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MAICON FERNANDO EGER INCIDÊNCIA DE COMPLICAÇÕES RESPIRATÓRIAS EM NEONATOS COM SÍNDROME DA MEMBRANA HIALINA Cascavel 2003

INCIDÊNCIA DE COMPLICAÇÕES RESPIRATÓRIAS EM … · PaO2 – pressão parcial de oxigênio no sangue arterial PEEP - pressão positiva no final da expiração pH ... Os recém-nascidos

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MAICON FERNANDO EGER

INCIDÊNCIA DE COMPLICAÇÕES RESPIRATÓRIAS EM NEONATOS COM SÍNDROME DA MEMBRANA HIALINA

Cascavel 2003

MAICON FERNANDO EGER

INCIDÊNCIA DE COMPLICAÇÕES RESPIRATÓRIAS EM NEONATOS COM SÍNDROME DA MEMBRANA HIALINA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus de Cascavel, como pré-requisito para a obtenção do Título de graduado em Fisioterapia.

Orientadora: Marilú Mattei Martins

Cascavel 2003

TERMO DE APROVAÇÃO

MAICON FERNANDO EGER

INCIDÊNCIA DE COMPLICAÇÕES RESPIRATÓRIAS EM NEONATOS COM SÍNDROME DA MEMBANA HIALINA

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como requisito parcial para obtenção do título de graduado em Fisioterapia, na Universidade Estadual do Oeste do

Paraná.

_____________________________________ Marilú Mattei Martins - UNIOESTE

Orientadora

_______________________________________ Maria Goreti Bertoldo - UNIOESTE

_______________________________________ Juliana Hering Genske - UNIOESTE

Cascavel, 16 de abril de 2003

DEDICATÓRIA DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a Deus e a meus pais, que sempre

me mostraram a luz, mesmo quando eu estava na maior

escuridão.

AGRADECIMENTOS

Todo trabalho de conclusão de curso é uma batalha e ninguém a vence sozinho. Por

isso, venho através destas palavras agradecer a todos que, de alguma forma, me auxiliaram e

ajudaram a terminar este trabalho.

Quero agradecer em especial:

Em primeiro lugar a Deus, pois sem Ele não estaríamos aqui neste momento.

Aos meus pais, pelo apoio, incentivo e por sempre estarem presentes em todos os

momentos.

À minha orientadora Marilú Mattei Martins, pela orientação deste trabalho, por ter

acreditado e me apoiado, mesmo quando as idéias não ajudavam, pelo grande auxilio

prestado na coleta de dados e pelo tempo disponível para as conversas e conselhos.

Ao amigo e Prof. Gladson Ricardo Flor Bertolini, pelos conselhos, auxílios e dicas

dadas para o enriquecimento deste trabalho.

Aos professores: Eduardo Alexandre Loth, Ceres Giacometti, Juliana H. Genske e

aos colegas: Josiane Gonçalves, Carolina I. Grizza e Alexandre S. Inagaki, pelo material e

pelo interesse demonstrado.

Ao Hospital Universitário do Oeste do Paraná e a Universidade Estadual do Oeste do

Paraná por abrir portas para a realização desta pesquisa.

Aos demais professores por todo conhecimento que me passaram.

À banda C (Alexandre S. Inagaki, Carolina I. Grizza, Tatiana Badke, Deborah Ariza,

Mônica B. Oldra, Francielly T. Lazaro, Fabielle S. Volpi e Fabiana M. Navarro) por me

agüentarem mesmo nos piores dias, por serem companheiros em todos os momentos, e por

sempre que preciso, estarem presentes para ajudar.

Gostaria de agradecer a todos e queria desculpar-me se esqueci alguém.

RESUMO

A Síndrome da Membrana Hialina, mais do que um processo patológico é um distúrbio do desenvolvimento, associada com o nascimento prematuro, e está relacionada diretamente com a deficiência na produção de surfactante. O surfactante pulmonar exógeno é utilizado de maneira profilática e no tratamento da doença estabelecida. O uso da fisioterapia neonatal promove benefícios ao potencializar a ação do surfactante exógeno. O presente estudo discute a patologia, suas características, seu tratamento e a sua evolução, e teve como objetivo relacionar o peso de nascimento, a idade gestacional e o gênero com as complicações e o índice de mortalidade encontrados nos neonatos após a aplicação do protocolo.de fisioterapia respiratória. A amostra foi selecionada a partir dos pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal do Hospital Universitário do Oeste Paraná no período de setembro a outubro de 2002, com diagnóstico de Síndrome da Membrana Hialina. Foi elaborado e aplicado na amostra selecionada um protocolo de fisioterapia respiratória para Síndrome da Membrana Hialina. De modo que o controle dos pacientes foi feito através de uma ficha de acompanhamento diária. Através dos resultados obtidos no presente estudo pode-se observar que durante o período da pesquisa foram internados na unidade 39 pacientes, destes, cinco pacientes (12,82%) tiveram o diagnóstico confirmado de síndrome da membrana hialina e foram inclusos na pesquisa. Com relação às complicações respiratórias, obteve-se dois neonatos (40%) com pneumonia e um (20%) com atelectasia. Quanto à mortalidade foram registrados dois óbitos (40%). Conclusão: através da análise dos resultados obtidos pela pesquisa e conforme os objetivos propostos pelo estudo, pode-se concluir que existe uma maior incidência de complicações respiratórias em RNs com baixo peso de nascimento, com menor idade gestacional, além de existir uma prevalência do gênero masculino, pode-se ainda inferir que a aplicação da fisioterapia respiratória tem se mostrado bastante eficaz no tratamento desta patologia. Palavras chaves: Fisioterapia Respiratória, Síndrome da Membrana Hialina, Recém-nascido.

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS............................................................................................................ 09

LISTA DE TABELAS........................................................................................................... 10

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS.......................................................................... 11

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................... 12

1.1 EXPOSIÇÀO DO ASSUNTO...................................................................................... 12

1.2 JUSTIFICATIVA.......................................................................................................... 13

1.3 PROBLEMÁTICA............................................................................ ........................... 14

1.4 OBJETIVOS.................................. ............................................................................... 14

2 REVISÃO DE LITERATURA.................................................................................. 15

2.1 EMBRIOLOGIA PULMONAR................................................................................... 15

2.2 CARACTERISTICAS ANATOMICAS E FISIOLÓGICAS DO SISTEMA RESPIRATÓRIO

NEONATAL................................................................................... 15

2.3 SISTEMA SURFACTANTE........................................................................................ 17

2.4 SÍNDROME DA MEMBRANA HIALINA..... ........................................................... 19

2.4.1 Epidemiologia............................................................................................................... 19

2.4.2 Fisiopatologia................................................................................................................ 20

2.4.3 Histologia...................................................................................................................... 23

2.4.4 Diagnóstico Clínico....................................................................................................... 23

2.4.5 Diagnóstico Radiológico............................................................................................... 26

2.4.6 Diagnóstico Diferencial................................................................................................. 27

2.5 MEDIDAS TERAPÊUTICAS...................................................................................... 28

2.5.1 Fisioterapia Respiratória............................................................................................... 29

2.5.2 Cuidados Gerais............................................................................................................ 31

2.5.3 Oxigenoterapia.............................................................................................................. 31

2.5.4 Pressão Positiva Contínua nas Vias Aéreas.................................................................. 32

2.5.5 Ventilação Mecânica. ................................................................................................... 34

2.5.6 Surfactante Exógeno..................................................................................................... 36

2.6 PROGNÓSTICO........................................................................................................... 38

3 METODOLOGIA....................................................................................................... 39

3.1 TIPO DE ESTUDO...... ................................................................................................ 39

3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA....................................................................................... 39

3.3 INSTRUMENTOS UTILIZADOS............................................................................... 39

3.4 PROCEDIMENTOS PARA COLETA DE DADOS.................................................... 40

3.5 ANÁLISE DE DADOS................................................................................................. 41

4 RESULTADOS............................................................................................................ 42

5 DISCUSSÃO................................................................................................................ 48

6 CONCLUSÕES........................................................................................................... 51

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....... ........................................................................ 52

ANEXO A............................................................................................................................... 56

ANEXO B............................................................................ .................................................. 57

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Boletim de Silverman-Andersen.......................................................................... 25

Figura 2 Classificação da SMH, conforme aspecto radiológico......................................... 27

Figura 3 Distribuição da amostra quanto ao gênero........................................................... 42

Figura 4 Mortalidade dos neonatos com SMH durante a aplicação do protocolo de

Fisioterapia Respiratória...................................................................................... 43

Figura 5 Taxas de mortalidade em relação à idade gestacional.......................................... 45

Figura 6 Complicações em relação à idade gestacional..................................................... 45

Figura 7 Relação do peso de nascimento e as complicações respiratórias......................... 47

Figura 8 Relação entre o peso de nascimento e a mortalidade........................................... 47

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Pacientes internados na UTINeonatal do HUOP de set a out de 2002................ 42

Tabela 2 Idade gestacional.................................................................................................. 44

Tabela 3 Relação entre mortalidade, complicações respiratórias e idade gestacional........ 44

Tabela 4 Peso de nascimento.............................................................................................. 46

Tabela 5 Classificação do neonato de acordo com o peso de nascimento.......................... 46

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ATP – adenosina trifosfato

cmH2O – centímetros de água

CO2 – gás carbônico

CPAP – pressão positiva contínua nas vias aéreas

CRF – capacidade residual funcional

FC - freqüência cardíaca

FiO2 – fração inspirada de oxigênio

FR - freqüência respiratória

HUOP – Hospital Universitário do Oeste do Paraná

IMV - ventilação mandatória intermitente

ipm – incursões por minuto

mmHg – milímetros de mercúrio

O2 – oxigênio

PaCO2 – pressão parcial de gás carbônico no sangue arterial

PaO2 – pressão parcial de oxigênio no sangue arterial

PEEP - pressão positiva no final da expiração

pH – concentração de íon hidrogênio

Relação V/Q – relação ventilação perfusão

RN – Recém-nascido

RNs – Recém-nascidos

RTA - Reequilíbrio tóraco-abdominal

SaO2 – saturação de oxigênio

SDR – Síndrome do Desconforto Respiratório

SESA – Secretaria de Estado da Saúde

SIMV - ventilação mandatória intermitente sincronizada

SMH – Síndrome da Membrana Hialina

TEMP - Terapia expiratória manual passiva

UNIOESTE – Universidade Estadual do Oeste do Paraná

UTINeonatal – Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

VAC - ventilação assistida-controlada

VAF - ventilação de alta freqüência

VSP - ventilação com suporte de pressão

1 INTRODUÇÃO

1.1 EXPOSIÇÃO DO ASSUNTO

A síndrome da membrana hialina (SMH) ou síndrome do desconforto respiratório

(SDR) é uma das afecções do aparelho respiratório mais freqüente do recém-nascido (RN)

prematuro, que comumente prolongam o tempo de internação hospitalar e limitam o

prognóstico, tornando-se uma importante causa de morbidade e mortalidade neonatal. A

origem primária desta patologia está na deficiência de surfactante pulmonar na superfície

interna dos alvéolos, que resulta no aumento da tensão superficial dos alvéolos e retração

elástica dos pulmões, que por sua vez causa atelectasia pulmonar.

O surfactante é uma substância tensoativa superficial, sua produção inicia-se a partir

da 23a semana de gestação, de modo que é secretada por células epiteliais alveolares do tipo II

que atuam reduzindo a tensão superficial no interior dos alvéolos, evitando o seu colapso e

baixos volumes (GUYTON; HALL, 1996).

Na SMH, a deficiência do surfactante resulta em uma atelectasia pulmonar

progressiva. Este colapso pulmonar leva a aumento da necessidade de oxigênio e do trabalho

respiratório, sendo a causa mais freqüente de emprego da ventilação mecânica em uma

unidade de terapia intensiva neonatal. De acordo com Rodriguez, (1986) a incidência é de

46,3% dos casos.

Os recém-nascidos (RNs) com diagnóstico de SMH, inicialmente apresentam

insuficiência respiratória, e a sua terapêutica pode levar a uma série de complicações

respiratórias, de modo que as mais freqüentes são: a atelectasia pós-extubação, o

pneumotórax, o acúmulo de secreções, a displasia broncopulmonar e o óbito, conforme a

gravidade do caso.

A fisioterapia respiratória se propõe a manter a permeabilidade das vias aéreas,

procurando prevenir as complicações e melhorar a função respiratória nas doenças

pulmonares, através de técnicas que mantenham uma ventilação adequada e diminuam o

sofrimento respiratório dos neonatos (MACCARI; ABREU; MIYOSHI, 2001).

1.2 JUSTIFICATIVA

O desconforto respiratório inicialmente presente na SMH pode ser discreto, porém

progressivo em intensidade e gravidade, de modo que seu prognóstico, sem intervenção

terapêutica adequada conduz à falência respiratória e ao óbito já nas primeiras 72 horas de

vida, na maioria dos casos (ROCHA, 1991).

A SMH ocorre em cerca de 0,5 a 1,0% dos nascidos vivos. A incidência e a gravidade

relacionam-se diretamente com o grau de prematuridade. A SMH acomete cerca de 50% dos

RN pré-termos menores de 1.500g e os óbitos e as complicações associadas à doença

ocorrem, em geral, durante a fase aguda da insuficiência respiratória, em grande parte

limitada aos bebês de extremo baixo peso (MIYOSHI, 2001).

Os RNs com SMH são com freqüência submetidos a uma diversificada terapêutica,

através de uma série de intervenções invasivas ou não. Com o intuito de diminuir o

sofrimento respiratório surge uma proposta de se aplicar um protocolo de fisioterapia

respiratória para tratamento da SMH, que propicie melhor prognóstico e, conseqüentemente,

diminuição da mortalidade. Ainda são poucos os estudos sobre a intervenção fisioterapêutica

respiratória na área de neonatologia.

Segundo Miyoshi (2001) é essencial que a atuação do fisioterapeuta envolva aspectos

relacionados com a prevenção de complicações pulmonares e extrapulmonares do paciente

com insuficiência respiratória.

À medida que aumenta a porcentagem de RN de tenra idade gestacional que

conseguem sobreviver ao período perinatal e ao mesmo tempo em que melhoram as

instalações dos serviços de tratamento intensivo neonatal, o papel do fisioterapeuta no

tratamento das afecções pulmonares do RN tende a crescer. A fisioterapia do RN que

apresenta disfunção pulmonar tem como principais objetivos melhorar a permeabilidade das

vias aéreas, aumentar a ventilação pulmonar e diminuir o esforço respiratório (SHEPHERD,

1996).

Deste modo, este estudo visa contribuir para o crescimento científico na área da

fisioterapia, no sentido de minimizar as complicações decorrentes da SMH através do

protocolo de atendimento.

1.3 O PROBLEMA

Verifica-se que é grande a incidência de neonatos prematuros com SMH, e que esta

patologia, traz um grande número de complicações respiratórias podendo levar ao óbito.

Desta forma, pretende-se analisar a incidência de complicações respiratórias em neonatos com

Síndrome da Membrana Hialina.

1.4 OBJETIVOS

1.4.1 Objetivo Geral

- Analisar a incidência de complicações respiratórias em neonatos com Síndrome da

Membrana Hialina.

1.4.2 Objetivos Específicos

- Relacionar o peso de nascimento, a idade gestacional e o gênero com as complicações

e o índice de mortalidade encontrados nos neonatos após a aplicação do protocolo;

- Verificar em que medida a utilização do protocolo de tratamento fisioterapêutico

contribui com o prognóstico do RN com SMH tratado na UTINeonatal do HUOP.

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 EMBRIOLOGIA PULMONAR

Tanto os pulmões, como as vias aéreas começam a sua formação nos primórdios do

desenvolvimento embrionário e, por ocasião do nascimento, os pulmões ainda não alcançaram

o seu desenvolvimento pleno, embora o RN sobreviva respirando normalmente com cerca de

1/6 do número de alvéolos presentes na vida adulta (PEREIRA, 2000).

Segundo Quintal; Nagaiassu e Troster (1997) a respiração do RN depende de um

adequado desenvolvimento bioquímico e anatômico pulmonar, sendo de vital importância

para o estabelecimento de uma função respiratória eficaz após o nascimento.

O desenvolvimento do pulmão humano pode ser dividido em cinco estágios de

organogênese: 1) período embrionário primário (3 a 7 semanas de gestação) onde inicia-se o

desenvolvimento pulmonar e a formação das grandes vias aéreas; 2) período pseudoglandular

(5 a 17 semanas de gestação) onde forma-se o sistema condutor de ar; 3) período canalicular

(16 a 25 semanas de gestação) os segmentos cefálicos do pulmão desenvolvem-se mais

rapidamente que os caudais, a luz dos brônquios e bronquíolos terminais aumenta e o tecido

pulmonar torna-se altamente vascularizado. Próximo ao fim deste período, as células de

revestimento desses ductos tornam-se delgadas, possibilitando aos capilares sanguíneos

projetarem-se como alças capilares para o interior dos futuros espaços aéreos; 4) período

sacular (24 a 38 semanas da gestação) os ductos alveolares dão origem aos alvéolos

pulmonares primitivos e a rede capilar se prolifera no mesênquima em volta dos alvéolos,

simultaneamente ocorre a formação dos capilares linfáticos e das células epiteliais alveolares,

que produzem o surfactante; 5) período alveolar (36 semanas de gestação até os três anos de

idade) onde o revestimento dos sacos terminais torna-se extremamente fino, formando os

alvéolos pulmonares (MOORE; PERSAUD, 1994).

2.2 CARACTERÍSTICAS ANATÔMICAS E FISIOLÓGICAS DO SISTEMA

RESPIRATÓRIO NEONATAL

A anatomia da via aérea superior do RN permite-lhe alimentar-se e respirar

simultaneamente até, aproximadamente, três a quatro meses de idade. Isto se deve ao fato de

que a laringe do lactente tem uma posição relativamente alta que permite respirar e deglutir ao

mesmo tempo (SHEPHERD, 1996).

O menor diâmetro das vias aéreas dos RNs, particularmente, dos nascidos pré-termo,

oferecem alta resistência ao fluxo aéreo e qualquer edema de mucosa aumenta

significativamente o trabalho respiratório. O coração e o timo são grandes deixando um

menor espaço para o tecido pulmonar (PARKER; PRASAD, 2002).

A estrutura da parede brônquica e a cartilagem são maleáveis e há, proporcionalmente,

mais glândulas mucosas. Estes fatores predispõem a obstrução e ao colapso da via aérea.

Existe também um número menor de alvéolos, e portanto, uma área de superfície menor para

as trocas gasosas (REID, 1984).

Os canais para ventilação colateral (poros de Khon e canais de Lambert) estão em

quantidade menor nos pulmões de RNs, predispondo ao colapso alveolar. A configuração da

caixa torácica é circular no plano horizontal, e mais cartilaginosa, levando a formação de um

ângulo de inserção do diafragma horizontal o que promove uma menor eficiência de

ventilação e maior distorção no formato da parede torácica (CRANE, 1994).

Os pulmões dos lactentes são menos complacentes que os das crianças de mais idade e

adultos, particularmente, dos RNs (recém nascidos) pré-termo (< 37 semanas de gestação) em

que também pode haver falta de surfactante. Pouca complacência significa que são

necessárias maiores pressões de insuflação para manter o volume pulmonar e os neonatos

precisam trabalhar mais para ventilar seus pulmões (PARKER; PRASAD, 2002).

Neonatos normalmente apresentam padrões respiratórios irregulares. A respiração

periódica é um achado normal nos neonatos prematuros e é caracterizado por períodos curtos

de cessação da respiração e que podem ser acompanhados por bradicardia. A apnéia e a

respiração periódica na ausência de outra patologia são decorrentes de respostas respiratórias

imaturas (MALINOWSKI; WILSON, 2000).

As diferenças anatômicas na configuração da caixa torácica não permitem ao RN

aumentar o volume pulmonar na mesma extensão que um adulto. Portanto, quando em

dificuldade respiratória, este aumenta a freqüência respiratória, em vez de aprofundá-la para

manter o volume-minuto (PARKER; PRASAD, 2002).

O diafragma do neonato tem aproximadamente 25% de fibras musculares do tipo I, em

relação ao adulto que possui 50% deste tipo de fibra. As fibras do tipo I são vermelhas, de

contração lenta, resistentes à fadiga e com alta oxidação. O diafragma de um prematuro pode

ter apenas 10% de fibras musculares do tipo I, sendo que, a falta de fibras oxidativas no

diafragma aumenta a suscetibilidade à fadiga muscular respiratória (CRANE, 1994).

O neonato apresenta uma capacidade residual funcional (CRF) menor por causa da

complacência da parede torácica, que oferece menor resistência às forças de retração dos

pulmões, acarretando um menor volume no final da expiração. Com uma CRF menor, o

fechamento das vias aéreas e a atelectasia podem ocorrer mais facilmente, resultando em uma

relação ventilação/perfusão (V/Q) mais baixa e aumento do shunt. Uma CRF pequena

significa que a alteração da ventilação causa alteração mais rápida dos valores dos gases

sangüíneos. A combinação de uma CRF pequena e de um consumo elevado de oxigênio priva

o lactente de oxigênio que pode, rapidamente, tornar-se gravemente hipoxêmico

(MALINOWSKI; WILSON, 2000).

2.3 SISTEMA SURFACTANTE

A ligação físico-química entre os gases alveolares e as moléculas presentes no ápice da

superfície do epitélio respiratório gera uma região de tensão superficial elevada devido à

distribuição desigual das forças moleculares entre as moléculas de água na interface ar-

líquido. O pulmão apresenta uma substância, chamada surfactante, que atua nesta superfície,

diminuindo esta tensão e contribuindo para a função alveolar (GUYTON; HALL, 1996).

O surfactante é uma substância produzida pelas células alveolares tipo II que atuam

reduzindo a tensão superficial no interior dos alvéolos, evitando o seu colapso e baixos

volumes. O mesmo compõe-se de uma completa associação de vários fosfolipídes, lipídeos

neutros e proteínas (TARANTINO, 1997).

De acordo com Diniz (1999) existem até o momento quatro tipos distintos de proteínas

purificadas do surfactante, denominadas proteínas A, B, C e D: a proteína A do surfactante, é

uma glicoproteína não-sérica, cujas funções não tem sido ainda estabelecidas claramente,

porém é a principal e mais abundante (cerca de 5%). Sendo solúvel em água, com

propriedades imunomoduladoras e com atividade na superfície, aumenta a função fagocítica

dos macrófagos alveolares e a resistência do complexo surfactante lipídico contra inibidores

de atividade de superfície das células alveolares do tipo II. A proteína B constitui 1% do

surfactante, é um pequeno polipeptídeo catiônico hidrofóbico, contendo cerca de 79

aminoácidos, portanto, altera a organização das membranas fosfolipídicas, aumentando suas

propriedades tensoativas e a entrada de fosfolípides in vitro nas células tipo II. A proteína C é

um proteolípide extremamente hidrofóbico que melhora a absorção de superfície dos

fosfolípides, sendo relativamente abundante no surfactante. A proteína D foi descoberta

recentemente e também tem propriedades imonomoduladoras.

A composição dos fosfolípides no surfactante varia com a idade gestacional. No feto

imaturo há uma quantidade relativamente grande de fosfotidilinositol, no pulmão maduro este

fosfolípide é progressivamente substituído pelo fosfatidilglicerol. O fosfatidilglicerol é um

marcador de maturidade pulmonar. As proteínas são constituintes importantes na absorção e

dispersão dos fosfolípides na superfície alveolar, facilitando a redução da tensão alveolar

(ABREU et al. 2000).

Os fosfolípides no surfactante representam cerca de 80% a 90% de sua massa, sendo o

componente primário responsável pela diminuição da tensão superficial, formando uma

camada monomolecular derivada da mielina tubular ou outras formas de agregados presentes

nos alvéolos. A fosfatidilcolina constitui o lípide mais abundante no surfactante,

representando 80% dos fosfolípides totais, dos quais 70% estão presentes como

dipalmitoilfosfatidilcolina, responsável diretamente pela tensão superficial baixa do

complexo. Outros fosfolípides são, principalmente, fosfatidilcolina e fosfatidilglicerol,

fosfatidiletanolamina, fosfatidilinositol e esfingomielina. Quantidades pequenas de palmitato

e lípides neutros estão presentes no surfactante endógeno (DINIZ, 1999).

A função da célula pulmonar do tipo II é sintetizar e secretar o surfactante, são células

cubóides, e em virtude de sua forma elas ocupam menos de 5% da superfície alveolar. Estas

células se proliferam nos casos de lesão e também podem dar origem a novas células do tipo I

(MALINOWSKI; WILSON, 2000).

A secreção do surfactante pode ser estimulada por uma série de mecanismos. As

células pulmonares do tipo II apresentam receptores β e respondem aos β-agonistas com

aumento de sua secreção. O uso de β-agonistas pela mãe pode estimular a produção de

estoques de surfactantes e facilitar o início da respiração. Purinas, tais como a adenosina

trifosfato, também são potentes estimuladores de secreção de surfactante. O estímulo

mecânico, tal como a distensão pulmonar e a hiperventilação, é fator que estimula tal secreção

(QUINTAL; NAGAIASSU; TROSTER, 1997).

O papel mais conhecido do surfactante pulmonar é o de estabilizar os alvéolos e os

bronquíolos respiratórios durante a fase expiratória, evitando o colapso das vias aéreas distais

e o aumento da resistência pulmonar. E, ainda, durante a inspiração, o surfactante promove

um recrutamento alveolar uniforme, reduzindo o gradiente pressórico entre o interstício e o

alvéolo, diminuindo assim a formação de edema alveolar. Além disso, é importante esclarecer

que o surfactante apresenta propriedades imunológicas, antibacterianas e antiinflamatórias

(MIYOSHI, 2001).

De acordo com Quintal; Nagaiassu e Troster (1997) os efeitos fisiológicos do

surfactante pulmonar são os seguintes: 1) reduzir a tensão superficial nos alvéolos, à medida

que o raio alveolar diminui o surfactante reduz a tensão superficial, evitando o colapso dos

pequenos alvéolos e levando à estabilidade alveolar; 2) diminuir o esforço respiratório, as

unidades alveolares com maior raio e menor tensão superficial são melhor expandidas, com

menor força inspiratória; 3) aumentar a complacência, com a melhora na estabilidade alveolar

e menor tensão superficial há aumento na complacência pulmonar.

Desta forma, as principais finalidades do sistema surfactante pulmonar são: diminuir a

tensão superficial na interface ar-líquido alveolar e manter a estabilidade alveolar impedindo

seu colapso no final da expiração (DINIZ, 1999).

2.4 SÍNDROME DA MEMBRANA HIALINA (SMH)

A síndrome do desconforto respiratório, ou síndrome da membrana hialina é uma

patologia ainda freqüente e fundamentalmente relacionada à deficiência primária de

surfactante, afetando particularmente o recém-nascido pré-termo sendo sua incidência

inversamente proporcional à idade gestacional (DINIZ, 1999).

A SMH foi descrita pela primeira vez no início deste século, tendo von Neergaard

descrito pela primeira vez a presença das interfaces ar-líquido nos pulmões, em 1929.

Entretanto, pouco se acrescentou ao conhecimento da patologia até que Pattle e Clements

observaram a presença de surfactante em extratos pulmonares e Avery e Mead, em 1959,

correlacionaram a insuficiência respiratória com a diminuição nos níveis de surfactante em

recém-nascidos com SMH (QUINTAL; NAGAIASSU; TROSTER, 1997).

Esta síndrome constitui-se em uma importante causa de óbito entre os recém-nascidos

prematuros, porém, o tratamento intensivo e precoce é capaz de reduzir significativamente os

índices de morbidade e mortalidade (SHEPHERD, 1996).

2.4.1 Epidemiologia

De todos os problemas respiratórios que afetam o RN, a SMH constitui um dos mais

graves e freqüentes. Cerca de 50% dos óbitos que ocorrem no período neonatal estão

relacionados a distúrbios respiratórios, sendo a SMH responsável em torno de 80% a 90% dos

casos, durante a primeira semana de vida (DINIZ, 1999).

A SMH acomete cerca de 50% dos RN pré-termos menores de 1500g e os óbitos e as

complicações associadas à doença ocorrem, em geral, durante a fase aguda da insuficiência

respiratória, em grande parte limitada aos bebês de extremo baixo peso (MIYOSHI, 2001).

Aproximadamente 0,5 a 1,0% dos RNs nascidos vivos possuem a síndrome, sendo

mais freqüentes nos pré-termos menores de 1500g, sexo masculino, filhos de mãe diabética e

nos que sofrem asfixia perinatal aguda (ALMEIDA; KOPELMAN, 1994).

Além da idade gestacional, outros fatores podem afetar tanto a incidência como a

gravidade da SMH. Como por exemplo, há um maior risco de um concepto prematuro vir a

apresentar a doença quando a mãe refere outros filhos que evoluíram com a SMH, maior

coincidência entre gêmeos monozigóticos, quando comparados com os dizigóticos. Os

neonatos de raça negra têm menor risco de ter SMH, quando comparados com os da raça

branca para a mesma idade gestacional. Estes fatores sugerem que, apesar da imaturidade

pulmonar ser o principal fator para o aparecimento da SMH, deve existir um componente

genético interferindo direta ou indiretamente no processo de maturação pulmonar predispondo

ou protegendo o concepto de desenvolver a doença (MIYOSHI, 2001).

2.4.2 Fisiopatologia

Gluck et al.1(1972 apud VAZ; MANISSADJIAN, 1993) definiram a SMH não como

uma “doença”, mas como uma conseqüência do desenvolvimento, em vista desta entidade

resultar primariamente da imaturidade pulmonar por deficiência primária de surfactante.

O desenvolvimento anatômico pulmonar inicia-se na 15a semana de gestação e já na

21a semana aparecem os primeiros corpúsculos de inclusão citoplasmática em determinadas

células que revestem o epitélio alveolar. Entre a 22a a 24a semanas de gestação (feto com

cerca de 500g), as inclusões estão mais desenvolvidas e as células que as contêm vão se

diferenciando em células alveolares do tipo II. Da 25a a 26a semana (feto com cerca de 700g),

o amadurecimento anatômico e bioquímico pulmonar é cada vez mais acelerado, atingindo

um nível tal que torna possível a sobrevida extra-uterina. Da 27a a 28a semana de gestação

(feto com cerca de 900g), o feto já está bem preparado para respirar; as células alveolares,

maduras, do tipo II secretam ativamente o surfactante. Durante a 26a e a 30a semana, a

diferenciação de todos os tipos celulares, bem como o desenvolvimento bioquímico e o

amadurecimento de todas as partes das vias aéreas e parênquima pulmonar sofrem influência

1 GLUCK et al. Biochemical development of surface activity in mammalian lung IV pulmonary lecithin synthesis in the human and newborn and etiology of the respiratory distess syndrome. Pediatr. Rev., v. 6, p. 81-99, 1972

de substâncias hormonais (corticosteróides, tiroxina, prolactina). Entre a 30a e a 33a semana

de gestação inicia-se a formação dos alvéolos pulmonares, nesta ocasião, as paredes

alveolares estão formadas pelos capilares, células alveolares do tipo I e grande número de

células alveolares do tipo II. Da 34a a 36a semana de gestação, a verdadeira alveolação ocorre

num ritmo de amadurecimento progressivo e rápido (DINIZ, 1999).

Ao término da gestação o pulmão tem as paredes alveolares finas, constituídas por um

plexo de capilares com pouco tecido intersticial ao nível alveolar. As células alveolares do

tipo I estão estreitamente aderidas a parede epitelial do capilar e nas áreas de união entre estas

células (tipo I) observa-se a presença das células alveolares do tipo II, em cujo citoplasma

existe grande quantidade de corpúsculos de inclusão citoplasmática, local de produção e

armazenamento do material tensoativo surfactante, que se constitui numa das mais

importantes substâncias que responde pela função respiratória do RN (VAZ;

MANISSADJIAN, 1993).

A deficiência do surfactante é o principal fator na fisiopatologia da SMH. A

diminuição do surfactante alveolar resulta em aumento da tensão superficial e da força de

retração elástica, levando à instabilidade alveolar com formação de atelectasias progressivas

que determinam diminuição na complacência pulmonar e na capacidade residual funcional. A

atelectasia diminui a relação ventilação/perfusão, aumentando o shunt intrapulmonar, que leva

à hipoxemia, hipercapnia e acidose. Com hipoxemia e acidose ocorre, vasoconstrição,

hipoperfusão pulmonar, aumento da pressão nas artérias pulmonares e conseqüentemente

shunt extrapulmonar direito-esquerdo através do canal arterial e forâmen oval, com piora da

hipoxemia e acidose iniciais, estabelecendo-se assim um círculo vicioso (ALMEIDA;

KOPELMAN, 1994).

A deficiência do surfactante e o aumento do líquido intersticial e alveolar contribuem

significativamente para a gravidade da SMH. O aumento do líquido pulmonar na SMH

decorre da maior permeabilidade do epitélio alveolar e endotelial, da diminuição da

quantidade de surfactante alveolar, da persistência do canal arterial com shunt esquerdo-

direito e da menor pressão oncótica pela hipoproteinemia. Além de piorar a complacência

pulmonar, o líquido e em especial as proteínas intra-alveolares, deslocam o surfactante da

superfície alveolar, reduzindo ainda mais a quantidade do surfactante ativo (ALMEIDA;

KOPELMAN, 1994).

A deficiência de surfactante ao nascimento constitui o fator precipitante para a SMH,

embora outros fatores de má adaptação fisiológica ou do desenvolvimento interajam para

produzir e agravar a SMH. A adaptação imediata do pulmão fetal, cheio de líquido, ao

nascimento depende do gradiente de pressão transpulmonar gerado pelos músculos

respiratórios, das propriedades físicas do líquido pulmonar, da estrutura de barreira ar-sangue

e da perfusão pulmonar (DINIZ, 1999).

No RN de muito baixo peso, o fosfatidilglicerol está virtualmente ausente, começando

a aparecer tardiamente na gestação e aumentando no período neonatal, com concomitante

diminuição do fosfatidilinosito. No RN a termo, virtualmente, todo o surfactante está na

forma de lamelar e com a respiração, a mielina tubular e formas vesiculares aumentam em

porcentagem comparável à do adulto (DINIZ, 1999).

A SMH proporciona um trabalho respiratório que pode ser seis vezes maior que o

normal, com necessidade de altas concentrações de oxigênio no ar inspirado (hipoxemia

geralmente irreversível), aumentando a produção de gás carbônico (CO2), cansaço rápido e

causando apnéias bruscas (CUELLO; AQUIM; MASCIANTONIO, 1993)

No RN a dificuldade de respirar ao nascimento pode ser: resultado da elevada tensão

superficial do líquido pulmonar fetal, da musculatura frágil e do esforço respiratório fraco.

Além disso, a própria imaturidade estrutural dos pulmões permite a penetração de proteínas

plasmáticas nos espaços aéreos. Perfusão vascular anormal do pulmão e má distribuição da

V/Q, com shunting sangüíneo extrapulmonar, contribuem para deteriorar as trocas gasosas.

Estas alterações são seguidas por uma resposta inflamatória, que pode afetar negativamente o

pulmão através de mecanismos complexos, incluindo liberação de leucotrienos, proteases e

aumento na formação de componentes da matriz extracelular (DINIZ, 1999).

Portanto, cada expiração do bebê pode causar atelectasias que necessitam de um

grande esforço para criar um volume corrente adequado, desta forma, o pulmão do neonato

pode ter uma ventilação irregular, portanto, existem áreas hiperventiladas em contraposição

com áreas hipoventiladas (CUELLO; AQUIM; MASCIANTONIO, 1993).

O surfactante previne atelectasias e edema, devido a diminuição da tensão superficial

na interface ar-líquido alveolar; com isto, melhoram as trocas gasosas e diminui o trabalho

respiratório, tendo ainda ação lubrificante, protegendo as vias aéreas e promovendo o

transporte mucociliar (DINIZ, 1999).

A deficiência de surfactante pulmonar, quer seja primária, ou secundária, conduz a

uma série de eventos caracterizados por um aumento da tensão superficial. A atelectasia

alveolar progressiva com shunt intrapulmonar direito-esquerdo, hipoxemia, hipercapnia e

acidose respiratória e metabólica contribuem para: vasoconstrição do leito sangüíneo

pulmonar; aumento da resistência vascular pulmonar; hipoperfusão pulmonar e hipotensão

sistêmica com shunt direito-esquerdo, através do forâmen oval e do canal arterial, também a

hipoxemia e a hipoperfusão pulmonar originam lesão do epitélio alveolar, aumentando a

permeabilidade dos capilares, com edema intersticial e transudação de plasma ou sangue para

os espaços alveolares, resultando na clássica SMH (DINIZ, 1999).

2.4.3 Histologia

Na SMH observam-se as seguintes alterações histológicas: alvéolos uniformemente

colabados, ductos alveolares e bronquíolos terminais distendidos. Estas últimas estruturas

também estão trabeculadas, em suas faces internas, por uma camada de fibrina, a chamada

membrana hialina. Entretanto, esta membrana não se forma imediatamente após a instalação

do quadro de SMH; por isso, alguns RN, que morrem no primeiro ou segundo dia após o

nascimento, freqüentemente não mostram a formação das membranas hialinas nos alvéolos.

Acredita-se que ela resulte de extravasamento de proteínas dos capilares e células de

revestimento danificados dos ductos alveolares e bronquíolos terminais. Este dano

provavelmente é conseqüência da hipóxia grave encontrada nestes RN e naqueles pacientes

sob ventilação assistida, podendo ser agravada pela administração de altas concentrações de

oxigênio (QUINTAL; NAGAIASSU; TROSTER, 1997).

A presença de membranas hialinas, revestindo os alvéolos, não é específica da SMH e

pode ser vista em outras patologias, como aspiração de mecônio, displasia broncopulmonar e

pneumonia neonatal. Outro aspecto encontrado é a alteração da permeabilidade vascular com

conseqüente edema intersticial, o que ocasiona também uma dilatação no sistema de

drenagem linfática (QUINTAL; NAGAIASSU; TROSTER, 1997).

Os pulmões atelectásicos ficam com áreas dispersas adotando um aspecto semelhante

ao do tecido hepático, os bronquíolos terminais e os ductos alveolares ficam hiperdistendidos.

Aparece com freqüência a lesão do tecido epitelial, a congestão capilar e o enfisema

intersticial (CUELLO; AQUIM; MASCIANTONIO, 1993).

2.4.4 Diagnóstico Clínico

As manifestações clínicas na SMH são variáveis e parecem depender da idade

gestacional e portanto, da maturidade do RN (DINIZ, 1999). A predição antenatal da SMH

pode ser realizada pela avaliação da maturidade pulmonar fetal através da mensuração dos

fosfolipídeos no líquido amniótico pelo teste de Clements, relação lecitina/esfingomielina e

dosagem de dipalmitoilfosfatidilcolina e do fosfatidilglicerol e pela dosagem da proteína A

(MIYOSHI, 2001).

No RN com SMH característica, observa-se logo após o nascimento ou dentro de

poucas horas de vida os, sinais típicos da angústia respiratória neonatal. Porém, alguns RNs

podem apresentar-se com aparência saudável, rosada e apenas com taquipnéia leve, devendo-

se enfatizar que a observação contínua e o exame físico cuidadoso destas crianças são

imprescindíveis, pois evoluem, muitas vezes, para insuficiência respiratória grave, que seria

evitada com a terapêutica precoce (QUINTAL; NAGAIASSU; TROSTER, 1997).

Nos casos não complicados, a SMH “clássica” apresenta evolução clínica típica, onde

os sinais e sintomas de insuficiência respiratória iniciam-se precocemente, aparecendo em

geral logo após o nascimento. Nas horas seguintes observa-se uma piora progressiva do

desconforto respiratório, atingindo o pico por volta de 36 a 48 horas. Caso não ocorram

complicações, os sinais e sintomas regridem gradativamente após 72 horas, alcançando a

função respiratória normal por volta de 1 semana de vida (MIYOSHI, 2001).

A insuficiência respiratória tem um quadro típico com os seguintes sinais e sintomas:

taquipnéia, gemido expiratório, batimento de asa do nariz, retração de caixa torácica e cianose

principalmente nas extremidades. O gemido expiratório é o resultado da passagem forçada de

ar pelo fechamento parcial da glote durante a expiração, com a finalidade de reter o ar nos

espaços alveolares e manter a capacidade residual funcional, pode ser um sinal precoce na

evolução clínica e dependendo do prognóstico desaparece subseqüentemente. A freqüência

respiratória pode chegar de 30 a 60 movimentos respiratórios por minuto e a presença de

episódios de apnéia neste estágio inicial é um sinal de mau prognóstico, podendo refletir tanto

instabilidade térmica como sepse, mas freqüentemente é um sinal de hipoxemia e falência

respiratória (QUINTAL; NAGAIASSU; TROSTER, 1997).

Segundo Cuello; Aquim e Masciantonio (1993) o período crítico está presente dentro

dos 2-3 primeiros dias, quando a freqüência respiratória pode alcançar de 70 a 120

respirações/minuto; neste período observam-se também retrações dos arcos intercostais e

esternal.

Quando a insuficiência respiratória tem início precoce, imediatamente após o parto ou

nas primeiras 6 horas de vida, tipicamente ocorre uma piora rápida e progressiva, com

aumento das necessidades de oxigênio nas primeiras 48 horas de vida (SESA, 2002).

De acordo com Miyoshi (2001) nos casos de má evolução, os sinais clínicos se

acentuam com crises de apnéia e deterioração do estado hemodinâmico e metabólico. A

evolução da SMH pode ser quantificada pelo boletim de Silverman-Andersen (BSA)

demonstrado na Figura 1.

Figura 1 – Boletim de Silverman-Andersen

Fonte: ALMEIDA, M. F. B; KOPELMAN, B. I. Rotinas médicas, 1a ed. São Paulo: Atheneu, 1994. p. 56.

Os RNs geralmente apresentam alta pressão intratorácica para expandir o pulmão com

baixa complacência. Em poucas horas, as necessidades de oxigênio para manter a PaO2

arterial satisfatória aumentam e, cada vez mais, é requerido esforço físico da criança para

manter aberta as vias aéreas terminais, a medida que o volume alveolar na expiração final

diminui. De modo crescente, maiores pressões intrapleurais negativas são necessárias para

abrir os alvéolos e obter volumes satisfatórios para as trocas gasosas. Uma respiração

paradoxal característica é observada, refletindo má complacência do pulmão com

protuberância do abdome durante a inspiração (QUINTAL; NAGAIASSU; TROSTER,

1997).

Outros sinais clínicos geralmente observados são: a palidez, resultante de anemia ou

de vasoconstrição periférica; a cianose, a qual pode estar mascarada pela palidez, sendo uma

conseqüência do shunt direito-esquerdo, melhorando com a administração de altas

concentrações de oxigênio; e o murmúrio vesicular pode ser amplamente audível, o que nem

sempre reflete a condição patológica, pois nos casos moderados a graves pode estar

marcadamente diminuído, devido as atelectasias. A redução da ausculta pulmonar unilateral

(com a mudança do mediastino para o lado oposto) ou bilateral é indicativo de pneumotórax

(QUINTAL; NAGAIASSU; TROSTER, 1997).

A progressão do quadro clínico, se não for interrompida, conduz à falência respiratória

e ao óbito na maioria dos casos já nas primeiras 72 horas de vida (DINIZ, 1999).

2.4.5 Diagnóstico Radiológico

O aspecto radiológico típico da SMH é de retículo granular difuso (“vidro moído”)

distribuído uniformemente, com a presença de broncogramas aéreos e aumento da vasculatura

e do líquido pulmonar (ALMEIDA; KOPELMAN, 1994). Este aspecto clássico, de infiltrados

reticulogranulares, é a representação radiológica das vias aéreas distais atelectasiadas e está

presente nos RNs com SMH nas primeiras horas de vida. De modo que, uma radiografia de

tórax normal após 6 horas de vida, praticamente exclui a possibilidade diagnóstica da doença

(MIYOSHI, 2001).

De acordo com Cuello; Aquim e Masciantonio (1993) as radiografias de um RN com

SMH contém imagens reticulogranulosas, difusas, as quais se agrega uma opacidade fina em

ambos campos pulmonares, fornecendo a aparência de “vidro moído” e reticular (pulmão

esbranquiçado); diminuição do volume pulmonar com o diafragma elevado, aumento da

vasculatura pulmonar com broncogramas aéreos (brônquios ocupados por ar, com zonas

periféricas colapsadas), podendo-se observar que os poucos espaços alveolares que estão

funcionando se acham submergidos por uma grande quantidade de sangue.

Na SMH a granulação dos pulmões reflete a visualização dos bronquíolos terminais e

ductos alveolares distendidos, além da presença de atelectasia alveolar generalizada. Estas

vias aéreas terminais podem distender-se em graus variáveis e produzir padrões de aeração

consideravelmente diferentes. De fato, é apenas quando a distensão dos bronquíolos terminais

e ductos alveolares estão aprumados que a granulação típica é vista. Quando a distensão

diminui (fase expiratória final) a granulação desaparece e é substituída por uma opacidade

mais generalizada ou “brancura total”, e quando a distensão é aumentada (pelo próprio

gemido do neonato ou por ventilação assistida) a granulação tende à nodulação e, então, à

formação de pequenas bolhas. Devido a isso, as mudanças radiológicas em qualquer paciente

podem variar, na seqüência das radiografias, enquanto as condições clínicas do RN mostram

pequena ou nenhuma mudança (QUINTAL; NAGAIASSU; TROSTER, 1997).

Embora, já tenham sido feitas tentativas para se classificar a gravidade da SMH a

partir dos achados radiológicos, geralmente isto só pode ser conseguido de forma inexata,

sendo que, a classificação mais utilizada é a do Centro Latino Americano de Perinatologia

(Figura 2) (QUINTAL; NAGAIASSU; TROSTER, 1997).

Aspecto radiológico Grau I Grau II Grau III Grau IV

Microrretículo granulado

Pouco visível, mais periférico

Generalizado Intenso Muito intenso e generalizado

Broncograma Ausente ou, se presente, nunca fora da área cardíaca

Fora do contorno cardíaco

Extenso Extenso e marcado aéreo

Silhueta cardíaca Nítida Pouco Nítida Borrada Não é visualizada

Parênquima pulmonar

Translúcido Discretamente borrado

Escassa transparência

Opacidade completa

Figura 2 - Classificação da SMH, conforme aspecto radiológico

Fonte: QUINTAL, V. S; NAGAIASSU, M; TROSTER, E. J. Síndrome do desconforto respiratória (membrana hialina). Revista Pediatria Moderna, v. 33, n. 6, p. 358, jun. 1997.

2.4.6 Diagnóstico Diferencial

Dentre os diagnósticos diferenciais mais importantes para a SMH destacam-se as

pneumonias congênitas, em especial a pneumonia por estreptococos beta-hemolíticos do

grupo B; a taquipnéia transitória ou síndrome do pulmão úmido; as cardiopatias congênitas e

as malformações pulmonares (MIYOSHI, 2001).

Os RNs com pneumonias, apresentam precocemente um quadro clínico de

insuficiência respiratória de difícil diagnóstico diferencial com a SMH, caracterizada por

hipoxemia, hipotensão arterial e um grau variado de hipertensão pulmonar persistente. O

tratamento com penicilina deve ser iniciado o mais precoce possível além de assistência

ventilatória adequada (DINIZ, 1999).

A taquipnéia transitória do RN ou síndrome do pulmão úmido parece ser devida a uma

alteração reversível da absorção dos líquidos pulmonares pelo sistema linfático, ou a uma

transitória persistência da circulação fetal. Ela ocorre habitualmente em RN a termo, que não

necessita mais que 40 a 50% da fração inspirada de oxigênio (FiO2) para manter a pressão

parcial de oxigênio no sangue arterial (PaO2) e desaparece em geral nas primeiras 24 horas de

vida (DINIZ, 1999).

As cardiopatias congênitas cianóticas, podem manifestar-se de modo clinicamente

semelhante a SMH, porém estes RNs apresentam pouca alteração na PaO2 mesmo com

concentrações de oxigênio elevadas. O ecocardiograma bidimensional constitui um dos

melhores meios de estabelecer ou não o diagnóstico (QUINTAL; NAGAIASSU; TROSTER,

1997).

A persistência da circulação fetal é observada mais freqüentemente no RN a termo e

pós-termo. Caracteriza-se por hipertensão pulmonar, aumento da resistência vascular

pulmonar, shunt direito-esquerdo através do forâmen oval e do canal arterial em ausência de

doença pulmonar ou cardíaca estrutural (DINIZ, 1999).

A síndrome de aspiração meconial ocorre mais freqüentemente nos RNs a termo ou

pós-termo. As manifestações clínicas aparecem logo após o nascimento e o RN se apresenta

impregnado por mecônio, especialmente na pele, narinas e cordão umbilical. O grau de

hipoxemia normalmente é dependente da gravidade da doença, bem como de sua evolução

clínica (QUINTAL; NAGAIASSU; TROSTER, 1997).

2.5 MEDIDAS TERAPÊUTICAS

No momento em que se suspeita de SMH, o RN deve ser transferido imediatamente

para uma UTINeonatal, cuja infra-estrutura deve permitir perfeito acompanhamento clínico e

terapêutico (DINIZ, 1999).

O tratamento da SMH é dirigido no sentido de prevenir e reverter: atelectasia alveolar,

efeitos adversos de asfixia e má perfusão tecidual, infecção, barotrauma, edema, hemorragia

pulmonar, displasia broncopulmonar, insuficiência cardíaca congestiva, persistência de canal

arterial, hemorragia intracraniana, anemia, lesão da retina pelo oxigênio e outras

complicações potenciais que possam resultar de intervenções terapêuticas (QUINTAL;

NAGAIASSU; TROSTER, 1997).

A fisioterapia respiratória tem o intuito de manter a permeabilidade das vias aéreas,

procurando prevenir as complicações e melhorar a função respiratória nas doenças

pulmonares (MACCARI; ABREU; MIYOSHI, 2001).

As medidas terapêuticas visam, fundamentalmente, conservar uma boa oxigenação

(PaO2 > 50 mmHg), uma ventilação adequada (PaCO2 < 50 mmHg) e medidas gerais de

manutenção térmica, calórica e hídrica (DINIZ, 1999).

2.5.1 Fisioterapia Respiratória

O fisioterapeuta é um dos profissionais que integram a unidade de terapia intensiva

neonatal e deve estar capacitado a trabalhar com estes bebês, que possuem um ritmo próprio.

Portanto, deve-se evitar a manipulação intensa que leva a fadiga, à demanda excessiva de

oxigênio, ao estresse e desconforto, procurando dosar as técnicas e observar o tempo

empregado (ZANCAN, 2001).

Segundo Garcia e Nicolau (1996) o objetivo da fisioterapia é manter a permeabilidade

das vias aéreas, prevenindo as complicações e melhorando a função respiratória do RN. As

técnicas utilizadas ajudam a remover o acúmulo de secreção melhorando assim, a ventilação,

as trocas gasosas e o trabalho respiratório.

De uma forma genérica, as manobras fisioterapêuticas têm os seguintes objetivos:

otimizar o mecanismo de depuração mucociliar, detectando e corrigindo fatores que

interferem nesse processo; auxiliar no processo de depuração mucociliar, prevenindo o

acúmulo de secreções, minimizando as obstruções do trato respiratório e da cânula traqueal; e

prevenir e corrigir as complicações decorrentes do acúmulo de secreção pulmonar, como as

atelectasias, infecções e alterações da relação ventilação-perfusão (MACCARI; ABREU;

MIYOSHI, 2001).

Dentro do tratamento fisioterapêutico utilizado para a SMH, pode-se ressaltar os

seguintes procedimentos:

Posicionamento: um dos objetivos do posicionamento é a drenagem postural, que

consiste em posicionar o bebê, tendo como referência a estrutura da árvore traqueobrônquica.

A região afetada deve ser colocada em um ângulo, de tal forma que a ação da gravidade

provoque a drenagem das secreções dos brônquios de menor calibre para os de maior calibre,

para posterior eliminação através da tosse ou aspiração nasotraqueal. O procedimento tem o

objetivo de adequar a relação ventilação-perfusão e proporcionar melhores condições

biomecânicas ao segmento tóraco-abdominal (NOZAWA et al. 1996).

Os RNs gravemente enfermos são freqüentemente mantidos em posição supina pela

facilidade de colocação de monitores cardiorrespiratórios, coletores, manutenção do tubo

orotraqueal, enfim por facilitar a manipulação do paciente. Entretanto, esta posição não é

ideal em relação à oxigenação do RN por interferir na mecânica respiratória (OLIVEIRA;

RUGOLO, 1994).

Manobras de higiene brônquica: a vibração e a vibrocompressão consistem em

técnicas de oscilações intermitentes das mãos na parede torácica, durante a fase expiratória

associada com compressão vigorosa. Tem o objetivo de provocar o descolamento e o

deslocamento das secreções e o reflexo de tosse (NOZAWA et al. 1996). As manobras de

higiene brônquica são associadas, na grande maioria das vezes, a drenagem postural, as

manobras de expansão pulmonar e a exercícios respiratórios passivos (GARCIA; NICOLAU,

1996).

Terapia expiratória manual passiva (TEMP): esta técnica consiste na compressão

manual do tórax, empurrando o esterno para baixo no final da fase expiratória, promovendo

aceleração do fluxo aéreo expiratório, com isso há um maior deslocamento das secreções

traqueobrônquicas, facilitando a limpeza das vias aéreas e aumentando a ventilação pulmonar

(CHEHIM; ABREU, 2000).

Reequilíbrio tóraco-abdominal (RTA): o objetivo desta técnica é proporcionar um bom

padrão de respiração e desta forma, evitar situações de desconforto respiratório intenso como

a fadiga muscular respiratória. A técnica trabalha o aumento no fluxo aéreo e

conseqüentemente a desobstrução brônquica. Nos bebês é realizada de forma passiva, através

de massagens musculares, alongamento e fortalecimento dos músculos respiratórios,

facilitação e fortalecimento do diafragma e estimulação tátil e propriocepção ao nível do

tronco (LIMA, 1997).

Hiperinsuflação com ambú: consiste na insuflação dos pulmões através do

ressuscitador manual ligado à rede de oxigênio, pode-se usar com máscara facial ou com a

cânula nos pacientes entubados. Com o objetivo de aumentar a quantidade de ar inspirado

promovendo o deslocamento da secreção pulmonar (NOZAWA et al. 1996).

Aspiração: é uma técnica que consiste na retirada de secreções das vias aéreas, por via

nasal, traqueal ou orotraqueal, através de uma pressão negativa (vácuo), que é utilizada

quando o paciente por si só não consegue eliminá-las. Introduz-se o cateter delicadamente

pela via de acesso disponível e sempre que possível deve-se atingir a traquéia. Quando a

aspiração for realizada via nasal a cabeça do bebê deve permanecer em hiperextensão e a

língua protusa. Administra-se oxigênio umidificado antes, durante e após o uso da técnica.

Este procedimento deve ser realizado com a máxima eficácia e no menor período de tempo, a

fim de evitar o risco de hipóxia (NOZAWA et al. 1996). Em condições normais o reflexo da

tosse é o mecanismo mais importante na remoção de secreções do trato respiratório proximal.

Em neonatos, particularmente, entre os prematuros em ventilação mecânica, tal reflexo pode

estar deficiente ou ausente, o que torna a aspiração um procedimento muitas vezes necessário

para manter as vias aéreas limpas.

2.5.2 Cuidados Gerais

Manter o RN em ambiente térmico neutro (36,5 oC), no sentido de reduzir o consumo

de oxigênio e a produção de gás carbônico. Para isso pode ser utilizado a incubadora ou o

berço de calor irradiante com monitores acoplados (DINIZ, 1999).

Restringir a oferta hídrica para 50 a 70 ml/Kg/dia nas primeiras 48 horas e, nos dias

subseqüentes, manter entre 100 e 150 ml/Kg/dia, procurando ajustá-la para manter o débito

urinário acima de 1 ml/Kg/h, a pressão arterial média entre 30 e 50 mmHg, o hematócrito por

volta de 40% e o sódio sérico entre 135 e 145 mEq/l. Procurar afastar o processo infeccioso

através da avaliação de leucogramas, proteína-C reativa e hemoculturas seriadas. Se o

concepto foi exposto a uma situação de risco infeccioso (corioamnionite, amniorrexe

prolongada, infecção materna, etc.), exames laboratoriais alterados ou algum sinal clínico

sugestivo de sepse, introduzir antibioticoterapia sistêmica (penicilina + aminoglicosídeo).

Após 72 horas, reavaliar a necessidade ou não da continuidade da antibioticoterapia

(MIYOSHI, 2001).

Manter jejum oral, com velocidade de infusão de glicose de 4-6 mg/Kg/min, com

controle de glicemia capilar e glicosúria. Introduzir sódio (3-5 mEq/Kg/dia) após a primeira

diurese e potássio (1-2 mEq/Kg/dia), após o terceiro dia de vida. Iniciar o mais precocemente

possível a alimentação enteral e, na impossibilidade desta, introduzir nutrição parenteral, após

72 horas de jejum e em condições hemodinâmicas estáveis (ALMEIDA; KOPELMAN,

1994).

2.5.3 Oxigenoterapia

O oxigênio exerce funções essenciais ao nível celular, como a produção de adenosina

trifosfato (ATP), a síntese de substâncias como as catecolaminas e a produção de radicais

livres de O2 para os mecanismos de defesa (LUZ; PEREIRA, 2002).

Apesar do oxigênio constituir-se de um elemento de maior importância no tratamento

da insuficiência respiratória, seu uso deve ser cauteloso a fim de se evitar a toxicidade sobre a

retina e o pulmão do RN (DINIZ, 1999).

Oferecer oxigênio umidificado, aquecido e com FiO2 (fração inspirada de oxigênio)

sempre conhecida, através do oxímetro ou pelo namograma oxigênio/ar. Após a sua instalação

é fundamental a monitorização dos gases sangüíneos, seja por punções arteriais intermitentes,

cateter arterial umbilical ou monitores não invasivos. Na fase aguda da SMH (primeiras 72

horas) é indicado manter os seguintes parâmetros: pH de 7,25 a 7,45, pO2 de 50 a 70 mmHg,

pCO2 de 40 a 50 mmHg e saturação de O2 (SaO2) de 90 a 93% (ALMEIDA; KOPELMAN,

1994).

As diferentes técnicas de oxigênoterapia incluem: campânula ou capacete, cânula

nasal, máscara facial, peça nasal moldada (pronga) e tubo endotraqueal. A campânula é a

forma mais simples de oferecer um ambiente enriquecido de oxigênio para um neonato que

respira espontaneamente. Misturadores e umidificadores em cascata são os mais eficientes, e a

mistura de ar-oxigênio deve ser aquecida até a mesma temperatura do ar da incubadora. Se a

concentração de O2 for medida no ar umidificado, a FiO2 máxima será de 0,96, devido à

pressão parcial exercida pelo vapor de água. O fluxo de ar dentro da campânula deve ser pelo

menos três vezes maior que o volume-minuto do paciente, para evitar o fenômeno de

reinspiração do ar exalado. Na prática, um fluxo de 2 a 4 litros por minuto é satisfatório. A

cânula nasal é freqüentemente utilizada em pacientes com displasia broncopulmonar que

dependem de oxigênio. A máscara e o balão-inflável são utilizados apenas em manobras de

reanimação (LUZ; PEREIRA, 2002).

2.5.4 Pressão Positiva Contínua nas Vias Aéreas (CPAP)

A pressão positiva contínua nas vias aéreas é definida como uma aplicação de pressão

positiva nas vias aéreas durante todo o ciclo respiratório. A pressão de distensão é oferecida

na expiração, favorecendo estabilidade pulmonar. Como a pressão produz distensão

pulmonar, também é conhecida como pressão de distensão contínua. Esta pressão não tem

efeito de distensão durante a inspiração, pois a pressão inspiratória é maior (QUINTAL;

NAGAIASSU; TROSTER, 1997).

A aplicação da CPAP para o tratamento da SMH foi usada em RNs pela primeira vez

no ano de 1971 por Gregory et al. A CPAP era administrado através de cânula endotraqueal

ou de uma câmara pressurizada em torno da cabeça do paciente. Com o tempo, outros

dispositivos para a administração da CPAP foram desenvolvidos: câmara pressurizada para a

face, máscara capaz de ventilar boca e narinas, dispositivos nasofaríngeos e nasais (REGO;

MARTINEZ, 2000).

A CPAP é um modo de respiração espontânea no qual é mantida uma pressão contínua

nas vias aéreas, durante todo o ciclo respiratório. O padrão respiratório, pico de fluxo e

volume corrente de cada respiração são determinados exclusivamente pelo paciente

(CARVALHO, 1998).

Recomenda-se seu uso precoce para prevenir o colapso dos alvéolos ainda abertos e

melhorar a conservação da função do surfactante alveolar, o que leva à necessidade de menor

suporte ventilatório no curso da doença. Baseado neste fato, a CPAP é largamente utilizada no

tratamento de RNs com SMH. No entanto, ainda não há um consenso quanto a melhor época

para sua administração. Estudos controlados mostram que o uso profilático da CPAP quando

comparado com o halo reduz a mortalidade e a necessidade de ventilação mecânica, porém,

aumenta a incidência de pneumotórax. A aplicação da CPAP através de dispositivos nasais

não-invasivos e com configuração mais apropriada ao RN é baseada em estudos de

observação não randomizados. Além disso, alguns autores defendem a tese do uso profilático

da CPAP associado à terapêutica de reposição do surfactante exógeno, com o objetivo de

diminuir a lesão pulmonar provocada pelo respirador (MIYOSHI, 2001).

Indica-se a aplicação da CPAP através do prong nasal, com pressão inicial de 5

cmH2O (máximo de 12 cm H2O) e fluxo de 8-12 l/min. Usar a ventilação mecânica, se a

pO2<50 mmHg em FiO2 de 100% e pressão entre 10-12 cmH2O, apnéias recorrentes ou

acidose (pH<7,20). Fazer o desmame de acordo com a pO2, reduzindo inicialmente a FiO2 até

40% e posteriormente a pressão de 1-2 cm H2O por vez. Retirar a CPAP quando a pressão

estiver entre 2-3 cmH2O e FiO2 de 40%. Após a retirada da CPAP colocar o RN em halo com

concentração de O2 10% acima da anteriormente usada (ALMEIDA; KOPELMAN, 1994).

A CPAP é freqüentemente utilizada em períodos pós-extubação. O raciocínio para a

utilização desta modalidade baseia-se no fato de que, ao extubar-se um RN as cordas vocais

por algum tempo permanecem separadas, impedindo a manutenção da pressão positiva

fisiológica que auxilia na manutenção da expansão pulmonar, o reflexo de tosse está

prejudicado e a secreção traqueobrônquica está aumentada. Assim, existe o risco de o RN,

principalmente se for prematuro, desenvolver desconforto respiratório, atelectasias e apnéias

após a retirada da sonda endotraqueal. A eficácia da CPAP nasal pós-extubação depende do

nível de pressão criada pela CPAP, pois, nos estudos em que foi usada pressão inferior a 5

cmH2O não houve diferença entre o uso do CPAP nasal ou halo de O2 (REGO; MARTINEZ,

2000).

Segundo Lopez (2000) a CPAP é uma técnica fácil de utilizar, não ocasiona

complicações importantes e tem baixo custo, além de prevenir reintubações. A CPAP nasal é

uma tecnologia recentemente introduzida no cuidado neonatal que comprovadamente melhora

o prognóstico respiratório na medida em que diminui o tempo de entubação traqueal e a

agressão broncopulmonar.

2.5.5 Ventilação Mecânica

De acordo com Greenough (2002), na última década a ventilação mecânica teve uma

série de avanços, e várias modalidades são utilizadas para o suporte ventilatório do neonato.

Porém, deve-se usá-la somente na prática clínica de rotina, ou quando a sua eficácia já foi

comprovada através de estudos confiáveis.

Na ventilação mecânica do RN pré-termo com SMH, mesmo com uso do surfactante, a

Pressão Positiva no Final da Expiração (PEEP) é largamente usada para prevenir o colapso

alveolar, manter a CRF e melhorar a oxigenação. A PEEP refere-se à manutenção de uma

pressão positiva na via aérea durante a expiração, associada a uma ventilação mecânica

intermitente com pressão positiva. Isto resulta em uma melhor distribuição da ventilação em

regiões com uma baixa relação V/Q dos pulmões e em um melhor equilíbrio V/Q. Portanto, a

PEEP tem uma importância primária na melhora da oxigenação, na diminuição da

necessidade de altas concentrações de O2 inspirado, aumento da CRF e melhora da

complacência respiratória total nos casos de doenças associadas com o decréscimo do volume

residual e da complacência (CONSOLO; PALHARES; CONSOLO, 2002).

A indicação da assistência ventilatória no RN com SMH é feita seguindo os critérios

clínicos e a gasometria demonstrando PaO2 menor que 50 mmHg (com FiO2 de 0,7), pCO2

acima de 65 mmHg e acidose metabólica. Alguns parâmetros utilizados no tratamento da

SMH são: 1) o fluxo deve ser o mínimo necessário para manter um bom fluxo contínuo,

removendo o CO2 acumulado no circuito, procurando-se iniciar com um fluxo de 2,5 a 3

vezes o volume minuto do RN; 2) a FiO2 deve ser ajustada de acordo com a gasometria para

manter uma PaO2 mínima de 50 mmHg; 3) a freqüência respiratória é iniciada arbitrariamente

com 30 ipm (incursões por minuto), ajustando-a de acordo com a gasometria, para manter

uma PaCO2 máxima de 60 mmHg; 4) o limite de tempo respiratório é fixado em 0,6 s para

freqüência de até 40 ipm; 5) e a pressão inspiratória deve ser ajustada de acordo com a

expansão da caixa torácica e boa entrada de ar, estando limitada de início a um máximo de 30

cmH2O e a PEEP é normalmente ajustada em 5 cmH2O (CABRAL, 1991).

A estratégia ventilatória ideal para SMH deve ser maximizar a oxigenação, com o

mínimo de exposição possível ao oxigênio e aos altos níveis de suporte de pressão, através da

otimização da capacidade residual funcional e da ventilação. Miyoshi (2001) sugere os

seguintes princípios como estratégia ventilatória para proteção pulmonar: procurar

individualizar a estratégia ventilatória; utilizar o menor pico de pressão possível; limitar o

tempo de uso de FiO2 acima de 0,60; usar a PEEP e prevenir a ocorrência da auto-PEEP;

aceitar a acidose respiratória na fase aguda da doença – “hipercapnia permissiva”; não

retardar o início da retirada do respirador e procurar utilizar terapias auxiliares, como

corticosteróide antenatal e o surfactante exógeno.

Para Carvalho (1998) no início da ventilação pulmonar mecânica devem ser avaliados

um suporte ventilatório ótimo para uma determinada condição clínica e as necessidades

específicas do paciente.

Os modos de ventilação habitualmente utilizados na SMH incluem ventilação

assistida-controlada (VAC), ventilação mandatória intermitente (IMV), ventilação mandatória

intermitente sincronizada (SIMV), ventilação com suporte de pressão (VSP) e ventilação de

alta freqüência (VAF).

A VAC é um modo combinado de ciclagem, no qual o aparelho fornece ventilações

assistidas com volume corrente ou pressão e tempo inspiratórios predeterminados, em

resposta ao esforço respiratório iniciado pelo paciente. Se, no entanto, o neonato não realiza

esforço inspiratório em um determinado período de tempo pré-estabelecido, o aparelho

fornece ventilações mecânicas controladas na freqüência predeterminada. Portanto, nesse

modo de ventilação sincronizada, todas as ventilações espontâneas são assistidas. A princípio,

é o paciente que determina a freqüência, mas, se a freqüência do paciente cai abaixo da

“freqüência do apoio”, o aparelho realiza a ventilação controlada até que a freqüência do

paciente supere a “freqüência de apoio”. Pré-determina-se o fluxo, a FiO2, a pressão

inspiratória, a PEEP, o tempo inspiratório, a “freqüência de apoio” e a sensibilidade do

mecanismo de “disparo” da válvula de ciclagem do aparelho (MIYOSHI, 2001).

Segundo Carvalho (1998) pode-se dizer que a IMV é um suporte ventilatório que usa

um sistema de fluxo contínuo, desta forma o paciente pode respirar espontaneamente e, ainda,

receber um número de respirações mecânicas com um volume corrente e uma freqüência pré-

determinadas.

A SIMV é uma modificação técnica da IMV tradicional, na qual o aparelho libera as

ventilações assistidas, na freqüência predeterminada, imediatamente após o início do esforço

inspiratório espontâneo do paciente. Se, no entanto, o esforço respiratório não é detectado

dentro de um certo tempo preestabelecido, o aparelho fornece ventilações mecânicas

controladas na freqüência predeterminada. Portanto, ao contrário da VAC, nesse modo de

ventilação sincronizada as ventilações mecânicas e a pressão positiva são intercaladas com as

respirações espontâneas. Pré-determina-se o fluxo, a FiO2, a pressão inspiratória, a PEEP, o

tempo inspiratório, a freqüência respiratória do aparelho e a sensibilidade do mecanismo de

“disparo” da válvula de ciclagem do aparelho (MIYOSHI, 2001).

A VSP é uma forma de suporte ventilatório mecânico que auxilia o paciente durante a

respiração espontânea, diminuindo o esforço respiratório espontâneo durante a fase

inspiratória, quando o aparelho fornece uma determinada pressão positiva, previamente

estabelecida (pico de pressão inspiratória). Para que se desencadeie um ciclo respiratório há

necessidade de o paciente gerar uma pressão negativa. Isto determina a abertura de uma

válvula de demanda, que irá produzir um fluxo desacelerante. A abertura da válvula de

demanda vai depender da sensibilidade programada para o “disparo” do aparelho, sendo o

suporte de pressão fornecido apenas na fase inspiratória do ciclo. A fase inspiratória se

encerra quando o fluxo de gás estiver menor do que 25% do pico de fluxo, iniciando-se então

a fase de expiração, com a abertura da válvula de demanda. Sua utilização clínica está baseada

no conceito de que a mecânica respiratória exposta acima determina um menor trabalho

respiratório, uma sobrecarga muscular menor, diminuindo assim a possibilidade de fadiga. É

um modo de ventilação controlada pelo paciente ainda pouco utilizada no período neonatal.

Este método de ventilação parece ser útil na fase de retirada do paciente da ventilação

pulmonar mecânica (MIYOSHI, 2001).

Embora a ventilação mecânica convencional tenha contribuído decisivamente para a

redução da mortalidade dos RNs com SMH, em cerca de 20 a 40% dos neonatos ventilados

observam-se complicações, como síndrome de escape de ar e a displasia broncopulmonar. Na

tentativa de reduzir a mortalidade relacionada com a ventilação e com a própria

prematuridade surgiu a VAF, uma técnica ventilatória que emprega volumes correntes

menores e freqüências mais elevadas do que as técnicas convencionais. São descritas três

formas de VAF: ventilação à jato de alta freqüência, ventilação oscilatória de alta freqüência e

ventilação por interrupção do fluxo. Estas estratégias utilizam freqüências respiratórias de 4

Hz (1 Hz = 60 ciclos/minuto) ou mais para manter as trocas gasosas em volumes correntes

iguais ou menores que os do espaço morto anatômico (MIYOSHI, 2001).

2.5.6 Surfactante Exógeno

As primeiras tentativas de reposição do surfactante exógeno em neonatos humanos

surgiram na década de 60, após o relato de que a deficiência da substância tensoativa seria o

principal fator na patogenia da SMH. Tais estudos utilizaram a fosfatidilcolina saturada sob a

forma de aerossol e não conseguiram demonstrar efeitos benéficos na evolução desses

pacientes. Após o fracasso dessas primeiras experiências, as pesquisas encaminharam-se para

o intento de compreender melhor os vários aspectos do metabolismo do surfactante pulmonar

endógeno e de estabelecer modelos experimentais de deficiência da substância tensoativa,

antes de viabilizar na prática clínica, a terapêutica de reposição do surfactante em RNs com

SMH. Em 1980, Fujiwara et al. relataram pela primeira vez uma experiência positiva do uso

do surfactante exógeno em humanos. A partir dessa observação, uma série de estudos não

controlados, utilizando vários tipos de formulações, demonstraram aparentemente a melhora

na função pulmonar com a reposição da substância tensoativa em neonatos com SMH

(MIYOSHI, 2001).

Desde que se iniciou, a cerca de duas décadas, a introdução do surfactante exógeno no

tratamento da SMH, foram beneficiados centenas de neonatos. A administração do surfactante

foi um dos fatores mais importantes no sucesso do tratamento da SMH, reduzindo de forma

significativa o índice de mortalidade neonatal (CURLEY; HALLIDAY, 2001).

Os tipos de surfactante utilizados nos vários ensaios clínicos controlados em humanos

e em modelos experimentais podem ser divididos em dois grandes grupos: os produtos

contendo componentes do surfactante endógeno de pulmão animal e os preparados sintéticos

(MIYOSHI; KOPELMAN, 2001).

Os surfactantes derivados de animais são denominados de surfactantes naturais,

contêm as proteínas B e C (não contendo a proteína A) e são extratos lipídios ou lavados de

pulmões de animais, porcino e bovino. Surfactantes naturais modificados são essencialmente

extratos lipídicos de pulmão suplementado com fosfolípide ou outros componentes

(REBELLO; DINIZ2 2000 apud CHEHIM; ABREU, 2000).

O surfactante de origem humana é isolado do líquido amniótico de fetos a termo,

contém as proteínas A, B e C, porém, é pouco usado. Alguns surfactantes sintéticos foram

desenvolvidos contendo apenas dipalmitoilfosfatidilcolina e outros componentes não

protéicos, no sentido de aumentar a superfície de absorção (CHEHIM; ABREU, 2000).

Os surfactantes naturais geralmente têm uma ação inicial mais rápida que os

surfactantes sintéticos, embora os resultados disponíveis de estudos multicêntricos

comparando surfactantes naturais e sintéticos mostrem poucas diferenças clinicamente

significativas (REBELO; DINIZ2 2000 apud CHEHIM; ABREU, 2000).

2 REBELLO. M. C. & DINIZ, E. M. A.. Surfactante pulmonar: composição, função e metabolismo. Ver. Pediatria Moderna (ed especial) p. 12-6. são Paulo, SP, 2000

2.6 PROGNÓSTICO

A SMH é uma patologia grave, com inúmeras complicações e elevada mortalidade.

Sem dúvida os recursos terapêuticos mais recentes, como a utilização do surfactante exógeno,

têm propiciado uma evolução melhor destes bebês, reduzindo a necessidade de suporte

ventilatório e exposição a elevadas concentrações de oxigênio por períodos prolongados.

Além disso, seu uso leva a uma redução significativa na incidência de pneumotórax e de

displasia broncopulmonar (QUINTAL; NAGAIASSU; TROSTER, 1997).

A sobrevida dos RNs está fundamentalmente relacionada à gravidade da SMH, idade

gestacional e utilização de técnicas terapêuticas adequadas (DINIZ, 1999).

3 METODOLOGIA

3.1 TIPO DE ESTUDO

Este é um estudo descritivo correlacional entre o estado físico (idade gestacional, sexo

e peso) de RNs, o prognóstico (complicações respiratórias e mortalidade) e a sua relação com

a aplicação do protocolo de fisioterapia respiratória para o tratamento de neonatos com SMH,

e permite registrar, analisar e interpretar quantitativamente estes dados.

3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA

A população que participou deste estudo foram os neonatos internados na

UTINeonatal do Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP). Esta unidade admite

para o tratamento RNs com diferentes patologias, procedentes principalmente do centro

obstétrico do próprio hospital e também de outros hospitais de Cascavel e região.

A amostra foi selecionada a partir dos pacientes internados na UTINeonatal no período

de setembro a outubro de 2002. Os critérios de inclusão foram: RNs com menos de 37

semanas de gestação, peso abaixo de 2.500g e com diagnóstico de SMH. Obteve-se uma

população de 39 RNs e uma amostra de 5 neonatos.

Os pacientes da amostra deveriam ter o diagnóstico confirmado de SMH através dos

sinais clínicos de taquicardia, cianose, batimento de asa de nariz, retração intercostal e gemido

expiratório. Estes fatores deveriam estar associados a uma gasometria anormal e a uma

radiografia de tórax compatível com a síndrome. Este diagnóstico eram realizado pela equipe

médica da UTINeonatal do HUOP.

3.3 INSTRUMENTOS UTILIZADOS

Utilizou-se como instrumento um protocolo de Fisioterapia Respiratória para o

tratamento de RNs com SMH. O protocolo aplicado nesta pesquisa foi elaborado baseando-se

no estudo realizado por Chehim e Abreu (2000).

O protocolo de tratamento fisioterapêutico foi aplicado diariamente, para um controle

eficaz cada paciente tinha uma ficha de acompanhamento (ANEXO A), que era composta de:

identificação, avaliação diária, conduta fisioterapêutica e evolução clínica.

Para se traçar o perfil do neonato foram coletados os seguintes dados na parte da

identificação: nome, idade gestacional, peso de nascimento, apgar, data de nascimento e sexo.

Estes dados foram colhidos do prontuário do paciente.

A avaliação diária foi realizada imediatamente antes e após a aplicação do protocolo.

Nesta avaliação foram anotados os seguintes parâmetros: SaO2, freqüência cardíaca (FC),

freqüência respiratória (FR) e ausculta pulmonar.

Técnicas de fisioterapia respiratória:

- Decúbito lateral: drenagem postural e/ou TEMP associados com vibração;

- Decúbito dorsal: RTA;

- Decúbito lateral contra-lateral: drenagem postural e/ou TEMP associados com vibração;

- Aspiração nasotraqueal ou traqueal realizada no final da sessão, conforme a necessidade;

- Ao término do atendimento posicionar o paciente para melhorar a saturação de O2, postura

mais fletida e simétrica preconizando uma diminuição do gasto energético.

Salienta-se que as técnicas de fisioterapia respiratória foram utilizadas de acordo com

o quadro clínico do RN. O paciente foi constantemente monitorado a fim de se obter um

controle eficaz do quadro imediato do paciente, cuidando-se desta forma para que a

terapêutica aplicada tivesse segurança.

Na evolução clínica foram observados: os parâmetros da ventilação mecânica, a

evolução clínica e a presença de complicações.

3.4 PROCEDIMENTOS PARA COLETA DE DADOS

Para a realização da pesquisa obteve-se, primeiramente, a permissão por parte da

direção do HUOP para a aplicação da mesma na UTINeonatal. A seguir encaminhou-se o

projeto para a comissão de ética da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)

obtendo-se um parecer positivo. Para a inclusão do RN na pesquisa foi assinado um termo de

consentimento, por parte dos pais e/ou responsável, onde foram esclarecidos os objetivos e as

demais dúvidas relacionadas ao estudo (ANEXO B).

Os dados de identificação e a evolução clínica foram colhidos do prontuário do

paciente, os parâmetros como a SaO2 e a FC foram obtidos do oxímetro de pulso, a FR foi

colhida através de sua contagem com o auxilio de um cronômetro e a ausculta pulmonar foi

obtida através do estetoscópio.

3.5 ANÁLISE DE DADOS

Os resultados deste estudo foram analisados mediante a aplicação do protocolo de

fisioterapia, as taxas de mortalidade e as complicações respiratórias relacionadas com as

seguintes variáveis: idade gestacional, peso e sexo. A apresentação dos dados foi feita em

tabelas e gráficos, interpretando-se as medidas.

4 RESULTADOS

Este trabalho foi realizado na UTINeonatal do HUOP, onde a amostra foi constituída

pelos neonatos com diagnóstico de SMH, perfazendo um com o total de cinco pacientes.

Durante o período de setembro a outubro de 2002 foram internados 39 RNs na

UTINeonatal do HUOP, destes, cinco (12,82%) obtiveram o diagnóstico clínico de SMH

(Tabela 1).

Tabela 1 – Pacientes internados na UTINeonatal do HOUP de setembro a outubro de 2002

A amostra possui cem por cento (100%) dos RNs do gênero masculino. Portanto, as

complicações e a mortalidade ocasionadas pela SMH foram encontradas somente neste gênero

(Figura 3).

0

1

2

3

4

5

Pac

ient

es

masculino feminino

Figura 3 – Distribuição da amostra quanto ao gênero.

Fonte: neonatos com SMH atendidos na UTINeonatal do HUOP (set/out, 2002)

Número de pacientes

Pacientes com diagnóstico de SMH 5

Demais pacientes 34

Total 39

Todos os pacientes da amostra utilizaram o surfactante exógeno, desta forma cem por

cento da amostra necessitou da ventilação mecânica, de modo que cada paciente permaneceu

em média 7,6 dias em ventilação mecânica.

A amostra estudada foi de 5 RNs, dos quais 3 (60%) obtiveram alta hospitalar e 2

(40%) faleceram (Figura 4). O tempo médio de tratamento foi de 7,4 sessões, com mínimo de

5 e máximo de 10 sessões.

40%

60%

óbitoalta

Figura 4 - Mortalidade dos neonatos com SMH durante a aplicação do protocolo de Fisioterapia Respiratória

Fonte: neonatos com SMH atendidos na UTINeonatal do HUOP (set/out, 2002)

Com respeito à idade gestacional apresentada na Tabela 2, o grupo teve uma média de

29,7 semanas de gestação, uma mediana de 29,5 e um desvio padrão de 1,75. De modo que

oitenta por cento (80%) da amostra era composta de bebês prematuros, com 31 semanas ou

menos de gestação.

Tabela 2 – Idade Gestacional

Como mostra a Tabela 3 estes RNs foram divididos em dois grupos, o primeiro inclui

os RNs de 26 a 31 semanas (4/5) e o segundo grupo é composto de RNs com mais de 31

semanas de gestação (1/5).

Tabela 3 – Relação entre mortalidade, complicações respiratórias e a idade gestacional

Complicações

Pneumonia

Respiratórias

Atelectasias

Mortalidade

26 a 31 semanas 2 1 2

Mais de 31 semanas 0 0 0

TOTAL 2 1 2

De acordo com os resultados encontrados pode-se observar que oitenta por cento

(80%) da população estudada estava no primeiro grupo (26 – 31), de modo que neste grupo

houve uma taxa de mortalidade de 50%, já no segundo grupo não houve óbito (Figura 5).

Análise estatística da Idade Gestacional Média 29,70 Mínimo Máximo Mediana Erro padrão

27,00 31,50 29,50 0,78

Desvio padrão 1,75 Soma 148,50 Nível de confiança (95,0%) 2,18

00.5

11.5

2

Paci

ente

s

alta óbito

26-31 sem.Mais de 31 sem.

Figura 5 – Taxas de mortalidade em relação à idade gestacional

Fonte: neonatos com SMH atendidos na UTINeonatal do HUOP (set/out, 2002)

As complicações respiratórias se restringiram aos pacientes do primeiro grupo, dos

quais dois (50%) tiveram pneumonia e um (25%) teve esta pneumonia associada com uma

atelectasia lobar (Figura 6).

0

0.5

1

1.5

2

Pac

ient

es

26 - 31 sem. Mais de 31 sem.

PneumoniaAtelectasia

Figura 6 – Complicações em relação à idade gestacional

Fonte: neonatos com SMH atendidos na UTINeonatal do HUOP

(set/out, 2002)

Como mostra a Tabela 4, os RNs que participaram do estudo tiveram uma média de

peso de 1344 gramas, uma mediana de 1260 gramas e um desvio padrão de 292,71.

Tabela 4 – Peso de Nascimento

Dois bebês (40%) foram considerados de muito baixo peso, um (20%) de muitíssimo

baixo peso e dois (40%) de baixo peso (Tabela 5).

Tabela 5 – Classificação do neonato de acordo com o peso de nascimento

Peso (gramas) Quantidade

Baixo peso 1500 a 2500 2 Muito baixo peso 1000 a 1500 2 Muitíssimo baixo peso Menos de 1000 1

De acordo com a Figura 7 pode-se relacionar o peso de nascimento com as

complicações respiratórias dos neonatos que participaram do estudo, desta forma observa-se

que as complicações respiratórias restringiram-se aos neonatos de 1000 a 1500 gramas,

considerados RNs de muito baixo peso.

Análise estatística do peso de nascimento Média 1344,00 Mínimo Máximo Mediana Erro padrão

980,00 1700,00 1260,00 130,90

Desvio padrão 292,71 Soma 6720,00 Nível de confiança (95,0%) 363,45

00.5

11.5

2

Pacie

ntes

até 1000 1000 a1500

mais de1500

PneumoniaAtelectasia

Figura 7 – Relação do peso de nascimento e as complicações respiratórias

Fonte: neonatos com SMH atendidos na UTINeonatal do HUOP (set/out, 2002)

Conforme a Figura 8 pode-se observar que a taxa de mortalidade da amostra foi maior

em RNs com peso menor que 1500 gramas.

0

0.5

1

1.5

2

Paci

ente

s

até 1000 1000 a 1500 mais de 1500

óbitoalta

Figura 8 – Relação entre o peso de nascimento e a taxa de mortalidade

Fonte: neonatos com SMH atendidos na UTINeonatal do HUOP (set/out, 2002)

5 DISCUSSÃO

Neste capítulo serão discutidos os resultados deste estudo, os quais foram apresentados

no capítulo anterior. Procurou-se explorar as relações existentes entre as variáveis estudadas e

os dados encontrados na literatura.

A SMH, mais do que um processo de doença, é um distúrbio do desenvolvimento,

geralmente associada com o nascimento prematuro, e apesar dos grandes avanços que

ocorreram para se entender a fisiopatologia da SMH, e o papel que o surfactante desempenha

permanece o problema clínico principal, sendo uma das mais comuns causas de mortalidade

em recém-nascidos pré-termo (CONSOLO; PALHARES; CONSOLO, 2002).

Durante o período deste estudo foram internados na UTINeonatal do HUOP 39

neonatos, de modo que, destes, cinco (12,82%), apresentaram o diagnóstico de SMH. Sendo

que tal resultado encontra-se de acordo com Quintal; Nagaiassu e Troster (1997) que mostram

em seu estudo de revisão bibliográfica uma incidência de 26% de SMH dentre os bebês que

nasceram prematuros.

A amostra investigada caracteriza-se como sendo constituída exclusivamente por

bebês do gênero masculino (100%) (Figura 3). Este índice não é confirmado pela literatura,

pois no estudo de Ecker et al. (1991) encontrou-se um número de 56% do gênero masculino e

44% do gênero feminino, mas pode-se inferir desta forma que existe uma prevalência do

gênero masculino para esta patologia. De acordo com Beer3(1998 apud DÍAZ et al. 2000) a

maior incidência e gravidade da SMH no gênero masculino estão relacionadas com as

pequenas quantidades de hormônios produzidas pelo feto masculino.

Quanto à idade gestacional, a amostra constitui-se de RNs prematuros, sendo a idade

gestacional de maior concentração de casos entre 26 a 31 semanas, com 80% (4/5) e os

demais 20% (1/5) eram neonatos com mais de 31 semanas de gestação (Figura 5). Segundo

Parker e Prasad (2002) a principal causa desta síndrome é a perda de surfactante no pulmão

imaturo, e quanto maior a prematuridade, maior a incidência da SMH.

De acordo com a análise dos resultados, verificou-se que em todos os RNs da amostra

foi utilizada a terapêutica com surfactante exógeno, sendo administrado por via tubo

orotraqueal. Segundo Trindade (1994) os prematuros que recebem surfactante são retirados do

aparelho de ventilação controlada mais precocemente, o que implica assistência mais

adequada e, teoricamente, menor possibilidade de apresentar complicações e adquirir

3 Beer MF. TGE betal inhibits surfactan component expresion and epitelial cell maturation in cultured human fetal lung. Am. J Physioly, v. 275, 1998.

infecções sistêmicas. Indiscutivelmente, a reposição com surfactante diminuiu a mortalidade

de prematuros com SMH.

Em todos os RNs da amostra foi utilizada a VM, sendo uma das indicações devido à

administração do surfactante exógeno. A análise dos resultados mostrou que o tempo médio

de uso foi de 7,6 dias. Lamy (1995) realizou um estudo mostrando que uma das principais

indicações para o uso da ventilação mecânica na UTINeonatal é a SMH, e que 51,4% dos

neonatos que necessitam do auxílio ventilatório mecânico vão a óbito.

Este fato leva a inferir que grande parte das complicações encontradas na amostra

podem ser em decorrência do uso da ventilação mecânica. Estando de acordo com um estudo

de Moretti et al. (1999) que associa a ventilação mecânica em prematuros a um grande

número de complicações pulmonares, e preconiza o desmame precoce reduzindo a morbidade

pulmonar e subseqüente mortalidade desta população. O que parece melhorar este prognóstico

são as estratégias ventilatórias com proteção pulmonar, descrita por Brunherotti; Vianna e

Silveira (2003) onde se recruta um volume pulmonar adequado, reduzindo assim, o

aparecimento de complicações respiratórias.

A análise dos resultados das complicações encontradas na amostra indicou que o

grupo de prematuros de 26 a 31 semanas de gestação apresentou o maior número de

complicações, sendo elas as pneumonias e atelectasias, entretanto, o grupo com mais de 31

semanas não apresentou complicações respiratórias. Resultados estes, diferentes dos

encontrados por Parker e Prasad (2002) que observaram como complicações: o pneumotórax,

a displasia broncopulmonar, as atelectasias e as pneumonias. Desta forma, pode-se verificar

que os RNs deste estudo tiveram um número menor de complicações do que o descrito pela

literatura.

Considerando-se estes resultados, pode-se sugerir que a intervenção fisioterapêutica

através de técnicas de higiene brônquica, diminuiu o acúmulo de secreção pulmonar e

melhorou a relação V/Q com a melhora do quadro respiratório o efeito do surfactante exógeno

é potencializado.

Conforme a análise (Figura 7) que relacionou o peso de nascimento com as

complicações respiratórias (pneumonias e atelectasias) pode-se observar que apenas os RNs

de muito baixo peso tiveram mais complicações respiratórias. Diaz et al. (2000) cita em seu

estudo que existe uma maior incidência de SMH em neonatos de muito baixo peso. Da mesma

forma, as taxas de mortalidade estão relacionadas com o peso de nascimento, podendo-se

observar na amostra deste estudo que os óbitos se restringiram aos grupos de muitíssimo

baixo peso e muito baixo peso, como mostrado na Figura 8.

Conforme a Figura 4 observou-se que 40% dos RNs selecionados para o estudo foram

a óbito. Um estudo de Poveda et al. (1990), com uma amostra de 87 RNs, encontrou uma taxa

de mortalidade de 59%, já o trabalho de Ecker et al. (1991), com amostra de 352 prematuros,

obteve uma taxa de mortalidade de 38,9%. Desta forma, pode-se inferir que os dados

encontrados neste estudo estão dentro das taxas descritas na literatura.

A partir destes achados observa-se a importância da inclusão da fisioterapia

respiratória no tratamento da SMH, portanto, pode-se observar que o protocolo aplicado neste

trabalho melhorou o quadro geral destes neonatos, com dois RNs sem complicações

respiratórias e três com alta da UTINeonatal. Observou-se também que o protocolo mostrou

sua eficiência quando aplicado junto às complicações decorrente da síndrome.

Com respeito a mortalidade, houveram dois casos, onde notou-se as seguintes

características: um era de peso muitíssimo baixo peso, um com 980 gramas e o outro de

muito baixo peso, com 1260 gramas, além disso, observou-se que um dos neonatos teve idade

gestacional de 27 semanas, sendo que a causa do óbito foi uma parada cardiorrespiratória.

A aplicação de um tratamento eficaz é muito importante para o tratamento da SMH.

Chehim e Abreu (2000) associaram a fisioterapia com a aplicação do surfactante exógeno,

criando um protocolo de tratamento fisioterapêutico para a SMH, e concluíram que seu

protocolo pareceu contribuir para a melhora clínica destes RNs. Desta forma pode-se observar

que 60% dos RNs que participaram desta pesquisa e que tiveram alta da UTINeonatal foram

beneficiados com a aplicação diária do protocolo de fisioterapia respiratória.

6 CONCLUSÕES

Através da análise dos resultados obtidos pela pesquisa e conforme os objetivos

propostos pelo estudo em neonatos com SMH, pode-se concluir que existe uma maior

incidência de complicações respiratórias em RNs com baixo peso de nascimento, com menor

idade gestacional, além de existir uma prevalência do gênero masculino, pode-se ainda

inferir que a aplicação da fisioterapia respiratória tem se mostrado bastante eficaz no

tratamento desta patologia.

Desta forma, neste estudo pode-se concluir que o protocolo de fisioterapia respiratória

elaborado e aplicado nos RNs com SMH da UTINeonatal do HUOP parece ser eficaz no

controle das complicações respiratórias, que comumente acompanham a SMH, obtendo-se um

prognóstico favorável para estes neonatos.

Vale lembrar que os estudos na área da fisioterapia respiratória neonatal são escassos,

portanto, sugere-se que novos estudos na área da fisioterapia respiratória neonatal sejam feitos

com o objetivo de melhorar o atendimento e o prognóstico destes RNs.

Sugere-se que novos estudos sejam realizados, utilizando-se um número maior de

pacientes e um tempo de aplicação prolongado, para se confirmar os resultados encontrados e

validar os benefícios da fisioterapia respiratória neonatal.

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ANEXO A

FICHA DE ACOMPANHAMENTO

1. Identificação No Prontuário: Reg.

Nome: Idade Gestacional:

Peso: Data de nascimento:

Leito: Sexo: Data da Internação:

Apgar: Data da alta da UTIN:

2. Avaliação:

Data Sat O2 I Sat O2 F FC I FC F FR I FR F AP I AP F

3. Conduta Realizada:

4. Evolução Clínica:

ANEXO B

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIMENTO

Nome da Pesquisa: Analise do uso de um protocolo de tratamento de Fisioterapia Respiratória em neonatos com Síndrome da Membrana Hialina Pesquisador Responsável: Maicon Fernando Eger Orientadora Responsável: Marilú Mattei Martins

O presente projeto de pesquisa compreende uma proposta de se fazer um estudo de análise da aplicação de um tratamento de Fisioterapia Respiratória em pacientes com SMH, objetivando um melhor prognóstico e diminuir desta forma as complicações respiratórias destes pacientes. Sua participação será muito importante para a realização da pesquisa e do trabalho de conclusão de curso. Assinatura do Pesquisador:____________________________ Assinatura da Orientadora:_____________________________ Tendo recebido as informações anteriores e, esclarecimento dos meus direitos relacionados a seguir, declaro estar ciente do exposto e desejar participar da pesquisa 1. A garantia de receber a resposta a qualquer pergunta ou esclarecimento a dúvidas sobre os procedimentos, riscos, benefícios e outros relacionados com a pesquisa; 2. A liberdade de retirar meu consentimento a qualquer momento e deixar de de participar do estudo; 3. A segurança de que não serei identificado e que será mantido o caráter confidencial das informações relacionadas a minha privacidade; 4. Compromisso de me proporcionar informação atualizada durante o estudo, ainda que possa afetar minha vontade de continuar participando; 5. A certeza de receber o melhor tratamento dentro das condições da clínica e do pesquisador durante o trabalho de pesquisa. Em seguida assino meu consentimento.

Cascavel, ___/___/___ Nome (paciente):_____________________________________________________ Nome (pai ou responsável):_____________________________________________ RG:______________________ Assinatura: ________________________________