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Ano VI- No 32 Janeiro 2010
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO TUTORIAL PETGeo
INFORMATIVO
ISSN: 1982-517X
Editorial
Depois de um turbulento ano, em que o Simpósio exigiu muito dos bolsistas e da tutora, chegamos em 2010. Apesar de não termos mais um evento tão grande para nos ocupar, esse é o ano da publicação da pesquisa de Erval Velho e o começo das pesquisas do Observatório da Grande Florianópolis. A realização de palestras e cursos também está sendo planejada, assim como as atividades de extensão como o CinePET. Enfim, 2010 promete ser agitado e muito trabalhoso. Temos boas expectativas para esse ano, e esperamos que nossas atividades sejam ainda melhores que as anteriores.
Começamos o ano bem: as então voluntárias Paula e Laura começam o ano como bolsistas no lugar dos nossos queridos colegas Cauê e Crisley, que se formam. Boa sorte, garotas!
Além de todas essas novidades, esse ano começa, infelizmente, sem a presença da nossa estimada colega Maria Carolina, que participa do projeto Rondon. Parabéns, Maria! Estamos todos muito orgulhosos de ti!
Nessa edição: Página
O poder da Maçonaria..................................................................................................2
PET Indica..................................................................................................................12
Eventos.......................................................................................................................13
PETGeo FAED/UDESC Expediente: Bolsistas: Ana Paula Esnidei Pereira, Crisley Silveira Raitz, Cristina Maria Dalla Nora, Emannuel dos Santos Costa, Gabriela Bassani Fahl, João Garcia Neto, Laura Dias Prestes, Marcela Gonçalves Werutsky, Maria Carolina Soares, Morgana Giovanella de Farias, Paula Carvalho de Castro, Rodrigo Amaral Leite da Silva . Tutor(a): Vera Lúcia Nehls Dias. Edição: Gabriela Bassani Fahl Revisão: Morgana Giovanella de Farias, Cristina Maria Dalla Nora, Marcela Werutsky Impresso pelo Grupo PET-Geografia FAED/UDESC, em tamanho A4, fonte Times New Roman.
Sugestões, reclamações, convites, opiniões: [email protected]
2
O PODER DA MAÇONARIA
Gabriela Bassani Fahl1
A origem da Maçonaria se perde em lendas e mitos. A partir da Idade Média,
entretanto, podemos ter uma certeza maior da sua evolução através de documentos.
Alguns defendem que a base da Maçonaria se deu com os Templários, grupo de
guerreiros cristãos criado para defender os peregrinos na Terra Santa dos assassinos ou
nizaris ismaelitas. De defensores de Jerusalém passaram a transportadores do ouro entre
os reinos, mais tarde emitindo certificados de câmbio. Temendo o seu poder, riqueza e
independência (respondiam ao Papa e apenas a ele), Felipe o Belo tenta, em um
primeiro momento, unir os Templários e os Hospitalários2 e tornar-se um controlador
titular dessa união. Como não conseguiu,
Felipe o Belo manda prender todos os templários da França e exerce toda pressão possível sobre o Papa [Clemente V] (...) para que rompa com eles. A Ordem dos Templários será dissolvida em 1312 e seu grão-mestre Jacques de Molay será, em 1314, a última vítima da encenação montada por Felipe e por seu chanceler, Guillaume de Nogaret (ELIADE &COULIANO, 1999, p. 112).
Jacques foi condenado à fogueira, e enquanto era queimado amaldiçoou o Rei
Felipe, seu chanceler, Guillaume, e o Papa Clemente, dizendo que em menos de um ano
compareceriam perante o
Tribunal do Juiz de todos nós. (...) Quarenta dias depois, Felipe e Nogaret recebem uma mensagem: ‘O Papa Clemente V morrera em Roquemaure na madrugada de 19 para 20 de abril, por causa de uma infecção intestinal’ (...). Rei Felipe IV, o Belo, faleceu em 29 de novembro de 1314, com 46 anos de idade, quando caiu de um cavalo durante uma caçada em Fountainebleau. Guillaume de Nogaret acabou falecendo numa manhã da terceira semana de dezembro, envenenado. Após a morte de Filipe, a sua dinastia, que governava a França a mais de três séculos, foi perdendo a força e o prestígio. Junto a
1 Acadêmica de Geografia na Universidade do Estado de Santa Catarina, Acadêmica de História na Universidade Federal de Santa Catariana, bolsista do PET Geografia. 2 Ordem formada depois da primeira Cruzada por homens que se dedicaram à medicina, curando e provendo repouso para os peregrinos. Devido às invasões muçulmanas, os hospitalários aderiram à filosofia guerreira, apesar de nunca esquecerem suas origens e de manter hospitais para cuidar dos doentes e feridos. Agiram, também, em auxílio ao braço da espionagem do Vaticano.
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isso veio a Peste Negra e a Guerra dos Cem Anos, a qual tirou a dinastia dos Capetos do poder, passando para a dinastia dos Valois (HISTÓRIA, 2009).
Jacques DeMolay foi tomado como símbolo de lealdade, coragem e tolerância,
sendo homenageando colocando o seu nome na Ordem DeMolay.
Naquela época, havia apenas a Maçonaria Operativa3, já que era formada por
construtores que exerciam sua profissão de maneira independente. Esses pedreiros ou
lavradores de pedras se agrupavam por proteção, formando as confrarias, as quais
serviram de base para a Maçonaria moderna. As reuniões se davam nas loggias, as lojas
atuais.
Como os mestres eram conhecedores da geometria e da arquitetura, forjou-se uma
base racional na instituição. Também foram escolhidos os símbolos da Maçonaria, os
quais a identificam até hoje. Os mais conhecidos são o esquadro, o compasso e o
prumo4, instrumentos de construção.
No final do século XVIII, estrutura-se a Maçonaria tomando os rumos que exigiam as condições políticas e sociais da época, criando-se assim, a denominada – Maçonaria Moderna – que foi o refúgio daqueles que participavam dos movimentos liberais, onde não só encontravam proteção, mas os recursos para maior profundidade do trabalho de divulgação das novas idéias que realizavam. E se expande a Maçonaria por toda a Europa e as Américas, fundando lojas e clubes políticos, reunindo as personalidades mais eminentes, com a disposição decidida de combater o absolutismo naqueles tempos dominante, a exterminar a escravidão e os preconceitos, promover, enfim, a libertação dos povos oprimidos. Assim, a Maçonaria, nitidamente política, sem contudo alterar seus princípios básicos, espalha-se pelas várias regiões do globo, cumprindo o seu programa de libertação (GOMES, p. 32). Na França, preparou a Grande Revolução que resultou na queda da Bastilha (1789). Em Portugal, baniu o sistema absolutista imperante (1821). Na Itália e na Espanha outros não foram os seus propósitos. No Brasil, na América do Norte, o seu objetivo foi a independência.
3 Hoje são reconhecidos dois tipos de lojas maçônicas: as simbólicas, que são voltadas à introspecção dos iniciados, e as operativas, que nascem para provocar mudanças concretas em uma comunidade, nação, etc. 4“ Instrumento formado de uma peça metálica presa à extremidade de um fio metálico ou não e que serve para determinar a direção vertical” (DICIONÁRIO).
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A estruturação sistemática da Maçonaria se deu quando, em 1717, James
Anderson e J. T. Desaguliers escreveram o que depois se chamou de The Constitution of
the Free-masons5. Também em 1717 surgiu na Inglaterra, quando da junção de quatro
lojas maçônicas, a primeira Grande Loja6. Idealizada por personalidades como o próprio
Anderson e Isaac Nawton, a Grande Loja publicou a Constituição escrita por Anderson,
apresentando ao mundo a instituição que unia homens indiferentemente de suas raças,
línguas7, países e posições social, política ou religiosa8.
Mais tarde, surgiram outras Grandes Lojas, o que obrigou os mestres maçons a
esquematizar o funcionamento da Ordem. Ficou estabelecido que cada Grande Loja,
para ser regular, deve ser estabelecida por uma Grande Loja existente ou ser constituída
por três ou mais lojas regulares. Além disso, ficou definido que cada Grande Loja
seriam autônoma, e não responderia a nenhuma suposta Ordem superior. Assim, a
hierarquia de cada loja não seria alterada, surgindo apenas um novo posto superior.
Figura 01. Organograma da Maçonaria. Elaborado por Gabriela Bassani Fahl.
Apesar de existir uma hierarquia dentro da Maçonaria, os maçons defendem a
igualdade; enquanto os homens não são todos iluminados, deve-se respeitar uma
hierarquia. A Maçonaria inglesa manteve seus 3 graus hierárquicos (aprendiz, peão ou
companheiro, e mestre) enquanto a francesa estipulou 33 graus.
5 “A Constituição dos Maçons livres” (tradução da escritora). 6 A primeira Grande Loja brasileira foi fundada na Bahia quando da reunião das Lojas ‘Virtude e Razão’, ‘Humanidade’ e ‘União’, em 1813 (GOMES, p. 41). 7 Como demonstração da idéia de unir e integrar a humanidade, mais tarde os maçons criaram o esperanto, “íngua internacional, criada em 1887 por Zamenhof, que repousa na máxima internacionalidade das raízes e na invariabilidade dos elementos lexicológicos” (DICIONÁRIO). 8 “Um maçom está obrigado por sua condição a obedecer à lei moral, e se ele compreende bem a arte não será jamais um ateu estúpido nem libertino irreligioso” (Constituição apud BECK, 2005. p. 38).
GRANDE LOJA
Grão-Mestre
LOJA Venerável Mestre
Mestes Companheiros
Aprendizes
LOJA Venerável Mestre
Mestes Companheiros
Aprendizes
LOJA Venerável Mestre
Mestes Companheiros
Aprendizes
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Nesse ponto, a Maçonaria passou a se preocupar mais com a construção interior de
seus membros. Fatores externos impulsionaram essa necessidade, como o absolutismo e
a intolerância religiosa. Como a Maçonaria não defendia nenhuma religião, era tida
como inimiga da Igreja Católica. Além disso, defendia que os homens não deveriam
seguir uma doutrina: deveriam ser livres para poder criticar e pensar sobre as doutrinas,
para utilizar a racionalidade e, assim, decidir se quer ou não seguir essa doutrina. A
liberdade de pensamento é defendida a partir do princípio que a alma, por ser afim de
Deus, é ilimitada por natureza.
A maçonaria, desde suas lendárias e difusas origens, sempre perseguiu o melhoramento da qualidade de vida da humanidade. Justamente por isso foi perseguida. Porque entende que o homem, para exercer efetivamente sua liberdade, deve previamente exercitar seu raciocínio em grau superlativo. (BECK, 2005. p. 19)
Desse modo, surge a Maçonaria moderna, a qual estimulava os maçons a
trabalharem sobre si mesmos, desenvolvendo seus valores espirituais e suas
capacidades. O objetivo era fazer com que cada ação do maçom fosse pensada, não
impulsiva, de maneira que ele fosse útil para a sociedade. Os maçons se reuniam nas
suas oficinas, onde realizavam o que chamam de “polimento da pedra”, sendo a pedra
eles mesmos.
É importante levar em consideração a origem sociológica da instituição. O método maçônico está fundamentado em um pluralismo ideológico e propõe como chave o relativismo. (...) o relativista adere a alguma verdade, mas a considera como algo que depende de uma variante independente, que, enquanto tal, determina-a. essa variante independente pode ser a razão humana. Portanto, toda verdade é sempre provisória e susceptível de modificações segundo novas e diferentes análises racionais. (BECK, 2005. p. 48)
As oficinas eram também chamadas de templos, muito embora ali não se
reverenciasse nenhum deus: ali eles “se ocupavam de dar ‘têmpera’ à sua personalidade,
em alusão ao local em que o ferreiro trabalha, conseguindo suas melhores espadas
quando o aço está harmonicamente temperado” (BECK, 2005. p. 21).
Apesar de os maçons explicarem que não adoravam nenhuma entidade, muito
menos uma diabólica, como a Igreja Católica os acusava, o fato de existir um ritual pelo
qual os candidatos a maçom deveriam passar e de se saber que havia um segredo
6
guardado pelos iniciados causava uma inquietação. A população acreditava na Igreja, e
defendia a execução dos maçons.
Por causa da perseguição da Igreja Católica para com a Maçonaria, algumas
pessoas defendem que o maçom realiza um pacto com o demônio. Ainda hoje esse mito
tem força, contando, inclusive, com depoimentos de pessoas que teriam sido induzidas a
fazer o pacto, mas conseguiram se salvar a tempo:
TODOS CIDADÃOS BRASILEIROS TEM A LIBERDADE DE SER O QUE QUISER,POIS SÃO LIVRES! MAIS VAMOS FALAR DA MARÇONARIA...NO MEU PONTO DE VISTA TUDO AQUILO QUE ENVOLVE OCULTISMO E CERTOS MISTICÍSMOS TEM ALGO DIABÓLICO POR TRÁS...AGORA QUERIA CONTAR UMA EXPERIÊNCIA DE UM FAMILIAR HOJE SERVO DO SENHOR JESUS,ELE FALOU QUE DEPOIS DE UM CERTO GRAU É REVELADO O GRANDE SEGREDO QUE É NADA + NADA - QUE UM PACTO COM SATANÁS,ELES FANTASIAM MUITO,DIZ QUE É PRO BEM DA HUMANIDADE,ETC,MAIS É ALGO DIAÓLICO,QUEM QUISER SER UM MARÇON VÁ EM FRENTE,MAIS SAIBA QUE COM UM CERTO TEMPO VAI CONHECER O CÃO BEM DE PERTINHO!!9
Como se vê na Constituição dos Maçons Livres de Anderson (apud BECK, 2005),
tais especulações de que os iniciados idolatravam alguma entidade maléfica, além de
serem obrigados a renunciar às suas crenças, é falsa.
(...) somente a essa religião que todos os homens aceitam, deixando a cada um sua opinião particular... quaisquer que sejam as denominações ou crenças que pudessem diferencia-los (p. 37).
Essa ressalva da Igreja Católica para com a Maçonaria foi utilizada pelos reis
absolutistas para perseguir a Ordem, já que estas lutavam pela proscrição do regime
absolutista, pela liberdade e por uma constituição. Desse modo, a melhor maneira de
proteger a Ordem e seus membros era torná-la uma sociedade secreta, que foi o que
aconteceu.
Segundo Beck (2005), o tão discutido segredo maçom não é motivo para tanto
alarde. A existência de um segredo é um fator psicológico para o iniciado já que o
obriga a focar no seu interior. Sabendo de um segredo que não pode nem deve ser
revelado, o maçom é obrigado a isolar-se em seu próprio segredo individual.
Cogita-se que o segredo a ser guardado é o ritual de iniciação. O ritual teria por
finalidade conduzir a pessoa à introspecção (individual) de tal forma que impede o
retrocesso ao coletivo. Assim, não podendo comentar sobre esse ritual, o iniciado será 9 Depoimento de Paulo divulgado no site http://www.sobrenatural.org/materia/detalhar/4072/o_segredo_da_maconaria/ no dia 18 de fevereiro de 2009. Acesso no dia 2 de agosto de 2009.
7
obrigado a assimilar sua iniciação sozinho, refletindo sobre como aquele ritual foi
percebido e sobre as descobertas por ele induzidas.
Muitas vezes nos deparamos com histórias e mitos que envolvem esse segredo. A
Walt Disney, por exemplo, lançou um filme em 2004 chamado “A lenda do tesouro
perdido”10. Nesse filme, o ator Nicholas Cage busca um tesouro encontrado pelos
templários, que o trouxeram do Templo de Salomão até os Estados Unidos. Os
templários teriam jurado segredo sobre o tesouro e iniciado uma nova ordem: a Ordem
dos Franco-maçons. Com a guerra de independência, os maçons da época, entre eles
George Washington, Benjamin Franklin e Paul Revere, teriam escondido o tesouro e
deixado pistas para encontrá-lo. O filme segue as supostas pistas, na sua maioria sinais e
códigos maçons, até encontrar o suposto tesouro. As pisas variaram de sinais sutis,
como um símbolo meio apagado no verso da constituição de independência dos Estados
Unidos (a qual pelo menos nove maçons confirmados assinaram) até a famosa marca do
compasso e do esquadro em um tijolo onde Benjamin Franklin teria deixado um óculos.
Ainda, as criptas embaixo de uma igreja teriam a marca maçônica e a sala embaixo da
cripta, onde o tesouro estava, teria um botão na forma do conhecido símbolo.
O mais impressionante do filme, contudo, é o seu final, quando aparece um
detalhe do dedo do detetive do FBI. No dedo, há um anel com o símbolo maçônico, e o
detetive conversa com o personagem de Nicholas Cage como se conhecesse o tesouro.
Assim, nota-se uma corrente de especulações: o segredo da Maçonaria seria um grande
tesouro.
A MAÇONARIA NO PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA DO BRASIL
Para entender a influência da Maçonaria no processo de independência do Brasil
devemos ter em mente que a Maçonaria não é uma homogênea quanto às idéias de
governo: a Ordem Inglesa, a qual ficou conhecida como Maçonaria Azul, defendia o
sistema monárquico parlamentar, enquanto a Ordem Francesa, conhecida como
Maçonaria Vermelha, defendia o sistema republicano. Ambas, no entanto, defendiam a
proscrição do Absolutismo.
10 Do original em inglês National Treasure.
8
O Marquês de Pombal foi quem provavelmente incentivou a Maçonaria no Brasil
ainda antes de 1782. Não se pode ter certeza porque os primeiros arquivos datam de
1786, já que os da época entre 1782 e 1786 desaparecem quando D. Maria começa a
perseguir os maçons, como sugeria a Igreja Católica.
Sabe-se que chega a Portugal a notícia da fundação de novas lojas na Bahia e no
Rio de Janeiro, sob os auspícios do Grande Oriente da França (Maçonaria Vermelha). O
Grande Oriente Lusitano, então, envia um delegado em 1804 para convencer essas lojas
a se filiarem ao Grande Oriente Lusitano. Como os maçons brasileiros querem se
desligar de Portugal, não aceitam a proposta, o que resulta no surgimentos de novas
lojas, estas ligadas ao Grande Oriente Lusitano. Com o passar do tempo, as Lojas
começam a se desentender politicamente, resultando em brigas entre elas.
A Maçonaria Européia, defendendo o princípio da igualdade e liberdade, já
estudava e tratava da emancipação brasileira pelo menos dez anos antes da
Inconfidência Mineira, primeiro ato maçom conhecido realizado em prol da
independência. Alguns nomes que se destacam nesse sentido são o do estudante José
Joaquim da Maia e do filósofo José Álvares Maciel. O próprio Hipólito da Costa, que
fugiu das masmorras do Santo Ofício onde foi preso por causa da sua atuação política
na Inglaterra, fundou em Londres o célebre Correio Braziliense, jornal de oposição a D.
João (algumas vezes com mais de 100 páginas) que era enviado ao Brasil mensalmente
(GOMES, p. 19 – 22).
O próprio Tiradentes, cujo verdadeiro nome era Joaquim José da Silva, foi um
maçom iniciado na Bahia. “Quando removido, foi o portador das instruções secretas dos
maçons baianos aos ‘patriotas’11 de Minas” (GOMES, p. 20).
O plano dos maçons era esperar pela 3ª Derrama12 a qual revoltaria a população.
Joaquim Silvério dos Reis, Coronel da Cavalaria e vassalo do Governador de
Barbacena, denuncia o plano. O Governador, então, suspende a Derrama, afligindo os
conspiradores. Tiradentes, que na ocasião estava no Rio de Janeiro com o objetivo de
11 “‘Patriotas’ – esclarece Joaquim Felício dos Santos em ‘Memórias do Déstrito Diamantino’, eram chamados os maçons adeptos da República” (GOMES, p. 20). 12 A Derrama era a cobrança do imposto fixo que a coroa portuguesa criou quando o “quinto”, antigo imposto sobre o ouro produzido, passou a ser insuficiente. Enquanto as minas produziam muito, o quinto (20% do ouro extraído) era suficiente para manter a Corte na opulência. Quando elas pararam de produzir tanto, estabeleceu-se a cobrança anual fixa de 100 arrobas, ou 1.500 Kg de ouro, qualquer que fosse a produção. Quando, a partir de 1762, o ouro extraído não atingia a cota fixada, foi instituída a Derrama, “processo no qual o povo estava obrigado a completar, com seus próprios recursos, o total dos impostos devidos, e na cobrança, os administradores, não poucas vezes, fizeram uso da violência para bem cumprir as ordens de Lisboa” (GOMES, p. 23).
9
conseguir apoio daquela guarnição militar, onde mantinha boas relações, decide voltar
para Minas pois estava apreensivo quanto à Revolução. Não consegue, esconde-se , mas
é encontrado e preso. Começaram então as prisões dos conspirados, às quais seguiu-se
um julgamento e a sentença de morte. Poucos foram os absolvidos. No dia 20 de abril
de 1792, no entanto, essa sentença é comutada para todos, exceto Tiradentes, quem é
enforcado, tem a cabeça decepada e o corpo, cortado em quatros para serem expostos no
caminho de Minas no dia 21.
Denunciada esta conspiração, a sua conseqüência foi o sacrifício, mais ou menos cruel, de todas as suas principais figuras. Assim, o julgamento de 18 de abril de 1792 condenou à morte os mais notáveis e à infâmia alguns de seus auxiliares, pena essa que a carta régia de Dona Maria I comutou em degredo, menos quanto ao alferes Xavier, o Tiradentes, a quem a alçada classificou de criminoso imperdoável. Este, enforcado em 21 de abril do mesmo ano, portou-se com admirável estoicismo, nos seus últimos momentos – o que valeu que a conspiração tomasse o seu nome, na história. (ARÃO apud GOMES, p. 29).
Outro levante, dessa vez mais popular, que se deu sob orientação maçônica, foi a
Conjuração Baiana, também conhecida como Revolta dos Alfaiates, em 1799.
Desejando implementar uma República, os idealistas
“seguiam um programa de ações claramente de origem maçônica, pois lutavam pela liberdade de pensamento e de religião, abolição da escravatura e a instalação de um regime democrático, baseado na igualdade geral de direitos” (GOMES, p. 34).
Diferentemente dos inconfidentes mineiros, que defendiam uma República à
imagem e semelhança da República dos Estados Unidos da América do Norte, os
conjurados baianos queriam uma República como a Francesa. Nesse levante, no entanto,
não houve clemência a nenhum dos 34 réus (que mobilizaram, sabe-se, mais de 600
pessoas), sendo quatro deles levados à forca e, depois, esquartejados.
Ainda podemos citar a Revolução Pernambucana (1817), quando se constituiu no
estado um governo provisório composto de maçons.
“Caetano Pinto, comandante das armas de Pernambuco, ao tomar conhecimento da conjuntura que se preparava nas sociedades secretas, reuniu os oficiais portugueses e deliberou prender chefes militares e civis” (GOMES, p. 45).
Imprudentemente, o oficial encarregado de prender os militares foi arrogante,
ocasionando uma revolta no quartel. Depois de tomar o poder, medidas liberais foram
decretadas, distinções abolidas e uma nova bandeira hasteada. A tolerância religiosa e a
emancipação progressiva da escravidão também foram adotadas. Alagoas, Paraíba, Rio
Grande do Norte e Ceará aderiram à Revolução, mas o Rei não tardou a enviar forças
para contê-la. Bloqueados por terra e por mar, os patriotas foram derrotados.
10
Os revolucionários não puderam resistir à superioridade numérica e poderio de fogo das forças legais. Não havia sido organizada a cobertura militar, imprescindívelmente necessário num movimento armado. Também, não fora possível aos maçons e patriotas de outras províncias acudirem em tempo aos pernambucanos, mesmo porque, militarmente não estavam preparados. E muito embora a revolução não se tenha espalhado por todo o território, não se pode negar o esforço dos revolucionários em estender o movimento a uma vasta área da região.
Não se pode considerar a revolução um desastre, pois conseguiu depor um regime
absolutista, organizar um governo livre e autônomo que, durante alguns meses, permitiu
à população viver sob o regime da república.
O momento da independência do Brasil também teve forte influência da
Maçonaria. Graças à Revolução Liberal, atingida pela união da Maçonaria Vermelha e
Azul, os franceses foram expulsos de Portugal e dos outros Estados que haviam
invadido. Ungia a necessidade de D. João VI, então há doze anos no Brasil, voltar a
Portugal jurar a Constituição do Estado. Para não perder o trono brasileiro, deixa aqui
seu filho D. Pedro como Regente do Brasil.
A permanência do príncipe causou conflito entre as Maçonarias Azul e Vermelha
no Brasil. Como a Azul defendia a Monarquia Parlamentarista, defendia o príncipe e
sua permanência. Por outro lado, a Vermelha defendia a República e, por isso mesmo,
via na permanência do príncipe um empecilho. Como a Azul contava com a opinião
pública, prevaleceu. D. Pedro decide permanecer no Brasil no dia 9 de janeiro de 1822,
que ficou conhecido como Dia do Fico. Na ocasião, o príncipe pronunciou a célebre
frase: “Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto: diga ao povo
que fico” (GOMES, p. 61). Com essas palavras, desprezando a ordem portuguesa de
regressar a Portugal, D. Pedro passou a integrar o movimento nacionalista brasileiro.
Mais tarde, D. Pedro foi iniciado na Maçonaria, onde foi recebido com vivas e
aplausos. “D. Pedro teve aí a certeza que fariam com ou sem ele a Independência.
Reconheceu, portanto, que a Maçonaria não era só grande propulsora do movimento
emancipador, como era capaz de ela, apenas, realizar a independência” (CALMON
apud GOMES, p. 65).
Notamos, assim, que a influência da Maçonaria no processo de independência do
Brasil vai muito além do que se estuda nos livros didáticos: a Maçonaria esteve
presente, desde o início, nas relações de poder que envolviam as pessoas na época,
tramando e planejando como conseguir a liberdade da nação.
11
BIBLIOGRAFIA BECK, Ralph T. Maçonaria e Outras Sociedades Secretas. São Paulo: Ed. Planeta, 2005. ELIADE, Mircea; COULIANO, Ioan P. Dicionário das religiões. São Paulo: Martins Fontes, 1999. GOMES, M. A maçonaria na historia do Brasil. Rio de Janeiro: Aurora, [197-]. 138p. História da Ordem DeMolay. http://www.culturabrasil.pro.br/demolay.htm em 29 de setembro de 2009. Os cavaleiros hospitalários. Disponível em http://www.cav-templarios.hpg.ig.com.br/os_cavaleiros_hospitalarios.htm . Acesso em 20 de setembro de 2009. Dicionário Aurélio. Disponível em http://www.dicionariodoaurelio.com/ . Acesso em 20 de setembro de 2009.
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PET- Indica
Filme alemão que mostra um professor que, na tentativa de ensinar seus estudantes sobre a importância da democracia, cria uma classe de fascistas no colégio. Portando-se como um sociedade autocrática dentro da sociedade escolar, esse grupo de alunos adere a um sinal de cumprimento, a um uniforme e até mesmo a um grupo de proteção, excluindo e praticando bullying contra os que se opõe ao grupo.
Um filme que trabalha com o tema drogas de uma maneira leve, divertida e engraçada, mas que mostra o tempo e as oportunidades que perdemos mesmo com o uso de drogas consideradas leves, como a maconha.
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Eventos Janeiro de 2010
� XVIII Encontro Nacional de Estudantes de Geografia: Que currículo? Que geografia? Mercado, produtividade do conhecimento, academicismo, instituições… e a autonomia?
Entre os dias 12 a 18 de Janeiro de 2010, na Universidade Federal de Alagoas em Maceió
http://xviiieneg.wordpress.com/
Maio de 2010
� La Planificación Territorial Y El Urbanismo Desde El Dialogo Y La Participacion Buenos Aires, 2 al 7 mayo de 2010 Instituto de Geografía / Departamento de Geografía Facultad de Filosofía y Letras - Universidad de Buenos Aires http://eventos.filo.uba.ar/geocritica http://www.ub.es/geocrit/segunda_circular_2.pdf
� VI Seminário Latino Americano e II Seminário Ibero Americano de Geografia Física Coimbra/Portugal 26 a 30 de maio de 2010
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Julho de 2010
� XVI Encontro Nacional de Geógrafos UFRGS, Porto Alegre/RS, de 25 a 31 de julho de 2010. http://eng-2010.blogspot.com/
� XV Encontro Nacional dos Grupos PET "Organização e qualidade na Educação Tutorial". UFRN, Natal-RN, de 25 a 30 Julho
� III Simpósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e Tecnologias da Geoinformação UFPE - Recife, PE de 27 a 30 de julho de 2010
Outubro de 2010
� XX Encontro Nacional de Geografia Agrária Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Francisco Beltrão – Paraná 25 a 29 de outubro de 2010 http://www.xxenga.tk/