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INFORMATIVO SÃO VICENTE Boletim de circulação interna da
Província Brasileira da Congregação da Missão
Ano XLVII - No 297
Setembro-Dezembro 2013
Rua Cosme Velho, 241
22241-125 Rio de Janeiro - RJ
Telefone: (21) 3235 2900
Fax: (21) 2556 1055
_______________________
E-mail:
www.pbcm.com.br
Equipe responsável pelo Informativo São Vicente
- Pe. Vinícius Augusto R. Teixeira - Pe. Paulo Eustáquio Venuto
Formatação e Impressão: - Cristina Vellaco - Equipe de Mecanografia do Colégio São Vicente de Paulo
“Uma vocação tão grande e tão adorável como a dos maiores apóstolos e a dos maiores santos da Igreja de Deus; desígnios eternos realizados no tempo so-bre vós! Só a humildade, senhor Padre, é capaz de acolher esta graça; ela deve ser acompa-nhada do perfeito abandono de tudo o que sois e podeis ser, na exuberante confiança em vosso soberano Criador. Generosidade e magnânima coragem vos são necessárias. Precisais também de uma fé tão grande como a de Abraão; tereis grande necessi-dade da caridade de São Paulo; o zelo, a paciência, a deferência, a pobreza, a solicitude, a discrição, a integridade de costumes e o grande desejo de vos consumir inteiramente por Deus vos serão tão convenientes quanto ao grande São Francisco Xavier” (SV III, 278).
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Sumário
Editorial ............................................................................................
Voz da Igreja .....................................................................................
Superior Geral ...................................................................................
Palavra do Visitador ..........................................................................
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Olhar Teológico
Vida da Congregação
Herança Vicentina I
Herança Vicentina II
Memória
Vida da Província
Especial I
Especial II
Especial III
Formação dos Nossos
SAVV
Na Missão do Céu
Notícias
Papa Francisco: Um pecador perdoado............. Maria Clara Bingemer
A Reconfiguração, a partir da experiência espi-ritual-missionária de São Vicente (II)................. Pe. Eli Chaves dos Santos, C. M.
Providência de Deus e espiritualidade vicenti-na....................................................................... Pe. Getúlio Mota Grossi, C. M.
Como Santa Elizabeth Ann Seton abre para nós a Porta da Fé............................................... Tradução: Irmã Carolina Mureb, FC
Dom Ney Brasil Pereira......................................
Annibale Bugnini, C.M.
Retiro Anual e Assembleia Provincial Eletiva.....
Solenidade de São Vicente................................. Hugo Silva Barcelos
Encontro de Ecônomos da Congregação da Missão............................................................... Pe. Emanoel Bedê Bertunes, C.M.
3ª Reunião do Grupo de Estudos Vicentinos.....
Estágio Apostólico do Seminário Interno Interprovincial................................................... Arthur Ricardo da Silva Filho (PFCM)
Animação Vocacional em Missão!.................... Pe. Alexandre Nahass Franco
Pe. José Debórtoli, C. M..................................... Pe. Célio Maria Dell’Amore
...........................................................................
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Editorial
Com este número do Informativo
São Vicente, de setembro-dezembro,
vemos que o final do ano está à porta,
prenunciando o fim de muitos acon-
tecimentos, como o Ano da Fé, por
exemplo.
Na oportunidade de falar aos Ca-
tequistas, justamente aludindo ao seu papel e ao Ano da Fé, o Papa Fran-
cisco nos lembra a missão de “fazer memória de Deus”. Isso significa fazer
“a memória da história de Deus conosco, a memória do encontro com
Deus que toma a iniciativa, que cria e salva, que nos transforma”. É colo-
car esta memória “a serviço do anúncio: falar e transmitir tudo aquilo que
Deus revelou” para despertar os outros e inflamar seus corações para o
que Deus realiza na História.
Dentro desse contexto, o Padre Gregory Gay, nosso Superior Geral,
convoca missionários dispostos a cruzar mares e continentes para “fazer
memória” do Deus que se revela nos ambientes mais diferentes, nas situ-
ações mais díspares e nas culturas mais diversas.
Com o fim de sua missão como Visitador, Padre Geraldo Barbosa
manifesta seus sentimentos nesses três anos à frente da PBCM, agrade-
cendo aos Coirmãos a colaboração dada. Na verdade, quem deve agrade-
cer somos nós por seu empenho incansável e por sua dedicação generosa
em favor de cada Coirmão e de toda a Província.
A teóloga Maria Clara Bingemer, em seguida, tece um comentário
sobre uma entrevista com o Papa Francisco, na qual se pode “saborear as
palavras de um homem autêntico e apaixonado por sua missão”. Sem
deixar de mostrar a consciência de sua condição limitada de ser humano,
ele manifesta sua experiência espiritual inaciana que o faz apalpar em si a
extensão do pecado, mas também a grandeza da misericórdia divina que
o olha com compaixão e perdão “para ser servidor do Reino e da missão
de Cristo”.
172
Padre Eli Chaves conclui sua apresentação da experiência espiritual-
missionária de São Vicente como estímulo para nossa caminhada rumo à
Reconfiguração. Mostra como as cinco virtudes vicentinas que nos identi-
ficam são instrumentos para “entender as interpelações históricas dos
pobres e dar uma resposta nova e significativa de serviço missionário vi-
centino”.
Por sua vez, Padre Getúlio Grossi nos brinda com uma reflexão sobre
a Providência de Deus na espiritualidade vicentina. Partindo da espiritua-
lidade do Verbo Encarnado, herança da influência de Berulle, faz-nos ver
que o Jesus de São Vicente é o missionário do Pai e dos pobres. São Vi-
cente se deixou seduzir por Jesus que veio para cumprir a missão que o
Pai lhe confiou: missão de amor misericordioso para com os homens, de
modo especial para com os pobres. Daí, a docilidade de São Vicente para
com a Divina Providência, a exemplo do próprio Cristo.
Podemos ver que não nos faltam exemplos de pessoas virtuosas que
trilharam esses passos de São Vicente, colocando-se nas mãos da Provi-
dência. Encontramos, dentre elas, as figuras de Santa Elizabeth Ann Seton
e do Bispo Annibale Bugnini. Este nos percalços sofridos no contexto da
conturbada renovação litúrgica do Concílio Vaticano II, mais de 50 anos
atrás. Aquela, no século XIX, em sua decisão de deixar a Igreja Anglicana,
aderindo à Igreja Católica e tornando-se incansável testemunha da cari-
dade de Cristo.
Podemos, assim, caros leitores, perceber que não nos faltarão inte-
resse, curiosidade e gosto em tomar este número do Informativo São Vi-
cente para desvendar, nas linhas ou nas entrelinhas, “a memória de
Deus”.
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Voz da Igreja
Homilia do Papa Francisco na Jornada dos Catequistas, por ocasião do Ano da Fé
29 de setembro de 2013
1. “Ai dos que vivem comodamente em Sião e dos que vivem tranquilos (…), deitados em leitos de marfim” (Am 6,1.4), comem, bebem, cantam, di-vertem-se e não se preocupam com os problemas dos outros. São palavras du-ras, estas do profeta Amós, mas que nos advertem para um perigo que todos cor-remos. Que denuncia este mensageiro
de Deus? Que põe ele diante dos olhos de seus contemporâneos e diante dos nossos também? O risco de se acomodar, da comodidade, da munda-nidade na vida e no coração, de ter como centro o nosso bem-estar. É a própria experiência do rico do Evangelho, que vestia roupas de luxo e ca-da dia se banqueteava lautamente. Importante para ele era isto. E o po-bre que jazia à sua porta e não tinha com que matar a fome? Não era com ele, não lhe dizia respeito. Se as coisas, o dinheiro, a mundanidade se tor-nam o centro da vida, apoderam-se de nós, dominam-nos e perdemos a nossa identidade de homens: vede que o rico do Evangelho não tem no-me, é simplesmente “um rico”. As coisas, aquilo que possui, são o seu ros-to, não tem outro.
Mas tentemos descobrir: Como é que acontece isto? Como é que os homens, talvez nós mesmos caímos no perigo de nos fecharmos, de por-mos a nossa segurança nas coisas, que no fim nos roubam o rosto, o nos-so rosto humano? Isto acontece, quando perdemos a memória de Deus. “Ai dos que vivem comodamente em Sião” – dizia o profeta. Se falta a memória de Deus, tudo se rebaixa, nivela pelo eu, pelo meu bem-estar. A vida, o mundo, os outros perdem a consistência, já não contam para nada, tudo se reduz a uma única dimensão: o ter. Se perdemos a memó-
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ria de Deus, também nós mesmos perdemos consistência, também nós nos esvaziamos, perdemos o nosso rosto, como o rico do Evangelho! Quem corre atrás do nada, torna-se ele próprio nulidade – diz outro grande profeta, Jeremias (cf. Jr 2,5). Estamos feitos à imagem e seme-lhança de Deus, não à imagem e semelhança das coisas, dos ídolos!
2. Assim, ao ver-vos, pergunto-me: Quem é o catequista? É aquele que guarda e alimenta a memória de Deus; guarda-a em si mesmo e sabe despertá-la nos outros. É belo isto: fazer memória de Deus, como a Vir-gem Maria que, perante a maravilhosa ação de Deus em sua vida, não pensa nas honras, no prestígio, nas riquezas, não se fecha em si mesma. Antes, pelo contrário! Depois de ter recebido o anúncio do Anjo e ter concebido o Filho de Deus, que faz ela? Parte vai ter com a sua prima Isa-bel, idosa e também ela grávida, para ajudá-la; e, quando a encontra, o seu primeiro ato é fazer memória do agir de Deus, da fidelidade de Deus em sua vida, na história de seu povo, em nossa história: “A minha alma glorifica o Senhor, (...) porque pôs os olhos na humildade de sua serva (...); sua misericórdia se estende de geração em geração” (Lc 1,46.48.50). Ma-ria possui a memória de Deus.
Neste cântico de Maria, está presente também a memória da sua história pessoal, a história de Deus com ela, a sua própria experiência de fé. E o mesmo se passa com cada um de nós, com cada cristão: a fé con-tém precisamente a memória da história de Deus conosco, a memória do encontro com Deus que toma a iniciativa, que cria e salva, que nos trans-forma; a fé é memória de sua Palavra que inflama o coração, das suas ações salvíficas pelas quais nos dá vida, purifica, cuida de nós e alimenta. O catequista é precisamente um cristão que põe esta memória a serviço do anúncio; não para dar nas vistas, nem para falar de si, mas para falar de Deus, de seu amor, de sua fidelidade. Falar e transmitir tudo aquilo que Deus revelou, isto é, a doutrina na sua totalidade, sem cortes nem acréscimos.
A Timóteo, seu discípulo e colaborador, São Paulo recomenda sobre-tudo isto: Lembra-te, lembra-te de Jesus Cristo, ressuscitado dentre os mortos, que eu anuncio e pelo qual sofro (cf. 2Tm 2,8-9). Mas o Apóstolo pode dizer isto, porque ele, primeiro, se lembrou de Cristo, que o chamou quando era perseguidor dos cristãos, tocou-o e transformou-o com a sua graça.
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Deste modo, o catequista é um cristão que traz em si a memória de Deus, deixa-se guiar pela memória de Deus em toda a sua vida, e sabe despertá-la no coração dos outros. Isto é difícil! Compromete a vida toda! E o próprio Catecismo, o que é senão memória de Deus, memória da sua ação na história, de ter-se feito próximo de nós em Cristo, presente em sua Palavra, nos Sacramentos, em sua Igreja, em seu amor? Amados ca-tequistas, pergunto-vos: Somos nós memória de Deus? Procedemos ver-dadeiramente como sentinelas que despertam nos outros a memória de Deus, que inflamam o coração?
3. “Ai dos que vivem comodamente em Sião!” – diz o profeta. Que estrada seguir para não sermos pessoas “que vivem comodamente”, que põem a sua segurança em si mesmos e nas coisas, mas homens e mulhe-res da memória de Deus? Na segunda leitura, escrevendo ao referido Ti-móteo, São Paulo dá algumas indicações que podem caracterizar também o caminho do catequista, o nosso caminho: procurar a justiça, a piedade, a fé, o amor, a paciência, a mansidão (cf. 1Tm 6,11).
O catequista é pessoa da memória de Deus, se tem uma relação constante, vital com ele e com o próximo; se é pessoa de fé, que confia verdadeiramente em Deus e põe nele a sua segurança; se é pessoa de ca-ridade, de amor, que vê a todos como irmãos; se é “hypomoné”, pessoa de paciência e perseverança, que sabe enfrentar as dificuldades, as pro-vas, os insucessos, com serenidade e esperança no Senhor; se é pessoa gentil, capaz de compreensão e misericórdia.
Peçamos ao Senhor para sermos todos homens e mulheres que guardam e alimentam a memória de Deus na própria vida e sabem des-pertá-la no coração dos outros. Amém.
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Superior Geral
CONGREGAZIONE DELLA MISSIONE
CURIA GENERALIZIA
Via dei Capasso, 30 Tel. (39) 06 661 3061
00164 Roma – Italia Fax (39) 06 666 3831
e-mail: [email protected]
CARTA DE CHAMADA PARA AS MISSÕES – 2013
Roma, 1 de outubro de 2013.
Queridos Coirmãos,
Que a graça e a paz de Nosso Senhor Jesus
Cristo estejam sempre em nossos corações!
Ao começar outubro, lembramo-nos, na mu-
dança das estações, que este que já foi o Ano Novo
de 2013 está chegando ao fim. Certamente, do
mesmo modo, o “Ano da Fé” e o ano litúrgico se
acabarão logo. Em outubro, celebramos também o
Domingo Mundial das Missões, um tempo para re-
fletir sobre o chamado de Jesus para irmos pelo
mundo e sermos missionários. Neste tempo, recordamos, com admiração
e afeto, as vidas dos grandes missionários da Igreja e de nossa Congrega-
ção. Suas vidas nos inspiram a viver a missão de Jesus, seguindo com novo
ânimo o caminho de São Vicente.
Gostaria de começar esta Carta de Chamada para as Missões de
2013 com uma história missionária, que começou há 143 anos, quando
dois Coirmãos, fiéis à nossa tradição de missionários vicentinos, deixaram
a França para ir a um lugar longe e desconhecido. No dia 9 de novembro
de 1870, os Padres Gustave Foing e Augustine Rieux desembarcaram no
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porto de Boaventura, na Colômbia, América do Sul, e começaram a obra
de formação do clero e das paróquias missionárias. Estes valentes Coir-
mãos foram os primeiros Missionários na que então se chamava Província
da América Central, que se estendia da Guatemala até Lima, no Peru.
No dia 11 de agosto de 1913, Pe. Antônio Fiat,
superior geral, num tempo de expansão, erigiu a
Província da Colômbia, separando-a da Província da
América Central. Quando foi criada, 7 das 10 Casas
da Província da América Central estavam na Colôm-
bia. No ano de 2013, celebramos o efeito mais visível
e duradouro daqueles primeiros esforços: o centená-
rio da Província da Colômbia. Quem foi missão em
outro tempo, agora, envia Missionários por todo o
mundo. Falarei disto com mais pormenores adiante.
Inspirados por este espírito, revisemos nossas “missões ad gentes”.
MISSÕES INTERNACIONAIS: NECESSIDADES ATUAIS
Papua- Nova Guiné
Esta missão continua crescendo. Nosso Coirmão Jacek Tendej, da Po-
lônia, chegará logo para ser o reitor do seminário da arquidiocese de Bo-
mana. Além da obra de formação de seminaristas, trabalhamos em várias
dioceses, incluindo Porto Moresby e Alotau-Sideia, cujo bispo é nosso Co-
irmão Dom Rolando. O Seminário e o Instituto Teológico em Porto Mo-
resby necessitam de Coirmãos, assim como as paróquias e as missões.
A língua é conhecida como inglês “pidgin”.
Ilhas Salomão
No final de 2013, cinco Coirmãos deixarão esta missão para retornar
às suas Províncias de origem. Esperamos que pelo menos um Coirmão,
procedente da Indonésia, vá pra esta missão em 2014. Como continuam
os pedidos para a formação de seminaristas e para atividades paroquiais
e missionárias, precisamos de Coirmãos que continuem o bom trabalho
ali começado. Há dois meses, chegaram o Pe. Greg Cooney, da Austrália, e
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o Pe. José Manjaly, da Província do Sul da Índia, e se uniram ao Pe. Twol-
de Teclemichael, reitor do Seminário em Honiara, onde estamos traba-
lhando. Ainda estão esperando a chegada do Pe. Jeff Harvey, da Província
Oeste dos Estados Unidos. A língua é o inglês “pidgin”.
Benim
Uma das mais recentes, esta missão de fala francesa é servida por
dois Coirmãos poloneses, Rafal Brukarczyk e Stanislaw Deszcz. Uniu-se a
eles um terceiro Coirmão, Jaroslaw Lawrenz, também da Província da Po-
lônia, que trabalhava ultimamente na Província de Nova Inglaterra. De-
pois de uma longa preparação, os Coirmãos estão bem estabelecidos. De-
dicam-se ao ministério pastoral, dão assistência às Irmãs da Medalha Mi-
lagrosa e acompanham a Família Vicentina.
Punta Arenas, Chile
Esta missão foi estabelecida muito recentemente pelos Padres Pablo
Vargas e Gerardo Díaz, dois Coirmãos da Província do Chile. Estão bus-
cando um terceiro para ajudar no ministério pastoral junto aos residentes
de Punta Arenas e ilhas adjacentes. Punta Arenas está situada no ponto
mais meridional do Chile, perto da Terra do Fogo. A língua é o espanhol.
NOVAS MISSÕES
Alaska, Estados Unidos
O arcebispo D. Roger Schwietz, OMI, da arquidiocese de Fairbanks,
Alaska, solicitou Coirmãos que falem espanhol para ajudar na assistência
pastoral junto à imigração, que está crescendo rapidamente nesta cidade.
O Superior Geral e o Provincial da Colômbia estão dialogando com a ar-
quidiocese para chegar a um contrato, mas outros Coirmãos interessados
por esta missão podem oferecer-se. O Alaska é o mais setentrional dos
cinqüenta estados dos EUA. As línguas são o inglês e o espanhol.
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Beni, Bolívia
Recebemos um pedido da Bolívia, do Padre Julio Maria Elias, OFM, que
dirige o vicariato apostólico de Beni. Solicita 3 Coirmãos (dois sacerdotes,
um irmão) para trabalhar junto a um povoado indígena, aonde se pode
chegar de barco, através dos rios. Os Coirmãos da CLAPVI-Sul estão orga-
nizando uma “equipe de missões populares” para ir a esta região em
2015, como um projeto provisório para determinar as necessidades espi-
rituais deste povo e as possibilidades para um futuro trabalho missioná-
rio. A língua é o espanhol.
MISSÕES PROVINCIAIS: NECESSIDADES ATUAIS
Cuba
Ainda que esteja dialogando com outras Províncias do Caribe sobre a
reconfiguração, a Província de Cuba está, neste momento, experimentan-
do uma grande escassez de pessoal. O Visitador anterior, que ainda está
trabalhando na Província, sofreu um grave acidente de carro. Este fato,
junto ao recente regresso de dois Coirmãos às suas respectivas Províncias
de origem e a nomeação de outro Coirmão como Diretor das Filhas da Ca-
ridade na Província do Caribe, recém-configurada, criou sérios problemas
para atender aos ministérios desta Província, já pequena por si mesma.
A língua é o espanhol.
Vice-província dos Santos Cirilo e Metódio
Esta Vice-província continua evoluindo e crescendo, tanto no núme-
ro de Coirmãos nativos da Ucrânia como no empenho em descobrir novos
modos criativos para responder às necessidades pastorais e materiais dos
pobres. Com trabalhos pastorais na Ucrânia, Rússia e Bielorrússia, esta Vi-
ce-província dá as boas-vindas aos Coirmãos que queiram colaborar nos
ministérios por algum tempo, assim como aos novos membros. A língua é
o russo.
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Vice-província de Moçambique
Esta Vice-província tem obras em favor dos pobres, além da forma-
ção nos seminários e de uma missão na África do Sul. Não obstante, ainda
depende de Coirmãos procedentes de outras províncias para continuar
sua ação apostólica. Sempre recebem com prazer os novos membros. Sua
língua é o português.
Província da Hungria
Esta Província, ainda que seja pequena em número, tem um dos gru-
pos mais jovens de Coirmãos na Congregação. Dedicam-se a vários tipos
de trabalho pastoral. A língua é o húngaro.
Província da China
A Província da China continua trabalhando pelas necessidades pasto-
rais da população de Taiwan e da China continental. Os Coirmãos traba-
lham em vários ministérios. A língua é o mandarim.
Província de Paris
A Província de Paris está à procura de um Coirmão disposto a se de-
dicar ao ministério pastoral em sua missão em Tessalonica, na Grécia.
Trata-se do trabalho paroquial e implica servir os grupos de várias línguas
que buscam os serviços da paróquia dirigida por nossos Coirmãos. A lín-
gua é o grego.
INFORMAÇÃO SOBRE AS MISSÕES INTERNACIONAIS
O que vem a seguir é uma informação atualizada sobre as missões
estabelecidas depois das chamadas anteriores. Estas missões são hoje
uma realidade, graças aos que se ofereceram como voluntários e às ora-
ções e doações de vocês.
ANGOLA
Angola, missão de língua portuguesa, deu as boas-vindas a um ter-
ceiro Coirmão. O Padre Jasón Cristán Soto, que agora está tramitando seu
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visto. Une-se aos Padres José María Nieto e José Ramírez em suas ativida-
des pastorais e na atenção à Família Vicentina.
TCHAD
A missão no Tchad, de língua francesa, apoiada pela COVIAM, está
sob a supervisão do Visitador da Nigéria. Há aí, agora, dois Coirmãos, os
Padres Oneachi Ugwu, da Província da Nigéria, e Roch Ramilijaona, da
Província de Madagascar. Gostariam de ter outro Coirmão para ajudá-los
no trabalho pastoral e na atenção às zonas rurais.
EL ALTO
Os Coirmãos desta missão continuam com a pastoral paroquial e a
atenção à Família Vicentina. O Padre Aidan Rooney, superior da missão,
trabalha com os Padres Cyrille Pierre De Nanteuil e José Diego Pla Aranda
no trabalho pastoral e paroquial e no serviço junto às populações indíge-
nas. Têm promovido também um programa muito vivo de ministérios lei-
gos, para atender aos três centros paroquiais que estão sob sua respon-
sabilidade. Nota-se, também, que, devido à visão e à capacidade de pla-
nejamento do Pe. Aidan Rooney, a missão completou seu orçamento com
campanhas de coleta de fundos através da internet e de contatos pesso-
ais. Vocês podem ver seu website no link: www.vocesvicentinas.org.
COCHABAMBA
Esta missão boliviana está sob a responsabilidade de três Coirmãos
bolivianos da Província do Chile: David Paniagua, Jorge Manrique e Luis
Montoya. Trabalham em paróquias e nas missões. A missão conseguiu
meios para completar seu orçamento e se tornar autossustentável.
TUNÍSIA
O Padre Jean-Pierre Mangulu, Coirmão da Província do Congo, foi
para lá ajudar o Padre Firmin Mola Mbalo, superior da missão. Os Coir-
mãos desta missão de língua inglesa e francesa se dedicam ao trabalho
paroquial e dão assistência às Filhas da Caridade.
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Como podem ver, o espírito missionário da Congregação está muito
vivo, graças a tantos Coirmãos generosos, que mantém as missões, ofere-
cendo-se com voluntários, por meio de doações e orações. Deste modo,
mais uma vez, peço sua ajuda de qualquer forma possível. Junto a esta
carta, encontrarão um breve documento redigido pelo Conselho Geral:
uma lista de critérios necessários para ser um missionário. Animo a todos
a lerem e refletirem sobre ele, porque Jesus e São Vicente nos chamaram
a uma vocação missionária para construir o Reino de Deus na terra. Há
outro documento anexo que diz como deve responder um Coirmão que
queira se oferecer como voluntário, e também os meios para contribuir
economicamente com a Central de Solidariedade Vicentina para os mi-
crocréditos. É bem-vinda qualquer doação, não importa a quantidade.
Como foi dito acima, a Província da Colômbia celebra os 100 anos de
sua fundação. A partir de um humilde começo com dois Coirmãos france-
ses, a Província está agora presente nos Estados Unidos, Brasil, Chile, Cu-
ba, Equador, Papua Nova Guiné, Toulouse, Ruanda e Burundi, levando
Cristo e nosso carisma a todos os lugares a que são enviados. Os que fo-
ram em outro tempo território de missão são hoje missionários do mun-
do! Alegramo-nos por isso e pedimos ao Senhor que envie operários para
a messe.
Seu irmão em São Vicente,
G. Gregory Gay, C.M.
Superior Geral
********
183
Critérios para a seleção de voluntários para a Missão ‘ad gentes’
Como as realidades da vida nas missões internacionais são um desafio,
totalmente diferentes dos que se encontram na Província de origem,
requerem-se alguns critérios para selecionar os Missionários que
trabalharão nestes lugares. Com base nos critérios que se expõem a
seguir, o voluntário terá uma entrevista com algum membro do Conselho
Geral ou seu representante.
1. Os missionários devem ter estabilidade emocional. O trabalho missio-nário é duro! Os que trabalham em culturas diferentes da sua, se que-rem ser eficazes, devem aprender a falar outras línguas, conhecer cultu-ras novas e proclamar a mensagem eterna de Deus em contextos con-cretos em transformação. As relações interpessoais com os companhei-ros de trabalho, Coirmãos que também estão vivendo tensões culturais e ansiedade em seu trabalho, aumentam a tensão. Só quem é emocio-nalmente estável, deveria fazer compromisso de longo prazo para as missões de cultura diferente.
2. Os missionários devem ser espiritualmente maduros. Não poderiam pregar o Evangelho de maneira eficaz por sua própria iniciativa ou por sua própria capacidade. Não são mais do que “vasos de barro” que de-vem demonstrar que o “poder eminente” empregado no ministério cris-tão procede “de Deus e não de nós mesmos” (2Cor 4,7). Por isso, as mis-sões são um “trabalho sobrenatural”, concretizado definitivamente pelo poder de Deus. Os missionários devem ser pessoas que “se ajoelham diante do Pai” (Ef 4,2) em oração. Também devem ser pessoas dedica-das a estudar a Bíblia, não somente para preparar homilias e lições, mas para refletir sobre a vontade de Deus sobre suas próprias vidas.
3. Os missionários devem ter uma relação íntima com Deus que influen-cie no que são e no como se relacionam com os demais. Deixam-se transformar cada vez mais, para buscar uma semelhança com Deus, considerando-o em tudo (2Cor 3,18). Sua maturidade espiritual deve le-vá-los a serem mestres eficazes da Palavra de Deus. O ensinar uma vi-são cristã do mundo tal como Deus a revela na Sagrada Escritura é es-sencial para seu trabalho ministerial. Por isso, os missionários enviados para as missões estrangeiras devem ser homens que ensinaram o evan-gelho em seu próprio país e em sua própria cultura, e formaram seria-mente os fiéis para uma maturidade cristã.
184
4. Os missionários devem ter qualidades e formação para construir a Igre-ja, educar os novos cristãos para a maturidade e formar líderes da Igreja da nação para um serviço cristão. Estas são as tarefas essenciais nas missões. Isto se deve fazer tendo em conta as realidades locais. Os mis-sionários não devem levar a cultura de sua Igreja de origem para a da missão; devem trabalhar para que os valores evangélicos se implantem na cultura do lugar em que trabalham. Devem-se formar os missioná-rios para que sejam capazes de integrar-se em culturas novas e de pôr os fundamentos do Evangelho.
5. Os missionários devem possuir qualidades para uma eficaz comunica-ção interpessoal. Essas qualidades interpessoais se formam basicamen-te através da ajuda dos pais, da família e de outras influencias baseadas na relação pessoal nos primeiros anos de vida, e são difíceis de se con-seguir na vida adulta. A personalidade também recebe influência da cul-tura e muda de um país e de um continente a outro. Apesar do tipo de personalidade que tenham, todos os missionários devem ter a habilida-de de imbuir-se da cultura dentro da qual vão trabalhar. Isto inclui tam-bém a capacidade de trabalhar e colaborar como equipe.
6. Os missionários devem ter uma motivação pura. Um missionário tem que desenvolver uma motivação clara e direta para a evangelização, uma visão para a missão e para o serviço dos pobres; tendo sempre em conta que todo seu trabalho é somente para a glória de Deus. Os moti-vos duvidosos de lucro pessoal e de vanglória sempre farão fracassar o objetivo da missão e arruinarão a missão e o missionário. INFORMAÇÕES PARA OS QUE SE OFERECEREM COMO VOLUNTÁRIOS
1. Depois de um período de sério discernimento, caso se sinta tocado pa-ra oferecer-se como voluntário, por favor, envie sua carta ou seu e-mail a Roma, no mais tardar até dia 30 de novembro de 2013, ou para o dia 28 de fevereiro de 2014, a fim de que possamos estudar os pedi-dos nas reuniões de nossos tempos fortes de dezembro e março de 2014.
2. É de muita utilidade conhecer previamente o idioma, mas não é abso-lutamente necessário. Proporcionar-se-á aos missionários um período de preparação cultural e linguística.
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3. Ainda que não tenhamos definido pormenores, é necessário que o missionário tenha saúde razoavelmente boa e a flexibilidade necessá-ria para inculturar-se.
4. Os Coirmãos que se oferecerem como voluntários devem informar ao Visitador de sua Província. Em seguida, o Superior Geral falará com o Visitador sobre o assunto.
5. Sua carta nos deverá proporcionar informações sobre sua pessoa, sua experiência ministerial, as línguas que fala e sua formação específica. Deve indicar também qualquer interesse pessoal que você tenha, co-mo, por exemplo, a missão na qual deseja participar.
6. Inclusive, caso você já tenha escrito antes, por favor, faça-o novamen-te. A experiência tem demonstrado que Missionários que não estão disponíveis em um determinado momento podem estar disponíveis mais tarde.
7. Se você não se sente capaz de ir para as missões, ou não está disponí-vel, aceita-se com gratidão sua contribuição financeira como sinal de seu zelo pelo trabalho missionário da Congregação. Todos os anos, muitas Províncias que necessitam buscam ajuda e solicitam um micro-crédito de 5 mil dólares ou menos do Fundo Vicentino de Solidarieda-de. Estas contribuições são rapidamente concedidas pelo FVS com um mínimo de documentação. O FSV informa sobre os magníficos resulta-dos destas contribuições em seu boletim trimestral (acesse: www.famvin.org/vso). As doações ao Fundo de Solidariedade Vicenti-na são a única fonte para as concessões de microcréditos.
186
ADVENTO 2013
“ …e uma criança os conduzirá” (Is 11,6)
A todos os membros da Família Vicentina,
Que a graça e a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo preencham os
vossos corações agora e para sempre!
Este ano de 2013 foi um ano marcante. Celebramos o “Ano da Fé”
que coincidiu com o aniversário dos 50 anos do início do Concílio Vaticano
II e também foi o ano dos “dois papas” que nos possibilitou testemunhar
acontecimentos inusitados, jamais vistos nos últimos dois séculos: a re-
núncia do Papa emérito, Bento XVI, e a eleição de um Papa não europeu,
o Papa Francisco.
No entanto, para mim, um dos acontecimentos mais importantes de
2013, que me comoveu profundamente, foi a minha participação na cele-
bração de beatificação dos 42 membros da Família Vicentina em Tarrago-
na, Espanha. Esses Lazaristas, essas Filhas da Caridade e a jovem leiga, to-
dos deram suas vidas pela fé católica. Assim como para os mártires vicen-
tinos das gerações precedentes, estes membros espanhóis da Família Vi-
centina morreram como viveram: anunciando Jesus Cristo, no serviço dos
pobres. É um grande testemunho para meditar neste “Ano da Fé”.
187
Próximo do fim do ano civil, o Advento é um tempo de esperança e
renovação. Chega quando as estações mudam, quando, no início do in-
verno, diminuem os dias e o calor. Mas o Advento é o fogo ardente que
alimenta a morada da alma para uma realidade mais profunda: Deus está
agindo em nosso mundo, qualquer que seja o momento ou a estação. En-
contramos em Jesus Cristo a razão da nossa esperança e o caminho de
renovação.
Temos grande necessidade de esperança e renovação no mundo a-
tual. Quando vivemos o carisma vicentino, as realidades da guerra, da vio-
lência, da pobreza, da fome e da injustiça nos atormentam. Porém, estas
realidades não são “problemas para serem resolvidos”, trata-se de uma
porta de entrada para a solidariedade com a família humana. O Advento
desperta e renova nossos corações na esperança com o Cristo, nosso Ca-
minho, Verdade e Vida.
O acontecimento: a Encarnação
Os textos bíblicos do tempo do Advento expressam o desejo do anti-
go Israel, não somente de uma aliança, mas de uma relação: um contato
humano para preencher o espaço entre o céu e a terra. Isaías previu o
que os cristãos agora já sabem, e que os enche de alegria: “Uma virgem
conceberá e dará a luz um filho e o chamará Emanuel, que significa: Deus-
conosco” (Is 7,14). Antes que possamos acolher o ‘Deus-conosco’, deve-
mos nos preparar para receber este dom maravilhoso. É assim que o
tempo do Advento – seus hinos, suas leituras, sua liturgia – ajuda-nos a
preparar-nos para celebrar a Encarnação.
As leituras do Advento, que procedem principalmente do profeta Isa-ías e do evangelho de Mateus, oferecem-nos um rico mosaico bíblico dos desejos de Deus para a família humana. Isaías utiliza imagens significati-vas: subir ao “monte do Senhor” (2,1-3); “a região da sede se transforma-rá em fontes” (35,7); e um “reino de paz”, onde “o lobo e o cordeiro vive-rão juntos… o bezerro e o leão comerão juntos, e até mesmo uma criança poderá tangê-los” (11,6-8). As imagens de Isaías simbolizam o poder cria-dor de Deus em favor do bem, seu desejo de trazer-nos a cura e a espe-rança.
188
Mateus apresenta também belas imagens para o Advento, tais como
a exortação de Jesus: “Portanto, ficai atentos!... Porque na hora em que
menos pensais, o Filho do Homem virá” (24,42.44); o grito de João Batista:
“Produzi frutos que provem a vossa conversão” (3,8); e a obra de Jesus
que torna presente o Reino de Deus: “os cegos recuperam a vista, os pa-
ralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem… e os pobres
são evangelizados” (11,5). Nestas narrativas da salvação, nosso Salvador
se torna um de nós para realizar a obra de Deus e salvar a humanidade.
Neste Advento, tomemos a resolução de deixar as Escrituras estimular
nossa imaginação e aprofundar nossa identidade com o Senhor Jesus.
O resultado: uma transformação
Não basta “gostar” dos sinais exteriores do Advento e apreciar a
“glória do relato de Natal”. Como todos os momentos da vida e da liturgia
da Igreja, o Advento é um tempo de formação para uma transformação.
Ele nos desafia a imitar o Cristo que “sendo rico, se fez pobre por vós, a
fim de vos enriquecer de sua pobreza” (2Cor 8,9). A pobreza que Jesus as-
sumiu por nós e a riqueza que ele nos confere vieram através de sua En-
carnação, literalmente, quando Ele “se fez carne” em nossa condição hu-
mana. Como o Cristo “se encarna” em nossa vida?
A total entrega de Jesus por nós serve de referência para o nosso ser
de discípulos na vivência do carisma vicentino. A mensagem de transfor-
mação do Advento reside no fato de que a vinda e o nascimento de nosso
Salvador são a afirmação suprema do valor da humanidade e da dignida-
de de toda pessoa. Como discípulos de Cristo, devemos colocar de lado
nossas buscas pessoais de posição, segurança, conforto e tornar-nos co-
laboradores de Cristo, deixando as necessidades do “outro” se tornarem
nossas próprias preocupações.
O dom de si no amor de Deus e no serviço ao próximo é o mais belo
presente que poderiamos oferecer no Natal, ou em qualquer outro mo-
mento do ano. Entregarmo-nos para o bem dos outros, sobretudo para os
nossos “senhores e mestres”, os pobres de Deus, une-nos novamente a
Jesus e à família humana que Ele resgatou. O Advento é um tempo de
transformação para uma maneira de amar que se manifesta na solidarie-
dade com os outros.
189
A solidariedade com os outros nos faz um com o Cristo que “não veio
para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em redenção por mui-
tos” (Mc 10,45). Num mundo onde há tanto sofrimento, onde o medo se
instala e onde os pobres são abandonados, maltratados e explorados, a
“Boa Nova” pode parecer uma promessa vazia. Mas, na solidariedade em
nome de Jesus, confessamos o amor de Deus por todos, colocando nossas
vidas a serviço do Evangelho. Como nossos santos fundadores, Vicente e
Luísa, tornemo-nos “embaixadores em nome de Cristo, e é por meio de
nós que o próprio Cristo vos exorta” (2 Co 5,20).
A resposta: viver as virtudes vicentinas
Um dia, recebi um cartaz, que é meu preferido, representando o
quintal de uma pequena casa de campo. No centro, estava uma mulher
que estendia, fora da casa, a roupa para secar, uma típica cena familiar no
mundo inteiro. Neste cartaz, havia uma simples mensagem: “o amor é um
duro labor”. Como isso é verdade! Às vezes, o “duro trabalho” de ser dis-
cípulo pode ser sentido como esmagador ou até mesmo impossível. É as-
sim que começa a transformação: deixando a pessoa de Jesus e o itinerá-
rio de São Vicente modelarem nossa vida para sermos testemunhas das
virtudes do Evangelho.
São Vicente destacou as virtudes da simplicidade e da humildade pa-
ra seguir o Cristo e servir em solidariedade com os pobres. Séculos mais
tarde, elas ainda são atuais! Pela simplicidade, falamos franca e honesta-
mente para dizer o que pensamos e pensar o que dizemos. A humildade
nos mantém enraizados no amor de Deus, e não permite que nossos pre-
conceitos pessoais nos impeçam de servir Jesus. Estas virtudes constitu-
em o plano de trabalho espiritual de Vicente: elas o ajudaram a se orien-
tar no terreno de sua vida interior e a responder generosamente às exi-
gências do apostolado. Ele dizia: “Nosso Senhor habita e somente se com-
praz na humildade do coração e na simplicidade das palavras e das ações”
(SV XII, 222-223. Conf. n. 204, de 2 de maio de 1659).
Neste Advento, dediquemos tempo para examinar o grau de simpli-
cidade e humildade em nossa própria vida. Muitas vezes, em contradição
190
com “as maneiras do mundo”, estas virtudes foram essenciais para Jesus
e São Vicente. Em minhas viagens, fico sempre edificado nos meus encon-
tros com os membros da Família Vicentina que vivem as virtudes da sim-
plicidade e a humildade, em palavras e em atos. Nosso Santo Padre, o Pa-
pa Francisco, inspira o mundo com seu maravilhoso testemunho de sim-
plicidade e humildade. Meditemos suas palavras abaixo:
“Saiba que alguém o ama, que o chama pelo nome, que o escolheu. A úni-
ca coisa que Ele lhe pede é deixar-se amar”.
Este é o sentimento que melhor convém no momento que começa-
mos nossa caminhada do Advento. Que Deus os abençoe!
Seu irmão em São Vicente,
G. Gregory Gay, C.M.
Superior Geral
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Palavra do Visitador
Agradecimento do começo ao fim
“Tudo concorre para o bem dos que amam a Deus...” (Rm 8,28).
Faz três anos que iniciei minha experiência no ofício de Visitador. No
início, tive medo. Não me sentia preparado. Um adágio espiritual diz que
“Deus não chama os capacitados, mas capacita os chamados”. Seja como
for, dei asas à esperança com coragem e fé. Uma esperança ativa, de
olhos abertos e mãos operosas. Neste espírito, procurei viver os três anos
de meu ofício. Não fiz grandes coisas, mas procurei, com a ajuda divina,
dar um sentido grande a coisas pequenas. Foi tempo de aprendizado e de
muitas experiências fecundas. Contei sempre com a ajuda dos Coirmãos.
Tive preocupações e canseiras, mas desânimo nunca. Procurei seguir mi-
nha consciência para nela captar a vontade de Deus. Contei sempre com
irrestrito apoio do Conselho e dos Coirmãos da Província.
Agora, ao passar para o meu sucessor o encargo que desempenhei
durante três anos, sinto que não consegui fazer tudo o que precisava.
Contudo, esforcei-me sinceramente. Este momento que estou vivendo é,
portanto, de profundo agradecimento a todos e a cada um dos Coirmãos
que foram solidários comigo. Peço também perdão pelos descuidos,
omissões e intolerâncias. Minha intenção foi sempre fazer o melhor. Nem
sempre consegui. Se fiz algum bem, atribuo, particularmente, a Deus.
Portanto, a ele minha profunda ação de graças.
192
“Quem agradece, pede duas vezes”, diz um adágio popular. No meu
caso, estou pedindo não só duas vezes, mas setenta vezes sete vezes, pe-
la nova Direção da PBCM. Continuarei pronto para servir. “Tornei-me pa-
dre (vicentino) porque descobri a alegria de servir”, foi este o pensamento
de meu “santinho” de ordenação sacerdotal, ocorrida há 37 anos. Conti-
nuarei me esforçando para viver este ideal.
A todos, o meu reconhecimento, respeito e sincero obrigado. Prome-
to continuar fazendo o possível para ajudar em tudo que estiver ao meu
alcance. Parabéns à nova Direção! Reafirmo-lhe o propósito de continuar
sempre colaborando. Não podemos abrir mão do permanente esforço de
“fidelidade criativa” ao carisma de nosso santo fundador. Contem comi-
go!
Pe. Geraldo Ferreira Barbosa, C. M.
193
Olhar Teológico
Papa Francisco: Um pecador perdoado
Maria Clara Bingemer Teóloga (Puc-Rio)
Quem leu a longa entrevis-ta concedida pelo Papa Francis-co, publicada, ao mesmo tempo, em várias revistas da Compa-nhia de Jesus, teve a graça de saborear as palavras de um ho-mem autêntico e apaixonado por sua missão.
Cada um e cada uma terá tido suas preferências ao longo da entrevista, terá gostado mais
deste ou daquele trecho, terá se sentido tocado por uma ou outra afirma-ção do Pontífice. Aqui, gostaria de comentar um trecho específico que me tocou muito de perto.
Perguntado por sua identidade e pela autoconcepção que tem de si próprio com a frase: “Quem é Jorge Mario Bergoglio?”, o Papa respon-deu: “Eu sou um pecador. Esta é a melhor definição. E não é um modo de dizer, uma figura de linguagem. Sou um pecador”. Não deixa de ser sur-preendente um homem a quem todos chamam de Sua Santidade ter a co-ragem e a humildade de definir-se pelo pecado que compartilha com todo o resto da humanidade.
E continuou na mesma linha: “Sou um pecador para quem o Senhor olhou. Sou alguém que é olhado pelo Senhor. A minha divisa, Miserando atque eligendo, senti-a sempre como muito verdadeira para mim”. Aí o Papa Francisco avança, com a simplicidade que lhe é característica, para o coração do que é a vida cristã. Ser um pecador que se sabe perdoado, que se sabe vivo pela misericórdia do Senhor, que é sempre maior do que o pecado que possa desviar-nos do bem que desejamos e conduzir-nos ao mal que não queremos.
Fala aí o Papa, certamente, porém, mais ainda, o jesuíta, formado na escola dos Exercícios de Santo Inácio. Pois é exatamente o que esta expe-
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riência espiritual provoca e estimula no exercitante: apalpar toda a exten-são do próprio pecado e sentir que este não lhe tira a vida, nem a capaci-dade de amar. Mas pela misericórdia de Deus, que o olha com compaixão e perdão, é chamado a ser servidor do Reino e da missão de Cristo.
Depois, com extrema candura, o Papa narrou sua vocação. O desejo estava ali, latente, no jovem argentino descendente de imigrantes italia-nos do Piemonte. Queria algo mais. Até que o Senhor o olhou nos olhos enquanto ele estava atrás de sua banca de impostos, agarrado ao dinhei-ro como Mateus, o publicano. Descreve com humor e vivacidade sua re-sistência. Agarrado ao dinheiro que dizia ser seu, repetia interiormente: “Não, não eu. Não posso deixar esse dinheiro que é meu”.
É claro que o dinheiro não precisa ser simplesmente o que denomi-namos vil metal. Pode ser mil coisas mais: prestígio, poder, arrogância, soberba. Mas sempre, sempre, será um apego que trava nossa caminhada e a totalidade de nossa entrega ao Senhor e ao serviço do Reino. Francis-co sentiu essa resistência, fruto do seu pecado. E sentiu mais ainda a for-ça da misericórdia do Senhor, que o olhou e venceu seu medo e apego. E assim começou sua vida na Companhia de Jesus, que o levou por muitos caminhos até o Vaticano.
É fantástico, porém, perceber que o mesmo foi sentido por Francisco ao ser eleito Papa e perguntado se aceitava a eleição. Respondeu: “Sou pecador, mas confiante na misericórdia e na paciência infinitas de Nosso Senhor Jesus Cristo, confundido e em espírito de penitência, aceito”.
Agora, não havia mais a resistência primária dos tempos da juventu-de. A entrega da vida já fora feita. Mas como se trata de uma entrega que nunca termina de ser feita, Francisco teve que responder mais uma vez ao Senhor, entre surpreendido e algo temeroso. Aceitava porque sabia que a misericórdia divina é maior do que o pecado que constitui nossa mais profunda identidade.
E, por isso, somos pecadores, mas pecadores perdoados. Não peca-dores condenados, pecadores torturados por uma culpa interminável que nos angustia e envenena. Pecadores que sentem paz e alegria ao ver que o Senhor supera nosso pecado com uma superabundante misericórdia.
Aos que se perguntam qual o segredo da perene e serena alegria do papa Francisco, que seduz e encanta jovens e anciãos, crianças e adultos, aí está: a consciência realística de ser pecador, mas um pecador perdoa-do, que experimentou a força da misericórdia do Senhor que o olhou com amor e o chamou a seu serviço. Assim, não há lugar para medo, mas ape-nas para uma entrega sempre maior e mais plena.
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Vida da Congregação
A Reconfiguração, a partir da experiência espiritual-missionária de São Vicente (II)
Pe. Eli Chaves dos Santos, C. M.
Assistente Geral
III – As cinco virtudes vicentinas, espírito e ferramenta para a Reconfiguração
Para São Vicente, “Cristo é o modelo ver-dadeiro e o grande quadro invisível com o qual devemos confrontar todas as nossas ações”. Nele, encontramos as cinco virtudes que são como “as faculdades da alma da Congregação e que devem animar todas as nossas ações”. As cinco virtudes traduzem o espírito e a me-todologia da missão. São virtudes pessoais e
comunitárias, caminhos de santificação e atitudes práticas para a vida apostólica. São instrumentos indispensáveis para buscar caminhos de re-configuração da Congregação e das Províncias.
As cinco virtudes nos mantêm com os olhos fixos em Cristo evangeli-zador dos pobres e ajudam a nos situar, juntos com os pobres, dentro da realidade histórica. Elas iluminam na busca de entender as interpelações históricas dos pobres e dar uma resposta nova e significativa de serviço missionário vicentino. Assim, as virtudes vicentinas nos orientam para re-ver nosso caminhar, encontrar novas formas de compromisso, discernir e projetar novos modos de viver a missão vicentina. Elas são nossas “cinco pedras” nesta difícil busca de reconfiguração, dentro do atual cenário so-cial e eclesial, cheio de problemas e desafios, cheio de novos valores e possibilidades.
Estudos atuais, como os do Pe. Maloney, ajudaram a compreender o valor e a atualidade das cinco virtudes. Penso que podemos aplicar e am-
196
pliar algumas destas ideias para animar e iluminar a atual busca de Recon-figuração:
1. Simplicidade1 é dizer, buscar, viver e testemunhar a verdade. Na busca da verdade, a simplicidade nos leva ao coração do mistério de Cris-to, que se revelou como a Verdade que nos liberta e salva, a verdade que nos dá o Espírito, e que deve ser nosso modo de viver e a meta de nosso trabalho.
A simplicidade nos convida, pessoal e comunitariamente, a configu-rar um estilo de vida reta, transparente, autêntica, com pureza de inten-ção. Fundamental para a vivência dos votos, da vida comunitária e da missão, ela nos dispõe, nos abre e nos compromete na busca de compre-ensão profunda e evangélica da realidade atual dos pobres, da Igreja e da Congregação, em vista de novos e adequados caminhos de reconfigura-ção de vida e missão vicentina. A simplicidade nos mostra ser necessário dar especial atenção à leitura dos sinais dos tempos. É necessário abrir bem os olhos para ver o que está acontecendo e o que o Espírito nos fala para orientar a atuação da Congregação e de nossas Províncias, neste atual momento de nossa realidade concreta.
Para discernir a verdade e buscar sempre a vontade de Deus, a sim-plicidade nos abre à escuta e ao diálogo com a realidade, com os pobres, com a Igreja, com a Congregação, com as Províncias. No processo de Re-configuração, a simplicidade exige uma análise da realidade e um discer-nimento sincero dos valores e carências existentes na Congregação e nas Províncias. A partir desta análise e discernimento, ela nos convida à au-tenticidade no assumir o essencial e no estabelecer as mudanças e cami-nhos necessários e coerentes para a revitalização da vida e da missão. A simplicidade mostra que a vida é dinâmica, que a estabilidade e a verdade não se garantem com a inflexibilidade, mas no abrir-se ao novo, no aco-lher o diferente, no escutar novas vozes e no trilhar caminhos novos.
2. Na busca da verdade, a simplicidade tem como companheira inse-parável a humildade2. A partir de Cristo que se fez pobre e humilde para enriquecer-nos com sua pobreza, a humildade consiste em despojar-nos
1“A simplicidade cria retidão de intenção e veracidade em nossos modos de falar e agir, e torna o Missionário transparente diante de Deus e dos pobres” (Instrução sobre os Votos na CM, p. 6). 2 “A humildade faz do Missionário um homem que depende de Deus, aberto à sua graça, próximo dos pobres e solidário com os humilhados e capaz de deixar-se evangelizar por eles” (Instrução sobre os Votos na CM, p. 6).
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de nós mesmos e encher-nos de Deus, para que Ele conduza nossas vidas. Criados e resgatados por Deus em Cristo, reconhecemos nossa condição de criaturas e nos colocamos a seu serviço, abertos a seus ensinamentos que nos vêm por meio dos pobres.
Em tempos de mudança de época e de busca de nova evangelização, a humildade3 nos liberta da arrogância, do orgulho e da prepotência, leva-nos a reconhecer nossos limites, a valorizar os outros e caminhar juntos na fé e na missão. A reconfiguração da Congregação e de nossas Provín-cias requer uma nova humildade. A reconfiguração é obra do Espírito, su-põe discernimento a partir da oração e da Palavra, requer docilidade ao Espírito e a humilde ousadia para refazer nossas ideais, práticas, organi-zações e métodos de viver e trabalhar. A humildade supõe nossos esfor-ços de reflexão, nossa capacidade de programar e trabalhar, mas nos ad-verte para não cairmos na tentação da arrogância, da autossuficiência, da imposição, do fechamento no próprio mundo e nos próprios interesses. A humildade nos ensina a precisar dos outros, a buscar a colaboração mú-tua e o aprendizado recíproco4. A humildade não nos deixa perder a con-fiança no futuro da missão e da Congregação, porque nos chama a por nossa força e segurança em Cristo e na sua promessa de estar sempre co-nosco.
A humildade é o caminho e a luz para alcançar a Reconfiguração: humildade para ler a realidade da Província, reconhecer suas falhas, limi-tes e possibilidades; humildade para pôr-se na escola dos pobres, dialogar com eles, aprender com eles e pensar novas propostas de ação missioná-ria a partir de sua realidade e necessidades; humildade para acolher a di-versidade de ideias, superar divisões e construir um projeto comunitário assumido por todos; humildade para reconhecer os valores das Provín-cias, buscar a ajuda e a colaboração mútua; humildade para experimentar a diversidade que faz a força, pois a Reconfiguração acontece na corres-
3 Muito significativas as palavras de D. Sócrates Villegas, Arcebispo de Lagayen-Lagupan (Filipinas), em sua intervenção no Sínodo sobre a Nova Evangelização: “A nova evangelização requer uma nova humildade. O Evangelho não pode prosperar no orgulho. Quando o orgulho entra no coração da Igreja, a proclamação do Evangelho é danificada. A tarefa da nova evangelização deve começar com um profundo sentido de respeito e de reverência pela humanidade e pela cultura. A evangelização foi ferida e continua encontrando obstáculos na arrogância de seus agentes. A hierarquia deve evitar a arrogância, a hipocrisia e o sectarismo. Devemos a Deus nossa beleza e santidade. Esta humildade nos fará novos evangelizadores com mais credibilidade. Nossa missão é propor humildemente e não impor com orgulho”. 4 Uma afirmação interessante de D. João Braz de Aviz, Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica: “É incrível que dois capitalistas inimigos possam colocar-se de acordo para fazer mais dinheiro e nós, os que temos o Deus Amor, tenhamos dificuldades para dialogar com o fim de adiantar o bem do Evangelho” (A Vida Religiosa nos tempos atuais. In: Convergência, Brasília, 458 (2013), 5-15, p. 14).
198
ponsabilidade, na coparticipação, na construção da unidade na diversida-de; humildade para buscar e discernir novos meios, espaços e formas de ação pastoral a ser realizada em conjunto pelas Províncias...
3. A mansidão5 aponta para Cristo que nos ama com um “amor vis-ceral”, com um amor materno cheio de ternura e bondade, compassivo, paciente. Convida-nos a controlar positivamente nossas atitudes e senti-mentos de ira e agressividade, e convertê-los em atitudes e sentimentos de compaixão, amabilidade e bondade.
Os novos valores e mudanças exigidos pela situação atual, a diversi-dade de mentalidades e propostas, os apelos dos pobres que nos vêm de modo imprevisto e em horas inconvenientes, o receio ao novo que a Re-configuração pode trazer, entre tantas outras situações, nos ameaçam, nos inquietam, nos estressam, e fazem a vida conflitiva, até mesmo agressiva e violenta. A mansidão se faz necessária para controlar a agres-sividade humana e transformá-la em força construtiva de calor humano, de amabilidade, de paciência, de cordialidade, de serenidade, de paz inte-rior.
Na busca de reconfiguração, a mansidão nos ensina a olhar o mundo, a CM, as Províncias, as comunidades, os desafios, com o olhar de Cristo Evangelizador, sem ressentimentos, condenação e fechamento. Ensina-nos a acolher serenamente os desafios, as diferenças e os problemas dos outros, a colocar os pobres e as pessoas em primeiro lugar e a criar rela-ções sinceras, cordiais, com calor humano e motivação evangélica. A mansidão nos convida a trabalhar as indiferenças, e mesmo possíveis res-sentimentos e antipatias entre pessoas, grupos e Províncias. Para comu-nicar ânimo novo à vida vicentina, a mansidão ajuda a cultivar a autoes-tima pessoal e comunitária, o amor à CM, à Província, à Comunidade, ajuda a desenvolver a fraternidade e a cordialidade para entender e escu-tar as pessoas e desenvolver o companheirismo, a parceria, a fecunda somatória de forças e o fraterno intercâmbio de dons e bens.
4. A mortificação6 é a capacidade de renunciar e de disciplinar-se pa-ra conseguir o bem maior. É a capacidade de renúncia e entrega total a Deus em seu amor. É conversão, é a virtude que nos faz fortes para cami-
5 “A mansidão cria no Missionário a paz interior; faz com que ele seja cordial e paciente com os demais, especialmente com os pobres” (Instrução sobre os Votos na CM, p. 6). 6A mortificação une o missionário com Cristo sofredor, liberta-o da busca de si mesmo e o torna disponível para os pobres, a pesar das dificuldades e dos obstáculos da missão (Instrução sobre os Votos na CM, p. 6).
199
nhar com Cristo, abertos para acolher sua vontade e fiéis para viver sua proposta mesmo na dor e na morte.
No mundo atual que fragmenta as pessoas, que propõe uma satisfa-ção imediata no aqui e agora, que fragiliza as pessoas no assumir valores com compromisso por toda a vida, a mortificação se faz necessária. Ela torna a natureza humana mais aberta, disponível, forte e acolhedora, pa-ra que a graça divina atue, converta-nos e transforme-nos no amor com-passivo de Cristo pelos pobres. Sem um verdadeiro espírito de mortifica-ção, é difícil promover e encarnar nossos grandes ideais e fazer as mu-danças necessárias, que muitas vezes supõem a renúncia, o sofrimento e a cruz.
A mortificação ajuda a manter a fé, o ânimo, a força e o desapego para responder aos grandes desafios que Deus nos apresenta na realida-de atual. A mortificação alimenta a conversão pessoal e comunitária, ori-enta as opções, purifica as motivações e fortalece a perseverança nas difi-culdades, nas decisões e desafios em direção à Reconfiguração.
5. O zelo7 é a paixão por Cristo nos pobres traduzida em firme com-promisso de trabalhar com amor e disponibilidade, com perseverança e fidelidade no anúncio e construção do Reino. Ele nos empenha, como dis-cípulos missionários de Cristo, a ir lá onde estão presentes os apelos de Cristo nos pobres; é a caridade missionária, compassiva, misericordiosa e ativa. O zelo é “a caridade em nossos corações, que não descansa jamais, é um fogo que consome sem cessar”.
O zelo é fundamental para a Reconfiguração, sintetiza e compreende a vivência das quatro virtudes anteriores. Ele sintoniza nosso coração e nossa ação com a paixão pela causa de Cristo. Leva à busca de compreen-são dos processos históricos de mudança e ao trabalho intenso de buscar novos espaços, formas e expressões para anunciar, incansável e eficaz-mente, a Boa Nova. O zelo enche o Missionário de ardor, força e humil-dade para reinventar a missão diante dos desafios de nossos dias. Sem temer as dificuldades, sem cair na acomodação e sem perder a parciali-dade com os pobres, o zelo incentiva a identidade criativa, desenvolve novos horizontes e uma viva espiritualidade missionária.
7“O zelo suscita a energia para promover o reinado de Deus; desperta um entusiasmo afetivo e efetivo pela evangelização dos pobres” (Instrução sobre os Votos na CM, p. 6).
200
O zelo nos leva a ampliar sempre as fronteiras da missão, em con-formidade com os apelos da Igreja e da Congregação. Na América Latina e Caribe, os bispos propõem a Missão Continental. O Sínodo sobre a Nova Evangelização, na proposta n.50, pede às Ordens e Congregações que se empenhem em alcançar as fronteiras geográficas, sociais e culturais da Nova Evangelização. Convida os consagrados para que se arrisquem nos novos areópagos da missão. Neste sentido, continua válida a afirmação já bastante conhecida por todos nós: A Vida Consagrada deve estar na peri-feria, na fronteira e no deserto”. O zelo nos situa na vanguarda da missão com os pobres: na periferia, na fronteira e no deserto.
No processo de Reconfiguração, o zelo dá um sentido novo e revitali-zado ao voto de estabilidade, dilata a consciência de pertença à Congre-gação, amplia os horizontes missionários para além das fronteiras geográ-ficas, culturais e provinciais. O zelo é força de renovação da Igreja, da Congregação e das Províncias. Leva a rever as obras, a assumir novos compromissos, chama à disponibilidade para acolher os novos apelos, a viver em condições verdadeiramente pobres, não deixa o ideal missioná-rio se tornar estagnado, envelhecido e acomodado, rejuvenesce as forças, a fé e a missão.
............................................................
A partir desta reflexão, concluo com algumas interrogações para pro-vocar nosso estudo e debate sobre a Reconfiguração da CM e, em particu-lar, das nossas Províncias no Brasil:
a) Que apelos de Deus referentes aos pobres identificamos em nossa atu-al realidade brasileira para nós membros da Congregação da Missão?
b) Analisando concretamente nossas Províncias, com suas conquistas e possibilidades, problemas e limites, sentimos, de fato, a necessidade de reconfiguração ‘intra’ e/ou ‘interprovincial’ em nossa ação vicentina no Brasil para bem responder aos apelos missionários dos pobres?
c) Com base nas palavras de João Paulo II, “os consagrados não têm ape-nas uma história gloriosa para recordar e contar, mas uma grande his-tória para construir” (VC 110), que história a experiência espiritual de São Vicente nos chama a construir, hoje, como Congregação da Missão no Brasil?
201
d) Se sentimos necessidade de uma reconfiguração entre nós, que atitu-des, decisões e passos concretos a experiência de São Vicente nos con-vida a assumir, projetar e encaminhar para uma efetiva revitalização da missão da Congregação no Brasil?
Em vista da Fidelidade Criativa para a missão, assumir e desenvolver a Reconfiguração!
O Superior Geral tem insistido sobre a necessidade da Reconfigu-
ração. Em sua carta de 25 de janeiro de 2012, dirigida a todos os
Coirmãos, apresenta o Plano Estratégico desenvolvido a partir
das ‘Linhas de Ação’ da Assembleia Geral (2012-2016), com as
seguintes estratégias para desenvolver especificamente a Recon-
figuração na CM:
a) “Explorar localmente, nas Províncias e nas Conferências de
Visitadores, a Reconfiguração, tanto em sentido ‘intra’ co-
mo ‘interprovincial’, e sua importância para o futuro da
Congregação;
b) Cultivar um sentido de pertença à Congregação vital e con-
creto que vá mais além das Comunidades locais e provinci-
ais;
c) Criar espaços de colaboração interprovincial em âmbito
administrativo e compartilhar os recursos humanos e finan-
ceiros;
d) Alimentar a disponibilidade pessoal e a mobilidade para
participar em novos projetos missionários;
e) Rever nossos ministérios e as estruturas de nossa vida co-
munitária para realçar a dimensão missionária; ir aos mais
distantes (ad gentes) e aproximar-se dos mais afastados”.
202
Herança Vicentina I
Providência de Deus e espiritualidade vicentina
Pe. Getúlio Mota Grossi, C. M.
As Constituições da Congregação da Mis-são, promulgadas em 1984, definiram, no arti-go 8, com felicidade, acertada e inspiradamen-te, o espírito da Companhia como contendo “aquelas íntimas disposições de alma de Cristo que o Fundador desde o início já recomendava aos Coirmãos: amor e reverência para com o Pai, caridade efetiva e compassiva para com os pobres e docilidade para com a divina Provi-dência”.
É, realmente, a partir do cristocentrismo vicentino que entendemos
sua “devoção especial em seguir a Providência” (SV II, 488) “em toda as coisas e jamais ultrapassar-lhe os passos” (SV III, 194)8.
Neste pequeno artigo sobre o tema acima enunciado, vamos refletir sobre três pontos que nos ajudarão a aprofundar-lhe o sentido:
I – O cristocentrismo vicentino II – A fidelidade inabalável à Providência, a exemplo de Cristo, na vi-
da de São Vicente III – O sentido autêntico desta fidelidade e o recado que transmite para nós hoje a docilidade à Providência, segundo o legado do Santo.
I – O CRISTOCENTRISMO VICENTINO
Para entender a originalidade do cristocentrismo de São Vicente, precisamos situá-lo em referência ao cristocentrismo do Cardeal de Berul-le, expressão de primeira grandeza da espiritualidade moderna do século XVII, por muito tempo mentor espiritual de São Vicente9. 8 Cf. também I, 68; C. 559, II, 252; C. 720, II, 552. 9 Conferir para tal a obra volumosa de L. Cognet, em três tomos, com a colaboração do especialista em espiritualidade, L. Bouyer: Historie de la Spiritualité Chrétienne, tomo III, cap. X, 3.
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1. O Cristo ou o Jesus, Verbo Encarnado, de Berulle
Sem dúvida alguma, a devoção ao Verbo Encarnado, recomendada por São Vicente em nossas Regras Comuns, entregues à Companhia em 17 de maio de 1658 (RC X, 2 e 3), é herança espiritual de seu primeiro di-retor de alma. Dele, deriva o seu profundo “amor e reverência para com o Pai”, próprios do espírito da Congregação, segundo nossas Constituições (CC. art. 8). L. Cognet expõe, magistral e longamente, a espiritualidade berulliana, acentuando, no final, o caminho próprio seguido por São Vi-cente, decorrente de seu carisma, na contemplação das “investigáveis ri-quezas de Cristo” (Ef 3,8), a partir da contemplação berulliana do Verbo Encarnado.
Por exigência do espaço exíguo à nossa disposição, damos aqui, ape-nas esquematicamente, o enfoque berulliano e o enfoque vicentino do Verbo Encarnado. O Jesus de Berulle é o Jesus, ou o Verbo Encarnado, voltado para o Pai, como o “adorador do Pai”, o “religioso do Pai”, o “liturgo do Pai”. Sem dúvida, um enfoque riquíssimo de inquestionável inspiração bíblica e evangélica, de raiz batismal, fonte de não menos rica espiritualidade do Verbo Encarnado. Dele, tira consequências de caráter prático para a vida cristã com a descrição dos “estados” do Verbo Encarnado que devemos reproduzir em nossa vida. Jesus Cristo, nesta perspectiva, é a Regra do Culto, Regra da Religião, Regra da Adoração.
Merece especial realce para nós o “estado” de “aderência” ao Pai, o que mais influenciou São Vicente, cuja espiritualidade, no fundo, é tam-bém uma espiritualidade de aderência ao Pai, na docilidade para com o Pai, em atitude ou “estado” (São Vicente emprega esse termo como ve-remos adiante) de estar sempre voltado para o Pai, a exemplo de Jesus. 2. O Verbo Encarnado, o Cristo, o Jesus de Vicente
Vicente de Paulo não nega, evidentemente, nem minimiza o Jesus de Berulle, voltado para o Pai, como “adorador”, “religioso”, “liturgo” do Pai. Conforme, porém, ao dom recebido de Deus, ao carisma próprio que o Espírito Santo lhe inspirou, deixa-se seduzir por Jesus voltado para o Pai, para cumprir a missão que o Pai lhe confia, missão de amor miseri-cordioso para com os homens (cf. Jo 3,16), de modo muito especial para
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com os pobres (cf. Lc 4,18). A missão de instalar no mundo o Reino de Deus era a paixão de Jesus e lhe valeu o martírio de Cruz. Vicente, a partir de sua origem pobre, de sua descoberta lenta, mas progressiva, de Jesus nos pobres, de sua generosa conversão aos pobres, na libertadora experi-ência de fé em Jesus nos pobres e dos pobres em Jesus, chega à contem-plação ativa do Senhor nos pobres, nos pobres do Senhor, paixão mística de sua vida, totalmente entregue à evangelização dos pobres, ao anuncio do Reino de Deus aos pequenos, ao seguimento de Jesus evangelizador dos pobres: “O Senhor me enviou para evangelizar os pobres” (Lc 4,18). “Os pobres são o meu peso e a minha dor”, palavras do Santo fazendo eco às palavras de Jesus, paixão do Santo à luz da paixão de Jesus, na leitura que fez de suas palavras e que deixou como herança aos seus filhos. O Je-sus de Vicente é, então, o Jesus voltado para o Pai, em inteira submissão à vontade do Pai, como missionário do Pai, missionário dos pobres, ins-pirado nas palavras do próprio Jesus: “O Senhor me enviou para anunciar o Evangelho aos pobres”. Para Vicente, Jesus é a Regra da Missão (SV XII, 130).
Aqui, insere-se um dos pilares centrais de sua espiritualidade cris-tocêntrica missionária, a docilidade para com a divina Providência, no seu amor missionário, efetivo e compassivo para com os pobres. É fre-qüente, em São Vicente, referir-se ao “estado dos missionários”, seus fi-lhos, e exaltá-lo como “estado” do Verbo Encarnado (SV XI, 1). Invoca o exemplo de Jesus, em total obediência, neste estado, à missão recebida do Pai.
II – A FIDELIDADE INABALÁVEL À PROVIDÊNCIA, A EXEMPLO DE CRISTO,
NA VIDA DE SÃO VICENTE
1. Inspiração em Jesus
A docilidade à Providência de Deus em São Vicente se inspira na fide-lidade de Jesus à missão recebida do Pai, em total obediência à vontade do Pai que o enviou, que São Paulo caracterizou na formula lapidar: “Hu-milhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2,8).
Os evangelhos e, em especial, o evangelho de João, estão impregna-dos de textos expressivos da atitude de Jesus em relação ao Pai, em ter-mos de docilidade absoluta à missão dele recebida. Assim, por exemplo:
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“O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4,34)10.
Ora, a imitação de Jesus ou, como dizemos hoje, com maior densida-de teológica, o seguimento do Senhor, é uma das constantes mais presen-tes na vida do Santo, que transparece em suas cartas e conferências, fru-to de sua contínua contemplação mística do Verbo Encarnado, voltado para o Pai, no cumprimento de sua missão.
2. Pilar sustentador
Outra escora de sua fidelidade à Providência é a total confiança na doutrina e na Palavra de Deus que nunca falha e a desconfiança nas má-ximas do mundo e nas próprias luzes (cf. RC II,1). Homem excepcional-mente dotado, de singular experiência nos negócios, de inteligência clari-vidente e extraordinário espírito de organização, desconfia, em sua hu-mildade, das próprias luzes e se entrega docilmente às luzes da Providên-cia de Deus, a cujos apelos e sinais permanece em inarredável atitude de espera submissa e inteira docilidade. É outra constante de suas cartas e conferencias. Na impossibilidade de percorrermos todos os textos singu-larmente eloquentes, referentes à sua atitude de docilidade à Providência e à sua prática de vida nessa linha, vamos ater-nos a algumas frases lapi-dares, situando-as, eventualmente, enquanto possível, no seu contexto, dentro da prática constante de sua conduta na vida.
A esse respeito, são particularmente preciosos e emblemáticos, co-mo veremos, seus conselhos, avisos e recomendações ao Padre Bernardo Codoing. Esse Missionário gozava de inteligência e dotes especiais. São Vicente o reconhecia e os valorizava. Haja vista os cargos e trabalhos a ele confiados. Mas sua precipitação, teimosia e certa megalomania obriga-vam o Santo a contínuas intervenções em seu procedimento e nos ense-jaram algumas das mais belas cartas de São Vicente, premido a moderar-lhe os ímpetos, os apegos às próprias luzes, as ambições e a pressa nos negócios.
3. Referências e frases lapidares
Numa de suas primeiras cartas a Santa Luísa, pelo ano de 1629, já encontramos esta espécie de leitmotiv de sua orientação espiritual e mís-tica de vida: “Meu Deus, minha filha, como há imensos tesouros ocultos na santa Providência e como honram de modo soberano a Nosso Senhor
10 Cf. também: Jo 5,30; 6,38; 6,39; Mt 6,10; 7,21; 12,50; Mc 3,35; Lc 22,42.
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os que a seguem, sem jamais ultrapassá-la! Sim, dir-me-eis, mas é por Deus que me aflijo. Não é mais por Deus que vos afligis, se entrais em afli-ção para servi-lo” (I, 78, C. 31 e 32).
Vejamos agora alguns textos de suas cartas ao Padre Bernardo Co-doing, acima citado. Escreve a esse padre, superior da Casa de Annecy, chamando-lhe a atenção sobre o perigo da precipitação e justificando a própria lentidão, censurada pelo Padre: “Ousaria dizer-vos sem corar de vergonha, senhor Padre? Não há remédio, preciso fazê-lo: repassando to-das as coisas principais acontecidas na Companhia, parece-me, e é fácil demonstrá-lo, que, se tivessem sido feitas antes do seu tempo, não teriam tido êxito. Digo-o de todas, sem excetuar uma sequer. Por causa disso, te-nho uma devoção particular em seguir passo a passo a adorável Provi-dência de Deus. E a única consolação que tenho é que me parece que foi unicamente Nosso Senhor que fez e faz incessantemente as coisas desta pequena Companhia. Em nome de Deus, senhor Padre, encerremo-nos neste espírito, na confiança de que Nosso Senhor fará o que quiser seja feito entre nós. É o que espero de sua bondade e da atenção que presta-reis à muito humilde e afeiçoada prece que vos faço pelo amor de Nosso Senhor...” (C. 559, II, 252). A carta é uma jóia literária, além de ser uma expressão da profunda espiritualidade do Santo e da norma mística de sua conduta. Em tudo, nos negócios da Congregação e nos de toda a sua vida.
Voltou várias vezes ao assunto em outras cartas ao Padre Bernardo: “A consolação que Nosso Senhor me concede está em pensar que, pela graça de Deus, procuramos sempre seguir e não antecipar a Providên-cia”; “Na verdade, senhor Padre, jamais percebi melhor a vaidade de um agir contrário, nem compreendi melhor o sentido dessas palavras: ‘Deus arranca a vinha que ele não plantou’” (C. 707, II, 532)11.
Há ainda outras preciosas referências, mas escolhemos, para fechar nossa reflexão sobre o assunto, a paradigmática carta dirigida ao Padre Renê Alméras, que estava às voltas, em Roma, com alguns negócios de in-teresse da Companhia, e da qual reproduzimos longo e expressivo trecho:
“Senhor Padre,
A graça de Nosso Senhor esteja sempre convosco!
Louvo a Deus por terdes chegado em perfeita saúde e lhe peço que vos dê seu espírito de direção, para conduzirdes a comunidade daí.
11 Poderíamos ainda conferir: C. 715, II, 544 (belo!); C. 718, II, 548 (belo!); C. 720, II, 552.
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Ó senhor Padre, como desejo que a vossa conduta fique longe das máxi-mas do mundo, num total abandono aos braços da Providência de Deus! Quando reflito, por vezes, na conduta da pequena Companhia, experimen-to uma consolação muito sensível porque me parece que todos se empe-nham, em sua pequena conduta, em seguir a mesma Providência, de modo a não se apoiarem nos meios humanos mais do que nos caniços; e vos posso dizer, senhor Padre, que neles não creio mais do que em nosso inimigo; e se a Companhia me der fé, jamais procederá de outro modo. Ó senhor Padre, que felicidade nada querer senão o que Deus quer, nada fazer senão em conformidade com o que a Providência nos apresenta, e nada possuir senão o que Deus nos deu por sua Providência! O espírito humano vos dirá que em Roma não é como em outras par-tes, que é preciso insinuar-se, marcar presença, ostentar autoridade, agir humanamente, com os humanos, e se servir com eles de meios humanos. Não lhe deis crédito, senhor Padre. Todas essas máximas dão em falso, em se tratando de uma Companhia que Nosso Senhor suscitou para ele mesmo, que ele anima com suas máximas e que pretende agir segundo o seu espírito. O que vos digo parece paradoxal; ficai certo de que a experi-ência vo-lo fará ver” (C. 946, III, 188).
III – O SENTIDO AUTENTICO DESTA FIDELIDADE E O RECADO QUE NOS TRANSMITE A DOCILIDADE À PROVIDÊNCIA, SEGUNDO O LEGADO
DO SANTO
Ao refletirmos sobre a atitude mística de Vicente de Paulo de absolu-ta submissão à Providência de Deus, corremos o risco de incidir em grave equívoco, o de interpretá-la em termos de inércia, quando, na verdade, paradoxalmente, somos desafiados a estimular e alargar nossos passos, se lhe aplicamos hermenêutica adequada, à luz de sua trajetória de vida e daquilo a que o levou sua docilidade à Providência.
1. Docilidade à Providência: estimulo à inércia, à passividade, à inação?
É o equívoco em que pode cair quem é tentado à preguiça, sobretu-do nas coisas espirituais, o que o antigo pequeno catecismo enumerava como o sétimo pecado capital.
A docilidade à Providência não leva à inércia, mas à prudência. Não inibe os passos, mas lhe tolhe a precipitação. Não convida à passividade e à inação, mas controla o ativismo. É, pois, um recado útil para os tempos de hoje, cujo ritmo quase surreal dos progressos tecnológicos e a acelera-ção da vida e dos acontecimentos pode impelir-nos a ações e decisões apressadas e inconsideradas, inclusive na ânsia de “levar vantagem em tudo” (a famosa lei de Gerson!).
208
2. Docilidade à Providência e convite paradoxal à generosidade dos pas-sos largos e decididos
Longe de nos impelir à inércia e à preguiça, a docilidade à Providên-cia nos chama e convoca a ler os sinais dos tempos, nos convida, parado-xalmente, em face deles, à generosidade e à aceleração dos passos no se-guimento de Jesus, na fidelidade aos apelos da Missão. Não dá, portanto, margem para acobertar nossa pusilanimidade, justificar nossos medos contrários à confiança na Providência.
A vida do Santo o prova com inequívoca transparência. A exemplo de São Paulo, o mais ativo dos Apóstolos e o mais contemplativo dos Santos, soube com admirável clarividência discernir os sinais dos tempos e agir com não menos admirável criatividade e coragem: um pioneiro em seu tempo. Basta ver as obras que fundou e o seu caráter inventivo de sadia e avançada novidade.
Se não devemos “ultrapassar os passos da Providência”, por outro
lado, seus apelos nos incitam a alargar os nossos, como insinua Jesus com suas palavras: “Eu vim para lançar fogo sobre a terra: e como gostaria que já estivesse aceso! Devo ser batizado com um batismo, e como estou an-sioso até que isso se cumpra” (Lc 12,50).
Oxalá, captemos o recado do Santo, na fidelidade autêntica à Divina Providência, sobretudo nós, vicentinos: Os pobres aí estão, com seu “clamor surdo”, nos campos e nas desafiadoras periferias das cidades! Mais do que nunca, somos convocados para “descer da cruz os crucifica-dos da história”, os descartados, a massa sobrante, a variável que não conta na equação econômica do capitalismo concentrador e excludente.
Não é fácil seguir passo a passo a Providência que nos desafia e es-timula diante dos sinais dos tempos! Que passos deu São Vicente, em seu tempo, e nos incita a dar em nossos tempos. Nada, portanto, de hesita-ções e temores paralisantes. Nada de justificativas para a inércia e a pre-guiça. Mais do que nunca, somos enviados para o anúncio do Evangelho aos pobres e incitados a “torná-lo efetivo” para os “pequenos que pedem pão e não encontram quem lhos parta!” (Lm 4,4), o pão da palavra, o pão da Eucaristia e o pão que lhos negam as mesas fartas dos epulões deste mundo!
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Herança Vicentina II
Como Santa Elizabeth Ann Seton abre para nós a Porta da Fé
A força do exemplo de Santa Elizabeth, hoje
Na época da canonização de Madre Seton, em 1975, o Cardeal Terence Cooke resumiu assim o seu legado:
Em Elizabeth Ann Seton, temos uma santa para nossa época, uma mulher de fé para uma época de dúvida e incerteza, uma mulher amorosa para uma época de frieza e divisão, uma mulher de es-perança para uma época de crise e desencoraja-mento. Bendito seja Deus por esta valente mulher de sua Igreja!
As verdades de fé de Santa Elizabeth
Aceitar e abraçar a vontade de Deus – “A Vontade”, como ela a cha-mava – foi fundamental em sua vida espiritual.
Tendo perdido sua mãe na infância, Elizabeth sentiu grande consolo na ideia de que a Virgem Santíssima era verdadeiramente sua mãe. Ela pediu a Santíssima Virgem para guiá-la à verdadeira fé.
A Eucaristia, as Escrituras e a oração eram os três pilares que fortale-ceram sua fé e alimentaram-na em sua missão de formação e educa-ção cristã.
Ela tinha uma devoção particular pela presença real de Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento.
O Ano da Fé e a vida de Santa Elizabeth
Frustrações e Perdas
Os primeiros anos de casamento de Elizabeth e seu marido, William, foram um breve momento de felicidade terrena, antes de muitas mortes e despedidas sofridas por ela. Quatro anos depois, o pai de William mor-
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reu, deixando o jovem casal encarregado dos sete meio irmãos de William e dos importantes negócios da família. Tudo isso enquanto Elizabeth es-tava com 6 meses de gravidez do terceiro de seus cinco filhos. Com o pas-sar do tempo, tanto os negócios quanto a saúde de William se deteriora-ram. Ele foi, finalmente, forçado a fazer o pedido de falência e acabou morrendo de tuberculose. Suas filhas Ana Maria e Rebeca morreram cedo também de tuberculose. Estes acontecimentos serviram para dirigir o co-ração de Elizabeth para mais perto de Deus e da eternidade. Frustrações, perdas e fracassos se tornaram passagens para a graça de Deus.
Catequista e professora na tradição de Vicente e Luísa
Elizabeth leu e refletiu sobre a maneira de ensinar e servir os pobres de Vicente de Paulo e Luísa de Marillac. Ela ensinou as crianças os artigos da fé e os deveres da vida cristã.
Fé em meio à adversidade
Quando os negócios de seu marido fracassaram, Elizabeth precisou provi-denciar meios para o bem-estar de suas crianças. Ela permaneceu cheia de fé e estava convencida de que Deus lhe mostraria o caminho de acor-do com o Plano Divino. Ela olhava seus cinco “amores” (filhos) como sua principal obrigação acima de qualquer outro compromisso. Ela compre-endeu bem a tempestade que sua conversão ao catolicismo suscitou en-tre seus parentes e amigos protestantes no momento em que ela mais precisava de ajuda. Na verdade, seus familiares teriam ajudado, ampla-mente, a ela e seus filhos, se essa barreira não tivesse sido levantada.
Conversão ao Catolicismo
Um acontecimento que deve ter definido a decisão de Elizabeth de se converter foi uma atitude tomada pela Igreja Anglicana. Em sua conven-ção geral, na Filadélfia, em 1789, o Livro Anglicano de Oração em Comum foi revisado. Entre as importantes revisões havia esta: o antigo Livro de Oração em Comum afirmava que na comunhão “o Corpo e o Sangue de Cristo... são, em verdade e de fato, tomados e recebidos pelos fiéis na Ceia do Senhor”. Após a revisão é dito que o Corpo e o Sangue de Cristo são “tomados e recebidos espiritualmente”. A fórmula antiga explicava a intensa devoção de Elizabeth pelo sacramento e sua ânsia em aceitar fir-memente a fé católica romana na Presença Real.
211
Nos últimos três anos de sua vida, Elizabeth sentiu que Deus estava pron-to para chamá-la e isto a alegrou. Madre Seton morreu em 1821, aos 46 anos, apenas 16 anos depois de ter se tornado católica.
A Igreja e Santa Elizabeth
“Sejam filhas da Igreja” A gloriosa herança de Elizabeth Ann Seton é, acima de tudo, uma herança eclesial de uma grande fé e puro amor a Deus e aos outros. Fé e amor alimentados pela Eucaristia e pela Palavra de Deus. Elizabeth disse, em seu leito de morte, a 2 de janeiro de 1821: “Sejam filhas da Igreja”.
Obediência a seus deveres e à Igreja Contra sua vontade e, apesar de também ter que cuidar de seus filhos, Seton foi eleita superiora de sua nova comunidade de Irmãs. Quando elei-ta superiora pela terceira vez, em 1819, ela disse que era a “eleição da morte”, mas viveu ainda por mais dois anos.
Adesão à verdade (da homilia do Papa Paulo VI na canonização de Santa Elizabeth) “Sabendo bem o quanto custou a Elizabeth passar para a Igreja Católica, admiramos sua coragem para aderir à verdade religiosa e à realidade di-vina que aí se manifestaram para ela. E estamos igualmente satisfeitos em ver que, nesta adesão à Igreja Católica, ela experimentou grande paz e segurança (...) e sempre se manteve fiel em sua estima e afeto por aque-les dos quais sua profissão católica tristemente a separou”.
Citações “Na Santa Comunhão, nossos corações se tornam os tabernáculos da Di-vindade. Devemos guardar, cuidadosamente, a urna que contém joia tão preciosa”.
“Tente preparar seu coração para receber Nosso Senhor. Passe um quarto de hora na capela, ofereça seu coração a Nosso Senhor e implore que o prepare. Você sabe que não pode fazê-lo por si mesma”.
“Ao longo do dia, enquanto trabalha ou reza, pense algumas vezes: ‘Oh, quão feliz eu sou! Jesus, meu querido Jesus, vem até mim. Oh, Senhor mui-to amado, prepare-me para vós’”.
Fonte: Site internacional da Família Vicentina- http://vinformation.famvin.org
Tradução: Irmã Carolina Mureb, FC
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Memória
Dom Annibale Bugnini, C.M.
Apresentamos, a seguir, uma magistral recensão das memórias autobio-
gráficas de um benemérito membro da Congregação da Missão, o bispo
italiano Annibale Bugnini (1912-1982), que se notabilizou pelos relevantes
serviços prestados à Igreja, sobretudo no que diz respeito à reforma litúr-
gica levada a termo pelo Concílio Vaticano II (para saber mais sobre Bug-
nini, cf. ISV, n. 285, maio-junho 2011). Agradecemos ao Pe. Ney Brasil Pe-
reira a concessão de seu texto.
BUGNINI, Annibale. “Liturgiae cultor et amator, servì la Chiesa”: Memorie auto-
biografiche. Roma: Centro Liturgico Vincenziano, 2012. 231 p.
Ney Brasil Pereira Florianópolis (SC)
Traduzo o título: “Estudioso e amante
da Liturgia, serviu a Igreja”. São palavras
que o próprio Bugnini, o grande artífice da
reforma litúrgica do Vaticano II, propôs co-
mo síntese de sua vida, para seu epitáfio.
Nascido em Todi, na Itália, em 1912, entrou
para a Congregação dos Lazaristas, na qual
foi ordenado presbítero em 1936. Sua pri-
meira e decisiva atividade no campo da liturgia foi, por quase 20 anos, a
direção da revista Ephemerides Liturgicae (1945-1963), seguindo-se logo
sua nomeação como Secretário da Comissão de Pio XII para a reforma da
Liturgia (1948). Sob João XXIII, foi nomeado Secretário da Comissão Pre-
paratória para o Concílio, do qual foi também nomeado perito para a Li-
turgia. Em 1964, sob Paulo VI, foi nomeado Secretário do “Consilium” pa-
ra a atuação da Sacrosanctum Concilium e, ainda, Secretário da Congre-
gação para o Culto Divino, em 1969. Ordenado arcebispo ainda por
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Paulo VI em 1972, foi repentinamente destituído em 1975 e nomeado
Núncio Apostólico no Iran (!), de 1976 a 1982, ano em que faleceu, em
Roma, aos 70 anos de idade.
Estas suas memórias autobiográficas vieram à luz 30 anos após sua
morte, ano passado, marcando o centenário do seu nascimento. Elas fa-
zem parte dos escritos por ele redigidos nos últimos sete anos de vida, is-
to é, depois de sua destituição em 1975. Entre esses escritos, encontra-se
a imponente obra La Riforma Liturgica (1948-1975), de 1.000 páginas,
publicada um ano após seu falecimento e reeditada em 1997, creio que
(ainda) não traduzida em português. Ainda em vida, publicou La Chiesa in
Iran, 1981, 471 p., e San Vincenzo de Paul. Pensieri, 1981, 218 p., prepa-
rado para o quarto centenário do nascimento do Santo.
O prefácio destas memórias se deve ao Lazarista Pe. Nicola Albanesi,
Visitador Provincial da Congregação em Roma, que assim o intitula: Padre
Annibale Bugnini: um Padre da Missão. E justifica esse título: “Se se quiser
compreender mais a fundo a ação do Pe. Bugnini, não se pode prescindir
de sua pertença à Congregação da Missão. Tudo o que fez na Igreja e pela
Igreja, ele o fez como ‘Padre da Missão’ [...]. Padre Bugnini pertence àque-
la geração, nascida antes da segunda guerra mundial, formada num cato-
licismo radicado no universo rural que representava mais de 80% da popu-
lação italiana, que fez do duro trabalho o seu modo de interpretar-se. Era
o tempo em que se era católico de nascença e se entrava no Seminário
muito cedo. Crescia-se na disciplina e com acentuado espírito de sacrifício
e sentido do dever. Além disso, nas ‘Escolas Apostólicas’ vicentinas (os
Seminários Menores da Congregação), herdava-se a paixão pela Missão.
São Vicente de Paulo recomendava aos seus Missionários que o essencial
era encontrar-se em ‘estado de missão’. Era isso que permitia ao Padre
Bugnini transformar todas as atividades, das mais humildes e insignifican-
te às mais nobres, em missão!” (p. 6).
Por isso, “trabalhar pela reforma litúrgica e defender suas conquistas
foi o seu ‘estar em missão’ nos anos da sua maturidade. Ele o fez com
aquele ardor e aquela incansável dedicação típicas do missionário. Assim,
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o entusiasmo contagioso, o são otimismo, a fidelidade ao trabalho cotidi-
ano ‘nos bastidores’, a coragem frente às dificuldades, a fortaleza nas
provações, a obstinação de quem caminha sem hesitação rumo à meta.
Ele começou, dedicando-se ao trabalho pastoral nas cercanias de Roma
como autêntico missionário. Trabalhou na Cúria romana como missioná-
rio. Interpretou o serviço diplomático no Iran como missionário” (p. 6-7).
“Seu nome foi associado a sabe lá quais sociedades secretas e conju-
rações palacianas. Foi feito passar, às vezes, como um despreparado (!),
outras vezes como um audacíssimo manipulador que teria inclusive força-
do a mão do papa Paulo VI”, acusações que, infelizmente, resultaram na
sua destituição, em 1975. Ele, porém, repetidamente reafirmou a hones-
tidade do seu trabalho, do seu serviço à Igreja. Assim, na carta de despe-
dida aos seus colaboradores, em janeiro de 1976: “Num grande momento
da história, procuramos servir a Igreja, não servir-nos dela”. Noutra carta,
de setembro de 1979: “Eu servi a Igreja, amei a Igreja, sofri pela Igreja...”.
Quanto às memórias, o prefaciador observa que elas por pouco escapa-
ram de serem queimadas com outros papéis, porque o autor as havia en-
tregue em confiança a seu secretário, no ponto em que estavam, incom-
pletas, em julho de 1977 (cf. p. 8).
A apresentação é do mencionado secretário, Pe. Gottardo Pasquale-
tti, que completa, com mais detalhes, as informações do prefaciador.
Primeiro, Pasqualetti detém-se na já citada grande obra de Bugnini, La ri-
forma liturgica, fartamente documentada (p. 12-16). Um episódio: “Na
audiência depois da saída do Cardeal Lercaro como Presidente do Consi-
lium, comentando as publicações maldosas contra Bugnini, assim disse-
lhe Paulo VI: ‘Agora, resta somente o senhor. Recomendo-lhe muita paci-
ência, muita prudência, e lhe confirmo toda a minha confiança’. E Bugnini:
‘Santo Padre, a reforma irá adiante, enquanto continuar a confiança de
Vossa Santidade. Apenas ela cesse, a reforma se deterá’. E foi o que acon-
teceu!” (p. 16).
Quanto às próprias Memórias, elas têm o objetivo de dar a conhecer
os componentes basilares da vida de Bugnini: o ambiente familiar e sócio-
215
religioso de suas origens, sua formação, a espiritualidade vicentina, os es-
tudos e atividades desenvolvidas, iluminando a sua obra para a Liturgia.
De tudo isso, emerge a sua personalidade e as características humanas e
espirituais que o distinguem e que estão em flagrante contraste com as
suspeitas e calúnias de que foi alvo. Ele desejou que estas Memórias fos-
sem publicadas como seu testamento (p. 18).
Explica Pasqualetti: “Mons. Bugnini deixou o manuscrito ainda sem
ordem na sucessão dos assuntos. O que vai publicado, porém, respeita fi-
elmente o que ele escreveu. Apenas pareceu oportuno dispor a apresenta-
ção dos eventos da sua vida em quatro partes, que formam os quatro ca-
pítulos: I. O percurso da vida desde o nascimento até as responsabilidades
que lhe foram confiadas na Congregação e para o ensino, a pastoral, a
promoção da liturgia, até a preparação do Concílio. II. Os tristes reveses
enfrentados na preparação do esquema sobre a Liturgia e na atuação da
reforma litúrgica, sem deter-se no seu detalhado percurso, já exposto na
obra La riforma litúrgica. III. O serviço diplomático no Iran, para o qual
‘não tinha vocação’, que lhe foi imposto e que ele aceitou por obediência.
IV. As raízes e situação da Igreja no Iran, conhecidas e aprofundadas com
estudos, encontros e visitas”. Além da Apresentação, também a Conclu-
são é de Pasqualetti, o qual, porém, assegura que tudo é fundamentado
nos escritos e cartas do próprio Bugnini.
As últimas quatro páginas da Apresentação têm por subtítulo: “O se-
gredo do sucesso” (p. 20-23). Pasqualetti começa ressaltando “a tenaci-
dade, a habilidade organizativa de Bugnini, a capacidade de mediar entre
instâncias e mentalidades diferentes [...]. Ele sublinhava sempre que a re-
novação da liturgia devia ser feita em conexão com as Igrejas locais, com
abertura aos seus problemas e às suas legítimas exigências. Por isso
mesmo, sofreu a adversidade de ambientes da Cúria romana. Mas não se
cansou de sustentar e propor este novo estilo de governo baseado no es-
tudo, no confronto com as realidades para saber discernir, avaliar, acolher
ou também recusar, mas sem preconceitos. A isso, associou a cordialidade
e a acolhida fraterna e sincera, testemunhada por muitos (no rodapé, le-
mos os nomes de alguns desses “muitos”: S. Marsili, B. Fischer, P. Jounel,
216
R. Kaczynski)” (p. 20). Por ocasião da sua ordenação episcopal, em 1972,
escreveu: “Minha natural mansidão de ânimo, gostaria que se tornasse
programa espiritual pastoral do meu serviço eclesial no episcopado” (p.
23).
O capítulo I, intitulado “Nascimento–Estudos–Atividades” (p. 25-66),
além das recordações de infância, informa-nos o nascimento de sua voca-
ção para a Liturgia. Durante o noviciado, em Roma, 1928-29, em seus
verdes 16-17 anos, foi encarregado de ajudar na expedição da revista
Ephemerides Liturgicae, fundada em 1887. Por esse tempo, conheceu o
Liber Sacramentorum, do beneditino Ildefonso Schuster, depois Cardeal.
À medida que saíam os volumes da obra, Bugnini os “devorava” e anotava
“com a ânsia do neófito”, escreve ele. E acrescenta: “Schuster foi o meu
primeiro mestre de Liturgia” (p. 36). Pouco depois, pôde aprofundar-se no
estudo das obras de São Vicente, então republicadas em edição crítica.
No final da Teologia, em 1939, defendeu uma tese sobre a Liturgia no
Concílio de Trento, fruto de três anos de contacto com as Atas daquele
Concílio. Confessa que não imaginava quanto esse trabalho o ajudaria vin-
te anos depois, quando foi nomeado Secretário da Comissão litúrgica
preparatória do Vaticano II.
Em 1945, terminada a guerra, assumiu a direção de Ephemerides Li-
turgicae, então com apenas 96 assinantes. As reformas, que começavam
a delinear-se com o lançamento da encíclica Mediator Dei, em 1947, e os
novos estudos publicados na revista, multiplicaram o número de assinan-
tes. Nessa revista, publicou vários dos seus trabalhos: A liturgia dos Sa-
cramentos no concílio de Trento (parte de sua tese de láurea), 1945; Para
uma reforma do Martirológio romano, 1947; A versão piana do Saltério,
1948; Para uma reforma litúrgica geral, 1949, trabalho traduzido inte-
gralmente em Bibel und Liturgie, de Kosterneuburg, e fruto de um questi-
onário respondido por 40 especialistas de todo o mundo; A solene Vigília
Pascal restaurada, 1951; A comunhão dos fiéis na sexta-feira santa, 1954.
Além da coleção já existente, Biblioteca Ephemerides Liturgicae, deu início
em 1945 a outra coleção de divulgação científica, a Ardens et Lucens. Ao
mesmo tempo, no nível de divulgação popular, criou fascículos que pouco
217
a pouco introduziram a forma das “Missas dialogadas”. Ele conta: “En-
quanto o celebrante ia adiante com seu texto latino, um leitor, geralmen-
te um dos jovens catequistas que vinham ajudar-me no domingo, fazia a
assembleia participar com paráfrases do texto em italiano. Percebi que a
fórmula era um achado, pois o povo acompanhava com prazer a Missa. A
assembleia ‘inerte e muda’ se tinha transformado em assembleia viva e
orante. Por que não estender a outros a boa experiência?” (p. 51). Em
1950, para o Ano Santo, tentou oficializar a experiência. Negada a oficiali-
zação, obteve pelo menos o nihil obstat e imprimiu por própria conta
10.000 exemplares do livrinho A nossa Missa, que, em doze anos, chegou
a 1.500.000 exemplares, foi traduzido e teve adaptações em várias lín-
guas.
Como Lazarista, aceitou, em 1947, a direção dos Annali della Missio-
ne, durante dez anos. Criou, em 1952, o Bolettino Vincenziano, mensal,
depois rebatizado como Vincentiana. Redigiu 39 verbetes de caráter vi-
centino para a “Enciclopedia Cattolica” e também todos os verbetes vi-
centinos do “Dizionario Enciclopedico” da UTET.
No campo do ensino, em 1949 assumiu a cátedra de Liturgia na fa-
culdade do Propaganda Fide e, em 1955, no Pontifício Instituto de Música
Sacra. Elaborou as apostilas de suas aulas no Propaganda, mas não as pu-
blicou quando viu chegar a obra de Martimort, L’Église en Prière. No “Mú-
sica Sacra”, escreveu as aulas que abordavam o tema “Música sacra e Li-
turgia”. Sobre essa atividade, escreve: “Ambiente querido, que começou a
perturbar-se quando a reforma litúrgica mostrou uma face nova, à qual os
musicistas tradicionais custavam a se adaptar. Pouco a pouco, essa rejei-
ção da reforma se acentuou. O ambiente ficou pesado, criticava-se o meu
ensinamento. Assim, demiti-me em 1965, embora conservando vínculos
de sincera amizade com o corpo dos professores e a instituição” (p. 57).
Em La riforma liturgica, escreveu: A música sacra “foi a cruz da Comissão
preparatória, desde o primeiro momento do nosso trabalho e, agora, co-
mo coroa, a minha cruz”, por causa das calúnias divulgadas pelo Presiden-
te do Instituto de MS (cf. nota 6, p. 57).
218
Em 1957, assumiu a cátedra de Liturgia no recém-criado Instituto
Pastoral da Universidade Lateranense. Eram 20 aulas de Liturgia Pastoral,
depois pouco a pouco reduzidas, por divergências internas, até sua exo-
neração em 1962, “por ordem da Santa Sé”, ordem, porém, sem conhe-
cimento de João XXIII (p. 59). Em 1956, após o 1º Congresso Internacional
de Pastoral Litúrgica em Assis, Bugnini sugeriu e organizou as “semanas
anuais de estudo” para professores de Liturgia, depois incorporadas ao
Centro di Azione Liturgica, nascido em Parma, 1948. Em 1958, foi eleito
vice-presidente da Associazione Italiana di Santa Cecilia, com a qual fun-
dou a Escola de Música Sacra para religiosas, ao perceber que elas, “mais
que o jovem clero”, se interessavam pela Música litúrgica (p. 62).
Quanto ao seu ministério como padre, assim escreve: “Os empenhos
de estudo, ensino e escritório, reduziram necessariamente os do ministério
sacerdotal. Reduziram, não eliminaram. Estive sempre convencido de que,
se um padre abandonasse totalmente o seu ministério, seria um padre fa-
lido” (p. 62). A propósito, recorda “o período mais fecundo” dessa ativida-
de, o decênio 1943-53, em diversos subúrbios de Roma: Borgata Prenes-
tina, Borgata di Tor Tre Teste, inclusive construindo igrejas e outras estru-
turas paroquiais (cf. p. 62-66).
O capítulo II é intitulado “Vida difícil”, que, como informa Pasqualet-
ti, era o título de uma pasta no centro de sua escrivaninha durante todo o
tempo do seu serviço para a renovação da Liturgia. Ali, recolhia contesta-
ções, oposições, obstáculos, insinuações, falsidades... Mas, como ele cos-
tumava dizer, “não faltaram anjos de Deus que vieram em ajuda. E assim,
mesmo passando por quatro ‘tribunais’ qualificados (Comissão central,
Subcomissão para as emendas, Concílio, Comissão conciliar), nada de
substancial foi mudado no texto da Constituição, como havia saído da
Comissão preparatória em 13 de janeiro de 1962” (p. 67). Mesmo depois
da aprovação da Sacrosanctum, continuaram as reações de associações e
movimentos em defesa do latim, do canto gregoriano e polifônico, das
precedentes formas litúrgicas, mesmo com manifestações descabidas... e
mais ainda a oposição de ambientes da Cúria, desde a Congregação dos
Ritos, que não suportava a existência de um organismo colateral como o
219
Consilium, até a Congregação para a Doutrina da Fé, as Congregações dos
Seminários e dos Religiosos, e mesmo a Secretaria de Estado [...]. Pe.
Bugnini, e também o Cardeal Lercaro, foram acusados, até veemente-
mente, de serem os culpados dos males que afligiam a Igreja... Mas, o que
mais magoou Bugnini foram “as calúnias e insinuações venenosas sobre a
sua honestidade e correção nas tarefas que lhe foram atribuídas, e a in-
fame invenção da sua pertença à Maçonaria, publicamente avalizada e
divulgada por Lefèbvre” (p. 69).
“Primeiro exílio” é o título da primeira parte do mencionado capítulo
II. Bugnini comenta aí os acontecimentos desde a sua destituição de Se-
cretário da Comissão litúrgica conciliar, em 6 de outubro de 1962 (poucos
dias antes do início do próprio Concílio!), com a sua concomitante demis-
são da cátedra de Liturgia Pastoral no Lateranense, até a sua reintegra-
ção, em 3 de janeiro de 1964, já sob Paulo VI, como Secretário do Consi-
lium ad exsequendam Constitutionem de Sacra Liturgia. Escreve Bugnini:
“O exílio havia durado 14 meses e 26 dias. Assim, no dia 3 de janeiro de
1964, teve início a reforma litúrgica. A história da reforma (e a minha) es-
tá relatada amplamente no volume La Riforma Liturgica” (p. 78). Não pos-
so, nesta recensão, deter-me sobre os interessantes detalhes desse “pri-
meiro exílio”, exposto em dez páginas (p. 69-78). A título de amostra:
“Qual foi mesmo o motivo desse procedimento discriminatório e odioso
para com o Secretário da Comissão preparatória do Concílio? De preciso,
nunca se soube e talvez nunca se saberá. ‘Santa Sé’, ‘Seminários’, ‘Ritos’,
‘Santo Ofício’, eram nomes que saltavam de boca em boca, de um corre-
dor a outro, em voz baixa, insinuantes, sugerindo algum delito que se
queira prudentemente esconder, para sacudir dos ombros uma responsa-
bilidade que já estava pesando. Mas, na dança das insinuações, duas re-
tornavam insistentemente: a acusação de que eu havia adulterado, com
um grupo de amigos ‘progressistas’, o texto da Constituição, e que eu
mesmo seria um perigoso progressista...” (p. 71).
No “Segundo exílio”, Bugnini relata os eventos desde a sua repenti-
na destituição da Secretaria do Consilium, em 14 de julho de 1975, até a
sua partida para o Iran, como Núncio Apostólico, no dia 3 de fevereiro de
220
1976. Especialmente no início desse período, angustiava-o pensar que o
Papa, Paulo VI, que por onze anos o tratara com ternura de pai, constan-
temente comentando com ele sobre os mínimos detalhes da reforma,
agora não lhe dissesse uma palavra... Entretanto, a imprensa e a opinião
pública deitaram e rolaram a seu respeito, inventando mil conjecturas so-
bre seu paradeiro. É que Bugnini resolvera isolar-se, mas sem perder
tempo, “mesmo se psiquicamente provado e fisicamente abatido” (p. 81).
Decidiu então escrever a história da Reforma litúrgica, recolhendo para
isso todos os documentos disponíveis. “Não teria pensado poder levar a
termo, em seis meses, naquelas condições ‘desastrosas’, um trabalho tão
ingente. Datilografei mais de mil páginas. O Senhor me ajudou: a memó-
ria, como por encanto, recuperava nomes, datas, episódios, ideias, fatos,
enredos. Nos inícios de dezembro (1975), a maior parte do trabalho tinha
terminado [...]. Em 5 de janeiro de 1976, foi publicada a minha nomeação
a Núncio Apostólico no Iran. Pareceu-me de obrigação, antes de deixar to-
talmente a cena romana, despedir-me de modo fraterno dos colaborado-
res no campo da reforma litúrgica, mandando-lhes uma carta de despedi-
da” (p. 82). Segue o texto da carta (p. 82-83).
Sobre o “Caso Lefèbvre”, Bugnini o expõe em onze páginas (p. 84-94). Quanto à “missa de São Pio V, embora o impetuoso Prelado (Lefèb-vre) tachasse de herética a Missa renovada e herético o Papa que a havia promulgado, pareceu-me desde o início que talvez se pudesse encontrar um ponto de entendimento e pacificação. E me parecia vê-lo na Notifica-ção de 14 de junho de 1971, que permite aos padres idosos ou doentes a permissão de continuar a celebrar a Missa segundo o velho rito. Se isso é permitido aos padres, eu dizia, por que não deve ser concedido também a grupos de fiéis que têm a mesma dificuldade psicológica com a liturgia re-novada?” (p. 85). Já no Iran, em 21 de setembro de 1976, escreveu ao Se-cretário de Estado, Villot, uma carta com o seguinte parágrafo: “No fundo, as diferenças entre as duas celebrações não são substanciais. Estou con-vencido de que é questão de tempo e, se se consegue não dar importância à coisa, dentro de alguns anos as novas gerações farão justiça por si. Peri-go de desordem não pode haver, se se aceitam as seguintes condições” (p. 89). Bugnini propõe quatro...
221
Em 7 de novembro de 1979, em longa carta ao Cardeal Oddi, ele se
permitiu esta confidência: “Eminência, depois de ter vivido plenamente
um ano de revolução islâmica no modo bárbaro que o mundo conhece, e
refletindo o meu caso, não posso furtar-me a uma óbvia comparação: não
fui tratado melhor do que faz Khomeini com os ex-ministros do Xá, os
quais, antes ainda que se inicie o processo, são condenados à morte sem
remissão. Com uma nuança de diferença: Khomeini dá a eles a possibili-
dade de uma aparência de processo, enquanto a mim ela não foi dada.
Khomeini fuzila os seus condenados, enquanto a minha é uma perfeita
morte moral” (p. 92-93). Da mesma carta, cito um parágrafo sobre a re-
forma litúrgica: “Quando ainda me era concedido aproximar-me do Papa
(Paulo VI), eu lhe dizia que, para concluir a reforma, eram necessários
mais dois anos (haviam transcorrido oito), mas que depois seriam precisos
outros dez para reforçá-la, aprofundá-la, segui-la nas fases de desenvol-
vimento e nas várias culturas...” (p. 93).
Quanto à gratuita acusação de pertença à Maçonaria, Bugnini a co-
menta e documenta com detalhes, nas pp. 94-109. Sobre ela, escreve:
“Foi a acusação que mais me amargurou a vida, e tornou incandescentes
de vergonha e dor os meses de verão e outono de 1975, no meu forçado
‘eremitério’ em São Silvestre no Quirinal” (p. 95) Sirva de exemplo o que
lhe veio dizer, num daqueles dias, de viva voz, o Cardeal Oddi: “que havia
visto a minha assinatura no documento de afiliação à Maçonaria” e que
“a Maçonaria me passava meio milhão de liras por mês” e que “com a re-
forma litúrgica eu teria tido o objetivo de subverter a Igreja por dentro...”
(p. 95) Já no Iran, em 19 de julho de 1976, escreveu diretamente a Paulo
VI, negando as acusações e terminando: “Não há no mundo nada que me
esteja mais a peito do que a cruz peitoral. Pois bem, se os caluniadores fo-
rem capazes, honesta e objetivamente (grifo de B.), de demonstrar um só
pingo de verdade no que estão desonestamente afirmando, estou pronto
a restituir essa cruz. Isto lhe diz, Santo Padre, quanto a coisa me faça so-
frer, lacerando minha alma em uma das fibras mais profundas e mais ca-
ras: a minha fidelidade ao sacerdócio, a Cristo, à Igreja, ao Papa” (p. 102).
222
Os capítulos III e IV tratam do seu ministério de Núncio no Iran (p.
111-164) e da presença cristã nesse país “ontem e hoje” (p. 165-187). Lei-
tura muito interessante, pelas informações que dá sobre o próprio Bugni-
ni, contribuindo para completar o conhecimento do personagem, e tam-
bém sobre esse país, de presença cristã tão exígua. Mas esta recensão já
vai extrapolando os limites. A Conclusão (p. 189-194), devida ao apresen-
tador, Pasqualetti, informa: “B. não pôde dar uma conclusão às suas
‘Memórias’. Mas a sucessão dos eventos da sua existência mostra que ela
foi sempre percorrida e guiada pela fé e pelo serviço [...]. A fé inspirou-lhe
os passos na realização da grande obra da renovação da Liturgia” (p.
189). “E o serviço, é a palavra que com maior frequência retorna nos seus
escritos” (p. 191). E é o que exprimem as palavras de seu epitáfio: “Estu-
dioso e amante da Liturgia, serviu à Igreja” (p. 13).
Completam o livro 13 páginas da sua bibliografia, na sequência cro-
nológica das publicações, e 20 páginas de documentação fotográfica. É
um livro que merece ser traduzido. Será lido com grande proveito, e con-
tribuirá para se entender o ambiente conflitivo no qual se gestou a re-
forma litúrgica, da qual todos somos beneficiários.
223
Vida da Província
Retiro Anual e Assembleia Provincial Eletiva
Entre os dias 22 e 24 de outubro, realizou-se o retiro anual da
Província, orientado pelo Frater Henrique Cristiano José Matos, CMM, no
Santuário do Caraça. O orientador discorreu sobre o estado atual da Vida
Consagrando, enfatizando a necessidade de revitalizar o tripé que a cons-
titui e vertebra: experiência de Deus, vida fraterna em comunidade e
missão apostólica. Ofereceu-nos ainda critérios para o discernimento pes-
soal e comunitário, em vista, sobretudo, da escolha da nova direção
provincial.
Terminado o retiro, no dia 25 de outubro de 2013, teve lugar a Assembleia Provincial, com a tríplice finalidade de avaliar a realidade da
224
Província, à luz do Planejamento Provincial 2011-2013; eleger a nova Di-reção; e tratar de assuntos de interesse geral.
Aprovado o Diretório da Assembleia, procedeu-se à apresentação do
relatório do Visitador. Pe. Geraldo Ferreira Barbosa enfatizou as ações re-
alizadas dentro do marco das prioridades estabelecidas no Planejamento
Provincial 2011-2013, exortando os Coirmãos a um renovado esforço de
fidelidade criativa ao carisma de São Vicente. Em seguida, Pe. Lauro Palú,
moderador da Assembleia, fez-se porta-voz dos sentimentos de toda a
Província para exprimir ao Padre Visitador o preito da mais viva gratidão
pela qualidade de sua presença fraterna, sobretudo nos diálogos e visitas;
por seu estilo de governo, caracterizado por sua atuação discreta, amiga e
respeitosa; por seu testemunho de fé, esperança e otimismo, manifesta-
do sobretudo em meio à provação da enfermidade; por sua entrega gene-
rosa, enfim, à missão que lhe foi confiada.
225
Depois dos devidos esclarecimentos, teve início o processo de
eleição da nova direção provincial, cujo resultado foi o seguinte:
Visitador: Pe. Manoel Bonfim da Conceição
Conselho Provincial
1º Conselheiro: Pe. Geraldo Eustáquio Mól Santos
2º Conselheiro: Pe. Alexandre Nahass Franco
3º Conselheiro: Pe. Luís Carlos do Vale Fundão
4º Conselheiro: Pe. Eduardo Raimundo dos Santos
1º Suplente: Pe. Maurício de Rezende Paulinelli
2º Suplente: Pe. Sebastião Carvalho Chaves
Conselho para Assuntos Econômicos e Fiscais (CAEF)
Ir. Admar Francisco de Freitas
Pe. Agnaldo Aparecido de Paula
Ir. Adriano Ferreira Silva
Pedimos ao Senhor conceder ao novo Padre Visitador e a todos os
eleitos o reto discernimento de seus deveres e a força de cumpri-los com
lucidez, constância e alegria. Sirvam de estímulo as palavras de nosso san-
to fundador: “Se um superior está cheio de Deus, se está imbuído das má-
ximas de Nosso Senhor, todas as suas palavras serão eficazes, e sairá dele
uma virtude que edificará e todas as suas ações serão como instruções sa-
lutares que operarão o bem naqueles que as conhecerem” (SV XI, 343).
226
Especial I
No dia 27 de setembro de 2013, os Coirmãos residentes em Belo Horizonte e Con-
tagem foram convidados a celebrar juntos a Solenidade de São Vicente de Paulo. A
Eucaristia, seguida de confraternização, foi presidida pelo Pe. Sebastião de Carva-
lho Chaves e teve lugar na Capela Nossa Senhora das Graças, anexa à Casa Dom Vi-
çoso, com a presença de outros membros da Família Vicentina e de pessoas ami-
gas. No momento da homilia, o seminarista Hugo Barcelos, a pedido de seus for-
madores, proferiu a seguinte reflexão.
Solenidade de São Vicente
Com alegria, reunimo-nos nesta tarde para elevar hinos e cânticos de louvores, verdadeira ação de graças ao Bom Deus, pela vida de São Vicente de Paulo, nosso pai espiritual. Juntamen-te com toda a Igreja, com nossa Congregação e com tantos outros ramos que brotaram do te-souro espiritual dado a Vicente de Paulo e her-dado por nós, celebramos esta solenidade que vem revigorar nossas forças e motivar-nos a ca-minhar, com mais ânimo e eficácia, no segui-mento de Jesus Cristo, evangelizador dos pobres.
Que alegria podermos constatar que a vida de São Vicente foi pauta-da na Palavra de Deus. Ele estava de tal modo unido ao Mestre, “videira verdadeira”, que conseguiu produzir muitos frutos (Jo 15,1-2), fazendo que sua caridade se dilatasse até atingir dimensões universais.
Em sua inquietude, Vicente procurou a Deus e o encontro nos po-bres, pobres que se tornaram seus “senhores e mestres” (SV XI, 393), co-mo ele mesmo disse. Nos pobres, Vicente viu a imagem do Cristo Sofre-dor. Superou preconceitos, transcendeu suas próprias limitações e em-pregou grandes energias para servir de maneira eficiente aos prediletos de Deus. Durante 60 anos, a França viu esse homem infatigável, dotado de grande fineza de espírito, rico de piedade simples e profunda, traba-lhar em socorro dos pobres.
227
Em 1617, fundou as Confrarias da Caridade, hoje conhecidas como Associação Internacional de Caridades (AIC), tendo os leigos, de modo es-pecial as mulheres, como protagonistas. Em 1625, fundou a Congregação da Missão, com o fim de “seguir a Cristo evangelizador dos pobres” (CC. 1). Hoje, contamos com 3.231 membros, presentes em diversos países e atuando em missões, seminários, paróquias, colégios, universidades e ou-tras obras de serviço aos pobres. Fundou também, em 1633, a Companhia das Filhas da Caridade, em parceria com Santa Luísa de Marillac. Comuni-dade inovadora, que recebeu do fundador a audaciosa instrução: “Vosso mosteiro é a casa dos enfermos. Vossa cela é o quarto de aluguel. Nisso, sois mais semelhantes a Nosso Senhor. Tendes como capela a igreja paro-quial, na qual deveis assistir o santo sacrifício e dar bom exemplo, sendo sempre a edificação do povo, ainda que sem deixar o serviço aos enfer-mos. Vosso claustro são as ruas da cidade, pelas quais tendes que ir para atender os enfermos, já que a obediência tem que ser vossa clausura. Por grade, tereis o temor de Deus. E por véu, levareis a santa modéstia” (SV X, 662).
São Vicente, por tudo o que fez e ensinou, foi como o samaritano da parábola (cf. Lc 10,25-37). Passando pelos caminhos da vida, deparou-se com os que estavam caídos às margens, feridos, machucados, sem espe-rança de viver. Movido de compaixão, não se tornou mais um inerte, não desviou seu olhar. Pelo contrário, viu, compadeceu-se, aproximou-se e agiu, curando as feridas e levantando os caídos. Esta é também a nossa missão, este é o nosso grande desafio, como batizados, como Igreja, co-mo membros da grande Família Vicentina: colocarmo-nos junto aos so-fredores, curar suas feridas, estender as mãos e trazer para o centro os que antes se encontravam caídos pelas estradas da vida.
Nossa sociedade é marcada pelo consumismo, pelo egocentrismo, pela violência, pela pobreza. Este contexto é fruto de um sistema que não valoriza os considerados “improdutivos”, preferindo descartá-los, deixan-do de valorizar as potencialidades dos jovens e a sabedoria dos idosos, como bem lembrou o Papa Francisco (cf. Encontro com os jovens argenti-nos na Catedral do Rio de Janeiro, 25 de julho de 2013). Diante dessa rea-lidade, somos desafiados a romper com as estruturas de morte e a viver em profundidade o nosso carisma, tão atual e necessário. Se a Igreja, so-bretudo na América Latina e Caribe, tem os pobres como opção preferen-cial, nós, filhos de São Vicente, reconhecemos que somos destinados ex-clusivamente a eles, por força de nossa vocação.
228
Vicente anunciou a salvação, a paz, levando a Boa-Nova aos pobres. Por isso, belos sãos seus pés, pois se colocou a caminhar na direção dos prediletos de Deus. Assim, somos in-terpelados por seu testemunho de vida a seguir Jesus Cristo, trilhando o cami-nho que ele percorreu. Não podemos ficar de braços cruzados. Devemos, as-
sim como Vicente, buscar na oração as forças necessárias para que, na ação, proclamemos a bondade de Deus. Somos convidados, à luz do pro-feta Isaias na primeira leitura (cf. Is 52,7-10), a dizer aos irmãos mais po-bres: “Deus reina! Alegrem-se, prediletos de Deus, porque o Senhor con-forta o seu povo e caminha com vocês, sustentando-os em suas aflições para que rompam com as algemas da pobreza, para instaurar um Reino de igualdade, fraternidade e justiça!”. Temos uma missão profética: anunciar o Reino de Deus, denunciar as injustiças, promover a paz e a igualdade.
Na segunda leitura (cf. 1Cor 1,26-31; 2,1-2), o apóstolo Paulo diz à comunidade de Corinto: “Vede bem, irmãos, quem sois vós, aqueles que Deus chamou: não há entre vós muitos sábios, humanamente falando, nem muitos poderosos, nem muitos nobres”. Vejamos também: Quem foi Vicente de Paulo? Filho de camponeses, menino pastor, que cuidava de ovelhas, que viveu em uma França marcada pela guerra e pela peste. Um pobre, que não se vangloriava perante Deus. Mas Deus se serviu dele, Deus o chamou para salvar seus prediletos, para evangelizar os pobres e para nos trazer a consciência de que é nossa missão também servir os pobres, reconhecendo neles a imagem de Deus. Os santos e santas de nossa Família Vicentina não foram escolhidos por Deus para a mesma missão? E nós também não somos chamados a isso?
Para sermos santos, devemos, assim como São Vicente, percorrer os caminhos das bem-aventuranças, conforme o Santo Evangelho (cf. Mt 5,1-12a). Como nos lembra a nota explicativa da Bíblia Pastoral, “as bem-aventuranças são o anúncio da felicidade, porque proclamam a libertação e não o conformismo ou a alienação. Elas anunciam a vinda do Reino através da palavra e ação de Jesus. Estas tornam presente no mundo a
229
justiça do próprio Deus. Justiça para aqueles que são inúteis ou incômodos para uma estrutura de sociedade baseada na riqueza que explora e no poder que oprime. Os que buscam a justiça do Reino são os ‘pobres em espírito’. Sufocados no seu anseio pelos valores que a sociedade injusta rejeita, esses pobres estão profundamente convictos de que eles têm ne-cessidade de Deus, pois, só com Deus, esses valores podem vigorar, sur-gindo assim uma nova sociedade”.
Vicente de Paulo foi um bem-aventurado! Trilhou os caminhos das bem-aventuranças. Nós também somos chamados a fazê-lo. Encerro esta minha reflexão, com as palavras do Bem-aventurado João Paulo II: “Voltemos nossa mente e nosso co-ração para São Vicente de Paulo, homem de ação e oração, de organi-zação e imaginação, de comando e humildade, homem de ontem e de
hoje. Que aquele camponês das Landes, convertido pela graça de Deus em gênio da caridade, ajude-nos a todos a pôr mais uma vez a mão no arado – sem olhar para trás – para o único trabalho que importa, o anuncio da Boa Nova aos pobres”. Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!
Hugo Silva Barcelos (3º ano de Filosofia)
230
Especial II
Encontro de Ecônomos da Congregação da Missão
Paris, 5 a 7 de agosto de 2013
Pe. Emanoel Bedê Bertunes, C. M.
Éramos 59 Coirmãos. Das 51 Províncias, somente duas não enviaram
representantes: Cuba e Alemanha. O Encontro foi aberto com a celebra-
ção eucarística, na capela da Casa Mãe, no final da manhã do dia 5.
À tarde, no auditório
da Casa Mãe das Filhas da
Caridade, a primeira confe-
rência ficou por conta do
Superior Geral, Pe. Gregory
Gay. De sua fala, destaca-
mos alguns pontos:
1. São Vicente de Paulo, o primeiro ecônomo: além dos títulos já conhe-
cidos atribuídos a São Vicente (Pai dos Pobres, Organizador da Caridade,
Formador do Clero, Primeiro Padre da Missão), pode-se dizer que ele foi
um grande ecônomo. Mais que primeiro administrador do dinheiro, São
Vicente dominava a complexidade de operações, tais como: obtenção de
imóveis, financiamento dos ministérios, elaboração e execução de contra-
tos que garantiam a estabilidade fiscal da Congregação.
a. Nos contratos, São Vicente era minucioso nas cláusulas que tratavam
dos recursos financeiros das Obras, ou seja, para cada obra aberta, S.
Vicente pensava como ela se manteria economicamente. Os meios
pensados eram os mais diversos: investimentos, recursos públicos,
231
aluguéis, arrendamento de terras... Tudo isso era deixado claro para o
bispo local. “Para cada fundação, no sentido canônico, houve uma
‘fundação’ no sentido financeiro” (J. M. Román).
b. Não aceitava o descumprimento dos contratos: quando um bispo des-
respeitava uma das cláusulas, imediatamente São Vicente retirava os
Coirmãos daquela Obra.
2. Dois temas-chave que não podem faltar na prática do Ecônomo:
a. Solidariedade: Este tema não indica nossas opções ou preferências
pessoais, políticas, sociais ou religiosas. Mas aquela solidariedade en-
contrada no exemplo da comunidade primitiva (Atos dos Apóstolos); a
vivência do voto de pobreza (Estatuto Fundamental da Pobreza); a
ajuda ao Visitador na administração dos bens em favor da Missão; o
trabalho junto ao Visitador para atender às necessidades dos Coir-
mãos; o diálogo constante com o Visitador e os superiores locais sobre
as finanças; a transparência nas operações financeiras.
b. Administração: entender como resposta humana ao Criador que nos
deixou como administradores de sua obra e dos dons, para depois de-
volvê-los com acréscimos; promover estudos e reflexões sobre o Esta-
tuto Fundamental da Pobreza; cultivar a reflexão e o diálogo; pensar
globalmente e agir localmente para saber partilhar os recursos; saber
navegar entre a “garantia e segurança do patrimônio, sem se perder
232
na visão perigosa de acumulação” (“evitar a construção de impérios”);
ser um sábio administrador: usar as doações conforme a destinação
definida (não utilizar para outra finalidade sem a permissão do doa-
dor); entender que fundos de reserva só existem para uma determi-
nada intenção e intervalo de tempo; ter transparência e boa comuni-
cação com o Visitador, os superiores locais e os Coirmãos.
3. Desafios para hoje
a. Como atuar frente a uma cultura de direitos: alguns Coirmãos pensam
que a Província lhes deve algo, dando a entender que não têm acesso
a determinadas coisas que outros têm.
b. Tratar todos os Coirmãos de forma imparcial, evitando favoritismo.
c. Evitar distinção no trato entre os Coirmãos que são geradores de re-
cursos e os que não o são.
d. Investir na profissionalização da administração, ou seja, saber contra-
tar serviços profissionais para que a boa administração dos bens seja
garantida.
4. Melhores práticas de um bom Ecônomo
a. Saber trabalhar em equipe com o Visitador e seu Conselho e os superi-
ores locais;
b. Entender sua posição e seu ofício não como poder, mas como serviço;
c. Interessar-se pelo bem-estar da Província;
d. Formar-se e atualizar-se permanentemente;
e. Ser um homem de oração e perspectiva;
f. Ter consciência de que seu trabalho é “um ministério discreto”, que
passa despercebido e é pouco reconhecido.
Em seguida, Pe. Joseph Geders expôs como se organiza a economia
da Cúria Geral, a saber:
1. Há 3 fundos na Cúria
a. Depósitos das Províncias: 60%
b. Ajudas às Províncias necessitadas e às Missões: 28%
c. Fundos operacionais (investimentos, doações, etc): 12%
233
2. Realidade interna da Pequena Companhia
Cenário atual: das 51 Províncias ou Vice-Províncias, há 24 que depen-
dem de ajudas financeiras. Algumas, as dos países asiáticos, por exemplo,
estão crescendo e não têm recursos financeiros para investir na formação
(construção de seminários, custos com os cursos, manutenção, etc). Ou-
tras padecem com o pequeno número de Coirmãos e/ou por não terem
construído patrimônio ao longo do tempo.
Já as Províncias que possuem a autonomia financeira passam por um
profundo declínio do número de Coirmãos. Estão cada vez mais depen-
dentes de seu patrimônio e de suas reservas financeiras, que, por sua vez,
diminuem cada vez mais com os altos custos com os Coirmãos idosos,
serviços terceirizados e manutenção em geral.
A CM também é afetada pela crise financeira mundial que atinge mais
fortemente os EUA e a Europa (zona do euro). Com isso, os recursos ficam
mais escassos, os investimentos rendem menos e as doações diminuem.
No entanto, nota-se também o desenvolvimento progressivo de econo-
mias emergentes (Brasil, Índia, Rússia, China, México e África do Sul), que
atraem grandes investimentos de capital estrangeiro, possibilitando o
crescimento da classe média e a demanda por bens de consumo.
3. Recomendações
a. Províncias que dependem de ajuda financeira: ter a consciência de
que toda missão da Congregação deve ter como horizonte a autossufi-
ciência econômica; buscar apostolados que possam ajudar a sustentar
outras Obras: formação, missão, projetos sociais, etc; não se esquecer
de que “somos missionários e não mendigos”.
b. Províncias autossustentáveis: evitar os riscos financeiros diante de cri-
ses; lembrar-se de que o patrimônio é dos pobres e não nosso; não es-
perar que o patrimônio se acabe, mas procurar e pensar novas fontes
de renda.
234
4. Considerações sobre a função do Ecônomo Provincial: exercer a auto-
ridade; cultivar a prática do princípio da subsidiariedade; duração do
ofício: de 4 a 6 anos (a substituição do Ecônomo antes de 4 anos preju-
dica muito o processo administrativo, ou seja, não há como avaliar os
resultados de uma administração em menos de 4 anos); o Ecônomo de-
ve sempre tomar parte no Conselho Provincial.
Outros temas
a. Estudo de caso sobre imóvel da Província do Leste dos EUA.
b. Depoimentos de Coirmãos sobre projetos que ajudam os pobres: Áus-
tria e Eslovênia.
c. Depoimento do Ecônomo da Província de Paris sobre a remodelagem
da Casa Provincial para atender os idosos e gerar renda.
d. Simpósio da FV, com os temas: sustentabilidade, corrupção, adminis-
tração, responsabilidade, colaboração.
235
Especial III
3ª Reunião do Grupo de Estudos Vicentinos
De 22 a 25 de agosto de 2013, o Grupo de Estudos Vicentinos (GEV)
realizou sua terceira reunião. O encontro teve lugar em Recife (PE), na
Casa Provincial das Filhas da Caridade. Foram dias abençoados e produti-
vos de trabalho, oração e fraternidade. Cheios de esperança, acolhemos
um novo membro: Ir. Rita de Cássia Ramos de Vasconcelos, da Província
de Fortaleza. No primeiro dia, recordamos as definições, encaminhamen-
tos e atribuições resultantes do encontro passado, especialmente no que
se refere à repercussão de nossos aprofundamentos e iniciativas em nos-
sos campos de atuação e em nossas Províncias. À tarde, prosseguimos
com a análise de conferências e escritos de São Vicente. No segundo dia,
lançamos um olhar sobre o acontecimento de Folleville, seus impactos na
experiência de Vicente de Paulo e suas inspirações para nossa vida e mis-
são, hoje. À tarde, visitamos o Instituto Dom Helder Camara (centro de
documentação, igreja e museu) para conhecer mais de perto a trajetória
desse místico, pastor e profeta dos nossos dias, tão profundamente iden-
tificado com nosso fundador. Detivemo-nos ainda sobre o método de
236
oração e meditação proposto por São Vicente, em vista de sua compreen-
são e revitalização. O sábado, dia 24, foi enriquecido por duas visitas. Pela
manhã, fomos à Casa Central das Filhas de Maria Servas da Caridade, uma
pequena congregação impregnada do carisma vicentino e muito empe-
nhada no serviço dos pobres, fundada em 1928 pelo Padre José Venâncio
de Melo, CM, e pela Madre Maria Mercedes, em Recife. À tarde, estive-
mos na acolhedora Comunidade São Vicente de Paulo, situada na perife-
ria de Recife, onde trabalharam por 45 anos um Padre da Missão e uma
Filha da Caridade, deixando marcas significativas na ação evangelizadora,
na transmissão da herança vicentina e na promoção da dignidade huma-
na. Voltando à Casa Provincial, dialogamos sobre as visitas realizadas e
percorremos o memorial da Província. O quarto dia foi dedicado à releitu-
ra vicentina da vida e do martírio da Bem-aventurada Lindalva Justo de
Oliveira, bem como à avaliação do encontro e à preparação do próximo.
Na avaliação, foram ressaltados a crescente familiaridade com os estudos
vicentinos por parte de todos os membros, o bom aproveitamento do
tempo e dos recursos de que dispomos e o estreitamento dos laços de
comunhão e cooperação entre os componentes do Grupo. O próximo en-
contro ocorrerá em Belo Horizonte, de 21 a 24 de novembro de 2013.
Com grata admiração, vemos realizar-se entre nós o que escreveu, certa
vez, Santa Luísa de Marillac: "A distância física não impede de se estar es-
piritualmente presente às pessoas a quem o Senhor uniu com o laço de
seu santo amor e que se torna cada vez mais forte à medida que vai cres-
cendo em nós" (C. 692).
237
Formação dos Nossos
Estágio Apostólico do Seminário Interno Interprovincial
“Que Felicidade, meu senhores, que felicidade! Fazer aquilo que trouxe Nosso Se-
nhor do céu à terra e por esse mesmo caminho irmos nós da terra para o céu; con-
tinuar a obra de Deus, que fugia das cidades e ia aos campos procurar os pobres!”
(Conferência de São Vicente de Paulo sobre a observância das Regras, de 17 de
maio de 1658).
Imbuídos dessa eloquente máxima de nosso fundador e com bastan-
te alegria, nós do Seminário Interno Interprovincial realizamos, em julho
p.p., nosso estágio apostólico na Paróquia Nossa Senhora da Conceição,
em Francisco Badaró (MG). Como evidenciam as Diretrizes Básicas da
Formação na PBCM, sobre o Seminário Interno: os seminaristas devem
“realizar experiências concretas de solidariedade com os pobres e fazer
uma experiência missionária de um mês no corrente ano em uma obra
missionária da Congregação da Missão”. Assim, nós nos organizamos em
sintonia com a equipe missionária do local escolhido para podermos de-
senvolver um eficaz e vantajoso trabalho pastoral.
238
Em preparação a esse estágio, colocamo-nos diante de Deus em ora-
ção com um sucinto e fértil momento de espiritualidade, realizado em
Campina Verde, na Comunidade Imaculado Coração de Maria, tendo co-
mo orientador Pe. Onésio Moreira Gonçalves. Após este momento e im-
pelidos pelo carisma vicentino, partimos em missão no dia 1 de julho, fa-
zendo antes uma pequena pausa em Belo Horizonte. Chegamos ao desti-
no no dia seguinte. Importante enaltecer que tivemos uma calorosa aco-
lhida por parte da comunidade missionária local: Pe. Raimundo, Pe. Alex
Sandro Reis e Ir. José Valdo. Antes de irmos para as comunidades rurais,
foi proposto um planejamento de atividades a serem desenvolvidas.
Vale ressaltar o contexto geográfico e social no qual estivemos inse-
ridos. Francisco Badaró, situado no Vale do Jequitinhonha, é uma região
montanhosa e seca, pois anualmente enfrenta o desafio da falta de chu-
vas. Devido à escassez de trabalhos no campo, várias pessoas optam pelo
êxodo rural em busca de melhores oportunidades nas grandes metrópo-
les, como São Paulo e Belo Horizonte. O acesso às comunidades e o traba-
lho pastoral são desafiadores, com vias de locomoção em precária situa-
ção, pois, no verão, há bastante poeira e, em tempo chuvoso, fica prati-
camente intransitáveis devido à lama.
Iluminados com essa contextualização local e meditando em nosso
íntimo os prementes desafios que nos esperavam, mergulhamos nessa
profunda e eficaz experiência pastoral. Importante evidenciar a disponibi-
lidade de nosso Coirmão, Pe. Paulo José de Araújo, que, impelido pelo es-
pírito missionário, nos acompanhou e ajudou em significativa parte de
nossas atividades, até o dia 20 de julho. No restante do mês, Pe. Onesio
nos acompanhou. Nas comunidades, grandes eram a acolhida e a dispo-
nibilidade em servir por parte dos moradores locais. Nossos dias eram de
intensas atividades: visitas aos enfermos, às famílias, formações bíblica e
litúrgica e celebração Eucarística. Mesmo com um planejamento previa-
mente preparado, não podíamos nos esquecer de escutar os líderes de
cada comunidade e ouvir suas prioridades e opiniões, pois achamos im-
portante essa simbiose entre o que tínhamos e o que o povo mais neces-
sitava. Passávamos a semana conhecendo e animando duas ou três áreas
239
pastorais (nós do seminário) e, tendo a informação de que havia muitos
enfermos em cada povoado, o padre se encarregava de visitá-los para
ministrar os sacramentos da Penitência e da Unção. Importante ressaltar
que, aos domingos à noite, sempre retornávamos a casa paroquial e, na
segunda, fazíamos um momento de confraternização com a equipe missi-
onária. Momento esse propício para partilhar as alegrias, desafios e pro-
pósitos alcançados em cada dia de missão.
Percebemos quão saudável e salutar é ter esse contato face a face com a realidade do povo. Dessa maneira, atendemos ao veemente cha-mado que São Vicente fez aos seus irmãos: “Ide em nome de Nosso Se-nhor. É Ele quem vos envia, é para o serviço e a glória dele que empreen-deis essa vigem e essa missão” (Abelly, livro III, cap. 3, p.12). Assim, ter-minamos esse tempo de graça que foi nosso estágio apostólico, indo e vindo em missão, em nome de Nosso Senhor. Esperamos que esse pedido de nosso fundador sempre ressoe em nosso coração, pois, nessa experi-ência missionária, percebemos o quanto ainda tem para ser feito. Guar-damos em nós também a alegria de cada recepção, a disponibilidade e cooperação mútua por parte dos moradores da localidade, oferecendo-nos o que têm de melhor para realizarmos juntos a missão. Ao concluir-mos essa etapa, rendemos graças a Deus pela oportunidade e confiamos à sua Providência todas as pessoas que visitamos, para que continuem perseverantes e firmes na fé.
Arthur Ricardo da Silva Filho (PFCM)
240
SAVV
Animação Vocacional em Missão!
Com a graças de Deus, o
mês de agosto foi bem movi-
mentado vocacionalmente em
nossa Província. Várias foram
as atividades em nossas Comu-
nidades. Tivemos o I Encontro
Conexão Jovem na Paróquia
Nossa Senhora de Fátima, em
Contagem (MG). Uma iniciativa
dos Coirmãos e Seminaristas da região de Belo Horizonte. Contamos com
a participação das Filhas da Caridade, Juventude Mariana Vicentina, Soci-
edade de São Vicente de Paulo e Associação Internacional de Caridades.
Neste II semestre, temos intensificado as visitas aos jovens vocacionados,
no acompanhamento personalizado, ajudando-os no discernimento e cla-
reando melhor as motivações vocacionais. Um ponto muito importante
que percebemos é que os vocacionados são lideranças em suas comuni-
dades e/ou Ramos da Família Vicentina (SSVP, JMV). Muitos são acompa-
nhados por nossos animadores regionais do SAVV.
241
Nos dias 1 e 2 de outubro, iniciando o Mês Missionário, estivemos na
cidade de Bambuí (MG). Foi um momento frutuoso no trabalho da Ani-
mação Vocacional! Bambuí é uma cidade vicentina! Durante muito tem-
po, os Padres e Irmãos da Congregação da Missão desempenharam ali um
bom trabalho missionário! Os frutos desta missão são os vários Padres
naturais desta cidade. Alguns já falecidos, outros desempenhando um be-
lo trabalho na Congregação da Missão. Visitamos os familiares do Pe. Alex
Sandro Reis, Pe. Sebastião Carvalho, Pe. Maurício Paulinelli, Pe. Eli Chaves
e do saudoso Dom José Elias Chaves.
A equipe ampliada do SAVV se reuniu no dia 21 de outubro, no Cara-
ça. Sob a proteção de Nossa Senhora Mãe dos Homens, fizemos uma ava-
liação da caminhada do SAVV nestes últimos três anos na PBCM, em sin-
tonia com o Projeto Provincial do SAVV 2011-2016.
Nos dias 26 e 27 de outubro, realizamos mais um encontro vocacio-
nal da 1ª etapa, no Instituto São Vicente de Paulo. Foi um encontro frutu-
oso e de muita esperança para a Missão Vicentina! Continuemos firmes e
perseverantes na oração e no trabalho pelas vocações!
Pe. Alexandre Nahass Franco, C. M.
242
NA MISSÃO DO CÉU
Pe. José Debórtoli, C. M. 29/1/1934 +3/10/2013
Ninguém é bom depois que morre,
mas é justamente na caminhada desta vi-
da que se adquirem admiradores e ami-
gos. Tal foi o roteiro deste nosso Coirmão.
De porte forte e cara fechada, era um au-
têntico Padre da Missão, em suas múlti-
plas atividades pastorais.
José Debórtoli nasceu em Salto Velo-
so (SC). Filho de João Debórtoli e Madale-
na Rizot, que deram dois filhos para o serviço de Deus na Igreja Católica.
Uma filha para ser das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo e ele
para Padre na Congregação da Missão. Concluiu os estudos primários na
Escola da colônia, onde só se falava italiano nas famílias. Teve bastante
dificuldade ao ingressar no Seminário de Irati (PR). Venceu, com bastante
esforço, este obstáculo da cultura infantil. Transferido em 1949 para o cé-
lebre Colégio do Caraça, ali, naquela casa de formação, fui seu compa-
nheiro. Depois, foi para o Seminário de Petrópolis (RJ), onde convivemos
por mais tempo. Foi sempre um jovem reservado e bem retraído. Fez o
Seminário Interno em 1953, entrando na Congregação da Missão. Ali
mesmo, cursou Filosofia e Teologia, sendo ordenado padre por Dom Ma-
noel Pedro da Cunha Cintra, a 4 de setembro de 1960.
243
Após as primícias sacerdotais, na terra natal, recebeu sua primeira
colocação em Diamantina, de 1961 a 1964, como professor, disciplinário e
ecônomo. Com a entrega daquela casa ao arcebispo, foi mandado para a
paróquia de Paraguaçu Paulista (1964-1965). Foi chamado para cursar o
ISPAC, no Rio de Janeiro. Passou o ano de 1966 em Mariana (MG), onde
nos encontramos de novo, desta vez na formação de seminaristas. Em se-
guida, foi para Assis (SP), onde permaneceu de 1967 a 1971, como pro-
fessor e disciplinário. Passou um tempo em Taguatinga (DF) e outro em
São Paulo. Já em 1973, viajou para Frascati (Itália), onde fez um curso de
espiritualidade na Comunidade dos Focolares, que ele muito amava e
admirava. De volta à pátria, foi coordenador da Pastoral Vocacional na
Província, de 1974 a 1977, fazendo um bonito trabalho na escolha de
candidatos para o serviço missionário na PBCM. Transferiu-se para o Cala-
fate (MG), como ponto de apoio para suas atividades. Em 1984, foi no-
meado pároco do Santuário São Vicente, no Moinho Velho, em São Paulo.
A pedido de Dom José Elias, C. M., assumiu a formação no Centro Vocaci-
onal Padre Josimo, em Cametá (PA), no ano de 1991. Em 1993, é nomea-
do Diretor das Filhas da Caridade da Província de Recife (PE). Findo seu
mandato, pede um tempo de recolhimento junto aos Focolares, em Var-
gem Grande Paulista, por 6 meses, o que lhe foi concedido. No retorno às
atividades, foi nomeado pároco na Asa Norte, Brasília (DF). Em 2003, é
nomeado pároco de São José do Calafate, em Belo Horizonte (MG). Desta
paróquia, retorna a Brasília, em 2011, onde já tinha estado. É aí que a ir-
mã morte vai encontrá-lo, a 3 de outubro de 2013. Teve um AVC. Acolhi-
do em hospital, sofridos todos os procedimentos de urgência e rodeado
pelos irmãos e amigos, não conseguiu se recuperar.
Era um homem asceta. Piedoso e orante, numa mística que mesclava
virtudes do missionário vicentino com a dos Focolares. Tinha um porte
forte, parecia casca grossa em certas atitudes, mas era terno e amigo
verdadeiro daqueles fiéis que dele se aproximavam para buscar orienta-
244
ção e ajuda. Fiel aos deveres de piedade e práticas religiosas. Cumpridor
das obrigações sacerdotais e ríspido em certas respostas, mas afável e
bondoso, sabia cultivar verdadeiras amizades. Sempre muito prestativo
em acudir aos que buscavam orientação de sua pessoa. Era austero e pe-
nitente, com admirável devoção à Virgem Maria, de quem falava com
ternura e carinho. Muito lucrou do curso do CIF, em Paris, e das peregri-
nações que fez à Capela da Medalha Milagrosa e a Lourdes, onde bebeu
da suavidade das aparições de Nossa Senhora. Que ela o acolha como fi-
lho privilegiado no seio do Pai Eterno. Foi sepultado em Salto Veloso (SC),
junto a seus pais. Descanse em paz!
Pe. Célio Maria Dell’Amore, C. M.
245
NOTÍCIAS
Notícias do Visitador
1. No Conselho do dia 22 de outubro de 2013, realizado na Casa Provinci-
al, lemos e aprovamos os pedidos dos seguintes seminaristas para serem
admitidos à Congregação e iniciarem o Seminário Interno: Allyson Gio-
vanni Garcia, Hugo Silva Barcelos, Lucas de Souza Santos, Paulo César da
Silva, Vinícius Alves de Oliveira e Wilhiam Luiz de Lima.
2. Pedimos a Dom Sérgio da Rocha, arcebispo de Brasília (DF), conceder
ao Pe. Edmir José da Silva a provisão de pároco da Paróquia Nossa Senho-
ra das Graças da Medalha Milagrosa, Asa Norte, na mesma capital fede-
ral.
3. A posse da nova Diretoria da PBCM ocorreu no dia 5 de novembro de
2013, em celebração eucarística realizada na capela da Casa Provincial.
Pe. Geraldo Ferreira Barbosa, C. M.
Posse da nova Direção Provincial
Com a celebração da Eucaristia, na
manhã do dia 5 de novembro, na
capela da Casa Provincial, às 11h,
tomou pose a nova Diretoria da
Província Brasileira da Congrega-
ção da Missão, eleita para o qua-
driênio 2014–2017. Além de di-
versos Coirmãos, participaram
amigos e representantes da Famí-
lia Vicentina. A Eucaristia foi presidida pelo Pe. Geraldo Ferreira Barbosa,
que exortou e encorajou o novo Visitador: “Minha felicidade, Pe. Bonfim,
246
é saber que você assume o governo da Província com alegria, e, certa-
mente, com a ajuda de seu Conselho, fará coisas grandiosas”. Depois de
empossado, com a leitura do documento do Superior Geral da Congrega-
ção da Missão, Pe. Manoel Bonfim da Conceição fez sua profissão de fé.
Após os cumprimentos e foto oficial, confraternizamo-nos com um apre-
ciado almoço.
Pe. Emanoel Bedê Bertunes, C. M.
Assembleia Nacional de MISEVI
De 6 a 8 de setembro de 2013, realizou-se a Assembleia Nacional dos
Missionários Leigos Vicentinos (MISEVI), em Vespasiano (MG), contando
com a participação de toda a direção nacional, dos coordenadores, dele-
gados e assessores dos Núcleos. Também se fizeram presentes três con-
vidadas da cidade de Coronel Murta, onde deverá nascer mais um Núcleo
da Associação, como fruto madu-
ro das Santas Missões Populares
Vicentinas, realizadas naquela
paróquia em 2011. A Assembleia
se desenvolveu em um clima de
oração, reflexão e fraternidade,
tendo como tema inspirador: Os
desafios da missão, à luz do Ano
247
da Fé. Tudo começou com a apresentação da caminhada dos Núcleos,
com seus impasses e esperanças (ver). Em seguida, o tema foi abordado
sob a ótica bíblica e vicentina, iluminando percursos e indicando cami-
nhos (julgar). Por fim, novas perspectivas e tarefas foram apresentadas,
em vista da revitalização missionária dos Núcleos e da Associação como
um todo (agir).
As assessorias do Pe. Agnaldo Aparecido de Paula e do Pe. Getúlio Mota
Grossi deram notável contribuição para o amadurecimento das convic-
ções e a projeção de novas metas e itinerários espirituais, formativos e
apostólicos. Com as bênçãos do Senhor e o empenho de todos os Missio-
nários, as sementes vão florir!
FV – Regional BH – Manhã de Oração
No dia 29 de setembro p.p., a Família
Vicentina do Regional de Belo Hori-
zonte celebrou a Solenidade de São
Vicente de Paulo. A igreja paroquial de
São José do Calafate acolheu, uma vez
mais, os nove Ramos que compõem o
Regional para a Manhã de Oração, en-
248
riquecida por uma belíssima peça teatral e co-
roada pela celebração da Santa Missa, presidida
pelo Cardeal Dom Serafim Fernandes de
Araújo. Atendendo a
recomendação do
Superior Geral, que
nos pediu celebrar o
Dia de São Vicente
em sintonia com o
Ano da Fé, escolhemos como lema: Com São
Vicente, seguir, sempre e em tudo, a luz da fé.
Que o exemplo de nosso fundador nos estimu-
le a acolher com gratidão o dom da fé, a vivê-
la com autenticidade e a testemunhá-la na
caridade.
Votos Perpétuos
Na manhã do dia 12 de outubro, solenidade
de Nossa Senhora Aparecida, Denílson Mati-
as da Silva selou sua pertença à Congrega-
ção da Missão, por meio da emissão dos Vo-
tos Perpétuos. A
celebração teve
lugar no Santuá-
rio do Caraça,
com a presença
de familiares, Co-
irmãos e amigos.
Ao Ir. Denílson, desejamos toda fecundidade
espiritual e apostólica para viver sua entrega
ao Senhor com a alegria e a autenticidade de
249
quem se reconhece chamado a seguir Jesus Cristo evangelizador dos po-
bres, no caminho de São Vicente.
Ordenação Diaconal
Os Coirmãos Érik de Carvalho Gonçalves e
José Valdo dos Santos Filho foram orde-
nados diáconos no dia 26 de outubro p.p.,
na Paróquia Nossa Senhora de Fátima,
Jardim Industrial (Contagem-MG), em ce-
lebração eucarística presidida por Dom Lu-
iz Gonzaga Fechio, bispo auxiliar de Belo
Horizonte. Familiares, Coirmãos, amigos e
muitas
pesso-
as de nossas Paróquias se fizeram pre-
sentes, unindo-se à súplica de toda a
Igreja para que “resplandeçam neles
as virtudes evangélicas: o amor since-
ro, a solicitude para com os enfermos
e os pobres, a autoridade discreta,
250
a simplicidade de coração e uma vida segundo o Espírito” (Prece de Orde-
nação). Felicitações aos novos Diáconos!
Nova Presidente do Conselho Nacional da SSVP
No dia 8 de setembro de 2013, no Santuário Nossa Senhora da Me-
dalha Milagrosa, Rio de Janeiro, aconteceu a Missa de posse da nova pre-
sidente do Conselho Nacional do Brasil da Sociedade de São Vicente de
Paulo (CNB-SSVP), Emília Fernandes Figueiró Jerônimo. Esposa do Confra-
de José Alves Jerônimo, é mãe de três Filhos: Tiago, Juliana e Caio. Emília
é natural de Araçuaí-MG, mas atualmente reside em Brasília-DF. Estive-
ram presentes Vicentinos de várias regiões do Brasil e diversos Ramos da
Família Vicentina: Filhas da Caridade, Associação da Medalha Milagrosa,
Juventude Mariana Vicentina, Congregação da Missão, Religiosos de São
Vicente, Missionários Leigos Vicentinos e Associação Internacional de Ca-
ridades.
251
Em seu discurso de pos-
se, a Consócia Emília ressal-
tou a importância do Projeto
de Mudança de Estruturas
proposto pela Família Vicen-
tina em nível internacional:
“Conhecedores do Projeto de
Mudança de Estruturas, so-
mos impelidos a repensar a
nossa forma de assistência,
que pede muito mais do que uma cesta de alimentos, roupas, remédios,
construção de moradias. Mudança de Estruturas coloca o pobre como
protagonista de sua vida, pessoa extremamente importante no processo
de sua independência, seja nossa, da Igreja ou do Estado”. Ela também re-
forçou o trabalho das bases: “Então, ir às bases é preciso! E assim fare-
mos. Iremos às bases sensibilizar, formar, conscientizar. Aliás, ir às bases é
outro ponto fundamental de toda a nossa equipe, pois sabemos que é lá
que as coisas acontecem. O percurso será longo. Sabemos que quatro
anos são apenas quatro passos diante desse desafiante trabalho, que ul-
trapassa as nossas forças de Conferência, de Conselhos Particulares, de
Centrais, de Metropolitanos e de Nacional. Ajudar cada pessoa menos fa-
vorecida a escrever a sua própria história, sem que, no roteiro dessa histó-
ria, não faltem justiça, direitos e igualdade, é uma tarefa complexa e,
muitas vezes, lenta, onde as parcerias são inevitáveis. Parcerias com a
Família Vicentina, com os demais Movimentos, os Serviços e as Pastorais
da Igreja; com pessoas e entidades que estão dispostas a lutar por uma
sociedade mais justa e fraterna”.
Que Deus abençoe a nova Diretoria do CNB-SSVP, para que, fiel ao
espírito do Bem-Aventurado Antônio Frederico Ozanam, continue trans-
formando o mundo numa verdadeira Rede de Caridade!
Pe. Alexandre Nahass Franco, C. M.
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Beatificação de nossos Mártires Espanhóis
No último 13 de outubro, foi cele-
brada, em Tarragona (Espanha), a
beatificação de 522 mártires, assas-
sinados no contexto da perseguição
imposta aos cristãos da Espanha
entre os anos de 1934 e 1936. Den-
tre os mártires, 14 Coirmãos (11
Padres e os 3 primeiros Irmãos bea-
tificados de nossa Congregação), 27
Filhas da Caridade e uma leiga da
Associação das Filhas de Maria.
Morreram por fidelidade à fé que
professavam e à vocação que as-
sumiram. A edição de outubro de
Nuntia apresenta os perfis biográfi-
cos destes nossos irmãos, que tes-
temunharam até a efusão do sangue a radicalidade do seguimento de
Cristo, na evangelização dos pobres e na formação do clero. Em sua circu-
lar de 9 de outubro de 2013, aos membros da Família Vicentina, Padre
Gregory Gay escreveu: “Eles são testemunhas da fé, que nos iluminam
com sua luz, a luz do Espírito Santo que encheu suas vidas de fortaleza,
entusiasmo e generosidade para confessar com valentia sua fé e selá-la
com seu próprio sangue. ‘Ninguém tem amor maior do que aquele que dá
a vida por seus amigos’ (Jo 15,13). Somente o amor a Jesus Cristo, maior
que o amor à própria vida, explica a estima e o valor do martírio”. Bendi-
gamos ao Senhor pelos mártires que nos inspiram e encorajam na fé e na
vocação a que somos chamados!