34
Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Informativo comentado: Informativo 975-STF Márcio André Lopes Cavalcante Julgamentos que ainda não foram concluídos em virtude de pedidos de vista ou de adiamento. Serão comentados assim que chegarem ao fim: ADI 6343 MC-Ref/DF; RMS 36231 AgR/DF; ACO 2178/ES; ARE 1184956 AgR/SP. ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS É cabível, em tese, ADO pedindo a instituição de pagamento de valor mínimo em favor dos mais necessitados durante situação de calamidade pública decorrente de pandemia. ACESSO À INFORMAÇÃO É inconstitucional o art. 6º-B da Lei nº 13.979/2020, incluído pela MP 928/2020, porque ele impõe uma série de restrições ao livre acesso do cidadão a informações. COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS É constitucional lei estadual que proíba a utilização de animais para desenvolvimento, experimentos e testes de produtos cosméticos. MINISTÉRIO PÚBLICO É constitucional lei complementar estadual que preveja que compete exclusivamente ao Procurador-Geral de Justiça interpor recursos ao STF e STJ. ADVOCACIA PÚBLICA Norma estadual não pode conferir autonomia para a PGE. Norma estadual não pode conferir inamovibilidade aos Procuradores do Estado. Princípios e garantias funcionais do MP e da Defensoria não podem ser estendidas à PGE. Norma estadual não pode conferir independência funcional aos Procuradores do Estado. DIREITO AMBIENTAL COMPETÊNCIA É constitucional lei estadual que proíba a utilização de animais para desenvolvimento, experimentos e testes de produtos cosméticos. DIREITO ADMINISTRATIVO PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR É possível a cassação de aposentadoria de servidor público pela prática, na atividade, de falta disciplinar punível com demissão. DIREITO PENAL DESOBEDIÊNCIA Comete crime de desobediência o indivíduo que não atende a ordem dada pelo oficial de justiça na ocasião do cumprimento de mandado de entrega de veículo. DIREITO DO TRABALHO CONTRATO DE TRABALHO É inconstitucional dispositivo que afirma que os casos de contaminação por coronavírus não serão considerados doenças ocupacionais. É inconstitucional dispositivo que suspenda a atuação repressiva dos Fiscais do Trabalho.

Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

  • Upload
    others

  • View
    14

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1

Informativo comentado: Informativo 975-STF

Márcio André Lopes Cavalcante Julgamentos que ainda não foram concluídos em virtude de pedidos de vista ou de adiamento. Serão comentados assim que chegarem ao fim: ADI 6343 MC-Ref/DF; RMS 36231 AgR/DF; ACO 2178/ES; ARE 1184956 AgR/SP.

ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS ▪ É cabível, em tese, ADO pedindo a instituição de pagamento de valor mínimo em favor dos mais necessitados durante

situação de calamidade pública decorrente de pandemia.

ACESSO À INFORMAÇÃO ▪ É inconstitucional o art. 6º-B da Lei nº 13.979/2020, incluído pela MP 928/2020, porque ele impõe uma série de restrições

ao livre acesso do cidadão a informações.

COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS ▪ É constitucional lei estadual que proíba a utilização de animais para desenvolvimento, experimentos e testes de produtos

cosméticos.

MINISTÉRIO PÚBLICO ▪ É constitucional lei complementar estadual que preveja que compete exclusivamente ao Procurador-Geral de Justiça

interpor recursos ao STF e STJ.

ADVOCACIA PÚBLICA ▪ Norma estadual não pode conferir autonomia para a PGE. ▪ Norma estadual não pode conferir inamovibilidade aos Procuradores do Estado. ▪ Princípios e garantias funcionais do MP e da Defensoria não podem ser estendidas à PGE. ▪ Norma estadual não pode conferir independência funcional aos Procuradores do Estado.

DIREITO AMBIENTAL

COMPETÊNCIA ▪ É constitucional lei estadual que proíba a utilização de animais para desenvolvimento, experimentos e testes de produtos

cosméticos.

DIREITO ADMINISTRATIVO

PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR ▪ É possível a cassação de aposentadoria de servidor público pela prática, na atividade, de falta disciplinar punível com demissão.

DIREITO PENAL

DESOBEDIÊNCIA ▪ Comete crime de desobediência o indivíduo que não atende a ordem dada pelo oficial de justiça na ocasião do

cumprimento de mandado de entrega de veículo.

DIREITO DO TRABALHO

CONTRATO DE TRABALHO ▪ É inconstitucional dispositivo que afirma que os casos de contaminação por coronavírus não serão considerados doenças

ocupacionais. ▪ É inconstitucional dispositivo que suspenda a atuação repressiva dos Fiscais do Trabalho.

Page 2: Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

Informativo comentado

Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2

DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS É cabível, em tese, ADO pedindo a instituição de pagamento de valor mínimo em favor dos mais

necessitados durante situação de calamidade pública decorrente de pandemia

Covid-19

No início da pandemia decorrente do covid-19 foi proposta ADO pedindo que o Presidente da República e os Presidentes da Câmara e do Senado editassem lei instituindo o pagamento de um valor mínimo em favor dos mais necessitados a fim de assegurar a alimentação, o mínimo existencial e a dignidade da pessoa humana.

Alguns dias após o ajuizamento da ADO, foi publicada a Lei nº 13.982/2020, que criou um benefício semelhante ao que se pretendia na ação.

A Lei nº 13.982/2020 instituiu o “auxílio emergencial”, um benefício financeiro no valor de R$ 600,00 por mês, pago pela União a trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI), autônomos e desempregados, e que tem por objetivo fornecer proteção emergencial, pelo prazo de 3 meses, às pessoas que perderam sua renda em virtude da crise causada pelo coronavírus.

Diante disso, o STF decidiu:

a) conhecer da ação (significa que o STF entendeu ser cabível, em tese, ação direta de inconstitucionalidade por omissão para discutir o tema);

b) mas, quanto ao mérito, julgar o pedido prejudicado uma vez que foi aprovado o auxílio emergencial (Lei nº 13.982/2020) e, consequentemente, foi satisfeito o objeto da ADO.

STF. Plenário. ADO 56/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 30/4/2020 (Info 975).

A situação concreta foi a seguinte: Em 27/03/2020, o Partido Rede Sustentabilidade ajuizou ação direta de inconstitucionalidade por omissão (ADO) pedindo que o Presidente da República e os Presidentes da Câmara e do Senado editassem uma lei instituindo o pagamento de um valor mínimo, de R$ 300,00 por pessoa, durante 6 meses, destinado aos trabalhadores listados no Cadastro Único e também aos desempregados, a fim de auxiliar essas pessoas no período da pandemia do novo coronavírus. Na inicial, sustentava-se que cabia ao Governo Federal propor, em favor dos mais necessitados, ante a fragilidade econômica decorrente das restrições à locomoção e ao exercício de atividades remuneradas tidas como não essenciais, medidas voltadas a assegurar a alimentação, o mínimo existencial e a dignidade da pessoa humana. Lei nº 13.982/2020 Em 02/04/2020, ou seja, alguns dias após o ajuizamento da ADO, foi publicada a Lei nº 13.982/2020, que criou um benefício semelhante ao que se pretendia na ação. A Lei nº 13.982/2020 instituiu o “auxílio emergencial”, um benefício financeiro no valor de R$ 600,00 por mês, pago pela União a trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI), autônomos e desempregados, e que tem por objetivo fornecer proteção emergencial, pelo prazo de 3 meses, às pessoas que perderam sua renda em virtude da crise causada pelo coronavírus. Plenário do STF aprecia a ADO Em 30/04/2020, o Plenário do STF decidiu:

Page 3: Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

Informativo comentado

Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 3

a) conhecer da ação (significa que o STF entendeu ser cabível, em tese, ação direta de inconstitucionalidade por omissão para discutir o tema); b) mas, quanto ao mérito, julgar o pedido prejudicado. STF. Plenário. ADO 56/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 30/4/2020 (Info 975). No mérito, prevaleceu o voto do Ministro Roberto Barroso que declarou o prejuízo da ação, uma vez que o Congresso Nacional aprovou o auxílio emergencial (Lei nº 13.982/2020) e, consequentemente, foi satisfeito o objeto da ADO.

ACESSO À INFORMAÇÃO É inconstitucional o art. 6º-B da Lei nº 13.979/2020, incluído pela MP 928/2020, porque ele

impõe uma série de restrições ao livre acesso do cidadão a informações

Covid-19

É inconstitucional o art. 6º-B da Lei nº 13.979/2020, incluído pela MP 928/2020, porque ele impõe uma série de restrições ao livre acesso do cidadão a informações.

O art. 6º-B não estabelece situações excepcionais e concretas impeditivas de acesso à informação. Pelo contrário, transforma a regra constitucional de publicidade e transparência em exceção, invertendo a finalidade da proteção constitucional ao livre acesso de informações a toda sociedade.

STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info 975).

Medida Provisória Em 06 de fevereiro de 2020, foi editada a Lei nº 13.979/2020, prevendo medidas para o enfrentamento do coronavírus. Pouco mais de um mês depois, em 23 de março, o Presidente da República publicou a Medida Provisória nº 928/2020, que acrescentou os arts. 6º-B e 6º-C na Lei nº 13.979/2020. Para o presente julgado, só interesse o art. 6º-B, que possui a seguinte redação:

Art. 6º-B Serão atendidos prioritariamente os pedidos de acesso à informação, de que trata a Lei nº 12.527, de 2011, relacionados com medidas de enfrentamento da emergência de saúde pública de que trata esta Lei. § 1º Ficarão suspensos os prazos de resposta a pedidos de acesso à informação nos órgãos ou nas entidades da administração pública cujos servidores estejam sujeitos a regime de quarentena, teletrabalho ou equivalentes e que, necessariamente, dependam de: I - acesso presencial de agentes públicos encarregados da resposta; ou II - agente público ou setor prioritariamente envolvido com as medidas de enfrentamento da situação de emergência de que trata esta Lei. § 2º Os pedidos de acesso à informação pendentes de resposta com fundamento no disposto no § 1º deverão ser reiterados no prazo de dez dias, contado da data em que for encerrado o prazo de reconhecimento de calamidade pública a que se refere o Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020. § 3º Não serão conhecidos os recursos interpostos contra negativa de resposta a pedido de informação negados com fundamento no disposto no § 1º.

Page 4: Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

Informativo comentado

Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 4

§ 4º Durante a vigência desta Lei, o meio legítimo de apresentação de pedido de acesso a informações de que trata o art. 10 da Lei nº 12.527, de 2011, será exclusivamente o sistema disponível na internet. § 5º Fica suspenso o atendimento presencial a requerentes relativos aos pedidos de acesso à informação de que trata a Lei nº 12.527, de 2011.

ADI Foram propostas três ações diretas de inconstitucionalidade contra a MP. Nas ações, os autores questionaram apenas o art. 6º-B, alegando que ele seria inconstitucional porque limita o direito do cidadão de acesso à informação. Decisão monocrática No dia 26/03/2020, o Ministro Relator Alexandre de Moraes concedeu a medida cautelar para determinar a suspensão da eficácia do art. 6º-B da Lei nº 13.979/2020, incluído pelo art. 1º da MP 928/2020. Apreciação do tema pelo Plenário No dia 30/04, o Plenário do STF se reuniu para decidir se referendava (confirmava) ou não a medida cautelar concedida pelo Ministro Alexandre de Moraes. O que o STF decidiu? O Plenário do STF referendou a medida cautelar nas ações diretas de inconstitucionalidade e suspendeu a eficácia do art. 6º-B da Lei nº 13.979/2020, incluído pelo art. 1º da MP 928/2020. O art. 6º-B é inconstitucional porque pretende transformar a exceção (sigilo de informações) em regra, afastando a plena incidência dos princípios da publicidade e da transparência. Veja abaixo os principais argumentos. Publicidade é princípio administrativo expresso A Constituição Federal consagrou expressamente o princípio da publicidade como um dos vetores imprescindíveis à Administração Pública no âmbito dos três Poderes:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...)

Transparência e publicidade são decorrência da democracia representativa O princípio da transparência e o da publicidade são corolários da participação política dos cidadãos em uma democracia representativa. Essa participação somente se fortalece em um ambiente de total visibilidade e possibilidade de exposição crítica das diversas opiniões sobre as políticas públicas adotadas pelos governantes. A publicidade e a transparência são absolutamente necessárias para a fiscalização dos órgãos governamentais. O acesso a informações representa uma garantia instrumental ao pleno exercício do princípio democrático, que abrange debater assuntos públicos de forma irrestrita, robusta e aberta. Dever de prestar as informações Em decorrência do princípio da publicidade, o Estado (poder público) tem o dever de fornecer as informações solicitadas, sob pena de responsabilização política, civil e criminal. Esse dever de prestar informações não pode ser restringido neste período de pandemia. Ao contrário, deve ser ampliado. Assim, os gestores devem prestar à população, de forma ainda mais efetiva, as informações necessárias num momento em que as licitações não são exigidas para a compra de inúmeros materiais, em virtude do estado de calamidade.

Page 5: Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

Informativo comentado

Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 5

Publicidade só pode ser restringida, excepcionalmente, se houver interesse público que justifique a medida A publicidade específica de determinada informação somente poderá ser excepcionada quando o interesse público assim determinar. Assim, salvo situações excepcionais, a Administração Pública tem o dever de absoluta transparência na condução dos negócios públicos, sob pena de desrespeito aos arts. 5º, XXXIII e LXXII, e 37, caput, da CF/88.

Art. 5º (...) XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado; (...) LXXII - conceder-se-á habeas data: a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público; b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;

Analisando especificamente o caso concreto O Plenário do STF entendeu que o referido art. 6º-B é inconstitucional porque ele impõe uma série de restrições ao livre acesso do cidadão a informações. Assim, o art. 6º-B transformou a regra constitucional de publicidade e transparência em exceção, invertendo a finalidade da proteção constitucional ao livre acesso de informações a toda sociedade. Lei de Acesso à Informação prevê possibilidade de recusa, desde que justificada O Ministro Roberto Barroso acrescentou que, na Lei nº 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação), “existem válvulas de escape para situações emergenciais”. Assim, a Lei nº 12.527/2011 permite, excepcionalmente, que haja a recusa do acesso à informação, caso haja uma impossibilidade fática ou jurídica, mas desde que isso seja devidamente justificado:

Art. 11. O órgão ou entidade pública deverá autorizar ou conceder o acesso imediato à informação disponível. § 1º Não sendo possível conceder o acesso imediato, na forma disposta no caput, o órgão ou entidade que receber o pedido deverá, em prazo não superior a 20 (vinte) dias: (...) II - indicar as razões de fato ou de direito da recusa, total ou parcial, do acesso pretendido; ou (...)

Em suma:

É inconstitucional o art. 6º-B da Lei nº 13.979/2020, incluído pela MP 928/2020, porque ele impõe uma série de restrições ao livre acesso do cidadão a informações. O art. 6º-B não estabelece situações excepcionais e concretas impeditivas de acesso à informação. Pelo contrário, transforma a regra constitucional de publicidade e transparência em exceção, invertendo a finalidade da proteção constitucional ao livre acesso de informações a toda sociedade. STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info 975).

Page 6: Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

Informativo comentado

Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 6

COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS É constitucional lei estadual que proíba a utilização de animais para

desenvolvimento, experimentos e testes de produtos cosméticos

É constitucional lei estadual que proíba a utilização de animais para desenvolvimento, experimentos e testes de produtos cosméticos, de higiene pessoal, perfumes e seus componentes.

A proteção da fauna é matéria de competência legislativa concorrente (art. 24, VI, da CF/88).

A Lei federal nº 11.794/2008 possui uma natureza permissiva, autorizando, a utilização de animais em atividades de ensino e pesquisas científicas, desde que sejam observadas algumas condições relacionadas aos procedimentos adotados, que visam a evitar e/ou atenuar o sofrimento dos animais.

Mesmo que o tema tenha sido tratado de forma mais restrita pela lei estadual, isso não se mostra inconstitucional porque, em princípio, é possível que os Estados editem normas mais protetivas ao meio ambiente, com fundamento em suas peculiaridades regionais e na preponderância de seu interesse, conforme o caso.

STF. Plenário. ADI 5996, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 15/04/2020 (Info 975).

Lei estadual proibindo a utilização de animais em pesquisas para produtos cosméticos O Amazonas editou a Lei Estadual nº 289/2015 proibindo a utilização de animais para desenvolvimento, experimentos e testes de produtos cosméticos, de higiene pessoal, perfumes e seus componentes. Confira o art. 1º:

Art. 1º Fica proibida, no Estado do Amazonas, a utilização de animais para desenvolvimento, experimentos e testes de produtos cosméticos, de higiene pessoal, perfumes e seus componentes, sem prejuízo do disposto em legislação Municipal, Estadual ou Federal.

ADI A Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos – ABIHPEC ajuizou ADI questionando a lei sob o argumento de que ela teria invadido campo legislativo reservado à União para legislar sobre fauna, conservação da natureza e proteção do meio ambiente. Sustentou a inconstitucionalidade formal da lei ao argumento de que a União, por meio da Lei nº 11.794/2008, autorizou a realização de testes em animais. O pedido foi julgado procedente? NÃO. O STF julgou o pedido improcedente e declarou que a lei é constitucional. Competência legislativa concorrente A Lei nº 289/2015, do Estado do Amazonas, ao proibir a utilização de animais para desenvolvimento, experimentos e testes de produtos cosméticos, de higiene pessoal, perfumes e seus componentes, não invadiu a competência da União. Esse assunto está relacionado com “proteção da fauna”, matéria de competência legislativa concorrente, nos termos do art. 24, VI, da CF/88:

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;

Page 7: Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

Informativo comentado

Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 7

A Lei federal nº 11.794/2008 autorizou a utilização de animais em atividades de ensino e pesquisas científicas, desde que sejam observadas algumas condições relacionadas aos procedimentos adotados, que visam a evitar e/ou atenuar o sofrimento dos animais. No âmbito do Estado do Amazonas, o tema foi abordado de uma maneira mais restrita, pois a lei estadual proíbe a utilização de animais para o desenvolvimento, experimentos e testes de produtos cosméticos, de higiene pessoal e de perfumes, inclusive estipulando sanção pecuniária e administrativa no caso de descumprimento. Então, não se pode dizer que a lei estadual violou as normas gerais fixadas pela União? A lei estadual não seria inconstitucional por essa razão? O STF entendeu que não. O Estado do Amazonas, por meio da norma impugnada, não proibiu toda e qualquer realização de testes em animais dentro de seu território, tendo apenas escolhido, dentro da sua competência legiferante, proibir a utilização de animais para o desenvolvimento, experimentos e testes de produtos cosméticos, de higiene pessoal e perfumes. O legislador amazonense optou por seguir um movimento mundial no sentido de proibir os experimentos e testes de cosméticos em animais, o que não torna censurável o exercício de sua competência concorrente para tratar do tema, visando à proteção da vida animal. O STF possui o entendimento de que, em princípio, em regra, é possível que os Estados editem normas mais protetivas ao meio ambiente que as normas gerais da União, com fundamento em suas peculiaridades regionais e na preponderância de seu interesse, conforme o caso. Foi isso que a lei do Amazonas fez. Em suma:

É constitucional lei estadual que proíba a utilização de animais para desenvolvimento, experimentos e testes de produtos cosméticos, de higiene pessoal, perfumes e seus componentes. STF. Plenário. ADI 5996, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 15/04/2020 (Info 975).

MINISTÉRIO PÚBLICO É constitucional lei complementar estadual que preveja que compete exclusivamente ao

Procurador-Geral de Justiça interpor recursos ao STF e STJ

Importante!!!

Atenção! Ministério Público

Lei Orgânica estadual do Ministério Público pode atribuir privativamente ao Procurador-Geral de Justiça a competência para interpor recursos dirigidos ao STF e STJ.

Não há inconstitucionalidade formal nessa previsão. Isso porque a Lei federal nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público - LONMP) não pormenoriza a atuação dos Procuradores-Gerais de Justiça e dos Procuradores de Justiça em sede recursal e, por expressa dicção do caput de seu artigo 29, o rol de atribuições dos Procuradores-Gerais de Justiça não é exaustivo, de forma que as leis orgânicas dos Ministérios Públicos estaduais podem validamente ampliar tais atribuições.

Além disso, não há ofensa aos princípios do promotor natural e da independência funcional dos membros do Parquet, uma vez que:

• se trata de mera divisão de atribuições dentro do Ministério Público estadual, veiculada por meio de lei;

Page 8: Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

Informativo comentado

Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 8

• e não se possibilita a ingerência do PGJ nas atividades dos Procuradores de Justiça, que conservam plena autonomia no exercício de seus misteres legais.

STF. Plenário. ADI 5505, Rel. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020.

A situação concreta foi a seguinte: A Lei Orgânica do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte (Lei complementar estadual nº 141/96) previu que compete exclusivamente ao Procurador-Geral de Justiça interpor recursos ao STF e STJ (art. 22, XLI). Assim, se um Procurador de Justiça entender que se deve interpor recurso extraordinário ou recurso especial contra um acórdão do Tribunal de Justiça, ele deveria encaminhar uma manifestação nesse sentido para o PGJ e este interporia o recurso (art. 38, V). ADI O Procurador-Geral da República ajuizou ADI contra a previsão da Lei Orgânica do MP/RN alegando, dentre outros argumentos, que: • essa norma estadual estaria em desacordo com a Lei federal nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público - LONMP); e • a reserva de competência ao Procurador-Geral de Justiça para interpor recursos destinados ao STF e ao STJ representaria uma ofensa aos princípios do promotor natural e da independência funcional dos membros do Ministério Público. O STF acolheu o pedido formulado pelo PGR? Essa norma estadual é inconstitucional? NÃO. Vamos entender.

É constitucional lei complementar estadual que preveja que compete exclusivamente ao Procurador-Geral de Justiça interpor recursos ao STF e STJ. Lei Orgânica estadual do Ministério Público pode atribuir privativamente ao Procurador-Geral de Justiça a competência para interpor recursos dirigidos ao STF e STJ. STF. Plenário. ADI 5505, Rel. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020.

Leis orgânicas estaduais do MP devem respeitar a lei federal O art. 61, § 1º, d, da Constituição Federal afirma que o Presidente da República possui iniciativa privativa para as leis federais que tratem • sobre a organização do Ministério Público da União (a Lei editada foi a LC 75/93); • sobre as normas gerais para a organização dos Ministérios Públicos dos Estados (a Lei editada foi a Lei nº 8.625/93). O art. 128, § 5º, por sua vez, determina que leis complementares dos Estados estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério Público. Isso significa que cada Estado-membro pode editar uma lei orgânica disciplinando o respectivo Ministério Público. Essa lei é de iniciativa do PGJ:

Art. 128 (...) § 5º Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos respectivos Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério Público, observadas, relativamente a seus membros: (...)

Vale ressaltar que essa Lei complementar estadual que disciplinar o Ministério Público no respectivo Estado-membro deverá respeitar a Lei nacional (no caso, a Lei nº 8.625/93).

Page 9: Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

Informativo comentado

Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9

Lei nacional não pormenoriza a atuação dos Procuradores-Gerais de Justiça e dos Procuradores de Justiça em sede recursal A Lei 8.625/93 trata, em seu art. 29, sobre as atribuições do PGJ. Vale ressaltar, contudo, que o caput do artigo menciona que a lei orgânica estadual poderá estabelecer outras competências. Assim, o rol do art. 29 da Lei nº 8.625/93 não é exaustivo. Veja:

Art. 29. Além das atribuições previstas nas Constituições Federal e Estadual, na Lei Orgânica e em outras leis, compete ao Procurador-Geral de Justiça: (...)

O art. 31, por sua vez, disciplina, de forma lacônica, sobre as atribuições dos Procuradores de Justiça:

Art. 31. Cabe aos Procuradores de Justiça exercer as atribuições junto aos Tribunais, desde que não cometidas ao Procurador-Geral de Justiça, e inclusive por delegação deste.

Desse modo, conclui-se que: • a lei nacional não pormenoriza a atuação dos Procuradores-Gerais de Justiça e dos Procuradores de Justiça em sede recursal; • o rol de atribuições do art. 29 da Lei nº 8.625/93 não é exaustivo; • nenhum dispositivo da Lei nº 8.625/93 proíbe que a lei complementar estadual preveja que compete exclusivamente ao PGJ interpor recursos ao STF e STJ. Se o Ministério Público Estadual é parte em um processo e houve recurso para o STJ e STF, ele poderá atuar diretamente neste recurso ou ele precisará da participação do MPF? Poderá atuar sozinho, sem a participação do MPF. O Ministério Público Estadual tem legitimidade para atuar diretamente como parte em recurso submetido a julgamento perante o STJ e STF. Esse tema foi pacificado pelo STF, que fixou a seguinte tese:

Os Ministérios Públicos dos Estados e do Distrito Federal têm legitimidade para propor e atuar em recursos e meios de impugnação de decisões judiciais em trâmite no STF e STJ, oriundos de processos de sua atribuição, sem prejuízo da atuação do Ministério Público Federal (STF. Plenário. RE 985.392, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 26/05/2017 – Repercussão Geral – Tema 946).

A definição de que o PGJ é quem irá atuar nesses recursos é uma regra de competência interna, que pode ser feita pela lei complementar estadual, considerada a divisão de atribuições dentro do Ministério Público estadual. Mas atribuir essa competência apenas para o PGJ não violaria o princípio da independência funcional? NÃO. O membro do Ministério Público é independente no exercício de suas funções, não ficando sujeito às ordens de quem quer que seja, somente devendo observância à Constituição e às leis. No Parquet, a hierarquia se dá apenas no âmbito administrativo. Contudo, a independência funcional do órgão do Ministério Público é exercida dentro das atribuições fixadas na lei, até porque a atuação do Parquet se dá, institucionalmente, de forma organizada e hierarquizada, uma vez que seus agentes exercem as respectivas funções sob determinadas regras e limites impostos pela estrutura interna do organismo. Essa atribuição privativa do PGJ viola o princípio do promotor natural? Também não. O princípio do promotor natural significa tão somente a existência de órgão do Ministério Público escolhido por critérios legais previamente definidos.

Page 10: Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

Informativo comentado

Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10

Distribuição de atribuições pela lei não viola, em regra, os princípios da independência funcional e do promotor natural Os princípios da independência funcional e do promotor natural não podem ser invocados, via de regra, para invalidar a distribuição de atribuições efetuada pela lei, sob pena de desconsideração dos princípios institucionais da unidade e da indivisibilidade do Parquet. Respeitadas as competências fixadas em lei, é indiferente a pessoa do membro do Ministério Público que vai atuar em determinado processo ou incidente processual. Em suma:

Não há inconstitucionalidade formal nos dispositivos atacados. Isso porque a Lei federal nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público - LONMP) não pormenoriza a atuação dos Procuradores-Gerais de Justiça e dos Procuradores de Justiça em sede recursal e, por expressa dicção do caput de seu artigo 29, o rol de atribuições dos Procuradores-Gerais de Justiça não é exaustivo, de forma que as leis orgânicas dos Ministérios Públicos estaduais podem validamente ampliar tais atribuições. Além disso, não há ofensa aos princípios do promotor natural e da independência funcional dos membros do Parquet, uma vez que: • se trata de mera divisão de atribuições dentro do Ministério Público estadual, veiculada por meio de lei; • e não se possibilita a ingerência do PGJ nas atividades dos Procuradores de Justiça, que conservam plena autonomia no exercício de seus misteres legais. STF. Plenário. ADI 5505, Rel. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020.

ADVOCACIA PÚBLICA Norma estadual não pode conferir autonomia para a PGE

Norma estadual não pode conferir inamovibilidade aos Procuradores do Estado Princípios e garantias funcionais do MP e da Defensoria não podem ser estendidas à PGE Norma estadual não pode conferir independência funcional aos Procuradores do Estado

Importante!!!

Atenção! Advocacia Pública

Norma estadual não pode conferir autonomia para a PGE

As Procuradorias de Estado, por integrarem os respectivos Poderes Executivos, não gozam de autonomia funcional, administrativa ou financeira, uma vez que a administração direta é una e não comporta a criação de distinções entre órgãos em hipóteses não contempladas explícita ou implicitamente pela Constituição Federal.

STF. Plenário. ADI 5029, Rel. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020.

Norma estadual não pode conferir inamovibilidade aos Procuradores do Estado

A garantia da inamovibilidade conferida pela Constituição Federal aos magistrados, aos membros do Ministério Público e aos membros da Defensoria Pública (arts. 93, VIII; 95, II; 128, § 5º, b; e 134, parágrafo único) não pode ser estendida aos procuradores de estado.

STF. Plenário. ADI 5029, Rel. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020.

Princípios e garantias funcionais do MP e da Defensoria não podem ser estendidas à PGE

Os princípios institucionais e as prerrogativas funcionais do Ministério Público e da Defensoria Pública não podem ser estendidos às Procuradorias de Estado, porquanto as

Page 11: Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

Informativo comentado

Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11

atribuições dos procuradores de estado – sujeitos que estão à hierarquia administrativa – não guardam pertinência com as funções conferidas aos membros daquelas outras instituições.

STF. Plenário. ADI 5029, Rel. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020.

Norma estadual não pode conferir independência funcional aos Procuradores do Estado

A Procuradoria-Geral do Estado é o órgão constitucional e permanente ao qual se confiou o exercício da advocacia (representação judicial e consultoria jurídica) do Estado-membro (art. 132 da CF/88).

A parcialidade é inerente às suas funções, sendo, por isso, inadequado cogitar-se independência funcional, nos moldes da Magistratura, do Ministério Público ou da Defensoria Pública (art. 95, II; art. 128, § 5º, I, b; e art. 134, § 1º, da CF/88).

STF. Plenário. ADI 1246, Rel. Roberto Barroso, julgado em 11/04/2019.

PGE e previsão na Constituição Federal de 1988 A Constituição Federal de 1988 tratou sobre a Procuradoria Geral do Estado (ou do DF) em seu art. 132:

Art. 132. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal, organizados em carreira, na qual o ingresso dependerá de concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as suas fases, exercerão a representação judicial e a consultoria jurídica das respectivas unidades federadas. Parágrafo único. Aos procuradores referidos neste artigo é assegurada estabilidade após três anos de efetivo exercício, mediante avaliação de desempenho perante os órgãos próprios, após relatório circunstanciado das corregedorias.

Constituição Estadual ou lei estadual poderá conferir autonomia para a PGE? Imagine que norma estadual preveja que “são princípios institucionais da Procuradoria-Geral do Estado a unidade, a indivisibilidade, a autonomia funcional, administrativa e financeira”. Essa previsão é válida? NÃO. Essa previsão é inconstitucional porque viola o modelo definido pela Constituição Federal:

As Procuradorias de Estado, por integrarem os respectivos Poderes Executivos, não gozam de autonomia funcional, administrativa ou financeira, uma vez que a administração direta é una e não comporta a criação de distinções entre órgãos em hipóteses não contempladas explícita ou implicitamente pela Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 5029, Rel. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020.

Como a norma estadual não pode conceder autonomia financeira para a PGE, o STF julgou inconstitucional as seguintes previsões da Lei complementar nº 111/2002, do Estado do Mato Grosso:

Art. 1º (…) Parágrafo único. São princípios institucionais da ProcuradoriaGeral do Estado a unidade, a indivisibilidade, a autonomia funcional, administrativa e financeira.

Art. 2º À Procuradoria-Geral do Estado compete: (…) VI - elaborar sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias e receber, aprazadamente, os correspondentes duodécimos ou quotas orçamentárias mensais;

Page 12: Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

Informativo comentado

Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12

“Emprestar à advocacia pública a autonomia típica do Ministério Público implica, pois, o desvirtuamento da configuração jurídica fixada pelo texto constitucional para as Procuradorias estaduais, em patente desrespeito à Carta da República” (STF. Plenário. ADI 470, Rel. Min. Ilmar Galvão, julgado em 1/7/2002). Norma estadual pode estabelecer que os Procuradores do Estado gozam de independência funcional? NÃO.

A Procuradoria-Geral do Estado é o órgão constitucional e permanente ao qual se confiou o exercício da advocacia (representação judicial e consultoria jurídica) do Estado-membro (CF/88, art. 132). A parcialidade é inerente às suas funções, sendo, por isso, inadequado cogitar-se independência funcional, nos moldes da Magistratura, do Ministério Público ou da Defensoria Pública (art. 95, II; art. 128, § 5º, I, b; e art. 134, § 1º, da CF/88). STF. Plenário. ADI 1246, Rel. Roberto Barroso, julgado em 11/04/2019.

Norma estadual, ao tratar sobre as prerrogativas dos Procuradores do Estado, poderá prever que eles gozam de inamovibilidade? NÃO.

A garantia da inamovibilidade conferida pela Constituição Federal aos magistrados, aos membros do Ministério Público e aos membros da Defensoria Pública (artigos 93, VIII; 95, II; 128, § 5º, b; e 134, parágrafo único) não pode ser estendida aos procuradores de estado. Os princípios institucionais e as prerrogativas funcionais do Ministério Público e da Defensoria Pública não podem ser estendidos às Procuradorias de Estado, porquanto as atribuições dos procuradores de estado – sujeitos que estão à hierarquia administrativa – não guardam pertinência com as funções conferidas aos membros daquelas outras instituições. STF. Plenário. ADI 5029, Rel. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020.

Mas se um Procurador do Estado foi removido por um ato arbitrário...? Será perfeitamente possível discutir a invalidade judicial desse ato de remoção. O que o STF afirmou foi apenas que não é permitido que norma estadual preveja uma regra abstrata e geral de inamovibilidade para os Procuradores do Estado. Casos pontuais de remoção arbitrária poderão ser normalmente questionados:

A garantia da inamovibilidade é instrumental à independência funcional, sendo, dessa forma, insuscetível de extensão a uma carreira cujas funções podem envolver relativa parcialidade e afinidade de ideias, dentro da instituição e em relação à Chefia do Poder Executivo, sem prejuízo da invalidação de atos de remoção arbitrários ou caprichosos. STF. Plenário. ADI 1246, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 11/4/2019.

Um dos argumentos que se invoca para se defender a validade dessas normas estaduais é o de que os Estados-membros possuem autonomia para se auto-organizarem (art. 25 da CF/88). Esse argumento é acolhido pelo STF? NÃO.

A autonomia conferida aos Estados-membros pelo art. 25, caput, da Constituição Federal não tem o condão de afastar as normas constitucionais de observância obrigatória. STF. Plenário. ADI 5029, Rel. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020.

Isso significa que, mesmo havendo a possibilidade de os Estados-membros se auto-organizarem, eles não podem afrontar os modelos estabelecidos pela Constituição Federal.

Page 13: Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

Informativo comentado

Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13

Veja precedente mais antigo no mesmo sentido:

A Constituição do Estado do Mato Grosso, ao condicionar a destituição do Procurador-Geral do Estado à autorização da Assembleia Legislativa, ofende o disposto no art. 84, XXV e art. 131, § 1º da CF/88. Compete ao Chefe do Executivo dispor sobre as matérias exclusivas de sua iniciativa, não podendo tal prerrogativa ser estendida ao Procurador-Geral do Estado. A Constituição Estadual não pode impedir que o Chefe do Poder Executivo interfira na atuação dos Procurados do Estado, seus subordinados hierárquicos. É inconstitucional norma que atribui à Procuradoria-Geral do Estado autonomia funcional e administrativa, dado o princípio da hierarquia que informa a atuação dos servidores da Administração Pública. O cargo de Procurador Geral do Estado é de livre nomeação e exoneração pelo Governador do Estado, que pode escolher o Procurador Geral entre membros da carreira ou não. A garantia da inamovibilidade é conferida pela Constituição Federal apenas aos Magistrados, aos membros do Ministério Público e aos membros da Defensoria Pública, não podendo ser estendida aos Procuradores do Estado. A autonomia conferida aos Estados pelo art. 25, caput da Constituição Federal não tem o condão de afastar as normas constitucionais de observância obrigatória. STF. Plenário. ADI 291, Rel. Joaquim Barbosa, julgado em 07/04/2010.

DIREITO AMBIENTAL

COMPETÊNCIA É constitucional lei estadual que proíba a utilização de animais para

desenvolvimento, experimentos e testes de produtos cosméticos

É constitucional lei estadual que proíba a utilização de animais para desenvolvimento, experimentos e testes de produtos cosméticos, de higiene pessoal, perfumes e seus componentes.

A proteção da fauna é matéria de competência legislativa concorrente (art. 24, VI, da CF/88).

A Lei federal nº 11.794/2008 possui uma natureza permissiva, autorizando, a utilização de animais em atividades de ensino e pesquisas científicas, desde que sejam observadas algumas condições relacionadas aos procedimentos adotados, que visam a evitar e/ou atenuar o sofrimento dos animais.

Mesmo o que o tema tenha sido tratado de forma mais restrita pela lei estadual, isso não se mostra inconstitucional porque, em princípio, é possível que os Estados editem normas mais protetivas ao meio ambiente, com fundamento em suas peculiaridades regionais e na preponderância de seu interesse, conforme o caso.

STF. Plenário. ADI 5996, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 15/04/2020 (Info 975).

Veja comentários em Direito Constitucional.

Page 14: Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

Informativo comentado

Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 14

DIREITO ADMINISTRATIVO

PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR É possível a cassação de aposentadoria de servidor público pela prática,

na atividade, de falta disciplinar punível com demissão

Não há inconstitucionalidade na previsão da penalidade de cassação de aposentadoria de servidores públicos, disposta nos arts. 127, IV, e 134 da Lei nº 8.112/90.

A aplicação da penalidade de cassação de aposentadoria ou disponibilidade é compatível com o caráter contributivo e solidário do regime próprio de previdência dos servidores públicos.

A perda do cargo público foi prevista no texto constitucional como uma sanção que integra o poder disciplinar da Administração. É medida extrema aplicável ao servidor que apresentar conduta contrária aos princípios básicos e deveres funcionais que fundamentam a atuação da Administração Pública.

A impossibilidade de aplicação de sanção administrativa a servidor aposentado, a quem a penalidade de cassação de aposentadoria se mostra como única sanção à disposição da Administração, resultaria em tratamento diverso entre servidores ativos e inativos, para o sancionamento dos mesmos ilícitos, em prejuízo do princípio isonômico e da moralidade administrativa, e representaria indevida restrição ao poder disciplinar da Administração em relação a servidores aposentados que cometeram faltas graves enquanto em atividade, favorecendo a impunidade.

STF. Plenário. ADPF 418, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 15/04/2020.

Lei nº 8.112/90 prevê a possibilidade de cassação de aposentadoria A Lei nº 8.112/90 trata sobre o estatuto dos servidores públicos federais. Dentre outros temas, essa lei prevê as regras do processo administrativo disciplinar. Assim, quando o servidor público federal pratica uma infração administrativa, será julgado e punido conforme as normas da Lei nº 8.112/90. Uma das punições previstas na Lei nº 8.112/90 é a cassação de aposentadoria. Veja o que dizem os arts. 127, IV, e 134:

Art. 127. São penalidades disciplinares: (...) IV - cassação de aposentadoria ou disponibilidade

Art. 134. Será cassada a aposentadoria ou a disponibilidade do inativo que houver praticado, na atividade, falta punível com a demissão.

ADPF A Associação dos Juízes Federais do Brasil (AJUFE), em conjunto com duas outras associações, ajuizou ADPF contra esses arts. 127, IV, e 134, da Lei nº 8.112/90. Segundo as autoras, essa pena de cassação de aposentadoria estaria em conflito com as alterações introduzidas na Constituição Federal pelas Emendas Constitucionais 3/1993, 20/1998 e 41/2003. Essas emendas constitucionais modificaram o regime previdenciário e atualmente a aposentadoria tem natureza contributiva, de forma que não seria compatível com a Constituição Federal admitir que a pessoa possa perder a aposentadoria (e todo o valor contribuído) pelo simples fato de ter praticado uma infração disciplinar. Essa pena importa em enriquecimento sem causa para a Administração Pública, em afronta

Page 15: Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

Informativo comentado

Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15

aos preceitos fundamentais do direito adquirido (art. 5º, XXXV, da CF/88), do devido processo legal substantivo (art. 5º, LIV) e do princípio da moralidade (art. 37). Logo, os arts. 127, IV, e 134, da Lei nº 8.112/90 não teriam sido recepcionados pelas Emendas Constitucionais 3/1993, 20/1998 e 41/2003. Primeira pergunta: por que foi proposta uma ADPF (e não uma ADI)? Porque a tese das autoras é a de que uma lei de 1990 é incompatível com normas constitucionais posteriores (de 1993 em diante). Assim, as autoras afirmam que uma lei anterior ao atual texto da Constituição Federal é com ela incompatível. Quando o ato impugnado (objeto) for anterior ao texto constitucional (parâmetro), não caberá ADI, mas será possível a propositura de ADPF. O pedido contido na ADPF foi julgado procedente? A pena de cassação de aposentadoria viola a Constituição Federal? A penalidade de cassação de aposentadoria é incompatível com a natureza contributiva do benefício previdenciário? NÃO.

Não há inconstitucionalidade na previsão da penalidade de cassação de aposentadoria de servidores públicos, disposta nos arts. 127, IV, e 134 da Lei nº 8.112/90. A aplicação da penalidade de cassação de aposentadoria ou disponibilidade é compatível com o caráter contributivo e solidário do regime próprio de previdência dos servidores públicos. A perda do cargo público foi prevista no texto constitucional como uma sanção que integra o poder disciplinar da Administração. É medida extrema aplicável ao servidor que apresentar conduta contrária aos princípios básicos e deveres funcionais que fundamentam a atuação da Administração Pública. A impossibilidade de aplicação de sanção administrativa a servidor aposentado, a quem a penalidade de cassação de aposentadoria se mostra como única sanção à disposição da Administração, resultaria em tratamento diverso entre servidores ativos e inativos, para o sancionamento dos mesmos ilícitos, em prejuízo do princípio isonômico e da moralidade administrativa, e representaria indevida restrição ao poder disciplinar da Administração em relação a servidores aposentados que cometeram faltas graves enquanto em atividade, favorecendo a impunidade. STF. Plenário. ADPF 418, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 15/04/2020.

Vale ressaltar, ainda, que, atualmente, vigoram duas características relevantes para o sistema do regime próprio: caráter contributivo e o princípio da solidariedade. O caráter solidário do sistema afasta a existência de uma simetria perfeita entre contribuição e benefício (como em um sinalagma), enquanto a natureza contributiva impede a cobrança de contribuição previdenciária sem que se confira ao segurado qualquer contraprestação, efetiva ou potencial. Em razão dessa sistemática, não se pode dizer que a contribuição previdenciária paga pelo servidor público seja um direito representativo de uma relação sinalagmática entre a contribuição e eventual benefício previdenciário futuro. A diferença entre os institutos da demissão e da cassação de aposentadoria concentra-se na época em que for constatado o ato ensejador de punição com a perda do cargo. Isto é, se o servidor se encontrar em atividade, torna-se possível a aplicação da demissão; caso contrário, se já estiver aposentado, aplica-se a penalidade de cassação da aposentadoria. Cogitar-se de tratamento diverso, no caso, para servidores ativos e aposentados, implicaria, inclusive, a adoção de solução não isonômica e, portanto, inconstitucional. Representaria, além disso, indevida restrição ao poder disciplinar da Administração em relação a servidores aposentados que cometeram faltas graves enquanto em atividade, favorecendo a impunidade.

Page 16: Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

Informativo comentado

Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16

Dito de outro modo: a impossibilidade de punição de servidor aposentado, a quem a penalidade de cassação de aposentadoria se mostra como única sanção à disposição da Administração, resultaria em tratamento diverso, entre servidores ativos e inativos, para o sancionamento dos mesmos ilícitos, em prejuízo do princípio isonômico e da moralidade administrativa.

A jurisprudência do STF é firme quanto à possibilidade de cassação de aposentadoria pela prática, na atividade, de falta disciplinar punível com demissão, inobstante o caráter contributivo de que se reveste o benefício previdenciário. STF. 2ª Turma. AgR no ARE 1.092.355, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 17/5/2019.

Entendimento do STJ Vale ressaltar que essa é também a posição do STJ sobre o tema:

A pena de cassação de aposentadoria é compatível com a Constituição Federal, a despeito do caráter contributivo conferido àquela, especialmente porque nada impede que, na seara própria, haja o acertamento de contas entre a administração e o servidor aposentado punido. Assim, constatada a existência de infração disciplinar praticada enquanto o servidor estiver na ativa, o ato de aposentadoria não se transforma num salvo conduto para impedir o sancionamento do ilícito pela administração pública. Faz-se necessário observar o regramento contido na Lei n. 8.112/1990, aplicando-se a penalidade compatível com as infrações apuradas. STJ. 1ª Seção. MS 23.608/DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. p/ Acórdão Min. Og Fernandes, julgado em 27/11/2019 (Info 666).

Jurisprudência em Teses do STJ (ed. 142): Tese 10: A pena de cassação de aposentadoria prevista nos art. 127, IV e art. 134 da Lei n. 8.112/1990 é constitucional e legal, inobstante o caráter contributivo do regime previdenciário.

Veja como o tema já foi cobrado em prova: ++ (Delegado PC/DF 2015) Conforme entendimento do STF, diante do caráter contributivo do regime próprio de previdência dos servidores públicos, é inconstitucional a penalidade de cassação de aposentadoria. (errado) ++ (Analista Judiciário - Administrativa STJ 2018 CEBRASPE) Será cassada a aposentadoria voluntária do servidor inativo que for condenado pela prática de ato de improbidade administrativa à época em que ainda estava na atividade. (certo)

Page 17: Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

Informativo comentado

Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17

DIREITO PENAL

DESOBEDIÊNCIA Comete crime de desobediência o indivíduo que não atende a ordem dada pelo oficial de justiça na ocasião do cumprimento de mandado de entrega de veículo

Importante!!!

Comete crime de desobediência (art. 330 do CP) o indivíduo que não atende a ordem dada pelo oficial de justiça na ocasião do cumprimento de mandado de entrega de veículo, expedido no juízo cível. O indivíduo, depositário do bem, recusou-se a entregar o veículo ou a indicar sua localização.

Essa conduta configura ato atentatório à dignidade da justiça (art. 77, IV, do CPC/2015), havendo a previsão de multa processual (art. 77, § 2º). Ocorre que a Lei afirma expressamente que a aplicação da multa ocorre sem prejuízo de responsabilização na esfera penal.

STF. 1ª Turma. HC 169417/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 28/4/2020 (Info 975).

Imagine a seguinte situação hipotética: João estava na posse de determinado veículo, na condição de depositário. O juiz, em um processo cível, determinou que João entregasse o carro. O oficial de justiça foi até a casa de João para cumprir a determinação judicial. João, contudo, não atendeu a ordem dada pelo oficial de justiça na ocasião do cumprimento de mandado de entrega de veículo, expedido no juízo cível. Em outras palavras, ele se recusou, na qualidade de depositário do bem, a entregar o veículo ou a indicar sua localização.

Processo criminal Diante disso, o juiz remeteu cópia dos autos ao Ministério Público, que ofereceu denúncia contra João pela prática do crime de desobediência, tipificado no art. 330 do Código Penal:

Art. 330. Desobedecer a ordem legal de funcionário público: Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.

O réu foi condenado à pena de 1 mês e 10 dias de detenção, em regime semiaberto, e ao pagamento de 20 dias-multa. O juiz negou a conversão da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos considerando que o réu é reincidente. A defesa recorreu alegando que a conduta praticada seria atípica. Isso porque o delito de desobediência, previsto no art. 330 do CP, constitui tipo penal subsidiário, cuja caracterização típica pressupõe, além do descumprimento de ordem emitida por funcionário público, que o ato de desobediência não se mostre suscetível de sofrer sanção administrativa, civil ou penal. Assim, a defesa alegou o seguinte: o comportamento de João configurou ato atentatório à dignidade da justiça (art. 77, IV, § 1º, do CPC/2015), sendo essa conduta punida com multa de até 20% do valor atualizado do débito em execução. Logo, se a conduta de João é punida com multa, não pode ser considerada como crime de desobediência já que este delito, como já dito, é subsidiário.

No caso concreto, o réu foi absolvido? NÃO. O argumento do réu não foi acolhido porque ele é parcialmente verdadeiro e não se aplica no caso concreto. O que prevalece tanto no STF como no STJ é o seguinte: Não há crime de desobediência quando a pessoa desatende a ordem e existe alguma lei prevendo uma sanção civil ou administrativa para esse descumprimento, sem ressalvar que poderá haver também a sanção criminal. Essa parte final grifada é fundamental e por causa dela João não foi absolvido.

Page 18: Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

Informativo comentado

Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18

Vamos entender com calma. REGRA: Se a pessoa descumprir uma ordem legal de funcionário público e na lei houver a previsão de sanção civil ou administrativa para esse descumprimento, não haverá crime de desobediência. O raciocínio aqui é o seguinte: se a lei já pune essa conduta com uma sanção civil ou administrativa, não há motivo para se utilizar o direito penal. Basta a sanção civil ou administrativa. Exemplo dessa regra: Marcelo foi parado em uma blitz. O agente de trânsito determinou que ele apresentasse a habilitação e o documento do veículo, tendo Marcelo se recusado a fazê-lo. Marcelo não cometeu crime de desobediência porque o art. 238 do Código de Trânsito já prevê punições administrativas para essa conduta (infração gravíssima, multa e apreensão do veículo), sem ressalvar a possibilidade de aplicação de sanção penal:

Art. 238. Recusar-se a entregar à autoridade de trânsito ou a seus agentes, mediante recibo, os documentos de habilitação, de registro, de licenciamento de veículo e outros exigidos por lei, para averiguação de sua autenticidade: Infração - gravíssima; Penalidade - multa e apreensão do veículo; Medida administrativa - remoção do veículo.

EXCEÇÃO: Haverá crime de desobediência se, a Lei, mesmo prevendo sanção civil ou administrativa, tiver uma ressalva expressa dizendo que tais sanções não excluem (não afastam) a responsabilidade penal. Aqui a lei fala o seguinte: estou prevendo sanção civil ou administrativa para esse descumprimento, mas isso não afasta a possibilidade de o sujeito também responder por crime. Veja um exemplo dessa exceção: Gutemberg foi intimado para testemunhar em uma ação penal, tendo, no entanto, sem justificativa, deixado de comparecer ao ato processual. Gutemberg cometeu o crime de desobediência. O CPP determina que o juiz poderá aplicar multa e condená-lo a pagar as custas da diligência, sem prejuízo do processo penal por crime de desobediência (art. 219). Assim, a Lei (no caso, o CPP) prevê punições civis ressalvando, no entanto, que elas poderão ser aplicadas juntamente com a condenação criminal. Confira a redação do art. 219 do CPP:

Art. 219. O juiz poderá aplicar à testemunha faltosa a multa prevista no art. 453, sem prejuízo do processo penal por crime de desobediência, e condená-la ao pagamento das custas da diligência.

Veja como isso consta nas ementas dos julgados do STJ:

Para a configuração do delito de desobediência, salvo se a lei ressalvar expressamente a possibilidade de cumulação da sanção de natureza civil ou administrativa com a de natureza penal, não basta apenas o não cumprimento de ordem legal, sendo indispensável que, além de legal a ordem, não haja sanção determinada em lei específica no caso de descumprimento. STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 1403618/MS, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 15/08/2019.

Voltando ao caso concreto: por que João foi condenado? Porque a Lei (CPC) prevê que o descumprimento da ordem judicial configura ato atentatório à dignidade da justiça, com a imposição de multa processual, sem prejuízo de responsabilização na esfera penal. Veja a redação legal:

Art. 77. Além de outros previstos neste Código, são deveres das partes, de seus procuradores e de todos aqueles que de qualquer forma participem do processo: (...)

Page 19: Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

Informativo comentado

Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19

IV - cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de natureza provisória ou final, e não criar embaraços à sua efetivação; (...) § 2º A violação ao disposto nos incisos IV e VI constitui ato atentatório à dignidade da justiça, devendo o juiz, sem prejuízo das sanções criminais, civis e processuais cabíveis, aplicar ao responsável multa de até vinte por cento do valor da causa, de acordo com a gravidade da conduta.

Existe um precedente antigo do STF no mesmo sentido:

Crime de desobediência: caracterização: descumprimento de ordem judicial que determinou apreensão e entrega de veículo, sob expressa cominação das penas da desobediência. Caso diverso daquele em que há cominação legal exclusiva de sanção civil ou administrativa para um fato específico, quando, para a doutrina majoritária e a jurisprudência do Supremo Tribunal (...), deve ser excluída a sanção penal se a mesma lei dela não faz ressalva expressa. Por isso, incide na espécie o princípio da independência das instâncias civil, administrativa e penal. STF. 1ª Turma. HC 86047, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgado em 04/10/2005.

Em suma:

Comete crime de desobediência (art. 330 do CP) o indivíduo que não atende a ordem dada pelo oficial de justiça na ocasião do cumprimento de mandado de entrega de veículo, expedido no juízo cível. O indivíduo, depositário do bem, recusou-se a entregar o veículo ou a indicar sua localização. Essa conduta configura ato atentatório à dignidade da justiça (art. 77, IV, do CPC/2015), havendo a previsão de multa processual (art. 77, § 2º). Ocorre que a Lei afirma expressamente que a aplicação da multa ocorre sem prejuízo de responsabilização na esfera penal. STF. 1ª Turma. HC 169417/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 28/4/2020 (Info 975).

++ (DPE/AP 2018 FCC) No cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer ou de não fazer, o executado incidirá nas penas de litigância de má-fé quando injustificadamente descumprir a ordem judicial, prejudicada a responsabilização por crime de desobediência. (errado) Pena restritiva de direitos Por outro lado, considerando que a condenação foi pequena e o delito, sem gravidade, o STF concedeu ao réu a substituição da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos. Em regra, o condenado que for reincidente em crime doloso, não fará jus à pena restritiva de direitos, nos termos do art. 44, II, do CP:

Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando: (...) II – o réu não for reincidente em crime doloso;

Vale ressaltar, contudo, que não se trata de vedação absoluta, tendo o legislador conferido discricionariedade ao julgador para afastar ou conceder o benefício de acordo com as peculiaridades do caso, analisando a conveniência da medida. Veja o que diz o § 3º do art. 44, § 3º do CP:

Art. 44 (...) § 3º Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime.

Page 20: Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

Informativo comentado

Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20

DIREITO DO TRABALHO

CONTRATO DE TRABALHO É inconstitucional dispositivo que afirma que os casos de contaminação por coronavírus não

serão considerados doenças ocupacionais É inconstitucional dispositivo que suspenda a atuação repressiva dos Fiscais do Trabalho

Covid-19

A MP 927/2020 dispõe sobre a possibilidade de celebração de acordo individual escrito, a fim de garantir a permanência do vínculo empregatício, durante o período da pandemia do novo coronavírus (covid-19), bem como sobre diversas providências a serem tomadas nesse período de calamidade pública relativas aos contratos de trabalho.

No julgamento de medida cautelar, o STF decidiu suspender a eficácia apenas dos arts. 29 e 31 da MP 927/2020, mantendo os demais dispositivos.

Art. 29. Os casos de contaminação pelo coronavírus (covid-19) não serão considerados ocupacionais, exceto mediante comprovação do nexo causal.

Esse dispositivo não se mostra razoável ao afirmar, de forma tão ampla, que a contaminação pelo coronavírus não seria doença ocupacional, excluindo da proteção inclusive de trabalhadores de atividades essenciais que continuam expostos aos riscos.

Art. 31. Durante o período de cento e oitenta dias, contado da data de entrada em vigor desta Medida Provisória, os Auditores Fiscais do Trabalho do Ministério da Economia atuarão de maneira orientadora, exceto quanto às seguintes irregularidades: (...)

Não existe razão para suspender, durante o período de 180 dias, contados da data de entrada em vigor da MP, a atuação completa dos Auditores Fiscais do Trabalho. O estabelecimento de uma fiscalização menor atenta contra a própria saúde do empregado e em nada auxilia na pandemia.

STF. Plenário. ADI 6342 Ref-MC/DF, ADI 6344 Ref-MC/DF, ADI 6346 Ref-MC/DF, ADI 6348 Ref-MC/DF, ADI 6349 Ref-MC/DF, ADI 6352 Ref-MC/DF e ADI 6354 Ref-MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 29/4/2020 (Info 975).

MP 927/2020: medidas trabalhistas para enfrentamento do coronavírus A MP 927/2020 dispõe sobre a possibilidade de celebração de acordo individual escrito, a fim de garantir a permanência do vínculo empregatício, durante o período da pandemia do novo coronavírus (covid-19), bem como sobre diversas providências a serem tomadas nesse período de calamidade pública relativas aos contratos de trabalho. O julgado que será comentado analisou a constitucionalidade desta MP. Preparei um resumo sobre o que trata a MP. No entanto, se não for importante para você, pode pular e ir direto para a análise do julgado. RESUMO DA MP 927/2020

Sobre o que trata a MP? A MP 927/2020 dispõe sobre as medidas trabalhistas que poderão ser adotadas pelos empregadores para preservação do emprego e da renda e para enfrentamento do estado de calamidade pública e da emergência de saúde pública decorrentes do coronavírus (covid-19).

Page 21: Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

Informativo comentado

Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21

Aplicação das regras da MP 927/2020 As regras da MP 927/2020 se aplicam durante o estado de calamidade pública reconhecido pelo Decreto Legislativo nº 6/2020. Força maior O estado de calamidade pública decorrente do coronavírus constitui hipótese de força maior, nos termos do que prevê o art. 501 da CLT:

Art. 501. Entende-se como força maior todo acontecimento inevitável, em relação à vontade do empregador, e para a realização do qual este não concorreu, direta ou indiretamente. § 1º A imprevidência do empregador exclui a razão de força maior. § 2º À ocorrência do motivo de força maior que não afetar substancialmente, nem for suscetível de afetar, em tais condições, a situação econômica e financeira da empresa não se aplicam as restrições desta Lei referentes ao disposto neste Capítulo.

Possibilidade de empregado e patrão celebrarem acordo individual escrito Durante o estado de calamidade pública, o empregado e o empregador poderão celebrar acordo individual escrito a fim de garantir a permanência do vínculo empregatício. Este acordo individual irá prevalecer sobre os demais instrumentos normativos, legais e negociais, respeitados os limites estabelecidos na Constituição. Medidas que poderão ser adotadas pelos empregadores Para enfrentamento dos efeitos econômicos decorrentes do estado de calamidade pública e para preservação do emprego e da renda, poderão ser adotadas pelos empregadores, dentre outras, as seguintes medidas: I - o teletrabalho; II - a antecipação de férias individuais; III - a concessão de férias coletivas; IV - o aproveitamento e a antecipação de feriados; V - o banco de horas; VI - a suspensão de exigências administrativas em segurança e saúde no trabalho; e VII - o diferimento do recolhimento do FGTS. TELETRABALHO

A primeira medida prevista pela MP e que pode ser adotada pelo empregador é o teletrabalho. A determinação de teletrabalho fica a critério do empregador Durante o estado de calamidade pública, o empregador poderá: - a seu critério, - alterar o regime de trabalho presencial para - o teletrabalho, - o trabalho remoto - ou outro tipo de trabalho a distância - e determinar o retorno ao regime de trabalho presencial. Para determinar isso, o empregador não precisa fazer um acordo com o empregado e também não necessita registrar essa alteração no contrato de trabalho.

Page 22: Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

Informativo comentado

Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22

Notificação do empregado Caso o empregador determine a realização do teletrabalho, deverá notificar o empregado com antecedência de, no mínimo, 48 horas, por escrito ou por meio eletrônico. O que é considerado teletrabalho? Considera-se teletrabalho, trabalho remoto ou trabalho a distância a prestação de serviços preponderante ou totalmente fora das dependências do empregador, com a utilização de tecnologias da informação e comunicação que, por sua natureza, não configurem trabalho externo. Os empregados que estão fazendo teletrabalho, trabalho remoto ou trabalho a distância não estarão sujeitos a controle de jornada, conforme previsto no art. 62, III, da CLT, não tendo direito, por consequência, ao pagamento de hora extra. Quem é responsável pela compra, fornecimento e manutenção dos equipamentos utilizados no teletrabalho? Isso será definido no contrato. As disposições relativas à responsabilidade pela aquisição, pela manutenção ou pelo fornecimento dos equipamentos tecnológicos e da infraestrutura necessária e adequada à prestação do teletrabalho, trabalho remoto ou trabalho a distância e ao reembolso de despesas arcadas pelo empregado serão previstas em contrato escrito, firmado previamente ou no prazo de 30 dias, contado da data da mudança do regime de trabalho. Se o empregado não possuir os equipamentos e a infraestrutura adequada (exs: computadores, internet etc.): Há duas opões para esses casos: 1) O empregador poderá fornecer os equipamentos em regime de comodato (empréstimo gratuito) e pagar pelos serviços de infraestrutura (ex: internet). Vale ressaltar que isso não caracterizará verba de natureza salarial; ou 2) na impossibilidade do oferecimento do regime de comodato, o período da jornada normal de trabalho será computado como tempo de trabalho à disposição do empregador. Tempo que o empregado fica respondendo mensagens no whatsapp O tempo de uso de aplicativos e programas de comunicação fora da jornada de trabalho normal do empregado não constitui tempo à disposição, regime de prontidão ou de sobreaviso, exceto se houver previsão em acordo individual ou coletivo. Estagiários e aprendizes também poderão fazer teletrabalho Fica permitida a adoção do regime de teletrabalho, trabalho remoto ou trabalho a distância para estagiários e aprendizes. Não se aplicam as regras do trabalho em telemarketing Não se aplicam aos trabalhadores em regime de teletrabalho as regulamentações sobre trabalho em teleatendimento e telemarketing. ANTECIPAÇÃO DE FÉRIAS INDIVIDUAIS

Antecipação das férias Outra medida que pode ser adotada pelo empregador é a antecipação de férias individuais. Assim, neste período de calamidade pública em que várias empresas estão fechadas, o empregador poderá conceder a antecipação das férias do empregado. Ele informará ao empregado sobre a antecipação de suas férias com antecedência de, no mínimo, 48 horas, por escrito ou por meio eletrônico, com a indicação do período a ser gozado pelo empregado.

Page 23: Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

Informativo comentado

Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23

As férias: • não poderão ser gozadas em períodos inferiores a 5 dias corridos; e • poderão ser concedidas por ato do empregador, ainda que o período aquisitivo a elas relativo não tenha transcorrido. Adicionalmente, empregado e empregador poderão negociar a antecipação de períodos futuros de férias, mediante acordo individual escrito. Grupos de risco terão prioridade Os trabalhadores que pertençam ao grupo de risco do coronavírus (covid-19) serão priorizados para o gozo de férias, individuais ou coletivas. Pagamento da remuneração das férias O pagamento da remuneração das férias concedidas em razão do estado de calamidade pública poderá ser efetuado até o 5º dia útil do mês subsequente ao início do gozo das férias, não aplicável o disposto no art. 145 da CLT:

Art. 145. O pagamento da remuneração das férias e, se for o caso, o do abono referido no art. 143 serão efetuados até 2 (dois) dias antes do início do respectivo período.

Na hipótese de dispensa do empregado, o empregador pagará, juntamente com o pagamento dos haveres rescisórios, os valores ainda não adimplidos relativos às férias. Adicional de férias pode ser pago posteriormente Para as férias concedidas durante o estado de calamidade pública, o empregador poderá optar por efetuar o pagamento do adicional de 1/3 de férias após sua concessão, até a data em que é devida a gratificação natalina. Conversão de 1/3 de férias em abono pecuniário depende de concordância do empregador O eventual requerimento por parte do empregado de conversão de um terço de férias em abono pecuniário estará sujeito à concordância do empregador. Suspensão das férias ou licenças de profissionais da saúde e de integrantes de funções essenciais Por outro lado, durante o estado de calamidade pública, o empregador poderá suspender as férias ou licenças não remuneradas dos profissionais da área de saúde ou daqueles que desempenhem funções essenciais, mediante comunicação formal da decisão ao trabalhador, por escrito ou por meio eletrônico, preferencialmente com antecedência de quarenta e oito horas. CONCESSÃO DE FÉRIAS COLETIVAS

Durante o estado de calamidade pública o empregador poderá, a seu critério, conceder férias coletivas e deverá notificar o conjunto de empregados afetados com antecedência de, no mínimo, 48 horas, não aplicáveis o limite máximo de períodos anuais e o limite mínimo de dias corridos previstos na CLT. Em situações normais, o empregador que quiser conceder férias coletivas, deverá comunicar o Ministério do Trabalho e o sindicato, conforme prevê o art. 139 da CLT:

Art. 139. Poderão ser concedidas férias coletivas a todos os empregados de uma empresa ou de determinados estabelecimentos ou setores da empresa. (...)

Page 24: Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

Informativo comentado

Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24

§ 2º Para os fins previstos neste artigo, o empregador comunicará ao órgão local do Ministério do Trabalho, com a antecedência mínima de 15 (quinze) dias, as datas de início e fim das férias, precisando quais os estabelecimentos ou setores abrangidos pela medida. § 3º Em igual prazo, o empregador enviará cópia da aludida comunicação aos sindicatos representativos da respectiva categoria profissional, e providenciará a afixação de aviso nos locais de trabalho.

Nesse período de calamidade pública essa comunicação fica dispensada. APROVEITAMENTO E ANTECIPAÇÃO DE FERIADOS Durante o estado de calamidade pública, os empregadores poderão antecipar o gozo de feriados não religiosos federais, estaduais, distritais e municipais e deverão notificar, por escrito ou por meio eletrônico, o conjunto de empregados beneficiados com antecedência de, no mínimo, 48 horas, mediante indicação expressa dos feriados aproveitados. Os feriados poderão ser utilizados para compensação do saldo em banco de horas. O aproveitamento de feriados religiosos dependerá de concordância do empregado, mediante manifestação em acordo individual escrito. BANCO DE HORAS Durante o estado de calamidade pública a que se refere o art. 1º, ficam autorizadas a interrupção das atividades pelo empregador e a constituição de regime especial de compensação de jornada, por meio de banco de horas, em favor do empregador ou do empregado, estabelecido por meio de acordo coletivo ou individual formal, para a compensação no prazo de até dezoito meses, contado da data de encerramento do estado de calamidade pública. A compensação de tempo para recuperação do período interrompido poderá ser feita mediante prorrogação de jornada em até 2 horas, que não poderá exceder 10 horas diárias. A compensação do saldo de horas poderá ser determinada pelo empregador independentemente de convenção coletiva ou acordo individual ou coletivo. SUSPENSÃO DE EXIGÊNCIAS ADMINISTRATIVAS EM SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO

Suspensão de exames médicos ocupacionais, clínicos e complementares Durante o estado de calamidade pública, fica suspensa a obrigatoriedade de realização dos exames médicos ocupacionais, clínicos e complementares, exceto dos exames demissionais. Esses exames que ficaram suspensos serão realizados no prazo de 60 dias, contado da data de encerramento do estado de calamidade pública. Na hipótese de o médico coordenador de programa de controle médico e saúde ocupacional considerar que a prorrogação representa risco para a saúde do empregado, o médico indicará ao empregador a necessidade de sua realização. O exame demissional poderá ser dispensado caso o exame médico ocupacional mais recente tenha sido realizado há menos de 180 dias. Suspensão de treinamentos Durante o estado de calamidade pública, fica suspensa a obrigatoriedade de realização de treinamentos periódicos e eventuais dos atuais empregados, previstos em normas regulamentadoras de segurança e saúde no trabalho. Os treinamentos serão realizados no prazo de 90 dias, contado da data de encerramento do estado de calamidade pública.

Page 25: Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

Informativo comentado

Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 25

Durante o estado de calamidade pública poderão ser realizados na modalidade de ensino a distância e caberá ao empregador observar os conteúdos práticos, de modo a garantir que as atividades sejam executadas com segurança. Comissões internas de prevenção de acidentes poderão ser mantidas As comissões internas de prevenção de acidentes poderão ser mantidas até o encerramento do estado de calamidade pública e os processos eleitorais em curso poderão ser suspensos. DIFERIMENTO DO RECOLHIMENTO DO FUNDO DE GARANTIA DO TEMPO DE SERVIÇO Fica suspensa a exigibilidade do recolhimento do FGTS pelos empregadores, referente às competências de março, abril e maio de 2020, com vencimento em abril, maio e junho de 2020, respectivamente. Os empregadores poderão fazer uso desta prerrogativa independentemente: I - do número de empregados; II - do regime de tributação; III - da natureza jurídica; IV - do ramo de atividade econômica; e V - da adesão prévia. O recolhimento das competências de março, abril e maio de 2020 poderá ser realizado de forma parcelada, sem a incidência da atualização, da multa e dos encargos. O pagamento das obrigações referentes às competências mencionadas será quitado em até 6 parcelas mensais, com vencimento no 7º dia de cada mês, a partir de julho de 2020. Para usufruir da prerrogativa, o empregador fica obrigado a declarar as informações, até 20 de junho de 2020, observado que: I - as informações prestadas constituirão declaração e reconhecimento dos créditos delas decorrentes, caracterizarão confissão de débito e constituirão instrumento hábil e suficiente para a cobrança do crédito de FGTS; e II - os valores não declarados serão considerados em atraso, e obrigarão o pagamento integral da multa e dos encargos. Na hipótese de rescisão do contrato de trabalho, a suspensão ficará resolvida e o empregador ficará obrigado: I - ao recolhimento dos valores correspondentes, sem incidência da multa e dos encargos, caso seja efetuado dentro do prazo legal estabelecido para sua realização; e II - ao depósito dos valores previstos no art. 18 da Lei nº 8.036/90. Fica suspensa a contagem do prazo prescricional dos débitos relativos a contribuições do FGTS pelo prazo de 120 dias, contado de 22/03/2020. O inadimplemento das parcelas ensejará o bloqueio do certificado de regularidade do FGTS. Os prazos dos certificados de regularidade emitidos anteriormente à data de entrada em vigor da MP (22/03/2020) serão prorrogados por 90 dias. OUTRAS DISPOSIÇÕES EM MATÉRIA TRABALHISTA

Prorrogação da jornada de trabalho nos estabelecimentos de saúde Durante o estado de calamidade pública é permitido aos estabelecimentos de saúde, mediante acordo individual escrito, mesmo para as atividades insalubres e para a jornada de 12 horas de trabalho por 36 horas de descanso:

Page 26: Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

Informativo comentado

Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 26

I - prorrogar a jornada de trabalho; e II - adotar escalas de horas suplementares entre a décima terceira e a vigésima quarta hora do intervalo interjornada, sem que haja penalidade administrativa, garantido o repouso semanal remunerado. As horas suplementares computadas em decorrência da adoção das medidas mencionadas acima poderão ser compensadas, no prazo de 18 meses, contado da data de encerramento do estado de calamidade pública, por meio de banco de horas ou remuneradas como hora extra. Acordos e convenções coletivas vencidas ou vincendas Os acordos e as convenções coletivos vencidos ou vincendos, no prazo de 180 dias, contado da data de entrada em vigor da MP (22/03/2020), poderão ser prorrogados, a critério do empregador, pelo prazo de noventa dias, após o termo final deste prazo. Medidas trabalhistas já tomadas antes da MP estão convalidadas Consideram-se convalidadas as medidas trabalhistas adotadas por empregadores que não contrariem o disposto nesta MP, tomadas no período dos 30 dias anteriores à data de entrada em vigor desta MP (22/03/2020). ANTECIPAÇÃO DO PAGAMENTO DO ABONO ANUAL EM 2020

No ano de 2020, o pagamento do abono anual (art. 40 da Lei nº 8.213/91), ao beneficiário da previdência social que, durante este ano, tenha recebido auxílio-doença, auxílio-acidente ou aposentadoria, pensão por morte ou auxílio-reclusão será efetuado em duas parcelas, excepcionalmente, da seguinte forma: I - a primeira parcela corresponderá a 50% do valor do benefício devido no mês de abril e será paga juntamente com os benefícios dessa competência; e II - a segunda parcela corresponderá à diferença entre o valor total do abono anual e o valor da parcela antecipada e será paga juntamente com os benefício da competência maio. Na hipótese de cessação programada do benefício prevista antes de 31 de dezembro de 2020, será pago o valor proporcional do abono anual ao beneficiário. ANÁLISE DA ADI 6363 PROPOSTA CONTRA A MP 927/2020

Foram propostas diversas ações diretas de inconstitucionalidade contra a MP 927/2020. O que decidiu o STF? Ao apreciar a medida cautelar, o Plenário do STF, por maioria, decidiu suspender a eficácia de dois dispositivos da MP 927/2020: os art. 29 e 31. Prevaleceu o voto do Min. Alexandre de Moraes que não vislumbrou razoabilidade nos arts. 29 e 31. Quanto aos demais dispositivos, o STF negou a medida cautelar, de forma que, em cognição sumária, foram considerados constitucionais. Com exceção dos arts. 29 e 31, a MP 927/2020 veio para tentar diminuir os trágicos efeitos econômicos da pandemia, que tem gerado o fechamento de inúmeras empresas, com um aumento do desemprego. Por isso, essas medidas emergenciais não seriam inconstitucionais, porque realmente pretendem compatibilizar — e vêm atingindo em certo ponto esse objetivo — os valores sociais do trabalho. Elas perpetuam o vínculo trabalhista, após, inclusive, o término do isolamento com a livre iniciativa, e, nesse sentido, mantêm, mesmo que abalada, a saúde financeira de milhares de empresas, principalmente as micro, pequenas e médias empresas do setor de serviços, que geram milhões de empregos. A ideia da medida provisória na manutenção desse equilíbrio é garantir a subsistência digna do trabalhador e sua família, que continuará, dentro desses parâmetros, mantendo o seu vínculo trabalhista.

Page 27: Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

Informativo comentado

Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 27

Os arts. 29 e 31, contudo, fogem dessa ratio da norma e não atendem esse binômio: manutenção do trabalho e renda do empregador com a sobrevivência da atividade empresarial. Tais dispositivos não promovem uma conciliação entre empregado e empregador para manutenção do vínculo trabalhista. Vejamos: ART. 29 O art. 29 da MP 297/2020 previa o seguinte:

Art. 29. Os casos de contaminação pelo coronavírus (covid-19) não serão considerados ocupacionais, exceto mediante comprovação do nexo causal.

O art. 29 é extremamente ofensivo não apenas para os inúmeros trabalhadores de atividades essenciais que continuam expostos aos riscos, como médicos e enfermeiros, para os quais a demonstração do nexo causal pode ser mais fácil, mas também para os funcionários de farmácias, de supermercados e aos motoboys que trazem e levam entregas de alimentos. Quanto aos motoboys, existe uma extrema dificuldade em comprovar eventual nexo causal, o que vai de encontro ao recente entendimento firmado pelo STF, no RE 828.040, no sentido de reconhecer a responsabilidade objetiva nos casos em que o risco é maior:

O art. 927, parágrafo único, do Código Civil é compatível com o art. 7º, XXVIII, da Constituição Federal, sendo constitucional a responsabilização objetiva do empregador por danos decorrentes de acidentes de trabalho nos casos especificados em lei ou quando a atividade normalmente desenvolvida, por sua natureza, apresentar exposição habitual a risco especial, com potencialidade lesiva, e implicar ao trabalhador ônus maior do que aos demais membros da coletividade. STF. Plenário. RE 828040/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 12/3/2020 (repercussão geral – Tema 932) (Info 969).

Desse modo, o art. 29 da MP não se mostra razoável ao afirmar, de forma tão ampla, que a contaminação pelo coronavírus não seria doença ocupacional, excluindo da proteção inclusive esses profissionais. ART. 31 O art. 31, por sua vez, previa o seguinte:

Art. 31. Durante o período de cento e oitenta dias, contado da data de entrada em vigor desta Medida Provisória, os Auditores Fiscais do Trabalho do Ministério da Economia atuarão de maneira orientadora, exceto quanto às seguintes irregularidades: I - falta de registro de empregado, a partir de denúncias; II - situações de grave e iminente risco, somente para as irregularidades imediatamente relacionadas à configuração da situação; III - ocorrência de acidente de trabalho fatal apurado por meio de procedimento fiscal de análise de acidente, somente para as irregularidades imediatamente relacionadas às causas do acidente; e IV - trabalho em condições análogas às de escravo ou trabalho infantil.

O Min. Alexandre de Moraes considerou que não existe razão para suspender, durante o período de 180 dias, contados da data de entrada em vigor da MP, a atuação completa dos Auditores Fiscais do Trabalho. O estabelecimento de uma fiscalização menor atenta contra a própria saúde do empregado e em nada auxilia na pandemia. A norma não prevê, como razão da sua existência, a necessidade do isolamento dos Auditores Fiscais, mas simplesmente diminui uma fiscalização que é essencial em todos os momentos, inclusive nesse momento excepcional, em que vários direitos trabalhistas estão sendo relativizados. Considerou, no ponto, não estarem presentes os requisitos da relevância e urgência.

Page 28: Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

Informativo comentado

Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 28

Em suma:

A MP 927/2020 dispõe sobre a possibilidade de celebração de acordo individual escrito, a fim de garantir a permanência do vínculo empregatício, durante o período da pandemia do novo coronarvírus (covid-19), bem como sobre diversas providências a serem tomadas nesse período de calamidade pública relativas aos contratos de trabalho. No julgamento de medida cautelar, o STF decidiu suspender a eficácia apenas dos arts. 29 e 31 da MP 927/2020, mantendo os demais dispositivos. STF. Plenário. ADI 6342 Ref-MC/DF, ADI 6344 Ref-MC/DF, ADI 6346 Ref-MC/DF, ADI 6348 Ref-MC/DF, ADI 6349 Ref-MC/DF, ADI 6352 Ref-MC/DF e ADI 6354 Ref-MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 29/4/2020 (Info 975).

EXERCÍCIOS Julgue os itens a seguir: 1) É cabível, em tese, ADO pedindo a instituição de pagamento de valor mínimo em favor dos mais

necessitados durante situação de calamidade pública decorrente de pandemia. ( ) 2) É inconstitucional lei estadual que proíba a utilização de animais para desenvolvimento, experimentos e

testes de produtos cosméticos, de higiene pessoal, perfumes e seus componentes. ( ) 3) É inconstitucional lei complementar estadual que preveja que compete exclusivamente ao Procurador-

Geral de Justiça interpor recursos ao STF e STJ. ( ) 4) As Procuradorias de Estado, por integrarem os respectivos Poderes Executivos, não gozam de autonomia

funcional, administrativa ou financeira, uma vez que a administração direta é una e não comporta a criação de distinções entre órgãos em hipóteses não contempladas explícita ou implicitamente pela Constituição Federal. ( )

5) A garantia da inamovibilidade conferida pela Constituição Federal aos magistrados, aos membros do Ministério Público e aos membros da Defensoria Pública (artigos 93, VIII; 95, II; 128, § 5º, b; e 134, parágrafo único) pode ser estendida aos procuradores de estado. ( )

6) Os princípios institucionais e as prerrogativas funcionais do Ministério Público e da Defensoria Pública não podem ser estendidos às Procuradorias de Estado, porquanto as atribuições dos procuradores de estado – sujeitos que estão à hierarquia administrativa – não guardam pertinência com as funções conferidas aos membros daquelas outras instituições. ( )

7) Não há inconstitucionalidade na previsão da penalidade de cassação de aposentadoria de servidores públicos, disposta nos arts. 127, IV, e 134 da Lei nº 8.112/90. ( )

8) Comete crime de desobediência o indivíduo que não atende a ordem dada pelo oficial de justiça na ocasião do cumprimento de mandado de entrega de veículo. ( )

9) (DPE/AP 2018 FCC) No cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer ou de não fazer, o executado incidirá nas penas de litigância de má-fé quando injustificadamente descumprir a ordem judicial, prejudicada a responsabilização por crime de desobediência. ( )

10) É inconstitucional dispositivo que afirma que os casos de contaminação por coronavírus não serão considerados doenças ocupacionais. ( )

Gabarito

1. C 2. E 3. E 4. C 5. E 6. C 7. C 8. C 9. E 10. C

Page 29: Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

Informativo comentado

Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 29

OUTRAS INFORMAÇÕES

Sessões Ordinárias Extraordinárias Julgamentos Julgamentos por meio

eletrônico*

Em curso Finalizados

Pleno 29.04.2020 30.04.2020 1 11 171

1ª Turma 28.04.2020 — 2 21 364

2ª Turma 28.04.2020 — 1 3 436

* Emenda Regimental 52/2019-STF. Sessão virtual de 24 a 30 de abril de 2020.

CLIPPING DAS SESSÕES VIRTUAIS DJE DE 27 A 30 DE ABRIL DE 2020

ADI 5.029

RELATOR: MIN. LUIZ FUX

Decisão: O Tribunal, por maioria, conheceu parcialmente da ação direta de inconstitucionalidade e, na parte conhecida,

julgou parcialmente procedente o pedido, para declarar a inconstitucionalidade do parágrafo único do artigo 1º; do inciso

VI do artigo 2º; e da expressão “ou por interesse público” constante do inciso VIII do artigo 65, todos da Lei

Complementar 111/2002 do Estado de Mato Grosso, nos termos do voto do Relator, vencido parcialmente o Ministro

Alexandre de Moraes. Falou, pelo amicus curiae, a Dra. Yasmim Yogo Ferreira. Não participou deste julgamento, por

motivo de licença médica no início da sessão, o Ministro Celso de Mello (art. 2º, § 5º, da Res. 642/2019). Plenário, Sessão

Virtual de 3.4.2020 a 14.4.2020.

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGOS 1º, PARÁGRAFO ÚNICO; 2º, VI E XI; E

65, VI E VIII, DA LEI COMPLEMENTAR 111/2002 DO ESTADO DO MATO GROSSO. EXTENSÃO DOS

PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS E DAS PRERROGATIVAS FUNCIONAIS DO MINISTÉRIO PÚBLICO E DA

DEFENSORIA PÚBLICA ÀS PROCURADORIAS DE ESTADO. IMPOSSIBILIDADE. ÓRGÃOS SUBMETIDOS

AO PRINCÍPIO HIERÁRQUICO QUE INTEGRAM OS RESPECTIVOS PODERES EXECUTIVOS. ALTERAÇÃO

SUBSTANCIAL DOS INCISOS XI DO ARTIGO 2º E VI DO ARTIGO 65 DA LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL

111/2002 COM O ADVENTO DA LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL 590/2017. PREJUDICIALIDADE. AÇÃO

PARCIALMENTE CONHECIDA E, NA PARTE CONHECIDA, JULGADO PARCIALMENTE PROCEDENTE O

PEDIDO. 1. Os princípios institucionais e as prerrogativas funcionais do Ministério Público e da Defensoria Pública não

podem ser estendidos às Procuradorias de Estado, porquanto as atribuições dos procuradores de estado – sujeitos que

estão à hierarquia administrativa – não guardam pertinência com as funções conferidas aos membros daquelas outras

instituições. Precedentes: ADI 217, Rel. Min. Ilmar Galvão, Plenário, DJ de 13/9/2002; ADI 291, Rel. Min. Joaquim

Barbosa, Plenário, DJe de 10/9/2010. 2. As Procuradorias de Estado, por integrarem os respectivos Poderes Executivos,

não gozam de autonomia funcional, administrativa ou financeira, uma vez que a administração direta é una e não comporta

a criação de distinções entre órgãos em hipóteses não contempladas explícita ou implicitamente pela Constituição Federal.

Precedente: ADI 291, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Plenário, DJe de 10/9/2010. 3. A garantia da inamovibilidade conferida

pela Constituição Federal aos magistrados, aos membros do Ministério Público e aos membros da Defensoria Pública

(artigos 93, VIII; 95, II; 128, § 5º, b; e 134, parágrafo único) não pode ser estendida aos procuradores de estado.

Precedentes: ADI 291, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Plenário, DJe de 10/9/2010; ADI 1246, Relator Min. Roberto Barroso,

Tribunal Pleno, DJe de 23/5/2019. 4. A autonomia conferida aos Estados-membros pelo artigo 25, caput, da Constituição

Federal não tem o condão de afastar as normas constitucionais de observância obrigatória. Precedentes: ADI 3.819, Rel.

Min. Eros Grau, Plenário, DJ de 28/3/2008; ADI 3.167, Rel. Min. Eros Grau, Plenário, DJ de 6/9/2007. 5. In casu, o

parágrafo único do artigo 1º e o inciso VI do artigo 2º da Lei Complementar 111/2002 do Estado de Mato Grosso

reproduzem normas da Constituição estadual (parágrafo único do artigo 110 e inciso VII do artigo 112) declaradas

inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da ADI 291, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Plenário, DJe

de 10/9/2010, razão pela qual devem ser declarados inconstitucionais pelos mesmos fundamentos externados na ocasião

do referido julgado. 6. O inciso VIII do artigo 65 da Lei Complementar 111/2002 do Estado de Mato Grosso apresenta

inconstitucionalidade parcial, mercê de a submissão da relotação e da remoção de procuradores estaduais por interesse

público à decisão do Colégio de Procuradores configurar forma de inamovibilidade mitigada incompatível com o princípio

hierárquico. 7. A revogação ou exaurimento da eficácia jurídico-normativa de dispositivo impugnado implica a

prejudicialidade da ação, por perda de seu objeto, máxime porque o objetivo da ação direta é a declaração, em tese, da

inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e o seu consequente expurgo do ordenamento jurídico.

Page 30: Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

Informativo comentado

Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 30

Precedentes: ADI 4.365, Rel. Min. Dias Toffoli, Plenário, DJe de 8/5/2015; ADI 4.663-MC-Ref, Rel. Min. Luiz Fux,

Plenário, DJe de 16/12/2014. 8. In casu, a ação direta carece de objeto quanto aos incisos XI do artigo 2º e VI do artigo

65 da Lei Complementar estadual 111/2002, que sofreram alterações substanciais com o advento da Lei Complementar

estadual 590/2017, razão pela qual se impõe o conhecimento, apenas, parcial. 9. Ação direta de inconstitucionalidade

PARCIALMENTE CONHECIDA e, na parte conhecida, julgado PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido para

declarar a inconstitucionalidade do parágrafo único do artigo 1º; do inciso VI do artigo 2º; e da expressão “ou por interesse

público” constante do inciso VIII do artigo 65, todos da Lei Complementar 111/2002 do Estado de Mato Grosso.

ADI 5.267

RELATOR: MIN. LUIZ FUX

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, conheceu da ação direta e julgou parcialmente procedente o pedido formulado

para declarar a inconstitucionalidade do artigo 10 da Lei estadual 10.254/1990 e do § 1º do artigo 7º da Lei estadual

9.726/1988, ambas do Estado de Minas Gerais, nos termos do voto Relator. Não participou deste julgamento, por motivo

de licença médica no início da sessão, o Ministro Celso de Mello (art. 2º, § 5º, da Res. 642/2019). Plenário, Sessão Virtual

de 3.4.2020 a 14.4.2020.

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO 10 DA LEI ESTADUAL 10.254/1990;

ARTIGO 7º, § 1º, DA LEI ESTADUAL 9.726/1988; E ARTIGO 289 DA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL, TODAS DO

ESTADO DE MINAS GERAIS. DESIGNAÇÃO PARA O EXERCÍCIO DE FUNÇÃO PÚBLICA. PROFESSORES,

ESPECIALISTAS EM EDUCAÇÃO, SERVIÇAIS DE UNIDADES DE ENSINO E SERVENTUÁRIOS E

AUXILIARES DE JUSTIÇA. SUBSTITUIÇÃO DO TITULAR OU EXISTÊNCIA DE CARGOS VAGOS.

INCONSTITUCIONALIDADE DE DISPOSIÇÕES DE LEI QUE, A PRETEXTO DE AUTORIZAR A

CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA PREVISTA NO ARTIGO 37, IX, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, NÃO

ESTABELECEM PRAZO DETERMINADO OU DISPÕEM DE FORMA GENÉRICA E ABRANGENTE, NÃO

ESPECIFICANDO A CONTINGÊNCIA FÁTICA QUE EVIDENCIA A SITUAÇÃO EMERGENCIAL. AÇÃO

CONHECIDA E JULGADO PARCIALMENTE PROCEDENTE O PEDIDO. 1. O concurso público, enquanto postulado

para o provimento de cargo efetivo e de emprego público, concretiza a necessidade essencial de o Estado conferir

efetividade a diversos princípios constitucionais, dentre os quais o de que todos são iguais perante a lei, sem distinção de

qualquer natureza, e o da publicidade, garantindo igual oportunidade aos candidatos e controle social dos termos do edital

e das etapas do certame. 2. A contratação excepcional de servidores públicos sem prévia aprovação em concurso público,

em nome do princípio da continuidade do serviço público, encontra-se restrita às hipóteses constitucionais que a

legitimam, de modo que são inconstitucionais, por violação da cláusula do concurso público, disposições de lei que não

estabelecem prazo determinado para a contratação ou dispõem de forma genérica e abrangente, não especificando a

contingência fática que evidencia a situação emergencial. Precedentes: ADI 3.662, Rel. Min. Marco Aurélio, Plenário,

DJe de 24/5/2018; ADI 5.163, Rel. Min. Luiz Fux, Plenário, DJe de 18/5/2015; ADI 3.649, Rel. Min. Luiz Fux, Plenário,

DJe de 30/10/2014; ADI 3.430, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Plenário, DJe de 23/10/2009; ADI 3210, Rel. Min.

Carlos Velloso, Plenário, DJ 3/12/2004; ADI 2.987, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Plenário, DJ de 2/4/2004. 3. A

contratação temporária de servidores públicos, nos termos do art. 37, IX, da Constituição Federal, para que se considere

válida, reclama que: a) os casos excepcionais estejam previstos em lei; b) o prazo de contratação seja predeterminado; c)

a necessidade seja temporária; d) o interesse público seja excepcional; e) a contratação seja indispensável, sendo vedada

para os serviços ordinários permanentes do Estado que estejam sob o espectro das contingências normais da

Administração” (RE 658.026, Rel. Min. Dias Toffoli, Plenário, DJe de 31/10/2014 – Tema 612 da Repercussão Geral).

4. In casu, o artigo 10 da Lei 10.254/1990 do Estado de Minas Gerais permite a “designação para o exercício de função

pública”, para os cargos de professor, especialista em educação, serviçal, auxiliares de justiça e serventuários, nas

hipóteses de (i) substituição motivada por impedimento do titular do cargo e (ii) vacância decorrente de demora no

provimento definitivo de cargo, devendo o ato de designação estabelecer prazo, findo o qual o ocupante de função pública

será automaticamente dispensado, quando não houver sido antes por cessar o motivo da designação ou por

discricionariedade administrativa. 5. O artigo 10 da Lei estadual 10.254/1990, ao estabelecer que a motivação da

necessidade de pessoal é determinada no ato próprio da designação, tanto na hipótese de substituição quanto de

provimento de vaga, não densifica de que modo a designação de exercício público se amolda ao permissivo constitucional

de necessidade temporária de excepcional interesse público, configurando autorização abrangente e genérica, que exorbita

o alcance do artigo 37, IX, da Constituição Federal. 6. O artigo 10, inciso II, da Lei estadual 10.254, especificamente, ao

permitir a designação temporária em caso de cargos vagos, viola a regra constitucional do concurso público, porquanto

trata de contratação de servidores para atividades absolutamente previsíveis, permanentes e ordinárias do Estado,

permitindo que sucessivas contratações temporárias perpetuem indefinidamente a precarização de relações trabalhistas

no âmbito da Administração Pública. 7. O § 1º do artigo 7º da Lei estadual 9.726/1988, ao estabelecer que, nos casos de

vacância e de instalação de vara ou comarca, os serventuários e auxiliares de justiça servirão, a título precário, até o

provimento dos cargos por meio de concurso público, inobserva os requisitos da temporariedade e excepcionalidade da

contratação sem concurso público, violando o artigo 37, incisos II, da Constituição Federal. 8. O artigo 289 do

Page 31: Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

Informativo comentado

Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 31

Constituição mineira, por sua vez, encontra-se amparado pela presunção de constitucionalidade, mercê de não disciplinar

nem autorizar a contratação temporária para a substituição de servidores que desempenham atividades de magistério, mas

apenas dar prioridade, para o exercício em substituição de atividade de magistério mediante designação para função

pública, ao servidor aprovado em concurso público para o cargo correspondente. 9. Ação direta de inconstitucionalidade

CONHECIDA e julgado PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido, para declarar a inconstitucionalidade do artigo 10

da Lei estadual 10.254/1990 e do § 1º do artigo 7º da Lei estadual 9.726/1988, ambas do Estado de Minas Gerais.

ADI 5.505

RELATOR: MIN. LUIZ FUX

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, conheceu da ação direta e julgou improcedente o pedido, nos termos do voto do

Relator. Não participou deste julgamento, por motivo de licença médica no início da sessão, o Ministro Celso de Mello

(art. 2º, § 5º, da Res. 642/2019). Plenário, Sessão Virtual de 3.4.2020 a 14.4.2020.

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGOS 22, XLI E LV, E 38, V, DA LEI

COMPLEMENTAR 141/1996 DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (LEI ORGÂNICA DO MINISTÉRIO

PÚBLICO ESTADUAL). ATRIBUIÇÃO AO PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DA COMPETÊNCIA PARA

INTERPOR RECURSOS DIRIGIDOS AO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E AO SUPERIOR TRIBUNAL DE

JUSTIÇA. POSSIBILIDADE DE AMPLIAÇÃO DAS ATRIBUIÇÕES DOS PROCURADORES-GERAIS DE

JUSTIÇA NAS LEIS ORGÂNICAS DOS MINISTÉRIOS PÚBLICOS ESTADUAIS. ROL NÃO EXAUSTIVO DA LEI

FEDERAL LEI 8.625/1993 (LEI ORGÂNICA NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO - LONMP).

INVIABILIDADE DA INVOCAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA INDEPENDÊNCIA FUNCIONAL E DO PROMOTOR

NATURAL PARA INVALIDAR A DISTRIBUIÇÃO DE ATRIBUIÇÕES EFETUADA PELA LEI. PRINCÍPIOS

INSTITUCIONAIS DA UNIDADE E DA INDIVISIBILIDADE DO PARQUET. AÇÃO CONHECIDA E JULGADO

IMPROCEDENTE O PEDIDO. 1. As leis complementares estaduais que dispõem sobre a organização, atribuições e

estatuto dos respectivos Ministérios Públicos, nos termos previstos pelo artigo 128, §5º, da Constituição Federal, (i) são

de iniciativa do Procurador-Geral de Justiça daquele Estado-membro; e (ii) devem respeito à lei federal de normas gerais,

de iniciativa privativa do Presidente da República. Precedentes: ADI 852, Rel. Min. Ilmar Galvão, Tribunal Pleno, julgada

em 29/8/2002, DJ de 18/10/2002; ADI 3.041, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, julgada em 10/11/2011,

DJe de 1º/2/2012). 2. A Lei federal 8.625/1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público - LONMP) não pormenoriza

a atuação dos Procuradores-Gerais de Justiça e dos Procuradores de Justiça em sede recursal e, por expressa dicção do

caput de seu artigo 29, o rol de atribuições dos Procuradores-Gerais de Justiça não é exaustivo, de modo que as leis

orgânicas dos Ministérios Públicos estaduais podem, validamente, ampliar ou densificar tais atribuições. 3. A

independência funcional do órgão do Ministério Público é exercida dentro das atribuições fixadas na lei, mercê de a

atuação do Parquet se dar, institucionalmente, de forma organizada e hierarquizada, uma vez que seus agentes exercem

as respectivas funções sob determinadas regras e limites impostos pela estrutura interna do organismo. 4. O princípio do

promotor natural significa tão somente a existência de órgão do Ministério Público escolhido por prévios critérios legais.

Precedente: HC 102.147/GO, Rel. Min. Celso de Mello, DJe 22 de 2/2/2011. 5. Os princípios da independência funcional

e do promotor natural não podem ser invocados, via de regra, para invalidar a distribuição de atribuições efetuada pela

lei, sob pena de desconsideração dos princípios institucionais da unidade e da indivisibilidade do Parquet. Precedentes:

ADI 1.916, Rel. Min. Eros Grau, Plenário, DJe de 18/6/2010; ADI 5.434, Redator do acórdão Min. Edson Fachin,

Plenário, DJe de 23/9/2019; ADI 1.285-MC, Rel. Min. Moreira Alves, Plenário, DJ de 23/3/2001. 6. In casu, o artigo 22,

XLI e LV, da Lei Complementar 141/1996 do Estado do Rio Grande do Norte (Lei Orgânica do Ministério Público

estadual), que atribui ao Procurador-Geral de Justiça a competência para interpor recursos ao Supremo Tribunal Federal

e ao Superior Tribunal de Justiça e neles oficiar, e o artigo 38, V, da referida Lei, que atribui aos Procuradores de Justiça

a incumbência de encaminhar acórdãos, no prazo de vinte e quatro horas, ao Procurador-Geral de Justiça, com

manifestação pela conveniência da interposição do recurso devido, não padecem de inconstitucionalidade formal ou

material, uma vez que (i) não há incompatibilidade entre os dispositivos estaduais e as normas gerais delineadas na Lei

federal 8.625/1993; (ii) o processo legislativo que originou a norma foi deflagrado pelo Procurador-Geral de Justiça; (iii)

não se cogita de vulneração aos princípios do promotor natural e da independência funcional, eis que se trata de mera

divisão de atribuições dentro do Ministério Público estadual, veiculada por meio de lei, a qual não possibilita a ingerência

do Procurador-Geral de Justiça nas atividades dos Procuradores de Justiça, que conservam plena autonomia no exercício

de seus misteres legais. 7. Ação direta de inconstitucionalidade CONHECIDA e julgado IMPROCEDENTE o pedido.

ADI 5.996

RELATOR: MIN. ALEXANDRE DE MORAES

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, julgou improcedente o pedido formulado na ação direta, nos termos do voto do

Relator. Falaram: pela requerente, o Dr. Bruno Corrêa Burini, e, pelo amicus curiae, o Dr. Gustavo Teixeira Ramos. Não

participou deste julgamento, por motivo de licença médica no início da sessão, o Ministro Celso de Mello (art. 2º, § 5º,

da Res. 642/2019). Plenário, Sessão Virtual de 3.4.2020 a 14.4.2020.

Page 32: Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

Informativo comentado

Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 32

EMENTA: CONSTITUCIONAL. FEDERALISMO E RESPEITO ÀS REGRAS DE DISTRIBUIÇÃO DE

COMPETÊNCIA. LEI ESTADUAL 289/2015 DO ESTADO DO AMAZONAS. PROIBIÇÃO DO USO DE ANIMAIS

PARA O DESENVOLVIMENTO, EXPERIMENTOS E TESTES DE PRODUTOS COSMÉTICOS, DE HIGIENE

PESSOAL, PERFUMES E SEUS COMPONENTES. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA CONCORRENTE DO

ESTADO EM MATÉRIA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (ART. 24, VI, CF). NORMA ESTADUAL AMBIENTAL

MAIS PROTETIVA, SE COMPARADA COM A LEGISLAÇÃO FEDERAL SOBRE A MATÉRIA.

INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL. NÃO OCORRÊNCIA. PRECEDENTES. IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO.

1. As regras de distribuição de competências legislativas são alicerces do federalismo e consagram a fórmula de divisão

de centros de poder em um Estado de Direito. Princípio da predominância do interesse. 2. A Constituição Federal de

1988, presumindo de forma absoluta para algumas matérias a presença do princípio da predominância do interesse,

estabeleceu, a priori, diversas competências para cada um dos entes federativos – União, Estados-Membros, Distrito

Federal e Municípios – e, a partir dessas opções, pode ora acentuar maior centralização de poder, principalmente na

própria União (CF, art. 22), ora permitir uma maior descentralização nos Estados-Membros e nos Municípios (CF, arts.

24 e 30, inciso I). 3. A Lei 289/2015 do Estado do Amazonas, ao proibir a utilização de animais para desenvolvimento,

experimentos e testes de produtos cosméticos, de higiene pessoal, perfumes e seus componentes, não invade a

competência da União para legislar sobre normas gerais em relação à proteção da fauna. Competência legislativa

concorrente dos Estados (art. 24, VI, da CF). 4. A sobreposição de opções políticas por graus variáveis de proteção

ambiental constitui circunstância própria do estabelecimento de competência concorrente sobre a matéria. Em linha de

princípio, admite-se que os Estados editem normas mais protetivas ao meio ambiente, com fundamento em suas

peculiaridades regionais e na preponderância de seu interesse, conforme o caso. Precedentes. 5. Ação Direta de

Inconstitucionalidade conhecida e julgada improcedente.

MEDIDA CAUTELAR NA ADI 6.221

RELATOR: MIN. EDSON FACHIN

Decisão: O Tribunal, por maioria, concedeu parcialmente a medida cautelar, para suspender a eficácia da expressão "e

dos Municípios", constante do art. 39, § 2º, da Constituição do Estado do Pará, na redação dada pela EC 72/2018,

afirmando-se que o teto remuneratório aplicável aos servidores municipais, excetuados os vereadores, é o subsídio do

prefeito municipal, nos termos do voto do Ministro Alexandre de Moraes, Redator para o acórdão, vencidos os Ministros

Edson Fachin (Relator), Cármen Lúcia (art. 2º, § 3º, da Resolução nº 642, de 14 de junho de 2019), Roberto Barroso, Luiz

Fux e Marco Aurélio. Plenário, Sessão Virtual de 13.12.2019 a 19.12.2019.

EMENTA: CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. EMENDA 72/2018 À

CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO PARÁ. TETO REMUNERATÓRIO. SERVIDORES MUNICIPAIS. RESERVA

DE INICIATIVA. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO AO ART. 37, XI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ADOÇÃO DE

SUBTETO ÚNICO PELOS ESTADOS (ART. 37, § 12, DA CF). LIMITAÇÃO DE SEU ALCANCE AOS

SERVIDORES PÚBLICOS ESTADUAIS. MEDIDA CAUTELAR PARCIALMENTE CONCEDIDA. 1. Ausência de

inconstitucionalidade formal por violação à iniciativa reservada do Poder Executivo para dispor sobre regime jurídico dos

servidores públicos (art. 61, § 1º, II, “a” e “c”, da CF), não incidindo a jurisprudência da CORTE que exige a observância

das regras de exclusividade de iniciativa para proposituras de emendas às Constituições Estaduais. 2. A faculdade

conferida aos Estados para a regulação do teto aplicável a seus servidores (art. 37, § 12, da CF) não permite que a

regulamentação editada com fundamento nesse permissivo inove no tratamento do teto dos servidores municipais, para

quem o art. 37, XI, da CF, já estabelece um teto único. 3. Medida Cautelar parcialmente concedida, para suspender a

eficácia da expressão “e dos Municípios”, constante do dispositivo impugnado, afirmando-se que o teto remuneratório

aplicável aos servidores municipais, excetuados os vereadores, é o subsídio do prefeito municipal.

ADO 2

RELATOR: MIN. LUIZ FUX

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, conheceu da ação direta e julgou improcedente o pedido, nos termos do voto do

Relator. Falou, pela requerente, o Dr. Rafael da Cás Maffini. Não participou deste julgamento, por motivo de licença

médica no início da sessão, o Ministro Celso de Mello (art. 2º, § 5º, da Res. 642/2019). Plenário, Sessão Virtual de

3.4.2020 a 14.4.2020.

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO. ALEGADA AUSÊNCIA DE

IMPLANTAÇÃO EFETIVA DA DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO. INEXISTÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA

OMISSÃO LEGISLATIVA E ADMINISTRATIVA. CRIAÇÃO DE NOVOS CARGOS E PRERROGATIVAS. AÇÃO

DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO CONHECIDA E JULGADO IMPROCEDENTE O

PEDIDO. 1. A Constituição Federal evidencia a posição de destaque da Defensoria Pública na concretização do acesso à

justiça, ao dispor, em seu artigo 5º, LXXIV, que "o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que

comprovarem insuficiência de recursos" e, em seu artigo 134 (na redação conferida pela Emenda Constitucional 80/2014),

que "a Defensoria Publica é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como

Page 33: Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

Informativo comentado

Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 33

expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos

humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e

gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal". 2. A relação entre a atuação

da Defensoria Pública e a defesa do Estado Democrático de Direito, ademais, deflui da interpretação sistemático-

teleológica das cláusulas da inafastabilidade da jurisdição e do devido processo legal em sua acepção substancial, eis que,

por meio da Defensoria Pública, reafirma-se a centralidade da pessoa humana na ordem jurídico-constitucional

contemporânea, deixando-se claro que todo ser humano é digno de obter o amparo do ordenamento jurídico brasileiro. 3.

As políticas públicas são realizadas por meio de processos ou ciclos, de modo que a concretização do plano constitucional

não é nem instantânea nem estanque, mercê das constantes alterações econômicas, políticas, sociais e culturais. Embora

alguns mandamentos fundamentais possam ser perfectibilizados, apenas, pela via normativa, outros demandam atuação

coordenada de múltiplas esferas administrativas, assim como tempo de maturação, planejamento estrutural e orçamentário

e, quiçá, uma certa dose de experimentalismo. 4. O controle judicial de omissão em matéria de políticas públicas é possível

– e, mais que isso, imperativo – diante de quadros de eternização ilícita das etapas de implementação dos planos

constitucionais ou, ainda, em face de violação sistêmica dos direitos fundamentais, uma vez que o princípio da separação

dos Poderes não pode ser interpretado como mecanismo impeditivo da eficácia das normas constitucionais, sob pena de

transformar os programas da Carta Maior em meras promessas. Precedente: ADPF 347 MC, Relator Min. MARCO

AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 9/9/2015, DJe 19/2/2016. 5. In casu, não há comprovação de que o Poder Público

tenha quedado inerte nos seus deveres de estruturação da Defensoria Pública Federal, máxime porque se verifica a

existência de esforços legislativos e administrativos na implantação da instituição em âmbito nacional. 6. A atual redação

do artigo 134 da CRFB, após sucessivas emendas, garante à Defensoria Pública autonomia funcional e administrativa,

bem como a iniciativa de sua proposta orçamentária, ao passo que o artigo 168 da Carta Maior determina que os recursos

correspondentes às dotações orçamentárias, compreendidos os créditos suplementares e especiais, destinados aos órgãos

dos Poderes Legislativo e Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública, ser-lhes-ão entregues até o dia 20 de

cada mês, em duodécimos. 7. A Emenda Constitucional 80/2014 incluiu o artigo 98 no Ato das Disposições

Constitucionais Transitórias, que dispõe que "o número de defensores públicos na unidade jurisdicional será proporcional

à efetiva demanda pelo serviço da Defensoria Pública e à respectiva população"; que "no prazo de 8 (oito) anos, a União,

os Estados e o Distrito Federal deverão contar com defensores públicos em todas as unidades jurisdicionais (...)"; e que

"durante o decurso do prazo previsto no § 1º deste artigo, a lotação dos defensores públicos ocorrerá, prioritariamente,

atendendo as regiões com maiores índices de exclusão social e adensamento populacional". 8. O IV Diagnóstico dai

Defensoria Pública no Brasil, de 2015, elaborado no âmbito do projeto "Fortalecimento do Acesso à Justiça no Brasil",

firmado entre o Ministério da Justiça, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e a Agência

Brasileira de Cooperação, expõe que "a DPU tem recebido de forma regular os repasses do duodécimo orçamentário

federal, conforme previsto pela Constituição, após a promulgação da Emenda nº 74 (...). A análise dos valores demonstra

o enorme incremento das receitas da instituição neste período, chegando, em 2014, a quase seis vezes o valor aprovado

em 2006", e que "[o] atual número de Defensores Federais é 20% superior ao total de cargos existentes em 2008". 9. A

Defensoria Pública Federal realizou concursos públicos em 2001, 2004, 2007, 2010, 2014 e 2017, havendo, igualmente,

previsão de criação de novos cargos efetivos no atual Projeto de Lei Orçamentária para 2020. 10. Os recursos estatais são,

por excelência, escassos, de modo que há, no mais das vezes, um descompasso entre as demandas da sociedade e as

correspondentes capacidades jurídico-administrativas do Estado. Consectariamente, na impossibilidade fática de aplicar

recursos ótimos em todas as áreas deficitárias, o gestor público deve realizar escolhas alocativas trágicas. 11. As

constrições orçamentárias, políticas, capacitarias e institucionais da Administração Publica devem ser sopesadas pelo

julgador quando da avaliação de eventual omissão ilícita, sob pena de submeter o legislador e o administrador a um

patamar de perfeccionismo inalcançável e perigosamente apartado do princípio democrático. O que o Poder Judiciário

deve aferir é se existe a progressiva e efetiva marcha pela consecução do programa constitucional. Precedente: ADI 1698,

Relatora Min. Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, julgado em 25/2/2010, DJe 16/4/2010. 12. In casu, ausentes elementos que

indiquem a imprestabilidade das políticas públicas em desenvolvimento, não há que se falar em omissão inconstitucional,

mercê de uma política pública desse porte (que pressupõe a capilarização do serviço em todo o território nacional) não

nascer pronta e acabada. Isso não se confunde, todavia, com a tolerância a retrocessos nessa seara, de sorte que, havendo

comprovada estagnação, frustração ou vilipêndio contra a instituição, afigura-se perfeitamente possível o reconhecimento

da omissão dos Poderes Constituídos. 13. Ação direta de inconstitucionalidade por omissão CONHECIDA e julgado

IMPROCEDENTE o pedido.

ADPF 418

RELATOR: MIN. ALEXANDRE DE MORAES

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, conheceu da arguição e julgou improcedente o pedido, nos termos do voto do

Relator. Falou, pelas requerentes, o Dr. Alberto Pavie Ribeiro. Não participou deste julgamento, por motivo de licença

médica no início da sessão, o Ministro Celso de Mello (art. 2º, § 5º, da Res. 642/2019). Plenário, Sessão Virtual de

3.4.2020 a 14.4.2020.

Page 34: Informativo comentado: Informativo 975-STF...STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info

Informativo comentado

Informativo 975-STF (06/05/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 34

EMENTA: ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. CONSTITUCIONAL E

ADMINISTRATIVO. ARTS. 127, IV, E 134 DA LEI 8.112/1990. PENALIDADE DISCIPLINAR DE CASSAÇÃO DE

APOSENTADORIA OU DISPONIBILIDADE. EMENDAS CONSTITUCIONAIS 3/1993, 20/1998 E 41/2003.

PENALIDADE QUE SE COMPATIBILIZA COM O CARÁTER CONTRIBUTIVO E SOLIDÁRIO DO REGIME

PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA DOS SERVIDORES. PODER DISCIPLINAR DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.

AÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE. 1. As Emendas Constitucionais 3/1993, 20/1998 e 41/2003 estabeleceram o

caráter contributivo e o princípio da solidariedade para o financiamento do regime próprio de previdência dos servidores

públicos. Sistemática que demanda atuação colaborativa entre o respectivo ente público, os servidores ativos, os

servidores inativos e os pensionistas. 2. A contribuição previdenciária paga pelo servidor público não é um direito

representativo de uma relação sinalagmática entre a contribuição e eventual benefício previdenciário futuro. 3. A

aplicação da penalidade de cassação de aposentadoria ou disponibilidade é compatível com o caráter contributivo e

solidário do regime próprio de previdência dos servidores públicos. Precedentes. 4. A perda do cargo público foi prevista

no texto constitucional como uma sanção que integra o poder disciplinar da Administração. É medida extrema aplicável

ao servidor que apresentar conduta contrária aos princípios básicos e deveres funcionais que fundamentam a atuação da

Administração Pública. 5. A impossibilidade de aplicação de sanção administrativa a servidor aposentado, a quem a

penalidade de cassação de aposentadoria se mostra como única sanção à disposição da Administração, resultaria em

tratamento diverso entre servidores ativos e inativos, para o sancionamento dos mesmos ilícitos, em prejuízo do princípio

isonômico e da moralidade administrativa, e representaria indevida restrição ao poder disciplinar da Administração em

relação a servidores aposentados que cometeram faltas graves enquanto em atividade, favorecendo a impunidade. 6.

Arguição conhecida e julgada improcedente.

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS

27 A 30 DE ABRIL DE 2020

Medida Provisória nº 958, de 24.4.2020 - Estabelece normas para a facilitação do acesso ao crédito e mitigação dos

impactos econômicos decorrentes da pandemia de coronavírus (covid-19). Publicado no DOU em 27.04.2020, Seção 1,

Edição 79, p. 2.

Lei nº 13.994, de 24.4.2020 - Altera a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, para possibilitar a conciliação não

presencial no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis. Publicado no DOU em 27.04.2020, Seção 1, Edição 79, p. 1.

Medida Provisória nº 959, de 29.4.2020 - Estabelece a operacionalização do pagamento do Benefício Emergencial de

Preservação do Emprego e da Renda e do benefício emergencial mensal de que trata a Medida Provisória nº 936, de 1º

de abril de 2020, e prorroga a vacatio legis da Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018, que estabelece a Lei Geral de

Proteção de Dados Pessoais - LGPD. Publicado no DOU em 29.04.2020, Seção 1-Extra, Edição 81-A, p. 1.

OUTRAS INFORMAÇÕES

27 A 30 DE ABRIL DE 2020

Decreto nº 10.329, de 28.4.2020 - Altera o Decreto nº 10.282, de 20 de março de 2020, que regulamenta a Lei nº 13.979,

de 6 de fevereiro de 2020, para definir os serviços públicos e as atividades essenciais. Publicado no DOU em 29.04.2020,

Seção 1, Edição 81, p. 5.

Resolução STF nº 677, de 29.04.2020 - Estabelece medidas de médio prazo para gestão das atividades do Tribunal.

Supremo Tribunal Federal – STF

Secretaria de Documentação

Coordenadoria de Divulgação de Jurisprudência

[email protected]