Inclusao Construindo Uma Sociedade Para Todos

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    2A inclusao

    no mercado de trabalhoNos trabalhamos porque precisamos do dinheiropara sobreviver. Mas tambem trabalhamos porqueisso cont ribui para a nossa dignidade, 0 nossovalor como pessoas. 0 trabalho nos dd maiscontrole sobre nossa vida enos conecta com asoutras pessoas. Sinto-me realmente privi legiadoem ser remunerado pelo que "adoro fazer. Todasociedade que exclui pessoas do trabalho parqualquer motivo - sua deficiencia ou sua cor ouseu genero - estd destruindo a esperanca eignorando talentos. Sefirermos isso, colocaremosem risco todo 0 futuro. Robert White(MacFadden, 1994)

    Batalhas numa pagina da historiao mercado de trabalho, no passado, pode ser comparado a

    11m campo de batalha: de urn lado, as pessoas com deficiencia eSl:lIS aliados empenhando-se arduamente para conseguir algunsempregos; e de outro, os empregadores, praticamenteIcspreparados e desinformados sobre a questao da deficiencia,IITebendo ataques furiosos por nao preencherem as vagas comIuulidatos portadores de deficiencia tao qualificados quanta osIurdidatos nao-deficientes.

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    Naturalmente, esta COtnpara

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    2. Pessoas deficientes, ap6s selecao, sao colocadas emorgaos publicos ou empresas particulares queconcordam em fazer pequenas adaptacoes nos postos detrabalho, por motivos praticos e nao necessariamentepela causa da integracao social. A esta forma pode-setambem dar 0 nome de "trabalho integrado:' algumaalteracao no ambiente" (Amaral, 1993, p. 4-5).

    3. Pessoas deficientes trabalham em empresas que. ascolocam em setores exclusivos, portanto segregativos,com ou sem modificacoes, de preferencia afastados docontato com 0 publico. Para Amaral (1993, p. 4-5), estaforma chama-se "trabalho semi-integrado: mesmo localmas em diferente forca de trabalho - alteracaosignificativa".

    Em todas essas formas de integracao, pode ocorrer que osempregados ou funcionarios com deficiencia dificilmente sejamenvolvidos em programas de desenvolvimento de recursoshumanos e/ou promovidos, seja por motivos de inacessibilidadeambiental seja por ignorancia da organizacao. Pode tambemacontecer que nao haja nas empresas um clima favoravel ainteracao social, em particular com os empregados portadores dedeficiencia. "Muitas pessoas deficientes estao cercadas por outraspessoas que nao reconhecem 0 que fazem como trabalho. Em ummundo no qual 0 emprego remunerado para todos nem sempre epossivel, e importante que a contribuicao das pessoas deficientesseja reconhecida ." (Westmacott, 1996).

    Por outro lado, 0 percentual de pessoas deficientes emidade econornicamente ativa que estao fora da forca de trabalho eduas vezes superior ao das pessoas sem deficiencia, embora todastenham 0 mesmo direito de trabalhar. No entanto, do ponto devista dos direitos, esse percentual precisaria ser 0 mesmo paraambos os grupos. Como afirma a jomalista Ana Maria MoralesCrespo (1995), "sem diivida, parece quase ut6pico falar no direito62

    ao trabalho das pessoas deficientes, num pais com milhoes de nao-deficientes desempregados. No entanto, a verdade e que, seconsiderarmos os deficientes como cidadaos tao de primeira c1assequanto qualquer outro, nao podemos nos intimidar com a tristerealidade do desemprego atual no Pais".

    Um estudo mostra que no Canada, de cada 100 pessoasque nao sao deficientes, 70 estao trabalhando, enquanto que, decada 100 pessoas com deficiencia, 40 estao trabalhando(MacFadden, 1994, p. 3). Estes dados mostram que mesmo em umpais desenvolvido a taxa de desemprego das pessoas c~mdeficiencia e quase duas vezes maior do que a das pessoas nao-deficientes.

    Em palestra sobre obstaculos ao emprego de pes~~as ~omdeficiencia, Scher (1987), Gerente de Services de Reabilitacao eColocacao Seletiva da Sears, nos EUA, relacionou apenas qua~robarreiras serias que precis am ser removidas: 1) a barreiraatitudinal, 2) a falta de ambiente acessivel, 3) a nao-vontade deefetuar acornodacoes razoaveis e 4) a falta de informacao sobrerecursos de reabilitacao e tecnicas de desenvolvimento decmpregos. Todas as demais razoes que poderia~ ser a:egadaspelos empregadores estariam, na realidade, relacionadas aquelasquatro barreiras. Isto nos ajuda a visualizar ~elhor on~e devemosatacar para solucionar 0 problema da colocacao profissional.

    No Brasil, um projeto elaborado por Rodrigo HubnerMendes e , provavelmente, 0 primeiro no Pais sobre a i~c1usao depessoas deficientes no mercado de trabalho. 0 proJe~o, comduracao de 11 meses, foi financiado pelo Conselho NaclOn.al deDesenvolvimento Cientifico e Tecnol6gico (CNPq) e reahzadopol' Mendes na condicao de aluno do Curso de Administracao deEmpresas, da Fundacao Getulio Vargas, em Sao Paulo.

    Ap6s levantar e estudar a bibliografia existente na area,.ntrevistar um especialista em inclusao social, elaborar

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    questionario dirigido a empregadores e aplicar 0 questionario emseis empresas (de telemarketing e comunicacao via pager),escolhidas aleatoriamente, e na DERSA, todas com mais de 100empregados, Mendes (1997) constatou 0 seguinte: Todas as empresas disseram ser favoraveis aos direitos das pessoasdeficientes ao trabalho, mas somente uma empresa tem empregado comdeficiencia (assim mesmo so um);

    Uma das empresas tornou acessivel um dos andares do predio (esperandoreceber pessoas deficientes) mas nao tem empregados portadores dedeficiencia e alegou nao saber como e onde recruta-los e onde obter alegislacao pertinente;

    Todas disseram acreditar que as pessoas deficientes compensam suasdeficiencias com habilidades em outras partes do corpo;

    40% das empresas disseram que tern acessibilidade arquitetonica; Todas disseram ser favoraveis itreserva de vagas.

    Quanto a este ult imo item, que se refere a reserva de vagasno mercado de trabalho, 0 leitor encontrara cornentarios noCapitulo 7 ("0 Ideal das Leis e Politicas Inc1usivas"). A pesquisa deMendes vern a confirmar que 0 mercado de trabalho e boa partedas pessoas com deficiencia continuam emlados opostos de urncampo de batalha.

    Fase da inclusao

    Mas, na atual fase da inclusao, 0mundo do trabalho tendea nao ter dois lados. Agora, os protagonistas, em geral, parecemquerer enfrentar juntos 0 desafio da produtividade ecompetitividade. A ideia que comecou a vingar timidamente e a deque nao mais havera batalhas e muito menos vencedores evencidos. Surge, entao, no panorama do mercado de trabalho afigura da empresa inc1usiva.64

    A empresa inclusivaSempre houve, ao longo da hist6ria, empresas com

    expenencias positivas na absorcao da mao-de-obra detrabalhadores portadores de deficiencia, Hoje mais do que nunca,vanas empresas proporcionam as condicoes necessarias esuficientes para 0 desempenho profissional de seus trabalhadoresque tern necessidades especiais diversificadas.

    No Brasil, a inclusao vern sendo praticada em pequenaescala por algumas empresas, mesmo sem saberem que estao narealidade adotando uma abordagem inclusivista. Tudo comecoucom pequenas adaptacoes especificamente no posto de trabalhoe/ou nos instrumentais de trabalho, com 0 apoio daquelesempregadores compreensivos que reconheciam a necessidade de asociedade abrir mais espacos para pessoas deficientes comqualificacao para 0 trabalho e desejavam sinceramente envolversuas empresas no esforco de emprega-las modificando suasempresas.

    Uma empresa inclusiva e , entao, aquela que acredita novalor da diversidade humana, contempla as diferencas individuais,cfetua mudancas fundamentais nas praticas administrativas,implementa adaptacoes no ambiente ffsico, adapta procedimentosc instrumentos de trabalho, treina todos os recursos humanos naquestao da inclusao etc. Uma empresa pode tornar-se inc1usiva poriniciativa e empenho dos pr6prios empregadores, que para tantobuscam informacoes pertinentes ao princfpio da inclusao, e/oucom a assessoria de profissionais inc1usivistas que atuam emcntidades sociais.

    Sao os seguintes os principais fatores intemos de umacrnpresa que facilitam a inclusao do portador de deficiencia,

    Adaptacao de locais de trabalho (acesso ffsico)*

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    Adaptacao de aparelhos, maquinas, ferramentas eequipamentos *

    Adaptacao de procedimentos (fluxo) de trabalho* Adocao de esquemas flexiveis no horario de trabalho* Adocao de programas de emprego apoiado (treinador detrabalho e outros apoios)* Revisao das politicas de contratacao de pessoal * Revisao das descricoes de cargos e das analises

    ocupacionais etc. * Revisao dos programas de integracao de empregados

    novos* Revisao dos programas de treinamentodesenvolvimento de recursos humanos* Revisao da filosofia da empresa * Capacitacao dos entrevistadores de pessoal * Criacao de empregos a partir de cargos ja ocupados* Realizacao de seminaries internos de sensibilizacao das

    chefias* Cumprimento das recomendacoes internacionais e da

    legislacao nacional pertinentes ao trabalho* Adocao do esquema paralelo de trabalho domiciliar

    competitivo (extensao da empresa)*

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    e

    Adocao de esquemas de prevencao de acidentes emolestias ocupacionais *

    Informatizacao da empresa* Participacao da empresa em conselhos municipais e

    estaduais pertinentes ao portador de deficiencia" Aquisicao, e/ou facil itacao na aquisicao, de produtos da

    tecnologia assisti va que facilitem 0 desempenhoprofissional de empregados com deficiencias severas*

    Participacao da empresa no sistema de colocacao emempregos competitivos**

    Os fatores assinalados com urn asterisco beneficiam todosos funcionarios, portadores ou nao de deficiencia, 0 fatorassinalado com dois asteriscos e explicado mais adiante, no itemUrn Desejavel Pro gram a de Colocacao em EmpregosCompetiti vos.

    Eis algumas outras medidas que as empresas podem adotarpara se tornarem inclusivas:

    I. Filosofia da empresa Conhecer e seguir a tendencia mundial de se criar oportunidadesiguais de emprego para pessoas deficientes.

    Crer que a empresa deve contratar candidatos, deficientes ounao, que possam desempenhar bern as funcoes essenciais doscmpregos em oferta e nao necessariamente as funcoessecundarias tambem.

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    2. Recrutamento de trabalhadores Infonnar entidades de reabilitacao e associacoes de pessoasdeficientes assim que houver vagas. Dizer as agencias deemprego que a empresa esta aceitando pessoas deficientescapacitadas.

    Utilizar 0 mesmo processo para recrutar pessoas com ou semdeficiencia (Carreira, 1997, p. 27).3. Selecao de candidatos Treinar pessoal de selecao para que conduza entrevistas comatitudes abertas e justas. Atualizar descricoes de cargos paragarantir que os requisitos de cada emprego sejamcriteriosamente reclassificados. "As descricoes de cargo naodevem conter requisitos desnecessarios que excluarr; membrosdas classes protegidas" (Werther Jr. , 1983, p. 63) .

    Utilizar 0 mesmo criterio para selecionar candidates com e sen,deficiencia: qualificacao para a funcao (Carreira, 1997, p. 27)4. Contratacao de mao-de-obra Contratar atendendo as necessidades da empresa e ao perfil dapessoa deficiente, nao "por aquilo que ela nao pode fazer, maspor aquilo que ela pode fazer" (Association of the Handicapped, inDrucker, 1995).

    Contratar mao-de-obra de pessoas deficientes, em confonnidadecom politicas sadias de emprego, salaries, beneficios etc.5. Insercao de novos empregados Preparar tecnicamente a chefia e os cole gas do setor onde apessoa deficiente recem-contratada trabalhara.

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    Realizar programa de integracao de novos empregados,portadores ou nao de deficiencia.

    6. Treinamento e desenvolvimento de recursos humanos Realizar reunioes e serninarios internos de sensibil izacao paradesenvolver habil idades de lidar com a questao das deficienciase incluir 0 trabalhador portador de deficiencia em pIanos depromocao na carreira em igualdade de condicoes com os demaistrabalhadores. Treinar em funcoes compativeis os empregadosque, ap6s urn acidente ou doenca grave, ficaram com umadeficiencia,

    Treinar e desenvol ver 0 trabalhador portador de deficiencia juntocom os demais empregados (Carreira, 1997, p. 28)7. Legislacao sobre pessoas deficientes Inserir pessoas deficientes na empresa por estarem capacitadas enao apenas para cumprir leis. Conhecer e seguir as convencoes e recornendacoes aprovadaspela Organizacao Internacional do Trabalho e outros organismosinternacionais no que se refere aos trabalhadores com deficiencia(por ex., CORDE/OIT, 1994; Organizacao Internacional do Trabalho, 1994a,1994b).

    x . Adaptacao do trabalho e modiflcacao de maquinas Promover ajustamento em alguns dos procedimentos detrabalho.

    Proceder a pequenas modificacoes em equipamentos ernaquinas, considerando estudos ja existentes (por ex., InternationalLabour Office, 1984; Elmfeldt et al., 1983).

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    9. Prevencao de acidentes e molestlas ocupacionais Inc1uir urn trabalhador com deficiencia na Comissao Interna dePrevencao de Acidentes.

    Inc1uir empregados que usam cadeira de rodas nos treinamentosde escape do predio ern caso de incendio.

    10. Eliminacao de barreiras fisicas na empresa Conhecer e aplicar os dispositivos da Associacao Brasileira deNorrnas Tecnicas sobre a acessibilidade a edificacoes, espaco,mobiliario e equipamentos urbanos (ABNT, 1994).

    Afixar 0 Simbolo Internacional de Acesso na entrada daempresa, nos sanitarios e demais recintos acessiveis a pessoascom deficiencia, de acordo corn resolucoes oficiais (Sassaki,1996a).

    As empresas inclusivas refletem a tese de que:a) E eticamente correto incluir pessoas deficientes na mao-de-obra

    geral;h) A mao-de-obra da pessoa deficiente e tao produtiva quanto a

    mao-de-obra constituida so de trabalhadores nao-deficientcs:. ) A mao-de-obra composta de trabalhadores deficientes e nao-deficientes contribui eficientemente para a empresa atingir comsucesso os seus objetivos econornicos e, ao mesmo tempo,ajuda a ernpresa a cumprir a sua parte no esforco de inclusao arim de garantir aos portadores de deficiencia 0 direito deIaba Ihar e a todos os trabalhadores a possibilidade diprcnderem uns dos outros.

    /1 1

    As empresas inc1usivas participam do esforcointernacional, preconizado em 1991 pel a Organizacao das NacoesUnidas, no sentido da construcao, ate 0 ano 2010, de umasociedade para todos. (Ver mais sobre sociedade para todos , no Capitulo 9)

    Urn Desejavel Sistema de Colocacaoem EmpregosNo Brasil, foi por volta de 1950 que se iniciou a pratica da

    colocacao de pessoas deficientes no mercado de trabalhocompetitivo. Durante cerca de 30 anos (1950-1980), 0 caminhoprincipal para a colocacao profissional eram os centros dereabilitacao profissional, onde geralmente havia urn setorespecffico de orientacao profissional. Este setor nao so orientavae participava do processo de avaliacao do potenciallaborativo dosc1ientes que faziam reabilitacao, como tambem acompanhava afase de treinamento profissional e final mente efetuava a colocacaoem emprego. Nesse mesmo periodo, foi tambern importante noesforco de colocacao profissional a participacao de escolasespeciais, centros de habilitacao, oficinas protegidas de trabalho ecentros ou micleos de profissionalizacao,

    E oportuno registrar que, ern todas as epocas, semprehouve tambern a pratica da autocolocacao, ou seja, a colocacaoconseguida pelo proprio portador de deficiencia com ou sem ajudade insti tuicoes .

    A partir da decada de 80, foram surgindo outros caminhospara a insercao das pessoas com deficiencia na forca de trabalho.As associacoes de pessoas deficientes, nao s6 as que ja existiammas tambem as que surgiram desde entao, vern desempenhandolim destacado papel na abertura do mercado de trabalho, sob al: ride de seus direitos de cidadania. E, mais recentemente, 0surgimento de centros de vida independente vern ajudando a.

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    consolidar a garantia destes direitos, principalmente oferecendoaos portadores de deficiencia oportunidades de conquistar 0 poderde fazer escolhas e de tomar decisoes a fim de melhor controlaremas suas vidas.

    Assim, a presenca da pessoa com deficiencia no mercadode trabalho se da por duas vias principais: au a autocolocacaodireta (0 proprio interessado indo buscar empregos) ou acolocacao atraves das instituicoes especializadas (onde as pessoasdeficientes sao atendidas) e atraves de associacoes de pessoasdeficientes e centros de vida independente.

    Entretanto, ha muito tempo estamos precisando ter, noBrasil, urn Sistema de Colocacao em Empregos Competiti vos(SCEC), de ambitos local, estadual e nacional. Esse sistemaenglobaria os services de colocacao, que sempre funcionaram demaneira desordenada, dispersa e ineficiente no Brasil. as taisservices de colocacao sao aqueles mantidos por entidadesfilantropicas ou orgaos governamentais que vern tentando, demaneira improvisada e cada urn por si, fazer a colocacao depessoas deficientes no mercado de trabalho competi tivo ao longodos ult imos 50 anos.

    Esses services, como se sabe, operam com uma estrategiamuito simplista. Assim que alguern com deficiencia, qualificadopara urn emprego competitivo, se torna urn candidato a procura decolocacao no mercado de trabalho, a entidade que 0 assiste vaiabordar empresas que estejam oferecendo vagas supostamentecompatfveis com 0perfil desse candidato e trata de acompanha-loate sua efetiva colocacao.

    Essa estrategia tern variacoes, e claro. Mas 0 maior pontofraco de todos esses services esta no fato de que nao existe nadaque assegure urn retorno a tao importante investimento, que e 0processo de colocacao de pessoas em empregos competitivos. Acolocacao, quando acontece, ocorre por acaso em boa parte dos72

    casos. Na maioria dos paises, a questao da colocacao em empregose tratada com muita seriedade (por ex., ILO, 1995; LRS, 1996 , 1995a,1995b; LSPLDD, 1993; Miguez, 1993; NVRCD, 1991; Serninario, 1979),investindo-se fortemente em qualificacao do pessoal de colocacaoe em montagem de services especificos para colocar pessoas comdeficiencia.

    Por essa razao, proponho que coloquemos em ampladiscussao uma proposta de normatizacao de urn Sistema deColocacao em Empregos Competitivos. Esse sistema poderiacomecar a ser implantado em uma cidade ou urn Estado paradepois, gradativamente, alastrar-se por todo 0Brasil.

    As principais organizacoes participantes deste sistemaseriam:

    Empresas de todos os ramos de atividade (agropecuaria,industria, comercio e services);

    Orgaos governamentais (federais, estaduais oumunicipais) enquanto empregadores;

    Orgaos governamentais (federais, estaduais oumunicipais) enquanto encaminhadores de pessoasdeficientes ao mercado de trabalho;

    Escritorios federais de reabilitacao (a serem criados); Entidades particulares que oferecam, a sua clientela

    portadora de deficiencia, programas profissionalizantese/ou service de colocacao (centros de habilitacao oureabilitacao, micleos ou centros de profissionalizacao,associacoes de pessoas com deficiencia, centros de vidaindependente, hospitais etc.);

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    Escolas comuns e escolas especiais que tenhamprogramas profissionalizantes e/ou service de colocacaode estudantes portadores de deficiencia tanto em estagiocomo em empregos competitivos;

    Agencias de emprego.o sistema adotaria urn iinico instrumental, uma especie de

    Plano Individualizado de Colocacao (PUC), a ser preenchido porurn tecnico da organizacao participante em conjunto com a pessoadeficiente (e sua familia , em caso de menor de idade). Este planoseria levado ao conhecimento de algumas organizacoes, que entaopassarao a ser parceiras no processo de profissionalizacao ecolocacao. Enquanto parceiras, as organizacoes envolvidasprestam todo apoio que 0 caso exija para conseguir executar 0plano individualizado e, em troca, recebem beneffcios tais como:apoio no futuro para os planos individualizados, partilha deinformacoes prestadas pelos demais parceiros, facilidade paraparticipar de eventos pertinentes a profissionalizacao e colocacao.

    As empresas e os orgaos govemamentais, sabedores destesistema, dariam atendimento prioritario aos candidatosencaminhados pelas organizacoes participantes do sistema com osrespectivos PIanos Individualizados de Colocacao.

    Para custear 0 descnvolvimento deste sistema, 0 Govemofederal alocaria recursos financeiros (para cada PUC), materiais(livros, manuais, guias etc.) e tecnicos (especialistas) para osescritorios federais de reabilitacao instalados nos estados que, porsua vez, repassariam esses recursos as organizacoes participantesdo sistema em ambito local. Dependendo da densidadedemografica, 0 ambito local pode abranger urn bairro, urn distrito,uma cidade ou varias cidades. Com uma parte dos recursosfinanceiros, as organizacoes participantes poderao cobrir custosenvolvidos na execucao do Plano Individualizado de Colocacao deseus clientes.74

    Muitas vantagens adviriam da implantacao deste sistema.Em primeiro lugar, haveria urn melhor aproveitamento dosrecursos e energias de cada organizacao part icipante. Os recursosfinanceiros govemamentais seriam utilizados sem desperdicio, ouseja, como urn investimento com retorno certo na pessoa de cadapessoa colocada em emprego competit ivo. Ocorreria tarnbem urnpool de vagas disponfveis, que seriam racionalmente aproveitadaspelas organizacoes participantes. Desenvolver-se-ia. urnsentimento de seguranca e espcranca nas pessoas envolvidas,principalmente do proprio portador de deficiencia e, com certeza,de seus farniliares, devido a objetividade do Plano Individualizadode Colocacao (PUC). Cada organizacao participante se veria maiscomprometida com a implementacao dos PIanos Individualizados,porque ela esta venda 0 esforco dos demais parceiros do sistemagracas a transparencia do sistema. Enfim, haveria urn climarenovado, saudavel, no campo do atendimento a pessoasportadoras de deficiencia - desde a fase hospitalar, passando pelaeducacao e profissionalizacao, ate a sua insercao na comunidadeatraves de empregos.

    A inclusao no mere ado de trabalho competitivo nao e urnsonho impossivel de ser realizado, desde que os empregadoressejam tratados como parceiros. Ou seja, eles receberao nossaajuda com informacoes sobre 0 potencial laborativo das pessoasdeficientes, com assessoria na modificacao de trabalhos eambientes e com treinamentos sobre a nova empresa inspirada nafilosofia da inclusao social. E, ao mesmo tempo, eles farao a partedeles modificando suas empresas naquilo que for necessario evantajoso para todos os trabalhadores, incluindo 0 portador dedeficiencia. 0 Sistema de Colocacao em Empregos Competit ivos(SCEC) seria urn meio eficaz de tomar cada vez mais inclusivasas empresas e, por conseguinte, mais inclusiva a nossa sociedade.

    Para 0 empresario Rogerio Amato (1997, p. 317), "quando s~fala em inclusao social, pressupoe-se urn senso de comunidade. Edificil imaginar a inclusao social no caos. E necessario que 0

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    ernpresario, 0 local onde se vrve, seja de uma certa formamodificado, para que 0 senso de comunidade apareca." Aoefetuarem essas modificacoes, as empresas nao estao fazendonenhum favor aos portadores de deficiencia, pois elas estaoajudando a si mesmas. E ainda Amato quem afirma: "As poucasexperiencias de inclusao no trabalho de alguns de nossos jovenstern demonstrado com absoluta certeza que as empresas que osacolheram se transformaram para 0 melhor. ( .. .) Nos nao estamospedindo que se inclua urn filho nos so com deficiencia oulimitacoes num trabalho. Estamos oferecendo uma oportunidadepara essa empresa galgar urn patamar de qualidade." (p. 318).

    o novo perfil dos candidatos a empregoDiferentemente do que acontecia no passado em termos de

    qualidades pessoais, hoje os candidatos portadores de deficienciaapresentam urn perfil mais completo. Por exemplo, eles sao:

    1. Mais escolarizados (inclusive com nivel superior)2. Mais autonomos (com ou sem dispositivos

    tecnologicos)3. Mais independentes (pelo uso do poder pessoal para

    tomar decisoes)4. Mais polit izados (com consciencia de seus direitos e

    deveres)5. Mais informados (sobre a vida social em geral)6. Mais preparados psicossocialmente (sobre

    relacionamentos no trabalho)7. Mais socializados (expostos a experiencias de grupos

    formais e informais)76

    8. Mais capacitados profissionalmente (em funcoesespecificas)

    9. Portadores de deficiencias de nivel mais severo, sejaqual for 0 tipo de deficiencia (ffsica, mental, visual,auditiva ou rnultipla).

    Opcoes de trabalho parapessoas com deficiencia

    Hoje, 0 leque de opcoes de trabalho e bern mais amplo doque no passado. Podemos visualizar esse leque da seguinte forma:

    Emprego competitivo1.Via colocacao ou autocolocacao em empregos comuns.2. Via programa de emprego apoiado.( ver este assunto mais

    adiante). .3. Via projeto de -eabil itacao baseada na comumdade ~

    Escritorio domestico computadorizado (EDe)1. Como empregado: Trabalhando no seu EDC, longe ~a

    empresa que 0 contratou porem conectado com ela VIacomputador.

    2. Como empresario: Monitorando, do proprio EDC, asua empresa localizada em outro local. porem conectadacom ela via computador.

    3. Como empresario: Trabalhando em casa, onde foiinstalada a sua empresa e da qual ele se comunica comseus clientes via computador.

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    Microempresa que nao 0EDe1.Fora do domicilio (qualquer ramo de atividade)2. No domicflio (geralmente, industria caseira)

    Trabalho autonomo1. Individual (com ou sem computador)2. Coletivo (com ou sem computador)

    Trabalho semicompetitivo1. Via projeto de reabilitacao baseada na comunidade2. Via oficina protegida de trabalho3. Via iniciativa propria

    Trabalho protegido1. Via oficina protegida de trabalho2. Via oficina ocupacional3. No domicflio

    Trabalho rural1. Via iniciativa propria ou da famflia2. Via projeto de reabilitacao baseada na comunidade3. Via propriedades agropecuarias particulares4. Via programas govemamentais no interior

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    Vantagens do portador de deficienciaPessoas com deficiencia encaminhadas (apresentadas,

    colocadas, indicadas) por entidades especializadas (tais como:centros de reabilitacao, centros de habilitacao, associacoes depessoas deficientes, centros de vida independente) sao geralmenteaquelas que foram preparadas para a vida de trabalho. Essapreparacao integra 0 processo de insercao econ6mica das pessoascom deficiencia, 0 leitor que desejar estudar mais a fundo esteprocesso, podera encontrar valiosos subsidios no relatorioreferente ao programa Helios IT (1995), escri to em portugueslusitano.

    U rna vez devidamente preparadas, elas apresentamqualidades pessoais que muitas vezes faltam nos candidatos quenao sao deficientes, simplesmente porque estes nao passam porcertos programas que, no caso dos portadores de deficiencia,podem existir tanto em boa parte das entidades sociais como emalgumas organizacoes de pessoas deficientes. Eis alguns dessesprogramas.

    Programa de avaliacao para 0 trabalhoEste programa "consiste de levantamento das

    potencialidades do poitador de deficiencia, especificando 0 graude capacidade para a execucao de uma tare fa ou desempenho deuma funcao ou emprego (.. .)" e realiza os seguintes passos: analisedos dados de programas anteriores da pessoa com deficiencia,entrevistas, aplicacao de tecnicas avaliativas, observacoes diretas(Batista et al., 1997)

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    Programa de pre-proflssionalizacaoEste programa oferece uma variedade de experiencias de

    trabalho em atividades praticas (limpeza de ambientes,horticultura, jardinagem, cartonagem etc.), complementares(teatro, educacao fisica, rmisica etc.) e academic as (alfabetizacao,rnanutencao pedagogic a etc.), "para que a pessoa, por meio desuas vivencias, possa melhor definir seu interesse e desenvolversuas capacidades e potencialidades para trabalho" (Batista et aI. ,1997)

    Programa de prontidao para 0empregoUrn program a de prontidao para 0 emprego e constitufdo

    por modules praticos sobre: direitos e deveres do trabalhador, 0desenvolvimento de habil idades de procurar emprego, como agirantes, durante e apos as entre vistas de selecao, 0preenchimento defiehas de solicitacao de emprego, a apresentacao visual para aentrevista, como reter 0 emprego e progredir na empresa etc.

    Nesse program a sao desenvolvidos padr6es dedesempenho (variaveis do trabalho e variaveis pessoais dotrabalhador) que correspondem aos exigidos pelo ambiente detrabalho (a empresa em si, condicoes ffsicas do ambiente,horarios, procedimentos de trabalho, relacoes interpessoais etc).

    Muitas entidades brasileiras desenvolvem programas ouservicos de prontidao para 0 emprego (ou trabalho) ha decadas.Mas falta uma documentacao tecnica sobre tais programas; asentidades parecem nao dar muita importancia ao desenvolvimentode urn corpo de conhecimentos sobre prontidao para 0 emprego. 0Centro de Vida Independente do Rio de Janeiro elaborou urnCurso de Prontidao para 0 Trabalho, com 0 patrocfnio daFundacao VITAE, e desde 1990 vern ministrando esse curso. Urndos melhores livros sobre tecnicas de prontidao para 0 emprego e80

    o Succeeding in the Workplace (Latham & Latham, 1994), escritoem linguagem atual e em conformidade com conceitos maisrecentes no mundo do trabalho em relacao a candidatos portadoresde deficiencia.Programa de treinamento em assertividade

    Urn outro tipo de programa que ajuda na preparacaoprofissional das pessoas com deficiencia e 0 de treinamento emasserti vidade. Algumas pessoas, por serem naturalmenteintrovertidas ou por terem sido inferiorizadas devido a deficiencia,ou por ambos os motivos, tern dificuldade de fazer valer a propriaopiniao, Quando confrontadas, elas acabam cedendo a vontade oua opiniao de outras pessoas. Geralmente, elas dizem simquando queriam dizer nao OU vice-versa. Isto fere a liberdade defalar, ou seja, "a capacidade de dizer 0 que voce quiser, quando eonde voce quiser, a quem voce quiser, sem as restricoes impostaspelos seus interlocutores, tecnologia, ambiente ou custo" (DEAL,(994). No treinamento em assertividade, estas pessoas fazemexercfcios que lhes permitem adquirir uma nova perspectiva emsua vida, aprendendo a expressar com naturalidade seuspensamentos, seus sentimentos, suas conviccoes e suas ideias,Programa de emprego apoiado

    Mesmo pessoas portadoras de uma deficiencia (ffsica,mental, auditiva, visual ou rmiltipla) em grau severo podem hojecornpetir dentro do mercado de trabalho apos passar por urnprograma de emprego apoiado (Sassaki, 1995, 1996b), explicado aseguir.

    81

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    Emprego Apoiado: Principais Aspectoso program a de emprego apoiado e instal ado dentro da

    instituicao (Batista et al., 1997) e atraves dele 0 portador dedeficiencia e colocado na empresa primeiro e e treinado emseguida na pr6pria funcao - processo este conhecido como"colocar-treinar", que e 0 inverso do processo tradicional detreinar primeiro e colocar depois. 0 emprego se chama "apoiado"ou "com apoio" porque 0pretendente a esse emprego recebe apoioindividualizado e continuo pelo tempo que for necessario para queele, devido a severidade da sua deficiencia, possa obte-lo, rete-loe/ou obter outros empregos no futuro, se for 0 caso.

    Os tipos de apoio variam de caso para caso: orientacao,instrucao no treinamento, aconselhamento, feedbacks, supervisao,aparelhos assistivos, transporte etc. Eles podem ser prestados parvarias pessoas: 0 treinadar de trabalho (job coach), conselheiro dereabilitacao (tambem conhecido como conselheiro profissional),familiares, colegas de trabalho, chefia e outras. Uma entidade, emmensagem dirigida a empregadores, afirma: "A medida que 0 seunovo empregado se torna mais .competente, 0 nosso treinador detrabalho comparece cada vez menos ate 0 dia em que voces nosdigam que nao somos mais necessaries na empresa. Se urntreinamento ou adaptacao vier a tornar-se necessario, estaremossempre prontos para retornar a sua empresa" (The Texas PlanningCouncil forDevelopmental Disabilities, 1993),

    No passado, inicialmente concentrados em atender osportadores de deficiencia mental e as pessoas com deficiencia dedesenvolvimento, os programas de emprego apoiado conseguiammais vagas no setar de services (por exemplo, em supermercados,restaurantes, hoteis, lanchonetes, bancos etc.). Mas hoje osempregos apoiados sao conseguidos em quase todos os setores eniveis de trabalho. Eo movimento de emprego apoiado, ao longode sua hist6ria, foi conquistando espac;o para todos os tipos dedeficiencia, inc1uindo as deficiencias rmiltiplas.82

    o ernprego apoiado pode ser visto como urn movimentorecente na hist6ria dos movimentos de pessoas deficientes. Eleesta voltado, de preferencia, ao atendimento as deficiencias maisseveras - exatamente aquelas que a sociedade e instituicoesassistenciais sempre relegaram a ult ima prioridade. E quanta aostipos de deficiencia, 0movirnento de emprego apoiado defende anecessidade de atender a todos eles: mental, fisico, visual,auditivo, multiple, os de dificuldade de aprendizagem e asdeficiencias de desenvolvimento. (Sassaki, 1995)

    Urn outro aspecto consiste em que ele aponta acomunidade como 0 lugar onde os portadores de deficienciaquerem e devem viver, trabalhar etc. Portanto, ha urndeslocamento de abordagem, abandonando 0 ambientesegregado (asilos, oficinas protegidas de trabalho etc.) paraconquistar definitivamente 0 ambiente aberto, integrado,competitivo, na comunidade.

    o processo de colocacao em emprego apoiado propicia aoportador de deficiencia severa a oportunidade de exercer empowerment, ou seja, fazer escolhas e tomar decisoes quanta aocomo, quando, quanto, onde e 0 que fazer para suas necessidadesprofissionais, sociais etc., assumindo assim 0 controle de suavida. (Sassaki, 1995, 1994)

    Nos paises onde esse movimento ja existe ha varies anos(por exemplo, Estados Unidos, Canada, Espanha), seus ativistasconseguiram aprovar leis e outros instrumentos formais quegarantem a alocacao de recursos financeiros necessaries airnplantacao de seus prograrnas e services, incluindo custos delreinamento e remuneracao de pessoal, aquisicao decquipamentos, provisao de transportes, material de consumo,realizacao de pesquisas etc. (Sassaki, 1997a, 1997b)

    A maioria dos programas de emprego apoiado, existentesnos milhares nos Estados Unidos, conseguiu ser implantada

    8 .

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    rapidamente gracas ao reaproveitamento de recintos e parte dopessoal de milhares de oficinas protegidas de trabalho, as quais,nos dias de hoje, nao mais correspondem a realidade social atual ea nova filosofia de inclusao social de pessoas portadoras dedeficiencia. Este processo e tambern conhecido como conversaode oficinas protegidas para programa de emprego apoiado (illPurgahn, 1994).

    Nenhuma pessoa deficiente e rejeitada com base naseveridade de sua deficiencia. Esta caracteristica se chama ''rejei~ao zero' ou 'exclusao zero' e e 0 inverso da tradicionalpratica adotada por entidades assistenciais para determinar ainelegibilidade de uma pessoa deficiente para certos servicesterapeuticos ou a propria instituicao, (ver mais sobre rejeicao zero noCapitulo 1, "Novos Paradigmas: Os Conceitos Inclusivistas").

    Devido a severidade da deficiencia de que e portador, 0ocupante de um emprego apoiado recebe apoio individualizado,continuo, pelo tempo que for necessario para que ele mantenhaesse emprego e, no futuro, outros se for 0 caso. Os tipos de apoiovariam de acordo com as necessidades de cada situacao que seapresentar e podem ser providos por divers as pessoas: pel aentidade, 0 treinador de trabalho (especialista em emprego) e 0conselheiro de reabilitacao, entre outros; pela ernpresa, os colegasde trabalho e 0 chefe dele. A familia tambem cabe urn importantepapel de apoio ao trabalhador com deficiencia severa. (Sassaki,1996)

    Por tratar-se de pessoas com deficiencia severa, 0 empregoapoiado precisa utilizar tecnologia assistiva (desenvolvida emparceria com a engenharia de reabilitacao) na maioria dos casos.Com adaptacoes (dispositivos auxiliares), equipamentos especiaise outros recursos tecnologicos sofisticados ou simples, ostrabalhadores severamente deficientes podem ter a sua disposicaoatividades ocupacionais que melhor atendam as suas aptidoes e

    84

    preferencias. Isto ajuda a evitar que as pessoas sejam colocadasem qualquer emprego disponivel.

    Ainda devido a severidade de sua deficiencia, 0 ocupantede urn emprego apoiado precisa utilizar transporte individual, amenos que, coincidentemente, existam transportes coletivosadaptados que fazem 0 percurso dele entre a cas a e 0 t rabalho evice-versa. Na maioria do casos, portanto, ainda e necessario queas entidades promotoras de programas de emprego apoiadoinvistam fortemente em esquema proprio de transporte individual,ou em sistema de carona planejado com 0 portador de deficienciaou seus familiares e vizinhos. Por estes motivos, os programas deemprego apoiado tern procurado empregos proximos a casa decada deficiente. (Sassaki, 1995, 1994)

    No passado, inicialmente concentrados em atender aosportadores de deficiencia mental e as pessoas com deficiencia dedesenvolvimento, os programas de emprego apoiado conseguiammais vagas no setor de services (supermercados, restaurantes,hoteis, lanchonetes, bancos etc.) . Mas hoje os empregos apoiadossao conseguidos em quase todos os setores e niveis de trabalho.E 0 movimento de emprego apoiado, ao longo de sua historia, foiconquistando espaco para todos os tipos de deficiencia, inclusiveas deficiencias multiplas, (Sassaki, 1994)

    Atualmente, os principais modelos de emprego apoiadosao (Sassaki, J 995): 0 individual (semelhante a colocacaoindividual de pessoas sem deficiencia, em ernpresas de qualquerlamanho); 0 enclave (em que ate 8 pessoas com deficiencia severatrabalham juntas sob uma iinica supervisao, em uma empresa deryande porte); a equipe movel (que e urn grupo de ate 5Ir.thalhadores com deficiencia e urn treinador de emprego, queprcstam services de zeladoria e manutencao de jardins e parques,para govemos e empresas); e 0 empresarial (que e umaiuicroempresa gerenciada por uma pessoa portadora de deficiencia" 'vera e onde trabalham empregados sem d fi i"n ia).

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    E, por final, registre-se que 0 movimento de empregoapoiado tern dado resultados praticos altamente positivos,retletindo nitidamente na qualidade de vida dos portadores dedeficiencia e na nova atitude da sociedade para com eles.

    A medida que for crescendo 0 mimero de empresas queoferecern vagas para emprego apoiado e for aumentando a pressaodas organizacoes de portadores de deficiencia pela adocao destaabordagem, as entidades assistenciais (de habilitacao, reabilitacao,educacao especial etc.) passarao por significativas mudancas emsua filosofia de trabalho, agenda de programas e services,contratacao de pessoal tecnico etc. Assim, 0 impacto domovimento de emprego apoiado sobre as entidades assistenciaisque desejem sobreviver poderia ser configurado nos seguintestermos (Sassaki, 1994):

    As entidades devem considerar a opcao competitiva emvez da opcao protegida para 0 portador de deficienciasevera, ou seja, 0 emprego apoiado no lugar do empregoabrigado.

    As entidades devem buscar asses soria tecnica para aimplantacao de programas de emprego apoiado.

    As entidades devem treinar seu pessoal para a novarealidade proporcionada pelo movimento de empregoapoiado.

    As entidades devern exigir a criacao de uma lei especificaque garanta subsidios financeiros govemamentais eincentivos fiscais as empresas para cobrir os custos dosprogram as de emprego apoiado.

    86

    REFERENCIASABNT - Associacao Brasileira de Normas Tecnicas. Acessibilidade de pessoas

    portadoras de deficiencies a edificacoes, espaco, mobilia rio eequipamentos urbanos: NBR 9050. Rio de Janei ro: ABNT, 1994.59 p.

    AMARAL, Ligia A. Falando sobre 0 trabalho da pessoa portadora dedeficiencia, In: A Questao do Trabalho e a Pessoa Portadora de Deficiencia.Sao Paulo: REINTEGRA, 1993. 22 p. apost .

    AMATO, Rogerio P.e. A visao do ernpresario sobre 0 t rabalho da pessoa comsfndrorne de Down. In: II Congresso Brasileiro e I. Encontro Latino-Americano sobre Sfndrorne de Down, 1997. Brasi lia: Anais do Congresso.Brasilia: Federacao Brasileira das Associacoes de Sindrome de Down, 1997.385 p., p. 316-318.

    BATISTA, Cristina, BORGES, Maria do Rosario, BRANDAo, Tania et al.Educaci io Profi ssional e Colocactio no Trabalho. Brasilia: FederacaoNacional das APAEs, 1997.

    BRASIL. Secretaria de Formacao e Desenvolvimento Profissional. PLANFOR:Plano Nacional de Educaciio Profissional I Termos de referencia dosprogramas de educacao profiss ional, nacionais , estaduais, emergenciais.Brasilia: FAT/CODEFATIMTb/SEFOR, 1996. 122 p.

    CARREIRA, Dorival. A integracao da pessoa deficiente no mercado detrabalho. In: MANTOAN, Maria Teresa Egler et al. A integraciio depessoas com deficiencia: contribuicoes para uma reflexao sobre 0 tema. SaoPaulo: MernnoniSENAC, 1997, p. 24-31.

    CORDE/OIT. Normas internacionais do trabalho sobre a reabilitacaopro f issiona l e emprego de pessoas portado ras de defic iencia , Brasil ia:CORDE, 1994. 23 p .

    CORREIA, e. A integracao do deficiente ao mercado de trabalho: umaconquista social. Service Social & Sociedade, Sao Paulo, v. XI, n. 34, dez.1990. p. 119-134.

    CRESPO, Ana Maria M. Trabalho. In: Pessoas com deficiencia e a construcaoda cidadania. Sao Paulo: PRODEF, 1995. p. 8-9. apost .

    DRUCKER, Peter. Administracdo de organizacoes sem fins lucrativos:principios e praticas. 3 .ed. Sao Paulo: Pioneira, 1995, p. 109.

    DEAL. Empowerment : dign ity, educa tion and language for people withoutspeech. Disability Awareness in Action, Londres, n . 14, p. 4 , fey. 1994.

    ELMFELDT, Gerd, WISE, Caroline, BERGSTEN, Hans et al. Adapting worksites for people with disabilitties: ideas from Sweden. 3.ed. Es tocolmo: The

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    UNITED Nations. World Programme of Action concerning Disabled Persons.Nova York: United Nations, 1983.[Hi uma traducao (Programa Mundial de Acao Relativo as Pessoas comDeficiencia)~ fei ta do original em ingles por Arlinda de Araujo Pereira, doRIO de Janeiro, sid. e existe a publicacao, atualmente esgotada, int ituladaPrograma de AC;iioMundial para as Pessoas com Deficiencia, traduzida daversao castelhana por Thereza Christina F. Stummer e impressa peloCEDIPOD - Centro de Docurnentacao e Inforrnacao do Portador deDeficiencia, em Sao Paulo, em 1992].

    110

    5Os desafios da lnclusao

    it educacao"As ins ti tuicoes sem fins 1ucrativos existem por causa dasua missao. Elas existem para fazer uma diferenca nasoeiedade e na vida dos individuos, Elas existem por causada sua missao e isto nunea deve ser esqueeido. [ ... JTeremos de examinar a missao muitas vezes, paradeterminar se ela preeisa ser refoealizada devido amudancas demognifieas,porque devemos abandonar algoque nao produz result ados e eonsome reeursos, porqueatingimos um objetivo." (DRUCKER, 1995, p. 33)

    o processo de inclusao, exatamente por ser diferente da jatradicional pratica da integracao, desafia mais quatro importantessistemas sociais comuns a efetuarem mudancas fundamentais emseus procedimentos e estruturas. Neste capitulo, sera analisado 0impacto da inclusao no campo da educacao e, nos capitulos 6, 7 e 8,sera abordado 0seu impacto nos ambientes fisicos, nas leis e politicasna midia.

    Fases de desenvolvimento da educacaoA hist6ria da atencao educacional para pessoas com

    dcfici enci a tern tarnbem as fases de exclusao , segregacaoi11 .titucional, integracao e inclusao.

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    Fase de exclusaoNesta fase, nenhuma atencao educacional foi provida as

    pessoas com deficiencia, que tambern nao recebiam outrosservices. A sociedade simplesmente ignorava, rejeitava, perseguiae explorava estas pessoas, entao consideradas "possufdas por mausespiritos ou vitimas da sina diab6lica e feiticaria." (Jonsson, 1994, p.61)Fase de segregacao institucional

    Excluidas da sociedade e da familia , pessoas deficienteseram geralmente atendidas em instituicoes por motivos religiososou filantr6picos e tinham pouco ou nenhum controle sobre aqualidade da atencao recebida. Segundo Jonsson (1994, p. 61), foineste contexto que emergiu, em muitos paises emdesenvolvimento, a 'educacao especial' para cria.icas deficientes,administrada por instituicoes voluntarias, em sua maioriareligiosas, com consentimento govemamental mas sem nenhumoutro tipo de envolvimento por parte do govemo. Algumas dessascriancas passaram a vida inteira dentro das instituicoes.

    Surgiram tambem escolas especiais, assim como centrosde reabilitacao e oficinas protegidas de trabalho, pois a sociedadecornecou a admitir que pessoas deficientes poderiam serprodutivas se recebessem escolarizacao e treinamento profissional.Fase de integracao

    Esta fase viu surgirern as classes especiais dentro deescolas comuns, 0 que aconteceu nao por motivos humanitarios esim para garantir que as criancas deficientes nao "interferissem noensino" ou nao "absorvessem as energias do professor" a tal pontoque 0 impedissem de "instruir adequadamente 0 rnimero de alunosgeralmente matriculados numa classe" (Chambers e Hartman, inJonsson, !994, p. 62) .

    112

    Nesta fase, os testes de inteligencia desempenharam urnpapel relevante, no sentido de identificar e selecionar apen 1S ascriancas com potencial acadernico. "Este elitismo, que ai.ida edefendido com frequencia, serve para justificar a instituicaoeducacional na rejeicao de mais de urn terce ou ate a metade domimero de criancas a ela encaminhadas. Tal desperdfcio nao seriatolerado ern nenhum outro campo de atividade." (UNESCO, inJonsson, 1994, p. 62)

    Inspirada no lerna do Ano Intemacional das PeSS0asDeficientes ("ParticipaC;ao Plena e Igualdade"), tao disseminadoem 1981, uma pequena parte da sociedade ern muitos paisescomecou a tomar algum conhecimento da necessidade de mudar 0enfoque de seus esforcos. Para que as pessoas com deficienciarealmente pudessem ter participacao plena e igualdade deoportunidades, seria necessario que nao se pensasse tanto e.aadaptar as pessoas a sociedade e sim ern adaptar a sociedade aspessoas (Jonsson, 1994, p. 63). Isto deu inicio ao surgimento doconceito de inclusao ja no final da decada de 80.Fase de lnclusao

    Paises desenvolvidos, como os EUA, 0 Canada, assimcomo a Espanha e a Italia, foram os pioneiros na implantacao declasses inclusivas e de escolas inclusivas. Com algumas excecoes(por ex., Creche, 1989; UNESCO, 1988; Vitello, 1989), boa parte daliteratura pertinente as praticas inclusivistas na educacao comeca asutsir na decada de 90, basicamente relatando experiencias queve~ ocorrendo a partir do final nos anos 80s aos dias de hoje (porex. , Andrews, Brand, Norris et al. , 1995; Aucoin, Coleman & Caballero, 1996;Berrigan, 1995; Beaupre, in Mantoan, 1997, p. 162-166; Blanco & Duk, inMantoan, 1997, p. 184-195; Cava1canti J r. , Clark & Kerns, 1994; CBR, 1995;CEEIGB, 1995; Clemente FO, 1996; Coady & Denny, 1996; Coelho, 1996a ;CSEF, 1994; Departamento, 1996; Dicas , 1996; Doors , 1993; Dore, Wagner &Brunet, in Mantoan, 1997, p. 174-183; Eigner, 1995a, 1995b; Ferguson, 1995;Ferguson & Rivers, 1992; Ferguson, Meyers, Jeanchild et al. , [1992]; Fores t &Pearpoint, in Mantoan, 1997, p. 137-141; Harrington, 1996; Ide, in Mantoan,

    II.

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    1997, p . 211-214; Inclusion In terna tional , 1995; Inclusion, 1993; Jonsson,1996, 1994; Louisiana, 1996; Mantoan et al. , 1997; MacCarthy, 1994; Mader ,in Mantoan, 1997, p. 44-50; McWhir, 1996; Rafalowski-Welch, Luksa &Mohesky-Darby, 1994; Rioux, Crawford & Porter , 1992; Robertson, Barousse& Squires, [1995]; Rogers, 1995; Saint-Laurent, in Mantoan, 1997, p. 67-76;Santos, 1997a, 1997b; Sassaki, 1996, 1995b, 1995a; Smith, 1996;Solucionando, 1996; Staub & Peck, 1995; Steenlandt, 1995b, 1995a; UNESCO,1996, 1994b, 1994a, 1993b, 1993a; Werneck, 1997; Willis, 1994).

    Segundo Mantoan (1997), a inclusao:"questiona nao somente as politic as e aorganizacao da educacao especial e regular, mastambem 0 conceito de mainstreaming . A nocaode inclusao institui a insercao de uma formamais radical, completa e sistematica. 0 vocabulointegracao e abandonado, uma vez que 0objetivo e incluir urn aluno ou urn grupo dealunos que ja foram anteriormente exclufdos; ameta primordial da inclusao e a de nao deixarninguem no exterior do en s ino regular, desde 0comeco, As escolas inclusivas prop6em urnmodo de se constituir 0 sistema educacional queconsidera as necessidades de todos os alunos eque e estruturado em virtu de dessasnecessidades. A inclusao causa uma mudanca deperspectiva educacional, pois nao se limita aajudar somente os alunos que apresentamdificuldades na escola, mas apoia a todos:professores, alunos, pessoal administrativo, paraque obtenham sucesso na corrente educativageral." (p. 145)

    A educacao inclusiva e hoje uma realidade em muitospaises e a cada dia ganha novos adeptos, conforme pude constatarnao somente atraves da literatura disponivel como tam oer nassistindo a palestras em congressos (nos EUA, Pais de Gales e114

    Brasil) e conversando pessoalmente com especialistas dos EUA(Texas, Louisiana, Oregon, illinois, Washington, D.C.), doCanada (Quebec), do Brasil (Sao Paulo, Belo Horizonte etc.) erepresentantes da UNESCO.

    Transicao da escola para 0 trabalho

    Assevera a Declaracao de Salamanca que:"os jovens com necessidades educacionaisespeciais devem receber ajuda para fazer umaeficaz transicao da escola para a vida adultaprodutiva. As escolas devem ajuda-los a setornarem economicamente ativos e prover-lhesas habilidades necessarias no dia-a-dia,oferecendo treinamento em habilidades querespondam as demandas SOCIalS e decomunicacao e as expectativas da vida adulta.Isto requer tecnologias apropriadas detreinamento, inc1uindo experiencia direta emsituacoes de vida real fora da escola. Oscurrfculos para os alunos com necessidadeseducacionais especiais em classes marsadiantadas devem incluir programastransicionais especfficos, apoio para ingressaremno ensino superior sempre que possfvel esubseqiiente treinamento profissional que osprepare para atuarem como membroscontribuintes independentes em suascomunidades apos terminarem estudos. Estasatividades devem ser executadas com apart icipacao ativa de conselheiros profissionais,agencias de colocacao, sindicatos, autoriclud s

    II

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    locais e diferentes services e entidadesinteressados." (1994a, 56).

    Neste sentido, cabera a cada escola:

    1. Preparar 0 aluno para 0 sucesso profissional e vidaindependente: Provendo profissionalizacao (trabalhador capacitado, produtivo

    etc.) Provendo program a de desenvolvimento de habilidades e

    conhecimentos da vida profissional e vida independente(trabalhador responsavel, pessoa com habilidades sociais ecidadao independente). Adaptacao e uso de tecnicas desupervisao empresarial:

    a) Dar feedback imediato pelo born desempenho do aluno.b) Modificar tarefas designadas, dependendo da

    facilidade/dificuldade do aluno.c) Modelar comportamento, mostrando comportamento

    especifico a ser aprendido(ex: pontualidade, quando seausentar da escola etc.).

    d) Fazer 0 aluno "espelhar" urn funcionario da escola(quanto aos habitos de trabalho).

    e) Descrever expressamente as responsabilidades da tarefa(objetivo, prazo, apresentacao de relatorio etc.).

    f) Usar uma lista de verificacao de tode 0 processo deexecucao da tarefa (tipo SIM, NAO)g) Elaborar instrucoes detalhadas (ex: para levantar ofertas

    de emprego na comunidade, anotar nome e endereco daempresa, nome dos empregos, data da pesquisa etc. ) .

    h) Apontar urn comportamento social inadequado eoferecer sugest6es para melhora-lo (ex: naocumprimentar, nao pedir desculpas, nao agradecer).

    116

    i) Pedir ao aluno que aponte as instrucoes que naoentendeu.

    2. Preparar a propria escola para incluir nela 0 alunoportador de deficiencia: Sensibilizacao e treinamento dos recursos humanos da escola(todos os funcionarios de todos os niveis). Reorganizacao dos recursos materiais e ffsicos da escola. Preparar a comunidade para incluir nela 0 futuro trabalhador. Sensibilizacao das empresas, entidades e orgaos da

    comunidade, atraves de palestras, exposicoes, visitas e outroseventos.

    Sensibil izacao de pais de alunos (deficientes e nao-deficientes)para urn papel mais ativo em prol de uma escola inc1usiva e deuma sociedade inclusiva.

    3. Onde e como?Essa preparacao devera ocorrer em sala de aula, em setoresoperacienais da escola e na comunidade. Devera haver acaoconjunta do diretor e dos professores da escola, das autoridadeseducacionais, dos profissionais de educacao especial e/ou dereabilitacao, dos lfderes do movimento dos portadores dedeficiencia e representantes da comunidade.

    117

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    As sementes do conceito de educacao inclusivao ideal da igualdade de oportunidades em todos os setores,

    incluindo a educacao, oficialmente documentado pela ONU em1981, foi novamente consagrado em 1983 no Programa Mundialde A'.;30Relativo as Pessoas com Deficiencia.

    Este documento preceitua 0 seguinte:... a educacao [das pessoas com deficiencia] deveocorrer no sistema escolar comum ( ... ). As medidaspara tal efeito devem ser incorporadas no processo deplanejamento geral e na estrutura administrativa dequalquer sociedade ( 22).

    o direito da pessoa deficiente a educacao comum estaimplicito na Declaracao Mundial de Educacao para Todos,aprovada pela ONU em 1990 e que par sua vez inspirou 0 nossoPlano Decenal de Educacao para Todos (Brasil , Ministe rio daEducacao e do Desporto, 1993) .

    Em seguida, a UNESCO registrou, na Declaracao deSalamanca (1994a), 0 conceito de inclusao no campo daeducacao comum. Esse mesmo documento menciona os conceitosde inclusao, educacao inclusiva, abordagem de educacaoinclusiva, classes inclusivas, escolas inclusivas, principiosde inclusao, escolaridade inclusiva, polit icas educacionaisinclusivas, provisao inclusiva as necessidades educacionaisespeciais, inclusao na educacao e no ernprego e tambernsociedade inclusiva. (p. iii, ix, 6,11-13,17-19,21,22,27,31,33,41,45,46)

    Na sequencia, a Assembleia Geral da ONU aprovou 0documento Normas sobre a Equiparacao de Oportunidadespara Pessoas com Deficiencia (1996), que diz:

    118

    "1. As autoridades da educacao comum saoresponsaveis pela educacao de pessoas comdeficiencia em ambientes inclusivos. Elasdevem garantir que a educacao de pessoas comdefici enc ia seja uma parte integrante doplanejamento educacional nacional, dodesenvolvimento de curriculo e da organizacaoescolar."2. A educacao em escolas comuns pressupoe aprovisao de interprete e outros servicos de apoioadequados. Servicos adequados de acessibilidadee de apoio, projetados para atender as necessidadesdepessoas com diferentes deficiencias, devem serprestados." (p. 28)

    Anexos

    Consideracoes interessantes sob 0 ponto de vista praticoconstam de inumeros textos sobre educacao inclusiva, levando-mea transcrever parte dos mesmos ate 0 final deste Capitulo.

    I - Trechos da Declaracao de SalamancaPara proceder as mudancas fundamentais na polit ica exigidas pela abordagemde educacao inc lusiva, e necessa rio "capac it ar escolas comuns para atendertodos os alunos, em parti cula r aqueles que sao portadores de necessidadescspeciais." (p. iii)o principio da inclusao consiste no "reconhecimento da necessidade de seca r n inha r rumo a 'escola para todos' - ur n lugar que inc1ua todos os alunos,

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    celebre a diferenca, apoie a aprendizagem e responda as necessidadesindividuais." (p. iii)"Cremes e proclamamos que ( ... ) as escolas comuns com esta orientacaoinclusiva sao 0 meio mais eficaz de combater atitudes discriminat6rias, criandocomunidades acolhedoras, construindo uma sociedade inclusiva e conseguindoeducacao para todos; ale rn do mais, elas oferecern uma educacao eficaz para amaioria das criancas e melhora a eficiencia e em ultima analise 0 custo-beneffcio de todo 0 sistema educacional" (p. ix)Todos os governos devem "adotar em suas leis e politic as 0 principio daeducacao inclusiva, matriculando todas as criancas nas escolas comuns, amenos que haja raz6es de forca maior para nao faze-lo, ( ... ) desenvolverproj etos de demonstracao e est imular inte rcambios com paises que tenhamexperiencia com escolas inclusivas, (. ..) investir maior esforco em estrategias deidentif icacao e intervencao precoces, bern como em aspectos profissionais daeducacao inclusiva" (p. ix)"Ha urn emergente consenso de que criancas e jovens com necessidadest iucacionais especiais devem ser incluidas nos planos educativos fei tos para aruaioria das criancas, Isto levou ao conceito de escola inclusiva, 0 desaf io parauma escola inclusiva e 0 de desenvolver uma pedagogia centrada no aluno, umapedagogia capaz de educar com sucesso todos os alunos, incluindo aqueles comdeficiencias e desvantagens severas." (p. 6)"A experiencia em muitos paises demonstra que a integracao das criancas ejovens com necessidades educac ionai s espec iai s e melhor a tingida dent ro deescolas inclusivas que atendem todas as criancas na comunidade. (.. .) Enquantoas escolas inclusivas of ere cern ambientes favoraveis para se conseguiroportunidades iguais e participacao plena, seu sucesso exige urn esforcoconjunto, nao somente de professores e funcionar ios da escola, como tambernde alunos, pais, familias e voluntaries ." (p, 11)"0 principio fundamental da escola inclusiva consiste em que todas as pessoasdevem aprender j untos, onde quer que isto se ja possive l, nao importam qua isdificuldades ou diferencas elas possam ter. Escolas inclusivas precisamreco.ihecer e responder as necessidades diversificadas de seus alunos,acomodando os di ferentes est ilos e ritmos de aprendizagem e assegurando120

    educacao de qualidade para todos mediante currfculos apropriados , mudancasorganizac ionai s, estra tegias de ensino, uso de recursos e parcerias com suascomunidades." (p. 11-12)"Nas escolas inclusivas, as criancas com necessidades educacionais especraisdevem receber todo apoio extra que elas possam requerer para garantir suaeducacao eficaz, A escolarizacao inclusiva e 0 meio mais eficaz para se formarsolidar iedade entre criancas com necessidades especiais e seu colegas ." ( .. .) Asescolas especiais podem tambern servir como centros de treinamento e derecurs os para 0 pessoal de escolas comuns. Finalmente, as escolas ou unidadesespeciais dentro de escolas inclusivas podem continuar a prover educacao maisapropriada para urn mimero relativamente pequeno de criancas com deficienciasque nao podem frequentar adequadamente classes ou escolas regulares." (p. 12)"A experiencia, alern do mais, sugere que as escolas inclusivas, servin do todasas criancas em uma comunidade, tern mais sucesso na obtencao de apoio dacomunidade e em encontrar meios criat ivos e inovadores para usar os l imitadosrecursos que estiverem disponiveis." (p. 13)

    "A preparacao adequada de todo 0 pessoal da educacao const itu i urn fa tor-chave na promocao do progresso em direcao as escolas inclusivas." (p. 27)"A provisao de services de apoio e de importancia primordia l para 0 sucessodas politicas educacionais inclusivas." (p. 31)"0 sucesso da escola inclusiva depende, consideravelmente, de identif icacao,aval iacao e est imulacao precoces das c riancas bern pequenas, portadoras denecessidades educacionais especiais." (p. 33)"0 desenvolvimento de escolas inclusivas como 0 meio mais eficaz de seconseguir educacao para todos preci sa ser reconhec ido como uma po lit ica -chave do governo e te r urn lugar de destaque no plano de desenvolvimento deuma nacao. ( ... ) Conquanto as ccnunidades devam desempenhar urn papelessencial no desenvolvimento de escolas inclusivas, 0 apoio e estirnulo dogoverno sao tambem primordiais na busca de solucoes e ficazes e viavei s. ( ... )"Pode ser realist ico comecar apoiando aquelas escolas que desejern promovereducacao inclusiva e des lanchar projetos-piloto em algumas regioes a f im de seadquirir a necessaria perfcia para a expansao e a general izacao progressiva. Na

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    generalizacao da educacao inclusiva, 0 nivel de apoio e a pericia terao que sercompativeis com a natureza da demanda." (p. 41)

    II - Ideias sobre educacao inclusiva,traduzidas por Romeu Kazumi Sassaki, de material compilado pelo ProjetoEstadual de Mudanca de Sis temas para a Educacao Inclusiva da Louis iana

    oProjeto Estadual deMudanca de Sistemas para a EducacaoInclusiva, da Louisiana, EUA, realizou em fevereiro de 1995 umaserie de consultas a fontes primarias e compilou algumas ideias sobreo processo da inclusao no sistema educacional geral naquele pais.

    DEFINIC;OES BAsICAS"Educacao inclusiva signif ica provisao de oportunidades equitat ivas a todos osestudantes, incluindo aqueles com deficiencias severas, para que eles recebamservices educacionais eficazes, com os necessaries services suplementares deauxilios e apoios, em classes adequadas a idade em escolas da vizinhanca, a f imde prepara-los para uma vida produtiva como membros plenos da sociedade."(Centro Nacional de Restruturacao e Inclusao Educacional, 1994)."Educacao inclusiva e uma atitude de aceitacao das diferencas, nao uma simplescolocacao em sala de aula." (Leituras sobre Inclusao, 1994)

    FAZER INCLUSAO NAO E :(Fonte: Project Prompt, 1994)

    I. "Descarregar" - sem preparacao ou suportes - estudantes portadores dedeficiencia em salas de aula comuns.e ambientes comunitarios.

    2 . lgnorar as necessidades individuais do estudante mediante decisoes (sobredesignacao de sala ou instrucao) baseadas em seus tipos de deficiencia.

    3. Expor estudantes a perigos ou riscos desnece~sarios.122

    4. Colocar demandas desmedidas sobre professores e diretores violando a ideiada proporcao natural (10% do corpo discente tern PIanos Individualizadosde Educacao dos quais 1% possui deficiencia severa) e sobrecarregandoescolas com mais estudantes do que elas podem normal mente suportar.

    5. Ignora r as preocupacoes dos pai s mediante designacao de sa la e dec isoesinstrucionais sem a participacao deles.6. Limitar oportunidades integradas para estudantes deficientes as atividades"especiais" (em arte, rnusica, reunioes), quaisquer que sejam suasnecessidades individuais.

    POR QUE PRECIS AMOS DA EDUCA

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    I. Aceitacao de todas as criancas e de todos os adultos jovens como pessoasem primeiro lugar.

    2 . Compromisso de oferecer 0 maximo de apoio que um estudan te necessit apara ter exito em tantos ambientes educacionais comuns e ambientescomunitarios quanto possfveis.

    3 . Professores, terapeutas, paraprofiss ionais e diretores venda a s i pr6pr ios emuma nova perspectiva, como uma equipe que inclui os pa is como membrosiguais e que enfatiza a criatividade e uma atitude de solucao-de-problema.

    4. Enfoque nos sonhos e metas dos pais para 0 futuro dos seus filhos.5. Uma cornpreensao do fato de que nao e necessario que todos os estudantes

    tenham as mesmas metas educacionais para aprenderem juntos em classescomuns.

    6. Uso de "urn bom ensino" para todos os estudantes.

    BENEFICIOS DA EDUCAc;Ao INCLUSIV APARA TODOS OS ESTUDANTES(Fonte: Programa da ONU em Deficiencias Severas, 1994).

    1. Os estudantes 9!!!! deflciencia: desenvolvem a apreciacao pela diversidade individual;adquirem experiencia direta com a variacao natural das capacidades

    humanas;demons tram crescente responsabilidade e melhorada aprendizagern atravesdo ensino entre os alunos;estao melhor preparados para a vida adulta em uma sociedade diversificadaatraves da educacao em salas de aula diversificadas;frequenternente experienciarn apoio acadernico adicional da parte do pessoalde educacao especial;podem participar como aprendizesdiversificadas (aprendizado cooperative,centros de aprendizagem etc.)

    sob condicoes instrucionaisuso de tecnologia baseada em2. Os estudantes sem deficiencia: tern acesso a uma gama mais ampla de modelos de papel social, atividades

    de aprendizagem e redes sociais;

    124

    desenvolvem, em escala crescente, 0 conforto, a confianca e a cornpreensaoda diversidade individual deles e de outras pessoas;

    demonstram crescente responsabil idade e crescente aprendizagem atravesdo ensino entre os alunos;

    estao melhor preparados para a vida adulta em uma sociedade diversifi cadaatraves da educacao em salas de aula diversificadas;

    recebem apoio instrucional adicional da parte do pessoal da educacaocomum;

    beneficiam-se da aprendizagem sob condicoes instrucionais diversificadas.

    AS "MELHORES pRAnCAS"EMERGENTES EM EDUCAc;Ao

    Aprendizado cooperativo. Instrucao baseada em projeto/atividade. Ensino ent re alunos de todas as idades. Educacao que seja mult icultural. Educacao que reconheca e ensine para intel igencias rnult iplas e diferentes

    estilos de aprendizagem. "Const ruct 0 do senso de cornunidade" nas salas de aula e escolas.

    ADAPT Ac;OES DE SALAS COMUNSPARA A INCLUSAO DE

    ESTUDANTES COM DEFICrENCIA(Fonte: Centro para 0Ministerio com Pessoas Deficientes,

    da Universidade de Dayton, EUA)

    Todos os estudantes, quaisquer que sejam suas capacidades, iraobenefic iar -se das aulas de educacao que sej am menos dependentes de livros emais experienciais, mais cooperativas, mais holfsticas e mais multi-sensoriais!! !

    Todas as adaptacoes de sala de aula devem ser feitas com 0 menor"cstardalhaco" possivel e com 0 maximo de boa vontade e hospi tal idade. Emncnhuma hipotese, devera a deficiencia ser apontada de uma forma.onstrangedora ou enfatizada, nem tampouco ser ignorada. Algumas daspossiveis adaptacoes de salas comuns sao as seguintes:

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    Para ~om estudantes com impedimentos auditivos, 0professordevera: Sentar-se na frente da sala. Usar recursos visua is. Falar claramente. Se 0 estudante usa a l ingua de sinais, aprender os sina is e est imu lar out rosestudantes a aprende-los tarnbem,Para com estudantes com distiirbios de comportamento 0professor devera: ' Aplicar tecnicas de modificacao de comportamento.

    Designar responsabilidades especiais.Identificar os pontos fortes deles.Ignorar comportamentos inadequados, quando possivel.Focalizar os pontos bons e elogia-los,Formar grupos de aprendizado coopera tivo com inst rucoes e metas berncIaras.

    Para com estudantes com dificuldades de aprendizagem 0professor devera: ' Permitir 0 uso de maquina de escrever ou urn colega para tomar notas .

    Usar gravador de audio.Dar exames orais.Oferecer adaptacoes que 0 estudante usa na escola: caneta lumicolor paraacompanhar leitura ern livro, tarefas simplificadas, recursos visuais etc.

    Para com estudantes com impedimentos visuais, 0 professordevera: Sentar-se na frente da sala.

    Repetir conceitos para 0 estudante gravar e ouvir em casa.Usar a dramatizacao,Escrever na lousa em letras grandes.Se 0 estudante I e braile, usar livros brailm rai e e estimular os outros a

    aprender 0 braile.

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    Para com estudantes com limitacoes motoras, 0 professordevera: Fazer os colegas se revezarem para ajudar. Usar materiais pre-cortados.

    Usar materiais que sejam faceis de manusear.Fazer esses estudantes sentar em-se pr6ximo a safdas de ernergencia semficarem isolados dos colegas.

    Oferecer papeis adaptados nas dramatizacoes.

    Providenciar salas e outros espacos que sejam acess iveis,Para com estudantes com deficiencia mental, 0 professordevera: Usar 0 sistema de companheiro. Formar grupos de aprendizado cooperativo. Contar hist6r ias para ens inar conceitos abs tratos . Preparar versoes simplificadas do material .

    CARACTERISTICAS DA EDUCAC;Ao INCLUSIV A(Fonte: Projeto de Educacao Inclusiva, da Syracuse University)

    Meta de participacao plena para todos os estudantes.Urn forte "senso de comunidade" na sala de aula, por toda a escola eenvolvendo pais e atendentes pessoais.o estudo e a celebracao da diversidade.Currfculos e metodos que estao adaptados para as necessidades individuais.Parceria ativa com os pais.Suportes suficientes para estudantes e equipe da escola.

    REFERENCIASANDREWS, Julie, BRAUD, Debbie, NORRIS, Kathy t;\; al. Superintendent'sinformation packet on school reform and inclusive education. [Baton

    Rouge]: Louisiana Coalition for Inclusive Education, ago. 1995. [85 p.]AUCOIN, N., COLEMAN, J. , CABALLERO, A. Inclusion: Making it work-

    Park Forest Middle School Reach-In Program. Bs t on Rouge, 1996.24 p.apost.BEAUPRE, Pauline. 0 desafio da ini~'1.':.,,~~~30scolar: enfase na aprendizagemacademica. In: MANTOAN, Maria Teresa Egl=c. A integracdo de pessoas

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    SILVA, Marinalva R.:8. Atendimento as necessidades educativas especiais; umaexperiencia da polftica publica do Estado de Tocantins. lntegr Acda,Brasilia, v . 5 , n . 13,1994, p. 37-38.

    STEEENLANDT, Daniell e van. La UNESCO y la educaci6n especia l. EnMarcha, Bruxelas , n . 1 ,maio 1995, p. 4-6.TOMAZELA, Jose Maria. Sorocaba faz tes te com deficientes : estudantes comproblemas ffsicos e mentais tern aulas com alunos regulares . 0 Estado deSdo Paulo, Sao Paulo, 19fey. 1995, p. A-26.

    UNESCO. Review of the present situation of special education. 1988, 14p.UNITED NATIONS. The Tallinn guidelines for ac tion on human resources

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    VERISSIMO, Kleber. Como fica a educacao? Toque a Toque, Rio de Janeiro,v. VII, n. 19, p. 30, fey. 1997.

    VIANA, Francisca A. (coord.). Proposta de integracao do portador dedeficiencia no s is tema regular de ensino: Rio Grande do Norte. Integ rAcdo,Brasf lia, v .5 , n . 13, 1994, p. 36.

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    WARNOCK, Mary. Meeting special educat ional needs. Londres: HerMajesty's Stationery Offfice, 1979,34 p.

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    6Inclusao: Desenho universal

    em ambientes fisicos" A . medida que 0 conceito de cidadania se sedimenta e asconquistas sociais procedem, torna-se notorio que amobilidade com autonomia Ii um direito universal." -Veronica Camisao.

    Convenciono chamar de ambientes ffsicos todas as coisasconstruidas que cercam 0 ser humano: as edificacoes, os espacosurbanos, os equipamentos urbanos, 0 mobiliario, os aparelhosassistivos, os utensilios e os meios de transporte.

    Como sao ambientes construidos, eles foram antesdesenhados segundo diferentes perspectivas de seus projetistas.

    Neste capitulo, examinaremos alguns conceitos especfficosda area de acessibilidade ao meio fisico, importantes para tornar asociedade mais inclusiva.

    DesenhoA palavra 'desenho' vern diretamente de design, que

    significa 'projeto'. 0 arquiteto Guillermo Cabezas Conde,estabelece tres niveis conceituais: Planejamento, projeto e

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    construcao. Planejar e tracar, formar e expor urn plano. Projetar(desenhar) e tomar visivel sobre uma superficie plana - seja umatela ou urn papel - as plantas e a disposicao desenhada para aexposicao do material de urn ediffcio acessivel que possaabranger, alern dos seus pianos, a memoria, os calculos estruturais,o orcamento, a descricao dos materiais, desenhos e detalhes paraessa concepcao arquitetonica possa ser idealizada e realizada.Construir e fabricar ou criar espacos ordenados, intemos eextemos, de acordo com 0 projeto (desenho) ja concebido; ematerializar uma concepcao arquitetonica acessivel. Para Conde,e preferfvel a util izacao do termo 'arquitetura' ao inves da palavra'desenho'. Assim, temos 'arquitetura acessfvel' e 'arquiteturauniversal' ou 'arquitetura para todos'. (Conde, p. 94)

    Desenho acessivel

    Como se recorda, 0 movimento pela eliminacao deba~eir~s arquitetonicas surgiu no infcio da decada de 60. Algumasumversidades americanas foram pioneiras em se preocupar com aexistencia de barreiras ffsicas nos proprios predios escolares, nosespacos abertos dos campi enos transportes universitarios eurbanos. A historia registra que 0 ativista de vida independenteEd Roberts ~ portador de tetraplegia que a noite precisava dormirdentr~ de urn pulmao de a90 ~ e alguns colegas universitariostambem portadores de deficiencias severas convenceram aprefeitura da cidade de Berkeley, na California, EUA, a fazer asprimeiras guias rebaixadas do mundo (Sassaki, 1997).

    . Inicialmente, 0 movimento procurou chamar a atencao dasociedade para a existencia desses obstaculos e para a necessidadede elimina-los ou, pelo menos, reduzi-los ao minimo possivel. Foiaf que se cornecou a falar em 'adaptacao do meio fisico '. 0importante era adaptar os (ja existentes) ambientes ffsicos,transportes e produtos, de tal forma que eles se tomassem138

    utilizaveis pelos portadores de deficiencia. Ouvia-sefreqiientemente referencia a "predio adaptado", "onibusadaptado", "carro adaptado", "restaurante adaptado", "cinemaadaptado" etc.

    E interessante notar que 0 discurso deste movimentosempre defendeu a tese de que os ambientes adaptados sao uteisnao so para os portadores de deficiencia mas tambern para aspessoas obesas, de baixa estatura, idosas e aquelas que estivessemtemporariamente impossibilitadas de deambular.

    Com 0 passar do tempo e em contraposicao a pratica desimplesmente adaptar ambientes ffsicos enquanto outrosambientes inacessiveis iam sendo criados, surgiu 0 conceito dedesenho acessivel. 0desenho acessfvel e urn projeto que leva emconta a acessibilidade voltada especificamente para as pessoasportadoras de deficiencia ffsica, mental, auditiva, visual ourruiltipla, de tal modo que elas possam utilizar, com autonomia eindependencia, tanto os ambientes ffsicos (espacos urbanos eedificacoes) e transportes, agora adaptados, como os ambientes etransportes construidos com acessibilidade ja na fase de suaconcepcao, Hoje e mais comum ouvirmos referencias a "predioacessfvel" e "onibus acessfvel" quando estes foram construidos jacom acessibilidade.

    Embora seja extremamente titil garantir que os novosambientes e transportes ja nascam acessfveis, continua sendonecessario e urgente adaptar os muitos ambientes inacessiveis queainda existem e outros que serao construfdos inadvertidamentesem acessibilidade. A Organizacao das Nacoes Unidas (ONU),em recente documento, reconheceu que:

    ha urgente necessidade de [...J eliminacao debarreiras ffsicas e sociais, visando a criacao de umasociedade acessivel a todos, com enfase part icular demedidas para corresponder a necessidades e interesses

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    dos que enfrentam dificuldades em particrparplenamente da sociedade; [...J . (Nacoes Unidas, p. r o o )

    o desenho acessivel e tambern conhecido como 'desenhosem barreiras' ou 'arquitetura sem barreiras'. Os produtos eambientes feitos com desenho acessfvel sinalizam que eles saodestinados exclusiva ou preferencialmente para pessoas comdeficiencia, pois suas aparencias lembram algo medico,institucional ou, em todo caso, especial. Neste sentido, eles saoestigmatizantes apesar de bern-vindos.

    Desenho universalPara 0 arquiteto Edward Steinfeld (1994, p. 87), 0 desenho

    universal abrange produtos e edificios acessiveis e utilizaveis portodos, inclusive pelas pessoas com deficiencia, daf ser elediferente do desenho acessivel explicado no paragrafo anterior.Prossegue Steinfeld, ensinando que:

    0 desenho universal nao e uma tecnologiadirecionada apenas aos que dele necessitam; e paratodas as pessoas. A ideia do desenho universal eevitar a necessidade de ambientes e produtos especiaispara pessoas com deficiencia, no sentido de assegurarque todos possam utilizar todos os componentes doambiente e todos os produtos. Ha quatro principiosbasicos do desenho universal: 0 primeiro e acomodaruma grande gama antropometrica, e isto significaacomodar pessoas de diferentes dimensoes: altas,baixas, em pe, sentadas etc.; 0 segundo principio ereduzir a quantidade de energia necessaria para utilizaros produtos e 0 meio ambiente; 0 terceiro e tornar 0ambiente e os produtos mais abrangentes e 0 quartoprincfpio e a ideia do desenho de sistemas, no sentido

    140

    de pensar em produtos e ambientes como sistemas,que talvez tenham pecas intercambiaveis ou apossibilidade de acrescentar caracteristicas para aspessoas que tern necessidades especiais (1994, p. 87)

    o desenho universal e mais vantajoso do que 0 desenhoacessivel porque atende a varias necessidades de um maiormimero de pessoas, entre as quais estao aquelas direta ouindiretamente relacionadas aos seguintes motivos, segundoSteinfeld em um outro documento:

    1. Aumento no mimero de sobreviventes dadeficiencia; 2. Aumento na expectativa de vida. 3.Aumento no poder de compra das pessoas comdeficiencia. 4. Desenvolvimento do 'rnercado cinza'[onde os compradores sao pessoas acima de 50 anosde idade]. .5 . Reconhecimento da inadequacao deprodutos tecnologicos assistrvos. 6. Produtos eambientes nao foram projetados para pessoas idosas.(Steinfeld, 1994, p. 1-2)

    o desenho universal pode ser chamado 'desenho paratodos' ou, como sugere Conde (1994), 'arquitetura para todos'.Hoje, colocado dentro do movimento da inclusao social, 0desenho universal poderia tambern ser chamado 'desenhoinclusivo', ou seja, projeto que inclui todas as pessoas. Osprodutos e ambientes feitos com desenho universal ou inclusivonao parecem ser especialmente destinados a pessoas comdeficiencia, Eles podem ser utilizados por qualquer pessoa,deficiente ou nao. E ate possivel que pessoas nao-deficientes nempercebam, nesses produtos ou ambientes, certas especificidadesque atendem as necessidades de pessoas com deficiencia. .

    Juntando os conceitos de integracao, inclusao, desenhoacessivel e desenho universal, podemos estabelecer a seguintecorrelacao entre eles:

    141

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    No esforco de integracao, algumas pessoas deficier tesconseguem inserir-se na sociedade como ela esta, portanto naorequerendo nem desenho acessivel nem desenho universal. Muitaspessoas com deficiencia necessitam que sejam feitas adaptacoese/ou que sejam feitas construcoes ja acessiveis, caso em que temsido utilizado mais 0 desenho acessivel. No esforco de inclusao,tanto as adaptacoes como as novas construcoes se utilizam dodesenho universal.

    Um exemplo de sobreposicao das duas fases deimplementacao, a do desenho acessivel e a do desenho universal,esta no modo como estamos enfrentando as barreirasarquitetonicas das cidades e dos transportes urbanos (Crespo, p . 4, 9-10). Apos uma fase em que predominaram as adaptacoes feitas nascalcadas e em alguns onibus ou peruas (vans), as quais ternevidente aparencia de providencia destinada a pessoas comdeficiencia, estamos na fase em que cada vez mais espacosurbanos e meios de transporte ja estao sendo planejados econstruidos de tal forma que neles nao se nota nada de especial.Isto constitui um dos sinais do surgimento de uma sociedadeinc1usiva.

    Um bom exemplo de instrumento de avaliacao, no queconcerne ao nivel de acessibilidade de uma cidade, foi criado peloCornite de Acao Nacional sobre Acessibilidade Municipal, daFerl=racao de Municipalidades Canadenses. 0 instrumento sechama "A How-to Manual on Municipal Access" (Manual Praticode Acesso Municipal) e cobre as seguintes areas: LiderancaMunicipal, Transporte, Habitacao, Emprego, Recreacao, Educacaoe Comunicacoes. (Federation, [1993?J)

    Em outras palavras, da velha ideia de se exigir, porexemplo, 'urn predio adaptado' estamos passando a construir 'urnpredio para todos'. A mesma coisa acontece com 0 'transporteadaptado': ate 0 leigo ja esta falando em 'transporte para todos'(Goitia, 1997).142

    Ate 0 Simbolo Internacional de Acesso - que seconvencionou afixar em veiculos adaptados e em recintosarquitetonicamente acessiveis a pessoas com deficiencia (Sassaki,1996) -- estara com seus dias contados num futuro proximo,quando 0 desenho universal for adotado como norma (Sassaki, 1994,p. 176).

    Mas, como observa 0 arquiteto Marcelo Guimaraes (1994,p. 92), 0 processo do "design universal nao e um estagio em que seconseguira resolver os problemas, seguindo apenas as nonnasracionais. As normas sao, simplesmente, uma questao deorientacao que depende, na verdade, da incorporacao daexperiencia de cada arquiteto, da sua interpretacao, para que 0nosso vocabulario espacial e ambiental seja maior."

    REFERENCIASCAMISAo, Veronica. Desenho universal: arquitetura para todos. Rio deJaneiro: CVI-RJ, [1994]. 1 p. apost.CONDE, Guilherme C. Arquitetura para todos. In: Curso Basico sobre

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    CRESPO, Ana Maria M. Transporte [e] acesso ambiental [e] acesso ao voto[e] acesso a comunicacdo. In: Pessoas com deficiencia e a const rucao dacidadania. Sao Paulo: PRODEF, 1995. p. 4, 9-10. apost .

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    _. Simbolo International de Acesso: diretrizes oficiais, Sao Paulo:PRODEF/APADE, 1996.22 p.

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