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INFORMATIVO DE JURISPRUDÊNCIA DO CADE 10 a 12 de fevereiro de 2016 Diário Oficial da União de 10.2.2016 AC nº 08700.012654/2015-95 | Informações gerais Requerentes: Polimix Concreto Ltda. ("Polimix") e InterCement Brasil S.A. ("InterCement"). Assuntos: arrendamento de ativos. Mercados envolvidos: cimento e concreto. Resultado: aprovação sem restrições. Dados da decisão Objeto: arrendamento, pela Polimix, de oito centrais de concreto ("Concreteiras") da InterCement. As referidas centrais são compostas pelo conjunto de bens, equipamentos e demais pertences, instalados em imóveis, com suas benfeitorias e instalações. Esses ativos serão utilizados na prestação de serviços de concretagem. As Concreteiras estão localizadas nos municípios de Camaçari/BA, Alagoinhas/BA, Vitória da Conquista/BA, São Leopoldo/RS, Canoas/RS, Passo Fundo/RS, Caxias do Sul/RS e Pelotas/RS. Resumo da decisão: os mercados de atuação das Requerentes já foram analisados em diversos precedentes do CADE, como, por exemplo: Atos de Concentração nº 08700.007621/2014-42 - Requerentes: Lafarge S.A. e Holcim Ltda.; nº 08700.009163/2013-03 - Requerentes: Serobrita Mineração Ltda. e Empresa Brasileira de Agregados Minerais S.A.; e nº 08012.001551/2011-24 - Requerentes: Votorantim Cimentos S.A. e São Francisco Mineração Ltda., dentre outros. O mercado relevante de concreto é limitado geograficamente a um raio de 50 km ou de duas horas de transporte de concreto por caminhão betoneira, a partir da concreteira objeto da operação. O mercado relevante de cimento, por sua vez, é limitado geograficamente a um raio de 300 ou 500 km a partir da cimenteira objeto da operação, a depender da densidade populacional da área em questão. A SG-CADE entendeu que a presente operação afeta os mercados de concreto e cimento, uma vez que os ativos vendidos são centrais de concreto e o grupo econômico da Polimix atua na produção de cimento, de modo que é capaz de fornecer insumos para todas as centrais de concreto negociadas na operação. Em análise das potenciais sobreposições horizontais decorrentes da operação, a SG-CADE assinalou que as concreteiras localizadas na Bahia e no Rio Grande do Sul são próximas a outras concreteiras já detidas pelo Grupo Polimix. A partir de dados apresentados pelas Requerentes

INFORMATIVO DE JURISPRUDÊNCIA DO CADE …loboderizzo.com.br/2016/fevereiro/regulatorio/PDFS/Informativo-Jur... · Requerentes: Lafarge S.A. e Holcim Ltda.; nº 08700.009163/2013-03

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INFORMATIVO DE JURISPRUDÊNCIA DO CADE

10 a 12 de fevereiro de 2016

Diário Oficial da União de 10.2.2016

AC nº 08700.012654/2015-95 |

Informações gerais

Requerentes: Polimix Concreto Ltda. ("Polimix") e InterCement Brasil S.A. ("InterCement").

Assuntos: arrendamento de ativos.

Mercados envolvidos: cimento e concreto.

Resultado: aprovação sem restrições.

Dados da decisão

Objeto: arrendamento, pela Polimix, de oito centrais de concreto ("Concreteiras") da

InterCement. As referidas centrais são compostas pelo conjunto de bens, equipamentos e demais

pertences, instalados em imóveis, com suas benfeitorias e instalações. Esses ativos serão

utilizados na prestação de serviços de concretagem. As Concreteiras estão localizadas nos

municípios de Camaçari/BA, Alagoinhas/BA, Vitória da Conquista/BA, São Leopoldo/RS,

Canoas/RS, Passo Fundo/RS, Caxias do Sul/RS e Pelotas/RS.

Resumo da decisão: os mercados de atuação das Requerentes já foram analisados em diversos

precedentes do CADE, como, por exemplo: Atos de Concentração nº 08700.007621/2014-42 -

Requerentes: Lafarge S.A. e Holcim Ltda.; nº 08700.009163/2013-03 - Requerentes: Serobrita

Mineração Ltda. e Empresa Brasileira de Agregados Minerais S.A.; e nº 08012.001551/2011-24 -

Requerentes: Votorantim Cimentos S.A. e São Francisco Mineração Ltda., dentre outros. O

mercado relevante de concreto é limitado geograficamente a um raio de 50 km ou de duas horas

de transporte de concreto por caminhão betoneira, a partir da concreteira objeto da operação. O

mercado relevante de cimento, por sua vez, é limitado geograficamente a um raio de 300 ou 500

km a partir da cimenteira objeto da operação, a depender da densidade populacional da área em

questão.

A SG-CADE entendeu que a presente operação afeta os mercados de concreto e cimento, uma vez

que os ativos vendidos são centrais de concreto e o grupo econômico da Polimix atua na produção

de cimento, de modo que é capaz de fornecer insumos para todas as centrais de concreto

negociadas na operação.

Em análise das potenciais sobreposições horizontais decorrentes da operação, a SG-CADE

assinalou que as concreteiras localizadas na Bahia e no Rio Grande do Sul são próximas a outras

concreteiras já detidas pelo Grupo Polimix. A partir de dados apresentados pelas Requerentes

relativos à produção total de concreto nas localidades referidas (em acesso restrito às partes),

constatou-se que a participação conjunta de ambas as Requerentes nos cenários considerados era

consideravelmente baixa. No cenário da Bahia, a participação final do Grupo Polimix ficaria entre

21-30% mas com baixa variação do índice Herfindahl-Hirschmann ("HHI"). Assim, eventual

tentativa de exercício de poder de mercado por parte do Grupo Polimix não guardaria nexo causal

com a operação. Quanto ao cenário do Rio Grande do Sul, a SG-CADE apontou que a soma de

participação do Grupo Polimix chegaria a 11-20%, percentual que também não suscita maiores

preocupações concorrenciais.

Quanto à possibilidade de integração vertical em decorrência do fato do Grupo Polimix produzir

insumos para a produção de cimento, a SG-CADE optou por analisar dois cenários de mercado

relevante possíveis: para um, considera-se um raio de 300 km a partir da central de cimento, e,

para o outro, de 500 km. No primeiro cenário, a SG-CADE apontou a inexistência de integração

vertical entre as concreteiras que são o objeto da operação e o Grupo Polimix. No segundo

cenário, entretanto, ocorreria integração vertical entre concreteira detida pelo Grupo Polimix em

Pacatuba/SE e a concreteira de Alagoinhas. Desse modo, a SG-CADE apontou a necessidade de

verificar as participações de mercado das Requerentes nos mercados upstream (de cimento) e

downstream (de concreto).

O mercado downstream seria formado por todas as concreteiras que estão dentro de um raio de

500 km da Cimenteira de Pacatuba/SE. Uma vez que a SG-CADE realizou análise mais

conservadora desse espaço de mercado ao verificar as potenciais sobreposições horizontais e,

ainda assim, não assinalou maiores preocupações concorrenciais, entendeu-se que a

concretização da operação em um cenário mercado mais extenso geograficamente também seria

incapaz de ensejar efeitos danosos à concorrência.

O mercado upstream, por sua vez, seria formado por todas as cimenteiras localizadas em um raio

de 500 km da Concreteira de Alagoinhas e em um raio de 500 km da Concreteira de Camaçari.

Utilizando estimativas apresentadas pela Polimix e dados do Sindicato Nacional da Indústria de

Cimento, a SG-CADE constatou que a participação de mercado da Concreteira de Pacatuba em um

raio de 500 km a partir dela própria seria de entre 0-10%. Desse modo, seria impossível um

fechamento de mercado downstream.

Diante do exposto, a SG-CADE recomendou a aprovação da operação sem restrições.

AC nº 08700.000611/2016-48 |

Informações gerais

Requerentes: SEREDE - Serviços de Rede S.A. ("SEREDE") e ARM Telecom e Serviços de

Engenharia S.A. ("ARM").

Assuntos: aquisição de ativos.

Mercados envolvidos: mercado de construção e manutenção de redes de telecomunicações.

Resultado: aprovação sem restrições.

Dados da decisão

Objeto: aquisição, pela SEREDE, dos ativos e passivos da ARM, empresa contratada pelo Grupo

Oi, para prestação de serviços de instalação e manutenção de rede de telecomunicações. A

informação sobre quais são os estados nos quais tais serviços serão prestados é de acesso restrito

às partes.

Resumo da decisão: a SG-CADE assinalou que as Requerentes desenvolvem a mesma atividade

econômica, qual seja, a instalação e manutenção de redes de telecomunicações. Assim, ao menos

em tese, a operação em tela implicaria alguma sobreposição horizontal. Ocorre que a SEREDE

presta seus serviços de forma cativa às prestadoras de serviços de telecomunicações que

integram o Grupo Oi e a ARM, embora não seja integrante do Grupo Oi, presta serviços

diretamente às empresas que compõem o Grupo Oi. Conforme informado pelas partes, os ativos

da ARM que serão adquiridos são utilizados apenas para prestação de serviços ao Grupo Oi, de

modo que não há sobreposições horizontais a serem examinadas.

Quanto à possível integração vertical decorrente da operação, a SG-CADE apontou que as

Requerentes declararam que o Grupo Oi já prestava os serviços de instalação e manutenção de

redes de telecomunicação por meio da SEREDE. A ARM, por sua vez, prestava tais serviços apenas

para o Grupo Oi em todos os estados nos quais a operação surtirá efeitos, com exceção de um, no

qual a ARM também presta serviços a terceiros. A SG-CADE acolheu consideração das partes de

que a presente operação não afetará as atividades da ARM no estado em questão, uma vez que

todos os ativos envolvidos na operação se prestam exclusivamente a atender às prestadoras de

serviços de telecomunicações integrantes do Grupo Oi. Ademais, tais ativos abrangidos pela

operação no estado em questão envolvem apenas funcionários da ARM dedicados exclusivamente

ao atendimento do Grupo Oi, e a ARM continuará prestando serviços a terceiros após a

concretização da operação.

Uma vez que tanto a SEREDE quanto os ativos da ARM envolvidos na operação são dedicados à

prestação de serviços de forma cativa às prestadoras de serviços de telecomunicações que

integram o Grupo Oi, a SG-CADE entendeu que a presente operação não acarreta impacto na

estrutura de oferta dos mercados envolvidos na operação em tela.

Diante do exposto, a operação foi aprovada sem restrições.

AC nº 08700.000425/2016-17 |

Informações gerais

Requerentes: GP Real Properties II C, LLC. ("GP Properties"), BR Properties S.A. ("BR

Properties") e Tamweelview European Holdings S.A. ("Tamweelview").

Assuntos: oferta pública voluntária de ações.

Mercados envolvidos: mercado de incorporação imobiliária.

Resultado: aprovação sem restrições.

Dados da decisão

Objeto: oferta pública, pela GP Properties, para a aquisição de controle da BR Properties.

Resumo da decisão: em análises anteriores, o mercado de incorporação imobiliária foi

classificado pelo CADE como sendo um setor altamente pulverizado, segmentado em

incorporação, locação e venda. A abrangência geográfica do mercado é definida como municipal,

sendo possível a inclusão de cidades satélites ou até mesmo restringir o exame a áreas menores

que um município, especialmente em cidades de maior porte, como São Paulo e Rio de Janeiro,

por exemplo. Vale ressaltar que esse entendimento foi adotado nos seguintes precedentes, dentre

outros: Atos de Concentração nº 08700.00386/2013-59 - Requerentes: Kinea II Real Estate Equity

Fundo de Investimento Imobiliário e Econ Construtora e Incorporadora Imobiliária e nº

08700.009815/2012-11 - Requerentes: Kinea II Real Estate Equity Fundo de Investimento

Imobiliário e Sergus Construções e Comércio Ltda.

A SG-CADE optou por analisar a operação de maneira conservadora, considerando a possibilidade

de sobreposição horizontal entre as Requerentes no cenário de mercado relevante de

incorporação imobiliária, tanto por município quanto por regiões dentro desse municípios.

Desconsiderou-se, assim, afirmação das Requerentes de que não haveria concorrência entre as

atividades por elas desenvolvidas.

Utilizando dados apresentados pelas Requerentes e colhidos junto à CBRE Research, a SG-CADE

analisou suas participações de mercado no segmento de propriedades corporativas nos municípios

de São Paulo e Rio de Janeiro. Em qualquer cenário considerado, seja municipal ou por regiões

dos municípios referidos, as Requerentes, juntas, não atingem uma participação de mercado

superior a 20%. No município do Rio de Janeiro, as Requerentes atingiram uma participação de

10-20%; no município de São Paulo, a participação seria de 0-10%.

Diante das baixas participações encontradas, entendeu-se que a operação não ensejaria

preocupações concorrenciais, e a SG-CADE recomendou a aprovação da operação sem restrições.

AC nº 08700.000373/2016-71 |

Informações gerais

Requerentes: 9 West Finance SARL ("9 West"), OSX Brasil S.A. ("OSX"), CCX Carvão da

Colômbia S.A. ("CCX"), Companhia Industrial de Grandes Hotéis ("CIGH"), Rex Sul

Empreendimentos Ltda. ("Rex Sul") e Rex Empreendimentos Imobiliários IV Ltda. ("Rex IV").

Assuntos: aquisição de participação societária.

Mercados envolvidos: hotelaria, construção de embarcações e apoio à extração de petróleo.

Resultado: aprovação sem restrições.

Dados da decisão

Objeto: aquisição de participações societárias, pela 9 West, na OSX, CCX, CIGH, Rex Sul e Rex IV

(em conjunto, "empresas-alvo"). As participações societárias a serem adquiridas estão em

acesso restrito às partes. No formulário de notificação da operação, a 9 West aponta que a

operação envolve a aquisição, pela 9 West, de determinado percentual do capital social total e

votante da CIGH, Rex Sul e Rex IV, bem como de ações da OSX e da CSX. Cumpre ressaltar que

as empresas-alvo são todas integrantes do Grupo EBX. Além disso, destacou-se que a OSX se

encontra em recuperação judicial e apenas a CCX desenvolve alguma atividade econômica, ao

passo que as demais empresas-alvo, atualmente, não são operacionais. Por fim, a 9 West

informou ser uma subsidiária integral da Mubadala Development Company ("Mubadala"),

responsável pelo investimento em nome do Grupo.

Resumo da decisão: a SG-CADE apontou a inexistência de sobreposição horizontal ou

integração vertical entre as atividades da Mubadala e as empresas-alvo em decorrência da

operação em tela.

Com efeito, a OSX atua no setor de equipamentos e serviços direcionados à indústria naval e

offshore, oferecendo soluções integradas de engenharia, construção, fretamento e serviços de

operação e manutenção para empresas de exploração e produção de petróleo. Uma vez que a

referida empresa possui um estaleiro no Porto de Açu, localizado em São João da Barra/RJ, e o

Grupo Mubadala possui participação societária no Porto Sudeste, em Itaguaí/RJ, a SG-CADE

oficiou a OSX para esclarecer se possui participação societária no Porto de Açu. Se a OSX

detivesse participação societária nesse Porto, ocorreria potencial sobreposição horizontal ou

integração vertical entre a OSX e o Grupo Mubadala, uma vez que o Grupo, além de ter

participação no Porto Sudeste, recentemente adquiriu ativos e direitos da MMX Sudeste Mineração

S.A. ("Mineração Sudeste") a qual explora minério de ferro. As Requerentes responderam o

ofício apontando que a OSX não possui participação societária no Porto Açu, detendo apenas um

estaleiro. Assim, a SG-CADE entendeu que não há relação horizontal entre a exploração da OSX e

as atividades do grupo econômico da adquirente.

A CCX não desenvolve qualquer atividade no Brasil. A CIGH, por sua vez, atua apenas no mercado

de investimentos em propriedades hoteleiras e não é operacional, assim como a Rex IV e Rex Sul.

Uma vez que as atividades do Grupo Mubadala não guardam relação horizontal com as atividades

das empresas-alvo, a SG-CADE recomendou a aprovação da operação sem restrições.

Diário Oficial da União de 12.2.2016

PA nº 08012.011791/2010-56 |

Informações gerais

Representantes: Ministério Público do Estado de São Paulo.

Representados: Associação dos Despachantes e Autoescolas de Santa Bárbara D’Oeste

("ADESBO"), Centro de Formação de Condutores Estrela Ltda., Centro de Formação de

Condutores Alves Ltda. ME, Centro de Formação de Condutores Mundial Ltda. ME, Centro de

Formação de Condutores Santa Bárbara Ltda. ME, Auto Escola Sinal Verde, Martignago Centro de

Formação Ltda. ME, Centro de Formação de Condutores Blitz Ltda. ME, Centro de Formação de

Condutores Brasil SBO S/C Sociedade Ltda., Centro de Formação de Condutores Reis Ltda. ME,

Centro de Formação de Condutores Borges & Castro Ltda. ME, Auto Escola Brasil, Despachante e

Autoescola Excelsior Ltda., Paiosin & Paiosin Ltda., Despachante Veloz S/C Ltda., Paulo Amaro

Andrade, Neli Tadin Reis, Maria de Lurdes Camilo, Deise Aparecida de Araújo Fernandes, Vorney

Caetano ME, Carvalho & Carvalho Auto Moto Escola Ltda. ME, Centro de Formação de Condutores

Quatro Rodas Ltda. ME, M3 Despachante Ltda. ME, Criar Prestadora de Serviços Internet Ltda.

("Criar"), José Carlos dos Reis ("Presidente") e Claudionor Nivaldo Theodoro ("Vice-

Presidente").

Assuntos: formação de cartel para uniformização de preços e condições de prestação de

serviços.

Mercados envolvidos: mercados municipais de autoescolas e despachantes.

Resultado: o Tribunal do CADE decidiu pela condenação dos Representados Centro de Formação

de Condutores SBO Ltda. EPP, Centro de Formação de Condutores Quatro Rodas Ltda. ME, Centro

de Formação de Condutores Estrela Ltda. ME, Centro de Formação de Condutores Blitz Ltda. ME,

Centro de Formação de Condutores Borges & Castro Ltda. ME, Centro de Formação de Condutores

Mundial Ltda. ME, Centro de Formação de Condutores Alves Ltda. ME, Centro de Formação de

Condutores Santa Bárbara Ltda. e Centro de Formação de Condutores Reis Ltda. ME bem como o

arquivamento do processo para os demais Representados.

Dados da decisão

Objeto: Processo Administrativo ("PA") instaurado a fim de apurar suposta prática de cartel para

uniformização de preços e de demais condições de prestação de serviços pelos Centros de

Formação de Condutores ("CFCs") e pelos despachantes situados no município de Santa Bárbara

D’Oeste/SP. O PA também foi instaurado em face da empresa Criar, fornecedora de software.

Resumo da decisão: preliminarmente, arguiu-se a necessidade de desmembramento do PA, em

razão da diferença na atividade desenvolvida por despachantes e autoescolas. No entanto, o

pedido não foi acolhido, pois o Tribunal entendeu que o processo foi conduzido de forma célere e,

além disso, (i) não houve dificuldades na notificação dos Representados, (ii) alguns Representados

exercem tanto a atividade de autoescolas como a de despachantes; e (iii) existem grupos de

partes com os mesmo advogados.

Segundo o Tribunal do CADE, a ADESBO, entidade de classes das autoescolas e despachantes,

elaborou diversas tabelas com preços ajustados para os serviços fornecidos por autoescolas e por

despachantes. As tabelas apresentavam orientações para a modificação nos preços, juntamente

com a data de vigência, data da assembleia realizada pela ADESBO, a qual contou com a presença

e anuência de todos os associados, inclusive com a assinatura de alguns dos Representados nas

respectivas atas.

Ainda no âmbito da ADESBO, os donos das autoescolas assinavam um Termo de Compromisso,

mediante o qual se comprometiam a obedecer às tabelas e aceitar a pena de perda de qualidade

de associado caso contrário.

Diante desses elementos, o Tribunal do CADE entendeu que o cartel foi organizado e liderado pela

ADESBO, a qual realizou as assembleias e impôs a aplicação das tabelas de preços, inclusive com

a previsão de penalidades.

O Tribunal do CADE destacou, também, a relevância do software desenvolvido pela Criar, o

Sistema de Controle de Matrículas ("SMC"), para a institucionalização do cartel. Por meio desse

programa, teria sido possível a distribuição equitativa de serviços, como exames médicos e

psicológicos entre os associados da ADESBO. Para o Tribunal do CADE, o referido software

facilitou a uniformização de preços dos serviços prestados pelas autoescolas, limitou a livre

negociação entre a autoescola e o cliente e serviu de mecanismo de controle do cartel.

Diante do exposto, o Tribunal do CADE determinou a condenação dos Representados Centro de

Formação de Condutores SBO Ltda. EPP, Centro de Formação de Condutores Quatro Rodas Ltda.

ME, Centro de Formação de Condutores Estrela Ltda. ME, Centro de Formação de Condutores Blitz

Ltda. ME, Centro de Formação de Condutores Borges & Castro Ltda. ME, Centro de Formação de

Condutores Mundial Ltda. ME, Centro de Formação de Condutores Alves Ltda. ME, Centro de

Formação de Condutores Santa Bárbara Ltda. e Centro de Formação de Condutores Reis Ltda. ME.

Para os demais Representados, o Tribunal do CADE entendeu que não havia provas suficientes

para sua condenação e decidiu pelo arquivamento do processo.

Ademais, o Tribunal considerou os mercados envolvidos no cartel para a determinação da multa

aos Representados, e decidiu pelo percentual de penalidade pecuniária de 16% aos

Representados que atuam no mercado de autoescolas, e pelo percentual de 17% para aqueles

que atuam tanto no mercado de autoescolas como no de despachantes.

Para fins de dosimetria da pena aplicada em face da ADESBO, o Tribunal do CADE considerou a

arrecadação da associação e a alíquota máxima permitida, determinando o pagamento de multa

no valor de R$ 146.845,80. Para a Criar, aplicou-se pena de multa correspondente a 18% de seu

faturamento bruto, por ter facilitado a institucionalização do cartel. Finalmente, o Presidente e

Vice-Presidente da ADESBO também foram condenados ao pagamento de multa, no valor de R$

15.668,30 e R$ 17.825,05, respectivamente.

Recurso Voluntário nº 08700.000719/2016-31 |

Informações gerais

Recorrente: Cascol Combustíveis para Veículos Ltda. ("Cascol").

Assuntos: medida preventiva.

Mercados envolvidos: mercado de revenda de combustíveis no Distrito Federal ("DF").

Resultado: recurso conhecido e indeferido.

Dados da decisão

Objeto: Recurso Voluntário interposto em face de Medida Preventiva imposta pela

Superintendência-Geral do CADE no bojo do Inquérito Administrativo nº 08012.008859/2009-86,

que investiga possível formação de cartel e indução a conduta uniforme nos mercados de

distribuição e revenda de combustíveis automotivos no DF.

Considerando os indícios de infração à ordem econômica obtidos pelo CADE, Polícia Federal ("PF")

e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios ("MPDFT") por meio de interceptações

telefônicas e buscas e apreensão, a medida preventiva foi adotada pela SG-CADE em 25.1.2016,

determinando a nomeação de um administrador provisório para a Cascol, que administrará de

forma independente determinados postos de propriedade da empresa.

A Recorrente requereu a concessão de efeito suspensivo ao Recurso, sob o argumento de perigo

de grave lesão à empresa à vista da determinação da SG/CADE de que o administrador nomeado

implemente uma política de preços distinta daquela idealizada no planejamento estratégico da

empresa.

Resumo da decisão: de acordo com o Tribunal do CADE, as notas técnicas da Agência Nacional

de Petróleo ("ANP"), demonstraram que haveria fortes indícios de formação de cartel no mercado

de revenda de combustíveis no DF e, ainda, constataram a existência de uniformização em preços

e altas margens de lucro.

Primeiramente, o Tribunal do CADE ressaltou a posição dominante da Cascol no mercado de

revenda de combustíveis, com participação de cerca de 30%, bem como sua relação de

exclusividade com a Petrobrás Distribuidora S.A (“BR Distribuidora”), o que resultaria em

vantagens à Cascol, quando comparada a seus concorrentes.

Segundo o Tribunal, haveria indícios de que a Cascol continuaria na liderança do cartel mesmo

após a adoção da medida preventiva, pois teria declarado que repassaria os valores decorrentes

do aumento da alíquota do ICMS ao consumidor final, induzindo os demais participantes a fazer o

mesmo. Para o CADE, tal afirmação evidencia que a Cascol não se sentia ameaçada por seus

concorrentes, uma vez que em um mercado competitivo não seria possível o aumento constante

na margem de lucro, sem que a demanda fosse dispersa entre os demais concorrentes.

O Tribunal afirmou, ainda, que em um mercado homogêneo como o de combustíveis, o aumento

de custo como o citado, resultaria em redução de margem de revenda e não em automático

aumento do preço ao consumidor final, como orientado pela Cascol.

Considerando que o aumento foi efetivo e acima da taxa de tributos, e que os demais

concorrentes seguiram a elevação no preço, segundo dados da ANP, o CADE entendeu que o

aumento generalizado consistiria em prova de formação do cartel e de sua liderança pela Cascol.

Além disso, considerou-se que a liderança da Cascol também seria corroborada por interceptações

telefônicas entre a empresa e o presidente do Sindicato do setor, nas quais se teria discutido a

entrada de novas concorrentes no mercado.

Diante do exposto, o Tribunal do CADE concluiu pela existência de fortes indícios de cartel no

mercado de revenda de combustíveis no DF, e que a Cascol exercia o papel de liderança no cartel.

Assim, foi reafirmado o periculum in mora e a urgência na adoção da medida imposta pela SG-

CADE, considerando: (i) a dificuldade imposta pela Cascol para a entrada de novas concorrentes;

(ii) continuidade da elevação das margens de lucro no mercado envolvido; (iii) elevação do custo

ao consumidor final não apenas dos combustíveis, mas de serviços correlatos; e (iv) prejuízo ao

Poder Público decorrente da celebração de contratos de fornecimento de combustíveis, que

poderia impactar os índices de inflação no DF.

A fim de adotar uma medida eficiente, porém, reversível, e sem implicar em alteração contratual

entre distribuidoras e revendedoras ou venda de ativos, o Tribunal do CADE entendeu que a

medida formulada pela SG-CADE quanto à estipulação de um administrador independente, apenas

para os postos de bandeira BR, seria adequada para o caso concreto.

Diante do exposto, indeferiu-e o pedido de concessão de efeito suspensivo o Recurso.

PA nº 08012.003824/2002-84 |

Informações gerais

Representante: Ministério Público Federal – Procuradoria da República na Bahia.

Representados: Tecon Salvador S.A. e Intermarítima Terminais Ltda. ("Operadores")

Assuntos: abuso na cobrança de taxa.

Mercados envolvidos: mercado de armazenagem de contêineres no Porto de Rio Grande/RS.

Resultado: o Tribunal do CADE decidiu pela condenação da Tecon e da Intermarítima pela

prática de abuso de poder dominante ao pagamento de multa no valor de R$ 3.724.350 e R$

2.128.200, respectivamente.

Dados da decisão

Objeto: Processo Administrativo instaurado em face dos Operadores, a partir de Representação

do MPF, sob a alegação de que a Tecon estaria cometendo abusos na cobrança de Terminal

Handling Charges ("THC2") no Porto de Salvador/BA.

Resumo da decisão: Inicialmente, a THC2 consiste em uma espécie de adicional cobrada pelos

operadores de terminais portuários ("TP") dos armadores que movimentavam suas cargas para

Terminais Retroportuários Alfandegados ("TRA") independentes, não integrados verticalmente

àqueles TPs. Dessa forma, para os armadores, operar em TPs integrados a um TRA se tornaria

mais vantajoso, tendo em vista que não seria necessário pagar a THC2. Por outro lado, o serviço

oferecido pelo TP que não se integravam a TRA apresentava valores menos competitivos, em

virtude do adicional.

Em sede de preliminar, a Tecon Salvador argumentou a existência de decisões judiciais que

afirmaram a legalidade da cobrança da THC2 pelos operadores portuários. No entanto, segundo o

CADE, as decisões proferidas não retiram a competência do órgão antitruste, pois algumas

também consideram ilegal a cobrança da THC2. Além disso, as ações judiciais possuem escopo

diverso do processo administrativo instaurado, pois analisariam apenas as normas e contratos,

sem, contudo, discutir a questão sob o prisma do direito antitruste.

As Representadas também arguiram a existência de conflito entre a regulação portuária e a

competência do CADE, uma vez que a ANTAQ publicou a Resolução nº 2.389/12 ("Resolução"),

que autorizaria a cobrança da THC2. Todavia, para o CADE, a existência de regulação própria em

determinado setor não afasta, de imediato, a competência do órgão antitruste de examinar a

questão. Seria necessário analisar o caso concreto a fim de interpretar a abrangência da

regulação, verificando se, de fato, haveria imunidade à aplicação da Lei Antitruste.

Segundo o CADE, a conduta praticada pela Intermarítima teria ocorrido entre março de 2000 e

março de 2005, enquanto aquela adotada pela Tecon acontecera entre março de 2000 e dezembro

de 2006. Para o órgão, a aplicação da THC2 à época investigada não possuía respaldo em

qualquer autorização regulatória, e teria sido iniciada sob o argumento de ausência de proibição à

imposição de custos adicionais. A Resolução, criada 6 anos após o término da conduta, definiria

apenas que a prestação de serviços adicionais, não contemplados como serviços básicos, poderia

ser negociada nos termos do contrato de arrendamento, além do que jamais poderia se cogitar

que tivesse efeitos retroativos à data dos fatos investigados.

Assim, o Tribunal do CADE considerou que a cobrança da THC2 foi abusiva e ilegal durante o

período investigado, ocasionando prejuízos concorrenciais no mercado de armazenagem de

contêineres, em razão da posição dominante dos Operadores e de seu poder de barganha frente

aos TRAs.

Diante do exposto, o Tribunal o CADE condenou a Tecon e à Intermarítima por abuso de poder

dominante ao pagamento de multa no valor de R$ 3.724.350 e R$ 2.128.200, respectivamente.

Isso porque o CADE considerou que a Tecon foi a pioneira na implantação da THC2 e que é

arrendatária exclusiva de dois terços dos berços de atracação de calado profundo, os quais são

mais apropriados aos navios transportadores de contêineres.

Embargos de Declaração na Consulta nº 08700.010927/2015-67 |

Informações gerais

Consulente: Polimix Concreto Ltda. ("Polimix").

Embargante: Votorantim Cimentos S.A. (''Votorantim").

Assuntos: embargos de declaração. Consulta.

Mercados envolvidos: fornecimento de insumos para cimento e serviços de concretagem.

Resultado: não conhecimento dos Embargos.

Dados da decisão

Objeto: Embargos de Declaração ("ED") opostos contra decisão colegiada proferida em

20.1.2016 pelo Plenário do CADE.

Resumo da decisão: a Votorantim opôs ED em face de decisão adotada no âmbito de consulta

formulada pela Polimix em 3.11.2015, que visava a questionar se os contratos de fornecimento

entre essa e a Votorantim seriam qualificados como "contratos associativos", nos termos da

Resolução CADE 10/2014 e, portanto, necessitariam de aprovação prévia do CADE para que

fossem implementados. Em análise de mérito, o Plenário do CADE entendeu que os contratos

apresentados pela Consulente seriam, de fato, associativos e deveriam ser notificados, uma vez

que apresentavam cláusulas de preferência cruzada que surtiriam efeitos jurídico-econômicos

equiparáveis a cláusulas de exclusividade.

Em 1.2.2016, a Votorantim opôs Embargos alegando os seguintes vícios na consulta referida: (i)

inexistência de preferências "cruzadas"; e (ii) não observância do pedido de acesso restrito em

sua integralidade.

O Conselheiro Relator Márcio de Oliveira Júnior apontou a tempestividade dos ED, entretanto,

destacou a ausência de pressuposto processual extrínseco, necessário ao conhecimento do

recurso, qual seja: a legitimidade. O Conselheiro apontou a inexistência, nos autos, do necessário

instrumento de mandato judicial por parte da advogada que assina a petição dos ED, qual seja,

procuração emitida pela Votorantim.

Cumpre ressaltar que a Embargante ingressou no processo depois de proferida a decisão relativa

à consulta, não havendo sequer habilitação como terceira interessada.

Em relação à alegação de inobservância, pelo CADE, da integralidade do pedido de acesso restrito,

o Conselheiro apontou que a análise de mérito da consulta não poderia ter sido feita sem a

avaliação de determinadas cláusulas do contrato apresentado pela Consulente, razão pela qual a

decisão não mereceria qualquer reparo.

Diante do exposto, os Embargos não foram conhecidos.

PA nº 08012.005422/2003-03 |

Informações gerais

Representantes: Multi Armazéns Ltda. ("Multi") e Transportadora Simas Ltda. ("Simas")

Representado: Tecon Rio Grande S.A.

Assuntos: abuso na cobrança de taxa.

Mercados envolvidos: mercado de armazenagem de contêineres no Porto de Rio Grande/RS.

Resultado: o Tribunal do CADE decidiu pela condenação da Tecon pela prática de abuso de

poder ao pagamento de multa no valor de R$ 4.788.450,00.

Dados da decisão

Objeto: Processo Administrativo instaurado em 26.9.2003, por Representação das Estações

Aduaneiras Interior (“EADIs”) Multi e Simas, segundo as quais a Tecon Rio Grande S.A.

(“Tecon”) estaria cometendo abusos na cobrança da taxa de armazenagem de contêineres de

importação submetidos ao regime de Declaração de Trânsito Aduaneiro (“DTA”) retirados em

menos de 48 horas no Porto de Rio Grande/RS.

Resumo da decisão: Segundo as Representantes, a Representada teria cometido infrações à

ordem econômica, entre 2002 e 2010, ao cobrar taxa de armazenagem de contêineres de

importação submetidos ao regime DTA retirados em menos de 48 horas no Porto de Rio

Grande/RS. A Tecon estaria cobrando o tempo de 48 horas em que o contêiner permanece nas

dependências do Operador Portuário ("OP"), o que, segundo as Representantes, não

corresponderia a tempo de armazenagem, mas sim de transporte, resultando em uma dupla

cobrança pelo mesmo serviço.

A Tecon Rio Grande arguiu, preliminarmente, a existência da Apelação Cível nº 70004059739/2002

em trâmite perante o Tribunal de Justiça do Rio Grande Do Sul, que teria declarado a legalidade

da cobrança da taxa. No entanto, o CADE entendeu que esta ação judicial dizia respeito apenas à

taxa de segregação e ao Contrato de Arrendamento, do ponto de vista do direito civil, o que não

afastaria a competência do CADE para o exame de eventual infração econômica no caso concreto.

O CADE analisou o regulamento de exploração do Porto do Rio Grande, vigente à época da

celebração do contrato de arrendamento, e concluiu que, entre 1997 a 2002, a cobrança da taxa

era legítima, uma vez que a remuneração pelo serviço de armazenagem era devida desde a

entrada da carga no terminal. No entanto, a partir de 25.11.2002, Instrução Normativa nº 248/02

da Secretaria da Receita Federal determinou que a taxa só poderia ser cobrada na hipótese de a

carga permanecer no pátio do terminal por mais de 48 horas.

Segundo o CADE, os OP exercem condição de monopolista, uma vez que os armadores escolhem

OP integrados a um Recinto Alfandegado, a fim de evitar cobranças adicionais nos serviços de

armazenagem.

Assim, o CADE considerou que a Tecon, ao cobrar a taxa de armazenagem de contêineres que

permanecem no terminal por menos de 48 horas, como se tivessem sido armazenados por 15

dias, na verdade estaria impondo um custo adicional a seus concorrentes em dissonância com a

previsão autorizada pela regulação vigente. Dessa forma, haveria prejuízo à concorrência, ainda

que potencial, à vista de seu poder de barganha em face dos Recintos Alfandegados.

Diante do exposto, o Tribunal do CADE determinou à Tecon o pagamento de multa no valor de R$

4.788.450,00 pela prática de abuso de poder dominante.

PA nº 08012.008850/2008-94 |

Informações gerais

Representados: Brasil Sul Indústria e Comércio Ltda.; Lógica Lavanderia e Limpeza Ltda.;

Lavanderia São Sebastião de Nilópolis Ltda.; Ferlim Serviços Técnicos Ltda.; Lido Serviços Gerais

Ltda.; Prolav Serviços Técnicos Ltda.; Sindicato das Empresas de Lavanderias e Similares no Rio

de Janeiro ("SINDILAV"); Atmosfera Gestão e Higienização de Têxteis S.A.; Altineu Pires

Coutinho; Marcelo Cortes Freitas Coutinho; Antônio Augusto Menezes Teixeira; Altivo Augusto

Gold Bittencourt Pires; Gilberto da Silveira Côrrea; José Otávio Kudsi Macedo; Geraldo da Costa

Brito; Celso Quintanilha D'Avilla; Luiz de Mello Maia Filho; Leonardo Luis Roedel Ascenção;

Raphael Cortes Freitas Coutinho; Julio César Canova.

Assuntos: cartel.

Mercados envolvidos: lavagem e higienização terceirizada de enxovais de hospitais no Rio de

Janeiro.

Resultado: arquivamento do processo em relação a Raphael Cortes Freitas Coutinho e

condenação dos demais Representados.

Dados da decisão

Objeto: Processo Administrativo ("PA") instaurado para apurar a existência de cartel em

licitações públicas no mercado de lavagem e higienização terceirizada de enxovais de hospitais no

Rio de Janeiro.

Resumo da decisão: cumpre ressaltar que o processo de instrução desse PA teve como

fundamento provas obtidas no âmbito de Ação Penal em trâmite junto a 4ª Vara Federal Criminal

da Seção Judiciária do Rio de Janeiro ("AP"). Na AP, todos os Representados foram condenados

pela prática do crime de fraude em licitações, de formação de quadrilha e de corrupção ativa, com

exceção de Raphael Cortes Freitas Coutinho e Júlio Canova. Em sede de apelação, a sentença foi

parcialmente reformada quanto aos os Srs. Leonardo Ascensão e Luiz Mello, os quais foram

absolvidos do primeiro crime pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região ("TRF2").

Vale ressaltar, ainda, que a houve desmembramento da AP em relação a Altineu Pires Coutinho,

cujas condutas passaram a ser investigadas no âmbito de outros autos. A sentença condenou o

Representado pelos três crimes descritos na primeira ação penal. Em sede de apelação, o TRF2

houve por bem reformar parcialmente a sentença, relativamente à dosimetria da pena,

entendimento que veio a ser confirmado pelo Superior Tribunal de Justiça ("STJ"). Em ambas as

ações penais, houve trânsito em julgado das decisões condenatórias.

A instrução do presente PA apontou que representantes de empresas atuantes no mercado

envolvido mantiveram contatos telefônicos e realizaram reuniões presenciais em diversas

ocasiões, tendo compartilhado informações comerciais sensíveis, tais como preços, valores de

propostas comerciais, carteiras de contratos, dentre outros. Tais contatos teriam como finalidade:

(i) a divisão de mercado; (ii) apresentação de propostas de cobertura; e (iii) imposição de

dificuldades para a entrada de novos concorrentes. Além disso, o Sindilav, sindicato do setor, teria

atuado para facilitar a conclusão de acordos feitos entre as empresas.

Em análise de mérito, a Relatora original, então Conselheira Ana Frazão, apontou que as decisões

de condenação constante das ações penais, a despeito de não vincularem de modo algum a

autoridade administrativa, reforçam a existência do cartel ora investigado. Desse modo, a análise

a ser feita no âmbito da autoridade antitruste é de definir se os fatos comprovados em sede de

ação penal configurariam infrações à ordem econômica.

Em relação à divisão de mercado, a Relatora apontou a existência de documento interno,

apreendido na sede da Sindilav, que traria informações relativas a uma reunião realizada no

sindicato, a qual comprovaria a existência de cartel. Nessa reunião, teria ocorrido a elaboração de

uma "proposta de divisão de mercado" pelo Representado Antônio Augusto. Tal proposta fora

implementada por ocasião da realização da Concorrência nº 006/2003 ("Concorrência"),

organizada pela Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro ("SES/RJ"), para contratar

empresas de prestação de serviços de lavanderia de roupa hospitalar em todos os hospitais e

unidades de saúde sob a gestão municipal. A SES/RJ segmentou o objeto da licitação em trinta

lotes, os quais, por sua vez, foram divididos entre as Representadas. Ao cotejar o resultado da

Concorrência com a proposta acordada na reunião referida, aRelatora constatou que a divisão de

mercado praticada pelas empresas participantes do cartel alcançou seus objetivos. Além disso, a

análise do documento em questão, conjuntamente com diversas correspondências trocadas entre

os administradores dos Representados, apontou que determinadas empresas ingressavam na

licitação com o único objetivo de formular propostas de cobertura. Desse modo, entendeu-se que

as provas acostadas aos autos comprovavam a conduta de divisão de mercado.

Quanto à criação de dificuldades para potenciais ingressantes no mercado, a Relatora apontou a

existência de diversas ações empreendidas pelas empresas Representadas e respectivos

administradores, em sua maioria filiadas ao Sindilav, para intimidar potenciais entrantes oriundos

de São Paulo/SP. A ação de maior destaque foi a identificação, pelos Representados, de eventuais

irregularidades dos contratos celebrados por estes potenciais entrantes no estado de São Paulo, e

subsequente envio de ofícios a estas empresas detalhando tais irregularidades.

À vista da caracterização da prática anticompetitiva, o Tribunal do CADE determinou a aplicação

de multa nos seguintes valores: (i) R$ 4.221.385,64 para a Brasil Sul Indústria e Comércio Ltda.;

(ii) R$ 5.299.141,84 para a Lógica Lavanderia e Limpeza Ltda; (iii) R$ 5.236.197,04 para Lido

Serviços Gerais Ltda.; (iv) R$ 1.219.118,13 para Lavanderia São Sebastião de Nilópolis Ltda.; (v)

R$ 5.299.141,84 para Ferlim Serviços Técnicos Ltda.; (vi) R$ 2.504.650,40 para Prolav Serviços

Técnicos Ltda.; (vii) R$ 425.640,00 para SINDILAV; (viii) R$ 425.640,00 para Altineu Pires

Coutinho; (ix) R$ 464.352,42 para Marcelo Cortes Freitas Coutinho; (x) R$ 319.230,00 para

Antônio Augusto Menezes Teixeira; (xi) R$ 319.230,00 para Altivo Augusto Gold Bittencourt Pires;

(xii) R$ 121.911,81 para Gilberto da Silveira Corrêa; (xiii) R$ 264.957,09 para José Otávio Kudsi

Macedo; (xiv) R$ 200.372,03 para Geraldo da Costa Brito; (xv) R$ 261.809,85 para Celso

Quintanilha D'Ávilla; (xvi) R$ 264.957,09 para Luiz de Mello Maia Filho; (xvii) R$ 264.957,09 para

Leonardo Luis Roedel Ascenção; e (xviii) R$ 264.957,09 para Júlio César Canova.

Além disso, foram impostas as seguintes penalidades: (i) inscrição das empresas condenadas no

Cadastro Nacional de Defesa do Consumidor, e (ii) expedição de recomendação à Receita Federal

para que não seja concedido parcelamento de tributos federais devidos pelas pessoas jurídicas

condenadas.

Adicionalmente, segundo voto-vista do Conselheiro Alexandre Cordeiro, acompanhado pelos

demais Conselheiros, os Representados Brasil Sul Indústria e Comércio Ltda., Altineu Pires

Coutinho, Marcelo Cortes Freitas Coutinho, Antônio Augusto Menezes Teixeira e Altivo Augusto

Gold Bittencourt Pires ficaram proibidos de contratar com a Administração Pública Federal,

Estadual, Municipal e do Distrito Federal pelo prazo de cinco anos, seja na condição de pessoa

natural ou mesmo como sócios de pessoa jurídica