Incentivos Fiscais à Inovação Tecnológica: o caso da Lei ... · Workshop Internacional sobre Gastos Tributários (Tax Expenditures) Exposição da avaliação de casos concretos:

Prof. Sérgio Kannebley Júnior

FEARP/USP

Workshop Internacional sobre Gastos

Tributários (Tax Expenditures)

Exposição da avaliação de casos concretos:

análises, metodologia, resultados e

conclusões

Incentivos Fiscais à Inovação

Tecnológica: o caso da Lei do Bem

Incentivos Fiscais - Introdução

Exposição da avaliação de casos concretos: análises,

metodologia, resultados e conclusões

A inovação está relacionada ao aumento ds produtividade a longo prazo

No entanto, a inovação firme pode ocorrer em uma escala socialmente sub-óptima, sem a intervenção do governo ou de apoio, devido a duas falhas de mercado (Hall, 2002):

(i) baixa apropriabilidade: não rivalidade e a impossibilidade de bloquear a difusão do conhecimento, o que gera externalidades do investimento na criação de conhecimento que não são capturados pelo investidor original;

(ii) incerteza de projetos de inovação e assimetria de informação entre os inovadores e do sistema financeiro, o que pode resultar na oferta de financiamento à inovação

Introdução

Assumindo que as firmas maximizam lucro, para induzir um nível maior de atividades de P&D nas firmas o governo busca deslocar para baixo a curva de custo marginal privado das firmas.

P&D

$ BMP

B

BMS

SMB CMP

MC CMP

MC´

Teoria Econômica



Em equilíbrio a demanda por capital em conhecimento é dada por:

git∗ = α + σsit − βuit

𝑠𝑖𝑡 é o log produto 𝑢𝑖𝑡 o custo de uso do capital firma i no período t

Segundo Hall e Jorgenson (1969), o custo de uso do capital pode ser expresso como:

u′ =1−c (1−τA)

1−τ(r + δ)

𝜏 é a alíquota de imposto sobre a renda da firma A é o valor presente das deduções na margem autorizadas dos gastos em P&D r a taxa de juros real c o crédito tributário de um programa de incentivo

δ a taxa de obsolescência do capital em conhecimento



Principais Incentivos Fiscais da Lei do

Bem

Dedução Adicional da BC do

IRPJ & CSLL

60% automático

10% com incremento de <= 5 % dos pesquisadores

20% com incremento de > 5 % dos pesquisadores

20% para patente concedida

Dedução, como despesas operacionais no cálculo do IRPJ e da CSLL, dos valores

transferidos a microempresas e empresas de pequeno porte não optante do sistema do

“SIMPLES”, destinados à execução de P&D&I

Depreciação Integral no ano de aquisição de equipamentos

Amortização acelerada para ativos intangíveis

Redução de IPI 50% na aquisição de equipamentos

IR Retido na Fonte Redução a 0 (zero) em remessas para registro e

manutenção de patentes

IR Retido na Fonte Crédito de 10% em remessas para pagamento de

royalties e assistência técnica

AMPLIAÇÃO E ATUALIZAÇÃO DOS PROCESSOS INSTITUCIONAIS DE

FORMULAÇÃO, IMPLANTAÇÃO E AVALIAÇÃO DAS POLÍTICAS DE CIÊNCIA,

TECNOLOGIA E INOVAÇÃO NO BRASIL

Geciane S. Porto (coord.) – FEARP/USP

Sérgio Kannebley Jr. - FEARP/USP

Vinicios Poloni Sant´Anna - FEARP/USP

Caroline Memoria - MCTI



Quem utiliza a Lei



Entre 2009 e 2013, em média, 83% das firmas pertenciam à

Indústria e setores de Informação de Comunicação

Setor CNAE 2009 2010 2011 2012 2013

Comércio 13 33 29 37 49

Eletricidade e gás 24 26 37 33 40

Indústrias de transformação 472 629 664 708 756

Indústrias extrativas 4 11 14 18 20

Informação e comunicação 65 100 110 134 157

Outros Setores 57 76 110 112 136

Total 635 875 964 1.042 1.158

Quem utiliza a Lei



Variável Grupo

1 2 3 4

Receita do Mercado Interno, (Milhões de R$) 4.541 27.650 1.088 133,8

Número total de funcionários da empresa 6.083 24.631 2.858 631

Dispêndio com P&D com recursos internos

(Total Custeio + Total Capital), (Milhões de R$) 22,30 83,20 8,93 3,27

Dispêndio com P&D com recursos internos e de

terceiros

(Total Custeio + Total Capital + Valor de terceiro

contratado), (Milhões de R$)

24,30 96,50 9,97 3,51

Dispêndio Totais com P&D / Total de funcionários

(Milhares de R$) 9,36 7,47 14,82 14,27

% Dispêndio Totais em relação Receita de Mercado

Interno 0,54 0,35 0,92 2,62

% Dispêndios com Custeio 89 86 90 90

% Dispêndios com Capital 2 6 2 3

% Dispêndios com Recursos Humanos 54 53 60 66

Número de Firmas 117 41 377 1299

Inovações



Inovaram

Inovaram

em

Produto

Inovaram

em

Processo

Inovaram

em

Serviço

Cluster 1

Nenhuma vez 17% 32% 35% 85%

Pelo menos uma vez 52% 27% 31% 11%

Em todos os anos 31% 40% 34% 3%

Cluster 2

Nenhuma vez 15% 29% 22% 66%



Cluster 3

Nenhuma vez 23% 38% 46% 86%



Cluster 4

Nenhuma vez 32% 43% 70% 90%



Esforço em P&D e Tamanho



Continuidade no Uso da Lei do Bem



Avaliação Qualitativa



Entrevistas com 20 empresas:

11 nacionais, 9 multinacionais

Beneficiárias contínuas da Lei do Bem

Inovação de Produto é principal → “demand pull”

O desenvolvimento tecnológico é motivado pelo mercado interno

Influências da Lei do Bem

Percepção de redução de custo do P&D Para as multinacionais ajuda a redução do custo do P&D, permitindo a competição por

projetos com outras filiais;

A lei do Bem não induz à inovação – isto é, não afeta a decisão da firma inovar

A lei, em alguns casos, contribuiu positivamente para o desenvolvimento/aprimoramento de gestão de P&D Por outro lado, envolveu um custo crescente de contabilização das atividades

Há ainda grande incerteza sobre o potencial uso da lei (patentes, equipamentos, etc.) – insegurança jurídica. Isto restringe a utilização da lei.

Avaliação Qualitativa



Impactos sobre os Dispêndios

Atua fortalecendo o investimento com recursos internos e suavizando os

gastos

Aumentou o grau de autonomia em P&D de algumas multinacionais entrevistadas

Permitiu que os dispêndios em P&D ficassem menos sujeitos às variações cíclicas.

A menor incerteza sobre recursos induz a adicionalidade.

Reduz a restrição financeira do setor de P&D. No entanto, os recursos da lei não

tem destino orientado a projeto específico

Impressões ambíguas sobre o ritmo o processo de inovação

Para algumas empresas houve aumento da produtividade do P&D

Identificação de parcerias com universidades independe da lei. A realização é

restritiva devido a fatores externos..

Facilita a contratação de pessoal ligado à P&D. Os dispêndios concentram-se em

custeio e pessoal.

Efetividade da lei do Bem no

Estímulo ao investimento em P&D

Edson Shimada - FEARP/USP

Sérgio Kannebley Júnior – FEARP/USP

Fernanda de Negri – IPEA-DF



Avaliação de Impactos Diretos



O presente trabalho pretende:

avaliar o impacto da Lei do Bem no incentivo à pesquisa e

desenvolvimento nas firmas, busca verificar, em última instância

a hipótese de adicionalidade do incentivo

Para isso é conduzida uma análise microeconométrica que busca

conduzir uma avaliação baseada em contrafactual

Avaliação de Impactos Diretos



Problema de Avaliação de Impacto Causalidade Contrafactual

di = variável de participação no programa (1= sim, 0 = não)

Yji : resultado potencial

Desejamos conhecer o efeito causal: Y1i – Y0i

Impossibilidade de se observar simultaneamente os dois estados do

indivíduo

Análise Contrafactual

A questão contrafactual é: "O que teria acontecido com aqueles que,

de fato, participaram do programa, caso não tivessem participado (ou

o inverso)?“

Contrafactuais não podem serem vistos ou ouvidos, só podemos criar

uma estimativa deles.

Viés de Seleção

No entanto, as firmas vislumbram que investir em P&D pode

levar ao crescimento e as firmas mais propensas a crescerem

e investirem em P&D são aquelas com maiores chances de se

candidatarem aos programas de benefício do governo

Viés de Seleção:

Observáveis

Não observáveis

𝑌𝑗 𝑖→ 𝑑𝑗 𝑖

Estratégia Econometrica

Construção de Grupo de Controle:

Propensity Score Matching (PSM)

Controla para a seleção sobre observáveis – variáveis

observáveis pelo pesquisador que seriam indutoras da

participação no programa

Apuração do Impacto:

Combinação de PSM com estimador Diferenças em Diferenças

Controla para seleção sobre não observáveis (invariantes no

tempo) e efeitos macroeconômicos

Time Treatment

Outcome

Treatment Group

Control Group

Average Treatment Effect

First

observation

Second

observation

Third

observation

Bases de Dados



Variável Descrição Fonte de Dados

dispendio dispêndio em P&D (R$) PINTEC/IBGE

cnae4 código CNAE 4 dígitos PINTEC/IBGE, PIA/IBGE

K, mk estoque de capital físico (R$*) PIA/IBGE

Estr origem do capital (dummy = 1 se estrangeiro) PINTEC/IBGE

bem Firma com incentivo fiscal da Lei do Bem Lei do Bem/MCTI

Exp, mexp exportações (US$ FOB*) SECEX

PO número médio de funcionários RAIS/MTE

empr_anos idade da empresa (anos) RAIS/MTE

PoTec número médio de funcionários técnico

científico RAIS/MTE

prop_tgrau proporção de funcionários com terceiro grau RAIS/MTE

prop_sgrau proporção de funcionários com segundo grau RAIS/MTE

prop_pgrau proporção de funcionários com primeiro grau RAIS/MTE

prop_feminino proporção de funcionários do sexo feminino RAIS/MTE

educa número médio de anos de estudo dos

funcionários RAIS/MTE

fonte: elaboração própria

* mk, mexp: variáveis em milhões

Modelos Estimados

Em que rit é representado por:

𝑃𝐷𝑥 = 𝐷𝑝𝑜𝑡𝑒𝑐 ∗ 𝑃𝑜𝑇𝑒𝑐 Cálculo uma variável auxiliar de 𝐷𝑝𝑜𝑡𝑒𝑐 = 𝐷𝑖𝑠𝑝ê𝑛𝑑𝑖𝑜/𝑃𝑜𝑇𝑒𝑐 para os anos

em que o dispêndio é observado

Método de interpolação é usado nesta variável para os valores missings sendo construída a variável 𝐷𝑝𝑜𝑡𝑒𝑐

PoTec (Pessoal Técnico Científico) - RAIS

BEMit = 0 , se BEM_RENUit = 0 para ∀t 1 , caso contrário

(I) rit = αi + αt + β1BEMit + εit

(II) rit = αi + αt + β1BEMit + 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑜𝑙𝑒𝑠 1 + εit

(III) rit = αi + αt + β1BEMit + 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑜𝑙𝑒𝑠 1 + 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑜𝑙𝑒𝑠 2 + εit

Tendência não-condicional para as

variáveis dependentes



0

10000

20000

2000 2005 2008 2003

20

40

60

80

100

2000 2005 2008 2003

Tratados Controle

PoT

ec a

vera

ge

R&

D investm

ent avera

ge

Impacto sobre Dispêndio



Impacto geral entre 76% a 81% (43%)

Setores de Média Baixa Intensidade: 158%

Setores de Baixa e Média Alta Intensidade: 64%%

(1) (2) (3) (4) (5) (6)

Espec. FE Geral Baixa

Media

baixa

Média

Alta Alta

(I) BEMt 0.998 *** 1.058 *** 0.933 *** 1.437 *** 0.956 *** 1.178 ***

(II) BEMt 0.750 *** 0.744 *** 0.660 ** 1.161 *** 0.677 *** 0.707 **

(III) BEMt 0.595 *** 0.561 *** 0.494 * 0.947 *** 0.500 ** 0.496

Ar1 BEMt 0.360 *** 0.343 *** 0.523 *** 0.278 *** 0.372 ***

N. de observações 11217 11217 2608 2361 4659 1558

N. de firmas 1210 1210 268 258 510 171

Impacto sobre PoTec



Impacto geral entre 9,7% e 11,2% (9%)

Setores de Média Baixa Intensidade: 9,25%

Setores de Baixa e Média Alta Intensidade: 8%

(1) (2) (3) (4) (5) (6)

Espec. FE geral baixa mbaix malta alta

(I) BEMt 0.288 *** 0.291 *** 0.322 *** 0.228 *** 0.270 *** 0.429

(II) BEMt 0.187 *** 0.181 *** 0.160 *** 0.164 *** 0.166 *** 0.305

(III) BEMt 0.106 *** 0.0925 *** 0.0773 0.0887 * 0.0774 ** 0.168

Ar1 0.0863 *** 0.0651 ** 0.112 *** 0.0549 *** 0.113 ***

N. de observações 20018 20018 4706 4733 8011 2411

N. de firmas 2004 2004 476 466 801 244

Comparação Diferentes Estimadores e

Especificações



0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1.4F

E

tob

it

RE

-AR

1

FE

tob

it

RE

-AR

1

FE

tob

it

RE

-AR

1

FE

tob

it

RE

-AR

1

FE

tob

it

RE

-AR

1

FE

tob

it

RE

-AR

1

(I) (II) (III) (I) (II) (III)

PDx PoTec

before PSM

after PSM

Considerações Finais



As evidências qualitativas e quantitativas demonstram que a

lei do Bem produz resultados positivos sobre o esforço

tecnológico privado no Brasil;

No entanto, existe ainda um potencial a ainda ser explorado

no uso da lei que se refere aos investimentos em capital,

contratação de serviços externos;

Há demanda de maior integração entre as partes envolvidas –

empresas, MCTI e RF.

Sérgio Kannebley Júnior

[email protected]



Obrigado

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