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In Anais V SIGET ndash Simpoacutesio Internacional de Estudos de Gecircneros Textuais Caxias
do Sul Universidade de Caxias do Sul ago 2009 p2-24
TIacuteTULO A contribuiccedilatildeo da teoria da atividade de Leontiev para a apropriaccedilatildeo de gecircneros
textuais nas seacuteries iniciais
AUTORIA Claacuteudia Valeacuteria Donaacute Hila (doutoranda pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em
Estudos da Linguagem Universidade Estadual de Londrina Professora Assistente do
Departamento de Letras da Universidade Estadual de Maringaacute claudiawnetcombr )
RESUMO A vertente didaacutetica do Interacionismo Sociodiscursivo tem como uma de suas
preocupaccedilotildees a questatildeo da transposiccedilatildeo didaacutetica dos gecircneros textuais Nesse processo o
momento da apropriaccedilatildeo do conhecimento pelo aluno ocupa um lugar importante na medida
em que ao conhececirc-lo o professor poderaacute (re)organizar procedimentos metodoloacutegicos para a
aula de portuguecircs O objetivo deste artigo eacute apresentar a contribuiccedilatildeo da Abordagem
Histoacuterico-Cultural e da Teoria da Atividade de Leontiev para o processo de apropriaccedilatildeo e para
a produccedilatildeo de textos em seacuteries iniciais por meio da anaacutelise de atividade teoacuterica e uma
atividade praacutetica realizadas durante um curso de formaccedilatildeo na regiatildeo noroeste do Paranaacute Os
resultados parciais de uma pesquisa em andamento sinalizam a importacircncia da compreensatildeo
do processo de apropriaccedilatildeo por meio do diaacutelogo epistemoloacutegico entre o curso de Letras e o
curso de Pedagogia no intuito de ressignificar a formaccedilatildeo do professor de portuguecircs que atua
em seacuteries iniciais
PALAVRAS-CHAVE Gecircneros textuais Teoria da Atividade Produccedilatildeo textual Formaccedilatildeo
docente
ABSTRACT The didactic branch of sociodiscursive interactionism has the didactic
transposition of textual genres as one of its main concerns According to this process the
moment a learner acquires knowledge is a relevant one for the teacher of the Portuguese
language in this case can (re-)shape methodological procedures for her or his classes if he or
she is aware of it The objective of the article is to present the historical cultural approach and
Leontievrsquos activity theory contribution for the acquisition process of textual genres as well as
for the textual production process in initial school years by means of the analysis of both
theoretical and practical activities developed in a teacher education course in the northwest of
Paranaacute State Partial data of an ongoing research point out the importance of understanding
the acquisition process through an epistemological dialogue between Letras (Languages) and
2
Pedagogy courses aiming at giving a different and more significant meaning to Portuguese
teacher education for initial school years
KEYWORDS Textual genres Activity theory Textual production Teacher education
1Introduccedilatildeo
O problema do baixo desempenho escolar nas seacuteries inicias eacute revelado anualmente tanto nas
estatiacutesticas nacionais por meio do Sistema de Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (SAEB) quanto
internacionais pelo Programa Internacional de Avaliaccedilatildeo Comparada (PISA) Embora natildeo
sejam especiacuteficos apenas das seacuteries iniciais os resultados evidenciam que as crianccedilas natildeo
estatildeo aprendendo e que a escola natildeo estaacute regra geral cumprindo sua maior funccedilatildeo a de
promover a aprendizagem
No caso particular do ensino e da aprendizagem da escrita especialmente nas seacuteries iniciais o
que se vecirc eacute concordando com Adorno (1996) uma pseudo-formaccedilatildeo isto eacute a ausecircncia de
uma pedagogia sistematizada e intencionalmente planejada para o desenvolvimento de
capacidades que levem a crianccedila a escrever um determinado gecircnero textual o que faz
prevalecer a sensaccedilatildeo de que escrever eacute ainda um dom
Todavia o professor que atua em seacuteries iniciais natildeo reuacutene em sua formaccedilatildeo bases teoacutericas que
lhe permitam ir aleacutem das teorias de aquisiccedilatildeo da escrita por outro lado possui bases
epistemoloacutegicas interessantes para compreendermos o processo de apropriaccedilatildeo de um dado
objeto os quais satildeo fundamentais para se entender como a crianccedila aprende e por
consequumlecircncia como podemos a partir disso (re)organizar procedimentos metodoloacutegicos
com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica dos conteuacutedos de liacutengua portuguesa
Tendo em vista entatildeo que uma das bases fundantes da teoria do Interacionismo
Sociodiscursivo (ISD) eacute a Teoria da Atividade (TA) de Leontiev e de que essa teoria eacute
conhecida por profissionais do curso de Pedagogia poreacutem um pouco menos pelos
profissionais de Letras o objetivo deste artigo eacute entender as contribuiccedilotildees dessa teoria para o
processo de apropriaccedilatildeo de um determinado objeto teoacuterico com vistas a contribuir para o
ensino-aprendizagem da escrita em seacuteries iniciais e para os estudos acerca da transposiccedilatildeo
didaacutetica no quadro teoacuterico do ISD Entendemos tambeacutem que a contribuiccedilatildeo do artigo
estende-se para a formaccedilatildeo dos professores na medida em que evidenciamos a transposiccedilatildeo
da TA para as aulas de produccedilatildeo textual
O trabalho vincula-se aos grupos de pesquisa ldquoGecircneros textuais e ferramentas didaacuteticas para o
ensino-aprendizagem de liacutengua portuguesardquo (UELCNPq) e ao grupo ldquoInteraccedilatildeo e Escritardquo
(UEMCNPq) de onde buscamos alguns dos exemplos ilustrativos para alcanccedilar nosso
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propoacutesito Este artigo estaacute dividido em quatro partes a) apresentaccedilatildeo dos pressupostos da
teoria Histoacuterico-Cultual especialmente no que diz respeito ao processo de apropriaccedilatildeo dos
mediadores culturais jaacute que ela eacute a base da teoria da atividade de Leontiev b) apresentaccedilatildeo
dos pressupostos da Teoria da Atividade c) Ilustraccedilatildeo do processo de apropriaccedilatildeo por meio da
anaacutelise de uma atividade teoacuterica e um planejamento de uma oficina do gecircnero tira de humor
jornaliacutestica d) conclusotildees finais
2 A abordagem Histoacuterico-Cultural e a formaccedilatildeo de conceitos
Vygotsky muito embora natildeo tenha preocupaccedilotildees concernentes ao ensino da escrita trouxe
importantes contribuiccedilotildees para a educaccedilatildeo e eacute considerado o fundador da Teoria Histoacuterico-
Cultural (corrente epistemoloacutegica que serve de base para a teoria da atividade de Leontiev) a
qual recebe esse nome por reforccedilar o papel da atividade soacutecio-histoacuterica e coletiva na formaccedilatildeo
das funccedilotildees mentais superiores dentre elas a escrita
Uma das teses fundantes do trabalho de Vygotsky (1979 1988 2001) eacute o caraacuteter social e
histoacuterico dos chamados Processo Psicoloacutegicos SuperioresPPS (como a atenccedilatildeo a memoacuteria a
vontade a escrita dentre outros) mediados por instrumentos dentre os quais os instrumentos
materiaisfiacutesicos e os signos assumem papeacuteis determinantes para o desenvolvimento psiacutequico
Na perspectiva vygotskiana portanto a atividade do indiviacuteduo sobre o objeto natildeo eacute direta
mas eacute uma atividade mediada por instrumentos
Sendo objetos sociais os instrumentos carregam consigo a cultura material as operaccedilotildees de
trabalho historicamente ali elaboradas o que implica na visatildeo de Leontiev (2004) natildeo apenas
no uso do instrumento mas da apropriaccedilatildeo de suas operaccedilotildees mentais e fiacutesicas ambas
promotoras do desenvolvimento humano
Enquanto signos os instrumentos simboacutelicos agem como reguladores da atividade
psicoloacutegica similarmente ao papel de um instrumento material de trabalho e formam o
conteuacutedo da atividade mental do homem sobre o mundo (controlam as accedilotildees internas e
psicoloacutegicas) jaacute os instrumentos materiais auxiliam o sujeito em accedilotildees concretas Ambos satildeo
denominados por Vygotsky de mediadores culturais (VYGOTSKY 19791988 2000 2001)
Satildeo os instrumentos mediadores que aleacutem de possibilitar o desenvolvimento dos PPS
auxiliam no processo de internalizaccedilatildeo de um determinado conhecimento pela crianccedilaaluno
Vygotsky (1988 p 63) denomina de internalizaccedilatildeo a ldquoreconstruccedilatildeo interna de uma operaccedilatildeo
externardquo em um processo que caminha de fora para dentro do social para o individual
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Um processo interpessoal eacute transformado num processo intrapessoal Todas as funccedilotildees no desenvolvimento da crianccedila aparecem duas vezes primeiro no niacutevel social e depois no niacutevel individual primeiro entre pessoas (interpsicoloacutegica) e depois no interior da crianccedila (intrapsicoloacutegica) (VYGOTSKY 1988 p 64)
A internalizaccedilatildeo nesse sentido envolve
(a) a reconstruccedilatildeo de uma operaccedilatildeo que se inicia do mundo externo para o interno
(b) a passagem do processo interpessoal para o intrapessoal que sugere a organizaccedilatildeo interior
dessa reconstruccedilatildeo pelo sujeito
(c) a transformaccedilatildeo de processos interpessoais para intrapessoais
Para que este uacuteltimo aspecto ocorra Vygotsky (op cit p64) ressalta que seraacute necessaacuterio uma
ldquolonga seacuteries de eventos ocorridos ao longo do desenvolvimentordquo Isso quer dizer que quando
pensamos no processo de apropriaccedilatildeo de um conhecimento que eacute novo temos que levar em
conta a necessidade de um tempo para amadurecer na qual a atividade psicoloacutegica do sujeito
vai sendo ressignificada reconstruiacuteda por meio do uso de novos instrumentos novos eventos
e tambeacutem por meio de tensotildees e de reformulaccedilotildees mentais que lhe satildeo inerentes Assim o
caminho da internalizaccedilatildeo para Vygotsky seguiria trecircs fases
Reconstruccedilatildeo interna de uma operaccedilatildeo externa
Reorganizaccedilatildeo interna pelo sujeito
Transformaccedilatildeo dessa reorganizaccedilatildeo pelo sujeito
Quadro 1 Fases do processo de internalizaccedilatildeo (VYGOTSKY 1988)
Para que a internalizaccedilatildeo efetivamente se realize o processo de mediaccedilatildeo precisa ser
compreendido Para tanto eacute necessaacuterio que nos debrucemos um pouco mais sobre a extensatildeo
desse conceito jaacute que tem sido comum que grande parte dos professores entendam a
mediaccedilatildeo apenas como sinocircnimo de ajuda aos alunos nas atividades escolares por pessoas
mais experientes Todavia embora natildeo descaracterize totalmente esses aspectos focados
apenas em questotildees interpessoais na perspectiva da Teoria Histoacuterico-Cultural o conceito de
mediaccedilatildeo vai mais aleacutem
Sforni (2008) esclarece que essas visotildees senso comum do termo esquecem de um dos
principais elementos da escola de Vygotsky - o conhecimento
De fato agraves interaccedilotildees sociais eacute dado lugar de destaque na escola de Vygotsky mas o
seu valor no contexto escolar natildeo estaacute restrito agrave relaccedilatildeo sujeito-sujeito mas no
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objeto que se presentifica nessa relaccedilatildeo ndash o conhecimento Em outras palavras eacute
somente na relaccedilatildeo entre sujeito-conhecimento-sujeito que a mediaccedilatildeo se torna um
conceito fundamental ao desenvolvimento humano
Assim eacute na apropriaccedilatildeo dos mediadores culturais possibilitada principalmente pelos
conteuacutedos e conhecimentos cientiacuteficos objetivados pelas geraccedilotildees precedentes eacute que torna
possiacutevel o desenvolvimento do sujeito (LEONTIEV 2004 VYGOSTSKY 2001) Para
Vygotsky (2000p 290) ldquoa tomada de consciecircncia passa pelos portotildees do conhecimento
cientiacuteficordquo e por isso mesmo o conhecimento nessa perspectiva eacute uma produccedilatildeo que emerge
apenas em situaccedilotildees de ensino devidamente planejadas Nem todo ensino nessa visatildeo gera
desenvolvimento mas sim o ldquobom ensinordquo aquele que inserido em uma ldquocorreta organizaccedilatildeo
da aprendizagem da crianccedila conduz ao desenvolvimento mentalrdquo (VYGOTSKY 1991 p15)
Se pensarmos nos pressupostos da teoria Histoacuterico-Cultural entendemos que o ensino
promotor do desenvolvimento depende do quecirc se adquire (conhecimento cientiacutefico) e como se
adquire (processo de ensino e de apropriaccedilatildeo pelo aluno) Os conceitos cientiacuteficos seriam
assim instrumentos do pensamento e a apropriaccedilatildeo a condiccedilatildeo para a sua formaccedilatildeo
Para o psicoacutelogo russo o conceito eacute um ato real e complexo de pensamento que natildeo pode ser
apreendido por simples ldquomemorizaccedilatildeordquo(VYGOTSKY 2000) Exatamente por isso ele nos
adverte que os conceitos natildeo devem ser apreendidos pela crianccedilaaluno de forma pronta e
direta tal como a escola comumente realiza pois dessa maneira traduzem-se em pedagogias
esteacutereis em outras palavras ldquoo ensino direto de conceitos sempre se mostra impossiacutevel e
pedagogicamente esteacuterilrdquo(opcitp247) porque os conceitos cientiacuteficos para serem
internalizados e natildeo memorizados de forma mecaniscista soacute se constituem por meio de uma
imensa tensatildeo entre o objeto e a atividade na qual ele se insere
A aprendizagem de conceitos tanto para Vygotsky (2000) como para Leontiev (2004) natildeo se
resume agrave mera definiccedilatildeo e apresentaccedilatildeo das caracteriacutesticas essenciais dos objetos como
normalmente eacute realizada em sala de aula Analogamente ao pensarmos na questatildeo do gecircneros
como objeto de ensino tal como preconiza os Paracircmetros Curriculares Nacionais (BRASIL
1998) um ldquobomrdquo ensino natildeo se resumiria a apresentar por exemplo o gecircnero carta do leitor e
expor sistematicamente as suas caracteriacutesticas para os alunos e muito menos a gramaticalizaacute-
lo
Usando dessa metodologia de caraacuteter transmissiva e geneacuterica a aprendizagem de conceitos
que eacute intriacutenseca aos mais diversos objetos de ensino a exemplo dos gecircneros textuais natildeo
envolve o domiacutenio de meacutetodos e formas gerais da atividade mental que segundo Davydov
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(1982 1988) satildeo o grande legado da Teoria da Atividade ou seja o desenvolvimento de
conceitos soacute eacute produtivo quando coloca a crianccedilaaluno em atividade mentalA apropriaccedilatildeo
portanto soacute ocorre dentre desse movimento
Davydov (1982) esclarece que em determinadas situaccedilotildees a comparaccedilatildeo dos atributos
externos de um determinado fenocircmeno pode ateacute ser suficiente para resolver alguns problemas
praacuteticos poreacutem quase sempre natildeo datildeo conta de revelar aspectos de sua profundeza de suas
relaccedilotildees internas Exatamente por isso a grande operaccedilatildeo mental realizada por
estudantesprofessores no trato com o conhecimento empiacuterico se resume na comparaccedilatildeo que
daacute conta normalmente apenas do reconhecimento dos traccedilos gerais do objeto
Complementado essa ideacuteia Hedegaard (1996) baseando-se nos estudos de Vygotsky
descreve que o uso do pensamento empiacuterico eacute marcado por um percurso fixo e pelas seguintes
operaccedilotildees mentais
Observaccedilatildeo Comparaccedilatildeo Categorizaccedilatildeo Memorizaccedilatildeo
No processo de observaccedilatildeo o indiviacuteduo parte de uma situaccedilatildeo concreta Depois disso eacute confrontado
com pelos menos dois elementos que exigem que ele busque seus traccedilos semelhantes eou diferentes
para apreender as caracteriacutesticas mais gerais de um objeto e posteriormente memorizaacute-las Nesses
casos esclarece o autor natildeo haacute espaccedilo para que o alunoprofessor reflita sobra as causas e os
efeitos do conhecimento sobre os seus conflitos sobre sua origem o que colaboraria para a
adequada compreensatildeo do fenocircmeno e para a correta compreensatildeo do objeto Por isso mesmo
uma tarefa pautada apenas no conhecimento empiacuterico limita a aprendizagem e se reduz a
captar o que eacute aparente o que eacute externo e leva a crianccedilaaluno apenas a saber classificar
fenocircmenos nominalizaacute-los e dar suas caracteriacutesticas mais observaacuteveis (Davydov 1982)
Menchiskaia (1969) ao estudar a formaccedilatildeo e o desenvolvimento do pensamento esclarece
que a comparaccedilatildeo e a definiccedilatildeo satildeo processos mentais importantes para o aluno nos
processos iniciais de apropriaccedilatildeo do conhecimento pois a primeira tambeacutem inclui outros
processos mentais como a anaacutelise a generalizaccedilatildeo e a siacutentese A anaacutelise caracteriza-se como
decomposiccedilatildeo mental do todo em partes A generalizaccedilatildeo inclui a separaccedilatildeo mental do geral
nos objetos e fenocircmenos da realidade por isso a comparaccedilatildeo dos objetos e fenocircmenos acaba
sendo uma premissa do processo de generalizaccedilatildeo Jaacute a sistematizaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo dos
objetos e fenocircmenos inclui sua distribuiccedilatildeo mental em grupos e subgrupos segundo a
semelhanccedila e diferenccedila que existe entre eles Esses processos portanto satildeo interessantes para
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que pensemos por exemplo em categorias de exerciacutecios para a transposiccedilatildeo didaacutetica dos
gecircneros textuais pois levam a crianccedila a atividades mentais diferenciadas
Para chegar agrave sistematizaccedilatildeo a crianccedilaaluno se depara com outro processo mental a
abstraccedilatildeo Menchiskaia (op cit) no entanto explica que quando o aluno generaliza sobre
objetos ou fenocircmenos separa o que eacute geral do particular acaba natildeo dando importacircncia para
outras qualidades que os diferenciam entre si tem somente em conta aquilo que destacou
como geral Esse processo eacute a abstraccedilatildeo Por exemplo uma crianccedila pode pensar sobre a cor
parecida de determinados objetos e desprezar suas formas e funccedilotildees Por isso o processo de
abstraccedilatildeo e de generalizaccedilatildeo estatildeo intimamente ligados Assim para que uma correta
compreensatildeo do fenocircmeno seja realizada eacute necessaacuterio juntar agrave comparaccedilatildeo outros processos
mentais como a compreensatildeo a definiccedilatildeo o estabelecimento de causas e efeitos a soluccedilatildeo de
problemas a formulaccedilatildeo de outros exemplos dentre de um mesmo sistema dentre outras
Completando essa discussatildeo Rubstov (1996) explica que o desenvolvimento do
conhecimento cientiacutefico (a) eacute elaborado por meio de uma anaacutelise do papel e da funccedilatildeo de
uma certa relaccedilatildeo entre as coisas no interior de um sistema (b) representa as relaccedilotildees entre as
propriedades dos objetos e suas ligaccedilotildees internas (c) estabelece relaccedilatildeo entre o geral e o
particular (d) concretiza-s por meio da transformaccedilatildeo do saber em uma teoria desenvolvida
por meio da deduccedilatildeo e uma explicaccedilatildeo das manifestaccedilotildees concretas do sistema (e) apresenta-
se por diferentes modos de atividade intelectual e de operaccedilotildees mentais (f) utiliza-se de
diferentes sistemas semioacuteticos
Para os autores da THC portanto o conhecimento sensorial ou espontacircneo eacute a origem
indispensaacutevel para a formulaccedilatildeo de conceitos (DAVYDOV 1982 VYGOTSKY 1988 2000
2001) no entanto seraacute preciso revelar a essecircncia desse objeto que historicamente se
reconstitui atraveacutes do estudo do seu real funcionamento por meio a diversificaccedilatildeo d diversas
operaccedilotildees mentais
A ideacuteia de real funcionamento pensando nos gecircneros textuais remete agrave ideacuteia de praacuteticas
sociais situadas Ou seja natildeo se ensina um gecircnero pelo gecircnero mas se ensina um gecircnero para
que o aluno se aproprie de uma determinada praacutetica social para que use aquele gecircnero dentro
de uma situaccedilatildeo especiacutefica de comunicaccedilatildeo (NASCIMENTO 2007 ROJO 2005 LOPES-
ROSSI 2002)
Isso eacute possiacutevel a partir de um ensino voltado para a apropriaccedilatildeo adequada do conhecimento
teoacuterico objetivado nesse objeto o qual oportuniza agrave crianccedilasujeito entrar em contato com
diferentes modos de atividade intelectual com diferentes sistemas semioacuteticos e operaccedilotildees
mentais para aleacutem de representaccedilotildees meramente sensoriaisAleacutem de envolver processos como
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a comparaccedilatildeo a anaacutelise a siacutentese a generalizaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de problema a
crianccedilasujeito ao estar inserida num ensino adequado voltado para a atividade toma
consciecircncia do real uso e valor do conceito aleacutem de conseguir mobilizaacute-lo em diferentes
tarefas (Davydov 1982) Exatamente por isso entender a noccedilatildeo de atividade eacute outro aspecto
para entendermos o processo de apropriaccedilatildeo
3 A contribuiccedilatildeo da teoria da atividade para o processo de apropriaccedilatildeo
A teoria da atividade (TA) desenvolvida por Leontiev e seguidores (Rubstein Luria e
Davydov) eacute considerada uma continuidade das ideacuteias de Vygotsky tido um dos precursores
da teoria psicoloacutegica da atividade Segundo Sforni (2004 p86)
As investigaccedilotildees de Leontiev voltaram-se para estudo da estrutura da
atividade externa e de seu viacutenculo com os processos psiacutequicos Seus estudos
revelaram que as atividades externa e interna tecircm estruturas idecircnticas e
mais que a atividade psiacutequica interna representa uma atividade material
externa transformada o que evidencia a unidade entra atividade e psiquismo
Ao comentar o processo de evoluccedilatildeo do homem Leontiev (2004) destaca que as
caracteriacutesticas humanas satildeo desenvolvidas pela apropriaccedilatildeo da cultura material e intelectual
transmitida de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo Isso quer dizer que natildeo nos relacionamos diretamente com o
mundo mas temos uma relaccedilatildeo que eacute mediada pelo conhecimento objetivado pelas geraccedilatildeo
que nos antecederam por intermeacutedio dos instrumentos simboacutelicos (signos) que proporcionam
nosso desenvolvimento mental O processo de mediaccedilatildeo portanto nessa concepccedilatildeo eacute um
meio de chegarmos agrave apropriaccedilatildeo dos mediadores culturais entendidos aqui tambeacutem como os
conhecimentos cientiacuteficos objetivados nos mais diversos instrumentos
Por intermeacutedio desses mediadores eacute que podemos pensar em desenvolvimento do psiquismo
da crianccedila (e tambeacutem do adulto) Ao se apropriar da linguagem enquanto mediadora cultural e
de outras ferramentas a princiacutepio fiacutesicas (como objetos o jogo o brinquedo) a crianccedila aos
poucos incorpora todo o desenvolvimento intelectual objetivado nesses elementos
(VYGOTSKY 1981 p 137)
Quando chega ao processo de escolarizaccedilatildeo novas ferramentas satildeo apresentadas para as
crianccedilas Se pensarmos no ensino da escrita nas seacuteries iniciais quais satildeo os textos que tecircm
ainda predominado Que tipo de instrumentos elas tecircm agrave disposiccedilatildeo para o desenvolvimento
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da escrita A resposta eacute simples e velha conhecida no campo educacional as modalidades
retoacutericas (descriccedilatildeo dissertaccedilatildeo e principalmente a narraccedilatildeo) prevalecem como possiacuteveis
instrumentos de desenvolvimentos da escrita
Mas se nos voltarmos para a teoria Histoacuterico-Cultural e pensarmos em termos de cultura
material de heranccedila intelectual entendemos que as atividades humanas se desenvolveram por
meio da linguagem Ora essas atividades foram se multiplicando e se diversificando em cada
esfera da comunicaccedilatildeo humana (no cotidiano na literatura na religiatildeo no comeacutercio e mais
recentemente na miacutedia dentre outras) Em cada uma dessas esferas a comunicaccedilatildeo entre os
parceiros da interaccedilatildeo constituiu diferentes praacuteticas sociais que se materializaram e se
materializam ininterruptamente por meio dos gecircneros textuais (BAKTHIN 2003)
Essa organizaccedilatildeo das sociedades por praacuteticas sociais eacute diferente em cada eacutepoca histoacuterica em
cada lugar em cada cultura Por isso mesmo essas praacuteticas modificam-se outras se extinguem
e algumas novas surgem Os gecircneros textuais nesse sentido satildeo materializaccedilotildees de uma
determinada praacutetica social que por sua vez eacute dinacircmica e histoacuterica Veja-se por exemplo a
praacutetica social ldquomandar um recadordquoDependendo dos parceiros da interaccedilatildeo e da esfera de
circulaccedilatildeo poderiacuteamos fazer isso utilizando diferentes gecircneros por um bilhete (se fosse da
esfera familiar) por uma carta formal (esfera institucional) por um e-mail (esfera comercial)
Por isso mesmo entendemos que na medida em que os professores trabalham de forma
predominante com os textos narrativos ou as modalidades retoacutericas aleacutem de natildeo levarem em
conta todo esse legado intelectual produzido pela humanidade natildeo conseguem promover o
letramento dessa crianccedila no futuro (cf DIONIacuteSIO 2005) ou os multiletramentos os
letramentos multissemioacuteticos e os letramentos multimeios1 (cf ROJO 2007)
Por essas razotildees (e outras) eacute que os documentos oficiais como os Paracircmetros Curriculares
Nacionais (BRASIL 1998) tecircm insistido o trabalho com os diferentes gecircneros textuais
Poreacutem natildeo devemos nos seduzir apenas pelas prescriccedilotildees ou por modismos Pelo que jaacute
expusemostodo trabalho com um determinado objeto teoacuterico (seja o gecircnero ou outro) exige
conhecimento cientiacutefico do professor acerca do funcionamento dos gecircneros em suas mais
variadas esferas de circulaccedilatildeo sem o qual ele natildeo conseguiraacute promover na crianccedila nem a
apropriaccedilatildeo do gecircnero e nem o desenvolvimento da escrita
1 Os primeiros (multiletramentos) se referem ao trabalho com as muacuteltiplas esferas sociais nas quais os gecircneros se inscrevem tais como a jornaliacutestica a religiosa a juriacutedica a poliacutetica e natildeo apenas a literaacuteria como tem sido frequumlente na escola Os segundos (letramentos multissemioacuteticos) requerem que a escola trabalhe natildeo apenas com a linguagem verbal mas tambeacutem com a linguagem sonora imageacutetica visual musical jaacute que a TV a Internet satildeo veiacuteculos repletos de textos que se utilizam dessas formas de expressatildeoNo que concerne aos letramentos multimeios a autora considera aqueles gerados pelo contato com os mais diversos suportes de informaccedilatildeo que a sociedade disponibiliza entendidos como a TV o raacutedio o cinema a Internet o jornal impresso etc
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Como vimos na seccedilatildeo anterior o processo de apropriaccedilatildeo implica em se colocar o sujeito
dentro de uma atividade conceito esse retomado pelo ISD mas cuja origem se daacute de forma
mais destacada na obra de Leontiev (20012004) No niacutevel individual a atividade eacute entendida
como uma forma de agir do sujeito direcionada a um objetoNo plano coletivo a atividade
define-se como
() aqueles processos que realizando as relaccedilotildees do homem como o mundo
satisfazem uma necessidade especial correspondente a ela () Por atividade
designamos os processos psicologicamente caracterizados por aquilo que o processa
como um todo se dirige (isto eacute objeto) coincidindo sempre com o objetivo que
estimula o sujeito a executar essa atividade isto eacute o motivo (LEONTIEV 2001
p315)
As atividades humanas para Leontiev (2004) satildeo consideradas como formadoras das relaccedilotildees
do sujeito com o mundo dirigidas por motivos por fins a serem alcanccedilados A ideacuteia de
atividade envolve entatildeo a noccedilatildeo de que o homem orienta-se por objetivos agindo de forma
intencional por accedilotildees planejadas
O autor daacute relevacircncia inicialmente agrave atividade coletiva em conjunto na medida em que o
ambiente sociocultural pode desencadear motivos para a realizaccedilatildeo de novas accedilotildees do sujeito
que por sua vez exigiratildeo novas operaccedilotildees as quais desenvolveratildeo os processos psiacutequicos
superioresOs componentes desse movimento da atividade propostos por Leontiev (2001) satildeo
necessidade- motivo- finalidade- condiccedilotildees para se obter a finalidade
Dentro dessa concepccedilatildeo a atividade eacute formada pela seguinte estrutura geral
Necessidade Motivo Objetivos Condiccedilotildees
Atividade
Accedilotildees Operaccedilotildees
Quadro 2 Estrutura geral da atividade adaptada de Leontiev (2001 2004)
A necessidade eacute o fator que desencadeia a atividade eacute ela que motiva o sujeito concretamente
a ter objetivos e realizar as accedilotildees (SFORNI 2004) Ela eacute um componente tatildeo importante que
Sforni (p97) acrescenta ldquonem todo processo eacute uma atividade mas somente aquele que eacute
movido por uma necessidaderdquoObviamente ao pensarmos no ensino da escrita devemos levar
em conta que a necessidade eacute um componente importante
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E o que leva uma crianccedila a produzir um texto Certamente natildeo deveria ser o fato de cumprir
uma tarefa ou preencher o tempo da sala mas a necessidade da crianccedila escrever vincula-se ao
motivo a uma relaccedilatildeo com esse objeto que vai aleacutem da razatildeo envolvendo aspectos tambeacutem
de ordem afetiva Se ela natildeo vecirc sentido naquilo que realiza logo natildeo torna consciente o que
escreve e faz e se natildeo tem consciecircncia sobre as accedilotildees que realiza natildeo eacute possiacutevel qualificaacute-las
de atividade mas apenas de uma tarefa de uma obrigaccedilatildeo escolarO motivo eacute justamente o
componente mais afetivo da teoria da afetividade Vincula-se agraves emoccedilotildees do sujeito e
relaciona-se ao sentido da atividade
A finalidade tem a ver com aquilo que se pretende de forma mais particular naquela atividade
poderiacuteamos associaacute-la ao objetivo Para a realizaccedilatildeo desse objetivo seratildeo necessaacuterias as
condiccedilotildees os meios para alcanccedilaacute-lo por intermeacutedio das accedilotildees e das operaccedilotildeesA accedilatildeo eacute o
processo cuja o motivo natildeo coincide com seu objeto mas pertence aacute atividade
Leontiev (2004) ilustra essa afirmaccedilatildeo ao explicar que a atividade de ler um livro para apenas
passar numa prova natildeo eacute uma atividade mas uma accedilatildeo porque ler o livro por ler natildeo eacute um
objetivo forte que estimula a accedilatildeo do sujeito Poreacutem a accedilatildeo pode se transformar em atividade
quando passa a ter um motivo para o sujeito No exemplo dado se o aluno comeccedila a ler e a
leitura acaba por envolvecirc-lo por alguma razatildeo o motivo da atividade desloca-se
transformando-se a accedilatildeo em uma atividade
Uma accedilatildeo pode ser realizada de diferentes maneiras designadas por Leontiev de operaccedilotildees
as quais consistem no modo de execuccedilatildeo de uma determinada tarefa que pode ser variadoAs
operaccedilotildees particularizam um determinado objeto e revelam suas partes intriacutensecas daiacute serem
elementos fundamentais para a apropriaccedilatildeo As accedilotildees realizadas por indiviacuteduo no interior de
uma atividade transformam-se em operaccedilotildees e estas mais tarde em haacutebitos e habilidades
Quando isso ocorre saem da esfera dos processo conscientes e passam a ocupar um lugar
inferior na estrutura da atividade
Todavia ocupar lsquoum lugar inferiorrsquo natildeo significa simplificar o estatuto da operaccedilatildeo ao
contraacuterio significa afirmar que houve um processo de apropriaccedilatildeo que agora torna-se
consciente e que em tornando-se consciente deixa livre o pensamento para se incumbir de
novas accedilotildees e novas operaccedilotildees agora de caraacuteter mais elevadoA ideacuteia eacute que uma atividade
coloca a crianccedila em determinada accedilatildeo que por sua vez lhe exige operaccedilotildees para executaacute-la
Ao apropriar-se dessas operaccedilotildees a crianccedila deve ser exposta a novas accedilotildees e
consequentemente a novas operaccedilotildees de caraacuteter mais elevado a fim de que seus processos
mentais estejam em constante desenvolvimento conforme ilustra o quadro abaixo
12
xxx
Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa
Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa
Atividade Accedilatildeo Operaccedilatildeo
Quadro 3 Movimento da aprendizagem na Teoria da Atividade com base em Sforni (2004)
Esse movimento revela para Leontiev o processo ininterrupto de desenvolvimento do sujeito
Para Sforni (2004 p104) esse processo revela o momento da aprendizagem poreacutem natildeo eacute
natural precisa ser mediado por algueacutem mais experiente o que reforccedila a ideacuteia de que a
mediaccedilatildeo tal como jaacute sublinhamos nos estudos vygtskianos eacute outro compontente
fundamental do processo de apropriaccedilatildeo
Todo esse contexto nos leva a pensar novamente sobre a repeticcedilatildeo sistemaacutetica de 1ordf a 4ordf
seacuterie da escrita de narrativas escolaresSe pela teoria da atividade a crianccedila precisa estar
exposta a novas accedilotildees e a novas operaccedilotildees quais conteuacutedos satildeo avanccedilados de seacuterie para
seacuterie se existe a repeticcedilatildeo sistemaacutetica principalmente da narrativa escolar baseada no
modelo aristoteacutelico Se percebemos que as crianccedilas jaacute dominam esse gecircnero escolar por que
natildeo avanccedilar com novos gecircneros ou em ficando nesse gecircnero com novas operaccedilotildees que
mobilizaratildeo novos conteuacutedos Por exemplo em se pensando em gecircneros que se utilizam da
sequumlecircncia narrativa como predominante por que natildeo trabalhar com narrativas de enigmas ou
narrativas de terror que traratildeo novas variaccedilotildees e novos esquemas de organizaccedilatildeo para serem
apropriados pelas crianccedilas
Completando o quadro teoacuterico da TA Davydov (1998) concorda com Leontiev que a
estrutura da atividade seja composta de necessidades tarefas accedilotildees e operaccedilotildees poreacutem
acrescenta um novo componente ndash o desejo ndashjaacute que para ele as emoccedilotildees satildeo inseparaacuteveis da
necessidade (a emoccedilatildeo seria a base para todas as tarefas que o homem se propotildee a fazer) eacute o
desejo que provoca uma necessidade entatildeo a funccedilatildeo do professor seria a de pensar em como
criar desejos para a aprendizagem para que estes provoquem uma necessidade e iniciem o
processo de atividade
Para Libacircneo (2004) esse novo componente deixa claro no campo edcacional ao viacutenculo
entre afetividade e cogniccedilatildeo As atividades humans estatildeo para o autor impregnadas de
13
sentido subjetivo as quais propuosionam nosso agir tanto pensando na esfera escolar como
na esfera do nosso cotidiano Nesse sentido precisamos levar em conta que o processode
apropriaccedilatildeo depende tambeacutem de aspectos afetivos (cf DAVYDOV 1998)
A questatildeo do desejo pode ser comparada agrave questatildeo da voliccedilatildeo discutida por Vygotsky
(2001)Como vimos na seccedilatildeo anterior a relaccedilatildeo do sujeito com o objeto eacute uma relaccedilatildeo
mediada pelo outro atraveacutes da linguagem (e das ferramentas) Para Vygotsky (19882001) eacute a
linguagem que possibilita a constituiccedilatildeo do pensamento da consciecircncia da vontade isto eacute
das funccedilotildees psicoloacutegicas superiores Nesse sentido soacute tomamos consciecircncia individual a
partir primeiro das interaccedilotildees sociais ou da relaccedilatildeo com o outro Normalmente no caso da
crianccedila esse outro eacute algueacutem afetivamente proacutexima a ela Eacute o aspecto emocional envolvido
nessa relaccedilatildeo que motiva e impulsiona a crianccedila a agir Nesse sentido temos que a vontade eacute
uma funccedilatildeo psicoloacutegica superior e a sua construccedilatildeo depende de uma atividade que eacute portanto
de natureza social
Todas essas categorias na perspectiva da Teoria da Atividade implicam que se coloque a
crianccedila em uma trabalho inicialmente coletivo para posteriormente ser individual o que
remete agrave importacircncia de se desenvolver na sala de aula aleacutem das produccedilotildees individuais as
produccedilotildees coletivas De qualquer modo mesmo natildeo sendo um campo epistemoloacutegico voltado
para os gecircneros textuais eacute possiacutevel percebermos as razotildees de Bronckart (2003 2006) ter
utilizado dessa fonte no Interacionismo Sociodiscursivo jaacute que as noccedilotildees de atividade e da
accedilatildeo natildeo soacute regulam os objetivos dos indiviacuteduos nas diversas interaccedilotildees sociais como
tambeacutem satildeo importantes elementos para pensarmos em como gerar um conhecimento que seja
significativo e dessa forma seja apreendido pela crianccedilaaluno
4 Ilustrando o trabalho com a formaccedilatildeo de professores de seacuteries iniciais
As duas atividades que seratildeo aqui delineadas decorreram de trecircs de um total de seis etapas de
um curso de formaccedilatildeo envolvendo o tema gecircneros textuais e ensino ministrado para 15
professores de uma escola da rede puacuteblica do noroeste do Paranaacute por duas professoras
formadoras (das quais fizemos parte) e estagiaacuterias do curso de Letras no segundo semestre de
2007 As trecircs etapas iniciais tiveram como toacutepicos (a) pressupostos baacutesicos da Abordagem
Histoacuterico-Social e da Teoria da Atividade b) pressupostos gerais sobre gecircneros textuais a
partir de Bakthin e o Interacionismo Social dentre os quais foram destacados os aspectos
caracterizadores do gecircnero o tema a estrutura composicional e o estilo (BAKTHIN 1992) c)
contexto de produccedilatildeo no ISD (as capacidades de linguagem o instrumento sequumlecircncia didaacutetica
14
ficaram para outras sessotildees) d) transposiccedilatildeo dessas teorias para o ensino da escrita e)
planejamento de aulasoficinasPor questotildees de delimitaccedilatildeo enfocaremos neste artigo apenas
as subetapas ldquo drdquo e ldquoerdquo
As subetapas assinaladas envolveram duas atividades para os professores uma de cunho
teoacuterico e outra de cunho praacutetico A atividade de cunho teoacuterico ocorreu apoacutes as discussotildees
teoacutericas e foi apresentada da seguinte maneira
Em grupo elabore um quadro no qual vocecirc correlacione as categorias da Teoria da Atividade
aos elementos do contexto de produccedilatildeo vistos em Bakthin (1992) e em Bronckart (2003)
Embora no processo inicial de escolarizaccedilatildeo a comparaccedilatildeo como vimos eacute uma operaccedilatildeo
mental que pode caracterizar o pensamento empiacuterico aqui neste exerciacutecio ela natildeo eacute suficiente
Para que os professores realizassem a atividade precisariam entender primeiro cada uma das
teorias seus elementos para depois confrontaacute-los Isso exigiu que utilizassem diversas
operaccedilotildees mentais ressaltadas por Menchiskaia (1969) como a anaacutelise a abstraccedilatildeo a siacutentese
a comparaccedilatildeo a sistematizaccedilatildeo a definiccedilatildeo e a compreensatildeo necessaacuterias ao processo de
apropriaccedilatildeo
Aleacutem disso para a realizaccedilatildeo desse exerciacutecio procuramos respeitar os elementos proacuteprios da
Teoria da Atividade os professores que estavam no curso de formaccedilatildeo solicitaram o curso
portanto partiram de uma necessidade para ali estarem Aleacutem disso tinham um motivo e uma
finalidade queriam buscar informaccedilotildees sobre a transposiccedilatildeo dos gecircneros textuais para
otimizarem o trabalho com as crianccedilas na sala de aula Sabiam que para alcanccedilar esse
propoacutesito teriam que realizar atividades de forma conjunta compostas de accedilotildees e operaccedilotildees
como essa da elaboraccedilatildeo do quadro o planejamento de uma oficina dentre outras que natildeo nos
interessam nesse momento
Eacute preciso tambeacutem esclarecer que o quadro que seraacute apresentado a seguir foi o resultado final
de um trabalho coletivo e mediado pelas formadoras Para chegarmos a sua versatildeo final
foram necessaacuterias trecircs refacccedilotildees numa clara demonstraccedilatildeo de que o processo de
internalizaccedilatildeo como assevera Vygotsky (1988) depende de uma longa seacuterie de eventos
Assim muito provavelmente esse momento representa apenas um dos eventos que os
professores tiveram para iniciar esse processo mas que para que ele se consolide necessitaratildeo
de outros
15
Ressaltamos que todas as operaccedilotildees mentais anteriormente colocadas no referencial teoacuterico
para o desenvolvimento e apropriaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico dependem para que se
coloque o sujeito em atividade dos processos de mediaccedilatildeo tambeacutem realizados pelo professor
(VYGOTSKY 2000 SFORNI 2004) No nosso caso um dos recursos que utilizamos para
conduzir o processo de apropriaccedilatildeo e que se mostrou bastante produtivo em nossas
intervenccedilotildees foi a devoluccedilatildeo de uma nova pergunta apoacutes uma duacutevida estabelecida pelos
professores Como no momento das discussotildees utilizamos o gecircnero exposiccedilatildeo oral buscamos
nessa estrateacutegia comentada por Carneiro (2009) como uma das quais o professor pode se
utilizar para provocar a reflexatildeo e por efeito a possiacutevel compreensatildeo como ilustra o exemplo
abaixo
Professora ()entatildeo o desejo me parece ser tambeacutem a atividade natildeo eacute
Formadora veja pense num exemplo se jaacute almocei mas de repente vejo numa
vitrine um delicioso doce teria um desejo ou uma necessidade por ele
Professora uhm pera aiacute eu natildeo tenho necessidade de come porque jaacute estou
satisfeita mas tenho desejo neacute o desejo eacute mais emocional eacute mais voltado ao prazer
e a necessidade eacute aquilo que eacute necessaacuterio fazerparece mais racional()
Formadora isso agora pense nessa analogia para o campo da escrita
Profesora taacute o desejo tem a ver com o sentimentoa questatildeo dos sentimentos da
crianccedila neacute a gente tem que criar um viacutenculo afetivo entre ela e atividade que vamos
dar e a necessidade eacute taacute mais na razatildeo acho que tem a ver com aquela questatildeo que
discutimos com as praacuteticas sociais que satildeo as necessidades reais que temos de nos
comunicar()
Percebemos que ao devolver a duacutevida em forma de pergunta acrescida com um exemplo de
senso comum a professora formadora provoca uma reflexatildeo na professora participante e
como efeito gera-se o entendimento do conceito antes motivo de duacutevida Claro estaacute que nem
sempre esse recurso conforme comprova Carneiro (opcit) consegue proporcionar a
compreensatildeo mas sem duacutevida eacute ma estrateacutegia interessante para o professor de forma
consciente utilizar em suas explicaccedilotildees
Apoacutes esse trabalho de cunho coletivo elaboramos com a participaccedilatildeo das professoras o
quadro abaixo (resultado de trecircs refacccedilotildees) no qual aleacutem de pensar nas implicaccedilotildees para o
ensino elas tambeacutem correlacionaram os elementos da teoria da atividade com alguns dos
elementos do contexto de produccedilatildeo
16
Elementos estruturais da Teoria da Atividade Implicaccedilotildees para o ensino da escrita
DESEJO Elemento afetivo que desencadeia a necessidade da
escrita eacute desencadeado tanto pelo processo de
mediaccedilatildeo do professor com o aluno como tambeacutem
pela motivaccedilatildeo exercida por exemplo para a
abertura de um novo projetoatividade de
escritaNatildeo s relaciona a nenhum dos elementos
previstos pelo contexto de produccedilatildeo jaacute que eacute de
ordem emocional
NECESSIDADE Envolve o uso especiacutefico da escrita numa
determinada situaccedilatildeo de produccedilatildeo para atender a
uma praacutetica social especiacutefica escrever para publicar
um livro de contos escrever para produzir uma
reivindicaccedilatildeo escrever para solicitar alguma coisa
escrever para participar de um concurso escrever
um cardaacutepio para uma festa etc
MOTIVO Envolve o sentido da escrita para a crianccedila de modo
a convencecirc-la a escrever por meio de atividades que
oportunizem correlacionar a escrita com as emoccedilotildees
da crianccedila e tambeacutem com seus provaacuteveis
interlocutores pois satildeo eles que vinculam sentido
agravequilo que a crianccedila escreve (BAKTHIN 2003)
Uma dessas atividades que podem vincular a escrita
ao motivo pode ser a divulgaccedilatildeo da produccedilatildeo final
ao puacuteblico por exemplo compor um fabulaacuterio para
ser divulgado numa amostra de livros da escola
produzir cartazes para divulgaccedilatildeo de festas na escola
e afixaacute-los em estabelecimentos comerciais elaborar
notiacutecias para o jornal da escola ou para a raacutedio da
escola produzir livros de histoacuterias infantis para
crianccedilas menores elaborar uma seccedilatildeo de
classificados divulgando serviccedilos prestados ou
produtos vendidos por familiares e amigos do bairro
etcEntendemos que o fato da divulgaccedilatildeo do olhar
do outro como afirmam BakthinVoloshinov (1992)
satildeo essenciais para instaurar uma escrita
significativa
FINALIDADE Envolve o objetivo especiacutefico da escrita na situaccedilatildeo
de interaccedilatildeo para quecirc escrever Para solicitar
alguma coisa para colocar a minha opiniatildeo para
17
contar uma anedota etcA finalidade ou o objetivo
da produccedilatildeo deve vir claramente expressa no
comando de escrita a ser entregue para o aluno
ACcedilAtildeO Envolve a definiccedilatildeo do gecircnero textual que a crianccedila
iraacute escrever um resumo uma notiacutecia uma carta do
leitor um anuacutencio de classificado um comentaacuterio
um conto de fadas etc
OPERACcedilOtildeES (modos de execuccedilatildeo de uma catildeo) Envolve uma seacuterie de tarefas anteriores aacute produccedilatildeo
escritaoral do gecircnero com vistas aacute apropriaccedilatildeo dos
elementos caracterizadores dos gecircneros (o tema a
estrutura composiconal e o estilo) e levando em
conta as fases da escrita planejamento revisatildeo e
reescrita
Quadro 4 Elementos da Teoria da Atividade e sua implicaccedilatildeo na escrita
O exerciacutecio acima evidenciou-nos que mesmo sem ainda terem a noccedilatildeo sobre as capacidades
de linguagem a serem desenvolvidas no quadro do ISD os professores por meio das
operaccedilotildees mentais que o exerciacutecio exigia (anaacutelise comparaccedilatildeo abstraccedilatildeo siacutentese
exemplificaccedilatildeo) conseguem fazer relaccedilotildees coerentes entre os elementos da Teoria da
Atividade com implicaccedilotildees para o ensino da escrita Por exemplo relacionam a necessidade
elemento desencadeador da atividade com a praacutetica social como elemento desencadeador da
atividade de produccedilatildeo que no quadro do ISD eacute o elemento que possibilita alavancar por
exemplo as sequecircncias didaacuteticas (cfDOLZ SCHNEUWLY 2004)
Tambeacutem associam de forma interessante o motivo com um dos elementos do contexto de
produccedilatildeo o interlocutor reforccedilando a importacircncia desse elemento como tambeacutem aspecto
motivacional no ato da escrita Da mesma forma o tema e seu tratamento exaustivo
(BAKTHIN 1992) eacute explorado na associaccedilatildeo entre esse elemento e a accedilatildeo na medida em que
ao definir um determinado gecircnero estaacute implicado aiacute a realizaccedilatildeo desse elemento bakthiniano
Por fim nas operaccedilotildees fica claro que os professores conseguiram perceber que para se
escrever um determinado gecircnero seraacute preciso decompocirc-lo em uma seacuterie de atividades nas
quais se mobilizaratildeo o tema a estrutura composicional e o estilo
Na sequumlecircncia apoacutes a discussatildeo do quadro e com o intuito de promover mais um evento para
reforccedilar o processo de internalizaccedilatildeo agora numa atividade praacutetica solicitamos que cada
duplatrio de professores elaborassem um planejamento de uma oficina de leituraproduccedilatildeo
textual (jaacute que nesse momento ainda desconheciam outros instrumentos proacuteprios do ISD
18
como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com
atividades de escrita
O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras
de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre
de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um
suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito
com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar
jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da
Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que
tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos
previstos em cada etapa
A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma
oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas
as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs
refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo
4ordf seacuteries 12 ha
SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR
DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola
NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da
escola
MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral
FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na
escola e em casa
ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de
humor)
2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais
da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha
Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar
o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e
definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim
19
de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as
seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para
quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social
2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura
ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a
organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos
e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio
anterior
1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras
MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a
importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar
tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto
1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que
envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido
com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e
trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido
1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em
grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na
escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira
contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade
anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os
interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma
lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira
escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4
quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos
das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -
elaboraccedilatildeo dos balotildees
2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar
ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a
releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com
mediaccedilatildeo do professora
2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)
apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o
tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as
formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo
Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais
O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro
momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de
operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no
20
interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo
(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-
problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)
No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo
finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do
contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o
reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro
elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar
um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de
humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as
crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees
estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo
Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993
DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos
que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo
para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio
Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na
visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia
coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a
reescrita
Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos
como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser
compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado
pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua
transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o
processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica
para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos
da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do
Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se
coerentes a essas bases teoacutericas
Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e
certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e
conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que
soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um
21
pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)
talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados
5Consideraccedilotildees finais
O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo
de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da
Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de
apropriaccedilatildeo
a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade
interna
b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do
sujeito para que se concretize
c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por
elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e
as operaccedilotildees
d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem
mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como
propulsores do desenvolvimento
e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito
d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a
definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc
Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores
sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer
um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa
instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o
desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as
praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um
pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do
curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em
torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais
22
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Organizado por Anna Raquel Machado e Maria de Lourdes Meirelles MatencioCampinas-SP
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Pedagogy courses aiming at giving a different and more significant meaning to Portuguese
teacher education for initial school years
KEYWORDS Textual genres Activity theory Textual production Teacher education
1Introduccedilatildeo
O problema do baixo desempenho escolar nas seacuteries inicias eacute revelado anualmente tanto nas
estatiacutesticas nacionais por meio do Sistema de Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica (SAEB) quanto
internacionais pelo Programa Internacional de Avaliaccedilatildeo Comparada (PISA) Embora natildeo
sejam especiacuteficos apenas das seacuteries iniciais os resultados evidenciam que as crianccedilas natildeo
estatildeo aprendendo e que a escola natildeo estaacute regra geral cumprindo sua maior funccedilatildeo a de
promover a aprendizagem
No caso particular do ensino e da aprendizagem da escrita especialmente nas seacuteries iniciais o
que se vecirc eacute concordando com Adorno (1996) uma pseudo-formaccedilatildeo isto eacute a ausecircncia de
uma pedagogia sistematizada e intencionalmente planejada para o desenvolvimento de
capacidades que levem a crianccedila a escrever um determinado gecircnero textual o que faz
prevalecer a sensaccedilatildeo de que escrever eacute ainda um dom
Todavia o professor que atua em seacuteries iniciais natildeo reuacutene em sua formaccedilatildeo bases teoacutericas que
lhe permitam ir aleacutem das teorias de aquisiccedilatildeo da escrita por outro lado possui bases
epistemoloacutegicas interessantes para compreendermos o processo de apropriaccedilatildeo de um dado
objeto os quais satildeo fundamentais para se entender como a crianccedila aprende e por
consequumlecircncia como podemos a partir disso (re)organizar procedimentos metodoloacutegicos
com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica dos conteuacutedos de liacutengua portuguesa
Tendo em vista entatildeo que uma das bases fundantes da teoria do Interacionismo
Sociodiscursivo (ISD) eacute a Teoria da Atividade (TA) de Leontiev e de que essa teoria eacute
conhecida por profissionais do curso de Pedagogia poreacutem um pouco menos pelos
profissionais de Letras o objetivo deste artigo eacute entender as contribuiccedilotildees dessa teoria para o
processo de apropriaccedilatildeo de um determinado objeto teoacuterico com vistas a contribuir para o
ensino-aprendizagem da escrita em seacuteries iniciais e para os estudos acerca da transposiccedilatildeo
didaacutetica no quadro teoacuterico do ISD Entendemos tambeacutem que a contribuiccedilatildeo do artigo
estende-se para a formaccedilatildeo dos professores na medida em que evidenciamos a transposiccedilatildeo
da TA para as aulas de produccedilatildeo textual
O trabalho vincula-se aos grupos de pesquisa ldquoGecircneros textuais e ferramentas didaacuteticas para o
ensino-aprendizagem de liacutengua portuguesardquo (UELCNPq) e ao grupo ldquoInteraccedilatildeo e Escritardquo
(UEMCNPq) de onde buscamos alguns dos exemplos ilustrativos para alcanccedilar nosso
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propoacutesito Este artigo estaacute dividido em quatro partes a) apresentaccedilatildeo dos pressupostos da
teoria Histoacuterico-Cultual especialmente no que diz respeito ao processo de apropriaccedilatildeo dos
mediadores culturais jaacute que ela eacute a base da teoria da atividade de Leontiev b) apresentaccedilatildeo
dos pressupostos da Teoria da Atividade c) Ilustraccedilatildeo do processo de apropriaccedilatildeo por meio da
anaacutelise de uma atividade teoacuterica e um planejamento de uma oficina do gecircnero tira de humor
jornaliacutestica d) conclusotildees finais
2 A abordagem Histoacuterico-Cultural e a formaccedilatildeo de conceitos
Vygotsky muito embora natildeo tenha preocupaccedilotildees concernentes ao ensino da escrita trouxe
importantes contribuiccedilotildees para a educaccedilatildeo e eacute considerado o fundador da Teoria Histoacuterico-
Cultural (corrente epistemoloacutegica que serve de base para a teoria da atividade de Leontiev) a
qual recebe esse nome por reforccedilar o papel da atividade soacutecio-histoacuterica e coletiva na formaccedilatildeo
das funccedilotildees mentais superiores dentre elas a escrita
Uma das teses fundantes do trabalho de Vygotsky (1979 1988 2001) eacute o caraacuteter social e
histoacuterico dos chamados Processo Psicoloacutegicos SuperioresPPS (como a atenccedilatildeo a memoacuteria a
vontade a escrita dentre outros) mediados por instrumentos dentre os quais os instrumentos
materiaisfiacutesicos e os signos assumem papeacuteis determinantes para o desenvolvimento psiacutequico
Na perspectiva vygotskiana portanto a atividade do indiviacuteduo sobre o objeto natildeo eacute direta
mas eacute uma atividade mediada por instrumentos
Sendo objetos sociais os instrumentos carregam consigo a cultura material as operaccedilotildees de
trabalho historicamente ali elaboradas o que implica na visatildeo de Leontiev (2004) natildeo apenas
no uso do instrumento mas da apropriaccedilatildeo de suas operaccedilotildees mentais e fiacutesicas ambas
promotoras do desenvolvimento humano
Enquanto signos os instrumentos simboacutelicos agem como reguladores da atividade
psicoloacutegica similarmente ao papel de um instrumento material de trabalho e formam o
conteuacutedo da atividade mental do homem sobre o mundo (controlam as accedilotildees internas e
psicoloacutegicas) jaacute os instrumentos materiais auxiliam o sujeito em accedilotildees concretas Ambos satildeo
denominados por Vygotsky de mediadores culturais (VYGOTSKY 19791988 2000 2001)
Satildeo os instrumentos mediadores que aleacutem de possibilitar o desenvolvimento dos PPS
auxiliam no processo de internalizaccedilatildeo de um determinado conhecimento pela crianccedilaaluno
Vygotsky (1988 p 63) denomina de internalizaccedilatildeo a ldquoreconstruccedilatildeo interna de uma operaccedilatildeo
externardquo em um processo que caminha de fora para dentro do social para o individual
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Um processo interpessoal eacute transformado num processo intrapessoal Todas as funccedilotildees no desenvolvimento da crianccedila aparecem duas vezes primeiro no niacutevel social e depois no niacutevel individual primeiro entre pessoas (interpsicoloacutegica) e depois no interior da crianccedila (intrapsicoloacutegica) (VYGOTSKY 1988 p 64)
A internalizaccedilatildeo nesse sentido envolve
(a) a reconstruccedilatildeo de uma operaccedilatildeo que se inicia do mundo externo para o interno
(b) a passagem do processo interpessoal para o intrapessoal que sugere a organizaccedilatildeo interior
dessa reconstruccedilatildeo pelo sujeito
(c) a transformaccedilatildeo de processos interpessoais para intrapessoais
Para que este uacuteltimo aspecto ocorra Vygotsky (op cit p64) ressalta que seraacute necessaacuterio uma
ldquolonga seacuteries de eventos ocorridos ao longo do desenvolvimentordquo Isso quer dizer que quando
pensamos no processo de apropriaccedilatildeo de um conhecimento que eacute novo temos que levar em
conta a necessidade de um tempo para amadurecer na qual a atividade psicoloacutegica do sujeito
vai sendo ressignificada reconstruiacuteda por meio do uso de novos instrumentos novos eventos
e tambeacutem por meio de tensotildees e de reformulaccedilotildees mentais que lhe satildeo inerentes Assim o
caminho da internalizaccedilatildeo para Vygotsky seguiria trecircs fases
Reconstruccedilatildeo interna de uma operaccedilatildeo externa
Reorganizaccedilatildeo interna pelo sujeito
Transformaccedilatildeo dessa reorganizaccedilatildeo pelo sujeito
Quadro 1 Fases do processo de internalizaccedilatildeo (VYGOTSKY 1988)
Para que a internalizaccedilatildeo efetivamente se realize o processo de mediaccedilatildeo precisa ser
compreendido Para tanto eacute necessaacuterio que nos debrucemos um pouco mais sobre a extensatildeo
desse conceito jaacute que tem sido comum que grande parte dos professores entendam a
mediaccedilatildeo apenas como sinocircnimo de ajuda aos alunos nas atividades escolares por pessoas
mais experientes Todavia embora natildeo descaracterize totalmente esses aspectos focados
apenas em questotildees interpessoais na perspectiva da Teoria Histoacuterico-Cultural o conceito de
mediaccedilatildeo vai mais aleacutem
Sforni (2008) esclarece que essas visotildees senso comum do termo esquecem de um dos
principais elementos da escola de Vygotsky - o conhecimento
De fato agraves interaccedilotildees sociais eacute dado lugar de destaque na escola de Vygotsky mas o
seu valor no contexto escolar natildeo estaacute restrito agrave relaccedilatildeo sujeito-sujeito mas no
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objeto que se presentifica nessa relaccedilatildeo ndash o conhecimento Em outras palavras eacute
somente na relaccedilatildeo entre sujeito-conhecimento-sujeito que a mediaccedilatildeo se torna um
conceito fundamental ao desenvolvimento humano
Assim eacute na apropriaccedilatildeo dos mediadores culturais possibilitada principalmente pelos
conteuacutedos e conhecimentos cientiacuteficos objetivados pelas geraccedilotildees precedentes eacute que torna
possiacutevel o desenvolvimento do sujeito (LEONTIEV 2004 VYGOSTSKY 2001) Para
Vygotsky (2000p 290) ldquoa tomada de consciecircncia passa pelos portotildees do conhecimento
cientiacuteficordquo e por isso mesmo o conhecimento nessa perspectiva eacute uma produccedilatildeo que emerge
apenas em situaccedilotildees de ensino devidamente planejadas Nem todo ensino nessa visatildeo gera
desenvolvimento mas sim o ldquobom ensinordquo aquele que inserido em uma ldquocorreta organizaccedilatildeo
da aprendizagem da crianccedila conduz ao desenvolvimento mentalrdquo (VYGOTSKY 1991 p15)
Se pensarmos nos pressupostos da teoria Histoacuterico-Cultural entendemos que o ensino
promotor do desenvolvimento depende do quecirc se adquire (conhecimento cientiacutefico) e como se
adquire (processo de ensino e de apropriaccedilatildeo pelo aluno) Os conceitos cientiacuteficos seriam
assim instrumentos do pensamento e a apropriaccedilatildeo a condiccedilatildeo para a sua formaccedilatildeo
Para o psicoacutelogo russo o conceito eacute um ato real e complexo de pensamento que natildeo pode ser
apreendido por simples ldquomemorizaccedilatildeordquo(VYGOTSKY 2000) Exatamente por isso ele nos
adverte que os conceitos natildeo devem ser apreendidos pela crianccedilaaluno de forma pronta e
direta tal como a escola comumente realiza pois dessa maneira traduzem-se em pedagogias
esteacutereis em outras palavras ldquoo ensino direto de conceitos sempre se mostra impossiacutevel e
pedagogicamente esteacuterilrdquo(opcitp247) porque os conceitos cientiacuteficos para serem
internalizados e natildeo memorizados de forma mecaniscista soacute se constituem por meio de uma
imensa tensatildeo entre o objeto e a atividade na qual ele se insere
A aprendizagem de conceitos tanto para Vygotsky (2000) como para Leontiev (2004) natildeo se
resume agrave mera definiccedilatildeo e apresentaccedilatildeo das caracteriacutesticas essenciais dos objetos como
normalmente eacute realizada em sala de aula Analogamente ao pensarmos na questatildeo do gecircneros
como objeto de ensino tal como preconiza os Paracircmetros Curriculares Nacionais (BRASIL
1998) um ldquobomrdquo ensino natildeo se resumiria a apresentar por exemplo o gecircnero carta do leitor e
expor sistematicamente as suas caracteriacutesticas para os alunos e muito menos a gramaticalizaacute-
lo
Usando dessa metodologia de caraacuteter transmissiva e geneacuterica a aprendizagem de conceitos
que eacute intriacutenseca aos mais diversos objetos de ensino a exemplo dos gecircneros textuais natildeo
envolve o domiacutenio de meacutetodos e formas gerais da atividade mental que segundo Davydov
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(1982 1988) satildeo o grande legado da Teoria da Atividade ou seja o desenvolvimento de
conceitos soacute eacute produtivo quando coloca a crianccedilaaluno em atividade mentalA apropriaccedilatildeo
portanto soacute ocorre dentre desse movimento
Davydov (1982) esclarece que em determinadas situaccedilotildees a comparaccedilatildeo dos atributos
externos de um determinado fenocircmeno pode ateacute ser suficiente para resolver alguns problemas
praacuteticos poreacutem quase sempre natildeo datildeo conta de revelar aspectos de sua profundeza de suas
relaccedilotildees internas Exatamente por isso a grande operaccedilatildeo mental realizada por
estudantesprofessores no trato com o conhecimento empiacuterico se resume na comparaccedilatildeo que
daacute conta normalmente apenas do reconhecimento dos traccedilos gerais do objeto
Complementado essa ideacuteia Hedegaard (1996) baseando-se nos estudos de Vygotsky
descreve que o uso do pensamento empiacuterico eacute marcado por um percurso fixo e pelas seguintes
operaccedilotildees mentais
Observaccedilatildeo Comparaccedilatildeo Categorizaccedilatildeo Memorizaccedilatildeo
No processo de observaccedilatildeo o indiviacuteduo parte de uma situaccedilatildeo concreta Depois disso eacute confrontado
com pelos menos dois elementos que exigem que ele busque seus traccedilos semelhantes eou diferentes
para apreender as caracteriacutesticas mais gerais de um objeto e posteriormente memorizaacute-las Nesses
casos esclarece o autor natildeo haacute espaccedilo para que o alunoprofessor reflita sobra as causas e os
efeitos do conhecimento sobre os seus conflitos sobre sua origem o que colaboraria para a
adequada compreensatildeo do fenocircmeno e para a correta compreensatildeo do objeto Por isso mesmo
uma tarefa pautada apenas no conhecimento empiacuterico limita a aprendizagem e se reduz a
captar o que eacute aparente o que eacute externo e leva a crianccedilaaluno apenas a saber classificar
fenocircmenos nominalizaacute-los e dar suas caracteriacutesticas mais observaacuteveis (Davydov 1982)
Menchiskaia (1969) ao estudar a formaccedilatildeo e o desenvolvimento do pensamento esclarece
que a comparaccedilatildeo e a definiccedilatildeo satildeo processos mentais importantes para o aluno nos
processos iniciais de apropriaccedilatildeo do conhecimento pois a primeira tambeacutem inclui outros
processos mentais como a anaacutelise a generalizaccedilatildeo e a siacutentese A anaacutelise caracteriza-se como
decomposiccedilatildeo mental do todo em partes A generalizaccedilatildeo inclui a separaccedilatildeo mental do geral
nos objetos e fenocircmenos da realidade por isso a comparaccedilatildeo dos objetos e fenocircmenos acaba
sendo uma premissa do processo de generalizaccedilatildeo Jaacute a sistematizaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo dos
objetos e fenocircmenos inclui sua distribuiccedilatildeo mental em grupos e subgrupos segundo a
semelhanccedila e diferenccedila que existe entre eles Esses processos portanto satildeo interessantes para
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que pensemos por exemplo em categorias de exerciacutecios para a transposiccedilatildeo didaacutetica dos
gecircneros textuais pois levam a crianccedila a atividades mentais diferenciadas
Para chegar agrave sistematizaccedilatildeo a crianccedilaaluno se depara com outro processo mental a
abstraccedilatildeo Menchiskaia (op cit) no entanto explica que quando o aluno generaliza sobre
objetos ou fenocircmenos separa o que eacute geral do particular acaba natildeo dando importacircncia para
outras qualidades que os diferenciam entre si tem somente em conta aquilo que destacou
como geral Esse processo eacute a abstraccedilatildeo Por exemplo uma crianccedila pode pensar sobre a cor
parecida de determinados objetos e desprezar suas formas e funccedilotildees Por isso o processo de
abstraccedilatildeo e de generalizaccedilatildeo estatildeo intimamente ligados Assim para que uma correta
compreensatildeo do fenocircmeno seja realizada eacute necessaacuterio juntar agrave comparaccedilatildeo outros processos
mentais como a compreensatildeo a definiccedilatildeo o estabelecimento de causas e efeitos a soluccedilatildeo de
problemas a formulaccedilatildeo de outros exemplos dentre de um mesmo sistema dentre outras
Completando essa discussatildeo Rubstov (1996) explica que o desenvolvimento do
conhecimento cientiacutefico (a) eacute elaborado por meio de uma anaacutelise do papel e da funccedilatildeo de
uma certa relaccedilatildeo entre as coisas no interior de um sistema (b) representa as relaccedilotildees entre as
propriedades dos objetos e suas ligaccedilotildees internas (c) estabelece relaccedilatildeo entre o geral e o
particular (d) concretiza-s por meio da transformaccedilatildeo do saber em uma teoria desenvolvida
por meio da deduccedilatildeo e uma explicaccedilatildeo das manifestaccedilotildees concretas do sistema (e) apresenta-
se por diferentes modos de atividade intelectual e de operaccedilotildees mentais (f) utiliza-se de
diferentes sistemas semioacuteticos
Para os autores da THC portanto o conhecimento sensorial ou espontacircneo eacute a origem
indispensaacutevel para a formulaccedilatildeo de conceitos (DAVYDOV 1982 VYGOTSKY 1988 2000
2001) no entanto seraacute preciso revelar a essecircncia desse objeto que historicamente se
reconstitui atraveacutes do estudo do seu real funcionamento por meio a diversificaccedilatildeo d diversas
operaccedilotildees mentais
A ideacuteia de real funcionamento pensando nos gecircneros textuais remete agrave ideacuteia de praacuteticas
sociais situadas Ou seja natildeo se ensina um gecircnero pelo gecircnero mas se ensina um gecircnero para
que o aluno se aproprie de uma determinada praacutetica social para que use aquele gecircnero dentro
de uma situaccedilatildeo especiacutefica de comunicaccedilatildeo (NASCIMENTO 2007 ROJO 2005 LOPES-
ROSSI 2002)
Isso eacute possiacutevel a partir de um ensino voltado para a apropriaccedilatildeo adequada do conhecimento
teoacuterico objetivado nesse objeto o qual oportuniza agrave crianccedilasujeito entrar em contato com
diferentes modos de atividade intelectual com diferentes sistemas semioacuteticos e operaccedilotildees
mentais para aleacutem de representaccedilotildees meramente sensoriaisAleacutem de envolver processos como
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a comparaccedilatildeo a anaacutelise a siacutentese a generalizaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de problema a
crianccedilasujeito ao estar inserida num ensino adequado voltado para a atividade toma
consciecircncia do real uso e valor do conceito aleacutem de conseguir mobilizaacute-lo em diferentes
tarefas (Davydov 1982) Exatamente por isso entender a noccedilatildeo de atividade eacute outro aspecto
para entendermos o processo de apropriaccedilatildeo
3 A contribuiccedilatildeo da teoria da atividade para o processo de apropriaccedilatildeo
A teoria da atividade (TA) desenvolvida por Leontiev e seguidores (Rubstein Luria e
Davydov) eacute considerada uma continuidade das ideacuteias de Vygotsky tido um dos precursores
da teoria psicoloacutegica da atividade Segundo Sforni (2004 p86)
As investigaccedilotildees de Leontiev voltaram-se para estudo da estrutura da
atividade externa e de seu viacutenculo com os processos psiacutequicos Seus estudos
revelaram que as atividades externa e interna tecircm estruturas idecircnticas e
mais que a atividade psiacutequica interna representa uma atividade material
externa transformada o que evidencia a unidade entra atividade e psiquismo
Ao comentar o processo de evoluccedilatildeo do homem Leontiev (2004) destaca que as
caracteriacutesticas humanas satildeo desenvolvidas pela apropriaccedilatildeo da cultura material e intelectual
transmitida de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo Isso quer dizer que natildeo nos relacionamos diretamente com o
mundo mas temos uma relaccedilatildeo que eacute mediada pelo conhecimento objetivado pelas geraccedilatildeo
que nos antecederam por intermeacutedio dos instrumentos simboacutelicos (signos) que proporcionam
nosso desenvolvimento mental O processo de mediaccedilatildeo portanto nessa concepccedilatildeo eacute um
meio de chegarmos agrave apropriaccedilatildeo dos mediadores culturais entendidos aqui tambeacutem como os
conhecimentos cientiacuteficos objetivados nos mais diversos instrumentos
Por intermeacutedio desses mediadores eacute que podemos pensar em desenvolvimento do psiquismo
da crianccedila (e tambeacutem do adulto) Ao se apropriar da linguagem enquanto mediadora cultural e
de outras ferramentas a princiacutepio fiacutesicas (como objetos o jogo o brinquedo) a crianccedila aos
poucos incorpora todo o desenvolvimento intelectual objetivado nesses elementos
(VYGOTSKY 1981 p 137)
Quando chega ao processo de escolarizaccedilatildeo novas ferramentas satildeo apresentadas para as
crianccedilas Se pensarmos no ensino da escrita nas seacuteries iniciais quais satildeo os textos que tecircm
ainda predominado Que tipo de instrumentos elas tecircm agrave disposiccedilatildeo para o desenvolvimento
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da escrita A resposta eacute simples e velha conhecida no campo educacional as modalidades
retoacutericas (descriccedilatildeo dissertaccedilatildeo e principalmente a narraccedilatildeo) prevalecem como possiacuteveis
instrumentos de desenvolvimentos da escrita
Mas se nos voltarmos para a teoria Histoacuterico-Cultural e pensarmos em termos de cultura
material de heranccedila intelectual entendemos que as atividades humanas se desenvolveram por
meio da linguagem Ora essas atividades foram se multiplicando e se diversificando em cada
esfera da comunicaccedilatildeo humana (no cotidiano na literatura na religiatildeo no comeacutercio e mais
recentemente na miacutedia dentre outras) Em cada uma dessas esferas a comunicaccedilatildeo entre os
parceiros da interaccedilatildeo constituiu diferentes praacuteticas sociais que se materializaram e se
materializam ininterruptamente por meio dos gecircneros textuais (BAKTHIN 2003)
Essa organizaccedilatildeo das sociedades por praacuteticas sociais eacute diferente em cada eacutepoca histoacuterica em
cada lugar em cada cultura Por isso mesmo essas praacuteticas modificam-se outras se extinguem
e algumas novas surgem Os gecircneros textuais nesse sentido satildeo materializaccedilotildees de uma
determinada praacutetica social que por sua vez eacute dinacircmica e histoacuterica Veja-se por exemplo a
praacutetica social ldquomandar um recadordquoDependendo dos parceiros da interaccedilatildeo e da esfera de
circulaccedilatildeo poderiacuteamos fazer isso utilizando diferentes gecircneros por um bilhete (se fosse da
esfera familiar) por uma carta formal (esfera institucional) por um e-mail (esfera comercial)
Por isso mesmo entendemos que na medida em que os professores trabalham de forma
predominante com os textos narrativos ou as modalidades retoacutericas aleacutem de natildeo levarem em
conta todo esse legado intelectual produzido pela humanidade natildeo conseguem promover o
letramento dessa crianccedila no futuro (cf DIONIacuteSIO 2005) ou os multiletramentos os
letramentos multissemioacuteticos e os letramentos multimeios1 (cf ROJO 2007)
Por essas razotildees (e outras) eacute que os documentos oficiais como os Paracircmetros Curriculares
Nacionais (BRASIL 1998) tecircm insistido o trabalho com os diferentes gecircneros textuais
Poreacutem natildeo devemos nos seduzir apenas pelas prescriccedilotildees ou por modismos Pelo que jaacute
expusemostodo trabalho com um determinado objeto teoacuterico (seja o gecircnero ou outro) exige
conhecimento cientiacutefico do professor acerca do funcionamento dos gecircneros em suas mais
variadas esferas de circulaccedilatildeo sem o qual ele natildeo conseguiraacute promover na crianccedila nem a
apropriaccedilatildeo do gecircnero e nem o desenvolvimento da escrita
1 Os primeiros (multiletramentos) se referem ao trabalho com as muacuteltiplas esferas sociais nas quais os gecircneros se inscrevem tais como a jornaliacutestica a religiosa a juriacutedica a poliacutetica e natildeo apenas a literaacuteria como tem sido frequumlente na escola Os segundos (letramentos multissemioacuteticos) requerem que a escola trabalhe natildeo apenas com a linguagem verbal mas tambeacutem com a linguagem sonora imageacutetica visual musical jaacute que a TV a Internet satildeo veiacuteculos repletos de textos que se utilizam dessas formas de expressatildeoNo que concerne aos letramentos multimeios a autora considera aqueles gerados pelo contato com os mais diversos suportes de informaccedilatildeo que a sociedade disponibiliza entendidos como a TV o raacutedio o cinema a Internet o jornal impresso etc
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Como vimos na seccedilatildeo anterior o processo de apropriaccedilatildeo implica em se colocar o sujeito
dentro de uma atividade conceito esse retomado pelo ISD mas cuja origem se daacute de forma
mais destacada na obra de Leontiev (20012004) No niacutevel individual a atividade eacute entendida
como uma forma de agir do sujeito direcionada a um objetoNo plano coletivo a atividade
define-se como
() aqueles processos que realizando as relaccedilotildees do homem como o mundo
satisfazem uma necessidade especial correspondente a ela () Por atividade
designamos os processos psicologicamente caracterizados por aquilo que o processa
como um todo se dirige (isto eacute objeto) coincidindo sempre com o objetivo que
estimula o sujeito a executar essa atividade isto eacute o motivo (LEONTIEV 2001
p315)
As atividades humanas para Leontiev (2004) satildeo consideradas como formadoras das relaccedilotildees
do sujeito com o mundo dirigidas por motivos por fins a serem alcanccedilados A ideacuteia de
atividade envolve entatildeo a noccedilatildeo de que o homem orienta-se por objetivos agindo de forma
intencional por accedilotildees planejadas
O autor daacute relevacircncia inicialmente agrave atividade coletiva em conjunto na medida em que o
ambiente sociocultural pode desencadear motivos para a realizaccedilatildeo de novas accedilotildees do sujeito
que por sua vez exigiratildeo novas operaccedilotildees as quais desenvolveratildeo os processos psiacutequicos
superioresOs componentes desse movimento da atividade propostos por Leontiev (2001) satildeo
necessidade- motivo- finalidade- condiccedilotildees para se obter a finalidade
Dentro dessa concepccedilatildeo a atividade eacute formada pela seguinte estrutura geral
Necessidade Motivo Objetivos Condiccedilotildees
Atividade
Accedilotildees Operaccedilotildees
Quadro 2 Estrutura geral da atividade adaptada de Leontiev (2001 2004)
A necessidade eacute o fator que desencadeia a atividade eacute ela que motiva o sujeito concretamente
a ter objetivos e realizar as accedilotildees (SFORNI 2004) Ela eacute um componente tatildeo importante que
Sforni (p97) acrescenta ldquonem todo processo eacute uma atividade mas somente aquele que eacute
movido por uma necessidaderdquoObviamente ao pensarmos no ensino da escrita devemos levar
em conta que a necessidade eacute um componente importante
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E o que leva uma crianccedila a produzir um texto Certamente natildeo deveria ser o fato de cumprir
uma tarefa ou preencher o tempo da sala mas a necessidade da crianccedila escrever vincula-se ao
motivo a uma relaccedilatildeo com esse objeto que vai aleacutem da razatildeo envolvendo aspectos tambeacutem
de ordem afetiva Se ela natildeo vecirc sentido naquilo que realiza logo natildeo torna consciente o que
escreve e faz e se natildeo tem consciecircncia sobre as accedilotildees que realiza natildeo eacute possiacutevel qualificaacute-las
de atividade mas apenas de uma tarefa de uma obrigaccedilatildeo escolarO motivo eacute justamente o
componente mais afetivo da teoria da afetividade Vincula-se agraves emoccedilotildees do sujeito e
relaciona-se ao sentido da atividade
A finalidade tem a ver com aquilo que se pretende de forma mais particular naquela atividade
poderiacuteamos associaacute-la ao objetivo Para a realizaccedilatildeo desse objetivo seratildeo necessaacuterias as
condiccedilotildees os meios para alcanccedilaacute-lo por intermeacutedio das accedilotildees e das operaccedilotildeesA accedilatildeo eacute o
processo cuja o motivo natildeo coincide com seu objeto mas pertence aacute atividade
Leontiev (2004) ilustra essa afirmaccedilatildeo ao explicar que a atividade de ler um livro para apenas
passar numa prova natildeo eacute uma atividade mas uma accedilatildeo porque ler o livro por ler natildeo eacute um
objetivo forte que estimula a accedilatildeo do sujeito Poreacutem a accedilatildeo pode se transformar em atividade
quando passa a ter um motivo para o sujeito No exemplo dado se o aluno comeccedila a ler e a
leitura acaba por envolvecirc-lo por alguma razatildeo o motivo da atividade desloca-se
transformando-se a accedilatildeo em uma atividade
Uma accedilatildeo pode ser realizada de diferentes maneiras designadas por Leontiev de operaccedilotildees
as quais consistem no modo de execuccedilatildeo de uma determinada tarefa que pode ser variadoAs
operaccedilotildees particularizam um determinado objeto e revelam suas partes intriacutensecas daiacute serem
elementos fundamentais para a apropriaccedilatildeo As accedilotildees realizadas por indiviacuteduo no interior de
uma atividade transformam-se em operaccedilotildees e estas mais tarde em haacutebitos e habilidades
Quando isso ocorre saem da esfera dos processo conscientes e passam a ocupar um lugar
inferior na estrutura da atividade
Todavia ocupar lsquoum lugar inferiorrsquo natildeo significa simplificar o estatuto da operaccedilatildeo ao
contraacuterio significa afirmar que houve um processo de apropriaccedilatildeo que agora torna-se
consciente e que em tornando-se consciente deixa livre o pensamento para se incumbir de
novas accedilotildees e novas operaccedilotildees agora de caraacuteter mais elevadoA ideacuteia eacute que uma atividade
coloca a crianccedila em determinada accedilatildeo que por sua vez lhe exige operaccedilotildees para executaacute-la
Ao apropriar-se dessas operaccedilotildees a crianccedila deve ser exposta a novas accedilotildees e
consequentemente a novas operaccedilotildees de caraacuteter mais elevado a fim de que seus processos
mentais estejam em constante desenvolvimento conforme ilustra o quadro abaixo
12
xxx
Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa
Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa
Atividade Accedilatildeo Operaccedilatildeo
Quadro 3 Movimento da aprendizagem na Teoria da Atividade com base em Sforni (2004)
Esse movimento revela para Leontiev o processo ininterrupto de desenvolvimento do sujeito
Para Sforni (2004 p104) esse processo revela o momento da aprendizagem poreacutem natildeo eacute
natural precisa ser mediado por algueacutem mais experiente o que reforccedila a ideacuteia de que a
mediaccedilatildeo tal como jaacute sublinhamos nos estudos vygtskianos eacute outro compontente
fundamental do processo de apropriaccedilatildeo
Todo esse contexto nos leva a pensar novamente sobre a repeticcedilatildeo sistemaacutetica de 1ordf a 4ordf
seacuterie da escrita de narrativas escolaresSe pela teoria da atividade a crianccedila precisa estar
exposta a novas accedilotildees e a novas operaccedilotildees quais conteuacutedos satildeo avanccedilados de seacuterie para
seacuterie se existe a repeticcedilatildeo sistemaacutetica principalmente da narrativa escolar baseada no
modelo aristoteacutelico Se percebemos que as crianccedilas jaacute dominam esse gecircnero escolar por que
natildeo avanccedilar com novos gecircneros ou em ficando nesse gecircnero com novas operaccedilotildees que
mobilizaratildeo novos conteuacutedos Por exemplo em se pensando em gecircneros que se utilizam da
sequumlecircncia narrativa como predominante por que natildeo trabalhar com narrativas de enigmas ou
narrativas de terror que traratildeo novas variaccedilotildees e novos esquemas de organizaccedilatildeo para serem
apropriados pelas crianccedilas
Completando o quadro teoacuterico da TA Davydov (1998) concorda com Leontiev que a
estrutura da atividade seja composta de necessidades tarefas accedilotildees e operaccedilotildees poreacutem
acrescenta um novo componente ndash o desejo ndashjaacute que para ele as emoccedilotildees satildeo inseparaacuteveis da
necessidade (a emoccedilatildeo seria a base para todas as tarefas que o homem se propotildee a fazer) eacute o
desejo que provoca uma necessidade entatildeo a funccedilatildeo do professor seria a de pensar em como
criar desejos para a aprendizagem para que estes provoquem uma necessidade e iniciem o
processo de atividade
Para Libacircneo (2004) esse novo componente deixa claro no campo edcacional ao viacutenculo
entre afetividade e cogniccedilatildeo As atividades humans estatildeo para o autor impregnadas de
13
sentido subjetivo as quais propuosionam nosso agir tanto pensando na esfera escolar como
na esfera do nosso cotidiano Nesse sentido precisamos levar em conta que o processode
apropriaccedilatildeo depende tambeacutem de aspectos afetivos (cf DAVYDOV 1998)
A questatildeo do desejo pode ser comparada agrave questatildeo da voliccedilatildeo discutida por Vygotsky
(2001)Como vimos na seccedilatildeo anterior a relaccedilatildeo do sujeito com o objeto eacute uma relaccedilatildeo
mediada pelo outro atraveacutes da linguagem (e das ferramentas) Para Vygotsky (19882001) eacute a
linguagem que possibilita a constituiccedilatildeo do pensamento da consciecircncia da vontade isto eacute
das funccedilotildees psicoloacutegicas superiores Nesse sentido soacute tomamos consciecircncia individual a
partir primeiro das interaccedilotildees sociais ou da relaccedilatildeo com o outro Normalmente no caso da
crianccedila esse outro eacute algueacutem afetivamente proacutexima a ela Eacute o aspecto emocional envolvido
nessa relaccedilatildeo que motiva e impulsiona a crianccedila a agir Nesse sentido temos que a vontade eacute
uma funccedilatildeo psicoloacutegica superior e a sua construccedilatildeo depende de uma atividade que eacute portanto
de natureza social
Todas essas categorias na perspectiva da Teoria da Atividade implicam que se coloque a
crianccedila em uma trabalho inicialmente coletivo para posteriormente ser individual o que
remete agrave importacircncia de se desenvolver na sala de aula aleacutem das produccedilotildees individuais as
produccedilotildees coletivas De qualquer modo mesmo natildeo sendo um campo epistemoloacutegico voltado
para os gecircneros textuais eacute possiacutevel percebermos as razotildees de Bronckart (2003 2006) ter
utilizado dessa fonte no Interacionismo Sociodiscursivo jaacute que as noccedilotildees de atividade e da
accedilatildeo natildeo soacute regulam os objetivos dos indiviacuteduos nas diversas interaccedilotildees sociais como
tambeacutem satildeo importantes elementos para pensarmos em como gerar um conhecimento que seja
significativo e dessa forma seja apreendido pela crianccedilaaluno
4 Ilustrando o trabalho com a formaccedilatildeo de professores de seacuteries iniciais
As duas atividades que seratildeo aqui delineadas decorreram de trecircs de um total de seis etapas de
um curso de formaccedilatildeo envolvendo o tema gecircneros textuais e ensino ministrado para 15
professores de uma escola da rede puacuteblica do noroeste do Paranaacute por duas professoras
formadoras (das quais fizemos parte) e estagiaacuterias do curso de Letras no segundo semestre de
2007 As trecircs etapas iniciais tiveram como toacutepicos (a) pressupostos baacutesicos da Abordagem
Histoacuterico-Social e da Teoria da Atividade b) pressupostos gerais sobre gecircneros textuais a
partir de Bakthin e o Interacionismo Social dentre os quais foram destacados os aspectos
caracterizadores do gecircnero o tema a estrutura composicional e o estilo (BAKTHIN 1992) c)
contexto de produccedilatildeo no ISD (as capacidades de linguagem o instrumento sequumlecircncia didaacutetica
14
ficaram para outras sessotildees) d) transposiccedilatildeo dessas teorias para o ensino da escrita e)
planejamento de aulasoficinasPor questotildees de delimitaccedilatildeo enfocaremos neste artigo apenas
as subetapas ldquo drdquo e ldquoerdquo
As subetapas assinaladas envolveram duas atividades para os professores uma de cunho
teoacuterico e outra de cunho praacutetico A atividade de cunho teoacuterico ocorreu apoacutes as discussotildees
teoacutericas e foi apresentada da seguinte maneira
Em grupo elabore um quadro no qual vocecirc correlacione as categorias da Teoria da Atividade
aos elementos do contexto de produccedilatildeo vistos em Bakthin (1992) e em Bronckart (2003)
Embora no processo inicial de escolarizaccedilatildeo a comparaccedilatildeo como vimos eacute uma operaccedilatildeo
mental que pode caracterizar o pensamento empiacuterico aqui neste exerciacutecio ela natildeo eacute suficiente
Para que os professores realizassem a atividade precisariam entender primeiro cada uma das
teorias seus elementos para depois confrontaacute-los Isso exigiu que utilizassem diversas
operaccedilotildees mentais ressaltadas por Menchiskaia (1969) como a anaacutelise a abstraccedilatildeo a siacutentese
a comparaccedilatildeo a sistematizaccedilatildeo a definiccedilatildeo e a compreensatildeo necessaacuterias ao processo de
apropriaccedilatildeo
Aleacutem disso para a realizaccedilatildeo desse exerciacutecio procuramos respeitar os elementos proacuteprios da
Teoria da Atividade os professores que estavam no curso de formaccedilatildeo solicitaram o curso
portanto partiram de uma necessidade para ali estarem Aleacutem disso tinham um motivo e uma
finalidade queriam buscar informaccedilotildees sobre a transposiccedilatildeo dos gecircneros textuais para
otimizarem o trabalho com as crianccedilas na sala de aula Sabiam que para alcanccedilar esse
propoacutesito teriam que realizar atividades de forma conjunta compostas de accedilotildees e operaccedilotildees
como essa da elaboraccedilatildeo do quadro o planejamento de uma oficina dentre outras que natildeo nos
interessam nesse momento
Eacute preciso tambeacutem esclarecer que o quadro que seraacute apresentado a seguir foi o resultado final
de um trabalho coletivo e mediado pelas formadoras Para chegarmos a sua versatildeo final
foram necessaacuterias trecircs refacccedilotildees numa clara demonstraccedilatildeo de que o processo de
internalizaccedilatildeo como assevera Vygotsky (1988) depende de uma longa seacuterie de eventos
Assim muito provavelmente esse momento representa apenas um dos eventos que os
professores tiveram para iniciar esse processo mas que para que ele se consolide necessitaratildeo
de outros
15
Ressaltamos que todas as operaccedilotildees mentais anteriormente colocadas no referencial teoacuterico
para o desenvolvimento e apropriaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico dependem para que se
coloque o sujeito em atividade dos processos de mediaccedilatildeo tambeacutem realizados pelo professor
(VYGOTSKY 2000 SFORNI 2004) No nosso caso um dos recursos que utilizamos para
conduzir o processo de apropriaccedilatildeo e que se mostrou bastante produtivo em nossas
intervenccedilotildees foi a devoluccedilatildeo de uma nova pergunta apoacutes uma duacutevida estabelecida pelos
professores Como no momento das discussotildees utilizamos o gecircnero exposiccedilatildeo oral buscamos
nessa estrateacutegia comentada por Carneiro (2009) como uma das quais o professor pode se
utilizar para provocar a reflexatildeo e por efeito a possiacutevel compreensatildeo como ilustra o exemplo
abaixo
Professora ()entatildeo o desejo me parece ser tambeacutem a atividade natildeo eacute
Formadora veja pense num exemplo se jaacute almocei mas de repente vejo numa
vitrine um delicioso doce teria um desejo ou uma necessidade por ele
Professora uhm pera aiacute eu natildeo tenho necessidade de come porque jaacute estou
satisfeita mas tenho desejo neacute o desejo eacute mais emocional eacute mais voltado ao prazer
e a necessidade eacute aquilo que eacute necessaacuterio fazerparece mais racional()
Formadora isso agora pense nessa analogia para o campo da escrita
Profesora taacute o desejo tem a ver com o sentimentoa questatildeo dos sentimentos da
crianccedila neacute a gente tem que criar um viacutenculo afetivo entre ela e atividade que vamos
dar e a necessidade eacute taacute mais na razatildeo acho que tem a ver com aquela questatildeo que
discutimos com as praacuteticas sociais que satildeo as necessidades reais que temos de nos
comunicar()
Percebemos que ao devolver a duacutevida em forma de pergunta acrescida com um exemplo de
senso comum a professora formadora provoca uma reflexatildeo na professora participante e
como efeito gera-se o entendimento do conceito antes motivo de duacutevida Claro estaacute que nem
sempre esse recurso conforme comprova Carneiro (opcit) consegue proporcionar a
compreensatildeo mas sem duacutevida eacute ma estrateacutegia interessante para o professor de forma
consciente utilizar em suas explicaccedilotildees
Apoacutes esse trabalho de cunho coletivo elaboramos com a participaccedilatildeo das professoras o
quadro abaixo (resultado de trecircs refacccedilotildees) no qual aleacutem de pensar nas implicaccedilotildees para o
ensino elas tambeacutem correlacionaram os elementos da teoria da atividade com alguns dos
elementos do contexto de produccedilatildeo
16
Elementos estruturais da Teoria da Atividade Implicaccedilotildees para o ensino da escrita
DESEJO Elemento afetivo que desencadeia a necessidade da
escrita eacute desencadeado tanto pelo processo de
mediaccedilatildeo do professor com o aluno como tambeacutem
pela motivaccedilatildeo exercida por exemplo para a
abertura de um novo projetoatividade de
escritaNatildeo s relaciona a nenhum dos elementos
previstos pelo contexto de produccedilatildeo jaacute que eacute de
ordem emocional
NECESSIDADE Envolve o uso especiacutefico da escrita numa
determinada situaccedilatildeo de produccedilatildeo para atender a
uma praacutetica social especiacutefica escrever para publicar
um livro de contos escrever para produzir uma
reivindicaccedilatildeo escrever para solicitar alguma coisa
escrever para participar de um concurso escrever
um cardaacutepio para uma festa etc
MOTIVO Envolve o sentido da escrita para a crianccedila de modo
a convencecirc-la a escrever por meio de atividades que
oportunizem correlacionar a escrita com as emoccedilotildees
da crianccedila e tambeacutem com seus provaacuteveis
interlocutores pois satildeo eles que vinculam sentido
agravequilo que a crianccedila escreve (BAKTHIN 2003)
Uma dessas atividades que podem vincular a escrita
ao motivo pode ser a divulgaccedilatildeo da produccedilatildeo final
ao puacuteblico por exemplo compor um fabulaacuterio para
ser divulgado numa amostra de livros da escola
produzir cartazes para divulgaccedilatildeo de festas na escola
e afixaacute-los em estabelecimentos comerciais elaborar
notiacutecias para o jornal da escola ou para a raacutedio da
escola produzir livros de histoacuterias infantis para
crianccedilas menores elaborar uma seccedilatildeo de
classificados divulgando serviccedilos prestados ou
produtos vendidos por familiares e amigos do bairro
etcEntendemos que o fato da divulgaccedilatildeo do olhar
do outro como afirmam BakthinVoloshinov (1992)
satildeo essenciais para instaurar uma escrita
significativa
FINALIDADE Envolve o objetivo especiacutefico da escrita na situaccedilatildeo
de interaccedilatildeo para quecirc escrever Para solicitar
alguma coisa para colocar a minha opiniatildeo para
17
contar uma anedota etcA finalidade ou o objetivo
da produccedilatildeo deve vir claramente expressa no
comando de escrita a ser entregue para o aluno
ACcedilAtildeO Envolve a definiccedilatildeo do gecircnero textual que a crianccedila
iraacute escrever um resumo uma notiacutecia uma carta do
leitor um anuacutencio de classificado um comentaacuterio
um conto de fadas etc
OPERACcedilOtildeES (modos de execuccedilatildeo de uma catildeo) Envolve uma seacuterie de tarefas anteriores aacute produccedilatildeo
escritaoral do gecircnero com vistas aacute apropriaccedilatildeo dos
elementos caracterizadores dos gecircneros (o tema a
estrutura composiconal e o estilo) e levando em
conta as fases da escrita planejamento revisatildeo e
reescrita
Quadro 4 Elementos da Teoria da Atividade e sua implicaccedilatildeo na escrita
O exerciacutecio acima evidenciou-nos que mesmo sem ainda terem a noccedilatildeo sobre as capacidades
de linguagem a serem desenvolvidas no quadro do ISD os professores por meio das
operaccedilotildees mentais que o exerciacutecio exigia (anaacutelise comparaccedilatildeo abstraccedilatildeo siacutentese
exemplificaccedilatildeo) conseguem fazer relaccedilotildees coerentes entre os elementos da Teoria da
Atividade com implicaccedilotildees para o ensino da escrita Por exemplo relacionam a necessidade
elemento desencadeador da atividade com a praacutetica social como elemento desencadeador da
atividade de produccedilatildeo que no quadro do ISD eacute o elemento que possibilita alavancar por
exemplo as sequecircncias didaacuteticas (cfDOLZ SCHNEUWLY 2004)
Tambeacutem associam de forma interessante o motivo com um dos elementos do contexto de
produccedilatildeo o interlocutor reforccedilando a importacircncia desse elemento como tambeacutem aspecto
motivacional no ato da escrita Da mesma forma o tema e seu tratamento exaustivo
(BAKTHIN 1992) eacute explorado na associaccedilatildeo entre esse elemento e a accedilatildeo na medida em que
ao definir um determinado gecircnero estaacute implicado aiacute a realizaccedilatildeo desse elemento bakthiniano
Por fim nas operaccedilotildees fica claro que os professores conseguiram perceber que para se
escrever um determinado gecircnero seraacute preciso decompocirc-lo em uma seacuterie de atividades nas
quais se mobilizaratildeo o tema a estrutura composicional e o estilo
Na sequumlecircncia apoacutes a discussatildeo do quadro e com o intuito de promover mais um evento para
reforccedilar o processo de internalizaccedilatildeo agora numa atividade praacutetica solicitamos que cada
duplatrio de professores elaborassem um planejamento de uma oficina de leituraproduccedilatildeo
textual (jaacute que nesse momento ainda desconheciam outros instrumentos proacuteprios do ISD
18
como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com
atividades de escrita
O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras
de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre
de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um
suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito
com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar
jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da
Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que
tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos
previstos em cada etapa
A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma
oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas
as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs
refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo
4ordf seacuteries 12 ha
SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR
DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola
NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da
escola
MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral
FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na
escola e em casa
ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de
humor)
2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais
da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha
Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar
o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e
definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim
19
de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as
seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para
quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social
2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura
ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a
organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos
e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio
anterior
1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras
MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a
importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar
tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto
1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que
envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido
com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e
trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido
1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em
grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na
escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira
contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade
anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os
interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma
lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira
escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4
quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos
das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -
elaboraccedilatildeo dos balotildees
2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar
ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a
releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com
mediaccedilatildeo do professora
2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)
apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o
tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as
formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo
Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais
O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro
momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de
operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no
20
interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo
(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-
problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)
No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo
finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do
contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o
reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro
elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar
um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de
humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as
crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees
estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo
Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993
DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos
que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo
para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio
Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na
visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia
coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a
reescrita
Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos
como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser
compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado
pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua
transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o
processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica
para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos
da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do
Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se
coerentes a essas bases teoacutericas
Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e
certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e
conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que
soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um
21
pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)
talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados
5Consideraccedilotildees finais
O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo
de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da
Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de
apropriaccedilatildeo
a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade
interna
b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do
sujeito para que se concretize
c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por
elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e
as operaccedilotildees
d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem
mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como
propulsores do desenvolvimento
e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito
d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a
definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc
Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores
sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer
um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa
instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o
desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as
praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um
pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do
curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em
torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais
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propoacutesito Este artigo estaacute dividido em quatro partes a) apresentaccedilatildeo dos pressupostos da
teoria Histoacuterico-Cultual especialmente no que diz respeito ao processo de apropriaccedilatildeo dos
mediadores culturais jaacute que ela eacute a base da teoria da atividade de Leontiev b) apresentaccedilatildeo
dos pressupostos da Teoria da Atividade c) Ilustraccedilatildeo do processo de apropriaccedilatildeo por meio da
anaacutelise de uma atividade teoacuterica e um planejamento de uma oficina do gecircnero tira de humor
jornaliacutestica d) conclusotildees finais
2 A abordagem Histoacuterico-Cultural e a formaccedilatildeo de conceitos
Vygotsky muito embora natildeo tenha preocupaccedilotildees concernentes ao ensino da escrita trouxe
importantes contribuiccedilotildees para a educaccedilatildeo e eacute considerado o fundador da Teoria Histoacuterico-
Cultural (corrente epistemoloacutegica que serve de base para a teoria da atividade de Leontiev) a
qual recebe esse nome por reforccedilar o papel da atividade soacutecio-histoacuterica e coletiva na formaccedilatildeo
das funccedilotildees mentais superiores dentre elas a escrita
Uma das teses fundantes do trabalho de Vygotsky (1979 1988 2001) eacute o caraacuteter social e
histoacuterico dos chamados Processo Psicoloacutegicos SuperioresPPS (como a atenccedilatildeo a memoacuteria a
vontade a escrita dentre outros) mediados por instrumentos dentre os quais os instrumentos
materiaisfiacutesicos e os signos assumem papeacuteis determinantes para o desenvolvimento psiacutequico
Na perspectiva vygotskiana portanto a atividade do indiviacuteduo sobre o objeto natildeo eacute direta
mas eacute uma atividade mediada por instrumentos
Sendo objetos sociais os instrumentos carregam consigo a cultura material as operaccedilotildees de
trabalho historicamente ali elaboradas o que implica na visatildeo de Leontiev (2004) natildeo apenas
no uso do instrumento mas da apropriaccedilatildeo de suas operaccedilotildees mentais e fiacutesicas ambas
promotoras do desenvolvimento humano
Enquanto signos os instrumentos simboacutelicos agem como reguladores da atividade
psicoloacutegica similarmente ao papel de um instrumento material de trabalho e formam o
conteuacutedo da atividade mental do homem sobre o mundo (controlam as accedilotildees internas e
psicoloacutegicas) jaacute os instrumentos materiais auxiliam o sujeito em accedilotildees concretas Ambos satildeo
denominados por Vygotsky de mediadores culturais (VYGOTSKY 19791988 2000 2001)
Satildeo os instrumentos mediadores que aleacutem de possibilitar o desenvolvimento dos PPS
auxiliam no processo de internalizaccedilatildeo de um determinado conhecimento pela crianccedilaaluno
Vygotsky (1988 p 63) denomina de internalizaccedilatildeo a ldquoreconstruccedilatildeo interna de uma operaccedilatildeo
externardquo em um processo que caminha de fora para dentro do social para o individual
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Um processo interpessoal eacute transformado num processo intrapessoal Todas as funccedilotildees no desenvolvimento da crianccedila aparecem duas vezes primeiro no niacutevel social e depois no niacutevel individual primeiro entre pessoas (interpsicoloacutegica) e depois no interior da crianccedila (intrapsicoloacutegica) (VYGOTSKY 1988 p 64)
A internalizaccedilatildeo nesse sentido envolve
(a) a reconstruccedilatildeo de uma operaccedilatildeo que se inicia do mundo externo para o interno
(b) a passagem do processo interpessoal para o intrapessoal que sugere a organizaccedilatildeo interior
dessa reconstruccedilatildeo pelo sujeito
(c) a transformaccedilatildeo de processos interpessoais para intrapessoais
Para que este uacuteltimo aspecto ocorra Vygotsky (op cit p64) ressalta que seraacute necessaacuterio uma
ldquolonga seacuteries de eventos ocorridos ao longo do desenvolvimentordquo Isso quer dizer que quando
pensamos no processo de apropriaccedilatildeo de um conhecimento que eacute novo temos que levar em
conta a necessidade de um tempo para amadurecer na qual a atividade psicoloacutegica do sujeito
vai sendo ressignificada reconstruiacuteda por meio do uso de novos instrumentos novos eventos
e tambeacutem por meio de tensotildees e de reformulaccedilotildees mentais que lhe satildeo inerentes Assim o
caminho da internalizaccedilatildeo para Vygotsky seguiria trecircs fases
Reconstruccedilatildeo interna de uma operaccedilatildeo externa
Reorganizaccedilatildeo interna pelo sujeito
Transformaccedilatildeo dessa reorganizaccedilatildeo pelo sujeito
Quadro 1 Fases do processo de internalizaccedilatildeo (VYGOTSKY 1988)
Para que a internalizaccedilatildeo efetivamente se realize o processo de mediaccedilatildeo precisa ser
compreendido Para tanto eacute necessaacuterio que nos debrucemos um pouco mais sobre a extensatildeo
desse conceito jaacute que tem sido comum que grande parte dos professores entendam a
mediaccedilatildeo apenas como sinocircnimo de ajuda aos alunos nas atividades escolares por pessoas
mais experientes Todavia embora natildeo descaracterize totalmente esses aspectos focados
apenas em questotildees interpessoais na perspectiva da Teoria Histoacuterico-Cultural o conceito de
mediaccedilatildeo vai mais aleacutem
Sforni (2008) esclarece que essas visotildees senso comum do termo esquecem de um dos
principais elementos da escola de Vygotsky - o conhecimento
De fato agraves interaccedilotildees sociais eacute dado lugar de destaque na escola de Vygotsky mas o
seu valor no contexto escolar natildeo estaacute restrito agrave relaccedilatildeo sujeito-sujeito mas no
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objeto que se presentifica nessa relaccedilatildeo ndash o conhecimento Em outras palavras eacute
somente na relaccedilatildeo entre sujeito-conhecimento-sujeito que a mediaccedilatildeo se torna um
conceito fundamental ao desenvolvimento humano
Assim eacute na apropriaccedilatildeo dos mediadores culturais possibilitada principalmente pelos
conteuacutedos e conhecimentos cientiacuteficos objetivados pelas geraccedilotildees precedentes eacute que torna
possiacutevel o desenvolvimento do sujeito (LEONTIEV 2004 VYGOSTSKY 2001) Para
Vygotsky (2000p 290) ldquoa tomada de consciecircncia passa pelos portotildees do conhecimento
cientiacuteficordquo e por isso mesmo o conhecimento nessa perspectiva eacute uma produccedilatildeo que emerge
apenas em situaccedilotildees de ensino devidamente planejadas Nem todo ensino nessa visatildeo gera
desenvolvimento mas sim o ldquobom ensinordquo aquele que inserido em uma ldquocorreta organizaccedilatildeo
da aprendizagem da crianccedila conduz ao desenvolvimento mentalrdquo (VYGOTSKY 1991 p15)
Se pensarmos nos pressupostos da teoria Histoacuterico-Cultural entendemos que o ensino
promotor do desenvolvimento depende do quecirc se adquire (conhecimento cientiacutefico) e como se
adquire (processo de ensino e de apropriaccedilatildeo pelo aluno) Os conceitos cientiacuteficos seriam
assim instrumentos do pensamento e a apropriaccedilatildeo a condiccedilatildeo para a sua formaccedilatildeo
Para o psicoacutelogo russo o conceito eacute um ato real e complexo de pensamento que natildeo pode ser
apreendido por simples ldquomemorizaccedilatildeordquo(VYGOTSKY 2000) Exatamente por isso ele nos
adverte que os conceitos natildeo devem ser apreendidos pela crianccedilaaluno de forma pronta e
direta tal como a escola comumente realiza pois dessa maneira traduzem-se em pedagogias
esteacutereis em outras palavras ldquoo ensino direto de conceitos sempre se mostra impossiacutevel e
pedagogicamente esteacuterilrdquo(opcitp247) porque os conceitos cientiacuteficos para serem
internalizados e natildeo memorizados de forma mecaniscista soacute se constituem por meio de uma
imensa tensatildeo entre o objeto e a atividade na qual ele se insere
A aprendizagem de conceitos tanto para Vygotsky (2000) como para Leontiev (2004) natildeo se
resume agrave mera definiccedilatildeo e apresentaccedilatildeo das caracteriacutesticas essenciais dos objetos como
normalmente eacute realizada em sala de aula Analogamente ao pensarmos na questatildeo do gecircneros
como objeto de ensino tal como preconiza os Paracircmetros Curriculares Nacionais (BRASIL
1998) um ldquobomrdquo ensino natildeo se resumiria a apresentar por exemplo o gecircnero carta do leitor e
expor sistematicamente as suas caracteriacutesticas para os alunos e muito menos a gramaticalizaacute-
lo
Usando dessa metodologia de caraacuteter transmissiva e geneacuterica a aprendizagem de conceitos
que eacute intriacutenseca aos mais diversos objetos de ensino a exemplo dos gecircneros textuais natildeo
envolve o domiacutenio de meacutetodos e formas gerais da atividade mental que segundo Davydov
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(1982 1988) satildeo o grande legado da Teoria da Atividade ou seja o desenvolvimento de
conceitos soacute eacute produtivo quando coloca a crianccedilaaluno em atividade mentalA apropriaccedilatildeo
portanto soacute ocorre dentre desse movimento
Davydov (1982) esclarece que em determinadas situaccedilotildees a comparaccedilatildeo dos atributos
externos de um determinado fenocircmeno pode ateacute ser suficiente para resolver alguns problemas
praacuteticos poreacutem quase sempre natildeo datildeo conta de revelar aspectos de sua profundeza de suas
relaccedilotildees internas Exatamente por isso a grande operaccedilatildeo mental realizada por
estudantesprofessores no trato com o conhecimento empiacuterico se resume na comparaccedilatildeo que
daacute conta normalmente apenas do reconhecimento dos traccedilos gerais do objeto
Complementado essa ideacuteia Hedegaard (1996) baseando-se nos estudos de Vygotsky
descreve que o uso do pensamento empiacuterico eacute marcado por um percurso fixo e pelas seguintes
operaccedilotildees mentais
Observaccedilatildeo Comparaccedilatildeo Categorizaccedilatildeo Memorizaccedilatildeo
No processo de observaccedilatildeo o indiviacuteduo parte de uma situaccedilatildeo concreta Depois disso eacute confrontado
com pelos menos dois elementos que exigem que ele busque seus traccedilos semelhantes eou diferentes
para apreender as caracteriacutesticas mais gerais de um objeto e posteriormente memorizaacute-las Nesses
casos esclarece o autor natildeo haacute espaccedilo para que o alunoprofessor reflita sobra as causas e os
efeitos do conhecimento sobre os seus conflitos sobre sua origem o que colaboraria para a
adequada compreensatildeo do fenocircmeno e para a correta compreensatildeo do objeto Por isso mesmo
uma tarefa pautada apenas no conhecimento empiacuterico limita a aprendizagem e se reduz a
captar o que eacute aparente o que eacute externo e leva a crianccedilaaluno apenas a saber classificar
fenocircmenos nominalizaacute-los e dar suas caracteriacutesticas mais observaacuteveis (Davydov 1982)
Menchiskaia (1969) ao estudar a formaccedilatildeo e o desenvolvimento do pensamento esclarece
que a comparaccedilatildeo e a definiccedilatildeo satildeo processos mentais importantes para o aluno nos
processos iniciais de apropriaccedilatildeo do conhecimento pois a primeira tambeacutem inclui outros
processos mentais como a anaacutelise a generalizaccedilatildeo e a siacutentese A anaacutelise caracteriza-se como
decomposiccedilatildeo mental do todo em partes A generalizaccedilatildeo inclui a separaccedilatildeo mental do geral
nos objetos e fenocircmenos da realidade por isso a comparaccedilatildeo dos objetos e fenocircmenos acaba
sendo uma premissa do processo de generalizaccedilatildeo Jaacute a sistematizaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo dos
objetos e fenocircmenos inclui sua distribuiccedilatildeo mental em grupos e subgrupos segundo a
semelhanccedila e diferenccedila que existe entre eles Esses processos portanto satildeo interessantes para
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que pensemos por exemplo em categorias de exerciacutecios para a transposiccedilatildeo didaacutetica dos
gecircneros textuais pois levam a crianccedila a atividades mentais diferenciadas
Para chegar agrave sistematizaccedilatildeo a crianccedilaaluno se depara com outro processo mental a
abstraccedilatildeo Menchiskaia (op cit) no entanto explica que quando o aluno generaliza sobre
objetos ou fenocircmenos separa o que eacute geral do particular acaba natildeo dando importacircncia para
outras qualidades que os diferenciam entre si tem somente em conta aquilo que destacou
como geral Esse processo eacute a abstraccedilatildeo Por exemplo uma crianccedila pode pensar sobre a cor
parecida de determinados objetos e desprezar suas formas e funccedilotildees Por isso o processo de
abstraccedilatildeo e de generalizaccedilatildeo estatildeo intimamente ligados Assim para que uma correta
compreensatildeo do fenocircmeno seja realizada eacute necessaacuterio juntar agrave comparaccedilatildeo outros processos
mentais como a compreensatildeo a definiccedilatildeo o estabelecimento de causas e efeitos a soluccedilatildeo de
problemas a formulaccedilatildeo de outros exemplos dentre de um mesmo sistema dentre outras
Completando essa discussatildeo Rubstov (1996) explica que o desenvolvimento do
conhecimento cientiacutefico (a) eacute elaborado por meio de uma anaacutelise do papel e da funccedilatildeo de
uma certa relaccedilatildeo entre as coisas no interior de um sistema (b) representa as relaccedilotildees entre as
propriedades dos objetos e suas ligaccedilotildees internas (c) estabelece relaccedilatildeo entre o geral e o
particular (d) concretiza-s por meio da transformaccedilatildeo do saber em uma teoria desenvolvida
por meio da deduccedilatildeo e uma explicaccedilatildeo das manifestaccedilotildees concretas do sistema (e) apresenta-
se por diferentes modos de atividade intelectual e de operaccedilotildees mentais (f) utiliza-se de
diferentes sistemas semioacuteticos
Para os autores da THC portanto o conhecimento sensorial ou espontacircneo eacute a origem
indispensaacutevel para a formulaccedilatildeo de conceitos (DAVYDOV 1982 VYGOTSKY 1988 2000
2001) no entanto seraacute preciso revelar a essecircncia desse objeto que historicamente se
reconstitui atraveacutes do estudo do seu real funcionamento por meio a diversificaccedilatildeo d diversas
operaccedilotildees mentais
A ideacuteia de real funcionamento pensando nos gecircneros textuais remete agrave ideacuteia de praacuteticas
sociais situadas Ou seja natildeo se ensina um gecircnero pelo gecircnero mas se ensina um gecircnero para
que o aluno se aproprie de uma determinada praacutetica social para que use aquele gecircnero dentro
de uma situaccedilatildeo especiacutefica de comunicaccedilatildeo (NASCIMENTO 2007 ROJO 2005 LOPES-
ROSSI 2002)
Isso eacute possiacutevel a partir de um ensino voltado para a apropriaccedilatildeo adequada do conhecimento
teoacuterico objetivado nesse objeto o qual oportuniza agrave crianccedilasujeito entrar em contato com
diferentes modos de atividade intelectual com diferentes sistemas semioacuteticos e operaccedilotildees
mentais para aleacutem de representaccedilotildees meramente sensoriaisAleacutem de envolver processos como
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a comparaccedilatildeo a anaacutelise a siacutentese a generalizaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de problema a
crianccedilasujeito ao estar inserida num ensino adequado voltado para a atividade toma
consciecircncia do real uso e valor do conceito aleacutem de conseguir mobilizaacute-lo em diferentes
tarefas (Davydov 1982) Exatamente por isso entender a noccedilatildeo de atividade eacute outro aspecto
para entendermos o processo de apropriaccedilatildeo
3 A contribuiccedilatildeo da teoria da atividade para o processo de apropriaccedilatildeo
A teoria da atividade (TA) desenvolvida por Leontiev e seguidores (Rubstein Luria e
Davydov) eacute considerada uma continuidade das ideacuteias de Vygotsky tido um dos precursores
da teoria psicoloacutegica da atividade Segundo Sforni (2004 p86)
As investigaccedilotildees de Leontiev voltaram-se para estudo da estrutura da
atividade externa e de seu viacutenculo com os processos psiacutequicos Seus estudos
revelaram que as atividades externa e interna tecircm estruturas idecircnticas e
mais que a atividade psiacutequica interna representa uma atividade material
externa transformada o que evidencia a unidade entra atividade e psiquismo
Ao comentar o processo de evoluccedilatildeo do homem Leontiev (2004) destaca que as
caracteriacutesticas humanas satildeo desenvolvidas pela apropriaccedilatildeo da cultura material e intelectual
transmitida de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo Isso quer dizer que natildeo nos relacionamos diretamente com o
mundo mas temos uma relaccedilatildeo que eacute mediada pelo conhecimento objetivado pelas geraccedilatildeo
que nos antecederam por intermeacutedio dos instrumentos simboacutelicos (signos) que proporcionam
nosso desenvolvimento mental O processo de mediaccedilatildeo portanto nessa concepccedilatildeo eacute um
meio de chegarmos agrave apropriaccedilatildeo dos mediadores culturais entendidos aqui tambeacutem como os
conhecimentos cientiacuteficos objetivados nos mais diversos instrumentos
Por intermeacutedio desses mediadores eacute que podemos pensar em desenvolvimento do psiquismo
da crianccedila (e tambeacutem do adulto) Ao se apropriar da linguagem enquanto mediadora cultural e
de outras ferramentas a princiacutepio fiacutesicas (como objetos o jogo o brinquedo) a crianccedila aos
poucos incorpora todo o desenvolvimento intelectual objetivado nesses elementos
(VYGOTSKY 1981 p 137)
Quando chega ao processo de escolarizaccedilatildeo novas ferramentas satildeo apresentadas para as
crianccedilas Se pensarmos no ensino da escrita nas seacuteries iniciais quais satildeo os textos que tecircm
ainda predominado Que tipo de instrumentos elas tecircm agrave disposiccedilatildeo para o desenvolvimento
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da escrita A resposta eacute simples e velha conhecida no campo educacional as modalidades
retoacutericas (descriccedilatildeo dissertaccedilatildeo e principalmente a narraccedilatildeo) prevalecem como possiacuteveis
instrumentos de desenvolvimentos da escrita
Mas se nos voltarmos para a teoria Histoacuterico-Cultural e pensarmos em termos de cultura
material de heranccedila intelectual entendemos que as atividades humanas se desenvolveram por
meio da linguagem Ora essas atividades foram se multiplicando e se diversificando em cada
esfera da comunicaccedilatildeo humana (no cotidiano na literatura na religiatildeo no comeacutercio e mais
recentemente na miacutedia dentre outras) Em cada uma dessas esferas a comunicaccedilatildeo entre os
parceiros da interaccedilatildeo constituiu diferentes praacuteticas sociais que se materializaram e se
materializam ininterruptamente por meio dos gecircneros textuais (BAKTHIN 2003)
Essa organizaccedilatildeo das sociedades por praacuteticas sociais eacute diferente em cada eacutepoca histoacuterica em
cada lugar em cada cultura Por isso mesmo essas praacuteticas modificam-se outras se extinguem
e algumas novas surgem Os gecircneros textuais nesse sentido satildeo materializaccedilotildees de uma
determinada praacutetica social que por sua vez eacute dinacircmica e histoacuterica Veja-se por exemplo a
praacutetica social ldquomandar um recadordquoDependendo dos parceiros da interaccedilatildeo e da esfera de
circulaccedilatildeo poderiacuteamos fazer isso utilizando diferentes gecircneros por um bilhete (se fosse da
esfera familiar) por uma carta formal (esfera institucional) por um e-mail (esfera comercial)
Por isso mesmo entendemos que na medida em que os professores trabalham de forma
predominante com os textos narrativos ou as modalidades retoacutericas aleacutem de natildeo levarem em
conta todo esse legado intelectual produzido pela humanidade natildeo conseguem promover o
letramento dessa crianccedila no futuro (cf DIONIacuteSIO 2005) ou os multiletramentos os
letramentos multissemioacuteticos e os letramentos multimeios1 (cf ROJO 2007)
Por essas razotildees (e outras) eacute que os documentos oficiais como os Paracircmetros Curriculares
Nacionais (BRASIL 1998) tecircm insistido o trabalho com os diferentes gecircneros textuais
Poreacutem natildeo devemos nos seduzir apenas pelas prescriccedilotildees ou por modismos Pelo que jaacute
expusemostodo trabalho com um determinado objeto teoacuterico (seja o gecircnero ou outro) exige
conhecimento cientiacutefico do professor acerca do funcionamento dos gecircneros em suas mais
variadas esferas de circulaccedilatildeo sem o qual ele natildeo conseguiraacute promover na crianccedila nem a
apropriaccedilatildeo do gecircnero e nem o desenvolvimento da escrita
1 Os primeiros (multiletramentos) se referem ao trabalho com as muacuteltiplas esferas sociais nas quais os gecircneros se inscrevem tais como a jornaliacutestica a religiosa a juriacutedica a poliacutetica e natildeo apenas a literaacuteria como tem sido frequumlente na escola Os segundos (letramentos multissemioacuteticos) requerem que a escola trabalhe natildeo apenas com a linguagem verbal mas tambeacutem com a linguagem sonora imageacutetica visual musical jaacute que a TV a Internet satildeo veiacuteculos repletos de textos que se utilizam dessas formas de expressatildeoNo que concerne aos letramentos multimeios a autora considera aqueles gerados pelo contato com os mais diversos suportes de informaccedilatildeo que a sociedade disponibiliza entendidos como a TV o raacutedio o cinema a Internet o jornal impresso etc
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Como vimos na seccedilatildeo anterior o processo de apropriaccedilatildeo implica em se colocar o sujeito
dentro de uma atividade conceito esse retomado pelo ISD mas cuja origem se daacute de forma
mais destacada na obra de Leontiev (20012004) No niacutevel individual a atividade eacute entendida
como uma forma de agir do sujeito direcionada a um objetoNo plano coletivo a atividade
define-se como
() aqueles processos que realizando as relaccedilotildees do homem como o mundo
satisfazem uma necessidade especial correspondente a ela () Por atividade
designamos os processos psicologicamente caracterizados por aquilo que o processa
como um todo se dirige (isto eacute objeto) coincidindo sempre com o objetivo que
estimula o sujeito a executar essa atividade isto eacute o motivo (LEONTIEV 2001
p315)
As atividades humanas para Leontiev (2004) satildeo consideradas como formadoras das relaccedilotildees
do sujeito com o mundo dirigidas por motivos por fins a serem alcanccedilados A ideacuteia de
atividade envolve entatildeo a noccedilatildeo de que o homem orienta-se por objetivos agindo de forma
intencional por accedilotildees planejadas
O autor daacute relevacircncia inicialmente agrave atividade coletiva em conjunto na medida em que o
ambiente sociocultural pode desencadear motivos para a realizaccedilatildeo de novas accedilotildees do sujeito
que por sua vez exigiratildeo novas operaccedilotildees as quais desenvolveratildeo os processos psiacutequicos
superioresOs componentes desse movimento da atividade propostos por Leontiev (2001) satildeo
necessidade- motivo- finalidade- condiccedilotildees para se obter a finalidade
Dentro dessa concepccedilatildeo a atividade eacute formada pela seguinte estrutura geral
Necessidade Motivo Objetivos Condiccedilotildees
Atividade
Accedilotildees Operaccedilotildees
Quadro 2 Estrutura geral da atividade adaptada de Leontiev (2001 2004)
A necessidade eacute o fator que desencadeia a atividade eacute ela que motiva o sujeito concretamente
a ter objetivos e realizar as accedilotildees (SFORNI 2004) Ela eacute um componente tatildeo importante que
Sforni (p97) acrescenta ldquonem todo processo eacute uma atividade mas somente aquele que eacute
movido por uma necessidaderdquoObviamente ao pensarmos no ensino da escrita devemos levar
em conta que a necessidade eacute um componente importante
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E o que leva uma crianccedila a produzir um texto Certamente natildeo deveria ser o fato de cumprir
uma tarefa ou preencher o tempo da sala mas a necessidade da crianccedila escrever vincula-se ao
motivo a uma relaccedilatildeo com esse objeto que vai aleacutem da razatildeo envolvendo aspectos tambeacutem
de ordem afetiva Se ela natildeo vecirc sentido naquilo que realiza logo natildeo torna consciente o que
escreve e faz e se natildeo tem consciecircncia sobre as accedilotildees que realiza natildeo eacute possiacutevel qualificaacute-las
de atividade mas apenas de uma tarefa de uma obrigaccedilatildeo escolarO motivo eacute justamente o
componente mais afetivo da teoria da afetividade Vincula-se agraves emoccedilotildees do sujeito e
relaciona-se ao sentido da atividade
A finalidade tem a ver com aquilo que se pretende de forma mais particular naquela atividade
poderiacuteamos associaacute-la ao objetivo Para a realizaccedilatildeo desse objetivo seratildeo necessaacuterias as
condiccedilotildees os meios para alcanccedilaacute-lo por intermeacutedio das accedilotildees e das operaccedilotildeesA accedilatildeo eacute o
processo cuja o motivo natildeo coincide com seu objeto mas pertence aacute atividade
Leontiev (2004) ilustra essa afirmaccedilatildeo ao explicar que a atividade de ler um livro para apenas
passar numa prova natildeo eacute uma atividade mas uma accedilatildeo porque ler o livro por ler natildeo eacute um
objetivo forte que estimula a accedilatildeo do sujeito Poreacutem a accedilatildeo pode se transformar em atividade
quando passa a ter um motivo para o sujeito No exemplo dado se o aluno comeccedila a ler e a
leitura acaba por envolvecirc-lo por alguma razatildeo o motivo da atividade desloca-se
transformando-se a accedilatildeo em uma atividade
Uma accedilatildeo pode ser realizada de diferentes maneiras designadas por Leontiev de operaccedilotildees
as quais consistem no modo de execuccedilatildeo de uma determinada tarefa que pode ser variadoAs
operaccedilotildees particularizam um determinado objeto e revelam suas partes intriacutensecas daiacute serem
elementos fundamentais para a apropriaccedilatildeo As accedilotildees realizadas por indiviacuteduo no interior de
uma atividade transformam-se em operaccedilotildees e estas mais tarde em haacutebitos e habilidades
Quando isso ocorre saem da esfera dos processo conscientes e passam a ocupar um lugar
inferior na estrutura da atividade
Todavia ocupar lsquoum lugar inferiorrsquo natildeo significa simplificar o estatuto da operaccedilatildeo ao
contraacuterio significa afirmar que houve um processo de apropriaccedilatildeo que agora torna-se
consciente e que em tornando-se consciente deixa livre o pensamento para se incumbir de
novas accedilotildees e novas operaccedilotildees agora de caraacuteter mais elevadoA ideacuteia eacute que uma atividade
coloca a crianccedila em determinada accedilatildeo que por sua vez lhe exige operaccedilotildees para executaacute-la
Ao apropriar-se dessas operaccedilotildees a crianccedila deve ser exposta a novas accedilotildees e
consequentemente a novas operaccedilotildees de caraacuteter mais elevado a fim de que seus processos
mentais estejam em constante desenvolvimento conforme ilustra o quadro abaixo
12
xxx
Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa
Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa
Atividade Accedilatildeo Operaccedilatildeo
Quadro 3 Movimento da aprendizagem na Teoria da Atividade com base em Sforni (2004)
Esse movimento revela para Leontiev o processo ininterrupto de desenvolvimento do sujeito
Para Sforni (2004 p104) esse processo revela o momento da aprendizagem poreacutem natildeo eacute
natural precisa ser mediado por algueacutem mais experiente o que reforccedila a ideacuteia de que a
mediaccedilatildeo tal como jaacute sublinhamos nos estudos vygtskianos eacute outro compontente
fundamental do processo de apropriaccedilatildeo
Todo esse contexto nos leva a pensar novamente sobre a repeticcedilatildeo sistemaacutetica de 1ordf a 4ordf
seacuterie da escrita de narrativas escolaresSe pela teoria da atividade a crianccedila precisa estar
exposta a novas accedilotildees e a novas operaccedilotildees quais conteuacutedos satildeo avanccedilados de seacuterie para
seacuterie se existe a repeticcedilatildeo sistemaacutetica principalmente da narrativa escolar baseada no
modelo aristoteacutelico Se percebemos que as crianccedilas jaacute dominam esse gecircnero escolar por que
natildeo avanccedilar com novos gecircneros ou em ficando nesse gecircnero com novas operaccedilotildees que
mobilizaratildeo novos conteuacutedos Por exemplo em se pensando em gecircneros que se utilizam da
sequumlecircncia narrativa como predominante por que natildeo trabalhar com narrativas de enigmas ou
narrativas de terror que traratildeo novas variaccedilotildees e novos esquemas de organizaccedilatildeo para serem
apropriados pelas crianccedilas
Completando o quadro teoacuterico da TA Davydov (1998) concorda com Leontiev que a
estrutura da atividade seja composta de necessidades tarefas accedilotildees e operaccedilotildees poreacutem
acrescenta um novo componente ndash o desejo ndashjaacute que para ele as emoccedilotildees satildeo inseparaacuteveis da
necessidade (a emoccedilatildeo seria a base para todas as tarefas que o homem se propotildee a fazer) eacute o
desejo que provoca uma necessidade entatildeo a funccedilatildeo do professor seria a de pensar em como
criar desejos para a aprendizagem para que estes provoquem uma necessidade e iniciem o
processo de atividade
Para Libacircneo (2004) esse novo componente deixa claro no campo edcacional ao viacutenculo
entre afetividade e cogniccedilatildeo As atividades humans estatildeo para o autor impregnadas de
13
sentido subjetivo as quais propuosionam nosso agir tanto pensando na esfera escolar como
na esfera do nosso cotidiano Nesse sentido precisamos levar em conta que o processode
apropriaccedilatildeo depende tambeacutem de aspectos afetivos (cf DAVYDOV 1998)
A questatildeo do desejo pode ser comparada agrave questatildeo da voliccedilatildeo discutida por Vygotsky
(2001)Como vimos na seccedilatildeo anterior a relaccedilatildeo do sujeito com o objeto eacute uma relaccedilatildeo
mediada pelo outro atraveacutes da linguagem (e das ferramentas) Para Vygotsky (19882001) eacute a
linguagem que possibilita a constituiccedilatildeo do pensamento da consciecircncia da vontade isto eacute
das funccedilotildees psicoloacutegicas superiores Nesse sentido soacute tomamos consciecircncia individual a
partir primeiro das interaccedilotildees sociais ou da relaccedilatildeo com o outro Normalmente no caso da
crianccedila esse outro eacute algueacutem afetivamente proacutexima a ela Eacute o aspecto emocional envolvido
nessa relaccedilatildeo que motiva e impulsiona a crianccedila a agir Nesse sentido temos que a vontade eacute
uma funccedilatildeo psicoloacutegica superior e a sua construccedilatildeo depende de uma atividade que eacute portanto
de natureza social
Todas essas categorias na perspectiva da Teoria da Atividade implicam que se coloque a
crianccedila em uma trabalho inicialmente coletivo para posteriormente ser individual o que
remete agrave importacircncia de se desenvolver na sala de aula aleacutem das produccedilotildees individuais as
produccedilotildees coletivas De qualquer modo mesmo natildeo sendo um campo epistemoloacutegico voltado
para os gecircneros textuais eacute possiacutevel percebermos as razotildees de Bronckart (2003 2006) ter
utilizado dessa fonte no Interacionismo Sociodiscursivo jaacute que as noccedilotildees de atividade e da
accedilatildeo natildeo soacute regulam os objetivos dos indiviacuteduos nas diversas interaccedilotildees sociais como
tambeacutem satildeo importantes elementos para pensarmos em como gerar um conhecimento que seja
significativo e dessa forma seja apreendido pela crianccedilaaluno
4 Ilustrando o trabalho com a formaccedilatildeo de professores de seacuteries iniciais
As duas atividades que seratildeo aqui delineadas decorreram de trecircs de um total de seis etapas de
um curso de formaccedilatildeo envolvendo o tema gecircneros textuais e ensino ministrado para 15
professores de uma escola da rede puacuteblica do noroeste do Paranaacute por duas professoras
formadoras (das quais fizemos parte) e estagiaacuterias do curso de Letras no segundo semestre de
2007 As trecircs etapas iniciais tiveram como toacutepicos (a) pressupostos baacutesicos da Abordagem
Histoacuterico-Social e da Teoria da Atividade b) pressupostos gerais sobre gecircneros textuais a
partir de Bakthin e o Interacionismo Social dentre os quais foram destacados os aspectos
caracterizadores do gecircnero o tema a estrutura composicional e o estilo (BAKTHIN 1992) c)
contexto de produccedilatildeo no ISD (as capacidades de linguagem o instrumento sequumlecircncia didaacutetica
14
ficaram para outras sessotildees) d) transposiccedilatildeo dessas teorias para o ensino da escrita e)
planejamento de aulasoficinasPor questotildees de delimitaccedilatildeo enfocaremos neste artigo apenas
as subetapas ldquo drdquo e ldquoerdquo
As subetapas assinaladas envolveram duas atividades para os professores uma de cunho
teoacuterico e outra de cunho praacutetico A atividade de cunho teoacuterico ocorreu apoacutes as discussotildees
teoacutericas e foi apresentada da seguinte maneira
Em grupo elabore um quadro no qual vocecirc correlacione as categorias da Teoria da Atividade
aos elementos do contexto de produccedilatildeo vistos em Bakthin (1992) e em Bronckart (2003)
Embora no processo inicial de escolarizaccedilatildeo a comparaccedilatildeo como vimos eacute uma operaccedilatildeo
mental que pode caracterizar o pensamento empiacuterico aqui neste exerciacutecio ela natildeo eacute suficiente
Para que os professores realizassem a atividade precisariam entender primeiro cada uma das
teorias seus elementos para depois confrontaacute-los Isso exigiu que utilizassem diversas
operaccedilotildees mentais ressaltadas por Menchiskaia (1969) como a anaacutelise a abstraccedilatildeo a siacutentese
a comparaccedilatildeo a sistematizaccedilatildeo a definiccedilatildeo e a compreensatildeo necessaacuterias ao processo de
apropriaccedilatildeo
Aleacutem disso para a realizaccedilatildeo desse exerciacutecio procuramos respeitar os elementos proacuteprios da
Teoria da Atividade os professores que estavam no curso de formaccedilatildeo solicitaram o curso
portanto partiram de uma necessidade para ali estarem Aleacutem disso tinham um motivo e uma
finalidade queriam buscar informaccedilotildees sobre a transposiccedilatildeo dos gecircneros textuais para
otimizarem o trabalho com as crianccedilas na sala de aula Sabiam que para alcanccedilar esse
propoacutesito teriam que realizar atividades de forma conjunta compostas de accedilotildees e operaccedilotildees
como essa da elaboraccedilatildeo do quadro o planejamento de uma oficina dentre outras que natildeo nos
interessam nesse momento
Eacute preciso tambeacutem esclarecer que o quadro que seraacute apresentado a seguir foi o resultado final
de um trabalho coletivo e mediado pelas formadoras Para chegarmos a sua versatildeo final
foram necessaacuterias trecircs refacccedilotildees numa clara demonstraccedilatildeo de que o processo de
internalizaccedilatildeo como assevera Vygotsky (1988) depende de uma longa seacuterie de eventos
Assim muito provavelmente esse momento representa apenas um dos eventos que os
professores tiveram para iniciar esse processo mas que para que ele se consolide necessitaratildeo
de outros
15
Ressaltamos que todas as operaccedilotildees mentais anteriormente colocadas no referencial teoacuterico
para o desenvolvimento e apropriaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico dependem para que se
coloque o sujeito em atividade dos processos de mediaccedilatildeo tambeacutem realizados pelo professor
(VYGOTSKY 2000 SFORNI 2004) No nosso caso um dos recursos que utilizamos para
conduzir o processo de apropriaccedilatildeo e que se mostrou bastante produtivo em nossas
intervenccedilotildees foi a devoluccedilatildeo de uma nova pergunta apoacutes uma duacutevida estabelecida pelos
professores Como no momento das discussotildees utilizamos o gecircnero exposiccedilatildeo oral buscamos
nessa estrateacutegia comentada por Carneiro (2009) como uma das quais o professor pode se
utilizar para provocar a reflexatildeo e por efeito a possiacutevel compreensatildeo como ilustra o exemplo
abaixo
Professora ()entatildeo o desejo me parece ser tambeacutem a atividade natildeo eacute
Formadora veja pense num exemplo se jaacute almocei mas de repente vejo numa
vitrine um delicioso doce teria um desejo ou uma necessidade por ele
Professora uhm pera aiacute eu natildeo tenho necessidade de come porque jaacute estou
satisfeita mas tenho desejo neacute o desejo eacute mais emocional eacute mais voltado ao prazer
e a necessidade eacute aquilo que eacute necessaacuterio fazerparece mais racional()
Formadora isso agora pense nessa analogia para o campo da escrita
Profesora taacute o desejo tem a ver com o sentimentoa questatildeo dos sentimentos da
crianccedila neacute a gente tem que criar um viacutenculo afetivo entre ela e atividade que vamos
dar e a necessidade eacute taacute mais na razatildeo acho que tem a ver com aquela questatildeo que
discutimos com as praacuteticas sociais que satildeo as necessidades reais que temos de nos
comunicar()
Percebemos que ao devolver a duacutevida em forma de pergunta acrescida com um exemplo de
senso comum a professora formadora provoca uma reflexatildeo na professora participante e
como efeito gera-se o entendimento do conceito antes motivo de duacutevida Claro estaacute que nem
sempre esse recurso conforme comprova Carneiro (opcit) consegue proporcionar a
compreensatildeo mas sem duacutevida eacute ma estrateacutegia interessante para o professor de forma
consciente utilizar em suas explicaccedilotildees
Apoacutes esse trabalho de cunho coletivo elaboramos com a participaccedilatildeo das professoras o
quadro abaixo (resultado de trecircs refacccedilotildees) no qual aleacutem de pensar nas implicaccedilotildees para o
ensino elas tambeacutem correlacionaram os elementos da teoria da atividade com alguns dos
elementos do contexto de produccedilatildeo
16
Elementos estruturais da Teoria da Atividade Implicaccedilotildees para o ensino da escrita
DESEJO Elemento afetivo que desencadeia a necessidade da
escrita eacute desencadeado tanto pelo processo de
mediaccedilatildeo do professor com o aluno como tambeacutem
pela motivaccedilatildeo exercida por exemplo para a
abertura de um novo projetoatividade de
escritaNatildeo s relaciona a nenhum dos elementos
previstos pelo contexto de produccedilatildeo jaacute que eacute de
ordem emocional
NECESSIDADE Envolve o uso especiacutefico da escrita numa
determinada situaccedilatildeo de produccedilatildeo para atender a
uma praacutetica social especiacutefica escrever para publicar
um livro de contos escrever para produzir uma
reivindicaccedilatildeo escrever para solicitar alguma coisa
escrever para participar de um concurso escrever
um cardaacutepio para uma festa etc
MOTIVO Envolve o sentido da escrita para a crianccedila de modo
a convencecirc-la a escrever por meio de atividades que
oportunizem correlacionar a escrita com as emoccedilotildees
da crianccedila e tambeacutem com seus provaacuteveis
interlocutores pois satildeo eles que vinculam sentido
agravequilo que a crianccedila escreve (BAKTHIN 2003)
Uma dessas atividades que podem vincular a escrita
ao motivo pode ser a divulgaccedilatildeo da produccedilatildeo final
ao puacuteblico por exemplo compor um fabulaacuterio para
ser divulgado numa amostra de livros da escola
produzir cartazes para divulgaccedilatildeo de festas na escola
e afixaacute-los em estabelecimentos comerciais elaborar
notiacutecias para o jornal da escola ou para a raacutedio da
escola produzir livros de histoacuterias infantis para
crianccedilas menores elaborar uma seccedilatildeo de
classificados divulgando serviccedilos prestados ou
produtos vendidos por familiares e amigos do bairro
etcEntendemos que o fato da divulgaccedilatildeo do olhar
do outro como afirmam BakthinVoloshinov (1992)
satildeo essenciais para instaurar uma escrita
significativa
FINALIDADE Envolve o objetivo especiacutefico da escrita na situaccedilatildeo
de interaccedilatildeo para quecirc escrever Para solicitar
alguma coisa para colocar a minha opiniatildeo para
17
contar uma anedota etcA finalidade ou o objetivo
da produccedilatildeo deve vir claramente expressa no
comando de escrita a ser entregue para o aluno
ACcedilAtildeO Envolve a definiccedilatildeo do gecircnero textual que a crianccedila
iraacute escrever um resumo uma notiacutecia uma carta do
leitor um anuacutencio de classificado um comentaacuterio
um conto de fadas etc
OPERACcedilOtildeES (modos de execuccedilatildeo de uma catildeo) Envolve uma seacuterie de tarefas anteriores aacute produccedilatildeo
escritaoral do gecircnero com vistas aacute apropriaccedilatildeo dos
elementos caracterizadores dos gecircneros (o tema a
estrutura composiconal e o estilo) e levando em
conta as fases da escrita planejamento revisatildeo e
reescrita
Quadro 4 Elementos da Teoria da Atividade e sua implicaccedilatildeo na escrita
O exerciacutecio acima evidenciou-nos que mesmo sem ainda terem a noccedilatildeo sobre as capacidades
de linguagem a serem desenvolvidas no quadro do ISD os professores por meio das
operaccedilotildees mentais que o exerciacutecio exigia (anaacutelise comparaccedilatildeo abstraccedilatildeo siacutentese
exemplificaccedilatildeo) conseguem fazer relaccedilotildees coerentes entre os elementos da Teoria da
Atividade com implicaccedilotildees para o ensino da escrita Por exemplo relacionam a necessidade
elemento desencadeador da atividade com a praacutetica social como elemento desencadeador da
atividade de produccedilatildeo que no quadro do ISD eacute o elemento que possibilita alavancar por
exemplo as sequecircncias didaacuteticas (cfDOLZ SCHNEUWLY 2004)
Tambeacutem associam de forma interessante o motivo com um dos elementos do contexto de
produccedilatildeo o interlocutor reforccedilando a importacircncia desse elemento como tambeacutem aspecto
motivacional no ato da escrita Da mesma forma o tema e seu tratamento exaustivo
(BAKTHIN 1992) eacute explorado na associaccedilatildeo entre esse elemento e a accedilatildeo na medida em que
ao definir um determinado gecircnero estaacute implicado aiacute a realizaccedilatildeo desse elemento bakthiniano
Por fim nas operaccedilotildees fica claro que os professores conseguiram perceber que para se
escrever um determinado gecircnero seraacute preciso decompocirc-lo em uma seacuterie de atividades nas
quais se mobilizaratildeo o tema a estrutura composicional e o estilo
Na sequumlecircncia apoacutes a discussatildeo do quadro e com o intuito de promover mais um evento para
reforccedilar o processo de internalizaccedilatildeo agora numa atividade praacutetica solicitamos que cada
duplatrio de professores elaborassem um planejamento de uma oficina de leituraproduccedilatildeo
textual (jaacute que nesse momento ainda desconheciam outros instrumentos proacuteprios do ISD
18
como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com
atividades de escrita
O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras
de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre
de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um
suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito
com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar
jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da
Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que
tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos
previstos em cada etapa
A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma
oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas
as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs
refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo
4ordf seacuteries 12 ha
SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR
DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola
NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da
escola
MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral
FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na
escola e em casa
ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de
humor)
2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais
da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha
Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar
o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e
definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim
19
de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as
seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para
quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social
2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura
ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a
organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos
e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio
anterior
1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras
MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a
importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar
tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto
1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que
envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido
com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e
trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido
1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em
grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na
escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira
contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade
anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os
interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma
lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira
escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4
quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos
das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -
elaboraccedilatildeo dos balotildees
2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar
ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a
releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com
mediaccedilatildeo do professora
2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)
apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o
tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as
formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo
Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais
O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro
momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de
operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no
20
interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo
(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-
problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)
No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo
finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do
contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o
reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro
elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar
um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de
humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as
crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees
estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo
Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993
DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos
que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo
para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio
Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na
visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia
coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a
reescrita
Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos
como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser
compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado
pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua
transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o
processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica
para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos
da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do
Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se
coerentes a essas bases teoacutericas
Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e
certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e
conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que
soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um
21
pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)
talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados
5Consideraccedilotildees finais
O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo
de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da
Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de
apropriaccedilatildeo
a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade
interna
b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do
sujeito para que se concretize
c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por
elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e
as operaccedilotildees
d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem
mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como
propulsores do desenvolvimento
e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito
d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a
definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc
Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores
sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer
um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa
instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o
desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as
praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um
pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do
curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em
torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais
22
6 Referecircncias
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Liacutengua Portuguesa Brasiacutelia Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental 1998
BRONCKART J-P Atividade de linguagem texto e discursos por um interacionismo
soacutecio-discursivo Trad De Anna Raquel Machado Peacutericles Cunha Satildeo Paulo EDUC 2003
_________________ Atividade de linguagem discurso e desenvolvimento humano
Organizado por Anna Raquel Machado e Maria de Lourdes Meirelles MatencioCampinas-SP
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Um processo interpessoal eacute transformado num processo intrapessoal Todas as funccedilotildees no desenvolvimento da crianccedila aparecem duas vezes primeiro no niacutevel social e depois no niacutevel individual primeiro entre pessoas (interpsicoloacutegica) e depois no interior da crianccedila (intrapsicoloacutegica) (VYGOTSKY 1988 p 64)
A internalizaccedilatildeo nesse sentido envolve
(a) a reconstruccedilatildeo de uma operaccedilatildeo que se inicia do mundo externo para o interno
(b) a passagem do processo interpessoal para o intrapessoal que sugere a organizaccedilatildeo interior
dessa reconstruccedilatildeo pelo sujeito
(c) a transformaccedilatildeo de processos interpessoais para intrapessoais
Para que este uacuteltimo aspecto ocorra Vygotsky (op cit p64) ressalta que seraacute necessaacuterio uma
ldquolonga seacuteries de eventos ocorridos ao longo do desenvolvimentordquo Isso quer dizer que quando
pensamos no processo de apropriaccedilatildeo de um conhecimento que eacute novo temos que levar em
conta a necessidade de um tempo para amadurecer na qual a atividade psicoloacutegica do sujeito
vai sendo ressignificada reconstruiacuteda por meio do uso de novos instrumentos novos eventos
e tambeacutem por meio de tensotildees e de reformulaccedilotildees mentais que lhe satildeo inerentes Assim o
caminho da internalizaccedilatildeo para Vygotsky seguiria trecircs fases
Reconstruccedilatildeo interna de uma operaccedilatildeo externa
Reorganizaccedilatildeo interna pelo sujeito
Transformaccedilatildeo dessa reorganizaccedilatildeo pelo sujeito
Quadro 1 Fases do processo de internalizaccedilatildeo (VYGOTSKY 1988)
Para que a internalizaccedilatildeo efetivamente se realize o processo de mediaccedilatildeo precisa ser
compreendido Para tanto eacute necessaacuterio que nos debrucemos um pouco mais sobre a extensatildeo
desse conceito jaacute que tem sido comum que grande parte dos professores entendam a
mediaccedilatildeo apenas como sinocircnimo de ajuda aos alunos nas atividades escolares por pessoas
mais experientes Todavia embora natildeo descaracterize totalmente esses aspectos focados
apenas em questotildees interpessoais na perspectiva da Teoria Histoacuterico-Cultural o conceito de
mediaccedilatildeo vai mais aleacutem
Sforni (2008) esclarece que essas visotildees senso comum do termo esquecem de um dos
principais elementos da escola de Vygotsky - o conhecimento
De fato agraves interaccedilotildees sociais eacute dado lugar de destaque na escola de Vygotsky mas o
seu valor no contexto escolar natildeo estaacute restrito agrave relaccedilatildeo sujeito-sujeito mas no
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objeto que se presentifica nessa relaccedilatildeo ndash o conhecimento Em outras palavras eacute
somente na relaccedilatildeo entre sujeito-conhecimento-sujeito que a mediaccedilatildeo se torna um
conceito fundamental ao desenvolvimento humano
Assim eacute na apropriaccedilatildeo dos mediadores culturais possibilitada principalmente pelos
conteuacutedos e conhecimentos cientiacuteficos objetivados pelas geraccedilotildees precedentes eacute que torna
possiacutevel o desenvolvimento do sujeito (LEONTIEV 2004 VYGOSTSKY 2001) Para
Vygotsky (2000p 290) ldquoa tomada de consciecircncia passa pelos portotildees do conhecimento
cientiacuteficordquo e por isso mesmo o conhecimento nessa perspectiva eacute uma produccedilatildeo que emerge
apenas em situaccedilotildees de ensino devidamente planejadas Nem todo ensino nessa visatildeo gera
desenvolvimento mas sim o ldquobom ensinordquo aquele que inserido em uma ldquocorreta organizaccedilatildeo
da aprendizagem da crianccedila conduz ao desenvolvimento mentalrdquo (VYGOTSKY 1991 p15)
Se pensarmos nos pressupostos da teoria Histoacuterico-Cultural entendemos que o ensino
promotor do desenvolvimento depende do quecirc se adquire (conhecimento cientiacutefico) e como se
adquire (processo de ensino e de apropriaccedilatildeo pelo aluno) Os conceitos cientiacuteficos seriam
assim instrumentos do pensamento e a apropriaccedilatildeo a condiccedilatildeo para a sua formaccedilatildeo
Para o psicoacutelogo russo o conceito eacute um ato real e complexo de pensamento que natildeo pode ser
apreendido por simples ldquomemorizaccedilatildeordquo(VYGOTSKY 2000) Exatamente por isso ele nos
adverte que os conceitos natildeo devem ser apreendidos pela crianccedilaaluno de forma pronta e
direta tal como a escola comumente realiza pois dessa maneira traduzem-se em pedagogias
esteacutereis em outras palavras ldquoo ensino direto de conceitos sempre se mostra impossiacutevel e
pedagogicamente esteacuterilrdquo(opcitp247) porque os conceitos cientiacuteficos para serem
internalizados e natildeo memorizados de forma mecaniscista soacute se constituem por meio de uma
imensa tensatildeo entre o objeto e a atividade na qual ele se insere
A aprendizagem de conceitos tanto para Vygotsky (2000) como para Leontiev (2004) natildeo se
resume agrave mera definiccedilatildeo e apresentaccedilatildeo das caracteriacutesticas essenciais dos objetos como
normalmente eacute realizada em sala de aula Analogamente ao pensarmos na questatildeo do gecircneros
como objeto de ensino tal como preconiza os Paracircmetros Curriculares Nacionais (BRASIL
1998) um ldquobomrdquo ensino natildeo se resumiria a apresentar por exemplo o gecircnero carta do leitor e
expor sistematicamente as suas caracteriacutesticas para os alunos e muito menos a gramaticalizaacute-
lo
Usando dessa metodologia de caraacuteter transmissiva e geneacuterica a aprendizagem de conceitos
que eacute intriacutenseca aos mais diversos objetos de ensino a exemplo dos gecircneros textuais natildeo
envolve o domiacutenio de meacutetodos e formas gerais da atividade mental que segundo Davydov
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(1982 1988) satildeo o grande legado da Teoria da Atividade ou seja o desenvolvimento de
conceitos soacute eacute produtivo quando coloca a crianccedilaaluno em atividade mentalA apropriaccedilatildeo
portanto soacute ocorre dentre desse movimento
Davydov (1982) esclarece que em determinadas situaccedilotildees a comparaccedilatildeo dos atributos
externos de um determinado fenocircmeno pode ateacute ser suficiente para resolver alguns problemas
praacuteticos poreacutem quase sempre natildeo datildeo conta de revelar aspectos de sua profundeza de suas
relaccedilotildees internas Exatamente por isso a grande operaccedilatildeo mental realizada por
estudantesprofessores no trato com o conhecimento empiacuterico se resume na comparaccedilatildeo que
daacute conta normalmente apenas do reconhecimento dos traccedilos gerais do objeto
Complementado essa ideacuteia Hedegaard (1996) baseando-se nos estudos de Vygotsky
descreve que o uso do pensamento empiacuterico eacute marcado por um percurso fixo e pelas seguintes
operaccedilotildees mentais
Observaccedilatildeo Comparaccedilatildeo Categorizaccedilatildeo Memorizaccedilatildeo
No processo de observaccedilatildeo o indiviacuteduo parte de uma situaccedilatildeo concreta Depois disso eacute confrontado
com pelos menos dois elementos que exigem que ele busque seus traccedilos semelhantes eou diferentes
para apreender as caracteriacutesticas mais gerais de um objeto e posteriormente memorizaacute-las Nesses
casos esclarece o autor natildeo haacute espaccedilo para que o alunoprofessor reflita sobra as causas e os
efeitos do conhecimento sobre os seus conflitos sobre sua origem o que colaboraria para a
adequada compreensatildeo do fenocircmeno e para a correta compreensatildeo do objeto Por isso mesmo
uma tarefa pautada apenas no conhecimento empiacuterico limita a aprendizagem e se reduz a
captar o que eacute aparente o que eacute externo e leva a crianccedilaaluno apenas a saber classificar
fenocircmenos nominalizaacute-los e dar suas caracteriacutesticas mais observaacuteveis (Davydov 1982)
Menchiskaia (1969) ao estudar a formaccedilatildeo e o desenvolvimento do pensamento esclarece
que a comparaccedilatildeo e a definiccedilatildeo satildeo processos mentais importantes para o aluno nos
processos iniciais de apropriaccedilatildeo do conhecimento pois a primeira tambeacutem inclui outros
processos mentais como a anaacutelise a generalizaccedilatildeo e a siacutentese A anaacutelise caracteriza-se como
decomposiccedilatildeo mental do todo em partes A generalizaccedilatildeo inclui a separaccedilatildeo mental do geral
nos objetos e fenocircmenos da realidade por isso a comparaccedilatildeo dos objetos e fenocircmenos acaba
sendo uma premissa do processo de generalizaccedilatildeo Jaacute a sistematizaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo dos
objetos e fenocircmenos inclui sua distribuiccedilatildeo mental em grupos e subgrupos segundo a
semelhanccedila e diferenccedila que existe entre eles Esses processos portanto satildeo interessantes para
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que pensemos por exemplo em categorias de exerciacutecios para a transposiccedilatildeo didaacutetica dos
gecircneros textuais pois levam a crianccedila a atividades mentais diferenciadas
Para chegar agrave sistematizaccedilatildeo a crianccedilaaluno se depara com outro processo mental a
abstraccedilatildeo Menchiskaia (op cit) no entanto explica que quando o aluno generaliza sobre
objetos ou fenocircmenos separa o que eacute geral do particular acaba natildeo dando importacircncia para
outras qualidades que os diferenciam entre si tem somente em conta aquilo que destacou
como geral Esse processo eacute a abstraccedilatildeo Por exemplo uma crianccedila pode pensar sobre a cor
parecida de determinados objetos e desprezar suas formas e funccedilotildees Por isso o processo de
abstraccedilatildeo e de generalizaccedilatildeo estatildeo intimamente ligados Assim para que uma correta
compreensatildeo do fenocircmeno seja realizada eacute necessaacuterio juntar agrave comparaccedilatildeo outros processos
mentais como a compreensatildeo a definiccedilatildeo o estabelecimento de causas e efeitos a soluccedilatildeo de
problemas a formulaccedilatildeo de outros exemplos dentre de um mesmo sistema dentre outras
Completando essa discussatildeo Rubstov (1996) explica que o desenvolvimento do
conhecimento cientiacutefico (a) eacute elaborado por meio de uma anaacutelise do papel e da funccedilatildeo de
uma certa relaccedilatildeo entre as coisas no interior de um sistema (b) representa as relaccedilotildees entre as
propriedades dos objetos e suas ligaccedilotildees internas (c) estabelece relaccedilatildeo entre o geral e o
particular (d) concretiza-s por meio da transformaccedilatildeo do saber em uma teoria desenvolvida
por meio da deduccedilatildeo e uma explicaccedilatildeo das manifestaccedilotildees concretas do sistema (e) apresenta-
se por diferentes modos de atividade intelectual e de operaccedilotildees mentais (f) utiliza-se de
diferentes sistemas semioacuteticos
Para os autores da THC portanto o conhecimento sensorial ou espontacircneo eacute a origem
indispensaacutevel para a formulaccedilatildeo de conceitos (DAVYDOV 1982 VYGOTSKY 1988 2000
2001) no entanto seraacute preciso revelar a essecircncia desse objeto que historicamente se
reconstitui atraveacutes do estudo do seu real funcionamento por meio a diversificaccedilatildeo d diversas
operaccedilotildees mentais
A ideacuteia de real funcionamento pensando nos gecircneros textuais remete agrave ideacuteia de praacuteticas
sociais situadas Ou seja natildeo se ensina um gecircnero pelo gecircnero mas se ensina um gecircnero para
que o aluno se aproprie de uma determinada praacutetica social para que use aquele gecircnero dentro
de uma situaccedilatildeo especiacutefica de comunicaccedilatildeo (NASCIMENTO 2007 ROJO 2005 LOPES-
ROSSI 2002)
Isso eacute possiacutevel a partir de um ensino voltado para a apropriaccedilatildeo adequada do conhecimento
teoacuterico objetivado nesse objeto o qual oportuniza agrave crianccedilasujeito entrar em contato com
diferentes modos de atividade intelectual com diferentes sistemas semioacuteticos e operaccedilotildees
mentais para aleacutem de representaccedilotildees meramente sensoriaisAleacutem de envolver processos como
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a comparaccedilatildeo a anaacutelise a siacutentese a generalizaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de problema a
crianccedilasujeito ao estar inserida num ensino adequado voltado para a atividade toma
consciecircncia do real uso e valor do conceito aleacutem de conseguir mobilizaacute-lo em diferentes
tarefas (Davydov 1982) Exatamente por isso entender a noccedilatildeo de atividade eacute outro aspecto
para entendermos o processo de apropriaccedilatildeo
3 A contribuiccedilatildeo da teoria da atividade para o processo de apropriaccedilatildeo
A teoria da atividade (TA) desenvolvida por Leontiev e seguidores (Rubstein Luria e
Davydov) eacute considerada uma continuidade das ideacuteias de Vygotsky tido um dos precursores
da teoria psicoloacutegica da atividade Segundo Sforni (2004 p86)
As investigaccedilotildees de Leontiev voltaram-se para estudo da estrutura da
atividade externa e de seu viacutenculo com os processos psiacutequicos Seus estudos
revelaram que as atividades externa e interna tecircm estruturas idecircnticas e
mais que a atividade psiacutequica interna representa uma atividade material
externa transformada o que evidencia a unidade entra atividade e psiquismo
Ao comentar o processo de evoluccedilatildeo do homem Leontiev (2004) destaca que as
caracteriacutesticas humanas satildeo desenvolvidas pela apropriaccedilatildeo da cultura material e intelectual
transmitida de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo Isso quer dizer que natildeo nos relacionamos diretamente com o
mundo mas temos uma relaccedilatildeo que eacute mediada pelo conhecimento objetivado pelas geraccedilatildeo
que nos antecederam por intermeacutedio dos instrumentos simboacutelicos (signos) que proporcionam
nosso desenvolvimento mental O processo de mediaccedilatildeo portanto nessa concepccedilatildeo eacute um
meio de chegarmos agrave apropriaccedilatildeo dos mediadores culturais entendidos aqui tambeacutem como os
conhecimentos cientiacuteficos objetivados nos mais diversos instrumentos
Por intermeacutedio desses mediadores eacute que podemos pensar em desenvolvimento do psiquismo
da crianccedila (e tambeacutem do adulto) Ao se apropriar da linguagem enquanto mediadora cultural e
de outras ferramentas a princiacutepio fiacutesicas (como objetos o jogo o brinquedo) a crianccedila aos
poucos incorpora todo o desenvolvimento intelectual objetivado nesses elementos
(VYGOTSKY 1981 p 137)
Quando chega ao processo de escolarizaccedilatildeo novas ferramentas satildeo apresentadas para as
crianccedilas Se pensarmos no ensino da escrita nas seacuteries iniciais quais satildeo os textos que tecircm
ainda predominado Que tipo de instrumentos elas tecircm agrave disposiccedilatildeo para o desenvolvimento
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da escrita A resposta eacute simples e velha conhecida no campo educacional as modalidades
retoacutericas (descriccedilatildeo dissertaccedilatildeo e principalmente a narraccedilatildeo) prevalecem como possiacuteveis
instrumentos de desenvolvimentos da escrita
Mas se nos voltarmos para a teoria Histoacuterico-Cultural e pensarmos em termos de cultura
material de heranccedila intelectual entendemos que as atividades humanas se desenvolveram por
meio da linguagem Ora essas atividades foram se multiplicando e se diversificando em cada
esfera da comunicaccedilatildeo humana (no cotidiano na literatura na religiatildeo no comeacutercio e mais
recentemente na miacutedia dentre outras) Em cada uma dessas esferas a comunicaccedilatildeo entre os
parceiros da interaccedilatildeo constituiu diferentes praacuteticas sociais que se materializaram e se
materializam ininterruptamente por meio dos gecircneros textuais (BAKTHIN 2003)
Essa organizaccedilatildeo das sociedades por praacuteticas sociais eacute diferente em cada eacutepoca histoacuterica em
cada lugar em cada cultura Por isso mesmo essas praacuteticas modificam-se outras se extinguem
e algumas novas surgem Os gecircneros textuais nesse sentido satildeo materializaccedilotildees de uma
determinada praacutetica social que por sua vez eacute dinacircmica e histoacuterica Veja-se por exemplo a
praacutetica social ldquomandar um recadordquoDependendo dos parceiros da interaccedilatildeo e da esfera de
circulaccedilatildeo poderiacuteamos fazer isso utilizando diferentes gecircneros por um bilhete (se fosse da
esfera familiar) por uma carta formal (esfera institucional) por um e-mail (esfera comercial)
Por isso mesmo entendemos que na medida em que os professores trabalham de forma
predominante com os textos narrativos ou as modalidades retoacutericas aleacutem de natildeo levarem em
conta todo esse legado intelectual produzido pela humanidade natildeo conseguem promover o
letramento dessa crianccedila no futuro (cf DIONIacuteSIO 2005) ou os multiletramentos os
letramentos multissemioacuteticos e os letramentos multimeios1 (cf ROJO 2007)
Por essas razotildees (e outras) eacute que os documentos oficiais como os Paracircmetros Curriculares
Nacionais (BRASIL 1998) tecircm insistido o trabalho com os diferentes gecircneros textuais
Poreacutem natildeo devemos nos seduzir apenas pelas prescriccedilotildees ou por modismos Pelo que jaacute
expusemostodo trabalho com um determinado objeto teoacuterico (seja o gecircnero ou outro) exige
conhecimento cientiacutefico do professor acerca do funcionamento dos gecircneros em suas mais
variadas esferas de circulaccedilatildeo sem o qual ele natildeo conseguiraacute promover na crianccedila nem a
apropriaccedilatildeo do gecircnero e nem o desenvolvimento da escrita
1 Os primeiros (multiletramentos) se referem ao trabalho com as muacuteltiplas esferas sociais nas quais os gecircneros se inscrevem tais como a jornaliacutestica a religiosa a juriacutedica a poliacutetica e natildeo apenas a literaacuteria como tem sido frequumlente na escola Os segundos (letramentos multissemioacuteticos) requerem que a escola trabalhe natildeo apenas com a linguagem verbal mas tambeacutem com a linguagem sonora imageacutetica visual musical jaacute que a TV a Internet satildeo veiacuteculos repletos de textos que se utilizam dessas formas de expressatildeoNo que concerne aos letramentos multimeios a autora considera aqueles gerados pelo contato com os mais diversos suportes de informaccedilatildeo que a sociedade disponibiliza entendidos como a TV o raacutedio o cinema a Internet o jornal impresso etc
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Como vimos na seccedilatildeo anterior o processo de apropriaccedilatildeo implica em se colocar o sujeito
dentro de uma atividade conceito esse retomado pelo ISD mas cuja origem se daacute de forma
mais destacada na obra de Leontiev (20012004) No niacutevel individual a atividade eacute entendida
como uma forma de agir do sujeito direcionada a um objetoNo plano coletivo a atividade
define-se como
() aqueles processos que realizando as relaccedilotildees do homem como o mundo
satisfazem uma necessidade especial correspondente a ela () Por atividade
designamos os processos psicologicamente caracterizados por aquilo que o processa
como um todo se dirige (isto eacute objeto) coincidindo sempre com o objetivo que
estimula o sujeito a executar essa atividade isto eacute o motivo (LEONTIEV 2001
p315)
As atividades humanas para Leontiev (2004) satildeo consideradas como formadoras das relaccedilotildees
do sujeito com o mundo dirigidas por motivos por fins a serem alcanccedilados A ideacuteia de
atividade envolve entatildeo a noccedilatildeo de que o homem orienta-se por objetivos agindo de forma
intencional por accedilotildees planejadas
O autor daacute relevacircncia inicialmente agrave atividade coletiva em conjunto na medida em que o
ambiente sociocultural pode desencadear motivos para a realizaccedilatildeo de novas accedilotildees do sujeito
que por sua vez exigiratildeo novas operaccedilotildees as quais desenvolveratildeo os processos psiacutequicos
superioresOs componentes desse movimento da atividade propostos por Leontiev (2001) satildeo
necessidade- motivo- finalidade- condiccedilotildees para se obter a finalidade
Dentro dessa concepccedilatildeo a atividade eacute formada pela seguinte estrutura geral
Necessidade Motivo Objetivos Condiccedilotildees
Atividade
Accedilotildees Operaccedilotildees
Quadro 2 Estrutura geral da atividade adaptada de Leontiev (2001 2004)
A necessidade eacute o fator que desencadeia a atividade eacute ela que motiva o sujeito concretamente
a ter objetivos e realizar as accedilotildees (SFORNI 2004) Ela eacute um componente tatildeo importante que
Sforni (p97) acrescenta ldquonem todo processo eacute uma atividade mas somente aquele que eacute
movido por uma necessidaderdquoObviamente ao pensarmos no ensino da escrita devemos levar
em conta que a necessidade eacute um componente importante
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E o que leva uma crianccedila a produzir um texto Certamente natildeo deveria ser o fato de cumprir
uma tarefa ou preencher o tempo da sala mas a necessidade da crianccedila escrever vincula-se ao
motivo a uma relaccedilatildeo com esse objeto que vai aleacutem da razatildeo envolvendo aspectos tambeacutem
de ordem afetiva Se ela natildeo vecirc sentido naquilo que realiza logo natildeo torna consciente o que
escreve e faz e se natildeo tem consciecircncia sobre as accedilotildees que realiza natildeo eacute possiacutevel qualificaacute-las
de atividade mas apenas de uma tarefa de uma obrigaccedilatildeo escolarO motivo eacute justamente o
componente mais afetivo da teoria da afetividade Vincula-se agraves emoccedilotildees do sujeito e
relaciona-se ao sentido da atividade
A finalidade tem a ver com aquilo que se pretende de forma mais particular naquela atividade
poderiacuteamos associaacute-la ao objetivo Para a realizaccedilatildeo desse objetivo seratildeo necessaacuterias as
condiccedilotildees os meios para alcanccedilaacute-lo por intermeacutedio das accedilotildees e das operaccedilotildeesA accedilatildeo eacute o
processo cuja o motivo natildeo coincide com seu objeto mas pertence aacute atividade
Leontiev (2004) ilustra essa afirmaccedilatildeo ao explicar que a atividade de ler um livro para apenas
passar numa prova natildeo eacute uma atividade mas uma accedilatildeo porque ler o livro por ler natildeo eacute um
objetivo forte que estimula a accedilatildeo do sujeito Poreacutem a accedilatildeo pode se transformar em atividade
quando passa a ter um motivo para o sujeito No exemplo dado se o aluno comeccedila a ler e a
leitura acaba por envolvecirc-lo por alguma razatildeo o motivo da atividade desloca-se
transformando-se a accedilatildeo em uma atividade
Uma accedilatildeo pode ser realizada de diferentes maneiras designadas por Leontiev de operaccedilotildees
as quais consistem no modo de execuccedilatildeo de uma determinada tarefa que pode ser variadoAs
operaccedilotildees particularizam um determinado objeto e revelam suas partes intriacutensecas daiacute serem
elementos fundamentais para a apropriaccedilatildeo As accedilotildees realizadas por indiviacuteduo no interior de
uma atividade transformam-se em operaccedilotildees e estas mais tarde em haacutebitos e habilidades
Quando isso ocorre saem da esfera dos processo conscientes e passam a ocupar um lugar
inferior na estrutura da atividade
Todavia ocupar lsquoum lugar inferiorrsquo natildeo significa simplificar o estatuto da operaccedilatildeo ao
contraacuterio significa afirmar que houve um processo de apropriaccedilatildeo que agora torna-se
consciente e que em tornando-se consciente deixa livre o pensamento para se incumbir de
novas accedilotildees e novas operaccedilotildees agora de caraacuteter mais elevadoA ideacuteia eacute que uma atividade
coloca a crianccedila em determinada accedilatildeo que por sua vez lhe exige operaccedilotildees para executaacute-la
Ao apropriar-se dessas operaccedilotildees a crianccedila deve ser exposta a novas accedilotildees e
consequentemente a novas operaccedilotildees de caraacuteter mais elevado a fim de que seus processos
mentais estejam em constante desenvolvimento conforme ilustra o quadro abaixo
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xxx
Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa
Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa
Atividade Accedilatildeo Operaccedilatildeo
Quadro 3 Movimento da aprendizagem na Teoria da Atividade com base em Sforni (2004)
Esse movimento revela para Leontiev o processo ininterrupto de desenvolvimento do sujeito
Para Sforni (2004 p104) esse processo revela o momento da aprendizagem poreacutem natildeo eacute
natural precisa ser mediado por algueacutem mais experiente o que reforccedila a ideacuteia de que a
mediaccedilatildeo tal como jaacute sublinhamos nos estudos vygtskianos eacute outro compontente
fundamental do processo de apropriaccedilatildeo
Todo esse contexto nos leva a pensar novamente sobre a repeticcedilatildeo sistemaacutetica de 1ordf a 4ordf
seacuterie da escrita de narrativas escolaresSe pela teoria da atividade a crianccedila precisa estar
exposta a novas accedilotildees e a novas operaccedilotildees quais conteuacutedos satildeo avanccedilados de seacuterie para
seacuterie se existe a repeticcedilatildeo sistemaacutetica principalmente da narrativa escolar baseada no
modelo aristoteacutelico Se percebemos que as crianccedilas jaacute dominam esse gecircnero escolar por que
natildeo avanccedilar com novos gecircneros ou em ficando nesse gecircnero com novas operaccedilotildees que
mobilizaratildeo novos conteuacutedos Por exemplo em se pensando em gecircneros que se utilizam da
sequumlecircncia narrativa como predominante por que natildeo trabalhar com narrativas de enigmas ou
narrativas de terror que traratildeo novas variaccedilotildees e novos esquemas de organizaccedilatildeo para serem
apropriados pelas crianccedilas
Completando o quadro teoacuterico da TA Davydov (1998) concorda com Leontiev que a
estrutura da atividade seja composta de necessidades tarefas accedilotildees e operaccedilotildees poreacutem
acrescenta um novo componente ndash o desejo ndashjaacute que para ele as emoccedilotildees satildeo inseparaacuteveis da
necessidade (a emoccedilatildeo seria a base para todas as tarefas que o homem se propotildee a fazer) eacute o
desejo que provoca uma necessidade entatildeo a funccedilatildeo do professor seria a de pensar em como
criar desejos para a aprendizagem para que estes provoquem uma necessidade e iniciem o
processo de atividade
Para Libacircneo (2004) esse novo componente deixa claro no campo edcacional ao viacutenculo
entre afetividade e cogniccedilatildeo As atividades humans estatildeo para o autor impregnadas de
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sentido subjetivo as quais propuosionam nosso agir tanto pensando na esfera escolar como
na esfera do nosso cotidiano Nesse sentido precisamos levar em conta que o processode
apropriaccedilatildeo depende tambeacutem de aspectos afetivos (cf DAVYDOV 1998)
A questatildeo do desejo pode ser comparada agrave questatildeo da voliccedilatildeo discutida por Vygotsky
(2001)Como vimos na seccedilatildeo anterior a relaccedilatildeo do sujeito com o objeto eacute uma relaccedilatildeo
mediada pelo outro atraveacutes da linguagem (e das ferramentas) Para Vygotsky (19882001) eacute a
linguagem que possibilita a constituiccedilatildeo do pensamento da consciecircncia da vontade isto eacute
das funccedilotildees psicoloacutegicas superiores Nesse sentido soacute tomamos consciecircncia individual a
partir primeiro das interaccedilotildees sociais ou da relaccedilatildeo com o outro Normalmente no caso da
crianccedila esse outro eacute algueacutem afetivamente proacutexima a ela Eacute o aspecto emocional envolvido
nessa relaccedilatildeo que motiva e impulsiona a crianccedila a agir Nesse sentido temos que a vontade eacute
uma funccedilatildeo psicoloacutegica superior e a sua construccedilatildeo depende de uma atividade que eacute portanto
de natureza social
Todas essas categorias na perspectiva da Teoria da Atividade implicam que se coloque a
crianccedila em uma trabalho inicialmente coletivo para posteriormente ser individual o que
remete agrave importacircncia de se desenvolver na sala de aula aleacutem das produccedilotildees individuais as
produccedilotildees coletivas De qualquer modo mesmo natildeo sendo um campo epistemoloacutegico voltado
para os gecircneros textuais eacute possiacutevel percebermos as razotildees de Bronckart (2003 2006) ter
utilizado dessa fonte no Interacionismo Sociodiscursivo jaacute que as noccedilotildees de atividade e da
accedilatildeo natildeo soacute regulam os objetivos dos indiviacuteduos nas diversas interaccedilotildees sociais como
tambeacutem satildeo importantes elementos para pensarmos em como gerar um conhecimento que seja
significativo e dessa forma seja apreendido pela crianccedilaaluno
4 Ilustrando o trabalho com a formaccedilatildeo de professores de seacuteries iniciais
As duas atividades que seratildeo aqui delineadas decorreram de trecircs de um total de seis etapas de
um curso de formaccedilatildeo envolvendo o tema gecircneros textuais e ensino ministrado para 15
professores de uma escola da rede puacuteblica do noroeste do Paranaacute por duas professoras
formadoras (das quais fizemos parte) e estagiaacuterias do curso de Letras no segundo semestre de
2007 As trecircs etapas iniciais tiveram como toacutepicos (a) pressupostos baacutesicos da Abordagem
Histoacuterico-Social e da Teoria da Atividade b) pressupostos gerais sobre gecircneros textuais a
partir de Bakthin e o Interacionismo Social dentre os quais foram destacados os aspectos
caracterizadores do gecircnero o tema a estrutura composicional e o estilo (BAKTHIN 1992) c)
contexto de produccedilatildeo no ISD (as capacidades de linguagem o instrumento sequumlecircncia didaacutetica
14
ficaram para outras sessotildees) d) transposiccedilatildeo dessas teorias para o ensino da escrita e)
planejamento de aulasoficinasPor questotildees de delimitaccedilatildeo enfocaremos neste artigo apenas
as subetapas ldquo drdquo e ldquoerdquo
As subetapas assinaladas envolveram duas atividades para os professores uma de cunho
teoacuterico e outra de cunho praacutetico A atividade de cunho teoacuterico ocorreu apoacutes as discussotildees
teoacutericas e foi apresentada da seguinte maneira
Em grupo elabore um quadro no qual vocecirc correlacione as categorias da Teoria da Atividade
aos elementos do contexto de produccedilatildeo vistos em Bakthin (1992) e em Bronckart (2003)
Embora no processo inicial de escolarizaccedilatildeo a comparaccedilatildeo como vimos eacute uma operaccedilatildeo
mental que pode caracterizar o pensamento empiacuterico aqui neste exerciacutecio ela natildeo eacute suficiente
Para que os professores realizassem a atividade precisariam entender primeiro cada uma das
teorias seus elementos para depois confrontaacute-los Isso exigiu que utilizassem diversas
operaccedilotildees mentais ressaltadas por Menchiskaia (1969) como a anaacutelise a abstraccedilatildeo a siacutentese
a comparaccedilatildeo a sistematizaccedilatildeo a definiccedilatildeo e a compreensatildeo necessaacuterias ao processo de
apropriaccedilatildeo
Aleacutem disso para a realizaccedilatildeo desse exerciacutecio procuramos respeitar os elementos proacuteprios da
Teoria da Atividade os professores que estavam no curso de formaccedilatildeo solicitaram o curso
portanto partiram de uma necessidade para ali estarem Aleacutem disso tinham um motivo e uma
finalidade queriam buscar informaccedilotildees sobre a transposiccedilatildeo dos gecircneros textuais para
otimizarem o trabalho com as crianccedilas na sala de aula Sabiam que para alcanccedilar esse
propoacutesito teriam que realizar atividades de forma conjunta compostas de accedilotildees e operaccedilotildees
como essa da elaboraccedilatildeo do quadro o planejamento de uma oficina dentre outras que natildeo nos
interessam nesse momento
Eacute preciso tambeacutem esclarecer que o quadro que seraacute apresentado a seguir foi o resultado final
de um trabalho coletivo e mediado pelas formadoras Para chegarmos a sua versatildeo final
foram necessaacuterias trecircs refacccedilotildees numa clara demonstraccedilatildeo de que o processo de
internalizaccedilatildeo como assevera Vygotsky (1988) depende de uma longa seacuterie de eventos
Assim muito provavelmente esse momento representa apenas um dos eventos que os
professores tiveram para iniciar esse processo mas que para que ele se consolide necessitaratildeo
de outros
15
Ressaltamos que todas as operaccedilotildees mentais anteriormente colocadas no referencial teoacuterico
para o desenvolvimento e apropriaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico dependem para que se
coloque o sujeito em atividade dos processos de mediaccedilatildeo tambeacutem realizados pelo professor
(VYGOTSKY 2000 SFORNI 2004) No nosso caso um dos recursos que utilizamos para
conduzir o processo de apropriaccedilatildeo e que se mostrou bastante produtivo em nossas
intervenccedilotildees foi a devoluccedilatildeo de uma nova pergunta apoacutes uma duacutevida estabelecida pelos
professores Como no momento das discussotildees utilizamos o gecircnero exposiccedilatildeo oral buscamos
nessa estrateacutegia comentada por Carneiro (2009) como uma das quais o professor pode se
utilizar para provocar a reflexatildeo e por efeito a possiacutevel compreensatildeo como ilustra o exemplo
abaixo
Professora ()entatildeo o desejo me parece ser tambeacutem a atividade natildeo eacute
Formadora veja pense num exemplo se jaacute almocei mas de repente vejo numa
vitrine um delicioso doce teria um desejo ou uma necessidade por ele
Professora uhm pera aiacute eu natildeo tenho necessidade de come porque jaacute estou
satisfeita mas tenho desejo neacute o desejo eacute mais emocional eacute mais voltado ao prazer
e a necessidade eacute aquilo que eacute necessaacuterio fazerparece mais racional()
Formadora isso agora pense nessa analogia para o campo da escrita
Profesora taacute o desejo tem a ver com o sentimentoa questatildeo dos sentimentos da
crianccedila neacute a gente tem que criar um viacutenculo afetivo entre ela e atividade que vamos
dar e a necessidade eacute taacute mais na razatildeo acho que tem a ver com aquela questatildeo que
discutimos com as praacuteticas sociais que satildeo as necessidades reais que temos de nos
comunicar()
Percebemos que ao devolver a duacutevida em forma de pergunta acrescida com um exemplo de
senso comum a professora formadora provoca uma reflexatildeo na professora participante e
como efeito gera-se o entendimento do conceito antes motivo de duacutevida Claro estaacute que nem
sempre esse recurso conforme comprova Carneiro (opcit) consegue proporcionar a
compreensatildeo mas sem duacutevida eacute ma estrateacutegia interessante para o professor de forma
consciente utilizar em suas explicaccedilotildees
Apoacutes esse trabalho de cunho coletivo elaboramos com a participaccedilatildeo das professoras o
quadro abaixo (resultado de trecircs refacccedilotildees) no qual aleacutem de pensar nas implicaccedilotildees para o
ensino elas tambeacutem correlacionaram os elementos da teoria da atividade com alguns dos
elementos do contexto de produccedilatildeo
16
Elementos estruturais da Teoria da Atividade Implicaccedilotildees para o ensino da escrita
DESEJO Elemento afetivo que desencadeia a necessidade da
escrita eacute desencadeado tanto pelo processo de
mediaccedilatildeo do professor com o aluno como tambeacutem
pela motivaccedilatildeo exercida por exemplo para a
abertura de um novo projetoatividade de
escritaNatildeo s relaciona a nenhum dos elementos
previstos pelo contexto de produccedilatildeo jaacute que eacute de
ordem emocional
NECESSIDADE Envolve o uso especiacutefico da escrita numa
determinada situaccedilatildeo de produccedilatildeo para atender a
uma praacutetica social especiacutefica escrever para publicar
um livro de contos escrever para produzir uma
reivindicaccedilatildeo escrever para solicitar alguma coisa
escrever para participar de um concurso escrever
um cardaacutepio para uma festa etc
MOTIVO Envolve o sentido da escrita para a crianccedila de modo
a convencecirc-la a escrever por meio de atividades que
oportunizem correlacionar a escrita com as emoccedilotildees
da crianccedila e tambeacutem com seus provaacuteveis
interlocutores pois satildeo eles que vinculam sentido
agravequilo que a crianccedila escreve (BAKTHIN 2003)
Uma dessas atividades que podem vincular a escrita
ao motivo pode ser a divulgaccedilatildeo da produccedilatildeo final
ao puacuteblico por exemplo compor um fabulaacuterio para
ser divulgado numa amostra de livros da escola
produzir cartazes para divulgaccedilatildeo de festas na escola
e afixaacute-los em estabelecimentos comerciais elaborar
notiacutecias para o jornal da escola ou para a raacutedio da
escola produzir livros de histoacuterias infantis para
crianccedilas menores elaborar uma seccedilatildeo de
classificados divulgando serviccedilos prestados ou
produtos vendidos por familiares e amigos do bairro
etcEntendemos que o fato da divulgaccedilatildeo do olhar
do outro como afirmam BakthinVoloshinov (1992)
satildeo essenciais para instaurar uma escrita
significativa
FINALIDADE Envolve o objetivo especiacutefico da escrita na situaccedilatildeo
de interaccedilatildeo para quecirc escrever Para solicitar
alguma coisa para colocar a minha opiniatildeo para
17
contar uma anedota etcA finalidade ou o objetivo
da produccedilatildeo deve vir claramente expressa no
comando de escrita a ser entregue para o aluno
ACcedilAtildeO Envolve a definiccedilatildeo do gecircnero textual que a crianccedila
iraacute escrever um resumo uma notiacutecia uma carta do
leitor um anuacutencio de classificado um comentaacuterio
um conto de fadas etc
OPERACcedilOtildeES (modos de execuccedilatildeo de uma catildeo) Envolve uma seacuterie de tarefas anteriores aacute produccedilatildeo
escritaoral do gecircnero com vistas aacute apropriaccedilatildeo dos
elementos caracterizadores dos gecircneros (o tema a
estrutura composiconal e o estilo) e levando em
conta as fases da escrita planejamento revisatildeo e
reescrita
Quadro 4 Elementos da Teoria da Atividade e sua implicaccedilatildeo na escrita
O exerciacutecio acima evidenciou-nos que mesmo sem ainda terem a noccedilatildeo sobre as capacidades
de linguagem a serem desenvolvidas no quadro do ISD os professores por meio das
operaccedilotildees mentais que o exerciacutecio exigia (anaacutelise comparaccedilatildeo abstraccedilatildeo siacutentese
exemplificaccedilatildeo) conseguem fazer relaccedilotildees coerentes entre os elementos da Teoria da
Atividade com implicaccedilotildees para o ensino da escrita Por exemplo relacionam a necessidade
elemento desencadeador da atividade com a praacutetica social como elemento desencadeador da
atividade de produccedilatildeo que no quadro do ISD eacute o elemento que possibilita alavancar por
exemplo as sequecircncias didaacuteticas (cfDOLZ SCHNEUWLY 2004)
Tambeacutem associam de forma interessante o motivo com um dos elementos do contexto de
produccedilatildeo o interlocutor reforccedilando a importacircncia desse elemento como tambeacutem aspecto
motivacional no ato da escrita Da mesma forma o tema e seu tratamento exaustivo
(BAKTHIN 1992) eacute explorado na associaccedilatildeo entre esse elemento e a accedilatildeo na medida em que
ao definir um determinado gecircnero estaacute implicado aiacute a realizaccedilatildeo desse elemento bakthiniano
Por fim nas operaccedilotildees fica claro que os professores conseguiram perceber que para se
escrever um determinado gecircnero seraacute preciso decompocirc-lo em uma seacuterie de atividades nas
quais se mobilizaratildeo o tema a estrutura composicional e o estilo
Na sequumlecircncia apoacutes a discussatildeo do quadro e com o intuito de promover mais um evento para
reforccedilar o processo de internalizaccedilatildeo agora numa atividade praacutetica solicitamos que cada
duplatrio de professores elaborassem um planejamento de uma oficina de leituraproduccedilatildeo
textual (jaacute que nesse momento ainda desconheciam outros instrumentos proacuteprios do ISD
18
como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com
atividades de escrita
O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras
de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre
de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um
suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito
com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar
jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da
Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que
tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos
previstos em cada etapa
A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma
oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas
as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs
refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo
4ordf seacuteries 12 ha
SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR
DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola
NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da
escola
MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral
FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na
escola e em casa
ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de
humor)
2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais
da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha
Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar
o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e
definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim
19
de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as
seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para
quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social
2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura
ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a
organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos
e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio
anterior
1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras
MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a
importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar
tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto
1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que
envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido
com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e
trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido
1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em
grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na
escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira
contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade
anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os
interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma
lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira
escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4
quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos
das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -
elaboraccedilatildeo dos balotildees
2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar
ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a
releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com
mediaccedilatildeo do professora
2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)
apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o
tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as
formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo
Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais
O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro
momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de
operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no
20
interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo
(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-
problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)
No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo
finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do
contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o
reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro
elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar
um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de
humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as
crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees
estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo
Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993
DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos
que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo
para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio
Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na
visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia
coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a
reescrita
Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos
como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser
compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado
pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua
transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o
processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica
para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos
da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do
Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se
coerentes a essas bases teoacutericas
Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e
certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e
conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que
soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um
21
pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)
talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados
5Consideraccedilotildees finais
O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo
de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da
Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de
apropriaccedilatildeo
a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade
interna
b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do
sujeito para que se concretize
c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por
elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e
as operaccedilotildees
d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem
mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como
propulsores do desenvolvimento
e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito
d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a
definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc
Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores
sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer
um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa
instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o
desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as
praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um
pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do
curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em
torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais
22
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_______________ Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade escolar In
LURIA AR LEONTIEV A VYGOTSKY LS (Orgs) Psicologia e Pedagogia bases
psicoloacutegicas da aprendizagem e do desenvolvimento Satildeo Paulo Moraes 1991
VYGOTSKY LS Estudo do desenvolvimento dos conceitos cientiacuteficos na infacircncia In A
construccedilatildeo do pensamento e da linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 p 241-394
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objeto que se presentifica nessa relaccedilatildeo ndash o conhecimento Em outras palavras eacute
somente na relaccedilatildeo entre sujeito-conhecimento-sujeito que a mediaccedilatildeo se torna um
conceito fundamental ao desenvolvimento humano
Assim eacute na apropriaccedilatildeo dos mediadores culturais possibilitada principalmente pelos
conteuacutedos e conhecimentos cientiacuteficos objetivados pelas geraccedilotildees precedentes eacute que torna
possiacutevel o desenvolvimento do sujeito (LEONTIEV 2004 VYGOSTSKY 2001) Para
Vygotsky (2000p 290) ldquoa tomada de consciecircncia passa pelos portotildees do conhecimento
cientiacuteficordquo e por isso mesmo o conhecimento nessa perspectiva eacute uma produccedilatildeo que emerge
apenas em situaccedilotildees de ensino devidamente planejadas Nem todo ensino nessa visatildeo gera
desenvolvimento mas sim o ldquobom ensinordquo aquele que inserido em uma ldquocorreta organizaccedilatildeo
da aprendizagem da crianccedila conduz ao desenvolvimento mentalrdquo (VYGOTSKY 1991 p15)
Se pensarmos nos pressupostos da teoria Histoacuterico-Cultural entendemos que o ensino
promotor do desenvolvimento depende do quecirc se adquire (conhecimento cientiacutefico) e como se
adquire (processo de ensino e de apropriaccedilatildeo pelo aluno) Os conceitos cientiacuteficos seriam
assim instrumentos do pensamento e a apropriaccedilatildeo a condiccedilatildeo para a sua formaccedilatildeo
Para o psicoacutelogo russo o conceito eacute um ato real e complexo de pensamento que natildeo pode ser
apreendido por simples ldquomemorizaccedilatildeordquo(VYGOTSKY 2000) Exatamente por isso ele nos
adverte que os conceitos natildeo devem ser apreendidos pela crianccedilaaluno de forma pronta e
direta tal como a escola comumente realiza pois dessa maneira traduzem-se em pedagogias
esteacutereis em outras palavras ldquoo ensino direto de conceitos sempre se mostra impossiacutevel e
pedagogicamente esteacuterilrdquo(opcitp247) porque os conceitos cientiacuteficos para serem
internalizados e natildeo memorizados de forma mecaniscista soacute se constituem por meio de uma
imensa tensatildeo entre o objeto e a atividade na qual ele se insere
A aprendizagem de conceitos tanto para Vygotsky (2000) como para Leontiev (2004) natildeo se
resume agrave mera definiccedilatildeo e apresentaccedilatildeo das caracteriacutesticas essenciais dos objetos como
normalmente eacute realizada em sala de aula Analogamente ao pensarmos na questatildeo do gecircneros
como objeto de ensino tal como preconiza os Paracircmetros Curriculares Nacionais (BRASIL
1998) um ldquobomrdquo ensino natildeo se resumiria a apresentar por exemplo o gecircnero carta do leitor e
expor sistematicamente as suas caracteriacutesticas para os alunos e muito menos a gramaticalizaacute-
lo
Usando dessa metodologia de caraacuteter transmissiva e geneacuterica a aprendizagem de conceitos
que eacute intriacutenseca aos mais diversos objetos de ensino a exemplo dos gecircneros textuais natildeo
envolve o domiacutenio de meacutetodos e formas gerais da atividade mental que segundo Davydov
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(1982 1988) satildeo o grande legado da Teoria da Atividade ou seja o desenvolvimento de
conceitos soacute eacute produtivo quando coloca a crianccedilaaluno em atividade mentalA apropriaccedilatildeo
portanto soacute ocorre dentre desse movimento
Davydov (1982) esclarece que em determinadas situaccedilotildees a comparaccedilatildeo dos atributos
externos de um determinado fenocircmeno pode ateacute ser suficiente para resolver alguns problemas
praacuteticos poreacutem quase sempre natildeo datildeo conta de revelar aspectos de sua profundeza de suas
relaccedilotildees internas Exatamente por isso a grande operaccedilatildeo mental realizada por
estudantesprofessores no trato com o conhecimento empiacuterico se resume na comparaccedilatildeo que
daacute conta normalmente apenas do reconhecimento dos traccedilos gerais do objeto
Complementado essa ideacuteia Hedegaard (1996) baseando-se nos estudos de Vygotsky
descreve que o uso do pensamento empiacuterico eacute marcado por um percurso fixo e pelas seguintes
operaccedilotildees mentais
Observaccedilatildeo Comparaccedilatildeo Categorizaccedilatildeo Memorizaccedilatildeo
No processo de observaccedilatildeo o indiviacuteduo parte de uma situaccedilatildeo concreta Depois disso eacute confrontado
com pelos menos dois elementos que exigem que ele busque seus traccedilos semelhantes eou diferentes
para apreender as caracteriacutesticas mais gerais de um objeto e posteriormente memorizaacute-las Nesses
casos esclarece o autor natildeo haacute espaccedilo para que o alunoprofessor reflita sobra as causas e os
efeitos do conhecimento sobre os seus conflitos sobre sua origem o que colaboraria para a
adequada compreensatildeo do fenocircmeno e para a correta compreensatildeo do objeto Por isso mesmo
uma tarefa pautada apenas no conhecimento empiacuterico limita a aprendizagem e se reduz a
captar o que eacute aparente o que eacute externo e leva a crianccedilaaluno apenas a saber classificar
fenocircmenos nominalizaacute-los e dar suas caracteriacutesticas mais observaacuteveis (Davydov 1982)
Menchiskaia (1969) ao estudar a formaccedilatildeo e o desenvolvimento do pensamento esclarece
que a comparaccedilatildeo e a definiccedilatildeo satildeo processos mentais importantes para o aluno nos
processos iniciais de apropriaccedilatildeo do conhecimento pois a primeira tambeacutem inclui outros
processos mentais como a anaacutelise a generalizaccedilatildeo e a siacutentese A anaacutelise caracteriza-se como
decomposiccedilatildeo mental do todo em partes A generalizaccedilatildeo inclui a separaccedilatildeo mental do geral
nos objetos e fenocircmenos da realidade por isso a comparaccedilatildeo dos objetos e fenocircmenos acaba
sendo uma premissa do processo de generalizaccedilatildeo Jaacute a sistematizaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo dos
objetos e fenocircmenos inclui sua distribuiccedilatildeo mental em grupos e subgrupos segundo a
semelhanccedila e diferenccedila que existe entre eles Esses processos portanto satildeo interessantes para
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que pensemos por exemplo em categorias de exerciacutecios para a transposiccedilatildeo didaacutetica dos
gecircneros textuais pois levam a crianccedila a atividades mentais diferenciadas
Para chegar agrave sistematizaccedilatildeo a crianccedilaaluno se depara com outro processo mental a
abstraccedilatildeo Menchiskaia (op cit) no entanto explica que quando o aluno generaliza sobre
objetos ou fenocircmenos separa o que eacute geral do particular acaba natildeo dando importacircncia para
outras qualidades que os diferenciam entre si tem somente em conta aquilo que destacou
como geral Esse processo eacute a abstraccedilatildeo Por exemplo uma crianccedila pode pensar sobre a cor
parecida de determinados objetos e desprezar suas formas e funccedilotildees Por isso o processo de
abstraccedilatildeo e de generalizaccedilatildeo estatildeo intimamente ligados Assim para que uma correta
compreensatildeo do fenocircmeno seja realizada eacute necessaacuterio juntar agrave comparaccedilatildeo outros processos
mentais como a compreensatildeo a definiccedilatildeo o estabelecimento de causas e efeitos a soluccedilatildeo de
problemas a formulaccedilatildeo de outros exemplos dentre de um mesmo sistema dentre outras
Completando essa discussatildeo Rubstov (1996) explica que o desenvolvimento do
conhecimento cientiacutefico (a) eacute elaborado por meio de uma anaacutelise do papel e da funccedilatildeo de
uma certa relaccedilatildeo entre as coisas no interior de um sistema (b) representa as relaccedilotildees entre as
propriedades dos objetos e suas ligaccedilotildees internas (c) estabelece relaccedilatildeo entre o geral e o
particular (d) concretiza-s por meio da transformaccedilatildeo do saber em uma teoria desenvolvida
por meio da deduccedilatildeo e uma explicaccedilatildeo das manifestaccedilotildees concretas do sistema (e) apresenta-
se por diferentes modos de atividade intelectual e de operaccedilotildees mentais (f) utiliza-se de
diferentes sistemas semioacuteticos
Para os autores da THC portanto o conhecimento sensorial ou espontacircneo eacute a origem
indispensaacutevel para a formulaccedilatildeo de conceitos (DAVYDOV 1982 VYGOTSKY 1988 2000
2001) no entanto seraacute preciso revelar a essecircncia desse objeto que historicamente se
reconstitui atraveacutes do estudo do seu real funcionamento por meio a diversificaccedilatildeo d diversas
operaccedilotildees mentais
A ideacuteia de real funcionamento pensando nos gecircneros textuais remete agrave ideacuteia de praacuteticas
sociais situadas Ou seja natildeo se ensina um gecircnero pelo gecircnero mas se ensina um gecircnero para
que o aluno se aproprie de uma determinada praacutetica social para que use aquele gecircnero dentro
de uma situaccedilatildeo especiacutefica de comunicaccedilatildeo (NASCIMENTO 2007 ROJO 2005 LOPES-
ROSSI 2002)
Isso eacute possiacutevel a partir de um ensino voltado para a apropriaccedilatildeo adequada do conhecimento
teoacuterico objetivado nesse objeto o qual oportuniza agrave crianccedilasujeito entrar em contato com
diferentes modos de atividade intelectual com diferentes sistemas semioacuteticos e operaccedilotildees
mentais para aleacutem de representaccedilotildees meramente sensoriaisAleacutem de envolver processos como
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a comparaccedilatildeo a anaacutelise a siacutentese a generalizaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de problema a
crianccedilasujeito ao estar inserida num ensino adequado voltado para a atividade toma
consciecircncia do real uso e valor do conceito aleacutem de conseguir mobilizaacute-lo em diferentes
tarefas (Davydov 1982) Exatamente por isso entender a noccedilatildeo de atividade eacute outro aspecto
para entendermos o processo de apropriaccedilatildeo
3 A contribuiccedilatildeo da teoria da atividade para o processo de apropriaccedilatildeo
A teoria da atividade (TA) desenvolvida por Leontiev e seguidores (Rubstein Luria e
Davydov) eacute considerada uma continuidade das ideacuteias de Vygotsky tido um dos precursores
da teoria psicoloacutegica da atividade Segundo Sforni (2004 p86)
As investigaccedilotildees de Leontiev voltaram-se para estudo da estrutura da
atividade externa e de seu viacutenculo com os processos psiacutequicos Seus estudos
revelaram que as atividades externa e interna tecircm estruturas idecircnticas e
mais que a atividade psiacutequica interna representa uma atividade material
externa transformada o que evidencia a unidade entra atividade e psiquismo
Ao comentar o processo de evoluccedilatildeo do homem Leontiev (2004) destaca que as
caracteriacutesticas humanas satildeo desenvolvidas pela apropriaccedilatildeo da cultura material e intelectual
transmitida de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo Isso quer dizer que natildeo nos relacionamos diretamente com o
mundo mas temos uma relaccedilatildeo que eacute mediada pelo conhecimento objetivado pelas geraccedilatildeo
que nos antecederam por intermeacutedio dos instrumentos simboacutelicos (signos) que proporcionam
nosso desenvolvimento mental O processo de mediaccedilatildeo portanto nessa concepccedilatildeo eacute um
meio de chegarmos agrave apropriaccedilatildeo dos mediadores culturais entendidos aqui tambeacutem como os
conhecimentos cientiacuteficos objetivados nos mais diversos instrumentos
Por intermeacutedio desses mediadores eacute que podemos pensar em desenvolvimento do psiquismo
da crianccedila (e tambeacutem do adulto) Ao se apropriar da linguagem enquanto mediadora cultural e
de outras ferramentas a princiacutepio fiacutesicas (como objetos o jogo o brinquedo) a crianccedila aos
poucos incorpora todo o desenvolvimento intelectual objetivado nesses elementos
(VYGOTSKY 1981 p 137)
Quando chega ao processo de escolarizaccedilatildeo novas ferramentas satildeo apresentadas para as
crianccedilas Se pensarmos no ensino da escrita nas seacuteries iniciais quais satildeo os textos que tecircm
ainda predominado Que tipo de instrumentos elas tecircm agrave disposiccedilatildeo para o desenvolvimento
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da escrita A resposta eacute simples e velha conhecida no campo educacional as modalidades
retoacutericas (descriccedilatildeo dissertaccedilatildeo e principalmente a narraccedilatildeo) prevalecem como possiacuteveis
instrumentos de desenvolvimentos da escrita
Mas se nos voltarmos para a teoria Histoacuterico-Cultural e pensarmos em termos de cultura
material de heranccedila intelectual entendemos que as atividades humanas se desenvolveram por
meio da linguagem Ora essas atividades foram se multiplicando e se diversificando em cada
esfera da comunicaccedilatildeo humana (no cotidiano na literatura na religiatildeo no comeacutercio e mais
recentemente na miacutedia dentre outras) Em cada uma dessas esferas a comunicaccedilatildeo entre os
parceiros da interaccedilatildeo constituiu diferentes praacuteticas sociais que se materializaram e se
materializam ininterruptamente por meio dos gecircneros textuais (BAKTHIN 2003)
Essa organizaccedilatildeo das sociedades por praacuteticas sociais eacute diferente em cada eacutepoca histoacuterica em
cada lugar em cada cultura Por isso mesmo essas praacuteticas modificam-se outras se extinguem
e algumas novas surgem Os gecircneros textuais nesse sentido satildeo materializaccedilotildees de uma
determinada praacutetica social que por sua vez eacute dinacircmica e histoacuterica Veja-se por exemplo a
praacutetica social ldquomandar um recadordquoDependendo dos parceiros da interaccedilatildeo e da esfera de
circulaccedilatildeo poderiacuteamos fazer isso utilizando diferentes gecircneros por um bilhete (se fosse da
esfera familiar) por uma carta formal (esfera institucional) por um e-mail (esfera comercial)
Por isso mesmo entendemos que na medida em que os professores trabalham de forma
predominante com os textos narrativos ou as modalidades retoacutericas aleacutem de natildeo levarem em
conta todo esse legado intelectual produzido pela humanidade natildeo conseguem promover o
letramento dessa crianccedila no futuro (cf DIONIacuteSIO 2005) ou os multiletramentos os
letramentos multissemioacuteticos e os letramentos multimeios1 (cf ROJO 2007)
Por essas razotildees (e outras) eacute que os documentos oficiais como os Paracircmetros Curriculares
Nacionais (BRASIL 1998) tecircm insistido o trabalho com os diferentes gecircneros textuais
Poreacutem natildeo devemos nos seduzir apenas pelas prescriccedilotildees ou por modismos Pelo que jaacute
expusemostodo trabalho com um determinado objeto teoacuterico (seja o gecircnero ou outro) exige
conhecimento cientiacutefico do professor acerca do funcionamento dos gecircneros em suas mais
variadas esferas de circulaccedilatildeo sem o qual ele natildeo conseguiraacute promover na crianccedila nem a
apropriaccedilatildeo do gecircnero e nem o desenvolvimento da escrita
1 Os primeiros (multiletramentos) se referem ao trabalho com as muacuteltiplas esferas sociais nas quais os gecircneros se inscrevem tais como a jornaliacutestica a religiosa a juriacutedica a poliacutetica e natildeo apenas a literaacuteria como tem sido frequumlente na escola Os segundos (letramentos multissemioacuteticos) requerem que a escola trabalhe natildeo apenas com a linguagem verbal mas tambeacutem com a linguagem sonora imageacutetica visual musical jaacute que a TV a Internet satildeo veiacuteculos repletos de textos que se utilizam dessas formas de expressatildeoNo que concerne aos letramentos multimeios a autora considera aqueles gerados pelo contato com os mais diversos suportes de informaccedilatildeo que a sociedade disponibiliza entendidos como a TV o raacutedio o cinema a Internet o jornal impresso etc
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Como vimos na seccedilatildeo anterior o processo de apropriaccedilatildeo implica em se colocar o sujeito
dentro de uma atividade conceito esse retomado pelo ISD mas cuja origem se daacute de forma
mais destacada na obra de Leontiev (20012004) No niacutevel individual a atividade eacute entendida
como uma forma de agir do sujeito direcionada a um objetoNo plano coletivo a atividade
define-se como
() aqueles processos que realizando as relaccedilotildees do homem como o mundo
satisfazem uma necessidade especial correspondente a ela () Por atividade
designamos os processos psicologicamente caracterizados por aquilo que o processa
como um todo se dirige (isto eacute objeto) coincidindo sempre com o objetivo que
estimula o sujeito a executar essa atividade isto eacute o motivo (LEONTIEV 2001
p315)
As atividades humanas para Leontiev (2004) satildeo consideradas como formadoras das relaccedilotildees
do sujeito com o mundo dirigidas por motivos por fins a serem alcanccedilados A ideacuteia de
atividade envolve entatildeo a noccedilatildeo de que o homem orienta-se por objetivos agindo de forma
intencional por accedilotildees planejadas
O autor daacute relevacircncia inicialmente agrave atividade coletiva em conjunto na medida em que o
ambiente sociocultural pode desencadear motivos para a realizaccedilatildeo de novas accedilotildees do sujeito
que por sua vez exigiratildeo novas operaccedilotildees as quais desenvolveratildeo os processos psiacutequicos
superioresOs componentes desse movimento da atividade propostos por Leontiev (2001) satildeo
necessidade- motivo- finalidade- condiccedilotildees para se obter a finalidade
Dentro dessa concepccedilatildeo a atividade eacute formada pela seguinte estrutura geral
Necessidade Motivo Objetivos Condiccedilotildees
Atividade
Accedilotildees Operaccedilotildees
Quadro 2 Estrutura geral da atividade adaptada de Leontiev (2001 2004)
A necessidade eacute o fator que desencadeia a atividade eacute ela que motiva o sujeito concretamente
a ter objetivos e realizar as accedilotildees (SFORNI 2004) Ela eacute um componente tatildeo importante que
Sforni (p97) acrescenta ldquonem todo processo eacute uma atividade mas somente aquele que eacute
movido por uma necessidaderdquoObviamente ao pensarmos no ensino da escrita devemos levar
em conta que a necessidade eacute um componente importante
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E o que leva uma crianccedila a produzir um texto Certamente natildeo deveria ser o fato de cumprir
uma tarefa ou preencher o tempo da sala mas a necessidade da crianccedila escrever vincula-se ao
motivo a uma relaccedilatildeo com esse objeto que vai aleacutem da razatildeo envolvendo aspectos tambeacutem
de ordem afetiva Se ela natildeo vecirc sentido naquilo que realiza logo natildeo torna consciente o que
escreve e faz e se natildeo tem consciecircncia sobre as accedilotildees que realiza natildeo eacute possiacutevel qualificaacute-las
de atividade mas apenas de uma tarefa de uma obrigaccedilatildeo escolarO motivo eacute justamente o
componente mais afetivo da teoria da afetividade Vincula-se agraves emoccedilotildees do sujeito e
relaciona-se ao sentido da atividade
A finalidade tem a ver com aquilo que se pretende de forma mais particular naquela atividade
poderiacuteamos associaacute-la ao objetivo Para a realizaccedilatildeo desse objetivo seratildeo necessaacuterias as
condiccedilotildees os meios para alcanccedilaacute-lo por intermeacutedio das accedilotildees e das operaccedilotildeesA accedilatildeo eacute o
processo cuja o motivo natildeo coincide com seu objeto mas pertence aacute atividade
Leontiev (2004) ilustra essa afirmaccedilatildeo ao explicar que a atividade de ler um livro para apenas
passar numa prova natildeo eacute uma atividade mas uma accedilatildeo porque ler o livro por ler natildeo eacute um
objetivo forte que estimula a accedilatildeo do sujeito Poreacutem a accedilatildeo pode se transformar em atividade
quando passa a ter um motivo para o sujeito No exemplo dado se o aluno comeccedila a ler e a
leitura acaba por envolvecirc-lo por alguma razatildeo o motivo da atividade desloca-se
transformando-se a accedilatildeo em uma atividade
Uma accedilatildeo pode ser realizada de diferentes maneiras designadas por Leontiev de operaccedilotildees
as quais consistem no modo de execuccedilatildeo de uma determinada tarefa que pode ser variadoAs
operaccedilotildees particularizam um determinado objeto e revelam suas partes intriacutensecas daiacute serem
elementos fundamentais para a apropriaccedilatildeo As accedilotildees realizadas por indiviacuteduo no interior de
uma atividade transformam-se em operaccedilotildees e estas mais tarde em haacutebitos e habilidades
Quando isso ocorre saem da esfera dos processo conscientes e passam a ocupar um lugar
inferior na estrutura da atividade
Todavia ocupar lsquoum lugar inferiorrsquo natildeo significa simplificar o estatuto da operaccedilatildeo ao
contraacuterio significa afirmar que houve um processo de apropriaccedilatildeo que agora torna-se
consciente e que em tornando-se consciente deixa livre o pensamento para se incumbir de
novas accedilotildees e novas operaccedilotildees agora de caraacuteter mais elevadoA ideacuteia eacute que uma atividade
coloca a crianccedila em determinada accedilatildeo que por sua vez lhe exige operaccedilotildees para executaacute-la
Ao apropriar-se dessas operaccedilotildees a crianccedila deve ser exposta a novas accedilotildees e
consequentemente a novas operaccedilotildees de caraacuteter mais elevado a fim de que seus processos
mentais estejam em constante desenvolvimento conforme ilustra o quadro abaixo
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Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa
Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa
Atividade Accedilatildeo Operaccedilatildeo
Quadro 3 Movimento da aprendizagem na Teoria da Atividade com base em Sforni (2004)
Esse movimento revela para Leontiev o processo ininterrupto de desenvolvimento do sujeito
Para Sforni (2004 p104) esse processo revela o momento da aprendizagem poreacutem natildeo eacute
natural precisa ser mediado por algueacutem mais experiente o que reforccedila a ideacuteia de que a
mediaccedilatildeo tal como jaacute sublinhamos nos estudos vygtskianos eacute outro compontente
fundamental do processo de apropriaccedilatildeo
Todo esse contexto nos leva a pensar novamente sobre a repeticcedilatildeo sistemaacutetica de 1ordf a 4ordf
seacuterie da escrita de narrativas escolaresSe pela teoria da atividade a crianccedila precisa estar
exposta a novas accedilotildees e a novas operaccedilotildees quais conteuacutedos satildeo avanccedilados de seacuterie para
seacuterie se existe a repeticcedilatildeo sistemaacutetica principalmente da narrativa escolar baseada no
modelo aristoteacutelico Se percebemos que as crianccedilas jaacute dominam esse gecircnero escolar por que
natildeo avanccedilar com novos gecircneros ou em ficando nesse gecircnero com novas operaccedilotildees que
mobilizaratildeo novos conteuacutedos Por exemplo em se pensando em gecircneros que se utilizam da
sequumlecircncia narrativa como predominante por que natildeo trabalhar com narrativas de enigmas ou
narrativas de terror que traratildeo novas variaccedilotildees e novos esquemas de organizaccedilatildeo para serem
apropriados pelas crianccedilas
Completando o quadro teoacuterico da TA Davydov (1998) concorda com Leontiev que a
estrutura da atividade seja composta de necessidades tarefas accedilotildees e operaccedilotildees poreacutem
acrescenta um novo componente ndash o desejo ndashjaacute que para ele as emoccedilotildees satildeo inseparaacuteveis da
necessidade (a emoccedilatildeo seria a base para todas as tarefas que o homem se propotildee a fazer) eacute o
desejo que provoca uma necessidade entatildeo a funccedilatildeo do professor seria a de pensar em como
criar desejos para a aprendizagem para que estes provoquem uma necessidade e iniciem o
processo de atividade
Para Libacircneo (2004) esse novo componente deixa claro no campo edcacional ao viacutenculo
entre afetividade e cogniccedilatildeo As atividades humans estatildeo para o autor impregnadas de
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sentido subjetivo as quais propuosionam nosso agir tanto pensando na esfera escolar como
na esfera do nosso cotidiano Nesse sentido precisamos levar em conta que o processode
apropriaccedilatildeo depende tambeacutem de aspectos afetivos (cf DAVYDOV 1998)
A questatildeo do desejo pode ser comparada agrave questatildeo da voliccedilatildeo discutida por Vygotsky
(2001)Como vimos na seccedilatildeo anterior a relaccedilatildeo do sujeito com o objeto eacute uma relaccedilatildeo
mediada pelo outro atraveacutes da linguagem (e das ferramentas) Para Vygotsky (19882001) eacute a
linguagem que possibilita a constituiccedilatildeo do pensamento da consciecircncia da vontade isto eacute
das funccedilotildees psicoloacutegicas superiores Nesse sentido soacute tomamos consciecircncia individual a
partir primeiro das interaccedilotildees sociais ou da relaccedilatildeo com o outro Normalmente no caso da
crianccedila esse outro eacute algueacutem afetivamente proacutexima a ela Eacute o aspecto emocional envolvido
nessa relaccedilatildeo que motiva e impulsiona a crianccedila a agir Nesse sentido temos que a vontade eacute
uma funccedilatildeo psicoloacutegica superior e a sua construccedilatildeo depende de uma atividade que eacute portanto
de natureza social
Todas essas categorias na perspectiva da Teoria da Atividade implicam que se coloque a
crianccedila em uma trabalho inicialmente coletivo para posteriormente ser individual o que
remete agrave importacircncia de se desenvolver na sala de aula aleacutem das produccedilotildees individuais as
produccedilotildees coletivas De qualquer modo mesmo natildeo sendo um campo epistemoloacutegico voltado
para os gecircneros textuais eacute possiacutevel percebermos as razotildees de Bronckart (2003 2006) ter
utilizado dessa fonte no Interacionismo Sociodiscursivo jaacute que as noccedilotildees de atividade e da
accedilatildeo natildeo soacute regulam os objetivos dos indiviacuteduos nas diversas interaccedilotildees sociais como
tambeacutem satildeo importantes elementos para pensarmos em como gerar um conhecimento que seja
significativo e dessa forma seja apreendido pela crianccedilaaluno
4 Ilustrando o trabalho com a formaccedilatildeo de professores de seacuteries iniciais
As duas atividades que seratildeo aqui delineadas decorreram de trecircs de um total de seis etapas de
um curso de formaccedilatildeo envolvendo o tema gecircneros textuais e ensino ministrado para 15
professores de uma escola da rede puacuteblica do noroeste do Paranaacute por duas professoras
formadoras (das quais fizemos parte) e estagiaacuterias do curso de Letras no segundo semestre de
2007 As trecircs etapas iniciais tiveram como toacutepicos (a) pressupostos baacutesicos da Abordagem
Histoacuterico-Social e da Teoria da Atividade b) pressupostos gerais sobre gecircneros textuais a
partir de Bakthin e o Interacionismo Social dentre os quais foram destacados os aspectos
caracterizadores do gecircnero o tema a estrutura composicional e o estilo (BAKTHIN 1992) c)
contexto de produccedilatildeo no ISD (as capacidades de linguagem o instrumento sequumlecircncia didaacutetica
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ficaram para outras sessotildees) d) transposiccedilatildeo dessas teorias para o ensino da escrita e)
planejamento de aulasoficinasPor questotildees de delimitaccedilatildeo enfocaremos neste artigo apenas
as subetapas ldquo drdquo e ldquoerdquo
As subetapas assinaladas envolveram duas atividades para os professores uma de cunho
teoacuterico e outra de cunho praacutetico A atividade de cunho teoacuterico ocorreu apoacutes as discussotildees
teoacutericas e foi apresentada da seguinte maneira
Em grupo elabore um quadro no qual vocecirc correlacione as categorias da Teoria da Atividade
aos elementos do contexto de produccedilatildeo vistos em Bakthin (1992) e em Bronckart (2003)
Embora no processo inicial de escolarizaccedilatildeo a comparaccedilatildeo como vimos eacute uma operaccedilatildeo
mental que pode caracterizar o pensamento empiacuterico aqui neste exerciacutecio ela natildeo eacute suficiente
Para que os professores realizassem a atividade precisariam entender primeiro cada uma das
teorias seus elementos para depois confrontaacute-los Isso exigiu que utilizassem diversas
operaccedilotildees mentais ressaltadas por Menchiskaia (1969) como a anaacutelise a abstraccedilatildeo a siacutentese
a comparaccedilatildeo a sistematizaccedilatildeo a definiccedilatildeo e a compreensatildeo necessaacuterias ao processo de
apropriaccedilatildeo
Aleacutem disso para a realizaccedilatildeo desse exerciacutecio procuramos respeitar os elementos proacuteprios da
Teoria da Atividade os professores que estavam no curso de formaccedilatildeo solicitaram o curso
portanto partiram de uma necessidade para ali estarem Aleacutem disso tinham um motivo e uma
finalidade queriam buscar informaccedilotildees sobre a transposiccedilatildeo dos gecircneros textuais para
otimizarem o trabalho com as crianccedilas na sala de aula Sabiam que para alcanccedilar esse
propoacutesito teriam que realizar atividades de forma conjunta compostas de accedilotildees e operaccedilotildees
como essa da elaboraccedilatildeo do quadro o planejamento de uma oficina dentre outras que natildeo nos
interessam nesse momento
Eacute preciso tambeacutem esclarecer que o quadro que seraacute apresentado a seguir foi o resultado final
de um trabalho coletivo e mediado pelas formadoras Para chegarmos a sua versatildeo final
foram necessaacuterias trecircs refacccedilotildees numa clara demonstraccedilatildeo de que o processo de
internalizaccedilatildeo como assevera Vygotsky (1988) depende de uma longa seacuterie de eventos
Assim muito provavelmente esse momento representa apenas um dos eventos que os
professores tiveram para iniciar esse processo mas que para que ele se consolide necessitaratildeo
de outros
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Ressaltamos que todas as operaccedilotildees mentais anteriormente colocadas no referencial teoacuterico
para o desenvolvimento e apropriaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico dependem para que se
coloque o sujeito em atividade dos processos de mediaccedilatildeo tambeacutem realizados pelo professor
(VYGOTSKY 2000 SFORNI 2004) No nosso caso um dos recursos que utilizamos para
conduzir o processo de apropriaccedilatildeo e que se mostrou bastante produtivo em nossas
intervenccedilotildees foi a devoluccedilatildeo de uma nova pergunta apoacutes uma duacutevida estabelecida pelos
professores Como no momento das discussotildees utilizamos o gecircnero exposiccedilatildeo oral buscamos
nessa estrateacutegia comentada por Carneiro (2009) como uma das quais o professor pode se
utilizar para provocar a reflexatildeo e por efeito a possiacutevel compreensatildeo como ilustra o exemplo
abaixo
Professora ()entatildeo o desejo me parece ser tambeacutem a atividade natildeo eacute
Formadora veja pense num exemplo se jaacute almocei mas de repente vejo numa
vitrine um delicioso doce teria um desejo ou uma necessidade por ele
Professora uhm pera aiacute eu natildeo tenho necessidade de come porque jaacute estou
satisfeita mas tenho desejo neacute o desejo eacute mais emocional eacute mais voltado ao prazer
e a necessidade eacute aquilo que eacute necessaacuterio fazerparece mais racional()
Formadora isso agora pense nessa analogia para o campo da escrita
Profesora taacute o desejo tem a ver com o sentimentoa questatildeo dos sentimentos da
crianccedila neacute a gente tem que criar um viacutenculo afetivo entre ela e atividade que vamos
dar e a necessidade eacute taacute mais na razatildeo acho que tem a ver com aquela questatildeo que
discutimos com as praacuteticas sociais que satildeo as necessidades reais que temos de nos
comunicar()
Percebemos que ao devolver a duacutevida em forma de pergunta acrescida com um exemplo de
senso comum a professora formadora provoca uma reflexatildeo na professora participante e
como efeito gera-se o entendimento do conceito antes motivo de duacutevida Claro estaacute que nem
sempre esse recurso conforme comprova Carneiro (opcit) consegue proporcionar a
compreensatildeo mas sem duacutevida eacute ma estrateacutegia interessante para o professor de forma
consciente utilizar em suas explicaccedilotildees
Apoacutes esse trabalho de cunho coletivo elaboramos com a participaccedilatildeo das professoras o
quadro abaixo (resultado de trecircs refacccedilotildees) no qual aleacutem de pensar nas implicaccedilotildees para o
ensino elas tambeacutem correlacionaram os elementos da teoria da atividade com alguns dos
elementos do contexto de produccedilatildeo
16
Elementos estruturais da Teoria da Atividade Implicaccedilotildees para o ensino da escrita
DESEJO Elemento afetivo que desencadeia a necessidade da
escrita eacute desencadeado tanto pelo processo de
mediaccedilatildeo do professor com o aluno como tambeacutem
pela motivaccedilatildeo exercida por exemplo para a
abertura de um novo projetoatividade de
escritaNatildeo s relaciona a nenhum dos elementos
previstos pelo contexto de produccedilatildeo jaacute que eacute de
ordem emocional
NECESSIDADE Envolve o uso especiacutefico da escrita numa
determinada situaccedilatildeo de produccedilatildeo para atender a
uma praacutetica social especiacutefica escrever para publicar
um livro de contos escrever para produzir uma
reivindicaccedilatildeo escrever para solicitar alguma coisa
escrever para participar de um concurso escrever
um cardaacutepio para uma festa etc
MOTIVO Envolve o sentido da escrita para a crianccedila de modo
a convencecirc-la a escrever por meio de atividades que
oportunizem correlacionar a escrita com as emoccedilotildees
da crianccedila e tambeacutem com seus provaacuteveis
interlocutores pois satildeo eles que vinculam sentido
agravequilo que a crianccedila escreve (BAKTHIN 2003)
Uma dessas atividades que podem vincular a escrita
ao motivo pode ser a divulgaccedilatildeo da produccedilatildeo final
ao puacuteblico por exemplo compor um fabulaacuterio para
ser divulgado numa amostra de livros da escola
produzir cartazes para divulgaccedilatildeo de festas na escola
e afixaacute-los em estabelecimentos comerciais elaborar
notiacutecias para o jornal da escola ou para a raacutedio da
escola produzir livros de histoacuterias infantis para
crianccedilas menores elaborar uma seccedilatildeo de
classificados divulgando serviccedilos prestados ou
produtos vendidos por familiares e amigos do bairro
etcEntendemos que o fato da divulgaccedilatildeo do olhar
do outro como afirmam BakthinVoloshinov (1992)
satildeo essenciais para instaurar uma escrita
significativa
FINALIDADE Envolve o objetivo especiacutefico da escrita na situaccedilatildeo
de interaccedilatildeo para quecirc escrever Para solicitar
alguma coisa para colocar a minha opiniatildeo para
17
contar uma anedota etcA finalidade ou o objetivo
da produccedilatildeo deve vir claramente expressa no
comando de escrita a ser entregue para o aluno
ACcedilAtildeO Envolve a definiccedilatildeo do gecircnero textual que a crianccedila
iraacute escrever um resumo uma notiacutecia uma carta do
leitor um anuacutencio de classificado um comentaacuterio
um conto de fadas etc
OPERACcedilOtildeES (modos de execuccedilatildeo de uma catildeo) Envolve uma seacuterie de tarefas anteriores aacute produccedilatildeo
escritaoral do gecircnero com vistas aacute apropriaccedilatildeo dos
elementos caracterizadores dos gecircneros (o tema a
estrutura composiconal e o estilo) e levando em
conta as fases da escrita planejamento revisatildeo e
reescrita
Quadro 4 Elementos da Teoria da Atividade e sua implicaccedilatildeo na escrita
O exerciacutecio acima evidenciou-nos que mesmo sem ainda terem a noccedilatildeo sobre as capacidades
de linguagem a serem desenvolvidas no quadro do ISD os professores por meio das
operaccedilotildees mentais que o exerciacutecio exigia (anaacutelise comparaccedilatildeo abstraccedilatildeo siacutentese
exemplificaccedilatildeo) conseguem fazer relaccedilotildees coerentes entre os elementos da Teoria da
Atividade com implicaccedilotildees para o ensino da escrita Por exemplo relacionam a necessidade
elemento desencadeador da atividade com a praacutetica social como elemento desencadeador da
atividade de produccedilatildeo que no quadro do ISD eacute o elemento que possibilita alavancar por
exemplo as sequecircncias didaacuteticas (cfDOLZ SCHNEUWLY 2004)
Tambeacutem associam de forma interessante o motivo com um dos elementos do contexto de
produccedilatildeo o interlocutor reforccedilando a importacircncia desse elemento como tambeacutem aspecto
motivacional no ato da escrita Da mesma forma o tema e seu tratamento exaustivo
(BAKTHIN 1992) eacute explorado na associaccedilatildeo entre esse elemento e a accedilatildeo na medida em que
ao definir um determinado gecircnero estaacute implicado aiacute a realizaccedilatildeo desse elemento bakthiniano
Por fim nas operaccedilotildees fica claro que os professores conseguiram perceber que para se
escrever um determinado gecircnero seraacute preciso decompocirc-lo em uma seacuterie de atividades nas
quais se mobilizaratildeo o tema a estrutura composicional e o estilo
Na sequumlecircncia apoacutes a discussatildeo do quadro e com o intuito de promover mais um evento para
reforccedilar o processo de internalizaccedilatildeo agora numa atividade praacutetica solicitamos que cada
duplatrio de professores elaborassem um planejamento de uma oficina de leituraproduccedilatildeo
textual (jaacute que nesse momento ainda desconheciam outros instrumentos proacuteprios do ISD
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como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com
atividades de escrita
O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras
de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre
de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um
suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito
com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar
jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da
Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que
tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos
previstos em cada etapa
A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma
oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas
as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs
refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo
4ordf seacuteries 12 ha
SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR
DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola
NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da
escola
MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral
FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na
escola e em casa
ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de
humor)
2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais
da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha
Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar
o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e
definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim
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de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as
seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para
quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social
2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura
ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a
organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos
e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio
anterior
1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras
MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a
importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar
tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto
1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que
envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido
com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e
trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido
1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em
grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na
escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira
contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade
anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os
interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma
lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira
escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4
quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos
das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -
elaboraccedilatildeo dos balotildees
2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar
ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a
releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com
mediaccedilatildeo do professora
2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)
apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o
tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as
formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo
Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais
O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro
momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de
operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no
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interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo
(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-
problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)
No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo
finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do
contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o
reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro
elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar
um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de
humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as
crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees
estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo
Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993
DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos
que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo
para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio
Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na
visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia
coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a
reescrita
Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos
como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser
compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado
pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua
transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o
processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica
para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos
da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do
Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se
coerentes a essas bases teoacutericas
Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e
certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e
conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que
soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um
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pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)
talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados
5Consideraccedilotildees finais
O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo
de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da
Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de
apropriaccedilatildeo
a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade
interna
b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do
sujeito para que se concretize
c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por
elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e
as operaccedilotildees
d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem
mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como
propulsores do desenvolvimento
e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito
d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a
definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc
Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores
sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer
um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa
instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o
desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as
praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um
pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do
curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em
torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais
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6
(1982 1988) satildeo o grande legado da Teoria da Atividade ou seja o desenvolvimento de
conceitos soacute eacute produtivo quando coloca a crianccedilaaluno em atividade mentalA apropriaccedilatildeo
portanto soacute ocorre dentre desse movimento
Davydov (1982) esclarece que em determinadas situaccedilotildees a comparaccedilatildeo dos atributos
externos de um determinado fenocircmeno pode ateacute ser suficiente para resolver alguns problemas
praacuteticos poreacutem quase sempre natildeo datildeo conta de revelar aspectos de sua profundeza de suas
relaccedilotildees internas Exatamente por isso a grande operaccedilatildeo mental realizada por
estudantesprofessores no trato com o conhecimento empiacuterico se resume na comparaccedilatildeo que
daacute conta normalmente apenas do reconhecimento dos traccedilos gerais do objeto
Complementado essa ideacuteia Hedegaard (1996) baseando-se nos estudos de Vygotsky
descreve que o uso do pensamento empiacuterico eacute marcado por um percurso fixo e pelas seguintes
operaccedilotildees mentais
Observaccedilatildeo Comparaccedilatildeo Categorizaccedilatildeo Memorizaccedilatildeo
No processo de observaccedilatildeo o indiviacuteduo parte de uma situaccedilatildeo concreta Depois disso eacute confrontado
com pelos menos dois elementos que exigem que ele busque seus traccedilos semelhantes eou diferentes
para apreender as caracteriacutesticas mais gerais de um objeto e posteriormente memorizaacute-las Nesses
casos esclarece o autor natildeo haacute espaccedilo para que o alunoprofessor reflita sobra as causas e os
efeitos do conhecimento sobre os seus conflitos sobre sua origem o que colaboraria para a
adequada compreensatildeo do fenocircmeno e para a correta compreensatildeo do objeto Por isso mesmo
uma tarefa pautada apenas no conhecimento empiacuterico limita a aprendizagem e se reduz a
captar o que eacute aparente o que eacute externo e leva a crianccedilaaluno apenas a saber classificar
fenocircmenos nominalizaacute-los e dar suas caracteriacutesticas mais observaacuteveis (Davydov 1982)
Menchiskaia (1969) ao estudar a formaccedilatildeo e o desenvolvimento do pensamento esclarece
que a comparaccedilatildeo e a definiccedilatildeo satildeo processos mentais importantes para o aluno nos
processos iniciais de apropriaccedilatildeo do conhecimento pois a primeira tambeacutem inclui outros
processos mentais como a anaacutelise a generalizaccedilatildeo e a siacutentese A anaacutelise caracteriza-se como
decomposiccedilatildeo mental do todo em partes A generalizaccedilatildeo inclui a separaccedilatildeo mental do geral
nos objetos e fenocircmenos da realidade por isso a comparaccedilatildeo dos objetos e fenocircmenos acaba
sendo uma premissa do processo de generalizaccedilatildeo Jaacute a sistematizaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo dos
objetos e fenocircmenos inclui sua distribuiccedilatildeo mental em grupos e subgrupos segundo a
semelhanccedila e diferenccedila que existe entre eles Esses processos portanto satildeo interessantes para
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que pensemos por exemplo em categorias de exerciacutecios para a transposiccedilatildeo didaacutetica dos
gecircneros textuais pois levam a crianccedila a atividades mentais diferenciadas
Para chegar agrave sistematizaccedilatildeo a crianccedilaaluno se depara com outro processo mental a
abstraccedilatildeo Menchiskaia (op cit) no entanto explica que quando o aluno generaliza sobre
objetos ou fenocircmenos separa o que eacute geral do particular acaba natildeo dando importacircncia para
outras qualidades que os diferenciam entre si tem somente em conta aquilo que destacou
como geral Esse processo eacute a abstraccedilatildeo Por exemplo uma crianccedila pode pensar sobre a cor
parecida de determinados objetos e desprezar suas formas e funccedilotildees Por isso o processo de
abstraccedilatildeo e de generalizaccedilatildeo estatildeo intimamente ligados Assim para que uma correta
compreensatildeo do fenocircmeno seja realizada eacute necessaacuterio juntar agrave comparaccedilatildeo outros processos
mentais como a compreensatildeo a definiccedilatildeo o estabelecimento de causas e efeitos a soluccedilatildeo de
problemas a formulaccedilatildeo de outros exemplos dentre de um mesmo sistema dentre outras
Completando essa discussatildeo Rubstov (1996) explica que o desenvolvimento do
conhecimento cientiacutefico (a) eacute elaborado por meio de uma anaacutelise do papel e da funccedilatildeo de
uma certa relaccedilatildeo entre as coisas no interior de um sistema (b) representa as relaccedilotildees entre as
propriedades dos objetos e suas ligaccedilotildees internas (c) estabelece relaccedilatildeo entre o geral e o
particular (d) concretiza-s por meio da transformaccedilatildeo do saber em uma teoria desenvolvida
por meio da deduccedilatildeo e uma explicaccedilatildeo das manifestaccedilotildees concretas do sistema (e) apresenta-
se por diferentes modos de atividade intelectual e de operaccedilotildees mentais (f) utiliza-se de
diferentes sistemas semioacuteticos
Para os autores da THC portanto o conhecimento sensorial ou espontacircneo eacute a origem
indispensaacutevel para a formulaccedilatildeo de conceitos (DAVYDOV 1982 VYGOTSKY 1988 2000
2001) no entanto seraacute preciso revelar a essecircncia desse objeto que historicamente se
reconstitui atraveacutes do estudo do seu real funcionamento por meio a diversificaccedilatildeo d diversas
operaccedilotildees mentais
A ideacuteia de real funcionamento pensando nos gecircneros textuais remete agrave ideacuteia de praacuteticas
sociais situadas Ou seja natildeo se ensina um gecircnero pelo gecircnero mas se ensina um gecircnero para
que o aluno se aproprie de uma determinada praacutetica social para que use aquele gecircnero dentro
de uma situaccedilatildeo especiacutefica de comunicaccedilatildeo (NASCIMENTO 2007 ROJO 2005 LOPES-
ROSSI 2002)
Isso eacute possiacutevel a partir de um ensino voltado para a apropriaccedilatildeo adequada do conhecimento
teoacuterico objetivado nesse objeto o qual oportuniza agrave crianccedilasujeito entrar em contato com
diferentes modos de atividade intelectual com diferentes sistemas semioacuteticos e operaccedilotildees
mentais para aleacutem de representaccedilotildees meramente sensoriaisAleacutem de envolver processos como
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a comparaccedilatildeo a anaacutelise a siacutentese a generalizaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de problema a
crianccedilasujeito ao estar inserida num ensino adequado voltado para a atividade toma
consciecircncia do real uso e valor do conceito aleacutem de conseguir mobilizaacute-lo em diferentes
tarefas (Davydov 1982) Exatamente por isso entender a noccedilatildeo de atividade eacute outro aspecto
para entendermos o processo de apropriaccedilatildeo
3 A contribuiccedilatildeo da teoria da atividade para o processo de apropriaccedilatildeo
A teoria da atividade (TA) desenvolvida por Leontiev e seguidores (Rubstein Luria e
Davydov) eacute considerada uma continuidade das ideacuteias de Vygotsky tido um dos precursores
da teoria psicoloacutegica da atividade Segundo Sforni (2004 p86)
As investigaccedilotildees de Leontiev voltaram-se para estudo da estrutura da
atividade externa e de seu viacutenculo com os processos psiacutequicos Seus estudos
revelaram que as atividades externa e interna tecircm estruturas idecircnticas e
mais que a atividade psiacutequica interna representa uma atividade material
externa transformada o que evidencia a unidade entra atividade e psiquismo
Ao comentar o processo de evoluccedilatildeo do homem Leontiev (2004) destaca que as
caracteriacutesticas humanas satildeo desenvolvidas pela apropriaccedilatildeo da cultura material e intelectual
transmitida de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo Isso quer dizer que natildeo nos relacionamos diretamente com o
mundo mas temos uma relaccedilatildeo que eacute mediada pelo conhecimento objetivado pelas geraccedilatildeo
que nos antecederam por intermeacutedio dos instrumentos simboacutelicos (signos) que proporcionam
nosso desenvolvimento mental O processo de mediaccedilatildeo portanto nessa concepccedilatildeo eacute um
meio de chegarmos agrave apropriaccedilatildeo dos mediadores culturais entendidos aqui tambeacutem como os
conhecimentos cientiacuteficos objetivados nos mais diversos instrumentos
Por intermeacutedio desses mediadores eacute que podemos pensar em desenvolvimento do psiquismo
da crianccedila (e tambeacutem do adulto) Ao se apropriar da linguagem enquanto mediadora cultural e
de outras ferramentas a princiacutepio fiacutesicas (como objetos o jogo o brinquedo) a crianccedila aos
poucos incorpora todo o desenvolvimento intelectual objetivado nesses elementos
(VYGOTSKY 1981 p 137)
Quando chega ao processo de escolarizaccedilatildeo novas ferramentas satildeo apresentadas para as
crianccedilas Se pensarmos no ensino da escrita nas seacuteries iniciais quais satildeo os textos que tecircm
ainda predominado Que tipo de instrumentos elas tecircm agrave disposiccedilatildeo para o desenvolvimento
9
da escrita A resposta eacute simples e velha conhecida no campo educacional as modalidades
retoacutericas (descriccedilatildeo dissertaccedilatildeo e principalmente a narraccedilatildeo) prevalecem como possiacuteveis
instrumentos de desenvolvimentos da escrita
Mas se nos voltarmos para a teoria Histoacuterico-Cultural e pensarmos em termos de cultura
material de heranccedila intelectual entendemos que as atividades humanas se desenvolveram por
meio da linguagem Ora essas atividades foram se multiplicando e se diversificando em cada
esfera da comunicaccedilatildeo humana (no cotidiano na literatura na religiatildeo no comeacutercio e mais
recentemente na miacutedia dentre outras) Em cada uma dessas esferas a comunicaccedilatildeo entre os
parceiros da interaccedilatildeo constituiu diferentes praacuteticas sociais que se materializaram e se
materializam ininterruptamente por meio dos gecircneros textuais (BAKTHIN 2003)
Essa organizaccedilatildeo das sociedades por praacuteticas sociais eacute diferente em cada eacutepoca histoacuterica em
cada lugar em cada cultura Por isso mesmo essas praacuteticas modificam-se outras se extinguem
e algumas novas surgem Os gecircneros textuais nesse sentido satildeo materializaccedilotildees de uma
determinada praacutetica social que por sua vez eacute dinacircmica e histoacuterica Veja-se por exemplo a
praacutetica social ldquomandar um recadordquoDependendo dos parceiros da interaccedilatildeo e da esfera de
circulaccedilatildeo poderiacuteamos fazer isso utilizando diferentes gecircneros por um bilhete (se fosse da
esfera familiar) por uma carta formal (esfera institucional) por um e-mail (esfera comercial)
Por isso mesmo entendemos que na medida em que os professores trabalham de forma
predominante com os textos narrativos ou as modalidades retoacutericas aleacutem de natildeo levarem em
conta todo esse legado intelectual produzido pela humanidade natildeo conseguem promover o
letramento dessa crianccedila no futuro (cf DIONIacuteSIO 2005) ou os multiletramentos os
letramentos multissemioacuteticos e os letramentos multimeios1 (cf ROJO 2007)
Por essas razotildees (e outras) eacute que os documentos oficiais como os Paracircmetros Curriculares
Nacionais (BRASIL 1998) tecircm insistido o trabalho com os diferentes gecircneros textuais
Poreacutem natildeo devemos nos seduzir apenas pelas prescriccedilotildees ou por modismos Pelo que jaacute
expusemostodo trabalho com um determinado objeto teoacuterico (seja o gecircnero ou outro) exige
conhecimento cientiacutefico do professor acerca do funcionamento dos gecircneros em suas mais
variadas esferas de circulaccedilatildeo sem o qual ele natildeo conseguiraacute promover na crianccedila nem a
apropriaccedilatildeo do gecircnero e nem o desenvolvimento da escrita
1 Os primeiros (multiletramentos) se referem ao trabalho com as muacuteltiplas esferas sociais nas quais os gecircneros se inscrevem tais como a jornaliacutestica a religiosa a juriacutedica a poliacutetica e natildeo apenas a literaacuteria como tem sido frequumlente na escola Os segundos (letramentos multissemioacuteticos) requerem que a escola trabalhe natildeo apenas com a linguagem verbal mas tambeacutem com a linguagem sonora imageacutetica visual musical jaacute que a TV a Internet satildeo veiacuteculos repletos de textos que se utilizam dessas formas de expressatildeoNo que concerne aos letramentos multimeios a autora considera aqueles gerados pelo contato com os mais diversos suportes de informaccedilatildeo que a sociedade disponibiliza entendidos como a TV o raacutedio o cinema a Internet o jornal impresso etc
10
Como vimos na seccedilatildeo anterior o processo de apropriaccedilatildeo implica em se colocar o sujeito
dentro de uma atividade conceito esse retomado pelo ISD mas cuja origem se daacute de forma
mais destacada na obra de Leontiev (20012004) No niacutevel individual a atividade eacute entendida
como uma forma de agir do sujeito direcionada a um objetoNo plano coletivo a atividade
define-se como
() aqueles processos que realizando as relaccedilotildees do homem como o mundo
satisfazem uma necessidade especial correspondente a ela () Por atividade
designamos os processos psicologicamente caracterizados por aquilo que o processa
como um todo se dirige (isto eacute objeto) coincidindo sempre com o objetivo que
estimula o sujeito a executar essa atividade isto eacute o motivo (LEONTIEV 2001
p315)
As atividades humanas para Leontiev (2004) satildeo consideradas como formadoras das relaccedilotildees
do sujeito com o mundo dirigidas por motivos por fins a serem alcanccedilados A ideacuteia de
atividade envolve entatildeo a noccedilatildeo de que o homem orienta-se por objetivos agindo de forma
intencional por accedilotildees planejadas
O autor daacute relevacircncia inicialmente agrave atividade coletiva em conjunto na medida em que o
ambiente sociocultural pode desencadear motivos para a realizaccedilatildeo de novas accedilotildees do sujeito
que por sua vez exigiratildeo novas operaccedilotildees as quais desenvolveratildeo os processos psiacutequicos
superioresOs componentes desse movimento da atividade propostos por Leontiev (2001) satildeo
necessidade- motivo- finalidade- condiccedilotildees para se obter a finalidade
Dentro dessa concepccedilatildeo a atividade eacute formada pela seguinte estrutura geral
Necessidade Motivo Objetivos Condiccedilotildees
Atividade
Accedilotildees Operaccedilotildees
Quadro 2 Estrutura geral da atividade adaptada de Leontiev (2001 2004)
A necessidade eacute o fator que desencadeia a atividade eacute ela que motiva o sujeito concretamente
a ter objetivos e realizar as accedilotildees (SFORNI 2004) Ela eacute um componente tatildeo importante que
Sforni (p97) acrescenta ldquonem todo processo eacute uma atividade mas somente aquele que eacute
movido por uma necessidaderdquoObviamente ao pensarmos no ensino da escrita devemos levar
em conta que a necessidade eacute um componente importante
11
E o que leva uma crianccedila a produzir um texto Certamente natildeo deveria ser o fato de cumprir
uma tarefa ou preencher o tempo da sala mas a necessidade da crianccedila escrever vincula-se ao
motivo a uma relaccedilatildeo com esse objeto que vai aleacutem da razatildeo envolvendo aspectos tambeacutem
de ordem afetiva Se ela natildeo vecirc sentido naquilo que realiza logo natildeo torna consciente o que
escreve e faz e se natildeo tem consciecircncia sobre as accedilotildees que realiza natildeo eacute possiacutevel qualificaacute-las
de atividade mas apenas de uma tarefa de uma obrigaccedilatildeo escolarO motivo eacute justamente o
componente mais afetivo da teoria da afetividade Vincula-se agraves emoccedilotildees do sujeito e
relaciona-se ao sentido da atividade
A finalidade tem a ver com aquilo que se pretende de forma mais particular naquela atividade
poderiacuteamos associaacute-la ao objetivo Para a realizaccedilatildeo desse objetivo seratildeo necessaacuterias as
condiccedilotildees os meios para alcanccedilaacute-lo por intermeacutedio das accedilotildees e das operaccedilotildeesA accedilatildeo eacute o
processo cuja o motivo natildeo coincide com seu objeto mas pertence aacute atividade
Leontiev (2004) ilustra essa afirmaccedilatildeo ao explicar que a atividade de ler um livro para apenas
passar numa prova natildeo eacute uma atividade mas uma accedilatildeo porque ler o livro por ler natildeo eacute um
objetivo forte que estimula a accedilatildeo do sujeito Poreacutem a accedilatildeo pode se transformar em atividade
quando passa a ter um motivo para o sujeito No exemplo dado se o aluno comeccedila a ler e a
leitura acaba por envolvecirc-lo por alguma razatildeo o motivo da atividade desloca-se
transformando-se a accedilatildeo em uma atividade
Uma accedilatildeo pode ser realizada de diferentes maneiras designadas por Leontiev de operaccedilotildees
as quais consistem no modo de execuccedilatildeo de uma determinada tarefa que pode ser variadoAs
operaccedilotildees particularizam um determinado objeto e revelam suas partes intriacutensecas daiacute serem
elementos fundamentais para a apropriaccedilatildeo As accedilotildees realizadas por indiviacuteduo no interior de
uma atividade transformam-se em operaccedilotildees e estas mais tarde em haacutebitos e habilidades
Quando isso ocorre saem da esfera dos processo conscientes e passam a ocupar um lugar
inferior na estrutura da atividade
Todavia ocupar lsquoum lugar inferiorrsquo natildeo significa simplificar o estatuto da operaccedilatildeo ao
contraacuterio significa afirmar que houve um processo de apropriaccedilatildeo que agora torna-se
consciente e que em tornando-se consciente deixa livre o pensamento para se incumbir de
novas accedilotildees e novas operaccedilotildees agora de caraacuteter mais elevadoA ideacuteia eacute que uma atividade
coloca a crianccedila em determinada accedilatildeo que por sua vez lhe exige operaccedilotildees para executaacute-la
Ao apropriar-se dessas operaccedilotildees a crianccedila deve ser exposta a novas accedilotildees e
consequentemente a novas operaccedilotildees de caraacuteter mais elevado a fim de que seus processos
mentais estejam em constante desenvolvimento conforme ilustra o quadro abaixo
12
xxx
Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa
Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa
Atividade Accedilatildeo Operaccedilatildeo
Quadro 3 Movimento da aprendizagem na Teoria da Atividade com base em Sforni (2004)
Esse movimento revela para Leontiev o processo ininterrupto de desenvolvimento do sujeito
Para Sforni (2004 p104) esse processo revela o momento da aprendizagem poreacutem natildeo eacute
natural precisa ser mediado por algueacutem mais experiente o que reforccedila a ideacuteia de que a
mediaccedilatildeo tal como jaacute sublinhamos nos estudos vygtskianos eacute outro compontente
fundamental do processo de apropriaccedilatildeo
Todo esse contexto nos leva a pensar novamente sobre a repeticcedilatildeo sistemaacutetica de 1ordf a 4ordf
seacuterie da escrita de narrativas escolaresSe pela teoria da atividade a crianccedila precisa estar
exposta a novas accedilotildees e a novas operaccedilotildees quais conteuacutedos satildeo avanccedilados de seacuterie para
seacuterie se existe a repeticcedilatildeo sistemaacutetica principalmente da narrativa escolar baseada no
modelo aristoteacutelico Se percebemos que as crianccedilas jaacute dominam esse gecircnero escolar por que
natildeo avanccedilar com novos gecircneros ou em ficando nesse gecircnero com novas operaccedilotildees que
mobilizaratildeo novos conteuacutedos Por exemplo em se pensando em gecircneros que se utilizam da
sequumlecircncia narrativa como predominante por que natildeo trabalhar com narrativas de enigmas ou
narrativas de terror que traratildeo novas variaccedilotildees e novos esquemas de organizaccedilatildeo para serem
apropriados pelas crianccedilas
Completando o quadro teoacuterico da TA Davydov (1998) concorda com Leontiev que a
estrutura da atividade seja composta de necessidades tarefas accedilotildees e operaccedilotildees poreacutem
acrescenta um novo componente ndash o desejo ndashjaacute que para ele as emoccedilotildees satildeo inseparaacuteveis da
necessidade (a emoccedilatildeo seria a base para todas as tarefas que o homem se propotildee a fazer) eacute o
desejo que provoca uma necessidade entatildeo a funccedilatildeo do professor seria a de pensar em como
criar desejos para a aprendizagem para que estes provoquem uma necessidade e iniciem o
processo de atividade
Para Libacircneo (2004) esse novo componente deixa claro no campo edcacional ao viacutenculo
entre afetividade e cogniccedilatildeo As atividades humans estatildeo para o autor impregnadas de
13
sentido subjetivo as quais propuosionam nosso agir tanto pensando na esfera escolar como
na esfera do nosso cotidiano Nesse sentido precisamos levar em conta que o processode
apropriaccedilatildeo depende tambeacutem de aspectos afetivos (cf DAVYDOV 1998)
A questatildeo do desejo pode ser comparada agrave questatildeo da voliccedilatildeo discutida por Vygotsky
(2001)Como vimos na seccedilatildeo anterior a relaccedilatildeo do sujeito com o objeto eacute uma relaccedilatildeo
mediada pelo outro atraveacutes da linguagem (e das ferramentas) Para Vygotsky (19882001) eacute a
linguagem que possibilita a constituiccedilatildeo do pensamento da consciecircncia da vontade isto eacute
das funccedilotildees psicoloacutegicas superiores Nesse sentido soacute tomamos consciecircncia individual a
partir primeiro das interaccedilotildees sociais ou da relaccedilatildeo com o outro Normalmente no caso da
crianccedila esse outro eacute algueacutem afetivamente proacutexima a ela Eacute o aspecto emocional envolvido
nessa relaccedilatildeo que motiva e impulsiona a crianccedila a agir Nesse sentido temos que a vontade eacute
uma funccedilatildeo psicoloacutegica superior e a sua construccedilatildeo depende de uma atividade que eacute portanto
de natureza social
Todas essas categorias na perspectiva da Teoria da Atividade implicam que se coloque a
crianccedila em uma trabalho inicialmente coletivo para posteriormente ser individual o que
remete agrave importacircncia de se desenvolver na sala de aula aleacutem das produccedilotildees individuais as
produccedilotildees coletivas De qualquer modo mesmo natildeo sendo um campo epistemoloacutegico voltado
para os gecircneros textuais eacute possiacutevel percebermos as razotildees de Bronckart (2003 2006) ter
utilizado dessa fonte no Interacionismo Sociodiscursivo jaacute que as noccedilotildees de atividade e da
accedilatildeo natildeo soacute regulam os objetivos dos indiviacuteduos nas diversas interaccedilotildees sociais como
tambeacutem satildeo importantes elementos para pensarmos em como gerar um conhecimento que seja
significativo e dessa forma seja apreendido pela crianccedilaaluno
4 Ilustrando o trabalho com a formaccedilatildeo de professores de seacuteries iniciais
As duas atividades que seratildeo aqui delineadas decorreram de trecircs de um total de seis etapas de
um curso de formaccedilatildeo envolvendo o tema gecircneros textuais e ensino ministrado para 15
professores de uma escola da rede puacuteblica do noroeste do Paranaacute por duas professoras
formadoras (das quais fizemos parte) e estagiaacuterias do curso de Letras no segundo semestre de
2007 As trecircs etapas iniciais tiveram como toacutepicos (a) pressupostos baacutesicos da Abordagem
Histoacuterico-Social e da Teoria da Atividade b) pressupostos gerais sobre gecircneros textuais a
partir de Bakthin e o Interacionismo Social dentre os quais foram destacados os aspectos
caracterizadores do gecircnero o tema a estrutura composicional e o estilo (BAKTHIN 1992) c)
contexto de produccedilatildeo no ISD (as capacidades de linguagem o instrumento sequumlecircncia didaacutetica
14
ficaram para outras sessotildees) d) transposiccedilatildeo dessas teorias para o ensino da escrita e)
planejamento de aulasoficinasPor questotildees de delimitaccedilatildeo enfocaremos neste artigo apenas
as subetapas ldquo drdquo e ldquoerdquo
As subetapas assinaladas envolveram duas atividades para os professores uma de cunho
teoacuterico e outra de cunho praacutetico A atividade de cunho teoacuterico ocorreu apoacutes as discussotildees
teoacutericas e foi apresentada da seguinte maneira
Em grupo elabore um quadro no qual vocecirc correlacione as categorias da Teoria da Atividade
aos elementos do contexto de produccedilatildeo vistos em Bakthin (1992) e em Bronckart (2003)
Embora no processo inicial de escolarizaccedilatildeo a comparaccedilatildeo como vimos eacute uma operaccedilatildeo
mental que pode caracterizar o pensamento empiacuterico aqui neste exerciacutecio ela natildeo eacute suficiente
Para que os professores realizassem a atividade precisariam entender primeiro cada uma das
teorias seus elementos para depois confrontaacute-los Isso exigiu que utilizassem diversas
operaccedilotildees mentais ressaltadas por Menchiskaia (1969) como a anaacutelise a abstraccedilatildeo a siacutentese
a comparaccedilatildeo a sistematizaccedilatildeo a definiccedilatildeo e a compreensatildeo necessaacuterias ao processo de
apropriaccedilatildeo
Aleacutem disso para a realizaccedilatildeo desse exerciacutecio procuramos respeitar os elementos proacuteprios da
Teoria da Atividade os professores que estavam no curso de formaccedilatildeo solicitaram o curso
portanto partiram de uma necessidade para ali estarem Aleacutem disso tinham um motivo e uma
finalidade queriam buscar informaccedilotildees sobre a transposiccedilatildeo dos gecircneros textuais para
otimizarem o trabalho com as crianccedilas na sala de aula Sabiam que para alcanccedilar esse
propoacutesito teriam que realizar atividades de forma conjunta compostas de accedilotildees e operaccedilotildees
como essa da elaboraccedilatildeo do quadro o planejamento de uma oficina dentre outras que natildeo nos
interessam nesse momento
Eacute preciso tambeacutem esclarecer que o quadro que seraacute apresentado a seguir foi o resultado final
de um trabalho coletivo e mediado pelas formadoras Para chegarmos a sua versatildeo final
foram necessaacuterias trecircs refacccedilotildees numa clara demonstraccedilatildeo de que o processo de
internalizaccedilatildeo como assevera Vygotsky (1988) depende de uma longa seacuterie de eventos
Assim muito provavelmente esse momento representa apenas um dos eventos que os
professores tiveram para iniciar esse processo mas que para que ele se consolide necessitaratildeo
de outros
15
Ressaltamos que todas as operaccedilotildees mentais anteriormente colocadas no referencial teoacuterico
para o desenvolvimento e apropriaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico dependem para que se
coloque o sujeito em atividade dos processos de mediaccedilatildeo tambeacutem realizados pelo professor
(VYGOTSKY 2000 SFORNI 2004) No nosso caso um dos recursos que utilizamos para
conduzir o processo de apropriaccedilatildeo e que se mostrou bastante produtivo em nossas
intervenccedilotildees foi a devoluccedilatildeo de uma nova pergunta apoacutes uma duacutevida estabelecida pelos
professores Como no momento das discussotildees utilizamos o gecircnero exposiccedilatildeo oral buscamos
nessa estrateacutegia comentada por Carneiro (2009) como uma das quais o professor pode se
utilizar para provocar a reflexatildeo e por efeito a possiacutevel compreensatildeo como ilustra o exemplo
abaixo
Professora ()entatildeo o desejo me parece ser tambeacutem a atividade natildeo eacute
Formadora veja pense num exemplo se jaacute almocei mas de repente vejo numa
vitrine um delicioso doce teria um desejo ou uma necessidade por ele
Professora uhm pera aiacute eu natildeo tenho necessidade de come porque jaacute estou
satisfeita mas tenho desejo neacute o desejo eacute mais emocional eacute mais voltado ao prazer
e a necessidade eacute aquilo que eacute necessaacuterio fazerparece mais racional()
Formadora isso agora pense nessa analogia para o campo da escrita
Profesora taacute o desejo tem a ver com o sentimentoa questatildeo dos sentimentos da
crianccedila neacute a gente tem que criar um viacutenculo afetivo entre ela e atividade que vamos
dar e a necessidade eacute taacute mais na razatildeo acho que tem a ver com aquela questatildeo que
discutimos com as praacuteticas sociais que satildeo as necessidades reais que temos de nos
comunicar()
Percebemos que ao devolver a duacutevida em forma de pergunta acrescida com um exemplo de
senso comum a professora formadora provoca uma reflexatildeo na professora participante e
como efeito gera-se o entendimento do conceito antes motivo de duacutevida Claro estaacute que nem
sempre esse recurso conforme comprova Carneiro (opcit) consegue proporcionar a
compreensatildeo mas sem duacutevida eacute ma estrateacutegia interessante para o professor de forma
consciente utilizar em suas explicaccedilotildees
Apoacutes esse trabalho de cunho coletivo elaboramos com a participaccedilatildeo das professoras o
quadro abaixo (resultado de trecircs refacccedilotildees) no qual aleacutem de pensar nas implicaccedilotildees para o
ensino elas tambeacutem correlacionaram os elementos da teoria da atividade com alguns dos
elementos do contexto de produccedilatildeo
16
Elementos estruturais da Teoria da Atividade Implicaccedilotildees para o ensino da escrita
DESEJO Elemento afetivo que desencadeia a necessidade da
escrita eacute desencadeado tanto pelo processo de
mediaccedilatildeo do professor com o aluno como tambeacutem
pela motivaccedilatildeo exercida por exemplo para a
abertura de um novo projetoatividade de
escritaNatildeo s relaciona a nenhum dos elementos
previstos pelo contexto de produccedilatildeo jaacute que eacute de
ordem emocional
NECESSIDADE Envolve o uso especiacutefico da escrita numa
determinada situaccedilatildeo de produccedilatildeo para atender a
uma praacutetica social especiacutefica escrever para publicar
um livro de contos escrever para produzir uma
reivindicaccedilatildeo escrever para solicitar alguma coisa
escrever para participar de um concurso escrever
um cardaacutepio para uma festa etc
MOTIVO Envolve o sentido da escrita para a crianccedila de modo
a convencecirc-la a escrever por meio de atividades que
oportunizem correlacionar a escrita com as emoccedilotildees
da crianccedila e tambeacutem com seus provaacuteveis
interlocutores pois satildeo eles que vinculam sentido
agravequilo que a crianccedila escreve (BAKTHIN 2003)
Uma dessas atividades que podem vincular a escrita
ao motivo pode ser a divulgaccedilatildeo da produccedilatildeo final
ao puacuteblico por exemplo compor um fabulaacuterio para
ser divulgado numa amostra de livros da escola
produzir cartazes para divulgaccedilatildeo de festas na escola
e afixaacute-los em estabelecimentos comerciais elaborar
notiacutecias para o jornal da escola ou para a raacutedio da
escola produzir livros de histoacuterias infantis para
crianccedilas menores elaborar uma seccedilatildeo de
classificados divulgando serviccedilos prestados ou
produtos vendidos por familiares e amigos do bairro
etcEntendemos que o fato da divulgaccedilatildeo do olhar
do outro como afirmam BakthinVoloshinov (1992)
satildeo essenciais para instaurar uma escrita
significativa
FINALIDADE Envolve o objetivo especiacutefico da escrita na situaccedilatildeo
de interaccedilatildeo para quecirc escrever Para solicitar
alguma coisa para colocar a minha opiniatildeo para
17
contar uma anedota etcA finalidade ou o objetivo
da produccedilatildeo deve vir claramente expressa no
comando de escrita a ser entregue para o aluno
ACcedilAtildeO Envolve a definiccedilatildeo do gecircnero textual que a crianccedila
iraacute escrever um resumo uma notiacutecia uma carta do
leitor um anuacutencio de classificado um comentaacuterio
um conto de fadas etc
OPERACcedilOtildeES (modos de execuccedilatildeo de uma catildeo) Envolve uma seacuterie de tarefas anteriores aacute produccedilatildeo
escritaoral do gecircnero com vistas aacute apropriaccedilatildeo dos
elementos caracterizadores dos gecircneros (o tema a
estrutura composiconal e o estilo) e levando em
conta as fases da escrita planejamento revisatildeo e
reescrita
Quadro 4 Elementos da Teoria da Atividade e sua implicaccedilatildeo na escrita
O exerciacutecio acima evidenciou-nos que mesmo sem ainda terem a noccedilatildeo sobre as capacidades
de linguagem a serem desenvolvidas no quadro do ISD os professores por meio das
operaccedilotildees mentais que o exerciacutecio exigia (anaacutelise comparaccedilatildeo abstraccedilatildeo siacutentese
exemplificaccedilatildeo) conseguem fazer relaccedilotildees coerentes entre os elementos da Teoria da
Atividade com implicaccedilotildees para o ensino da escrita Por exemplo relacionam a necessidade
elemento desencadeador da atividade com a praacutetica social como elemento desencadeador da
atividade de produccedilatildeo que no quadro do ISD eacute o elemento que possibilita alavancar por
exemplo as sequecircncias didaacuteticas (cfDOLZ SCHNEUWLY 2004)
Tambeacutem associam de forma interessante o motivo com um dos elementos do contexto de
produccedilatildeo o interlocutor reforccedilando a importacircncia desse elemento como tambeacutem aspecto
motivacional no ato da escrita Da mesma forma o tema e seu tratamento exaustivo
(BAKTHIN 1992) eacute explorado na associaccedilatildeo entre esse elemento e a accedilatildeo na medida em que
ao definir um determinado gecircnero estaacute implicado aiacute a realizaccedilatildeo desse elemento bakthiniano
Por fim nas operaccedilotildees fica claro que os professores conseguiram perceber que para se
escrever um determinado gecircnero seraacute preciso decompocirc-lo em uma seacuterie de atividades nas
quais se mobilizaratildeo o tema a estrutura composicional e o estilo
Na sequumlecircncia apoacutes a discussatildeo do quadro e com o intuito de promover mais um evento para
reforccedilar o processo de internalizaccedilatildeo agora numa atividade praacutetica solicitamos que cada
duplatrio de professores elaborassem um planejamento de uma oficina de leituraproduccedilatildeo
textual (jaacute que nesse momento ainda desconheciam outros instrumentos proacuteprios do ISD
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como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com
atividades de escrita
O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras
de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre
de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um
suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito
com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar
jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da
Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que
tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos
previstos em cada etapa
A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma
oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas
as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs
refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo
4ordf seacuteries 12 ha
SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR
DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola
NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da
escola
MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral
FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na
escola e em casa
ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de
humor)
2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais
da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha
Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar
o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e
definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim
19
de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as
seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para
quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social
2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura
ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a
organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos
e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio
anterior
1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras
MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a
importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar
tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto
1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que
envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido
com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e
trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido
1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em
grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na
escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira
contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade
anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os
interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma
lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira
escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4
quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos
das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -
elaboraccedilatildeo dos balotildees
2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar
ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a
releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com
mediaccedilatildeo do professora
2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)
apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o
tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as
formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo
Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais
O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro
momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de
operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no
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interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo
(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-
problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)
No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo
finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do
contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o
reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro
elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar
um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de
humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as
crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees
estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo
Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993
DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos
que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo
para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio
Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na
visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia
coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a
reescrita
Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos
como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser
compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado
pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua
transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o
processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica
para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos
da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do
Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se
coerentes a essas bases teoacutericas
Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e
certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e
conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que
soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um
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pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)
talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados
5Consideraccedilotildees finais
O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo
de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da
Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de
apropriaccedilatildeo
a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade
interna
b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do
sujeito para que se concretize
c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por
elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e
as operaccedilotildees
d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem
mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como
propulsores do desenvolvimento
e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito
d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a
definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc
Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores
sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer
um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa
instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o
desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as
praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um
pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do
curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em
torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais
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7
que pensemos por exemplo em categorias de exerciacutecios para a transposiccedilatildeo didaacutetica dos
gecircneros textuais pois levam a crianccedila a atividades mentais diferenciadas
Para chegar agrave sistematizaccedilatildeo a crianccedilaaluno se depara com outro processo mental a
abstraccedilatildeo Menchiskaia (op cit) no entanto explica que quando o aluno generaliza sobre
objetos ou fenocircmenos separa o que eacute geral do particular acaba natildeo dando importacircncia para
outras qualidades que os diferenciam entre si tem somente em conta aquilo que destacou
como geral Esse processo eacute a abstraccedilatildeo Por exemplo uma crianccedila pode pensar sobre a cor
parecida de determinados objetos e desprezar suas formas e funccedilotildees Por isso o processo de
abstraccedilatildeo e de generalizaccedilatildeo estatildeo intimamente ligados Assim para que uma correta
compreensatildeo do fenocircmeno seja realizada eacute necessaacuterio juntar agrave comparaccedilatildeo outros processos
mentais como a compreensatildeo a definiccedilatildeo o estabelecimento de causas e efeitos a soluccedilatildeo de
problemas a formulaccedilatildeo de outros exemplos dentre de um mesmo sistema dentre outras
Completando essa discussatildeo Rubstov (1996) explica que o desenvolvimento do
conhecimento cientiacutefico (a) eacute elaborado por meio de uma anaacutelise do papel e da funccedilatildeo de
uma certa relaccedilatildeo entre as coisas no interior de um sistema (b) representa as relaccedilotildees entre as
propriedades dos objetos e suas ligaccedilotildees internas (c) estabelece relaccedilatildeo entre o geral e o
particular (d) concretiza-s por meio da transformaccedilatildeo do saber em uma teoria desenvolvida
por meio da deduccedilatildeo e uma explicaccedilatildeo das manifestaccedilotildees concretas do sistema (e) apresenta-
se por diferentes modos de atividade intelectual e de operaccedilotildees mentais (f) utiliza-se de
diferentes sistemas semioacuteticos
Para os autores da THC portanto o conhecimento sensorial ou espontacircneo eacute a origem
indispensaacutevel para a formulaccedilatildeo de conceitos (DAVYDOV 1982 VYGOTSKY 1988 2000
2001) no entanto seraacute preciso revelar a essecircncia desse objeto que historicamente se
reconstitui atraveacutes do estudo do seu real funcionamento por meio a diversificaccedilatildeo d diversas
operaccedilotildees mentais
A ideacuteia de real funcionamento pensando nos gecircneros textuais remete agrave ideacuteia de praacuteticas
sociais situadas Ou seja natildeo se ensina um gecircnero pelo gecircnero mas se ensina um gecircnero para
que o aluno se aproprie de uma determinada praacutetica social para que use aquele gecircnero dentro
de uma situaccedilatildeo especiacutefica de comunicaccedilatildeo (NASCIMENTO 2007 ROJO 2005 LOPES-
ROSSI 2002)
Isso eacute possiacutevel a partir de um ensino voltado para a apropriaccedilatildeo adequada do conhecimento
teoacuterico objetivado nesse objeto o qual oportuniza agrave crianccedilasujeito entrar em contato com
diferentes modos de atividade intelectual com diferentes sistemas semioacuteticos e operaccedilotildees
mentais para aleacutem de representaccedilotildees meramente sensoriaisAleacutem de envolver processos como
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a comparaccedilatildeo a anaacutelise a siacutentese a generalizaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de problema a
crianccedilasujeito ao estar inserida num ensino adequado voltado para a atividade toma
consciecircncia do real uso e valor do conceito aleacutem de conseguir mobilizaacute-lo em diferentes
tarefas (Davydov 1982) Exatamente por isso entender a noccedilatildeo de atividade eacute outro aspecto
para entendermos o processo de apropriaccedilatildeo
3 A contribuiccedilatildeo da teoria da atividade para o processo de apropriaccedilatildeo
A teoria da atividade (TA) desenvolvida por Leontiev e seguidores (Rubstein Luria e
Davydov) eacute considerada uma continuidade das ideacuteias de Vygotsky tido um dos precursores
da teoria psicoloacutegica da atividade Segundo Sforni (2004 p86)
As investigaccedilotildees de Leontiev voltaram-se para estudo da estrutura da
atividade externa e de seu viacutenculo com os processos psiacutequicos Seus estudos
revelaram que as atividades externa e interna tecircm estruturas idecircnticas e
mais que a atividade psiacutequica interna representa uma atividade material
externa transformada o que evidencia a unidade entra atividade e psiquismo
Ao comentar o processo de evoluccedilatildeo do homem Leontiev (2004) destaca que as
caracteriacutesticas humanas satildeo desenvolvidas pela apropriaccedilatildeo da cultura material e intelectual
transmitida de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo Isso quer dizer que natildeo nos relacionamos diretamente com o
mundo mas temos uma relaccedilatildeo que eacute mediada pelo conhecimento objetivado pelas geraccedilatildeo
que nos antecederam por intermeacutedio dos instrumentos simboacutelicos (signos) que proporcionam
nosso desenvolvimento mental O processo de mediaccedilatildeo portanto nessa concepccedilatildeo eacute um
meio de chegarmos agrave apropriaccedilatildeo dos mediadores culturais entendidos aqui tambeacutem como os
conhecimentos cientiacuteficos objetivados nos mais diversos instrumentos
Por intermeacutedio desses mediadores eacute que podemos pensar em desenvolvimento do psiquismo
da crianccedila (e tambeacutem do adulto) Ao se apropriar da linguagem enquanto mediadora cultural e
de outras ferramentas a princiacutepio fiacutesicas (como objetos o jogo o brinquedo) a crianccedila aos
poucos incorpora todo o desenvolvimento intelectual objetivado nesses elementos
(VYGOTSKY 1981 p 137)
Quando chega ao processo de escolarizaccedilatildeo novas ferramentas satildeo apresentadas para as
crianccedilas Se pensarmos no ensino da escrita nas seacuteries iniciais quais satildeo os textos que tecircm
ainda predominado Que tipo de instrumentos elas tecircm agrave disposiccedilatildeo para o desenvolvimento
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da escrita A resposta eacute simples e velha conhecida no campo educacional as modalidades
retoacutericas (descriccedilatildeo dissertaccedilatildeo e principalmente a narraccedilatildeo) prevalecem como possiacuteveis
instrumentos de desenvolvimentos da escrita
Mas se nos voltarmos para a teoria Histoacuterico-Cultural e pensarmos em termos de cultura
material de heranccedila intelectual entendemos que as atividades humanas se desenvolveram por
meio da linguagem Ora essas atividades foram se multiplicando e se diversificando em cada
esfera da comunicaccedilatildeo humana (no cotidiano na literatura na religiatildeo no comeacutercio e mais
recentemente na miacutedia dentre outras) Em cada uma dessas esferas a comunicaccedilatildeo entre os
parceiros da interaccedilatildeo constituiu diferentes praacuteticas sociais que se materializaram e se
materializam ininterruptamente por meio dos gecircneros textuais (BAKTHIN 2003)
Essa organizaccedilatildeo das sociedades por praacuteticas sociais eacute diferente em cada eacutepoca histoacuterica em
cada lugar em cada cultura Por isso mesmo essas praacuteticas modificam-se outras se extinguem
e algumas novas surgem Os gecircneros textuais nesse sentido satildeo materializaccedilotildees de uma
determinada praacutetica social que por sua vez eacute dinacircmica e histoacuterica Veja-se por exemplo a
praacutetica social ldquomandar um recadordquoDependendo dos parceiros da interaccedilatildeo e da esfera de
circulaccedilatildeo poderiacuteamos fazer isso utilizando diferentes gecircneros por um bilhete (se fosse da
esfera familiar) por uma carta formal (esfera institucional) por um e-mail (esfera comercial)
Por isso mesmo entendemos que na medida em que os professores trabalham de forma
predominante com os textos narrativos ou as modalidades retoacutericas aleacutem de natildeo levarem em
conta todo esse legado intelectual produzido pela humanidade natildeo conseguem promover o
letramento dessa crianccedila no futuro (cf DIONIacuteSIO 2005) ou os multiletramentos os
letramentos multissemioacuteticos e os letramentos multimeios1 (cf ROJO 2007)
Por essas razotildees (e outras) eacute que os documentos oficiais como os Paracircmetros Curriculares
Nacionais (BRASIL 1998) tecircm insistido o trabalho com os diferentes gecircneros textuais
Poreacutem natildeo devemos nos seduzir apenas pelas prescriccedilotildees ou por modismos Pelo que jaacute
expusemostodo trabalho com um determinado objeto teoacuterico (seja o gecircnero ou outro) exige
conhecimento cientiacutefico do professor acerca do funcionamento dos gecircneros em suas mais
variadas esferas de circulaccedilatildeo sem o qual ele natildeo conseguiraacute promover na crianccedila nem a
apropriaccedilatildeo do gecircnero e nem o desenvolvimento da escrita
1 Os primeiros (multiletramentos) se referem ao trabalho com as muacuteltiplas esferas sociais nas quais os gecircneros se inscrevem tais como a jornaliacutestica a religiosa a juriacutedica a poliacutetica e natildeo apenas a literaacuteria como tem sido frequumlente na escola Os segundos (letramentos multissemioacuteticos) requerem que a escola trabalhe natildeo apenas com a linguagem verbal mas tambeacutem com a linguagem sonora imageacutetica visual musical jaacute que a TV a Internet satildeo veiacuteculos repletos de textos que se utilizam dessas formas de expressatildeoNo que concerne aos letramentos multimeios a autora considera aqueles gerados pelo contato com os mais diversos suportes de informaccedilatildeo que a sociedade disponibiliza entendidos como a TV o raacutedio o cinema a Internet o jornal impresso etc
10
Como vimos na seccedilatildeo anterior o processo de apropriaccedilatildeo implica em se colocar o sujeito
dentro de uma atividade conceito esse retomado pelo ISD mas cuja origem se daacute de forma
mais destacada na obra de Leontiev (20012004) No niacutevel individual a atividade eacute entendida
como uma forma de agir do sujeito direcionada a um objetoNo plano coletivo a atividade
define-se como
() aqueles processos que realizando as relaccedilotildees do homem como o mundo
satisfazem uma necessidade especial correspondente a ela () Por atividade
designamos os processos psicologicamente caracterizados por aquilo que o processa
como um todo se dirige (isto eacute objeto) coincidindo sempre com o objetivo que
estimula o sujeito a executar essa atividade isto eacute o motivo (LEONTIEV 2001
p315)
As atividades humanas para Leontiev (2004) satildeo consideradas como formadoras das relaccedilotildees
do sujeito com o mundo dirigidas por motivos por fins a serem alcanccedilados A ideacuteia de
atividade envolve entatildeo a noccedilatildeo de que o homem orienta-se por objetivos agindo de forma
intencional por accedilotildees planejadas
O autor daacute relevacircncia inicialmente agrave atividade coletiva em conjunto na medida em que o
ambiente sociocultural pode desencadear motivos para a realizaccedilatildeo de novas accedilotildees do sujeito
que por sua vez exigiratildeo novas operaccedilotildees as quais desenvolveratildeo os processos psiacutequicos
superioresOs componentes desse movimento da atividade propostos por Leontiev (2001) satildeo
necessidade- motivo- finalidade- condiccedilotildees para se obter a finalidade
Dentro dessa concepccedilatildeo a atividade eacute formada pela seguinte estrutura geral
Necessidade Motivo Objetivos Condiccedilotildees
Atividade
Accedilotildees Operaccedilotildees
Quadro 2 Estrutura geral da atividade adaptada de Leontiev (2001 2004)
A necessidade eacute o fator que desencadeia a atividade eacute ela que motiva o sujeito concretamente
a ter objetivos e realizar as accedilotildees (SFORNI 2004) Ela eacute um componente tatildeo importante que
Sforni (p97) acrescenta ldquonem todo processo eacute uma atividade mas somente aquele que eacute
movido por uma necessidaderdquoObviamente ao pensarmos no ensino da escrita devemos levar
em conta que a necessidade eacute um componente importante
11
E o que leva uma crianccedila a produzir um texto Certamente natildeo deveria ser o fato de cumprir
uma tarefa ou preencher o tempo da sala mas a necessidade da crianccedila escrever vincula-se ao
motivo a uma relaccedilatildeo com esse objeto que vai aleacutem da razatildeo envolvendo aspectos tambeacutem
de ordem afetiva Se ela natildeo vecirc sentido naquilo que realiza logo natildeo torna consciente o que
escreve e faz e se natildeo tem consciecircncia sobre as accedilotildees que realiza natildeo eacute possiacutevel qualificaacute-las
de atividade mas apenas de uma tarefa de uma obrigaccedilatildeo escolarO motivo eacute justamente o
componente mais afetivo da teoria da afetividade Vincula-se agraves emoccedilotildees do sujeito e
relaciona-se ao sentido da atividade
A finalidade tem a ver com aquilo que se pretende de forma mais particular naquela atividade
poderiacuteamos associaacute-la ao objetivo Para a realizaccedilatildeo desse objetivo seratildeo necessaacuterias as
condiccedilotildees os meios para alcanccedilaacute-lo por intermeacutedio das accedilotildees e das operaccedilotildeesA accedilatildeo eacute o
processo cuja o motivo natildeo coincide com seu objeto mas pertence aacute atividade
Leontiev (2004) ilustra essa afirmaccedilatildeo ao explicar que a atividade de ler um livro para apenas
passar numa prova natildeo eacute uma atividade mas uma accedilatildeo porque ler o livro por ler natildeo eacute um
objetivo forte que estimula a accedilatildeo do sujeito Poreacutem a accedilatildeo pode se transformar em atividade
quando passa a ter um motivo para o sujeito No exemplo dado se o aluno comeccedila a ler e a
leitura acaba por envolvecirc-lo por alguma razatildeo o motivo da atividade desloca-se
transformando-se a accedilatildeo em uma atividade
Uma accedilatildeo pode ser realizada de diferentes maneiras designadas por Leontiev de operaccedilotildees
as quais consistem no modo de execuccedilatildeo de uma determinada tarefa que pode ser variadoAs
operaccedilotildees particularizam um determinado objeto e revelam suas partes intriacutensecas daiacute serem
elementos fundamentais para a apropriaccedilatildeo As accedilotildees realizadas por indiviacuteduo no interior de
uma atividade transformam-se em operaccedilotildees e estas mais tarde em haacutebitos e habilidades
Quando isso ocorre saem da esfera dos processo conscientes e passam a ocupar um lugar
inferior na estrutura da atividade
Todavia ocupar lsquoum lugar inferiorrsquo natildeo significa simplificar o estatuto da operaccedilatildeo ao
contraacuterio significa afirmar que houve um processo de apropriaccedilatildeo que agora torna-se
consciente e que em tornando-se consciente deixa livre o pensamento para se incumbir de
novas accedilotildees e novas operaccedilotildees agora de caraacuteter mais elevadoA ideacuteia eacute que uma atividade
coloca a crianccedila em determinada accedilatildeo que por sua vez lhe exige operaccedilotildees para executaacute-la
Ao apropriar-se dessas operaccedilotildees a crianccedila deve ser exposta a novas accedilotildees e
consequentemente a novas operaccedilotildees de caraacuteter mais elevado a fim de que seus processos
mentais estejam em constante desenvolvimento conforme ilustra o quadro abaixo
12
xxx
Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa
Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa
Atividade Accedilatildeo Operaccedilatildeo
Quadro 3 Movimento da aprendizagem na Teoria da Atividade com base em Sforni (2004)
Esse movimento revela para Leontiev o processo ininterrupto de desenvolvimento do sujeito
Para Sforni (2004 p104) esse processo revela o momento da aprendizagem poreacutem natildeo eacute
natural precisa ser mediado por algueacutem mais experiente o que reforccedila a ideacuteia de que a
mediaccedilatildeo tal como jaacute sublinhamos nos estudos vygtskianos eacute outro compontente
fundamental do processo de apropriaccedilatildeo
Todo esse contexto nos leva a pensar novamente sobre a repeticcedilatildeo sistemaacutetica de 1ordf a 4ordf
seacuterie da escrita de narrativas escolaresSe pela teoria da atividade a crianccedila precisa estar
exposta a novas accedilotildees e a novas operaccedilotildees quais conteuacutedos satildeo avanccedilados de seacuterie para
seacuterie se existe a repeticcedilatildeo sistemaacutetica principalmente da narrativa escolar baseada no
modelo aristoteacutelico Se percebemos que as crianccedilas jaacute dominam esse gecircnero escolar por que
natildeo avanccedilar com novos gecircneros ou em ficando nesse gecircnero com novas operaccedilotildees que
mobilizaratildeo novos conteuacutedos Por exemplo em se pensando em gecircneros que se utilizam da
sequumlecircncia narrativa como predominante por que natildeo trabalhar com narrativas de enigmas ou
narrativas de terror que traratildeo novas variaccedilotildees e novos esquemas de organizaccedilatildeo para serem
apropriados pelas crianccedilas
Completando o quadro teoacuterico da TA Davydov (1998) concorda com Leontiev que a
estrutura da atividade seja composta de necessidades tarefas accedilotildees e operaccedilotildees poreacutem
acrescenta um novo componente ndash o desejo ndashjaacute que para ele as emoccedilotildees satildeo inseparaacuteveis da
necessidade (a emoccedilatildeo seria a base para todas as tarefas que o homem se propotildee a fazer) eacute o
desejo que provoca uma necessidade entatildeo a funccedilatildeo do professor seria a de pensar em como
criar desejos para a aprendizagem para que estes provoquem uma necessidade e iniciem o
processo de atividade
Para Libacircneo (2004) esse novo componente deixa claro no campo edcacional ao viacutenculo
entre afetividade e cogniccedilatildeo As atividades humans estatildeo para o autor impregnadas de
13
sentido subjetivo as quais propuosionam nosso agir tanto pensando na esfera escolar como
na esfera do nosso cotidiano Nesse sentido precisamos levar em conta que o processode
apropriaccedilatildeo depende tambeacutem de aspectos afetivos (cf DAVYDOV 1998)
A questatildeo do desejo pode ser comparada agrave questatildeo da voliccedilatildeo discutida por Vygotsky
(2001)Como vimos na seccedilatildeo anterior a relaccedilatildeo do sujeito com o objeto eacute uma relaccedilatildeo
mediada pelo outro atraveacutes da linguagem (e das ferramentas) Para Vygotsky (19882001) eacute a
linguagem que possibilita a constituiccedilatildeo do pensamento da consciecircncia da vontade isto eacute
das funccedilotildees psicoloacutegicas superiores Nesse sentido soacute tomamos consciecircncia individual a
partir primeiro das interaccedilotildees sociais ou da relaccedilatildeo com o outro Normalmente no caso da
crianccedila esse outro eacute algueacutem afetivamente proacutexima a ela Eacute o aspecto emocional envolvido
nessa relaccedilatildeo que motiva e impulsiona a crianccedila a agir Nesse sentido temos que a vontade eacute
uma funccedilatildeo psicoloacutegica superior e a sua construccedilatildeo depende de uma atividade que eacute portanto
de natureza social
Todas essas categorias na perspectiva da Teoria da Atividade implicam que se coloque a
crianccedila em uma trabalho inicialmente coletivo para posteriormente ser individual o que
remete agrave importacircncia de se desenvolver na sala de aula aleacutem das produccedilotildees individuais as
produccedilotildees coletivas De qualquer modo mesmo natildeo sendo um campo epistemoloacutegico voltado
para os gecircneros textuais eacute possiacutevel percebermos as razotildees de Bronckart (2003 2006) ter
utilizado dessa fonte no Interacionismo Sociodiscursivo jaacute que as noccedilotildees de atividade e da
accedilatildeo natildeo soacute regulam os objetivos dos indiviacuteduos nas diversas interaccedilotildees sociais como
tambeacutem satildeo importantes elementos para pensarmos em como gerar um conhecimento que seja
significativo e dessa forma seja apreendido pela crianccedilaaluno
4 Ilustrando o trabalho com a formaccedilatildeo de professores de seacuteries iniciais
As duas atividades que seratildeo aqui delineadas decorreram de trecircs de um total de seis etapas de
um curso de formaccedilatildeo envolvendo o tema gecircneros textuais e ensino ministrado para 15
professores de uma escola da rede puacuteblica do noroeste do Paranaacute por duas professoras
formadoras (das quais fizemos parte) e estagiaacuterias do curso de Letras no segundo semestre de
2007 As trecircs etapas iniciais tiveram como toacutepicos (a) pressupostos baacutesicos da Abordagem
Histoacuterico-Social e da Teoria da Atividade b) pressupostos gerais sobre gecircneros textuais a
partir de Bakthin e o Interacionismo Social dentre os quais foram destacados os aspectos
caracterizadores do gecircnero o tema a estrutura composicional e o estilo (BAKTHIN 1992) c)
contexto de produccedilatildeo no ISD (as capacidades de linguagem o instrumento sequumlecircncia didaacutetica
14
ficaram para outras sessotildees) d) transposiccedilatildeo dessas teorias para o ensino da escrita e)
planejamento de aulasoficinasPor questotildees de delimitaccedilatildeo enfocaremos neste artigo apenas
as subetapas ldquo drdquo e ldquoerdquo
As subetapas assinaladas envolveram duas atividades para os professores uma de cunho
teoacuterico e outra de cunho praacutetico A atividade de cunho teoacuterico ocorreu apoacutes as discussotildees
teoacutericas e foi apresentada da seguinte maneira
Em grupo elabore um quadro no qual vocecirc correlacione as categorias da Teoria da Atividade
aos elementos do contexto de produccedilatildeo vistos em Bakthin (1992) e em Bronckart (2003)
Embora no processo inicial de escolarizaccedilatildeo a comparaccedilatildeo como vimos eacute uma operaccedilatildeo
mental que pode caracterizar o pensamento empiacuterico aqui neste exerciacutecio ela natildeo eacute suficiente
Para que os professores realizassem a atividade precisariam entender primeiro cada uma das
teorias seus elementos para depois confrontaacute-los Isso exigiu que utilizassem diversas
operaccedilotildees mentais ressaltadas por Menchiskaia (1969) como a anaacutelise a abstraccedilatildeo a siacutentese
a comparaccedilatildeo a sistematizaccedilatildeo a definiccedilatildeo e a compreensatildeo necessaacuterias ao processo de
apropriaccedilatildeo
Aleacutem disso para a realizaccedilatildeo desse exerciacutecio procuramos respeitar os elementos proacuteprios da
Teoria da Atividade os professores que estavam no curso de formaccedilatildeo solicitaram o curso
portanto partiram de uma necessidade para ali estarem Aleacutem disso tinham um motivo e uma
finalidade queriam buscar informaccedilotildees sobre a transposiccedilatildeo dos gecircneros textuais para
otimizarem o trabalho com as crianccedilas na sala de aula Sabiam que para alcanccedilar esse
propoacutesito teriam que realizar atividades de forma conjunta compostas de accedilotildees e operaccedilotildees
como essa da elaboraccedilatildeo do quadro o planejamento de uma oficina dentre outras que natildeo nos
interessam nesse momento
Eacute preciso tambeacutem esclarecer que o quadro que seraacute apresentado a seguir foi o resultado final
de um trabalho coletivo e mediado pelas formadoras Para chegarmos a sua versatildeo final
foram necessaacuterias trecircs refacccedilotildees numa clara demonstraccedilatildeo de que o processo de
internalizaccedilatildeo como assevera Vygotsky (1988) depende de uma longa seacuterie de eventos
Assim muito provavelmente esse momento representa apenas um dos eventos que os
professores tiveram para iniciar esse processo mas que para que ele se consolide necessitaratildeo
de outros
15
Ressaltamos que todas as operaccedilotildees mentais anteriormente colocadas no referencial teoacuterico
para o desenvolvimento e apropriaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico dependem para que se
coloque o sujeito em atividade dos processos de mediaccedilatildeo tambeacutem realizados pelo professor
(VYGOTSKY 2000 SFORNI 2004) No nosso caso um dos recursos que utilizamos para
conduzir o processo de apropriaccedilatildeo e que se mostrou bastante produtivo em nossas
intervenccedilotildees foi a devoluccedilatildeo de uma nova pergunta apoacutes uma duacutevida estabelecida pelos
professores Como no momento das discussotildees utilizamos o gecircnero exposiccedilatildeo oral buscamos
nessa estrateacutegia comentada por Carneiro (2009) como uma das quais o professor pode se
utilizar para provocar a reflexatildeo e por efeito a possiacutevel compreensatildeo como ilustra o exemplo
abaixo
Professora ()entatildeo o desejo me parece ser tambeacutem a atividade natildeo eacute
Formadora veja pense num exemplo se jaacute almocei mas de repente vejo numa
vitrine um delicioso doce teria um desejo ou uma necessidade por ele
Professora uhm pera aiacute eu natildeo tenho necessidade de come porque jaacute estou
satisfeita mas tenho desejo neacute o desejo eacute mais emocional eacute mais voltado ao prazer
e a necessidade eacute aquilo que eacute necessaacuterio fazerparece mais racional()
Formadora isso agora pense nessa analogia para o campo da escrita
Profesora taacute o desejo tem a ver com o sentimentoa questatildeo dos sentimentos da
crianccedila neacute a gente tem que criar um viacutenculo afetivo entre ela e atividade que vamos
dar e a necessidade eacute taacute mais na razatildeo acho que tem a ver com aquela questatildeo que
discutimos com as praacuteticas sociais que satildeo as necessidades reais que temos de nos
comunicar()
Percebemos que ao devolver a duacutevida em forma de pergunta acrescida com um exemplo de
senso comum a professora formadora provoca uma reflexatildeo na professora participante e
como efeito gera-se o entendimento do conceito antes motivo de duacutevida Claro estaacute que nem
sempre esse recurso conforme comprova Carneiro (opcit) consegue proporcionar a
compreensatildeo mas sem duacutevida eacute ma estrateacutegia interessante para o professor de forma
consciente utilizar em suas explicaccedilotildees
Apoacutes esse trabalho de cunho coletivo elaboramos com a participaccedilatildeo das professoras o
quadro abaixo (resultado de trecircs refacccedilotildees) no qual aleacutem de pensar nas implicaccedilotildees para o
ensino elas tambeacutem correlacionaram os elementos da teoria da atividade com alguns dos
elementos do contexto de produccedilatildeo
16
Elementos estruturais da Teoria da Atividade Implicaccedilotildees para o ensino da escrita
DESEJO Elemento afetivo que desencadeia a necessidade da
escrita eacute desencadeado tanto pelo processo de
mediaccedilatildeo do professor com o aluno como tambeacutem
pela motivaccedilatildeo exercida por exemplo para a
abertura de um novo projetoatividade de
escritaNatildeo s relaciona a nenhum dos elementos
previstos pelo contexto de produccedilatildeo jaacute que eacute de
ordem emocional
NECESSIDADE Envolve o uso especiacutefico da escrita numa
determinada situaccedilatildeo de produccedilatildeo para atender a
uma praacutetica social especiacutefica escrever para publicar
um livro de contos escrever para produzir uma
reivindicaccedilatildeo escrever para solicitar alguma coisa
escrever para participar de um concurso escrever
um cardaacutepio para uma festa etc
MOTIVO Envolve o sentido da escrita para a crianccedila de modo
a convencecirc-la a escrever por meio de atividades que
oportunizem correlacionar a escrita com as emoccedilotildees
da crianccedila e tambeacutem com seus provaacuteveis
interlocutores pois satildeo eles que vinculam sentido
agravequilo que a crianccedila escreve (BAKTHIN 2003)
Uma dessas atividades que podem vincular a escrita
ao motivo pode ser a divulgaccedilatildeo da produccedilatildeo final
ao puacuteblico por exemplo compor um fabulaacuterio para
ser divulgado numa amostra de livros da escola
produzir cartazes para divulgaccedilatildeo de festas na escola
e afixaacute-los em estabelecimentos comerciais elaborar
notiacutecias para o jornal da escola ou para a raacutedio da
escola produzir livros de histoacuterias infantis para
crianccedilas menores elaborar uma seccedilatildeo de
classificados divulgando serviccedilos prestados ou
produtos vendidos por familiares e amigos do bairro
etcEntendemos que o fato da divulgaccedilatildeo do olhar
do outro como afirmam BakthinVoloshinov (1992)
satildeo essenciais para instaurar uma escrita
significativa
FINALIDADE Envolve o objetivo especiacutefico da escrita na situaccedilatildeo
de interaccedilatildeo para quecirc escrever Para solicitar
alguma coisa para colocar a minha opiniatildeo para
17
contar uma anedota etcA finalidade ou o objetivo
da produccedilatildeo deve vir claramente expressa no
comando de escrita a ser entregue para o aluno
ACcedilAtildeO Envolve a definiccedilatildeo do gecircnero textual que a crianccedila
iraacute escrever um resumo uma notiacutecia uma carta do
leitor um anuacutencio de classificado um comentaacuterio
um conto de fadas etc
OPERACcedilOtildeES (modos de execuccedilatildeo de uma catildeo) Envolve uma seacuterie de tarefas anteriores aacute produccedilatildeo
escritaoral do gecircnero com vistas aacute apropriaccedilatildeo dos
elementos caracterizadores dos gecircneros (o tema a
estrutura composiconal e o estilo) e levando em
conta as fases da escrita planejamento revisatildeo e
reescrita
Quadro 4 Elementos da Teoria da Atividade e sua implicaccedilatildeo na escrita
O exerciacutecio acima evidenciou-nos que mesmo sem ainda terem a noccedilatildeo sobre as capacidades
de linguagem a serem desenvolvidas no quadro do ISD os professores por meio das
operaccedilotildees mentais que o exerciacutecio exigia (anaacutelise comparaccedilatildeo abstraccedilatildeo siacutentese
exemplificaccedilatildeo) conseguem fazer relaccedilotildees coerentes entre os elementos da Teoria da
Atividade com implicaccedilotildees para o ensino da escrita Por exemplo relacionam a necessidade
elemento desencadeador da atividade com a praacutetica social como elemento desencadeador da
atividade de produccedilatildeo que no quadro do ISD eacute o elemento que possibilita alavancar por
exemplo as sequecircncias didaacuteticas (cfDOLZ SCHNEUWLY 2004)
Tambeacutem associam de forma interessante o motivo com um dos elementos do contexto de
produccedilatildeo o interlocutor reforccedilando a importacircncia desse elemento como tambeacutem aspecto
motivacional no ato da escrita Da mesma forma o tema e seu tratamento exaustivo
(BAKTHIN 1992) eacute explorado na associaccedilatildeo entre esse elemento e a accedilatildeo na medida em que
ao definir um determinado gecircnero estaacute implicado aiacute a realizaccedilatildeo desse elemento bakthiniano
Por fim nas operaccedilotildees fica claro que os professores conseguiram perceber que para se
escrever um determinado gecircnero seraacute preciso decompocirc-lo em uma seacuterie de atividades nas
quais se mobilizaratildeo o tema a estrutura composicional e o estilo
Na sequumlecircncia apoacutes a discussatildeo do quadro e com o intuito de promover mais um evento para
reforccedilar o processo de internalizaccedilatildeo agora numa atividade praacutetica solicitamos que cada
duplatrio de professores elaborassem um planejamento de uma oficina de leituraproduccedilatildeo
textual (jaacute que nesse momento ainda desconheciam outros instrumentos proacuteprios do ISD
18
como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com
atividades de escrita
O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras
de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre
de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um
suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito
com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar
jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da
Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que
tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos
previstos em cada etapa
A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma
oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas
as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs
refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo
4ordf seacuteries 12 ha
SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR
DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola
NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da
escola
MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral
FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na
escola e em casa
ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de
humor)
2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais
da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha
Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar
o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e
definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim
19
de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as
seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para
quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social
2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura
ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a
organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos
e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio
anterior
1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras
MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a
importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar
tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto
1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que
envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido
com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e
trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido
1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em
grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na
escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira
contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade
anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os
interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma
lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira
escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4
quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos
das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -
elaboraccedilatildeo dos balotildees
2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar
ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a
releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com
mediaccedilatildeo do professora
2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)
apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o
tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as
formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo
Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais
O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro
momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de
operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no
20
interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo
(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-
problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)
No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo
finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do
contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o
reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro
elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar
um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de
humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as
crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees
estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo
Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993
DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos
que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo
para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio
Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na
visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia
coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a
reescrita
Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos
como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser
compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado
pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua
transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o
processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica
para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos
da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do
Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se
coerentes a essas bases teoacutericas
Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e
certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e
conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que
soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um
21
pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)
talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados
5Consideraccedilotildees finais
O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo
de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da
Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de
apropriaccedilatildeo
a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade
interna
b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do
sujeito para que se concretize
c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por
elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e
as operaccedilotildees
d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem
mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como
propulsores do desenvolvimento
e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito
d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a
definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc
Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores
sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer
um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa
instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o
desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as
praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um
pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do
curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em
torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais
22
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Apoacutes Vygotsky e Piaget perspectiva social e construtivista Escolas russa e ocidentalPorto
Alegre Artes Meacutedicas 1996
SFORNI MS de F Aprendizagem conceitual e organizaccedilatildeo do ensino contribuiccedilotildees da
teoria da atividade 1ed Araraquara JM Editora 2004
__________________ Aprendizagem e Desenvolvimento o papel da mediaccedilatildeo In Vera
Luacutecia Fialho Capellini Rosa Maria Manzoni (Org) Poliacuteticas puacuteblicas praacuteticas
pedagoacutegicas e ensino-aprendizagem diferentes olhares sobre o processo educacional Bauru
UNESPFCSatildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2008 no prelo
VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem Lisboa Antiacutedoto 1979
_______________ Obras escogidas II Madrid Visor 1982
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VYGOTSKY LS Estudo do desenvolvimento dos conceitos cientiacuteficos na infacircncia In A
construccedilatildeo do pensamento e da linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 p 241-394
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a comparaccedilatildeo a anaacutelise a siacutentese a generalizaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de problema a
crianccedilasujeito ao estar inserida num ensino adequado voltado para a atividade toma
consciecircncia do real uso e valor do conceito aleacutem de conseguir mobilizaacute-lo em diferentes
tarefas (Davydov 1982) Exatamente por isso entender a noccedilatildeo de atividade eacute outro aspecto
para entendermos o processo de apropriaccedilatildeo
3 A contribuiccedilatildeo da teoria da atividade para o processo de apropriaccedilatildeo
A teoria da atividade (TA) desenvolvida por Leontiev e seguidores (Rubstein Luria e
Davydov) eacute considerada uma continuidade das ideacuteias de Vygotsky tido um dos precursores
da teoria psicoloacutegica da atividade Segundo Sforni (2004 p86)
As investigaccedilotildees de Leontiev voltaram-se para estudo da estrutura da
atividade externa e de seu viacutenculo com os processos psiacutequicos Seus estudos
revelaram que as atividades externa e interna tecircm estruturas idecircnticas e
mais que a atividade psiacutequica interna representa uma atividade material
externa transformada o que evidencia a unidade entra atividade e psiquismo
Ao comentar o processo de evoluccedilatildeo do homem Leontiev (2004) destaca que as
caracteriacutesticas humanas satildeo desenvolvidas pela apropriaccedilatildeo da cultura material e intelectual
transmitida de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo Isso quer dizer que natildeo nos relacionamos diretamente com o
mundo mas temos uma relaccedilatildeo que eacute mediada pelo conhecimento objetivado pelas geraccedilatildeo
que nos antecederam por intermeacutedio dos instrumentos simboacutelicos (signos) que proporcionam
nosso desenvolvimento mental O processo de mediaccedilatildeo portanto nessa concepccedilatildeo eacute um
meio de chegarmos agrave apropriaccedilatildeo dos mediadores culturais entendidos aqui tambeacutem como os
conhecimentos cientiacuteficos objetivados nos mais diversos instrumentos
Por intermeacutedio desses mediadores eacute que podemos pensar em desenvolvimento do psiquismo
da crianccedila (e tambeacutem do adulto) Ao se apropriar da linguagem enquanto mediadora cultural e
de outras ferramentas a princiacutepio fiacutesicas (como objetos o jogo o brinquedo) a crianccedila aos
poucos incorpora todo o desenvolvimento intelectual objetivado nesses elementos
(VYGOTSKY 1981 p 137)
Quando chega ao processo de escolarizaccedilatildeo novas ferramentas satildeo apresentadas para as
crianccedilas Se pensarmos no ensino da escrita nas seacuteries iniciais quais satildeo os textos que tecircm
ainda predominado Que tipo de instrumentos elas tecircm agrave disposiccedilatildeo para o desenvolvimento
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da escrita A resposta eacute simples e velha conhecida no campo educacional as modalidades
retoacutericas (descriccedilatildeo dissertaccedilatildeo e principalmente a narraccedilatildeo) prevalecem como possiacuteveis
instrumentos de desenvolvimentos da escrita
Mas se nos voltarmos para a teoria Histoacuterico-Cultural e pensarmos em termos de cultura
material de heranccedila intelectual entendemos que as atividades humanas se desenvolveram por
meio da linguagem Ora essas atividades foram se multiplicando e se diversificando em cada
esfera da comunicaccedilatildeo humana (no cotidiano na literatura na religiatildeo no comeacutercio e mais
recentemente na miacutedia dentre outras) Em cada uma dessas esferas a comunicaccedilatildeo entre os
parceiros da interaccedilatildeo constituiu diferentes praacuteticas sociais que se materializaram e se
materializam ininterruptamente por meio dos gecircneros textuais (BAKTHIN 2003)
Essa organizaccedilatildeo das sociedades por praacuteticas sociais eacute diferente em cada eacutepoca histoacuterica em
cada lugar em cada cultura Por isso mesmo essas praacuteticas modificam-se outras se extinguem
e algumas novas surgem Os gecircneros textuais nesse sentido satildeo materializaccedilotildees de uma
determinada praacutetica social que por sua vez eacute dinacircmica e histoacuterica Veja-se por exemplo a
praacutetica social ldquomandar um recadordquoDependendo dos parceiros da interaccedilatildeo e da esfera de
circulaccedilatildeo poderiacuteamos fazer isso utilizando diferentes gecircneros por um bilhete (se fosse da
esfera familiar) por uma carta formal (esfera institucional) por um e-mail (esfera comercial)
Por isso mesmo entendemos que na medida em que os professores trabalham de forma
predominante com os textos narrativos ou as modalidades retoacutericas aleacutem de natildeo levarem em
conta todo esse legado intelectual produzido pela humanidade natildeo conseguem promover o
letramento dessa crianccedila no futuro (cf DIONIacuteSIO 2005) ou os multiletramentos os
letramentos multissemioacuteticos e os letramentos multimeios1 (cf ROJO 2007)
Por essas razotildees (e outras) eacute que os documentos oficiais como os Paracircmetros Curriculares
Nacionais (BRASIL 1998) tecircm insistido o trabalho com os diferentes gecircneros textuais
Poreacutem natildeo devemos nos seduzir apenas pelas prescriccedilotildees ou por modismos Pelo que jaacute
expusemostodo trabalho com um determinado objeto teoacuterico (seja o gecircnero ou outro) exige
conhecimento cientiacutefico do professor acerca do funcionamento dos gecircneros em suas mais
variadas esferas de circulaccedilatildeo sem o qual ele natildeo conseguiraacute promover na crianccedila nem a
apropriaccedilatildeo do gecircnero e nem o desenvolvimento da escrita
1 Os primeiros (multiletramentos) se referem ao trabalho com as muacuteltiplas esferas sociais nas quais os gecircneros se inscrevem tais como a jornaliacutestica a religiosa a juriacutedica a poliacutetica e natildeo apenas a literaacuteria como tem sido frequumlente na escola Os segundos (letramentos multissemioacuteticos) requerem que a escola trabalhe natildeo apenas com a linguagem verbal mas tambeacutem com a linguagem sonora imageacutetica visual musical jaacute que a TV a Internet satildeo veiacuteculos repletos de textos que se utilizam dessas formas de expressatildeoNo que concerne aos letramentos multimeios a autora considera aqueles gerados pelo contato com os mais diversos suportes de informaccedilatildeo que a sociedade disponibiliza entendidos como a TV o raacutedio o cinema a Internet o jornal impresso etc
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Como vimos na seccedilatildeo anterior o processo de apropriaccedilatildeo implica em se colocar o sujeito
dentro de uma atividade conceito esse retomado pelo ISD mas cuja origem se daacute de forma
mais destacada na obra de Leontiev (20012004) No niacutevel individual a atividade eacute entendida
como uma forma de agir do sujeito direcionada a um objetoNo plano coletivo a atividade
define-se como
() aqueles processos que realizando as relaccedilotildees do homem como o mundo
satisfazem uma necessidade especial correspondente a ela () Por atividade
designamos os processos psicologicamente caracterizados por aquilo que o processa
como um todo se dirige (isto eacute objeto) coincidindo sempre com o objetivo que
estimula o sujeito a executar essa atividade isto eacute o motivo (LEONTIEV 2001
p315)
As atividades humanas para Leontiev (2004) satildeo consideradas como formadoras das relaccedilotildees
do sujeito com o mundo dirigidas por motivos por fins a serem alcanccedilados A ideacuteia de
atividade envolve entatildeo a noccedilatildeo de que o homem orienta-se por objetivos agindo de forma
intencional por accedilotildees planejadas
O autor daacute relevacircncia inicialmente agrave atividade coletiva em conjunto na medida em que o
ambiente sociocultural pode desencadear motivos para a realizaccedilatildeo de novas accedilotildees do sujeito
que por sua vez exigiratildeo novas operaccedilotildees as quais desenvolveratildeo os processos psiacutequicos
superioresOs componentes desse movimento da atividade propostos por Leontiev (2001) satildeo
necessidade- motivo- finalidade- condiccedilotildees para se obter a finalidade
Dentro dessa concepccedilatildeo a atividade eacute formada pela seguinte estrutura geral
Necessidade Motivo Objetivos Condiccedilotildees
Atividade
Accedilotildees Operaccedilotildees
Quadro 2 Estrutura geral da atividade adaptada de Leontiev (2001 2004)
A necessidade eacute o fator que desencadeia a atividade eacute ela que motiva o sujeito concretamente
a ter objetivos e realizar as accedilotildees (SFORNI 2004) Ela eacute um componente tatildeo importante que
Sforni (p97) acrescenta ldquonem todo processo eacute uma atividade mas somente aquele que eacute
movido por uma necessidaderdquoObviamente ao pensarmos no ensino da escrita devemos levar
em conta que a necessidade eacute um componente importante
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E o que leva uma crianccedila a produzir um texto Certamente natildeo deveria ser o fato de cumprir
uma tarefa ou preencher o tempo da sala mas a necessidade da crianccedila escrever vincula-se ao
motivo a uma relaccedilatildeo com esse objeto que vai aleacutem da razatildeo envolvendo aspectos tambeacutem
de ordem afetiva Se ela natildeo vecirc sentido naquilo que realiza logo natildeo torna consciente o que
escreve e faz e se natildeo tem consciecircncia sobre as accedilotildees que realiza natildeo eacute possiacutevel qualificaacute-las
de atividade mas apenas de uma tarefa de uma obrigaccedilatildeo escolarO motivo eacute justamente o
componente mais afetivo da teoria da afetividade Vincula-se agraves emoccedilotildees do sujeito e
relaciona-se ao sentido da atividade
A finalidade tem a ver com aquilo que se pretende de forma mais particular naquela atividade
poderiacuteamos associaacute-la ao objetivo Para a realizaccedilatildeo desse objetivo seratildeo necessaacuterias as
condiccedilotildees os meios para alcanccedilaacute-lo por intermeacutedio das accedilotildees e das operaccedilotildeesA accedilatildeo eacute o
processo cuja o motivo natildeo coincide com seu objeto mas pertence aacute atividade
Leontiev (2004) ilustra essa afirmaccedilatildeo ao explicar que a atividade de ler um livro para apenas
passar numa prova natildeo eacute uma atividade mas uma accedilatildeo porque ler o livro por ler natildeo eacute um
objetivo forte que estimula a accedilatildeo do sujeito Poreacutem a accedilatildeo pode se transformar em atividade
quando passa a ter um motivo para o sujeito No exemplo dado se o aluno comeccedila a ler e a
leitura acaba por envolvecirc-lo por alguma razatildeo o motivo da atividade desloca-se
transformando-se a accedilatildeo em uma atividade
Uma accedilatildeo pode ser realizada de diferentes maneiras designadas por Leontiev de operaccedilotildees
as quais consistem no modo de execuccedilatildeo de uma determinada tarefa que pode ser variadoAs
operaccedilotildees particularizam um determinado objeto e revelam suas partes intriacutensecas daiacute serem
elementos fundamentais para a apropriaccedilatildeo As accedilotildees realizadas por indiviacuteduo no interior de
uma atividade transformam-se em operaccedilotildees e estas mais tarde em haacutebitos e habilidades
Quando isso ocorre saem da esfera dos processo conscientes e passam a ocupar um lugar
inferior na estrutura da atividade
Todavia ocupar lsquoum lugar inferiorrsquo natildeo significa simplificar o estatuto da operaccedilatildeo ao
contraacuterio significa afirmar que houve um processo de apropriaccedilatildeo que agora torna-se
consciente e que em tornando-se consciente deixa livre o pensamento para se incumbir de
novas accedilotildees e novas operaccedilotildees agora de caraacuteter mais elevadoA ideacuteia eacute que uma atividade
coloca a crianccedila em determinada accedilatildeo que por sua vez lhe exige operaccedilotildees para executaacute-la
Ao apropriar-se dessas operaccedilotildees a crianccedila deve ser exposta a novas accedilotildees e
consequentemente a novas operaccedilotildees de caraacuteter mais elevado a fim de que seus processos
mentais estejam em constante desenvolvimento conforme ilustra o quadro abaixo
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xxx
Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa
Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa
Atividade Accedilatildeo Operaccedilatildeo
Quadro 3 Movimento da aprendizagem na Teoria da Atividade com base em Sforni (2004)
Esse movimento revela para Leontiev o processo ininterrupto de desenvolvimento do sujeito
Para Sforni (2004 p104) esse processo revela o momento da aprendizagem poreacutem natildeo eacute
natural precisa ser mediado por algueacutem mais experiente o que reforccedila a ideacuteia de que a
mediaccedilatildeo tal como jaacute sublinhamos nos estudos vygtskianos eacute outro compontente
fundamental do processo de apropriaccedilatildeo
Todo esse contexto nos leva a pensar novamente sobre a repeticcedilatildeo sistemaacutetica de 1ordf a 4ordf
seacuterie da escrita de narrativas escolaresSe pela teoria da atividade a crianccedila precisa estar
exposta a novas accedilotildees e a novas operaccedilotildees quais conteuacutedos satildeo avanccedilados de seacuterie para
seacuterie se existe a repeticcedilatildeo sistemaacutetica principalmente da narrativa escolar baseada no
modelo aristoteacutelico Se percebemos que as crianccedilas jaacute dominam esse gecircnero escolar por que
natildeo avanccedilar com novos gecircneros ou em ficando nesse gecircnero com novas operaccedilotildees que
mobilizaratildeo novos conteuacutedos Por exemplo em se pensando em gecircneros que se utilizam da
sequumlecircncia narrativa como predominante por que natildeo trabalhar com narrativas de enigmas ou
narrativas de terror que traratildeo novas variaccedilotildees e novos esquemas de organizaccedilatildeo para serem
apropriados pelas crianccedilas
Completando o quadro teoacuterico da TA Davydov (1998) concorda com Leontiev que a
estrutura da atividade seja composta de necessidades tarefas accedilotildees e operaccedilotildees poreacutem
acrescenta um novo componente ndash o desejo ndashjaacute que para ele as emoccedilotildees satildeo inseparaacuteveis da
necessidade (a emoccedilatildeo seria a base para todas as tarefas que o homem se propotildee a fazer) eacute o
desejo que provoca uma necessidade entatildeo a funccedilatildeo do professor seria a de pensar em como
criar desejos para a aprendizagem para que estes provoquem uma necessidade e iniciem o
processo de atividade
Para Libacircneo (2004) esse novo componente deixa claro no campo edcacional ao viacutenculo
entre afetividade e cogniccedilatildeo As atividades humans estatildeo para o autor impregnadas de
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sentido subjetivo as quais propuosionam nosso agir tanto pensando na esfera escolar como
na esfera do nosso cotidiano Nesse sentido precisamos levar em conta que o processode
apropriaccedilatildeo depende tambeacutem de aspectos afetivos (cf DAVYDOV 1998)
A questatildeo do desejo pode ser comparada agrave questatildeo da voliccedilatildeo discutida por Vygotsky
(2001)Como vimos na seccedilatildeo anterior a relaccedilatildeo do sujeito com o objeto eacute uma relaccedilatildeo
mediada pelo outro atraveacutes da linguagem (e das ferramentas) Para Vygotsky (19882001) eacute a
linguagem que possibilita a constituiccedilatildeo do pensamento da consciecircncia da vontade isto eacute
das funccedilotildees psicoloacutegicas superiores Nesse sentido soacute tomamos consciecircncia individual a
partir primeiro das interaccedilotildees sociais ou da relaccedilatildeo com o outro Normalmente no caso da
crianccedila esse outro eacute algueacutem afetivamente proacutexima a ela Eacute o aspecto emocional envolvido
nessa relaccedilatildeo que motiva e impulsiona a crianccedila a agir Nesse sentido temos que a vontade eacute
uma funccedilatildeo psicoloacutegica superior e a sua construccedilatildeo depende de uma atividade que eacute portanto
de natureza social
Todas essas categorias na perspectiva da Teoria da Atividade implicam que se coloque a
crianccedila em uma trabalho inicialmente coletivo para posteriormente ser individual o que
remete agrave importacircncia de se desenvolver na sala de aula aleacutem das produccedilotildees individuais as
produccedilotildees coletivas De qualquer modo mesmo natildeo sendo um campo epistemoloacutegico voltado
para os gecircneros textuais eacute possiacutevel percebermos as razotildees de Bronckart (2003 2006) ter
utilizado dessa fonte no Interacionismo Sociodiscursivo jaacute que as noccedilotildees de atividade e da
accedilatildeo natildeo soacute regulam os objetivos dos indiviacuteduos nas diversas interaccedilotildees sociais como
tambeacutem satildeo importantes elementos para pensarmos em como gerar um conhecimento que seja
significativo e dessa forma seja apreendido pela crianccedilaaluno
4 Ilustrando o trabalho com a formaccedilatildeo de professores de seacuteries iniciais
As duas atividades que seratildeo aqui delineadas decorreram de trecircs de um total de seis etapas de
um curso de formaccedilatildeo envolvendo o tema gecircneros textuais e ensino ministrado para 15
professores de uma escola da rede puacuteblica do noroeste do Paranaacute por duas professoras
formadoras (das quais fizemos parte) e estagiaacuterias do curso de Letras no segundo semestre de
2007 As trecircs etapas iniciais tiveram como toacutepicos (a) pressupostos baacutesicos da Abordagem
Histoacuterico-Social e da Teoria da Atividade b) pressupostos gerais sobre gecircneros textuais a
partir de Bakthin e o Interacionismo Social dentre os quais foram destacados os aspectos
caracterizadores do gecircnero o tema a estrutura composicional e o estilo (BAKTHIN 1992) c)
contexto de produccedilatildeo no ISD (as capacidades de linguagem o instrumento sequumlecircncia didaacutetica
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ficaram para outras sessotildees) d) transposiccedilatildeo dessas teorias para o ensino da escrita e)
planejamento de aulasoficinasPor questotildees de delimitaccedilatildeo enfocaremos neste artigo apenas
as subetapas ldquo drdquo e ldquoerdquo
As subetapas assinaladas envolveram duas atividades para os professores uma de cunho
teoacuterico e outra de cunho praacutetico A atividade de cunho teoacuterico ocorreu apoacutes as discussotildees
teoacutericas e foi apresentada da seguinte maneira
Em grupo elabore um quadro no qual vocecirc correlacione as categorias da Teoria da Atividade
aos elementos do contexto de produccedilatildeo vistos em Bakthin (1992) e em Bronckart (2003)
Embora no processo inicial de escolarizaccedilatildeo a comparaccedilatildeo como vimos eacute uma operaccedilatildeo
mental que pode caracterizar o pensamento empiacuterico aqui neste exerciacutecio ela natildeo eacute suficiente
Para que os professores realizassem a atividade precisariam entender primeiro cada uma das
teorias seus elementos para depois confrontaacute-los Isso exigiu que utilizassem diversas
operaccedilotildees mentais ressaltadas por Menchiskaia (1969) como a anaacutelise a abstraccedilatildeo a siacutentese
a comparaccedilatildeo a sistematizaccedilatildeo a definiccedilatildeo e a compreensatildeo necessaacuterias ao processo de
apropriaccedilatildeo
Aleacutem disso para a realizaccedilatildeo desse exerciacutecio procuramos respeitar os elementos proacuteprios da
Teoria da Atividade os professores que estavam no curso de formaccedilatildeo solicitaram o curso
portanto partiram de uma necessidade para ali estarem Aleacutem disso tinham um motivo e uma
finalidade queriam buscar informaccedilotildees sobre a transposiccedilatildeo dos gecircneros textuais para
otimizarem o trabalho com as crianccedilas na sala de aula Sabiam que para alcanccedilar esse
propoacutesito teriam que realizar atividades de forma conjunta compostas de accedilotildees e operaccedilotildees
como essa da elaboraccedilatildeo do quadro o planejamento de uma oficina dentre outras que natildeo nos
interessam nesse momento
Eacute preciso tambeacutem esclarecer que o quadro que seraacute apresentado a seguir foi o resultado final
de um trabalho coletivo e mediado pelas formadoras Para chegarmos a sua versatildeo final
foram necessaacuterias trecircs refacccedilotildees numa clara demonstraccedilatildeo de que o processo de
internalizaccedilatildeo como assevera Vygotsky (1988) depende de uma longa seacuterie de eventos
Assim muito provavelmente esse momento representa apenas um dos eventos que os
professores tiveram para iniciar esse processo mas que para que ele se consolide necessitaratildeo
de outros
15
Ressaltamos que todas as operaccedilotildees mentais anteriormente colocadas no referencial teoacuterico
para o desenvolvimento e apropriaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico dependem para que se
coloque o sujeito em atividade dos processos de mediaccedilatildeo tambeacutem realizados pelo professor
(VYGOTSKY 2000 SFORNI 2004) No nosso caso um dos recursos que utilizamos para
conduzir o processo de apropriaccedilatildeo e que se mostrou bastante produtivo em nossas
intervenccedilotildees foi a devoluccedilatildeo de uma nova pergunta apoacutes uma duacutevida estabelecida pelos
professores Como no momento das discussotildees utilizamos o gecircnero exposiccedilatildeo oral buscamos
nessa estrateacutegia comentada por Carneiro (2009) como uma das quais o professor pode se
utilizar para provocar a reflexatildeo e por efeito a possiacutevel compreensatildeo como ilustra o exemplo
abaixo
Professora ()entatildeo o desejo me parece ser tambeacutem a atividade natildeo eacute
Formadora veja pense num exemplo se jaacute almocei mas de repente vejo numa
vitrine um delicioso doce teria um desejo ou uma necessidade por ele
Professora uhm pera aiacute eu natildeo tenho necessidade de come porque jaacute estou
satisfeita mas tenho desejo neacute o desejo eacute mais emocional eacute mais voltado ao prazer
e a necessidade eacute aquilo que eacute necessaacuterio fazerparece mais racional()
Formadora isso agora pense nessa analogia para o campo da escrita
Profesora taacute o desejo tem a ver com o sentimentoa questatildeo dos sentimentos da
crianccedila neacute a gente tem que criar um viacutenculo afetivo entre ela e atividade que vamos
dar e a necessidade eacute taacute mais na razatildeo acho que tem a ver com aquela questatildeo que
discutimos com as praacuteticas sociais que satildeo as necessidades reais que temos de nos
comunicar()
Percebemos que ao devolver a duacutevida em forma de pergunta acrescida com um exemplo de
senso comum a professora formadora provoca uma reflexatildeo na professora participante e
como efeito gera-se o entendimento do conceito antes motivo de duacutevida Claro estaacute que nem
sempre esse recurso conforme comprova Carneiro (opcit) consegue proporcionar a
compreensatildeo mas sem duacutevida eacute ma estrateacutegia interessante para o professor de forma
consciente utilizar em suas explicaccedilotildees
Apoacutes esse trabalho de cunho coletivo elaboramos com a participaccedilatildeo das professoras o
quadro abaixo (resultado de trecircs refacccedilotildees) no qual aleacutem de pensar nas implicaccedilotildees para o
ensino elas tambeacutem correlacionaram os elementos da teoria da atividade com alguns dos
elementos do contexto de produccedilatildeo
16
Elementos estruturais da Teoria da Atividade Implicaccedilotildees para o ensino da escrita
DESEJO Elemento afetivo que desencadeia a necessidade da
escrita eacute desencadeado tanto pelo processo de
mediaccedilatildeo do professor com o aluno como tambeacutem
pela motivaccedilatildeo exercida por exemplo para a
abertura de um novo projetoatividade de
escritaNatildeo s relaciona a nenhum dos elementos
previstos pelo contexto de produccedilatildeo jaacute que eacute de
ordem emocional
NECESSIDADE Envolve o uso especiacutefico da escrita numa
determinada situaccedilatildeo de produccedilatildeo para atender a
uma praacutetica social especiacutefica escrever para publicar
um livro de contos escrever para produzir uma
reivindicaccedilatildeo escrever para solicitar alguma coisa
escrever para participar de um concurso escrever
um cardaacutepio para uma festa etc
MOTIVO Envolve o sentido da escrita para a crianccedila de modo
a convencecirc-la a escrever por meio de atividades que
oportunizem correlacionar a escrita com as emoccedilotildees
da crianccedila e tambeacutem com seus provaacuteveis
interlocutores pois satildeo eles que vinculam sentido
agravequilo que a crianccedila escreve (BAKTHIN 2003)
Uma dessas atividades que podem vincular a escrita
ao motivo pode ser a divulgaccedilatildeo da produccedilatildeo final
ao puacuteblico por exemplo compor um fabulaacuterio para
ser divulgado numa amostra de livros da escola
produzir cartazes para divulgaccedilatildeo de festas na escola
e afixaacute-los em estabelecimentos comerciais elaborar
notiacutecias para o jornal da escola ou para a raacutedio da
escola produzir livros de histoacuterias infantis para
crianccedilas menores elaborar uma seccedilatildeo de
classificados divulgando serviccedilos prestados ou
produtos vendidos por familiares e amigos do bairro
etcEntendemos que o fato da divulgaccedilatildeo do olhar
do outro como afirmam BakthinVoloshinov (1992)
satildeo essenciais para instaurar uma escrita
significativa
FINALIDADE Envolve o objetivo especiacutefico da escrita na situaccedilatildeo
de interaccedilatildeo para quecirc escrever Para solicitar
alguma coisa para colocar a minha opiniatildeo para
17
contar uma anedota etcA finalidade ou o objetivo
da produccedilatildeo deve vir claramente expressa no
comando de escrita a ser entregue para o aluno
ACcedilAtildeO Envolve a definiccedilatildeo do gecircnero textual que a crianccedila
iraacute escrever um resumo uma notiacutecia uma carta do
leitor um anuacutencio de classificado um comentaacuterio
um conto de fadas etc
OPERACcedilOtildeES (modos de execuccedilatildeo de uma catildeo) Envolve uma seacuterie de tarefas anteriores aacute produccedilatildeo
escritaoral do gecircnero com vistas aacute apropriaccedilatildeo dos
elementos caracterizadores dos gecircneros (o tema a
estrutura composiconal e o estilo) e levando em
conta as fases da escrita planejamento revisatildeo e
reescrita
Quadro 4 Elementos da Teoria da Atividade e sua implicaccedilatildeo na escrita
O exerciacutecio acima evidenciou-nos que mesmo sem ainda terem a noccedilatildeo sobre as capacidades
de linguagem a serem desenvolvidas no quadro do ISD os professores por meio das
operaccedilotildees mentais que o exerciacutecio exigia (anaacutelise comparaccedilatildeo abstraccedilatildeo siacutentese
exemplificaccedilatildeo) conseguem fazer relaccedilotildees coerentes entre os elementos da Teoria da
Atividade com implicaccedilotildees para o ensino da escrita Por exemplo relacionam a necessidade
elemento desencadeador da atividade com a praacutetica social como elemento desencadeador da
atividade de produccedilatildeo que no quadro do ISD eacute o elemento que possibilita alavancar por
exemplo as sequecircncias didaacuteticas (cfDOLZ SCHNEUWLY 2004)
Tambeacutem associam de forma interessante o motivo com um dos elementos do contexto de
produccedilatildeo o interlocutor reforccedilando a importacircncia desse elemento como tambeacutem aspecto
motivacional no ato da escrita Da mesma forma o tema e seu tratamento exaustivo
(BAKTHIN 1992) eacute explorado na associaccedilatildeo entre esse elemento e a accedilatildeo na medida em que
ao definir um determinado gecircnero estaacute implicado aiacute a realizaccedilatildeo desse elemento bakthiniano
Por fim nas operaccedilotildees fica claro que os professores conseguiram perceber que para se
escrever um determinado gecircnero seraacute preciso decompocirc-lo em uma seacuterie de atividades nas
quais se mobilizaratildeo o tema a estrutura composicional e o estilo
Na sequumlecircncia apoacutes a discussatildeo do quadro e com o intuito de promover mais um evento para
reforccedilar o processo de internalizaccedilatildeo agora numa atividade praacutetica solicitamos que cada
duplatrio de professores elaborassem um planejamento de uma oficina de leituraproduccedilatildeo
textual (jaacute que nesse momento ainda desconheciam outros instrumentos proacuteprios do ISD
18
como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com
atividades de escrita
O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras
de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre
de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um
suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito
com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar
jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da
Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que
tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos
previstos em cada etapa
A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma
oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas
as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs
refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo
4ordf seacuteries 12 ha
SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR
DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola
NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da
escola
MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral
FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na
escola e em casa
ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de
humor)
2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais
da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha
Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar
o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e
definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim
19
de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as
seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para
quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social
2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura
ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a
organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos
e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio
anterior
1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras
MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a
importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar
tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto
1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que
envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido
com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e
trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido
1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em
grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na
escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira
contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade
anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os
interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma
lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira
escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4
quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos
das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -
elaboraccedilatildeo dos balotildees
2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar
ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a
releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com
mediaccedilatildeo do professora
2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)
apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o
tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as
formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo
Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais
O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro
momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de
operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no
20
interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo
(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-
problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)
No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo
finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do
contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o
reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro
elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar
um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de
humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as
crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees
estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo
Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993
DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos
que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo
para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio
Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na
visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia
coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a
reescrita
Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos
como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser
compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado
pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua
transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o
processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica
para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos
da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do
Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se
coerentes a essas bases teoacutericas
Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e
certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e
conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que
soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um
21
pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)
talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados
5Consideraccedilotildees finais
O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo
de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da
Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de
apropriaccedilatildeo
a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade
interna
b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do
sujeito para que se concretize
c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por
elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e
as operaccedilotildees
d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem
mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como
propulsores do desenvolvimento
e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito
d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a
definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc
Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores
sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer
um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa
instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o
desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as
praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um
pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do
curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em
torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais
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9
da escrita A resposta eacute simples e velha conhecida no campo educacional as modalidades
retoacutericas (descriccedilatildeo dissertaccedilatildeo e principalmente a narraccedilatildeo) prevalecem como possiacuteveis
instrumentos de desenvolvimentos da escrita
Mas se nos voltarmos para a teoria Histoacuterico-Cultural e pensarmos em termos de cultura
material de heranccedila intelectual entendemos que as atividades humanas se desenvolveram por
meio da linguagem Ora essas atividades foram se multiplicando e se diversificando em cada
esfera da comunicaccedilatildeo humana (no cotidiano na literatura na religiatildeo no comeacutercio e mais
recentemente na miacutedia dentre outras) Em cada uma dessas esferas a comunicaccedilatildeo entre os
parceiros da interaccedilatildeo constituiu diferentes praacuteticas sociais que se materializaram e se
materializam ininterruptamente por meio dos gecircneros textuais (BAKTHIN 2003)
Essa organizaccedilatildeo das sociedades por praacuteticas sociais eacute diferente em cada eacutepoca histoacuterica em
cada lugar em cada cultura Por isso mesmo essas praacuteticas modificam-se outras se extinguem
e algumas novas surgem Os gecircneros textuais nesse sentido satildeo materializaccedilotildees de uma
determinada praacutetica social que por sua vez eacute dinacircmica e histoacuterica Veja-se por exemplo a
praacutetica social ldquomandar um recadordquoDependendo dos parceiros da interaccedilatildeo e da esfera de
circulaccedilatildeo poderiacuteamos fazer isso utilizando diferentes gecircneros por um bilhete (se fosse da
esfera familiar) por uma carta formal (esfera institucional) por um e-mail (esfera comercial)
Por isso mesmo entendemos que na medida em que os professores trabalham de forma
predominante com os textos narrativos ou as modalidades retoacutericas aleacutem de natildeo levarem em
conta todo esse legado intelectual produzido pela humanidade natildeo conseguem promover o
letramento dessa crianccedila no futuro (cf DIONIacuteSIO 2005) ou os multiletramentos os
letramentos multissemioacuteticos e os letramentos multimeios1 (cf ROJO 2007)
Por essas razotildees (e outras) eacute que os documentos oficiais como os Paracircmetros Curriculares
Nacionais (BRASIL 1998) tecircm insistido o trabalho com os diferentes gecircneros textuais
Poreacutem natildeo devemos nos seduzir apenas pelas prescriccedilotildees ou por modismos Pelo que jaacute
expusemostodo trabalho com um determinado objeto teoacuterico (seja o gecircnero ou outro) exige
conhecimento cientiacutefico do professor acerca do funcionamento dos gecircneros em suas mais
variadas esferas de circulaccedilatildeo sem o qual ele natildeo conseguiraacute promover na crianccedila nem a
apropriaccedilatildeo do gecircnero e nem o desenvolvimento da escrita
1 Os primeiros (multiletramentos) se referem ao trabalho com as muacuteltiplas esferas sociais nas quais os gecircneros se inscrevem tais como a jornaliacutestica a religiosa a juriacutedica a poliacutetica e natildeo apenas a literaacuteria como tem sido frequumlente na escola Os segundos (letramentos multissemioacuteticos) requerem que a escola trabalhe natildeo apenas com a linguagem verbal mas tambeacutem com a linguagem sonora imageacutetica visual musical jaacute que a TV a Internet satildeo veiacuteculos repletos de textos que se utilizam dessas formas de expressatildeoNo que concerne aos letramentos multimeios a autora considera aqueles gerados pelo contato com os mais diversos suportes de informaccedilatildeo que a sociedade disponibiliza entendidos como a TV o raacutedio o cinema a Internet o jornal impresso etc
10
Como vimos na seccedilatildeo anterior o processo de apropriaccedilatildeo implica em se colocar o sujeito
dentro de uma atividade conceito esse retomado pelo ISD mas cuja origem se daacute de forma
mais destacada na obra de Leontiev (20012004) No niacutevel individual a atividade eacute entendida
como uma forma de agir do sujeito direcionada a um objetoNo plano coletivo a atividade
define-se como
() aqueles processos que realizando as relaccedilotildees do homem como o mundo
satisfazem uma necessidade especial correspondente a ela () Por atividade
designamos os processos psicologicamente caracterizados por aquilo que o processa
como um todo se dirige (isto eacute objeto) coincidindo sempre com o objetivo que
estimula o sujeito a executar essa atividade isto eacute o motivo (LEONTIEV 2001
p315)
As atividades humanas para Leontiev (2004) satildeo consideradas como formadoras das relaccedilotildees
do sujeito com o mundo dirigidas por motivos por fins a serem alcanccedilados A ideacuteia de
atividade envolve entatildeo a noccedilatildeo de que o homem orienta-se por objetivos agindo de forma
intencional por accedilotildees planejadas
O autor daacute relevacircncia inicialmente agrave atividade coletiva em conjunto na medida em que o
ambiente sociocultural pode desencadear motivos para a realizaccedilatildeo de novas accedilotildees do sujeito
que por sua vez exigiratildeo novas operaccedilotildees as quais desenvolveratildeo os processos psiacutequicos
superioresOs componentes desse movimento da atividade propostos por Leontiev (2001) satildeo
necessidade- motivo- finalidade- condiccedilotildees para se obter a finalidade
Dentro dessa concepccedilatildeo a atividade eacute formada pela seguinte estrutura geral
Necessidade Motivo Objetivos Condiccedilotildees
Atividade
Accedilotildees Operaccedilotildees
Quadro 2 Estrutura geral da atividade adaptada de Leontiev (2001 2004)
A necessidade eacute o fator que desencadeia a atividade eacute ela que motiva o sujeito concretamente
a ter objetivos e realizar as accedilotildees (SFORNI 2004) Ela eacute um componente tatildeo importante que
Sforni (p97) acrescenta ldquonem todo processo eacute uma atividade mas somente aquele que eacute
movido por uma necessidaderdquoObviamente ao pensarmos no ensino da escrita devemos levar
em conta que a necessidade eacute um componente importante
11
E o que leva uma crianccedila a produzir um texto Certamente natildeo deveria ser o fato de cumprir
uma tarefa ou preencher o tempo da sala mas a necessidade da crianccedila escrever vincula-se ao
motivo a uma relaccedilatildeo com esse objeto que vai aleacutem da razatildeo envolvendo aspectos tambeacutem
de ordem afetiva Se ela natildeo vecirc sentido naquilo que realiza logo natildeo torna consciente o que
escreve e faz e se natildeo tem consciecircncia sobre as accedilotildees que realiza natildeo eacute possiacutevel qualificaacute-las
de atividade mas apenas de uma tarefa de uma obrigaccedilatildeo escolarO motivo eacute justamente o
componente mais afetivo da teoria da afetividade Vincula-se agraves emoccedilotildees do sujeito e
relaciona-se ao sentido da atividade
A finalidade tem a ver com aquilo que se pretende de forma mais particular naquela atividade
poderiacuteamos associaacute-la ao objetivo Para a realizaccedilatildeo desse objetivo seratildeo necessaacuterias as
condiccedilotildees os meios para alcanccedilaacute-lo por intermeacutedio das accedilotildees e das operaccedilotildeesA accedilatildeo eacute o
processo cuja o motivo natildeo coincide com seu objeto mas pertence aacute atividade
Leontiev (2004) ilustra essa afirmaccedilatildeo ao explicar que a atividade de ler um livro para apenas
passar numa prova natildeo eacute uma atividade mas uma accedilatildeo porque ler o livro por ler natildeo eacute um
objetivo forte que estimula a accedilatildeo do sujeito Poreacutem a accedilatildeo pode se transformar em atividade
quando passa a ter um motivo para o sujeito No exemplo dado se o aluno comeccedila a ler e a
leitura acaba por envolvecirc-lo por alguma razatildeo o motivo da atividade desloca-se
transformando-se a accedilatildeo em uma atividade
Uma accedilatildeo pode ser realizada de diferentes maneiras designadas por Leontiev de operaccedilotildees
as quais consistem no modo de execuccedilatildeo de uma determinada tarefa que pode ser variadoAs
operaccedilotildees particularizam um determinado objeto e revelam suas partes intriacutensecas daiacute serem
elementos fundamentais para a apropriaccedilatildeo As accedilotildees realizadas por indiviacuteduo no interior de
uma atividade transformam-se em operaccedilotildees e estas mais tarde em haacutebitos e habilidades
Quando isso ocorre saem da esfera dos processo conscientes e passam a ocupar um lugar
inferior na estrutura da atividade
Todavia ocupar lsquoum lugar inferiorrsquo natildeo significa simplificar o estatuto da operaccedilatildeo ao
contraacuterio significa afirmar que houve um processo de apropriaccedilatildeo que agora torna-se
consciente e que em tornando-se consciente deixa livre o pensamento para se incumbir de
novas accedilotildees e novas operaccedilotildees agora de caraacuteter mais elevadoA ideacuteia eacute que uma atividade
coloca a crianccedila em determinada accedilatildeo que por sua vez lhe exige operaccedilotildees para executaacute-la
Ao apropriar-se dessas operaccedilotildees a crianccedila deve ser exposta a novas accedilotildees e
consequentemente a novas operaccedilotildees de caraacuteter mais elevado a fim de que seus processos
mentais estejam em constante desenvolvimento conforme ilustra o quadro abaixo
12
xxx
Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa
Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa
Atividade Accedilatildeo Operaccedilatildeo
Quadro 3 Movimento da aprendizagem na Teoria da Atividade com base em Sforni (2004)
Esse movimento revela para Leontiev o processo ininterrupto de desenvolvimento do sujeito
Para Sforni (2004 p104) esse processo revela o momento da aprendizagem poreacutem natildeo eacute
natural precisa ser mediado por algueacutem mais experiente o que reforccedila a ideacuteia de que a
mediaccedilatildeo tal como jaacute sublinhamos nos estudos vygtskianos eacute outro compontente
fundamental do processo de apropriaccedilatildeo
Todo esse contexto nos leva a pensar novamente sobre a repeticcedilatildeo sistemaacutetica de 1ordf a 4ordf
seacuterie da escrita de narrativas escolaresSe pela teoria da atividade a crianccedila precisa estar
exposta a novas accedilotildees e a novas operaccedilotildees quais conteuacutedos satildeo avanccedilados de seacuterie para
seacuterie se existe a repeticcedilatildeo sistemaacutetica principalmente da narrativa escolar baseada no
modelo aristoteacutelico Se percebemos que as crianccedilas jaacute dominam esse gecircnero escolar por que
natildeo avanccedilar com novos gecircneros ou em ficando nesse gecircnero com novas operaccedilotildees que
mobilizaratildeo novos conteuacutedos Por exemplo em se pensando em gecircneros que se utilizam da
sequumlecircncia narrativa como predominante por que natildeo trabalhar com narrativas de enigmas ou
narrativas de terror que traratildeo novas variaccedilotildees e novos esquemas de organizaccedilatildeo para serem
apropriados pelas crianccedilas
Completando o quadro teoacuterico da TA Davydov (1998) concorda com Leontiev que a
estrutura da atividade seja composta de necessidades tarefas accedilotildees e operaccedilotildees poreacutem
acrescenta um novo componente ndash o desejo ndashjaacute que para ele as emoccedilotildees satildeo inseparaacuteveis da
necessidade (a emoccedilatildeo seria a base para todas as tarefas que o homem se propotildee a fazer) eacute o
desejo que provoca uma necessidade entatildeo a funccedilatildeo do professor seria a de pensar em como
criar desejos para a aprendizagem para que estes provoquem uma necessidade e iniciem o
processo de atividade
Para Libacircneo (2004) esse novo componente deixa claro no campo edcacional ao viacutenculo
entre afetividade e cogniccedilatildeo As atividades humans estatildeo para o autor impregnadas de
13
sentido subjetivo as quais propuosionam nosso agir tanto pensando na esfera escolar como
na esfera do nosso cotidiano Nesse sentido precisamos levar em conta que o processode
apropriaccedilatildeo depende tambeacutem de aspectos afetivos (cf DAVYDOV 1998)
A questatildeo do desejo pode ser comparada agrave questatildeo da voliccedilatildeo discutida por Vygotsky
(2001)Como vimos na seccedilatildeo anterior a relaccedilatildeo do sujeito com o objeto eacute uma relaccedilatildeo
mediada pelo outro atraveacutes da linguagem (e das ferramentas) Para Vygotsky (19882001) eacute a
linguagem que possibilita a constituiccedilatildeo do pensamento da consciecircncia da vontade isto eacute
das funccedilotildees psicoloacutegicas superiores Nesse sentido soacute tomamos consciecircncia individual a
partir primeiro das interaccedilotildees sociais ou da relaccedilatildeo com o outro Normalmente no caso da
crianccedila esse outro eacute algueacutem afetivamente proacutexima a ela Eacute o aspecto emocional envolvido
nessa relaccedilatildeo que motiva e impulsiona a crianccedila a agir Nesse sentido temos que a vontade eacute
uma funccedilatildeo psicoloacutegica superior e a sua construccedilatildeo depende de uma atividade que eacute portanto
de natureza social
Todas essas categorias na perspectiva da Teoria da Atividade implicam que se coloque a
crianccedila em uma trabalho inicialmente coletivo para posteriormente ser individual o que
remete agrave importacircncia de se desenvolver na sala de aula aleacutem das produccedilotildees individuais as
produccedilotildees coletivas De qualquer modo mesmo natildeo sendo um campo epistemoloacutegico voltado
para os gecircneros textuais eacute possiacutevel percebermos as razotildees de Bronckart (2003 2006) ter
utilizado dessa fonte no Interacionismo Sociodiscursivo jaacute que as noccedilotildees de atividade e da
accedilatildeo natildeo soacute regulam os objetivos dos indiviacuteduos nas diversas interaccedilotildees sociais como
tambeacutem satildeo importantes elementos para pensarmos em como gerar um conhecimento que seja
significativo e dessa forma seja apreendido pela crianccedilaaluno
4 Ilustrando o trabalho com a formaccedilatildeo de professores de seacuteries iniciais
As duas atividades que seratildeo aqui delineadas decorreram de trecircs de um total de seis etapas de
um curso de formaccedilatildeo envolvendo o tema gecircneros textuais e ensino ministrado para 15
professores de uma escola da rede puacuteblica do noroeste do Paranaacute por duas professoras
formadoras (das quais fizemos parte) e estagiaacuterias do curso de Letras no segundo semestre de
2007 As trecircs etapas iniciais tiveram como toacutepicos (a) pressupostos baacutesicos da Abordagem
Histoacuterico-Social e da Teoria da Atividade b) pressupostos gerais sobre gecircneros textuais a
partir de Bakthin e o Interacionismo Social dentre os quais foram destacados os aspectos
caracterizadores do gecircnero o tema a estrutura composicional e o estilo (BAKTHIN 1992) c)
contexto de produccedilatildeo no ISD (as capacidades de linguagem o instrumento sequumlecircncia didaacutetica
14
ficaram para outras sessotildees) d) transposiccedilatildeo dessas teorias para o ensino da escrita e)
planejamento de aulasoficinasPor questotildees de delimitaccedilatildeo enfocaremos neste artigo apenas
as subetapas ldquo drdquo e ldquoerdquo
As subetapas assinaladas envolveram duas atividades para os professores uma de cunho
teoacuterico e outra de cunho praacutetico A atividade de cunho teoacuterico ocorreu apoacutes as discussotildees
teoacutericas e foi apresentada da seguinte maneira
Em grupo elabore um quadro no qual vocecirc correlacione as categorias da Teoria da Atividade
aos elementos do contexto de produccedilatildeo vistos em Bakthin (1992) e em Bronckart (2003)
Embora no processo inicial de escolarizaccedilatildeo a comparaccedilatildeo como vimos eacute uma operaccedilatildeo
mental que pode caracterizar o pensamento empiacuterico aqui neste exerciacutecio ela natildeo eacute suficiente
Para que os professores realizassem a atividade precisariam entender primeiro cada uma das
teorias seus elementos para depois confrontaacute-los Isso exigiu que utilizassem diversas
operaccedilotildees mentais ressaltadas por Menchiskaia (1969) como a anaacutelise a abstraccedilatildeo a siacutentese
a comparaccedilatildeo a sistematizaccedilatildeo a definiccedilatildeo e a compreensatildeo necessaacuterias ao processo de
apropriaccedilatildeo
Aleacutem disso para a realizaccedilatildeo desse exerciacutecio procuramos respeitar os elementos proacuteprios da
Teoria da Atividade os professores que estavam no curso de formaccedilatildeo solicitaram o curso
portanto partiram de uma necessidade para ali estarem Aleacutem disso tinham um motivo e uma
finalidade queriam buscar informaccedilotildees sobre a transposiccedilatildeo dos gecircneros textuais para
otimizarem o trabalho com as crianccedilas na sala de aula Sabiam que para alcanccedilar esse
propoacutesito teriam que realizar atividades de forma conjunta compostas de accedilotildees e operaccedilotildees
como essa da elaboraccedilatildeo do quadro o planejamento de uma oficina dentre outras que natildeo nos
interessam nesse momento
Eacute preciso tambeacutem esclarecer que o quadro que seraacute apresentado a seguir foi o resultado final
de um trabalho coletivo e mediado pelas formadoras Para chegarmos a sua versatildeo final
foram necessaacuterias trecircs refacccedilotildees numa clara demonstraccedilatildeo de que o processo de
internalizaccedilatildeo como assevera Vygotsky (1988) depende de uma longa seacuterie de eventos
Assim muito provavelmente esse momento representa apenas um dos eventos que os
professores tiveram para iniciar esse processo mas que para que ele se consolide necessitaratildeo
de outros
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Ressaltamos que todas as operaccedilotildees mentais anteriormente colocadas no referencial teoacuterico
para o desenvolvimento e apropriaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico dependem para que se
coloque o sujeito em atividade dos processos de mediaccedilatildeo tambeacutem realizados pelo professor
(VYGOTSKY 2000 SFORNI 2004) No nosso caso um dos recursos que utilizamos para
conduzir o processo de apropriaccedilatildeo e que se mostrou bastante produtivo em nossas
intervenccedilotildees foi a devoluccedilatildeo de uma nova pergunta apoacutes uma duacutevida estabelecida pelos
professores Como no momento das discussotildees utilizamos o gecircnero exposiccedilatildeo oral buscamos
nessa estrateacutegia comentada por Carneiro (2009) como uma das quais o professor pode se
utilizar para provocar a reflexatildeo e por efeito a possiacutevel compreensatildeo como ilustra o exemplo
abaixo
Professora ()entatildeo o desejo me parece ser tambeacutem a atividade natildeo eacute
Formadora veja pense num exemplo se jaacute almocei mas de repente vejo numa
vitrine um delicioso doce teria um desejo ou uma necessidade por ele
Professora uhm pera aiacute eu natildeo tenho necessidade de come porque jaacute estou
satisfeita mas tenho desejo neacute o desejo eacute mais emocional eacute mais voltado ao prazer
e a necessidade eacute aquilo que eacute necessaacuterio fazerparece mais racional()
Formadora isso agora pense nessa analogia para o campo da escrita
Profesora taacute o desejo tem a ver com o sentimentoa questatildeo dos sentimentos da
crianccedila neacute a gente tem que criar um viacutenculo afetivo entre ela e atividade que vamos
dar e a necessidade eacute taacute mais na razatildeo acho que tem a ver com aquela questatildeo que
discutimos com as praacuteticas sociais que satildeo as necessidades reais que temos de nos
comunicar()
Percebemos que ao devolver a duacutevida em forma de pergunta acrescida com um exemplo de
senso comum a professora formadora provoca uma reflexatildeo na professora participante e
como efeito gera-se o entendimento do conceito antes motivo de duacutevida Claro estaacute que nem
sempre esse recurso conforme comprova Carneiro (opcit) consegue proporcionar a
compreensatildeo mas sem duacutevida eacute ma estrateacutegia interessante para o professor de forma
consciente utilizar em suas explicaccedilotildees
Apoacutes esse trabalho de cunho coletivo elaboramos com a participaccedilatildeo das professoras o
quadro abaixo (resultado de trecircs refacccedilotildees) no qual aleacutem de pensar nas implicaccedilotildees para o
ensino elas tambeacutem correlacionaram os elementos da teoria da atividade com alguns dos
elementos do contexto de produccedilatildeo
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Elementos estruturais da Teoria da Atividade Implicaccedilotildees para o ensino da escrita
DESEJO Elemento afetivo que desencadeia a necessidade da
escrita eacute desencadeado tanto pelo processo de
mediaccedilatildeo do professor com o aluno como tambeacutem
pela motivaccedilatildeo exercida por exemplo para a
abertura de um novo projetoatividade de
escritaNatildeo s relaciona a nenhum dos elementos
previstos pelo contexto de produccedilatildeo jaacute que eacute de
ordem emocional
NECESSIDADE Envolve o uso especiacutefico da escrita numa
determinada situaccedilatildeo de produccedilatildeo para atender a
uma praacutetica social especiacutefica escrever para publicar
um livro de contos escrever para produzir uma
reivindicaccedilatildeo escrever para solicitar alguma coisa
escrever para participar de um concurso escrever
um cardaacutepio para uma festa etc
MOTIVO Envolve o sentido da escrita para a crianccedila de modo
a convencecirc-la a escrever por meio de atividades que
oportunizem correlacionar a escrita com as emoccedilotildees
da crianccedila e tambeacutem com seus provaacuteveis
interlocutores pois satildeo eles que vinculam sentido
agravequilo que a crianccedila escreve (BAKTHIN 2003)
Uma dessas atividades que podem vincular a escrita
ao motivo pode ser a divulgaccedilatildeo da produccedilatildeo final
ao puacuteblico por exemplo compor um fabulaacuterio para
ser divulgado numa amostra de livros da escola
produzir cartazes para divulgaccedilatildeo de festas na escola
e afixaacute-los em estabelecimentos comerciais elaborar
notiacutecias para o jornal da escola ou para a raacutedio da
escola produzir livros de histoacuterias infantis para
crianccedilas menores elaborar uma seccedilatildeo de
classificados divulgando serviccedilos prestados ou
produtos vendidos por familiares e amigos do bairro
etcEntendemos que o fato da divulgaccedilatildeo do olhar
do outro como afirmam BakthinVoloshinov (1992)
satildeo essenciais para instaurar uma escrita
significativa
FINALIDADE Envolve o objetivo especiacutefico da escrita na situaccedilatildeo
de interaccedilatildeo para quecirc escrever Para solicitar
alguma coisa para colocar a minha opiniatildeo para
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contar uma anedota etcA finalidade ou o objetivo
da produccedilatildeo deve vir claramente expressa no
comando de escrita a ser entregue para o aluno
ACcedilAtildeO Envolve a definiccedilatildeo do gecircnero textual que a crianccedila
iraacute escrever um resumo uma notiacutecia uma carta do
leitor um anuacutencio de classificado um comentaacuterio
um conto de fadas etc
OPERACcedilOtildeES (modos de execuccedilatildeo de uma catildeo) Envolve uma seacuterie de tarefas anteriores aacute produccedilatildeo
escritaoral do gecircnero com vistas aacute apropriaccedilatildeo dos
elementos caracterizadores dos gecircneros (o tema a
estrutura composiconal e o estilo) e levando em
conta as fases da escrita planejamento revisatildeo e
reescrita
Quadro 4 Elementos da Teoria da Atividade e sua implicaccedilatildeo na escrita
O exerciacutecio acima evidenciou-nos que mesmo sem ainda terem a noccedilatildeo sobre as capacidades
de linguagem a serem desenvolvidas no quadro do ISD os professores por meio das
operaccedilotildees mentais que o exerciacutecio exigia (anaacutelise comparaccedilatildeo abstraccedilatildeo siacutentese
exemplificaccedilatildeo) conseguem fazer relaccedilotildees coerentes entre os elementos da Teoria da
Atividade com implicaccedilotildees para o ensino da escrita Por exemplo relacionam a necessidade
elemento desencadeador da atividade com a praacutetica social como elemento desencadeador da
atividade de produccedilatildeo que no quadro do ISD eacute o elemento que possibilita alavancar por
exemplo as sequecircncias didaacuteticas (cfDOLZ SCHNEUWLY 2004)
Tambeacutem associam de forma interessante o motivo com um dos elementos do contexto de
produccedilatildeo o interlocutor reforccedilando a importacircncia desse elemento como tambeacutem aspecto
motivacional no ato da escrita Da mesma forma o tema e seu tratamento exaustivo
(BAKTHIN 1992) eacute explorado na associaccedilatildeo entre esse elemento e a accedilatildeo na medida em que
ao definir um determinado gecircnero estaacute implicado aiacute a realizaccedilatildeo desse elemento bakthiniano
Por fim nas operaccedilotildees fica claro que os professores conseguiram perceber que para se
escrever um determinado gecircnero seraacute preciso decompocirc-lo em uma seacuterie de atividades nas
quais se mobilizaratildeo o tema a estrutura composicional e o estilo
Na sequumlecircncia apoacutes a discussatildeo do quadro e com o intuito de promover mais um evento para
reforccedilar o processo de internalizaccedilatildeo agora numa atividade praacutetica solicitamos que cada
duplatrio de professores elaborassem um planejamento de uma oficina de leituraproduccedilatildeo
textual (jaacute que nesse momento ainda desconheciam outros instrumentos proacuteprios do ISD
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como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com
atividades de escrita
O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras
de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre
de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um
suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito
com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar
jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da
Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que
tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos
previstos em cada etapa
A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma
oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas
as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs
refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo
4ordf seacuteries 12 ha
SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR
DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola
NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da
escola
MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral
FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na
escola e em casa
ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de
humor)
2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais
da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha
Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar
o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e
definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim
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de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as
seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para
quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social
2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura
ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a
organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos
e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio
anterior
1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras
MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a
importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar
tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto
1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que
envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido
com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e
trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido
1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em
grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na
escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira
contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade
anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os
interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma
lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira
escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4
quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos
das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -
elaboraccedilatildeo dos balotildees
2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar
ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a
releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com
mediaccedilatildeo do professora
2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)
apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o
tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as
formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo
Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais
O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro
momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de
operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no
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interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo
(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-
problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)
No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo
finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do
contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o
reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro
elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar
um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de
humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as
crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees
estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo
Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993
DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos
que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo
para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio
Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na
visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia
coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a
reescrita
Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos
como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser
compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado
pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua
transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o
processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica
para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos
da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do
Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se
coerentes a essas bases teoacutericas
Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e
certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e
conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que
soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um
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pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)
talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados
5Consideraccedilotildees finais
O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo
de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da
Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de
apropriaccedilatildeo
a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade
interna
b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do
sujeito para que se concretize
c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por
elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e
as operaccedilotildees
d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem
mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como
propulsores do desenvolvimento
e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito
d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a
definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc
Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores
sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer
um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa
instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o
desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as
praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um
pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do
curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em
torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais
22
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10
Como vimos na seccedilatildeo anterior o processo de apropriaccedilatildeo implica em se colocar o sujeito
dentro de uma atividade conceito esse retomado pelo ISD mas cuja origem se daacute de forma
mais destacada na obra de Leontiev (20012004) No niacutevel individual a atividade eacute entendida
como uma forma de agir do sujeito direcionada a um objetoNo plano coletivo a atividade
define-se como
() aqueles processos que realizando as relaccedilotildees do homem como o mundo
satisfazem uma necessidade especial correspondente a ela () Por atividade
designamos os processos psicologicamente caracterizados por aquilo que o processa
como um todo se dirige (isto eacute objeto) coincidindo sempre com o objetivo que
estimula o sujeito a executar essa atividade isto eacute o motivo (LEONTIEV 2001
p315)
As atividades humanas para Leontiev (2004) satildeo consideradas como formadoras das relaccedilotildees
do sujeito com o mundo dirigidas por motivos por fins a serem alcanccedilados A ideacuteia de
atividade envolve entatildeo a noccedilatildeo de que o homem orienta-se por objetivos agindo de forma
intencional por accedilotildees planejadas
O autor daacute relevacircncia inicialmente agrave atividade coletiva em conjunto na medida em que o
ambiente sociocultural pode desencadear motivos para a realizaccedilatildeo de novas accedilotildees do sujeito
que por sua vez exigiratildeo novas operaccedilotildees as quais desenvolveratildeo os processos psiacutequicos
superioresOs componentes desse movimento da atividade propostos por Leontiev (2001) satildeo
necessidade- motivo- finalidade- condiccedilotildees para se obter a finalidade
Dentro dessa concepccedilatildeo a atividade eacute formada pela seguinte estrutura geral
Necessidade Motivo Objetivos Condiccedilotildees
Atividade
Accedilotildees Operaccedilotildees
Quadro 2 Estrutura geral da atividade adaptada de Leontiev (2001 2004)
A necessidade eacute o fator que desencadeia a atividade eacute ela que motiva o sujeito concretamente
a ter objetivos e realizar as accedilotildees (SFORNI 2004) Ela eacute um componente tatildeo importante que
Sforni (p97) acrescenta ldquonem todo processo eacute uma atividade mas somente aquele que eacute
movido por uma necessidaderdquoObviamente ao pensarmos no ensino da escrita devemos levar
em conta que a necessidade eacute um componente importante
11
E o que leva uma crianccedila a produzir um texto Certamente natildeo deveria ser o fato de cumprir
uma tarefa ou preencher o tempo da sala mas a necessidade da crianccedila escrever vincula-se ao
motivo a uma relaccedilatildeo com esse objeto que vai aleacutem da razatildeo envolvendo aspectos tambeacutem
de ordem afetiva Se ela natildeo vecirc sentido naquilo que realiza logo natildeo torna consciente o que
escreve e faz e se natildeo tem consciecircncia sobre as accedilotildees que realiza natildeo eacute possiacutevel qualificaacute-las
de atividade mas apenas de uma tarefa de uma obrigaccedilatildeo escolarO motivo eacute justamente o
componente mais afetivo da teoria da afetividade Vincula-se agraves emoccedilotildees do sujeito e
relaciona-se ao sentido da atividade
A finalidade tem a ver com aquilo que se pretende de forma mais particular naquela atividade
poderiacuteamos associaacute-la ao objetivo Para a realizaccedilatildeo desse objetivo seratildeo necessaacuterias as
condiccedilotildees os meios para alcanccedilaacute-lo por intermeacutedio das accedilotildees e das operaccedilotildeesA accedilatildeo eacute o
processo cuja o motivo natildeo coincide com seu objeto mas pertence aacute atividade
Leontiev (2004) ilustra essa afirmaccedilatildeo ao explicar que a atividade de ler um livro para apenas
passar numa prova natildeo eacute uma atividade mas uma accedilatildeo porque ler o livro por ler natildeo eacute um
objetivo forte que estimula a accedilatildeo do sujeito Poreacutem a accedilatildeo pode se transformar em atividade
quando passa a ter um motivo para o sujeito No exemplo dado se o aluno comeccedila a ler e a
leitura acaba por envolvecirc-lo por alguma razatildeo o motivo da atividade desloca-se
transformando-se a accedilatildeo em uma atividade
Uma accedilatildeo pode ser realizada de diferentes maneiras designadas por Leontiev de operaccedilotildees
as quais consistem no modo de execuccedilatildeo de uma determinada tarefa que pode ser variadoAs
operaccedilotildees particularizam um determinado objeto e revelam suas partes intriacutensecas daiacute serem
elementos fundamentais para a apropriaccedilatildeo As accedilotildees realizadas por indiviacuteduo no interior de
uma atividade transformam-se em operaccedilotildees e estas mais tarde em haacutebitos e habilidades
Quando isso ocorre saem da esfera dos processo conscientes e passam a ocupar um lugar
inferior na estrutura da atividade
Todavia ocupar lsquoum lugar inferiorrsquo natildeo significa simplificar o estatuto da operaccedilatildeo ao
contraacuterio significa afirmar que houve um processo de apropriaccedilatildeo que agora torna-se
consciente e que em tornando-se consciente deixa livre o pensamento para se incumbir de
novas accedilotildees e novas operaccedilotildees agora de caraacuteter mais elevadoA ideacuteia eacute que uma atividade
coloca a crianccedila em determinada accedilatildeo que por sua vez lhe exige operaccedilotildees para executaacute-la
Ao apropriar-se dessas operaccedilotildees a crianccedila deve ser exposta a novas accedilotildees e
consequentemente a novas operaccedilotildees de caraacuteter mais elevado a fim de que seus processos
mentais estejam em constante desenvolvimento conforme ilustra o quadro abaixo
12
xxx
Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa
Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa
Atividade Accedilatildeo Operaccedilatildeo
Quadro 3 Movimento da aprendizagem na Teoria da Atividade com base em Sforni (2004)
Esse movimento revela para Leontiev o processo ininterrupto de desenvolvimento do sujeito
Para Sforni (2004 p104) esse processo revela o momento da aprendizagem poreacutem natildeo eacute
natural precisa ser mediado por algueacutem mais experiente o que reforccedila a ideacuteia de que a
mediaccedilatildeo tal como jaacute sublinhamos nos estudos vygtskianos eacute outro compontente
fundamental do processo de apropriaccedilatildeo
Todo esse contexto nos leva a pensar novamente sobre a repeticcedilatildeo sistemaacutetica de 1ordf a 4ordf
seacuterie da escrita de narrativas escolaresSe pela teoria da atividade a crianccedila precisa estar
exposta a novas accedilotildees e a novas operaccedilotildees quais conteuacutedos satildeo avanccedilados de seacuterie para
seacuterie se existe a repeticcedilatildeo sistemaacutetica principalmente da narrativa escolar baseada no
modelo aristoteacutelico Se percebemos que as crianccedilas jaacute dominam esse gecircnero escolar por que
natildeo avanccedilar com novos gecircneros ou em ficando nesse gecircnero com novas operaccedilotildees que
mobilizaratildeo novos conteuacutedos Por exemplo em se pensando em gecircneros que se utilizam da
sequumlecircncia narrativa como predominante por que natildeo trabalhar com narrativas de enigmas ou
narrativas de terror que traratildeo novas variaccedilotildees e novos esquemas de organizaccedilatildeo para serem
apropriados pelas crianccedilas
Completando o quadro teoacuterico da TA Davydov (1998) concorda com Leontiev que a
estrutura da atividade seja composta de necessidades tarefas accedilotildees e operaccedilotildees poreacutem
acrescenta um novo componente ndash o desejo ndashjaacute que para ele as emoccedilotildees satildeo inseparaacuteveis da
necessidade (a emoccedilatildeo seria a base para todas as tarefas que o homem se propotildee a fazer) eacute o
desejo que provoca uma necessidade entatildeo a funccedilatildeo do professor seria a de pensar em como
criar desejos para a aprendizagem para que estes provoquem uma necessidade e iniciem o
processo de atividade
Para Libacircneo (2004) esse novo componente deixa claro no campo edcacional ao viacutenculo
entre afetividade e cogniccedilatildeo As atividades humans estatildeo para o autor impregnadas de
13
sentido subjetivo as quais propuosionam nosso agir tanto pensando na esfera escolar como
na esfera do nosso cotidiano Nesse sentido precisamos levar em conta que o processode
apropriaccedilatildeo depende tambeacutem de aspectos afetivos (cf DAVYDOV 1998)
A questatildeo do desejo pode ser comparada agrave questatildeo da voliccedilatildeo discutida por Vygotsky
(2001)Como vimos na seccedilatildeo anterior a relaccedilatildeo do sujeito com o objeto eacute uma relaccedilatildeo
mediada pelo outro atraveacutes da linguagem (e das ferramentas) Para Vygotsky (19882001) eacute a
linguagem que possibilita a constituiccedilatildeo do pensamento da consciecircncia da vontade isto eacute
das funccedilotildees psicoloacutegicas superiores Nesse sentido soacute tomamos consciecircncia individual a
partir primeiro das interaccedilotildees sociais ou da relaccedilatildeo com o outro Normalmente no caso da
crianccedila esse outro eacute algueacutem afetivamente proacutexima a ela Eacute o aspecto emocional envolvido
nessa relaccedilatildeo que motiva e impulsiona a crianccedila a agir Nesse sentido temos que a vontade eacute
uma funccedilatildeo psicoloacutegica superior e a sua construccedilatildeo depende de uma atividade que eacute portanto
de natureza social
Todas essas categorias na perspectiva da Teoria da Atividade implicam que se coloque a
crianccedila em uma trabalho inicialmente coletivo para posteriormente ser individual o que
remete agrave importacircncia de se desenvolver na sala de aula aleacutem das produccedilotildees individuais as
produccedilotildees coletivas De qualquer modo mesmo natildeo sendo um campo epistemoloacutegico voltado
para os gecircneros textuais eacute possiacutevel percebermos as razotildees de Bronckart (2003 2006) ter
utilizado dessa fonte no Interacionismo Sociodiscursivo jaacute que as noccedilotildees de atividade e da
accedilatildeo natildeo soacute regulam os objetivos dos indiviacuteduos nas diversas interaccedilotildees sociais como
tambeacutem satildeo importantes elementos para pensarmos em como gerar um conhecimento que seja
significativo e dessa forma seja apreendido pela crianccedilaaluno
4 Ilustrando o trabalho com a formaccedilatildeo de professores de seacuteries iniciais
As duas atividades que seratildeo aqui delineadas decorreram de trecircs de um total de seis etapas de
um curso de formaccedilatildeo envolvendo o tema gecircneros textuais e ensino ministrado para 15
professores de uma escola da rede puacuteblica do noroeste do Paranaacute por duas professoras
formadoras (das quais fizemos parte) e estagiaacuterias do curso de Letras no segundo semestre de
2007 As trecircs etapas iniciais tiveram como toacutepicos (a) pressupostos baacutesicos da Abordagem
Histoacuterico-Social e da Teoria da Atividade b) pressupostos gerais sobre gecircneros textuais a
partir de Bakthin e o Interacionismo Social dentre os quais foram destacados os aspectos
caracterizadores do gecircnero o tema a estrutura composicional e o estilo (BAKTHIN 1992) c)
contexto de produccedilatildeo no ISD (as capacidades de linguagem o instrumento sequumlecircncia didaacutetica
14
ficaram para outras sessotildees) d) transposiccedilatildeo dessas teorias para o ensino da escrita e)
planejamento de aulasoficinasPor questotildees de delimitaccedilatildeo enfocaremos neste artigo apenas
as subetapas ldquo drdquo e ldquoerdquo
As subetapas assinaladas envolveram duas atividades para os professores uma de cunho
teoacuterico e outra de cunho praacutetico A atividade de cunho teoacuterico ocorreu apoacutes as discussotildees
teoacutericas e foi apresentada da seguinte maneira
Em grupo elabore um quadro no qual vocecirc correlacione as categorias da Teoria da Atividade
aos elementos do contexto de produccedilatildeo vistos em Bakthin (1992) e em Bronckart (2003)
Embora no processo inicial de escolarizaccedilatildeo a comparaccedilatildeo como vimos eacute uma operaccedilatildeo
mental que pode caracterizar o pensamento empiacuterico aqui neste exerciacutecio ela natildeo eacute suficiente
Para que os professores realizassem a atividade precisariam entender primeiro cada uma das
teorias seus elementos para depois confrontaacute-los Isso exigiu que utilizassem diversas
operaccedilotildees mentais ressaltadas por Menchiskaia (1969) como a anaacutelise a abstraccedilatildeo a siacutentese
a comparaccedilatildeo a sistematizaccedilatildeo a definiccedilatildeo e a compreensatildeo necessaacuterias ao processo de
apropriaccedilatildeo
Aleacutem disso para a realizaccedilatildeo desse exerciacutecio procuramos respeitar os elementos proacuteprios da
Teoria da Atividade os professores que estavam no curso de formaccedilatildeo solicitaram o curso
portanto partiram de uma necessidade para ali estarem Aleacutem disso tinham um motivo e uma
finalidade queriam buscar informaccedilotildees sobre a transposiccedilatildeo dos gecircneros textuais para
otimizarem o trabalho com as crianccedilas na sala de aula Sabiam que para alcanccedilar esse
propoacutesito teriam que realizar atividades de forma conjunta compostas de accedilotildees e operaccedilotildees
como essa da elaboraccedilatildeo do quadro o planejamento de uma oficina dentre outras que natildeo nos
interessam nesse momento
Eacute preciso tambeacutem esclarecer que o quadro que seraacute apresentado a seguir foi o resultado final
de um trabalho coletivo e mediado pelas formadoras Para chegarmos a sua versatildeo final
foram necessaacuterias trecircs refacccedilotildees numa clara demonstraccedilatildeo de que o processo de
internalizaccedilatildeo como assevera Vygotsky (1988) depende de uma longa seacuterie de eventos
Assim muito provavelmente esse momento representa apenas um dos eventos que os
professores tiveram para iniciar esse processo mas que para que ele se consolide necessitaratildeo
de outros
15
Ressaltamos que todas as operaccedilotildees mentais anteriormente colocadas no referencial teoacuterico
para o desenvolvimento e apropriaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico dependem para que se
coloque o sujeito em atividade dos processos de mediaccedilatildeo tambeacutem realizados pelo professor
(VYGOTSKY 2000 SFORNI 2004) No nosso caso um dos recursos que utilizamos para
conduzir o processo de apropriaccedilatildeo e que se mostrou bastante produtivo em nossas
intervenccedilotildees foi a devoluccedilatildeo de uma nova pergunta apoacutes uma duacutevida estabelecida pelos
professores Como no momento das discussotildees utilizamos o gecircnero exposiccedilatildeo oral buscamos
nessa estrateacutegia comentada por Carneiro (2009) como uma das quais o professor pode se
utilizar para provocar a reflexatildeo e por efeito a possiacutevel compreensatildeo como ilustra o exemplo
abaixo
Professora ()entatildeo o desejo me parece ser tambeacutem a atividade natildeo eacute
Formadora veja pense num exemplo se jaacute almocei mas de repente vejo numa
vitrine um delicioso doce teria um desejo ou uma necessidade por ele
Professora uhm pera aiacute eu natildeo tenho necessidade de come porque jaacute estou
satisfeita mas tenho desejo neacute o desejo eacute mais emocional eacute mais voltado ao prazer
e a necessidade eacute aquilo que eacute necessaacuterio fazerparece mais racional()
Formadora isso agora pense nessa analogia para o campo da escrita
Profesora taacute o desejo tem a ver com o sentimentoa questatildeo dos sentimentos da
crianccedila neacute a gente tem que criar um viacutenculo afetivo entre ela e atividade que vamos
dar e a necessidade eacute taacute mais na razatildeo acho que tem a ver com aquela questatildeo que
discutimos com as praacuteticas sociais que satildeo as necessidades reais que temos de nos
comunicar()
Percebemos que ao devolver a duacutevida em forma de pergunta acrescida com um exemplo de
senso comum a professora formadora provoca uma reflexatildeo na professora participante e
como efeito gera-se o entendimento do conceito antes motivo de duacutevida Claro estaacute que nem
sempre esse recurso conforme comprova Carneiro (opcit) consegue proporcionar a
compreensatildeo mas sem duacutevida eacute ma estrateacutegia interessante para o professor de forma
consciente utilizar em suas explicaccedilotildees
Apoacutes esse trabalho de cunho coletivo elaboramos com a participaccedilatildeo das professoras o
quadro abaixo (resultado de trecircs refacccedilotildees) no qual aleacutem de pensar nas implicaccedilotildees para o
ensino elas tambeacutem correlacionaram os elementos da teoria da atividade com alguns dos
elementos do contexto de produccedilatildeo
16
Elementos estruturais da Teoria da Atividade Implicaccedilotildees para o ensino da escrita
DESEJO Elemento afetivo que desencadeia a necessidade da
escrita eacute desencadeado tanto pelo processo de
mediaccedilatildeo do professor com o aluno como tambeacutem
pela motivaccedilatildeo exercida por exemplo para a
abertura de um novo projetoatividade de
escritaNatildeo s relaciona a nenhum dos elementos
previstos pelo contexto de produccedilatildeo jaacute que eacute de
ordem emocional
NECESSIDADE Envolve o uso especiacutefico da escrita numa
determinada situaccedilatildeo de produccedilatildeo para atender a
uma praacutetica social especiacutefica escrever para publicar
um livro de contos escrever para produzir uma
reivindicaccedilatildeo escrever para solicitar alguma coisa
escrever para participar de um concurso escrever
um cardaacutepio para uma festa etc
MOTIVO Envolve o sentido da escrita para a crianccedila de modo
a convencecirc-la a escrever por meio de atividades que
oportunizem correlacionar a escrita com as emoccedilotildees
da crianccedila e tambeacutem com seus provaacuteveis
interlocutores pois satildeo eles que vinculam sentido
agravequilo que a crianccedila escreve (BAKTHIN 2003)
Uma dessas atividades que podem vincular a escrita
ao motivo pode ser a divulgaccedilatildeo da produccedilatildeo final
ao puacuteblico por exemplo compor um fabulaacuterio para
ser divulgado numa amostra de livros da escola
produzir cartazes para divulgaccedilatildeo de festas na escola
e afixaacute-los em estabelecimentos comerciais elaborar
notiacutecias para o jornal da escola ou para a raacutedio da
escola produzir livros de histoacuterias infantis para
crianccedilas menores elaborar uma seccedilatildeo de
classificados divulgando serviccedilos prestados ou
produtos vendidos por familiares e amigos do bairro
etcEntendemos que o fato da divulgaccedilatildeo do olhar
do outro como afirmam BakthinVoloshinov (1992)
satildeo essenciais para instaurar uma escrita
significativa
FINALIDADE Envolve o objetivo especiacutefico da escrita na situaccedilatildeo
de interaccedilatildeo para quecirc escrever Para solicitar
alguma coisa para colocar a minha opiniatildeo para
17
contar uma anedota etcA finalidade ou o objetivo
da produccedilatildeo deve vir claramente expressa no
comando de escrita a ser entregue para o aluno
ACcedilAtildeO Envolve a definiccedilatildeo do gecircnero textual que a crianccedila
iraacute escrever um resumo uma notiacutecia uma carta do
leitor um anuacutencio de classificado um comentaacuterio
um conto de fadas etc
OPERACcedilOtildeES (modos de execuccedilatildeo de uma catildeo) Envolve uma seacuterie de tarefas anteriores aacute produccedilatildeo
escritaoral do gecircnero com vistas aacute apropriaccedilatildeo dos
elementos caracterizadores dos gecircneros (o tema a
estrutura composiconal e o estilo) e levando em
conta as fases da escrita planejamento revisatildeo e
reescrita
Quadro 4 Elementos da Teoria da Atividade e sua implicaccedilatildeo na escrita
O exerciacutecio acima evidenciou-nos que mesmo sem ainda terem a noccedilatildeo sobre as capacidades
de linguagem a serem desenvolvidas no quadro do ISD os professores por meio das
operaccedilotildees mentais que o exerciacutecio exigia (anaacutelise comparaccedilatildeo abstraccedilatildeo siacutentese
exemplificaccedilatildeo) conseguem fazer relaccedilotildees coerentes entre os elementos da Teoria da
Atividade com implicaccedilotildees para o ensino da escrita Por exemplo relacionam a necessidade
elemento desencadeador da atividade com a praacutetica social como elemento desencadeador da
atividade de produccedilatildeo que no quadro do ISD eacute o elemento que possibilita alavancar por
exemplo as sequecircncias didaacuteticas (cfDOLZ SCHNEUWLY 2004)
Tambeacutem associam de forma interessante o motivo com um dos elementos do contexto de
produccedilatildeo o interlocutor reforccedilando a importacircncia desse elemento como tambeacutem aspecto
motivacional no ato da escrita Da mesma forma o tema e seu tratamento exaustivo
(BAKTHIN 1992) eacute explorado na associaccedilatildeo entre esse elemento e a accedilatildeo na medida em que
ao definir um determinado gecircnero estaacute implicado aiacute a realizaccedilatildeo desse elemento bakthiniano
Por fim nas operaccedilotildees fica claro que os professores conseguiram perceber que para se
escrever um determinado gecircnero seraacute preciso decompocirc-lo em uma seacuterie de atividades nas
quais se mobilizaratildeo o tema a estrutura composicional e o estilo
Na sequumlecircncia apoacutes a discussatildeo do quadro e com o intuito de promover mais um evento para
reforccedilar o processo de internalizaccedilatildeo agora numa atividade praacutetica solicitamos que cada
duplatrio de professores elaborassem um planejamento de uma oficina de leituraproduccedilatildeo
textual (jaacute que nesse momento ainda desconheciam outros instrumentos proacuteprios do ISD
18
como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com
atividades de escrita
O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras
de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre
de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um
suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito
com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar
jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da
Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que
tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos
previstos em cada etapa
A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma
oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas
as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs
refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo
4ordf seacuteries 12 ha
SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR
DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola
NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da
escola
MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral
FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na
escola e em casa
ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de
humor)
2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais
da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha
Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar
o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e
definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim
19
de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as
seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para
quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social
2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura
ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a
organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos
e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio
anterior
1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras
MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a
importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar
tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto
1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que
envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido
com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e
trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido
1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em
grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na
escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira
contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade
anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os
interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma
lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira
escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4
quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos
das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -
elaboraccedilatildeo dos balotildees
2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar
ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a
releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com
mediaccedilatildeo do professora
2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)
apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o
tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as
formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo
Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais
O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro
momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de
operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no
20
interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo
(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-
problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)
No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo
finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do
contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o
reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro
elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar
um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de
humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as
crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees
estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo
Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993
DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos
que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo
para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio
Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na
visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia
coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a
reescrita
Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos
como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser
compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado
pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua
transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o
processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica
para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos
da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do
Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se
coerentes a essas bases teoacutericas
Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e
certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e
conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que
soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um
21
pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)
talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados
5Consideraccedilotildees finais
O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo
de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da
Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de
apropriaccedilatildeo
a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade
interna
b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do
sujeito para que se concretize
c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por
elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e
as operaccedilotildees
d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem
mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como
propulsores do desenvolvimento
e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito
d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a
definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc
Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores
sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer
um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa
instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o
desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as
praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um
pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do
curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em
torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais
22
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11
E o que leva uma crianccedila a produzir um texto Certamente natildeo deveria ser o fato de cumprir
uma tarefa ou preencher o tempo da sala mas a necessidade da crianccedila escrever vincula-se ao
motivo a uma relaccedilatildeo com esse objeto que vai aleacutem da razatildeo envolvendo aspectos tambeacutem
de ordem afetiva Se ela natildeo vecirc sentido naquilo que realiza logo natildeo torna consciente o que
escreve e faz e se natildeo tem consciecircncia sobre as accedilotildees que realiza natildeo eacute possiacutevel qualificaacute-las
de atividade mas apenas de uma tarefa de uma obrigaccedilatildeo escolarO motivo eacute justamente o
componente mais afetivo da teoria da afetividade Vincula-se agraves emoccedilotildees do sujeito e
relaciona-se ao sentido da atividade
A finalidade tem a ver com aquilo que se pretende de forma mais particular naquela atividade
poderiacuteamos associaacute-la ao objetivo Para a realizaccedilatildeo desse objetivo seratildeo necessaacuterias as
condiccedilotildees os meios para alcanccedilaacute-lo por intermeacutedio das accedilotildees e das operaccedilotildeesA accedilatildeo eacute o
processo cuja o motivo natildeo coincide com seu objeto mas pertence aacute atividade
Leontiev (2004) ilustra essa afirmaccedilatildeo ao explicar que a atividade de ler um livro para apenas
passar numa prova natildeo eacute uma atividade mas uma accedilatildeo porque ler o livro por ler natildeo eacute um
objetivo forte que estimula a accedilatildeo do sujeito Poreacutem a accedilatildeo pode se transformar em atividade
quando passa a ter um motivo para o sujeito No exemplo dado se o aluno comeccedila a ler e a
leitura acaba por envolvecirc-lo por alguma razatildeo o motivo da atividade desloca-se
transformando-se a accedilatildeo em uma atividade
Uma accedilatildeo pode ser realizada de diferentes maneiras designadas por Leontiev de operaccedilotildees
as quais consistem no modo de execuccedilatildeo de uma determinada tarefa que pode ser variadoAs
operaccedilotildees particularizam um determinado objeto e revelam suas partes intriacutensecas daiacute serem
elementos fundamentais para a apropriaccedilatildeo As accedilotildees realizadas por indiviacuteduo no interior de
uma atividade transformam-se em operaccedilotildees e estas mais tarde em haacutebitos e habilidades
Quando isso ocorre saem da esfera dos processo conscientes e passam a ocupar um lugar
inferior na estrutura da atividade
Todavia ocupar lsquoum lugar inferiorrsquo natildeo significa simplificar o estatuto da operaccedilatildeo ao
contraacuterio significa afirmar que houve um processo de apropriaccedilatildeo que agora torna-se
consciente e que em tornando-se consciente deixa livre o pensamento para se incumbir de
novas accedilotildees e novas operaccedilotildees agora de caraacuteter mais elevadoA ideacuteia eacute que uma atividade
coloca a crianccedila em determinada accedilatildeo que por sua vez lhe exige operaccedilotildees para executaacute-la
Ao apropriar-se dessas operaccedilotildees a crianccedila deve ser exposta a novas accedilotildees e
consequentemente a novas operaccedilotildees de caraacuteter mais elevado a fim de que seus processos
mentais estejam em constante desenvolvimento conforme ilustra o quadro abaixo
12
xxx
Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa
Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa
Atividade Accedilatildeo Operaccedilatildeo
Quadro 3 Movimento da aprendizagem na Teoria da Atividade com base em Sforni (2004)
Esse movimento revela para Leontiev o processo ininterrupto de desenvolvimento do sujeito
Para Sforni (2004 p104) esse processo revela o momento da aprendizagem poreacutem natildeo eacute
natural precisa ser mediado por algueacutem mais experiente o que reforccedila a ideacuteia de que a
mediaccedilatildeo tal como jaacute sublinhamos nos estudos vygtskianos eacute outro compontente
fundamental do processo de apropriaccedilatildeo
Todo esse contexto nos leva a pensar novamente sobre a repeticcedilatildeo sistemaacutetica de 1ordf a 4ordf
seacuterie da escrita de narrativas escolaresSe pela teoria da atividade a crianccedila precisa estar
exposta a novas accedilotildees e a novas operaccedilotildees quais conteuacutedos satildeo avanccedilados de seacuterie para
seacuterie se existe a repeticcedilatildeo sistemaacutetica principalmente da narrativa escolar baseada no
modelo aristoteacutelico Se percebemos que as crianccedilas jaacute dominam esse gecircnero escolar por que
natildeo avanccedilar com novos gecircneros ou em ficando nesse gecircnero com novas operaccedilotildees que
mobilizaratildeo novos conteuacutedos Por exemplo em se pensando em gecircneros que se utilizam da
sequumlecircncia narrativa como predominante por que natildeo trabalhar com narrativas de enigmas ou
narrativas de terror que traratildeo novas variaccedilotildees e novos esquemas de organizaccedilatildeo para serem
apropriados pelas crianccedilas
Completando o quadro teoacuterico da TA Davydov (1998) concorda com Leontiev que a
estrutura da atividade seja composta de necessidades tarefas accedilotildees e operaccedilotildees poreacutem
acrescenta um novo componente ndash o desejo ndashjaacute que para ele as emoccedilotildees satildeo inseparaacuteveis da
necessidade (a emoccedilatildeo seria a base para todas as tarefas que o homem se propotildee a fazer) eacute o
desejo que provoca uma necessidade entatildeo a funccedilatildeo do professor seria a de pensar em como
criar desejos para a aprendizagem para que estes provoquem uma necessidade e iniciem o
processo de atividade
Para Libacircneo (2004) esse novo componente deixa claro no campo edcacional ao viacutenculo
entre afetividade e cogniccedilatildeo As atividades humans estatildeo para o autor impregnadas de
13
sentido subjetivo as quais propuosionam nosso agir tanto pensando na esfera escolar como
na esfera do nosso cotidiano Nesse sentido precisamos levar em conta que o processode
apropriaccedilatildeo depende tambeacutem de aspectos afetivos (cf DAVYDOV 1998)
A questatildeo do desejo pode ser comparada agrave questatildeo da voliccedilatildeo discutida por Vygotsky
(2001)Como vimos na seccedilatildeo anterior a relaccedilatildeo do sujeito com o objeto eacute uma relaccedilatildeo
mediada pelo outro atraveacutes da linguagem (e das ferramentas) Para Vygotsky (19882001) eacute a
linguagem que possibilita a constituiccedilatildeo do pensamento da consciecircncia da vontade isto eacute
das funccedilotildees psicoloacutegicas superiores Nesse sentido soacute tomamos consciecircncia individual a
partir primeiro das interaccedilotildees sociais ou da relaccedilatildeo com o outro Normalmente no caso da
crianccedila esse outro eacute algueacutem afetivamente proacutexima a ela Eacute o aspecto emocional envolvido
nessa relaccedilatildeo que motiva e impulsiona a crianccedila a agir Nesse sentido temos que a vontade eacute
uma funccedilatildeo psicoloacutegica superior e a sua construccedilatildeo depende de uma atividade que eacute portanto
de natureza social
Todas essas categorias na perspectiva da Teoria da Atividade implicam que se coloque a
crianccedila em uma trabalho inicialmente coletivo para posteriormente ser individual o que
remete agrave importacircncia de se desenvolver na sala de aula aleacutem das produccedilotildees individuais as
produccedilotildees coletivas De qualquer modo mesmo natildeo sendo um campo epistemoloacutegico voltado
para os gecircneros textuais eacute possiacutevel percebermos as razotildees de Bronckart (2003 2006) ter
utilizado dessa fonte no Interacionismo Sociodiscursivo jaacute que as noccedilotildees de atividade e da
accedilatildeo natildeo soacute regulam os objetivos dos indiviacuteduos nas diversas interaccedilotildees sociais como
tambeacutem satildeo importantes elementos para pensarmos em como gerar um conhecimento que seja
significativo e dessa forma seja apreendido pela crianccedilaaluno
4 Ilustrando o trabalho com a formaccedilatildeo de professores de seacuteries iniciais
As duas atividades que seratildeo aqui delineadas decorreram de trecircs de um total de seis etapas de
um curso de formaccedilatildeo envolvendo o tema gecircneros textuais e ensino ministrado para 15
professores de uma escola da rede puacuteblica do noroeste do Paranaacute por duas professoras
formadoras (das quais fizemos parte) e estagiaacuterias do curso de Letras no segundo semestre de
2007 As trecircs etapas iniciais tiveram como toacutepicos (a) pressupostos baacutesicos da Abordagem
Histoacuterico-Social e da Teoria da Atividade b) pressupostos gerais sobre gecircneros textuais a
partir de Bakthin e o Interacionismo Social dentre os quais foram destacados os aspectos
caracterizadores do gecircnero o tema a estrutura composicional e o estilo (BAKTHIN 1992) c)
contexto de produccedilatildeo no ISD (as capacidades de linguagem o instrumento sequumlecircncia didaacutetica
14
ficaram para outras sessotildees) d) transposiccedilatildeo dessas teorias para o ensino da escrita e)
planejamento de aulasoficinasPor questotildees de delimitaccedilatildeo enfocaremos neste artigo apenas
as subetapas ldquo drdquo e ldquoerdquo
As subetapas assinaladas envolveram duas atividades para os professores uma de cunho
teoacuterico e outra de cunho praacutetico A atividade de cunho teoacuterico ocorreu apoacutes as discussotildees
teoacutericas e foi apresentada da seguinte maneira
Em grupo elabore um quadro no qual vocecirc correlacione as categorias da Teoria da Atividade
aos elementos do contexto de produccedilatildeo vistos em Bakthin (1992) e em Bronckart (2003)
Embora no processo inicial de escolarizaccedilatildeo a comparaccedilatildeo como vimos eacute uma operaccedilatildeo
mental que pode caracterizar o pensamento empiacuterico aqui neste exerciacutecio ela natildeo eacute suficiente
Para que os professores realizassem a atividade precisariam entender primeiro cada uma das
teorias seus elementos para depois confrontaacute-los Isso exigiu que utilizassem diversas
operaccedilotildees mentais ressaltadas por Menchiskaia (1969) como a anaacutelise a abstraccedilatildeo a siacutentese
a comparaccedilatildeo a sistematizaccedilatildeo a definiccedilatildeo e a compreensatildeo necessaacuterias ao processo de
apropriaccedilatildeo
Aleacutem disso para a realizaccedilatildeo desse exerciacutecio procuramos respeitar os elementos proacuteprios da
Teoria da Atividade os professores que estavam no curso de formaccedilatildeo solicitaram o curso
portanto partiram de uma necessidade para ali estarem Aleacutem disso tinham um motivo e uma
finalidade queriam buscar informaccedilotildees sobre a transposiccedilatildeo dos gecircneros textuais para
otimizarem o trabalho com as crianccedilas na sala de aula Sabiam que para alcanccedilar esse
propoacutesito teriam que realizar atividades de forma conjunta compostas de accedilotildees e operaccedilotildees
como essa da elaboraccedilatildeo do quadro o planejamento de uma oficina dentre outras que natildeo nos
interessam nesse momento
Eacute preciso tambeacutem esclarecer que o quadro que seraacute apresentado a seguir foi o resultado final
de um trabalho coletivo e mediado pelas formadoras Para chegarmos a sua versatildeo final
foram necessaacuterias trecircs refacccedilotildees numa clara demonstraccedilatildeo de que o processo de
internalizaccedilatildeo como assevera Vygotsky (1988) depende de uma longa seacuterie de eventos
Assim muito provavelmente esse momento representa apenas um dos eventos que os
professores tiveram para iniciar esse processo mas que para que ele se consolide necessitaratildeo
de outros
15
Ressaltamos que todas as operaccedilotildees mentais anteriormente colocadas no referencial teoacuterico
para o desenvolvimento e apropriaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico dependem para que se
coloque o sujeito em atividade dos processos de mediaccedilatildeo tambeacutem realizados pelo professor
(VYGOTSKY 2000 SFORNI 2004) No nosso caso um dos recursos que utilizamos para
conduzir o processo de apropriaccedilatildeo e que se mostrou bastante produtivo em nossas
intervenccedilotildees foi a devoluccedilatildeo de uma nova pergunta apoacutes uma duacutevida estabelecida pelos
professores Como no momento das discussotildees utilizamos o gecircnero exposiccedilatildeo oral buscamos
nessa estrateacutegia comentada por Carneiro (2009) como uma das quais o professor pode se
utilizar para provocar a reflexatildeo e por efeito a possiacutevel compreensatildeo como ilustra o exemplo
abaixo
Professora ()entatildeo o desejo me parece ser tambeacutem a atividade natildeo eacute
Formadora veja pense num exemplo se jaacute almocei mas de repente vejo numa
vitrine um delicioso doce teria um desejo ou uma necessidade por ele
Professora uhm pera aiacute eu natildeo tenho necessidade de come porque jaacute estou
satisfeita mas tenho desejo neacute o desejo eacute mais emocional eacute mais voltado ao prazer
e a necessidade eacute aquilo que eacute necessaacuterio fazerparece mais racional()
Formadora isso agora pense nessa analogia para o campo da escrita
Profesora taacute o desejo tem a ver com o sentimentoa questatildeo dos sentimentos da
crianccedila neacute a gente tem que criar um viacutenculo afetivo entre ela e atividade que vamos
dar e a necessidade eacute taacute mais na razatildeo acho que tem a ver com aquela questatildeo que
discutimos com as praacuteticas sociais que satildeo as necessidades reais que temos de nos
comunicar()
Percebemos que ao devolver a duacutevida em forma de pergunta acrescida com um exemplo de
senso comum a professora formadora provoca uma reflexatildeo na professora participante e
como efeito gera-se o entendimento do conceito antes motivo de duacutevida Claro estaacute que nem
sempre esse recurso conforme comprova Carneiro (opcit) consegue proporcionar a
compreensatildeo mas sem duacutevida eacute ma estrateacutegia interessante para o professor de forma
consciente utilizar em suas explicaccedilotildees
Apoacutes esse trabalho de cunho coletivo elaboramos com a participaccedilatildeo das professoras o
quadro abaixo (resultado de trecircs refacccedilotildees) no qual aleacutem de pensar nas implicaccedilotildees para o
ensino elas tambeacutem correlacionaram os elementos da teoria da atividade com alguns dos
elementos do contexto de produccedilatildeo
16
Elementos estruturais da Teoria da Atividade Implicaccedilotildees para o ensino da escrita
DESEJO Elemento afetivo que desencadeia a necessidade da
escrita eacute desencadeado tanto pelo processo de
mediaccedilatildeo do professor com o aluno como tambeacutem
pela motivaccedilatildeo exercida por exemplo para a
abertura de um novo projetoatividade de
escritaNatildeo s relaciona a nenhum dos elementos
previstos pelo contexto de produccedilatildeo jaacute que eacute de
ordem emocional
NECESSIDADE Envolve o uso especiacutefico da escrita numa
determinada situaccedilatildeo de produccedilatildeo para atender a
uma praacutetica social especiacutefica escrever para publicar
um livro de contos escrever para produzir uma
reivindicaccedilatildeo escrever para solicitar alguma coisa
escrever para participar de um concurso escrever
um cardaacutepio para uma festa etc
MOTIVO Envolve o sentido da escrita para a crianccedila de modo
a convencecirc-la a escrever por meio de atividades que
oportunizem correlacionar a escrita com as emoccedilotildees
da crianccedila e tambeacutem com seus provaacuteveis
interlocutores pois satildeo eles que vinculam sentido
agravequilo que a crianccedila escreve (BAKTHIN 2003)
Uma dessas atividades que podem vincular a escrita
ao motivo pode ser a divulgaccedilatildeo da produccedilatildeo final
ao puacuteblico por exemplo compor um fabulaacuterio para
ser divulgado numa amostra de livros da escola
produzir cartazes para divulgaccedilatildeo de festas na escola
e afixaacute-los em estabelecimentos comerciais elaborar
notiacutecias para o jornal da escola ou para a raacutedio da
escola produzir livros de histoacuterias infantis para
crianccedilas menores elaborar uma seccedilatildeo de
classificados divulgando serviccedilos prestados ou
produtos vendidos por familiares e amigos do bairro
etcEntendemos que o fato da divulgaccedilatildeo do olhar
do outro como afirmam BakthinVoloshinov (1992)
satildeo essenciais para instaurar uma escrita
significativa
FINALIDADE Envolve o objetivo especiacutefico da escrita na situaccedilatildeo
de interaccedilatildeo para quecirc escrever Para solicitar
alguma coisa para colocar a minha opiniatildeo para
17
contar uma anedota etcA finalidade ou o objetivo
da produccedilatildeo deve vir claramente expressa no
comando de escrita a ser entregue para o aluno
ACcedilAtildeO Envolve a definiccedilatildeo do gecircnero textual que a crianccedila
iraacute escrever um resumo uma notiacutecia uma carta do
leitor um anuacutencio de classificado um comentaacuterio
um conto de fadas etc
OPERACcedilOtildeES (modos de execuccedilatildeo de uma catildeo) Envolve uma seacuterie de tarefas anteriores aacute produccedilatildeo
escritaoral do gecircnero com vistas aacute apropriaccedilatildeo dos
elementos caracterizadores dos gecircneros (o tema a
estrutura composiconal e o estilo) e levando em
conta as fases da escrita planejamento revisatildeo e
reescrita
Quadro 4 Elementos da Teoria da Atividade e sua implicaccedilatildeo na escrita
O exerciacutecio acima evidenciou-nos que mesmo sem ainda terem a noccedilatildeo sobre as capacidades
de linguagem a serem desenvolvidas no quadro do ISD os professores por meio das
operaccedilotildees mentais que o exerciacutecio exigia (anaacutelise comparaccedilatildeo abstraccedilatildeo siacutentese
exemplificaccedilatildeo) conseguem fazer relaccedilotildees coerentes entre os elementos da Teoria da
Atividade com implicaccedilotildees para o ensino da escrita Por exemplo relacionam a necessidade
elemento desencadeador da atividade com a praacutetica social como elemento desencadeador da
atividade de produccedilatildeo que no quadro do ISD eacute o elemento que possibilita alavancar por
exemplo as sequecircncias didaacuteticas (cfDOLZ SCHNEUWLY 2004)
Tambeacutem associam de forma interessante o motivo com um dos elementos do contexto de
produccedilatildeo o interlocutor reforccedilando a importacircncia desse elemento como tambeacutem aspecto
motivacional no ato da escrita Da mesma forma o tema e seu tratamento exaustivo
(BAKTHIN 1992) eacute explorado na associaccedilatildeo entre esse elemento e a accedilatildeo na medida em que
ao definir um determinado gecircnero estaacute implicado aiacute a realizaccedilatildeo desse elemento bakthiniano
Por fim nas operaccedilotildees fica claro que os professores conseguiram perceber que para se
escrever um determinado gecircnero seraacute preciso decompocirc-lo em uma seacuterie de atividades nas
quais se mobilizaratildeo o tema a estrutura composicional e o estilo
Na sequumlecircncia apoacutes a discussatildeo do quadro e com o intuito de promover mais um evento para
reforccedilar o processo de internalizaccedilatildeo agora numa atividade praacutetica solicitamos que cada
duplatrio de professores elaborassem um planejamento de uma oficina de leituraproduccedilatildeo
textual (jaacute que nesse momento ainda desconheciam outros instrumentos proacuteprios do ISD
18
como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com
atividades de escrita
O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras
de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre
de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um
suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito
com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar
jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da
Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que
tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos
previstos em cada etapa
A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma
oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas
as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs
refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo
4ordf seacuteries 12 ha
SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR
DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola
NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da
escola
MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral
FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na
escola e em casa
ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de
humor)
2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais
da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha
Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar
o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e
definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim
19
de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as
seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para
quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social
2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura
ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a
organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos
e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio
anterior
1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras
MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a
importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar
tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto
1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que
envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido
com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e
trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido
1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em
grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na
escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira
contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade
anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os
interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma
lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira
escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4
quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos
das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -
elaboraccedilatildeo dos balotildees
2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar
ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a
releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com
mediaccedilatildeo do professora
2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)
apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o
tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as
formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo
Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais
O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro
momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de
operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no
20
interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo
(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-
problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)
No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo
finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do
contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o
reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro
elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar
um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de
humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as
crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees
estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo
Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993
DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos
que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo
para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio
Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na
visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia
coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a
reescrita
Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos
como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser
compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado
pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua
transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o
processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica
para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos
da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do
Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se
coerentes a essas bases teoacutericas
Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e
certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e
conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que
soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um
21
pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)
talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados
5Consideraccedilotildees finais
O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo
de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da
Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de
apropriaccedilatildeo
a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade
interna
b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do
sujeito para que se concretize
c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por
elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e
as operaccedilotildees
d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem
mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como
propulsores do desenvolvimento
e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito
d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a
definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc
Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores
sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer
um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa
instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o
desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as
praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um
pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do
curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em
torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais
22
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12
xxx
Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa
Operaccedilatildeo Accedilatildeo Atividade mais complexa
Atividade Accedilatildeo Operaccedilatildeo
Quadro 3 Movimento da aprendizagem na Teoria da Atividade com base em Sforni (2004)
Esse movimento revela para Leontiev o processo ininterrupto de desenvolvimento do sujeito
Para Sforni (2004 p104) esse processo revela o momento da aprendizagem poreacutem natildeo eacute
natural precisa ser mediado por algueacutem mais experiente o que reforccedila a ideacuteia de que a
mediaccedilatildeo tal como jaacute sublinhamos nos estudos vygtskianos eacute outro compontente
fundamental do processo de apropriaccedilatildeo
Todo esse contexto nos leva a pensar novamente sobre a repeticcedilatildeo sistemaacutetica de 1ordf a 4ordf
seacuterie da escrita de narrativas escolaresSe pela teoria da atividade a crianccedila precisa estar
exposta a novas accedilotildees e a novas operaccedilotildees quais conteuacutedos satildeo avanccedilados de seacuterie para
seacuterie se existe a repeticcedilatildeo sistemaacutetica principalmente da narrativa escolar baseada no
modelo aristoteacutelico Se percebemos que as crianccedilas jaacute dominam esse gecircnero escolar por que
natildeo avanccedilar com novos gecircneros ou em ficando nesse gecircnero com novas operaccedilotildees que
mobilizaratildeo novos conteuacutedos Por exemplo em se pensando em gecircneros que se utilizam da
sequumlecircncia narrativa como predominante por que natildeo trabalhar com narrativas de enigmas ou
narrativas de terror que traratildeo novas variaccedilotildees e novos esquemas de organizaccedilatildeo para serem
apropriados pelas crianccedilas
Completando o quadro teoacuterico da TA Davydov (1998) concorda com Leontiev que a
estrutura da atividade seja composta de necessidades tarefas accedilotildees e operaccedilotildees poreacutem
acrescenta um novo componente ndash o desejo ndashjaacute que para ele as emoccedilotildees satildeo inseparaacuteveis da
necessidade (a emoccedilatildeo seria a base para todas as tarefas que o homem se propotildee a fazer) eacute o
desejo que provoca uma necessidade entatildeo a funccedilatildeo do professor seria a de pensar em como
criar desejos para a aprendizagem para que estes provoquem uma necessidade e iniciem o
processo de atividade
Para Libacircneo (2004) esse novo componente deixa claro no campo edcacional ao viacutenculo
entre afetividade e cogniccedilatildeo As atividades humans estatildeo para o autor impregnadas de
13
sentido subjetivo as quais propuosionam nosso agir tanto pensando na esfera escolar como
na esfera do nosso cotidiano Nesse sentido precisamos levar em conta que o processode
apropriaccedilatildeo depende tambeacutem de aspectos afetivos (cf DAVYDOV 1998)
A questatildeo do desejo pode ser comparada agrave questatildeo da voliccedilatildeo discutida por Vygotsky
(2001)Como vimos na seccedilatildeo anterior a relaccedilatildeo do sujeito com o objeto eacute uma relaccedilatildeo
mediada pelo outro atraveacutes da linguagem (e das ferramentas) Para Vygotsky (19882001) eacute a
linguagem que possibilita a constituiccedilatildeo do pensamento da consciecircncia da vontade isto eacute
das funccedilotildees psicoloacutegicas superiores Nesse sentido soacute tomamos consciecircncia individual a
partir primeiro das interaccedilotildees sociais ou da relaccedilatildeo com o outro Normalmente no caso da
crianccedila esse outro eacute algueacutem afetivamente proacutexima a ela Eacute o aspecto emocional envolvido
nessa relaccedilatildeo que motiva e impulsiona a crianccedila a agir Nesse sentido temos que a vontade eacute
uma funccedilatildeo psicoloacutegica superior e a sua construccedilatildeo depende de uma atividade que eacute portanto
de natureza social
Todas essas categorias na perspectiva da Teoria da Atividade implicam que se coloque a
crianccedila em uma trabalho inicialmente coletivo para posteriormente ser individual o que
remete agrave importacircncia de se desenvolver na sala de aula aleacutem das produccedilotildees individuais as
produccedilotildees coletivas De qualquer modo mesmo natildeo sendo um campo epistemoloacutegico voltado
para os gecircneros textuais eacute possiacutevel percebermos as razotildees de Bronckart (2003 2006) ter
utilizado dessa fonte no Interacionismo Sociodiscursivo jaacute que as noccedilotildees de atividade e da
accedilatildeo natildeo soacute regulam os objetivos dos indiviacuteduos nas diversas interaccedilotildees sociais como
tambeacutem satildeo importantes elementos para pensarmos em como gerar um conhecimento que seja
significativo e dessa forma seja apreendido pela crianccedilaaluno
4 Ilustrando o trabalho com a formaccedilatildeo de professores de seacuteries iniciais
As duas atividades que seratildeo aqui delineadas decorreram de trecircs de um total de seis etapas de
um curso de formaccedilatildeo envolvendo o tema gecircneros textuais e ensino ministrado para 15
professores de uma escola da rede puacuteblica do noroeste do Paranaacute por duas professoras
formadoras (das quais fizemos parte) e estagiaacuterias do curso de Letras no segundo semestre de
2007 As trecircs etapas iniciais tiveram como toacutepicos (a) pressupostos baacutesicos da Abordagem
Histoacuterico-Social e da Teoria da Atividade b) pressupostos gerais sobre gecircneros textuais a
partir de Bakthin e o Interacionismo Social dentre os quais foram destacados os aspectos
caracterizadores do gecircnero o tema a estrutura composicional e o estilo (BAKTHIN 1992) c)
contexto de produccedilatildeo no ISD (as capacidades de linguagem o instrumento sequumlecircncia didaacutetica
14
ficaram para outras sessotildees) d) transposiccedilatildeo dessas teorias para o ensino da escrita e)
planejamento de aulasoficinasPor questotildees de delimitaccedilatildeo enfocaremos neste artigo apenas
as subetapas ldquo drdquo e ldquoerdquo
As subetapas assinaladas envolveram duas atividades para os professores uma de cunho
teoacuterico e outra de cunho praacutetico A atividade de cunho teoacuterico ocorreu apoacutes as discussotildees
teoacutericas e foi apresentada da seguinte maneira
Em grupo elabore um quadro no qual vocecirc correlacione as categorias da Teoria da Atividade
aos elementos do contexto de produccedilatildeo vistos em Bakthin (1992) e em Bronckart (2003)
Embora no processo inicial de escolarizaccedilatildeo a comparaccedilatildeo como vimos eacute uma operaccedilatildeo
mental que pode caracterizar o pensamento empiacuterico aqui neste exerciacutecio ela natildeo eacute suficiente
Para que os professores realizassem a atividade precisariam entender primeiro cada uma das
teorias seus elementos para depois confrontaacute-los Isso exigiu que utilizassem diversas
operaccedilotildees mentais ressaltadas por Menchiskaia (1969) como a anaacutelise a abstraccedilatildeo a siacutentese
a comparaccedilatildeo a sistematizaccedilatildeo a definiccedilatildeo e a compreensatildeo necessaacuterias ao processo de
apropriaccedilatildeo
Aleacutem disso para a realizaccedilatildeo desse exerciacutecio procuramos respeitar os elementos proacuteprios da
Teoria da Atividade os professores que estavam no curso de formaccedilatildeo solicitaram o curso
portanto partiram de uma necessidade para ali estarem Aleacutem disso tinham um motivo e uma
finalidade queriam buscar informaccedilotildees sobre a transposiccedilatildeo dos gecircneros textuais para
otimizarem o trabalho com as crianccedilas na sala de aula Sabiam que para alcanccedilar esse
propoacutesito teriam que realizar atividades de forma conjunta compostas de accedilotildees e operaccedilotildees
como essa da elaboraccedilatildeo do quadro o planejamento de uma oficina dentre outras que natildeo nos
interessam nesse momento
Eacute preciso tambeacutem esclarecer que o quadro que seraacute apresentado a seguir foi o resultado final
de um trabalho coletivo e mediado pelas formadoras Para chegarmos a sua versatildeo final
foram necessaacuterias trecircs refacccedilotildees numa clara demonstraccedilatildeo de que o processo de
internalizaccedilatildeo como assevera Vygotsky (1988) depende de uma longa seacuterie de eventos
Assim muito provavelmente esse momento representa apenas um dos eventos que os
professores tiveram para iniciar esse processo mas que para que ele se consolide necessitaratildeo
de outros
15
Ressaltamos que todas as operaccedilotildees mentais anteriormente colocadas no referencial teoacuterico
para o desenvolvimento e apropriaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico dependem para que se
coloque o sujeito em atividade dos processos de mediaccedilatildeo tambeacutem realizados pelo professor
(VYGOTSKY 2000 SFORNI 2004) No nosso caso um dos recursos que utilizamos para
conduzir o processo de apropriaccedilatildeo e que se mostrou bastante produtivo em nossas
intervenccedilotildees foi a devoluccedilatildeo de uma nova pergunta apoacutes uma duacutevida estabelecida pelos
professores Como no momento das discussotildees utilizamos o gecircnero exposiccedilatildeo oral buscamos
nessa estrateacutegia comentada por Carneiro (2009) como uma das quais o professor pode se
utilizar para provocar a reflexatildeo e por efeito a possiacutevel compreensatildeo como ilustra o exemplo
abaixo
Professora ()entatildeo o desejo me parece ser tambeacutem a atividade natildeo eacute
Formadora veja pense num exemplo se jaacute almocei mas de repente vejo numa
vitrine um delicioso doce teria um desejo ou uma necessidade por ele
Professora uhm pera aiacute eu natildeo tenho necessidade de come porque jaacute estou
satisfeita mas tenho desejo neacute o desejo eacute mais emocional eacute mais voltado ao prazer
e a necessidade eacute aquilo que eacute necessaacuterio fazerparece mais racional()
Formadora isso agora pense nessa analogia para o campo da escrita
Profesora taacute o desejo tem a ver com o sentimentoa questatildeo dos sentimentos da
crianccedila neacute a gente tem que criar um viacutenculo afetivo entre ela e atividade que vamos
dar e a necessidade eacute taacute mais na razatildeo acho que tem a ver com aquela questatildeo que
discutimos com as praacuteticas sociais que satildeo as necessidades reais que temos de nos
comunicar()
Percebemos que ao devolver a duacutevida em forma de pergunta acrescida com um exemplo de
senso comum a professora formadora provoca uma reflexatildeo na professora participante e
como efeito gera-se o entendimento do conceito antes motivo de duacutevida Claro estaacute que nem
sempre esse recurso conforme comprova Carneiro (opcit) consegue proporcionar a
compreensatildeo mas sem duacutevida eacute ma estrateacutegia interessante para o professor de forma
consciente utilizar em suas explicaccedilotildees
Apoacutes esse trabalho de cunho coletivo elaboramos com a participaccedilatildeo das professoras o
quadro abaixo (resultado de trecircs refacccedilotildees) no qual aleacutem de pensar nas implicaccedilotildees para o
ensino elas tambeacutem correlacionaram os elementos da teoria da atividade com alguns dos
elementos do contexto de produccedilatildeo
16
Elementos estruturais da Teoria da Atividade Implicaccedilotildees para o ensino da escrita
DESEJO Elemento afetivo que desencadeia a necessidade da
escrita eacute desencadeado tanto pelo processo de
mediaccedilatildeo do professor com o aluno como tambeacutem
pela motivaccedilatildeo exercida por exemplo para a
abertura de um novo projetoatividade de
escritaNatildeo s relaciona a nenhum dos elementos
previstos pelo contexto de produccedilatildeo jaacute que eacute de
ordem emocional
NECESSIDADE Envolve o uso especiacutefico da escrita numa
determinada situaccedilatildeo de produccedilatildeo para atender a
uma praacutetica social especiacutefica escrever para publicar
um livro de contos escrever para produzir uma
reivindicaccedilatildeo escrever para solicitar alguma coisa
escrever para participar de um concurso escrever
um cardaacutepio para uma festa etc
MOTIVO Envolve o sentido da escrita para a crianccedila de modo
a convencecirc-la a escrever por meio de atividades que
oportunizem correlacionar a escrita com as emoccedilotildees
da crianccedila e tambeacutem com seus provaacuteveis
interlocutores pois satildeo eles que vinculam sentido
agravequilo que a crianccedila escreve (BAKTHIN 2003)
Uma dessas atividades que podem vincular a escrita
ao motivo pode ser a divulgaccedilatildeo da produccedilatildeo final
ao puacuteblico por exemplo compor um fabulaacuterio para
ser divulgado numa amostra de livros da escola
produzir cartazes para divulgaccedilatildeo de festas na escola
e afixaacute-los em estabelecimentos comerciais elaborar
notiacutecias para o jornal da escola ou para a raacutedio da
escola produzir livros de histoacuterias infantis para
crianccedilas menores elaborar uma seccedilatildeo de
classificados divulgando serviccedilos prestados ou
produtos vendidos por familiares e amigos do bairro
etcEntendemos que o fato da divulgaccedilatildeo do olhar
do outro como afirmam BakthinVoloshinov (1992)
satildeo essenciais para instaurar uma escrita
significativa
FINALIDADE Envolve o objetivo especiacutefico da escrita na situaccedilatildeo
de interaccedilatildeo para quecirc escrever Para solicitar
alguma coisa para colocar a minha opiniatildeo para
17
contar uma anedota etcA finalidade ou o objetivo
da produccedilatildeo deve vir claramente expressa no
comando de escrita a ser entregue para o aluno
ACcedilAtildeO Envolve a definiccedilatildeo do gecircnero textual que a crianccedila
iraacute escrever um resumo uma notiacutecia uma carta do
leitor um anuacutencio de classificado um comentaacuterio
um conto de fadas etc
OPERACcedilOtildeES (modos de execuccedilatildeo de uma catildeo) Envolve uma seacuterie de tarefas anteriores aacute produccedilatildeo
escritaoral do gecircnero com vistas aacute apropriaccedilatildeo dos
elementos caracterizadores dos gecircneros (o tema a
estrutura composiconal e o estilo) e levando em
conta as fases da escrita planejamento revisatildeo e
reescrita
Quadro 4 Elementos da Teoria da Atividade e sua implicaccedilatildeo na escrita
O exerciacutecio acima evidenciou-nos que mesmo sem ainda terem a noccedilatildeo sobre as capacidades
de linguagem a serem desenvolvidas no quadro do ISD os professores por meio das
operaccedilotildees mentais que o exerciacutecio exigia (anaacutelise comparaccedilatildeo abstraccedilatildeo siacutentese
exemplificaccedilatildeo) conseguem fazer relaccedilotildees coerentes entre os elementos da Teoria da
Atividade com implicaccedilotildees para o ensino da escrita Por exemplo relacionam a necessidade
elemento desencadeador da atividade com a praacutetica social como elemento desencadeador da
atividade de produccedilatildeo que no quadro do ISD eacute o elemento que possibilita alavancar por
exemplo as sequecircncias didaacuteticas (cfDOLZ SCHNEUWLY 2004)
Tambeacutem associam de forma interessante o motivo com um dos elementos do contexto de
produccedilatildeo o interlocutor reforccedilando a importacircncia desse elemento como tambeacutem aspecto
motivacional no ato da escrita Da mesma forma o tema e seu tratamento exaustivo
(BAKTHIN 1992) eacute explorado na associaccedilatildeo entre esse elemento e a accedilatildeo na medida em que
ao definir um determinado gecircnero estaacute implicado aiacute a realizaccedilatildeo desse elemento bakthiniano
Por fim nas operaccedilotildees fica claro que os professores conseguiram perceber que para se
escrever um determinado gecircnero seraacute preciso decompocirc-lo em uma seacuterie de atividades nas
quais se mobilizaratildeo o tema a estrutura composicional e o estilo
Na sequumlecircncia apoacutes a discussatildeo do quadro e com o intuito de promover mais um evento para
reforccedilar o processo de internalizaccedilatildeo agora numa atividade praacutetica solicitamos que cada
duplatrio de professores elaborassem um planejamento de uma oficina de leituraproduccedilatildeo
textual (jaacute que nesse momento ainda desconheciam outros instrumentos proacuteprios do ISD
18
como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com
atividades de escrita
O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras
de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre
de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um
suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito
com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar
jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da
Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que
tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos
previstos em cada etapa
A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma
oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas
as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs
refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo
4ordf seacuteries 12 ha
SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR
DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola
NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da
escola
MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral
FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na
escola e em casa
ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de
humor)
2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais
da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha
Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar
o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e
definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim
19
de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as
seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para
quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social
2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura
ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a
organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos
e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio
anterior
1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras
MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a
importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar
tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto
1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que
envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido
com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e
trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido
1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em
grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na
escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira
contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade
anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os
interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma
lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira
escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4
quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos
das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -
elaboraccedilatildeo dos balotildees
2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar
ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a
releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com
mediaccedilatildeo do professora
2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)
apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o
tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as
formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo
Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais
O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro
momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de
operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no
20
interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo
(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-
problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)
No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo
finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do
contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o
reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro
elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar
um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de
humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as
crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees
estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo
Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993
DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos
que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo
para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio
Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na
visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia
coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a
reescrita
Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos
como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser
compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado
pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua
transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o
processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica
para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos
da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do
Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se
coerentes a essas bases teoacutericas
Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e
certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e
conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que
soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um
21
pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)
talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados
5Consideraccedilotildees finais
O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo
de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da
Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de
apropriaccedilatildeo
a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade
interna
b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do
sujeito para que se concretize
c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por
elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e
as operaccedilotildees
d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem
mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como
propulsores do desenvolvimento
e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito
d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a
definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc
Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores
sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer
um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa
instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o
desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as
praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um
pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do
curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em
torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais
22
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13
sentido subjetivo as quais propuosionam nosso agir tanto pensando na esfera escolar como
na esfera do nosso cotidiano Nesse sentido precisamos levar em conta que o processode
apropriaccedilatildeo depende tambeacutem de aspectos afetivos (cf DAVYDOV 1998)
A questatildeo do desejo pode ser comparada agrave questatildeo da voliccedilatildeo discutida por Vygotsky
(2001)Como vimos na seccedilatildeo anterior a relaccedilatildeo do sujeito com o objeto eacute uma relaccedilatildeo
mediada pelo outro atraveacutes da linguagem (e das ferramentas) Para Vygotsky (19882001) eacute a
linguagem que possibilita a constituiccedilatildeo do pensamento da consciecircncia da vontade isto eacute
das funccedilotildees psicoloacutegicas superiores Nesse sentido soacute tomamos consciecircncia individual a
partir primeiro das interaccedilotildees sociais ou da relaccedilatildeo com o outro Normalmente no caso da
crianccedila esse outro eacute algueacutem afetivamente proacutexima a ela Eacute o aspecto emocional envolvido
nessa relaccedilatildeo que motiva e impulsiona a crianccedila a agir Nesse sentido temos que a vontade eacute
uma funccedilatildeo psicoloacutegica superior e a sua construccedilatildeo depende de uma atividade que eacute portanto
de natureza social
Todas essas categorias na perspectiva da Teoria da Atividade implicam que se coloque a
crianccedila em uma trabalho inicialmente coletivo para posteriormente ser individual o que
remete agrave importacircncia de se desenvolver na sala de aula aleacutem das produccedilotildees individuais as
produccedilotildees coletivas De qualquer modo mesmo natildeo sendo um campo epistemoloacutegico voltado
para os gecircneros textuais eacute possiacutevel percebermos as razotildees de Bronckart (2003 2006) ter
utilizado dessa fonte no Interacionismo Sociodiscursivo jaacute que as noccedilotildees de atividade e da
accedilatildeo natildeo soacute regulam os objetivos dos indiviacuteduos nas diversas interaccedilotildees sociais como
tambeacutem satildeo importantes elementos para pensarmos em como gerar um conhecimento que seja
significativo e dessa forma seja apreendido pela crianccedilaaluno
4 Ilustrando o trabalho com a formaccedilatildeo de professores de seacuteries iniciais
As duas atividades que seratildeo aqui delineadas decorreram de trecircs de um total de seis etapas de
um curso de formaccedilatildeo envolvendo o tema gecircneros textuais e ensino ministrado para 15
professores de uma escola da rede puacuteblica do noroeste do Paranaacute por duas professoras
formadoras (das quais fizemos parte) e estagiaacuterias do curso de Letras no segundo semestre de
2007 As trecircs etapas iniciais tiveram como toacutepicos (a) pressupostos baacutesicos da Abordagem
Histoacuterico-Social e da Teoria da Atividade b) pressupostos gerais sobre gecircneros textuais a
partir de Bakthin e o Interacionismo Social dentre os quais foram destacados os aspectos
caracterizadores do gecircnero o tema a estrutura composicional e o estilo (BAKTHIN 1992) c)
contexto de produccedilatildeo no ISD (as capacidades de linguagem o instrumento sequumlecircncia didaacutetica
14
ficaram para outras sessotildees) d) transposiccedilatildeo dessas teorias para o ensino da escrita e)
planejamento de aulasoficinasPor questotildees de delimitaccedilatildeo enfocaremos neste artigo apenas
as subetapas ldquo drdquo e ldquoerdquo
As subetapas assinaladas envolveram duas atividades para os professores uma de cunho
teoacuterico e outra de cunho praacutetico A atividade de cunho teoacuterico ocorreu apoacutes as discussotildees
teoacutericas e foi apresentada da seguinte maneira
Em grupo elabore um quadro no qual vocecirc correlacione as categorias da Teoria da Atividade
aos elementos do contexto de produccedilatildeo vistos em Bakthin (1992) e em Bronckart (2003)
Embora no processo inicial de escolarizaccedilatildeo a comparaccedilatildeo como vimos eacute uma operaccedilatildeo
mental que pode caracterizar o pensamento empiacuterico aqui neste exerciacutecio ela natildeo eacute suficiente
Para que os professores realizassem a atividade precisariam entender primeiro cada uma das
teorias seus elementos para depois confrontaacute-los Isso exigiu que utilizassem diversas
operaccedilotildees mentais ressaltadas por Menchiskaia (1969) como a anaacutelise a abstraccedilatildeo a siacutentese
a comparaccedilatildeo a sistematizaccedilatildeo a definiccedilatildeo e a compreensatildeo necessaacuterias ao processo de
apropriaccedilatildeo
Aleacutem disso para a realizaccedilatildeo desse exerciacutecio procuramos respeitar os elementos proacuteprios da
Teoria da Atividade os professores que estavam no curso de formaccedilatildeo solicitaram o curso
portanto partiram de uma necessidade para ali estarem Aleacutem disso tinham um motivo e uma
finalidade queriam buscar informaccedilotildees sobre a transposiccedilatildeo dos gecircneros textuais para
otimizarem o trabalho com as crianccedilas na sala de aula Sabiam que para alcanccedilar esse
propoacutesito teriam que realizar atividades de forma conjunta compostas de accedilotildees e operaccedilotildees
como essa da elaboraccedilatildeo do quadro o planejamento de uma oficina dentre outras que natildeo nos
interessam nesse momento
Eacute preciso tambeacutem esclarecer que o quadro que seraacute apresentado a seguir foi o resultado final
de um trabalho coletivo e mediado pelas formadoras Para chegarmos a sua versatildeo final
foram necessaacuterias trecircs refacccedilotildees numa clara demonstraccedilatildeo de que o processo de
internalizaccedilatildeo como assevera Vygotsky (1988) depende de uma longa seacuterie de eventos
Assim muito provavelmente esse momento representa apenas um dos eventos que os
professores tiveram para iniciar esse processo mas que para que ele se consolide necessitaratildeo
de outros
15
Ressaltamos que todas as operaccedilotildees mentais anteriormente colocadas no referencial teoacuterico
para o desenvolvimento e apropriaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico dependem para que se
coloque o sujeito em atividade dos processos de mediaccedilatildeo tambeacutem realizados pelo professor
(VYGOTSKY 2000 SFORNI 2004) No nosso caso um dos recursos que utilizamos para
conduzir o processo de apropriaccedilatildeo e que se mostrou bastante produtivo em nossas
intervenccedilotildees foi a devoluccedilatildeo de uma nova pergunta apoacutes uma duacutevida estabelecida pelos
professores Como no momento das discussotildees utilizamos o gecircnero exposiccedilatildeo oral buscamos
nessa estrateacutegia comentada por Carneiro (2009) como uma das quais o professor pode se
utilizar para provocar a reflexatildeo e por efeito a possiacutevel compreensatildeo como ilustra o exemplo
abaixo
Professora ()entatildeo o desejo me parece ser tambeacutem a atividade natildeo eacute
Formadora veja pense num exemplo se jaacute almocei mas de repente vejo numa
vitrine um delicioso doce teria um desejo ou uma necessidade por ele
Professora uhm pera aiacute eu natildeo tenho necessidade de come porque jaacute estou
satisfeita mas tenho desejo neacute o desejo eacute mais emocional eacute mais voltado ao prazer
e a necessidade eacute aquilo que eacute necessaacuterio fazerparece mais racional()
Formadora isso agora pense nessa analogia para o campo da escrita
Profesora taacute o desejo tem a ver com o sentimentoa questatildeo dos sentimentos da
crianccedila neacute a gente tem que criar um viacutenculo afetivo entre ela e atividade que vamos
dar e a necessidade eacute taacute mais na razatildeo acho que tem a ver com aquela questatildeo que
discutimos com as praacuteticas sociais que satildeo as necessidades reais que temos de nos
comunicar()
Percebemos que ao devolver a duacutevida em forma de pergunta acrescida com um exemplo de
senso comum a professora formadora provoca uma reflexatildeo na professora participante e
como efeito gera-se o entendimento do conceito antes motivo de duacutevida Claro estaacute que nem
sempre esse recurso conforme comprova Carneiro (opcit) consegue proporcionar a
compreensatildeo mas sem duacutevida eacute ma estrateacutegia interessante para o professor de forma
consciente utilizar em suas explicaccedilotildees
Apoacutes esse trabalho de cunho coletivo elaboramos com a participaccedilatildeo das professoras o
quadro abaixo (resultado de trecircs refacccedilotildees) no qual aleacutem de pensar nas implicaccedilotildees para o
ensino elas tambeacutem correlacionaram os elementos da teoria da atividade com alguns dos
elementos do contexto de produccedilatildeo
16
Elementos estruturais da Teoria da Atividade Implicaccedilotildees para o ensino da escrita
DESEJO Elemento afetivo que desencadeia a necessidade da
escrita eacute desencadeado tanto pelo processo de
mediaccedilatildeo do professor com o aluno como tambeacutem
pela motivaccedilatildeo exercida por exemplo para a
abertura de um novo projetoatividade de
escritaNatildeo s relaciona a nenhum dos elementos
previstos pelo contexto de produccedilatildeo jaacute que eacute de
ordem emocional
NECESSIDADE Envolve o uso especiacutefico da escrita numa
determinada situaccedilatildeo de produccedilatildeo para atender a
uma praacutetica social especiacutefica escrever para publicar
um livro de contos escrever para produzir uma
reivindicaccedilatildeo escrever para solicitar alguma coisa
escrever para participar de um concurso escrever
um cardaacutepio para uma festa etc
MOTIVO Envolve o sentido da escrita para a crianccedila de modo
a convencecirc-la a escrever por meio de atividades que
oportunizem correlacionar a escrita com as emoccedilotildees
da crianccedila e tambeacutem com seus provaacuteveis
interlocutores pois satildeo eles que vinculam sentido
agravequilo que a crianccedila escreve (BAKTHIN 2003)
Uma dessas atividades que podem vincular a escrita
ao motivo pode ser a divulgaccedilatildeo da produccedilatildeo final
ao puacuteblico por exemplo compor um fabulaacuterio para
ser divulgado numa amostra de livros da escola
produzir cartazes para divulgaccedilatildeo de festas na escola
e afixaacute-los em estabelecimentos comerciais elaborar
notiacutecias para o jornal da escola ou para a raacutedio da
escola produzir livros de histoacuterias infantis para
crianccedilas menores elaborar uma seccedilatildeo de
classificados divulgando serviccedilos prestados ou
produtos vendidos por familiares e amigos do bairro
etcEntendemos que o fato da divulgaccedilatildeo do olhar
do outro como afirmam BakthinVoloshinov (1992)
satildeo essenciais para instaurar uma escrita
significativa
FINALIDADE Envolve o objetivo especiacutefico da escrita na situaccedilatildeo
de interaccedilatildeo para quecirc escrever Para solicitar
alguma coisa para colocar a minha opiniatildeo para
17
contar uma anedota etcA finalidade ou o objetivo
da produccedilatildeo deve vir claramente expressa no
comando de escrita a ser entregue para o aluno
ACcedilAtildeO Envolve a definiccedilatildeo do gecircnero textual que a crianccedila
iraacute escrever um resumo uma notiacutecia uma carta do
leitor um anuacutencio de classificado um comentaacuterio
um conto de fadas etc
OPERACcedilOtildeES (modos de execuccedilatildeo de uma catildeo) Envolve uma seacuterie de tarefas anteriores aacute produccedilatildeo
escritaoral do gecircnero com vistas aacute apropriaccedilatildeo dos
elementos caracterizadores dos gecircneros (o tema a
estrutura composiconal e o estilo) e levando em
conta as fases da escrita planejamento revisatildeo e
reescrita
Quadro 4 Elementos da Teoria da Atividade e sua implicaccedilatildeo na escrita
O exerciacutecio acima evidenciou-nos que mesmo sem ainda terem a noccedilatildeo sobre as capacidades
de linguagem a serem desenvolvidas no quadro do ISD os professores por meio das
operaccedilotildees mentais que o exerciacutecio exigia (anaacutelise comparaccedilatildeo abstraccedilatildeo siacutentese
exemplificaccedilatildeo) conseguem fazer relaccedilotildees coerentes entre os elementos da Teoria da
Atividade com implicaccedilotildees para o ensino da escrita Por exemplo relacionam a necessidade
elemento desencadeador da atividade com a praacutetica social como elemento desencadeador da
atividade de produccedilatildeo que no quadro do ISD eacute o elemento que possibilita alavancar por
exemplo as sequecircncias didaacuteticas (cfDOLZ SCHNEUWLY 2004)
Tambeacutem associam de forma interessante o motivo com um dos elementos do contexto de
produccedilatildeo o interlocutor reforccedilando a importacircncia desse elemento como tambeacutem aspecto
motivacional no ato da escrita Da mesma forma o tema e seu tratamento exaustivo
(BAKTHIN 1992) eacute explorado na associaccedilatildeo entre esse elemento e a accedilatildeo na medida em que
ao definir um determinado gecircnero estaacute implicado aiacute a realizaccedilatildeo desse elemento bakthiniano
Por fim nas operaccedilotildees fica claro que os professores conseguiram perceber que para se
escrever um determinado gecircnero seraacute preciso decompocirc-lo em uma seacuterie de atividades nas
quais se mobilizaratildeo o tema a estrutura composicional e o estilo
Na sequumlecircncia apoacutes a discussatildeo do quadro e com o intuito de promover mais um evento para
reforccedilar o processo de internalizaccedilatildeo agora numa atividade praacutetica solicitamos que cada
duplatrio de professores elaborassem um planejamento de uma oficina de leituraproduccedilatildeo
textual (jaacute que nesse momento ainda desconheciam outros instrumentos proacuteprios do ISD
18
como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com
atividades de escrita
O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras
de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre
de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um
suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito
com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar
jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da
Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que
tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos
previstos em cada etapa
A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma
oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas
as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs
refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo
4ordf seacuteries 12 ha
SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR
DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola
NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da
escola
MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral
FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na
escola e em casa
ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de
humor)
2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais
da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha
Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar
o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e
definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim
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de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as
seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para
quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social
2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura
ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a
organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos
e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio
anterior
1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras
MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a
importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar
tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto
1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que
envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido
com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e
trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido
1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em
grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na
escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira
contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade
anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os
interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma
lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira
escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4
quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos
das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -
elaboraccedilatildeo dos balotildees
2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar
ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a
releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com
mediaccedilatildeo do professora
2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)
apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o
tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as
formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo
Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais
O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro
momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de
operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no
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interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo
(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-
problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)
No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo
finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do
contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o
reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro
elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar
um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de
humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as
crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees
estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo
Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993
DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos
que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo
para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio
Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na
visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia
coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a
reescrita
Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos
como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser
compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado
pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua
transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o
processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica
para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos
da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do
Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se
coerentes a essas bases teoacutericas
Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e
certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e
conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que
soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um
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pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)
talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados
5Consideraccedilotildees finais
O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo
de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da
Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de
apropriaccedilatildeo
a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade
interna
b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do
sujeito para que se concretize
c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por
elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e
as operaccedilotildees
d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem
mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como
propulsores do desenvolvimento
e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito
d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a
definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc
Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores
sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer
um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa
instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o
desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as
praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um
pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do
curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em
torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais
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14
ficaram para outras sessotildees) d) transposiccedilatildeo dessas teorias para o ensino da escrita e)
planejamento de aulasoficinasPor questotildees de delimitaccedilatildeo enfocaremos neste artigo apenas
as subetapas ldquo drdquo e ldquoerdquo
As subetapas assinaladas envolveram duas atividades para os professores uma de cunho
teoacuterico e outra de cunho praacutetico A atividade de cunho teoacuterico ocorreu apoacutes as discussotildees
teoacutericas e foi apresentada da seguinte maneira
Em grupo elabore um quadro no qual vocecirc correlacione as categorias da Teoria da Atividade
aos elementos do contexto de produccedilatildeo vistos em Bakthin (1992) e em Bronckart (2003)
Embora no processo inicial de escolarizaccedilatildeo a comparaccedilatildeo como vimos eacute uma operaccedilatildeo
mental que pode caracterizar o pensamento empiacuterico aqui neste exerciacutecio ela natildeo eacute suficiente
Para que os professores realizassem a atividade precisariam entender primeiro cada uma das
teorias seus elementos para depois confrontaacute-los Isso exigiu que utilizassem diversas
operaccedilotildees mentais ressaltadas por Menchiskaia (1969) como a anaacutelise a abstraccedilatildeo a siacutentese
a comparaccedilatildeo a sistematizaccedilatildeo a definiccedilatildeo e a compreensatildeo necessaacuterias ao processo de
apropriaccedilatildeo
Aleacutem disso para a realizaccedilatildeo desse exerciacutecio procuramos respeitar os elementos proacuteprios da
Teoria da Atividade os professores que estavam no curso de formaccedilatildeo solicitaram o curso
portanto partiram de uma necessidade para ali estarem Aleacutem disso tinham um motivo e uma
finalidade queriam buscar informaccedilotildees sobre a transposiccedilatildeo dos gecircneros textuais para
otimizarem o trabalho com as crianccedilas na sala de aula Sabiam que para alcanccedilar esse
propoacutesito teriam que realizar atividades de forma conjunta compostas de accedilotildees e operaccedilotildees
como essa da elaboraccedilatildeo do quadro o planejamento de uma oficina dentre outras que natildeo nos
interessam nesse momento
Eacute preciso tambeacutem esclarecer que o quadro que seraacute apresentado a seguir foi o resultado final
de um trabalho coletivo e mediado pelas formadoras Para chegarmos a sua versatildeo final
foram necessaacuterias trecircs refacccedilotildees numa clara demonstraccedilatildeo de que o processo de
internalizaccedilatildeo como assevera Vygotsky (1988) depende de uma longa seacuterie de eventos
Assim muito provavelmente esse momento representa apenas um dos eventos que os
professores tiveram para iniciar esse processo mas que para que ele se consolide necessitaratildeo
de outros
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Ressaltamos que todas as operaccedilotildees mentais anteriormente colocadas no referencial teoacuterico
para o desenvolvimento e apropriaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico dependem para que se
coloque o sujeito em atividade dos processos de mediaccedilatildeo tambeacutem realizados pelo professor
(VYGOTSKY 2000 SFORNI 2004) No nosso caso um dos recursos que utilizamos para
conduzir o processo de apropriaccedilatildeo e que se mostrou bastante produtivo em nossas
intervenccedilotildees foi a devoluccedilatildeo de uma nova pergunta apoacutes uma duacutevida estabelecida pelos
professores Como no momento das discussotildees utilizamos o gecircnero exposiccedilatildeo oral buscamos
nessa estrateacutegia comentada por Carneiro (2009) como uma das quais o professor pode se
utilizar para provocar a reflexatildeo e por efeito a possiacutevel compreensatildeo como ilustra o exemplo
abaixo
Professora ()entatildeo o desejo me parece ser tambeacutem a atividade natildeo eacute
Formadora veja pense num exemplo se jaacute almocei mas de repente vejo numa
vitrine um delicioso doce teria um desejo ou uma necessidade por ele
Professora uhm pera aiacute eu natildeo tenho necessidade de come porque jaacute estou
satisfeita mas tenho desejo neacute o desejo eacute mais emocional eacute mais voltado ao prazer
e a necessidade eacute aquilo que eacute necessaacuterio fazerparece mais racional()
Formadora isso agora pense nessa analogia para o campo da escrita
Profesora taacute o desejo tem a ver com o sentimentoa questatildeo dos sentimentos da
crianccedila neacute a gente tem que criar um viacutenculo afetivo entre ela e atividade que vamos
dar e a necessidade eacute taacute mais na razatildeo acho que tem a ver com aquela questatildeo que
discutimos com as praacuteticas sociais que satildeo as necessidades reais que temos de nos
comunicar()
Percebemos que ao devolver a duacutevida em forma de pergunta acrescida com um exemplo de
senso comum a professora formadora provoca uma reflexatildeo na professora participante e
como efeito gera-se o entendimento do conceito antes motivo de duacutevida Claro estaacute que nem
sempre esse recurso conforme comprova Carneiro (opcit) consegue proporcionar a
compreensatildeo mas sem duacutevida eacute ma estrateacutegia interessante para o professor de forma
consciente utilizar em suas explicaccedilotildees
Apoacutes esse trabalho de cunho coletivo elaboramos com a participaccedilatildeo das professoras o
quadro abaixo (resultado de trecircs refacccedilotildees) no qual aleacutem de pensar nas implicaccedilotildees para o
ensino elas tambeacutem correlacionaram os elementos da teoria da atividade com alguns dos
elementos do contexto de produccedilatildeo
16
Elementos estruturais da Teoria da Atividade Implicaccedilotildees para o ensino da escrita
DESEJO Elemento afetivo que desencadeia a necessidade da
escrita eacute desencadeado tanto pelo processo de
mediaccedilatildeo do professor com o aluno como tambeacutem
pela motivaccedilatildeo exercida por exemplo para a
abertura de um novo projetoatividade de
escritaNatildeo s relaciona a nenhum dos elementos
previstos pelo contexto de produccedilatildeo jaacute que eacute de
ordem emocional
NECESSIDADE Envolve o uso especiacutefico da escrita numa
determinada situaccedilatildeo de produccedilatildeo para atender a
uma praacutetica social especiacutefica escrever para publicar
um livro de contos escrever para produzir uma
reivindicaccedilatildeo escrever para solicitar alguma coisa
escrever para participar de um concurso escrever
um cardaacutepio para uma festa etc
MOTIVO Envolve o sentido da escrita para a crianccedila de modo
a convencecirc-la a escrever por meio de atividades que
oportunizem correlacionar a escrita com as emoccedilotildees
da crianccedila e tambeacutem com seus provaacuteveis
interlocutores pois satildeo eles que vinculam sentido
agravequilo que a crianccedila escreve (BAKTHIN 2003)
Uma dessas atividades que podem vincular a escrita
ao motivo pode ser a divulgaccedilatildeo da produccedilatildeo final
ao puacuteblico por exemplo compor um fabulaacuterio para
ser divulgado numa amostra de livros da escola
produzir cartazes para divulgaccedilatildeo de festas na escola
e afixaacute-los em estabelecimentos comerciais elaborar
notiacutecias para o jornal da escola ou para a raacutedio da
escola produzir livros de histoacuterias infantis para
crianccedilas menores elaborar uma seccedilatildeo de
classificados divulgando serviccedilos prestados ou
produtos vendidos por familiares e amigos do bairro
etcEntendemos que o fato da divulgaccedilatildeo do olhar
do outro como afirmam BakthinVoloshinov (1992)
satildeo essenciais para instaurar uma escrita
significativa
FINALIDADE Envolve o objetivo especiacutefico da escrita na situaccedilatildeo
de interaccedilatildeo para quecirc escrever Para solicitar
alguma coisa para colocar a minha opiniatildeo para
17
contar uma anedota etcA finalidade ou o objetivo
da produccedilatildeo deve vir claramente expressa no
comando de escrita a ser entregue para o aluno
ACcedilAtildeO Envolve a definiccedilatildeo do gecircnero textual que a crianccedila
iraacute escrever um resumo uma notiacutecia uma carta do
leitor um anuacutencio de classificado um comentaacuterio
um conto de fadas etc
OPERACcedilOtildeES (modos de execuccedilatildeo de uma catildeo) Envolve uma seacuterie de tarefas anteriores aacute produccedilatildeo
escritaoral do gecircnero com vistas aacute apropriaccedilatildeo dos
elementos caracterizadores dos gecircneros (o tema a
estrutura composiconal e o estilo) e levando em
conta as fases da escrita planejamento revisatildeo e
reescrita
Quadro 4 Elementos da Teoria da Atividade e sua implicaccedilatildeo na escrita
O exerciacutecio acima evidenciou-nos que mesmo sem ainda terem a noccedilatildeo sobre as capacidades
de linguagem a serem desenvolvidas no quadro do ISD os professores por meio das
operaccedilotildees mentais que o exerciacutecio exigia (anaacutelise comparaccedilatildeo abstraccedilatildeo siacutentese
exemplificaccedilatildeo) conseguem fazer relaccedilotildees coerentes entre os elementos da Teoria da
Atividade com implicaccedilotildees para o ensino da escrita Por exemplo relacionam a necessidade
elemento desencadeador da atividade com a praacutetica social como elemento desencadeador da
atividade de produccedilatildeo que no quadro do ISD eacute o elemento que possibilita alavancar por
exemplo as sequecircncias didaacuteticas (cfDOLZ SCHNEUWLY 2004)
Tambeacutem associam de forma interessante o motivo com um dos elementos do contexto de
produccedilatildeo o interlocutor reforccedilando a importacircncia desse elemento como tambeacutem aspecto
motivacional no ato da escrita Da mesma forma o tema e seu tratamento exaustivo
(BAKTHIN 1992) eacute explorado na associaccedilatildeo entre esse elemento e a accedilatildeo na medida em que
ao definir um determinado gecircnero estaacute implicado aiacute a realizaccedilatildeo desse elemento bakthiniano
Por fim nas operaccedilotildees fica claro que os professores conseguiram perceber que para se
escrever um determinado gecircnero seraacute preciso decompocirc-lo em uma seacuterie de atividades nas
quais se mobilizaratildeo o tema a estrutura composicional e o estilo
Na sequumlecircncia apoacutes a discussatildeo do quadro e com o intuito de promover mais um evento para
reforccedilar o processo de internalizaccedilatildeo agora numa atividade praacutetica solicitamos que cada
duplatrio de professores elaborassem um planejamento de uma oficina de leituraproduccedilatildeo
textual (jaacute que nesse momento ainda desconheciam outros instrumentos proacuteprios do ISD
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como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com
atividades de escrita
O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras
de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre
de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um
suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito
com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar
jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da
Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que
tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos
previstos em cada etapa
A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma
oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas
as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs
refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo
4ordf seacuteries 12 ha
SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR
DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola
NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da
escola
MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral
FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na
escola e em casa
ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de
humor)
2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais
da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha
Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar
o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e
definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim
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de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as
seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para
quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social
2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura
ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a
organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos
e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio
anterior
1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras
MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a
importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar
tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto
1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que
envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido
com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e
trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido
1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em
grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na
escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira
contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade
anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os
interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma
lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira
escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4
quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos
das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -
elaboraccedilatildeo dos balotildees
2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar
ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a
releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com
mediaccedilatildeo do professora
2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)
apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o
tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as
formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo
Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais
O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro
momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de
operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no
20
interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo
(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-
problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)
No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo
finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do
contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o
reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro
elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar
um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de
humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as
crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees
estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo
Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993
DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos
que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo
para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio
Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na
visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia
coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a
reescrita
Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos
como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser
compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado
pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua
transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o
processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica
para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos
da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do
Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se
coerentes a essas bases teoacutericas
Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e
certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e
conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que
soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um
21
pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)
talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados
5Consideraccedilotildees finais
O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo
de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da
Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de
apropriaccedilatildeo
a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade
interna
b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do
sujeito para que se concretize
c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por
elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e
as operaccedilotildees
d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem
mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como
propulsores do desenvolvimento
e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito
d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a
definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc
Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores
sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer
um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa
instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o
desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as
praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um
pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do
curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em
torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais
22
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15
Ressaltamos que todas as operaccedilotildees mentais anteriormente colocadas no referencial teoacuterico
para o desenvolvimento e apropriaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico dependem para que se
coloque o sujeito em atividade dos processos de mediaccedilatildeo tambeacutem realizados pelo professor
(VYGOTSKY 2000 SFORNI 2004) No nosso caso um dos recursos que utilizamos para
conduzir o processo de apropriaccedilatildeo e que se mostrou bastante produtivo em nossas
intervenccedilotildees foi a devoluccedilatildeo de uma nova pergunta apoacutes uma duacutevida estabelecida pelos
professores Como no momento das discussotildees utilizamos o gecircnero exposiccedilatildeo oral buscamos
nessa estrateacutegia comentada por Carneiro (2009) como uma das quais o professor pode se
utilizar para provocar a reflexatildeo e por efeito a possiacutevel compreensatildeo como ilustra o exemplo
abaixo
Professora ()entatildeo o desejo me parece ser tambeacutem a atividade natildeo eacute
Formadora veja pense num exemplo se jaacute almocei mas de repente vejo numa
vitrine um delicioso doce teria um desejo ou uma necessidade por ele
Professora uhm pera aiacute eu natildeo tenho necessidade de come porque jaacute estou
satisfeita mas tenho desejo neacute o desejo eacute mais emocional eacute mais voltado ao prazer
e a necessidade eacute aquilo que eacute necessaacuterio fazerparece mais racional()
Formadora isso agora pense nessa analogia para o campo da escrita
Profesora taacute o desejo tem a ver com o sentimentoa questatildeo dos sentimentos da
crianccedila neacute a gente tem que criar um viacutenculo afetivo entre ela e atividade que vamos
dar e a necessidade eacute taacute mais na razatildeo acho que tem a ver com aquela questatildeo que
discutimos com as praacuteticas sociais que satildeo as necessidades reais que temos de nos
comunicar()
Percebemos que ao devolver a duacutevida em forma de pergunta acrescida com um exemplo de
senso comum a professora formadora provoca uma reflexatildeo na professora participante e
como efeito gera-se o entendimento do conceito antes motivo de duacutevida Claro estaacute que nem
sempre esse recurso conforme comprova Carneiro (opcit) consegue proporcionar a
compreensatildeo mas sem duacutevida eacute ma estrateacutegia interessante para o professor de forma
consciente utilizar em suas explicaccedilotildees
Apoacutes esse trabalho de cunho coletivo elaboramos com a participaccedilatildeo das professoras o
quadro abaixo (resultado de trecircs refacccedilotildees) no qual aleacutem de pensar nas implicaccedilotildees para o
ensino elas tambeacutem correlacionaram os elementos da teoria da atividade com alguns dos
elementos do contexto de produccedilatildeo
16
Elementos estruturais da Teoria da Atividade Implicaccedilotildees para o ensino da escrita
DESEJO Elemento afetivo que desencadeia a necessidade da
escrita eacute desencadeado tanto pelo processo de
mediaccedilatildeo do professor com o aluno como tambeacutem
pela motivaccedilatildeo exercida por exemplo para a
abertura de um novo projetoatividade de
escritaNatildeo s relaciona a nenhum dos elementos
previstos pelo contexto de produccedilatildeo jaacute que eacute de
ordem emocional
NECESSIDADE Envolve o uso especiacutefico da escrita numa
determinada situaccedilatildeo de produccedilatildeo para atender a
uma praacutetica social especiacutefica escrever para publicar
um livro de contos escrever para produzir uma
reivindicaccedilatildeo escrever para solicitar alguma coisa
escrever para participar de um concurso escrever
um cardaacutepio para uma festa etc
MOTIVO Envolve o sentido da escrita para a crianccedila de modo
a convencecirc-la a escrever por meio de atividades que
oportunizem correlacionar a escrita com as emoccedilotildees
da crianccedila e tambeacutem com seus provaacuteveis
interlocutores pois satildeo eles que vinculam sentido
agravequilo que a crianccedila escreve (BAKTHIN 2003)
Uma dessas atividades que podem vincular a escrita
ao motivo pode ser a divulgaccedilatildeo da produccedilatildeo final
ao puacuteblico por exemplo compor um fabulaacuterio para
ser divulgado numa amostra de livros da escola
produzir cartazes para divulgaccedilatildeo de festas na escola
e afixaacute-los em estabelecimentos comerciais elaborar
notiacutecias para o jornal da escola ou para a raacutedio da
escola produzir livros de histoacuterias infantis para
crianccedilas menores elaborar uma seccedilatildeo de
classificados divulgando serviccedilos prestados ou
produtos vendidos por familiares e amigos do bairro
etcEntendemos que o fato da divulgaccedilatildeo do olhar
do outro como afirmam BakthinVoloshinov (1992)
satildeo essenciais para instaurar uma escrita
significativa
FINALIDADE Envolve o objetivo especiacutefico da escrita na situaccedilatildeo
de interaccedilatildeo para quecirc escrever Para solicitar
alguma coisa para colocar a minha opiniatildeo para
17
contar uma anedota etcA finalidade ou o objetivo
da produccedilatildeo deve vir claramente expressa no
comando de escrita a ser entregue para o aluno
ACcedilAtildeO Envolve a definiccedilatildeo do gecircnero textual que a crianccedila
iraacute escrever um resumo uma notiacutecia uma carta do
leitor um anuacutencio de classificado um comentaacuterio
um conto de fadas etc
OPERACcedilOtildeES (modos de execuccedilatildeo de uma catildeo) Envolve uma seacuterie de tarefas anteriores aacute produccedilatildeo
escritaoral do gecircnero com vistas aacute apropriaccedilatildeo dos
elementos caracterizadores dos gecircneros (o tema a
estrutura composiconal e o estilo) e levando em
conta as fases da escrita planejamento revisatildeo e
reescrita
Quadro 4 Elementos da Teoria da Atividade e sua implicaccedilatildeo na escrita
O exerciacutecio acima evidenciou-nos que mesmo sem ainda terem a noccedilatildeo sobre as capacidades
de linguagem a serem desenvolvidas no quadro do ISD os professores por meio das
operaccedilotildees mentais que o exerciacutecio exigia (anaacutelise comparaccedilatildeo abstraccedilatildeo siacutentese
exemplificaccedilatildeo) conseguem fazer relaccedilotildees coerentes entre os elementos da Teoria da
Atividade com implicaccedilotildees para o ensino da escrita Por exemplo relacionam a necessidade
elemento desencadeador da atividade com a praacutetica social como elemento desencadeador da
atividade de produccedilatildeo que no quadro do ISD eacute o elemento que possibilita alavancar por
exemplo as sequecircncias didaacuteticas (cfDOLZ SCHNEUWLY 2004)
Tambeacutem associam de forma interessante o motivo com um dos elementos do contexto de
produccedilatildeo o interlocutor reforccedilando a importacircncia desse elemento como tambeacutem aspecto
motivacional no ato da escrita Da mesma forma o tema e seu tratamento exaustivo
(BAKTHIN 1992) eacute explorado na associaccedilatildeo entre esse elemento e a accedilatildeo na medida em que
ao definir um determinado gecircnero estaacute implicado aiacute a realizaccedilatildeo desse elemento bakthiniano
Por fim nas operaccedilotildees fica claro que os professores conseguiram perceber que para se
escrever um determinado gecircnero seraacute preciso decompocirc-lo em uma seacuterie de atividades nas
quais se mobilizaratildeo o tema a estrutura composicional e o estilo
Na sequumlecircncia apoacutes a discussatildeo do quadro e com o intuito de promover mais um evento para
reforccedilar o processo de internalizaccedilatildeo agora numa atividade praacutetica solicitamos que cada
duplatrio de professores elaborassem um planejamento de uma oficina de leituraproduccedilatildeo
textual (jaacute que nesse momento ainda desconheciam outros instrumentos proacuteprios do ISD
18
como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com
atividades de escrita
O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras
de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre
de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um
suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito
com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar
jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da
Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que
tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos
previstos em cada etapa
A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma
oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas
as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs
refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo
4ordf seacuteries 12 ha
SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR
DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola
NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da
escola
MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral
FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na
escola e em casa
ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de
humor)
2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais
da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha
Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar
o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e
definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim
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de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as
seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para
quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social
2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura
ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a
organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos
e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio
anterior
1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras
MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a
importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar
tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto
1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que
envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido
com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e
trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido
1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em
grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na
escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira
contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade
anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os
interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma
lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira
escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4
quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos
das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -
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2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar
ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a
releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com
mediaccedilatildeo do professora
2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)
apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o
tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as
formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo
Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais
O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro
momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de
operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no
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interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo
(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-
problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)
No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo
finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do
contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o
reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro
elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar
um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de
humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as
crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees
estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo
Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993
DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos
que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo
para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio
Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na
visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia
coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a
reescrita
Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos
como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser
compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado
pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua
transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o
processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica
para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos
da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do
Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se
coerentes a essas bases teoacutericas
Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e
certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e
conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que
soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um
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pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)
talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados
5Consideraccedilotildees finais
O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo
de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da
Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de
apropriaccedilatildeo
a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade
interna
b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do
sujeito para que se concretize
c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por
elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e
as operaccedilotildees
d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem
mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como
propulsores do desenvolvimento
e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito
d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a
definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc
Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores
sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer
um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa
instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o
desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as
praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um
pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do
curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em
torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais
22
6 Referecircncias
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BRONCKART J-P Atividade de linguagem texto e discursos por um interacionismo
soacutecio-discursivo Trad De Anna Raquel Machado Peacutericles Cunha Satildeo Paulo EDUC 2003
_________________ Atividade de linguagem discurso e desenvolvimento humano
Organizado por Anna Raquel Machado e Maria de Lourdes Meirelles MatencioCampinas-SP
Mercado de Letras 2006
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emergence drsquoune competence ou apprentissage de capaciteacutes langagiegraveres diverses Etudes de
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MOLL LC Vygotsky e a educaccedilatildeo implicaccedilotildees pedagoacutegicas da psicologia soacutecio-histoacuterica
Trad De Fani A Tesseler Porto Alegre Artes Meacutedicas 1996 p123-149
LEONTIEV A O desenvolvimento do psiquismo 2ed Satildeo Paulo Centauro 2004
23
LIBAcircNEO JC Didaacutetica e epistemologia para aleacutem do embate entre a didaacutetica e as didaacuteticas
especiacuteficas Aula inaugural PDEUEM 10 de abril 2008
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Taubateacute-SP Cabral Editora e Livraria Universitaacuteria 2002
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portuguesa Gecircneros textuais ferramentas didaacuteticas e formaccedilatildeo dos professoresPonta Grossa
Ed UEPG CEFORTEC 2007
ROJO RHR Gecircneros de discursotexto como objetos de ensino de liacutenguas Estudos
avanccedilados UEL 2007 (estudo avanccedilado promovido pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em
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____________ Modelizaccedilatildeo didaacutetica e planejamento duas praacuteticas esquecidas do professor
In KLEIMAN A(Org) A formaccedilatildeo do professor perspectives da linguumliacutestica aplicada
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pensamento teoacuterico dos escolares In GARNIER C BERDNARZ N ULANOVSKAI
Apoacutes Vygotsky e Piaget perspectiva social e construtivista Escolas russa e ocidentalPorto
Alegre Artes Meacutedicas 1996
SFORNI MS de F Aprendizagem conceitual e organizaccedilatildeo do ensino contribuiccedilotildees da
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__________________ Aprendizagem e Desenvolvimento o papel da mediaccedilatildeo In Vera
Luacutecia Fialho Capellini Rosa Maria Manzoni (Org) Poliacuteticas puacuteblicas praacuteticas
pedagoacutegicas e ensino-aprendizagem diferentes olhares sobre o processo educacional Bauru
UNESPFCSatildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2008 no prelo
VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem Lisboa Antiacutedoto 1979
_______________ Obras escogidas II Madrid Visor 1982
_______________ A formaccedilatildeo social da mente 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988
_______________ Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade escolar In
LURIA AR LEONTIEV A VYGOTSKY LS (Orgs) Psicologia e Pedagogia bases
psicoloacutegicas da aprendizagem e do desenvolvimento Satildeo Paulo Moraes 1991
VYGOTSKY LS Estudo do desenvolvimento dos conceitos cientiacuteficos na infacircncia In A
construccedilatildeo do pensamento e da linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 p 241-394
16
Elementos estruturais da Teoria da Atividade Implicaccedilotildees para o ensino da escrita
DESEJO Elemento afetivo que desencadeia a necessidade da
escrita eacute desencadeado tanto pelo processo de
mediaccedilatildeo do professor com o aluno como tambeacutem
pela motivaccedilatildeo exercida por exemplo para a
abertura de um novo projetoatividade de
escritaNatildeo s relaciona a nenhum dos elementos
previstos pelo contexto de produccedilatildeo jaacute que eacute de
ordem emocional
NECESSIDADE Envolve o uso especiacutefico da escrita numa
determinada situaccedilatildeo de produccedilatildeo para atender a
uma praacutetica social especiacutefica escrever para publicar
um livro de contos escrever para produzir uma
reivindicaccedilatildeo escrever para solicitar alguma coisa
escrever para participar de um concurso escrever
um cardaacutepio para uma festa etc
MOTIVO Envolve o sentido da escrita para a crianccedila de modo
a convencecirc-la a escrever por meio de atividades que
oportunizem correlacionar a escrita com as emoccedilotildees
da crianccedila e tambeacutem com seus provaacuteveis
interlocutores pois satildeo eles que vinculam sentido
agravequilo que a crianccedila escreve (BAKTHIN 2003)
Uma dessas atividades que podem vincular a escrita
ao motivo pode ser a divulgaccedilatildeo da produccedilatildeo final
ao puacuteblico por exemplo compor um fabulaacuterio para
ser divulgado numa amostra de livros da escola
produzir cartazes para divulgaccedilatildeo de festas na escola
e afixaacute-los em estabelecimentos comerciais elaborar
notiacutecias para o jornal da escola ou para a raacutedio da
escola produzir livros de histoacuterias infantis para
crianccedilas menores elaborar uma seccedilatildeo de
classificados divulgando serviccedilos prestados ou
produtos vendidos por familiares e amigos do bairro
etcEntendemos que o fato da divulgaccedilatildeo do olhar
do outro como afirmam BakthinVoloshinov (1992)
satildeo essenciais para instaurar uma escrita
significativa
FINALIDADE Envolve o objetivo especiacutefico da escrita na situaccedilatildeo
de interaccedilatildeo para quecirc escrever Para solicitar
alguma coisa para colocar a minha opiniatildeo para
17
contar uma anedota etcA finalidade ou o objetivo
da produccedilatildeo deve vir claramente expressa no
comando de escrita a ser entregue para o aluno
ACcedilAtildeO Envolve a definiccedilatildeo do gecircnero textual que a crianccedila
iraacute escrever um resumo uma notiacutecia uma carta do
leitor um anuacutencio de classificado um comentaacuterio
um conto de fadas etc
OPERACcedilOtildeES (modos de execuccedilatildeo de uma catildeo) Envolve uma seacuterie de tarefas anteriores aacute produccedilatildeo
escritaoral do gecircnero com vistas aacute apropriaccedilatildeo dos
elementos caracterizadores dos gecircneros (o tema a
estrutura composiconal e o estilo) e levando em
conta as fases da escrita planejamento revisatildeo e
reescrita
Quadro 4 Elementos da Teoria da Atividade e sua implicaccedilatildeo na escrita
O exerciacutecio acima evidenciou-nos que mesmo sem ainda terem a noccedilatildeo sobre as capacidades
de linguagem a serem desenvolvidas no quadro do ISD os professores por meio das
operaccedilotildees mentais que o exerciacutecio exigia (anaacutelise comparaccedilatildeo abstraccedilatildeo siacutentese
exemplificaccedilatildeo) conseguem fazer relaccedilotildees coerentes entre os elementos da Teoria da
Atividade com implicaccedilotildees para o ensino da escrita Por exemplo relacionam a necessidade
elemento desencadeador da atividade com a praacutetica social como elemento desencadeador da
atividade de produccedilatildeo que no quadro do ISD eacute o elemento que possibilita alavancar por
exemplo as sequecircncias didaacuteticas (cfDOLZ SCHNEUWLY 2004)
Tambeacutem associam de forma interessante o motivo com um dos elementos do contexto de
produccedilatildeo o interlocutor reforccedilando a importacircncia desse elemento como tambeacutem aspecto
motivacional no ato da escrita Da mesma forma o tema e seu tratamento exaustivo
(BAKTHIN 1992) eacute explorado na associaccedilatildeo entre esse elemento e a accedilatildeo na medida em que
ao definir um determinado gecircnero estaacute implicado aiacute a realizaccedilatildeo desse elemento bakthiniano
Por fim nas operaccedilotildees fica claro que os professores conseguiram perceber que para se
escrever um determinado gecircnero seraacute preciso decompocirc-lo em uma seacuterie de atividades nas
quais se mobilizaratildeo o tema a estrutura composicional e o estilo
Na sequumlecircncia apoacutes a discussatildeo do quadro e com o intuito de promover mais um evento para
reforccedilar o processo de internalizaccedilatildeo agora numa atividade praacutetica solicitamos que cada
duplatrio de professores elaborassem um planejamento de uma oficina de leituraproduccedilatildeo
textual (jaacute que nesse momento ainda desconheciam outros instrumentos proacuteprios do ISD
18
como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com
atividades de escrita
O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras
de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre
de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um
suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito
com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar
jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da
Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que
tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos
previstos em cada etapa
A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma
oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas
as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs
refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo
4ordf seacuteries 12 ha
SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR
DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola
NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da
escola
MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral
FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na
escola e em casa
ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de
humor)
2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais
da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha
Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar
o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e
definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim
19
de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as
seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para
quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social
2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura
ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a
organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos
e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio
anterior
1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras
MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a
importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar
tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto
1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que
envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido
com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e
trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido
1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em
grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na
escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira
contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade
anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os
interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma
lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira
escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4
quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos
das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -
elaboraccedilatildeo dos balotildees
2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar
ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a
releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com
mediaccedilatildeo do professora
2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)
apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o
tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as
formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo
Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais
O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro
momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de
operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no
20
interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo
(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-
problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)
No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo
finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do
contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o
reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro
elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar
um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de
humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as
crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees
estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo
Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993
DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos
que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo
para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio
Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na
visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia
coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a
reescrita
Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos
como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser
compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado
pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua
transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o
processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica
para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos
da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do
Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se
coerentes a essas bases teoacutericas
Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e
certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e
conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que
soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um
21
pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)
talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados
5Consideraccedilotildees finais
O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo
de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da
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apropriaccedilatildeo
a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade
interna
b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do
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c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por
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mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como
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e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito
d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a
definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc
Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores
sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer
um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa
instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o
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RUBSTOV V A atividade de aprendizado e os problemas referentes agrave formaccedilatildeo do
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SFORNI MS de F Aprendizagem conceitual e organizaccedilatildeo do ensino contribuiccedilotildees da
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Luacutecia Fialho Capellini Rosa Maria Manzoni (Org) Poliacuteticas puacuteblicas praacuteticas
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VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem Lisboa Antiacutedoto 1979
_______________ Obras escogidas II Madrid Visor 1982
_______________ A formaccedilatildeo social da mente 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988
_______________ Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade escolar In
LURIA AR LEONTIEV A VYGOTSKY LS (Orgs) Psicologia e Pedagogia bases
psicoloacutegicas da aprendizagem e do desenvolvimento Satildeo Paulo Moraes 1991
VYGOTSKY LS Estudo do desenvolvimento dos conceitos cientiacuteficos na infacircncia In A
construccedilatildeo do pensamento e da linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 p 241-394
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contar uma anedota etcA finalidade ou o objetivo
da produccedilatildeo deve vir claramente expressa no
comando de escrita a ser entregue para o aluno
ACcedilAtildeO Envolve a definiccedilatildeo do gecircnero textual que a crianccedila
iraacute escrever um resumo uma notiacutecia uma carta do
leitor um anuacutencio de classificado um comentaacuterio
um conto de fadas etc
OPERACcedilOtildeES (modos de execuccedilatildeo de uma catildeo) Envolve uma seacuterie de tarefas anteriores aacute produccedilatildeo
escritaoral do gecircnero com vistas aacute apropriaccedilatildeo dos
elementos caracterizadores dos gecircneros (o tema a
estrutura composiconal e o estilo) e levando em
conta as fases da escrita planejamento revisatildeo e
reescrita
Quadro 4 Elementos da Teoria da Atividade e sua implicaccedilatildeo na escrita
O exerciacutecio acima evidenciou-nos que mesmo sem ainda terem a noccedilatildeo sobre as capacidades
de linguagem a serem desenvolvidas no quadro do ISD os professores por meio das
operaccedilotildees mentais que o exerciacutecio exigia (anaacutelise comparaccedilatildeo abstraccedilatildeo siacutentese
exemplificaccedilatildeo) conseguem fazer relaccedilotildees coerentes entre os elementos da Teoria da
Atividade com implicaccedilotildees para o ensino da escrita Por exemplo relacionam a necessidade
elemento desencadeador da atividade com a praacutetica social como elemento desencadeador da
atividade de produccedilatildeo que no quadro do ISD eacute o elemento que possibilita alavancar por
exemplo as sequecircncias didaacuteticas (cfDOLZ SCHNEUWLY 2004)
Tambeacutem associam de forma interessante o motivo com um dos elementos do contexto de
produccedilatildeo o interlocutor reforccedilando a importacircncia desse elemento como tambeacutem aspecto
motivacional no ato da escrita Da mesma forma o tema e seu tratamento exaustivo
(BAKTHIN 1992) eacute explorado na associaccedilatildeo entre esse elemento e a accedilatildeo na medida em que
ao definir um determinado gecircnero estaacute implicado aiacute a realizaccedilatildeo desse elemento bakthiniano
Por fim nas operaccedilotildees fica claro que os professores conseguiram perceber que para se
escrever um determinado gecircnero seraacute preciso decompocirc-lo em uma seacuterie de atividades nas
quais se mobilizaratildeo o tema a estrutura composicional e o estilo
Na sequumlecircncia apoacutes a discussatildeo do quadro e com o intuito de promover mais um evento para
reforccedilar o processo de internalizaccedilatildeo agora numa atividade praacutetica solicitamos que cada
duplatrio de professores elaborassem um planejamento de uma oficina de leituraproduccedilatildeo
textual (jaacute que nesse momento ainda desconheciam outros instrumentos proacuteprios do ISD
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como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com
atividades de escrita
O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras
de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre
de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um
suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito
com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar
jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da
Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que
tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos
previstos em cada etapa
A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma
oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas
as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs
refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo
4ordf seacuteries 12 ha
SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR
DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola
NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da
escola
MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral
FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na
escola e em casa
ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de
humor)
2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais
da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha
Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar
o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e
definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim
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de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as
seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para
quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social
2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura
ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a
organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos
e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio
anterior
1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras
MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a
importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar
tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto
1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que
envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido
com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e
trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido
1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em
grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na
escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira
contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade
anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os
interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma
lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira
escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4
quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos
das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -
elaboraccedilatildeo dos balotildees
2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar
ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a
releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com
mediaccedilatildeo do professora
2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)
apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o
tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as
formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo
Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais
O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro
momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de
operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no
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interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo
(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-
problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)
No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo
finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do
contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o
reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro
elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar
um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de
humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as
crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees
estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo
Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993
DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos
que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo
para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio
Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na
visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia
coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a
reescrita
Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos
como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser
compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado
pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua
transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o
processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica
para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos
da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do
Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se
coerentes a essas bases teoacutericas
Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e
certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e
conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que
soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um
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pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)
talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados
5Consideraccedilotildees finais
O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo
de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da
Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de
apropriaccedilatildeo
a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade
interna
b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do
sujeito para que se concretize
c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por
elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e
as operaccedilotildees
d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem
mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como
propulsores do desenvolvimento
e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito
d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a
definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc
Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores
sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer
um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa
instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o
desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as
praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um
pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do
curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em
torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais
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construccedilatildeo do pensamento e da linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 p 241-394
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como sequumlecircncia didaacutetica) tentando correlacionar os elementos da teoria da atividade com
atividades de escrita
O planejamento que aqui seraacute mostrado nasceu do contexto de uma sala de duas professoras
de 4ordf seacuteries que entusiasmadas com a visita de um cartunista da cidade no primeiro semestre
de 2007 na escola em que lecionavam decidiram criar no jornal jaacute existente na escola um
suplemento de tira jornaliacutestica de humor jaacute que as crianccedilas haviam se entusiasmado muito
com a visita e com o proacuteprio gecircnero A praacutetica social estava definida escrever tirar
jornaliacutestica de humor infantil para compor um suplemento de jornal Aleacutem dos elementos da
Teoria da Atividade os futuros professores elencaram nas accedilotildees e operaccedilotildees a partir do que
tinham apreendido sobre os gecircneros textuais ateacute aquele momento bem como os conteuacutedos
previstos em cada etapa
A dupla de professoras em anaacutelise optou por elaborar um planejamento para uma
oficina de 12 horas-aula Apoacutes a primeira versatildeo cada dupla apresentou agrave sala suas propostas
as quais passaram pelo processo de refacccedilatildeo O planejamento final da nossa dupla (apoacutes trecircs
refacccedilotildees) apresentou o plano abaixo
4ordf seacuteries 12 ha
SUPLEMENTO TIRA JORNALIacuteSTICA DE HUMOR
DESEJO motivaccedilatildeo da professora em torno do gecircnero decorrente da visita de um cartunista agrave escola
NECESSIDADE (elementopraacutetica desencadeadora desencadeador) produzir um suplemento para o jornal da
escola
MOTIVO elaborar um suplemento para circular entre os alunos da escola e comunidade em geral
FINALIDADE produzir tiras jornaliacutesticas de humor voltadas aacutes situaccedilotildees vivenciadas pelas crianccedilas na
escola e em casa
ACcedilOtildeES (como seraacute desenvolvida a apropriaccedilatildeo dos elementos caracterizados do gecircnero tira jornaliacutesica de
humor)
2ha- Conteuacutedo estudo do contexto de produccedilatildeo da tira jornaliacutestica de humor envolvendo as relaccedilotildees sociais
da esfera na qual circula esse gecircnero voltado para o puacuteblico infanto-juvenil como Folha Teen Folhinha
Gazetinha (tiras jornaliacutesticas adequadas aacute idade e ao niacutevel das crianccedilas)MetodologiaOperaccedilotildeesa) apresentar
o projeto expor os motivos e a forma de divulgaccedilatildeo b) solicitar que as crianccedilas em grupo contem uma piada e
definam a melhor para apresentar a sala toda c) comparar uma tira de gibi uma HQ uma tira jornaliacutestica a fim
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de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as
seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para
quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social
2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura
ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a
organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos
e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio
anterior
1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras
MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a
importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar
tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto
1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que
envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido
com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e
trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido
1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em
grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na
escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira
contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade
anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os
interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma
lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira
escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4
quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos
das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -
elaboraccedilatildeo dos balotildees
2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar
ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a
releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com
mediaccedilatildeo do professora
2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)
apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o
tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as
formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo
Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais
O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro
momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de
operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no
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interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo
(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-
problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)
No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo
finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do
contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o
reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro
elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar
um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de
humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as
crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees
estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo
Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993
DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos
que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo
para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio
Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na
visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia
coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a
reescrita
Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos
como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser
compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado
pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua
transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o
processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica
para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos
da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do
Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se
coerentes a essas bases teoacutericas
Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e
certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e
conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que
soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um
21
pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)
talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados
5Consideraccedilotildees finais
O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo
de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da
Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de
apropriaccedilatildeo
a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade
interna
b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do
sujeito para que se concretize
c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por
elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e
as operaccedilotildees
d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem
mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como
propulsores do desenvolvimento
e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito
d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a
definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc
Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores
sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer
um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa
instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o
desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as
praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um
pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do
curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em
torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais
22
6 Referecircncias
ADORNO TW Teoria da semicultura In _______ Educaccedilatildeo e sociedade Campinas
Papirus dez n56 p 388-411 1996
BAKTHIN M Os gecircneros do discurso In _______ Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Satildeo Paulo
Martins Fontes 1992 p261-306
BAKHTIN M VOLOSHINOV VN Marxismo e filosofia da linguagem 2ed Satildeo Paulo
Hucitec 1992
BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros Curriculares Nacionais
Liacutengua Portuguesa Brasiacutelia Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental 1998
BRONCKART J-P Atividade de linguagem texto e discursos por um interacionismo
soacutecio-discursivo Trad De Anna Raquel Machado Peacutericles Cunha Satildeo Paulo EDUC 2003
_________________ Atividade de linguagem discurso e desenvolvimento humano
Organizado por Anna Raquel Machado e Maria de Lourdes Meirelles MatencioCampinas-SP
Mercado de Letras 2006
CARNEIRO A P S O gecircnero explicaccedilatildeo do discurso do professor na interaccedilatildeo em sala de
aula Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivhtml Acesso em 532009
DAVYDOV VV Tipos de generalizacioacuten em la ensentildeanza Habana Editorial Pueblo y
Eucation 1982
_______________ La ensentildeanza escolar y el desarrollo psiacutequico Moscu Editorial
progresso 1988
DIONIacuteSIO AP Os gecircneros multimodais e multiletramento In KARWOSKI AM
GAYDECZKA KSB (Orgs) Gecircneros textuais reflexotildees e ensino Palmas e Uniatildeo da
VitoacuteriaPR Kaygangue 2005 p159-177
DOLZ J SCHNEUWLY B Gecircneros e progressatildeo em expressatildeo oral e escrita ndash elementos
para reflexotildees sobre uma experiecircncia suiacuteccedila (francoacutefona) In ROJO R CORDEIRO Glaiacutes S
(Orgs) Gecircneros orais e escritos na escola Campinas-SP Mercado de Letras 2004 p41-70
DOLZ J PASQUIER A BRONCKART- Jean-Paul Lrsquoacquisition des discourse
emergence drsquoune competence ou apprentissage de capaciteacutes langagiegraveres diverses Etudes de
linguistique appliqueacutee 89 1993 p25-35
HEDEGAARD M A zona de desenvolvimento proximal como base para a instruccedilatildeo In
MOLL LC Vygotsky e a educaccedilatildeo implicaccedilotildees pedagoacutegicas da psicologia soacutecio-histoacuterica
Trad De Fani A Tesseler Porto Alegre Artes Meacutedicas 1996 p123-149
LEONTIEV A O desenvolvimento do psiquismo 2ed Satildeo Paulo Centauro 2004
23
LIBAcircNEO JC Didaacutetica e epistemologia para aleacutem do embate entre a didaacutetica e as didaacuteticas
especiacuteficas Aula inaugural PDEUEM 10 de abril 2008
LOPES-ROSSI MAG Gecircneros discursivos no ensino de leitura e produccedilatildeo de textos
Taubateacute-SP Cabral Editora e Livraria Universitaacuteria 2002
MENCHISKAIA NA El pensamiento In SMIRNOV A LEONTIEVA TIEPLOV BM
(Orgs) Psicologia Meacutexico Grijalbo 1969 p232-275
NASCIMENTO EL (Org) Gecircneros textuais uma abordagem para o ensino de liacutengua
portuguesa Gecircneros textuais ferramentas didaacuteticas e formaccedilatildeo dos professoresPonta Grossa
Ed UEPG CEFORTEC 2007
ROJO RHR Gecircneros de discursotexto como objetos de ensino de liacutenguas Estudos
avanccedilados UEL 2007 (estudo avanccedilado promovido pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em
Estudos da Linguagem da UEL)
____________ Modelizaccedilatildeo didaacutetica e planejamento duas praacuteticas esquecidas do professor
In KLEIMAN A(Org) A formaccedilatildeo do professor perspectives da linguumliacutestica aplicada
Campinas-SP Mercado de Letras 2001 p313-335
RUBSTOV V A atividade de aprendizado e os problemas referentes agrave formaccedilatildeo do
pensamento teoacuterico dos escolares In GARNIER C BERDNARZ N ULANOVSKAI
Apoacutes Vygotsky e Piaget perspectiva social e construtivista Escolas russa e ocidentalPorto
Alegre Artes Meacutedicas 1996
SFORNI MS de F Aprendizagem conceitual e organizaccedilatildeo do ensino contribuiccedilotildees da
teoria da atividade 1ed Araraquara JM Editora 2004
__________________ Aprendizagem e Desenvolvimento o papel da mediaccedilatildeo In Vera
Luacutecia Fialho Capellini Rosa Maria Manzoni (Org) Poliacuteticas puacuteblicas praacuteticas
pedagoacutegicas e ensino-aprendizagem diferentes olhares sobre o processo educacional Bauru
UNESPFCSatildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2008 no prelo
VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem Lisboa Antiacutedoto 1979
_______________ Obras escogidas II Madrid Visor 1982
_______________ A formaccedilatildeo social da mente 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988
_______________ Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade escolar In
LURIA AR LEONTIEV A VYGOTSKY LS (Orgs) Psicologia e Pedagogia bases
psicoloacutegicas da aprendizagem e do desenvolvimento Satildeo Paulo Moraes 1991
VYGOTSKY LS Estudo do desenvolvimento dos conceitos cientiacuteficos na infacircncia In A
construccedilatildeo do pensamento e da linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 p 241-394
19
de reconhecer o gecircnero alvo por meio de um quadro comparativo entre esses gecircneros O quadro traraacute as
seguintes categorias a serem trabalhadas e explicadas pelo professor objetivo do texto onde ele circula para
quem ele foi escrito sobre o quecirc ele trata (temas) e papel social
2 ha- Conteuacutedo estudo da estrutura composicional da tira jornaliacutesticaMetodologia Operaccedilotildees a) leitura
ldquoembaralhadardquo de tiras tiras de autores diferentes Mauriacutecio de Souza e Hagar para que as crianccedilas observem a
organizaccedilatildeo composicional das tiras (fato complicaccedilatildeo e tentativa de resoluccedilatildeo) b) a importacircncia dos desenhos
e as cores c) fazer coletivamente uma lista de constataccedilatildeo mo quadro com as observaccedilotildees apoacutes o exerciacutecio
anterior
1ha- Conteuacutedo estudo do estilo a onomatopeacuteia a pontuaccedilatildeo expressiva as interjeiccedilotildees os tipos de letras
MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar de tiras SEM onomatopeacuteias e interjeiccedilotildees para os alunos perceberem a
importacircncia desses recursos para a construccedilatildeo dos sentidos desses textos e depois completaacute-los b) apresentar
tiras com variaccedilotildees de letras e correlacionaacute-las ao sentido do texto
1ha - Conteuacutedo estudo do estilo os tipos de balotildees MetodologiaOperaccedilotildees a) apresentar duas tiras que
envolvem formas diferentes de balotildees (de pensamento de grito de choro de cochicho) e trabalhar o sentido
com as crianccedilas por meio de perguntas de leitura que correlacionem a forma ao sentido b) escolher uma tira e
trocar os balotildees para que as crianccedilas percebam a alteraccedilatildeo de sentido
1ha-Conteuacutedo produccedilatildeo escrita da primeira versatildeo do textoreproduccedilatildeo de piadas em tiras jornaliacutesticas em
grupos de 2 a 4 alunos MetodologiaOperaccedilotildees a) Levantar no quadro situaccedilotildees vividas pelas crianccedilas na
escola e em famiacutelia que poderiam servir como temas das tiras b) Apresentar a proposta de produccedilatildeo para a tira
contento a) O gecircnero a ser produzido (a tira jornaliacutestica de humor) b) o tema (definido pela atividade
anterior)c o objetivo (elaboraccedilatildeo de uma tira para circular num suplemento jornaliacutestico do jornal da escola d) os
interlocutores (comunidade escolar em geral e pais e)o suporte (jornal escolar) c) colar no quadro-negro uma
lista de constataccedilotildees contendo os aspectos trabalhados nas aulas anteriores para servirem de suporte agrave primeira
escrita das crianccedilas b)apresentar as fases do planejamento da escrita do gecircnero a saber -definiccedilatildeo de 2 a 4
quadros -escolha do tema -definiccedilatildeo da sequumlecircncia narrativa que seraacute exposta - orientaccedilatildeo quanto aos desenhos
das tiras que tambeacutem poderaacute pode ser realizado um trabalho de colagem jaacute que nem todos gostam de desenhar -
elaboraccedilatildeo dos balotildees
2ha- Conteuacutedo 2ordf e 3ordf fases da escrita das tiras elementos de refacccedilatildeo do texto Metodologia a) entregar
ficha de auto-avaliaccedilatildeo para os grupos observar em se suas tira atenderam aos aspectos trabalhados b) fazer a
releitura do texto pelos alunos para observar possiacuteveis lacunasproblemasd) elaborar a versatildeo definitiva com
mediaccedilatildeo do professora
2 ha- Conteuacutedo criaccedilatildeo do suplemento jornaliacutestico com as tiras jaacute prontas MetodologiaOperaccedilotildees a)
apresentar agrave sala aacutes tiras de todos os grupos b) definir com o grupo a organizaccedilatildeo do suplemento c) escolher o
tema do suplemento d) levar suplementos de jornais voltados ao puacuteblico infantil para as crianccedilas perceberem as
formas de organizaccedilatildeo e) organizar coletivamente o suplemento para publicaccedilatildeo
Obs a divulgaccedilatildeo seraacute posteriormente marcada em um evento na escola com a participaccedilatildeo dos pais
O plano final apresentado pelas professoras deixa claro que conseguiram em um primeiro
momento associar as categorias da Teoria da Atividade com o ensino da escrita por meio de
operaccedilotildees como a anaacutelise (no momento da decomposiccedilatildeo dos elementos do contexto no
20
interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo
(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-
problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)
No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo
finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do
contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o
reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro
elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar
um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de
humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as
crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees
estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo
Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993
DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos
que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo
para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio
Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na
visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia
coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a
reescrita
Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos
como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser
compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado
pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua
transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o
processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica
para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos
da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do
Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se
coerentes a essas bases teoacutericas
Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e
certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e
conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que
soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um
21
pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)
talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados
5Consideraccedilotildees finais
O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo
de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da
Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de
apropriaccedilatildeo
a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade
interna
b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do
sujeito para que se concretize
c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por
elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e
as operaccedilotildees
d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem
mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como
propulsores do desenvolvimento
e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito
d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a
definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc
Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores
sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer
um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa
instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o
desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as
praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um
pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do
curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em
torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais
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6 Referecircncias
ADORNO TW Teoria da semicultura In _______ Educaccedilatildeo e sociedade Campinas
Papirus dez n56 p 388-411 1996
BAKTHIN M Os gecircneros do discurso In _______ Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Satildeo Paulo
Martins Fontes 1992 p261-306
BAKHTIN M VOLOSHINOV VN Marxismo e filosofia da linguagem 2ed Satildeo Paulo
Hucitec 1992
BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros Curriculares Nacionais
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BRONCKART J-P Atividade de linguagem texto e discursos por um interacionismo
soacutecio-discursivo Trad De Anna Raquel Machado Peacutericles Cunha Satildeo Paulo EDUC 2003
_________________ Atividade de linguagem discurso e desenvolvimento humano
Organizado por Anna Raquel Machado e Maria de Lourdes Meirelles MatencioCampinas-SP
Mercado de Letras 2006
CARNEIRO A P S O gecircnero explicaccedilatildeo do discurso do professor na interaccedilatildeo em sala de
aula Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivhtml Acesso em 532009
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Eucation 1982
_______________ La ensentildeanza escolar y el desarrollo psiacutequico Moscu Editorial
progresso 1988
DIONIacuteSIO AP Os gecircneros multimodais e multiletramento In KARWOSKI AM
GAYDECZKA KSB (Orgs) Gecircneros textuais reflexotildees e ensino Palmas e Uniatildeo da
VitoacuteriaPR Kaygangue 2005 p159-177
DOLZ J SCHNEUWLY B Gecircneros e progressatildeo em expressatildeo oral e escrita ndash elementos
para reflexotildees sobre uma experiecircncia suiacuteccedila (francoacutefona) In ROJO R CORDEIRO Glaiacutes S
(Orgs) Gecircneros orais e escritos na escola Campinas-SP Mercado de Letras 2004 p41-70
DOLZ J PASQUIER A BRONCKART- Jean-Paul Lrsquoacquisition des discourse
emergence drsquoune competence ou apprentissage de capaciteacutes langagiegraveres diverses Etudes de
linguistique appliqueacutee 89 1993 p25-35
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Trad De Fani A Tesseler Porto Alegre Artes Meacutedicas 1996 p123-149
LEONTIEV A O desenvolvimento do psiquismo 2ed Satildeo Paulo Centauro 2004
23
LIBAcircNEO JC Didaacutetica e epistemologia para aleacutem do embate entre a didaacutetica e as didaacuteticas
especiacuteficas Aula inaugural PDEUEM 10 de abril 2008
LOPES-ROSSI MAG Gecircneros discursivos no ensino de leitura e produccedilatildeo de textos
Taubateacute-SP Cabral Editora e Livraria Universitaacuteria 2002
MENCHISKAIA NA El pensamiento In SMIRNOV A LEONTIEVA TIEPLOV BM
(Orgs) Psicologia Meacutexico Grijalbo 1969 p232-275
NASCIMENTO EL (Org) Gecircneros textuais uma abordagem para o ensino de liacutengua
portuguesa Gecircneros textuais ferramentas didaacuteticas e formaccedilatildeo dos professoresPonta Grossa
Ed UEPG CEFORTEC 2007
ROJO RHR Gecircneros de discursotexto como objetos de ensino de liacutenguas Estudos
avanccedilados UEL 2007 (estudo avanccedilado promovido pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em
Estudos da Linguagem da UEL)
____________ Modelizaccedilatildeo didaacutetica e planejamento duas praacuteticas esquecidas do professor
In KLEIMAN A(Org) A formaccedilatildeo do professor perspectives da linguumliacutestica aplicada
Campinas-SP Mercado de Letras 2001 p313-335
RUBSTOV V A atividade de aprendizado e os problemas referentes agrave formaccedilatildeo do
pensamento teoacuterico dos escolares In GARNIER C BERDNARZ N ULANOVSKAI
Apoacutes Vygotsky e Piaget perspectiva social e construtivista Escolas russa e ocidentalPorto
Alegre Artes Meacutedicas 1996
SFORNI MS de F Aprendizagem conceitual e organizaccedilatildeo do ensino contribuiccedilotildees da
teoria da atividade 1ed Araraquara JM Editora 2004
__________________ Aprendizagem e Desenvolvimento o papel da mediaccedilatildeo In Vera
Luacutecia Fialho Capellini Rosa Maria Manzoni (Org) Poliacuteticas puacuteblicas praacuteticas
pedagoacutegicas e ensino-aprendizagem diferentes olhares sobre o processo educacional Bauru
UNESPFCSatildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2008 no prelo
VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem Lisboa Antiacutedoto 1979
_______________ Obras escogidas II Madrid Visor 1982
_______________ A formaccedilatildeo social da mente 2 ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988
_______________ Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade escolar In
LURIA AR LEONTIEV A VYGOTSKY LS (Orgs) Psicologia e Pedagogia bases
psicoloacutegicas da aprendizagem e do desenvolvimento Satildeo Paulo Moraes 1991
VYGOTSKY LS Estudo do desenvolvimento dos conceitos cientiacuteficos na infacircncia In A
construccedilatildeo do pensamento e da linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 p 241-394
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interior da Teoria da Atividade) a siacutentese (das teorias anteriormente vistas) a comparaccedilatildeo
(entre as teorias) a exemplificaccedilatildeo (na escolha de atividades) a resoluccedilatildeo de uma situaccedilatildeo-
problema (no momento em que elaboram o proacuteprio planejamento)
No que concerne agraves categorias da Teoria da Atividade (desejo necessidade motivo
finalidade accedilotildees e operaccedilotildees) elas foram pensadas conjuntamente com os elementos do
contexto de produccedilatildeo do Interacionismo Social e do ISD como por exemplo o
reconhecimento desses elementos nas duas primeiras aulas O projeto parte tambeacutem de outro
elemento fundamental para o trabalho com o gecircnero a praacutetica social no caso a de elaborar
um suplemento para o jornal da escola Define um gecircnero especiacutefico- a tira jornaliacutestica de
humor motivada pela vista de um cartunista na sala Reuacutenem-se assim condiccedilotildees para que as
crianccedilas se insiram dentro de uma atividade que mobilizaraacute diferentes accedilotildees e operaccedilotildees
estas entendidas como o trabalho pelo tema pela estrutura e pelo estilo
Claro estaacute que as capacidades de linguagem (DOLZ PASQUIER amp BRONCKART1993
DOLZ SCHNEUWLY 2004) ainda natildeo tinham sido dadas nesse momento pois entendiacuteamos
que era necessaacuterio expor os conceitos aos poucos criando pequenos eventos de internalizaccedilatildeo
para serem complexificados a fim de podemos gerar um niacutevel de internalizaccedilatildeo satisfatoacuterio
Outro fato importante eacute que a produccedilatildeo escrita eacute coletiva os alunos estaratildeo em grupos Na
visatildeo de Leontiev (2004) a apropriaccedilatildeo ocorre dentro de um processo que se inicia
coletivamente Haacute tambeacutem o respeito agraves etapas da escrita como o planejamento a revisatildeo e a
reescrita
Poreacutem eacute claro que apesar de o planejamento ser coerente e evidenciar que alguns conceitos
como contexto de produccedilatildeo tema estrutura composicional e estilo comeccedilam a ser
compreendidos natildeo podemos concluir que o processo tenha sido efetivamente intrnalizado
pois nesse momento natildeo temos o desenvolvimento desse plano e como se realizou a sua
transposiccedilatildeo para a sala de aulaMas o que eacute possiacutevel no entanto inferirmos eacute que o
processo de planejamento foi refletido a partir de teorias com vistas aacute transposiccedilatildeo didaacutetica
para a sala de aula e encontra-se apto a ser realizado em sala de aula E que tanto os conceitos
da Teoria da Atividade foram ressignificados como tambeacutem conceitos proacuteprios do
Interacionismo social e do ISD comeccedilam a ser apropriados jaacute que os exerciacutecios mostram-se
coerentes a essas bases teoacutericas
Entendemos que esse momento do planejamento ainda que sua execuccedilatildeo possa (e
certamente) evidenciar problemas eacute fundamental para (re)atualizar a praacutetica de professores e
conforme Rojo ( 2001) essa tem sido uma praacutetica comumente esquecida dos professores que
soacute foi possiacutevel retomaacute-la pelo proacuteprio desejo dos professores em exerciacutecio em aprender um
21
pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)
talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados
5Consideraccedilotildees finais
O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo
de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da
Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de
apropriaccedilatildeo
a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade
interna
b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do
sujeito para que se concretize
c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por
elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e
as operaccedilotildees
d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem
mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como
propulsores do desenvolvimento
e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito
d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a
definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc
Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores
sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer
um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa
instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o
desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as
praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um
pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do
curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em
torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais
22
6 Referecircncias
ADORNO TW Teoria da semicultura In _______ Educaccedilatildeo e sociedade Campinas
Papirus dez n56 p 388-411 1996
BAKTHIN M Os gecircneros do discurso In _______ Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Satildeo Paulo
Martins Fontes 1992 p261-306
BAKHTIN M VOLOSHINOV VN Marxismo e filosofia da linguagem 2ed Satildeo Paulo
Hucitec 1992
BRASIL Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros Curriculares Nacionais
Liacutengua Portuguesa Brasiacutelia Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental 1998
BRONCKART J-P Atividade de linguagem texto e discursos por um interacionismo
soacutecio-discursivo Trad De Anna Raquel Machado Peacutericles Cunha Satildeo Paulo EDUC 2003
_________________ Atividade de linguagem discurso e desenvolvimento humano
Organizado por Anna Raquel Machado e Maria de Lourdes Meirelles MatencioCampinas-SP
Mercado de Letras 2006
CARNEIRO A P S O gecircnero explicaccedilatildeo do discurso do professor na interaccedilatildeo em sala de
aula Disponiacutevel em httpwwwfilologiaorgbranaisanais20ivhtml Acesso em 532009
DAVYDOV VV Tipos de generalizacioacuten em la ensentildeanza Habana Editorial Pueblo y
Eucation 1982
_______________ La ensentildeanza escolar y el desarrollo psiacutequico Moscu Editorial
progresso 1988
DIONIacuteSIO AP Os gecircneros multimodais e multiletramento In KARWOSKI AM
GAYDECZKA KSB (Orgs) Gecircneros textuais reflexotildees e ensino Palmas e Uniatildeo da
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para reflexotildees sobre uma experiecircncia suiacuteccedila (francoacutefona) In ROJO R CORDEIRO Glaiacutes S
(Orgs) Gecircneros orais e escritos na escola Campinas-SP Mercado de Letras 2004 p41-70
DOLZ J PASQUIER A BRONCKART- Jean-Paul Lrsquoacquisition des discourse
emergence drsquoune competence ou apprentissage de capaciteacutes langagiegraveres diverses Etudes de
linguistique appliqueacutee 89 1993 p25-35
HEDEGAARD M A zona de desenvolvimento proximal como base para a instruccedilatildeo In
MOLL LC Vygotsky e a educaccedilatildeo implicaccedilotildees pedagoacutegicas da psicologia soacutecio-histoacuterica
Trad De Fani A Tesseler Porto Alegre Artes Meacutedicas 1996 p123-149
LEONTIEV A O desenvolvimento do psiquismo 2ed Satildeo Paulo Centauro 2004
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LIBAcircNEO JC Didaacutetica e epistemologia para aleacutem do embate entre a didaacutetica e as didaacuteticas
especiacuteficas Aula inaugural PDEUEM 10 de abril 2008
LOPES-ROSSI MAG Gecircneros discursivos no ensino de leitura e produccedilatildeo de textos
Taubateacute-SP Cabral Editora e Livraria Universitaacuteria 2002
MENCHISKAIA NA El pensamiento In SMIRNOV A LEONTIEVA TIEPLOV BM
(Orgs) Psicologia Meacutexico Grijalbo 1969 p232-275
NASCIMENTO EL (Org) Gecircneros textuais uma abordagem para o ensino de liacutengua
portuguesa Gecircneros textuais ferramentas didaacuteticas e formaccedilatildeo dos professoresPonta Grossa
Ed UEPG CEFORTEC 2007
ROJO RHR Gecircneros de discursotexto como objetos de ensino de liacutenguas Estudos
avanccedilados UEL 2007 (estudo avanccedilado promovido pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em
Estudos da Linguagem da UEL)
____________ Modelizaccedilatildeo didaacutetica e planejamento duas praacuteticas esquecidas do professor
In KLEIMAN A(Org) A formaccedilatildeo do professor perspectives da linguumliacutestica aplicada
Campinas-SP Mercado de Letras 2001 p313-335
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pensamento teoacuterico dos escolares In GARNIER C BERDNARZ N ULANOVSKAI
Apoacutes Vygotsky e Piaget perspectiva social e construtivista Escolas russa e ocidentalPorto
Alegre Artes Meacutedicas 1996
SFORNI MS de F Aprendizagem conceitual e organizaccedilatildeo do ensino contribuiccedilotildees da
teoria da atividade 1ed Araraquara JM Editora 2004
__________________ Aprendizagem e Desenvolvimento o papel da mediaccedilatildeo In Vera
Luacutecia Fialho Capellini Rosa Maria Manzoni (Org) Poliacuteticas puacuteblicas praacuteticas
pedagoacutegicas e ensino-aprendizagem diferentes olhares sobre o processo educacional Bauru
UNESPFCSatildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2008 no prelo
VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem Lisboa Antiacutedoto 1979
_______________ Obras escogidas II Madrid Visor 1982
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_______________ Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade escolar In
LURIA AR LEONTIEV A VYGOTSKY LS (Orgs) Psicologia e Pedagogia bases
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VYGOTSKY LS Estudo do desenvolvimento dos conceitos cientiacuteficos na infacircncia In A
construccedilatildeo do pensamento e da linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 p 241-394
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pouco mais pois sem o desejo conforme viu-se em Davydov (1998) e em Vygotsky (2001)
talvez natildeo tiveacutessemos conseguido esses resultados
5Consideraccedilotildees finais
O propoacutesito inicial desse artigo foi o de compreender como ocorre o processo de apropriaccedilatildeo
de um determinado objeto por meio da Abordagem Histoacuterico-Cultural e da Teoria da
Atividade As anaacutelises evidenciaram por meio dessas duas teorias que o processo de
apropriaccedilatildeo
a) eacute decorrente de uma operaccedilatildeo inicialmente externa para depois se transformar em atividade
interna
b) depende de uma longa e seacuterie diversificada de eventos ao longo do desenvolvimento do
sujeito para que se concretize
c) envolve a exposiccedilatildeo do sujeito no interior de uma atividade a qual eacute composta por
elementos de ordem afetiva e racional o desejo a necessidade o motivo o objetivo a accedilatildeo e
as operaccedilotildees
d) necessita de que se entenda o processo de mediaccedilatildeo natildeo apenas como ajuda de algueacutem
mais experiente mas tambeacutem como o uso dos mediadores culturais (objetos teoacutericos) como
propulsores do desenvolvimento
e) pode ser auxiliado com o uso de estrateacutegias como a devoluccedilatildeo de perguntas para o sujeito
d) mobiliza diversas operaccedilotildees mentais para a aleacutem da comparaccedilatildeo como a anaacutelise a
definiccedilatildeo a siacutentese a exemplificaccedilatildeo a resoluccedilatildeo de situaccedilatildeo-problema etc
Por tudo que expusemos fica claro por essas teorias de base a necessidade de os professores
sejam em formaccedilatildeo ou em exerciacutecio estarem devidamente instrumentalizados para oferecer
um ensino de qualidade que realmente desenvolva funccedilotildees superiores como a escrita Essa
instrumentalizaccedilatildeo proporcionada pelos mediadores culturais eacute que possibilita o
desenvolvimento psiacutequico do sujeito e consequentemente a segura transposiccedilatildeo para as
praacuteticas em sala de aula Por isso mesmo temos que como linguumlistas aplicados apostar um
pouco mais no diaacutelogo epistemoloacutegico e praacutetico entre as didaacuteticas do curso de Letras e as do
curso de Pedagogia como um desafio promissor para o enfrentamento das dificuldades em
torno da produccedilatildeo de textos nas seacuteries iniciais
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6 Referecircncias
ADORNO TW Teoria da semicultura In _______ Educaccedilatildeo e sociedade Campinas
Papirus dez n56 p 388-411 1996
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Hucitec 1992
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BRONCKART J-P Atividade de linguagem texto e discursos por um interacionismo
soacutecio-discursivo Trad De Anna Raquel Machado Peacutericles Cunha Satildeo Paulo EDUC 2003
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Organizado por Anna Raquel Machado e Maria de Lourdes Meirelles MatencioCampinas-SP
Mercado de Letras 2006
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LIBAcircNEO JC Didaacutetica e epistemologia para aleacutem do embate entre a didaacutetica e as didaacuteticas
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