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(IN) DISCIPLINANDO A DISCIPLINA: PROCESSO DE CONSTRUO DA PRTICA DOCENTE E DO COTIDIANO ESCOLAR

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O cotidiano escolar e a formao do professor: perplexidades e alternativas frente ao fenmeno da (in)disciplinaFORSTER, Mari Margarete dos Santos UNISINOSGT: Formao de Professores/ n.08Agncia Financiadora: CNPq/FAPERGS

Falar de disciplina /indisciplina falar de um fenmeno complexo, multifacetado e que no encontra sentido nico. Esta questo tem ocupado um espao cada vez maior no cotidiano escolar e vem se tornando um desafio para professores e gestores educacionais que no sabem o que fazer para impedir ou minimizar estes conflitos presentes desde a educao infantil at o nvel superior, nas instituies de ensino pblicas ou privadas e que se manifestam nas relaes dos alunos entre si, dos alunos com os professores e com o ambiente fsico, situaes que precisam ser resolvidas em sala de aula, de um modo geral, entre o professor e o aluno.Esta temtica, com multiplicidade de causas e efeitos, tem sido estudada ora sob o enfoque psicolgico, ora sob o enfoque sociolgico. Esta investigao examina a questo da disciplina/indisciplina pedagogicamente e, mesmo considerando os limites e restries deste olhar, procura contextualizar a temtica entendendo-a no cotidiano da escola, com todos seus rituais e condicionantes, inserida em um espao-tempo mais amplo: a sociedade brasileira do sculo XXI e suas dissonncias scio-poltico-culturais.

Tomar a indisciplina e outros comportamentos disruptivos como fenmenos complexos ditados pelos novos tempos pedaggicos significa conceber a relao professor-aluno como necessariamente conflitiva. Mais ainda: significa conceb-la como um continente sempre mutante e deveras distinto das monocrdias imagens que acalentamos sobre a ambincia escolar (AQUINO, 2003, p. 16).

Escola e disciplina (tanto do ponto de vista do saber, como de comportamento) sempre estiveram associadas, desde os meados do sculo XIX, com a institucionalizao da escola como aparelho reprodutor do estado, pela implantao da racionalidade moderna e com a emergncia dos modos de produo industrial, em que passa ser valor respeitar horrios, hierarquias, regras. O que muda hoje? Aquilo que se concebia como escola, como aluno j no mais se sustenta! Tnhamos alunos da elite, naturalmente disciplinados e casos de indisciplina, quando existam, eram pontuais, eram questo de comportamento, eram individuais. Hoje, esta discusso passa a ser entendida como uma questo social e mais complexa. Portanto a escola no pode mais (se que pode algum dia) dar conta da disciplina da mesma forma como antes o fazia o que, talvez, a deixe, e a todos que nela esto, perdidos. Temos avanado, enquanto educadores, na compreenso de que a escola precisa ser um espao aberto e que um espao conflitual, entretanto, como faz-la assim, se sempre foi sinnimo de regulao? Quais energias emancipatrias mobilizar e como, num lcus to perversamente condicionado e condicionador dos sujeitos que a vivem? Ao mesmo tempo, como buscar solues para a (in)disciplina, no s nas suas causas e conseqncias, e sim, sem pr-conceitos, na compreenso do que a mantm e pereniza?Portanto, dizer que tratar do tema (in)disciplina implica em lidar com fenmeno complexo, multifacetado, e que assume diferentes significados, no pode imobilizar-nos e deixar de constituir um instrumento para produzir conhecimento.A excessiva simplificao do problema da (in)disciplina, por outro lado, e a falta de distncia crtica em relao naturalizao do conceito, so agravados pelos discursos alarmistas, instigados atravs da mdia na opinio pblica, o que gera na escola e nos professores um mal-estar e um constrangimento evidente discusso da temtica.Vivemos hoje a perda do espao da escola (a TV e a INTERNET impe-se); os professores, por sua vez, sentem-se, cada vez mais incompetentes para dar conta de todas as solicitaes, intensificando seu trabalho e regendo-se por uma lgica de consumo dos saberes escolares e de diversificao de pblicos que habitam as escolas. Frente a tudo isto e assistindo a violncia explcita como moeda de troca nas relaes sociais ante a violncia como novo cdigo da sociabilidade, fundamental repensar a funo da escola e do educador (OLIVEIRA, 1998, p. 230). dentro deste contexto que se faz necessrio discutir acerca de questes como autoridade/disciplina/liberdade. Que autoridade/disciplina/liberdade deve ser desempenhada para auxiliar as pessoas na decifrao do mundo? Ser a que tem por base a fora ou a que tem por fundamento a tica, a competncia, o dilogo? Como entender e desvelar causas estruturais que provocam marginalizao e excluso? Como perceber a realidade cercada por contradies scio-histricas, condicionadoras de concepes e prticas de vida? Como construir referenciais que auxiliem na percepo e anlise de processos autoritrios? Como falar em liberdade hoje, nas condies em que os homens se encontram? Todos estes questionamentos acompanham a investigao, que tem um enfoque qualitativo, usando os princpios de pesquisa-ao, embasada substancialmente no dilogo freireano. A sustentao terica considera estudos sobre a temtica a) (in)disciplina/autoridade/ poder/autoritarismo, liberdade/licenciosidade, ordem/desordem, limites/exigncia/ rigidez/rigor/, principalmente nas obras de Paulo Freire (1982, 1985, 1994, 1996, 1997, 2000), Gomercindo Ghiggi (1992, 2002), Bourdieu (1989), DAntola (1987), Aquino (1999, 2003), Estrela (1986,1994), Foucault (1993) e Correia e Matos (2001), b) escola, nas obras de Apple (1997,1999), MacLaren (1991,1998, 1999), Giroux (1998), Xavier (2002) e c) Prtica docente em Freire (obras j citadas), Tardif (2002).A parte emprica envolve dilogos e discusses sobre concepes e prticas docentes (vises de educao, ensino, aprendizagem, (in)disciplina), leituras de livros, textos e relatrios de pesquisa que tratam da temtica e/ou da abordagem metodolgica da pesquisa-ao, entrevistas semi-estruturadas, individuais e coletivas, anlise de registros e documentos, observaes e dirio de campo.Portanto, o objetivo central deste projeto, no dilogo com supervisores, orientadores educacionais e professores da rede municipal de Montenegro, promover discusses que (re) signifiquem o papel do professor como autoridade pedaggica, tica e competente e, ao mesmo tempo, o papel da escola enquanto espao formativo. Acreditamos que, para alm de atender a esta rede de ensino, que buscou a parceria espontaneamente para estas discusses, os resultados deste trabalho, juntamente com outras pesquisas j realizadas, podero se estender no s a outras redes, como s Universidades que se ocupam com a formao de professores. Pensamos que o olhar pedaggico contextualizado pode avanar na compreenso da temtica, que tem assumido uma complexidade maior frente aos desafios de nosso tempo. At o presente momento j foram realizados estudos sobre a temtica e a metodologia da pesquisa. Realizou-se tambm a caracterizao diagnstica do contexto das escolas envolvidas. De imediato a investigao indicou: 1. tratar desta problemtica implica em lidar com realidades, concepes e fenmenos heterogneos; 2. escola e indisciplina sempre estiveram associados; 3. juzos morais e polticos sempre estaro presentes nos estudos sobre a temtica, mas precisamos analisar o fenmeno disciplina na sua totalidade e complexidade. At ento conclumos que precisamos: a)desmanchar mitos, contrapor concepes (professor/aluno; aluno/aluno; equipe diretiva/professor/aluno); b)evitar posies extremas no dramatizar e no ignorar as questes de disciplina/indisciplina; c)colocarmo-nos numa perspectiva de reflexo e anlise; d)tentar entender como os discursos so construdos, desvelando-os e questionando-os; e)revelar (desvelar) a fragilidade da ordem escolar, localizando-a no espao da ordem social. Para alm disso, a anlise dos tensionamentos anteriormente apontados tem permitido ao grupo avanar na compreenso do cotidiano escolar e da questo da (in) disciplina.Assim, ao entendermos melhor a temtica pretende-se buscar alternativas de sociabilidade, alternativas democrticas que apontem para horizontes de emancipao, que neutralizem o risco de eroso do contrato social (Santos, 1995).Acreditamos que essas alternativas democrticas passam, necessariamente, por um dilogo rigoroso, que no quer dizer rigidez. O rigor vive com a liberdade, precisa da liberdade (FREIRE, 1987, p. 98). Por outro lado, a liberdade precisa de autoridade para se tornar livre (Ibidem, p.115).

Referncias Bibliogrficas:APPLE, Michael W. Os Professores e o Currculo: Abordagens Sociolgicas. Porto: Porto Editora 1997.______. Polticas culturais e educao. Porto: Porto Editora, 1999.AQUINO, Jlio G. (org). Autoridade e autonomia na escola. So Paulo: Summus, 1999.______. Indisciplina: o contraponto das escolas democrticas. So Paulo: Moderna, 2003.BOURDIEU, Pierre. O poder simblico. Lisboa/Rio de Janeiro: Difel/Bertrand Brasil S/A, 1989.CORREIA, Jos Alberto; MATOS, Manuel. Solides e solidariedades nos quotidianos dos professores. Porto: Edies Asa, 2001.DANTOLA, Arlete (org.). Disciplina na escola: autoridade versus autoritarismo. So Paulo: EPU, 1987.ESTRELA, Maria T. Une tude sur lindiscipline en classe. Lisboa: Instituto Nacional de Investigao Cientfica, 1986.______. Relao pedaggica, disciplina e indisciplina na aula. Porto: Porto, 1994.FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: histria da violncia nas prises. 10.ed. Petrpolis: Vozes, 1993.FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 11.ed. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1982.______. Pedagogia da Esperana. 3 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994.______. Pedagogia da Autonomia. So Paulo: Paz e Terra, 1997.______. Pedagogia da Indignao: cartas pedaggicas e outros escritos. So Paulo: UNESP, 2000.FREIRE, Paulo; FAUNDEZ, Antonio. Por uma Pedagogia da Pergunta. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1985.FREIRE, Paulo; SHOR, Ira. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. 5.ed. So Paulo: Paz e terra, 1996.GHIGGI, Gomercindo. A disciplina e o processo pedaggico: consideraes a partir da proposta de Anton S. Makarenko. Cadernos de educao. Pelotas, FaE/UFPEL, n. 1, p. 27-30, nov. 1992.______. A pedagogia da autoridade a servio da liberdade: dilogos com Paulo Freire e professores em formao. Pelotas: Seiva, 2002.GIROUX, Henry. Freire e a Poltica de Ps-Colonialismo. In: MCLAREN, Peter; LEONARD, Peter; GADOTTI, Moacir. Freire: Poder, Desejo e Memrias de Libertao. Porto Alegre: ArtMed, 1998.MCLAREN, Peter. Rituais na Escola. Em direo a uma economia de smbolos e gestos na educao. Petrpolis: Vozes, 1991.______. A pedagogia da possibilidade de Paulo Freire. Educao, Sociedade & Culturas Paulo Freire. Porto: Afrontamento, n. 10, p. 57-82, 1998. ______. Utopias provisrias: as pedagogias crticas num cenrio ps-colonial. Traduo de Helena Beatriz Mascarenhas de Souza. Petrpolis: Vozes, 1999.OLIVEIRA, Francisco de. Os direitos do antivalor. Petrpolis: Vozes, 1998.SANTOS, Boaventura de Souza. Pela mo de Alice: o social e o poltico na ps-modernidade. So Paulo: Cortez, 1995.TARDIF, Maurice. Saberes Docentes e Formao Profissional. Petrpolis: Vozes, 2002.XAVIER, Maria Luisa (org.). Disciplina na escola: enfrentamentos e reflexes. Porto Alegre: Mediao, 2002.

Universidade do Vale do Rio dos Sinos UNISINOS

Programa de Ps-Graduao em Educao

Prof.Dr. Mari Forster

OBJETIVO

Tematizar a questo da

disciplina/indisciplina e suas

implicaes na prtica docente

e no cotidiano escolar.

INTERLOCUTORES

Supervisores, orientadores

educacionais e professores da rede

municipal de Montenegro/RS.

TENSIONAMENTOS CONCEITUAIS

TENSIONAMENTOS CONCEITUAIS

METODOLOGIA

Enfoque qualitativo utilizando-se da

pesquisa-ao (ao-reflexo-ao),

embasada no dilogo freireano.

REFERENCIAL TERICO

Paulo Freire, Giroux, MacLaren,

Ghiggi, Bourdieu, DAntola,

Aquino, Estrela, Foucault e

Correia e Matos.

CONCLUMOS SER NECESSRIO

CNPq /

CNPq /

FAPERGS

FAPERGS

/ UNISINOS

/ UNISINOS

Tais como disciplina-indisciplina, autoridade-poder-autoritarismo, liberdade-

licienciosidade, ordem-desordem, limite-exigncia, rigidez-rigor,

problematizando-os, confrontando-os tica e epistemologicamente.

a) desmanchar mitos, contrapor concepes (professor/aluno; aluno/aluno; equipe

diretiva/professor/aluno);

b) evitar posies extremas no dramatizar e no ignorar as questes de

disciplina/indisciplina;

c) colocarmo-nosnuma perspectiva de reflexo e anlise;

d) tentar entender como os discursos so constru dos, desvelando-os e

questionando-os;

e) revelar a fragilidade da ordem escolar, localizando -a no espao da ordem social.

Observaes, dirio de campo, entrevistas semi-estruturadas, anlise de

registros e de documentos.

INSTRUMENTOS

Universidade do Vale do Rio dos Sinos

UNISINOS

Programa de P

s

-

Gradua

o em Educa

o

Prof.

Dr

. Mari Forster

OBJETIVO

Tematizar a questo da

disciplina/indisciplina e suas

implica

es na pr

tica docente

e no cotidiano escolar.

INTERLOCUTORES

Supervisores, orientadores

educacionais e professores da rede

municipal de Montenegro/RS

.

TENSIONAMENTOS CONCEITUAIS

TENSIONAMENTOS CONCEITUAIS

METODOLOGIA

Enfoque qualitativo utilizando

-

se da

pesquisa

-

a

o (a

o

-

reflexo

-

a

o),

embasada no di

logo freireano.

REFERENCIAL TE

RICO

Paulo Freire, Giroux, MacLaren,

Ghiggi, Bourdieu, D

Antola,

Aquino, Estrela, Foucault e

Correia e Matos.

CONCLU

MOS SER NECESS

RIO

CNPq /

CNPq /

FAPERGS

FAPERGS

/ UNISINOS

/ UNISINOS

Tais como disciplina

-

indisciplina, autoridade

-

poder

-

autoritarismo, liberdade

-

licienciosidade, ordem

-

desordem, limite

-

exigncia, rigidez

-

rigor,

problematizando

-

os, confrontando

-

os

tica e epistemologicamente.

a) desmanchar mitos, contrapor concep

es (professor/aluno; aluno/aluno; equipe

diretiva/professor/aluno);

b) evitar posi

es extremas

no dramatizar e no ignorar as questes de

disciplina/indisciplina;

c)

colocarmo

-

nos

numa perspectiva de reflexo e an

lise;

d) tentar entender como os discursos so constru

dos, desvelando

-

os e

questionando

-

os;

e) revelar a fragilidade da ordem escolar, localizando

-

a no espa

o da ordem social.

Observa

es, di

rio de campo, entrevistas semi

-

estruturadas, an

lise de

registros e de documentos.

INSTRUMENTOS