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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA E FÍSICA ENGENHARIA DE ALIMENTOS INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO TÉRMICO NO VALOR NUTRICIONAL DO LEITE FLUIDO Giulianna Lara Rocha Orientadora: Prof a . Rosário de Maria Arouche Cobucci Trabalho de conclusão de curso apresentado à Universidade Católica de Goiás “UCG”, para obtenção do título de graduada em Engenharia de Alimentos. GOIÂNIA Goiás – Brasil Junho - 2004

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA E FÍSICA

ENGENHARIA DE ALIMENTOS

INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO TÉRMICO NO VALOR

NUTRICIONAL DO LEITE FLUIDO

Giulianna Lara Rocha

Orientadora: Profa. Rosário de Maria Arouche Cobucci

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Universidade Católica de Goiás “UCG”, para obtenção do título de graduada em Engenharia de Alimentos.

GOIÂNIA Goiás – Brasil Junho - 2004

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BANCA EXAMINADORA

APROVADO EM: ____/____/______

________________________________________ Profa. MSc. Rosário de Maria Arouche Cobucci

(ORIENTADORA)

________________________________________ Profa. MSc. Maria Ximena Vázquez F. Lima

(MEMBRO)

________________________________________ Prof. DS Carlos Stuart Coronel Palma.

(MEMBRO)

iii

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais, Assis e Rosilene, e a minha

madrinha Consuelo pelo esforço que fizeram para que eu pudesse concluir esta

caminhada. Ao meu irmão Gustavo pelas palavras de coragem e ao meu amor,

Raul, pelo apoio, carinho, cumplicidade e confiança durante estes anos de

faculdade.

iv

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos os professores pelos ensinamentos e dedicação.

Aos colegas, que de maneira direta ou indireta, me ajudaram na

graduação. Em especial a minha amiga Heloísa de Araújo por compartilhar

comigo estes longos anos de faculdade.

Agradeço à professora Rosário, por toda atenção, paciência e

orientação na elaboração deste TCC.

v

SUMÁRIO

Página

1 - INTRODUÇÃO.................................................................................................. 1

2 - REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................ 2

2.1 - CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DO LEITE ..................................... 2

2.2 - COMPOSIÇÃO E VALOR NUTRITIVO DO LEITE.......................................... 2

2.2.1 - ÁGUA........................................................................................................... 3

2.2.2 - LIPÍDIOS...................................................................................................... 4

2.2.3 - AS PROTEÍNAS DO LEITE ........................................................................ 5

2.2.3.1 - Caseínas................................................................................................... 5

2.2.3.2 - Proteínas do soro..................................................................................... 6

2.2.3.2.1 - Lactoalbumina........................................................................................ 6

2.2.3.2.2 - Lactoglobulinas...................................................................................... 7

2.2.3.3 - Aminoácidos............................................................................ ................. 8

2.2.4 - LACTOSE.............................................................................................. ...... 9

2.2.5 - SAIS MINERAIS.......................................................................................... 9

2.2.6 - VITAMINAS.................................................................................................11

2.2.7 - ENZIMAS................................................................................................ ... 12

2.3 - LEITE DE CONSUMO .................................................................................. 13

2.3.1 - LEITE CRU............................................................................................ .... 13

2.3.2 - LEITE TRATADO TERMICAMENTE......................................................... 13

2.3.2.1 - Pasteurização........................................................................................ . 14

2.3.2.2 - Esterilização........................................................................................ ... 16

2.3.2.2.1 - Sistema convencional ......................................................................... 17

2.3.2.2.2 - Sistema de fluxo contínuo ou UHT...................................................... 18

2.3.2.2.2.1 - Envase asséptico.............................................................................. 19

2.4 - MERCADO DO LEITE .................................................................................. 20

2.5 - DADOS DA EMPRESA................................................................................. 25

3 - UNIDADE EXPERIMENTAL........................................................................... 26

3.1 - DESCRIÇÃO DAS ETAPAS DO FLUXOGRAMA ......................................... 27

3.1.1 - RECEPÇÃO................................................................................................27

3.1.2 - PESAGEM OU MEDIÇÃO ........................................................................ 28

vi

3.1.3 - FILTRAÇÃO............................................... ............................................... 28

3.1.4 - RESFRIAMENTO................................... ................................................... 28

3.1.5 - ESTOCAGEM.............................. ............................................................. 29

3.1.6 - HOMOGENEIZAÇÃO................................................................................ 29

3.1.7 - TRATAMENTO TÉRMICO........................................................................ 29

3.1.7.1 - Pasteurização......................................................................................... 29

3.1.7.2 - Esterilização convencional ..................................................................... 30

3.1.7.3 - Esterilização UHT................................................................................... 30

3.1.8 - PADRONIZADORA......... .......................................................................... 32

3.1.9 - RESFRIAMENTO...................................................................................... 32

3.1.10 - ENVASAMENTO....................... .............................................................. 32

3.1.11 - DISTRIBUIÇÃO......................... .............................................................. 33

4 - RESULTADOS E DISCUSSÃO...................................................................... 34

4.1 - AÇÃO DO AQUECIMENTO SOBRE AS PROTEÍNAS ................................. 34

4.2 - LIPÍDIOS......................... ............................................................................. 36

4.3 - VITAMINAS........................ .......................................................................... 37

4.4 - MINERAIS........................... ......................................................................... 38

4.5 - LACTOSE.................................... ................................................................. 39

4.6 - ENZIMAS...................................................................................................... 40

5 - CONCLUSÃO ................................................................................................. 42

6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................... 43

vii

LISTA DE FIGURAS

Página FIGURA 1 - PRODUÇÃO DE LEITE LONGA VIDA NO BRASIL.............................................21

FIGURA 2 - FLUXOGRAMA DO BENEFICIAMENTO DO LEITE.............................................26

viii

LISTA DE TABELAS

Página

TABELA 1 - CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E QUÍMICAS DO LEITE ........................................ 2

TABELA 2 - COMPOSIÇÃO MÉDIA DO LEITE ................................................................... 3

TABELA 3 - QUANTIDADE DE AMINOÁCIDOS ESSENCIAIS PRESENTES NO LEITE ................ 8

TABELA 4 - PORCENTAGEM DE ELEMENTOS MINERAIS NO LEITE................................... 10

TABELA 5 - QUANTIDADE DE VITAMINAS PRESENTES NO LEITE ..................................... 11

TABELA 6 - EVOLUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DOS DIVERSOS TIPOS DE LEITE NO MERCADO

FORMAL DE LEITE FLUIDO NO BRASIL, EM PERCENTAGEM (%)...................................... 22

TABELA 7 - DESNATURAÇÃO DAS PROTEÍNAS DO SORO DURANTE O TRATAMENTO TÉRMICO

............................................................................................................................. 35

TABELA 8 - PERDAS DE LISINA APÓS OS TRATAMENTOS TÉRMICOS .............................. 36

TABELA 9 - FORMAÇÃO DE LACTONAS E METIL-CETONAS APÓS O TRATAMENTO TÉRMICO37

TABELA 10 - PERDAS DE VITAMINAS APÓS OS TRATAMENTOS TÉRMICOS ...................... 38

TABELA 11 - FORMAÇÃO DE LACTULOSE APÓS O TRATAMENTO TÉRMICO...................... 39

TABELA 12 - INATIVAÇÃO DAS PLASMINAS SEGUNDO O TRATMENTO TÉRMICO ............... 41

ix

INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO TÉRMICO NO VALOR NUTRICIONAL DO LEITE FLUIDO

Autora: Giulianna Lara Rocha

Orientadora: Prof. MSc. Rosário de Maria Arouche Cobucci

RESUMO

O leite é um alimento de alta importância na dieta diária, com a qual contribui fornecendo gorduras, carboidratos, proteínas, minerais e vitaminas. Antes de chegar ao consumidor, o leite é processado para destruir os microrganismos patogênicos presentes. Esses tratamentos, ainda que parciais, reduzem consideravelmente o seu valor nutritivo pela destruição ou remoção parcial de seus nutrientes. Com o objetivo de se identificar as perdas ocorridas durante os diferentes tratamentos térmicos, assim como as modificações nas características sensoriais fez-se um levantamento bibliográfico. Verificou-se também através da literatura qual tratamento térmico ocasiona maior perda nutricional no leite fluido. Assim, determinou-se através deste estudo que o leite pasteurizado, pelas características do processo ao qual é submetido possui menores perdas de nutrientes que o leite UHT, porém estas perdas nutritivas são na maioria dos casos pequenas e pouco importantes. Já em relação ao leite esterilizado pelo sistema convencional, as perdas neste caso são maiores, pois as modificações nutritivas variam consideravelmente em função da severidade do tratamento. No entanto, este método não é muito utilizado. O trabalho realizado mostrou que as características sensoriais e os teores nutritivos do leite são muito influenciados pelo tratamento térmico. Sendo maiores nos tratamentos térmicos mais severos.

1 - INTRODUÇÃO

O leite é um dos alimentos mais nutritivos que existem, sendo rico em

proteínas de alta qualidade e fornecendo todos os 10 aminoácidos essenciais,

assim como ácidos graxos, imunoglobinas e outros micronutrientes.

A maior parte do leite destinado ao consumo humano sofre tratamento

térmico, prevenindo problemas de saúde pública, relacionados à presença de

microrganismos patogênicos no leite cru. Os processos industriais comuns de

tratamento térmico para leites líquidos incluem a pasteurização e a esterilização.

Porém, estes processos destroem alguns nutrientes, especialmente as vitaminas

presentes naturalmente no leite. O valor da perda está relacionado ao nutriente e

ao método de processamento.

Assim, a influência do tratamento térmico no valor nutricional do leite

irá variar de acordo com o método utilizado. Este trabalho visa fazer um

levantamento bibliográfico para identificar as perdas nutricionais durante os

diferentes tratamentos térmicos, assim como as modificações nas características

sensoriais do leite. Verificando também qual tratamento térmico ocasiona maior

perda nutricional no leite.

A importância deste trabalho para o Engenheiro de Alimentos é que

através deste estudo pode-se conhecer os diferentes tratamentos térmicos ao

qual o leite é submetido e com isso escolher um método que irá garantir a sua

sanidade microbiológica, preservando ao máximo os seus nutrientes e suas

características sensoriais.

2 - REVISÃO DE LITERATURA

2.1 - CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DO LEITE

O leite é um liquido branco, opaco, duas vezes mais viscoso que a

água, de sabor ligeiramente açucarado e de odor pouco acentuado (Veisseyre,

1988).

A Tabela 1 apresenta as principais características físicas e químicas de

determinação imediata do leite. Estes valores se referem ao leite fresco e normal.

Tabela 1 - Características físicas e químicas do leite

Características físico-químicas Valores

Densidade a 15oC 1,030 a 1,034

Calor específico 0,93

Ponto de congelamento -0,55 oC

pH 6,5 a 6,6

Acidez expressada em gramas de ácido láctico por litro 1,6 a 1,8

Índice de refração a 20oC 1,35

Fonte: Veisseyre, 1988

2.2 - COMPOSIÇÃO E VALOR NUTRITIVO DO LEITE

O leite produzido pelo animal varia quanto ao volume e quanto à

relação entre os seus diversos componentes. As variações quanto à composição

do leite dependem dos fatores: espécie animal, raça, individualidade animal,

intervalo entre ordenhas, variação durante a ordenha, diferenças entre os quartos,

3

período de lactação, influência das estações, alimentação, temperatura, doenças,

idade do animal e condições climáticas (Pinheiro & Mosquim, 1991).

O leite é uma emulsão de glóbulos graxos, estabilizado por substâncias

albuminóides num soro que contém em solução: um açúcar - a lactose, matérias

protéicas, sais minerais e orgânicos e pequenas quantidades de vários produtos,

tais como: lecitina, uréia, aminoácidos, ácido cítrico, ácido láctico, ácido acético,

álcool, lactocromo, vitaminas, enzimas, e outros (Behmer, 1984).

A Tabela 2 apresenta a composição média do leite.

Tabela 2 - Composição média do leite

Componentes %

Água 85 –87,5

Lipídios 3,5 –4,2

Proteínas 3,3 –3,6

Lactose 4,4 –5,2

Sais minerais 0,7 – 0,9

Enzimas e vitaminas traços

Fonte: Behmer, 1984.

De acordo com Pinheiro & Mosquim (1991) a importância do leite, sob

o ponto de vista nutricional, se deve a qualidade de suas proteínas, ao seu teor

elevado em cálcio, fósforo, magnésio e às vitaminas A, riboflavina e niacina, entre

outras.

2.2.1 - ÁGUA

A água constitui, em volume, o principal componente do leite. Entra em

média na percentagem de 87,5%, influindo sensivelmente na densidade do leite.

Como causa da variação da percentagem de água na composição do leite

salientam-se os seguintes fatores: a raça do gado e o tempo de lactação

(Behmer, 1984).

4

2.2.2 - LIPÍDIOS

Os lipídios são constituídos por uma mistura de substâncias

relativamente diversas, quanto à estrutura química, apresentando, como

característica comum, a solubilidade em solventes orgânicos e insolubilidade em

água. Os lipídios constituem qualitativa e quantitativamente a fração mais variável

do leite e pode modificar-se durante a ordenha, sendo que o primeiro leite é

relativamente magro (0,7%), enquanto que o último ordenhado é muito gordo

(11%) (Pinheiro & Mosquim, 1991).

Os lipídios encontrados no leite são classificados em saponificáveis e

insaponificáveis. No primeiro grupo encontram-se os glicerídeos, que por sua vez

classificam-se em simples, como a gordura, e em compostos como os fosfatídios,

lecitina e cefalina. Dentre os insaponificáveis encontramos as esterinas tais como

a colesterina e ergosterina, as vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) e os

lipocromos, como o caroteno (Pinheiro & Mosquim, 1991).

Sob o ponto de vista nutritivo, a gordura apresenta níveis apreciáveis

dos ácidos graxos essenciais linoléico e araquidônico. O ácido linoléico não é

sintetizado pelo organismo humano, o mesmo não ocorre com o linolênico e

araquidônico; que são sintetizados, a partir do primeiro (Pinheiro & Mosquim,

1991).

A matéria gorda do leite é formada de glóbulos de diversos tamanhos,

que se encontram em suspensão no líquido, dando-lhe aspecto emulsivo e opaco.

Tem o peso específico de 0,93 a 15oC, funde-se a 33oC e solidifica-se entre 20 a

25oC de temperatura. Por ser menos densa a matéria gorda flutua quando o leite

está em repouso, constituindo em grande parte o que se chama nata-creme

(Behmer, 1984).

A presença da gordura é um fator importante para determinar a

palatabilidade dos alimentos. A gordura láctea é particularmente importante neste

aspecto, porque contém um número alto de lipídios de tamanho molecular

pequeno, de ácidos gordurosos de cadeia curta e seus derivados que contribuem

ao sabor, aroma e no caso dos lipídios para a sensação na boca (Varnam &

Sutherland, 1995).

5

2.2.3 - AS PROTEÍNAS DO LEITE

As proteínas do leite vêm despertando interesse, cada vez maior, sob o

ponto de vista econômico e nutricional. A demanda crescente de derivados

lácteos providos de teores elevados deste componente, a exemplo de queijos e

outros produtos alimentícios, demonstra uma maior conscientização do povo

quanto ao uso de proteínas balanceadas, de sabor agradável e a baixo custo

(Pinheiro & Mosquim, 1991).

O reconhecimento do valor nutricional das proteínas lácteas advém do

fato delas conterem todos os aminoácidos essenciais ou indispensáveis nas

proporções requeridas para crescimento e manutenção do organismo humano.

Convém ressaltar que o leite de vaca contém duas vezes mais proteínas que o

leite humano (Pinheiro & Mosquim, 1991).

O leite contém aproximadamente, 3,3% de proteínas, das quais 85%

são constituídas pelas caseínas e 15% pelas proteínas do soro (Pinheiro &

Mosquim, 1991).

2.2.3.1 - Caseínas

As caseínas são um grupo de fosfoproteínas específicas do leite, que

apresentam baixa solubilidade em pH 4,6. São constituídas de micelas com 40 a

300 nm de diâmetro. As micelas são formadas por submicelas, grosseiramente

esférica, contendo agregados de várias moléculas de caseína, mantida unidas por

interações hidrofóbicas e pontes salinas. Fosfato de cálcio amorfo liga as

submicelas entre si, com participação de ésteres fosfatos. Desta forma, quase

todas as regiões nas moléculas de caseína têm mobilidades restritas (Silva &

Almeida, 2000).

As caseínas podem ser precipitáveis pela acidificação do leite, a 20 oC,

até pH 4,6 (ponto isoelétrico), quando libera os sais a ela associados. A

precipitação da caseína a temperaturas mais baixas é incompleta, aumentado a

perda devido a sua maior solubilidade (Pinheiro & Mosquim, 1991).

6

As caseínas do leite podem subdividir-se basicamente em 5 tipos,

caseínas α1, α2, β, γ e K. A caseína α1 compreende entre 39 a 46% do total das

proteínas. Esta caseína é muito sensível ao cálcio ao pH normal do leite

(aproximadamente 7) podendo ocorrer sua coagulação a qualquer temperatura. A

caseína α2 apresenta-se em quantidades modestas (8 a 11%), tem 207

aminoácidos e de 10 a 13 grupos fosfatos. Tem dois resíduos de cisteína e é

muito sensível ao cálcio, qualquer que seja a temperatura, devido a sua riqueza

em grupos fosfato. A caseína β é encontrada em quantidades importantes (25 a

35%), tem 209 aminoácidos, sem cisteína, porém com 5 grupos fosfato. É

sensível aos íons cálcio a temperatura ambiente, porém insensível à baixa

temperatura. As caseínas γ são o resultado da proteólise da caseína β por uma

protease alcalina do leite (plasmina). Esta fração representa de 3 a 7% das

proteínas. A caseína K compreende entre 8 a 15% e tem 169 aminoácidos. É

insensível ao cálcio e atua como estabilizadora da micela, graças à sua

solubilidade ao cálcio, independente da temperatura (Varnam & Sutherland,

1995).

2.2.3.2 - Proteínas do soro

As proteínas do soro são um conjunto de substâncias nitrogenadas que

não precipitam quando o pH do leite atinge 4,6, que corresponde ao ponto

isoelétrico (pHi) da caseína bruta. Por isto são denominados também de proteínas

solúveis. Encontram-se no soro que se separa do coágulo obtido por adição do

coalho. Representam aproximadamente 20% do total das proteínas do leite

(Veisseyre, 1988).

As proteínas do soro compreendem as lactoalbuminas e as

lactoglobulinas (Pinheiro & Mosquim, 1991).

2.2.3.2.1 - Lactoalbumina

A lactoalbumina ou albumina é inteiramente solúvel na água, não se

coagula pelo coalho, mas sim pelos ácidos e pelo calor. A albumina é a película

que se forma no leite logo após o seu cozimento, ou ainda, é ela a espuma que se

7

observa quando se está fervendo ou desnatando o leite. Representa 75% das

proteínas dos soros lácteos e 15% do total das proteínas do leite. É constituída

por α-lactoalbumina, β-lactoglobulina e soroalbumina (Behmer, 1984).

A α-lactoalbumina é muito solúvel em água e pH 6, porém é menos

solúvel na zona de pH 4-4,6. Representa cerca de 25% da fração das albuminas.

Desempenha atividade biológica, participando da síntese da lactose, como uma

das unidades protéicas da lactose síntetase, exercendo a função de proteína

modificadora; está presente em todos os leites que contém lactose (Veisseyre,

1988).

A β-lactoglobulina representa cerca de 60% da fração de albumina. É a

proteína mais abundante no soro (2 a 3g/l). É praticamente insolúvel em água,

mas solúvel em presença de sais. É desnaturada por tratamentos térmicos acima

de 65oC; sua estrutura é modificada expondo grupos nucleofílicos bastante

reativos (-SH e NH2) capazes de reagir com outras proteínas. A sua desnaturação

térmica pode causar a precipitação ou coagulação. A sua termoresistência é

inferior a da α-lactoalbumina (Pinheiro & Mosquim, 1991).

A soroalbumina é oriunda do sangue e solúvel em água, sendo

encontrada em concentrações mais elevadas no leite mastítico. A soroalbumina é

constituída por um único polipeptídeo com 585 aminoácidos, 17 ligações

dissulfídricas, um grupo sulfidrila livre. Sua resistência térmica é intermediária,

situando-se entre a de β-lactoglobulina (mais resistente) e a das imunoglobulinas

(menos resistentes). Representa aproximadamente de 5 a 6% da fração das

albuminas (Veisseyre, 1988).

2.2.3.2.2 - Lactoglobulinas As lactoglobulinas representam 10 a 12% das proteínas solúveis.

Apresentam uma atividade imunológica importante, por isso se chamam

imunoglobulinas (Veisseyre, 1988).

As imunoglobulinas do leite constituem uma fração protéica das mais

heterogêneas, diferenciando das outras proteínas, principalmente, quanto a sua

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função e a genética molecular envolvida na sua síntese (Pinheiro & Mosquim,

1991).

2.2.3.3 - Aminoácidos As proteínas, quando submetidas a tratamentos térmicos em meio

ácido ou básico, são hidrolisadas liberando suas unidades básicas constituintes,

os aminoácidos. Aproximadamente 20 aminoácidos constituem as proteínas mais

comuns (Pinheiro & Mosquim, 1991).

Os aminoácidos podem ser classificados, de acordo com as

necessidades do organismo animal em essenciais ou indispensáveis e em não

essenciais ou dispensáveis. O organismo animal é incapaz de sintetizar todos os

aminoácidos devido à ausência de sistemas enzimáticos próprios tornando

essencial ou indispensável sua presença na dieta (Pinheiro & Mosquim, 1991).

Os aminoácidos indispensáveis ao homem são em número de oito,

incluindo a histidina quando se tratar de criança. O leite possui todos estes

aminoácidos essenciais, conforme pode ser observado na Tabela 3.

Tabela 3 - Quantidade de aminoácidos essenciais presentes no leite.

Aminoácidos Necessidade do mg de aminoácidos/100g

essenciais adulto (mg/dia) de leite

Fenilanina 2200 140-228

Histidina - 59-110

Isoleucina 1400 167-240

Leucina 1200 312-490

Lisina 1600 184-338

Metionina 2200 70-140

Treonina 1000 136-176

Triptofano 500 43-70

Valina 1600 171-268

Fonte: Pinheiro & Mosquim, 1991.

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2.2.4 - LACTOSE

A lactose é um dissacarídeo característico do leite, sendo considerado

quase que exclusivo deste produto. Este carboidrato é obtido pela reação (ligação

covalente) de alfa ou da beta-glucose com a beta-galactose. A sua concentração,

embora relativamente constante, varia de 4,4 a 5,2% (média 5,0%), depende do

teor de sais no leite com os quais mantém a pressão osmótica igual à do sangue

(Pinheiro & Mosquim, 1991).

É utilizada como ingrediente alimentar devido as suas propriedades

estabilizantes de proteína e a seu baixo poder edulcorante, é menos doce que a

maioria dos açúcares mais comuns, permitindo o seu emprego em maiores

concentrações sem, contudo, tornar o produto enjoativo (Pinheiro & Mosquim,

1991).

A pouca solubilidade da lactose, cerca de 18% (18g em 100g de água)

e, conseqüentemente, a sua cristalização é importante sob o ponto de vista

tecnológico e influencia no rendimento industrial deste açúcar que utiliza como

matéria-prima o soro de queijo, no tipo de cristal formado e no corpo de diversos

produtos lácteos (Pinheiro & Mosquim, 1991).

A lactose é uma importante fonte de energia na dieta e pode facilitar a

absorção do cálcio. Porém, o uso de lactose como fonte de energia está limitado

pela porcentagem relativamente alta de pessoas intolerantes a lactose (Varnam &

Sutherland, 1995).

2.2.5 - SAIS MINERAIS

O leite contém, em níveis elevados (macroelementos) cloro, fósforo,

potássio, sódio, cálcio e magnésio e, em pequenas concentrações

(microelementos) o alumínio, bromo, zinco, manganês e ferro, de modo geral,

associados às proteínas do produto (Pinheiro & Mosquim, 1991).

A Tabela 4 apresenta as quantidades de minerais presentes no leite.

10

Tabela 4 - Porcentagem de elementos minerais no leite

Fonte: Pinheiro & Mosquim, 1991.

As características de qualidade dos produtos lácteos, um dos principais

itens da dieta de crianças, devido à qualidade de suas proteínas, e de seu teor

elevado em cálcio, magnésio e fósforo, embora pobres em cobre e ferro,

dependem muito da relação entre os seus diversos sais (Pinheiro & Mosquim,

1991).

A estabilidade das proteínas do leite depende dos sais em solução,

principalmente no que diz respeito aos íons cálcio, magnésio, fosfatos e citratos.

Qualquer desequilíbrio entre os níveis dos cátions bivalentes e dos ânions

polivalentes reduz a estabilidade da caseína (Pinheiro & Mosquim, 1991).

A estabilidade do leite pode diminuir devido a uma alta da atividade do

cálcio, uma baixa atividade de fosfatos e citratos e sucessivos tratamentos

térmicos. Com o aquecimento do leite, ocorre o deslocamento de parte do cálcio e

do fosfato solúvel para a fase coloidal. Isso leva à precipitação do fosfato

tricálcico, devido à sua pouca solubilidade a altas temperaturas (Silva & Almeida,

2000).

Elemento %

Cálcio 0,13

Fósforo 0,10

Potássio 0,15

Magnésio 0,012

Cloro 0,10

Sódio 0,05

Cobre 0,00002

Ferro 0,00005

Enxofre 0,03

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2.2.6 - VITAMINAS

O leite é uma fonte de vitaminas lipossolúveis, A, D e E, e de vitaminas

hidrossolúveis C, B1, B2, B6, ácido pantotênico, niacina, biotina e ácido fólico.

Contém a variedade mais completa de vitaminas, porém estas se encontram em

pequenas quantidades (Veisseyre, 1988).

O leite contribui significativamente para atender as necessidades de

vitamina A do homem e possui quantidades relativamente grandes de vitaminas

hidrossolúveis, como a vitamina B1 e B2, enquanto outras pouco contribuem para

atender as necessidades do homem, a exemplo da C e do ácido nicotínico

(Pinheiro & Mosquim, 1991).

A Tabela 5 mostra as quantidades de vitaminas presentes no leite.

Tabela 5 - Quantidade de vitaminas presentes no leite

Vitaminas mg/l de leite

Vitamina A 0,38

Vitamina B1 0,44

Vitamina B2 1,70

Vitamina B6 0,50

Vitamina B12 0,004

Vitamina C 15,00

Vitamina D 0,04

Vitamina E 0,98

Ácido pantotênico 0,30

Niacina 0,94

Biotina 0,035

Ac. Fólico 0,003

Fonte: Pinheiro & Mosquim, 1991.

12

2.2.7 - ENZIMAS

O leite contém diversas enzimas que possivelmente passam

incidentalmente do tecido glandular para este fluido durante a sua secreção.

Embora constituam uma pequena fração das proteínas do leite, algumas são

muito importantes sob o ponto de vista tecnológico, na estabilidade do leite;

enquanto outras só atuam em substratos não encontrados no leite. (Pinheiro &

Mosquim, 1991; Varnam & Sutherland, 1995).

As proteases e lipases podem afetar o aroma e sabor e a estabilidade

das proteínas do leite. As proteases são enzimas proteolíticas que degradam as

proteínas por hidrólise (quebra) de suas ligações polipeptídicas, liberando

aminoácidos. A lipase é uma lipoproteína, é a principal enzima lipolítica do leite. A

enzima encontra-se em quantidades elevadas no leite recém ordenhado, porém o

efeito protetor da membrana do glóbulo graxo faz com que a lipólise intensa

devido a lipase seja pouco freqüente. No entanto, ocasionalmente, se produz

lipólise espontânea, com uma rápida produção de ácidos graxos livres que se

associam aos aromas e sabores de ranço e sabão. A causa não é bem

conhecida, porque provavelmente se deve a uma combinação de diversos fatores,

entre eles a alimentação e o estado de lactação. A lipase é termolábil e por esta

razão, não é importante no leite tratado termicamente (Varnam & Sutherland,

1995).

A catalase é uma enzima que catalisa a decomposição do peróxido de

hidrogênio, até oxigênio e água. A fosfatase alcalina catalisa a hidrólise de

fosfatos orgânicos (ésteres) liberando o ácido fosfórico e álcool. A ausência desta

enzima no leite indica tratamento térmico correspondente, pelo menos, ao da

pasteurização. A lactoperoxidase não é destruída pela pasteurização lenta ou

rápida, mas só a temperaturas mais elevadas. A lactoperoxidase exerce ação

inibidora sobre os microrganismos devido à oxidação de grupos sulfidrílicos de

proteínas essenciais ao seu metabolismo. É usada como indicadora da

intensidade do tratamento térmico aplicado ao leite mais intenso que o da

pasteurização (Pinheiro & Mosquim, 1991).

13

2.3 - LEITE DE CONSUMO

Os leites destinados ao consumo humano podem classificar-se em

duas categorias, segundo o tratamento a que são submetidos (Amiot, 1991):

Leite cru: sem tratamento;

Leite tratado termicamente.

2.3.1 - LEITE CRU

O leite cru é um produto muito interessante do ponto de vista da

nutrição, e como não sofre nenhum tratamento de saneamento que lhe permita

assegurar uma melhor conservação, sua produção e sua comercialização devem

ser severamente controladas para evitar os riscos que podem ocasionar na saúde

(Luquet, 1993).

2.3.2 - LEITE TRATADO TERMICAMENTE

A maioria dos alimentos que são consumidos pelo homem, tanto os de

origem animal como de origem vegetal, contêm microrganismos que poderão ser

incorporados a esses alimentos, durante qualquer uma das etapas de sua

produção (Silva, 2000).

O emprego de temperaturas ligeiramente acima das máximas, que

permitem a multiplicação dos microrganismos, já é capaz de provocar a morte ou

a inativação de suas células vegetativas. Todavia, os esporos microbianos

geralmente sobrevivem a temperaturas muito mais elevadas, especialmente, os

esporos das bactérias. Estes esporos são muito mais resistentes do que

quaisquer outras formas de microrganismos. Tais esporos são os principais

organismos a serem destruídos durante os tratamentos térmicos, principalmente

na esterilização da grande maioria dos alimentos (Silva, 2000).

Os métodos de conservação, que utilizam o calor, visam principalmente

à eliminação dos microrganismos indesejáveis, que se encontram no alimento. A

14

aplicação dos processos de conservação pelo calor está condicionada ao grau

adequado de temperatura, ao tempo de sua exposição, às diferentes

características dos produtos a serem submetidos aos tratamentos, como também

a resistência térmica dos microrganismos a serem destruídos. A intensidade e o

tempo de exposição ao calor, além de sua vigorosa ação sobre os

microrganismos, poderão alterar também o valor nutritivo e modificar a natureza

histológica, física e química do alimento, reduzindo as suas qualidades sensoriais

e nutricionais, tornando-o inadequado ao consumo humano e conseqüentemente,

reduzindo o seu valor comercial. Portanto, a aplicação do calor como método de

conservação necessita de um rigoroso controle, sob pena de destruir o alimento,

ao invés de contribuir para a sua conservação (Silva, 2000).

Segundo o grau de tratamento térmico, que permite aumentar o tempo

de conservação, se distinguem dois tipos de leite, o leite pasteurizado submetido

ao tratamento térmico da pasteurização e o leite esterilizado, que utiliza o método

de conservação da esterilização (Amiot, 1991).

2.3.2.1 - Pasteurização

A pasteurização é um tratamento térmico que persegue duplo objetivo:

obter um leite saudável e prolongar sua vida útil. O processo de pasteurização

consiste na aplicação de um tratamento térmico no leite, com a finalidade de

destruir os microrganismos patogênicos e parte da flora banal do leite, evitando a

disseminação de doenças, preservando as características físico-químicas pela

destruição quase total de sua microbiota normal ou saprófita conjuntamente com

a inativação de algumas enzimas (Pinheiro & Mosquim, 1991).

É um tratamento térmico que destrói parte, mas não todas as células

vegetativas dos microrganismos presentes no alimento. Este tratamento é usado

quando processos mais rigorosos poderiam afetar as suas propriedades

sensoriais e nutricionais. É utilizado para destruir microrganismos patogênicos ou

deterioradores de baixa resistência ao calor (Amiot, 1991; Silva, 2000).

A pasteurização é um tratamento térmico relativamente suave

(temperaturas geralmente inferiores a 100oC), que é utilizado para prolongar a

15

vida útil dos alimentos durante vários dias ou vários meses. Este método, que

conserva os alimentos por inativação de suas enzimas e destruição dos

microrganismos termossensíveis (por exemplo: bactérias não esporuladas,

leveduras e mofos), provoca mudanças mínimas no valor nutritivo e nas

características sensoriais do alimento em questão (Silva, 2000).

A temperatura e o tempo empregados na pasteurização dependem de

vários fatores como: pH do alimento, sua composição química, resistência térmica

de enzimas e de microrganismos a serem destruídos, a resistência do próprio

alimento a altas temperaturas e a vida-de-prateleira que se deseja para o produto

depois da pasteurização (Silva, 2000).

As ”temperaturas e tempos” dos diversos processos de aquecimento

do leite foram organizados para serem suficientes para a destruição da Coxiella

burnetti, que é dos germes patogênicos um dos mais resistentes, sem, contudo

modificar os componentes do leite (Behmer, 1984).

Com relação ao tempo e a temperatura a ser utilizado, o processo pode

ser realizado de duas maneiras. A pasteurização lenta a baixas temperaturas,

denominado LTLT (Low Temperature Long Time) processo realizado em

temperaturas próximas de 63oC por 30 minutos e a pasteurização rápida a altas

temperaturas, esse processo é denominado HTST (High Temperature Short Time)

realizado a 72oC por 15 segundos (Silva, 2000; Varnam & Sutherland, 1995).

A pasteurização lenta é um processo de pouca utilização industrial,

continua sendo empregada a nível laboratorial e pelos pequenos produtores

rurais, na pasteurização do leite (Silva, 2000).

A pasteurização rápida tem sido largamente utilizada nas grandes

indústrias, principalmente nas que operam com grandes volumes como as usinas

de laticínios. Essa operação é realizada em trocadores de calor de placas ou de

tubos, sob alta pressão e resfriamento, logo depois do tratamento térmico, sendo

que, toda a operação é realizada no mesmo equipamento (Silva, 2000).

Imediatamente após a pasteurização, o produto deve ser

acondicionado em embalagens apropriadas, de acordo com o produto e com o

16

mercado a que se destina, para evitar a sua recontaminação Como a

pasteurização não elimina todos os microrganismos presentes, o alimento deve

ser mantido sob refrigeração, até sua utilização final (Silva, 2000).

2.3.2.2 - Esterilização

A esterilização pelo calor é a operação unitária na qual os alimentos

são aquecidos a uma temperatura suficientemente elevada, durante minutos ou

até mesmo segundos, para destruir microrganismos e inativar enzimas capazes

de deteriorar o produto durante o armazenamento. Os alimentos estabilizados por

este sistema possuem uma vida útil superior a seis meses. As melhoras nos

processos tecnológicos de esterilização têm a finalidade de reduzir efeitos não

desejados sobre os componentes nutritivos e as características sensoriais dos

alimentos, diminuindo o tempo de tratamento dos produtos envasados ou

esterilizados a granel em sistemas assépticos (Fellows, 1994).

A esterilização dos alimentos envasados provoca modificações tanto

no seu valor nutritivo como nas suas características sensoriais. Os melhores

processos são aqueles capazes de promover a eliminação de microrganismos

patogênicos e deterioradores e a inativação de enzimas, sem, contudo provocar

modificações indesejáveis nas características gerais das matérias-primas

submetidas ao tratamento (Silva, 2000).

Para definir o tempo de tratamento que deverá ser aplicado a um

alimento, faz-se necessário conhecer a resistência térmica, tanto dos

microrganismos como das enzimas presentes. É necessário ainda conhecer a

velocidade de penetração de calor, que é uma função de diversos parâmetros

assim como o estado físico do alimento. É importante conhecer também as

propriedades térmicas do alimento, do material de envase e o tamanho do

recipiente (Silva, 2000).

A temperatura de esterilização é aquela suficiente para conseguir a

morte térmica dos microrganismos. Nos processos de esterilização de alimentos,

os esporos, principalmente os bacterianos, oferecem uma resistência adicional à

perda de suas funções reprodutivas, portanto, a esterilização não elimina

17

totalmente a flora microbiana, restando, porém os microrganismos

termorresistentes e, conseqüentemente, os seus esporos, por este motivo, o

processo tem sido chamado de esterilização comercial (Silva, 2000).

O termo “esterilização comercial” indica que o alimento é

microbiologicamente estável, visto que os microrganismos que sobreviveram à

esterilização são espécies termófilas e só conseguem se desenvolver em

temperaturas superiores a 45oC e, portanto, não são capazes de se desenvolver

nas condições normais de armazenamento do leite (Silva, 2000).

É conveniente que a esterilização venha precedida por uma

pasteurização a alta temperatura, a pré-esterilização, destinada a eliminar a

maioria dos germes em condições térmicas mais toleráveis. É sabido que a

intensidade e a duração média de aquecimento a que tem sido submetido o leite

para sua esterilização depende em certa medida, de sua população microbiana e,

especialmente, do número de esporos (Varnam & Sutherland, 1995; Veisseyre,

1988).

Há pelo menos dois sistemas básicos de esterilização, o sistema

convencional e o sistema de fluxo contínuo ou UHT (Ultra High Temperature)

(Pinheiro & Mosquim, 1991).

2.3.2.2.1 - Sistema convencional

No sistema convencional, o leite é devidamente embalado em um

recipiente hermeticamente fechado, impermeável aos líquidos e aos

microrganismos e esterilizado depois de envasado por meio do calor, que deve

destruir as enzimas e os microrganismos patógenos. A esterilização se realiza a

uma temperatura de 109 a 120oC por um período de 15 a 40 minutos. Este

método é pouco utilizado nas indústrias (Pinheiro & Mosquim, 1991).

Na esterilização convencional, o produto já hermeticamente embalado

é aquecido por um período relativamente longo. O tempo de exposição é grande

devido à dificuldade de se submeter o ponto frio do produto, localizado no eixo

18

longitudinal e um pouco abaixo do seu centro geométrico, ao tratamento térmico

indispensável à sua esterilização (Pinheiro & Mosquim, 1991).

A esterilização convencional propicia o escurecimento do produto,

devido à reação de Maillard que envolve a condensação dos grupos amino dos

aminoácidos das proteínas com o grupo hemi-acetal da lactose, resultando em

sabor de cozido ou de caramelo, devido à decomposição dos polímeros

resultantes da reação (Pinheiro & Mosquim, 1991).

2.3.2.2.2 - Sistema de fluxo contínuo ou UHT

O leite UHT começou a ser fabricado para cobrir a demanda de um

leite que permaneceria estável durante um largo período de tempo armazenado a

temperatura ambiente e que ademais não apresentaria o desagradável gosto do

leite esterilizado em garrafas (Varnam & Sutherland, 1995).

O leite UHT é definido como leite homogeneizado, submetido durante 2

a 4 segundos a uma temperatura entre 130oC e 150oC, mediante um processo

térmico de fluxo contínuo, sendo imediatamente resfriado a temperatura inferior a

32oC, e envasado sob condições assépticas em embalagens estéreis e

hermeticamente fechadas (BRASIL, 1996).

Por esse processo as bactérias, inclusive as esporuladas, são

eliminadas. A esterilização absoluta não existe, uma vez que esporos

extremamente termorresistentes podem permanecer no produto, porém em

condições tais que não interferem na durabilidade do produto (Veisseyre, 1988).

O processamento UHT inicia-se com um pré-aquecimento e

desaeração do leite, pois a presença de oxigênio pode comprometer a viabilidade

de alguns nutrientes, logo em seguida deve ser utilizado o aquecimento (Neto et

al, 2002).

O método de esterilização em fluxo contínuo se baseia na eficácia

bacteriológica de um tratamento térmico a alta temperatura durante um tempo

muito curto. Os métodos de aquecimento utilizados para a esterilização UHT são

de dois tipos: aquecimento indireto em trocador de calor tubular ou de placas e

19

aquecimento direto por contato do leite com vapor de água quente (Veisseyre,

1988).

• Método de aquecimento indireto

No método de aquecimento indireto, há uma superfície de separação,

entre o elemento de aquecimento e o produto, por meio do qual se faz a

permutação de calor. A temperatura de esterilização é de 140 a 150oC por 3 a 5

segundos (Veisseyre, 1988).

• Método de aquecimento direto

No método de aquecimento direto o vapor pode ser injetado no

produto, fluindo para produzir a exigida temperatura de pasteurização,

temperatura na qual o leite deve ser pré-aquecido. Este processo causa uma

diluição, aproximadamente de 10% no volume do produto com o vapor

condensado. A diluição é compensada, durante o resfriamento, onde o produto

quente é borrifado, dentro de uma câmara de vácuo, para promover sua

evaporação. A temperatura de esterilização acontece à 138oC por 3 a 5 segundos

(Veisseyre, 1988).

Outra forma do método de aquecimento direto é o sistema por infusão,

no qual o leite é pulverizado na câmara de vapor. Instantaneamente, por

condensação de vapor, a temperatura do leite alcança 140 a 150oC. O produto

passa então para um segundo recinto (separador de vapor) que funciona através

do sistema de vácuo. O vapor condensado anteriormente se evapora ao descer

bruscamente a temperatura do leite até 70 a 75oC. Por último, o produto é

refrigerado mediante um trocador que funciona com água fria e água gelada

(Veisseyre, 1988).

2.3.2.2.2.1- Envase asséptico

Uma vez esterilizado, o leite deve manter-se num estado de assepsia

total: o sistema de tratamento pode conectar-se diretamente a uma ou mais

envasadoras (Amiot, 1991).

20

O acondicionamento asséptico consiste no envase do produto

comercialmente esterilizado na embalagem esterilizada, seguido de fechamento

hermético em meio asséptico, a fim de evitar a recontaminação microbiológica do

leite fluido no resfriamento após a esterilização e durante todo o período de

estocagem e distribuição. Como o leite esterilizado é um produto de larga

conservação, os recipientes de envase devem ser opacos, impermeáveis à água

e a gases, sem sabor e odor, resistentes aos pré-tratamentos térmicos e químicos

e de fácil utilização. A esterilização da embalagem pode ser feita por calor ou por

agentes químicos ou ainda uma combinação dos dois métodos (Veisseyre, 1988).

2.4 - MERCADO DO LEITE

O agronegócio do leite no Brasil, e o segmento de leite fluido, em

particular, têm passado por importantes transformações desde o início da década

de 90. A pecuária leiteira tem experimentado um intenso processo de

reorganização que pode aumentar sua competitividade frente à concorrência

externa. O setor está experimentando a desregulamentação após 45 anos (1945

a 1990) de rigoroso controle governamental no mercado de leite fluido, o

lançamento de novos produtos e derivados, a conformação do Mercado Comum

do Sul (MERCOSUL) e a abertura comercial generalizada (Martins et al, 2004).

Uma outra transformação importante consiste na crescente

participação relativa do leite longa vida no mercado nacional de leite fluido ao

longo da década de 90, em detrimento das demais categorias. A produção

nacional de longa vida, que em 1990 era de 184 milhões de litros, saltou para

2.450 milhões de litros em 1997, correspondendo a um incremento de 1.231,5%

ao longo do período. Isso proporcionou ao longa vida a conquista de uma maior

participação no mercado de leite fluido no Brasil, atingindo 49,3% em 1997,

enquanto em 1990 esta participação era de apenas 4,4% (Martins et al, 2004).

Em relação a esse aspecto, a expansão recente do mercado do leite

ultrapasteurizado (UHT), tipo longa vida, convém ressaltar que os argumentos em

favor do seu sucesso centralizam-se em elementos relacionados tanto a menores

custos logísticos, tais como distribuição e comercialização do produto final, em

21

função das características do produto, bem como na praticidade para o

consumidor. Em função desses e outros elementos, esse produto tem ocupado

um crescente espaço nas vendas de lácteos no mercado nacional. Por outro lado,

esses elementos podem também ter importância crescente no processo de

concentração do complexo lácteo brasileiro (Martins et al, 2004).

A produção brasileira de leite longa vida em escala comercial iniciou-se

em 1972, no Rio de Janeiro, com um volume da ordem de um milhão de litros,

apesar de já existir uma produção em pequena escala desde 1970. Desde então,

a expansão da produção desse tipo de leite fluido tem mostrado tendência de

crescimento, concentrando-se principalmente em Minas Gerais, São Paulo e

Bahia (Martins et al, 2004).

Pela Figura 1 registra-se a expansão da produção do leite longa vida

no Brasil no período de 1970 e 1997.

0

500

1000

1500

2000

2500

Milh

ões

de

Litr

os

1970 1974 1978 1982 1986 1990 1994Anos

Figura 1 - Produção de leite longa vida no Brasil (Martins et al, 2004).

Nota-se que essa produção de longa vida no País tem crescido

continuamente. No entanto, esse crescimento tornou-se mais acelerado a partir

de 1990. De 1990 para 1993 o crescimento da produção do leite

ultrapasteurizado foi de aproximadamente 110%. Estendendo-se esse período

para 1994, esta taxa aumenta para cerca de 312%, o que significa que a

produção quadruplicou nesse período. Obviamente, para que isso pudesse

ocorrer em tão pouco tempo, uma grande capacidade ociosa deveria existir nas

indústrias. Assim, comparando-se dados da capacidade real instalada em 1992

com a produção brasileira em 1991, constata-se um nível de ociosidade da ordem

de 65,4% (Martins et al, 2004).

22

Pela Tabela 6 pode-se obter uma melhor visualização da evolução

relativa do mercado de leite longa vida no Brasil em relação aos demais tipos de

leite fluido sob inspeção.

Tabela 6 - Evolução da participação dos diversos tipos de leite no mercado formal

de leite fluido no Brasil, em percentagem (%)

Tipo 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 A + B 8,9 12,2 10,8 15,5 12,5 12,9 10,0 8,0

C 86,7 82,6 79,9 72,1 65,8 60,8 52,0 42,7 Longa Vida 4,4 5,2 9,3 12,4 21,7 26,3 38,0 49,3

Fonte: Martins et al, 2004.

Além da crescente participação do leite longa vida no mercado de

fluidos, correspondendo a praticamente à metade, percebe-se também uma

sensível queda relativa do envase de leite tipos A, B e C, dando indícios de que

parte da matéria-prima destinada ao envase desses tipos de leite podem ter tido a

destinação final para a produção de longa vida. Um mercado emergente para o

qual não se dispõe de dados é o de leite A e orgânico, embora seja possível

afirmar que sua demanda é realizada basicamente por uma população com maior

poder aquisitivo e maior nível de esclarecimento do que os demandantes das

demais categorias de leite fluido (Martins et al, 2004).

O processo de ultrapasteurização, que tem a capacidade de prolongar

a vida útil do produto, bem como o tipo de embalagem, constituem-se em

importantes etapas para o bom desempenho do leite longa vida no mercado

brasileiro de leite fluido. Seu formato em caixa (tipo tijolo) de material semi-rígido

permite facilidades adicionais diante da embalagem convencional do leite

pasteurizado (sacos plásticos, tipo almofada, conhecida em algumas regiões

como “barriga mole”), permitindo maior facilidade de estocagem nas prateleiras

dos estabelecimentos comerciais e nas residências, otimizando espaço útil.

(Martins et al, 2004).

Outra característica importante do leite longa vida diz respeito ao fato

de esse produto não exigir refrigeração, podendo ser armazenado por três meses

ou mais enquanto fechado. Essa característica, do ponto de vista da distribuição e

23

comercialização do produto final, consiste numa vantagem expressiva em relação

dos demais tipos de leite fluido comercializados no mercado formal. Isto ocorre

por dispensar o uso de transporte refrigerado entre os diversos níveis de

mercado, bem como por dispensar o uso de refrigeração nos estabelecimentos de

distribuição varejista (Martins et al, 2004).

Do ponto de vista do consumidor, as facilidades em termos de

armazenamento do produto tendem a refletir diretamente na alteração dos seus

hábitos de compra de leite fluido. A comodidade de se deslocar semanal,

quinzenal ou mensalmente aos estabelecimentos comerciais para a aquisição do

produto, ao invés de diariamente, como ocorre geralmente no caso de aquisições

do leite pasteurizado, constitui-se num dos principais fatores promotores do

crescimento da participação de mercado do leite ultrapasteurizado, em detrimento

do leite pasteurizado (Martins et al, 2004).

O fato de o leite longa vida dispensar fervura é outro fator importante

do ponto de vista da demanda pelo produto, principalmente pelo aspecto

qualitativo relacionado ao menor tempo despendido nas atividades domésticas.

Como o leite pasteurizado carrega consigo a crença de que precisa ser fervido,

diferentemente do ultrapasteurizado, a praticidade de consumo do segundo

contribui para o estímulo ao crescimento de sua demanda, comparativamente ao

produto pasteurizado (Martins et al, 2004).

O substituto mais próximo para o leite longa vida é, sem dúvida, o leite

pasteurizado, no que se refere às características físicas desses produtos. Porém,

no que diz respeito a preços, o leite longa vida, a princípio, não é concorrente

direto do leite pasteurizado tipo C, que por muito tempo foi o mais consumido pela

população brasileira (Martins et al, 2004).

O leite pasteurizado tipo B é o que se caracteriza como o principal

concorrente do leite longa vida no que diz respeito exclusivamente a preços.

Mesmo assim o longa vida tem, em geral, apresentado preço sempre superior ao

leite B. Entretanto, as facilidades relacionadas às características de

comercialização e consumo do longa vida tem promovido a expansão relativa do

mercado desse produto em relação ao leite tipo B (Martins et al, 2004).

24

Não obstante o leite longa vida não seja concorrente direto do leite C

em relação a preços, conforme mencionado, tem-se percebido que esse produto,

pelas suas características de praticidade ao consumidor, tem conquistado espaço

expressivo no mercado de fluido relativamente ao leite tipo C. Retornando aos

dados da Tabela 6, pode-se notar uma sensível retração da participação do leite

C no mercado de fluido, acompanhado de uma elevação em proporções ainda

maiores da participação do longa vida (Martins et al, 2004).

Um fator importante no que diz respeito à formação de preços do leite

longa vida refere-se à tributação relativamente mais elevada que incide sobre o

produto quando comparada aos demais tipos de leite fluido. A maior tributação

sobre o leite longa vida tem contribuído significativamente para que o produto não

consiga, ainda, atingir preços mais próximos ao leite pasteurizado tipos B e C.

Uma avaliação comparativa dos preços do leite longa vida diante dos demais

tipos de leite fluido é dificultada pelo recente crescimento de importância que esse

produto obteve na demanda do consumidor (Martins et al, 2004).

No caso de países já tradicionalmente consumidores do produto, a

participação no mercado de leite é bastante superior, na França, 79% do leite

consumido é longa vida; em Portugal 57%, na Itália e Bélgica, 55%. Na Alemanha

o consumo é também superior a 50%. Na Inglaterra, a tradição do leite

pasteurizado em garrafas, ou cartão, entregue de porta em porta, limita o

consumo de longa vida, que vem sendo introduzido lentamente (Martins et al,

2004).

É importante salientar ainda que, além de todas as características de

praticidade relacionadas ao consumo e distribuição de leite longa vida, as

condições climáticas brasileiras, comparativamente às dos países europeus são

muito mais propícias à substituição do leite pasteurizado pelo leite longa vida. A

temperatura ambiente mais elevada no Brasil comparativamente com os países

tradicionalmente mencionados anteriormente, contribui para que o leite

pasteurizado deteriore mais rapidamente, conduzindo a um menor tempo de

conservação do produto. Essa maior perecibilidade do leite pasteurizado gera

uma inconveniência ao consumidor que precisa se dirigir com maior freqüência

aos estabelecimentos comerciais para aquisição deste produto, bem como o

25

coloca mais sujeito a perdas financeiras com a deterioração do produto (Martins

et al, 2004).

Essas características de comercialização e consumo associadas ao

leite longa vida levam a crer que há uma tendência à continuidade da expansão

do mercado para esse tipo de leite no Brasil e da substituição do leite

pasteurizado pelo produto longa vida (Martins et al, 2004).

2.5 - DADOS DA EMPRESA

O estágio foi realizado na Doce maior Confeitaria Indústria e Comércio

LTDA, com sede na Av 86 no 92 Setor Sul, Goiânia-GO.Inaugurada em 26 de

setembro de 1997, com o ramo de atividades em confeitaria, produção de tortas,

bolos, docinhos, quitandas, panificação, salgados, sobremesas e congelados.

Atualmente possui 60 funcionários divididos nas áreas de confeitaria, padaria,

fabricação de salgados, na loja onde são comercializados seus produtos e os

entregadores.

RECEPÇÃO

3 - UNIDADE EXPERIMENTAL

O beneficiamento do leite envolve uma série de operações que visam

preservar as suas qualidades físicas, químicas, sensoriais e bacteriológicas,

assegurando, ao consumidor qualidade constante e período de validade mais

longo (Pinheiro & Mosquim, 1991).

Dentre os diversos tratamentos a que o leite é submetido, desde a

recepção até o consumo, incluem os constantes do fluxograma da Figura 2.

Latões → Caminhões tanques Resfriamento

na fazenda

Lavador de latões Lavador de caminhões

PESAGEM OU MEDIÇÃO

FILTRAÇÃO

RESFRIAMENTO

ESTOCAGEM

TRATAMENTO TÉRMICOHomogeneizador Padronizadora

Creme

A

27

RESFRIAMENTO

ENVASAMENTO

DISTRIBUIÇÃO

A

Figura 2 – Fluxograma do beneficiamento do leite (Pinheiro & Mosquim, 1991).

3.1 - DESCRIÇÃO DAS ETAPAS DO FLUXOGRAMA

3.1.1 - Recepção

O leite é transportado, da fazenda até os postos de resfriamento e

usina de beneficiamento, na maioria das vezes, em latões e, em caminhões

tanques isotérmicos, quando resfriado na fazenda ou em postos de resfriamento

(Pinheiro & Mosquim, 1991).

Segundo as mudanças previstas na portaria no 56 do Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que deverá entrar em vigor a

partir de 2005, será exigido o resfriamento do leite na fazenda e o transporte

deverá ser feito a granel da fazenda até a plataforma (Balint, 2002).

O leite procedente de fazendas leiteiras, quando é recebido na

plataforma é submetido a um rigoroso controle de qualidade. No laboratório são

realizadas diversas análises físico-químicas e bacteriológicas. As análises são

supervisionadas pelo Serviço de Inspeção Federal do Ministério da Agricultura,

que mantém fiscalização permanente na indústria (Análises físico-químicas do

leite, 2004).

Só pode ser beneficiado o leite considerado normal, sendo proibido o

beneficiamento do leite que: provenha de propriedade interditada; revele presença

de germes patogênicos; esteja adulterado ou fraudado, revele presença de

28

colostro ou leite de retenção, que apresente modificações em suas propriedades

sensoriais, inclusive impurezas de qualquer natureza e acidez inferior a 15°D

(quinze graus Dornic), ou superior a 20°D (vinte graus Dornic) e que não coagule

pela prova do álcool ou do alizarol (Análises físico-químicas do leite, 2004).

A lavagem dos latões e dos tanque isotérmicos deve ser feita com

água morna e detergente. Em seguida é feito o enxágüe visando à remoção de

resíduos da solução de lavagem e a aderência de resíduos lácteos nestes

recipientes (Pinheiro & Mosquim, 1991).

3.1.2 - Pesagem ou medição

A medição do leite recebido pode ser feita por pesagem e volumetria. A

pesagem constitui o método mais rápido e preciso de medição. As balanças são

graduadas em litros, considerando a densidade do leite igual a 1,030 (constante)

e dimensionadas para executar a tarefa num período de três horas. A medida

volumétrica do leite é realizada de forma contínua, com medidores que podem ser

aferidos e zeráveis manualmente (Pinheiro & Mosquim, 1991).

3.1.3 - Filtração

Entende-se por filtração a retirada das impurezas do leite mediante a

centrifugação ou passagem por tela milimétrica, ou ainda, em tecido filtrante

próprio. A filtração remove as sujidades visíveis do leite, constituinte

principalmente por cabelos, fibras vegetais e diversas substâncias insolúveis que

contribuem para o desgaste de peças móveis dos equipamentos. Todo leite

destinado ao consumo deve ser filtrado, antes de qualquer outra operação de

beneficiamento (Pinheiro & Mosquim, 1991).

3.1.4 - Resfriamento

O leite deve ser resfriado logo após a filtração para minimizar a

alteração de seus componentes promovida por microrganismos, caso não seja

imediatamente pasteurizado. Esta última opção resulta em economia de energia,

29

tanto de aquecimento como de resfriamento, devendo ser adotada sempre que

possível. Esta opção depende, entretanto, de um fluxo contínuo de leite para se

evitar descontinuidade de operação do pasteurizador, o que nem sempre é

possível, devido às interrupções na recepção que é, na maioria das vezes,

intermitente (Pinheiro & Mosquim, 1991).

3.1.5 - Estocagem

A estocagem do leite, apesar de não ser microbiologicamente

recomendável, é feita para facilitar o seu beneficiamento e elaboração de

derivados. O leite é estocado sob refrigeração à 5oC (Pinheiro & Mosquim, 1991).

3.1.6 - Homogeneização

Consiste em forçar o leite, a pressões elevadas, através de uma

pequena abertura, ligeiramente maior do que o diâmetro do glóbulo de gordura, a

velocidades elevadas. A homogeneização rompe os glóbulos de gordura,

subdividindo-os em glóbulos de menor diâmetro (Pinheiro & Mosquim, 1991).

Caso um leite tenha sido submetido a este processo isso deverá vir

expressamente referido na embalagem, caso do leite UHT, o qual é

obrigatoriamente homogeneizado, pois é essencial para a sua estabilidade

(Pinheiro & Mosquim, 1991).

3.1.7 - Tratamento térmico

3.1.7.1 - Pasteurização

Existem, também vários tipos de aparelhos pasteurizadores, porém o

mais eficiente é o aparelho de placas. Neste aparelho o leite circula pelas estrias

e canais, formados entre tubos e placas, onde o leite recebe calor (produzido por

vapor de água), e frio respectivamente. Através desse processo o leite é aquecido

à temperatura de 72 a 75 oC durante 15 a 20 segundos e, em seguida, resfriado a

temperatura de 3 a 5 oC. O equipamento possui um sistema de retenção e uma

30

válvula de retorno (válvula de segurança). Estes mecanismos garantem a

permanência do leite durante 15 segundos a temperatura de pasteurização e caso

ocorra alguma falha no processo, a válvula de retorno faz com que o leite não

pasteurizado devidamente seja desviado para o início do processo (Varnam &

Sutherland, 1995).

3.1.7.2 - Esterilização convencional

O leite é submetido a um tratamento térmico mais drástico. Em primeiro

lugar é sujeito a uma pré-esterilização durante 3 a 4 segundos a uma temperatura

entre 130-140ºC, destinado a eliminar a maioria dos microrganismos em

condições térmicas mais toleráveis. Após arrefecimento e embalamento

hermético, o produto é novamente aquecido entre 110-120ºC ao longo de cerca

de 15 minutos em autoclaves, alimentadas descontinua ou continuamente

(Veisseyre, 1988).

O primeiro modo de alimentação é sempre por vapor, os recipientes

permanecem imóveis. O resfriamento é progressivo por aspersão de água morna

e fria. Tem-se uma larga duração do tratamento térmico, resultando num produto

mais escuro. Na alimentação contínua o aquecimento é feito por água e vapor, os

recipientes permanecem em movimento e tem-se menor duração do tratamento,

reduzindo o escurecimento do produto final (Veisseyre, 1988).

3.1.7.3 - Esterilização UHT

O sistema de esterilização UHT pode ser indireto (UHT tubular e de

placas) ou direto (por injeção de vapor ou por infusão) (Varnam & Sutherland,

1995).

No aquecimento indireto o leite é submetido a trocadores de calor

tubulares ou de placas, muito parecido aos utilizados para a pasteurização. O leite

sofre um pré-aquecimento a uma temperatura entre 65 e 75oC por troca de calor

com o leite que sai da seção de regeneração. Depois passa por um

homogeneizador que o impele para pressionar à seção de esterilização (140 a

31

145oC) e, finalmente, a seção de resfriamento, onde em uma primeira etapa

circula a uma pressão que o faz passar por uma válvula que freia a saída do leite

com o fim de assegurar uma contra-pressão, necessária para evitar a ebulição do

leite na seção de esterilização. Em seguida, passa na segunda seção de

resfriamento onde é resfriado, à 89oC (Varnam & Sutherland, 1995).

Ás vezes, antes do aquecimento final, coloca-se um desaerador com o

fim de eliminar o oxigênio dissolvido e os maus odores (Varnam & Sutherland,

1995).

No aquecimento direto por injeção de vapor, o leite é aquecido a uma

temperatura entre 40 e 50oC e depois é desaerado e desodorizado mediante a

passagem por um recipiente desaerador fechado e submetido a vácuo. Na saída

deste desaerador, o leite é pré-aquecido à 80oC em um trocador, e vai para o

aparato de uperização. A injeção de vapor de água a 13 atmosferas de pressão

eleva a temperatura imediatamente do produto para 150 a 160oC.

Subseqüentemente, em uma câmara de expansão refrigerada e a pressão inferior

a da atmosfera, o vapor perde pressão e o leite é pulverizado por choque violento

contra as paredes, fazendo com o que os glóbulos gordurosos não possam

ascender à superfície. Na câmara de expansão, o leite perde o vapor de água

previamente com que esteve misturado (Veisseyre, 1988).

Pode ser feito o controle da vaporização regulando a instalação de

forma que a temperatura do leite na saída seja aproximadamente dois graus

abaixo da temperatura que teve imediatamente antes da injeção do vapor. Nestas

condições, a evaporação compensa a condensação e o conteúdo de matéria seca

do leite alcança sua taxa normal novamente. A refrigeração é completada por

meio da passagem por um trocador que funciona com água fria. Deve-se ressaltar

que o procedimento atual de uperização apresenta algumas diferenças com

relação ao original. Deste modo, na saída da câmara de expansão, o leite está

comprimido em um homogeneizador que trabalha a 300-350 bares, antes de

atravessar o trocador de água fria. Por outro lado o leite é pré-aquecido a 75oC

antes de ser submetido à injeção do vapor (Veisseyre, 1988).

32

No aquecimento direto por infusão, o leite é aspirado por uma bomba e

passa por um aquecedor tubular. Ao alcançar uns 75oC é finamente pulverizado

numa câmara de vapor (sistema de jatos), e imediatamente, por condensação de

vapor, a temperatura do leite alcança 145-150oC. O produto passa seguidamente

a uma câmara de vácuo. Neste recinto tem-se um refrigerador por expansão e o

leite se resfria numa fração de segundos até 75oC. O vapor de expansão se

condensa no aquecedor e cede assim a este seu calor latente. A bomba de vácuo

evacua a água de condensação, o leite é extraído do recinto por uma bomba

centrífuga e é lançado aos refrigeradores e saem estéreis a uma temperatura

entre 5 e 8 oC (Veisseyre, 1988).

3.1.8 - Padronizadora

É um tipo de centrífuga que regula a quantidade de gordura para

resultar em leite integral, semi desnatado ou desnatado. Possui um dispositivo

onde o leite desnatado é reincorporado no creme (Pinheiro & Mosquim, 1991).

3.1.9 - Resfriamento

Após o tratamento térmico o leite deve ser imediatamente resfriado. A

refrigeração do leite a uma temperatura próxima a seu ponto de congelação

prolonga seu tempo de conservação (Pinheiro & Mosquim, 1991).

3.1.10 - Envasamento

O leite pasteurizado pode ser acondicionado em embalagem plástica

flexível, pigmentada, capaz de conferir proteção à luz, em garrafas de vidro e em

envases de cartão forradas de plástico. A embalagem deve ter determinadas

características: ser atrativa, proteger eficazmente o produto contra agressões

físicas, luz e calor deve ser fácil de abrir, preservar o conteúdo de odores e

sabores estranhos O leite esterilizado em sistema convencional pode ser

envasado assepticamente em garrafas estéreis, porém é mais freqüente combinar

o tratamento térmico contínuo com um tratamento adicional na autoclave depois

de envasado (Alves et al, 1994).

33

O envase do leite UHT é uma etapa de fundamental importância, pois

não pode comprometer a integridade do produto, que foi ultrapasteurizado. É

fundamental que não haja qualquer contaminação durante o envase, portanto o

envase deve ser realizado em condições completamente assépticas. O envase

asséptico tem como princípio o envase, em atmosfera estéril, do leite

ultrapasteurizado em embalagens que passaram por um processo adequado de

assepsia (Alves et al, 1994).

A assepsia da embalagem é feita com um banho de água oxigenada

(hidroperóxido H2O2). Depois, a embalagem é submetida a um jato de ar quente a

270ºC. Com essa temperatura, o hidroperóxido é totalmente evaporado e nenhum

resíduo fica na embalagem, além de fazer a sua esterilização final. É um processo

seguro, inerte e que não faz mal à saúde (Alves et al, 1994).

A embalagem preserva o leite, tornando-o longa-vida porque possui 6

camadas que formam uma verdadeira barreira protetora. A primeira, de

polietileno, tem a função de impermeabilizar; a segunda, de papelão duplex, dá

forma; a terceira, de polietileno, reforça a impermeabilização; a quarta, de

alumínio, isola o conteúdo de qualquer ação da luz e dos gases do meio

ambiente; as duas últimas também de polietileno impedem que o alimento entre

em contato com o alumínio. O resultado é uma embalagem totalmente vedada

que protege o leite (Alves et al, 1994).

3.1.11 - Distribuição

O leite pasteurizado deve ficar armazenado a uma temperatura de

aproximadamente 1oC até a sua distribuição. Esta deve ser feita em caminhões

frigoríficos em um curto espaço de tempo e com um controle rigoroso da

temperatura. Já o leite UHT pode ser mantido fora da geladeira, antes de aberto,

por até 180 dias depois do envase (Pinheiro & Mosquim, 1991).

4 - RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste item será descrito as perdas nutricionais do leite, submetido aos

diferentes tratamentos térmicos, e as modificações causadas nas suas

características sensoriais.

O comportamento do leite submetido ao aquecimento é função não

somente da temperatura alcançada, mas também da duração do aquecimento. O

aquecimento do leite acarreta numerosas conseqüências, entre as quais podemos

citar por sua maior importância:

• Modificação da estabilidade da solução coloidal e da emulsão

graxa;

• Modificação de cor e sabor;

• Diminuição do conteúdo em biocatalizadores.

Estas transformações são o resultado de ações complexas sobre os

diversos componentes do leite (Veisseyre, 1988).

4.1 - AÇÃO DO AQUECIMENTO SOBRE AS PROTEÍNAS

O tratamento térmico do leite origina a desnaturação das proteínas do

soro. O efeito varia dependendo da severidade do aquecimento desde a

desnaturação parcial durante a pasteurização até a total na esterilização

convencional. As imunoglobulinas são as proteínas mais lábeis e em ordem

crescente de estabilidade, a albumina sérica, β- lactoglobulina e α-lactoalbumina

(Varnam & Sutherland, 1995).

35

A desnaturação das proteínas do soro desempenha um importante

papel no desenvolvimento do aroma de cozido. Este aroma não é perceptível no

leite pasteurizado HTST, porém forma parte do sabor característico do leite

esterilizado (Varnam & Sutherland, 1995).

A desnaturação é tão mais importante quanto mais alta a temperatura.

Pode constatar-se que uma pasteurização realizada em condições ótimas não

ocasiona uma desnaturação apreciável. No leite pasteurizado podem ocorrer

maiores perdas por ação de luz, sendo os aminoácidos mais afetados a

metionina, triptofano e a tirosina. A esterilização convencional, em autoclave,

provoca a máxima desnaturação. Já o aquecimento UHT Direto não desnatura

mais do que 60% das proteínas do lactosoro, o que não afeta o valor biológico

das mesmas, apenas desfazem parte de sua conformação globular, podendo

tornar-se até mais digerível (Varnam & Sutherland, 1995; Veisseyre, 1988).

A Tabela 7 mostra a desnaturação das proteínas solúveis do leite.

Tabela 7 - Desnaturação das proteínas do soro durante o tratamento

térmico

Tratamento térmico %

Pasteurização 11

UHT Direto 50

UHT Indireto 90

Esterilização mediante autoclaves 100

Fonte: Varnam & Sutherland, 1995

As caseínas não se comportam, frente ao aquecimento, como as

proteínas solúveis. Para poder constatar alguma modificação, é necessário o

aquecimento a temperaturas muito elevadas, superiores a 120oC, durante 10

minutos (Veisseyre, 1988).

Após a pasteurização observam-se perdas do aminoácido lisina,

decorrentes da Reação de Maillard, na qual grupamentos amina de alguns

aminoácidos unem-se a lactose, que tem um paralelismo entre a sua intensidade,

a temperatura do tratamento térmico e o valor nutricional do leite. Quanto maior a

36

temperatura utilizada durante o tratamento térmico, maior a velocidade da Reação

de Maillard e, portanto maiores as perdas de lisina. As perdas de lisina podem

chegar a 4% por tratamento UHT direto e por volta de 5,5% pelo UHT indireto. As

perdas de lisina na pasteurização são de aproximadamente 1 a 2%, podendo ter

maiores perdas por ação da luz (Varnam & Sutherland, 1995).

As perdas de lisina na pasteurização em relação aos outros

tratamentos térmicos são pequenas, como pode ser observado na Tabela 8.

Tabela 8 - Perdas de lisina após os tratamentos térmicos

Produto % Lisinas

Leite Pasteurizado 1–2%

Leite UHT Direto 4%

Leite UHT Indireto 5,5%

Leite Esterilizado (sistema convencional) 13%

Fonte: Varnam & Sutherland, 1995.

4.2 - LIPÍDIOS

Os componentes da matéria gorda são pouco sensíveis aos

tratamentos térmicos moderados. É preciso alcançar temperaturas muito

superiores a 100oC e realizar um aquecimento prolongado durante várias horas a

70-80oC para detectar uma degradação dos glicerídeos que se traduzem pela

formação de δ-lactonas, a partir da hidrolização dos hidroxiácidos graxos. Pode

evidenciar-se a formação de metil cetonas a partir dos ácidos β-cetônicos

procedentes da hidrólise dos glicerídeos (Veisseyre, 1988).

Estes produtos não são desejáveis, pois alteram o sabor do leite. As

quantidades presentes no leite pasteurizado são pequenas em comparação com

as quais se encontra o leite que foi submetido a tratamentos térmicos mais

severos e no caso das metil-cetonas, as quantidades presentes são somente um

pouco superiores as que se encontram no leite não aquecido (Varnam &

Sutherland, 1995; Veisseyre, 1988).

37

A Tabela 9 mostra a quantidade de lactonas e metil-cetonas formadas

durante os tratamentos térmicos.

Tabela 9 - Formação de lactonas e metil-cetonas após o tratamento

térmico

Produto Lactonas e metil cetonas (nmol/g de gordura)

Leite pasteurizado 12

Leite UHT 21

Leite esterilizado em recipientes herméticos 100

Fonte: Varnam & Sutherland, 1995

No leite UHT se encontram níveis mais altos de ácidos graxos livres, e

que pode haver uma indução ao aumento do grau de acidez. O leite com o grau

de acidez maior do que 2 é geralmente tido como inaceitável pelo sabor

denominado “lipolisado”, denominação essa dada pela ocorrência da lipólise nos

triglicerídeos do leite (Neto et al, 2002).

4.3 - VITAMINAS

As vitaminas lipossolúveis A, D e E e as vitaminas hidrossolúveis

biotina, ácido nicotínico, ácido pantotênico e riboflavina são relativamente estáveis

ao calor e não se produzem perdas muito significativas das mesmas durante a

pasteurização e nem na maior parte dos tratamentos UHT. Durante a

pasteurização perde-se menos de 10% de ácido fólico, tiamina, vitamina B6 e

vitamina B12; as perdas de vitamina B6 são ligeiramente maiores no tratamento

UHT. As perdas mais importantes se produzem na vitamina C, cujo conteúdo total

(ácido ascórbico e ácido dehidroascórbico) se reduz a 10-25% durante a

pasteurização e em 25% ou mais durante o tratamento UHT. As perdas do

conteúdo total de vitamina C se devem quase por completo a sua instabilidade ao

calor da forma oxidada, o ácido dehidroascórbico, e, portanto, podem reduzir-se

limitando a quantidade de oxigênio dissolvido que contem no leite (Varnam &

Sutherland, 1995).

38

De acordo com a Tabela 10, percebe-se que o leite UHT apresenta

menores perdas nutricionais mediante tratamento do que o leite esterilizado pelo

sistema convencional. Verifica-se também que o leite pasteurizado e UHT têm

perdas nutricionais semelhantes, porém, são maiores no UHT. As principais

perdas se processam no leite quando é submetido a um tratamento de

esterilização pelo sistema convencional, já que estas variam segundo o grau de

severidade do tratamento.

Tabela 10 - Perdas de vitaminas após os tratamentos térmicos

Componentes Leite UHT Leite Pasteurizado Leite esterilizado

(sistema convencional)

Vitamina A 0-25% n.s n.s

Vitamina D 8% 3% 12%

Vitamina E estável estável estável

Vitamina B1 5-15% 10% 20-40%

Vitamina B2 5-10% 0% 5-10%

Vitamina B6 10-25% 0-5% 10-25%

Vitamina B12 10-20% 0-10% 60-100%

Vitamina C 10-20% 5-20% 30-50%

Ácido fólico 5-20% 3-5% 40-50%

Biotina estável estável estável

Ácido pantotênico 3-4% 1-2% 6-10%

n.s = não significativo

Fonte: Martins et al, 2004.

4.4 - MINERAIS

No que diz respeito ao seu comportamento frente aos tratamentos

térmicos, os sais do leite são de dois tipos: os que não sofrem nenhuma

modificação como o sódio, potássio, cloro e enxofre e os que resultam afetados

pelo aquecimento como cálcio, magnésio, citrato e fosfato. O tratamento modifica

os equilíbrios dos sais de cálcio produzindo uma diminuição do cálcio solúvel e a

precipitação do fosfato de cálcio. Durante a pasteurização estes efeitos só têm

39

importância em circunstâncias excepcionais, apesar do papel que desempenha o

leite como, importante fonte de cálcio na dieta (Varnam & Sutherland, 1995).

A diminuição de cálcio solúvel e precipitação do fosfato de cálcio,

tornando cálcio e fósforo menos disponíveis para a absorção podem ser as

principais modificações causadas pelo processamento UHT aos minerais do leite.

Cerca de 40% a 50% do cálcio solúvel aparece na fase coloidal, com diminuição

da absorção deste pelo organismo, logo este leite não deve ser utilizado como

única fonte de cálcio para crianças e mulheres na fase pré-menopáusica (Neto et

al, 2002).

Contudo, não observaram alterações significativas nos conteúdos de

minerais de leite UHT, comparando-se com as modificações causadas por

processos de pasteurização (Neto et al, 2002).

4.5 - LACTOSE

A formação de lactulose, dissacarídeo formado por um resíduo de

frutose e um resíduo de galactose, aumenta com a temperatura do tratamento

térmico. Isto não é desejável, pois a lactulose não é hidrolisada pelas enzimas

dos mamíferos, porém pode ser fermentada no intestino grosso produzindo

flatulências. Este problema não parece importante com as quantidades presentes

no leite pasteurizado e UHT, no entanto, pode ser mais grave nos consumidores

do leite esterilizado pelo sistema convencional (Varnam & Sutherland, 1995).

A Tabela 11 mostra as quantidades de lactulose de acordo com cada

tratamento térmico.

Tabela 11 - Formação de lactulose após o tratamento térmico

Tratamento térmico lactulose (mg/l)

Pasteurização 50

UHT 100-500

Esterilização convencional 900-1380

Fonte: Varnam & Sutherland, 1995

40

O aquecimento de dissoluções de lactose acarreta conseqüências

tecnológicas importantes, sobretudo quando o açúcar está em presença de

proteína. Isto é a origem do escurecimento não enzimático observado durante a

fabricação e armazenamento dos diversos produtos lácteos (Veisseyre, 1988).

Quando os cristais de lactose são aquecidos a temperaturas mais

elevadas, observa-se primeiramente, a perda da água de cristalização a 110-

130oC, seguido de amarelecimento a 150oC, e escurecimento (marrom) a 170oC,

devido a caramelização (Veisseyre, 1988).

O escurecimento do leite durante o aquecimento se deve a reação

entre o grupo aldeído da lactose e o grupo amino das proteínas (Reação de

Maillard) e a polimerização (caramelização) das moléculas de lactose. Também é

possível que a lactose se decomponha por oxidação em ácidos orgânicos, o que

explicaria em parte o aumento de acidez que se produz durante a esterilização do

leite. No meio alcalino, a termodestruição da lactose pode dar lugar à aparição de

uma cor cinza, mais ou menos escura, que se observa freqüentemente nos

processos de cocção (Amiot, 1991).

4.6 - ENZIMAS

No tratamento de pasteurização várias enzimas do leite são inativadas

e as provas da inativação enzimática como o teste da fosfatase alcalina, são

utilizadas desde muitos anos para comprovar que o leite tem recebido uma

pasteurização adequada (Varnam & Sutherland, 1995).

As lipases naturais do leite também se inativam, uma vez que a

membrana do glóbulo graxo está muito danificada podendo haver alguma

atividade residual. Pelo contrário, a principal proteinase do leite, plasmina, é muito

resistente à pasteurização, mantendo de 70 a 80% de sua atividade depois de um

tratamento HTST. Os plasminógenos parecem ser menos afetados do que a

plasmina ativa e o grau de ativação dos plasminógenos podem aumentar depois

da pasteurização devido à inativação de compostos que normalmente atuam

como inibidores. Portanto, a pasteurização não tem um efeito importante sobre o

41

nível de atividade proteolítica total, já que se produz um certo grau de inativação

da plasmina. Depois da esterilização UHT permanece de 30 a 40% de plasmina

ativa e na esterilização pelo sistema convencional, dependendo do tratamento

aplicado, a enzima pode ser totalmente inativadas (Varnam & Sutherland, 1995).

A Tabela 12 mostra a porcentagem de plasmina inativada de acordo

com o tratamento térmico utilizado.

Tabela 12 - Inativação das plasminas segundo o tratmento térmico

Tratamento térmico % plasmina inativada

Pasteurização 20-30

UHT 30-40

Esterilização convencional 100

Fonte: Varnam & Sutherland, 1995.

5 - CONCLUSÃO

Com base no que foi exposto anteriormente, podemos dizer que o

tratamento térmico é a única maneira de tornar o leite próprio para o consumo

humano. Por outro lado, esse tipo de processamento altera o teor de nutrientes,

principalmente o das vitaminas hidrossolúveis e também provoca mudanças nas

características sensoriais que variam em ambos os casos em função do tempo e

temperatura do tratamento, sendo maiores nos tratamentos mais severos.

Não ocorrem mudanças significativas no valor nutritivo de gordura,

lactose e sais minerais durante o processamento UHT, mas existem pequenas

mudanças no valor nutricional de proteínas, aminoácidos e vitaminas. As perdas

vitamínicas do processo de pasteurização e UHT são muito próximas. Contudo, o

leite UHT perde grande parte das vitaminas C e B6 que detém. No entanto, essas

perdas não são relevantes, pois o leite não é considerado fonte primordial desses

nutrientes. O leite UHT sofre maior desnaturação das proteínas do que o

pasteurizado, contudo, isso não diminui o seu valor nutricional.

As perdas de nutrientes depois do tratamento podem fazer com que o

valor nutritivo do leite pasteurizado e, em determinadas condições do leite

esterilizado UHT, no momento do consumo esteja reduzido, mas na maioria dos

casos, essas perdas são pequenas e pouco importantes, sendo as modificações

no tratamento UHT maiores. Conclui-se, portanto, que as principais perdas se

processam no leite quando é submetido a um tratamento de esterilização pelo

sistema convencional, já que a extensão das modificações nutritivas varia

consideravelmente em função da severidade do tratamento. No entanto, este

método não é muito utilizado nas indústrias.

6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, R. M. V., et al. Embalagens para produtos de laticínios. Campinas: ITAL/CETEA, 1994. 112p.

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