
continua a ser valorizada e que são especiais os laços que nos ligam àquele
território. A transição da administração de Macau para a China, a que me
encontro profundamente ligado, marcou o início de uma nova fase do rela-
cionamento entre os dois países, baseada na confiança, no respeito mútuo
e na cooperação.
No final da Visita de Estado à República Popular da China, a delegação por-
tuguesa tinha o sentimento de que os objetivos tinham sido plenamente
conseguidos e que a parceria estratégica luso-chinesa havia sido elevada a
um novo patamar.
México
Em junho de 2014, recebi, em Visita de Estado a Portugal, o Presidente do
México, Enrique Peña Nieto, que se fez acompanhar por vários ministros e
por uma expressiva delegação empresarial. Foi uma visita que se revelou
bastante frutuosa, consolidando aquele país como um parceiro de futuro
para Portugal.
PREF
ÁCIO
21
O objetivo da visita era dar um impulso político às relações económicas en-
tre Portugal e o México, por ocasião da celebração dos 150 anos do estabe-
lecimento de relações diplomáticas entre os dois países.
O México, com 122 milhões de habitantes, é o segundo país mais populoso
da América Latina, membro do G20 e da Aliança do Pacífico – em que Por-
tugal tem o estatuto de observador –, parceiro de Portugal na Conferência
Ibero-Americana, e está ligado à União Europeia por um Acordo de Comér-
cio Livre. A sua economia é a 15ª a nível mundial.
O governo do Presidente Peña Nieto tinha lançado um ambicioso programa
de reformas estruturais, incluindo a liberalização dos setores da energia e
das telecomunicações.
As exportações portuguesas para o México registaram, nos últimos anos,
um apreciável dinamismo e os empresários portugueses veem no merca-
do mexicano um grande potencial de expansão, com oportunidades que
tinham o maior interesse em aproveitar.
As questões económicas dominaram as conversações que mantive com o
Presidente Peña Nieto e com ele participei num Seminário Económico que
reuniu um número muito elevado de empresários dos dois países e em que
foi visível um ambiente e uma vontade muito favoráveis à identificação e de-
senvolvimento de oportunidades de negócio e parcerias mutuamente vanta-
josas. O Seminário foi, como se pretendia, um dos pontos altos da visita.
Alemanha
O meu primeiro encontro com o Presidente Joachim Gauck da República
Federal da Alemanha teve lugar na Polónia, em Cracóvia, durante a realiza-
ção do IX Encontro do Grupo de Arraiolos, em outubro de 2013.
Falei-lhe então da execução do programa de ajustamento subscrito por
Portugal em 2011, das suas consequências económicas e sociais e das rela-
ções bilaterais entre os nossos dois países. Convidei o Presidente Gauck a
visitar Portugal.
A Visita de Estado do Presidente Gauck teve lugar em junho de 2014.
Correspondendo ao interesse manifestado por Portugal, o Presidente da
22
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
Alemanha fez-se acompanhar por uma importante delegação empresarial.
Queríamos aproveitar a ocasião para dar a conhecer aos empresários ale-
mães as potencialidades de Portugal, as oportunidades de investimento, a
qualidade da nossa mão-de-obra e das infraestruturas físicas e tecnológi-
cas e as relações especiais que mantemos com países africanos.
A Alemanha, a maior economia da União Europeia, é o nosso segundo
maior parceiro comercial e um dos mais importantes investidores exter-
nos. Era de todo o interesse que o tecido económico alemão conhecesse me-
lhor o sucesso das empresas alemãs instaladas há anos em Portugal, como
a Autoeuropa, a Bosch, a Siemens, a Leica, a Continental, entre outras.
Foram intensos os contactos entre empresários portugueses e alemães
propiciados pela visita do Presidente Gauck. Participámos ambos no en-
cerramento dos trabalhos da Conferência Comemorativa dos 60 anos da
Câmara de Comércio Luso-Alemã e visitámos a fábrica da Autoeuropa, em
Palmela.
Na intervenção que proferiu, o administrador da Volkswagen que nos rece-
beu confirmou o investimento numa nova linha de montagem para produ-
zir, na fábrica de Palmela, um novo modelo de automóvel.
Nas conversações que mantive com o Presidente Gauck, tivemos ocasião
de abordar, além das relações comerciais e de investimento entre os dois
países, a cooperação com a Alemanha no domínio da formação profissional
e o apoio da instituição bancária alemã KFW à criação da Instituição Finan-
ceira de Desenvolvimento.
No que se refere à agenda europeia, procurei sensibilizar o Presidente ale-
mão para a necessidade de se avançar mais decisivamente na promoção
do crescimento económico e do emprego, em paralelo com o processo de
disciplina e supervisão orçamental, assim como na operacionalização da
União Bancária, de modo a combater a fragmentação dos mercados de cré-
dito, e na melhoria das interligações energéticas entre a Península Ibérica
e o resto da Europa.
Estou convencido de que esta visita teve grande relevância para a afirma-
ção da imagem positiva de Portugal na Alemanha.
PREF
ÁCIO
23
Moçambique
O Presidente da República de Moçambique, Armando Guebuza, visitou
Portugal em julho de 2014, quatro meses depois da realização, em Maputo,
da II Cimeira entre Portugal e Moçambique.
Para além da cooperação bilateral nas áreas da economia, da educação, da
cultura, da comunicação social e da circulação de pessoas, três pontos de-
vem ser sublinhados nas conversações que mantive com o Presidente Gue-
buza: as negociações entre o Governo moçambicano e a Renamo, a situação
da Guiné-Bissau e a CPLP.
Apoiei e estimulei as negociações de paz entre o Governo e a Renamo, vi-
sando pôr fim aos confrontos, com perda de vidas, que se verificavam ha-
via cerca de um ano, e a criação de condições para que Afonso Dhlakama
abandonasse a reserva da Gorongosa e regressasse a Maputo e para que
a realização das eleições presidenciais e legislativas, marcadas para 15 de
outubro, se processasse num clima de tranquilidade e pluralismo.
Manifestei ao Presidente Guebuza a disponibilidade de Portugal para par-
ticipar no processo de consolidação dos acordos que viessem a ser estabe-
lecidos, se fosse essa a vontade das partes.
No princípio de setembro, respondi positivamente ao pedido do Presidente
Guebuza para a inclusão de dois oficiais portugueses na equipa de observa-
dores internacionais do processo de cessar-fogo negociado entre o Gover-
no moçambicano e a Renamo.
No que se refere à Guiné-Bissau, defendi a necessidade de um forte apoio
da comunidade internacional às novas autoridades escolhidas nas eleições
presidenciais e legislativas que marcaram o fim da violação da ordem cons-
titucional provocada pelo golpe militar de abril de 2012. O caminho da esta-
bilização e do desenvolvimento económico e social da Guiné-Bissau exige
a concretização das reformas das forças armadas e de segurança, da admi-
nistração pública e do sistema de justiça, sendo necessário apoio financeiro
e também garantias de proteção das instituições legítimas do país. Nesse
sentido, Portugal defendia a colocação no terreno de uma força internacio-
nal de estabilização, com mandato das Nações Unidas.
24
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
Tive ainda ocasião de abordar com o Presidente Guebuza algumas das
questões que estavam na ordem do dia da CPLP, cuja presidência era
exercida por Moçambique, como a aposta na língua portuguesa e a sua
internacionalização e a agenda da Cimeira a ter lugar em Díli, em julho
de 2014.
Em janeiro de 2015, desloquei-me a Maputo para representar o Estado
português nas cerimónias de investidura do novo Presidente da Repú-
blica, Filipe Jacinto Nyusi, tendo sido acompanhado pelo Vice-Primeiro-
-Ministro e pelo Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Coo-
peração.
A presença nacional ao mais alto nível, num momento de particular im-
portância da vida de Moçambique, foi, acima de tudo, o testemunho da im-
portância que Portugal atribui às relações políticas e à cooperação econó-
mica, empresarial e cultural com aquele país de língua oficial portuguesa
e à consolidação das suas instituições democráticas.
As reuniões de trabalho que mantive com o Presidente Guebuza e, se-
guidamente, com o Presidente Nyusi confirmaram a vontade política e
o ambiente favorável ao aprofundamento das relações entre Portugal e
Moçambique, assim como o empenho no diálogo com os partidos da opo-
sição, de modo a consolidar a paz e a estabilidade política.
Aproveitei a ocasião para promover um encontro com um grupo de em-
presários portugueses que exercem atividades em Moçambique e para
visitar uma fábrica de têxteis em Marracuene, produto de uma parceria
entre empresários portugueses e moçambicanos. De todos, recolhi pers-
petivas positivas quanto ao desenvolvimento futuro das relações comer-
ciais e de investimento entre os dois países.
Em Maputo, encontrei-me com a comunidade portuguesa e visitei o Insti-
tuto do Coração, um bom exemplo da nossa cooperação na área da saúde,
levado a cabo, acima de tudo, pela ONG Cadeia da Esperança e que irá
contar com o apoio do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua para
a formação de pessoal médico especializado na área da cardiologia.
Participei ainda num almoço informal com destacados elementos da vida po-
lítica moçambicana que conheci no exercício das minhas funções públicas.
PREF
ÁCIO
25
Espanha
Foi com inegável satisfação que recebi a chamada telefónica do Príncipe
Filipe de Espanha dizendo-me que gostaria que fosse Portugal o destino da
sua primeira visita a um país da União Europeia e da Ibero-América, após a
sua proclamação como Rei de Espanha.
A visita do Rei Filipe VI de Espanha e da Rainha Letícia, que se fizeram
acompanhar pelo Ministro das Relações Exteriores, e que revestiu a forma
de Visita de Apresentação, teve lugar no dia 7 de julho de 2014 e assumiu
um significado muito particular.
Tratou-se da confirmação, ao mais alto nível do Estado, da solidez e profun-
didade das relações entre dois países vizinhos e amigos nos mais variados
domínios. O novo monarca deu plena continuidade ao legado deixado por
seu pai, D. Juan Carlos, no que se refere ao contributo para que portugue-
ses e espanhóis se conhecessem melhor e se empenhassem em trabalhar
em conjunto na defesa de interesses comuns.
Coreia do Sul
Fui o primeiro Chefe de Estado português a visitar oficialmente a Re-
pública da Coreia. A visita teve lugar em julho de 2014 e foi articulada
com a minha deslocação a Timor-Leste para participar na X Cimeira da
CPLP. Acompanharam-me os Secretários de Estado dos Negócios Es-
trangeiros e Cooperação, Adjunto e da Economia e do Ensino Superior,
uma delegação empresarial e vários Reitores de universidades portu-
guesas.
Em maio de 2011, tinha recebido em Lisboa, no quadro da celebração dos
50 anos de relações diplomáticas entre os dois países, a atual Presidente
da República da Coreia, Park Geun-hye, como Enviada Especial do então
Presidente Lee Myung-bak.
As relações políticas, económicas e culturais entre Portugal e a Coreia do
Sul eram muito esparsas, assim como o conhecimento recíproco entre os
dois povos. O objetivo prioritário da visita consistia em reforçar as relações
26
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
políticas, dar a conhecer as potencialidades económicas de Portugal e abrir
portas para o incremento das exportações portuguesas.
A minha reunião com a Presidente da República da Coreia decorreu num
ambiente de grande cordialidade e manifesto empenho no reforço das rela-
ções entre os dois países.
Naturalmente, comecei por expressar a solidariedade do povo português
face à tragédia do naufrágio do ferry“Sewol”, em que perderam a vida mais
de 300 pessoas, muitas delas jovens estudantes.
No domínio económico, foram avaliadas as possibilidades de os empresá-
rios dos dois países tirarem melhor partido do acordo de comércio livre
entre a União Europeia e a Coreia e de estabelecerem parcerias visando
terceiros mercados, assim como as perspetivas de evolução das economias
europeia e asiática.
A Presidente Park expôs-me a sua visão das relações com a Coreia do Norte
e as perspetivas para a reunificação da Península da Coreia, na linha do
discurso que havia proferido, em março, na Universidade de Dresden. Rea-
firmei a posição portuguesa relativamente às ameaças à paz e à segurança
internacionais provindas da Coreia do Norte.
No final da reunião, foram assinados entre os dois governos um memoran-
do de entendimento sobre cooperação na área do turismo e um outro sobre
cooperação em matéria de energias renováveis e eficiência energética.
A Coreia do Sul é um país de 50 milhões de habitantes, membro do G20,
a 14ª maior economia do mundo, tecnologicamente muito avançada, com-
petitiva e com um forte dinamismo empresarial. Sendo as relações co-
merciais e de investimento entre Portugal e a Coreia pouco significativas,
justificava-se um esforço visando alterar esta situação.
Nesse sentido, participei num encontro de trabalho com líderes de gran-
des empresas sul-coreanas, com o objetivo de apresentar Portugal como
uma localização atrativa para as empresas interessadas em investir na
Europa.
Por outro lado, participei na abertura de um Seminário Económico des-
tinado a potenciar as parcerias entre empresas portuguesas e coreanas.
Verificaram-se manifestações de interesse em investimentos da parte de
PREF
ÁCIO
27
empresas sul-coreanas e os empresários portugueses realizaram contac-
tos que consideraram frutuosos.
A visita incluiu também uma componente académica. Participei num en-
contro entre Reitores das universidades portuguesas e coreanas, tendo
sido assinados cinco protocolos de cooperação nas áreas científica e de en-
sino da língua portuguesa.
Pode dizer-se que foram criadas as condições para, com um adequado se-
guimento por parte da diplomacia económica e dos dois governos, passar
para um patamar mais elevado de relacionamento entre Portugal e a Repú-
blica da Coreia.
X Cimeira da CPLP
Em julho de 2014, depois da visita oficial à Coreia, desloquei-me a Díli para
chefiar a delegação portuguesa à X Cimeira da CPLP. A comitiva incluía o
Primeiro-Ministro e o Ministro dos Negócios Estrangeiros.
Embora o tema da Cimeira fosse “A CPLP e a Globalização”, toda a aten-
ção estava concentrada no ponto da agenda relativo ao pedido de adesão da
Guiné Equatorial.
Desde há meses que este era o assunto dominante na comunicação social
portuguesa, suscitando forte hostilidade. Eram muitos aqueles que recla-
mavam que Portugal vetasse a adesão da Guiné Equatorial à CPLP.
Tratava-se de um dossiê que conhecia bem.
Tinha estado presente na Cimeira da CPLP de Bissau, em 2006, em que a
Guiné Equatorial tinha sido aceite como Observador Associado. Tinha es-
tado também presente nas cimeiras de Luanda, em 2010, e de Maputo, em
2012, em que tinha sido debatido o pedido de adesão apresentado pela Gui-
né Equatorial, tendo então Portugal manifestado a sua oposição. Apesar de
algumas divisões entre os membros da CPLP, foi possível, tanto em Luanda
como em Maputo, alcançar o compromisso de que a Guiné Equatorial não
preenchia os requisitos necessários para a adesão.
Em março de 2011, fora estabelecido um roteiro, incluindo cinco planos de
ação, que a Guiné Equatorial deveria cumprir tendo em vista a sua adesão
28
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
à CPLP. Em fevereiro de 2014, o Conselho de Ministros dos Negócios Estran-
geiros da CPLP, reunido em Maputo, perante os avanços na implementação
do roteiro, reportados por missões da CPLP a Malabo, recomendou à cimei-
ra de Chefes de Estado e de Governo, a realizar em Timor-Leste, a adesão
da Guiné Equatorial como membro de pleno direito.
Fruto das pressões que Portugal vinha a exercer, o Ministro das Relações
Exteriores e da Cooperação da Guiné Equatorial anunciou, no Conselho de
Ministros de Maputo, a aprovação de uma moratória sobre a pena de morte
que vigorava naquele país. Já antes a língua portuguesa tinha sido adotada
como língua oficial.
Foi este o quadro que antecedeu a cimeira de Díli, em que todos os Estados-
-membros, com exceção de Portugal, apoiavam fortemente a adesão da Gui-
né Equatorial à CPLP.
Portugal apresentou-se em Díli, como se impõe em política externa, com
uma posição concertada entre o Presidente da República e o Governo, na
sequência de uma análise aprofundada sobre a questão da adesão da Guiné
Equatorial.
Sendo a adesão fortemente apoiada pelos países africanos de língua oficial
portuguesa, pertencentes ao mesmo espaço regional que a Guiné Equato-
rial, a que se juntava o Brasil e Timor-Leste, um veto de Portugal poderia,
no limite, pôr em causa a própria sobrevivência da CPLP.
Ora, a CPLP é um ativo estratégico para Portugal, tal como a Commonwealth
o é para o Reino Unido e a Organização da Francofonia para a França.
Porque tem na sua base a língua portuguesa, a CPLP assume para Portugal,
mais do que para qualquer outro país, um superior interesse estratégico.
Posso testemunhar, pelos contactos com Presidentes da República e go-
vernantes de outros países, como a existência de uma Comunidade de 250
milhões de cidadãos, que se distingue e identifica pela língua portuguesa,
fortalece a posição de Portugal no plano internacional.
Isolando-se face à vontade conjugada de todos os outros Estados-membros,
numa comunidade em que o multilateralismo deve prevalecer sobre o uni-
lateralismo, Portugal veria ainda a sua posição dificultada pelo facto de ser
o antigo poder colonial europeu.
PREF
ÁCIO
29
Por outro lado, Portugal não podia deixar de ter presente que a Cimeira
de Díli marcava o início da Presidência timorense da CPLP, a primeira vez
que Timor-Leste era chamado a desempenhar uma tarefa de tal dimensão
internacional.
Tendo existido um grande empenho das autoridades timorenses na adesão
da Guiné Equatorial, um veto português significaria o fracasso da Cimeira,
com elevados danos reputacionais para Timor-Leste. A Cimeira de Díli era
vista, aliás, como um teste à capacidade de Timor-Leste para satisfazer as
exigências da participação na ASEAN, a que era candidato.
As autoridades timorenses tinham convidado, para estarem presentes nas
cerimónias de abertura e encerramento da Cimeira de Díli e tomarem a
palavra, representantes da ASEAN e de seus Estados-membros, como a In-
donésia e Singapura. O insucesso da Cimeira seria um golpe nos esforços
de Timor-Leste para reforçar a sua credibilidade internacional.
Neste quadro, uma questão não podia deixar de ser colocada: como reagi-
ria Timor-Leste em relação a Portugal, encarado como o responsável pelo
fracasso da Cimeira?
Qual o efeito que isso teria sobre a difusão da língua portuguesa em Timor?
Surpreende que muitos dos que defenderam ativamente o veto de Portu-
gal à adesão da Guiné Equatorial tivessem ignorado os danos para Timor-
-Leste de uma tal decisão.
A estratégia de Portugal para a Cimeira de Díli não podia ser a de isola-
mento em relação a todos os outros Estados-membros. A contestação or-
ganizada por alguns setores da sociedade portuguesa contra a adesão da
Guiné Equatorial devia ser relativizada, porque contrária aos superiores
interesses do País e pelos danos que provocaria a Timor-Leste, país a que
nos ligam profundos laços de amizade e que temos o dever de apoiar nos
seus esforços de promoção do desenvolvimento económico e social.
Foi por tudo isto que, em Díli, insisti, tal como o Primeiro-Ministro e o Mi-
nistro dos Negócios Estrangeiros, na defesa dos princípios fundadores da
CPLP: a língua portuguesa, o primado da paz, do Estado de direito, da demo-
cracia, do respeito pelos direitos humanos e da justiça social.
Devia ficar muito claro que a adesão da Guiné Equatorial não significava a
30
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
descaracterização dos princípios fundamentais em que assenta a CPLP.
Foi nesse sentido que, por insistência de Portugal, ficou expresso nas con-
clusões da Cimeira que a Guiné Equatorial devia dar novos passos na im-
plementação do programa de adesão e no cumprimento das obrigações
estatutárias da CPLP, incluindo a passagem da moratória para a abolição
da pena de morte. Estes compromissos foram assumidos pelo Presidente
da República da Guiné Equatorial na intervenção que proferiu perante os
representantes dos Estados-membros.
O Presidente Taur Matan Ruak comunicou-me a sua intenção de nomear o
antigo Presidente timorense, José Ramos Horta, para monitorizar e apoiar a
adoção, por parte da Guiné Equatorial, das disposições estatutárias da CPLP.
Na Cimeira de Díli, foi ainda adotado o Plano de Ação de Lisboa para a in-
ternacionalização da língua portuguesa e foram eleitos, como novos Obser-
vadores Associados da CPLP, a Namíbia, a Turquia, o Japão e a Geórgia.
Por outro lado, a Cimeira ficou marcada pelo lançamento da Nova Visão
Estratégica da CPLP, procurando identificar respostas aos desafios que se
colocam à Comunidade no início da sua terceira década de existência, num
momento em que o seu potencial no domínio económico vai despertando
um interesse crescente junto de outros Estados.
A Cimeira da CPLP de Díli distinguiu-se ainda pelo regresso pleno da Gui-
né-Bissau à organização, de que tinha sido suspensa na sequência do golpe
militar de abril de 2012.
Indonésia
Em setembro de 2014, o Presidente da República da Indonésia, Susilo Bam-
bang Yudhoyono, realizou uma Visita de Estado a Portugal, acompanhado
por vários ministros e uma delegação empresarial. Tinham passado 54
anos sobre a primeira visita de um Chefe de Estado indonésio, o Presidente
Sukarno, a Portugal.
Encontrara o Presidente Yudhoyono em maio de 2012, durante as cerimó-
nias do 10º aniversário da independência de Timor-Leste. Daí parti para
Jacarta, para a realização da primeira visita de um Chefe de Estado portu-
PREF
ÁCIO
31
guês à Indonésia. Fui acompanhado pelo Ministro de Estado e dos Negócios
Estrangeiros e por um grupo de empresários.
O objetivo principal destas duas Visitas de Estado – a minha à Indonésia,
em 2012, e a do Presidente Yudhoyono a Portugal, em 2014 – foi a completa
normalização das relações entre os dois países, construindo um quadro fa-
vorável ao desenvolvimento das relações económicas e culturais orientado
para o futuro.
Portugal tinha rompido relações diplomáticas com a Indonésia em 1975,
aquando da invasão de Timor-Leste. As relações diplomáticas estiveram
suspensas durante 24 anos e só foram restabelecidas em dezembro de
1999, na sequência do referendo timorense favorável à independência do
território.
O objetivo político das duas Visitas de Estado foi plenamente atingido. Pro-
cessaram-se num clima particularmente amistoso e construtivo. Foi um
verdadeiro virar de página nas relações entre Portugal e a Indonésia.
Foram sublinhados os laços históricos e culturais multisseculares entre os
dois povos, patentes, de resto, no elevado número de palavras de origem
portuguesa que integram a língua indonésia.
As divergências do passado sobre Timor-Leste foram, por assim dizer, en-
terradas e substituídas pelo interesse comum em desenvolver uma coope-
ração para o desenvolvimento económico e social daquele jovem país de
língua oficial portuguesa e em apoiar a sua adesão à ASEAN. No mesmo sen-
tido, foi perspetivada a aproximação da Indonésia à CPLP.
A agenda económica ocupou também lugar de relevo nas conversações
com o Presidente Yudhoyono. A Indonésia é o 4º país mais populoso do
mundo – trata-se da maior democracia muçulmana, do maior mercado do
Sudeste Asiático, do país com o segundo maior crescimento económico en-
tre os membros do G20 e que exerce uma posição de liderança no quadro
da ASEAN.
Era, por isso, indiscutível o interesse português em intensificar as relações
comerciais com a Indonésia, tendo sido identificadas áreas para o desen-
volvimento de parcerias mutuamente benéficas e promovidos contactos
entre empresários portugueses e indonésios.
32
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
X Encontro do Grupo de Arraiolos
Nos últimos dias de setembro de 2014, acolhi, em Braga, no Mosteiro de Ti-
bães, o X Encontro dos Chefes de Estado do Grupo de Arraiolos, criado pelo
Presidente Jorge Sampaio, em 2003.
Estiveram presentes os Presidentes da República da Alemanha, Áustria,
Polónia, Finlândia, Hungria, Letónia, Estónia e Bulgária.
O objetivo dos encontros anuais do Grupo de Arraiolos é debater, de modo
informal, assuntos relevantes da agenda europeia. Escolhi três temas de
grande atualidade europeia para este X Encontro do Grupo de Arraiolos: a
energia, a imigração e o papel da investigação e inovação na promoção do
crescimento e da competitividade e emprego.
Face às oportunidades de intervenção sobre as questões europeias de que
hoje dispõem os Chefes de Estado, os debates e trocas de pontos de vista
que tiveram lugar em Braga revelaram-se extremamente proveitosos.
À margem do Encontro, tive ainda reuniões bilaterais com os Presidentes
da Finlândia, da Bulgária e da Estónia.
A apresentação do tema da energia, que tinha ganho forte relevância geo-
política no seguimento da crise da Ucrânia, coube ao Presidente da Polónia,
Borislav Komorowski.
Apenas quatro países da União Europeia não dependem do gás da Rússia –
Portugal, Espanha, Irlanda e Reino Unido – e, em seis deles, a dependência
atinge 100 por cento. A energia apresenta-se assim como uma vulnerabili-
dade da União Europeia e a diversificação das fontes de abastecimento e a
criação do mercado interno europeu de energia são questões vitais.
A melhoria das interconexões energéticas entre a Península Ibérica e as
redes europeias é uma questão da maior importância para Portugal, tendo
mesmo dado lugar a uma declaração conjunta com a Espanha e a Polónia
apresentada ao Conselho Europeu.
Nesse sentido, o Encontro do Grupo de Arraiolos foi aproveitado para
demonstrar como a Península Ibérica poderia contribuir para reduzir
em 40 por cento as importações de gás da Rússia, tendo mesmo sido dis-
tribuído às diferentes delegações um documento sobre o assunto prepa-
PREF
ÁCIO
33
rado pelo Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia.
Coube-me fazer a apresentação do tema da imigração, igualmente um tópi-
co central do debate europeu.
Todos tinham presente a pressão dos fluxos migratórios vindos dos países
do Mediterrâneo Sul que a União Europeia tem vindo a enfrentar e as ima-
gens dramáticas dos naufrágios dos barcos de imigrantes da Líbia, da Síria,
do Sudão e da Faixa de Gaza, tentando alcançar as costas da Europa. Por
outro lado, era sabido que, além do fenómeno da imigração, se colocam gra-
ves questões, como o tráfico de seres humanos e de droga, o contrabando de
armas, o crime organizado e o terrorismo.
Ficou claro do debate que o tema das migrações, sendo complexo, exige da
União Europeia uma abordagem multidisciplinar em torno de três eixos
prioritários: a gestão da migração legal, o combate à imigração ilegal e o
diálogo com os países terceiros de origem e trânsito dos migrantes.
A apresentação do tema da Investigação e Inovação coube ao Presidente
da República da Finlândia, Sauli Niinistö. A relevância do tema é óbvia,
ainda mais numa Europa em que, após anos de estagnação económica e
de aumento do desemprego, os sinais de recuperação se vislumbram ainda
ténues e frágeis. Apesar dos progressos realizados, a União Europeia, em
matéria de inovação, continua atrás dos EUA, da Coreia do Sul e do Japão, e
a China recupera terreno rapidamente.
Para a generalidade dos países europeus, os avanços tecnológicos e a ino-
vação, a transformação dos resultados científicos em novos produtos, servi-
ços e processos são vistos como decisivos para o aumento da produtividade
e a melhoria da competitividade e, consequentemente, para o crescimento
económico e a criação de emprego.
Foi reconhecido o potencial que o aumento significativo do Orçamento do
Programa Horizonte 2020 representava para a promoção da investigação e
inovação a nível europeu.
O Encontro de Braga constituiu uma oportunidade para dar a conhecer aos
oito presidentes e às suas delegações o Laboratório Ibérico Internacional
de Nanotecnologia, onde trabalham cientistas de dezoito países, e a sua li-
gação ao empreendedorismo empresarial.
34
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
Emirados Árabes Unidos
Com a minha deslocação aos Emirados Árabes Unidos, em novembro de
2014, realizou-se a primeira visita oficial de um Chefe de Estado português
àquele país, a que nos liga um passado histórico de cinco séculos.
Fui acompanhado pelo Vice-Primeiro-Ministro, pelo Secretário de Estado
das Comunidades e por um significativo grupo de empresários.
A anteceder a visita, teve lugar a primeira comissão mista entre Portugal e
os Emirados, sendo a delegação portuguesa presidida pelo Vice-Primeiro-
-Ministro. Na programação da visita tinham sido identificadas duas verten-
tes principais, a política e a económica, que, em boa parte, se interligavam.
A minha reunião com o Príncipe Herdeiro do Abu Dhabi e Presidente em
exercício dos Emirados Árabes Unidos, Xeque Mohammed bin Zayed al Na-
hyan, decorreu num ambiente de grande cordialidade e abertura à intensi-
ficação das relações entre os dois países nos mais variados domínios.
Foi abordada a cooperação bilateral em áreas como a saúde, a cultura, a
educação e a ciência, as energias renováveis, a economia, as tecnologias
de informação e comunicação e o turismo, assim como a possibilidade de
desenvolvimento de parcerias empresariais, tendo em vista os mercados
africanos e da América Latina.
O diálogo político versou em especial sobre a insegurança na região do Mé-
dio Oriente e no Norte de África, tendo presente a importância dos países
do Golfo Pérsico no equilíbrio geoestratégico daquela parte do mundo.
A situação na Líbia, Egito, Síria e Iraque, o impasse no processo de paz
israelo-palestiniano e a ameaça do grupo extremista autodenominado “Es-
tado Islâmico do Iraque e do Levante” são matéria de grande preocupação
nos países do Golfo, tal como nos países da União Europeia.
Havia, assim, todo o interesse em auscultar a opinião e conhecer a análise
das ameaças terroristas por parte das autoridades dos Emirados, país que
integra o Conselho de Cooperação do Golfo e participa ativamente na coli-
gação internacional de combate ao chamado “Estado Islâmico”.
O Ministro da Defesa Nacional juntou-se à comitiva no Dubai, tendo parti-
cipado na reunião com o Emir, Xeque Mohammed bin Rashid al Maktoum,
PREF
ÁCIO
35
Vice-Presidente e Primeiro-Ministro dos Emirados Árabes Unidos e Minis-
tro da Defesa do Dubai, e assinado uma carta de intenções sobre coopera-
ção entre os dois países na área da defesa.
Sendo os Emirados um país produtor de petróleo e de gás, com elevado po-
der de compra, forte crescimento do produto e abundantes recursos finan-
ceiros, a visita não podia deixar de ter um pendor vincadamente económico.
Portugal deve estar presente em todos os países onde existem potencialida-
des de aumento das nossas exportações e de captação de investimento.
Nesse sentido, para além da reunião com o Príncipe Herdeiro, foi muito útil
o encontro que mantive com o Presidente executivo de um dos maiores fun-
dos soberanos de Abu Dhabi e Presidente da companhia de aviação Etihad.
Foram igualmente frutuosos os encontros de trabalho, em Abu Dhabi e no
Dubai, que reuniram empresários portugueses e empresários e represen-
tantes dos fundos soberanos dos Emirados.
Foram oportunidades que aproveitei para dar a conhecer melhor Portugal:
a situação económica e financeira e as potencialidades do País, as refor-
mas estruturais levadas a cabo, a qualidade dos recursos humanos e das
infraestruturas físicas e tecnológicas, a aposta na inovação, o ambiente
empresarial, a hospitalidade do povo, as qualidades turísticas, as relações
privilegiadas com a África e a América Latina.
Os empresários portugueses e dos Emirados foram convidados a intervir e
a apresentar os seus projetos de negócios, o que contribuiu para criar um
ambiente favorável a contactos posteriores.
As relações comerciais e de investimento entre os dois países estavam aquém
do seu potencial e uma das razões residia no conhecimento insuficiente de
Portugal por parte das autoridades e empresários dos Emirados. E há países,
como é o caso dos Emirados Árabes Unidos, em que a correção rápida desta
situação aconselhava uma intervenção ao mais alto nível político.
No Dubai, no 154º andar de Burj Khalifa, a torre mais alta do mundo, foram-
-me apresentados projetos imobiliários e de obras públicas de grande di-
mensão a realizar nos próximos anos, a que se juntam as obras da Exposi-
ção Mundial 2020. São oportunidades que se apresentam aos empresários
portugueses do setor.
36
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
A visita teve um programa intenso, e parti dos Emirados Árabes Unidos
com a convicção de que ficara aberto um bom caminho para o fortalecimen-
to das relações políticas, económicas e empresariais entre os dois países.
XXIV Cimeira Ibero-Americana
Acompanhado pelo Primeiro-Ministro e pelo Ministro dos Negócios Es-
trangeiros, participei, em dezembro de 2014, na XXIV Cimeira Ibero-Ame-
ricana, que teve lugar no México, na cidade de Vera Cruz.
Dos presentes, era o único Chefe de Estado que tinha participado, em 1991,
então como Primeiro-Ministro, na Cimeira fundadora da Comunidade Ibe-
ro-Americana, também no México, em Guadalajara. O Presidente Enrique
Peña Nieto fez questão de recordá-lo no início dos trabalhos.
A presidência mexicana escolhera para tema da Cimeira “Educação, Cul-
tura e Inovação”, vetores de cooperação ibero-americana da maior impor-
tância não só para os dezanove países latino-americanos que integram a
Comunidade, mas também para Portugal e Espanha.
Decidi centrar a minha intervenção na economia do conhecimento e su-
blinhar o impacto decisivo da educação no progresso económico, através
do desenvolvimento de competências que estimulam a produtividade, a
inovação e a competitividade; sublinhei ainda o papel crucial da educação
no combate à pobreza e às desigualdades sociais e na promoção da coesão
social.
No debate informal que teve lugar sobre inclusão e desenvolvimento dos
jovens, abordei a questão da transição dos jovens do sistema de ensino para
o mercado de trabalho e da importância das políticas ativas de combate ao
abandono escolar precoce e ao insucesso escolar, dando como exemplo o
trabalho realizado nestas áreas em Portugal pela Associação Empresários
pela Inclusão Social.
A Cimeira de Veracruz foi marcada pela aprovação de alguns pontos consi-
derados particularmente importantes por Portugal, como foi o caso da im-
plementação do processo de renovação da Conferência Ibero-Americana
iniciado em Cádis, em 2012, (incluindo uma repartição mais equitativa de
PREF
ÁCIO
37
quotas entre a Península Ibérica e a América Latina), da criação de meca-
nismos facilitadores do reconhecimento recíproco de diplomas, de títulos e
graus académicos, e de um programa de mobilidade de estudantes, profes-
sores e investigadores entre instituições de ensino.
Portugal não pode deixar de participar na Cimeira Ibero-Americana ao
mais alto nível político, dada a estratégia nacional de fortalecimento das
relações com a América Latina – e, em particular, o relacionamento espe-
cial que temos com o Brasil –, região à qual nos ligam afinidades culturais e
linguísticas e interesses económicos.
Para além da participação no debate dos temas da Cimeira, a presença por-
tuguesa sinaliza a prioridade que a nossa política externa atribui ao reforço
das relações com os países da América Latina e permite extensos contactos
com os respetivos líderes políticos, tendo em vista o aprofundamento da
cooperação bilateral.
Nos últimos anos, temos apostado na abertura de mercados e oportuni-
dades de investimento, principalmente nos países da Aliança do Pacífico
– Chile, Peru, Colômbia e México –, cujas economias revelam apreciável di-
namismo e grandes potencialidades.
Portugal é visto com grande simpatia pelos países da América Latina e é
reconhecido como um parceiro importante não só para o desenvolvimento
das relações bilaterais, mas também para o relacionamento com outras re-
giões, designadamente a Europa e a África.
Como tenho feito na generalidade das minhas visitas ao estrangeiro, encon-
trei-me com a comunidade portuguesa na Cidade do México. Foi também o
caso nas visitas a Pequim, Xangai, Macau, Coreia do Sul, Emirados Árabes
Unidos e Moçambique, a que atrás me referi. Em todos os encontros cons-
tatei a mudança na composição das comunidades da Diáspora, no sentido
de maior qualificação e acrescida influência nos países de acolhimento, as-
sim como a sua abertura para contribuir para o desenvolvimento económi-
co e social de Portugal.
AníbalCavacoSilva Março, 2015
43
Comunicação ao País a Propósito das Eleições para o Parlamento Europeu
PaláciodeBelém,19demarçode2014
Boa noite.
Nos termos da Constituição e da lei, e após ouvir os partidos políticos, decidi marcar
a eleição dos Deputados ao Parlamento Europeu para o próximo dia 25 de maio.
Nesse dia, os Portugueses irão ser chamados a escolher os seus representan-
tes no Parlamento Europeu, um órgão que desempenha funções essenciais no
âmbito da União Europeia. Não está em causa a escolha de deputados ao parla-
mento nacional ou de representantes autárquicos.
Os acontecimentos dos últimos anos, com destaque para a recente crise econó-
mica e financeira, demonstraram, de forma evidente e inequívoca, até que ponto
o futuro de Portugal e o futuro da Europa estão interligados.
Quem se alhear do futuro da União Europeia estará a alhear-se do futuro de Portugal.
Portugal é membro de pleno direito da União Europeia e participou desde a
primeira hora no projeto do Euro. As decisões tomadas nas instâncias europeias
condicionam e influenciam profundamente a vida dos Portugueses, o nosso des-
tino como país, o futuro das novas gerações.
É fundamental, por isso, que os Portugueses participem de forma ativa nas elei-
ções para o Parlamento Europeu.
Em primeiro lugar, devem informar-se sobre o que está em causa neste ato elei-
toral, sobre os desafios que a Europa irá enfrentar nos próximos anos e que papel
terá o Parlamento Europeu neste momento histórico de enorme importância
para todos nós.
Em segundo lugar, é essencial que os Portugueses participem nestas eleições
através do voto, que exerçam o seu direito democrático na escolha dos Deputa-
dos ao Parlamento Europeu.
Enquanto cidadãos europeus, os Portugueses têm o direito – e o dever – de fazer
ouvir a sua voz nas instituições que desempenham um papel decisivo para o
nosso País.
PORT
UGA
L IN
TEIR
O
44
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
Os Deputados portugueses ao Parlamento Europeu serão chamados a contribuir
ativamente para que, no desenho das políticas europeias, sejam contemplados
os interesses específicos do nosso País.
Nos próximos anos, importa que a União Europeia continue a afirmar-se como
um espaço de liberdade e de democracia, promovendo a paz, a segurança e a
estabilidade política no Mundo e, em particular, nos países que nos são mais
próximos.
No quadro da política externa da União, está a ser negociada uma nova parce-
ria transatlântica com os Estados Unidos da América, espaço fundamental de
cooperação num mundo em que a concorrência entre as nações se processa à
escala global.
Estarão também na agenda dos próximos anos o reforço da União Econó-
mica e Monetária, em particular a operacionalização da União Bancária,
o aprofundamento da coordenação das políticas económicas, o aumento
da competitividade dos Estados-membros e a criação de instrumentos de
dívida comum.
A par disso, irão ser tomadas decisões de extrema importância quanto ao apro-
fundamento do mercado interno, nomeadamente no setor da energia, e quanto
à inovação tecnológica e à reindustrialização das economias europeias.
Neste contexto, a Europa deve assumir como prioridades o crescimento econó-
mico, o combate ao desemprego e a coesão social.
Nos próximos anos, tornar-se-á ainda mais premente o debate sobre o apro-
fundamento da livre circulação de pessoas, a definição de uma nova política
europeia de imigração e o combate às alterações climáticas.
O Parlamento Europeu irá ter também um papel fundamental na próxima esco-
lha do Presidente da Comissão Europeia e na composição deste órgão.
É sobre temas como estes, cruciais para o futuro da Europa e do nosso País,
que deve incidir o esclarecimento dos Portugueses e o debate entre as forças
partidárias.
A campanha eleitoral e o sufrágio do dia 25 de maio irão decorrer num momento
muito complexo da vida nacional. Em breve, Portugal terá de definir com cla-
reza que linha de rumo irá seguir após a conclusão do Programa de Assistência
Económica e Financeira.
45
PORT
UGA
L IN
TEIR
O
A campanha eleitoral deve, pois, decorrer de uma forma esclarecedora, serena
e elevada.
Em vez de enveredarem pelo caminho da crispação e da conflitualidade, as dife-
rentes forças partidárias devem apresentar soluções e debater entre si as suas
propostas, de forma livre e responsável.
Para que exista um verdadeiro debate de ideias, em vez de uma mera troca de
acusações e de ataques, é essencial que os Portugueses conheçam com clareza
as políticas da União que cada partido irá defender no Parlamento Europeu.
Os cidadãos têm o direito a ser esclarecidos e informados sobre as diversas
alternativas que cada candidato propõe. As querelas artificiais e as controvérsias
estéreis impedem o esclarecimento dos Portugueses e o debate democrático. Há
questões europeias demasiado sérias e importantes que devem ser discutidas.
Um agravamento da crispação partidária poderá prejudicar entendimentos que
venham a revelar-se indispensáveis no futuro.
Apelo aos Portugueses para que participem ativamente nesta campanha e no
próximo ato eleitoral. Acima de tudo, apelo aos Portugueses para que se infor-
mem sobre o que está em causa nas eleições para o Parlamento Europeu do dia
25 de maio.
A essa atitude de civismo responsável, os partidos políticos devem saber corres-
ponder com sentido de responsabilidade. É fundamental debater de forma séria e
informada a Europa e o seu futuro. Porque o futuro da Europa é o futuro de Portugal.
Muito obrigado.
47
PORT
UGA
L IN
TEIR
O
Sessão Solene Comemorativa do 40º Aniversário do 25 de Abril
AssembleiadaRepública,25deabrilde2014
Celebramos hoje um dos dias mais marcantes das nossas vidas. No percurso
pessoal de cada um, existirão certamente outros dias que são lembrados com
especial emoção. Mas nenhum outro evoca a nossa memória coletiva como o
dia 25 de abril de 1974.
Encontramo-nos hoje aqui, perante uma assembleia eleita de representantes do
povo, porque o 25 de Abril nos trouxe a democracia.
Em todo o país, os Portugueses festejam esta data porque o 25 de Abril nos
trouxe a liberdade.
Podemos dizer publicamente o que pensamos, podemos reunir-nos e manifes-
tar-nos, porque o 25 de Abril nos trouxe os direitos fundamentais.
Ao comemorarmos os 40 anos do 25 de Abril, devemos recordar o que foi viver sob
um regime em que não existia liberdade, em que os governantes não eram democra-
ticamente eleitos pelo povo, em que o povo não tinha voz para dizer o que pensava.
Perante as novas gerações, temos o dever cívico de realizar a pedagogia demo-
crática da memória da ditadura. Os jovens do nosso tempo, aqueles que têm
menos de quarenta anos de idade, não viveram o 25 de Abril. Desconhecem o
que é a experiência de viver sob um regime autoritário, a que o 25 de Abril pôs
fim graças à ação decidida de um punhado de militares corajosos.
Neste dia, devemos dirigir uma saudação especial às Forças Armadas, que, nas
alturas decisivas da nossa História, sempre souberam estar ao serviço de Por-
tugal e dos Portugueses.
Com o passar dos anos, será cada vez maior o número daqueles que sempre
viveram em liberdade. É bom que assim seja, trata-se de um sinal de que a demo-
cracia perdura e se encontra enraizada no quotidiano das novas gerações, para
as quais a vida em ditadura é algo tão distante como inconcebível.
É legítimo contestar opções que se fizeram ao longo destes quarenta anos. Con-
tudo, temos de ter presente uma realidade muito simples: só podemos contestar
48
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
e criticar tais opções porque vivemos em liberdade e em democracia. A demo-
cracia não é apenas o melhor dos regimes. A democracia é o único regime que
salvaguarda os direitos fundamentais da pessoa humana. E, num regime demo-
crático, só há um critério para definir a legitimidade dos governantes: o voto
expresso nas urnas. É isso que distingue a democracia de uma ditadura. Foi isso
que Portugal conquistou há quarenta anos.
Senhora Presidente da Assembleia da República
Senhoras e Senhores Deputados
Para que os jovens dos nossos dias compreendam o significado do 25 de Abril, é
necessário terem presente o caminho que fizemos nestas quatro décadas.
Instaurámos a democracia e aprovámos uma Lei Fundamental, a Constituição
da República Portuguesa. Num contexto muito difícil, com o país na iminência
de graves confrontos entre a população civil, as forças democráticas venceram
a batalha da liberdade e da democracia constitucional.
Integrámos com sucesso os muitos milhares de Portugueses vindos dos terri-
tórios africanos que se tornaram independentes. Sem traumas nem complexos,
construímos com os novos países uma aliança fraterna, que afirma o valor da
lusofonia no mundo inteiro.
Nas últimas décadas, verificaram-se avanços extraordinários no plano social,
que devemos preservar para as gerações futuras.
Portugal conseguiu, de forma ímpar, reduzir a taxa de mortalidade infantil, que
é hoje uma das mais baixas da Europa Ocidental. A esperança de vida dos Por-
tugueses aumentou significativamente. Hoje, contamos viver, em média, mais
15 anos do que em 1960.
Criámos um Serviço Nacional de Saúde que, através de um esforço de inves-
timento público muito significativo, garante a todos os Portugueses o acesso
generalizado aos cuidados de saúde.
Também no domínio da Educação os progressos são notáveis: no pré-escolar,
crescemos de cerca de 41 mil crianças matriculadas em 1974 para mais de 270
mil, em 2012. No ensino superior o número de alunos quintuplicou entre aquelas
datas. Em 1970, a população com ensino superior completo representava pouco
mais de meio por cento da população residente, enquanto que, de acordo com os
49
PORT
UGA
L IN
TEIR
O
dados dos últimos Censos, essa proporção está acima dos 12 por cento. Em 1970,
um quarto da população era analfabeta, estigma que afetava particularmente
as mulheres. Quarenta anos depois, a taxa de analfabetismo é pouco superior
a 5 por cento.
As mulheres alcançaram direitos de igualdade e ocupam hoje lugar preponde-
rante na frequência dos níveis superiores de ensino e no mercado de trabalho.
No início da década de 80, não existia sequer uma autoestrada que ligasse Lisboa
ao Porto. Atualmente, podemos percorrer todo o país de autoestrada, desde o
Algarve até à fronteira com a Galiza. Portugal é um país dotado de uma vasta
rede de infraestruturas físicas, culturais e desportivas, muitas vezes construídas
por outra das grandes conquistas de Abril: o poder autárquico.
Fizemos um longo caminho para chegarmos ao dia de hoje, a um Portugal livre e
democrático, a um país mais desenvolvido, em que as expectativas de bem-estar
são semelhantes às dos restantes Estados da União Europeia.
No entanto, se os níveis de bem-estar são muitíssimo superiores aos que exis-
tiam em 1974, se os Portugueses vivem hoje incomparavelmente melhor do que
há quarenta anos, a verdade é que temos ainda um longo caminho a percorrer
para nos aproximarmos da média dos indicadores sociais dos países mais desen-
volvidos da Europa.
Apesar do percurso que fizemos, continuamos insatisfeitos. É saudável que
assim seja. É sinal de que não nos resignamos, que ambicionamos viver num
país melhor, onde os nossos filhos e netos possam usufruir de maiores níveis
de bem-estar.
Senhoras e Senhores Deputados
Portugal enfrenta hoje grandes desafios quanto ao seu futuro, desafios que não
se esgotam na dimensão orçamental.
A diminuição da natalidade e o progressivo envelhecimento da população colo-
cam problemas de ordem diversa e indiscutível gravidade, desde a potencial
insustentabilidade dos sistemas de proteção social até ao agudizar de situações
dramáticas de exclusão e de solidão.
Cabe ainda, neste quadro, dedicar uma especial atenção aos efeitos do desem-
prego no tecido social português. Existe o sério risco de o desemprego de longa
50
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
duração, sobretudo quando afeta portugueses com idades superiores a 45 anos
e ameaça o seu retorno ao mercado de trabalho, pôr em causa alguns dos pila-
res fundamentais da nossa sociedade. Entre esses fundamentos, destacam-se a
família, incluindo a rede informal de proteção que proporciona, e as chamadas
classes médias, o sustentáculo das estruturas sociais modernas.
O combate ao desemprego tem de ser uma prioridade da ação política.
Por outro lado, diversos sinais apontam para um aumento de assimetrias que
podem pôr em causa a coesão do país, como as desigualdades na distribuição
do rendimento, as situações de pobreza, a desertificação de vastas parcelas do
território ou as acentuadas disparidades entre o litoral e o interior.
Devemos ainda ter presente, de modo muito particular, a situação dos reforma-
dos, daqueles que, ao fim de uma vida de trabalho, se viram subitamente con-
frontados com situações que ameaçam o seu legítimo direito a uma existência
com dignidade.
Cabe aos agentes políticos estar conscientes destes desafios e apontar um cami-
nho de esperança aos Portugueses.
Dispomos de potencialidades que ainda não explorámos como devemos, seja no
domínio da economia do mar, seja no aproveitamento racional da floresta, seja,
enfim, na valorização do património histórico e cultural.
Acima de tudo, Portugal tem um ativo que não pode desperdiçar: os seus jovens.
As novas gerações dispõem de talento e de conhecimento como nenhuma outra
geração teve no passado. Temos jovens investigadores e cientistas de mérito
internacionalmente reconhecido. Foi feito um investimento público muito signi-
ficativo na qualificação dos nossos jovens. A política científica de um país e a ino-
vação e competitividade que resultam dessa aposta são decisivas para o futuro.
A valorização do nosso capital humano implica também um novo olhar sobre
a Diáspora, enquanto ativo estratégico de Portugal no Mundo. Através de atos
concretos, temos de criar redes e fortalecer os laços com as comunidades portu-
guesas e de lusodescendentes. Essas comunidades têm-me transmitido, em múl-
tiplos encontros, o seu interesse em contribuir para o desenvolvimento do País.
Devemos valorizar o capital humano, igualmente, no que diz respeito ao
próprio Estado. É legítimo, e porventura urgente, proceder a uma reforma
da Administração Pública. Todavia, reformar a Administração não significa
51
PORT
UGA
L IN
TEIR
O
fragilizá-la num dos seus aspetos essenciais: a qualidade dos seus recursos
humanos. Pelo contrário, só através de um reforço da qualificação dos traba-
lhadores do Estado e da justa recompensa do mérito conseguiremos prestigiar
o exercício de funções públicas e garantir que a Administração atue de forma
eficiente, imparcial e independente, livre da pressão de interesses privados ou
do clientelismo político.
Importa, aliás, que o combate à corrupção seja assumido como uma prioridade,
e que o interesse público seja sempre colocado acima dos interesses privados.
No entanto, o combate à corrupção não pode fazer-se através de intervenções
populistas, de acusações que desrespeitam princípios fundamentais da nossa
ordem jurídica, como a presunção de inocência, o segredo de justiça ou o direito
ao bom nome. Os que trilham o caminho da demagogia podem ter uma populari-
dade efémera, mas nunca conseguirão combater eficazmente a corrupção. Pelo
contrário, contribuem para descredibilizar as iniciativas sérias para a prevenir
e as investigações em curso para a combater.
Na vida pública portuguesa, vê-se com preocupante frequência serem postos em
causa valores essenciais, como o rigor e a seriedade, e até a urbanidade que deve
pautar o convívio democrático entre os que têm ideias e opiniões divergentes.
Em detrimento de uma análise dos problemas reais dos Portugueses e de um
estudo aprofundado de assuntos essenciais para o nosso futuro, privilegia-se o
insulto e a difamação, o imediatismo e a superficialidade. Caso persista, esta ten-
dência levará a um progressivo afastamento dos cidadãos, sobretudo dos mais
jovens, relativamente à atividade política. E, desse modo, o necessário e saudável
escrutínio cívico das instituições e da ação dos titulares de cargos políticos será
substancial e perigosamente reduzido.
Os meios de comunicação social têm um papel decisivo a desempenhar e devem
estar conscientes da responsabilidade que advém da influência que exercem
sobre a opinião pública.
A comunicação social deve informar e esclarecer os cidadãos com objetivi-
dade e com rigor, dando espaço ao confronto de opiniões livres, mas funda-
mentadas. No dia em que a verdade e o rigor da informação forem totalmente
sacrificados a favor do impacto sensacionalista, estaremos, afinal, a criar
novas formas de ditadura.
52
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
Ao celebrar os 40 anos do 25 de Abril, podemos dizer que Portugal é hoje uma
democracia consolidada, um Estado de direito em que as liberdades cívicas
são respeitadas.
No entanto, e como é comprovado por diversos estudos de opinião, existe uma
insatisfação crescente com o funcionamento do nosso sistema político. Os par-
tidos devem fazer uma reflexão serena, mas urgente, sobre as causas dessa
insatisfação.
Como já referi, tem-se agravado, entre outras, a tendência para privilegiar o
acessório e o efémero em detrimento do essencial. Os partidos têm de perceber,
de forma inequívoca, que, mais cedo ou mais tarde, a insatisfação com o sistema
político e o desinteresse dos cidadãos acabarão por afetar a própria atividade
partidária.
A democracia não corre perigo, mas, 40 anos depois do 25 de Abril, é tempo de
os partidos repensarem o sentido da sua ação e assumirem a responsabilidade
que lhes cabe na construção do futuro de Portugal.
Senhoras e Senhores Deputados
O 25 de Abril fez-se há quarenta anos, mas os seus ideais continuam vivos. A luta
por um Portugal livre e democrático, por um país mais desenvolvido, é um traço
de união entre os Portugueses.
O dia 25 de Abril não tem proprietários nem deve servir de arma de arremesso na
luta política. Os ideais de abertura ao diálogo democrático que inspiraram o regime
que instituímos há quarenta anos mantêm plena validade no Portugal de hoje.
O 25 de Abril não foi feito para dividir os Portugueses, mas sim para uni-los em
torno de um desígnio comum.
Sem prejuízo da natural diversidade de opiniões e do confronto de ideias que é
próprio de uma democracia, os desafios que Portugal enfrenta atualmente são
de uma tal dimensão que não se compadecem com uma prática política que faz
prevalecer a crispação e o conflito.
Perante a dimensão desses desafios, que não se colocam a um partido ou a um
governo em concreto, mas a Portugal inteiro, temos de tomar uma opção decisiva:
ou persistimos numa visão de curto prazo, olhando para aquilo que nos divide,
ou pensamos Portugal numa perspetiva de futuro, partindo daquilo que nos une.
53
PORT
UGA
L IN
TEIR
O
O nosso combate não é menor do que o daqueles que fizeram o 25 de Abril. Con-
quistada a liberdade, consolidada a democracia, este é o tempo de lutarmos por
um país mais desenvolvido e mais justo.
Portugal só será um país mais justo se for mais desenvolvido. E Portugal só será
um país mais desenvolvido se existir um esforço coletivo para alcançarmos um
compromisso de futuro quanto aos grandes desígnios nacionais.
É tempo de abandonarmos a política de vistas curtas, ditada pelo taticismo e
pelos interesses de ocasião. Precisamos de um discurso de esperança que mobi-
lize os Portugueses para os desafios que temos à nossa frente. Precisamos de
professores motivados, investigadores empenhados, servidores do Estado valo-
rizados, agentes culturais criativos, jovens empreendedores, uma comunidade
de empresários e trabalhadores com espírito vencedor.
Ao fazer uma retrospetiva destas quatro décadas, facilmente concluiremos que
só nos aproximámos dos ideais de Abril quando soubemos unir-nos nas opções
essenciais.
Unimo-nos contra a ameaça de novos totalitarismos, em tempos difíceis em que
este Parlamento chegou a ser cercado e os seus Deputados foram sequestrados.
Unimo-nos quando conseguimos aprovar uma Constituição que é a matriz fun-
dadora do nosso regime democrático e do Estado social de direito.
Unimo-nos quando aderimos às Comunidades Europeias e nos tornámos num
Estado-membro que mereceu o respeito dos seus congéneres pela forma dinâ-
mica como, por mais de uma vez, soube assumir a presidência da União.
Sempre que estivemos unidos, estivemos mais próximos dos ideais de Abril.
Não é por acaso que o espírito de compromisso e de entendimento entre as dife-
rentes forças políticas está na base das regras do sistema democrático consa-
gradas na nossa Constituição.
Não se trata de confundir a abertura ao compromisso com uma unanimidade
de pontos de vista, nem com uma neutralização da dinâmica de alternância que
é própria das democracias.
Por isso mesmo, é difícil compreender que, numa democracia consolidada, agen-
tes políticos responsáveis não consigam alcançar entendimentos sobre questões
essenciais para o nosso futuro coletivo. Temos de acreditar que os obstáculos
acabarão por ser ultrapassados.
54
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
Senhora Presidente da Assembleia da República
Senhoras e Senhores Deputados
Vivemos hoje um dia histórico, em que Portugal celebra os 40 anos do 25 de
Abril.
Devemos celebrar o passado com sentido de futuro. Só assim estaremos à altura
do presente em que vivemos. O presente exige de todos nós a mesma coragem
com que, há quarenta anos, construímos juntos um Portugal livre e democrático.
Muito obrigado.
55
PORT
UGA
L IN
TEIR
O
Sessão de Abertura da Conferência “Portugal – Rotas de Abril:
Democracia, Compromisso e Desenvolvimento”
Lisboa,9demaiode2014
Como anunciei na Mensagem de Ano Novo que dirigi aos Portugueses no pas-
sado mês de janeiro, a Presidência da República decidiu assinalar os 40 anos
do 25 de Abril promovendo uma Conferência Internacional sobre a democracia
portuguesa, a cultura de compromisso e os desafios do desenvolvimento.
Considerei ser oportuno que, ao celebrarmos quatro décadas de regime demo-
crático, fosse realizado um encontro de reflexão e de debate entre personalida-
des nacionais e estrangeiras. Nesta Conferência, que simbolicamente se inicia no
Dia da Europa, reúnem-se académicos de excelência e outras individualidades
que, pelas funções que exerceram ou exercem, aliam à profundidade do conhe-
cimento o seu saber de experiência feito.
Agradeço a presença de todos, na certeza de que nesta Conferência ouviremos
intervenções informadas e esclarecidas e, acima de tudo, opiniões livres e inde-
pendentes sobre algumas das questões fundamentais com que Portugal se con-
fronta nos nossos dias.
Entre essas questões, destaco o aprofundamento da cidadania democrática, a
cultura de compromisso e, bem assim, a importância do conhecimento, da ino-
vação e da competitividade para o desenvolvimento sustentável do nosso País.
Agradeço ao Professor João Lobo Antunes, comissário das conferências “Rotei-
ros do Futuro”, o empenho que tem colocado na realização destes encontros.
Agradeço igualmente ao Professor David Justino o intenso trabalho levado a
cabo na preparação destas conferências.
Quero agradecer também, de forma muito calorosa, à Dr.ª Leonor Beleza que, na
qualidade de Presidente da Fundação Champalimaud, é, hoje, e uma vez mais,
a anfitriã destes encontros.
Saúdo todos os palestrantes, que acederam ao convite para participar nesta
conferência “Portugal – Rotas de Abril”.
56
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
Ao Senhor General António Ramalho Eanes dirijo uma saudação muito especial
pela sua presença e pelo testemunho que connosco irá partilhar. Os Portugueses
e a História têm uma enorme dívida de gratidão para com o General Ramalho
Eanes: à lucidez da sua coragem e ao seu espírito de liderança ficámos a dever
o 25 de Novembro de 1975, o momento decisivo da consolidação do processo
democrático. Primeiro Presidente eleito da história da democracia portuguesa,
exerceu os seus mandatos de uma forma exemplar, reconhecida pela sua isen-
ção, pelo seu rigor ético e pela sua fidelidade à Constituição da República.
Senhoras e Senhores
Os três temas deste encontro – democracia, compromisso e desenvolvimento
– remetem-nos para uma única realidade e convocam as aspirações e os ideais
mais profundos do 25 de Abril.
A democracia, na verdade, pressupõe uma cultura de compromisso. Através de um
contrato social e político, os cidadãos rejeitam a violência e o autoritarismo como
forma de ação e de governo. Em nome da paz e da liberdade, adotam a democracia
como princípio de convivência e como modo de escolha dos governantes através
da realização de eleições livres. Esse compromisso não põe termo ao pluralismo
ou à liberdade nem afeta a alternância política. Pelo contrário, a alternância e a
expressão da diversidade de opiniões só são possíveis num regime democrático.
A democracia é produto de um compromisso e também, ao mesmo tempo, o ele-
mento que permite que os consensos fundamentais não apaguem as diferenças
entre as várias forças políticas, as diversas ideologias ou correntes de opinião.
No entanto, a democracia não possui apenas um caráter instrumental, sendo
muito mais do que um método de seleção pacífica de representantes do povo. A
democracia deve afirmar-se substantivamente como cultura cívica e projetar-
-se em todas as esferas da sociedade. Para que tal aconteça, é necessário que
existam regras que definam e salvaguardem a substância do pluralismo e da
liberdade. Essas regras têm um nome: Constituição. Aqui emerge, uma vez mais,
a importância da cultura de compromisso. A Constituição não implica que todos
se revejam nas suas soluções políticas e normativas, mas exige um compro-
misso sempre renovado em torno das opções fundamentais de uma República
de cidadãos livres.
57
PORT
UGA
L IN
TEIR
O
O terceiro tema desta Conferência é o desenvolvimento. Também ele se funda
numa cultura de compromisso democrático. Será possível que, em situações
transitórias e localizadas no tempo, regimes ditatoriais consigam alcançar taxas
elevadas de crescimento económico. No entanto, o crescimento económico não
se confunde com o desenvolvimento humano. A economia está ao serviço das
pessoas, não as pessoas ao serviço da economia. Assim, o desenvolvimento
integral dos seres humanos como pessoas pressupõe e exige uma qualidade
essencial, a qualidade de cidadão. Ora, só somos cidadãos num regime livre e
democrático.
Não por acaso, as instituições internacionais têm adotado como critério o
índice de desenvolvimento humano, que não se circunscreve aos níveis de
rendimento, mas abrange um conjunto de outras variáveis, situadas não só no
plano material mas também no imaterial, como a qualidade de vida e o bem-
-estar em sentido amplo.
Assim, mesmo que seja possível associar o crescimento económico a alguns
regimes não-democráticos, trata-se de uma situação transitória e ilusória. A
prazo, no tempo longo, o crescimento cria legítimas aspirações de liberdade
e de bem-estar social. Só a democracia pode assegurar o desenvolvimento
autêntico e sustentado, porque apoiado num amplo compromisso social e
político.
Senhoras e Senhores
A História da Europa e de Portugal confirma a importância da cultura de com-
promisso na sedimentação da democracia e do desenvolvimento.
A História lida com o tempo e, neste contexto, devemos ter a perceção de que
existe uma diferença substancial entre o tempo curto e o tempo longo. O tempo
curto situa-se no quadro dos ciclos económicos, políticos e eleitorais. O tempo
longo remete para opções estratégicas que ultrapassam o prazo limitado de uma
legislatura ou dos mandatos dos governantes.
Observada sob a perspetiva do tempo curto, a História da Europa caracterizou-
-se pela sucessão de diversos governos e pela natural alternância de programas e
de ideologias. Mas, olhada sob o prisma do tempo longo, vemos que a Europa só
conseguiu alcançar um período de paz e de bem-estar sem precedentes na sua
58
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
História porque existiu um compromisso firme em torno de uma constelação
de valores políticos – a liberdade, a democracia, a justiça social – e em torno de
um projeto de redistribuição da riqueza sujeito à salvaguarda da dignidade da
pessoa humana.
O Estado Social europeu é um património de que não podemos abdicar e que só
pôde nascer devido à existência de um compromisso entre forças políticas de
quadrantes diversos, de entendimentos entre governos e oposições, entre agen-
tes sociais e económicos que souberam compreender a essência e a exigência
do tempo longo.
Também em Portugal, a democracia só pôde afirmar-se, na sequência do 25 de
Abril, porque existiu um compromisso histórico entre o poder militar e o poder
civil. Mantendo a sua diversidade ideológica e as suas diferentes estratégias
políticas, as forças partidárias alcançaram um entendimento com o Movimento
das Forças Armadas que permitiu a realização de eleições livres e democráti-
cas. Os militares, por um lado, e os partidos políticos, por outro, demonstraram
uma exemplar capacidade de olharem para o tempo longo do superior interesse
nacional. A lógica do conflito poderia ter chegado ao extremo de uma guerra civil,
mas prevaleceu o espírito de compromisso nacional que permitiu a aprovação
da Constituição da República Portuguesa.
A longevidade da Constituição, por sua vez, só foi possível, de novo, porque os
agentes políticos souberam ter a perceção do tempo longo – e compreenderam
a necessidade de adaptar o texto da Lei Fundamental às exigências próprias
de diversos ciclos históricos: em 1982, o poder civil afirmou a plenitude da sua
legitimidade democrática; em 1989, adotámos o modelo económico do espaço
em que nos havíamos integrado, as Comunidades Europeias.
A adesão às Comunidades Europeias e, mais tarde, a fundação da União Euro-
peia e a criação da moeda única não foram um processo fácil e, uma vez mais,
exigiram a compreensão do tempo longo que é própria da cultura de compro-
misso. Na altura, as principais forças políticas e as suas lideranças foram capazes
de colocar de lado as divergências do tempo curto e compreenderam o alcance
deste desígnio estratégico. A pertença à União Europeia trouxe benefícios indis-
cutíveis para os Portugueses, mas também exigências de responsabilidade e
rigor que só podem ser satisfeitas através de entendimentos de amplo alcance.
59
PORT
UGA
L IN
TEIR
O
Nos dias que vivemos, é natural que os cidadãos, confrontados pelas adversida-
des do quotidiano, sejam absorvidos pelas exigências imediatas do tempo curto.
No entanto, temos de compreender, em definitivo, que existem na sociedade
portuguesa desafios que só poderão ser vencidos numa perspetiva temporal
alargada e no quadro de uma cultura de compromisso.
Todos os Portugueses, a começar pelos agentes políticos, devem perceber que
a cultura de compromisso, típica dos países mais desenvolvidos da Europa, é
essencial para a sustentabilidade do modelo social que permitiu progressos
extraordinários em domínios como a educação e a saúde, a qualidade de vida
das populações e a proteção social dos cidadãos que, devido a várias circunstân-
cias, como a velhice, o desemprego ou a doença, se encontram particularmente
vulneráveis.
Se estes desafios se colocam a todas as democracias da Europa, eles adquirem
mais acuidade em países como Portugal.
Enfrentamos um sério problema demográfico, que põe em risco a sustentabili-
dade do pacto geracional em que assenta a nossa democracia, a nossa coesão e
o nosso modelo de justiça social.
Por outro lado, o sistema eleitoral proporcional, tendo a grande virtude de dar
voz mais ativa à diversidade de correntes e ao pluralismo de opiniões, dificulta
que a estabilidade e a governabilidade sejam conseguidas apenas através do
sufrágio. Por outras palavras, torna mais imperiosa a necessidade de uma cul-
tura cívica de compromisso.
Enfrentamos, de igual modo, necessidades particulares no que respeita à sus-
tentabilidade da dívida pública e à criação de emprego. Assim, é imprescindível
assegurar um crescimento económico estável, com um forte investimento no
setor da produção de bens e serviços que concorrem com a produção externa.
Para o efeito, há um conjunto de reformas no Estado e de orientações políticas
estratégicas que devem ser objeto de um entendimento de médio prazo entre
as forças partidárias. Sem esse compromisso, mantendo-se a prevalência das
oscilações erráticas do tempo curto sobre a perspetiva nacional do tempo longo,
Portugal muito dificilmente será capaz de assegurar uma trajetória sustentável
de desenvolvimento.
60
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
Senhoras e Senhores
Foram estas, no essencial, as razões que me motivaram a promover esta Con-
ferência. Estou certo de que, no final do Encontro, estaremos mais esclarecidos
sobre as necessidades, mas também sobre as dificuldades, de uma cultura de
compromisso que assegure a estabilidade da democracia e a sustentabilidade
do desenvolvimento.
Agradeço a vossa presença, com a firme convicção de que hoje, nesta sala, esta-
mos a ir ao encontro das aspirações e das esperanças daqueles que, há quarenta
anos, fizeram e festejaram a alegria do 25 de Abril.
Muito obrigado.
61
PORT
UGA
L IN
TEIR
O
Sessão de Encerramento da Conferência “Portugal – Rotas de Abril:
Democracia, Compromisso e Desenvolvimento”
Lisboa,10demaiode2014
No encerramento desta Conferência, permitam-me umas breves palavras para, desde
logo, agradecer a presença de todos e as intervenções dos oradores convidados.
Agradeço a todo o público que, durante dois dias, acompanhou esta iniciativa
com interesse e atenção. Estou certo de que, ao fim destas duas jornadas, todos
os que assistiram às sessões se encontram hoje mais conscientes da interação
que existe entre a democracia, a cultura de compromisso e o desenvolvimento.
Aos intervenientes, agradeço, mais uma vez, a disponibilidade para participar
nesta Conferência e as magníficas contribuições que nos trouxeram.
Recordo que a presente Conferência, intitulada “Portugal: Rotas de Abril”, se ins-
creve no âmbito dos Roteiros do Futuro, uma iniciativa da Presidência da República
que pretende abordar, em várias sessões temáticas, alguns dos grandes desafios
que se colocam à sociedade portuguesa, situando a análise e a discussão de pro-
blemas de fundo numa perspetiva nacional e num horizonte temporal alargado.
Os Portugueses reveem-se na democracia como forma ideal de governo, mas
existem sinais de um progressivo distanciamento dos cidadãos relativamente
à atividade política.
Os Portugueses aspiram a viver num País mais desenvolvido, o que implica, por um
lado, crescimento económico e combate ao desemprego e, por outro, uma defesa
intransigente da transparência na vida pública e salvaguarda da justiça social.
Os Portugueses, enfim, estão conscientes dos desafios que Portugal irá enfrentar
neste momento crucial da sua História. Reconhecem e valorizam o compromisso
como pressuposto essencial de governabilidade e desenvolvimento numa pers-
petiva nacional de médio prazo.
A cultura do compromisso, que predomina na maioria dos países da União Euro-
peia, tem tido dificuldade em instalar-se na nossa democracia. É preciso insistir.
Da minha parte, não deixarei de fazê-lo.
62
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
Por tudo isto, as intervenções que escutámos nestes dois dias revestiram-se de
enorme interesse. Vozes autorizadas e independentes, reconhecidas pela sua
lucidez, pelo seu saber e pela sua experiência, vieram confirmar as nossas intui-
ções e as nossas convicções: o Portugal que nasceu há quarenta anos é um pro-
jeto de justiça e de bem-estar que tem de ser constantemente alimentado pela
qualidade da democracia e a esperança de um futuro melhor. As intervenções
abrangeram temas tão diversos como a cidadania e o compromisso, os desafios
da sociedade do conhecimento e a importância da inovação e da competitividade
para um crescimento sustentável.
A Conferência contou com oradores nacionais e estrangeiros, com intervenções
de personalidades dos mais diversos quadrantes. Em conjunto, procederam a
uma reflexão serena e profunda, extremamente enriquecedora para todos nós.
Começámos por ouvir o General Ramalho Eanes, testemunho de sabedoria e de
experiência. Uma personalidade que, em tempos decisivos da nossa História, se
destacou pelo valor da coragem e pela firmeza inabalável das suas convicções.
À minha gratidão pessoal a todos os que estiveram presentes, aos oradores e
aos que organizaram e acolheram esta iniciativa, quero, como Presidente da
República, associar a gratidão dos Portugueses.
Como em muitas outras realizações que têm lugar este ano, aqui celebrámos
Abril com elevação e com dignidade, com sentido patriótico e de uma forma
profunda e informada. As novas gerações, os que nasceram já depois de 1974,
têm dificuldade em perceber que, numa ditadura, seria impossível termo-nos
reunido nesta Conferência. Para os jovens, a liberdade é um valor adquirido.
Em contrapartida, a segurança no emprego, a possibilidade de afirmar o seu
talento ou a capacidade de constituir família e assegurar a sua autonomia são
ambições – ambições legítimas – que os jovens de hoje não têm por adquiridas
ou garantidas.
Foi para ajudar a cumprir essas ambições que esta Conferência se realizou.
Cumprimos a liberdade há quarenta anos atrás. Falta cumprir o desenvolvi-
mento, para que a nossa democracia corresponda aos sonhos nascidos numa
madrugada de abril.
Muito obrigado.
63
PORT
UGA
L IN
TEIR
O
Mensagem Dirigida às Comunidades Portuguesas por Ocasião do Dia de Portugal
Guarda,9dejunhode2014
Portugueses e Lusodescendentes
Este ano, as Comemorações do dia 10 de Junho têm lugar na cidade da Guarda.
Cidade-fortaleza e bastião da fronteira portuguesa, a Guarda desempenhou,
desde os alvores da nacionalidade, um papel fundamental na consolidação da
nossa independência e na preservação da integridade do território nacional. A
cidade da Guarda é, por isso, símbolo maior da vontade indomável dos Portu-
gueses de permanecerem um povo livre e independente.
O 10 de Junho é o dia em que celebramos Portugal, Camões e as Comunidades
Portuguesas. É também neste dia que, com a grande família dos Portugueses
que vivem e trabalham no estrangeiro, refletimos em conjunto sobre o nosso
passado comum e os desafios que o futuro nos reserva.
Dirijo-me, pois, muito calorosamente, à Diáspora Portuguesa e aos Lusodes-
cendentes, àqueles que são nossos embaixadores por excelência nos países
onde vivem e trabalham. O vosso exemplo, a vossa determinação e a forma
como representam o nosso País são motivo de orgulho e de esperança para
Portugal.
Este ano, celebramos os 40 anos do 25 de Abril. Aproveitei a data para promover
uma reflexão sobre o aprofundamento da cidadania democrática, a cultura do
compromisso e a importância do conhecimento e da inovação para o desenvol-
vimento económico e social do nosso país. Estes são temas que convocam as
aspirações e os ideais mais profundos do 25 de Abril.
Os portugueses que vivem e trabalham no estrangeiro têm, também eles, o dever
cívico de projetar no futuro as ambições desse Abril de 1974 e de manter vivo
este legado da nossa história coletiva.
Percorremos juntos um longo caminho para construir um Portugal livre e
democrático, um país mais desenvolvido, com padrões e expectativas semelhantes
às dos restantes Estados da União Europeia.
64
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
Apesar do caminho que fizemos, continuamos insatisfeitos. É saudável que
assim seja. É sinal de que não nos resignamos, que ambicionamos viver num
país melhor. Num país que atraia o regresso dos que partiram e onde os nossos
filhos e netos possam usufruir de maiores níveis de bem-estar.
Nas minhas visitas ao estrangeiro, tenho encontrado portugueses notáveis:
empreendedores, artistas, empresários, gestores e cientistas altamente qua-
lificados.
Visitei Comunidades de portugueses e lusodescendentes com uma extraordiná-
ria vitalidade, que gozam de grande prestígio junto dos países de acolhimento.
Milhares de portugueses, apesar de viverem longe, querem cultivar e reforçar
os laços com a sua terra de origem. Com elevado espírito de patriotismo, as
Comunidades Portuguesas no estrangeiro têm-me transmitido, em múltiplas
ocasiões, o seu interesse em contribuir para o desenvolvimento do País.
É esse, precisamente, o apelo que vos dirijo.
Neste dia, que é também vosso, para todos e para as vossas famílias, os meus
votos de sucessos profissionais e pessoais.
Bem hajam pelo muito que fazem pelo nosso e vosso País. Portugal agradece.
65
PORT
UGA
L IN
TEIR
O
Cerimónias Militares das Comemorações do Dia 10 de Junho
Guarda,10dejunhode2014
Nesta cidade que fez do granito o corpo e a alma, que viu atribuída a nobre função
de defesa da Nação que se formava, comemoramos hoje o Dia de Portugal, de
Camões e das Comunidades Portuguesas.
A toponímia da Guarda, de origem visigoda, significa vigia e sentinela. Foi
essa a grande missão que desempenhou durante séculos, desde os alvores da
nacionalidade.
A sua importância, rapidamente reconhecida, desencadeou um conjunto de deci-
sões de povoamento e fortificação que revelam, à época, uma visão estratégica
notável, mobilizando a vontade de uma gente determinada em manter a sua
terra sob a tutela do reino. Uma vontade e uma determinação sempre confirma-
das ao longo da nossa História.
Militares
Este ano, evocamos o centenário do início da Primeira Grande Guerra. Importa
recordar todos aqueles que sucumbiram e se sacrificaram ao serviço da Nação nos
campos de Batalha da Flandres, de Angola e de Moçambique, mas cabe também
refletir sobre as circunstâncias que rodearam a nossa participação no conflito.
Recordar para entender as gerações que nos precederam, as razões das suas
lutas, os caminhos que trilharam e as opções que fizeram. Recordar para apren-
der com os nossos feitos e os nossos erros, porque o país que ignora a História,
que não recorda e não aprende com o seu passado, tende a repetir os mesmos
erros no futuro.
A Grande Guerra foi antecedida, na Europa, por um período marcado pelo pro-
gresso tecnológico e pela inovação artística e cultural. Alguns chamaram-lhe a
“idade dourada da segurança”. Em pouco tempo, esta situação alterou-se, com
o desencadear de um conflito mundial que surpreendeu pela sua brutalidade
e destruição, dilacerando povos e países.
66
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
A eclosão deste conflito encontrou Portugal extremamente fragilizado. Internamente,
via-se a braços com uma profunda crise política, económica e social e, externamente,
defrontava-se com ameaças aos seus territórios ultramarinos e com a necessidade de
reconhecimento e legitimação internacional do novo regime republicano.
A decisão de participar na Guerra foi tomada sem os indispensáveis consensos
e sem ter em conta a débil capacidade militar existente.
Um combatente de então retrata bem a realidade da época: “lançado, inespera-
damente, numa guerra que estava longe de prever, o país viu-se em dificuldades,
com um exército desprovido de organização apropriada, sem uniformes, sem
armamento, sem munições, sem transportes e sem dinheiro”.
A falta de preparação do País para assumir tão importante compromisso refle-
tiu-se, por um lado, no aprontamento apressado do Corpo Expedicionário Por-
tuguês, que ficou conhecido, sugestivamente, como o “Milagre de Tancos”, e,
por outro lado, na incapacidade de projetar e apoiar as tropas portuguesas em
França e em África, remetendo-as ao total abandono.
Houve incúria na preparação, alheamento na execução e esquecimento no
regresso. As decisões tomadas nos corredores de Lisboa não se revelaram ajus-
tadas, ignoraram os avisados pareceres militares, interferindo abusivamente na
ação de comando.
Pode dizer-se que os militares que foram para a Flandres e para África nada
tinham senão a coragem.
E foi somente a coragem, a valentia demonstrada pelos soldados no Campo de
Batalha, que permitiu honrar Portugal com o desfile do seu contingente, ao lado
dos aliados, na parada da Vitória sob o Arco do Triunfo e que permitiu a salva-
guarda das possessões ultramarinas.
Portugueses
A memória da Grande Guerra deve constituir-se num tributo ao sacrifício, ao
valor e ao caráter do combatente português que, em França, em África e nas
“trincheiras do tempo”, à Pátria tudo deu.
Portugal e os Portugueses têm uma dívida de gratidão e não podem, não devem
esquecer aqueles que, ao longo de quase nove séculos, em seu nome combateram
e em seu nome morreram.
67
PORT
UGA
L IN
TEIR
O
Combater é um ato supremo de cidadania. Nunca é demais recordá-lo. É por isso
que, mais uma vez, nas celebrações do Dia de Portugal, rendemos homenagem
aos antigos combatentes aqui presentes, dando público testemunho da conside-
ração e do respeito que nos merecem.
Portugueses
Este Centenário deve, também, constituir-se para a Europa e para o Mundo
como um momento de reflexão sobre os rumos e as opções que diariamente
se assumem.
Assiste-se hoje a uma perigosa indiferença perante importantes questões
de segurança, negligenciando-se as causas geradoras de conflitos, nomea-
damente o recrudescimento dos nacionalismos e a irrupção das tendências
separatistas.
Os recentes acontecimentos no Mundo, e, em particular, na Europa, aí estão
para o comprovar.
A reflexão que nos merece esta página da nossa História é que a segurança e a
paz não são dados adquiridos. Dependem da vontade e das decisões de terceiros
e da confluência de circunstâncias várias.
Em termos nacionais, é essencial a existência de Forças Armadas prontas e pre-
paradas para servir o País, com uma capacidade de resposta adequada e assente
na eficácia da organização, na qualidade dos equipamentos e na motivação dos
seus quadros e tropas.
A complexidade do processo obriga a uma preparação rigorosa e demorada. Os
Exércitos não se improvisam – preparam-se.
Militares
O Portugal de hoje continua a bater-se pelos valores da Paz, da Liberdade e da
Democracia e a transportar, além-fronteiras, o código moral, a competência e
o profissionalismo dos seus militares, qualidades amplamente reconhecidas e
elogiadas pelos nossos parceiros e aliados, o que constitui fator de credibilidade
e de prestígio para o País.
Mantendo-se embora a missão primária da defesa de Portugal e dos Por-
tugueses, a segurança e os interesses do Estado afirmam-se, atualmente,
68
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
longe das fronteiras tradicionais, nas alianças e organizações internacionais
de segurança coletiva, realidade que nos traz responsabilidades acrescidas.
Sob pena de nos tornarmos um parceiro dispensável e irrelevante na cena
internacional onde se joga o nosso futuro e o nosso desenvolvimento, a nossa
participação requer a existência de meios e recursos que evitem a degradação
das capacidades existentes e que permitam assegurar os necessários níveis de
operacionalidade.
Neste quadro, e como afirmei recentemente, identificam-se duas importantes
áreas de atuação.
Uma, a salvaguarda da capacidade operacional. Portugal precisa de umas Forças
Armadas credíveis, coesas e treinadas, capazes de assegurar o cumprimento das
suas missões dentro e fora do território nacional.
A outra, as pessoas. Porque é nelas que reside a força, a determinação e o culto
dos valores nacionais das Forças Armadas. É sobre elas que recai a responsa-
bilidade do exercício da função e que se fazem sentir as maiores dificuldades. É
por isso que a ação de comando deve ser centrada nas pessoas, dando especial
atenção aos problemas concretos dos militares.
Pela sua importância e pelos reflexos na coesão, no moral e na disciplina, é legí-
tima a expectativa dos militares quanto ao processo de instalação do Hospital
das Forças Armadas e, também, quanto ao resultado do trabalho conjunto, entre
os Chefes Militares e a tutela, em relação à proposta de revisão do seu Estatuto.
Militares
O alto sentido do dever, o espírito de serviço e a total disponibilidade das Forças
Armadas no cumprimento das suas missões honram o seu passado e as suas
tradições, creditando-as como uma das instituições nacionais mais prestigiadas
e em que os Portugueses mais confiam.
Como Comandante Supremo das Forças Armadas, reafirmo, perante os Portu-
gueses, a minha confiança nos homens e nas mulheres que servem na Instituição
Militar. Incentivo-vos a partilhar a vossa força, o vosso vigor e entusiasmo, em
nome de um futuro de esperança.
Portugal precisa de todos. Portugal precisa das suas Forças Armadas.
69
PORT
UGA
L IN
TEIR
O
Sessão Solene Comemorativa do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas
Guarda,10dejunhode2014
Hoje, na cidade da Guarda, celebramos o Dia de Portugal. Esta é a festa de todos
os Portugueses.
Neste dia, comemoramos um País, festejamos uma Pátria, mas, antes de mais,
celebramos um Povo, o nosso – o povo português.
O Dia de Portugal é também o Dia das Comunidades Portuguesas, a ocasião
festiva em que saudamos a nossa Diáspora.
Um país é muito mais do que um território. Portugal é, acima de tudo, as pessoas
que o integram, os portugueses que vivem no nosso país ou no estrangeiro, os
cidadãos de outros países que decidiram residir e trabalhar entre nós. Esta é a
nossa riqueza maior: somos um país uno mas também plural, uma comunidade
coesa mas simultaneamente diversa, uma cultura feita de várias culturas.
Portugueses
Neste ano de 2014, conquistámos o direito a ter esperança.
Portugal cumpriu as obrigações que assumiu em maio de 2011 perante as enti-
dades internacionais que nos concederam os empréstimos necessários ao finan-
ciamento do Estado e da economia. O programa de assistência financeira foi
concluído no passado mês de maio.
Vivemos uma situação de emergência nacional, que exigiu dos Portugueses um
extraordinário sentido de responsabilidade. Foi um caminho duro. Vivemos
tempos muito difíceis, mas não perdemos a coragem da esperança e a vontade
de triunfar. Como sempre sucedeu ao longo da História, e em particular nestas
quatro décadas de democracia, o povo português deu mostras de uma maturi-
dade cívica exemplar.
Entrámos numa nova fase da vida nacional, que designei de pós-troika, chamando
a atenção para a necessidade de estarmos preparados para os novos desafios
que temos diante de nós.
70
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
Agora, com os sacrifícios que todos tivemos de fazer, será possível olhar o futuro
com mais esperança e com renovada confiança.
Devemos, no entanto, ter uma noção muito clara de duas realidades que não
podem ser iludidas.
Em primeiro lugar, sabemos bem que a fase crítica por que passámos deixou
marcas e sequelas profundas. Devemos, pois, permanecer atentos e vigilantes,
designadamente em matéria de disciplina das contas públicas e de controlo do
endividamento externo, para não cairmos de novo numa “situação explosiva”,
risco para o qual alguns alertaram os Portugueses em devido tempo.
Os Portugueses desejam que o seu País nunca mais venha a encontrar-se numa
situação semelhante àquela a que chegou em maio de 2011. Há que ter muita
prudência. Exige-se, pois, uma conduta esclarecida e responsável de todos os
agentes políticos, que vá ao encontro das legítimas aspirações de progresso e
de bem-estar do nosso povo.
Em segundo lugar, devemos estar conscientes de que podemos agora olhar o
futuro com mais confiança, mas sem triunfalismos ou ilusões. Cumprimos as
obrigações que assumimos e evitámos a bancarrota. O cenário de emergência
foi afastado do nosso horizonte. Mostrámos ao Mundo que Portugal é um país
credível, que os Portugueses são um povo que cumpre a palavra dada.
As incertezas que pairaram sobre a nossa economia estão agora mais atenuadas.
Há razões para ter esperança na recuperação do investimento. O relançamento
económico da União Europeia, de longe o primeiro mercado das nossas expor-
tações, encontra-se em curso de uma forma sustentada.
Mas não podemos esquecer que Portugal é uma economia aberta, que depende
muito do exterior.
Não podemos desperdiçar o capital de credibilidade que conquistámos à custa
de tantos sacrifícios, mas temos também o direito de esperar das instituições
europeias a solidariedade e o apoio que soubemos merecer graças ao nosso
sentido de responsabilidade. De igual modo, conquistámos o direito de exigir
que seja atribuída maior prioridade a uma agenda europeia orientada para o
crescimento económico e para a criação de emprego.
O futuro reserva-nos, certamente, algumas decisões difíceis, porque não podemos
esquecer as regras de disciplina orçamental a que todos os Estados-membros
71
PORT
UGA
L IN
TEIR
O
da Zona Euro estão sujeitos. Mas se as forças políticas revelarem o mesmo
espírito patriótico demonstrado pelo nosso povo, tais decisões poderão ser
tomadas num ambiente de maior serenidade e confiança.
Portugueses
Em tempos de grandes dificuldades, que atravessámos e continuamos a atravessar,
não nos resignámos, não baixámos os braços.
Porque tivemos a coragem da esperança, temos agora de dar razões de espe-
rança aos Portugueses. É uma esperança legítima, porque merecida ao fim de
muitos sacrifícios.
Se todos têm direito à esperança, devemos atender em especial àqueles que
sentem mais dificuldades em fazer ouvir a sua voz.
Desde logo, os idosos, os reformados e pensionistas, aqueles que chegaram ao
fim de uma vida de trabalho e têm o direito a uma existência digna. Portugueses
que descontaram para os sistemas de proteção social cumprindo as leis da Repú-
blica e que não têm possibilidade de regressar à vida ativa e encontrar fontes
alternativas de rendimento.
Temos também de trazer esperança àqueles que perderam os seus postos de
trabalho, especialmente aos desempregados de longa duração, aos portugue-
ses que, pela sua idade ou pelo nível das suas qualificações, enfrentam maiores
dificuldades de retorno ao mercado de trabalho. Portugal não pode desperdiçar
a experiência de uma geração inteira. O combate ao desemprego através da cria-
ção de novos postos de trabalho deve ser assumido como uma prioridade nacio-
nal pelos agentes políticos e económicos. A política e a economia existem em
função das pessoas, da sua dignidade e da melhoria das suas condições de vida.
Devemos pensar também nos nossos jovens, que têm a audácia da esperança.
Investiram na sua formação e qualificação e têm uma enorme vontade de traba-
lhar e de vencer. Possuem um conhecimento do Mundo como nenhuma geração
anterior possuiu. Muitos destacam-se como cientistas de exceção, outros têm
talento empreendedor e aspiram pôr em prática as suas ideias inovadoras, con-
tribuindo para a modernização e para o dinamismo da economia portuguesa.
Ambicionam colocar as suas capacidades ao serviço do seu próprio país e não
querem ter de partir rumo ao estrangeiro.
72
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
Nesta nova fase da vida nacional, os reformados, os pensionistas e os jovens têm
direito à esperança.
A coragem da esperança estende-se, no entanto, a muitos outros grupos da nossa
sociedade.
Aos empresários, para quem o reforço do clima de confiança é decisivo nas suas
decisões de investimento e de criação de emprego.
Aos trabalhadores, que esperam uma melhoria das suas condições de vida e de
bem-estar.
Às populações que vivem no interior do país, que têm a esperança de que o
próximo programa de financiamento europeu implique um novo olhar às assi-
metrias de desenvolvimento e ao problema do despovoamento.
Portugueses
Portugal enfrentou, nos últimos três anos, a maior crise da sua História recente.
Porque tivemos a coragem da esperança, soubemos vencer as adversidades de
um tempo difícil.
É fundamental evitarmos os erros do passado. Não podemos voltar a uma situa-
ção como aquela que vivemos quando fomos obrigados a recorrer ao auxílio
externo. Repito: devemos estar atentos.
Da mesma forma que estiveram conscientes das exigências da crise, os Portu-
gueses sabem bem que só através de um crescimento económico sustentado
conseguiremos resolver os nossos problemas de forma estável e consistente,
numa perspetiva de médio prazo.
Importa igualmente lutar para que os valores da justiça social sejam concretiza-
dos através de uma distribuição mais equitativa dos rendimentos e de políticas
públicas orientadas para o combate à pobreza e à exclusão e para a promoção
da mobilidade social.
Assistimos hoje em todo o Mundo, mas também em Portugal, ao nascimento
de novas formas de desigualdade. A escola e a excelência do ensino, aliadas à
dignificação da atividade docente, constituem elementos fundamentais para a
construção de um Portugal mais justo.
Na promoção da justiça social e do bem-estar, a prestação de cuidados de saúde
de qualidade afigura-se igualmente como uma prioridade. Os Portugueses
73
PORT
UGA
L IN
TEIR
O
reveem-se e têm apreço pelo seu Serviço Nacional de Saúde e desejam que
este modelo seja preservado e melhorado.
Os Portugueses têm direito a esperar que as principais forças políticas e as
suas lideranças adotem uma atitude e uma cultura em que o superior interesse
nacional seja colocado acima dos interesses partidários. Que sejam capazes
de ultrapassar as divergências do tempo curto dos ciclos políticos e eleitorais
e compreendam que Portugal enfrenta desafios que nos remetem para um
tempo longo, para um horizonte alargado que ultrapassa os mandatos dos
governantes.
Os desafios que temos diante de nós, de todos nós, só podem ser vencidos atra-
vés de uma cultura de compromisso. Adiar por mais tempo um entendimento
partidário de médio prazo sobre uma trajetória de sustentabilidade da dívida
pública e sobre as reformas indispensáveis ao reforço da competitividade da
economia é um risco pelo qual os Portugueses poderão vir a pagar um preço
muito elevado.
O tempo de diálogo que se estende agora até à discussão do próximo Orça-
mento do Estado será o mais indicado para que as forças políticas caminhem
no sentido da concretização do direito à esperança dos Portugueses, numa
perspetiva temporal mais ampla, situada para além de vicissitudes parti-
dárias ou de calendários eleitorais. É essa a responsabilidade das forças
partidárias.
Portugueses
Este ano de 2014 abre um caminho de esperança. Mas, para ter esperança
no futuro, devemos continuar a trabalhar no presente. Não podemos ficar à
espera, passivamente, que a situação se altere por si mesma. Ambicionamos
viver num país melhor e para isso temos que juntar esforços e unir vontades.
Cada um tem de contribuir para que a esperança de todos se realize.
Ao longo destes anos difíceis, os Portugueses deram prova de um notável
sentido patriótico de responsabilidade. Têm agora o direito a exigir que os
agentes políticos atuem de modo idêntico. Sabemos que ainda há um longo
caminho a percorrer para alcançarmos a sociedade mais justa e desenvolvida
com que sonhámos há quarenta anos.
74
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
O povo português tem a coragem do sonho e a força da esperança. A História
mostra-nos que não somos melhores nem piores do que os outros. Somos dife-
rentes, somos Portugueses. É essa singularidade que nos distingue dos outros
povos do Mundo. É essa singularidade, esse modo único de ser português, que
celebramos no dia de hoje, o Dia de Portugal.
Viva Portugal!
75
PORT
UGA
L IN
TEIR
O
Cerimónia Comemorativa dos 104 Anos da Proclamação da República
Lisboa,5deoutubrode2014
Comemoramos hoje o 5 de Outubro, a data fundadora da nossa República,
o regime em que nos orgulhamos de viver.
Numa República, não existem privilégios de nascimento ou de classe social.
Todos são iguais em dignidade e direitos.
Numa República, ninguém está acima da lei. As leis são aprovadas pelos legíti-
mos representantes dos cidadãos e aplicadas por tribunais que administram a
justiça em nome do povo.
Numa República, todos somos cidadãos. Ninguém está isento de contribuir ati-
vamente para melhorar o futuro do seu país.
Foram estes os ideais que, há mais de cem anos, levaram à instauração do
regime republicano.
A República trouxe também consigo a aspiração de uma nova ética, norteada
por valores e princípios, como o serviço à causa pública, a transparência da ação
política e uma maior justiça social entre todos os Portugueses.
Celebrar a República é também fazer o balanço dos sonhos que não foram cum-
pridos e refletir sobre o que aconteceu depois do 5 de Outubro de 1910.
O regime republicano, como é reconhecido pela História, caracterizou-se
por uma extrema instabilidade política, em que os governos se sucederam
a um ritmo vertiginoso. Em dezasseis anos, entre 1910 e o golpe militar de
1926, existiram 45 governos. Cada governo durou, em média, quatro meses.
Existiu mesmo um executivo que exerceu funções apenas durante um dia.
Dos oito presidentes da República, só um concluiu o mandato para que fora
designado.
Devido a esta instabilidade crónica, o regime da Primeira República foi incapaz
de cumprir muitos dos ideais e dos sonhos que estiveram na génese da revolução
de 5 de outubro de 1910 e tudo terminaria com um golpe militar autoritário que
instaurou uma ditadura.
76
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
Há quarenta anos, o 25 de Abril de 1974 devolver-nos-ia a esperança de um
tempo novo, com mais liberdade e democracia, com mais desenvolvimento eco-
nómico e mais justiça social.
Aqui chegámos hoje, ao 5 de outubro de 2014. Celebramos este 5 de Outubro
num momento crucial e decisivo para a nossa República. Portugal ainda sente
os efeitos de uma das mais graves crises que teve de enfrentar nas últimas déca-
das e, embora existam sinais de esperança, são múltiplos os desafios que temos
pela frente para alcançarmos níveis sustentáveis de crescimento económico e
de criação de emprego.
Por isso, é urgente procedermos a uma reflexão séria sobre o regime político
português e encontrarmos em conjunto soluções para os problemas que afetam
a governabilidade da nossa República.
Como o demonstram sucessivos estudos e inquéritos levados a cabo por entida-
des credíveis e independentes, os Portugueses são dos povos da União Europeia
que demonstram maiores níveis de insatisfação com o regime em que vivem.
De acordo com os dados do último inquérito do Eurobarómetro, 89 por cento
dos inquiridos tendem a não confiar nos partidos políticos e 73 por cento
dizem estar insatisfeitos sobre o modo como a democracia funciona no nosso
país. Só em cinco dos 28 Estados-membros da União Europeia existe um grau
mais elevado de insatisfação com o funcionamento das instituições demo-
cráticas.
As condições em que vivemos hoje são muito diferentes daquelas que levaram à
queda da Primeira República. Não corremos o risco de regresso a uma ditadura
nem de um golpe militar como aquele que eclodiu em 1926.
A pertença a um espaço como a União Europeia dá-nos a garantia de partilhar-
mos uma comunidade de valores democráticos e princípios de liberdade.
Mais decisivamente ainda, os Portugueses são um povo que preza a vida demo-
crática, e demonstraram-no várias vezes ao longo das últimas décadas.
Lutámos pela democracia antes e depois do 25 de Abril.
Lutámos pela liberdade quando participámos nas eleições para a Assembleia
Constituinte, naquele que foi o ato eleitoral mais concorrido da nossa História.
Estivemos ao lado da democracia quando aderimos com entusiasmo ao projeto
europeu, uma opção histórica de benefícios inquestionáveis.
77
PORT
UGA
L IN
TEIR
O
Mais recentemente, perante uma crise económica e social de enormes propor-
ções, o povo português demonstrou, uma vez ainda, o seu exemplar sentido de
civismo e de responsabilidade.
Tudo isto nos dá razões de esperança e representa um motivo para lutarmos
pela qualidade da nossa democracia.
Minhas Senhoras e meu Senhores
Os Portugueses não estão insatisfeitos com a democracia ou com a República.
Estão insatisfeitos, isso sim, com a forma como as instituições democráticas têm
funcionado no nosso país.
Vários inquéritos de opinião evidenciam que a falta de confiança nas instituições
tem vindo a crescer e a aprofundar-se.
A insatisfação dos cidadãos e a sua falta de confiança nas instituições – sobretudo
nos partidos – têm tido reflexo em sucessivos atos eleitorais, marcados por níveis
preocupantes de abstenção.
De igual modo, é cada vez maior a repulsa dos cidadãos mais qualificados pelo
exercício de funções públicas. Não apenas no que toca ao desempenho de cargos
políticos, mas também ao exercício de funções nas diversas áreas da Adminis-
tração Pública. A situação tem vindo a agravar-se e os custos que daí resultam
são, certamente, muito significativos.
Já se pensou nos prejuízos para o País se não tivermos as pessoas com as com-
petências certas em determinados altos cargos da Administração Pública?
Para esta situação contribui, sem dúvida, uma maior atratividade do setor pri-
vado, em regra mais bem remunerado e, sobretudo, sem a exposição mediática
e o desgaste pessoal e até familiar que, muitas vezes, estão associados ao desem-
penho de cargos públicos.
O problema, no entanto, é mais vasto, decorrendo da falta de incentivos para o exercício
de cargos públicos e até da existência de fatores que adensam a repulsa por essa opção.
O exercício de cargos na esfera política ou administrativa deixou de estar asso-
ciado a uma noção patriótica de serviço à causa pública, de dedicação à comu-
nidade, de reconhecimento do mérito, para passar a ser visto como um sinal de
carreirismo e de oportunismo, associado, com frequência, a um percurso de vida
inteiramente situado no seio dos partidos.
78
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
Na atividade partidária, têm vindo a agravar-se as barreiras à entrada de novos
protagonistas e as limitações à concorrência na escolha dos dirigentes, aos mais
diversos níveis, favorecendo inevitavelmente aqueles que já estão instalados nos
aparelhos partidários.
Ora, se a profissionalização da atividade política, em si mesma, nada tem de
censurável ou negativo, ela surge como um fenómeno preocupante quando traz
associada uma marca de desprestígio e de ausência de méritos e qualificações.
Por outro lado, a tendência para a demagogia e o populismo contribui para acen-
tuar o afastamento dos quadros profissionais mais qualificados do exercício de
funções públicas.
Também noutros domínios fundamentais para o aprofundamento da quali-
dade da democracia – como é o caso do sistema eleitoral –, em torno dos quais,
desde há décadas, se fazem estudos e debates, pouco se avançou em concreto
para combater o afastamento dos cidadãos relativamente à vida cívica.
É essencial, como aliás tem sido unanimemente reconhecido, promover uma
maior aproximação entre eleitos e eleitores. De igual modo, é essencial que
exista uma maior transparência no financiamento político-partidário. Em nome
da ética republicana, para reconciliarmos os cidadãos com a política, não pode-
mos ceder à tentação fácil do populismo de ocasião, nem adotar um registo de
crítica sistemática e inconsequente. Mas devemos ter consciência de que exis-
tem reformas no sistema político que são discutidas desde há muito, sem que
desses debates surjam mudanças efetivas – e necessárias.
Minhas Senhoras e meu Senhores
A República foi concebida como uma democracia de compromisso e diálogo.
Aqueles que, em 1976, elaboraram e aprovaram a nossa Constituição desenha-
ram um modelo democrático assente numa distribuição equilibrada entre os
vários órgãos de soberania, mas muito exigente para o sentido de responsabili-
dade dos agentes políticos.
O sistema eleitoral proporcional, como aquele que possuímos, favorece a repre-
sentatividade de diversas correntes de opinião no Parlamento, mas traz consigo
uma exigência de que os Portugueses devem estar conscientes. Para alcançar
a governabilidade e a estabilidade políticas no quadro de um sistema eleitoral
79
PORT
UGA
L IN
TEIR
O
proporcional, os diversos interlocutores têm de adotar e cultivar uma cultura
de compromisso.
O sistema eleitoral proporcional só permite uma governabilidade estável e dura-
doura se for acompanhado de entendimentos partidários de curto e médio prazo.
É isso que sucede, há muito, em diversas democracias europeias consolidadas,
pelo que é de estranhar que subsistam algumas resistências à instauração de
uma cultura de compromisso em Portugal.
Mantendo-se a tendência das forças partidárias para rejeitarem uma cultura de
compromisso, não é de excluir, sem qualquer dose de alarmismo, um aumento
dos níveis de abstenção para limiares incomportáveis ou a implosão do sistema
partidário português tal como o conhecemos.
A persistência do taticismo e do imediatismo, a teimosia de uma política de vistas
curtas, exclusivamente centrada nos interesses partidários, trará custos a médio
prazo para a democracia portuguesa no seu todo.
Os partidos políticos e as suas lideranças não podem viver na ilusão de que tudo
isso lhes passará ao lado e de que sairão incólumes de uma eventual transfor-
mação profunda do nosso sistema político-partidário.
Como tenho referido em várias ocasiões, só através de uma cultura de compro-
misso poderemos alcançar a indispensável estabilidade governativa. Devemos
recordar-nos disto no dia em que celebramos uma data de festa e esperança – o
5 de Outubro de 1910 –, em que não podemos esquecer que foi a crónica instabi-
lidade política que levou à queda da Primeira República, com as nefastas conse-
quências que os Portugueses sofreram durante quase meio século de ditadura.
Se a existência de uma cultura de compromisso entre os agentes políticos e eco-
nómicos, entre os decisores públicos e os parceiros sociais, sempre foi impor-
tante para a consolidação e a qualidade da nossa democracia, ela configura-se
como indispensável nos tempos adversos que vivemos.
A Europa encontra-se perante sérios desafios. Emergiram novas ameaças, desig-
nadamente de origem externa, que irão pôr à prova a solidez e a consistência do
projeto da União Europeia.
A par disso, as exigências decorrentes do processo de integração, nomeada-
mente as que decorrem do Pacto de Estabilidade e Crescimento e do Tratado
Orçamental, implicam, da parte dos diversos governos nacionais, a manutenção
80
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
do esforço de contenção dos défices das contas públicas e de controlo rigoroso
da despesa.
O modelo do Estado social não está, de modo algum, posto em causa. Pelo contrá-
rio, é justamente para conseguir preservar esse modelo, numa Europa cada vez
mais afetada pela quebra da natalidade e pelo envelhecimento das populações,
que somos obrigados a proceder a uma utilização muito criteriosa dos escassos
recursos públicos disponíveis.
É neste contexto que os agentes políticos devem assumir, de uma vez por todas,
uma cultura de responsabilidade e uma cultura de verdade.
Na vida política portuguesa, tem sido prática constante, sobretudo nas últimas
décadas, fazerem-se promessas e anunciarem-se medidas irrealistas com vista
a conquistar o apoio dos cidadãos e o voto do eleitorado. O incumprimento das
promessas feitas constitui um dos principais fatores de aumento da descrença
dos Portugueses na sua classe política e de desconfiança nas instituições.
É tempo de instituir uma cultura de maior responsabilidade e realismo, pois a
conjuntura que atravessamos não se compadece com promessas de facilidades
nem com soluções utópicas.
Se as dificuldades são inegáveis, existem, contudo, fundados motivos para
termos esperança no futuro. Mas a esperança constrói-se, não se promete.
A esperança constrói-se com trabalho e com responsabilidade, com sentido de
interesse nacional.
Quem não for capaz de alcançar os compromissos necessários a uma governação
estável, poderá alcançar o poder, mas dificilmente terá a garantia de o exercer
por muito tempo.
O desafio da responsabilidade cívica não interpela apenas a classe política.
Dirige-se a todos, a empresários, trabalhadores e sindicalistas, aos profissionais
liberais, aos dirigentes do Estado e aos funcionários da Administração Pública,
aos professores de todos os escalões de ensino, aos profissionais da comunicação
social.
O desafio da responsabilidade cívica dirige-se, também, aos jovens. Implica que
sejam mais exigentes em relação aos que nos governam, mas que sejam igual-
mente exigentes relativamente a si próprios e à qualidade do ensino que lhes é
ministrado.
81
PORT
UGA
L IN
TEIR
O
Os jovens portugueses não devem enveredar pelo pessimismo e pela maledi-
cência, não devem desperdiçar energias e o imenso talento que têm a criticar
tudo e todos, quando tanto podem dar à vossa terra, Portugal, um dos melhores
países do Mundo para viver.
Numa República, o trabalho e o esforço de cada um são património de todos.
Aquilo que fizerem por Portugal será feito para vós.
Muito obrigado.
83
PORT
UGA
L IN
TEIR
O
Mensagem Evocativa do Centenário da Primeira Grande Guerra
Lisboa,18deoutubrode2014
Prestamos hoje, por todo o País, uma justa e sentida homenagem aos mortos da
Primeira Grande Guerra. Cumprimos o compromisso de honra de manter viva
a memória do seu exemplo de dedicação à Pátria.
Fazemo-lo frente aos monumentos evocativos da Guerra, memoriais que teste-
munham o esforço e o sacrifício de milhares de portugueses que se dispuseram
a dar a vida por Portugal, nos campos de batalha da Flandres, de Angola e de
Moçambique, sem esquecer os que pereceram no flagelo do cativeiro, num qua-
dro de extrema miséria e completo esquecimento.
A Grande Guerra marcou decisivamente o percurso da história contemporânea
europeia e mundial. Foi uma rutura de dimensões múltiplas, que determinou o
fim dos grandes Impérios, redesenhou o mapa político da Europa e alterou as
relações de poder entre os Estados.
Foi o termo de um longo período de paz e da ilusão de que a interdependência eco-
nómica e financeira das potências tornaria improvável qualquer ato de agressão.
Os primeiros sinais de conflito foram ignorados. A eclosão da Guerra acabou por
surpreender pela brutalidade e extensão.
O início do conflito ocorreu num período de forte instabilidade em Portugal,
com uma profunda crise política e económica que levara a descurar, de forma
comprometedora, a capacidade militar do País.
Esta realidade não impediu que se assumissem compromissos sem que estivessem
reunidas as condições necessárias à preparação e ao apoio das Forças Militares,
decisão que veio a revelar-se dramática para o País e para milhares de Portugueses.
Da História da Guerra fica o exemplo extraordinário da coragem e do amor à
Pátria do Soldado Português. Fica o testemunho sublime de uma vontade inque-
brantável, de uma capacidade de sofrimento e de um espírito de sacrifício sem
limites de um punhado de portugueses que honraram Portugal nos campos de
batalha de África e da Flandres.
84
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
Para sempre ficaram, também, as histórias e proezas vividas por homens
simples. Os laços de camaradagem forjados na dureza da campanha, as amiza-
des e as cumplicidades na partilha das horas amargas e dos momentos fugazes
de alegria, a recordação dos que tombaram a seu lado no cumprimento do
dever, das famílias que compartilharam no silêncio a dor da perda, dos lares
feridos pelos vazios jamais preenchidos e pelos projetos nunca concretizados.
Serviram Portugal com total desprendimento e a humildade dos grandes.
O seu esforço não foi em vão.
É vital que olhemos e aprendamos com o passado, nunca deixando de valorizar
a Paz e a Liberdade e nunca subestimando o esforço daqueles que as conquis-
taram e as mantêm.
Portugueses
As armas deste cruel conflito calaram-se há muito tempo, assim como as vozes
dos soldados caídos que encontraram o fim do sofrimento no descanso final.
Ficou o seu exemplo e o legado que deixaram para as gerações futuras.
Mas também ficou a dura lição da incapacidade do País para assumir tão exi-
gente compromisso, de que resultou a impreparação e o abandono dos nossos
militares, com trágicas consequências e custos humanos elevados.
A memória da Grande Guerra deve constituir-se num tributo ao sacrifício, ao
valor e ao caráter do Soldado Português.
Nas palavras da última mensagem de um jovem Tenente aos seus Soldados,
recordando os companheiros que os deixaram:
“Todos poderão esquecê-los menos nós (...) temos de nos curvar ao respeito
que infundem os que ficaram nessa cruzada do novo século. Que descansem
– os heróis mortos”.
Portugal não os esquecerá.
85
PORT
UGA
L IN
TEIR
O
Mensagem de Ano Novo
PaláciodeBelém,1dejaneirode2015
Boa noite.
Desejo a todos um Feliz Ano de 2015.
Os meus votos dirigem-se a todos os Portugueses, quer aos que residem no nosso
país, quer aos que se fixaram no estrangeiro.
Saúdo também os cidadãos de outros países que escolheram Portugal como
lugar de residência ou de trabalho. Orgulhamo-nos que tenham decidido viver
em Portugal, uma terra aberta e plural, onde todos são recebidos com hospita-
lidade e sem quaisquer discriminações.
A todos, desejo um Bom Ano Novo.
Portugueses
Em 2014, celebrámos os quarenta anos do 25 de Abril, a revolução que nos trouxe
a liberdade e a democracia.
Uma democracia consolidada exige o pluralismo e a diversidade de opiniões. Os
regimes democráticos pressupõem também a capacidade de as diversas forças
políticas encontrarem as soluções que melhor sirvam o interesse nacional.
Atualmente, é consensual que só através de uma estratégia orientada para a
competitividade das exportações, para a atração de investimento e para a criação
de emprego será possível vencermos os desafios do futuro.
Uma estratégia acompanhada do controlo das contas públicas e do endivida-
mento externo.
Portugal tem ainda um longo caminho a percorrer. Esse caminho deve ser
feito em conjunto, com abertura e diálogo entre as diversas forças partidárias,
contando com o contributo dos agentes económicos e dos parceiros sociais e
unindo os Portugueses, como foi possível fazer em momentos decisivos da
nossa democracia.
O ano de 2015 será um ano de escolhas decisivas para o futuro do País. Os Portu-
gueses irão ser chamados a pronunciar-se através do exercício do direito de voto.
86
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
É essencial participar ativamente nas eleições. Só assim podemos esperar – e
até exigir – que os agentes políticos atuem com responsabilidade, elevação e
sentido cívico, colocando o interesse nacional acima dos interesses partidá-
rios. É fundamental evitar crispações e conflitos artificiais que têm afetado
a confiança dos cidadãos nas nossas instituições e, em particular, na classe
política.
Ao fim de quarenta anos de democracia, devemos desenvolver uma cultura polí-
tica mais esclarecida e mais esclarecedora.
As forças partidárias devem ser claras nas suas propostas, de forma a que os
cidadãos possam avaliar as suas implicações.
Rejeito em absoluto uma ideia demagógica e populista, que alguns pretendem
incutir na opinião pública, segundo a qual os partidos e os seus dirigentes se
alheiam dos interesses do país e das aspirações dos cidadãos.
Devemos recusar o populismo e fazer um esforço de pedagogia democrática,
tendo presente que os partidos políticos são essenciais para a qualidade da
democracia e para a expressão do pluralismo de opiniões.
Mas esse esforço de pedagogia democrática só pode ser feito através da força
do exemplo.
Os partidos e os agentes políticos têm de demonstrar, pela sua conduta, que são
um exemplo de transparência, de responsabilidade e de civismo para os Portu-
gueses. Há que ser cuidadoso nas promessas eleitorais que se fazem e que, não
podendo depois ser cumpridas, acentuam perigosamente a desconfiança dos
cidadãos em relação à classe política e às instituições.
Há que evitar promessas demagógicas e sem realismo.
Devo ser claro: é errado pensar que os problemas que o País enfrenta podem ser
resolvidos num clima de facilidades.
Tal como os outros países da zona euro, Portugal está sujeito às exigências de
disciplina orçamental e de sustentabilidade da dívida pública. Nem os países de
maior dimensão conseguem eximir-se ao seu cumprimento, como se viu recen-
temente.
Portugal não pode regredir para uma situação semelhante àquela a que che-
gou em princípios de 2011, em que foi obrigado a recorrer a auxílio externo de
emergência.
87
PORT
UGA
L IN
TEIR
O
Só o rigor e a transparência na condução da política nacional permitirão a melhoria
continuada das condições de vida das pessoas.
O combate à corrupção é uma obrigação de todos.
No ano que terminou, foram ainda muitos os Portugueses que viveram momen-
tos particularmente difíceis, mas surgiram sinais de esperança.
Não nos podemos deixar abater pelo desânimo nem cultivar o pessimismo. Deve-
mos olhar o futuro com confiança renovada.
Portugal concluiu a execução do programa de ajustamento subscrito em 2011
com as instituições internacionais sem necessidade de solicitar assistência
financeira adicional. A economia está a crescer, a competitividade melhorou, o
investimento iniciou uma trajetória de recuperação e o desemprego diminuiu.
É preciso criar condições políticas para que esta tendência se reforce no ano
que agora começa.
Os fundos europeus colocados à disposição do País são um trunfo que não pode-
mos desperdiçar. A utilização destes fundos será eficaz se reforçar o crescimento
da produção, a criação de emprego e a coesão social e territorial.
A situação das famílias atingidas pelo desemprego e pela pobreza e a correção
das desigualdades sociais devem merecer particular atenção da parte de todos
os agentes políticos.
Seja qual for o resultado eleitoral, o tempo subsequente à realização de elei-
ções será marcado por exigências de compromisso e de diálogo. Este espírito
de abertura não poderá ser prejudicado por excessos cometidos na luta política
que antecede o sufrágio.
Em devido tempo, chamei a atenção do País para prepararmos o período pós-troika.
Agora, interpelo os Portugueses – e, em especial, os agentes políticos – a prepa-
rarem o período pós-eleitoral.
Não é só no dia a seguir às eleições que se constroem soluções governativas
estáveis, sólidas e consistentes, capazes de assegurar o crescimento económico
e dar esperança aos Portugueses.
O período pós-eleições deve corresponder à consolidação de um tempo de con-
fiança no nosso país, quer no plano interno, quer no plano internacional.
Existem razões de esperança no futuro. Mas a esperança não se proclama com
meras palavras.
88
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
A esperança constrói-se com sentido de interesse nacional, com atitudes e gestos
concretos que contribuam efetivamente para resolver os problemas reais do País.
Para se construir um país melhor no futuro, a esperança tem de ser semeada
no presente.
A todos os Portugueses, e às suas famílias, renovo os votos de um Bom Ano
de 2015, feito de paz e de esperança.
ECON
OMIA
E C
RESC
IMEN
TO S
UST
ENTÁ
VEL
93
Cerimónia Comemorativa do 90º Aniversário da Nestlé
Avanca,10demarçode2014
Foi com muito gosto que aceitei o convite para estar presente em Avanca, neste
dia de encerramento da comemoração do nonagésimo aniversário da Nestlé
Portugal.
A Nestlé é uma empresa bem conhecida dos portugueses. Quer pela excelência,
quer pela variedade dos seus produtos, tornou-se desde há muito uma referência
do setor agroalimentar, em Portugal e em todo o Mundo.
Pela forma ativa como tem expandido os seus produtos e atividades, é evidente
que o tem feito com competência e com muito sucesso.
E o sucesso, tal como a antiguidade, merecem ser festejados. Merecem ser feste-
jados porque são sempre fruto de muito trabalho, de muita dedicação e de muito
investimento. Neste caso também de muita investigação e inovação.
O sucesso e o retorno são a consequência lógica de todos esses elementos que
a Nestlé tem conseguido conjugar, em Portugal e em muitas outras partes do
Mundo.
As farinhas lácteas Nestlé, que julgo terem sido os primeiros produtos conheci-
dos em Portugal, tiveram um tal sucesso junto dos consumidores portugueses,
que se ouvia muito frequentemente dizer que este ou aquele bebé mais bonito
tinha cara de “bebé Nestlé”.
Atualmente, depois de um percurso de 90 anos, é de facto impressionante a
variedade de produtos que esta empresa produz e comercializa no nosso mer-
cado alimentar.
Com os produtos lácteos, os cereais, os chocolates, águas e bebidas, cafés, gela-
dos, sobremesas, iogurtes, uma enorme variedade de produtos culinários e até
alimentos para animais, a Nestlé tem-se mantido no topo do setor alimentar em
Portugal.
A história e a evolução da Nestlé em Portugal, tem sido, de facto, notável.
Notável, desde logo pela circunstância de, em 1923, o seu embrião ter nascido aqui,
em Avanca, através da Sociedade de Produtos Lácteos, a primeira fábrica portuguesa
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
94
de leite em pó, que teve como principal empreendedor o Prof. Egas Moniz,
o notável português, médico, investigador, político, embaixador e escritor que,
em 1949, honrou Portugal ao receber o Prémio Nobel da Medicina.
Desde 1923 até hoje, o desenvolvimento da Nestlé em Portugal tem sido perma-
nente, tendo alguns dos seus produtos constituído autênticas referências nas
nossas vidas, nas vidas e na memória de várias gerações de portugueses.
Mesmo os mais velhos entre nós se recordarão das sopas Maggi, dos chocolates
Rajá, do café Sical, do Nesquik, do Mokambo, do Milo, da Cerelac, do Nestum e de
tantos outros produtos, muitos dos quais ainda estão nas prateleiras dos nossos
mercados.
Por outro lado, é de sublinhar o facto muito positivo de a Nestlé procurar abas-
tecer-se essencialmente em Portugal, o que já acontece em mais de 80 por cento
das suas aquisições de matérias-primas.
Por muitas razões, não apenas pela excelência dos seus produtos, mas também
pelas numerosas instalações que a Nestlé tem repartidas por todo o país, pela
maneira como a empresa tem exercido a sua responsabilidade social e ambien-
tal, a sua imagem é reconhecida e apreciada pelos consumidores portugueses e
das mais reputadas no setor alimentar.
Finalmente, registo ainda com satisfação a contribuição da Nestlé em termos
de emprego, com os seus atuais 1850 trabalhadores. E registo ainda com maior
satisfação o seu compromisso de criar até 2016 mais 500 empregos para jovens
com menos de 30 anos.
É de facto muito importante, sobretudo no atual momento que Portugal atra-
vessa, que empresas como a Nestlé contribuam de forma significativa para criar
emprego e que apostem a partir de Portugal, não só no mercado interno mas tam-
bém nas exportações, contribuindo assim duplamente para a economia nacional.
Por tudo o que acabei de referir, não posso deixar de vos saudar a todos, quer
os responsáveis, quer o conjunto dos colaboradores da Nestlé, e de vos dar os
parabéns por mais este aniversário da vossa empresa.
Parabéns a todos vós.
ECON
OMIA
E C
RESC
IMEN
TO S
UST
ENTÁ
VEL
95
Sessão de Abertura da Conferência “Portugal – Rumo ao Crescimento e Emprego. Fundos e Programas Europeus: solidariedade
ao serviço da economia portuguesa”
Lisboa,11deabrilde2014
Foi com muito agrado que aceitei o convite para participar na sessão de abertura
desta Conferência organizada pela Comissão Europeia. Fi-lo, desde logo, pela
importância crucial dos temas abordados, sob o mote “Portugal: Rumo ao Cres-
cimento e Emprego. Fundos e Programas Europeus: solidariedade ao serviço
da economia portuguesa”. Num momento em que está em negociação, entre o
Governo e a Comissão Europeia, o Acordo de Parceria 2014-2020, não é demais
sublinhar a oportunidade desta iniciativa.
Registo igualmente, com o maior apreço, a participação significativa e de tão alto
nível por parte da Comissão Europeia – diria que estamos praticamente perante
o Colégio de Comissários… –, bem como a natureza alargada e diversificada da
audiência.
Nos últimos anos, grandes desafios se têm colocado a toda a Europa. A crise
financeira na zona euro veio expor fragilidades e desequilíbrios estruturais nas
economias de vários Estados-membros, demonstrando, igualmente, a dificul-
dade das instituições da União em responder adequada e atempadamente a uma
situação sem precedentes.
A boa execução do Quadro Financeiro Plurianual 2014-2020 é uma oportuni-
dade para que os cidadãos europeus ganhem a perceção de que as regras de
disciplina orçamental e de supervisão das políticas económicas – que vinculam
todos os Estados-membros – visam, acima de tudo, garantir que o crescimento
económico, o emprego e as condições de vida das populações sejam melhores e
mais sustentáveis do que seriam na ausência dessas regras.
A disciplina orçamental não é, em si mesma, um objetivo da política económica.
Pertence ao domínio dos instrumentos e importa evitar que se transforme,
aos olhos dos cidadãos, em restrição que tudo absorve e condiciona. A disciplina
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
96
orçamental é um meio, não um fim. A sua exigência a nível europeu é uma con-
sequência lógica da interdependência entre as economias.
O Quadro Financeiro Plurianual pode, nalguns Estados-membros, servir tam-
bém para corrigir ou atenuar uma perceção errónea do papel das regras euro-
peias de disciplina orçamental e de supervisão das políticas económicas, um
erro que, nos dias de hoje, alimenta e favorece o euroceticismo.
Foi neste contexto que escrevi, recentemente, que a disciplina orçamental e a
supervisão da política económica por parte das instituições europeias que, nos
termos das normas jurídicas em vigor, será uma constante no período pós-troika,
não significa – antes pelo contrário – que a economia portuguesa não possa
crescer e não melhorem as condições de vida dos cidadãos. O mesmo poderia
dizer em relação aos outros países da Zona Euro.
Senhoras e Senhores
Nos últimos três anos, Portugal tem vindo a realizar um esforço muito expressivo
de ajustamento macroeconómico e financeiro e de concretização de importan-
tes reformas estruturais, no quadro do Programa acordado com as instituições
internacionais, o qual, como sabem, será concluído no próximo mês.
Ao longo deste tempo, tenho defendido a importância de, em paralelo com o
processo de consolidação orçamental, se avançar mais decididamente na prosse-
cução de uma agenda europeia orientada para o crescimento e para o emprego.
Fui muito claro em relação a esta matéria na intervenção que proferi no ano
passado, no Parlamento Europeu, por ocasião da visita que efetuei às Institui-
ções Europeias.
Os temas tratados nesta Conferência, e o seu contexto, assumem uma relevância
fulcral para o nosso país. Importa escolher caminhos para os próximos anos que
nos permitam maximizar – em termos de crescimento económico, de criação
de emprego e de coesão social – o impacto do novo quadro de financiamento
comunitário para o período 2014-2020.
Ao iniciarmos esta nova fase, impõe-se uma reflexão aprofundada e uma análise
rigorosa das escolhas. Mas exige-se, também, uma renovada ambição.
Necessitamos de uma visão estratégica e global do futuro do País e de um rumo
que proporcione um desenvolvimento económica e financeiramente sustentável,
ECON
OMIA
E C
RESC
IMEN
TO S
UST
ENTÁ
VEL
97
sem perder de vista a dimensão social do modelo democrático europeu. Importa
ter bem presente o papel decisivo que as PME assumem em Portugal.
O Acordo de Parceria apresentado pelo Governo em janeiro passado estabelece
as prioridades de financiamento com fundos europeus para o período 2014-2020.
Estes fundos são instrumentos essenciais para reforçar a competitividade da eco-
nomia, estimular o crescimento e corrigir as assimetrias regionais, e Portugal tem
de ser capaz de os aproveitar com a máxima eficiência. Provando que eles são
também a materialização de uma Europa mais forte, mais coesa e mais solidária.
Se há um ano enalteci a Comissão e o Parlamento Europeu por terem uma visão
mais ambiciosa do que o Conselho para o Quadro Financeiro Plurianual, cabe
agora a Portugal demonstrar as suas capacidades de implementação e de gestão
destes fundos, de modo a que eles constituam uma oportunidade efetiva e um
investimento de futuro. Os Portugueses exigem-no.
A utilização correta e eficaz dos fundos europeus será decisiva para que os pró-
ximos anos fiquem marcados pelo reencontro de uma trajetória de convergência
para o nível médio de desenvolvimento da União Europeia. Para o efeito, tem
de existir uma aposta clara e muito firme no investimento no setor dos bens e
serviços que concorrem com a produção estrangeira.
O incremento da produção de bens e serviços transacionáveis, a internaciona-
lização das empresas, a melhoria da competitividade e a conquista de novos
mercados representam linhas de orientação estratégica que é fundamental
prosseguir e consolidar.
Mencionaria, neste contexto, dois outros pontos, igualmente da maior impor-
tância, que se inscrevem no quadro europeu mais geral. Por um lado, há que
garantir às nossas empresas, principalmente às pequenas e médias, condições
de financiamento comparáveis às das suas congéneres europeias. Por outro lado,
é fundamental avançar rapidamente na operacionalização de uma verdadeira
União Bancária.
Os fundos europeus têm, seguramente, um papel fundamental a desempenhar.
Além dos Fundos Europeus Estruturais e de Investimento (FEDER, FSE, FC,
FEADER e FEAMP), a União conta hoje com um conjunto de programas de
grande relevo, quer a nível financeiro, quer do ponto de vista das áreas que
abrangem.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
98
É o caso do Horizonte 2020, o programa-quadro de investigação e inovação da
União Europeia, que procura contribuir para estimular uma economia euro-
peia baseada na produção de conhecimento através da sua incorporação mais
eficiente em novos produtos e serviços.
Ainda recentemente, teve lugar em Lisboa o IX Encontro da COTEC Europa, dedi-
cado ao tema da reindustrialização. Nesse Encontro, foram sublinhados diversos
factos pertinentes, como a constatação de que as empresas com maior sucesso são,
visivelmente, as que mais investem em investigação, em desenvolvimento tecno-
lógico e na formação do seu capital humano. Tornam-se, assim, particularmente
relevantes os domínios das tecnologias de informação e comunicação, das nano-
tecnologias, das tecnologias avançadas de fabrico, da robótica e das biotecnolo-
gias, áreas definidas, justamente, como prioritárias no Programa Horizonte 2020.
Em termos mais genéricos, importa proceder à coordenação entre os vários
fundos e programas e garantir que a sua utilização seja feita seguindo uma
arquitetura simplificada, de acordo com procedimentos céleres, reduzindo, tanto
quanto possível, entraves burocráticos e realizando uma divulgação adequada
junto dos potenciais interessados.
Importa, por outro lado, um acompanhamento permanente e rigoroso do modo
como os fundos são aplicados e uma responsabilização igualmente rigorosa dos
vários agentes envolvidos neste processo. É essencial que da aplicação destes
fundos resulte um impulso significativo ao desenvolvimento económico e social
do País, numa perspetiva de médio e longo prazo.
Antes de terminar, gostaria de dirigir algumas palavras ao Presidente da Comis-
são Europeia, Dr. José Manuel Durão Barroso. Quero agradecer-lhe o empenho
que colocou na realização desta Conferência. Mas, sobretudo, quero sublinhar
que, ao longo destes 10 anos à frente dos destinos da Comissão, foi gratificante
para Portugal ter uma figura com o seu prestígio e conhecimento da realidade
do nosso país e do Mundo no exercício de tão altas funções. Foi decisivo o seu
contributo para que a Europa ultrapassasse a crise do euro.
Posso testemunhar, como poucos, a atenção que o Dr. Durão Barroso sempre pres-
tou aos problemas do País e a valiosa contribuição que deu para encontrar solu-
ções, minorar custos, facilitar apoios e abrir oportunidades de desenvolvimento.
Portugal e os Portugueses, tal como os outros Estados-membros, muito lhe devem.
ECON
OMIA
E C
RESC
IMEN
TO S
UST
ENTÁ
VEL
99
Senhoras e Senhores
Desejo a todos uma reflexão frutuosa. Esta Conferência representa um contri-
buto oportuno e de grande relevo para o debate em torno do projeto europeu,
naquilo que este tem de mais essencial: o aprofundamento de um espaço de
cooperação entre milhões de seres humanos que aspiram a viver em liberdade
e em segurança, usufruindo da coesão e dos direitos sociais de cidadania que só
o desenvolvimento é capaz de assegurar.
Espero que esta iniciativa possa contribuir para o esclarecimento da temática
dos fundos comunitários, um assunto que não apenas interpela os que hoje aqui
estão presentes, mas que interessa a todos os Portugueses, pelo impacto nas
suas vidas e no futuro do País.
Muito obrigado.
ECON
OMIA
E C
RESC
IMEN
TO S
UST
ENTÁ
VEL
101
Sessão de Encerramento do Encontro “FAZ – Empreendedorismo Inovador
na Diáspora Portuguesa”
Lisboa,6dejunhode2014
Saúdo todos os participantes neste Encontro FAZ, ao qual me associo, de novo
este ano, com a maior satisfação.
Agradeço a vossa presença, vinda de todos os cantos do Mundo. Interpreto-a
como um sinal claro do profundo afeto que mantêm com Portugal. O meu reco-
nhecimento a todos vós, e, em particular, àqueles que atravessaram outros
continentes para estarem hoje connosco.
Nas pessoas da Senhora Dr.ª Isabel Mota e do Senhor Engenheiro Sérvulo Rodri-
gues, quero igualmente felicitar a Fundação Calouste Gulbenkian e a COTEC
pela organização conjunta dos prémios FAZ. O prestígio desta iniciativa tem
aumentado de ano para ano, como o demonstram o crescente número e a diver-
sidade das inscrições e a própria abrangência geográfica dos participantes.
Uma especial palavra de apreço ao presidente da Fundação Calouste Gulbenkian,
Senhor Dr. Artur Santos Silva, pela forma como esta Fundação tem abraçado o
tema da relação com a Diáspora. Felicito igualmente o Professor João Bento pelo
empenho com que a COTEC tem desenvolvido esta iniciativa.
O Prémio Empreendedorismo Inovador, na sua sétima edição, e o concurso Ideias
de Origem Portuguesa têm dado a conhecer mais fielmente a realidade da nossa
Diáspora, nas suas diferentes manifestações e, também, nas suas várias gerações,
como é demonstrado pelas idades dos participantes, que vão dos 20 aos 83 anos.
No espírito da sua instituição, e numa homenagem ao espírito empreendedor
dos Portugueses, de todos os Portugueses, com o Prémio Empreendedorismo
Inovador queremos distinguir em especial os que desenvolveram as suas car-
reiras com sucesso por esse Mundo fora.
Esta iniciativa conquistou um espaço próprio e é hoje uma singular expressão
dos laços que aproximam distâncias e se constroem na partilha de afetos
e interesses comuns.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
102
O grupo de portugueses da Diáspora que aqui se encontra, a que se juntam todos
os outros que, ao longo das anteriores edições, marcaram presença, demonstra
bem a extensão e o enorme potencial de uma realidade que, através deste Pré-
mio, passou a ser mais bem conhecida e valorizada.
As histórias de vida que hoje aqui conhecemos, pela sua riqueza pessoal, pela
confiança nas capacidades de cada um, pela autonomia e pelo empenho que
demonstram, são testemunho de que os Portugueses, onde quer que estejam,
são um povo com extraordinárias capacidades de se superar a si próprio.
Senhoras e Senhores
Portugal atravessa uma fase histórica de grandes desafios. Nos últimos anos, os Por-
tugueses, no seu país, tiveram uma experiência de dificuldades que é também um
percurso de aprendizagem, de adaptação a uma realidade com novas exigências.
Perante o risco e a incerteza, aprendemos uma lição essencial: temos de ser
capazes de ultrapassar da melhor forma as barreiras que nos limitam, de encon-
trar soluções originais, de explorar novos recursos.
A propensão para manter o estado das coisas, a procura sistemática da descul-
pabilização para evitar qualquer mudança e a reserva com que muitas vezes se
encaram as novas ideias representam, elas próprias, o maior risco que corremos.
Por isso, o conhecimento dos vossos exemplos e o contributo dos portugueses na
Diáspora assumem um papel da maior importância enquanto referência mobi-
lizadora para todos nós.
Ao longo das diversas visitas às comunidades da Diáspora, tenho contactado de
forma muito próxima com a experiência de ser português no Mundo.
Tenho verificado que, para os portugueses que partem, sair de Portugal não sig-
nifica deixar de fazer parte da vida do País. Pelo contrário, os laços reforçam-se e
a distância geográfica confere uma nova perspetiva, mais objetiva, sobre o país
que somos e que pretendemos ser.
Paradoxalmente, constata-se que os recursos humanos que produzimos são
mais valorizados no exterior do que em Portugal.
Impõe-se, por isso, que aprendamos com a nossa Diáspora, instaurando uma
nova cultura de valorização do mérito e do talento. Em cada português existe
um enorme potencial de realização. A concretização desse potencial exige maior
ECON
OMIA
E C
RESC
IMEN
TO S
UST
ENTÁ
VEL
103
confiança nas nossas capacidades para superar desafios e vencer dificuldades.
Tal como sucede com o destino dos nossos compatriotas que triunfam no exte-
rior, o nosso destino está nas nossas mãos. Se a incerteza e o risco são caracterís-
ticas inescapáveis do mundo global, as oportunidades existem em toda a parte.
Cabe-nos a nós saber aproveitá-las.
Senhoras e Senhores
O século XXI é, para muitos, a era da mobilidade. À escala mundial, dois terços
dos países são simultaneamente cais de partida e ponto de chegada de uma
população migrante.
As migrações são manifestações bem visíveis da interdependência do mundo global. O
fluxo de profissionais é determinado por causas que extravasam as motivações mera-
mente económicas, decorrendo também de fatores como a realização profissional, o
progresso na carreira, o reconhecimento do mérito e o acesso a novos meios culturais.
A internacionalização da cooperação científica, a globalização das cadeias de
produção das empresas e a abertura do comércio são forças poderosas que esti-
mulam, como nunca, a mobilidade dos profissionais, em especial dos mais quali-
ficados. A intensidade destes fenómenos irá crescer com a progressiva abertura
económica e o aprofundamento da integração das economias.
Independentemente da condição económica do País, os Portugueses continuarão
a sair de Portugal, umas vezes por necessidade, outras por opção profissional,
outras, ainda, por vontade de partir à aventura e à descoberta. Muitos dos que
saem hoje fazem parte da geração de Portugueses mais qualificada de sempre.
Devemos assumir uma visão serena e realista desta nova realidade do mundo
global, recusando a ideia de que a emigração representa necessariamente uma
perda irreversível para o País. Temos, isso sim, de criar condições de atrativi-
dade para todos, para os que desejam ficar e para os que, estando no estrangeiro,
aspiram a regressar e a viver em Portugal.
Por isso, peço-vos que mantenham o contacto com o vosso país. Incentivem os
vossos filhos a aprender o português, uma língua global, a língua mais falada
no hemisfério sul. Visitem Portugal com as vossas famílias. Mostrem-lhes as
nossas paisagens e a nossa História. Deem-lhes a conhecer os nossos escri-
tores, pintores e arquitetos, todos os traços culturais que projetam o nome
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
104
de Portugal no Mundo. Mostrem-lhes a qualidade das nossas universidades.
Orgulhem-se da nossa herança cultural e do nosso património histórico.
Senhoras e Senhores
O Mundo está hoje bem presente nesta sala. São 37 os países dos cinco conti-
nentes onde vivem e trabalham os nossos compatriotas que nos deram o gosto
de corresponder ao convite para aqui se deslocarem.
Como já tive ocasião de sublinhar, o êxito desta iniciativa tem um segredo: o
encontro de vontades.
Desde o início do meu primeiro mandato como Presidente da República, assumi
o compromisso de contribuir ativamente para a aproximação entre Portugal e
as comunidades de Portugueses e Lusodescendentes no exterior.
Portugal quer fortalecer a rede dos portugueses que, ao longo de gerações, se
dispersaram pelas sete partidas do Mundo. A vossa presença e o vosso interesse
por esta iniciativa são a prova viva de que continuam ligados por fortes laços de
afeto ao país onde nasceram ou no qual têm as vossas raízes.
Hoje, o Prémio Empreendedorismo Inovador já não diz respeito apenas à eco-
nomia; contempla igualmente o ensino e a investigação, o associativismo e o ter-
ceiro setor, as indústrias criativas. A ilustrar essas novas valências, realçam-se
os prémios atribuídos este ano, em exæquo, a Jorge da Costa e a Ricardo Ribeiro.
Felicito a “Sumos Portugal”, equipa vencedora do Prémio Ideias de Origem Por-
tuguesa, bem como todos os restantes finalistas.
Considero esta homenagem ao espírito empreendedor e universalista dos Portu-
gueses, separados que estejam por circunstâncias diversas e geografias longín-
quas, como motivo de reencontro, de inspiração e de pertença. Conto, por isso,
que sirva igualmente o propósito, essencial e hoje inadiável, de a todos mobilizar
para o desenvolvimento de Portugal.
Agradeço, muito calorosamente, a vossa participação e a vossa presença. Estou
certo de que ela constitui um sinal do vosso empenho e da vossa confiança no
futuro de Portugal.
Desejo a todos os maiores sucessos, profissionais e pessoais.
Muito obrigado.
ECON
OMIA
E C
RESC
IMEN
TO S
UST
ENTÁ
VEL
105
Sessão de Encerramento da Conferência dos 60 Anos da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemã
Lisboa,24dejunhode2014
É com muito gosto que, na companhia de Sua Excelência o Presidente Joachim
Gauck, encerro os trabalhos desta Conferência. Aproveito para felicitar a Câmara
de Comércio e Indústria Luso-Alemã pelo seu sexagésimo aniversário e pela
ação que desenvolveu, durante estes anos, em benefício do aprofundamento das
relações económicas entre os dois países.
O excelente relacionamento bilateral entre Portugal e a Alemanha, que tem
por base uma cooperação estreita e de confiança mútua, extravasa em muito
a dimensão política, estando fortemente consolidado e desenvolvido noutras
vertentes, nomeadamente na económica e comercial.
Nos últimos três anos, que foram difíceis e exigentes, Portugal realizou um
importante esforço de ajustamento macroeconómico e financeiro. Cumprido o
Programa de Assistência Económica e Financeira, temos hoje perspetivas mais
favoráveis de crescimento económico e a taxa de desemprego, apesar de ainda
muito elevada, reduziu-se, no último ano, de forma significativa. Mas o mais
relevante é o aumento das exportações, que subiram de 30 por cento do PIB, em
2010, para 40 por cento, em 2013.
Este é o caminho que vamos continuar a trilhar.
Desde meados de 2013 que as taxas de juro da dívida pública portuguesa têm
vindo a descer significativamente. O País tem vindo a retomar a emissão de
dívida de médio e longo prazo nos mercados internacionais, valendo a pena
sublinhar que as taxas de juro da dívida a 10 anos se situam, atualmente, abaixo
dos 3,5 por cento.
Sabemos que é crucial continuar as reformas estruturais em curso e que o
crescimento económico terá de assentar, fundamentalmente, no investimento
privado, nacional e estrangeiro, e nas exportações.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
106
Senhor Presidente
Minhas Senhoras e meus Senhores
A crise dos últimos anos colocou em evidência o elevado grau de interdependência
económica e financeira entre os Estados-membros da União Europeia, em geral,
e da zona euro, em particular. O processo de consolidação orçamental português
avançou, apesar de um contexto económico externo muito mais desfavorável do
que inicialmente previsto e do choque assimétrico a que fomos sujeitos.
Ao longo destes anos, tenho vindo a chamar a atenção para a necessidade de se
avançar mais decididamente, a nível europeu, com uma agenda de promoção do
crescimento e criação de emprego. Por outro lado, e no seguimento dos passos
dados nos últimos meses, há agora que prosseguir rapidamente na operaciona-
lização de uma verdadeira União Bancária, condição necessária para comba-
ter a atual fragmentação dos mercados de crédito. Importa garantir às nossas
empresas, principalmente às pequenas e médias, condições de financiamento
comparáveis às das suas congéneres europeias.
A execução do programa de ajustamento envolveu a realização de um conjunto
de reformas estruturais, como foi o caso da reforma do mercado laboral, cuja fle-
xibilidade foi substancialmente acrescida. A experiência alemã dos últimos anos
mostra-nos, a propósito, como um mercado de trabalho competitivo é crucial
para o desempenho positivo da economia. Estão igualmente em curso reformas
essenciais na área da justiça, do licenciamento e da tributação das empresas.
Senhor Presidente
Minhas Senhoras e meus Senhores
Portugal apresenta hoje, em diversos setores, empresas competitivas, inovado-
ras e capazes de produzir com elevada qualidade. Ao nível do que de melhor se
faz no Mundo. Tal acontece em áreas de tecnologia de ponta, como eletrónica,
software e tecnologias de informação, energias renováveis, farmacêutica, auto-
móvel ou aeronáutica. Mas também ocorre em setores ditos tradicionais, caso
dos têxteis, do calçado, das madeiras e da própria agricultura, com destaque
para o azeite, o vinho e a hortifruticultura.
O relacionamento económico e comercial entre os nossos dois países foi sempre
muito relevante. A Alemanha é o segundo maior parceiro comercial de Portugal
ECON
OMIA
E C
RESC
IMEN
TO S
UST
ENTÁ
VEL
107
e é, também, um dos mais importantes investidores externos. A amostra das
empresas alemãs presentes em Portugal, algumas há longos anos, é bem revela-
dora do grau de confiança que depositam em nós, e tem-se traduzido num impor-
tante contributo para o desenvolvimento da nossa economia, a nível de capital,
tecnologia e know-how.
Portugal é um país atrativo para o investimento estrangeiro, oferecendo exce-
lentes condições aos investidores. Para além das reformas estruturais que atrás
referi, Portugal beneficiará também de um novo e interessante programa euro-
peu de apoio ao investimento, especialmente dirigido às PME e à inovação e
competitividade. A reforma da tributação das empresas, em particular, garante
aos investidores estabilidade e um quadro fiscal competitivo e condições muito
favoráveis para o investimento, a criação de sociedades e o registo de patentes.
Portugal, estou convencido, representa uma excelente oportunidade para as
empresas alemãs que queiram produzir para vender no mercado global, ofere-
cendo estabilidade, recursos humanos qualificados e boas infraestruturas físicas
e tecnológicas. Adicionalmente, Portugal tem relações privilegiadas com outras
regiões do Mundo, sobretudo em África e na América do Sul.
Muitas são, igualmente, as empresas portuguesas que investem hoje no mer-
cado alemão. Espero que esta tendência se amplie no futuro.
Partimos, sem dúvida, de uma base de relacionamento económico e comercial
importante, mas há que desenvolvê-la. Há ainda muito para fazer.
É com este apelo que reitero as minhas felicitações à Câmara de Comércio e
Indústria Luso-Alemã pelo aniversário que hoje se cumpre. Espero que man-
tenham o vosso empenho, promovendo oportunidades de negócio e tirando
o melhor partido das vantagens competitivas dos nossos países.
Muito obrigado.
ECON
OMIA
E C
RESC
IMEN
TO S
UST
ENTÁ
VEL
109
Cerimónia de Homenagem à Indústria Portuguesa de Calçado
Guimarães,14denovembrode2014
Em nome de Portugal, presto hoje homenagem aos empresários da indústria
do calçado pelo seu contributo para a economia portuguesa e para a projeção
internacional do País.
No âmbito dos Roteiros para uma Economia Dinâmica que tenho realizado,
dedico todo o dia de hoje à Indústria do Calçado.
Trata-se de um setor que se destaca no nosso panorama industrial pela visão
dos seus empresários e pela capacidade de construção e afirmação de um
espaço próprio no mercado global. Em tempos difíceis, o setor do calçado soube
substituir as lamentações por iniciativas proativas e estratégias adequadas de
crescimento, apostando na investigação e na inovação. O individualismo deu
lugar à partilha e à cooperação competitiva, e, em lugar da rotina comercial
passiva, enveredou por uma presença concertada e afirmativa nos mercados
internacionais.
Estamos, pois, perante uma indústria que soube pôr em marcha um modelo
dinâmico, sustentado e pragmático de desenvolvimento integrado, um modelo
que merece ser reconhecido e estudado como exemplo a seguir por outras áreas
da indústria e do empreendedorismo nacional.
A indústria portuguesa de calçado viveu, nos últimos trinta anos, uma pro-
funda mudança. De setor tradicional de mão-de-obra intensiva e baixo valor
acrescentado, transformou-se numa das indústrias mais dinâmicas, modernas
e expansivas da economia portuguesa, exportando cerca de 95 por cento da
sua produção.
Em meados da década de noventa, com a entrada da China na Organização Mun-
dial do Comércio, o mundo do calçado alterou-se radicalmente. O peso relativo
da Ásia na produção de calçado passou, em pouco mais de vinte anos, de 45 por
cento para 87 por cento do total. Só a China passou a representar 61 por cento da
produção mundial de calçado, contra 17 por cento duas décadas antes.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
110
A Europa, que assegurava, no final da década de oitenta, 34 por cento da
produção mundial, passou a representar apenas 3 por cento do total produ-
zido à escala internacional.
Os fabricantes e as grandes marcas multinacionais transferiram as suas produ-
ções de série e de maior dimensão para países asiáticos, atraídos pelos baixos
custos de produção e pelo acréscimo competitivo que as margens assim obtidas
criariam nos mercados.
Os empresários do setor do calçado em Portugal encararam com coragem e
serenidade a ameaça que se lhes colocava e ultrapassaram-na com inteligência
e determinação.
Apostaram em produtos de maior valor acrescentado como forma de escapar
à concorrência pelo preço. O desenvolvimento de novas tecnologias permitiu
aumentar a produtividade e a competitividade através da melhoria da flexibili-
dade e da capacidade de resposta das empresas. A nossa indústria de calçado
tornou-se a mais moderna do mundo no fabrico de artigos de moda de gama
média/alta. Conquistou reputação à escala mundial através de uma campanha
de imagem criativa, sofisticada e diferenciadora.
A rede de inovação do cluster do calçado foi responsável pelo lançamento de
muitos novos materiais únicos no mundo. A incorporação destes materiais avan-
çados possibilitou o fabrico de calçado de elevado desempenho, satisfazendo
critérios rigorosos de qualidade, conforto, segurança e proteção ambiental.
Hoje, o setor do calçado conta com cerca de 1.700 empresas, responsáveis por
mais de 41 mil postos de trabalho, e exporta 95 por cento da produção para 150
países. Em 2013, as exportações ultrapassaram, pela primeira vez, a barreira
dos 1.700 milhões de euros, tendo crescido 8 por cento e dando um contributo
de cerca de 1.300 milhões de euros para o saldo da balança comercial. O calçado
português detém o segundo maior preço médio comparado do mundo, como
resultado da reputação de qualidade, sofisticação e criatividade conquistada à
escala internacional.
As exportações estão a crescer em praticamente todos os mercados. As expor-
tações para os países fora da União Europeia mais do que duplicaram nos
últimos quatro anos. Verificaram-se significativos crescimentos em mercados
como a China, os EUA, o Japão ou a Rússia.
ECON
OMIA
E C
RESC
IMEN
TO S
UST
ENTÁ
VEL
111
O sucesso da indústria do calçado é um fator de confiança no futuro do País,
a que se juntam outros indicadores positivos recentemente divulgados.
Desde logo o significativo aumento do emprego verificado no 3º trimestre e o
crescimento da produção em 1 por cento, hoje revelado pelo INE, a que se junta
a divulgação, por um thinktank inglês, do índice de prosperidade que coloca a
Noruega em 1º lugar, a Suíça em 2º lugar e Portugal na 27ª posição entre 142 paí-
ses, que representam 96 por cento da população mundial. Face ao negativismo
que diariamente se difunde na comunicação social e nos discursos, não deixa de
nos trazer algum conforto sabermos que apenas 26 países são mais prósperos
do que Portugal, num Mundo que tem mais de 190 países.
Minhas Senhoras e meus Senhores
Quero deixar aqui, bem sublinhada, uma palavra de reconhecimento aos empre-
sários do setor do calçado, à sua Associação Setorial, a APICCAPS, e ao Centro
Tecnológico do Calçado, pelo trabalho conjunto que têm vindo a realizar, res-
ponsável pelo sucesso conseguido e pelos benefícios que tem trazido ao País.
Em julho de 2013, foi-me apresentado pela direção da APICCAPS o novo plano
estratégico / 2020, resultado de meses de reflexão conjunta de uma vasta equipa
de técnicos e empresários em aprofundado diálogo com entidades do sistema
científico e tecnológico e das universidades.
Tomei boa nota de que o setor não pretende descansar sobre o sucesso alcan-
çado e que continua a explorar com ambição novas trajetórias de modernização,
sustentadas, como até aqui, na coesão do setor, na partilha do conhecimento e
da inovação, em parcerias empresariais inteligentes, na competência, no profis-
sionalismo, na aposta em novos talentos e na internacionalização.
E foi-me há pouco dado conhecimento que a APICCAPS e a Federação de Sindica-
tos que representa os trabalhadores da indústria do calçado chegaram a acordo
para a revisão do respetivo Contrato de Trabalho.
A APPICAPS considera que este é o momento de a indústria partilhar os bons
resultados que tem atingido com os trabalhadores. O acordo, que me dizem será
assinado na próxima semana, prevê uma atualização da massa salarial da ordem dos
3,5 por cento. Numa área da economia que tanto tem contribuído para a redução
do desemprego, só posso felicitar empresários e trabalhadores pelo acordo alcançado.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
112
Foi por tudo isto que decidi dedicar todo o dia de hoje ao setor do calçado e
prestar-lhe, em nome de Portugal, o reconhecimento, o elogio e a homenagem
de que é justamente merecedor.
O presidente da APICCAPS, o Senhor Fortunato Frederico, a quem a indústria
do calçado muito deve, foi condecorado em 2005 e a própria APICCAPS em
2009. Tomei a decisão de hoje distinguir outras personalidades que se destaca-
ram, por mérito próprio, e que, além disso, corporizam a dinâmica e o espírito
de unidade que impera na Indústria do Calçado Nacional. Através delas, presto
tributo a todos os industriais do calçado.
Agradeço a vossa presença e, a todos, desejo os maiores sucessos pessoais
e profissionais.
Obrigado.
ECON
OMIA
E C
RESC
IMEN
TO S
UST
ENTÁ
VEL
113
Sessão de Abertura do 24º Congresso das Comunicações da APDC
Lisboa,19denovembrode2014
É com muito gosto que, mais uma vez, me associo à abertura do Congresso das
Comunicações, organizado pela Associação Portuguesa de Comunicações.
Este Encontro representa uma oportunidade privilegiada para discutir o papel
das tecnologias de informação e comunicação na atividade económica, na orga-
nização da sociedade e na vida dos cidadãos. Envolvendo uma multiplicidade de
protagonistas, provenientes de setores-chave para a economia, como os trans-
portes, a Administração Pública, a distribuição e o ordenamento do território,
este Congresso será certamente o espaço adequado para identificar desafios de
futuro e procurar soluções concretas para os enfrentar.
A difusão de redes de comunicações eletrónicas de alta velocidade tem impulsio-
nado o desenvolvimento da economia digital, um fator essencial de inovação e com-
petitividade, de crescimento económico e de promoção de emprego qualificado.
A economia digital estende-se rapidamente a todos os setores, sem exceção.
O maior impacto das redes digitais verifica-se na modernização das atividades
existentes. Estima-se que 75 por cento do impacto da Internet ocorra em seto-
res ditos tradicionais e que a produtividade de uma PME possa crescer 10 por
cento em virtude da utilização de tecnologias digitais. O setor das tecnologias
de informação e comunicação poderá acrescentar, em 2020, pelo menos 4 por
cento ao produto europeu.
Trata-se, por outro lado, de um setor com forte potencial de criação de emprego
especializado, a crescer 4 por cento ao ano desde 2000, sete vezes mais do que
o crescimento médio do emprego total no mesmo período.
Apesar desta evolução muito positiva, o potencial de criação de emprego no setor
corre o risco de ser subaproveitado. De facto, prevê-se que, nos próximos anos,
exista uma lacuna no mercado de cerca de 1 milhão de profissionais à escala
europeia. Esta é uma oportunidade a que as instituições portuguesas de ensino
superior devem estar atentas.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
114
De salientar, igualmente, que os consumidores europeus fazem do acesso à
Internet um hábito cada vez mais regular, mesmo entre os grupos menos favo-
recidos da população. A utilização regular da rede aumentou 11 por cento em
apenas quatro anos, prevendo-se que atinja 75 por cento da população europeia
já no próximo ano. Portugal é dos países onde se tem registado maior progresso
neste domínio, o que aponta para que a Internet venha a fazer parte, num futuro
próximo, da vida quotidiana da maioria esmagadora dos nossos concidadãos.
O comércio e os serviços prestados através de canais digitais abrem, além do
mais, uma clara oportunidade para ganhos de competitividade e constituem um
veículo importante de internacionalização, especialmente para as PME, que,
através desse meio, veem muito facilitada a extensão das suas atividades para
lá do mercado doméstico.
A par deste potencial, os canais digitais irão colocar novos desafios, pelo que não
podem ser ignorados nem pelas empresas portuguesas nem pelos decisores dos
programas de reforço da competitividade no âmbito do Portugal 2020.
O nosso país encontra-se numa posição excelente para explorar as oportuni-
dades oferecidas pela economia digital, sendo que, para isso, muito tem contri-
buído o desenvolvimento do setor das tecnologias de informação.
Fruto de uma forte aposta dos operadores nacionais, as redes de nova geração
fixa alcançam já 85 por cento dos lares portugueses, nível que se situa bem
acima da média europeia. Por seu lado, a cobertura de redes móveis 4G tem
avançado igualmente de uma forma muito positiva, encontrando-se o nosso
país no segundo lugar da Europa, logo a seguir à Suécia. O peso dos acessos
suportados por tecnologias de nova geração situa-se em mais de metade do
total de subscrições de banda larga, o que representa um dos maiores valores
na Europa.
A existência de uma infraestrutura fiável e de elevado desempenho abre grandes
possibilidades de futuro. Mas há que combater as barreiras à sua utilização, tais
como a menor perceção da utilidade, a falta de competências digitais e os custos,
barreiras essas que afetam especialmente os setores mais desfavorecidos da
sociedade.
Há que lembrar que, apesar das estatísticas animadoras que atrás citei, o nosso
país apresenta ainda uma das maiores taxas da Europa de não utilização da
ECON
OMIA
E C
RESC
IMEN
TO S
UST
ENTÁ
VEL
115
Internet – que se estima em mais de 35 por cento da população, ou seja, muito
acima da média europeia –, bem como um dos maiores níveis de trabalhadores
sem qualquer competência digital.
Estas fragilidades terão que ser reduzidas ou mesmo eliminadas. A manutenção
de um “fosso digital” entre os utilizadores regulares da Internet e os chamados
“infoexcluídos” é, desde logo, um elemento de desigualdade que abre uma cli-
vagem social, económica e cultural que não podemos admitir num país desen-
volvido e justo.
Importa, no entanto, sublinhar que, na última década, se registou um forte pro-
gresso na modernização dos nossos serviços públicos, fruto de investimento na
aplicação das TIC. Esta aposta traduz-se em visíveis benefícios para a qualidade
e disponibilidade dos serviços e em reduções significativas dos seus custos.
Minhas Senhoras e meus Senhores
Atravessamos um período de mudanças sem precedentes no setor das tecnolo-
gias de informação, que terão profundo impacto nos operadores e nos investi-
dores, tal como em trabalhadores e consumidores.
Não devemos esperar facilidades, mas podemos encarar o futuro da economia
digital, entre nós, com otimismo e esperança.
Tenho plena confiança nas empresas e nas capacidades dos gestores e técnicos
para sustentarem os ciclos de inovação e reinventarem modelos de negócio, tor-
nando assim o setor mais forte, mais competitivo e mais preparado para apoiar
o desenvolvimento económico e social do País.
Estou certo de que este Congresso dará, uma vez mais, respostas concretas
às necessidades e aos desafios do setor das tecnologias de informação.
Desejo-vos, desde já, um trabalho profícuo e os maiores sucessos para este
Encontro.
Muito obrigado.
ECON
OMIA
E C
RESC
IMEN
TO S
UST
ENTÁ
VEL
117
Cerimónia Comemorativa do 30º Aniversário da Transinsular
Lisboa,30dejaneirode2015
Gostaria de começar por felicitar a empresa Transinsular pelo seu 30º aniver-
sário. Esta longevidade no setor da marinha de comércio portuguesa deve ser
assinalada e saudada.
A Transinsular, operando com oito navios, é uma empresa líder no transporte
naval e nos serviços de linha, e o grupo E.T.E., seu proprietário, é um exemplo
da ligação de Portugal ao mar, bem como da resiliência necessária para manter
uma empresa num setor de capital intensivo e margens reduzidas como é o dos
transportes marítimos.
Felicito, por isso, os administradores, os acionistas e os trabalhadores da
empresa, que, com a sua determinação e o seu esforço, mantêm viva a chama
imemorial da armação de comércio portuguesa.
Minhas Senhoras e meus Senhores
O mar e a sua exploração sustentável para gerar crescimento e emprego na
economia nacional são dos temas que mais tenho promovido na agenda pública
nacional.
Falei do mar no meu discurso de posse, no primeiro mandato que exerci como
Presidente da República. Homenageei a ligação de Portugal ao mar no dia inau-
gural do meu segundo mandato, com a visita ao navio hidrográfico Gago Couti-
nho e ao navio-escola Sagres.
Tenho acompanhado de perto a atividade de portos, de laboratórios de ciências do
mar, de empresas de reparação naval e visitei, já este ano, o Instituto Hidrográfico.
Recebi líderes internacionais dos assuntos do mar, promovi os novos usos dos ocea-
nos e as indústrias da biotecnologia marinha, visitei os clusters marítimos de outros
países e fui às Ilhas Selvagens, baluarte da imensidão do Atlântico português.
Hoje tenho a oportunidade de falar deste setor silencioso, no sentido em que dele
pouco ou nada se diz, que é o setor dos transportes marítimos.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
118
Tenho seguido o evoluir da agenda do mar em Portugal e constato, com regozijo,
a atenção que o tema tem vindo a captar. No entanto, muito pouco se diz e se faz
pela nossa marinha de comércio. Este silêncio é tanto mais estranho quanto,
à escala europeia, os transportes marítimos se afirmam como uma das princi-
pais fileiras na economia do mar, gerando mais de 350 mil milhões de euros de
volume de negócios.
A presente dimensão da nossa marinha de comércio é um pálido vestígio do que
foi outrora, nos idos anos 70, em que, em tonelagem, figurávamos na lista das
15 maiores marinhas de comércio do Mundo. Tal decadência parece incomodar
poucos em Portugal, com exceção, talvez, dos agentes do setor.
Porque é importante a marinha de comércio para Portugal?
Porque dela depende toda uma série de indústrias que são determinantes para
a vitalidade de um cluster do mar: a construção e reparação naval, as indústrias
de material e equipamento náutico, a engenharia e o design industrial, as tec-
nologias e sistemas offshore, os serviços marítimos financeiros, jurídicos, de
seguros e de classificação de navios.
Ora, sem esta massa crítica de empresas, de know-how, de serviços e produtos,
que depende do setor dos transportes marítimos, não pode haver um verdadeiro
cluster do mar e não pode um país considerar-se um país marítimo.
Não nos podemos resignar nem acomodar ao declínio da marinha de comércio
nacional, tratando-o, além do mais, como um “não assunto” da sociedade e da
economia nacional. Após tempos de declínio, é possível voltar a emergir e a
crescer.
A transformação da Lisnave numa das maiores indústrias de reparação naval
do Mundo foi algo que pude testemunhar quando a visitei em 2011, e deve servir
de exemplo quando falamos de marinha de comércio.
Minhas Senhoras e meus Senhores
Temos que reinventar o setor dos transportes marítimos. Desde logo, porque é
cada vez mais um setor de futuro na Europa em que vivemos.
Três razões ponderosas concorrem para isso.
Em primeiro lugar, o avanço inexorável da globalização e da internacionaliza-
ção das economias, que significa mais trocas comerciais, ou seja, o crescimento
ECON
OMIA
E C
RESC
IMEN
TO S
UST
ENTÁ
VEL
119
do comércio mundial, que, em 90 por cento do seu volume, viaja por mar.
Serão necessários mais e maiores navios para enfrentar este desafio.
Em segundo lugar, a segurança energética europeia, que requer mais terminais
de gás natural liquefeito, mais metaneiros para o transportar e mais navios tan-
ques para o transporte de petróleo.
E, por último, o próprio paradigma europeu da sustentabilidade e da redução
das emissões de efeito de estufa, que quase impõe a utilização do navio, muito
mais eficiente energeticamente do que o avião, o camião ou mesmo o comboio.
Na Europa, o transporte marítimo de curta distância em navios, novos e mais
amigos do ambiente, está a ganhar apoios e será, cada vez mais, uma realidade.
Para Portugal, um país que está longe das grandes áreas industrializadas da
Europa, bem como dos seus centros de consumo, é a fachada atlântica que nos
permite ligar a outros mercados e a outras regiões mundiais. Esta realidade é
hoje tanto mais importante quanto queremos reorganizar a economia portu-
guesa e orientá-la para o crescimento das exportações e para a diversificação
de mercados, nomeadamente para regiões não europeias.
Os transportes marítimos permitem-nos também depender menos dos países
que temos de cruzar para chegar ao centro da Europa. Para Portugal, o único
país europeu de média dimensão que tem fronteiras apenas com um Estado
vizinho, a importância geoestratégica do mar deveria ser ainda mais evidente.
De referir, ainda, que a utilização mais intensa do transporte marítimo nos res-
guarda, de algum modo, do impacto das políticas ambientais europeias que,
cada vez com mais exigência, condicionam o transporte rodoviário, sobre o qual
tendem a incidir custos acrescidos.
Minhas Senhoras e meus Senhores
Dizem os especialistas que, para mudar a realidade do transporte marítimo
nacional, é importante a adoção por Portugal da taxa de tonelagem que a União
Europeia concede ao setor dos transportes marítimos. Sem isso, dificilmente
reuniremos as condições necessárias para apoiar o crescimento de empresas
do setor, que requerem uma estabilidade e previsão de longo prazo da política
fiscal para realizar os seus investimentos na renovação da frota. É uma questão
que merece ser ponderada.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
120
Por outro lado, penso que seria útil promover um debate que envolvesse as
empresas nacionais exportadoras e importadoras de matérias-primas, para que
compreendam a importância de apoiar a marinha de comércio nacional. Sem
o apoio da indústria, dificilmente haverá transportes marítimos portugueses.
Neste dia em que celebramos o 30º aniversário da empresa Transinsular, quero
sublinhar que uma marinha de comércio portuguesa, em livre concorrência
com as frotas internacionais, é um ativo estratégico fundamental para um país
que se quer afirmar como uma economia exportadora vocacionada para o mar.
Muito obrigado.
ECON
OMIA
E C
RESC
IMEN
TO S
UST
ENTÁ
VEL
121
Sessão de Abertura do X Congresso Nacional do Milho
Lisboa,11defevereirode2015
Saúdo calorosamente os participantes no Congresso Nacional do Milho, teste-
munho do empenho num setor tão importante para a agricultura portuguesa.
O milho apresenta-se hoje, mais do que nunca, como um setor agrícola estra-
tégico da economia portuguesa, num momento em que o desenvolvimento da
nossa agricultura e o equilíbrio da balança externa são objetivos nacionais cla-
ramente assumidos.
O milho é a cultura arvense que mais explorações agrícolas envolve, represen-
tando cerca de 80 por cento da produção de cereais em Portugal. É, por outro
lado, uma cultura com particular impacto transversal na economia do País.
O milho, como componente fundamental das rações animais, integra as fileiras da
produção de leite e de carne, condicionando os respetivos custos de produção, o que
acaba por ser decisivo para a competitividade e sustentabilidade daqueles setores.
A importância do setor do milho surge ainda reforçada pelo facto de Portugal ser
tradicionalmente deficitário nesta cultura. Necessitamos de mais do que produ-
zimos e produzimos menos do que importamos. Impõe-se, portanto, um olhar
mais atento sobre o investimento ao nível da produção.
O aumento da produção é, efetivamente, o maior desafio que o setor do milho
enfrenta. É verdade que há fatores relevantes que não podem ser subestimados.
É o caso, por exemplo, da forte volatilidade do preço dos cereais, agravada quer
pela especulação que suscita como commodity, quer pela oscilação da produção
nos grandes fornecedores mundiais, devido sobretudo às condições climatéricas.
Se, em relação a estes problemas, não podemos exercer qualquer ação direta,
podemos de algum modo fazê-lo no que se refere ao incremento da produção
nacional. Os resultados obtidos nos últimos anos dão-nos bons motivos para
prosseguir e reforçar o trabalho que tem vindo a ser feito.
Portugal tem conseguido aproveitar bem as condições edafoclimáticas favorá-
veis de que dispõe para aumentar a sua produção de milho. Foram já alcançados
valores na produção por hectare que nos colocam entre os países com mais
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
122
elevados índices de produtividade. Importa aumentar a área de cultivo tirando
partido do regadio, como é o caso da área do Alqueva, o que aliás tem vindo a
acontecer. O milho é a segunda maior cultura nesta região e a zona de produção
de milho no Alqueva é já a terceira maior do país. Uma boa gestão da água, em
termos ambientais e económicos, potencializará certamente o crescimento da
produção.
Importa, também aqui, promover um bom aproveitamento dos fundos comuni-
tários, adequando a nova condicionalidade de 30 por cento das ajudas diretas
a medidas ambientais aos diferentes setores agrícolas, e implementando um
Programa de Desenvolvimento Rural adaptado às potencialidades de cada um.
Temos vindo a assistir a um crescimento da agricultura portuguesa: em pro-
dução, em valor e em volume de exportações. O equilíbrio da nossa balança
comercial de produtos alimentares em 2020 é uma meta ambiciosa, mas não
impossível.
Tem-se registado, com efeito, uma notável modernização das unidades do setor
agroalimentar, ao longo de todo o processo produtivo, bem como do segmento
transformador que lhe está associado. É importante que esta tendência seja
mantida e reforçada.
Temos vindo a assistir, em paralelo, à valorização social e à dignificação profis-
sional dos trabalhadores do setor agroalimentar. A formação especializada e a
cativação de jovens com conhecimentos técnicos avançados e espírito empreen-
dedor têm contribuído para a apresentação de produtos inovadores e para a
conquista de novos mercados.
O revigoramento e o rejuvenescimento da agricultura nacional representam
uma valorização da ruralidade, visível na ocupação da terra, na preservação
da paisagem rural, no desenvolvimento da multifuncionalidade da agricultura
e na dinamização social e económica do interior, contribuindo para a coesão
territorial do País.
Os nossos agricultores, como agentes ativos da recuperação da economia nacio-
nal, são credores do respeito e apreço dos portugueses.
A consolidação de uma nova fase de progresso da agricultura portuguesa exige
que se assegure a sua sustentabilidade ambiental, económica e social: social,
nas políticas de apoio à fixação das populações no espaço rural; económica, nas
ECON
OMIA
E C
RESC
IMEN
TO S
UST
ENTÁ
VEL
123
políticas de enquadramento e suporte à produção agrícola; e ambiental, nas polí-
ticas de incentivo à boa gestão dos recursos naturais.
Os produtores já mostraram que sabem produzir e produzir bem. A fileira já
mostrou que sabe inovar tecnologicamente e delinear e implementar as estra-
tégias corretas para alcançar os seus objetivos.
O setor do milho, que nos traz hoje aqui, tem sabido investir no conhecimento
e na inovação através da implementação de campos de ensaio, mas também do
aperfeiçoamento dos sistemas de informação geográfica e de gestão de rega, da
utilização de alfaias autorreguladas e do controlo da evolução da cultura com
recurso a vídeo, entre muitos outros avanços científico-tecnológicos.
As organizações de produtores desempenham também um papel importante
para uma gestão profissional e empreendedora dos respetivos setores. Elas são
determinantes para a redução dos custos de produção, para a adequação da
oferta à procura, para a formação do preço, para a conquista de novos mercados.
A ANPROMIS é, certamente, um bom exemplo.
Dificuldades e constrangimentos existirão sempre. O sucesso está em converter
as dificuldades em desafios, os desafios em metas, e as metas em conquistas.
É isso, justamente, que o setor do milho tem vindo a realizar. Este Congresso
deverá trazer um ímpeto acrescido à capacidade de auto-aprovisionamento
nacional da produção do milho.
Desejo, a todos vós, um bom trabalho e as maiores felicidades.
Obrigado.
ECON
OMIA
E C
RESC
IMEN
TO S
UST
ENTÁ
VEL
125
Sessão de Encerramento do 11º Encontro Nacional de Inovação COTEC
Lisboa,26defevereirode2015
É com muita satisfação que participo neste 11º Encontro Nacional de Inovação
COTEC, onde se debateu o tema do Talento e se apresentou o estudo Transforma
TalentoPortugal, levado a cabo por iniciativa conjunta da COTEC-Portugal e da
Fundação Calouste Gulbenkian, a quem saúdo nas pessoas do Professor João
Bento e do Dr. Artur Santos Silva.
A criação de riqueza e a prosperidade de uma economia avançada resultam em
muito da capacidade de, através do conhecimento e da tecnologia, projetar o
futuro e materializar inovações que sirvam a comunidade.
Ao longo dos anos, a COTEC tem identificado os grandes inovadores na econo-
mia nacional, dos quais as empresas da Rede PME Inovação são um excelente
exemplo, e tem também distinguido as empresas mais inovadoras através dos
Prémios PME Inovação e Produto Inovação.
A este propósito, a COTEC voltou a responder de uma forma muito positiva ao
meu desafio e logrou transformar esta Rede – que foi criada, recordo, em 2005,
com 24 empresas –, num caso notável de cooperação empresarial que conta já
com 252 empresas. Saúdo pois as empresas recém-chegadas, selecionadas a
partir da aplicação de critérios rigorosos, pela ambição de aceitarem o desafio
e a responsabilidade de fazerem parte de um grupo de excelência.
Aproveito, igualmente, para endereçar os meus parabéns aos vencedores dos
Prémios PME Inovação e Produto Inovação que hoje aqui celebramos.
Numa perspetiva analítica do processo de inovação, a COTEC-Portugal e a Fun-
dação Calouste Gulbenkian quiseram ir mais longe, procurando identificar a
“matéria-prima” crítica indispensável ao sucesso da inovação. O estudo Trans-
formaTalentoPortugal, ao qual me associei e dei o meu patrocínio, centra a
atenção no problema de como identificar, desenvolver e concretizar o potencial
do talento humano e elabora um diagnóstico aprofundado de como a inovação
pode ser sustentada a partir de um processo de gestão de talento.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
126
Este trabalho permite-nos compreender melhor quais são os fatores decisivos
do processo de produção de talento nacional e como podemos melhorá-lo.
Temos que reconhecer que a globalização das cadeias de produção das empre-
sas, a abertura do comércio e a internacionalização da cooperação científica
são forças poderosas que estimulam, como nunca, a mobilidade dos profissio-
nais, em especial dos mais qualificados. A intensidade destes fenómenos irá
crescer muito significativamente com o aprofundamento da integração das
economias.
Em Portugal, identificamos uma insuficiente valorização quer do talento e do
potencial de desenvolvimento individual, quer do contributo que este potencial
pode representar para as organizações.
Os jovens portugueses ambicionam, muito justamente, ter a possibilidade
de afirmar, em Portugal ou no estrangeiro, as suas opções individuais e ser
responsabilizados e reconhecidos por elas, alcançando, por mérito próprio,
lugares de destaque e bem remunerados.
Temos agora uma maior consciência deste fenómeno, das suas consequências
e do sentido de urgência na mudança deste estado de coisas. Devemos, pois,
valorizar o potencial do talento produzido em Portugal e criar condições para
trazer de volta aqueles que saíram a contragosto do País.
Há um problema ainda mais gravoso e que urge ser corrigido. Os nossos talen-
tos parecem ser mais valorizados no País quando passam pelo crivo de uma
avaliação no estrangeiro. Aparentemente, temos mais confiança nos outros
para apreciar o talento do que nos nossos próprios critérios.
Esta é uma mentalidade que terá que ser ajustada à nova realidade de um
mundo global, onde a competição acesa pelo talento se traduz num prejuízo
efetivo para aqueles que não souberem motivar, cativar e reter os seus pró-
prios valores.
Devemos assumir, em todo o caso, uma visão serena e realista desta nova
realidade do mundo global, recusando a ideia de que a emigração representa
necessariamente uma perda irreversível para o País. Temos, isso sim, de
criar condições de atração para todos, para os que desejam ficar e para os
que, estando no estrangeiro, aspiram a regressar ou a vir viver em Portugal.
Para isso, insisto, é essencial que a sociedade portuguesa reconheça e valorize
ECON
OMIA
E C
RESC
IMEN
TO S
UST
ENTÁ
VEL
127
aqueles que, pelas suas capacidades, pelas suas qualificações e, acima de tudo,
pelo seu dinamismo, se destacam pela afirmação do talento que possuem.
A gestão do talento é um tema transversal à sociedade portuguesa e uma ques-
tão determinante para o nosso futuro coletivo.
No plano interno, importa identificar e estimular as potencialidades dos nossos
jovens, sejam eles investigadores e cientistas, empresários ou trabalhadores,
criadores e artistas, ou voluntários que dão o melhor de si ao serviço dos outros
e do bem comum.
As qualificações e os méritos das novas gerações devem ser enquadrados e
transformados em valor. Aqui reside o maior ativo estratégico de Portugal.
A divulgação de exemplos de sucesso e a formulação de propostas concretas
para promover o talento são elementos mobilizadores de toda a sociedade,
demonstrando que o mérito e a excelência se encontram ao alcance de todos,
no quadro de um modelo político, social e económico norteado pelos princípios
da justiça e da igualdade de oportunidades.
Trata-se de uma aspiração tão ambiciosa quanto imperativa. O talento nasce
em qualquer família, independentemente dos seus recursos, pelo que ninguém
deve ser prejudicado pelo contexto da sua situação específica. O País e a eco-
nomia não podem continuar a dar-se ao luxo de desperdiçar potenciais talen-
tos por falta de oportunidades ou de capacidade para os acarinhar e deixar
florescer.
Estamos perante desafios que devem ser abordados, desde logo, nos primeiros
anos da aprendizagem escolar. O desafio verdadeiramente central é permitir à
escola que seja, ela própria, um meio onde se identificam talentos e, sobretudo,
onde se cria um ambiente propício para fazer desabrochar e desenvolver as
capacidades de cada um.
O estudo realizado pela COTEC-Portugal e pela Fundação Calouste Gulbenkian
representa um contributo de grande importância para um levantamento rigo-
roso do presente e para uma transformação dinâmica e sustentada do futuro,
porque estabelece uma hierarquia de prioridades na organização das soluções
e nas medidas e porque identifica bem o papel que, nas respetivas esferas de
participação, todos são chamados a desempenhar.
Realço duas das propostas apresentadas:
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
128
• Dinamizar a identificação de talentos dos jovens em idade escolar, capaci-
tando os professores para um papel educativo chave na escola do futuro, valo-
rizando a profissão docente na sociedade; e
• Criar práticas organizacionais de formação, avaliação e desenvolvimento dos
talentos nas organizações.
São propostas que constituem bases particularmente importantes para uma
agenda de mudança orientada para o futuro, uma mudança que é urgente e que
é cada vez mais relevante para a realização pessoal dos Portugueses e para o
nosso sucesso coletivo.
Estou convicto da oportunidade e do mérito do TransformaTalentoPortugal,
que hoje aqui foi apresentado, e por isso tenho a expectativa de que se converta
numa ferramenta mobilizadora de pais, educadores, empresários, gestores, de
todos aqueles a quem a força do talento toca. Pelo interesse que despertou, creio
que esta iniciativa poderá constituir um contributo de grande importância para
o desenvolvimento do País.
Manifesto o mais vivo apreço aos promotores desta iniciativa e saúdo calorosa-
mente os intervenientes e todos os participantes neste Encontro.
Muito obrigado.
DESE
NVO
LVIM
ENTO
E C
OESÃ
O SO
CIAL
133
Cerimónia de Inauguração do Complexo Porto Salus
BrejosdeAzeitão,17deabrilde2014
É com muito gosto que me associo hoje à inauguração do Complexo Porto Salus,
uma parceria entre a Misericórdia de Azeitão e o Grupo Visabeira.
Conheço desde há muito tempo o notável trabalho social que vem sendo desen-
volvido pela Santa Casa da Misericórdia de Azeitão e, em particular, pelo seu
Provedor, Senhor Dr. Jorge Maria Lopes de Carvalho. Um trabalho de assistência
à população que faz jus aos seus quase 393 anos de história e em que avulta a
prestação de cuidados de saúde.
A Santa Casa da Misericórdia de Azeitão tem sido galardoada pelo serviço pres-
tado, em particular, na assistência paliativa a doentes terminais, onde foi, de
resto, pioneira.
A ação que esta instituição coloca no centro da sua atividade diária é um legado
do espírito de intervenção social que presidiu à fundação das Misericórdias e
que mantém até hoje uma extraordinária atualidade.
Tive oportunidade de conhecer as modernas instalações do novo Hospital de
Nossa Senhora da Arrábida.
Agora com acesso a esta nova estrutura hospitalar, a população do concelho, em
particular a mais carenciada, idosa e doente, vai continuar a beneficiar direta-
mente da ação da Santa Casa da Misericórdia de Azeitão, dos seus profissionais
e dos seus voluntários. É de assinalar que todas as prestações de saúde revestem
forma gratuita para os doentes identificados pela Misericórdia.
Num tempo em que tantas famílias passam por dificuldades, a garantia da dig-
nidade na doença, através da prestação de cuidados de saúde de qualidade e do
apoio à reinserção social e familiar dos que vivem uma situação de dependência,
deve estar no centro das preocupações políticas.
Responder às situações de emergência social e apoiar os mais carenciados,
assim como acolher e cuidar dos mais idosos, é uma prioridade que não pode
ser posta em causa por metas de natureza orçamental.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
134
Minhas Senhoras e meus Senhores
Estamos exatamente a um mês do fim do programa de assistência económica e
financeira a que Portugal recorreu em maio de 2011.
Desde há muito tempo que tenho vindo a chamar a atenção para a necessidade de
Portugal preparar adequadamente o pós-troika. Fi-lo por considerar que é impres-
cindível preparar o futuro do nosso país com tempo, construindo os necessários
compromissos e tendo bem presentes as obrigações a que estaremos vinculados.
Impõe-se, também por isso, proceder a um balanço daquilo que foi feito e do
que está ainda por fazer no que toca ao processo de ajustamento financeiro e
de transformação e adaptação da nossa economia. Tal como se impõe uma ava-
liação das medidas que foram tomadas e do impacto que tiveram na vida dos
Portugueses.
Algumas das medidas adotadas impuseram sacrifícios extremos a muitos por-
tugueses, que vivem hoje com grandes dificuldades e em situações intoleráveis
de pobreza. Criaram-se situações de injustiça, que devem ser corrigidas, nesta
nova fase da vida do País.
Os indicadores que vamos conhecendo e que evidenciam uma clara recuperação
da economia, uma redução do desemprego e um aumento do clima de confiança
são uma janela de esperança para os portugueses mais atingidos.
O dividendo orçamental do crescimento económico, proporcionado pelo
aumento das receitas dos impostos e pela redução dos subsídios de desemprego,
é uma oportunidade que deve ser aproveitada para alcançar uma melhor conci-
liação entre as regras europeias de disciplina das contas públicas e a correção
das injustiças acumuladas nos últimos anos. A coesão social e os desafios do
futuro assim o impõem.
Na distribuição do dividendo orçamental do crescimento económico, os grupos
a quem foram exigidos sacrifícios que, nalguns casos, podem ter sido despropor-
cionados e que são conhecidos de todos, devem estar na linha da frente.
Os Portugueses demonstraram, ao longo do tempo em que vigorou este difícil
Programa de Ajustamento, um admirável sentido de comunidade.
Agora, é importante que os sinais de esperança que vemos no horizonte se pos-
sam concretizar, incluindo na perceção de mais equidade e justiça por parte dos
cidadãos, valores essenciais para a preservação da coesão nacional.
DESE
NVO
LVIM
ENTO
E C
OESÃ
O SO
CIAL
135
Minhas Senhoras e meus Senhores
As instituições sociais, de que é exemplo a Santa Casa da Misericórdia de Azei-
tão, têm tido um papel crucial neste momento difícil da nossa vida coletiva.
O papel do Setor Social na economia portuguesa é fundamental e, podemos dizê-
-lo, estruturante, não apenas pelas carências que se têm vindo a manifestar,
mas também pela evolução demográfica que se tem verificado, marcada por um
crescente envelhecimento da população.
A procura de novas fórmulas de cooperação entre as instituições particulares de
solidariedade social e as empresas, de que é feliz exemplo este Complexo Porto
Salus, deve, por isso, ser saudada.
O modelo de parceria encontrado para a concretização deste projeto, conjugando
Hospital e Residências Assistidas, afigura-se, além do mais, particularmente
apropriado à complementaridade dos objetivos prosseguidos.
Quero por isso deixar à Santa Casa da Misericórdia de Azeitão e à Visabeira, bem
como a todos os trabalhadores deste novo Complexo Porto Salus, uma palavra de
felicitações e de incentivo para o importante trabalho que aqui vão desenvolver.
DESE
NVO
LVIM
ENTO
E C
OESÃ
O SO
CIAL
137
Cerimónia de Agraciamento de Instituições Ligadas ao Combate à Exclusão Social
PaláciodeBelém,4dejunhode2014
Os tempos difíceis que muitos portugueses atravessam puseram em maior evi-
dência o trabalho notável, quase sempre discreto e silencioso, de um grande
número de instituições sociais. Contam com o apoio e o empenho de muitos
cidadãos anónimos e com o precioso auxílio de milhares de voluntários, num
esforço de grande generosidade.
Ao longo dos meus mandatos, tenho contactado com largas centenas de orga-
nizações e de personalidades que, diariamente, se dedicam ao apoio aos mais
frágeis da nossa sociedade sem qualquer busca de reconhecimento, apenas com
o intuito de fazer o bem.
Sublinho, aliás, o papel de instituições que tive já oportunidade de distinguir,
como o Banco Alimentar contra a Fome e a União das Misericórdias Portugue-
sas, reconhecendo nesta última as centenas de Misericórdias que temos pelo
país fora e cujo papel deve ser enaltecido.
Quero, nesta cerimónia, sublinhar o contributo imprescindível destas seis insti-
tuições no trabalho contra a exclusão social nas suas respetivas áreas de atuação.
A Comunidade Vida e Paz comemora este ano os seus 25 anos. Com centenas de
voluntários, vai ao encontro de pessoas sem abrigo, ou em situação de vulnera-
bilidade social, acolhe-as e ajuda-as a recuperar a sua dignidade e a reconstruir
o seu projeto de vida.
A Associação CAIS, com uma presença muito visível na Revista que é vendida
nas ruas, tem procurado promover a capacitação de pessoas sem abrigo ou de
pessoas em risco de carência económica, através de um conjunto de projetos de
intervenção social inovadores e adequados às necessidades.
A Associação Portuguesa de Deficientes, com implantação nacional, tem defen-
dido os interesses das pessoas com deficiência em Portugal, tentando eliminar
as barreiras físicas e psicológicas que são causa de um sentimento de exclusão
para os deficientes.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
138
A Casa dos Rapazes acolhe, cuida e educa rapazes retirados das famílias, com
o objetivo de os ajudar em diferentes vertentes da sua vida e de, um dia, lhes
permitir regressar ao seu lar e à sua família.
A Liga Portuguesa contra a Sida, a mais antiga instituição nesta área, apoia as
pessoas infetadas e afetadas pelo VIH/SIDA, desenvolvendo ações de apoio social,
psicológico, jurídico, nutricional e hospitalar.
A SAOM - Serviços de Assistência Organizações de Maria tem vários serviços no
âmbito da reinserção social e também de apoio social a idosos e jovens. Desen-
volve um projeto de formação profissional que visa inserir socialmente pessoas
sem abrigo ou em grave risco de exclusão social.
Todas estas instituições têm procurado – de forma inovadora, com novos proje-
tos e novas ideias – ser um referencial de esperança para milhares de pessoas,
que são tocadas pela generosidade e o altruísmo de todos os que com elas
colaboram.
Tendo em conta a marca que deixam na sociedade portuguesa em prol da dig-
nificação da Pessoa Humana e a abnegação que os seus colaboradores revelam
em favor da coletividade, decidi atribuir a estas instituições o título de Membro
Honorário das duas Ordens Honoríficas Portuguesas que visam reconhecer esse
labor e essa generosidade.
DESE
NVO
LVIM
ENTO
E C
OESÃ
O SO
CIAL
139
Sessão Solene de Boas-Vindas na Câmara Municipal da Guarda
Guarda,9dejunhode2014
Iniciámos há pouco, na Praça Luís de Camões, as comemorações de mais um
Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, o segundo que se
celebra nesta Cidade da Guarda.
Diante da imponente Sé Catedral, monumento emblemático da urbe que nos
acolhe, evocamos o nosso país: passado, presente e futuro.
Estamos em região de montanhas, de onde se contempla um extraordinário
panorama. Estamos nesta terra da fronteira, onde os homens se confrontavam
e hoje se encontram.
Hoje, Portugal encontra-se de novo na Beira.
Há 37 anos, esta cidade que se ergue na serra, vestida de granito e envolta na
rudeza altiva da paisagem, recebeu as primeiras comemorações do 10 de Junho
fora de Lisboa.
A Guarda é hoje uma cidade muito diferente. Portugal é também um país muito
diferente.
Outrora cingida pelas muralhas, a cidade desceu as encostas, suavizando o
relevo. As montanhas, antes obstáculo, são agora sulcadas pelas novas vias de
comunicação. Essas vias quebraram o nosso enclausuramento secular, próprio
de quem era europeu à distância. Tornámo-nos inteiramente europeus e tam-
bém aqui, na Guarda, dispomos de melhor acesso ao resto da Europa.
A Guarda sempre foi uma zona de passagem que facilitava a circulação entre
o litoral e o interior, entre o Norte e o Sul, uma porta de entrada em Portugal.
Só que a Guarda, que noutros tempos parecia tão distante, é hoje protago-
nista de um projeto estratégico dinamizado pelos responsáveis autárquicos
e empresariais.
A sua localização, afinal privilegiada, pode representar um ativo económico
e permite-lhe aspirar a ser mais que um local de passagem. A implantação
de novas empresas no concelho e no distrito da Guarda, com forte aposta
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
140
na inovação e desenvolvimento, é a prova de que a interioridade pode ser
vencida e de que à fatalidade da geografia não corresponde a fatalidade da
desertificação.
Cabe às autarquias, com o apoio do Governo central, um papel fundamental
como entidades catalisadoras do desenvolvimento dos seus Municípios.
Mais do que esperar que o investimento chegue, devem procurá-lo ativamente,
explorando as potencialidades endógenas, apostando na divulgação do patrimó-
nio histórico e das tradições, atraindo turistas.
O ar que aqui se respira, o Ar da Guarda, valeu a esta cidade há alguns anos
a designação de “Cidade Bioclimática Ibérica”. O ar puro que lhe ganhou esta
nomeação é, ele próprio, uma mais-valia que deve ser explorada.
A Guarda, centro histórico e cultural, transporta-nos também a outros tempos,
entre pedras trabalhadas e erigidas pelo homem, que assim modelou a natureza
e assentou a sua vida, enfrentando os rigores do clima. A conservação, divulga-
ção e valorização do património e das tradições da Guarda não devem deixar de
ser prioridades da ação política local.
Senhor Presidente da Câmara Municipal
Minhas Senhoras e meus Senhores
37 anos depois, e apesar de tudo o que a torna hoje uma cidade europeia, é no
essencial a mesma Guarda que recebe as Comemorações do Dia de Portugal:
formosa e farta, fria, forte e fiel.
Formosa, pelo encanto das paisagens que a envolvem e pela imponência dos
seus monumentos.
Farta, pela riqueza das suas terras, a diversidade dos seus recursos naturais e
pelas potencialidades que comporta.
Sempre Fria, pelos ventos gélidos das serras que a rodeiam, mas não no acolhi-
mento com que brinda os que a visitam.
Forte, porque de fortaleza inexpugnável passou a cidade de referência no inte-
rior do nosso país.
E sempre Fiel, como Álvaro Gil Cabral, Alcaide-Mor da Guarda, que se manteve
sempre leal ao seu povo, opondo-se aos castelhanos no momento determinante
em que se forjava a nossa nacionalidade.
DESE
NVO
LVIM
ENTO
E C
OESÃ
O SO
CIAL
141
Quero agradecer, Senhor Presidente da Câmara, as palavras que me dirigiu e
a receção que nos foi proporcionada no início destes dias de comemorações,
tempo de reflexão sobre o que fomos, o que somos e o que queremos ser.
Minhas Senhoras e meus Senhores
A Praça onde solenemente se ergueu esta manhã a Bandeira Nacional ostenta o
nome do grande poeta que nesta data comemoramos. Luís de Camões é símbolo
maior da Língua Portuguesa, património que nos coloca no centro nevrálgico
de uma comunidade de milhões de pessoas, com as quais temos relações únicas
de proximidade.
No seu LabirintodaSaudade, Eduardo Lourenço, que Portugal reconhece como
um dos seus grandes pensadores, diz-nos que Camões é “expressão exemplar de
um momento da nossa existência histórica e da aventura mais vasta da expansão
do Ocidente”.
Contudo, alerta-nos precisamente para a necessidade de não nos deixarmos
enredar no labirinto saudosista que a epopeia camoniana pode sugerir.
Os Guardenses conhecem por Jardim do Medo um labirinto desta cidade, jus-
tamente pelo sentimento que pode evocar o desconhecimento do caminho a
seguir. No labirinto que, enquanto povo, a História nos reservou, experimenta-
mos momentos de dificuldades.
Questionámo-nos sobre onde começámos a trilhar esta vereda, compreendemos
como e porque chegámos aqui. É fundamental que evitemos erros passados,
para que no futuro as novas gerações não tenham de voltar a fazer os mesmos
sacrifícios.
Finalmente, vemos para onde nos devemos dirigir. Com os olhos postos no hori-
zonte que é o nosso futuro, temos de, em conjunto, no tempo presente, reencon-
trar o rumo certo para o nosso país.
É tempo de o medo dar lugar à esperança.
Muito obrigado.
DESE
NVO
LVIM
ENTO
E C
OESÃ
O SO
CIAL
143
Cerimónia Comemorativa dos 900 Anos do Foral de Arganil
Arganil,7desetembrode2014
Foi com muito gosto que aceitei o convite para participar na celebração do Dia
do Município, associada também, neste ano de 2014, às comemorações dos 900
anos da outorga do primeiro Foral a Arganil e dos 500 Anos do Foral Manuelino.
Agradeço as palavras que os Senhores Presidentes da Câmara Municipal e da
Assembleia Municipal me dirigiram e a entrega da Medalha de Ouro do Muni-
cípio, que muito me honra.
Este é um ano pleno de efemérides para esta terra milenar, onde as preocupa-
ções com a organização social, económica, fiscal e judicial são mais antigas do
que a nossa nacionalidade, pergaminhos que atestam a importância histórica
da vila de Arganil.
Ao longo dos séculos, as populações procuraram locais para se estabelecer onde
tivessem segurança e bem-estar. Sabemos que os encontraram aqui, em Arganil,
e em tantos povoados do interior.
Desse passado mais longínquo faz parte uma interessante coleção de pesos de
bronze – que tive oportunidade de ver há pouco – doada a Arganil em 1499 pelo
Rei D. Manuel I, o mesmo que, poucos anos depois, lhe concederia o foral novo.
A padronização dos pesos e medidas foi um avanço muito importante na luta
pela segurança e justiça no país e um passo essencial para o desenvolvimento
da economia. Já então havia a preocupação de que todos os portugueses fossem
tratados de forma igual e justa. Esta é uma exigência que se mantém e que ultra-
passa em muito os pesos e medidas.
Sabemos que, com o correr dos séculos, daqui partiram muitos na busca legítima
de um futuro melhor. Ainda assim, alguns regressaram e outros chegaram e
estabeleceram-se nestas terras de Arganil.
Até há poucas décadas, o isolamento de muitas das nossas vilas e aldeias parecia
inultrapassável. As vias de comunicação e as novas tecnologias quebraram esse
isolamento.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
144
Arganil está hoje mais perto dos centros urbanos. A ação concertada da Admi-
nistração Central e Local permitiu também dar melhores condições de vida aos
seus habitantes. Esta é uma realidade incontestável.
Não faz grande sentido, por isso, que se cultive um saudosismo nostálgico do
que foram os tempos passados destas terras do interior.
A interioridade, mais do que um estigma, tem de ser um estímulo. Para que, com
engenho e arte, se encontrem novos caminhos de crescimento e de afirmação
identitária. A alteração que se tem vindo a verificar na base económica do con-
celho de Arganil é disso um bom exemplo.
A interioridade não nos pode desanimar, nem pode servir apenas para reivindi-
car compensações por desvantagens que a combinação da Geografia e da His-
tória possam representar.
Temos de saber olhar para os recursos endógenos de cada região, para o que de
único e especial existe nestas terras. Temos de assumir o desafio de melhorar a
vida destes concelhos a partir daquilo que é a sua realidade.
É nesse espírito, justamente, que vejo a realização, aqui em Arganil, da centenária
Feira de Mont´Alto e da inovadora FICABEIRA. O facto de as duas feiras se reali-
zarem em simultâneo revela que se compreende e valoriza o contributo distinto
de cada uma delas para a atração de turistas e para o desenvolvimento local.
A Feira de Mont´Alto seduz pela exposição dos produtos e das atividades arte-
sanais e pela divulgação da gastronomia tradicional. A FICABEIRA – Feira das
Atividades Industriais, Comerciais e Agrícolas da Beira Serra contribui, desde
1980, para o desenvolvimento económico desta região.
Senhor Presidente da Câmara Municipal
Minhas Senhoras e meus Senhores
Há que promover o aproveitamento sagaz e consciente das paisagens de grande
beleza natural que por aqui se abrem à nossa passagem, com águas cristalinas,
praias fluviais e percursos inspiradores. Nesse sentido tem vindo a trabalhar a
Câmara Municipal.
Há que aperfeiçoar redes turísticas que convocam toda a região, como são os
casos das Aldeias Históricas e das Aldeias de Xisto, pelas particularidades que
guardam para os seus visitantes.
DESE
NVO
LVIM
ENTO
E C
OESÃ
O SO
CIAL
145
É importante que este seja um trabalho continuado e com maior divulgação
nacional e internacional. É, sobretudo, fundamental que haja uma interação de
todos, que vá para além das fronteiras de cada município.
O que podemos ganhar do trabalho em conjunto, devidamente coordenado e com
um objetivo comum, é seguramente mais do que a soma dos esforços individuais
com objetivos dispersos.
No nosso país, cabe às autarquias um papel insubstituível, que alia o conheci-
mento da realidade local com a capacidade de intervenção junto de entidades
regionais e governamentais. Aos autarcas cabe uma ação positiva e criativa
que possibilite a preservação e a rentabilização dos recursos. Cabe-lhes hoje,
também e cada vez mais, apoiar e mobilizar a iniciativa privada, sinalizando
os recursos do seu concelho, procurando investimento e criação de emprego.
Cumpre aos autarcas, como a todas as entidades públicas, levar a cabo uma gestão
equilibrada, rigorosa e consciente dos orçamentos que lhes estão atribuídos. As
populações já perceberam que os desperdícios e as extravagâncias orçamentais a
nível municipal, tal como a nível nacional, prejudicam as suas condições de vida.
Importa também destacar o papel desempenhado pelos autarcas no apoio social
aos cidadãos mais atingidos pela crise que o País viveu nos anos recentes e de
que se encontra agora em condições de sair, fruto da perseverança, espírito de
combate e sentido de responsabilidade dos Portugueses.
Minhas Senhoras e meus Senhores
Portugal vai começar a utilizar, muito em breve, os fundos de um novo Quadro
Comunitário de Apoio. Os fundos europeus são um instrumento essencial para
incentivar o crescimento da nossa economia e a criação de emprego qualificado.
Neste novo quadro comunitário, a aposta deixará de incidir nas infraestruturas
para passar a centrar-se no apoio às empresas, para o fomento da inovação e
da competitividade. Haverá, além disso, um reforço de verbas para as regiões
menos desenvolvidas do país. Pretende-se que estes fundos não constituam um
benefício efémero, mas antes que sejam utilizados para gerar riqueza e emprego
de forma duradoura.
O bom aproveitamento de mais esta oportunidade que a integração europeia
nos dá é um imperativo para o nosso país.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
146
Apesar do caminho já percorrido, das reformas realizadas e dos resultados
positivos alcançados, é evidente que há ainda muito por fazer e que os tempos
adversos não acabaram. Devemos desconfiar das promessas ilusórias de um
futuro de facilidades e pouco exigente.
Portugal não pode voltar a regredir na sua competitividade face ao exterior. Não
podemos permitir que um novo desequilíbrio das contas externas e das finanças
públicas ponha em causa o futuro dos nossos filhos e dos nossos netos. Temos
a responsabilidade de lhes dar um horizonte de esperança.
Os portugueses do interior e os do litoral, os do Sul e os do Norte, os mais novos
e mais velhos, independentemente das suas convicções, todos ambicionam um
país mais justo e mais próspero.
Mais do que uma aspiração legítima, trata-se de um desígnio nacional, um desíg-
nio que requer a mobilização de todos. Mais do que nunca, Portugal precisa da
coesão dos Portugueses.
Neste Dia do Município, em que Arganil celebra datas marcantes da sua história,
a todos dirijo as minhas saudações e os meus votos de um futuro auspicioso
para esta região.
Muito obrigado.
DESE
NVO
LVIM
ENTO
E C
OESÃ
O SO
CIAL
147
Visita ao Concelho de Borba
Borba,10denovembrode2014
Foi com muito gosto que aceitei o convite para visitar o concelho de Borba,
associando-me também à inauguração deste novo equipamento da Santa Casa
da Misericórdia.
Borba, cidade do interior profundo do nosso país, tem o seu nome ligado a uma
das mais emblemáticas adegas da região alentejana, cujo mais recente investi-
mento tive há pouco oportunidade de conhecer.
Trata-se de uma infraestrutura assinalável, visando a modernização e o reforço
da posição internacional de uma empresa que, reunindo 300 viticultores asso-
ciados, é uma instituição incontornável nesta região e essencial para o desen-
volvimento económico e social do concelho.
A experiência de décadas da Adega Cooperativa de Borba, referência na quali-
dade dos Vinhos do Alentejo e a caminhar para o seu sexagésimo aniversário,
alia-se hoje, com este mais recente investimento, à tecnologia avançada e à
inovação.
Felicito vivamente a Adega de Borba e a sua Administração por terem abraçado
o desafio de afirmação e crescimento da empresa.
Minhas Senhoras e meus Senhores
A celebração dos 490 anos da Santa Casa da Misericórdia de Borba é uma opor-
tunidade para refletirmos sobre o papel que estas instituições de solidariedade
podem e devem assumir na economia social das regiões em risco de desertifi-
cação humana.
O concelho de Borba, nos últimos 50 anos, terá reduzido em 70 por cento o
número de crianças. Em compensação, multiplicou por quatro o número de ido-
sos. Compreende-se, assim, que a Santa Casa da Misericórdia de Borba tenha
dirigido uma grande parte do seu esforço para o apoio aos seus idosos.
É bom que as comunidades locais não esqueçam os segmentos mais frágeis
da população e lhes proporcionem, depois de uma vida de trabalho e, quantas
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
148
vezes, de muito sacrifício, as condições para que tenham um envelhecimento
com dignidade e bem-estar. Mas é necessário olhar atentamente para a susten-
tabilidade demográfica destas comunidades, para as condições de segurança
e estabilidade que permitam às famílias assegurar a renovação das gerações.
O conceito de Aldeia Social vai nesse sentido, integrando no mesmo espaço de
convivência as sucessivas gerações de Borbenses, de forma a criar o indispen-
sável espírito de comunidade, onde os mais velhos podem transmitir aos mais
novos os valores e as bases da identidade local, que lhes permitam ganhar o
apego à terra onde crescem e onde é importante que continuem a viver.
Saúdo e dou os parabéns à Mesa da Misericórdia de Borba pela determinação e
pelo empenho que evidencia, indo ao encontro das necessidades de bem-estar
e de envelhecimento ativo da população do concelho, assim como pela ideia de
criar este espaço onde o presente e o futuro se encontram.
Senhor Presidente da Câmara Municipal
Minhas Senhoras e meus Senhores
O concelho de Borba mantém o seu dinamismo naquilo que é o traço de identi-
dade da sua atividade económica: a produção vinícola, os azeites e os mármores.
O esforço de internacionalização que os empresários deste concelho têm vindo
a desenvolver merece reconhecimento público, pelo potencial que pode repre-
sentar para a regeneração demográfica das regiões do interior.
Sem a projeção internacional dos produtos da região, não será possível con-
solidar a base produtiva local e, sem esta, dificilmente se conseguirá manter o
dinamismo económico e social e assegurar a renovação das gerações.
O novo Quadro Comunitário de Apoio será, nesse aspeto, uma oportunidade a
não desperdiçar.
Como tenho vindo a sublinhar, prevê-se, neste quadro plurianual 2014-2020,
um reforço de verbas para as regiões menos desenvolvidas do País, centrado no
objetivo da competitividade das empresas e seu desenvolvimento e crescimento
e na criação de emprego.
Trata-se de uma prioridade nacional.
Trata-se de um esforço que visa, afinal, a concretização de um desígnio que
a todos nos convoca: a coesão territorial.
DESE
NVO
LVIM
ENTO
E C
OESÃ
O SO
CIAL
149
E, neste esforço, cabe naturalmente às autarquias um papel insubstituível.
Cabe aos autarcas do nosso país aliar o conhecimento profundo e direto das
necessidades das populações e das virtualidades do concelho a uma visão
de futuro e a uma criatividade mobilizadora. É aquilo que tem sido feito pela
Câmara Municipal de Borba.
O trabalho com os empresários e com os jovens, o apelo ao empreendedorismo
e ao investimento são essenciais para que não se desperdice mais esta oportu-
nidade que a integração europeia nos proporciona.
Minhas Senhoras e meus Senhores
Reitero os meus agradecimentos pelo convite para estar hoje convosco aqui em
Borba e renovo as minhas felicitações à Misericórdia por este novo equipamento
que fica ao serviço dos Borbenses.
Faço votos para que a cidade e o concelho possam desenvolver-se, criando
riqueza sustentável e emprego, de modo a que estas crianças, que hoje nos rece-
beram, aqui cresçam e aqui tenham condições para vir a permanecer.
É um apelo e um incentivo que vos deixo, à criatividade, à inovação, ao empreen-
dedorismo, ao aproveitamento do muito de bom que esta terra tem para nos dar.
É uma tarefa que a todos diz respeito.
Obrigado.
DESE
NVO
LVIM
ENTO
E C
OESÃ
O SO
CIAL
151
Visita ao Concelho de Estremoz
Estremoz,10denovembrode2014
É com muito gosto que visito hoje a cidade de Estremoz, baluarte de defesa do
país ao longo dos séculos, “notável vila” onde não se fez apenas guerra, mas onde
também se garantiu paz.
Comecei a minha visita, precisamente, no Convento de São Francisco, casa do
Regimento de Cavalaria n.º 3 – os Dragões de Olivença –, a mais antiga uni-
dade do Exército Português. Quis, desse modo, manifestar o reconhecimento
do Comandante Supremo das Forças Armadas e da Pátria a esta unidade, que
esteve sempre na linha da frente na defesa do nosso país.
Deste regimento partiram militares em momentos decisivos da nossa História.
Desde a Guerra Peninsular à Grande Guerra e à Guerra do Ultramar, e também
no dia 25 de abril de 1974, com uma coluna que foi essencial ao sucesso da revo-
lução que nos devolveu a liberdade.
A instituição militar, tantas vezes alvo de crítica injusta e precipitada, tem estado,
está e estará sempre pronta a defender a soberania nacional e a representar as
cores nacionais quando os compromissos internacionais o requeiram.
O Regimento de Cavalaria n.º 3 identifica-se de forma muito especial com Estre-
moz e tive oportunidade de verificar hoje como, para além de cumprir a sua
missão militar, se torna útil à comunidade.
Felicito-o, Senhor Presidente da Câmara, pelo seu empenho no aprofundamento
da relação entre a Cidade e o Regimento.
Minhas Senhoras e meus Senhores
Estive há pouco na belíssima Adega do jovem Tiago Cabaço, empreendedor cuja
visão e criatividade associa, de forma notável, a inovação, o design e o marke-
ting à criação e promoção dos seus vinhos. Estamos perante um representante
de uma nova geração de produtores alentejanos, que tem sabido proporcionar
novas experiências e criar novos sabores e que, em poucos anos, já foi premiado
em diversas ocasiões.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
152
Tiago Cabaço sabe, em particular, fazer uma coisa essencial: promover o seu
produto. Na verdade, é necessário que o produto tenha a maior qualidade. Mas
não basta: num mercado fortemente concorrencial, é indispensável que o vinho
seja muito bem promovido.
Os principais produtores estão hoje bem cientes de que o vinho é uma com-
ponente de um negócio que dá emprego a cada vez mais portugueses e que se
revela um poderoso fator de desenvolvimento.
O enoturismo é hoje uma realidade em crescimento e as grandes adegas atraem
cada vez mais pessoas com propostas que incluem visitas, passeios, provas de
vinhos e de gastronomia local, além de outras atividades.
E as autarquias locais sabem que a sua colaboração ajuda a transformar o que
era uma atividade tradicional num polo de desenvolvimento local que não pode
ser descurado nem deixado em segundo plano.
Felicito Tiago Cabaço pela sua iniciativa, pela sua visão e pelos méritos que já
demonstrou, fazendo votos para que outros sigam o seu exemplo, não apenas na
área do vinho mas também noutras áreas de negócio, aproveitando da melhor
forma os fundos comunitários que, neste novo quadro plurianual, estão vocacio-
nados para o apoio às empresas e para a criação de emprego.
Senhor Presidente da Câmara Municipal
O convite que me endereçou para visitar Estremoz mencionava este Palácio dos
Marqueses da Praia e Monforte.
Felicito-o pela feliz recuperação deste Património da Cidade, devolvido à popula-
ção como espaço cultural, e faço votos para que possa ser novamente um espaço
privilegiado de reunião dos Estremocenses.
Defender Estremoz é também defender os valores mais característicos do nosso
País. Diria, por isso, que além do mármore que tão importante valia económica
representa para o concelho e para a região, também os Bonecos de Estremoz
devem ser salvaguardados e potenciados como símbolo da Cidade.
Tive oportunidade de contactar com artesãos e de ver as diferentes fases de
elaboração dos Bonecos de Estremoz, legado dos nossos antepassados que
é marca desta terra. Recordo que, no início do século passado, os Bonecos
estiveram quase a perder-se para sempre. É uma responsabilidade de todos
DESE
NVO
LVIM
ENTO
E C
OESÃ
O SO
CIAL
153
os estremocenses tudo fazer para que não se volte a correr o risco de perder
esta tradição e para que os Bonecos possam perdurar como singular expressão
artística e simbólica.
O barro informe, retirado do chão, modelado pela mão de homens e mulheres
talentosos, é transformado em qualquer coisa de útil ou de belo. No final desta
minha visita ao concelho de Estremoz, levo bem nítida a convicção de que as
tradições valiosas devem ser preservadas, mas também de que depende de
nós a capacidade para melhorar, para inovar, para criar e para ultrapassar
as dificuldades.
DESE
NVO
LVIM
ENTO
E C
OESÃ
O SO
CIAL
155
Visita a Castelo de Vide
CastelodeVide,29denovembrode2014
É com enorme satisfação que hoje me encontro aqui convosco, nesta vila de
Castelo de Vide.
Na reabertura do tão bem renovado Cineteatro Mouzinho da Silveira, este con-
certo que o grupo Os Almocreves nos ofereceu foi uma comovente forma de
assinalar mais um feito para a cultura e para a identidade portuguesas: a inclu-
são do Cante Alentejano no Património Imaterial da Humanidade, onde agora
se juntou ao Fado.
O reconhecimento internacional desta forma de expressão tão genuína e singu-
lar enche-nos a todos de orgulho e deve servir de estímulo para que as novas
gerações saibam ver na riqueza do passado um motivo de esperança num futuro
melhor.
A consagração do Cante Alentejano convoca-nos a olhar para o nosso patrimó-
nio, o edificado e o imaterial, como um ativo estratégico para o nosso país, algo
que nos foi legado, que devemos valorizar e preservar, mas que devemos tam-
bém saber potenciar como fator de atração turística e de promoção da qualidade
de vida das populações.
Nas vozes destes homens, na autenticidade do seu canto, sentimos o pulsar de
Portugal e do Alentejo. É a alma do nosso povo, a força dos Portugueses que ali
ouvimos. A beleza da sua cadência polifónica é de tal modo característica do
Alentejo que, onde quer que o ouçamos, nos sentimos transportados para esta
extraordinária região do nosso país.
A inclusão do Cante Alentejano no Património Imaterial da Humanidade projeta
e valoriza, para além das nossas fronteiras, a imagem do Alentejo, da cultura
portuguesa e de Portugal inteiro.
Quero felicitar todos os que se empenharam no sucesso da candidatura.
Agradeço, muito especialmente, aos que, com a força da sua voz, se dedicam
à salvaguarda desta arte única no Mundo.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
156
Minhas Senhoras e meus Senhores
Castelo de Vide é herdeira de uma história riquíssima, feita da confluência de
diferentes tradições culturais e espirituais.
O Rei D. Pedro V terá chamado a esta terra a “Sintra do Alentejo”, pela beleza de
cada recanto e pela frescura da Serra que a envolve. A esta beleza surge aliada
a hospitalidade das gentes do Alentejo, que saúdo de forma muito fraterna e
calorosa.
Visitei há pouco as instalações de uma empresa que recolhe em terras de Cas-
telo de Vide, nas fontes desta Serra, a água que está presente na mesa de tan-
tos portugueses. Essa água, aliás, é também apreciada em paragens bem mais
longínquas. Basta referir que, em 2013, foram exportados sete milhões de litros
recolhidos nas captações da Serra de São Mamede.
Nestas terras do interior profundo do nosso país, onde são sempre mais os que
partem do que os que permanecem, o bom aproveitamento dos recursos natu-
rais e do património cultural e paisagístico representa oportunidades que não
podemos desperdiçar.
Como tenho vindo a sublinhar em diversas ocasiões, atualmente é aos autarcas
que, em larga medida, cabe dinamizar o interior, aproveitando as suas potencia-
lidades económicas e valorizando, ao mesmo tempo, a criatividade e a audácia
das populações.
É essencial atrair pessoas, investimento, turistas, eventos, empresas e institui-
ções. Sabemos todos como isso é importante.
Mas, no caso particular de Castelo de Vide, é necessário olhar também para a
sua identidade histórica. É isso que tem feito a Câmara Municipal de Castelo de
Vide, que saúdo na pessoa do seu Presidente.
Encontramos aqui um dos exemplos mais importantes e bem preservados da
presença judaica em Portugal. Foram cometidos, em diversas fases da nossa
História, erros graves contra os judeus, atos de perseguição que muito lamen-
tamos e repudiamos. Ultrapassámos há muito esses erros. Aprendemos a lição
da tolerância. Sabemos conviver com a diversidade das nossas origens e com a
pluralidade das nossas ideias.
A Rede de Judiarias de Portugal, da qual Castelo de Vide faz parte, e que inclui
também a comunidade judaica em Portugal, é um excelente exemplo de como,
DESE
NVO
LVIM
ENTO
E C
OESÃ
O SO
CIAL
157
no mesmo país, pode existir uma relação de amizade e de respeito mútuo entre
diferentes tradições religiosas e espirituais.
Portugal é uma pátria de tolerância, um país coeso e plural. Enquanto, pelo
mundo, vemos sinais preocupantes de recrudescimento do racismo, da xenofo-
bia, da intolerância religiosa, o nosso país afirma-se como uma terra onde todos
podem conviver, no respeito pelas diferenças de cada um.
Senhor Presidente da Câmara
Agradeço-lhe, uma vez mais, o convite para visitar Castelo de Vide e esta expe-
riência do Alentejo que nos proporcionou.
Faço votos para que esta vila continue a preservar a sua beleza e a riqueza do seu
legado multicultural. Estou certo de que, com o contributo de todos, serão aber-
tas novas vias de desenvolvimento e de atração de investimento que irão tornar
cada vez mais expressivo o número dos que aqui vivem e dos que aqui chegam.
Muito obrigado.
DESE
NVO
LVIM
ENTO
E C
OESÃ
O SO
CIAL
159
Cerimónia de Entrega das Medalhas de Ouro do Eixo Atlântico do Noroeste Peninsular
Corunha,19defevereirode2015
Permitam-me que comece por saudar Vossas Majestades e agradecer a hospita-
lidade com que nos acolheram nesta bela cidade da Corunha.
Esta deslocação à Galiza tem, para mim, um significado particular, uma vez que
esta é a minha primeira visita a Espanha desde a proclamação de Vossa Majes-
tade. Não poderia deixar de assinalá-lo e de manifestar a imensa satisfação que
minha Mulher e eu temos em aqui estar hoje.
Foi, pois, com o maior agrado que aceitei o convite para participar nesta cerimó-
nia de entrega das Medalhas de Ouro do Eixo Atlântico do Noroeste Peninsular.
Para mim, é-me sempre grato regressar à Galiza, onde, além do mais, tive a
honra de receber o Doutoramento HonorisCausa pela Universidade da Corunha.
Gostaria de felicitar os agraciados pela sua ação e pela distinção que hoje rece-
beram.
É com enorme gosto que me encontro entre esta plateia tão representativa das
relações que temos hoje entre a Região da Galiza e o Norte de Portugal, mas
também representativa do relacionamento entre portugueses e espanhóis e do
projeto europeu que partilhamos.
O Eixo Atlântico, associação transfronteiriça de municípios, integra 38 cidades,
tendo como objetivo o desenvolvimento económico, social, cultural, científico e
tecnológico desta eurorregião e dos municípios urbanos e regiões aderentes.
Através desta cooperação, pretende-se também uma aproximação mais tangível
e consistente à União Europeia, otimizando os apoios comunitários a projetos
que contribuam para o progresso e crescimento deste espaço regional.
As infraestruturas, os transportes, as telecomunicações, a proteção do ambiente,
o turismo, os mercados de trabalho, tal como as atividades sociais, culturais, aca-
démicas e desportivas, são setores de interesse e intervenção do Eixo Atlântico.
Estes domínios de atuação constituem uma rede de cooperação assinalável, cuja
ação tem repercussões concretas e visíveis na vida das populações, melhorando
o dia-a-dia dos cidadãos.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
160
Do ponto de vista das relações bilaterais de Portugal com Espanha, o Norte de
Portugal e a Galiza são das regiões mais ativas no domínio da proximidade e
cooperação transfronteiriça.
No que se refere às relações económicas, a sua vitalidade é bem evidente, desde
logo a nível das trocas comerciais e do investimento.
Também do ponto de vista cultural, o relacionamento que tem unido as regiões
ao longo do tempo está bem presente e as iniciativas culturais conjuntas são
frequentes.
Testemunhei hoje, com o Presidente da Junta da Galiza, a assinatura de um
Memorando sobre a adoção do Português como Língua Estrangeira de Opção e
Avaliação Curricular no Sistema Educativo Não Universitário, mais um exemplo
em que a fronteira é traço de união e fator de proximidade.
A Galiza e o Norte de Portugal são regiões que apresentam, graças ao seu cres-
cente desenvolvimento, um elevado potencial económico e que constituem, cada
vez mais, um espaço privilegiado de interação e cooperação, evidenciando bem
a presença e o relevo de interesses comuns no quadro global em que ambos os
nossos países se movimentam.
Majestades
Minhas Senhoras e meus Senhores
Estes últimos anos têm sido um tempo de desafios para o Mundo e, em parti-
cular, para a Europa. Os nossos países sabem-no bem. Num momento em que
tanto necessitamos de uma dinâmica de crescimento económico, de criação de
emprego e de coesão social, acredito que o Eixo Atlântico poderá ter um contri-
buto importante a dar.
Desde 1992 que este projeto tem apostado na cooperação entre os dois lados
da fronteira, com efeitos relevantes na vida das pessoas e das empresas. Na
base deste tipo de iniciativas está, desde logo, a mudança operada, a diversos
níveis, no relacionamento entre as duas regiões. Diria que o Eixo Atlântico deve
sentir-se encorajado a prosseguir a sua missão, aproveitando o enorme potencial
ainda por explorar.
Felicitando uma vez mais os galardoados de hoje, agradeço a todos a vossa pre-
sença e a vossa atenção.
DESE
NVO
LVIM
ENTO
E C
OESÃ
O SO
CIAL
161
Cerimónia de Inauguração da Requalificação da Frente Marítima de S. Bartolomeu do Mar
Esposende,7demarçode2015
Foi com muito gosto que aceitei o convite do Senhor Presidente da Câmara Muni-
cipal para vir até Esposende e presidir à inauguração da obra de requalificação
da frente marítima de S. Bartolomeu do Mar.
Esta é uma oportunidade de dar a conhecer um feliz exemplo de intervenção
urbanística no nosso litoral e um testemunho de como, com diálogo e bom senso,
se conseguem ultrapassar as situações que parecem mais complicadas.
Foi possível aqui, num investimento global de quase 3 milhões de euros, finan-
ciado em 70 por cento pelo Programa Operacional de Valorização do Território
do QREN e cofinanciado, nos restantes 30 por cento, pelo Estado Português e
pelo Município de Esposende, levar a cabo, de forma ordenada e pacífica, a demo-
lição de 27 edificações.
Não há dúvida de que esta obra teve um custo sentimental para os que aqui
tinham as suas habitações, mesmo que não ocupadas há algum tempo. Importa
por isso sublinhar o elevado sentido de responsabilidade demonstrado pelos
proprietários nas negociações com o Município.
Devemos todos ter consciência do impacto dos eventos meteorológicos extremos
e da subida do nível do mar na nossa costa. Este impacto não é uma hipótese
de baixa probabilidade. É uma realidade, mensurável em dezenas de metros de
falésias consumidas pelo mar ao longo das últimas décadas, aqui em S. Bartolo-
meu do Mar, tal como no Algarve e em tantos pontos sensíveis da nossa costa.
Apesar da grande diversidade da composição geológica do nosso país, encon-
tramos, de Viana do Castelo a Vila Real de Santo António, passando por Aveiro
ou Peniche, pela Figueira da Foz ou pela Costa Alentejana, dezenas de locais
vulneráveis, falésias sujeitas a rápida erosão, dunas em perigo e localidades
expostas ao avanço do mar.
Eventos como as tempestades que, nos últimos invernos, assolaram com grande vio-
lência a nossa costa, causando estragos em equipamentos e infraestruturas públicos
e privados, têm vindo a tornar-se mais frequentes e a assumir maior intensidade.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
162
A erosão tem modificado de forma notória muitas paisagens que conhecíamos
de toda a vida. Mas põe também em perigo habitações e vias de comunicação,
levando à necessidade de medidas que, não raras vezes, são muito difíceis de
tomar.
É fundamental que o apelo à adoção de medidas preventivas e defensivas deixe
de ser visto como uma excentricidade de ambientalistas e de investigadores do
fenómeno.
É uma tarefa que cabe a todos, desde o Governo às autarquias do extenso lito-
ral português, passando pelas Comissões de Coordenação e Desenvolvimento
Regional e pelas entidades responsáveis pelo Ambiente.
E é também uma tarefa urgente, na medida em que demorará a surtir efeito.
Impõe-se a elaboração de mapas de risco a nível local e a sua incorporação
nos Planos Diretores Municipais dos Municípios do litoral. Este procedimento
deverá, aliás, acautelar não tanto a realidade expectável na próxima década,
mas a realidade do século ou, pelo menos, dos próximos cinquenta anos. É uma
obrigação que temos para com as gerações vindouras.
Trata-se de um planeamento que implicará a adoção de medidas que, apesar de
inevitáveis, podem ser impopulares, pelo que deverão ser acompanhadas por
uma pedagogia paciente, clara e objetiva.
Os autarcas devem ter em devida conta a elegibilidade, no quadro do Portugal
2020, destas medidas de adaptação da costa portuguesa aos fenómenos meteo-
rológicos extremos e às alterações climáticas.
As ações de proteção da nossa costa terão seguramente de passar por demoli-
ções, como foi o caso aqui em S. Bartolomeu do Mar, e por mudanças de hábi-
tos das populações, para que se consiga atingir um reordenamento territorial
capaz de evitar pressão sobre as zonas sensíveis e de prevenir consequências
indesejáveis.
Senhor Ministro
Senhor Presidente da Câmara Municipal
Minhas Senhoras e meus Senhores
A dispersão da construção no nosso país e o reduzido peso que, até agora, tem
assumido a reabilitação urbana, resultam hoje na existência não apenas de um
DESE
NVO
LVIM
ENTO
E C
OESÃ
O SO
CIAL
163
número de fogos habitacionais muito superior ao necessário para a nossa popu-
lação, mas, sobretudo, de centros históricos vazios, abandonados e, não raras
vezes, descaracterizados.
Um melhor ordenamento do nosso território, com centros das localidades reabi-
litados e onde volte a haver vida, deve ser uma prioridade dos decisores públicos.
A investigação universitária de elevada qualidade que hoje existe em Portugal,
quer em termos de evolução geomorfológica, quer em termos de urbanismo,
deve ser posta ao serviço das entidades a quem cabe decidir em matéria de
ordenamento.
Termino felicitando o Município de Esposende pela intervenção que aqui foi
realizada, pelo exemplo que representa para os autarcas do nosso país, e espero
que, no próximo dia 24 de agosto, aqui se volte a cumprir a tradição da romaria
e dos famosos banhos-santos de S. Bartolomeu do Mar.
Muito obrigado.
SAÚ
DE, E
DUCA
ÇÃO,
CIÊ
NCI
A E
CULT
URA
169
Cerimónia de Reabertura da Charola do Convento de Cristo
Tomar,16deabrilde2014
O restauro da Charola do Convento de Cristo é um dos trabalhos mais marcantes
de reabilitação do património histórico-cultural português das últimas décadas.
Não podia, por isso, deixar de me associar, com muito gosto, a este momento
especial.
O Convento de Cristo, Património da Humanidade, assume uma particular
importância histórica e artística, pela sua ligação, primeiro, com a reconquista
do território nacional, e, depois, com a epopeia da expansão marítima. Foi tam-
bém sede da Ordem dos Templários em Portugal e, mais tarde, sede da Ordem
Militar de Cristo. Testemunho magnífico da evolução da arquitetura monástico-
-religiosa, o Convento é, simultaneamente, um dos melhores exemplos de arqui-
tetura templária do Mundo.
Ao longo dos meus mandatos, tenho prestado atenção particular à valorização
do nosso património material e imaterial.
A preservação do património cultural, enquanto marca de civilização e de reco-
nhecimento da memória histórica, é o principal fator de identidade de um povo.
Mas constitui, igualmente, um ativo de grande peso na resposta aos desafios do
presente e do futuro.
Importa sensibilizar as instituições, as autarquias, as empresas, os cidadãos,
para que não se perca o imenso e valioso património monumental que nos foi
legado. A sua conservação a todos interpela e deve ser obra de todos. Portugal
tem, além do mais, património classificado pela UNESCO que representa um
enorme potencial de atração turística e que não podemos deixar de preservar
e de divulgar.
O Convento de Cristo desempenha, nessa perspetiva, um papel insubstituível
para a Cidade de Tomar e para toda a região do Centro de Portugal. Muito justa-
mente, a Charola do Convento de Cristo, com a singular riqueza iconográfica que
carrega, é considerada uma das joias arquitetónicas e artísticas do nosso país.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
170
Felicito a CIMPOR por ter assumido como seu o mecenato para a recuperação
da Charola. No quadro da dimensão social e cultural da empresa, soube identi-
ficar um objetivo preciso, cumprir o calendário definido e assegurar o processo
complexo e delicado de restauro e preservação desta obra-prima.
Trata-se de um exemplo que merece ser divulgado.
Convido outras empresas a fazerem como a CIMPOR e a tomarem a seu cargo
algum dos muitos monumentos que, por todo o país, continuam à espera de
obras de conservação.
Infelizmente, não faltam oportunidades de atuação para quem queira ajudar na
preservação do nosso património e, desse modo, cumprir as suas responsabili-
dades para com a sociedade.
Deixo, por isso, além de uma viva palavra de felicitações à CIMPOR, uma palavra
de incentivo para que o mecenato empresarial venha, cada vez mais, a contribuir
para o enriquecimento cultural e económico do nosso país.
SAÚ
DE, E
DUCA
ÇÃO,
CIÊ
NCI
A E
CULT
URA
171
Sessão de Encerramento do Colóquio “O Valor das Línguas”
Xangai,14demaiode2014
É para mim uma grande honra ser recebido na Universidade de Estudos
Internacionais de Xangai. Quero, por isso, agradecer o convite que me diri-
giram para encerrar este Colóquio, uma iniciativa conjunta da Universidade
de Estudos Internacionais de Xangai e do Camões – Instituto da Cooperação
e da Língua. Quero agradecer ainda a calorosa hospitalidade com que esta
comunidade académica recebeu a delegação portuguesa que me acompanha
na Visita de Estado à China.
A excelência dos intervenientes neste fórum vem enriquecer, de uma forma
muito particular, a reflexão sobre um tema de grande atualidade. Desde há muito
que tenho manifestado especial interesse pela questão central deste Colóquio,
ovalordaslínguas. Nos diversos contactos que tenho mantido, em Portugal e no
estrangeiro, tenho procurado sublinhar o valor da aprendizagem das línguas e,
em especial, a importância e o potencial da língua portuguesa.
A lusofonia, enquanto ativo de Portugal no Mundo, é uma valia estratégica do
nosso país. Neste contexto, a língua e a cultura devem ser encaradas como dois
eixos que se reforçam mutuamente. A língua é o veículo de uma cultura; a cul-
tura, na sua riqueza e diversidade, reflete a densidade da linguagem.
Pelo facto de ser uma língua partilhada por diferentes países e culturas, em con-
tinentes diversos, a língua portuguesa reveste-se, atualmente, de um acrescido
valor cultural, económico e geopolítico. Contudo, o potencial da língua portu-
guesa não constitui uma realidade inteiramente nova.
A verdade é que, durante séculos, o português foi a língua de negócios em África
e na Ásia. Era, de igual modo, um importante veículo de conhecimento. Nesta
primeira globalização, a língua portuguesa revelou também a capacidade de
se assumir como um instrumento de comunicação entre povos com visões do
mundo muito diferentes. Há 500 anos, o português tornou-se uma língua global.
A língua portuguesa retém esta pluralidade, enriquecida diariamente nas ruas
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
172
de Lisboa, Brasília, Maputo ou Díli. Língua oficial de cerca de 250 milhões de
pessoas, o português é um dos idiomas em maior expansão no Mundo, dos mais
utilizados na Internet. O português, importa sublinhá-lo, é a língua mais falada
no hemisfério sul do planeta. Em simultâneo, é língua oficial de várias organi-
zações internacionais, incluindo a União Europeia, a União Africana e a Comu-
nidade Ibero-Americana. A escala global do português é ainda reforçada pelas
diásporas dos diversos países de língua portuguesa.
Aquando da Presidência portuguesa da Comunidade dos Países de Língua Por-
tuguesa, a escolha do tema “A Língua Portuguesa: Património Comum, Futuro
Global” para a Cimeira que teve lugar em Lisboa, em 2008, procurou lançar
a reflexão sobre a importância da conjugação de esforços na prossecução de
políticas que projetassem a Língua Portuguesa internacionalmente. Aqui se
preparou o caminho para a adoção do Plano de Ação de Brasília e, mais recen-
temente, do Plano de Ação de Lisboa, que estabeleceram um conjunto de estra-
tégias conjuntas para a promoção e a difusão da língua portuguesa. O Plano de
Ação de Lisboa definiu duas grandes áreas de incidência: a língua portuguesa
no reforço do empreendedorismo e da economia criativa; e a língua portuguesa
no desenvolvimento científico e na inovação.
Com efeito, no contexto da globalização contemporânea, a língua deve ser valo-
rizada, também ela, enquanto vantagem competitiva. Assim se compreende, por
exemplo, o interesse que a aprendizagem do português suscita na China, dado
o elevadíssimo nível de empregabilidade que o conhecimento da língua portu-
guesa aqui garante.
As universidades, cada vez mais, têm-se revelado agentes privilegiados na proje-
ção internacional da língua e da cultura portuguesa. Neste contexto, cabe natu-
ralmente realçar a importância da cooperação entre as academias portuguesas
e chinesas, nas mais diversas áreas do saber.
A prestigiada Universidade de Estudos Internacionais de Xangai tem-se distin-
guido pelo seu dinamismo na cooperação com diversas universidades portugue-
sas de excelência, criando extensas e muito profícuas redes de conhecimento. A
aposta num Centro de Estudos de Portugal e a promoção de iniciativas como o
colóquio que agora se encerra comprovam o papel que a língua portuguesa aqui
detém e o potencial que lhe é reconhecido.
SAÚ
DE, E
DUCA
ÇÃO,
CIÊ
NCI
A E
CULT
URA
173
Saúdo vivamente estas iniciativas e, em particular, a organização deste Colóquio,
pelo sucesso alcançado. Faço votos para que este seminário, de elevadíssimo nível
académico, reforce o crescente interesse pelas questões relacionadas com o valor
das línguas e, em especial, permitam-me que o sublinhe, pelo valor estratégico da
língua portuguesa.
SAÚ
DE, E
DUCA
ÇÃO,
CIÊ
NCI
A E
CULT
URA
175
Visita à Escola Portuguesa de Macau
Macau,18demaiode2014
Muito obrigado pelo maravilhoso sarau de boas-vindas que prepararam para
receber a comitiva portuguesa que vos visita. Quero ainda agradecer o gesto
especial, e que muito nos emocionou, da exposição alusiva a Portugal, com tra-
balhos que pudemos apreciar no caminho pelos corredores da escola até aqui;
Visitei várias outras Escolas Portuguesas pelo Mundo. Nelas encontrei, sem-
pre, pessoas e vontades que muito fazem pela promoção da língua e da cultura
portuguesas.
A Escola Portuguesa de Macau é, porém, especial. Estes alunos e professores
são especiais. Com uma formação orientada para o diálogo intercultural entre
o Oriente e o Ocidente, esta Escola traduz e honra a especificidade cultural de
Macau, marcada pelos seculares laços com Portugal. Simultaneamente, fomenta
a própria diversidade e a riqueza de Macau. Trata-se de um contexto privilegiado
para a promoção da Língua Portuguesa, projetando-a ainda mais na Ásia Oriental.
A Escola Portuguesa de Macau representa um projeto ambicioso. Para além de
dar formação desde o primeiro ciclo até ao ensino secundário ou cursos profis-
sionais, inclui também a possibilidade de frequência de um ano preparatório
destinado aos alunos não falantes da língua portuguesa, oriundos de outros sis-
temas de ensino e que pretendam entrar no sistema português.
Os alunos sairão daqui preparados seja para competir no mercado de traba-
lho, seja para prosseguirem estudos superiores em várias partes do Mundo,
incluindo Portugal. E Portugal, pela sua história e pela sua geografia, é também
uma porta privilegiada de acesso à Europa.
Os vossos estudos são uma importante aposta no futuro. O português é língua
oficial de cerca de 250 milhões de pessoas, em quatro continentes. É língua ofi-
cial de várias organizações internacionais, na Europa, na Ásia, em África e na
América. Atualmente, a língua portuguesa é um dos idiomas em maior expansão
no Mundo e um dos mais utilizados na Internet. É, cada vez mais, uma língua
presente no mundo dos negócios, da cultura e da ciência.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
176
Ter conhecimentos de língua portuguesa é, pois, um valor e um ativo excecional
nos dias de hoje. Tudo começa nos primeiros bancos de escola. E nesta Escola,
onde o ensino do Português, de modo assinalável, já se faz de forma integrada e
em paralelo com a língua chinesa, o futuro é auspicioso.
Desejo-vos, por isso, um bom trabalho, um grande sucesso e agradeço-vos, uma
vez mais, a generosidade e a calorosa simpatia com que nos receberam.
Muito obrigado.
SAÚ
DE, E
DUCA
ÇÃO,
CIÊ
NCI
A E
CULT
URA
177
Visita ao Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto
Porto,20dejunhode2014
O Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto, abreviadamente
conhecido como UPTEC, é um espaço comum de trabalho de cientistas e
investigadores. Mas é também – e acima de tudo – um exemplo notável da
cultura que emerge do relacionamento profícuo entre a universidade e as
empresas.
A ligação à comunidade científica, as condições de apoio aos investigadores para
transformarem os seus resultados em projetos empresariais, e o ambiente de
cooperação entre cientistas são fatores que contribuem para o reconhecido êxito
deste projeto. Mas é, igualmente, a existência de uma visão de longo prazo que
fez a Universidade do Porto assumir-se, através deste Polo de Ciência e Tecno-
logia, como um protagonista ativo no domínio da iniciativa empresarial e na
transferência de conhecimento para a economia.
Na essência da Universidade está sempre um espaço de liberdade, de procura da
verdade, de independência, de criatividade. Mas, enquanto instituição social, a
Academia não pode alhear-se da sua envolvente, não pode deixar de questionar-
-se sobre qual o seu contributo para a sociedade.
Portugal é um caso único na Europa de progresso, num curto período de tempo,
em matéria de ciência e tecnologia.
As universidades portuguesas e os nossos investigadores ombreiam com os
seus pares internacionais em muitas áreas do conhecimento. Para alcançar este
sucesso, o apoio do financiamento público foi decisivo. Sem ele, nunca poderiam
ter-se atingido os resultados que hoje celebramos.
Acontece, contudo, que esta evolução não teve reflexo no perfil de especialização
da economia nacional, que continua maioritariamente assente em setores de
baixa e média intensidade tecnológica.
A atividade e a produção de conhecimento da comunidade científica têm ainda
pouca influência na vida da maioria das empresas nacionais.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
178
Temos de olhar para a infraestrutura científica e tecnológica como um inves-
timento, relativamente ao qual é justo esperar, no entanto, um dado retorno.
Sabemos que o maior incentivo para os investigadores é a publicação em revis-
tas internacionalmente prestigiadas, sendo a aplicação prática do conhecimento
algo secundarizada. Deste modo, a transferência de conhecimento pode subal-
ternizar-se nas prioridades de muitos investigadores universitários.
Para que a universidade tenha maior influência na economia, será necessário
estimular os seus agentes através de um sistema de incentivos que leve a Aca-
demia a tornar-se um protagonista mais ativo na criação de riqueza nacional. É
certo que a Universidade deve buscar o saber, não pode converter-se num agente
dos interesses das empresas. Contudo, há que encontrar um equilíbrio virtuoso
entre o conhecimento teórico e o contributo académico para a comunidade.
Precisamos, pois, de valorizar de forma significativa a investigação aplicada,
quer na progressão da carreira académica, nas áreas consideradas relevantes,
quer, inclusivamente, como critério no financiamento público das universidades.
Com isto, repito, não se trata de diminuir o papel das universidades no sistema
de inovação, mas sim de o reforçar no contexto empresarial.
A ligação fortalecida da Universidade às empresas pode gerar novas unidades
produtivas de base tecnológica, nas quais o investigador deve, também ele,
assumir o papel de empreendedor. É este o caso de muitas das start-ups com
que tenho contactado, desenvolvidas num contexto universitário e criadas por
cientistas e investigadores.
Por outro lado, a relação entre as universidades e as empresas no domínio da
inovação poderá ser reforçada pela disponibilidade das empresas para acolhe-
rem investigadores nos seus quadros.
A elevação do valor acrescentado da produção nacional, essencial ao nosso
futuro coletivo, terá que acontecer por via da maior intensificação tecnológica
nos setores onde o país é competitivo.
A forma como a Universidade se relaciona com o tecido empresarial assume,
por isso, particular relevância. É importante que o conhecimento produzido nos
centros universitários chegue às nossas empresas, gerando riqueza e criando
postos de trabalho.
SAÚ
DE, E
DUCA
ÇÃO,
CIÊ
NCI
A E
CULT
URA
179
Senhoras e Senhores
A UPTEC é um bom exemplo de valorização do conhecimento produzido em
ambiente universitário em áreas de grande potencial económico. Entre essas
áreas, destacam-se as novas tecnologias, a economia do mar, as indústrias cria-
tivas e a biotecnologia.
A UPTEC foi também reconhecida, de resto, como uma das melhores incubado-
ras de empresas da Europa, onde a investigação aplicada faz o seu caminho, dos
laboratórios até aos mercados.
Os projetos empresariais que aqui visitei resultam de uma saudável proximi-
dade entre a academia e a economia e ilustram bem como é possível valorizar o
conhecimento e criar emprego em setores com grande intensidade tecnológica
e elevado valor acrescentado.
Quero, por isso, felicitar a equipa dirigente da UPTEC, na pessoa do seu Presi-
dente, o Professor Novais Barbosa.
Quero igualmente deixar uma palavra de apreço pelo trabalho da equipa Reito-
ral da Universidade do Porto, que brevemente irá cessar funções. O sucesso da
UPTEC é também o resultado de uma visão estratégica quanto ao contributo da
Universidade para o desenvolvimento do país.
A todos vós, cientistas, investigadores, estudantes, docentes e empresários, o
meu muito obrigado. Bem hajam pelo vosso talento e pelo vosso trabalho.
O Professor José Carlos Marques dos Santos completa, em breve, o seu mandato
como Reitor da Universidade do Porto, função que desempenhou com reconhe-
cida competência durante 8 anos. Já antes, havia servido o País com grande
distinção como diretor da Faculdade de Engenharia. Como Reitor, foi decisivo o
seu contributo para a projeção internacional da Universidade do Porto. O Parque
de Ciência e Tecnologia é um resultado bem evidente do seu trabalho, assim
como a ligação ao mundo empresarial e a criação e desenvolvimento da UPTEC.
Como reconhecimento público pelos relevantes serviços prestados à Universi-
dade e ao País, decidi agraciá-lo com a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública
e é com muita honra que lhe irei impor as respetivas insígnias.
SAÚ
DE, E
DUCA
ÇÃO,
CIÊ
NCI
A E
CULT
URA
181
Cerimónia de Concessão de Honras de Panteão Nacional a Sophia de Mello Breyner Andresen
Lisboa,2dejulhode2014
Há precisamente dez anos, Portugal perdeu Sophia de Mello Breyner Andresen.
Com ela, desapareceu uma das personalidades mais carismáticas da nossa lite-
ratura contemporânea. Mas desapareceu também uma cidadã exemplar, um
modelo de retidão moral e uma referência ética da sociedade portuguesa.
No momento em que se realiza a trasladação dos seus restos mortais para o Pan-
teão Nacional, onde a partir de hoje repousará, por direito próprio, ao lado de gran-
des vultos da cultura e da história portuguesas, é justo homenagear também, a par
do seu génio literário, a grandeza cívica e humana por que sempre se distinguiu.
Sophia de Mello Breyner foi grande pela harmonia e a aura dos seus versos, mas
foi igualmente grande pela inteireza do seu caráter. Ambas as dimensões – a
literatura e a vida – constituem na sua biografia dois ramos da mesma árvore,
firme e inabalável. Era como escrevia e escrevia como era: autêntica, inteira na
escrita e na coragem da defesa da justiça e da liberdade.
A obra de Sophia – nome pelo qual ficará para sempre conhecida na nossa memó-
ria – impõe-se hoje em dia como um verdadeiro marco na língua portuguesa. Em
qualquer dos países onde se fala ou se ensina a nossa língua, os seus poemas são
conhecidos e os seus contos são exemplares: no título, na exatidão das palavras
e na sobriedade do estilo.
Sophia é unanimemente considerada um clássico. Enquanto modelo de bem
escrever, ombreia com os maiores poetas e prosadores que ao longo dos séculos
fizeram do português uma língua de cultura.
A sua voz foi ao mesmo tempo moderna e antiga na ligação às raízes portuguesas,
gregas, cristãs.
Camões é o Poeta maior, em quem Sophia de Mello Breyner se revê. Mas Camões
é também, para Sophia, o testemunho de um país onde o poeta foi vítima de inve-
jas e calúnias. Um país “que tu chamaste e não responde / País que tu nomeias
e não nasce”.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
182
É contra esse país do silêncio e da injustiça que Sophia vai erguer a sua voz,
serena mas nem por isso menos veemente, ansiosa por ver raiar no horizonte
“o dia inicial inteiro e limpo”, que tanto a empolgou no momento em que a liber-
dade foi restaurada.
Toda a obra de Sophia é atravessada por um ideal de verdade, coerência e rigor,
que se inspira na Antiguidade Grega, e se exprime na justeza das palavras e no
equilíbrio da arte e da vida.
Conforme ela própria escreveu: “Aquele que vê o espantoso esplendor do mundo
é logicamente levado a ver o espantoso sofrimento do mundo. (…) E é por isso
que a poesia é uma moral. E é por isso que o poeta é levado a buscar a justiça
pela própria natureza da sua poesia”.
Dotada de uma intuição e de uma sensibilidade raras, Sophia de Mello Brey-
ner, além de poeta, foi também uma excecional prosadora, em particular nos
contos infantis, como AMeninadoMar, ou OCavaleirodaDinamarca, textos
admiráveis com que milhares de crianças tiveram o primeiro contacto com a
literatura portuguesa.
Homenagear Sophia de Mello Breyner Andresen é um gesto a que se associam
as várias gerações de Portugueses, irmanados na língua comum, que hoje par-
tilhamos com mais sete povos independentes.
Hoje, como no futuro, temos de ser dignos da Pátria que ela sonhou e pela qual
tanto se bateu, com coragem e com palavras que ficarão para sempre na nossa
memória coletiva.
SAÚ
DE, E
DUCA
ÇÃO,
CIÊ
NCI
A E
CULT
URA
183
Cerimónia de Atribuição do Prémio Champalimaud de Visão 2014
Lisboa,10desetembrode2014
Foi com o maior gosto que acedi ao convite para presidir novamente à cerimónia
de entrega do Prémio Champalimaud de Visão, celebrando, ao mesmo tempo, o
contributo ímpar de um português cuja memória evoco em sinal de reconheci-
mento de todos os nossos cidadãos.
Além da Fundação que instituiu, e que tem sido superiormente dirigida pela
Senhora Dr.ª Leonor Beleza, o valioso legado de António Champalimaud está
bem presente neste Prémio de reconhecida relevância no domínio da visão e
igualmente ao serviço de novos padrões de conhecimento que promovam a
saúde e o bem-estar da Humanidade.
A Fundação Champalimaud é atualmente uma referência, a nível mundial, na
investigação em biomedicina, e uma instituição de cuidados clínicos e tecno-
lógicos de excelência, nas áreas das patologias oncológica e neuropsiquiátrica.
Saúdo os cientistas e investigadores e todos os clínicos pela projeção internacio-
nal que imprimiram à Fundação Champalimaud, através da obra e do trabalho
que aqui, diariamente, realizam.
Portugal tem alcançado indicadores de saúde que lhe conferem uma posição de relevo
no contexto internacional e esse tem sido, em larga medida, o resultado de um traba-
lho notável, desenvolvido, ao longo de 35 anos, pelo nosso Serviço Nacional de Saúde.
Num tempo de tantas incertezas, importa reconhecer e sublinhar a nossa capa-
cidade de vencer, realçando os múltiplos exemplos mobilizadores, internacio-
nalmente reconhecidos, que existem em Portugal, nas universidades, no sistema
de saúde, nos centros de investigação ou nas empresas.
Minhas Senhoras e meus Senhores
A prevenção e a erradicação das doenças oculares no mundo, através da inves-
tigação básica ou clínica na área da visão e do trabalho de campo no combate
à cegueira, são o propósito do Prémio Champalimaud de Visão.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
184
O reconhecimento de que, do número total de casos de cegueira no mundo, três
quartos têm como causa condições oculares que podem ser prevenidas ou tra-
tadas, levou a Organização Mundial da Saúde e a Agência Internacional para a
Prevenção da Cegueira a colaborarem na criação da iniciativa global “VISÃO
2020 – O Direito à Visão”, lançada em Genebra em fevereiro de 1999.
O Prémio Champalimaud de Visão tem o apoio desta iniciativa e o seu contri-
buto, como maior galardão mundial na área da oftalmologia, é inestimável para
alcançarmos um objetivo tão ambicioso quanto generoso: eliminar as principais
causas de cegueira evitável até 2020.
Neste ano de 2014, o júri decidiu atribuir o Prémio a um grupo de sete inves-
tigadores que se distinguiram pelos seus trabalhos no desenvolvimento de
terapêuticas anti-angiogénicas, em situações de retinopatia diabética e de dege-
nerescência macular da retina relacionada com a idade. Estamos perante duas
patologias que representam a mais significativa causa de cegueira nos países
industrializados.
O trabalho dos investigadores hoje premiados representa um excecional con-
tributo para a fisiopatologia da perda de visão e para o progresso acelerado da
aplicação de novas terapêuticas na área oftalmológica.
O alcance e o impacto desta investigação em biologia vascular serão vastíssi-
mos, na medida em que a prevalência daquelas doenças se relaciona quer com
o envelhecimento da população, quer com maus hábitos alimentares indutores
da diabetes e da obesidade.
Saúdo calorosamente os sete investigadores premiados, pelo exemplo de meto-
dologia de trabalho em equipa que, durante anos, os conduziu ao sucesso na sua
pesquisa. Os resultados do vosso trabalho, agora aplicados ao tratamento dos
doentes, abrem esperança, em todo o Mundo, a milhões de pessoas afetadas por
doenças da retina.
Felicito igualmente o júri pela escolha que fez e faço votos para que, ano após
ano, este Prémio continue a ser um fator de estímulo para todos os que aplicam
o seu saber e orientam o seu trabalho em prol dos seus semelhantes.
Muito obrigado.
SAÚ
DE, E
DUCA
ÇÃO,
CIÊ
NCI
A E
CULT
URA
185
Cerimónia de Inauguração do Museu Diocesano de Santarém
Santarém,12desetembrode2014
É com imensa satisfação que me associo à inauguração do Museu Diocesano
de Santarém.
Agradeço ao Senhor Bispo D. Manuel Pelino o convite que me dirigiu para estar
hoje nesta belíssima e também renovada Igreja Catedral e assinalar este impor-
tante momento para a Diocese, para a cidade de Santarém e para o nosso País.
Este é o momento culminante de um amplo projeto de recuperação desta Cate-
dral e de um vastíssimo património de pintura, escultura e ourivesaria, per-
tencentes não apenas a esta Sé, nem sequer apenas a esta cidade. Tratou-se de
um grande e louvável esforço que mobilizou todas as paróquias da Diocese de
Santarém.
Felicito por isso o Senhor Bispo de Santarém pela decisão que tomou ao avançar
para esta empreitada ambiciosa mas absolutamente necessária para a preserva-
ção do riquíssimo património que nos deixaram as gerações que nos precederam.
É uma decisão que mostra coragem, visão e espírito empreendedor e que con-
tribui para o enriquecimento cultural da cidade de Santarém.
Um dos aspetos mais importantes do projeto que hoje se inaugura foi justamente
a vontade e a capacidade demonstradas de salvar obras de arte de incalculável
valor e de as devolver à população nesta nova casa.
A este trabalho de inventariação e de conservação do património junta-se a con-
centração dos arquivos paroquiais, com um inestimável valor para o estudo da
História das gentes da diocese escalabitana.
Felicito também o Senhor Presidente da Câmara Municipal de Santarém pelo
impulso decisivo do Município para a construção deste equipamento, que é tam-
bém o primeiro museu da cidade, ao proporcionar o enquadramento indispen-
sável ao cofinanciamento comunitário do projeto.
Esta obra enquadra-se num vasto e notável esforço de recuperação e res-
tauro dos principais monumentos desta capital do Gótico. Este objetivo, que
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
186
o Município abraçou, convoca aliás todos os habitantes da cidade, em nome
da dinamização do centro histórico e do desenvolvimento local e regional.
Minhas Senhoras e meus Senhores
Este é o primeiro projeto concluído no âmbito da iniciativa Rota das Catedrais.
Trata-se de uma colaboração entre o Governo da República e a Conferência
Episcopal Portuguesa, tendo em vista promover intervenções de recuperação
e conservação dos valores patrimoniais de profundo significado histórico e cul-
tural que as catedrais guardam dentro de si.
Portugal pode e deve orgulhar-se do notável legado patrimonial e cultural que
recebeu da sua História de quase nove séculos.
As catedrais de Portugal são maravilhas do génio arquitetónico e testemunhos
de confiança do homem no divino. Pontos de encontro seculares, centros de
irradiação espiritual, nelas se manifesta de modo privilegiado o nexo íntimo
que existe entre a devoção e a arte. Tesouros vivos dedicados ao culto divino,
são um sinal do progresso cultural e artístico do homem ao longo dos séculos
que temos o dever de preservar.
A sua recuperação e conservação, assim como a sua integração num projeto
estruturado de promoção cultural e turística do nosso país, são passos muito
positivos que saúdo e pelos quais felicito a Secretaria de Estado da Cultura e a
Conferência Episcopal.
É importante que este desafio seja assumido por todas as Dioceses do país e que
Portugal consiga aproveitar esta Rota das Catedrais como um ativo estratégico
para o desenvolvimento local e regional, associando-a a uma programação cul-
tural e a uma divulgação da identidade das gentes que ergueram esses templos.
Senhor Bispo de Santarém
Minhas Senhoras e meus Senhores
Termino com uma felicitação muito sincera e especial pelo dia de hoje e pela
forma como a Diocese assinala esta ocasião.
A encomenda de uma peça musical – a CantataMundi – para assinalar esta inau-
guração mostra-nos de uma forma eficaz que, mais do que celebrar o passado,
estamos hoje a promover aquilo que de melhor se faz em Portugal.
SAÚ
DE, E
DUCA
ÇÃO,
CIÊ
NCI
A E
CULT
URA
187
A produção cultural está viva. A arte continua a acontecer. E, mais do que o
momento efémero desta cerimónia, na memória do dia de hoje deve ficar o nosso
orgulho na mestria, no talento e na arte dos Portugueses.
Muito obrigado.
SAÚ
DE, E
DUCA
ÇÃO,
CIÊ
NCI
A E
CULT
URA
189
Sessão de Abertura da Conferência “O Futuro da Europa é a Ciência”
Lisboa,6deoutubrode2014
Gostaria de começar por agradecer ao Presidente da Comissão Europeia, José
Manuel Durão Barroso, a iniciativa de escolher Portugal para realizar esta con-
ferência de alto nível sobre o papel da ciência no futuro da Europa.
Saúdo, desde já, todos os distintos participantes, e, em particular, os membros
do Conselho Consultivo do presidente Barroso para a Ciência e Tecnologia, cujo
mais recente relatório inspira e estrutura os trabalhos desta Conferência.
O conhecimento, a tecnologia e a inovação são grandes forças transformadoras
e geradoras de progresso nas economias e nas sociedades. Há muitos anos que
a Comissão não olha a esforços para desenvolver e projetar a sua visão nesta
matéria, sendo de resto apoiada pelo Parlamento Europeu, cujo papel devo des-
tacar, bem como, permitam-me, referir a ação que nesta área teve a Professora
Maria da Graça Carvalho.
O Programa Horizonte 2020, com os cerca de 80 mil milhões de euros que disponi-
biliza, é uma clara expressão do compromisso da União Europeia para com a ciência
e a inovação e da sua aposta no imenso potencial transformador do conhecimento.
A ciência é mais do que uma ferramenta para a melhoria do bem-estar social,
ou um fator de inovação. A ciência, hoje, numa conjuntura marcada pela globa-
lização e pela fortíssima concorrência entre nações e entre regiões mundiais,
tornou-se um elemento crítico de crescimento e competitividade, assumindo
um inegável alcance geopolítico.
A batalha pela ciência é, pois, a batalha pelo futuro da Europa e pela qualidade de
vida dos cidadãos europeus. Pela continuação de cuidados médicos avançados,
que se tornam possíveis pelas conquistas da ciência, pela competitividade das
exportações europeias, assentes em produtos detentores de elevado conheci-
mento e tecnologia, pela inovação dos produtos, dos serviços, dos processos e
mesmo da organização produtiva e social, que fazem, das nossas sociedades,
sociedades evoluídas.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
190
Mas esta batalha está longe de ser uma batalha ganha. Se medirmos a capaci-
dade de gerar inovação, verificamos que, mesmo na Europa, é fora da União que
se encontra o país líder: a Suíça. Também o Japão, os Estados Unidos e a Coreia
do Sul continuam à frente da União Europeia em matéria de inovação.
A nomeação de um português, Engenheiro Carlos Moedas, para Comissário da
pasta da Investigação, Ciência e Inovação, cria-nos a expectativa e a esperança
de que a batalha europeia pela ciência irá prosseguir com renovado ímpeto e,
bem assim, que Portugal e as suas comunidades científica, académica e empre-
sarial irão posicionar-se, cada vez mais, de forma a intervir nesta frente de
combate.
Minhas Senhoras e meus Senhores
Como resulta do Índice de Inovação Europeu, publicado já este ano pela Comis-
são Europeia, Portugal está a avançar a um ritmo superior ao da média europeia
nos fatores do processo de inovação. Um percurso positivo, marcado, sobretudo,
por progressos nos indicadores relativos à ciência e à investigação, mas que,
sendo embora motivo de orgulho, está longe de nos poder deixar satisfeitos.
De facto, somos relativamente bons a produzir ciência, mas ainda não somos tão
bons a transformar essa ciência em inovação. É aqui, pois, que reside o grande
desafio e é aqui que devemos concentrar o maior dos nossos esforços, até porque
tenho a certeza de que podemos ser bem-sucedidos.
É certo que nem tudo correu bem no percurso realizado em Portugal no caminho
da ciência. Desde logo, o setor privado não acompanhou, em idêntica medida, o
setor público no esforço de investimento que era necessário fazer. As empresas,
incluindo as grandes empresas, permaneceram aquém do que seria recomen-
dável no que toca ao financiamento à investigação e desenvolvimento, o que não
permitiu que o conhecimento científico irradiasse, tanto quanto se pretenderia,
para fora dos muros da academia, isto é, para a sociedade portuguesa no seu
conjunto.
Sem prejuízo da necessidade de conseguirmos um maior equilíbrio entre o
investimento público e o privado, devemos ser mais ambiciosos no que toca
à eficiência e à excelência do nosso sistema científico e à sua competitividade
internacional. Também com vista a elevar a nossa competitividade no domínio
SAÚ
DE, E
DUCA
ÇÃO,
CIÊ
NCI
A E
CULT
URA
191
da ciência, as unidades de investigação precisam de ganhar escala, organizando-
-se e cooperando mais intensamente a nível nacional para melhor poderem com-
petir à escala europeia.
Há que saber tirar maior partido das possibilidades de acesso direto aos fundos
internacionais e europeus orientados para a investigação e desenvolvimento,
como é o caso, em especial, do Programa Horizonte 2020, de forma a que não
se repita, entre nós, a experiência menos positiva do 7º Programa Quadro, onde
apenas nos últimos dois anos revelámos capacidade e dinamismo na captação
de financiamento.
Temos, ao mesmo tempo, um importante caminho a percorrer na aproxima-
ção entre as instituições do sistema universitário e científico e o nosso tecido
económico e social, na valorização do conhecimento e da tecnologia produzi-
dos nas universidades, e no desenho de incentivos destinados a aumentar o
volume de parcerias entre as universidades, os seus centros de investigação
e as empresas.
Não deixa de ser revelador que, em Portugal, menos de 5 por cento dos douto-
rados trabalhem na economia, em empresas, quando na Bélgica, na Holanda ou
na Dinamarca esses números sobem acima de 33 por cento.
O propósito não é que as universidades se transformem em empresas, nem
que as empresas se transformem em universidades, mas que os muros do des-
conhecimento entre umas e outras se desmoronem e que se gere uma atmos-
fera propiciadora de relações interativas e até de relações mais informais entre
empresas e universidades. Essa atmosfera, que é parte integrante de uma verda-
deira cultura de inovação, e que pude constatar, por exemplo, aquando da minha
deslocação a Helsínquia, ainda está pouco presente em Portugal.
Ainda do lado das universidades, é necessário formar mais técnicos e não nos
limitarmos a formar cientistas. Se olharmos, por exemplo, para o campo das
ciências do mar, que tanto interessam a Portugal, verificamos que o número de
cientistas, em relação ao número de técnicos que os assistem na operação de
veículos, embarcações, máquinas e outros equipamentos tecnológicos, é muito
superior à média dos países europeus mais inovadores no domínio do conheci-
mento e tecnologias do mar.
Sem pôr em causa a investigação de base, que é fundamental, importa com-
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
192
preender melhor quais as vantagens comparativas portuguesas e os próprios
interesses nacionais, para as conjugarmos com áreas prioritárias de desenvolvi-
mento científico. Se quisermos fazer tudo, podemos ter ciência, mas dificilmente
essa ciência será de excelência mundial. Teremos, assim, de saber definir prio-
ridades e de desenvolver áreas cientificas predominantes.
Minhas Senhoras e meus Senhores
Após muitas décadas do século XX em que esta esteve virtualmente arredada da
sociedade portuguesa, Portugal começou a abrir-se à ciência e, nos últimos anos,
percorremos um caminho notável de aproximação aos países mais evoluídos
nesta matéria. Não obstante, a ciência ainda se encontra, em larga medida, con-
finada às paredes dos laboratórios e das bibliotecas das nossas universidades.
Nos próximos anos, teremos que lutar para ultrapassar o estatuto de “inovado-
res moderados”, se quisermos conciliar os objetivos de crescimento económico
sustentável e de criação de emprego com os requisitos de disciplina orçamental
e financeira.
Porque estou bem ciente do elevado talento que temos disponível em Portugal,
bem como do potencial dos nossos recursos humanos, acredito que a grande
aposta do nosso país deve ser uma abordagem coerente e estruturada do pro-
cesso de inovação.
Só assim poderemos tirar partido do conhecimento científico, não apenas para
a imprescindível renovação da escala de valor do nosso tecido produtivo, mas
também para o progresso do conjunto da sociedade.
Porque é exatamente disso que se trata: se apostarmos na inovação, temos de
apostar nos nossos cientistas e valorizá-los, para que se sintam bem no nosso
país. Mas não esquecemos os cientistas portugueses que investigam fora de
Portugal e que o fazem com grande brilhantismo, honrando o nome do País e
contribuindo para a evolução da ciência na Europa e no Mundo.
Se apostarmos na inovação, temos de apostar mais ainda na educação geral,
obrigatória e de qualidade para todos, sem deixar ninguém para trás.
Se apostarmos na inovação, aceleramos o passo de recuperação e modernização
da economia portuguesa, levando-a a reposicionar-se em patamares científica e
tecnologicamente mais avançados e competitivos.
SAÚ
DE, E
DUCA
ÇÃO,
CIÊ
NCI
A E
CULT
URA
193
Todos – empresas, universidades, poderes públicos e a sociedade em geral –
teremos de continuar a colocar o conhecimento e a inovação no topo das prio-
ridades individuais e coletivas. Esta é, de facto, uma via incontornável para o
crescimento da economia, para a própria sustentabilidade das finanças públicas
e para os níveis de coesão social e de bem-estar que ambicionamos.
Esta é a via em que assenta a nossa esperança e a nossa confiança no futuro.
Muito obrigado pela vossa atenção.
SAÚ
DE, E
DUCA
ÇÃO,
CIÊ
NCI
A E
CULT
URA
195
Visita à Fundação de Serralves
Porto,3dedezembrode2014
É com muito prazer que estou aqui hoje, na cidade do Porto, quando passam
25 anos sobre a criação da Fundação de Serralves e quinze sobre a abertura do
Museu de Arte Contemporânea, um dos seus espaços emblemáticos.
Vim, antes de mais, pelo reconhecimento que merece aquilo que a Fundação
fez, em tão pouco tempo, em prol do desenvolvimento cultural e económico e
da própria projeção internacional da cidade, da região e do País.
Mas vim, também, devo confessá-lo, pelos laços que me ligam pessoalmente,
quer ao aparecimento deste projeto, quer à instalação dos vários polos de ati-
vidade que integram hoje o conjunto arquitetónico e paisagístico em boa hora
classificado como Património Nacional.
Estive aqui, a primeira vez, como Primeiro-Ministro, logo em 1987, no dia em que
se abriu ao público a Casa e o Parque de Serralves, núcleo inicial do que viria a
ser, dois anos mais tarde, a Fundação. Nessa altura, o Estado já tinha adquirido
os terrenos e definido os objetivos que deveriam presidir à futura instituição, e
que estão claros no decreto-lei por mim assinado, em junho de 1989.
Em primeiro lugar, era preciso criar um museu que acolhesse e conservasse o
vasto acervo de arte moderna e contemporânea que o património nacional tinha
vindo a acumular, mas que se encontrava disperso e, por esse motivo, inacessível
aos cidadãos. Em segundo lugar, era preciso encontrar um modelo institucional
suficientemente flexível para permitir quer o envolvimento da sociedade civil
num projeto de dimensão nacional, quer o espírito de iniciativa que se exigia
do novo museu, em particular no intercâmbio com instituições congéneres, em
Portugal e no estrangeiro.
Foi à luz destes propósitos que a opção pelo Porto veio a impor-se. Bastariam, se outros
motivos não houvesse, a história da cidade e o dinamismo económico da região.
Havia, no entanto, um outro motivo, porventura ainda mais pertinente, que era
o facto de a cidade ser, desde há muito, uma referência no domínio do ensino
artístico em Portugal.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
196
Foi na Escola de Belas Artes do Porto que se iniciaram muitos dos nossos pin-
tores e escultores dos séculos XIX e XX. Graças a uma política de atribuição de
bolsas no estrangeiro aos melhores alunos, em que a Escola foi pioneira, alguns
desses artistas puderam depois prosseguir os seus estudos em Paris, ou em
Roma, colocando assim a cultura portuguesa em contacto com as vanguardas
europeias.
Foi também aqui, na Escola de Belas Artes, que nasceu e se desenvolveu aquela
que é hoje conhecida, em todo o Mundo, como a “Escola do Porto”, uma das mais
prestigiadas no domínio da arquitetura, a que pertencem, entre outros, nomes
como Siza Vieira e Souto de Moura, qualquer deles já galardoado com o Prémio
Pritzker, a mais alta distinção internacional para um arquiteto.
Por essas razões, o Porto era, de algum modo, o destino natural de um projeto
como aquele em que pensávamos.
O que se pretendia, de facto, não era instalar mais uma instituição dependente
do Estado, mas sim um polo a que se juntassem entidades e pessoas da socie-
dade civil, capazes de lhe imprimir uma dinâmica cultural e social que colocasse
o País na rota dos movimentos artísticos e culturais mais avançados.
E o Porto apresentava todas as condições para responder a esse desafio.
Senhor Presidente do Conselho de Administração
Senhor Presidente do Conselho de Fundadores
Minhas Senhoras e meus Senhores
Volvido um quarto de século, é com enorme satisfação que olhamos para a forma
como o projeto não apenas se concretizou, como alargou os seus horizontes.
Assente numa parceria que integra, além do Estado, várias empresas e particu-
lares que se constituíram como fundadores, e cujo número tem vindo a crescer, a
Fundação renovou os seus espaços iniciais, em particular o Parque de Serralves,
que foi recuperado por alguns dos nossos melhores arquitetos paisagistas.
Além disso, construiu de raiz o edifício do museu, que tem a assinatura de Siza Vieira.
E continua a desenvolver, com a desejável independência face ao poder polí-
tico e aos interesses privados, todo um vasto e bem-sucedido programa de
formação de públicos e de sensibilização para as questões da arte, da cultura
e do ambiente.
SAÚ
DE, E
DUCA
ÇÃO,
CIÊ
NCI
A E
CULT
URA
197
Os resultados deste programa não podiam ser mais satisfatórios, se tivermos em
conta a coleção de arte que a Fundação tem hoje no seu património; as memo-
ráveis exposições que foram apresentadas e que transformaram Serralves num
ponto obrigatório dos roteiros turísticos internacionais; os prémios que entre-
tanto acumulou, designadamente em 2012 e 2013; e, acima de tudo, os milhões
de visitantes que por aqui passaram ao longo destes 25 anos.
Mas a Fundação de Serralves, sendo inequivocamente uma das principais ins-
tituições portuguesas de cultura e, além disso, uma referência no meio artístico
internacional, é também um caso de sucesso em termos de impacto económico,
através da qualificação e do aumento global do turismo que tem vindo a gerar.
A este propósito, gostaria de sublinhar a importância que Serralves atribuiu,
desde o início, à questão da articulação da produção e divulgação da cultura
com a sua inserção no tecido económico, trazendo com frequência essa matéria
à reflexão pública e dando o exemplo de uma gestão dinâmica e equilibrada.
Foi aqui que se realizou, há precisamente dez anos, a I Conferência Internacio-
nal sobre Arte e Empresa. É aqui que está instalada, desde 2008, uma incuba-
dora de projetos inovadores no domínio das indústrias criativas.
Faço votos para que o itinerário até aqui percorrido se prolongue por muitos
anos, com a mesma lucidez na decisão, o mesmo empenho no projeto e cada vez
mais sucesso nos resultados.
Num ato de reconhecimento do Estado à instituição, aos seus dirigentes e a todos
quantos aqui trabalham, pelo inestimável contributo que têm dado à cultura e à
sociedade portuguesas, decidi atribuir à Fundação de Serralves o título de Mem-
bro Honorário da Ordem de Sant’Iago da Espada e é com muito gosto que irei
entregar as respetivas insígnias ao Presidente do Conselho de Administração.
SAÚ
DE, E
DUCA
ÇÃO,
CIÊ
NCI
A E
CULT
URA
199
Cerimónia de Agraciamento de Personalidades do Fado
Lisboa,27dejaneirode2015
Passados três anos sobre a inscrição do fado na Lista do Património Cultural
Imaterial da Humanidade, relembramos hoje o justo reconhecimento desta
forma tão singular de expressão da nossa cultura.
Além do orgulho que isso traz a todos nós, devemos salientar a renovação do
nosso fado, patente na descoberta de novos talentos e de valores e vozes que se
destacam no panorama musical português.
O fado nasceu entre o povo, mas desde cedo cativou toda a sociedade portuguesa.
Alguns dizem que é expressão de portugalidade, síntese do nosso modo de estar
no mundo. Mais do que discutir as suas origens e o seu sentido profundo, gosta-
ria de salientar um facto simples, mas indiscutível: o fado está profundamente
enraizado na nossa cultura, quer como arte, quer como tradição. E, acima de
tudo, tem sabido renovar-se, conquistar perenidade, marcando presença viva
para além de modas efémeras e passageiras.
Nas últimas décadas, o fado triunfou em todo o Mundo e impôs-se nos mais
famosos palcos internacionais, sem deixar por isso de manter aquele cunho
unicamente português, com o qual nos identificamos.
Além de uma genuína expressão de arte popular, o fado tornou-se uma das mar-
cas emblemáticas da afirmação do País além-fronteiras. Temos de garantir que o
seu reconhecimento por parte da UNESCO não se tratou apenas de um galardão
simbólico, sem consequências visíveis.
É preciso continuar a trabalhar na promoção desta arte única, através da dis-
tinção dos seus intérpretes e criadores mais notáveis, para que o fado alcance o
justo lugar a que tem direito no panorama da música universal.
Prosseguindo uma tradição de há quase dois séculos, temos hoje em Portugal
uma geração de fadistas que trouxe para o fado uma alma nova, um timbre dife-
rente. Graças ao seu talento, conquistaram-se novos públicos e o fado adquiriu
um lugar indiscutível na vida cultural do País.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
200
Mais do que nunca, assistimos a uma ligação cada vez mais estreita do fado com
a literatura, na senda de uma linha aberta por Alain Oulman e pela voz eterna
de Amália Rodrigues.
A capacidade de renovação do fado é visível no aumento vertiginoso do número
de discos editados e vendidos, de espetáculos produzidos e esgotados, de pré-
mios conquistados.
Tudo isto representa um contributo inestimável para a divulgação da nossa cul-
tura e para a projeção de Portugal no exterior.
Mas, para além do seu inegável valor como expressão da nossa cultura, o fado
possui também um potencial económico de elevada relevância para o País. O seu
impacto positivo nas empresas ligadas ao audiovisual e à produção de espetá-
culos, e a criação de postos de trabalho, têm sido uma constante nesta trajetória
de sucesso. Tudo isto foi conseguido graças ao talento, à visão e ao empenho de
criadores, intérpretes, músicos e empresários.
Esta é, sem dúvida alguma, uma história de sucesso, uma história que merece
ser preservada, investigada e divulgada, como tem vindo a ser feito aqui, neste
museu que lhe é dedicado. No Museu do Fado cruzam-se as gerações que fizeram
dele uma expressão da nossa identidade: músicos e cantores, poetas e composi-
tores, técnicos e estudiosos.
A escola do Museu, a funcionar desde 2002, é essencial tanto para a salvaguarda
como para a projeção futura desta tradição secular. Os cerca de 170 mil visitantes,
muitos deles estrangeiros, que passaram pelo Museu no último ano são a melhor
prova do papel que esta instituição tem vindo a desempenhar.
Nesta minha visita ao Museu do Fado, quero expressar o meu profundo reco-
nhecimento e a minha admiração pelo trabalho que aqui tem sido feito em prol
da nossa tradição e da nossa cultura.
E porque esta é uma casa dedicada aos fadistas, antes de tudo o mais, quero home-
nagear um conjunto de intérpretes e criadores de excelência, que deram nos últi-
mos anos um contributo excecional para o enorme êxito que o fado tem conhecido:
Ana Moura, Carminho, Katia Guerreiro, Mário Pacheco e Ricardo Ribeiro.
A riqueza dos seus percursos individuais, a criatividade e dinamismo já demonstra-
dos, o triunfo que alcançaram nas grandes salas de espetáculo dos quatro cantos
do Mundo são merecedores de reconhecimento por parte de todos os Portugueses.
SAÚ
DE, E
DUCA
ÇÃO,
CIÊ
NCI
A E
CULT
URA
201
Pelo seu empenho e dedicação e pela autenticidade que conferem ao seu tra-
balho, decidi condecorá-los com o grau de Comendador da Ordem do Infante
D. Henrique. É com especial satisfação que irei impor as respetivas insígnias
aos artistas Ana Moura, Carminho, Katia Guerreiro, Mário Pacheco e Ricardo
Ribeiro.
A todos agradeço o que têm feito por Portugal, na certeza de que irão continuar
a honrar o País nas sete partidas do Mundo.
Obrigado.
SAÚ
DE, E
DUCA
ÇÃO,
CIÊ
NCI
A E
CULT
URA
203
Sessão de Encerramento da Conferência “José Medeiros Ferreira - o cidadão, o político, o historiador”
Lisboa,20defevereirode2015
Durante dois dias, foram aqui evocadas a memória de José Medeiros Ferreira
e a sua exemplar trajetória de vida. OLongoCurso, assim se chama o livro com
que os seus colegas e discípulos decidiram homenageá-lo, num gesto de inteira
justiça.
É também de inteira justiça a realização desta Conferência. Quero, por isso,
saudar calorosamente a Comissão Organizadora, agradecendo o convite que
me dirigiu, e, muito em especial, dirigir uma palavra de profundo apreço aos
familiares de José Medeiros Ferreira.
Ao observarmos a sua vida, o longo curso da sua admirável existência, encon-
tramos traços constantes e linhas de força que dão coerência a uma biografia
em que o homem público convive com o intelectual, em que o académico e o
pensador se harmonizam plenamente com o cidadão militante e interventivo.
Duas características essenciais avultam, creio, na personalidade multifacetada
de José Medeiros Ferreira.
Desde logo, o amor ao seu país, o seu patriotismo republicano, qualidade que lhe
permitiu ser, em simultâneo, um português açoriano e um europeu atlantista.
Em segundo lugar, o seu amor à liberdade. Espírito livre e independente, José
Medeiros Ferreira amava as ideias e o seu debate, desde que feito com elevação
e dignidade. Nunca recorreu a ataques pessoais ou à violência verbal para fazer
valer os seus argumentos ou pontos de vista, pois estes assentavam no poder da
razão e eram fruto de uma reflexão serena e amadurecida.
José Medeiros Ferreira cedo se notabilizou como um defensor da liberdade. Ati-
vista estudantil durante a crise académica de 1962, combatente empenhado contra
a ditadura, conheceria as agruras do exílio. De longe, continuou a observar Portu-
gal e as suas sombras. Nesses anos, nunca desistiu de lutar pelo ideal de um país
democrático, uma pátria europeia em que ninguém fosse perseguido por aquilo
em que José Medeiros Ferreira mais acreditava: a força do pensamento.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
204
Foi um homem de Abril, quer como adversário de todas as formas de autorita-
rismo, quer como intelectual que nos legou um ensaio histórico pioneiro sobre
a revolução dos cravos.
Adquirira o gosto pela História durante a juventude, nos bancos do liceu de
Ponta Delgada. Aí começou a construir a sólida e vasta cultura humanística que
o iria distinguir durante toda a vida.
A sua ação política integrou o código genético do Estado democrático – o título de
outra das suas obras – e José Medeiros Ferreira afirmou-se como um governante
notável da jovem democracia, que serviu em momentos difíceis e de grande
exigência.
No que respeita às suas qualidades de académico, a vastidão da sua obra e a
gratidão dos seus inúmeros discípulos são as provas mais concludentes de que
José Medeiros Ferreira foi um universitário que marcou gerações e mereceu o
respeito unânime dos seus pares. Na universidade e fora dela, deu um contributo
inestimável para a historiografia portuguesa contemporânea e para a reflexão
sobre o posicionamento de Portugal no Mundo.
Quer como historiador, quer como especialista em questões internacionais, José
Medeiros Ferreira conseguiu conciliar a teoria e a prática, aliando a sua expe-
riência política e governativa a análises de impressionante lucidez.
José Medeiros Ferreira foi sempre um homem adverso a dogmas e a lugares-comuns.
Num tempo tão dominado pelo acessório e pelo frívolo, escutávamos a sua palavra,
mesmo que discordássemos dela, como o produto de uma reflexão própria e autó-
noma, jamais condicionada por interesses ocasionais ou objetivos políticos imediatis-
tas. Foi essa frontalidade do pensar e essa liberdade de espírito que lhe permitiram
escrever de forma tão brilhante e densa sobre Portugal, um país na balança da
Europa.
Ao futuro da União Europeia, às encruzilhadas que por vezes a dilaceram, dedi-
caria um dos seus últimos textos. Pensou o projeto de uma Europa unida sem
ceticismos nem ressentimentos, mas também sem ilusões ou falsas esperanças.
Esse ensaio situa José Medeiros Ferreira no círculo muito restrito dos grandes
intelectuais europeus.
Medeiros Ferreira afirmou-se no espaço público como um pensador realista, que
rejeitava utopias fugazes mas não abdicava da capacidade de sonhar. Sonhou
SAÚ
DE, E
DUCA
ÇÃO,
CIÊ
NCI
A E
CULT
URA
205
com uma Europa mais coesa e unida, mais solidária e fraterna. Sonhou com
um país livre e democrático, mas também com uma sociedade mais informada.
Após a luta contra o autoritarismo, foi esse o seu grande combate em democracia.
Nunca se cansou de pugnar por uma República construída no leal confronto das
ideias e por uma cidadania mais participante e ativa.
Após um longo curso, a sua vida seria interrompida quando ainda tanto espe-
rávamos dele.
Muitos dos seus sonhos viram a luz do dia e concretizaram-se. Outros perma-
necem por cumprir. Eram sonhos de um homem bom, de uma personalidade de
caráter e de princípios, que sempre amou o seu país.
Portugal tem uma dívida de gratidão para com José Medeiros Ferreira.
No dia de hoje, devemos honrar a sua memória. Uma memória feliz, feita de
independência e de liberdade.
Muito obrigado.
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
211
Banquete Oficial em Honra do Presidente da República de Singapura
PalácioNacionaldaAjuda,5demaiode2014
É motivo de grande alegria, para mim e para minha Mulher, receber Vossa
Excelência, Senhor Presidente, a Senhora D. Mary Tan e a distinta comitiva
que os acompanha nesta Visita de Estado a Portugal.
A visita de Vossa Excelência – a primeira Visita de Estado de um Presidente sin-
gapurense a Portugal – representa um novo marco no aprofundamento das rela-
ções bilaterais entre os nossos países. Este é, pois, um momento muito especial.
Espero que esta Visita de Vossa Excelência permita, de alguma forma, retri-
buir a calorosa hospitalidade com que fomos acolhidos em Singapura, em 2012,
naquela que constituiu, por sua vez, a primeira visita de um Chefe de Estado
português ao seu país.
Senhor Presidente
Vivemos um novo capítulo nas relações entre Portugal e Singapura. A excelência
da relação bilateral que hoje celebramos é fruto de um trabalho sólido e consis-
tente. A abertura da Embaixada em Singapura, em 2009, simbolizou a clara aposta
de Portugal no relacionamento com este país asiático. E foi uma aposta ganha,
como pude constatar tanto em 2012, em Singapura, como hoje, em Portugal.
Ao nível político, os contactos nunca foram tão intensos e profícuos como atual-
mente. No plano multilateral, partilhamos um conjunto de visões comuns sobre
grandes questões internacionais, como foi bem visível aquando da coincidência
das nossas presidências da UE e da ASEAN, em 2007.
No campo económico, o dinamismo crescente das nossas relações comerciais é
assinalável. Singapura é hoje, dentro do conjunto dos países da ASEAN, o princi-
pal mercado de destino das exportações portuguesas. Ao nível do investimento,
Portugal tem-se revelado uma oportunidade para Singapura, em setores estra-
tégicos como o portuário e o turístico. A presença de empresas portuguesas em
Singapura tem vindo, igualmente, a crescer e a acentuar-se.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
212
E, ao mesmo tempo, a excelência dos nossos recursos humanos tem vindo
a beneficiar, em Singapura, de um amplo reconhecimento.
Senhor Presidente
Quero dar as boas-vindas à delegação empresarial que o acompanha. Faço votos
para que os contactos que mantiverem em Portugal sejam proveitosos, tal como
sucedeu, aquando da minha deslocação a Singapura, em 2012, com os contactos
estabelecidos pela comitiva de empresários que me acompanhou. Espero que o
Seminário Empresarial que amanhã terá lugar seja, nessa perspetiva, particu-
larmente útil. O sucesso dos contactos empresariais motiva-nos, naturalmente,
a encorajar outras iniciativas comerciais e de investimento entre os dois países.
Portugal e Singapura têm sabido explorar a privilegiada geografia em que se
encontram.
Portugal tem encarado Singapura como uma importante porta de entrada na
Ásia. As empresas portuguesas em Singapura têm procurado, com sucesso,
explorar as oportunidades de negócio no sudeste asiático, tirando partido da
centralidade geográfica de Singapura e das virtualidades do seu modelo de
desenvolvimento económico.
Por seu lado, Portugal, com o alargamento do Canal do Panamá, verá a sua posi-
ção geoestratégica ser catapultada para uma nova centralidade em relação à
própria Ásia. Neste contexto, vale a pena sublinhar que Singapura cedo soube
investir no potencial do nosso porto de águas profundas, em Sines.
MisterPresident
Thecontactsbetweenourpeoplesarecenturiesold.ItsohappensthatPortugal
andSingaporehaveonlycometorediscovereachotherinthelastfewyears.Your
Excellency’sStateVisit,forwhichIonceagainexpressmysatisfaction,signals
thepoliticaldeterminationtostrengthenthetiesoffriendshipandcooperation
thatuniteus.
ItisinthisspiritthatIaskyoualltojoinmeinatoasttothehealthandprosperity
ofPresidentTonyTanandMrs.MaryTan,toourfriends,thepeopleofSingapore,
andtothefutureofourrelations.
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
213
Almoço Oferecido pelo Presidente do Município de Xangai
Xangai,13demaiode2014
Quero agradecer a atenciosa hospitalidade com que a minha Mulher e eu, bem
como a comitiva que nos acompanha, temos sido recebidos em Xangai. A Visita
de Estado que hoje inicio inscreve-se nas comemorações dos 35 anos das rela-
ções diplomáticas entre a República Popular da China e Portugal. É auspicioso
que, ao começar esta Visita, possa desfrutar já, em Xangai, de um programa tão
rico em matéria política, económica, cultural e científica.
Esta fantástica cidade desempenha um papel crucial no objetivo comum de
intensificação das relações bilaterais entre Portugal e a China. Neste processo,
a abertura do Consulado-Geral em Xangai, em 2006, concretizou a clara aposta
de Portugal nesta cidade e na sua área metropolitana.
É de assinalar, desde então, o crescimento da presença de empresas portugue-
sas, das trocas comerciais e dos fluxos de investimento. Uma melhor divulgação
do Portugal do século XXI conduziu, sem dúvida, a uma maior cooperação a
diversos níveis.
Hoje, a cooperação entre empresas portuguesas e centros de investigação de
Xangai é significativa. Existe também um intenso intercâmbio de estudantes e
investigadores e uma forte cooperação entre universidades. Tem surgido um
interesse acrescido pela língua e pela cultura portuguesas, com um número
cada vez maior de alunos. A população de Xangai tem revelado um crescente
interesse por manifestações culturais portuguesas. A geminação de Xangai com
a cidade do Porto, por seu turno, é um fator adicional de ligação a Portugal.
A realização da Expo 2010, em Xangai, sob o lema “Melhor cidade, Melhor Qua-
lidade de Vida”, conferiu visibilidade global a Portugal enquanto exemplo de
inovação e de boas práticas ambientais, áreas em que Portugal se tem destacado.
O pavilhão de Portugal foi, inclusivamente, distinguido com o prémio de design
e arquitetura atribuído pelo Bureau International des Exhibitions e pelos cerca
de 5 milhões de pessoas que o visitaram.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
214
Senhor Presidente
É com enorme gosto que regresso a Xangai. Esta é hoje uma cidade diferente
da que conheci, há vinte anos, aquando da minha última visita, enquanto Pri-
meiro-Ministro de Portugal. Hoje vejo erigido um projeto grandioso, que me foi
apresentado “no papel” pelas autoridades de então. Processos desta dimensão
exigem grande determinação e visão estratégica. Xangai demonstrou ter essas
capacidades.
Perante o desejo comum de aprofundar os laços humanos, empresariais e insti-
tucionais entre Portugal e a China, tenho confiança na determinação das autori-
dades e no interesse da população de Xangai. Da parte portuguesa, tudo faremos
nesse sentido.
É nesse espírito que peço a todos que se juntem a mim num brinde à saúde
do Presidente da Câmara, Yang Xiong, e ao papel central da cidade de Xangai
no reforço do relacionamento entre os nossos dois países.
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
215
Sessão de Abertura do Seminário Empresarial China-Portugal
Xangai,14demaiode2014
É com enorme prazer que participo na abertura deste seminário empresarial
em Xangai. Tenho conhecimento de que diversos encontros bilaterais e ativida-
des de âmbito setorial já se realizaram e que as expectativas geradas são muito
positivas.
Quero, pois, dirigir um especial agradecimento à AICEP e ao CCPIT - China Coun-
cil for the Promotion of International Trade, pela organização destes encontros,
que são um importante espaço de diálogo, promoção e incentivo à realização de
parcerias e investimento entre a China e Portugal.
Saúdo e agradeço a presença de todos os participantes.
Contamos cinco séculos de contactos entre Portugal e a China, sempre marcados
por um entendimento construtivo. Dois países geograficamente distantes, mas
que, ao longo da sua História, souberam encontrar pontes e estabelecer alianças
de benefício mútuo.
A recente e muito positiva evolução das relações económicas, empresariais e de
investimento entre os nossos dois países evidencia a complementaridade das
nossas economias e a convergência dos respetivos interesses estratégicos nos
mercados internacionais.
Portugal é hoje uma importante porta no Atlântico para a Europa. O porto
de Sines é o primeiro porto europeu de águas profundas no eixo das rotas do
Oriente, venham elas por África ou através do canal do Panamá.
Para além do espaço da União Europeia, de que é membro de pleno direito, e
da proximidade e do bom relacionamento com os países do Norte de África,
Portugal possui laços especiais com a África Subsariana – onde países como
Angola e Moçambique falam português e mantêm ligações políticas, econó-
micas e culturais fortes com o nosso País. Na América do Sul, por outro lado,
são notórias as nossas ligações de amizade ao Brasil e as fáceis relações com
os países do designado Eixo Atlântico.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
216
O tecido produtivo português abarca hoje um vasto leque de atividades indus-
triais e de serviços competitivos à escala global. Muitas das empresas portu-
guesas aqui presentes operam nos mercados internacionais, nos mais diversos
setores. Pretendem expandir-se e aprofundar as suas atividades, seja para a
China, seja, em parceria com congéneres locais, para terceiros países.
Note-se, também, que importantes investimentos chineses têm sido realizados em
Portugal nos últimos anos, associados à privatização de alguns setores estruturais
da economia portuguesa. Esses investimentos deram um impulso significativo ao
relacionamento económico bilateral. Simultaneamente, permitiram aos investido-
res chineses um conhecimento direto da situação real da economia portuguesa,
do ambiente empresarial que aí se vive e das potencialidades de novas parcerias.
Com esses investimentos, abriu-se um novo capítulo na história do relaciona-
mento entre os nossos países. Faço votos para que esta minha Visita de Estado
à República Popular da China seja um estímulo redobrado para que continuem
a investir, a diversificar atividades em Portugal e, nesse processo, a estabelecer
parcerias com empresas portuguesas, apostando nas vantagens que Portugal
oferece e nas oportunidades de exportação que se abrem.
Na sequência da crise financeira internacional de 2008, Portugal comprome-
teu-se com um ambicioso e abrangente programa de ajustamento económico,
financeiro e orçamental. Passados exatamente três anos da sua aplicação e em
fase de conclusão, existem dois aspetos que gostaria de salientar. Por um lado,
os objetivos estabelecidos e as medidas previstas foram, na sua vasta maioria,
cumpridos e implementados; e, por outro, o ajustamento orçamental e as alte-
rações estruturais na economia portuguesa foram muito significativos. Portugal
está à altura dos compromissos assumidos.
Os resultados da execução do programa começam agora a aparecer e a estimular
a confiança interna, situação que tem sido muito valorizada pelos nossos parcei-
ros e pelos mercados internacionais.
Os sinais dos últimos doze meses têm sido, de facto, animadores. Desde o 2º
trimestre de 2013 que a economia portuguesa está a crescer. O desemprego tem
baixado. Nos mercados externos, as empresas portuguesas têm mostrado uma
notável capacidade de adaptação e continuado a conquistar quotas de mercado,
sobretudo fora do espaço europeu. Atualmente, as exportações já representam
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
217
40 por cento do PIB, contra cerca de 30 por cento em 2010. O saldo das nossas
contas externas foi positivo em 2013, tendência que se consolidará este ano.
Desde meados de 2013 que as taxas de juro da dívida pública portuguesa nos
mercados internacionais têm vindo a descer de forma significativa. As taxas de
juro da dívida a 10 anos situam-se, atualmente, em cerca de 3,5 por cento.
Estão em curso, entre outras, reformas na área das relações laborais, da justiça,
do licenciamento e da tributação das empresas. Queremos proporcionar a quem
investe em Portugal um ambiente empresarial estável e atrativo e estamos a
trabalhar nesse sentido.
Portugal beneficia também de um novo e interessante programa europeu de
apoio ao investimento, especialmente dirigido para as PME e para o reforço da
inovação e da competitividade.
Existe hoje, em Portugal, toda uma nova geração de empresas com grande capa-
cidade empreendedora, inovadora e tecnológica. Muitas estão a desenvolver
produtos e serviços para novos segmentos de procura no mercado mundial.
As áreas das tecnologias de gestão, da requalificação ambiental, do ordena-
mento, da valorização urbanística e da gestão das cidades, assim como as da
eficiência energética e das infraestruturas, bases essenciais para o desenvolvi-
mento de novas atividades, são, todas elas, áreas onde as empresas portuguesas
têm provas dadas mundo fora.
Também no setor das indústrias tradicionais, como o calçado, o mobiliário, a
agroalimentar e os vinhos, as empresas portuguesas, que possuem enorme
experiência acumulada e têm sabido reinventar-se, alcançaram uma posição
comercial forte nos mercados internacionais.
Uma palavra é devida ao setor do turismo, onde Portugal é um destino de reco-
nhecida qualidade. O sol e a luminosidade sempre presentes, o clima agradável,
a hospitalidade e a segurança, a par de uma extensa costa marítima de rara
beleza, são pontos fortes da nossa oferta turística.
A tudo isto acresce, ainda, uma grande capacidade instalada de alojamento,
apoiada por uma rede de qualidade de apoio à saúde, uma boa gastronomia
e excelentes campos de golfe, que valerá a pena conhecer e desfrutar. Neste
particular, cabe referir que, nos últimos anos, muitos cidadãos chineses têm
procurado visitar ou fixar-se em Portugal.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
218
Portugal apresenta particulares condições para ser uma localização prioritária
nas opções de investimento que se desenham no espaço europeu. Tenho muita
esperança que os empresários chineses continuem, cada vez mais, a olhar Por-
tugal como uma excelente oportunidade de investimento e de construção de
parcerias.
Minhas Senhoras e meus Senhores
A delegação empresarial que me acompanha é representativa de todos os seto-
res que referi. Temos entre nós muitas das melhores e mais modernas empresas
portuguesas e todas elas manifestaram enorme empenho em encontrar parce-
rias neste mercado.
Num Mundo cada vez mais complexo e exigente, só com elevados padrões de
gestão empresarial e emprego qualificado teremos condições para obter gan-
hos sustentáveis de competitividade e quota de mercado. E, em muitos casos,
só através de parcerias de interesse mútuo podemos cumprir esses objetivos.
Estou muito satisfeito com o acolhimento que temos recebido, com o interesse
que esta Visita de Estado à República Popular da China tem suscitado e com o
cuidado com que as atividades empresariais foram preparadas e têm sido con-
duzidas.
Estou firmemente convicto de que as diversas iniciativas que foram realiza-
das irão trazer resultados positivos para ambas as partes, reforçando os laços
económicos e de cooperação empresarial, mas também o bom entendimento
e a amizade entre a China e Portugal.
Desejo-vos, pois, um bom trabalho!
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
219
Sessão Solene na Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim
Pequim,16demaiode2014
É, para mim, uma grande honra ser recebido na Universidade de Estudos Estran-
geiros de Pequim. Gostaria, por isso, de agradecer o estimável convite que me
foi dirigido pelo Reitor Peng Long.
Esta foi a primeira universidade de Estudos Estrangeiros na China e cedo foi
aqui marcada a importância do conhecimento de outras línguas e culturas. Tem
sido aliás uma tradição desta Academia a formação de Embaixadores chineses.
Mais recentemente, tem desempenhado um papel dinamizador na divulgação
de Portugal na China.
Sendo economista de formação, sou português de coração. É, por isso, com muito
orgulho e emoção que vos venho falar do meu país. O cenário não podia ser mais
apropriado para o efeito: a magnífica biblioteca desta prestigiada universidade.
Acredito firmemente que é na educação e no conhecimento que assenta o futuro
de qualquer nação. Quero hoje dar-vos a conhecer Portugal um pouco melhor.
Portugal, que tantos novos mundos deu ao Mundo, é um país sobre o qual nem
sempre a informação publicada é a mais correta e fidedigna.
Portugal tem oito séculos de uma História que, em muitos momentos, se con-
fundiu com a História mundial.
Portugal foi pioneiro da globalização, aproximando e dando a conhecer culturas,
tanto a Ocidente como a Oriente. O dicionário de português e chinês de 1580,
cujo fac-símile tive a honra de oferecer ao Magnífico Reitor, é disso uma prova.
Outros vestígios desse impacto estão hoje reconhecidos pela UNESCO. Existem 24
bens de origem portuguesa – construídos fora do território nacional – classificados
como Património da Humanidade. Esta presença estende-se a três continentes:
América, África e Ásia, incluindo a China, com o centro histórico de Macau.
A UNESCO classificou ainda o Fado como Património Imaterial da Humani-
dade, reconhecendo a importância desta manifestação cultural portuguesa
e da nossa língua.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
220
Durante séculos, o português serviu de língua franca em África e na Ásia. Hoje,
a língua portuguesa é língua oficial de cerca de 250 milhões de pessoas, em
oito países em quatro continentes. O português é um dos idiomas em maior
expansão no mundo. É também a língua mais falado no hemisfério sul e uma
das mais utilizadas na Internet e, sobretudo, nas redes sociais. Paralelamente, é
língua oficial de várias organizações internacionais, incluindo a União Europeia,
a União Africana e a Comunidade Ibero-Americana.
É, pois, sem surpresa, embora com muita satisfação, que constato o interesse
que a língua portuguesa suscita na China e o elevadíssimo nível de empregabi-
lidade que o conhecimento da língua portuguesa garante.
Uma característica que os Portugueses, ao longo desta História secular, sempre
souberam manter, foi o desejo de progresso. Somos hoje, por isso, um país que não
vive na nostalgia do passado, mas que encara o futuro com confiança e ambição.
Nos últimos três anos, Portugal, como talvez saibam, atravessou um período
muito exigente. A resposta foi coletiva e dada com enorme sentido de respon-
sabilidade. Portugal realizou um grande esforço no sentido do equilíbrio das
contas públicas e da concretização de reformas estruturais, visando o aumento
da competitividade da economia. Os resultados têm-se revelado muito positivos,
e o país continua a apostar firmemente na edificação de uma economia saudável,
dinâmica, competitiva, e cada vez mais integrada na economia global.
A economia portuguesa é uma economia aberta, com um ambiente de negócios
favorável à iniciativa empresarial e ao investimento estrangeiro. Tem empre-
sas em excelentes condições de estabelecer parcerias com empresas chinesas
para a entrada em mercados terceiros, em África ou na América Latina. O País
dispõe, além disso, quer de recursos humanos quer de infraestruturas físicas e
tecnológicas de grande qualidade.
Nos últimos anos, Portugal foi destino de avultados investimentos estrangeiros,
designadamente chineses. Ao mesmo tempo, a balança externa alcançou um
excedente, com um assinalável crescimento das exportações. As nossas empre-
sas souberam diversificar mercados e apostar na diferenciação, assente na qua-
lidade e na inovação, incorporando novas dimensões de valor.
A privilegiada localização geográfica de Portugal é outra das suas vantagens
competitivas. A dimensão do mar português faz da nossa zona económica
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
221
exclusiva a maior da União Europeia. O seu peso geoestratégico advém ainda
do facto de ser um ponto de confluência entre três continentes e de contar
com relações particularmente boas com África, o Mediterrâneo e as Américas.
Com o alargamento do Canal do Panamá e a importância do porto de águas
profundas que o País tem em Sines, Portugal assumirá, por sua vez, uma nova
centralidade, aproximando-se da Ásia.
Nos últimos anos, temos vindo a alcançar novos patamares de competitivi-
dade em diversas áreas científicas e tecnológicas, muitas delas com alcance
global. O cartão pré-pago para os telemóveis e o sistema automático de por-
tagens nasceram em Portugal. A aposta nas novas tecnologias de informação
tornou Portugal líder europeu na disponibilização e qualidade de serviços
públicos online.
Ao nível das estruturas de ciência e inovação, Portugal dispõe hoje de centros de
excelência em áreas de grande potencial de crescimento, como a nanotecnolo-
gia, as telecomunicações móveis, as ciências médicas ou a biotecnologia. Nelas
trabalham portugueses formados pelas nossas universidades e muitos cidadãos
estrangeiros que escolhem Portugal para prosseguir a sua investigação. A pro-
dução científica em Portugal encontra-se inserida nas mais prestigiadas redes
de conhecimento globais. A cooperação entre as universidades portuguesas e
estrangeiras é hoje muito intensa, incluindo com as universidades chinesas.
Faço-me acompanhar, nesta Visita de Estado à China, por Reitores das univer-
sidades portuguesas.
Portugal tem vindo a apostar fortemente na qualificação dos recursos humanos.
Nos últimos vinte anos, o número de diplomados quintuplicou. Mais recente-
mente, o País registou um dos maiores crescimentos a nível europeu no número
de novos doutorados. Como vos disse há pouco, acredito no valor fundamental
da educação como via para o progresso. Por isso, acredito num futuro ambicioso
para o meu país.
No estrangeiro, os quadros portugueses são reconhecidos e procurados. Tenho
tido ocasião de o comprovar pelo Mundo fora. Há dois dias, em Xangai, num
encontro que mantive com a nova comunidade portuguesa, encontrei muitos
jovens quadros talentosos e empreendedores que aí vivem e trabalham com
sucesso.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
222
Vários portugueses têm sido chamados a desempenhar altos cargos em institui-
ções internacionais. O atual Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugia-
dos ou o Presidente da Comissão Europeia são portugueses, o que é significativo
do prestígio que o país granjeia.
Desde a sua adesão à União Europeia, Portugal tem assumido um papel muito
ativo no aprofundamento do projeto europeu, a mais ambiciosa experiência de
integração da história. O exemplo mais recente desse protagonismo foi a assina-
tura, em Lisboa, do Tratado com o nome da nossa capital. Foi membro fundador
da Zona Euro, componente central da integração europeia, a par com o mercado
único europeu de cerca de 500 milhões de consumidores. Portugal acredita na
Europa unida.
No plano externo, Portugal define-se ainda pelo especial relacionamento que
mantém com os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa. As relações de
amizade que Portugal construiu com os novos países emergidos da descoloni-
zação portuguesa na década de 70 do século passado são motivo de orgulho.
A fundação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, em 1996, juntando,
ainda, o Brasil e, mais tarde, Timor-Leste, foi a confirmação de que esta era uma
comunidade de afetos, unida por uma língua, por uma História e por valores
comuns, que desejava assumir o compromisso formal de aprofundar a coope-
ração entre os seus membros.
Na América Latina, Portugal mantém, para além da especial relação com o Bra-
sil, uma dinâmica de contactos frequente no quadro da Comunidade Ibero-Ame-
ricana. Mais recentemente, a aproximação de Portugal à Aliança do Pacífico,
como país observador, é reveladora do interesse com que encaramos esta região.
No Atlântico Norte, as relações com os Estados Unidos e com o Canadá são anti-
gas e de grande proximidade. Ainda no passado mês de março visitei estes dois
países, nossos parceiros na Aliança Atlântica, onde vive e trabalha uma impor-
tante e dinâmica comunidade portuguesa.
No palco multilateral por excelência – as Nações Unidas –, Portugal é reconhe-
cido pela sua capacidade para alcançar consensos e construir pontes entre
países e culturas. Este cariz de universalidade reúne um capital de simpatia
que terá sido, muito provavelmente, uma das chaves do sucesso das nossas
candidaturas ao Conselho de Segurança.
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
223
Hoje, regresso à China. Os primeiros contactos entre os nossos povos remontam
há cinco séculos. O fascínio que a China provocou nos portugueses foi imediato.
Os relatos de uma civilização sofisticada e única chegaram a Portugal por diver-
sos relatos e documentação, provocando curiosidade e animação. Dela consta
referência no grande épico português, OsLusíadas, de Luís de Camões.
Creio que Portugal e a China têm sabido valorizar, numa lógica de presente e de
futuro, os profundos e multisseculares laços de amizade e de cooperação que
nos unem. Constatei-o durante os meus mandatos como Primeiro-Ministro e,
também agora, como Presidente da República de Portugal.
Este é um ano particularmente feliz, pois comemoram-se os 35 anos do restabe-
lecimento das relações diplomáticas luso-chinesas e o 15º aniversário da Região
Administrativa Especial de Macau, símbolo maior da nossa amizade. A negocia-
ção exemplar que Portugal e a China souberam levar a cabo, com confiança e
respeito mútuos, culminou com a Declaração Conjunta, que, em representação
de Portugal, tive a honra de assinar na presença do grande líder Deng Xiaoping.
Hoje, os nossos dois países procuram explorar plenamente o enorme potencial
que a Parceria Estratégica luso-chinesa encerra, em benefício dos dois povos.
Foi neste espírito que tive a honra de receber em Portugal a Visita de Estado do
Presidente Hu Jintao. Portugal conta com a China, e a China sabe que conta com
Portugal, tanto de um ponto de vista bilateral, como nos contextos internacionais
em que ambos os países se inserem.
O que vos vim desvendar sobre o Portugal de hoje traça os contornos de um país
que se define, afinal, por uma continuidade: a abertura ao Mundo e a busca do
conhecimento. Os Descobrimentos Portugueses, que deixaram marcas pelos
quatro cantos do planeta, assentaram no desenvolvimento da ciência e de téc-
nicas de vanguarda e estiveram na génese da economia global dos nossos dias.
No passado, os meus antepassados foram impelidos a expandir o conheci-
mento através da viagem. Hoje, é ainda a força do conhecimento que continua
a mover-nos, com uma ambição em que as universidades assumem um papel
fundamental.
O poeta português Miguel Torga escreveu:
“E abre-se em mim a força deste abraço
Que abarca o mundo!”
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
224
Este é hoje, como sempre foi, o sentimento e a atitude dos Portugueses.
Está, pois, também nas vossas mãos, estimados alunos e professores, o reforço
dos laços que unem Portugal e a China.
Na comitiva que me acompanha, encontram-se instituições portuguesas de
ensino superior e de investigação. O interesse revelado pela comunidade aca-
démica portuguesa é também um claro indício de que o aprofundamento das
relações entre Portugal e a China continuará a dar frutos duradouros ao nível
do conhecimento, da Academia e do mundo empresarial.
Muito obrigado.
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
225
Sessão de Encerramento do Seminário Económico China-Portugal
Pequim,16demaiode2014
Gostaria de começar por felicitar as agências de promoção do investimento e do
comércio externo de Portugal (a AICEP) e da China (o CCPIT), pela organização
desta excelente iniciativa, que veio permitir o encontro e o debate entre empre-
sários, fomentando parcerias e dando a conhecer as realidades económicas e o
ambiente empresarial de ambos os países.
Saúdo e agradeço a presença de todos os oradores, empresários e participantes.
A China, país ancestral com fortes tradições e uma cultura milenar, tem um
papel único na história do mundo. A China atual surpreende pela capacidade
de conjugar as suas tradições multisseculares com um processo de mudança
estrutural assente no desenvolvimento económico e empresarial e numa forte
estratégia de internacionalização.
A China é hoje uma economia de sucesso. Tenho acompanhado, com grande
interesse, os esforços feitos e as soluções encontradas para afirmar a China como
parceiro de sucesso na economia global.
A China tem vindo a transformar-se muito rapidamente, pelo seu próprio mérito
e vigor, num dos maiores expoentes de crescimento económico a nível mundial.
A China está em voga. A sua energia e vitalidade, a sua dimensão, a audácia e
perseverança do seu tecido empresarial atraem, naturalmente, a atenção do
Mundo e, por certo, também de Portugal. É hoje um país de interesse estratégico
para as empresas portuguesas.
O potencial de cooperação é enorme e gostaria que esta minha Visita contribuísse
para o reforço do relacionamento económico e empresarial entre os dois países.
Nesse sentido, não posso deixar de sublinhar a oportunidade que este Seminário e os
Encontros Empresariais representam para o aumento do investimento e de novas
parcerias. Desde logo, porque proporcionam um estreitamento dos contactos entre
empresários e altos responsáveis portugueses e chineses. Contribuem, deste modo,
para um melhor conhecimento do que se faz atualmente na China e em Portugal.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
226
Os nossos países e as nossas economias têm dimensões muito diferentes e estão,
geograficamente, muito distantes. Contudo, se soubermos criar um bom clima de
confiança entre as nossas empresas, com respeito pelas nossas culturas e identida-
des, teremos condições para estabelecer verdadeiras parcerias de interesse mútuo,
de âmbito não apenas bilateral mas também orientado para terceiros mercados.
Para além da sua condição de Estado-membro da União Europeia e da proxi-
midade e do bom relacionamento com os países do Norte de África, Portugal
sustenta ainda laços especiais com a África Subsaariana – onde países como
Angola e Moçambique falam português e mantêm ligações políticas, económicas
e culturais fortes com o nosso país. O mesmo se passa com a América do Sul,
onde avultam as nossas particulares ligações de amizade com o Brasil e as fáceis
relações com os países do Eixo Atlântico.
Portugal é hoje, também, uma importante porta no Atlântico para a Europa.
O porto de Sines é o primeiro porto europeu de águas profundas no acesso pelas
rotas do Oriente, venham elas por África ou através do canal do Panamá.
Na sequência da crise financeira mundial de 2008, Portugal comprometeu-se
com um ambicioso e abrangente programa de ajustamento económico, finan-
ceiro e orçamental. Passados exatamente três anos da sua aplicação e em fase
de conclusão, existem dois aspetos que gostaria de salientar. Por um lado, os
objetivos estabelecidos e as medidas previstas foram, na sua grande maioria,
cumpridos e implementados; e, por outro, o ajustamento orçamental e as alte-
rações estruturais na economia portuguesa foram muito significativos.
Recuperámos a confiança dos nossos parceiros e dos mercados financeiros
internacionais.
Os resultados da execução do programa de ajustamento começam agora a apa-
recer e a estimular a confiança interna, situação que tanto os nossos parceiros
como os mercados têm reconhecido e valorizado.
Os sinais dos últimos doze meses têm sido, de facto, muito animadores. Desde o
2º trimestre de 2013 que a economia está a crescer. O desemprego tem baixado.
Nos mercados externos, as empresas portuguesas têm mostrado uma notável
capacidade de adaptação, continuando a conquistar quotas de mercados, sobre-
tudo fora do espaço europeu. Atualmente, as exportações já representam 40 por
cento do PIB, contra cerca de 30 por cento em 2010. O saldo das nossas contas
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
227
externas foi positivo em 2013, situação que deverá reforçar-se no ano em curso.
Desde meados de 2013 que as taxas de juro da dívida pública portuguesa têm
vindo a descer significativamente. O País tem vindo a retomar a emissão de
dívida de médio e longo prazo nos mercados internacionais, valendo a pena
sublinhar que as taxas de juro da dívida a 10 anos se situam, atualmente, em
cerca de 3,5 por cento.
Sabemos que é essencial manter o ritmo das reformas estruturais em curso e
que o crescimento económico terá de assentar fundamentalmente no investi-
mento privado, nacional e estrangeiro, e nas exportações.
Estamos determinados a proporcionar a quem investe em Portugal um ambiente
empresarial estável e atrativo. Nesse sentido, estão em curso reformas essen-
ciais na área das relações laborais, da justiça, do licenciamento e da tributação
das empresas. Portugal beneficia também de um novo e interessante programa
europeu de apoio ao investimento, especialmente dirigido para as PME e para
a inovação e competitividade.
As empresas que me acompanham nesta Visita de Estado à República Popular
da China representam muito do melhor e mais dinâmico de Portugal e apresen-
tam experiências bem-sucedidas de internacionalização em várias geografias.
Poderia falar com gosto sobre a qualidade individual de cada uma das empresas
aqui presentes, mas sei que os senhores líderes empresariais o terão feito ou o
farão muito melhor do que eu.
Portugal tem hoje uma nova geração de empresas, com grande capacidade
empreendedora, inovadora e tecnológica. Muitas estão a desenvolver produtos e
serviços diferenciadores para novos segmentos de procura no mercado mundial:
na eletrónica, nas tecnologias de informação, na área das energias renováveis,
na indústria farmacêutica, no setor automóvel e aeronáutico, ou nas aplicações
de software para processos de fabrico ou de gestão.
Destaco as áreas das tecnologias de gestão, da preservação e requalificação
ambiental, do ordenamento, da valorização urbanística e da gestão das cidades,
assim como da eficiência energética e das infraestruturas, áreas, todas elas, onde
as empresas portuguesas já têm provas dadas mundo fora.
Também me acompanham algumas empresas das chamadas “indústrias tradi-
cionais”, como o calçado, a têxtil e vestuário, o mobiliário, a agroalimentar e os
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
228
vinhos, entre outras. Com uma enorme experiência acumulada, souberam rein-
ventar-se e ganharam uma posição comercial forte nos mercados internacionais.
O setor do turismo merece uma particular referência. Portugal é um destino de
reconhecida qualidade. O sol e a luminosidade sempre presentes, o agradável
clima, a hospitalidade e a segurança, a par de uma extensa costa marítima de
rara beleza, são pontos fortes da nossa oferta turística. As diferentes regiões,
tanto na riqueza e diversidade do património construído como nas tradições,
festas e romarias populares, fazem de Portugal um destino turístico único.
A tudo isto acresce, ainda, uma forte capacidade de alojamento, tanto ao nível
hoteleiro como em apartamentos para estadias de longa duração ou residen-
ciais, complementada por uma rede de qualidade de apoio à saúde, uma boa
gastronomia e excelentes campos de golfe, que valerá a pena conhecer e fruir.
Neste particular, devo sublinhar que, nos últimos anos, muitos cidadãos chineses
têm procurado residência em Portugal.
Portugal situa-se hoje, em segmentos de mercado específicos, numa posição de
vanguarda a nível mundial. A China, por seu lado, encontra-se numa imparável
rota de desenvolvimento e pode encontrar em Portugal parcerias estratégicas
que acrescentem massa crítica competitiva em terceiros mercados.
Embora afastados, cada um do seu lado do Mundo, juntos podemos criar valor,
com benefício mútuo.
É com essa convicção que irei terminar. Mas não sem antes vos transmitir a
fundada esperança de que os trabalhos deste Seminário e os encontros que pro-
porciona deem um contributo determinante para que os empresários chineses
e portugueses possam reforçar o bom entendimento e a amizade entre a China
e Portugal.
Muito obrigado.
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
229
Inauguração da Exposição “Onde é a China?”
Pequim,16demaiode2014
Em 2014, Portugal celebra 35 anos de relações diplomáticas com a República
Popular da China. Torna-se, assim, especialmente oportuno promover uma
exposição de artistas portugueses e chineses que têm desenvolvido o seu tra-
balho nestas últimas décadas. Eles representam o presente das nossas duas
nações.
Decidi incluir no programa da Visita de Estado à República Popular da China,
uma iniciativa que, pela primeira vez, reúne, em diálogo, trabalhos de artistas
contemporâneos chineses e portugueses, procurando dar resposta a uma per-
gunta que é uma metáfora: “Onde é a China?”.
Encontramos aqui uma enorme riqueza artística, gerada por este contraponto
Portugal/China através das obras de mais de vinte artistas. Os trabalhos de
fotografia e vídeo que podemos admirar espelham as temáticas e os meios
pelos quais a arte contemporânea se move e nos interroga. Descobrimos, atra-
vés das obras destes artistas, que as relações culturais entre os dois países
estão bem sedimentadas, e que existe um especial interesse pela contempo-
raneidade da China.
Felicito calorosamente esta iniciativa e o empenho dos seus comissários, bem
como toda a equipa envolvida na produção da exposição, aqueles que deram
corpo a este projeto e souberam enquadrá-lo com tanto sucesso.
Quero formular um especial agradecimento à EDP e à CWE International Corpo-
ration, que, em conjunto, abraçaram o financiamento deste projeto e tornaram
possível a sua realização. São exemplo de que o apoio às artes e a promoção do
diálogo cultural enriquece, de forma extraordinária, as relações entre povos e
nações.
Finalmente, quero agradecer às entidades que generosamente acolheram este
desafio, a CICA e o China Millenium Monument World Art Museum. A exposição
ficará assim patente ao público em Pequim, dando a conhecer uma relevante
mostra da atividade artística desenvolvida em Portugal e na China. Viajará em
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
230
seguida para Lisboa, para ser apresentada no Museu do Oriente, o que lhe irá
conferir uma dimensão verdadeiramente bilateral, contribuindo para a reper-
cussão desta Visita em Portugal.
Faço votos para que a exposição que hoje inauguramos seja um incentivo ao tra-
balho destes e de outros artistas que, neste mundo global, se dedicam à procura
da identidade e da riqueza no diálogo entre culturas.
Muito obrigado.
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
231
Banquete Oferecido pelo Chefe do Executivo da Região Administrativa Especial de Macau
Macau,17demaiode2014
Gostaria de começar por agradecer a calorosa hospitalidade com que a minha
Mulher e eu, bem como a comitiva que nos acompanha, temos sido recebidos em
Macau. Regressar a Macau constitui para mim, antes de mais, uma grande honra.
Trata-se de uma visita que me desperta, naturalmente, uma forte emoção, mas
que não assenta em qualquer nostalgia do passado. Visito Macau para reafirmar
inequivocamente que, para Portugal, a ligação à China e a este Território é uma
prioridade estratégica.
A História de Portugal e de Macau cruzou-se ao longo de séculos. Em 1987, na
primeira Visita Oficial de um Primeiro-Ministro português à China, tive a honra
de subscrever, em nome de Portugal, a Declaração Conjunta Luso-Chinesa sobre
a Questão de Macau. Os principais objetivos de ambos os países tinham sido con-
cretizados, sendo reconhecida a natureza especial deste Território, quer do ponto
de vista histórico e cultural, quer numa perspetiva política e administrativa.
É com grande orgulho que hoje posso constatar ter-se tratado de uma fórmula
plena de êxito. No ano em que se cumprem 15 anos da transferência de soberania
e do estabelecimento da Região Administrativa Especial de Macau, celebra-se
também este sucesso: o desenvolvimento económico de Macau foi crescente, o
estatuto dos residentes de Macau foi assegurado e a preservação da presença
cultural portuguesa tem sido honrada e aprofundada.
O próprio processo negocial, até pela complexidade e sensibilidade da questão,
foi considerado exemplar. Permitiu projetar mais alto no Oriente o nome de
Portugal, como um país construtor de consensos e de pontes entre culturas.
Permitiu, de igual modo, mostrar a abertura da China ao Mundo e o seu desejo
de cooperação fraterna com Portugal.
A transição de Macau marcou igualmente o início de uma nova fase de relacio-
namento com a China, baseada na confiança e no respeito mútuos. Estes valo-
res têm sido consubstanciados, desde 2005, numa Parceria Estratégica Global.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
232
Macau insere-se numa região com um enorme potencial e pode assumir-se como
uma plataforma privilegiada para uma maior proximidade de Portugal com a
Ásia e, em particular, com a China.
Aliás, é a própria China a reconhecê-lo, conferindo-lhe um papel central como
plataforma de intercâmbio e de cooperação entre a China e os Países de Língua
Portuguesa, através do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre
a China e os países que nela se expressam, mais conhecido por “Fórum Macau”,
cujo Secretariado Permanente se encontra aqui sedeado.
Senhor Chefe do Executivo
Sempre depositei grande confiança no potencial de Macau. Em 1992, durante a
Presidência Portuguesa das Comunidades Europeias, quando me encontrava a
exercer funções como Primeiro-Ministro, foi assinado o Acordo Comercial e de
Cooperação entre Macau e a Comunidade Económica Europeia.
A visão estratégica sobre o potencial de Macau passa também, hoje em dia, pela
valorização da língua portuguesa, um importante ativo partilhado por milhões
de seres humanos. O seu valor económico e internacional é hoje inquestionável,
bem como a sua afirmação como língua de cultura, de ciência e de empreende-
dorismo. O interesse crescente por estudos em língua portuguesa em Macau,
como em toda a China, é um sinal expressivo do que acabo de afirmar.
Aprofundar a presença portuguesa nesta Região Administrativa Especial é um
desejo de ambos os países. Importa, por isso, que exista, de parte a parte, um
maior dinamismo dos contactos económicos e empresariais, das relações cultu-
rais, dos fluxos turísticos e do relacionamento entre os cidadãos.
Senhor Chefe do Executivo
A amizade entre os nossos povos conta já cinco séculos. Em Macau encontra-
-se um dos 24 bens de origem portuguesa fora do território nacional clas-
sificados como Património da Humanidade. Esta é uma Região que estará
sempre ligada a Portugal de forma muito especial, honrando o sentimento
de portugueses e macaenses.
Ao nível político, compete-nos apostar no reforço de todas as vertentes do rela-
cionamento de Portugal com esta Região e com a China. Foi com este espírito
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
233
que procurámos incluir as dimensões política, económica, cultural, académica
e científica no programa desta visita a Macau.
É com confiança que peço a todos que se juntem a mim num brinde à saúde do
Chefe do Executivo, Chui Sai On, e ao aprofundamento dos laços entre Portugal
e a Região de Macau.
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
235
Encontro com as Comunidades Portuguesas de Macau e Hong Kong
Macau,18demaiode2014
É com especial emoção que a minha Mulher e eu nos encontramos convosco em
Macau. Permitam-me que comece por assinalar, muito sensibilizado, a magnífica
hospitalidade com que fomos recebidos pelas autoridades macaenses, um sinal
do apreço por Portugal e pelos portugueses que aqui vivem.
Agradeço a vossa presença, portugueses residentes em Macau e Hong Kong.
Estrategicamente situado na foz do Rio das Pérolas, Macau tem sido, ao longo
dos séculos, um ponto privilegiado do encontro entre Ocidente e Oriente. Neste
lugar de confluência, uma cultura única, singularíssima, emergiu do contacto
harmonioso entre a cultura portuguesa e a cultura chinesa. Hoje, com renovado
dinamismo, Macau honra esta herança histórica, feita de paz e de amizade.
Tive ocasião de constatar a dinâmica de Macau nos diversos contactos que aqui
mantive, ao nível político, empresarial, universitário e cultural. Como sabem,
enquanto Primeiro-Ministro, vivi intensamente o processo de negociação para
o regresso de Macau à soberania chinesa. Tratou-se de um processo negocial
complexo e delicado, mas exemplar nos resultados obtidos. Podemos hoje teste-
munhar o sucesso do modelo alcançado, bem patente no extraordinário desen-
volvimento económico desta Região Administrativa Especial e na preservação
da especificidade cultural de Macau pelas autoridades administrativas e pela
sociedade civil.
Caros Compatriotas
Sei que as razões que vos levaram a permanecer em Macau ou que aqui vos
trouxeram são as mais diversas. Mas sei também que, independentemente do
percurso de cada um, existe em todos vós, além da vontade de triunfar, um forte
amor à nossa Pátria, a Portugal.
Os portugueses que vivem e trabalham no estrangeiro são um ativo essencial
que procuro valorizar de forma muito empenhada. Ao longo dos meus mandatos
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
236
como Presidente da República, tenho estado próximo das nossas Comunida-
des residentes no estrangeiro. Tenho levado esta mensagem de proximidade
aos portugueses e lusodescendentes que vivem e trabalham nos mais diversos
pontos do planeta e com os quais me tenho encontrado – Luxemburgo ou Esto-
colmo, Sydney ou Timor, São Francisco ou Newark, Toronto ou Bogotá, Luanda
ou Joanesburgo e outras cidades do mundo.
Em Macau e Hong Kong, o desafio mais exigente é sermos capazes de olhar para
o futuro e aí projetar as nossas ambições enquanto Portugueses.
Caros Amigos
Cada um de vós é um verdadeiro embaixador de Portugal, um testemunho vivo
daquilo que é o nosso país. Agradeço-vos a visibilidade que, graças à vossa
presença, o Portugal do século XXI tem adquirido neste território do Extremo
Oriente. A nossa História é aqui bem conhecida. O Portugal atual é uma rea-
lidade nova, que a Diáspora tem, em larga medida, desvendado: um país que
aposta no cluster do mar, que dispõe de infraestruturas físicas e tecnológicas
de excecional qualidade, que tem vindo a alcançar novos patamares de compe-
titividade em diversas áreas científicas e tecnológicas, que é líder europeu na
disponibilização e qualidade de serviços públicos online, que dispõe de centros
de excelência em áreas de grande potencial de crescimento, como a nanotec-
nologia, as telecomunicações móveis, as ciências médicas ou a biotecnologia,
e cuja produção científica se encontra inserida nas mais prestigiadas redes de
conhecimento globais.
O vosso sucesso aqui é um exemplo da excelência reconhecida internacional-
mente aos recursos humanos portugueses. O vosso êxito é fator essencial para
a valorização nas nossas relações com a China.
Durante esta minha visita, tive oportunidade de testemunhar, em diversas
ocasiões, o enorme interesse pela língua portuguesa. O português é o terceiro
idioma europeu mais falado no mundo, língua oficial de mais de 250 milhões
de pessoas em quatro continentes, incluindo nesta Região Administrativa
Especial chinesa. Apelo a que continuem a acarinhar a lusofonia e a divulgar
a nossa cultura.
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
237
Caros Compatriotas
Ao terminar esta minha Visita de Estado, parto confiante de que as autoridades
com que me encontrei atribuem, tal como nós, um claro valor estratégico às
relações e à cooperação com Portugal. As Comunidades Portuguesas de Macau e
de Hong Kong são agentes fundamentais neste relacionamento, que nos últimos
anos se tem diversificado e intensificado.
Desejo a todos os maiores sucessos, profissionais, pessoais e familiares. Em Por-
tugal, sabemos que podemos contar com cada um de vós.
Na esperança de que se sintam mais perto da nossa e da vossa terra, Katia Guer-
reiro traz-vos, através do Fado, um pouco de Portugal. Espero que apreciem o
concerto que, daqui a pouco, terá lugar.
Antes, porém, queria deixar um particular agradecimento a alguns de entre vós
que decidi condecorar, pela forma marcante como contribuíram para a transição
exemplar para a soberania chinesa, mantendo a herança cultural específica de
Macau.
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
239
Almoço Organizado pela Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa
Macau,18demaiode2014
Saúdo vivamente, nesta ocasião, a presença de membros do Executivo da
Região Especial de Macau. Com esse gesto, que muito agradeço, quiseram
demonstrar a atenção que dedicam às relações com Portugal, designadamente
ao nível económico.
Quero agradecer, de igual modo, à Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chi-
nesa a organização deste encontro entre empresários macaenses e portugueses,
num espaço repleto de tanta História e tão simbólico como é o Clube Militar de
Macau.
Felicito a Câmara de Comércio pela assinatura do Acordo que acabou de firmar
com a Associação Empresarial de Macau em benefício do aprofundamento da
cooperação e das relações económicas entre Portugal e Macau.
Deve ser enaltecida a forma ativa e persistente como, desde 1978, a Câmara de
Comércio e Indústria Luso-Chinesa tem vindo a promover as relações econó-
micas, comerciais e de amizade entre Portugal e a República Popular da China.
Todos sentimos e reconhecemos que existe um ainda grande potencial de cres-
cimento nas relações económicas e na cooperação bilateral, nas mais diversas
áreas de atividade. Estou certo de que esta minha visita contribuirá para trazer
um novo impulso a esse relacionamento.
Estes encontros proporcionam um estreitamento dos contactos entre empre-
sários e altos responsáveis políticos e contribuem, de forma decisiva, para um
melhor conhecimento do que se faz atualmente, não apenas nesta Região Admi-
nistrativa Especial, mas também em toda a China e, decerto, em Portugal.
A estrutura empresarial macaense conhece bem a realidade portuguesa e man-
tém contactos profundos com o nosso país.
Portugal, além da sua pertença ao espaço da União Europeia e da proximidade
e do bom relacionamento que tem com os países do Mediterrâneo, possui liga-
ções multisseculares a África. Em países como Angola e Moçambique, que
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
240
falam português, mantém ligações políticas, económicas e culturais extrema-
mente fortes. Na América do Sul, são profundas as relações de amizade com o
Brasil e muito próxima a ligação aos países do Eixo Atlântico.
Minhas Senhoras e meus Senhores
O ajustamento macroeconómico e as alterações estruturais introduzidas na
economia portuguesa nos últimos anos permitiram a Portugal reconquistar
a confiança dos nossos parceiros internacionais e dos mercados financeiros e
reforçar a competitividade da nossa economia.
Desde o 2º trimestre de 2013 que a atividade económica tem vindo a crescer con-
secutivamente. Nos mercados externos, as empresas portuguesas têm demons-
trado uma notável capacidade de adaptação, continuando a conquistar quotas
de mercado, sobretudo fora do espaço europeu.
Queremos que o investimento privado, nacional e estrangeiro, e as exportações
sejam o grande motor de um crescimento económico sustentável e duradouro.
Nesse sentido, procuramos proporcionar a quem investe um ambiente empre-
sarial estável e atrativo. Creio que muitas das empresas chinesas estão hoje
bem conscientes das potencialidades de Portugal. Estão em curso importantes
reformas na área das relações laborais, do sistema judicial, do licenciamento e
da tributação das empresas.
Portugal beneficia, igualmente, de um novo e interessante programa estrutural
de apoio comunitário ao investimento, especialmente dirigido para as PME e
para a inovação.
Vivemos, pois, o início de um ciclo de crescimento económico e de acrescidas
oportunidades para as empresas que, estou certo, os empresários macaenses e
portugueses aqui presentes saberão aproveitar. Contamos convosco.
Finally,letmethankyouwarmly,onceagain,MisterSecretaryforEconomy
andFinance,foryourpersonalefforts,andforthecontributionoftheauthorities
ofMacaoandtheMacaoentrepreneurstoenhanceeconomicrelationsbetween
PortugalandMacao.
Thankyouverymuch.Muito obrigado.
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
241
Visita ao Instituto Politécnico de Macau
Macau,18demaiode2014
É, para mim, um enorme gosto conhecer de perto o Instituto Politécnico de
Macau. Gostaria de dizer quanto me honra e sensibiliza a fraternal hospitalidade
com que esta comunidade académica me recebeu.
O dinamismo que o Instituto Politécnico de Macau imprime à sua ação em prol
da língua portuguesa e da cooperação com universidades portuguesas ficou bem
patente na apresentação a que acabámos de assistir.
O Instituto Politécnico de Macau, sob a feliz inspiração do seu lema “Conheci-
mento, Experiência, Universalidade”, honra a singularidade deste Território,
uma singularidade que é fruto do encontro multissecular das culturas portu-
guesa e chinesa. Simultaneamente, os vários cursos de língua portuguesa, bem
como os cursos que, abrangendo diversos campos, são ministrados em portu-
guês, contribuem, de forma inequívoca, para que o Instituto seja uma das mais
competitivas instituições de ensino da região. A língua portuguesa é aqui, indis-
cutivelmente, vista como um ativo em crescente afirmação no plano internacio-
nal, seja em domínios como a economia, o comércio ou a cultura, seja nos novos
meios de informação e comunicação.
Nos últimos anos, a cooperação entre este Instituto e as instituições de ensino
superior portuguesas tem vindo a ser dinamizada e aprofundada. Criaram-se
importantes sinergias entre entidades situadas nos dois extremos do planeta,
mas unidas por um desígnio comum: a vontade de cooperar, de trabalhar em con-
junto e em diálogo na construção de uma sociedade baseada no conhecimento.
A língua portuguesa, com os seus 250 milhões de falantes, em vários continen-
tes, é uma língua global. Atualmente, na Ásia, desperta um interesse crescente,
o que não causa qualquer surpresa. O Centro Pedagógico e Científico de Língua
Portuguesa é uma aposta no valor estratégico da língua portuguesa e um projeto
em que reconhecidamente se materializa a visão global deste Instituto.
Macau detém condições privilegiadas para se assumir como polo difusor de
referência regional. O Instituto Politécnico de Macau tem sabido, em parcerias
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
242
mutuamente benéficas com instituições de ensino superior portuguesas,
explorar este potencial. Por isso, na pessoa do seu Presidente, felicito este pres-
tigiado Instituto e todos quanto nele trabalham, desejando os maiores sucessos
na vasta ação pedagógica, científica e cultural que, diariamente, desenvolvem.
Muito obrigado.
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
243
Banquete Oficial em Honra do Presidente dos Estados Unidos do México
PalácioNacionaldaAjuda,5dejunhode2014
É com grande satisfação que acolhemos em Portugal o Presidente Peña Nieto,
a Senhora D. Angélica Rivera e a comitiva que os acompanha nesta Visita de
Estado. Visita que se reveste, aliás, de um simbolismo muito particular, já que
coincide com a celebração dos 150 anos do estabelecimento de relações diplo-
máticas entre os nossos dois países.
Permitam-me também que dirija uma especial saudação ao México, na pessoa de
Vossa Excelência, no momento em que preside à Conferência Ibero-Americana,
referência incontornável do diálogo entre a América Latina e a Península Ibé-
rica. Estou certo de que alcançaremos resultados muito profícuos na reunião de
Vera Cruz da XXIV Cimeira de Chefes de Estado e de Governo.
Senhor Presidente
Os nossos laços históricos são seculares. As afinidades culturais, os valores que
partilhamos, a convergência das nossas posições na cena internacional e a com-
plementaridade das nossas economias fazem do México e de Portugal parceiros
naturais. O aprofundamento do relacionamento bilateral entre os nossos dois
países assume-se, pois, como uma prioridade, pelo potencial de oportunidades
que encerra.
Congratulo-me pelo facto de, nos últimos anos, as nossas relações terem adqui-
rido uma nova dinâmica, da qual resultou a assinatura de acordos bilaterais nas
mais diversas áreas. Apraz-me ainda sublinhar que, no decorrer da visita de
Vossa Excelência, serão assinados vários acordos de cooperação institucional,
além de outros entre empresas portuguesas e mexicanas.
Uma palavra particular para a Aliança do Pacífico, nova referência nas relações
internacionais, da qual o México é membro fundador. Nesse Fórum, Portugal,
enquanto país observador, estará à altura das suas responsabilidades e irá
assumir plenamente os seus compromissos.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
244
Senhor Presidente
Existe, no relacionamento entre o México e Portugal, um feliz encontro entre,
por um lado, a dimensão e o dinamismo da economia e da sociedade mexicana
e, por outro, a abertura da economia portuguesa ao investimento estrangeiro, e
a preparação e a qualidade das empresas e dos agentes académicos e culturais
portugueses. A convergência destes dois vetores gera oportunidades e sinergias
que devemos estimular e apoiar. O México, reitero, apresenta-se como um par-
ceiro de futuro, com o qual queremos consolidar as nossas relações.
Estou igualmente convicto de que o sucesso do ciclo de reformas que Vossa
Excelência tem vindo a promover alargará ainda mais o leque de oportunida-
des daqueles que, como nós, apostam na abertura e na internacionalização da
economia.
Saúdo a tão expressiva comitiva empresarial que acompanha Vossa Excelência.
Faço votos para que o seminário empresarial, que amanhã terá lugar, propor-
cione bons e frutuosos contactos entre as empresas dos nossos dois países.
Registo com apreço que empresas portuguesas participam já nos grandes proje-
tos em curso no México, em áreas tão diversas como a saúde, as infraestruturas,
as energias renováveis ou as tecnologias de informação e comunicação. Temos
o dever de consolidar as dinâmicas existentes e de criar as condições para o
desenvolvimento de novas iniciativas de cooperação.
Na América Latina, o México é um parceiro estratégico da União Europeia, com
um estatuto próprio e singular. Além de um intenso diálogo político, institucio-
nalizado nas cimeiras bianuais, esta relação especial entre o México e a Europa
estrutura-se ainda num Acordo de Comércio Livre. Portugal, membro empe-
nhado da União Europeia, apoia indiscutivelmente o processo em curso para
revisão daquele Acordo. Conte, Senhor Presidente, com o nosso firme apoio
nesta matéria.
Senhor Presidente
É minha convicção de que estamos a caminhar na direção certa. Estamos a saber
transpor para a sociedade civil, nas suas variadas dimensões, a excelência que
caracteriza as nossas relações políticas. Este é o rumo que, com determinação,
devemos continuar a seguir.
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
245
A Visita de Vossa Excelência a Portugal constitui um marco na história das nos-
sas relações. No mundo globalizado em que vivemos, do qual os Portugueses
foram precursores, este é o tempo favorável para nos empenharmos, de uma
forma ativa e decidida, no aprofundamento da nossa cooperação.
Para Gabriel García Márquez, filho adotivo do México recentemente desapa-
recido e cuja memória gostaria aqui de, simbolicamente, evocar, “A vida não é
mais do que uma contínua sucessão de oportunidades”. Comprometidos com
o bem comum e com o interesse dos cidadãos dos nossos dois países, temos
o dever de identificar e saber aproveitar as oportunidades que existem neste
nosso relacionamento.
É neste espírito que peço a todos que se juntem a mim num brinde à saúde e
prosperidade do Presidente Enrique Peña Nieto, da Senhora D. Angélica Rivera,
do povo amigo do México e ao futuro do relacionamento entre os nossos países.
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
247
Sessão de Encerramento do Seminário Económico Portugal-México
Lisboa,6dejunhode2014
A excelência das relações políticas entre o México e Portugal – que, nos últimos
anos, ganharam um novo impulso –, as nossas afinidades culturais e a com-
plementaridade das nossas economias fazem dos nossos dois países parceiros
naturais.
O México é um país que encerra grandes oportunidades. Para além da sua
dimensão, é uma economia que detém forte capacidade industrial e revela uma
crescente propensão ao investimento e a consumos de qualidade. Notamos com
satisfação o importante processo em curso de liberalização dos setores da ener-
gia e das telecomunicações promovido pelo Governo mexicano e felicitamos o
Presidente Peña Nieto pelas reformas estruturais em curso.
Portugal, por seu turno, é um país plenamente integrado no grande espaço da
União Europeia e que tem uma presença marcante em todos os continentes.
Desde África, quer seja no Magrebe, ou nos países lusófonos, em particular
Angola e Moçambique, ao Oriente – na China, em Macau ou em Timor. Além
disso, Portugal é, hoje em dia, uma importante porta do Atlântico para a Europa.
O porto de Sines é o primeiro de águas profundas nas rotas de acesso a este
continente, venham elas por África ou através do renovado Canal do Panamá.
Senhor Presidente
Minhas Senhoras e meus Senhores
Findo o programa de ajustamento, Portugal recuperou a credibilidade e o acesso
aos mercados. A economia portuguesa é hoje mais competitiva, sustentável e
mais integrada na economia global. Sem dúvida que Portugal oferece hoje exce-
lentes condições para investidores de fora da Europa que queiram entrar no
mercado europeu.
Deste processo de ajustamento têm vindo a emergir claros sinais de recupe-
ração da atividade económica, com efeitos na redução do desemprego. Mas
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
248
o mais relevante é o facto de esta retoma ter sido sustentada no aumento das
exportações, que subiram de 30 por cento do PIB em 2010 para 40 por cento
em 2013. Este é o caminho que vamos continuar a trilhar. Sabemos bem que
uma economia pequena e aberta ao exterior apenas pode ser sustentável a longo
prazo com um setor exportador moderno e dinâmico.
Sabemos que é essencial manter o ritmo das reformas estruturais em curso e
que o crescimento económico terá de assentar, fundamentalmente, no investi-
mento privado, nacional e estrangeiro, e nas exportações.
Estamos determinados a proporcionar a quem investe em Portugal um ambiente
empresarial estável e atrativo. Nesse sentido, estão em curso reformas essen-
ciais na área das relações laborais, da justiça, do licenciamento e da tributação
das empresas. Portugal beneficia também de um novo e interessante programa
europeu de apoio ao investimento, especialmente dirigido para as PME e para
a inovação e competitividade.
Estamos a promover uma maior interação entre as empresas, as universidades
e os centros de conhecimento científico e tecnológico, bem como entre o inves-
timento nacional e parceiros estrangeiros.
A maioria das empresas portuguesas presentes neste Seminário conhece esse
caminho e caracteriza-se, de resto, pelas suas bem-sucedidas experiências de
I&D e de introdução de processos de inovação e de internacionalização em
várias geografias, nomeadamente na América Latina.
Temos em Portugal uma nova geração de empresas, com grande capacidade
empreendedora, inovadora e tecnológica. Muitas estão a desenvolver produtos e
serviços diferenciadores para novos segmentos de procura no mercado mundial:
na eletrónica, nas tecnologias de informação, na área das energias renováveis,
na indústria farmacêutica, no setor automóvel e aeronáutico, no desenvolvi-
mento de aplicações de software para processos de fabrico ou de gestão, ou nas
indústrias da cultura e da educação.
Também nas chamadas indústrias tradicionais, como o calçado, a têxtil e ves-
tuário, o mobiliário, a agroalimentar ou os vinhos, a experiência acumulada
e uma posição comercial forte nos mercados internacionais, conjugadas com
uma aposta constante em inovação e criatividade, representam importantes
mais-valias que as empresas portuguesas têm sabido capitalizar.
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
249
Destaco ainda as tecnologias de gestão, de preservação e requalificação ambiental,
a eficiência energética, as redes de infraestruturas, o ordenamento, a valorização
urbanística, a gestão das cidades e as atividades ligadas ao turismo, áreas, todas
elas, onde as empresas portuguesas já têm provas dadas no mercado global.
Senhor Presidente
Minhas Senhoras e meus Senhores
O potencial de oportunidades no desenvolvimento de negócios e de parcerias
entre os nossos países é, sem dúvida, enorme. A assinatura dos instrumentos de
cooperação empresarial que acabamos de testemunhar é um sinal inequívoco
de que estamos no bom caminho.
Registo ainda, com satisfação, que o Acordo existente entre os nossos dois países
para evitar a dupla tributação tem tido uma implementação exemplar.
A presença portuguesa no mercado global torna-nos, estou convencido, parcei-
ros qualificados para os empresários mexicanos. O México está, por seu lado,
numa robusta rota de desenvolvimento e tem manifestado interesse em encon-
trar parcerias estratégicas visando terceiros mercados. Temos, portanto, objeti-
vos estratégicos convergentes e oportunidades complementares, que podemos
e devemos explorar.
É com essa convicção que irei terminar. Mas não sem antes vos transmitir a
fundada expectativa de que os trabalhos deste Seminário e os encontros que se
lhe seguirão sejam passos determinantes para que os empresários mexicanos
e portugueses possam identificar interesses mútuos e tirar partido das oportu-
nidades. Estou certo de que os laços económicos e de cooperação empresarial
sairão daqui reforçados. Este será, sem dúvida, um contributo fundamental
dos nossos empresários para o aprofundamento das relações entre o México
e Portugal.
Muito obrigado.
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
251
Cerimónia de Atribuição dos Prémios Norte-Sul do Conselho da Europa
Lisboa,12dejunhode2014
O Prémio Norte-Sul do Conselho da Europa distingue personalidades que, pela
sua ação, se destacam por contribuírem para a proteção dos direitos humanos,
para a defesa da democracia e do Estado de direito, e para a promoção da liber-
dade, do diálogo intercultural e da interdependência entre os povos. As indivi-
dualidades galardoadas são exemplo de trabalho e de perseverança e, não raras
vezes, de muitos sacrifícios.
Este Prémio tem, ao longo dos anos, contemplado entidades que provêm de
contextos múltiplos e distintos, pondo, desta forma, também em evidência a
diversidade e a pluralidade do Centro Norte-Sul.
Os laureados desta edição são disso um claro exemplo: Sua Alteza o Aga Khan,
e a Rede Aga Khan para o Desenvolvimento, e a Senhora Dr.ª Suzanne Jabbour.
Sua Alteza o Aga Khan e a Rede Aga Khan para o Desenvolvimento não necessi-
tam de apresentações. A Rede Aga Khan, presente em 30 países, tem trabalhado
desde há muito no sentido de melhorar as condições de vida das populações,
valorizando, em particular, áreas como a saúde, a educação, o desenvolvimento
rural, a cultura, a arquitetura e o empreendedorismo. Assenta num impressio-
nante projeto, que desenvolve parcerias com diversas instituições públicas e
privadas, desde governos a organizações internacionais, passando por empre-
sas, fundações e universidades.
Gostaria que este Prémio pudesse também servir de estímulo à cooperação
entre a Rede Aga Khan para o Desenvolvimento e o próprio Centro Norte-Sul.
Hoje prestamos igualmente homenagem a Suzanne Jabbour, médica com um
desempenho destacado na promoção dos direitos humanos e, em especial, na
luta contra a tortura em prisões e centros de detenção no Médio Oriente, em
África e na América Latina. A sua ação enquadra-se no apoio à reabilitação
das vítimas através de um conjunto de serviços de acompanhamento jurídico,
médico e psicológico.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
252
Para além da direção da ONG “Restart”, as funções que a Dr.ª Suzanne Jabbour
desempenha como Presidente do Comité Executivo do Conselho Internacional
de Reabilitação das Vítimas de Tortura são um testemunho adicional do seu
valor e da sua dedicação.
Este ano, o Centro Norte-Sul destaca a vertente dos direitos humanos, questão
consensual no plano das palavras, mas cuja materialização, infelizmente, per-
manece ainda por realizar. O trabalho de Suzanne Jabbour é bem ilustrativo
desta situação. Realço ainda as perspetivas da educação e do desenvolvimento,
subjacentes à ação da Rede Aga Khan, que cobre um vasto espetro de países e
de situações sociais, incluindo, desde há vários anos, Portugal.
Minhas Senhoras e meus Senhores
Quero saudar a presença, nesta cerimónia, do mais alto responsável do Conselho
da Europa. Espero que esta presença possa contribuir para o empenhamento de
todos no reforço do papel e da missão do Centro Norte-Sul.
Este ano, comemora-se o 25º aniversário do Centro Norte-Sul. O Centro consti-
tuiu-se como uma plataforma de diálogo solidário, congregando participantes
do espaço europeu e das regiões vizinhas em torno da promoção dos valores
universais, contribuindo desta forma para o processo democrático, através da
educação global para a cidadania e para o diálogo intercultural. Tem a particula-
ridade de juntar, nas suas ações, representantes de governos, dos parlamentos,
das autoridades regionais e locais e da sociedade civil.
O papel que o Centro tem desempenhado ao longo deste quarto de século, como
espaço de diálogo, é hoje ainda mais relevante.
Refiro-me, particularmente, à “fronteira” sul, atendendo à dinâmica política des-
ses Estados. É estimulante observar o interesse crescente dos países do sul do
Mediterrâneo e de outras zonas de África pelas atividades do Centro. A edição
de 2014 do Fórum Lisboa versará, justamente, sobre o processo eleitoral e a
consolidação democrática no Mediterrâneo Sul.
O Centro tem atualmente, num conjunto muito alargado de países, redes de
trabalho centradas nas questões da juventude e dos direitos das mulheres.
Desenvolve, em particular, uma ação muito importante no processo de forma-
ção e capacitação dos jovens para o exercício da cidadania, preparando-os para
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
253
assumir um papel ativo no processo democrático e na vida política dos seus
países. Contribui, desta forma, também para o combate ao crescente desencanto,
alheamento e absentismo democrático, fenómeno que vem afetando as nossas
sociedades.
Minhas Senhoras e meus Senhores
O trabalho desenvolvido pelo Centro Norte-Sul e o seu impacto na vida diária das
pessoas demonstram como, mesmo nas circunstâncias difíceis com que atual-
mente se defronta, o Centro continua a ser merecedor do apoio político e insti-
tucional do Conselho da Europa e de todos os países interessados em reforçar
os laços entre as duas margens do Mediterrâneo.
Reitero a importância que Portugal confere ao papel do Centro Norte-Sul. A ceri-
mónia de entrega do Prémio, que tem lugar anualmente em Lisboa, ao mais alto
nível, é, só por si, bem reveladora do nosso reconhecimento.
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
255
Banquete Oficial em Honra do Presidente da República Federal da Alemanha
PalácioNacionaldaAjuda,24dejunhode2014
É com grande satisfação que acolhemos em Portugal o Presidente Joachim
Gauck, a Senhora D. Daniela Schadt e a comitiva que os acompanha nesta Visita
de Estado.
Espero, Senhor Presidente, que se sintam bem entre nós, naquela que é a pri-
meira deslocação de Vossa Excelência ao nosso país, e que a visita seja um marco
nas relações entre Portugal e a Alemanha.
Os nossos dois países conhecem-se bem. Estão ligados por laços seculares e de
amizade, que se exprimem hoje no quadro de uma vasta e intensa cooperação
bilateral. Nas décadas mais recentes, temos partilhado o projeto comum, e cada
vez mais central, da União Europeia, com o qual estamos ambos firmemente
comprometidos.
Portugal e a Alemanha mantêm excelentes relações políticas, com base numa
cooperação estreita e numa forte confiança mútua. O nosso relacionamento bila-
teral vai, no entanto, muito além da dimensão política, estando também alicer-
çado nas vertentes económica, comercial, cultural, social e de ensino.
A Alemanha é, em simultâneo, o segundo maior cliente e fornecedor de bens de
Portugal e um dos mais importantes investidores externos. Por seu lado, Portu-
gal é um país que, pela sua presença internacional e pelos seus laços históricos
e culturais, se configura como parceiro natural para iniciativas conjuntas em
mercados terceiros, nomeadamente em África e na América do Sul.
Estou muito confiante, até pela experiência do passado, no contributo que as
empresas alemãs podem trazer à economia portuguesa, em termos de investi-
mento, emprego, trocas comerciais e turismo. Mas acredito, igualmente, no poten-
cial de expansão das empresas e dos produtos portugueses junto da Alemanha.
O reforço dos laços entre os povos passa, igualmente, pelo conhecimento recí-
proco das respetivas culturas, do património, das artes. A Alemanha é um país
de enorme estatura cultural e os alemães um povo aberto ao conhecimento e
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
256
a novas experiências. Espero que cada vez mais cidadãos alemães visitem o
nosso país e conheçam melhor a cultura portuguesa, a gastronomia, os vinhos,
a música, a literatura.
Reside na Alemanha uma vasta Comunidade de Portugueses. Esta Comunidade,
bem integrada e respeitada, é, também ela, um fator inestimável na promoção
das relações entre os nossos dois países.
Senhor Presidente
Estes últimos três anos foram, como é sabido, particularmente difíceis para o meu
país. Mas hoje, cumprido que foi o exigente Programa de Assistência Económica e
Financeira com que nos comprometemos, Portugal recuperou o acesso aos merca-
dos financeiros internacionais e a economia portuguesa apresenta-se mais compe-
titiva, sustentável e integrada na economia global. Deste processo de ajustamento
têm vindo a emergir sinais de recuperação da atividade económica, já com efeitos na
redução do desemprego, sendo de assinalar o importante contributo das exportações.
Estamos conscientes de que é essencial manter o ritmo das reformas estrutu-
rais em curso e de que o crescimento económico tem de assentar, fundamen-
talmente, no investimento privado, nacional e estrangeiro, e nas exportações.
Senhor Presidente
Nos últimos anos, têm-se colocado grandes desafios à Europa. A crise financeira
internacional veio expor fragilidades e desequilíbrios estruturais nas economias
de vários Estados-membros e veio tornar evidente o elevado grau de interdepen-
dência económica e financeira entre os Estados-membros e, em particular, os da
Zona Euro. É o resultado do nível de integração que alcançámos.
Ao longo deste tempo, tenho defendido a importância de, em paralelo com o
reforço do processo de disciplina e supervisão orçamental, se avançar mais deci-
didamente com uma agenda europeia orientada para o crescimento e para o
emprego. Tenho igualmente chamado a atenção para a importância de garantir
às nossas empresas, principalmente às de pequena e média dimensão, condições
de financiamento comparáveis às das suas congéneres europeias. Daí, também,
naturalmente, a importância que assume a célere operacionalização de uma
verdadeira União Bancária.
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
257
As decisões tomadas nas Instituições europeias têm, cada vez mais, um impacto
direto na vida das populações. É essencial que a voz dos povos, os seus legítimos
anseios e aspirações, se faça ouvir. Este será, certamente, um elemento a ter em
conta no exercício de reflexão que se impõe no seguimento das últimas eleições
europeias.
Portugal e a Alemanha são parceiros na União Europeia, mas partilham igual-
mente objetivos e interesses em relação a múltiplos temas da agenda internacio-
nal, agenda essa que mantém um elevado grau de volatilidade e incerteza, como
os recentes desenvolvimentos na Ucrânia têm demonstrado.
As transformações que se vêm operando nas relações de força a nível interna-
cional exigem, de forma cada vez mais evidente, uma União Europeia coesa e
determinada. Se a Europa mudou desde o final da Guerra Fria – e o alargamento
e o euro são disso o corolário –, a Alemanha mudou também. A Alemanha, que
em 1990 se lançou num processo de reunificação que marcou o nosso Continente
e o próprio Mundo, assume um papel central no contexto do aprofundamento
do processo de integração europeu, sendo não só o principal motor económico,
mas também um ator político fundamental.
Senhor Presidente
A Visita de Vossa Excelência é a confirmação da vontade dos responsáveis polí-
ticos de aprofundar ainda mais a amizade e a cooperação entre Portugal e a
Alemanha. É igualmente reveladora do nosso compromisso com um projeto
europeu forte, ambicioso, coeso e solidário.
É neste espírito que peço que se juntem a mim num brinde à saúde e felicidade
do Presidente Joachim Gauck e da Senhora D. Daniela Schadt, à prosperidade do
povo amigo da Alemanha e ao futuro das relações entre os nossos dois países.
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
259
Banquete Oficial em Honra do Presidente da República de Moçambique
PalácioNacionaldaAjuda,1dejulhode2014
É motivo de grande alegria, para mim e minha Mulher, receber Vossa Excelência,
Senhor Presidente, e a Senhora Dr.ª Maria da Luz Guebuza, bem como a distinta
comitiva que os acompanha nesta nova Visita a Portugal.
Alegria redobrada, naturalmente, pela oportunidade de revermos velhos ami-
gos. Ao longo dos últimos anos, várias foram as vezes em que nos encontrámos,
em Portugal, em Moçambique ou noutros pontos do Mundo. Nessas ocasiões, foi
sempre possível constatar os níveis ímpares de entendimento que partilhamos,
bem como o desejo de aprofundamento e reforço da cooperação entre os nossos
países.
Hoje, muito nos honra e sensibiliza, Senhor Presidente, que tenha decidido acei-
tar o convite que lhe dirigi, fazendo de Portugal o destino da última Visita bilate-
ral do seu segundo mandato. Ao reencontrá-lo no meu país, não posso deixar de
evocar, com gratidão, a generosidade com que minha Mulher e eu fomos sempre
recebidos em Moçambique, país a que nos une uma profunda ligação afetiva.
Senhor Presidente
As relações entre Portugal e Moçambique atravessam um momento de particu-
lar dinamismo em diversos campos.
Ainda recentemente, a Segunda Cimeira entre Portugal e Moçambique, em
Maputo, confirmou a excelência da nossa relação bilateral.
A Visita de Vossa Excelência constitui um importante passo no nosso compro-
misso de explorar perspetivas de cooperação que contribuam para reforçar as
parcerias entre Portugal e Moçambique, ao nível político, cultural, económico
e empresarial.
Importa também sublinhar a importância que atribuímos à eleição de Portugal
para a presidência do G-19, no quadro da parceria de apoio programático ao
Orçamento de Estado de Moçambique. O exercício deste mandato à frente do
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
260
G-19 sinaliza bem o aprofundamento qualitativo do nosso relacionamento bila-
teral, sendo certo que procuraremos contribuir para o fortalecimento da ação
do Governo moçambicano em prol do desenvolvimento.
Do ponto de vista estritamente bilateral, Portugal permanece como um parceiro
de Moçambique apostado no desenvolvimento sustentável do país. Apesar do
exigente contexto orçamental, o Programa Indicativo de Cooperação Portugal-
-Moçambique 2011-2014 logrou manter um nível de envolvimento financeiro
semelhante ao anterior.
Senhor Presidente
Quero expressar o meu apreço a Moçambique e ao povo moçambicano pela
forma como têm defendido e enriquecido a língua portuguesa. Tanto nas ruas
de Maputo ou da Beira, como nas obras de José Craveirinha, de Paulina Chi-
ziane ou Ungulani Ba Ka Khosa, a língua portuguesa adquire, por via da cultura
moçambicana, novas dimensões e acrescida projeção.
Quero, ainda, saudar Moçambique pela forma como tem conduzido a Presidên-
cia da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, imprimindo à organização,
ao longo do seu mandato, uma capacidade de afirmação crescente.
Até à Cimeira de Díli, continuaremos a trabalhar, em conjunto, para que, no atual
contexto de debate sobre os desafios futuros da nossa organização, a língua portu-
guesa e os valores que definem a nossa Comunidade sejam afirmados e projetados de
forma ainda mais visível no plano internacional. Essa tem sido a chave do crescente
reconhecimento da CPLP como uma entidade de referência no mundo atual, como
bem o revelam a importância do papel da CPLP em Timor-Leste ou na questão da
Guiné-Bissau e o próprio interesse estratégico que vem gerando junto de países como
a Namíbia, a Geórgia e a Turquia, candidatos ao estatuto de Observador Associado.
Senhor Presidente
A relação entre os nossos dois países constitui um ativo singular, tanto na pers-
petiva política, como na do contacto entre os nossos cidadãos e empresas.
Estou certo de que o Seminário-Fórum de Negócios que integra o programa desta
Visita contribuirá para encorajar mais parcerias comerciais e de investimento
entre os dois países.
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
261
O dinamismo económico que se prevê continuar a verificar-se em Moçambique,
ao longo da próxima década, abre grandes oportunidades de aprofundamento
das relações entre os nossos dois países. Neste processo, as empresas portugue-
sas, pelo seu conhecimento tecnológico, bem como pela sua especialização em
várias áreas relevantes, podem contribuir para a diversificação da economia
moçambicana.
As empresas portuguesas presentes no mercado moçambicano estão, por seu
turno, conscientes da sua responsabilidade social. Portugal continuará a envidar
esforços no sentido de incentivá-las a atribuir bolsas de estudo a estudantes
moçambicanos, complementando as bolsas concedidas pelo Estado, à seme-
lhança, aliás, do que foi iniciado no passado ano letivo. Deste modo, Portugal
deseja contribuir para a formação de quadros moçambicano e para a sua inser-
ção no mercado de trabalho, numa lógica de parceria, a longo prazo, com bene-
fícios mútuos.
Senhor Presidente
Saudamos os esforços de diálogo construtivo e de conciliação política que têm
vindo a ser desenvolvidos pelo governo moçambicano para que o País, num qua-
dro de inteira normalidade democrática, avance no caminho do progresso e da
melhoria das condições de vida das populações.
Agradeço-lhe, uma vez mais, o contributo que tem dado e o empenho que tem
colocado no aprofundamento da relação entre os nossos dois países. Pode contar,
Senhor Presidente, também com o meu empenho pessoal no fortalecimento dos
laços de amizade e cooperação que ligam os povos moçambicano e português.
É neste espírito que peço a todos que se juntem a mim num brinde à saúde e felici-
dade pessoal do Presidente Armando Emílio Guebuza e da Senhora Dr.ª Maria da
Luz Guebuza, à amizade entre Portugal e Moçambique e à prosperidade crescente
dos nossos povos irmãos.
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
263
Almoço de Retribuição Oferecido pelo Presidente da República de Moçambique
PaláciodaCidadela,2dejulhode2014
Foi com profunda satisfação que Portugal o recebeu, Senhor Presidente, assim
como à Senhora Dr.ª Maria da Luz e à delegação que vos acompanha. Esta sua
Visita, que muito nos honra e sensibiliza, assume um significado especial.
Especial, desde logo, porque se trata da visita de um Amigo próximo, que acolhe-
mos sempre com grande apreço e respeito. Esta Visita marca mais um encontro
entre dois países ligados por laços culturais profundos, que souberam desen-
volver uma amizade fraterna consubstanciada numa parceria estratégica, em
benefício de ambos os povos.
Especial, também, pelo simbolismo que encerra, tanto para Portugal como para
Moçambique, no quadro da dinâmica de aprofundamento do nosso relaciona-
mento bilateral e do novo impulso conferido na II Cimeira Luso-Moçambicana.
Especial, ainda, porque Vossa Excelência, Senhor Presidente, entendeu esco-
lher Portugal como primeiro e último destino das visitas bilaterais do seu
segundo mandato enquanto mais Alto Magistrado da Nação moçambicana, o
que é revelador da robustez da parceria estratégica existente entre Portugal
e Moçambique.
Senhor Presidente
Quero saudar os esforços e os sucessos obtidos pelo povo moçambicano na
consolidação da sua democracia e na procura do progresso económico e social.
Os progressos registados nas negociações entre o Governo moçambicano e a
Renamo e os esforços de diálogo e conciliação são prova da determinação de
Moçambique em prosseguir o caminho da paz e do desenvolvimento.
Não é de estranhar que a comunidade internacional reconheça, hoje, em Moçam-
bique, um ator relevante face ao protagonismo que vem assumindo na busca de
soluções para crises regionais ou ao empenho e dinamismo que tem depositado
na condução da atual Presidência da CPLP.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
264
De igual forma, o prestígio da comunidade literária e artística moçambicana,
amplamente reconhecido, projeta internacionalmente Moçambique, ao mesmo
tempo que enriquece e valoriza o nosso idioma comum e a Cultura do espaço de
língua portuguesa.
Senhor Presidente
Acredito que um contínuo aprofundamento dos nossos laços de amizade e de
cooperação será mutuamente benéfico para os nossos povos. É neste quadro
que se inscreve a parceria estratégica entre Portugal e Moçambique. A Visita
de Vossa Excelência veio dar, sem dúvida, um contributo importante para alcan-
çarmos esse objetivo comum.
É com esta convicção que peço a todos que se juntem a mim num brinde à saúde
e bem-estar do Presidente Armando Guebuza e da Senhora Dr.ª Maria da Luz
Guebuza, à prosperidade do povo moçambicano e aos laços de amizade fraternal
que unem Portugal e Moçambique.
Muito obrigado.
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
265
Almoço Oficial em Honra dos Reis de Espanha
PalácioNacionaldeQueluz,7dejulhode2014
É uma imensa satisfação e, simultaneamente, uma honra acolhermos Vossas
Majestades em Portugal neste primeiro périplo de Visitas de Apresentação. Sede
muito bem-vindos!
Vemos nesta Visita a renovada confirmação da firmeza e profundidade das rela-
ções entre os nossos dois países, vizinhos e amigos. Acresce, no entanto, que a
presença de Vossas Majestades entre nós se reveste ainda de um significado
muito particular, atendendo ao carinho e à simpatia que Portugal dedica à Famí-
lia Real.
A proclamação de Vossa Majestade como Rei é um momento determinante para
o seu país e constitui uma renovação geracional que marcará certamente a His-
tória de Espanha.
Vossas Majestades conhecem bem Portugal. Guardo excelentes recordações
da Visita Oficial que aqui realizaram em Maio de 2012, tal como recordo a
hospitalidade calorosa com que minha Mulher e eu sempre fomos recebidos
em Espanha.
Portugal e Espanha conhecem hoje um relacionamento que se exprime no qua-
dro de uma cooperação bilateral que nunca foi tão vasta e intensa e que vem
ganhando crescente vitalidade em setores variadíssimos das nossas sociedades
civis.
Há quatro décadas, os nossos países iniciaram processos de transição democrá-
tica e conheceram, desde então, grandes transformações. Há quase três décadas,
embarcámos, em simultâneo, no projeto europeu. Estes caminhos marcaram
profundamente aquilo que cada um dos nossos países é hoje, bem como o caráter
do nosso relacionamento.
A aproximação e o impulso registados nos últimos anos a nível das nossas ins-
tituições, dos empresários, dos jovens, dos agentes culturais e científicos, das
universidades e dos parceiros sociais é hoje uma realidade completamente
adquirida.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
266
Exemplos concretos desta cooperação não faltam e a XXVII Cimeira Luso-Espa-
nhola do passado mês de junho demonstrou-o bem, pela diversidade dos temas
e pela ambição dos debates.
As áreas de cooperação bilateral são cada vez mais numerosas, indo desde a
investigação e ciência à cultura, aos transportes, à gestão de recursos hídricos
e às questões energéticas. Registo, ainda, o nível de colaboração entre as nossas
zonas fronteiriças, um vetor importante das relações entre vizinhos, que contri-
bui para o desenvolvimento das regiões.
A intensidade e o peso estratégico do nosso relacionamento fazem com que pou-
cos temas escapem hoje às relações luso-espanholas. Espanha, a nível comercial,
constitui o primeiro cliente e fornecedor de bens de Portugal. Foi também, nos
dois anos mais recentes, o primeiro investidor externo e um dos principais rece-
tores do investimento português no exterior.
A nível do turismo, Espanha ocupa uma posição cimeira como mercado emis-
sor de turistas para Portugal e é um destino de eleição para os portugueses.
Estes dados são reveladores da grande conexão existente entre as nossas duas
economias.
Majestades
Portugal e Espanha são Estados de vocação universalista. Além da Europa, par-
tilhamos também outros espaços: o Atlântico, o Mediterrâneo, África e, natural-
mente, a comunidade ibero-americana.
O papel que, nos últimos anos, Vossa Majestade tem desenvolvido no quadro
do aprofundamento da relação ibero-americana e da dinamização das socieda-
des civis latino-americanas augura um reinado especialmente auspicioso, num
momento em que a nossa Conferência está em processo de profunda renovação.
O bom entendimento entre os nossos dois países, para além das óbvias vanta-
gens bilaterais, deve ser aproveitado para reforçar a nossa posição e tirar partido
das nossas potencialidades, quer no quadro da União Europeia, quer em outros
tabuleiros e fóruns relevantes, pese embora a existência de diferenças de inte-
resses em relação a algumas questões ou dossiês específicos.
A verdade é que hoje – e muito, também, graças ao legado deixado por Suas
Majestades o Rei D. Juan Carlos e a Rainha D. Sofia – nos conhecemos melhor
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
267
e trabalhamos muito melhor em conjunto. Nem tudo, por certo, está feito. Pode-
mos ir mais longe na nossa cooperação e na nossa coordenação. Manteremos,
pela nossa parte, a ambição e o empenho na construção de um futuro de relações
cada vez mais estreitas e frutuosas.
É neste espírito que peço que se juntem a mim num brinde à saúde e felicidade
de Suas Majestades, ao bom sucesso do reinado que se inicia, à prosperidade
do povo amigo da Espanha e ao futuro das relações entre os nossos dois países.
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
269
Sessão de Abertura do Seminário Económico Coreia-Portugal
Seul,21dejulhode2014
É com enorme satisfação que me associo à abertura deste seminário empresa-
rial realizado na vibrante cidade de Seul. A República da Coreia e Portugal são
dois países geograficamente distantes mas que têm em comum heranças de
muitos séculos de história, cultura e tradição.
Saúdo e agradeço a presença de todos os participantes, com uma especial pala-
vra de reconhecimento aos que organizaram este encontro. Encontro que vejo
como uma excelente oportunidade para dar a conhecer melhor a realidade
económica de Portugal e da Coreia e para estimular o diálogo empresarial e
a divulgação de oportunidades de parcerias e investimento entre os nossos
países.
Portugal e a Coreia são hoje economias avançadas, cujo desenvolvimento assenta
na capacitação de recursos humanos qualificados, em elevados padrões de qua-
lidade da gestão empresarial e na capacidade de transformação de novas ideias,
conhecimento e tecnologia em produtos e serviços.
Portugal é membro de pleno direito da União Europeia desde 1986 e país fun-
dador da área do euro. O acordo de comércio livre entre a União Europeia e a
Coreia abriu novas perspetivas e oportunidades para o reforço da cooperação e
das trocas comerciais entre os dois espaços económicos.
Minhas Senhoras e meus Senhores
Para além do espaço da União Europeia e da proximidade e bom relacionamento
com os países do norte de África, Portugal tem relações especialmente próximas
com a África subsaariana, mantendo fortes laços políticos, económicos e cultu-
rais com países como Angola e Moçambique.
Na América Latina, são notórias as nossas ligações de amizade ao Brasil e as
cordiais relações com os países do designado Eixo Atlântico. Portugal é, ainda,
Membro da Comunidade Ibero-Americana e observador da Aliança do Pacífico.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
270
É de salientar que o português é o idioma mais falado no hemisfério sul e a
língua oficial de países de forte potencial de crescimento.
Portugal é hoje uma importante porta no Atlântico para a Europa. O primeiro
porto europeu de águas profundas no eixo das rotas do Oriente é o porto portu-
guês de Sines. O País oferece serviços de logística de alta qualidade, fruto das
modernas infraestruturas rodoviária, portuária e aeroportuária.
O nosso perfil geográfico confere-nos um posicionamento único e central.
Mas Portugal apresenta, igualmente, outras vantagens que lhe podem confe-
rir especial atratividade para as empresas coreanas que pretendam investir
na Europa. Desde logo, a disponibilidade de uma base alargada de capital
humano com elevada qualificação e preparação em domínios como as enge-
nharias e a gestão.
Emergiu uma nova geração de empresas portuguesas com grande capacidade
empreendedora, tecnológica e inovadora. Muitas estão a desenvolver produtos e
serviços para novos segmentos de procura no mercado mundial. O País oferece
ainda custos operativos muito competitivos no contexto europeu e enorme sim-
plicidade nos procedimentos comerciais. É o país da Europa onde é mais simples
e rápido constituir uma sociedade.
As empresas portuguesas aqui presentes operam já nos mercados internacio-
nais e podem expandir e aprofundar a sua atividade, quer na Coreia, quer em
países terceiros, em parceria com congéneres coreanas.
Algumas empresas coreanas têm realizado em Portugal investimentos indus-
triais, com destaque para os domínios da fabricação avançada de moldes e das
energias renováveis. No entanto, a economia portuguesa e as suas vantagens
competitivas continuam a ser largamente desconhecidas da maioria das empre-
sas coreanas, situação que importa alterar.
Devo ainda acrescentar que Portugal constitui um destino turístico de reconhe-
cida qualidade. O sol e a luz sempre presentes, o clima agradável, a hospitalidade
e a segurança, a par de uma extensa costa marítima de rara beleza, são pontos
fortes da nossa oferta turística. A grande capacidade de alojamento, apoiada
por uma rede de qualidade de apoio à saúde, a boa gastronomia e os excelentes
campos de golfe constituem outros atrativos para quem procura destinos de
excelência.
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
271
Minhas Senhoras e meus Senhores
Nos últimos três anos, Portugal atravessou um período muito exigente. A res-
posta foi coletiva e dada com enorme sentido de responsabilidade. Portugal
realizou um grande esforço no sentido do equilíbrio das contas públicas e da
concretização de reformas estruturais, visando o aumento da competitividade.
Foi neste contexto que Portugal concluiu, com sucesso, o programa de ajusta-
mento económico e financeiro acordado com instituições internacionais.
Nesta minha primeira visita oficial à Coreia, procuro dar maior visibilidade à
realidade económica de Portugal e ao seu potencial. É tempo de as instituições,
associações e empresas dos nossos países se conhecerem melhor, estreitarem
laços, trabalharem em conjunto, com a expectativa de colherem, num futuro
próximo, os frutos de um relacionamento mais estreito e profícuo.
Espero que a minha presença no vosso país e este seminário constituam
estímulos redobrados para que se intensifiquem as relações de investimento
e comerciais com empresas portuguesas.
Muito obrigado.
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
273
Almoço Oferecido pela Presidente da República da Coreia
Seul,21dejulhode2014
Agradeço, Senhora Presidente, o honroso convite para efetuar esta deslocação à
República da Coreia, a primeira Visita Oficial entre os dois países ao nível de Che-
fes de Estado. Estamos muito gratos, minha Mulher e eu, assim como a comitiva
que nos acompanha, pela calorosa hospitalidade com que temos sido recebidos.
Este acolhimento, para além da gentileza tão característica da cultura coreana,
reflete bem os laços de amizade que nos unem e o desejo comum de aprofunda-
mento do diálogo e da cooperação entre Portugal e a Coreia.
Guardo a mais grata recordação do nosso encontro, em Lisboa, em 2011, aquando
da Visita de Vossa Excelência na qualidade de Enviada Especial do então Presi-
dente Lee Myung-bak.
Os nossos contactos bilaterais remontam há mais de quatro séculos e as nossas
relações diplomáticas contam mais de 50 anos.
Com esta visita, quero contribuir para reforçar a aproximação e conhecimento
mútuo entre os nossos dois países, de modo a imprimir uma dinâmica renovada
às relações políticas, económicas, culturais e académicas e reforçar os contactos
entre os nossos povos.
Senhora Presidente
Portugal é hoje um país muito diferente daquele que perpassa nas aulas de His-
tória. Constante é, porém, a busca do conhecimento, a visão universalista, e a
capacidade de vencer as dificuldades do povo português.
Hoje, a economia portuguesa é uma economia moderna e aberta, que beneficia
de um ambiente de negócios favorável à iniciativa empresarial e ao investimento
estrangeiro, e que dispõe, em múltiplas áreas, de empresas em excelentes con-
dições de estabelecer parcerias internacionais, designadamente para operar
em países terceiros com os quais Portugal mantém especiais laços históricos
e culturais.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
274
Por este motivo, quis manter um encontro com representantes de grandes
empresas coreanas, para além de ter presidido à sessão de abertura de um Semi-
nário Económico com empresas portuguesas e coreanas. Os contactos mantidos
auguram sucesso.
Participei, igualmente num Encontro com representantes das universidades
portuguesas que integram a comitiva oficial e instituições coreanas. Pude cons-
tatar o dinamismo da cooperação entre os melhores centros de investigação e
universidades, portugueses e coreanos.
Senhora Presidente
Esta Visita é um sinal claro da importância que os dois países atribuem à relação
bilateral e da determinação firme em construir, em conjunto, uma parceria de
futuro.
É com esta convicção que peço a todos que se juntem a mim num brinde à saúde
da Presidente Park Geun-hye, ao povo amigo da República da Coreia e ao futuro
das nossas relações.
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
275
Banquete Oficial em Honra do Presidente da República da Indonésia
PalácioNacionaldaAjuda,19desetembrode2014
É com grande alegria que acolhemos em Portugal o Presidente da República da
Indonésia, a Senhora D. Ani Bambang Yudhoyono e a distinta comitiva que os
acompanha nesta Visita de Estado.
Visita que, tendo lugar cinquenta e quatro anos após a visita a Lisboa do primeiro
Presidente indonésio e fundador da nação indonésia, constitui um momento
muito especial no reforço do relacionamento entre Portugal e a Indonésia.
Espero que esta visita de Vossa Excelência permita também, de alguma
forma, retribuir a calorosa hospitalidade com que fomos recebidos em
Jacarta, em 2012, naquela que, por sua vez, constituiu a primeira visita de um
Chefe de Estado português ao seu país. Recordo ainda, com grande emoção,
o momento particularmente simbólico do nosso primeiro encontro em Díli,
também em 2012, nas cerimónias do décimo aniversário da independência de
Timor-Leste e da tomada de posse do Presidente da República Democrática
de Timor-Leste.
Estes momentos representam, sem dúvida, um verdadeiro virar de página nas
relações entre os nossos países.
Senhor Presidente
Fundado numa história de cinco séculos, o relacionamento entre Portugal e a
Indonésia é hoje pautado por um novo dinamismo e por um empenho recíproco
na construção de uma relação forte, ambiciosa e orientada para o futuro.
Os contactos políticos profícuos de que foi testemunho a visita do Senhor Minis-
tro dos Negócios Estrangeiros da Indonésia, em Janeiro último, honram o nosso
longo passado de amizade e o desejo de conhecimento mútuo entre os nossos
países.
A Nação Indonésia tem feito da consolidação dos ideais democráticos, da
tolerância e do pluralismo político e social o caminho que a tem levado a um
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
276
desenvolvimento assinalável e a um elevado ritmo de crescimento económico.
A Indonésia é hoje a décima sexta maior economia mundial e a segunda
economia com o mais rápido crescimento de entre os membros do G20.
Numa região de equilíbrios delicados, o empenho e a liderança indonésios no
seio da ASEAN têm sido importantes para a edificação da estabilidade política e
para o aprofundamento de um espírito de comunidade entre as nações. Apraz-
-me saudar Vossa Excelência pela forma como, ao longo de dez anos, soube
liderar os processos internos de consolidação democrática e de progresso eco-
nómico e afirmar internacionalmente o seu país.
Nesse capítulo da afirmação internacional, vemos com particular agrado a cres-
cente aproximação da Indonésia à Comunidade dos Países de Língua Portu-
guesa. Uma colaboração mais próxima entre a Indonésia e a CPLP, bem como
o apoio que a Indonésia vem prestando à adesão de Timor-Leste à ASEAN, são
exemplos claros dos interesses comuns que nos ligam.
Como pude constatar em 2012, Portugal e a Indonésia estão cada vez mais aten-
tos à realidade de cada um dos países e das regiões em que se inserem. A entrada
em vigor, em maio último, do Acordo de Parceria e Cooperação entre a União
Europeia e a Indonésia prestará, confio, um contributo significativo nesse domí-
nio, facilitando a identificação de oportunidades para uma cooperação mutua-
mente vantajosa.
Existindo ainda um amplo potencial por explorar nas nossas relações econó-
micas, têm-se verificado sinais claros de interesse recíproco dos empresários
portugueses e indonésios no desenvolvimento de parcerias e na intensificação
dos fluxos de comércio e investimento.
Diversas missões comerciais portuguesas lograram aumentar a visibilidade e
reforçar o perfil do nosso país na Indonésia. Esta Visita de Estado contribuirá,
seguramente, para que o mesmo suceda com o perfil da Indonésia em Portugal.
Gostaria de dirigir uma palavra de boas-vindas às empresas que acompanham
Vossa Excelência. Creio que os contactos que mantiveram em Portugal se reve-
larão proveitosos, tal como sucedeu aquando da minha deslocação a Jacarta, em
2012, com os contactos estabelecidos pela comitiva empresarial que me acom-
panhou. Espero que o Fórum Empresarial que hoje teve lugar tenha sido, nessa
perspetiva, particularmente útil.
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
277
Senhor Presidente
O objetivo de reforçar a nossa cooperação em todos os campos vem já conhe-
cendo resultados promissores. Da cultura e preservação do património às
parcerias entre empresas, da boa coordenação em instâncias multilaterais à
cooperação na área da energia e recursos naturais, vários são os exemplos que
dão expressão ao novo dinamismo do nosso relacionamento.
Os contactos entre os nossos povos são multisseculares. Sucede, porém, que ape-
nas nos últimos anos Portugal e a Indonésia têm vindo a redescobrir-se mutua-
mente, dando início a uma nova fase. A Visita de Estado de Vossa Excelência, com
que mais uma vez me congratulo, espelha a determinação política em reforçar
os laços de amizade e cooperação que nos unem.
É neste espírito que peço que se juntem a mim num brinde à saúde e felici-
dade do Presidente Susilo Bambang Yudhoyono e da Senhora D. Ani Bambang
Yudhoyono, à prosperidade do povo amigo da Indonésia e ao futuro das relações
entre os nossos dois países.
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
279
Primeira Sessão Plenária da XXIV Cimeira Ibero-Americana
Veracruz,8dedezembrode2014
As minhas primeiras palavras são para felicitar o Presidente Peña Nieto pela
excelente organização dos trabalhos desta XXIV Cimeira Ibero-americana.
Quero agradecer-lhe, ainda, Presidente Peña Nieto, a simpatia com que fomos
recebidos pelas suas autoridades.
Este ano, é com particular emoção que aqui me encontro. Simbolicamente,
encerro aqui, no México, em Veracruz, o ciclo de participações na Comunidade
Ibero-americana que se abriu em 1991, em Guadalajara, em que estive presente
naquele que foi o momento fundador do projeto ibero-americano.
Como em 1991, continuo a acreditar firmemente no espírito de Guadalajara e
nos pilares que serviram de base à criação da nossa Comunidade: a defesa dos
valores democráticos e a promoção do bem-estar e do desenvolvimento econó-
mico e social das nossas populações.
Minhas Senhoras e meus Senhores
Hoje, vivemos tempos de incerteza e de mudança que obrigam os Estados a
implementar políticas inovadoras de desenvolvimento, com vista, em particular,
à promoção e criação de emprego. Saúdo, pois, o México pela escolha do tema
desta Cimeira Ibero-americana: Educação, Inovação e Cultura na Ibero-América.
Permitam que partilhe convosco algumas reflexões sobre este tema.
Nas próximas décadas, a chamada “economia do conhecimento”, caracterizada
pelo papel central da inovação na oferta de bens e serviços, nos modelos de
gestão e nos processos de organização do trabalho, dominará o espaço ibero-
-americano.
No mundo global em que vivemos, é, cada vez mais, a educação que habilita os
cidadãos com as qualificações e as competências que estimulam a produtivi-
dade e a capacidade de inovação e que lhes permitem afirmar-se num contexto
altamente competitivo.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
280
A educação tem pois um impacto decisivo no progresso económico, ao mesmo
tempo que assume um papel crucial no combate à pobreza, às desigualdades
sociais e na promoção da coesão social.
As universidades assumem um lugar central, não só na esfera tradicional de
ensino e investigação, mas também na interação com outros centros de produ-
ção de conhecimento e na transferência de know-how para as empresas e para
o conjunto da sociedade.
O processo de inovação passará necessariamente, nas próximas décadas, a
incorporar a visão estratégica de qualquer empresa. A inovação será, com efeito,
a sua principal ferramenta competitiva.
Por isso mesmo, o sistema educativo, incluindo a formação ao longo da vida,
tem que ser capaz de dotar os nossos cidadãos de competências necessárias aos
novos desafios do mercado laboral, e, cada vez mais, de incutir nos jovens uma
cultura de ambição, de exposição ao risco e de empreendedorismo.
Colocar o conhecimento e a inovação no topo das prioridades individuais e
coletivas é uma ambição que requer grande convergência de esforços. Tem
que envolver escolas, empresas, universidades, poderes públicos e a sociedade
em geral.
Acredito firmemente que é na educação e no conhecimento que assenta o futuro
de qualquer nação. Isto mesmo está hoje amplamente reconhecido ao nível euro-
peu e, como o sugere o tema da XXIV Cimeira Ibero-Americana, deverá consti-
tuir também uma das linhas de força do processo ibero-americano.
Neste capítulo, estou convicto da importância de consolidar o Espaço Ibero-Ame-
ricano do Conhecimento, o Espaço Cultural Ibero-Americano e o Espaço Ibero-
-Americano da Coesão Social e de promover uma “Aliança para a Mobilidade
Académica”, que permita promover a mobilidade de estudantes, professores e
investigadores. Neste contexto, o reconhecimento recíproco de graus e títulos
académicos assume particular importância.
O mesmo digo em relação às políticas que, dentro do espaço ibero-americano,
fomentem a realização de estágios de estudo e de estágios de gestores e de tra-
balhadores em empresas.
Portugal tem vindo a apostar fortemente na qualificação dos seus recursos
humanos. Foi feito, ao longo de décadas, um grande investimento, que incluiu
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
281
a extensão da rede do ensino pré-escolar e o alargamento da escolaridade obri-
gatória até aos 12 anos de escolaridade, além de políticas ativas de combate ao
abandono escolar precoce e ao insucesso escolar.
Nos últimos vinte anos, o número de licenciados quintuplicou e, mais recente-
mente, o País registou um dos maiores crescimentos a nível europeu no número
de novos doutorados.
É através do saber e do conhecimento, assim como do reconhecimento do mérito
e do talento, que se combate a tendência para perpetuar desigualdades fundadas
nas origens sociais de cada um.
Convirá também ter presente que, cada vez mais, o progresso e a difusão tecno-
lógica requerem uma capacidade científica só alcançável pela inserção em redes
de cooperação internacional.
Na área da nanotecnologia, por exemplo, Portugal e Espanha têm desenvolvido
uma rede de cooperação bilateral da qual resultou um prestigiado centro de
investigação conjunta, operado pelos dois países: o Laboratório Ibérico Interna-
cional de Nanotecnologia, hoje com quase uma década de existência.
Minhas Senhoras e meus Senhores
É fundamental que a inovação, a par da educação, se constitua como instrumento
para a redução das assimetrias sociais. Creio que da articulação entre educação,
investigação e inovação, poderão surgir novos motores de crescimento econó-
mico que estimulem a criação de riqueza ao mesmo tempo que promovem a
inclusão social e a sustentabilidade ambiental.
É este o desafio do futuro, um desafio que já começou e que nos impele a
agir de acordo com a agenda para o Século XXI que nos propõe esta Cimeira
Ibero-Americana e que quisemos fazer refletir na Declaração de Veracruz.
Muito obrigado a todos.
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
283
Cerimónia de Apresentação de Cumprimentos de Ano Novo pelo Corpo Diplomático
PalácioNacionaldeQueluz,21dejaneirode2015
Agradeço calorosamente a vossa presença e desejo a todos um Bom Ano Novo.
Peço a todos que façam chegar aos vossos Chefes de Estado os meus sinceros
votos de um ano de 2015 marcado pela paz e prosperidade. Formulo votos de
rápidas melhoras a Sua Excelência Reverendíssima o Núncio Apostólico, que
não pode estar hoje entre nós.
Senhoras e Senhores Embaixadores
Se é fácil o gesto de deitar fora o calendário de 2014, o mesmo não poderemos
fazer à complexa combinação de fatores extremamente preocupantes, de impas-
ses e de alguns sinais de esperança que marcaram o ano transato. O recrudes-
cimento do terrorismo, as ameaças à paz, a instabilidade em diferentes regiões,
os efeitos geopolíticos da queda do preço do petróleo, a epidemia do vírus Ébola,
o drama dos emigrantes que, vindos de África e do Médio Oriente, procuram
alcançar as costas da Europa, ou o continuado martírio das populações civis em
zonas de conflito, são motivos para que não nos apressemos a arquivar o ano
que passou e para refletirmos naquilo que, enquanto responsáveis políticos ou
enquanto representantes dos Estados, poderemos fazer para que 2015 venha a
terminar com um balanço mais positivo.
O ano de 2014 lembrou-nos que o Mundo está a mudar, que a interdependência e
a natureza global dos desafios do nosso tempo não são mera retórica. As respos-
tas aos problemas que conjuntamente enfrentamos só podem ser conseguidas
pelo diálogo, pela cooperação e, nalguns casos, pela coordenação de esforços: é
um caminho exigente e desgastante, mas é o único que permite encontrar ver-
dadeiras soluções e não uma mera reconfiguração dos problemas. Herdámos,
do ano que findou, várias situações de enorme gravidade e, com elas, a responsa-
bilidade de aprender com erros passados e de não desistir na procura de novas
possibilidades para a sua resolução.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
284
Ao longo de 2014, Portugal acompanhou com grande preocupação a crise na
Ucrânia e participou ativamente na definição de uma resposta, quer a nível da
União Europeia, quer a nível da NATO.
Por outro lado, apoiámos os esforços internacionais de combate ao grupo terro-
rista ISIS. Está em causa a defesa de valores civilizacionais básicos, que a todos
deve mobilizar.
Os ataques terroristas em Paris lembram-nos que o combate aos fanatismos
bárbaros a todas as democracias diz respeito e que é urgente o aperfeiçoamento
e o aprofundamento dos mecanismos europeus de coordenação na área da segu-
rança. O povo francês, símbolo maior do valor da liberdade e que acolhe tantos
milhares de cidadãos portugueses, conta com toda a nossa solidariedade.
Senhoras e Senhores Embaixadores
Em Portugal, como terão podido constatar, 2014 trouxe sinais de esperança.
Cumprimos as obrigações assumidas em maio de 2011 perante as entidades
internacionais e concluímos o Programa de Assistência Económica e Financeira,
sem necessidade de ajuda adicional.
Após três anos muito difíceis, verificou-se uma quebra significativa do desemprego;
a economia está a crescer; os juros da dívida soberana baixaram para valores que
são mínimos históricos; corrigiu-se o desequilíbrio das contas externas. 2014 foi
um ano positivo na captação de investimento e no crescimento das exportações.
Tratou-se, pois, de um ano importante para Portugal. O País recuperou a credibi-
lidade e o acesso pleno aos mercados de financiamento. A economia portuguesa
apresenta-se mais competitiva, mais sustentável e mais integrada na economia
global. Prosseguimos uma agenda ambiciosa de reformas.
A consolidação dos sinais de recuperação económica, que se foi verificando ao
longo do ano, permite-nos encarar 2015 com confiança, mas ainda assim com
prudência. Persistem desafios importantes por ultrapassar e a evolução da eco-
nomia global está marcada por incertezas.
Estes foram – e continuam a ser – tempos de grandes decisões também para a
Europa. Se é justo salientar que estamos hoje perante alguns desenvolvimentos
positivos na economia europeia, a verdade é que se esperaria uma retoma mais
expressiva e, sobretudo, mais visível no dia-a-dia dos cidadãos.
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
285
Seria essencial que os nossos esforços de reforma e consolidação orçamental
fossem acompanhados por uma agenda europeia mais orientada para o cresci-
mento e para o emprego. Que fossem proporcionadas às empresas portuguesas,
principalmente às pequenas e médias, condições de financiamento comparáveis
às das suas congéneres europeias.
Apoiamos o Plano de Investimento apresentado pela Comissão Europeia, con-
victos de que abrirá novas oportunidades em áreas decisivas, como as infraes-
truturas transeuropeias de transportes, energia e digital, mas também nas áreas
da investigação e da inovação e no apoio ao tecido empresarial. Urge agora pô-lo
em prática e acordar os seus detalhes, de modo a garantir a sua eficácia.
Paralelamente, é crucial desenvolverem-se, em especial na Península Ibérica,
e entre esta e o resto da Europa, as infraestruturas de interligação energética,
quer de eletricidade, quer de gás natural. Esta é uma questão de topo na agenda
europeia, tendo em vista a concretização de um verdadeiro mercado interno de
energia. É um assunto prioritário, que ganhou relevância acrescida no quadro
do debate relativo à diversificação das fontes de abastecimento numa Europa
com uma forte dependência energética.
Senhoras e Senhores Embaixadores
O ano de 2014 ficou marcado por um facto político que merece ser destacado,
até pelas consequências que terá na região e no Mundo: o início do processo
de restabelecimento de relações diplomáticas entre os Estados Unidos e Cuba.
Gostaria de aproveitar a oportunidade para saudar os responsáveis políticos
norte-americanos e cubanos por este corajoso passo. Mas creio também que
devemos uma palavra de reconhecimento à diplomacia da Santa Sé e à perseve-
rança de Sua Santidade o Papa, cuja ação tem merecido justo louvor de crentes
e não crentes, em Portugal e no Mundo inteiro.
Senhoras e Senhores Embaixadores
Fazendo jus ao que entendo ser um desígnio nacional, participei no ano que
terminou em várias iniciativas na área do mar. Desloquei-me a São Fran-
cisco, onde encerrei a “Cimeira Mundial dos Oceanos”. Este ano, a Cimeira
realizar-se-á em Portugal.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
286
Em outubro, teve lugar em Cascais a quinta edição da “BioMarine Business
Convention”. Recebi, nesse contexto, Sua Alteza o Príncipe do Mónaco, que nela
participou ativamente.
Para Portugal, bem como para muitos outros países, a economia do mar será um
fator preponderante de desenvolvimento económico-social no desenrolar deste
século XXI. Para discutir o futuro das modernas economias do mar, o Governo
português organizará em Lisboa, na primeira semana de junho de 2015, uma
“Semana Azul”. Espero que os vossos Governos possam participar ao mais alto
nível nesta reunião mundial sobre o mar.
No quadro da minha agenda externa, tive oportunidade, no ano que passou,
de me deslocar a alguns dos países aqui representados. Foi um ano de grande
intensidade no que toca às visitas que efetuei e recebi. Foram celebrados instru-
mentos bilaterais que reforçam o nosso relacionamento em diferentes áreas, e
impulsionados contactos e parcerias entre os empresários dos nossos países.
Pude constatar que Portugal reúne condições de atratividade e competitividade
em diferentes domínios, despertando o interesse de importantes investidores
estrangeiros, assim como pude comprovar a apetência e a capacidade de inter-
nacionalização das empresas portuguesas.
O patamar de relacionamento político, económico e empresarial entre Portugal
e a China recebeu novo impulso na Visita de Estado que ali tive oportunidade de
realizar. Queremos dar continuidade, no presente ano, à dinâmica recíproca de
interesse pelos respetivos mercados e destinos de investimento.
Ainda no que se refere à Ásia, e procurando prosseguir o aprofundamento da
cooperação bilateral com os países daquela região, efetuei também aquela que
foi a primeira Visita Oficial de um Chefe de Estado português à República da
Coreia, conciliando a preservação da memória secular do nosso relacionamento
com os nossos interesses atuais.
Recordo, com muito apreço, a minha recente deslocação aos Emirados Árabes
Unidos. Tratou-se, também neste caso, da primeira Visita Oficial de um Chefe
de Estado português àquele país, onde existem registos da presença portu-
guesa desde o século XV. Com um forte significado político, pretendi com esta
visita contribuir para o novo ciclo de reforço do relacionamento bilateral entre
Portugal e os países do Golfo Pérsico.
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
287
O continente americano mereceu igualmente a minha atenção. Estive em São
Francisco e em Toronto, onde me encontrei com a Diáspora Portuguesa. Nestas,
como em todas as deslocações que realizei ao estrangeiro, constatei com apreço
o dinamismo das nossas comunidades, bem como a sua capacidade de integra-
ção nos países onde residem, consequência, estou certo, do bom acolhimento
que as vossas sociedades lhes oferecem. Encontrei jovens empreendedores,
investigadores, quadros de empresas internacionais, pequenos e médios empre-
sários dos mais diversos setores, pilotos aviadores, profissionais de saúde e um
sem número de outras profissões. O sucesso destes portugueses, reconhecido no
estrangeiro, é mostra da qualidade do seu trabalho e da excelência das suas qua-
lificações. A Diáspora Portuguesa projeta o Portugal moderno, positivo, inovador
e empreendedor que as Senhoras e os Senhores Embaixadores bem conhecem.
Desloquei-me ao México, em dezembro último, para participar na XXIV Cimeira
Ibero-Americana. O tema deste ano permitiu uma reflexão conjunta sobre três
vetores fundamentais da cooperação ibero-americana: Educação, Cultura e Ino-
vação. O processo de renovação que teve lugar, e que contou com o apoio de
Portugal, contribuirá, estou convicto, para o reforço da importância e dinamismo
da Comunidade Ibero-Americana.
A par do Brasil, com quem, por razões históricas, temos uma relação singular,
queremos ser um parceiro importante para os demais países da América Latina.
É também nosso desejo que a América Latina olhe para Portugal como um aliado
de referência na Europa.
Fruto dos intensos laços históricos de amizade e cooperação, as relações entre
Portugal e os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa assumem um cará-
ter compreensivelmente especial. O ano que passou foi marcado por diversos
bons exemplos dessa intensa cooperação.
Foi com particular satisfação que, em 2014, pudemos assistir ao renascer da
esperança na Guiné-Bissau, com o regresso à ordem constitucional através
da realização de eleições livres e democráticas. A comunidade internacional
deverá corresponder ao assinalável esforço das novas autoridades guineen-
ses, prestando-lhes o apoio indispensável para que as ainda frágeis conquistas
de 2014 possam converter-se em passos sólidos para a estabilidade e para o
desenvolvimento.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
288
Portugal estará na primeira linha do apoio à Guiné-Bissau. A Guiné-Bissau
contará também, estou certo disso, com o apoio de Angola no Conselho de
Segurança das Nações Unidas, onde a presença angolana é motivo de congra-
tulação para todos nós.
Em junho deste ano, Portugal assumirá a presidência do G19, o Grupo de doa-
dores de apoio programático ao orçamento de Moçambique, país onde me des-
loquei, na passada semana, para a tomada de posse do Presidente Filipe Nyusi.
Será outra instância em que nos empenharemos no reforço do diálogo produtivo
entre os parceiros de cooperação e as autoridades moçambicanas, tendo em
vista o desenvolvimento económico e social do país.
Senhoras e Senhores Embaixadores
No plano multilateral, o ano que terminou foi o ano da eleição de Portugal para
o Conselho dos Direitos Humanos. No discurso que pronunciei, perante vós, em
janeiro de 2014, apelei ao apoio dos vossos países à nossa candidatura. Quero,
hoje, agradecer a prova de confiança que nos foi dada. Procuraremos estar à
altura das responsabilidades que agora assumimos.
Ainda no plano multilateral, 2014 foi o ano em que, pela primeira vez, a Cimeira
da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa chegou à Ásia, ao jovem Estado
de Timor-Leste, e em que a organização se alargou com a entrada da Guiné
Equatorial. A Cimeira de Díli veio comprovar o dinamismo da CPLP e o interesse
que a mesma suscita junto de um crescente número de Estados.
Permitam-me ainda que sublinhe o Encontro dos Chefes de Estado de países
europeus que fazem parte do Grupo de Arraiolos, que teve lugar em Braga, em
setembro passado. Durante esse Encontro, tivemos oportunidade de abordar,
em particular, três temas de grande importância relacionados com o atual con-
texto e agenda europeia: a energia, a imigração e o papel da investigação e ino-
vação na promoção do crescimento, da competitividade e da criação de emprego.
Não quero, naturalmente, deixar de referir as visitas a Portugal dos Chefes
de Estado de Moçambique, Singapura, Indonésia, Alemanha, Espanha, Itá-
lia, México e Colômbia, todas elas testemunho de um estreito relacionamento
bilateral.
PORT
UGA
L N
A EU
ROPA
E N
O M
UN
DO
289
Senhoras e Senhores Embaixadores
Este será para Portugal um ano de escolhas, um ano de esperança na consolida-
ção da recuperação económica e, ainda, um ano de exigentes desafios. E o mesmo
vale para a situação global.
Em 2015, o Mundo ver-se-á confrontado com importantes opções a variados
níveis – e faço votos para que algumas se revelem evidentes aos olhos dos líde-
res políticos, como a rejeição dos fundamentalismos e da sua cobertura a atos
de terrorismo ou o reconhecimento da urgência de uma ação concertada a nível
global no domínio das alterações climáticas.
Na Europa, onde temos um novo Parlamento, uma nova Comissão, um novo
Presidente do Conselho Europeu e uma nova Alta Representante para a Polí-
tica Externa, deveremos manter o empenho numa União Europeia ambiciosa,
mas também coesa e solidária. Além dos avanços na governação económica, o
futuro próximo da União deverá ser marcado por uma atuação e por um rumo
que contribuam para reconquistar a confiança e mobilizar os cidadãos para o
projeto europeu.
Será, ainda, um ano de muitos e difíceis desafios que vão exigir de nós – e em
particular de vós, diplomatas – perseverança, criatividade e firmeza na abertura
ao diálogo e à cooperação.
Temos, assim, a responsabilidade de trabalharmos em conjunto com o propósito
e a esperança de podermos, daqui a um ano, recordar 2015 com satisfação.
Termino reiterando os meus sinceros votos de um ano de 2015 com paz, saúde
e prosperidade para todos.
Muito obrigado.
ANEX
OS
293
Comunicado da Presidência da República sobre a não promulgação do diploma do Governo
que altera o valor dos descontos para a ADSE, SAD e ADM
13demarçode2014
O Presidente da República devolveu no passado dia 11 de março, ao Governo,
sem promulgação, o diploma que modifica o valor dos descontos a efetuar para
a ADSE, SAD e ADM pelos beneficiários dos referidos subsistemas de saúde,
fixando-o em 3,5%.
Divulgam-se, seguidamente, os fundamentos da decisão presidencial:
De acordo com o preâmbulo do diploma, a medida visa a autossustentabilidade
dos sistemas em causa. Suscita, porém, sérias dúvidas que seja necessário
aumentar as contribuições dos 2,5% para 3,5%, para conseguir o objetivo pre-
tendido. Numa altura em que se exigem pesados sacrifícios aos trabalhadores
do Estado e pensionistas, com reduções nos salários e nas pensões, tem de ser
demonstrada a adequação estrita deste aumento ao objetivo de autossustenta-
bilidade dos respetivos sistemas de saúde.
A Nota Informativa fornecida pelo Governo no âmbito do pedido de esclareci-
mento desta matéria revela que o valor de 3,5% proporcionará uma receita que
excede significativamente a despesa prevista no orçamento da ADSE. Verifica-se
até que, mesmo que o aumento pretendido fosse apenas de metade, ou seja, de
0,5 pontos percentuais, ainda assim haveria um saldo de gerência positivo não
despiciendo.
Sendo indiscutível que as contribuições para a ADSE, ADM e SAD visam financiar
os encargos com esses sistemas de saúde, não parece adequado que o aumento
das mesmas vise sobretudo consolidar as contas públicas.
Acresce que o montante previsto de 60 milhões de euros de transferência do
orçamento da ADSE para o SNS, a título de pagamento das comparticipações
devidas com a aquisição de medicamentos por parte dos beneficiários, não pode
deixar de suscitar as mesmas dúvidas, uma vez que tais comparticipações são
igualmente devidas pelo SNS a quem não seja beneficiário destes subsistemas.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
294
Por outro lado, desde a Lei n.° 3-B/2010, de 28 de abril, a inscrição na ADSE
passou a ser voluntária, mesmo para todos os antigos beneficiários, pelo que há
que considerar que uma eventual insustentabilidade futura do sistema estará
porventura associada a esta faculdade de escolha, mais do que ao montante das
contribuições. Para esse efeito alertaram as Forças Armadas e as Forças de
Segurança, prevendo que tal levaria à saída ou à não-inscrição dos mais novos,
ou dos que auferem salários mais elevados, conduzindo a que a sustentabilidade
do sistema ficasse seriamente comprometida.
Neste contexto, o risco de insustentabilidade do sistema será tanto maior quanto
mais desproporcionada for a contribuição em relação ao custo dos serviços pres-
tados ou ao peso das contribuições nos salários e pensões, sobretudo num qua-
dro de fortes reduções do rendimento disponível dos trabalhadores do Estado.
ANEX
OS
295
Mensagem a propósito das eleições para o Parlamento Europeu
PaláciodeBelém,24demaiode2014
Amanhã, os Portugueses serão chamados a escolher os deputados ao Parla-
mento Europeu.
É uma eleição muito importante para Portugal.
A União Europeia é vital para o desenvolvimento económico e social do País e
para a nossa projeção e influência internacional. As decisões tomadas nas ins-
tituições europeias têm um impacto muito direto no dia-a-dia dos Portugueses.
Por isso, apelo a todos os eleitores para que, amanhã, não deixem de exercer o
seu direito de voto.
Estou bem ciente de que, no passado, já se registaram elevados níveis de abs-
tenção nas eleições para o Parlamento Europeu e que as previsões indicam que
tal pode voltar a acontecer amanhã.
São diversas e relevantes as razões pelas quais devemos votar.
O Parlamento Europeu é a única instituição europeia com representantes
diretamente eleitos. A União Europeia, esta união de democracias de que
fazemos parte, só se realiza verdadeiramente com a participação dos cida-
dãos.
Ao longo de quatro dias, cerca de 380 milhões de eleitores dos 28 países da
União elegem os seus deputados europeus, naquela que constitui uma eleição
única no Mundo.
Nos últimos sessenta anos, a Comunidade Europeia contribuiu de forma decisiva
para a paz e para o desenvolvimento na Europa. A paz é um bem precioso que
nunca deve ser descurado nem tomado como adquirido.
Por outro lado, países como Portugal beneficiaram, nas últimas décadas, de
programas europeus que em muito contribuíram para a melhoria das condi-
ções de vida das populações e para o progresso do País nos mais diversos domí-
nios – como a educação e a qualificação dos Portugueses ou a modernização
das atividades económicas e das infraestruturas nacionais e locais.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
296
Por isso, a eleição dos deputados para um parlamento onde estão representados
cerca de 500 milhões de cidadãos europeus constitui um aspeto fundamental
da nossa participação na construção europeia e da própria defesa do interesse
nacional.
É essencial que a voz dos povos europeus, com a sua diversidade, as suas diferen-
tes culturas e realidades sociais, mas também com os seus legítimos anseios e
ambições comuns, seja ouvida na assembleia onde se reúnem os representantes
dos 28 Estados-membros.
A Europa tem cada vez mais impacto no quotidiano dos Portugueses e o Par-
lamento Europeu, sublinhe-se, tem cada vez mais poderes na União Europeia.
O papel a desempenhar e o trabalho a desenvolver pelos deputados assumem
particular relevância.
É fundamental, insisto, participarmos ativamente na escolha dos nossos repre-
sentantes e fazermos ouvir a nossa voz em prol da Europa e de Portugal.
Há quarenta anos, com o 25 de Abril, os Portugueses conquistaram o direito de
votar em eleições livres e democráticas. Sonhámos viver num país mais próximo
da Europa, dos seus padrões de bem-estar, dos seus valores de democracia e
liberdade. Temos de cumprir esse desígnio.
A campanha eleitoral chegou ao fim. Como vos transmiti na minha mensagem
de 19 de março, esse foi o tempo em que as diferentes forças políticas tiveram
a oportunidade de esclarecer os Portugueses, de forma serena e elevada, com
sentido de responsabilidade, sobre os desafios que a Europa irá enfrentar nos
próximos anos e sobre o papel que terá o Parlamento Europeu neste momento
histórico de enorme importância para todos nós.
Não votar amanhã é abdicar de um direito, do direito fundamental de participar
nas escolhas que influenciam o futuro da Europa.
Apelo a todos os Portugueses para que amanhã, através do seu voto, participem
na escolha dos deputados para o Parlamento Europeu.
Desejo a todos uma boa noite e um bom exercício do direito de voto.
ANEX
OS
297
Mensagem por ocasião da apresentação do Relatório da Comissão Global dos Oceanos
Os Portugueses saúdam o trabalho da Comissão Global dos Oceanos e o Rela-
tório ora apresentado.
O estado ambiental dos oceanos continua a deteriorar-se. Infelizmente, não exis-
tem grandes perspetivas de mudança desta situação nos próximos anos. Por
um lado, não foram cumpridas as metas sobre conservação dos oceanos que a
comunidade internacional reiteradamente estabeleceu em cimeiras mundiais.
Por outro, a crise económica mundial que se vive, e que teve especial impacto no
hemisfério Norte, tem contribuído para adiar respostas aos grandes problemas
que os oceanos e mares enfrentam.
A este propósito, permitam-me que recorde as palavras que proferi, ainda este
ano, em São Francisco, aquando da Cimeira Mundial dos Oceanos, organizada
pela revista TheEconomist:
“Quero ser claro: temos vindo a discutir as ameaças e as soluções para os pro-
blemas dos nossos oceanos há pelo menos 25 anos, desde a Cimeira do Rio e da
Agenda 21 e, no entanto, a comunidade internacional até agora falhou rotun-
damente, por não ter conseguido apresentar uma resposta eficaz aos desafios-
-chave dos oceanos”.
Este quadro conjuntural conjuga-se com um quadro evolutivo de longo prazo
igualmente muito exigente: se passámos os últimos 200 anos – desde a Revolu-
ção Industrial – a explorar intensamente todos os recursos naturais terrestres
a que pudemos lançar a mão, vamos seguramente passar os próximos 200 anos
a explorar também os recursos naturais dos oceanos, agora que começamos a
dominar a tecnologia para o efeito e que os recursos terrestres dão sinais de
exaustão.
Neste cenário, com realismo e sem catastrofismos, afigura-se fundamental o
trabalho da Comissão Global dos Oceanos e o presente Relatório.
Estou certo de que a clareza deste Relatório e a capacidade de influência dos
distintos membros da Comissão Global dos Oceanos irão também contribuir,
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
298
de forma decisiva, para combater aquele que julgo ser a raiz do problema dos
oceanos: o desinteresse de muitos agentes e decisores políticos relativamente
a esta temática.
Temos de pugnar, desde já, para que os oceanos sejam uma prioridade indiscu-
tível no contexto dos Objetivos sobre Desenvolvimento Sustentável que estão
em fase de definição nas Nações Unidas.
A finalizar, quero igualmente enaltecer o trabalho de excecional qualidade que
a Comissão Europeia desenvolveu em prol da questão dos oceanos e mares.
Portugal reconhece o impulso que foi dado para a sustentabilidade do mar com
a reforma da Política Comum das Pescas, bem como pelo desenvolvimento da
Política Marítima Integrada da União Europeia. Faço votos para que a próxima
Comissão continue a encarar como uma prioridade a Política Marítima Inte-
grada, cada vez mais importante no contexto da sustentabilidade, do cresci-
mento azul e da segurança marítima da Europa.
Palácio de Belém, 27 de junho de 2014
AníbalCavacoSilva
ANEX
OS
299
Mensagem à Assembleia da República a propósito do diploma relativo ao Regime do Segredo de Estado
Tendo promulgado, para ser publicado como lei orgânica, o Decreto n.º 241/XII
da Assembleia da República, que aprova o Regime do Segredo de Estado, pro-
cede à vigésima primeira alteração ao Código de Processo Penal e à trigésima
primeira alteração ao Código Penal e revoga a Lei n.º 4/84, de 7 de abril, entendi
dirigir a essa Assembleia, no uso da faculdade prevista na alínea d) do artigo
133º da Constituição, a seguinte mensagem:
1 – O regime do Segredo de Estado reveste-se, no nosso ordenamento jurídico,
de importância fundamental pelos valores e interesses do Estado que visa pro-
teger. Não por acaso, a Constituição dedica-lhe especial atenção, sujeitando a sua
aprovação ao regime da lei orgânica.
2 – Entendo que a aprovação do regime do Segredo de Estado deve não
apenas assentar num amplo consenso, como garantir a estabilidade e a
segurança jurídica da sua aplicação futura. Manifestei de forma clara este
entendimento em diversas ocasiões, designadamente na mensagem que
enviei à Assembleia da República em 5 de julho de 2009, que acompanhava
a devolução, sem promulgação, do Decreto que alterou o regime do Segredo
de Estado.
3 – O Decreto agora submetido a promulgação dispõe, no n.º 2 do artigo 6º do
anexo, no que respeita à desclassificação, o seguinte: “Apenas tem competência
para desclassificar matérias, documentos ou informações sujeitos ao regime do
Segredo de Estado a entidade que procedeu à respetiva classificação definitiva
ou o Primeiro-Ministro”.
4 – A norma citada pode ser interpretada no sentido da atribuição ao Primeiro-
-Ministro da competência para desclassificar matérias que tenham sido classifi-
cadas por outras entidades, incluindo o Presidente da República e o Presidente
da Assembleia da República. Esta interpretação não mereceria o meu acordo,
na medida em que agravaria as dificuldades assinaladas anteriormente, em
especial no que respeita ao relacionamento entre órgãos de soberania.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
300
5 – Deve sustentar-se, é certo, uma interpretação diversa, limitando-se a compe-
tência do Primeiro-Ministro à desclassificação de documentos que tenham sido
classificados pelos Vice-Primeiros-Ministros e pelos Ministros. Só esta interpre-
tação permitiu a minha promulgação do diploma.
6 – Todavia, numa matéria com a importância do regime do Segredo de Estado,
não devem subsistir dúvidas ou equívocos interpretativos, pelo que esta inter-
pretação deve resultar da lei de modo absolutamente claro, sendo certamente
possível encontrar uma formulação que o assegure, como aliás bem demonstra
a disposição do n.º 2 do artigo 9º do diploma sob promulgação.
7 – Seria ainda desejável garantir que a tipificação do crime de violação de
Segredo de Estado, constante da alteração introduzida pelo Decreto ao artigo
316º do Código Penal, transmitisse a segurança jurídica que inequivocamente
deve resultar da previsão de um ilícito criminal, em especial face à nova e abran-
gente formulação do n.º 6 do mesmo artigo quanto ao conceito de “interesses
fundamentais do Estado”.
8 – Assim, considero que esta incriminação se revelaria menos problemática,
em termos de legalidade penal e de segurança jurídica, se a mesma, evoluindo
face à atual redação do artigo 316º do Código Penal, tornasse inequívoco – por-
ventura mediante remissão para o regime legal do Segredo de Estado – que a
criminalização incide sobre condutas que envolvam a perigosa revelação de
informações, factos ou documentos, planos ou objetos previamente classificados
como Segredo de Estado.
Tendo decidido promulgar este diploma, por constituir uma alteração ao regime
do Segredo de Estado que corresponde a uma intenção expressa do legislador,
assente num significativo consenso e cuja oportunidade não se contesta, considero,
em todo o caso, que os pontos em apreço devem ser objeto de uma reponderação
por parte dos Senhores Deputados, assim eliminando as dúvidas ou equívocos
interpretativos que possam subsistir numa matéria de tão elevada sensibilidade.
Palácio de Belém, 28 de julho de 2014
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
AníbalCavacoSilva
ANEX
OS
301
Mensagem dirigida ao X Congresso dos Juízes Portugueses
É com o maior gosto que saúdo os Juízes portugueses na abertura do seu X Con-
gresso, para o qual foi escolhido um tema da maior relevância: “Estatuto e Diálogo
com a Sociedade – Defesa da Cidadania no Estado de Direito”.
A oportunidade do tema decorre de uma necessidade nacional. Como é reconhe-
cido por todos os operadores judiciários – e pelos cidadãos –, Portugal neces-
sita com urgência de um sistema de justiça mais célere e mais equitativo, mais
próximo dos cidadãos e que sirva igualmente o desenvolvimento económico e
social do País.
Como já havia sublinhado na mensagem que dirigi ao IX Congresso dos Juízes
Portugueses, reunido em Ponta Delgada, considero que esta é uma oportunidade
única para que os juízes aqui presentes debatam, na perspetiva da execução
do conjunto das reformas aprovadas, a situação atual da Justiça portuguesa na
defesa dos direitos e liberdades dos cidadãos, na afirmação de uma Justiça mais
fortalecida no quadro de um Estado de direito democrático e de um sistema
judicial dotado de instrumentos legislativos e organizativos mais adequados às
novas realidades socioeconómicas do País.
Espera-se, por um lado, que a revisão do estatuto dos magistrados judiciais tome
em particular atenção os valores essenciais da independência, da imparciali-
dade, da isenção e da subordinação à lei.
O respeito pelos princípios constitucionalmente protegidos é a garantia fun-
damental de realização de uma justiça que não diferencia os cidadãos entre si,
favorecendo a coesão social e a dignidade da pessoa humana.
As reformas no domínio da justiça só adquirem credibilidade e densidade se
servirem também para prestigiar a função de julgar, dependendo a dignidade
dos juízes do modo como souberem encarar, com serenidade, discrição e com-
petência, os desafios que o nosso tempo coloca.
Portugal enfrenta exigências em diversos domínios da sua vida coletiva, que não
se esgotam na necessidade de salvaguardar equilíbrios financeiros e económicos.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
302
Num tempo em que são adotadas reformas estruturais visando um novo projeto
de desenvolvimento e sustentabilidade das políticas sociais, a própria jurispru-
dência sentirá a necessidade de se adaptar a novos parâmetros e critérios de apli-
cação do Direito.
A realização deste Congresso e a sua agenda constituem um sinal claro de que
os juízes portugueses se encontram sintonizados com os desafios do novo tempo
e as exigências de cidadania que dele decorrem.
É salutar que, neste período de profundas mudanças, os magistrados judiciais
desejem refletir em conjunto sobre o papel que lhes cabe desempenhar na con-
solidação de uma democracia política, económica e social que sirva os anseios
de justiça dos cidadãos.
Manifesto, pois, aos participantes neste Congresso, os meus votos de um traba-
lho profícuo, confiando que, com a sua dedicação e empenho, os juízes portugue-
ses saberão encontrar as soluções adequadas para a construção de um Portugal
mais desenvolvido e também mais justo.
Desejo a todos um bom trabalho, na certeza de que este Congresso será um
momento fundamental de reflexão sobre os desafios que a Justiça portuguesa
enfrenta no nosso tempo.
Palácio de Belém, 1 de outubro de 2014
AníbalCavacoSilva
ANEX
OS
303
Entrevista concedida ao semanário EXPRESSO
8denovembrode2014
– A questão do ponto em que estamos do ciclo político ganhou muita impor-
tância. É o Presidente da República quem marca as eleições. Vai manter o
calendário eleitoral ou convocar eleições antecipadas?
– A lei portuguesa é muito clara. As eleições para início de uma nova legislatura
têm de ocorrer entre 14 de setembro e 14 de outubro. A fixação desta data ocorreu
na alteração da lei eleitoral que teve lugar em junho de 1999. A proposta do artigo
respetivo foi apresentada pelo Partido Socialista e votada favoravelmente pelo PS,
PCP e Verdes, e contra pelo PSD e CDS. O legislador quis deixar de forma muito clara
que a data das eleições é entre meados de setembro e de outubro. O Presidente da
República (PR) tem de respeitar essa lei. Além disso, o PR, antes de fixar a data
precisa, no intervalo que a lei menciona, tem de ouvir os partidos políticos, o que
significa que a sua opinião deve contar para a fixação da data exata. O que isto
sugere é que o PR não pode manipular a seu bel-prazer a data precisa das eleições
para favorecer o partido A ou B. Se a Assembleia da República (AR) do ano 2014
pensa de forma diferente da de 1999, então deve mudar a lei e o PR respeita essa
decisão. Isto quer dizer que se a Assembleia da República não mudar a Lei Elei-
toral que aprovou em 1999, se não acontecer uma grave crise política que ponha
em causa a governabilidade, então as próximas eleições legislativas terão lugar
em 2015, entre 14 de setembro e 14 de outubro. Ponto final.
– O que vale, pois, é o argumento constitucional?
– Não vale a pena as forças políticas estarem a beliscar-se sobre este assunto.
O melhor é concentrar esforços na resolução dos problemas do país, em parti-
cular no combate ao desemprego e no crescimento económico. Surpreende-me
imenso que haja políticos e articulistas que entendam que o PR deve dissolver a
Assembleia da República para antecipar a data das eleições. Seria contra a Cons-
tituição. O instituto da dissolução só pode ser utilizado em caso de crise política
muito grave, como a que enfrentei em março de 2011, quando todos os partidos
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
304
políticos me comunicaram formalmente que não havia hipótese de qualquer
outro Governo que se tentasse fazer passar na AR, na sequência da demissão
do primeiro-ministro de então. Por isso se chama bomba atómica. Aí não há
divergência entre os constitucionalistas. Mas utilizar o instituto da dissolução
para alterar a data das eleições seria uma violação do espírito da Constituição.
Há ainda outra razão. O artigo 133 da Constituição diz que o PR fixa a data das
eleições de harmonia com a lei eleitoral. Portanto, não contem com o Presidente
para ir contra a lei e a Constituição. E, se os senhores deputados agora pensarem
de forma diferente, façam o favor de mudar a lei, não tenho objeções. Recordo
que, enquanto Primeiro-Ministro, fui eleito em outubro duas vezes (outra em
julho, mas em resultado da dissolução). Guterres foi eleito em outubro, o ante-
rior Primeiro-Ministro José Sócrates também.
– Mas há um grande desfasamento entre as regras europeias e a data das
eleições, que pode provocar problemas orçamentais. Isso não o convence?
– Também se fala das questões europeias. Recordo que as últimas eleições na
Alemanha, na Holanda e na Dinamarca foram em setembro. As regras europeias
não podem deixar de se adaptar às especificidades eleitorais dos diferentes paí-
ses. Quando existe uma comunidade de 28 países, quase não há mês em que não
possa ocorrer alguma eleição. E não se está à espera, com certeza, que a Alema-
nha vá alterar a data das eleições, que normalmente são em setembro, nem a
Holanda, nem a Dinamarca, para apresentarem um orçamento já elaborado até
30 de setembro. O semestre europeu não está à espera disso.
– Quando ocorrerem as eleições e começarem as negociações para um novo
Governo – se não houver maioria absoluta –, o papel do PR é muito impor-
tante. Se as eleições só forem a partir de setembro, já estaremos numa fase
em que os seus poderes estão limitados, por estar em fim de mandato. Não
seria mais importante para Portugal ter um PR com todos os poderes para
ajudar num momento tão importante?
– Quando tivermos em Portugal uma verdadeira cultura de compromisso,
que considero da maior importância, teremos de nos habituar aos longos
períodos negociais entre os partidos políticos para chegarem a entendimentos.
ANEX
OS
305
A negociação para um novo Governo na Alemanha demorou 86 dias, na Fin-
lândia 66 dias, na Holanda, 54. É muito melhor que, numa eventual negocia-
ção, os partidos políticos façam uma negociação aprofundada, indo mesmo
aos detalhes, do que depois levarem os conflitos e as lutas partidárias para
dentro do Governo. Por isso, devemos estar preparados para, no futuro, ter-
mos negociações longas entre as forças políticas, quando for necessário fazer
uma coligação de Governo. E isto é positivo e não negativo, contrariamente
ao que se diz.
– Para si, o argumento de que um futuro Governo não deveria governar com
um orçamento elaborado pelo Governo anterior não colhe?
– Portugal continua com um orçamento em vigor – o do ano anterior por duo-
décimos – e, se calhar, até é positivo para um Governo que surja das eleições
se acalmar e ainda se manter algum tempo com as limitações de despesa que
venham do passado. Mas isso não colhe absolutamente nada, porque o legislador
de 1999 sabia muito bem disso. E se, agora, o legislador é diferente e quer outra
coisa, faça favor de mudar a lei.
– Não é previsível…
– Se não é previsível, é porque estão de acordo com a legislação que fizeram.
Repito, é a lei 1/99 de 22 de junho, proposta pelo PS, votada favoravelmente por
ele, PCP e Verdes, e contra pelo PSD e o CDS.
– Isso quer dizer que a lei foi aprovada durante o primeiro Governo de Antó-
nio Guterres, quando o atual líder do PS era ministro dos Assuntos Parlamen-
tares. O PS não tinha então maioria absoluta, na prática foi uma lei negociada
no Parlamento com o PCP e os Verdes, por António Costa…
– Eu não quero entrar por aí. Respeito a decisão que este Parlamento venha a
tomar sobre essa matéria, mas o PR só deve fixar eleições de acordo com a lei
eleitoral, porque é isso que está escrito na Constituição. Então utiliza-se a bomba
atómica para ajustar a data das eleições? Não há nenhum constitucionalista que
não diga que esse instituto só pode ser utilizado em caso de grave crise política.
Quanto a essa matéria, é como disse: ponto final.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
306
– No ano passado, lançou um repto aos partidos e apelou a um compromisso.
Nesse quadro, levantou a possibilidade de ele englobar uma antecipação de
eleições. Esse cenário hoje já não faz sentido?
– Então, estivemos perante uma grave crise política. Estava em causa ultrapassá-
-la através de um compromisso de salvação nacional. As eleições, a realizarem-se,
como se escreve no artigo 19 da lei eleitoral, não seriam para nova legislatura, . E
as eleições a que nos estamos a referir são por fim de legislatura. Então, as condi-
ções eram bem diferentes de agora. Naquela altura havia uma grave crise política.
– O que seria para si hoje uma grave crise política?
– Que a governabilidade do país e a estabilidade política estivessem seriamente
em causa.
– Mas se o PSD e o CDS dissessem que cumpririam a legislatura mas não
estariam dispostos a ir coligados a eleições, não seria um sinal ao eleitorado
de que a coligação estava exausta, não seria melhor rever a situação?
– A nossa vida política precisa de um pouco mais de serenidade e de não atingir
esses graus de esquizofrenia que, de vez em quando, surgem. Lembro quatro casos:
o Primeiro-Ministro da Polónia foi-se embora, foi substituído, e não houve uma grave
crise no país; o Primeiro-Ministro francês foi substituído; com um bocadinho mais
de barulho, o Primeiro-Ministro de Itália foi-se embora e veio outro; o Primeiro-
-Ministro da Finlândia saiu para ir para comissário europeu – não houve problema.
Em Portugal, ainda hoje há manifestações de histeria política pelo facto de Durão
Barroso ter ido para Presidente da Comissão Europeia. Devíamos ter orgulho.
– Só em Portugal é que essa cultura não existe?
– Criam-se, às vezes, histerias políticas à volta de matérias que, na Europa, são
consideradas com normalidade. Portugal, comparado com o que se passa por
essa Europa fora, é um dos países com uma imagem muito positiva. Estive recen-
temente com vários Presidentes europeus, e ouvi os maiores elogios. Acabo de
receber um grande investidor norte-americano e diz o mesmo. A nossa imagem
externa é muito boa. É diferente internamente, eu sei. Precisamos de muito mais
serenidade. E tenho procurado incuti-la.
ANEX
OS
307
– Nestes últimos dias, pela voz do Governo, foi evocada a possibilidade de um
segundo resgate, disse-o a Ministra das Finanças.
– Já lhe disse, se não alterarem a data eleitoral, se não ocorrer uma grave crise
política, as eleições terão lugar na data fixada na lei eleitoral. Não comento o que
dizem ministros.
– Disse que não temos tradição de negociações. Ainda espera algum tipo de
compromisso antes das eleições, ou só para uma fase posterior?
– Em Portugal, existe uma grande resistência da parte das forças partidárias
ao estabelecimento de compromissos políticos. Nessa matéria, somos um caso
quase único na Europa nos países com a nossa dimensão. É por isso que é neces-
sário insistir – e tenho vindo a fazê-lo. Há uma coisa com que me congratulo: o
aumento substancial do número de personalidades e instituições, entre elas o
Conselho Económico e Social, que têm defendido publicamente a necessidade
do entendimento interpartidário de médio prazo. Penso que podemos levar
anos a conseguir mudar as atitudes dos principais protagonistas partidários
até alcançarmos uma verdadeira cultura de compromisso, como encontramos
na Noruega, Finlândia, Suécia, Dinamarca, Holanda. Nem menciono o caso da
Bélgica, porque bateram o recorde do tempo de negociações.
– E como se faz para atingir esse objetivo?
– É preciso criar uma atmosfera que, vindo da base, chegue às estruturas parti-
dárias e seus dirigentes, em que as pessoas lhes façam sentir que o país perde
muito se não existir uma cultura de compromisso. Isso é tanto mais importante
quanto temos um sistema eleitoral proporcional, em que é extremamente difí-
cil que um só partido tenha apoio maioritário na AR. Um sistema proporcional
como o nosso normalmente exige entendimentos para assegurar a governabi-
lidade. O que me preocupa é que, hoje, o diálogo em Portugal entre as forças
políticas é muito mais difícil do que quando fui Primeiro-Ministro. Passei horas
a negociar com o líder do PS de então [Vítor Constâncio] e com outros dirigen-
tes para a revisão constitucional de 1989: acabar com a irreversibilidade das
nacionalizações, o fim do monopólio estatal da televisão, a liberalização da
comunicação social. Um grande número de reformas estruturais foi aprovado
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
308
por larga maioria: a lei da autonomia universitária, da segurança interna e
outras. As coisas mudaram muito e começaram a mudar fundamentalmente
no último Governo; agravaram-se as dificuldades, e mantêm-se, ainda.
– Uma cultura de não negociação?
– Penso que os debates quinzenais começaram a ser a expressão da crispação,
da agressividade e até da má educação, que, depois, tornam difícil o diálogo. Os
diálogos que eu mantinha quando era Primeiro-Ministro com os líderes dos par-
tidos da oposição eram civilizadíssimos, cordiais, com grande à-vontade, mesmo
com o líder do PC. E, hoje, a informação que tenho é que é extremamente difícil.
– No seu discurso de 10 de junho, falou mais uma vez do compromisso, mas
colocou uma meta – até ao Orçamento do Estado. Isso não se verificou. Ainda
há tempo para um compromisso?
– Nesta fase em que estamos, a menos de um ano do próximo ato eleitoral, o que é
fundamental é conseguir baixar o nível de crispação e agressividade dos debates
entre as forças políticas, por forma a criar condições mais favoráveis para um
diálogo interpartidário, que pode ser necessário, depois do próximo ato eleitoral.
O próximo Governo, seja qual for a sua composição, não pode deixar de ter o
apoio maioritário da AR, mas, além disso, tem de assegurar uma solução gover-
nativa coerente e consistente. Tem de dar uma garantia: de governabilidade e de
estabilidade política. É algo decisivo para o país, não é só da minha preferência.
E as pessoas têm de ter consciência de que forçar um partido a fazer um enten-
dimento de Governo com outro que o não queira fazer é um erro trágico. É trazer
para dentro do Governo os conflitos partidários, o combate político e as guerras
entre personalidades, e isso é o pior que pode acontecer.
– É por isso que pede contenção?
– Se não houver contenção de crispação, se não acabarem os insultos nos deba-
tes, o diálogo pós-eleitoral pode ser quase impossível, desde logo pelos ressenti-
mentos acumulados. Eu sei o que me disseram os dirigentes da oposição quando
o Eng. Sócrates pediu a demissão e discuti com eles a possibilidade de fazer um
novo Governo: todos falaram da total impossibilidade, invocando o que tinha
ANEX
OS
309
acontecido no passado! Pensa-se que, independentemente das tensões de agora,
das crispações, insultos e más-educações, eles vão entender-se? A minha expe-
riência diz-me que as coisas podem não ser assim. Portanto, neste momento,
é fundamental conseguir baixar o nível de tensão e de crispação partidária. E
chegamos à parte do orçamento. Existe uma nova liderança no principal partido
da oposição. É da maior importância restabelecer pontes de diálogo.
– Mas pontes de diálogo sobre o quê?
– Relativamente a matérias setoriais que sejam importantes para o futuro do
país. Não é o que tentei fazer em julho passado e que – por razões que devem ima-
ginar (mas que um dia hei de contar na íntegra, tudo está documentado) – não se
concretizou. São matérias como as questões europeias, os fundos estruturais, a
descentralização de competências para as autarquias locais, a reforma fiscal. Já
se fez no passado em relação ao IRC. Não se anda a mudar os códigos de cada vez
que chega um novo Governo! O IRS que está agora foi uma reforma feita quando
eu era Primeiro-Ministro, em 1989. É lógico que haja esforço de entendimento
em relação a uma reforma fiscal. A instabilidade fiscal é uma das coisas de que os
investidores estrangeiros se queixam. A Saúde também não pode deixar de ser
encarada por qualquer Governo que venha depois do próximo ato eleitoral. Isto
é, devem ser estabelecidas pontes de diálogo e aproveitadas as matérias setoriais
que os partidos do arco do governo reconhecem como importantes para o futuro.
– É aí que entra a questão orçamental?
– Portugal é um dos países da Europa que mais dependem do exterior, basta ter
presente que a nossa dívida pública é 128 por cento do produto. O endividamento
líquido para com o estrangeiro é mais de 100 por cento. É muito importante, por
isso, que haja uma perceção no exterior de que, qualquer que seja o Governo
português, agora ou no futuro, há determinadas orientações estratégicas que
são respeitadas. Por exemplo, a trajetória de sustentabilidade da dívida pública,
o controlo do endividamento externo, a competitividade da economia, o res-
peito pelos compromissos internacionalmente assumidos. É fundamental que,
no exterior, se pense que, com este ou outro Governo, os políticos portugueses
aceitam que é preciso manter essas orientações. Ora, a discussão à volta deste
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
310
Orçamento não pode levar a que, no exterior, se perca essa perceção. Isto é, que
quem vier a seguir faça um orçamento de rutura em relação a estas orientações
fundamentais. O exterior não pode ter a perceção de que o Orçamento para 2016
já não considera que é importante a sustentabilidade da dívida pública ou a
competitividade...
– E como é que isso se consegue, tendo em conta a situação atual e as tomadas
de posição das forças em presença?
– Penso que não é preciso nenhum documento escrito. Basta existir um enten-
dimento implícito que leve a uma convergência de linguagem em relação a
estas orientações estratégicas. Por terem estudado a matéria, debatido e ana-
lisado com cuidado, aqueles que pensam ser Governo concluem que Portugal
não pode deixar de se apresentar, agora e no futuro, como um país que vai atuar
orçamentalmente de forma a assegurar a sustentabilidade da dívida pública,
a controlar o endividamento externo, que não vai fazer opções orçamentais
que ponham em causa a competitividade da economia portuguesa, não vai
dizer que não cumpre as obrigações internacionais. Aquilo que o Sr. Hollande,
em França, ou o Sr. Renzi, em Itália, foram obrigados a fazer é uma indicação
para que todos vão percebendo que as questões são mais complicadas do que
se imagina. Portanto, os entendimentos nem sempre precisam de ser explíci-
tos. Mas, se for possível fazer alguns entendimentos em áreas setoriais, isso
facilita. Isto é da maior importância para que se chegue à campanha eleito-
ral de 2015 e o tom não venha a pôr em causa as possibilidades de entendi-
mento se ele se revelar necessário depois do ato eleitoral. Uma simples frase
do Primeiro-Ministro da Grécia sobre a sua vontade de sair do programa de
ajustamento fez com que os juros, que estavam perto de 5 por cento, passas-
sem para 8 por cento! Levou pouco mais de 24 horas, e ele teve de vir corrigir,
dizendo que iam negociar um programa cautelar. Se, no nosso caso, passar
uma perceção errada, a herança do próximo Governo, qualquer que ele seja,
será mais complicada.
– Mas foi o primeiro a dizer que o calendário dos entendimentos se esgota
quando nos aproximamos dos atos eleitorais…
ANEX
OS
311
– Por isso o referi. É preciso que a discussão do orçamento – e espero-o sincera-
mente – não leve a que no exterior se pense que Portugal abandona, no futuro,
estas orientações estratégicas, que são acompanhadas em pormenor no exterior.
Todos os dias recebo aqui relatórios internacionais sobre estas matérias. Repito
que não é preciso um documento escrito neste momento.
– Pode patrocinar esse entendimento?
– O contributo que o Presidente pode dar é, desde logo, não acicatar os conflitos
e as linguagens excessivas entre as forças políticas. E estimulá-los ao diálogo. É
isso que sempre tenho feito. Mas repito: só quem não conhece os partidos é que
pode imaginar que qualquer que seja o Presidente da República pode forçar o
que não querem fazer. É um desconhecimento total da realidade político-parti-
dária em Portugal. Tenho alguma esperança de que haja um abrandamento da
agressividade nos debates parlamentares entre as diferentes forças. Já foi um
sinal positivo a forma como o PS acabou por apresentar o seu documento sobre
a dívida pública. Penso que alguma boa informação de Bruxelas deve ter chegado
a algumas pessoas que tinham dito coisas contrárias àquelas que o bom senso
aconselhava e que o Partido Socialista, na sua declaração, acolheu. Temos de ter
esperança. Um dia chegará a Portugal uma verdadeira cultura de compromisso,
exceto se aparecerem líderes fortemente carismáticos que consigam assegurar
maiorias absolutas. Mas diz-se que isso parece difícil…
– Provavelmente terá discutido esse assunto com o novo líder socialista.
Parece-lhe que o PS de António Costa estará interessado nesse compromisso?
– O Presidente da República nunca pode fazer comentários sobre vidas partidá-
rias. Já houve um líder partidário que se demitiu dizendo expressamente que
o fazia por interferências do Presidente da República na vida do partido – foi o
Dr. Vítor Constâncio. Isso nunca acontecerá comigo.
– Mas espera pelo menos essa atitude da parte do PS?
– Com certeza que espero. É um partido responsável e também considero res-
ponsável o seu líder. Não quero estar aqui a fazer apreciações. Mas não posso
deixar de esperar.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
312
– António Costa saiu aqui de Belém dizendo que falta muito diálogo em
Portugal, mas que os consensos não são em abstrato.
– Com certeza. Podem ser, por exemplo, à volta das competências para as autar-
quias locais, a educação, a segurança social e outras matérias.
– E acha que essa disponibilidade também existe da parte do Governo, que já
está em funções há três anos?
– Não se pode atribuir as culpas apenas a um lado. Espero que sim. Não estou a
tentar manifestar um otimismo sem qualquer fundamento, mas sim a apontar
aquilo de que o País precisa.
– Portanto, mantém a esperança de que, apesar de entrarmos no ano que
vem em atos eleitorais e da contaminação do ambiente político que daí decor-
rerá, estes partidos que já parecem ter entrado em campanha eleitoral vão
entender-se?
– Como Presidente da República não posso dizer outra coisa, é uma função
institucional.
ANEX
OS
313
Mensagem à Assembleia da República a propósito do diploma relativo ao Regime Jurídico
do Referendo Regional na Região Autónoma dos Açores
Tendo promulgado, para ser publicado como lei orgânica, o Decreto n.º 295/
XII da Assembleia da República, que aprova o Regime Jurídico do Referendo
Regional na Região Autónoma dos Açores, entendi dirigir a essa Assembleia, no
uso da faculdade prevista na alínea d) do artigo 133º da Constituição, a seguinte
mensagem:
1 – O Regime Jurídico do Referendo Regional na Região Autónoma dos Açores
encontra consagração constitucional específica, sendo-lhe também aplicável,
com as devidas adaptações, o regime constitucional do referendo nacional.
2 – Não por acaso, o Regime agora promulgado encontra amplos pontos de con-
tacto com o regime legal vigente para o referendo nacional.
3 – Um destes aspetos, em cumprimento de determinação constitucional, é o da
submissão obrigatória da proposta de referendo pelo Presidente da República
ao Tribunal Constitucional, para fiscalização preventiva da constitucionalidade
e da legalidade.
4 – Todavia, no artigo 22º do referido Regime, estabelece-se que no “prazo de
dois dias a contar da data do conhecimento da decisão do Tribunal Constitu-
cional, o Presidente da República comunica-a ao Presidente da Assembleia
Legislativa da Região Autónoma dos Açores, que por sua vez a transmite
aos grupos e representações parlamentares, ao Governo Regional e, sendo
caso disso, aos mandatários do grupo de cidadãos subscritores da iniciativa
popular”.
5 – A imposição ao Presidente da República, por lei ordinária, de um prazo
de atuação, para mais tão curto, só deve justificar-se por razões substantivas.
Não parece ser o caso da norma em apreciação que, além de versar sobre
questões de expediente, não acrescenta qualquer efeito útil ao ato praticado.
6 – Na verdade, sem prejuízo do dever de comunicação imediata da decisão do
Tribunal Constitucional que impende sobre o seu Presidente ao Presidente da
República, previsto no artigo 27º do Regime, a mesma disposição determina o
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
314
seu envio para publicação.
7 – Ora, nos termos do artigo 119º da Constituição, as decisões do Tribunal Cons-
titucional são objeto de publicação obrigatória no Diário da República, sem a
qual não possuem eficácia jurídica.
8 – Acresce que, nos termos do artigo 28º do mesmo Regime, o “Presidente da
República decide sobre a convocação do referendo no prazo de vinte dias após
a publicação da decisão do Tribunal Constitucional que verifique a constitucio-
nalidade e a legalidade proposta”.
9 – A notificação imediata da decisão do Tribunal Constitucional à Assem-
bleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores não parece acrescentar,
pois, qualquer efeito útil: não só a sua eficácia é condicionada à publicação
como, em caso de decisão de não inconstitucionalidade, deve ser ainda pre-
servado o espaço de decisão constitucional e legal atribuído ao Presidente
da República.
10 – Na circunstância de uma decisão de inconstitucionalidade ou de ilegalidade,
nos termos do artigo 23º, o Presidente da República devolve a proposta de refe-
rendo à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores. Ora, não se
afigura que tal tenha de ocorrer no prazo de dois dias, nem a lei o impõe – o que,
de resto, cria uma contradição entre a obrigação de comunicação da decisão e o
dever de devolução da proposta, dependendo este da publicação da decisão do
Tribunal Constitucional no jornal oficial.
11 – Tratando-se de um expediente sem utilidade visível, de uma imposição des-
proporcionada de prazo muito curto por lei ordinária ao Presidente da República
e podendo gerar contradições normativas, julga-se que esta solução deveria ser
objeto de ponderação pelos Senhores Deputados.
12 – Finalmente, sugere-se que a redação do n.º 2 do artigo 31º, na parte em que
se refere a “cidadãos de outros países” seja mais claramente harmonizada com
o disposto no artigo 15º da Constituição e com o artigo 38º do Regime Jurídico
do Referendo Nacional, concretizando a sua aplicação a cidadãos de países de
Língua Portuguesa.
Tendo decidido promulgar este diploma por constituir uma intenção expressa
do legislador, assente num amplo consenso e cuja oportunidade não se contesta,
considero, em todo o caso, que os pontos em apreço deveriam ser objeto de uma
ANEX
OS
315
reponderação por parte dos Senhores Deputados, assim eliminando as dúvidas
ou equívocos interpretativos que possam subsistir nesta matéria.
Palácio de Belém, 20 de janeiro de 2015
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
AníbalCavacoSilva
ANEX
OS
317
Comunicado da Presidência da República a propósito da dissolução da Assembleia Legislativa
da Região Autónoma da Madeira
28dejaneirode2015
No passado dia 12 de janeiro, o Presidente do Governo Regional da Madeira
apresentou ao Representante da República o pedido para a sua exoneração, o
que, nos termos legais, implica a demissão do Governo Regional.
Na sequência desta demissão, o Representante da República estabeleceu contac-
tos com as forças políticas da Região, tendo concluído, em relatório transmitido ao
Presidente da República, pela impossibilidade de formação de um novo Governo.
Nos termos constitucionais e legais, o Presidente da República auscultou a opi-
nião dos partidos representados na Assembleia Legislativa da Região Autónoma
da Madeira. Todas as forças políticas se pronunciaram a favor da dissolução da
Assembleia Legislativa e da realização de eleições antecipadas.
Posteriormente, o Presidente da República convocou o Conselho de Estado, o
qual se pronunciou, por unanimidade, favoravelmente à dissolução da Assem-
bleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira.
Tendo analisado a situação política decorrente da demissão do Governo Regio-
nal e face à inviabilidade de formação de um novo Governo no atual quadro
parlamentar, decidiu o Presidente da República proceder à dissolução da Assem-
bleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira e marcar a realização de elei-
ções para o próximo dia 29 de março.
O atual Governo Regional mantém-se em funções até à tomada de posse do novo
Governo, ficando, no entanto, por imperativos constitucionais e legais, limitado à
prática dos atos estritamente necessários para assegurar a gestão dos negócios
públicos da Região.
O Presidente da República apela a que este ato eleitoral, bem como a campanha
que o precederá, decorram com serenidade e elevação, e a que o debate democrá-
tico entre as diversas forças políticas constitua um exemplo de pluralismo e uma
oportunidade para o esclarecimento de todos os Madeirenses quanto ao seu futuro.
ANEX
OS
319
Homenagem a Personalidades da Vitivinicultura
Porto,18defevereirode2015
A vinha e o vinho estão ligados de forma particularmente profunda à história da
nossa terra, à sua cultura e tradições. É uma herança patrimonial que se enri-
quece a cada dia, um modo de ser e de estar do nosso povo, um traço da nossa
identidade coletiva.
Hoje, a produção vitivinícola nacional é também sinónimo de inovação, de aper-
feiçoamento técnico, de seleção e de requinte.
É um exemplo de conjugação equilibrada de recursos financeiros e físicos,
humanos e tecnológicos. É um testemunho de empreendedorismo e criatividade,
contribuindo para uma imagem de prestígio além-fronteiras.
Os vitivinicultores portugueses produzem uma admirável panóplia de cores,
aromas e sabores, numa diversidade que se alia à melhor qualidade. Não são
apenas os solos e o clima do nosso País. O conhecimento e a inovação são indis-
pensáveis para a criação de um vinho diferente, que incorpore e transmita todo
o talento do seu produtor, que coloca em cada novo vinho a sua alma, tornando-o
único.
Internacionalmente, os vinhos portugueses têm-se afirmado como propostas
diferenciadoras, apoiadas na diversidade e na singularidade das suas castas, a
que se associa uma qualidade muito consistente e uma excelente relação qua-
lidade-preço.
Temos atualmente 47 regiões vitivinícolas em Portugal, e estão reconhecidas e
protegidas 33 Denominações de Origem e oito Indicações Geográficas.
Os vinhos do nosso país são, cada vez mais, objeto de atenção e de prémios inter-
nacionais.
A prestigiada revista WineSpectator inclui, este ano, seis vinhos portugueses
entre os 100 melhores do Mundo – dois Vinhos do Porto, três do Douro e um do
Alentejo –, o que, só por si, coloca Portugal entre os mais destacados produtores
do planeta.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
320
Minhas Senhoras e meus Senhores
O vinho nunca foi apenas um produto agrícola. Muito mais que um bem da terra,
o vinho tem sido, desde tempos imemoriais, um valor cultural revestido de uma
simbologia ímpar.
Narrado em textos, cantado em poemas, idolatrado na mitologia, reproduzido em
telas, esculturas, tapeçarias e vitrais, o vinho serve para brindar ao amor, à famí-
lia, a contratos de sucesso, a tratados de paz ou a outros momentos de felicidade.
Além desta presença na sociedade como elemento cultural e intemporal, o vinho
cada vez mais se evidencia pela sua importância económica, com o seu peso nas
nossas exportações a ser consistentemente reforçado.
Na estratégia de internacionalização dos nossos vinhos, são fundamentais a
consolidação de novos mercados e o reforço da imagem de elevada qualidade.
A atração da vitivinicultura, enquanto área de negócio, tem vindo a reforçar-se
de modo natural. Tive oportunidade de constatar isso mesmo num encontro com
jovens enólogos, nos meus encontros sobre os jovens e o futuro da economia,
assim como nas visitas que faço pelo país.
A paixão com que se dedicam à criação dos seus vinhos, aliada ao reforço das
suas competências e conhecimentos, é garantia de sucesso futuro.
Nesta cerimónia, no Instituto dos Vinhos do Douro e Porto, homenageamos o
setor vitivinícola português, nas pessoas de um grupo de vitivinicultores, não
apenas desta região, mas de toda a região Norte, que, entre outros, se distingui-
ram pelo seu contributo para fazer do nosso país um Portugal maior.
E é com grande satisfação que lhes irei impor as insígnias da Ordem do Mérito
Empresarial na Classe do Mérito Agrícola, em reconhecimento público do con-
tributo que dão à economia nacional e à imagem do País.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
322
MARÇO 2014Dia 10 • O Presidente da República
visita a fábrica da Nestlé, em Estarreja,
por ocasião das comemorações
do 90º aniversário da presença
da empresa em Portugal.
Dia 11 • O Presidente da República recebe,
em audiência, o Presidente do Tribunal
de Contas Europeu, Dr. Vítor Caldeira.
• O Presidente da República recebe,
em audiência, a Direção da Federação
Portuguesa de Andebol.
Dia 12 • O Presidente da República
recebe, em audiência, a Direção
da Associação Sindical dos Juízes
Portugueses.
Dia 13 • O Presidente da República
recebe, em audiência, a Direção da
Federação Portuguesa de Ténis de Mesa.
Dia 14 • O Presidente da República
assiste às Exéquias
do Patriarca Emérito de Lisboa,
Cardeal D. José da Cruz Policarpo.
Dia 17 • O Presidente da República
recebe, em audiência, os representantes
dos partidos políticos com assento
parlamentar, com vista à marcação da data
das eleições para o Parlamento Europeu.
Dia 18 • O Presidente da República
recebe, em audiência, a Direção
da Ordem dos Arquitetos.
Dia 19 • Comunicação ao País a respeito
das eleições para o Parlamento Europeu.
• O Presidente da República visita
a Companhia das Lezírias por ocasião
do Dia Internacional das Florestas.
Dia 24 • O Presidente da República
preside à reunião do Conselho Superior
de Defesa Nacional.
Dia 26 • O Presidente da República
recebe, em audiência, os Presidentes
e Diretores da Vodafone Group PLC
e da Vodafone Portugal.
Dia 28 • Visita do Presidente da República
aos concelhos de Campo Maior e Arronches.
19 de março de 2014. Visita à Companhia das Lezírias.
323
PASS
OS D
A AG
ENDA
ABRIL 2014Dia 02 • O Presidente da República
recebe, em audiência, uma delegação
do grupo de responsáveis pelo projeto
“Missão Crescimento – Uma década
para mudar Portugal”.
• O Presidente da República recebe,
em audiência, o Presidente da Câmara
Municipal de Paredes, Dr. Celso Ferreira,
que apresenta o prémio Regiostars 2014,
atribuído pela Comissão Europeia ao
projeto “Art on Chairs”, promovido
pelo município.
Dia 03 • O Presidente da República
recebe, em audiência, a Direção
da Associação Nacional de Freguesias
(ANAFRE).
Dia 10 • O Presidente da República
promove um Encontro com
a Comunidade Portuguesa
do Global Shapers.
Dia 11 • O Presidente da República
participa na Sessão de Abertura
da Conferência “Portugal: rumo
ao crescimento e emprego. Fundos
e Programas Europeus: solidariedad
e ao serviço da economia portuguesa”.
Dia 14 • O Presidente da República
recebe, em audiência, o CEO da
Pharma Merck, Stefan Oschmann.
Dia 15 • O Presidente da República
recebe, em audiência, os Presidentes
da COTEC, Prof. Doutor João Bento,
e da Fundação Calouste Gulbenkian,
Dr. Artur Santos Silva.
Dia 16 • O Presidente da República
preside à Cerimónia de Reabertura da
Charola do Convento de Cristo em Tomar.
Dia 17 • O Presidente da República
inaugura, em Brejos de Azeitão,
o Complexo Porto Salus.
Dia 21 • O Presidente da República
recebe, em audiência, a Direção
da Associação Nacional de Turismo.
• O Presidente da República recebe,
16 de abril de 2014. Reabertura da Charola do Convento de Cristo, Tomar.
325
PASS
OS D
A AG
ENDA
em audiência, o Provedor da Misericórdia
do Porto, Dr. António Tavares.
Dia 22 • Jornada de visitas a empresas
industriais de forte componente
exportadora, no âmbito do Roteiro
para uma Economia Dinâmica.
Dia 23 • O Presidente da República
recebe, em audiência, o Embaixador
de França, Jean-François Blarel,
e Conselheiros do Comércio Exterior
da França (CCEF).
• O Presidente da República recebe,
em audiência, o núcleo fundador
da plataforma de difusão de informação
económica e financeira
“Portugal Economy Probe”.
17 de abril de 2014. Complexo Porto Salus, Azeitão.
22 de abril de 2014. Visita à Indasa, Aveiro.
À esquerda: 16 de abril de 2014. Reabertura da Charola do Convento de Cristo, Tomar.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
326
Dia 24 • O Presidente da República
recebe, em audiência, o ex-Presidente
da República Federativa do Brasil,
Luiz Inácio Lula da Silva.
Dia 25 • Sessão Solene Comemorativa
do 40º Aniversário do 25 de Abril.
Dia 29 • O Presidente da República
recebe, em audiência, o Presidente
da Fundação Luso-Americana para
o Desenvolvimento, Dr. Vasco Rato.
Dia 30 • O Presidente da República
condecora personalidades que se
destacaram na Internacionalização
da Economia Portuguesa.
22 de abril de 2014. Visita à Polisport Plásticos.
25 de abril de 2014. Celebrações na Assembleia da República.
327
PASS
OS D
A AG
ENDA
MAIO 2014Dia 02 • O Presidente da República
recebe, em audiência, o Primeiro-
-Ministro japonês, Shinzo Abe.
Dia 05 • Visita de Estado a Portugal
do Presidente da República de
Singapura,Tony Tan Keng Yam.
Dia 06 • O Presidente da República
recebe, em audiência, o Bispo de
Santarém, D. Manuel Pelino Domingues.
• O Presidente da República recebe,
em audiência, a direção do Conselho
Nacional das Ordens Profissionais.
Dia 08 • O Presidente da República
agracia o General Luís Evangelista
Esteves de Araújo e o Almirante
José Carlos Torrado Saldanha Lopes com
a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo.
Dia 09 • O Presidente da República
preside à abertura da Conferência
Internacional “Portugal – Rotas de Abril:
Democracia, Compromisso
e Desenvolvimento”, integrada no ciclo
de conferências dos Roteiros do Futuro
e destinada a assinalar os 40 Anos
do 25 de Abril.
Dia 10 • O Presidente da República
preside à sessão de encerramento
da Conferência “Portugal – Rotas
de Abril: Democracia, Compromisso
e Desenvolvimento”.
Dias 12 a 18 • Visita de Estado do
Presidente da República à República
Popular da China (Xangai e Pequim)
e à Região Administrativa Especial
de Macau.
24 de maio de 2014. Final da Liga dos Campeões da UEFA, Lisboa.
5 de maio de 2014. Visita de Estado do Presidente de Singapura. 9 de maio de 2014. Abertura da Conferência “Portugal – Rotas de Abril”.
329
PASS
OS D
A AG
ENDA
da Defesa da Comunidade dos Países
de Língua Portuguesa (CPLP).
• O Presidente da República recebe,
em audiência, o Presidente da
Agência para o Investimento
e Comércio Externo de Portugal (AICEP),
Dr. Miguel Frasquilho.
Dia 28 • O Presidente da República
recebe, em audiência, a Secretária-Geral
da Conferência Ibero-Americana, Rebeca
Grynspan.
Dia 29 • O Presidente da República recebe,
em audiência, a Direção da Confederação
Empresarial de Portugal (CIP).
• O Presidente da República recebe,
em audiência, o ex-Presidente dos
Estados Unidos da América, Bill Clinton.
Dia 21 • O Presidente da República
recebe, em audiência, o Ministro da
Defesa Nacional da Tunísia, Ghazi Jeribi.
Dia 24 • O Presidente da República
dirige aos Portugueses uma mensagem a
propósito da realização, no dia 25 de maio
de 2014, das eleições para o Parlamento
Europeu.
• O Presidente da República assiste, com
os Reis de Espanha, à Final da Liga dos
Campeões da UEFA em futebol, disputada
em Lisboa.
Dia 25 • O Presidente da República exerce
o direito de voto nas eleições para o
Parlamento Europeu.
Dia 26 • O Presidente da República
recebe, em audiência, os Ministros
16 de maio de 2014. Encontro com grandes empresários chineses, Pequim.
À esquerda: 12 a 18 de maio de 2014. Visita de Estado à China e à Região Administrativa Especial de Macau.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
330
JUNHO 2014Dia 02 • O Presidente da República
recebe, em audiência, a Seleção Nacional
de Futebol, antes da partida para a Fase
Final do Campeonato do Mundo, Brasil
2014.
• O Presidente da República preside à
Cerimónia de Entrega do Prémio Pessoa
2013 à investigadora Maria Manuel Mota.
Dia 03 • O Presidente da República
assiste, na Faculdade de Medicina da
Universidade de Lisboa, à Última Lição
do Prof. Doutor João Lobo Antunes.
Dia 04 • O Presidente da República
condecora várias Instituições
Particulares de Solidariedade Social
que se têm distinguido na luta contra a
exclusão social.
• O Presidente da República recebe,
2 de junho de 2014. Entrega do Prémio Pessoa 2013. 6 de junho de 2014. Entrega dos Prémios FAZ da COTEC-Portugal.
10 de junho de 2014. Cerimónias Militares do Dia de Portugal, Guarda.
331
PASS
OS D
A AG
ENDA
em audiência, a Direção do Conselho
Nacional da Juventude.
Dia 05 • Visita de Estado a Portugal
do Presidente dos Estados Unidos
do México, Enrique Peña Nieto.
Dia 06 • O Presidente da República
e o Presidente mexicano
Enrique Peña Nieto presidem à Sessão
de Encerramento do Seminário
Económico “Oportunidades de Negócios
México-Portugal”, em Lisboa.
• O Presidente da República preside
à Cerimónia de Entrega dos Prémios
FAZ – Prémio Empreendedorismo
Inovador na Diáspora Portuguesa
e Prémio Ideias de Origem Portuguesa
– e à Assembleia Geral da COTEC-Portugal.
Dia 08 • Visita do Presidente da
República ao concelho de Manteigas.
Dias 09 e 10 • Comemorações
do Dia de Portugal, de Camões e das
Comunidades Portuguesas, na Guarda.
9 de junho de 2014. Celebrações do Dia de Portugal, Guarda.
5 de junho de 2014. Visita de Estado do Presidente do México.
8 de junho de 2014. Visita ao Concelho de Manteigas.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
332
• O Presidente da República recebe, em
audiência, o Presidente da República de São
Tomé e Príncipe, Manuel Pinto da Costa.
Dia 19 • O Presidente da República
recebe, em audiência, o Presidente eleito
da Guiné-Bissau, Dr. José Mário Vaz.
• O Presidente da República inaugura,
em Alijó, as Caves Gran Cruz Porto.
Dia 20 • O Presidente da República
inaugura o Parque de Ciência e
Tecnologia da Universidade do Porto.
Dia 24 • Visita de Estado a Portugal
do Presidente da República Federal
da Alemanha, Joachim Gauck.
Dia 25 • O Presidente da República
e o Presidente da República Federal
da Alemanha presidem à sessão de
encerramento oficial da Conferência
dos 60 anos da Câmara de Comércio
e Indústria Luso-Alemã.
Dia 12 • O Presidente da República
preside à XIX Cerimónia de Entrega
do Prémio Norte-Sul do Conselho
da Europa a Sua Alteza o Aga Khan
e à médica Suzanne Jabbour.
Dia 16 • O Presidente da República
recebe, em audiência, uma delegação
do Partido Comunista Português (PCP).
Dia 18 • O Presidente da República
recebe, em audiência, Liu Yunshan,
membro do Comité Permanente
do Bureau Político do Comité Central
do Partido Comunista Chinês.
20 de junho de 2014. Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto.
12 de junho de 2014. Prémios Norte-Sul do Conselho da Europa.
333
PASS
OS D
A AG
ENDA
19 de junho de 2014. Caves Gran Cruz Porto, Alijó. 25 de junho de 2014. Visita à Autoeuropa, Palmela.
24 de junho de 2014. Visita de Estado do Presidente da Alemanha.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
334
JULHO 2014Dia 01 • Visita a Portugal do Presidente
da República de Moçambique, Armando
Guebuza.
Dia 02 • O Presidente da República
preside à Cerimónia de Concessão
de Honras de Panteão Nacional a
Sophia de Mello Breyner Andresen.
Dia 03 • O Presidente da República
preside à reunião do Conselho de Estado.
2 de julho de 2014. Cerimónia no Panteão Nacional.4 de julho de 2014. Apresentação do Projeto Vocações de Futuro, Belém.
1 de Julho de 2014. Visita do Presidente da República de Moçambique.
335
PASS
OS D
A AG
ENDA
Dia 04 • O Presidente da República
recebe, em audiência, a Direção da
Associação dos Empresários pela
Inclusão Social (EPIS) e encontra-se
21 de julho de 2014. Visita Oficial à República da Coreia.
7 de julho de 2014. Visita a Portugal dos Reis de Espanha, D. Filipe VI e D. Letízia.
com alunos participantes no Projeto
Vocações de Futuro.
Dia 07 • Visita a Portugal dos Reis
de Espanha, D. Filipe VI e D. Letízia.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
336
24 de julho de 2014. Visita à Escola de Referência de Liquiçá, Timor-Leste.
337
PASS
OS D
A AG
ENDA
da República à República da Coreia.
Dias 22 a 24 • Visita do Presidente da
República à República de Timor-Leste,
por ocasião da X Conferência de Chefes
de Estado e de Governo da CPLP.
Dia 28 • O Presidente da República
recebe, em audiência, a Direção da
Faculdade de Economia da Universidade
Nova de Lisboa.
Dia 30 • O Presidente da República
preside à reunião do Conselho Superior
de Defesa Nacional.
Dia 31 • O Presidente da República requer
ao Tribunal Constitucional a fiscalização
preventiva da constitucionalidade
de normas dos Decretos n.º 262/XII
e n.º 264/XII da Assembleia da República.
Dia 08 • O Presidente da República
recebe, em audiência, o Secretário-Geral
da OCDE, Angel Gurría.
• O Presidente da República confere
posse a novos Vogais do Conselho
das Ordens Nacionais e do Conselho
das Ordens de Mérito Civil.
Dia 09 • O Presidente da República
recebe, em audiência, o Presidente
mundial do Grupo Repsol,
António Brufau.
• O Presidente da República recebe
a Presidente e os Vice-Presidentes da
Assembleia da República, bem como os
líderes dos Grupos Parlamentares, por
ocasião do final da Sessão Legislativa.
Dias 20 e 21 • Visita Oficial do Presidente
23 de julho de 2014. X Cimeira da CPLP, Díli.
19 a 21 de julho de 2014. Visita Oficial à República da Coreia, Seul.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
338
AGOSTO 2014Dia 18 • O Presidente da República
devolve à Assembleia da República,
sem promulgação, os Decretos
n.º 262/XII e n.º 264/XII, uma vez que
o Tribunal Constitucional se pronuncia
pela inconstitucionalidade de normas
daqueles Decretos.
30 de setembro de 2014. X Encontro Informal de Chefes de Estado Europeus do Grupo de Arraiolos, Braga.
7 de setembro de 2014. Dia do Município, Arganil.
10 de setembro de 2014. Prémio Champalimaud de Visão. 12 de setembro de 2014. Museu Diocesano de Santarém.
339
PASS
OS D
A AG
ENDA
SETEMBRO 2014Dia 07 • O Presidente da República
preside à Sessão Comemorativa
do Dia do Município de Arganil
e dos 900 Anos do Foral de Arganil.
Dia 10 • O Presidente da República
preside à cerimónia de entrega do
Prémio António Champalimaud
de Visão 2014.
Dia 12 • O Presidente da República
preside à Sessão de Inauguração
do Museu Diocesano de Santarém.
Dia 17 • O Presidente da República
recebe, em audiência, a Direção da
Associação Nacional de Freguesias
(ANAFRE).
Dias 19 e 20 • Visita de Estado a Portugal
do Presidente da República da Indonésia,
Susilo Bambang Yudhoyon.
Dia 22 • O Presidente da República
recebe, em audiência, a Administração da
Fundação Gulbenkian, para apresentação
do relatório “Um Futuro para a Saúde”,
elaborado por uma comissão de peritos
internacionais e nacionais.
Dia 26 • Visita do Presidente da República
aos concelhos de Oliveira de Azeméis
e Figueira da Foz.
Dias 29 e 30 • X Encontro Informal de
Chefes de Estado Europeus do Grupo de
Arraiolos, no Mosteiro de Tibães, em Braga.
19 de setembro de 2014. Visita de Estado do Presidente da Indonésia.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
340
OUTUBRO 2014Dia 02 • O Presidente da República
recebe, em audiência, uma delegação
do Partido Social Democrata (PSD)
para apresentação do relatório
“Por um Portugal amigo das crianças,
das famílias e da natalidade”.
Dia 04 • O Presidente da República
preside à celebração do 10º Aniversário
do Museu da Presidência.
Dia 05 • Comemorações do
104º aniversário da Implantação
da República, na Câmara Municipal
de Lisboa, e apresentação da iniciativa
“Portugal Sou Eu” no Palácio de Belém,
aberto à população.
Dia 06 • O Presidente da República
preside, em Lisboa, à Sessão de Abertura
da Conferência “O Futuro da Europa
é a Ciência”, organizada pela Comissão
Europeia.
Dia 10 • O Presidente da República
recebe, em audiência, o Dr. António
Costa, candidato do Partido Socialista
a Primeiro-Ministro.
• O Presidente da República recebe,
em audiência, o Presidente do Conselho
Económico e Social Europeu,
Henri Malosse.
Dia 13 • 2ª jornada do Roteiro para
uma Economia Dinâmica.
Dia 18 • O Presidente da República
preside à Cerimónia de Homenagem
Nacional aos Mortos da Grande Guerra,
no âmbito da evocação do Centenário
da I Guerra Mundial.
Dia 21 • O Presidente da República
confere posse ao novo Secretário de
Estado do Ensino Básico e Secundário,
Prof. Doutor Fernando José Egídio Reis.
Dia 24 • O Presidente da República
recebe, em audiência, o representante
especial do Secretário-Geral da
Organização das Nações Unidas para
a Guiné-Bissau, Dr. Miguel Trovoada.
Dia 27 • O Presidente da República
recebe, em audiência, a Direção da
Associação para a Competitividade das
Indústrias da Fileira Florestal (AIFF).
Dia 28 • O Presidente da República
recebe, em audiência, a Direção da
Confederação Nacional das Associações
de Pais.
Dia 29 • O Presidente da República
recebe, em audiência, o CEO da China
Three Gorges, Lu Chun.
• O Presidente da República recebe
o Príncipe Alberto II do Mónaco,
por ocasião da Convenção da BioMarine,
oferecendo uma receção
aos participantes.
Dia 30 • O Presidente da República
recebe, em audiência, o Presidente
da República da Guiné-Bissau,
Dr. José Mário Vaz.
341
PASS
OS D
A AG
ENDA
5 de outubro de 2014. Comemorações do aniversário da Implantação da República no Palácio de Belém (esq.) e na Câmara Municipal de Lisboa (dir.).
6 de outubro de 2014. Conferência “O Futuro da Europa é a Ciência”.
13 de outubro de 2014. Roteiro para uma Economia Dinâmica, São João da Madeira.
29 de outubro de 2014. Encontro com o Príncipe Alberto II do Mónaco, Palácio da Cidadela.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
342
NOVEMBRO 2014Dia 03 • O Presidente da República
agracia o Dr. José Manuel Durão Barroso
com o Grande-Colar da Ordem
do Infante D. Henrique.
Dia 04 • O Presidente da República
recebe, em audiência, a Direção
do Movimento para a Cidadania Sénior.
Dia 05 • O Presidente da República
recebe, em audiência, a Administração
da BorgWarner Emissions Systems.
Dia 06 • Visita de Trabalho a Portugal
do Presidente da República da Colômbia,
Juan Manuel Santos.
Dia 07 • O Presidente da República
recebe, em audiência,
o Chefe do Estado-Maior-General
das Forças Armadas, General
Artur Neves Pina Monteiro.
Dia 10 • Visita do Presidente
da República aos concelhos
de Borba e de Estremoz.
Dia 11 • O Presidente da República
recebe, em audiência, o Presidente
da Agência para o Investimento e
Comércio Externo de Portugal (AICEP),
Dr. Miguel Frasquilho.
Dia 12 • O Presidente da República
recebe, em audiência, a Comissão
de Acompanhamento do estudo
“Transforma Talento Portugal”,
que apresenta os seus resultados.
Dia 14 • 3ª Jornada do Roteiro
14 de novembro de 2014. Jornada dedicada à indústria do calçado.
343
PASS
OS D
A AG
ENDA
para uma Economia Dinâmica,
dedicada à indústria do calçado.
Dia 17 • O Presidente da República
recebe, em audiência, a Direção
da União Geral de Trabalhadores (UGT).
Dia 19 • O Presidente da República
preside à Sessão de Abertura do
24º Congresso da APDC – Associação
Portuguesa para o Desenvolvimento
das Comunicações.
• O Presidente da República confere
posse à nova Ministra da Administração
Interna, Prof.ª Doutora Anabela
Maria Pinto de Miranda Rodrigues, ao
Secretário de Estado Adjunto da Ministra
da Administração Interna,
Prof. Doutor Fernando Manuel
de Almeida Alexandre, e ao Secretário
de Estado da Administração Interna,
Dr. João Pinho de Almeida.
• O Presidente da República
recebe, em audiência, a Ministra
da Agricultura e do Mar,
Prof. Dr.ª Maria da Assunção Cristas.
Dia 20 • O Presidente da República
recebe, em audiência, o Comissário
Europeu para a Investigação, Ciência
e Inovação, Eng. Carlos Moedas.
Dias 26 e 27 • Visita Oficial do Presidente
da República aos Emirados Árabes
Unidos.
Dia 29 • Visita do Presidente da República
ao concelho de Castelo de Vide.
6 de novembro de 2014. Visita do Presidente da Colômbia.
10 de novembro de 2014. Visita ao concelho de Borba.
10 de novembro de 2014. Regimento de Cavalaria n.º 3, Estremoz.
19 de novembro de 2014. Abertura do 24º Congresso das Comunicações da APDC.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
344
26 de novembro de 2014. Visita Oficial aos Emirados Árabes Unidos, Abu Dhabi.
345
PASS
OS D
A AG
ENDA
Socialista, Dr. António Costa,
e uma delegação do PS.
• O Presidente da República recebe,
em audiência, o Primeiro-ministro
de Cabo Verde, Dr. José Maria Neves.
Dia 18 • O Presidente da República
recebe Artur Alves, Horácio Costa
e José Pinheiro, trabalhadores da
Câmara Municipal da Póvoa de Varzim,
que devolveram uma elevada quantia
em dinheiro e valores, encontrada na
separação de resíduos num ecocentro.
Dia 22 • O Presidente da República recebe
a Ministra da Justiça para apreciação
anual dos processos de indulto.
• O Presidente da República preside,
no Palácio da Cidadela, à Sessão
de Encerramento do Encontro Anual
do Conselho da Diáspora Portuguesa.
• O Presidente da República recebe
o Primeiro-Ministro e os membros
do Governo, que lhe apresentam
cumprimentos de Boas-Festas.
DEZEMBRO 2014Dia 01 • O Presidente da República agracia
a seleção nacional de Ténis de Mesa,
sagrada Campeã da Europa.
Dia 03 • O Presidente da República preside
à Sessão de Encerramento da Reunião
do Conselho de Fundadores da Fundação
de Serralves e visita a Fundação da
Juventude, por ocasião do seu
25º aniversário.
Dias 08 e 09 • Participação do Presidente
da República na XXIV Cimeira Ibero-
Americana de Chefes de Estado
e de Governo, em Veracruz, México.
Dia 16 • O Presidente da República
preside à reunião do Conselho Superior
de Defesa Nacional.
Dia 17 • O Presidente da República recebe
a Presidente, os Vice-Presidentes e os
Líderes dos Grupos Parlamentares
da Assembleia da República, que lhe
apresentam cumprimentos de Boas-Festas.
• O Presidente da República recebe, em
audiência, o Secretário-Geral do Partido
22 de dezembro de 2014. Encontro do Conselho da Diáspora Portuguesa, Cascais.
3 de dezembro de 2014. Museu de Serralves, Porto. 8 de dezembro de 2014. XXIV Cimeira Ibero-Americana, México.
22 de dezembro de 2014. Apreciação dos processos de indulto.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
346
JANEIRO 2015Dia 06 • O Presidente da República
recebe, em audiência, o Presidente
da Fundação Centro Cultural de Belém,
Prof. António Lamas.
Dia 07 • O Presidente da República recebe,
em audiência, a Direção da Associação
de Energias Renováveis (APREN).
• O Presidente da República recebe
os cumprimentos de Ano Novo dos
Embaixadores de Portugal acreditados
junto de vários Estados e organizações
internacionais.
Dia 08 • O Presidente da República
recebe, em audiência, a Direção
da Associação dos Auditores
dos Cursos de Defesa Nacional.
• O Presidente da República agracia
Jorge Listopad com o grau de Grande-
-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.
Dia 09 • O Presidente da República
visita o Instituto Hidrográfico.
Dia 12 • O Presidente da República
recebe, em audiência, o Diretor do
Mecanismo Europeu de Estabilidade,
Klaus Regling.
Dias 14 a 16 • Deslocação do Presidente da
República à República de Moçambique,
por ocasião da investidura do Presidente
Filipe Nyusi.
Dia 17 • O Presidente da República
recebe, em audiência, o Representante da
República para a Região Autónoma
da Madeira, Juiz Conselheiro
Ireneu Cabral Barreto.
Dia 19 • O Presidente da República
recebe, em audiência, o Presidente
do Governo Regional dos Açores,
Dr. Vasco Cordeiro.
Dia 20 • O Presidente da República
recebe cumprimentos de Ano Novo
do Presidente e dos Vice-Presidentes
do Supremo Tribunal de Justiça, do
Presidente e dos Juízes do Tribunal
Constitucional, e do Presidente do
Supremo Tribunal Administrativo.
Dia 21 • O Presidente da República
recebe, no Palácio de Queluz, os
cumprimentos de Ano Novo do Corpo
Diplomático acreditado em Portugal.
• O Presidente da República recebe
os cumprimentos de Ano Novo do
Presidente do Tribunal de Contas
e da Procuradora-Geral da República.
Dia 22 • O Presidente da República
recebe, em audiência, os representantes
dos partidos políticos com assento
parlamentar na Assembleia Legislativa
da Madeira, na sequência da demissão
do Governo Regional e com vista
à convocação de futuras eleições
legislativas regionais.
Dia 23 • O Presidente da República
confere posse ao Conselheiro de Estado
Dr. Vítor Augusto Brinquete Bento.
347
PASS
OS D
A AG
ENDA
9 de janeiro de 2015. Visita ao Instituto Hidrográfico, Lisboa. 14 de janeiro de 2015. Visita a empresa têxtil luso-moçambicana, Marracuene.
16 de janeiro de 2015. Encontro com o Presidente da República de Moçambique, Filipe Nyusi.15 de janeiro de 2015. Cerimónias de investidura do Presidente Filipe Nyusi, Maputo.
15 de janeiro de 2015. Visita ao Instituto do Coração, Maputo.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
348
Dia 25 • O Presidente da República
assiste, no Centro Cultural de Belém,
ao Concerto de Homenagem ao Cante
Alentejano “Cantar o Alentejo”.
Dia 26 • O Presidente da República
recebe os cumprimentos de Ano Novo
dos Chefes dos Estados-Maiores
das Forças Armadas.
• O Presidente da República preside
à reunião do Conselho de Estado.
Dia 27 • O Presidente da República
recebe, em audiência, o Presidente
do Governo Regional da Madeira,
Dr. Alberto João Jardim.
• O Presidente da República agracia
os fadistas Ana Moura, Carminho,
Katia Guerreiro e Ricardo Ribeiro e o
guitarrista e compositor Mário Pacheco
com a Comenda da Ordem do Infante
D. Henrique.
Dia 28 • O Presidente da República decide
proceder à dissolução da Assembleia
Legislativa da Região Autónoma
da Madeira e marcar a realização
de eleições para o dia 29 de março.
• O Presidente da República recebe, em
audiência, os subscritores do Manifesto
“Por uma democracia de qualidade”.
Dia 30 • O Presidente da República
preside, na Gare Marítima de Alcântara,
às comemorações do 30º aniversário da
Transinsular e visita o navio NM Monte
Brasil.
25 de janeiro de 2015. Concerto “Cantar o Alentejo”, Lisboa.
27 de janeiro de 2015. Agraciamento no Museu do Fado.
30 de janeiro de 2015. Aniversário da Transinsular, Gare Marítima de Alcântara.
349
PASS
OS D
A AG
ENDA
FEVEREIRO 2015Dia 02 • O Presidente da República
recebe, em audiência, o Presidente
da República de Cabo Verde,
Dr. Jorge Carlos Fonseca.
Dia 04 • O Presidente da República
recebe, em audiência, a Direção
da Associação Nacional de Escolas
Profissionais (ANESPO).
Dia 05 • O Presidente da República
assiste ao Concerto Comemorativo
dos 40 Anos da Universidade do Minho.
Dia 06 • O Presidente da República
recebe, em audiência, a Direção da
Confederação Nacional da Agricultura.
Dia 10 • O Presidente da República
recebe, em audiência, o Embaixador
de França, Jean-François Blarel,
o Presidente da Câmara de Comércio
e Indústria Luso-Francesa, Bernard
Chantrell, e o Presidente dos
Conselheiros do Comércio Exterior
da França, Pierre Debourdeau.
Dia 11 • O Presidente da República
preside à Sessão de Abertura do
X Congresso Nacional do Milho.
Dia 13 • O Presidente da República
agracia, com o Grau de Comendador da
Ordem do Mérito, um conjunto de antigos
Presidentes de Câmara Municipal.
Dia 17 • O Presidente da República recebe,
em audiência, a Alta Representante
da União Europeia para os Negócios
Estrangeiros e Política de Segurança,
e Vice-Presidente da Comissão Europeia,
Federica Mogherini.
Dia 18 • Visita do Presidente da República
aos concelhos de Anadia e de Arouca.
• O Presidente da República homenageia,
no Porto, um conjunto de personalidades
da Vitivinicultura.
18 de fevereiro de 2015. Visita ao Centro de Alto Rendimento desportivo, Anadia.
ANÍB
AL C
AVAC
O SI
LVA
| ROT
EIRO
S
350
Dia 19 • Deslocação do Presidente
da República à Corunha, onde preside,
juntamente com o Rei de Espanha,
à Cerimónia de Entrega das Medalhas
de Ouro do Eixo Atlântico do Noroeste
Peninsular 2015.
Dia 20 • O Presidente da República
preside à Sessão de Encerramento da
Conferência “José Medeiros Ferreira
- o cidadão, o político, o historiador”.
Dia 23 • O Presidente da República
recebe, em audiência, uma delegação da
União das Mutualidades Portuguesas.
Dia 24 • O Presidente da República
recebe, em audiência, a Administração
da Fundação Calouste Gulbenkian.
Dia 26 • O Presidente da República
confere posse ao Conselheiro de Estado
Prof. Doutor Alfredo Bruto da Costa.
• O Presidente da República preside à
Sessão de Encerramento do 11º Encontro
Nacional de Inovação COTEC.
26 de fevereiro de 2015. Entrega dos Prémios Inovação da COTEC-Portugal.20 de fevereiro de 2015. Homenagem a José Medeiros Ferreira.
19 de fevereiro de 2015. Deslocação à cidade da Corunha, Galiza.
351
PASS
OS D
A AG
ENDA
MARÇO 2015Dia 03 • O Presidente da República
recebe, em audiência,
o Primeiro-Ministro da Turquia,
Ahmet Davutoglu.
Dia 06 • O Presidente da República
recebe o Presidente da República
da Hungria, János Áder, em visita
privada a Portugal.
Dia 07 • O Presidente da República
participa, em Leça do Balio,
nas cerimónias comemorativas
dos 125 Anos da Unicer.
• O Presidente da República preside,
em Esposende, à inauguração da obra
de requalificação da Frente Marítima
de S. Bartolomeu do Mar.
7 de março de 2015. Em cima: Aniversário da Unicer, Leça do Balio. Em baixo: Frente Marítima de S. Bartolomeu do Mar, Esposende.
CoordenaçãoCasa Civil da Presidência da República
FotografiasLuís Filipe Catarino
Acompanhamento de ediçãoJoão van Zeller
Da presente edição fez-se uma tiragem de 2.000 exemplaresem papel Munken Lynx certificado pelo
“Forest Stewardship Council”,(papel produzido por métodos
respeitadores do ambiente)
Acabou de imprimir-se em Abril de 2015nas Oficinas Gráficas da Imprensa Nacional-Casa da Moeda
ISBN978-972-27-1853-0
Depósito Legal257 726/07