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www.dizerodireito.com.br Página1 INFORMATIVO esquematizado Informativo 677 – STF Márcio André Lopes Cavalcante Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: MS 30860/DF; MS 25125/DF DIREITO CONSTITUCIONAL Competência revisional do CNMP O CNMP não possui competência para rever processos disciplinares instaurados e julgados contra servidores do Ministério Público pela Corregedoria local. A competência revisora conferida ao CNMP limita-se aos processos disciplinares instaurados contra os membros do Ministério Público da União ou dos Estados (inciso IV do § 2º do art. 130-A da CF), não sendo possível a revisão de processo disciplinar contra servidores. Comentários Determinado servidor do MPSP respondeu a processo administrativo e recebeu como sanção a pena de demissão. Esse servidor ingressou com reclamação no CNMP contra essa decisão do MPSP e o Conselho anulou a demissão, por considerá-la desproporcional, determinando que outra fosse aplicada. O MPSP, não se conformando com a decisão do CNMP, impetrou mandado de segurança. A respeito dessa situação concreta, destaco as seguintes questões jurídicas relevantes: 1) De quem é a competência para julgar MS proposto contra ato do CNMP (ou do CNJ)? R: trata-se de competência do STF, com base no art. 102, I, da CF: Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente: r) as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do Ministério Público; (Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) Exceção ao art. 102, I, r, da CF/88: se for proposta uma ação popular contra ato do CNJ ou do CNMP, a competência não é do STF, mas sim da 1ª instância. 2) O Ministério Público de São Paulo pode impetrar MS diretamente no STF ou para atuar na Corte Suprema precisa ser por meio do Procurador Geral da República? R: os Ministérios Públicos estaduais possuem legitimidade ativa autônoma para atuar originariamente no STF, no desempenho de suas prerrogativas institucionais e no âmbito de processos cuja natureza justifique a sua participação formal. Assim, o Ministério Público do Estado de São Paulo poderia, no caso concreto, impetrar o MS diretamente no STF. 3) O CNMP possui competência para rever condenações administrativas impostas a servidores do Ministério Público? R: NÃO. Página1

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Informativo 677 – STF

Márcio André Lopes Cavalcante Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: MS 30860/DF; MS 25125/DF

DIREITO CONSTITUCIONAL

Competência revisional do CNMP

O CNMP não possui competência para rever processos disciplinares instaurados e julgados contra servidores do Ministério Público pela Corregedoria local.

A competência revisora conferida ao CNMP limita-se aos processos disciplinares instaurados contra os membros do Ministério Público da União ou dos Estados (inciso IV do § 2º do art.

130-A da CF), não sendo possível a revisão de processo disciplinar contra servidores. Comentários Determinado servidor do MPSP respondeu a processo administrativo e recebeu como

sanção a pena de demissão. Esse servidor ingressou com reclamação no CNMP contra essa decisão do MPSP e o Conselho anulou a demissão, por considerá-la desproporcional, determinando que outra fosse aplicada. O MPSP, não se conformando com a decisão do CNMP, impetrou mandado de segurança. A respeito dessa situação concreta, destaco as seguintes questões jurídicas relevantes: 1) De quem é a competência para julgar MS proposto contra ato do CNMP (ou do CNJ)? R: trata-se de competência do STF, com base no art. 102, I, da CF:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente: r) as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do Ministério Público; (Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Exceção ao art. 102, I, r, da CF/88: se for proposta uma ação popular contra ato do CNJ ou do CNMP, a competência não é do STF, mas sim da 1ª instância. 2) O Ministério Público de São Paulo pode impetrar MS diretamente no STF ou para atuar na Corte Suprema precisa ser por meio do Procurador Geral da República? R: os Ministérios Públicos estaduais possuem legitimidade ativa autônoma para atuar originariamente no STF, no desempenho de suas prerrogativas institucionais e no âmbito de processos cuja natureza justifique a sua participação formal. Assim, o Ministério Público do Estado de São Paulo poderia, no caso concreto, impetrar o MS diretamente no STF. 3) O CNMP possui competência para rever condenações administrativas impostas a servidores do Ministério Público? R: NÃO.

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O CNMP possui competência revisora apenas para os processos disciplinares instaurados contra os membros do Ministério Público (Promotores, Procuradores da República etc.), não sendo possível a revisão de processo disciplinar instaurado contra servidores. Essa é a redação do inciso IV do § 2º do art. 130-A da CF:

§ 2º Compete ao Conselho Nacional do Ministério Público o controle da atuação administrativa e financeira do Ministério Público e do cumprimento dos deveres funcionais de seus membros, cabendo-lhe: (...) IV – rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de membros do Ministério Público da União ou dos Estados julgados há menos de um ano;

4) O CNMP possui competência para julgar originariamente servidores do Ministério Público? R: SIM. Essa possibilidade está prevista no inciso III do § 2º e no inciso I do § 3º, ambos do art. 130-A da CF:

§ 2º Compete ao Conselho Nacional do Ministério Público o controle da atuação administrativa e financeira do Ministério Público e do cumprimento dos deveres funcionais de seus membros, cabendo-lhe: (...) III – receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Ministério Público da União ou dos Estados, inclusive contra seus serviços auxiliares, sem prejuízo da competência disciplinar e correicional da instituição, podendo avocar processos disciplinares em curso, determinar a remoção, a disponibilidade ou a aposentadoria com subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço e aplicar outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa; § 3º O Conselho escolherá, em votação secreta, um Corregedor nacional, dentre os membros do Ministério Público que o integram, vedada a recondução, competindo-lhe, além das atribuições que lhe forem conferidas pela lei, as seguintes: I – receber reclamações e denúncias, de qualquer interessado, relativas aos membros do Ministério Público e dos seus serviços auxiliares;

5) Por que o CNMP possui competência para julgar originariamente servidores do Ministério Público, mas não detém competência para julgar a revisão de processos administrativos instaurados contra os servidores? R: segundo a Min. Cármen Lúcia, foi uma opção do constituinte reformador (que editou a EC 45/04) com o intuito de fazer com que o CNMP não se transformasse em uma mera instância revisora dos processos administrativos disciplinares instaurados nos órgãos correicionais competentes contra os servidores auxiliares do Ministério Público em situações que não digam respeito à atividade-fim da própria instituição. Buscou-se evitar que o CNMP ficasse sobrecarregado com a revisão de processos disciplinares de menor importância institucional e resolvidos pelos órgãos correicionais competentes. Assim, somente as ilegalidades perpetradas por membro do Ministério Público dão ensejo à competência revisora do CNMP. 6) E se houver alguma ilegalidade no processo administrativo disciplinar instaurado pela corregedoria local contra o servidor do MP? R: eventuais abusos e arbitrariedades praticados pelos órgãos correicionais locais nos processos disciplinares contra servidores poderão ser questionados não no CNMP, mas sim no Poder Judiciário local, garantida a inafastabilidade da jurisdição, bem como preservando o CNMP e o STF de tais demandas.

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Resumindo:

Processo administrativo disciplinar contra servidor do MP pode tramitar originariamente no CNMP?

SIM (desde que o CNMP aceite

receber a reclamação)

Fundamento: Art. 130-A, § 2º, III

e § 3º, I, da CF

Processo administrativo disciplinar contra membro do MP pode tramitar originariamente no CNMP?

SIM (claro) (desde que o CNMP aceite

receber a reclamação)

Fundamento: Art. 130-A, § 2º, III

e § 3º, I, da CF

O CNMP pode rever processo administrativo disciplinar contra servidor do MP julgado pela Corregedoria local?

NÃO Fundamento:

Art. 130-A, § 2º, IV, da CF

O CNMP pode rever processo administrativo disciplinar contra membro do MP julgado pela Corregedoria local?

SIM (claro) Fundamento:

Art. 130-A, § 2º, IV, da CF

Processo Primeira Turma. MS 28827/SP, rel. Min. Cármen Lúcia, 28.8.2012.

DIREITO ADMINISTRATIVO

Controle de questões de concurso pelo Poder Judiciário

É possível que o Poder Judiciário anule questão objetiva de concurso público que foi elaborada de maneira equivocada?

Trata-se de tema polêmico.

Neste julgado, a 1ª Turma do STF afirmou que, excepcionalmente, é possível que o Poder

Judiciário anule questão objetiva de concurso, desde que seja verificada a existência de erro grosseiro na resposta (manifesto equívoco).

Vale ressaltar, no entanto, que há inúmeros precedentes do STF afirmando não ser possível ao

Poder Judiciário anular questões de concurso. Comentários É possível que o Poder Judiciário anule questão objetiva de concurso público que foi

elaborada de maneira equivocada? Trata-se de tema polêmico. Neste julgado, a 1ª Turma do STF afirmou o seguinte: Em regra, o Poder Judiciário não pode se substituir à banca examinadora do concurso

público para aferir a correção das questões de prova. Excepcionalmente, é possível que o Judiciário anule questão objetiva de concurso,

desde que seja verificada a existência de erro grosseiro na resposta (manifesto equívoco).

Ressalte-se, então, que nem sempre será possível a ingerência judicial na análise dos gabaritos oferecidos pelas bancas examinadoras de concurso público. De acordo com as peculiaridades do caso concreto, será possível ou não anular a questão se a resposta oferecida apresentar erro grosseiro.

Assim, o controle do Poder Judiciário em relação a questões de provas de concursos públicos restringe-se às hipóteses em que se está diante de equívoco manifesto.

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Obs: neste caso concreto, julgado pela 1ª Turma, trata-se de uma questão de Direito Civil (questão 71) do 25º Concurso para Procurador da República, tendo ela sido anulada pelo STF, permitindo que o candidato participasse das etapas seguintes com a atribuição do ponto a ela inerente.

Decisões negando essa possibilidade

Ressalte-se que há inúmeras decisões do STF afirmando que não é possível ao Poder Judiciário rever as questões de concurso público. Confira: (...) 1. Pacífica a jurisprudência desta Corte de que o Poder Judiciário não pode se substituir à banca examinadora do concurso público para aferir a correção das questões de prova e a elas atribuir a devida pontuação, consoante previsão editalícia. (RE 405964 AgR, Relator Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, julgado em 24/04/2012) (...) Não compete ao Poder Judiciário, no controle da legalidade, substituir a banca examinadora para censurar o conteúdo das questões formuladas. (MS 30144 AgR, Relator Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, julgado em 21/06/2011) (...) A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é firme no sentido de que ao Poder Judiciário não é dado substituir banca examinadora de concurso público, seja para rever os critérios de correção das provas, seja para censurar o conteúdo das questões formuladas. Agravo regimental a que se nega provimento. (AI 827001 AgR, Relator Min. Joaquim Barbosa, Segunda Turma, julgado em 01/03/2011)

Posição do STJ

Também não há uma posição segura no STJ: (...) A intervenção do Judiciário para controlar os atos de banca examinadora de concurso público restringe-se à averiguação da legalidade do procedimento, não sendo-lhe possível substituir a referida banca para reexaminar o conteúdo das questões formuladas, os critérios de correção das provas ou a resposta do gabarito final. (...) (AgRg no AREsp 187.044/AL, Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 07/08/2012) (...) Na hipótese de flagrante ilegalidade de questão objetiva de prova de concurso público ou ausência de observância às regras previstas no edital, tem-se admitido sua anulação pelo Judiciário por ofensa ao princípio da legalidade. Precedentes do STJ. (...) (AgRg no AREsp 165.843/RJ, Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 07/08/2012) (...) 2. A competência do Poder Judiciário, em se tratando de concurso público, limita-se ao exame da legalidade das normas instituídas no edital e dos atos praticados na realização do certame, sendo vedado o exame dos critérios de formulação de questões, de correção de provas, atribuição de notas aos candidatos, matérias cuja responsabilidade é da banca examinadora. 3. Excepcionalmente, em havendo flagrante ilegalidade de questão objetiva de prova de concurso público - o que não inclui, por óbvio, a prova de dissertação impugnada pelos recorrentes - ou a ausência de observância às regras previstas no edital, tem-se admitido sua anulação pelo Judiciário por ofensa ao princípio da legalidade. (...) (AgRg no REsp 1260777/SC, Rel. Min. Castro Meira, Segunda Turma, julgado em 06/03/2012)

Processo Primeira Turma. MS 30859/DF, rel. Min. Luiz Fux, 28.8.2012.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL Legitimidade do MP para ACP

O Ministério Público tem legitimidade para promover ação civil pública sobre direitos individuais homogêneos quando presente o interesse social.

Comentários A ACP possui vários legitimados ativos, ou seja, pessoas que podem ajuizar a ação.

Dentre eles, encontra-se o Ministério Público (art. 5º, da Lei n. 7.347/85). Veja o rol legal dos legitimados:

Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: I - o Ministério Público; II - a Defensoria Pública; III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; V - a associação que, concomitantemente: a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.

O Ministério Público está legitimado a promover ação civil pública para a defesa de direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos. No entanto, o MP somente terá representatividade adequada para propor a ACP se os direitos/interesses discutidos na ação estiverem relacionados com as suas atribuições constitucionais, que são previstas no art. 127 da CF:

Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

Desse modo, indaga-se:

O MP possui legitimidade para ajuizar ACP na defesa de qualquer direito difuso, coletivo ou individual homogêneo?

O entendimento majoritário está exposto a seguir:

Direitos DIFUSOS

Direitos COLETIVOS (stricto sensu)

Direitos INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS

SIM

O MP está sempre legitimado a defender

qualquer direito difuso.

(o MP sempre possui representatividade

adequada).

SIM

O MP está sempre legitimado a defender

qualquer direito coletivo.

(o MP sempre possui representatividade

adequada).

1) Se esses direitos forem indisponíveis: SIM

(ex: saúde de um menor)

2) Se esses direitos forem disponíveis: DEPENDE

O MP só terá legitimidade para ACP envolvendo direitos individuais homogêneos disponíveis se estes forem de interesse social (se houver relevância social).

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Quatro conclusões importantes:

1) Se o direito for difuso ou coletivo (stricto sensu), o MP sempre terá legitimidade para propor ACP.

2) Se o direito individual homogêneo for indisponível (ex: saúde de um menor carente), o

MP sempre terá legitimidade para propor ACP. 3) Se o direito individual homogêneo for disponível, o MP pode agir desde que haja

relevância social. Ex1: defesa dos interesses de mutuários do Sistema Financeiro de Habitação. Ex2: defesa de trabalhadores rurais na busca de seus direitos previdenciários.

4) O Ministério Público possui legitimidade para defesa de direito individual indisponível,

mesmo quando a ação vise à tutela de pessoa individualmente considerada (tutela do direito indisponível relativo a uma única pessoa). Ex: MP ajuíza ACP para que o Estado forneça uma prótese auditiva a um menor carente portador de deficiência.

Assim, o MP sempre terá legitimidade quando os direitos envolvidos tiverem:

Interesse social; ou

Caracterizarem-se como individuais indisponíveis.

Exemplos de direitos individuais homogêneos dotados de relevância social (Ministério Público pode propor ACP nesses casos):

1) MP pode questionar edital de concurso público para diversas categorias profissionais de determinada prefeitura, em que se previa que a pontuação adotada privilegiaria candidatos que já integrariam o quadro da Administração Pública municipal (STF RE 216443);

2) Na defesa de mutuários do Sistema Financeiro de Habitação (STF AI 637853 AgR); 3) Em caso de loteamentos irregulares ou clandestinos, inclusive para que haja pagamento

de indenização aos adquirentes (REsp 743678); 4) O Ministério Público tem legitimidade para figurar no polo ativo de ACP destinada à

defesa de direitos de natureza previdenciária (STF AgRg no AI 516.419/PR); 5) O Ministério Público tem legitimidade para propor ACP com o objetivo de anular Termo

de Acordo de Regime Especial - TARE firmado entre o Distrito Federal e empresas beneficiárias de redução fiscal. O referido acordo, ao beneficiar uma empresa privada e garantir-lhe o regime especial de apuração do ICMS, poderia, em tese, implicar lesão ao patrimônio público, fato que legitima a atuação do parquet na defesa do erário e da higidez da arrecadação tributária (STF RE 576155/DF);

6) O MP tem legitimação para, por meio de ACP, pretender que o poder público forneça medicação de uso contínuo, de alto custo, não disponibilizada pelo SUS, mas indispensável e comprovadamente necessária e eficiente para a sobrevivência de um único cidadão desprovido de recursos financeiros;

7) Defesa de direitos dos consumidores de energia elétrica.

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Exemplos de direitos individuais homogêneos destituídos de relevância social (Ministério Público NÃO pode propor ACP nesses casos):

1) O MP não pode ajuizar ACP para veicular pretensões que envolvam tributos (impostos, taxas etc.), contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser individualmente determinados (art. 1º, parágrafo único, da LACP). Ex: o MP não pode propor ACP questionando a cobrança excessiva de uma determinada taxa, ainda que envolva um expressivo número de contribuintes;

2) O MP não pode pleitear a indenização decorrente do DPVAT em benefício do segurado (Súmula 470-STJ);

3) “O Ministério Público não tem legitimidade ativa para propor ação civil pública na qual busca a suposta defesa de um pequeno grupo de pessoas - no caso, dos associados de um clube, numa óptica predominantemente individual.” (STJ REsp 1109335/SE);

4) O MP não pode buscar a defesa de condôminos de edifício de apartamentos contra o síndico, objetivando o ressarcimento de parcelas de financiamento pagas para reformas afinal não efetivadas.

GÊNERO:

Os direitos ou interesses coletivos (lato sensu) são o gênero. Eles são chamados de direitos ou interesses

transindividuais, metaindividuais ou supraindividuais.

ESPÉCIES: Esses direitos coletivos (em sentido amplo) são divididos em três espécies:

DIFUSOS COLETIVOS

(em sentido estrito) INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS

Ex: direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Ex: reajuste abusivo das mensalidades escolares.

Ex: determinado lote de um remédio causou lesão a alguns consumidores.

São classificados como direitos ESSENCIALMENTE COLETIVOS.

São classificados como direitos ESSENCIALMENTE COLETIVOS.

São classificados como direitos ACIDENTALMENTE COLETIVOS (isso porque são direitos individuais, mas tratados como se fossem coletivos)

São transindividuais (há uma transindividualidade real ou material)

São transindividuais (há uma transindividualidade real ou material)

Há uma transindividualidade ARTIFICIAL, formal ou relativa (são direitos individuais que, no entanto, recebem tratamento legal de direitos transindividuais)

Têm natureza INDIVISÍVEL.

Tais direitos pertencem a todos de forma simultânea e indistinta.

O resultado será o mesmo para todos os titulares.

Têm natureza INDIVISÍVEL. O resultado será o mesmo para aqueles que fizerem parte do grupo, categoria ou classe de pessoas.

Têm natureza DIVISÍVEL. O resultado da demanda pode ser diferente para os diversos titulares (ex: o valor da indenização pode variar).

Os titulares são pessoas:

indeterminadas e

indetermináveis.

Os titulares são pessoas:

indeterminadas,

mas determináveis.

Os titulares são pessoas:

determinadas; ou

determináveis.

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Não se tem como determinar (dizer de maneira específica) quem são os titulares desses direitos. Isso porque são direitos que não pertencem a apenas uma pessoa, mas sim à coletividade. Caracterizam-se, portanto, pela indeterminabilidade ABSOLUTA.

Os titulares são, a princípio, indeterminados, mas é possível que eles sejam identificados. Os titulares fazem parte de um grupo, categoria ou classe de pessoas. Caracterizam-se, portanto, pela indeterminabilidade RELATIVA.

Caracterizam-se, portanto, pela DETERMINABILIDADE.

Os titulares desses direitos NÃO possuem relação jurídica entre si. Os titulares são ligados por CIRCUNSTÂNCIAS DE FATO. Os titulares se encontram em uma situação de fato comum.

EXISTE uma relação jurídica base entre os titulares. Os titulares são ligados entre si ou com a parte contrária em virtude de uma RELAÇÃO JURÍDICA BASE.

Os titulares não são ligados entre si, mas seus interesses decorrem de uma ORIGEM COMUM.

Outros exemplos: patrimônio histórico; moralidade administrativa; publicidade enganosa divulgada pela TV.

Outros exemplos: interesses ligados aos membros de um mesmo sindicato ou partido; integrantes de um mesmo conselho profissional (ex: OAB) O MP tem legitimidade para promover ACP cujo fundamento seja a ilegalidade de reajuste de mensalidades escolares (Súmula 643-STF).

Outros exemplos: Ex: pílula de farinha como anticoncepcional: só tem direito a mulher que comprovar que tomou o remédio daquele lote.

Obs: a definição legal dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos é fornecida pelo art. 81, parágrafo único do CDC.

Processo Segunda Turma. RE 216443/MG, rel. orig. Min. Menezes Direito, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, 28.8.2012.

DIREITO PENAL

Homicídio qualificado

É possível haver homicídio qualificado praticado com dolo eventual?

No caso das qualificadoras do motivo fútil e/ou torpe: SIM No caso de qualificadoras de meio: NÃO

Comentários É possível haver homicídio qualificado praticado com dolo eventual?

No caso das qualificadoras do motivo fútil e/ou torpe: SIM (posição do STJ e do STF)

No caso de qualificadoras de meio: NÃO (posição do STF HC 95136/PR) No caso julgado pela 2ª Turma, o réu foi denunciado pela suposta prática do crime de homicídio qualificado pela surpresa (art. 121, § 2º, IV, CP), e embriaguez ao volante (art. 306 do Código de Trânsito) porque, ao conduzir veículo em alta velocidade e em estado de embriaguez, ultrapassara sinal vermelho e colidira com outro carro, cujo condutor viera a falecer.

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A 2ª Turma considerou que, em se tratando de crime de trânsito, cujo elemento subjetivo teria sido classificado como dolo eventual, não se poderia, ao menos na hipótese sob análise, concluir que tivesse o paciente deliberadamente agido de surpresa, de maneira a dificultar ou impossibilitar a defesa da vítima. Assim, a 2ª Turma aplicou o entendimento prevalecente no sentido de que o dolo eventual é incompatível com a qualificadora prevista no inciso IV do § 2º do art. 121 do CP (traição, emboscada, dissimulação). Por que o dolo eventual é incompatível com a qualificadora da surpresa? Para que incida a qualificadora da surpresa é indispensável que fique provado que o agente teve a vontade de surpreender a vítima, impedindo ou dificultando que ela se defendesse. Ora, no caso do dolo eventual, o agente não tem essa intenção, considerando que não quer matar a vítima, mas apenas assume o risco de produzir esse resultado. Como o agente não deseja a produção do resultado, ele não direcionou sua vontade para causar surpresa à vítima. Logo, não pode responder por essa circunstância (surpresa).

Processo Segunda Turma. HC 111442/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, 28.8.2012.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

Julgue os itens a seguir: 1) (Promotor/PI – 2012) O STF não detém competência originária para processar e julgar ação popular

proposta contra ato do presidente do CNMP. ( ) 2) A competência revisora conferida ao CNMP limita-se aos processos disciplinares instaurados contra os

membros do Ministério Público da União ou dos Estados, não sendo possível a revisão de processo disciplinar contra servidores. ( )

3) (DPE/AL – 2009) O objeto dos interesses difusos é transindividual e tem natureza divisível. ( ) 4) (DPE/RO – 2012) Com relação aos interesses coletivos, assinale a opção correta.

A) Os titulares de interesses coletivos em sentido estrito agregam-se por circunstâncias de fato. B) Os titulares de interesses difusos são caracterizados pela indeterminabilidade relativa. C) Os titulares de interesses difusos ligam-se por relação jurídica base. D) Os interesses individuais homogêneos são caracterizados por uma transindividualidade artificial ou relativa. E) O objeto dos interesses individuais homogêneos é indivisível.

5) (DPE/RO – 2012) De acordo com o que dispõe o art. 94 da CF, um quinto das vagas dos tribunais deve

ser destinado a advogados. Entretanto, o tribunal de justiça de determinado estado da Federação, deixando de observar o critério constitucional, nomeou, para vaga destinada a um advogado, o juiz mais antigo da carreira, antes mesmo que a OAB formalizasse qualquer lista com eventuais candidatos ao cargo. Nessa situação, desrespeitou-se, em relação aos advogados, o interesse A) individual homogêneo. B) individual disponível. C) público secundário. D) difuso. E) coletivo em sentido estrito.

6) (DPE/RO – 2012) O MP ajuizou ação civil pública, visando anular acordo firmado entre o estado X e

determinada empresa, por meio do qual o ente federativo concedia à empresa o benefício de inserção em regime especial de apuração tributária. Alegou o MP que a inserção da empresa no referido regime acarretaria cobrança de tributo em valor menor que o devido, o que geraria prejuízo ao referido estado e lesão ao patrimônio público. Com relação à situação hipotética acima descrita, assinale a opção correta.

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A) A ação civil pública não é cabível na hipótese, sendo a ação popular o instrumento adequado para o caso. B) A legitimidade do MP para ajuizar a referida ação civil pública fundamenta-se no fato de o MP estar tutelando a defesa do erário e a higidez da arrecadação tributária. C) O MP não possui legitimidade para ajuizar a referida ação civil pública, dada a caracterização de direito disponível, cujos beneficiários são individualizáveis. D) O MP não tem legitimidade para ajuizar a referida ação civil pública, visto que a ele não cabe propor ação coletiva cujo objeto seja matéria tributária. E) O MP só teria legitimidade para ajuizar a referida ação civil pública provocado por associação ou entidade de representação dos contribuintes, situação em que o parquet figuraria no polo ativo da ação como substituto processual.

7) (Promotor/RR – 2012) O MP não possui legitimidade para promover ACP na defesa de direitos dos

consumidores de energia elétrica, dada a vedação expressamente prevista na lei que dispõe sobre a ACP. ( )

8) (Juiz TJPB – 2011) Por força de vedação prevista em lei, o MP não possui legitimidade para promover ação civil pública na defesa de direitos dos consumidores de energia elétrica. ( )

9) (Juiz TJCE – 2012) É prescindível analisar a natureza do interesse ou direito individual homogêneo —

disponível ou indisponível — para estear a legitimação extraordinária do MP no ajuizamento da ação civil pública. ( )

10) (Promotor/SE – 2010) No que se refere à adequação e ao alcance atualmente conferidos pela

legislação, doutrina e jurisprudência relativamente à ação civil pública e à tutela dos direitos difusos, coletivos, individuais indisponíveis e individuais homogêneos, bem como à legitimação do MP, assinale a opção correta. A) A ação civil pública é instrumento hábil conferido ao MP contra a cobrança excessiva de taxas que alcancem expressivo número de contribuintes. B) Ao MP não se permite a utilização de ação civil pública com o escopo de impedir aumento abusivo de mensalidades escolares por estabelecimentos privados de ensino fundamental de certo município brasileiro. C) O MP tem legitimação para, mediante ação civil pública, compelir o poder público a adquirir e fornecer medicação de uso contínuo, de alto custo, não disponibilizada pelo SUS, mas indispensável e comprovadamente necessária e eficiente para a sobrevivência de um único cidadão desprovido de recursos financeiros. D) A proteção da moralidade administrativa, objeto precípuo da ação popular, somente tem lugar em ação civil pública movida pelo MP em caráter subsidiário. E) O MP está legitimado a agir, por meio de ação civil pública, em defesa de condôminos de edifício de apartamentos contra o síndico, objetivando o ressarcimento de parcelas de financiamento pagas para reformas afinal não efetivadas.

11) (Promotor/TO – 2012) Com relação à teoria constitucional e à tutela dos direitos difusos e coletivos,

assinale a opção correta. A) São considerados interesses coletivos os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato. B) Direitos ou interesses transindividuais não possuem titulares individuais determinados e pertencem a uma comunidade ou coletividade. C) O interesse público secundário é o interesse social, o da sociedade ou da coletividade, assim como a proteção ao meio ambiente. D) Os interesses relacionados a condôminos de um edifício excedem o âmbito estritamente individual, constituindo interesses públicos. E) Direitos difusos e direitos coletivos distinguem-se pela coesão como grupo, categoria ou classe anterior à lesão, própria dos direitos difusos, e não dos coletivos stricto sensu.

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12) (Promotor/TO – 2012) Possuem legitimidade ativa para a ACP a DP, o MP, a União, os estados, o DF, os municípios, as entidades do terceiro setor, as autarquias, as empresas públicas, as fundações e as sociedades de economia mista. ( )

13) (Promotor/TO – 2012) Compete ao MP pleitear, em ACP, indenização decorrente de seguro obrigatório de

danos pessoais causados por veículos automotores de vias terrestres, em benefício do segurado. ( )

14) (Promotor/RO – 2010) Se determinada organização de classe, por intermédio de resolução, estabelecer, como condição prévia para a obtenção do registro profissional, a aprovação dos graduados em exames específicos, o MP não terá legitimidade ativa para o ajuizamento de ação civil pública contra referida resolução, ante a natureza individual dos interesses envolvidos. ( )

15) (Promotor/PI – 2012) A respeito dos direitos coletivos, considerados em sentido amplo, assinale a opção correta. A) Os direitos transindividuais e metaindividuais, direitos coletivos em sentido amplo, abrangem os direitos difusos, coletivos, individuais homogêneos e o individual indisponível. B) Os bens que integram o patrimônio financeiro do Estado inserem-se no âmbito do interesse público primário. C) A lei confere exclusividade ao MP na defesa judicial do interesse público primário. D) O interesse público secundário é protegido pelos denominados direitos difusos, coletivos, individuais homogêneos e individuais indisponíveis, pertencentes à sociedade. E) Em regra, o MP tem legitimidade para a defesa dos interesses público e particular.

16) (Promotor/PI – 2012) Com relação aos direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos, assinale a

opção correta. A) Os direitos individuais homogêneos são indivisíveis, embora seus titulares sejam determinados. B) Os titulares dos direitos difusos podem ser individualmente determinados. C) Tanto os interesses difusos quanto os direitos coletivos são de natureza indivisível. D) Os direitos coletivos correspondem aos direitos metaindividuais, cujos titulares são pessoas indeterminadas. E) É vedada a investigação de afronta a direitos individuais homogêneos por meio de inquérito civil.

17) (Juiz TJPA – 2012 - adaptada) O MP não pode propor ACP para a defesa de direitos individuais

homogêneos porque estes são de exclusivo interesse de seus titulares. ( )

18) (Juiz TJPB – 2011) Os interesses ou direitos difusos são transindividuais, de natureza indivisível, e seus titulares, pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; por outro lado, os interesses ou direitos individuais homogêneos, também indivisíveis, decorrem de origem jurídica comum. ( )

19) (DPE/BA – 2010) A demanda coletiva ajuizada em face da publicidade de um medicamento emagrecedor

milagroso visa tutelar os interesses difusos, também denominados transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e indetermináveis, ligadas por circunstâncias fáticas, não cabendo mencionar relação jurídica anterior entre os titulares desse tipo de direito. ( )

20) (DPE/MA – 2011) Segundo a jurisprudência do STJ, são absolutamente incompatíveis o dolo eventual e

as qualificadoras do homicídio, não sendo, portanto, penalmente admissível que, por motivo torpe ou fútil, se assuma o risco de produzir o resultado. ( )

Gabarito

1. C 2. C 3. E 4. Letra D 5. Letra E 6. Letra B 7. E 8. E 9. E 10. Letra C

11. Letra B 12. E 13. E 14. E 15. Letra A 16. Letra C 17. E 18. E 19. C 20. E