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Primavera 2016, Edição 2 NESTA EDIÇÃO Editorial Matéria de Capa Voluntariado em OPNE ABOPE Digital O desafio é cada vez maior no atendimento a pacientes geriátricos, principalmente, aqueles que apresentam doenças degenerativas e demências. Confira nesta edição mais sobre estes temas. Boa leitura! Artigo Científico Agenda ABOPE Encontro de Professores em OPNE

Informativo ABOPE Edição 2 versão final...1. Seja paciente, tenha bom humor 2. Não infantilize o paciente, fale olhando nos olhos dele, de forma clara evitando termo técnico 3

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Primavera 2016, Edição 2

NESTA EDIÇÃO

Editorial Matéria de Capa Voluntariado em OPNE

ABOPE Digital O desafio é cada vez maior no atendimento a pacientes geriátricos, principalmente, aqueles que apresentam doenças degenerativas e demências. Confira nesta edição mais sobre estes temas.

Boa leitura!

Artigo Científico Agenda ABOPE Encontro de Professores em OPNE

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ABOPE Digital

Em nossa segunda edição do ABOPE DIGITAL, encontraremos matérias relevantes para Odontologia Especial e gostaríamos de agradecer aos nossos colaboradores, que engrandecem nosso conteúdo.

Nossa primeira edição teve uma excelente repercussão e nos motiva a continuar nosso trabalho de divulgação, estudo e desenvolvimento científico da nossa área.

As diretrizes da ABOPE baseiam-se na motivação dos profissionais da especialidade, sempre fomentando, através das atividades científicas a oportunidade para que dentistas e profissionais de áreas afins de todo país, possam mostrar seus trabalhos e suas atividades.

Gostaríamos de receber matérias para publicação em nosso ABOPE DIGITAL de profissionais dos diversos estados da União e que a ABOPE possa de fato representar a Especialidade de Pacientes com Necessidades Especiais, recebendo conteúdo para publicação e assim orientar e servir de base para consulta dos amigos que se iniciam no mundo da Odontologia Especial.

A ABOPE esteve presente em diversas entidades, afim de promover parcerias para promoção de eventos.

Estivemos junto à Prof.Dra.Tatiana Marega na SL Mandic em Campinas, onde fizemos uma parceria para um evento em Dezembro próximo, onde divulgaremos logo mais. Além de marcarmos presença no CROSP, convidados pela Câmara Técnica de Pacientes Especiais, onde foi possível estreitar os laços junto ao conselho e agradecemos o convite.

Estamos estruturando nosso ABOPE ITINERANTE, onde visitaremos os diversos Estados e Cidades, levando um curso, uma palestra, um evento científico para grupos pequenos e assim chegarmos mais próximos dos profissionais de cada localidade.

Nossa equipe tem trabalhado com empenho nas diversas mídias sociais e convidamos a todos a conhecer e participar no Facebook Abope Pacientes Especiais e Instagram @abope_pacientesespeciais. As ações dentro das mídias é uma forma imediata de contatar nossos associados e amigos, e revelarmos ali atividades que recomendamos.

Assim, procuramos estar próximos e atentos ás formas de comunicação.

Amigos, estamos trabalhando por nossa especialidade , afim de gerar um grupo cada vez mais ativo, forte e participativo. Associados à IADH, a ABOPE vem mantendo a representatividade do Brasil junto a International Association for Desability and Oral Health onde ocupamos uma cadeira no conselho com o Dr. José Reynaldo Figueiredo e uma cadeira no Executive Board, vaga essa ocupada por mim até o momento e representamos assim toda América Latina.

Enfim, estamos caminhando e com o desejo de manter nossas atividades cada vez mais estreitas junto à comunidade de Odontologia Especial.

Boa leitura,

MARCELLO BOCCIA.

EDITORIAL

Dr. Marcello Boccia Especialista e Mestre em Endodontia Especialista em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais Membro do Executive Board da iADH Membro vitalício da AIOPE Vice Presidente da ABOPE

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Primavera 2016, Edição 2

ABOPE ITINERANTE

Nós levamos a sério a educação! E estamos com um novo projeto saindo do forno, o ABOPE Itinerante, um projeto de Educação Continuada. A EC é uma prática na qual o desenvolvimento pessoal e profissional dos profissionais é fundamental para o aperfeiçoamento das habilidades bem como, maior visão da realidade em que estão inseridos, visando uma construção de conhecimentos.

O processo de educação continuada não é um processo recente, no Brasil foi inserido nas décadas de 70 e 80, por exigência do próprio desenvolvimento da sociedade e da classe trabalhadora. A EC consiste em um programa de formação e desenvolvimento dos recursos humanos que objetiva manter a equipe em um constante processo educativo, com a finalidade de aprimorar os indivíduos e consequentemente melhorar a assistência prestada aos usuários. O nosso modelo de EC, o ABOPE Itinerante, ainda trás uma novidade – contemplar todo o Brasil, na primeira fase ocorrerão as palestras em diversos estados de todas as regiões. Em um segundo momento, estamos estruturando a EC online, permitindo assim que mais profissionais tenham acesso. Contamos com o apoio de nossos sócios, colaboradores e colegas especialistas para essa nova e importante etapa. Abaixo segue a programação da nossa primeira parada – RJ!

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ABOPE Digital

10 DICAS NO ATENDIMENTO ODONTOLÓGICO DO

PACIENTE DEMENCIADO

1. Seja paciente, tenha bom humor 2. Não infantilize o paciente, fale olhando nos olhos dele, de forma clara evitando termo técnico 3. Evite perguntas complexas 4. Responda quantas vezes for necessário 5. Avisar sobre cada procedimento antes de iniciar, como uso de turbinas, seringa tríplice, posição da cadeira e demais 6. Evitar sons estridentes como instrumental jogado na bandeja metálica 7. Tenha sempre um acompanhante do paciente presente na consulta, preferencialmente no campo de visão dele 8. O tempo de consulta deve ser o suficiente para atender o paciente com calma, porém o tempo de intervenção deve ser otimizado, atento ao limite do paciente 9. Avaliar e reavaliar o plano de tratamento e a necessidade de sedação 10. Planejar o tratamento tendo em mente que o paciente e a família têm uma longa jornada pela frente com aumento dsa necessidades de cuidados continuados, para que a manutenção seja feita da forma mais simples possível Dr. Almir Oliva Filho Especialista em Odontogeriatria pelo CFO Gerontólogo titulado pela SBGG Diretor Científico da ABOPE

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Maria Aparecida Guimaraes fala sobre como uma instituição pode

dar suporte para pessoas com demência e ainda conta como

surgiu a APAZ.

ABOPE: O que é a APAZ? Maria Aparecida Guimaraes: A APAZ é uma entidade sem fins lucrativos , cuja missão é lutar por políticas públicas para os portadores de demência, prestando suporte aos familiares dos portadores da doença. ABOPE: Que tipo de suporte aos familiares? Maria Aparecida Guimaraes: A APAZ têm o foco nos familiares, nós prestamos informações com o manual do cuidador, fazemos capacitação através de palestras com profissionais de diversas áreas para orientação do manejo com o portador, auxílio ao cuidador no seu autocuidado, apoio psicológico e orientação jurídica. Fazemos um trabalho de suporte ao cuidador, pois cuidar de um portador de demência exige muito do cuidador, física e psicologicamente,

REDE TRANSDICIPLINAR

CONHECENDO A APAZ

Fonte: Google (Sem direitos reservados)

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sendo assim, desenvolvemos ações que cuidem do cuidador para que também não adoeça e tenha condições de cuidar melhor ABOPE: Como foi fundada a APAZ? Maria Aparecida Guimaraes: A APAZ foi fundada em 1991 pelo Dr. Jacob Guterman – dentista – que teve a esposa diagnosticada com Alzheimer aos 54 anos. ABOPE: Qual é a relação da APAZ com as outras Associações de familiares de portadores de demência, como a ABRAZ? Maria Aparecida Guimaraes: Trabalhamos com os mesmos objetivos e formamos a FEBRAZ- Federação Brasileira das Associações de Alzheimer-com a participação também do IAB-Instituto Alzheimer Brasil- de Curitiba. Como FEBRAZ, somos associadas à AIB-Alzheimer Íberoamérica e à ADI- Alzheimer’s Disease International. ABOPE: Por favor fale sobre as conquistas da APAZ ao longo desse tempo? Maria Aparecida Guimaraes: Uma das grandes lutas é a conscientização da população sobre a Doença de Alzheimer, através de palestras, campanhas com ampla divulgação de material informativo sobre os principais sintomas, tratamentos medicamentosos e não-medicamentosos, encaminhamento aos Centros de Referência para o diagnóstico e etc. Com a produção de 2 documentários sobre a doença - verdadeiras ferramentas de capacitação - conseguimos atingir uma parcela maior da população de todo o Brasil, enviando os documentários para locais distantes onde a informação é precária. ABOPE: A APAZ tem algum tipo de subsidio? Como é a subsistência da APAZ?

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Maria Aparecida Guimaraes: Atualmente, temos uma parceria com o governo Estadual que nos cede, em regime de comodato, o prédio onde funciona a sede da APAZ, no centro do Rio e muito bem localizado, com fácil acesso, o que facilita muito a participação dos interessados. Vivemos das contribuições dos associados, o que implica em uma renda muito pequena em relação às despesas que temos, mas vamos sobrevivendo... ABOPE: E o cenário transdisciplinar para Pacientes Odontogeriátricos como está? Maria Aparecida Guimaraes: Em 2015, a FEBRAZ organizou o VIII Congresso Íberoamericano de Alzheimer, realizado no Rio de Janeiro, com mais de 500 participantes, envolvendo todos os continentes e com renomados palestrantes. Foram oferecidos, também, cursos pré-congresso nas várias áreas da Saúde, incluíndo a ODONTOGERIATRIA.

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XVI JOCAPE – FOUSP Data: 25 de Novembro de 2016 Local: Anfiteatro FOUSP – São Paulo ABOPE Itinerante – RIO Data: 29 de Outubro de 2016 Local: Hotel Mar Palace – Copacabana – RJ. I Encontro de Ex-Alunos, Alunos e Convidados da OPNE SLM Data: 02 de Dezembro de 2016 Local: Faculdade São Leopoldo Mandic – Campinas/SP. I Encontro ABOPE de Docentes e Gestores em Odontologia para Pacientes Especiais Data: 03 de Dezembro de 2016 Local: Faculdade São Leopoldo Mandic – Campinas/SP.

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XXVIII Jornada Odontológica de Araras e IX Simpósio de Odontologia para pacientes com necessidades especiais. Data: 3 a 7 de Outubro de 2016 Local: Centro Universitário Hermínio Ometto – FOA / Araras – SP. 12ª Encontro de Odontologia para Bebês Data: 6 e 7 de Outubro de 2016 Local: Centro Universitário Salesiano – Araçatuba – SP.

QUER DIVULGAR SEU EVENTO AQUI?

Envie um email para [email protected]

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ABOPE Digital Primavera 2016, Edição 2

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Voluntariado não é só filantropia!

Voluntario, adjetivo que significa que não é forçado, que só depende da vontade; espontâneo.

Filantropia, substantivo feminino que significa desprendimento, generosidade para com outrem; caridade

Eu sempre digo que o meu melhor dia de trabalho é o dia do voluntariado. Ser voluntário é doar tempo, conhecimento, carinho, atenção, sem receber nada em troca... Mentira! No trabalho voluntário recebemos cheques de gratidão, parcelas de carinho e sorrisos, muitos sorrisos e etc.

O trabalho voluntario vai muito além da generosidade, o terceiro setor reforça a cidadania direta e indiretamente. O impacto direto é na sociedade que se beneficia de recursos e serviços muitas vezes inexistentes no primeiro setor e inacessíveis no segundo setor...E indiretamente pelo impacto político social que as instituições envolvidas marcam a sociedade, alertando e reforçando ações de políticas públicas.

Ser voluntário é uma forma de exercer a cidadania, chamar atenção para as falhas no sistema e incluir a população menos favorecida no desenvolvimento do país. As organizações não governamentais, as OSCIP (Organização da sociedade civil de interesse público) que utilizam trabalho voluntário para execução de seus serviços, além de alertar e tentar suprir as falhas do sistema, recebem apoio do poder público, uma vez que o mesmo reconhece que precisa de ajuda. E o terceiro setor "ajuda" com

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trabalho de qualidade já que tais instituições na grande maioria são constituídas e fundamentadas pelos ideais de seus participantes.

Muitas pessoas discutem interesses políticos e privados no terceiro setor, as tão discutidas "leis de incentivo fiscal". Eu realmente não penso no que pode estar errado, penso que precisamos melhorar nosso país! A lei de ajudar o próximo!!!! Isso realmente importa. Mas muitas pessoas confundem filantropia

O PAPEL DO VOLUNTÁRIADO NA ODONTOLOGIA PARA PACIENTES COM NECESSIDADES ESPECIAIS

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com voluntariado.

Você pode melhorar a vida da filha da sua vizinha menos favorecida que tem Síndrome de Down, promovendo um tratamento odontológico gratuito e adequado no seu consultório... Isso é louvável! É lindo! É filantropia!

É um impacto direto na sociedade, mas quando você é voluntário de uma instituição que recebe ajuda governamental ou privada é um "panelaço" consciente e inteligente. Seu trabalho aparece "no mapa", é um pisca alerta intermitente na sociedade!

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O paciente recebe o que é de direito como cidadão e não por caridade.

Pensando no mundo dos nossos pacientes com necessidades especiais, indivíduos que necessitam de cuidados odontológicos especializado, fisiatra, neurologista, psiquiatra, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, psicólogo e tantos outros. São muitas especialidades em busca do desenvolvimento daquele indivíduo, uma busca incessante a inclusão e qualidade de vida.

Nós, especialistas, ao realizar um trabalho voluntário para essa

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população, damos a possibilidade de inclusão no melhor sentido da palavra.

Você é de esquerda ou de direita? Vamos pra rua de verde e amarelo ou de vermelho ou azul? Eu não sou nem direita e nem esquerda, quero ir pra frente, a cor da camisa pouco importa, só quero vestí-la!

Sou dentista voluntária do Instituto Sorrir para Vida, todo mês são 57600 segundos de trabalho, mas posso falar que são 960 minutos de dedicação, 16 horas de luta por um país melhor ou apenas 2 dias de momentos maravilhosos praticando nossa profissão, ou será missão?

Dra. Aline Narciso Graduada em Odontologia pela FOUNIP Especialista em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais Voluntária do Instituto Sorrir para Vida Diretora da ABOPE

Fonte: Autoral com direitos de imagem reservados.

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ARTIGO CIENTÍFICO

Sedação medicamentosa como estratégia no atendimento a idosa com Alzheimer em fase avançada – relato de caso

Oral Sedation as a strategy in the care of elderly patient with Alzheimer's

at an advanced stage: a case report

Alexandre Franco Miranda1

1Doutor e Mestre em Ciências da Saúde – UnB; Especialista em Gerontologia - Gerontólogo titulado pela Sociedade Brasileira de Geriatria e

Gerontologia (SBGG); Coordenador e Professor das disciplinas de Odontogeriatria e Odontologia para Pacientes Especiais da Universidade

Católica de Brasília (UCB).

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Introdução A demência é conceituada como uma desordem neurodegenerativa que atinge o Sistema Nervoso Central de forma progressiva e persistente, sendo a doença de Alzheimer a mais prevalente entre idosos 1,2. A etiologia dos quadros demenciais é complexa e pode estar associada a fatores como idade avançada, história familiar, doença cérebrovascular, déficits imunológicos, alterações metabólicas, fatores genéticos, traumatismos encefálicos, tumores, infecções e fatores comprometedores da qualidade de vida (nutrição, drogas, tabagismo, hipertensão e etilismo) 1,5. Clinicamente, a doença de Alzheimer é de caráter irreversível, caracterizada por gradual deterioração da memória, aprendizado, orientação, estabilidade emocional, capacidade de comunicação e das atividades motoras. Com isso, os cuidados pessoais diários ficam comprometidos afetando também, a higienização bucal e a manutenção de uma saúde bucal satisfatória 3,4. O diagnóstico de tal enfermidade é baseado na evolução clínica do paciente, a partir da avaliação dos progressivos declínios de memória, cognição e do comprometimento das atividades de vida diárias, além da exclusão de outros tipos de demência 2. Não existe a cura, porém o tratamento é baseado na estratégia terapêutica de melhorar a cognição, retardar a evolução e tratar os sintomas e as alterações comportamentais 6,7. Promover saúde bucal a essa população envolve a capacidade de atuar em um contexto multidisciplinar, direcionando as condutas clínicas em promover o bem-

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estar do paciente 4,5. A responsabilidade ética e profissional faz-se necessária por meio do Consentimento Livre e Esclarecido, bem como o conhecimento prévio das diversas fases da doença 8,9. O presente trabalho, por meio de um relato de caso clínico, tem por finalidade relatar a atuação odontológica, sob sedação medicamentosa, em uma paciente portadora de Alzheimer, dentro de um contexto multidisciplinar. Relato de Caso Paciente C.P.L., gênero feminino, 86 anos de idade, leucoderma, portadora de Doença de Alzheimer, diagnosticada há 08 anos, foi encaminhada para atendimento odontológico pelo médico geriatra responsável. Não apresentava alterações sistêmicas e não estava submetida a medicações, conforme orientações médicas. A enferma encontrava-se em estágio de dependência completa para a realização das atividades de vida diárias como alimentação e cuidados pessoais, incluindo a higiene bucal. De acordo com as informações fornecidas pelo médico, familiares e cuidadora (técnicas de enfermagem responsável pela higienização da paciente, cuidados e promoção de saúde bucal), a paciente apresentava dificuldades em abrir a boca para alimentação e administração da medicação, e um " gemer" sem causa bem definida. Avaliação Odontológica Inicial A anamnese foi realizada junto à família e a cuidadora para obtenção dos dados corretos a respeito da paciente, além das informações da saúde geral obtidas

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por informação médica e avaliação dos exames complementares existentes (hemograma completo e risco cirúrgico). A ectoscopia e o exame físico intrabucal iniciais foram realizados com o uso de meios auxiliares como afastadores e abridores de boca. Foram solicitadas tomadas radiográficas periapicais para melhor confirmação do diagnóstico clínico e posterior elaboração do plano de tratamento. A avaliação clínica e radiográfica evidenciaram a presença de focos de inflamação e infecção localizados, acúmulo de biofilme dentário e restos radiculares. Plano de Tratamento Odontológico Interdisciplinar O plano de tratamento foi direcionado à promoção de bem-estar, qualidade de vida e eliminação de focos de infecção, inflamação e provável sintomatologia dolorosa presentes 8. Optou-se pela adequação do meio bucal por meio de tratamento periodontal básico e, posteriormente, pelas exodontias dos dentes (restos radiculares). Os familiares foram orientados a respeito da condição bucal da paciente, bem como as possibilidades de tratamento e a necessidade da ação conjunta entre odontólogo, médico geriatra responsável e a família. A responsabilidade ética-profissional perante a paciente e seus familiares foi realizada a partir da assinatura do termo de Consentimento Livre e Esclarecido 9,10 em que os responsáveis legais autorizaram a execução do tratamento proposto e o registro do caso clínico (utilização de imagens). O médico geriatra da paciente foi contatado e foram fornecidas as explicações a respeito do plano de tratamento elaborado em todas as etapas dos procedimentos clínicos (anestésico odontológico, medicação pré e pós operatória, orientações aos familiares e cuidadores) bem como a sugestão da possibilidade de realização de sedação medicamentosa leve. O plano de tratamento proposto foi dividido em duas fases: inicial, realização de ações preventivas e adequação do meio bucal; e cirúrgica, em consultório sob sedação medicamentosa, para a realização das exodontias. a) Fase inicial – Adequação do meio bucal Foram realizadas ações que visaram o controle inflamatório gengival como raspagem supragengival, controle de biofilme dental, orientações aos familiares e cuidadora a respeito de técnicas e manejo direcionados a técnica mais adequada de higienização bucal. Escovação supervisionada e orientada com o uso de dentifrício fluoretado, higienização bucal com o uso gluconato de clorexidina a 0,12% duas vezes ao dia

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(manhã e noite) durante sete dias e orientações aos responsáveis , auxiliaram no controle químico do biofilme, contribuindo para a futura intervenção cirúrgica. b) Fase cirúrgica Em conjunto com o médico geriatra da paciente, adotou-se o protocolo farmacológico de sedação medicamentosa pré-operatória associada à profilaxia antibiótica. Conforme a orientação médica, o Maleato de Midazolam (Dormonid) na dose de 15 mg, quarenta minutos antes da cirurgia foi o fármaco de escolha. A profilaxia antibiótica odontológica foi proposta e realizada com o uso de 2 gramas de Amoxicilina, uma hora antes do procedimento cirúrgico. Após adquirir condições favoráveis e cooperativas para a realização da cirurgia devido à ação medicamentosa sedativa, deu-se sequência aos procedimentos pré-operatórios como a antisepsias extra e intrabucal. Utilizou-se 02 tubetes de Articaína HCl 4% com epinefrina 1:100.000 para a extração dos dentes (possíveis focos de infecção). As suturas foram simples e contínua com o uso de fio seda 4-0. A cirurgia odontológica proposta foi realizada em uma única sessão e sob monitoramento constante. As orientações pós-operatórias foram fornecidas aos familiares e à cuidadora, direcionadas também a higienização bucal mecânica com complementação por método químico, por meio do uso do Gluconato de clorexidina à 0,12% duas vezes ao dia, por uma semana. Foi mantida a antibioticoterapia com Amoxicilina (08/08 horas) durante uma semana e o analgésico de escolha foi o Paracetamol 750mg (03 vezes ao dia durante 04 dias). Importante ressaltar todo o planejamento logístico e de

Figura 1: Preparo e administração de medicação.

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horário (período maior de atendimento e dia mais tranquilo, no sábado pela manhã) para o específico atendimento. Adaptação profissional, das cuidadoras e família para que o tratamento odontológico fosse realizado de maneira segura e confortável para a idosa. c) Reavaliação clínica Após 12 dias da intervenção cirúrgica, foi realizada a avaliação da condição bucal e remoção das suturas na paciente que apresentava em boas condições de cicatrização. De acordo com os familiares, a paciente não apresentou mais "gemências" e estabeleceu-se uma maior facilidade na execução das ações de higiene bucal após orientações supervisionadas realizadas. Discussão

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A doença de Alzheimer é caracterizada pela perda da capacidade cognitiva, motora e de cuidados pessoais, dentre eles a manutenção da higiene bucal enfatizam alguns autores 11-13. Com a evolução de tal enfermidade, em estágios avançados de dependência, a paciente perde sua autonomia, controle de resposta aos estímulos e as ações de promoção de saúde bucal passam a ser de responsabilidade dos familiares e cuidadores, ressaltam Frenkel 3 (2004) e Zuluaga 8 (2002). Segundo Miranda et al 10 (2008) e Gitto et al 13 (2001), existe a real necessidade de um planejamento odontológico que vise o bem-estar dessa população por meio de ações preventivas e de eliminação de possíveis focos de inflamação, infecção e sintomatologia dolorosa decorrentes de problemas bucais. Nos casos de falta de cooperação do paciente para a realização da intervenção odontológica (fase avançada da demência), Andrade14 (2000) e Cogo et al 15 (2006) orientam o uso de meios sedativos, facilitando desta forma a execução dos procedimentos. O uso da sedação medicamentosa com o Maleato de midazolam, sempre sob orientação médica, permite a execução da intervenção odontológica proposta de maneira segura e eficaz. O midazolam apresenta rápida absorção, atingindo pico plasmático em 30 minutos e com efeito de duração de 2 a 4 horas 14. Além disso, promove amnésia retrógrada. Os benzodiazepínicos apresentam baixa incidência de efeitos adversos e toxicidade, particularmente em tratamentos de curta duração, como é o caso do uso em Odontologia e do caso apresentado 16. É importante ressaltar a possibilidade de aparecimento de efeitos colaterais relacionados ao uso de benzodiazepínicos em idosos, como efeitos paradoxais e depressão respiratória 15. Por isso a realização de uma minuciosa anamnese, diálogo com o médico responsável e preparo do cirurgião-dentista são de extrema importância. Cogo et al 15 (2006), Soares et al 16 (2006) e Miranda et al (2009) enfatizam que a opção por uma solução anestésica de alta lipossolubilidade, portanto alta potência e difusibilidade tecidual como a articaína, permite maior conforto, já que existe a preocupação de dor pós-operatória. A articaína, também, é considerada uma solução anestésica que gera um metabólito inativo, com toxicidade cardíaca e neurológica irrelevante. Por esta razão é uma droga apropriada para ser empregada em pacientes idosos 16. A prescrição antibiótica profilática e pós-cirúrgica por um período de 01 semana deve ser utilizada como

Figura 2: Transoperatório sob monitoração.

Figura 3: Elementos dentários e raizes residuais extraidos.

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protocolo, a partir da individualidade do caso, principalmente nos casos de infecções dentárias agudas10,14. Outro fator de grande importância, a partir da análise de Kocaelli et al 2 (2002), Varjão 4 (2006) e Adam 11 (2006), é a necessidade de participação efetiva familiar e dos cuidadores em todas as etapas do tratamento, pois normalmente são despreparados em realizar a higiene bucal de forma correta, principalmente após intervenções odontológicas mais complexas. Dentro desse contexto, faz-se necessária a efetiva participação do odontólogo junto a equipe multidisciplinar, direcionado ao idoso dependente. Além disso, ressalta-se a importância da orientação familiar e treinamento dos cuidadores, pois serão estes os multiplicadores dos conhecimentos e das práticas de higiene bucal 8,10. Conclusões O cirurgião-dentista com uma visão gerontológica deve estar capacitado a planejar o tratamento ao público idoso dependente dentro do enfoque interdisciplinar, respeitando as individualidades do paciente, as condutas médicas e sempre avaliando o contexto familiar, conforme relatado. As ações odontológicas direcionadas ao idoso frágil devem focalizar a eliminação de possíveis fatores de risco (inflamação, infecção e dor) a partir de ações consideradas de mínima intervenção e seguras. Referências 1. Friedlander AH, Norman DC, Mahler ME, Norman KM, Yagiela JA. Alzheimer's disease: psychopathology, medical management and dental implications. J Amer Dental Assoc 2007;17(3):17-30. 2. Kocaelli H, Yaltirik M, Yargic LI, Ozbas H. Alzheimer's disease and dental management. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2002;93(5):521-524. 3. Frenkel H. Alzheimer's disease and oral care. Spec Care Dent 2004;31(5):273-278. 4. Varjão FM. Assistência odontológica para o paciente portador da doença de Alzheimer. Rev Odonto Ciência 2006;21(53): 284-288. 5. Goiato MC, Santos DM, Barão VAR, Pesqueira AA, Gennari Filho H. Odontogeriatria e a Doença de Alzheimer. Pesq Bras Odontoped Clin Integr 2006;6(2):207-212. 6. Nederfors T. Xerostomia and hyposalivation. Adv Dent Res 2000;14:48-56. 7. Ettinger RL. Dental management of patients with Alzheimer's disease and other dementias. Gerodontology 2000;17(1):8-16. 8. Zuluaga M, Javier D. Manejo odontológico de pacientes com demencias. Rev Fed Dent Colomb 2002;203:28-39. 9. Odom JG, Odom SS, Jolly DE. Informed consent and the geriatric dental patient. Spec Care Dent 1992;12(5):202-206. 10. Miranda AF, Montenegro FLB, Lia EN, Miranda MPAF. Demência senil(Alzheimer): intervenção odontológica multidisciplinar em nível de consultório e domiciliar – Relato de caso clínico. Rev Eap/Apcd Sjc 2008; 10(1):11-13. 11. Adam H, Preston AJ. The oral health of individuals with dementia in nursing homes. Gerodontology 2006;23:99-105.

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12. Chalmers JM, Pearson A. Oral hygiene care for residents with dementia: a literature review. J Adv Nurs 2005;52(4):410-419. 13. Gitto CA, Moroni MJ, Terezhalmy GT, Sandu S. The patient with Alzheimer's disease. Quintessence Int 2001; 32(3):221-31. 14. Andrade ED. Terapêutica medicamentosa em Odontologia.São Paulo:Ed Artes Médicas,2000,188p. 15. Cogo K, Bergamaschi CC, Yatsuda R, Volpato MC, Andrade ED. Sedação consciente com benzodiazepínicos em odontologia. Rev Odonto USP, 2006;18(2):181-188. 16. Soares RG, Irala LED, Limongi O. Como escolher um adequado anestésico local para as diferentes situações na clínica odontológica diária? Rev Sul Bras Odonto, 2006;3(1): 35-40. 17. Miranda AF, Lia EN, Montenegro FLB. Intervenção odontológica sob sedação medicamentosa em paciente idosa portadora de doença de Alzheimer – relato de caso.

Figura 4: Oximetro de pulso de dedo.

Figura 5: Remoção e recuperação do paciente pós cirúrgico.

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ABOPE Digital Primavera 2016, Edição 2

ABOPE SOCIAL

1º EnCiSo – Instituto Sorrir para Vida

Diretoria ABOPE em Evento

Encontro da CTPNE – CROSP e ABOPE Encontro da CTPNE – CROSP e ABOPE

Palestra do Vice Presidente Prof. Marcello Boccia Pré Jornada CAL – Prof. Rafael Celestino

5º Jornada Casas André Luiz II Meeting sobre a Saúde da Pessoa com Deficiência