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Informativo 558-STJ (19/03 a 06/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Márcio André Lopes Cavalcante Julgado não comentado por ter menor relevância para concursos públicos: REsp 1.478.439-RS. Leia-o ao final deste Informativo se entender necessário. ÍNDICE DIREITO CIVIL RESPONSABILIDADE CIVIL Responsabilidade por ofensas proferidas por internauta e veiculadas em portal de notícias. Ofensas publicadas em blog e necessidade de indicação dos endereços eletrônicos pelo ofendido. LOCAÇÃO DE IMÓVEL URBANO Legitimidade para cobrança de aluguéis vencidos em data anterior à da alienação do imóvel. DIVÓRCIO Desnecessidade de audiência de conciliação ou ratificação na ação de divórcio direto consensual. ADOÇÃO DE MAIORES A adoção de pessoa maior de idade não precisa do consentimento de seu pai biológico. ALIMENTOS Direito a alimentos pelo rompimento de união estável entre pessoas do mesmo sexo. BEM DE FAMÍLIA Possibilidade de penhora de bem de família por má-fé do devedor. DIREITO EMPRESARIAL SOCIEDADE LIMITADA Critérios para a apuração de haveres do sócio retirante de sociedade por quotas de responsabilidade limitada. FALÊNCIA Capacidade processual do falido para a propositura de ação rescisória. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PROCESSO COLETIVO Aplicabilidade do art. 18 da LACP para ação civil pública movida por sindicato. AÇÃO MONITÓRIA Inexigibilidade de recolhimento de custas em embargos à monitória. AÇÃO DE EXIGIR CONTAS Não cabimento em caso de contratos de mútuo e financiamento.

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Informativo 558-STJ (19/03 a 06/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1

Márcio André Lopes Cavalcante

Julgado não comentado por ter menor relevância para concursos públicos: REsp 1.478.439-RS. Leia-o ao final deste Informativo se entender necessário.

ÍNDICE DIREITO CIVIL

RESPONSABILIDADE CIVIL Responsabilidade por ofensas proferidas por internauta e veiculadas em portal de notícias. Ofensas publicadas em blog e necessidade de indicação dos endereços eletrônicos pelo ofendido. LOCAÇÃO DE IMÓVEL URBANO Legitimidade para cobrança de aluguéis vencidos em data anterior à da alienação do imóvel. DIVÓRCIO Desnecessidade de audiência de conciliação ou ratificação na ação de divórcio direto consensual. ADOÇÃO DE MAIORES A adoção de pessoa maior de idade não precisa do consentimento de seu pai biológico. ALIMENTOS Direito a alimentos pelo rompimento de união estável entre pessoas do mesmo sexo. BEM DE FAMÍLIA Possibilidade de penhora de bem de família por má-fé do devedor.

DIREITO EMPRESARIAL

SOCIEDADE LIMITADA Critérios para a apuração de haveres do sócio retirante de sociedade por quotas de responsabilidade limitada. FALÊNCIA Capacidade processual do falido para a propositura de ação rescisória.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

PROCESSO COLETIVO Aplicabilidade do art. 18 da LACP para ação civil pública movida por sindicato. AÇÃO MONITÓRIA Inexigibilidade de recolhimento de custas em embargos à monitória. AÇÃO DE EXIGIR CONTAS Não cabimento em caso de contratos de mútuo e financiamento.

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DIREITO PENAL

PENA DE MULTA Súmula 521-STJ: A legitimidade para a execução fiscal de multa pendente de pagamento imposta em sentença

condenatória é exclusiva da Procuradoria da Fazenda Pública. Legitimidade do MP para promover medida que garanta o pagamento de multa penal. FALSA IDENTIDADE Súmula 522-STJ: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica, ainda que em

situação de alegada autodefesa.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

ARQUIVAMENTO DE PROCEDIMENTO INVESTIGATIVO Inaplicabilidade do art. 28 do CPP nos procedimentos investigativos que tramitem originariamente no STJ. EXECUÇÃO PENAL Súmula 520-STJ: O benefício de saída temporária no âmbito da execução penal é ato jurisdicional insuscetível de

delegação à autoridade administrativa do estabelecimento prisional.

DIREITO TRIBUTÁRIO

LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA FEDERAL Impossibilidade de exigência concomitante da multa isolada e da multa de ofício previstas no art. 44 da Lei 9.430/96. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O FGTS A contribuição social do art. 1º da LC 110/2001 continua em vigor.

DIREITO CIVIL

RESPONSABILIDADE CIVIL Responsabilidade por ofensas proferidas por internauta e veiculadas em portal de notícias

A sociedade empresária gestora de portal de notícias que disponibilize campo destinado a comentários de internautas terá responsabilidade solidária por comentários postados nesse campo que, mesmo relacionados à matéria jornalística veiculada, sejam ofensivos a terceiro e que tenham ocorrido antes da entrada em vigor do Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.352.053-AL, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 24/3/2015 (Info 558).

Imagine a seguinte situação hipotética: Determinada empresa jornalística possui um portal de notícias na internet. Certo dia, foi publicada uma reportagem no portal sobre um político da cidade. No site, havia um campo para que os leitores publicassem seus comentários e, após essa reportagem, vários internautas postaram mensagens ofendendo a honra desse político. Ao tomar conhecimento desses comentários, o político ajuizou ação de danos morais contra a empresa jornalística, alegando que o portal tinha responsabilidade civil por esses comentários publicados em seu site e que eles ofenderam sua honra. Após ser citada, a empresa jornalística retirou os comentários do site. A controvérsia, portanto, diz respeito à responsabilidade civil dos provedores de internet por mensagens postadas por terceiros em seu site.

Espécies de provedores Existem diversas classificações a respeito dos provedores de internet. Destaco aqui duas que são importantes para o presente tema:

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a) Provedores de INFORMAÇÃO b) Provedores de CONTEÚDO

São aqueles que produzem as informações divulgadas na Internet. São os autores de escritos postados na internet. Ex: alguém que publica um texto seu em um blog.

São aqueles que disponibilizam na internet as informações criadas ou desenvolvidas pelos provedores de informação. Como exemplos desta espécie podemos citar os mantenedores de sites de relacionamento na internet (Facebook®, Instagram®, Twitter® etc.).

Os provedores de informação possuem responsabilidade civil pelas matérias por ele divulgadas (REsp 1381610/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 03/09/2013).

Em regra, os provedores de conteúdo não possuem responsabilidade civil pelas mensagens postadas diretamente pelos usuários, salvo se não providenciarem a exclusão do conteúdo ofensivo, após notificação (REsp 1338214/MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 21/11/2013).

No caso em tela, o referido portal de notícia enquadra-se como provedor de informação ou provedor de conteúdo?

Quanto à matéria jornalística divulgada no site: ele se enquadra como provedor de informação;

Quanto às postagens feitas pelos usuários: ele se amolda como provedor de conteúdo. Na situação concreta, o portal de notícia deverá responder civilmente pelos comentários ofensivos que foram publicados? SIM. A sociedade empresária gestora de portal de notícias que disponibilize campo destinado a comentários de internautas terá responsabilidade solidária por comentários postados nesse campo que, mesmo relacionados à matéria jornalística veiculada, sejam ofensivos a terceiro. Mas neste caso, o portal de notícia não era mero provedor de conteúdo quanto aos comentários dos leitores? SIM. Ele era provedor de conteúdo. No entanto, mesmo assim o STJ afirmou que deveria haver a indenização porque o caso em análise trazia uma particularidade: o provedor de conteúdo era também um portal de notícias, ou seja, uma sociedade cuja atividade é precisamente o fornecimento de informações a um vasto público consumidor. Essa particularidade diferencia o presente caso daqueles outros julgados pelo STJ, em que o provedor de conteúdo era empresa da área da informática, como a Google®, o Facebook®, a Microsoft® etc. Não é razoável exigir que empresas de informática controlem o conteúdo das postagens efetuadas pelos usuários de seus serviços ou aplicativos. Todavia, tratando-se de uma sociedade que desenvolve atividade jornalística, o controle do potencial ofensivo dos comentários não apenas é viável, como necessário, por ser atividade inerente ao objeto da empresa. Ademais, é fato notório, nos dias de hoje, que as redes sociais contêm um verdadeiro inconsciente coletivo que faz com que as pessoas escrevam mensagens, sem a necessária reflexão prévia, falando coisas que normalmente não diriam. Isso exige um controle por parte de quem é profissional da área de comunicação, que tem o dever de zelar para que o direito de crítica não ultrapasse o limite legal consistente no respeito à honra, à privacidade e à intimidade da pessoa criticada. Assim, a ausência de qualquer controle, prévio ou posterior, configura defeito do serviço, uma vez que se trata de relação de consumo.

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Ressalte-se que o ponto nodal não é apenas a efetiva existência de controle editorial, mas a viabilidade de ele ser exercido. Consequentemente, a sociedade empresária deve responder solidariamente pelos danos causados à vítima das ofensas morais, que, em última análise, é um bystander, por força do disposto no art. 17 do CDC.

No caso explicado acima, foi aplicada a Lei n. 12.965/2014 (Marco Civil da Internet)?

NÃO. O marco civil da Internet (Lei n. 12.965/2014) não pode ser aplicado para a situação acima narrada, porque os fatos ocorreram antes de sua entrada em vigor.

RESPONSABILIDADE CIVIL Ofensas publicadas em blog e necessidade de indicação dos endereços eletrônicos pelo ofendido

Na hipótese em que tenham sido publicadas, em um blog, ofensas à honra de alguém, incumbe ao ofendido que pleiteia judicialmente a identificação e rastreamento dos autores das referidas ofensas (e não ao provedor de hospedagem do blog) a indicação específica dos URLs das páginas onde se encontram as mensagens.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.274.971-RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 19/3/2015 (Info 558).

Imagine a seguinte situação adaptada: Foram publicados diversos artigos e comentários ofensivos contra João em um blog hospedado pelo provedor Blogger®, pertencente ao grupo Google®. João ajuizou ação pedindo que a empresa Google® identificasse e rastreasse os autores dos artigos e comentários ofensivos. Ocorre que no referido blog havia vários artigos e comentários sobre diversos assuntos, de vários autores diferentes e o requerente não informou quais seriam aqueles que ele reputou ofensivos. O Google® respondeu afirmando que, para atender a ordem, precisaria que o autor indicasse, de forma específica, os URLs (endereços na rede) das páginas onde se encontram as mensagens.

O STJ concordou com a exigência do Google®? SIM. Para o STJ, na hipótese em que tenham sido publicadas, em um blog, ofensas à honra de alguém, incumbe ao ofendido que pleiteia judicialmente a identificação e rastreamento dos autores das referidas ofensas (e não ao provedor de hospedagem do blog) a indicação específica dos URLs das páginas onde se encontram as mensagens. Os blogs são páginas na internet cuja estrutura possibilita a rápida e constante atualização mediante acréscimo dos denominados posts (comentários, artigos). Essas páginas são hospedadas por provedores, que não exercem controle sobre os conteúdos das páginas criadas e operadas pelos usuários. Não cabe ao provedor de hospedagem localizar os artigos ofensivos à honra do ofendido, fazer juízo prévio para fornecer-lhe os dados requeridos, tais como IPs e outros. Cabe ao interessado informar o respectivo URL (“Universal Resource Locator”, isto é, o localizador universal de recursos) em que se encontram os artigos/posts cujo conteúdo se considera lesivo. Sem essa individualização, a providência do provedor se assemelharia a um rastreamento, ficando ao seu arbítrio o apontamento de interesses exclusivos do ofendido, podendo, inclusive, envolver terceiras pessoas com quem não tem relação alguma ou que não sejam responsáveis pelo que pretende o ofendido. Deve o ofendido, portanto, realizar a indicação específica dos URLs das páginas onde se encontra a mensagem considerada ofensiva, sem os quais não é possível ao provedor de hospedagem de blogs localizar, com segurança, determinada mensagem considerada ofensiva.

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LOCAÇÃO DE IMÓVEL URBANO Legitimidade para cobrança de aluguéis vencidos em data anterior à da alienação do imóvel

O proprietário de um imóvel alugado vende este bem para outra pessoa. Se houver alugueis atrasados, quem tem legitimidade para cobrá-los: o antigo ou o novo proprietário?

Em regra, o antigo. O antigo proprietário (alienante) tem legitimidade para cobrar os aluguéis que tenham vencido em data anterior à alienação do imóvel.

O novo proprietário (adquirente) só terá direito sobre tais parcelas caso tenha ficado previsto no contrato de compra e venda do imóvel essa cessão do crédito.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.228.266-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 10/3/2015 (Info 558).

Imagine a seguinte situação hipotética: João era proprietário de uma sala comercial. Em 02/02/2012, João alugou a sala para um dentista. Vale ressaltar que o dentista (locatário) sempre cumpriu regularmente suas obrigações, com exceção dos meses de junho, julho e agosto de 2012, período em relação ao qual ele não pagou os alugueis. Em 03/03/2013, João vendeu a sala para Pedro. Alguns dias depois, João ingressou com ação de execução contra o dentista cobrando os três meses de aluguel atrasados referentes ao ano de 2012. O executado se defendeu afirmando que João não tinha mais legitimidade ativa para cobrar os alugueis. Segundo sustentou o devedor, o adquirente do imóvel locado assume, por sub-rogação, a posição do locador, com todos os direitos e deveres que lhe são inerentes. Logo, quem teria legitimidade para cobrar o valor seria o novo proprietário (Pedro) e não o antigo (João). A tese do executado está correta? Quem tem direito aos aluguéis referentes a esses três meses? NÃO, a tese não está correta. O antigo proprietário (alienante) tem sim legitimidade para cobrar os aluguéis que tenham vencido em data anterior à alienação do imóvel. O novo proprietário (adquirente) só terá direito sobre tais parcelas caso tenha ficado previsto no contrato de compra e venda do imóvel essa cessão do crédito. O contrato de locação é uma relação jurídica de cunho obrigacional, pessoal, constituída entre o locador e o locatário, em que o primeiro transfere ao segundo a posse direta do imóvel para uso. Já o contrato de compra e venda celebrado posteriormente entre o proprietário (locador) e o terceiro estabelece um novo negócio jurídico, que não vincula, por si só, o adquirente do imóvel ao locatário, tendo em vista que não foi ele quem contratou a locação, e sim o locador (vendedor), que deixou de ser proprietário da coisa. Além disso, a alienação do imóvel não altera a relação obrigacional entre o locatário e o locador no período anterior à venda do imóvel. Sendo assim, o locatário se tornará obrigado perante o novo proprietário somente após a venda, por força

de sub-rogação legal, nos termos do art. 8º, § 2º, da Lei n. 8.245/1991.

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DIVÓRCIO Desnecessidade de audiência de conciliação ou ratificação na ação de divórcio direto consensual

O art. 1.122 do CPC 1973 c/c o art. 40, § 2º da Lei 6.515/77 previam a necessidade de ser realizada audiência de conciliação ou ratificação antes de o juiz decretar o divórcio consensual.

Esse dispositivo deve sofrer uma releitura por força da EC 66/2010.

A EC 66/2010 (conhecida como “Emenda do Divórcio”) alterou a redação do art. 226, § 6º da CF/88, eliminando os prazos para a concessão do divórcio e afastando a necessidade de que seja discutida culpa, dispensando que sejam debatidas as causas que geraram o fim da união. Atualmente, se as partes querem se divorciar, não cabe ao juiz convencê-las do contrário. Passa a ter vez no Direito de Família a figura da intervenção mínima do Estado. O divórcio passou a ser agora efetivamente direto.

Por força da alteração constitucional, a leitura que deve ser feita agora do art. 1.122 do CPC é a seguinte: não será necessária audiência com os autores do pedido de divórcio consensual quando o magistrado tiver condições de aferir a firme disposição dos cônjuges em se divorciarem, bem como de atestar que as demais formalidades foram atendidas.

Dito de outro modo, só será designada a audiência de que trata o art. 1.122 do CPC 1973 em caso de dúvida sobre a real intenção das partes de se divorciarem. Não havendo dúvidas, não tem sentido a realização do ato. A audiência de conciliação ou ratificação passou a ter apenas cunho eminentemente formal, sem nada produzir, não havendo nenhuma questão relevante de direito a se decidir.

Obs: seguindo a linha de raciocínio acima exposta, o CPC 2015 não exige a realização de audiência antes da decretação do divórcio consensual. O tema é tratado nos arts. 731 a 733.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.483.841-RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 17/3/2015 (Info 558).

Imagine a seguinte situação hipotética: João e Maria eram casados, mas há muitos anos que não viviam juntos, razão pela qual decidiram se divorciar e, para isso, ingressaram com ação de divórcio consensual. Diante da ausência de qualquer divergência entre os autores, o juiz da vara de família entendeu que era dispensável a realização de audiência para tentativa de reconciliação do casal (chamada de audiência de ratificação) e sentenciou o feito decretando o divórcio. O Promotor de Justiça que intervinha no processo não concordou e recorreu da sentença alegando que o

art. 40, § 2º, da Lei n. 6.515/77 determina que o procedimento aplicável para o divórcio consensual é aquele previsto nos arts. 1.120 a 1.124 do CPC 1973. O art. 1.122 do CPC 1973, por sua vez, afirma que é obrigatória a realização de audiência para ouvir o casal. Confira os dispositivos mencionados:

Art. 40 (...) § 2º - No divórcio consensual, o procedimento adotado será o previsto nos artigos 1.120 a 1.124 do Código de Processo Civil, observadas, ainda, as seguintes normas: (...)

Art. 1.122. Apresentada a petição ao juiz, este verificará se ela preenche os requisitos exigidos nos dois artigos antecedentes; em seguida, ouvirá os cônjuges sobre os motivos da separação consensual, esclarecendo-lhes as consequências da manifestação de vontade.

Em suma, o MP alegou que a audiência de ratificação continua sendo obrigatória no divórcio consensual por estar prevista no art. 1.122 do CPC 1973 e que ela não pode ser dispensada em nenhuma hipótese. O STJ concordou com a tese do MP? NÃO. Na ação de divórcio direto consensual, é possível a imediata homologação do divórcio, sendo dispensável a realização de audiência de conciliação ou ratificação (art. 1.122 do CPC 1973) quando o magistrado tiver condições de aferir a firme disposição dos cônjuges em se divorciarem, bem como de atestar que as demais formalidades foram atendidas.

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Mas e o art. 1.122 do CPC 1973? Esse dispositivo deve sofrer uma releitura por força da EC 66/2010. A EC 66/2010 (conhecida como “Emenda do Divórcio”) alterou a redação do art. 226, § 6º, da CF/88, suprimindo os prazos de um ano de separação judicial e de dois anos de separação de fato no divórcio. Além disso, a doutrina defende que, ao não exigir mais qualquer requisito em seu texto, o novo § 6º também proíbe qualquer discussão sobre culpa para fins de conceder ou não o divórcio. Compare as duas redações:

Antes da EC 66/2010 DEPOIS da EC 66/2010

§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano nos casos expressos em lei, ou comprovada separação de fato por mais de dois anos.

§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio.

Assim, a EC 66/2010 eliminou os prazos para a concessão do divórcio e afastou a necessidade de que seja discutida culpa, dispensando que sejam debatidas as causas que geraram o fim da união. Isso não importa mais. Se as partes querem se divorciar, não cabe ao juiz convencê-las do contrário. Passa a ter vez no Direito de Família a figura da intervenção mínima do Estado, como deve ser. Não deve o magistrado expor desnecessária e vexatoriamente a intimidade do casal. Criou-se, dessa forma, nova figura totalmente dissociada do divórcio anterior. O divórcio passou a ser agora efetivamente direto. Conclui-se, portanto, que o art. 1.122 do CPC 1973, ao exigir uma audiência de ratificação antes de conceder o divórcio direto consensual, passou a ter redação conflitante com o novo entendimento acima exposto, segundo o qual não mais existem os antigos requisitos para divórcio. Na ação de divórcio consensual direto, atualmente, não há causa de pedir, inexiste necessidade de os autores declinarem o fundamento do pedido, cuidando-se de simples exercício de um direito potestativo. Portanto, a leitura que deve ser feita agora do art. 1.122 do CPC é a seguinte: não será necessária audiência com os autores do pedido de divórcio consensual quando o magistrado tiver condições de aferir a firme disposição dos cônjuges em se divorciarem, bem como de atestar que as demais formalidades foram atendidas. Dito de outro modo, só será designada a audiência de que trata o art. 1.122 do CPC 1973 em caso de dúvida sobre a real intenção das partes de se divorciarem. Não havendo dúvidas, não tem sentido a realização do ato. A audiência de conciliação ou ratificação passou a ter apenas cunho eminentemente formal, sem nada produzir, não havendo nenhuma questão relevante de direito a se decidir.

Os artigos da Lei n. 6.515/77 e do CPC 1973 devem ser interpretados segundo a nova ordem constitucional e a ela se adequar. Como fica o tema no novo CPC? Seguindo a linha de raciocínio acima exposta, o CPC 2015 não exige a realização de audiência antes da decretação do divórcio consensual. O tema é tratado nos arts. 731 a 733.

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ADOÇÃO DE MAIORES A adoção de pessoa maior de idade não precisa do consentimento de seu pai biológico

Imagine que André foi abandonado, ainda criança, pelo seu pai biológico (João), tendo sido criado por Bento, quem considera seu verdadeiro pai.

Quando André atinge a maioridade, Bento ajuíza ação para adotar o rapaz.

João (pai biológico) apresenta contestação, não concordando com a adoção, e invocando o caput do art. 45 do ECA: “A adoção depende do consentimento dos pais ou do representante legal do adotando.”

O simples fato de o pai biológico não concordar com a adoção de seu filho maior de 18 anos é motivo suficiente para impedir que ela aconteça? Aplica-se ao caso o caput do art. 45 do ECA?

NÃO. Estabelecida uma relação jurídica paterno-filial (vínculo afetivo) entre o adotante e o adotando, a adoção de pessoa maior não pode ser refutada pelo pai biológico que abandonou o filho, a menos que ele apresente uma justa causa.

A adoção de pessoas maiores de 18 anos é regida pelo ECA. No entanto, no caso, não se aplica a exigência do caput do art. 45 do ECA porque o § 1º do mesmo artigo afirma que esse consentimento do pai é dispensado caso ele tenha sido destituído do poder familiar. O poder familiar termina quando o filho atinge a maioridade. Logo, sendo André maior que 18 anos, João não mais tem poder familiar sobre ele, não sendo necessário seu consentimento para a adoção.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.444.747-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 17/3/2015 (Info 558).

Imagine a seguinte situação adaptada: André é filho biológico e registral de João. Ocorre que o pai, logo nos primeiros meses de vida do filho, o abandonou, nunca tendo lhe dado afeto ou assistência material. A mãe de André casou-se, então, com Bento e este cuidou da criança como se fosse seu filho. No aniversário de 20 anos de André, Bento falou que gostaria de ser seu pai também “no papel”. No dia seguinte, Bento procurou a Defensoria Pública e explicou a situação.

Qual medida jurídica foi proposta? Bento, por intermédio da Defensoria Pública, ajuizou “ação de adoção de maior de idade cumulada com pedido de destituição do vínculo paterno” em favor de André (adotando) e em desfavor de João (pai biológico de André).

O que o réu alegou na contestação? João argumentou que não se afastou do filho por vontade própria, mas sim porque era muito jovem à época e que teve que se mudar para outra cidade por questões de trabalho. Afirmou que pretende retomar o relacionamento com André. Por fim, o réu alegou que, sem o seu consentimento, a adoção não poderia ser deferida por expressa vedação legal, conforme disposto no art. 1.619 do CC c/c o art. 45, do ECA. Confira os dispositivos citados:

Art. 1.619. A adoção de maiores de 18 (dezoito) anos dependerá da assistência efetiva do poder público e

de sentença constitutiva, aplicando-se, no que couber, as regras gerais da Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente.

Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais ou do representante legal do adotando.

A tese do réu (pai biológico) foi aceita? NÃO. Estabelecida uma relação jurídica paterno-filial (vínculo afetivo) entre o adotante e o adotando, a adoção de pessoa maior não pode ser refutada pelo pai biológico que abandonou o filho, a menos que ele apresente uma justa causa. No caso concreto, o STJ entendeu que não havia justa causa nos argumentos do réu.

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Informativo 558-STJ (19/03 a 06/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9

Mas o art. 45 do ECA não exige consentimento dos pais? Vamos por partes. A adoção de pessoas maiores de 18 anos é regida pelo ECA, no que couber, já que o Código Civil trata do tema em apenas um único dispositivo (art. 1.619 do CC). Lendo o ECA, encontra-se a regra prevista no caput do art. 45 exigindo o consentimento dos pais para a adoção:

Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais ou do representante legal do adotando.

Ocorre que o § 1º traz uma hipótese de dispensa do consentimento:

§ 1º O consentimento será dispensado em relação à criança ou adolescente cujos pais sejam desconhecidos ou tenham sido destituídos do poder familiar.

No caso concreto, o pai biológico (João) não mais exerce poder familiar sobre seu filho (André) porque este é maior de 18 anos e o poder familiar extingue-se pela maioridade (art. 1.635, III do CC). Logo, não se aplica a regra do caput do art. 45 do ECA, mas sim a exceção trazida pelo § 1º (destituído do poder familiar). Finalizando Dessa forma, como o direito em discussão está relacionado com interesse individual e disponível de pessoa plenamente capaz e que o exercício da autonomia da vontade do maior de 18 anos não depende mais do consentimento de seus pais ou de seu representante legal, não se aplica o art. 45 do ECA à adoção de maior de idade. Incide, no caso, a regra prevista no art. 48 do ECA:

Art. 48. O adotado tem direito de conhecer sua origem biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo no qual a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, após completar 18 (dezoito) anos.

Assim, sendo possível ao filho maior buscar suas origens biológicas, partindo-se de uma interpretação teleológica desse dispositivo, é possível reconhecer também o direito de afastá-las por definitivo, por meio de adoção quando ele atingir a maioridade.

ALIMENTOS Direito a alimentos pelo rompimento de união estável entre pessoas do mesmo sexo

É juridicamente possível o pedido de alimentos decorrente do rompimento de união estável homoafetiva.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.302.467-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 3/3/2015 (Info 558).

Imagine a seguinte situação adaptada: Pedro e Carlos viviam em união estável homoafetiva há 15 anos, quando decidiram se separar. Ocorre que Pedro está severamente doente e não tem muitos recursos financeiros, enquanto que Carlos apresenta boas condições materiais. Diante disso, Pedro ajuizou ação de alimentos contra Carlos pedindo o pagamento de pensão alimentícia, nos termos do art. 1.694 do CC:

Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.

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O pedido de Pedro encontra amparo no ordenamento jurídico? É possível a prestação de alimentos em caso de rompimento de união estável homoafetiva? SIM. É juridicamente possível o pedido de alimentos decorrente do rompimento de união estável homoafetiva. Segue abaixo o resumo dos principais argumentos do Min. Luis Felipe Salomão: Para o STF e o STJ, as uniões estáveis formadas por companheiros do mesmo sexo são juridicamente viáveis e protegidas pela CF/88, com base nos princípios da dignidade da pessoa humana, da igualdade e do repúdio à discriminação de qualquer natureza. O STF, ao interpretar o art. 1.723 do CC à luz da CF/88, afirmou que não se pode impedir o reconhecimento da união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar, entendida esta como sinônimo perfeito de família. Logo, o reconhecimento da união estável homoafetiva deve ser feito segundo as mesmas regras e com as mesmas consequências da união estável heteroafetiva (ADPF 132/RJ e ADI 4.277/DF). A legislação que regula a união estável deve ser interpretada de forma expansiva e igualitária, permitindo que as uniões homoafetivas tenham o mesmo regime jurídico protetivo conferido aos casais heterossexuais, trazendo efetividade e concreção aos princípios da dignidade da pessoa humana, da não discriminação, igualdade, liberdade, solidariedade, autodeterminação, proteção das minorias, busca da felicidade e ao direito fundamental e personalíssimo à orientação sexual. A igualdade e o tratamento isonômico supõem o direito a ser diferente, o direito à autoafirmação e a um projeto de vida independente de tradições e ortodoxias, sendo o alicerce jurídico para a estruturação do direito à orientação sexual como direito personalíssimo, atributo inseparável e incontestável da pessoa humana. Em suma: o direito à igualdade somente se realiza com plenitude se for garantido o direito à diferença. Como a união estável homoafetiva é entidade familiar, não há como afastar da relação de pessoas do mesmo sexo a obrigação de sustento e assistência técnica, protegendo-se, em última análise, a própria sobrevivência do mais vulnerável dos parceiros. O direito a alimentos do companheiro que se encontra em situação precária e de vulnerabilidade assegura o mínimo existencial, com a preservação da dignidade do indivíduo. O projeto de vida advindo do afeto, nutrido pelo amor, solidariedade, companheirismo, alcança também o amparo material dos componentes da união, até porque os alimentos não podem ser negados a pretexto de uma preferência sexual diversa.

BEM DE FAMÍLIA Possibilidade de penhora de bem de família por má-fé do devedor

A renúncia ao bem de família é válida? O devedor pode oferecer seu bem de família para ser penhorado?

Em regra, NÃO. O STJ possui diversos julgados afirmando que a proteção conferida ao instituto de bem de família pela Lei 8.009/90 é uma norma cogente, uma questão de ordem pública. Logo, não se admite que o titular desse benefício renuncie à sua proteção.

Exceção: não se deve desconstituir a penhora de imóvel sob o argumento de se tratar de bem de família na hipótese em que, mediante acordo homologado judicialmente, o executado tenha pactuado com o exequente a prorrogação do prazo para pagamento e a redução do valor de

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dívida que contraíra em benefício da família, oferecendo o imóvel em garantia e renunciando expressamente ao oferecimento de qualquer defesa, de modo que, descumprido o acordo, a execução prosseguiria com a avaliação e praça do imóvel.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.461.301-MT, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 5/3/2015 (Info 558).

Imagine a seguinte situação hipotética: João fez um empréstimo de R$ 300 mil com o banco “XXX” para reformar a casa em que vivia com a família e, como garantia, assinou notas promissórias. Como o débito não foi pago, o banco ajuizou execução por título extrajudicial contra o devedor. No curso do processo, foi celebrado acordo, homologado pelo juiz, por meio do qual o devedor propôs o pagamento da dívida em valor inferior ao cobrado e, em contrapartida, o banco pediu que ficasse penhorada a casa em que João morava com sua família como garantia. Ocorre que João descumpriu o acordo e não pagou aquilo que foi combinado, razão pela qual o credor requereu o prosseguimento do feito com a alienação do bem penhorado. O devedor, por sua vez, pediu a desconstituição da penhora incidente sobre o imóvel residencial, argumentando tratar-se de bem de família e, portanto, impenhorável. A renúncia ao bem de família é válida? O devedor pode oferecer seu bem de família para ser penhorado?

REGRA: NÃO. O STJ possui diversos julgados afirmando que a proteção conferida ao instituto de bem de família pela Lei

n. 8.009/90 é uma norma cogente, uma questão de ordem pública. Logo, não se admite que o titular desse benefício renuncie à sua proteção. Nesse sentido: STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 537.034/MS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 26/08/2014. Assim, em regra, a jurisprudência do STJ entende que o bem de família é impenhorável, mesmo quando indicado à constrição pelo próprio devedor. EXCEÇÃO: Na hipótese acima narrada, o STJ entendeu que a situação em exame apresenta certas peculiaridades que tornam válida a renúncia. Com efeito, no caso em análise, o executado agiu em descompasso com o princípio nemo venire contra factum proprium, adotando comportamento contraditório, num momento ofertando o bem à penhora e, no instante seguinte, arguindo a impenhorabilidade do mesmo bem, o que evidencia a ausência de boa-fé. Essa conduta antiética deve ser coibida, sob pena de desprestígio do próprio Poder Judiciário, que validou o acordo celebrado.

Se, por um lado, é verdade que a Lei n. 8.009/90 veio para proteger o núcleo familiar, resguardando-lhe a moradia, não é menos correto afirmar que aquele diploma legal não pretendeu estimular o comportamento dissimulado. Como se trata de acordo judicial celebrado nos próprios autos da execução, a garantia somente podia ser constituída mediante formalização de penhora incidente sobre o bem. Nada impedia, no entanto, que houvesse a celebração do pacto por escritura pública, com a constituição de hipoteca sobre o imóvel e posterior juntada aos autos com vistas à homologação judicial. Se tivesse ocorrido dessa forma, seria plenamente válida a penhora sobre o bem em razão da exceção à impenhorabilidade prevista no inciso V do art. 3º da Lei 8.009/1990, não existindo, portanto, nenhuma diferença substancial entre um ato e outro no que interessa às partes. Acrescente-se, finalmente, que a decisão homologatória do acordo tornou preclusa a discussão da matéria, de forma que o mero inconformismo do devedor contra uma das cláusulas pactuadas, manifestado tempos depois, quando já novamente inadimplentes, não tem força suficiente para tornar ineficaz a avença. Dessa forma, não se pode permitir, em razão da boa-fé que deve reger as relações jurídicas, a desconstituição da penhora, sob pena de desprestígio do próprio Poder Judiciário.

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DIREITO EMPRESARIAL

SOCIEDADE LIMITADA Critérios para a apuração de haveres do sócio retirante de

sociedade por quotas de responsabilidade limitada

Ocorre a dissolução parcial da sociedade limitada quando um ou alguns dos sócios saem da sociedade, mas ela é preservada e continua suas atividades.

Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o direito de retirada (direito de recesso, direito de denúncia), ou seja, é a saída do sócio por iniciativa própria. Ele simplesmente não quer mais fazer parte daquela sociedade.

Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no patrimônio social, continuando a sociedade em relação aos demais sócios.

O cálculo do valor devido ao sócio que deixa a sociedade é feito por meio de um procedimento denominado de APURAÇÃO DE HAVERES.

Qual é o critério adotado para se fazer a apuração de haveres do sócio retirante?

SEGUNDO O ENTENDIMENTO DO STJ:

• O contrato social pode prever o critério para a apuração dos haveres do sócio retirante no caso de dissolução parcial de sociedade limitada;

• No entanto, o critério previsto no contrato social somente prevalecerá se houver consenso entre as partes quanto ao resultado alcançado;

• Caso não haja concordância entre as partes, deve-se aplicar o “balanço de determinação”, que é o critério que melhor reflete o valor patrimonial da empresa;

• O fluxo de caixa descontado, por representar a metodologia que melhor revela a situação econômica e a capacidade de geração de riqueza de uma empresa, pode ser aplicado juntamente com o balanço de determinação na apuração de haveres do sócio dissidente.

SEGUNDO O CPC 2015:

A primeira opção no caso de apuração dos haveres é adotar o critério previsto no contrato social (art. 604, II).

Somente se o contrato social for omisso, ou seja, apenas se ele não previr um critério de apuração de haveres, é que será adotado o “balanço de determinação” (art. 606).

Enquanto o novo CPC não entra em vigor, fique com o entendimento do STJ. Após março de 2016, o mais seguro é assinalar nos concursos a redação literal do art. 606, que irá ser bastante cobrado nas provas.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.335.619-SP, Rel. originária e voto vencedor Min. Nancy Andrighi, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 3/3/2015 (Info 558).

Dissolução de uma sociedade: A dissolução de uma sociedade pode ser: a) Parcial: quando um ou alguns dos sócios saem da sociedade, mas ela é preservada. b) Total: quando a sociedade é extinta. Dissolução parcial de sociedade: Ocorre, portanto, quando um ou alguns se desligam da sociedade, mas ela continua existindo. A isso também se dá o nome de “liquidação parcial da sociedade”.

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Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o direito de retirada (direito de recesso, direito de denúncia), ou seja, é a saída do sócio por iniciativa própria. Ele simplesmente não quer mais fazer parte daquela sociedade. Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no patrimônio social, continuando a sociedade em relação aos demais sócios. Apuração de haveres O cálculo do valor devido ao sócio que deixa a sociedade é feito por meio de um procedimento denominado de apuração de haveres e que está previsto no art. 1.031 do CC e no art. 599, III, do CPC 2015.

Art. 1.031. Nos casos em que a sociedade se resolver em relação a um sócio, o valor da sua quota, considerada pelo montante efetivamente realizado, liquidar-se-á, salvo disposição contratual em contrário, com base na situação patrimonial da sociedade, à data da resolução, verificada em balanço especialmente levantado. § 1º O capital social sofrerá a correspondente redução, salvo se os demais sócios suprirem o valor da quota. § 2º A quota liquidada será paga em dinheiro, no prazo de noventa dias, a partir da liquidação, salvo acordo, ou estipulação contratual em contrário.

Critérios para a apuração de haveres do sócio retirante A tarefa de calcular o valor que será pago ao sócio que deixa a sociedade, na maioria das vezes, não é algo simples, especialmente em se tratando de sociedades limitadas de grande porte. Existem diversos critérios e metodologias para se calcular esse valor, sendo necessária, na maior parte dos casos, uma perícia contábil para se apurar a quantia efetivamente devida. Critério previsto no contrato social Os critérios para a apuração de haveres do sócio retirante estão previstos, normalmente, no próprio contrato social. No entanto, mesmo que o contrato social eleja o critério para a apuração de haveres, esses parâmetros somente prevalecerão caso haja a concordância das partes (inclusive do sócio que está saindo) com o resultado alcançado. Em outras palavras, se o sócio retirante não concordar com o resultado obtido pela aplicação do critério de apuração de haveres previsto no contrato social, será permitido que ele proponha ação judicial a fim de que seja determinada a melhor metodologia de liquidação. Essa ação é denominada de “ação de dissolução parcial de sociedade” e, apesar de sempre ter sido utilizada na prática, somente agora passou a ser disciplinada pela lei, estando prevista nos arts. 599 a 609 do CPC 2015. Pode-se dizer, portanto, que esse tema é uma das novidades do novo CPC. Obs: quando o CPC 2015 estiver em vigor, não deixe de ler os arts. 599 a 609 do novo Código porque eles serão obrigatoriamente cobrados nas provas de Direito Empresarial. Por enquanto, não é necessário. Qual é o melhor critério de liquidação de haveres? Para o STJ, o melhor critério de liquidação de haveres é o chamado “balanço de determinação”. O balanço de determinação é um balanço patrimonial especial, elaborado por perito contábil, por meio do qual se calcula o valor patrimonial real da empresa. Em linhas simples, o valor patrimonial da empresa é obtido dividindo-se o patrimônio líquido da sociedade pelo número de quotas dos sócios. O valor do patrimônio líquido, por sua vez, irá variar conforme o critério adotado para elaboração do balanço. Por isso, na dissolução parcial, deve-se utilizar um levantamento do balanço que confira ao patrimônio líquido – e, por conseguinte, ao valor patrimonial – um valor real. Esse balanço é justamente o balanço de determinação. O balanço de determinação utiliza um critério diferenciado de avaliação do ativo, que permite uma apuração fiel do patrimônio líquido, baseia-se no valor de mercado, correspondendo a uma simulação da realização de todos os bens do ativo e da satisfação do passivo social, com vistas a apurar qual seria o

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acervo líquido da sociedade se ela estivesse sendo totalmente dissolvida naquela data. O fluxo de caixa descontado, por representar a metodologia que melhor revela a situação econômica e a capacidade de geração de riqueza de uma empresa, pode ser aplicado juntamente com o balanço de determinação na apuração de haveres do sócio dissidente. Desse modo, o entendimento atual do STJ é o seguinte:

O contrato social pode prever o critério para a apuração dos haveres do sócio retirante no caso de dissolução parcial de sociedade limitada;

O critério previsto no contrato social somente prevalecerá se houver consenso entre as partes quanto ao resultado alcançado;

Caso não haja concordância entre as partes, deve-se aplicar o “balanço de determinação”, que é o critério que melhor reflete o valor patrimonial da empresa.

O fluxo de caixa descontado, por representar a metodologia que melhor revela a situação econômica e a capacidade de geração de riqueza de uma empresa, pode ser aplicado juntamente com o balanço de determinação na apuração de haveres do sócio dissidente.

E com o CPC 2015: O CPC 2015 reforça a ideia de que a primeira opção no caso de apuração dos haveres é adotar o critério previsto no contrato social. Veja o que diz o art. 604, II:

Art. 604. Para apuração dos haveres, o juiz: I - fixará a data da resolução da sociedade; II - definirá o critério de apuração dos haveres à vista do disposto no contrato social; e III - nomeará o perito.

Pela redação literal do novo CPC, somente se o contrato social for omisso, ou seja, apenas se ele não previr um critério de apuração de haveres, é que seria adotado o “balanço de determinação”. Confira:

Art. 606. Em caso de omissão do contrato social, o juiz definirá, como critério de apuração de haveres, o valor patrimonial apurado em balanço de determinação, tomando-se por referência a data da resolução e avaliando-se bens e direitos do ativo, tangíveis e intangíveis, a preço de saída, além do passivo também a ser apurado de igual forma. Parágrafo único. Em todos os casos em que seja necessária a realização de perícia, a nomeação do perito recairá preferencialmente sobre especialista em avaliação de sociedades.

Enquanto o novo CPC não entra em vigor, fique com o entendimento do STJ. Após março de 2016, o mais seguro é assinalar nos concursos a redação literal do art. 606, que irá ser cobrado à exaustão nas provas.

FALÊNCIA Capacidade processual do falido para a propositura de ação rescisória

O falido poderá propor ação rescisória para desconstituir a sentença que decretou a falência?

SIM. O falido tem capacidade para propor ação rescisória para desconstituir a sentença transitada em julgado que decretou a sua falência.

Depois que é decretada a falência, a sociedade empresária falida não mais possui personalidade jurídica e não poderá postular, em nome próprio, direitos da massa falida, nem mesmo em caráter extraordinário. Diz-se que ela sofre uma capitis diminutio (diminuição de sua capacidade) referente aos direitos patrimoniais envolvidos na falência, sendo afastada da administração dos seus bens. Sendo assim, num processo em que se discuta, por exemplo, a

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venda desses bens, o falido apenas poderia acompanhá-lo como assistente. Ele não poderia, portanto, tomar a iniciativa das ações com relação a bens da massa.

No entanto, no caso em que se pretenda rescindir decisão que decreta falência, a situação é diferente. Nesse caso, nem a massa nem os credores têm interesse na desconstituição da decretação de falência. Realmente, o falido é o único interessado. Por isso, se a legitimidade deste para propor a rescisão do decreto falimentar fosse retirada, ele ficaria eternamente falido, ainda que injustamente, ainda que contrariamente à ordem legal.

Desse modo, o STJ entende que o falido mantém a legitimidade para a propositura de ações pessoais, podendo, inclusive, ajuizar ação rescisória para tentar reverter o decreto falimentar.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.126.521-MT, Rel. originário Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 17/3/2015 (Info 558).

Depois que é decretada a falência, o falido poderá propor ações judiciais tratando sobre os bens da massa falida? NÃO. Depois que é decretada a falência, a sociedade empresária falida não mais possui personalidade jurídica e não poderá postular, em nome próprio, direitos da massa falida, nem mesmo em caráter extraordinário. Os direitos e créditos que pertencem à sociedade empresária falida passam a ser de interesse da massa falida e somente podem ser requeridos judicialmente pelo síndico (administrador da massa falida). A sociedade empresária falida tem o direito de fiscalizar a administração da massa falida, mas isso não significa que possa ajuizar ações no lugar da massa falida. O máximo que a sociedade empresária pode fazer é intervir como assistente nas ações em que a massa falida esteja presente. A falência de um empresário ou sociedade empresária é decretada por meio de uma sentença, após processo judicial. Depois de transitada em julgado, é possível a propositura de ação rescisória para desconstituir a sentença que decretou a falência? Esta ação poderá ser proposta pelo falido? SIM. O falido tem capacidade para propor ação rescisória para desconstituir a sentença transitada em julgado que decretou a sua falência. Como vimos na resposta anterior, com a decretação da falência, o falido realmente sofre uma capitis diminutio (diminuição de sua capacidade) referente aos direitos patrimoniais envolvidos na falência, sendo afastado da administração dos seus bens. Sendo assim, num processo em que se discuta, por exemplo, a venda desses bens, o falido apenas poderia acompanhá-lo como assistente. Ele não poderia, portanto, tomar a iniciativa das ações com relação a bens da massa. Entretanto, no caso em que se pretenda rescindir decisão que decreta falência, a situação é diferente. Nesse caso, nem a massa nem os credores têm interesse na desconstituição da decretação de falência. Realmente, o falido é o único interessado. Por isso, se a legitimidade deste para propor a rescisão do decreto falimentar fosse retirada, ele ficaria eternamente falido, ainda que injustamente, ainda que contrariamente à ordem legal. Com efeito, a decisão que decreta a falência, conquanto acarrete ao falido uma capitis diminutio (diminuição da capacidade) em relação aos seus bens, não o torna incapaz, de sorte que ele mantém a legitimidade para a propositura de ações pessoais. Ora, dizer que o falido não pode propor ação rescisória contra o decreto falencial é dar uma extensão que a lei não deu. Desse modo, ele tem todos os poderes processuais e todos os poderes como sujeito de direito para tentar reverter o referido decreto falimentar.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

PROCESSO COLETIVO Aplicabilidade do art. 18 da LACP para ação civil pública movida por sindicato

O art. 18 da Lei 7.347/85 prevê que o autor da ACP, antes de ajuizar a ação, não terá que adiantar custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem será condenado em honorários advocatícios, custas e despesas processuais, salvo comprovada má-fé.

O STJ decidiu que esse art. 18 da Lei 7.347/85 é aplicável também para a ação civil pública movida por SINDICATO na defesa de direitos individuais homogêneos da categoria que representa.

STJ. Corte Especial. EREsp 1.322.166-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 4/3/2015 (Info 558).

Se o Ministério Público, a Defensoria Pública, uma associação ou qualquer outro legitimado for ajuizar uma ação civil pública, antes de propô-la, esse autor precisará recolher custas processuais? NÃO. Com o objetivo de facilitar a propositura de ações coletivas, o legislador isentou o autor da ACP de adiantar as custas processuais afirmando ainda que não haverá condenação em honorários advocatícios,

custas e despesas processuais. Isso está previsto tanto no art. 18 da Lei n. 7.347/85 como no art. 87 do CDC. Veja:

Art. 18. Nas ações de que trata esta lei, não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogado, custas e despesas processuais.

Art. 87. Nas ações coletivas de que trata este Código não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorário de advogados, custas e despesas processuais.

E se o autor for um sindicato? Se um sindicato ajuizar ACP na defesa de direitos individuais homogêneos

da categoria que representa, ele poderá também se valer do art. 18 da Lei n. 7.347/85?

SIM. O art. 18 da Lei n. 7.347/1985 é aplicável à ação civil pública movida por sindicato na defesa de direitos individuais homogêneos da categoria que representa. O STJ entende que é cabível o ajuizamento de ação civil pública em defesa de direitos individuais homogêneos não apenas relacionados com matérias de direito do consumidor, mas também em relação a outros direitos. Assim, deve ser reconhecida a legitimidade do sindicato para ACP em defesa de interesses individuais homogêneos da categoria que representa. Sendo permitido o ajuizamento de ACP, não há

porque não aplicar em favor do sindicato autor o art. 18 da Lei n. 7.347/85, com a isenção de custas.

AÇÃO MONITÓRIA Inexigibilidade de recolhimento de custas em embargos à monitória

Ação monitória é um procedimento especial, previsto no CPC, por meio do qual o credor exige do devedor o pagamento de soma em dinheiro, a entrega de coisa fungível ou a entrega de determinado bem móvel com base em prova escrita que não tem eficácia de título executivo.

Obs: com o CPC de 2015, a ação monitória poderá ser utilizada para exigir a entrega de coisas infungíveis e também para exigir a entrega de bens imóveis, situações que não eram abarcadas pelo antigo Código. Além disso, o CPC 2015 prevê que a ação monitória serve também para exigir que o réu cumpra obrigação de fazer ou não fazer sobre a qual ele está inadimplente.

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O réu citado poderá defender-se das alegações do autor. A defesa na ação monitória é denominada de “embargos à ação monitória”. Os embargos à ação monitória são classificados como uma forma de defesa, sendo semelhante à contestação.

Para que o réu apresente embargos monitórios, ele precisa pagar previamente as custas?

NÃO. Não se exige o recolhimento de custas iniciais para oferecer embargos à ação monitória. Isso porque os embargos à monitória têm natureza jurídica de defesa. Vimos acima que é como se fosse uma contestação e o réu não precisa recolher custas para apresentar contestação. Isso vale tanto para o CPC 1973 como para o novo CPC.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.265.509-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 19/3/2015 (Info 558).

AÇÃO MONITÓRIA Ação monitória é um procedimento especial, previsto no CPC, por meio do qual o credor exige do devedor o pagamento de soma em dinheiro ou a entrega de coisa com base em prova escrita que não tenha eficácia de título executivo. Ex1: ação monitória para cobrança de cheque prescrito. Ex2: ação monitória para cobrança de valores baseados em contrato bancário de abertura de conta-corrente. O cheque prescrito e o contrato bancário de abertura de conta são provas escritas do débito, mas que não se constituem em título executivo. Se o credor tem título executivo, pode ingressar desde logo com a execução. Se o credor não tem nenhuma prova documental, só lhe resta a ação de cobrança. Se o credor tem prova escrita que não goza de eficácia de título executivo: cabe ação monitória. Novidades do CPC 2015 Com o CPC de 2015, a ação monitória poderá ser utilizada para exigir a entrega de coisas infungíveis e também para exigir a entrega de bens imóveis, situações que não eram abarcadas pelo antigo Código. Além disso, o CPC 2015 prevê que a ação monitória serve também para exigir que o réu cumpra obrigação de fazer ou não fazer sobre a qual ele está inadimplente.

CPC 1973 CPC 2015

A ação monitória poderia ser utilizada para que o autor exigisse do devedor (art. 1.102-A):

o pagamento de soma em dinheiro;

a entrega de coisa fungível; ou

a entrega de determinado bem móvel.

A ação monitória poderá ser utilizada para que o autor exija do devedor (art. 700):

o pagamento de quantia em dinheiro;

a entrega de coisa fungível ou infungível ou de bem móvel ou imóvel;

o adimplemento de obrigação de fazer ou de não fazer.

PROCEDIMENTO Obs: abaixo irei explicar o assunto conforme o CPC 2015. Assim, se entender que não é necessário estudar este ano, basta ler a parte em amarelo no topo do julgado e guardar o material para o ano que vem.

1. PETIÇÃO INICIAL Nesta exordial, o autor pede que o réu pague a quantia, entregue a coisa ou cumpra o comportamento exigido (fazer ou deixar de fazer algo combinado). A petição deve ser instruída com prova escrita sem eficácia de título executivo.

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O CPC 1973 não trazia os requisitos da petição inicial da ação monitória. O CPC 2015, por outro lado, afirma que, na petição inicial, o autor deverá explicitar, conforme o caso: I - a importância devida, instruindo-a com memória de cálculo; II - o valor atual da coisa reclamada; III - o conteúdo patrimonial em discussão ou o proveito econômico perseguido. O valor da causa deverá corresponder à importância prevista nesses incisos I a III acima listados. Caso a petição inicial não preencha esses requisitos, ela deverá ser indeferida. A prova escrita pode consistir em prova oral documentada, produzida antecipadamente. A súmula 339-STJ dispõe o seguinte: É cabível ação monitória contra a Fazenda Pública. O teor da súmula passou a constar expressamente no § 6º do art. 700 do CPC 2015: “§ 6º É admissível ação monitória em face da Fazenda Pública.” 2. JUIZ PODERÁ ADOTAR UMA DAS SEGUINTES CONDUTAS: a) Emendar; b) Receber como procedimento ordinário; c) Indeferir a PI; d) Aceitar a monitória: reconhece evidente o direito do autor e manda expedir um mandado monitório para que o réu pague a dívida, entregue a coisa ou execute a obrigação combinada no prazo de 15 dias.

CPC/2015. Art. 701. Sendo evidente o direito do autor, o juiz deferirá a expedição de mandado de pagamento, de entrega de coisa ou para execução de obrigação de fazer ou de não fazer, concedendo ao réu prazo de 15 (quinze) dias para o cumprimento e o pagamento de honorários advocatícios de cinco por cento do valor atribuído à causa.

3. CITAÇÃO DO RÉU: Admite-se citação por qualquer dos meios permitidos para o procedimento comum (§ 7º do art. 700 do CPC 2015). Súmula 282-STJ: Cabe a citação por edital em ação monitória. 4. POSTURAS DO RÉU: O réu citado poderá assumir uma das seguintes posturas: a) Cumprir a obrigação. Se o réu cumprir o mandado monitório, ele recebe alguma espécie de benefício?

CPC 1973 CPC 2015

O réu que cumprisse o mandado ficava isento do pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios.

O réu que cumprir o mandado no prazo ficará isento do pagamento apenas das custas processuais (continuará tendo que pagar os honorários de 5% sobre o valor da causa).

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b) Não pagar nem se defender. Se o réu não realizar o pagamento nem apresentar os embargos monitórios, haverá a constituição de um título executivo judicial contra ele, independentemente de qualquer formalidade (§ 2º do art. 701 do CPC 2015). Sendo ré a Fazenda Pública e ela não apresentar os embargos monitórios, deverá haver remessa necessária, observando-se, a seguir, no que couber, as regras do cumprimento de sentença. c) Defender-se. A defesa na ação monitória é denominada de “embargos à ação monitória”.

CPC 2015. Art. 702. Independentemente de prévia segurança do juízo, o réu poderá opor, nos próprios autos, no prazo previsto no art. 701, embargos à ação monitória.

Qual é a natureza jurídica dos embargos à ação monitória? Os embargos monitórios são classificados como uma forma de defesa, sendo semelhantes à contestação. Para que o réu apresente embargos monitórios, ele precisa pagar previamente as custas? NÃO. Não se exige o recolhimento de custas iniciais para oferecer embargos à ação monitória. Isso porque os embargos à monitória têm natureza jurídica de defesa. Vimos acima que é como se fosse uma contestação e o réu não precisa recolher custas para apresentar contestação. STJ. 3ª Turma. REsp 1.265.509-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 19/3/2015 (Info 558). Quais as matérias que podem ser alegadas nesses embargos? Os embargos podem se fundar em qualquer matéria que poderia ser alegada como defesa no procedimento comum (§ 1º do art. 702). Se os embargos forem parciais, isto é, não falarem sobre parte do que o autor pede Neste caso, os embargos poderão ser autuados em apartado e, quanto à parte que não foi atacada nos embargos, o juiz poderá constituir, desde logo, título executivo judicial. Confira:

§ 7º A critério do juiz, os embargos serão autuados em apartado, se parciais, constituindo-se de pleno direito o título executivo judicial em relação à parcela incontroversa.

Se o réu alega que o autor está pedindo um valor superior ao que é devido Quando o réu alegar que o autor pleiteia quantia superior à devida, ele já tem que declarar de imediato na petição dos embargos o valor que entende correto, apresentando demonstrativo discriminado e atualizado da dívida (§ 2º do art. 702). Se ele não apontar o valor correto ou não apresentar o demonstrativo, os embargos serão liminarmente rejeitados, se esse for o seu único fundamento. Se houver outro fundamento (além do argumento de que o valor está acima do devido), os embargos serão processados, mas o juiz deixará de examinar a alegação de excesso. Apresentando os embargos, haverá formação do título executivo? Por enquanto não. Pelo menos até a sentença de 1º grau. Isso porque o § 4º do art. 702 prevê o seguinte:

§ 4º A oposição dos embargos suspende a eficácia da decisão referida no caput do art. 701 até o julgamento em primeiro grau.

O autor da monitória (embargado) irá ter a oportunidade de se manifestar sobre o conteúdo dos embargos à ação monitória? SIM. O autor será intimado para responder aos embargos no prazo de 15 dias.

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Além de apresentar os embargos, o réu poderá oferecer reconvenção? SIM. Na ação monitória admite-se a reconvenção. É vedado, no entanto, o oferecimento de reconvenção à reconvenção, ou seja, se o réu da ação monitória apresentar reconvenção, o autor/reconvindo não poderá apresentar uma outra reconvenção. 5. JUIZ DEPOIS QUE RECEBE OS EMBARGOS:

Se o juiz REJEITAR os embargos, haverá a formação de título executivo judicial contra o réu, prosseguindo-se o processo como cumprimento de sentença, no que for cabível.

Se o juiz ACOLHER os embargos, a ação monitória é julgada improcedente, demonstrando que o réu nada deve, não tem que cumprir nenhuma obrigação para com o autor.

6. MÁ-FÉ DAS PARTES:

O juiz pode condenar o autor de ação monitória proposta indevidamente e de má-fé ao pagamento, em favor do réu, de multa de até 10% sobre o valor da causa.

De igual forma, o juiz poderá condenar o réu que de má-fé opuser embargos à ação monitória ao pagamento de multa de até 10% sobre o valor atribuído à causa, em favor do autor.

7. RECURSO: O recurso cabível contra a sentença que acolhe ou rejeita os embargos é a APELAÇÃO.

AÇÃO DE EXIGIR CONTAS Não cabimento em caso de contratos de mútuo e financiamento

Nos contratos de mútuo e financiamento, o devedor não possui interesse de agir para a ação de prestação de contas.

O entendimento acima exposto continua válido com o CPC 2015, mas devem ser feitas duas observações:

1) O nome da ação passou a ser “ação de exigir contas”;

2) O CPC 2015 não mais fala em “condição da ação”. Essa categoria foi abolida. O interesse de agir, que era uma condição da ação, continua sendo examinado, mas agora tem natureza jurídica de requisito de admissibilidade do processo. Trata-se de um pressuposto de validade objetivo extrínseco.

STJ. 2ª Seção. REsp 1.293.558-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/3/2015 (Info 558).

Ação de prestação de contas (ação de exigir contas) No CPC 1973, há a previsão de um procedimento especial chamado de “ação de prestação de contas”. Ele está disciplinado nos arts. 914 a 919. Sobre o tema, o que muda com o CPC 2015?

1) O nome “ação de prestação de contas” foi alterado para “ação de exigir contas” (art. 550). 2) Foi modificada a finalidade da ação e a pessoa legitimada para propô-la:

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CPC 1973 CPC 2015

A ação de prestação de contas pode ser proposta por dois legitimados: a) pela pessoa que tenha o direito de exigir a

prestação de contas. Ex: os sócios que não participam da administração de uma sociedade podem exigir a prestação de contas do sócio gerente.

b) pela pessoa que tenha a obrigação de prestar

as contas. Ex: o sócio gerente pode ajuizar ação de prestação de contas em face dos demais sócios para, em juízo, demonstrar como foram utilizados os recursos.

A ação somente pode ser proposta na situação “a”, ou seja, pela pessoa que tem o direito de exigir a prestação de contas. Não há mais duplicidade na legitimação, sendo legitimado ativo apenas o sujeito que tem o direito de receber as contas e legitimado passivo o sujeito que tem o dever de prestá-las (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. São Paulo: Método, 2014).

3) Haverá a ampliação do prazo para resposta do réu:

CPC 1973 CPC 2015

Depois de citado, o réu tem o prazo de 5 dias para apresentar a prestação de contas exigida pelo autor ou contestar a ação.

Depois de citado, o réu tem o prazo de 15 dias para apresentar a prestação de contas exigida pelo autor ou oferecer contestação.

4) O CPC 2015 traz regras mais detalhadas sobre o procedimento a ser seguido. Administração de valores: Tanto no CPC 1973 como no CPC 2015, para que seja cabível a ação de prestação de contas (ação de exigir contas), é necessário que determinada pessoa tenha autorizado que outra recebesse certos recursos e aplicasse esse dinheiro em finalidades próprias. Essa obrigação de prestar contas pode ser derivada de um contrato ou da própria lei. Exemplos decorrentes de contrato: mandato, representação mercantil etc. Exemplos decorrentes da lei: gestão de negócios, tutela, curatela etc. Ação de prestação de contas (ação de exigir contas) proposta por correntista contra o banco: Um dos exemplos comuns de ação de prestação de contas (ação de exigir contas) é aquela proposta pelo correntista em face do banco. Foi editada, inclusive, uma súmula para reconhecer essa possibilidade:

Súmula 259-STJ: A ação de prestação de contas pode ser proposta pelo titular de conta-corrente bancária.

Obs: a súmula continua válida com o CPC 2015, mas a redação da súmula deverá ser atualizada com o novo nome do procedimento (ação de exigir contas).

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Desse modo, “A”, analisando seu saldo da conta bancária, desconfia que houve saques indevidos realizados pela instituição financeira. “A” poderá ajuizar ação de exigir contas contra o banco, visando a obter esclarecimentos acerca da cobrança de taxas, tarifas e/ou encargos em sua conta? SIM, devendo o banco, após ser citado, apresentar tais contas no prazo de 15 dias (art. 550 do CPC 2015). As contas deverão ser apresentadas na forma adequada, especificando-se as receitas, a aplicação das despesas e os investimentos, se houver (art. 551 do CPC 2015). Prestadas as contas, o correntista, também no prazo de 15 dias, irá dizer se concorda ou não com os valores apresentados. Havendo impugnação específica e fundamentada pelo autor, o juiz estabelecerá prazo razoável para que o réu apresente os documentos justificativos dos lançamentos individualmente impugnados (§ 1º do art. 551). Vamos imaginar agora uma situação um pouco diferente também envolvendo banco e correntista: João celebrou contrato de mútuo (“empréstimo de dinheiro”) com o Banco “XX”. O mutuário (devedor) desconfia que o banco cobrou encargos excessivos e critérios abusivos no cálculo das prestações de seu contrato. É possível que João ajuíze ação de prestação de contas (ação de exigir contas) contra o banco? O mutuário pode ajuizar ação de exigir contas do banco? NÃO. O STJ decidiu que nos contratos de mútuo e financiamento, o devedor não possui interesse de agir para a ação de prestação de contas. A ação de prestação de contas (ação de exigir contas) tem por finalidade, essencialmente, dirimir incertezas surgidas a partir da administração de bens, negócios e interesses alheios, cabendo ao gestor a apresentação minuciosa de todas as receitas e despesas envolvidas na relação jurídica e, ao final, a exibição do saldo, que tanto pode ser credor quanto devedor. A ação fundamenta-se exclusivamente na existência ou não do direito de exigir essas contas, sem que seja necessário que se invoque alguma desconfiança sobre o trabalho exercido pelo administrador ou algum saldo supostamente existente em razão da atuação deste. Assim, na ação de prestação de contas (ação de exigir contas), é fundamental a existência, entre autor e réu, de relação jurídica de direito material em que um deles administre bens, direitos ou interesses alheios. Sem essa relação, inexiste o dever de prestar contas No contrato de mútuo bancário, a obrigação do mutuante (no caso, o banco) cessa com a entrega da coisa (na hipótese, o dinheiro). Nesse contexto, não há obrigação da instituição financeira em prestar contas, porquanto a relação estabelecida com o mutuário não é de administração ou gestão de bens alheios, sendo apenas um empréstimo. Conclui-se, então, pela inexistência de interesse de agir do cliente/mutuário para propor ação de prestação de contas, haja vista que o mutuante/instituição financeira exime-se de compromissos com a entrega da coisa. Contrato de conta-corrente X contrato de mútuo bancário Importante ressaltar que a situação analisada é diversa da regulada na Súmula 259 do STJ.

Aqui, estamos falando de uma pessoa que fez contrato de mútuo (“empréstimo”) com o banco: não cabe ação de prestação de contas (ação de exigir contas). As partes assinam o contrato e o mutuário recebe o dinheiro para usar como quiser.

A súmula 259 do STJ trata da pessoa que mantém um contrato de conta-corrente com o banco por meio do qual a instituição financeira fica na posse do dinheiro do cliente e irá administrá-lo: nesse caso, cabe ação de prestação de contas (ação de exigir contas).

Recurso repetitivo: A questão foi julgada segundo a sistemática do recurso repetitivo, tendo sido firmada a seguinte tese: “Nos contratos de mútuo e financiamento, o devedor não possui interesse de agir para a ação de prestação de contas.”

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Novo CPC O entendimento acima exposto continua válido com o CPC 2015, mas devem ser feitas duas observações: 1) O nome da ação passou a ser “ação de exigir contas”; 2) O CPC 2015 não mais fala em “condição da ação”. Essa categoria foi abolida. O interesse de agir, que era uma condição da ação, continua sendo examinado, mas agora tem natureza jurídica de requisito de admissibilidade do processo. Trata-se de um pressuposto de validade objetivo extrínseco.

DIREITO PENAL

PENA DE MULTA Execução da pena de multa não paga

Súmula 521-STJ: A legitimidade para a execução fiscal de multa pendente de pagamento imposta em sentença condenatória é exclusiva da Procuradoria da Fazenda Pública.

STJ. 3ª Seção. Aprovada em 25/03/2015, DJe 6/4/2015.

SANÇÃO PENAL Sanção penal é a resposta dada pelo Estado à pessoa que praticou uma infração penal. Existem duas espécies de sanção penal: 1) Pena. 2) Medida de segurança. Veja abaixo o esquema que mostra as espécies de sanção penal e suas subespécies:

1.1 Privativas de liberdade

1) PENAS 1.2 Restritivas de direito

1.3 Multa

SANÇÃO PENAL

2.1 Detentiva

2) MEDIDAS DE SEGURANÇA

2.2 Restritiva

MULTA

Conceito Multa é uma espécie de pena, por meio da qual o condenado fica obrigado a pagar uma quantia em dinheiro que será revertida em favor do Fundo Penitenciário.

Pagamento da multa A pena de multa é fixada na própria sentença condenatória. Depois que a sentença transitar em julgado, o condenado terá um prazo máximo de 10 dias para pagar a multa imposta (art. 50 do CP). O Código prevê a possibilidade de o condenado requerer o parcelamento da multa em prestações mensais, iguais e sucessivas, podendo o juiz autorizar, desde que as circunstâncias justifiquem (ex: réu muito pobre, multa elevadíssima etc.).

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O parcelamento deverá ser feito antes de esgotado o prazo de 10 dias. O Juiz, antes de decidir, poderá determinar diligências para verificar a real situação econômica do condenado e, ouvido o Ministério Público, fixará o número de prestações (art. 169, § 1º da LEP). Se o condenado for impontual ou se melhorar de situação econômica, o Juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, poderá revogar o benefício (art. 169, § 2º da LEP). O que acontece caso o condenado não pague nem parcele a multa no prazo de 10 dias?

Antes da Lei n. 9.268/96: se o condenado, deliberadamente, deixasse de pagar a pena de multa, ela deveria ser convertida em pena de detenção. Em outras palavras, a multa era transformada em pena privativa de liberdade.

Atualmente: a Lei n. 9.268/96 alterou o art. 51 do CP e previu que, se a multa não for paga, ela será considerada dívida de valor e deverá ser cobrada do condenado pela Fazenda Pública por meio de execução fiscal.

Importante, no entanto, esclarecer que, mesmo com essa mudança feita pela Lei n. 9.268/96, a multa continua tendo caráter de sanção criminal, ou seja, permanece sendo uma pena. O que essa Lei fez foi mudar a consequência do não pagamento da multa e a sua forma de cobrança: antes, a multa não paga virava pena de detenção; agora, ela deve ser cobrada por meio de execução fiscal. Quem executa a pena de multa? A pena de multa é executada pela Fazenda Pública por meio de execução fiscal que tramita na vara de

execuções fiscais. O rito a ser aplicado é o da Lei n. 6.830/80. Não se aplica a Lei n. 7.210/84 (LEP). A execução da pena de multa ocorre como se estivesse sendo cobrada uma multa tributária. Exemplo: João foi sentenciado por roubo e o juiz de direito (Justiça Estadual) o condenou a 4 anos de reclusão e mais 10 dias-multa no valor de meio salário mínimo cada. Depois do trânsito em julgado, o condenado foi intimado para pagar a pena de multa no prazo de 10 dias, mas não o fez. Diante disso, o escrivão da vara irá fazer uma certidão na qual constarão as informações sobre a condenação e o valor da multa e o magistrado a remeterá para a Procuradoria Geral do Estado. Um dos Procuradores do Estado irá ajuizar, em nome do Estado, uma execução fiscal que tramitará na vara de execuções fiscais (não é na vara de execuções penais). Obs: se João tivesse sido condenado pela Justiça Federal, quem iria ingressar com a execução seria a União, por intermédio da Procuradoria da Fazenda Nacional (PFN). O Ministério Público pode executar a pena de multa? NÃO. A legitimidade para executar a pena de multa é da Fazenda Pública (União ou Estado-membro), a depender da “Justiça” que condenou o réu e esta execução só pode ser proposta por meio da Procuradoria jurídica da Fazenda Pública (PFN ou PGE).

A Lei n. 9.268⁄96, ao alterar a redação do art. 51 do CP, afastou a titularidade do Ministério Público para cobrar a pena de multa. Assim, a legitimidade para a execução fiscal de multa pendente de pagamento imposta em sentença condenatória é exclusiva da Procuradoria da Fazenda Pública (Súmula 521-STJ).

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PENA DE MULTA Legitimidade do MP para promover medida que garanta o pagamento de multa penal

O Ministério Público tem legitimidade para promover medida assecuratória que vise à garantia do pagamento de multa imposta por sentença penal condenatória.

É certo que, com a edição da Lei 9.268/1996, que deu nova redação ao art. 51 do CP, a legitimidade para a cobrança da pena de multa passou a ser da Fazenda Pública. No entanto, a pena de multa continua tendo natureza jurídica de sanção penal e, no caso em tela, não se está discutindo a legitimidade do MP para cobrança de pena de multa, mas sim para promover medida assecuratória, providência que está assegurada pelo art. 142 do CPP e pela própria CF/88, quando esta prevê que o MP é titular da ação penal.

Enquanto não há trânsito em julgado da condenação, a Fazenda Pública não pode tomar qualquer providência relacionada com a cobrança da pena de multa. Assim, se não fosse permitido que o MP atuasse nesse caso, ninguém mais teria legitimidade para essas medidas acautelatórias, já que a atuação da Fazenda Pública na execução da multa penal só ocorre muito mais tarde, após o trânsito em julgado.

STJ. 6ª Turma. REsp 1.275.834-PR, Rel. Min. Ericson Maranho (Desembargador convocado do TJ-SP), julgado em 17/3/2015 (Info 558)

Execução da multa não paga Súmula 521-STJ: A legitimidade para a execução fiscal de multa pendente de pagamento imposta em sentença condenatória é exclusiva da Procuradoria da Fazenda Pública.

Não se deve confundir legitimidade para executar a pena de multa com legitimidade para medidas processuais destinadas a garantir o pagamento da multa O Ministério Público não possui legitimidade para executar a pena de multa (Súmula 521-STJ). No entanto, ele possui legitimidade para, antes do trânsito em julgado da sentença penal condenatória, propor medidas acautelatórias destinadas a garantir o pagamento da multa.

Exemplo concreto: O réu foi condenado por crimes contra o sistema financeiro nacional e recorreu contra a sentença. O Ministério Público, por seu turno, apresentou incidente de “Arresto Prévio de Bens Móveis e Indisponibilidade de Ativos Financeiros” contra o réu pedindo, em suma, que os bens a ele pertencentes fossem retidos para, no futuro, caso a condenação fosse mantida, servissem para pagamento da multa penal e das custas. O juiz deferiu o pedido. O réu recorreu alegando que, como o MP não tem legitimidade para executar a pena de multa, consequentemente ele também não teria legitimidade para propor o arresto cautelar de bens que serão destinados ao pagamento da multa.

O que o STJ decidiu? O MP tem legitimidade para o pedido formulado? SIM. O Ministério Público tem legitimidade para promover medida assecuratória que vise à garantia do pagamento de multa imposta por sentença penal condenatória.

É certo que, com a edição da Lei n. 9.268/1996, que deu nova redação ao art. 51 do CP, a legitimidade para a cobrança da pena de multa passou a ser da Fazenda Pública. No entanto, a pena de multa continua tendo natureza jurídica de sanção penal e, no caso em tela, não se está discutindo a legitimidade do MP para cobrança de pena de multa, mas sim para promover medida assecuratória, providência que está assegurada pelo art. 142 do CPP e pela própria CF/88, quando esta prevê que o MP é titular da ação penal. Enquanto não há trânsito em julgado da condenação, a Fazenda Pública não pode tomar qualquer providência relacionada com a cobrança da pena de multa. Assim, se não fosse permitido que o MP atuasse nesse caso, ninguém mais teria legitimidade para essas medidas acautelatórias, já que a atuação da Fazenda Pública na execução da multa penal só ocorre muito mais tarde, após o trânsito em julgado.

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FALSA IDENTIDADE (ART. 307 DO CP) Atribuir-se falsa identidade para escapar de blitz é crime

Súmula 522-STJ: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa.

STJ. 3ª Seção. Aprovada em 25/03/2015, DJe 6/4/2015.

AMPLA DEFESA A CF/88 estabelece, em seu art. 5º, incisos LV e LXIII:

Art. 5º (...) LV — aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; LXIII — o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;

No processo penal a ampla defesa abrange:

defesa técnica: exercida por advogado ou defensor público;

autodefesa: exercida pelo próprio réu. Por conta da autodefesa, o réu não é obrigado a se autoincriminar. O Pacto de San José da Costa Rica, que vige em nosso ordenamento jurídico com caráter supralegal, estabelece em seu art. 8º, inciso II, alínea “g”, que “toda pessoa tem direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a declarar-se culpada”. Por fim, o Código de Processo Penal também preconiza:

Art. 186. Depois de devidamente qualificado e cientificado do inteiro teor da acusação, o acusado será informado pelo juiz, antes de iniciar o interrogatório, do seu direito de permanecer calado e de não responder perguntas que lhe forem formuladas. Parágrafo único. O silêncio, que não importará em confissão, não poderá ser interpretado em prejuízo da defesa.

Por força desses dispositivos, a doutrina e a jurisprudência entendem que, no interrogatório, tanto na fase policial, como em juízo, o réu poderá: a) ficar em silêncio, recusando-se a responder as perguntas sobre os fatos pelos quais ele está sendo acusado; Obs.1: prevalece que o réu não pode negar-se a responder as perguntas relativas à sua qualificação, sendo o direito ao silêncio relativo apenas à segunda parte do interrogatório. Obs.2: o silêncio do interrogado não pode ser interpretado como confissão ficta, devendo ser encarado pelo magistrado como mera ausência de resposta. Obs.3: o direito ao silêncio também é conhecido como nemo tenetur se detegere. b) mentir ou faltar com a verdade quanto às perguntas relativas aos fatos; Obs.1: diferentemente das testemunhas, o réu não tem o dever de dizer a verdade porque tem o direito constitucional de não se autoincriminar. Logo, o réu, ao ser interrogado e mentir, não responde por falso testemunho (art. 342 do CP). Obs.2: o direito de mentir não permite que impute falsamente o crime a terceira pessoa inocente. Caso isso ocorra, responderá por denunciação caluniosa (art. 399, CP).

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Obs.3: em alguns países, como nos EUA, é crime mentir durante o interrogatório. Ressalte-se que, no direito norte-americano, também se garante ao acusado o direito ao silêncio e à não autoincriminação (privilegie against self-incrimination), no entanto, na hipótese de o réu decidir responder as perguntas, não poderá faltar com a verdade. Trata-se do chamado crime de perjúrio. LIMITES DA AUTODEFESA

A autodefesa é um direito ilimitado? Não. A autodefesa não é um direito absoluto. Exemplo disso, já consagrado há muito tempo, é o fato de que se o réu, em seu interrogatório, imputar falsamente o crime a pessoa inocente, responderá por denunciação caluniosa (art. 399, CP). Autodefesa e uso de documento falso (art. 304 do CP) Como expressão do direito à autodefesa, o réu pode apresentar um documento falso para não se prejudicar criminalmente? Ex.: João é parado em uma blitz da PM e, sabendo que havia um mandado de prisão contra si expedido, apresenta a cédula de identidade de seu irmão com sua foto no lugar. Isso é permitido? Não. Na hipótese retratada, João poderia ser condenado por uso de documento falso. Esse é o entendimento do STF e STJ:

O fato de o paciente ter apresentado à polícia identidade com sua foto e assinatura, porém com impressão digital de outrem, configura o crime do art. 304 do Código Penal. Havendo adequação entre a conduta e a figura típica concernente ao uso de documento falso, não cabe cogitar de que a atribuição de identidade falsa para esconder antecedentes criminais consubstancia autodefesa. STF. 2ª Turma. HC 92763, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 12/02/2008.

Autodefesa e falsa identidade (art. 307 do CP) Inicialmente, cumpre estabelecer a distinção entre falsa identidade e uso de documento falso.

Art. 307 — Falsa identidade Art. 304 — Uso de documento falso

Consiste na simples atribuição de falsa identidade, sem a utilização de documento falso.

Aqui, há obrigatoriamente o uso de documento falso.

Ex.: ao ser parado em uma blitz, o agente afirma que seu nome é Pedro Silva, quando, na verdade, ele é João Lima.

Ex.: ao ser parado em uma blitz, o agente, João Lima, afirma que seu nome é Pedro Silva e apresenta o RG falsificado com este nome.

Assim como no caso do uso de documento falso, também na hipótese de falsa identidade, o STF entende que há crime quando o agente, para não se incriminar, atribui a si uma identidade que não é sua. Essa questão já foi, inclusive, analisada pelo Pleno do STF em regime de repercussão geral:

O princípio constitucional da autodefesa (art. 5º, inciso LXIII, da CF/88) não alcança aquele que atribui falsa identidade perante autoridade policial com o intento de ocultar maus antecedentes, sendo, portanto, típica a conduta praticada pelo agente (art. 307 do CP). O tema possui densidade constitucional e extrapola os limites subjetivos das partes. STF. Plenário. RE 640139 RG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 22/09/2011. (...) O Plenário Virtual, ao analisar o RE 640.139/DF, reconheceu a repercussão geral do tema versado nestes autos e, na ocasião, reafirmou a jurisprudência, já consolidada no sentido de que comete o delito tipificado no art. 307 do Código Penal aquele que, conduzido perante a autoridade policial, atribui a si falsa identidade com o intuito de ocultar seus antecedentes. (...) STF. 2ª Turma. RE 648223 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 18/10/2011

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Trata-se também da posição do STJ:

É típica a conduta do acusado que, no momento da prisão em flagrante, atribui para si falsa identidade (art. 307 do CP), ainda que em alegada situação de autodefesa. Isso porque a referida conduta não constitui extensão da garantia à ampla defesa, visto tratar-se de conduta típica, por ofensa à fé pública e aos interesses de disciplina social, prejudicial, inclusive, a eventual terceiro cujo nome seja utilizado no falso. STJ. 3ª Seção. REsp 1.362.524-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 23/10/2013 (recurso repetitivo).

Em suma, tanto o STF como o STJ entendem que a alegação de autodefesa não serve para descaracterizar a prática dos delitos do art. 304 ou do art. 307 do CP.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

ARQUIVAMENTO DE PROCEDIMENTO INVESTIGATIVO Inaplicabilidade do art. 28 do CPP nos procedimentos investigativos

que tramitem originariamente no STJ

Imagine que um Subprocurador-Geral da República, após autorização do STJ, instaurou procedimento de investigação contra um Governador do Estado (art. 105, I, “a”, da CF/88). Ao final das diligências, o membro do MPF concluiu que não havia elementos para oferecer a denúncia e requereu ao STJ o arquivamento do procedimento. O STJ poderá discordar do pedido?

NÃO. Se o membro do MPF que atua no STJ requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação que tramitem originariamente perante o STJ, este, mesmo que não concorde com as razões invocadas pelo MP, deverá determinar o arquivamento solicitado.

Como o pedido foi feito por um Subprocurador-Geral da República, se o STJ discordar, ele não poderá remeter os autos para análise do Procurador-Geral da República, aplicando, por analogia, o art. 28 do CPP?

NÃO. Não existe esta possibilidade de remessa para o PGR. Não se aplica o art. 28 do CPP neste caso. Isso porque os membros do MPF que funcionam no STJ atuam por delegação do Procurador-Geral da República. Assim, em decorrência do sistema acusatório, nos casos em que o titular da ação penal se manifesta pelo arquivamento de inquérito policial ou de peças de informação, não há alternativa, senão acolher o pedido e determinar o arquivamento. Em suma, não há que se falar em aplicação do art. 28 do CPP nos procedimentos de competência originária do STJ. O MPF pediu o arquivamento, este terá que ser homologado pela Corte.

STJ. Corte Especial. Inq 967-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 18/3/2015 (Info 558).

ARQUIVAMENTO DE IP E DE PROCEDIMENTOS QUE TRAMITAM EM 1ª INSTÂNCIA

Se, ao final do inquérito policial, ou de algum outro procedimento investigativo que tramita em 1ª instância, o Promotor de Justiça (ou Procurador da República) concluir que não há elementos suficientes para oferecer denúncia contra o investigado, qual é a providência que ele deverá adotar? Ele deverá requerer o arquivamento do inquérito policial ou do procedimento investigativo ao juiz. Caso o juiz concorde com a manifestação do MP, ele irá proferir uma decisão homologando o arquivamento.

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Se o juiz não concordar com o pedido do MP, ele poderá adotar alguma medida para tentar evitar o arquivamento? SIM. Caso o juiz considere improcedentes as razões invocadas pelo Promotor de Justiça (ou Procurador da República), ele deverá negar o arquivamento e remeter o inquérito ou as peças de informação para serem analisados pelo Procurador Geral de Justiça (se for MPE) ou pela 2ª Câmara de Coordenação e Revisão (se for MPF).

Funciona assim:

Pedido feito por Promotor de Justiça: se o Juiz de Direito não concorda, remete o procedimento para o PGJ (art. 28 do CPP).

Pedido feito por Procurador da República: se o Juiz Federal não concorda, remete o procedimento para a 2ª CCR (art. 62, IV, da LC 75/93).

O que o PGJ e a 2ª CCR irão fazer? O PGJ irá analisar o procedimento investigatório, a manifestação do MP e poderá adotar uma das seguintes providências: a) Discordar do pedido de arquivamento e oferecer a denúncia (o próprio PGJ); b) Discordar do pedido de arquivamento e designar outro Promotor de Justiça para oferecer a denúncia; c) Concordar com o pedido de arquivamento e, nesse caso, o juiz será obrigado a atender porque o MP é

o titular da ação penal; d) Requerer a realização de novas diligências antes de decidir. No caso da 2ª CCR, ela poderá também adotar uma das providências acima, com exceção da letra “a” porque se trata de órgão colegiado que não tem atribuição para oferecer denúncia diretamente. Obs: a doutrina defende que, se o PGJ ou a 2ª CCR entenderem que deva ser oferecida a denúncia, não é possível que o mesmo Promotor de Justiça ou Procurador da República que pediu o arquivamento seja obrigado a denunciar. Isso porque, nesse caso, estaria sendo violada a sua independência funcional (art. 127, § 1º da CF/88). Logo, o PGJ ou a 2ª CCR deverão designar um Promotor ou Procurador diferente para propor a denúncia.

ARQUIVAMENTO DE IP E DE PROCEDIMENTOS QUE TRAMITAM NO STJ

Como funciona a sistemática do pedido de arquivamento se o investigado tiver foro privativo no STJ? Imagine, por exemplo, que um Subprocurador-Geral da República, atuando por delegação do Procurador-Geral da República, instaurou procedimento de investigação contra um Governador do Estado (art. 105, I, “a”, da CF/88). Ao final, o membro do MPF concluiu que não havia elementos para oferecer a denúncia e requereu ao STJ o arquivamento do procedimento. O STJ poderá discordar do pedido? NÃO. Se o membro do MPF que atua no STJ requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação que tramitem originariamente perante o STJ, este, mesmo que não concorde com as razões invocadas pelo MP, deverá determinar o arquivamento solicitado.

Como o pedido foi feito por um Subprocurador-Geral da República, se o STJ discordar, ele não poderia remeter os autos para análise do Procurador-Geral da República, aplicando, por analogia, o art. 28 do CPP? NÃO. Não existe esta possibilidade de remessa para o PGR. Não se aplica o art. 28 do CPP neste caso. Isso porque os membros do MPF que funcionam no STJ atuam por delegação do Procurador-Geral da República. Assim, em decorrência do sistema acusatório, nos casos em que o titular da ação penal se manifesta pelo arquivamento de inquérito policial ou de peças de informação, não há alternativa, senão acolher o pedido e determinar o arquivamento. Em suma, não há que se falar em aplicação do art. 28 do CPP nos procedimentos de competência originária do STJ. O MPF pediu o arquivamento, este terá que ser homologado pela Corte.

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EXECUÇÃO PENAL Saída temporária

Súmula 520-STJ: O benefício de saída temporária no âmbito da execução penal é ato jurisdicional insuscetível de delegação à autoridade administrativa do estabelecimento prisional.

STJ. 3ª Seção. Aprovada em 25/03/2015, DJe 6/4/2015.

O que é a saída temporária? Saída temporária é... - uma autorização concedida pelo juiz da execução penal - aos condenados que cumprem pena em regime semiaberto - por meio da qual ganham o direito de saírem temporariamente do estabelecimento prisional - sem vigilância direta (sem guardas acompanhando/sem escolta) - com o intuito de:

a) visitarem a família; b) frequentarem curso supletivo profissionalizante, de ensino médio ou superior; ou c) participarem de outras atividades que ajudem para o seu retorno ao convívio social.

Obs: o juiz pode determinar que, durante a saída temporária, o condenado fique utilizando um equipamento de monitoração eletrônica (tornozeleira eletrônica). Obs2: os presos provisórios que já foram condenados (ainda sem trânsito em julgado) e estão cumprindo a pena no regime semiaberto podem ter direito ao benefício da saída temporária, desde que preencham os requisitos legais que veremos abaixo. Previsão

A saída temporária encontra-se disciplinada nos arts. 122 a 125 da Lei n. 7.210/84 (LEP). Quem concede a saída temporária? A autorização para saída temporária será concedida por ato motivado do Juiz da execução, devendo este ouvir antes o Ministério Público e a administração penitenciária, que irão dizer se concordam ou não com o benefício. Requisitos A concessão da saída temporária dependerá da satisfação dos seguintes requisitos (art. 123 da LEP):

I - comportamento adequado do reeducando; É chamado de requisito subjetivo. Normalmente isso é provado por meio da certidão carcerária fornecida pela administração penitenciária. II - cumprimento mínimo de 1/6 da pena (se for primário) e 1/4 (se reincidente). Trata-se do requisito objetivo. Deve-se lembrar que o apenado só terá direito à saída temporária se estiver no regime semiaberto. No entanto, a jurisprudência permite que, se ele começou a cumprir a pena no regime fechado e depois progrediu para o semiaberto, aproveite o tempo que esteve no regime fechado para preencher esse requisito de 1/6 ou 1/4. Em outras palavras, ele não precisa ter 1/6 ou 1/4 da pena no regime semiaberto. Poderá se valer do tempo que cumpriu no regime fechado para preencher o requisito objetivo. Com outras palavras, foi isso o que o STJ quis dizer ao editar a Súmula 40: “Para obtenção dos benefícios de saída temporária e trabalho externo, considera-se o tempo de cumprimento da pena no regime fechado.”

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III - compatibilidade do benefício com os objetivos da pena. Ressalte-se que o simples fato de o condenado que cumpria pena no regime fechado ter ido para o regime semiaberto não significa que, automaticamente, ele terá direito ao benefício da saída temporária. Isso porque o juiz deverá analisar se ele preenche os demais requisitos do art. 123 da LEP (STJ. 6ª Turma. RHC 49.812/BA, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 06/11/2014). Quantidade de saídas por ano e tempo de duração

Regras gerais:

Cada preso terá o máximo de 5 saídas temporárias por ano (1 mais 4 renovações).

Cada saída temporária tem duração máxima de 7 dias. Em outras palavras, o preso receberá a autorização para ficar 7 dias fora do estabelecimento prisional.

Entre uma saída temporária e outra deve haver um intervalo mínimo de 45 dias. Peculiaridade: no caso da saída temporária para estudo, o prazo da saída temporária será igual ao necessário para as atividades discentes (ex: pode ser autorizada a saída temporária todos os dias). Recomendo ler o art. 124 porque as vezes ele é cobrado literalmente nas provas:

Art. 124. A autorização será concedida por prazo não superior a 7 (sete) dias, podendo ser renovada por mais 4 (quatro) vezes durante o ano. (...) § 2º Quando se tratar de frequência a curso profissionalizante, de instrução de ensino médio ou superior, o tempo de saída será o necessário para o cumprimento das atividades discentes. § 3º Nos demais casos, as autorizações de saída somente poderão ser concedidas com prazo mínimo de 45 (quarenta e cinco) dias de intervalo entre uma e outra.

Prazo máximo de 35 dias divididos em menos tempo. com mais saídas por ano: Vimos acima que, como regra, por ano, o apenado tem direito a 5 saídas temporárias, cada uma de, no máximo, 7 dias. Isso significa que, somando todas as 5, a pessoa tem direito a, no máximo, 35 dias de saída temporária por ano. Diante disso, surgiu a seguinte dúvida: seria possível que o condenado tivesse mais que 5 saídas por ano, se fosse respeitado o prazo máximo de 35 dias por ano? A jurisprudência entendeu que sim. Para o STJ, podem ser concedidas mais que 5 saídas temporárias ao longo do ano, desde que seja respeitado o prazo máximo de 35 dias por ano (AgRg no REsp 1406883/RJ, julgado em 18/12/2014). Ex: o juiz pode autorizar que o condenado saia 7 vezes por ano, desde que em cada uma dessas saídas ele só fique até 5 dias fora, com o objetivo de não extrapolar o limite anual de 35 dias por ano. Condições Ao conceder a saída temporária, o juiz imporá ao beneficiário as seguintes condições legais (obrigatórias): I – o condenado deverá fornecer o endereço onde reside a família a ser visitada ou onde poderá ser encontrado durante o gozo do benefício; II – o condenado deverá se comprometer a ficar recolhido na residência visitada, no período noturno; III – o condenado não poderá frequentar bares, casas noturnas e estabelecimentos congêneres. Além dessas, o juiz pode fixar outras condições que entender compatíveis com as circunstâncias do caso e a situação pessoal do condenado. Nesse caso, chamamos de condições judiciais (ou facultativas).

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Revogação O benefício da saída temporária será automaticamente revogado quando o condenado: 1. praticar fato definido como crime doloso (não se exige condenação; basta a notícia); 2. for punido por falta grave (aqui se exige que o condenado tenha recebido punição disciplinar); 3. desatender as condições impostas na autorização; ou 4. revelar baixo grau de aproveitamento do curso. Recuperação do direito após ter sido revogado: Se o benefício for revogado por uma das causas acima listadas, o condenado só poderá recuperar o direito à saída temporária se: a) for absolvido no processo penal (hipótese 1); b) for cancelada a punição disciplinar imposta (hipótese 2); ou c) se ficar demonstrado seu merecimento a novo benefício (hipóteses 3 e 4). Saída temporária automatizada: Pela literalidade da Lei de Execução Penal, a cada saída temporária deve ser formulado um pedido ao juiz que, então, ouve o MP e a administração penitenciária, e, após, decide. Em algumas partes do Brasil, no entanto, os juízes da execução penal adotaram um procedimento para simplificar a concessão dessas saídas temporárias. Quando o condenado formula o primeiro pedido de saída temporária, o juiz ouve o MP e o diretor do Presídio, e, se estiverem preenchidos os requisitos, concede o benefício (segue, portanto, todo o rito previsto na LEP). Após o juiz conceder a saída temporária para o apenado nesta primeira vez, as novas saídas temporárias deste mesmo reeducando não mais precisarão ser analisadas pelo juiz e pelo MP, sendo concedidas automaticamente pela direção do Presídio, desde que a situação disciplinar do condenado permaneça a mesma, ou seja, que ele tenha mantido o comportamento adequado no cumprimento da pena. Se cometer falta grave, por exemplo, é revogado o benefício. A esse procedimento simplificado deu-se o nome de saída temporária automatizada. Alguns Ministérios Públicos pelo país têm se insurgido contra este procedimento e interposto recursos que chegam aos Tribunais Superiores. Segundo argumenta o Parquet, ao adotar essa saída temporária automatizada, o juiz da execução penal está transferindo (delegando) para a autoridade administrativa do estabelecimento prisional a decisão de conceder ou não a saída temporária, o que viola frontalmente o art. 123 da LEP (“Art. 123. A autorização será concedida por ato motivado do Juiz da execução...”). A pergunta, portanto, é a seguinte: o juiz pode transferir para o diretor do estabelecimento prisional a decisão de conceder ou não a saída temporária? A chamada saída temporária automatizada é legítima? NÃO. A autorização das saídas temporárias é ato jurisdicional da competência do Juízo das Execuções Penais, que deve ser motivada com a demonstração da conveniência de cada medida. Desse modo, não é possível delegar ao administrador do presídio a fiscalização sobre diversas saídas temporárias, autorizadas em única decisão, por se tratar de atribuição exclusiva do magistrado das execuções penais, sujeita à ação fiscalizadora do Parquet. Assim, não é legítima a prática de se permitir saídas temporárias automatizadas. Para cada pedido de saída temporária, deverá haver uma decisão motivada do Juízo da Execução, com intervenção do Ministério Público. STJ. 3ª Seção. REsp 1166251/RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 14/03/2012 (recurso repetitivo) (Info 493). Em suma: Para o STJ, o benefício de saída temporária no âmbito da execução penal é ato jurisdicional insuscetível de delegação à autoridade administrativa do estabelecimento prisional (Súmula 520). Ressalva: O STF possui um julgado antigo, da 1ª Turma, afirmando que a saída temporária automatizada seria legítima. Trata-se do HC 98067, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 06/04/2010.

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Essa foi a última manifestação do STF sobre o tema. Desse modo, a posição do STJ acima explicada e exposta na súmula é o entendimento atual, que deve ser seguido como majoritário, tanto na prática forense como em concursos públicos. Nesse sentido, a banca do CESPE adotou o entendimento do STJ no concurso para Juiz de Direito do TJ/ES (2012): “A autorização para a saída temporária deve ser concedida por ato motivado do juízo das execuções, que pode delegar a fiscalização das saídas ao administrador do presídio.” (alternativa ERRADA)

DIREITO TRIBUTÁRIO

LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA FEDERAL Impossibilidade de exigência concomitante da multa isolada

e da multa de ofício previstas no art. 44 da Lei 9.430/96 (Obs: este julgado somente interessa para os concursos

que exigem direito tributário de forma mais aprofundada).

Quando a situação jurídico-tributária se alinhar com ambas as hipóteses de incidência da multa do art. 44 da Lei 9.430/1996 (previstas no inciso I e no inciso II), incidirá apenas a “multa de ofício” pela falta de recolhimento de tributo (inciso I).

STJ. 2ª Turma. REsp 1.496.354-PR, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 17/3/2015 (Info 558).

Imagine a seguinte situação adaptada: Determinado contribuinte era obrigado a fazer as antecipações mensais do IRPJ e do CSLL por estimativa. Ocorre que ele não fez tais pagamentos mensais e ainda, ao final do ano calendário, efetuou o recolhimento a menor dos tributos devidos.

Diante disso, a Receita Federal afirmou que ele deveria receber duas multas previstas no art. 44 da Lei n. 9.430/96: uma pelo fato de não ter pago o imposto (inciso I) e outra por não ter antecipado mensalmente esse tributo (inciso II). Veja a redação da Lei:

Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas:

I - de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata;

II - de 50% (cinqüenta por cento), exigida isoladamente, sobre o valor do pagamento mensal:

a) na forma do art. 8º da Lei n. 7.713, de 22 de dezembro de 1988, que deixar de ser efetuado, ainda que não tenha sido apurado imposto a pagar na declaração de ajuste, no caso de pessoa física; b) na forma do art. 2º desta Lei, que deixar de ser efetuado, ainda que tenha sido apurado prejuízo fiscal ou base de cálculo negativa para a contribuição social sobre o lucro líquido, no ano-calendário correspondente, no caso de pessoa jurídica.

O STJ concordou com o raciocínio da Receita? As multas dos incisos I e II do art. 44 da Lei n. 9.430/96 são cumuláveis? NÃO. Quando a situação jurídico-tributária se alinhar com ambas as hipóteses de incidência da multa do

art. 44 da Lei n. 9.430/1996 – previstas no inciso I e no inciso II –, incidirá apenas a “multa de ofício” pela falta de recolhimento de tributo (inciso I). A multa do inciso II do referido artigo somente poderá ser aplicada quando não for o caso da multa do inciso I.

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Destaca-se que o inadimplemento das antecipações mensais do imposto de renda, por exemplo, não implica, por si só, a ilação de que haverá tributo devido. Os recolhimentos mensais, ainda que configurem obrigações de pagar, não representam, no sentido técnico, o tributo em si. Este apenas será apurado ao final do ano-calendário, quando ocorrer o fato gerador. Assim, as hipóteses do inciso II, “a” e “b”, em regra, não trazem novas hipóteses de cabimento de multa. A melhor exegese revela que não são multas distintas, mas apenas formas distintas de aplicação da multa do art. 44, em consequência de, nos casos ali descritos, não haver nada a ser cobrado a título de obrigação tributária principal. As chamadas “multas isoladas”, portanto, apenas servem aos casos em que não possam ser as multas exigidas juntamente com o tributo devido (inciso I), na medida em que são elas apenas formas de exigência das multas descritas no caput. Esse entendimento é corolário da lógica do sistema normativo-tributário que pretende prevenir e sancionar o descumprimento de obrigações tributárias. De fato, a infração que se pretende repreender com a exigência isolada da multa é completamente abrangida por eventual infração que acarrete, ao final do ano-calendário, o recolhimento a menor dos tributos e que dê azo, assim, à cobrança da multa de forma conjunta. Ademais, em se tratando as multas tributárias de medidas sancionatórias, aplica-se a lógica do princípio penal da consunção, em que a infração mais grave abrange aquela menor que lhe é preparatória ou subjacente. O princípio da consunção (ou da absorção) é aplicável nos casos em que há uma sucessão de condutas típicas com existência de um nexo de dependência entre elas. Segundo esse preceito, a infração mais grave absorve aquelas de menor gravidade. Sob esse enfoque, não pode ser exigida concomitantemente a multa isolada e a multa de ofício por falta de recolhimento de tributo apurado ao final do exercício e também por falta de antecipação sob a forma estimada. Cobra-se apenas a multa de ofício pela falta de recolhimento de tributo.

CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O FGTS A contribuição social do art. 1º da LC 110/2001 continua em vigor

(Obs: este julgado somente interessa para os concursos que exigem direito tributário de forma mais aprofundada).

A contribuição social prevista no art. 1º da LC 110/2001 – baseada no percentual sobre o saldo de FGTS em decorrência da despedida sem justa causa –, a ser suportada pelo empregador, não se encontra revogada, mesmo diante do cumprimento da finalidade para a qual a contribuição foi instituída.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.487.505-RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 17/3/2015 (Info 558).

LC 110/2001 A Lei Complementar 110/2001 criou a seguinte contribuição social em seu art. 1º:

Art. 1º Fica instituída contribuição social devida pelos empregadores em caso de despedida de empregado sem justa causa, à alíquota de dez por cento sobre o montante de todos os depósitos devidos, referentes ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS, durante a vigência do contrato de trabalho, acrescido das remunerações aplicáveis às contas vinculadas.

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Determinada empresa propôs ação judicial pedindo que ficasse dispensada de pagar esse tributo. Alegou a autora que a contribuição prevista no art. 1º da LC 110/2001 foi criada com finalidade temporária de fazer caixa para o pagamento das diferenças da correção monetária das contas do FGTS dos trabalhadores brasileiros, que foram prejudicados por uma sistemática incoerente com a inflação verificada entre dezembro de 1988 e fevereiro de 1989, e também no mês de abril de 1990. Assim, tendo sido cumprida a finalidade para a qual foi criada, essa contribuição teria perdido eficácia e não poderia mais ser cobrada. A tese da empresa foi aceita? A contribuição do art. 1º da LC 110/2001 está revogada? NÃO. A contribuição social prevista no art. 1º da LC 110/2001 não se encontra revogada, mesmo diante do cumprimento da finalidade para a qual a contribuição foi instituída. De fato, a finalidade da norma era trazer novas receitas ao FGTS, visto a necessidade de promover complementação de atualização monetária a que fariam jus os trabalhadores, em decorrência dos expurgos inflacionários das contas vinculadas ao referido fundo que não foram devidamente implementadas pela Caixa Econômica Federal. Entretanto, não se pode concluir, apenas por essa razão histórica, que se tratava de uma contribuição social temporária e que sua vigência foi extinta com o cumprimento da finalidade para a qual foi instituída. Se essa fosse a intenção do legislador, haveria expressa previsão na LC 110/2001 acerca de tal fato, assim como ocorreu com outra contribuição social instituída pelo própria LC 110/2001, que estabeleceu prazo de vigência de 60 meses, a contar de sua exigibilidade (art. 2º, § 2º). Portanto, a contribuição instituída pelo art. 1º da LC 110/2001 ainda é exigível, especialmente pelo fato de que já se tentou a sua extinção expressa por meio do Projeto de Lei Complementar 200/2012, que foi vetado pela Presidência da República e mantido pelo Congresso Nacional em agosto de 2013.

IPTU Incidência de IPTU sobre imóvel parcialmente situado em APP com nota non aedificandi

João é dono de um imóvel urbano que foi declarado área de preservação permanente (APP). Além disso, em 2/3 do seu imóvel foi instituída nota “non edificandi”, ou seja, ele ficou proibido de construir qualquer coisa em 2/3 desse terreno. Diante disso, João ajuizou ação contra o Município pedindo que o IPTU fosse cobrado proporcionalmente e incidisse somente sobre 1/3 da área. O pedido de João pode ser aceito?

NÃO. O IPTU continuará sendo pago sobre a totalidade do imóvel. Segundo decidiu o STJ, o fato de parte de um imóvel urbano ter sido declarada como Área de Preservação Permanente (APP) e, além disso, sofrer restrição administrativa consistente na proibição de construir (nota “non aedificandi”) não impede a incidência de IPTU sobre toda a área do imóvel.

Mesmo com todas essas restrições, o fato gerador do imposto (propriedade de imóvel urbano) permanece íntegro, de forma que deve incidir o tributo normalmente.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.482.184-RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 17/3/2015 (Info 558).

Imagine a seguinte situação adaptada: João é dono de um imóvel urbano que foi declarado área de preservação permanente (APP). Além disso, em 2/3 do seu imóvel foi instituída nota “non edificandi”, ou seja, ele ficou proibido de construir qualquer coisa em 2/3 desse terreno. Diante disso, João ajuizou ação contra o Município pedindo que o IPTU fosse cobrado proporcionalmente e incidisse somente sobre 1/3 da área.

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O pedido de João pode ser aceito? NÃO. O IPTU continuará sendo pago sobre a totalidade do imóvel. Segundo decidiu o STJ, o fato de parte de um imóvel urbano ter sido declarada como Área de Preservação Permanente (APP) e, além disso, sofrer restrição administrativa consistente na proibição de construir (nota “non aedificandi”) não impede a incidência de IPTU sobre toda a área do imóvel. O fato de o imóvel sofrer restrições quanto à sua utilização pelo fato de ser uma área de preservação permanente não afasta a incidência do IPTU, uma vez que o fato gerador do imposto permanece íntegro, qual seja, a propriedade localizada na zona urbana do município. Além disso, a circunstância de parte do imóvel ser considerada como área “non aedificandi” (área com restrições legais ou contratuais onde não é permitido construir) também não afasta a cobrança do IPTU, pois não há perda da propriedade, mas apenas restrições de uso, a fim de viabilizar que a propriedade atenda à sua verdadeira função social. Logo, se o fato gerador do IPTU é a propriedade de imóvel urbano (art. 32 do CTN), a simples limitação administrativa de proibição para construir não impede a sua cobrança.

EXERCÍCIOS Julgue os itens a seguir: 1) É juridicamente possível o pedido de alimentos decorrente do rompimento de união estável

homoafetiva. ( ) 2) (Promotor MP/PR 2014 banca própria) Nas ações coletivas de que trata o Código de Defesa do

Consumidor não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogados, custas e despesas processuais. ( )

3) (Promotor MP/AC 2014 CESPE) Segundo a lei que dispõe sobre a ACP, deve haver adiantamento de custas e honorários periciais. ( )

4) (DPE/ES 2012 CESPE) Nas ações coletivas para a defesa dos direitos e interesses dos consumidores, a lei dispensa a parte autora do adiantamento de custas judiciais e emolumentos, mas a obriga a arcar, em qualquer caso, com o pagamento de eventuais honorários periciais e advocatícios. ( )

5) (Promotor MP/PI 2012 CESPE) Associação legalmente constituída há pelo menos um ano e que inclua entre seus fins institucionais a defesa do consumidor poderá propor as ações coletivas de que trata o CDC, ficando dispensada do adiantamento de custas, emolumentos e honorários periciais se comprovada a sua incapacidade econômica para arcar com tais despesas. ( )

6) O devedor possui interesse de agir na ação para exigir contas referente aos contratos de mútuo e financiamento. ( )

7) (Promotor MP/PR 2014 banca própria) A autorização para saída temporária aos condenados que cumprem pena em regime semiaberto, somente poderá ser deferida pelo diretor do estabelecimento penal, quando houver a utilização de equipamento de monitoração eletrônica. ( )

8) (DPE/AC 2012 CESPE) Consoante a Lei n.º 7.210/1984, a autorização para a saída temporária poderá ser concedida A) pelo diretor do presídio aos presos que, cumprindo pena em regime semiaberto, necessitem de tratamento médico. B) pelo juiz da vara de execuções penais aos presos que cumpram pena em regime fechado, para tratamento médico próprio ou em caso de falecimento ou doença grave de cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou irmão.

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C) pelo juiz da vara de execuções penais aos presos que cumpram pena em regime fechado, para visitas à família, frequência a cursos de instrução e participação em atividades que concorram para o seu retorno ao convívio social. D) pelo diretor do presídio aos presos que cumpram pena em regime fechado, na ocorrência de falecimento ou doença grave de cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou irmão. E) pelo juiz da vara de execuções penais aos presos que cumpram pena em regime semiaberto, para visitas à família, frequência a cursos de instrução e participação em atividades que concorram para o seu retorno ao convívio social.

9) (Juiz TJ/BA 2012 CESPE) A monitoração eletrônica não se aplica ao condenado que, cumprindo pena em

regime semiaberto, obtenha autorização de saída temporária do estabelecimento para visita à família, sem vigilância direta. ( )

10) (Promotor MP/PE 2014 FCC) No tocante às autorizações de saída, pode-se assegurar que

A) a autorização de saída temporária será concedida por ato motivado do juiz da execução, ouvida unicamente a administração penitenciária. B) apenas os condenados que cumprem pena no regime fechado poderão obter permissão para sair do estabelecimento em virtude de falecimento ou doença grave do cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou irmão. C) indevida a determinação de utilização de equipamento de monitoração eletrônica pelo condenado durante saída temporária, possível apenas como medida cautelar diversa da prisão. D) apenas os condenados que cumprem pena em regime semiaberto poderão obter autorização para saída temporária do estabelecimento, sem vigilância direta, para visita à família. E) os presos provisórios não poderão obter permissão de saída do estabelecimento.

11) (Juiz TJ/RN 2013 CESPE) Conforme estabelece a Lei de Execução Penal, a saída temporária poderá ser

concedida por decisão exclusiva da autoridade penitenciária ao preso que cumpra pena no regime semiaberto, estando sujeita à fiscalização pelo MP e pelo juiz da execução. ( )

12) (Juiz TJ/AC 2012 CESPE) A saída temporária pode ser concedida aos condenados que cumpram pena em regime fechado e semiaberto e aos presos provisórios, mediante autorização do diretor do estabelecimento onde se encontram presos. ( )

13) (DP/DF 2013 CESPE) A autorização para saída temporária, sem vigilância direta, do estabelecimento prisional, para participação em atividades que concorram para o retorno ao convívio social, pode ser obtida por condenados que cumpram pena em regime fechado e semiaberto. ( )

14) (Promotor MP/SP 2013 banca própria) O benefício da saída temporária, sem vigilância direta, para frequência a curso supletivo profissionalizante, não se estende a condenados que cumprem pena no regime fechado. ( )

15) (Juiz TJ/PR 2013 UFPR) Os condenados que cumprem pena em regime semiaberto poderão obter autorização para saída temporária do estabelecimento, sem vigilância direta, nos seguintes casos: visita à família; frequência a curso supletivo profissionalizante, bem como de instrução do 2º grau ou superior, na Comarca do Juízo da Execução e participação em atividades que concorram para o retorno ao convívio social. ( )

16) (Promotor MP/DFT 2013 banca própria) Após progredir do regime fechado, deverá o sentenciado não reincidente cumprir ao menos 1/6 (um sexto) de pena no regime semiaberto para obter o direito à saída temporária. ( )

Gabarito 1. C 2. C 3. E 4. E 5. E 6. E 7. E 8. Letra E 9. E 10. Letra D 11. E 12. E 13. E 14. C 15. C 16. E

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JULGADO NÃO COMENTADO

DIREITO ADMINISTRATIVO. PERÍODO DE INCIDÊNCIA DO REAJUSTE DE 28,86% SOBRE A GRATIFICAÇÃO DE ESTÍMULO À FISCALIZAÇÃO E ARRECADAÇÃO. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ). O reajuste de 28,86% sobre a Gratificação de Estímulo à Fiscalização e Arrecadação - GEFA incide, após a edição da MP 831/1995 até a edição da MP 1.915-1/1999, mais precisamente, no período de janeiro de 1995 a julho de 1999. A despeito de ser firme o entendimento do STJ no sentido de não incidir o reajuste de 28,86% sobre a GEFA, porque essa gratificação seria calculada com base no vencimento básico do respectivo servidor, sob pena de bis in idem, observa-se que esse entendimento não se aplica indistintamente durante todo o período em que vigorou a referida vantagem. Nessa linha intelectiva, analisando-se os reajustes concedidos pelas Leis 8.460/1992, 8.622/1993 e 8.627/1993, não há como se confundir o pagamento do reajuste de 28,86% sobre o vencimento básico do Auditor Fiscal (o que é compensável pelo reposicionamento) com o pagamento do mesmo reajuste sobre a GEFA, cuja base de cálculo é o padrão A-III multiplicado por oito, no período de janeiro de 1995 a julho de 1999. Assim, os reajustes concedidos pelas Leis 8.622/1993 e 8.627/1993 não justificam compensação, à luz do entendimento do STF no RMS 22.307-DF e da Súmula 672 do STF. Portanto, não restam dúvidas acerca da incidência do reajuste de 28,86% sobre GEFA a partir da edição da MP 831/1995, quando houve a modificação da base de cálculo da referida gratificação, uma vez que o aumento salarial concedido aos servidores pela Lei 8.627/1993, a despeito do reposicionamento em três padrões de vencimento (art. 3°, II), não é compensável com o reajuste de 28,86%, posto tratar-se de aumentos distintos, um decorrente de reposicionamento e o outro de revisão geral de vencimentos, conforme firmado pelo Pretório Excelso. Por fim, com a edição da MP 1.915, de 30/7/1999, houve reestruturação da carreira de Auditoria do Tesouro Nacional, alterando a nomenclatura para “Carreira Auditoria da Receita Federal”, além de dispor, em seu art. 14, que “os integrantes da Carreira da Auditoria-Fiscal da Previdência Social e da Carreira Fiscalização do Trabalho não fazem jus à percepção da Gratificação de Estímulo à Fiscalização e Arrecadação - GEFA, criada pelo Decreto-Lei nº 2.371, de 18 de novembro de 1987”, que foi substituída pela Gratificação de Desempenho de Atividade Tributária – GDAT (art. 7º), calculada no percentual de até cinquenta por cento, incidente sobre o vencimento básico do servidor. REsp 1.478.439-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, julgado em 25/3/2015, DJe 27/3/2015.