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www.industriaeambiente.pt Investigação e Inovação em Ambiente convergência ou divergência? ENTREVISTA Jorge Moreira da Silva TECNOLOGIA Tratamento de águas residuais INVESTIGAÇÃO Gestão de energia e eficiência energética em edifícios LEGISLAÇÃO Novo Regime Jurídico dos Resíduos número 68 Maio/Junho 2011 Publicação Bimestral 6.50

Indústria e Ambiente 68

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Revista Indústria e Ambiente 68; © Engenho e Média, Lda.

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www.industriaeambiente.pt

Investigação e Inovação

em Ambiente convergência ou divergência?

ENTREVISTA Jorge Moreira da SilvaTECNOLOGIA Tratamento de águas residuais

INVESTIGAÇÃO Gestão de energia e eficiência energética em edifícios LEGISLAÇÃO Novo Regime Jurídico dos Resíduos

número 68Maio/Junho 2011Publicação Bimestral6.50 €

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EditorialInvestigação + inovação = ir mais longe

Entrevista | Jorge Moreira da Silva

Dossier“Investigação e Inovação em Ambiente” Parábola sobre a universidade, a técnica e o dia a dia – leonor amaral

Inovação e Ambiente: Redes de cooperação e apoios – bibiana dantas

Baterias – Desenvolvimento tecnológico e sustentabilidade – pedro sena da silva

Business Angels de olho no Ambiente e Energia – francisco banha

O ambiente e a I&DT ao nível Europeu: desafios e oportunidades para Portugal – anabela carvalho, carlos borrego, joão coimbra e eduardo maldonado

Ambiente e Inovação em Portugal

ESPECIAL PRÉMIO NACIONAL DE INOVAÇÃO AMBIENTAL 2011Waydip, SOMA e Varandas do Sousa distinguidos no PNIA 2011

InvestigaçãoGestão de energia e eficiência energética em edifícios públicos e de serviços

TecnologiaTratamento de águas residuais

Produtos e Tecnologias

NotíciasEnergiaAr e RuídoÁguaLegislação – Gestão e EconomiaAlterações Climáticas e Conservação da NaturezaResíduos

Pessoas e Empresas

Eventos

Estante | EcoCyberNews

Opinião, por Carlos Pedro Ferreira

FICHA TÉCNICA

Número 68 | maIo/JUNHo 2011

Diretor António Guerreiro de Brito

[email protected]

Diretora executiva Carla Santos Silva

[email protected]

Conselho editorialAlexandre Cancela d’Abreu, Ana Malheiro,

António Gonçalves Henriques, António Joyce, Carlos Alberto Alves, Carlos Borrego,

Carlos Pedro Ferreira, Isabel Rosmaninho, Luís Fonseca, Luís Rochartre, Pedro Santos e Rui Rodrigues

redaçãoJoana Correia

[email protected]

O Espaço Energia conta com a colaboração da ADENE

Publicidade Vera Oliveira

[email protected]

Comunicação Celine Borges Passos

Tel. 225 899 [email protected]

Designavawise

assinaturas Tel. 225 899 625 | Fax 225 899 629

[email protected]

redação e ediçãoEngenho e Média, Lda.

Grupo PublindústriaTel. 225 899 625 | Fax 225 899 629

Propriedade e administraçãoPUBLINDÚSTRIA, Produção de Comunicação, Lda.

Praça da Corujeira, 38 – Apartado 38254300-144 PORTO – PORTUGAL

www.publindustria.pt | [email protected]

Publicação Periódica Registo no ICS n.o 117 075

ISSN 1645-1783

Depósito Legal 165 277/01

Tiragem 3000 exemplares

os artigos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores.

A Indústria e ambiente adotou na sua redação o novo acordo ortográfico.

A Indústria e ambiente é impressa em papel proveniente de florestas com Certificação da

Gestão Florestal Responsável.

A Indústria e Ambiente é o membro português da

European Environmental Press SU

RIO

DOSSIER › As Cidades: os novos territórios sustentáveis

PRÓXIMA EDIÇÃO

Revista Oficial

© Imagem da capa gentilmente cedida por SEA FOR LIFE

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EDIToRIAl

Reconhecendo que o futuro não nos pertence mas que deve começar a ser já inventado, o atual momento de ajustamento estrutural em Portugal e de execução do plano de recuperação é, todos o sabemos, o momento de focar na competitividade e procurar o crescimento da economia. Esta fase que Portugal está a atravessar é complexa e não se resume a alguns chavões. Contudo, não pode deixar de ser interpretada como uma oportunidade. A área do ambiente, na sua multiplicidade sectorial, é um elemento chave inquestionável que pode alavancar a recuperação de Portugal. Isso mesmo já percebeu em 2009 a Alemanha que, então, publicou o seu atlas prospetivo para o mercado mundial das tecnologias ambientais, designado GreenTech made in Germany 2.0. Portugal tem conhecimento e valor para transacionar com o mundo e a Parceria Portuguesa para a Água (PPA) é uma diligência exemplar para construir um primeiro catálogo especializado, provavelmente a ser expandido para outras áreas do ambiente após consolidação. o facto da sede da PPA poder vir a localizar-se no Norte, hipótese aventada na sua primeira Assembleia-geral, é um sinal da importância das empresas e da indústria nacional nesta iniciativa.Neste contexto, existe um fator essencial para a internacionalização do setor ambiental: o capital tecnológico. o estímulo à investigação, desenvolvimento e inovação nas universidades e nas empresas é crucial e, na última década, Portugal tem efetuado um esforço consolidado nesse domínio, atingindo em 2009 cerca de 1.7% do PIB, o que não compara mal com a comunidade europeia. Esse trabalho tem resultado, em muito, de programas de formação avançada – temos cerca de 8.2 investigadores por mil ativos - e começará a colocar problemas de empregabilidade, mas esse é um problema virtuoso, constituirá um estímulo indireto ao empreendedorismo de elevado nível. É consensual que a visão estratégica de I&D+I em Portugal deve alocar apoios e recursos às instituições de ensino e entidades públicas, mas que também deve encorajar esse desenvolvimento nas empresas privadas, basta ter a noção que as 100 maiores empresas que investem em I&D garantem cerca de 25% das exportações. Aliás, o setor empresarial, que assegura cerca de 58% da investigação em Portugal em 2009, pode (deve) começar a ter mais confiança nos ganhos da sua interação com os sistemas de investigação do Estado. Ajudaria, para esse efeito, que esta relação fosse considerada como complementar de objetivos de avaliação de mérito científico nas universidades. o contributo para esta perspetiva dependerá, no essencial, da cultura das organizações e da motivação institucional que lhe for consagrada.No entanto, nunca saberemos o que o futuro nos reserva e, embora devamos antecipá-lo, é preciso prudência nos prognósticos e nas apostas. Basta pensar que há 100 anos a palavra “telefonia” ou “aviador” não era sequer conhecida, pois nada ainda havia para materializar estes conceitos. Apenas ainda há cerca de 10 anos, ou menos, o ato de “navegar” não seria, certamente, para ler um e-book (formato em que esta edição da IA existe) e uma enorme quantidade de acrónimos tecnológicos, hoje banal, era então desconhecida. Não importa, a verdade é que um qualquer programa de desenvolvimento de Portugal tem que estimular o investimento em empresas de risco e incentivar spin-off do sistema de investigação, tem que

Investigação + inovação = ir mais longeAntónio Guerreiro de Brito, Diretor

“o SEToR EMPRESARIAl, quE ASSEGuRA CERCA

DE 58% DA INvESTIGAção EM PoRTuGAl EM 2009, PoDE (DEvE)

CoMEçAR A TER MAIS CoNfIANçA NoS GANhoS

DA SuA INTERAção CoM oS SISTEMAS DE

INvESTIGAção Do ESTADo.

conseguir atrair fundos de capital de risco e business angels e tem que encorajar a inovação tecnológica por via de instrumentos fiscais indiretos, tal como o SIfIDE o procura fazer. um amigo meu, sempre com peculiar sentido prático, tem o hábito de afirmar que a investigação é usar dinheiro para gerar conhecimento e que inovação é usar conhecimento para ganhar dinheiro. Por outras palavras, a missão da investigação é adquirir conhecimento e a missão da inovação é usar esse conhecimento para assegurar competitividade. Significa isto, portanto, que ambas, a investigação e a inovação, são como dois motores necessários para manter o equilíbrio de Portugal no caminho de recuperação.

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Vencedores PNIA 2011 e representantes portugueses no EEP Award 2011

1.º Wayenergy da Waydip – Energia e Ambiente Lda.

2.º Sistema Wise Waste da SOMA, S.A. – Grupo Auto-Sueco

3.º Valorização agrícola de substrato da produção de cogumelos da Varandas de Sousa S.A.

Inove e represente Portugal na competição europeia em 2012! Saiba mais em http://pnia.industriaeambiente.pt

PRÉMIO NACIONAL DE INOVAÇÃO AMBIENTALPara empresas que vêem no futuro um Planeta Sustentável!

ORGANIZAÇÃO APOIO MECENAS

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ENTREVISTA

Entrevista conduzida por António GuErrEiro dE Brito | redação por JoAnA CorrEiA | Fotografia por Luís n. FiLipE

JoRgE MoREIRA dA SIlVA

Jorge Moreira da Silva destaca a Energia, a Biodiversidade e o Mar como as grandes prioridades no que toca ao Ambiente em Portugal. Em entrevista à IA, o actual Consultor Sénior no Plano de Desenvolvimento das Nações Unidas para o Financiamento Inovador do Ambiente e Energia, explica o que é necessário fazer em Portugal para evoluirmos nesta matéria, sendo defensor acérrimo de um choque fiscal “verde”, penalizando com mais carga fiscal a degradação de recursos naturais.

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ENTREVISTA

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António Guerreiro de Brito (AGB) – Do pon-to de vista económico e social, Portugal en-frenta um momento tão complexo como de-cisivo. Com base no seu conhecimento e na experiência que tem acumulado no contexto internacional, pode selecionar 3 desafios que estejam a ser enfrentados globalmente e que Portugal não deve ignorar? Jorge Moreira da Silva (JMS) – Neste momento, Portugal está confrontado com três desafios em simultâneo e, ao contrário de outros paí-ses, não se pode dedicar apenas a um deles. Primeiro, ainda temos problemas de primeira geração a resolver na área do abastecimento de água, saneamento, tratamento de resídu-os, descontaminação de solos e reabilitação. Há um segundo desafio que é aquilo que se costuma designar por “greening” da economia, ou seja, fazer face a novas diretivas comuni-tárias que na prática internalizam os custos ambientais de todos os produtos ou proces-sos. Isto está muito marcado pelo que foi lançado na ultima década, essencialmente a partir da declaração de Gutenberg, que é uma nova tipologia de diretivas comunitárias que, ao contrário das anteriores, colocam o am-biente dentro da economia e o homem no cen-tro das preocupações ambientais. Portugal tem que enfrentar este desafio que é o de ser custo-eficiente na forma como cumpre essas diretivas. O terceiro desafio é o das ecoinova-ções, desenvolvimento de tecnologias limpas e valorização dos recursos naturais. AGB – Nessa perspetiva, quais as áreas prio-ritárias no domínio do ambiente em que acre-dita que Portugal pode retirar dividendos da sua competência ou que deve reforçar o seu investimento?JMS – Penso que quando temos de identifi-car áreas prioritárias temos de selecionar um conjunto de critérios para definir porque é que uma é prioritária e outra não. Em Portugal te-mos de escolher prioridades e os critérios que costumo identificar como base para as iden-tificar são quatro: áreas onde fizémos grande apostas de formação de pessoas; áreas onde fizémos grande apostas de apetrechamento tecnológico; áreas onde temos recursos natu-rais que nos diferenciam e que são vantagens comparativas em relação a outros países; áre-as que se assumem como geradoras de pro-dutos e bens transacionáveis. As áreas a que chego como segunda derivada desta definição de critérios são ligadas ao ambiente, à energia, à agricultura, ao mar, às indústrias criativas, à biotecnologia. Dentro destas, há algumas que são do espectro do tema do ambiente, como a Energia, Mar e Biodiversidade.

AGB – As energias renováveis são uma apos-ta tecnológica consistente em Portugal. No entanto, subsistem necessidades de integra-ção intersectorial e oportunidades a explorar. Quer nomear as que julga mais importantes?JMS – A energia é uma das áreas onde Portu-gal pode encontrar oportunidade de inovação, investigação, desenvolvimento, de dissemina-ção, de criação de valor e internacionalização. A área da Energia, é muito mais vasta do que as energias renováveis. Hoje temos dados, mais do que suficientes, para agir. Os cenários e os custos ligados à inação, as consequên-cias da mudança climática para a nossa vida e para as próximas gerações é de tal forma significativa que, se não o fizermos, estamos a ser irresponsáveis. Por outro lado, seremos perdulários porque o custo de reduzirmos as emissões é, não só muito inferior ao custo de não fazermos nada, numa relação de 1 para 5, como gera grandes oportunidades de negócio. Portanto, uma aposta numa economia de bai-xo carbono, onde a energia tem um papel cen-tral, é fundamental para enfrentar o desafio da mudança climática mas também para ge-rar oportunidade de desenvolvimento tecno-lógico, ou seja, aquilo a que na ONU costuma-mos chamar o “green new deal”. Isto é assumir a área do ambiente e, em particular, o desen-volvimento tecnológico, a descarbonização do consumo e produção de tecnologia como uma alavanca para crescimento económico. Por-tugal tem um grande desafio nesta área por-que temos compromissos internacionais para assumir mas, também, porque o nosso mix energético é economicamente insustentável. Não basta reduzir a energia na eletricidade quando esta representa apenas 20% do con-sumo de energia. Portugal tem hoje uma de-pendência energética na casa dos 90%, em que 55% da dependência da nossa energia final é petróleo. De pouco serve apostarmos na re-nováveis se “deitarmos pela janela fora” por inefeciência no consumo nos transportes ou em nossa casa... A mais verde da energias é a eficiência energética. Portugal tem vantagens económicas para apostar na eficiência ener-gética porque reduz a sua dependência, reduz as emissões de CO2, reduz a nossa balança de-ficitária na área da energia e, além disso, cria oportunidades de negócio em áreas onde es-tamos bem apetrechados. A aposta na redu-ção da dependência do petróleo não pode ser apenas com o recurso às energias renováveis na eletricidade, nós precisamos de energias renováveis na produção de calor. AGB – A biodiversidade pode ser perspetivada como um ativo para o desenvolvimento?

JMS – A Biodiversidade é uma área menos evidente e estamos perante um duplo desa-fio já que é, em simultâneo, uma ameaça e uma riqueza. Portugal tem muitas das suas espécies e dos ecosistemas ameaçados mas, ao mesmo tempo, é um país rico em biodio-versidade e a circunstância de termos uma grande área coberta de rede Natura, traduz essa riqueza. Só que não podemos continuar a olhar para a biodioversidade e conservação da natureza como um custo de contexto em que incorrem os municípios, os cidadãos e as empresas. Temos que encontrar mecanismos para remuneração dos serviços prestados pe-los ecosistemas, isto é, eu cidadão se tenho um terreno em REN ou em RAN ou em Rede Natura não devo continuar a incorrer numa penalização por não conseguir valorizar em termos urbanísticos esse território, devo ser remunerado pelo facto de estar a prestar um serviço à comunidade ou ao país ou à UE.Esta é uma das áreas que deve dar origem à reforma do património e à criação de instru-mentos financeiros e de mecanismos de mer-cado, tais como, os que estão a ser testados na Austrália e nos EUA como os Biobanking ou os sistemas Offsetting. AGB – E o mar, como valoriza esse recurso?JMS – A terceira prioridade do Ambiente em Portugal tem a ver com a economia do mar que está, intimamente, ligada a questões am-bientais. É necessário haver uma integração

“UM PAíS qUE É MAIS DEPENDENTE ENERGETICAMENTE

DO ExTERIOR DO qUE OUTROS, NãO PODE

fICAR NA MÉDIA, TEM qUE SER MAIS

AMBICIOSO. SOU DEfENSOR qUE A

NOSSA META qUE HOjE É DE 20%, SEjA REvISTA,

PASSANDO PARA 25%.

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ENTREVISTA

cada vez maior da proteção do litoral e valo-rização dos recursos marinhos. Portugal tem uma relação, ora nostálgica, ora simbólica com o mar e, se olharmos para os ativos que te-mos, este é dos que merece ser valorizado e que tem toda uma cadeia de valor associada e onde temos vantagens comparativas. Te-mos grandes centros de investigação na área do mar e recursos marinhos que são valio-sos mas é necessário fazer apostas, seja nos transportes marítimos, seja na biotecnologia, seja até na energia ligada ao mar. AGB – O Estado pode desempenhar um papel de catalisador para a mudança. Nesse senti-do, o que pode ele fazer melhor?JMS – O Estado pode começar por si próprio. Por exemplo, assumindo metas de redução do consumo de energia mais ambiciosas do que aquelas que estão a ser assumidas. Eu penso que um país que é mais dependente energeti-camente do exterior do que outros, não pode ficar na média, tem que ser mais ambicioso. Sou defensor que a nossa meta que hoje é de 20%, seja revista, passando para 25% da redu-ção do consumo de energia até 2020. Isto faz-se começando pelo Estado. Esta meta para o Estado deve ser de, pelo menos, de 30%. Seria o Estado afirmar que quer impôr à sociedade uma meta de redução de consumo mas que vai dar o exemplo, com as suas frotas de au-tomóveis, com os sistemas de iluminação pú-blica, com os edifícios públicos, etc.O segundo passo é assumir-se na relação com as empresas e na sociedade. Parece-me necessária uma maior integração de po-líticas, acho que é fundamental que as áreas do ambiente, da mobilidade, da energia, da inovação possam ter uma integração institu-cional maior. Hoje temos uma pulverização de planos, não estou a falar apenas de Portugal, falo de vários países, mas no caso português isso é evidente. Nós precisamos, julgo eu, de um plano de ação de clima e energia que te-nha planeamento. Por outro lado, não se sabe quem é o responsável pelo problema. É fun-damental, tal como acontece nas empresas, haver um profits and losses para atribuição de metas de redução das emissões a cada setor e a cada responsável. Outro elemento passa, ainda no campo da re-gulamentação e implementação, por dar sinais de preço. Não há outra forma de impulsionar um combate às alterações climáticas e um desenvolvimento de baixo carbono, é preciso estabelecer um preço adequado ao carbono para que o preço de CO2, sendo internalizado nos produtores, para que aqueles que produ-zem verde tenham uma vantagem comparati-

va e aqueles que continuam a produzir de uma forma altamente poluente tenham um incen-tivo para mudar de vida. É necessário remover as barreiras que hoje existem à disseminação de tecnologias limpas, muitas da tecnologias já estão disponíveis mas têm ainda barreiras fiscais, comerciais, de contratação pública, etc. Por fim, é preciso reorientar comportamentos dos cidadãos. AGB – No sentido de reforçar a política de ambiente, que instrumentos poderiam ser aprofundados, designadamente em termos de política fiscal?JMS – É necessária uma revisão da fiscalida-de energética, não apenas na produção de energia mas também nos equipamentos de eficiência energética. Hoje é mais fácil, muitas vezes, queimar um combustível para produzir eletricidade do que utilizá-lo diretamente para produzir energia. Uma das questões funda-mentais é a fiscalidade energética e, de uma forma mais vasta, será a fiscalidade ambien-tal e a fiscalidade do património. Eu sou de-fensor de um choque fiscal verde que, obvia-mente, não é uma coisa que se possa fazer a curto prazo mas olhando para o médio/ longo prazo julgo que Portugal tem vantagens em substituir carga fiscal sobre o trabalho e sobre a riqueza, por mais carga fiscal na degradação de recursos naturais. Não se trata de aumen-tar impostos mas, num quadro de neutralida-de fiscal, de encontrar forma de não penalizar tanto aquilo que tem valor, penalizando mais aquilo que é negativo para a sociedade como a

degradação de recursos e a poluição.O segundo elemento tem a ver com a contra-tação pública. Precisamos, cada vez mais, de mecanismos de contratação pública de pro-dutos mais sustentáveis. A ideia de compras públicas ecológicas é importante, já foram dados alguns passos em Portugal mas acho que é necessário alargar, não apenas a mais produtos como alargar a mais clientes porque isso permite criar o maior impacto neste es-forço de “greening”.O terceiro elemento parece-me ser o de medir. julgo que precisamos de criar indicadores de sustentabilidade locais. Acho que poderia ser importante, até porque o processo das Agen-das 21 teve muito menos impacto do que de-veria ter tido, e sem perder a necessidade de aprofundar esse esforço de alargar a mais mu-nicípios as Agendas 21, tem que se dar um sal-to quântico e passar a uma fase seguinte que é a da criar indicadores para a sustentabilidade local que permitam medir o desempenho dos municípios. Depois é necessário compensar os municípios, não se trata apenas de fazer uma lista de bons alunos e maus alunos, mas de compensar pelo esforço que façam em relação a esses indicadores. Há vários mecanismos que podem ser implementados, seja através das finanças locais, seja através da fiscalidade ou de um fundo específico para esta áreas.AGB – A investigação é um fator de mobiliza-ção de conhecimento para a competitividade. Como enquadra este setor para o crescimento de Portugal?

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ENTREVISTA

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JMS – Portugal precisa de escala no financia-mento. Muitas destas tecnologias limpas, são tecnologias que sendo muito reprodutivas e gerando valor rapidamente, precisam de mas-sa crítica na investigação e desenvolvimento. Precisamos de criar na área da sustentabili-dade, incentivos para que dentro da academia possa haver uma reorganização da rede, de maneira a que as pessoas trabalhem mais em conjunto. Nota-se uma certa fragmentação na atividade de investigação dentro da própria academia e isso impede-nos de concorrer à escala internacional. Um segundo elemento é o de fomentar, de facto, uma articulação maior entre indústria e academia. Muitas vezes sen-te-se que a academia quando projeta e inves-tiga, fá-lo sem atender às necessidades do setor industrial mas, muitas vezes, também o setor industrial quando precisa de inovar não vai buscar esse conhecimento à academia, prefere comprar produtos chave-na-mão, pa-gando royalties da investigação que foi feita no estrangeiro. Esta é uma das coisas que o estado pode fazer, por via do financiamento ao sistema científico e à inovação, “obrigar” a que mais casamentos possam ocorrer entre investigação e inovação de base tecnológica. O Estado tem estes instrumentos, ele financia as universidades e o sistema científico e tam-bém a inovação através de capital de risco e de progranas operacionais. AGB – Referiu a questão dos incentivos fis-cais. Como fazer para serem perspetivados pelas empresas e pelas pessoas como in-

centivos para um melhor gestão e não como impostos? JMS – Penso que o essencial é não dar sinais errados. A razão dos impostos ambientais e de toda a fiscalidade ambiental é o de reorien-tar comportamento, internalizando no pre-ço final as externalidades ambientais de um determinado processo ou de um determinado produto. Isso é uma forma de orientar com-portamentos dos cidadãos mas, também, da economia. Ao estarmos a tributar a degra-ção dos recursos, estamos a tributar o CO2 e a degradação do património, dando um sinal ao consumidor mas também ao tecido empre-sarial que produzir verde compensa e produ-zir de uma forma insustentável penaliza esse player na área económica. Outro aspeto tem a ver a com a necessidade de aumentar impostos neste área. Eu julgo que se chegou a um limite máximo da car-ga fiscal que a economia e que os cidadãos aceitam, mas podemos progressivamente, no médio e longo prazo, substituir alguns im-postos sobre o trabalho e sobre a riqueza so-bre outros na área ambiental. Há uma coisa que os cidadãos querem ver esclarecido e não apenas aqui em Portugal, que é o não haver apenas um sinal de preço que reoriente com-portamentos mas que essa reorientação de comportamentos seja totalmente percetível pelos cidadãos porque o que se procura não é que as pessoas apenas deixem de consu-mir um determinado produto ou que deixam de utilizar determinada forma de transporte,

o que se pretende é que mudem para outro produto ou forma de transporte. É importante que o cidadão sinta, por exemplo, que os im-postos sobre os produtos petrolíferos e sobre a transação de veículos servem para termos transportes públicos mais sustentáveis, com acesso a combustíveis mais limpos, trans-portes públicos mais confortáveis e com uma rede de influência maior.O mesmo na área de energia. Nós estamos a penalizar as centrais a carvão e as térmi-cas pelo valor de CO2 que emitem mas esta-mos a apostar nas renováveis com um valor idêntico à penalização que estamos a fazer dos maiores poluidores. Tem que haver uma capacidade, que ainda não existiu, de comuni-car ao cidadão que os impostos servem para reorientar escolhas, não apenas para penali-zar o cidadão e aquele setor económico mas servem para que o cidadão e outros setores económicos beneficiem de comportamentos mais sustentáveis. AGB – Onde encontramos oportunidades para melhorar a cooperação internacional? A políti-ca climática vai nesse sentido?JMS – Eu julgo que o grande desafio hoje é o de impulsionar uma globalização mais inclusi-va e mais sustentável, tendo em atenção que alguns Estados ainda estão numa situação de pobreza extrema e que têm que ser apoia-dos na transição para esta nova economia Por exemplo, as alterações climáticas são um grande paradoxo porque os impactos, mesmo se não fizermos nada, andarão entre 5% a 20%

“MUITAS vEzES SENTE-SE qUE A ACADEMIA qUANDO PROjETA E INvESTIGA, fá-lO SEM ATENDER àS NECESSIDADES DO SETOR INDUSTRIAl.

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ENTREVISTA

do PIB, sendo muito maiores do que o custo de agirmos, que andará na ordem dos 1% . Esses impactos vão-se fazer sentir mais nos países que menos poluem. Não é nos países que mais emitem que essas consequências se vão fazer sentir, mas sim, mais uma vez, naqueles países que têm menos resiliência e menos capacidade de adaptação. É por isso que tem de haver aqui uma capacidade de, por um lado, apostar na mi-tigação, ou seja, na redução das missões à esca-la global mas, por outro lado, ter noção que não se pode pedir aos países em vias de desenvol-vimento que reduzam as emissões ao mesmo ritmo com que nós reduzimos as nossas. Esses países precisam de apoio à adaptação, há uma componente de mudança climática que é inexorável e tem que haver capacidade para que esses países se desenvolvam economicamente e não encontrem nas metas de redução das emis-sões um bloqueio total ao seu desenvolvimento. É aqui que surgem grandes oportunidades para todos. Os países industrializados assumiram já, no quadro de Cancun e Copenhaga, que transferi-rão anualmente, até 2020, uma dotação financei-ra de 100 mil milhões de dólares para os países em vias de desenvolvimento. Para termos noção do que é que significa este valor, 100 mil milhões de dólares é o mesmo valor anual da ajuda tra-dicional ao desenvolvimento e inclui combate à pobreza, HIv, iliteracia, saúde, entre outros. Uma parte desse financiamento será feito através do mercado de carbono, através de projetos que as empresas dos países industrializados fazem em países em vias de desenvolvimento, receben-do créditos de carbono a partir desses investi-mentos. Mas há também uma componente que será financiamento público, seja nacional, seja multilateral. Neste momento, isto é uma gran-de oportunidade para todos, para os países em vias de desenvolvimento que têm uma oportu-nidade para satisfazer as suas necessidades de adaptação às alterações climáticas e também uma possibilidadde poderem descarbonizar a produção de energia a partir de tecnologias mais limpas. Mas é igualmente positivo para aqueles que financiam porque, muitas das empresas que desenvolvem tecnologias limpas, encontra-rão um motor para disseminarem e exportarem as suas tecnologias. Portanto, há aqui grandes oportunidades ligadas a este “case-study” que é a mudança climática, de facto, hoje este é proval-mente o único tema à escala internacional que, por um lado, cria mecanismos vinculativos do estados, tem um sistema de governação global, fomenta mecanismos de mercado como é o caso do comércio de licenças de emissão, mas tam-bém envolve a comunidade científica, as empre-sas a inovação.

PERFIlJorge Moreira da slna nasceu em 1975 em Braga (?). Licenciado em

Engenharia Eletrotécnica e de Computadores pela Faculdade de Engenharia da universidade do porto, desde cedo, enveredou também por uma carreira

política, tendo chegado a presidente da Juventude social-democrata em 1995. Mais tarde completa a sua formação académica com uma pós-

graduação em Gestão na iEsE Business school - universidade de navarra. Em 1999 é eleito deputado do parlamento europeu, onde fica ligado às alterações climáticas. Entre 2000 e 2003 desempenha o cargo de vice-presidente da Globe, sendo que no ano a seguir se torna secretário de

Estado Adjunto da Ministra da Ciência e do Ensino superior (XV Governo) e, logo a seguir, secretário de Estado Adjunto do Ministro do Ambiente e do ordenamento do território (XVi Governo). A partir de 2007, volta à

actuação internacional, tendo desempenhado vários cargos em organizações europeias, sempre ligado ao ambiente: Consultor das políticas de

biodiversidade no BEi (2007-2008); Consultor da Comissão Europeia nas negociações sobre as alterações climáticas pós-2012 (2008-2009); entre outros. Atualmente é Consultor sénior no plano de desenvolvimento das

nações unidas para o Financiamento inovador do Ambiente e Energia. .

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PUBLI-REPORTAGEM

EnquadramEnto LEgisLativoA Estratégia Nacional para a Energia (ENE) tem como objectivo principal diminuir a dependência energética do exterior (diminuindo importação de Carvão e Gás Natural), reduzindo, assim, as emissões de gases com efeito de estufa. Foram definidos 5 eixos, entre eles, a aposta nas Ener-gias Renováveis.Actualmente, e dando sequência à orientação do ENE, foram publica-dos recentemente Decretos-Lei para a micro e minigeração. Até ao final de 2010, leiloaram-se mais 150MW para Instalações Fotovoltaicas de 250kW e está previsto para este ano leiloar mais 250MW, a adicionar aos 50MW/ano previstos no DL da minigeração.

oportunidadEs Tendo já aludido às vantagens Macroeconómicas, há que realçar a dinâ-mica energética que se avizinha. Desde o fabricante português de pai-néis fotovoltaicos, passando pelos instaladores/projectistas e clientes finais, há um conjunto de benefícios alocados a cada um deles. Duas situações: criação de empresas produtoras de painéis fotovoltaicos, de origem portuguesa, gerando emprego, intrínseco, e, a jusante, a redução, a médio prazo, de custos de produção com a redução da componente energética, tornando as empresas mais competitivas (especialmente, as grandes consumidoras de energia, tal como previsto na legislação).

Como garantir o rEtorno do invEstimEnto?Há a necessidade de redobrar a atenção para pequenos detalhes que fazem toda a diferença, antes do envolvimento em projectos de investi-mento desta natureza, com uma vida útil esperada de cerca de 25 anos.Num Parque Fotovoltaico, decorrem três fases de investimento: Projec-to, Instalação e Operação. Salvo as devidas excepções, a reduzida qua-lidade na fase de projecto e na fase de instalação e, principalmente, o “relaxamento” na fase de operação/manutenção implica que haja Insta-lações Fotovoltaicos que não produzem a energia inicialmente prevista.

A criação de uma norma para congregar as três fases, detectando os desvios em cada uma delas, é um factor decisivo para o sucesso do in-vestimento. A experiência da empresa TÜV Rheinland na inspecção de Parques Fotovoltaicos é vasta, contando com cerca de 30 anos. Em Es-panha, foram inspeccionados mais de 100 Parques Fotovoltaicos, onde se detectaram os seguintes problemas:• 30% de desvios entre o projecto e a instalação; • 30% de defeitos graves de termologia nos principais equipamentos

(módulos e inversores);• 21% de defeitos na instalação ao nível de ligações eléctricas; • 10% de problemas de segurança eléctrica.

Face ao historial mencionado, na inspecção de Centrais Fotovoltaicas, não só em Espanha, como também no resto na Europa, a TÜV Rheinland criou uma Norma Interna que visa a implementação de procedimentos de uma forma rigorosa:

Validação do projecto técnico - parâmetros climáticos, sombreamentos; a TÜV Rheinland elabora um relatório técnico identificando os desvios;Acompanhamento da Instalação - prevenção de incorrecções, que iriam ser detectadas posteriormente durante a inspecção final;Inspecção técnica ao rendimento da Instalação – termografias, curvas I/V, etc.; elaboramos um relatório técnico detalhado com a apreciação e desvios relativos à tecnologia, qualidade dos equipamentos, ligações, estruturas e funcionamento;Inspecções Periódicas (anuais) – elaboramos um relatório técnico anual com identificação do estado de funcionamento e manutenção ao longo do tempo.

Com estes serviços podem prevenir-se desvios no retorno do investi-mento, de um, dois, ou mais anos. Garantir a produção de energia eléc-trica ao longo da vida útil do projecto é “imperativo”.

www.tuv.pt

garantia do rEtorno do invEstimEnto Em parquEs FotovoLtaiCos

Cada vez mais, é imprescindível garantir o retorno de qualquer investimento. Surgindo a oportunidade de um projecto de investimento em Parques Fotovoltaicos, temos de ter em conta pequenos detalhes (mas de elevada relevância), nomeadamente, dados climáticos credíveis, qualidade/fiabilidade dos equipamentos e a execução de um programa de manutenção detalhado, por exemplo.

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INDÚSTRIA E AMBIENTE 68 MAIO/JUNHO 201110

dossier INVESTIGAÇÃO E INOVAÇÃO EM AMBIENTE

1. Entre 1902 e 1909, um famoso físico traba-lhou no Instituto de Patentes, em Berna. Era uma forma de ganhar a vida, de ganhar tem-po para conseguir atingir o seu grande sonho profissional – tornar-se docente e investi-gador numa universidade de prestígio – e foi também uma inesgotável fonte de inspiração. Aí, como aliás, no seu ambiente familiar – o pai tinha uma fábrica de material elétrico – este físico ganhou contacto direto com a “produ-ção” de soluções para o dia a dia. No fundo, neste seu emprego, percebeu que a resolução dos mais comezinhos problemas quotidianos exige, normalmente, a mais profunda reflexão teórica e a sua “tradução” ou transformação em “máquinas” ou sistemas de acesso o mais universal possível. Talvez por isso, nos anos 20 e 30 do século passado este físico patenteou um número significativo de inventos, entre os quais se destacam sistemas de refrigeração ou a má-quina fotográfica com regulação automática de luz. Certamente que essa singular capa-cidade não lhe advinha apenas da sua capa-cidade para resolver problemas considerados como mais imediatos e, eventualmente, mais

urgentes mas, antes – e sem margem de dú-vida - da sua extraordinária capacidade para saber equacionar corretamente os problemas e para lhes encontrar soluções adequadas. E convém acrescentar: este inventor de solu-ções técnicas chamava-se simplesmente Al-bert Einstein, prémio Nobel da Física, o mais conhecido cientista de todos os tempos. Um físico de eleição entre todos os físicos e, curio-samente, um ícone da cultura popular.

2. O primeiro papel das Universidade – e, tal-vez, o mais relevante – é o ensino. A sua capa-cidade de transmitir, não conhecimentos em bruto, mas os instrumentos de análise que permitam a elaboração de um raciocínio sólido e crítico, capaz de acrescentar valor em todas as circunstâncias. Em linguagem mais corriqueira, diria que o papel das Universidades é ensinar a pensar, é ensinar a saber pensar. Por isso, cabe às Uni-versidades fornecer instrumentos de análise suscetíveis de utilização em diferentes situa-ções e problemas e, consequentemente, aju-dar a desenvolver nos docentes, investigado-

res e discentes, a capacidade para encontrar soluções.

3. “A imaginação é mais importante que o co-nhecimento.” Albert Einstein

Resulta da observação da realidade atual, e global, que as Universidades e as empresas partilham hoje um valor comum para a sua afirmação e desenvolvimento: a criatividade. No caso das Universidades, não se põe em causa que a criatividade seja a principal base do saber científico. É preciso saber perguntar, querer perguntar, trabalhar para encontrar as respostas, por vezes certas, por vezes as mais adequadas. Por outro lado, não restam dúvi-das sobre a importância da criatividade para o mundo empresarial – independentemente da sua área de atividade ou da sua dimensão. As empresas dependem da criatividade da sua massa crítica para poderem responder a mer-cados em constante mudança – em mudança rápida – oferecendo a cada momento as solu-ções mais adequadas para um universo global de potenciais interessados. Acresce ainda di-

Leonor Amaral Prof. Auxiliar FCT/UNL [email protected]

PARáBOlA SOBRE a universidade, a técnica e o dia a dia

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dossier INVESTIGAÇÃO E INOVAÇÃO EM AMBIENTE

INDÚSTRIA E AMBIENTE 68 MAIO/JUNHO 2011

zer que é a criatividade que permite antecipar problemas, soluções e necessidades. E isso está certamente na base do êxito de uma ati-vidade empresarial de sucesso.

4. “Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito.” Albert Einstein

A articulação entre as Universidades e as em-presas parece ser hoje sentida como uma ne-cessidade consensual, um facto indesmentí-vel e positivo para ambos os lados. Com efeito, é dificilmente criticável que as universidades, como centros produtores e transmissores de saber, possam – e devam – desempenhar um papel preponderante na sociedade valendo-se dos seus conhecimentos, em particular, daquele conjunto, rico e extremamente diver-sificado, que constitui o mundo das técnicas.Significará isto, muito simplesmente, que as universidades devem estar direcionadas para as empresas?... Convergência, divergência? A pergunta parece equívoca por sugerir a ideia de um sentido único, em que o trabalho uni-versitário se restringiria, eventualmente, à re-

solução de problemas colocados pelo mundo económico, em especial o mundo industrial, problemas técnicos mais imediatos e mais práticos As Universidades não podem hesitar e devem desempenhar esse papel, nomeada-mente quando solicitadas para tal, mas seria redutor encarar dessa forma o seu especial contributo para a sociedade. Acredito que a resposta para este tipo de problema resida na forma equilibrada como o relacionamento entre mundo universitário e mundo empresarial deva enquadrar-se: sem lugar a subordinações – ainda que o poder económico não esteja igualmente distribuído – e com uma ampla plataforma de diálogo. Da mesma maneira que as Universidades se de-vem pôr ao serviço das empresas para as aju-dar a encontrar soluções para os seus proble-mas, tornando-se assim mais criativas, logo mais competitivas, também as empresas têm

de tomar consciência que o seu espaço pode ser um espaço privilegiado para a investigação “pura” não exigindo e não a fazendo depender de resultados práticos imediatos. Na sociedade atual, em que tudo acontece a uma velocidade estonteante, um aspeto re-siste exigindo um tempo diferente, um tempo de infinita qualidade: o pensamento.

“Penso 99 vezes e nada descubro; deixo de pen-sar, mergulho em profundo silêncio - e eis que a verdade se me revela.” Albert Einstein

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dossier INVESTIGAÇÃO E INOVAÇÃO EM AMBIENTE

setor AmbientAl em PortugAlO setor do ambiente em Portugal apresenta nos últimos anos uma dinâmica positiva, não só devido às novas regulamentações legais, como também devido à crescente tomada de consciência da importância das empresas na proteção ambiental.As alterações climáticas e o Protocolo de Quioto são temas incontornáveis na atual es-tratégia do estado português, evidenciando a importância que a aposta nas energias reno-váveis e a proteção ambiental têm no cumpri-mento das metas estabelecidas por este pro-tocolo. Por outro lado, a nível empresarial, o domínio ambiental ganhou uma grande mag-nitude constituindo uma importante área de negócio. As regulamentações e políticas am-bientais assim como a preocupação do papel das empresas na Sociedade, desencadearam várias iniciativas visando a proteção ambien-tal e o reconhecimento da inovação sustentá-vel como impulsionador do crescimento eco-nómico. De facto, as políticas de ambiente originam externalidades que relacionam cada vez mais o crescimento económico e o ambiente. Por

um lado a sustentabilidade da competitivi-dade internacional depende em grande parte dos padrões de produção e consumo que têm um impacto direto no nível de poluição, e por outro lado os instrumentos governamentais podem fazer cumprir acordos internacionais de proteção ambiental. Desta forma, é facil-mente depreendido que a competitividade económica e a melhoria do ambiente estão fortemente correlacionadas e devem ser com-plementares.O crescimento das empresas, e consequente-mente dos setores de atividade, relaciona-se cada vez mais com a capacidade de criar van-tagens competitivas sustentáveis através da melhoria ou desenvolvimento de novos pro-dutos ou de oportunidades de negócio.Nos últimos anos assistimos a várias ini-ciativas públicas que visam a promoção do crescimento e modernização da indústria e o desenvolvimento de competências, mas também através de políticas que incitam à autonomia e eficiência energética e à sus-tentabilidade ambiental. Discutir a inovação sustentável torna-se assim de extrema rele-vância especialmente num período de abran-

damento económico e de reposicionamento estratégico nacional no atual panorama da globalização.O contributo da atuação pública é incontor-nável para o crescimento e sustentabilidade da indústria, refletindo-se nos projetos sub-metidos nas várias ferramentas de apoio, que visam a ecoeficiência e a competitividade empresarial sustentável, inseridas em estra-tégias a implementar pelas empresas. Os ins-trumentos de suporte e as medidas de finan-ciamento ao dispor deste setor permitiram o seu desenvolvimento tanto ao nível industrial como a nível de otimização da gestão e de in-vestigação e desenvolvimento de tecnologias mais eficientes. Em Portugal, o setor ambien-tal está orientado para a prevenção de riscos ambientais relacionados fundamentalmente com o desempenho ambiental e com siste-mas de gestão do ambiente.Complementarmente a estas medidas gover-namentais tomadas no sentido de apoiar as empresas, devem ser também implementa-das políticas de desenvolvimento sustentá-vel assentes em pilares de atuação dinâmi-cos que integrem empresas, universidades

Bibiana DantasCoordenadora de Projetos Internacionais – Agência de Inovaçã[email protected]

INOVAÇÃO E AMBIENTE: redes de cooPerAção e APoios

O ambiente representa um vetor estratégico para o desenvolvimento e sustentabilidade das economias e as ferramentas governamentais seguem essa tendência apostando na criação de condições para tornar a ecoinovação incutida e disponível a todas as indústrias.

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e instituições de investigação, daí a crescente importância na aposta em formação e desenvolvimento de novas competências em muito associadas à atual economia do conhecimento. Neste sentido as universidades desempenham um papel basilar sen-do de extrema relevância o seu serviço de formação criador de competências fundamentais para o estudo e desenvolvimento de soluções ambientais sustentáveis. As principais universidades portuguesas prestam já diversos serviços às empresas e fazem investigação de relevância internacional na área ambiental, exis-tindo já vários casos de sucesso resultantes desta cooperação empresa/universidade que deram origem a patentes e a spin-offs. O futuro passará assim pelo incentivo da investigação e da cooperação entre investigadores e empresas com o objetivo de promover o desenvolvimento e modernização do tecido empre-sarial e universitário português com vista à persecução do cres-cimento sustentável. Contudo, e apesar dos vários mecanismos de apoio, o abranda-mento económico trouxe novos desafios às PME que se confron-tam com a necessidade de se reposicionarem em segmentos mais valorizados e de procurarem novas estratégias de competitivida-de que contribuam para o seu próprio crescimento sustentável. Para além da gestão de incentivos, a Agência de Inovação integra a rede Enterprise Europe Network que incentiva a cooperação in-ternacional e as parcerias tecnológicas, prestando informação e aconselhamento. Vocacionada para ser um parceiro estratégico nos processos de internacionalização e inovação das PME, para além da procura de parceiros de negócio e de cooperação atra-vés da identificação e promoção de tecnologias, este grupo está também focado no aconselhamento sobre oportunidades de fi-nanciamento em programas de investigação na União Europeia e na assistência em matéria de legislação comunitária.No contexto da promoção internacional de tecnologias e parce-rias, a AdI irá organizar a participação de uma missão portuguesa nos encontros bilaterais do brokerage organizado pela Enterprise Europe Network durante a feira internacional POLLUTEC que de-correrá entre os dias 29 de novembro e 2 de dezembro de 2011 em Paris, França. A feira internacional POLLUTEC, dedicada às indús-trias do ambiente, apresenta uma exposição de soluções de tec-nologias inovadoras e serviços para a proteção do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável.

Instrumento chave da estratégia da União Europeia, juntando cerca de 600 pontos de contacto em 48 países, a rede Enterprise Europe Network apoia as pequenas e médias empresas a beneficiarem de oportunidades de negócio e tecnológicas a nível europeu.A rede em Portugal cobre o continente e ilhas, num consórcio liderado pelo IAPMEI, com entidades nacionais e regionais, a AdI - Agência de Inovação, o INPI – Instituto Nacional da Propriedade Industrial, a CCDR Algarve, o CEC - Conselho Empresarial do Centro/Câmara de Comércio e Indústria do Centro, a AIDA - Associação Industrial do Distrito de Aveiro, a AIMinho - Associação Industrial do Minho, a ACIF - Câmara de Comércio e Indústria da Madeira, e a CCIPD - Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada.

PUB.

A Agência de Inovação, S.A. (AdI) é uma empresa de capital público subscrito em partes iguais pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, através da FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia (50%), e pelo Minis-tério da Economia e Inovação, através do IAPMEI (17%) e da PME - Investi-mentos (33%). Com a missão de promover a inovação e o desenvolvimento facilitando o aprofundamento das relações entre o mundo da investigação e o tecido empresarial português.

objetivos› apoiar a inovação de base tecnológica;› estimular a interligação das empresas com as instituições de I&D;› incentivar a valorização dos resultados de I&D nomeadamente através

da criação de novas empresas de base tecnológica;› promover a inserção de Recursos Humanos altamente qualificados nas

empresas;› promover a transferência de tecnologia.

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dossier INVESTIGAÇÃO E INOVAÇÃO EM AMBIENTE

instrumentos de APoio À i&d e inoVAçãoA AdI gere um conjunto de programas de incentivo ao desenvolvimento tecnológico e à inovação que têm como beneficiários as empresas e demais organizações do SCTN.

A Medida de Apoio a Projetos de I&D em Co-Promoção do QREN aceita candidaturas para desenvolvimento de atividades de I&DT, por parcerias entre empresas e empresas e entidades do SCT com vista à criação de novos produtos, serviços ou [email protected]

EUREKAA Iniciativa EUREKA promove a cooperação entre empresas e institutos para o desenvolvimento conjunto de produtos tecnologicamente inovadores com perspetiva de mercado a nível europeu e mundial. A AdI gere a participação de Portugal na Iniciativa EUREKA que integra 38 países europeus e a Comissão Europeia.

EUROSTARSO Programa EUROSTARS apresenta-se como uma nova forma de apoio às PME com atividades de I&D e resulta do esforço de colaboração entre a Iniciativa EUREKA e a Comissão Europeia (CE)[email protected]

IBEROEKAOs projetos IBEROEKA são parcerias tecnológicas empresariais de desenvolvimento conjuntode novos produtos, processos e serviços inovadores, dirigidos ao mercado de 21 países Ibero-americanos. A AdI é responsável pela dinamização da participação de Portugal na rede IBEROEKA do CYTED – Programa Ibero-americano de Ciência e Tecnologia para o [email protected]

ENTERPRISE EUROPE NETWORKA AdI é membro da Rede Enterprise Europe, a maior rede europeia de serviços de inovação e tecnologia criada para ajudar as empresas a inovar e a competir para além das fronteiras nacionais e da [email protected]

BOLSA DE OFERTA E PROCURA DE TECNOLOGIAA AdI disponibiliza uma bolsa tecnológica para facilitar o encontro entre a procura e a oferta de tecnologia a nível nacional e internacional.www.bolsatecnologia.pt

O SIFIDE possibilita a dedução à coleta do IRC das despesas com I&[email protected]

Bolsas para Estágios no CERN, ESA e ESOA AdI é responsável pela gestão de estágios que visam a formação avançada de jovens engenheiros em grandes Organizações Científicas Internacionais, como o CERN (Laboratório Europeu de Física de Partículas), ESA (Agência Espacial Europeia) e ESO (Observatório do Sul Europeu)[email protected] DeGRAU Científico

O DeGRAU Científico coloca à disposição das empresas uma extensa base de dados com perfis de candidatos altamente qualificados (mestres, doutores e pós-doutorados) que pretendem desenvolver a sua carreira em ambiente empresarial.www.degraucientifico.pt

CO-PROMOÇÃO SIFIDE – SISTEMA DE INCENTIVOS FISCAIS À I&D EMPRESARIAL

PROMOÇÃO INTERNACIONAL DA I&D

QUALIFICAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS

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Isto é, por regra só nos lembramos da bateria quando ela falha. Do telemóvel à bateria de arranque de um automóvel, passando pelo te-lecomando da televisão ou pelo laptop, sejam baterias secundárias (recarregáveis) ou pri-márias, associamo-las ao não funcionamento de algo que era suposto funcionar. E, como se isso não bastasse, associamo-las a materiais tóxicos e a poluição.Desde as primeiras baterias de chumbo ácido (Gaston Planté, 1859) até às atuais baterias de ião de lítio (ião-Li), registou-se uma notável evolução em termos de densidade de energia (Wh/l), energia específica (Wh/kg) e fiabilida-de, tanto nas baterias primárias como nas secundárias. No entanto, não só as baterias são notadas apenas quando deixam de fun-cionar como a associação a materiais como o chumbo, o cádmio, o cobalto ou o mercúrio, se encarrega de acrescentar o estigma de produ-to contendo materiais nocivos para a saúde e para o ambiente.Há, no entanto, uma realidade bem diversa desta perceção negativa. As baterias desem-penham um papel absolutamente crucial em aplicações que vão desde a medicina às tele-

comunicações, passando pelos transportes e redes de energia. E têm-no feito com uma melhoria permanente de desempenho. Mes-mo as baterias de arranque dos automóveis, sendo uma tecnologia consolidada por várias décadas de melhoria constante, sem nenhu-ma descontinuidade tecnológica nos princí-pios fundamentais do seu funcionamento, viram a vida útil aumentar e um melhor apro-veitamento dos materiais utilizados, tanto na matéria ativa dos elétrodos como nos com-ponentes passivos. Acresce que as baterias de chumbo são o produto mundial com maior taxa de reciclagem. O gradual abandono do chumbo noutras aplicações como as tintas, aditivos para combustíveis ou material para soldadura, concentrou o uso do chumbo na indústria de baterias. Ao alcançar taxas de re-ciclagem superiores a 80% na Europa e de 90% nos EUA, as baterias de chumbo ácido são o produto de consumo com a com maior taxa de reincorporação de materiais reciclados.Quanto ao desempenho das baterias, uma representação gráfica como a apresentada na figura, evidencia os ganhos permanentes e, em especial, os ganhos exponenciais desde

que, ainda muito recentemente (1992), foram introduzidas as baterias de ião-Li.Ora, a alteração tecnológica de vulto das ba-terias de ião-Li veio destronar muitas apli-cações de outras tecnologias. As baterias de ião-Li apresentam vantagens ao nível do desempenho mas também da sustentabili-dade, quanto aos materiais utilizados e aos processos de fabrico. Digamos que esta é a perspetiva da sustentabilidade intrínseca à própria tecnologia e, num outro plano, deve-mos avaliar o impacto na abertura de novos horizontes que até agora estavam seriamen-te limitados pelas tecnologias existentes. De entre essas novas aplicações, destacamos a mobilidade e a energia.

As bAteriAs nA mobilidAde elétricAEsta evolução, aliás, está a contribuir para uma mais rápida oferta de veículos total-mente elétricos. Ainda há cerca de dois anos, todas as grandes marcas de automóveis anunciavam projetos para veículos híbridos, não antevendo grande viabilidade, no curto e médio prazo, para os veículos totalmente

Pedro Sena da SilvaPresidente e Administrador Delegado da A. A. Silva, S.A. (Autosil)

bAteriAs – DESENVOLVIMENTO TEcNOLóGIcO E SUSTENTABILIDADE

Se há produto de utilização comum que tem uma imagem preponderantemente negativa junto do grande público, é a bateria. Uma bateria é um produto que satisfaz tanto mais os requisitos de utilização, quanto menos percetível for a sua existência.

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dossier INVESTIGAÇÃO E INOVAÇÃO EM AMBIENTE

elétricos. Os veículos híbridos, permitindo uma passagem mais gradual dos veículos convencionais (térmicos) para os totalmen-te elétricos, deveriam permitir uma evolução das tecnologias ao mesmo tempo que se re-gistavam já ganhos consideráveis na redução dos consumos (e emissões) e a própria indús-tria automóvel se preparava para essa mu-dança. Porque, diga-se de forma clara, não estamos perante uma mudança mas sim perante uma verdadeira revolução dentro da indústria automóvel.Desde 2008 que os veículos elétricos têm vindo a estar presentes na oferta de todos os principais construtores de automóveis. com maior ou menor ambição, em lançamentos apenas anunciados ou já em comercialização, os veículos elétricos estão definitivamen-te na agenda da indústria automóvel. Este enorme salto que levou a indústria automó-vel a reposicionar-se só foi possível graças às

baterias de ião-Li. Mas há, ainda, um longo caminho a percorrer. O custo das baterias de-verá continuar a reduzir-se e, em simultâneo, o seu desempenho continuará a melhorar. Baterias cada vez mais leves, mais peque-nas, com maior capacidade, mais potentes e recarregáveis em menos tempo. E com maior duração. E mais baratas.Parece que se está a contar com a conju-gação favorável de todos os fatores. Mas é disso mesmo que se trata. Os desafios tec-nológicos que se colocam a esta evolução passam por áreas como a engenharia de materiais e as nanotecnologias. E aí têm-se alcançado ganhos significativos. A cobertura com polímeros condutores e o recurso a na-notubos de carbono para melhorar a malha condutora, têm permitido, por exemplo, ga-nhos nos cátodos de LiFePO4 (lítio fosfato de ferro) de 70% na capacidade específica (mAh/g). E, nesta procura incessante de me-

lhores resultados, em 2010 o Departamento de Energia dos EUA, atribuiu 24 milhões de horas de supercomputador para investigar materiais necessários ao desenvolvimento das baterias de lítio-ar, nas quais são depo-sitadas enormes esperanças.Dificilmente encontraremos outras áreas onde esta estreita colaboração entre a in-dústria e os centros de investigação se esteja a desenrolar de forma tão significativa. Pare-ce, pois, legítimo esperar resultados que até há bem pouco tempo seriam impensáveis..

As bAteriAs no Apoio à rede elétricAO aumento do peso relativo das fontes de energia renováveis na produção de ener-gia elétrica bem como as exigências de uma melhor gestão dos ativos afetos à produção e à distribuição de energia elétrica, acabam por acentuar a necessidade de dispositivos

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Ano

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Ano

Wh/l

350

325

300

275

250

225

200

175

150

125

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75

50

25

0

ião-Li

Ni-MH

Ni-Cd

Pb-H2SO4

princÍpio de FUncionAmento dA bAteriA de iÃo-li

cArGA descArGAÂnodo Cátodo Ânodo Cátodo

Eletrão

Corrente

EletrólitoSeparador

Ião de Li

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que façam os ajustamentos temporais entre a procura e a oferta, isto é, dispositivos que chamaremos de “armazenamento de energia” por uma questão de facilidade de linguagem. No apoio à rede elétrica, esses dispositivos podem ir da bombagem de água ao ar com-primido, passando por diversos tipos de bate-rias e volantes de inércia. Os vários tipos de soluções dependem de critérios económicos, tanto de investimento inicial como de explo-ração, e de critérios técnicos. Nestes, além das condicionantes locais que poderão descartar determinadas soluções, acaba sempre por se impor uma análise que equilibre os requisitos de energia e os requisitos de potência. O grá-fico em baixo ilustra o domínio que as baterias de ião-Li asseguram na satisfação de uma gama alargada de valores de energia e potên-cias específicas.Ainda que as baterias de fluxo (por ex.: vaná-dio redox ou brometo de zinco) ou as baterias de alta temperatura (por ex.: sódio/enxofre ou cloreto de níquel) tenham obtido um grande reconhecimento e muita expectativa para a satisfação destas necessidades de armaze-namento de energia, o enorme desenvolvi-mento exibido pelas tecnologias de ião-Li nos anos mais recentes, tanto para a portabilida-de eletrónica como para a mobilidade elétri-ca, veio redirecionar a aposta nas baterias de ião-Li também para aplicações estacionárias. Esta estratégia tem permitido que alguns dos

principais intervenientes da indústria de ba-terias encontrem um amplo campo de desen-volvimento e experimentação das tecnologias de ião-Li, desenvolvendo conhecimento e an-tecipando economias de escala que, através dos veículos elétricos, poderia demorar vários anos. Par melhor ilustrar a oportunidade que

esta via representa para o desenvolvimento de baterias de ião-Li, diga-se que uma bateria de um veículo elétrico poderá ter, tipicamen-te, uma dimensão de 25 a 30kWh, enquanto existem já realizações de baterias estacio-nárias de mais de 30MWh para apoio à rede elétrica, utilizando células iguais ou idênticas às utilizadas nos veículos elétricos. O que isto representa em termos de economias de es-cala e de antecipação de curvas de aprendi-zagem, deveria ser devidamente aproveitado numa estratégia integrada para o desenvol-vimento das energias renováveis e da mobi-lidade elétrica.Sem dúvida que as baterias, carregando em-bora e ainda alguma da perceção negativa a que nos referimos no início, passaram a ser olhadas como a chave para um conjunto de questões que têm tudo a ver com sustenta-bilidade. A mobilidade elétrica e as energias renováveis, são apenas dois exemplos. Mas são dois bons exemplos. Neste contexto, pro-curámos apenas posicionar a tecnologia das baterias, com ênfase especial para as baterias de ião-Li, na encruzilhada da mobilidade elé-trica e das energias renováveis. Dependendo da forma como irá ser feita a gestão destes temas, assim se assegurará uma maior ou menor integração da indústria e dos centros de investigação nacionais. Poderemos parti-cipar se existirem políticas ativas para tal. Ou ser meros importadores. Se houver dinheiro para isso.

dos HÍBridos Aos eLÉTriCos

dos HeV aos Ve - BeV

A caminho da maior economia

Maior complexidade,maior sustentabilidade

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dossier INVESTIGAÇÃO E INOVAÇÃO EM AMBIENTE

Num momento em que as palavras “crise” e “recessão económica” assombram o dia a dia das pessoas e das empresas, evidenciando um sentimento generalizado de mau-estar e de alguma desorientação da sociedade, re-cordo as sábias palavras do meu falecido pro-fessor e amigo Ernâni Lopes que defendia que “momentos de crise sempre houve e haverá! O que conta não é lamentarmo-nos, mas an-tes buscar, com inteligência e esforço, novas soluções”. Temos, por isso, de aproveitar este momento desfavorável para descobrir novas oportunidades e traçar novos objetivos. Afi-nal, os maus anos também são de construir, criar, unir e encantar.Congratulo-me por ver que este espírito de incentivo à inovação está presente na revista Indústria e Ambiente com a organização de mais uma edição do “Prémio Nacional de Ino-vação Ambiental” que destaca anualmente as empresas que se posicionam na fileira da ino-vação valorizando assim os empreendedores que as lideram e que ao optar por introduzir novas tecnologias e novos modelos de negó-cio representam o futuro do setor.Mais do que nunca é essencial apoiar a ino-

vação no domínio do ambiente e energia, em particular quando se trata de um setor que está tão ligado à economia e à sociedade. Se vamos já tarde para prevenir as sérias alte-rações climáticas de que somos ameaçadas, vamos pelo menos a tempo de reagir minimi-zando-as e porque não fazê-lo de forma a va-lorizar também a nossa economia que vê aqui uma oportunidade de explorar um setor onde os nossos recursos abundam, ao contrário do modelo energético assente em combustíveis fósseis que tem até agora vigorado?Cabe tanto às empresas atuais como às jo-vens start-ups este papel de mudança que pode ter um impacto muito significativo no nosso país. Às empresas emergentes, aque-las que exploram novas técnicas estudadas em laboratório ou as que trazem novos mo-delos de negócio cabe o papel de inovar, intro-duzindo técnicas disruptivas e vanguardistas que fazem questionar se serão esses os mo-delos do futuro. Às empresas já instaladas, cabe também inovar pela sua própria inves-tigação, mas também apoiar estas novas ge-rações, quer comprando os seus produtos e serviços inovadores, quer assumindo um pa-

pel ainda mais ativo investindo nelas, cons-cientes de que pode ser esse o seu futuro.No contexto de restrição em que vivemos, não se pode esperar que seja o Estado a financiar projetos inovadores nesta área, muito me-nos se deve esperar que é a banca que cabe apoiar estes projetos cuja incerteza é habi-tualmente demasiado elevada para os seus padrões de risco. Restam duas vias: crescer pelas vendas e crescer pelo investimento. Se para alguns destes projetos inovadores cres-cer pelas vendas é suficiente para financiar a sustentabilidade e crescimento da empresa, para outros é inevitável o investimento de risco e é aqui que entra o papel quer das em-presas mais maduras que podem investir nas emergentes, quer do setor de capital de risco nacional.

o CAPiTAL de risCo e os seTores dA eNerGiA e AMBieNTeDe acordo com as estatísticas da Associação Portuguesa de Capital de Risco e Desenvol-vimento (APCRI), foram investidos no ano passado 5,3 milhões de euros em empresas

Francisco BanhaPresidente da Direção da FNABA - Federação Nacional de Associações de Business Angels e do Business Angels Club

BusiNess ANGeLs DE OLhO NO AMBIENTE E ENERGIA

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dossier INVESTIGAÇÃO E INOVAÇÃO EM AMBIENTE

INDÚSTRIA E AMBIENTE 68 MAIO/JUNHO 2011

relacionadas com os setores da Energia e Ambiente, um valor bastante inferior ao que se tinha verificado em 2009 de 23,9 milhões de euros. Se tivermos em conta o valor de in-vestimento por empresa, este sofre também uma retração de 3 milhões de euros para 900 mil euros por investimento realizado. Dados estatísticos proporcionam-nos médias e não poderemos nunca determinar quantas des-tas empresas eram start-ups mas se a ten-dência de investimento foi negativa, o valor investido por empresa levanta a possibilidade de estarmos a assistir a investimentos em fases mais iniciais de desenvolvimento das empresas. Para mim, essa é a tendência a que precisamos de assistir.Nos últimos anos Portugal tem sido palco do aparecimento de um novo tipo de inves-tidores: os “Business Angels”. Os “Business Angels” são investidores individuais, normal-mente empresários ou diretores de empre-sas, que investem o seu capital, conhecimen-tos e experiência em projetos liderados por empreendedores que se encontram em início de atividade. O objetivo dos investimentos é a sua valorização a médio prazo, na expectativa da alienação posterior a outros interessados.há vários anos que defendo que este tipo de investidores é essencial para o desenvolvi-mento económico de Portugal, uma vez que garantem o financiamento entre o período que tem origem na criação da empresa e o momento em que os projetos em que inves-tem ganham a dimensão suficiente para se-rem apelativos junto dos investidores clássi-cos de capital de risco.Segundo o relatório publicado pela Asso-ciação Europeia de Investidores Early Stage (EBAN), o denominado setor das “clean tech” - que inclui todos os negócios relacionados com o ambiente e energias limpas – tem sido bastante procurado por estes investidores

representando 10% dos seus investimentos, ou seja, 27,6€ milhões de euros investidos pelo setor early stage Europeu.Também em Portugal há espaço para os Bu-siness Angels e outros agentes focados nes-tas fases iniciais de desenvolvimento se inte-ressarem pelo ambiente e energia.

iNVesTiMeNTo eM sTArT-uPsSurgiram este ano no nosso País novos fun-dos de early stage no valor de 87 milhões de euros, os quais terão de ser aplicados obriga-toriamente em novos negócios até ao final de 2013.Por sua vez, a comunidade Portuguesa de Business Angels deu um passo histórico ao aderir em grande número ao novo Fundo de Coinvestimento promovido no âmbito do Programa Compete, que foi criado especifica-mente para as fases mais iniciais de investi-mento e que conta com uma capacidade de investimento de 42 milhões de euros, alavan-cada por mais de 200 Business Angels atra-vés de 54 entidades veículo.Refira-se a propósito que tendo ficado ope-racional em finais do passado mês de feve-reiro a formalização dos contratos de finan-ciamento estabelecidos entre cada uma das 54 entidades veículo e a PME Investimentos- Sociedade Gestora do citado Fundo de Co-In-vestimento - estas entidades já efetuaram 11 investimentos em novas empresas num total de 2.7 milhões de euros criando assim fortes expectativas de que os próximos meses se-rão caracterizados por um forte número de investimentos por parte da Comunidade de Business Angels nacionais.Estamos assim perante uma oportunidade inigualável para o financiamento da inova-ção nos setores da energia e ambiente e isto traduz-se em potenciais investimentos em

empresas de inúmeros sub-setores. Desde a geração eólica e solar às soluções relaciona-das com o tratamento de água ou à grande incerteza que pesa ainda sobre a massifica-ção dos veículos elétricos, são inúmeras as oportunidades que para além de terem gran-de potencial em Portugal estão também na linha da frente das soluções que estão neste momento a interessar investidores de todo o mundo. Com isto concretizam-se três fatores que são muito importantes para os Business Angels: 1) alavancagem do investimento gra-ças ao recurso ao fundo de coinvestimento; 2) setor de elevado potencial e incerteza e 3) mercado escalável e naturalmente global.Investigadores universitários, gerentes de start-ups ou mesmo empresas já implan-tadas e com planos de crescimento devem olhar seriamente para este cenário e avaliar se está na altura de avançar com “aquele” projeto. Os investidores estão atentos mas os promotores também têm de dar a conhe-cer as suas ideias. A Federação Nacional de Associações de Business Angels representa atualmente 10 Associações regionais de Bu-siness Angels, distribuídas de norte a sul do país que procuram ativamente projetos com elevado potencial de crescimento. Eu próprio, enquanto Business Angel e Pre-sidente do Business Angels Club, lancei o desafio a todos os empreendedores com ne-gócios que se encontram em estado latente nos setores da Energia e Ambiente, para que dessem um passo em frente e se fossem apresentar na XI edição do Venture Capital IT - um palco que já apadrinhou muitos dos investimentos nacionais de capital de risco- que decorreu nos passados dias 28 e 29 de junho, no Taguspark.Tenho a certeza que se os investidores virem os 4 Ms que procuram em start-ups, nome-adamente o Management (a equipa de ges-tão certa para o projeto certo), o Market (um mercado pronto e ávido para receber a nova oferta), o Money (um plano que permite multi-plicar várias vezes o valor investido no espaço de 3-5 anos) e – o mais importante de tudo – a Magic (aquele fator disruptivo que faz brilhar de entusiasmo o olhar do empreendedor e do investidor), não haverá desculpas para deixar passar esta oportunidade única que faz deste não só um momento único no capital de risco Português, como um case study Europeu.

Para mais informações:– www.fnaba.org– www.businessangels.pt

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A investigAção em Ambiente Ao nível dA União eUropeiAAs preocupações ambientais têm estado na agenda política desde a formação da Comu-nidade Europeia em 1957. O Ano Geofísico Internacional (AGI) foi lançado nessa altura como uma primeira tentativa de coordenar a monitorização ambiental ao nível global. Desde então têm sido encetados crescentes esforços no aumento do conhecimento para a preservação do ambiente. Foi com o lançamento do Primeiro Programa-Quadro (1º PQ), em 1984, que a investigação na área do ambiente ao nível da União Euro-peia (UE) começou a ganhar forma. O 1º PQ introduziu, pela primeira vez, o conceito de coordenação da investigação ao nível Europeu com um determinado período de tempo e es-trutura. O princípio orientador era (e continua a ser) de apoio à investigação ao nível Euro-peu, um princípio que evoluiu gradualmente para o conceito de Espaço Europeu da Investi-gação – EEI (URL1).Desde o início, as questões ambientais têm sido consideradas nos Programas-Quadro (PQ). No entanto, enquanto o objetivo princi-

pal do 1º PQ era a tecnologia e a energia, os subsequentes PQ iniciaram uma abordagem multidisciplinar e concentrada nas necessida-des económicas e sociais da Europa, incluindo a proteção ambiental. A investigação na área do ambiente beneficiou diretamente desta estratégia. A necessidade de uma colabora-ção interpaíses abriu o caminho para a I&DT na área do ambiente se tornar uma prioridade de investigação dos PQ.O orçamento global disponível em cada Pro-grama-Quadro para I&DT e o financiamento na área do ambiente, tal como se pode verifi-car na Figura 1, foi acompanhado por um cres-cendo de financiamento de I&DT nesta área.A investigação na área do ambiente progrediu notavelmente no 5º e 6º PQs (entre 1998 e 2006). Numa altura em que a ideia de um EEI começou a aparecer, os PQ vieram potenciar a investigação na área do ambiente na Europa. O 5º PQ financiou a investigação em quatro ei-xos principais: gestão sustentável e qualidade da água; alterações globais, clima e biodiver-sidade; ecossistemas marinhos sustentáveis; e, a cidade do futuro e o património cultural. Para além disso, foram criadas e reforçadas

infraestruturas de investigação nas áreas do clima e mudanças globais, meio marinho e ris-cos naturais. O 6º PQ foi desenhado a partir dos alicer-ces lançados pelo 5º PQ, com um total de 280 projetos apoiados por fundos da UE no âmbito do programa Mudanças Globais e Ecossistemas. Um aspeto a salientar do 6º PQ foi a crescente relevância da cooperação internacional e apoio às Pequenas e Médias Empresas (PME) refletindo, por um lado, a maior necessidade de cooperação com paí-ses terceiros, e por outro, a necessidade de reforçar as relações entre ciência e indústria. A necessidade de apoiar os decisores polí-ticos foi também reconhecida, e uma nova ferramenta de investigação foi desenvolvida especificamente para esse fim, criada atra-vés do PQ, ou seja, os projetos científicos de apoio a políticas.A passagem do 6ºPQ para o 7º PQ constituiu o ponto de viragem da Europa em relação à sua estratégia de I&DT. No âmbito do 7º PQ a integração das preocupações ambientais, económicas e sociais é abordada de uma for-ma sistemática e multifacetada para garantir

Anabela Carvalho1, Carlos Borrego2, João Coimbra3, Eduardo Maldonado1 1 Gabinete de Promoção do Programa-Quadro (GPPQ), Ministério da Ciência Tecnologia e Ensino Superior, Lisboa [email protected] CESAM & Departamento de Ambiente e Ordenamento, Universidade de Aveiro, Portugal3 Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), Universidade do Porto, Portugal

o Ambiente e A i&dt Ao nível eUropeU: DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA PORTUGAL

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o desenvolvimento sustentável. O desenvolvi-mento sustentável (URL3) é o objetivo central da UE: é preciso garantir que o nosso desen-volvimento socioeconómico atual não com-promete o nosso futuro.

o 7º pQ de i&dt dA União eUropeiAOs Programas-Quadro (PQ) têm sido os prin-cipais instrumentos financeiros através dos quais a UE apoia a investigação e a inovação. Numa altura em que os recursos financeiros são escassos e em que os desafios sociais e económicos são prementes, o PQ tem de ter uma agenda orientada para o progresso. Neste sentido, o 7º PQ é uma ferramenta essencial para dar resposta às necessidades de emprego e competitividade na Europa e potenciar a liderança numa economia global do conhecimento. O 7º PQ de I&DT foi lan-çado em 2007 e estará ativo até ao final de

2013 com um orçamento global de 50,5 mil milhões €. O 7º PQ é constituído por quatro grandes Pro-gramas específicos: Cooperação, Ideias, Pes-soas e Capacidades. O Programa Cooperação constitui a maior fatia do 7º PQ (com cerca de 60% do orçamento) e inclui dez temas, cada um promovendo a investigação e a inovação no âmbito do desenvolvimento sustentável. Estes temas debruçam-se, por exemplo, na promoção da eficiência energética e de recur-sos, gestão dos recursos naturais, potenciar o desenvolvimento de tecnologias inteligentes, que conduzam à produção e consumos sus-tentáveis. Nos diversos temas, a criação de novas abordagens é potenciada de forma a eliminar a ligação entre o crescimento econó-mico e a degradação ambiental. A preservação dos recursos naturais constitui uma das prin-cipais bandeiras do desenvolvimento susten-tável, a sociedade ser mais eficiente, produ-

zindo mais e gastando menos, é um objetivo transversal a todas as estratégias de I&DT do 7º PQ. A sustentabilidade ambiental só é garantida se, em paralelo, a sustentabilidade social e económica forem potenciadas. O tema Ambiente é um dos dez temas de I&DT do Programa Cooperação do 7º PQ. A investigação na área do ambiente é multifa-cetada e interdisciplinar e enquanto isso traz muitos desafios, também, oferece uma am-pla margem para aumentar o conhecimento e criar novas soluções. Para que a UE possa cumprir os seus compromissos ambientais, é necessário avançar para uma trajetória de crescimento mais sustentável. Isso significa implementar padrões de produção e consumo que tenham menor impacto ambiental e as-sim suportar uma economia e uma sociedade mais verde. No âmbito do 7º PQ, o tema Am-biente possui um orçamento global de cerca de 1900 M€ para o período 2007-2013.

1º PQ(1984-87)

2º PQ(1987-91)

3º PQ(1990-94)

4º PQ(1994-98)

5º PQ(1998-02)

6º PQ(2002-06)

7º PQ(2007-13)

60

50

40

30

20

10

0

biliõ

es €

orçamento dos programas-Quadro da Ue

3,275,36 6,6

13,1214,96

17,5

50,5

Financiamento de i&d na área do ambiente

4º PQ(1994-98)

5º PQ(1998-02)

6º PQ(2002-06)

7º PQ(2007-13)

3º PQ(1990-94)

mili

ões

2000

1500

1000

500

0

410

9141100

853

1900

FigUrA 1 Orçamento disponível para I&DT nos diferentes Programas-Quadro e financiamento da I&DT na área do ambiente (adaptado de URL2).

FigUrA 2 a) Financiamento de projetos com participantes nacionais no tema Ambiente do 7ºPQ entre 2007 e 2010 e b) taxa de sucesso (propostas submetidas/propostas aprovadas) na União Europeia e para Portugal.

a) b)

2007-2010 2007 2008 2009 2010

11.952.747

2.505.044 2.714.3313.441.091 3.292.281

14.000.000

12.000.000

10.000.000

8.000.000

6.000.000

4.000.000

2.000.000

0

Fina

ncia

men

to p

t (€

)

30%

25%

20%

15%

10%

5%

0%

2007-2010 2007 2008 2009 2010

15,8%16,1%

11,4%

8,2%

15,19%

18,1%

22,1%21,7%19,5%

26,9%taxa sucesso UE taxa sucesso pt

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A pArticipAção portUgUesA no temA Ambiente do 7º pQ de i&dtEntre 2007 e 2010, as instituições Portugue-sas obtiveram um orçamento global de cerca de 12 M€ no tema Ambiente do 7º PQ. Na dis-tribuição do orçamento anual e o total entre 2007 e 2010 é possível verificar que o ano de 2009 apresentou os melhores resultados, obtendo-se um financiamento de cerca de 3,4 M€. Em termos médios, Portugal apresenta uma taxa de sucesso equivalente à da UE, ex-ceto nos anos de 2008 e 2010 onde esta foi claramente superior (Figura 2b). Em termos da participação Portuguesa, os desastres na-turais e a conservação e gestão sustentável dos recursos naturais e da biodiversidade (in-cluindo a gestão do ambiente marinho) são as áreas de investigação que apresentam maior número de projetos aprovados com participa-ção nacional.Entre 2007 e 20101 foram financiados 47 pro-jetos (URL4) com participação de instituições nacionais em que 71% do financiamento é de-tido pelas Universidades e institutos de inves-tigação (Figura 3a). No montante global aloca-do a Portugal no tema Ambiente, o orçamento para as empresas (incluindo PME) é de 17,7%. A participação de PME representa 12,9%, valor este que é superior ao verificado ao nível Eu-ropeu cerca de 9,1% no tema Ambiente e 14,1% em todos os temas do Programa Cooperação.

o pApel dAs empresAs pArA UmA economiA mAis verde Um dos objetivos principais da Estratégia UE2020 (URL5) é fomentar a relação entre in-

vestigação, desenvolvimento tecnológico e inovação potenciando uma economia social de mercado sustentável e uma economia mais inteligente e mais verde. Uma economia mais verde representa, acima de tudo, uma Europa sustentável, em termos sociais, ambientais e económicos, assente nos pressupostos da efi-ciente utilização dos recursos e na equidade social.A União da Inovação (URL6) é um dos pilares fundamentais da Estratégia UE2020 e a eco-inovação surge como a abordagem chave no âmbito da resolução dos problemas ambien-tais. Frequentemente a pesquisa de ponta não sai do laboratório, e tem sido reconhecido que a relação entre cientistas e o setor priva-do deve ser reforçada. As grandes empresas e as PME têm um papel fundamental a de-sempenhar. As PME, em particular, são in-centivadas a participar em todas as áreas de investigação e, no 7º PQ, foram identificados um número significativo de tópicos de investi-gação, direcionados para as PME, nos convites à apresentação de propostas no tema am-biente. Neste tema, a atividade de I&DT das PME centra-se fundamentalmente na área das tecnologias ambientais, que proporciona a criação de conhecimento que pode criar va-lor de mercado.

plataformas tecnológicas europeiasCom o lançamento das Plataformas Tecnoló-gicas Europeias - PTE (URL7) a UE pretende potenciar a participação do setor privado no 7º PQ. Em 2010 foram criadas 36 PTE com o objetivo de reunir os interessados, sob lide-rança industrial, para definir e implementar Agendas Estratégicas de Investigação (AEI) no médio e longo prazo. As PTE são um instru-mento importante para definição das priori-

dades de I&DT futuras. A grande maioria das PTE assenta nos pressupostos do desenvol-vimento sustentável estando algumas direta-mente relacionadas com a I&DT na temática do ambiente, nomeadamente as PTE da Quí-mica Sustentável; Fornecimento e Tratamento de Água; Biocombustíveis e Construção. Mui-tas das estratégias de investigação estabe-lecidas nas AEI destas ETP são vertidas nos programas de trabalho dos diferentes temas de investigação do 7º PQ sendo, assim, extre-mamente importante estabelecer uma liga-ção ativa às PTE cujo domínio de intervenção esteja no âmbito do tecido empresarial Portu-guês com capacidade de I&DT. No futuro a I&DT deverá focalizar-se em temas emergentes e transversais, nomeadamente nos grandes desafios sociais, tais como, as alterações climáticas, o envelhecimento sau-dável, a competitividade/sustentabilidade e a segurança energética e alimentar. Assim, as empresas e instituições públicas Portuguesas deverão delinear agendas de I&DT alinhadas com as principais estratégias da UE, de forma a tirar máximo partido das oportunidades de financiamento ao nível Europeu.

reFerênciAsURL1: http://ec.europa.eu/research/era/index_

en.htmURL2: http://ec.europa.eu/research/environ-

ment/pdf/research_for_the_environment.pdf#view=fit&pagemode=none

URL3: http://ec.europa.eu/environment/eussd/ URL4: http://www.gppq.mctes.pt/brochuras/online/

Projetos_7PQ_AMBIENTE_1.pdf URL5: http://ec.europa.eu/europe2020/index_en.htm URL6: http://ec.europa.eu/research/innovation-

union/index_en.cfm URL7: http://cordis.europa.eu/technology-platforms/

individual_en.html

FigUrA 3 Distribuição da participação nacional em projetos financiados no tema Ambiente do 7º PQ, entre 2007 e 2010 , em termos a) do tipo de instituição e b) da região.

a)

17,7%

11,3%

43,5%

27,4%

Centros de Investigação

Ensino Superior

Empresas

Outros

b)

LVT

Norte

Centro

Algarva

Ilhas

19,4%

16,1%

4,8%

58,1%

1 Os dados referentes ao ano de 2010 ainda são pro-visórios.

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Quando nos focamos na área do Ambiente, obter números de inovação e investigação empresarial é difícil, uma vez que, qualquer empresa de qualquer setor pode desenvolver uma inovação que pode estar direta ou indi-retamente ligada ao ambiente, seja para re-dução do impacte ambiental da sua atividade principal, seja porque o ambiente é a sua ati-vidade principal. Portugal, no contexto Europeu, está entre os três Estados-membros da UE15 com as per-centagens mais elevadas de financiamento estrutural comunitário destinado ao ambiente. Intervenções relativas aos equipamentos e in-fraestruturas ambientais, operações com vis-ta à salvaguarda e valorização do património natural e dos recursos naturais, intervenções dirigidas à prevenção, gestão e monitorização de riscos naturais e tecnológicos são os três grandes domínios ambientais onde se prevê financiamento do QREN.No total dos 5 630 projetos QREN aprovados até 31 de maio deste ano, 129 são projetos de I&D e Inovação na área do ambiente, o que representa cerca de 2%. Os projetos na área das Energias Renováveis e da Reciclagem de

materiais dominam as candidaturas, repre-sentando do total dos projetos relacionados com o ambiente, 38% e 36%, respetivamente. De referir que os projetos relacionados com serviços na área ambiental, desde consultoria a criação de projetos, atingem uma percenta-gemde cerca de 16%, ficando muito à frente dos projetos ligados ao tratamento de águas ou de redução de emissões de CO2.

Patentes ambientais Segundo o Instituto Nacional de Propriedade Industrial, “as matérias técnicas deposita-das em pedidos de patentes (que após Exa-me podem ser concedidas em patentes ou recusadas) obedecem a uma classificação internacional (IPC – International Patent Clas-sification), não havendo uma classificação es-pecífica para a área do ambiente ou das tec-nologias do ambiente.” Apesar disto, o INPI refere que tem havido uma crescente procura de informação sobre “Green Patents” e, desde o início deste ano, a EPO reclassificou os documentos de patentes, adicionando uma nova classificação de pes-

quisa que está ligada a tecnologias ambien-tais - TECHNOLOGIES OR APPLICATIONS FOR MITIGATION OR ADAPTATION AGAINST CLIMA-TE CHANGE) subdividida em: Y02C - CAPTURE, STORAGE, SEQUESTRATION OR DISPOSAL OF GREENHOUSE GASES [GHG] e Y02E - REDUC-TION OF GREENHOUSE GASES [GHG] EMIS-SION, RELATED TO ENERGY GENERATION, TRANSMISSION OR DISTRIBUTION. Neste sentido, o INPI afirma que, neste mo-mento, “efetuando uma pesquisa pelos do-cumentos de pedidos de patentes com prio-ridade portuguesa (PT) e cruzando com a classificação genérica de Y02, obtêm-se quase 200 ocorrências.”

Projetos de investigação Relativamente a projetos de investigação na área do ambiente, a Fundação para Ciência e Tecnologia (FCT), diz em declarações à IA que se encontram em execução 147 Projetos de Investigação na área do Ambiente, que resul-tam de candidaturas apresentadas à FCT para financiamento de Projetos de Investigação na sequência da abertura de concursos públicos.

Ambiente e inovAção EM PORTUGAL

Embora muitos pensem que a Investigação em Portugal, especialmente, nas empresas ainda é uma miragem, a verdade é que os números já começam a contrariar esta perceção. De acordo com os últimos dados oficiais, divulgados no final do ano passado, baseados no Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional (IPCTN), entre 2008 e 2009 a despesa total em investigação passou de 1,55 para 1,71 por cento do PIB e o número de investigadores cresceu de 7,2 para 8,2 por mil ativos. Nas Universidades ou nas Empresas?

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inovando no setor da energiaA energia é um dos setores que mais tem dado cartas em Portugal, sendo que a apos-ta na Inovação começa a fazer algum sentido para muitas das empresas. Contudo, segundo um estudo da Alma Consulting, ainda somos considerados inovadores “moderados”.Na área de energia conta-se em Portugal com cerca de 600 empresas, representando 2,66% do total de volume de negócios gerado pelas empresas nacionais. Mas, no que toca à Ino-vação, a taxa média de aproveitamento do QREN (SI Inovação e SI I&D) até dezembro de 2010, situava-se nos 11% .

emPresas e inovação Os conceitos Inovação e Investigação, embora distintos, são inseparáveis no que toca ao de-senvolvimento empresarial. Augusto Medina, presidente da Sociedade Portuguesa de Inova-ção (SPI) referiu, durante as VII Jornadas Pascal Cepsa, no Porto, que o importante é perceber estes dois conceitos e operacionaliza-los, in-cluindo-os na estratégia das empresas.A inovação tem benefícios claros para uma empresa mas também há riscos. Augusto Medina destaca algumas mais-valias como: o aumento dos lucros/margens; a diversificação e diferenciação de produtos; a manutenção ou

aumento da quota de mercado; a manuten-ção de uma posição estratégica no mercado; a criação de mercado; entre outras. No entanto, há risco do produto não satisfazer as necessi-dades do cliente, não sendo por isso aceite pelo mercado ou sendo-o dificilmente ou então de não conseguir recuperar o investimento feito ao longo do ciclo de vida do produto, etc.O presidente da SPI destaca a importância de estabelecer diálogo entre todos os parceiros e de conceber um Plano de Inovação.

Ponto de situação no micromundo emPresarial PortuguêsSegundo um Inquérito lançado o ano passa-do pela Agência de Inovação (AdI) a um con-junto de empresas com projetos de I&D com apoio público, das 394 empresas inquiridas, 355 empresas lançaram ou preveem lançar no mercado nos próximos 3 anos cerca de 770 novos produtos ou serviços. De acordo com a expectativa das empresas da amostra, 2011 será o ano a lançar maior número de produtos no mercado.Como forma de valorização dos resultados de I&D, a maioria das empresas, 77%, opta pela venda direta dos produtos . “Em 23% dos no-vos produtos as empresas preveem outras formas de valorização para além da produ-

ção direta, nomeadamente por algum tipo de acordo de produção por terceiros, seja noutras aplicações da tecnologia, ou em outros mer-cados em que não preveem uma abordagem comercial direta”, exlica a AdI. Nestes casos, a proteção por patente é significativa, chegando aos 34%, a confrontar com os 14% nos casos em que não se preveem essas outras formas de valorização.Outras das questões importantes é o facto de 44% das empresas inquiridas preverem nos três anos seguintes ao lançamento dos novos produtos, ter um quarto ou mais da sua gama de produtos renovada. O aumento da exportação como resultado da inovação é outro dos benefícios apontados pelas empresas. A maioria das empresas já era exportadora mas, das 15% que ainda não tinham colocado os seus produtos fora do país, pretende vir a exportar com os novos produtos.Os 3 vencedores do Prémio Nacional de Ino-vação são exemplo da aposta na Inovação em Portugal. Empresas de diferentes áreas, umas já fortes no mercado, outra ainda muito recente que desenvolveram os seus produ-tos com base em ideias próprias, com e sem apoios comunitários. Veja a reportagem sobre o PNIA 2011 e fique a conhecer as histórias das empresas e os casos de sucesso no que toca ao I&D empresarial.

o financiamento estrutural comunitário no domínio do ambiente 2007-2013(em % da programação total por em)

(FONTE: Sistema de Monitorização do QREN)

Inovação“Atividade que visa produzir, assimilar e explorar com êxito a novidade nosdomínios económico e social.”

Livro Verde sobre Inovação, 1995

Investigação“Atividade realizada com vista à aquisição de novos conhecimentos científicos ou técnicos.” Lei 40/2005, de 3 de agosto

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ESPECIAL PRÉMIO NACIONAL DE INOVAÇÃO AMBIENTAL 2011

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A propósito do tema do dossier, é de desta-car o Prémio Nacional de Inovação Ambiental de 2011 que tem, precisamente, como objeti-vo reconhecer as entidades portuguesas que contribuem para um bom desempenho am-biental através das suas inovações.Este ano o sistema Waynergy da Waydip foi o grande vencedor mas foram igualmente ga-lardoados o sistema WiseWaste da SOMA e a Valorização agrícola de substrato da produção de cogumelos feita pela Varandas do Sousa. A cerimónia de entrega dos prémios decorreu no passado dia 27 de maio, no Inspira Santa Marta Hotel, em Lisboa.

BIogrAfIA dAS InovAçõESAté chegar ao mercado cada um destes pro-dutos/soluções ou tecnologias inovadoras tiveram que passar por várias fases, desde a teoria à prática, obrigando a uma constante luta pelos seus criadores. O grupo de ven-cedores do PNIA 2011 pode ser considerado bastante heterogéneo, sendo que temos uma empresa muito jovem e recém-chegada ao mercado, outra já instituída e com provas

dadas na área do ambiente e, ainda, outra empresa que opera por excelência numa área que , à partida, pouco teria a ver com tecnolo-gias ambientais.

WAynErgyPara a criação do sistema Waynergy foram só necessárias duas pessoas e muita força de vontade. A ideia surgiu ainda durante o mes-trado que Filipe Casimiro e Francisco Duarte estavam a frequentar na UBI, mais concre-tamente quando participaram num concurso que promovia a criação de soluções para gerar energia dentro de uma habitação. “Logo pen-samos em gerar energia elétrica através do movimento de pessoas. Começámos com a tecnologia piezoelétrica, fizemos o nosso pro-tótipo mas verificámos que era muito caro e que a energia produzida por esses materiais não tornava esse sistema sustentável e então partimos para uma nova tecnologia: a eletro-magnética”, explicou Filipe Casimiro.Os prémios ganhos em concursos de inovação, como a Prémio Inovação EDP 2020 Richard Branson Visão e o MIT Portugal, foram uma

grande ajuda para continuarem a desenvol-ver o projeto e montarem a empresa Waydip. Passados dois anos e com a entrada do Way-nergy no mercado, os responsáveis começam a deparar-se com alguns obstáculos, especial-mente, no que toca à certificação do sistema. ”Uma coisa é desenvolver um produto stan-dard, outra é adaptá-lo ao que é exigido nas normas. Essa é uma questão que nos está a levar muito tempo a ultrapassar mas depois será uma mais-valia para nós, isto é, uma vantagem competitiva no mercado”, destaca Francisco Duarte.

SoMASendo um grupo que já está no mercado há vários anos, a ideia para a criação do sistema WiseWaste por parte da SOMA, veio da experi-ência no terreno e da necessidade de colmatar algumas falhas no que diz respeito à recolha de resíduos urbanos.“Avançamos para uma solução e, muito con-cretamente, para um desafio lançado por um cliente no Algarve, que vive com uma enor-me dificuldade pois tem períodos de produ-

WAyDIP, SOMA E VARANDAS DO SOUSA DISTINgUIDOS NOPnIA 2011

A inovação ambiental em Portugal não está estagnada. Apesar da crise e de todos os constrangimentos a que o país está sujeito, há quem continue a apostar na investigação e no desenvolvimento de novas tecnologias na área do ambiente. Prova disso, são as inovações de três empresas nacionais, vencedoras da 7ª edição do Prémio Nacional de Inovação Ambiental.

Fotografia por Luís N. FiLipe

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ESPECIAL PRÉMIO NACIONAL DE INOVAÇÃO AMBIENTAL 2011

O Waynergy consiste num sistema inovador de aplicação no pavimento que permite captar a energia cinética libertada pelo movimento de pessoas e veículos sobre a sua superfície e converter esta energia em energia elétrica,

Através da utilização deste sistema de monitorização do nível dos contentores, o atual planeamento empírico das rondas, efetuado numa perspetiva de tentativa e erro, será abandonado progressivamente sendo substituído por um planeamento dinâmico baseado em dados enviados em tempo-real para um servidor. este servidor, que apresenta um interface web acessível pela internet, faz a ponte entre os sistemas instalados em cada contentor e as consolas utilizadas nos veículos. estas vão receber circuitos dinâmicos, calculados através de ferramentas de otimização de circuitos. este sistema, para além de enviar a comunicação das medições dos contentores via GsM/GpRs para um webservice (ao contrário de outros que enviam apenas um sms para um telemóvel), permite efetuar uma otimização das recolhas através do envio dos circuitos já otimizados para consolas instaladas no interior dos veículos com navegação Gps.

processo integrado e inovador que tem como o objetivo reutilizar o substrato da produção agrícola de cogumelos como fertilizante, processo esse, iniciado logo nas salas de produção, em que o sistema de vapor existente foi reconvertido para possibilitar a esterilização do substrato ”in situ” a temperaturas da ordem dos 70ºC e durante 12 horas.

permitindo a espaços de grande afluência de pessoas ou veículos gerarem a sua própria energia e tornar-se em muitas das situações auto sustentáveis do ponto de vista energético. Nota: Veja a notícia publicada sobre o Waynergy na IA67

Francisco Duarte da Waydip

Fernando Oliveira da SOMA

Joaquim Teixeira da Varandas de Sousa

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ESPECIAL PRÉMIO NACIONAL DE INOVAÇÃO AMBIENTAL 2011

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PnIA 2011: o que significa esta distinção?francisco duarte, cofundador da Waydip“É um grande reconhecimento, sobretudo um prémio de inovação Ambiental, neste caso, ainda a nível nacional mas que é atribuído sempre a grande projetos. Vem reforçar ainda mais a nossa motivação para desenvolver e levar lá para fora este projeto e, claro, no seguimento do prémio temos a possibilidade de estar na pollutec, um salão de ambiente internacional, que era também um objetivo nosso.”

fernando oliveira, do departamento de Investigação e desenvolvimento da SoMA“É muito importante, a sOMA tem uma aposta muito forte no mercado internacional e também na inovação, investigação e desenvolvimento. esta é uma investigação que está a dar os seus frutos e o nosso horizonte é de facto a internacionalização e penso que esta distinção é importante tendo a vista esse caminho que queremos prosseguir.”

Artur Sousa, presidente do conselho de administração da varandas de Sousa“É muito satisfatório porque, no fundo, é o reconhecimento dos nossos investimentos e da nossa equipa técnica que desenvolveu o projeto ao longo de três anos. permite-nos usar este prémio fora de portas para dizer que estamos cá e que também sabemos fazer e inventamos alguma coisa.”

ção de resíduos muito diferentes no verão e no inverno. Por conseguinte, ele queria algo que fosse dinâmico e que quando as viaturas fossem para a rua soubessem onde estão os contentores cheios. É muito difícil gerir isso. Portanto o desafio foi esse, pensamos numa ferramenta que sabíamos que tinha potencial e desenvolvemo-la”, explica Fernando Oliveira, do departamento de Investigação e Desenvol-vimento da SOMA.O sistema WiseWaste foi totalmente desen-volvido pela SOMA, embora contando com al-guma cooperação da Universidade do Minho, especialmente, para a utilização de wireless nesta nova tecnologia. Desde o início do pro-jeto, há um ano e meio atrás, até à data tem sido a empresa a financiar o projeto mas ago-ra concorreram também a um sistema de in-centivo SI I&D.As dificuldades, atualmente, prendem-se com a falta de financiamento dos municípios. “É um sistema que se paga a si próprio em pouco tempo mas que exige algum esforço de finan-ciamento. Aquilo que nós temos vindo a fazer é trabalhar com eles (municípios), ajudá-los em candidaturas ao QREN porque é uma solução inovadora e que vai trazer muitos benefícios de diversas ordens”, afirma Fernando Oliveira.

vArAndAS dE SouSA À partida poderemos pensar o que faz uma empresa de produção de cogumelos na corri-da a um prémio de inovação ambiental mas,

na realidade, utiliza um método inovador para aproveitar o substrato da sua produção agrí-cola e de uma forma ecológica. Segundo Artur Sousa, presidente do conselho de adminis-tração da empresa, a ideia “surgiu quando o mercado começou a mostrar uma certa pro-cura por este tipo de produtos, sobretudo, por produtos com uma qualidade constante e com características amigas do ambiente. A partir daí foi desenvolver o projeto e produzir

tendo, também, em vista a resolução de um problema”.O projeto levou 3 anos a ser desenvolvido e foi quase tudo feito dentro da empresa, en-volvendo cerca de 12 pessoas. Em termos de financiamento deste estudo, recorreram ao programa PRODER. Relativamente às dificuldades, Artur Sousa, destaca a concorrência que tenta, por vezes, desacreditar o produto.

Galeria dos vencedores e organização do PNIA 2011.António Guerreiro de Brito, Diretor da IA, durante a apresentação das inovações vencedoras do Prémio Nacional de Inovação Ambiental 2011.

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INvESTIgAção

Gestão de enerGia e eficiência enerGéticaem edifícios públicos e de serviços

João Wang de Abreu (1), João Joanaz de Melo (2)

(1) faculdade de ciências e Tecnologia da Universidade Nova de lisboa, [email protected](2) ceNse, faculdade de ciências e Tecnologia da Universidade Nova de lisboa, [email protected]

A ideia de que eficiência energética atua como se fosse a mais importante das energias renováveis parece ser unânime para qualquer cidadão que esteja atento à problemática da energia, num país que gasta mais do que pode. Apesar desta ideia apelativa, é necessário justificá-la com dados e conhecimento científico. No presente artigo sintetizam-se os resultados de um estudo sobre edifícios públicos, edifícios de serviços empresariais e iluminação pública (Abreu 2010).

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INvESTIgAção

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EnquadramEntoPortugal continua com uma dependência energética acima dos 80%. o indicador de intensidade energética demonstra que é ne-cessário mais 16% de energia primária para produzir uma unidade de PIB do que a mé-dia da União Europeia (2007), e este indicador piorou nas últimas duas décadas, quando melhorou substancialmente entre os nossos parceiros.Um dos grandes culpados da ineficiência energética portuguesa são os edifícios, onde passamos cerca de 80% do nosso tempo e é consumida 29% da energia final e 56% da ele-tricidade nacional.Existem muitos estudos sobre o setor resi-dencial, mas menos sobre os edifícios usa-dos pelos serviços públicos e empresas. Este conjunto de utilizadores de energia consome cerca de 32% da eletricidade nacional: os edi-fícios do Estado consomem 5,5%, a iluminação pública 3,3% e o setor dos serviços 23,2%.Nos edifícios de serviços, os maiores consu-mos correspondem à climatização (mais de 60%, um claro indicador do generalizado mau comportamento térmico dos edifícios), ilumi-nação e equipamentos de escritório. o po-tencial de poupança de eletricidade nestes edifícios oscila entre 20% e 40%, dependendo dos métodos de cálculo e da rentabilidade dos investimentos considerados.Para acrescentar uma variável à equação da energia em edifícios públicos, a nova diretiva europeia relativa à certificação de edifícios obriga todos os edifícios públicos a ter balanço energético “próximo do zero” até 2018.

objEtivos E âmbito Para ajudar a compreender como funciona o “ecossistema da energia” relacionado com esta

tipologia de edifícios foi escolhido como caso de estudo o município de Cascais. Realizou-se um benchmarking de alguns edifícios do con-celho, comparando com outros edifícios com usos semelhantes em Portugal, perfilhando a célebre frase de Lord Kelvin, “You can’t mana-ge what you don’t measure”. Foram também enviados inquéritos a diversas empresas com consumos significativos do concelho.Ao recorrer ao indicador de eficiência energéti-ca kgep/(m2.ano) foi possível verificar que em edifícios com a mesma finalidade e tipologia, estes podem consumir do simples a duas ve-zes mais, dependendo dos equipamentos ins-talados e do comportamentos dos seus uten-tes e funcionários.São estes comportamentos e decisões que se pretendem otimizar, para promover a efi-ciência, aliados a aspetos tecnológicos (equi-pamentos mais eficientes, redes elétricas e contadores inteligentes).

mEdidas E Estratégias para a Eficiência Ao longo do estudo foram identificadas algu-mas barreiras que dificultam uma eficiente gestão municipal e empresarial de energia, em Portugal:

• Falta de conhecimento de medidas, técni-cas e serviços de gestão de energia

• Falta de dados e benchmarks de consumos energéticos ou desorganização dos mes-mos

• Ausência de uma figura forte na gestão de energia

• Falta de prioridade ou de vontade política• Endividamento das autarquias

De forma a contrariar esta inércia relacionada com a gestão de energia, ou falta dela, foram

identificados pontos-chave para se intervir e criar medidas para potenciar a eficiência ener-gética, sistematizados nos seguintes conjun-tos: guia para a autarquia eficiente e Medidas para o legislador (Tabela 1).

autarquia EficiEntE A iluminação pública é uma das áreas que pesa nas faturas dos municípios, represen-tando cerca de 79% dos custos com eletricida-de da Câmara Municipal de Cascais e cerca de 75% da Câmara Municipal de oeiras. Na análi-se custo/benefício realizada, o principal resul-tado assenta no facto de que para poupar 50% a nível nacional na iluminação pública (1,7% da eletricidade nacional), poupar-se-ia mais do que a quantidade produzida com novos centros produtores (por exemplo por novas barragens), com um investimento significati-vamente inferior.Uma das propostas abordadas consiste na criação de um sistema nacional de Certifica-ção Energética Municipal, onde os 308 mu-nicípios portugueses apresentariam uma classificação energética cujos resultados in-fluenciariam não só a sua imagem, mas tam-bém a transferência de fundos do orçamento de Estado. A classificação resultaria dos con-sumos dos seus edifícios municipais (63 em Cascais, por exemplo), iluminação pública e frotas de veículos municipais.Planos municipais de eficiência energética de-veriam ser obrigatórios para municípios com mais de 50 000 habitantes, 58 em Portugal, que representam 64% da população nacional (INE, 2009). Destaca-se positivamente a sua obrigatoriedade para os municípios que assi-naram o Pacto dos Autarcas, número que já atinge os 59 em Portugal.Estes planos podem ser articulados com a

outros 1

Indústria 37,5

Doméstico 27,3

Não doméstico 27,3

Agricultura 2,1

Edifícios doEstado 5,5Iluminação das

vias públicas 3,3

Percentagens de consumos de energia elétrica nacionais por setor, em 2008 (Pordata, 2010)

Autarquia eficiente Propostas para o legislador

- sistema de certificação energética municipal - planos municipais de eficiência energética- obrigatoriedade do cargo de gestor público de

energia- prioridade de contadores inteligentes para os

edifícios públicos- linha verde ”eco poupar”- programa ”edifício municipal mais eficiente”

- benefícios fiscais para famílias, empresas e instituições que investem na eficiência energética

- empréstimos bancários com juros bonificados para investimentos em eficiência energética

- incentivos/penalizações- benefícios na atribuição do fundo geral

municipal (fGm)- reforço de competências da AdeNe

tabEla 1 Resumo de algumas áreas e medidas abordadas no estudo

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INDÚSTRIA E AMBIENTE 68 MAIO/JUNHO 201130

INvESTIgAção

certificação energética municipal que poderia ser feita a montante ou jusante dos PMEE. É necessária também a criação de uma fi-gura forte com a tarefa de ser o responsável pela gestão de energia dos edifícios públicos e iluminação pública, num município ou para um conjunto de edifícios do Estado, o gestor público de energia. o recente programa do governo ECo.AP propõe a criação deste cargo.Foi também proposta a criação de um Pro-grama Universidades Eficientes. As Univer-sidades consomem cerca de 10% da eletri-cidade do setor público, 0,5% da eletricidade do país. Todos os anos, nas universidades portuguesas, são realizadas dissertações de mestrado sem grande interesse prático sen-do possível aproveitá-las para criar planos exequíveis.Uma autarquia que recorra à gestão de ener-gia e aposte na eficiência energética:

• Influencia positivamente a sua imagem• Reduz custos• Contribui para uma maior consciência ener-

gética dos cidadãos • Ajuda a legitimar as suas ações e decisões

propostas para o lEgisladorExistem importantes oportunidades de me-lhoria para promover a eficiência energética através de ferramentas ao dispor dos órgãos de soberania, locais ou centrais.É essencial que haja uma Reforma Fiscal Energética. A fiscalidade é uma ferramenta económico-financeira em que a administra-ção local e central pode afetar o setor empre-sarial e residencial, de forma a potenciar a efi-ciência energética. Para compensar os gastos com esta reforma fiscal, a compensação seria feita recorrendo ao fundo nacional de eficiên-cia energética.Empresas com melhores desempenhos ener-géticos poderiam ter benefícios em uma ou mais áreas: IRC; segurança social; pagamento especial por conta; IMI ou derrama. os custos relacionados com a certificação energética dos edifícios poderiam ser dedu-tíveis nos impostos assim como as medidas com melhor relação custo/benefício que de-corram dos certificados.Empréstimos bancários que tenham como fi-nalidade a eficiência energética poderiam ter juros bonificados e não deveriam ser conside-rados na dívida municipal ou da empresa.Como resultado da certificação energética municipal, poderiam ser criados benefícios na atribuição do fundo geral municipal, uma das

e dotar financeiramente o PNAEE. Segundo a ERSE, o PPEC (Plano de promoção da efici-ência no consumo) obteve resultados de pou-pança 14 vezes superiores aos investimentos mas que deixou de fora 75 das 125 candida-turas, sendo necessário também um reforço deste programa.Estes três programas têm verbas que, soma-das, rondam os 63,5 M€. Quando comparado com o plano nacional de barragens, 3 000 M€ para produzir 3% da eletricidade nacional, ou o défice tarifário que atinge cerce de 2 000 M€, é possível verificar que a aposta na eficiência energética a nível nacional tem uma ordem de grandeza bastante inferior. A aposta nas renováveis é essencial mas a eficiência ener-gética também o é, sendo esta última a que apresenta maior potencial e maior rentabili-dade. Temos também disponíveis fundos europeus do QREN, Set-plan, 7º Programa Quadro, ou de projetos que fazem parte do Intelligent Energy Europe, que, por vezes, têm sido desaprovei-tados.Nas faturas da eletricidade existe uma con-tribuição audiovisual cerca de 30 € por ano, totalizando 150 M€, próximo do total gasto em 2009 com eficiência energética, segundo dados da ADENE. Se esses 150 M€ resultas-sem numa tarifa de eficiência energética, canalizados para o fundo nacional ou fundos municipais de eficiência energética, os resul-tados a nível nacional poderiam ser signifi-cativos. Através do IMI, poderia ser também criada uma tarifa municipal para eficiência energéti-ca, com prioridade para edifícios de serviços. Em função da classe energética do edifício, quem tivesse pior classificação, pagaria um valor superior nesta tarifa. Quem não tivesse certificado pagaria ainda mais.

considEraçõEs finaisSe, em Cascais, os edifícios de serviços redu-zirem 20% os seus consumos, e 50% na ilumi-nação pública, tem-se uma redução de 9% do consumo elétrico de todo o município. A nível nacional, uma redução de 20% e 50% respetivamente nos edifícios de serviços e na iluminação pública resultaria numa pou-pança de 7,4% do consumo de eletricidade nacional. Esta redução levaria a que a per-centagem de contribuição de renováveis para o sistema electroprodutor português subisse aproximadamente 4%, apenas pela redução da necessidade de energia primária de ori-gem fóssil.

ferramentas de transferência de fundos do orçamento de Estado para as autarquias. 1 a 3% da alínea b) ou c) deste fundo (ver lei das fi-nanças locais) poderia ser atribuído consoante o desempenho energético e/ou ambiental do município, resultando numa redistribuição de 16 a 48 M€.Não podemos falar de certificação energética sem que haja um maior rigor e fiscalização na implementação das medidas dos certificados, fiscalização da qualidade dos mesmos bem como dos peritos qualificados. Não basta ter milhares de certificados emiti-dos por mês e dizer que 10% do parque edifica-do nacional está certificado, se os resultados práticos da certificação não são mensurados nem fiscalizados.A certificação em edifícios de serviços apre-senta ainda percentagens baixas. No inquéri-to realizado neste estudo, 55% das empresas não tem qualquer intenção de certificar os seus edifícios.Sabendo da crise existente no mercado da construção, parece consensual que a reabi-litação é uma das formas de superar as difi-culdades existentes. Randall Bowie, “pai” da primeira diretiva de certificação de edifícios, afirma que 98% das poupanças em energia estão em edifícios já existentes e apenas 2% nos edifícios novos.

fundosNão desprezando o papel dos comportamen-tos, parte dos ganhos com a eficiência depen-dem de investimentos, ou seja, da disponibili-dade de fundos. É, então, essencial que haja um reforço do fundo nacional para a eficiência energética criado em maio com apenas 1,5 M€

Energia inteligente (Financial Times, 2008)

a smart policy

sMart Grids

sMart Meters

sMart BUiLdinGs

sMart consUMers

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INvESTIgAção

INDÚSTRIA E AMBIENTE 68 MAIO/JUNHO 2011

A redução de 20% no consumo elétrico dos edifícios do Estado resultaria em poupanças que rondam os 53 M€ por ano para o Estado Português.Recentemente, foi apresentado o programa ECo-AP e está em curso a revisão do PNAEE, a criação do enquadramento legal das ESCo e a transposição para a legislação portuguesa da nova diretiva europeia para certificação de edifícios. Estes e outros passos são essen-ciais para ajudar à mudança de paradigma da energia, já em curso nesta nova década, de forma a atingir as metas europeias 20/20/20.Partindo do princípio que a eficiência energé-tica é uma área win/win para todas as partes interessadas, é possível apostar em medidas concretas, coerentes e exequíveis, se forem criadas as ferramentas certas para potenciar este mercado.É de realçar que a eficiência energética é a melhor forma de reduzir o défice da balança comercial, a dependência energética e vulne-rabilidade aos preços do petróleo, utilizar me-nos energia para produzir uma unidade de PIB e aumentar a percentagem de renováveis no sistema electroprodutor português.

rEfErências

— Abreu, J.W. (2010). gestão municipal e empresarial de energia em edifícios públicos e de serviços — estudo de caso município de Cascais. Dissertação para obtenção do grau de Mestre em Engenharia do Ambiente, Faculda-de de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.

— Bowie, R. (2010). European Union action plans in energy efficiency. PCEEE - Portugal em Conferência para uma Economia Energeticamente Eficiente, CENSE/Fundação Calouste gulbenkian, Lisboa, 22 junho 2010. http://events.fct.unl.pt/pceee2010/

— CE (2010). EU Energy and Transport in Figures — statistical pocketbook 2010. European Commission. ISBN 978-92-79-13815-7, ISSN 1725.

— DgoTDU (2008). Política de Cidades – Cidades Inteligentes, governação Territorial e Tecnologias de Informação e Comunicação. Direção-geral do ordenamento do Território e Desenvolvimento Urbano, Lisboa

— Enerbuilding.eu (2008). guia Informativo - A utilização racional de energia em edifícios públicos, Deco, Lisboa. — ERSE (2010) - Comunicado de Imprensa - Portugal vai poupar 155 milhões em eficiência energética com PPEC

2011-2012 para o setor elétrico.— gEoTA (2008). Reforma Fiscal Ambiental. disponível em http://www.geota.pt/rfa/index.html.— IBM Corportation Portugal (2010). Eficiência Energética dos Edifícios e da Iluminação Pública na Administração

Pública. Lisboa.— Junta de Andalucia, (2007) – Plan Andaluz de Sostantabilidad Energética, Sevilha, 2007.— Madeira, A.; Melo J.J. (2003). Caracterização do potencial de conservação de energia elétrica em Portugal. vII

Congresso Nacional de Engenharia do Ambiente. APEA, Lisboa, 6-7 novembro 2003.

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tecnologia TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUAIS

O Leito de Plantas, criado pela ESB, em parceria com a Universidade de Aahrus, na Dinamarca, está a funcionar na unidade de turismo de habi-tação Paço de Calheiros, em Ponte de Lima, já há 10 meses. “Um aspecto inovador a realçar nesta aplicação prende-se com a utili-zação de diferentes espécies de plantas ornamentais num mesmo leito, o que cria um ambiente de jardim ao longo do ano, favorecendo assim o enquadramento e promovendo a biodiversidade inserida no espaço rural. Estas características foram combinadas com os aspectos tecnológicos inerentes ao sistema”, refere a investigadora da ESB, Paula Castro.Além de ser um sistema totalmente ecológico, os custos são menores face aos custos de um sistema convencional de tratamento de águas residuais, que muitas vezes não são adequados a zonas rurais e/ou de montanha pois variam muito em termos de quantidade e qualidade de águas sujas ao longo do ano.

EsquEma dE funcionamEntoO efluente é alimentado por um distribuidor na entrada e flui, abaixo da superfície do substrato, lentamente pelo leito no sentido horizontal, de modo a chegar à saída, onde é recolhido. Durante a sua passagem pelo leito, o efluente está em contacto com zonas aeróbias, anóxicas e ana-eróbicas, estando a tecnologia concebida para mimetizar as condições depurativas encontradas nas zonas húmidas naturais.

Sistema usa plantas para tratamento de águas residuaisA Escola Superior de Biotecnologia (ESB) da Universidade Católica no Porto desenvolveu e implementou um processo ecológico para o tratamento de águas residuais. Este sistema, posto em funcionamente numa unidade de turismo rural, recorre a leitos de plantas, denominadas de fito-etares, que usam a vegetação e microrganismos como tecnologia de tratamento de águas residuais, recriando as condições depurativas encontradas nas zonas húmidas naturais. As águas tratadas podem depois ser utilizadas para rega.

Segundo os investigadores, neste caso, foi usada argila expandida como substracto, que serviu para estimular o crescimento das plantas - Can-na flaccida, Canna indica, Zantedeschia aethiopica, Watsonia borbonica e o Agapanthus africanus.Para a monitorização do sistema de tratamento de águas, os responsá-veis, fazem análises à água a nível fisico-químico e microbiológico, aná-lise das comunidades microbianas e acompanham o desenvolvimento de vegetação e biodiversidade do leito.

REsultados positivosDe acordo com os responsáveis, nos primeiros meses chegaram a ele-vadas eficiências de remoção de máteria orgânica: 99% em Carência Bioquímica de Oxigénio (CBO5) (de uma entrada de 10-280 mg L-1) e em CQO – Carência Química de Oxigénio (de uma entrada de 20-688 mg L-1). Em termos de PO4 3- e Azoto, nas formas de NH3, NO3 - e NO2 -, estão ainda ser realizados os testes. A remoção de microrganimos indicado-res está a ser avaliada, com dados que indicam remoções eficientes. A utilização de argila expandida como substrato do sistema mostrou ser adequada para o estabelecimento das plantas selecionadas. O Leito está completamente vegetado, no entanto o Agapanthus africanus foi sobreposto pelas restantes espécies.Os responsáveis concluem que, para já, “o sistema tem permitido dar resposta a situações reais e commumente encontradas em cenários do setor do Turismo de Habitação, como flutuações de carga orgânica, mostrando robustez e resiliência às condições a que foi submetido.”

www.esb.ucp.pt

vista supERioR

água residual

caixa de visita

vegetação

tubagem de recolha da água tratada

caixa de visita

vista tRansvERsal com dEtalhEs

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meio de enchimento

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tecnologia TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUAIS

INDÚSTRIA E AMBIENTE 68 MAIO/JUNHO 2011

tEcnologiaA tecnologia base utilizada nas unidades Plateau tem origem na África do Sul onde, durante mais de vinte anos, um grupo de cientistas de-senvolveu, aperfeiçoou e patenteou um sistema combinado de reatores químicos que esteriliza a 100% as lamas processadas, tendo como re-sultante uma matéria totalmente inócua quanto aos agentes patogéni-cos existentes nas lamas e que pode ser utilizada como matéria prima na indústria de produção de fertilizantes organo-minerais.Durante os últimos sete anos a equipa técnica da Plateau adequou o conceito desenvolvido na África do Sul aos padrões de exigência e nor-mas Europeus e, adicionalmente, concebeu e desenvolveu integralmen-te a componente de secagem do produto obtido. O resultado final do trabalho desenvolvido pela equipa Plateau em Portugal é uma unidade de tratamento de biosólidos denominada Plateau-ASP (Active Sludge Processing) em total conformidade com a legislação Comunitária, com um elevado padrão de controlo, segurança e automação e certificável segundo a norma ISO 9001.

platEau-asp nos sistEmas tRadicionaisAs unidades Plateau-ASP podem ser autónomas, como é o caso da que em breve entrará em produção na Galiza, ou, alternativamente, ser instaladas junto a ETARs ou a unidades fabris produtoras de lamas. A conceção modular que presidiu ao desenho de engenharia das unidades Plateau-ASP torna possível a sua introdução em sistemas de trata-mento convencional de médio e grande porte, através da instalação do número de módulos de processamento adequados ao volume de lamas em presença.A introdução da tecnologia Plateau-ASP nos sistemas de tratamento tradicionais apresenta um claro valor acrescentado em função da ele-vada poupança energética que promove, bem como pela estabilidade acrescida dos processos biológicos remanescentes.Cada unidade Plateau-ASP pode receber lamas residuais de diversas proveniências: ETARs urbanas e industriais, suiniculturas, indústria ali-mentar, matadouros, indústria do papel, entre outras.

vantagEnsAs unidades de tratamento Plateau-ASP apresentam características únicas que se constituem como importantes fatores de sucesso, de en-tre os quais é importante salientar: (i) a rapidez de implementação (cer-ca de seis meses), (ii) a possibilidade de configuração para tratamento

Eliminação de lamas residuais

Após sete anos de investigação e desenvolvimento em Portugal, o Grupo Plateau iniciou a construção das suas primeiras unidades de tratamento de lamas residuais. A primeira unidade, situada na Galiza, entrará em produção no último trimestre de 2011 e está principalmente vocacionada para a eliminação total de lamas originárias de águas residuais urbanas, matadouros e indústria alimentar. A segunda unidade a construir está localizada em Reguengos de Monsaraz, não sendo ainda conhecida a data de entrada em produção.

de diversos tipos de lamas residuais, (iii) o processamento integral das lamas, (iv) a não produção de resíduos (v) nem emissão de gases de efeito estufa.A eliminação total de lamas residuais através do processamento com unidades Plateau-ASP representa a solução para o problema ambiental por elas gerado, evitando a incineração, o espalhamento em solo agrí-cola e a deposição em aterro. O conceito Plateau-ASP distingue-se as-sim na vertente ambiental pelo seu caráter inovador na eliminação de um problema estrutural de grande importância que afeta globalmente o Mundo atual.

posicionamEnto do gRupo platEauO Grupo Plateau assume a sua missão como líder em inovação tecno-lógica no tratamento de lamas residuais, promovendo uma redução de custos de operação de forma significativa e sustentável.Assim, o seu foco continuará a residir no fabrico, operação e melhoria contínua das suas unidades, oferecendo aos operadores do mercado soluções que lhes permitam diminuir os seus custos e maximizar a sua rentabilidade e eficiência.Num momento em que a economia global enfrenta uma das maiores crises de que há memória, assiste-se, concomitantemente, à procura de soluções para um problema ambiental de dimensão gigantesca, in-dependentemente das estratégias sociais, políticas ou económicas em presença em cada geografia, para o qual as unidades Plateau-ASP se constituem como uma solução sustentável, amiga do ambiente e de elevado valor acrescentado.

www.plateau-asp.com

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INDÚSTRIA E AMBIENTE 68 MAIO/JUNHO 201134

tecnologia TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUAIS

O IGSTM (Intelligent Gap System) é uma recente tecnologia de geração de ozono desenvolvida pela empresa suiça, Degrémont Technologies. Este sistema baseia-se num conceito dielétrico novo, garantindo uma otimização da intensidade de descarga no capacitor onde o ozono é produzido.

O IGSTM permite um produção contínua mas estável de ozono, redu-ção de 30% no consumo de energia, face às tecnologias convencionais e redução do consumo do gás doméstico e custos operacionais. Com as tecnologias já existentes, muita da energia acaba por se dis-persar na forma de calor, sendo capaz de destruir a camada de ozo-no quase, imediatamente, depois de ela ser produzida. Com o IGSTM consegue-se superar esse obstáculo porque permite controlar a inten-sidade de descargas ao longo do comprimento dos tubos de gerador, alternando com descargas mais forte na entrada e descargas mais fracas na saída.Com a tecnologia IGSTM a concentração de ozono ótima disponível para ozonização industrial de larga escala é aumentada de 8-10% em peso até 14%.A utilização de ozono para o tratamento de águas residuais é cada vez mais frequente dada a sua eficácia. Este tipo de tratamento é ade-quado para: pré-desinfeção de águas domésticas ou industriais; pre-cipitação de compostos dissolvidos; eliminação de compostos orgâni-cos, especialmente os responsáveis pelo odor, cor e sabor da água e os compostos tóxicos; eliminação do nitrogênio amoniacal; conversão da poluição que não é biodegradável em substâncias que possam ser assimilados por bactérias num tratamento biológico posterior; redução do lodo proveniente do tratamento biológico de águas residuais; deso-dorização do ar de resíduos libertados por plantas aquáticas O IGSTM já está no mercado desde 2008.

www.degremont-technologies.com

Sistema inovador de geração de ozono

A Sounete – Fábrica de Aprestos Metálicos – lançou para o mercado uma nova cisterna, especialmente, direcionada para a recolha de águas sujas.

Com capacidade para 15m3 de águas, esta cisterna pode ser transpor-tada facilmente. O equipamento conta com uma bomba bidirecional e permite uma descarga “em livre”.Relativamente às principais características, destacam-se: o caudal mé-dio de aspiração de 3000 l/min, a altura de aspiração até 8 metros e a potência instalada de 30kWque conta com uma pressão de funciona-mento hidráulica de 250 bar. O equipamento de recolha e transporte de águas sujas sofre um trata-mento anticorrosão quando está a ser construído, sendo que a cisterna é galvanizada a quente e contém chassis com decapagem química de desengorduramento e lavagem. Leva também uma demão de primário epóxico de zinco, com uma espessura de 50μm e uma demão de tinta intermédia epóxica 70μm e uma demão de acabamento epóxico com 70μm.

www.sounete.pt

Cisterna para recolha de águas sujas

PESOS E MEDIDASComprimento útil/exterior da cisterna 5550mm / 6500mm

Largura útil/exterior da cisterna 1900mm / 2450mm

Altura útil/exterior da cisterna 1900mm / 2350mm

Capacidade de carga 15m3

Peso em vazio 3460Kg

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tecnologia TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUAIS

INDÚSTRIA E AMBIENTE 68 MAIO/JUNHO 2011

PUB.

A empresa alemã Poll desenvolveu um sistema elétrico para o pré-tratamento de lamas residuais a ser efetuado antes da desidratação das mesmas.

A Poll garante que com este tratamento elétrico consegue-se otimi-zar todo o processo de desidratação de lamas, permitindo uma melhor separação dos sólidos, uma maior quantidades de sólidos após a seca-gem e, ainda, um menor consumo de ajudas de floculação.O sistema foi desenvolvido para consumir pouca energia, gastando apenas 1kWh por dia. Segundo a Poll, na lama o nível do potencial zeta impede ou pelo menos dificulta o processo de aglomeração dos tama-nhos das partículas inferior a 20 mM. Essas partículas têm a mesma carga elétrica na sua superfície e, assim, repelem-se mutuamente, de modo que eles não podem ser separados através de um processo que compense a nível económico. “O nosso sistema influencia o potencial zeta das partículas finas (<20 mm) de uma forma, que faz com que as partículas não se repelem, pelo que o processo de separação é melho-rado”, explica a Poll, garantindo que se obtém assim uma poupança significativa de dinheiro.

captação dE maioR quantidadE dE sólidos totais (st)Consequência do aumento nítido de matéria sólida no processo de se-gregação podem ser produzidos em maior quantidade produtos orgâ-nicos que servem para a criacao de humo, que combinados com subs-tâncias nutritivas, podem ser utilizadso para fertilização dos solos. De acordo com os responsáveis, conseguem captar mais 40% de ST e mais 15% de ST em lamas de esgoto.É também possível obter a partir da matéria sólida orgânica um com-bustível que depois pode ser utilizado como CO2-neutro. A redução da massa líquida, carregada de partículas sólidas orgânicas, leva ao aumento da eficiência dos processos seguidos e a uma otimização da rentabilidade.

diminuição do consumo dE polímERosFruto da economia de polímeros no processo de drenagem de lodos pode-se, através deste sistema, poluir menos o Ambiente por causa de

Processo de desidratação de lamas

instalação de biogás

campo elétricoSistema Poll

separação sólida de líquido

matéria (fase) líquida

Tratamento da matéria líquida, entre outros:– recuperação de substância nutritiva– redução de resíduos de medicamentos– água sanitária/qualidade de ingresso

matéria sólida

combustível

adubo orgânico- mineral

Segregação da matéria sólida 88,85%

Aumento de padrão de segregação em 33%!

redução do poliacrilamido. Além disso, o aumento de substâncias se-cas e de cargas em transporte, pode levar a uma redução em emissões de CO2 e em custos de transporte até 15%.

www.poll.de

sEpaRação dE sólidos E líquidoscom sistEma dE tRatamEnto ElétRico

sEpaRação dE sólidos E líquidoscom sistEma dE tRatamEnto ElétRico

câmara de digestão de lodos

campo elétricoSistema Poll

polímero

ETAR

concentrado

lododesidratado

22,9% TS - matéria secaAumento em 12%!

combustãocombustível

drenagem de lama (sistema de decantação)

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PRODUTOS E TECNOLOGIAS

Captação e produção de energia em parques de estacionamento

A Martifer Solar lançou a linha Smar-tpark que consiste numa inovadora estrutura para parque de estacio-namento automóvel, desenhada e pensada para receber painéis sola-res fotovoltaicos na sua cobertura. Os produtos Smartpark são fruto da aposta da empresa portuguesa em I&D.

Estão disponíveis três soluções distintas: UNO, SINGLE e DUAL. “É um produto modular, de fácil e rápida instalação, de reduzida necessidade de manutenção, economicamente viável e o seu aspeto inovador per-mite um bom enquadramento arquitetónico”, avança a Martifer Solar.O Smartpark serve não só para a produção de energia mas, também, como sistema de estanqueidade, recolha de águas pluviais e possibili-dade de ser transformado numa estação para carregamento do carro elétrico, através da incorporação de carregador elétrico.www.martifersolar.com/pt

Solução para aquecimento e água quente sanitária que produz eletricidade

O Dachs SE é um equipamento que fornece, em conjunto, eletricidade e calor para aquecimento e água quente sanitária. Consiste num sistema mo-dular onde se podem fazer diferentes configurações que servem vários tipos de solicitações elétricas e térmicas. A solução Dachs SE pode ser utilizada em vivenda unifamiliares, edifícios de apartamentos, sistemas centralizados

de aquecimento, escritórios, hotéis, lares de 3ª idade, hospitais, piscinas, entre outros.O sistema básico desenvolvido pela Baxi – SenerTec é composto por uma caldeira de cogeração, um depósito de armazenamento intermédio e um condensador para recuperar o calor latente nos gases de evacuação. Só que este sistema apenas tem capacidade para uma vivenda unifamiliar, mas no caso de um maior consumo de energia, podem-se ligar módulos adicionais ao sistema.A solução Dachs SE é gerida através de um novo controlador inteligente, denominado MSR2. Com este sistema de controlo integral pode-se mo-nitorizar e regular todos os componentes. A configuração do sistema é feita com um código de quatro dígitos. Além disso, conta também com um MODEM integrado que permite a transmissão de dados de funcio-namento e de eventuais anomalias. O Dachs pode ser monitorizado e controlado por via remota.www.baxi.pt

Nova gama de motores eficientes

A WEG lançou a nova gama de motores série 22 que se destacam por serem efi-cientes a nível energético. Este motores caracterizam-se por serem de indução trifásicos de alto rendimento com con-sumos energéticos substancialmente mais baixos, baixo nível de ruído e de vibração, maior fiabilidade, manutenção mais fácil e menor custo de aquisição.

Ao mesmo tempo, estão de acordo com as mais recentes normas mun-diais ao nível de rendimento, tais como as normas Europeias IE1, IE2 e IE3, EPAct e NEMA Premium dos EUA “Uma vantagem da gama W22 da WEG é o seu alto rendimento energé-tico, que reduz perdas entre 10% e 40% em comparação com os motores típicos”, refere a WEG.A linha conta com três tipos de produtos, cada um concebido para ex-ceder as exigências das classes de eficiência IE1 (EFF2), IE2 (EFF1) e IE3 (Premium). “Uma parte fundamental deste progresso no aproveitamen-to de energia é a nova carcaça aerodinâmica do W22 que aumenta o flu-xo de ar e reduz as temperaturas operacionais”, explica a empresa. A caixa de terminais do motor foi também reposicionada para otimizar o fluxo de ar, o que significa uma diminuição do aquecimento e o aumento da fiabilidade. A WEG destaca ainda o uso do novo WSeal, que oferece proteção através de um V-ring com duplo lábio e calota metálica, e a cai-xa de terminais, posicionada na frente da carcaça para melhorar o fluxo de ar e permitir um manuseamento mais fácil.www.weg.pt

Soluções inteligentes de armazenamento de energia

A IBC SOLAR AG lançou duas soluções in-teligentes de armazenamento de energia para instalações fotovoltaicas que permi-te que os proprietários possam usar uma percentagem maior do total de energia que produzem, mesmo quando o sol não brilhar.A apresenta está a apresentar duas no-vas soluções: um inovador sistema eletro-químico baseado na tecnologia de iões de polímero de lítio e um sistema de armaze-nagem que utiliza a tecnologia de chumbo/

ácido. As baterias de ambas as tecnologias são controladas por um sis-tema inteligente de gestão de carga que apenas permite a injeção de energia na rede pública quando estiver assegurado o abastecimento da própria habitação e do sistema de armazenagem. A IBC SOLAR refere que estas soluções têm vantagens, tais como, me-nos consumo de eletricidade da rede pública e possibilidade de consumir até 60% da energia total produzida. As novas soluções serão apresenta-das na Feira Intersolar que vai decorrer, em Munique, de 8 a 10 de junho. www.ibc-solar.pt

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PRODUTOS E TECNOLOGIAS

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Alongamento da distância entre rolamentos

A SEW-EURODRIVE lançou o conceito “EBD” (Alongamento da distância entre rolamen-tos) que dá um maior apoio dentro da pró-pria unidade. Isto permite que, em muitos casos, não sejam necessários apoios exter-nos no agitador ou evita o sobredimensio-namento do redutor.Nas fábricas com engenharia de processo, nomeadamente na indústria ambiental, é

frequente que ocorram elevadas forças axiais e radiais no veio de mis-turadores e agitadores durante as operações de mistura/agitação. Normalmente para se resolver este problema, recorre-se a rolamentos externos, separados, assegurando a função de rolamentos do veio do agitador. Mas esta solução costuma ter custos elevados. Os redutores industriais de elevado binário da Série MC podem ser utilizados para um funcionamento seguro em misturadores, agitadores e arejadores de superfície. Ao mesmo tempo, estes rolamentos são adequados para absorver as forças que ocorrem em acionamentos para torres de arre-fecimento húmidas, secas ou híbridas. “O conceito é complementado com o sistema de vedação opcional tipo poço seco, que evita fugas de lubrificante no veio de saída e permite a utilização de flange de monta-gem standard”, adianta a empresa.O conceito modular da SEW-EURODRIVE inclui um grande número de equipamento acessório opcional, tais como adaptadores de motor, acionamento por correias e anti retorno. A SEW-EURODRIVE destaca algumas vantagens do equipamento, tais como: elevada capacidade de carga do veio de saída; flexível; à prova de fugas, devido ao sistema de vedação opcional tipo “poço-seco”. Este equipamento pode ser aplicado na indústria ambiental, na indústria química, na engenharia de produ-ção de energia, em arejadores de superfície, em torres de arrefecimento húmidas, secas ou híbridas, entre outros.www.sew-eurodrive.pt

Tecnologia AUTOadapt

A Grundfos lançou a tecnologia AUTOadapt para bombas para águas residuais. Segun-do a empresa, com esta nova tecnologia, as bombas conseguem eliminar grande parte dos pedidos de assistência e reduzir os cus-tos de instalação e arranque.“A função AUTOadapt prescinde de todos os sensores externos, interruptores e cabos no poço, combinando-os todos numa única bomba que se adapta automaticamente às condições de drenagem do poço”, afirma a Grundfos. Este sistema pretende combater os erros que são, muitas vezes, causados nos poços por falhas nos interruptores de nível ou elétrodos. Ao retirá-los evita-se uma das fragilidades das instalações de

bombas submersíveis para águas residuais.Ao utilizar esta tecnologia, os responsáveis referem que a “complexida-de é eliminada e diversas considerações tradicionais não são mais ne-cessárias, como o funcionamento paralelo ou com uma única unidade, funcionamento assistido, standby ou automático.” Ao mesmo tempo, a monitorização interna é instalada como standard, garantindo que a bomba nunca funciona em seco. A gama Grundfos de trituradoras, bombas de drenagem, efluentes e águas residuais com AUTOadapt destina-se a bombear águas residuais em diversas aplicações municipais, industriais e privadas. O material uti-lizado é o ferro fundido e os equipamentos funcionam submersos, quer se trate de uma instalação portátil ou de um sistema de autoacopla-mento.www.grundfos.pt

Recuperação de calor dos gases de exaustão

A empresa A. Ramalhão desenvol-veu um processo de recuperação de calor dos gases de exaustão para o aquecimento de água. O ob-jetivo é utilizar o calor gerado pelo processo produtivo, que é desper-diçado, através dos gases quentes que são encaminhados para a at-mosfera, normalmente através de

uma chaminé. Segundo a empresa, é possível através deste processo, poupar energia e reduzir as emissões de CO2.“Esta medida poderá ser aplicada a vários processos produtivos de di-versos setores industriais cujas poupanças máximas dependem, entre outras condicionantes, do processo em questão, da quantidade de calor produzida sob esta forma e das necessidades de água quente que a uni-dade industrial necessite”, refere a empresa.www.aramalhao.com

Gestão de resíduos em todas as áreas

O S4-Resíduos é uma solução que permite fazer uma gestão com-pleta de resíduos nas várias áreas das empresas do setor. Segundo a SINFIC, este programa permite fazer desde “o controlo de todo o processo de aceitação do resíduo, o registo e controlo do processo

de receção e consequente faturação, bem como, as várias formas de ex-pedição de resíduos originadas pela venda do resíduo tratado ou trans-formado até ao encaminhamento de resíduos para outros centros.” Uma das características importantes desta soluação é a análise labora-torial, que permite fazer registos, controle e gestão de contratos e en-saios refletidos em estatísticas e aglomeradores de informação.Neste momento é também possível fazer uma gestão de acondiciona-mentos e gestão de veículos em fim de vida com o S4.www.sinfic.pt

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PRODUTOS E TECNOLOGIAS

Separação e retenção de partículas

A SETIMEP desenvolveu um equipamento que se destina a separar e reter o ar das partículas que pairam no ar. Os Filtros de Manga são equi-pamentos integrados que podem ser colocados numa linha de despoei-ramento ou numa linha de processo.Na prática, o ar é aspirado por um ventilador quando entra no filtro, que é desacelerado fortemente, atravessando posteriormente um conjunto de mangas fabricadas com média filtrante, o que permite a separação ar/partículas nele contidos. O ar de saída, já sem partículas, é encaminhado por um coletor para a chaminé, atravessando o ventilador principal.“As partículas retidas e acumuladas em forma de “CAKE” na superfície das mangas são monitorizadas em contínuo e separadas ciclicamente (processo de descolmatagem de mangas) por injeção controlada de ar comprimido em contra corrente dos gases aspirados, sendo posterior-mente recolhidas no interior do filtro (tremonha de recolha) e evacuadas por um sistema mecânico “estanque” (Sem fins de recolha e de trans-porte e válvulas rotativas ou sistema de “duplo clapet estanque”) para o exterior do equipamento”, explica a empresa.O equipamento está sujeito a pressão negativa (depressão) e deverá ser calculado especificamente para o efeito, de modo a garantir a estanqui-cidade de todos os seus componentes.“Em casos particulares de processo (filtros associados a linhas de co-geração, incineração, outros, …), a fim de proteger as mangas filtrantes, pode ser instalado a montante do filtro um compartimento mecânico (via decantação, separação por desaceleração ou ciclones, separação por aceleração) que assegura a separação de partículas ou elementos de granulometria superior, impurezas, partículas incandescentes ou corpos estranhos”, refere a SETIMEP.www.setimep.com

Desinfeção UV de águas residuais

O TAK55 é um sistema de de-sinfeção UV de canal aberto. Este produto desenvolvido pela Wedeco e comercializado em Portugal pela ITT Portugal, destina-se ao tratamento de águas residuais em ETAR’s . Com o TAK55 pode-se desin-fetar água até 0.000 m3/h,

quer para descarga em meio hídrico, quer para reutilização, de acordo com a legislação em vigor.O equipamento é composto por um conjunto de lâmpadas de UV de bai-xa pressão e alto rendimento. “Este sistema permite controlar a Dose UV aplicada em função do caudal admitido e da transmitância, regulando a intensidade das lâmpadas através de balastros de última geração, per-mitindo deste modo reduzir a fatura energética”, explica a ITT Portugal.Por outro lado, conta com um sistema de limpeza mecânico automático, que permite garantir eficiências de desinfeção elevadas. O TAK55 é feito em INOX AISI 316 e cumpre com os standards internacionais. www.lowara.pt

Nova marca solar

A Solar Technology é a nova marca do grupo Redtel. O objetivo é criarem parcerias com fabricantes internacionais do setor de energia, de forma a criarem soluções integradas que permitam reduzir custos e promover sustentabilidade. A nova marca aposta na utilização de coletores de tu-bos de vácuo de alta eficiência acoplados a componentes hidráulicos e de controlo de grande fiabilidade. “A tecnologia de painéis por tubos de vácuo dos parceiros da Solar Te-chnology permite obter o melhor rendimento da radiação solar mesmo com tempo nublado, conseguindo aumentos de eficiência face aos ou-tros coletores em mais de 40%, maiores frações solares e temperaturas de trabalho mais elevadas”, afirma a empresa.www.solartechnology.com.pt

Depuradora de águas residuais

Denominado de Klaro, este é o mais recente equipamento para a depu-ração de águas residuais comercia-lizado pela Graf. O sistema vem já praticamente montado da fábrica, sendo apenas necessário instala-lo no interior do depósito Carat e fazer a ligação ao quadro fornecido.A Klaro recorre a uma tecnologia de

tratamento de oxidação total SBR. Segundo a Graf, “no interior do depó-sito não existem elementos mecânicos ou elétricos, apenas ar compri-mido que faz avançar o processo de decomposição e a movimentação dos fluidos”. Esta depuradora de águas residuais tem marcação CE e cumpre a norma europeia EN -12566-3. www.graf.pt

Eliminação de algas

O Dumo Algacleaner é um equipa-mento de eliminação de algas atra-vés de ultrasons. Comercializado em Portugal pela ZEBEN, este equi-pamento permite um combate de uma forma amiga do ambiente. O programa de ultrasons é adaptado especificamente a cada aplicação.O Dumo Algacleaner não recorre a

produtos químicos, não necessita de manutenção e está protegido con-tra sobretensões. Pode ser utilizado para eliminar: algas em depósitos ou reservatório de rega, tanques, piscinas, fontes, lagos, depósitos de água potável, torres de refrigeração, aquários; organismos patogénicos em depósitos de rega, tubos de refrigeração de ar-condicionada, entre outros; biofilme em tubagens de água, filtros, instalações de alta pres-são, mangas de rega, rega por gota, entre outros.www.zeben.pt

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PRODUTOS E TECNOLOGIAS

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PUB.

Caldeiras a Biomassa

A Vimasol lançou no mercado português as Caldeiras a Biomassa HDG Bavaria. Este tipo de caldeiras admitem como combus-tível pellets, estilha e aparas de madeira. Graças a um sistema de sonda lambda e ao sensor de temperatura da câmara de com-bustão e de gases de escape, HDG Bavaria têm um sistema de combustão e controlo considerado eficiente. A utilização deste tipo de sistemas permitem autoajustar a performance às variações das característi-cas dos combustíveis e, ainda, fazer a mo-

delação da potência de cerca de 30% até à potência máxima, resultan-do em elevados rendimentos. Relativamente à manutenção do equipamento, a Vimasol explica que é feita através dos sistemas automáticos de remoção de cinzas e de limpeza do permutador de calor.Na gama de potências de 25 kW a 80 kW as caldeiras são equipadas com tecnologia de grelha basculante, as restantes apresentam tecno-logia de grelha móvel patenteada. O sistema de alimentação à caldeira prevê a existência de uma válvula de alimentação rotativa cuja princi-pal função é evitar o retorno de chama.www.vimasol.pt

Tratamento físico-químico de águas residuais

A Ventilaqua desenvolveu três unidades compactas de tratamento físico-quími-co de águas residuais. A VAMEC, VAMEF e VAMED encarregam-se do tratamento das águas residuais que, muitas vezes têm origens diferentes e por isso nem sempre precisam do mesmo tipo de tra-tamento. Umas podem ser tratadas ou pré-tratadas num sistema compacto simples que cumpram apenas os limites de descarga em coletor ou em meio hí-drico. As soluções da Ventilaqua são compos-

tas por unidades pré-montadas compactas construídas em painéis de PP ou PE. Segundo a empresa, estas estruturas são de fácil mon-tagem, sendo que a maioria dos circuitos hidráulicos, elétricos e de comando se encontram pré-montados no sistema.“Nas unidade VAMEC, VAMEF e VAMED quadro centralizado de liga-ções, na lateral da máquina, onde todas as ligações hidráulicas de água a tratar, água tratada, esgoto, água de limpeza e ar podem ser realizadas”, explica a Ventilaqua.www.ventilaqua.com

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ENERgIA

Assim a ADENE, no âmbito da sua missão que visa promover e realizar atividades de interesse público na área da energia, dinami-zou a preparação de um novo anexo, o Anexo 56, sobre o tema da reabilitação energética de edifícios (Energy & greenhouse gas Op-timised Building Renovation), tendo cabido a Portugal a coordenação do presente Anexo. Assim, e pela primeira vez, Portugal irá liderar um dos Anexos da Agência Internacional de Energia.O presente Anexo será direcionado aos edi-fícios residenciais, unifamiliares e multifami-liares, excluindo-se do objeto da análise os edifícios residenciais com ocupação sazonal. Poderão ainda ser incluídos no presente ane-xo os edifícios não residenciais sem sistemas de climatização complexos, caso os mesmos venham a ser considerados relevantes no de-curso do presente anexo, tendo em considera-ção as diferentes matérias que irão ser objeto de análise.Com o presente projeto espera-se desenvol-ver novas metodologias, baseadas em proce-dimentos e regras que possam servir de base à elaboração e publicação de normas, de modo a promover a reabilitação urbana de edifícios residenciais, considerando a implementação de medidas de eficiência energética com via-bilidade económica, com o objetivo final de promover a eficiência energética e reduzir as

emissões de gases com efeito de estufa e respetivas alterações climáticas e, desta for-ma dar resposta a uma das principais orienta-ções da nova diretiva relativa ao desempenho energético de edifícios (2010/31/EU), que visa a elaboração de planos nacionais para au-mentar o número de edifícios com necessida-des quase nulas de energia.A estratégia de desenvolvimento do presente anexo passa por uma perspetiva alargada de promoção da eficiência energética, e conse-quente redução das emissões de gases com efeito estufa, focando-se nas mais-valias de-correntes do processo de reabilitação urbana que passam nomeadamente pela quantifi-cação das reduções de consumo de energia e emissões de CO2, redução da fatura energéti-ca, aumento do conforto térmico, melhoria da qualidade do ar interior e valorização do par-que edificado.Os trabalhos serão estruturados em quatro subtarefas, a saber:

A – Metodologia;B – Ferramentas;C – Casos de Estudo;D – Disseminação e recetividade dos proprie-

tários.

De modo a maximizar o impacto do presen-te Anexo, diminuindo as barreiras à adoção

dos diferentes resultados propostos, é de crucial relevância analisar casos de sucesso que tenham já sido implementados, de modo poderem ser identificadas as melhores práti-cas assim como tecnologias emergentes que disponham de potencial técnico e económico, para que as mesmas possam ser avaliadas e potenciadas no decurso dos trabalhos.Neste ponto específico a experiência nacional com a implementação do Sistema Nacional de Certificação Energética e da Qualidade do Ar Interior em Edifícios (SCE) constituirá segura-mente uma mais-valia para o presente Anexo, nomeadamente através da análise dos mais de 300.000 certificados energéticos emitidos no âmbito do SCE para edifícios de habitação e pequenos edifícios de serviços existentes1, enquadráveis na sua generalidade no âmbito do Regulamento das Características de Com-portamento Térmico de Edifícios (RCCTE).

Conservação de Energia em Edifícios e Sistemas UrbanosCerca de um terço da energia primária consumida em Portugal destina-se aos edifícios de habitação e de serviços, sendo que a climatização, a iluminação, a água quente sanitária e os equipamentos são dos consumidores mais relevantes na estrutura de consumos de energia da generalidade dos edifícios.Nesse sentido, e dada a relevância dos edifícios no consumo de energia, a Agência Internacional de Energia (IEA) estabeleceu um Implementing

Agreement sobre Conservação de Energia em Edifícios e Sistemas Urbanos (ECBCS - Energy Conservation in Buildings and Community Systems), com o objetivo de promover a investigação sobre eficiência energética em edifícios. Assim, estas atividades são desenvolvidas através de vários Anexos (Annex) direcionados a temas e atividades específicas que suportem a sua aplicação prática, e sirvam de base à formulação de normas e politicas energéticas a uma escala global, sob a égide da Agência Internacional de Energia.

www.ecbcs.org

1 Para efeitos de aplicação do SCE, consideram-se como

pequenos edifícios de serviços, todos os edifícios com

potência térmica instalada para climatização com po-

tência inferior ou igual a 25 kW, e com uma área útil de

pavimento inferior a 1000 m2. No caso especifico de

centros comerciais, hipermercados, supermercados e

piscinas cobertas a +área indicada anteriormente é re-

duzida para 500 m2.

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ENERgIA

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Na Figura 1 apresenta-se uma desagrega-ção do número de certificados energéticos de edifícios existentes emitidos, com a respetiva desagregação entre edifícios de habitação e pequenos edifícios de serviços sem sistemas de climatização.É possível ainda, através da análise da base de dados do SCE, caracterizar o desempenho energético dos edifícios certificados por di-ferentes períodos construtivos, como ilustra a imagem seguinte, permitindo desta forma constituir com bastante rigor diferentes gru-pos alvo e, desta forma, identificar para cada um deles, aquelas que são as medidas de efi-ciência energética mais adequadas (Figura 2).A mesma base de dados permite ainda uma caracterização detalhada das principais me-didas de melhoria que são objeto de análise por parte dos Peritos Qualificados, permitindo também desta forma uma análise criteriosa

fornecer aos diferentes parceiros do anexo informação credível sobre a realidade do par-que edificado nacional, podendo a presente amostra ser utilizada como referencial para o desenvolvimento do presente Anexo.O Anexo 56 encontra-se presentemente em fase de final de preparação, esperando-se que os trabalhos efetivos do mesmo tenham início no segundo semestre de 2011, decorrendo os trabalhos durante os seguintes quatro anos, estando prevista a conclusão dos trabalhos no final do primeiro semestre de 2015.

A coordenação efetiva do presente anexo caberá à Professora Dr.ª Manuela Almeida, do Departamento de Engenharia Civil da Universidade do Minho, sendo que poderá aceder a mais informações sobe o presente Anexo em: http://www.ecbcs.org/annexes/annex56.htm

FIGURA 1 Número de certificados energéticos emitidos de habitação e pequenos edifícios de serviços existentes.

daqueles que poderão ser os principais veto-res de reabilitação urbana e de promoção da eficiência energética no parque habitacional edificado. Na Figura 3 apresentam-se de for-ma sumária, por tipologia de medida, as prin-cipais medidas de melhoria identificadas nos certificados energéticos emitidos.Pela análise dos elementos anteriores é pos-sível identificar as principais medidas de me-lhoria presentes nos certificados energéticos, sendo de salientar a preponderância dada pe-los Peritos Qualificados à intervenção nos sis-temas de produção de água quente sanitária (AQS), seguindo-se os sistemas de energias renováveis, a climatização, as envolventes opacas, os vãos envidraçados e os sistemas de ventilação.Espera-se assim, e através da disponibiliza-ção de toda a informação presente na base de dados do sistema de certificação energética,

FIGURA 3 Desagregação das medidas de melhoria presentes nos certificados energéticos anteriores.

FIGURA 2 Número de certificados energéticos de edifícios existentes emitidos por data de construção

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ENERgIA

consumo.”Além destes dois sistemas, a ERSE tem tam-bém disponível no seu site oficial, o simulador de potência a contratar e o simulador de com-paração de preços com o objetivo de ajudar os consumidores domésticos e pequenas em-presas na contratação dos serviços de forne-cimento de eletricidade e na minimização do valor da fatura de eletricidade. www.erse.pt

”Electric Tour” conheceu 25 cidades portuguesas

O projeto europeu promovido pela Peugeot Portugal e MOBI.E (entidade coordenadora da Rede de Mobilidade Elétrica) esteve presen-te em 25 cidades portuguesas entre março e maio. O roadshow de automóveis elétricos vi-sitou várias localidades de norte a sul do país para que as pessoas pudessem conhecer e experimentar este tipo de veículos e a rede inteligente de carregamento elétrico. Em destaque estava o automóvel Peugeot iOn mas também duas bicicletas elétricas, o que alargou o conceito de mobilidade elétrica. O roadshow permaneceu dois dias em cada cidade e havia um percurso definido para o test drive e a experimentação do sistema de carro e bicicletas.Lisboa, Cascais, Sintra, Loures, Almada, Setú-ba, Évora, Beja, Faro, Leiria, Santarém, Torres Vedras, Coimbra, Aveiro, Porto, Vila Nova de gaia, Braga e guimarães foram as cidades que receberam a “Electric Tour”.

Rede MOBI.EA rede MOBI.E é pioneira a nível mundial e permite, através de um único cartão, carregar o carro elétrico, escolher o ponto de abasteci-mento que mais lhe convém, monitorizar o car-regamento através do PC, telemóvel ou PDA e pagar o seu consumo elétrico, entre outros.

Está prevista durante a primeira fase piloto, a instalação de uma Rede com 1.300 postos de carregamento normal e 50 postos de carre-gamento rápido em espaços de acesso públi-co em 25 cidades de Portugal Continental, até junho deste ano. www.mobie.pt

ERSE lança dois novos simuladores de energiaO objetivo é melhorar o nível de informa-ção dos consumidores fazendo com que tenham uma participação mais informada no mercado da eletricidade. “O simulador de faturação de energia elé-trica vai permitir aos consumidores em-presariais e industriais, que ainda se man-têm na tarifa regulada, estimar o valor da sua fatura anual, de modo a que a possam comparar com as ofertas dos comerciali-

zadores que atuam em regime de mercado”, adianta a ERSE. No caso do simulador de rotulagem de ener-gia elétrica, os responsáveis explicam que “é um instrumento destinado essencialmente aos consumidores domésticos e pequenas empresas, permitindo-lhes ter mais informa-ção sobre as fontes de energia utilizadas na produção da eletricidade que estão a consumir e os impactos ambientais associados a esse

Beja aposta na mobilidade elétricaDecorreu em junho na cidade de Évora uma reunião entre parceiros europeus onde se pretendeu debater novos investimentos em mobilidade sustentável e a forma como o caso piloto de Beja pode ser divulgado pelas cida-des europeias de média dimensão. Dentro dos presentes destacam-se os repre-sentantes das cidades de Londres, Madrid, Cracóvia, Frankfurt, Atenas, Estocolmo, Oslo, Lisboa, sendo que integram a rede europeia “Electric Vehicles in Urban Europe”, o projeto

que no programa europeu Urbact tem por ob-jetivo alargar a abrangência da utilização dos veículos elétricos como alternativa de mobili-dade sustentável em meio urbano.Integrado no mesmo evento, foi também assi-nada uma parceria de projeção global (“parce-ria geoestratégica”) que agrega os Municípios de Alvito, Beja, Cuba, Ferreira do Alentejo, Vi-digueira e que tem como missão partilhar re-cursos e objetivos de atração de investimento empresarial.

MUNICÍPIOS

beJA

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ENERgIA

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Sistemas de incentivos para a eficiência

Durante o Seminário “eficiência energética na Indústria”, organizado pela Câmara do Comér-cio e Indústria Luso-Alemã em parceria com a ADENE, no final de maio no Porto, Lurdes Pi-nho da CCDR-N, deu a conhecer os vários sis-temas existentes, explicando como é que as empresas podem concorrer.Atualmente existem três programas que, di-reta ou indiretamente, apoiam inciativas de eficiência energética: Sistema de Incentivo à Inovação (SI Inovação); Sistema de Incentivos à Qualificação e Internacionalização de PME (SI Qualificação PME); Sistema de Incentivos à Investigação e Desenvolvimento Tecnológico (SI I&DT).Desde que cumpram uma série de requisitos legais, qualquer empresa pode concorrer a um destes sistemas. No SI PME e SI I&DT os pro-motores devem assegurar 15% do financia-mento total e no SI Inovação um total de 15% nas PME e 20% no caso das gE.

SI InOvAçãONeste sistema está previsto o apoio a in-vestimentos na: produção de novos ou sig-nificativamente melhorados bens e serviços; adoção de novos, ou significativamente me-lhorados, processos e métodos de fabrico, de logística e distribuição, organizacionais ou de marketing; expansão de capacidades de produção em atividades de alto conteúdo tecnológico ou com procuras internacionais dinâmicas; criação de empresas, com recur-sos qualificados ou em setores com fortes dinâmicas de crescimento; criação de unida-des ou de linhas de produção com impacte relevante ao nível do produto, das exporta-ções ou do emprego; introdução de melhorias tecnológicas com impacte relevante ao nível da produtividade, do produto, das exporta-ções, do emprego, da segurança industrial ou da eficiência energética e ambiental. No que toca especificamente à eficiência energética, são consideradas despesas elegí-veis: aquisição de máquinas e equipamentos diretamente relacionados com o desenvolvi-mento do projeto, designadamente nas áre-as (…) da eficiência energética, (…) (art.º 11º, alínea a) subalínea i)); instalação de sistemas energéticos para consumo próprio utilizando fontes renováveis de energia (art.º 11º, alínea a) subalínea iii)). Estão ainda contempladas outras despesas de investimento na área de eficiência ener-gética e energia renováveis, nomeadamente, assistência técnica, auditorias energéticas, testes e ensaios.As taxas de incentivo no SI Inovação é de 45%, sendo que as taxas de majoração podem va-riar de acordo com cada empresa.

SI PME e SI I&DTPodem ser apresentados: projetos individuais – projetos a título individual pela PME; proje-tos em cooperação - apresentado por PME ou consórcio liderado por PME, que resulte de uma ação de cooperação interempresarial (mínimo 3 empresas); projetos em conjunto - programa estruturado de intervenção num conjunto maioritariamente composto por PME; vale Inovação -projeto simplificado de Inovação apresentado por PME para aquisição de serviços de consultoria e de apoio à inova-ção a entidades do SCT pré-qualificadas. Neste tipo de sistema a eficiência energé-tica é contemplada quando se fala em in-vestimentos para o aumento da eficiência energética e diversificação das fontes de energia com base na utilização de recursos renováveis. As despesas consideradas têm a ver com a “aquisição de máquinas e equi-pamentos específicos e exclusivamente des-tinados às áreas (…) da eficiência energética e energias renováveis, (…)” (art.º 12º, alínea a) subalínea i)), e “Investimentos na área de eficiência energética e energia renováveis, nomeadamente, assistência técnica, audito-rias energéticas, testes e ensaios”, (art.º12º, alínea b) subalínea iii)).Lurdes Pinho referiu que é preciso estar aten-do aos Avisos Específicos que vão surgindo dentro de cada Sistemas de Incentivo que dão a entender a preferência de apoios a determi-nados projetos específicos, como por exem-plo a eficiência energética.As taxas de incentivo chegam as 40%, exceto no caso do Vale de Inovação que pode atingir os 75%.www.ccila-portugal.com

A aposta na eficiência energética é cada vez mais uma estratégia das empresas, especialmente, devido às poupanças que se pode obter na fatura. Em Portugal há vários sistemas de incentivo direcionada para as Pequenas e Médias Empresas e Empresas de grande dimensão que preveem o apoio a medidas de eficiência energética.

Biocombustível feito de algas para aviõesO Laboratório Nacional de Energia e geologia (LNEg) e a Associação Portuguesa de Trans-porte e Trabalho Aéreo (APTTA) estabeleceram uma parceria para a produção e utilização de biocombustível para aviões, feito a partir de microalgas.“Há um estudo de holandeses que diz que, para os combustíveis fósseis utilizados nos trans-portes serem totalmente substituídos na Europa, Portugal teria que ser um mar de algas”, diz em declarações ao Público, Luísa gouveia do LNEg.A APTTA constitui um importante parceiro porque pode partilhar o conhecimento da realidade aérea e possibilitar o teste do combustível em motores de avião, que têm de suportar condi-ções específicas dos voos, como temperaturas muito inferiores às das viagens de automóvel. www.aptta.net

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AR E RUÍDO | ÁgUA

Almada investe no saneamento da Costa da CaparicaO projeto que abrange mais de 100 mil ha-bitantes ainda não tem data exata para co-meçar. Nuno Serrano, diretor do departamento de obras dos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento (SMAS) explicou à Lusa que o projeto vai incidir no “o reforço da rede de efluentes domésticos, o reforço da capacida-de do sistema de abastecimento para aten-der a acréscimos de procura, a renovação da rede de distribuição, com a construção de um reservatório na Aroeira, e a ampliação da rede doméstica e pluvial de drenagem da Costa da Caparica”. Engloba ainda um refor-

ço das linhas de drenagem de efluentes do-mésticos e pluviais nas zonas para onde vão deslocar-se os parques de campismo, con-forme previsto no plano de pormenor sete do programa Polis. O responsável refere que estas obras servem também “para responder ao incremento das exigências ambientais” e para, por exemplo, “facilitar o escoamento das águas, que é mui-to difícil quando chove”. Nuno Serrano esclareceu também que, dos 20 milhões de euros que a intervenção vai cus-tar aos serviços municipalizados, seis milhões são fundos comunitários.

MUNICÍPIOS

ALMADA

A Câmara Municipal de Almada anunciou que vai investir cerca de 20 milhões de euros na reabilitação e reforço de infraestruturas de águas e saneamento na Costa da Caparica.

Dispositivo inovador para o tratamento do ar interior

Investigadores da Universidade do Minho estão a desenvolver um novo equipamento para o tra-tamento do ar interior. Este sistema que ainda está em fase de criação, além de melhorar a qualidade do ar interior, permite também poupar na fatura energética.A UM refere que este equipamento “tem ação sobre parâmetros microbiológicos, reduzindo a presença de bactérias, fungos ou legionella, entre outros.” No caso da fatura energética, a Uni-versidade explica que é conseguida uma poupança “graças a estudos em análise fluidodinâmica computacional (CFD), que baixam as potências necessárias”. “Acreditamos que o equipamento vai efetivamente tratar e purificar o ar; não é um mero aparelho de ventilação”, afirmou o investigador Rafael de Sousa. A equipa do projeto é constituída por três engenheiros: Ivan Abreu, mestrado em Engenharia Me-cânica e que tem amplo trabalho em CFD na Fórmula 1 e em aviões de voo não tripulados, Rafael de Sousa, mestre em Engenharia Biomédica e bolseiro na TecMinho, e também Amaral Nunes, professor doutorado do Departamento de Engenharia Mecânica da UM.

Este sistema que ainda está em fase de criação, além de

melhorar a qualidade do ar interior, permite

também poupar na fatura energética.

Autarquia de Arouca pede prisão para autores de descargas poluentes nos rios

Após a recente deteção de coliformes fecais nos rios Paiva e Paivô, a Câmara Municipal de Arouca referiu que vai adotar uma política in-transigente com os autores deste tipo de cri-mes, exigindo pena de prisão. O presidente da Câmara Municipal, José Artur Neves, lamentou em declarações à Lusa, que este crime tenha sido cometido apenas umas semanas depois de ter sido anunciado um in-vestimento de 2,5 milhões de euros na requa-lificação das margens do Paiva.José Artur Neves afirmou que autarquia “vai

começar a ser intransigente a este nível” e defendeu que os autores dessas ações polui-doras “deviam ser logo mandados para prisão preventiva enquanto aguardam julgamento”, já que “está em causa não só a natureza, mas também a saúde das pessoas. E com isso não se brinca”. Apesar de compreender que muitas pessoas não estão bem informadas sobre o assunto, o presidente da câmara, não desculpa a descar-ga de detritos de vacarias nas margens do rio. “Se por acaso chegam ao rio, os resíduos da

construção turvam a água, é um facto, mas não deixam de ser terra e pedra, sem bacté-rias. Mas quando os proprietários das vacarias aproveitam as chuvas para fazer a descarga de dejetos dos animais, isso representa outro perigo muito maior, que não tem comparação”, disse. Segundo o governante, as câmaras de Arouca e Castro Daire estão a trabalhar juntas para colocar um fim a estes problemas mas refere que é “preciso aumentar a fiscalização a estas infrações e o governo tem que começar a ter mão pesada nesta matéria”.

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ÁgUA

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Planos de gestão de Bacias Hidrográficas Foram apresentados no passado dia 17 de maio, no Porto, os Planos Hidrológicos do Miño-Sil e Duero. A sessão organizada pela ARH nor-te surgiu no âmbito da discussão pública das propostas dos planos hidrológicos destes grandes rios partilhados por Espanha e Portugal.

O evento contou com a presença dos presidentes das Confederações Hidrográficas do Miño-Sil, do Duero e também da ARH Norte e foi des-tacado por todos os esforços que têm sido feitos para trabalharem em conjunto e os bons resultados que se tem alcançado. António guerrei-ro de Brito destaca que atualmente os verbos “partilhar” e “cooperar” são os mais utilizados no diálogo entre Portugal e Espanha. O próximo passo poderá passar pela criação do um plano hidrográfico único do Douro em 2021. Contou-se com umas breves apresentações dos planos espanhóis cuja participação pública termina em junho. Nesse aspeto, Portugal ainda está um pouco atrasado em relação ao país vizinho, uma vez que o plano de gestão de bacias hidrográficas do norte ainda está em fase de elaboração, estando previsto que em setembro entra em fase de apreciação pública.A ARH Norte analisou as propostas dos planos destes dois grandes rios vizinhos, destacando os pontos positivos e aqueles que conside-ram ser necessário mais esclarecimentos. Em ambos os planos, foi elogiada a organização, detalhe e a compatibilidade da estrutura para consulta pública com o PgRH-Norte.No caso do plano do Miño-Sil, consideraram positivo: a identificação e caracterização das QSIgA/ETI; a estratégia para gestão de secas e escassez de recursos; excelente suporte cartográfico. Pelo contrário identificaram alguns pontos a melhorar, tais como: variação temporal de caudais no tramo internacional do Minho; regime de caudais de ex-ploração dos 187 aproveitamentos hidroelétricos; análise de risco de fenómenos extremos em cenário de alterações climáticas; projeção do estado das M.A. para 2021 e 2027; classificação de massas de água transfronteiriças; avaliação dos efeitos de retenção de sedimentosJá que no toca ao Plano Hidrológico do Duero foram identificados como pontos a esclarecer: a redução das disponibilidades e majoração de necessidades; avaliação dos efeitos de retenção de sedimentos; im-pacto das pressões hidromorfológicas (alteração do regime de cau-dais); estado das M.A. transfronteiriças poderão ser melhoradas (?); relação do programa de medidas com as QSIgA. Dos aspetos positivos em específicos referem: definição de estratégia em cenários de seca e escassez; referência às QSIgA/ETI; definição de objetivos nas águas transfronteiriças para 2021 e 2027; estratégia para gestão de secas e escassez de recursos.www.chminosil.es · www.chduero.es

www.nlarchitects.nl

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Foi apresentado no final de março, em Sintra, o estudo “Abaste-cimento de Água em Portugal – O Mercado e os Preços”. Da res-ponsabilidade da Associação Portuguesa de Distribuição e Dre-nagem de Águas (APDA), esta já é a quarta edição dos trabalhos quer culminam com a edição do estudo. A APDA compromete-se com a realização do estudo do mercado e preços da Água porque considera que é “necessário para um debate importante sobre a economia da água em Portugal”. Este ano foi lançada a edição com tarifas referentes a 31 de dezembro de 2009. O evento con-tou com a presença de 120 participantes.O presidente da APDA abriu a sessão considerando ser impor-tante lançar um “repto a todas as forças politicas ora incluírem a situação do Setor da Água e do Saneamento e as soluções que propõem para a superação dos constrangimentos existentes no centro das suas preocupações, visto tratar-se de um Setor eco-nomicamente relevante, socialmente sensível e ambientalmente determinante para o futuro do País e a qualidade de vida dos ci-dadãos”. Segundo a APDA, será também muito importante para a sus-tentabilidade financeira do setor, conseguir uma melhor clareza das regras, especialmente, no que toca à regras de definição e modulação tarifária.

Mercado e Preços da Água

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LEgISLAçãO - gESTãO E ECONOMIA

De acordo com a referida Diretiva “a prevenção de resíduos deverá constituir a primeira prio-ridade da gestão de resíduos” e “a reutilização e a reciclagem de materiais deverão ter priori-dade em relação à valorização energética dos resíduos, desde que constituam as melhores opções do ponto de vista ecológico”.Assim, o novo diploma vem estabelecer o re-gime geral aplicável à prevenção, produção e gestão de resíduos, e tem como objetivo es-sencial promover o reforço da prevenção da produção de resíduos, através da sua reuti-lização e reciclagem. Pretende-se prolongar o uso dos resíduos na economia antes de os devolver em condições adequadas ao meio natural. Outro dos objetivos principais deste diploma é alcançar o pleno aproveitamento do novo mercado organizado de resíduos, consolidan-do a valorização dos resíduos e estimulando a utilização de resíduos específicos com elevado potencial de valorização. Destaca-se, desde logo, a clarificação dos con-ceitos-chave de “resíduo”, “prevenção”, “reutili-zação”, “preparação para a reutilização”, “trata-mento” e “reciclagem” bem como da distinção entre os conceitos de “valorização” e “elimi-nação de resíduos”, com base numa diferença efetiva em termos de impacte ambiental. No que respeita às atividades de gestão de resíduos, procede-se à distinção entre o ar-mazenamento preliminar de resíduos antes da recolha e o armazenamento antes do tra-tamento”, dispensando-se os estabelecimen-tos ou empresas que produzam resíduos no âmbito das suas atividades da sujeição a li-cenciamento para o armazenamento de tais resíduos antes da recolha.Importa, também, assinalar a introdução de uma abordagem da gestão de resíduos que atende a todo ciclo de vida dos produtos e

materiais, e não apenas à fase de fim de vida. Reforça-se, deste modo, o mecanismo da res-ponsabilidade alargada do produtor, permitin-do-se, nomeadamente, a responsabilização do produtor (do produto) que deu origem aos resíduos.Procede-se, também, à reformulação do prin-cípio da hierarquia dos resíduos, fixando-se a seguinte ordem de prioridades a observar nas opções de prevenção e gestão de resídu-os: a) prevenção e redução; b) preparação para a reutilização; c) reciclagem; d) outros tipos de valorização; e e) eliminação. Note-se que o diploma consagra a possibili-dade de certos fluxos específicos de resíduos não observarem esta ordem de prioridades, desde que (i) as opções adotadas se justifi-quem pela aplicação do conceito de ciclo de vida aos impactes globais da produção e ges-tão dos resíduos em causa e (ii) tal se justi-fique por razões, designadamente, de exequi-bilidade técnica e viabilidade económica e de proteção ambiental. Em conformidade com a lógica subjacente à hierarquia dos resíduos, promove-se o incen-tivo à recolha seletiva e a sua valorização por fluxos ou fileiras, bem como recurso às me-lhores tecnologias disponíveis com custos economicamente sustentáveis que permitam o prolongamento do ciclo de vida dos mate-riais através da sua valorização. Ainda no âmbito do princípio da hierarquia dos resíduos, fixam-se as metas a alcançar até 2020: (i) um aumento mínimo global para 50% em peso relativamente à preparação para reutilização e a reciclagem de resíduos urba-nos, e (ii) um aumento mínimo para 70% em peso relativamente à preparação para reuti-lização, a reciclagem e outras formas de valo-rização material. Para atingir estas metas e assegurar a pre-

servação dos recursos naturais e a promoção da valorização dos resíduos, prevê-se a obri-gatoriedade da utilização de, pelo menos, 5% de materiais reciclados em empreitadas de obras públicas. Em sede de planeamento da gestão de resíduos, passa a exigir-se a elaboração de programas de prevenção de resíduos, até 12 de dezembro de 2013, com metas temporais para a preparação para a reutilização e a reciclagem. No que concerne às normas técnicas das ati-vidades de tratamento de resíduos, destaca-se, a introdução, no âmbito do transporte de resíduos, da guia de acompanhamento de re-síduos eletrónica (eGAR) que permitirá tornar mais fiável o sistema de acompanhamento de transporte de resíduos, simplificando o proce-dimento de registo e controlo da informação relativa a esta atividade.São, também, desenvolvidas normas técnicas relativas aos resíduos perigosos, aos CIRVER, à gestão dos óleos usados e à colocação de composto no mercado. Quanto aos resíduos perigosos, clarificam-se as disposições relativas ao tratamento de re-síduos constantes da Diretiva n.º 91/689/CEE do Conselho, de 12 de dezembro de 1991, de-signadamente, quanto a operações de mistura.Em relação aos óleos usados, são atualizados os objetivos nacionais para a sua gestão, com metas mais ambiciosas, e destaque para a prioridade atribuída à sua regeneração. Para além da referida alteração aos objetivos e metas, o diploma procede, ainda, à alteração do regime jurídico da gestão de óleos usados, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 153/2003, de 11 de julho, consagrando a responsabilidade dos produtores de óleos usados pelo encaminha-mento dos mesmos para o circuito de gestão dos óleos usados. Relativamente ao composto, estabelece-

Manuel Gouveia Pereira [email protected]

Novo Regime Jurídico dos Resíduos – enquadramento, desafios e oportunidades

O Decreto-Lei n.º 73/2011, de 17 de junho, recentemente publicado e já em vigor, procedeu à revisão do regime geral da gestão de resíduos, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 178/2006, de 5 de setembro, assegurando a transposição para a ordem jurídica interna da Diretiva 2008/98/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, relativa aos resíduos. ©V

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se um conjunto de normas para a sua livre comercialização para valorização agrícola e procede-se à alteração do Decreto-Lei n.º 190/2004, de 17 de agosto.O diploma traz, também, novidades ao nível do licenciamento das atividades de trata-mento de resíduos, com a adoção de medidas de simplificação administrativa, a isenção de licenciamento um conjunto de atividades es-pecíficas de valorização de resíduos e a con-cretização do conteúdo mínimo das normas técnicas necessárias para que outras ativi-dades possam também vir a beneficiar dessa isenção. Em matéria de licenciamento simplificado, é integrada, no respetivo procedimento, uma etapa de avaliação da compatibilidade com os instrumentos de gestão territorial e com as servidões administrativas e restrições de utilidade pública aplicáveis. Neste sentido, introduz-se um mecanismo de controlo pós-licenciamento, numa ótica de proteção do ambiente e da saúde pública, com ganhos de eficiência e maior celeridade no licenciamento de atividades de tratamento de resíduos.É, ainda, revisto e melhorado o procedimento de articulação entre as atividades de trata-mento de resíduos com regimes específicos de licenciamento, nomeadamente o regime de avaliação de impacte ambiental (Decreto-Lei n.º 69/2000, de 3 de maio), o regime de prevenção e controlo integrados da poluição (Decreto-Lei n.º 173/2008, de 26 de agosto),

o regime jurídico da urbanização e edificação (Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de dezembro), o regime da utilização dos recursos hídricos (Decreto-Lei n.º 226-A/2007, de 31 de maio e Lei n.º 58/2005, de 29 de dezembro) e o regi-me do exercício da atividade pecuária (Decre-to-Lei n.º 214/2008, de 10 de novembro). Outra das principais novidades deste diplo-ma consiste na introdução de um capítulo (IV), no Título II, dedicado aos subprodutos e ao fim do estatuto de resíduo. Estabelecem-se os critérios e requisitos para que quais-quer substâncias ou objetos sejam conside-rados subprodutos e não resíduos, bem como os critérios para que determinados resíduos deixem de ter o estatuto de resíduo, em be-nefício dos operadores económicos, e da eco-nomia em geral, permitindo novas formas (simplificadas) de aproveitamento das subs-tâncias, objetos ou produtos em causa. O âmbito do mercado organizado de resíduos, é, assim, alargado aos subprodutos, mate-riais reciclados e resíduos perigosos – com a consequente alteração do n.º 2 do artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 210/2009, de 3 de setem-bro – conferindo-lhe uma maior versatilidade e potenciando a valorização de outro tipo de resíduos.No que respeita ao sistema integrado de re-gisto eletrónico de resíduos (SIReR), integrado no Sistema Integrado de Registo da Agência Portuguesa do Ambiente (SIRAPA), este pas-sa a permitir “o registo e o armazenamento

Decorreu no início de junho, em Aveiro, o Seminário Sistemas de gestão Ambiental e Res-ponsabilidade Ambiental. Dando especial enfoque ao tema da Responsabilidade Ambiental, o evento, organizado pela AcademiaVLM, contou com importantes oradores e com mais de 100 participantes.As recentes atualizações de legislação sobre a Responsabilidade Ambiental e as implicações decorrentes em organizações certificadas ambientalmente pela norma ISO 14001 foram dos assuntos que mais chamaram a atenção do público. Ao mesmo tempo, contou-se com apre-sentações sobre mecanismos financeiros e ferramentas disponíveis para apoiar a gestão e controlo ambiental nas organizações.O seminário teve a intervenção dos seguintes oradores: APA - Agência Portuguesa do Am-biente, IDAD - Instituto do Desenvolvimento e Ambiente, Marsh Portugal e VLM Consultores; bem como do testemunho da PT Inovação - empresa certificada a nível ambiental; e por fim, encerrou com o debate em mesa redonda sobre Sistemas de gestão Ambiental, na perspetiva das principais entidades certificadores: APCER, BV, EIC, SgS e TÜV.www.seminarioambiente.academiavlm.pt

Seminário Sistemas de Gestão Ambiental e Responsabilidade Ambiental

de dados relativos a produção e gestão de resíduos e a produtos colocados no mercado abrangidos por legislação relativa a fluxos es-pecíficos de resíduos, bem como a transmis-são e consulta de informação sobre a matéria”.Por último, o diploma estabelece um regime transitório para a regularização de instala-ções cuja localização, à data de entrada em vi-gor do decreto-lei, esteja desconforme com os instrumentos de gestão territorial aplicáveis. Nestas situações, os operadores de gestão de resíduos dispõem de seis meses para apre-sentar um requerimento à entidade licencia-dora, solicitando a regularização da situação, o que implicará a constituição de um grupo de trabalho composto por um representante da CCDR, da câmara municipal e da Agência Por-tuguesa do Ambiente (APA) – nos casos em que esta seja a entidade licenciadora – que irá emitir parecer sobre a possibilidade de regula-rização, cabendo a decisão final à APA.Espera-se que a recente revisão do quadro legal dos resíduos possa contribuir para uma efetiva prevenção da produção de resíduos com ganhos evidentes, em termos ambien-tais (por via da sua reutilização e reciclagem) e em termos económicos (através da dinami-zação do mercado organizado de resíduos). Estão, certamente, criadas condições para o surgimento de novas oportunidades de ne-gócio para os operadores económicos e todos demais intervenientes no ciclo de vida dos di-versos produtos, materiais ou substâncias.

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ALTERAçõES CLIMÁTICAS E CONSERVAçãO DA NATUREzA

Mercado de Carbono em discussão na Carbon Expo

Recentemente, a Agência Internacional de Energia afirmou que em 2010 se atingiu o maior valor de sempre de emissões de CO2 para a atmosfera. Depois de uma queda registada em 2009, causada pela crise financeira global, as emissões subiram para um recorde de 30,6 gigatoneladas (gt), um salto de cinco por cento em relação ao ano anterior recorde em 2008, quando as emissões atingiram 29,3 gt. Na Mesa Redonda “From carbon finance to climate finance – Are we getting there?”, que contou com a presença de especialistas nes-te tema, tais como, Andrew Steer do Banco Mundial, Christiana Figueres da ONU, Arturo gonzalo da Repsol, entre outros, as perspe-

Cinco anos depois da criação do Mercado de Carbono e a um ano de encerrar o primeiro ciclo de funcionamento, surge a necessidade de discutir os seus resultados. Isto foi o que aconteceu na Carbon Expo, que decorreu de 1 a 3 de junho em Barcelona. Mais do que salão de produtos e entidades que actuam no sector, estiveram em destaque as conferências que tiveram lugar e que foram muito importantes para questionar os caminhos tomados e os objetivos traçados no que toca ao mercado de licenças de emissão de carbono.

tivas não foram nada animadoras, podendo considerar-se as previsões dos oradores bas-tante alarmistas.Uma das críticas apontadas foi o facto de uns países estarem a trabalhar no sentido de re-duzirem as suas emissões mas outro nem por isso. Andrew Steer utilizou uma metáfo-ra, comparando o mercado de carbono com o campeonato europeu de futebol e equipa da cidade. “Mais do que uma equipa com grandes estrelas, são precisas estrelas que funcio-nem muitíssimo bem em equipa.” De facto, na União Europeia conseguiu-se diminuir cerca de 85% das emissões entre 2008 e 2010, con-tudo, isso não é suficiente. Os especialistas defendem a necessidade de uma Mercado de Carbono Intercontinental no mercado global.Por outro lado, Christiana Figueres, levanta uma questão importante que tem a ver com o facto do Mercado de Carbono ou Mercado do Clima ainda ser algo muito recente e em que estamos no início, não sabendo ao cer-to os efeitos dos instrumentos que se estão a utilizar. Ou seja, será que no final vamos atingir os objetivos pretendidos de redução das emissões de CO2, diminuição de tempe-ratura e diminuir os efeitos das alterações climáticas?Além disso, Christiana Figueres lembra tam-bém que há um setor muito importante, que é um dos responsáveis por grande parte das emissões de CO2 que não é contemplado no Mercado de Carbono, isto é, os Transportes.

DEPOIS DE COPEnHAGA E CAnCún PREPARA-SE DURBAnAs Conferências Para as Mudanças Climáti-cas das Nações Unidas são sempre pontos de encontro de relevo e de onde acabam por sair acordos mundiais muito importante do pon-to de vista do clima e do ambiente. Apesar de

muitos considerarem a cimeira de Copenhaga um fracasso, Christiana Figueres discorda, afirmando que “foi essencial para construir as bases para que Cancún fosse um sucesso.” Em Cancún ficou acordado que se iria limitar o aumento do aquecimento global a 2ºC, mas a representante da ONU defende que este valor não chega, acreditando que se deverá ter um objetivo de 1,5ºC.

PóS-2012Christiana Figueres e Andrew Steer mostra-ram-se muito preocupados com o futuro do clima mundial, dando perspetivas muito alar-mistas da situação. O responsável da Banco Mundial refere que o mercado de carbono estabilizou mas as emissões não, muito pelo contrário, prevê-se que aumentem ainda mais se nada se fizer. Andrew Steer diz que as consequências vão se fazer sentir rapida-mente, por exemplo: com o crescimento rápido dos países emergentes está previsto que em 2030 se aumente o consumo de combustíves fósseis para 74%; o nível das águas do mar vai subir 1 metro nos próximos 70 anos e cerca de 300 000 pessoas vivem abaixo desse nível; acontecimentos climático extremos vão ocor-rer com mais frequência.Os especialistas defendem que é preciso fazer mais, o mercado de carbono não basta. “O progresso não pode ser medido pelo mer-cado de carbono mas sim pela qualidade de vida das pessoas. O mercado de carbono é apenas uma ferramenta, um meio e não um fim,” diz Christiana Figueres.Andrew Steer sublinha que é urgente apostar em tecnologias verdes para a sequestração de carbono. Incluir os setores dos Transpor-tes e a Agricultura no mercado de licenças de emissões de carbono é primordial.www.carbonexpo.com

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RESÍDUOS

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Reciclagem de água nos comboios da CP

O desenvolvimento e promoção de novas soluções de valorização de resíduos urbanos para produção de biogás, injeção na rede de gás natural e utilização como combustível para transportes são os prin-cipais objetivos do Urbanbiogas. Este projeto europeu que surgiu no âmbito do programa Intelligent Energy Europe, reúne 5 cidades-piloto europeias, tentando integrar a produção de biometano no mercado da energia e cativar outras regiões para a produção deste vetor energé-tico renovável. Uma das principais metas do projeto é contribuir para que em 2020, 70% dos atuais resíduos orgânicos urbanos inexplorados tenham valorização energética.O município de Abrantes, em parceria com a empresa IrRADIARE, re-presentam Portugal no projeto UrbanBiogas. As cinco cidades-piloto europeias - zagreb (Croácia), Rzeszów (Polónia), Abrantes (Portugal), graz (Áustria) e a Região Norte de Vidzeme incluindo a cidade de Val-miera (Letónia)- vão ser preparadas para a produção de biometano a partir de resíduos sólidos urbanos. Cada cidade conta com diferentes parceiros tecnológicos, como o WIP, que lidera, o Instituto FRAUNHO-FER de Kässel (Alemanha), a Ekodoma (da Letónia), o EIHP (da Croácia) e a IrRADIARE Science for evolution (de Portugal).O gás que conseguirem produzir pode ser destinado para alimentar a rede de gás natural ou então para transportes.Para além das cidades participantes o projeto é apoiado por asso-ciações sectoriais e sistemas de gestão de resíduos tais como o gEA (Austria), a PBA (Polónia) e o zAAO (Letónia).A IrRADIARE disse, em declarações à IA, que acredita que “o envolvi-mento direto das cidades-piloto irá estimular a adesão de outras áreas urbanas europeias ao conceito de “WtB - Waste-to-Biomethane”, isto é, Resíduos-para-biometano.”

PUB.Projeto UrbanBiogas

Apesar de não ser uma técnica inovadora, não é muito usual uma empresa de transportes recorrer a um sistema de reciclagem de água. A CP já há algum tempo que implementou nas estações de Santa Apolónia (2007) e no Par-que de Material do Algueirão (2009), um sis-tema de reciclagem da água dos pórticos de lavagem exterior de material circulante. O sistema de lavagem dos pórticos permite uma operação automática e autónoma e é formado por: – uma zona de pré-lavagem constituída por

um arco de arrefecimento e arcos de aplica-ção de produtos de lavagem;

– uma zona de lavagem constituída por arcos e escovas de lavagem, finalizando com um arco de enxaguamento com água descalci-ficada; descalcificador;

– contadores para monitorização de consu-mos (água, eletricidade e produtos de lava-gem);

– sistema de tratamento e recuperação de

água, que permite a reutilização de 70% da água.

As zonas de pré-lavagem e de lavagem estão impermeabilizadas, permitindo a recolha de água em circuito fechado para posterior tra-tamento O processo desenvolve-se através de filtra-ção, decantação de resíduos e oxigenação de água provenientes do sistema automático de lavagem. É constituído por: 4 Tanques separa-dores individuais; cilindro de aço com camadas internas de areia de quartzo, que retém as impurezas sólidas contidas na água servida; um cilindro de aço com camadas internas de carvão ativado, para absorção dos tensioati-vos provenientes dos produtos químicos; linha de oxigenação responsável pela emissão de ar nas caixas de água reciclada, para dificultar a formação de odores;De acordo com a CP, os produtos químicos utilizados são ecológicos e compatíveis com o sistema de reciclagem física.

Lisboa santa apoLóniaVeículos limpos/dia – 100Consumo água/dia/veículo – 0,1m3

Valor referência sem reciclador/veículo – 0,35 m3/diaPoupança m3/dia – 25m3

aLgueirãoVeículos limpos/dia – 40Consumo água/dia/veículo – 0,1m3

Valor referência sem reciclador/veículo – 0,35 m3/diaPoupança m3/dia – 10m3

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PESSOAS E EMPRESAS

“a utilização de instrumentos de

mercado é fundamental na estruturação de uma

estratégia de redução de emissões

“O CELE é o maior e o mais dinâmico mercado de carbono a nível mundial”O carbono é a sua área de atividade fundamental, tendo base na engenharia do ambiente e um passado ligado ao setor energético. Defensor do Comércio Europeu de Licenças de Emissão (CELE), Eduardo Barroso acredita na sua continuação depois de 2020, contudo, chama a atenção para a necessidade um acordo global efetivo. Agir a tempo, sem medo de tomar decisões, é a posição de Eduardo Barroso relativamente ao combate às alterações climáticas e ao mercado de carbono.

José Eduardo BarrosoCofundador e administrador da E.Value

Diga-me o que faz...Licenciei-me em Engenharia do Ambiente, fui cofundador da Associação Portuguesa de Engenheiros do Ambiente e desempenhei o cargo de vice-presidente da Associação Por-tuguesa de Avaliação de Impactes (APAI), no biénio 2003-2004. Entre 1999 e 2002, fui adjunto do Gabinete do Secretário de Estado do Ambiente. Até 2004 integrei o Gabinete de Ambiente da EDP – Energias de Portugal, S.A. Sou cofundador e administrador da E.Value. Atualmente, sou responsável pela unidade Políticas Públicas & Mercados Regulados de Carbono da E.Value, onde coordeno vários projetos associados à implementação da Di-retiva Comércio de Emissões em Portugal jun-to da Autoridade Nacional Competente (APA). Na área da energia, desenvolvi um conjunto de estudos associados à arquitetura tarifária da energia elétrica, nomeadamente quanto ao impacto das energias renováveis e da cogera-ção nas tarifas de venda de energia elétrica a clientes finais.

Europa em destaqueO Comércio Europeu de Licenças de Emissão (CELE) é o maior e o mais dinâmico mercado de carbono a nível mundial e, seguramente, o melhor exemplo de um sistema de “cap & tra-de” a funcionar em larga escala. A participação de mais de 10.000 instalações a nível europeu, a que se deve adicionar o conjunto dos opera-dores aéreos que utilizam os aeroportos euro-peus, transforma o CELE num enorme sistema que movimenta milhares de milhões de Euros associados à emissão anual de mais de 2 mil milhões de toneladas de CO2 e que envolve um conjunto muito alargado de agentes, regulado-res, verificadores, intermediários financeiros,

consultores, etc.. Outros mercados regionais, como o RGGI (Costa Leste dos Estados Uni-dos), o do Estado da Califórnia ou o da Nova Zelândia, funcionam em bases semelhantes, mas com dimensões e graus de sofisticação menos relevantes.

O que o preocupa?O CELE foi um instrumento que nasceu na sequência dos compromissos assumidos pela União Europeia no contexto do Protocolo de Quioto. Hoje o CELE tem um horizonte de fun-cionamento que vai para além do ano 2020, de forma independente em relação à existência ou grau de ambição de um qualquer acordo in-ternacional que venha a suceder ao Protocolo de Quioto. O CELE, contudo, não pode atingir objetivos globais a partir de uma base de in-cidência regional. Para tal é fundamental que seja atingido um acordo global que, na esteira do que foi assumido em Quioto, estabeleça objetivos, metas, quadros de interação e de responsabilidade entre várias regiões e Esta-dos e, não menos importante, que defina um quadro de cumprimento rigoroso e integro. A caminho da Cimeira de Durban, no final deste ano, e após duas Cimeiras do Clima dececio-nantes (Copenhaga e Cancun), a expectativa é muito baixa. O mundo está a perder um tem-po precioso para agir. O custa da não-ação é demasiado pesado.

Perspetivas futurasAcredito que a utilização de instrumentos de mercado é fundamental na estruturação de uma estratégia de redução de emissões de gases com efeito de estufa. Por todo o lado, mesmo nas economias emergentes, o am-biente tornou-se num ativo que as empresas

e as economias não podem negligenciar. Quer como elemento de um plano de ação no qua-dro meramente ambiental, quer sobretudo como fator intrínseco de competitividade. A economia de carbono em que já vivemos, com a emergência dos mercados de carbono, com o desenvolvimento muito acelerado das no-vas energias de matriz renovável, associada às preocupações com a preservação de ecos-sistemas e da biodiversidade, com o estabele-cimento de instrumentos de cariz financeiro, onde se enquadra o regime europeu de Res-ponsabilidade Ambiental, por exemplo, criou um movimento que me parece não passível de ser posto em causa. A opinião pública mun-dial (vide as reações a propósito do acidente nuclear no Japão) continua motivada para as questões da sustentabilidade do nosso ecos-sistema global, apesar da grave crise europeia e internacional em curso, e criará a pressão necessária sobre decisores políticos para a tomada de decisões. A questão dos timings de decisão é no entanto muito importante: o relógio não para e o tempo de agir de forma útil está-se a esgotar.

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PESSOAS E EMPRESAS

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Nos dias de incerteza que se vivem hoje, to-das as organizações em Portugal e pela Eu-ropa fora se preocupam com as despesas fixas, que estão a ser objeto de redução e de renegociação. Por um lado tem-se a pressão do custo dos combustíveis e das matérias-primas em geral, por outro, também as orga-nizações procuram reduzir a sua fatura fixa no final do mês. No final do dia, o que realmente conta é a poupança conseguida: em dinheiro, em água, em energia.Quem está sujeito à concorrência do merca-do está hoje numa camisa de sete varas, pois sofre pressões do lado da venda e do lado da compra. O grande desafio dos dias de hoje é conseguir vender e prestar serviço sem ne-cessariamente perder margem, que era onde o raciocínio anterior nos levava. As transações comerciais hoje não podem ser unívocas, é importante por isso estabelecer laços de confiança com os Clientes e fazer das necessidades oportunidades reais de negócio sustentado para ambos.Para isso contribui uma abordagem custo-mizada em cada cliente, mas obriga às orga-nizações a desenvolverem-se de uma forma multidimensional, inovando constantemente.

distribuição, reciclando água para lavagens. Neste serviço de sucesso contribuiu o facto da TEKBOX estar organizada em quatro áreas de negócio, embora todas fortemente relaciona-das são também bastantes distintas, a saber: a Engenharia, a Manutenção e Exploração, a Instalação/Obra e a Venda de produtos de poupança e tratamento de águas. Mas nada teria sido possível se a FERTAGUS não tivesse apostado numa relação comercial duradoura e se não tivesse depositado muita confiança no seu prestador de serviços. Julga-se hoje que, quer a TEKBOX, quer a FER-TAGUS saíram fortemente beneficiadas desta relação forte e continuada, pois, se por um lado uma acaba por prestar uma panóplia de servi-ços mais alargada com incorporação de mate-riais e equipamentos. Por outro lado, a outra sai também fortemente beneficiada, pois tem uma organização especializada a acompanhar o assunto da gestão da água há já alguns anos, ganha poder negocial sobre o prestador, pois não adjudica um serviço pontual, dando mar-gem também ao prestador (como foi o caso) de fazer algum investimento na relação comercial e efetuar testes e ensaios de novas soluções sem custos adicionais para o cliente.

A TEKBOX – water engineering tem trabalhado em várias frentes de negócio, justamente para mitigar o risco e aumentar a oferta junto dos seus clientes. Esta empresa, que começou por ser tradicionalmente uma empresa de manutenção, há muito que largou essa categoria e hoje apresenta-se no mercado como uma empresa que atua em toda a cadeia de valor da água.

Instalação, gestão e manutenção de instalações de águas

Uma experiência de sucessoRelata-se a experiência efetuada com a FER-TAGUS, S.A. onde a TEKBOX começou por pres-tar consultoria no licenciamento de descarga de águas residuais, seguidamente passou à exploração e manutenção da ETARI e ETA, com visitas regulares de manutenção, recolhendo amostras de água e monitorizando a quali-dade e eficiência do tratamento. Entretanto, foram já realizados estudos e obras de ins-talação de novas redes e de melhorias várias na ETA, ETARI e em todas as redes de água da instalação industrial otimizando o consu-mo de água: minimizando fugas, contabilizan-do volumes consumidos, medindo consumos energéticos de eletrobombas de captação e

B.I. TEKBOXNascimento 2000Localização Corroios, SeixalFoco Serviços técnicos ambientais, especializada no mercado das águasEquipa Engenheiros e técnicos multidisciplinares e especializados

“A FERTAGUS tem uma organização

especializada a acompanhar o assunto

da gestão da água

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PESSOAS E EMPRESAS

De Acácia para GroveA mudança de nome e imagem surge no se-guimento do crescimento da empresa para novos mercados e segmentos onde o nome “Acácia Química” não é facilmente pronunci-ável. A presença no mercado espanhol com a Grove Advanced Chemicals (España) S.L. e com escritórios em Madrid e Barcelona, e no curto prazo em outros países, está simboli-zada na transformação de uma única árvore (Acácia) num bosque (Grove).

Mercado nacional mas de olhos postos no exteriorA aposta centra-se na fidelização dos clientes e crescimento no mercado nacional, mas con-tinuando a investir nos mercados externos que tão bons resultados têm trazido à em-presa. Em qualquer tipo de ação, a filosofia da Grove é ser muito mais do que um vendedor de produtos químicos, prestando um servi-ço de acompanhamento regular, nas ETA ou ETAR, desde o revamping total até ao simples serviço de controlo analítico. Dado o negócio estar a crescer tanto geograficamente como em volume, vão encontrando novos parceiros que os acompanham na caminhada, tentando sempre que um elemento da Grove esteja pre-sente em todas as ações.

InovaçãoCoagulantes orgânicos vegetais. Tratar uma água poluída com um produto poluente pa-rece incorreto, mas é pratica comum. A Grove propõe a utilização de um produto ecologica-mente correto, um coagulante orgânico vege-tal, que não altera a alcalinidade do meio, que trabalha numa ampla faixa de pH, evitando o uso de bases ou ácidos e reduzindo o risco dos operadores. Os tratamentos fisico-químico e biológico ou sistemas de membranas a jusan-te também não são negativamente empacta-dos pelo Flox, que não altera a condutividade da água nem adiciona sais metálicos aos pro-cessos.

Alternativa “verde” no tratamento físico-químico de águas residuais de processo e consumo

Das águas de processo para as águas de con-sumoTêm vindo a realizar um trabalho conjunto desde setembro do ano passado com uma ETA municipal em que testaram o Flox em várias condições de turbidez e pH, com exce-lentes resultados. Uma vez mais, anulou-se a adição de ácido e floculante e não se acres-centou às lamas geradas qualquer tipo de contaminante. Economicamente, a solução é bastante competitiva. Embora o produto seja usado neste tipo de tratamento há vários anos e esteja certificado pelo N.S.F. (braço do F.D.A.) , esta certificação não é reconhecida na Europa. A Grove está a desenvolver esforços para que em breve possam ultrapassar este obstáculo, caso contrário irão aguardar pela inclusão do produto no REACH em 2013, no qual já têm o pré-registo.

Novos horizontesA gama de produtos Flox tem vindo a crescer no sentido de ir de encontro de todos os ni-chos do mercado. Na maior parte dos casos é possível combinar um produto ecologica-mente correto, sustentável e proveniente de fontes renováveis, com um custo final inferior comparativamente com os tratamentos con-vencionais, fator de enorme importância na conjuntura atual. A preocupação e respeito crescente pelo ambiente, a aceitação e o inte-resse que empresas e grupos têm em estar associadas a um ecoproduto, incentiva-os a explorar novos mercados. Até meados do pró-ximo ano esperam estar presentes no exigen-te mercado Alemão, Bélgica e Itália. No final de 2013, contam estar em nove países.

B.I. Grove Advanced Chemicals (Portugal) S.A. e Grove Advanced Chemicals (España) S.L.Nascimento janeiro de 2009Localização Portugal, Espanha e AngolaFoco Distribuição, comercialização e implementação de produtos da gama FLOX (coagulantes orgânicos de origem vegetal)Equipa Nove colaboradores (áreas Comercial, Técnica, Qualidade e Financeira)

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eventos

InDÚstRIA e AMBIente 68 MAIO/JUNHO 2011

CALENDÁRIO DE EVENTOS

As informações constantes deste calendário poderão sofrer alterações. Para confirmação oficial, contactar a organização.

Evento Temática Local Data Informações

WASTES Resíduos Braga 12 a 14 CvR-Centro para a valorização de Resíduos Portugal setembro www.wastes2011.org 2011EMO HAnnOvEr Feira de metalúrgica e metalomecânica Hannover 19 a 24 vDW Alemanha setembro www.emo-hannover.de 2011XIv COngrESSO MundIAl dA ÁguA Água Porto Galinhas 25 a 29 WRA Brasil setembro www.worldwatercongress.com 2011 SEMInÁrIO A vAlOrIzAçãO EnErgéTICA valorização de resíduos Gondomar 29 LIPoRdE rESíduOS Portugal setembro www.lipor.pt 2011 SEMInÁrIO gESTãO dA ÁguA Gestão da água Lisboa 29 Apemeta Portugal setembro http://apemeta.site.escritadigital.pt 2011COnfErênCIA nACIOnAl SObrE sustentabilidade Évora 28 a 30 APeASuSTEnTAbIlIdAdE nO SECTOr dO TurISMO Portugal outubro http://conferencias.apea.pt 2011EnEg 2011 encontro nacional de entidades gestoras santarém 22 a 24 APDA de água e saneamento Portugal novembro www.eneg2011.apda.pt 2011POlluTEC salão internacional de ambiente Paris 29 novembro Reed expositions França a 2 dezembro www.pollutec.com 2011

EMO Hannover 2011

vai decorrer de 19 a 24 de setembro em Hannover, na Alemanha, a eMo, uma das maiores feiras do ramo da metalurgia e metalomecânica da europa. estarão expos-tas empresas e fabricantes de máquinas-ferramentas das mais variadas áreas, desde alimentação, a habitação, a extração das matérias-primas até à geração de energia, entre outros.Durante a apresentação da Feira em Portugal que teve lugar no final de maio, no Porto, os responsáveis afirmaram que até ao momento estão confirmadas mais de 1900 em-presas, oriundas de cerca de 46 países, estando já ocupados 165000 m2 de área útil da exposição.A última edição de eMo aconteceu em 2007, contou com 2.120 expositores e atraiu mais de 166 000 visitantes profissionais vindos de 81 países. Deste total de visitantes, 67% eram provenientes do ramo industrial. Registou-se um valor de 4 mil milhões de enco-mendas na eMo 2007. “Pay-off interessante, excelentes contactos, excelente organização”, caracteriza Jorge Ferreira da empresa Palbit, uma das expositoras portuguesas em 2007, que já garantiu a sua presença este ano.

SUStENtAbIlIdAdE E EfIcIêNcIA ENErgétIcAsão temas em destaque na eMo Hannover 2011. segundo Wilfried schäfer, diretor exe-cutivo da vWD (Associação Alemã das Máquinas-Ferramenta) há uma preocupação entre os fabricantes das máquinas-ferramentas de integrarem teccnologias ambientais dire-cionadas para a poupança de água, eficiência energética, obedecendo à Diretiva eCo. Além disto, será também organizado, a par da feira, nos dias 20 e 21 de maio, o Congresso “Produção sustentável”, com palestrantes de empresas e universidades.

www.emo-hannover.de

ENEG 2011 Novos desafios para os serviços de águas

vai ter lugar de 22 a 24 de novembro, em santa-rém, mais um encontro nacional de entidades Gestoras de Água e saneamento – eneG 2011. o evento organizado pela Associação Portu-guesa de Distribuição e Drenagem de Águas (APDA) acontece em cada 2 anos e tem como objetivo partilhar informação e conhecimentos de relevo no setor da água em Portugal.este ano a Comissão organizadora do eneG 2011 – cujos trabalhos já se iniciaram – será presidida pelo eng.º Ascenso Pires e integra a Dra. Marina Ladeiras, o eng.º Arménio de Fi-gueiredo, o eng.º Pedro Clemente dos Reis, o eng.º nuno vitorino, o eng.º nelson Geada (em representação do Conselho Diretivo da APDA), o eng.º Paulo Rodrigues e a eng.ª Ana Antão (secretária-técnica).no programa estão previstas as apresenta-ções de comunicações, mesas redondas e um conjunto de outras iniciativas destinadas à análise e debate em torno dos principais te-mas que interessam ao setor das águas.

www.eneg2011.apda.pt

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ESTANTE

Estratégia Oceano Verde

A gestão ecológica é o grande tema deste livro, mais concretamente, pretende explicar como é que as empresas podem transformar a ameaça das alterações climáticas em oportunidades de negócio. Temas como as ameaças e oportunidades do ambiente, capitalismo e planeta saudável, colaboração das empresas com ONG para resolver problemas ambientais, são abordados nesta obra. Os autores defendem que o ambiente deve ser encarado como um negócio e apresentam 33 sugestões de ordem prática para uma gestão sustentável das empresas.

Autores: Miguel Pina e Cunha, Arménio Rego, Helena Gonçalves e Susana Frazão Pinheiro · ISBN: 9789724743042 Editora: Texto Editores · N.º de páginas: 440 · Data de Edição: 2011 · Preço: 22,90 €

PUB.

Biotecnologia, Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

Este livro aborda o conceito de desenvolvimento sustentável das Organizações no seu todo, po-tenciando processos de produção sustentáveis, baseados em aplicações biotecnológicas que vi-sem, direta ou indiretamente, a otimização dos processos, a utilização responsável dos recursos naturais e a valorização e tratamento de resíduos e efluentes, como forma de assegurar a pre-servação do Ambiente.“O conceito de desenvolvimento sustentável refere-se à capacidade dos produtores e industriais dotarem a sociedade atual de bens e serviços que satisfaçam as suas necessidades, sem que fique comprometida a satisfação das necessidades das gerações futuras”, é referido no prefácio.Escrito por docentes e investigadores na área de intervenção da biotecnologia pretende ser uma referência nas várias áreas de intervenção ligadas ao desenvolvimento sustentável.

Autores: Ana Isabel Ferraze Ana Cristina Rodrigues · ISBN: 9789728953812 · ISBN (e-Book): 9789728953805 Editora: Publindústria Edições Técnicas · N.º de páginas: 304 · Data de Edição: 2011 · Preço: 25,00 € · à venda em www.engebook.com

www.energytic.eu

O energytic.eu é uma iniciativa das PME do Norte de Portugal e da Galiza que surge no âmbito do projeto europeu ER-INNOVA e que tem como objetivo melhorar a competitividade das empresas através das TIC. O que se pretende com esta nova plataforma é, segundo os responsáveis, “dina-mizar a cooperação entre as empresas do setor em projetos conjuntos de inovação e promover nessas empresas a implementação do comércio eletrónico.”No energytic.eu as empresas poderão encontrar informação sobre projetos de I+D+i no setor das renováveis, informação sobre financiamentos disponíveis para PME no que toca a I+D, um mercado virtual de bens e serviços, um sistema de faturação eletrónica, entre outros. O próxi-mo passo será disponibilizar ferramentas 2.0 para facilitar e fomentar a comunicação entre os agentes registados.

Portal online para PME do setor das renováveis

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opINIão

A s Universidades por definição, são locais onde o ”saber” está instalado, onde os mais aptos intelectualmente deveriam estar a prestar serviço e a trabalhar na investigação científica e, por isso, deveriam ser o motor de

desenvolvimento do País. Da investigação científica deveriam resultar de imediato produtos e serviços que sejam vistos pela população civil como úteis, aplicáveis e comercializáveis no mercado e, em plano paralelo, a investigação pura – graças a esta; o mundo avança. o objetivo deste artigo não é falar do papel da Investigação pura das Universidades, com resultados muito positivos, mas refletir sobre o que não se faz.

Tendo em conta que Portugal pouco produz de valor acrescentado que faça a nossa economia crescer e que este problema não surgiu ontem, as Universidades poderiam e deveriam ter um papel crucial para a saída deste túnel em que nos encontramos. Embora a investigação possa envolver meios materiais avultados, tem que envolver maioritariamente Recursos Humanos de Exceção, ideias e projetos que façam com que os privados possam recorrer às Universidades pedindo-lhe produtos e serviços, e o contrário, as Universidades percebam o que a Sociedade Civil necessita. Chama-se saber vender ideias e rentabilizar os Recursos Humanos - o único valor efetivo dum país, que não se desvaloriza, nem sofre especulações dos mercados. Um criador de boas ideias faz sempre dinheiro, e um País que produza ideias e as saiba vender, é um País rico. Nem uma coisa nem outra.

Existem várias razões: a primeira e muito direta, ainda ninguém viu para já o seu salário não chegar a tempo e horas, muito embora tenham cortado 10% a todos os funcionários públicos, incluindo as Universidades - que tenha conhecimento, não houve uma debandada para o privado. Este é um dos grandes problemas a discutir, o valor do salário, forma de avaliação de desempenho, e forma de o remunerar.

A segunda prende-se com os modelos de avaliação dos financiamentos dos projetos de investigação. parece que são muito complexos e que existem jogos de poder intrincados.

No entanto, existe um “stress” comum em todos os “investigadores” que conheço e chama-se: “Eu tenho que publicar qualquer coisa”. Isto causa-me espécie, porque quem investiga, tem sempre muito para publicar e tem que se preocupar, não em arranjar o que escrever, mas onde cortar e resumir o que tem para escrever.

Avalia-se ainda o valor de um “investigador” pelo número de artigos que publica e onde publica, sendo que como em tudo cá e lá fora, existem sempre formas de publicar mais e mais e fazer que outros não publiquem quase nada…

Este modelo também tem que morrer, porque é potencialmente injusto e pode não valorizar quem tem valor. Mais justo seria, como era antigamente, onde os investigadores e/ou inventores arranjavam um mecenas que os patrocinava para que estes pudessem viver fazendo aquilo que sabiam. podemos hoje voltar a este modelo. Grupos económicos podem pagar e financiar Universidades em função das inovações que estas produzam, ficando com os direitos e patentes das invenções e/ou inovações, e criarem-se núcleos de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico a sério - e não cheques inovação e ”inventados” nos últimos meses, que irão contribuir Zero para o desenvolvimento do país.

o país, a Universidade, as Empresas e a Crise

Carlos Pedro FerreiraDiretor Geral

Grupo Sondar

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opINIão

A terceira prende-se com os recursos humanos existentes. Não há recursos de exceção.

Está a reformar-se uma geração que não foi substituída por outra à altura, porque não soube aprender [não a deixaram], porque nos últimos 20 anos, entrou-se por um caminho perigoso do facilitismo no ensino, que visou atirar-nos para lugares cimeiros na estatística da literacia e resultou nos milhares de analfabetos funcionais com canudo - como se não se viesse a descobrir mais cedo ou mais tarde a “fraude”, que nos atira para os lugares também cimeiros dos mais inaptos entre todos, como demonstram os indicadores económicos, e pior, como indica a ausência de solução para o problema a não ser gastarmos menos. Não aprendemos a pensar, e quem não sabe pensar não sabe trabalhar.

pertenço à geração que esteve no limite da transição do rigor para a bandalheira. Estávamos em 1988 e face aos maus resultados, numa disciplina base para a formação de gente capaz de vencer na vida, de toda uma Universidade, ia caindo o Carmo e a Trindade, e a Universidade cedeu e baixou a fasquia da dificuldade para que muitos pudessem avançar e no ano seguinte houvesse lugares sentados no anfiteatro onde decorria a disciplina.

Este foi o primeiro erro e o início do fim.

A quarta razão é o modelo de financiamento das Universidades, que não conheço em detalhe, mas não é preciso muito esforço para perceber que se uma Universidade recebe consoante o número de alunos que tem, aquelas onde o ensino seja mais simplificado, terão mais sucesso.

Raras exceções aquelas que não baixaram a fasquia e agora são reconhecidas por todos como as que formam melhores alunos.Neste modelo não se premeia a excelência, não vale a pena trabalhar porque os bons tiram 18 ou 19 com esforço, porque dar um dezanove “custa” mesmo a um tipo muito bom, e os mais ou menos tiram 17, coisa que não custa nada a dar. Raramente aparece um aluno excecional, mas a leitura das pautas levar-nos-ia a pensar que estamos em presença de alunos superdotados, se essas mesmas pautas tivessem 20 anos.

Destas quatro razões que apontei, tinha que resultar que, só por grande acaso, é que o país poderia estar bem e as empresas também.

Não temos gente capaz e só gente capaz pode ter ideias brilhantes, trabalhar com inteligência, ser empreendedora, ser capaz de bater com a porta e ir embora. Quando terminei o curso fui fazer o clássico da altura que foi “vender” aulas no liceu até arranjar um trabalho. Estávamos em 1996 e foi, do ponto de vista do “ócio”, o melhor ano da minha vida. Trabalhava 20 horas por semana, só de manhã, ganhava na altura cerca de 200 contos [1000 euros], em valores da época. Isto era um escândalo e nunca percebi os professores que se queixavam tanto, já na altura, da profissão, dos meninos e do trabalho… hoje trabalho isso em dia e meio e não me queixo.

Se acham que é demasiado trabalho e mal pago, porque não se vão embora?

Depois fui trabalhar para um Instituto ligado a uma Universidade. Correu tudo muito bem, trabalhava muito porque gostava,

porque era necessário, precisava de aprender, trabalhava 10 horas por dia, sem me queixar, nem a mim próprio, e quase todos os fins de semana lá estava eu, concentrado. Tarefa conseguida.

Mas um ano e meio mais tarde era hora de sair. porquê? Somente porque não concordava com quem mandava num conjunto de questões estratégicas do negócio. Não sei quem tinha razão, se eu ou ele, mas isso é irrelevante, tinha que sair, Eu, porque ele é que era o “patrão”.

Quem não concorda com quem manda tem que sair, ser empreendedor, e não andar a chatear toda a gente com a sua insatisfação.

Se tivesse resistido a um ímpeto de querer mais, não mais dinheiro, porque chegava, mas ao ímpeto de querer poder fazer mais e melhor, pelo menos à minha maneira, provavelmente ainda lá estava e hoje seria um acomodado, que fazia do trabalho uma tarefa repetida, dia após dia, teria mais tempo livre, uma vida relaxada e sem preocupações... até ontem, porque hoje há muita gente preocupada - e eu também, mas não pelas mesmas exatas razões - por não saberem o que fazer se lhes faltar o emprego, porque não fizeram mais e melhor, porque choraram por nada e agora choram e chamam por Deus, como se Ele pudesse salvar alguma coisa.

E esta é a angústia. Termos tanta gente que não sabe o que anda a fazer, o que andou a fazer e o que pode fazer para resolver os problemas do país que temos.

E se calhar temos as Universidades que merecemos, a investigação possível com a gente que formamos, onde para mim, e não sou totalmente analfabeto, tenho alguma dificuldade em vê-la ser eficaz, ou pelo menos visível para poder ser vendida e para que todos percebam porque a devemos financiar.

Melhor que fazer coisas boas é vender coisas possíveis.

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