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CURSO DE APERFEIÇOAMENTO EM PRÁTICAS EDUCACIONAIS INCLUSIVAS: relatos dos participantes Editora FC/UNESP Bauru - 2015 Vera Lúcia Messias Fialho Capellini Olga Maria Piazentin Rolim Rodrigues (organizadoras)

INCLUSIVAS: EDUCACIONAIS EM PRÁTICAS … · Com o vibrar da cama elástica, seu corpo saltava também. E ele ria, gargalhava alto, como eu nunca havia visto antes. Não fui a única

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CURSO DE

APERFEIÇOAMENTO

EM PRÁTICAS

EDUCACIONAIS

INCLUSIVAS:

relatos dos participantes

Editora FC/ UNESP

Bauru - 2015

Vera Lúcia Messias Fialho Capellini

Olga Maria Piazentin Rolim Rodrigues

(organizadoras)

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VERA LÚCIA MESSIAS FIALHO CAPELLINI OLGA MARIA PIAZENTIN ROLIM RODRIGUES

Organizadoras

CURSO DE APERFEIÇOAMENTO EM PRÁTICAS EDUCACIONAIS INCLUSIVAS: RELATOS DOS PARTICIPANTES

Editora FC/UNESP Bauru 2015

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Faculdade de Ciências. Bauru/UNESP – ISBN 978-85-99703-80-9 Av. Eng. Luiz Edmundo C. Coube, 14 -01

17033-360 - Bauru-SP - Brasil Telef. (14) 3103 6000

Permitido a reprodução desde que citada a fonte

UNESP – Universidade Estadual Paulista Vice-reitor no exercício da Reitoria – Prof. Dr. Julio Cezar Durigan

Campus de Bauru

Faculdade de Ciências – FC Diretora: Prof. Adj. Dagmar Aparecida Cynthia França Hunger

Vice Diretor: Prof. Adj. Paulo Noronha Lisboa Filho

Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem

Coordenadora: Profª. Drª. Alessandra Turini Bolsoni Silva Vice-Coordenadora: Profª. Drª. Ana Cláudia Moreira Almeida Verdu

Revisora de Língua Portuguesa Priscila Rocha Machado

Design gráfico Jamile de Oliveira

Ficha catalográfica 371.9

C986 Curso de aperfeiçoamento em práticas educacionais inclusivas : relatos

dos participantes / Vera Lúcia Messias Fialho Capellini, Olga Maria

Piazentin Rolin Rodrigues (organizadoras) – Bauru : UNESP/FC, 2015

115 p.104: il.

ISBN 978-85-99703-80-9

Inclui bibliografia

1. Práticas educacionais inclusiva. 2. Deficiência intelectual. 3.

Relatos de experiências. I. Capellini, Vera Lúcia Messias Fialho. II.

Rodrigues, Olga Maria Piazentin Rolin.

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Sumário

Apresentação 4

Prefácio 9

Práticas Inclusivas - Vivências do tutor em EaD 11

Relato de Experiência – Cleomara de Fátima Ferreira 21

Relato de Experiência – Elcen Nocera Simão 24

Relato de Experiência – Juliana Carla Tremontini de Carvalho 26

Relato de Experiência – Luciane Maria Molina Barbosa 32

Relato de Experiência – Marina de Souza Jacob 43

Relato de Experiência – Marina Pavão Battaglini 48

Relato de Experiência – Elaine Maria Nocera Kaizer 51

Relato de Experiência – Marilene Domanovski 53

Relato de Experiência – Luci Regina Alves de Paula 56

Relato de Experiência – Marilú Descanio Ramos e Denise Descanio 59

Relato de Experiência – Rosália Aparecida Puríssimo 69

Relato de Experiência – Giselda 73

Relato de Experiência – Sária Cristina Nogueira 77

Relato de Experiência – Luciana Apolônio Rodrigues Carneiro 80

Relato de Experiência – Adriane Aparecida Carneiro de Jesus 84

Relato de Experiência – Jaíza Helena 87

Relato de Experiência – Maria Antonia Almeida 88

Relato de Experiência – Olívia de Castro Oliveira Bento 90

Relato de Experiência – Marina Batista Santos de Carvalho 92

Relato de Experiência – Cecília Nogueira Siqueira Pereira 94

Relato de Experiência – Ana Cristina Brito de Costa 95

Relato de Experiência – Silvia Cavalcanti Vicentin 96

Relato de Experiência – Kátia de Abreu Fonseca e Luciana Apolônio Carneiro 103

Referências 113

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Apresentação

O livro Curso de Aperfeiçoamento em Práticas Educacionais Inclusivas: relatos

dos participantes foi pensado, principalmente, como veículo para divulgação de

experiências vividas por professores da Educação Básica de escolas públicas

(municipal ou estadual) que visam construir escolas que possam, de fato, ser

denominadas de Inclusivas. Tais professores participaram do curso de

Aperfeiçoamento em Práticas Educacionais Inclusivas, promovido pela Faculdade de

Ciências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Campus de

Bauru, sob minha direta coordenação, Prof.ª Dra. Vera Lúcia Messias Fialho

Capellini. Para o desenvolvimento deste trabalho, contei com o apoio de diversos

professores do Programa de Pós-graduação em Psicologia do Desenvolvimento e

da Aprendizagem, sobretudo, da Prof.ª Olga Maria Rolim Piazentin Rodrigues. Numa

parceria com o Ministério da Educação, por intermédio da, na época, Secretaria de

Educação Especial, que desenvolve, em parceria com o programa Universidade

Aberta do Brasil – UAB, o Programa de Formação Continuada de Professores na

Educação Especial que tem por objetivo formar professores dos sistemas estaduais

e municipais de ensino, através da constituição de uma rede nacional de instituições

públicas de educação superior que ofertem cursos de formação continuada de

professores na modalidade à distância.

Este livro de Relatos tem como temática geral o amplo campo da educação,

tornando-se porta-voz de experiências concretas e verdadeiras que versam acerca

de questões imediatas ou de curto prazo relacionadas às práticas educativas como

podemos observar no relato da professora-cursista quando diz:

“Interessante observar que fomos nos construindo enquanto grupo, criando

laços, apesar da distância que um curso na modalidade EAD nos impõe.

Não sei se o mesmo ocorreu com outros grupos, com outros tutores e

formadores, mas no caso de nossa turma, a turma 38, ficou claro que as

participantes, tutora e formadora, apresentaram, desde o início, grande

afinidade. O carinho nos emails trocados era palpável, se é que tal coisa

possa existir em termos de comunicação virtual.”

É satisfatório e digno de orgulho poder reunir aqui, relatos vindos de terras

longínquas. Queremos que nossos leitores participem dessas contribuições que vêm

de longe, mas que dizem respeito muito de perto à dignidade do ser humano em

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toda a face da Terra e, portanto, têm a ver de modo imediato com a tarefa educativa.

Realçamos com esses Relatos que a tarefa da educação é humana por excelência,

esmerando-se, muitas vezes, em seu aspecto científico, porém, sem nunca perder

de vista o humano que orienta a prática que devemos, quotidianamente, exercer.

A professora-cursista em seu Relato abaixo demonstra claramente nosso

objetivo de oferecer a você leitor, uma variada gama de experiências e de sugestões

de aprofundamento na compreensão da educação enquanto prática social. Seu

depoimento diz:

No segundo módulo, começamos a ter contato com a especificidade da

educação inclusiva, sua trajetória ao longo da história. Nesse ponto, que

sempre se levanta questionamentos sem fim, ficou visível o quanto já

progredimos quando falamos em inclusão, educação e sociedade. Em

nossos debates, nos maravilhosos bate-papos agendados, percebemos que

ainda há muito a se evoluir sim, sempre. Uma das características da

humanidade é a constante busca e necessidade de evolução é isso o que

nos torna diferentes dos demais animais, o que nos confere a racionalidade

como diferencial. Sendo assim, ainda precisamos e iremos sempre precisar

evoluir. Porém, quando olhamos para a história dos deficientes, em geral, é

fato que grandes e largos passos já foram dados até o presente momento.

Do total abandono, em lares especializados, passando pela época em que

divertiam o povo sendo usados como bobos da corte, vagando pelas vielas

da exclusão, transitando levemente pelo movimento da integração, quando

obtiveram um olhar diferenciado, até o momento inclusivo em que vivemos

hoje, o trajeto foi longo. Foi tortuoso, dolorido, muitas vezes, exaustivo para

os familiares, porém bem sucedido. Nos capítulos dois e três do módulo

dois, discutimos ética e direitos dos deficientes. Foram dois capítulos bem

intensos e com discussões bem acaloradas, diria eu. O assunto abordado

levantou o tapete de nossas vidas, de nossa sociedade e de nossas

escolas, mostrando que, muitas vezes, a lei é deixada de lado sim e todos

nós fazemos vista grossa. E o fazer vista grossa sinaliza uma forma de

negligência, pois embora, na maioria dos casos, não dependa única e

exclusivamente de nós professores, quando nos calamos ao perceber um

erro legal, estamos contribuindo para a perpetuação desse erro.

Finalizamos esse momento, percebendo nosso papel político na instituição

escola, junto aos nossos alunos da Educação Especial e da educação

regular que estejam incluídos.

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Neste livro, vamos encontrar Relatos que abordam questões filosóficas,

metodológicas e práticas que nos provocam, nos deixam incomodados e, muitas

vezes, numa situação instigante, impulsionando o Educador a buscar respostas em

cursos de aperfeiçoamento como este, em Relatos e vivências de outros

professores, em salas de bate-papo onde nossos cursistas se reuniram

semanalmente, para discutir e trocar experiências que deram certo. O Relato da

professora abaixo mostra o quão importante foi para ela a experiência de um curso

na modalidade de EaD.

E chegamos ao final do curso... Um curso que irá deixar muita saudade.

Quando optamos por um curso na modalidade EaD, invariavelmente, é por

falta de tempo para a realização do mesmo em modalidade presencial. Não

que o curso EaD não seja trabalhoso, pelo contrário, exige muito mais

disciplina. Quando não nos organizamos nas leituras e realizações das

atividades, dar prosseguimento parece impossível.

Meu olhar de educadora inclusiva saiu fortalecido desse curso. Através dos

textos, dos debates, dos emails trocados, fomos nos alimentando de

informação, de conhecimento, de experiências diversas, de ideias! A cada

dia, a cada ingresso na plataforma, uma nova e importante descoberta.

Minha prática... Passei a avaliar constantemente o meu fazer cotidiano.

Para cada dia, atribuo-me uma nota como educadora, percebo meus pontos

falhos, onde preciso melhorar, o que posso fazer nesse processo de

engrandecimento profissional.

Ser professor... Uma missão! Não somente uma profissão, pois não se

exerce tal função nas 8 horas em que se está frente à classe. Quando se é

professor, se é... 24 horas por dia, 7 dias por semana. As crianças do

mundo parecem estar sob sua responsabilidade, é como me sinto.

Ontem, 15 de outubro, dia do professor! Quero dividir um relato... Um

relato bobo talvez, mas que me fez encontrar, no dia de ontem, motivos

suficientes para acreditar que estou no caminho... Na véspera, 14 de

outubro, realizamos a festa do dia das crianças na escola onde leciono pela

manhã. Alugamos um pula-pula grande, pois nossos alunos são

adolescentes e adultos, é uma escola especial. Um dos meus alunos é

cadeirante e assistia a brincadeira dos demais alunos de sua cadeira de

rodas. No meio de tantas coisas para fazer, não me dei conta de imediato

de sua solidão. Não sei precisar o momento em que bati os olhos nele. Fui

até lá e perguntei se ele gostaria de ir no pula- pula. Ele disse que não. Eu

insisti, disse que o colocaria lá. Ele disse que sim. Não precisei de ajuda

para tirá-lo da cadeira e colocá-lo no brinquedo. E como ele não conseguia

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sustentar o corpo sentado, coloquei-o deitado mesmo, no centro da cama

elástica. Solicitei a outro aluno que pulasse bem devagar ao lado do meu

cadeirante. Com o vibrar da cama elástica, seu corpo saltava também. E

ele ria, gargalhava alto, como eu nunca havia visto antes. Não fui a única a

me emocionar ali. O monitor do brinquedo olhou para mim e disse que

nunca havia visto cena tão linda antes. Acabados os 3 minutos que lhe

eram de direito, coloquei-o de volta em sua cadeira, e a festa continuou

normalmente para todos nós.

Ontem à noite recebi uma ligação do aluno em questão. Era para me

desejar feliz dia dos mestres, dizer, com sua fala um pouco enrolada, que

sou muito importante para ele e que ele me ama. Emoção maior veio

depois, quando sua mãe veio ao telefone me falar que o brilho nos olhos de

seu filho, ao chegar em casa, relatando que havia pulado na cama elástica

e que eu o havia colocado lá, não tinha preço. A cada dia, na Educação

Especial ou regular, vivemos situações de vida com nossos alunos que

podem realmente fazer aquele dia valer a pena em nossas vidas. Enquanto

professores, munidos de um olhar que talvez nenhum outro profissional

tenha, podemos fazer toda a diferença.

E cursos como o que estamos encerrando, contribuem e muito para a

aquisição desse olhar. Um olhar não de piedade, de compaixão, de estar

fazendo isto ou aquilo porque Deus pregava. Um olhar humano que batalha

constantemente pelo humano. Um olhar que vê, que enxerga através e

além... Um olhar que não se traduz, um olhar mais que especial!

Observamos, claramente, mediante os Relatos publicados neste livro que o

trabalho com a família merece um olhar especial... Que uma das funções da escola

para com essas famílias é a acolhida, o prestar esclarecimentos, o orientar. Muitas

dessas famílias são de origem bem humilde e desconhecem por completo seus

direitos. Percebe-se, aqui, a escola enquanto força política nas vidas dessas

pessoas e os professores, tornando-se a ponte que, certamente, ligará essa família

a uma forma mais confortável de viver.

Esses Relatos também se constituíram em subsídios valiosos para reflexão de

muitos paradigmas. Percebemos isso nitidamente, quando a professora diz que:

O módulo cinco veio colaborar para a desconstrução de paradigmas. Já no

primeiro capítulo a bomba: SEXO! Sim, nossos alunos se interessam por

sexo! Não, sinto muito, o deficiente não é uma samambaia! O vídeo

abordando o tema, com depoimentos de deficientes intelectuais, foi

fabuloso. Algumas colegas mostraram-se receosas, até chocadas. Mas,

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abrir os olhos para a sexualidade de nossos alunos é imprescindível na

construção de um ser humano completo, integral, pleno. E precisamos ter

em mente que, se para os pais de crianças ditas normais, lidar com esse

assunto é um tabu, imagine para os pais de alunos deficientes. Nas escolas

de modo geral ainda não se trabalha com projetos que abordem a

sexualidade efetivamente. Ficou a deixa para pensarmos e avaliarmos

nosso papel em mais essa empreitada.

Apresentamos assim aos nossos leitores, diferentes experiências de

educadores que se debruçaram e refletiram sobre o processo de ensino e

aprendizagem, oferecendo uma variada gama de experiências fundamentais para a

compreensão da educação enquanto prática social como relata a professora

cursista:

E chegamos ao final do curso... Um curso que irá deixar muita saudade.

Quando optamos por um curso na modalidade EaD, invariavelmente, é por

falta de tempo para a realização do mesmo em modalidade presencial. Não

que o curso EaD não seja trabalhoso, pelo contrário, exige muito mais

disciplina. Quando não nos organizamos nas leituras e realizações das

atividades, dar prosseguimento parece impossível.

Meu olhar de educadora inclusiva saiu fortalecido desse curso. Através dos

textos, dos debates, dos emails trocados, fomos nos alimentando de

informação, de conhecimento, de experiências diversas, de ideias! A cada

dia, a cada ingresso na plataforma, uma nova e importante descoberta.

Minha prática... Passei a avaliar constantemente o meu fazer cotidiano.

Para cada dia, atribuo-me uma nota como educadora, percebo meus pontos

falhos, onde preciso melhorar, o que posso fazer nesse processo de

engrandecimento profissional.

Acreditamos ser esta uma leitura que incitará novas ideias, onde cada leitor

poderá se identificar com uma ou mais situações aqui citadas, reforçando que o

ensino é cada vez mais uma incrível e satisfatória aprendizagem.

Profª. Drª. VERA LÚCIA MESSIAS FIALHO CAPELLINI

Coordenadora do Curso

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PREFÁCIO

Uma manhã de segunda-feira chuvosa, em pleno início de maio, abro meu e-

mail e me deparo com uma mensagem da “Verinha” (como muitos amigos a

chamam) – “Oi, amor, pode fazer o prefácio?”. Vejo em anexo um texto com 105

páginas, inicio a leitura e não consigo parar de ler. Fico esperando o próximo e o

próximo relato, me perguntando: será que o próximo relato vai conseguir me

comover como esse? Será possível? E termino o livro querendo mais.

Relatos dos Cursistas que fizeram o curso Práticas Educacionais Inclusivas é o

retrato da sinergia que se estabeleceu entre os diferentes atores (cursistas, tutores,

autores) envolvidos no curso – rompendo com a “solidão adquirida”, muitas vezes,

na prática docente.

Os cursistas se uniram em torno de um objetivo comum, compartilhando

vivências muito distintas – há entre eles, aqueles com necessidades especiais,

aqueles com parentes/amigos com necessidades especiais e aqueles que não

comungam dessas experiências. Isso, sem sombra de dúvida, enriqueceu o curso e

conferiu a ele “a cara da diversidade”.

Ao longo de todo o texto, será possível perceber que a ferramenta tecnológica

empreendida no curso, EAD, não foi limitadora para a promoção da sinergia entre os

atores e, consequentemente, mudanças de paradigmas e melhoria da prática

docente. Ao contrário, verifica-se que um curso nesses moldes, quando se pauta em

um conteúdo pensado/refletido e uma equipe comprometida com a formação dos

cursistas, transcende qualquer barreira distancional.

O tema, Práticas Educacionais Inclusivas, é desafiante, e por si só já merece

essa leitura. Todavia, o que mais atrai neste livro é o fato de ser formado por relatos

de professores que estão em sala de aula, falando para outros professores, de igual

para igual. Quebra-se totalmente o paradigma de que quem está na ativa não

escreve e de que quem escreve não está na ativa, estando totalmente apartado da

realidade de que se fala.

Dessa forma, tem-se a união, efetiva, da teoria com a prática, o que é tão

ansiado quando se pensa em inclusão, diversidade, práticas pedagógicas exitosas –

aqui pensadas como algo que provoca uma “realização” no estudante, seja ela em

qual nível for, considerando, realmente, o potencial que cada um tem. Isso é

inclusão. Isso é respeito.

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Desejo que todos, por meio desta leitura, se deleitem e reflitam sobre as

Práticas Educacionais Inclusivas e possam, como no relato a seguir, tornar-se

agente transformador em prol da “inclusão” e do “respeito” à diversidade.

Foram tantos os temas estudados que se torna impossível sair deste curso

como entramos. Nós também nos transformamos para poder transformar as

realidades por onde pisamos.

Assis, 13 de maio de 2015.

Carina Alexandra Rondini UNESP/Assis

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Práticas Inclusivas - Vivências do tutor em EaD

Maria Aparecida Amaral Vassoler¹ Vera Lúcia Spezi Pereira²

Nas últimas décadas, o ensino a distância vem desempenhando um papel

extremamente importante ao proporcionar o acesso à formação e informação, além

de introduzir mudanças significativas nos ambientes de aprendizagem. As

modificações nas coordenadas de espaço e tempo ampliam significativamente as

possibilidades tradicionais do contexto educativo.

Nessa perspectiva, a UNESP - Campus Bauru - em parceria com o MEC e

Secretarias de Educação - desenvolvem cursos de pós-graduação voltados para

Práticas Inclusivas, oferecidos na modalidade à distância. Nesse curso, trabalhamos

com a inclusão do aluno com deficiência intelectual em escola regular, um grande

desafio para pais, alunos e todos os profissionais da educação.

Os professores se veem diante de novas questões para atender as

necessidades específicas do aluno com deficiência e, concomitantemente, atender

ao demais da classe. A experiência tem nos mostrado que grupos de alunos

mantêm-se próximos por bastante tempo, passando a assimilar as limitações e

possibilidades dos colegas com naturalidade. Assim, o convívio entre alunos com

características diferentes é um meio para entender que não existe apenas uma

maneira de aprender e de ser. O compartilhar entre esses alunos possibilitará que

todos sejam menos preconceituosos, comuniquem-se, e sejam flexíveis.

Enquanto tutoras dessa modalidade - EaD – nesse curso ofertado pela

UNESP, nosso trabalho abrange o acompanhamento do percurso do estudante, com

um olhar parceiro para conhecer as metodologias de estudos, as dificuldades

apresentadas na busca de orientação, práticas de relacionamentos com demais

colegas de pesquisa, se faz uso de bibliografias de apoio, se realiza as atividades

____________________________

¹ Tutora. Professora Pós Graduada em Docência no Ensino Superior pela Educacional Anhanguera - Bauru - Tema da monografia: O papel do tutor na Educação a Distância. - Aposentada da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo. - Tutora EAD da UAB, convênio MEC – Unesp ² Tutora. Professora Mestra em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba. Aposentada da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo - Professora da Pós Graduação Instituto Passo 1 - Unidade/Bauru

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propostas, se é capaz de relacionar teoria/prática.

Atualmente, as recentes conquistas da tecnologia nos apresentam veículos

para a comunicação que possibilitam uma redefinição para Educação a Distância.

Nossos alunos não só compartilham textos, vídeos e opiniões dos colegas,

mas também se comunicam conosco e com outros estudantes em fóruns virtuais.

Adotamos, assim, padrões mais interativos e processos de aprendizagem mais

abertos, com maior variabilidade de produção e responsabilização do trabalho.

Temos então, nesse curso, uma proposta de ensino que se caracteriza pela

flexibilidade, onde as interações são garantidas e acontecem no tempo e

possibilidade do aluno.

Pontuamos, também, que o valor dessa proposta está centrado na qualidade

dos conteúdos atualizados, dos novos enfoques, dos conceitos relevantes,

provocadores de reflexões e que nos apoiam, positivamente, em nosso trabalho

como tutor.

Registramos o quão relevante é a nossa preocupação em compreender

nossos alunos/cursistas em seu processo de apropriação do conhecimento.

Posicionamos assim, atentos à compreensão dos alunos, ao desenvolvimento das

pesquisas solicitadas em seu campo de atuação que alimentam e favorecem os

processos de aprendizagem.

Sabemos que a origem do processo de construção e reconstrução do

conhecimento não se dá pela nomenclatura adotada, mas por mudanças

ocasionadas pelos valores e pelas ações que os professores imprimem ao seu

trabalho e de estabelecimento de relações dialógicas, afetivas e éticas frente à

individualidade do aluno – desse modo caminhamos nesse curso.

A ênfase do nosso trabalho de tutoras foi o de instigar a busca pelo

conhecimento e não a mera transmissão de conhecimentos. Nessa prática, o uso

das novas tecnologias na Educação a Distância foca pressupostos construtivistas,

segundo os quais a construção do conhecimento é coletiva. Nossos alunos

envolvem-se em um processo dialógico, reflexivo, complexo, colaborativo e ativo, de

modo que a aprendizagem significativa é privilegiada.

Nessa experiência, podemos afirmar que a tecnologia mais moderna não

garante a qualidade de uma proposta de Educação a Distância. Sozinha, ela não

resolve os problemas educacionais e sociais. Os conteúdos e as atividades são

propostos para gerar uma aprendizagem significativa, oportunizando ao aluno

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comentários que requeiram esforço intelectual para formular e desenvolver uma

argumentação, levando a um processo de reestruturação cognitiva.

Reiteramos a ideia de que as tecnologias não transformam o trabalho docente,

apenas expressam com grande impacto os novos cenários da sociedade

contemporânea e permitem um armazenamento amplo de informação, por meio de

novas linguagens.

As potencialidades e virtualidades das novas tecnologias levam, algumas

vezes, a supervalorizar o seu papel relativo ao processo de ensino aprendizagem. É

nesse sentido que se assiste, atualmente, a uma grande vitalidade do pensamento

pedagógico no contexto da Educação a Distância.

Procuramos, no decorrer do curso, aproveitar o enorme capital de saber

construído relativamente a outros contextos de ensino-aprendizagem e integrar, de

forma adequada e produtiva, as ferramentas e possibilidades que as novas

tecnologias proporcionam para o desenvolvimento e construção do conhecimento do

nosso aluno. Trata-se, pois, de reconduzir a tecnologia ao lugar que deve ocupar,

enquanto meio e não princípio definidor da aprendizagem.

As tecnologias são ferramentas ou recursos disponíveis ao nosso aluno,

porém, as digitais interferem nos ambientes de aprendizagem, posto que não

somente oferecem novas e eficientes possibilidades de armazenar e transportar a

informação, como também, viabilizam o acesso a novos conhecimentos e formas de

relacionamento.

Visualizamos, na trajetória do curso, que as tecnologias transportam, ao lado

das informações, emoções, valores e sentimentos, retratados em muitos momentos

de interação. Percebemos que o seu uso requer novas técnicas, uma nova maneira

de conceber o processo educativo, implicando no desenvolvimento de novas

estratégias de ensino e aprendizagem, bastante compartilhadas pelos professores

cursistas - nosso papel de tutor é de fundamental importância na orientação dos

participantes.

Na primeira semana de curso, nosso foco esteve voltado à ambientação dos

alunos. Esse é o tempo que ele precisa para conhecer o material, acessar a

plataforma e se familiarizar com o ambiente de navegação, conhecer o perfil dos

colegas e tirar dúvidas sobre o ambiente e sobre o curso. Compartilhamos muitos

saberes.

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Durante essa primeira semana, nós tutores, ficamos atentos ao movimento dos

alunos no curso. Comumente, percebemos que ao acessarem a plataforma, eles

apresentaram dificuldades técnicas na manipulação das ferramentas. Nesse período

enviamos aos alunos mensagens de boas-vindas, estimulando-os a explorarem o

ambiente do curso, encorajando-os a explicitarem suas dúvidas, motivando-os a se

fazerem conhecer e a conhecerem uns aos outros, orientando-os na identificação

das ferramentas do sistema. Em nenhum momento perdemos o foco no processo

de ambientação do aluno no curso, nas turmas e nas ferramentas. Essa etapa é de

suma importância para o acolhimento do cursista.

Assumimos, nessa trajetória, o papel de mediador na construção autônoma e

colaborativa do conhecimento, estabelecendo um efetivo processo de comunicação.

Partimos do princípio de que a comunicação, como produção de sentido, é um

elemento chave no processo educativo, pois não há educação sem comunicação.

O "estar junto virtual" usado no EaD, envolve múltiplas interações entre

professor e alunos em formação, no sentido de acompanhar e assessorar,

constantemente, o aprendiz para entender o que ele faz, propor desafios e auxiliá-lo

a atribuir significado ao que está realizando.

No decorrer desse curso a distância, vivenciamos situações em que os

cursistas deveriam publicar as atividades realizadas dentro de um portfólio. Nessa

ferramenta, as tarefas eram publicadas de forma organizada para facilitar a

correção, evitando que alguma atividade fosse perdida. Os arquivos ali postados

poderiam ser compartilhados entre todos do grupo a fim de registrarem seus

comentários.

Para tanto, o cursista deveria seguir um protocolo de ações que permitia uma

organização clara dos seus trabalhos.

Ao acompanhar o desenvolvimento das tarefas, observamos que nem todos os

participantes estavam compreendendo os passos estabelecidos para a postagem

correta nos portfólios.

Essa dúvida foi compartilhada num dos bate papo, teve a colaboração de

vários alunos que registraram sua forma de postar as atividades e os colegas

passaram a publicar seus trabalhos com mais facilidade e êxito.

Vale ressaltar que as interações realizadas dentro do estar junto virtual

permitem a aprendizagem dos sujeitos em formação e, não é apenas o formador, o

agente de aprendizagem no ciclo de ações, mas também os colegas em formação.

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A educação, também na modalidade à distância, é um processo vital e

dinâmico em que o diálogo entre professor e aluno torna-se indispensável, não

podendo, portanto, ser concebido como um ato mecânico. O uso das tecnologias

sem a nossa intervenção de tutores não é suficiente para resolver os problemas que

se apresentam durante o processo de ensino e aprendizagem. Nessa abordagem,

sentimos o laço estreito que estabelecemos com nossos alunos, no decorrer das

atividades desenvolvidas.

A comunicação educativa pressupõe um processo interativo, de relação entre

pessoas que ultrapassa a mera transmissão tecnológica da informação.

Estabelecemos uma interação dinâmica com nossos alunos e também com outros

tutores e formadores - parceiros na condução de outras turmas. Essa interação

sempre foi mediada por múltiplas visões de mundo, de diferentes aspectos

socioculturais e psicológicos que incidem e reconfiguram as interpretações que as

pessoas realizam das mensagens recebidas – é uma experiência enriquecedora.

Muitas vezes, nós, tutores exercermos um papel de "animador", ou seja, aquele

que mantém contato com os alunos, incentivando-os a continuar seus estudos. Para

obter resultados positivos, há a necessidade do domínio do conteúdo por nós,

educadores virtuais e também o uso de diversas estratégias pedagógicas, tornando

o aprendizado significativo.

Além disso, o tutor garante o alcance dos objetivos propostos e cria uma

parceria com o aluno para contribuir no processo de construção do pensamento em

rede e mediar as interações. Promover o diálogo, o debate e desafios que

despertem atitudes críticas e reflexivas também são nossas atribuições. Além disso,

nos programas de educação à distância, nós, tutores, trabalhamos com a

perspectiva de aprendizagem que consiste em orientações e encaminhamentos (à

distância) dos processos de compreensão e de transferência.

A organização do tempo e do espaço em nosso trabalho de tutoria, não é algo

tão simples como parece. Implica rever a lógica de organização dos tempos/espaços

educativos própria do ensino, totalmente, presencial. Saber administrar níveis

diferenciados de presenças é algo novo em nossa cultura educacional. Romper com

a lógica linearizada de tempo exige rever a forma de administrar o próprio tempo e,

mais ainda, rever e negociar o tempo que é compartilhado nas instituições.

Nesse curso a Distância, tivemos uma participação ativa em todo o processo

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educativo: na sequência de leituras, nas pesquisas individuais e/ou em grupos, nas

atividades avaliativas, entre outras.

Percebemos o quanto é indispensável o contato regular e eficiente entre os

participantes desse processo educativo, pois facilita uma interação satisfatória,

proporciona segurança psicológica entre os alunos e a instituição do curso.

Consideramos de extrema importância a motivação do aluno que se estabelece

no decorrer do processo, consequentemente, é uma das condições indispensáveis

para a aprendizagem autônoma.

As tendências do mercado globalizado, em relação aos paradigmas

educacionais emergentes, apontam para a necessidade de incentivar os processos

de interação. Visualizamos, no decorrer do curso, o desenvolvimento dos nossos

alunos ao realizar atividades cooperativas, que os instigaram a uma visão crítica e

criativa, auxiliando-os na compreensão dos conteúdos por meio do diálogo com os

colegas e nós - tutores. Através de diálogos, de confrontos, de discussão entre

diferentes pontos de vista, das diversificações culturais e/ou regionais e do respeito

entre formas próprias de se ver e de se postar frente aos conhecimentos, nós,

tutores assumimos essa função estratégica relacionada ao incentivo.

Privilegiamos, a todo o momento, o acompanhamento do processo de

aprendizagem, muito enfatizado nos cursos de formação à distância. É um aspecto

fundamental, mas que perde o valor na medida em que é abordado, isoladamente,

pois, o sujeito se qualifica dialogando com um determinado contexto, com

determinadas práticas profissionais, com determinada organização e uso dos

tempos e espaço.

Reiteramos que para desenvolver um processo de formação significativo, que

ultrapasse a mera certificação, será necessário dialogar com os demais aspectos,

inclusive para que realmente possamos intervir e auxiliar o aluno em suas

dificuldades de aprendizagem e em seus dilemas profissionais.

É imprescindível criar mecanismos para acompanhar individual e coletivamente

os alunos, onde nós, tutores, ao respeitar a autonomia da aprendizagem de cada

cursista, estaremos, constantemente orientando, dirigindo e supervisionando o

processo de ensino aprendizagem em cursos de Educação a Distância.

Nos diferentes momentos do curso, procuramos oferecer a tutoria como espaço

de consulta, promovendo a colaboração entre os colegas da turma. A elaboração de

propostas que não provoquem o isolamento do aluno, mas que valorizem a

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solidariedade, a participação, a interação e a aprendizagem colaborativa é um dos

desafios da Educação a Distância.

A valorização dos aspectos apontados acima, interagindo com o cotidiano da

prática pedagógica dos cursistas, contribuiu muito para a superação dos desafios no

contexto do processo ensino aprendizagem.

Em todas as modalidades de Educação a Distância, a linguagem é a principal

ferramenta de que dispõem professores e estudantes para atingir a construção do

conhecimento. A linguagem escrita é um dos meios mais importantes de

comunicação entre docentes e alunos.

Vivenciamos situações, no decorrer do curso, em que a linguagem escrita

mostrou-se um obstáculo presente, tanto na produção de textos e devolutivas às

questões propostas quanto no entendimento e compreensão das atividades, fóruns

e comentários.

Nossas intervenções junto aos alunos colaboraram significativamente, no

sentido de oferecer a eles novas alternativas de produção de textos, enriquecendo

assim seu vocabulário e argumentação escrita.

Nossa prática docente é compartilhada, rotineiramente, com nossos alunos,

nas reflexões propostas nas atividades, na resolução de situações problema,

protagonizando juntamente com os mesmos a apropriação do conhecimento.

Propiciamos, desse modo, enriquecimento das informações que favorecem a

compreensão e o aprofundamento das discussões. Esta perspectiva baseia-se nas

pesquisas da psicologia da aprendizagem que se fundamenta na construção do

conhecimento. O tutor deve promover a realização de atividades e apoiar sua

resolução, e não apenas mostrar a resposta correta.

Planejamos junto com os alunos a melhor alternativa para aproveitar o tempo,

que sempre se mostra escasso. Procuramos oferecer intervenções nos

questionamentos dos alunos, cuidando para não dar uma resposta pontual ou

permitir uma compreensão parcial da dúvida apresentada. Ao oferecer boas pistas

para o aprofundamento do tema ou apontar uma contradição a um fato,

oportunizamos processos de reconstrução de uma determinada situação.

Selecionamos algumas vivências que nos apoiaram, positivamente, na

condução da turma. Pontuamos assim:

O feedbacK - a consistência e frequência com que as mensagens escritas

foram encaminhadas aos alunos constituem-se em subsídios importantes para que

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eles valorizem suas conquistas, reelaborem e se posicionem de maneira mais

aprofundada na atividade em questão.

A rapidez – as mensagens dos alunos, respondidas rapidamente, fez com que

eles sentissem que estávamos presentes e atentos a eles. É importante que os

demais vejam as respostas, mesmo que não seja para eles. Assim, podem se sentir

encorajados a participar ou até mesmo a tirar as próprias dúvidas com as respostas

dos outros. Percebemos que nossa resposta imediata e assertiva é um elemento

fundamental nos modelos virtuais para que o aluno continue confiando e buscando a

tutoria.

A informalidade – contribuiu para minimizar a distância psicológica entre nós e

o aluno. O bom humor, o tom pessoal nas mensagens, as sugestões de leituras e as

recomendações de tarefas estreitaram muito nossa relação com a turma, sem

importuná-los, mas fazendo com que se sentissem acolhidos por nós.

A especificidade – as orientações encaminhadas aos alunos precisam ser

detalhadas. Tivemos o cuidado de recomendar sobre algumas devolutivas

incompletas que necessitavam de melhor argumentação ou mesmo alertá-los para o

prazo de entrega das mesmas ou as datas do bate papos.

A proatividade – em todos os momentos e, principalmente, no início do curso

mobilizamos e motivamos os alunos com comentários positivos sobre os temas do

curso.

A positividade – encaminhamos, frequentemente, mensagens de elogio e

valorização aos participantes.

O foco – mantivemos nossos alunos informados sobre o ponto em que se está

no curso e quais as atividades seguintes.

A flexibilidade – demos ciência, constantemente, aos participantes sobre o

calendário de postagem das atividades. Porém, mostramo-nos flexíveis, ajustando-o

às necessidades dos alunos diante de situações inesperadas, sem que isso viesse a

comprometer os módulos seguintes. Por se tratar de um curso on line, muitas

leituras e tarefas puderam ser executadas em espaços físicos e momentos

diferenciados, facilitando o cumprimento das atividades.

A visibilidade - acreditamos que as mensagens veiculadas por nós seja um

aspecto determinante para a percepção, quer individual, quer do grupo, da presença

do tutor. O que consideramos fundamental para os estudantes é a demonstração, da

parte do tutor, que este é ativo na análise/leitura das discussões em curso.

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Refletindo sobre nosso trabalho de tutor nesse curso gostaríamos de registrar

que o trabalho docente on-line é bastante diferente daquele realizado na sala de

aula presencial. Nas atividades de ensino a distância, nós tutores, facilitadores ou

orientadores, dedicamo-nos mais à orientação e ao atendimento das necessidades

individuais dos alunos. Em especial, empenhamo-nos, continuamente para:

- utilizar palavras estimulantes e positivas;

- interagir com o grupo mantendo-se presente;

- estimular os cursistas no desenvolvimento de novos esquemas mentais

(habilidades e atitudes);

- estimular o estudo de temas pertinentes ao curso;

- dialogar e estimular o diálogo permanente entre os participantes, de forma

contextualizada e significativa;

- fazer uso das diversas ferramentas de comunicação para manter a motivação;

- contribuir de forma mediadora ou facilitadora para que os alunos superem

concepções prévias e construam concepções mais fundamentadas;

- apresentar perguntas orientadoras;

- estimular a construção e reconstrução do conhecimento dos alunos,

incentivando-os a adotarem uma postura investigativa e crítica frente aos

conhecimentos apresentados e os fenômenos observados ou vivenciados;

- estimular a reflexão dos alunos sobre as possibilidades de aplicação

consciente e eficiente dos conhecimentos adquiridos, apontando vínculos entre a

teoria e a prática profissional;

- respeitar os limites, bem como valorizar e estimular o desenvolvimento das

potencialidades de cada aluno;

- estimular a integração e colaboração entre os alunos.

Inegavelmente, a Educação a Distância amplia os espaços de aprendizagem e

diversifica as formas de interação comunicativa.

Graças à flexibilidade de tempo e aos espaços permitidos pelos avanços

tecnológicos, as instituições de Educação a Distância ampliam as oportunidades de

estudo a uma grande parte da população. Formam-se ambientes interculturais,

criando novos desafios aos processos comunicativos e ampliando as oportunidades

de acesso ao conhecimento.

Na Educação a Distância, são relevantes os processos de interação

comunicativa que privilegiam o diálogo, o respeito e a afetividade. São momentos

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em que alunos e nós, tutores recuperamos um aspecto muito importante da

aprendizagem que contraria o excesso de racionalismo e objetividade presentes em

algumas práticas educativas: a importância das relações interpessoais que

dinamizam e vitalizam os espaços comunicativos.

Concluindo nosso relato, gostaríamos ainda de registrar que o encorajamento

aos que aprendem a distância, muitas vezes, inseguros e frágeis diante das

dificuldades encontradas e, também, da pequena familiaridade com os ambientes

virtuais de aprendizagem foram preocupações rotineiras do nosso trabalho que

minimizaram um dos maiores riscos dos cursos ministrados a distância: o da evasão

dos alunos, fator preocupante nos projetos extremamente ricos e interessantes em

EaD.

Ainda nesse relato conclusivo, para destacar uma competência, dentre tantas

aqui apresentadas, optamos pela ousadia. Foi ela que nos permitiu superar os

obstáculos e dificuldades, para construir, em nosso cotidiano da EAD o “fazer

pedagógico” de que falamos nesse relato numa parceria contínua com nossos

alunos – compartilhando saberes.

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Relato de Experiência

Cleomara de Fátima Ferreira3

Nós professores, hoje, precisamos repensar e rever metodologias, bem

como enfrentar nossa própria história. Buscar a compreensão dos porquês e

conviver com as angústias de reconhecer aquilo que ainda não sabemos. Aceitar

erros como construtivos. Aceitar o “novo” sem preconceito e não abandonar os

acertos já conquistados.

Vivemos na sociedade da informação, do conhecimento, esta nos exige

rapidez nas atividades intelectuais, prescindindo da atividade motora, em que as

consequências se apresentarão com o passar do tempo. Mas, e na educação?

A escola ainda continua pensando de forma tradicionalista, onde sua

preocupação é apenas com a leitura e com a escrita, muitas vezes desconhece

como resolver as dificuldades apresentadas por alguns alunos.

Pensando em tudo que vivenciei no curso, desenvolvi entre as atividades,

uma em especial que relatarei abaixo, que se constitui em um trabalho com literatura

com a turma de 1° ano do Ensino Fundamental, 1ª fase da Escola Municipal Papa

Paulo VI Araucária–PR.

Primeiramente, gosto muito de trabalhar com literatura, pois acredito no

potencial imaginário que cada aluno tem e trabalho para desenvolver estes

potenciais. Me encanto com a literatura de Ana Maria Machado, pois meus alunos

adoram ouvir e brincar com suas histórias alegres que estimulam suas fantasias. A

turma conta com 14 alunos, sendo um aluno de inclusão (deficiência intelectual),

muitos deles com seis anos de idade ou a completar no corrente ano, são bastante

criativos e críticos, encaram desafios com bastante estímulo, são ingênuos e

encantadores.

A atividade desenvolvida com a turma foi através da literatura abaixo

descrita.

Livro: O Pavão do abre e fecha

Autora: Ana Maria Machado

______________________________ 3Professora de Ensino Fundamental - Araucária/PR

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Ilustrações: Marilda Castanha

Editora: Melhoramentos

Objetivos da atividade

Trabalhar com as diferenças, com o ser feio ou ser bonito;

Desenvolver a consciência corporal e social;

Familiarizar-se com a imagem do corpo, trabalhar imitações, gestos e

expressões;

Construir a identidade.

Desenvolvimento da atividade

Primeiramente sentei com a turma no chão e contei a história “O Pavão do

abre e fecha”. Logo após realizou-se alguns comentários das partes mais intrigantes

da história, como quando o pavão se pavoneava na beira do lago, se olhava na água

e perguntava a si mesmo:

- Sou feio? Sou bonito?

Cada aluno comentou suas impressões da história lida pela professora, com

estas foi realizado um trabalho de consciência corporal de diferenças.

Na parte seguinte foi proposto para os alunos atividade de frente ao espelho

para observação de sua própria imagem e da imagem do outro. Durante esta

atividade os alunos, através de cartazes com diversas fisionomias, brincaram de

fazer expressões faciais e atividades como balançar os cabelos, cruzar os braços,

ficar de joelhos, entre outras em frente ao espelho. Para trabalhar com diversidades

pedi para que elas de frente observassem seu coleguinha e depois responderam

algumas perguntas, tais como:

O seu cabelo é da mesma cor que o do seu coleguinha?

Onde está a sua sobrancelha?

Quem é mais alto?

Quem tem o pé maior?

Quem tem a mão maior? Etc.

Percebido o corpo de cada aluno e explorando todas as possibilidades de

imagens solicitei aos mesmos que fizessem um autorretrato, o qual ficou exposto na

sala de aula. Construímos também, um pavão com os desenhos das mãos dos

alunos e verificou-se também a questão do ser diferente: cada mão é de um

tamanho e cada ser humano é único.

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Cada atividade que planejo para os meus alunos, seja ele com alguma

deficiência ou não, procuro analisar se realmente esta atividade vai ajudá-los a

construir melhores significados, se com a atividade irão ampliar seus conhecimentos.

Com o curso aprendi que o professor deve acolher o aluno com deficiência em sua

sala não por pena, mas por ter consciência que naquilo que aprendemos e

vivenciamos é fundamental o contato com as outras crianças, pois o conhecimento

se constrói mediante essa troca. Diante disso, é essencial que as crianças com

necessidades educacionais especiais não fiquem em um mundo à parte, pois é

preciso que lutemos para que ela faça parte de nossas escolas e que o professor

busque o aperfeiçoamento, visto que o trabalho com alunos inclusos é uma

realidade e não podemos ignorar, temos sim que buscar orientação, seja em cursos

como este que ajudou muito na minha prática ou em qualquer outro.

O professor precisa abandonar antigos preconceitos e buscar um trabalho

que vise à criatividade, o individual (cada aluno é único) e heterogeneidade e

mostrar assim para aquelas famílias que não acreditam no sucesso de seu filho, que

ele é capaz e que escola e família devem lutar juntas para que a criança tenha

sucesso e seja respeitada em todos os seus direitos.

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Relato de Experiência

Elcen Nocera Simão

O curso “Práticas em Educação Especial e Inclusiva na área da Deficiência

Mental” proporcionou uma formação necessária, porém ainda não havia se tornado

realidade. Ressalto que não foi por falta de participar de formações relacionadas à

área de Deficiência Intelectual, afinal a Inclusão é um processo cada vez mais

inerente à Educação e toda vez que havia um curso relacionado ao tema, sempre

quis participar. A formação na qual mencionei no início deste relato refere-se à

abordagem prática que, tanto os organizadores quanto a tutora, ofereceu durante e,

principalmente, após o curso.

Na época eu estava em sala de aula. Lecionava em duas escolas do Ensino

Fundamental I (estadual e a outra municipal). Em ambas havia alunos com

deficiência intelectual e a coordenadora da escola estadual, Elaine Maria Nocera

Kaizer (na qual devo agradecer imensamente) ofereceu o curso. Foi uma

oportunidade da qual sou muito grata, pois estava com muita dificuldade para

atender um aluno de seis anos, que além da deficiência intelectual, apresentava

grandes problemas comportamentais.

Já no início do curso as expectativas foram aumentando, pois além da

formação oferecer subsídios voltados para a prática em sala de aula, nossa tutora

Márcia Massa ofereceu todo o suporte aos meus receios, dúvidas e angústias. E lá

estava a oportunidade que até então os demais cursos que eu havia participado

ainda não tinham proporcionado; eu estava amparada de todas as formas e tenho a

certeza que consegui atender melhor meus alunos com deficiência intelectual,

principalmente o aluno do qual citei, pois ele apresentou melhora tanto em sua

aprendizagem como em seu comportamento.

O curso de aperfeiçoamento foi à distância, mas o suporte que ele ofereceu

foi ainda melhor do que os cursos presenciais dos quais tinha participado até então.

Durante o curso realizamos atividades práticas e compartilhamos nossas ideias nos

fóruns, dos quais foram extremamente enriquecedores para a troca de opiniões e

vivências.

O material do curso e a assessoria da professora Márcia Massa me auxiliam e

me amparam até hoje, pois mantivemos contato e mesmo após a finalização do

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curso foram surgindo dúvidas e a professora continuou prontamente me auxiliando.

Felizmente após estar terminando o curso fui convidada para ser

Coordenadora Pedagógica, deste modo o que pude aplicar em sala de aula foi

possível compartilhar com minhas colegas de trabalho.

Seis meses depois fui convidada para ser Chefe de Supervisão Escolar e

pude ampliar ainda mais este leque de informações, já que foi possível compartilhar

este conhecimento com mais 19 escolas de ensino infantil e fundamental, através de

reuniões realizadas com as coordenadoras pedagógicas das escolas, onde elas

foram e estão sendo um fio condutor deste contexto.

Não posso deixar de colocar que esta formação em “Práticas em Educação

Especial e Inclusiva na área da Deficiência Mental” me deixou com gosto o de

“quero mais”, não por falta de algum subsidio do curso, e sim pelo conhecimento que

o tema despertou em mim.

Deste modo finalizo o presente relato me colocando à disposição,

agradecendo e expondo o quão este curso foi importante para a minha formação e

para a minha prática, onde acredito que estou preparada para o tema em questão.

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Relato de Experiência

Juliana Carla Tremontini de Carvalho4

Inicio esse relato com um texto que trilha minha vida profissional e existencial:

“Depois de algum tempo, você aprende a diferença, a sutil diferença,

entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar

não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa

segurança. E começa a aprender que beijos não são contratos e

presentes não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas com

a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não

com a tristeza de uma criança. E aprende a construir todas as suas

estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para

os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão. Depois

de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por

muito tempo. E aprende que não importa o quanto você se importe,

algumas pessoas simplesmente não se importam. E aceita que não

importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando

e você precisa perdoá-la, por isso. Aprende que falar pode aliviar

dores emocionais. Descobre que se levam anos para se construir

confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer

coisas em um instante das quais se arrependerá pelo resto da vida.

Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a

longas distâncias. E o que importa não é o que você tem na vida, mas

quem você tem na vida. E que bons amigos são a família que nos

permitiram escolher. Aprende que não temos que mudar de amigos

se compreendemos que os amigos mudam, percebe que seu melhor

amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons

momentos juntos.

Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida

são tomadas de você muito depressa, por isso sempre devemos

deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a

última vez que as vejamos. Aprende que as circunstâncias e os

ambientes tem influência sobre nós, mas nós somos responsáveis

por nós mesmos. Começa a aprender que não se deve comparar com

os outros, mas com o melhor que pode ser. Descobre que se leva

muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é

___________________________________ 4Professora de Ensino Fundamental - Arealva/SP

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curto. Aprende que não importa aonde já chegou, mas onde está

indo, mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar

serve. Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão,

e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade,

pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre

existem dois lados. Aprende que heróis são pessoas que fizeram o

que era necessário fazer, enfrentando as consequências. Aprende

que paciência requer muita prática. Descobre que algumas vezes a

pessoa que você espera que o chute quando você cai é uma das

poucas que o ajudam a levantar-se. Aprende que maturidade tem

mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você

aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou.

Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha.

Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são

bobagens, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia

se ela acreditasse nisso. Aprende que quando está com raiva tem o

direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel.

Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer

que ame, não significa que esse alguém não o ama, contudo o que

pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não

sabem como demonstrar ou viver isso. Aprende que nem sempre é

suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem que

aprender a perdoar-se a si mesmo. Aprende que com a mesma

severidade com que julga você será em algum momento condenado.

Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi

partido, o mundo não pára para que você o conserte. Aprende que o

tempo não é algo que possa voltar para trás.

Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar

que alguém lhe traga flores. E você aprende que realmente pode

suportar que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois

de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e

que você tem valor diante da vida” William Shakespeare

A inclusão é tudo isso, é uma inovação, cujo sentido tem sido muito distorcido e

um movimento muito polemizado pelos mais diferentes segmentos educacionais e

sociais. No entanto, inserir alunos com déficits de toda ordem, permanentes ou

temporários, mais graves ou menos severos no ensino regular nada mais é do que

garantir o direito de todos à educação - e assim diz a Constituição.

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Inovar não tem necessariamente o sentido do inusitado. As grandes inovações

estão, muitas vezes na concretização do óbvio, do simples, do que é possível fazer,

mas que precisa ser desvelado, para que possa ser compreendido por todos e

aceito sem outras resistências, senão aquelas que dão brilho e vigor ao debate das

novidades.

O objetivo da inclusão é torná-la uma inovação compreensível, aos que se

interessam pela educação como um direito de todos e que precisa ser respeitada.

Pretende-se, também demonstrar a viabilidade da inclusão pela transformação geral

das escolas, visando a atender aos princípios deste novo paradigma educacional.

Devemos focalizar nossas experiências no cenário educacional brasileiro sob

três ângulos: o dos desafios provocados por essa inovação; ações no sentido de

efetivá-la nas turmas escolares, incluindo o trabalho de formação de professores e,

finalmente o das perspectivas que se abrem à educação escolar, a partir de sua

implementação.

Trata-se de uma educação para todos e que só se evidencia nos sistemas

educacionais que se especializam em todos os alunos, não apenas em alguns deles,

os alunos com deficiência. A inclusão, como consequência de um ensino de

qualidade para todos os alunos provoca e exigem da escola brasileira novos

posicionamentos e é um motivo a mais para que o ensino se modernize e para que

os professores aperfeiçoem as suas práticas. Uma inovação que implica num

esforço de atualização e reestruturação das condições atuais da maioria de nossas

escolas de nível básico.

O motivo que sustenta a luta pela inclusão como uma nova perspectiva para as

pessoas com deficiência é, sem dúvida, a qualidade de ensino nas escolas públicas

e privadas, de modo que se tornem aptas para responder às necessidades de cada

um de seus alunos, de acordo com suas especificidades, sem cair nas teias da

Educação Especial e suas modalidades de exclusão.

O sucesso da inclusão de alunos com deficiência na escola regular decorre,

portanto, das possibilidades de se conseguir progressos significativos desses alunos

na escolaridade, por meio da adequação das práticas pedagógicas à diversidade

dos aprendizes. E só se consegue atingir esse sucesso, quando a escola regular

assume que as dificuldades de alguns alunos não são apenas deles, mas resultam

em grande parte do modo como o ensino é ministrado, a aprendizagem é concebida

e avaliada. Pois não apenas as crianças com deficiência são excluídas, mas

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também as que são pobres, as que não vão às aulas porque trabalham, as que

pertencem a grupos discriminados, as que de tanto repetir desistiram de estudar.

Toda criança precisa da escola para aprender e não para marcar passo ou ser

segregada em classes especiais e atendimentos à parte. A trajetória escolar não

pode ser comparada a um rio perigoso e ameaçador, em cujas águas os alunos

pode afundar. Mas há sistemas organizacionais de ensino que tornam esse percurso

muito difícil de ser vencida, uma verdadeira competição entre a correnteza do rio e a

força dos que querem se manter no seu curso principal.

Priorizar a qualidade do ensino regular é, pois, um desafio que precisa ser

assumido por todos os educadores. Um compromisso inadiável das escolas, pois a

educação básica é um dos fatores do desenvolvimento econômico e social. Trata-se

de uma tarefa possível de ser realizada, mas é impossível de se efetivar por meio

dos modelos tradicionais de organização do sistema escolar.

Se hoje já podemos contar com uma Lei Educacional que propõe e viabiliza

novas alternativas para melhoria do ensino nas escolas, estas ainda estão longe, na

maioria dos casos, de se tornarem inclusivas, isto é, abertas a todos os alunos,

indistinta e incondicionalmente. O que existe em geral são projetos de inclusão

parcial, que não estão associados a mudanças de base nas escolas e que

continuam a atender aos alunos com deficiência em espaços escolares semi ou

totalmente segregados (classes especiais, salas de recurso, turmas de aceleração,

escolas especiais, os serviços de itinerância).

As escolas que não estão atendendo alunos com deficiência em suas turmas

regulares se justificam, na maioria das vezes, pelo despreparo dos seus professores

para esse fim. Existem também as que não acreditam nos benefícios que esses

alunos poderão tirar da nova situação, especialmente os casos mais graves, pois

não teriam condições de acompanhar os avanços dos demais colegas e seriam

ainda mais marginalizados e discriminados do que nas classes e escolas especiais.

Em ambas as circunstâncias, o que fica evidenciado é a necessidade de se

redefinir e de se colocar em ação, novas alternativas e práticas pedagógicas, que

favoreçam a todos os alunos, o que, implica na atualização e desenvolvimento de

conceitos e em aplicações educacionais compatíveis com esse grande desafio.

Muda então a escola ou mudam os alunos, para se ajustarem às suas velhas

exigências? Ensino especializado em todas as crianças ou ensino especial para

deficientes? Professores que se aperfeiçoam para exercer suas funções, atendendo

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às peculiaridades de todos os alunos, ou professores especializados para ensinar

aos que não aprendem e aos que não sabem ensinar?

É preciso mudar a escola e mais precisamente o ensino nelas ministrado. A

escola aberta para todos é a grande meta e, ao mesmo tempo, o grande problema

da educação.

Mudar a escola é enfrentar uma tarefa que exige trabalho em muitas frentes.

Devemos destacar as que consideramos primordiais, para que se possa transformar

a escola, em direção de um ensino de qualidade e, em consequência, inclusivo.

Temos de agir urgentemente:

Colocar a aprendizagem como o eixo das escolas, porque escola foi feita para

fazer com que todos os alunos aprendam;

Garantir tempo para que todos possam aprender e reprovando a repetência;

Abrir espaço para que a cooperação, o diálogo, a solidariedade, a criatividade

e o espírito crítico sejam exercitados nas escolas, por professores, administradores,

funcionários e alunos, pois são habilidades mínimas para o exercício da verdadeira

cidadania;

Estimular, formando continuamente e valorizando o professor que é o

responsável pela tarefa fundamental da escola - a aprendizagem dos alunos;

Elaborar planos de cargos e aumentando salários, realizando concursos

públicos de ingresso, acesso e remoção de professores.

Acredito que para melhorar as condições pelas quais o ensino é ministrado nas

escolas, é preciso universalizar o acesso, ou seja, a inclusão de todos,

incondicionalmente, nas turmas escolares e democratizar a educação, felizmente, já

está ocorrendo em muitas redes de ensino, verdadeiras vitrines que expõem o

sucesso da inclusão.

A inclusão não implica em que se desenvolva um ensino individualizado para

os alunos que apresentam déficits intelectuais, problemas de aprendizagem e

outros, relacionados ao desempenho escolar. Porque é o aluno que se adapta ao

novo conhecimento e só ele é capaz de regular o seu processo de construção

intelectual.

A inclusão não prevê a utilização de métodos e técnicas de ensino específicas

para esta ou aquela deficiência. Os alunos aprendem até o limite em que

conseguem chegar, se o ensino for de qualidade, isto é, se o professor considera o

nível de possibilidades de desenvolvimento de cada um e explora essas

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possibilidades, por meio de atividades abertas, nas quais cada aluno se enquadra

por si mesmo, na medida de seus interesses e necessidades, seja para construir

uma ideia, ou resolver um problema, realizar uma tarefa. Eis aí um grande desafio a

ser enfrentado pelas escolas regulares tradicionais, cujo paradigma é conteudista, e

baseado na transmissão dos conhecimentos.

Sabemos que, alguns professores tendem a ser resistentes às inovações

educacionais, como a inclusão. A tendência é se refugiarem no impossível,

considerando que a proposta de uma educação para todos é válida, porém utópica,

impossível de ser concretizada com muitos alunos e nas circunstâncias em que se

trabalha, hoje, nas escolas, principalmente nas redes públicas de ensino.

A maioria dos professores tem uma visão funcional do ensino e tudo o que

ameaça romper o esquema de trabalho prático, que aprenderam a aplicar em suas

salas de aula, é rejeitado. Também reconhecemos que as inovações educacionais

abalam a identidade profissional, e o lugar conquistado pelos professores em uma

dada estrutura ou sistema de ensino, atentando contra a experiência, os

conhecimentos e o esforço que fizeram para adquiri-los.

Os professores, como qualquer ser humano, tendem a adaptar uma situação

nova às anteriores. E o que é habitual, no caso dos cursos de formação inicial e na

educação continuada, é a separação entre teoria e prática. Finalizo minhas palavras

com uma reflexão cabível:

“Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar esta pessoa de nossos sonhos e abraçá-la. Sonhe com aquilo que você quiser. Seja o que você quer ser. Porque você possui apenas uma vida. E nela só temos uma chance de fazer aquilo que queremos. Tenha felicidade bastante para fazê-la doce, dificuldades para fazê-la forte, tristeza para fazê-la humana. E esperança suficiente para fazê-la feliz. As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas, elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos. A felicidade aparece para aqueles que choram. Para aqueles que buscam e tentam sempre. E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas. O futuro mais brilhante é baseado num passado intensamente vivido. Você só terá sucesso na vida quando perdoar os erros e as decepções do passado. A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar duram uma eternidade.”

Clarice Lispector

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Relato de Experiência

Luciane Maria Molina Barbosa

Desde muito cedo a educação esteve presente em minha vida como

instrumento de transformação de realidades e busca de novas oportunidades. Nasci

com baixa visão, o que me levou a construir um repertório próprio de imagens,

através das sensações e percepções que fui abstraindo do mundo. É certo que

minha família sempre esteve presente e acompanhou, com total dedicação, meu

desenvolvimento. Minhas experiências educacionais tiveram início numa escola

regular e apesar de qualquer receio, a inclusão aconteceu de uma forma muito

natural. Minha cegueira nunca foi usada como justificativa para os possíveis

fracassos ou dificuldades decorrentes de um mundo cujas imagens são

predominantes para o acesso ao conhecimento.

Na ocasião, a educação inclusiva não era construída através da mera

fundamentação teórica e, graças a isso, esse tenha sido o grande segredo para que

eu recebesse todos os incentivos familiares e pedagógicos. Aprendemos juntos a

construir uma educação que respeitasse o outro, dentro da diversidade, por meio

das experiências, de erros e acertos e de uma relação saudável entre colegas,

professores e equipe docente, firmadas muito naturalmente. Fica evidente que

minha família nunca me negou à educação, mesmo com todos os empecilhos

impostos pela sociedade.

No início da década de 90, poucos eram os recursos tecnológicos disponíveis

e, menor ainda era o conhecimento sobre educação inclusiva, que começava a

ganhar, timidamente, um espaço no cenário educacional. Durante o ensino

fundamental eu ainda conseguia ler impressos ampliados e com ajuda de potentes

lentes, lupas, contraste de cores e fonte ampliada fui alfabetizada igualmente aos

meus colegas. Sem o conhecimento do que significava “acessibilidade”, aqueles

professores iam criando um estilo próprio e muito especial de fazer inclusão, quando

ditavam as matérias escritas no quadro negro ou quando escreviam com uma letra

maior no meu caderno. Acredito que esse foi o maior legado deixado por uma

dezena de professores e que foi a grande inspiração para que eu seguisse o

caminho do magistério. No final do ensino fundamental, quando as fontes ampliadas

já não mais cumpriam seu papel diante dos meus olhos embaçados, porque a visão

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regredia diariamente, busquei o aprendizado do Braille. Jamais conseguirei

descrever em palavras a sensação dessa libertação intelectual vivida aos 13 anos

de idade. Só então consegui ler um livro inteirinho através do meu próprio esforço,

sem os olhos e vozes emprestadas de alguém.

Apesar de residir há poucos quilômetros da capital, São Paulo, o conhecimento

especializado em Educação Especial na área da deficiência em minha região era

defasado e inexistente ainda no final da década de 90. Encontrar uma professora

que dominasse o Braille não foi tarefa fácil. Entretanto aprendi a escrever pontinhos

e ler com o tato em apenas quatro meses, com auxílio dessa única profissional

especialista em deficiência visual. Ela mal conseguia atender uma demanda

crescente vinda do setor público e, então, precisei ter aulas particulares para

absorver esse novo aprendizado, que me transformaria para sempre numa nova

estudante, numa profissional incansável.

Com o início de uma relação visceral e dedicada aos estudos, a vida escolar e

profissional foi se alargando e após concluir o nível básico, passei para a

universidade onde cursei Pedagogia. A partir daí a "educação" começa a ter um

significado ainda maior, oferecer um ensino de qualidade para aquelas pessoas que,

talvez, não tiveram as mesmas oportunidades que eu, evidenciadas pela escassez

de profissionais habilitados para o ensino do Braille. Embora dentro de um espaço

formal de ensino, cujo objetivo seria o da formação inicial de professores, foi talvez

essa a etapa mais difícil, onde as ações inclusivas se fizeram pouco presente, na

falta de material, na ausência de adaptações, na inexistência de bibliografia

acessível. Cresci como pessoa e fui me reinventando, construindo minha identidade

profissional em meio aos fragmentos que se juntavam. Durante a graduação,

frequentei inúmeros outros cursos de atualização profissional com temática sobre

Educação Especial e Inclusiva e sobre pessoas com deficiência. Quanto mais

estudava, maior era a certeza de que a educação consistia num instrumento de

transformação de realidades.

Aprovada por um concurso público passei a atuar dentro de uma instituição

especializada. Por mais de oito anos fui responsável pela alfabetização Braille e pela

reabilitação de mais de três dezenas de crianças, jovens e adultos cegos ou com

baixa visão. Durante esse período, fui criando uma metodologia própria, praticando

todas as técnicas aprendidas, aliadas às minhas experiências enquanto pessoa com

deficiência visual no ensino do Braille. Ajudei a construir muitas histórias de

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protagonismo da pessoa cega, na recolocação profissional delas, no regresso ao

ensino regular do qual haviam abandonado, na reabilitação para o convívio em

sociedade. Acima de tudo, percebia claramente a dignidade e cidadania

conquistadas por meio daquele trabalho, mas que estavam ameaçadas pela falta de

perspectiva institucional. De nada adiantava continuar com um trabalho que ficaria

preso em quatro paredes se o mundo lá fora não pudesse absorver tal riqueza. A

educação inclusiva precisava, então, ser construída dentro das escolas regulares,

em meio aos anseios e questionamentos dos professores de classes comuns, já que

pessoas cegas ou com baixa visão era um público crescente nesse universo

educativo. A partir do momento que esses alunos com deficiência cruzavam o portão

das instituições para ganhar o mundo, estavam reféns dessa mesma

institucionalização, pois as escolas regulares julgavam não ter o conhecimento

específico para atendê-los.

Sequencialmente tornei-me uma representante da educação inclusiva no

atendimento às pessoas com deficiência visual de nível nacional e descobri que não

bastava apenas ensinar Braille para quem não enxerga, privando-os do convívio

com as demais pessoas. Constatei a urgência em implantar ações que estivessem

ligadas ao uso e difusão do código Braille entre professores de todo o país e investir

na formação profissional presencial ou à distância como forma de afirmação que a

educação inclusiva é existente e precisa ser impregnada em todos os detentores da

prática docente. Conheci inúmeras realidades como agente multiplicadora do

conhecimento nessa modalidade de ensino.

Tendo ainda como base a metodologia criada e minhas experiências enquanto

pessoa cega, usuária de Braille, passei a oferecer formação para professores,

ministrar palestras, participar de congressos, oferecer consultoria em diferentes

municípios e publicar artigos em diferentes mídias impressas. O objetivo é que tal

conhecimento alcance o máximo de pessoas possíveis, pois educação inclusiva

passa, obrigatoriamente, pela apropriação da pessoa com deficiência e pela

informação prestada à sociedade. Nessa tentativa incansável pela divulgação de

práticas inclusivas, também fui me atualizando profissionalmente, buscando o

conhecimento científico, o estudo e a pesquisa como formas de encontrar respostas

mais consistentes aos problemas educacionais enfrentados pelos alunos com

deficiência.

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Neste sentido, o Curso Práticas Educacionais Inclusivas na Área da Deficiência

Intelectual, promovido pela UNESP - Campus Bauru, em parceria com a Rede de

Formação Continuada de Professores na Educação Especial MEC/SECADI - Turma

40, surge como mais um desafio para redimensionar minhas práticas docentes,

incorporando metodologias mais adequadas e eficientes no processo de construção

colaborativa do saber, atingindo um público carente desse conhecimento tão

necessário para efetivar a educação inclusiva pelo país.

Quando decidi efetivar minha inscrição no curso pretendia, além da atualização

profissional, vislumbrar novas perspectivas para a prática docente. Poucas vezes

havia me deparado com alunos com deficiência intelectual, embora muitas das

dificuldades apresentadas por crianças cegas, sem estimulação precoce adequada,

ainda sejam vistas como problemas de ordem intelectual por profissionais

despreparados. Minha expectativa era, então, conhecer um pouco mais sobre essa

realidade para poder intervir junto aos alunos com deficiência múltipla, ou seja,

deficiência intelectual associada à deficiência visual. Pela primeira vez estava

prestes a frequentar mais um curso na modalidade à distância, com temática

diferente de tudo que eu havia experimentado até então. Uma novidade que me

traria enorme satisfação.

Acostumada com essa modalidade de ensino Online, aprendi que o importante

é criar uma rotina de estudos, aproveitar o compartilhamento de informações e

contribuir para a troca de experiência. Cumprir com as tarefas, então, dependia tanto

do individual quanto do coletivo, pois o processo educativo é dinâmico e requer a

relação entre as pessoas e com o conhecimento. Recebi com alegria a confirmação

da inscrição e ali não só iniciaria mais um curso, e sim uma nova maneira de encarar

o estudo sobre a deficiência intelectual. Fomos muito bem recebidas e saudadas

pela tutora da Turma 40, que nos acolheu com os melhores desejos de um rico

aprendizado.

Apenas nesse momento, em resposta ao primeiro e-mail recebido, informei

sobre minha deficiência visual. A tecnologia nos faz mais iguais na multidão, quando

não rotula o outro medindo seus limites com base numa deficiência aparente ou não.

A tutora não se mostrou receosa pelo que viria pela frente. Encarou a informação

como se a diversidade não lhe provocasse questionamento. Pela primeira vez, após

ter concluído o ensino fundamental, senti que estava novamente diante de um

cenário tão inclusivo quanto ao de vinte anos atrás. Nem mesmo durante a

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especialização em atendimento Educacional especializado senti-me tão confortável.

Aquele era mesmo o cenário inclusivo perfeito para que um curso nessa temática

fosse desenvolvido.

Ambientar-me com a plataforma TelEduc não foi difícil. A tecnologia e a

informática estão presentes de maneira constante nas minhas tarefas. Embora já

tivesse frequentado outros cursos dentro dessa plataforma, dessa vez também

foram diferentes. Durante a navegação percebi que os pontos inacessíveis em

cursos anteriores, agora estavam ajustados ao leitor de tela utilizado por mim. O

software leitor de tela cumpre o papel de ler toda e qualquer informação presente no

formato texto, visualmente presente na tela do computador. As agendas e a criação

de pastas, por exemplo, se tornaram acessíveis e o bate papo sofreu alterações que

facilitou a navegação. Li os perfis e conheci mais sobre a minha tutora, meus

colegas de curso e meus formadores. Percebi que estávamos diante de uma turma

diversa, em busca do mesmo ideal e que ali, construiríamos uma relação bastante

sólida, envolvida por muito aprendizado e troca de experiências.

Assim que o período de ambientação terminou, começamos arregaçar as

mangas para o trabalho. A bibliografia foi bastante densa e consistente, trazendo

uma pertinência grande com o tema. Trabalhamos legislações, conhecimento

técnico, metodológico, tecnologia assistiva, adequações curriculares e as

ferramentas para tornar a inclusão do aluno com deficiência intelectual mais

possível. Percebi que, embora se tratasse da deficiência intelectual, muitas

informações serviriam para a prática de outras deficiências, o que deixou o conteúdo

muito mais abrangente do que imaginaria que fosse. Sempre encorajados pela

tutora e pelos formadores, nós alunos, procurávamos absorver o máximo de

conhecimento. Os espaços como fóruns e bate papo serviram para fortalecer ainda

mais os estudos, com o debate e as participações em grupo. A cada semana, a

dinâmica do curso se fazia mais uniforme.

O Curso teve carga horária de 180 horas e foi organizado em cinco módulos

com atividades On-line e atividades práticas a serem desenvolvidas ao longo de

cinco meses. Muito mais do que apenas apropriação de conteúdos, o curso nos

levou a “apaixonar-se pelas experiências e ideias, explorando a criatividade e

incentivando a participação”.

No primeiro módulo aprendemos sobre educação a distância (EAD). O Decreto

nº 5.622/05 caracteriza a Educação a Distância como “modalidade educacional na

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qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem

ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com

estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou

tempos diversos”. A Educação à Distância também é reconhecida como modalidade

educacional pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 9394/96), tendo

reflexo positivo no crescimento da oferta de cursos nessa modalidade aqui no Brasil.

Conhecemos as ferramentas do TelEduc e interagimos com cada uma delas.

Iniciamos o preenchimento do nosso perfil, com nossos dados, endereço eletrônico

para contato e fotografia. Lembrando que a imagem permitia descrição num campo

destinado à legenda, para que pessoas cegas conhecessem seus colegas de curso

através da descrição textual de suas características físicas. Em seguida fomos

apresentados ao espaço onde são arquivadas as agendas, desde a primeira até a

última, conforme iam sendo disponibilizadas. No ambiente de correio, pudemos

interagir com os colegas, tirar dúvidas com a tutora e contatar os formadores. Foi no

Correio que recebi da tutora todo o material bibliográfico utilizado no curso

convertido em formato texto, pois meu leitor de telas teve alguma dificuldade com

formatos PDF, de imagem. Essa flexibilidade fez parte das ações praticadas pela

UNESP juntamente com a equipe que coordenou esse trabalho de formação.

Através do espaço do Portfólio publicamos os nossos trabalhos de cada

módulo, alguns compartilhados apenas com formadores, outros compartilhados com

todos os demais cursistas, que poderiam ver os demais portfólios para comentá-los.

Foi através da ferramenta fóruns de discussão que acessamos cada tópico aberto

para debate, interagindo com nossos colegas com opiniões, relatos ou

questionamentos.

O bate papo também possibilitava essa interação, só que de forma simultânea,

no qual todos deveriam estar conectados em horário e datas agendadas pela tutora.

Além disso, também utilizávamos outras ferramentas, como Estrutura do Ambiente,

que continha informações sobre o TelEduc, Dinâmica do curso, com a metodologia e

a organização geral dos módulos, Atividades, um espaço para detalhar as tarefas a

serem realizadas, Material de apoio, com os materiais de leitura, Leituras, com

material bibliográfico complementar e a Parada Obrigatória, com atualização da

planilha de acompanhamento da turma.

Fomos orientados sobre a organização do tempo para os estudos, a fim de tirar

o máximo proveito do curso e criar um ambiente amigável, com trocas de

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conhecimento que promovessem a aproximação, que favorecessem a construção de

conhecimentos e a formação de qualidade. E o contato foi estabelecido mesmo de

maneira virtual. Foi nesse clima que demos início aos estudos do segundo módulo,

dividido em quatro capítulos.

Durante este segundo módulo, fomos apresentados a temas que envolviam a

aprendizagem e o desenvolvimento humano, retomando conceitos de pensadores

como Emília Ferreiro e Jean Piaget. Por meio dos conceitos e das definições sobre

deficiência intelectual, entramos em contato com essa realidade e analisamos quais

eram as contribuições da psicologia histórico-cultural nas intervenções com esse

público alvo, como por exemplo, a aprendizagem e o desenvolvimento psicológico, o

estímulo ao desenvolvimento e a função da Zona de desenvolvimento proximal para

um bom ensino, adquiridos por intermédio do desenvolvimento dos conceitos

científicos ou espontâneos. Na sequência, fomos instigados a pensar sobre o

processo de aprendizagem do aluno com deficiência intelectual, no ensino que

esteja pautado no processo educacional e não nas condições biológicas desses

alunos. Nesse módulo realizamos algumas atividades, teórica e prática, e uma

participação no fórum. Também participamos do bate-papo agendado. Talvez tenha

sido esse o momento mais complexo enfrentado por mim, já que uma das atividades

consistia na análise das etapas de desenvolvimento da escrita, tendo como base

imagens meramente ilustrativas com atividades de sondagem em escrita. Percebi

nesse momento que eu teria dificuldade. Solicitei uma adequação curricular e sugeri

que essa análise fosse feita por mim tendo como base a escrita em Braille e um

teste aplicado com alunos com deficiência múltipla, visual e intelectual. Fui atendida

prontamente e minha atividade pontuada como sendo válida para a avaliação.

Partimos para o terceiro módulo do curso, cujo tema foi a Escola Inclusiva e o

Projeto Político Pedagógico. Esse estudo envolveu além dos requisitos para a

elaboração de um PPP pautado na inclusão, as habilidades sociais no contexto

inclusivo e a função do professor como mediador das práticas pedagógicas.

Retomamos o contexto histórico da Pessoa com deficiência, da exclusão a inclusão.

A reestruturação administrativa da escola também foi pensada como forma de

transformação de uma realidade cuja presença de alunos com deficiência apenas

não basta. É preciso que tanto professores quanto diretores mostrem confiança e

atitude positiva frente ao princípio do atendimento educacional sistematizado,

planejado e registrado em relação à diversidade presente nessa escola inclusiva. A

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escola inclusiva deve ter como pressuposto que todos os alunos podem aprender,

evidentemente, respeitando o ritmo e as particularidades de cada um. Então, precisa

propiciar condições para que o processo de ensino-aprendizagem se efetive, criando

infraestrutura adequada ao desenvolvimento de todos.

Nesse módulo tive contato com um conceito novo e que fez muita diferença na

minha prática docente, daí em diante. Trata-se das Habilidades sociais (HS), que

são um conjunto de comportamentos aprendidos que envolvem interações sociais

entre os educandos. Também estão relacionadas a habilidades de comunicação, de

resolução de problemas, de interação social e de defesa de direitos. Incorporam

componentes verbais e não verbais, como gestos, olhar, contato visual, postura

corporal, entre outros. O professor precisa desenvolver suas habilidades sociais

educativas a fim da promoção do desenvolvimento e da aprendizagem do outro, em

situação formal ou informal, como por exemplo: expressividade e enfrentamento,

estabelecimento de limites e comunicação. Aprendi que como professores podemos

mediar positivamente uma situação de aprendizagem por meio das habilidades

praticadas nesse relacionamento com os alunos. Fiquei mais atenta a essas

habilidades a partir de então e percebi uma mudança significativa na minha relação

com os alunos e na relação deles com o conhecimento.

Foi no quarto capítulo que estudamos sobre a colaboração entre professor da

classe comum e do atendimento educacional especializado. Tenho percebido que

sem essa articulação o trabalho do AEE torna-se vazio. Também tomamos contato

com a identificação de necessidades e habilidades dos alunos com deficiência. A

avaliação educacional funciona como a base para o planejamento dos

procedimentos de ensino com foco no aluno com deficiência, visando a perspectiva

de alavancar o progresso desse educando, ao contrário da mentalidade quantitativa

e excludente devido ao insucesso da aprendizagem. Nesta proposta, a avaliação

não pode ser vista como um procedimento para decidir pela aprovação ou

reprovação do aluno, mas sim um procedimento pedagógico pelo qual se verifica

continuamente o progresso da aprendizagem e se decide, se necessário, sobre os

meios que serão utilizados para implementar a aquisição das habilidades alvo de

ensino. E por isso ela é vista como um instrumento de motivação, com função de

facilitar o diagnóstico, melhorar o ensino e estabelecer situações individuais de

aprendizagem. Integram-se a esse conceito as adequações curriculares, pois em

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cada atividade planejada para o dia é preciso questionar sobre quais modificações

serão necessárias e como ocorrerão.

Aprendemos também sobre aprendizagem colaborativa, cujo apoio e

companheirismo caminham juntos no ambiente escolar inclusivo. A colaboração é

uma estratégia bastante pertinente para integrar o trabalho do ensino regular e do

AEE, já que ambos os profissionais compartilham a responsabilidade de planejar e

programar uma prática voltada para a educação inclusiva e sistemática. Essa

colaboração não apenas interfere no aprendizado e desenvolvimento do aluno com

deficiência, mas é necessária para que ofereça a oportunidade para ampliar o

conhecimento especializado do professor do ensino comum. Os professores do

Ensino Comum trazem especialização em conteúdo, ao passo que os de Educação

Especial são mais especialistas em avaliação, instruções e estratégias de ensino.

Nesse módulo, assim como também ocorreu em outros anteriores, a bibliografia

escrita foi complementada com vídeos bastante pertinentes com o assunto e que fez

toda diferença para a compreensão dos conceitos estudados. As tarefas foram

teóricas e interativas, além dos fóruns e bate papo.

No quinto e último módulo observamos as estratégias metodológicas e

recursos de acessibilidade ao currículo na classe comum. Foram temas presentes

nesse estudo a educação sexual voltada a pessoas com deficiência intelectual e o

papel do professor para esclarecerem as dúvidas de seus alunos. Também foi dado

um espaço grande para a abordagem sobre a criatividade e a importância dessa

característica no trabalho com a diversidade. A proposta da utilização de jogos e

brincadeiras na escola enriquece o cotidiano em sala de aula e desafia o professor a

pensar em outras possibilidades de intervenção. Esse capítulo foi um dos mais

divertidos, pois permitiu que cada um de nós colocássemos para fora a criatividade

ainda desconhecida, recriando novos rumos para as ações e práticas educativas. É

como se estivéssemos diante de novas perspectivas de trabalho, com as quais

conseguimos interagir de maneira mais leve e dinâmica.

O curso chegou à sua última semana e deixou gostinho de “quero mais”.

Fomos nos transformando ao longo de cinco meses e reconstruindo nossa prática

muito mais embasada e sistemática, coerente com as diversas realidades que

tomávamos como únicas e, ao mesmo tempo como sendo responsabilidade de

todos nós. Conheci uma nova realidade e pude somar esse aprendizado a todos

aqueles já construídos durante a minha trajetória. Fui aluna, fui colega e hoje sou

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instrumento dessa renovação pedagógica, multiplicando tudo aquilo que aprendi em

ensinamentos e propostas melhores direcionadas a esse público. Os estudos sobre

a deficiência intelectual não descaracterizaram o meu trabalho com a deficiência

visual. Pelo contrário, agregaram um novo rumo metodológico, um aprofundamento

teórico que compreendi na prática, embora nem todos ali tivessem alunos com a

deficiência estudada, assim como eu também não tinha.

Muito além das limitações intelectuais, estudamos o aluno, independente de

qualquer aspecto que pudesse caracterizá-lo como “especial”. Estudamos o aluno

dentro da diversidade. Estudamos o desenvolvimento infantil, as habilidades

cognitivas e psicológicas, as relações sociais. Aprendemos a enxergar uma

metodologia que contemplasse a todos, uma avaliação diagnóstica para nortear um

planejamento e uma adequação curricular. Compreendemos que devemos ser

flexíveis, criativos e colaborativos e que as habilidades sociais são a chave para

uma educação democrática. Passamos a conceber o Projeto Político Pedagógico

como instrumento de transformação, construído por várias mãos e que o fator

administrativo não acontece isoladamente ao pedagógico. Família e escola devem

ser parceiros na tomada de decisões e que o professor é apenas o facilitador do

processo de ensino e aprendizagem.

Foram tantos os temas estudados que se torna impossível sair deste curso

como entramos. Nós também nos transformamos para poder transformar as

realidades por onde pisamos. Aqueles professores que me acompanharam durante

toda minha formação foram os grandes responsáveis pelas escolhas que fiz e pelas

práticas que reproduzo, assim como neste curso, encontrei profissionais tão

sensíveis ao mundo de diversidades que revivi, em cinco meses, todos aqueles doze

anos de educação básica pautada no respeito e no reconhecimento da

individualidade. Hoje somos privilegiados por esse conhecimento sistematizado

alcançar os quatro cantos desse país e levar pra dentro das escolas cidadania e

dignidade para as pessoas com deficiência.

Ao estarmos habilitados em atuar com alunos com deficiência intelectual,

estaremos ampliando ainda mais as possibilidades de ação educativa, que no meu

caso visa atender não somente às exigências legais por uma educação inclusiva,

mas, sobretudo, às necessidades do público alvo da Educação Especial. O

redimensionamento profissional buscado nesse curso veio cumprir um papel ainda

mais significativo e desafiador, pois ampliando as minhas possibilidades, reafirmo o

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compromisso ainda mais forte em fazer da educação um instrumento de

transformação de realidades, assim como na célebre frase de Albert Einstein: "A

mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.".

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Relato de Experiência

Marina de Souza Jacob5

A Deficiência Intelectual é um grande desafio para a escola regular e inclusiva

pela complexidade de seu conceito, formas de expressão e variedade de

abordagens pedagógicas com que o profissional deve saber lidar a fim de alcançar

resultados. O deficiente intelectual é aquele cujo funcionamento intelectual atinge

níveis de aprendizado bem inferiores à média, sendo possível diagnosticá-lo até

antes dos 12 anos, atingindo algumas habilidades como: comunicação, locomoção,

cuidados pessoais, etc.

Para atender estes educandos, os professores precisam ser capacitados e ter

a certeza de que aprenderão, mas em seu ritmo, à sua maneira, o que exige um

olhar e uma ação diferenciados, com novos procedimentos de ensino a serem

oferecidos. “A deficiência mental não se esgota na sua condição orgânica e/ou

intelectual e nem pode ser definida por um único saber. Ela é uma interrogação e

objeto de investigação de inúmeras áreas do conhecimento” (MANTOAN; BATISTA,

2007, p.15).

Complementando o pensamento da estudiosa acima, podemos nos remeter à

Vigotsky (1991) o fundador de uma importante concepção para a educação: o

aprender se faz no coletivo, com as trocas sociais, com diálogos e interação. Assim,

a figura do outro se torna uma ponte que direciona e auxilia na apreensão de

saberes. O professor, portanto, tem o papel de mediador, facilitador para que seu

aluno com mais dificuldade consiga avanços cognitivos. O importante é pensar e

concretizar diferentes estratégias de abordagem de conteúdo/ aprendizado, fato que

contribui para a turma toda, bem como para o deficiente intelectual, quem apresenta

grande dificuldade para construir o próprio conhecimento. O deficiente intelectual

possui prejuízo cognitivo, das funções cognitivas superiores. Assim ficam

comprometidas as funções de aprender e compreender de modo geral, afetando a

linguagem, aquisição da informação, percepção, memória, etc.

Desta maneira, ao longo dos anos a prática e o olhar do professor tendem a

mudar, principalmente por que se deve buscar formação continuada a fim de

__________________________ 5Professora de Português da rede municipal de Ipatinga. Mestranda em Educação Uemg

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encontrar caminhos mais eficazes na promoção do saber destes alunos.

Algumas dicas são imprescindíveis, como: reforçar a identidade do aluno,

encorajar a participação e diálogo, verificar a área do saber ele aprecia (fala, escrita,

desenho, etc.) e desenvolvê-la, elogiar comportamentos adequados, promover

aprendizagem com momentos lúdicos, repetir pontos essenciais da matéria

apresentada favorecendo a memorização, etc.

A seguir, um exemplar de produção de texto de uma aluna deficiente

intelectual, produzido em 2012. Foi-lhe apresentada uma imagem de um homem

cortando uma árvore. No texto oral, a aluna verbalizou com sucesso o seu diálogo,

mas na escrita os problemas de pontuação e conectivos persistem, mesmo após

explicações e modelo de diálogo.

A seguir, outra

produção de texto da aluna, feita neste ano de 2015. A educanda leu o poema “Sono

Pesado” e montou um diálogo entre pai e filho.

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Observe que a dificuldade em estabelecer o discurso direto do pai e do filho

pelo sinal ‘travessão’ persistiu ao longo destes anos, entretanto seu texto mantém a

coerência. A aluna está matriculada na mesma escola há mais de quatro anos e,

conforme seu relatório inicial houve um grande avanço cognitivo. Mesmo com todos

os problemas da escola pública como troca de professores, falta de formação

continuada e apoio/orientação pedagógica, é possível realizar um trabalho bem

articulado e sequenciado, desde que a direção da escola auxilie os professores, dê-

lhes suporte pedagógico.

Veja um exemplar da avaliação sobre o poema “Sono Pesado” na qual a

educanda consegue acertar quase todas as questões:

SONO PESADO

Toca o despertador e meu pai vem

me chamar:

- Levanta, filho, levanta,

Tá na hora de acordar.

Uma coisa, no entanto, impede que eu

me levante:

Sentado nas minhas costas, há um

enorme elefante.

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Ele tem essa mania, todo dia vem

aqui.

Senta em cima de mim, e começa a

ler gibi.

O sono, que estava bom, fica ainda

mais pesado.

Como eu posso levantar com o

bichão aí sentado?

O meu pai não vê o bicho, deve

estar ruim da vista.

Podia me deixar dormindo enquanto

ia ao oculista...

Espera um pouco, papai...

Não precisa ser agora.

Daqui a cinco

minutos, o elefante

vai embora...

Mas meu pai insiste tanto, que eu

levanto, carrancudo.

Vou pra escola, que remédio, com o

bicho nas costas e tudo.

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Fonte: A autora.

Questões implícitas foram respondidas com sucesso graças à prática cotidiana

de leitura, resolução de atividades variadas. Além disto, é preciso citar que a aluna tem

uma vida social considerada normal, com 17 anos, costuma ver novelas, vai à igreja, já

namora, sai com colegas e namorado.

A experiência em lidar com alunos com deficiência intelectual é um desafio, já o

professor precisa repensar todo o seu planejamento, refazê-lo sob a perspectiva de

melhor apreensão a todos. Não é um mero simplificar de atividades, e sim estratégias

orais/ escritas/ lúdicas/ criativas.

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Relato de Experiência

Marina Pavão Battaglini6

Lembro-me, claramente, do dia em que se iniciou a minha trajetória como tutora

no referido curso, no ano de 2011. Entrei no ambiente EAD para realizar as tarefas do

processo de seleção para tutores. Até então, não havia tido nenhuma experiência em

educação à distância. Apreensiva, várias dúvidas e questionamentos me ocorreram.

“Como seria possível um curso à distância? Como seriam estabelecidos os

relacionamentos entre os membros? E como seriam as avaliações e participações?”.

Confesso que meus pré-conceitos, sem embasamento teórico ou empírico sobre a

educação à distância eram, em sua maioria, negativos. Não conseguia acreditar

totalmente na eficácia de um processo de ensino-aprendizagem por meio de uma

máquina, o computador.

Na primeira vez em que entrei no ambiente EAD, ainda como parte do processo

seletivo pensei se alguém estava controlando e monitorando todos os meus passos e

“cliques” no computador. Como era estranho, algo totalmente novo, um desafio.

Apesar do “incômodo” inicial, surpreendi-me com a imensa felicidade ao receber

um e-mail da Coordenação do curso informando que eu havia sido selecionada para

atuar como tutora, juntamente com outros colegas.

Durante o curso, percebi que as minhas pré-concepções sobre a educação à

distância eram grandes equívocos, decorrentes da falta de conhecimento e,

principalmente, da falta de experiência com esta modalidade de educação.

Tornei-me, desde então, uma “defensora" dos cursos à distância. Ainda hoje,

busco por cursos na modalidade EAD para me aperfeiçoar, porém, ainda são poucos os

oferecidos na minha área de atuação.

Na minha experiência como tutora, senti-me mais próxima dos colegas

(formadores e cursistas) do que quando participei de cursos presenciais, como aluna.

As trocas de conhecimentos e o ambiente de reflexão proporcionado pelo curso foram

______________________________ 6Tutora do Curso – Turma 34

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muito enriquecedores e gratificantes. Cada cursista (professor, coordenador ou diretor

da rede pública) trazia consigo uma bagagem de conhecimentos e experiências, e

compartilhavam-os com todos. Discutíamos e refletíamos não somente temas já

expostos, mas também situações recorrentes nas escolas. E nada melhor do que as

diversas ideias, pensamentos e sugestões vindos de pessoas com histórias singulares

e, ao mesmo tempo, com alguns ideais, objetivos e “sonhos” em comuns.

Alguns professores cursistas também tinham filhos com necessidades especiais e

lutavam por uma sociedade mais inclusiva. A história de vida destes cursistas era

permeada por lutas, sofrimentos, alegrias e conquistas. Eles demonstravam um motivo

a mais para se empenharem no processo de inclusão escolar, pois vivenciaram em

âmbito familiar (e profissional) as consequências negativas da falta de acesso a uma

escola inclusiva, a uma escola aberta e preparada para as diferenças.

Outros cursistas tinham uma trajetória profissional consagrada no ensino de

indivíduos com necessidades especiais. Outros eram iniciantes neste processo.

Independente do tempo de formação e de experiências profissionais ou pessoais, todos

assumiram um compromisso com um objetivo em comum: adquirir conhecimentos

teóricos e/ou práticos, que lhes possibilitassem promover a inclusão escolar em suas

escolas e melhorar a qualidade da educação para todos.

Assim, foram trocados conhecimentos e experiências entre cursistas e formadores

por meio dos Fóruns de discussão ou por mensagens e e-mails. Foram feitas reflexões

sobre o processo de ensino-aprendizagem, sobre os problemas enfrentados em âmbito

escolar, sobre práticas que produziram bons resultados, sobre as mudanças e

caminhos necessários para garantir uma inclusão escolar bem sucedida.

No entanto, “nem tudo foram flores.” Deparei-me com relatos de cursistas que

ainda justificavam o fracasso escolar devido a “desestrutura” familiar ou causas

“intrínsecas” a criança, como baixa motivação para aprender, pouca participação e

empenho dos pais. Por outro lado, tais concepções baseadas no senso comum foram

sendo substituídas por conhecimentos científicos no decorrer do curso.

Alguns cursistas apresentaram dificuldades com as ferramentas do ambiente EAD,

necessitando de esclarecimentos adicionais e maior apoio. O acesso escasso e o

pouco conhecimento sobre como manusear o computador geravam insegurança e

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preocupação em alguns cursistas, tendo como consequência o atraso na entrega das

atividades e a baixa participação. Por outro lado, as dúvidas eram sanadas a partir de

orientações, além do tutorial elaborado pela coordenação do curso, permitindo que as

maiorias dos cursistas concluíssem o curso com ótimo aproveitamento.

As relações estabelecidas entre os colegas durante o curso permaneceram

mesmo após a sua conclusão. Os cursistas criaram um grupo na página do Facebook,

onde continuam trocando informações e compartilhando materiais sobre educação

inclusiva. Esta é uma das evidências de que os cursistas continuam se preocupando e

lutando para o avanço da educação inclusiva, a qual se trata de um processo que está

apenas começando.

Devo salientar também que os textos disponibilizados para leitura contribuíram

imensamente para a minha atuação profissional. Tenho usado-os tanto para orientar

alunos de graduação em Psicologia quantos professores de crianças com necessidades

especiais atendidas por mim em clínica.

Para finalizar, sinto-me muito honrada por ter tido a oportunidade de participar, de

alguma forma, de um processo de ensino-aprendizagem que teve a pretensão de

favorecer a inclusão escolar no país, auxiliando educadores em suas práticas

profissionais e contribuindo para uma educação de qualidade.

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Relato de Experiência

Elaine Maria Nocera Kaizer

Hoje foi preciso dar um “tempo” na vida agitada e refletir sobre tudo o que já

passei em relação à inclusão. A primeira experiência com pessoas com deficiência foi

na casa da minha avó materna, querida Vó Dalila. Meu saudoso tio Luiz (querido tio LÚ)

teve paralisia infantil com um ano de vida, lembro-me da minha primeira pergunta

“infantil” marcante à minha mãe: por que a vó deixa o tio de castigo no sofá o dia

inteiro? Minha mãe explicou sobre a doença e disse que nunca iria andar, foi a partir

daí que comecei a inventar brincadeiras onde o tio Lú pudesse participar também. Ele

nunca foi à escola, mas tanto nas minhas brincadeiras de escolinha como depois de

minha formatura oficial como professora, consegui ensinar tio Lú escrever seu nome.

Esta não foi à única experiência. Tanto pessoal como profissional, é incrível a

“EDUCAÇÃO ESPECIAL” sempre está comigo. Por isso procuro realizar cursos como

as Práticas Inclusivas.

Na minha vida pessoal também tive outra experiência que vou relatar antes de

falar da vida profissional: há dez anos, minha filha Vitória Maria nasceu no sexto mês

de gestação com 770 gramas, no Hospital da UNESP de Botucatu. Ficaram três meses

na UTI neonatal. Quando teve alta, os médicos relataram que ela tinha uma má

formação cerebral não tinha o lobo temporal direito- portanto teria dificuldades para

falar, andar, etc. Imediatamente procurei a APAE da minha cidade. Eles nunca tinham

atendido bebês para a estimulação precoce, que a Vitoria precisava naquele momento,

conversei com a psicóloga e levei alguns estudos que encontrei na internet, ela aceitou

o desafio, montou uma equipe e atendeu minha filha por dois anos. Minha filha andou e

falou na idade certa, os neurologistas explicaram que graças aos estímulos que

recebeu (tanto na APAE, como em casa, pois eu continuava estudando sobre bebês

prematuros e suas necessidades), ela teve a neuroplasticidade. Hoje ela está no 4º ano

e acompanha normalmente sua turma e a APAE tem uma ala que atende crianças que

necessitam de estimulação precoce.

Minha vida profissional sempre esteve relacionada com a Educação Especial e

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atualmente mais do que nunca. Hoje estou com dezesseis anos de magistério na Rede

Estadual Paulista, dos quais, doze permaneceram na Coordenação Pedagógica, um

ano na Direção de escola e atualmente estou na Supervisão de Ensino da Diretoria de

Ensino da Região de Piraju, onde sou responsável pela Educação Especial. Enquanto

estava na Coordenação Pedagógica, sempre trabalhei em escolas onde havia sala de

recursos, portanto procurava textos para entender a inclusão e como auxiliar os

professores. No ano passado, quando já estava na Direção de uma escola na Diretoria

de Ensino de Ourinhos, fui convidada para realizar o curso Práticas Inclusivas. Era tudo

o que precisava naquele momento, pois eu tinha muitas duvidas em relação aos alunos

que haviam acabado de chegar no 6º ano e também outros que já estavam na escola.

Foi através dos textos e da interação com a professora Márcia que avancei muito em

relação às práticas inclusivas.

Além disso, através das ATPCs repassei algumas orientações aos professores da

escola no mesmo ano. Já neste ano, quando cheguei e a Dirigente disse que uma das

pastas que eu seria responsável era a Educação Especial, lembrei-me do curso e da

possibilidade de repassar os conhecimentos a muitas pessoas. Enfim, não vou parar, já

fiz o curso de pós-graduação em Psicopedagogia Institucional, minha meta é realizar o

mestrado em Educação Especial e lutar cada vez por uma inclusão de qualidade para

todos os alunos!

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Relato de Experiência

Marilene Domanovski7

Considerando a inclusão um fato marcante e importante na história da educação,

o curso sobre práticas pedagógicas inclusivas veio com tudo para orientar e enriquecer

o trabalho dos professores, bem como também fornecer subsídios teóricos

metodológicos através do material disponível para realização das atividades,

complementando com a troca de experiências dos colegas.

O objetivo do curso é analisar materiais com fundamentação legal, orientar o

professor, dar opção de estratégias e adaptações para desenvolver um trabalho

inclusivo com responsabilidade e comprometimento, para que o aluno esteja realmente

incluso na rede regular de ensino com seus direitos e deveres garantidos.

Antes de falar de práticas inclusivas, temos que saber o que é inclusão e fazer

valer a prática inclusiva com atitudes e não só no discurso. Inclusão é dar oportunidade

ao aluno, de frequentar a escola junto com todos respeitando suas especificidades, com

material adequado e adaptado quando necessário.

O curso sobre as práticas inclusivas veio de encontro com as dificuldades que

muitos professores enfrentam no dia a dia ao trabalhar com o aluno com necessidades

especiais de aprendizagem e acreditam não estarem preparados para conduzir o

trabalho significativo e com êxito de aprendizagem efetiva.

Pensando em inclusão foi realizado um trabalho com as alunas do curso de

formação de Professores, em que elas pesquisaram e desenvolveram o assunto:

COMO ESTÁ ACONTECENDO A INCLUSÃO NO MUNÍCIPIO.

As alunas do curso fizeram um levantamento das pessoas que residem no

Município e apresentam alguma deficiência, coletando informações e depoimentos

delas sobre suas dificuldades e anseios diante de uma proposta inclusiva, realizaram

entrevistas com os órgãos competentes para esclarecimentos com o presidente da

câmara dos vereadores, o prefeito, a Secretária da Educação, Coordenadora de

_____________________________ 7Professora de Recurso (de apoio) - Rebouças/PR

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Educação Especial do Município e o diretor do Colégio onde há vários alunos inclusos.

Então, foram expostos os serviços realizados tanto de caráter pedagógico quanto de

acessibilidade que existem no Município, os trabalhos foram gravados em vídeos, com

apresentação em sala de aula para os demais analisar e refletir se realmente está

acontecendo à inclusão. No decorrer do trabalho os entrevistados colocaram que a

inclusão está engatinhando, mas que na medida do possível estão se empenhando

para que ela se desenvolva com sucesso, seriedade e responsabilidade com políticas

públicas voltadas para a diversidade, autonomia e identidade da criança com

deficiência.

No decorrer do trabalho foi apresentado um grupo de surdas onde em seguida

tiveram algumas noções básicas de libras, enfocando que a linguagem de sinais é a

ferramenta de ligação entre todos os envolvidos no processo de aprendizagem do

surdo e que a escola deve estar preparada para receber estes alunos. Em seguida

exibiram materiais que podem ser trabalhados com os alunos cegos ou com os alunos

de baixa visão realizando cálculos com o soroban e leituras em Braille, foram realizadas

dinâmicas de sensibilização sobre as deficiências e como agir diante das limitações de

cada um, fornecendo orientações de como trabalhar com cada especificidade.

Juntamente com as alunas, os professores se envolveram no trabalho, cada um

com uma área de deficiência para expor o assunto aos outros alunos do Colégio em

forma de oficinas, trabalhando com simulações de como se sente a pessoa com

deficiência e preparando-os para acolher os alunos com deficiência sem discriminação

ou preconceito em uma escola com praticas e espírito inclusivo.

O trabalho foi motivador de curiosidade e análise teórico metodológico, que

provocou ação de cobrança com relação às normas legais existentes na escola para

concretização das praticas inclusivas.

O trabalho realizado foi muito gratificante, pois os alunos ficaram conhecendo a

realidade do seu Município com respeito à inclusão, o que os responsáveis estão

fazendo para que ela se efetive, qual o comprometimento de cada um com esse

assunto tão polêmico e difícil de colocar em prática.

Pelo visto causou efeito positivo, os alunos estão exigindo o curso de LIBRAS dos

responsáveis, devido ter alunos surdos estudando. Os professores realizam adaptações

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de acordo com cada aluno respeitando seu potencial de aprendizagem através de

avaliações e recursos diversificados que facilitem a assimilação dos conteúdos.

Também ficou claro que a inclusão ainda é um desafio a ser superado, que está

caminhando a passos lentos, onde alguns lutam para que se efetive, mas que muitos se

calam e se acomodam por ignorância, privando o deficiente de exercer seu direito.

A inclusão depende de conhecimento, de habilidade e de boa vontade e, de

atitude de todos os envolvidos.

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Relato de Experiência

Luci Regina Alves de Paula8

Quanto se oferece um curso de formação continuada de professores, busca-se

muito além de um processo de atualização das discussões teóricas atuais, mas

principalmente uma reflexão da prática pedagógica individual e coletiva, objetivando a

melhoria na qualidade da educação ofertada.

O professor precisa estar constantemente em busca da atualização, em face de

velocidade com que as mudanças e as informações acontecem neste momento da

nossa história.

Ser um professor do século XXI é uma tarefa que exige do profissional da

educação além dos conhecimentos teóricos e críticos sobre a realidade também muita

criatividade para driblar todo desafio que encontra diariamente após os rotineiros sinais

de entrada em suas salas de aula, na face a face com seus educandos.

No mundo da tecnologia, os professores devem considerados como parceiros da

transformação social da escola, para enfrentarem juntas as novas demandas do mundo

contemporâneo, com competência, ética e consciência seu papel transformador.

O movimento pela inclusão das pessoas com deficiência no Brasil e

especificamente a inclusão escolar com qualidade reflete o desejo de transformação de

uma situação de discriminação onde perpetuava a segregação de pessoas.

A proposta da Educação Inclusiva que favorece a diversidade e compreende a

escola como um espaço para todos, deve oferecer além de novos recursos, apoio

especializado para garantir a aprendizagem de seus alunos.

Para STAINBACK (STAINBACK, 1999, p.46) [...] Se realmente desejamos uma

sociedade justa e igualitária, em que todas as pessoas tenham valores e direitos iguais,

precisamos reavaliar a maneira como operamos em nossas escolas, para proporcionar

aos alunos com deficiência as oportunidades e as habilidades para participar da nova

sociedade que está surgindo [...].

________________________________ 8Fonoaudióloga APAE - Bauru e tutora da Turma 24

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A oportunidade pelo aprimoramento profissional pode ser vista com a forma mais

efetiva no momento de melhorar a qualidade do ensino ofertado nas escolas e, assim

suprir as falhas da formação inicial, ajustando além de conceitos teóricos fundamentais

à prática diária, também a troca de experiências entre profissionais de diversas, e

porque não dizer todas as regiões do país, ampliando, assim, a aprendizagem de forma

colaborativa e enriquecedora já que diversas realidades educacionais foram

confrontadas.

A plataforma TelEduc, proporcionou aos professores a interação com seus tutores,

formadores e com a coordenação do curso por meio de e-mail, fóruns de discussão,

bate-papos, e respostas a dúvidas, além de troca de experiências entre os

participantes.

O professor participante teve a possibilidade de realizar atividades práticas com

seus alunos em todas as disciplinas e pode discorrer essa experiência na elaboração

de seu Portfólio.

Cada conteúdo do curso foi disponibilizado semanalmente, exigindo do aluno o

acesso diário do ambiente para apropriar-se deste material, para entrar em contato com

os colegas, exposição e resolução das dúvidas surgidas e das contribuições, para o

grupo e execução tarefas necessárias.

O papel de Tutora a Distância do curso de Práticas Educacionais Inclusivas me

exigia a responsabilidade de mediação dos diálogos com a turma, incentivando os

alunos a irem de encontro de outros saberes, relacionando-os com sua prática

pedagógica de acordo com a realidade e a especificidade da comunidade educacional

em que estavam inseridos, respeitando suas diferenças geográficas e culturais,

oportunizando lidar com uma vasta diversidade de sujeitos e saberes externalidades

pelas suas histórias de vida, e pela sua relação com a sociedade.

Neste contexto de EAD, o feedback foi um instrumento incansavelmente utilizado

na interação com o grupo, reforçando a apresentação das tarefas nos tempos

estabelecidos , bem como na captura dos ausentes do ambiente.

O uso do feedback foi muito positivo para diminuir a distancia interpessoal,

favorecendo a interação entre o grupo e garantir a correspondência das mensagens

aliando a teoria a prática.

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Algumas tarefas sugeridas durante as aulas do curso “Práticas Educacionais

Inclusivas na Área da Deficiência Intelectual” elaboradas nos portfólios virtuais

proporcionaram aos professores participantes do curso aplicar na escola em que

trabalhavam o que vivenciavam na teoria dando oportunidade de relatarem suas

experiências e refletir sobre elas e ainda contribuírem positivamente comentando os

portfólios de seus colegas de turma.

O desafio de novas estratégias apresentadas a cada conteúdo estudado foi muito

bem aproveitado pelos professores/alunos onde durante os fóruns de discussão

opinaram e trocaram relatos de experiências da prática.

A rotina diária de trabalho no ambiente virtual proporcionava uma contagiante

sensação das salas de aula, empolgante e barulhenta, principalmente durante as

atividades de bate papo.

O refletir sobre o fazer de cada professor a compreensão dos conteúdos ofertados

agrupados a prática desenvolvida em contextos reais transformaram realidades de

ensino. Consideramos que experiências como esta deveriam ser contínuas, pois

certamente contribui significativamente e de forma positiva para mudanças no

paradigma da Educação Inclusiva no Brasil.

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Relato de Experiência

Marilú Dascanio Ramos9

Denise Dascanio10

A reforma do Estado, a disseminação do neoliberalismo econômico, a

descentralização dos sistemas de ensino, a abertura da escola para as camadas

sociais menos privilegiadas economicamente, o intenso desenvolvimento econômico e

tecnológico, as mudanças no papel do Estado e da sociedade civil marcaram o final do

século XX e inauguraram as preocupações com o século XXI (HOBSBAWN, 1995;

BALL, 2004). Nesse contexto de profundas mudanças, a universalização e a qualidade

da educação pública ficam em evidência, sendo objeto de discussões, projetos e

inúmeras políticas públicas.

Associada às políticas de universalização e qualidade tem-se a preocupação com

a Educação Inclusiva, afinal, para que se universalize a educação escolar é necessário

que a escola seja acessível a todos, viabilizando não só condições para o acesso, mas

também para a permanência, a aprendizagem e o “pertencimento” à cultura, à

sociedade e ao mundo do trabalho. Intrínseco a estas questões está a formação

continuada do professor, afinal, o professor é a figura central que fará com que as

políticas públicas de universalização da educação se efetivem em práticas inclusivas e

acolhedoras. Neste bojo, inúmeras ações têm sido desenvolvidas para oferecer

formação continuada aos professores da rede pública. Nessa perspectiva merece

destaque o curso de “Práticas Educacionais Inclusivas na Área da Deficiência

Intelectual”, implementado através de convênio entre a Secretaria de Educação

Especial (SEE), em parceria com a Secretaria de Educação à Distância (Sead) e a

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes), com a

Faculdade de Ciências da Unesp Campus Bauru para oferecer o curso de formação

continuada a professores da rede pública, tendo como principal objetivo sensibilizar os

________________________________ 9Tutora Turma 36 10Tutora Turma 14

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professores para o acolhimento dos alunos com necessidades educacionais especiais,

conduzindo-os a uma reflexão sobre sua prática e direcionando-os a práticas de ensino-

aprendizagem mais inclusivas.

Este relato traz considerações/ reflexões das autoras sobre as mudanças

observadas em suas próprias práticas a partir do contato com o curso de “Práticas

Educacionais Inclusivas na Área da Deficiência Intelectual”, permeadas de

apontamentos legais sobre a Educação Especial no Brasil. Antes, porém, de iniciar os

apontamentos de cunho reflexivo das autoras é importante citar algumas políticas

públicas implementadas nos anos noventa, que foram salutares para que a Educação

Inclusiva assumisse nova orientação no país.

1. Os Anos Noventa – Bases para Redefinições da Educação Especial

Os anos noventa foram um período de especial importância para a redefinição da

educação no âmbito mundial, sobretudo, nos países “subdesenvolvidos” ou “em

desenvolvimento”, como o Brasil. Consubstanciados pelas correntes teóricas

neoliberais, os organismos internacionais – como o Banco Mundial (BM), de modo

articulado, têm protagonizado as políticas públicas educacionais com a organização de

conferências e o estabelecimento de metas, planos e prazos, impulsionando uma

Reforma da Educação.

A Conferência Mundial sobre Educação para Todos, convocada conjuntamente

pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação PNUD (Plano das

Nações Unidas para o Desenvolvimento) e o BM, definiu a educação básica como

prioridade da década de 1990. Realizada em Jomtien, na Tailândia, em 1990, e

aprovada por representantes de mais de cem países e organizações não-

governamentais (ONGs) que se comprometeram com a meta da Educação Primária

Universal para a população mundial num prazo de dez anos, argumentando-se que

esta conseguiria satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem (TORRES,

2009). Em novembro de 1991, realizou-se a Comissão Internacional sobre Educação

para o Século XXI, presidida por Jacques Delors e em 1993, um novo encontro foi

realizado, desta vez em Nova Delhi, reunindo os nove países mais populosos do

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mundo, dentre eles o Brasil, dando continuidade aos debates iniciados em Jomtien,

cujo foco era a universalização da educação, que deveria se desenvolver para suprir as

necessidades básicas de aprendizagem dos indivíduos e da sociedade.

Destaca-se que a Declaração de Jomtien associava a Educação para Todos à

necessidade de um compromisso político, pautado por medidas fiscais adequadas e

reformas na política educacional, partindo de uma visão abrangente da educação

básica, sem restringi-la apenas à educação escolar, compreendendo a educação

infantil, primária, alfabetização, educação básica e educação de jovens e adultos

(TORRES, 2006). Em Nova Delhi, o compromisso político foi aliado à mobilização dos

inúmeros segmentos da sociedade, que deveriam contribuir com a Educação para

Todos (RABELO; MENDES-SEGUNDO; JIMENEZ, 2009).

Outro documento de suma importância, que foi determinante para trilhar os novos

rumos da educação, sobretudo, da Educação Especial, foi a Declaração de Salamanca

(Salamanca - 1994) – uma resolução das Nações Unidas que trata dos princípios, da

política e das práticas em Educação Especial, enfatizando a necessidade de uma

pedagogia centrada na criança e defendendo o princípio da educação integrada, na

qual todas as crianças podem frequentar escolas comuns e nelas aprender juntas. A

declaração é o resultado da Conferência Mundial sobre Necessidades Educacionais

Especiais, realizada entre 7 e 10 de junho de 1994, na cidade espanhola de

Salamanca. Foi dotada em Assembléia Geral e apresenta os procedimentos-padrões

das nações unidas para a equalização de oportunidades para pessoas com

deficiências. É considerada mundialmente um dos mais importantes documentos que

visam a inclusão social, juntamente com a Convenção sobre os Direitos da Criança

(1988) e a Declaração Mundial sobre Educação para Todos (1990).

Em 1996 a Unesco divulga o relatório organizado por Delors – “Educação: um

tesouro a descobrir; relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação

para o século XXI”, o relatório reforça a ideia de que a educação deve acompanhar os

indivíduos por toda a vida, constituindo-se de um processo permanente, centrado em

quatro pilares principais: aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a viver

juntos; e aprender a ser, com isso a educação passa a ser centrada no sujeito.

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O século XX se encerra com um novo evento internacional sobre educação, em

2000 o Fórum de Dakar reúne participantes de 180 países e 150 ONGs que reiteraram

o papel da educação não só como um direito fundamental, mas também como a chave

para o desenvolvimento sustentável, a paz, a segurança e a estabilidade interna e

externa de todos os países envolvidos, além disso, vinculou à educação a tarefa de

promover a participação efetiva dos sujeitos na economia e na sociedade. Entre

Jomtien e Dakar, constata-se uma redução conceitual da meta inicial de Educação para

Todos, considerando-a apenas como educação escolar primária, além de efetivar uma

inversão na lógica comum da educação, que deixa de ser centrada no ensino para

centrar-se na aprendizagem (no sujeito) (IRELAND, 2009).

Os objetivos do milênio, lançados em 2000 pela ONU, incluem oito objetivos e

metas voltadas principalmente para redução da pobreza e da fome, alocando a

educação como um instrumento de alívio à pobreza e atribuindo ao voluntariado

importância fundamental para o alcance dessas metas (TORRES, 2006). Os objetivos

destacam ainda a prioridade de universalizar a educação primária e a promoção da

igualdade de gênero na educação.

Além das orientações e metas gerais, os países “em desenvolvimento” ou

“subdesenvolvidos” ainda recebem “atenção especial” dos organismos internacionais

através da definição de planos e objetivos específicos, destaca-se a aprovação em

Havana, no ano de 2002, do Plano Regional de Educação para a América Latina e o

Caribe (Prelac), estabelecendo, sob as orientações da Unesco, metas para o período

de 2002 a 2017. Reforçando as metas de Educação para Todos, o Prelac apontava a

necessidade de mudanças nas políticas e nas práticas educacionais para garantir a

qualidade da educação e o desenvolvimento humano ao longo da vida (IRELAND,

2009).

Em 1994, o Brasil instituiu a Política Nacional de Educação Especial, orientando o

processo de “integração instrucional” que condiciona o acesso às classes comuns do

ensino regular àqueles que “(...) possuem condições de acompanhar e desenvolver as

atividades curriculares programadas do ensino comum, no mesmo ritmo que os alunos

ditos normais” (p.19). Logo, nota-se uma abertura ainda muito incipiente da escola aos

alunos com deficiência, afinal, para que estes possam participar da escola comum, é

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preciso que se adaptem às atividades planejadas para os estudantes sem deficiência,

ou seja, é o aluno que deve se adaptar à escola e isso faz com que, na prática, a

Educação Especial ainda funcionasse apenas em escolas/ classes especiais,

totalmente segregadas das classes comuns.

Embasado nas orientações e tendências mundiais, o país institui na Lei de

Diretrizes de Bases da Educação Nacional (LDB/ 1996) um capítulo para

instrumentalizar a Educação Especial, trazendo apontamentos significativos. Sendo que

esta deve ser oferecida preferencialmente na rede regular de ensino e acompanhada

de serviços de apoio especializados e equipe multiprofissional capacitada, incluindo-se

aí professores com especialização adequada (LDB, 1996). O texto da LDB, ao contrário

do que a Política Nacional de Educação Especial instituía em 1994, determina que a

escola é que precisa se adequar ao aluno, afinal, a lei preconiza que os sistemas de

ensino devam assegurar aos alunos currículo, métodos, recursos e organização

específicos para atender às suas necessidades. No entanto, sabe-se que a inserção do

termo ‘preferencialmente’ no texto da LDB serviu de ‘escape’ para muitas unidades

públicas e privadas de ensino evitarem a matrícula de alunos com deficiência,

alegando, por exemplo, falta de condições para o atendimento adequado a estas

crianças.

Posteriores à LDB, outras diretrizes e resoluções foram instituídas visando

consolidar práticas educacionais inclusivas no Brasil. Grosso modo, destacam-se: o

Decreto nº 3.298/1999 que define a Educação Especial como modalidade transversal a

todos os níveis e modalidades de ensino; a Resolução CNE/CEB nº 02/2001 que institui

as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Especial, na qual é reafirmada a

obrigatoriedade da escola organizar-se para atender aos alunos com necessidades

educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para oferecer uma

educação de qualidade para todos; a Lei nº 10.172/2001 que institui o Plano Nacional

de Educação, estabelecendo objetivos e metas para que os sistemas de ensino

favoreçam o atendimento às necessidades educacionais especiais e aponta déficits

referentes à matrícula, formação docente, acessibilidade física e atendimento

educacional especializado; a Resolução nº 01/2002 estabelece que as instituições de

ensino superior devam prever, em sua organização curricular, formação docente

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voltada para a atenção à diversidade e que considere conhecimentos sobre as

especificidades dos alunos com necessidades educacionais especiais; o Plano de

Desenvolvimento da Educação – PDE, lançado em 2007, tendo como eixos a formação

de professores para a Educação Especial, a implantação de salas de recursos

multifuncionais, a acessibilidade arquitetônica dos prédios escolares, o acesso e a

permanência das pessoas com deficiência na educação superior.

Deste modo, percebemos que um arcabouço legal foi se constituindo no país a fim

de regulamentar/ prover a Educação Especial, garantindo que a inclusão realmente se

efetivasse dentro da escola comum. Ainda nesse sentido, vale citar a aprovação do

novo PNE – Plano Nacional de Educação – instituído pela Lei nº 13.005/2014, nele há

como meta a universalização do acesso à Educação Básica à população com

deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou

superdotação:

Meta 4: universalizar, para a população de 4 a 17 anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, o acesso à educação básica e ao atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino, com a garantia de sistema educacional inclusivo, de salas de recursos e multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou conveniados (BRASIL/PNE,2014).

É incontestável que a legislação brasileira, içada ao longo das duas últimas

décadas, tem se consolidado como um arcabouço para promover a Educação Especial

na escola comum/regular, impelindo-a a atuar de modo mais inclusivo e respeitoso,

compreendendo que indivíduos diferentes necessitam de atitudes e metodologias

diferentes para que passem a atuar em condições de equidade. Destarte, do direito

de adaptar-se à escola ao dever de adaptar-se ao aluno muitos avanços foram

observados, no entanto, percebemos que a questão da Educação Inclusiva ainda está

longe de ser uma prática quotidiana e incondicional nas escolas brasileiras. Um longo

caminho ainda há de ser trilhado para que as crianças com deficiência possam

realmente “pertencer” à escola, indubitavelmente, sabe-se que o trabalho será árduo e

minucioso, contudo, o curso de “Práticas Educacionais Inclusivas na Área da

Deficiência Intelectual” tem se constituído como um primeiro passo desta longa jornada.

2. Educação à Distância (EaD) – modalidade internet

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Considerando o cenário atual da educação, está claro que a educação por meio

de mídias virtuais, como a internet, por exemplo, é uma realidade cada vez mais

presente, além disso, devido ao processo de inclusão escolar, é fundamental a

formação continuada do professor, visto que muitos, que hoje exercem a docência, não

tiveram esses conteúdos e práticas durante a sua formação (PALLOF; PRATT, 2002). É

importante também destacar a grande extensão do território brasileiro, cujo maior

volume de pesquisadores da área encontra-se no eixo Sul e Sudeste, dificultando,

assim, o acesso a cursos locais por esses especialistas.

A educação à distância tem o respaldo do MEC por meio do Art. 80 da Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional - 9394/96, ao longo dos anos, teve

adicionado o Decreto 2.494/98 e as Portarias MEC Nº 301/98 e nº 2.253/2001, que

incentivam o desenvolvimento e a veiculação de programas de EaD, em todos os níveis

e modalidades de ensino e de educação continuada. E ainda, o parágrafo III, do Art. 87,

item 3, que autoriza a realização de programas de capacitação para todos os

professores em exercício, utilizando também, para isto, os recursos da Educação à

Distância.

Nota-se que os aspectos legais e técnicos vêm favorecendo a emergência de

inúmeros cursos à distância, no entanto, uma grande parte desses cursos é estruturada

a partir de uma concepção tradicional de educação, em que o objetivo final do processo

de aprendizagem é apenas a reprodução de um conhecimento já estabelecido,

propiciando poucas condições efetivas para uma construção mais criativa do

conhecimento, a ser realizada pelos participantes dessa prática educativa.

O curso de Práticas Educacionais Inclusivas foi estruturado no ambiente de

aprendizagem TelEduc em que se realizam cursos à distância por meio da internet,

desenvolvido no Núcleo de Informática Aplicada à Educação (NIED) da Universidade

Estadual de Campinas (Unicamp). E, tanto como tutora/ formadora deste curso, como

aluna de outros cursos EaD, podemos afirmar que as ferramentas oferecidas pelo

TelEduc superaram a escola tradicional e permite um ambiente de troca de

experiências e aprendizagem ativa por parte do aluno fortalecendo a criação de um

grupo, promovendo a sensação de estar com o outro, mesmo considerando a distância

geográfica.

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3. Reflexões – Redirecionamento da Prática Docente

A Educação Especial, por meio das políticas e das legislações, conquistou novos

espaços de atuação e formação, reformulando metodologias, concepções sobre

práticas e sobre a formação de professores. O uso das tecnologias disponíveis promove

e oferece oportunidade para que as pessoas com deficiência superem ou eliminem as

barreiras impostas pelas diferenças, colocando, desse modo, a Educação Especial sob

um novo enfoque no contexto da educação brasileira e também da educação à

distância.

O trabalho como tutora e formadora do curso de “Práticas Educacionais Inclusivas

na Área da Deficiência Intelectual” foi uma experiência desafiadora, afinal, trata-se de

um curso voltado para professores que estão atuando na rede pública de todo o país,

logo, o público-alvo do curso é vasto e diversificado, englobando professores advindos

de realidades educacionais muito díspares, algumas muito bem estruturadas e

completas, outras com limitações e dificuldades de diversas ordens (formação inicial

aligeirada e precária dos professores e gestores; salários ínfimos; dificuldades para

acesso à internet e ferramentas tecnológicas; salas superlotadas; escolas poucos

estruturadas; pouco ou nenhum apoio da gestão escolar e da comunidade; realidades

de extrema violência e miséria...).

Enfim, a união de professores de realidades tão diferentes sob o mesmo objetivo

não é uma tarefa fácil, mas um curso que se propõe a discutir sobre a consolidação de

uma escola verdadeiramente inclusiva tem que se pautar numa visão inclusiva sobre o

ser humano. Ciente de que nem todos conseguirão aprender no mesmo tempo e com a

mesma facilidade, ciente de que nem todos poderão se dedicar o mesmo número de

horas para as leituras e atividades, assim, o curso foi se desenhando, a partir de uma

proposta de leituras, discussões e atividades sempre reformuladas, reorganizadas,

rearranjadas, para que o professor participe de um curso inclusivo que busca uma

escola inclusiva.

As experiências com o TelEduc mostraram que o aluno virtual precisa ser

autodidata e saber conduzir sua agenda de estudo de maneira que as tarefas sejam

realizadas sem a necessidade de cobrança por parte do professor, já que a grande

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vantagem oferecida pelos cursos à distância é fazer suas tarefas em hora e local

escolhidos, o que não isenta o aluno da realização das mesmas. Ele precisa também

saber levantar questionamentos, trocar informações, dar sugestões e opiniões,

elaborando e expressando suas ideias de forma clara e concisa.

Foi possível observar que, numa comunidade de aprendizagem, os participantes

dependem uns dos outros para alcançar os resultados exigidos pelo curso. Se um deles

conectar-se a um site em que nenhuma atividade ocorre há dias, pode sentir-se

desestimulado ou ter sensação de abandono, o que reforça o papel do tutor e do

formador enquanto mediadores da aprendizagem neste contexto.

Nos estudos de Palloff e Pratt (2002) os autores relatam também como uma das

vantagens da Educação à Distância, que a pessoa tímida não tem a pressão do meio

que, muitas vezes, desfavorece sua participação, por medo de expor verbalmente suas

ideias, passando a impressão de não dominar o conteúdo; já o ambiente à distância

pode ser favorável para que ela as exponha, sem a pressão do meio e, muitas vezes,

com feedback positivo dos colegas e dos tutores e formadores em relação à sua

participação. Podemos notar este aspecto a medida que os professores relatavam

durante os bate-papos (encontros virtuais semanais) sobre suas dúvidas sobre como

lidar com pessoa com deficiência, a dificuldade em falar sobre este tema na sua escola,

seja por timidez, seja por falta de abertura da organização escolar.

Com essa metodologia, o professor, que aqui é aluno, juntamente com seu tutor e

formador rompem com o tradicional e reconstroem seus papéis, favorecendo a

construção do conhecimento, a formação de grupo e a troca de experiências.

Como mediadores deste curso, seja enquanto tutora ou formadora, percebemos

que o trabalho é sempre mais voltado para o redirecionamento das estratégias e dos

prazos do que para a cobrança do cumprimento dos mesmos, que as nossas principais

atribuições envolvem responsabilidade; autonomia; criatividade; interesse; bem como

ser disciplinado e auxiliar o aluno a organizar seu tempo, além de propiciar um

ambiente aberto para discussões e troca de experiências.

Um dos principais aprendizados que apontamos é que a metodologia do “faça o

que eu digo, mas não faça o que eu faço” não funciona na educação e que para discutir

e orientar a respeito de uma escola inclusiva é necessário agir dentro da ideologia da

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inclusão, aceitando e respeitando o professor que tem muita dificuldade com as

ferramentas tecnológicas, ou o professor que tem grande quantidade de aulas

semanais e pouco tempo para estudo, enfim, cada ser humano é diferente em saberes

e valores e estes precisam ser respeitados sempre.

Encerramos essas reflexões trazendo uma breve asserção de Codo e Gazzotti

(1999) sobre a natureza do trabalho, sendo este considerado uma relação de dupla

transformação entre homem e objeto, na qual tanto o trabalhador se transforma durante

o processo de trabalho, quanto o objeto alvo de seu trabalho é transformado. Logo, o

trabalho deve ser analisado em duas esferas: uma objetiva, que é a transformação

física propriamente dita; outra subjetiva, que ocorre na atuação do homem sobre a

natureza para atender suas necessidades, ou seja, é o significado que o homem atribui

ao seu trabalho, sua transformação durante o processo de trabalho (CODO;

GAZZOTTI, 1999). Nessa perspectiva, o trabalho é a própria essência humana, que se

aprofunda e se torna complexo com o passar do tempo (SAVIANI, 2007; CODO;

GAZZOTTI, 1999).

Considerando, então, a natureza do trabalho e a extensão de um curso como este

oferecido na plataforma TelEduc que em cada versão do curso atinge em torno de

1.000 professores agrupados em 50 turmas, defende-se que a educação à distância,

neste formato específico, contribui para a formação continuada dos educadores no

processo de inclusão da pessoa com deficiência e para a práxis social na área da

educação.

Por fim, além de proporcionar uma ampla reflexão em relação à consolidação de

uma escola inclusiva, o trabalho como formador/ tutor tentou de múltiplas formas apoiar

o professor a enfrentar as vicissitudes de sua profissão, afinal, é uma profissão que

exige do educador a constante revisão dos saberes e práticas, além da constante

atualização e reflexão sobre a sociedade em que se vive. Acredita-se que tal qual

pudemos transformar, também transformamo-nos durante o trabalho no curso.

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Relato de Experiência

Rosália Aparecida Puríssimo11

Desde que comecei a ouvir a palavra INCLUSÃO lá pelos anos de 1997/98,

inclusive em comerciais na TV apresentados pelo ator Renato Aragão e algumas

crianças, onde cada uma apresentava uma deficiência e a população “desinformada”

achava tal exposição linda e comovente, eu e outros educadores “entortávamos o

nariz”, pois víamos ali mais uma jogada de marketing governamental.

Não demos muita importância e também não acreditávamos em sua eficácia, até

que os primeiros alunos com deficiência física e mental começaram a serem

matriculados nas escolas comuns e em nossas salas.

E com o passar dos anos mais professores demonstraram ter os mesmos

conceitos que eu. Escutava sempre as mesmas reclamações e ajudava a engrossar o

coro em uníssono com a fala que já parecia decorada: “Não tem como colocar crianças

com deficiência na mesma sala, pois não somo preparados, e não saberemos lidar com

elas...” A outra fala era: “O que vamos fazer com essas crianças que não ouvem, não

enxergam, que se babam toda, que não conseguem sentar direito, etc. Sem contar no

desespero de alguns professores Educação Física, que ficavam enlouquecidos sem

sabe quais atividades deveriam trabalhar com tais alunos.

Tinha-se a impressão que o caos havia sido instalado, já que a progressão

continuada já estava difícil de ser engolida. Ninguém sabia o que fazer, por onde e nem

como começar, parecia que estávamos todos perdidos, professores, diretores e

coordenadores. Todos sem saber como agir corretamente. De um lado a Lei que

implantava a “famigerada” inclusão, paralelamente estava à sociedade exigindo que a

lei fosse cumprida, do outro lado, nós, professores e adversários ferrenhos da tal

inclusão, pois o sapo boi da progressão continuada ainda e estava entalado em nossa

garganta, e já éramos obrigados e engolir a inclusão.

______________________________________ 11Professora de Ensino Fundamental - Professor de Ensino Fundamental/SP

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Tudo aquilo parecia demais para os “pobres” e sofridos educadores, cheios de

problemas salariais da época e que agravava nossas vidas particulares.

Observando que nesse contexto a inclusão foi apenas a gota d’água que

transbordou em um mar de problemas que já havia na área da educação. Pois somos

eternos insatisfeitos como seres humanos e não seria diferente com a classe do

professorado, que já é sabido pelo povo brasileiro que nossos governantes não nós dá

o devido respeito que achamos/pensamos que deveria ser dado.

Mas mesmo entre greves e paralisações da época, voltamos para nossas salas de

aula e para nossos alunos, apesar de todos esses problemas.

Quero deixar bem claro que até o meio desse curso, minha opinião era quase a

mesma a da época de 97/98. Para mim não era aceitável a inclusão da forma como

vinha sendo feita. Eu via a inclusão como uma falta de respeito com os professores e

falta de humanidade com as crianças com deficiência. Mas eu não era contra o aluno

com qualquer deficiência estudar em escola comum era contra a forma como estava

sendo feita. Acreditava que a inclusão deveria ser feita com o devido amparo aos

educadores e educandos, seja com materiais e conteúdos adequados a cada tipo de

dificuldade ou com um profissional da área da saúde dando apoio, na escola ou em

clínicas. Mas isso não ocorria até então. Em 1999/2000. Tive um aluno cadeirante na 5°

série, e tivemos que improvisar umas tábuas sobre uma mesa para ele poder escrever.

Aquilo me cortava o coração. Em outra sala, na 6ª série uma aluna deficiente auditiva

foi quem me ensinou a forma certa de explicar o conteúdo, pois às vezes eu esquecia e

falava muito rápido ou de costas.

Com isso minha revolta com essa forma de inclusão só aumentava. Pois estava

sentindo na pele o sofrimento de ver alunos com necessidades especiais “jogados” de

qualquer maneira sem que os professores tivessem qualquer tipo de instrução de como

trabalhar com eles, entre outras informações relevantes.

Mas essa fase de revolta começa a se dissipar no meio do curso, pois minha

inscrição no mesmo foi para tentar entender de uma vez por todas o verdadeiro motivo

da inclusão, e o motivo dessa força “descomunal” em colocar crianças deficientes em

sala comum que tanto se propaga nos meios acadêmicos.

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Até o modo de falar tivemos que mudar para não parecer que somos

preconceituosos. Agora é politicamente correto falar pessoas/crianças com

necessidades especiais. Isso também me incomodava, pois dava a impressão de falso

moralismo, pois ninguém estava muito feliz com a situação, mas tinha que fazer cara de

feliz, ou - esta ai gente “temos” que aceitar.

Mas agora, posso dizer sem sombra de dúvidas que sou outra. A Professora

Rosália antes e a depois do curso. E tudo isso graças às informações preciosas que

foram passadas, pela troca de experiência e minha boa vontade em estudar e entender

o real motivo da inclusão. Hoje penso que se os governos em suas esferas fazem

pouco, ou nada, nós educadores devemos fazer. Temos que dar o máximo como

educadores para fazer com que nossos alunos, seja com deficiência ou não, tenham

oportunidade de adquirirem os conhecimentos básicos e de forma prazerosa e com

todo o respeito que se deve ter como todo ser humano, ainda mais em se tratando de

crianças muitas vezes indefesas que só tem a nós educadores, um adulto a quem

recorrer em uma hora de precisão ou aflição.

Percebi o quando estava errada e cheia de preconceitos, que hoje em dia não há

mais lugar dentro de uma sociedade que deseja, quer e deve ser mais justa e humana,

e que não devemos ficar esperando muito de nossos governantes e sim, temos que

“arregaçar” as mangas, sair da zona de conforto e fazer o que é possível para que

todas as crianças e adolescentes tenham uma vida digna, uma educação de qualidade

e que possa no futuro ser também um adulto mais humano, sem qualquer tipo de

preconceito com qualquer situação que possa parecer diferente momentaneamente,

pois somos sim, todos iguais perante Deus e perante as leis brasileiras. E a partir desse

fato é que devemos traçar um objetivo e seguir em frente, sem preconceitos que só

servem para atravancar o progresso da humanidade.

Hoje não espero muito de ninguém no que diz respeito a proporcionar boas aulas,

principalmente para o aluno com dificuldades. É óbvio que vou atrás do que é de direito

segundo as normas governamentais e as normas e regimento da Secretaria de

Educação de Indaiatuba, que se diga, cumpri muito bem sua função no que se refere à

inclusão, deixando a desejar apenas no quadro de algumas psicólogas que

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prescreveram mais de uma vez receita errada. Mas graças a Deus nada de grave

ocorreu.

Finalizando quero agradecer a todos, formadora, tutora e as queridas alunas do

grupo 40 que tanto que ajudaram a entender de uma vez por todas que fazemos parte

de uma sociedade inclusiva, seja na educação ou fora dela e que todos nós estamos

INCLUSOS nesse Planeta Terra para cumprir uma função de acordo com os desígnios

Divinos. Então que, por amor a ELE, e ao nosso próximo vamos cumprir com dignidade

amor e muita dedicação esse dom maravilhoso de ser professor/educador que nos foi

dado por Deus.

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Relato de Experiência

Giselda12

A presença dos elementos tecnológicos digitais vem promovendo um "dilúvio de

dados" que a cada dia cresce de forma desordenada, exigindo meios diferenciados

para acondicionar essas informações em diversas áreas do conhecimento.

Nas sociedades contemporâneas, as rápidas transformações do mundo do

trabalho, o avanço tecnológico configurando a sociedade virtual e os meios de

informação vêm incidindo fortemente na educação, aumentando o desafio para torná-la

uma conquista democrática efetiva. Essa realidade mundial tem levado a instituição de

ensino a questionar-se sobre seu papel ante as transformações econômicas, políticas,

sociais e culturais do mundo atual.

As transformações ocorridas nas sociedades contemporâneas exigem um

repensar das instituições educativas, especialmente por sua atuação no campo da

formação humana e da capacitação técnico-profissional, e o professor é um agente

central da ação educativa realizada em diferentes espaços pedagógicos. Considera-se,

atualmente, que a comunicação humana não se limita a um simples mecanismo de

codificação e decodificação de uma informação. Comunicar implica falar a alguém e

para alguém, implica ainda que entre os interlocutores possa haver conflitos,

negociação, relações afetivas e/ou hierárquicas as mais diversas que se atualizam no

momento da comunicação, comunicar significa interagir socialmente por meio da

linguagem, das mais diversas formas e com os mais diversos propósitos e resultados.

Diante do exposto, o mundo atual requer um professor com competências

diversas, inovador, multidisciplinar, multi qualificado, dinâmico, capaz de aprender a

aprender, que domina as tecnologias da informação e comunicação, enfim um novo

professor para um novo tempo.

A Educação a Distância (EAD) ganha força, pois ela é totalmente dependente das

tecnologias, faz uso das mídias e multimídias para promover o ensino, caracteriza-se

por uma educação mercadológica pautada nos princípios da racionalidade, divisão do

_________________________________________ 12Tutora Turma 41

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por uma educação mercadológica pautada nos princípios da racionalidade, divisão do

trabalho e produção em massa. Configura-se hoje como uma modalidade regular,

utilizando-se de diferentes linguagens, como a escrita, a informática. Dessa forma, é

com o desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação (TIC) que a EAD

modifica seu conceito ao longo de quatro gerações. Com o advento da linguagem

escrita e fundação das primeiras escolas no século XIX, temos o início da primeira

geração. O grande desafio da EAD atualmente está centrado em desenvolver propostas

que ultrapasse a visão bancária de educação ainda tão presente na educação

presencial onde o educador é o narrador conduzindo os alunos à memorização

mecânica dos conteúdos.

Nessa perspectiva, estaríamos reproduzindo no ciberespaço as aulas expositivas

do ensino presencial negando ao ser humano a condição de sujeito. Um dos papéis

fundamentais do professor seria a de assumir a função de orientador e avaliador

vivenciando com os alunos todas as potencialidades das mídias na democratização e

participação de engrenagem do conhecimento através das interações discursivas nos

ambientes virtuais de aprendizagem (AVA).

Assim, o relato aqui proposto, apresenta a experiência de um docente vindo do

ensino presencial para atuar no ensino a distância. Antes desse relato, algumas

definições que inicialmente fizeram parte do pensamento do tutor.

E o que é a função de tutoria? Tutor é professor? A legislação é clara no sentido

de que tutor é professor. Sua mediação é uma função docente, tanto na tutoria

específica de uma disciplina, quanto na tutoria, em geral presencial, como um

orientador de estudo.

O que é a EAD? A Educação a Distância é uma modalidade de ensino que tem

sido utilizada com o intuito de ampliar as possibilidades de acesso ao estudo. A EAD

proporciona ao seu público a formação continuada de profissionais nas diversas áreas

do conhecimento.

Com o advento das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), o acesso à

educação passa a utilizar esses recursos tecnológicos, oferecendo cursos online, por

exemplo, dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem, os AVA. Para Corrêa (2007, p.9-10)

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A EAD tem sido uma alternativa de ensino/aprendizagem, principalmente, em um

cenário marcado pelas dificuldades de acesso de nossa população ao ensino formal e

pelas altas taxas de defasagem de escolarização e de analfabetismo, em função de

uma carga horária de trabalho que impossibilita o investimento em educação

continuada.

As aulas são postadas no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), o qual é um:

[...] termo usado para definir uma plataforma de software multiusuário disponível via

web que dá suporte a cursos presenciais e a distância, que integra ferramentas que

possibilitam a interação entre os usuários, o compartilhamento de arquivos e

gerenciamento de turmas (LEITE; BEHAR; BECKER, 2009, p.114).

Além das aulas, são postados no ambiente virtual todos os materiais que

compõem a disciplina de cada professor, como: plano de ensino, livro da disciplina,

slides das aulas, conteúdos complementares (artigos, vídeos, links etc.).

No ano de 2010 surgiu a oportunidade de ser tutor do curso de Aperfeiçoamento

“Praticas em Educação Especial e Inclusiva na Área da Deficiência Intelectual”. No

decorrer do curso, vários relatos foram descritos na plataforma, em síntese eles

descreviam as dificuldades vivenciadas relativas à autonomia necessária ao estudo à

distância, como administrar o tempo e cumprir o cronograma. Para vencer as

dificuldades, referiam que o primordial era o convívio virtual com os amigos, a qualidade

do material disponibilizado na plataforma e a atenção e compreensão da tutora. O fato

é que o conhecimento através da EAD nos inclui como profissionais autônomos para

gerenciar o saber através do mundo virtual. O curso gerou o aprimoramento da prática

profissional no trabalho com serviço de referência para atenção a inclusão, além de

novos conhecimentos sobre a deficiência.

Segundo algumas alunas o “Espaço Virtual” cumpre com a função de manter um

vínculo, uma referência, que é importante na constituição de um espaço de

aprendizagem o ter para onde se dirigir quando for necessário. Destacamos também a

importância da tutoria estar presente para servir de suporte as demandas que possam

advir.

Como este Espaço acabou também sendo constituído como um ponto para as

orientações de monografias, estando “sempre aberto” possibilitou uma maior interação

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entre os alunos e os seus orientadores; auxiliando desta forma na edificação de suas

monografias.

O que se conclui com esta experiência é do quanto este espaço, pode ser um

instrumento, a ser utilizado na Educação a Distância, como propiciador além de

aprofundar relações, trocas, subsídios; de fornecer informações, lembretes; auxiliar na

organização do curso, dos trabalhos, das disciplinas; entre outros de uma forma de

planejamento institucional para a gestão de cursos em Educação a Distância.

Comentamos este ponto, pois verificamos na prática que existe um hiato entre as

instituições promotoras dos cursos à distância e os alunos; sendo que este “espaço

virtual” pode vir a ser pensado como uma forma de construirmos uma ponte. Outro

ponto, que também carece de maiores reflexões é de que se esse tipo de espaço não

possa vir a servir como uma ferramenta para contribuir com a minimização da evasão

na EAD.

Neste caso específico, os dados apontam que os usos foram bastante

promissores e carecem de outras experiências para analisarmos cada uma destas

contribuições que aqui elencamos como viáveis. Apenas cumpre ainda destacar, que se

torna essencial, aliarmos esta prática ao conceito de cooperação, ou seja, constituindo-

a como uma prática cooperativa, requerendo a participação e responsabilidade de

todos neste processo.

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Relato de Experiência

Sária Cristina Nogueira13

A educação à distância trata-se de uma ferramenta importante nos dias atuais,

mas ao mesmo tempo, exige adaptações disciplinares por parte dos que a utilizam. Por

isso, exercer a função de tutora do curso “Práticas educacionais inclusivas na área da

deficiência intelectual” foi, para mim, um grande desafio.

O trabalho na área educacional não era algo evidente em minha prática

profissional, de forma que a participação no curso foi uma novidade que oportunizou

conhecimentos teóricos e de ordem prática.

A administração do tempo de dedicação ao curso e ao exercício da tutoria é um

aspecto essencial, podendo constituir-se em fator decisivo para o sucesso das

atividades a serem realizadas. Essa situação estende-se aos alunos das turmas e aos

tutores, pois todos precisam, necessariamente, organizarem-se.

Os tutores, especialmente, precisam administrar e estipular horários para realizar

orientações aos alunos e também para serem guiados pelos orientadores, além de

manterem atualizada uma planilha de acompanhamento do desempenho dos alunos.

A planilha de acompanhamento das atividades dos alunos trata-se de uma

importante ferramenta para que os próprios cursistas exijam de si aquilo que está em

falta, oportunizando a eles autonomia para vivenciar o curso.

Uma das vantagens em participar da tutoria foi o amplo contato que foi

possibilitado com o tema da Educação Inclusiva, afinal, este também é um tema

relativamente novo na realidade do contexto educacional.

O curso proporciona tanto para os alunos quanto para os tutores a aprendizagem

de novos conteúdos, exigindo a prática da leitura e reflexão sobre os temas tratados.

Uma das primeiras dificuldades encontradas deu-se no primeiro contato com os

alunos que fariam parte da turma: um e-mail para cada um, uma espera da resposta de

cada um, um aceite, uma recusa, uma omissão. Felizmente, foram muito mais aceites

________________________ 13Psicóloga formada pela Unesp de Bauru; mestre em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem

pela Unesp campus Bauru; tutora na modalidade EAD da Unesp pela UAB.

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que recusas, mas um novo desafio se colocava: entrar em contato com novos prováveis

alunos.

Após o fechamento das turmas, o próximo passo dos tutores consistia em pedir

aos alunos que respondessem dois questionários relativos à Educação Especial que,

na verdade, era uma forma de levantamento de conhecimento prévio. Os questionários

eram: Questionário de Tecnologia Assistiva para Educação e o ELASI.

Assim que se realizaram as adaptações necessárias, principalmente o auxílio aos

alunos no que se refere ao manejo do sistema informatizado e do site que continha o

curso, foram organizadas as atividades de maneira contínua. Neste ponto, é importante

salientar que muitos professores não possuíam computadores em suas casas,

necessitando realizar as atividades do curso na própria escola onde trabalhavam para o

que era necessário adaptarem-se à rotina das escolas e organizarem horários para

utilizar os computadores.

Os bate-papos semanais foram algo que exigiu bastante adaptação, pois foi difícil

conciliar um dia e horário em que todos os alunos pudessem participar. Assim,

considerando que a contribuição de todos era salutar, bem como a importância dos

debates sobre questões polêmicas, optei por agendar dois horários semanais de bate-

papos, que passaram a acontecer às quartas- feiras e aos sábados.

Os fóruns de discussões também foram um espaço ímpar para a troca de ideias,

colocando questionamentos acerca da prática profissional em relação à educação

inclusiva. Além disso, houve enriquecimento na formação de valores pessoais, sobre as

práticas inclusivas num âmbito social.

Um item que merece atenção trata-se das avaliações e trabalhos relativos aos

módulos: é preciso auxiliar os alunos a se atentarem aos prazos, para que as atividades

não se acumulem. Nesse sentido, há alunos que participam assiduamente, outros

precisam de uma flexibilidade do tutor responsável para que possam cumprir seus

deveres assiduamente.

Entende-se que o fato dos professores colocarem-se no papel de alunos, e

enfrentarem os desafios desta condição, pode ser um fator facilitador para que passem

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a compreender a realidade de seus próprios alunos, utilizando-se da flexibilidade

necessária em estratégias de ensino e nos processos avaliativos.

Dos professores que realizaram o curso, muitos somavam anos de experiência

dentro da sala de aula, e todos contribuíram com relatos acerca da realidade escolar

em que atuam.

Dentre os problemas compartilhados pelos professores, um dos mais evidentes

tratou-se da questão do envolvimento da família, havendo muitos relatos de que as

famílias de muitos alunos tinham condições socioeconômicas desfavoráveis, o que

acabava prejudicando o compromisso com a educação.

Outro problema trazido pelos professores referiu-se aos recursos econômicos da

escola, sendo que alguns diziam que utilizavam o próprio dinheiro para adquirir

materiais utilizados nas aulas.

Houve, também, relatos no sentido de que muitos professores têm sua prática

cristalizada, assim formada por um acúmulo de experiência e o hábito de agir de uma

ou de outra maneira, não havendo disposição de muitos docentes para tentar novas

estratégias e novas visões acerca da educação.

Notou-se que todos os professores que participaram da 5a edição encontravam-se

ávido na busca do conhecimento, buscando incessantemente informações que

auxiliassem suas práticas, o que nos permite acreditar na competência dos atores

educacionais.

Trata-se, assim, oportunizar o conhecimento àqueles que têm disposição de

adquiri-lo, enfrentando as dificuldades que a rotina coloca. Ou seja, todos os membros

do curso possuem outros incontáveis compromissos profissionais e pessoais, mas

ainda assim dedicaram tempo e esforço para conhecer nova perspectiva no âmbito da

educação inclusiva.

De todas as ações realizadas, concluo que o resultado foi bastante positivo e

gratificante, pois, enquanto tutores podem contribuir com um pouco da formação de

cada profissional, além de cooperar para a transformação enquanto seres humanos.

Nesse sentido, como membro responsável pela tutoria, aprendi importantes elementos

que contribuem para o exercício da cidadania, além de conhecer as nuances das

diferentes realidades do contexto educacional do país.

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Relato de Experiência

Luciana Apolônio Rodrigues Carneiro14

Nada do que foi será. De novo do jeito que já foi um dia.

Retomo minhas experiências no curso Práticas Educacionais Inclusivas, turma 7,

parafraseando a música Como uma onda, de Lulu Santos. Essa música traduz

exatamente meu percurso e remete meus sentimentos durante as minhas leituras que

provocaram as mesmas indagações em todos os módulos e capítulos: “Nunca pensei

nisso antes... E por quê?”

Tudo passa. Tudo sempre passará.

Esses porquês fizeram-me retomar ao passado a fim de refletir a qualidade da

minha formação inicial, a começar no módulo 1, capítulo 1: “Não me recordo da

cronologia histórica da Educação Especial. Será que tive esta aula? “

A vida vem em ondas como um mar.

Num indo e vindo infinito.

Em relação às formações continuadas, este curso Práticas Educacionais

Inclusivas, foi o primeiro que cursei da área da Educação Especial. Informo que a falta

de oportunidade nunca foi e nem é o motivo, ao contrário, sempre nas ofertas da

Secretaria Municipal da Educação eu dava prioridades a outros tipos de cursos por de

repente acreditar e minimizar a Inclusão apenas ao fato de aceitar o aluno e dar

atividades adaptadas. Hoje sei que não é exclusivamente isso. Incluir não é somente

aceitar a presença de alunos com e sem laudo, mas precisamente acreditar que o que

temos em comum é que somos diferentes, que não aprendemos ao mesmo tempo e

que não temos as mesmas habilidades.

São essas diferenças que nos une e nos complementa. Nossa tutora, ao

conduzir com excelência a turma 7, exercitou a teoria estudada, evidenciando ao grupo

por meio de bate-papo, correio e fórum o respeito a cada integrante na sua

individualidade, nos fazendo capazes de manipular com segurança o ambiente

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TelEduc e principalmente executar as tarefas propostas. Creio que se ela não tivesse

tido essa postura contextualizada a teoria, hoje eu não estaria fazendo este relato.

Aproveito o espaço e registro aqui para as professoras Vera, Sandra e em

especial Kátia, meus agradecimentos pela oportunidade, aprendizado, paciência e

disposição em compartilhar seus conhecimentos e experiências. Também registro

minhas desculpas pela falta de pontualidade em algumas situações e perdão pelos

meus equívocos.

Tudo que se vê não é igual ao que a gente viu há um segundo.

Tudo muda o tempo todo no mundo.

Amparada na teoria da Psicologia Histórico-Cultural, as leituras e as interações

me fizeram estar numa zona de desenvolvimento proximal. As citações do módulo 3,

especificamente no texto Projeto Político Pedagógico na Perspectiva da Educação

Inclusiva, evidenciam tal sensação: “A inclusão escolar só se efetivará com qualidade,

se medidas administrativas e pedagógicas forem tomadas pela equipe gestora do

sistema e da escola. ” ,“Os diretores escolares são peças-chaves no contexto

sociopolítico para garantir a implementação de uma escola inclusiva.” e “ (...) que o

diretor seja um membro de apoio com a qual professores, funcionários, alunos e

comunidade possam efetivamente contar.”. Tais afirmações me fizeram (re)pensar

numa ótica que causou-me certo estranhamento, talvez por atribuir de forma camuflada,

que eu mesmo não fazia a inclusão do diretor nesse processo de inclusão escolar,

transferindo diretamente de forma única e exclusiva a responsabilidade da prática da

inclusão para nós professores, o que é um equívoco.

Os Estilos de Aprendizagem, a Tecnologia Assistiva, a Flexibilização Curricular e

o Ensino Colaborativo foram conceitos novos, desconhecidos, mas que fragmentos da

sua essência já se faziam presente na minha prática, por sempre buscar conforto e

orientação de ações pedagógicas nas colegas especialistas da Sala de Recurso. Uma

espécie de fazer, mas sem saber o que fazia.

Não adianta fugir, nem mentir pra si mesmo agora.

Há tanta vida lá fora. Aqui dentro sempre.

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Lendo e refletindo os conceitos abordados no texto “Fundamentos para uma

educação na diversidade” endosso que a retomada de certos conceitos deve ser

frequente no cotidiano escolar, metaforicamente como uma onda...

Como uma onda no mar.

É aquela questão de que o óbvio tem que ser dito sempre, e principalmente

quando nós professores, de forma imperceptível, demarcamos as possibilidades de

desenvolvimento com o uso de atividades que sinalizam mais as impossibilidades dos

que as possibilidades dos alunos.

Quando o texto oferece como exemplo as exposições estereotipadas de culturas

diferentes, o autor evidencia com clareza a realidade das escolas. É intrigante falar

sobre a diversidade cultural uma vez que somos genuinamente oriundos de uma cultura

multirracional! O que temos em comum é o fato de sermos diferentes e essas

diferenças envolvem vários aspectos: social, intelectual, físico, afetivo e também

profissional.

Como uma onda no mar.

A Ética tratada em um dos módulos fortaleceu uma opinião particular de que ela

não é algo que pode ser ensinado, nem aprendido. Ela apenas é mostrada no

comportamento humano, na interação e principalmente na compreensão, sendo papel

da escola confiar na capacidade que qualquer ser humano aprende, sem limites.

Como uma onda no mar.

O documentário Pipas no Ar me encantou! O tratamento com o tema

Sexualidade escancarou a necessidade da Orientação Sexual na escola deixar de ser

"apaga fogo", a fim de elaborarmos de fato um compromisso com um projeto

envolvendo o tema, o que eu nunca havia feito até então.

Ao refletir sobre a Alfabetização e a Criatividade no módulo 5, impulsionou a

pensar sobre a minha prática diária. Cagliari é eficaz ao afirmar que o melhor método

de trabalho deve vir da experiência baseada em conhecimentos sólidos e profundos.

Quantas vezes me perguntei: será que tais intervenções são adequadas para que este

aluno avance? Para responder busquei e ainda busco nas Literaturas, nas trocas de

experiências e nas Tecnologias possibilidades e de repente... insight! Ainda não

exercitei o desafio da concentração de dez minutos diários para revigorar o corpo e a

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mente - uma espécie de matéria prima para a Criatividade. Resta-me experimentar a

dica para extrair mais insights. Tentarei, pois lecionar num mundo cercado de

Tecnologias e Informação usar e abusar da Criatividade no ofício de professor é um dos

pré-requisitos fundamentais, desde o plano de aula mental ao executável.

Enfim, foram semanas de muitas leituras, reflexão, trabalho, trocas de

experiências e emails e “terapias pedagógicas” via bate-papo.

Reconheço, respeito e agradeço profundamente nosso grupo pelo crescimento

profissional que tive(mos). Desta oportunidade, como dizia Paulo Freire, “Transformei

meu espaço pedagógico em um texto, para ser constantemente lido, interpretado,

escrito e reescrito”. Eis aqui parte desta (re) leitura. E para não perder o “fio da meada”,

ops, da música testifico,

Nada do que foi será.

De novo do jeito que já foi um dia.

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Relato de Experiência

Adriane Aparecida Carneiro de Jesus15

O curso realizado foi de fundamental importância para a minha prática

pedagógica. Como coordenadora pedagógica da escola, sempre procuro buscar

conhecimentos que possam, além de auxiliar a minha prática, contribuir com a de meus

colegas.

A inclusão educacional é um tema que gosto muito, pois acredito que, enquanto

educadores podemos contribuir para que ela de fato, aconteça.

Já fiz alguns cursos voltados a essa temática, porém destaco que o Curso

Práticas Inclusivas foi um dos melhores que realizei. Merece destaque os textos

trabalhados, pois trazem informações de modo resumido e de fácil compreensão, com

sugestões que podem ser utilizadas na pratica cotidiana.

Foi importante conhecermos as diferentes concepções da inclusão, no decorrer

da história, sobre o modo como eram vistos as pessoas com deficiência. Pode-se

perceber que, felizmente houve avanços nesse sentido, porém há longas batalhas pela

frente, porque incluir não significa somente garantir o acesso do aluno com

necessidade especial na escola.

Os outros textos lidos foram ricos em conteúdos, destaco o texto Projeto Político

Pedagógico na perspectiva da educação inclusiva, quando cita a figura do diretor como

imprescindível ao processo da inclusão, “É importante também que o diretor apresente

conhecimentos e habilidades que favoreçam a integração, a aceitação e o sucesso de

estudantes com deficiência em classes comuns de escolas regulares.” E ainda: Para

uma inclusão ser bem sucedida, primeiro e antes de tudo, tanto professores quanto

diretores devem mostrar confiança e atitude positiva frente ao princípio do atendimento

educacional sistematizado, planejado e registrado em relação à diversidade presente

na escola.

Outro texto que considerei excelente foi “Avaliação Educacional: Bases para o

___________________________________

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15Coordenadora Pedagógica- Castro/PR

Planejamento de Procedimentos de Ensino e Ensino colaborativo”, que nos fez refletir

sobre a avaliação, os métodos utilizados e a importância de conhecer o aluno. Em

relação ao ensino colaborativo, foi importante discutir sobre as parcerias que podem ser

estabelecidas, entre o professor da classe regular e o professor da Sala de Recursos,

entre a direção, coordenação, professor da sala de apoio e demais profissionais da

escola que podem favorecer no processo da inclusão. O texto traz sugestões até

mesmo em relação aos agrupamentos na sala de aula, com sugestões de

atividades/dinâmicas a serem utilizadas.

Em relação ao texto Tecnologias Assistidas, pudemos conhecer sobre alguns

recursos possíveis de serem utilizados com alunos surdos, com deficiência visual e

deficiência física. Não temos, no momento, alunos com essas deficiências na escola,

mas é importante conhecermos sobre tais recursos.

Quanto ao texto “Reflexões sobre a Alfabetização: Conhecimento e Desafios

para a Introdução ao Mundo Letrado” repassei as sugestões apresentadas no texto às

professoras alfabetizadoras que gostaram das mesmas. Outro texto que merece

destaque é “A Criatividade e a Ludicidade nas Práticas Pedagógicas Inclusivas”. Visto

que explorar recursos diferentes, jogos, atividades que façam com que a aprendizagem

se torne prazerosa é de fundamental importância, não somente para os alunos com

deficiência intelectual, todos gostam muito, como confirmado durante a atividade

realizada na sala de aula.

Além desses e de outros textos lidos durante o curso, é importante destacar os

bate-papos realizados, pois através destes tive a oportunidade de interagir com

educadores de diferentes locais, mediados pela tutora, que sempre estava instigando e

levando-nos a refletir.

As atividades que constam no portfólio também foram interessantes, na escola

discutíamos sobre as mesmas (mais duas professoras estavam realizando o curso), as

elaborávamos e aplicávamos, em seguida conversávamos sobre os resultados.

A participação no fórum possibilitou a reflexão a respeito de algumas situações

que ocorrem no meio escolar, foi importante verificar o que alguns colegas pensavam a

respeito de situações e ler o relato de algumas práticas realizadas.

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Como citado no inicio do texto, acredito que importantes passos já foram dados

na educação inclusiva, mas ainda há uma longa trajetória pela frente. Cursos como

esse, favorecem a reflexão e fortalecem a nossa prática. Como educadores precisamos

sempre procurar maneiras de tornar o ensino alcançável aos alunos, respeitando as

diferenças, considerando a singularidade de cada aluno, pois, como sabemos, a

educação é um direito de todos e todo aluno pode aprender, mesmo que, em tempos,

ritmos diferentes.

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Relato de Experiência

Jaiza Helena Moisés Fernandes16

O Curso Práticas Inclusivas - Deficiência Intelectual me proporcionou grandes

aprendizagens por meio de leituras produtivas e trocas de experiências com meus

pares. As realidades envolvidas nessa experiência foram as mais diversas, pois

participaram do curso pessoas de norte ao sul do país; daí a grande importância da

realização de um curso a distância e a riqueza de conhecimentos teóricos e práticos

que ele pode nos oferecer.

Nesse curso tive o prazer de conhecer professoras bastante comprometidas com

sua profissão procurando dar o melhor de si para mudar a realidade da educação de

nosso país a partir de sua própria prática e contribuir de forma decisiva para o processo

inclusivo. Ademais, me identifiquei muito com algumas cursistas, como por exemplo,

Cecília, Denise, Olívia, Karine e tantas outras que não me recordo o nome agora.

Obrigada, também a vocês Vilma e Silva pelo sucesso na condução do curso, sem

vocês ele, certamente, não teria acontecido.

_____________________________ 16Professora de Ensino Fundamental - Fortaleza/CE

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Relato de Experiência

Maria Antônia Almeida17

O tema inclusão vem sendo cada vez mais discutido, e ganhando destaque em

nossa sociedade. O Brasil estabeleceu compromisso com a Declaração de Sala manca,

fruto também do trabalho da UNESCO com o fim de estabelecer uma diretriz comum

para a inserção da criança com necessidades especiais.

Visando a necessidade de buscar alternativas para trabalhar com os alunos de

inclusão, o sistema educacional está a todo o momento oferecendo ao corpo docente

cursos de formação, buscando com isso, capacitar os professores e tirar as crianças

deficientes do anonimato. Mudar a concepção que uma criança com deficiência não é

capaz de aprender, participar e viver em sociedade.

Hoje, segundo relatos e experiências concretas, já que temos vários casos de

alunos com deficiências no ambiente escolar, podemos conviver e aprender muito com

eles, pois são crianças como qualquer outra, apenas com dificuldades.

O processo educacional vem melhorando muito a esse respeito, mas é preciso

investir mais e adaptar as escolas para oferecer uma educação adequada. O processo

é lento, mas não podemos desistir. Entretanto, o curso de inclusão foi um aprendizado

muito valioso, embora já tivesse um pouco de conhecimento sobre o assunto, é sempre

produtivo buscar novas metodologias. Pude conhecer o acervo de material riquíssimo

que já existe sobre inclusão, pena que estão longe das escolas. O curso foi muito bem

trabalhado, cada módulo poderíamos interagir com os colegas e trocar experiências. No

início fiquei um pouco perdida, mas depois foi tudo muito bem e cada vez mais me

envolvi com o curso, e tendo a certeza que é preciso sempre buscar, pois os alunos de

inclusão estão juntos de nós. Não podemos cruzar os braços e ignorar a realidade.

É importante lembrar que os alunos com deficiência vêm para a escola para

aprender interagir e não ficar isolado, como o diferente. Nesse aspecto, as escolas

ainda estão bem longe do ideal, mas acho que o primeiro passo já foi dado, agora é

caminhar. Os dirigentes educacionais devem focar primeiramente, no preparo dos

___________________________________ 17Professora de Ensino Fundamental - Piracaia/SP

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professores, para depois poder passar isso aos alunos. O ser humano está em

constantes mudanças, mas é preciso querer.

Hoje no final do curso, já consigo conviver e trabalhar com os alunos com

deficiências de maneira natural, lembrando que são alunos que precisam de uma

atenção especial. E não podemos esquecer a autoestima do aluno, se ele sempre for

ficando de lado poderá vir a ter vários problemas psicológicos, além da sua deficiência.

Nós professores precisamos rever nossas atitudes e nos colocar no lugar do aluno, só

assim podemos entendê-los e trabalharmos de forma diferenciada.

Lembrando que podemos conviver com as pessoas deficiências em todo lugar,

famílias, trabalho, escola, parques, clubes e etc., por isso é preciso mudar a

mentalidade e se preparar para os novos desafios que estão por vir. Hoje o mercado de

trabalho já abriu um grande espaço, para as pessoas que possuem alguma deficiência,

aliás, há uma cota reserva que garante o direito da pessoa deficiente no mercado de

trabalho.

Por fim, penso que venham os alunos com deficiência, pois estamos aqui para

dar o melhor do melhor e convivermos de maneira harmoniosa e produtiva. Meus

colegas e eu vamos nos preparar de forma significativa e unirmos para o grande

desafio: “Inclusão, não vamos temer e sim nos unir”. Hoje no final do curso me sinto

mais segura e confiante para trabalhar com os alunos de inclusão.

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Relato de Experiência

Olívia de Castro Oliveira Bento18

Primeiramente, pontuo que o Curso foi fundamental em minha prática pedagógica,

foi direcionador e orientador na implementação da Estratégia do Ensino Colaborativo

em minha Escola (Juiz de Fora/ MG). Neste contexto enfatizo que os aspectos

etiológicos, conceituais, históricos e legais da Educação Especial apresentados durante

o Curso, orientou a busca de elementos para elucidar o conflito vivenciado pela Escola.

Desta forma registro a chegada da Letícia.

Ao receber Letícia (três anos de idade, tem Deficiência Visual, nasceu com

ausência do Globo ocular) a escola compreendeu que precisava de um professor para

acompanhá-la devida às necessidades da aluna. A Letícia está matriculada na sala da

Creche com 15 alunos, também com três anos, um percentual considerável pelas

especificidades dos alunos.

Dentro deste contexto, a Secretaria de Educação comunicou que precisava de

alguns dias para contratar a Professora Colaborativa. A Escola na sua autonomia

procurou resolver momentaneamente, a situação da aluna. Diante das possibilidades,

promoveu um estudo reflexivo com toda equipe escolar. Tínhamos as seguintes

possibilidades. Uma delas seria contar com o apoio da mãe dentro da escola para

auxiliar a aluna. E a outra, baseada na Linha Colaborativa e na Perspectiva Inclusiva.

É importante ressaltar que diante da escolha, em hipótese alguma, a Escola

desconstruiu um trabalho inclusivo e nem "Fechou a porta para a comunidade". A base

teórica que acompanhou a escolha apontava para o Ensino Colaborativo: "[...] As trocas

enriquecem o nosso trabalho, dão-nos confiança e principalmente, a condição de

sermos atores de nossa própria prática, mas não de forma isolada e solitária, e sim, de

uma forma colaborativa com companheirismo".

E foi dentro desta linha de raciocínio que a escola trabalhou e mobilizou toda a

equipe escolar para atuar com a aluna. Cada professor, funcionário e direção tinham o

___________________________ 18Professora de Recurso (de apoio) - Santos Dumont/MG

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seu dia para colaborar com a sala da Letícia. O trabalho em equipe aproximou os

professores, os funcionários e a direção, ambos tinham as mesmas responsabilidades,

envolvidos diante dos mesmos desafios e das mesmas decisões. O caminho foi

percorrido com sucesso e no mês de abril a professora colaborativa foi contratada.

As ações e atividades realizadas na sala do AEE foram pautadas em articulação

entre a sala regular, contexto escolar, familiar e Área Clínica.

Busquei informações no curso e fundamentei a minha proposta que foi estudada

pelo coletivo da escola e consolidada na prática.

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Relato de Experiência

Marina Batista Santos de Carvalho19

Participar do curso foi muito importante para mim, pois foi como se eu tivesse

vencido a batalha da informática. Desde meu primeiro acesso não encontrei nenhuma

dificuldade e naveguei em todos os ambientes somente com as instruções dadas.

Comecei gostando do texto “Administrar o tempo é planejar a vida”, pois já me

organizava, mas agora sei organizar e priorizar ações.

Fazer um curso sobre inclusão é simplesmente estar ciente e poder usar a lei para

obter garantia do direito à educação mesmo que tenha um percurso longo devido às

dificuldades. Pelo que sabemos da história, pessoas com deficiências sofreram

injustiças, abandonos e até assassinatos por terem nascido com deficiência. Há a

necessidade de uma escola inclusiva, cidadã, solidária e de qualidade social para todas

as crianças, inclusive as crianças com alguma necessidade especial. Nós professores

precisamos de formação para que possamos refletir pedagogicamente. Visto que a

capacitação de profissionais garantirá que haja uma transformação e a escola comece

a realmente cumprir com o seu papel.

Na execução do Projeto Político Pedagógico o planejamento precisa ser coletivo e

o currículo bem definido para que seja inclusivo. Não podemos esquecer que a

avaliação precisa fazer parte do cotidiano escolar, pois será através da avaliação que

os objetivos propostos serão concretizados ou replanejados.

Pude compreender também, que a EDUCAÇÃO SEXUAL é um processo amplo,

social e cultural e que é muito importante que haja orientação clara para que o aluno

não busque informações em lugares ou com pessoas não confiáveis. Todos têm o

direito de viver a sexualidade e receber esclarecimentos para que possa viver sem

riscos de adquirir doenças ou gravidez indesejada.

Eu não sabia que a Tecnologia Assistiva tão necessária nas escolas oferecia

___________________________________ 19Professora de Ensino Fundamental - São Paulo/SP

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tantos recursos para o desenvolvimento educacional de pessoas com deficiências e

fiquei emocionada de ver tantos avanços, mas também triste por nunca ter encontrado

nenhum desses recursos nas escolas que trabalhei e trabalho.

Por fim, os textos sobre Criatividade, uma palavrinha tão necessária na prática do

professor, essa criatividade que nos proporciona bons resultados em determinadas

atividades. Concluo minha reflexão grata pelas leituras escolhidas, pelos vídeos, e por

todo o material de muito bom gosto e competência.

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Relato de Experiência

Cecília Nogueira Siqueira Pereira20

Este curso foi praticamente o primeiro a distância que participei e tudo foi

cumprido como foi proposto no início, professores sempre presentes atendendo a tudo

e a todas as alunas.

O conteúdo foi maravilhoso, muito pertinente à nossa realidade e a cada novo

módulo os assuntos foram sendo apresentados e nos levavam a reflexões profundas

sobre nossa prática, sobre a inclusão e também fornecendo subsídios para

multiplicarmos nossos conhecimentos. "Práticas educativas" conseguiu abordar uma

grande visão global do que temos no dia a dia da inclusão: conceitos, histórico,

planejamento, gestão, colaboração, família, comportamentos, avaliação, tecnologia,

criatividade, vínculos afetivos, e até o cuidado que devemos ter conosco.

Gostaria de poder participar de outro curso tão bem elaborado como este.

Também gostaria de poder manter contato para ainda tirar dúvidas ou conseguir algum

material, pois gostaria de me aprofundar um pouco mais em algumas referências que

vocês indicaram.

Por fim, aprendi muito, cresci nas minhas concepções sobre inclusão e com

certeza tudo isto está cada dia influenciando positivamente neste processo histórico da

inclusão do qual estou participando.

___________________________ 20Professora de Educação Infantil - São Paulo/SP

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Relato de Experiência

Ana Cristina Brito da Costa

A princípio todo o trabalho de tutoria parece ser complicado e já supõe desafios a

serem superados, visto que, sendo EAD, os cursistas nos terão como referencial e

apoio principal.

Esse desafio foi vencido com aprendizagem, extrema dedicação e empenho

principalmente por não ter, a princípio, o conhecimento adequado sobre a educação

inclusiva e tudo o que a envolve.

Hoje, não digo que sou expert sobre o assunto, mas compartilho de todo o

conhecimento adquirido, pois minha contribuição não se limitou na tutoria à distância,

mas também no cotidiano escolar (a escola onde trabalho atualmente é polo de

Educação Especial) sendo na consciência, sendo no despertar desse conhecimento e

dessa consciência inclusiva em outros tempos tão desprezados, e hoje, humanizados

nas diferentes áreas do conhecimento.

Minhas turmas sempre foram ótimas, participativas, tive o privilégio de resgatar

alguns alunos que queriam desistir no meio do caminho e puderam me agradecer

posteriormente.

Enfim, houve crescimento profissional e pessoal ter a oportunidade de vivenciar

e compartilhar dessa educação “tão especial” para o nosso tempo.

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Relato de Experiência

Silvia Cavalcante Vicentin21

Estudar a distância não é necessariamente tão diferente de estudar

presencialmente. Se pensarmos no tratamento cognitivo da informação ou no

significado que esta deve ter para cada pessoa, podemos pensar na transformação do

conhecimento em experiência, aprendizagem ou competência, dependendo da maneira

como esta informação é transmitida e adquirida pelo indivíduo.

Mas, sabemos, a aprendizagem é algo muito maior que simplesmente “armazenar

informações”, ela depende de alguns fatores, a saber: motivação, organização,

generalização, entre outros, e neste aspecto começamos a nos aproximar mais daquilo

que iremos entender por Educação a Distância e nos afastarmos dos métodos

presenciais.

De acordo com o MEC (Ministério da Educação e Cultura), “A educação a

distância é caracterizada por um processo de ensino e aprendizagem realizado com

mediação docente e a utilização de recursos didáticos sistematicamente organizados

apresentados em diferentes suportes tecnológicos de informação e comunicação, os

quais podem ser utilizados de forma isolada ou combinadamente, sem a frequência

obrigatória de alunos e professores nos termos do art. 47, § 3º, da Lei de Diretrizes e

Bases”.

O mesmo órgão ressalta que esta modalidade de ensino necessita ter momentos

presenciais, que podem ser avaliações dos alunos, estágios (quando previstos na

legislação), defesa de trabalhos de conclusão de curso (também se previstos em

legislação) e atividades relacionadas a laboratórios de ensino, quando for o caso.

A Educação a Distância (EAD), se diferencia nos modos de organizar os tempos e

espaços de aprendizagem em relação ao ensino presencial e demanda interação via

comunicação digital entre professo e aluno. Portanto, o espaço físico torna-se

_____________________________________________________

21Psicóloga formada pela Universidade Estadual de Londrina. Mestre em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem pela Unesp Bauru. Atualmente psicóloga da Prefeitura Municipal de Londrina. Tutora UAB, convênio MEC- Unesp.

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secundário neste processo.

A Educação a Distância (EAD) teve início a partir do ensino por correspondência

na Alemanha, envolvendo os professores Charles Toussaint e Gustav Langenscheidt

(Cortelazzo, 2011).

Em seguida, a modalidade foi se difundindo na Grã-Bretanha, Estados Unidos,

Japão, e incluía desde cursos preparatórios para provas secundárias, concursos, até o

ensino superior. Este desenvolvimento da EAD acompanhou também o movimento

sócio-econômico mundial e foi se expandido para países como China, Noruega,

Austrália, por exemplo, até chegar ao Brasil. Atualmente, a Turquia sedia a maior

universidade a distância do mundo.

No Brasil, os registros são de que a Educação a Distância tenha iniciado com

cursos de correspondências, a exemplo de um curso profissionalizante de datilografia

do Jornal do Brasil em 1891 (Maia e Matar, 2007).

Em 1904 seriam iniciados cursos de espanhol por correspondência, oferecidos por

instituições privadas, até que, em 1941, o Instituto Universal Brasileiro, que ficou mais

popularizado no Brasil, começou suas atividades oferecendo cursos profissionais nas

áreas técnicas.

Em 1970, a Fundação Roberto Marinho iniciou o programa de educação supletiva

a distância para primeiro e segundo grau, no modelo que era conhecido por “tele-

educação” ou “tele-curso”, o que foi uma novidade para o sistema televisivo. Este

sistema utilizava livros, vídeos e transmissão por TV.

Apesar de toda esta trajetória, o Ministério da Educação só incluiu a EAD na

legislação em 1996, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB),

estando hoje à modalidade à distância mais consolidada em nosso país no ensino

superior.

Nesta modalidade de ensino o aluno está em contato com as chamadas web-

aulas e toda sua interação é via computador, mesmo no momento de presença nos

pólos, onde o professor está atrás de um telão. Isso pode limitar um pouco a

socialização e desenvolvimento do aluno neste aspecto, se o mesmo não entender a

necessidade de utilizar ferramentas de comunicação menos convencionais às que está

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acostumado, através dos meios que as ciências da computação e as telecomunicações

nos apresentam.

O aluno pode então se comunicar “em tempo real”, a uma velocidade nunca antes

imaginada, bem diferente de esperar “a aula da semana que vem” para tirar uma dúvida

ou compartilhar algum material com o professor, como se dá no ensino presencial.

É a oportunidade de contato com sons, imagens, dados diversos, correção

automática, aprendizagem que respeita o ritmo individual, prática simulada,

possibilidade de interação com diferentes “atores” em qualquer lugar do mundo, enfim,

um mundo de possibilidades que o aluno deverá se adaptar e entender para, pouco a

pouco, assimilar o conteúdo.

As atividades podem incluir aspectos práticos e teóricos, individuais e em grupo, e

neste último caso, necessitam um estreito nível de comunicação, já que, ainda que,

grupal, acontecem entre indivíduos situados em diferentes localidades, com diferentes

tecnologias, em tempos diversos. Esta confluência pode demandar esforços, paciência

e habilidade em comunicação dos envolvidos, além de agilidade, já que há sempre

prazos a serem cumpridos.

Por isso, a motivação do aluno de Educação a Distância é peça chave para o

desenvolvimento positivo do mesmo qualquer que seja a atividade que se proponha a

realizar nesta modalidade. Ainda há muitos equívocos quanto ao EAD, e entendimento

que seja uma modalidade mais “fácil” de ser cursada, surpreendendo muitas pessoas

que às vezes acabam por desistir quando se deparam com o nível de disciplina e

organização que a modalidade a distância exige de seus alunos.

A atuação do professor na Educação a Distância por vezes diferencia-se do

ensino presencial e, por vezes, aproxima-se dele.

Comumente, um curso à distância envolve o chamado “professor conteudista”

(que pesquisa e utiliza de seus conhecimentos para a produção dos materiais teóricos

do curso), o professor formador (aquele que ministra as web-aulas ou aulas presenciais,

quando é o caso) e o “tutor de educação a distância” (profissional preparado para

mediar a relação entre aluno-conteúdo-professor). Vamos nos concentrar aqui mais na

figura do tutor, já que este capítulo trata da experiência desta autora neste nível de

atuação.

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O tutor tem papel importante na Educação a Distância, já que ele garante a inter-

relação personalizada e contínua do estudante, articulando praticamente todos os

elementos do processo a distância, entre eles: a operacionalização do ambiente virtual

de aprendizagem pelo aluno; o contato entre aluno e professor formador; retorno dos e-

mails, alimentação dos fóruns de discussão; postagens de atividades; correções de

atividades (de acordo com a orientação dos professores); alimentação de planilhas de

desempenho, dentre outros.

Preti (2000) assevera que o tutor “é um professor mais próximo” na Educação a

Distância, acompanha os estudantes, orienta seu aprendizado, sugere leituras e

estimula a participação, atuando como professor e educador.

Neste tópico trataremos da experiência desta autora no curso de aperfeiçoamento

“Práticas Educacionais Inclusivas na Área da Deficiência Intelectual” da Universidade

Estadual Paulista – UNESP, Campus de Bauru, SP.

O objetivo geral do curso é a formação continuada de professores de classe

comum, por meio de EAD, na área de deficiência intelectual, com enfoque nas práticas

educativas inclusivas.

O curso é composto por 50 turmas de professores de classe comum, de 20 alunos

cada, utilizando a plataforma TelEduc, disponibilizada em parceria com o Núcleo de

Educação a Distância (NEAD), com as ferramentas disponíveis. O material contém

cadernos didáticos, sendo um para cada módulo, contendo: textos sobre cada tema,

propostas de atividades práticas, indicações de links, vídeos e bibliografia básica.

A Certificação do Curso de 180 horas em Práticas Educacionais Inclusivas na

Área da Deficiência Intelectual, conta com o apoio do Ministério da Educação e da

Secretaria de Educação Especial do Estado de São Paulo, realizado como parte do

"Programa de Formação Continuada de Professores na Educação Especial".

A dinâmica de desenvolvimento prevê como modalidades de atividades:

- Livros temáticos: textos elaborados pelos professores pesquisadores versando sobre

os conteúdos do curso.

- Videoconferências: geradas no estúdio localizado no Departamento de Educação da

FC/UNESP – Bauru, proferidas por docentes participantes deste projeto.

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- Trabalho individualizado: leitura crítica dos textos, análise de vídeos e realização de

tarefas orientadas pelos tutores, que são realizadas em data e hora de livre escolha dos

cursistas, com prazo para devolução das mesmas.

- Vivências orientadas: atividades complementares aplicadas com os próprios alunos

nas salas de aulas e/ou com a comunidade escolar dos cursistas, orientadas por tutores

e supervisionadas pelos professores formadores.

- Narrativas: produção de textos narrativos a partir de estudos de caso e experiências

realizadas.

- Trabalho monitorado: realização de atividades em sessões on-line, sessões off-line e

de suporte, orientadas pelo tutor e pelos professores pesquisadores.

Para tal, são utilizados como recursos, a plataforma TelEduc, e-mails e bate-

papo, onde:

- Os professores pesquisadores elaboram o material didático para os cinco módulos.

- Os professores pesquisadores, com apoio de profissionais especializados em

informática planejam e ministram o curso para formação e treinamento de toda a

equipe.

- Os tutores orientam o desenvolvimento de todas as atividades do curso junto aos

cursistas.

Cada módulo tem o conteúdo teórico em material escrito, através de

videoconferência, além de lista de discussões, fórum, bate-papo e orientações por e-

mail. Ao término de cada módulo é proposta uma vivência orientada a ser realizada

junto à própria sala de aula, com a família ou com a comunidade escolar, além de uma

avaliação final com os conteúdos abordados.

Em sequência a cada vivência orientada, cada cursista elabora uma narrativa

relatando sua experiência no desenvolvimento da tarefa proposta. Os professores

pesquisadores e formadores analisam as narrativas e fazem as devidas considerações.

Tais narrativas são socializadas para os colegas da turma.

Mediante este cenário, a experiência de tutoria neste curso foi bastante positiva e

corroborou com o que versa a literatura.

O início de um curso a distância é sempre uma novidade para o aluno,

especialmente aqueles que irão ter contato com a modalidade pela primeira vez. A

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princípio, a impressão que ficou para esta tutora é a de que o aluno tem exatamente a

visão já tão apontada pelos autores da área, de que um curso à distância apresenta

certa facilidade.

Isso foi percebido no início do curso pelo número de participantes que somente

acessaram uma vez o sistema, ou nunca acessaram, porque, em contato com outros

cursistas, “ouviram dizer que o sistema era muito difícil de mexer”. Quando era

realizado contato da tutora com estes alunos (que nunca acessaram ou somente

acessaram uma vez), via e-mail, era a resposta que a tutora obtinha, sendo que a

maioria dos cursistas nas situações descritas já havia pensado em desistir.

Foi necessário mais de um contato motivando alguns cursistas a continuarem o

curso, inclusive com o envio de “tutoriais” com o passo a passo para operacionalizar o

sistema. Passado algum tempo, muitos deles deram retorno da importância deste

contato e motivação, pois, do contrário, teriam desistido. Foi percebida que a maior

dificuldade era mesmo a ambientação com o ambiente virtual de aprendizagem. Além

disso, alguns cursistas desejavam obter orientações sem realizar a leitura do material,

inclusive a apostila que disponibiliza os passos para acesso ao sistema, preferindo

“encurtar o caminho” e receberem da tutora uma orientação mais diretiva.

Também para a entrega das avaliações fez-se necessária constante lembrança,

pois, atribulados com suas atividades em sala de aula (e também fora dela), alguns

cursistas acabavam por perder prazos.

À medida que o curso foi se desenvolvendo, foi possível perceber também o

desenvolvimento dos cursistas. Não só se “familiarizaram” com o sistema, mas também

traziam muitas ideias, feedbacks, questionamentos.

Alguns compartilharam materiais com a tutora e com os colegas de curso e as

trocas nos fóruns de discussão tomaram um rumo ascendente e positivo, tanto que, ao

final do curso, muitos apontaram que sentiriam falta desta interação e troca de

experiências, como uma forma de “aliviar” as tensões que os professores vivenciam em

seu cotidiano escolar.

Alguns cursistas apontaram a necessidade deste curso avançar, tornar-se uma

especialização e outros ainda procuraram a tutora indagando acerca de novas turmas,

devido intenção de colegas no curso.

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A experiência não pode ser classificada apenas como “positiva”, seria reduzir a

uma palavra um universo de chances de interação, formação e aperfeiçoamento

profissional para esta autora. A cada cursista que compartilhou vivências

profissionais, angústias pessoais, dúvidas, conquistas, avanços e temores, o

agradecimento não seria suficiente.

Sabemos que a Educação a Distância no Brasil ainda necessita avançar, assim

também a cultura e credibilidade nesta modalidade, mas acreditamos que, pouco a

pouco, conseguiremos alcançar tais objetivos.

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EM TEMPOS DE INCLUSÃO É NECESSÁRIO FORMAÇÃO

Kátia de Abreu Fonseca22

Luciana Apolônio Rodrigues Carneiro23

Ainda é grande o desafio da Educação Brasileira em relação à formação inicial

ou continuada de professores de sala regular para atuar com alunos com algum tipo de

deficiência. Especificamente na área da deficiência intelectual, a falta de formação e

informação expõe a fragilidade e a insegurança dos professores que tem em suas salas

de aula regular alunos com esta condição.

A lacuna nos cursos de graduação voltados à educação no que tange os

aspectos relacionados à Educação Especial e Inclusiva induziu ao erro a conceituação

do que de fato significa deficiência intelectual, bem como as diferenças entre deficiência

intelectual e necessidades educacionais especiais.

Nesse universo idiossincrático da educação Glat e Blanco (2007, p.26),

esclarecem os termos a partir de características singulares,

Embora os termos sejam muitas vezes utilizados como sinônimos, é importante frisar que necessidades educacionais especiais não é o mesmo que deficiência. O conceito de deficiência se reporta às condições orgânicas do indivíduo, que podem resultar em uma necessidade educacional especial, porém, não obrigatoriamente. O conceito de necessidade educacional especial, por sua vez, está intimamente relacionado à interação do aluno à proposta ou realidade

educativa com a qual se depara.

Quanto à conceituação da deficiência intelectual, por cerca de 50 anos, este

conceito carregou o termo retardo mental pela tradicional Associação Americana de

Retardo Metal (AAMR). Num gesto de renovação e sintonia com os novos tempos

mudou sua nomenclatura e sua sigla para Associação Americana de Incapacidades

Intelectuais e do Desenvolvimento (AAIDD).

__________________________________ 22Tutora da turma 07 do curso Práticas Inclusivas. Mestre em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem, Psicopedagoga, Pedagoga. Coordenadora da Área de Educação Especial do Departamento de Planejamento, Projetos e Pesquisas Educacionais da Secretaria Municipal de Educação de Bauru. 23Professora do Ensino Fundamental do Município de Bauru. Especialista em Informática na Educação e Pedagoga.

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A Deficiência Intelectual é um termo mais preciso e moderno. [...] Nós queremos ficar longe da palavra “retardo” (ou “retardamento”) e, ao mesmo tempo, permitir que os educadores e outros profissionais descrevam acuradamente as necessidades das pessoas que eles atendem (AAIDD, 2006, p.1).

Segundo a AAIDD (2006), a deficiência intelectual é caracterizada por limitações

significativas tanto no funcionamento intelectual quanto em comportamentos

adaptativos expressos em habilidades sociais, práticas e conceituais, com início antes

dos 18 anos.

Equívocos conceituais ainda são presentes nos discursos, registros e práticas do

professor generalista. Para desmitificar a ideia de incapacidade e exclusão dos alunos

com deficiência e suprir a lacuna da formação sobre o assunto é necessária a

efetivação de formação aos professores, pois como Oliveira e Costa (2002, p.13)

afirmam que,

[...] sentimos o escorregadio da incerteza, percebemos a tonalidade da incompletude. Não há respostas fechadas quanto à dicotomia entre as perspectivas de inclusão e a manutenção das “identidades coartadas” pela exclusão diária e contumaz.

Baumel e Castro (2002, p.10):

[...] formar professores generalistas, face às necessidades educacionais especiais exige trabalhar os conhecimentos sobre: desenvolvimento organizacional; desenvolvimento e inovação curricular; ensino; suas concepções e práticas pedagógicas; professor e condições de profissionalidade. Tais conhecimentos devem ser articulados com conteúdos relativos às necessidades especiais.

Nóvoa (1992, p.17) reforça a ideia de que “não há ensino de qualidade, nem

renovação pedagógica sem uma adequada formação de professores”.

Neste sentido a inquietação com a formação dos professores, apresenta-se

como pedra fundamental no processo de formação do professor, tanto inicial como

continuada. Esta é uma das variáveis vitais para propiciar uma mudança de

mentalidade educacional, ou seja, criar uma nova perspectiva educacional que respeite

e aceite as diferenças individuais.

Sendo assim, a formação do professor do ensino comum, assume proeminência

principal, uma vez que os professores adquiram conhecimentos básicos sobre tema

educação especial e inclusiva, atrelando os conhecimentos adquiridos à prática

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pedagógica, favorecendo o desenvolvimento e aprendizagens dos alunos com

deficiências participantes da educação formal no ensino comum.

Atualmente, diversas estratégias são eficazes para efetivar a formação de

professores, dentre elas há a educação a distância (EaD), que será apresentada na

próxima seção.

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – ESTRATÉGIA DE FORMAÇÃO

Estudo por correspondência (Reino Unido), Estudo em casa (Estados Unidos),

Estudos externos (Austrália), Télé-nseignement (França), Educación a distancia

(Espanha), Istruzione a distanza (Itália), Teleducação (Portugal) e/ou Educação a

Distância (Brasil). Não importa a denominação, idioma e espaço geográfico, todos as

terminologias remetem a EaD - Educação a Distância. (Pretti, 2009, p. 40).

Esta modalidade de ensino foi fundamentada no decreto n.º 2.494, de 10 de

fevereiro de 1998, que regulamenta o artigo 80 da Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (Lei n.º 9.394/96) e que por meio da sua força possibilita definições

e regulamentações a respeito.

Art. 1º Educação a distância é uma forma de ensino que possibilita a auto-aprendizagem, com a mediação de recursos didáticos sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou combinados, e veiculados pelos diversos meios de comunicação. (http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/tvescola/leis/D2494.pdfacessado em 16/06/2012)

Observa-se que na literatura não existe consenso definitivo para a cronologia

ou marco histórico inicial da EaD. Alguns estudiosos se apoiam no estudo por

correspondência no século XVIII como o princípio dela.

Segundo Pereira (2009 apud Moore e Kearsley 1996), existem três gerações de

EaD,

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Endossando essa trajetória, Costa (2007) por meio do seu artigo “Uma história

da Educação a Distância”, apresenta o histórico da EaD no Brasil e no mundo,

priorizando algumas experiências e programas significativos. Percebe-se que o marco

inicial da EaD no Brasil foi o rádio com o Instituto Rádio Técnico Monitor em 1939 e a

correspondência pelo Instituto Universal Brasileiro em 1941. Com a possibilidade de se

usar a televisão como um instrumento favorecedor no ensino a distância, a década de

50 incluiu este meio de comunicação surgindo o Projeto Saci, executado pelo INEP até

os anos 70, a TV Educativa a partir de 1966 e o Telecurso 1° e 2° grau em 1978. No

início da década de 80 e inicio das 90 o Programa Salto para o Futuro nasce pela

parceria entre Fundação Roquete Pinto (TVE/RJ) e as Secretarias Estaduais de

Educação. Após 1997, esse programa é incluído na programação do canal da TV

Escola.

Dentro destes três momentos históricos, a EaD no Ensino Superior surgiu no

final dos anos 1960 na Inglaterra pela Open University. No Brasil, a Universidade de

Brasília (UnB) tem sua participação em meados da década de 70 motivada pelo

sucesso da Open University.

Segundo Costa (2007), a Informática Educativa surgiu em abril de 1997 e foi

denominada pela Secretaria de Ensino a Distância (SEED/MEC) como Programa

Nacional de Informática da Educação (ProInfo). Esse programa tinha por objetivo

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promover o uso pedagógico da informática na rede pública como ferramenta de apoio.

Inicialmente o foco dos primeiros anos deu-se na capacitação de professores,

posteriormente manifestou-se para os cursos de licenciatura e cursos de graduações,

havendo uma ascendência nos cursos de especializações.

Não há como negar que flexibilidade temporal e espacial são as principais

características que a EaD agrega, sendo motivo responsável de todo o crescimento

expressivo nos últimos tempos. Atualmente além do espaço conquistado pela EaD,

percebe-se a conquista gradativa da credibilidade e ruptura de preconceitos perante

ela.

Soek e Gomes (2008 apud Pretti 2002) destaca a complexa organização

estrutural da EaD,

Mais complexa, às vezes, que um sistema tradicional presencial, visto que não só a preparação de material didático específico, mas também a integração de “multimeios” e a presença de especialistas nesta modalidade. O sistema de acompanhamento e avaliação requer, também um tratamento especial. Isso significa um atendimento de qualidade.

Essa ruptura de tempo e espaço são as marcas que a EaD carrega, mas que

de fato não é o parâmetro, e sim a intenção, a organização pedagógica e interatividade

embutida nela. Metaforicamente, uma via de mão dupla. Situação oposta de quando o

aluno está diante de uma receita seja em livro, rádio ou televisão.

É importante ressaltar que lecionar em ambientes virtuais de aprendizagem está

associado a uma organização didática não restrita aos materiais de apoio, mas sim a

uma interação constante por meio de fórum, emails e chats, principalmente. Nos chats é

fato a existência de “multidiálogos” e dispor de atenção e interatividade nesta

ferramenta significa uma sobrecarga de informação e cautela ao tutor, a fim de não

perder de vista o foco de trabalho. Ressalto a profissão “tutor” ainda não é

regulamentada no Brasil. Isso faz com que cada instituição de EaD discrimine o perfil, a

formação e a função desse profissional que participa ativamente dessa modalidade

educacional.

Outra característica é no aspecto da avaliação. O erro é tratado como objeto de

análise e reformulação, pois o aluno tem a possibilidade de avaliar constantemente o

próprio trabalho com ou sem o grupo, bem como, consultar e analisar produções

alheias no ambiente virtual.

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Apesar da EaD não ser algo novo, o uso das NTICs (Novas Tecnologias de

Informação e Comunicação) trouxe uma nova forma de pensar e agir, afinal a escola

não pode andar na contramão do tempo.

Arruda (2004) destaca na sua obra as inovações tecnológicas na escola, desde

a entrada das máquinas no ambiente escolar à terminologia NTICs. Relata que a

função principal do computador em décadas atrás era a de calcular dados matemáticos.

Com a evolução, a criação de ambientes gráficos fez emergir e aglutinar uma série de

funções ao computador, passando ele então a ser utilizado para diversas finalidades e

áreas de conhecimento. O termo NTICs surgiu para definir a introdução das inovações

microeletrônica e/ou telemáticas - movimento denominado por Terceira Revolução

Industrial.

Percebe-se que essa nova tecnologia provocou mudanças nas práticas e

concepção docente, desde sentimentos de resistência e aceitação.

Não basta apenas inserir as novas tecnologias no cotidiano escolar; as escolas necessitam ter um projeto político pedagógico, em que os professores (...) sempre estejam repesando a sua prática pedagógica e acompanhando a tecnologia educacional. (Arruda, 2004, p. 80, apud Mercado, 1999, p. 16)

EaD E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA INCLUSÃO ESCOLAR DE

ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

O fato da escola não poder ignorar a “Era da Digitalização”, muitas ofertas de

formação surgiram e uma delas, pontualmente tratada neste artigo, é o curso Práticas

Educacionais Inclusivas na Área da Deficiência Intelectual oferecido pela UNESP/

Bauru, sob a orientação da Professora Doutora Vera Lucia Messias Fialho Capellini,

docente da UNESP.

Especificamente na turma sete, participaram 27 professores cursistas, do curso

de aperfeiçoamento a distância em Práticas Educacionais Inclusivas na área da

Deficiência Intelectual, 180 horas, cujo objetivo é a formação continuada de professores

de classe comum, na área de deficiência intelectual, com enfoque nas práticas

educativas inclusivas.

Todos os participantes são professores do sexo feminino com idade entre 27 a

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59 anos, a maioria com ensino superior completo na área da educação, sendo que

apenas uma está em plena formação inicial. As participantes são provenientes de várias

regiões do Brasil, atuantes em escolas públicas, no primeiro ciclo do ensino

fundamental – séries iniciais, segundo ciclo, Educação Infantil, vice-diretores,

coordenadores, professores da Educação Especial, professores de Educação Física.

Este curso fez uso do ambiente TelEduc, desenvolvido no Nied (Núcleo de

Informática Aplicada a Educação) sob a orientação da Prof. Dra. Heloísa Vieira da

Rocha do Instituto de Computação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas),

a partir de uma metodologia de formação de professores construída com base na

análise das várias experiências presenciais realizadas pelos profissionais do núcleo. O

ambiente é parte integrante da dissertação de mestrado "Formação a Distância de

Recursos Humanos para Informática Educativa" de autoria de Alessandra de Dutra e

Cerceau.

Por meio de uma proposta curricular calculada em 180 horas de estudo e

interação, os alunos acessavam semanalmente a plataforma TelEduc, a fim de interar-

se dos cadernos de leituras com os conteúdos das disciplinas e textos de apoio. Ao

longo do curso os alunos interagiam com os formadores e integrantes utilizando as

ferramentas: correio (e-mail), fóruns e bate-papos.

A existência de atividades práticas acontecia em todas as disciplinas sendo

motivo de relatos e armazenamento no Portfólio - ferramenta do ambiente virtual de

aprendizagem disponibilizada na forma coletiva e individual.

Os chats, mais conhecido como bate-papo foi a ferramenta de maior exploração

para a interatividade grupal. Membros de todos os espaços geográficos brasileiros se

encontravam semanalmente com a mesma finalidade: discutir o assunto e/ou tema da

semana. Nessas discussões, originaram-se as reflexões, os equívocos, as trocas de

experiências e principalmente algo que jamais todas integrantes esperavam: o vínculo

afetivo. Quem pudera imaginar que na era da virtualidade laços de amizade pudessem

ser construídos exclusivamente via teclado?

A interação virtual deu-se de forma tão positiva que podemos nos valer das

considerações de Madalena Freire (2007, p.24), definindo grupo,

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Um grupo se constrói no espaço heterogêneo das diferenças entre cada participante: da timidez de um, do afobamento do outro; da serenidade de um, da explosão do outro; do pânico velado de um, da sensatez do outro; da seriedade desconfiada de um, da ousadia do risco do outro; da mudez de um, da tagarelice de outro; do riso fechado de um, gargalhada debochada do outro; dos olhos miúdos de um, dos olhos esbugalhados do outro; de lividez do rosto de um, do encarnado do rosto do outro. Um grupo se constrói enfrentando o medo que o diferente, o novo provoca, educando o risco de ousar. Um grupo se constrói não na água estagnada do abafamento das explosões, dos conflitos, no medo em causar rupturas. Um grupo se constrói, construindo o vinculo com a autoridade e entre iguais. Um grupo se constrói na cumplicidade do riso, da raiva, do choro, do medo, do ódio, da felicidade e do prazer à vida de um grupo tem vários sabores.

INDO ALÉM DO AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM

Com o real envolvimento dos participantes do curso, a continuidade das

discussões acerca do tema Práticas Educacionais Inclusivas foram migradas

inicialmente para a rede social Facebook, conforme sugestão das alunas. Isso

possibilitou o não afastamento entre as cursistas que após o término do curso virtual

compartilharam neste ambiente experiências, indicações de livros, vídeos, blogs,

músicas e informações gerais sobre assuntos diversos relacionados a educação

especial e inclusiva.

Figura 1: Imagem do grupo Práticas Educacionais Inclusivas – turma 7

Fonte: Disponível em<https://www.facebook.com/groups/160990277363888/> .Acesso em 06 jul 2012

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Entretanto, nesta rede social constatou-se uma possível limitação para os

anseios do grupo, que fortalecidos na temática do curso optou para a criação de um

grupo de estudo virtual utilizando como ambiente a ferramenta BLOG.

Assim surge o GEVIPEI (Grupo de Estudo Virtual Práticas Educacionais

Inclusivas) na intenção de incluir todos aqueles dispostos a contribuir com estudos e

discussões que envolvem a educação especial/inclusiva e práticas pedagógicas.

Figura 2: Imgem do GEVIEPI – Grupo de Estudos Virtual – Práticas Educacionais Inclusivas

Fonte: Disponível em: <http://gevipei.blogspot.com.br>. Acesso em 06 jul de 2012

Até o presente momento o ambiente gevipei.blogspot.com.br comporta todas as

necessidades do grupo.

Espera-se que as experiências online advindas desse espaço possam navegar a

outros mares, seja no campo científico, pedagógico e social. O lance é navegar...

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”Um barco que veleje nesse infomar Que aproveite a vazante da infomaré Que leve meu e-mail até Calcutá Depois de um hot-link Num site de Helsinque para abastecer.”

(Música: Pela Internet, Gilberto Gil)

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