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In: Anais.. V SIGET – Simpósio Internacional de Estudos de Gêneros Textuais. Caxias do Sul, Universidade de Caxias do Sul, ago., 2009, p.2-24. TÍTULO: A contribuição da teoria da atividade de Leontiev para a apropriação de gêneros textuais nas séries iniciais AUTORIA: Cláudia Valéria Doná Hila (doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Londrina, Professora Assistente do Departamento de Letras da Universidade Estadual de Maringá. [email protected] ) RESUMO. A vertente didática do Interacionismo Sociodiscursivo tem como uma de suas preocupações a questão da transposição didática dos neros textuais. Nesse processo, o momento da apropriação do conhecimento pelo aluno ocupa um lugar importante, na medida em que ao conhecê-lo o professor poderá (re)organizar procedimentos metodológicos para a aula de português. O objetivo deste artigo é apresentar a contribuição da Abordagem Histórico-Cultural e da Teoria da Atividade de Leontiev para o processo de apropriação e para a produção de textos em séries iniciais, por meio da análise de atividade teórica e uma atividade prática, realizadas durante um curso de formação na região noroeste do Paraná. Os resultados parciais, de uma pesquisa em andamento, sinalizam a importância da compreensão do processo de apropriação por meio do diálogo epistemológico entre o curso de Letras e o curso de Pedagogia, no intuito de ressignificar a formação do professor de português que atua em séries iniciais. PALAVRAS-CHAVE: Gêneros textuais ; Teoria da Atividade ; Produção textual; Formação docente. ABSTRACT: The didactic branch of sociodiscursive interactionism has the didactic transposition of textual genres as one of its main concerns. According to this process, the moment a learner acquires knowledge is a relevant one, for the teacher, of the Portuguese language in this case, can (re-)shape methodological procedures for her or his classes if he or she is aware of it. The objective of the article is to present the historical cultural approach and Leontiev’s activity theory contribution for the acquisition process of textual genres as well as for the textual production process in initial school years by means of the analysis of both theoretical and practical activities developed in a teacher education course in the northwest of Paraná State. Partial data of an ongoing research point out the importance of understanding the acquisition process through an epistemological dialogue between Letras (Languages) and

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In Anais V SIGET ndash Simpoacutesio Internacional de Estudos de Gecircneros Textuais Caxias

do Sul Universidade de Caxias do Sul ago 2009 p2-24

TIacuteTULO A contribuiccedilatildeo da teoria da atividade de Leontiev para a apropriaccedilatildeo de gecircneros

textuais nas seacuteries iniciais

AUTORIA Claacuteudia Valeacuteria Donaacute Hila (doutoranda pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em

Estudos da Linguagem Universidade Estadual de Londrina Professora Assistente do

Departamento de Letras da Universidade Estadual de Maringaacute claudiawnetcombr )

RESUMO A vertente didaacutetica do Interacionismo Sociodiscursivo tem como uma de suas

preocupaccedilotildees a questatildeo da transposiccedilatildeo didaacutetica dos gecircneros textuais Nesse processo o

momento da apropriaccedilatildeo do conhecimento pelo aluno ocupa um lugar importante na medida

em que ao conhececirc-lo o professor poderaacute (re)organizar procedimentos metodoloacutegicos para a

aula de portuguecircs O objetivo deste artigo eacute apresentar a contribuiccedilatildeo da Abordagem

Histoacuterico-Cultural e da Teoria da Atividade de Leontiev para o processo de apropriaccedilatildeo e para

a produccedilatildeo de textos em seacuteries iniciais por meio da anaacutelise de atividade teoacuterica e uma

atividade praacutetica realizadas durante um curso de formaccedilatildeo na regiatildeo noroeste do Paranaacute Os

resultados parciais de uma pesquisa em andamento sinalizam a importacircncia da compreensatildeo

do processo de apropriaccedilatildeo por meio do diaacutelogo epistemoloacutegico entre o curso de Letras e o

curso de Pedagogia no intuito de ressignificar a formaccedilatildeo do professor de portuguecircs que atua

em seacuteries iniciais

PALAVRAS-CHAVE Gecircneros textuais Teoria da Atividade Produccedilatildeo textual Formaccedilatildeo

docente

ABSTRACT The didactic branch of sociodiscursive interactionism has the didactic

transposition of textual genres as one of its main concerns According to this process the

moment a learner acquires knowledge is a relevant one for the teacher of the Portuguese

language in this case can (re-)shape methodological procedures for her or his classes if he or

she is aware of it The objective of the article is to present the historical cultural approach and

Leontievrsquos activity theory contribution for the acquisition process of textual genres as well as

for the textual production process in initial school years by means of the analysis of both

theoretical and practical activities developed in a teacher education course in the northwest of

Paranaacute State Partial data of an ongoing research point out the importance of understanding

the acquisition process through an epistemological dialogue between Letras (Languages) and

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Pedagogy courses aiming at giving a different and more significant meaning to Portuguese

teacher education for initial school years

KEYWORDS Textual genres Activity theory Textual production Teacher education

1Introduccedilatildeo

O problema do baixo desempenho escolar nas seacuteries inicias eacute revelado anualmente tanto nas

estatiacutesticas nacionais por meio do Sistema de Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (SAEB) quanto

internacionais pelo Programa Internacional de Avaliaccedilatildeo Comparada (PISA) Embora natildeo

sejam especiacuteficos apenas das seacuteries iniciais os resultados evidenciam que as crianccedilas natildeo

estatildeo aprendendo e que a escola natildeo estaacute regra geral cumprindo sua maior funccedilatildeo a de

promover a aprendizagem

No caso particular do ensino e da aprendizagem da escrita especialmente nas seacuteries iniciais o

que se vecirc eacute concordando com Adorno (1996) uma pseudo-formaccedilatildeo isto eacute a ausecircncia de

uma pedagogia sistematizada e intencionalmente planejada para o desenvolvimento de

capacidades que levem a crianccedila a escrever um determinado gecircnero textual o que faz

prevalecer a sensaccedilatildeo de que escrever eacute ainda um dom

Todavia o professor que atua em seacuteries iniciais natildeo reuacutene em sua formaccedilatildeo bases teoacutericas que

lhe permitam ir aleacutem das teorias de aquisiccedilatildeo da escrita por outro lado possui bases

epistemoloacutegicas interessantes para compreendermos o processo de apropriaccedilatildeo de um dado

objeto os quais satildeo fundamentais para se entender como a crianccedila aprende e por

consequumlecircncia como podemos a partir disso (re)organizar procedimentos metodoloacutegicos

com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica dos conteuacutedos de liacutengua portuguesa

Tendo em vista entatildeo que uma das bases fundantes da teoria do Interacionismo

Sociodiscursivo (ISD) eacute a Teoria da Atividade (TA) de Leontiev e de que essa teoria eacute

conhecida por profissionais do curso de Pedagogia poreacutem um pouco menos pelos

profissionais de Letras o objetivo deste artigo eacute entender as contribuiccedilotildees dessa teoria para o

processo de apropriaccedilatildeo de um determinado objeto teoacuterico com vistas a contribuir para o

ensino-aprendizagem da escrita em seacuteries iniciais e para os estudos acerca da transposiccedilatildeo

didaacutetica no quadro teoacuterico do ISD Entendemos tambeacutem que a contribuiccedilatildeo do artigo

estende-se para a formaccedilatildeo dos professores na medida em que evidenciamos a transposiccedilatildeo

da TA para as aulas de produccedilatildeo textual

O trabalho vincula-se aos grupos de pesquisa ldquoGecircneros textuais e ferramentas didaacuteticas para o

ensino-aprendizagem de liacutengua portuguesardquo (UELCNPq) e ao grupo ldquoInteraccedilatildeo e Escritardquo

(UEMCNPq) de onde buscamos alguns dos exemplos ilustrativos para alcanccedilar nosso

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propoacutesito Este artigo estaacute dividido em quatro partes a) apresentaccedilatildeo dos pressupostos da

teoria Histoacuterico-Cultual especialmente no que diz respeito ao processo de apropriaccedilatildeo dos

mediadores culturais jaacute que ela eacute a base da teoria da atividade de Leontiev b) apresentaccedilatildeo

dos pressupostos da Teoria da Atividade c) Ilustraccedilatildeo do processo de apropriaccedilatildeo por meio da

anaacutelise de uma atividade teoacuterica e um planejamento de uma oficina do gecircnero tira de humor

jornaliacutestica d) conclusotildees finais

2 A abordagem Histoacuterico-Cultural e a formaccedilatildeo de conceitos

Vygotsky muito embora natildeo tenha preocupaccedilotildees concernentes ao ensino da escrita trouxe

importantes contribuiccedilotildees para a educaccedilatildeo e eacute considerado o fundador da Teoria Histoacuterico-

Cultural (corrente epistemoloacutegica que serve de base para a teoria da atividade de Leontiev) a

qual recebe esse nome por reforccedilar o papel da atividade soacutecio-histoacuterica e coletiva na formaccedilatildeo

das funccedilotildees mentais superiores dentre elas a escrita

Uma das teses fundantes do trabalho de Vygotsky (1979 1988 2001) eacute o caraacuteter social e

histoacuterico dos chamados Processo Psicoloacutegicos SuperioresPPS (como a atenccedilatildeo a memoacuteria a

vontade a escrita dentre outros) mediados por instrumentos dentre os quais os instrumentos

materiaisfiacutesicos e os signos assumem papeacuteis determinantes para o desenvolvimento psiacutequico

Na perspectiva vygotskiana portanto a atividade do indiviacuteduo sobre o objeto natildeo eacute direta

mas eacute uma atividade mediada por instrumentos

Sendo objetos sociais os instrumentos carregam consigo a cultura material as operaccedilotildees de

trabalho historicamente ali elaboradas o que implica na visatildeo de Leontiev (2004) natildeo apenas

no uso do instrumento mas da apropriaccedilatildeo de suas operaccedilotildees mentais e fiacutesicas ambas

promotoras do desenvolvimento humano

Enquanto signos os instrumentos simboacutelicos agem como reguladores da atividade

psicoloacutegica similarmente ao papel de um instrumento material de trabalho e formam o

conteuacutedo da atividade mental do homem sobre o mundo (controlam as accedilotildees internas e

psicoloacutegicas) jaacute os instrumentos materiais auxiliam o sujeito em accedilotildees concretas Ambos satildeo

denominados por Vygotsky de mediadores culturais (VYGOTSKY 19791988 2000 2001)

Satildeo os instrumentos mediadores que aleacutem de possibilitar o desenvolvimento dos PPS

auxiliam no processo de internalizaccedilatildeo de um determinado conhecimento pela crianccedilaaluno

Vygotsky (1988 p 63) denomina de internalizaccedilatildeo a ldquoreconstruccedilatildeo interna de uma operaccedilatildeo

externardquo em um processo que caminha de fora para dentro do social para o individual

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Um processo interpessoal eacute transformado num processo intrapessoal Todas as funccedilotildees no desenvolvimento da crianccedila aparecem duas vezes primeiro no niacutevel social e depois no niacutevel individual primeiro entre pessoas (interpsicoloacutegica) e depois no interior da crianccedila (intrapsicoloacutegica) (VYGOTSKY 1988 p 64)

A internalizaccedilatildeo nesse sentido envolve

(a) a reconstruccedilatildeo de uma operaccedilatildeo que se inicia do mundo externo para o interno

(b) a passagem do processo interpessoal para o intrapessoal que sugere a organizaccedilatildeo interior

dessa reconstruccedilatildeo pelo sujeito

(c) a transformaccedilatildeo de processos interpessoais para intrapessoais

Para que este uacuteltimo aspecto ocorra Vygotsky (op cit p64) ressalta que seraacute necessaacuterio uma

ldquolonga seacuteries de eventos ocorridos ao longo do desenvolvimentordquo Isso quer dizer que quando

pensamos no processo de apropriaccedilatildeo de um conhecimento que eacute novo temos que levar em

conta a necessidade de um tempo para amadurecer na qual a atividade psicoloacutegica do sujeito

vai sendo ressignificada reconstruiacuteda por meio do uso de novos instrumentos novos eventos

e tambeacutem por meio de tensotildees e de reformulaccedilotildees mentais que lhe satildeo inerentes Assim o

caminho da internalizaccedilatildeo para Vygotsky seguiria trecircs fases

Reconstruccedilatildeo interna de uma operaccedilatildeo externa

Reorganizaccedilatildeo interna pelo sujeito

Transformaccedilatildeo dessa reorganizaccedilatildeo pelo sujeito

Quadro 1 Fases do processo de internalizaccedilatildeo (VYGOTSKY 1988)

Para que a internalizaccedilatildeo efetivamente se realize o processo de mediaccedilatildeo precisa ser

compreendido Para tanto eacute necessaacuterio que nos debrucemos um pouco mais sobre a extensatildeo

desse conceito jaacute que tem sido comum que grande parte dos professores entendam a

mediaccedilatildeo apenas como sinocircnimo de ajuda aos alunos nas atividades escolares por pessoas

mais experientes Todavia embora natildeo descaracterize totalmente esses aspectos focados

apenas em questotildees interpessoais na perspectiva da Teoria Histoacuterico-Cultural o conceito de

mediaccedilatildeo vai mais aleacutem

Sforni (2008) esclarece que essas visotildees senso comum do termo esquecem de um dos

principais elementos da escola de Vygotsky - o conhecimento

De fato agraves interaccedilotildees sociais eacute dado lugar de destaque na escola de Vygotsky mas o

seu valor no contexto escolar natildeo estaacute restrito agrave relaccedilatildeo sujeito-sujeito mas no

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objeto que se presentifica nessa relaccedilatildeo ndash o conhecimento Em outras palavras eacute

somente na relaccedilatildeo entre sujeito-conhecimento-sujeito que a mediaccedilatildeo se torna um

conceito fundamental ao desenvolvimento humano

Assim eacute na apropriaccedilatildeo dos mediadores culturais possibilitada principalmente pelos

conteuacutedos e conhecimentos cientiacuteficos objetivados pelas geraccedilotildees precedentes eacute que torna

possiacutevel o desenvolvimento do sujeito (LEONTIEV 2004 VYGOSTSKY 2001) Para

Vygotsky (2000p 290) ldquoa tomada de consciecircncia passa pelos portotildees do conhecimento

cientiacuteficordquo e por isso mesmo o conhecimento nessa perspectiva eacute uma produccedilatildeo que emerge

apenas em situaccedilotildees de ensino devidamente planejadas Nem todo ensino nessa visatildeo gera

desenvolvimento mas sim o ldquobom ensinordquo aquele que inserido em uma ldquocorreta organizaccedilatildeo

da aprendizagem da crianccedila conduz ao desenvolvimento mentalrdquo (VYGOTSKY 1991 p15)

Se pensarmos nos pressupostos da teoria Histoacuterico-Cultural entendemos que o ensino

promotor do desenvolvimento depende do quecirc se adquire (conhecimento cientiacutefico) e como se

adquire (processo de ensino e de apropriaccedilatildeo pelo aluno) Os conceitos cientiacuteficos seriam

assim instrumentos do pensamento e a apropriaccedilatildeo a condiccedilatildeo para a sua formaccedilatildeo

Para o psicoacutelogo russo o conceito eacute um ato real e complexo de pensamento que natildeo pode ser

apreendido por simples ldquomemorizaccedilatildeordquo(VYGOTSKY 2000) Exatamente por isso ele nos

adverte que os conceitos natildeo devem ser apreendidos pela crianccedilaaluno de forma pronta e

direta tal como a escola comumente realiza pois dessa maneira traduzem-se em pedagogias

esteacutereis em outras palavras ldquoo ensino direto de conceitos sempre se mostra impossiacutevel e

pedagogicamente esteacuterilrdquo(opcitp247) porque os conceitos cientiacuteficos para serem

internalizados e natildeo memorizados de forma mecaniscista soacute se constituem por meio de uma

imensa tensatildeo entre o objeto e a atividade na qual ele se insere

A aprendizagem de conceitos tanto para Vygotsky (2000) como para Leontiev (2004) natildeo se

resume agrave mera definiccedilatildeo e apresentaccedilatildeo das caracteriacutesticas essenciais dos objetos como

normalmente eacute realizada em sala de aula Analogamente ao pensarmos na questatildeo do gecircneros

como objeto de ensino tal como preconiza os Paracircmetros Curriculares Nacionais (BRASIL

1998) um ldquobomrdquo ensino natildeo se resumiria a apresentar por exemplo o gecircnero carta do leitor e

expor sistematicamente as suas caracteriacutesticas para os alunos e muito menos a gramaticalizaacute-

lo

Usando dessa metodologia de caraacuteter transmissiva e geneacuterica a aprendizagem de conceitos

que eacute intriacutenseca aos mais diversos objetos de ensino a exemplo dos gecircneros textuais natildeo

envolve o domiacutenio de meacutetodos e formas gerais da atividade mental que segundo Davydov

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(1982 1988) satildeo o grande legado da Teoria da Atividade ou seja o desenvolvimento de

conceitos soacute eacute produtivo quando coloca a crianccedilaaluno em atividade mentalA apropriaccedilatildeo

portanto soacute ocorre dentre desse movimento

Davydov (1982) esclarece que em determinadas situaccedilotildees a comparaccedilatildeo dos atributos

externos de um determinado fenocircmeno pode ateacute ser suficiente para resolver alguns problemas

praacuteticos poreacutem quase sempre natildeo datildeo conta de revelar aspectos de sua profundeza de suas

relaccedilotildees internas Exatamente por isso a grande operaccedilatildeo mental realizada por

estudantesprofessores no trato com o conhecimento empiacuterico se resume na comparaccedilatildeo que

daacute conta normalmente apenas do reconhecimento dos traccedilos gerais do objeto

Complementado essa ideacuteia Hedegaard (1996) baseando-se nos estudos de Vygotsky

descreve que o uso do pensamento empiacuterico eacute marcado por um percurso fixo e pelas seguintes

operaccedilotildees mentais

Observaccedilatildeo Comparaccedilatildeo Categorizaccedilatildeo Memorizaccedilatildeo

No processo de observaccedilatildeo o indiviacuteduo parte de uma situaccedilatildeo concreta Depois disso eacute confrontado

com pelos menos dois elementos que exigem que ele busque seus traccedilos semelhantes eou diferentes

para apreender as caracteriacutesticas mais gerais de um objeto e posteriormente memorizaacute-las Nesses

casos esclarece o autor natildeo haacute espaccedilo para que o alunoprofessor reflita sobra as causas e os

efeitos do conhecimento sobre os seus conflitos sobre sua origem o que colaboraria para a

adequada compreensatildeo do fenocircmeno e para a correta compreensatildeo do objeto Por isso mesmo

uma tarefa pautada apenas no conhecimento empiacuterico limita a aprendizagem e se reduz a

captar o que eacute aparente o que eacute externo e leva a crianccedilaaluno apenas a saber classificar

fenocircmenos nominalizaacute-los e dar suas caracteriacutesticas mais observaacuteveis (Davydov 1982)

Menchiskaia (1969) ao estudar a formaccedilatildeo e o desenvolvimento do pensamento esclarece

que a comparaccedilatildeo e a definiccedilatildeo satildeo processos mentais importantes para o aluno nos

processos iniciais de apropriaccedilatildeo do conhecimento pois a primeira tambeacutem inclui outros

processos mentais como a anaacutelise a generalizaccedilatildeo e a siacutentese A anaacutelise caracteriza-se como

decomposiccedilatildeo mental do todo em partes A generalizaccedilatildeo inclui a separaccedilatildeo mental do geral

nos objetos e fenocircmenos da realidade por isso a comparaccedilatildeo dos objetos e fenocircmenos acaba

sendo uma premissa do processo de generalizaccedilatildeo Jaacute a sistematizaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo dos

objetos e fenocircmenos inclui sua distribuiccedilatildeo mental em grupos e subgrupos segundo a

semelhanccedila e diferenccedila que existe entre eles Esses processos portanto satildeo interessantes para

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que pensemos por exemplo em categorias de exerciacutecios para a transposiccedilatildeo didaacutetica dos

gecircneros textuais pois levam a crianccedila a atividades mentais diferenciadas

Para chegar agrave sistematizaccedilatildeo a crianccedilaaluno se depara com outro processo mental a

abstraccedilatildeo Menchiskaia (op cit) no entanto explica que quando o aluno generaliza sobre

objetos ou fenocircmenos separa o que eacute geral do particular acaba natildeo dando importacircncia para

outras qualidades que os diferenciam entre si tem somente em conta aquilo que destacou

como geral Esse processo eacute a abstraccedilatildeo Por exemplo uma crianccedila pode pensar sobre a cor

parecida de determinados objetos e desprezar suas formas e funccedilotildees Por isso o processo de

abstraccedilatildeo e de generalizaccedilatildeo estatildeo intimamente ligados Assim para que uma correta

compreensatildeo do fenocircmeno seja realizada eacute necessaacuterio juntar agrave comparaccedilatildeo outros processos

mentais como a compreensatildeo a definiccedilatildeo o estabelecimento de causas e efeitos a soluccedilatildeo de

problemas a formulaccedilatildeo de outros exemplos dentre de um mesmo sistema dentre outras

Completando essa discussatildeo Rubstov (1996) explica que o desenvolvimento do

conhecimento cientiacutefico (a) eacute elaborado por meio de uma anaacutelise do papel e da funccedilatildeo de

uma certa relaccedilatildeo entre as coisas no interior de um sistema (b) representa as relaccedilotildees entre as

propriedades dos objetos e suas ligaccedilotildees internas (c) estabelece relaccedilatildeo entre o geral e o

particular (d) concretiza-s por meio da transformaccedilatildeo do saber em uma teoria desenvolvida

por meio da deduccedilatildeo e uma explicaccedilatildeo das manifestaccedilotildees concretas do sistema (e) apresenta-

se por diferentes modos de atividade intelectual e de operaccedilotildees mentais (f) utiliza-se de

diferentes sistemas semioacuteticos

Para os autores da THC portanto o conhecimento sensorial ou espontacircneo eacute a origem

indispensaacutevel para a formulaccedilatildeo de conceitos (DAVYDOV 1982 VYGOTSKY 1988 2000

2001) no entanto seraacute preciso revelar a essecircncia desse objeto que historicamente se

reconstitui atraveacutes do estudo do seu real funcionamento por meio a diversificaccedilatildeo d diversas

operaccedilotildees mentais

A ideacuteia de real funcionamento pensando nos gecircneros textuais remete agrave ideacuteia de praacuteticas

sociais situadas Ou seja natildeo se ensina um gecircnero pelo gecircnero mas se ensina um gecircnero para

que o aluno se aproprie de uma determinada praacutetica social para que use aquele gecircnero dentro

de uma situaccedilatildeo especiacutefica de comunicaccedilatildeo (NASCIMENTO 2007 ROJO 2005 LOPES-

ROSSI 2002)

Isso eacute possiacutevel a partir de um ensino voltado para a apropriaccedilatildeo adequada do conhecimento

teoacuterico objetivado nesse objeto o qual oportuniza agrave crianccedilasujeito entrar em contato com

diferentes modos de atividade intelectual com diferentes sistemas semioacuteticos e operaccedilotildees

mentais para aleacutem de representaccedilotildees meramente sensoriaisAleacutem de envolver processos como

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a comparaccedilatildeo a anaacutelise a siacutentese a generalizaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de problema a

crianccedilasujeito ao estar inserida num ensino adequado voltado para a atividade toma

consciecircncia do real uso e valor do conceito aleacutem de conseguir mobilizaacute-lo em diferentes

tarefas (Davydov 1982) Exatamente por isso entender a noccedilatildeo de atividade eacute outro aspecto

para entendermos o processo de apropriaccedilatildeo

3 A contribuiccedilatildeo da teoria da atividade para o processo de apropriaccedilatildeo

A teoria da atividade (TA) desenvolvida por Leontiev e seguidores (Rubstein Luria e

Davydov) eacute considerada uma continuidade das ideacuteias de Vygotsky tido um dos precursores

da teoria psicoloacutegica da atividade Segundo Sforni (2004 p86)

As investigaccedilotildees de Leontiev voltaram-se para estudo da estrutura da

atividade externa e de seu viacutenculo com os processos psiacutequicos Seus estudos

revelaram que as atividades externa e interna tecircm estruturas idecircnticas e

mais que a atividade psiacutequica interna representa uma atividade material

externa transformada o que evidencia a unidade entra atividade e psiquismo

Ao comentar o processo de evoluccedilatildeo do homem Leontiev (2004) destaca que as

caracteriacutesticas humanas satildeo desenvolvidas pela apropriaccedilatildeo da cultura material e intelectual

transmitida de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo Isso quer dizer que natildeo nos relacionamos diretamente com o

mundo mas temos uma relaccedilatildeo que eacute mediada pelo conhecimento objetivado pelas geraccedilatildeo

que nos antecederam por intermeacutedio dos instrumentos simboacutelicos (signos) que proporcionam

nosso desenvolvimento mental O processo de mediaccedilatildeo portanto nessa concepccedilatildeo eacute um

meio de chegarmos agrave apropriaccedilatildeo dos mediadores culturais entendidos aqui tambeacutem como os

conhecimentos cientiacuteficos objetivados nos mais diversos instrumentos

Por intermeacutedio desses mediadores eacute que podemos pensar em desenvolvimento do psiquismo

da crianccedila (e tambeacutem do adulto) Ao se apropriar da linguagem enquanto mediadora cultural e

de outras ferramentas a princiacutepio fiacutesicas (como objetos o jogo o brinquedo) a crianccedila aos

poucos incorpora todo o desenvolvimento intelectual objetivado nesses elementos

(VYGOTSKY 1981 p 137)

Quando chega ao processo de escolarizaccedilatildeo novas ferramentas satildeo apresentadas para as

crianccedilas Se pensarmos no ensino da escrita nas seacuteries iniciais quais satildeo os textos que tecircm

ainda predominado Que tipo de instrumentos elas tecircm agrave disposiccedilatildeo para o desenvolvimento

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da escrita A resposta eacute simples e velha conhecida no campo educacional as modalidades

retoacutericas (descriccedilatildeo dissertaccedilatildeo e principalmente a narraccedilatildeo) prevalecem como possiacuteveis

instrumentos de desenvolvimentos da escrita

Mas se nos voltarmos para a teoria Histoacuterico-Cultural e pensarmos em termos de cultura

material de heranccedila intelectual entendemos que as atividades humanas se desenvolveram por

meio da linguagem Ora essas atividades foram se multiplicando e se diversificando em cada

esfera da comunicaccedilatildeo humana (no cotidiano na literatura na religiatildeo no comeacutercio e mais

recentemente na miacutedia dentre outras) Em cada uma dessas esferas a comunicaccedilatildeo entre os

parceiros da interaccedilatildeo constituiu diferentes praacuteticas sociais que se materializaram e se

materializam ininterruptamente por meio dos gecircneros textuais (BAKTHIN 2003)

Essa organizaccedilatildeo das sociedades por praacuteticas sociais eacute diferente em cada eacutepoca histoacuterica em

cada lugar em cada cultura Por isso mesmo essas praacuteticas modificam-se outras se extinguem

e algumas novas surgem Os gecircneros textuais nesse sentido satildeo materializaccedilotildees de uma

determinada praacutetica social que por sua vez eacute dinacircmica e histoacuterica Veja-se por exemplo a

praacutetica social ldquomandar um recadordquoDependendo dos parceiros da interaccedilatildeo e da esfera de

circulaccedilatildeo poderiacuteamos fazer isso utilizando diferentes gecircneros por um bilhete (se fosse da

esfera familiar) por uma carta formal (esfera institucional) por um e-mail (esfera comercial)

Por isso mesmo entendemos que na medida em que os professores trabalham de forma

predominante com os textos narrativos ou as modalidades retoacutericas aleacutem de natildeo levarem em

conta todo esse legado intelectual produzido pela humanidade natildeo conseguem promover o

letramento dessa crianccedila no futuro (cf DIONIacuteSIO 2005) ou os multiletramentos os

letramentos multissemioacuteticos e os letramentos multimeios1 (cf ROJO 2007)

Por essas razotildees (e outras) eacute que os documentos oficiais como os Paracircmetros Curriculares

Nacionais (BRASIL 1998) tecircm insistido o trabalho com os diferentes gecircneros textuais

Poreacutem natildeo devemos nos seduzir apenas pelas prescriccedilotildees ou por modismos Pelo que jaacute

expusemostodo trabalho com um determinado objeto teoacuterico (seja o gecircnero ou outro) exige

conhecimento cientiacutefico do professor acerca do funcionamento dos gecircneros em suas mais

variadas esferas de circulaccedilatildeo sem o qual ele natildeo conseguiraacute promover na crianccedila nem a

apropriaccedilatildeo do gecircnero e nem o desenvolvimento da escrita

1 Os primeiros (multiletramentos) se referem ao trabalho com as muacuteltiplas esferas sociais nas quais os gecircneros se inscrevem tais como a jornaliacutestica a religiosa a juriacutedica a poliacutetica e natildeo apenas a literaacuteria como tem sido frequumlente na escola Os segundos (letramentos multissemioacuteticos) requerem que a escola trabalhe natildeo apenas com a linguagem verbal mas tambeacutem com a linguagem sonora imageacutetica visual musical jaacute que a TV a Internet satildeo veiacuteculos repletos de textos que se utilizam dessas formas de expressatildeoNo que concerne aos letramentos multimeios a autora considera aqueles gerados pelo contato com os mais diversos suportes de informaccedilatildeo que a sociedade disponibiliza entendidos como a TV o raacutedio o cinema a Internet o jornal impresso etc

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Como vimos na seccedilatildeo anterior o processo de apropriaccedilatildeo implica em se colocar o sujeito

dentro de uma atividade conceito esse retomado pelo ISD mas cuja origem se daacute de forma

mais destacada na obra de Leontiev (20012004) No niacutevel individual a atividade eacute entendida

como uma forma de agir do sujeito direcionada a um objetoNo plano coletivo a atividade

define-se como

() aqueles processos que realizando as relaccedilotildees do homem como o mundo

satisfazem uma necessidade especial correspondente a ela () Por atividade

designamos os processos psicologicamente caracterizados por aquilo que o processa

como um todo se dirige (isto eacute objeto) coincidindo sempre com o objetivo que

estimula o sujeito a executar essa atividade isto eacute o motivo (LEONTIEV 2001

p315)

As atividades humanas para Leontiev (2004) satildeo consideradas como formadoras das relaccedilotildees

do sujeito com o mundo dirigidas por motivos por fins a serem alcanccedilados A ideacuteia de

atividade envolve entatildeo a noccedilatildeo de que o homem orienta-se por objetivos agindo de forma

intencional por accedilotildees planejadas

O autor daacute relevacircncia inicialmente agrave atividade coletiva em conjunto na medida em que o

ambiente sociocultural pode desencadear motivos para a realizaccedilatildeo de novas accedilotildees do sujeito

que por sua vez exigiratildeo novas operaccedilotildees as quais desenvolveratildeo os processos psiacutequicos

superioresOs componentes desse movimento da atividade propostos por Leontiev (2001) satildeo

necessidade- motivo- finalidade- condiccedilotildees para se obter a finalidade

Dentro dessa concepccedilatildeo a atividade eacute formada pela seguinte estrutura geral

Necessidade Motivo Objetivos Condiccedilotildees

Atividade

Accedilotildees Operaccedilotildees

Quadro 2 Estrutura geral da atividade adaptada de Leontiev (2001 2004)

A necessidade eacute o fator que desencadeia a atividade eacute ela que motiva o sujeito concretamente

a ter objetivos e realizar as accedilotildees (SFORNI 2004) Ela eacute um componente tatildeo importante que

Sforni (p97) acrescenta ldquonem todo processo eacute uma atividade mas somente aquele que eacute

movido por uma necessidaderdquoObviamente ao pensarmos no ensino da escrita devemos levar

em conta que a necessidade eacute um componente importante

11

E o que leva uma crianccedila a produzir um texto Certamente natildeo deveria ser o fato de cumprir

uma tarefa ou preencher o tempo da sala mas a necessidade da crianccedila escrever vincula-se ao

motivo a uma relaccedilatildeo com esse objeto que vai aleacutem da razatildeo envolvendo aspectos tambeacutem

de ordem afetiva Se ela natildeo vecirc sentido naquilo que realiza logo natildeo torna consciente o que

escreve e faz e se natildeo tem consciecircncia sobre as accedilotildees que realiza natildeo eacute possiacutevel qualificaacute-las

de atividade mas apenas de uma tarefa de uma obrigaccedilatildeo escolarO motivo eacute justamente o

componente mais afetivo da teoria da afetividade Vincula-se agraves emoccedilotildees do sujeito e

relaciona-se ao sentido da atividade

A finalidade tem a ver com aquilo que se pretende de forma mais particular naquela atividade

poderiacuteamos associaacute-la ao objetivo Para a realizaccedilatildeo desse objetivo seratildeo necessaacuterias as

condiccedilotildees os meios para alcanccedilaacute-lo por intermeacutedio das accedilotildees e das operaccedilotildeesA accedilatildeo eacute o

processo cuja o motivo natildeo coincide com seu objeto mas pertence aacute atividade

Leontiev (2004) ilustra essa afirmaccedilatildeo ao explicar que a atividade de ler um livro para apenas

passar numa prova natildeo eacute uma atividade mas uma accedilatildeo porque ler o livro por ler natildeo eacute um

objetivo forte que estimula a accedilatildeo do sujeito Poreacutem a accedilatildeo pode se transformar em atividade

quando passa a ter um motivo para o sujeito No exemplo dado se o aluno comeccedila a ler e a

leitura acaba por envolvecirc-lo por alguma razatildeo o motivo da atividade desloca-se

transformando-se a accedilatildeo em uma atividade

Uma accedilatildeo pode ser realizada de diferentes maneiras designadas por Leontiev de operaccedilotildees

as quais consistem no modo de execuccedilatildeo de uma determinada tarefa que pode ser variadoAs

operaccedilotildees particularizam um determinado objeto e revelam suas partes intriacutensecas daiacute serem

elementos fundamentais para a apropriaccedilatildeo As accedilotildees realizadas por indiviacuteduo no interior de

uma atividade transformam-se em operaccedilotildees e estas mais tarde em haacutebitos e habilidades

Quando isso ocorre saem da esfera dos processo conscientes e passam a ocupar um lugar

inferior na estrutura da atividade

Todavia ocupar lsquoum lugar inferiorrsquo natildeo significa simplificar o estatuto da operaccedilatildeo ao

contraacuterio significa afirmar que houve um processo de apropriaccedilatildeo que agora torna-se

consciente e que em tornando-se consciente deixa livre o pensamento para se incumbir de

novas accedilotildees e novas operaccedilotildees agora de caraacuteter mais elevadoA ideacuteia eacute que uma atividade

coloca a crianccedila em determinada accedilatildeo que por sua vez lhe exige operaccedilotildees para executaacute-la

Ao apropriar-se dessas operaccedilotildees a crianccedila deve ser exposta a novas accedilotildees e

consequentemente a novas operaccedilotildees de caraacuteter mais elevado a fim de que seus processos

mentais estejam em constante desenvolvimento conforme ilustra o quadro abaixo

12

xxx

Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa

Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa

Atividade Accedilatildeo Operaccedilatildeo

Quadro 3 Movimento da aprendizagem na Teoria da Atividade com base em Sforni (2004)

Esse movimento revela para Leontiev o processo ininterrupto de desenvolvimento do sujeito

Para Sforni (2004 p104) esse processo revela o momento da aprendizagem poreacutem natildeo eacute

natural precisa ser mediado por algueacutem mais experiente o que reforccedila a ideacuteia de que a

mediaccedilatildeo tal como jaacute sublinhamos nos estudos vygtskianos eacute outro compontente

fundamental do processo de apropriaccedilatildeo

Todo esse contexto nos leva a pensar novamente sobre a repeticcedilatildeo sistemaacutetica de 1ordf a 4ordf

seacuterie da escrita de narrativas escolaresSe pela teoria da atividade a crianccedila precisa estar

exposta a novas accedilotildees e a novas operaccedilotildees quais conteuacutedos satildeo avanccedilados de seacuterie para

seacuterie se existe a repeticcedilatildeo sistemaacutetica principalmente da narrativa escolar baseada no

modelo aristoteacutelico Se percebemos que as crianccedilas jaacute dominam esse gecircnero escolar por que

natildeo avanccedilar com novos gecircneros ou em ficando nesse gecircnero com novas operaccedilotildees que

mobilizaratildeo novos conteuacutedos Por exemplo em se pensando em gecircneros que se utilizam da

sequumlecircncia narrativa como predominante por que natildeo trabalhar com narrativas de enigmas ou

narrativas de terror que traratildeo novas variaccedilotildees e novos esquemas de organizaccedilatildeo para serem

apropriados pelas crianccedilas

Completando o quadro teoacuterico da TA Davydov (1998) concorda com Leontiev que a

estrutura da atividade seja composta de necessidades tarefas accedilotildees e operaccedilotildees poreacutem

acrescenta um novo componente ndash o desejo ndashjaacute que para ele as emoccedilotildees satildeo inseparaacuteveis da

necessidade (a emoccedilatildeo seria a base para todas as tarefas que o homem se propotildee a fazer) eacute o

desejo que provoca uma necessidade entatildeo a funccedilatildeo do professor seria a de pensar em como

criar desejos para a aprendizagem para que estes provoquem uma necessidade e iniciem o

processo de atividade

Para Libacircneo (2004) esse novo componente deixa claro no campo edcacional ao viacutenculo

entre afetividade e cogniccedilatildeo As atividades humans estatildeo para o autor impregnadas de

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sentido subjetivo as quais propuosionam nosso agir tanto pensando na esfera escolar como

na esfera do nosso cotidiano Nesse sentido precisamos levar em conta que o processode

apropriaccedilatildeo depende tambeacutem de aspectos afetivos (cf DAVYDOV 1998)

A questatildeo do desejo pode ser comparada agrave questatildeo da voliccedilatildeo discutida por Vygotsky

(2001)Como vimos na seccedilatildeo anterior a relaccedilatildeo do sujeito com o objeto eacute uma relaccedilatildeo

mediada pelo outro atraveacutes da linguagem (e das ferramentas) Para Vygotsky (19882001) eacute a

linguagem que possibilita a constituiccedilatildeo do pensamento da consciecircncia da vontade isto eacute

das funccedilotildees psicoloacutegicas superiores Nesse sentido soacute tomamos consciecircncia individual a

partir primeiro das interaccedilotildees sociais ou da relaccedilatildeo com o outro Normalmente no caso da

crianccedila esse outro eacute algueacutem afetivamente proacutexima a ela Eacute o aspecto emocional envolvido

nessa relaccedilatildeo que motiva e impulsiona a crianccedila a agir Nesse sentido temos que a vontade eacute

uma funccedilatildeo psicoloacutegica superior e a sua construccedilatildeo depende de uma atividade que eacute portanto

de natureza social

Todas essas categorias na perspectiva da Teoria da Atividade implicam que se coloque a

crianccedila em uma trabalho inicialmente coletivo para posteriormente ser individual o que

remete agrave importacircncia de se desenvolver na sala de aula aleacutem das produccedilotildees individuais as

produccedilotildees coletivas De qualquer modo mesmo natildeo sendo um campo epistemoloacutegico voltado

para os gecircneros textuais eacute possiacutevel percebermos as razotildees de Bronckart (2003 2006) ter

utilizado dessa fonte no Interacionismo Sociodiscursivo jaacute que as noccedilotildees de atividade e da

accedilatildeo natildeo soacute regulam os objetivos dos indiviacuteduos nas diversas interaccedilotildees sociais como

tambeacutem satildeo importantes elementos para pensarmos em como gerar um conhecimento que seja

significativo e dessa forma seja apreendido pela crianccedilaaluno

4 Ilustrando o trabalho com a formaccedilatildeo de professores de seacuteries iniciais

As duas atividades que seratildeo aqui delineadas decorreram de trecircs de um total de seis etapas de

um curso de formaccedilatildeo envolvendo o tema gecircneros textuais e ensino ministrado para 15

professores de uma escola da rede puacuteblica do noroeste do Paranaacute por duas professoras

formadoras (das quais fizemos parte) e estagiaacuterias do curso de Letras no segundo semestre de

2007 As trecircs etapas iniciais tiveram como toacutepicos (a) pressupostos baacutesicos da Abordagem

Histoacuterico-Social e da Teoria da Atividade b) pressupostos gerais sobre gecircneros textuais a

partir de Bakthin e o Interacionismo Social dentre os quais foram destacados os aspectos

caracterizadores do gecircnero o tema a estrutura composicional e o estilo (BAKTHIN 1992) c)

contexto de produccedilatildeo no ISD (as capacidades de linguagem o instrumento sequumlecircncia didaacutetica

14

ficaram para outras sessotildees) d) transposiccedilatildeo dessas teorias para o ensino da escrita e)

planejamento de aulasoficinasPor questotildees de delimitaccedilatildeo enfocaremos neste artigo apenas

as subetapas ldquo drdquo e ldquoerdquo

As subetapas assinaladas envolveram duas atividades para os professores uma de cunho

teoacuterico e outra de cunho praacutetico A atividade de cunho teoacuterico ocorreu apoacutes as discussotildees

teoacutericas e foi apresentada da seguinte maneira

Em grupo elabore um quadro no qual vocecirc correlacione as categorias da Teoria da Atividade

aos elementos do contexto de produccedilatildeo vistos em Bakthin (1992) e em Bronckart (2003)

Embora no processo inicial de escolarizaccedilatildeo a comparaccedilatildeo como vimos eacute uma operaccedilatildeo

mental que pode caracterizar o pensamento empiacuterico aqui neste exerciacutecio ela natildeo eacute suficiente

Para que os professores realizassem a atividade precisariam entender primeiro cada uma das

teorias seus elementos para depois confrontaacute-los Isso exigiu que utilizassem diversas

operaccedilotildees mentais ressaltadas por Menchiskaia (1969) como a anaacutelise a abstraccedilatildeo a siacutentese

a comparaccedilatildeo a sistematizaccedilatildeo a definiccedilatildeo e a compreensatildeo necessaacuterias ao processo de

apropriaccedilatildeo

Aleacutem disso para a realizaccedilatildeo desse exerciacutecio procuramos respeitar os elementos proacuteprios da

Teoria da Atividade os professores que estavam no curso de formaccedilatildeo solicitaram o curso

portanto partiram de uma necessidade para ali estarem Aleacutem disso tinham um motivo e uma

finalidade queriam buscar informaccedilotildees sobre a transposiccedilatildeo dos gecircneros textuais para

otimizarem o trabalho com as crianccedilas na sala de aula Sabiam que para alcanccedilar esse

propoacutesito teriam que realizar atividades de forma conjunta compostas de accedilotildees e operaccedilotildees

como essa da elaboraccedilatildeo do quadro o planejamento de uma oficina dentre outras que natildeo nos

interessam nesse momento

Eacute preciso tambeacutem esclarecer que o quadro que seraacute apresentado a seguir foi o resultado final

de um trabalho coletivo e mediado pelas formadoras Para chegarmos a sua versatildeo final

foram necessaacuterias trecircs refacccedilotildees numa clara demonstraccedilatildeo de que o processo de

internalizaccedilatildeo como assevera Vygotsky (1988) depende de uma longa seacuterie de eventos

Assim muito provavelmente esse momento representa apenas um dos eventos que os

professores tiveram para iniciar esse processo mas que para que ele se consolide necessitaratildeo

de outros

15

Ressaltamos que todas as operaccedilotildees mentais anteriormente colocadas no referencial teoacuterico

para o desenvolvimento e apropriaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico dependem para que se

coloque o sujeito em atividade dos processos de mediaccedilatildeo tambeacutem realizados pelo professor

(VYGOTSKY 2000 SFORNI 2004) No nosso caso um dos recursos que utilizamos para

conduzir o processo de apropriaccedilatildeo e que se mostrou bastante produtivo em nossas

intervenccedilotildees foi a devoluccedilatildeo de uma nova pergunta apoacutes uma duacutevida estabelecida pelos

professores Como no momento das discussotildees utilizamos o gecircnero exposiccedilatildeo oral buscamos

nessa estrateacutegia comentada por Carneiro (2009) como uma das quais o professor pode se

utilizar para provocar a reflexatildeo e por efeito a possiacutevel compreensatildeo como ilustra o exemplo

abaixo

Professora ()entatildeo o desejo me parece ser tambeacutem a atividade natildeo eacute

Formadora veja pense num exemplo se jaacute almocei mas de repente vejo numa

vitrine um delicioso doce teria um desejo ou uma necessidade por ele

Professora uhm pera aiacute eu natildeo tenho necessidade de come porque jaacute estou

satisfeita mas tenho desejo neacute o desejo eacute mais emocional eacute mais voltado ao prazer

e a necessidade eacute aquilo que eacute necessaacuterio fazerparece mais racional()

Formadora isso agora pense nessa analogia para o campo da escrita

Profesora taacute o desejo tem a ver com o sentimentoa questatildeo dos sentimentos da

crianccedila neacute a gente tem que criar um viacutenculo afetivo entre ela e atividade que vamos

dar e a necessidade eacute taacute mais na razatildeo acho que tem a ver com aquela questatildeo que

discutimos com as praacuteticas sociais que satildeo as necessidades reais que temos de nos

comunicar()

Percebemos que ao devolver a duacutevida em forma de pergunta acrescida com um exemplo de

senso comum a professora formadora provoca uma reflexatildeo na professora participante e

como efeito gera-se o entendimento do conceito antes motivo de duacutevida Claro estaacute que nem

sempre esse recurso conforme comprova Carneiro (opcit) consegue proporcionar a

compreensatildeo mas sem duacutevida eacute ma estrateacutegia interessante para o professor de forma

consciente utilizar em suas explicaccedilotildees

Apoacutes esse trabalho de cunho coletivo elaboramos com a participaccedilatildeo das professoras o

quadro abaixo (resultado de trecircs refacccedilotildees) no qual aleacutem de pensar nas implicaccedilotildees para o

ensino elas tambeacutem correlacionaram os elementos da teoria da atividade com alguns dos

elementos do contexto de produccedilatildeo

16

Elementos estruturais da Teoria da Atividade Implicaccedilotildees para o ensino da escrita

DESEJO Elemento afetivo que desencadeia a necessidade da

escrita eacute desencadeado tanto pelo processo de

mediaccedilatildeo do professor com o aluno como tambeacutem

pela motivaccedilatildeo exercida por exemplo para a

abertura de um novo projetoatividade de

escritaNatildeo s relaciona a nenhum dos elementos

previstos pelo contexto de produccedilatildeo jaacute que eacute de

ordem emocional

NECESSIDADE Envolve o uso especiacutefico da escrita numa

determinada situaccedilatildeo de produccedilatildeo para atender a

uma praacutetica social especiacutefica escrever para publicar

um livro de contos escrever para produzir uma

reivindicaccedilatildeo escrever para solicitar alguma coisa

escrever para participar de um concurso escrever

um cardaacutepio para uma festa etc

MOTIVO Envolve o sentido da escrita para a crianccedila de modo

a convencecirc-la a escrever por meio de atividades que

oportunizem correlacionar a escrita com as emoccedilotildees

da crianccedila e tambeacutem com seus provaacuteveis

interlocutores pois satildeo eles que vinculam sentido

agravequilo que a crianccedila escreve (BAKTHIN 2003)

Uma dessas atividades que podem vincular a escrita

ao motivo pode ser a divulgaccedilatildeo da produccedilatildeo final

ao puacuteblico por exemplo compor um fabulaacuterio para

ser divulgado numa amostra de livros da escola

produzir cartazes para divulgaccedilatildeo de festas na escola

e afixaacute-los em estabelecimentos comerciais elaborar

notiacutecias para o jornal da escola ou para a raacutedio da

escola produzir livros de histoacuterias infantis para

crianccedilas menores elaborar uma seccedilatildeo de

classificados divulgando serviccedilos prestados ou

produtos vendidos por familiares e amigos do bairro

etcEntendemos que o fato da divulgaccedilatildeo do olhar

do outro como afirmam BakthinVoloshinov (1992)

satildeo essenciais para instaurar uma escrita

significativa

FINALIDADE Envolve o objetivo especiacutefico da escrita na situaccedilatildeo

de interaccedilatildeo para quecirc escrever Para solicitar

alguma coisa para colocar a minha opiniatildeo para

17

contar uma anedota etcA finalidade ou o objetivo

da produccedilatildeo deve vir claramente expressa no

comando de escrita a ser entregue para o aluno

ACcedilAtildeO Envolve a definiccedilatildeo do gecircnero textual que a crianccedila

iraacute escrever um resumo uma notiacutecia uma carta do

leitor um anuacutencio de classificado um comentaacuterio

um conto de fadas etc

OPERACcedilOtildeES (modos de execuccedilatildeo de uma catildeo) Envolve uma seacuterie de tarefas anteriores aacute produccedilatildeo

escritaoral do gecircnero com vistas aacute apropriaccedilatildeo dos

elementos caracterizadores dos gecircneros (o tema a

estrutura composiconal e o estilo) e levando em

conta as fases da escrita planejamento revisatildeo e

reescrita

Quadro 4 Elementos da Teoria da Atividade e sua implicaccedilatildeo na escrita

O exerciacutecio acima evidenciou-nos que mesmo sem ainda terem a noccedilatildeo sobre as capacidades

de linguagem a serem desenvolvidas no quadro do ISD os professores por meio das

operaccedilotildees mentais que o exerciacutecio exigia (anaacutelise comparaccedilatildeo abstraccedilatildeo siacutentese

exemplificaccedilatildeo) conseguem fazer relaccedilotildees coerentes entre os elementos da Teoria da

Atividade com implicaccedilotildees para o ensino da escrita Por exemplo relacionam a necessidade

elemento desencadeador da atividade com a praacutetica social como elemento desencadeador da

atividade de produccedilatildeo que no quadro do ISD eacute o elemento que possibilita alavancar por

exemplo as sequecircncias didaacuteticas (cfDOLZ SCHNEUWLY 2004)

Tambeacutem associam de forma interessante o motivo com um dos elementos do contexto de

produccedilatildeo o interlocutor reforccedilando a importacircncia desse elemento como tambeacutem aspecto

motivacional no ato da escrita Da mesma forma o tema e seu tratamento exaustivo

(BAKTHIN 1992) eacute explorado na associaccedilatildeo entre esse elemento e a accedilatildeo na medida em que

ao definir um determinado gecircnero estaacute implicado aiacute a realizaccedilatildeo desse elemento bakthiniano

Por fim nas operaccedilotildees fica claro que os professores conseguiram perceber que para se

escrever um determinado gecircnero seraacute preciso decompocirc-lo em uma seacuterie de atividades nas

quais se mobilizaratildeo o tema a estrutura composicional e o estilo

Na sequumlecircncia apoacutes a discussatildeo do quadro e com o intuito de promover mais um evento para

reforccedilar o processo de internalizaccedilatildeo agora numa atividade praacutetica solicitamos que cada

duplatrio de professores elaborassem um planejamento de uma oficina de leituraproduccedilatildeo

textual (jaacute que nesse momento ainda desconheciam outros instrumentos proacuteprios do ISD

18

como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com

atividades de escrita

O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras

de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre

de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um

suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito

com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar

jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da

Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que

tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos

previstos em cada etapa

A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma

oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas

as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs

refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo

4ordf seacuteries 12 ha

SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR

DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola

NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da

escola

MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral

FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na

escola e em casa

ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de

humor)

2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais

da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha

Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar

o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e

definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim

19

de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as

seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para

quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social

2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura

ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a

organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos

e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio

anterior

1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras

MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a

importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar

tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto

1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que

envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido

com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e

trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido

1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em

grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na

escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira

contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade

anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os

interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma

lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira

escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4

quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos

das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -

elaboraccedilatildeo dos balotildees

2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar

ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a

releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com

mediaccedilatildeo do professora

2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)

apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o

tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as

formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo

Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais

O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro

momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de

operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no

20

interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo

(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-

problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)

No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo

finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do

contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o

reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro

elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar

um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de

humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as

crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees

estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo

Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993

DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos

que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo

para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio

Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na

visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia

coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a

reescrita

Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos

como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser

compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado

pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua

transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o

processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica

para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos

da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do

Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se

coerentes a essas bases teoacutericas

Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e

certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e

conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que

soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um

21

pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)

talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados

5Consideraccedilotildees finais

O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo

de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da

Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de

apropriaccedilatildeo

a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade

interna

b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do

sujeito para que se concretize

c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por

elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e

as operaccedilotildees

d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem

mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como

propulsores do desenvolvimento

e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito

d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a

definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc

Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores

sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer

um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa

instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o

desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as

praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um

pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do

curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em

torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais

22

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Page 2: In: Anais.. V SIGET – Simpósio Internacional de Estudos de ... · Na perspectiva vygotskiana, portanto, a atividade do indivíduo sobre o objeto não é direta, ... por exemplo,

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Pedagogy courses aiming at giving a different and more significant meaning to Portuguese

teacher education for initial school years

KEYWORDS Textual genres Activity theory Textual production Teacher education

1Introduccedilatildeo

O problema do baixo desempenho escolar nas seacuteries inicias eacute revelado anualmente tanto nas

estatiacutesticas nacionais por meio do Sistema de Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (SAEB) quanto

internacionais pelo Programa Internacional de Avaliaccedilatildeo Comparada (PISA) Embora natildeo

sejam especiacuteficos apenas das seacuteries iniciais os resultados evidenciam que as crianccedilas natildeo

estatildeo aprendendo e que a escola natildeo estaacute regra geral cumprindo sua maior funccedilatildeo a de

promover a aprendizagem

No caso particular do ensino e da aprendizagem da escrita especialmente nas seacuteries iniciais o

que se vecirc eacute concordando com Adorno (1996) uma pseudo-formaccedilatildeo isto eacute a ausecircncia de

uma pedagogia sistematizada e intencionalmente planejada para o desenvolvimento de

capacidades que levem a crianccedila a escrever um determinado gecircnero textual o que faz

prevalecer a sensaccedilatildeo de que escrever eacute ainda um dom

Todavia o professor que atua em seacuteries iniciais natildeo reuacutene em sua formaccedilatildeo bases teoacutericas que

lhe permitam ir aleacutem das teorias de aquisiccedilatildeo da escrita por outro lado possui bases

epistemoloacutegicas interessantes para compreendermos o processo de apropriaccedilatildeo de um dado

objeto os quais satildeo fundamentais para se entender como a crianccedila aprende e por

consequumlecircncia como podemos a partir disso (re)organizar procedimentos metodoloacutegicos

com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica dos conteuacutedos de liacutengua portuguesa

Tendo em vista entatildeo que uma das bases fundantes da teoria do Interacionismo

Sociodiscursivo (ISD) eacute a Teoria da Atividade (TA) de Leontiev e de que essa teoria eacute

conhecida por profissionais do curso de Pedagogia poreacutem um pouco menos pelos

profissionais de Letras o objetivo deste artigo eacute entender as contribuiccedilotildees dessa teoria para o

processo de apropriaccedilatildeo de um determinado objeto teoacuterico com vistas a contribuir para o

ensino-aprendizagem da escrita em seacuteries iniciais e para os estudos acerca da transposiccedilatildeo

didaacutetica no quadro teoacuterico do ISD Entendemos tambeacutem que a contribuiccedilatildeo do artigo

estende-se para a formaccedilatildeo dos professores na medida em que evidenciamos a transposiccedilatildeo

da TA para as aulas de produccedilatildeo textual

O trabalho vincula-se aos grupos de pesquisa ldquoGecircneros textuais e ferramentas didaacuteticas para o

ensino-aprendizagem de liacutengua portuguesardquo (UELCNPq) e ao grupo ldquoInteraccedilatildeo e Escritardquo

(UEMCNPq) de onde buscamos alguns dos exemplos ilustrativos para alcanccedilar nosso

3

propoacutesito Este artigo estaacute dividido em quatro partes a) apresentaccedilatildeo dos pressupostos da

teoria Histoacuterico-Cultual especialmente no que diz respeito ao processo de apropriaccedilatildeo dos

mediadores culturais jaacute que ela eacute a base da teoria da atividade de Leontiev b) apresentaccedilatildeo

dos pressupostos da Teoria da Atividade c) Ilustraccedilatildeo do processo de apropriaccedilatildeo por meio da

anaacutelise de uma atividade teoacuterica e um planejamento de uma oficina do gecircnero tira de humor

jornaliacutestica d) conclusotildees finais

2 A abordagem Histoacuterico-Cultural e a formaccedilatildeo de conceitos

Vygotsky muito embora natildeo tenha preocupaccedilotildees concernentes ao ensino da escrita trouxe

importantes contribuiccedilotildees para a educaccedilatildeo e eacute considerado o fundador da Teoria Histoacuterico-

Cultural (corrente epistemoloacutegica que serve de base para a teoria da atividade de Leontiev) a

qual recebe esse nome por reforccedilar o papel da atividade soacutecio-histoacuterica e coletiva na formaccedilatildeo

das funccedilotildees mentais superiores dentre elas a escrita

Uma das teses fundantes do trabalho de Vygotsky (1979 1988 2001) eacute o caraacuteter social e

histoacuterico dos chamados Processo Psicoloacutegicos SuperioresPPS (como a atenccedilatildeo a memoacuteria a

vontade a escrita dentre outros) mediados por instrumentos dentre os quais os instrumentos

materiaisfiacutesicos e os signos assumem papeacuteis determinantes para o desenvolvimento psiacutequico

Na perspectiva vygotskiana portanto a atividade do indiviacuteduo sobre o objeto natildeo eacute direta

mas eacute uma atividade mediada por instrumentos

Sendo objetos sociais os instrumentos carregam consigo a cultura material as operaccedilotildees de

trabalho historicamente ali elaboradas o que implica na visatildeo de Leontiev (2004) natildeo apenas

no uso do instrumento mas da apropriaccedilatildeo de suas operaccedilotildees mentais e fiacutesicas ambas

promotoras do desenvolvimento humano

Enquanto signos os instrumentos simboacutelicos agem como reguladores da atividade

psicoloacutegica similarmente ao papel de um instrumento material de trabalho e formam o

conteuacutedo da atividade mental do homem sobre o mundo (controlam as accedilotildees internas e

psicoloacutegicas) jaacute os instrumentos materiais auxiliam o sujeito em accedilotildees concretas Ambos satildeo

denominados por Vygotsky de mediadores culturais (VYGOTSKY 19791988 2000 2001)

Satildeo os instrumentos mediadores que aleacutem de possibilitar o desenvolvimento dos PPS

auxiliam no processo de internalizaccedilatildeo de um determinado conhecimento pela crianccedilaaluno

Vygotsky (1988 p 63) denomina de internalizaccedilatildeo a ldquoreconstruccedilatildeo interna de uma operaccedilatildeo

externardquo em um processo que caminha de fora para dentro do social para o individual

4

Um processo interpessoal eacute transformado num processo intrapessoal Todas as funccedilotildees no desenvolvimento da crianccedila aparecem duas vezes primeiro no niacutevel social e depois no niacutevel individual primeiro entre pessoas (interpsicoloacutegica) e depois no interior da crianccedila (intrapsicoloacutegica) (VYGOTSKY 1988 p 64)

A internalizaccedilatildeo nesse sentido envolve

(a) a reconstruccedilatildeo de uma operaccedilatildeo que se inicia do mundo externo para o interno

(b) a passagem do processo interpessoal para o intrapessoal que sugere a organizaccedilatildeo interior

dessa reconstruccedilatildeo pelo sujeito

(c) a transformaccedilatildeo de processos interpessoais para intrapessoais

Para que este uacuteltimo aspecto ocorra Vygotsky (op cit p64) ressalta que seraacute necessaacuterio uma

ldquolonga seacuteries de eventos ocorridos ao longo do desenvolvimentordquo Isso quer dizer que quando

pensamos no processo de apropriaccedilatildeo de um conhecimento que eacute novo temos que levar em

conta a necessidade de um tempo para amadurecer na qual a atividade psicoloacutegica do sujeito

vai sendo ressignificada reconstruiacuteda por meio do uso de novos instrumentos novos eventos

e tambeacutem por meio de tensotildees e de reformulaccedilotildees mentais que lhe satildeo inerentes Assim o

caminho da internalizaccedilatildeo para Vygotsky seguiria trecircs fases

Reconstruccedilatildeo interna de uma operaccedilatildeo externa

Reorganizaccedilatildeo interna pelo sujeito

Transformaccedilatildeo dessa reorganizaccedilatildeo pelo sujeito

Quadro 1 Fases do processo de internalizaccedilatildeo (VYGOTSKY 1988)

Para que a internalizaccedilatildeo efetivamente se realize o processo de mediaccedilatildeo precisa ser

compreendido Para tanto eacute necessaacuterio que nos debrucemos um pouco mais sobre a extensatildeo

desse conceito jaacute que tem sido comum que grande parte dos professores entendam a

mediaccedilatildeo apenas como sinocircnimo de ajuda aos alunos nas atividades escolares por pessoas

mais experientes Todavia embora natildeo descaracterize totalmente esses aspectos focados

apenas em questotildees interpessoais na perspectiva da Teoria Histoacuterico-Cultural o conceito de

mediaccedilatildeo vai mais aleacutem

Sforni (2008) esclarece que essas visotildees senso comum do termo esquecem de um dos

principais elementos da escola de Vygotsky - o conhecimento

De fato agraves interaccedilotildees sociais eacute dado lugar de destaque na escola de Vygotsky mas o

seu valor no contexto escolar natildeo estaacute restrito agrave relaccedilatildeo sujeito-sujeito mas no

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objeto que se presentifica nessa relaccedilatildeo ndash o conhecimento Em outras palavras eacute

somente na relaccedilatildeo entre sujeito-conhecimento-sujeito que a mediaccedilatildeo se torna um

conceito fundamental ao desenvolvimento humano

Assim eacute na apropriaccedilatildeo dos mediadores culturais possibilitada principalmente pelos

conteuacutedos e conhecimentos cientiacuteficos objetivados pelas geraccedilotildees precedentes eacute que torna

possiacutevel o desenvolvimento do sujeito (LEONTIEV 2004 VYGOSTSKY 2001) Para

Vygotsky (2000p 290) ldquoa tomada de consciecircncia passa pelos portotildees do conhecimento

cientiacuteficordquo e por isso mesmo o conhecimento nessa perspectiva eacute uma produccedilatildeo que emerge

apenas em situaccedilotildees de ensino devidamente planejadas Nem todo ensino nessa visatildeo gera

desenvolvimento mas sim o ldquobom ensinordquo aquele que inserido em uma ldquocorreta organizaccedilatildeo

da aprendizagem da crianccedila conduz ao desenvolvimento mentalrdquo (VYGOTSKY 1991 p15)

Se pensarmos nos pressupostos da teoria Histoacuterico-Cultural entendemos que o ensino

promotor do desenvolvimento depende do quecirc se adquire (conhecimento cientiacutefico) e como se

adquire (processo de ensino e de apropriaccedilatildeo pelo aluno) Os conceitos cientiacuteficos seriam

assim instrumentos do pensamento e a apropriaccedilatildeo a condiccedilatildeo para a sua formaccedilatildeo

Para o psicoacutelogo russo o conceito eacute um ato real e complexo de pensamento que natildeo pode ser

apreendido por simples ldquomemorizaccedilatildeordquo(VYGOTSKY 2000) Exatamente por isso ele nos

adverte que os conceitos natildeo devem ser apreendidos pela crianccedilaaluno de forma pronta e

direta tal como a escola comumente realiza pois dessa maneira traduzem-se em pedagogias

esteacutereis em outras palavras ldquoo ensino direto de conceitos sempre se mostra impossiacutevel e

pedagogicamente esteacuterilrdquo(opcitp247) porque os conceitos cientiacuteficos para serem

internalizados e natildeo memorizados de forma mecaniscista soacute se constituem por meio de uma

imensa tensatildeo entre o objeto e a atividade na qual ele se insere

A aprendizagem de conceitos tanto para Vygotsky (2000) como para Leontiev (2004) natildeo se

resume agrave mera definiccedilatildeo e apresentaccedilatildeo das caracteriacutesticas essenciais dos objetos como

normalmente eacute realizada em sala de aula Analogamente ao pensarmos na questatildeo do gecircneros

como objeto de ensino tal como preconiza os Paracircmetros Curriculares Nacionais (BRASIL

1998) um ldquobomrdquo ensino natildeo se resumiria a apresentar por exemplo o gecircnero carta do leitor e

expor sistematicamente as suas caracteriacutesticas para os alunos e muito menos a gramaticalizaacute-

lo

Usando dessa metodologia de caraacuteter transmissiva e geneacuterica a aprendizagem de conceitos

que eacute intriacutenseca aos mais diversos objetos de ensino a exemplo dos gecircneros textuais natildeo

envolve o domiacutenio de meacutetodos e formas gerais da atividade mental que segundo Davydov

6

(1982 1988) satildeo o grande legado da Teoria da Atividade ou seja o desenvolvimento de

conceitos soacute eacute produtivo quando coloca a crianccedilaaluno em atividade mentalA apropriaccedilatildeo

portanto soacute ocorre dentre desse movimento

Davydov (1982) esclarece que em determinadas situaccedilotildees a comparaccedilatildeo dos atributos

externos de um determinado fenocircmeno pode ateacute ser suficiente para resolver alguns problemas

praacuteticos poreacutem quase sempre natildeo datildeo conta de revelar aspectos de sua profundeza de suas

relaccedilotildees internas Exatamente por isso a grande operaccedilatildeo mental realizada por

estudantesprofessores no trato com o conhecimento empiacuterico se resume na comparaccedilatildeo que

daacute conta normalmente apenas do reconhecimento dos traccedilos gerais do objeto

Complementado essa ideacuteia Hedegaard (1996) baseando-se nos estudos de Vygotsky

descreve que o uso do pensamento empiacuterico eacute marcado por um percurso fixo e pelas seguintes

operaccedilotildees mentais

Observaccedilatildeo Comparaccedilatildeo Categorizaccedilatildeo Memorizaccedilatildeo

No processo de observaccedilatildeo o indiviacuteduo parte de uma situaccedilatildeo concreta Depois disso eacute confrontado

com pelos menos dois elementos que exigem que ele busque seus traccedilos semelhantes eou diferentes

para apreender as caracteriacutesticas mais gerais de um objeto e posteriormente memorizaacute-las Nesses

casos esclarece o autor natildeo haacute espaccedilo para que o alunoprofessor reflita sobra as causas e os

efeitos do conhecimento sobre os seus conflitos sobre sua origem o que colaboraria para a

adequada compreensatildeo do fenocircmeno e para a correta compreensatildeo do objeto Por isso mesmo

uma tarefa pautada apenas no conhecimento empiacuterico limita a aprendizagem e se reduz a

captar o que eacute aparente o que eacute externo e leva a crianccedilaaluno apenas a saber classificar

fenocircmenos nominalizaacute-los e dar suas caracteriacutesticas mais observaacuteveis (Davydov 1982)

Menchiskaia (1969) ao estudar a formaccedilatildeo e o desenvolvimento do pensamento esclarece

que a comparaccedilatildeo e a definiccedilatildeo satildeo processos mentais importantes para o aluno nos

processos iniciais de apropriaccedilatildeo do conhecimento pois a primeira tambeacutem inclui outros

processos mentais como a anaacutelise a generalizaccedilatildeo e a siacutentese A anaacutelise caracteriza-se como

decomposiccedilatildeo mental do todo em partes A generalizaccedilatildeo inclui a separaccedilatildeo mental do geral

nos objetos e fenocircmenos da realidade por isso a comparaccedilatildeo dos objetos e fenocircmenos acaba

sendo uma premissa do processo de generalizaccedilatildeo Jaacute a sistematizaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo dos

objetos e fenocircmenos inclui sua distribuiccedilatildeo mental em grupos e subgrupos segundo a

semelhanccedila e diferenccedila que existe entre eles Esses processos portanto satildeo interessantes para

7

que pensemos por exemplo em categorias de exerciacutecios para a transposiccedilatildeo didaacutetica dos

gecircneros textuais pois levam a crianccedila a atividades mentais diferenciadas

Para chegar agrave sistematizaccedilatildeo a crianccedilaaluno se depara com outro processo mental a

abstraccedilatildeo Menchiskaia (op cit) no entanto explica que quando o aluno generaliza sobre

objetos ou fenocircmenos separa o que eacute geral do particular acaba natildeo dando importacircncia para

outras qualidades que os diferenciam entre si tem somente em conta aquilo que destacou

como geral Esse processo eacute a abstraccedilatildeo Por exemplo uma crianccedila pode pensar sobre a cor

parecida de determinados objetos e desprezar suas formas e funccedilotildees Por isso o processo de

abstraccedilatildeo e de generalizaccedilatildeo estatildeo intimamente ligados Assim para que uma correta

compreensatildeo do fenocircmeno seja realizada eacute necessaacuterio juntar agrave comparaccedilatildeo outros processos

mentais como a compreensatildeo a definiccedilatildeo o estabelecimento de causas e efeitos a soluccedilatildeo de

problemas a formulaccedilatildeo de outros exemplos dentre de um mesmo sistema dentre outras

Completando essa discussatildeo Rubstov (1996) explica que o desenvolvimento do

conhecimento cientiacutefico (a) eacute elaborado por meio de uma anaacutelise do papel e da funccedilatildeo de

uma certa relaccedilatildeo entre as coisas no interior de um sistema (b) representa as relaccedilotildees entre as

propriedades dos objetos e suas ligaccedilotildees internas (c) estabelece relaccedilatildeo entre o geral e o

particular (d) concretiza-s por meio da transformaccedilatildeo do saber em uma teoria desenvolvida

por meio da deduccedilatildeo e uma explicaccedilatildeo das manifestaccedilotildees concretas do sistema (e) apresenta-

se por diferentes modos de atividade intelectual e de operaccedilotildees mentais (f) utiliza-se de

diferentes sistemas semioacuteticos

Para os autores da THC portanto o conhecimento sensorial ou espontacircneo eacute a origem

indispensaacutevel para a formulaccedilatildeo de conceitos (DAVYDOV 1982 VYGOTSKY 1988 2000

2001) no entanto seraacute preciso revelar a essecircncia desse objeto que historicamente se

reconstitui atraveacutes do estudo do seu real funcionamento por meio a diversificaccedilatildeo d diversas

operaccedilotildees mentais

A ideacuteia de real funcionamento pensando nos gecircneros textuais remete agrave ideacuteia de praacuteticas

sociais situadas Ou seja natildeo se ensina um gecircnero pelo gecircnero mas se ensina um gecircnero para

que o aluno se aproprie de uma determinada praacutetica social para que use aquele gecircnero dentro

de uma situaccedilatildeo especiacutefica de comunicaccedilatildeo (NASCIMENTO 2007 ROJO 2005 LOPES-

ROSSI 2002)

Isso eacute possiacutevel a partir de um ensino voltado para a apropriaccedilatildeo adequada do conhecimento

teoacuterico objetivado nesse objeto o qual oportuniza agrave crianccedilasujeito entrar em contato com

diferentes modos de atividade intelectual com diferentes sistemas semioacuteticos e operaccedilotildees

mentais para aleacutem de representaccedilotildees meramente sensoriaisAleacutem de envolver processos como

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a comparaccedilatildeo a anaacutelise a siacutentese a generalizaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de problema a

crianccedilasujeito ao estar inserida num ensino adequado voltado para a atividade toma

consciecircncia do real uso e valor do conceito aleacutem de conseguir mobilizaacute-lo em diferentes

tarefas (Davydov 1982) Exatamente por isso entender a noccedilatildeo de atividade eacute outro aspecto

para entendermos o processo de apropriaccedilatildeo

3 A contribuiccedilatildeo da teoria da atividade para o processo de apropriaccedilatildeo

A teoria da atividade (TA) desenvolvida por Leontiev e seguidores (Rubstein Luria e

Davydov) eacute considerada uma continuidade das ideacuteias de Vygotsky tido um dos precursores

da teoria psicoloacutegica da atividade Segundo Sforni (2004 p86)

As investigaccedilotildees de Leontiev voltaram-se para estudo da estrutura da

atividade externa e de seu viacutenculo com os processos psiacutequicos Seus estudos

revelaram que as atividades externa e interna tecircm estruturas idecircnticas e

mais que a atividade psiacutequica interna representa uma atividade material

externa transformada o que evidencia a unidade entra atividade e psiquismo

Ao comentar o processo de evoluccedilatildeo do homem Leontiev (2004) destaca que as

caracteriacutesticas humanas satildeo desenvolvidas pela apropriaccedilatildeo da cultura material e intelectual

transmitida de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo Isso quer dizer que natildeo nos relacionamos diretamente com o

mundo mas temos uma relaccedilatildeo que eacute mediada pelo conhecimento objetivado pelas geraccedilatildeo

que nos antecederam por intermeacutedio dos instrumentos simboacutelicos (signos) que proporcionam

nosso desenvolvimento mental O processo de mediaccedilatildeo portanto nessa concepccedilatildeo eacute um

meio de chegarmos agrave apropriaccedilatildeo dos mediadores culturais entendidos aqui tambeacutem como os

conhecimentos cientiacuteficos objetivados nos mais diversos instrumentos

Por intermeacutedio desses mediadores eacute que podemos pensar em desenvolvimento do psiquismo

da crianccedila (e tambeacutem do adulto) Ao se apropriar da linguagem enquanto mediadora cultural e

de outras ferramentas a princiacutepio fiacutesicas (como objetos o jogo o brinquedo) a crianccedila aos

poucos incorpora todo o desenvolvimento intelectual objetivado nesses elementos

(VYGOTSKY 1981 p 137)

Quando chega ao processo de escolarizaccedilatildeo novas ferramentas satildeo apresentadas para as

crianccedilas Se pensarmos no ensino da escrita nas seacuteries iniciais quais satildeo os textos que tecircm

ainda predominado Que tipo de instrumentos elas tecircm agrave disposiccedilatildeo para o desenvolvimento

9

da escrita A resposta eacute simples e velha conhecida no campo educacional as modalidades

retoacutericas (descriccedilatildeo dissertaccedilatildeo e principalmente a narraccedilatildeo) prevalecem como possiacuteveis

instrumentos de desenvolvimentos da escrita

Mas se nos voltarmos para a teoria Histoacuterico-Cultural e pensarmos em termos de cultura

material de heranccedila intelectual entendemos que as atividades humanas se desenvolveram por

meio da linguagem Ora essas atividades foram se multiplicando e se diversificando em cada

esfera da comunicaccedilatildeo humana (no cotidiano na literatura na religiatildeo no comeacutercio e mais

recentemente na miacutedia dentre outras) Em cada uma dessas esferas a comunicaccedilatildeo entre os

parceiros da interaccedilatildeo constituiu diferentes praacuteticas sociais que se materializaram e se

materializam ininterruptamente por meio dos gecircneros textuais (BAKTHIN 2003)

Essa organizaccedilatildeo das sociedades por praacuteticas sociais eacute diferente em cada eacutepoca histoacuterica em

cada lugar em cada cultura Por isso mesmo essas praacuteticas modificam-se outras se extinguem

e algumas novas surgem Os gecircneros textuais nesse sentido satildeo materializaccedilotildees de uma

determinada praacutetica social que por sua vez eacute dinacircmica e histoacuterica Veja-se por exemplo a

praacutetica social ldquomandar um recadordquoDependendo dos parceiros da interaccedilatildeo e da esfera de

circulaccedilatildeo poderiacuteamos fazer isso utilizando diferentes gecircneros por um bilhete (se fosse da

esfera familiar) por uma carta formal (esfera institucional) por um e-mail (esfera comercial)

Por isso mesmo entendemos que na medida em que os professores trabalham de forma

predominante com os textos narrativos ou as modalidades retoacutericas aleacutem de natildeo levarem em

conta todo esse legado intelectual produzido pela humanidade natildeo conseguem promover o

letramento dessa crianccedila no futuro (cf DIONIacuteSIO 2005) ou os multiletramentos os

letramentos multissemioacuteticos e os letramentos multimeios1 (cf ROJO 2007)

Por essas razotildees (e outras) eacute que os documentos oficiais como os Paracircmetros Curriculares

Nacionais (BRASIL 1998) tecircm insistido o trabalho com os diferentes gecircneros textuais

Poreacutem natildeo devemos nos seduzir apenas pelas prescriccedilotildees ou por modismos Pelo que jaacute

expusemostodo trabalho com um determinado objeto teoacuterico (seja o gecircnero ou outro) exige

conhecimento cientiacutefico do professor acerca do funcionamento dos gecircneros em suas mais

variadas esferas de circulaccedilatildeo sem o qual ele natildeo conseguiraacute promover na crianccedila nem a

apropriaccedilatildeo do gecircnero e nem o desenvolvimento da escrita

1 Os primeiros (multiletramentos) se referem ao trabalho com as muacuteltiplas esferas sociais nas quais os gecircneros se inscrevem tais como a jornaliacutestica a religiosa a juriacutedica a poliacutetica e natildeo apenas a literaacuteria como tem sido frequumlente na escola Os segundos (letramentos multissemioacuteticos) requerem que a escola trabalhe natildeo apenas com a linguagem verbal mas tambeacutem com a linguagem sonora imageacutetica visual musical jaacute que a TV a Internet satildeo veiacuteculos repletos de textos que se utilizam dessas formas de expressatildeoNo que concerne aos letramentos multimeios a autora considera aqueles gerados pelo contato com os mais diversos suportes de informaccedilatildeo que a sociedade disponibiliza entendidos como a TV o raacutedio o cinema a Internet o jornal impresso etc

10

Como vimos na seccedilatildeo anterior o processo de apropriaccedilatildeo implica em se colocar o sujeito

dentro de uma atividade conceito esse retomado pelo ISD mas cuja origem se daacute de forma

mais destacada na obra de Leontiev (20012004) No niacutevel individual a atividade eacute entendida

como uma forma de agir do sujeito direcionada a um objetoNo plano coletivo a atividade

define-se como

() aqueles processos que realizando as relaccedilotildees do homem como o mundo

satisfazem uma necessidade especial correspondente a ela () Por atividade

designamos os processos psicologicamente caracterizados por aquilo que o processa

como um todo se dirige (isto eacute objeto) coincidindo sempre com o objetivo que

estimula o sujeito a executar essa atividade isto eacute o motivo (LEONTIEV 2001

p315)

As atividades humanas para Leontiev (2004) satildeo consideradas como formadoras das relaccedilotildees

do sujeito com o mundo dirigidas por motivos por fins a serem alcanccedilados A ideacuteia de

atividade envolve entatildeo a noccedilatildeo de que o homem orienta-se por objetivos agindo de forma

intencional por accedilotildees planejadas

O autor daacute relevacircncia inicialmente agrave atividade coletiva em conjunto na medida em que o

ambiente sociocultural pode desencadear motivos para a realizaccedilatildeo de novas accedilotildees do sujeito

que por sua vez exigiratildeo novas operaccedilotildees as quais desenvolveratildeo os processos psiacutequicos

superioresOs componentes desse movimento da atividade propostos por Leontiev (2001) satildeo

necessidade- motivo- finalidade- condiccedilotildees para se obter a finalidade

Dentro dessa concepccedilatildeo a atividade eacute formada pela seguinte estrutura geral

Necessidade Motivo Objetivos Condiccedilotildees

Atividade

Accedilotildees Operaccedilotildees

Quadro 2 Estrutura geral da atividade adaptada de Leontiev (2001 2004)

A necessidade eacute o fator que desencadeia a atividade eacute ela que motiva o sujeito concretamente

a ter objetivos e realizar as accedilotildees (SFORNI 2004) Ela eacute um componente tatildeo importante que

Sforni (p97) acrescenta ldquonem todo processo eacute uma atividade mas somente aquele que eacute

movido por uma necessidaderdquoObviamente ao pensarmos no ensino da escrita devemos levar

em conta que a necessidade eacute um componente importante

11

E o que leva uma crianccedila a produzir um texto Certamente natildeo deveria ser o fato de cumprir

uma tarefa ou preencher o tempo da sala mas a necessidade da crianccedila escrever vincula-se ao

motivo a uma relaccedilatildeo com esse objeto que vai aleacutem da razatildeo envolvendo aspectos tambeacutem

de ordem afetiva Se ela natildeo vecirc sentido naquilo que realiza logo natildeo torna consciente o que

escreve e faz e se natildeo tem consciecircncia sobre as accedilotildees que realiza natildeo eacute possiacutevel qualificaacute-las

de atividade mas apenas de uma tarefa de uma obrigaccedilatildeo escolarO motivo eacute justamente o

componente mais afetivo da teoria da afetividade Vincula-se agraves emoccedilotildees do sujeito e

relaciona-se ao sentido da atividade

A finalidade tem a ver com aquilo que se pretende de forma mais particular naquela atividade

poderiacuteamos associaacute-la ao objetivo Para a realizaccedilatildeo desse objetivo seratildeo necessaacuterias as

condiccedilotildees os meios para alcanccedilaacute-lo por intermeacutedio das accedilotildees e das operaccedilotildeesA accedilatildeo eacute o

processo cuja o motivo natildeo coincide com seu objeto mas pertence aacute atividade

Leontiev (2004) ilustra essa afirmaccedilatildeo ao explicar que a atividade de ler um livro para apenas

passar numa prova natildeo eacute uma atividade mas uma accedilatildeo porque ler o livro por ler natildeo eacute um

objetivo forte que estimula a accedilatildeo do sujeito Poreacutem a accedilatildeo pode se transformar em atividade

quando passa a ter um motivo para o sujeito No exemplo dado se o aluno comeccedila a ler e a

leitura acaba por envolvecirc-lo por alguma razatildeo o motivo da atividade desloca-se

transformando-se a accedilatildeo em uma atividade

Uma accedilatildeo pode ser realizada de diferentes maneiras designadas por Leontiev de operaccedilotildees

as quais consistem no modo de execuccedilatildeo de uma determinada tarefa que pode ser variadoAs

operaccedilotildees particularizam um determinado objeto e revelam suas partes intriacutensecas daiacute serem

elementos fundamentais para a apropriaccedilatildeo As accedilotildees realizadas por indiviacuteduo no interior de

uma atividade transformam-se em operaccedilotildees e estas mais tarde em haacutebitos e habilidades

Quando isso ocorre saem da esfera dos processo conscientes e passam a ocupar um lugar

inferior na estrutura da atividade

Todavia ocupar lsquoum lugar inferiorrsquo natildeo significa simplificar o estatuto da operaccedilatildeo ao

contraacuterio significa afirmar que houve um processo de apropriaccedilatildeo que agora torna-se

consciente e que em tornando-se consciente deixa livre o pensamento para se incumbir de

novas accedilotildees e novas operaccedilotildees agora de caraacuteter mais elevadoA ideacuteia eacute que uma atividade

coloca a crianccedila em determinada accedilatildeo que por sua vez lhe exige operaccedilotildees para executaacute-la

Ao apropriar-se dessas operaccedilotildees a crianccedila deve ser exposta a novas accedilotildees e

consequentemente a novas operaccedilotildees de caraacuteter mais elevado a fim de que seus processos

mentais estejam em constante desenvolvimento conforme ilustra o quadro abaixo

12

xxx

Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa

Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa

Atividade Accedilatildeo Operaccedilatildeo

Quadro 3 Movimento da aprendizagem na Teoria da Atividade com base em Sforni (2004)

Esse movimento revela para Leontiev o processo ininterrupto de desenvolvimento do sujeito

Para Sforni (2004 p104) esse processo revela o momento da aprendizagem poreacutem natildeo eacute

natural precisa ser mediado por algueacutem mais experiente o que reforccedila a ideacuteia de que a

mediaccedilatildeo tal como jaacute sublinhamos nos estudos vygtskianos eacute outro compontente

fundamental do processo de apropriaccedilatildeo

Todo esse contexto nos leva a pensar novamente sobre a repeticcedilatildeo sistemaacutetica de 1ordf a 4ordf

seacuterie da escrita de narrativas escolaresSe pela teoria da atividade a crianccedila precisa estar

exposta a novas accedilotildees e a novas operaccedilotildees quais conteuacutedos satildeo avanccedilados de seacuterie para

seacuterie se existe a repeticcedilatildeo sistemaacutetica principalmente da narrativa escolar baseada no

modelo aristoteacutelico Se percebemos que as crianccedilas jaacute dominam esse gecircnero escolar por que

natildeo avanccedilar com novos gecircneros ou em ficando nesse gecircnero com novas operaccedilotildees que

mobilizaratildeo novos conteuacutedos Por exemplo em se pensando em gecircneros que se utilizam da

sequumlecircncia narrativa como predominante por que natildeo trabalhar com narrativas de enigmas ou

narrativas de terror que traratildeo novas variaccedilotildees e novos esquemas de organizaccedilatildeo para serem

apropriados pelas crianccedilas

Completando o quadro teoacuterico da TA Davydov (1998) concorda com Leontiev que a

estrutura da atividade seja composta de necessidades tarefas accedilotildees e operaccedilotildees poreacutem

acrescenta um novo componente ndash o desejo ndashjaacute que para ele as emoccedilotildees satildeo inseparaacuteveis da

necessidade (a emoccedilatildeo seria a base para todas as tarefas que o homem se propotildee a fazer) eacute o

desejo que provoca uma necessidade entatildeo a funccedilatildeo do professor seria a de pensar em como

criar desejos para a aprendizagem para que estes provoquem uma necessidade e iniciem o

processo de atividade

Para Libacircneo (2004) esse novo componente deixa claro no campo edcacional ao viacutenculo

entre afetividade e cogniccedilatildeo As atividades humans estatildeo para o autor impregnadas de

13

sentido subjetivo as quais propuosionam nosso agir tanto pensando na esfera escolar como

na esfera do nosso cotidiano Nesse sentido precisamos levar em conta que o processode

apropriaccedilatildeo depende tambeacutem de aspectos afetivos (cf DAVYDOV 1998)

A questatildeo do desejo pode ser comparada agrave questatildeo da voliccedilatildeo discutida por Vygotsky

(2001)Como vimos na seccedilatildeo anterior a relaccedilatildeo do sujeito com o objeto eacute uma relaccedilatildeo

mediada pelo outro atraveacutes da linguagem (e das ferramentas) Para Vygotsky (19882001) eacute a

linguagem que possibilita a constituiccedilatildeo do pensamento da consciecircncia da vontade isto eacute

das funccedilotildees psicoloacutegicas superiores Nesse sentido soacute tomamos consciecircncia individual a

partir primeiro das interaccedilotildees sociais ou da relaccedilatildeo com o outro Normalmente no caso da

crianccedila esse outro eacute algueacutem afetivamente proacutexima a ela Eacute o aspecto emocional envolvido

nessa relaccedilatildeo que motiva e impulsiona a crianccedila a agir Nesse sentido temos que a vontade eacute

uma funccedilatildeo psicoloacutegica superior e a sua construccedilatildeo depende de uma atividade que eacute portanto

de natureza social

Todas essas categorias na perspectiva da Teoria da Atividade implicam que se coloque a

crianccedila em uma trabalho inicialmente coletivo para posteriormente ser individual o que

remete agrave importacircncia de se desenvolver na sala de aula aleacutem das produccedilotildees individuais as

produccedilotildees coletivas De qualquer modo mesmo natildeo sendo um campo epistemoloacutegico voltado

para os gecircneros textuais eacute possiacutevel percebermos as razotildees de Bronckart (2003 2006) ter

utilizado dessa fonte no Interacionismo Sociodiscursivo jaacute que as noccedilotildees de atividade e da

accedilatildeo natildeo soacute regulam os objetivos dos indiviacuteduos nas diversas interaccedilotildees sociais como

tambeacutem satildeo importantes elementos para pensarmos em como gerar um conhecimento que seja

significativo e dessa forma seja apreendido pela crianccedilaaluno

4 Ilustrando o trabalho com a formaccedilatildeo de professores de seacuteries iniciais

As duas atividades que seratildeo aqui delineadas decorreram de trecircs de um total de seis etapas de

um curso de formaccedilatildeo envolvendo o tema gecircneros textuais e ensino ministrado para 15

professores de uma escola da rede puacuteblica do noroeste do Paranaacute por duas professoras

formadoras (das quais fizemos parte) e estagiaacuterias do curso de Letras no segundo semestre de

2007 As trecircs etapas iniciais tiveram como toacutepicos (a) pressupostos baacutesicos da Abordagem

Histoacuterico-Social e da Teoria da Atividade b) pressupostos gerais sobre gecircneros textuais a

partir de Bakthin e o Interacionismo Social dentre os quais foram destacados os aspectos

caracterizadores do gecircnero o tema a estrutura composicional e o estilo (BAKTHIN 1992) c)

contexto de produccedilatildeo no ISD (as capacidades de linguagem o instrumento sequumlecircncia didaacutetica

14

ficaram para outras sessotildees) d) transposiccedilatildeo dessas teorias para o ensino da escrita e)

planejamento de aulasoficinasPor questotildees de delimitaccedilatildeo enfocaremos neste artigo apenas

as subetapas ldquo drdquo e ldquoerdquo

As subetapas assinaladas envolveram duas atividades para os professores uma de cunho

teoacuterico e outra de cunho praacutetico A atividade de cunho teoacuterico ocorreu apoacutes as discussotildees

teoacutericas e foi apresentada da seguinte maneira

Em grupo elabore um quadro no qual vocecirc correlacione as categorias da Teoria da Atividade

aos elementos do contexto de produccedilatildeo vistos em Bakthin (1992) e em Bronckart (2003)

Embora no processo inicial de escolarizaccedilatildeo a comparaccedilatildeo como vimos eacute uma operaccedilatildeo

mental que pode caracterizar o pensamento empiacuterico aqui neste exerciacutecio ela natildeo eacute suficiente

Para que os professores realizassem a atividade precisariam entender primeiro cada uma das

teorias seus elementos para depois confrontaacute-los Isso exigiu que utilizassem diversas

operaccedilotildees mentais ressaltadas por Menchiskaia (1969) como a anaacutelise a abstraccedilatildeo a siacutentese

a comparaccedilatildeo a sistematizaccedilatildeo a definiccedilatildeo e a compreensatildeo necessaacuterias ao processo de

apropriaccedilatildeo

Aleacutem disso para a realizaccedilatildeo desse exerciacutecio procuramos respeitar os elementos proacuteprios da

Teoria da Atividade os professores que estavam no curso de formaccedilatildeo solicitaram o curso

portanto partiram de uma necessidade para ali estarem Aleacutem disso tinham um motivo e uma

finalidade queriam buscar informaccedilotildees sobre a transposiccedilatildeo dos gecircneros textuais para

otimizarem o trabalho com as crianccedilas na sala de aula Sabiam que para alcanccedilar esse

propoacutesito teriam que realizar atividades de forma conjunta compostas de accedilotildees e operaccedilotildees

como essa da elaboraccedilatildeo do quadro o planejamento de uma oficina dentre outras que natildeo nos

interessam nesse momento

Eacute preciso tambeacutem esclarecer que o quadro que seraacute apresentado a seguir foi o resultado final

de um trabalho coletivo e mediado pelas formadoras Para chegarmos a sua versatildeo final

foram necessaacuterias trecircs refacccedilotildees numa clara demonstraccedilatildeo de que o processo de

internalizaccedilatildeo como assevera Vygotsky (1988) depende de uma longa seacuterie de eventos

Assim muito provavelmente esse momento representa apenas um dos eventos que os

professores tiveram para iniciar esse processo mas que para que ele se consolide necessitaratildeo

de outros

15

Ressaltamos que todas as operaccedilotildees mentais anteriormente colocadas no referencial teoacuterico

para o desenvolvimento e apropriaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico dependem para que se

coloque o sujeito em atividade dos processos de mediaccedilatildeo tambeacutem realizados pelo professor

(VYGOTSKY 2000 SFORNI 2004) No nosso caso um dos recursos que utilizamos para

conduzir o processo de apropriaccedilatildeo e que se mostrou bastante produtivo em nossas

intervenccedilotildees foi a devoluccedilatildeo de uma nova pergunta apoacutes uma duacutevida estabelecida pelos

professores Como no momento das discussotildees utilizamos o gecircnero exposiccedilatildeo oral buscamos

nessa estrateacutegia comentada por Carneiro (2009) como uma das quais o professor pode se

utilizar para provocar a reflexatildeo e por efeito a possiacutevel compreensatildeo como ilustra o exemplo

abaixo

Professora ()entatildeo o desejo me parece ser tambeacutem a atividade natildeo eacute

Formadora veja pense num exemplo se jaacute almocei mas de repente vejo numa

vitrine um delicioso doce teria um desejo ou uma necessidade por ele

Professora uhm pera aiacute eu natildeo tenho necessidade de come porque jaacute estou

satisfeita mas tenho desejo neacute o desejo eacute mais emocional eacute mais voltado ao prazer

e a necessidade eacute aquilo que eacute necessaacuterio fazerparece mais racional()

Formadora isso agora pense nessa analogia para o campo da escrita

Profesora taacute o desejo tem a ver com o sentimentoa questatildeo dos sentimentos da

crianccedila neacute a gente tem que criar um viacutenculo afetivo entre ela e atividade que vamos

dar e a necessidade eacute taacute mais na razatildeo acho que tem a ver com aquela questatildeo que

discutimos com as praacuteticas sociais que satildeo as necessidades reais que temos de nos

comunicar()

Percebemos que ao devolver a duacutevida em forma de pergunta acrescida com um exemplo de

senso comum a professora formadora provoca uma reflexatildeo na professora participante e

como efeito gera-se o entendimento do conceito antes motivo de duacutevida Claro estaacute que nem

sempre esse recurso conforme comprova Carneiro (opcit) consegue proporcionar a

compreensatildeo mas sem duacutevida eacute ma estrateacutegia interessante para o professor de forma

consciente utilizar em suas explicaccedilotildees

Apoacutes esse trabalho de cunho coletivo elaboramos com a participaccedilatildeo das professoras o

quadro abaixo (resultado de trecircs refacccedilotildees) no qual aleacutem de pensar nas implicaccedilotildees para o

ensino elas tambeacutem correlacionaram os elementos da teoria da atividade com alguns dos

elementos do contexto de produccedilatildeo

16

Elementos estruturais da Teoria da Atividade Implicaccedilotildees para o ensino da escrita

DESEJO Elemento afetivo que desencadeia a necessidade da

escrita eacute desencadeado tanto pelo processo de

mediaccedilatildeo do professor com o aluno como tambeacutem

pela motivaccedilatildeo exercida por exemplo para a

abertura de um novo projetoatividade de

escritaNatildeo s relaciona a nenhum dos elementos

previstos pelo contexto de produccedilatildeo jaacute que eacute de

ordem emocional

NECESSIDADE Envolve o uso especiacutefico da escrita numa

determinada situaccedilatildeo de produccedilatildeo para atender a

uma praacutetica social especiacutefica escrever para publicar

um livro de contos escrever para produzir uma

reivindicaccedilatildeo escrever para solicitar alguma coisa

escrever para participar de um concurso escrever

um cardaacutepio para uma festa etc

MOTIVO Envolve o sentido da escrita para a crianccedila de modo

a convencecirc-la a escrever por meio de atividades que

oportunizem correlacionar a escrita com as emoccedilotildees

da crianccedila e tambeacutem com seus provaacuteveis

interlocutores pois satildeo eles que vinculam sentido

agravequilo que a crianccedila escreve (BAKTHIN 2003)

Uma dessas atividades que podem vincular a escrita

ao motivo pode ser a divulgaccedilatildeo da produccedilatildeo final

ao puacuteblico por exemplo compor um fabulaacuterio para

ser divulgado numa amostra de livros da escola

produzir cartazes para divulgaccedilatildeo de festas na escola

e afixaacute-los em estabelecimentos comerciais elaborar

notiacutecias para o jornal da escola ou para a raacutedio da

escola produzir livros de histoacuterias infantis para

crianccedilas menores elaborar uma seccedilatildeo de

classificados divulgando serviccedilos prestados ou

produtos vendidos por familiares e amigos do bairro

etcEntendemos que o fato da divulgaccedilatildeo do olhar

do outro como afirmam BakthinVoloshinov (1992)

satildeo essenciais para instaurar uma escrita

significativa

FINALIDADE Envolve o objetivo especiacutefico da escrita na situaccedilatildeo

de interaccedilatildeo para quecirc escrever Para solicitar

alguma coisa para colocar a minha opiniatildeo para

17

contar uma anedota etcA finalidade ou o objetivo

da produccedilatildeo deve vir claramente expressa no

comando de escrita a ser entregue para o aluno

ACcedilAtildeO Envolve a definiccedilatildeo do gecircnero textual que a crianccedila

iraacute escrever um resumo uma notiacutecia uma carta do

leitor um anuacutencio de classificado um comentaacuterio

um conto de fadas etc

OPERACcedilOtildeES (modos de execuccedilatildeo de uma catildeo) Envolve uma seacuterie de tarefas anteriores aacute produccedilatildeo

escritaoral do gecircnero com vistas aacute apropriaccedilatildeo dos

elementos caracterizadores dos gecircneros (o tema a

estrutura composiconal e o estilo) e levando em

conta as fases da escrita planejamento revisatildeo e

reescrita

Quadro 4 Elementos da Teoria da Atividade e sua implicaccedilatildeo na escrita

O exerciacutecio acima evidenciou-nos que mesmo sem ainda terem a noccedilatildeo sobre as capacidades

de linguagem a serem desenvolvidas no quadro do ISD os professores por meio das

operaccedilotildees mentais que o exerciacutecio exigia (anaacutelise comparaccedilatildeo abstraccedilatildeo siacutentese

exemplificaccedilatildeo) conseguem fazer relaccedilotildees coerentes entre os elementos da Teoria da

Atividade com implicaccedilotildees para o ensino da escrita Por exemplo relacionam a necessidade

elemento desencadeador da atividade com a praacutetica social como elemento desencadeador da

atividade de produccedilatildeo que no quadro do ISD eacute o elemento que possibilita alavancar por

exemplo as sequecircncias didaacuteticas (cfDOLZ SCHNEUWLY 2004)

Tambeacutem associam de forma interessante o motivo com um dos elementos do contexto de

produccedilatildeo o interlocutor reforccedilando a importacircncia desse elemento como tambeacutem aspecto

motivacional no ato da escrita Da mesma forma o tema e seu tratamento exaustivo

(BAKTHIN 1992) eacute explorado na associaccedilatildeo entre esse elemento e a accedilatildeo na medida em que

ao definir um determinado gecircnero estaacute implicado aiacute a realizaccedilatildeo desse elemento bakthiniano

Por fim nas operaccedilotildees fica claro que os professores conseguiram perceber que para se

escrever um determinado gecircnero seraacute preciso decompocirc-lo em uma seacuterie de atividades nas

quais se mobilizaratildeo o tema a estrutura composicional e o estilo

Na sequumlecircncia apoacutes a discussatildeo do quadro e com o intuito de promover mais um evento para

reforccedilar o processo de internalizaccedilatildeo agora numa atividade praacutetica solicitamos que cada

duplatrio de professores elaborassem um planejamento de uma oficina de leituraproduccedilatildeo

textual (jaacute que nesse momento ainda desconheciam outros instrumentos proacuteprios do ISD

18

como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com

atividades de escrita

O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras

de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre

de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um

suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito

com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar

jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da

Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que

tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos

previstos em cada etapa

A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma

oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas

as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs

refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo

4ordf seacuteries 12 ha

SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR

DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola

NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da

escola

MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral

FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na

escola e em casa

ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de

humor)

2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais

da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha

Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar

o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e

definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim

19

de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as

seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para

quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social

2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura

ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a

organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos

e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio

anterior

1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras

MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a

importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar

tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto

1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que

envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido

com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e

trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido

1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em

grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na

escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira

contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade

anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os

interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma

lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira

escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4

quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos

das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -

elaboraccedilatildeo dos balotildees

2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar

ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a

releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com

mediaccedilatildeo do professora

2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)

apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o

tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as

formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo

Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais

O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro

momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de

operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no

20

interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo

(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-

problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)

No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo

finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do

contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o

reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro

elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar

um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de

humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as

crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees

estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo

Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993

DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos

que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo

para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio

Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na

visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia

coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a

reescrita

Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos

como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser

compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado

pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua

transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o

processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica

para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos

da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do

Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se

coerentes a essas bases teoacutericas

Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e

certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e

conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que

soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um

21

pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)

talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados

5Consideraccedilotildees finais

O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo

de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da

Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de

apropriaccedilatildeo

a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade

interna

b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do

sujeito para que se concretize

c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por

elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e

as operaccedilotildees

d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem

mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como

propulsores do desenvolvimento

e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito

d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a

definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc

Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores

sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer

um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa

instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o

desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as

praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um

pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do

curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em

torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais

22

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Page 3: In: Anais.. V SIGET – Simpósio Internacional de Estudos de ... · Na perspectiva vygotskiana, portanto, a atividade do indivíduo sobre o objeto não é direta, ... por exemplo,

3

propoacutesito Este artigo estaacute dividido em quatro partes a) apresentaccedilatildeo dos pressupostos da

teoria Histoacuterico-Cultual especialmente no que diz respeito ao processo de apropriaccedilatildeo dos

mediadores culturais jaacute que ela eacute a base da teoria da atividade de Leontiev b) apresentaccedilatildeo

dos pressupostos da Teoria da Atividade c) Ilustraccedilatildeo do processo de apropriaccedilatildeo por meio da

anaacutelise de uma atividade teoacuterica e um planejamento de uma oficina do gecircnero tira de humor

jornaliacutestica d) conclusotildees finais

2 A abordagem Histoacuterico-Cultural e a formaccedilatildeo de conceitos

Vygotsky muito embora natildeo tenha preocupaccedilotildees concernentes ao ensino da escrita trouxe

importantes contribuiccedilotildees para a educaccedilatildeo e eacute considerado o fundador da Teoria Histoacuterico-

Cultural (corrente epistemoloacutegica que serve de base para a teoria da atividade de Leontiev) a

qual recebe esse nome por reforccedilar o papel da atividade soacutecio-histoacuterica e coletiva na formaccedilatildeo

das funccedilotildees mentais superiores dentre elas a escrita

Uma das teses fundantes do trabalho de Vygotsky (1979 1988 2001) eacute o caraacuteter social e

histoacuterico dos chamados Processo Psicoloacutegicos SuperioresPPS (como a atenccedilatildeo a memoacuteria a

vontade a escrita dentre outros) mediados por instrumentos dentre os quais os instrumentos

materiaisfiacutesicos e os signos assumem papeacuteis determinantes para o desenvolvimento psiacutequico

Na perspectiva vygotskiana portanto a atividade do indiviacuteduo sobre o objeto natildeo eacute direta

mas eacute uma atividade mediada por instrumentos

Sendo objetos sociais os instrumentos carregam consigo a cultura material as operaccedilotildees de

trabalho historicamente ali elaboradas o que implica na visatildeo de Leontiev (2004) natildeo apenas

no uso do instrumento mas da apropriaccedilatildeo de suas operaccedilotildees mentais e fiacutesicas ambas

promotoras do desenvolvimento humano

Enquanto signos os instrumentos simboacutelicos agem como reguladores da atividade

psicoloacutegica similarmente ao papel de um instrumento material de trabalho e formam o

conteuacutedo da atividade mental do homem sobre o mundo (controlam as accedilotildees internas e

psicoloacutegicas) jaacute os instrumentos materiais auxiliam o sujeito em accedilotildees concretas Ambos satildeo

denominados por Vygotsky de mediadores culturais (VYGOTSKY 19791988 2000 2001)

Satildeo os instrumentos mediadores que aleacutem de possibilitar o desenvolvimento dos PPS

auxiliam no processo de internalizaccedilatildeo de um determinado conhecimento pela crianccedilaaluno

Vygotsky (1988 p 63) denomina de internalizaccedilatildeo a ldquoreconstruccedilatildeo interna de uma operaccedilatildeo

externardquo em um processo que caminha de fora para dentro do social para o individual

4

Um processo interpessoal eacute transformado num processo intrapessoal Todas as funccedilotildees no desenvolvimento da crianccedila aparecem duas vezes primeiro no niacutevel social e depois no niacutevel individual primeiro entre pessoas (interpsicoloacutegica) e depois no interior da crianccedila (intrapsicoloacutegica) (VYGOTSKY 1988 p 64)

A internalizaccedilatildeo nesse sentido envolve

(a) a reconstruccedilatildeo de uma operaccedilatildeo que se inicia do mundo externo para o interno

(b) a passagem do processo interpessoal para o intrapessoal que sugere a organizaccedilatildeo interior

dessa reconstruccedilatildeo pelo sujeito

(c) a transformaccedilatildeo de processos interpessoais para intrapessoais

Para que este uacuteltimo aspecto ocorra Vygotsky (op cit p64) ressalta que seraacute necessaacuterio uma

ldquolonga seacuteries de eventos ocorridos ao longo do desenvolvimentordquo Isso quer dizer que quando

pensamos no processo de apropriaccedilatildeo de um conhecimento que eacute novo temos que levar em

conta a necessidade de um tempo para amadurecer na qual a atividade psicoloacutegica do sujeito

vai sendo ressignificada reconstruiacuteda por meio do uso de novos instrumentos novos eventos

e tambeacutem por meio de tensotildees e de reformulaccedilotildees mentais que lhe satildeo inerentes Assim o

caminho da internalizaccedilatildeo para Vygotsky seguiria trecircs fases

Reconstruccedilatildeo interna de uma operaccedilatildeo externa

Reorganizaccedilatildeo interna pelo sujeito

Transformaccedilatildeo dessa reorganizaccedilatildeo pelo sujeito

Quadro 1 Fases do processo de internalizaccedilatildeo (VYGOTSKY 1988)

Para que a internalizaccedilatildeo efetivamente se realize o processo de mediaccedilatildeo precisa ser

compreendido Para tanto eacute necessaacuterio que nos debrucemos um pouco mais sobre a extensatildeo

desse conceito jaacute que tem sido comum que grande parte dos professores entendam a

mediaccedilatildeo apenas como sinocircnimo de ajuda aos alunos nas atividades escolares por pessoas

mais experientes Todavia embora natildeo descaracterize totalmente esses aspectos focados

apenas em questotildees interpessoais na perspectiva da Teoria Histoacuterico-Cultural o conceito de

mediaccedilatildeo vai mais aleacutem

Sforni (2008) esclarece que essas visotildees senso comum do termo esquecem de um dos

principais elementos da escola de Vygotsky - o conhecimento

De fato agraves interaccedilotildees sociais eacute dado lugar de destaque na escola de Vygotsky mas o

seu valor no contexto escolar natildeo estaacute restrito agrave relaccedilatildeo sujeito-sujeito mas no

5

objeto que se presentifica nessa relaccedilatildeo ndash o conhecimento Em outras palavras eacute

somente na relaccedilatildeo entre sujeito-conhecimento-sujeito que a mediaccedilatildeo se torna um

conceito fundamental ao desenvolvimento humano

Assim eacute na apropriaccedilatildeo dos mediadores culturais possibilitada principalmente pelos

conteuacutedos e conhecimentos cientiacuteficos objetivados pelas geraccedilotildees precedentes eacute que torna

possiacutevel o desenvolvimento do sujeito (LEONTIEV 2004 VYGOSTSKY 2001) Para

Vygotsky (2000p 290) ldquoa tomada de consciecircncia passa pelos portotildees do conhecimento

cientiacuteficordquo e por isso mesmo o conhecimento nessa perspectiva eacute uma produccedilatildeo que emerge

apenas em situaccedilotildees de ensino devidamente planejadas Nem todo ensino nessa visatildeo gera

desenvolvimento mas sim o ldquobom ensinordquo aquele que inserido em uma ldquocorreta organizaccedilatildeo

da aprendizagem da crianccedila conduz ao desenvolvimento mentalrdquo (VYGOTSKY 1991 p15)

Se pensarmos nos pressupostos da teoria Histoacuterico-Cultural entendemos que o ensino

promotor do desenvolvimento depende do quecirc se adquire (conhecimento cientiacutefico) e como se

adquire (processo de ensino e de apropriaccedilatildeo pelo aluno) Os conceitos cientiacuteficos seriam

assim instrumentos do pensamento e a apropriaccedilatildeo a condiccedilatildeo para a sua formaccedilatildeo

Para o psicoacutelogo russo o conceito eacute um ato real e complexo de pensamento que natildeo pode ser

apreendido por simples ldquomemorizaccedilatildeordquo(VYGOTSKY 2000) Exatamente por isso ele nos

adverte que os conceitos natildeo devem ser apreendidos pela crianccedilaaluno de forma pronta e

direta tal como a escola comumente realiza pois dessa maneira traduzem-se em pedagogias

esteacutereis em outras palavras ldquoo ensino direto de conceitos sempre se mostra impossiacutevel e

pedagogicamente esteacuterilrdquo(opcitp247) porque os conceitos cientiacuteficos para serem

internalizados e natildeo memorizados de forma mecaniscista soacute se constituem por meio de uma

imensa tensatildeo entre o objeto e a atividade na qual ele se insere

A aprendizagem de conceitos tanto para Vygotsky (2000) como para Leontiev (2004) natildeo se

resume agrave mera definiccedilatildeo e apresentaccedilatildeo das caracteriacutesticas essenciais dos objetos como

normalmente eacute realizada em sala de aula Analogamente ao pensarmos na questatildeo do gecircneros

como objeto de ensino tal como preconiza os Paracircmetros Curriculares Nacionais (BRASIL

1998) um ldquobomrdquo ensino natildeo se resumiria a apresentar por exemplo o gecircnero carta do leitor e

expor sistematicamente as suas caracteriacutesticas para os alunos e muito menos a gramaticalizaacute-

lo

Usando dessa metodologia de caraacuteter transmissiva e geneacuterica a aprendizagem de conceitos

que eacute intriacutenseca aos mais diversos objetos de ensino a exemplo dos gecircneros textuais natildeo

envolve o domiacutenio de meacutetodos e formas gerais da atividade mental que segundo Davydov

6

(1982 1988) satildeo o grande legado da Teoria da Atividade ou seja o desenvolvimento de

conceitos soacute eacute produtivo quando coloca a crianccedilaaluno em atividade mentalA apropriaccedilatildeo

portanto soacute ocorre dentre desse movimento

Davydov (1982) esclarece que em determinadas situaccedilotildees a comparaccedilatildeo dos atributos

externos de um determinado fenocircmeno pode ateacute ser suficiente para resolver alguns problemas

praacuteticos poreacutem quase sempre natildeo datildeo conta de revelar aspectos de sua profundeza de suas

relaccedilotildees internas Exatamente por isso a grande operaccedilatildeo mental realizada por

estudantesprofessores no trato com o conhecimento empiacuterico se resume na comparaccedilatildeo que

daacute conta normalmente apenas do reconhecimento dos traccedilos gerais do objeto

Complementado essa ideacuteia Hedegaard (1996) baseando-se nos estudos de Vygotsky

descreve que o uso do pensamento empiacuterico eacute marcado por um percurso fixo e pelas seguintes

operaccedilotildees mentais

Observaccedilatildeo Comparaccedilatildeo Categorizaccedilatildeo Memorizaccedilatildeo

No processo de observaccedilatildeo o indiviacuteduo parte de uma situaccedilatildeo concreta Depois disso eacute confrontado

com pelos menos dois elementos que exigem que ele busque seus traccedilos semelhantes eou diferentes

para apreender as caracteriacutesticas mais gerais de um objeto e posteriormente memorizaacute-las Nesses

casos esclarece o autor natildeo haacute espaccedilo para que o alunoprofessor reflita sobra as causas e os

efeitos do conhecimento sobre os seus conflitos sobre sua origem o que colaboraria para a

adequada compreensatildeo do fenocircmeno e para a correta compreensatildeo do objeto Por isso mesmo

uma tarefa pautada apenas no conhecimento empiacuterico limita a aprendizagem e se reduz a

captar o que eacute aparente o que eacute externo e leva a crianccedilaaluno apenas a saber classificar

fenocircmenos nominalizaacute-los e dar suas caracteriacutesticas mais observaacuteveis (Davydov 1982)

Menchiskaia (1969) ao estudar a formaccedilatildeo e o desenvolvimento do pensamento esclarece

que a comparaccedilatildeo e a definiccedilatildeo satildeo processos mentais importantes para o aluno nos

processos iniciais de apropriaccedilatildeo do conhecimento pois a primeira tambeacutem inclui outros

processos mentais como a anaacutelise a generalizaccedilatildeo e a siacutentese A anaacutelise caracteriza-se como

decomposiccedilatildeo mental do todo em partes A generalizaccedilatildeo inclui a separaccedilatildeo mental do geral

nos objetos e fenocircmenos da realidade por isso a comparaccedilatildeo dos objetos e fenocircmenos acaba

sendo uma premissa do processo de generalizaccedilatildeo Jaacute a sistematizaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo dos

objetos e fenocircmenos inclui sua distribuiccedilatildeo mental em grupos e subgrupos segundo a

semelhanccedila e diferenccedila que existe entre eles Esses processos portanto satildeo interessantes para

7

que pensemos por exemplo em categorias de exerciacutecios para a transposiccedilatildeo didaacutetica dos

gecircneros textuais pois levam a crianccedila a atividades mentais diferenciadas

Para chegar agrave sistematizaccedilatildeo a crianccedilaaluno se depara com outro processo mental a

abstraccedilatildeo Menchiskaia (op cit) no entanto explica que quando o aluno generaliza sobre

objetos ou fenocircmenos separa o que eacute geral do particular acaba natildeo dando importacircncia para

outras qualidades que os diferenciam entre si tem somente em conta aquilo que destacou

como geral Esse processo eacute a abstraccedilatildeo Por exemplo uma crianccedila pode pensar sobre a cor

parecida de determinados objetos e desprezar suas formas e funccedilotildees Por isso o processo de

abstraccedilatildeo e de generalizaccedilatildeo estatildeo intimamente ligados Assim para que uma correta

compreensatildeo do fenocircmeno seja realizada eacute necessaacuterio juntar agrave comparaccedilatildeo outros processos

mentais como a compreensatildeo a definiccedilatildeo o estabelecimento de causas e efeitos a soluccedilatildeo de

problemas a formulaccedilatildeo de outros exemplos dentre de um mesmo sistema dentre outras

Completando essa discussatildeo Rubstov (1996) explica que o desenvolvimento do

conhecimento cientiacutefico (a) eacute elaborado por meio de uma anaacutelise do papel e da funccedilatildeo de

uma certa relaccedilatildeo entre as coisas no interior de um sistema (b) representa as relaccedilotildees entre as

propriedades dos objetos e suas ligaccedilotildees internas (c) estabelece relaccedilatildeo entre o geral e o

particular (d) concretiza-s por meio da transformaccedilatildeo do saber em uma teoria desenvolvida

por meio da deduccedilatildeo e uma explicaccedilatildeo das manifestaccedilotildees concretas do sistema (e) apresenta-

se por diferentes modos de atividade intelectual e de operaccedilotildees mentais (f) utiliza-se de

diferentes sistemas semioacuteticos

Para os autores da THC portanto o conhecimento sensorial ou espontacircneo eacute a origem

indispensaacutevel para a formulaccedilatildeo de conceitos (DAVYDOV 1982 VYGOTSKY 1988 2000

2001) no entanto seraacute preciso revelar a essecircncia desse objeto que historicamente se

reconstitui atraveacutes do estudo do seu real funcionamento por meio a diversificaccedilatildeo d diversas

operaccedilotildees mentais

A ideacuteia de real funcionamento pensando nos gecircneros textuais remete agrave ideacuteia de praacuteticas

sociais situadas Ou seja natildeo se ensina um gecircnero pelo gecircnero mas se ensina um gecircnero para

que o aluno se aproprie de uma determinada praacutetica social para que use aquele gecircnero dentro

de uma situaccedilatildeo especiacutefica de comunicaccedilatildeo (NASCIMENTO 2007 ROJO 2005 LOPES-

ROSSI 2002)

Isso eacute possiacutevel a partir de um ensino voltado para a apropriaccedilatildeo adequada do conhecimento

teoacuterico objetivado nesse objeto o qual oportuniza agrave crianccedilasujeito entrar em contato com

diferentes modos de atividade intelectual com diferentes sistemas semioacuteticos e operaccedilotildees

mentais para aleacutem de representaccedilotildees meramente sensoriaisAleacutem de envolver processos como

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a comparaccedilatildeo a anaacutelise a siacutentese a generalizaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de problema a

crianccedilasujeito ao estar inserida num ensino adequado voltado para a atividade toma

consciecircncia do real uso e valor do conceito aleacutem de conseguir mobilizaacute-lo em diferentes

tarefas (Davydov 1982) Exatamente por isso entender a noccedilatildeo de atividade eacute outro aspecto

para entendermos o processo de apropriaccedilatildeo

3 A contribuiccedilatildeo da teoria da atividade para o processo de apropriaccedilatildeo

A teoria da atividade (TA) desenvolvida por Leontiev e seguidores (Rubstein Luria e

Davydov) eacute considerada uma continuidade das ideacuteias de Vygotsky tido um dos precursores

da teoria psicoloacutegica da atividade Segundo Sforni (2004 p86)

As investigaccedilotildees de Leontiev voltaram-se para estudo da estrutura da

atividade externa e de seu viacutenculo com os processos psiacutequicos Seus estudos

revelaram que as atividades externa e interna tecircm estruturas idecircnticas e

mais que a atividade psiacutequica interna representa uma atividade material

externa transformada o que evidencia a unidade entra atividade e psiquismo

Ao comentar o processo de evoluccedilatildeo do homem Leontiev (2004) destaca que as

caracteriacutesticas humanas satildeo desenvolvidas pela apropriaccedilatildeo da cultura material e intelectual

transmitida de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo Isso quer dizer que natildeo nos relacionamos diretamente com o

mundo mas temos uma relaccedilatildeo que eacute mediada pelo conhecimento objetivado pelas geraccedilatildeo

que nos antecederam por intermeacutedio dos instrumentos simboacutelicos (signos) que proporcionam

nosso desenvolvimento mental O processo de mediaccedilatildeo portanto nessa concepccedilatildeo eacute um

meio de chegarmos agrave apropriaccedilatildeo dos mediadores culturais entendidos aqui tambeacutem como os

conhecimentos cientiacuteficos objetivados nos mais diversos instrumentos

Por intermeacutedio desses mediadores eacute que podemos pensar em desenvolvimento do psiquismo

da crianccedila (e tambeacutem do adulto) Ao se apropriar da linguagem enquanto mediadora cultural e

de outras ferramentas a princiacutepio fiacutesicas (como objetos o jogo o brinquedo) a crianccedila aos

poucos incorpora todo o desenvolvimento intelectual objetivado nesses elementos

(VYGOTSKY 1981 p 137)

Quando chega ao processo de escolarizaccedilatildeo novas ferramentas satildeo apresentadas para as

crianccedilas Se pensarmos no ensino da escrita nas seacuteries iniciais quais satildeo os textos que tecircm

ainda predominado Que tipo de instrumentos elas tecircm agrave disposiccedilatildeo para o desenvolvimento

9

da escrita A resposta eacute simples e velha conhecida no campo educacional as modalidades

retoacutericas (descriccedilatildeo dissertaccedilatildeo e principalmente a narraccedilatildeo) prevalecem como possiacuteveis

instrumentos de desenvolvimentos da escrita

Mas se nos voltarmos para a teoria Histoacuterico-Cultural e pensarmos em termos de cultura

material de heranccedila intelectual entendemos que as atividades humanas se desenvolveram por

meio da linguagem Ora essas atividades foram se multiplicando e se diversificando em cada

esfera da comunicaccedilatildeo humana (no cotidiano na literatura na religiatildeo no comeacutercio e mais

recentemente na miacutedia dentre outras) Em cada uma dessas esferas a comunicaccedilatildeo entre os

parceiros da interaccedilatildeo constituiu diferentes praacuteticas sociais que se materializaram e se

materializam ininterruptamente por meio dos gecircneros textuais (BAKTHIN 2003)

Essa organizaccedilatildeo das sociedades por praacuteticas sociais eacute diferente em cada eacutepoca histoacuterica em

cada lugar em cada cultura Por isso mesmo essas praacuteticas modificam-se outras se extinguem

e algumas novas surgem Os gecircneros textuais nesse sentido satildeo materializaccedilotildees de uma

determinada praacutetica social que por sua vez eacute dinacircmica e histoacuterica Veja-se por exemplo a

praacutetica social ldquomandar um recadordquoDependendo dos parceiros da interaccedilatildeo e da esfera de

circulaccedilatildeo poderiacuteamos fazer isso utilizando diferentes gecircneros por um bilhete (se fosse da

esfera familiar) por uma carta formal (esfera institucional) por um e-mail (esfera comercial)

Por isso mesmo entendemos que na medida em que os professores trabalham de forma

predominante com os textos narrativos ou as modalidades retoacutericas aleacutem de natildeo levarem em

conta todo esse legado intelectual produzido pela humanidade natildeo conseguem promover o

letramento dessa crianccedila no futuro (cf DIONIacuteSIO 2005) ou os multiletramentos os

letramentos multissemioacuteticos e os letramentos multimeios1 (cf ROJO 2007)

Por essas razotildees (e outras) eacute que os documentos oficiais como os Paracircmetros Curriculares

Nacionais (BRASIL 1998) tecircm insistido o trabalho com os diferentes gecircneros textuais

Poreacutem natildeo devemos nos seduzir apenas pelas prescriccedilotildees ou por modismos Pelo que jaacute

expusemostodo trabalho com um determinado objeto teoacuterico (seja o gecircnero ou outro) exige

conhecimento cientiacutefico do professor acerca do funcionamento dos gecircneros em suas mais

variadas esferas de circulaccedilatildeo sem o qual ele natildeo conseguiraacute promover na crianccedila nem a

apropriaccedilatildeo do gecircnero e nem o desenvolvimento da escrita

1 Os primeiros (multiletramentos) se referem ao trabalho com as muacuteltiplas esferas sociais nas quais os gecircneros se inscrevem tais como a jornaliacutestica a religiosa a juriacutedica a poliacutetica e natildeo apenas a literaacuteria como tem sido frequumlente na escola Os segundos (letramentos multissemioacuteticos) requerem que a escola trabalhe natildeo apenas com a linguagem verbal mas tambeacutem com a linguagem sonora imageacutetica visual musical jaacute que a TV a Internet satildeo veiacuteculos repletos de textos que se utilizam dessas formas de expressatildeoNo que concerne aos letramentos multimeios a autora considera aqueles gerados pelo contato com os mais diversos suportes de informaccedilatildeo que a sociedade disponibiliza entendidos como a TV o raacutedio o cinema a Internet o jornal impresso etc

10

Como vimos na seccedilatildeo anterior o processo de apropriaccedilatildeo implica em se colocar o sujeito

dentro de uma atividade conceito esse retomado pelo ISD mas cuja origem se daacute de forma

mais destacada na obra de Leontiev (20012004) No niacutevel individual a atividade eacute entendida

como uma forma de agir do sujeito direcionada a um objetoNo plano coletivo a atividade

define-se como

() aqueles processos que realizando as relaccedilotildees do homem como o mundo

satisfazem uma necessidade especial correspondente a ela () Por atividade

designamos os processos psicologicamente caracterizados por aquilo que o processa

como um todo se dirige (isto eacute objeto) coincidindo sempre com o objetivo que

estimula o sujeito a executar essa atividade isto eacute o motivo (LEONTIEV 2001

p315)

As atividades humanas para Leontiev (2004) satildeo consideradas como formadoras das relaccedilotildees

do sujeito com o mundo dirigidas por motivos por fins a serem alcanccedilados A ideacuteia de

atividade envolve entatildeo a noccedilatildeo de que o homem orienta-se por objetivos agindo de forma

intencional por accedilotildees planejadas

O autor daacute relevacircncia inicialmente agrave atividade coletiva em conjunto na medida em que o

ambiente sociocultural pode desencadear motivos para a realizaccedilatildeo de novas accedilotildees do sujeito

que por sua vez exigiratildeo novas operaccedilotildees as quais desenvolveratildeo os processos psiacutequicos

superioresOs componentes desse movimento da atividade propostos por Leontiev (2001) satildeo

necessidade- motivo- finalidade- condiccedilotildees para se obter a finalidade

Dentro dessa concepccedilatildeo a atividade eacute formada pela seguinte estrutura geral

Necessidade Motivo Objetivos Condiccedilotildees

Atividade

Accedilotildees Operaccedilotildees

Quadro 2 Estrutura geral da atividade adaptada de Leontiev (2001 2004)

A necessidade eacute o fator que desencadeia a atividade eacute ela que motiva o sujeito concretamente

a ter objetivos e realizar as accedilotildees (SFORNI 2004) Ela eacute um componente tatildeo importante que

Sforni (p97) acrescenta ldquonem todo processo eacute uma atividade mas somente aquele que eacute

movido por uma necessidaderdquoObviamente ao pensarmos no ensino da escrita devemos levar

em conta que a necessidade eacute um componente importante

11

E o que leva uma crianccedila a produzir um texto Certamente natildeo deveria ser o fato de cumprir

uma tarefa ou preencher o tempo da sala mas a necessidade da crianccedila escrever vincula-se ao

motivo a uma relaccedilatildeo com esse objeto que vai aleacutem da razatildeo envolvendo aspectos tambeacutem

de ordem afetiva Se ela natildeo vecirc sentido naquilo que realiza logo natildeo torna consciente o que

escreve e faz e se natildeo tem consciecircncia sobre as accedilotildees que realiza natildeo eacute possiacutevel qualificaacute-las

de atividade mas apenas de uma tarefa de uma obrigaccedilatildeo escolarO motivo eacute justamente o

componente mais afetivo da teoria da afetividade Vincula-se agraves emoccedilotildees do sujeito e

relaciona-se ao sentido da atividade

A finalidade tem a ver com aquilo que se pretende de forma mais particular naquela atividade

poderiacuteamos associaacute-la ao objetivo Para a realizaccedilatildeo desse objetivo seratildeo necessaacuterias as

condiccedilotildees os meios para alcanccedilaacute-lo por intermeacutedio das accedilotildees e das operaccedilotildeesA accedilatildeo eacute o

processo cuja o motivo natildeo coincide com seu objeto mas pertence aacute atividade

Leontiev (2004) ilustra essa afirmaccedilatildeo ao explicar que a atividade de ler um livro para apenas

passar numa prova natildeo eacute uma atividade mas uma accedilatildeo porque ler o livro por ler natildeo eacute um

objetivo forte que estimula a accedilatildeo do sujeito Poreacutem a accedilatildeo pode se transformar em atividade

quando passa a ter um motivo para o sujeito No exemplo dado se o aluno comeccedila a ler e a

leitura acaba por envolvecirc-lo por alguma razatildeo o motivo da atividade desloca-se

transformando-se a accedilatildeo em uma atividade

Uma accedilatildeo pode ser realizada de diferentes maneiras designadas por Leontiev de operaccedilotildees

as quais consistem no modo de execuccedilatildeo de uma determinada tarefa que pode ser variadoAs

operaccedilotildees particularizam um determinado objeto e revelam suas partes intriacutensecas daiacute serem

elementos fundamentais para a apropriaccedilatildeo As accedilotildees realizadas por indiviacuteduo no interior de

uma atividade transformam-se em operaccedilotildees e estas mais tarde em haacutebitos e habilidades

Quando isso ocorre saem da esfera dos processo conscientes e passam a ocupar um lugar

inferior na estrutura da atividade

Todavia ocupar lsquoum lugar inferiorrsquo natildeo significa simplificar o estatuto da operaccedilatildeo ao

contraacuterio significa afirmar que houve um processo de apropriaccedilatildeo que agora torna-se

consciente e que em tornando-se consciente deixa livre o pensamento para se incumbir de

novas accedilotildees e novas operaccedilotildees agora de caraacuteter mais elevadoA ideacuteia eacute que uma atividade

coloca a crianccedila em determinada accedilatildeo que por sua vez lhe exige operaccedilotildees para executaacute-la

Ao apropriar-se dessas operaccedilotildees a crianccedila deve ser exposta a novas accedilotildees e

consequentemente a novas operaccedilotildees de caraacuteter mais elevado a fim de que seus processos

mentais estejam em constante desenvolvimento conforme ilustra o quadro abaixo

12

xxx

Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa

Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa

Atividade Accedilatildeo Operaccedilatildeo

Quadro 3 Movimento da aprendizagem na Teoria da Atividade com base em Sforni (2004)

Esse movimento revela para Leontiev o processo ininterrupto de desenvolvimento do sujeito

Para Sforni (2004 p104) esse processo revela o momento da aprendizagem poreacutem natildeo eacute

natural precisa ser mediado por algueacutem mais experiente o que reforccedila a ideacuteia de que a

mediaccedilatildeo tal como jaacute sublinhamos nos estudos vygtskianos eacute outro compontente

fundamental do processo de apropriaccedilatildeo

Todo esse contexto nos leva a pensar novamente sobre a repeticcedilatildeo sistemaacutetica de 1ordf a 4ordf

seacuterie da escrita de narrativas escolaresSe pela teoria da atividade a crianccedila precisa estar

exposta a novas accedilotildees e a novas operaccedilotildees quais conteuacutedos satildeo avanccedilados de seacuterie para

seacuterie se existe a repeticcedilatildeo sistemaacutetica principalmente da narrativa escolar baseada no

modelo aristoteacutelico Se percebemos que as crianccedilas jaacute dominam esse gecircnero escolar por que

natildeo avanccedilar com novos gecircneros ou em ficando nesse gecircnero com novas operaccedilotildees que

mobilizaratildeo novos conteuacutedos Por exemplo em se pensando em gecircneros que se utilizam da

sequumlecircncia narrativa como predominante por que natildeo trabalhar com narrativas de enigmas ou

narrativas de terror que traratildeo novas variaccedilotildees e novos esquemas de organizaccedilatildeo para serem

apropriados pelas crianccedilas

Completando o quadro teoacuterico da TA Davydov (1998) concorda com Leontiev que a

estrutura da atividade seja composta de necessidades tarefas accedilotildees e operaccedilotildees poreacutem

acrescenta um novo componente ndash o desejo ndashjaacute que para ele as emoccedilotildees satildeo inseparaacuteveis da

necessidade (a emoccedilatildeo seria a base para todas as tarefas que o homem se propotildee a fazer) eacute o

desejo que provoca uma necessidade entatildeo a funccedilatildeo do professor seria a de pensar em como

criar desejos para a aprendizagem para que estes provoquem uma necessidade e iniciem o

processo de atividade

Para Libacircneo (2004) esse novo componente deixa claro no campo edcacional ao viacutenculo

entre afetividade e cogniccedilatildeo As atividades humans estatildeo para o autor impregnadas de

13

sentido subjetivo as quais propuosionam nosso agir tanto pensando na esfera escolar como

na esfera do nosso cotidiano Nesse sentido precisamos levar em conta que o processode

apropriaccedilatildeo depende tambeacutem de aspectos afetivos (cf DAVYDOV 1998)

A questatildeo do desejo pode ser comparada agrave questatildeo da voliccedilatildeo discutida por Vygotsky

(2001)Como vimos na seccedilatildeo anterior a relaccedilatildeo do sujeito com o objeto eacute uma relaccedilatildeo

mediada pelo outro atraveacutes da linguagem (e das ferramentas) Para Vygotsky (19882001) eacute a

linguagem que possibilita a constituiccedilatildeo do pensamento da consciecircncia da vontade isto eacute

das funccedilotildees psicoloacutegicas superiores Nesse sentido soacute tomamos consciecircncia individual a

partir primeiro das interaccedilotildees sociais ou da relaccedilatildeo com o outro Normalmente no caso da

crianccedila esse outro eacute algueacutem afetivamente proacutexima a ela Eacute o aspecto emocional envolvido

nessa relaccedilatildeo que motiva e impulsiona a crianccedila a agir Nesse sentido temos que a vontade eacute

uma funccedilatildeo psicoloacutegica superior e a sua construccedilatildeo depende de uma atividade que eacute portanto

de natureza social

Todas essas categorias na perspectiva da Teoria da Atividade implicam que se coloque a

crianccedila em uma trabalho inicialmente coletivo para posteriormente ser individual o que

remete agrave importacircncia de se desenvolver na sala de aula aleacutem das produccedilotildees individuais as

produccedilotildees coletivas De qualquer modo mesmo natildeo sendo um campo epistemoloacutegico voltado

para os gecircneros textuais eacute possiacutevel percebermos as razotildees de Bronckart (2003 2006) ter

utilizado dessa fonte no Interacionismo Sociodiscursivo jaacute que as noccedilotildees de atividade e da

accedilatildeo natildeo soacute regulam os objetivos dos indiviacuteduos nas diversas interaccedilotildees sociais como

tambeacutem satildeo importantes elementos para pensarmos em como gerar um conhecimento que seja

significativo e dessa forma seja apreendido pela crianccedilaaluno

4 Ilustrando o trabalho com a formaccedilatildeo de professores de seacuteries iniciais

As duas atividades que seratildeo aqui delineadas decorreram de trecircs de um total de seis etapas de

um curso de formaccedilatildeo envolvendo o tema gecircneros textuais e ensino ministrado para 15

professores de uma escola da rede puacuteblica do noroeste do Paranaacute por duas professoras

formadoras (das quais fizemos parte) e estagiaacuterias do curso de Letras no segundo semestre de

2007 As trecircs etapas iniciais tiveram como toacutepicos (a) pressupostos baacutesicos da Abordagem

Histoacuterico-Social e da Teoria da Atividade b) pressupostos gerais sobre gecircneros textuais a

partir de Bakthin e o Interacionismo Social dentre os quais foram destacados os aspectos

caracterizadores do gecircnero o tema a estrutura composicional e o estilo (BAKTHIN 1992) c)

contexto de produccedilatildeo no ISD (as capacidades de linguagem o instrumento sequumlecircncia didaacutetica

14

ficaram para outras sessotildees) d) transposiccedilatildeo dessas teorias para o ensino da escrita e)

planejamento de aulasoficinasPor questotildees de delimitaccedilatildeo enfocaremos neste artigo apenas

as subetapas ldquo drdquo e ldquoerdquo

As subetapas assinaladas envolveram duas atividades para os professores uma de cunho

teoacuterico e outra de cunho praacutetico A atividade de cunho teoacuterico ocorreu apoacutes as discussotildees

teoacutericas e foi apresentada da seguinte maneira

Em grupo elabore um quadro no qual vocecirc correlacione as categorias da Teoria da Atividade

aos elementos do contexto de produccedilatildeo vistos em Bakthin (1992) e em Bronckart (2003)

Embora no processo inicial de escolarizaccedilatildeo a comparaccedilatildeo como vimos eacute uma operaccedilatildeo

mental que pode caracterizar o pensamento empiacuterico aqui neste exerciacutecio ela natildeo eacute suficiente

Para que os professores realizassem a atividade precisariam entender primeiro cada uma das

teorias seus elementos para depois confrontaacute-los Isso exigiu que utilizassem diversas

operaccedilotildees mentais ressaltadas por Menchiskaia (1969) como a anaacutelise a abstraccedilatildeo a siacutentese

a comparaccedilatildeo a sistematizaccedilatildeo a definiccedilatildeo e a compreensatildeo necessaacuterias ao processo de

apropriaccedilatildeo

Aleacutem disso para a realizaccedilatildeo desse exerciacutecio procuramos respeitar os elementos proacuteprios da

Teoria da Atividade os professores que estavam no curso de formaccedilatildeo solicitaram o curso

portanto partiram de uma necessidade para ali estarem Aleacutem disso tinham um motivo e uma

finalidade queriam buscar informaccedilotildees sobre a transposiccedilatildeo dos gecircneros textuais para

otimizarem o trabalho com as crianccedilas na sala de aula Sabiam que para alcanccedilar esse

propoacutesito teriam que realizar atividades de forma conjunta compostas de accedilotildees e operaccedilotildees

como essa da elaboraccedilatildeo do quadro o planejamento de uma oficina dentre outras que natildeo nos

interessam nesse momento

Eacute preciso tambeacutem esclarecer que o quadro que seraacute apresentado a seguir foi o resultado final

de um trabalho coletivo e mediado pelas formadoras Para chegarmos a sua versatildeo final

foram necessaacuterias trecircs refacccedilotildees numa clara demonstraccedilatildeo de que o processo de

internalizaccedilatildeo como assevera Vygotsky (1988) depende de uma longa seacuterie de eventos

Assim muito provavelmente esse momento representa apenas um dos eventos que os

professores tiveram para iniciar esse processo mas que para que ele se consolide necessitaratildeo

de outros

15

Ressaltamos que todas as operaccedilotildees mentais anteriormente colocadas no referencial teoacuterico

para o desenvolvimento e apropriaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico dependem para que se

coloque o sujeito em atividade dos processos de mediaccedilatildeo tambeacutem realizados pelo professor

(VYGOTSKY 2000 SFORNI 2004) No nosso caso um dos recursos que utilizamos para

conduzir o processo de apropriaccedilatildeo e que se mostrou bastante produtivo em nossas

intervenccedilotildees foi a devoluccedilatildeo de uma nova pergunta apoacutes uma duacutevida estabelecida pelos

professores Como no momento das discussotildees utilizamos o gecircnero exposiccedilatildeo oral buscamos

nessa estrateacutegia comentada por Carneiro (2009) como uma das quais o professor pode se

utilizar para provocar a reflexatildeo e por efeito a possiacutevel compreensatildeo como ilustra o exemplo

abaixo

Professora ()entatildeo o desejo me parece ser tambeacutem a atividade natildeo eacute

Formadora veja pense num exemplo se jaacute almocei mas de repente vejo numa

vitrine um delicioso doce teria um desejo ou uma necessidade por ele

Professora uhm pera aiacute eu natildeo tenho necessidade de come porque jaacute estou

satisfeita mas tenho desejo neacute o desejo eacute mais emocional eacute mais voltado ao prazer

e a necessidade eacute aquilo que eacute necessaacuterio fazerparece mais racional()

Formadora isso agora pense nessa analogia para o campo da escrita

Profesora taacute o desejo tem a ver com o sentimentoa questatildeo dos sentimentos da

crianccedila neacute a gente tem que criar um viacutenculo afetivo entre ela e atividade que vamos

dar e a necessidade eacute taacute mais na razatildeo acho que tem a ver com aquela questatildeo que

discutimos com as praacuteticas sociais que satildeo as necessidades reais que temos de nos

comunicar()

Percebemos que ao devolver a duacutevida em forma de pergunta acrescida com um exemplo de

senso comum a professora formadora provoca uma reflexatildeo na professora participante e

como efeito gera-se o entendimento do conceito antes motivo de duacutevida Claro estaacute que nem

sempre esse recurso conforme comprova Carneiro (opcit) consegue proporcionar a

compreensatildeo mas sem duacutevida eacute ma estrateacutegia interessante para o professor de forma

consciente utilizar em suas explicaccedilotildees

Apoacutes esse trabalho de cunho coletivo elaboramos com a participaccedilatildeo das professoras o

quadro abaixo (resultado de trecircs refacccedilotildees) no qual aleacutem de pensar nas implicaccedilotildees para o

ensino elas tambeacutem correlacionaram os elementos da teoria da atividade com alguns dos

elementos do contexto de produccedilatildeo

16

Elementos estruturais da Teoria da Atividade Implicaccedilotildees para o ensino da escrita

DESEJO Elemento afetivo que desencadeia a necessidade da

escrita eacute desencadeado tanto pelo processo de

mediaccedilatildeo do professor com o aluno como tambeacutem

pela motivaccedilatildeo exercida por exemplo para a

abertura de um novo projetoatividade de

escritaNatildeo s relaciona a nenhum dos elementos

previstos pelo contexto de produccedilatildeo jaacute que eacute de

ordem emocional

NECESSIDADE Envolve o uso especiacutefico da escrita numa

determinada situaccedilatildeo de produccedilatildeo para atender a

uma praacutetica social especiacutefica escrever para publicar

um livro de contos escrever para produzir uma

reivindicaccedilatildeo escrever para solicitar alguma coisa

escrever para participar de um concurso escrever

um cardaacutepio para uma festa etc

MOTIVO Envolve o sentido da escrita para a crianccedila de modo

a convencecirc-la a escrever por meio de atividades que

oportunizem correlacionar a escrita com as emoccedilotildees

da crianccedila e tambeacutem com seus provaacuteveis

interlocutores pois satildeo eles que vinculam sentido

agravequilo que a crianccedila escreve (BAKTHIN 2003)

Uma dessas atividades que podem vincular a escrita

ao motivo pode ser a divulgaccedilatildeo da produccedilatildeo final

ao puacuteblico por exemplo compor um fabulaacuterio para

ser divulgado numa amostra de livros da escola

produzir cartazes para divulgaccedilatildeo de festas na escola

e afixaacute-los em estabelecimentos comerciais elaborar

notiacutecias para o jornal da escola ou para a raacutedio da

escola produzir livros de histoacuterias infantis para

crianccedilas menores elaborar uma seccedilatildeo de

classificados divulgando serviccedilos prestados ou

produtos vendidos por familiares e amigos do bairro

etcEntendemos que o fato da divulgaccedilatildeo do olhar

do outro como afirmam BakthinVoloshinov (1992)

satildeo essenciais para instaurar uma escrita

significativa

FINALIDADE Envolve o objetivo especiacutefico da escrita na situaccedilatildeo

de interaccedilatildeo para quecirc escrever Para solicitar

alguma coisa para colocar a minha opiniatildeo para

17

contar uma anedota etcA finalidade ou o objetivo

da produccedilatildeo deve vir claramente expressa no

comando de escrita a ser entregue para o aluno

ACcedilAtildeO Envolve a definiccedilatildeo do gecircnero textual que a crianccedila

iraacute escrever um resumo uma notiacutecia uma carta do

leitor um anuacutencio de classificado um comentaacuterio

um conto de fadas etc

OPERACcedilOtildeES (modos de execuccedilatildeo de uma catildeo) Envolve uma seacuterie de tarefas anteriores aacute produccedilatildeo

escritaoral do gecircnero com vistas aacute apropriaccedilatildeo dos

elementos caracterizadores dos gecircneros (o tema a

estrutura composiconal e o estilo) e levando em

conta as fases da escrita planejamento revisatildeo e

reescrita

Quadro 4 Elementos da Teoria da Atividade e sua implicaccedilatildeo na escrita

O exerciacutecio acima evidenciou-nos que mesmo sem ainda terem a noccedilatildeo sobre as capacidades

de linguagem a serem desenvolvidas no quadro do ISD os professores por meio das

operaccedilotildees mentais que o exerciacutecio exigia (anaacutelise comparaccedilatildeo abstraccedilatildeo siacutentese

exemplificaccedilatildeo) conseguem fazer relaccedilotildees coerentes entre os elementos da Teoria da

Atividade com implicaccedilotildees para o ensino da escrita Por exemplo relacionam a necessidade

elemento desencadeador da atividade com a praacutetica social como elemento desencadeador da

atividade de produccedilatildeo que no quadro do ISD eacute o elemento que possibilita alavancar por

exemplo as sequecircncias didaacuteticas (cfDOLZ SCHNEUWLY 2004)

Tambeacutem associam de forma interessante o motivo com um dos elementos do contexto de

produccedilatildeo o interlocutor reforccedilando a importacircncia desse elemento como tambeacutem aspecto

motivacional no ato da escrita Da mesma forma o tema e seu tratamento exaustivo

(BAKTHIN 1992) eacute explorado na associaccedilatildeo entre esse elemento e a accedilatildeo na medida em que

ao definir um determinado gecircnero estaacute implicado aiacute a realizaccedilatildeo desse elemento bakthiniano

Por fim nas operaccedilotildees fica claro que os professores conseguiram perceber que para se

escrever um determinado gecircnero seraacute preciso decompocirc-lo em uma seacuterie de atividades nas

quais se mobilizaratildeo o tema a estrutura composicional e o estilo

Na sequumlecircncia apoacutes a discussatildeo do quadro e com o intuito de promover mais um evento para

reforccedilar o processo de internalizaccedilatildeo agora numa atividade praacutetica solicitamos que cada

duplatrio de professores elaborassem um planejamento de uma oficina de leituraproduccedilatildeo

textual (jaacute que nesse momento ainda desconheciam outros instrumentos proacuteprios do ISD

18

como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com

atividades de escrita

O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras

de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre

de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um

suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito

com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar

jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da

Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que

tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos

previstos em cada etapa

A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma

oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas

as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs

refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo

4ordf seacuteries 12 ha

SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR

DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola

NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da

escola

MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral

FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na

escola e em casa

ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de

humor)

2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais

da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha

Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar

o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e

definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim

19

de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as

seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para

quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social

2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura

ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a

organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos

e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio

anterior

1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras

MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a

importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar

tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto

1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que

envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido

com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e

trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido

1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em

grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na

escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira

contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade

anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os

interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma

lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira

escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4

quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos

das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -

elaboraccedilatildeo dos balotildees

2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar

ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a

releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com

mediaccedilatildeo do professora

2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)

apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o

tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as

formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo

Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais

O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro

momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de

operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no

20

interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo

(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-

problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)

No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo

finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do

contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o

reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro

elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar

um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de

humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as

crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees

estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo

Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993

DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos

que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo

para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio

Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na

visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia

coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a

reescrita

Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos

como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser

compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado

pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua

transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o

processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica

para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos

da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do

Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se

coerentes a essas bases teoacutericas

Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e

certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e

conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que

soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um

21

pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)

talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados

5Consideraccedilotildees finais

O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo

de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da

Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de

apropriaccedilatildeo

a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade

interna

b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do

sujeito para que se concretize

c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por

elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e

as operaccedilotildees

d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem

mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como

propulsores do desenvolvimento

e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito

d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a

definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc

Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores

sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer

um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa

instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o

desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as

praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um

pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do

curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em

torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais

22

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Page 4: In: Anais.. V SIGET – Simpósio Internacional de Estudos de ... · Na perspectiva vygotskiana, portanto, a atividade do indivíduo sobre o objeto não é direta, ... por exemplo,

4

Um processo interpessoal eacute transformado num processo intrapessoal Todas as funccedilotildees no desenvolvimento da crianccedila aparecem duas vezes primeiro no niacutevel social e depois no niacutevel individual primeiro entre pessoas (interpsicoloacutegica) e depois no interior da crianccedila (intrapsicoloacutegica) (VYGOTSKY 1988 p 64)

A internalizaccedilatildeo nesse sentido envolve

(a) a reconstruccedilatildeo de uma operaccedilatildeo que se inicia do mundo externo para o interno

(b) a passagem do processo interpessoal para o intrapessoal que sugere a organizaccedilatildeo interior

dessa reconstruccedilatildeo pelo sujeito

(c) a transformaccedilatildeo de processos interpessoais para intrapessoais

Para que este uacuteltimo aspecto ocorra Vygotsky (op cit p64) ressalta que seraacute necessaacuterio uma

ldquolonga seacuteries de eventos ocorridos ao longo do desenvolvimentordquo Isso quer dizer que quando

pensamos no processo de apropriaccedilatildeo de um conhecimento que eacute novo temos que levar em

conta a necessidade de um tempo para amadurecer na qual a atividade psicoloacutegica do sujeito

vai sendo ressignificada reconstruiacuteda por meio do uso de novos instrumentos novos eventos

e tambeacutem por meio de tensotildees e de reformulaccedilotildees mentais que lhe satildeo inerentes Assim o

caminho da internalizaccedilatildeo para Vygotsky seguiria trecircs fases

Reconstruccedilatildeo interna de uma operaccedilatildeo externa

Reorganizaccedilatildeo interna pelo sujeito

Transformaccedilatildeo dessa reorganizaccedilatildeo pelo sujeito

Quadro 1 Fases do processo de internalizaccedilatildeo (VYGOTSKY 1988)

Para que a internalizaccedilatildeo efetivamente se realize o processo de mediaccedilatildeo precisa ser

compreendido Para tanto eacute necessaacuterio que nos debrucemos um pouco mais sobre a extensatildeo

desse conceito jaacute que tem sido comum que grande parte dos professores entendam a

mediaccedilatildeo apenas como sinocircnimo de ajuda aos alunos nas atividades escolares por pessoas

mais experientes Todavia embora natildeo descaracterize totalmente esses aspectos focados

apenas em questotildees interpessoais na perspectiva da Teoria Histoacuterico-Cultural o conceito de

mediaccedilatildeo vai mais aleacutem

Sforni (2008) esclarece que essas visotildees senso comum do termo esquecem de um dos

principais elementos da escola de Vygotsky - o conhecimento

De fato agraves interaccedilotildees sociais eacute dado lugar de destaque na escola de Vygotsky mas o

seu valor no contexto escolar natildeo estaacute restrito agrave relaccedilatildeo sujeito-sujeito mas no

5

objeto que se presentifica nessa relaccedilatildeo ndash o conhecimento Em outras palavras eacute

somente na relaccedilatildeo entre sujeito-conhecimento-sujeito que a mediaccedilatildeo se torna um

conceito fundamental ao desenvolvimento humano

Assim eacute na apropriaccedilatildeo dos mediadores culturais possibilitada principalmente pelos

conteuacutedos e conhecimentos cientiacuteficos objetivados pelas geraccedilotildees precedentes eacute que torna

possiacutevel o desenvolvimento do sujeito (LEONTIEV 2004 VYGOSTSKY 2001) Para

Vygotsky (2000p 290) ldquoa tomada de consciecircncia passa pelos portotildees do conhecimento

cientiacuteficordquo e por isso mesmo o conhecimento nessa perspectiva eacute uma produccedilatildeo que emerge

apenas em situaccedilotildees de ensino devidamente planejadas Nem todo ensino nessa visatildeo gera

desenvolvimento mas sim o ldquobom ensinordquo aquele que inserido em uma ldquocorreta organizaccedilatildeo

da aprendizagem da crianccedila conduz ao desenvolvimento mentalrdquo (VYGOTSKY 1991 p15)

Se pensarmos nos pressupostos da teoria Histoacuterico-Cultural entendemos que o ensino

promotor do desenvolvimento depende do quecirc se adquire (conhecimento cientiacutefico) e como se

adquire (processo de ensino e de apropriaccedilatildeo pelo aluno) Os conceitos cientiacuteficos seriam

assim instrumentos do pensamento e a apropriaccedilatildeo a condiccedilatildeo para a sua formaccedilatildeo

Para o psicoacutelogo russo o conceito eacute um ato real e complexo de pensamento que natildeo pode ser

apreendido por simples ldquomemorizaccedilatildeordquo(VYGOTSKY 2000) Exatamente por isso ele nos

adverte que os conceitos natildeo devem ser apreendidos pela crianccedilaaluno de forma pronta e

direta tal como a escola comumente realiza pois dessa maneira traduzem-se em pedagogias

esteacutereis em outras palavras ldquoo ensino direto de conceitos sempre se mostra impossiacutevel e

pedagogicamente esteacuterilrdquo(opcitp247) porque os conceitos cientiacuteficos para serem

internalizados e natildeo memorizados de forma mecaniscista soacute se constituem por meio de uma

imensa tensatildeo entre o objeto e a atividade na qual ele se insere

A aprendizagem de conceitos tanto para Vygotsky (2000) como para Leontiev (2004) natildeo se

resume agrave mera definiccedilatildeo e apresentaccedilatildeo das caracteriacutesticas essenciais dos objetos como

normalmente eacute realizada em sala de aula Analogamente ao pensarmos na questatildeo do gecircneros

como objeto de ensino tal como preconiza os Paracircmetros Curriculares Nacionais (BRASIL

1998) um ldquobomrdquo ensino natildeo se resumiria a apresentar por exemplo o gecircnero carta do leitor e

expor sistematicamente as suas caracteriacutesticas para os alunos e muito menos a gramaticalizaacute-

lo

Usando dessa metodologia de caraacuteter transmissiva e geneacuterica a aprendizagem de conceitos

que eacute intriacutenseca aos mais diversos objetos de ensino a exemplo dos gecircneros textuais natildeo

envolve o domiacutenio de meacutetodos e formas gerais da atividade mental que segundo Davydov

6

(1982 1988) satildeo o grande legado da Teoria da Atividade ou seja o desenvolvimento de

conceitos soacute eacute produtivo quando coloca a crianccedilaaluno em atividade mentalA apropriaccedilatildeo

portanto soacute ocorre dentre desse movimento

Davydov (1982) esclarece que em determinadas situaccedilotildees a comparaccedilatildeo dos atributos

externos de um determinado fenocircmeno pode ateacute ser suficiente para resolver alguns problemas

praacuteticos poreacutem quase sempre natildeo datildeo conta de revelar aspectos de sua profundeza de suas

relaccedilotildees internas Exatamente por isso a grande operaccedilatildeo mental realizada por

estudantesprofessores no trato com o conhecimento empiacuterico se resume na comparaccedilatildeo que

daacute conta normalmente apenas do reconhecimento dos traccedilos gerais do objeto

Complementado essa ideacuteia Hedegaard (1996) baseando-se nos estudos de Vygotsky

descreve que o uso do pensamento empiacuterico eacute marcado por um percurso fixo e pelas seguintes

operaccedilotildees mentais

Observaccedilatildeo Comparaccedilatildeo Categorizaccedilatildeo Memorizaccedilatildeo

No processo de observaccedilatildeo o indiviacuteduo parte de uma situaccedilatildeo concreta Depois disso eacute confrontado

com pelos menos dois elementos que exigem que ele busque seus traccedilos semelhantes eou diferentes

para apreender as caracteriacutesticas mais gerais de um objeto e posteriormente memorizaacute-las Nesses

casos esclarece o autor natildeo haacute espaccedilo para que o alunoprofessor reflita sobra as causas e os

efeitos do conhecimento sobre os seus conflitos sobre sua origem o que colaboraria para a

adequada compreensatildeo do fenocircmeno e para a correta compreensatildeo do objeto Por isso mesmo

uma tarefa pautada apenas no conhecimento empiacuterico limita a aprendizagem e se reduz a

captar o que eacute aparente o que eacute externo e leva a crianccedilaaluno apenas a saber classificar

fenocircmenos nominalizaacute-los e dar suas caracteriacutesticas mais observaacuteveis (Davydov 1982)

Menchiskaia (1969) ao estudar a formaccedilatildeo e o desenvolvimento do pensamento esclarece

que a comparaccedilatildeo e a definiccedilatildeo satildeo processos mentais importantes para o aluno nos

processos iniciais de apropriaccedilatildeo do conhecimento pois a primeira tambeacutem inclui outros

processos mentais como a anaacutelise a generalizaccedilatildeo e a siacutentese A anaacutelise caracteriza-se como

decomposiccedilatildeo mental do todo em partes A generalizaccedilatildeo inclui a separaccedilatildeo mental do geral

nos objetos e fenocircmenos da realidade por isso a comparaccedilatildeo dos objetos e fenocircmenos acaba

sendo uma premissa do processo de generalizaccedilatildeo Jaacute a sistematizaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo dos

objetos e fenocircmenos inclui sua distribuiccedilatildeo mental em grupos e subgrupos segundo a

semelhanccedila e diferenccedila que existe entre eles Esses processos portanto satildeo interessantes para

7

que pensemos por exemplo em categorias de exerciacutecios para a transposiccedilatildeo didaacutetica dos

gecircneros textuais pois levam a crianccedila a atividades mentais diferenciadas

Para chegar agrave sistematizaccedilatildeo a crianccedilaaluno se depara com outro processo mental a

abstraccedilatildeo Menchiskaia (op cit) no entanto explica que quando o aluno generaliza sobre

objetos ou fenocircmenos separa o que eacute geral do particular acaba natildeo dando importacircncia para

outras qualidades que os diferenciam entre si tem somente em conta aquilo que destacou

como geral Esse processo eacute a abstraccedilatildeo Por exemplo uma crianccedila pode pensar sobre a cor

parecida de determinados objetos e desprezar suas formas e funccedilotildees Por isso o processo de

abstraccedilatildeo e de generalizaccedilatildeo estatildeo intimamente ligados Assim para que uma correta

compreensatildeo do fenocircmeno seja realizada eacute necessaacuterio juntar agrave comparaccedilatildeo outros processos

mentais como a compreensatildeo a definiccedilatildeo o estabelecimento de causas e efeitos a soluccedilatildeo de

problemas a formulaccedilatildeo de outros exemplos dentre de um mesmo sistema dentre outras

Completando essa discussatildeo Rubstov (1996) explica que o desenvolvimento do

conhecimento cientiacutefico (a) eacute elaborado por meio de uma anaacutelise do papel e da funccedilatildeo de

uma certa relaccedilatildeo entre as coisas no interior de um sistema (b) representa as relaccedilotildees entre as

propriedades dos objetos e suas ligaccedilotildees internas (c) estabelece relaccedilatildeo entre o geral e o

particular (d) concretiza-s por meio da transformaccedilatildeo do saber em uma teoria desenvolvida

por meio da deduccedilatildeo e uma explicaccedilatildeo das manifestaccedilotildees concretas do sistema (e) apresenta-

se por diferentes modos de atividade intelectual e de operaccedilotildees mentais (f) utiliza-se de

diferentes sistemas semioacuteticos

Para os autores da THC portanto o conhecimento sensorial ou espontacircneo eacute a origem

indispensaacutevel para a formulaccedilatildeo de conceitos (DAVYDOV 1982 VYGOTSKY 1988 2000

2001) no entanto seraacute preciso revelar a essecircncia desse objeto que historicamente se

reconstitui atraveacutes do estudo do seu real funcionamento por meio a diversificaccedilatildeo d diversas

operaccedilotildees mentais

A ideacuteia de real funcionamento pensando nos gecircneros textuais remete agrave ideacuteia de praacuteticas

sociais situadas Ou seja natildeo se ensina um gecircnero pelo gecircnero mas se ensina um gecircnero para

que o aluno se aproprie de uma determinada praacutetica social para que use aquele gecircnero dentro

de uma situaccedilatildeo especiacutefica de comunicaccedilatildeo (NASCIMENTO 2007 ROJO 2005 LOPES-

ROSSI 2002)

Isso eacute possiacutevel a partir de um ensino voltado para a apropriaccedilatildeo adequada do conhecimento

teoacuterico objetivado nesse objeto o qual oportuniza agrave crianccedilasujeito entrar em contato com

diferentes modos de atividade intelectual com diferentes sistemas semioacuteticos e operaccedilotildees

mentais para aleacutem de representaccedilotildees meramente sensoriaisAleacutem de envolver processos como

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a comparaccedilatildeo a anaacutelise a siacutentese a generalizaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de problema a

crianccedilasujeito ao estar inserida num ensino adequado voltado para a atividade toma

consciecircncia do real uso e valor do conceito aleacutem de conseguir mobilizaacute-lo em diferentes

tarefas (Davydov 1982) Exatamente por isso entender a noccedilatildeo de atividade eacute outro aspecto

para entendermos o processo de apropriaccedilatildeo

3 A contribuiccedilatildeo da teoria da atividade para o processo de apropriaccedilatildeo

A teoria da atividade (TA) desenvolvida por Leontiev e seguidores (Rubstein Luria e

Davydov) eacute considerada uma continuidade das ideacuteias de Vygotsky tido um dos precursores

da teoria psicoloacutegica da atividade Segundo Sforni (2004 p86)

As investigaccedilotildees de Leontiev voltaram-se para estudo da estrutura da

atividade externa e de seu viacutenculo com os processos psiacutequicos Seus estudos

revelaram que as atividades externa e interna tecircm estruturas idecircnticas e

mais que a atividade psiacutequica interna representa uma atividade material

externa transformada o que evidencia a unidade entra atividade e psiquismo

Ao comentar o processo de evoluccedilatildeo do homem Leontiev (2004) destaca que as

caracteriacutesticas humanas satildeo desenvolvidas pela apropriaccedilatildeo da cultura material e intelectual

transmitida de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo Isso quer dizer que natildeo nos relacionamos diretamente com o

mundo mas temos uma relaccedilatildeo que eacute mediada pelo conhecimento objetivado pelas geraccedilatildeo

que nos antecederam por intermeacutedio dos instrumentos simboacutelicos (signos) que proporcionam

nosso desenvolvimento mental O processo de mediaccedilatildeo portanto nessa concepccedilatildeo eacute um

meio de chegarmos agrave apropriaccedilatildeo dos mediadores culturais entendidos aqui tambeacutem como os

conhecimentos cientiacuteficos objetivados nos mais diversos instrumentos

Por intermeacutedio desses mediadores eacute que podemos pensar em desenvolvimento do psiquismo

da crianccedila (e tambeacutem do adulto) Ao se apropriar da linguagem enquanto mediadora cultural e

de outras ferramentas a princiacutepio fiacutesicas (como objetos o jogo o brinquedo) a crianccedila aos

poucos incorpora todo o desenvolvimento intelectual objetivado nesses elementos

(VYGOTSKY 1981 p 137)

Quando chega ao processo de escolarizaccedilatildeo novas ferramentas satildeo apresentadas para as

crianccedilas Se pensarmos no ensino da escrita nas seacuteries iniciais quais satildeo os textos que tecircm

ainda predominado Que tipo de instrumentos elas tecircm agrave disposiccedilatildeo para o desenvolvimento

9

da escrita A resposta eacute simples e velha conhecida no campo educacional as modalidades

retoacutericas (descriccedilatildeo dissertaccedilatildeo e principalmente a narraccedilatildeo) prevalecem como possiacuteveis

instrumentos de desenvolvimentos da escrita

Mas se nos voltarmos para a teoria Histoacuterico-Cultural e pensarmos em termos de cultura

material de heranccedila intelectual entendemos que as atividades humanas se desenvolveram por

meio da linguagem Ora essas atividades foram se multiplicando e se diversificando em cada

esfera da comunicaccedilatildeo humana (no cotidiano na literatura na religiatildeo no comeacutercio e mais

recentemente na miacutedia dentre outras) Em cada uma dessas esferas a comunicaccedilatildeo entre os

parceiros da interaccedilatildeo constituiu diferentes praacuteticas sociais que se materializaram e se

materializam ininterruptamente por meio dos gecircneros textuais (BAKTHIN 2003)

Essa organizaccedilatildeo das sociedades por praacuteticas sociais eacute diferente em cada eacutepoca histoacuterica em

cada lugar em cada cultura Por isso mesmo essas praacuteticas modificam-se outras se extinguem

e algumas novas surgem Os gecircneros textuais nesse sentido satildeo materializaccedilotildees de uma

determinada praacutetica social que por sua vez eacute dinacircmica e histoacuterica Veja-se por exemplo a

praacutetica social ldquomandar um recadordquoDependendo dos parceiros da interaccedilatildeo e da esfera de

circulaccedilatildeo poderiacuteamos fazer isso utilizando diferentes gecircneros por um bilhete (se fosse da

esfera familiar) por uma carta formal (esfera institucional) por um e-mail (esfera comercial)

Por isso mesmo entendemos que na medida em que os professores trabalham de forma

predominante com os textos narrativos ou as modalidades retoacutericas aleacutem de natildeo levarem em

conta todo esse legado intelectual produzido pela humanidade natildeo conseguem promover o

letramento dessa crianccedila no futuro (cf DIONIacuteSIO 2005) ou os multiletramentos os

letramentos multissemioacuteticos e os letramentos multimeios1 (cf ROJO 2007)

Por essas razotildees (e outras) eacute que os documentos oficiais como os Paracircmetros Curriculares

Nacionais (BRASIL 1998) tecircm insistido o trabalho com os diferentes gecircneros textuais

Poreacutem natildeo devemos nos seduzir apenas pelas prescriccedilotildees ou por modismos Pelo que jaacute

expusemostodo trabalho com um determinado objeto teoacuterico (seja o gecircnero ou outro) exige

conhecimento cientiacutefico do professor acerca do funcionamento dos gecircneros em suas mais

variadas esferas de circulaccedilatildeo sem o qual ele natildeo conseguiraacute promover na crianccedila nem a

apropriaccedilatildeo do gecircnero e nem o desenvolvimento da escrita

1 Os primeiros (multiletramentos) se referem ao trabalho com as muacuteltiplas esferas sociais nas quais os gecircneros se inscrevem tais como a jornaliacutestica a religiosa a juriacutedica a poliacutetica e natildeo apenas a literaacuteria como tem sido frequumlente na escola Os segundos (letramentos multissemioacuteticos) requerem que a escola trabalhe natildeo apenas com a linguagem verbal mas tambeacutem com a linguagem sonora imageacutetica visual musical jaacute que a TV a Internet satildeo veiacuteculos repletos de textos que se utilizam dessas formas de expressatildeoNo que concerne aos letramentos multimeios a autora considera aqueles gerados pelo contato com os mais diversos suportes de informaccedilatildeo que a sociedade disponibiliza entendidos como a TV o raacutedio o cinema a Internet o jornal impresso etc

10

Como vimos na seccedilatildeo anterior o processo de apropriaccedilatildeo implica em se colocar o sujeito

dentro de uma atividade conceito esse retomado pelo ISD mas cuja origem se daacute de forma

mais destacada na obra de Leontiev (20012004) No niacutevel individual a atividade eacute entendida

como uma forma de agir do sujeito direcionada a um objetoNo plano coletivo a atividade

define-se como

() aqueles processos que realizando as relaccedilotildees do homem como o mundo

satisfazem uma necessidade especial correspondente a ela () Por atividade

designamos os processos psicologicamente caracterizados por aquilo que o processa

como um todo se dirige (isto eacute objeto) coincidindo sempre com o objetivo que

estimula o sujeito a executar essa atividade isto eacute o motivo (LEONTIEV 2001

p315)

As atividades humanas para Leontiev (2004) satildeo consideradas como formadoras das relaccedilotildees

do sujeito com o mundo dirigidas por motivos por fins a serem alcanccedilados A ideacuteia de

atividade envolve entatildeo a noccedilatildeo de que o homem orienta-se por objetivos agindo de forma

intencional por accedilotildees planejadas

O autor daacute relevacircncia inicialmente agrave atividade coletiva em conjunto na medida em que o

ambiente sociocultural pode desencadear motivos para a realizaccedilatildeo de novas accedilotildees do sujeito

que por sua vez exigiratildeo novas operaccedilotildees as quais desenvolveratildeo os processos psiacutequicos

superioresOs componentes desse movimento da atividade propostos por Leontiev (2001) satildeo

necessidade- motivo- finalidade- condiccedilotildees para se obter a finalidade

Dentro dessa concepccedilatildeo a atividade eacute formada pela seguinte estrutura geral

Necessidade Motivo Objetivos Condiccedilotildees

Atividade

Accedilotildees Operaccedilotildees

Quadro 2 Estrutura geral da atividade adaptada de Leontiev (2001 2004)

A necessidade eacute o fator que desencadeia a atividade eacute ela que motiva o sujeito concretamente

a ter objetivos e realizar as accedilotildees (SFORNI 2004) Ela eacute um componente tatildeo importante que

Sforni (p97) acrescenta ldquonem todo processo eacute uma atividade mas somente aquele que eacute

movido por uma necessidaderdquoObviamente ao pensarmos no ensino da escrita devemos levar

em conta que a necessidade eacute um componente importante

11

E o que leva uma crianccedila a produzir um texto Certamente natildeo deveria ser o fato de cumprir

uma tarefa ou preencher o tempo da sala mas a necessidade da crianccedila escrever vincula-se ao

motivo a uma relaccedilatildeo com esse objeto que vai aleacutem da razatildeo envolvendo aspectos tambeacutem

de ordem afetiva Se ela natildeo vecirc sentido naquilo que realiza logo natildeo torna consciente o que

escreve e faz e se natildeo tem consciecircncia sobre as accedilotildees que realiza natildeo eacute possiacutevel qualificaacute-las

de atividade mas apenas de uma tarefa de uma obrigaccedilatildeo escolarO motivo eacute justamente o

componente mais afetivo da teoria da afetividade Vincula-se agraves emoccedilotildees do sujeito e

relaciona-se ao sentido da atividade

A finalidade tem a ver com aquilo que se pretende de forma mais particular naquela atividade

poderiacuteamos associaacute-la ao objetivo Para a realizaccedilatildeo desse objetivo seratildeo necessaacuterias as

condiccedilotildees os meios para alcanccedilaacute-lo por intermeacutedio das accedilotildees e das operaccedilotildeesA accedilatildeo eacute o

processo cuja o motivo natildeo coincide com seu objeto mas pertence aacute atividade

Leontiev (2004) ilustra essa afirmaccedilatildeo ao explicar que a atividade de ler um livro para apenas

passar numa prova natildeo eacute uma atividade mas uma accedilatildeo porque ler o livro por ler natildeo eacute um

objetivo forte que estimula a accedilatildeo do sujeito Poreacutem a accedilatildeo pode se transformar em atividade

quando passa a ter um motivo para o sujeito No exemplo dado se o aluno comeccedila a ler e a

leitura acaba por envolvecirc-lo por alguma razatildeo o motivo da atividade desloca-se

transformando-se a accedilatildeo em uma atividade

Uma accedilatildeo pode ser realizada de diferentes maneiras designadas por Leontiev de operaccedilotildees

as quais consistem no modo de execuccedilatildeo de uma determinada tarefa que pode ser variadoAs

operaccedilotildees particularizam um determinado objeto e revelam suas partes intriacutensecas daiacute serem

elementos fundamentais para a apropriaccedilatildeo As accedilotildees realizadas por indiviacuteduo no interior de

uma atividade transformam-se em operaccedilotildees e estas mais tarde em haacutebitos e habilidades

Quando isso ocorre saem da esfera dos processo conscientes e passam a ocupar um lugar

inferior na estrutura da atividade

Todavia ocupar lsquoum lugar inferiorrsquo natildeo significa simplificar o estatuto da operaccedilatildeo ao

contraacuterio significa afirmar que houve um processo de apropriaccedilatildeo que agora torna-se

consciente e que em tornando-se consciente deixa livre o pensamento para se incumbir de

novas accedilotildees e novas operaccedilotildees agora de caraacuteter mais elevadoA ideacuteia eacute que uma atividade

coloca a crianccedila em determinada accedilatildeo que por sua vez lhe exige operaccedilotildees para executaacute-la

Ao apropriar-se dessas operaccedilotildees a crianccedila deve ser exposta a novas accedilotildees e

consequentemente a novas operaccedilotildees de caraacuteter mais elevado a fim de que seus processos

mentais estejam em constante desenvolvimento conforme ilustra o quadro abaixo

12

xxx

Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa

Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa

Atividade Accedilatildeo Operaccedilatildeo

Quadro 3 Movimento da aprendizagem na Teoria da Atividade com base em Sforni (2004)

Esse movimento revela para Leontiev o processo ininterrupto de desenvolvimento do sujeito

Para Sforni (2004 p104) esse processo revela o momento da aprendizagem poreacutem natildeo eacute

natural precisa ser mediado por algueacutem mais experiente o que reforccedila a ideacuteia de que a

mediaccedilatildeo tal como jaacute sublinhamos nos estudos vygtskianos eacute outro compontente

fundamental do processo de apropriaccedilatildeo

Todo esse contexto nos leva a pensar novamente sobre a repeticcedilatildeo sistemaacutetica de 1ordf a 4ordf

seacuterie da escrita de narrativas escolaresSe pela teoria da atividade a crianccedila precisa estar

exposta a novas accedilotildees e a novas operaccedilotildees quais conteuacutedos satildeo avanccedilados de seacuterie para

seacuterie se existe a repeticcedilatildeo sistemaacutetica principalmente da narrativa escolar baseada no

modelo aristoteacutelico Se percebemos que as crianccedilas jaacute dominam esse gecircnero escolar por que

natildeo avanccedilar com novos gecircneros ou em ficando nesse gecircnero com novas operaccedilotildees que

mobilizaratildeo novos conteuacutedos Por exemplo em se pensando em gecircneros que se utilizam da

sequumlecircncia narrativa como predominante por que natildeo trabalhar com narrativas de enigmas ou

narrativas de terror que traratildeo novas variaccedilotildees e novos esquemas de organizaccedilatildeo para serem

apropriados pelas crianccedilas

Completando o quadro teoacuterico da TA Davydov (1998) concorda com Leontiev que a

estrutura da atividade seja composta de necessidades tarefas accedilotildees e operaccedilotildees poreacutem

acrescenta um novo componente ndash o desejo ndashjaacute que para ele as emoccedilotildees satildeo inseparaacuteveis da

necessidade (a emoccedilatildeo seria a base para todas as tarefas que o homem se propotildee a fazer) eacute o

desejo que provoca uma necessidade entatildeo a funccedilatildeo do professor seria a de pensar em como

criar desejos para a aprendizagem para que estes provoquem uma necessidade e iniciem o

processo de atividade

Para Libacircneo (2004) esse novo componente deixa claro no campo edcacional ao viacutenculo

entre afetividade e cogniccedilatildeo As atividades humans estatildeo para o autor impregnadas de

13

sentido subjetivo as quais propuosionam nosso agir tanto pensando na esfera escolar como

na esfera do nosso cotidiano Nesse sentido precisamos levar em conta que o processode

apropriaccedilatildeo depende tambeacutem de aspectos afetivos (cf DAVYDOV 1998)

A questatildeo do desejo pode ser comparada agrave questatildeo da voliccedilatildeo discutida por Vygotsky

(2001)Como vimos na seccedilatildeo anterior a relaccedilatildeo do sujeito com o objeto eacute uma relaccedilatildeo

mediada pelo outro atraveacutes da linguagem (e das ferramentas) Para Vygotsky (19882001) eacute a

linguagem que possibilita a constituiccedilatildeo do pensamento da consciecircncia da vontade isto eacute

das funccedilotildees psicoloacutegicas superiores Nesse sentido soacute tomamos consciecircncia individual a

partir primeiro das interaccedilotildees sociais ou da relaccedilatildeo com o outro Normalmente no caso da

crianccedila esse outro eacute algueacutem afetivamente proacutexima a ela Eacute o aspecto emocional envolvido

nessa relaccedilatildeo que motiva e impulsiona a crianccedila a agir Nesse sentido temos que a vontade eacute

uma funccedilatildeo psicoloacutegica superior e a sua construccedilatildeo depende de uma atividade que eacute portanto

de natureza social

Todas essas categorias na perspectiva da Teoria da Atividade implicam que se coloque a

crianccedila em uma trabalho inicialmente coletivo para posteriormente ser individual o que

remete agrave importacircncia de se desenvolver na sala de aula aleacutem das produccedilotildees individuais as

produccedilotildees coletivas De qualquer modo mesmo natildeo sendo um campo epistemoloacutegico voltado

para os gecircneros textuais eacute possiacutevel percebermos as razotildees de Bronckart (2003 2006) ter

utilizado dessa fonte no Interacionismo Sociodiscursivo jaacute que as noccedilotildees de atividade e da

accedilatildeo natildeo soacute regulam os objetivos dos indiviacuteduos nas diversas interaccedilotildees sociais como

tambeacutem satildeo importantes elementos para pensarmos em como gerar um conhecimento que seja

significativo e dessa forma seja apreendido pela crianccedilaaluno

4 Ilustrando o trabalho com a formaccedilatildeo de professores de seacuteries iniciais

As duas atividades que seratildeo aqui delineadas decorreram de trecircs de um total de seis etapas de

um curso de formaccedilatildeo envolvendo o tema gecircneros textuais e ensino ministrado para 15

professores de uma escola da rede puacuteblica do noroeste do Paranaacute por duas professoras

formadoras (das quais fizemos parte) e estagiaacuterias do curso de Letras no segundo semestre de

2007 As trecircs etapas iniciais tiveram como toacutepicos (a) pressupostos baacutesicos da Abordagem

Histoacuterico-Social e da Teoria da Atividade b) pressupostos gerais sobre gecircneros textuais a

partir de Bakthin e o Interacionismo Social dentre os quais foram destacados os aspectos

caracterizadores do gecircnero o tema a estrutura composicional e o estilo (BAKTHIN 1992) c)

contexto de produccedilatildeo no ISD (as capacidades de linguagem o instrumento sequumlecircncia didaacutetica

14

ficaram para outras sessotildees) d) transposiccedilatildeo dessas teorias para o ensino da escrita e)

planejamento de aulasoficinasPor questotildees de delimitaccedilatildeo enfocaremos neste artigo apenas

as subetapas ldquo drdquo e ldquoerdquo

As subetapas assinaladas envolveram duas atividades para os professores uma de cunho

teoacuterico e outra de cunho praacutetico A atividade de cunho teoacuterico ocorreu apoacutes as discussotildees

teoacutericas e foi apresentada da seguinte maneira

Em grupo elabore um quadro no qual vocecirc correlacione as categorias da Teoria da Atividade

aos elementos do contexto de produccedilatildeo vistos em Bakthin (1992) e em Bronckart (2003)

Embora no processo inicial de escolarizaccedilatildeo a comparaccedilatildeo como vimos eacute uma operaccedilatildeo

mental que pode caracterizar o pensamento empiacuterico aqui neste exerciacutecio ela natildeo eacute suficiente

Para que os professores realizassem a atividade precisariam entender primeiro cada uma das

teorias seus elementos para depois confrontaacute-los Isso exigiu que utilizassem diversas

operaccedilotildees mentais ressaltadas por Menchiskaia (1969) como a anaacutelise a abstraccedilatildeo a siacutentese

a comparaccedilatildeo a sistematizaccedilatildeo a definiccedilatildeo e a compreensatildeo necessaacuterias ao processo de

apropriaccedilatildeo

Aleacutem disso para a realizaccedilatildeo desse exerciacutecio procuramos respeitar os elementos proacuteprios da

Teoria da Atividade os professores que estavam no curso de formaccedilatildeo solicitaram o curso

portanto partiram de uma necessidade para ali estarem Aleacutem disso tinham um motivo e uma

finalidade queriam buscar informaccedilotildees sobre a transposiccedilatildeo dos gecircneros textuais para

otimizarem o trabalho com as crianccedilas na sala de aula Sabiam que para alcanccedilar esse

propoacutesito teriam que realizar atividades de forma conjunta compostas de accedilotildees e operaccedilotildees

como essa da elaboraccedilatildeo do quadro o planejamento de uma oficina dentre outras que natildeo nos

interessam nesse momento

Eacute preciso tambeacutem esclarecer que o quadro que seraacute apresentado a seguir foi o resultado final

de um trabalho coletivo e mediado pelas formadoras Para chegarmos a sua versatildeo final

foram necessaacuterias trecircs refacccedilotildees numa clara demonstraccedilatildeo de que o processo de

internalizaccedilatildeo como assevera Vygotsky (1988) depende de uma longa seacuterie de eventos

Assim muito provavelmente esse momento representa apenas um dos eventos que os

professores tiveram para iniciar esse processo mas que para que ele se consolide necessitaratildeo

de outros

15

Ressaltamos que todas as operaccedilotildees mentais anteriormente colocadas no referencial teoacuterico

para o desenvolvimento e apropriaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico dependem para que se

coloque o sujeito em atividade dos processos de mediaccedilatildeo tambeacutem realizados pelo professor

(VYGOTSKY 2000 SFORNI 2004) No nosso caso um dos recursos que utilizamos para

conduzir o processo de apropriaccedilatildeo e que se mostrou bastante produtivo em nossas

intervenccedilotildees foi a devoluccedilatildeo de uma nova pergunta apoacutes uma duacutevida estabelecida pelos

professores Como no momento das discussotildees utilizamos o gecircnero exposiccedilatildeo oral buscamos

nessa estrateacutegia comentada por Carneiro (2009) como uma das quais o professor pode se

utilizar para provocar a reflexatildeo e por efeito a possiacutevel compreensatildeo como ilustra o exemplo

abaixo

Professora ()entatildeo o desejo me parece ser tambeacutem a atividade natildeo eacute

Formadora veja pense num exemplo se jaacute almocei mas de repente vejo numa

vitrine um delicioso doce teria um desejo ou uma necessidade por ele

Professora uhm pera aiacute eu natildeo tenho necessidade de come porque jaacute estou

satisfeita mas tenho desejo neacute o desejo eacute mais emocional eacute mais voltado ao prazer

e a necessidade eacute aquilo que eacute necessaacuterio fazerparece mais racional()

Formadora isso agora pense nessa analogia para o campo da escrita

Profesora taacute o desejo tem a ver com o sentimentoa questatildeo dos sentimentos da

crianccedila neacute a gente tem que criar um viacutenculo afetivo entre ela e atividade que vamos

dar e a necessidade eacute taacute mais na razatildeo acho que tem a ver com aquela questatildeo que

discutimos com as praacuteticas sociais que satildeo as necessidades reais que temos de nos

comunicar()

Percebemos que ao devolver a duacutevida em forma de pergunta acrescida com um exemplo de

senso comum a professora formadora provoca uma reflexatildeo na professora participante e

como efeito gera-se o entendimento do conceito antes motivo de duacutevida Claro estaacute que nem

sempre esse recurso conforme comprova Carneiro (opcit) consegue proporcionar a

compreensatildeo mas sem duacutevida eacute ma estrateacutegia interessante para o professor de forma

consciente utilizar em suas explicaccedilotildees

Apoacutes esse trabalho de cunho coletivo elaboramos com a participaccedilatildeo das professoras o

quadro abaixo (resultado de trecircs refacccedilotildees) no qual aleacutem de pensar nas implicaccedilotildees para o

ensino elas tambeacutem correlacionaram os elementos da teoria da atividade com alguns dos

elementos do contexto de produccedilatildeo

16

Elementos estruturais da Teoria da Atividade Implicaccedilotildees para o ensino da escrita

DESEJO Elemento afetivo que desencadeia a necessidade da

escrita eacute desencadeado tanto pelo processo de

mediaccedilatildeo do professor com o aluno como tambeacutem

pela motivaccedilatildeo exercida por exemplo para a

abertura de um novo projetoatividade de

escritaNatildeo s relaciona a nenhum dos elementos

previstos pelo contexto de produccedilatildeo jaacute que eacute de

ordem emocional

NECESSIDADE Envolve o uso especiacutefico da escrita numa

determinada situaccedilatildeo de produccedilatildeo para atender a

uma praacutetica social especiacutefica escrever para publicar

um livro de contos escrever para produzir uma

reivindicaccedilatildeo escrever para solicitar alguma coisa

escrever para participar de um concurso escrever

um cardaacutepio para uma festa etc

MOTIVO Envolve o sentido da escrita para a crianccedila de modo

a convencecirc-la a escrever por meio de atividades que

oportunizem correlacionar a escrita com as emoccedilotildees

da crianccedila e tambeacutem com seus provaacuteveis

interlocutores pois satildeo eles que vinculam sentido

agravequilo que a crianccedila escreve (BAKTHIN 2003)

Uma dessas atividades que podem vincular a escrita

ao motivo pode ser a divulgaccedilatildeo da produccedilatildeo final

ao puacuteblico por exemplo compor um fabulaacuterio para

ser divulgado numa amostra de livros da escola

produzir cartazes para divulgaccedilatildeo de festas na escola

e afixaacute-los em estabelecimentos comerciais elaborar

notiacutecias para o jornal da escola ou para a raacutedio da

escola produzir livros de histoacuterias infantis para

crianccedilas menores elaborar uma seccedilatildeo de

classificados divulgando serviccedilos prestados ou

produtos vendidos por familiares e amigos do bairro

etcEntendemos que o fato da divulgaccedilatildeo do olhar

do outro como afirmam BakthinVoloshinov (1992)

satildeo essenciais para instaurar uma escrita

significativa

FINALIDADE Envolve o objetivo especiacutefico da escrita na situaccedilatildeo

de interaccedilatildeo para quecirc escrever Para solicitar

alguma coisa para colocar a minha opiniatildeo para

17

contar uma anedota etcA finalidade ou o objetivo

da produccedilatildeo deve vir claramente expressa no

comando de escrita a ser entregue para o aluno

ACcedilAtildeO Envolve a definiccedilatildeo do gecircnero textual que a crianccedila

iraacute escrever um resumo uma notiacutecia uma carta do

leitor um anuacutencio de classificado um comentaacuterio

um conto de fadas etc

OPERACcedilOtildeES (modos de execuccedilatildeo de uma catildeo) Envolve uma seacuterie de tarefas anteriores aacute produccedilatildeo

escritaoral do gecircnero com vistas aacute apropriaccedilatildeo dos

elementos caracterizadores dos gecircneros (o tema a

estrutura composiconal e o estilo) e levando em

conta as fases da escrita planejamento revisatildeo e

reescrita

Quadro 4 Elementos da Teoria da Atividade e sua implicaccedilatildeo na escrita

O exerciacutecio acima evidenciou-nos que mesmo sem ainda terem a noccedilatildeo sobre as capacidades

de linguagem a serem desenvolvidas no quadro do ISD os professores por meio das

operaccedilotildees mentais que o exerciacutecio exigia (anaacutelise comparaccedilatildeo abstraccedilatildeo siacutentese

exemplificaccedilatildeo) conseguem fazer relaccedilotildees coerentes entre os elementos da Teoria da

Atividade com implicaccedilotildees para o ensino da escrita Por exemplo relacionam a necessidade

elemento desencadeador da atividade com a praacutetica social como elemento desencadeador da

atividade de produccedilatildeo que no quadro do ISD eacute o elemento que possibilita alavancar por

exemplo as sequecircncias didaacuteticas (cfDOLZ SCHNEUWLY 2004)

Tambeacutem associam de forma interessante o motivo com um dos elementos do contexto de

produccedilatildeo o interlocutor reforccedilando a importacircncia desse elemento como tambeacutem aspecto

motivacional no ato da escrita Da mesma forma o tema e seu tratamento exaustivo

(BAKTHIN 1992) eacute explorado na associaccedilatildeo entre esse elemento e a accedilatildeo na medida em que

ao definir um determinado gecircnero estaacute implicado aiacute a realizaccedilatildeo desse elemento bakthiniano

Por fim nas operaccedilotildees fica claro que os professores conseguiram perceber que para se

escrever um determinado gecircnero seraacute preciso decompocirc-lo em uma seacuterie de atividades nas

quais se mobilizaratildeo o tema a estrutura composicional e o estilo

Na sequumlecircncia apoacutes a discussatildeo do quadro e com o intuito de promover mais um evento para

reforccedilar o processo de internalizaccedilatildeo agora numa atividade praacutetica solicitamos que cada

duplatrio de professores elaborassem um planejamento de uma oficina de leituraproduccedilatildeo

textual (jaacute que nesse momento ainda desconheciam outros instrumentos proacuteprios do ISD

18

como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com

atividades de escrita

O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras

de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre

de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um

suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito

com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar

jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da

Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que

tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos

previstos em cada etapa

A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma

oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas

as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs

refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo

4ordf seacuteries 12 ha

SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR

DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola

NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da

escola

MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral

FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na

escola e em casa

ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de

humor)

2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais

da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha

Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar

o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e

definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim

19

de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as

seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para

quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social

2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura

ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a

organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos

e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio

anterior

1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras

MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a

importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar

tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto

1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que

envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido

com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e

trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido

1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em

grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na

escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira

contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade

anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os

interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma

lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira

escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4

quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos

das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -

elaboraccedilatildeo dos balotildees

2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar

ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a

releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com

mediaccedilatildeo do professora

2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)

apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o

tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as

formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo

Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais

O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro

momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de

operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no

20

interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo

(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-

problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)

No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo

finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do

contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o

reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro

elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar

um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de

humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as

crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees

estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo

Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993

DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos

que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo

para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio

Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na

visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia

coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a

reescrita

Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos

como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser

compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado

pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua

transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o

processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica

para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos

da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do

Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se

coerentes a essas bases teoacutericas

Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e

certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e

conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que

soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um

21

pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)

talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados

5Consideraccedilotildees finais

O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo

de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da

Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de

apropriaccedilatildeo

a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade

interna

b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do

sujeito para que se concretize

c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por

elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e

as operaccedilotildees

d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem

mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como

propulsores do desenvolvimento

e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito

d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a

definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc

Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores

sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer

um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa

instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o

desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as

praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um

pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do

curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em

torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais

22

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Page 5: In: Anais.. V SIGET – Simpósio Internacional de Estudos de ... · Na perspectiva vygotskiana, portanto, a atividade do indivíduo sobre o objeto não é direta, ... por exemplo,

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objeto que se presentifica nessa relaccedilatildeo ndash o conhecimento Em outras palavras eacute

somente na relaccedilatildeo entre sujeito-conhecimento-sujeito que a mediaccedilatildeo se torna um

conceito fundamental ao desenvolvimento humano

Assim eacute na apropriaccedilatildeo dos mediadores culturais possibilitada principalmente pelos

conteuacutedos e conhecimentos cientiacuteficos objetivados pelas geraccedilotildees precedentes eacute que torna

possiacutevel o desenvolvimento do sujeito (LEONTIEV 2004 VYGOSTSKY 2001) Para

Vygotsky (2000p 290) ldquoa tomada de consciecircncia passa pelos portotildees do conhecimento

cientiacuteficordquo e por isso mesmo o conhecimento nessa perspectiva eacute uma produccedilatildeo que emerge

apenas em situaccedilotildees de ensino devidamente planejadas Nem todo ensino nessa visatildeo gera

desenvolvimento mas sim o ldquobom ensinordquo aquele que inserido em uma ldquocorreta organizaccedilatildeo

da aprendizagem da crianccedila conduz ao desenvolvimento mentalrdquo (VYGOTSKY 1991 p15)

Se pensarmos nos pressupostos da teoria Histoacuterico-Cultural entendemos que o ensino

promotor do desenvolvimento depende do quecirc se adquire (conhecimento cientiacutefico) e como se

adquire (processo de ensino e de apropriaccedilatildeo pelo aluno) Os conceitos cientiacuteficos seriam

assim instrumentos do pensamento e a apropriaccedilatildeo a condiccedilatildeo para a sua formaccedilatildeo

Para o psicoacutelogo russo o conceito eacute um ato real e complexo de pensamento que natildeo pode ser

apreendido por simples ldquomemorizaccedilatildeordquo(VYGOTSKY 2000) Exatamente por isso ele nos

adverte que os conceitos natildeo devem ser apreendidos pela crianccedilaaluno de forma pronta e

direta tal como a escola comumente realiza pois dessa maneira traduzem-se em pedagogias

esteacutereis em outras palavras ldquoo ensino direto de conceitos sempre se mostra impossiacutevel e

pedagogicamente esteacuterilrdquo(opcitp247) porque os conceitos cientiacuteficos para serem

internalizados e natildeo memorizados de forma mecaniscista soacute se constituem por meio de uma

imensa tensatildeo entre o objeto e a atividade na qual ele se insere

A aprendizagem de conceitos tanto para Vygotsky (2000) como para Leontiev (2004) natildeo se

resume agrave mera definiccedilatildeo e apresentaccedilatildeo das caracteriacutesticas essenciais dos objetos como

normalmente eacute realizada em sala de aula Analogamente ao pensarmos na questatildeo do gecircneros

como objeto de ensino tal como preconiza os Paracircmetros Curriculares Nacionais (BRASIL

1998) um ldquobomrdquo ensino natildeo se resumiria a apresentar por exemplo o gecircnero carta do leitor e

expor sistematicamente as suas caracteriacutesticas para os alunos e muito menos a gramaticalizaacute-

lo

Usando dessa metodologia de caraacuteter transmissiva e geneacuterica a aprendizagem de conceitos

que eacute intriacutenseca aos mais diversos objetos de ensino a exemplo dos gecircneros textuais natildeo

envolve o domiacutenio de meacutetodos e formas gerais da atividade mental que segundo Davydov

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(1982 1988) satildeo o grande legado da Teoria da Atividade ou seja o desenvolvimento de

conceitos soacute eacute produtivo quando coloca a crianccedilaaluno em atividade mentalA apropriaccedilatildeo

portanto soacute ocorre dentre desse movimento

Davydov (1982) esclarece que em determinadas situaccedilotildees a comparaccedilatildeo dos atributos

externos de um determinado fenocircmeno pode ateacute ser suficiente para resolver alguns problemas

praacuteticos poreacutem quase sempre natildeo datildeo conta de revelar aspectos de sua profundeza de suas

relaccedilotildees internas Exatamente por isso a grande operaccedilatildeo mental realizada por

estudantesprofessores no trato com o conhecimento empiacuterico se resume na comparaccedilatildeo que

daacute conta normalmente apenas do reconhecimento dos traccedilos gerais do objeto

Complementado essa ideacuteia Hedegaard (1996) baseando-se nos estudos de Vygotsky

descreve que o uso do pensamento empiacuterico eacute marcado por um percurso fixo e pelas seguintes

operaccedilotildees mentais

Observaccedilatildeo Comparaccedilatildeo Categorizaccedilatildeo Memorizaccedilatildeo

No processo de observaccedilatildeo o indiviacuteduo parte de uma situaccedilatildeo concreta Depois disso eacute confrontado

com pelos menos dois elementos que exigem que ele busque seus traccedilos semelhantes eou diferentes

para apreender as caracteriacutesticas mais gerais de um objeto e posteriormente memorizaacute-las Nesses

casos esclarece o autor natildeo haacute espaccedilo para que o alunoprofessor reflita sobra as causas e os

efeitos do conhecimento sobre os seus conflitos sobre sua origem o que colaboraria para a

adequada compreensatildeo do fenocircmeno e para a correta compreensatildeo do objeto Por isso mesmo

uma tarefa pautada apenas no conhecimento empiacuterico limita a aprendizagem e se reduz a

captar o que eacute aparente o que eacute externo e leva a crianccedilaaluno apenas a saber classificar

fenocircmenos nominalizaacute-los e dar suas caracteriacutesticas mais observaacuteveis (Davydov 1982)

Menchiskaia (1969) ao estudar a formaccedilatildeo e o desenvolvimento do pensamento esclarece

que a comparaccedilatildeo e a definiccedilatildeo satildeo processos mentais importantes para o aluno nos

processos iniciais de apropriaccedilatildeo do conhecimento pois a primeira tambeacutem inclui outros

processos mentais como a anaacutelise a generalizaccedilatildeo e a siacutentese A anaacutelise caracteriza-se como

decomposiccedilatildeo mental do todo em partes A generalizaccedilatildeo inclui a separaccedilatildeo mental do geral

nos objetos e fenocircmenos da realidade por isso a comparaccedilatildeo dos objetos e fenocircmenos acaba

sendo uma premissa do processo de generalizaccedilatildeo Jaacute a sistematizaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo dos

objetos e fenocircmenos inclui sua distribuiccedilatildeo mental em grupos e subgrupos segundo a

semelhanccedila e diferenccedila que existe entre eles Esses processos portanto satildeo interessantes para

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que pensemos por exemplo em categorias de exerciacutecios para a transposiccedilatildeo didaacutetica dos

gecircneros textuais pois levam a crianccedila a atividades mentais diferenciadas

Para chegar agrave sistematizaccedilatildeo a crianccedilaaluno se depara com outro processo mental a

abstraccedilatildeo Menchiskaia (op cit) no entanto explica que quando o aluno generaliza sobre

objetos ou fenocircmenos separa o que eacute geral do particular acaba natildeo dando importacircncia para

outras qualidades que os diferenciam entre si tem somente em conta aquilo que destacou

como geral Esse processo eacute a abstraccedilatildeo Por exemplo uma crianccedila pode pensar sobre a cor

parecida de determinados objetos e desprezar suas formas e funccedilotildees Por isso o processo de

abstraccedilatildeo e de generalizaccedilatildeo estatildeo intimamente ligados Assim para que uma correta

compreensatildeo do fenocircmeno seja realizada eacute necessaacuterio juntar agrave comparaccedilatildeo outros processos

mentais como a compreensatildeo a definiccedilatildeo o estabelecimento de causas e efeitos a soluccedilatildeo de

problemas a formulaccedilatildeo de outros exemplos dentre de um mesmo sistema dentre outras

Completando essa discussatildeo Rubstov (1996) explica que o desenvolvimento do

conhecimento cientiacutefico (a) eacute elaborado por meio de uma anaacutelise do papel e da funccedilatildeo de

uma certa relaccedilatildeo entre as coisas no interior de um sistema (b) representa as relaccedilotildees entre as

propriedades dos objetos e suas ligaccedilotildees internas (c) estabelece relaccedilatildeo entre o geral e o

particular (d) concretiza-s por meio da transformaccedilatildeo do saber em uma teoria desenvolvida

por meio da deduccedilatildeo e uma explicaccedilatildeo das manifestaccedilotildees concretas do sistema (e) apresenta-

se por diferentes modos de atividade intelectual e de operaccedilotildees mentais (f) utiliza-se de

diferentes sistemas semioacuteticos

Para os autores da THC portanto o conhecimento sensorial ou espontacircneo eacute a origem

indispensaacutevel para a formulaccedilatildeo de conceitos (DAVYDOV 1982 VYGOTSKY 1988 2000

2001) no entanto seraacute preciso revelar a essecircncia desse objeto que historicamente se

reconstitui atraveacutes do estudo do seu real funcionamento por meio a diversificaccedilatildeo d diversas

operaccedilotildees mentais

A ideacuteia de real funcionamento pensando nos gecircneros textuais remete agrave ideacuteia de praacuteticas

sociais situadas Ou seja natildeo se ensina um gecircnero pelo gecircnero mas se ensina um gecircnero para

que o aluno se aproprie de uma determinada praacutetica social para que use aquele gecircnero dentro

de uma situaccedilatildeo especiacutefica de comunicaccedilatildeo (NASCIMENTO 2007 ROJO 2005 LOPES-

ROSSI 2002)

Isso eacute possiacutevel a partir de um ensino voltado para a apropriaccedilatildeo adequada do conhecimento

teoacuterico objetivado nesse objeto o qual oportuniza agrave crianccedilasujeito entrar em contato com

diferentes modos de atividade intelectual com diferentes sistemas semioacuteticos e operaccedilotildees

mentais para aleacutem de representaccedilotildees meramente sensoriaisAleacutem de envolver processos como

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a comparaccedilatildeo a anaacutelise a siacutentese a generalizaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de problema a

crianccedilasujeito ao estar inserida num ensino adequado voltado para a atividade toma

consciecircncia do real uso e valor do conceito aleacutem de conseguir mobilizaacute-lo em diferentes

tarefas (Davydov 1982) Exatamente por isso entender a noccedilatildeo de atividade eacute outro aspecto

para entendermos o processo de apropriaccedilatildeo

3 A contribuiccedilatildeo da teoria da atividade para o processo de apropriaccedilatildeo

A teoria da atividade (TA) desenvolvida por Leontiev e seguidores (Rubstein Luria e

Davydov) eacute considerada uma continuidade das ideacuteias de Vygotsky tido um dos precursores

da teoria psicoloacutegica da atividade Segundo Sforni (2004 p86)

As investigaccedilotildees de Leontiev voltaram-se para estudo da estrutura da

atividade externa e de seu viacutenculo com os processos psiacutequicos Seus estudos

revelaram que as atividades externa e interna tecircm estruturas idecircnticas e

mais que a atividade psiacutequica interna representa uma atividade material

externa transformada o que evidencia a unidade entra atividade e psiquismo

Ao comentar o processo de evoluccedilatildeo do homem Leontiev (2004) destaca que as

caracteriacutesticas humanas satildeo desenvolvidas pela apropriaccedilatildeo da cultura material e intelectual

transmitida de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo Isso quer dizer que natildeo nos relacionamos diretamente com o

mundo mas temos uma relaccedilatildeo que eacute mediada pelo conhecimento objetivado pelas geraccedilatildeo

que nos antecederam por intermeacutedio dos instrumentos simboacutelicos (signos) que proporcionam

nosso desenvolvimento mental O processo de mediaccedilatildeo portanto nessa concepccedilatildeo eacute um

meio de chegarmos agrave apropriaccedilatildeo dos mediadores culturais entendidos aqui tambeacutem como os

conhecimentos cientiacuteficos objetivados nos mais diversos instrumentos

Por intermeacutedio desses mediadores eacute que podemos pensar em desenvolvimento do psiquismo

da crianccedila (e tambeacutem do adulto) Ao se apropriar da linguagem enquanto mediadora cultural e

de outras ferramentas a princiacutepio fiacutesicas (como objetos o jogo o brinquedo) a crianccedila aos

poucos incorpora todo o desenvolvimento intelectual objetivado nesses elementos

(VYGOTSKY 1981 p 137)

Quando chega ao processo de escolarizaccedilatildeo novas ferramentas satildeo apresentadas para as

crianccedilas Se pensarmos no ensino da escrita nas seacuteries iniciais quais satildeo os textos que tecircm

ainda predominado Que tipo de instrumentos elas tecircm agrave disposiccedilatildeo para o desenvolvimento

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da escrita A resposta eacute simples e velha conhecida no campo educacional as modalidades

retoacutericas (descriccedilatildeo dissertaccedilatildeo e principalmente a narraccedilatildeo) prevalecem como possiacuteveis

instrumentos de desenvolvimentos da escrita

Mas se nos voltarmos para a teoria Histoacuterico-Cultural e pensarmos em termos de cultura

material de heranccedila intelectual entendemos que as atividades humanas se desenvolveram por

meio da linguagem Ora essas atividades foram se multiplicando e se diversificando em cada

esfera da comunicaccedilatildeo humana (no cotidiano na literatura na religiatildeo no comeacutercio e mais

recentemente na miacutedia dentre outras) Em cada uma dessas esferas a comunicaccedilatildeo entre os

parceiros da interaccedilatildeo constituiu diferentes praacuteticas sociais que se materializaram e se

materializam ininterruptamente por meio dos gecircneros textuais (BAKTHIN 2003)

Essa organizaccedilatildeo das sociedades por praacuteticas sociais eacute diferente em cada eacutepoca histoacuterica em

cada lugar em cada cultura Por isso mesmo essas praacuteticas modificam-se outras se extinguem

e algumas novas surgem Os gecircneros textuais nesse sentido satildeo materializaccedilotildees de uma

determinada praacutetica social que por sua vez eacute dinacircmica e histoacuterica Veja-se por exemplo a

praacutetica social ldquomandar um recadordquoDependendo dos parceiros da interaccedilatildeo e da esfera de

circulaccedilatildeo poderiacuteamos fazer isso utilizando diferentes gecircneros por um bilhete (se fosse da

esfera familiar) por uma carta formal (esfera institucional) por um e-mail (esfera comercial)

Por isso mesmo entendemos que na medida em que os professores trabalham de forma

predominante com os textos narrativos ou as modalidades retoacutericas aleacutem de natildeo levarem em

conta todo esse legado intelectual produzido pela humanidade natildeo conseguem promover o

letramento dessa crianccedila no futuro (cf DIONIacuteSIO 2005) ou os multiletramentos os

letramentos multissemioacuteticos e os letramentos multimeios1 (cf ROJO 2007)

Por essas razotildees (e outras) eacute que os documentos oficiais como os Paracircmetros Curriculares

Nacionais (BRASIL 1998) tecircm insistido o trabalho com os diferentes gecircneros textuais

Poreacutem natildeo devemos nos seduzir apenas pelas prescriccedilotildees ou por modismos Pelo que jaacute

expusemostodo trabalho com um determinado objeto teoacuterico (seja o gecircnero ou outro) exige

conhecimento cientiacutefico do professor acerca do funcionamento dos gecircneros em suas mais

variadas esferas de circulaccedilatildeo sem o qual ele natildeo conseguiraacute promover na crianccedila nem a

apropriaccedilatildeo do gecircnero e nem o desenvolvimento da escrita

1 Os primeiros (multiletramentos) se referem ao trabalho com as muacuteltiplas esferas sociais nas quais os gecircneros se inscrevem tais como a jornaliacutestica a religiosa a juriacutedica a poliacutetica e natildeo apenas a literaacuteria como tem sido frequumlente na escola Os segundos (letramentos multissemioacuteticos) requerem que a escola trabalhe natildeo apenas com a linguagem verbal mas tambeacutem com a linguagem sonora imageacutetica visual musical jaacute que a TV a Internet satildeo veiacuteculos repletos de textos que se utilizam dessas formas de expressatildeoNo que concerne aos letramentos multimeios a autora considera aqueles gerados pelo contato com os mais diversos suportes de informaccedilatildeo que a sociedade disponibiliza entendidos como a TV o raacutedio o cinema a Internet o jornal impresso etc

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Como vimos na seccedilatildeo anterior o processo de apropriaccedilatildeo implica em se colocar o sujeito

dentro de uma atividade conceito esse retomado pelo ISD mas cuja origem se daacute de forma

mais destacada na obra de Leontiev (20012004) No niacutevel individual a atividade eacute entendida

como uma forma de agir do sujeito direcionada a um objetoNo plano coletivo a atividade

define-se como

() aqueles processos que realizando as relaccedilotildees do homem como o mundo

satisfazem uma necessidade especial correspondente a ela () Por atividade

designamos os processos psicologicamente caracterizados por aquilo que o processa

como um todo se dirige (isto eacute objeto) coincidindo sempre com o objetivo que

estimula o sujeito a executar essa atividade isto eacute o motivo (LEONTIEV 2001

p315)

As atividades humanas para Leontiev (2004) satildeo consideradas como formadoras das relaccedilotildees

do sujeito com o mundo dirigidas por motivos por fins a serem alcanccedilados A ideacuteia de

atividade envolve entatildeo a noccedilatildeo de que o homem orienta-se por objetivos agindo de forma

intencional por accedilotildees planejadas

O autor daacute relevacircncia inicialmente agrave atividade coletiva em conjunto na medida em que o

ambiente sociocultural pode desencadear motivos para a realizaccedilatildeo de novas accedilotildees do sujeito

que por sua vez exigiratildeo novas operaccedilotildees as quais desenvolveratildeo os processos psiacutequicos

superioresOs componentes desse movimento da atividade propostos por Leontiev (2001) satildeo

necessidade- motivo- finalidade- condiccedilotildees para se obter a finalidade

Dentro dessa concepccedilatildeo a atividade eacute formada pela seguinte estrutura geral

Necessidade Motivo Objetivos Condiccedilotildees

Atividade

Accedilotildees Operaccedilotildees

Quadro 2 Estrutura geral da atividade adaptada de Leontiev (2001 2004)

A necessidade eacute o fator que desencadeia a atividade eacute ela que motiva o sujeito concretamente

a ter objetivos e realizar as accedilotildees (SFORNI 2004) Ela eacute um componente tatildeo importante que

Sforni (p97) acrescenta ldquonem todo processo eacute uma atividade mas somente aquele que eacute

movido por uma necessidaderdquoObviamente ao pensarmos no ensino da escrita devemos levar

em conta que a necessidade eacute um componente importante

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E o que leva uma crianccedila a produzir um texto Certamente natildeo deveria ser o fato de cumprir

uma tarefa ou preencher o tempo da sala mas a necessidade da crianccedila escrever vincula-se ao

motivo a uma relaccedilatildeo com esse objeto que vai aleacutem da razatildeo envolvendo aspectos tambeacutem

de ordem afetiva Se ela natildeo vecirc sentido naquilo que realiza logo natildeo torna consciente o que

escreve e faz e se natildeo tem consciecircncia sobre as accedilotildees que realiza natildeo eacute possiacutevel qualificaacute-las

de atividade mas apenas de uma tarefa de uma obrigaccedilatildeo escolarO motivo eacute justamente o

componente mais afetivo da teoria da afetividade Vincula-se agraves emoccedilotildees do sujeito e

relaciona-se ao sentido da atividade

A finalidade tem a ver com aquilo que se pretende de forma mais particular naquela atividade

poderiacuteamos associaacute-la ao objetivo Para a realizaccedilatildeo desse objetivo seratildeo necessaacuterias as

condiccedilotildees os meios para alcanccedilaacute-lo por intermeacutedio das accedilotildees e das operaccedilotildeesA accedilatildeo eacute o

processo cuja o motivo natildeo coincide com seu objeto mas pertence aacute atividade

Leontiev (2004) ilustra essa afirmaccedilatildeo ao explicar que a atividade de ler um livro para apenas

passar numa prova natildeo eacute uma atividade mas uma accedilatildeo porque ler o livro por ler natildeo eacute um

objetivo forte que estimula a accedilatildeo do sujeito Poreacutem a accedilatildeo pode se transformar em atividade

quando passa a ter um motivo para o sujeito No exemplo dado se o aluno comeccedila a ler e a

leitura acaba por envolvecirc-lo por alguma razatildeo o motivo da atividade desloca-se

transformando-se a accedilatildeo em uma atividade

Uma accedilatildeo pode ser realizada de diferentes maneiras designadas por Leontiev de operaccedilotildees

as quais consistem no modo de execuccedilatildeo de uma determinada tarefa que pode ser variadoAs

operaccedilotildees particularizam um determinado objeto e revelam suas partes intriacutensecas daiacute serem

elementos fundamentais para a apropriaccedilatildeo As accedilotildees realizadas por indiviacuteduo no interior de

uma atividade transformam-se em operaccedilotildees e estas mais tarde em haacutebitos e habilidades

Quando isso ocorre saem da esfera dos processo conscientes e passam a ocupar um lugar

inferior na estrutura da atividade

Todavia ocupar lsquoum lugar inferiorrsquo natildeo significa simplificar o estatuto da operaccedilatildeo ao

contraacuterio significa afirmar que houve um processo de apropriaccedilatildeo que agora torna-se

consciente e que em tornando-se consciente deixa livre o pensamento para se incumbir de

novas accedilotildees e novas operaccedilotildees agora de caraacuteter mais elevadoA ideacuteia eacute que uma atividade

coloca a crianccedila em determinada accedilatildeo que por sua vez lhe exige operaccedilotildees para executaacute-la

Ao apropriar-se dessas operaccedilotildees a crianccedila deve ser exposta a novas accedilotildees e

consequentemente a novas operaccedilotildees de caraacuteter mais elevado a fim de que seus processos

mentais estejam em constante desenvolvimento conforme ilustra o quadro abaixo

12

xxx

Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa

Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa

Atividade Accedilatildeo Operaccedilatildeo

Quadro 3 Movimento da aprendizagem na Teoria da Atividade com base em Sforni (2004)

Esse movimento revela para Leontiev o processo ininterrupto de desenvolvimento do sujeito

Para Sforni (2004 p104) esse processo revela o momento da aprendizagem poreacutem natildeo eacute

natural precisa ser mediado por algueacutem mais experiente o que reforccedila a ideacuteia de que a

mediaccedilatildeo tal como jaacute sublinhamos nos estudos vygtskianos eacute outro compontente

fundamental do processo de apropriaccedilatildeo

Todo esse contexto nos leva a pensar novamente sobre a repeticcedilatildeo sistemaacutetica de 1ordf a 4ordf

seacuterie da escrita de narrativas escolaresSe pela teoria da atividade a crianccedila precisa estar

exposta a novas accedilotildees e a novas operaccedilotildees quais conteuacutedos satildeo avanccedilados de seacuterie para

seacuterie se existe a repeticcedilatildeo sistemaacutetica principalmente da narrativa escolar baseada no

modelo aristoteacutelico Se percebemos que as crianccedilas jaacute dominam esse gecircnero escolar por que

natildeo avanccedilar com novos gecircneros ou em ficando nesse gecircnero com novas operaccedilotildees que

mobilizaratildeo novos conteuacutedos Por exemplo em se pensando em gecircneros que se utilizam da

sequumlecircncia narrativa como predominante por que natildeo trabalhar com narrativas de enigmas ou

narrativas de terror que traratildeo novas variaccedilotildees e novos esquemas de organizaccedilatildeo para serem

apropriados pelas crianccedilas

Completando o quadro teoacuterico da TA Davydov (1998) concorda com Leontiev que a

estrutura da atividade seja composta de necessidades tarefas accedilotildees e operaccedilotildees poreacutem

acrescenta um novo componente ndash o desejo ndashjaacute que para ele as emoccedilotildees satildeo inseparaacuteveis da

necessidade (a emoccedilatildeo seria a base para todas as tarefas que o homem se propotildee a fazer) eacute o

desejo que provoca uma necessidade entatildeo a funccedilatildeo do professor seria a de pensar em como

criar desejos para a aprendizagem para que estes provoquem uma necessidade e iniciem o

processo de atividade

Para Libacircneo (2004) esse novo componente deixa claro no campo edcacional ao viacutenculo

entre afetividade e cogniccedilatildeo As atividades humans estatildeo para o autor impregnadas de

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sentido subjetivo as quais propuosionam nosso agir tanto pensando na esfera escolar como

na esfera do nosso cotidiano Nesse sentido precisamos levar em conta que o processode

apropriaccedilatildeo depende tambeacutem de aspectos afetivos (cf DAVYDOV 1998)

A questatildeo do desejo pode ser comparada agrave questatildeo da voliccedilatildeo discutida por Vygotsky

(2001)Como vimos na seccedilatildeo anterior a relaccedilatildeo do sujeito com o objeto eacute uma relaccedilatildeo

mediada pelo outro atraveacutes da linguagem (e das ferramentas) Para Vygotsky (19882001) eacute a

linguagem que possibilita a constituiccedilatildeo do pensamento da consciecircncia da vontade isto eacute

das funccedilotildees psicoloacutegicas superiores Nesse sentido soacute tomamos consciecircncia individual a

partir primeiro das interaccedilotildees sociais ou da relaccedilatildeo com o outro Normalmente no caso da

crianccedila esse outro eacute algueacutem afetivamente proacutexima a ela Eacute o aspecto emocional envolvido

nessa relaccedilatildeo que motiva e impulsiona a crianccedila a agir Nesse sentido temos que a vontade eacute

uma funccedilatildeo psicoloacutegica superior e a sua construccedilatildeo depende de uma atividade que eacute portanto

de natureza social

Todas essas categorias na perspectiva da Teoria da Atividade implicam que se coloque a

crianccedila em uma trabalho inicialmente coletivo para posteriormente ser individual o que

remete agrave importacircncia de se desenvolver na sala de aula aleacutem das produccedilotildees individuais as

produccedilotildees coletivas De qualquer modo mesmo natildeo sendo um campo epistemoloacutegico voltado

para os gecircneros textuais eacute possiacutevel percebermos as razotildees de Bronckart (2003 2006) ter

utilizado dessa fonte no Interacionismo Sociodiscursivo jaacute que as noccedilotildees de atividade e da

accedilatildeo natildeo soacute regulam os objetivos dos indiviacuteduos nas diversas interaccedilotildees sociais como

tambeacutem satildeo importantes elementos para pensarmos em como gerar um conhecimento que seja

significativo e dessa forma seja apreendido pela crianccedilaaluno

4 Ilustrando o trabalho com a formaccedilatildeo de professores de seacuteries iniciais

As duas atividades que seratildeo aqui delineadas decorreram de trecircs de um total de seis etapas de

um curso de formaccedilatildeo envolvendo o tema gecircneros textuais e ensino ministrado para 15

professores de uma escola da rede puacuteblica do noroeste do Paranaacute por duas professoras

formadoras (das quais fizemos parte) e estagiaacuterias do curso de Letras no segundo semestre de

2007 As trecircs etapas iniciais tiveram como toacutepicos (a) pressupostos baacutesicos da Abordagem

Histoacuterico-Social e da Teoria da Atividade b) pressupostos gerais sobre gecircneros textuais a

partir de Bakthin e o Interacionismo Social dentre os quais foram destacados os aspectos

caracterizadores do gecircnero o tema a estrutura composicional e o estilo (BAKTHIN 1992) c)

contexto de produccedilatildeo no ISD (as capacidades de linguagem o instrumento sequumlecircncia didaacutetica

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ficaram para outras sessotildees) d) transposiccedilatildeo dessas teorias para o ensino da escrita e)

planejamento de aulasoficinasPor questotildees de delimitaccedilatildeo enfocaremos neste artigo apenas

as subetapas ldquo drdquo e ldquoerdquo

As subetapas assinaladas envolveram duas atividades para os professores uma de cunho

teoacuterico e outra de cunho praacutetico A atividade de cunho teoacuterico ocorreu apoacutes as discussotildees

teoacutericas e foi apresentada da seguinte maneira

Em grupo elabore um quadro no qual vocecirc correlacione as categorias da Teoria da Atividade

aos elementos do contexto de produccedilatildeo vistos em Bakthin (1992) e em Bronckart (2003)

Embora no processo inicial de escolarizaccedilatildeo a comparaccedilatildeo como vimos eacute uma operaccedilatildeo

mental que pode caracterizar o pensamento empiacuterico aqui neste exerciacutecio ela natildeo eacute suficiente

Para que os professores realizassem a atividade precisariam entender primeiro cada uma das

teorias seus elementos para depois confrontaacute-los Isso exigiu que utilizassem diversas

operaccedilotildees mentais ressaltadas por Menchiskaia (1969) como a anaacutelise a abstraccedilatildeo a siacutentese

a comparaccedilatildeo a sistematizaccedilatildeo a definiccedilatildeo e a compreensatildeo necessaacuterias ao processo de

apropriaccedilatildeo

Aleacutem disso para a realizaccedilatildeo desse exerciacutecio procuramos respeitar os elementos proacuteprios da

Teoria da Atividade os professores que estavam no curso de formaccedilatildeo solicitaram o curso

portanto partiram de uma necessidade para ali estarem Aleacutem disso tinham um motivo e uma

finalidade queriam buscar informaccedilotildees sobre a transposiccedilatildeo dos gecircneros textuais para

otimizarem o trabalho com as crianccedilas na sala de aula Sabiam que para alcanccedilar esse

propoacutesito teriam que realizar atividades de forma conjunta compostas de accedilotildees e operaccedilotildees

como essa da elaboraccedilatildeo do quadro o planejamento de uma oficina dentre outras que natildeo nos

interessam nesse momento

Eacute preciso tambeacutem esclarecer que o quadro que seraacute apresentado a seguir foi o resultado final

de um trabalho coletivo e mediado pelas formadoras Para chegarmos a sua versatildeo final

foram necessaacuterias trecircs refacccedilotildees numa clara demonstraccedilatildeo de que o processo de

internalizaccedilatildeo como assevera Vygotsky (1988) depende de uma longa seacuterie de eventos

Assim muito provavelmente esse momento representa apenas um dos eventos que os

professores tiveram para iniciar esse processo mas que para que ele se consolide necessitaratildeo

de outros

15

Ressaltamos que todas as operaccedilotildees mentais anteriormente colocadas no referencial teoacuterico

para o desenvolvimento e apropriaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico dependem para que se

coloque o sujeito em atividade dos processos de mediaccedilatildeo tambeacutem realizados pelo professor

(VYGOTSKY 2000 SFORNI 2004) No nosso caso um dos recursos que utilizamos para

conduzir o processo de apropriaccedilatildeo e que se mostrou bastante produtivo em nossas

intervenccedilotildees foi a devoluccedilatildeo de uma nova pergunta apoacutes uma duacutevida estabelecida pelos

professores Como no momento das discussotildees utilizamos o gecircnero exposiccedilatildeo oral buscamos

nessa estrateacutegia comentada por Carneiro (2009) como uma das quais o professor pode se

utilizar para provocar a reflexatildeo e por efeito a possiacutevel compreensatildeo como ilustra o exemplo

abaixo

Professora ()entatildeo o desejo me parece ser tambeacutem a atividade natildeo eacute

Formadora veja pense num exemplo se jaacute almocei mas de repente vejo numa

vitrine um delicioso doce teria um desejo ou uma necessidade por ele

Professora uhm pera aiacute eu natildeo tenho necessidade de come porque jaacute estou

satisfeita mas tenho desejo neacute o desejo eacute mais emocional eacute mais voltado ao prazer

e a necessidade eacute aquilo que eacute necessaacuterio fazerparece mais racional()

Formadora isso agora pense nessa analogia para o campo da escrita

Profesora taacute o desejo tem a ver com o sentimentoa questatildeo dos sentimentos da

crianccedila neacute a gente tem que criar um viacutenculo afetivo entre ela e atividade que vamos

dar e a necessidade eacute taacute mais na razatildeo acho que tem a ver com aquela questatildeo que

discutimos com as praacuteticas sociais que satildeo as necessidades reais que temos de nos

comunicar()

Percebemos que ao devolver a duacutevida em forma de pergunta acrescida com um exemplo de

senso comum a professora formadora provoca uma reflexatildeo na professora participante e

como efeito gera-se o entendimento do conceito antes motivo de duacutevida Claro estaacute que nem

sempre esse recurso conforme comprova Carneiro (opcit) consegue proporcionar a

compreensatildeo mas sem duacutevida eacute ma estrateacutegia interessante para o professor de forma

consciente utilizar em suas explicaccedilotildees

Apoacutes esse trabalho de cunho coletivo elaboramos com a participaccedilatildeo das professoras o

quadro abaixo (resultado de trecircs refacccedilotildees) no qual aleacutem de pensar nas implicaccedilotildees para o

ensino elas tambeacutem correlacionaram os elementos da teoria da atividade com alguns dos

elementos do contexto de produccedilatildeo

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Elementos estruturais da Teoria da Atividade Implicaccedilotildees para o ensino da escrita

DESEJO Elemento afetivo que desencadeia a necessidade da

escrita eacute desencadeado tanto pelo processo de

mediaccedilatildeo do professor com o aluno como tambeacutem

pela motivaccedilatildeo exercida por exemplo para a

abertura de um novo projetoatividade de

escritaNatildeo s relaciona a nenhum dos elementos

previstos pelo contexto de produccedilatildeo jaacute que eacute de

ordem emocional

NECESSIDADE Envolve o uso especiacutefico da escrita numa

determinada situaccedilatildeo de produccedilatildeo para atender a

uma praacutetica social especiacutefica escrever para publicar

um livro de contos escrever para produzir uma

reivindicaccedilatildeo escrever para solicitar alguma coisa

escrever para participar de um concurso escrever

um cardaacutepio para uma festa etc

MOTIVO Envolve o sentido da escrita para a crianccedila de modo

a convencecirc-la a escrever por meio de atividades que

oportunizem correlacionar a escrita com as emoccedilotildees

da crianccedila e tambeacutem com seus provaacuteveis

interlocutores pois satildeo eles que vinculam sentido

agravequilo que a crianccedila escreve (BAKTHIN 2003)

Uma dessas atividades que podem vincular a escrita

ao motivo pode ser a divulgaccedilatildeo da produccedilatildeo final

ao puacuteblico por exemplo compor um fabulaacuterio para

ser divulgado numa amostra de livros da escola

produzir cartazes para divulgaccedilatildeo de festas na escola

e afixaacute-los em estabelecimentos comerciais elaborar

notiacutecias para o jornal da escola ou para a raacutedio da

escola produzir livros de histoacuterias infantis para

crianccedilas menores elaborar uma seccedilatildeo de

classificados divulgando serviccedilos prestados ou

produtos vendidos por familiares e amigos do bairro

etcEntendemos que o fato da divulgaccedilatildeo do olhar

do outro como afirmam BakthinVoloshinov (1992)

satildeo essenciais para instaurar uma escrita

significativa

FINALIDADE Envolve o objetivo especiacutefico da escrita na situaccedilatildeo

de interaccedilatildeo para quecirc escrever Para solicitar

alguma coisa para colocar a minha opiniatildeo para

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contar uma anedota etcA finalidade ou o objetivo

da produccedilatildeo deve vir claramente expressa no

comando de escrita a ser entregue para o aluno

ACcedilAtildeO Envolve a definiccedilatildeo do gecircnero textual que a crianccedila

iraacute escrever um resumo uma notiacutecia uma carta do

leitor um anuacutencio de classificado um comentaacuterio

um conto de fadas etc

OPERACcedilOtildeES (modos de execuccedilatildeo de uma catildeo) Envolve uma seacuterie de tarefas anteriores aacute produccedilatildeo

escritaoral do gecircnero com vistas aacute apropriaccedilatildeo dos

elementos caracterizadores dos gecircneros (o tema a

estrutura composiconal e o estilo) e levando em

conta as fases da escrita planejamento revisatildeo e

reescrita

Quadro 4 Elementos da Teoria da Atividade e sua implicaccedilatildeo na escrita

O exerciacutecio acima evidenciou-nos que mesmo sem ainda terem a noccedilatildeo sobre as capacidades

de linguagem a serem desenvolvidas no quadro do ISD os professores por meio das

operaccedilotildees mentais que o exerciacutecio exigia (anaacutelise comparaccedilatildeo abstraccedilatildeo siacutentese

exemplificaccedilatildeo) conseguem fazer relaccedilotildees coerentes entre os elementos da Teoria da

Atividade com implicaccedilotildees para o ensino da escrita Por exemplo relacionam a necessidade

elemento desencadeador da atividade com a praacutetica social como elemento desencadeador da

atividade de produccedilatildeo que no quadro do ISD eacute o elemento que possibilita alavancar por

exemplo as sequecircncias didaacuteticas (cfDOLZ SCHNEUWLY 2004)

Tambeacutem associam de forma interessante o motivo com um dos elementos do contexto de

produccedilatildeo o interlocutor reforccedilando a importacircncia desse elemento como tambeacutem aspecto

motivacional no ato da escrita Da mesma forma o tema e seu tratamento exaustivo

(BAKTHIN 1992) eacute explorado na associaccedilatildeo entre esse elemento e a accedilatildeo na medida em que

ao definir um determinado gecircnero estaacute implicado aiacute a realizaccedilatildeo desse elemento bakthiniano

Por fim nas operaccedilotildees fica claro que os professores conseguiram perceber que para se

escrever um determinado gecircnero seraacute preciso decompocirc-lo em uma seacuterie de atividades nas

quais se mobilizaratildeo o tema a estrutura composicional e o estilo

Na sequumlecircncia apoacutes a discussatildeo do quadro e com o intuito de promover mais um evento para

reforccedilar o processo de internalizaccedilatildeo agora numa atividade praacutetica solicitamos que cada

duplatrio de professores elaborassem um planejamento de uma oficina de leituraproduccedilatildeo

textual (jaacute que nesse momento ainda desconheciam outros instrumentos proacuteprios do ISD

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como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com

atividades de escrita

O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras

de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre

de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um

suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito

com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar

jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da

Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que

tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos

previstos em cada etapa

A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma

oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas

as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs

refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo

4ordf seacuteries 12 ha

SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR

DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola

NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da

escola

MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral

FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na

escola e em casa

ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de

humor)

2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais

da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha

Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar

o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e

definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim

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de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as

seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para

quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social

2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura

ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a

organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos

e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio

anterior

1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras

MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a

importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar

tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto

1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que

envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido

com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e

trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido

1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em

grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na

escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira

contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade

anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os

interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma

lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira

escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4

quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos

das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -

elaboraccedilatildeo dos balotildees

2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar

ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a

releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com

mediaccedilatildeo do professora

2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)

apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o

tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as

formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo

Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais

O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro

momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de

operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no

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interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo

(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-

problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)

No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo

finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do

contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o

reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro

elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar

um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de

humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as

crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees

estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo

Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993

DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos

que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo

para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio

Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na

visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia

coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a

reescrita

Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos

como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser

compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado

pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua

transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o

processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica

para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos

da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do

Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se

coerentes a essas bases teoacutericas

Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e

certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e

conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que

soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um

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pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)

talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados

5Consideraccedilotildees finais

O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo

de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da

Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de

apropriaccedilatildeo

a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade

interna

b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do

sujeito para que se concretize

c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por

elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e

as operaccedilotildees

d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem

mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como

propulsores do desenvolvimento

e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito

d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a

definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc

Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores

sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer

um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa

instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o

desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as

praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um

pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do

curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em

torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais

22

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Page 6: In: Anais.. V SIGET – Simpósio Internacional de Estudos de ... · Na perspectiva vygotskiana, portanto, a atividade do indivíduo sobre o objeto não é direta, ... por exemplo,

6

(1982 1988) satildeo o grande legado da Teoria da Atividade ou seja o desenvolvimento de

conceitos soacute eacute produtivo quando coloca a crianccedilaaluno em atividade mentalA apropriaccedilatildeo

portanto soacute ocorre dentre desse movimento

Davydov (1982) esclarece que em determinadas situaccedilotildees a comparaccedilatildeo dos atributos

externos de um determinado fenocircmeno pode ateacute ser suficiente para resolver alguns problemas

praacuteticos poreacutem quase sempre natildeo datildeo conta de revelar aspectos de sua profundeza de suas

relaccedilotildees internas Exatamente por isso a grande operaccedilatildeo mental realizada por

estudantesprofessores no trato com o conhecimento empiacuterico se resume na comparaccedilatildeo que

daacute conta normalmente apenas do reconhecimento dos traccedilos gerais do objeto

Complementado essa ideacuteia Hedegaard (1996) baseando-se nos estudos de Vygotsky

descreve que o uso do pensamento empiacuterico eacute marcado por um percurso fixo e pelas seguintes

operaccedilotildees mentais

Observaccedilatildeo Comparaccedilatildeo Categorizaccedilatildeo Memorizaccedilatildeo

No processo de observaccedilatildeo o indiviacuteduo parte de uma situaccedilatildeo concreta Depois disso eacute confrontado

com pelos menos dois elementos que exigem que ele busque seus traccedilos semelhantes eou diferentes

para apreender as caracteriacutesticas mais gerais de um objeto e posteriormente memorizaacute-las Nesses

casos esclarece o autor natildeo haacute espaccedilo para que o alunoprofessor reflita sobra as causas e os

efeitos do conhecimento sobre os seus conflitos sobre sua origem o que colaboraria para a

adequada compreensatildeo do fenocircmeno e para a correta compreensatildeo do objeto Por isso mesmo

uma tarefa pautada apenas no conhecimento empiacuterico limita a aprendizagem e se reduz a

captar o que eacute aparente o que eacute externo e leva a crianccedilaaluno apenas a saber classificar

fenocircmenos nominalizaacute-los e dar suas caracteriacutesticas mais observaacuteveis (Davydov 1982)

Menchiskaia (1969) ao estudar a formaccedilatildeo e o desenvolvimento do pensamento esclarece

que a comparaccedilatildeo e a definiccedilatildeo satildeo processos mentais importantes para o aluno nos

processos iniciais de apropriaccedilatildeo do conhecimento pois a primeira tambeacutem inclui outros

processos mentais como a anaacutelise a generalizaccedilatildeo e a siacutentese A anaacutelise caracteriza-se como

decomposiccedilatildeo mental do todo em partes A generalizaccedilatildeo inclui a separaccedilatildeo mental do geral

nos objetos e fenocircmenos da realidade por isso a comparaccedilatildeo dos objetos e fenocircmenos acaba

sendo uma premissa do processo de generalizaccedilatildeo Jaacute a sistematizaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo dos

objetos e fenocircmenos inclui sua distribuiccedilatildeo mental em grupos e subgrupos segundo a

semelhanccedila e diferenccedila que existe entre eles Esses processos portanto satildeo interessantes para

7

que pensemos por exemplo em categorias de exerciacutecios para a transposiccedilatildeo didaacutetica dos

gecircneros textuais pois levam a crianccedila a atividades mentais diferenciadas

Para chegar agrave sistematizaccedilatildeo a crianccedilaaluno se depara com outro processo mental a

abstraccedilatildeo Menchiskaia (op cit) no entanto explica que quando o aluno generaliza sobre

objetos ou fenocircmenos separa o que eacute geral do particular acaba natildeo dando importacircncia para

outras qualidades que os diferenciam entre si tem somente em conta aquilo que destacou

como geral Esse processo eacute a abstraccedilatildeo Por exemplo uma crianccedila pode pensar sobre a cor

parecida de determinados objetos e desprezar suas formas e funccedilotildees Por isso o processo de

abstraccedilatildeo e de generalizaccedilatildeo estatildeo intimamente ligados Assim para que uma correta

compreensatildeo do fenocircmeno seja realizada eacute necessaacuterio juntar agrave comparaccedilatildeo outros processos

mentais como a compreensatildeo a definiccedilatildeo o estabelecimento de causas e efeitos a soluccedilatildeo de

problemas a formulaccedilatildeo de outros exemplos dentre de um mesmo sistema dentre outras

Completando essa discussatildeo Rubstov (1996) explica que o desenvolvimento do

conhecimento cientiacutefico (a) eacute elaborado por meio de uma anaacutelise do papel e da funccedilatildeo de

uma certa relaccedilatildeo entre as coisas no interior de um sistema (b) representa as relaccedilotildees entre as

propriedades dos objetos e suas ligaccedilotildees internas (c) estabelece relaccedilatildeo entre o geral e o

particular (d) concretiza-s por meio da transformaccedilatildeo do saber em uma teoria desenvolvida

por meio da deduccedilatildeo e uma explicaccedilatildeo das manifestaccedilotildees concretas do sistema (e) apresenta-

se por diferentes modos de atividade intelectual e de operaccedilotildees mentais (f) utiliza-se de

diferentes sistemas semioacuteticos

Para os autores da THC portanto o conhecimento sensorial ou espontacircneo eacute a origem

indispensaacutevel para a formulaccedilatildeo de conceitos (DAVYDOV 1982 VYGOTSKY 1988 2000

2001) no entanto seraacute preciso revelar a essecircncia desse objeto que historicamente se

reconstitui atraveacutes do estudo do seu real funcionamento por meio a diversificaccedilatildeo d diversas

operaccedilotildees mentais

A ideacuteia de real funcionamento pensando nos gecircneros textuais remete agrave ideacuteia de praacuteticas

sociais situadas Ou seja natildeo se ensina um gecircnero pelo gecircnero mas se ensina um gecircnero para

que o aluno se aproprie de uma determinada praacutetica social para que use aquele gecircnero dentro

de uma situaccedilatildeo especiacutefica de comunicaccedilatildeo (NASCIMENTO 2007 ROJO 2005 LOPES-

ROSSI 2002)

Isso eacute possiacutevel a partir de um ensino voltado para a apropriaccedilatildeo adequada do conhecimento

teoacuterico objetivado nesse objeto o qual oportuniza agrave crianccedilasujeito entrar em contato com

diferentes modos de atividade intelectual com diferentes sistemas semioacuteticos e operaccedilotildees

mentais para aleacutem de representaccedilotildees meramente sensoriaisAleacutem de envolver processos como

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a comparaccedilatildeo a anaacutelise a siacutentese a generalizaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de problema a

crianccedilasujeito ao estar inserida num ensino adequado voltado para a atividade toma

consciecircncia do real uso e valor do conceito aleacutem de conseguir mobilizaacute-lo em diferentes

tarefas (Davydov 1982) Exatamente por isso entender a noccedilatildeo de atividade eacute outro aspecto

para entendermos o processo de apropriaccedilatildeo

3 A contribuiccedilatildeo da teoria da atividade para o processo de apropriaccedilatildeo

A teoria da atividade (TA) desenvolvida por Leontiev e seguidores (Rubstein Luria e

Davydov) eacute considerada uma continuidade das ideacuteias de Vygotsky tido um dos precursores

da teoria psicoloacutegica da atividade Segundo Sforni (2004 p86)

As investigaccedilotildees de Leontiev voltaram-se para estudo da estrutura da

atividade externa e de seu viacutenculo com os processos psiacutequicos Seus estudos

revelaram que as atividades externa e interna tecircm estruturas idecircnticas e

mais que a atividade psiacutequica interna representa uma atividade material

externa transformada o que evidencia a unidade entra atividade e psiquismo

Ao comentar o processo de evoluccedilatildeo do homem Leontiev (2004) destaca que as

caracteriacutesticas humanas satildeo desenvolvidas pela apropriaccedilatildeo da cultura material e intelectual

transmitida de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo Isso quer dizer que natildeo nos relacionamos diretamente com o

mundo mas temos uma relaccedilatildeo que eacute mediada pelo conhecimento objetivado pelas geraccedilatildeo

que nos antecederam por intermeacutedio dos instrumentos simboacutelicos (signos) que proporcionam

nosso desenvolvimento mental O processo de mediaccedilatildeo portanto nessa concepccedilatildeo eacute um

meio de chegarmos agrave apropriaccedilatildeo dos mediadores culturais entendidos aqui tambeacutem como os

conhecimentos cientiacuteficos objetivados nos mais diversos instrumentos

Por intermeacutedio desses mediadores eacute que podemos pensar em desenvolvimento do psiquismo

da crianccedila (e tambeacutem do adulto) Ao se apropriar da linguagem enquanto mediadora cultural e

de outras ferramentas a princiacutepio fiacutesicas (como objetos o jogo o brinquedo) a crianccedila aos

poucos incorpora todo o desenvolvimento intelectual objetivado nesses elementos

(VYGOTSKY 1981 p 137)

Quando chega ao processo de escolarizaccedilatildeo novas ferramentas satildeo apresentadas para as

crianccedilas Se pensarmos no ensino da escrita nas seacuteries iniciais quais satildeo os textos que tecircm

ainda predominado Que tipo de instrumentos elas tecircm agrave disposiccedilatildeo para o desenvolvimento

9

da escrita A resposta eacute simples e velha conhecida no campo educacional as modalidades

retoacutericas (descriccedilatildeo dissertaccedilatildeo e principalmente a narraccedilatildeo) prevalecem como possiacuteveis

instrumentos de desenvolvimentos da escrita

Mas se nos voltarmos para a teoria Histoacuterico-Cultural e pensarmos em termos de cultura

material de heranccedila intelectual entendemos que as atividades humanas se desenvolveram por

meio da linguagem Ora essas atividades foram se multiplicando e se diversificando em cada

esfera da comunicaccedilatildeo humana (no cotidiano na literatura na religiatildeo no comeacutercio e mais

recentemente na miacutedia dentre outras) Em cada uma dessas esferas a comunicaccedilatildeo entre os

parceiros da interaccedilatildeo constituiu diferentes praacuteticas sociais que se materializaram e se

materializam ininterruptamente por meio dos gecircneros textuais (BAKTHIN 2003)

Essa organizaccedilatildeo das sociedades por praacuteticas sociais eacute diferente em cada eacutepoca histoacuterica em

cada lugar em cada cultura Por isso mesmo essas praacuteticas modificam-se outras se extinguem

e algumas novas surgem Os gecircneros textuais nesse sentido satildeo materializaccedilotildees de uma

determinada praacutetica social que por sua vez eacute dinacircmica e histoacuterica Veja-se por exemplo a

praacutetica social ldquomandar um recadordquoDependendo dos parceiros da interaccedilatildeo e da esfera de

circulaccedilatildeo poderiacuteamos fazer isso utilizando diferentes gecircneros por um bilhete (se fosse da

esfera familiar) por uma carta formal (esfera institucional) por um e-mail (esfera comercial)

Por isso mesmo entendemos que na medida em que os professores trabalham de forma

predominante com os textos narrativos ou as modalidades retoacutericas aleacutem de natildeo levarem em

conta todo esse legado intelectual produzido pela humanidade natildeo conseguem promover o

letramento dessa crianccedila no futuro (cf DIONIacuteSIO 2005) ou os multiletramentos os

letramentos multissemioacuteticos e os letramentos multimeios1 (cf ROJO 2007)

Por essas razotildees (e outras) eacute que os documentos oficiais como os Paracircmetros Curriculares

Nacionais (BRASIL 1998) tecircm insistido o trabalho com os diferentes gecircneros textuais

Poreacutem natildeo devemos nos seduzir apenas pelas prescriccedilotildees ou por modismos Pelo que jaacute

expusemostodo trabalho com um determinado objeto teoacuterico (seja o gecircnero ou outro) exige

conhecimento cientiacutefico do professor acerca do funcionamento dos gecircneros em suas mais

variadas esferas de circulaccedilatildeo sem o qual ele natildeo conseguiraacute promover na crianccedila nem a

apropriaccedilatildeo do gecircnero e nem o desenvolvimento da escrita

1 Os primeiros (multiletramentos) se referem ao trabalho com as muacuteltiplas esferas sociais nas quais os gecircneros se inscrevem tais como a jornaliacutestica a religiosa a juriacutedica a poliacutetica e natildeo apenas a literaacuteria como tem sido frequumlente na escola Os segundos (letramentos multissemioacuteticos) requerem que a escola trabalhe natildeo apenas com a linguagem verbal mas tambeacutem com a linguagem sonora imageacutetica visual musical jaacute que a TV a Internet satildeo veiacuteculos repletos de textos que se utilizam dessas formas de expressatildeoNo que concerne aos letramentos multimeios a autora considera aqueles gerados pelo contato com os mais diversos suportes de informaccedilatildeo que a sociedade disponibiliza entendidos como a TV o raacutedio o cinema a Internet o jornal impresso etc

10

Como vimos na seccedilatildeo anterior o processo de apropriaccedilatildeo implica em se colocar o sujeito

dentro de uma atividade conceito esse retomado pelo ISD mas cuja origem se daacute de forma

mais destacada na obra de Leontiev (20012004) No niacutevel individual a atividade eacute entendida

como uma forma de agir do sujeito direcionada a um objetoNo plano coletivo a atividade

define-se como

() aqueles processos que realizando as relaccedilotildees do homem como o mundo

satisfazem uma necessidade especial correspondente a ela () Por atividade

designamos os processos psicologicamente caracterizados por aquilo que o processa

como um todo se dirige (isto eacute objeto) coincidindo sempre com o objetivo que

estimula o sujeito a executar essa atividade isto eacute o motivo (LEONTIEV 2001

p315)

As atividades humanas para Leontiev (2004) satildeo consideradas como formadoras das relaccedilotildees

do sujeito com o mundo dirigidas por motivos por fins a serem alcanccedilados A ideacuteia de

atividade envolve entatildeo a noccedilatildeo de que o homem orienta-se por objetivos agindo de forma

intencional por accedilotildees planejadas

O autor daacute relevacircncia inicialmente agrave atividade coletiva em conjunto na medida em que o

ambiente sociocultural pode desencadear motivos para a realizaccedilatildeo de novas accedilotildees do sujeito

que por sua vez exigiratildeo novas operaccedilotildees as quais desenvolveratildeo os processos psiacutequicos

superioresOs componentes desse movimento da atividade propostos por Leontiev (2001) satildeo

necessidade- motivo- finalidade- condiccedilotildees para se obter a finalidade

Dentro dessa concepccedilatildeo a atividade eacute formada pela seguinte estrutura geral

Necessidade Motivo Objetivos Condiccedilotildees

Atividade

Accedilotildees Operaccedilotildees

Quadro 2 Estrutura geral da atividade adaptada de Leontiev (2001 2004)

A necessidade eacute o fator que desencadeia a atividade eacute ela que motiva o sujeito concretamente

a ter objetivos e realizar as accedilotildees (SFORNI 2004) Ela eacute um componente tatildeo importante que

Sforni (p97) acrescenta ldquonem todo processo eacute uma atividade mas somente aquele que eacute

movido por uma necessidaderdquoObviamente ao pensarmos no ensino da escrita devemos levar

em conta que a necessidade eacute um componente importante

11

E o que leva uma crianccedila a produzir um texto Certamente natildeo deveria ser o fato de cumprir

uma tarefa ou preencher o tempo da sala mas a necessidade da crianccedila escrever vincula-se ao

motivo a uma relaccedilatildeo com esse objeto que vai aleacutem da razatildeo envolvendo aspectos tambeacutem

de ordem afetiva Se ela natildeo vecirc sentido naquilo que realiza logo natildeo torna consciente o que

escreve e faz e se natildeo tem consciecircncia sobre as accedilotildees que realiza natildeo eacute possiacutevel qualificaacute-las

de atividade mas apenas de uma tarefa de uma obrigaccedilatildeo escolarO motivo eacute justamente o

componente mais afetivo da teoria da afetividade Vincula-se agraves emoccedilotildees do sujeito e

relaciona-se ao sentido da atividade

A finalidade tem a ver com aquilo que se pretende de forma mais particular naquela atividade

poderiacuteamos associaacute-la ao objetivo Para a realizaccedilatildeo desse objetivo seratildeo necessaacuterias as

condiccedilotildees os meios para alcanccedilaacute-lo por intermeacutedio das accedilotildees e das operaccedilotildeesA accedilatildeo eacute o

processo cuja o motivo natildeo coincide com seu objeto mas pertence aacute atividade

Leontiev (2004) ilustra essa afirmaccedilatildeo ao explicar que a atividade de ler um livro para apenas

passar numa prova natildeo eacute uma atividade mas uma accedilatildeo porque ler o livro por ler natildeo eacute um

objetivo forte que estimula a accedilatildeo do sujeito Poreacutem a accedilatildeo pode se transformar em atividade

quando passa a ter um motivo para o sujeito No exemplo dado se o aluno comeccedila a ler e a

leitura acaba por envolvecirc-lo por alguma razatildeo o motivo da atividade desloca-se

transformando-se a accedilatildeo em uma atividade

Uma accedilatildeo pode ser realizada de diferentes maneiras designadas por Leontiev de operaccedilotildees

as quais consistem no modo de execuccedilatildeo de uma determinada tarefa que pode ser variadoAs

operaccedilotildees particularizam um determinado objeto e revelam suas partes intriacutensecas daiacute serem

elementos fundamentais para a apropriaccedilatildeo As accedilotildees realizadas por indiviacuteduo no interior de

uma atividade transformam-se em operaccedilotildees e estas mais tarde em haacutebitos e habilidades

Quando isso ocorre saem da esfera dos processo conscientes e passam a ocupar um lugar

inferior na estrutura da atividade

Todavia ocupar lsquoum lugar inferiorrsquo natildeo significa simplificar o estatuto da operaccedilatildeo ao

contraacuterio significa afirmar que houve um processo de apropriaccedilatildeo que agora torna-se

consciente e que em tornando-se consciente deixa livre o pensamento para se incumbir de

novas accedilotildees e novas operaccedilotildees agora de caraacuteter mais elevadoA ideacuteia eacute que uma atividade

coloca a crianccedila em determinada accedilatildeo que por sua vez lhe exige operaccedilotildees para executaacute-la

Ao apropriar-se dessas operaccedilotildees a crianccedila deve ser exposta a novas accedilotildees e

consequentemente a novas operaccedilotildees de caraacuteter mais elevado a fim de que seus processos

mentais estejam em constante desenvolvimento conforme ilustra o quadro abaixo

12

xxx

Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa

Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa

Atividade Accedilatildeo Operaccedilatildeo

Quadro 3 Movimento da aprendizagem na Teoria da Atividade com base em Sforni (2004)

Esse movimento revela para Leontiev o processo ininterrupto de desenvolvimento do sujeito

Para Sforni (2004 p104) esse processo revela o momento da aprendizagem poreacutem natildeo eacute

natural precisa ser mediado por algueacutem mais experiente o que reforccedila a ideacuteia de que a

mediaccedilatildeo tal como jaacute sublinhamos nos estudos vygtskianos eacute outro compontente

fundamental do processo de apropriaccedilatildeo

Todo esse contexto nos leva a pensar novamente sobre a repeticcedilatildeo sistemaacutetica de 1ordf a 4ordf

seacuterie da escrita de narrativas escolaresSe pela teoria da atividade a crianccedila precisa estar

exposta a novas accedilotildees e a novas operaccedilotildees quais conteuacutedos satildeo avanccedilados de seacuterie para

seacuterie se existe a repeticcedilatildeo sistemaacutetica principalmente da narrativa escolar baseada no

modelo aristoteacutelico Se percebemos que as crianccedilas jaacute dominam esse gecircnero escolar por que

natildeo avanccedilar com novos gecircneros ou em ficando nesse gecircnero com novas operaccedilotildees que

mobilizaratildeo novos conteuacutedos Por exemplo em se pensando em gecircneros que se utilizam da

sequumlecircncia narrativa como predominante por que natildeo trabalhar com narrativas de enigmas ou

narrativas de terror que traratildeo novas variaccedilotildees e novos esquemas de organizaccedilatildeo para serem

apropriados pelas crianccedilas

Completando o quadro teoacuterico da TA Davydov (1998) concorda com Leontiev que a

estrutura da atividade seja composta de necessidades tarefas accedilotildees e operaccedilotildees poreacutem

acrescenta um novo componente ndash o desejo ndashjaacute que para ele as emoccedilotildees satildeo inseparaacuteveis da

necessidade (a emoccedilatildeo seria a base para todas as tarefas que o homem se propotildee a fazer) eacute o

desejo que provoca uma necessidade entatildeo a funccedilatildeo do professor seria a de pensar em como

criar desejos para a aprendizagem para que estes provoquem uma necessidade e iniciem o

processo de atividade

Para Libacircneo (2004) esse novo componente deixa claro no campo edcacional ao viacutenculo

entre afetividade e cogniccedilatildeo As atividades humans estatildeo para o autor impregnadas de

13

sentido subjetivo as quais propuosionam nosso agir tanto pensando na esfera escolar como

na esfera do nosso cotidiano Nesse sentido precisamos levar em conta que o processode

apropriaccedilatildeo depende tambeacutem de aspectos afetivos (cf DAVYDOV 1998)

A questatildeo do desejo pode ser comparada agrave questatildeo da voliccedilatildeo discutida por Vygotsky

(2001)Como vimos na seccedilatildeo anterior a relaccedilatildeo do sujeito com o objeto eacute uma relaccedilatildeo

mediada pelo outro atraveacutes da linguagem (e das ferramentas) Para Vygotsky (19882001) eacute a

linguagem que possibilita a constituiccedilatildeo do pensamento da consciecircncia da vontade isto eacute

das funccedilotildees psicoloacutegicas superiores Nesse sentido soacute tomamos consciecircncia individual a

partir primeiro das interaccedilotildees sociais ou da relaccedilatildeo com o outro Normalmente no caso da

crianccedila esse outro eacute algueacutem afetivamente proacutexima a ela Eacute o aspecto emocional envolvido

nessa relaccedilatildeo que motiva e impulsiona a crianccedila a agir Nesse sentido temos que a vontade eacute

uma funccedilatildeo psicoloacutegica superior e a sua construccedilatildeo depende de uma atividade que eacute portanto

de natureza social

Todas essas categorias na perspectiva da Teoria da Atividade implicam que se coloque a

crianccedila em uma trabalho inicialmente coletivo para posteriormente ser individual o que

remete agrave importacircncia de se desenvolver na sala de aula aleacutem das produccedilotildees individuais as

produccedilotildees coletivas De qualquer modo mesmo natildeo sendo um campo epistemoloacutegico voltado

para os gecircneros textuais eacute possiacutevel percebermos as razotildees de Bronckart (2003 2006) ter

utilizado dessa fonte no Interacionismo Sociodiscursivo jaacute que as noccedilotildees de atividade e da

accedilatildeo natildeo soacute regulam os objetivos dos indiviacuteduos nas diversas interaccedilotildees sociais como

tambeacutem satildeo importantes elementos para pensarmos em como gerar um conhecimento que seja

significativo e dessa forma seja apreendido pela crianccedilaaluno

4 Ilustrando o trabalho com a formaccedilatildeo de professores de seacuteries iniciais

As duas atividades que seratildeo aqui delineadas decorreram de trecircs de um total de seis etapas de

um curso de formaccedilatildeo envolvendo o tema gecircneros textuais e ensino ministrado para 15

professores de uma escola da rede puacuteblica do noroeste do Paranaacute por duas professoras

formadoras (das quais fizemos parte) e estagiaacuterias do curso de Letras no segundo semestre de

2007 As trecircs etapas iniciais tiveram como toacutepicos (a) pressupostos baacutesicos da Abordagem

Histoacuterico-Social e da Teoria da Atividade b) pressupostos gerais sobre gecircneros textuais a

partir de Bakthin e o Interacionismo Social dentre os quais foram destacados os aspectos

caracterizadores do gecircnero o tema a estrutura composicional e o estilo (BAKTHIN 1992) c)

contexto de produccedilatildeo no ISD (as capacidades de linguagem o instrumento sequumlecircncia didaacutetica

14

ficaram para outras sessotildees) d) transposiccedilatildeo dessas teorias para o ensino da escrita e)

planejamento de aulasoficinasPor questotildees de delimitaccedilatildeo enfocaremos neste artigo apenas

as subetapas ldquo drdquo e ldquoerdquo

As subetapas assinaladas envolveram duas atividades para os professores uma de cunho

teoacuterico e outra de cunho praacutetico A atividade de cunho teoacuterico ocorreu apoacutes as discussotildees

teoacutericas e foi apresentada da seguinte maneira

Em grupo elabore um quadro no qual vocecirc correlacione as categorias da Teoria da Atividade

aos elementos do contexto de produccedilatildeo vistos em Bakthin (1992) e em Bronckart (2003)

Embora no processo inicial de escolarizaccedilatildeo a comparaccedilatildeo como vimos eacute uma operaccedilatildeo

mental que pode caracterizar o pensamento empiacuterico aqui neste exerciacutecio ela natildeo eacute suficiente

Para que os professores realizassem a atividade precisariam entender primeiro cada uma das

teorias seus elementos para depois confrontaacute-los Isso exigiu que utilizassem diversas

operaccedilotildees mentais ressaltadas por Menchiskaia (1969) como a anaacutelise a abstraccedilatildeo a siacutentese

a comparaccedilatildeo a sistematizaccedilatildeo a definiccedilatildeo e a compreensatildeo necessaacuterias ao processo de

apropriaccedilatildeo

Aleacutem disso para a realizaccedilatildeo desse exerciacutecio procuramos respeitar os elementos proacuteprios da

Teoria da Atividade os professores que estavam no curso de formaccedilatildeo solicitaram o curso

portanto partiram de uma necessidade para ali estarem Aleacutem disso tinham um motivo e uma

finalidade queriam buscar informaccedilotildees sobre a transposiccedilatildeo dos gecircneros textuais para

otimizarem o trabalho com as crianccedilas na sala de aula Sabiam que para alcanccedilar esse

propoacutesito teriam que realizar atividades de forma conjunta compostas de accedilotildees e operaccedilotildees

como essa da elaboraccedilatildeo do quadro o planejamento de uma oficina dentre outras que natildeo nos

interessam nesse momento

Eacute preciso tambeacutem esclarecer que o quadro que seraacute apresentado a seguir foi o resultado final

de um trabalho coletivo e mediado pelas formadoras Para chegarmos a sua versatildeo final

foram necessaacuterias trecircs refacccedilotildees numa clara demonstraccedilatildeo de que o processo de

internalizaccedilatildeo como assevera Vygotsky (1988) depende de uma longa seacuterie de eventos

Assim muito provavelmente esse momento representa apenas um dos eventos que os

professores tiveram para iniciar esse processo mas que para que ele se consolide necessitaratildeo

de outros

15

Ressaltamos que todas as operaccedilotildees mentais anteriormente colocadas no referencial teoacuterico

para o desenvolvimento e apropriaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico dependem para que se

coloque o sujeito em atividade dos processos de mediaccedilatildeo tambeacutem realizados pelo professor

(VYGOTSKY 2000 SFORNI 2004) No nosso caso um dos recursos que utilizamos para

conduzir o processo de apropriaccedilatildeo e que se mostrou bastante produtivo em nossas

intervenccedilotildees foi a devoluccedilatildeo de uma nova pergunta apoacutes uma duacutevida estabelecida pelos

professores Como no momento das discussotildees utilizamos o gecircnero exposiccedilatildeo oral buscamos

nessa estrateacutegia comentada por Carneiro (2009) como uma das quais o professor pode se

utilizar para provocar a reflexatildeo e por efeito a possiacutevel compreensatildeo como ilustra o exemplo

abaixo

Professora ()entatildeo o desejo me parece ser tambeacutem a atividade natildeo eacute

Formadora veja pense num exemplo se jaacute almocei mas de repente vejo numa

vitrine um delicioso doce teria um desejo ou uma necessidade por ele

Professora uhm pera aiacute eu natildeo tenho necessidade de come porque jaacute estou

satisfeita mas tenho desejo neacute o desejo eacute mais emocional eacute mais voltado ao prazer

e a necessidade eacute aquilo que eacute necessaacuterio fazerparece mais racional()

Formadora isso agora pense nessa analogia para o campo da escrita

Profesora taacute o desejo tem a ver com o sentimentoa questatildeo dos sentimentos da

crianccedila neacute a gente tem que criar um viacutenculo afetivo entre ela e atividade que vamos

dar e a necessidade eacute taacute mais na razatildeo acho que tem a ver com aquela questatildeo que

discutimos com as praacuteticas sociais que satildeo as necessidades reais que temos de nos

comunicar()

Percebemos que ao devolver a duacutevida em forma de pergunta acrescida com um exemplo de

senso comum a professora formadora provoca uma reflexatildeo na professora participante e

como efeito gera-se o entendimento do conceito antes motivo de duacutevida Claro estaacute que nem

sempre esse recurso conforme comprova Carneiro (opcit) consegue proporcionar a

compreensatildeo mas sem duacutevida eacute ma estrateacutegia interessante para o professor de forma

consciente utilizar em suas explicaccedilotildees

Apoacutes esse trabalho de cunho coletivo elaboramos com a participaccedilatildeo das professoras o

quadro abaixo (resultado de trecircs refacccedilotildees) no qual aleacutem de pensar nas implicaccedilotildees para o

ensino elas tambeacutem correlacionaram os elementos da teoria da atividade com alguns dos

elementos do contexto de produccedilatildeo

16

Elementos estruturais da Teoria da Atividade Implicaccedilotildees para o ensino da escrita

DESEJO Elemento afetivo que desencadeia a necessidade da

escrita eacute desencadeado tanto pelo processo de

mediaccedilatildeo do professor com o aluno como tambeacutem

pela motivaccedilatildeo exercida por exemplo para a

abertura de um novo projetoatividade de

escritaNatildeo s relaciona a nenhum dos elementos

previstos pelo contexto de produccedilatildeo jaacute que eacute de

ordem emocional

NECESSIDADE Envolve o uso especiacutefico da escrita numa

determinada situaccedilatildeo de produccedilatildeo para atender a

uma praacutetica social especiacutefica escrever para publicar

um livro de contos escrever para produzir uma

reivindicaccedilatildeo escrever para solicitar alguma coisa

escrever para participar de um concurso escrever

um cardaacutepio para uma festa etc

MOTIVO Envolve o sentido da escrita para a crianccedila de modo

a convencecirc-la a escrever por meio de atividades que

oportunizem correlacionar a escrita com as emoccedilotildees

da crianccedila e tambeacutem com seus provaacuteveis

interlocutores pois satildeo eles que vinculam sentido

agravequilo que a crianccedila escreve (BAKTHIN 2003)

Uma dessas atividades que podem vincular a escrita

ao motivo pode ser a divulgaccedilatildeo da produccedilatildeo final

ao puacuteblico por exemplo compor um fabulaacuterio para

ser divulgado numa amostra de livros da escola

produzir cartazes para divulgaccedilatildeo de festas na escola

e afixaacute-los em estabelecimentos comerciais elaborar

notiacutecias para o jornal da escola ou para a raacutedio da

escola produzir livros de histoacuterias infantis para

crianccedilas menores elaborar uma seccedilatildeo de

classificados divulgando serviccedilos prestados ou

produtos vendidos por familiares e amigos do bairro

etcEntendemos que o fato da divulgaccedilatildeo do olhar

do outro como afirmam BakthinVoloshinov (1992)

satildeo essenciais para instaurar uma escrita

significativa

FINALIDADE Envolve o objetivo especiacutefico da escrita na situaccedilatildeo

de interaccedilatildeo para quecirc escrever Para solicitar

alguma coisa para colocar a minha opiniatildeo para

17

contar uma anedota etcA finalidade ou o objetivo

da produccedilatildeo deve vir claramente expressa no

comando de escrita a ser entregue para o aluno

ACcedilAtildeO Envolve a definiccedilatildeo do gecircnero textual que a crianccedila

iraacute escrever um resumo uma notiacutecia uma carta do

leitor um anuacutencio de classificado um comentaacuterio

um conto de fadas etc

OPERACcedilOtildeES (modos de execuccedilatildeo de uma catildeo) Envolve uma seacuterie de tarefas anteriores aacute produccedilatildeo

escritaoral do gecircnero com vistas aacute apropriaccedilatildeo dos

elementos caracterizadores dos gecircneros (o tema a

estrutura composiconal e o estilo) e levando em

conta as fases da escrita planejamento revisatildeo e

reescrita

Quadro 4 Elementos da Teoria da Atividade e sua implicaccedilatildeo na escrita

O exerciacutecio acima evidenciou-nos que mesmo sem ainda terem a noccedilatildeo sobre as capacidades

de linguagem a serem desenvolvidas no quadro do ISD os professores por meio das

operaccedilotildees mentais que o exerciacutecio exigia (anaacutelise comparaccedilatildeo abstraccedilatildeo siacutentese

exemplificaccedilatildeo) conseguem fazer relaccedilotildees coerentes entre os elementos da Teoria da

Atividade com implicaccedilotildees para o ensino da escrita Por exemplo relacionam a necessidade

elemento desencadeador da atividade com a praacutetica social como elemento desencadeador da

atividade de produccedilatildeo que no quadro do ISD eacute o elemento que possibilita alavancar por

exemplo as sequecircncias didaacuteticas (cfDOLZ SCHNEUWLY 2004)

Tambeacutem associam de forma interessante o motivo com um dos elementos do contexto de

produccedilatildeo o interlocutor reforccedilando a importacircncia desse elemento como tambeacutem aspecto

motivacional no ato da escrita Da mesma forma o tema e seu tratamento exaustivo

(BAKTHIN 1992) eacute explorado na associaccedilatildeo entre esse elemento e a accedilatildeo na medida em que

ao definir um determinado gecircnero estaacute implicado aiacute a realizaccedilatildeo desse elemento bakthiniano

Por fim nas operaccedilotildees fica claro que os professores conseguiram perceber que para se

escrever um determinado gecircnero seraacute preciso decompocirc-lo em uma seacuterie de atividades nas

quais se mobilizaratildeo o tema a estrutura composicional e o estilo

Na sequumlecircncia apoacutes a discussatildeo do quadro e com o intuito de promover mais um evento para

reforccedilar o processo de internalizaccedilatildeo agora numa atividade praacutetica solicitamos que cada

duplatrio de professores elaborassem um planejamento de uma oficina de leituraproduccedilatildeo

textual (jaacute que nesse momento ainda desconheciam outros instrumentos proacuteprios do ISD

18

como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com

atividades de escrita

O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras

de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre

de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um

suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito

com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar

jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da

Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que

tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos

previstos em cada etapa

A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma

oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas

as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs

refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo

4ordf seacuteries 12 ha

SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR

DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola

NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da

escola

MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral

FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na

escola e em casa

ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de

humor)

2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais

da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha

Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar

o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e

definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim

19

de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as

seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para

quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social

2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura

ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a

organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos

e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio

anterior

1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras

MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a

importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar

tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto

1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que

envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido

com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e

trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido

1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em

grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na

escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira

contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade

anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os

interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma

lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira

escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4

quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos

das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -

elaboraccedilatildeo dos balotildees

2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar

ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a

releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com

mediaccedilatildeo do professora

2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)

apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o

tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as

formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo

Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais

O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro

momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de

operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no

20

interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo

(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-

problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)

No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo

finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do

contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o

reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro

elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar

um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de

humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as

crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees

estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo

Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993

DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos

que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo

para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio

Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na

visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia

coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a

reescrita

Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos

como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser

compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado

pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua

transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o

processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica

para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos

da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do

Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se

coerentes a essas bases teoacutericas

Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e

certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e

conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que

soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um

21

pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)

talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados

5Consideraccedilotildees finais

O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo

de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da

Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de

apropriaccedilatildeo

a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade

interna

b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do

sujeito para que se concretize

c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por

elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e

as operaccedilotildees

d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem

mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como

propulsores do desenvolvimento

e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito

d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a

definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc

Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores

sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer

um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa

instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o

desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as

praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um

pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do

curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em

torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais

22

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Page 7: In: Anais.. V SIGET – Simpósio Internacional de Estudos de ... · Na perspectiva vygotskiana, portanto, a atividade do indivíduo sobre o objeto não é direta, ... por exemplo,

7

que pensemos por exemplo em categorias de exerciacutecios para a transposiccedilatildeo didaacutetica dos

gecircneros textuais pois levam a crianccedila a atividades mentais diferenciadas

Para chegar agrave sistematizaccedilatildeo a crianccedilaaluno se depara com outro processo mental a

abstraccedilatildeo Menchiskaia (op cit) no entanto explica que quando o aluno generaliza sobre

objetos ou fenocircmenos separa o que eacute geral do particular acaba natildeo dando importacircncia para

outras qualidades que os diferenciam entre si tem somente em conta aquilo que destacou

como geral Esse processo eacute a abstraccedilatildeo Por exemplo uma crianccedila pode pensar sobre a cor

parecida de determinados objetos e desprezar suas formas e funccedilotildees Por isso o processo de

abstraccedilatildeo e de generalizaccedilatildeo estatildeo intimamente ligados Assim para que uma correta

compreensatildeo do fenocircmeno seja realizada eacute necessaacuterio juntar agrave comparaccedilatildeo outros processos

mentais como a compreensatildeo a definiccedilatildeo o estabelecimento de causas e efeitos a soluccedilatildeo de

problemas a formulaccedilatildeo de outros exemplos dentre de um mesmo sistema dentre outras

Completando essa discussatildeo Rubstov (1996) explica que o desenvolvimento do

conhecimento cientiacutefico (a) eacute elaborado por meio de uma anaacutelise do papel e da funccedilatildeo de

uma certa relaccedilatildeo entre as coisas no interior de um sistema (b) representa as relaccedilotildees entre as

propriedades dos objetos e suas ligaccedilotildees internas (c) estabelece relaccedilatildeo entre o geral e o

particular (d) concretiza-s por meio da transformaccedilatildeo do saber em uma teoria desenvolvida

por meio da deduccedilatildeo e uma explicaccedilatildeo das manifestaccedilotildees concretas do sistema (e) apresenta-

se por diferentes modos de atividade intelectual e de operaccedilotildees mentais (f) utiliza-se de

diferentes sistemas semioacuteticos

Para os autores da THC portanto o conhecimento sensorial ou espontacircneo eacute a origem

indispensaacutevel para a formulaccedilatildeo de conceitos (DAVYDOV 1982 VYGOTSKY 1988 2000

2001) no entanto seraacute preciso revelar a essecircncia desse objeto que historicamente se

reconstitui atraveacutes do estudo do seu real funcionamento por meio a diversificaccedilatildeo d diversas

operaccedilotildees mentais

A ideacuteia de real funcionamento pensando nos gecircneros textuais remete agrave ideacuteia de praacuteticas

sociais situadas Ou seja natildeo se ensina um gecircnero pelo gecircnero mas se ensina um gecircnero para

que o aluno se aproprie de uma determinada praacutetica social para que use aquele gecircnero dentro

de uma situaccedilatildeo especiacutefica de comunicaccedilatildeo (NASCIMENTO 2007 ROJO 2005 LOPES-

ROSSI 2002)

Isso eacute possiacutevel a partir de um ensino voltado para a apropriaccedilatildeo adequada do conhecimento

teoacuterico objetivado nesse objeto o qual oportuniza agrave crianccedilasujeito entrar em contato com

diferentes modos de atividade intelectual com diferentes sistemas semioacuteticos e operaccedilotildees

mentais para aleacutem de representaccedilotildees meramente sensoriaisAleacutem de envolver processos como

8

a comparaccedilatildeo a anaacutelise a siacutentese a generalizaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de problema a

crianccedilasujeito ao estar inserida num ensino adequado voltado para a atividade toma

consciecircncia do real uso e valor do conceito aleacutem de conseguir mobilizaacute-lo em diferentes

tarefas (Davydov 1982) Exatamente por isso entender a noccedilatildeo de atividade eacute outro aspecto

para entendermos o processo de apropriaccedilatildeo

3 A contribuiccedilatildeo da teoria da atividade para o processo de apropriaccedilatildeo

A teoria da atividade (TA) desenvolvida por Leontiev e seguidores (Rubstein Luria e

Davydov) eacute considerada uma continuidade das ideacuteias de Vygotsky tido um dos precursores

da teoria psicoloacutegica da atividade Segundo Sforni (2004 p86)

As investigaccedilotildees de Leontiev voltaram-se para estudo da estrutura da

atividade externa e de seu viacutenculo com os processos psiacutequicos Seus estudos

revelaram que as atividades externa e interna tecircm estruturas idecircnticas e

mais que a atividade psiacutequica interna representa uma atividade material

externa transformada o que evidencia a unidade entra atividade e psiquismo

Ao comentar o processo de evoluccedilatildeo do homem Leontiev (2004) destaca que as

caracteriacutesticas humanas satildeo desenvolvidas pela apropriaccedilatildeo da cultura material e intelectual

transmitida de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo Isso quer dizer que natildeo nos relacionamos diretamente com o

mundo mas temos uma relaccedilatildeo que eacute mediada pelo conhecimento objetivado pelas geraccedilatildeo

que nos antecederam por intermeacutedio dos instrumentos simboacutelicos (signos) que proporcionam

nosso desenvolvimento mental O processo de mediaccedilatildeo portanto nessa concepccedilatildeo eacute um

meio de chegarmos agrave apropriaccedilatildeo dos mediadores culturais entendidos aqui tambeacutem como os

conhecimentos cientiacuteficos objetivados nos mais diversos instrumentos

Por intermeacutedio desses mediadores eacute que podemos pensar em desenvolvimento do psiquismo

da crianccedila (e tambeacutem do adulto) Ao se apropriar da linguagem enquanto mediadora cultural e

de outras ferramentas a princiacutepio fiacutesicas (como objetos o jogo o brinquedo) a crianccedila aos

poucos incorpora todo o desenvolvimento intelectual objetivado nesses elementos

(VYGOTSKY 1981 p 137)

Quando chega ao processo de escolarizaccedilatildeo novas ferramentas satildeo apresentadas para as

crianccedilas Se pensarmos no ensino da escrita nas seacuteries iniciais quais satildeo os textos que tecircm

ainda predominado Que tipo de instrumentos elas tecircm agrave disposiccedilatildeo para o desenvolvimento

9

da escrita A resposta eacute simples e velha conhecida no campo educacional as modalidades

retoacutericas (descriccedilatildeo dissertaccedilatildeo e principalmente a narraccedilatildeo) prevalecem como possiacuteveis

instrumentos de desenvolvimentos da escrita

Mas se nos voltarmos para a teoria Histoacuterico-Cultural e pensarmos em termos de cultura

material de heranccedila intelectual entendemos que as atividades humanas se desenvolveram por

meio da linguagem Ora essas atividades foram se multiplicando e se diversificando em cada

esfera da comunicaccedilatildeo humana (no cotidiano na literatura na religiatildeo no comeacutercio e mais

recentemente na miacutedia dentre outras) Em cada uma dessas esferas a comunicaccedilatildeo entre os

parceiros da interaccedilatildeo constituiu diferentes praacuteticas sociais que se materializaram e se

materializam ininterruptamente por meio dos gecircneros textuais (BAKTHIN 2003)

Essa organizaccedilatildeo das sociedades por praacuteticas sociais eacute diferente em cada eacutepoca histoacuterica em

cada lugar em cada cultura Por isso mesmo essas praacuteticas modificam-se outras se extinguem

e algumas novas surgem Os gecircneros textuais nesse sentido satildeo materializaccedilotildees de uma

determinada praacutetica social que por sua vez eacute dinacircmica e histoacuterica Veja-se por exemplo a

praacutetica social ldquomandar um recadordquoDependendo dos parceiros da interaccedilatildeo e da esfera de

circulaccedilatildeo poderiacuteamos fazer isso utilizando diferentes gecircneros por um bilhete (se fosse da

esfera familiar) por uma carta formal (esfera institucional) por um e-mail (esfera comercial)

Por isso mesmo entendemos que na medida em que os professores trabalham de forma

predominante com os textos narrativos ou as modalidades retoacutericas aleacutem de natildeo levarem em

conta todo esse legado intelectual produzido pela humanidade natildeo conseguem promover o

letramento dessa crianccedila no futuro (cf DIONIacuteSIO 2005) ou os multiletramentos os

letramentos multissemioacuteticos e os letramentos multimeios1 (cf ROJO 2007)

Por essas razotildees (e outras) eacute que os documentos oficiais como os Paracircmetros Curriculares

Nacionais (BRASIL 1998) tecircm insistido o trabalho com os diferentes gecircneros textuais

Poreacutem natildeo devemos nos seduzir apenas pelas prescriccedilotildees ou por modismos Pelo que jaacute

expusemostodo trabalho com um determinado objeto teoacuterico (seja o gecircnero ou outro) exige

conhecimento cientiacutefico do professor acerca do funcionamento dos gecircneros em suas mais

variadas esferas de circulaccedilatildeo sem o qual ele natildeo conseguiraacute promover na crianccedila nem a

apropriaccedilatildeo do gecircnero e nem o desenvolvimento da escrita

1 Os primeiros (multiletramentos) se referem ao trabalho com as muacuteltiplas esferas sociais nas quais os gecircneros se inscrevem tais como a jornaliacutestica a religiosa a juriacutedica a poliacutetica e natildeo apenas a literaacuteria como tem sido frequumlente na escola Os segundos (letramentos multissemioacuteticos) requerem que a escola trabalhe natildeo apenas com a linguagem verbal mas tambeacutem com a linguagem sonora imageacutetica visual musical jaacute que a TV a Internet satildeo veiacuteculos repletos de textos que se utilizam dessas formas de expressatildeoNo que concerne aos letramentos multimeios a autora considera aqueles gerados pelo contato com os mais diversos suportes de informaccedilatildeo que a sociedade disponibiliza entendidos como a TV o raacutedio o cinema a Internet o jornal impresso etc

10

Como vimos na seccedilatildeo anterior o processo de apropriaccedilatildeo implica em se colocar o sujeito

dentro de uma atividade conceito esse retomado pelo ISD mas cuja origem se daacute de forma

mais destacada na obra de Leontiev (20012004) No niacutevel individual a atividade eacute entendida

como uma forma de agir do sujeito direcionada a um objetoNo plano coletivo a atividade

define-se como

() aqueles processos que realizando as relaccedilotildees do homem como o mundo

satisfazem uma necessidade especial correspondente a ela () Por atividade

designamos os processos psicologicamente caracterizados por aquilo que o processa

como um todo se dirige (isto eacute objeto) coincidindo sempre com o objetivo que

estimula o sujeito a executar essa atividade isto eacute o motivo (LEONTIEV 2001

p315)

As atividades humanas para Leontiev (2004) satildeo consideradas como formadoras das relaccedilotildees

do sujeito com o mundo dirigidas por motivos por fins a serem alcanccedilados A ideacuteia de

atividade envolve entatildeo a noccedilatildeo de que o homem orienta-se por objetivos agindo de forma

intencional por accedilotildees planejadas

O autor daacute relevacircncia inicialmente agrave atividade coletiva em conjunto na medida em que o

ambiente sociocultural pode desencadear motivos para a realizaccedilatildeo de novas accedilotildees do sujeito

que por sua vez exigiratildeo novas operaccedilotildees as quais desenvolveratildeo os processos psiacutequicos

superioresOs componentes desse movimento da atividade propostos por Leontiev (2001) satildeo

necessidade- motivo- finalidade- condiccedilotildees para se obter a finalidade

Dentro dessa concepccedilatildeo a atividade eacute formada pela seguinte estrutura geral

Necessidade Motivo Objetivos Condiccedilotildees

Atividade

Accedilotildees Operaccedilotildees

Quadro 2 Estrutura geral da atividade adaptada de Leontiev (2001 2004)

A necessidade eacute o fator que desencadeia a atividade eacute ela que motiva o sujeito concretamente

a ter objetivos e realizar as accedilotildees (SFORNI 2004) Ela eacute um componente tatildeo importante que

Sforni (p97) acrescenta ldquonem todo processo eacute uma atividade mas somente aquele que eacute

movido por uma necessidaderdquoObviamente ao pensarmos no ensino da escrita devemos levar

em conta que a necessidade eacute um componente importante

11

E o que leva uma crianccedila a produzir um texto Certamente natildeo deveria ser o fato de cumprir

uma tarefa ou preencher o tempo da sala mas a necessidade da crianccedila escrever vincula-se ao

motivo a uma relaccedilatildeo com esse objeto que vai aleacutem da razatildeo envolvendo aspectos tambeacutem

de ordem afetiva Se ela natildeo vecirc sentido naquilo que realiza logo natildeo torna consciente o que

escreve e faz e se natildeo tem consciecircncia sobre as accedilotildees que realiza natildeo eacute possiacutevel qualificaacute-las

de atividade mas apenas de uma tarefa de uma obrigaccedilatildeo escolarO motivo eacute justamente o

componente mais afetivo da teoria da afetividade Vincula-se agraves emoccedilotildees do sujeito e

relaciona-se ao sentido da atividade

A finalidade tem a ver com aquilo que se pretende de forma mais particular naquela atividade

poderiacuteamos associaacute-la ao objetivo Para a realizaccedilatildeo desse objetivo seratildeo necessaacuterias as

condiccedilotildees os meios para alcanccedilaacute-lo por intermeacutedio das accedilotildees e das operaccedilotildeesA accedilatildeo eacute o

processo cuja o motivo natildeo coincide com seu objeto mas pertence aacute atividade

Leontiev (2004) ilustra essa afirmaccedilatildeo ao explicar que a atividade de ler um livro para apenas

passar numa prova natildeo eacute uma atividade mas uma accedilatildeo porque ler o livro por ler natildeo eacute um

objetivo forte que estimula a accedilatildeo do sujeito Poreacutem a accedilatildeo pode se transformar em atividade

quando passa a ter um motivo para o sujeito No exemplo dado se o aluno comeccedila a ler e a

leitura acaba por envolvecirc-lo por alguma razatildeo o motivo da atividade desloca-se

transformando-se a accedilatildeo em uma atividade

Uma accedilatildeo pode ser realizada de diferentes maneiras designadas por Leontiev de operaccedilotildees

as quais consistem no modo de execuccedilatildeo de uma determinada tarefa que pode ser variadoAs

operaccedilotildees particularizam um determinado objeto e revelam suas partes intriacutensecas daiacute serem

elementos fundamentais para a apropriaccedilatildeo As accedilotildees realizadas por indiviacuteduo no interior de

uma atividade transformam-se em operaccedilotildees e estas mais tarde em haacutebitos e habilidades

Quando isso ocorre saem da esfera dos processo conscientes e passam a ocupar um lugar

inferior na estrutura da atividade

Todavia ocupar lsquoum lugar inferiorrsquo natildeo significa simplificar o estatuto da operaccedilatildeo ao

contraacuterio significa afirmar que houve um processo de apropriaccedilatildeo que agora torna-se

consciente e que em tornando-se consciente deixa livre o pensamento para se incumbir de

novas accedilotildees e novas operaccedilotildees agora de caraacuteter mais elevadoA ideacuteia eacute que uma atividade

coloca a crianccedila em determinada accedilatildeo que por sua vez lhe exige operaccedilotildees para executaacute-la

Ao apropriar-se dessas operaccedilotildees a crianccedila deve ser exposta a novas accedilotildees e

consequentemente a novas operaccedilotildees de caraacuteter mais elevado a fim de que seus processos

mentais estejam em constante desenvolvimento conforme ilustra o quadro abaixo

12

xxx

Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa

Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa

Atividade Accedilatildeo Operaccedilatildeo

Quadro 3 Movimento da aprendizagem na Teoria da Atividade com base em Sforni (2004)

Esse movimento revela para Leontiev o processo ininterrupto de desenvolvimento do sujeito

Para Sforni (2004 p104) esse processo revela o momento da aprendizagem poreacutem natildeo eacute

natural precisa ser mediado por algueacutem mais experiente o que reforccedila a ideacuteia de que a

mediaccedilatildeo tal como jaacute sublinhamos nos estudos vygtskianos eacute outro compontente

fundamental do processo de apropriaccedilatildeo

Todo esse contexto nos leva a pensar novamente sobre a repeticcedilatildeo sistemaacutetica de 1ordf a 4ordf

seacuterie da escrita de narrativas escolaresSe pela teoria da atividade a crianccedila precisa estar

exposta a novas accedilotildees e a novas operaccedilotildees quais conteuacutedos satildeo avanccedilados de seacuterie para

seacuterie se existe a repeticcedilatildeo sistemaacutetica principalmente da narrativa escolar baseada no

modelo aristoteacutelico Se percebemos que as crianccedilas jaacute dominam esse gecircnero escolar por que

natildeo avanccedilar com novos gecircneros ou em ficando nesse gecircnero com novas operaccedilotildees que

mobilizaratildeo novos conteuacutedos Por exemplo em se pensando em gecircneros que se utilizam da

sequumlecircncia narrativa como predominante por que natildeo trabalhar com narrativas de enigmas ou

narrativas de terror que traratildeo novas variaccedilotildees e novos esquemas de organizaccedilatildeo para serem

apropriados pelas crianccedilas

Completando o quadro teoacuterico da TA Davydov (1998) concorda com Leontiev que a

estrutura da atividade seja composta de necessidades tarefas accedilotildees e operaccedilotildees poreacutem

acrescenta um novo componente ndash o desejo ndashjaacute que para ele as emoccedilotildees satildeo inseparaacuteveis da

necessidade (a emoccedilatildeo seria a base para todas as tarefas que o homem se propotildee a fazer) eacute o

desejo que provoca uma necessidade entatildeo a funccedilatildeo do professor seria a de pensar em como

criar desejos para a aprendizagem para que estes provoquem uma necessidade e iniciem o

processo de atividade

Para Libacircneo (2004) esse novo componente deixa claro no campo edcacional ao viacutenculo

entre afetividade e cogniccedilatildeo As atividades humans estatildeo para o autor impregnadas de

13

sentido subjetivo as quais propuosionam nosso agir tanto pensando na esfera escolar como

na esfera do nosso cotidiano Nesse sentido precisamos levar em conta que o processode

apropriaccedilatildeo depende tambeacutem de aspectos afetivos (cf DAVYDOV 1998)

A questatildeo do desejo pode ser comparada agrave questatildeo da voliccedilatildeo discutida por Vygotsky

(2001)Como vimos na seccedilatildeo anterior a relaccedilatildeo do sujeito com o objeto eacute uma relaccedilatildeo

mediada pelo outro atraveacutes da linguagem (e das ferramentas) Para Vygotsky (19882001) eacute a

linguagem que possibilita a constituiccedilatildeo do pensamento da consciecircncia da vontade isto eacute

das funccedilotildees psicoloacutegicas superiores Nesse sentido soacute tomamos consciecircncia individual a

partir primeiro das interaccedilotildees sociais ou da relaccedilatildeo com o outro Normalmente no caso da

crianccedila esse outro eacute algueacutem afetivamente proacutexima a ela Eacute o aspecto emocional envolvido

nessa relaccedilatildeo que motiva e impulsiona a crianccedila a agir Nesse sentido temos que a vontade eacute

uma funccedilatildeo psicoloacutegica superior e a sua construccedilatildeo depende de uma atividade que eacute portanto

de natureza social

Todas essas categorias na perspectiva da Teoria da Atividade implicam que se coloque a

crianccedila em uma trabalho inicialmente coletivo para posteriormente ser individual o que

remete agrave importacircncia de se desenvolver na sala de aula aleacutem das produccedilotildees individuais as

produccedilotildees coletivas De qualquer modo mesmo natildeo sendo um campo epistemoloacutegico voltado

para os gecircneros textuais eacute possiacutevel percebermos as razotildees de Bronckart (2003 2006) ter

utilizado dessa fonte no Interacionismo Sociodiscursivo jaacute que as noccedilotildees de atividade e da

accedilatildeo natildeo soacute regulam os objetivos dos indiviacuteduos nas diversas interaccedilotildees sociais como

tambeacutem satildeo importantes elementos para pensarmos em como gerar um conhecimento que seja

significativo e dessa forma seja apreendido pela crianccedilaaluno

4 Ilustrando o trabalho com a formaccedilatildeo de professores de seacuteries iniciais

As duas atividades que seratildeo aqui delineadas decorreram de trecircs de um total de seis etapas de

um curso de formaccedilatildeo envolvendo o tema gecircneros textuais e ensino ministrado para 15

professores de uma escola da rede puacuteblica do noroeste do Paranaacute por duas professoras

formadoras (das quais fizemos parte) e estagiaacuterias do curso de Letras no segundo semestre de

2007 As trecircs etapas iniciais tiveram como toacutepicos (a) pressupostos baacutesicos da Abordagem

Histoacuterico-Social e da Teoria da Atividade b) pressupostos gerais sobre gecircneros textuais a

partir de Bakthin e o Interacionismo Social dentre os quais foram destacados os aspectos

caracterizadores do gecircnero o tema a estrutura composicional e o estilo (BAKTHIN 1992) c)

contexto de produccedilatildeo no ISD (as capacidades de linguagem o instrumento sequumlecircncia didaacutetica

14

ficaram para outras sessotildees) d) transposiccedilatildeo dessas teorias para o ensino da escrita e)

planejamento de aulasoficinasPor questotildees de delimitaccedilatildeo enfocaremos neste artigo apenas

as subetapas ldquo drdquo e ldquoerdquo

As subetapas assinaladas envolveram duas atividades para os professores uma de cunho

teoacuterico e outra de cunho praacutetico A atividade de cunho teoacuterico ocorreu apoacutes as discussotildees

teoacutericas e foi apresentada da seguinte maneira

Em grupo elabore um quadro no qual vocecirc correlacione as categorias da Teoria da Atividade

aos elementos do contexto de produccedilatildeo vistos em Bakthin (1992) e em Bronckart (2003)

Embora no processo inicial de escolarizaccedilatildeo a comparaccedilatildeo como vimos eacute uma operaccedilatildeo

mental que pode caracterizar o pensamento empiacuterico aqui neste exerciacutecio ela natildeo eacute suficiente

Para que os professores realizassem a atividade precisariam entender primeiro cada uma das

teorias seus elementos para depois confrontaacute-los Isso exigiu que utilizassem diversas

operaccedilotildees mentais ressaltadas por Menchiskaia (1969) como a anaacutelise a abstraccedilatildeo a siacutentese

a comparaccedilatildeo a sistematizaccedilatildeo a definiccedilatildeo e a compreensatildeo necessaacuterias ao processo de

apropriaccedilatildeo

Aleacutem disso para a realizaccedilatildeo desse exerciacutecio procuramos respeitar os elementos proacuteprios da

Teoria da Atividade os professores que estavam no curso de formaccedilatildeo solicitaram o curso

portanto partiram de uma necessidade para ali estarem Aleacutem disso tinham um motivo e uma

finalidade queriam buscar informaccedilotildees sobre a transposiccedilatildeo dos gecircneros textuais para

otimizarem o trabalho com as crianccedilas na sala de aula Sabiam que para alcanccedilar esse

propoacutesito teriam que realizar atividades de forma conjunta compostas de accedilotildees e operaccedilotildees

como essa da elaboraccedilatildeo do quadro o planejamento de uma oficina dentre outras que natildeo nos

interessam nesse momento

Eacute preciso tambeacutem esclarecer que o quadro que seraacute apresentado a seguir foi o resultado final

de um trabalho coletivo e mediado pelas formadoras Para chegarmos a sua versatildeo final

foram necessaacuterias trecircs refacccedilotildees numa clara demonstraccedilatildeo de que o processo de

internalizaccedilatildeo como assevera Vygotsky (1988) depende de uma longa seacuterie de eventos

Assim muito provavelmente esse momento representa apenas um dos eventos que os

professores tiveram para iniciar esse processo mas que para que ele se consolide necessitaratildeo

de outros

15

Ressaltamos que todas as operaccedilotildees mentais anteriormente colocadas no referencial teoacuterico

para o desenvolvimento e apropriaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico dependem para que se

coloque o sujeito em atividade dos processos de mediaccedilatildeo tambeacutem realizados pelo professor

(VYGOTSKY 2000 SFORNI 2004) No nosso caso um dos recursos que utilizamos para

conduzir o processo de apropriaccedilatildeo e que se mostrou bastante produtivo em nossas

intervenccedilotildees foi a devoluccedilatildeo de uma nova pergunta apoacutes uma duacutevida estabelecida pelos

professores Como no momento das discussotildees utilizamos o gecircnero exposiccedilatildeo oral buscamos

nessa estrateacutegia comentada por Carneiro (2009) como uma das quais o professor pode se

utilizar para provocar a reflexatildeo e por efeito a possiacutevel compreensatildeo como ilustra o exemplo

abaixo

Professora ()entatildeo o desejo me parece ser tambeacutem a atividade natildeo eacute

Formadora veja pense num exemplo se jaacute almocei mas de repente vejo numa

vitrine um delicioso doce teria um desejo ou uma necessidade por ele

Professora uhm pera aiacute eu natildeo tenho necessidade de come porque jaacute estou

satisfeita mas tenho desejo neacute o desejo eacute mais emocional eacute mais voltado ao prazer

e a necessidade eacute aquilo que eacute necessaacuterio fazerparece mais racional()

Formadora isso agora pense nessa analogia para o campo da escrita

Profesora taacute o desejo tem a ver com o sentimentoa questatildeo dos sentimentos da

crianccedila neacute a gente tem que criar um viacutenculo afetivo entre ela e atividade que vamos

dar e a necessidade eacute taacute mais na razatildeo acho que tem a ver com aquela questatildeo que

discutimos com as praacuteticas sociais que satildeo as necessidades reais que temos de nos

comunicar()

Percebemos que ao devolver a duacutevida em forma de pergunta acrescida com um exemplo de

senso comum a professora formadora provoca uma reflexatildeo na professora participante e

como efeito gera-se o entendimento do conceito antes motivo de duacutevida Claro estaacute que nem

sempre esse recurso conforme comprova Carneiro (opcit) consegue proporcionar a

compreensatildeo mas sem duacutevida eacute ma estrateacutegia interessante para o professor de forma

consciente utilizar em suas explicaccedilotildees

Apoacutes esse trabalho de cunho coletivo elaboramos com a participaccedilatildeo das professoras o

quadro abaixo (resultado de trecircs refacccedilotildees) no qual aleacutem de pensar nas implicaccedilotildees para o

ensino elas tambeacutem correlacionaram os elementos da teoria da atividade com alguns dos

elementos do contexto de produccedilatildeo

16

Elementos estruturais da Teoria da Atividade Implicaccedilotildees para o ensino da escrita

DESEJO Elemento afetivo que desencadeia a necessidade da

escrita eacute desencadeado tanto pelo processo de

mediaccedilatildeo do professor com o aluno como tambeacutem

pela motivaccedilatildeo exercida por exemplo para a

abertura de um novo projetoatividade de

escritaNatildeo s relaciona a nenhum dos elementos

previstos pelo contexto de produccedilatildeo jaacute que eacute de

ordem emocional

NECESSIDADE Envolve o uso especiacutefico da escrita numa

determinada situaccedilatildeo de produccedilatildeo para atender a

uma praacutetica social especiacutefica escrever para publicar

um livro de contos escrever para produzir uma

reivindicaccedilatildeo escrever para solicitar alguma coisa

escrever para participar de um concurso escrever

um cardaacutepio para uma festa etc

MOTIVO Envolve o sentido da escrita para a crianccedila de modo

a convencecirc-la a escrever por meio de atividades que

oportunizem correlacionar a escrita com as emoccedilotildees

da crianccedila e tambeacutem com seus provaacuteveis

interlocutores pois satildeo eles que vinculam sentido

agravequilo que a crianccedila escreve (BAKTHIN 2003)

Uma dessas atividades que podem vincular a escrita

ao motivo pode ser a divulgaccedilatildeo da produccedilatildeo final

ao puacuteblico por exemplo compor um fabulaacuterio para

ser divulgado numa amostra de livros da escola

produzir cartazes para divulgaccedilatildeo de festas na escola

e afixaacute-los em estabelecimentos comerciais elaborar

notiacutecias para o jornal da escola ou para a raacutedio da

escola produzir livros de histoacuterias infantis para

crianccedilas menores elaborar uma seccedilatildeo de

classificados divulgando serviccedilos prestados ou

produtos vendidos por familiares e amigos do bairro

etcEntendemos que o fato da divulgaccedilatildeo do olhar

do outro como afirmam BakthinVoloshinov (1992)

satildeo essenciais para instaurar uma escrita

significativa

FINALIDADE Envolve o objetivo especiacutefico da escrita na situaccedilatildeo

de interaccedilatildeo para quecirc escrever Para solicitar

alguma coisa para colocar a minha opiniatildeo para

17

contar uma anedota etcA finalidade ou o objetivo

da produccedilatildeo deve vir claramente expressa no

comando de escrita a ser entregue para o aluno

ACcedilAtildeO Envolve a definiccedilatildeo do gecircnero textual que a crianccedila

iraacute escrever um resumo uma notiacutecia uma carta do

leitor um anuacutencio de classificado um comentaacuterio

um conto de fadas etc

OPERACcedilOtildeES (modos de execuccedilatildeo de uma catildeo) Envolve uma seacuterie de tarefas anteriores aacute produccedilatildeo

escritaoral do gecircnero com vistas aacute apropriaccedilatildeo dos

elementos caracterizadores dos gecircneros (o tema a

estrutura composiconal e o estilo) e levando em

conta as fases da escrita planejamento revisatildeo e

reescrita

Quadro 4 Elementos da Teoria da Atividade e sua implicaccedilatildeo na escrita

O exerciacutecio acima evidenciou-nos que mesmo sem ainda terem a noccedilatildeo sobre as capacidades

de linguagem a serem desenvolvidas no quadro do ISD os professores por meio das

operaccedilotildees mentais que o exerciacutecio exigia (anaacutelise comparaccedilatildeo abstraccedilatildeo siacutentese

exemplificaccedilatildeo) conseguem fazer relaccedilotildees coerentes entre os elementos da Teoria da

Atividade com implicaccedilotildees para o ensino da escrita Por exemplo relacionam a necessidade

elemento desencadeador da atividade com a praacutetica social como elemento desencadeador da

atividade de produccedilatildeo que no quadro do ISD eacute o elemento que possibilita alavancar por

exemplo as sequecircncias didaacuteticas (cfDOLZ SCHNEUWLY 2004)

Tambeacutem associam de forma interessante o motivo com um dos elementos do contexto de

produccedilatildeo o interlocutor reforccedilando a importacircncia desse elemento como tambeacutem aspecto

motivacional no ato da escrita Da mesma forma o tema e seu tratamento exaustivo

(BAKTHIN 1992) eacute explorado na associaccedilatildeo entre esse elemento e a accedilatildeo na medida em que

ao definir um determinado gecircnero estaacute implicado aiacute a realizaccedilatildeo desse elemento bakthiniano

Por fim nas operaccedilotildees fica claro que os professores conseguiram perceber que para se

escrever um determinado gecircnero seraacute preciso decompocirc-lo em uma seacuterie de atividades nas

quais se mobilizaratildeo o tema a estrutura composicional e o estilo

Na sequumlecircncia apoacutes a discussatildeo do quadro e com o intuito de promover mais um evento para

reforccedilar o processo de internalizaccedilatildeo agora numa atividade praacutetica solicitamos que cada

duplatrio de professores elaborassem um planejamento de uma oficina de leituraproduccedilatildeo

textual (jaacute que nesse momento ainda desconheciam outros instrumentos proacuteprios do ISD

18

como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com

atividades de escrita

O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras

de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre

de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um

suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito

com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar

jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da

Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que

tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos

previstos em cada etapa

A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma

oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas

as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs

refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo

4ordf seacuteries 12 ha

SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR

DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola

NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da

escola

MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral

FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na

escola e em casa

ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de

humor)

2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais

da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha

Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar

o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e

definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim

19

de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as

seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para

quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social

2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura

ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a

organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos

e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio

anterior

1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras

MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a

importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar

tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto

1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que

envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido

com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e

trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido

1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em

grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na

escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira

contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade

anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os

interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma

lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira

escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4

quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos

das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -

elaboraccedilatildeo dos balotildees

2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar

ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a

releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com

mediaccedilatildeo do professora

2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)

apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o

tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as

formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo

Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais

O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro

momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de

operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no

20

interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo

(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-

problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)

No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo

finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do

contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o

reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro

elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar

um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de

humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as

crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees

estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo

Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993

DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos

que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo

para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio

Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na

visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia

coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a

reescrita

Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos

como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser

compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado

pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua

transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o

processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica

para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos

da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do

Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se

coerentes a essas bases teoacutericas

Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e

certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e

conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que

soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um

21

pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)

talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados

5Consideraccedilotildees finais

O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo

de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da

Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de

apropriaccedilatildeo

a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade

interna

b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do

sujeito para que se concretize

c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por

elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e

as operaccedilotildees

d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem

mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como

propulsores do desenvolvimento

e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito

d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a

definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc

Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores

sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer

um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa

instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o

desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as

praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um

pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do

curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em

torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais

22

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Page 8: In: Anais.. V SIGET – Simpósio Internacional de Estudos de ... · Na perspectiva vygotskiana, portanto, a atividade do indivíduo sobre o objeto não é direta, ... por exemplo,

8

a comparaccedilatildeo a anaacutelise a siacutentese a generalizaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de problema a

crianccedilasujeito ao estar inserida num ensino adequado voltado para a atividade toma

consciecircncia do real uso e valor do conceito aleacutem de conseguir mobilizaacute-lo em diferentes

tarefas (Davydov 1982) Exatamente por isso entender a noccedilatildeo de atividade eacute outro aspecto

para entendermos o processo de apropriaccedilatildeo

3 A contribuiccedilatildeo da teoria da atividade para o processo de apropriaccedilatildeo

A teoria da atividade (TA) desenvolvida por Leontiev e seguidores (Rubstein Luria e

Davydov) eacute considerada uma continuidade das ideacuteias de Vygotsky tido um dos precursores

da teoria psicoloacutegica da atividade Segundo Sforni (2004 p86)

As investigaccedilotildees de Leontiev voltaram-se para estudo da estrutura da

atividade externa e de seu viacutenculo com os processos psiacutequicos Seus estudos

revelaram que as atividades externa e interna tecircm estruturas idecircnticas e

mais que a atividade psiacutequica interna representa uma atividade material

externa transformada o que evidencia a unidade entra atividade e psiquismo

Ao comentar o processo de evoluccedilatildeo do homem Leontiev (2004) destaca que as

caracteriacutesticas humanas satildeo desenvolvidas pela apropriaccedilatildeo da cultura material e intelectual

transmitida de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo Isso quer dizer que natildeo nos relacionamos diretamente com o

mundo mas temos uma relaccedilatildeo que eacute mediada pelo conhecimento objetivado pelas geraccedilatildeo

que nos antecederam por intermeacutedio dos instrumentos simboacutelicos (signos) que proporcionam

nosso desenvolvimento mental O processo de mediaccedilatildeo portanto nessa concepccedilatildeo eacute um

meio de chegarmos agrave apropriaccedilatildeo dos mediadores culturais entendidos aqui tambeacutem como os

conhecimentos cientiacuteficos objetivados nos mais diversos instrumentos

Por intermeacutedio desses mediadores eacute que podemos pensar em desenvolvimento do psiquismo

da crianccedila (e tambeacutem do adulto) Ao se apropriar da linguagem enquanto mediadora cultural e

de outras ferramentas a princiacutepio fiacutesicas (como objetos o jogo o brinquedo) a crianccedila aos

poucos incorpora todo o desenvolvimento intelectual objetivado nesses elementos

(VYGOTSKY 1981 p 137)

Quando chega ao processo de escolarizaccedilatildeo novas ferramentas satildeo apresentadas para as

crianccedilas Se pensarmos no ensino da escrita nas seacuteries iniciais quais satildeo os textos que tecircm

ainda predominado Que tipo de instrumentos elas tecircm agrave disposiccedilatildeo para o desenvolvimento

9

da escrita A resposta eacute simples e velha conhecida no campo educacional as modalidades

retoacutericas (descriccedilatildeo dissertaccedilatildeo e principalmente a narraccedilatildeo) prevalecem como possiacuteveis

instrumentos de desenvolvimentos da escrita

Mas se nos voltarmos para a teoria Histoacuterico-Cultural e pensarmos em termos de cultura

material de heranccedila intelectual entendemos que as atividades humanas se desenvolveram por

meio da linguagem Ora essas atividades foram se multiplicando e se diversificando em cada

esfera da comunicaccedilatildeo humana (no cotidiano na literatura na religiatildeo no comeacutercio e mais

recentemente na miacutedia dentre outras) Em cada uma dessas esferas a comunicaccedilatildeo entre os

parceiros da interaccedilatildeo constituiu diferentes praacuteticas sociais que se materializaram e se

materializam ininterruptamente por meio dos gecircneros textuais (BAKTHIN 2003)

Essa organizaccedilatildeo das sociedades por praacuteticas sociais eacute diferente em cada eacutepoca histoacuterica em

cada lugar em cada cultura Por isso mesmo essas praacuteticas modificam-se outras se extinguem

e algumas novas surgem Os gecircneros textuais nesse sentido satildeo materializaccedilotildees de uma

determinada praacutetica social que por sua vez eacute dinacircmica e histoacuterica Veja-se por exemplo a

praacutetica social ldquomandar um recadordquoDependendo dos parceiros da interaccedilatildeo e da esfera de

circulaccedilatildeo poderiacuteamos fazer isso utilizando diferentes gecircneros por um bilhete (se fosse da

esfera familiar) por uma carta formal (esfera institucional) por um e-mail (esfera comercial)

Por isso mesmo entendemos que na medida em que os professores trabalham de forma

predominante com os textos narrativos ou as modalidades retoacutericas aleacutem de natildeo levarem em

conta todo esse legado intelectual produzido pela humanidade natildeo conseguem promover o

letramento dessa crianccedila no futuro (cf DIONIacuteSIO 2005) ou os multiletramentos os

letramentos multissemioacuteticos e os letramentos multimeios1 (cf ROJO 2007)

Por essas razotildees (e outras) eacute que os documentos oficiais como os Paracircmetros Curriculares

Nacionais (BRASIL 1998) tecircm insistido o trabalho com os diferentes gecircneros textuais

Poreacutem natildeo devemos nos seduzir apenas pelas prescriccedilotildees ou por modismos Pelo que jaacute

expusemostodo trabalho com um determinado objeto teoacuterico (seja o gecircnero ou outro) exige

conhecimento cientiacutefico do professor acerca do funcionamento dos gecircneros em suas mais

variadas esferas de circulaccedilatildeo sem o qual ele natildeo conseguiraacute promover na crianccedila nem a

apropriaccedilatildeo do gecircnero e nem o desenvolvimento da escrita

1 Os primeiros (multiletramentos) se referem ao trabalho com as muacuteltiplas esferas sociais nas quais os gecircneros se inscrevem tais como a jornaliacutestica a religiosa a juriacutedica a poliacutetica e natildeo apenas a literaacuteria como tem sido frequumlente na escola Os segundos (letramentos multissemioacuteticos) requerem que a escola trabalhe natildeo apenas com a linguagem verbal mas tambeacutem com a linguagem sonora imageacutetica visual musical jaacute que a TV a Internet satildeo veiacuteculos repletos de textos que se utilizam dessas formas de expressatildeoNo que concerne aos letramentos multimeios a autora considera aqueles gerados pelo contato com os mais diversos suportes de informaccedilatildeo que a sociedade disponibiliza entendidos como a TV o raacutedio o cinema a Internet o jornal impresso etc

10

Como vimos na seccedilatildeo anterior o processo de apropriaccedilatildeo implica em se colocar o sujeito

dentro de uma atividade conceito esse retomado pelo ISD mas cuja origem se daacute de forma

mais destacada na obra de Leontiev (20012004) No niacutevel individual a atividade eacute entendida

como uma forma de agir do sujeito direcionada a um objetoNo plano coletivo a atividade

define-se como

() aqueles processos que realizando as relaccedilotildees do homem como o mundo

satisfazem uma necessidade especial correspondente a ela () Por atividade

designamos os processos psicologicamente caracterizados por aquilo que o processa

como um todo se dirige (isto eacute objeto) coincidindo sempre com o objetivo que

estimula o sujeito a executar essa atividade isto eacute o motivo (LEONTIEV 2001

p315)

As atividades humanas para Leontiev (2004) satildeo consideradas como formadoras das relaccedilotildees

do sujeito com o mundo dirigidas por motivos por fins a serem alcanccedilados A ideacuteia de

atividade envolve entatildeo a noccedilatildeo de que o homem orienta-se por objetivos agindo de forma

intencional por accedilotildees planejadas

O autor daacute relevacircncia inicialmente agrave atividade coletiva em conjunto na medida em que o

ambiente sociocultural pode desencadear motivos para a realizaccedilatildeo de novas accedilotildees do sujeito

que por sua vez exigiratildeo novas operaccedilotildees as quais desenvolveratildeo os processos psiacutequicos

superioresOs componentes desse movimento da atividade propostos por Leontiev (2001) satildeo

necessidade- motivo- finalidade- condiccedilotildees para se obter a finalidade

Dentro dessa concepccedilatildeo a atividade eacute formada pela seguinte estrutura geral

Necessidade Motivo Objetivos Condiccedilotildees

Atividade

Accedilotildees Operaccedilotildees

Quadro 2 Estrutura geral da atividade adaptada de Leontiev (2001 2004)

A necessidade eacute o fator que desencadeia a atividade eacute ela que motiva o sujeito concretamente

a ter objetivos e realizar as accedilotildees (SFORNI 2004) Ela eacute um componente tatildeo importante que

Sforni (p97) acrescenta ldquonem todo processo eacute uma atividade mas somente aquele que eacute

movido por uma necessidaderdquoObviamente ao pensarmos no ensino da escrita devemos levar

em conta que a necessidade eacute um componente importante

11

E o que leva uma crianccedila a produzir um texto Certamente natildeo deveria ser o fato de cumprir

uma tarefa ou preencher o tempo da sala mas a necessidade da crianccedila escrever vincula-se ao

motivo a uma relaccedilatildeo com esse objeto que vai aleacutem da razatildeo envolvendo aspectos tambeacutem

de ordem afetiva Se ela natildeo vecirc sentido naquilo que realiza logo natildeo torna consciente o que

escreve e faz e se natildeo tem consciecircncia sobre as accedilotildees que realiza natildeo eacute possiacutevel qualificaacute-las

de atividade mas apenas de uma tarefa de uma obrigaccedilatildeo escolarO motivo eacute justamente o

componente mais afetivo da teoria da afetividade Vincula-se agraves emoccedilotildees do sujeito e

relaciona-se ao sentido da atividade

A finalidade tem a ver com aquilo que se pretende de forma mais particular naquela atividade

poderiacuteamos associaacute-la ao objetivo Para a realizaccedilatildeo desse objetivo seratildeo necessaacuterias as

condiccedilotildees os meios para alcanccedilaacute-lo por intermeacutedio das accedilotildees e das operaccedilotildeesA accedilatildeo eacute o

processo cuja o motivo natildeo coincide com seu objeto mas pertence aacute atividade

Leontiev (2004) ilustra essa afirmaccedilatildeo ao explicar que a atividade de ler um livro para apenas

passar numa prova natildeo eacute uma atividade mas uma accedilatildeo porque ler o livro por ler natildeo eacute um

objetivo forte que estimula a accedilatildeo do sujeito Poreacutem a accedilatildeo pode se transformar em atividade

quando passa a ter um motivo para o sujeito No exemplo dado se o aluno comeccedila a ler e a

leitura acaba por envolvecirc-lo por alguma razatildeo o motivo da atividade desloca-se

transformando-se a accedilatildeo em uma atividade

Uma accedilatildeo pode ser realizada de diferentes maneiras designadas por Leontiev de operaccedilotildees

as quais consistem no modo de execuccedilatildeo de uma determinada tarefa que pode ser variadoAs

operaccedilotildees particularizam um determinado objeto e revelam suas partes intriacutensecas daiacute serem

elementos fundamentais para a apropriaccedilatildeo As accedilotildees realizadas por indiviacuteduo no interior de

uma atividade transformam-se em operaccedilotildees e estas mais tarde em haacutebitos e habilidades

Quando isso ocorre saem da esfera dos processo conscientes e passam a ocupar um lugar

inferior na estrutura da atividade

Todavia ocupar lsquoum lugar inferiorrsquo natildeo significa simplificar o estatuto da operaccedilatildeo ao

contraacuterio significa afirmar que houve um processo de apropriaccedilatildeo que agora torna-se

consciente e que em tornando-se consciente deixa livre o pensamento para se incumbir de

novas accedilotildees e novas operaccedilotildees agora de caraacuteter mais elevadoA ideacuteia eacute que uma atividade

coloca a crianccedila em determinada accedilatildeo que por sua vez lhe exige operaccedilotildees para executaacute-la

Ao apropriar-se dessas operaccedilotildees a crianccedila deve ser exposta a novas accedilotildees e

consequentemente a novas operaccedilotildees de caraacuteter mais elevado a fim de que seus processos

mentais estejam em constante desenvolvimento conforme ilustra o quadro abaixo

12

xxx

Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa

Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa

Atividade Accedilatildeo Operaccedilatildeo

Quadro 3 Movimento da aprendizagem na Teoria da Atividade com base em Sforni (2004)

Esse movimento revela para Leontiev o processo ininterrupto de desenvolvimento do sujeito

Para Sforni (2004 p104) esse processo revela o momento da aprendizagem poreacutem natildeo eacute

natural precisa ser mediado por algueacutem mais experiente o que reforccedila a ideacuteia de que a

mediaccedilatildeo tal como jaacute sublinhamos nos estudos vygtskianos eacute outro compontente

fundamental do processo de apropriaccedilatildeo

Todo esse contexto nos leva a pensar novamente sobre a repeticcedilatildeo sistemaacutetica de 1ordf a 4ordf

seacuterie da escrita de narrativas escolaresSe pela teoria da atividade a crianccedila precisa estar

exposta a novas accedilotildees e a novas operaccedilotildees quais conteuacutedos satildeo avanccedilados de seacuterie para

seacuterie se existe a repeticcedilatildeo sistemaacutetica principalmente da narrativa escolar baseada no

modelo aristoteacutelico Se percebemos que as crianccedilas jaacute dominam esse gecircnero escolar por que

natildeo avanccedilar com novos gecircneros ou em ficando nesse gecircnero com novas operaccedilotildees que

mobilizaratildeo novos conteuacutedos Por exemplo em se pensando em gecircneros que se utilizam da

sequumlecircncia narrativa como predominante por que natildeo trabalhar com narrativas de enigmas ou

narrativas de terror que traratildeo novas variaccedilotildees e novos esquemas de organizaccedilatildeo para serem

apropriados pelas crianccedilas

Completando o quadro teoacuterico da TA Davydov (1998) concorda com Leontiev que a

estrutura da atividade seja composta de necessidades tarefas accedilotildees e operaccedilotildees poreacutem

acrescenta um novo componente ndash o desejo ndashjaacute que para ele as emoccedilotildees satildeo inseparaacuteveis da

necessidade (a emoccedilatildeo seria a base para todas as tarefas que o homem se propotildee a fazer) eacute o

desejo que provoca uma necessidade entatildeo a funccedilatildeo do professor seria a de pensar em como

criar desejos para a aprendizagem para que estes provoquem uma necessidade e iniciem o

processo de atividade

Para Libacircneo (2004) esse novo componente deixa claro no campo edcacional ao viacutenculo

entre afetividade e cogniccedilatildeo As atividades humans estatildeo para o autor impregnadas de

13

sentido subjetivo as quais propuosionam nosso agir tanto pensando na esfera escolar como

na esfera do nosso cotidiano Nesse sentido precisamos levar em conta que o processode

apropriaccedilatildeo depende tambeacutem de aspectos afetivos (cf DAVYDOV 1998)

A questatildeo do desejo pode ser comparada agrave questatildeo da voliccedilatildeo discutida por Vygotsky

(2001)Como vimos na seccedilatildeo anterior a relaccedilatildeo do sujeito com o objeto eacute uma relaccedilatildeo

mediada pelo outro atraveacutes da linguagem (e das ferramentas) Para Vygotsky (19882001) eacute a

linguagem que possibilita a constituiccedilatildeo do pensamento da consciecircncia da vontade isto eacute

das funccedilotildees psicoloacutegicas superiores Nesse sentido soacute tomamos consciecircncia individual a

partir primeiro das interaccedilotildees sociais ou da relaccedilatildeo com o outro Normalmente no caso da

crianccedila esse outro eacute algueacutem afetivamente proacutexima a ela Eacute o aspecto emocional envolvido

nessa relaccedilatildeo que motiva e impulsiona a crianccedila a agir Nesse sentido temos que a vontade eacute

uma funccedilatildeo psicoloacutegica superior e a sua construccedilatildeo depende de uma atividade que eacute portanto

de natureza social

Todas essas categorias na perspectiva da Teoria da Atividade implicam que se coloque a

crianccedila em uma trabalho inicialmente coletivo para posteriormente ser individual o que

remete agrave importacircncia de se desenvolver na sala de aula aleacutem das produccedilotildees individuais as

produccedilotildees coletivas De qualquer modo mesmo natildeo sendo um campo epistemoloacutegico voltado

para os gecircneros textuais eacute possiacutevel percebermos as razotildees de Bronckart (2003 2006) ter

utilizado dessa fonte no Interacionismo Sociodiscursivo jaacute que as noccedilotildees de atividade e da

accedilatildeo natildeo soacute regulam os objetivos dos indiviacuteduos nas diversas interaccedilotildees sociais como

tambeacutem satildeo importantes elementos para pensarmos em como gerar um conhecimento que seja

significativo e dessa forma seja apreendido pela crianccedilaaluno

4 Ilustrando o trabalho com a formaccedilatildeo de professores de seacuteries iniciais

As duas atividades que seratildeo aqui delineadas decorreram de trecircs de um total de seis etapas de

um curso de formaccedilatildeo envolvendo o tema gecircneros textuais e ensino ministrado para 15

professores de uma escola da rede puacuteblica do noroeste do Paranaacute por duas professoras

formadoras (das quais fizemos parte) e estagiaacuterias do curso de Letras no segundo semestre de

2007 As trecircs etapas iniciais tiveram como toacutepicos (a) pressupostos baacutesicos da Abordagem

Histoacuterico-Social e da Teoria da Atividade b) pressupostos gerais sobre gecircneros textuais a

partir de Bakthin e o Interacionismo Social dentre os quais foram destacados os aspectos

caracterizadores do gecircnero o tema a estrutura composicional e o estilo (BAKTHIN 1992) c)

contexto de produccedilatildeo no ISD (as capacidades de linguagem o instrumento sequumlecircncia didaacutetica

14

ficaram para outras sessotildees) d) transposiccedilatildeo dessas teorias para o ensino da escrita e)

planejamento de aulasoficinasPor questotildees de delimitaccedilatildeo enfocaremos neste artigo apenas

as subetapas ldquo drdquo e ldquoerdquo

As subetapas assinaladas envolveram duas atividades para os professores uma de cunho

teoacuterico e outra de cunho praacutetico A atividade de cunho teoacuterico ocorreu apoacutes as discussotildees

teoacutericas e foi apresentada da seguinte maneira

Em grupo elabore um quadro no qual vocecirc correlacione as categorias da Teoria da Atividade

aos elementos do contexto de produccedilatildeo vistos em Bakthin (1992) e em Bronckart (2003)

Embora no processo inicial de escolarizaccedilatildeo a comparaccedilatildeo como vimos eacute uma operaccedilatildeo

mental que pode caracterizar o pensamento empiacuterico aqui neste exerciacutecio ela natildeo eacute suficiente

Para que os professores realizassem a atividade precisariam entender primeiro cada uma das

teorias seus elementos para depois confrontaacute-los Isso exigiu que utilizassem diversas

operaccedilotildees mentais ressaltadas por Menchiskaia (1969) como a anaacutelise a abstraccedilatildeo a siacutentese

a comparaccedilatildeo a sistematizaccedilatildeo a definiccedilatildeo e a compreensatildeo necessaacuterias ao processo de

apropriaccedilatildeo

Aleacutem disso para a realizaccedilatildeo desse exerciacutecio procuramos respeitar os elementos proacuteprios da

Teoria da Atividade os professores que estavam no curso de formaccedilatildeo solicitaram o curso

portanto partiram de uma necessidade para ali estarem Aleacutem disso tinham um motivo e uma

finalidade queriam buscar informaccedilotildees sobre a transposiccedilatildeo dos gecircneros textuais para

otimizarem o trabalho com as crianccedilas na sala de aula Sabiam que para alcanccedilar esse

propoacutesito teriam que realizar atividades de forma conjunta compostas de accedilotildees e operaccedilotildees

como essa da elaboraccedilatildeo do quadro o planejamento de uma oficina dentre outras que natildeo nos

interessam nesse momento

Eacute preciso tambeacutem esclarecer que o quadro que seraacute apresentado a seguir foi o resultado final

de um trabalho coletivo e mediado pelas formadoras Para chegarmos a sua versatildeo final

foram necessaacuterias trecircs refacccedilotildees numa clara demonstraccedilatildeo de que o processo de

internalizaccedilatildeo como assevera Vygotsky (1988) depende de uma longa seacuterie de eventos

Assim muito provavelmente esse momento representa apenas um dos eventos que os

professores tiveram para iniciar esse processo mas que para que ele se consolide necessitaratildeo

de outros

15

Ressaltamos que todas as operaccedilotildees mentais anteriormente colocadas no referencial teoacuterico

para o desenvolvimento e apropriaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico dependem para que se

coloque o sujeito em atividade dos processos de mediaccedilatildeo tambeacutem realizados pelo professor

(VYGOTSKY 2000 SFORNI 2004) No nosso caso um dos recursos que utilizamos para

conduzir o processo de apropriaccedilatildeo e que se mostrou bastante produtivo em nossas

intervenccedilotildees foi a devoluccedilatildeo de uma nova pergunta apoacutes uma duacutevida estabelecida pelos

professores Como no momento das discussotildees utilizamos o gecircnero exposiccedilatildeo oral buscamos

nessa estrateacutegia comentada por Carneiro (2009) como uma das quais o professor pode se

utilizar para provocar a reflexatildeo e por efeito a possiacutevel compreensatildeo como ilustra o exemplo

abaixo

Professora ()entatildeo o desejo me parece ser tambeacutem a atividade natildeo eacute

Formadora veja pense num exemplo se jaacute almocei mas de repente vejo numa

vitrine um delicioso doce teria um desejo ou uma necessidade por ele

Professora uhm pera aiacute eu natildeo tenho necessidade de come porque jaacute estou

satisfeita mas tenho desejo neacute o desejo eacute mais emocional eacute mais voltado ao prazer

e a necessidade eacute aquilo que eacute necessaacuterio fazerparece mais racional()

Formadora isso agora pense nessa analogia para o campo da escrita

Profesora taacute o desejo tem a ver com o sentimentoa questatildeo dos sentimentos da

crianccedila neacute a gente tem que criar um viacutenculo afetivo entre ela e atividade que vamos

dar e a necessidade eacute taacute mais na razatildeo acho que tem a ver com aquela questatildeo que

discutimos com as praacuteticas sociais que satildeo as necessidades reais que temos de nos

comunicar()

Percebemos que ao devolver a duacutevida em forma de pergunta acrescida com um exemplo de

senso comum a professora formadora provoca uma reflexatildeo na professora participante e

como efeito gera-se o entendimento do conceito antes motivo de duacutevida Claro estaacute que nem

sempre esse recurso conforme comprova Carneiro (opcit) consegue proporcionar a

compreensatildeo mas sem duacutevida eacute ma estrateacutegia interessante para o professor de forma

consciente utilizar em suas explicaccedilotildees

Apoacutes esse trabalho de cunho coletivo elaboramos com a participaccedilatildeo das professoras o

quadro abaixo (resultado de trecircs refacccedilotildees) no qual aleacutem de pensar nas implicaccedilotildees para o

ensino elas tambeacutem correlacionaram os elementos da teoria da atividade com alguns dos

elementos do contexto de produccedilatildeo

16

Elementos estruturais da Teoria da Atividade Implicaccedilotildees para o ensino da escrita

DESEJO Elemento afetivo que desencadeia a necessidade da

escrita eacute desencadeado tanto pelo processo de

mediaccedilatildeo do professor com o aluno como tambeacutem

pela motivaccedilatildeo exercida por exemplo para a

abertura de um novo projetoatividade de

escritaNatildeo s relaciona a nenhum dos elementos

previstos pelo contexto de produccedilatildeo jaacute que eacute de

ordem emocional

NECESSIDADE Envolve o uso especiacutefico da escrita numa

determinada situaccedilatildeo de produccedilatildeo para atender a

uma praacutetica social especiacutefica escrever para publicar

um livro de contos escrever para produzir uma

reivindicaccedilatildeo escrever para solicitar alguma coisa

escrever para participar de um concurso escrever

um cardaacutepio para uma festa etc

MOTIVO Envolve o sentido da escrita para a crianccedila de modo

a convencecirc-la a escrever por meio de atividades que

oportunizem correlacionar a escrita com as emoccedilotildees

da crianccedila e tambeacutem com seus provaacuteveis

interlocutores pois satildeo eles que vinculam sentido

agravequilo que a crianccedila escreve (BAKTHIN 2003)

Uma dessas atividades que podem vincular a escrita

ao motivo pode ser a divulgaccedilatildeo da produccedilatildeo final

ao puacuteblico por exemplo compor um fabulaacuterio para

ser divulgado numa amostra de livros da escola

produzir cartazes para divulgaccedilatildeo de festas na escola

e afixaacute-los em estabelecimentos comerciais elaborar

notiacutecias para o jornal da escola ou para a raacutedio da

escola produzir livros de histoacuterias infantis para

crianccedilas menores elaborar uma seccedilatildeo de

classificados divulgando serviccedilos prestados ou

produtos vendidos por familiares e amigos do bairro

etcEntendemos que o fato da divulgaccedilatildeo do olhar

do outro como afirmam BakthinVoloshinov (1992)

satildeo essenciais para instaurar uma escrita

significativa

FINALIDADE Envolve o objetivo especiacutefico da escrita na situaccedilatildeo

de interaccedilatildeo para quecirc escrever Para solicitar

alguma coisa para colocar a minha opiniatildeo para

17

contar uma anedota etcA finalidade ou o objetivo

da produccedilatildeo deve vir claramente expressa no

comando de escrita a ser entregue para o aluno

ACcedilAtildeO Envolve a definiccedilatildeo do gecircnero textual que a crianccedila

iraacute escrever um resumo uma notiacutecia uma carta do

leitor um anuacutencio de classificado um comentaacuterio

um conto de fadas etc

OPERACcedilOtildeES (modos de execuccedilatildeo de uma catildeo) Envolve uma seacuterie de tarefas anteriores aacute produccedilatildeo

escritaoral do gecircnero com vistas aacute apropriaccedilatildeo dos

elementos caracterizadores dos gecircneros (o tema a

estrutura composiconal e o estilo) e levando em

conta as fases da escrita planejamento revisatildeo e

reescrita

Quadro 4 Elementos da Teoria da Atividade e sua implicaccedilatildeo na escrita

O exerciacutecio acima evidenciou-nos que mesmo sem ainda terem a noccedilatildeo sobre as capacidades

de linguagem a serem desenvolvidas no quadro do ISD os professores por meio das

operaccedilotildees mentais que o exerciacutecio exigia (anaacutelise comparaccedilatildeo abstraccedilatildeo siacutentese

exemplificaccedilatildeo) conseguem fazer relaccedilotildees coerentes entre os elementos da Teoria da

Atividade com implicaccedilotildees para o ensino da escrita Por exemplo relacionam a necessidade

elemento desencadeador da atividade com a praacutetica social como elemento desencadeador da

atividade de produccedilatildeo que no quadro do ISD eacute o elemento que possibilita alavancar por

exemplo as sequecircncias didaacuteticas (cfDOLZ SCHNEUWLY 2004)

Tambeacutem associam de forma interessante o motivo com um dos elementos do contexto de

produccedilatildeo o interlocutor reforccedilando a importacircncia desse elemento como tambeacutem aspecto

motivacional no ato da escrita Da mesma forma o tema e seu tratamento exaustivo

(BAKTHIN 1992) eacute explorado na associaccedilatildeo entre esse elemento e a accedilatildeo na medida em que

ao definir um determinado gecircnero estaacute implicado aiacute a realizaccedilatildeo desse elemento bakthiniano

Por fim nas operaccedilotildees fica claro que os professores conseguiram perceber que para se

escrever um determinado gecircnero seraacute preciso decompocirc-lo em uma seacuterie de atividades nas

quais se mobilizaratildeo o tema a estrutura composicional e o estilo

Na sequumlecircncia apoacutes a discussatildeo do quadro e com o intuito de promover mais um evento para

reforccedilar o processo de internalizaccedilatildeo agora numa atividade praacutetica solicitamos que cada

duplatrio de professores elaborassem um planejamento de uma oficina de leituraproduccedilatildeo

textual (jaacute que nesse momento ainda desconheciam outros instrumentos proacuteprios do ISD

18

como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com

atividades de escrita

O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras

de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre

de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um

suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito

com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar

jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da

Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que

tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos

previstos em cada etapa

A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma

oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas

as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs

refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo

4ordf seacuteries 12 ha

SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR

DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola

NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da

escola

MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral

FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na

escola e em casa

ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de

humor)

2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais

da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha

Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar

o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e

definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim

19

de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as

seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para

quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social

2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura

ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a

organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos

e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio

anterior

1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras

MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a

importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar

tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto

1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que

envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido

com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e

trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido

1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em

grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na

escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira

contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade

anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os

interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma

lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira

escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4

quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos

das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -

elaboraccedilatildeo dos balotildees

2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar

ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a

releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com

mediaccedilatildeo do professora

2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)

apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o

tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as

formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo

Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais

O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro

momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de

operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no

20

interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo

(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-

problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)

No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo

finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do

contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o

reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro

elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar

um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de

humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as

crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees

estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo

Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993

DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos

que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo

para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio

Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na

visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia

coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a

reescrita

Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos

como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser

compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado

pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua

transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o

processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica

para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos

da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do

Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se

coerentes a essas bases teoacutericas

Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e

certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e

conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que

soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um

21

pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)

talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados

5Consideraccedilotildees finais

O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo

de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da

Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de

apropriaccedilatildeo

a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade

interna

b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do

sujeito para que se concretize

c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por

elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e

as operaccedilotildees

d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem

mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como

propulsores do desenvolvimento

e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito

d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a

definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc

Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores

sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer

um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa

instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o

desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as

praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um

pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do

curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em

torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais

22

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Page 9: In: Anais.. V SIGET – Simpósio Internacional de Estudos de ... · Na perspectiva vygotskiana, portanto, a atividade do indivíduo sobre o objeto não é direta, ... por exemplo,

9

da escrita A resposta eacute simples e velha conhecida no campo educacional as modalidades

retoacutericas (descriccedilatildeo dissertaccedilatildeo e principalmente a narraccedilatildeo) prevalecem como possiacuteveis

instrumentos de desenvolvimentos da escrita

Mas se nos voltarmos para a teoria Histoacuterico-Cultural e pensarmos em termos de cultura

material de heranccedila intelectual entendemos que as atividades humanas se desenvolveram por

meio da linguagem Ora essas atividades foram se multiplicando e se diversificando em cada

esfera da comunicaccedilatildeo humana (no cotidiano na literatura na religiatildeo no comeacutercio e mais

recentemente na miacutedia dentre outras) Em cada uma dessas esferas a comunicaccedilatildeo entre os

parceiros da interaccedilatildeo constituiu diferentes praacuteticas sociais que se materializaram e se

materializam ininterruptamente por meio dos gecircneros textuais (BAKTHIN 2003)

Essa organizaccedilatildeo das sociedades por praacuteticas sociais eacute diferente em cada eacutepoca histoacuterica em

cada lugar em cada cultura Por isso mesmo essas praacuteticas modificam-se outras se extinguem

e algumas novas surgem Os gecircneros textuais nesse sentido satildeo materializaccedilotildees de uma

determinada praacutetica social que por sua vez eacute dinacircmica e histoacuterica Veja-se por exemplo a

praacutetica social ldquomandar um recadordquoDependendo dos parceiros da interaccedilatildeo e da esfera de

circulaccedilatildeo poderiacuteamos fazer isso utilizando diferentes gecircneros por um bilhete (se fosse da

esfera familiar) por uma carta formal (esfera institucional) por um e-mail (esfera comercial)

Por isso mesmo entendemos que na medida em que os professores trabalham de forma

predominante com os textos narrativos ou as modalidades retoacutericas aleacutem de natildeo levarem em

conta todo esse legado intelectual produzido pela humanidade natildeo conseguem promover o

letramento dessa crianccedila no futuro (cf DIONIacuteSIO 2005) ou os multiletramentos os

letramentos multissemioacuteticos e os letramentos multimeios1 (cf ROJO 2007)

Por essas razotildees (e outras) eacute que os documentos oficiais como os Paracircmetros Curriculares

Nacionais (BRASIL 1998) tecircm insistido o trabalho com os diferentes gecircneros textuais

Poreacutem natildeo devemos nos seduzir apenas pelas prescriccedilotildees ou por modismos Pelo que jaacute

expusemostodo trabalho com um determinado objeto teoacuterico (seja o gecircnero ou outro) exige

conhecimento cientiacutefico do professor acerca do funcionamento dos gecircneros em suas mais

variadas esferas de circulaccedilatildeo sem o qual ele natildeo conseguiraacute promover na crianccedila nem a

apropriaccedilatildeo do gecircnero e nem o desenvolvimento da escrita

1 Os primeiros (multiletramentos) se referem ao trabalho com as muacuteltiplas esferas sociais nas quais os gecircneros se inscrevem tais como a jornaliacutestica a religiosa a juriacutedica a poliacutetica e natildeo apenas a literaacuteria como tem sido frequumlente na escola Os segundos (letramentos multissemioacuteticos) requerem que a escola trabalhe natildeo apenas com a linguagem verbal mas tambeacutem com a linguagem sonora imageacutetica visual musical jaacute que a TV a Internet satildeo veiacuteculos repletos de textos que se utilizam dessas formas de expressatildeoNo que concerne aos letramentos multimeios a autora considera aqueles gerados pelo contato com os mais diversos suportes de informaccedilatildeo que a sociedade disponibiliza entendidos como a TV o raacutedio o cinema a Internet o jornal impresso etc

10

Como vimos na seccedilatildeo anterior o processo de apropriaccedilatildeo implica em se colocar o sujeito

dentro de uma atividade conceito esse retomado pelo ISD mas cuja origem se daacute de forma

mais destacada na obra de Leontiev (20012004) No niacutevel individual a atividade eacute entendida

como uma forma de agir do sujeito direcionada a um objetoNo plano coletivo a atividade

define-se como

() aqueles processos que realizando as relaccedilotildees do homem como o mundo

satisfazem uma necessidade especial correspondente a ela () Por atividade

designamos os processos psicologicamente caracterizados por aquilo que o processa

como um todo se dirige (isto eacute objeto) coincidindo sempre com o objetivo que

estimula o sujeito a executar essa atividade isto eacute o motivo (LEONTIEV 2001

p315)

As atividades humanas para Leontiev (2004) satildeo consideradas como formadoras das relaccedilotildees

do sujeito com o mundo dirigidas por motivos por fins a serem alcanccedilados A ideacuteia de

atividade envolve entatildeo a noccedilatildeo de que o homem orienta-se por objetivos agindo de forma

intencional por accedilotildees planejadas

O autor daacute relevacircncia inicialmente agrave atividade coletiva em conjunto na medida em que o

ambiente sociocultural pode desencadear motivos para a realizaccedilatildeo de novas accedilotildees do sujeito

que por sua vez exigiratildeo novas operaccedilotildees as quais desenvolveratildeo os processos psiacutequicos

superioresOs componentes desse movimento da atividade propostos por Leontiev (2001) satildeo

necessidade- motivo- finalidade- condiccedilotildees para se obter a finalidade

Dentro dessa concepccedilatildeo a atividade eacute formada pela seguinte estrutura geral

Necessidade Motivo Objetivos Condiccedilotildees

Atividade

Accedilotildees Operaccedilotildees

Quadro 2 Estrutura geral da atividade adaptada de Leontiev (2001 2004)

A necessidade eacute o fator que desencadeia a atividade eacute ela que motiva o sujeito concretamente

a ter objetivos e realizar as accedilotildees (SFORNI 2004) Ela eacute um componente tatildeo importante que

Sforni (p97) acrescenta ldquonem todo processo eacute uma atividade mas somente aquele que eacute

movido por uma necessidaderdquoObviamente ao pensarmos no ensino da escrita devemos levar

em conta que a necessidade eacute um componente importante

11

E o que leva uma crianccedila a produzir um texto Certamente natildeo deveria ser o fato de cumprir

uma tarefa ou preencher o tempo da sala mas a necessidade da crianccedila escrever vincula-se ao

motivo a uma relaccedilatildeo com esse objeto que vai aleacutem da razatildeo envolvendo aspectos tambeacutem

de ordem afetiva Se ela natildeo vecirc sentido naquilo que realiza logo natildeo torna consciente o que

escreve e faz e se natildeo tem consciecircncia sobre as accedilotildees que realiza natildeo eacute possiacutevel qualificaacute-las

de atividade mas apenas de uma tarefa de uma obrigaccedilatildeo escolarO motivo eacute justamente o

componente mais afetivo da teoria da afetividade Vincula-se agraves emoccedilotildees do sujeito e

relaciona-se ao sentido da atividade

A finalidade tem a ver com aquilo que se pretende de forma mais particular naquela atividade

poderiacuteamos associaacute-la ao objetivo Para a realizaccedilatildeo desse objetivo seratildeo necessaacuterias as

condiccedilotildees os meios para alcanccedilaacute-lo por intermeacutedio das accedilotildees e das operaccedilotildeesA accedilatildeo eacute o

processo cuja o motivo natildeo coincide com seu objeto mas pertence aacute atividade

Leontiev (2004) ilustra essa afirmaccedilatildeo ao explicar que a atividade de ler um livro para apenas

passar numa prova natildeo eacute uma atividade mas uma accedilatildeo porque ler o livro por ler natildeo eacute um

objetivo forte que estimula a accedilatildeo do sujeito Poreacutem a accedilatildeo pode se transformar em atividade

quando passa a ter um motivo para o sujeito No exemplo dado se o aluno comeccedila a ler e a

leitura acaba por envolvecirc-lo por alguma razatildeo o motivo da atividade desloca-se

transformando-se a accedilatildeo em uma atividade

Uma accedilatildeo pode ser realizada de diferentes maneiras designadas por Leontiev de operaccedilotildees

as quais consistem no modo de execuccedilatildeo de uma determinada tarefa que pode ser variadoAs

operaccedilotildees particularizam um determinado objeto e revelam suas partes intriacutensecas daiacute serem

elementos fundamentais para a apropriaccedilatildeo As accedilotildees realizadas por indiviacuteduo no interior de

uma atividade transformam-se em operaccedilotildees e estas mais tarde em haacutebitos e habilidades

Quando isso ocorre saem da esfera dos processo conscientes e passam a ocupar um lugar

inferior na estrutura da atividade

Todavia ocupar lsquoum lugar inferiorrsquo natildeo significa simplificar o estatuto da operaccedilatildeo ao

contraacuterio significa afirmar que houve um processo de apropriaccedilatildeo que agora torna-se

consciente e que em tornando-se consciente deixa livre o pensamento para se incumbir de

novas accedilotildees e novas operaccedilotildees agora de caraacuteter mais elevadoA ideacuteia eacute que uma atividade

coloca a crianccedila em determinada accedilatildeo que por sua vez lhe exige operaccedilotildees para executaacute-la

Ao apropriar-se dessas operaccedilotildees a crianccedila deve ser exposta a novas accedilotildees e

consequentemente a novas operaccedilotildees de caraacuteter mais elevado a fim de que seus processos

mentais estejam em constante desenvolvimento conforme ilustra o quadro abaixo

12

xxx

Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa

Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa

Atividade Accedilatildeo Operaccedilatildeo

Quadro 3 Movimento da aprendizagem na Teoria da Atividade com base em Sforni (2004)

Esse movimento revela para Leontiev o processo ininterrupto de desenvolvimento do sujeito

Para Sforni (2004 p104) esse processo revela o momento da aprendizagem poreacutem natildeo eacute

natural precisa ser mediado por algueacutem mais experiente o que reforccedila a ideacuteia de que a

mediaccedilatildeo tal como jaacute sublinhamos nos estudos vygtskianos eacute outro compontente

fundamental do processo de apropriaccedilatildeo

Todo esse contexto nos leva a pensar novamente sobre a repeticcedilatildeo sistemaacutetica de 1ordf a 4ordf

seacuterie da escrita de narrativas escolaresSe pela teoria da atividade a crianccedila precisa estar

exposta a novas accedilotildees e a novas operaccedilotildees quais conteuacutedos satildeo avanccedilados de seacuterie para

seacuterie se existe a repeticcedilatildeo sistemaacutetica principalmente da narrativa escolar baseada no

modelo aristoteacutelico Se percebemos que as crianccedilas jaacute dominam esse gecircnero escolar por que

natildeo avanccedilar com novos gecircneros ou em ficando nesse gecircnero com novas operaccedilotildees que

mobilizaratildeo novos conteuacutedos Por exemplo em se pensando em gecircneros que se utilizam da

sequumlecircncia narrativa como predominante por que natildeo trabalhar com narrativas de enigmas ou

narrativas de terror que traratildeo novas variaccedilotildees e novos esquemas de organizaccedilatildeo para serem

apropriados pelas crianccedilas

Completando o quadro teoacuterico da TA Davydov (1998) concorda com Leontiev que a

estrutura da atividade seja composta de necessidades tarefas accedilotildees e operaccedilotildees poreacutem

acrescenta um novo componente ndash o desejo ndashjaacute que para ele as emoccedilotildees satildeo inseparaacuteveis da

necessidade (a emoccedilatildeo seria a base para todas as tarefas que o homem se propotildee a fazer) eacute o

desejo que provoca uma necessidade entatildeo a funccedilatildeo do professor seria a de pensar em como

criar desejos para a aprendizagem para que estes provoquem uma necessidade e iniciem o

processo de atividade

Para Libacircneo (2004) esse novo componente deixa claro no campo edcacional ao viacutenculo

entre afetividade e cogniccedilatildeo As atividades humans estatildeo para o autor impregnadas de

13

sentido subjetivo as quais propuosionam nosso agir tanto pensando na esfera escolar como

na esfera do nosso cotidiano Nesse sentido precisamos levar em conta que o processode

apropriaccedilatildeo depende tambeacutem de aspectos afetivos (cf DAVYDOV 1998)

A questatildeo do desejo pode ser comparada agrave questatildeo da voliccedilatildeo discutida por Vygotsky

(2001)Como vimos na seccedilatildeo anterior a relaccedilatildeo do sujeito com o objeto eacute uma relaccedilatildeo

mediada pelo outro atraveacutes da linguagem (e das ferramentas) Para Vygotsky (19882001) eacute a

linguagem que possibilita a constituiccedilatildeo do pensamento da consciecircncia da vontade isto eacute

das funccedilotildees psicoloacutegicas superiores Nesse sentido soacute tomamos consciecircncia individual a

partir primeiro das interaccedilotildees sociais ou da relaccedilatildeo com o outro Normalmente no caso da

crianccedila esse outro eacute algueacutem afetivamente proacutexima a ela Eacute o aspecto emocional envolvido

nessa relaccedilatildeo que motiva e impulsiona a crianccedila a agir Nesse sentido temos que a vontade eacute

uma funccedilatildeo psicoloacutegica superior e a sua construccedilatildeo depende de uma atividade que eacute portanto

de natureza social

Todas essas categorias na perspectiva da Teoria da Atividade implicam que se coloque a

crianccedila em uma trabalho inicialmente coletivo para posteriormente ser individual o que

remete agrave importacircncia de se desenvolver na sala de aula aleacutem das produccedilotildees individuais as

produccedilotildees coletivas De qualquer modo mesmo natildeo sendo um campo epistemoloacutegico voltado

para os gecircneros textuais eacute possiacutevel percebermos as razotildees de Bronckart (2003 2006) ter

utilizado dessa fonte no Interacionismo Sociodiscursivo jaacute que as noccedilotildees de atividade e da

accedilatildeo natildeo soacute regulam os objetivos dos indiviacuteduos nas diversas interaccedilotildees sociais como

tambeacutem satildeo importantes elementos para pensarmos em como gerar um conhecimento que seja

significativo e dessa forma seja apreendido pela crianccedilaaluno

4 Ilustrando o trabalho com a formaccedilatildeo de professores de seacuteries iniciais

As duas atividades que seratildeo aqui delineadas decorreram de trecircs de um total de seis etapas de

um curso de formaccedilatildeo envolvendo o tema gecircneros textuais e ensino ministrado para 15

professores de uma escola da rede puacuteblica do noroeste do Paranaacute por duas professoras

formadoras (das quais fizemos parte) e estagiaacuterias do curso de Letras no segundo semestre de

2007 As trecircs etapas iniciais tiveram como toacutepicos (a) pressupostos baacutesicos da Abordagem

Histoacuterico-Social e da Teoria da Atividade b) pressupostos gerais sobre gecircneros textuais a

partir de Bakthin e o Interacionismo Social dentre os quais foram destacados os aspectos

caracterizadores do gecircnero o tema a estrutura composicional e o estilo (BAKTHIN 1992) c)

contexto de produccedilatildeo no ISD (as capacidades de linguagem o instrumento sequumlecircncia didaacutetica

14

ficaram para outras sessotildees) d) transposiccedilatildeo dessas teorias para o ensino da escrita e)

planejamento de aulasoficinasPor questotildees de delimitaccedilatildeo enfocaremos neste artigo apenas

as subetapas ldquo drdquo e ldquoerdquo

As subetapas assinaladas envolveram duas atividades para os professores uma de cunho

teoacuterico e outra de cunho praacutetico A atividade de cunho teoacuterico ocorreu apoacutes as discussotildees

teoacutericas e foi apresentada da seguinte maneira

Em grupo elabore um quadro no qual vocecirc correlacione as categorias da Teoria da Atividade

aos elementos do contexto de produccedilatildeo vistos em Bakthin (1992) e em Bronckart (2003)

Embora no processo inicial de escolarizaccedilatildeo a comparaccedilatildeo como vimos eacute uma operaccedilatildeo

mental que pode caracterizar o pensamento empiacuterico aqui neste exerciacutecio ela natildeo eacute suficiente

Para que os professores realizassem a atividade precisariam entender primeiro cada uma das

teorias seus elementos para depois confrontaacute-los Isso exigiu que utilizassem diversas

operaccedilotildees mentais ressaltadas por Menchiskaia (1969) como a anaacutelise a abstraccedilatildeo a siacutentese

a comparaccedilatildeo a sistematizaccedilatildeo a definiccedilatildeo e a compreensatildeo necessaacuterias ao processo de

apropriaccedilatildeo

Aleacutem disso para a realizaccedilatildeo desse exerciacutecio procuramos respeitar os elementos proacuteprios da

Teoria da Atividade os professores que estavam no curso de formaccedilatildeo solicitaram o curso

portanto partiram de uma necessidade para ali estarem Aleacutem disso tinham um motivo e uma

finalidade queriam buscar informaccedilotildees sobre a transposiccedilatildeo dos gecircneros textuais para

otimizarem o trabalho com as crianccedilas na sala de aula Sabiam que para alcanccedilar esse

propoacutesito teriam que realizar atividades de forma conjunta compostas de accedilotildees e operaccedilotildees

como essa da elaboraccedilatildeo do quadro o planejamento de uma oficina dentre outras que natildeo nos

interessam nesse momento

Eacute preciso tambeacutem esclarecer que o quadro que seraacute apresentado a seguir foi o resultado final

de um trabalho coletivo e mediado pelas formadoras Para chegarmos a sua versatildeo final

foram necessaacuterias trecircs refacccedilotildees numa clara demonstraccedilatildeo de que o processo de

internalizaccedilatildeo como assevera Vygotsky (1988) depende de uma longa seacuterie de eventos

Assim muito provavelmente esse momento representa apenas um dos eventos que os

professores tiveram para iniciar esse processo mas que para que ele se consolide necessitaratildeo

de outros

15

Ressaltamos que todas as operaccedilotildees mentais anteriormente colocadas no referencial teoacuterico

para o desenvolvimento e apropriaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico dependem para que se

coloque o sujeito em atividade dos processos de mediaccedilatildeo tambeacutem realizados pelo professor

(VYGOTSKY 2000 SFORNI 2004) No nosso caso um dos recursos que utilizamos para

conduzir o processo de apropriaccedilatildeo e que se mostrou bastante produtivo em nossas

intervenccedilotildees foi a devoluccedilatildeo de uma nova pergunta apoacutes uma duacutevida estabelecida pelos

professores Como no momento das discussotildees utilizamos o gecircnero exposiccedilatildeo oral buscamos

nessa estrateacutegia comentada por Carneiro (2009) como uma das quais o professor pode se

utilizar para provocar a reflexatildeo e por efeito a possiacutevel compreensatildeo como ilustra o exemplo

abaixo

Professora ()entatildeo o desejo me parece ser tambeacutem a atividade natildeo eacute

Formadora veja pense num exemplo se jaacute almocei mas de repente vejo numa

vitrine um delicioso doce teria um desejo ou uma necessidade por ele

Professora uhm pera aiacute eu natildeo tenho necessidade de come porque jaacute estou

satisfeita mas tenho desejo neacute o desejo eacute mais emocional eacute mais voltado ao prazer

e a necessidade eacute aquilo que eacute necessaacuterio fazerparece mais racional()

Formadora isso agora pense nessa analogia para o campo da escrita

Profesora taacute o desejo tem a ver com o sentimentoa questatildeo dos sentimentos da

crianccedila neacute a gente tem que criar um viacutenculo afetivo entre ela e atividade que vamos

dar e a necessidade eacute taacute mais na razatildeo acho que tem a ver com aquela questatildeo que

discutimos com as praacuteticas sociais que satildeo as necessidades reais que temos de nos

comunicar()

Percebemos que ao devolver a duacutevida em forma de pergunta acrescida com um exemplo de

senso comum a professora formadora provoca uma reflexatildeo na professora participante e

como efeito gera-se o entendimento do conceito antes motivo de duacutevida Claro estaacute que nem

sempre esse recurso conforme comprova Carneiro (opcit) consegue proporcionar a

compreensatildeo mas sem duacutevida eacute ma estrateacutegia interessante para o professor de forma

consciente utilizar em suas explicaccedilotildees

Apoacutes esse trabalho de cunho coletivo elaboramos com a participaccedilatildeo das professoras o

quadro abaixo (resultado de trecircs refacccedilotildees) no qual aleacutem de pensar nas implicaccedilotildees para o

ensino elas tambeacutem correlacionaram os elementos da teoria da atividade com alguns dos

elementos do contexto de produccedilatildeo

16

Elementos estruturais da Teoria da Atividade Implicaccedilotildees para o ensino da escrita

DESEJO Elemento afetivo que desencadeia a necessidade da

escrita eacute desencadeado tanto pelo processo de

mediaccedilatildeo do professor com o aluno como tambeacutem

pela motivaccedilatildeo exercida por exemplo para a

abertura de um novo projetoatividade de

escritaNatildeo s relaciona a nenhum dos elementos

previstos pelo contexto de produccedilatildeo jaacute que eacute de

ordem emocional

NECESSIDADE Envolve o uso especiacutefico da escrita numa

determinada situaccedilatildeo de produccedilatildeo para atender a

uma praacutetica social especiacutefica escrever para publicar

um livro de contos escrever para produzir uma

reivindicaccedilatildeo escrever para solicitar alguma coisa

escrever para participar de um concurso escrever

um cardaacutepio para uma festa etc

MOTIVO Envolve o sentido da escrita para a crianccedila de modo

a convencecirc-la a escrever por meio de atividades que

oportunizem correlacionar a escrita com as emoccedilotildees

da crianccedila e tambeacutem com seus provaacuteveis

interlocutores pois satildeo eles que vinculam sentido

agravequilo que a crianccedila escreve (BAKTHIN 2003)

Uma dessas atividades que podem vincular a escrita

ao motivo pode ser a divulgaccedilatildeo da produccedilatildeo final

ao puacuteblico por exemplo compor um fabulaacuterio para

ser divulgado numa amostra de livros da escola

produzir cartazes para divulgaccedilatildeo de festas na escola

e afixaacute-los em estabelecimentos comerciais elaborar

notiacutecias para o jornal da escola ou para a raacutedio da

escola produzir livros de histoacuterias infantis para

crianccedilas menores elaborar uma seccedilatildeo de

classificados divulgando serviccedilos prestados ou

produtos vendidos por familiares e amigos do bairro

etcEntendemos que o fato da divulgaccedilatildeo do olhar

do outro como afirmam BakthinVoloshinov (1992)

satildeo essenciais para instaurar uma escrita

significativa

FINALIDADE Envolve o objetivo especiacutefico da escrita na situaccedilatildeo

de interaccedilatildeo para quecirc escrever Para solicitar

alguma coisa para colocar a minha opiniatildeo para

17

contar uma anedota etcA finalidade ou o objetivo

da produccedilatildeo deve vir claramente expressa no

comando de escrita a ser entregue para o aluno

ACcedilAtildeO Envolve a definiccedilatildeo do gecircnero textual que a crianccedila

iraacute escrever um resumo uma notiacutecia uma carta do

leitor um anuacutencio de classificado um comentaacuterio

um conto de fadas etc

OPERACcedilOtildeES (modos de execuccedilatildeo de uma catildeo) Envolve uma seacuterie de tarefas anteriores aacute produccedilatildeo

escritaoral do gecircnero com vistas aacute apropriaccedilatildeo dos

elementos caracterizadores dos gecircneros (o tema a

estrutura composiconal e o estilo) e levando em

conta as fases da escrita planejamento revisatildeo e

reescrita

Quadro 4 Elementos da Teoria da Atividade e sua implicaccedilatildeo na escrita

O exerciacutecio acima evidenciou-nos que mesmo sem ainda terem a noccedilatildeo sobre as capacidades

de linguagem a serem desenvolvidas no quadro do ISD os professores por meio das

operaccedilotildees mentais que o exerciacutecio exigia (anaacutelise comparaccedilatildeo abstraccedilatildeo siacutentese

exemplificaccedilatildeo) conseguem fazer relaccedilotildees coerentes entre os elementos da Teoria da

Atividade com implicaccedilotildees para o ensino da escrita Por exemplo relacionam a necessidade

elemento desencadeador da atividade com a praacutetica social como elemento desencadeador da

atividade de produccedilatildeo que no quadro do ISD eacute o elemento que possibilita alavancar por

exemplo as sequecircncias didaacuteticas (cfDOLZ SCHNEUWLY 2004)

Tambeacutem associam de forma interessante o motivo com um dos elementos do contexto de

produccedilatildeo o interlocutor reforccedilando a importacircncia desse elemento como tambeacutem aspecto

motivacional no ato da escrita Da mesma forma o tema e seu tratamento exaustivo

(BAKTHIN 1992) eacute explorado na associaccedilatildeo entre esse elemento e a accedilatildeo na medida em que

ao definir um determinado gecircnero estaacute implicado aiacute a realizaccedilatildeo desse elemento bakthiniano

Por fim nas operaccedilotildees fica claro que os professores conseguiram perceber que para se

escrever um determinado gecircnero seraacute preciso decompocirc-lo em uma seacuterie de atividades nas

quais se mobilizaratildeo o tema a estrutura composicional e o estilo

Na sequumlecircncia apoacutes a discussatildeo do quadro e com o intuito de promover mais um evento para

reforccedilar o processo de internalizaccedilatildeo agora numa atividade praacutetica solicitamos que cada

duplatrio de professores elaborassem um planejamento de uma oficina de leituraproduccedilatildeo

textual (jaacute que nesse momento ainda desconheciam outros instrumentos proacuteprios do ISD

18

como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com

atividades de escrita

O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras

de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre

de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um

suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito

com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar

jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da

Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que

tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos

previstos em cada etapa

A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma

oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas

as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs

refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo

4ordf seacuteries 12 ha

SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR

DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola

NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da

escola

MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral

FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na

escola e em casa

ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de

humor)

2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais

da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha

Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar

o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e

definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim

19

de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as

seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para

quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social

2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura

ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a

organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos

e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio

anterior

1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras

MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a

importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar

tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto

1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que

envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido

com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e

trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido

1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em

grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na

escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira

contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade

anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os

interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma

lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira

escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4

quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos

das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -

elaboraccedilatildeo dos balotildees

2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar

ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a

releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com

mediaccedilatildeo do professora

2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)

apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o

tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as

formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo

Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais

O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro

momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de

operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no

20

interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo

(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-

problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)

No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo

finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do

contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o

reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro

elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar

um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de

humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as

crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees

estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo

Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993

DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos

que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo

para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio

Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na

visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia

coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a

reescrita

Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos

como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser

compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado

pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua

transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o

processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica

para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos

da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do

Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se

coerentes a essas bases teoacutericas

Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e

certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e

conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que

soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um

21

pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)

talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados

5Consideraccedilotildees finais

O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo

de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da

Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de

apropriaccedilatildeo

a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade

interna

b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do

sujeito para que se concretize

c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por

elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e

as operaccedilotildees

d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem

mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como

propulsores do desenvolvimento

e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito

d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a

definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc

Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores

sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer

um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa

instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o

desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as

praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um

pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do

curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em

torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais

22

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construccedilatildeo do pensamento e da linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 p 241-394

Page 10: In: Anais.. V SIGET – Simpósio Internacional de Estudos de ... · Na perspectiva vygotskiana, portanto, a atividade do indivíduo sobre o objeto não é direta, ... por exemplo,

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Como vimos na seccedilatildeo anterior o processo de apropriaccedilatildeo implica em se colocar o sujeito

dentro de uma atividade conceito esse retomado pelo ISD mas cuja origem se daacute de forma

mais destacada na obra de Leontiev (20012004) No niacutevel individual a atividade eacute entendida

como uma forma de agir do sujeito direcionada a um objetoNo plano coletivo a atividade

define-se como

() aqueles processos que realizando as relaccedilotildees do homem como o mundo

satisfazem uma necessidade especial correspondente a ela () Por atividade

designamos os processos psicologicamente caracterizados por aquilo que o processa

como um todo se dirige (isto eacute objeto) coincidindo sempre com o objetivo que

estimula o sujeito a executar essa atividade isto eacute o motivo (LEONTIEV 2001

p315)

As atividades humanas para Leontiev (2004) satildeo consideradas como formadoras das relaccedilotildees

do sujeito com o mundo dirigidas por motivos por fins a serem alcanccedilados A ideacuteia de

atividade envolve entatildeo a noccedilatildeo de que o homem orienta-se por objetivos agindo de forma

intencional por accedilotildees planejadas

O autor daacute relevacircncia inicialmente agrave atividade coletiva em conjunto na medida em que o

ambiente sociocultural pode desencadear motivos para a realizaccedilatildeo de novas accedilotildees do sujeito

que por sua vez exigiratildeo novas operaccedilotildees as quais desenvolveratildeo os processos psiacutequicos

superioresOs componentes desse movimento da atividade propostos por Leontiev (2001) satildeo

necessidade- motivo- finalidade- condiccedilotildees para se obter a finalidade

Dentro dessa concepccedilatildeo a atividade eacute formada pela seguinte estrutura geral

Necessidade Motivo Objetivos Condiccedilotildees

Atividade

Accedilotildees Operaccedilotildees

Quadro 2 Estrutura geral da atividade adaptada de Leontiev (2001 2004)

A necessidade eacute o fator que desencadeia a atividade eacute ela que motiva o sujeito concretamente

a ter objetivos e realizar as accedilotildees (SFORNI 2004) Ela eacute um componente tatildeo importante que

Sforni (p97) acrescenta ldquonem todo processo eacute uma atividade mas somente aquele que eacute

movido por uma necessidaderdquoObviamente ao pensarmos no ensino da escrita devemos levar

em conta que a necessidade eacute um componente importante

11

E o que leva uma crianccedila a produzir um texto Certamente natildeo deveria ser o fato de cumprir

uma tarefa ou preencher o tempo da sala mas a necessidade da crianccedila escrever vincula-se ao

motivo a uma relaccedilatildeo com esse objeto que vai aleacutem da razatildeo envolvendo aspectos tambeacutem

de ordem afetiva Se ela natildeo vecirc sentido naquilo que realiza logo natildeo torna consciente o que

escreve e faz e se natildeo tem consciecircncia sobre as accedilotildees que realiza natildeo eacute possiacutevel qualificaacute-las

de atividade mas apenas de uma tarefa de uma obrigaccedilatildeo escolarO motivo eacute justamente o

componente mais afetivo da teoria da afetividade Vincula-se agraves emoccedilotildees do sujeito e

relaciona-se ao sentido da atividade

A finalidade tem a ver com aquilo que se pretende de forma mais particular naquela atividade

poderiacuteamos associaacute-la ao objetivo Para a realizaccedilatildeo desse objetivo seratildeo necessaacuterias as

condiccedilotildees os meios para alcanccedilaacute-lo por intermeacutedio das accedilotildees e das operaccedilotildeesA accedilatildeo eacute o

processo cuja o motivo natildeo coincide com seu objeto mas pertence aacute atividade

Leontiev (2004) ilustra essa afirmaccedilatildeo ao explicar que a atividade de ler um livro para apenas

passar numa prova natildeo eacute uma atividade mas uma accedilatildeo porque ler o livro por ler natildeo eacute um

objetivo forte que estimula a accedilatildeo do sujeito Poreacutem a accedilatildeo pode se transformar em atividade

quando passa a ter um motivo para o sujeito No exemplo dado se o aluno comeccedila a ler e a

leitura acaba por envolvecirc-lo por alguma razatildeo o motivo da atividade desloca-se

transformando-se a accedilatildeo em uma atividade

Uma accedilatildeo pode ser realizada de diferentes maneiras designadas por Leontiev de operaccedilotildees

as quais consistem no modo de execuccedilatildeo de uma determinada tarefa que pode ser variadoAs

operaccedilotildees particularizam um determinado objeto e revelam suas partes intriacutensecas daiacute serem

elementos fundamentais para a apropriaccedilatildeo As accedilotildees realizadas por indiviacuteduo no interior de

uma atividade transformam-se em operaccedilotildees e estas mais tarde em haacutebitos e habilidades

Quando isso ocorre saem da esfera dos processo conscientes e passam a ocupar um lugar

inferior na estrutura da atividade

Todavia ocupar lsquoum lugar inferiorrsquo natildeo significa simplificar o estatuto da operaccedilatildeo ao

contraacuterio significa afirmar que houve um processo de apropriaccedilatildeo que agora torna-se

consciente e que em tornando-se consciente deixa livre o pensamento para se incumbir de

novas accedilotildees e novas operaccedilotildees agora de caraacuteter mais elevadoA ideacuteia eacute que uma atividade

coloca a crianccedila em determinada accedilatildeo que por sua vez lhe exige operaccedilotildees para executaacute-la

Ao apropriar-se dessas operaccedilotildees a crianccedila deve ser exposta a novas accedilotildees e

consequentemente a novas operaccedilotildees de caraacuteter mais elevado a fim de que seus processos

mentais estejam em constante desenvolvimento conforme ilustra o quadro abaixo

12

xxx

Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa

Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa

Atividade Accedilatildeo Operaccedilatildeo

Quadro 3 Movimento da aprendizagem na Teoria da Atividade com base em Sforni (2004)

Esse movimento revela para Leontiev o processo ininterrupto de desenvolvimento do sujeito

Para Sforni (2004 p104) esse processo revela o momento da aprendizagem poreacutem natildeo eacute

natural precisa ser mediado por algueacutem mais experiente o que reforccedila a ideacuteia de que a

mediaccedilatildeo tal como jaacute sublinhamos nos estudos vygtskianos eacute outro compontente

fundamental do processo de apropriaccedilatildeo

Todo esse contexto nos leva a pensar novamente sobre a repeticcedilatildeo sistemaacutetica de 1ordf a 4ordf

seacuterie da escrita de narrativas escolaresSe pela teoria da atividade a crianccedila precisa estar

exposta a novas accedilotildees e a novas operaccedilotildees quais conteuacutedos satildeo avanccedilados de seacuterie para

seacuterie se existe a repeticcedilatildeo sistemaacutetica principalmente da narrativa escolar baseada no

modelo aristoteacutelico Se percebemos que as crianccedilas jaacute dominam esse gecircnero escolar por que

natildeo avanccedilar com novos gecircneros ou em ficando nesse gecircnero com novas operaccedilotildees que

mobilizaratildeo novos conteuacutedos Por exemplo em se pensando em gecircneros que se utilizam da

sequumlecircncia narrativa como predominante por que natildeo trabalhar com narrativas de enigmas ou

narrativas de terror que traratildeo novas variaccedilotildees e novos esquemas de organizaccedilatildeo para serem

apropriados pelas crianccedilas

Completando o quadro teoacuterico da TA Davydov (1998) concorda com Leontiev que a

estrutura da atividade seja composta de necessidades tarefas accedilotildees e operaccedilotildees poreacutem

acrescenta um novo componente ndash o desejo ndashjaacute que para ele as emoccedilotildees satildeo inseparaacuteveis da

necessidade (a emoccedilatildeo seria a base para todas as tarefas que o homem se propotildee a fazer) eacute o

desejo que provoca uma necessidade entatildeo a funccedilatildeo do professor seria a de pensar em como

criar desejos para a aprendizagem para que estes provoquem uma necessidade e iniciem o

processo de atividade

Para Libacircneo (2004) esse novo componente deixa claro no campo edcacional ao viacutenculo

entre afetividade e cogniccedilatildeo As atividades humans estatildeo para o autor impregnadas de

13

sentido subjetivo as quais propuosionam nosso agir tanto pensando na esfera escolar como

na esfera do nosso cotidiano Nesse sentido precisamos levar em conta que o processode

apropriaccedilatildeo depende tambeacutem de aspectos afetivos (cf DAVYDOV 1998)

A questatildeo do desejo pode ser comparada agrave questatildeo da voliccedilatildeo discutida por Vygotsky

(2001)Como vimos na seccedilatildeo anterior a relaccedilatildeo do sujeito com o objeto eacute uma relaccedilatildeo

mediada pelo outro atraveacutes da linguagem (e das ferramentas) Para Vygotsky (19882001) eacute a

linguagem que possibilita a constituiccedilatildeo do pensamento da consciecircncia da vontade isto eacute

das funccedilotildees psicoloacutegicas superiores Nesse sentido soacute tomamos consciecircncia individual a

partir primeiro das interaccedilotildees sociais ou da relaccedilatildeo com o outro Normalmente no caso da

crianccedila esse outro eacute algueacutem afetivamente proacutexima a ela Eacute o aspecto emocional envolvido

nessa relaccedilatildeo que motiva e impulsiona a crianccedila a agir Nesse sentido temos que a vontade eacute

uma funccedilatildeo psicoloacutegica superior e a sua construccedilatildeo depende de uma atividade que eacute portanto

de natureza social

Todas essas categorias na perspectiva da Teoria da Atividade implicam que se coloque a

crianccedila em uma trabalho inicialmente coletivo para posteriormente ser individual o que

remete agrave importacircncia de se desenvolver na sala de aula aleacutem das produccedilotildees individuais as

produccedilotildees coletivas De qualquer modo mesmo natildeo sendo um campo epistemoloacutegico voltado

para os gecircneros textuais eacute possiacutevel percebermos as razotildees de Bronckart (2003 2006) ter

utilizado dessa fonte no Interacionismo Sociodiscursivo jaacute que as noccedilotildees de atividade e da

accedilatildeo natildeo soacute regulam os objetivos dos indiviacuteduos nas diversas interaccedilotildees sociais como

tambeacutem satildeo importantes elementos para pensarmos em como gerar um conhecimento que seja

significativo e dessa forma seja apreendido pela crianccedilaaluno

4 Ilustrando o trabalho com a formaccedilatildeo de professores de seacuteries iniciais

As duas atividades que seratildeo aqui delineadas decorreram de trecircs de um total de seis etapas de

um curso de formaccedilatildeo envolvendo o tema gecircneros textuais e ensino ministrado para 15

professores de uma escola da rede puacuteblica do noroeste do Paranaacute por duas professoras

formadoras (das quais fizemos parte) e estagiaacuterias do curso de Letras no segundo semestre de

2007 As trecircs etapas iniciais tiveram como toacutepicos (a) pressupostos baacutesicos da Abordagem

Histoacuterico-Social e da Teoria da Atividade b) pressupostos gerais sobre gecircneros textuais a

partir de Bakthin e o Interacionismo Social dentre os quais foram destacados os aspectos

caracterizadores do gecircnero o tema a estrutura composicional e o estilo (BAKTHIN 1992) c)

contexto de produccedilatildeo no ISD (as capacidades de linguagem o instrumento sequumlecircncia didaacutetica

14

ficaram para outras sessotildees) d) transposiccedilatildeo dessas teorias para o ensino da escrita e)

planejamento de aulasoficinasPor questotildees de delimitaccedilatildeo enfocaremos neste artigo apenas

as subetapas ldquo drdquo e ldquoerdquo

As subetapas assinaladas envolveram duas atividades para os professores uma de cunho

teoacuterico e outra de cunho praacutetico A atividade de cunho teoacuterico ocorreu apoacutes as discussotildees

teoacutericas e foi apresentada da seguinte maneira

Em grupo elabore um quadro no qual vocecirc correlacione as categorias da Teoria da Atividade

aos elementos do contexto de produccedilatildeo vistos em Bakthin (1992) e em Bronckart (2003)

Embora no processo inicial de escolarizaccedilatildeo a comparaccedilatildeo como vimos eacute uma operaccedilatildeo

mental que pode caracterizar o pensamento empiacuterico aqui neste exerciacutecio ela natildeo eacute suficiente

Para que os professores realizassem a atividade precisariam entender primeiro cada uma das

teorias seus elementos para depois confrontaacute-los Isso exigiu que utilizassem diversas

operaccedilotildees mentais ressaltadas por Menchiskaia (1969) como a anaacutelise a abstraccedilatildeo a siacutentese

a comparaccedilatildeo a sistematizaccedilatildeo a definiccedilatildeo e a compreensatildeo necessaacuterias ao processo de

apropriaccedilatildeo

Aleacutem disso para a realizaccedilatildeo desse exerciacutecio procuramos respeitar os elementos proacuteprios da

Teoria da Atividade os professores que estavam no curso de formaccedilatildeo solicitaram o curso

portanto partiram de uma necessidade para ali estarem Aleacutem disso tinham um motivo e uma

finalidade queriam buscar informaccedilotildees sobre a transposiccedilatildeo dos gecircneros textuais para

otimizarem o trabalho com as crianccedilas na sala de aula Sabiam que para alcanccedilar esse

propoacutesito teriam que realizar atividades de forma conjunta compostas de accedilotildees e operaccedilotildees

como essa da elaboraccedilatildeo do quadro o planejamento de uma oficina dentre outras que natildeo nos

interessam nesse momento

Eacute preciso tambeacutem esclarecer que o quadro que seraacute apresentado a seguir foi o resultado final

de um trabalho coletivo e mediado pelas formadoras Para chegarmos a sua versatildeo final

foram necessaacuterias trecircs refacccedilotildees numa clara demonstraccedilatildeo de que o processo de

internalizaccedilatildeo como assevera Vygotsky (1988) depende de uma longa seacuterie de eventos

Assim muito provavelmente esse momento representa apenas um dos eventos que os

professores tiveram para iniciar esse processo mas que para que ele se consolide necessitaratildeo

de outros

15

Ressaltamos que todas as operaccedilotildees mentais anteriormente colocadas no referencial teoacuterico

para o desenvolvimento e apropriaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico dependem para que se

coloque o sujeito em atividade dos processos de mediaccedilatildeo tambeacutem realizados pelo professor

(VYGOTSKY 2000 SFORNI 2004) No nosso caso um dos recursos que utilizamos para

conduzir o processo de apropriaccedilatildeo e que se mostrou bastante produtivo em nossas

intervenccedilotildees foi a devoluccedilatildeo de uma nova pergunta apoacutes uma duacutevida estabelecida pelos

professores Como no momento das discussotildees utilizamos o gecircnero exposiccedilatildeo oral buscamos

nessa estrateacutegia comentada por Carneiro (2009) como uma das quais o professor pode se

utilizar para provocar a reflexatildeo e por efeito a possiacutevel compreensatildeo como ilustra o exemplo

abaixo

Professora ()entatildeo o desejo me parece ser tambeacutem a atividade natildeo eacute

Formadora veja pense num exemplo se jaacute almocei mas de repente vejo numa

vitrine um delicioso doce teria um desejo ou uma necessidade por ele

Professora uhm pera aiacute eu natildeo tenho necessidade de come porque jaacute estou

satisfeita mas tenho desejo neacute o desejo eacute mais emocional eacute mais voltado ao prazer

e a necessidade eacute aquilo que eacute necessaacuterio fazerparece mais racional()

Formadora isso agora pense nessa analogia para o campo da escrita

Profesora taacute o desejo tem a ver com o sentimentoa questatildeo dos sentimentos da

crianccedila neacute a gente tem que criar um viacutenculo afetivo entre ela e atividade que vamos

dar e a necessidade eacute taacute mais na razatildeo acho que tem a ver com aquela questatildeo que

discutimos com as praacuteticas sociais que satildeo as necessidades reais que temos de nos

comunicar()

Percebemos que ao devolver a duacutevida em forma de pergunta acrescida com um exemplo de

senso comum a professora formadora provoca uma reflexatildeo na professora participante e

como efeito gera-se o entendimento do conceito antes motivo de duacutevida Claro estaacute que nem

sempre esse recurso conforme comprova Carneiro (opcit) consegue proporcionar a

compreensatildeo mas sem duacutevida eacute ma estrateacutegia interessante para o professor de forma

consciente utilizar em suas explicaccedilotildees

Apoacutes esse trabalho de cunho coletivo elaboramos com a participaccedilatildeo das professoras o

quadro abaixo (resultado de trecircs refacccedilotildees) no qual aleacutem de pensar nas implicaccedilotildees para o

ensino elas tambeacutem correlacionaram os elementos da teoria da atividade com alguns dos

elementos do contexto de produccedilatildeo

16

Elementos estruturais da Teoria da Atividade Implicaccedilotildees para o ensino da escrita

DESEJO Elemento afetivo que desencadeia a necessidade da

escrita eacute desencadeado tanto pelo processo de

mediaccedilatildeo do professor com o aluno como tambeacutem

pela motivaccedilatildeo exercida por exemplo para a

abertura de um novo projetoatividade de

escritaNatildeo s relaciona a nenhum dos elementos

previstos pelo contexto de produccedilatildeo jaacute que eacute de

ordem emocional

NECESSIDADE Envolve o uso especiacutefico da escrita numa

determinada situaccedilatildeo de produccedilatildeo para atender a

uma praacutetica social especiacutefica escrever para publicar

um livro de contos escrever para produzir uma

reivindicaccedilatildeo escrever para solicitar alguma coisa

escrever para participar de um concurso escrever

um cardaacutepio para uma festa etc

MOTIVO Envolve o sentido da escrita para a crianccedila de modo

a convencecirc-la a escrever por meio de atividades que

oportunizem correlacionar a escrita com as emoccedilotildees

da crianccedila e tambeacutem com seus provaacuteveis

interlocutores pois satildeo eles que vinculam sentido

agravequilo que a crianccedila escreve (BAKTHIN 2003)

Uma dessas atividades que podem vincular a escrita

ao motivo pode ser a divulgaccedilatildeo da produccedilatildeo final

ao puacuteblico por exemplo compor um fabulaacuterio para

ser divulgado numa amostra de livros da escola

produzir cartazes para divulgaccedilatildeo de festas na escola

e afixaacute-los em estabelecimentos comerciais elaborar

notiacutecias para o jornal da escola ou para a raacutedio da

escola produzir livros de histoacuterias infantis para

crianccedilas menores elaborar uma seccedilatildeo de

classificados divulgando serviccedilos prestados ou

produtos vendidos por familiares e amigos do bairro

etcEntendemos que o fato da divulgaccedilatildeo do olhar

do outro como afirmam BakthinVoloshinov (1992)

satildeo essenciais para instaurar uma escrita

significativa

FINALIDADE Envolve o objetivo especiacutefico da escrita na situaccedilatildeo

de interaccedilatildeo para quecirc escrever Para solicitar

alguma coisa para colocar a minha opiniatildeo para

17

contar uma anedota etcA finalidade ou o objetivo

da produccedilatildeo deve vir claramente expressa no

comando de escrita a ser entregue para o aluno

ACcedilAtildeO Envolve a definiccedilatildeo do gecircnero textual que a crianccedila

iraacute escrever um resumo uma notiacutecia uma carta do

leitor um anuacutencio de classificado um comentaacuterio

um conto de fadas etc

OPERACcedilOtildeES (modos de execuccedilatildeo de uma catildeo) Envolve uma seacuterie de tarefas anteriores aacute produccedilatildeo

escritaoral do gecircnero com vistas aacute apropriaccedilatildeo dos

elementos caracterizadores dos gecircneros (o tema a

estrutura composiconal e o estilo) e levando em

conta as fases da escrita planejamento revisatildeo e

reescrita

Quadro 4 Elementos da Teoria da Atividade e sua implicaccedilatildeo na escrita

O exerciacutecio acima evidenciou-nos que mesmo sem ainda terem a noccedilatildeo sobre as capacidades

de linguagem a serem desenvolvidas no quadro do ISD os professores por meio das

operaccedilotildees mentais que o exerciacutecio exigia (anaacutelise comparaccedilatildeo abstraccedilatildeo siacutentese

exemplificaccedilatildeo) conseguem fazer relaccedilotildees coerentes entre os elementos da Teoria da

Atividade com implicaccedilotildees para o ensino da escrita Por exemplo relacionam a necessidade

elemento desencadeador da atividade com a praacutetica social como elemento desencadeador da

atividade de produccedilatildeo que no quadro do ISD eacute o elemento que possibilita alavancar por

exemplo as sequecircncias didaacuteticas (cfDOLZ SCHNEUWLY 2004)

Tambeacutem associam de forma interessante o motivo com um dos elementos do contexto de

produccedilatildeo o interlocutor reforccedilando a importacircncia desse elemento como tambeacutem aspecto

motivacional no ato da escrita Da mesma forma o tema e seu tratamento exaustivo

(BAKTHIN 1992) eacute explorado na associaccedilatildeo entre esse elemento e a accedilatildeo na medida em que

ao definir um determinado gecircnero estaacute implicado aiacute a realizaccedilatildeo desse elemento bakthiniano

Por fim nas operaccedilotildees fica claro que os professores conseguiram perceber que para se

escrever um determinado gecircnero seraacute preciso decompocirc-lo em uma seacuterie de atividades nas

quais se mobilizaratildeo o tema a estrutura composicional e o estilo

Na sequumlecircncia apoacutes a discussatildeo do quadro e com o intuito de promover mais um evento para

reforccedilar o processo de internalizaccedilatildeo agora numa atividade praacutetica solicitamos que cada

duplatrio de professores elaborassem um planejamento de uma oficina de leituraproduccedilatildeo

textual (jaacute que nesse momento ainda desconheciam outros instrumentos proacuteprios do ISD

18

como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com

atividades de escrita

O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras

de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre

de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um

suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito

com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar

jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da

Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que

tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos

previstos em cada etapa

A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma

oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas

as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs

refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo

4ordf seacuteries 12 ha

SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR

DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola

NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da

escola

MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral

FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na

escola e em casa

ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de

humor)

2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais

da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha

Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar

o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e

definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim

19

de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as

seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para

quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social

2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura

ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a

organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos

e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio

anterior

1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras

MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a

importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar

tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto

1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que

envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido

com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e

trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido

1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em

grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na

escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira

contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade

anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os

interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma

lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira

escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4

quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos

das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -

elaboraccedilatildeo dos balotildees

2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar

ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a

releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com

mediaccedilatildeo do professora

2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)

apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o

tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as

formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo

Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais

O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro

momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de

operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no

20

interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo

(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-

problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)

No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo

finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do

contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o

reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro

elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar

um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de

humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as

crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees

estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo

Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993

DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos

que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo

para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio

Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na

visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia

coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a

reescrita

Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos

como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser

compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado

pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua

transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o

processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica

para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos

da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do

Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se

coerentes a essas bases teoacutericas

Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e

certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e

conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que

soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um

21

pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)

talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados

5Consideraccedilotildees finais

O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo

de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da

Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de

apropriaccedilatildeo

a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade

interna

b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do

sujeito para que se concretize

c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por

elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e

as operaccedilotildees

d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem

mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como

propulsores do desenvolvimento

e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito

d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a

definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc

Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores

sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer

um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa

instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o

desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as

praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um

pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do

curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em

torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais

22

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Page 11: In: Anais.. V SIGET – Simpósio Internacional de Estudos de ... · Na perspectiva vygotskiana, portanto, a atividade do indivíduo sobre o objeto não é direta, ... por exemplo,

11

E o que leva uma crianccedila a produzir um texto Certamente natildeo deveria ser o fato de cumprir

uma tarefa ou preencher o tempo da sala mas a necessidade da crianccedila escrever vincula-se ao

motivo a uma relaccedilatildeo com esse objeto que vai aleacutem da razatildeo envolvendo aspectos tambeacutem

de ordem afetiva Se ela natildeo vecirc sentido naquilo que realiza logo natildeo torna consciente o que

escreve e faz e se natildeo tem consciecircncia sobre as accedilotildees que realiza natildeo eacute possiacutevel qualificaacute-las

de atividade mas apenas de uma tarefa de uma obrigaccedilatildeo escolarO motivo eacute justamente o

componente mais afetivo da teoria da afetividade Vincula-se agraves emoccedilotildees do sujeito e

relaciona-se ao sentido da atividade

A finalidade tem a ver com aquilo que se pretende de forma mais particular naquela atividade

poderiacuteamos associaacute-la ao objetivo Para a realizaccedilatildeo desse objetivo seratildeo necessaacuterias as

condiccedilotildees os meios para alcanccedilaacute-lo por intermeacutedio das accedilotildees e das operaccedilotildeesA accedilatildeo eacute o

processo cuja o motivo natildeo coincide com seu objeto mas pertence aacute atividade

Leontiev (2004) ilustra essa afirmaccedilatildeo ao explicar que a atividade de ler um livro para apenas

passar numa prova natildeo eacute uma atividade mas uma accedilatildeo porque ler o livro por ler natildeo eacute um

objetivo forte que estimula a accedilatildeo do sujeito Poreacutem a accedilatildeo pode se transformar em atividade

quando passa a ter um motivo para o sujeito No exemplo dado se o aluno comeccedila a ler e a

leitura acaba por envolvecirc-lo por alguma razatildeo o motivo da atividade desloca-se

transformando-se a accedilatildeo em uma atividade

Uma accedilatildeo pode ser realizada de diferentes maneiras designadas por Leontiev de operaccedilotildees

as quais consistem no modo de execuccedilatildeo de uma determinada tarefa que pode ser variadoAs

operaccedilotildees particularizam um determinado objeto e revelam suas partes intriacutensecas daiacute serem

elementos fundamentais para a apropriaccedilatildeo As accedilotildees realizadas por indiviacuteduo no interior de

uma atividade transformam-se em operaccedilotildees e estas mais tarde em haacutebitos e habilidades

Quando isso ocorre saem da esfera dos processo conscientes e passam a ocupar um lugar

inferior na estrutura da atividade

Todavia ocupar lsquoum lugar inferiorrsquo natildeo significa simplificar o estatuto da operaccedilatildeo ao

contraacuterio significa afirmar que houve um processo de apropriaccedilatildeo que agora torna-se

consciente e que em tornando-se consciente deixa livre o pensamento para se incumbir de

novas accedilotildees e novas operaccedilotildees agora de caraacuteter mais elevadoA ideacuteia eacute que uma atividade

coloca a crianccedila em determinada accedilatildeo que por sua vez lhe exige operaccedilotildees para executaacute-la

Ao apropriar-se dessas operaccedilotildees a crianccedila deve ser exposta a novas accedilotildees e

consequentemente a novas operaccedilotildees de caraacuteter mais elevado a fim de que seus processos

mentais estejam em constante desenvolvimento conforme ilustra o quadro abaixo

12

xxx

Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa

Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa

Atividade Accedilatildeo Operaccedilatildeo

Quadro 3 Movimento da aprendizagem na Teoria da Atividade com base em Sforni (2004)

Esse movimento revela para Leontiev o processo ininterrupto de desenvolvimento do sujeito

Para Sforni (2004 p104) esse processo revela o momento da aprendizagem poreacutem natildeo eacute

natural precisa ser mediado por algueacutem mais experiente o que reforccedila a ideacuteia de que a

mediaccedilatildeo tal como jaacute sublinhamos nos estudos vygtskianos eacute outro compontente

fundamental do processo de apropriaccedilatildeo

Todo esse contexto nos leva a pensar novamente sobre a repeticcedilatildeo sistemaacutetica de 1ordf a 4ordf

seacuterie da escrita de narrativas escolaresSe pela teoria da atividade a crianccedila precisa estar

exposta a novas accedilotildees e a novas operaccedilotildees quais conteuacutedos satildeo avanccedilados de seacuterie para

seacuterie se existe a repeticcedilatildeo sistemaacutetica principalmente da narrativa escolar baseada no

modelo aristoteacutelico Se percebemos que as crianccedilas jaacute dominam esse gecircnero escolar por que

natildeo avanccedilar com novos gecircneros ou em ficando nesse gecircnero com novas operaccedilotildees que

mobilizaratildeo novos conteuacutedos Por exemplo em se pensando em gecircneros que se utilizam da

sequumlecircncia narrativa como predominante por que natildeo trabalhar com narrativas de enigmas ou

narrativas de terror que traratildeo novas variaccedilotildees e novos esquemas de organizaccedilatildeo para serem

apropriados pelas crianccedilas

Completando o quadro teoacuterico da TA Davydov (1998) concorda com Leontiev que a

estrutura da atividade seja composta de necessidades tarefas accedilotildees e operaccedilotildees poreacutem

acrescenta um novo componente ndash o desejo ndashjaacute que para ele as emoccedilotildees satildeo inseparaacuteveis da

necessidade (a emoccedilatildeo seria a base para todas as tarefas que o homem se propotildee a fazer) eacute o

desejo que provoca uma necessidade entatildeo a funccedilatildeo do professor seria a de pensar em como

criar desejos para a aprendizagem para que estes provoquem uma necessidade e iniciem o

processo de atividade

Para Libacircneo (2004) esse novo componente deixa claro no campo edcacional ao viacutenculo

entre afetividade e cogniccedilatildeo As atividades humans estatildeo para o autor impregnadas de

13

sentido subjetivo as quais propuosionam nosso agir tanto pensando na esfera escolar como

na esfera do nosso cotidiano Nesse sentido precisamos levar em conta que o processode

apropriaccedilatildeo depende tambeacutem de aspectos afetivos (cf DAVYDOV 1998)

A questatildeo do desejo pode ser comparada agrave questatildeo da voliccedilatildeo discutida por Vygotsky

(2001)Como vimos na seccedilatildeo anterior a relaccedilatildeo do sujeito com o objeto eacute uma relaccedilatildeo

mediada pelo outro atraveacutes da linguagem (e das ferramentas) Para Vygotsky (19882001) eacute a

linguagem que possibilita a constituiccedilatildeo do pensamento da consciecircncia da vontade isto eacute

das funccedilotildees psicoloacutegicas superiores Nesse sentido soacute tomamos consciecircncia individual a

partir primeiro das interaccedilotildees sociais ou da relaccedilatildeo com o outro Normalmente no caso da

crianccedila esse outro eacute algueacutem afetivamente proacutexima a ela Eacute o aspecto emocional envolvido

nessa relaccedilatildeo que motiva e impulsiona a crianccedila a agir Nesse sentido temos que a vontade eacute

uma funccedilatildeo psicoloacutegica superior e a sua construccedilatildeo depende de uma atividade que eacute portanto

de natureza social

Todas essas categorias na perspectiva da Teoria da Atividade implicam que se coloque a

crianccedila em uma trabalho inicialmente coletivo para posteriormente ser individual o que

remete agrave importacircncia de se desenvolver na sala de aula aleacutem das produccedilotildees individuais as

produccedilotildees coletivas De qualquer modo mesmo natildeo sendo um campo epistemoloacutegico voltado

para os gecircneros textuais eacute possiacutevel percebermos as razotildees de Bronckart (2003 2006) ter

utilizado dessa fonte no Interacionismo Sociodiscursivo jaacute que as noccedilotildees de atividade e da

accedilatildeo natildeo soacute regulam os objetivos dos indiviacuteduos nas diversas interaccedilotildees sociais como

tambeacutem satildeo importantes elementos para pensarmos em como gerar um conhecimento que seja

significativo e dessa forma seja apreendido pela crianccedilaaluno

4 Ilustrando o trabalho com a formaccedilatildeo de professores de seacuteries iniciais

As duas atividades que seratildeo aqui delineadas decorreram de trecircs de um total de seis etapas de

um curso de formaccedilatildeo envolvendo o tema gecircneros textuais e ensino ministrado para 15

professores de uma escola da rede puacuteblica do noroeste do Paranaacute por duas professoras

formadoras (das quais fizemos parte) e estagiaacuterias do curso de Letras no segundo semestre de

2007 As trecircs etapas iniciais tiveram como toacutepicos (a) pressupostos baacutesicos da Abordagem

Histoacuterico-Social e da Teoria da Atividade b) pressupostos gerais sobre gecircneros textuais a

partir de Bakthin e o Interacionismo Social dentre os quais foram destacados os aspectos

caracterizadores do gecircnero o tema a estrutura composicional e o estilo (BAKTHIN 1992) c)

contexto de produccedilatildeo no ISD (as capacidades de linguagem o instrumento sequumlecircncia didaacutetica

14

ficaram para outras sessotildees) d) transposiccedilatildeo dessas teorias para o ensino da escrita e)

planejamento de aulasoficinasPor questotildees de delimitaccedilatildeo enfocaremos neste artigo apenas

as subetapas ldquo drdquo e ldquoerdquo

As subetapas assinaladas envolveram duas atividades para os professores uma de cunho

teoacuterico e outra de cunho praacutetico A atividade de cunho teoacuterico ocorreu apoacutes as discussotildees

teoacutericas e foi apresentada da seguinte maneira

Em grupo elabore um quadro no qual vocecirc correlacione as categorias da Teoria da Atividade

aos elementos do contexto de produccedilatildeo vistos em Bakthin (1992) e em Bronckart (2003)

Embora no processo inicial de escolarizaccedilatildeo a comparaccedilatildeo como vimos eacute uma operaccedilatildeo

mental que pode caracterizar o pensamento empiacuterico aqui neste exerciacutecio ela natildeo eacute suficiente

Para que os professores realizassem a atividade precisariam entender primeiro cada uma das

teorias seus elementos para depois confrontaacute-los Isso exigiu que utilizassem diversas

operaccedilotildees mentais ressaltadas por Menchiskaia (1969) como a anaacutelise a abstraccedilatildeo a siacutentese

a comparaccedilatildeo a sistematizaccedilatildeo a definiccedilatildeo e a compreensatildeo necessaacuterias ao processo de

apropriaccedilatildeo

Aleacutem disso para a realizaccedilatildeo desse exerciacutecio procuramos respeitar os elementos proacuteprios da

Teoria da Atividade os professores que estavam no curso de formaccedilatildeo solicitaram o curso

portanto partiram de uma necessidade para ali estarem Aleacutem disso tinham um motivo e uma

finalidade queriam buscar informaccedilotildees sobre a transposiccedilatildeo dos gecircneros textuais para

otimizarem o trabalho com as crianccedilas na sala de aula Sabiam que para alcanccedilar esse

propoacutesito teriam que realizar atividades de forma conjunta compostas de accedilotildees e operaccedilotildees

como essa da elaboraccedilatildeo do quadro o planejamento de uma oficina dentre outras que natildeo nos

interessam nesse momento

Eacute preciso tambeacutem esclarecer que o quadro que seraacute apresentado a seguir foi o resultado final

de um trabalho coletivo e mediado pelas formadoras Para chegarmos a sua versatildeo final

foram necessaacuterias trecircs refacccedilotildees numa clara demonstraccedilatildeo de que o processo de

internalizaccedilatildeo como assevera Vygotsky (1988) depende de uma longa seacuterie de eventos

Assim muito provavelmente esse momento representa apenas um dos eventos que os

professores tiveram para iniciar esse processo mas que para que ele se consolide necessitaratildeo

de outros

15

Ressaltamos que todas as operaccedilotildees mentais anteriormente colocadas no referencial teoacuterico

para o desenvolvimento e apropriaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico dependem para que se

coloque o sujeito em atividade dos processos de mediaccedilatildeo tambeacutem realizados pelo professor

(VYGOTSKY 2000 SFORNI 2004) No nosso caso um dos recursos que utilizamos para

conduzir o processo de apropriaccedilatildeo e que se mostrou bastante produtivo em nossas

intervenccedilotildees foi a devoluccedilatildeo de uma nova pergunta apoacutes uma duacutevida estabelecida pelos

professores Como no momento das discussotildees utilizamos o gecircnero exposiccedilatildeo oral buscamos

nessa estrateacutegia comentada por Carneiro (2009) como uma das quais o professor pode se

utilizar para provocar a reflexatildeo e por efeito a possiacutevel compreensatildeo como ilustra o exemplo

abaixo

Professora ()entatildeo o desejo me parece ser tambeacutem a atividade natildeo eacute

Formadora veja pense num exemplo se jaacute almocei mas de repente vejo numa

vitrine um delicioso doce teria um desejo ou uma necessidade por ele

Professora uhm pera aiacute eu natildeo tenho necessidade de come porque jaacute estou

satisfeita mas tenho desejo neacute o desejo eacute mais emocional eacute mais voltado ao prazer

e a necessidade eacute aquilo que eacute necessaacuterio fazerparece mais racional()

Formadora isso agora pense nessa analogia para o campo da escrita

Profesora taacute o desejo tem a ver com o sentimentoa questatildeo dos sentimentos da

crianccedila neacute a gente tem que criar um viacutenculo afetivo entre ela e atividade que vamos

dar e a necessidade eacute taacute mais na razatildeo acho que tem a ver com aquela questatildeo que

discutimos com as praacuteticas sociais que satildeo as necessidades reais que temos de nos

comunicar()

Percebemos que ao devolver a duacutevida em forma de pergunta acrescida com um exemplo de

senso comum a professora formadora provoca uma reflexatildeo na professora participante e

como efeito gera-se o entendimento do conceito antes motivo de duacutevida Claro estaacute que nem

sempre esse recurso conforme comprova Carneiro (opcit) consegue proporcionar a

compreensatildeo mas sem duacutevida eacute ma estrateacutegia interessante para o professor de forma

consciente utilizar em suas explicaccedilotildees

Apoacutes esse trabalho de cunho coletivo elaboramos com a participaccedilatildeo das professoras o

quadro abaixo (resultado de trecircs refacccedilotildees) no qual aleacutem de pensar nas implicaccedilotildees para o

ensino elas tambeacutem correlacionaram os elementos da teoria da atividade com alguns dos

elementos do contexto de produccedilatildeo

16

Elementos estruturais da Teoria da Atividade Implicaccedilotildees para o ensino da escrita

DESEJO Elemento afetivo que desencadeia a necessidade da

escrita eacute desencadeado tanto pelo processo de

mediaccedilatildeo do professor com o aluno como tambeacutem

pela motivaccedilatildeo exercida por exemplo para a

abertura de um novo projetoatividade de

escritaNatildeo s relaciona a nenhum dos elementos

previstos pelo contexto de produccedilatildeo jaacute que eacute de

ordem emocional

NECESSIDADE Envolve o uso especiacutefico da escrita numa

determinada situaccedilatildeo de produccedilatildeo para atender a

uma praacutetica social especiacutefica escrever para publicar

um livro de contos escrever para produzir uma

reivindicaccedilatildeo escrever para solicitar alguma coisa

escrever para participar de um concurso escrever

um cardaacutepio para uma festa etc

MOTIVO Envolve o sentido da escrita para a crianccedila de modo

a convencecirc-la a escrever por meio de atividades que

oportunizem correlacionar a escrita com as emoccedilotildees

da crianccedila e tambeacutem com seus provaacuteveis

interlocutores pois satildeo eles que vinculam sentido

agravequilo que a crianccedila escreve (BAKTHIN 2003)

Uma dessas atividades que podem vincular a escrita

ao motivo pode ser a divulgaccedilatildeo da produccedilatildeo final

ao puacuteblico por exemplo compor um fabulaacuterio para

ser divulgado numa amostra de livros da escola

produzir cartazes para divulgaccedilatildeo de festas na escola

e afixaacute-los em estabelecimentos comerciais elaborar

notiacutecias para o jornal da escola ou para a raacutedio da

escola produzir livros de histoacuterias infantis para

crianccedilas menores elaborar uma seccedilatildeo de

classificados divulgando serviccedilos prestados ou

produtos vendidos por familiares e amigos do bairro

etcEntendemos que o fato da divulgaccedilatildeo do olhar

do outro como afirmam BakthinVoloshinov (1992)

satildeo essenciais para instaurar uma escrita

significativa

FINALIDADE Envolve o objetivo especiacutefico da escrita na situaccedilatildeo

de interaccedilatildeo para quecirc escrever Para solicitar

alguma coisa para colocar a minha opiniatildeo para

17

contar uma anedota etcA finalidade ou o objetivo

da produccedilatildeo deve vir claramente expressa no

comando de escrita a ser entregue para o aluno

ACcedilAtildeO Envolve a definiccedilatildeo do gecircnero textual que a crianccedila

iraacute escrever um resumo uma notiacutecia uma carta do

leitor um anuacutencio de classificado um comentaacuterio

um conto de fadas etc

OPERACcedilOtildeES (modos de execuccedilatildeo de uma catildeo) Envolve uma seacuterie de tarefas anteriores aacute produccedilatildeo

escritaoral do gecircnero com vistas aacute apropriaccedilatildeo dos

elementos caracterizadores dos gecircneros (o tema a

estrutura composiconal e o estilo) e levando em

conta as fases da escrita planejamento revisatildeo e

reescrita

Quadro 4 Elementos da Teoria da Atividade e sua implicaccedilatildeo na escrita

O exerciacutecio acima evidenciou-nos que mesmo sem ainda terem a noccedilatildeo sobre as capacidades

de linguagem a serem desenvolvidas no quadro do ISD os professores por meio das

operaccedilotildees mentais que o exerciacutecio exigia (anaacutelise comparaccedilatildeo abstraccedilatildeo siacutentese

exemplificaccedilatildeo) conseguem fazer relaccedilotildees coerentes entre os elementos da Teoria da

Atividade com implicaccedilotildees para o ensino da escrita Por exemplo relacionam a necessidade

elemento desencadeador da atividade com a praacutetica social como elemento desencadeador da

atividade de produccedilatildeo que no quadro do ISD eacute o elemento que possibilita alavancar por

exemplo as sequecircncias didaacuteticas (cfDOLZ SCHNEUWLY 2004)

Tambeacutem associam de forma interessante o motivo com um dos elementos do contexto de

produccedilatildeo o interlocutor reforccedilando a importacircncia desse elemento como tambeacutem aspecto

motivacional no ato da escrita Da mesma forma o tema e seu tratamento exaustivo

(BAKTHIN 1992) eacute explorado na associaccedilatildeo entre esse elemento e a accedilatildeo na medida em que

ao definir um determinado gecircnero estaacute implicado aiacute a realizaccedilatildeo desse elemento bakthiniano

Por fim nas operaccedilotildees fica claro que os professores conseguiram perceber que para se

escrever um determinado gecircnero seraacute preciso decompocirc-lo em uma seacuterie de atividades nas

quais se mobilizaratildeo o tema a estrutura composicional e o estilo

Na sequumlecircncia apoacutes a discussatildeo do quadro e com o intuito de promover mais um evento para

reforccedilar o processo de internalizaccedilatildeo agora numa atividade praacutetica solicitamos que cada

duplatrio de professores elaborassem um planejamento de uma oficina de leituraproduccedilatildeo

textual (jaacute que nesse momento ainda desconheciam outros instrumentos proacuteprios do ISD

18

como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com

atividades de escrita

O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras

de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre

de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um

suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito

com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar

jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da

Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que

tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos

previstos em cada etapa

A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma

oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas

as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs

refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo

4ordf seacuteries 12 ha

SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR

DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola

NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da

escola

MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral

FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na

escola e em casa

ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de

humor)

2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais

da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha

Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar

o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e

definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim

19

de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as

seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para

quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social

2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura

ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a

organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos

e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio

anterior

1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras

MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a

importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar

tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto

1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que

envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido

com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e

trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido

1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em

grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na

escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira

contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade

anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os

interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma

lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira

escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4

quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos

das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -

elaboraccedilatildeo dos balotildees

2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar

ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a

releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com

mediaccedilatildeo do professora

2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)

apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o

tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as

formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo

Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais

O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro

momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de

operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no

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interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo

(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-

problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)

No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo

finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do

contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o

reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro

elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar

um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de

humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as

crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees

estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo

Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993

DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos

que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo

para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio

Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na

visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia

coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a

reescrita

Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos

como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser

compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado

pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua

transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o

processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica

para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos

da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do

Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se

coerentes a essas bases teoacutericas

Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e

certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e

conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que

soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um

21

pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)

talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados

5Consideraccedilotildees finais

O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo

de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da

Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de

apropriaccedilatildeo

a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade

interna

b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do

sujeito para que se concretize

c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por

elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e

as operaccedilotildees

d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem

mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como

propulsores do desenvolvimento

e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito

d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a

definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc

Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores

sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer

um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa

instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o

desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as

praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um

pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do

curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em

torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais

22

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Page 12: In: Anais.. V SIGET – Simpósio Internacional de Estudos de ... · Na perspectiva vygotskiana, portanto, a atividade do indivíduo sobre o objeto não é direta, ... por exemplo,

12

xxx

Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa

Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa

Atividade Accedilatildeo Operaccedilatildeo

Quadro 3 Movimento da aprendizagem na Teoria da Atividade com base em Sforni (2004)

Esse movimento revela para Leontiev o processo ininterrupto de desenvolvimento do sujeito

Para Sforni (2004 p104) esse processo revela o momento da aprendizagem poreacutem natildeo eacute

natural precisa ser mediado por algueacutem mais experiente o que reforccedila a ideacuteia de que a

mediaccedilatildeo tal como jaacute sublinhamos nos estudos vygtskianos eacute outro compontente

fundamental do processo de apropriaccedilatildeo

Todo esse contexto nos leva a pensar novamente sobre a repeticcedilatildeo sistemaacutetica de 1ordf a 4ordf

seacuterie da escrita de narrativas escolaresSe pela teoria da atividade a crianccedila precisa estar

exposta a novas accedilotildees e a novas operaccedilotildees quais conteuacutedos satildeo avanccedilados de seacuterie para

seacuterie se existe a repeticcedilatildeo sistemaacutetica principalmente da narrativa escolar baseada no

modelo aristoteacutelico Se percebemos que as crianccedilas jaacute dominam esse gecircnero escolar por que

natildeo avanccedilar com novos gecircneros ou em ficando nesse gecircnero com novas operaccedilotildees que

mobilizaratildeo novos conteuacutedos Por exemplo em se pensando em gecircneros que se utilizam da

sequumlecircncia narrativa como predominante por que natildeo trabalhar com narrativas de enigmas ou

narrativas de terror que traratildeo novas variaccedilotildees e novos esquemas de organizaccedilatildeo para serem

apropriados pelas crianccedilas

Completando o quadro teoacuterico da TA Davydov (1998) concorda com Leontiev que a

estrutura da atividade seja composta de necessidades tarefas accedilotildees e operaccedilotildees poreacutem

acrescenta um novo componente ndash o desejo ndashjaacute que para ele as emoccedilotildees satildeo inseparaacuteveis da

necessidade (a emoccedilatildeo seria a base para todas as tarefas que o homem se propotildee a fazer) eacute o

desejo que provoca uma necessidade entatildeo a funccedilatildeo do professor seria a de pensar em como

criar desejos para a aprendizagem para que estes provoquem uma necessidade e iniciem o

processo de atividade

Para Libacircneo (2004) esse novo componente deixa claro no campo edcacional ao viacutenculo

entre afetividade e cogniccedilatildeo As atividades humans estatildeo para o autor impregnadas de

13

sentido subjetivo as quais propuosionam nosso agir tanto pensando na esfera escolar como

na esfera do nosso cotidiano Nesse sentido precisamos levar em conta que o processode

apropriaccedilatildeo depende tambeacutem de aspectos afetivos (cf DAVYDOV 1998)

A questatildeo do desejo pode ser comparada agrave questatildeo da voliccedilatildeo discutida por Vygotsky

(2001)Como vimos na seccedilatildeo anterior a relaccedilatildeo do sujeito com o objeto eacute uma relaccedilatildeo

mediada pelo outro atraveacutes da linguagem (e das ferramentas) Para Vygotsky (19882001) eacute a

linguagem que possibilita a constituiccedilatildeo do pensamento da consciecircncia da vontade isto eacute

das funccedilotildees psicoloacutegicas superiores Nesse sentido soacute tomamos consciecircncia individual a

partir primeiro das interaccedilotildees sociais ou da relaccedilatildeo com o outro Normalmente no caso da

crianccedila esse outro eacute algueacutem afetivamente proacutexima a ela Eacute o aspecto emocional envolvido

nessa relaccedilatildeo que motiva e impulsiona a crianccedila a agir Nesse sentido temos que a vontade eacute

uma funccedilatildeo psicoloacutegica superior e a sua construccedilatildeo depende de uma atividade que eacute portanto

de natureza social

Todas essas categorias na perspectiva da Teoria da Atividade implicam que se coloque a

crianccedila em uma trabalho inicialmente coletivo para posteriormente ser individual o que

remete agrave importacircncia de se desenvolver na sala de aula aleacutem das produccedilotildees individuais as

produccedilotildees coletivas De qualquer modo mesmo natildeo sendo um campo epistemoloacutegico voltado

para os gecircneros textuais eacute possiacutevel percebermos as razotildees de Bronckart (2003 2006) ter

utilizado dessa fonte no Interacionismo Sociodiscursivo jaacute que as noccedilotildees de atividade e da

accedilatildeo natildeo soacute regulam os objetivos dos indiviacuteduos nas diversas interaccedilotildees sociais como

tambeacutem satildeo importantes elementos para pensarmos em como gerar um conhecimento que seja

significativo e dessa forma seja apreendido pela crianccedilaaluno

4 Ilustrando o trabalho com a formaccedilatildeo de professores de seacuteries iniciais

As duas atividades que seratildeo aqui delineadas decorreram de trecircs de um total de seis etapas de

um curso de formaccedilatildeo envolvendo o tema gecircneros textuais e ensino ministrado para 15

professores de uma escola da rede puacuteblica do noroeste do Paranaacute por duas professoras

formadoras (das quais fizemos parte) e estagiaacuterias do curso de Letras no segundo semestre de

2007 As trecircs etapas iniciais tiveram como toacutepicos (a) pressupostos baacutesicos da Abordagem

Histoacuterico-Social e da Teoria da Atividade b) pressupostos gerais sobre gecircneros textuais a

partir de Bakthin e o Interacionismo Social dentre os quais foram destacados os aspectos

caracterizadores do gecircnero o tema a estrutura composicional e o estilo (BAKTHIN 1992) c)

contexto de produccedilatildeo no ISD (as capacidades de linguagem o instrumento sequumlecircncia didaacutetica

14

ficaram para outras sessotildees) d) transposiccedilatildeo dessas teorias para o ensino da escrita e)

planejamento de aulasoficinasPor questotildees de delimitaccedilatildeo enfocaremos neste artigo apenas

as subetapas ldquo drdquo e ldquoerdquo

As subetapas assinaladas envolveram duas atividades para os professores uma de cunho

teoacuterico e outra de cunho praacutetico A atividade de cunho teoacuterico ocorreu apoacutes as discussotildees

teoacutericas e foi apresentada da seguinte maneira

Em grupo elabore um quadro no qual vocecirc correlacione as categorias da Teoria da Atividade

aos elementos do contexto de produccedilatildeo vistos em Bakthin (1992) e em Bronckart (2003)

Embora no processo inicial de escolarizaccedilatildeo a comparaccedilatildeo como vimos eacute uma operaccedilatildeo

mental que pode caracterizar o pensamento empiacuterico aqui neste exerciacutecio ela natildeo eacute suficiente

Para que os professores realizassem a atividade precisariam entender primeiro cada uma das

teorias seus elementos para depois confrontaacute-los Isso exigiu que utilizassem diversas

operaccedilotildees mentais ressaltadas por Menchiskaia (1969) como a anaacutelise a abstraccedilatildeo a siacutentese

a comparaccedilatildeo a sistematizaccedilatildeo a definiccedilatildeo e a compreensatildeo necessaacuterias ao processo de

apropriaccedilatildeo

Aleacutem disso para a realizaccedilatildeo desse exerciacutecio procuramos respeitar os elementos proacuteprios da

Teoria da Atividade os professores que estavam no curso de formaccedilatildeo solicitaram o curso

portanto partiram de uma necessidade para ali estarem Aleacutem disso tinham um motivo e uma

finalidade queriam buscar informaccedilotildees sobre a transposiccedilatildeo dos gecircneros textuais para

otimizarem o trabalho com as crianccedilas na sala de aula Sabiam que para alcanccedilar esse

propoacutesito teriam que realizar atividades de forma conjunta compostas de accedilotildees e operaccedilotildees

como essa da elaboraccedilatildeo do quadro o planejamento de uma oficina dentre outras que natildeo nos

interessam nesse momento

Eacute preciso tambeacutem esclarecer que o quadro que seraacute apresentado a seguir foi o resultado final

de um trabalho coletivo e mediado pelas formadoras Para chegarmos a sua versatildeo final

foram necessaacuterias trecircs refacccedilotildees numa clara demonstraccedilatildeo de que o processo de

internalizaccedilatildeo como assevera Vygotsky (1988) depende de uma longa seacuterie de eventos

Assim muito provavelmente esse momento representa apenas um dos eventos que os

professores tiveram para iniciar esse processo mas que para que ele se consolide necessitaratildeo

de outros

15

Ressaltamos que todas as operaccedilotildees mentais anteriormente colocadas no referencial teoacuterico

para o desenvolvimento e apropriaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico dependem para que se

coloque o sujeito em atividade dos processos de mediaccedilatildeo tambeacutem realizados pelo professor

(VYGOTSKY 2000 SFORNI 2004) No nosso caso um dos recursos que utilizamos para

conduzir o processo de apropriaccedilatildeo e que se mostrou bastante produtivo em nossas

intervenccedilotildees foi a devoluccedilatildeo de uma nova pergunta apoacutes uma duacutevida estabelecida pelos

professores Como no momento das discussotildees utilizamos o gecircnero exposiccedilatildeo oral buscamos

nessa estrateacutegia comentada por Carneiro (2009) como uma das quais o professor pode se

utilizar para provocar a reflexatildeo e por efeito a possiacutevel compreensatildeo como ilustra o exemplo

abaixo

Professora ()entatildeo o desejo me parece ser tambeacutem a atividade natildeo eacute

Formadora veja pense num exemplo se jaacute almocei mas de repente vejo numa

vitrine um delicioso doce teria um desejo ou uma necessidade por ele

Professora uhm pera aiacute eu natildeo tenho necessidade de come porque jaacute estou

satisfeita mas tenho desejo neacute o desejo eacute mais emocional eacute mais voltado ao prazer

e a necessidade eacute aquilo que eacute necessaacuterio fazerparece mais racional()

Formadora isso agora pense nessa analogia para o campo da escrita

Profesora taacute o desejo tem a ver com o sentimentoa questatildeo dos sentimentos da

crianccedila neacute a gente tem que criar um viacutenculo afetivo entre ela e atividade que vamos

dar e a necessidade eacute taacute mais na razatildeo acho que tem a ver com aquela questatildeo que

discutimos com as praacuteticas sociais que satildeo as necessidades reais que temos de nos

comunicar()

Percebemos que ao devolver a duacutevida em forma de pergunta acrescida com um exemplo de

senso comum a professora formadora provoca uma reflexatildeo na professora participante e

como efeito gera-se o entendimento do conceito antes motivo de duacutevida Claro estaacute que nem

sempre esse recurso conforme comprova Carneiro (opcit) consegue proporcionar a

compreensatildeo mas sem duacutevida eacute ma estrateacutegia interessante para o professor de forma

consciente utilizar em suas explicaccedilotildees

Apoacutes esse trabalho de cunho coletivo elaboramos com a participaccedilatildeo das professoras o

quadro abaixo (resultado de trecircs refacccedilotildees) no qual aleacutem de pensar nas implicaccedilotildees para o

ensino elas tambeacutem correlacionaram os elementos da teoria da atividade com alguns dos

elementos do contexto de produccedilatildeo

16

Elementos estruturais da Teoria da Atividade Implicaccedilotildees para o ensino da escrita

DESEJO Elemento afetivo que desencadeia a necessidade da

escrita eacute desencadeado tanto pelo processo de

mediaccedilatildeo do professor com o aluno como tambeacutem

pela motivaccedilatildeo exercida por exemplo para a

abertura de um novo projetoatividade de

escritaNatildeo s relaciona a nenhum dos elementos

previstos pelo contexto de produccedilatildeo jaacute que eacute de

ordem emocional

NECESSIDADE Envolve o uso especiacutefico da escrita numa

determinada situaccedilatildeo de produccedilatildeo para atender a

uma praacutetica social especiacutefica escrever para publicar

um livro de contos escrever para produzir uma

reivindicaccedilatildeo escrever para solicitar alguma coisa

escrever para participar de um concurso escrever

um cardaacutepio para uma festa etc

MOTIVO Envolve o sentido da escrita para a crianccedila de modo

a convencecirc-la a escrever por meio de atividades que

oportunizem correlacionar a escrita com as emoccedilotildees

da crianccedila e tambeacutem com seus provaacuteveis

interlocutores pois satildeo eles que vinculam sentido

agravequilo que a crianccedila escreve (BAKTHIN 2003)

Uma dessas atividades que podem vincular a escrita

ao motivo pode ser a divulgaccedilatildeo da produccedilatildeo final

ao puacuteblico por exemplo compor um fabulaacuterio para

ser divulgado numa amostra de livros da escola

produzir cartazes para divulgaccedilatildeo de festas na escola

e afixaacute-los em estabelecimentos comerciais elaborar

notiacutecias para o jornal da escola ou para a raacutedio da

escola produzir livros de histoacuterias infantis para

crianccedilas menores elaborar uma seccedilatildeo de

classificados divulgando serviccedilos prestados ou

produtos vendidos por familiares e amigos do bairro

etcEntendemos que o fato da divulgaccedilatildeo do olhar

do outro como afirmam BakthinVoloshinov (1992)

satildeo essenciais para instaurar uma escrita

significativa

FINALIDADE Envolve o objetivo especiacutefico da escrita na situaccedilatildeo

de interaccedilatildeo para quecirc escrever Para solicitar

alguma coisa para colocar a minha opiniatildeo para

17

contar uma anedota etcA finalidade ou o objetivo

da produccedilatildeo deve vir claramente expressa no

comando de escrita a ser entregue para o aluno

ACcedilAtildeO Envolve a definiccedilatildeo do gecircnero textual que a crianccedila

iraacute escrever um resumo uma notiacutecia uma carta do

leitor um anuacutencio de classificado um comentaacuterio

um conto de fadas etc

OPERACcedilOtildeES (modos de execuccedilatildeo de uma catildeo) Envolve uma seacuterie de tarefas anteriores aacute produccedilatildeo

escritaoral do gecircnero com vistas aacute apropriaccedilatildeo dos

elementos caracterizadores dos gecircneros (o tema a

estrutura composiconal e o estilo) e levando em

conta as fases da escrita planejamento revisatildeo e

reescrita

Quadro 4 Elementos da Teoria da Atividade e sua implicaccedilatildeo na escrita

O exerciacutecio acima evidenciou-nos que mesmo sem ainda terem a noccedilatildeo sobre as capacidades

de linguagem a serem desenvolvidas no quadro do ISD os professores por meio das

operaccedilotildees mentais que o exerciacutecio exigia (anaacutelise comparaccedilatildeo abstraccedilatildeo siacutentese

exemplificaccedilatildeo) conseguem fazer relaccedilotildees coerentes entre os elementos da Teoria da

Atividade com implicaccedilotildees para o ensino da escrita Por exemplo relacionam a necessidade

elemento desencadeador da atividade com a praacutetica social como elemento desencadeador da

atividade de produccedilatildeo que no quadro do ISD eacute o elemento que possibilita alavancar por

exemplo as sequecircncias didaacuteticas (cfDOLZ SCHNEUWLY 2004)

Tambeacutem associam de forma interessante o motivo com um dos elementos do contexto de

produccedilatildeo o interlocutor reforccedilando a importacircncia desse elemento como tambeacutem aspecto

motivacional no ato da escrita Da mesma forma o tema e seu tratamento exaustivo

(BAKTHIN 1992) eacute explorado na associaccedilatildeo entre esse elemento e a accedilatildeo na medida em que

ao definir um determinado gecircnero estaacute implicado aiacute a realizaccedilatildeo desse elemento bakthiniano

Por fim nas operaccedilotildees fica claro que os professores conseguiram perceber que para se

escrever um determinado gecircnero seraacute preciso decompocirc-lo em uma seacuterie de atividades nas

quais se mobilizaratildeo o tema a estrutura composicional e o estilo

Na sequumlecircncia apoacutes a discussatildeo do quadro e com o intuito de promover mais um evento para

reforccedilar o processo de internalizaccedilatildeo agora numa atividade praacutetica solicitamos que cada

duplatrio de professores elaborassem um planejamento de uma oficina de leituraproduccedilatildeo

textual (jaacute que nesse momento ainda desconheciam outros instrumentos proacuteprios do ISD

18

como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com

atividades de escrita

O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras

de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre

de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um

suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito

com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar

jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da

Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que

tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos

previstos em cada etapa

A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma

oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas

as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs

refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo

4ordf seacuteries 12 ha

SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR

DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola

NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da

escola

MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral

FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na

escola e em casa

ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de

humor)

2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais

da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha

Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar

o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e

definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim

19

de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as

seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para

quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social

2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura

ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a

organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos

e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio

anterior

1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras

MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a

importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar

tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto

1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que

envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido

com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e

trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido

1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em

grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na

escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira

contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade

anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os

interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma

lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira

escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4

quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos

das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -

elaboraccedilatildeo dos balotildees

2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar

ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a

releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com

mediaccedilatildeo do professora

2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)

apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o

tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as

formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo

Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais

O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro

momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de

operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no

20

interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo

(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-

problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)

No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo

finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do

contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o

reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro

elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar

um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de

humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as

crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees

estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo

Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993

DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos

que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo

para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio

Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na

visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia

coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a

reescrita

Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos

como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser

compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado

pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua

transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o

processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica

para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos

da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do

Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se

coerentes a essas bases teoacutericas

Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e

certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e

conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que

soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um

21

pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)

talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados

5Consideraccedilotildees finais

O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo

de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da

Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de

apropriaccedilatildeo

a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade

interna

b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do

sujeito para que se concretize

c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por

elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e

as operaccedilotildees

d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem

mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como

propulsores do desenvolvimento

e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito

d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a

definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc

Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores

sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer

um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa

instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o

desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as

praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um

pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do

curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em

torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais

22

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Page 13: In: Anais.. V SIGET – Simpósio Internacional de Estudos de ... · Na perspectiva vygotskiana, portanto, a atividade do indivíduo sobre o objeto não é direta, ... por exemplo,

13

sentido subjetivo as quais propuosionam nosso agir tanto pensando na esfera escolar como

na esfera do nosso cotidiano Nesse sentido precisamos levar em conta que o processode

apropriaccedilatildeo depende tambeacutem de aspectos afetivos (cf DAVYDOV 1998)

A questatildeo do desejo pode ser comparada agrave questatildeo da voliccedilatildeo discutida por Vygotsky

(2001)Como vimos na seccedilatildeo anterior a relaccedilatildeo do sujeito com o objeto eacute uma relaccedilatildeo

mediada pelo outro atraveacutes da linguagem (e das ferramentas) Para Vygotsky (19882001) eacute a

linguagem que possibilita a constituiccedilatildeo do pensamento da consciecircncia da vontade isto eacute

das funccedilotildees psicoloacutegicas superiores Nesse sentido soacute tomamos consciecircncia individual a

partir primeiro das interaccedilotildees sociais ou da relaccedilatildeo com o outro Normalmente no caso da

crianccedila esse outro eacute algueacutem afetivamente proacutexima a ela Eacute o aspecto emocional envolvido

nessa relaccedilatildeo que motiva e impulsiona a crianccedila a agir Nesse sentido temos que a vontade eacute

uma funccedilatildeo psicoloacutegica superior e a sua construccedilatildeo depende de uma atividade que eacute portanto

de natureza social

Todas essas categorias na perspectiva da Teoria da Atividade implicam que se coloque a

crianccedila em uma trabalho inicialmente coletivo para posteriormente ser individual o que

remete agrave importacircncia de se desenvolver na sala de aula aleacutem das produccedilotildees individuais as

produccedilotildees coletivas De qualquer modo mesmo natildeo sendo um campo epistemoloacutegico voltado

para os gecircneros textuais eacute possiacutevel percebermos as razotildees de Bronckart (2003 2006) ter

utilizado dessa fonte no Interacionismo Sociodiscursivo jaacute que as noccedilotildees de atividade e da

accedilatildeo natildeo soacute regulam os objetivos dos indiviacuteduos nas diversas interaccedilotildees sociais como

tambeacutem satildeo importantes elementos para pensarmos em como gerar um conhecimento que seja

significativo e dessa forma seja apreendido pela crianccedilaaluno

4 Ilustrando o trabalho com a formaccedilatildeo de professores de seacuteries iniciais

As duas atividades que seratildeo aqui delineadas decorreram de trecircs de um total de seis etapas de

um curso de formaccedilatildeo envolvendo o tema gecircneros textuais e ensino ministrado para 15

professores de uma escola da rede puacuteblica do noroeste do Paranaacute por duas professoras

formadoras (das quais fizemos parte) e estagiaacuterias do curso de Letras no segundo semestre de

2007 As trecircs etapas iniciais tiveram como toacutepicos (a) pressupostos baacutesicos da Abordagem

Histoacuterico-Social e da Teoria da Atividade b) pressupostos gerais sobre gecircneros textuais a

partir de Bakthin e o Interacionismo Social dentre os quais foram destacados os aspectos

caracterizadores do gecircnero o tema a estrutura composicional e o estilo (BAKTHIN 1992) c)

contexto de produccedilatildeo no ISD (as capacidades de linguagem o instrumento sequumlecircncia didaacutetica

14

ficaram para outras sessotildees) d) transposiccedilatildeo dessas teorias para o ensino da escrita e)

planejamento de aulasoficinasPor questotildees de delimitaccedilatildeo enfocaremos neste artigo apenas

as subetapas ldquo drdquo e ldquoerdquo

As subetapas assinaladas envolveram duas atividades para os professores uma de cunho

teoacuterico e outra de cunho praacutetico A atividade de cunho teoacuterico ocorreu apoacutes as discussotildees

teoacutericas e foi apresentada da seguinte maneira

Em grupo elabore um quadro no qual vocecirc correlacione as categorias da Teoria da Atividade

aos elementos do contexto de produccedilatildeo vistos em Bakthin (1992) e em Bronckart (2003)

Embora no processo inicial de escolarizaccedilatildeo a comparaccedilatildeo como vimos eacute uma operaccedilatildeo

mental que pode caracterizar o pensamento empiacuterico aqui neste exerciacutecio ela natildeo eacute suficiente

Para que os professores realizassem a atividade precisariam entender primeiro cada uma das

teorias seus elementos para depois confrontaacute-los Isso exigiu que utilizassem diversas

operaccedilotildees mentais ressaltadas por Menchiskaia (1969) como a anaacutelise a abstraccedilatildeo a siacutentese

a comparaccedilatildeo a sistematizaccedilatildeo a definiccedilatildeo e a compreensatildeo necessaacuterias ao processo de

apropriaccedilatildeo

Aleacutem disso para a realizaccedilatildeo desse exerciacutecio procuramos respeitar os elementos proacuteprios da

Teoria da Atividade os professores que estavam no curso de formaccedilatildeo solicitaram o curso

portanto partiram de uma necessidade para ali estarem Aleacutem disso tinham um motivo e uma

finalidade queriam buscar informaccedilotildees sobre a transposiccedilatildeo dos gecircneros textuais para

otimizarem o trabalho com as crianccedilas na sala de aula Sabiam que para alcanccedilar esse

propoacutesito teriam que realizar atividades de forma conjunta compostas de accedilotildees e operaccedilotildees

como essa da elaboraccedilatildeo do quadro o planejamento de uma oficina dentre outras que natildeo nos

interessam nesse momento

Eacute preciso tambeacutem esclarecer que o quadro que seraacute apresentado a seguir foi o resultado final

de um trabalho coletivo e mediado pelas formadoras Para chegarmos a sua versatildeo final

foram necessaacuterias trecircs refacccedilotildees numa clara demonstraccedilatildeo de que o processo de

internalizaccedilatildeo como assevera Vygotsky (1988) depende de uma longa seacuterie de eventos

Assim muito provavelmente esse momento representa apenas um dos eventos que os

professores tiveram para iniciar esse processo mas que para que ele se consolide necessitaratildeo

de outros

15

Ressaltamos que todas as operaccedilotildees mentais anteriormente colocadas no referencial teoacuterico

para o desenvolvimento e apropriaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico dependem para que se

coloque o sujeito em atividade dos processos de mediaccedilatildeo tambeacutem realizados pelo professor

(VYGOTSKY 2000 SFORNI 2004) No nosso caso um dos recursos que utilizamos para

conduzir o processo de apropriaccedilatildeo e que se mostrou bastante produtivo em nossas

intervenccedilotildees foi a devoluccedilatildeo de uma nova pergunta apoacutes uma duacutevida estabelecida pelos

professores Como no momento das discussotildees utilizamos o gecircnero exposiccedilatildeo oral buscamos

nessa estrateacutegia comentada por Carneiro (2009) como uma das quais o professor pode se

utilizar para provocar a reflexatildeo e por efeito a possiacutevel compreensatildeo como ilustra o exemplo

abaixo

Professora ()entatildeo o desejo me parece ser tambeacutem a atividade natildeo eacute

Formadora veja pense num exemplo se jaacute almocei mas de repente vejo numa

vitrine um delicioso doce teria um desejo ou uma necessidade por ele

Professora uhm pera aiacute eu natildeo tenho necessidade de come porque jaacute estou

satisfeita mas tenho desejo neacute o desejo eacute mais emocional eacute mais voltado ao prazer

e a necessidade eacute aquilo que eacute necessaacuterio fazerparece mais racional()

Formadora isso agora pense nessa analogia para o campo da escrita

Profesora taacute o desejo tem a ver com o sentimentoa questatildeo dos sentimentos da

crianccedila neacute a gente tem que criar um viacutenculo afetivo entre ela e atividade que vamos

dar e a necessidade eacute taacute mais na razatildeo acho que tem a ver com aquela questatildeo que

discutimos com as praacuteticas sociais que satildeo as necessidades reais que temos de nos

comunicar()

Percebemos que ao devolver a duacutevida em forma de pergunta acrescida com um exemplo de

senso comum a professora formadora provoca uma reflexatildeo na professora participante e

como efeito gera-se o entendimento do conceito antes motivo de duacutevida Claro estaacute que nem

sempre esse recurso conforme comprova Carneiro (opcit) consegue proporcionar a

compreensatildeo mas sem duacutevida eacute ma estrateacutegia interessante para o professor de forma

consciente utilizar em suas explicaccedilotildees

Apoacutes esse trabalho de cunho coletivo elaboramos com a participaccedilatildeo das professoras o

quadro abaixo (resultado de trecircs refacccedilotildees) no qual aleacutem de pensar nas implicaccedilotildees para o

ensino elas tambeacutem correlacionaram os elementos da teoria da atividade com alguns dos

elementos do contexto de produccedilatildeo

16

Elementos estruturais da Teoria da Atividade Implicaccedilotildees para o ensino da escrita

DESEJO Elemento afetivo que desencadeia a necessidade da

escrita eacute desencadeado tanto pelo processo de

mediaccedilatildeo do professor com o aluno como tambeacutem

pela motivaccedilatildeo exercida por exemplo para a

abertura de um novo projetoatividade de

escritaNatildeo s relaciona a nenhum dos elementos

previstos pelo contexto de produccedilatildeo jaacute que eacute de

ordem emocional

NECESSIDADE Envolve o uso especiacutefico da escrita numa

determinada situaccedilatildeo de produccedilatildeo para atender a

uma praacutetica social especiacutefica escrever para publicar

um livro de contos escrever para produzir uma

reivindicaccedilatildeo escrever para solicitar alguma coisa

escrever para participar de um concurso escrever

um cardaacutepio para uma festa etc

MOTIVO Envolve o sentido da escrita para a crianccedila de modo

a convencecirc-la a escrever por meio de atividades que

oportunizem correlacionar a escrita com as emoccedilotildees

da crianccedila e tambeacutem com seus provaacuteveis

interlocutores pois satildeo eles que vinculam sentido

agravequilo que a crianccedila escreve (BAKTHIN 2003)

Uma dessas atividades que podem vincular a escrita

ao motivo pode ser a divulgaccedilatildeo da produccedilatildeo final

ao puacuteblico por exemplo compor um fabulaacuterio para

ser divulgado numa amostra de livros da escola

produzir cartazes para divulgaccedilatildeo de festas na escola

e afixaacute-los em estabelecimentos comerciais elaborar

notiacutecias para o jornal da escola ou para a raacutedio da

escola produzir livros de histoacuterias infantis para

crianccedilas menores elaborar uma seccedilatildeo de

classificados divulgando serviccedilos prestados ou

produtos vendidos por familiares e amigos do bairro

etcEntendemos que o fato da divulgaccedilatildeo do olhar

do outro como afirmam BakthinVoloshinov (1992)

satildeo essenciais para instaurar uma escrita

significativa

FINALIDADE Envolve o objetivo especiacutefico da escrita na situaccedilatildeo

de interaccedilatildeo para quecirc escrever Para solicitar

alguma coisa para colocar a minha opiniatildeo para

17

contar uma anedota etcA finalidade ou o objetivo

da produccedilatildeo deve vir claramente expressa no

comando de escrita a ser entregue para o aluno

ACcedilAtildeO Envolve a definiccedilatildeo do gecircnero textual que a crianccedila

iraacute escrever um resumo uma notiacutecia uma carta do

leitor um anuacutencio de classificado um comentaacuterio

um conto de fadas etc

OPERACcedilOtildeES (modos de execuccedilatildeo de uma catildeo) Envolve uma seacuterie de tarefas anteriores aacute produccedilatildeo

escritaoral do gecircnero com vistas aacute apropriaccedilatildeo dos

elementos caracterizadores dos gecircneros (o tema a

estrutura composiconal e o estilo) e levando em

conta as fases da escrita planejamento revisatildeo e

reescrita

Quadro 4 Elementos da Teoria da Atividade e sua implicaccedilatildeo na escrita

O exerciacutecio acima evidenciou-nos que mesmo sem ainda terem a noccedilatildeo sobre as capacidades

de linguagem a serem desenvolvidas no quadro do ISD os professores por meio das

operaccedilotildees mentais que o exerciacutecio exigia (anaacutelise comparaccedilatildeo abstraccedilatildeo siacutentese

exemplificaccedilatildeo) conseguem fazer relaccedilotildees coerentes entre os elementos da Teoria da

Atividade com implicaccedilotildees para o ensino da escrita Por exemplo relacionam a necessidade

elemento desencadeador da atividade com a praacutetica social como elemento desencadeador da

atividade de produccedilatildeo que no quadro do ISD eacute o elemento que possibilita alavancar por

exemplo as sequecircncias didaacuteticas (cfDOLZ SCHNEUWLY 2004)

Tambeacutem associam de forma interessante o motivo com um dos elementos do contexto de

produccedilatildeo o interlocutor reforccedilando a importacircncia desse elemento como tambeacutem aspecto

motivacional no ato da escrita Da mesma forma o tema e seu tratamento exaustivo

(BAKTHIN 1992) eacute explorado na associaccedilatildeo entre esse elemento e a accedilatildeo na medida em que

ao definir um determinado gecircnero estaacute implicado aiacute a realizaccedilatildeo desse elemento bakthiniano

Por fim nas operaccedilotildees fica claro que os professores conseguiram perceber que para se

escrever um determinado gecircnero seraacute preciso decompocirc-lo em uma seacuterie de atividades nas

quais se mobilizaratildeo o tema a estrutura composicional e o estilo

Na sequumlecircncia apoacutes a discussatildeo do quadro e com o intuito de promover mais um evento para

reforccedilar o processo de internalizaccedilatildeo agora numa atividade praacutetica solicitamos que cada

duplatrio de professores elaborassem um planejamento de uma oficina de leituraproduccedilatildeo

textual (jaacute que nesse momento ainda desconheciam outros instrumentos proacuteprios do ISD

18

como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com

atividades de escrita

O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras

de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre

de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um

suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito

com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar

jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da

Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que

tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos

previstos em cada etapa

A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma

oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas

as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs

refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo

4ordf seacuteries 12 ha

SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR

DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola

NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da

escola

MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral

FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na

escola e em casa

ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de

humor)

2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais

da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha

Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar

o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e

definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim

19

de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as

seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para

quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social

2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura

ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a

organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos

e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio

anterior

1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras

MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a

importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar

tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto

1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que

envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido

com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e

trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido

1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em

grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na

escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira

contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade

anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os

interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma

lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira

escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4

quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos

das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -

elaboraccedilatildeo dos balotildees

2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar

ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a

releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com

mediaccedilatildeo do professora

2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)

apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o

tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as

formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo

Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais

O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro

momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de

operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no

20

interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo

(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-

problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)

No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo

finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do

contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o

reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro

elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar

um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de

humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as

crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees

estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo

Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993

DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos

que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo

para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio

Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na

visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia

coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a

reescrita

Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos

como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser

compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado

pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua

transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o

processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica

para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos

da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do

Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se

coerentes a essas bases teoacutericas

Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e

certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e

conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que

soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um

21

pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)

talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados

5Consideraccedilotildees finais

O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo

de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da

Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de

apropriaccedilatildeo

a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade

interna

b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do

sujeito para que se concretize

c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por

elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e

as operaccedilotildees

d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem

mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como

propulsores do desenvolvimento

e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito

d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a

definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc

Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores

sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer

um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa

instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o

desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as

praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um

pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do

curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em

torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais

22

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Page 14: In: Anais.. V SIGET – Simpósio Internacional de Estudos de ... · Na perspectiva vygotskiana, portanto, a atividade do indivíduo sobre o objeto não é direta, ... por exemplo,

14

ficaram para outras sessotildees) d) transposiccedilatildeo dessas teorias para o ensino da escrita e)

planejamento de aulasoficinasPor questotildees de delimitaccedilatildeo enfocaremos neste artigo apenas

as subetapas ldquo drdquo e ldquoerdquo

As subetapas assinaladas envolveram duas atividades para os professores uma de cunho

teoacuterico e outra de cunho praacutetico A atividade de cunho teoacuterico ocorreu apoacutes as discussotildees

teoacutericas e foi apresentada da seguinte maneira

Em grupo elabore um quadro no qual vocecirc correlacione as categorias da Teoria da Atividade

aos elementos do contexto de produccedilatildeo vistos em Bakthin (1992) e em Bronckart (2003)

Embora no processo inicial de escolarizaccedilatildeo a comparaccedilatildeo como vimos eacute uma operaccedilatildeo

mental que pode caracterizar o pensamento empiacuterico aqui neste exerciacutecio ela natildeo eacute suficiente

Para que os professores realizassem a atividade precisariam entender primeiro cada uma das

teorias seus elementos para depois confrontaacute-los Isso exigiu que utilizassem diversas

operaccedilotildees mentais ressaltadas por Menchiskaia (1969) como a anaacutelise a abstraccedilatildeo a siacutentese

a comparaccedilatildeo a sistematizaccedilatildeo a definiccedilatildeo e a compreensatildeo necessaacuterias ao processo de

apropriaccedilatildeo

Aleacutem disso para a realizaccedilatildeo desse exerciacutecio procuramos respeitar os elementos proacuteprios da

Teoria da Atividade os professores que estavam no curso de formaccedilatildeo solicitaram o curso

portanto partiram de uma necessidade para ali estarem Aleacutem disso tinham um motivo e uma

finalidade queriam buscar informaccedilotildees sobre a transposiccedilatildeo dos gecircneros textuais para

otimizarem o trabalho com as crianccedilas na sala de aula Sabiam que para alcanccedilar esse

propoacutesito teriam que realizar atividades de forma conjunta compostas de accedilotildees e operaccedilotildees

como essa da elaboraccedilatildeo do quadro o planejamento de uma oficina dentre outras que natildeo nos

interessam nesse momento

Eacute preciso tambeacutem esclarecer que o quadro que seraacute apresentado a seguir foi o resultado final

de um trabalho coletivo e mediado pelas formadoras Para chegarmos a sua versatildeo final

foram necessaacuterias trecircs refacccedilotildees numa clara demonstraccedilatildeo de que o processo de

internalizaccedilatildeo como assevera Vygotsky (1988) depende de uma longa seacuterie de eventos

Assim muito provavelmente esse momento representa apenas um dos eventos que os

professores tiveram para iniciar esse processo mas que para que ele se consolide necessitaratildeo

de outros

15

Ressaltamos que todas as operaccedilotildees mentais anteriormente colocadas no referencial teoacuterico

para o desenvolvimento e apropriaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico dependem para que se

coloque o sujeito em atividade dos processos de mediaccedilatildeo tambeacutem realizados pelo professor

(VYGOTSKY 2000 SFORNI 2004) No nosso caso um dos recursos que utilizamos para

conduzir o processo de apropriaccedilatildeo e que se mostrou bastante produtivo em nossas

intervenccedilotildees foi a devoluccedilatildeo de uma nova pergunta apoacutes uma duacutevida estabelecida pelos

professores Como no momento das discussotildees utilizamos o gecircnero exposiccedilatildeo oral buscamos

nessa estrateacutegia comentada por Carneiro (2009) como uma das quais o professor pode se

utilizar para provocar a reflexatildeo e por efeito a possiacutevel compreensatildeo como ilustra o exemplo

abaixo

Professora ()entatildeo o desejo me parece ser tambeacutem a atividade natildeo eacute

Formadora veja pense num exemplo se jaacute almocei mas de repente vejo numa

vitrine um delicioso doce teria um desejo ou uma necessidade por ele

Professora uhm pera aiacute eu natildeo tenho necessidade de come porque jaacute estou

satisfeita mas tenho desejo neacute o desejo eacute mais emocional eacute mais voltado ao prazer

e a necessidade eacute aquilo que eacute necessaacuterio fazerparece mais racional()

Formadora isso agora pense nessa analogia para o campo da escrita

Profesora taacute o desejo tem a ver com o sentimentoa questatildeo dos sentimentos da

crianccedila neacute a gente tem que criar um viacutenculo afetivo entre ela e atividade que vamos

dar e a necessidade eacute taacute mais na razatildeo acho que tem a ver com aquela questatildeo que

discutimos com as praacuteticas sociais que satildeo as necessidades reais que temos de nos

comunicar()

Percebemos que ao devolver a duacutevida em forma de pergunta acrescida com um exemplo de

senso comum a professora formadora provoca uma reflexatildeo na professora participante e

como efeito gera-se o entendimento do conceito antes motivo de duacutevida Claro estaacute que nem

sempre esse recurso conforme comprova Carneiro (opcit) consegue proporcionar a

compreensatildeo mas sem duacutevida eacute ma estrateacutegia interessante para o professor de forma

consciente utilizar em suas explicaccedilotildees

Apoacutes esse trabalho de cunho coletivo elaboramos com a participaccedilatildeo das professoras o

quadro abaixo (resultado de trecircs refacccedilotildees) no qual aleacutem de pensar nas implicaccedilotildees para o

ensino elas tambeacutem correlacionaram os elementos da teoria da atividade com alguns dos

elementos do contexto de produccedilatildeo

16

Elementos estruturais da Teoria da Atividade Implicaccedilotildees para o ensino da escrita

DESEJO Elemento afetivo que desencadeia a necessidade da

escrita eacute desencadeado tanto pelo processo de

mediaccedilatildeo do professor com o aluno como tambeacutem

pela motivaccedilatildeo exercida por exemplo para a

abertura de um novo projetoatividade de

escritaNatildeo s relaciona a nenhum dos elementos

previstos pelo contexto de produccedilatildeo jaacute que eacute de

ordem emocional

NECESSIDADE Envolve o uso especiacutefico da escrita numa

determinada situaccedilatildeo de produccedilatildeo para atender a

uma praacutetica social especiacutefica escrever para publicar

um livro de contos escrever para produzir uma

reivindicaccedilatildeo escrever para solicitar alguma coisa

escrever para participar de um concurso escrever

um cardaacutepio para uma festa etc

MOTIVO Envolve o sentido da escrita para a crianccedila de modo

a convencecirc-la a escrever por meio de atividades que

oportunizem correlacionar a escrita com as emoccedilotildees

da crianccedila e tambeacutem com seus provaacuteveis

interlocutores pois satildeo eles que vinculam sentido

agravequilo que a crianccedila escreve (BAKTHIN 2003)

Uma dessas atividades que podem vincular a escrita

ao motivo pode ser a divulgaccedilatildeo da produccedilatildeo final

ao puacuteblico por exemplo compor um fabulaacuterio para

ser divulgado numa amostra de livros da escola

produzir cartazes para divulgaccedilatildeo de festas na escola

e afixaacute-los em estabelecimentos comerciais elaborar

notiacutecias para o jornal da escola ou para a raacutedio da

escola produzir livros de histoacuterias infantis para

crianccedilas menores elaborar uma seccedilatildeo de

classificados divulgando serviccedilos prestados ou

produtos vendidos por familiares e amigos do bairro

etcEntendemos que o fato da divulgaccedilatildeo do olhar

do outro como afirmam BakthinVoloshinov (1992)

satildeo essenciais para instaurar uma escrita

significativa

FINALIDADE Envolve o objetivo especiacutefico da escrita na situaccedilatildeo

de interaccedilatildeo para quecirc escrever Para solicitar

alguma coisa para colocar a minha opiniatildeo para

17

contar uma anedota etcA finalidade ou o objetivo

da produccedilatildeo deve vir claramente expressa no

comando de escrita a ser entregue para o aluno

ACcedilAtildeO Envolve a definiccedilatildeo do gecircnero textual que a crianccedila

iraacute escrever um resumo uma notiacutecia uma carta do

leitor um anuacutencio de classificado um comentaacuterio

um conto de fadas etc

OPERACcedilOtildeES (modos de execuccedilatildeo de uma catildeo) Envolve uma seacuterie de tarefas anteriores aacute produccedilatildeo

escritaoral do gecircnero com vistas aacute apropriaccedilatildeo dos

elementos caracterizadores dos gecircneros (o tema a

estrutura composiconal e o estilo) e levando em

conta as fases da escrita planejamento revisatildeo e

reescrita

Quadro 4 Elementos da Teoria da Atividade e sua implicaccedilatildeo na escrita

O exerciacutecio acima evidenciou-nos que mesmo sem ainda terem a noccedilatildeo sobre as capacidades

de linguagem a serem desenvolvidas no quadro do ISD os professores por meio das

operaccedilotildees mentais que o exerciacutecio exigia (anaacutelise comparaccedilatildeo abstraccedilatildeo siacutentese

exemplificaccedilatildeo) conseguem fazer relaccedilotildees coerentes entre os elementos da Teoria da

Atividade com implicaccedilotildees para o ensino da escrita Por exemplo relacionam a necessidade

elemento desencadeador da atividade com a praacutetica social como elemento desencadeador da

atividade de produccedilatildeo que no quadro do ISD eacute o elemento que possibilita alavancar por

exemplo as sequecircncias didaacuteticas (cfDOLZ SCHNEUWLY 2004)

Tambeacutem associam de forma interessante o motivo com um dos elementos do contexto de

produccedilatildeo o interlocutor reforccedilando a importacircncia desse elemento como tambeacutem aspecto

motivacional no ato da escrita Da mesma forma o tema e seu tratamento exaustivo

(BAKTHIN 1992) eacute explorado na associaccedilatildeo entre esse elemento e a accedilatildeo na medida em que

ao definir um determinado gecircnero estaacute implicado aiacute a realizaccedilatildeo desse elemento bakthiniano

Por fim nas operaccedilotildees fica claro que os professores conseguiram perceber que para se

escrever um determinado gecircnero seraacute preciso decompocirc-lo em uma seacuterie de atividades nas

quais se mobilizaratildeo o tema a estrutura composicional e o estilo

Na sequumlecircncia apoacutes a discussatildeo do quadro e com o intuito de promover mais um evento para

reforccedilar o processo de internalizaccedilatildeo agora numa atividade praacutetica solicitamos que cada

duplatrio de professores elaborassem um planejamento de uma oficina de leituraproduccedilatildeo

textual (jaacute que nesse momento ainda desconheciam outros instrumentos proacuteprios do ISD

18

como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com

atividades de escrita

O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras

de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre

de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um

suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito

com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar

jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da

Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que

tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos

previstos em cada etapa

A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma

oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas

as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs

refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo

4ordf seacuteries 12 ha

SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR

DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola

NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da

escola

MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral

FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na

escola e em casa

ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de

humor)

2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais

da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha

Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar

o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e

definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim

19

de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as

seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para

quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social

2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura

ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a

organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos

e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio

anterior

1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras

MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a

importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar

tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto

1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que

envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido

com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e

trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido

1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em

grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na

escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira

contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade

anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os

interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma

lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira

escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4

quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos

das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -

elaboraccedilatildeo dos balotildees

2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar

ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a

releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com

mediaccedilatildeo do professora

2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)

apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o

tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as

formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo

Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais

O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro

momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de

operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no

20

interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo

(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-

problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)

No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo

finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do

contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o

reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro

elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar

um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de

humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as

crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees

estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo

Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993

DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos

que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo

para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio

Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na

visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia

coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a

reescrita

Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos

como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser

compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado

pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua

transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o

processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica

para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos

da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do

Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se

coerentes a essas bases teoacutericas

Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e

certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e

conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que

soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um

21

pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)

talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados

5Consideraccedilotildees finais

O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo

de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da

Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de

apropriaccedilatildeo

a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade

interna

b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do

sujeito para que se concretize

c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por

elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e

as operaccedilotildees

d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem

mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como

propulsores do desenvolvimento

e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito

d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a

definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc

Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores

sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer

um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa

instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o

desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as

praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um

pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do

curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em

torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais

22

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Papirus dez n56 p 388-411 1996

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VYGOTSKY LS Estudo do desenvolvimento dos conceitos cientiacuteficos na infacircncia In A

construccedilatildeo do pensamento e da linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 p 241-394

Page 15: In: Anais.. V SIGET – Simpósio Internacional de Estudos de ... · Na perspectiva vygotskiana, portanto, a atividade do indivíduo sobre o objeto não é direta, ... por exemplo,

15

Ressaltamos que todas as operaccedilotildees mentais anteriormente colocadas no referencial teoacuterico

para o desenvolvimento e apropriaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico dependem para que se

coloque o sujeito em atividade dos processos de mediaccedilatildeo tambeacutem realizados pelo professor

(VYGOTSKY 2000 SFORNI 2004) No nosso caso um dos recursos que utilizamos para

conduzir o processo de apropriaccedilatildeo e que se mostrou bastante produtivo em nossas

intervenccedilotildees foi a devoluccedilatildeo de uma nova pergunta apoacutes uma duacutevida estabelecida pelos

professores Como no momento das discussotildees utilizamos o gecircnero exposiccedilatildeo oral buscamos

nessa estrateacutegia comentada por Carneiro (2009) como uma das quais o professor pode se

utilizar para provocar a reflexatildeo e por efeito a possiacutevel compreensatildeo como ilustra o exemplo

abaixo

Professora ()entatildeo o desejo me parece ser tambeacutem a atividade natildeo eacute

Formadora veja pense num exemplo se jaacute almocei mas de repente vejo numa

vitrine um delicioso doce teria um desejo ou uma necessidade por ele

Professora uhm pera aiacute eu natildeo tenho necessidade de come porque jaacute estou

satisfeita mas tenho desejo neacute o desejo eacute mais emocional eacute mais voltado ao prazer

e a necessidade eacute aquilo que eacute necessaacuterio fazerparece mais racional()

Formadora isso agora pense nessa analogia para o campo da escrita

Profesora taacute o desejo tem a ver com o sentimentoa questatildeo dos sentimentos da

crianccedila neacute a gente tem que criar um viacutenculo afetivo entre ela e atividade que vamos

dar e a necessidade eacute taacute mais na razatildeo acho que tem a ver com aquela questatildeo que

discutimos com as praacuteticas sociais que satildeo as necessidades reais que temos de nos

comunicar()

Percebemos que ao devolver a duacutevida em forma de pergunta acrescida com um exemplo de

senso comum a professora formadora provoca uma reflexatildeo na professora participante e

como efeito gera-se o entendimento do conceito antes motivo de duacutevida Claro estaacute que nem

sempre esse recurso conforme comprova Carneiro (opcit) consegue proporcionar a

compreensatildeo mas sem duacutevida eacute ma estrateacutegia interessante para o professor de forma

consciente utilizar em suas explicaccedilotildees

Apoacutes esse trabalho de cunho coletivo elaboramos com a participaccedilatildeo das professoras o

quadro abaixo (resultado de trecircs refacccedilotildees) no qual aleacutem de pensar nas implicaccedilotildees para o

ensino elas tambeacutem correlacionaram os elementos da teoria da atividade com alguns dos

elementos do contexto de produccedilatildeo

16

Elementos estruturais da Teoria da Atividade Implicaccedilotildees para o ensino da escrita

DESEJO Elemento afetivo que desencadeia a necessidade da

escrita eacute desencadeado tanto pelo processo de

mediaccedilatildeo do professor com o aluno como tambeacutem

pela motivaccedilatildeo exercida por exemplo para a

abertura de um novo projetoatividade de

escritaNatildeo s relaciona a nenhum dos elementos

previstos pelo contexto de produccedilatildeo jaacute que eacute de

ordem emocional

NECESSIDADE Envolve o uso especiacutefico da escrita numa

determinada situaccedilatildeo de produccedilatildeo para atender a

uma praacutetica social especiacutefica escrever para publicar

um livro de contos escrever para produzir uma

reivindicaccedilatildeo escrever para solicitar alguma coisa

escrever para participar de um concurso escrever

um cardaacutepio para uma festa etc

MOTIVO Envolve o sentido da escrita para a crianccedila de modo

a convencecirc-la a escrever por meio de atividades que

oportunizem correlacionar a escrita com as emoccedilotildees

da crianccedila e tambeacutem com seus provaacuteveis

interlocutores pois satildeo eles que vinculam sentido

agravequilo que a crianccedila escreve (BAKTHIN 2003)

Uma dessas atividades que podem vincular a escrita

ao motivo pode ser a divulgaccedilatildeo da produccedilatildeo final

ao puacuteblico por exemplo compor um fabulaacuterio para

ser divulgado numa amostra de livros da escola

produzir cartazes para divulgaccedilatildeo de festas na escola

e afixaacute-los em estabelecimentos comerciais elaborar

notiacutecias para o jornal da escola ou para a raacutedio da

escola produzir livros de histoacuterias infantis para

crianccedilas menores elaborar uma seccedilatildeo de

classificados divulgando serviccedilos prestados ou

produtos vendidos por familiares e amigos do bairro

etcEntendemos que o fato da divulgaccedilatildeo do olhar

do outro como afirmam BakthinVoloshinov (1992)

satildeo essenciais para instaurar uma escrita

significativa

FINALIDADE Envolve o objetivo especiacutefico da escrita na situaccedilatildeo

de interaccedilatildeo para quecirc escrever Para solicitar

alguma coisa para colocar a minha opiniatildeo para

17

contar uma anedota etcA finalidade ou o objetivo

da produccedilatildeo deve vir claramente expressa no

comando de escrita a ser entregue para o aluno

ACcedilAtildeO Envolve a definiccedilatildeo do gecircnero textual que a crianccedila

iraacute escrever um resumo uma notiacutecia uma carta do

leitor um anuacutencio de classificado um comentaacuterio

um conto de fadas etc

OPERACcedilOtildeES (modos de execuccedilatildeo de uma catildeo) Envolve uma seacuterie de tarefas anteriores aacute produccedilatildeo

escritaoral do gecircnero com vistas aacute apropriaccedilatildeo dos

elementos caracterizadores dos gecircneros (o tema a

estrutura composiconal e o estilo) e levando em

conta as fases da escrita planejamento revisatildeo e

reescrita

Quadro 4 Elementos da Teoria da Atividade e sua implicaccedilatildeo na escrita

O exerciacutecio acima evidenciou-nos que mesmo sem ainda terem a noccedilatildeo sobre as capacidades

de linguagem a serem desenvolvidas no quadro do ISD os professores por meio das

operaccedilotildees mentais que o exerciacutecio exigia (anaacutelise comparaccedilatildeo abstraccedilatildeo siacutentese

exemplificaccedilatildeo) conseguem fazer relaccedilotildees coerentes entre os elementos da Teoria da

Atividade com implicaccedilotildees para o ensino da escrita Por exemplo relacionam a necessidade

elemento desencadeador da atividade com a praacutetica social como elemento desencadeador da

atividade de produccedilatildeo que no quadro do ISD eacute o elemento que possibilita alavancar por

exemplo as sequecircncias didaacuteticas (cfDOLZ SCHNEUWLY 2004)

Tambeacutem associam de forma interessante o motivo com um dos elementos do contexto de

produccedilatildeo o interlocutor reforccedilando a importacircncia desse elemento como tambeacutem aspecto

motivacional no ato da escrita Da mesma forma o tema e seu tratamento exaustivo

(BAKTHIN 1992) eacute explorado na associaccedilatildeo entre esse elemento e a accedilatildeo na medida em que

ao definir um determinado gecircnero estaacute implicado aiacute a realizaccedilatildeo desse elemento bakthiniano

Por fim nas operaccedilotildees fica claro que os professores conseguiram perceber que para se

escrever um determinado gecircnero seraacute preciso decompocirc-lo em uma seacuterie de atividades nas

quais se mobilizaratildeo o tema a estrutura composicional e o estilo

Na sequumlecircncia apoacutes a discussatildeo do quadro e com o intuito de promover mais um evento para

reforccedilar o processo de internalizaccedilatildeo agora numa atividade praacutetica solicitamos que cada

duplatrio de professores elaborassem um planejamento de uma oficina de leituraproduccedilatildeo

textual (jaacute que nesse momento ainda desconheciam outros instrumentos proacuteprios do ISD

18

como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com

atividades de escrita

O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras

de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre

de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um

suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito

com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar

jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da

Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que

tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos

previstos em cada etapa

A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma

oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas

as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs

refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo

4ordf seacuteries 12 ha

SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR

DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola

NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da

escola

MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral

FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na

escola e em casa

ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de

humor)

2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais

da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha

Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar

o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e

definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim

19

de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as

seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para

quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social

2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura

ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a

organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos

e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio

anterior

1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras

MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a

importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar

tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto

1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que

envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido

com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e

trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido

1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em

grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na

escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira

contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade

anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os

interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma

lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira

escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4

quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos

das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -

elaboraccedilatildeo dos balotildees

2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar

ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a

releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com

mediaccedilatildeo do professora

2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)

apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o

tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as

formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo

Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais

O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro

momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de

operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no

20

interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo

(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-

problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)

No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo

finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do

contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o

reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro

elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar

um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de

humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as

crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees

estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo

Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993

DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos

que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo

para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio

Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na

visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia

coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a

reescrita

Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos

como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser

compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado

pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua

transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o

processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica

para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos

da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do

Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se

coerentes a essas bases teoacutericas

Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e

certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e

conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que

soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um

21

pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)

talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados

5Consideraccedilotildees finais

O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo

de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da

Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de

apropriaccedilatildeo

a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade

interna

b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do

sujeito para que se concretize

c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por

elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e

as operaccedilotildees

d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem

mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como

propulsores do desenvolvimento

e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito

d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a

definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc

Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores

sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer

um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa

instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o

desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as

praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um

pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do

curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em

torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais

22

6 Referecircncias

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Papirus dez n56 p 388-411 1996

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psicoloacutegicas da aprendizagem e do desenvolvimento Satildeo Paulo Moraes 1991

VYGOTSKY LS Estudo do desenvolvimento dos conceitos cientiacuteficos na infacircncia In A

construccedilatildeo do pensamento e da linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 p 241-394

Page 16: In: Anais.. V SIGET – Simpósio Internacional de Estudos de ... · Na perspectiva vygotskiana, portanto, a atividade do indivíduo sobre o objeto não é direta, ... por exemplo,

16

Elementos estruturais da Teoria da Atividade Implicaccedilotildees para o ensino da escrita

DESEJO Elemento afetivo que desencadeia a necessidade da

escrita eacute desencadeado tanto pelo processo de

mediaccedilatildeo do professor com o aluno como tambeacutem

pela motivaccedilatildeo exercida por exemplo para a

abertura de um novo projetoatividade de

escritaNatildeo s relaciona a nenhum dos elementos

previstos pelo contexto de produccedilatildeo jaacute que eacute de

ordem emocional

NECESSIDADE Envolve o uso especiacutefico da escrita numa

determinada situaccedilatildeo de produccedilatildeo para atender a

uma praacutetica social especiacutefica escrever para publicar

um livro de contos escrever para produzir uma

reivindicaccedilatildeo escrever para solicitar alguma coisa

escrever para participar de um concurso escrever

um cardaacutepio para uma festa etc

MOTIVO Envolve o sentido da escrita para a crianccedila de modo

a convencecirc-la a escrever por meio de atividades que

oportunizem correlacionar a escrita com as emoccedilotildees

da crianccedila e tambeacutem com seus provaacuteveis

interlocutores pois satildeo eles que vinculam sentido

agravequilo que a crianccedila escreve (BAKTHIN 2003)

Uma dessas atividades que podem vincular a escrita

ao motivo pode ser a divulgaccedilatildeo da produccedilatildeo final

ao puacuteblico por exemplo compor um fabulaacuterio para

ser divulgado numa amostra de livros da escola

produzir cartazes para divulgaccedilatildeo de festas na escola

e afixaacute-los em estabelecimentos comerciais elaborar

notiacutecias para o jornal da escola ou para a raacutedio da

escola produzir livros de histoacuterias infantis para

crianccedilas menores elaborar uma seccedilatildeo de

classificados divulgando serviccedilos prestados ou

produtos vendidos por familiares e amigos do bairro

etcEntendemos que o fato da divulgaccedilatildeo do olhar

do outro como afirmam BakthinVoloshinov (1992)

satildeo essenciais para instaurar uma escrita

significativa

FINALIDADE Envolve o objetivo especiacutefico da escrita na situaccedilatildeo

de interaccedilatildeo para quecirc escrever Para solicitar

alguma coisa para colocar a minha opiniatildeo para

17

contar uma anedota etcA finalidade ou o objetivo

da produccedilatildeo deve vir claramente expressa no

comando de escrita a ser entregue para o aluno

ACcedilAtildeO Envolve a definiccedilatildeo do gecircnero textual que a crianccedila

iraacute escrever um resumo uma notiacutecia uma carta do

leitor um anuacutencio de classificado um comentaacuterio

um conto de fadas etc

OPERACcedilOtildeES (modos de execuccedilatildeo de uma catildeo) Envolve uma seacuterie de tarefas anteriores aacute produccedilatildeo

escritaoral do gecircnero com vistas aacute apropriaccedilatildeo dos

elementos caracterizadores dos gecircneros (o tema a

estrutura composiconal e o estilo) e levando em

conta as fases da escrita planejamento revisatildeo e

reescrita

Quadro 4 Elementos da Teoria da Atividade e sua implicaccedilatildeo na escrita

O exerciacutecio acima evidenciou-nos que mesmo sem ainda terem a noccedilatildeo sobre as capacidades

de linguagem a serem desenvolvidas no quadro do ISD os professores por meio das

operaccedilotildees mentais que o exerciacutecio exigia (anaacutelise comparaccedilatildeo abstraccedilatildeo siacutentese

exemplificaccedilatildeo) conseguem fazer relaccedilotildees coerentes entre os elementos da Teoria da

Atividade com implicaccedilotildees para o ensino da escrita Por exemplo relacionam a necessidade

elemento desencadeador da atividade com a praacutetica social como elemento desencadeador da

atividade de produccedilatildeo que no quadro do ISD eacute o elemento que possibilita alavancar por

exemplo as sequecircncias didaacuteticas (cfDOLZ SCHNEUWLY 2004)

Tambeacutem associam de forma interessante o motivo com um dos elementos do contexto de

produccedilatildeo o interlocutor reforccedilando a importacircncia desse elemento como tambeacutem aspecto

motivacional no ato da escrita Da mesma forma o tema e seu tratamento exaustivo

(BAKTHIN 1992) eacute explorado na associaccedilatildeo entre esse elemento e a accedilatildeo na medida em que

ao definir um determinado gecircnero estaacute implicado aiacute a realizaccedilatildeo desse elemento bakthiniano

Por fim nas operaccedilotildees fica claro que os professores conseguiram perceber que para se

escrever um determinado gecircnero seraacute preciso decompocirc-lo em uma seacuterie de atividades nas

quais se mobilizaratildeo o tema a estrutura composicional e o estilo

Na sequumlecircncia apoacutes a discussatildeo do quadro e com o intuito de promover mais um evento para

reforccedilar o processo de internalizaccedilatildeo agora numa atividade praacutetica solicitamos que cada

duplatrio de professores elaborassem um planejamento de uma oficina de leituraproduccedilatildeo

textual (jaacute que nesse momento ainda desconheciam outros instrumentos proacuteprios do ISD

18

como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com

atividades de escrita

O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras

de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre

de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um

suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito

com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar

jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da

Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que

tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos

previstos em cada etapa

A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma

oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas

as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs

refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo

4ordf seacuteries 12 ha

SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR

DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola

NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da

escola

MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral

FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na

escola e em casa

ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de

humor)

2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais

da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha

Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar

o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e

definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim

19

de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as

seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para

quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social

2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura

ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a

organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos

e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio

anterior

1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras

MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a

importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar

tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto

1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que

envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido

com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e

trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido

1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em

grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na

escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira

contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade

anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os

interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma

lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira

escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4

quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos

das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -

elaboraccedilatildeo dos balotildees

2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar

ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a

releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com

mediaccedilatildeo do professora

2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)

apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o

tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as

formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo

Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais

O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro

momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de

operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no

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interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo

(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-

problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)

No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo

finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do

contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o

reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro

elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar

um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de

humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as

crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees

estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo

Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993

DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos

que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo

para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio

Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na

visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia

coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a

reescrita

Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos

como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser

compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado

pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua

transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o

processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica

para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos

da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do

Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se

coerentes a essas bases teoacutericas

Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e

certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e

conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que

soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um

21

pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)

talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados

5Consideraccedilotildees finais

O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo

de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da

Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de

apropriaccedilatildeo

a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade

interna

b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do

sujeito para que se concretize

c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por

elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e

as operaccedilotildees

d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem

mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como

propulsores do desenvolvimento

e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito

d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a

definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc

Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores

sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer

um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa

instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o

desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as

praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um

pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do

curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em

torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais

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6 Referecircncias

ADORNO TW Teoria da semicultura In _______ Educaccedilatildeo e sociedade Campinas

Papirus dez n56 p 388-411 1996

BAKTHIN M Os gecircneros do discurso In _______ Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Satildeo Paulo

Martins Fontes 1992 p261-306

BAKHTIN M VOLOSHINOV VN Marxismo e filosofia da linguagem 2ed Satildeo Paulo

Hucitec 1992

BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros Curriculares Nacionais

Liacutengua Portuguesa Brasiacutelia Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental 1998

BRONCKART J-P Atividade de linguagem texto e discursos por um interacionismo

soacutecio-discursivo Trad De Anna Raquel Machado Peacutericles Cunha Satildeo Paulo EDUC 2003

_________________ Atividade de linguagem discurso e desenvolvimento humano

Organizado por Anna Raquel Machado e Maria de Lourdes Meirelles MatencioCampinas-SP

Mercado de Letras 2006

CARNEIRO A P S O gecircnero explicaccedilatildeo do discurso do professor na interaccedilatildeo em sala de

aula Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivhtml Acesso em 532009

DAVYDOV VV Tipos de generalizacioacuten em la ensentildeanza Habana Editorial Pueblo y

Eucation 1982

_______________ La ensentildeanza escolar y el desarrollo psiacutequico Moscu Editorial

progresso 1988

DIONIacuteSIO AP Os gecircneros multimodais e multiletramento In KARWOSKI AM

GAYDECZKA KSB (Orgs) Gecircneros textuais reflexotildees e ensino Palmas e Uniatildeo da

VitoacuteriaPR Kaygangue 2005 p159-177

DOLZ J SCHNEUWLY B Gecircneros e progressatildeo em expressatildeo oral e escrita ndash elementos

para reflexotildees sobre uma experiecircncia suiacuteccedila (francoacutefona) In ROJO R CORDEIRO Glaiacutes S

(Orgs) Gecircneros orais e escritos na escola Campinas-SP Mercado de Letras 2004 p41-70

DOLZ J PASQUIER A BRONCKART- Jean-Paul Lrsquoacquisition des discourse

emergence drsquoune competence ou apprentissage de capaciteacutes langagiegraveres diverses Etudes de

linguistique appliqueacutee 89 1993 p25-35

HEDEGAARD M A zona de desenvolvimento proximal como base para a instruccedilatildeo In

MOLL LC Vygotsky e a educaccedilatildeo implicaccedilotildees pedagoacutegicas da psicologia soacutecio-histoacuterica

Trad De Fani A Tesseler Porto Alegre Artes Meacutedicas 1996 p123-149

LEONTIEV A O desenvolvimento do psiquismo 2ed Satildeo Paulo Centauro 2004

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LIBAcircNEO JC Didaacutetica e epistemologia para aleacutem do embate entre a didaacutetica e as didaacuteticas

especiacuteficas Aula inaugural PDEUEM 10 de abril 2008

LOPES-ROSSI MAG Gecircneros discursivos no ensino de leitura e produccedilatildeo de textos

Taubateacute-SP Cabral Editora e Livraria Universitaacuteria 2002

MENCHISKAIA NA El pensamiento In SMIRNOV A LEONTIEVA TIEPLOV BM

(Orgs) Psicologia Meacutexico Grijalbo 1969 p232-275

NASCIMENTO EL (Org) Gecircneros textuais uma abordagem para o ensino de liacutengua

portuguesa Gecircneros textuais ferramentas didaacuteticas e formaccedilatildeo dos professoresPonta Grossa

Ed UEPG CEFORTEC 2007

ROJO RHR Gecircneros de discursotexto como objetos de ensino de liacutenguas Estudos

avanccedilados UEL 2007 (estudo avanccedilado promovido pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em

Estudos da Linguagem da UEL)

____________ Modelizaccedilatildeo didaacutetica e planejamento duas praacuteticas esquecidas do professor

In KLEIMAN A(Org) A formaccedilatildeo do professor perspectives da linguumliacutestica aplicada

Campinas-SP Mercado de Letras 2001 p313-335

RUBSTOV V A atividade de aprendizado e os problemas referentes agrave formaccedilatildeo do

pensamento teoacuterico dos escolares In GARNIER C BERDNARZ N ULANOVSKAI

Apoacutes Vygotsky e Piaget perspectiva social e construtivista Escolas russa e ocidentalPorto

Alegre Artes Meacutedicas 1996

SFORNI MS de F Aprendizagem conceitual e organizaccedilatildeo do ensino contribuiccedilotildees da

teoria da atividade 1ed Araraquara JM Editora 2004

__________________ Aprendizagem e Desenvolvimento o papel da mediaccedilatildeo In Vera

Luacutecia Fialho Capellini Rosa Maria Manzoni (Org) Poliacuteticas puacuteblicas praacuteticas

pedagoacutegicas e ensino-aprendizagem diferentes olhares sobre o processo educacional Bauru

UNESPFCSatildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2008 no prelo

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem Lisboa Antiacutedoto 1979

_______________ Obras escogidas II Madrid Visor 1982

_______________ A formaccedilatildeo social da mente 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

_______________ Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade escolar In

LURIA AR LEONTIEV A VYGOTSKY LS (Orgs) Psicologia e Pedagogia bases

psicoloacutegicas da aprendizagem e do desenvolvimento Satildeo Paulo Moraes 1991

VYGOTSKY LS Estudo do desenvolvimento dos conceitos cientiacuteficos na infacircncia In A

construccedilatildeo do pensamento e da linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 p 241-394

Page 17: In: Anais.. V SIGET – Simpósio Internacional de Estudos de ... · Na perspectiva vygotskiana, portanto, a atividade do indivíduo sobre o objeto não é direta, ... por exemplo,

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contar uma anedota etcA finalidade ou o objetivo

da produccedilatildeo deve vir claramente expressa no

comando de escrita a ser entregue para o aluno

ACcedilAtildeO Envolve a definiccedilatildeo do gecircnero textual que a crianccedila

iraacute escrever um resumo uma notiacutecia uma carta do

leitor um anuacutencio de classificado um comentaacuterio

um conto de fadas etc

OPERACcedilOtildeES (modos de execuccedilatildeo de uma catildeo) Envolve uma seacuterie de tarefas anteriores aacute produccedilatildeo

escritaoral do gecircnero com vistas aacute apropriaccedilatildeo dos

elementos caracterizadores dos gecircneros (o tema a

estrutura composiconal e o estilo) e levando em

conta as fases da escrita planejamento revisatildeo e

reescrita

Quadro 4 Elementos da Teoria da Atividade e sua implicaccedilatildeo na escrita

O exerciacutecio acima evidenciou-nos que mesmo sem ainda terem a noccedilatildeo sobre as capacidades

de linguagem a serem desenvolvidas no quadro do ISD os professores por meio das

operaccedilotildees mentais que o exerciacutecio exigia (anaacutelise comparaccedilatildeo abstraccedilatildeo siacutentese

exemplificaccedilatildeo) conseguem fazer relaccedilotildees coerentes entre os elementos da Teoria da

Atividade com implicaccedilotildees para o ensino da escrita Por exemplo relacionam a necessidade

elemento desencadeador da atividade com a praacutetica social como elemento desencadeador da

atividade de produccedilatildeo que no quadro do ISD eacute o elemento que possibilita alavancar por

exemplo as sequecircncias didaacuteticas (cfDOLZ SCHNEUWLY 2004)

Tambeacutem associam de forma interessante o motivo com um dos elementos do contexto de

produccedilatildeo o interlocutor reforccedilando a importacircncia desse elemento como tambeacutem aspecto

motivacional no ato da escrita Da mesma forma o tema e seu tratamento exaustivo

(BAKTHIN 1992) eacute explorado na associaccedilatildeo entre esse elemento e a accedilatildeo na medida em que

ao definir um determinado gecircnero estaacute implicado aiacute a realizaccedilatildeo desse elemento bakthiniano

Por fim nas operaccedilotildees fica claro que os professores conseguiram perceber que para se

escrever um determinado gecircnero seraacute preciso decompocirc-lo em uma seacuterie de atividades nas

quais se mobilizaratildeo o tema a estrutura composicional e o estilo

Na sequumlecircncia apoacutes a discussatildeo do quadro e com o intuito de promover mais um evento para

reforccedilar o processo de internalizaccedilatildeo agora numa atividade praacutetica solicitamos que cada

duplatrio de professores elaborassem um planejamento de uma oficina de leituraproduccedilatildeo

textual (jaacute que nesse momento ainda desconheciam outros instrumentos proacuteprios do ISD

18

como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com

atividades de escrita

O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras

de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre

de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um

suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito

com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar

jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da

Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que

tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos

previstos em cada etapa

A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma

oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas

as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs

refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo

4ordf seacuteries 12 ha

SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR

DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola

NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da

escola

MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral

FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na

escola e em casa

ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de

humor)

2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais

da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha

Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar

o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e

definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim

19

de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as

seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para

quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social

2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura

ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a

organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos

e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio

anterior

1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras

MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a

importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar

tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto

1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que

envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido

com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e

trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido

1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em

grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na

escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira

contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade

anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os

interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma

lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira

escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4

quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos

das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -

elaboraccedilatildeo dos balotildees

2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar

ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a

releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com

mediaccedilatildeo do professora

2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)

apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o

tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as

formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo

Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais

O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro

momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de

operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no

20

interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo

(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-

problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)

No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo

finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do

contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o

reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro

elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar

um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de

humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as

crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees

estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo

Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993

DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos

que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo

para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio

Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na

visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia

coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a

reescrita

Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos

como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser

compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado

pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua

transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o

processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica

para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos

da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do

Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se

coerentes a essas bases teoacutericas

Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e

certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e

conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que

soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um

21

pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)

talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados

5Consideraccedilotildees finais

O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo

de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da

Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de

apropriaccedilatildeo

a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade

interna

b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do

sujeito para que se concretize

c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por

elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e

as operaccedilotildees

d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem

mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como

propulsores do desenvolvimento

e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito

d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a

definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc

Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores

sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer

um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa

instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o

desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as

praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um

pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do

curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em

torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais

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6 Referecircncias

ADORNO TW Teoria da semicultura In _______ Educaccedilatildeo e sociedade Campinas

Papirus dez n56 p 388-411 1996

BAKTHIN M Os gecircneros do discurso In _______ Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Satildeo Paulo

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Taubateacute-SP Cabral Editora e Livraria Universitaacuteria 2002

MENCHISKAIA NA El pensamiento In SMIRNOV A LEONTIEVA TIEPLOV BM

(Orgs) Psicologia Meacutexico Grijalbo 1969 p232-275

NASCIMENTO EL (Org) Gecircneros textuais uma abordagem para o ensino de liacutengua

portuguesa Gecircneros textuais ferramentas didaacuteticas e formaccedilatildeo dos professoresPonta Grossa

Ed UEPG CEFORTEC 2007

ROJO RHR Gecircneros de discursotexto como objetos de ensino de liacutenguas Estudos

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Estudos da Linguagem da UEL)

____________ Modelizaccedilatildeo didaacutetica e planejamento duas praacuteticas esquecidas do professor

In KLEIMAN A(Org) A formaccedilatildeo do professor perspectives da linguumliacutestica aplicada

Campinas-SP Mercado de Letras 2001 p313-335

RUBSTOV V A atividade de aprendizado e os problemas referentes agrave formaccedilatildeo do

pensamento teoacuterico dos escolares In GARNIER C BERDNARZ N ULANOVSKAI

Apoacutes Vygotsky e Piaget perspectiva social e construtivista Escolas russa e ocidentalPorto

Alegre Artes Meacutedicas 1996

SFORNI MS de F Aprendizagem conceitual e organizaccedilatildeo do ensino contribuiccedilotildees da

teoria da atividade 1ed Araraquara JM Editora 2004

__________________ Aprendizagem e Desenvolvimento o papel da mediaccedilatildeo In Vera

Luacutecia Fialho Capellini Rosa Maria Manzoni (Org) Poliacuteticas puacuteblicas praacuteticas

pedagoacutegicas e ensino-aprendizagem diferentes olhares sobre o processo educacional Bauru

UNESPFCSatildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2008 no prelo

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem Lisboa Antiacutedoto 1979

_______________ Obras escogidas II Madrid Visor 1982

_______________ A formaccedilatildeo social da mente 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

_______________ Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade escolar In

LURIA AR LEONTIEV A VYGOTSKY LS (Orgs) Psicologia e Pedagogia bases

psicoloacutegicas da aprendizagem e do desenvolvimento Satildeo Paulo Moraes 1991

VYGOTSKY LS Estudo do desenvolvimento dos conceitos cientiacuteficos na infacircncia In A

construccedilatildeo do pensamento e da linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 p 241-394

Page 18: In: Anais.. V SIGET – Simpósio Internacional de Estudos de ... · Na perspectiva vygotskiana, portanto, a atividade do indivíduo sobre o objeto não é direta, ... por exemplo,

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como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com

atividades de escrita

O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras

de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre

de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um

suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito

com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar

jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da

Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que

tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos

previstos em cada etapa

A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma

oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas

as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs

refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo

4ordf seacuteries 12 ha

SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR

DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola

NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da

escola

MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral

FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na

escola e em casa

ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de

humor)

2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais

da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha

Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar

o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e

definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim

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de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as

seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para

quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social

2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura

ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a

organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos

e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio

anterior

1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras

MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a

importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar

tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto

1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que

envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido

com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e

trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido

1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em

grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na

escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira

contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade

anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os

interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma

lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira

escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4

quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos

das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -

elaboraccedilatildeo dos balotildees

2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar

ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a

releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com

mediaccedilatildeo do professora

2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)

apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o

tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as

formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo

Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais

O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro

momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de

operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no

20

interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo

(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-

problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)

No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo

finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do

contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o

reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro

elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar

um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de

humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as

crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees

estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo

Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993

DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos

que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo

para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio

Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na

visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia

coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a

reescrita

Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos

como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser

compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado

pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua

transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o

processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica

para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos

da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do

Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se

coerentes a essas bases teoacutericas

Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e

certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e

conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que

soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um

21

pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)

talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados

5Consideraccedilotildees finais

O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo

de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da

Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de

apropriaccedilatildeo

a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade

interna

b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do

sujeito para que se concretize

c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por

elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e

as operaccedilotildees

d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem

mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como

propulsores do desenvolvimento

e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito

d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a

definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc

Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores

sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer

um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa

instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o

desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as

praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um

pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do

curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em

torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais

22

6 Referecircncias

ADORNO TW Teoria da semicultura In _______ Educaccedilatildeo e sociedade Campinas

Papirus dez n56 p 388-411 1996

BAKTHIN M Os gecircneros do discurso In _______ Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Satildeo Paulo

Martins Fontes 1992 p261-306

BAKHTIN M VOLOSHINOV VN Marxismo e filosofia da linguagem 2ed Satildeo Paulo

Hucitec 1992

BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros Curriculares Nacionais

Liacutengua Portuguesa Brasiacutelia Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental 1998

BRONCKART J-P Atividade de linguagem texto e discursos por um interacionismo

soacutecio-discursivo Trad De Anna Raquel Machado Peacutericles Cunha Satildeo Paulo EDUC 2003

_________________ Atividade de linguagem discurso e desenvolvimento humano

Organizado por Anna Raquel Machado e Maria de Lourdes Meirelles MatencioCampinas-SP

Mercado de Letras 2006

CARNEIRO A P S O gecircnero explicaccedilatildeo do discurso do professor na interaccedilatildeo em sala de

aula Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivhtml Acesso em 532009

DAVYDOV VV Tipos de generalizacioacuten em la ensentildeanza Habana Editorial Pueblo y

Eucation 1982

_______________ La ensentildeanza escolar y el desarrollo psiacutequico Moscu Editorial

progresso 1988

DIONIacuteSIO AP Os gecircneros multimodais e multiletramento In KARWOSKI AM

GAYDECZKA KSB (Orgs) Gecircneros textuais reflexotildees e ensino Palmas e Uniatildeo da

VitoacuteriaPR Kaygangue 2005 p159-177

DOLZ J SCHNEUWLY B Gecircneros e progressatildeo em expressatildeo oral e escrita ndash elementos

para reflexotildees sobre uma experiecircncia suiacuteccedila (francoacutefona) In ROJO R CORDEIRO Glaiacutes S

(Orgs) Gecircneros orais e escritos na escola Campinas-SP Mercado de Letras 2004 p41-70

DOLZ J PASQUIER A BRONCKART- Jean-Paul Lrsquoacquisition des discourse

emergence drsquoune competence ou apprentissage de capaciteacutes langagiegraveres diverses Etudes de

linguistique appliqueacutee 89 1993 p25-35

HEDEGAARD M A zona de desenvolvimento proximal como base para a instruccedilatildeo In

MOLL LC Vygotsky e a educaccedilatildeo implicaccedilotildees pedagoacutegicas da psicologia soacutecio-histoacuterica

Trad De Fani A Tesseler Porto Alegre Artes Meacutedicas 1996 p123-149

LEONTIEV A O desenvolvimento do psiquismo 2ed Satildeo Paulo Centauro 2004

23

LIBAcircNEO JC Didaacutetica e epistemologia para aleacutem do embate entre a didaacutetica e as didaacuteticas

especiacuteficas Aula inaugural PDEUEM 10 de abril 2008

LOPES-ROSSI MAG Gecircneros discursivos no ensino de leitura e produccedilatildeo de textos

Taubateacute-SP Cabral Editora e Livraria Universitaacuteria 2002

MENCHISKAIA NA El pensamiento In SMIRNOV A LEONTIEVA TIEPLOV BM

(Orgs) Psicologia Meacutexico Grijalbo 1969 p232-275

NASCIMENTO EL (Org) Gecircneros textuais uma abordagem para o ensino de liacutengua

portuguesa Gecircneros textuais ferramentas didaacuteticas e formaccedilatildeo dos professoresPonta Grossa

Ed UEPG CEFORTEC 2007

ROJO RHR Gecircneros de discursotexto como objetos de ensino de liacutenguas Estudos

avanccedilados UEL 2007 (estudo avanccedilado promovido pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em

Estudos da Linguagem da UEL)

____________ Modelizaccedilatildeo didaacutetica e planejamento duas praacuteticas esquecidas do professor

In KLEIMAN A(Org) A formaccedilatildeo do professor perspectives da linguumliacutestica aplicada

Campinas-SP Mercado de Letras 2001 p313-335

RUBSTOV V A atividade de aprendizado e os problemas referentes agrave formaccedilatildeo do

pensamento teoacuterico dos escolares In GARNIER C BERDNARZ N ULANOVSKAI

Apoacutes Vygotsky e Piaget perspectiva social e construtivista Escolas russa e ocidentalPorto

Alegre Artes Meacutedicas 1996

SFORNI MS de F Aprendizagem conceitual e organizaccedilatildeo do ensino contribuiccedilotildees da

teoria da atividade 1ed Araraquara JM Editora 2004

__________________ Aprendizagem e Desenvolvimento o papel da mediaccedilatildeo In Vera

Luacutecia Fialho Capellini Rosa Maria Manzoni (Org) Poliacuteticas puacuteblicas praacuteticas

pedagoacutegicas e ensino-aprendizagem diferentes olhares sobre o processo educacional Bauru

UNESPFCSatildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2008 no prelo

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem Lisboa Antiacutedoto 1979

_______________ Obras escogidas II Madrid Visor 1982

_______________ A formaccedilatildeo social da mente 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

_______________ Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade escolar In

LURIA AR LEONTIEV A VYGOTSKY LS (Orgs) Psicologia e Pedagogia bases

psicoloacutegicas da aprendizagem e do desenvolvimento Satildeo Paulo Moraes 1991

VYGOTSKY LS Estudo do desenvolvimento dos conceitos cientiacuteficos na infacircncia In A

construccedilatildeo do pensamento e da linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 p 241-394

Page 19: In: Anais.. V SIGET – Simpósio Internacional de Estudos de ... · Na perspectiva vygotskiana, portanto, a atividade do indivíduo sobre o objeto não é direta, ... por exemplo,

19

de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as

seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para

quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social

2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura

ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a

organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos

e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio

anterior

1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras

MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a

importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar

tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto

1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que

envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido

com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e

trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido

1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em

grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na

escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira

contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade

anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os

interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma

lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira

escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4

quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos

das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -

elaboraccedilatildeo dos balotildees

2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar

ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a

releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com

mediaccedilatildeo do professora

2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)

apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o

tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as

formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo

Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais

O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro

momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de

operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no

20

interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo

(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-

problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)

No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo

finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do

contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o

reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro

elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar

um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de

humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as

crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees

estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo

Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993

DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos

que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo

para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio

Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na

visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia

coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a

reescrita

Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos

como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser

compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado

pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua

transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o

processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica

para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos

da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do

Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se

coerentes a essas bases teoacutericas

Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e

certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e

conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que

soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um

21

pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)

talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados

5Consideraccedilotildees finais

O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo

de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da

Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de

apropriaccedilatildeo

a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade

interna

b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do

sujeito para que se concretize

c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por

elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e

as operaccedilotildees

d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem

mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como

propulsores do desenvolvimento

e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito

d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a

definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc

Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores

sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer

um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa

instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o

desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as

praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um

pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do

curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em

torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais

22

6 Referecircncias

ADORNO TW Teoria da semicultura In _______ Educaccedilatildeo e sociedade Campinas

Papirus dez n56 p 388-411 1996

BAKTHIN M Os gecircneros do discurso In _______ Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Satildeo Paulo

Martins Fontes 1992 p261-306

BAKHTIN M VOLOSHINOV VN Marxismo e filosofia da linguagem 2ed Satildeo Paulo

Hucitec 1992

BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros Curriculares Nacionais

Liacutengua Portuguesa Brasiacutelia Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental 1998

BRONCKART J-P Atividade de linguagem texto e discursos por um interacionismo

soacutecio-discursivo Trad De Anna Raquel Machado Peacutericles Cunha Satildeo Paulo EDUC 2003

_________________ Atividade de linguagem discurso e desenvolvimento humano

Organizado por Anna Raquel Machado e Maria de Lourdes Meirelles MatencioCampinas-SP

Mercado de Letras 2006

CARNEIRO A P S O gecircnero explicaccedilatildeo do discurso do professor na interaccedilatildeo em sala de

aula Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivhtml Acesso em 532009

DAVYDOV VV Tipos de generalizacioacuten em la ensentildeanza Habana Editorial Pueblo y

Eucation 1982

_______________ La ensentildeanza escolar y el desarrollo psiacutequico Moscu Editorial

progresso 1988

DIONIacuteSIO AP Os gecircneros multimodais e multiletramento In KARWOSKI AM

GAYDECZKA KSB (Orgs) Gecircneros textuais reflexotildees e ensino Palmas e Uniatildeo da

VitoacuteriaPR Kaygangue 2005 p159-177

DOLZ J SCHNEUWLY B Gecircneros e progressatildeo em expressatildeo oral e escrita ndash elementos

para reflexotildees sobre uma experiecircncia suiacuteccedila (francoacutefona) In ROJO R CORDEIRO Glaiacutes S

(Orgs) Gecircneros orais e escritos na escola Campinas-SP Mercado de Letras 2004 p41-70

DOLZ J PASQUIER A BRONCKART- Jean-Paul Lrsquoacquisition des discourse

emergence drsquoune competence ou apprentissage de capaciteacutes langagiegraveres diverses Etudes de

linguistique appliqueacutee 89 1993 p25-35

HEDEGAARD M A zona de desenvolvimento proximal como base para a instruccedilatildeo In

MOLL LC Vygotsky e a educaccedilatildeo implicaccedilotildees pedagoacutegicas da psicologia soacutecio-histoacuterica

Trad De Fani A Tesseler Porto Alegre Artes Meacutedicas 1996 p123-149

LEONTIEV A O desenvolvimento do psiquismo 2ed Satildeo Paulo Centauro 2004

23

LIBAcircNEO JC Didaacutetica e epistemologia para aleacutem do embate entre a didaacutetica e as didaacuteticas

especiacuteficas Aula inaugural PDEUEM 10 de abril 2008

LOPES-ROSSI MAG Gecircneros discursivos no ensino de leitura e produccedilatildeo de textos

Taubateacute-SP Cabral Editora e Livraria Universitaacuteria 2002

MENCHISKAIA NA El pensamiento In SMIRNOV A LEONTIEVA TIEPLOV BM

(Orgs) Psicologia Meacutexico Grijalbo 1969 p232-275

NASCIMENTO EL (Org) Gecircneros textuais uma abordagem para o ensino de liacutengua

portuguesa Gecircneros textuais ferramentas didaacuteticas e formaccedilatildeo dos professoresPonta Grossa

Ed UEPG CEFORTEC 2007

ROJO RHR Gecircneros de discursotexto como objetos de ensino de liacutenguas Estudos

avanccedilados UEL 2007 (estudo avanccedilado promovido pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em

Estudos da Linguagem da UEL)

____________ Modelizaccedilatildeo didaacutetica e planejamento duas praacuteticas esquecidas do professor

In KLEIMAN A(Org) A formaccedilatildeo do professor perspectives da linguumliacutestica aplicada

Campinas-SP Mercado de Letras 2001 p313-335

RUBSTOV V A atividade de aprendizado e os problemas referentes agrave formaccedilatildeo do

pensamento teoacuterico dos escolares In GARNIER C BERDNARZ N ULANOVSKAI

Apoacutes Vygotsky e Piaget perspectiva social e construtivista Escolas russa e ocidentalPorto

Alegre Artes Meacutedicas 1996

SFORNI MS de F Aprendizagem conceitual e organizaccedilatildeo do ensino contribuiccedilotildees da

teoria da atividade 1ed Araraquara JM Editora 2004

__________________ Aprendizagem e Desenvolvimento o papel da mediaccedilatildeo In Vera

Luacutecia Fialho Capellini Rosa Maria Manzoni (Org) Poliacuteticas puacuteblicas praacuteticas

pedagoacutegicas e ensino-aprendizagem diferentes olhares sobre o processo educacional Bauru

UNESPFCSatildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2008 no prelo

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem Lisboa Antiacutedoto 1979

_______________ Obras escogidas II Madrid Visor 1982

_______________ A formaccedilatildeo social da mente 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

_______________ Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade escolar In

LURIA AR LEONTIEV A VYGOTSKY LS (Orgs) Psicologia e Pedagogia bases

psicoloacutegicas da aprendizagem e do desenvolvimento Satildeo Paulo Moraes 1991

VYGOTSKY LS Estudo do desenvolvimento dos conceitos cientiacuteficos na infacircncia In A

construccedilatildeo do pensamento e da linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 p 241-394

Page 20: In: Anais.. V SIGET – Simpósio Internacional de Estudos de ... · Na perspectiva vygotskiana, portanto, a atividade do indivíduo sobre o objeto não é direta, ... por exemplo,

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interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo

(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-

problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)

No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo

finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do

contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o

reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro

elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar

um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de

humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as

crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees

estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo

Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993

DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos

que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo

para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio

Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na

visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia

coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a

reescrita

Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos

como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser

compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado

pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua

transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o

processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica

para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos

da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do

Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se

coerentes a essas bases teoacutericas

Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e

certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e

conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que

soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um

21

pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)

talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados

5Consideraccedilotildees finais

O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo

de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da

Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de

apropriaccedilatildeo

a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade

interna

b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do

sujeito para que se concretize

c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por

elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e

as operaccedilotildees

d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem

mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como

propulsores do desenvolvimento

e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito

d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a

definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc

Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores

sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer

um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa

instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o

desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as

praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um

pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do

curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em

torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais

22

6 Referecircncias

ADORNO TW Teoria da semicultura In _______ Educaccedilatildeo e sociedade Campinas

Papirus dez n56 p 388-411 1996

BAKTHIN M Os gecircneros do discurso In _______ Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Satildeo Paulo

Martins Fontes 1992 p261-306

BAKHTIN M VOLOSHINOV VN Marxismo e filosofia da linguagem 2ed Satildeo Paulo

Hucitec 1992

BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros Curriculares Nacionais

Liacutengua Portuguesa Brasiacutelia Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental 1998

BRONCKART J-P Atividade de linguagem texto e discursos por um interacionismo

soacutecio-discursivo Trad De Anna Raquel Machado Peacutericles Cunha Satildeo Paulo EDUC 2003

_________________ Atividade de linguagem discurso e desenvolvimento humano

Organizado por Anna Raquel Machado e Maria de Lourdes Meirelles MatencioCampinas-SP

Mercado de Letras 2006

CARNEIRO A P S O gecircnero explicaccedilatildeo do discurso do professor na interaccedilatildeo em sala de

aula Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivhtml Acesso em 532009

DAVYDOV VV Tipos de generalizacioacuten em la ensentildeanza Habana Editorial Pueblo y

Eucation 1982

_______________ La ensentildeanza escolar y el desarrollo psiacutequico Moscu Editorial

progresso 1988

DIONIacuteSIO AP Os gecircneros multimodais e multiletramento In KARWOSKI AM

GAYDECZKA KSB (Orgs) Gecircneros textuais reflexotildees e ensino Palmas e Uniatildeo da

VitoacuteriaPR Kaygangue 2005 p159-177

DOLZ J SCHNEUWLY B Gecircneros e progressatildeo em expressatildeo oral e escrita ndash elementos

para reflexotildees sobre uma experiecircncia suiacuteccedila (francoacutefona) In ROJO R CORDEIRO Glaiacutes S

(Orgs) Gecircneros orais e escritos na escola Campinas-SP Mercado de Letras 2004 p41-70

DOLZ J PASQUIER A BRONCKART- Jean-Paul Lrsquoacquisition des discourse

emergence drsquoune competence ou apprentissage de capaciteacutes langagiegraveres diverses Etudes de

linguistique appliqueacutee 89 1993 p25-35

HEDEGAARD M A zona de desenvolvimento proximal como base para a instruccedilatildeo In

MOLL LC Vygotsky e a educaccedilatildeo implicaccedilotildees pedagoacutegicas da psicologia soacutecio-histoacuterica

Trad De Fani A Tesseler Porto Alegre Artes Meacutedicas 1996 p123-149

LEONTIEV A O desenvolvimento do psiquismo 2ed Satildeo Paulo Centauro 2004

23

LIBAcircNEO JC Didaacutetica e epistemologia para aleacutem do embate entre a didaacutetica e as didaacuteticas

especiacuteficas Aula inaugural PDEUEM 10 de abril 2008

LOPES-ROSSI MAG Gecircneros discursivos no ensino de leitura e produccedilatildeo de textos

Taubateacute-SP Cabral Editora e Livraria Universitaacuteria 2002

MENCHISKAIA NA El pensamiento In SMIRNOV A LEONTIEVA TIEPLOV BM

(Orgs) Psicologia Meacutexico Grijalbo 1969 p232-275

NASCIMENTO EL (Org) Gecircneros textuais uma abordagem para o ensino de liacutengua

portuguesa Gecircneros textuais ferramentas didaacuteticas e formaccedilatildeo dos professoresPonta Grossa

Ed UEPG CEFORTEC 2007

ROJO RHR Gecircneros de discursotexto como objetos de ensino de liacutenguas Estudos

avanccedilados UEL 2007 (estudo avanccedilado promovido pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em

Estudos da Linguagem da UEL)

____________ Modelizaccedilatildeo didaacutetica e planejamento duas praacuteticas esquecidas do professor

In KLEIMAN A(Org) A formaccedilatildeo do professor perspectives da linguumliacutestica aplicada

Campinas-SP Mercado de Letras 2001 p313-335

RUBSTOV V A atividade de aprendizado e os problemas referentes agrave formaccedilatildeo do

pensamento teoacuterico dos escolares In GARNIER C BERDNARZ N ULANOVSKAI

Apoacutes Vygotsky e Piaget perspectiva social e construtivista Escolas russa e ocidentalPorto

Alegre Artes Meacutedicas 1996

SFORNI MS de F Aprendizagem conceitual e organizaccedilatildeo do ensino contribuiccedilotildees da

teoria da atividade 1ed Araraquara JM Editora 2004

__________________ Aprendizagem e Desenvolvimento o papel da mediaccedilatildeo In Vera

Luacutecia Fialho Capellini Rosa Maria Manzoni (Org) Poliacuteticas puacuteblicas praacuteticas

pedagoacutegicas e ensino-aprendizagem diferentes olhares sobre o processo educacional Bauru

UNESPFCSatildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2008 no prelo

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem Lisboa Antiacutedoto 1979

_______________ Obras escogidas II Madrid Visor 1982

_______________ A formaccedilatildeo social da mente 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

_______________ Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade escolar In

LURIA AR LEONTIEV A VYGOTSKY LS (Orgs) Psicologia e Pedagogia bases

psicoloacutegicas da aprendizagem e do desenvolvimento Satildeo Paulo Moraes 1991

VYGOTSKY LS Estudo do desenvolvimento dos conceitos cientiacuteficos na infacircncia In A

construccedilatildeo do pensamento e da linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 p 241-394

Page 21: In: Anais.. V SIGET – Simpósio Internacional de Estudos de ... · Na perspectiva vygotskiana, portanto, a atividade do indivíduo sobre o objeto não é direta, ... por exemplo,

21

pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)

talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados

5Consideraccedilotildees finais

O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo

de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da

Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de

apropriaccedilatildeo

a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade

interna

b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do

sujeito para que se concretize

c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por

elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e

as operaccedilotildees

d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem

mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como

propulsores do desenvolvimento

e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito

d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a

definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc

Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores

sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer

um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa

instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o

desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as

praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um

pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do

curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em

torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais

22

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Martins Fontes 1992 p261-306

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Hucitec 1992

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BRONCKART J-P Atividade de linguagem texto e discursos por um interacionismo

soacutecio-discursivo Trad De Anna Raquel Machado Peacutericles Cunha Satildeo Paulo EDUC 2003

_________________ Atividade de linguagem discurso e desenvolvimento humano

Organizado por Anna Raquel Machado e Maria de Lourdes Meirelles MatencioCampinas-SP

Mercado de Letras 2006

CARNEIRO A P S O gecircnero explicaccedilatildeo do discurso do professor na interaccedilatildeo em sala de

aula Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivhtml Acesso em 532009

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Eucation 1982

_______________ La ensentildeanza escolar y el desarrollo psiacutequico Moscu Editorial

progresso 1988

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VitoacuteriaPR Kaygangue 2005 p159-177

DOLZ J SCHNEUWLY B Gecircneros e progressatildeo em expressatildeo oral e escrita ndash elementos

para reflexotildees sobre uma experiecircncia suiacuteccedila (francoacutefona) In ROJO R CORDEIRO Glaiacutes S

(Orgs) Gecircneros orais e escritos na escola Campinas-SP Mercado de Letras 2004 p41-70

DOLZ J PASQUIER A BRONCKART- Jean-Paul Lrsquoacquisition des discourse

emergence drsquoune competence ou apprentissage de capaciteacutes langagiegraveres diverses Etudes de

linguistique appliqueacutee 89 1993 p25-35

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MOLL LC Vygotsky e a educaccedilatildeo implicaccedilotildees pedagoacutegicas da psicologia soacutecio-histoacuterica

Trad De Fani A Tesseler Porto Alegre Artes Meacutedicas 1996 p123-149

LEONTIEV A O desenvolvimento do psiquismo 2ed Satildeo Paulo Centauro 2004

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portuguesa Gecircneros textuais ferramentas didaacuteticas e formaccedilatildeo dos professoresPonta Grossa

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In KLEIMAN A(Org) A formaccedilatildeo do professor perspectives da linguumliacutestica aplicada

Campinas-SP Mercado de Letras 2001 p313-335

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pensamento teoacuterico dos escolares In GARNIER C BERDNARZ N ULANOVSKAI

Apoacutes Vygotsky e Piaget perspectiva social e construtivista Escolas russa e ocidentalPorto

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teoria da atividade 1ed Araraquara JM Editora 2004

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pedagoacutegicas e ensino-aprendizagem diferentes olhares sobre o processo educacional Bauru

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_______________ Obras escogidas II Madrid Visor 1982

_______________ A formaccedilatildeo social da mente 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

_______________ Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade escolar In

LURIA AR LEONTIEV A VYGOTSKY LS (Orgs) Psicologia e Pedagogia bases

psicoloacutegicas da aprendizagem e do desenvolvimento Satildeo Paulo Moraes 1991

VYGOTSKY LS Estudo do desenvolvimento dos conceitos cientiacuteficos na infacircncia In A

construccedilatildeo do pensamento e da linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 p 241-394

Page 22: In: Anais.. V SIGET – Simpósio Internacional de Estudos de ... · Na perspectiva vygotskiana, portanto, a atividade do indivíduo sobre o objeto não é direta, ... por exemplo,

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6 Referecircncias

ADORNO TW Teoria da semicultura In _______ Educaccedilatildeo e sociedade Campinas

Papirus dez n56 p 388-411 1996

BAKTHIN M Os gecircneros do discurso In _______ Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Satildeo Paulo

Martins Fontes 1992 p261-306

BAKHTIN M VOLOSHINOV VN Marxismo e filosofia da linguagem 2ed Satildeo Paulo

Hucitec 1992

BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros Curriculares Nacionais

Liacutengua Portuguesa Brasiacutelia Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental 1998

BRONCKART J-P Atividade de linguagem texto e discursos por um interacionismo

soacutecio-discursivo Trad De Anna Raquel Machado Peacutericles Cunha Satildeo Paulo EDUC 2003

_________________ Atividade de linguagem discurso e desenvolvimento humano

Organizado por Anna Raquel Machado e Maria de Lourdes Meirelles MatencioCampinas-SP

Mercado de Letras 2006

CARNEIRO A P S O gecircnero explicaccedilatildeo do discurso do professor na interaccedilatildeo em sala de

aula Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivhtml Acesso em 532009

DAVYDOV VV Tipos de generalizacioacuten em la ensentildeanza Habana Editorial Pueblo y

Eucation 1982

_______________ La ensentildeanza escolar y el desarrollo psiacutequico Moscu Editorial

progresso 1988

DIONIacuteSIO AP Os gecircneros multimodais e multiletramento In KARWOSKI AM

GAYDECZKA KSB (Orgs) Gecircneros textuais reflexotildees e ensino Palmas e Uniatildeo da

VitoacuteriaPR Kaygangue 2005 p159-177

DOLZ J SCHNEUWLY B Gecircneros e progressatildeo em expressatildeo oral e escrita ndash elementos

para reflexotildees sobre uma experiecircncia suiacuteccedila (francoacutefona) In ROJO R CORDEIRO Glaiacutes S

(Orgs) Gecircneros orais e escritos na escola Campinas-SP Mercado de Letras 2004 p41-70

DOLZ J PASQUIER A BRONCKART- Jean-Paul Lrsquoacquisition des discourse

emergence drsquoune competence ou apprentissage de capaciteacutes langagiegraveres diverses Etudes de

linguistique appliqueacutee 89 1993 p25-35

HEDEGAARD M A zona de desenvolvimento proximal como base para a instruccedilatildeo In

MOLL LC Vygotsky e a educaccedilatildeo implicaccedilotildees pedagoacutegicas da psicologia soacutecio-histoacuterica

Trad De Fani A Tesseler Porto Alegre Artes Meacutedicas 1996 p123-149

LEONTIEV A O desenvolvimento do psiquismo 2ed Satildeo Paulo Centauro 2004

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LIBAcircNEO JC Didaacutetica e epistemologia para aleacutem do embate entre a didaacutetica e as didaacuteticas

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Taubateacute-SP Cabral Editora e Livraria Universitaacuteria 2002

MENCHISKAIA NA El pensamiento In SMIRNOV A LEONTIEVA TIEPLOV BM

(Orgs) Psicologia Meacutexico Grijalbo 1969 p232-275

NASCIMENTO EL (Org) Gecircneros textuais uma abordagem para o ensino de liacutengua

portuguesa Gecircneros textuais ferramentas didaacuteticas e formaccedilatildeo dos professoresPonta Grossa

Ed UEPG CEFORTEC 2007

ROJO RHR Gecircneros de discursotexto como objetos de ensino de liacutenguas Estudos

avanccedilados UEL 2007 (estudo avanccedilado promovido pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em

Estudos da Linguagem da UEL)

____________ Modelizaccedilatildeo didaacutetica e planejamento duas praacuteticas esquecidas do professor

In KLEIMAN A(Org) A formaccedilatildeo do professor perspectives da linguumliacutestica aplicada

Campinas-SP Mercado de Letras 2001 p313-335

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pensamento teoacuterico dos escolares In GARNIER C BERDNARZ N ULANOVSKAI

Apoacutes Vygotsky e Piaget perspectiva social e construtivista Escolas russa e ocidentalPorto

Alegre Artes Meacutedicas 1996

SFORNI MS de F Aprendizagem conceitual e organizaccedilatildeo do ensino contribuiccedilotildees da

teoria da atividade 1ed Araraquara JM Editora 2004

__________________ Aprendizagem e Desenvolvimento o papel da mediaccedilatildeo In Vera

Luacutecia Fialho Capellini Rosa Maria Manzoni (Org) Poliacuteticas puacuteblicas praacuteticas

pedagoacutegicas e ensino-aprendizagem diferentes olhares sobre o processo educacional Bauru

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VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem Lisboa Antiacutedoto 1979

_______________ Obras escogidas II Madrid Visor 1982

_______________ A formaccedilatildeo social da mente 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

_______________ Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade escolar In

LURIA AR LEONTIEV A VYGOTSKY LS (Orgs) Psicologia e Pedagogia bases

psicoloacutegicas da aprendizagem e do desenvolvimento Satildeo Paulo Moraes 1991

VYGOTSKY LS Estudo do desenvolvimento dos conceitos cientiacuteficos na infacircncia In A

construccedilatildeo do pensamento e da linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 p 241-394

Page 23: In: Anais.. V SIGET – Simpósio Internacional de Estudos de ... · Na perspectiva vygotskiana, portanto, a atividade do indivíduo sobre o objeto não é direta, ... por exemplo,

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LIBAcircNEO JC Didaacutetica e epistemologia para aleacutem do embate entre a didaacutetica e as didaacuteticas

especiacuteficas Aula inaugural PDEUEM 10 de abril 2008

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Taubateacute-SP Cabral Editora e Livraria Universitaacuteria 2002

MENCHISKAIA NA El pensamiento In SMIRNOV A LEONTIEVA TIEPLOV BM

(Orgs) Psicologia Meacutexico Grijalbo 1969 p232-275

NASCIMENTO EL (Org) Gecircneros textuais uma abordagem para o ensino de liacutengua

portuguesa Gecircneros textuais ferramentas didaacuteticas e formaccedilatildeo dos professoresPonta Grossa

Ed UEPG CEFORTEC 2007

ROJO RHR Gecircneros de discursotexto como objetos de ensino de liacutenguas Estudos

avanccedilados UEL 2007 (estudo avanccedilado promovido pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em

Estudos da Linguagem da UEL)

____________ Modelizaccedilatildeo didaacutetica e planejamento duas praacuteticas esquecidas do professor

In KLEIMAN A(Org) A formaccedilatildeo do professor perspectives da linguumliacutestica aplicada

Campinas-SP Mercado de Letras 2001 p313-335

RUBSTOV V A atividade de aprendizado e os problemas referentes agrave formaccedilatildeo do

pensamento teoacuterico dos escolares In GARNIER C BERDNARZ N ULANOVSKAI

Apoacutes Vygotsky e Piaget perspectiva social e construtivista Escolas russa e ocidentalPorto

Alegre Artes Meacutedicas 1996

SFORNI MS de F Aprendizagem conceitual e organizaccedilatildeo do ensino contribuiccedilotildees da

teoria da atividade 1ed Araraquara JM Editora 2004

__________________ Aprendizagem e Desenvolvimento o papel da mediaccedilatildeo In Vera

Luacutecia Fialho Capellini Rosa Maria Manzoni (Org) Poliacuteticas puacuteblicas praacuteticas

pedagoacutegicas e ensino-aprendizagem diferentes olhares sobre o processo educacional Bauru

UNESPFCSatildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2008 no prelo

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem Lisboa Antiacutedoto 1979

_______________ Obras escogidas II Madrid Visor 1982

_______________ A formaccedilatildeo social da mente 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

_______________ Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade escolar In

LURIA AR LEONTIEV A VYGOTSKY LS (Orgs) Psicologia e Pedagogia bases

psicoloacutegicas da aprendizagem e do desenvolvimento Satildeo Paulo Moraes 1991

VYGOTSKY LS Estudo do desenvolvimento dos conceitos cientiacuteficos na infacircncia In A

construccedilatildeo do pensamento e da linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 p 241-394

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