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Informativo 959-STF (20/11/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Informativo comentado: Informativo 959-STF Márcio André Lopes Cavalcante Julgamentos que ainda não foram concluídos em virtude de pedidos de vista ou de adiamento. Serão comentados assim que chegarem ao fim: HC 164535 AgR/RJ; ARE 1175599 AgR/DF. ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL DIREITO ADQUIRIDO É constitucional o art. 38 da Lei 8.880/94, não importando a aplicação imediata desse dispositivo em violação ao art. 5º, XXXVI, CF/88 TRIBUNAL DE CONTAS O prazo decadencial previsto na Lei nº 9.784/99 não se aplica às tomadas de contas regidas pela Lei nº 8.443/92. Suspensão de pagamentos que estão sendo realizados com base em contrato investigado em tomada de contas. DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL CONCURSO PÚBLICO Não se pode dizer que o CNJ tenha surpreendido os candidatos ao retirar determinada pontuação dos títulos do concurso se, antes dessa fase, o Conselho já tenha manifestado esse mesmo entendimento. DIREITO PROCESSUAL CIVIL RECLAMAÇÃO Cabe reclamação contra decisão do STJ que nega provimento a agravo interno interposto contra decisão monocrática do Vice-Presidente do STJ que negou seguimento ao recurso extraordinário sob a alegação de que houve incorreta aplicação de tese do STF fixada em repercussão geral. DIREITO PROCESSUAL PENAL NULIDADES O agente não pode responder a ação penal no Brasil se já foi processado criminalmente, pelos mesmos fatos, em um Estado estrangeiro. RECURSOS Cabe sustentação oral no agravo regimental interposto contra a decisão monocrática do Ministro do STF que negou seguimento ao habeas corpus? HABEAS CORPUS Não cabe habeas corpus para discutir se foi correta ou não a fixação da competência e se existe conexão entre os crimes.

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Márcio André Lopes Cavalcante Julgamentos que ainda não foram concluídos em virtude de pedidos de vista ou de adiamento. Serão comentados assim que chegarem ao fim: HC 164535 AgR/RJ; ARE 1175599 AgR/DF.

ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITO ADQUIRIDO ▪ É constitucional o art. 38 da Lei 8.880/94, não importando a aplicação imediata desse dispositivo em violação ao

art. 5º, XXXVI, CF/88 TRIBUNAL DE CONTAS ▪ O prazo decadencial previsto na Lei nº 9.784/99 não se aplica às tomadas de contas regidas pela Lei nº 8.443/92. ▪ Suspensão de pagamentos que estão sendo realizados com base em contrato investigado em tomada de contas.

DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL

CONCURSO PÚBLICO ▪ Não se pode dizer que o CNJ tenha surpreendido os candidatos ao retirar determinada pontuação dos títulos do

concurso se, antes dessa fase, o Conselho já tenha manifestado esse mesmo entendimento.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

RECLAMAÇÃO ▪ Cabe reclamação contra decisão do STJ que nega provimento a agravo interno interposto contra decisão

monocrática do Vice-Presidente do STJ que negou seguimento ao recurso extraordinário sob a alegação de que houve incorreta aplicação de tese do STF fixada em repercussão geral.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

NULIDADES ▪ O agente não pode responder a ação penal no Brasil se já foi processado criminalmente, pelos mesmos fatos, em

um Estado estrangeiro. RECURSOS ▪ Cabe sustentação oral no agravo regimental interposto contra a decisão monocrática do Ministro do STF que negou

seguimento ao habeas corpus? HABEAS CORPUS ▪ Não cabe habeas corpus para discutir se foi correta ou não a fixação da competência e se existe conexão entre os crimes.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITO ADQUIRIDO É constitucional o art. 38 da Lei 8.880/94, não importando a aplicação

imediata desse dispositivo em violação ao art. 5º, XXXVI, da CF/88

O art. 38 da Lei nº 8.880/94 previu que a URV deveria ser utilizada como parâmetro de cálculo dos índices de correção monetária nos dois primeiros meses de implantação do Plano Real.

As pessoas que tinham contratos em vigor e que haviam sido celebrados antes da Lei nº 8.880/94 começaram a questionar a aplicação imediata deste dispositivo. Alegaram que a sua aplicação aos contratos em vigor seria inconstitucional por violar o direito adquirido (art. 5º, XXXVI, da CF/88).

O STF não concordou com essa tese e decidiu que:

É constitucional o art. 38 da Lei nº 8.880/94 e que a sua aplicação imediata para os contratos em vigor não violou a garantia do “direito adquirido”, prevista no art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal.

Não é possível opor a cláusula de proteção ao direito adquirido ou ato jurídico perfeito em face da aplicação imediata de normas que tratam de regime monetário, as quais possuem natureza estatutária e institucional, como é a situação daquelas responsáveis por substituir uma moeda por outra.

As normas que tratam do regime monetário - inclusive, portanto, as de correção monetária -, têm natureza institucional e estatutária, insuscetíveis de disposição por ato de vontade, razão pela qual sua incidência é imediata, alcançando as situações jurídicas em curso de formação ou de execução.

STF. Plenário. ADPF 77/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/5/2019 (Info 940).

STF. 1ª Turma. RE 307108/RJ, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 12/11/2019 (Info 959).

Lei nº 8.880/94 A Lei nº 8.880/94 instituiu no Brasil o chamado “Plano Real”, que teve como principal objetivo controlar a altíssima inflação existente no país. Uma das medidas para a implementação deste plano econômico foi a instituição de uma unidade monetária, que foi denominada de URV (Unidade Real de Valor). Correção monetária Conforme já explicado, o objetivo do Plano Real era conter a altíssima inflação que existia no Brasil. Ocorre que os economistas previram que, assim que o plano entrasse em vigor, com a mudança da moeda (de Cruzeiro Real para Real) haveria uma brusca desaceleração da inflação, gerando, assim, uma superestimativa da reposição do valor da moeda e, por consequência, haveria um desequilíbrio das obrigações. Em outras palavras, os índices de correção monetária existentes não conseguiriam reproduzir a nova realidade que se verificaria com a implementação do plano. Diante disso, o art. 38 da Lei nº 8.880/94 previu que a URV deveria ser utilizada como parâmetro de cálculo dos índices de correção monetária nos dois primeiros meses de implantação do Plano Real. Isso representou, na verdade, uma espécie de “criação” de uma nova forma de cálculo da correção monetária, que iria atingir, inclusive, os contratos que já estavam em vigor. Veja a redação do art. 38:

Art. 38. O cálculo dos índices de correção monetária, no mês em que se verificar a emissão do Real de que trata o art. 3º desta lei, bem como no mês subsequente, tomará por base preços em Real,

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o equivalente em URV dos preços em cruzeiros reais, e os preços nominados ou convertidos em URV dos meses imediatamente anteriores, segundo critérios estabelecidos em lei. Parágrafo único. Observado o disposto no parágrafo único do art. 7º, é nula de pleno direito e não surtirá nenhum efeito a aplicação de índice, para fins de correção monetária, calculado de forma diferente da estabelecida no caput deste artigo.

Decisões judiciais questionando a aplicação imediata deste art. 38 As pessoas que tinham contratos em vigor e que haviam sido celebrados antes da Lei nº 8.880/94 começaram a questionar a aplicação imediata deste dispositivo. Alegaram que a sua aplicação aos contratos em vigor seria inconstitucional por violar o direito adquirido (art. 5º, XXXVI, da CF/88). Várias decisões foram proferidas nesse sentido. ADPF A Confederação Nacional do Sistema Financeiro (CONSIF) queria manter as regras trazidas pelo Plano Real e, por isso, ajuizou, em 2005, uma ADPF para declarar a constitucionalidade deste art. 38. Por que a autora não propôs uma ADC? Porque o art. 38 da Lei nº 8.880/94 era uma regra transitória, que somente produziu seus efeitos em relação aos dois primeiros meses de implementação do Plano Real. Segundo a jurisprudência do STF, não cabe ADI/ADC tendo como objeto lei revogada ou que tenha tido a sua eficácia exaurida. No caso, a eficácia do art. 38 já estava exaurida, de sorte que não caberia ADC. Assim, o único instrumento de controle concentrado passível de ser manejado em face do art. 38 era a arguição de descumprimento de preceito fundamental, que possui a característica de ser subsidiária (art. 4º, § 1º, da Lei nº 9.882/99). Nas palavras do STF: “O requisito da subsidiariedade está presente, visto que se questiona preceito de natureza eminentemente transitória, com efeitos exauridos no momento do ajuizamento da ação. É incabível outro instrumento de controle concentrado capaz de solver a controvérsia de forma ampla, geral e imediata”.

Cabe ADPF para declarar a constitucionalidade de dispositivo de lei cuja eficácia já foi exaurida. Dado o seu perfil subsidiário, a arguição de descumprimento de preceito fundamental se apresenta como medida processual mais adequada para afirmar a constitucionalidade do art. 38 da Lei nº 8.880/94, dispositivo de natureza transitória e de eficácia já exaurida que instrumentalizou a instituição do Plano Real. STF. Plenário. ADPF 77/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/5/2019 (Info 940).

Veja como o tema já foi cobrado em prova: (Juiz Federal TRF3 2018) É inadmissível o ajuizamento de ADI ou ADPF contra lei ou ato normativo revogado ou de eficácia exaurida, diante da perda do objeto. (errado) Quanto ao mérito, o STF concordou com a autora? Este dispositivo é constitucional e podia ser aplicado aos contratos em curso? SIM.

É constitucional o art. 38 da Lei nº 8.880/94 (URV como forma de cálculo da correção monetária na implementação do Plano Real). A aplicação imediata desse dispositivo para os contratos em vigor não violou a garantia do “direito adquirido”, prevista no art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal. STF. Plenário. ADPF 77/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/5/2019 (Info 940).

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STF. 1ª Turma. RE 307108/RJ, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 12/11/2019 (Info 959).

A correção monetária visa recompor a perda do poder aquisitivo da moeda, em razão do ambiente inflacionário. Quando esta Lei foi editada, o Brasil vivia a experiência da inflação galopante. Para seu controle, surgiu o Plano Real. Na época, o plano para a implantação do real foi dividido, basicamente, em três etapas: a) estabelecimento, em bases permanentes, do equilíbrio das contas do governo; b) criação da Unidade Real de Valor (URV); e c) emissão da nova moeda. O STF entendeu que é constitucional a aplicação imediata do art. 38 às obrigações em curso, firmadas antes de seu advento. Isso porque esse art. 38 tem natureza institucional estatutária. Isso quer dizer que ele é parte integrante e inseparável das leis e medidas provisórias responsáveis pela introdução do “Plano Real”, um programa governamental para combate à inflação. Não é possível opor a cláusula de proteção ao direito adquirido ou ato jurídico perfeito em face da aplicação imediata de normas que tratam de regime monetário, as quais possuem natureza estatutária e institucional, como é a situação daquelas responsáveis por substituir uma moeda por outra. Esse entendimento já era consolidado no STF:

(...) 1. A aplicação da cláusula constitucional que assegura, em face da lei nova, a preservação do direito adquirido e do ato jurídico perfeito (CF, art. 5º, XXXVI) impõe distinguir duas diferentes espécies de situações jurídicas: (a) as situações jurídicas individuais, que são formadas por ato de vontade (especialmente os contratos), cuja celebração, quando legítima, já lhes outorga a condição de ato jurídico perfeito, inibindo, desde então, a incidência de modificações legislativas supervenientes; e (b) as situações jurídicas institucionais ou estatutárias, que são formadas segundo normas gerais e abstratas, de natureza cogente, em cujo âmbito os direitos somente podem ser considerados adquiridos quando inteiramente formado o suporte fático previsto na lei como necessário à sua incidência. Nessas situações, as normas supervenientes, embora não comportem aplicação retroativa, podem ter aplicação imediata. 2. Segundo reiterada jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, as normas que tratam do regime monetário - inclusive, portanto, as de correção monetária -, têm natureza institucional e estatutária, insuscetíveis de disposição por ato de vontade, razão pela qual sua incidência é imediata, alcançando as situações jurídicas em curso de formação ou de execução. É irrelevante, para esse efeito, que a cláusula estatutária esteja reproduzida em ato negocial (contrato), eis que essa não é circunstância juridicamente apta a modificar a sua natureza. 3. As disposições do art. 21 da Lei 9.069/95, resultante da conversão da MP 542/94, formam um dos mais importantes conjuntos de preceitos normativos do Plano REAL, um dos seus pilares essenciais, justamente o que fixa os critérios para a transposição das obrigações monetárias, inclusive contratuais, do antigo para o novo sistema monetário. São, portanto, preceitos de ordem pública e seu conteúdo, por não ser suscetível de disposição por atos de vontade, têm natureza estatutária, vinculando de forma necessariamente semelhante a todos os destinatários. Dada essa natureza institucional (estatutária), não há inconstitucionalidade na sua aplicação imediata (que não se confunde com aplicação retroativa) para disciplinar as cláusulas de correção monetária de contratos em curso. 4. Recurso extraordinário a que se nega provimento. STF. Plenário. RE 212609, Rel. Min. Carlos Velloso, Rel. p/ Acórdão Min. Teori Zavascki, julgado em 29/04/2015.

O tema já foi cobrado em prova: (MP/RR 2017 CESPE) Normas que tratem de regime monetário, quando forem inseridas em contratos particulares, não serão atingidas por leis posteriores que disponham de maneira diversa. (errado)

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TRIBUNAL DE CONTAS O prazo decadencial previsto na Lei nº 9.784/99 não se aplica às

tomadas de contas regidas pela Lei nº 8.443/92

Suspensão de pagamentos que estão sendo realizados com base em contrato investigado em tomada de contas

O prazo decadencial previsto na Lei nº 9.784/99 não se aplica às tomadas de contas regidas pela Lei nº 8.443/92

O prazo decadencial quinquenal, previsto no art. 54 da Lei nº 9.784/99, não se aplica para a atuação do TCU em processo de tomada de contas, considerando que se trata de procedimento regido pela Lei nº 8.443/92, que se constitui em norma especial.

Em suma, o prazo decadencial de 5 anos, previsto no art. 54 da Lei nº 9.784/99, não se aplica aos processos de tomada de contas conduzidos pelo TCU considerando que existe uma lei específica que rege o tema, que é a Lei nº 9.784/99.

Suspensão de pagamentos que estão sendo realizados com base em contrato investigado em tomada de contas

TCU possui a competência para determinar que empresa pública federal (BNDES) suspenda pagamentos que estão sendo realizados com base em contrato de confissão de dívida cuja regularidade está sendo apurada em tomada de contas.

STF. 1ª Turma. MS 35038 AgR/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 12/11/2019 (Info 959).

Imagine a seguinte situação adaptada: Em 2002, o BNDES (empresa pública federal) celebrou, com uma determinada pessoa jurídica, “contrato de confissão de dívida”. Em outras palavras, o BNDES assinou termo por meio do qual reconheceu que devia certa quantia para essa pessoa jurídica e estipulou um cronograma de pagamentos mensais para quitar a dívida. Esse cronograma de pagamento iria durar anos. Em 2016, ou seja, 12 anos depois dessa assinatura, o Tribunal de Contas da União instaurou processo administrativo de tomada de contas para apurar esse negócio jurídico. O Ministro do TCU concedeu medida cautelar nesta tomada de contas para determinar que o BNDES suspenda os pagamentos até a deliberação definitiva sobre a questão. Mandado de segurança A pessoa jurídica que estava recebendo os pagamentos e que foi prejudicada por essa decisão impetrou mandado de segurança alegando dois argumentos: 1) o TCU não mais poderia invalidar o contrato de confissão de dívida firmado em 2002 porque teria havido decadência, nos termos do caput do art. 54 da Lei nº 9.784/99:

Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé.

2) o TCU não tem a prerrogativa de, diretamente, sustar ou anular contratos, sob pena de ofensa ao § 1º do art. 71 da CF/88:

Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete:

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(...) § 1º No caso de contrato, o ato de sustação será adotado diretamente pelo Congresso Nacional, que solicitará, de imediato, ao Poder Executivo as medidas cabíveis.

Vejamos o que o STF decidiu. O primeiro argumento foi acolhido? Houve decadência? NÃO.

O prazo decadencial quinquenal, previsto no art. 54 da Lei nº 9.784/99, não se aplica para a atuação do TCU em processo de tomada de contas, considerando que se trata de procedimento regido pela Lei nº 8.443/92, que se constitui em norma especial. STF. 1ª Turma. MS 35038 AgR/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 12/11/2019 (Info 959).

Veja outros precedentes no mesmo sentido:

O processo de tomada de contas instaurado perante o TCU é regido pela Lei nº 8.443/92, que consubstancia norma especial em relação à Lei nº 9.784/99. Daí porque não se opera, no caso, a decadência administrativa. STF. Plenário. MS 25641, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 22/11/2007.

O prazo decadencial previsto na Lei nº 9.784/99 não se aplica às tomadas de contas regidas pela Lei nº 8.443/92. STF. 1ª Turma. MS 33414 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 02/08/2016.

O processo de tomada de contas instaurado perante o Tribunal de Contas da União é regido pela Lei nº 8.443/92, que consubstancia norma especial em relação à Lei nº 9.784/99. Por essa razão, não ocorre, no caso, a decadência. STF. 2ª Turma. MS 26297 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 17/03/2017.

Em suma, o prazo decadencial de 5 anos, previsto no art. 54 da Lei nº 9.784/99, não se aplica aos processos de tomada de contas conduzidos pelo TCU considerando que existe uma lei específica que rege o tema, que é a Lei nº 9.784/99. Esse entendimento está em harmonia com o que o STF decidiu no julgamento do RE 852.475, em que foi fixada a seguinte tese:

São imprescritíveis as ações de ressarcimento ao erário fundadas na prática de ato doloso tipificado na Lei de Improbidade Administrativa. STF. Plenário. RE 852475/SP, Rel. orig. Min. Alexandre de Moraes, Rel. para acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 08/08/2018 (Tema 897 – repercussão geral) (Info 910).

Além disso, mesmo que se considerasse aplicável o art. 54 da Lei nº 9.784/99, como a apuração do TCU ainda está em uma etapa embrionária, o correto é a continuidade da tomada de contas porque se ficar constatada a má-fé dos beneficiários, a situação se amolaria à parte final do dispositivo. Vale ressaltar que não se está presumindo a má-fé. O que se está apenas é dizendo que a comprovação ou não da má-fé somente será possível com a continuidade da tomada de contas. Por fim, o STF entende que o prazo do art. 54 da Lei nº 9.784/99 não se aplica em casos de violação direta à Constituição Federal. No caso, o estágio inicial das apurações conduzidas pelo TCU não autoriza descartar a configuração de flagrante de inconstitucionalidade no contrato de confissão de dívida.

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O segundo argumento foi acolhido? Também NÃO. O STF rejeitou a apontada ofensa ao art. 71, § 1º, da CF/88. Embora o TCU não possa, diretamente, sem prévia submissão da matéria ao Congresso Nacional, determinar a sustação ou a anulação de contrato, pode determinar às unidades fiscalizadas que adotem medidas voltadas à anulação de ajustes contratuais, com base no art. 71, IX, da CF/88:

Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete: (...) IX – assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, se verificada ilegalidade;

Ademais, as atribuições constitucionais conferidas ao TCU pressupõem a outorga de poder geral de cautela àquele órgão. Ambas as prerrogativas conduzem ao reconhecimento da legitimidade do ato impugnado e afastam a configuração de ilegalidade ou de abuso de poder. Como o TCU pode determinar que o BNDES anule o contrato de confissão de dívida, isso significa que o TCU também possui o poder geral de cautela de impor a suspensão dos repasses mensais decorrentes dessa avença, como forma de assegurar o próprio resultado útil da futura manifestação da Corte de Contas. Em suma:

TCU possui a competência para determinar que empresa pública federal (BNDES) suspenda pagamentos que estão sendo realizados com base em contrato de confissão de dívida cuja regularidade está sendo apurada em tomada de contas. STF. 1ª Turma. MS 35038 AgR/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 12/11/2019 (Info 959).

DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL

CONCURSO PÚBLICO Não se pode dizer que o CNJ tenha surpreendido os candidatos ao retirar

determinada pontuação dos títulos do concurso se, antes dessa fase, o Conselho já tenha manifestado esse mesmo entendimento

O CNJ, em procedimento de controle administrativo, determinou à comissão de concurso público para serventias notariais e registrais que afastasse a possibilidade de o título pelo exercício do magistério superior ser computado duas vezes caso o candidato tenha sido admitido com concurso público e sem concurso público (dois vínculos), devendo ser considerado apenas um dos títulos.

Um dos candidatos prejudicados impetrou mandado de segurança, afirmando que o CNJ teria dado nova interpretação a normas relativas ao concurso público, sendo inviável sua aplicação retroativa.

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O STF não concordou. Ao contrário do que alegado pelo impetrante, não há comprovação de que o CNJ tenha efetivamente surpreendido os candidatos com qualquer mudança de entendimento.

Os documentos juntados aos autos demonstram que, antes da fase de títulos, houve pronunciamento do Plenário do CNJ afirmando a impossibilidade de acumulação de títulos de exercício de magistério decorrentes de vínculos diversos. No procedimento de controle administrativo essa interpretação foi apenas reiterada.

Dessa maneira, concluiu não haver ilegalidade praticada pelo CNJ.

STF. 1ª Turma. MS 35992/RS e MS 36218/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 12/11/2019 (Info 959).

Imagine a seguinte situação adaptada: Em 2013, foi aberto concurso público para Outorga de Delegação de Serviços Notariais e Registrais do Estado do Rio Grande do Sul. Foram realizadas as provas e, depois de inúmeras suspensões do certame, em 2017, chegou na fase de títulos. Uma das candidatas ingressou com pedido no CNJ para que não fosse aceito o cômputo acumulado de título de magistério cuja admissão se deu por concurso público, com o título de magistério onde não houve processo seletivo público, e que fosse considerado apenas o título de maior pontuação apresentado pelos candidatos. O CNJ acolheu o pedido e determinou à Comissão do Concurso Público que afastasse o cômputo acumulado e que refizesse a lista da pontuação dos candidatos já com esse novo parâmetro. Um dos candidatos prejudicados com a exclusão do cômputo acumulado impetrou mandado de segurança no STF alegando, dentre outros argumentos, que o CNJ teria dado nova interpretação às regras de concurso público, sendo inviável sua aplicação retroativa. O STF acolheu o pedido? NÃO.

Não há comprovação de que o CNJ tenha efetivamente surpreendido os candidatos com qualquer mudança de entendimento. Os documentos juntados aos autos demonstram que, ainda em 2016, houve pronunciamento do CNJ a respeito desse concurso e, nessa ocasião, o Conselho já afirmou que não era possível a acumulação de títulos de exercício de magistério decorrentes de vínculos diversos. Na decisão de 2017, essa interpretação foi apenas reiterada. Vale ressaltar que a impossibilidade de acumulação foi divulgada antes mesmo do resultado da fase de títulos do concurso. Dessa maneira, concluiu não haver ilegalidade praticada pelo CNJ. STF. 1ª Turma. MS 35992/RS e MS 36218/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 12/11/2019 (Info 959).

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

RECLAMAÇÃO Cabe reclamação contra decisão do STJ que nega provimento a agravo interno interposto contra decisão monocrática do Vice-Presidente do STJ que negou seguimento ao recurso extraordinário

sob a alegação de que houve incorreta aplicação de tese do STF fixada em repercussão geral

A erronia na observância de pronunciamento do STF formalizado, em recurso extraordinário, sob o ângulo da repercussão geral, enseja, esgotada a jurisdição na origem considerado o julgamento de agravo, o acesso ao Supremo mediante a reclamação.

Fundamento: art. 988, § 5º do CPC/2015.

Caso concreto: a parte interpôs recurso extraordinário contra acórdão do STJ alegando que houve errônea aplicação de tese do STF fixada em repercussão geral. O Vice-Presidente do STJ negou seguimento ao recurso extraordinário. Contra esta decisão, a parte interpôs agravo interno. A Corte Especial do STJ negou provimento ao agravo interno. A parte ingressou, então, com reclamação, que foi conhecida pelo STF.

STF. 1ª Turma. Rcl 26874 AgR/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 12/11/2019 (Info 959).

Imagine a seguinte situação hipotética: A empresa “A1” ajuizou ação contra a empresa “B2”. O pedido foi julgado improcedente e a decisão foi mantida pelo TJ. Ainda inconformada, a empresa “A1” interpôs recurso especial e o STJ manteve o acórdão do TJ. Houve o trânsito em julgado. Ação rescisória Diante disso, a empresa “A1” ajuizou ação rescisória, no STJ, afirmando que o recurso especial aplicou, de forma errada, a tese fixada pelo STF no julgamento de um recurso extraordinário apreciado sob a sistemática da repercussão geral (o chamado recurso extraordinário repetitivo). O STJ julgou improcedente a ação rescisória. A empresa interpôs, então, recurso extraordinário contra essa decisão. O Vice-Presidente do STJ negou seguimento ao recurso extraordinário, com base no inciso I do art. 1.030 do CPC, afirmando que o STJ aplicou corretamente o entendimento do STF fixado na tese de repercussão geral. O que a empresa pode fazer? Interpor agravo interno para a Corte Especial do STJ (art. 1.030, § 2º). A empresa ingressou com o recurso, mas a Corte Especial desproveu o agravo interno. O que a empresa “A1” poderá fazer contra essa decisão do STJ? Interpor reclamação, nos termos do art. 988, § 5º, II, do CPC:

Art. 988 (...) § 5º É inadmissível a reclamação: (...) II – proposta para garantir a observância de acórdão de recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida ou de acórdão proferido em julgamento de recursos extraordinário ou especial repetitivos, quando não esgotadas as instâncias ordinárias.

Foi isso que decidiu a 1ª Turma do STF. Veja as exatas palavras do STF:

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A erronia na observância de pronunciamento do STF formalizado, em recurso extraordinário, sob o ângulo da repercussão geral, enseja, esgotada a jurisdição na origem considerado o julgamento de agravo, o acesso ao Supremo mediante a reclamação. STF. 1ª Turma. Rcl 26874 AgR/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 12/11/2019 (Info 959).

O Min. Marco Aurélio explicou em seu voto:

“(...) a reclamação é o meio apropriado a impugnar, uma vez esgotadas as instâncias ordinárias, a observância, pelos demais tribunais, do regime da repercussão geral, descabendo articular com o manuseio desta, no caso, como sucedâneo recursal. Consoante o versado no § 5º, inciso II, do artigo 988 do Código de Processo Civil de 2015, o preenchimento do requisito está configurado a partir do desprovimento, na origem, do agravo interno interposto contra a inadmissão do extraordinário. Somente então é possível concluir materializada a usurpação da competência do Supremo ante a consideração equivocada, na origem, de entendimento surgido sob o ângulo da repercussão geral.”

DIREITO PROCESSUAL PENAL

NULIDADES O agente não pode responder a ação penal no Brasil se já foi processado criminalmente,

pelos mesmos fatos, em um Estado estrangeiro

O agente não pode responder à ação penal no Brasil se já foi processado criminalmente, pelos mesmos fatos, em um Estado estrangeiro.

O art. 5º do Código Penal afirma que a lei brasileira se aplica ao crime cometido no território nacional, mas ressalva aquilo que for previsto em “convenções, tratados e regras de direito internacional”.

A Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH) e o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (PIDCP) proíbem de forma expressa a dupla persecução penal pelos mesmos fatos.

Desse modo, o art. 8º do CP deve ser lido em conformidade com os preceitos convencionais e a jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), vedando-se a dupla persecução penal por idênticos fatos.

Vale, por fim, fazer um importante alerta: a proibição de dupla persecução penal em âmbito internacional deve ser ponderada com a soberania dos Estados e com as obrigações processuais positivas impostas pela CIDH. Isso significa que, se ficar demonstrado que o Estado que “processou” o autor do fato violou os deveres de investigação e de persecução efetiva, o julgamento realizado no país estrangeiro pode ser considerado ilegítimo. Portanto, se houver a devida comprovação de que o julgamento em outro país sobre os mesmos fatos não se realizou de modo justo e legítimo, desrespeitando obrigações processuais positivas, a vedação de dupla persecução pode ser eventualmente ponderada para complementação em persecução interna.

STF. 2ª Turma. HC 171118/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 12/11/2019 (Info 959).

Imagine a seguinte situação hipotética: João foi denunciado pelo Ministério Público Federal acusado da prática do crime de lavagem de dinheiro, previsto no art. 1º da Lei nº 9.613/98.

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Segundo narrou a denúncia, o acusado teria transferido dinheiro oriundo de tráfico de drogas da Suíça para o Brasil, utilizando-se de contrato de fachada para dar aparência de licitude aos ativos em solo brasileiro. O Juiz Federal da 2ª Vara Criminal de São Paulo recebeu a denúncia. Defesa do réu A defesa do réu alegou que João já foi processado na Suíça, por esses mesmos fatos, tendo sido condenado pelo Tribunal do Cantão de Zurique. Por essa razão, argumentou que essa ação penal no Brasil, pelos mesmos fatos, configuraria bis in idem. O TRF3 e o STJ negaram o pedido da defesa sob o fundamento de que o crime também foi cometido no Brasil, uma vez que a execução e os efeitos da lavagem de dinheiro ocorreram em território nacional. Assim, isso permitiria a persecução penal pela justiça brasileira, independentemente de outra condenação no exterior. Dessa forma, adota-se o princípio da territorialidade, nos termos do art. 5º do Código Penal:

Art. 5º Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional.

Desse modo, para o STJ, o processo penal deveria tramitar normalmente aqui no Brasil e, ao final, caso o réu seja condenado, poderia haver, eventualmente, a detração da pena, nos termos do art. 8º do CP:

Art. 8º A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.

O STF também concordou com esse entendimento do TRF3 e do STJ? O processo criminal contra João continuou a tramitar aqui no Brasil? NÃO. A 2ª Turma acolheu o pedido da defesa e concedeu a ordem em habeas corpus para determinar o trancamento de ação penal movida contra o paciente. Art. 5º do CP ressalva as convenções, tratados e regras de direito internacional O art. 5º do CP afirma que se aplica a lei brasileira ao crime cometido no território nacional, mas faz uma ressalva para aquilo que for previsto em “convenções, tratados e regras de direito internacional”. Além disso, a interpretação desse dispositivo deverá levar em consideração aquilo que dispõe a Lei nº 13.445/2017 (Lei de Migração). Este diploma elenca o rol de casos em que o Estado brasileiro não concede extradição, notadamente o disposto no art. 82, V:

Art. 82. Não se concederá a extradição quando: (...) V - o extraditando estiver respondendo a processo ou já houver sido condenado ou absolvido no Brasil pelo mesmo fato em que se fundar o pedido;

O art. 100, caput, da Lei de Migração exige a observância do princípio do ne bis in idem:

Art. 100. Nas hipóteses em que couber solicitação de extradição executória, a autoridade competente poderá solicitar ou autorizar a transferência de execução da pena, desde que observado o princípio do non bis in idem.

Esses dispositivos são uma evidente garantia contra nova persecução penal pelos mesmos fatos, de modo a se consagrar a proibição de dupla persecução penal também entre países, no âmbito internacional.

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CADH e PIDCP Existem duas possibilidades quanto à natureza jurídica dos tratados internacionais que versam sobre direitos humanos: • se foram aprovados segundo as regras do art. 5º, § 3º da CF/88: serão equivalentes às emendas constitucionais; • se não foram aprovados segundo tais regras: terão um status normativo supralegal, ou seja, estão abaixo da Constituição, mas acima das leis infraconstitucionais. A Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH) e o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (PIDCP) são tratados de direitos humanos, mas que não foram aprovados segundo as regras do art. 5º, § 3º da CF/88 (porque são anteriores à EC 45/2004, que acrescentou este § 3º). Isso significa que esses tratados possuem status supralegal no Brasil. O Código Penal deve ser interpretado, portanto, em conformidade (em harmonia) com os direitos assegurados na Convenção Americana de Direitos Humanos e no Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos. Trata-se daquilo que a doutrina denomina de controle de convencionalidade:

“(...) entende-se que o controle de convencionalidade (ou o de supralegalidade) deve ser exercido pelos órgãos da justiça nacional relativamente aos tratados aos quais o país se encontra vinculado. Trata-se de adaptar ou conformar os atos ou leis internas aos compromissos internacionais assumidos pelo Estado, que criam para estes deveres no plano internacional com reflexos práticos no plano do seu direito interno. Doravante, não somente os tribunais internacionais (ou supranacionais) devem realizar esse tipo de controle, mas também os tribunais internos. O fato de serem os tratados internacionais (notadamente os de direitos humanos) imediatamente aplicáveis no âmbito do direito doméstico, garante a legitimidade dos controles de convencionalidade e de supralegalidade das leis no Brasil" (MAZZUOLI, Valério. O controle jurisdicional da convencionalidade das leis. 2ª ed. V. 4. São Paulo: RT, 2011, p. 133-134.)

Esses dois diplomas internacionais tratam de forma expressa sobre a proibição da dupla persecução penal:

CADH Artigo 8. Garantias judiciais (…) 4. O acusado absolvido por sentença passada em julgado não poderá ser submetido a novo processo pelos mesmos fatos.

PIDCP Artigo 14 (...) 7. Ninguém poderá ser processado ou punido por um delito pelo qual já foi absorvido ou condenado por sentença passada em julgado, em conformidade com a lei e os procedimentos penais de cada país.

O STF já teve a oportunidade de se manifestar a respeito dessas regras, e, ao fazê-lo obstou o prosseguimento de processo penal quanto a fatos já julgados por jurisdição diversa:

(...) Ninguém pode expor-se, em tema de liberdade individual, a situação de duplo risco. Essa é a razão pela qual a existência de hipótese configuradora de “double jeopardy” atua como insuperável obstáculo à instauração, em nosso País, de procedimento penal contra o agente que tenha sido condenado ou absolvido, no Brasil ou no exterior, pelo mesmo fato delituoso.

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- A cláusula do Artigo 14, n. 7, inscrita no Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, aprovado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, qualquer que seja a natureza jurídica que se lhe atribua (a de instrumento normativo impregnado de caráter supralegal ou a de ato revestido de índole constitucional), inibe, em decorrência de sua própria superioridade hierárquico-normativa, a possibilidade de o Brasil instaurar, contra quem já foi absolvido ou condenado no exterior, com trânsito em julgado, nova persecução penal motivada pelos mesmos fatos subjacentes à sentença penal estrangeira. STF. 2ª Turma. Ext 1223, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 22/11/2011.

Assim, o exercício do controle de convencionalidade, tendo por paradigmas os dispositivos do artigo 14.7, do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos e do artigo 8.4, da Convenção Americana de Direitos Humanos, determina a vedação à dupla persecução penal, ainda que em jurisdições de países distintos. Por sua vez, o art. 8º do CP deve ser lido em conformidade com os preceitos convencionais e a jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), vedando-se a dupla persecução penal por idênticos fatos. Ponderação com a soberania dos Estados Vale, por fim, fazer um importante alerta: a proibição de dupla persecução penal em âmbito internacional deve ser ponderada com a soberania dos Estados e com as obrigações processuais positivas impostas pela CIDH. Isso significa que, se ficar demonstrado que o Estado que “processou” o autor do fato violou os deveres de investigação e de persecução efetiva, o julgamento realizado no país estrangeiro pode ser considerado ilegítimo. Nesse sentido, existem precedentes em que a própria CIDH determinou a reabertura de investigações que haviam sido realizadas em determinados Estados pelo fato não ter sido feita uma persecução penal efetiva contra indivíduos que praticaram violações de direitos humanos. Portanto, se houver a devida comprovação de que o julgamento em outro país sobre os mesmos fatos não se realizou de modo justo e legítimo, desrespeitando obrigações processuais positivas, a vedação de dupla persecução pode ser eventualmente ponderada para complementação em persecução interna. Voltando ao caso concreto No caso concreto, o STF entendeu que não havia qualquer elemento que indicasse dúvida sobre a legitimidade da persecução penal e da punição imposta em processo penal na Suíça por idênticos fatos ao agora denunciado no Brasil. Dessa forma, a proibição de dupla persecução deve ser respeitada de modo integral, nos termos constitucionais e convencionais.

Em suma:

O agente não pode responder a ação penal no Brasil se já foi processado criminalmente, pelos mesmos fatos, em um Estado estrangeiro. Vale ressaltar, contudo, que a proibição de dupla persecução penal em âmbito internacional deve ser ponderada com a soberania dos Estados e com as obrigações processuais positivas impostas pela CIDH. STF. 2ª Turma. HC 171118/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 12/11/2019 (Info 959).

Cuidado: O STJ recentemente decidiu que:

A pendência de julgamento de litígio no exterior não impede, por si só, o processamento da ação penal no Brasil, não configurando bis in idem. STJ. 6ª Turma. RHC 104.123-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 17/09/2019 (Info 656).

Embora o caso concreto julgado pelo STJ tivesse algumas peculiaridades, existe a dúvida se esse entendimento irá prevalecer a partir daquilo que decidiu o STF no HC 171118/SP.

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RECURSOS Cabe sustentação oral no agravo regimental interposto contra a decisão monocrática do

Ministro do STF que negou seguimento ao habeas corpus?

Tema polêmico!

Atualize o Info 937-STF

Cabe sustentação oral no agravo regimental interposto contra a decisão monocrática do Ministro do STF que negou seguimento ao habeas corpus?

1ª Turma do STF: NÃO. É incabível sustentação oral em agravo regimental interposto contra decisão monocrática que nega seguimento a habeas corpus. O art. 131, § 2º do Regimento Interno do STF veda expressamente a possibilidade de sustentação oral em agravo interno e o art. 937, § 3º do CPC/2015 a admite unicamente em ação rescisória, reclamação e mandado de segurança.

STF. 1ª Turma. HC 151881 AgR/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 12/11/2019 (Info 959).

2ª Turma do STF: SIM.

Cabe sustentação oral no agravo regimental interposto contra a decisão monocrática do Ministro do STF que negou seguimento ao habeas corpus.

Fundamento: aplicação, por analogia, da regra do § 3º do art. 937 do CPC/2015.

STF. 2ª Turma. HC 152676/PR, Rel. Min. Edson Fachin, red. p/ ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 9/4/2019 (Info 937).

Negar seguimento ao habeas corpus Assim que um habeas corpus é impetrado no STF ou STJ, será sorteado um Ministro para ser o relator desta ação. Em regra, o habeas corpus deve ser julgado pelo colegiado (turma ou plenário), ou seja, o relator prepara seu voto e o submete aos demais Ministros. No entanto, o regimento interno do STF e do STJ autorizam que, em determinados casos, o Ministro Relator, monocraticamente, negue seguimento ao habeas corpus caso sele seja manifestamente: • inadmissível; • improcedente; • contrário à súmula do Tribunal; • contrário à jurisprudência dominante do Tribunal; • ou quando for evidente a incompetência do Tribunal para julgá-lo.

Essa possibilidade de julgamento monocrático existe não apenas para o habeas corpus como também para o mandado de segurança e para os recursos. Veja a previsão do RISTF:

Art. 21 (...) § 1º Poderá o(a) Relator(a) negar seguimento a pedido ou recurso manifestamente inadmissível, improcedente ou contrário à jurisprudência dominante ou a Súmula do Tribunal, deles não conhecer em caso de incompetência manifesta, encaminhando os autos ao órgão que repute competente, bem como cassar ou reformar, liminarmente, acórdão contrário à orientação firmada nos termos do art. 543-B do Código de Processo Civil.

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Informativo 959-STF (20/11/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15

Confira agora a regra no caso do RISTJ:

Art. 34. São atribuições do relator: (...) XVIII - negar seguimento a pedido ou recurso manifestamente intempestivo, incabível, improcedente, contrário a súmula do Tribunal, ou quando for evidente a incompetência deste.

Contra essa decisão do relator, cabe recurso? SIM. Cabe agravo regimental, no prazo de 5 dias corridos. O prazo e a forma de contagem estabelecidos pelo novo CPC não se aplicam aos agravos regimentais que questionam atos produzidos em processos ou procedimentos de natureza penal O CPC/2015 possui regra dizendo que o prazo para a interposição de qualquer agravo é de 15 dias úteis (art. 1.070 c/c art. 219). Essa regra, no entanto, não se aplica para o agravo regimental interposto contra decisões monocráticas proferidas por Ministros do STF ou STJ em processos de natureza criminal (como é o caso do HC). Isso porque existem previsões específicas que regem o tema no processo penal: • o art. 39 da Lei nº 8.038/90 prevê que o prazo do agravo em matéria criminal é de 5 dias. • o art. 798 do CPP prevê que os prazos no processo penal são contínuos, ou seja, não são contados em dias úteis. Esse é o entendimento da jurisprudência:

O agravo interposto contra decisão monocrática do Ministro Relator no STF e STJ, em recursos ou ações originárias que versem sobre matéria penal ou processual penal NÃO obedece às regras no novo CPC. Isso significa que: • o prazo deste agravo é de 5 dias, nos termos do art. 39 da Lei nº 8.038/90 (não se aplicando o art. 1.070 do CPC/2015); • este prazo é contado em dias corridos, conforme prevê o art. 798 do CPP (não se aplicando a regra da contagem em dias úteis do art. 219 do CPC/2015). STF. Plenário. Rcl 25638/MG, Rel. para ac. Min. Edson Fachin, julgado em 09/05/2019. STJ. 3ª Seção. AgRg na Rcl 30.714/PB, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 27/04/2016.

Antes de a Turma julgar esse agravo, o advogado do agravante pode fazer sustentação oral? O STF, por enquanto, está dividido sobre o tema:

Cabe sustentação oral no agravo regimental interposto contra a decisão monocrática do Ministro do STF que negou seguimento ao habeas corpus?

1ª Turma do STF: NÃO 2ª Turma do STF: SIM

É incabível sustentação oral em agravo regimental interposto contra decisão monocrática que nega seguimento a habeas corpus. O art. 131, § 2º do Regimento Interno do STF veda expressamente a possibilidade de sustentação oral em agravo interno e o art. 937, § 3º do CPC/2015 a admite unicamente em ação rescisória, reclamação e mandado de segurança.

Cabe sustentação oral no agravo regimental interposto contra a decisão monocrática do Ministro do STF que negou seguimento ao habeas corpus. Fundamento: aplicação, por analogia, da regra do § 3º do art. 937 do CPC/2015.

STF. 1ª Turma. HC 151881 AgR/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 12/11/2019 (Info 959).

STF. 2ª Turma. HC 152676/PR, red. p/ ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 9/4/2019 (Info 937).

Confira a redação do art. 131, § 2º do Regimento Interno do STF:

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Art. 131 (...) § 2º Não haverá sustentação oral nos julgamentos de agravo, embargos declaratórios, arguição de suspeição e medida cautelar.

Veja agora o que diz o art. 937, § 3º do CPC/2015:

Art. 937. Na sessão de julgamento, depois da exposição da causa pelo relator, o presidente dará a palavra, sucessivamente, ao recorrente, ao recorrido e, nos casos de sua intervenção, ao membro do Ministério Público, pelo prazo improrrogável de 15 (quinze) minutos para cada um, a fim de sustentarem suas razões, nas seguintes hipóteses, nos termos da parte final do caput do art. 1.021: (...) VI - na ação rescisória, no mandado de segurança e na reclamação; (...) § 3º Nos processos de competência originária previstos no inciso VI, caberá sustentação oral no agravo interno interposto contra decisão de relator que o extinga.

A 2ª Turma do STF, em decisão por maioria, afirmou que deveria ser feita uma interpretação constitucional do CPC, a fim de que o art. 937, § 3º, que trata apenas sobre o agravo em ação rescisória, mandado de segurança e reclamação, seja também estendido para o agravo em habeas corpus. Isso porque o habeas corpus é um writ, ou seja, um remédio constitucional, tal qual o mandado de segurança. O habeas corpus é uma ação constitucional cuja envergadura é ainda maior que a do mandado de segurança, por cuidar da liberdade, direito essencial à cidadania. A 1ª Turma do STF, por sua vez, afirma que o Regimento Interno expressamente veda a sustentação oral nesses casos. Vale ressaltar que o STF possui o entendimento de que possuem “plena legitimidade constitucional as regras constantes do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal (RISTF) que não permitem sustentação oral em determinados processos (art. 131, § 2º)” (RE 1018956 AgR-ED-ED/GO, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 27/11/2018). Além disso, “a realização de sustentação oral não é ato essencial à defesa” (ARE 1034933 AgR/RS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 12/04/2019). Observação: É provável que prevaleça a posição defendida na 1ª Turma, ou seja, de que não cabe sustentação oral nesses casos.

HABEAS CORPUS Não cabe habeas corpus para discutir se foi correta ou não

a fixação da competência e se existe conexão entre os crimes

O habeas corpus não é sede processual adequada para discussão sobre a correta fixação da competência, bem como sobre a existência de transnacionalidade do delito imputado.

STF. 1ª Turma. HC 151881 AgR/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 12/11/2019 (Info 959).

Imagine a seguinte situação hipotética: João foi denunciado pela prática de peculato, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. A evasão de divisas é crime contra o sistema financeiro nacional e, portanto, a competência para julgá-lo é da Justiça Federal, nos termos do art. 109, VI, da CF/88 c/c art. 26 da Lei nº 7.492/86. Desse modo, a ação penal contra João foi proposta na Justiça Federal.

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No curso do processo, houve a extinção da punibilidade quanto ao crime de evasão de divisas e, em razão, disso, a defesa pediu que o julgamento do delito de peculato fosse remetido para a Justiça Estadual. O Juiz Federal indeferiu o pedido, afirmando que o delito de lavagem tinha um cunho transnacional e foi cometido em conexão com o peculato, razão pela qual ambos deveriam ser julgados na Justiça Federal. A defesa impetrou habeas corpus para o TRF, que manteve a decisão do magistrado. Contra o acórdão do TRF, foi interposto recurso ordinário constitucional (ROC) para o STJ que, no entanto, denegou o pedido. Finalmente, a defesa impetrou habeas corpus, endereçado ao STF, contra a decisão do STJ. Cabe habeas corpus neste caso? NÃO. A 1ª Turma do STF decidiu que:

O habeas corpus não é sede processual adequada para discussão sobre a correta fixação da competência, bem como sobre a existência de transnacionalidade do delito imputado. STF. 1ª Turma. HC 151881 AgR/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 12/11/2019 (Info 959).

Não está em jogo a liberdade de locomoção O habeas corpus não é a sede processual adequada para discussão sobre correta fixação da competência, bem como da existência de conexão. Isso porque, neste caso, não está em jogo, de forma direta ou indireta, a liberdade de ir e vir cuja defesa autoriza a impetração de habeas corpus, à luz do art. 5º, LXVIII, da Constituição Federal:

Art. 5º (...) LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;

A análise do tema ensejaria análise da matéria fática A definição da competência, para ser realizada no caso concreto, exigiria um exame aprofundado de fatos e provas, o que não pode ser feito em habeas corpus, que é um instrumento processual que não admite dilação probatória.

EXERCÍCIOS Julgue os itens a seguir: 1) O prazo decadencial quinquenal, previsto no art. 54 da Lei nº 9.784/99, é aplicado para a atuação do TCU

em processo de tomada de contas. ( ) 2) TCU possui competência para determinar que BNDES suspenda pagamentos que estão sendo realizados com

base em contrato de confissão de dívida cuja regularidade está sendo apurada em tomada de contas. ( ) 3) A erronia na observância de pronunciamento do STF formalizado, em recurso extraordinário, sob o

ângulo da repercussão geral, enseja, esgotada a jurisdição na origem considerado o julgamento de agravo, o acesso ao Supremo mediante a reclamação. ( )

4) O agente não pode responder à ação penal no Brasil se já foi processado criminalmente, pelos mesmos fatos, em um Estado estrangeiro. ( )

5) O habeas corpus não é sede processual adequada para discussão sobre a correta fixação da competência, bem como sobre a existência de transnacionalidade do delito imputado. ( )

Gabarito

1. E 2. C 3. C 4. C 5. C

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OUTRAS INFORMAÇÕES

Sessões Ordinárias Extraordinárias Julgamentos Julgamentos por meio

eletrônico*

Em curso Finalizados

Pleno - - - - 64

1ª Turma 12.11.2019 - 4 51 83

2ª Turma 12.11.2019 - 3 2 51

* Emenda Regimental 52/2019-STF. Sessão virtual de 8 a 19 de novembro de 2019.

CLIPPING DAS SESSÕES VIRTUAIS DJE DE 11 A 15 DE NOVEMBRO DE 2019

ADI 4658

RELATOR: MIN. EDSON FACHIN

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. DIREITO CONSTITUCIONAL. ARTIGO 34, VII DA LEI

ESTADUAL PARANAENSE N. 15608/2007. LICITAÇÃO E CONTRATAÇÃO. NORMAS GERAIS. HIPÓTESE

INOVADORA DE DISPENSA DE LICITAÇÃO. INVASÃO DA COMPETÊNCIA LEGISLATIVA DA UNIÃO. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL. PROCEDÊNCIA DA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.

MODULAÇÃO DOS EFEITOS. 1. Esta Corte já assentou o entendimento de que assiste aos Estados competência

suplementar para legislar sobre licitação e contratação, desde que respeitadas as normas gerais estabelecidas pela

União. 2. Lei estadual que ampliou hipótese de dispensa de licitação em dissonância do que estabelece a Lei

8.666/1993. 3. Usurpa a competência da União para legislar sobre normais gerais de licitação norma estadual que prevê

ser dispensável o procedimento licitatório para aquisição por pessoa jurídica de direito interno, de bens produzidos ou

serviços prestados por órgão ou entidade que integre a Administração Pública, e que tenha sido criado especificamente

para este fim específico, sem a limitação temporal estabelecida pela Lei 8.666/1993 para essa hipótese de dispensa de

licitação. 4. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente, com modulação de efeitos, a fim de preservar a

eficácia das licitações eventualmente já finalizadas com base no dispositivo cuja validade se nega, até a data desde

julgamento.

ADI 5696

RELATOR: MIN. ALEXANDRE DE MORAES

CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO E URBANÍSTICO. FEDERALISMO E RESPEITO ÀS REGRAS DE DISTRIBUIÇÃO DE COMPETÊNCIA. EMENDA 44/2000 À CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE MINAS GERAIS. DISPENSA DE EXIGÊNCIA DE ALVARÁ OU LICENCIAMENTO PARA O FUNCIONAMENTOS DE TEMPLOS RELIGIOSOS. PROIBIÇÃO DE LIMITAÇÕES DE CARÁTER GEOGRÁFICO À INSTALAÇÃO DE TEMPLOS. COMPETÊNCIA CONCORRENTE PARA LEGISLAR SOBRE POLÍTICA URBANA, ORDENAMENTO E OCUPAÇÃO DO SOLO. LEI FEDERAL 10.257/2001 E DIRETRIZES GERAIS DA POLÍTICA URBANA. ATRIBUIÇÃO DOS PODERES PÚBLICOS MUNICIPAIS. AUTONOMIA MUNICIPAL. PODER DE POLÍCIA E RESERVA DE ADMINISTRAÇÃO. PROCEDÊNCIA DA AÇÃO DIRETA. 1. As regras de distribuição de competências legislativas são alicerces do federalismo e consagram a fórmula de divisão de centros de poder em um Estado de Direito. Princípio da predominância do interesse. 2. A Constituição Federal de 1988, presumindo de forma absoluta para algumas matérias a presença do princípio da predominância do interesse, estabeleceu, a priori, diversas competências para cada um dos entes federativos, União, Estados-Membros, Distrito Federal e Municípios, e, a partir dessas opções, pode ora acentuar maior centralização de poder, principalmente na própria União (CF, art. 22), ora permitir uma maior descentralização nos Estados-Membros e nos Municípios (CF, arts. 24 e 30, inciso I). 3. A Constituição, em matéria de Direito Urbanístico, embora prevista a competência material da União para a edição de diretrizes para o desenvolvimento urbano (art. 21, XX, da CF) e regras gerais sobre direito urbanístico (art. 24, I, c/c § 1º, da CF), conferiu protagonismo aos Municípios na concepção e execução dessas políticas públicas (art. 30, I e VIII, c/c art. 182, da CF), como previsto na Lei Federal 10.257/2001, ao atribuir aos Poderes Públicos municipais a edição dos planos diretores, como instrumentos de política urbana. 4. A norma impugnada, constante da Constituição Estadual, pretendeu restringir o alcance de instrumentos de ordenamento urbano a cargo dos Municípios, desequilibrando a divisão de competências estabelecida no texto constitucional em prejuízo da autonomia municipal e em contrariedade ao regramento geral editado pela União 5. O verificação de requisitos para a concessão de alvarás e licenciamentos

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Informativo comentado

Informativo 959-STF (20/11/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19

insere-se no Poder de Polícia, cujo exercício é atividade administrativa de competência do Poder Executivo e, portanto, submetida à reserva de administração (art. 2º, c/c art. 61, § 1º, II, e art. 84, II e VI, “a”, da CF). 6. Ação Direta julgada procedente.

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS 11 A 15 DE NOVEMBRO DE 2019

Emenda Constitucional nº 103, de 12 de novembro de 2019 - Altera o sistema de previdência social e estabelece regras

de transição e disposições transitórias. Publicado no DOU em 13.11.2019, Seção 1, Edição 220, p. 1.

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