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446 INFLUÊNCIA DE DOIS MÉTODOS DE PREPARO DE ÁREA NA COMPACTAÇÃO DE UM LATOSSOLO AMARELO NO ESTADO DO AMAZONAS Benjamín Fernández Medina 1 RESUMO: Em um Latossolo Amarelo de textura muito argilosa do Campo Experimental de Dendê (CNPSD-EMBRAPA), no Estado do Amazonas, foi conduzido um estudo objetivando avaliar o efeito de dois métodos de preparo de área para plantios (manual e mecanizado) sobre a com- pactação do solo. Os parâmetros usados para medir esta propriedade dinâmica do solo foram: a) infiltração básica; b) densidade do solo e c) resistência do solo à penetração. Os resultados deste estudo mostraram que as operações que antecederam o enleiramento, sejam estas mecâ- nicas ou manuais, não causaram modificações profundas na estrutura do solo, capazes de in- terferir na sua produtividade futura. A operação do enleiramento, não obstante, devido ter sido realizada em um período chuvoso e sobre o solo com suas partículas parcialmente orientadas pela pressão aplicada durante as operações anteriores, provocou uma compactação mais acen- tuada, particularmente quando efetuada mecanicamente, em cujo caso atingiu um nível críti- co, expresso por um valor de infiltração básica de 1,4 mmlh. Nesta última etapa do processo de preparo de área para plantio, encontraram-se diferenças significativas entre preparos me- canízado e manual, e entre cada um destes e a mata virgem, para todos os três parâmetros de avaliação. Termos para indexação: Desmatamento, infiltração básica, resistência do solo à penetração. IMPAGr OF TWO LAND CLEARING METHODS ON SOIL COMPACTION OF A YEllOW LAIDSOL OF THE STATE OF AMAZONAS-BRAZIL ABSTRACT: The effec! of two rnethocls of clearing a very clayey Yellow Latosol (0xis01) of the State of Amazonas on soil compaction is described. A 14 ha field under tropical rainforest ve- getation was. cleared by means of both mechanized and manual methocls. For the two me- thocls, slight changes in soil physical conditions were observed immediately after burning. However, the operation of piling up in rows of the material that remained after burning premo- ted a drastic reduction in the infiltrability of the soil and a marked resistance to penetration, with greater impact on the soil cleared mechanically, which yielded values significantly diffe- rent to those of the manual slash-burn .method and the virgin fores!. The soil bulk density, ai- though showing the sarne trend as the other two soil physical parameters, was much less sensitive to moclifications due to clearing operations. Index terms: Slash-bum, final infiltration, soil resistance to penetration. IUII. Aqr. M.Sc. Consultor Programa Contraio UCAJEMBRAPA, EMBRAPA-CNPSD. Caixa Pootal 319. CEP 69000. Manaua, AM.

INFLUÊNCIA DE DOIS MÉTODOS DE PREPARO DE ÁREA NA ...ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/201463/1/ID-5765-1-p… · deste estudo mostraram que as operações que antecederam

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    INFLUÊNCIA DE DOIS MÉTODOS DE PREPARO DE ÁREA NACOMPACTAÇÃO DE UM LATOSSOLO AMARELO

    NO ESTADO DO AMAZONAS

    Benjamín Fernández Medina 1

    RESUMO: Em um Latossolo Amarelo de textura muito argilosa do Campo Experimental de Dendê(CNPSD-EMBRAPA), no Estado do Amazonas, foi conduzido um estudo objetivando avaliar oefeito de dois métodos de preparo de área para plantios (manual e mecanizado) sobre a com-pactação do solo. Os parâmetros usados para medir esta propriedade dinâmica do solo foram:a) infiltração básica; b) densidade do solo e c) resistência do solo à penetração. Os resultadosdeste estudo mostraram que as operações que antecederam o enleiramento, sejam estas mecâ-nicas ou manuais, não causaram modificações profundas na estrutura do solo, capazes de in-terferir na sua produtividade futura. A operação do enleiramento, não obstante, devido ter sidorealizada em um período chuvoso e sobre o solo com suas partículas parcialmente orientadaspela pressão aplicada durante as operações anteriores, provocou uma compactação mais acen-tuada, particularmente quando efetuada mecanicamente, em cujo caso atingiu um nível críti-co, expresso por um valor de infiltração básica de 1,4 mmlh. Nesta última etapa do processode preparo de área para plantio, encontraram-se diferenças significativas entre preparos me-canízado e manual, e entre cada um destes e a mata virgem, para todos os três parâmetrosde avaliação.

    Termos para indexação: Desmatamento, infiltração básica, resistência do solo à penetração.

    IMPAGr OF TWO LAND CLEARING METHODS ON SOIL COMPACTIONOF A YEllOW LAIDSOL OF THE STATE OF AMAZONAS-BRAZIL

    ABSTRACT: The effec! of two rnethocls of clearing a very clayey Yellow Latosol (0xis01) of theState of Amazonas on soil compaction is described. A 14 ha field under tropical rainforest ve-getation was. cleared by means of both mechanized and manual methocls. For the two me-thocls, slight changes in soil physical conditions were observed immediately after burning.However, the operation of piling up in rows of the material that remained after burning premo-ted a drastic reduction in the infiltrability of the soil and a marked resistance to penetration,with greater impact on the soil cleared mechanically, which yielded values significantly diffe-rent to those of the manual slash-burn .method and the virgin fores!. The soil bulk density, ai-though showing the sarne trend as the other two soil physical parameters, was much less sensitiveto moclifications due to clearing operations.

    Index terms: Slash-bum, final infiltration, soil resistance to penetration.

    IUII. Aqr. M.Sc. Consultor Programa Contraio UCAJEMBRAPA, EMBRAPA-CNPSD. Caixa Pootal 319. CEP 69000. Manaua, AM.

  • I~TRODUÇÃO

    A compactação do solo é um compor-tamento mecânico do mesmo, mediante oqual sua densidade aumenta como resul-tado de cargas ou pressões aplicadas (Ba-ver 1972). Há um rearranjamento daspartículas do solo que se traduz em altera-ções na distribuição dos poros por tama-nhos, diminuição na porosidade total emodificações no movimento e conteúdo decalor, ar, água e nutrientes (Shierlaw & Als-ton 1984). Devido à compactação do soloreduzir o número de poros grandes, entreos quais se encontram aqueles de tamanhossimilares aos das raízes das plantas, e co-mo estas não podem penetrar em poros dediâmetros menores do que seus pr6priosdiâmetros (Wiersum 1957), as raízes devemexercer força para deslocar as partículas eassim poder crescer e proliferar (Whiteley& Dexter 1982). A habilidade das raízespara sobrepujar a resistência mecânica dosolo varia com a espécie da planta (Taylor& Gardner 1960), embora não esteja clarocomo se originam estas diferenças (Shier-law & Alston 1984). Segundo Harris, cita-do por Bowen (1981), quando uma força éaplicada ao solo, este responde através deuma rearranjamento das partículas e umaredução no tamanho dos poros.

    A resistência de um solo à compacta-ção, causada por compressão ou desliga-mento, é determinada pela sua resistênciamecânica a qual, por sua vez, está forma-da por duas componentes: resistência coe-siva e resistência fricíonal. As grandezasdestas duas componentes variam conside-ravelmente dependendo do conteúdo deágua do solo, textura, forma das partículasincluindo rugosidade, tamanho dos agrega-dos, composição e concentração íôníca dasolução do solo, matéria orgânica, tipo domineral de argila e histórico do solo (Bowen1981). Chancellor (1976) lista as seguintesquatro causas de compactação do solo: a)consolidação natural durante os processosde formação do solo; b) pisoteio por ani-

    447mais, incluindo o homem; c) concentraçãonatural do solo com a desidratação e d) res-posta do solo a pressões e deformações im-postas pelas rodas e esteiras dosequipamentos agrícolas e por implementose ferramentas usados no preparo do solo,tratos culturais e colheita. Uma outra cau-sa de compactação é a ação das gotas deágua sobre agregados pouco estáveis du-rante chuvas e irrigações por aspersão oupor inundação (Keller 1967, 1970a,1970b).

    Em geral, os produtores e técnicos daregião amazônica estão cientes de que oprocesso de preparo de área para plantio,principalmente se este é feito mecanica-mente, causa compactação do solo. Entre-tanto, a magnitude desse efeito não estáainda adequadamente documentada. AUnidade de Execução de Pesquisa de Âm-bito Estadual de Manaus (Empresa Brasi-leira de Pesquisa Agropecuária 1978)mediu a infiltração de água no solo antese depois da operação de derruba manuale mecanizada em um latossolo Amarelo,textura argilosa, da área de Manaus (AM).Os valores dessa propriedade físíoo-hídrícado solo, determinados antes da derruba, fo-ram dez vezes maiores que os obtidos de-pois dessa operação, indicando quehouve severa compactação do solo. Não seencontrou diferença entre derruba manuale mecanizada. Gent Iuníor et al, (1984), es-tudando o impacto das operações de pre-paro de área totalmente mecanizado naspropriedades físicas de um solo florestal deCarolina do Norte (E.u.A.), plantado comPinus taeda L., detectaram marcantes al-terações nas' referidas propriedades comoresultado, principalmente, do excessivo trá-fego de maquinária pesada. O solo estavacom um conteúdo de umidade ligeiramen-te acima da capacidade de campo.

    O objetivo deste trabalho foi avaliar ainfluência de dois sistemas de preparo deárea em latossolo (Oxíssolo), Amarelo doEstado do Amazonas sobre compactaçãodo solo.

  • 448

    MATERIAL E MÉTODOS

    o estudo foi conduzido em um setorda Estação Experimental do Rio Urubu (EE..RU), situada a 120 km de Manaus, final daestrada ZF 7, às margens do rio Urubu, mu-nicípio de Rio Preto da Eva (AM).

    O solo onde se realizou o preparo deárea para plantio é um Latossolo Amarelo,textura muito argilosa, unidade pedogené-tica extensamente distribuída na região'amazônica e particularmente no municípiode Manaus, AM. Caracteriza-se por ser umsolo muito profundo, fortemente desgasta-do, bem drenado e de textura muito argi-

    losa ()' 70% do horizonte B). O perfil é bemdesenvolvido apresentando horizonte AIpouco espesso eB latossólico. Capacidadede troca de cations e percentagem de sa-turação de bases muito baixas o que lheconfere uma baixa fertilidade.

    O clima da área, na classificação deKoppen, enquadra-se no tipo Af, quente eúmido, tipicamente equatorial, caracteriza-do pela inexistência de uma estação seca.N~ Tabela 1 são mostrados os dados de pre-cipitação na EERU, desde maio de 1983,quando se iniciou o registro, até agosto de1984, juntamente com as médias da UE-PAE de Manaus para o período.1971-83(Boletim... 1983).

    TABELA1. Preoípitaçâo pluviométrica ná Es,tação Experimental do Rio Urubu (EE\RU)de 21.03.83 a 31.08.81 e médias de treze anos (l971-83) na Estação'Agrometeorol6gica da EMBRAPA-UEPAEde Manaus (AM), localizada.a 3"8'5 e 59 °52'W. Grw.

    Dezena A DJ F M M s o NJ J A------------------------------- mm -------------------------------------

    EERU1983

    1! 79,0 88,0 2,4 8,6 97,2 51,2 162,1 20,8 90,82! 59,3 82,0 66,6 28,2 19,1 76,0 19,4 128,2 56,43! 75,0 62,5 37,1 42,9 29,2 45,2 64,2 54,6 15,6 188,8Total 75,0 200,8 207,1 111,9 66,0 161,5 191,4 236,1 164,6 336,0

    19841! 103,4 83,5 47,0 33,2 80,6 74,2. 38,2 12,22ª 51,0 11,4 64,4 53,0 47,8 2,4 98,0 22,63ª 209,8 92,6 164,4 83,2 27,4 29,8 41,2 27,0Total 364,2 287,5 216,0 169,4 155,8 106,4 177,4 61,8

    DllBRAPA - mtPAE(1971 - 1983)

    Médias 232,2 273,4 294,9 296,5 268,2 149,6 128,0 103,8 102,4 164,2 150,3 243,2

    A vegetação é componente da flores-ta equatorial úmida e luxuriante, densa, he-terogênea que, de acordo com o seuaspecto florístico, é denominada florestaequatorial úmida de terra firme. A cober-tura vegetal é constituída por uma florestadensa e rica em espécies botânicas,observando-se vários estratos formados deplantas herbáceas ou lenhosas, subarbus-

    tos, arbustos e, finalmente, indivíduos arbó-reos (Instituto de Pesquisas ... 1972).

    Preparo de ÁreaO preparo de área foi realizado em

    uma superfície de 14 ha utilizando dois mé-todos: mecanizado e manual. A seguir, osdetalhes de ambos os métodos e da matavirgem que foi usada como testemunha:

  • · Método mecanizado - 7 ha

    · Desmatamento - Realizado com KomatsuD65E, equipado com "treepusher" en-tre 15 e 20 de junho de 1983, na me-tade oeste da área.

    · Queima - Feita no dia 20 de outubro de1983. Devido ao excesso de chuvasque não permitiu uma secagem totaldo material derrubado, esta operaçãofoi muito incompleta.

    ·Enleiramento - Realizou-se com trator Ca-terpillar D-8 no início de fevereiro pa-ra 25% da área (extremo oeste) e de14 a 16 de março no restante desta.

    · Método manual - 7 ha·Desmatamento - Efetuado com moto-serras,

    na metade leste da área, durante o mêsde agosto de 1983.

    Queima - Idêntico ao método mecanizado.Enleiramento - Feito por uma equipe de

    cinco pessoas com moto-serras, entredezembro de 1983 e março de 1984.

    o atraso com que foi realizada esta úl-tima operação, decorreu do excesso de chu-vas durante os meses de dezembro de 1983a fevereiro de 1984.· Mata virgem - Floresta tropical úmida e

    luxuriante, densa, heterogênea, rica emespécie botânicas, observando-se vá-rios estratos constituídos de plantasherbáceas, subarbustos, arbustos e in-divíduos arbóreos (Instituto de Pesqui-sas ... 1972).

    . Avaliação da compactação do solo

    . Visando medir os efeitos dos dois mé-todos de preparo de área na compactaçãodo solo e compará-los entre si e com a ma-ta virgem contígua (testemunha), nas res-pectivas áreas delimitaram-se, ao acaso,cinco parcelas, de 72mx45m nas quais fo-ram efetuadas, antes e depois do enleira-mento, as determinações físicas que sãodescritas a seguir.. Infiltração: Foi realizada utilizando-se ci-

    lindros infiltrômetros duplos, de acor-

    449

    do com a metodologia descrita porBertrand (1965) e Chanduvi (1970). Naproximidade dos locais em que foramefetuadas as provas de infiltração (doispor parcela) coletaram-se amostras desolo para determinação de umidadeinicial ou antecedente.Os valores 'das infiltrações instantâneasem função do tempo foram calculadospela equação de Kostiakov, citado porChanduvi 1970, que para velocidade;de infiltração (V) se escreve como:

    V = Kt-m(1)onde t é tempo, m é a pendente da curva

    e K é uma constante.A velocidade de infiltração básica oufinal (Vb), por sua vez, estimou-sequando a mudança entre dois valorescontíguos era igual ou menor que 10%.Sua expressão matemática (Chanduvi1970), obtém-se diferenciando a infil-tração instantânea com respeito aotempo, podendo-se assim estabelecer otempo (t), em minutos, ao qual deveráocorrer a infiltração básica:

    t = 600m(2)onde m tem o mesmo significado que na

    equação (1).. Densidade do solo: Foi determinada em

    cada parcela, utilizando-se o métododo torrão parafinado descrita por Bla-ke (1965), às profundidades 0- 0,05,0,05 - 0,1, 0,1 - 0,2 , 0,2 - 0,3 m.

    . Resistência do solo à penetração: Foi ava-liada utilizando-se o penetrômetro tipocone, modelo Eykelkamp 74. Em cadaparcela foram feitas medições em trêslocais selecionados ao acaso até a pro-fundidade de 0,3m a cada 0,05m, apartir dos primeiros 0,05 m do solo su-perficial. As características físicas dosolo, bem como seu conteúdo de umi-dade por ocasião dos testes, assinala-ram o cone n? 2, com área superficialde 2 =2, como sendo o mais apropria-do para medir a resistência do solo àpenetração. A força aplicada necessá-ria para introduzir o cone no solo, de-nominada "índice de cone", é

  • 450

    calculada através da segUinte relação:kg/cm2 = (leitura no manômetro) x (l/área

    superficial do cone) (3).

    Os resultados de todas as determine-ções efetuadas foram submetidos à análisede variância e ao teste de Tukey para com-paração das médias.

    RESULTADOS E DISCUSSÃO

    Infiltração

    Os valores médios de infiltração bási-ca correspondentes aos métodos mecaniza-do e manual e à mata virgem, antes edepois do enleiramento, são mostrados naTabela 2. Verifica-se que todos os dois mé-todos de preparo de área, tanto antes quan-to depois do enleiramento, apresentamtaxas de infiltração inferiores às da matavirgem (testemunha), o que foi decorrentedo ímpactodes operações de derruba e en-leiramento, principalmente, nas proprieda-des transmissoras de água do solo.Observa-se também, que, sob as condiçõesem que se realizou este estudo, a operaçãode enleiramento foi a que causou a maisdrástica diminuição da infiltração do solo,

    particularmente quando esta foi efetuadamecanicamente. A análise de variânciados dados de infiltração básica (Tabela 3)mostra diferenças significativas, aos níveisde 5% e 1% de probabilidade, entre trata-mentos para os dados obtidos antes e de-pois do enleiramento, respectivamente. Acomparação das 'médias pelo teste de Tu-key a 5% (Tabela 2) por outro lado, reve-lou que a operação de derruba das árvoresnão afetou significativamente a taxa de in-filtração quando realizada manualmente. Jáa derruba mecanizada causou uma redu-ção estatisticamente significativa dos vale-res·desta propriedade físico-hídrica do solo,muito embora sem atingir um nível que pos-sa prejudicar o desenvolvimento das plan-tas e/ou a estabilidade do solo, como seaprecia na Tabela 2. A situação anteriormudou radicalmente depois do enleiramen-to, em que se verííícaram efeitos bastantemais acentuados de ambos os métodos,particularmente do mecanizado, que redu-ziu a taxa de infiltração básica do Latosso-10 a um valor crítico de 1,4 cm.h-1 que,.dada a intensidade das chuvas da região,deverá provocar abundante escoamento su-perficial e, conseqüentemente, erosão dosolo.

    TABELA2. Valores médios de infiltração bási-ca e umidade inicial do solo antes (AE) e depoisdo enleiramento (DE).

    Tratamento Infiltração básica (cm.h 1)AE DE

    Umidade inicial (%)AE DE

    Mecanizado 17,la l,4a 42,5 45,2Manual 24,lab 11,2b 39,9 39,6Mata 29,5b 29,5c 43,8 43,8DMS (5%) 9,4 e 8,8 para antes e depois do enleiramento, respectivamente. 1 Médias seguidas damesma letra, nas colunas, ,não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5%.

    TABELA3. Análise de variância dos dados de infiltração básica antes do enelíramento (AE) edepois do enleiramehto (DE).

    QM FFonte da variação G.L. AE DEAE DEEntre parcelas (14)Tratamentos 02 385,7 2.031,4 8,2* 50,3**Resíduo experimental 12 47,0 40,4Res{duo de amostragem 15 14,4 3,3Total 29

  • o valor de infiltração básica do soloapós enleíramentono método mecanizadodeveu-se à compactação causada pelo trá-fego de maquinaria pesada sobre o solocom elevado teor de umidade, que' facili-tou a orientação e aproximação das partí-culas. Este efeito foi agravado pelo grandevolume de madeira que ficou na área apósa queima incompleta, o que obrigou a ummaior esforço e mobilização da máquinaque efetuou essa operação.

    Estes resultados concordam com os deGent Iuníor et al, (1984) que mostraramuma diminuição significativa na condutíví-dade hidráulica do'solo após o processo dedesmatamento de um solo argiloso da Ca-rolina do Norte (E.u.A.). A UEPAE· deManaus-EMBRAPA (Sistemas ... 1978), porsua vez, em um estudo acerca da influên-cia do desmatamento da mata virgem so-bre a compactação de um Iatossolo,Amarelo do Estado do Amazonas, consta-tou uma. dimínuição na infiltração de30cm.h-1, antes da derruba para'3-4cm.h-1, 'depois desta operação. Não foiencontrada diferença entre desmatamentomecanizado e manual.

    A influência do tráfego de maquinariana infiltração de, água no solo tem sido de-monstrada e documentada por diversos:pesquisadores (Reeves & Cooper 1960, Ba-ver et al, 1972, Greacen & Sands 1980,Gent Juníor et al. (1984). Todos coincindemem atribuí-Ia a modificações no arranja-

    451

    mento das partículas do solo que provocaa diminuição do tamanho dos poIOS,espe-cialmente daqueles de tamanhos maiores(macroporos). que produz uma redução naárea de secção transversal para fluxo deágua, juntamente com percursos mais tor-tuosos para o movimento deste fluído.

    Densidade do solo

    A densidade do solo (Tabela 4)mostrou-se ser uma propriedade física pou-co sensitiva ao tráfego de maquinaria pe-sada e de pessoal e ao impacto decorrenteda queda das árvores durante o processode preparo de área. Depara-se que a ope-ração de derruba não causou variaçõesmarcantes neste parâmetro, nem entre tra-tamentos e nem mesmo entre profundida-des, provocando apenas uma pequenaredução no tamanho dos poros que prati-camente não afetou a relação massa/vo-lume do solo, mas que teve algumarepercussão nas suas propriedades trans-missoras de fluídos, como foi apreciado'

    quando se discutiu a infiltração. Na etapaseguinte, depois do enleiramento, verificou-se um aumento mais acentuado da densi-dade com o uso do método mecanizado,atingindo seu maior valor (1,24 g cm-3) naprofundidade compreendida entre 5 em e10 cm, o que não ocorreu com o manual,que exibiu valores bastante semelhantesaos da mata, nas diversas profundidades.

    TABELA4. Valores médios de densidade do so'lo para os métodos de preparo de áreamecanizado e manual, e mata virgem antes e depois do enleiramento. ,

    TratamentoDensidade do solo (g cm-3)

    O - 5 cm 5 - 10 cm 10 - 20 cm 20 - 30 cmAntes

  • 452

    A análise de variância dós dados dedensidade do solo(Tabela 5) não detectoudiferenças significativas entre tratamentosantes do enleiramento, mas sim depois des-sa operação. O teste de Tukey a 5 % (Tabe-la 4), por sua vez, mostrou médias do

    método mecanizado, em todas as quatroprofundidades, depois do enleiramento, sig-nificativamente maiores que as do métodomanual e a testemunha. As médias destesdois últimos, por sua vez, não diferiram es-tatisticamente.

    TABELA5. Análisede variância para os dados de densidade do soloantes (AE)e depois doenleiramento (DE).

    Fonte de variação G.L. QM FAE DE AE DETratamentos (11)Métodos (A) 2 0,0015 0,036 0,50 28,8**Profundidade (B) 3 0,0013 0,003 0,40 2,4Método x Prof. (A x B) 6 0,002 0,001 0,66Resíduo 46 0,003Total 56

    O fato da densidade do solo não ter si-do severamente afetada, pelas operações dederrubada e eleiramento, dever-se-ia, deuma parte, a que a primeira, em ambos osmétodos, foi realizada no período menoschuvoso do ano (Tabela 1), tendo isso con-tribuído para atenuar o impacto dessa ope-ração, conforme a teoria dos filmes de águae a orientação das partículas (Baver et al.1972). De outra parte, o relativamente altopercentual de matéria orgânica do solo (Ta-bela 6) fez com que este requeresse gran-des quantidades de água para a formaçãodos filmes deste líquido ao redor das partí-culas e a conseguinte orientação das mes-mas que caracteriza o estado de

    consistência plástica. Isto, na prática, sig-nifica que o solo atinge sua consistênciaplástica, ou seja, começa a ser susceptívelà compactação a um alto conteúdo deágua, podendo, sem' grande risco, ser tra-fegado em uma ampla faixa de umidade.É provável que este efeito da matéria orgâ-nica tenha desempenhado papel de desta-que durante as operações de derruba eenleiramento, principalmente na primeira,já que as chuvas abundantes caídas no pe-ríodo em que se realizou o enleiramento tor-nam duvidosa sua ação nessa etapa doprocesso. Contudo, não se descarta a pos-sibilidade disso ter ocorrido, mesmo queparcialmente.

    TABELA6. Médias1 de conteúdo de matéria orgânica do solo nos métodos maoariízado emanual e na mata virgem.

    Tratamento Conteúdo médio de matéria orgânica %o - 5 em 5 - 10 em 10 - 20 em 20 - 30 emMecanizadoManualMata

    4,54,65,6

    3,22,23,9

    2,11,52,7

    1,21,11,8

    1Médias de cinco repetições.

    Os pequenos aumentos nos valores dedensidade do solo causados por ambos osmétodos, que variaram de 1,16 g cm-3 namata para 1,24 g cm-3, no método meca-

    nizado não seriam indicativos de problemasde falta de aeração e/ou impedância me-cânica do solo para o crescimento das raí-zes, que caracteriza os solos altamente

  • nificativas entre tratamentos eprofundidades. Depois desta operação, asdiferenças entre tratamentos foram aindamaiores, mas não se registraram variaçõesestatísticas entre profundidades. Em ambasas etapas, o método mecanizado foi o queinduziu maiores incrementos na resistênciado solo, sendo que antes do enleiramentoos valores mais altos (94 e 105 kg cm-2) fo-ram medidos à profundidade de 15 em a30 cm. Todavia, após essa operação, osmaiores valores (144,8 e 148,2 kg cm-2) seregistraram às profundidades de 5 cm e 10cm, respectivamente. O aumento substan-cial da resistência à penetração na últimaetapa do processo, deve-se à intensa mobí-lização ·e deslocamento da maquinaria,num espaço pequeno (15 m de largura), du-rante o enleiramento, o que justamente porter causado compactação do solo por com-

    A distribuição dos valores de resistên- pressão devido ao peso do equipamento,cia do solo à penetração do penetrômetro atuando sobre um solo com suas partícu-tipo cone de·2 dn2 de área superficial para Ias parcialmente orientadas, provocou tam-ambos os métodos e para a mata virgem, bém compactação por deslisamento. Umàs profundidades de 0,05 m; 0,10 m; 0,15 outro fator que contribuiu também para es-m; 0,20 m, 0,25 me 0,30 m antes e de- sa maior compactação do solo, nesta eta-pois do enleiramento (Tabela 7) mostram pa do processo, foi a alta pluviosídade noque este parâmetro foi altamente sensitivo período em que se efetuou o enleiramentoàs pressões aplicadas ao solo durante o pro- (Tabela 1).cesso de prepàro de área. Depara-se que O teste de Tukey, para contraste dasjá antes do enleiramento, isto é, quando ain- médias (Tabela 7), revelou, em geral, dife-da não se tinham observado variações na renças significativas entre métodos e entredensidade do solo, a análise de variância cada um destes e a floresta virgem. Estasdos dados de resistência à penetração (Ta- diferenças foram sempre mais acentuadasbela 8) detectou diferenças altamente sig-, na operação de enleiramento.

    TABELA 7. Valores médios d.l'lresistência do solo em kgf cm-2 à penetração para os métodos depreparo de área mecanizado e manual, e mata antese depois do enleiramento.

    compactatos. Com efeito,Weihmeyer e Hen-rickson, citados por Baver et al. (1972), en-contraram que a densidade crítica paracrescimento das raízes em areias era 1,75g cm-3, ao passo que em argila variava en-tre 1,46 e 1,63 g cm-3 .:Por outro lado, omaior valor de densidade, no método me-canizado (1,24 g cm-3), foi registrado à pro-fundidade de 5 em a 20 cm, o que estariade acordo com o encontrado por Chancel-lor et al, (1976) e Taylor et al. (1978) nosentido de que a máxima densidade sob ospneus não se produz na interfasepneumático-solo, mais a uma profundida-de aproximadamente da metade da largu-ra do pneumático.

    Resistência à penetração

    453

    Tratamento Profundidade (crn)l5 10 15 20 25 30

    MecanizadoManualMata

    75,2a69,4a54,2b

    53,8a44,4b41,4b

    Antes do en1ei.ralento

    93,6a84,4b68,6c

    103,Oa107,2a82,8b

    105,4a95,6b84,Oc

    104,2a108,4a89,4b

    Depois do enl.e~to

    Mecanizado 144,8a 148,2a 122,Oa 138,6aManual 69,4b 87,8b 86,8b 105,ObMata 4l,4c 54,2c 68,6b 84,Oc

    132,6a100,4b89,4b

    133,2a103,2b82,8c

    DMS (5%) = 9 e 20 para antes e depois do enleiramento, respectivamente.

    1Médias seguidas da mesma letra, nas colunas, não diferiram estatisticamente pelo teste de Tukey.

  • 454

    TABELA8. Análisede variância para os dados de resistênciaà penetração entes (AE).e depois doenleiramento (DE).

    Fonte de variação G.L. QM FAE DE AE DETratamento (9)Métodos (A) 2 3.023,0 34.425,0 12,0** 136,4**Profundidade (B) 5 6,798,0 1,400,2 27,1** 5,6Métodos x Prof. (A + B) 10 92,2 886,2 0,4 3,5Resíduo 72 251,0 252,34Total 89

    Chamou a atenção a falta de. coerên-cia entre os valores de densidade e resis-tência do solo à~netração. Com efeito,observou-se que enquanto a densidade dosolo não aumentou de maneira acentuadaem relação à testemunha, a resistência àpenetração atingiu valores que indicaramuma extremamente alta compactação. Es-ta ausência de coerência teria sua origem,de uma parte, na presença no perfil do so-lo, particularmente na sua parte superficial,de grande núnero de raízes que teriam ofe-recido resistência extra à penetração do co-ne do penetrômetro e, de outra, a que arelação densidade - resistência do solo é de-pendente do tipo de solo (Bowen1981). Esteúltimo significa que dois ou mais solos como mesmo teor de umidade e igual resistên-cia à penetração podem apresentar densi-dades bastante diferentes.

    Finalmente, caberia frisar que, devidoeste estudo ter sido realizado apenas emum solo da região e em ano bastante chu-voso, seus resultados deverão ser maneja-dos com certa cautela quando aplicados aoutras condições edafoclimáticas. Isto éparticularmente importante no que se re-fere à operação de enleiramento que,. de-vido às anormalmente altas quedaspluviométricas, a partir de agosto de 1983,só foi possível realizá-Ia em um período bas-tante chuvoso (dezembro 1983 - março1984), favorecendo assim uma maior com-pactação do solo.De acordo com o anterior,espera-se que em anos normais (Tabela 1),que possibilitem a realização da derrubaem junho e julho e o enleiramento entreagosto e setembro, após uma queima com-

    pleta, os resultados sejam diferentes dos en-contrados neste estudo. Contudo, devido aque as partículas antes do enleiramento seencontram parcialmente orientadas pelapressão exercida durante a operação dederruba mecanizada, sempre haverá umaredução no volume do solo que afetará suaspropriedades transmissoras de fluídos, bemcomo sua resistência à penetração dasraízes das plantas. ~ magnitude desta com-pactação só poderá ser avaliada repetindo-se este estudo durante vários anos e exer-cendo um estrito controle das épocas derealização das diferentes operações de pre-paro de área.

    CONCLUSÕESAs operações de preparo de área que

    antecederam o enleiramento, sejam estasmecânicas óu manuais, não causaram umaacentuada compactação do Iatossolo Ama-relo que possa repercutir seriamente no de-senvolvimento radicular das culturas e/oumodificar adversamente as relações preci-pitação/infiltração, favorecendo, assim, aerosão do solo. O enleiramento r~alizadomecanicamente promoveu uma drástica re-dução na infiltração básica e um igualmen-te abrupto aumento na resistência do soloà penetração. A densidade do solo, por ou-tro lado, mostrou-se muito pouco sensitivaao impacto do intenso tráfego de maquina-ria pesada, durante o processo de desbra-vamento, As chuvas' abundantes caídasdurante o período em que foi realizado oenleiramento foram decisivas no alto índi-ce de compactação atingido pelo solo.

  • Devido este estudo ter sido conduzidoem um ano anormalmente chuvoso, que nãopossibilitou a realização das diferentes ope-rações de preparo de área em forma ade-quada e em épocas propícias, recomenda-se repetí-lo realizando todas as operaçõesem forma oportuna, isto é, no período me-nos chuvoso do ano (junho a setembro).

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