27
Informativo 756-STF (09/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Márcio André Lopes Cavalcante Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: EP 23 AgR/DF; ADI 1798/BA; ADI 2294/RS; ADI 251/CE; RE 677730/RS; ARE 721001 RG-ED/RJ; Inq 3752/DF. Leia-os ao final. ÍNDICE Direito Constitucional Emenda parlamentar a proposições legislativas de iniciativa privativa do chefe do Executivo. Análise do art. 102, I, “f”, da CF/88. Recurso contra a prova oral nos concursos da magistratura. Direito Administrativo Impossibilidade de concessão de aumentos para servidores com base no princípio da isonomia. Contratação pela Administração Pública sem concurso público e ausência de efeitos trabalhistas. Direito Penal Princípio da insignificância e condenação anterior por lesão corporal. Art. 89 da Lei 8.666/93. Direito Previdenciário Necessidade de prévio requerimento administrativo para a concessão de benefício previdenciário na vida judicial. DIREITO CONSTITUCIONAL Emenda parlamentar a proposições legislativas de iniciativa privativa do chefe do Executivo O parlamentar poderá apresentar emendas em um projeto de lei que seja de iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo? Em outras palavras, o projeto de lei que trata sobre uma das matérias do art. 61, § 1º da CF/88 e que esteja tramitando no Parlamento poderá ser alterado pelos parlamentares? SIM. É possível que haja emenda parlamentar em um projeto de lei de iniciativa reservada ao Chefe do Poder Executivo, desde que cumpridos dois requisitos: a) haja pertinência temática (a emenda não trate sobre assunto diferente do projeto original); e b) a emenda não acarrete aumento de despesas (art. 63, I, da CF/88). Diante disso, o STF considerou inconstitucional a emenda apresentada por parlamentar a uma PEC de iniciativa do Governador que instituía o teto do funcionalismo estadual. A emenda do Deputado previa exceções ao teto de forma que acabava criando despesas, o que viola o art. 63, I, da CF/88 aplicável ao processo legislativo estadual com base no princípio da simetria. STF. Plenário. ADI 5087 MC/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 27/8/2014 (Info 756).

ÍNDICE - dizerodireitodotnet.files.wordpress.com · Contratação pela Administração Pública sem concurso público e ausência de efeitos trabalhistas. Direito Penal Princípio

  • Upload
    dangbao

  • View
    215

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Informativo 756-STF (09/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1

Márcio André Lopes Cavalcante Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: EP 23 AgR/DF; ADI 1798/BA; ADI 2294/RS; ADI 251/CE; RE 677730/RS; ARE 721001 RG-ED/RJ; Inq 3752/DF. Leia-os ao final.

ÍNDICE Direito Constitucional Emenda parlamentar a proposições legislativas de iniciativa privativa do chefe do Executivo. Análise do art. 102, I, “f”, da CF/88. Recurso contra a prova oral nos concursos da magistratura.

Direito Administrativo Impossibilidade de concessão de aumentos para servidores com base no princípio da isonomia. Contratação pela Administração Pública sem concurso público e ausência de efeitos trabalhistas.

Direito Penal Princípio da insignificância e condenação anterior por lesão corporal. Art. 89 da Lei 8.666/93.

Direito Previdenciário Necessidade de prévio requerimento administrativo para a concessão de benefício previdenciário na vida judicial.

DIREITO CONSTITUCIONAL

Emenda parlamentar a proposições legislativas de iniciativa privativa do chefe do Executivo

O parlamentar poderá apresentar emendas em um projeto de lei que seja de iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo? Em outras palavras, o projeto de lei que trata sobre uma das matérias do art. 61, § 1º da CF/88 e que esteja tramitando no Parlamento poderá ser alterado pelos parlamentares?

SIM. É possível que haja emenda parlamentar em um projeto de lei de iniciativa reservada ao Chefe do Poder Executivo, desde que cumpridos dois requisitos:

a) haja pertinência temática (a emenda não trate sobre assunto diferente do projeto original); e

b) a emenda não acarrete aumento de despesas (art. 63, I, da CF/88).

Diante disso, o STF considerou inconstitucional a emenda apresentada por parlamentar a uma PEC de iniciativa do Governador que instituía o teto do funcionalismo estadual. A emenda do Deputado previa exceções ao teto de forma que acabava criando despesas, o que viola o art. 63, I, da CF/88 aplicável ao processo legislativo estadual com base no princípio da simetria.

STF. Plenário. ADI 5087 MC/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 27/8/2014 (Info 756).

Informativo 756-STF (09/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2

Projetos de lei de iniciativa do chefe do Poder Executivo A CF/88 prevê que determinados projetos de lei que tratam sobre certas matérias somente poderão ser propostos pelo chefe do Poder Executivo. Essa relação de assuntos está no § 1º do art. 61 da CF/88 e é importante que você conheça por ser cobrada com frequência nas provas:

Art. 61 (...) § 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: I - fixem ou modifiquem os efetivos das Forças Armadas; II - disponham sobre: a) criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta e autárquica ou aumento de sua remuneração; b) organização administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária, serviços públicos e pessoal da administração dos Territórios; c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria; d) organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da União, bem como normas gerais para a organização do Ministério Público e da Defensoria Pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios; e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública, observado o disposto no art. 84, VI; f) militares das Forças Armadas, seu regime jurídico, provimento de cargos, promoções, estabilidade, remuneração, reforma e transferência para a reserva.

O § 1º do art. 63 acima transcrito fala em “Presidente da República” e não em “Governador”. Apesar disso, podemos aplicar esse dispositivo também no caso de projetos de lei apresentados na Assembleia Legislativa? SIM. Essa regra é aplicada também no âmbito estadual por força do princípio da simetria. Segundo o princípio ou regra da simetria, o legislador constituinte estadual, ao elaborar as normas da Constituição estadual sobre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e sobre as regras do pacto federativo, deverá observar, em linhas gerais, o mesmo modelo imposto pela Constituição Federal, a fim de manter a harmonia e independência entre eles. Ex: a CE não pode estabelecer que o projeto de lei para a criação de cargos na Administração Pública estadual seja de iniciativa parlamentar. Tal previsão violaria o princípio da simetria, já que iria de encontro ao modelo federal imposto pelo art. 61, § 1º, I, “b”, da CF/88. O princípio da simetria não está previsto de forma expressa na CF/88. Foi uma criação pretoriana, ou seja, idealizado pela jurisprudência do STF. Alguns Ministros invocam como fundamento normativo para a sua existência, o art. 25 da CF e o art. 11 do ADCT, que determinam aos Estados-membros a observância dos princípios da Constituição da República. As regras de processo legislativo previstas na CF/88 são normas de reprodução obrigatória pelos Estados-membros, ou seja, estão submetidas ao princípio da simetria. O parlamentar poderá apresentar emendas em um projeto de lei que seja de iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo? Em outras palavras, o projeto de lei que trata sobre uma das matérias do art. 61, § 1º da CF/88 e que esteja tramitando no Parlamento poderá ser alterado pelos parlamentares? SIM. É possível que haja emenda parlamentar em um projeto de lei de iniciativa reservada ao Chefe do Poder Executivo, desde que cumpridos dois requisitos: a) haja pertinência temática (a emenda não trate sobre assunto diferente do projeto original); e b) a emenda não acarrete aumento de despesas (art. 63, I, da CF/88). Assim, nos projeto de lei de iniciativa do Chefe do Executivo, o parlamentar pode até propor emendas, mas estas deverão respeitar as restrições trazidas pelo art. 63, I, da CF/88.

Informativo 756-STF (09/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3

Art. 63. Não será admitido aumento da despesa prevista: I - nos projetos de iniciativa exclusiva do Presidente da República, ressalvado o disposto no art. 166, § 3º e § 4º; Obs: os §§ 3º e 4º tratam sobre os projetos de lei orçamentária e da LDO; nesses dois casos é possível que a emenda parlamentar acarrete aumento de despesas.

Veja um precedente antigo do Supremo nesse sentido:

(...) A atuação dos integrantes da Assembleia Legislativa dos Estados-membros acha-se submetida, no processo de formação das leis, à limitação imposta pelo art. 63 da Constituição, que veda - ressalvadas as proposições de natureza orçamentária - o oferecimento de emendas parlamentares de que resulte o aumento da despesa prevista nos projetos sujeitos ao exclusivo poder de iniciativa do Governador do Estado ou referentes à organização administrativa dos Poderes Legislativo e Judiciário locais, bem assim do Ministério Público estadual. (...) O poder de emendar - que não constitui derivação do poder de iniciar o processo de formação das leis - qualifica-se como prerrogativa deferida aos parlamentares, que se sujeitam, no entanto, quanto ao seu exercício, às restrições impostas, em “numerus clausus”, pela Constituição Federal. (...) Revela-se plenamente legítimo, desse modo, o exercício do poder de emenda pelos parlamentares, mesmo quando se tratar de projetos de lei sujeitos à reserva de iniciativa de outros órgãos e Poderes do Estado, incidindo, no entanto, sobre essa prerrogativa parlamentar - que é inerente à atividade legislativa -, as restrições decorrentes do próprio texto constitucional (CF, art. 63, I e II), bem assim aquela fundada na exigência de que as emendas de iniciativa parlamentar sempre guardem relação de pertinência (“afinidade lógica”) com o objeto da proposição legislativa. Doutrina. (...) STF. Plenário. ADI 2681 MC, Rel. Min. Celso De Mello, julgado em 11/09/2002.

Os Deputados poderão apresentar uma proposta de emenda constitucional tratando sobre algum dos assuntos mencionados no art. 61, § 1º da CF/88? NÃO. O STF entende que, se houver uma emenda constitucional tratando sobre alguma dos assuntos listados no art. 61, § 1º da CF/88 essa emenda deve ter sido proposta pelo chefe do Poder Executivo. Assim, é incabível que os parlamentares proponham uma emenda constitucional dispondo sobre o regime jurídico dos servidores públicos, por exemplo (art. 61, § 1º, II, “c”). Se isso fosse permitido, seria uma forma de burlar a regra do art. 61, § 1º da CF/88. Em suma, “matéria restrita à iniciativa do Poder Executivo não pode ser regulada por emenda constitucional de origem parlamentar” (STF. Plenário. ADI 2.966, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em 06/04/2005). Se o chefe do Executivo enviar uma PEC tratando sobre um dos temas do § 1º do art. 61 da CF/88, os parlamentares poderão propor emendas alterando essa proposição? SIM, desde que: c) haja pertinência temática (a emenda não trate sobre assunto diferente do projeto original); e d) não acarrete aumento de despesas (art. 63, I, da CF/88). Perceba, portanto, que incidirão as mesmas restrições que haveria caso tivesse sido proposto um projeto de lei. Feitos esses esclarecimentos, vejamos o que foi julgado pelo STF: O Governador de determinado Estado enviou à ALE uma proposta de emenda à Constituição Estadual (PEC) fixando o teto remuneratório aos servidores públicos estaduais, ou seja, matéria que se enquadra no art. 61, § 1º, II, “a”.

Informativo 756-STF (09/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4

Os Deputados apresentaram uma emenda a essa PEC prevendo, em um parágrafo, que determinadas verbas estariam fora do teto do funcionalismo. A PEC foi aprovada, inclusive com a alteração inserida pela emenda parlamentar. O STF entendeu que o parágrafo inserido pela emenda parlamentar é inconstitucional por violar o art. 63, I, da CF/88. Isso porque a emenda parlamentar aumentou despesas. Segundo afirmou o Min. Relator Teori Zavascki, ao criar hipóteses de exceção à incidência do teto remuneratório do serviço público estadual e, consequentemente, exceder o prognóstico de despesas contemplado no texto original do projeto encaminhado pelo Chefe do Poder Executivo estadual, a Assembleia Legislativa atuou em domínio temático sobre o qual não lhe seria permitido interferir, de modo a configurar abuso de poder legislativo.

Análise do art. 102, I, “f”, da CF/88

Segundo o art. 102, I, “f”, da CF/88, compete ao STF processar e julgar “as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta”.

O STF confere interpretação restritiva a esse dispositivo e entende que, para se caracterizar a hipótese do art. 102, I, “f”, da CF/88 é indispensável que, além de haver uma causa envolvendo União e Estado, essa demanda tenha densidade suficiente para abalar o pacto federativo. Em outras palavras, não é qualquer causa envolvendo União contra Estado que irá ser julgada pelo STF, mas somente quando essa disputa puder resultar em ofensa às regras do sistema federativo.

STF. 1ª Turma. Rcl 12957/AM, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 26/8/2014 (Info 756).

A situação concreta foi a seguinte: Na cidade de Manaus existe um monumento natural chamado de “Encontro das Águas” e que consiste na confluência (encontro) do rio Negro (que tem águas pretas) com o rio Solimões (que tem coloração barrenta). Trata-se de um importante ponto turístico da cidade porque as águas dos dois rios correm lado a lado sem se misturarem por uma extensão de mais de 6 km, gerando um belo e interessante visual. Veja abaixo uma imagem do fenômeno:

Informativo 756-STF (09/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5

Em 2008, iniciou-se um projeto para a construção de um Terminal Portuário nas proximidades do “Encontro das Águas”. O Governo do Estado e a autarquia ambiental estadual (IPAAM) foram favoráveis ao projeto por não vislumbrarem danos ambientais ao “Encontro das Águas”. O IPHAN (autarquia federal), por sua vez, a partir de uma ação civil pública do MPF, declarou o tombamento do “Encontro das Águas” e, por concluir que o novo porto iria afetar esse patrimônio histórico natural, determinou a paralisação das obras. A continuidade ou não das obras e a validade ou não do tombamento ficaram sendo discutidas na vara ambiental federal de Manaus. De um lado, estava o MPF e o IPHAN, e de outro a empresa responsável pelo projeto do porto, o Estado do Amazonas e o IPAAM. O juiz federal determinou a anulação do tombamento por vícios formais. Contra essa decisão, o Procurador Geral da República propôs uma reclamação no STF alegando que o juiz federal usurpou a competência da Corte considerando que se estava diante de um conflito federativo, o que atrai a hipótese do art. 102, I, “f”, da CF/88:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente: f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta;

O STF concordou com o pedido? SIM. A 1ª Turma julgou procedente a reclamação e determinou ao juiz federal da vara ambiental do Amazonas que remeta ao STF as três ações que tratam sobre o tema para serem julgadas pela Corte Constitucional. O STF, inicialmente, afirmou que, para se caracterizar a hipótese do art. 102, I, “f”, da CF/88 é indispensável que, além de haver uma causa envolvendo União e Estado, essa demanda tenha densidade suficiente para abalar o pacto federativo. Em outras palavras, não é qualquer causa envolvendo União contra Estado que irá ser julgada pelo STF, mas somente quando essa disputa puder resultar em ofensa às regras do sistema federativo. Confira: “Diferença entre conflito entre entes federados e conflito federativo: enquanto no primeiro, pelo prisma subjetivo, observa-se a litigância judicial promovida pelos membros da Federação, no segundo, para além da participação desses na lide, a conflituosidade da causa importa em potencial desestabilização do próprio pacto federativo. Há, portanto, distinção de magnitude nas hipóteses aventadas, sendo que o legislador constitucional restringiu a atuação da Corte à última delas, nos moldes fixados no Texto Magno, e não incluiu os litígios e as causas envolvendo Municípios como ensejadores de conflito federativo apto a exigir a competência originária da Corte.” (STF. Plenário. ACO 1.295-AgR-segundo, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 14/10/2010).

Mero conflito entre entes federados Conflito federativo

Trata-se da disputa judicial envolvendo União (ou suas entidades) contra Estado-membro (ou suas entidades).

Trata-se da disputa judicial envolvendo União (ou suas entidades) contra Estado-membro (ou suas entidades) e que, em razão da magnitude do tema discutido, pode gerar uma desestabilização do próprio pacto federativo.

Em regra, é julgado pelo juiz federal de 1ª instância. É julgado pelo STF (art. 102, I, “f” da CF/88).

No caso concreto, a 1ª Turma do STF entendeu que, além do mero conflito entre entes federados, havia verdadeiro conflito federativo, o que justifica o deslocamento da competência para o STF.

Informativo 756-STF (09/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6

Recurso contra a prova oral nos concursos da magistratura

Cabe recurso administrativo contra a prova oral nos concursos da magistratura?

Depende:

• Se o recurso tiver por objetivo impugnar os critérios de correção aplicados pelo examinador para as respostas dadas (discutir o acerto das respostas): NÃO

• Se o recurso tiver por objetivo impugnar alguma questão que esteja fora do conteúdo programático ou suscitar outras violações formais ao edital ou à Resolução: SIM.

STF. 2ª Turma. MS 32042/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 26/8/2014 (Info 756).

Resolução 75/2009-CNJ Os concursos públicos para ingresso na carreira da magistratura são regidos pela Resolução 75/2009 do Conselho Nacional de Justiça, que traz regras sobre todas as etapas do certame, inclusive sobre a prova oral. Prova oral Segundo a Resolução, a prova oral deverá ser prestada em sessão pública, na presença de todos os membros da Comissão Examinadora, sendo examinado um candidato por vez. A prova oral deverá ser gravada em áudio ou por qualquer outro meio que possibilite a sua posterior reprodução. Os temas e disciplinas que serão perguntados na prova oral são os mesmos das provas discursivas e serão agrupados em pontos que serão sorteados 24 horas antes da arguição. Vedação do § 1º do art. 70 O § 1º do art. 70 da Resolução traz a seguinte regra:

§ 1º É irretratável em sede recursal a nota atribuída na prova oral.

É preciso ter cautela para evitar uma interpretação rápida e equivocada dessa previsão. Para entender melhor esse dispositivo, vejamos o seguinte exemplo: João e Pedro estavam fazendo concurso para juiz de direito. Ambos foram reprovados na prova oral por terem tirado nota 5,9 (o mínimo é 6) na prova de Direito Penal. João apresentou recurso alegando que as respostas dadas por ele ao examinador de Direito Penal foram todas corretas ou, pelo menos, deveriam receber nota acima de 6. Pedro, por sua vez, recorreu argumentando que uma das perguntas feitas pelo examinador de Direito Penal (e que ele não soube responder) foi sobre um crime que não estava dentro do ponto a ele sorteado para a prova oral. Logo, segundo Pedro, essa pergunta deveria ser anulada e os pontos das demais questões serem redistribuídos, o que faria com que sua nota aumentasse. Os recursos administrativos interpostos pelos candidatos poderão ser conhecidos? O recurso de João não poderá ser conhecido pela comissão, mas o de Pedro sim. O recurso de João encontra realmente óbice no § 1º do art. 70 da Resolução, mas o de Pedro não. É preciso entender a correta interpretação da regra do § 1º do art. 70. O que a Resolução veda é que o candidato recorra contra o juízo de mérito feito pelo examinador sobre as respostas apresentadas pelo examinando. Os critérios de avaliação das respostas e a nota atribuída a cada uma delas estão dentro da independência do avaliador e não podem ser questionadas no recurso.

Informativo 756-STF (09/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7

De outro lado, é plenamente possível que o candidato recorra contra a prova oral caso esta descumpra as regras do edital ou da Resolução, como na hipótese em que o examinador formula perguntas que não estão no programa sorteado para aquele candidato. Isso pode ser objeto de recurso considerando que se trata do controle da própria legalidade do ato. Esse foi o entendimento da 2ª Turma do STF no MS 32042/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 26/8/2014 (Info 756). Como explica a Min. Cármen Lúcia: “O entendimento externado na decisão impugnada, segundo o qual a irretratabilidade da nota atribuída ao candidato no exame oral redundaria no não cabimento de recurso administrativo, não prospera. Essa proposição, se admitida, equivaleria à irreversibilidade, pela via administrativa, de todos os atos praticados pela comissão examinadora do concurso, não apenas aqueles relacionados ao mérito das questões formuladas e à valoração das respostas apresentadas pelos candidatos, que, por certo, justificam essa proteção. Seria criado, com isso, campo fértil para a prática de toda sorte de irregularidades e abusos, pois, escudada na pretensa irrecorribilidade de seus atos e na soberania de sua avaliação, poderia a comissão examinadora favorecer candidatos ou mesmo praticar graves perseguições. Não é isso, contudo, que se tem presente. (...) Ressalte-se que a inquirição sobre pontos jurídicos diversos daqueles atribuídos previamente por sorteio frustra a previsibilidade dos candidatos, desestabilizando-os e colocando-os em situação de desigualdade em relação aos demais. Não se pode, portanto, a pretexto de assegurar a independência da comissão examinadora do concurso, desviar o olhar da ilegalidade apontada.” Em suma: cabe recurso contra a prova oral nos concursos da magistratura? Depende:

Se o recurso tiver por objetivo impugnar os critérios de correção aplicados pelo examinador para as

respostas dadas (discutir o acerto das respostas): NÃO (§ 1º do art. 70 da Resolução n. 75/2009-CNJ).

Se o recurso tiver por objetivo impugnar alguma questão que esteja fora do conteúdo programático ou suscitar outras violações formais ao edital ou à Resolução: SIM.

DIREITO ADMINISTRATIVO

Impossibilidade de concessão de aumentos para servidores com base no princípio da isonomia

O Poder Judiciário não tem poder para conceder aumentos para servidores regidos pelo regime estatutário com base no princípio da isonomia.

Súmula 339-STF: Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob fundamento de isonomia.

STF. Plenário. RE 592317/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 28/8/2014 (repercussão geral) (Info 756).

Imagine a seguinte situação adaptada: A Lei 2.377/1995, do Município do Rio de Janeiro, concedeu gratificação a servidores lotados e em exercício na Secretaria Municipal de Administração. João, servidor que estava lotado em outra Secretaria, ajuizou ação pedindo que fosse reconhecido seu direito de também receber a referida gratificação, com base no princípio da isonomia.

Informativo 756-STF (09/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8

O pedido do servidor deve ser aceito? NÃO. Esse pedido, caso fosse deferido, violaria o princípio da reserva legal, prevista no art. 37, X, da C/88 segundo o qual a remuneração dos servidores públicos somente pode ser fixada por lei específica. Além disso, o STF tem entendimento sumulado no sentido de que o Poder Judiciário não tem poder para conceder aumentos para servidores regidos pelo regime estatutário com base no princípio da isonomia:

Súmula 339-STF: Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob fundamento de isonomia.

Contratação pela Administração Pública sem concurso público e ausência de efeitos trabalhistas

Importante!!!

É nula a contratação de pessoal pela Administração Pública sem a observância de prévia aprovação em concurso público, razão pela qual não gera quaisquer efeitos jurídicos válidos em relação ao empregado eventualmente contratado, ressalvados:

o direito de ele receber os salários referentes ao período trabalhado; e o direito de ele levantar os depósitos do FGTS (art. 19-A da Lei 8.036/90).

STF. Plenário. RE 705140/RS, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 28/8/2014 (repercussão geral) (Info 756).

Regra do concurso público O art. 37, II, da CF/88 estabelece que, para a pessoa assumir um cargo ou emprego na administração pública, ela precisa antes ser aprovada em concurso público:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...) II – a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração;

Caso uma pessoa assuma cargo ou emprego público sem concurso público (fora das hipóteses permitidas pela Constituição), qual será a consequência? O § 2º do art. 37 determina que:

o ato de investidura seja declarado nulo; e

a autoridade responsável pelo ato seja punida, nos termos da lei (ex: improbidade). Imagine agora a seguinte situação: João foi contratado, sem concurso, para trabalhar em uma autarquia pública estadual (emprego público). Quando mudou a direção dessa autarquia, o novo diretor declarou que esse contrato de trabalho era nulo e dispensou o funcionário. João procurou a Justiça do Trabalho e ajuizou reclamação trabalhista contra essa autarquia pedindo sua reintegração ao emprego ou, subsidiariamente, o pagamento de todas as verbas trabalhistas referentes ao período em que laborou (aviso prévio, gratificação natalina, férias, adicional etc.).

Informativo 756-STF (09/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9

João poderá ser reintegrado ao emprego público? NÃO, considerando que o contrato de trabalho que tinha com a autarquia era nulo, por violação ao art. 37, II, da CF/88. João terá direito a receber todas as verbas trabalhistas que ele está pleiteando? NÃO. Ele terá direito apenas a duas verbas:

Verba Fundamento

1) O saldo de salário pelo número de horas trabalhadas.

Princípio que veda o enriquecimento sem causa do Poder Público. Como ele trabalhou, tem direito de ser ressarcido por isso.

2) Os valores referentes aos depósitos do FGTS. Art. 19-A da Lei nº 8.036/90.

Obs: João não terá direito a receber as demais verbas trabalhistas como 13º salário, férias acrescidas de 1/3, FGTS acrescido de 40%, adicionais legais etc. O TST também adota esse entendimento? SIM, está expresso na súmula 363:

Contratação de Servidor Público sem Concurso – Efeitos e Direitos A contratação de servidor público, após a CF/1988, sem prévia aprovação em concurso público, encontra óbice no respectivo art. 37, II e § 2º, somente lhe conferindo direito ao pagamento da contraprestação pactuada, em relação ao número de horas trabalhadas, respeitado o valor da hora do salário mínimo, e dos valores referentes aos depósitos do FGTS.

Vejamos o que diz o art. 19-A da Lei nº 8.036/90:

Art. 19-A. É devido o depósito do FGTS na conta vinculada do trabalhador cujo contrato de trabalho seja declarado nulo nas hipóteses previstas no art. 37, § 2º, da Constituição Federal, quando mantido o direito ao salário. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.164-41, de 2001)

Discussão sobre a constitucionalidade desse entendimento: Como vimos acima, a pessoa contratada sem concurso público tem direito apenas aos salários do período trabalhado e ao levantamento do FGTS. Esse entendimento era bastante questionado tanto pelos trabalhadores como pela Fazenda Pública. De um lado, os trabalhadores defendiam a tese de que tinham direito às demais verbas trabalhistas. De outro, a Fazenda Pública afirmava que o art. 19-A da Lei nº 8.036/90 seria inconstitucional por violar o art. 37, II e § 2º da CF/88. Para ela, se a CF/88 determinou que o ato de contratar sem concurso é nulo, não poderia a lei prever a produção de efeitos, como o pagamento do FGTS. O STF acatou a tese dos trabalhadores ou a tese da Fazenda Pública? NÃO. Nenhuma das duas. Tese dos trabalhadores de que seriam devidas outras verbas Para o STF, não é possível reconhecer a existência de vínculo empregatício nem conceder ao contratado os respectivos direitos trabalhistas porque o art. 37, § 2º, da CF/88 atribui às contratações sem concurso “uma espécie de nulidade jurídica qualificada”, cuja consequência é não só o desfazimento imediato da relação, mas também a punição da autoridade responsável. “Daí afirmar-se que o dispositivo impõe a ascendência do concurso no cenário do direito público brasileiro, cuja prevalência é garantida mesmo diante de interesses de valor social considerável, como aqueles protegidos pelas verbas rescisórias nos contratos por tempo indeterminado, considerado inexigíveis em face da nulidade do pacto celebrado contra a Constituição”, assinalou o Min. Teori Zavascki.

Informativo 756-STF (09/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10

Assim, o único efeito jurídico válido, nessas circunstâncias, é o direito aos salários correspondentes aos serviços efetivamente prestados e a possibilidade de recebimento dos valores depositados na conta vinculada do trabalhador no FGTS. Este último, inclusive, só passou a ser admitido após a introdução, em 2001, do artigo 19-A na Lei 8.036/1990, que regulamenta o FGTS, contendo previsão expressa nesse sentido. STF. Plenário. RE 705140/RS, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 28/8/2014. Tese da Fazenda Pública de que o art. 19-A seria inconstitucional O STF, em apertado julgamento, entendeu que o art. 19-A da Lei nº 8.036/90 não afronta a CF/88. Isso porque mesmo sendo declarada a nulidade da contratação, nos termos do § 2º do art. 37 da CF/88, é certo que este fato jurídico existiu e produziu efeitos residuais. O STF tem levado em consideração a necessidade de se garantir a fatos nulos, mas existentes juridicamente, os seus efeitos. Não é possível aplicar, neste caso, a teoria civilista das nulidades, de modo a retroagir todos os efeitos desconstitutivos dessa relação. Se houver irregularidade na contratação de servidor sem concurso público, o responsável, comprovado dolo ou culpa, deve responder regressivamente, nos termos do art. 37 da CF/88, de forma que não haja prejuízo para os cofres públicos. STF. Plenário. RE 596478/RR, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em 13/6/2012. Em suma: É nula a contratação de pessoal pela Administração Pública sem a observância de prévia aprovação em concurso público, razão pela qual não gera quaisquer efeitos jurídicos válidos em relação aos empregados eventualmente contratados, ressalvados os direitos à percepção dos salários referentes ao período trabalhado e, nos termos do art. 19-A da Lei 8.036/1990, ao levantamento dos depósitos efetuados no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS.

DIREITO PENAL

Princípio da insignificância e condenação anterior por lesão corporal

É possível a aplicação do princípio da insignificância para réus reincidentes ou que respondam a outros inquéritos ou ações penais?

Em regra NÃO.

No entanto, o STF reconheceu a aplicação do princípio a um réu que praticou um furto de 16 reais, mesmo já tendo sido condenado por lesão corporal anteriormente.

Entendeu-se que é possível aplicar o princípio da insignificância mesmo havendo essa condenação, porque a contumácia de infrações penais que não têm o patrimônio como bem jurídico tutelado pela norma penal (a exemplo da lesão corporal) não pode ser valorada como fator impeditivo à aplicação do princípio da insignificância.

STF. 2ª Turma. HC 114723/MG, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 26/8/2014 (Info 756).

É possível a aplicação do princípio da insignificância para réus reincidentes ou que respondam a outros inquéritos ou ações penais? Em regra NÃO. É a posição que atualmente prevalece, sendo adotada pela 5ª Turma do STJ e pelo STF.

Informativo 756-STF (09/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11

(...) A reiteração delitiva, comprovada pela certidão de antecedentes criminais do paciente, impossibilita a aplicação do princípio da insignificância. (...) (STF. 1ª Turma. HC 109705, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 22/04/2014). (...) Sentenciados reincidentes na prática de crimes contra o patrimônio. Precedentes do STF no sentido de afastar a aplicação do princípio da insignificância aos acusados reincidentes ou de habitualidade delitiva comprovada. (...) (STF. 2° Turma. HC 117083, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 25/02/2014). "o princípio da insignificância não foi estruturado para resguardar e legitimar constantes condutas desvirtuadas, mas para impedir que desvios de condutas ínfimas, isoladas, sejam sancionados pelo direito penal, fazendo-se justiça no caso concreto. Comportamentos contrários à lei penal, mesmo que insignificantes, quando constantes, devido a sua reprovabilidade, perdem a característica de bagatela e devem se submeter ao direito penal" (STF. 1ª Turma. HC 102.088/RS, Rel. Min. Cármen Lúcia, DJe de 21/05/2010).

Caso concreto Apesar do entendimento acima exposto, em um caso concreto o STF aplicou o princípio da insignificância mesmo o réu já tendo em seus antecedentes uma condenação transitada em julgado. No caso concreto, o réu estava sendo acusado da prática de furto (art. 155 do CP), em virtude de ter subtraído um engradado com 23 garrafas de cerveja e 6 de refrigerante, todos vazios, avaliados em 16 reais. O Tribunal de Justiça havia negado a aplicação do princípio da insignificância sob o argumento de que ele já tinha uma condenação anterior, com trânsito em julgado, pela prática de lesão corporal (art. 129 do CP). Mesmo já possuindo essa condenação, o STF concluiu que poderia ser aplicado o princípio da insignificância, considerando a chamada “teoria da reiteração não cumulativa de condutas de gêneros distintos”. O que significa isso? É possível aplicar o princípio da insignificância mesmo havendo essa condenação, porque a contumácia de infrações penais que não têm o patrimônio como bem jurídico tutelado pela norma penal (a exemplo da lesão corporal) não pode ser valorada como fator impeditivo à aplicação do princípio da insignificância. Apesar de esta ter sido a decisão do STF nesse caso concreto, é importante ressaltar que existem inúmeros precedentes da Corte afirmando que não é possível a aplicação do princípio da insignificância para réus reincidentes ou que respondem a outros inquéritos ou ações penais.

Art. 89 da Lei n. 8.666/93

O STF julgou denúncia contra ex-prefeito pela prática do delito previsto no art. 89 da Lei n. 8.666/93.

Para ser válida, a contratação direta de escritório de advocacia por inexigibilidade de licitação precisa atender aos seguintes requisitos:

a) é necessário que se instaure um procedimento administrativo formal;

b) deverá ser demonstrada a notória especialização do profissional a ser contratado;

c) deverá ser demonstrada a natureza singular do serviço;

d) deverá ser demonstrado que é inadequado que o serviço a ser contratado seja prestado pelos integrantes do Poder Público (no caso, pela PGM); e

e) o preço cobrado pelo profissional contratado deve ser compatível com o praticado pelo mercado.

Sendo cumpridos esses requisitos, não há que se falar em crime do art. 89 da Lei n. 8.666/93.

STF. 1ª Turma. Inq 3074/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 26/8/2014 (Info 756).

Informativo 756-STF (09/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12

A Lei de Licitação (Lei n. 8.666/93) prevê alguns tipos penais. No caso julgado pelo STF, estava sendo analisada a prática ou não do crime previsto no art. 89:

Art. 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei, ou deixar de observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade: Pena - detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa. Parágrafo único. Na mesma pena incorre aquele que, tendo comprovadamente concorrido para a consumação da ilegalidade, beneficiou-se da dispensa ou inexigibilidade ilegal, para celebrar contrato com o Poder Público.

Antes de analisarmos o que foi decidido, vejamos algumas noções sobre este tipo penal: OBRIGATORIEDADE DE LICITAÇÃO Regra: obrigatoriedade de licitação Como regra, a CF/88 impõe que a Administração Pública somente pode contratar obras, serviços, compras e alienações se realizar uma licitação prévia para escolher o contratante (art. 37, XXI). Exceção: contratação direta nos casos especificados na legislação O inciso XXI afirma que a lei poderá especificar casos em que os contratos administrativos poderão ser celebrados sem esta prévia licitação. A isso, a doutrina denomina “contratação direta”. Resumindo: a regra na Administração Pública é a contratação precedida de licitação. Contudo, a legislação poderá prever casos excepcionais em que será possível a contratação direta sem licitação. LEI Nº 8.666/93 A Lei de Licitações e Contratos prevê três grupos de situações em que a contratação ocorrerá sem licitação prévia. Trata-se das chamadas licitações dispensadas, dispensáveis e inexigíveis. Vejamos o quadro comparativo abaixo:

Dispensada Dispensável Inexigível

Art. 17 Art. 24 Art. 25

Rol taxativo Rol taxativo Rol exemplificativo

A lei determina a não realização da licitação, obrigando a contratação direta.

A lei autoriza a não realização da licitação. Mesmo sendo dispensável, a Administração pode decidir realizar a licitação (discricionariedade).

Como a licitação é uma disputa, é indispensável que haja pluralidade de objetos e pluralidade de ofertantes para que ela possa ocorrer. Assim, a lei prevê alguns casos em que a inexigibilidade se verifica porque há impossibilidade jurídica de competição.

Ex: alienação de bens imóveis provenientes de dação em pagamento.

Ex: compras de até 8.000 reais. Ex: contratação de artista consagrado pela crítica especializada ou pela opinião pública para fazer o show do aniversário da cidade.

Informativo 756-STF (09/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13

PROCEDIMENTO DE JUSTIFICAÇÃO Mesmo nas hipóteses em que a legislação permite a contratação direta, é necessário que o administrador público observe algumas formalidades e instaure um processo administrativo de justificação. CRIME DO ART. 89 Se o administrador público...

Dispensar a licitação fora das hipóteses previstas em lei;

Inexigir (deixar de exigir) licitação fora das hipóteses previstas em lei; ou

Deixar de observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade (as formalidades estão previstas especialmente no art. 26 da Lei).

... ele praticará o crime previsto no art. 89 da Lei nº 8.666/93. CASO CONCRETO JULGADO PELO STF

Imagine a seguinte situação: O réu, na época prefeito de Joinville (SC), contratou diretamente, mediante inexigibilidade de licitação, determinado escritório de advocacia para que este prestasse consultoria jurídica e propusesse ação judicial para a retomada dos serviços de abastecimento de água e esgoto do Município. O Ministério Público entendeu que não havia singularidade no objeto do contrato, pois o trabalho jurídico tinha natureza ordinária e não seria dotado de complexidade que justificasse a contratação de profissional com notória especialização a justificar a inexigibilidade de licitação. O STF concordou com a denúncia? NÃO. O STF rejeitou a denúncia por ausência de justa causa (art. 395, III, do CPP). O Min. Relator Roberto Barroso explicou que, para ser válida, a contratação direta de escritório de advocacia por inexigibilidade de licitação precisa atender aos seguintes requisitos: a) é necessário que se instaure um procedimento administrativo formal; b) deverá ser demonstrada a notória especialização do profissional a ser contratado; c) deverá ser demonstrada a natureza singular do serviço; d) deverá ser demonstrado que é inadequado que o serviço a ser contratado seja prestado pelos integrantes do Poder Público (no caso, pela PGM); e e) o preço cobrado pelo profissional contratado deve ser compatível com o praticado pelo mercado. Na situação concreta, o relator entendeu que todos esses requisitos foram cumpridos:

O procedimento formal foi regularmente observado, inclusive com a oitiva do Procurador-Geral do Município.

Houve publicação no Diário Oficial com um resumo do ato justificativo de inexigibilidade.

As provas dos autos demonstram que estava presente a notória especialização, pois o escritório contratado já havia atuado em serviços de advocacia relacionados com a concessão de saneamento básico de diversos Municípios e Estados-Membros.

A causa jurídica envolvida não era trivial, havendo certo grau de sofisticação, razão pela qual a hipótese era de singularidade do objeto.

Por fim, concluiu que o preço cobrado pelo escritório foi módico, uma vez que o serviço envolvia a retomada de uma concessão de valor vultoso e a ação judicial certamente se prolongaria por muito tempo.

Informativo 756-STF (09/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Necessidade de prévio requerimento administrativo para a concessão de benefício previdenciário na via judicial

Importante!!!

O STF decidiu que, em regra, o segurado/dependente somente pode propor a ação pleiteando a concessão do benefício previdenciário se anteriormente formulou requerimento administrativo junto ao INSS e este foi negado.

Para que proponha a ação pleiteando a concessão do benefício previdenciário, é preciso que, antes, tenha ocorrido uma das três situações abaixo:

1) O interessado requereu administrativamente o benefício, mas este foi negado pelo INSS (total ou parcialmente);

2) O interessado requereu administrativamente o benefício, mas o INSS não deu uma decisão em um prazo máximo de 45 dias;

3) O interessado não requereu administrativamente o benefício, mas é notório que, sobre esse tema, o INSS tem posição contrária ao pedido feito pelo segurado.

STF. Plenário. RE 631240/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/8/2014 (repercussão geral) (Info 756).

A grande maioria das ações propostas contra o INSS objetivando benefícios previdenciários é de competência dos Juizados Especiais Federais (JEF). No JEF, em 1ª instância, o autor não precisa de advogado e não paga custas. Diante disso, é muito comum que o segurado, sem que antes requeira administrativamente o benefício previdenciário em um dos postos do INSS, opte por já ajuizar direto uma ação no JEF pedindo a concessão da aposentadoria, por exemplo. A prática acima explicada é admitida? O segurado ou dependente pode ingressar com a ação judicial pleiteando a prestação previdenciária mesmo sem ter feito previamente requerimento administrativo no INSS? Formaram-se duas correntes principais sobre o tema:

SIM NÃO

É DESNECESSÁRIO o prévio requerimento administrativo como condição para a propositura de ação que vise à concessão de benefício previdenciário. O autor pode procurar direto o Judiciário sem antes ter requerido o benefício no INSS. Para essa primeira corrente, exigir prévio requerimento administrativo viola o princípio da inafastabilidade da jurisdição, previsto no art. 5º, XXXV, da CF/88.

Em regra, é INDISPENSÁVEL o prévio requerimento administrativo para que o segurado/dependente possa ajuizar a ação pleiteando o benefício previdenciário. Se o interessado propõe a ação sem que tenha havido prévio requerimento administrativo, não há, em regra, interesse de agir (uma das condições da ação) já que havia a possibilidade de seu pedido ter sido atendido pelo INSS na via administrativa.

Informativo 756-STF (09/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15

Essa ERA a posição até então majoritária no STJ (AgRg no AREsp 119.366/RS) e no STF (RE 549055 AgR). É a posição institucional da DPU.

Em situações excepcionais, seria permitida a ação judicial mesmo sem prévio requerimento administrativo. Havia julgados da 2ª Turma do STJ nesse sentido: AgRg no AREsp 283.743/AL. É a tese da Procuradoria Federal.

Qual entendimento prevaleceu? Qual é a posição do STF? O que vigora hoje em dia? O STF decidiu que, em regra, o segurado/dependente somente pode propor a ação pleiteando a concessão do benefício previdenciário, se anteriormente formulou requerimento administrativo junto ao INSS e este foi negado. Caso seja ajuizada a ação sem que tenha havido prévio requerimento administrativo e sem que este pedido tenha sido indeferido, deverá o juiz extinguir o processo sem resolução do mérito por ausência de interesse de agir, considerando que havia a possibilidade de o pedido ter sido atendido pelo INSS na via administrativa. Para o STF, a exigência de que seja feito prévio requerimento administrativo NÃO viola o princípio da inafastabilidade da jurisdição. O art. 5º, XXXV, da CF/88 estabelece que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Ora, se não houve pedido administrativo anterior e negativa por parte do INSS no prazo legal, não está caracterizada nenhuma lesão ou ameaça de direito. Em seu voto, o Min. Relator Luís Roberto Barroso afirmou: “Não há como caracterizar lesão ou ameaça de direito sem que tenha havido um prévio requerimento do segurado. O INSS não tem o dever de conceder o benefício de ofício. Para que a parte possa alegar que seu direito foi desrespeitado é preciso que o segurado vá ao INSS e apresente seu pedido”. Para que proponha a ação pleiteando a concessão do benefício previdenciário é preciso que, antes, tenha ocorrido uma das três situações abaixo: 1) O interessado requereu administrativamente o benefício, mas este foi negado pelo INSS (total ou parcialmente); 2) O interessado requereu administrativamente o benefício, mas o INSS não deu uma decisão em um prazo máximo de 45 dias; 3) O interessado não requereu administrativamente o benefício, mas é notório que, sobre essa matéria, o INSS tem posição contrária ao pedido feito pelo segurado. É o caso das situações em que a matéria está pacificada no âmbito da autarquia por meio de instrução normativa ou súmula administrativa. Ex: existe uma instrução normativa do INSS proibindo a renúncia à aposentadoria e consequentemente vedando a desaposentação. Logo, o segurado poderá ajuizar a ação pedindo a desaposentação mesmo que não tenha feito prévio requerimento administrativo.

Informativo 756-STF (09/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16

No procedimento administrativo realizado no INSS, se o requerimento do benefício previdenciário é negado, existe a possibilidade de o interessado interpor recurso administrativo contra essa decisão. Antes de ajuizar a ação judicial, o segurado precisa interpor esse recurso administrativo e aguardar o seu julgamento? Em outras palavras, é necessário que o interessado esgote todas as instâncias administrativas para ajuizar a ação? NÃO. O Min. Luís Roberto Barroso esclareceu que a exigência do prévio requerimento administrativo não significa o exaurimento de todas as instâncias administrativas. Em suma, ele não precisa recorrer administrativamente antes de ajuizar a ação. Assim, negado o benefício, não há impedimento ao segurado para que ingresse no Judiciário antes que eventual recurso seja examinado pelo INSS. A exigência do prévio requerimento administrativo vale tanto para os casos em que a parte quer a concessão inicial do benefício como também para as hipóteses de revisão do benefício que já é recebido? NÃO. O STF afirmou que a exigência de prévio requerimento administrativo só existe para as ações que buscam a concessão inicial do benefício. Em regra, para a propositura de ação pleiteando a revisão do benefício não se exige o prévio requerimento administrativo. Como funciona no caso de ação judicial pedindo a REVISÃO de benefício previdenciário?

EM REGRA: NÃO há necessidade de prévio requerimento administrativo para que o segurado ingresse judicialmente com pedido de REVISÃO de benefício previdenciário já recebido. Isso porque se o INSS já examinou a situação daquele segurado e forneceu o benefício naqueles moldes, essa é a posição oficial da autarquia. Além disso, se a Administração Pública mudar de entendimento sobre alguma interpretação jurídica da legislação previdenciária, ela tem o dever de fazer a revisão de todos os benefícios de ofício. Ex: o INSS muda seu posicionamento administrativo e passa a entender que as pessoas que se aposentaram até determinado ano têm direito a um cálculo diferenciado. A autarquia deverá aplicar, de ofício, esse novo cálculo para todos os que estiverem na mesma situação. Se não fizer isso, já estará violando o direito do segurado, podendo ele ajuizar a ação, sem prévio pedido de revisão administrativa. EXCEÇÃO: Antes de ajuizar a ação pedindo a revisão do benefício previdenciário, o segurado precisará formular requerimento administrativo se essa revisão é baseada em novos fatos que não haviam sido examinados pelo INSS. Ex: a aposentadoria foi concedida pelo INSS sem que o segurado tenha apresentado à autarquia determinado comprovante de que ele trabalhou durante 5 anos em condições insalubres. Após já estar aposentado, o segurado encontrou esse documento. Caso esse tempo seja computado, o valor dos proventos será aumentado. Antes de ajuizar a ação pedindo a revisão da aposentadoria, o segurado deverá formular pedido administrativo ao INSS considerando que é necessária a apreciação dessa matéria de fato, que não poderia ter sido feita de ofício pela autarquia. Repercussão geral A decisão do STF foi tomada no dia 27/08/2014, pelo Plenário da Corte, no RE 631.240/MG. Como foi proferida sob a sistemática da repercussão geral, todos os processos sobrestados aguardando uma posição do STF deverão agora voltar a tramitar, adotando o entendimento da Corte. O STJ que tinha posição majoritária em sentido contrário provavelmente irá realinhar seu posicionamento. Isso porque, apesar de os julgados proferidos em repercussão geral não terem efeitos vinculantes, na prática, eles acabam tendo uma enorme força e os Tribunais em geral têm seguido o que é decidido.

Informativo 756-STF (09/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17

Votos vencidos Ficaram vencidos os Ministros Marco Aurélio e Cármem Lúcia, que entenderam que a exigência de prévio requerimento junto ao INSS para o ajuizamento de ação representa restrição à garantia de acesso universal à Justiça.

QUADRO RESUMO:

AÇÕES PREVIDENCIÁRIAS E DE PRÉVIO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO

CONCESSÃO de benefício previdenciário

Para que a ação judicial proposta seja conhecida é necessário que fique comprovado que: a) o autor requereu administrativamente o benefício, mas este foi negado pelo INSS (total ou parcialmente); b) o autor requereu administrativamente o benefício, mas o INSS não deu uma decisão em um prazo máximo de 45 dias; c) o benefício pleiteado trata de matéria sobre a qual o INSS tem posição manifestamente contrária ao pedido feito pelo segurado. Logo, EM REGRA, é indispensável o prévio requerimento administrativo do benefício no INSS. Obs: não é necessário o esgotamento da via administrativa (o segurado não precisa interpor recurso administrativo contra a negativa do pedido).

REVISÃO de benefício previdenciário

REGRA: NÃO há necessidade de prévio requerimento administrativo.

EXCEÇÃO: será necessário prévio requerimento administrativo se o pedido envolver apreciação de matéria de fato.

Desdobramentos O STF fixou que a regra deve ser a exigência do prévio requerimento administrativo. No voto, o Min. Luís Roberto Barroso fez menção a existência de exceção no caso de o INSS ter posição manifestamente contrária ao pedido do segurado. É possível, no entanto, que, com o tempo, outras exceções acabem sendo aceitas pela jurisprudência. Exemplo: em diversos Municípios do interior da Amazônia não existe posto de atendimento do INSS. Em tais casos, me parece ser possível o ajuizamento da ação pleiteando o benefício previdenciário mesmo sem prévio requerimento administrativo. Isso porque não é razoável exigir que a parte viaje para outra cidade, algumas vezes bem distante, para dar entrada no pedido junto ao INSS. A simples ausência de posto de atendimento na localidade já representa uma violação ao direito do segurado aos benefícios previdenciários, podendo ele, por consequência lógica, valer-se do Poder Judiciário. Modulação dos efeitos Antes do julgamento do STF, inúmeras ações foram propostas sem prévio requerimento administrativo. Tais processos estavam sobrestados aguardando a decisão do Supremo em sede de repercussão geral. Isso porque o STF poderia decidir que o prévio requerimento não era necessário, situação em que essas ações poderiam continuar tramitando normalmente. De outro modo, o Supremo poderia decidir, como efetivamente o fez, que o prévio requerimento é, em regra, indispensável.

Informativo 756-STF (09/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18

Agora que o STF finalmente decidiu o tema, indaga-se: o que fazer com os inúmeros processos sobrestados nos quais o autor propôs a ação sem ter requerido previamente o benefício junto ao INSS? Eles deverão ser extintos por falta de interesse de agir ou poderão voltar a tramitar normalmente? O STF modulou os efeitos de sua decisão e definiu três regras de transição a serem aplicadas aos processos judiciais sobrestados que envolvem pedidos de concessão de benefício ao INSS nos quais não houve requerimento administrativo prévio.

1ª regra: Juizado itinerante.

Se a ação foi proposta em um juizado itinerante, mesmo não tendo havido prévio requerimento administrativo, o curso do processo deve ser retomado e prosseguir normalmente (não será extinto sem resolução do mérito). Isso porque os juizados itinerantes ocorrem, basicamente, em lugares onde não há agência do INSS, de forma que não seria razoável exigir do autor prévio requerimento administrativo.

2ª regra: INSS apresentou contestação de mérito.

Se a ação foi proposta sem prévio requerimento administrativo, mas o INSS já apresentou contestação de mérito, o processo também deverá prosseguir normalmente (não será extinto). Isso porque o fato de o INSS ter contestado e de ter refutado o mérito da pretensão, demonstra que há resistência ao pedido (a autarquia não concorda com o pleito), de forma que existe interesse de agir por parte do autor. Se a contestação não enfrentou o mérito, mas apenas questões processuais, a situação irá se enquadrar na 3ª regra.

3ª regra: Demais casos não enquadrados nas situações anteriores.

Se a ação foi ajuizada sem prévio requerimento, não se trata de juizado itinerante e o INSS não apresentou contestação de mérito, o processo deverá continuar sobrestado (suspenso) e o juiz /Tribunal deverá tomar as seguintes providências: O autor será intimado para que, no prazo de 30 dias, dê entrada em requerimento administrativo junto ao INSS pedindo o benefício que está sendo pleiteado na via judicial. A partir daí, o INSS terá o prazo de até 90 dias para se manifestar.

• Caso negue o benefício, a ação judicial continuará normalmente, uma vez que ficou demonstrado o interesse de agir. • Caso o benefício seja concedido administrativamente, o processo judicial será extinto. • Caso o autor não dê entrada no requerimento administrativo no prazo de 30 dias, o processo também será extinto.

Se o benefício for concedido (seja administrativamente, seja pela via judicial) a data do início da aquisição do benefício deverá retroagir à data em que teve início o processo judicial. Em outras palavras, a DIB será a data em que foi ajuizada a ação, devendo o INSS ser condenado a pagar as parcelas retroativamente a esse dia.

Vale esclarecer mais uma vez que essas três regras acima valem para os processos que estavam sobrestados aguardando a decisão do STF. Para as novas ações que forem propostas após a decisão do STF, a regra é a necessidade de que tenha havido prévio requerimento. Em caso de sua ausência, haverá extinção sem resolução do mérito, salvo se o benefício pleiteado trata de matéria sobre a qual o INSS tenha posição manifestamente contrária ao pedido feito pelo segurado.

Informativo 756-STF (09/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 19

EXERCÍCIOS Julgue os itens a seguir: 1) (Juiz Federal TRF2) O Presidente da República remete ao Congresso Nacional projeto de lei dispondo

sobre criação de Ministério Extraordinário de Assuntos Especiais, estruturado em cinco departamentos. Emenda parlamentar suprime um dos departamentos, por considerá-lo desnecessário. Assinale a alternativa correta: A) A emenda é ofensiva à Constituição Federal, já que o controle do legislativo – quando a matéria é de iniciativa exclusiva do Executivo – ocorre com a apreciação plena do projeto, e a possibilidade de emenda parlamentar é admitida em taxativos casos, diferentes da hipótese citada. B) A emenda é ofensiva à Constituição Federal, que não admite emendas parlamentares em projetos de iniciativa exclusiva. C) A emenda está em conformidade com a Constituição Federal, que não cogita, em projetos de iniciativa exclusiva, de limites ao poder de emenda do parlamento. D) A emenda está em conformidade com a Constituição Federal, e o Presidente da República, na oportunidade da sanção, pode vetá-la e, assim, readequar o projeto ao seu teor original. E) A emenda está em conformidade com a Constituição Federal, já que, em projetos de iniciativa exclusiva do Presidente da República, a Constituição Federal veda é o aumento de despesa. ( )

2) (Juiz TJAM 2013 FGV) Nos projetos de leis submetidos à iniciativa exclusiva do Presidente da República,

a apresentação de emendas deve guardar pertinência com o objeto do projeto de lei apresentado, sob pena de usurpação indireta da iniciativa atribuída com exclusividade. ( )

3) (Analista TJAM 2013 FGV) O vício de iniciativa no processo legislativo não enseja o controle de constitucionalidade da norma, porque a ofensa à Constituição dá-se de forma reflexa. ( )

4) (PGDF 2013 CESPE) Será considerado formalmente inconstitucional projeto de lei distrital de iniciativa parlamentar que confira aumento de remuneração aos servidores do governo do DF. ( )

5) (Procurador BACEN 2013 CESPE) A CF estabelece a iniciativa exclusiva do presidente da República para o processo legislativo em matéria de natureza tributária. ( )

Gabarito

1. Letra E 2. C 3. E 4. C 5. E

JULGADOS NÃO COMENTADOS

Prisão domiciliar e doença grave O Plenário, por maioria, negou provimento a agravo regimental, interposto de decisão proferida em sede de execução penal, que indeferira pedido de conversão de regime semiaberto em prisão domiciliar humanitária. No caso, o agravante fora condenado à pena de 7 anos e 11 dias de reclusão em regime semiaberto pela prática dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A defesa requerera a autorização para cumprimento da pena em regime domiciliar, tendo em conta o fato de o agravante sofrer de diabetes tipo II, hipertensão arterial sistêmica e histórico de obesidade mórbida, além de ter sido submetido à cirurgia oncológica para a remoção de parte do pâncreas. O Ministro Joaquim Barbosa (então Presidente e relator) indeferira o pedido pelos seguintes fundamentos: a) ausência de doença grave, atestada por junta médica oficial; e b) possibilidade de o sistema penitenciário oferecer a dieta e o acompanhamento médico e nutricional prescritos para o tratamento do sentenciado. O Tribunal afirmou que o laudo médico oficial, elaborado por médicos do Instituto Nacional do Câncer - INCA, ressaltara que o agravante não apresentaria qualquer evidência de doença neoplásica em atividade. Frisou que se teria

Informativo 756-STF (09/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 20

constatado que, embora o estado clínico do agravante exigisse o uso continuado de medicamentos, sua situação não demandaria permanência em prisão domiciliar fixa. Recordou que o juízo da vara de execuções penais teria informado ao STF não haver impedimentos para o fornecimento da dieta e medicação necessárias. Salientou que, assim como referido no parecer ministerial, não haveria vedação que a família encaminhasse à unidade prisional eventuais medicamentos ou gêneros alimentícios que integrassem a prescrição médica e que não estivessem disponíveis no sistema. Vencidos os Ministros Luiz Fux, Marco Aurélio e Ricardo Lewandowski, que davam provimento ao agravo regimental por considerarem a situação do agravante notória. EP 23 AgR/DF, rel. Min. Roberto Barroso, 27.8.2014.

Aposentadoria: contagem recíproca e restrições indevidas O Plenário julgou procedente pedido formulado em ação direta para declarar a inconstitucionalidade do art. 119, VI, da Lei 6.677/1994, do Estado da Bahia [“Art. 119. Contar-se-á para efeito de aposentadoria e disponibilidade: ... VI - até 10 (dez) anos do tempo de serviço em atividade privada vinculada à previdência social, desde que um decênio, pelo menos, no serviço público estadual, ressalvada a legislação federal regulamentadora da matéria”]. O Tribunal confirmou a liminar deferida e consignou que, na sua redação original, o § 2° do art. 202 da CF seria autoaplicável (“Art. 202. É assegurada aposentadoria, nos termos da lei, calculando-se o benefício sobre a média dos trinta e seis últimos salários de contribuição, corrigidos monetariamente mês a mês, e comprovada a regularidade dos reajustes dos salários de contribuição de modo a preservar seus valores reais e obedecidas as seguintes condições: ... § 2º - Para efeito de aposentadoria, é assegurada a contagem recíproca do tempo de contribuição na administração pública e na atividade privada, rural e urbana, hipótese em que os diversos sistemas de previdência social se compensarão financeiramente, segundo critérios estabelecidos em lei”). ADI 1798/BA, rel. Min. Gilmar Mendes, 27.8.2014.

ADI: Diário Oficial estadual e iniciativa de lei O Plenário confirmou medida cautelar e julgou procedente pedido formulado em ação direta para declarar a inconstitucionalidade da Lei 11.454/2000, do Estado do Rio Grande do Sul. A lei, de iniciativa parlamentar, disciplina as matérias suscetíveis de publicação pelo Diário Oficial do Estado, órgão vinculado ao Poder Executivo. O Tribunal consignou que, no caso, estaria configurada a inconstitucionalidade formal e material do ato normativo impugnado. Afirmou que a edição de regra que disciplinasse o modo de atuação de órgão integrante da Administração Indireta do Estado-membro somente poderia advir de ato do Chefe do Poder Executivo estadual. Haveria, ademais, na edição da norma em comento, nítida afronta ao princípio constitucional da separação dos Poderes, na medida em que, ao se restringir a proibição de publicações exclusivamente ao Poder Executivo, teria sido criada situação discriminatória em relação a um dos Poderes do Estado-membro. ADI 2294/RS, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 27.8.2014.

ADI: Diário Oficial estadual e iniciativa de lei O Plenário confirmou medida cautelar e julgou procedente pedido formulado em ação direta para declarar a inconstitucionalidade da Lei 11.454/2000, do Estado do Rio Grande do Sul. A lei, de iniciativa parlamentar, disciplina as matérias suscetíveis de publicação pelo Diário Oficial do Estado, órgão vinculado ao Poder Executivo. O Tribunal consignou que, no caso, estaria configurada a inconstitucionalidade formal e material do ato normativo impugnado. Afirmou que a edição de regra que disciplinasse o modo de atuação de órgão integrante da Administração Indireta do Estado-membro somente poderia advir de ato do Chefe do Poder Executivo estadual. Haveria, ademais, na edição da norma em comento, nítida afronta ao princípio constitucional da separação dos Poderes, na medida em que, ao se restringir a proibição de publicações exclusivamente ao Poder Executivo, teria sido criada situação discriminatória em relação a um dos Poderes do Estado-membro. ADI 2294/RS, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 27.8.2014.

Informativo 756-STF (09/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 21

ADI e estrutura organizacional de tribunal de justiça O Plenário confirmou medida cautelar e julgou procedente pedido formulado em ação direta para assentar a inconstitucionalidade de dispositivos da Constituição do Estado do Ceará e de seu ADCT. Na espécie, foram declarados inconstitucionais: a) a expressão “ou a determinação de abertura de tal procedimento contra o juiz acusado” contida no art. 96, II, f; b) o § 1º do art. 105; c) a expressão “vinte e um”, constante do art. 107; d) o art. 109, “caput” e parágrafos; e) os artigos 110 a 113; f) o § 5º do art. 11 do ADCT; e g) o art. 12 do ADCT. As normas questionadas alteram a estrutura organizacional do tribunal de justiça cearense e a carreira da magistratura. ADI 251/CE, rel. Min. Gilmar Mendes, 27.8.2014.

Inativos do DNER e Plano Especial de Cargos do DNIT Estendem-se aos servidores aposentados e pensionistas os efeitos financeiros decorrentes do enquadramento de servidores ativos do extinto Departamento Nacional de Estradas de Rodagem - DNER, os quais passaram a gozar de benefícios e vantagens resultantes do Plano Especial de Cargos do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - DNIT, instituído pela Lei 11.171/2005. Essa a conclusão do Plenário, que negou provimento a recurso extraordinário em que se discutia o direito de servidores aposentados e pensionistas do DNER — órgão extinto pela Lei 10.233/2001 — à paridade remuneratória em relação aos servidores ativos, que foram absorvidos pelo DNIT. De início, o Tribunal afastou a incidência do Enunciado 339 de sua Súmula. Consignou jurisprudência consolidada no sentido de que o art. 40, § 8º, da CF, com a redação dada pela EC 20/1998, ao estatuir a regra de paridade de vencimentos entre servidores ativos e inativos que tivessem exercido cargos correspondentes, dispensaria a edição de lei que promovesse a extensão das vantagens. Assim, o próprio texto constitucional, à luz do princípio da isonomia, estabeleceria essa extensão. Em seguida, no que se refere à reestruturação da carreira dos servidores ativos do DNER no Plano Especial de Cargos do DNIT, o Colegiado mencionou que, para se assegurar a inativos e pensionistas do DNER o direito à paridade, tendo em conta a autoaplicabilidade do preceito constitucional em comento, seria necessário apenas cogitar-se da: a) existência de lei que conferisse aos servidores ativos determinada vantagem ou benefício remuneratório; e b) natureza jurídica dos privilégios deferidos aos servidores da ativa. Logo, seria suficiente verificar-se se os servidores aposentados e os pensionistas gozariam dos benefícios caso estivessem em atividade. A Corte reconheceu a incidência da cláusula constitucional da paridade remuneratória, nos moldes previstos pela EC 20/1998, em favor dos inativos e pensionistas do DNER, haja vista a possibilidade inaugurada pela lei de que os servidores ativos do mencionado órgão pudessem ser alocados, por conta de suas atribuições, para o DNIT. RE 677730/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, 28.8.2014.

Embargos de declaração e provimento para subir o RE O Plenário proveu embargos de declaração para que o julgamento de recurso extraordinário tenha sequência, com a possibilidade de sustentação oral e deliberação presencial pelo Colegiado. No caso, o Tribunal reafirmara, por meio eletrônico (Plenário Virtual), jurisprudência dominante quanto à possibilidade da conversão de férias não gozadas em indenização pecuniária, por servidores que não podem mais delas usufruir. Sustentava o embargante a necessidade de esclarecimento da prestação jurisdicional e pedia a aplicação dos excepcionais efeitos infringentes ao acórdão questionado, sob argumento de que o servidor, ora embargado, encontra-se em atividade. De início, a Corte afastou a preliminar de incidência dos prazos e ritos dos juizados especiais perante o STF, porquanto o trâmite de recurso extraordinário subordina-se à Lei 8.038/1990. Por conseguinte, rejeitou a alegada intempestividade dos embargos declaratórios. Refutou, de igual modo, a aplicação do precedente firmado no julgamento do AI 855.810 RG-ED/RS (DJe de 1º.7.2013) e do art. 543-A do CPC, que afirmam a irrecorribilidade da decisão do Supremo quando não conhecer de recurso extraordinário por ausência de repercussão geral. O Tribunal consignou que, na situação dos autos, o acórdão embargado fora proferido no âmbito do Plenário Virtual,

Informativo 756-STF (09/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 22

com o reconhecimento da repercussão geral e a reafirmação de jurisprudência. Assim, reputou cabíveis os embargos. Em seguida, o Colegiado asseverou que a controvérsia relativa a eventual direito de servidor em atividade à conversão em pecúnia de férias vencidas e não gozadas deveria ser submetida à apreciação do Pleno, razão pela qual se deveria dar continuidade ao recurso extraordinário. ARE 721001 RG-ED/RJ, rel. Min. Gilmar Mendes, 28.8.2014.

Corrupção eleitoral e inépcia da denúncia A 2ª Turma rejeitou denúncia oferecida em face de deputados federais em razão da suposta prática do delito previsto no art. 299 do Código Eleitoral (“Dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si ou para outrem, dinheiro, dádiva, ou qualquer outra vantagem, para obter ou dar voto e para conseguir ou prometer abstenção, ainda que a oferta não seja aceita: Pena - reclusão até quatro anos e pagamento de cinco a quinze dias-multa”). A Turma, ao considerar o quanto disposto no art. 41 do CPP (“A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas”), considerou inepta a denúncia oferecida. Afirmou que, para ser apta, a referida peça deveria ter projetado ao caso concreto todos os elementos da figura típica em comento. Assim, deveria ter descrito: a) quem praticara o verbo típico — “dar, oferecer ou prometer” —; b) os meios empregados — “dinheiro, dádiva ou qualquer outra vantagem” —; e c) a ligação da conduta ao fim especial de obter o voto de pessoa determinada ou, se indeterminada, a especificação dessa circunstância. Consignou, então, que a inicial acusatória sem a definição dos elementos estruturais que compusessem o tipo penal, e que não narrasse, com precisão e de maneira individualizada, os elementos, tanto essenciais como acidentais, pertinentes ao tipo, incidiria em afronta à Constituição. Inq 3752/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, 26.8.2014. (Inq-3752)

OUTRAS INFORMAÇÕES

R E P E R C U S S Ã O G E R A L DJe de 25 a 29 de agosto de 2014

REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 729.011-RS

RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI

EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CORREÇÃO MONETÁRIA DOS DÉBITOS JUDICIAIS. DEFLAÇÃO.

APLICAÇÃO DOS ÍNDICES NEGATIVOS DO IGP-M. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL. 1. A controvérsia relativa à legitimidade da aplicação dos índices negativos do IGP-M para fins de correção monetária dos débitos judiciais é de

natureza infraconstitucional (RE 735.634-AgR, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, DJe de 25/11/2013; e AI 858.419-AgR,

Rel. Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, DJe de 20/11/2013). 2. É cabível a atribuição dos efeitos da declaração de ausência de repercussão geral quando não há matéria constitucional a ser apreciada ou quando

eventual ofensa à Carta Magna se dê de forma indireta ou reflexa (RE 584.608 RG, Min. ELLEN GRACIE, DJe de 13/03/2009).

3. Ausência de repercussão geral da questão suscitada, nos termos do art. 543-A do CPC.

REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 753.681-SC

RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI

EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ICMS SOBRE A ENERGIA ELÉTRICA. REPETIÇÃO DE INDÉBITO.

LEGITIMIDADE ATIVA DO CONSUMIDOR FINAL. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL. 1. A controvérsia relativa à legitimidade ativa do consumidor final para ajuizar ação de repetição de indébito de ICMS sobre a energia elétrica,

fundada na interpretação do art. 166 do CTN, é de natureza infraconstitucional.

2. É cabível a atribuição dos efeitos da declaração de ausência de repercussão geral quando não há matéria constitucional a ser apreciada ou quando eventual ofensa à Carta Magna se dê de forma indireta ou reflexa (RE 584.608 RG, Min. ELLEN GRACIE, DJe de 13/03/2009).

3. Ausência de repercussão geral da questão suscitada, nos termos do art. 543-A do CPC.

Decisões Publicadas: 2

C L I P P I N G D O D JE

Informativo 756-STF (09/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 23

25 a 29 de agosto de 2014

ADI N. 3.461-ES

RELATOR: MIN. GILMAR MENDES

Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Impugnação ao art. 1º da Lei 7.456/2003 do Estado do Espírito Santo. 3. Vinculação automática de subsídios

de agentes políticos de distintos entes federativos. Norma estadual que estabelece ao subsídio mensal pago a deputados estaduais valor correspondente a 75% do subsídio mensal de deputados federais, de modo que qualquer aumento no valor dos subsídios destes resulte, automaticamente, aumento

daqueles. Impossibilidade. 4. Violação ao princípio da autonomia dos entes federados. Precedentes. 5. Ação direta de inconstitucionalidade julgada

procedente. *noticiado no Informativo 747

ADI N. 4.701-PE

RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO

Ementa: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI ESTADUAL QUE FIXA PRAZOS MÁXIMOS, SEGUNDO A FAIXA ETÁRIA DOS USUÁRIOS, PARA A AUTORIZAÇÃO DE EXAMES PELAS OPERADORAS DE PLANOS DE SAÚDE.

1. Encontra-se caracterizado o direito de propositura. Os associados da requerente estão unidos pela comunhão de interesses em relação a um objeto

específico (prestação do serviço de assistência suplementar à saúde na modalidade autogestão). Esse elemento caracteriza a unidade de propósito na

representação associativa, afastando a excessiva generalidade que, segundo esta Corte, impediria o conhecimento da ação.

2. Por mais ampla que seja, a competência legislativa concorrente em matéria de defesa do consumidor (CF/88, art. 24, V e VIII) não autoriza os

Estados-membros a editarem normas acerca de relações contratuais, uma vez que essa atribuição está inserida na competência da União Federal para legislar sobre direito civil (CF/88, art. 22, I).

3. Os arts. 22, VII e 21, VIII, da Constituição Federal atribuem à União competência para legislar sobre seguros e fiscalizar as operações relacionadas

a essa matéria. Tais previsões alcançam os planos de saúde, tendo em vista a sua íntima afinidade com a lógica dos contratos de seguro, notadamente por conta do componente atuarial.

4. Procedência do pedido.

*noticiado no Informativo 754

ADI N. 4.303-RN

RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA

EMENTA: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. ART. 1º, CAPUT E § 1º DA LEI COMPLEMENTAR N. 372/2008 DO RIO GRANDE DO

NORTE. 1. A reestruturação convergente de carreiras análogas não contraria o art. 37, inc. II, da Constituição da República. Logo, a Lei Complementar

potiguar n. 372/2008, ao manter exatamente a mesma estrutura de cargos e atribuições, é constitucional.

2. A norma questionada autoriza a possibilidade de serem equiparadas as remunerações dos servidores auxiliares técnicos e assistentes em administração judiciária, aprovados em concurso público para o qual se exigiu diploma de nível médio, ao sistema remuneratório dos servidores

aprovados em concurso para cargo de nível superior.

3. A alegação de que existiriam diferenças entre as atribuições não pode ser objeto de ação de controle concentrado, porque exigiria a avaliação, de fato, de quais assistentes ou auxiliares técnicos foram redistribuídos para funções diferenciadas. Precedentes.

4. Servidores que ocupam os mesmos cargos, com a mesma denominação e na mesma estrutura de carreira, devem ganhar igualmente (princípio da isonomia).

5. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada improcedente.

*noticiado no Informativo 734

Inq N. 3.344-DF

RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI

EMENTA: INQUÉRITO. IMPUTAÇÃO DO CRIME DE FALSIDADE IDEOLÓGICA PARA FINS ELEITORAIS. ART. 350 DO CÓDIGO

ELEITORAL. INDÍCIOS DE AUTORIA E MATERIALIDADE DEMONSTRADOS. SUBSTRATO PROBATÓRIO MÍNIMO PRESENTE. DENÚNCIA RECEBIDA.

1. Denúncia que contém a adequada indicação da conduta delituosa imputada ao acusado e aponta os elementos indiciários mínimos aptos a tornar

plausível a acusação, o que permite o pleno exercício do direito de defesa. 2. O dolo específico é questão que desafia a fase instrutória e, isoladamente, não se presta a desqualificar a denúncia. Precedentes.

3. Denúncia recebida.

Acórdãos Publicados: 531

TRANSCRIÇÕES

Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais

aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham

despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Expulsão de Estrangeiro - HC - Limites do Controle Jurisdicional (Transcrições)

HC 92.769/RJ*

RELATOR: Ministro Celso de Mello

Informativo 756-STF (09/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 24

EMENTA: “HABEAS CORPUS”. EXPULSÃO DE ESTRANGEIRO. ATO DISCRICIONÁRIO DO ESTADO BRASILEIRO. EXAME

JUDICIAL LIMITADO À LEGITIMIDADE JURÍDICA DESSE ATO, CONSIDERADOS OS PRESSUPOSTOS LEGAIS DE

INEXPULSABILIDADE (LEI Nº 6.815/80, ART. 75). DOUTRINA. PRECEDENTES (HC 87.053/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, PLENO, v.g.). INOCORRÊNCIA, NA ESPÉCIE, DE CAUSA LEGAL OBSTATIVA DO ATO EXPULSÓRIO. PEDIDO

INDEFERIDO.

DECISÃO: Registro, preliminarmente, por necessário, que o Supremo Tribunal Federal, mediante edição da Emenda Regimental nº 30, de 29 de

maio de 2009, delegou expressa competência ao Relator da causa, para, em sede de julgamento monocrático, denegar ou conceder a ordem de “habeas corpus”, “ainda que de ofício”, desde que a matéria versada no “writ” em questão constitua “objeto de jurisprudência consolidada do

Tribunal” (RISTF, art. 192, “caput”, na redação dada pela ER nº 30/2009).

Ao assim proceder, fazendo-o mediante interna delegação de atribuições jurisdicionais, esta Suprema Corte, atenta às exigências de celeridade e de racionalização do processo decisório, limitou-se a reafirmar princípio consagrado em nosso ordenamento positivo (RISTF, art. 21,

§ 1º; Lei nº 8.038/90, art. 38; CPC, art. 557) que autoriza o Relator da causa a decidir, monocraticamente, o litígio, sempre que este referir-se a

tema já definido em “jurisprudência dominante” no Supremo Tribunal Federal. Nem se alegue que essa orientação implicaria transgressão ao princípio da colegialidade, eis que o postulado em questão sempre restará

preservado ante a possibilidade de submissão da decisão singular ao controle recursal dos órgãos colegiados no âmbito do Supremo Tribunal

Federal, consoante esta Corte tem reiteradamente proclamado (RTJ 181/1133-1134, Rel. Min. CARLOS VELLOSO – AI 159.892-AgR/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.).

A legitimidade jurídica desse entendimento decorre da circunstância de o Relator da causa, no desempenho de seus poderes processuais,

dispor de plena competência para exercer, monocraticamente, o controle das ações, pedidos ou recursos dirigidos ao Supremo Tribunal Federal, justificando-se, em consequência, os atos decisórios que, nessa condição, venha a praticar (RTJ 139/53 – RTJ 168/174-175 – RTJ 173/948),

valendo assinalar, quanto ao aspecto ora ressaltado, que este Tribunal, em decisões colegiadas (HC 96.821/SP, Rel. Min. RICARDO

LEWANDOWSKI – HC 104.241-AgR/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO), reafirmou a possibilidade processual do julgamento monocrático do próprio mérito da ação de “habeas corpus”, desde que observados os requisitos estabelecidos no art. 192 do RISTF, na redação dada pela Emenda

Regimental nº 30/2009.

Tendo em vista essa delegação regimental de competência ao Relator da causa, impõe-se reconhecer que a controvérsia ora em exame ajusta-se à jurisprudência que o Supremo Tribunal Federal firmou na matéria em análise, o que possibilita seja proferida decisão monocrática

sobre o litígio em questão.

Trata-se de “habeas corpus” impetrado contra decreto de expulsão editado pelo Senhor Presidente da República. Busca-se, nesta sede processual, a invalidação do decreto em causa, porque alegadamente incidente, na espécie, a condição de

inexpulsabilidade prevista no art. 75, inciso II, alínea “b”, da Lei nº 6.815/80.

O Ministério Público Federal, em manifestação da lavra da eminente Subprocuradora-Geral da República Dra. CLÁUDIA SAMPAIO MARQUES, opinou pela denegação do “habeas corpus”, em parecer que está assim ementado (fls. 114):

“’HABEAS CORPUS’. PRETENSÃO DE DESCONSTITUIÇÃO DE EXPULSÃO. NÃO APLICAÇÃO DO DISPOSTO NO ART.

75, INCISO II, ALÍNEA ‘B’, DA LEI 6.815/80. FILHOS NASCIDOS APÓS O DECRETO EXPULSÓRIO. NÃO COMPROVAÇÃO DA

DEPENDÊNCIA ECONÔMICA. PARECER PELA DENEGAÇÃO DA ORDEM, COM A CONSEQUENTE REVOGAÇÃO DA LIMINAR CONCEDIDA.” (grifei)

A autoridade apontada como coatora prestou informações, valendo transcrever, por relevante, fragmento da manifestação da lavra da

Advocacia-Geral da União (fls. 56/57):

“10. De acordo com os autos, a expulsão do paciente decorre do Decreto de Expulsão nº 42, de 1994, o qual se consumou em 19 de abril de 1997, após o cumprimento de pena de 4 (quatro) anos de reclusão pela prática do delito inserto no artigo 12 da Lei nº 6.368, de 1976

(crime de tráfico em associação). O Decreto é ‘regular uma vez que o expulsando não é casado com brasileira’; por outro lado, os filhos

brasileiros nasceram em 18 de agosto de 2002, após, inclusive, o ato de expulsão e o reingresso ilegal no território nacional. 11. Portanto, o nascimento dos filhos sucedeu ao cometimento do crime motivador da expulsão e, ainda, quase seis anos depois da

edição do mencionado Decreto de Expulsão nº 42, de 1994.

12. Além do mais, verifica-se que os filhos do paciente não estavam sob a responsabilidade dele. Prova isto o pedido que formulou ao Juiz da Vara de Família, da Infância e da Juventude da Comarca de Itaboraí visando a obter posse e guarda dos gêmeos – conforme fls. 3 da

inicial.

13. Essa particularidade torna imperiosa a aplicação do § 1 º do artigo 75, da Lei nº 6.815/80, modificada pela Lei nº 6.964/81, segundo a qual ‘não constituem impedimento à expulsão a adoção ou o reconhecimento de filho brasileiro superveniente ao fato que a

motivar’.” (grifei)

Antes de examinar o pleito em causa, entendo necessário estabelecer algumas premissas que tenho por essenciais à resolução do presente

litígio. Como se sabe, o exame judicial do ato expulsório editado pelo Presidente da República – única autoridade estatal investida do poder de

ordenar essa excepcional medida de compulsória exclusão de qualquer estrangeiro do território nacional (Lei nº 6.815/80, art. 66) – sofre limitações

impostas pela própria natureza de que se reveste o instituto da expulsão, que, por não se qualificar como pena (MIRTÔ FRAGA, “O Novo

Estatuto do Estrangeiro Comentado”, p. 234, 1985, Forense; HAROLDO VALLADÃO, “Direito Internacional Privado”, p. 416, 1968, Freitas

Bastos; HILDEBRANDO ACCIOLY, “Manual de Direito Internacional Público”, p. 88, 11ª ed., 1978, Saraiva), projeta-se, sem dúvida alguma –

consoante ressalta o magistério da doutrina (LUIZ IVANI DE AMORIM ARAÚJO, “Curso de Direito Internacional Público”, p. 85, 8ª ed., 1995, Forense) –, como medida de proteção à ordem pública e ao interesse social, fundada na prerrogativa eminente de que dispõem os Estados

soberanos no exercício de sua privativa competência de admitir, ou não, em seus respectivos territórios, pessoas juridicamente estranhas à

comunhão nacional. O Estatuto do Estrangeiro prescreve, em seu art. 66, que “Caberá exclusivamente ao Presidente da República resolver sobre a conveniência

e a oportunidade da expulsão ou de sua revogação”.

Torna-se facilmente perceptível, a partir do próprio discurso normativo que se encerra nesse diploma legislativo, que a expulsão de estrangeiros e o ato de sua revogação constituem expressivas manifestações da soberania estatal. São medidas político-administrativas, de

competência exclusiva do Presidente da República, a quem compete avaliar, discricionariamente, a conveniência, a necessidade, a utilidade e a

oportunidade de sua efetivação. “O instituto da expulsão” – já o proclamou esta Corte (RTJ 95/589, Rel. Min. DJACI FALCÃO) – “está consagrado no Direito

Internacional como poder inerente à soberania do Estado, tendo por fim afastar o cidadão estrangeiro cuja permanência no país contrarie os

elevados interesses nacionais (...). Compete ao Presidente da República deliberar sobre a conveniência e a oportunidade dessa medida de elevado alcance político, cingindo-se o controle do Poder Judiciário ao que se relaciona com a legalidade ou constitucionalidade do ato discricionário”.

Informativo 756-STF (09/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 25

Segue-se claramente daí que o controle jurisdicional, por meio da ação de “habeas corpus”, não incide, sob pena de grave ofensa ao

princípio da separação de poderes, sobre o juízo de valor emitido pelo Chefe do Poder Executivo da União. A tutela judicial circunscreve-se, nesse

contexto, apenas aos aspectos de legitimidade jurídica concernentes ao ato expulsório. Esta Corte, por isso mesmo, em reiteradas decisões, tem

acentuado a discricionariedade com que é exercitável, na matéria, essa magna competência presidencial (RTJ 34/438 – RTJ 60/398 – RTJ

110/650).

O eminente Ministro CORDEIRO GUERRA, em voto lapidar proferido sobre a natureza do ato expulsório e a questão do “judicial review” no procedimento de expulsão de súditos estrangeiros do território nacional, expendeu irrepreensíveis considerações, que só fazem acentuar os

aspectos que venho de referir (RTJ 78/385):

“No direito brasileiro, a expulsão é ato exclusivo, político, do Poder Executivo. Verificada a legalidade do procedimento, e a

inocorrência dos únicos impedimentos previstos na lei, não se pode intervir ou pretender influir no convencimento do Excelentíssimo Senhor Presidente da República ou anular o decreto de expulsão, por via de ‘habeas corpus’.

O Poder Executivo, nos termos da lei, é soberano no julgar a conveniência de expulsar ou não o estrangeiro.” (grifei)

O ato expulsório, de outro lado, não está subordinado nem à prática de delito qualquer (RTJ 34/438) nem à prévia condenação penal do

súdito estrangeiro (Estatuto do Estrangeiro, art. 67), tanto que pode ser efetivado independentemente da instauração de procedimento penal de índole acusatória.

Na realidade, a prática de ato infracional sequer constitui pressuposto essencial de configuração da situação de expulsabilidade. O Estatuto

do Estrangeiro, ao dispor sobre essa radical medida de exclusão de súditos estrangeiros do território nacional, estabelece as condições de expulsabilidade do estrangeiro, prescrevendo, em seu art. 65, que “É passível de expulsão o estrangeiro que, de qualquer forma, atentar contra a

segurança nacional, a ordem política ou social, a tranquilidade ou moralidade pública e a economia popular, ou cujo procedimento o torne nocivo

à conveniência e aos interesses nacionais” (grifei). A nocividade de sua permanência em território brasileiro constitui fundamento político-jurídico para a válida expulsão do estrangeiro,

cabendo relembrar, tal como já advertiu o Supremo Tribunal Federal, que “O julgamento da nocividade do estrangeiro pertence ao Executivo”

(RTJ 32/480, Rel. Min. VICTOR NUNES LEAL – grifei), e não a qualquer outro dos Poderes do Estado. Daí a procedente observação do eminente e saudoso Ministro RAFAEL MAYER, quando do julgamento do HC 58.409/DF, Rel. Min.

DJACI FALCÃO, ocasião em que expendeu a seguinte e correta advertência (RTJ 95/589-634, 616-617):

“Não cabe ao Poder Judiciário, no exercício do controle da legalidade, ultrapassar os limites da apreciação formal e da constatação

de vícios nulificantes do ato, para ir ao exame do mérito. Esse aspecto de mérito, compreensivo da conveniência, da oportunidade ou da justiça da decisão administrativa, pertine ao poder discricionário, ao juízo discricionário, inabordável ao controle judicial.

O Juiz, ainda que viesse a ser tomado de convicção a respeito da conveniência ou da justiça do ato, não pode aferi-lo e desfazê-lo sob esse

prisma, pois estaria comprometendo o princípio da divisão dos poderes e das competências reservadas, para substituir-se à própria autoridade administrativa, num juízo de valor que somente a esta cabe, na matéria.” (grifei)

O poder discricionário de que dispõe o Estado brasileiro de ordenar a expulsão de súditos estrangeiros sofre, no entanto, as limitações

jurídicas estabelecidas no art. 75 da Lei nº 6.815/80, alterada pela Lei nº 6.964/81.

Nesse contexto normativo, atuam, entre outras, como condições de inexpulsabilidade, as seguintes causas: possuir o estrangeiro “cônjuge brasileiro do qual não esteja divorciado ou separado, de fato ou de direito, e desde que o casamento tenha sido celebrado há mais de 5 (cinco) anos;

ou filho brasileiro que, comprovadamente, esteja sob sua guarda e dele dependa economicamente” (art. 75, II, “a” e “b” – grifei). Os motivos configuradores de inexpulsabilidade hão de ser aferidos contemporaneamente à efetivação do ato expulsório. Presente essa

relação de contemporaneidade, tornar-se-á ilegítimo o exercício, pelo Presidente da República, de sua competência legal. No caso, contudo, como se

constatará a seguir, inexistiam, como ainda seguem inexistindo, no momento da edição do ato presidencial, as condições que, caso presentes naquele instante, revelar-se-iam aptas a impedir a expulsão do ora paciente.

O impetrante insurge-se contra o ato presidencial que ordenou a expulsão do ora paciente, ex-cidadão da extinta União das Repúblicas

Socialistas Soviéticas – URSS, do território nacional, por reputar nociva e inconveniente ao interesse público a permanência desse súdito estrangeiro em nosso país.

O decreto presidencial prescreveu que a efetivação do ato expulsório em questão deveria aguardar o cumprimento da pena imposta, por

autoridade judiciária brasileira, ao ora paciente, em decorrência de sua condenação pela prática do crime de tráfico de substância entorpecente (fls. 81).

Daí a impetração originária do presente “writ” perante esta Suprema Corte.

Impõe-se registrar, por oportuno, que o ato presidencial de expulsão resultou de procedimento administrativo regularmente instaurado contra o ora paciente, a quem se assegurou, após pessoal notificação, o pleno exercício do direito de defesa (fls. 65/84).

Cumpre destacar, além do reconhecimento da inteira regularidade formal do inquérito instaurado para expulsão do ora paciente, que este,

por intermédio de seu defensor, propugnou, expressamente, pela decretação do ato expulsório, para que pudesse retornar ao seu país (fls. 67). Como se vê, o ora paciente, na realidade, não invocou, ao longo do procedimento administrativo em referência, qualquer causa legal de

inexpulsabilidade. Essa circunstância, associada ao fato da plena validade formal do inquérito de expulsão, assume indiscutível relevo jurídico,

pois a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal – exatamente em situações como a de que ora se trata (RTJ 98/661, Rel. Min. THOMPSON FLORES) – tem advertido que o remédio de “habeas corpus” não constitui instrumento processual adequado à invalidação do procedimento

administrativo de expulsão, quando regularmente instaurado e promovido por órgão competente (o Departamento de Polícia Federal), especialmente

se o súdito estrangeiro interessado, a quem se assegurou a garantia constitucional do direito de defesa, não invocou, em momento algum (até porque inexistentes), qualquer das causas de inexpulsabilidade previstas em lei (RTJ 134/364, Rel. Min. CELSO DE MELLO).

Não obstante tais considerações, devo registrar que inocorre, no caso, qualquer dos pressupostos legais de inexpulsabilidade a que se refere

o art. 75, II, do Estatuto do Estrangeiro, que assim dispõe:

“Art. 75 - Não se procederá à expulsão: .......................................................................................................

II – quando o estrangeiro tiver:

a) cônjuge brasileiro do qual não esteja divorciado ou separado, de fato ou de direito, e desde que o casamento tenha sido celebrado há mais de 5 (cinco) anos; ou

b) filho brasileiro que, comprovadamente, esteja sob sua guarda e dele dependa economicamente.” (grifei)

Como se sabe, a causa excludente de expulsão prevista no art. 75, II, “b”, da Lei nº 6.815/80 impede a efetivação do ato expulsório, se o

estrangeiro tiver filho brasileiro que, comprovadamente, esteja sob sua guarda e dele dependa economicamente. Cabe destacar, desde logo, por relevante, passagem da informação prestada pelo MM. Juiz de Direito da 2ª Vara de Família da comarca de

Itaboraí/RJ, segundo a qual o ora paciente “não é o pai biológico dos menores, tendo tão somente assumido a paternidade dos mesmos com o

objetivo de requerer a cidadania brasileira” (fls. 171, item n. 7).

Informativo 756-STF (09/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 26

No caso em exame, os menores em questão nasceram em 18 de agosto de 2002, no Município de Maricá/RJ (fls. 28/29), vale dizer, muito

após a prática delituosa – tráfico de drogas – cuja ocorrência motivou a edição, em 31/08/1994, do decreto presidencial de expulsão (fls. 81).

De qualquer modo, no entanto, e mesmo que o nascimento desses menores houvesse ocorrido em momento anterior ao do cometimento do crime de tráfico de drogas (o que não se verificou), cabe acentuar que os presentes autos não registram, em favor do ora paciente, a causa de

inexpulsabilidade resultante do estado de filiação, pois o súdito estrangeiro em questão sequer comprovou que os filhos brasileiros que

alegadamente possui estiveram sob sua guarda e que dele dependiam economicamente. Cumpre assinalar, neste ponto, que o MM. Juiz de Direito da 2ª Vara de Família da comarca de Itaboraí/RJ, nas informações anteriormente

por mim referidas, prestou esclarecimentos importantíssimos concernentes à Ação de Guarda nº 1799-34.2005.8.19.0023, fazendo-o nos seguintes

termos (fls. 170/171):

“Em atenção ao seu ofício nº. 698/R, relativo ao ‘HABEAS CORPUS’ nº 92.769, impetrado por ** ou **, tenho a subida honra de prestar a Vossa Excelência as seguintes informações:

1) O ora paciente aforou neste Juízo a AÇÃO DE GUARDA n° 1799-34.2005.8.19.0023, distribuída em 31/03/05, em face de

SUELI PIRES RODRIGUES, relativamente aos filhos comuns ** e **, gêmeos, nascidos em 18/08/02. 2) O processo teve tramitação regular, com várias tentativas de localização da ré, cujo paradeiro era ignorado, até que ela foi

citada pessoalmente em 16/03/06, e não impugnou o pleito autoral.

3) Foram elaborados vários estudos técnicos, numa tentativa de manutenção dos menores no núcleo familiar, uma vez que os mesmos estavam institucionalizados desde 16/06/08, por conta da prisão do ora paciente.

4) Contudo, no dia 04/12/08, ele afirmou que não tinha condições de ser o guardião das crianças e que estava de pleno acordo

com a colocação dos gêmeos em família substituta para fins de adoção.

5) Em razão disso, foi deferida ao casal ** e ** a guarda provisória dos menores, conforme decisão proferida em 19/12/08.

6) A seguir, foi proferida sentença, em 11/03/09, julgando improcedente o pedido de guarda formulado pelo ora paciente, cujo

provimento transitou em julgado e o processo está arquivado desde 01/06/09. 7) Anoto que consta dos estudos sociais que, na verdade, ** não é o pai biológico dos menores, tendo tão somente assumido a

paternidade dos mesmos com o objetivo de requerer a cidadania brasileira.

8) Registro, finalmente, que tramita na Primeira Vara de Família, da Infância, da Juventude e do Idoso desta Comarca, sob o nº 0012723-94.2011.8.19.0023, a AÇÃO DE ADOÇÃO requerida pelo casal ** e **, guardião dos menores desde 19/12/08, conforme

cópia da movimentação processual ora acostada aos autos.

9) Seguem, ainda, cópias da concordância do paciente com a inserção dos menores em família substituta para fins de adoção, e da sentença preclusa que julgou improcedente a ação de guarda.”(grifei)

Vê-se, portanto, que inocorre, em relação ao ora paciente, a causa de inexpulsabilidade referida no art. 75, II, “b”, da Lei nº 6.815/80.

Impende considerar, bem por isso, a própria jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, que, apreciando esse fator obstativo da

expulsão de súditos estrangeiros, enfatiza ser imprescindível, para efeito de incidência da norma legal em referência, e no que concerne à pessoa do filho brasileiro, a cumulativa satisfação dos dois requisitos fixados pelo Estatuto do Estrangeiro: (a) guarda paterna e (b) dependência

econômica (RTJ 85/80 – RTJ 85/779 – RTJ 97/135 – HC 74.169/MG, Rel. Min. CARLOS VELLOSO – HC 79.169/SP, Rel. Min. MARCO

AURÉLIO – HC 82.040/PA, Rel. Min. ILMAR GALVÃO, v.g.). Cumpre reafirmar, desse modo, presente o contexto em exame, que não se comprovou a ocorrência, no caso, em favor do ora paciente,

dos pressupostos legais obstativos da expulsão, cabendo assinalar, por isso mesmo, na linha da jurisprudência firmada pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ 119/1061), que a iliquidez dos fatos concernentes às hipóteses de inexpulsabilidade de estrangeiro impede a válida utilização da

ação de “habeas corpus” (RTJ 134/364, Rel. Min. CELSO DE MELLO).

Finalmente, impende registrar que o Plenário desta Suprema Corte, em hipótese idêntica à que ora se examina, considerada a

imprescindível contemporaneidade, ou mesmo anterioridade, dos fatos impeditivos da expulsão de estrangeiro em relação ao cometimento ou

prática do fato delituoso motivador do decreto expulsório, assim se tem pronunciado:

“‘HABEAS CORPUS’. EXPULSÃO. FILHOS NASCIDOS E REGISTRADOS APÓS O FATO CRIMINOSO. LEI Nº 6.815/80,

ART. 75, § 1º. O nascimento e registro dos filhos do paciente verificaram-se após a ocorrência do fato criminoso que deu ensejo ao decreto de sua

expulsão. Hipótese que afasta o impedimento de se expulsar o estrangeiro.

Ordem denegada.” (HC 80.493/SP, Rel. p/ o acórdão Min. ELLEN GRACIE – grifei)

“EXPULSÃO. Estrangeiro condenado por tráfico de entorpecentes. Filha brasileira. Reconhecimento ulterior à expedição do

Decreto de expulsão. Inexistência, ademais, dos requisitos simultâneos da guarda e da dependência econômica. Não-ocorrência de causa

impeditiva. ‘HC’ denegado. Interpretação do art. 75, ‘caput’, inc. II, letra ‘b’, e § 1º, da Lei nº 6.815/80. A existência de filha brasileira só

constitui causa impeditiva da expulsão de estrangeiro, quando sempre a teve sob sua guarda e dependência econômica, mas desde que a

tenha reconhecido antes do fato que haja motivado a expedição do decreto expulsório.”

(RTJ 193/598, Rel. Min. CEZAR PELUSO – grifei)

“‘HABEAS CORPUS’ – EXPULSÃO DE ESTRANGEIRO – PRÉVIO CUMPRIMENTO DE PENA IMPOSTA NO BRASIL – PACIENTE QUE ALEGA POSSUIR FILHA BRASILEIRA MENOR DE IDADE, DEPENDENTE DA ECONOMIA PATERNA –

INQUÉRITO DE EXPULSÃO – REGULARIDADE DESSE PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO – SILÊNCIO DO EXPULSANDO,

QUANDO DA REALIZAÇÃO DO INQUÉRITO, SOBRE A EXISTÊNCIA DE CAUSA OBSTATIVA DO ATO PRESIDENCIAL – ‘WRIT’

IMPETRADO COM O OBJETIVO DE INVALIDAR O INQUÉRITO – IMPROPRIEDADE DO MEIO – ORDEM DENEGADA.

.......................................................................................................

A iliquidez dos fatos concernentes às hipóteses de inexpulsabilidade de estrangeiro também impede a válida utilização da ação de ‘habeas corpus’ (RTJ 119/1061).

- O tardio reconhecimento de paternidade, aparentemente realizado com o objetivo de evitar a expulsão de súdito estrangeiro,

não constitui, quando superveniente ao fato que a motivou, causa impeditiva da efetivação desse ato político-administrativo, fundado na soberania do Estado brasileiro.”

(RTJ 134/364, Rel. Min. CELSO DE MELLO)

Entendo, em suma, analisados os diversos aspectos da impetração, que o súdito estrangeiro em questão não possui direito público subjetivo

à permanência no Brasil, eis que a expulsão, no caso, foi validamente ordenada pelo Chefe do Poder Executivo da União. Cabe ao Presidente da República, mediante avaliação eminentemente discricionária, aferir, para efeito do ato de expulsão, a necessidade, a oportunidade ou a utilidade

da adoção dessa medida excepcional. A autoridade ora apontada como coatora não pode ser substituída pelo Poder Judiciário na formulação desse

juízo. Este Supremo Tribunal, em consequência, não pode considerar inexistentes a nocividade e a inconveniência da permanência do súdito

Informativo 756-STF (09/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 27

estrangeiro no território nacional, em oposição ao ato presidencial, quando o Presidente da República, em ato regular e mediante juízo afirmativo, as

tenha reconhecido como devidamente configuradas.

Sendo assim, em face das razões expostas, acolhendo o parecer da douta Procuradoria-Geral da República, e por não se registrarem, em favor do súdito estrangeiro em referência, as causas legais de inexpulsabilidade, indefiro este pedido de “habeas corpus”, tornando sem efeito a

medida cautelar anteriormente deferida.

Comunique-se, com urgência, transmitindo-se cópia da presente decisão à Senhora Presidente da República (fls. 49). Arquivem-se os presentes autos.

Publique-se.

Brasília, 19 de maio de 2014.

Ministro CELSO DE MELLO

Relator

*decisão publicada no DJe de 22.5.2014.

* nomes suprimidos pelo Informativo.

OUTRAS INFORMAÇÕES 25 a 29 de agosto de 2014

Mensagem de Veto total nº 250 de 26.8.2014 - Projeto de Lei no 104, de 2014 - Complementar (no 397/14 -

Complementar na Câmara dos Deputados), que “Dispõe sobre o procedimento para a criação, a incorporação, a fusão e o

desmembramento de Municípios, nos termos do § 4o do art. 18 da Constituição Federal; altera a Lei no 5.172, de

25.10.1966; e dá outras providências”. Publicada no DOU em 27.8.2014, Seção 1, p. 2.

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

Expediente forense Portaria nº 169/STF, de 26.8.2014 – Comunica que, no dia 10.9.2014, o expediente na Secretaria do Tribunal e

de atendimento ao público externo será das 8 às 13 horas. Publicada no DJE/STF, n. 166, p.233, em 28.8.2014.

Secretaria de Documentação – SDO

Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD

[email protected]