Inibidiores de Tirosinase

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  • 7/24/2019 Inibidiores de Tirosinase

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    PAULA MONTEIRO DE SOUZA

    ATIVIDADE DE INIBIO ENZIMTICA POR ESPCIES VEGETAIS DO BIOMA

    CERRADO

    Braslia, 2011

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    UNIVERSIDADE DE BRASLIA

    FACULDADE DE CINCIAS DA SADE

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS DA SADE

    PAULA MONTEIRO DE SOUZA

    ATIVIDADE DE INIBIO ENZIMTICA POR ESPCIES VEGETAIS DO BIOMA

    CERRADO

    Dissertao apresentada como requisito paraa obteno do Ttulo de Mestre em Cinciasda Sade pelo Programa de Ps-Graduaoem Cincias da Sade da Universidade deBraslia.

    Orientadora: Profa. Prola de Oliveira Magalhes Dias Batista

    Braslia2011

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    PAULA MONTEIRO DE SOUZA

    ATIVIDADE DE INIBIO ENZIMTICA POR ESPCIES VEGETAIS DO BIOMACERRADO

    Dissertao apresentada como requisito paraa obteno do Ttulo de Mestre em Cinciasda Sade pelo Programa de Ps-Graduaoem Cincias da Sade da Universidade deBraslia.

    Aprovado em 23 de fevereiro de 2011.

    BANCA EXAMINADORA

    Profa. Prola de Oliveira Magalhes Dias BatistaFaculdade de Cincias da Sade da Universidade de Braslia UnB

    Presidente

    Profa. Dmaris Silveira

    Faculdade de Cincias da Sade da Universidade de Braslia UnB

    Prof. Edivaldo Ximenes Ferreira FilhoInstituto de Cincias Biolgicas da Universidade de Braslia UnB

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    AGRADECIMENTOS

    Professora Prola pela orientao, pela amizade, pela confiana e por todos os

    momentos de aprendizado que passamos juntas.

    minha me, ao meu pai e aos meus irmos pelo incentivo, pelas preocupaes e

    por sempre apoiarem minhas decises. Ao Felipe pelo amor, incentivo e

    compreenso.

    Professora Dmaris pela colaborao no projeto, por disponibilizar os extratos

    vegetais do bioma Cerrado, pelos ensinamentos, apoio e ateno.

    Ao Professor Luiz Alberto Simeoni pelo conhecimento, ateno e colaborao

    nossa pesquisa, e por disponibilizar espao e estrutura do Laboratrio de

    Farmacologia Molecular (FARMOL/UnB).

    Professora Maria de Ftima Borin pelos ensinamentos, apoio e colaborao.

    Ao Professor Francisco de Assis Rocha Neves por disponibilizar espao e estrutura

    do Laboratrio de Farmacologia Molecular (FARMOL/UnB).

    Ao Professor Antonio Teixeira do Laboratrio Multidisciplinar de Pesquisa em

    Doena de Chagas por disponibilizar o uso do equipamento de leitor de microplacas.

    Ao Professor Elton Clementino da Silva por disponibilizar os extratos da espcie

    vegetal Eugenia dysenterica.

    Aos colegas Paloma Michelle de Sales, Thas Almeida Pereira, Cntia Alves deMatos Silva, Pedro Ges Mesquita, Silas Dino de Sousa e Juliana de Oliveira

    Pasiani pela colaborao, apoio e amizade.

    FAPDF pelo apoio financeiro ao projeto de pesquisa. CAPES pela bolsa de

    pesquisa e ao Programa de Ps-Graduao em Cincias da Sade.

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    RESUMO

    A pesquisa por substncias ativas presentes em plantas que possam inibir uma

    enzima chave em um determinado processo metablico, de forma que sua ao seja

    a mais seletiva possvel e com menores efeitos indesejveis, tem sido o alvo das

    pesquisas na rea de medicamentos. O Brasil est entre os pases de maior

    biodiversidade mundial, abrigando cerca de 55 mil espcies de plantas superiores

    (aproximadamente 22% do total mundial). No entanto, o Cerrado que o segundo

    maior bioma brasileiro com uma enorme variedade de espcies vegetais apresenta

    at ento poucos estudos quanto a seus efeitos teraputicos, principalmente como

    inibidores enzimticos. Nessa direo, este projeto props avaliar espcies vegetais

    presentes no bioma Cerrado quanto atividade de inibio das enzimas -amilase,-glicosidase, tirosinase e acetilcolinesterase. Os inibidores de -amilase e de -

    glicosidase, so utilizados no tratamento da diabetes por inibirem a hidrlise de

    carboidratos no trato digestivo diminuindo a absoro de glicose pelo organismo. A

    tirosinase est envolvida na formao da melanina, por isso seus inibidores so

    clinicamente importantes para o tratamento de doenas relacionadas a

    hiperpigmentao. O principal papel da acetilcolinesterase hidrolisar rapidamente a

    acetilcolina na fenda sinptica das transmisses colinrgicas, sendo alvo para o

    tratamento de doenas como Alzheimer. Para atingir o objetivo proposto, foraminvestigados 39 extratos de 14 espcies oriundas de 9 famlias do bioma Cerrado

    sobre a atividade das enzimas. Os extratos com potencial atividade de inibio sobre

    a -amilase foram os extratos aquosos das folhas de Pouteria torta, Pouteria caimito,

    Pouteria ramiflora e Eugenia dysenterica, alm do extrato etanlico da casca do

    caule de Stryphnodendron adstringens. Sobre a atividade da -glicosidase, os

    extratos das espcies do gnero Pouteria, S. adstringens e E. dysenterica

    demonstraram um elevado potencial de inibio. Os extratos que apresentaram

    potencial de inibio sobre a enzima tirosinase pertencem s espcies Morus nigra,S. Adstringens, E. dysenterica, P. caimitoe P. torta. Porm, nenhum extrato testado,

    foi capaz de influenciar na atividade enzimtica da acetilcolinesterase.

    Palavras-chave: inibio enzimtica; -amilase; -glicosidase; tirosinase;

    acetilcolinesterase; Cerrado.

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    ABSTRACT

    The search for active in plants that inhibit a key enzyme in a particular metabolic

    process, so that its action is more selective as possible and with less side effects,

    has been the focus of research in medicine. Brazil is the one of greatest biodiversity

    in the world, gathering around 55.000 species of higher plants (about 22% of world

    total). Cerrado is the second largest biome of Brazil with a widw variety of plant

    species, so far has been poorly studied to evaluate the efficacy and therapeutic

    effects of crude extracts or isolated compounds, mainly as enzyme inhibitors. The

    aim of the present study was to investigate the inhibitory activity of Cerrado plant

    extracts against -amylase, -glucosidase, tyrosinase and acetylcholinesterase. -

    Amylase and -glucosidase inhibitors delay the digestion of carbohydrates,producing a reduction in the rate of glucose absorption and consequently reduction

    of the postprandial plasma glucose. Tyrosinase is involved in formation of melanin,

    so their inhibitors are clinically important for treatment of dermatological disorders

    related to melanin hyperpigmentation. The main role of acetylcholinesterase is rapidly

    hydrolyzes the neurotransmitter acetylcholine at brain cholinergic synapses as well

    as at neuromuscular junctions, thus acetylcholinesterase inhibitors become targets

    for the treatment of Alzheimers disease. This study was designed to establish the

    inhibitory activity of 39 extracts prepared from 14 species from 9 families of Cerradoagainst -amylase, -glucosidase, tyrosinase and acethylcolinesterase. The plant

    extracts which demonstrated a significant capability to inhibit -amylase were the

    leaves of Pouteria torta, Pouteria caimito, Pouteria ramiflora and Eugenia dysenterica

    aqueous extratcs, and the stem bark of Stryphnodendron adstringens ethanolic

    extract. On the activity of -glucosidase, the extracts of the genus Pouteria, S.

    adstringens and E. dysenterica demonstrated a high potential of inhibition. The

    extracts that showed potential for inhibition of tyrosinase belonging to the species

    Morus nigra, S. adstringens, E. dysenterica, P. caimito and P. torta. However noextract was able to influence the enzymatic activity of acetylcholinesterase.

    Keywords: Enzymatic inhibition; -amylase; -glucosidase; tyrosinase;

    acetylcholinesterase; Cerrado.

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura. 1a. Estrutura da amilose (54)........................................................................21

    Figura. 1b. Estrutura da amilopectina (54). ...............................................................22

    Figura 2. Estrutura tridimensional da -amilase. O domnio A est representado em

    vermelho, o domnio B em amarelo e o domnio C em azul. No centro

    cataltico, o on clcio est representado como uma esfera azul e o on

    cloreto como esfera amarela. As estruturas verdes so ligantes da enzima

    na superfcie do stio ativo e na sua fenda (56).........................................23

    Figura 3. Estrutura tridimensional da -amilase. O centro cataltico est representado

    em vermelho (Domnio A), o domnio N-terminal em amarelo (Domnio N),o domnio C-terminal proximal em azul (Domnio C), o domnio C-terminal

    distal em verde (Domnio D), o subdomnio B em violeta e o subdomnio B

    em laranja (63). .........................................................................................25

    Figura 4. Ligaes dos tomos de Cobre no stio ativo da enzima tirosinase (68)....26

    Figura 5. Biossntese de melanina (67).....................................................................26

    Figura 6. Estrutura da acetilcolinesterase. O estreitamento semelhante a uma

    garganta (gorge) est representado como uma superfcie rosa. A entrada

    para o stio ativo est no topo do estreitamento (80). ...............................28

    Figura 7. Reao do DNS com o acar redutor (142). ............................................42

    Figura 8. Valores de IC50 sobre a atividade da -amilase dos extratos vegetais do

    Cerrado. Acarbose como controle positivo. (1) S. adstringens CC(e); (2)

    P.torta F(a); (3) P. ramiflora F(a); (4)P. caimito F(a); (5)E. dysenterica

    F(a)............................................................................................................56

    Figura 9. Valores de IC50 sobre a -glicosidase. (Deox) Controle positivo

    desoxinojirimicina; (1) G. americana F(e); (2) P. neochilus F(a); (3) P.

    neochilusF(h); (4) H. speciosaF(h); (5)A. blanchettiFr(h); (6) H. speciosaF(e); (7) E. dysentericaF(h); (8) P. caimito F(e); (9) P. gardneriF(e); (10)

    P. ramiflora F(e); (11) P. caimito F(a); (12) P. torta CFr(e); (13) E.

    dysentericaF(e); (14) S. adstringensCC(e); (15) E. dysentericaF(a); (16)

    P. ramifloraF(a); (17) P. torta F(a)............................................................62

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    Figura 10. Valores de IC50sobre a tirosinase. cido kjico como controle positivo; (1)

    E. dysentericaF(e); (2) P. caimitoF(a); (3) S. AdstringensCC(e); (4) P.

    tortaF(a); (5) E. dysentericaF(a); (6) M. Nigra F(e)..................................69

    Figura 11. Reaes envolvidas no mtodo de Ellman (181).....................................71

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Extratos vegetais de plantas do Cerrado avaliados quanto a inibio

    enzimtica............................................................................................40

    Tabela 2 - Atividade de inibio dos extratos vegetais sobre a -amilase ................52

    Tabela 3 - Valores de IC50dos extratos com atividade de inibio sobre a -amilase

    .............................................................................................................55

    Tabela 4 - Atividade de inibio dos extratos vegetais sobre a -glicosidase...........58

    Tabela 5 - Valores de IC50 dos extratos com atividade de inibio sobre a -

    glicosidase ...........................................................................................61

    Tabela 6 - Atividade de inibio dos extratos sobre a tirosinase...............................65

    Tabela 7 - Valores de IC50dos extratos com atividade de inibio sobre a tirosinase

    .............................................................................................................68

    Tabela 8 - Atividade de inibio dos extratos sobre a acetilcolinesterase.................72

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    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    AChE Acetilcolinesterase

    DMSO Dimetilsulfxido

    DNS cido dinitrosaliclico

    DTNB cido 5,5-ditiobis-2-nitrobenzico

    IC50 Concentrao capaz de inibir 50% a atividade mxima

    L-Dopa L-3,4-dihidroxifenilalanina

    OMS Organizao Mundial de Sade

    UB Herbrio da Universidade de Braslia

    UEC Herbrio da Universidade Estadual de Campinas

    UV Ultra-Violeta

    NP -nitrofenol

    NPG -nitrofenil--D-glicopiranosdeo

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    SUMRIO

    1 INTRODUO .......................................................................................................132 REVISO BIBLIOGRFICA..................................................................................15

    2.1 PATOLOGIAS...................................................................................................15

    2.1.1 Diabetes .....................................................................................................15

    2.1.2 Hiperp igmentao da pele........................................................................16

    2.1.3 Doena de Alzheimer ................................................................................19

    2.2 ENZIMAS ENVOLVIDAS..................................................................................21

    2.2.1 Amilase .................................................................................................21

    2.2.2 -Glicos idase.............................................................................................232.2.3 Tirosinase ..................................................................................................25

    2.2.4 Acetilcol inesterase ...................................................................................28

    2.3. INIBIDORES ENZIMTICOS EXTRADOS DE PLANTAS..............................29

    2.3.1 Inibidores de -amilase ............................................................................29

    2.3.2 Inibidores de -gl icosidase......................................................................31

    2.3.3 Inibidores de ti ros inase............................................................................33

    2.3.4 Inibidores de acetilcolinesterase.............................................................34

    2.4 CERRADO........................................................................................................36

    3 OBJETIVOS...........................................................................................................39

    4 MATERIAIS E MTODOS .....................................................................................40

    4.1 EXTRATOS OBTIDOS DE PLANTAS DO BIOMA CERRADO ........................40

    4.2 DETERMINAO DA ATIVIDADE DE INIBIO SOBRE A-AMILASE........41

    4.2.1 Preparo das solues ...............................................................................41

    4.2.3 Ensaio da atividade enzimtica da -amilase.........................................42

    4.2.3 Controle positi vo para a atividade de inibio sobre a -amilase........43

    4.3 DETERMINAO DA ATIVIDADE DE INIBIO SOBRE A -GLICOSIDASE

    ................................................................................................................................44

    4.3.1 Preparo das solues ...............................................................................44

    4.3.2 Ensaio da atividade enzimtica da -glicosidase ..................................45

    4.3.3 Controle positi vo para a atividade de inibio sobre a -glicosidase .45

    4.4 DETERMINAO DA ATIVIDADE DE INIBIO SOBRE A TIROSINASE.....46

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    4.4.1 Preparo das solues ...............................................................................46

    4.4.2 Ensaio da atividade enzimtica da t irosinase ........................................47

    4.4.3 Controle positi vo para a atividade de inibio sobre a ti rosinase .......47

    4.4 DETERMINAO DA ATIVIDADE DE INIBIO SOBRE A

    ACETILCOLINESTERASE.....................................................................................47

    4.4.1 Preparo das solues ...............................................................................47

    4.4.2 Ensaio da atividade enzimtica da acetilcolinesterase .........................49

    4.4.3 Controle posi tivo para a atividade de inibio sobre a

    acetlcolinesterase ..............................................................................................49

    4.5 DETERMINAO DA PORCENTAGEM DE INIBIO ENZIMTICA.............50

    4.6 DETERMINAO DOS VALORES DE IC50DOS EXTRATOS VEGETAIS .....50

    4.7 INFLUNCIA DOS SOLVENTES UTILIZADOS NA DILUIO DOSEXTRATOS VEGETAIS .........................................................................................51

    4.8 ANLISE ESTATSTICA ..................................................................................51

    5 RESULTADOS E DISCUSSO .............................................................................52

    5.1 AVALIAO DA INIBIO DA ENZIMA-AMILASE POR ESPCIES DO

    BIOMA CERRADO .................................................................................................52

    5.2 AVALIAO DA INIBIO DA ENZIMA-GLICOSIDASE POR ESPCIES DO

    BIOMA CERRADO .................................................................................................58

    5.3 AVALIAO DA INIBIO DA ENZIMA TIROSINASE POR ESPCIES DOBIOMA CERRADO .................................................................................................64

    5.4 AVALIAO DA INIBIO DA ENZIMA ACETILCOLINESTERASE POR

    ESPCIES DO BIOMA CERRADO........................................................................70

    6 CONCLUSO ........................................................................................................74

    7 PERSPECTIVAS....................................................................................................75

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    1 INTRODUO

    A utilizao de plantas medicinais para tratamento humano, cura e preveno

    de doenas, realizada pela humanidade h muito tempo. Certamente, a

    teraputica moderna no teria atingido o grau de desenvolvimento atual se no

    fosse o auxlio desse recurso como fonte de substncias ativas (1).

    As plantas produzem uma variedade de substncias bioativas importantes

    para a formulao de fitoterpicos, sendo assim uma importante fonte para

    tratamentos de doenas. Segundo a OMS, planta medicinal qualquer planta que

    possui, em um ou em vrios de seus rgos, substncias que podem ser utilizadas

    com finalidade teraputica e exercem algum tipo de ao farmacolgica (2).Entre as estratgias utilizadas em todo mundo para o isolamento e

    identificao de sustncias com potencial teraputico, a pesquisa por substncias

    presentes em fontes naturais se destaca como uma das mais importantes, sendo

    que as plantas e microrganismos cultivveis so as principais fontes de molculas

    biologicamente ativas e terapeuticamente teis (3). Estima-se que 40% dos

    medicamentos disponveis na teraputica atual foram desenvolvidos a partir de

    fontes naturais, sendo as plantas responsveis por 25% desse total (4).

    Em todo o mundo, apenas 17% da biodiversidade mundial foram estudadasquanto ao seu emprego medicinal e, na maioria dos casos, sem grande

    aprofundamento nos aspectos fitoqumicos e farmacolgicos. Esses dados

    apresentam o enorme potencial das plantas para a descoberta de novos

    fitoterpicos e fitomedicamentos (4, 5).

    O Brasil est entre os pases de maior biodiversidade mundial, abrigando

    cerca de 55 mil espcies de plantas superiores (aproximadamente 22% do total

    mundial). Entretanto, apenas uma pequena parcela da flora brasileira tem sido

    pesquisada cientificamente quanto ao seu potencial farmacolgico (6).A pesquisa e o desenvolvimento de novos frmacos constituem uma das

    etapas mais complexas do ponto de vista tecnolgico, pois, compreende as

    atividades e o conjunto de conhecimentos necessrios gerao de novos

    frmacos. A maior parte dos processos de produo resultam da sntese qumica de

    novas substncias ou da extrao de princpios ativos de fontes naturais, que

    passam por uma srie de testes de eficcia, toxicidade, potencial teratognico,

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    testes farmacolgicos, estudos farmacotcnicos e ensaios clnicos, tornando essa

    primeira etapa a mais complexa do ponto de vista tecnolgico (7).

    Atualmente existe um grande nmero de plantas medicinais cujo potencial

    teraputico tem sido estudado em uma variedade de modelos experimentais, e cujos

    mecanismos de ao tm sido investigados quanto atividade de inibio

    enzimtica. Estes estudos tm providenciado informaes teis para o

    desenvolvimento de novas farmacoterapias a partir dessas plantas para o tratamento

    de vrias doenas, inclusive diabetes, doena de Alzheimer e doenas relacionadas

    a hiperpigmentao da pele.

    Frmacos que inibem uma enzima chave em um determinado processo

    metablico, de forma que sua ao seja a mais seletiva possvel e com menores

    efeitos indesejveis, tm sido alvo de pesquisas na rea de medicamentos, taiscomo inibidores da -amilase, -glicosidase, tirosinase e acetilcolinesterase. Com

    este intuito, enzimas, extratos vegetais, suas fraes e produtos isolados tm sido

    objeto de pesquisa constante.

    Neste sentido, a identificao de espcies vegetais do bioma Cerrado com

    atividade inibitria das enzimas acetilcolinesterase, -amilase, -glicosidase e

    tirosinase, poder contribuir para o desenvolvimento de novos medicamentos,

    melhorando a qualidade de vida dos pacientes com doenas como Alzheimer,

    diabetes e hiperpigmentao da pele, alm de promover uma explorao racional eauto-sustentvel do Cerrado Brasileiro.

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    2 REVISO BIBLIOGRFICA

    2.1 PATOLOGIAS

    2.1.1 Diabetes

    Diabetes uma desordem metablica de etiologia mltipla caracterizada por

    hiperglicemia crnica e alteraes no metabolismo e carboidratos, gorduras e

    protenas (8), causada pela deficincia herdada ou adquirida na secreo de

    insulina, resultando em um aumento do nvel de glicose no sangue (9).

    Os efeitos em longo prazo da doena diabetes incluem alteraes micro e

    macrovasculares que levam a disfuno, dano ou falncia de vrios rgos. As

    complicaes crnicas incluem a nefropatia, com possvel evoluo para

    insuficincia renal crnica; a retinopatia, com a possibilidade de cegueira;

    neuropatias, com risco de lceras nos ps e amputaes e manifestaes de

    disfuno autonmica, incluindo disfuno sexual. Pessoas com diabetes

    apresentam risco maior de doena vascular arterosclertica, como doena

    coronariana, doena arterial perifrica e doena vascular cerebral (10-12).

    Diabetes considerado um problema de sade pblica que afeta milhes de

    indivduos no mundo. Estima-se que em 2010 a doena tenha afetado 285 milhes

    de adultos (20-79 anos) no mundo, aumentando para 439 milhes em 2030 (13, 14).

    Esse nmero continuar crescendo devido ao aumento e envelhecimento da

    populao, urbanizao crescente e ao aumento da prevalncia da obesidade e do

    sedentarismo (15). Alm disso, a Federao Internacional de Diabetes (International

    Diabetes Federation IDF) estima que 3,9 milhes de mortes tenham sido causadaspela doena diabetes em 2010, o que representa 6,8% da mortalidade mundial (13).

    No Brasil, estima-se a existncia de mais de 7 milhes de indivduos com diabetes.

    A previso de que o nmero chegue a 12 milhes em 2030 (14).

    A doena diabetes classificada de acordo com a sua etiologia, podendo

    existir em duas formas. O diabetes tipo 1 uma doena auto-imune do pncreas,

    caracterizada pela diminuio absoluta da secreo de insulina devido destruio

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    das clulas -pancreticas (16). O desenvolvimento do diabetes tipo 1 pode ocorrer

    de forma rapidamente progressiva, afetando principalmente crianas e adolescentes

    (11).Pacientes com diabetes tipo 1 devem administrar insulina exgena para evitar o

    desenvolvimento de cetoacidose e reduzir o nvel elevado de glicemia (16).

    O diabetes tipo 2 uma doena caracterizada pela resistncia insulina ou

    pela deficincia da secreo de insulina (16). O diabetes tipo 2 prevalente em 90%

    dos pacientes em todo o mundo (17). As estratgias teraputicas para o tratamento

    da diabetes tipo 2 incluem diferentes tipos de mecanismo: estimulao da secreo

    de insulina endgena, que incluem as sulfoniurias e meglitinidas; o aumento da

    sensibilidade insulina, como as biguanidas e tiazolidinodionas; e a inibio da

    degradao de oligossacardeos e dissacardeos, formado pelos inibidores das

    enzimas -amilase e -glicosidase (10, 17).Uma das abordagens para o tratamento do diabetes tipo 2 a inibio da

    captao de carboidratos pelas clulas intestinais, utilizando-se para isso os

    inibidores das enzimas -amilase e -glicosidase. A -amilase responsvel pela

    degradao de carboidratos em oligossacardeos e dissacardeos. Na membrana de

    clulas intestinais, as -glicosidases so responsveis pela hidrolise desses oligo e

    dissacardeos em monossacardeos (18). Assim, a inibio competitiva dessas

    enzimas reduz a taxa de absoro de monossacardeos, levando a reduo da

    hiperglicemia ps-prandial (18, 19). Atualmente, os inibidores de -amilase e -glicosidase incluem acarbose, miglitol e voglibose (8, 19-21).

    2.1.2 Hiperpigmentao da pele

    Hiperpigmentao da pele ou hipercromias so alteraes patolgicas na

    colorao da pele que deixam manchas de cor varivel, causadas pelo aumento daproduo de melanina ou pela distribuio anormal de melanina e esto

    relacionadas a fatores genticos e ambientais (22-24). O aumento da melanina

    (melanodermias) tem cor varivel do castanho claro ao escuro, azulado ou preto

    (23).

    A melanina um biopolmero heterogneo, pigmentado, polifenlico de alto

    peso molecular, responsvel pela cor da pele, do cabelo e dos olhos (25, 26). A

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    melanina secretada pelos melancitos na camada basal da epiderme e

    produzida dentro de organelas especializadas chamadas melanossomas, as quais

    possuem especficas enzimas que controlam a produo de pigmentos (22, 26). Os

    melancitos so clulas dendrticas que na epiderme agem em conjunto com

    queratincitos e interagem na produo e distribuio de melanina humana durante

    o processo de pigmentao (27). Melanina formada atravs de uma srie de

    reaes oxidativas envolvendo o aminocido tirosina na presena da enzima

    tirosinase (28). As melaninas podem ser classificadas em dois diferentes grupos, as

    eumelaninas e as feomelaninas (29). As eumelaninas so pigmentos negros ou

    marrons, geralmente insolveis, formados por seqncias de reaes oxidativas, a

    partir da tirosina, L-Dopa, dopamina ou outras catecolaminas. As feomelaninas so

    pigmentos de cores mais claras como vermelho ou amarelo, e podem ser obtidas deforma semelhante s eumelaninas, mas tambm possuem como precursores a

    cistena ou a glutationa (25).

    Alm da colorao da pele, a melanina protege a pele contra os raios

    ultravioleta. Como filtro solar, a melanina difrata ou reflete a radiao UV. Aps a

    irradiao, os melanossomas se reagrupam em torno do ncleo protegendo o

    material gentico da clula (30, 31). Melanina tambm desempenha um papel

    fundamental na absoro de radicais livres gerados no citoplasma (28). Apesar da

    melanina ser importante para proteo da pele contra raios UV, sua produodesordenada pode levar formao de hipercromias (30). Entre as hipercromias

    adquiridas mais comuns esto, o melasma, a melanose solar, as hipercromias

    medicamentosas, as melanodermias txicas, nevos melancitos comum (conhecidos

    como pintas) e as fitofotodermatoses (23).

    A hiperpigmentao da pele ocorre devido a vrios fatores, como

    envelhecimento, exposio ao sol, gravidez, distrbios endcrinos e tratamento com

    hormnios. Estudos demonstraram que as radiaes UV so as principais

    responsveis pela maioria desses distrbios de hiperpigmentao da pele, seguidaspelos hormnios e fatores externos (30).

    As hipercromias podem ser tratadas por diferentes tcnicas como utilizao

    de agentes despigmentantes, esfoliao da pele (peeling) e tratamentos com laser.

    As substncias despigmentantes possuem diversos mecanismos de ao, como

    inibio da sntese da tirosinase; inibio da atividade da tirosinase, toxicidade

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    seletiva aos melancitos, esfoliao, adsoro de melanina pr-formada, reao de

    reduo e estimulao da melanina dos queratincitos (32).

    Vrios inibidores de tirosinase so utilizados em cosmticos para o tratamento

    de clareamento e no tratamento de desordens dermatolgicas relacionadas a

    hiperpigmentao (33). As substncias despigmentantes mais utilizadas na

    teraputica so cido kjico, hidroquinona e arbutina. Entre os agentes

    despigmentantes, a hidroquinona um dos mais prescritos. Essa substncia um

    hidroxifenol de estrutura qumica semelhante ao precursor da melanina e atua na

    inibio da tirosinase reduzindo a hidroxilao da tirosina em dihidroxifenilalanina (L-

    Dopa) (34). Porm, essa substncia possui efeito citotxico sobre os melancitos e

    potencial mutagnico sobre as clulas de mamferos (31). Como resultado disso e

    de outros efeitos colaterais, o uso de hidroquinona tem sido proibido em diversospases (31, 34). A arbutina um glicopiranosdeo natural derivado da hidroquinona,

    atua como um potente inibidor de tirosinase e menos txico que a hidroquinona

    (31, 34). O cido kjico uma substncia natural produzida por fungos e possui

    ao clareadora devido a sua propriedade quelante de ons cobre, responsvel pela

    inativao da enzima tirosinase e conseqente inibio na formao de melanina. O

    principal efeito indesejvel relatado pelo uso do cido kjico a presena de

    eritema facial (31, 34). No entanto, estudos no Japo relataram um elevado potencial

    para causar sensibilizao e dermatite irritante, e encontraram uma correlao entreo uso tpico do cido kjico e a ocorrncia de tumores hepticos (35). O cido kjico

    tambm est associado a efeitos mutagnicos (34). Alm de causar efeitos txicos

    s clulas, a baixa estabilidade limita sua aplicao (31).

    A descoberta e caracterizao de novos inibidores da enzima tirosinase so

    teis devido a seus potenciais para aplicaes na preveno de hipercromias e

    outros problemas relacionados sade humana. Dessa forma, o mercado para

    agentes despigmentantes com ao inibidora da tirosinase muito grande e a

    descoberta de novos compostos naturais com tal propriedade tem sido largamenteestimulada pela indstria de cosmticos e de medicamentos dermatolgicos.

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    2.1.3 Mal de Alzheimer

    A doena de Alzheimer uma patologia neurodegenerativa progressiva

    caracterizada pela perda de memria, disfuno cognitiva, distrbios

    comportamentais, e dificuldade em realizar atividades dirias (36). A doena

    freqentemente comea com perdas de memria de curto prazo, e continua com

    disfuno emocional e cognitiva mais generalizada (37).

    O diagnstico da doena de Alzheimer baseado em caractersticas clnicas,

    embora deva ser confirmado pelo exame histopatolgico do crebro. Existem trs

    estgios clnicos da doena - leve, moderada e grave - com declnio cognitivo e

    funcional, que se estende por 5 a 8 anos. A fase inicial dura geralmente entre 2 a 3anos e caracterizada pela diminuio da memria de curto prazo, muitas vezes

    acompanhada por sintomas de ansiedade e depresso. No estgio moderado, estes

    sintomas aparecem como manifestaes neuropsiquitricas, tais como alucinaes

    visuais, falsas crenas e inverso de padro do sono podem surgir. A grave a fase

    final caracterizada por sinais motores, tais como o rigidez motora e declnio cognitivo

    (38).

    A doena de Alzheimer a causa mais comum de demncia entre as pessoas

    idosas (39). Em 2006, estima-se que existiam 26,6 milhes de pessoas comAlzheimer no mundo. Para o ano 2050, a prevalncia mundial da doena de

    Alzheimer aumentar para 106,8 milhes de casos (40, 41). A incidncia da doena

    alta e afeta 0,9% de pessoas com idade de 65 anos, 4,2% com 75 anos e 14,7%

    dos que possuem 85 anos ou mais (41). A expectativa que o nmero de pacientes

    com Alzheimer aumente diretamente com a expectativa de vida e o crescimento da

    populao idosa (37).

    As alteraes bioqumicas decorrentes da doena de Alzheimer afetam as

    regies cerebrais associadas s funes mentais superiores, particularmente ocrtex frontal e o hipocampo (42). As caractersticas neurodegenerativas mais

    evidentes da doena so as formaes de placas -amilides e os emaranhados

    neurofibrilares (43). O acmulo anormal das placas -amilides e dos emaranhados

    neurofibrilares levam a perda das conexes entre os neurnios e morte celular.

    Como a morte dos neurnios acontece em todo o crebro, as regies afetadas

    comeam a diminuir em um processo denominado atrofia cerebral. Na fase final da

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    doena o dano generalizado e o tecido cerebral se encontra significativamente

    diminudo (44, 45). Todo este processo resulta em perda da funo neuronal e dano

    sinptico, com subseqente comprometimento da memria, da coordenao motora

    e do raciocnio, alm de perda da capacidade cognitiva e demncia (42).

    Pacientes com doena de Alzheimer apresentam uma diminuio nos nveis

    de acetilcolina no processo sinptico, diminuindo a neurotransmisso colinrgica

    cortical (46). Observa-se que muitos relatos de dficits cerebrais ligados a doena

    esto associados ao sistema colinrgico, ou seja, as disfunes cognitivas,

    funcionais e comportamentais associadas com a doena de Alzheimer podem ser

    causadas por uma incapacidade de transmitir impulsos neurolgicos em toda

    sinapse colinrgica (37). Alm da acetilcolina, a doena de Alzheimer est associada

    reduo das taxas de outros neurotransmissores, como noradrenalina, dopamina,serotonina, glutamato e substncia P em menor extenso (42).

    As opes teraputicas para o tratamento da doena de Alzheimer esto

    focadas em modificar os sistemas de neurotransmissores, em especial o sistema

    colinrgico, para maximizar a atividade dos neurnios restantes (38). Entre os

    diferentes tipos de drogas que podem modificar a transmisso colinrgica, os

    frmacos inibidores da acetilcolinesterase (AChE) so aqueles que apresentam os

    melhores resultados clnicos no tratamento da doena de Alzheimer. A inibio da

    enzima AChE parece promover o aumento da concentrao da acetilcolina nasinapse, diminuindo ou retardando a progresso dos sintomas associados a doena

    (37).

    Atualmente, os inibidores de AChE aprovados para o tratamento de pacientes

    com doena de Alzheimer so donepezil, rivastigmina e galantamina (47). Essa nova

    gerao de inibidores de AChE relativamente bem tolerada, no hepatotxica e

    possui um regime de dosagem mais rigoroso (37). Entretanto, estudos clnicos

    relataram alguns efeitos adversos como nusea, vmito, diarria, perda de peso,

    insnia, alteraes no sono, espasmos musculares, bradicardia, desmaio e fadiga(47). O donepezil e a galantamina so inibidores seletivos de AChE. Os inibidores de

    AChE so indicados para pacientes com doena de Alzheimer leve a moderada,

    entretanto alguns estudos sugerem um pequeno benefcio em paciente em estgios

    mais avanados da doena (38).

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    2.2 ENZIMAS ENVOLVIDAS

    2.2.1 Amilase

    A -amilase pode ser encontrada em microrganismos, plantas e animais, e

    um dos principais produtos secretados pelo pncreas (cerca de 5-6%) e glndulas

    salivares, desempenhando um papel na digesto de amido e glicognio (48, 49). -

    Amilases (-1,4-glicano-4-glicanohidrolases, E.C.3.2.1.1) so enzimas da famlia de

    endoamilases que catalisam a hidrlise das ligaes glicosdicas -1,4 do amido,

    formando unidades menores de oligossacardeos (48-52). Os produtos finais da

    ao da -amilase so oligossacardeos de diversos tamanhos em uma

    configurao anomrica e dextrinas limites (53), na qual constituem uma mistura

    de maltose, maltotriose, e oligossacardeos de 6-8 unidades de glicose que contm

    ligaes -1,4 e -1,6 (48). Outras enzimas amilolticas participam no processo de

    hidrlise do amido, porm a contribuio da -amilase essencial para o incio do

    processo (51).

    O amido, importante constituinte da dieta humana, constitudo por dois tipos

    de polmeros de glicose: amilose e amilopectina (Figuras 1a e 1b). A amilose um

    polmero linear composto de at 6000 unidades de glicose com ligaes glicosdicas

    -1,4. A amilopectina constituda por pequenas cadeias lineares de ligaes

    glicosdicas -1,4 com 10-60 unidades de glicose e cadeias laterais de ligaes

    glicosdicas -1,6 com 15-45 unidades de glicose. As -amilases so capazes de

    clivar as ligaes -1,4 presentes na parte interna das cadeias de amilose ou

    amilopectina (53-55).

    Figura. 1a. Estrutura da amilose (54).

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    Figura. 1b. Estrutura da amilopectina (54).

    A -amilase humana uma enzima dependente de clcio, composta de 512

    aminocidos com peso molecular de 57,6 kDa. A enzima contm 3 domnios: A, B e

    C (Figura 2). O domnio B est inserido entre os domnios A e C e est ligado ao

    domnio A por ligao dissulfeto. O domnio C com uma estrutura de folha est

    ligado ao domnio A por uma simples cadeia polipeptdica e parece ser um domnio

    independente, com funo desconhecida. O stio ativo da -amilase est situado em

    uma fenda longa entre os domnios A e B. O clcio (Ca2+) est localizado entre os

    domnios A e B e pode atuar na estabilizao da estrutura tridimensional e comoativador alostrico. Alm da ligao com o clcio, a enzima possui um stio ligante de

    cloro no domnio A prximo ao stio ativo.O stio de ligao ao substrato contm 5

    substios com o stio cataltico posicionado no substio 3. A -amilase cliva

    preferencialmente as ligaes glicosdicas -1,4 presentes no interior da molcula

    (48).

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    Figura 2. Estrutura tridimensional da -amilase. O domnio A est representado em vermelho, o domnio B em

    amarelo e o domnio C em azul. No centro cataltico, o on clcio est representado como uma esfera azul e o

    on cloreto como esfera amarela. As estruturas verdes so ligantes da enzima na superfcie do stio ativo e nasua fenda (56).

    2.2.2 -Glicosidase

    As -glicosidases (E.C 3.2.1.20, -D-glicosideo glicohidrolase ) so enzimas

    que catalisam a hidrlise das ligaes glicosdicas -1,4 de dissacardeos ou

    oligossacardeos liberando unidades de glicose (57). Glicosidases so classificadas

    de acordo com a especificidade da clivagem da ligao glicosdica, dependendo do

    nmero, posio ou configurao do grupo hidroxila na molcula do acar (58).

    Assim, as -glicosidases so um grupo de exo-glicosdeo hidrolases capazes de

    clivar os resduos -glicosila das extremidades no reduzidas de substratos -

    ligados para liberar -D-glicose (59).

    As enzimas -glicosidases esto amplamente distribudas na natureza,

    podendo ser encontradas em microrganismos, plantas e animais (57). A enzima -

    glicosidase participa de processos bioqumicos fundamentais do metabolismo, como

    degradao dos polissacardeos provenientes da alimentao, tornando disponveis

    unidades de monossacardeos para gerao de glicognio e glicoprotenas

    celulares, biossntese e modificao de -glicoprotenas, e catabolismo de

    peptidioglicanos e outros glicoconjugados (60). As -glicosidases esto envolvidas

    no processamento de glicoprotenas e a regio oligossacardica destes

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    glicoconjugados desempenha funes fundamentais nos processos biolgicos, como

    resposta imune, reconhecimento intercelular, proliferao e diferenciao celular,

    enovelamento, estabilidade e solubilidade das protenas, alm dos processos

    patolgicos, como cncer e inflamao (58).

    As mltiplas funes da enzima -glicosidase no organismo justifica a procura

    por agentes teraputicos como potenciais inibidores para serem utilizados no

    tratamento de doenas como diabetes, obesidade, infeces pelo HIV e tumores

    (58, 61).

    As -glicosidases esto localizadas na membrana da borda em escova de

    clulas intestinais e so enzimas essenciais para a digesto dos carboidratos. Aps

    a hidrlise do amido pela -amilase, a maltose e as unidades menores de

    oligossacardeos so clivadas pela ao da -glicosidase, levando a produo deglicose que ser absorvida pelo organismo (62). A -glicosidase cliva as unidades

    terminais de glicose da amilose ou amilopectina, tendo preferncia por

    malto-oligossacardeos menores, liberando glicose com uma configurao (53).

    A enzima -glicosidase contm 4 domnios (A, C, D e N) e 2 subdomnios (B e

    B) (Figura 3). O domnio N-terminal interage intimamente com o domnio cataltico e

    pode estar envolvido diretamente na ligao com o substrato e na manuteno da

    arquitetura do stio ativo. O domnio N pode conter tambm stios secundrios de

    reconhecimento de carboidratos. A capacidade de ligao da -glicosidase ao amidopode ser atribuda a uma regio do domnio D. O domnio C contribui para a

    compacidade da estrutura dos outros domnios e parece desempenhar um papel de

    proteo do domnio cataltico contra solventes. O domnio A a regio cataltica

    localizada prxima os subdomnios. A proximidade do subdomnio B sugere um

    papel na ligao da enzima ao substrato. O stio ativo est posicionado do lado C-

    terminal, importante para a catlise e ligao ao substrato. Regies dos domnios B,

    N e B contribuem para o ambiente do stio ativo (63, 64).

    -Glicosidases so conhecidas tambm pelos nomes: isomaltase, maltase,maltase cida, glicoinvertase, glicosideosacarase, -glicosidase lisossomal e

    maltase-glicosidase (65).

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    Figura 3. Estrutura tridimensional da -amilase. O centro cataltico est representado em vermelho (Domnio A),

    o domnio N-terminal em amarelo (Domnio N), o domnio C-terminal proximal em azul (Domnio C), o domnio C-

    terminal distal em verde (Domnio D), o subdomnio B em violeta e o subdomnio B em laranja (63).

    2.2.3 Tirosinase

    As tirosinases (EC 1.14.18.1; polifenol oxidase; difenol oxidase, catecolase)

    so enzimas bifuncionais que catalisam a converso dos monofenis em duas

    etapas consecutivas, que envolvem o oxignio molecular. A atividade monoxigenase

    ou creolase envolve a o-hidroxilao de monofenis para o-difenis e a oxidaosubseqente dos o-difenis para o-quinonas est relacionada atividade difenolase

    ou catecolase (25, 66).

    Tirosinase amplamente distribuda na natureza, estando presente em

    plantas, animais e microrganismos, e possuem um papel fundamental na biossntese

    de melanina e em outros processos fisiolgicos. As tirosinases so enzimas

    tetramricas, com massa molar na ordem de 120kDa e com dois stios ativos por

    molcula. Cada um destes stios consiste em dois tomos de cobre que interagem

    com o oxignio molecular (67). No stio ativo, os tomos de cobre esto ligados a 6molculas de histidinas (68), conforme apresentado na Figura 4.

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    Figura 4. Ligaes dos tomos de Cobre no stio ativo da enzima tirosinase (68).

    Na sntese de melanina, a tirosinase converte L-tirosina (monofenol) em L-

    Dopa (o-difenol). Em seguida, a L-Dopa oxidada a o-dopaquinona (o-quinona), a

    qual espontaneamente ciclizada na forma de leucodopacromo que rapidamente

    convertido em dopacromo, o qual polimerizado formando melanina (25, 66, 69).

    Essas reaes esto representadas na Figura 5.

    Figura 5. Biossntese de melanina (67).

    As tirosinases constituem um vasto campo para pesquisa devido

    importncia dessas enzimas nas indstrias farmacuticas e de alimentos, alm das

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    suas aplicaes biotecnolgicas e ambientais, pois so utilizadas tanto para

    descolorao quanto para remoo de fenis presentes em efluentes (70). Para a

    indstria farmacutica, os inibidores de tirosinase so importantes para o tratamento

    de algumas patologias dermatolgicas associadas hiperpigmentao causada pela

    produo anormal de melanina (71). Alm disso, inibidores de tirosinase tem sido

    empregados na indstria cosmtica para o clareamento da pele e despigmentao

    aps queimaduras solares (72).

    Um dos maiores problemas para a indstria de alimentos o escurecimento

    desfavorvel de frutas, verduras e bebidas, resultando numa vida til curta e menor

    valor no mercado (73). A formao de melanina considerada deletria para a

    qualidade da cor desses alimentos e a preveno desse escurecimento tem sido

    feita atravs da adio de inibidores de tirosinase nos alimentos (74). Alm disso, atirosinase uma das principais enzimas envolvidas no processo de renovao do

    exoesqueleto de insetos, podendo ser importante na busca de inibidores como

    agentes de controle de insetos (74). Isso amplia a possibilidade de utilizao de

    inibidores de tirosinase como aditivos alimentares, alm de agentes contra insetos e

    agentes de clareamento.

    Dentre as aplicaes biotecnolgicas, as tirosinases so utilizadas para a

    sntese de frmacos o-difenlicos, como a L-Dopa (74). No Sistema Nervoso Central

    a tirosinase participa da sntese de dopamina que precursora direta de outrascatecolaminas importantes como a noradrenalina e adrenalina, sendo recentemente

    implicada em inmeras doenas neurodegenerativas, como a doena de Parkinson

    (75). A tirosinase tambm tem aplicaes industriais na preparao de biossensores

    para oxignio e fenis, na sntese estereoespecfica de quinonas, fenis e

    polmeros, e na biorremediao de resduos contaminados por fenis (76).

    Em funo dos efeitos indesejveis causados ou associados ao da

    tirosinase, a busca por compostos que sejam inibidores dessa enzima tem sido de

    interesse crescente na rea da pesquisa e da indstria farmacutica, que tminteresse em agentes eficazes nos distrbios de pigmentao.

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    eficiente por causa da proximidade do nuclefilo serina e a catlise da histidina,

    sendo que mais de 10.000 molculas de acetilcolina so hidrolisadas por segundo

    por um nico stio ativo (82).

    A AChE encontrada no sistema nervoso central em regies como

    hipotlamo, substncia negra, estriado, hipocampo, cerebelo e tambm no fluido

    crebro espinhal (82). Esta enzima secretada nas terminaes nervosas, sendo

    esta taxa de secreo modulada pela estimulao neuronal, pelo nvel de

    neurotransmissor na fenda sinptica, bem como, pelo tratamento com drogas (83).

    A acetilcolina uma molcula orgnica, liberada nas terminaes nervosas

    como neurotransmissor. Nos neurnios colinrgicos, a acetilcolina produzida pela

    enzima colina acetiltransferase que usa acetilcoenzima-A e colina como substrato

    para sua formao (84). As molculas de acetilcolina so liberadas no momento daestimulao nervosa nas junes neuromusculares, nas sinapses das fibras pr-

    ganglionares simpticas e parassimpticas, e nas sinapses das fibras nervosas ps-

    anglionares parassimpticas (82). No entanto, a reduo de neurotransmissores

    como a acetilcolina podem levar a doenas neurodegenerativas. A inibio da

    enzima AChE leva ao um aumento das molculas de acetilcolina nas sinapses,

    melhorando os sintomas cognitivos, comportamentais e funcionais relacionados s

    demncias hipocolinrgicas, como a doena de Alzheimer (85).

    2.3. INIBIDORES ENZIMTICOS EXTRADOS DE PLANTAS

    2.3.1 Inibidores de -amilase

    Existem diversos estudos que descrevem o potencial das plantas medicinaiscomo inibidores de -amilase. A disponibilidade de mtodos simples e rpidos para

    a anlise de grande nmero de extratos vegetais com atividade de inibio sobre a

    -amilase facilita e estimula a busca por inibidores mais eficazes.

    Inibidores de -amilase so encontrados nas sementes da espcie Phaseolus

    vulgaris, conhecido como feijo comum, e em outras espcies do gnero Phaseolus

    (86). Existem trs isoformas de inibidores de -amilase, conhecidos como -AI1, -

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    AI2 e -AI3, que so encontrados no gnero Phaseolus. O composto -AI1 a

    principal isoforma presente na maioria das espcies de feijo, sendo o nico com

    atividade de inibio sobre a -amilase de mamferos (87). Outro estudo isolou o

    composto faseolamina das sementes de P. vulgaris, sendo identificado como um

    inibidor especfico para -amilase de animais (88). A faseolamina uma protena

    utilizada como ativo em suplementos alimentares para o tratamento de obesidade.

    Acredita-se que pela inibio da digesto dos carboidratos complexos, a

    faseolamina pode reduzir a absoro de calorias, promovendo a perda de peso (89).

    Vrios extratos da espcie Amaranthus caudatus (Amaranthaceae)

    mostraram atividade de inibio sobre a -amilase em diferentes concentraes. Os

    extratos metanlico, hexnico e de acetato de etila da semente apresentaram

    atividades entre 20 e 90% (90). O extrato metanlico da espcie Amaranthusspinosustambm apresentou uma significativa inibio sobre a atividade enzimtica

    da -amilase (91).

    Fraes contendo polifenis isolados da espcie Garcinia mangostana(Clusiaceae)

    apresentaram alta atividade de inibio sobre a -amilase comparvel a da acarbose

    (71). A acarbose um pseudotetrassacardeo isolado de fungos do gnero

    Actinoplanes sp., com atividade de inibio competitiva e reversvel sobre a -

    amilase (92). Outra atividade semelhante a da acarbose foi observada no extrato da

    folha da espcie Vaccinium uliginosum (93).O cido rosmarnico encontrado em nas folhas das espcies da famlia

    Lamiaceae, como Melissa officinalis e Origanum vulgare, apresentou uma elevada

    inibio da atividade da enzima -amilase (94). Dentro da mesma famlia, a espcie

    Salvia acetabulosatambm apresentou alta atividade de inibio sobre a -amilase

    quando comparada a acarbose (95). Um estudo com espcies do gnero Salvia

    demonstrou que os extratos etanlicos de S. verticillata e S. virgata inibiram

    significativamente a atividade da -amilase (96).

    Uma espcie da famlia Myrtaceae bastante estudada a Syzygium cumini(Eugenia jambolana). Extratos das sementes e do fruto apresentaram uma reduo

    significativa dos nveis de glicose no sangue de ratos (97, 98). Outro estudo relatou

    que o extrato aquoso da semente dessa espcie obteve uma alta inibio sobre a

    atividade da -amilase. Os compostos identificados com atividade de inibio foram

    o cido betulnico e uma flavonona (98). Outros flavonides como quercetina,

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    luteolina, miricetina e eupafolina so descritos como inibidores da atividade da -

    amilase (99-101).

    Plantas do bioma Cerrado tambm mostraram inibio sobre a enzima -

    amilase. Diferentes extratos das espcies Byrsonima crassa, Calophyllum

    brasiliense, Kielmeyera coriacea (Clusiaceae), Qualea grandiflorae Qualea parviflora

    (Vochysiaceae) apresentaram atividades maiores que 70% (102).

    2.3.2 Inibidores de -glicosidase

    Diversos inibidores de -glicosidase foram isolados, identificados, sintetizados

    e investigados quanto a sua atividade de inibio sobre a enzima. Atualmente, os

    compostos disponveis na teraputica como inibidores de -glicosidases so

    acarbose, miglitol, voglibose e desoxinojirimicina, sendo os trs primeiros indicados

    para tratamento de diabetes e o ltimo para o controle da doena de Gaucher,

    doena relacionada ao acmulo de glicolipdios nos lisossomos (103). A acarbose

    um sacardeo e apresenta uma inibio competitiva sobre a -glicosidase. A

    voglibose um derivado de valiolamina e possui uma maior atividade de inibio

    sobre a enzima, sendo 20-30 vezes mais potente que a acarbose (58, 104). Ambos

    compostos foram isolados de microrganismos (21).

    A desoxinojirimicina, um potente inibidor de -glicosidase foi isolado de folhas

    e cascas dos caules de espcies do gnero Morus. A espcie Morus albapossui

    uma grande quantidade de desoxinojirimicina, sendo a maior concentrao

    encontrada nas folhas e ramos (105). O fruto da espcie Morus nigra tambm

    apresenta uma quantidade razovel do composto (105). A desoxinojirimicina um

    alcalide polihidroxilado e apesar de sua excelente atividade de inibio sobre a -

    glicosidase, sua eficcia in vivo mostrou ser moderada. Por isso, h na literatura umgrande nmero de derivados de desoxinojirimicina que esto sendo identificados e

    sintetizados com a finalidade de aumentar sua atividade in vivo (106). O miglitol

    um derivado de desoxinojirimicina comercialmente disponvel para o tratamento da

    diabetes (107). Esse composto apresenta uma forte inibio sobre a enzima -

    glicosidase e absorvido completamente pelo intestino delgado, ao contrrio dos

    outros inibidores acarbose e voglibose. O miglitol tem maior efeito na reduo dos

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    nveis de glicose ps-prandial, pois pode ser administrado a pacientes em

    concentraes relativamente elevadas apresentando baixa incidncia de efeitos

    colaterais (104).

    Estudos in vitromostraram que o extrato da semente de Eugenia jambolana

    (Myrtaceae) so mais efetivos na inibio da -glicosidase quando comparados a

    acarbose e desoxinojirimicina (62). Fraes do extrato etanlico das folhas de

    Eugenia uniflora apresentaram atividades de inibio sobre a -glicosidase maiores

    que 80% (108). O extrato da casca de Eugenia malaccensis tambm apresentou

    atividade de inibio sobre a -glicosidase, sendo encontrado como composto ativo

    o alcalide casuarina (107). Outros alcalides identificados como radicaminas,

    isolados da espcie Lobelia chineses(Campanulaceae), tambm mostraram inibio

    sobre a enzima (107).Salacia reticulata, encontrada nas regies do Sri Lanka e florestas da ndia,

    tem sido utilizada como suplemento alimentar no Japo para evitar a obesidade e

    diabetes. Salacinol e kotalanol foram identificados como os componentes inibidores

    da enzima -glicosidase na frao solvel em gua de razes e caules da espcie S.

    reticulata (58, 106). O salacinol um potente inibidor competitivo da enzima -

    glicosidase, sendo sua atividade maior que a da acarbose. O kotalanol, um derivado

    de salacinol, mostrou uma potente atividade de inibio maior que a do salacinol e

    da acarbose (58).A partir do extrato metanlico das folhas de Origanum majorana da famlia

    Lamiaceae foram isolados 5 flavonides com atividade de inibio sobre a -

    glicosidase (107). O flavonide baicaleina um potente inibidor de -glicosidase e

    tambm foi isolado das folhas de O. majorana (58). Espcies da mesma famlia

    tambm apresentam compostos com atividade de inibio sobre a enzima, como o

    extrato das folhas de Hyssopus officinalis, que possui dois compostos fenlicos

    ativos (107).

    Atualmente, diversos inibidores de -glicosidase de origem natural ou sintticatm sido descritos na literatura. Existem revises detalhadas sobre a diversidade

    estrutural, relao estrutura-atividade e mecanismo de ao destes compostos,

    sendo importantes para o desenvolvimento de novos frmacos e para o

    planejamento de compostos anlogos mais especficos. O isolamento de agentes

    inibidores de fontes naturais ou da sntese qumica fornece alternativas para o

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    tratamento de diversas doenas como cncer, diabetes, obesidade, doena de

    Gaucher e infeces pelo HIV (58, 106, 107).

    2.3.3 Inibidores de t irosinase

    A melanina desempenha um papel fundamental de proteo da pele contra

    fotocarcinognese. No entanto, a produo anormal da melanina um srio

    problema esttico em seres humanos. Inibidores de tirosinase so considerados

    como um dos tratamentos padres para doenas relacionadas a hiperpigmentao,

    alm de serem importantes como agentes clareadores na indstria de cosmticos.

    Uma variedade de agentes inibidores de fontes naturais que inibem as atividades

    monofenolase e difenolase da enzima tirosinase j foram identificados (28, 31).

    Alguns flavonides com potente atividade de inibio sobre a tirosinase, tais

    como quercetina e kaempferol, podem ser isolados de vrias plantas (28, 69). A

    quercetina est presente nas flores de Heterotheca inuloides (Asteraceae), espcie

    vegetal conhecida no Mxico pelo nome arnica (109). O kaempferol foi isolado das

    ptalas da espcie Crocus sativus(aafro), pertencente a famlia Iridaceae (110). O

    kaempferol e a quercetina inibem de forma competitiva a atividade da tirosinase pela

    capacidade de quelar o cobre presente no stio ativo da enzima, levando a

    inativao da tirosinase (31).

    Alm desses flavonides, a moracina foi isolada das folhas da espcie Morus

    alba e apresentou uma tima atividade de inibio sobre a tirosinase de 80% na

    concentrao de 100g/mL (53). Outro composto isolado da espcie M. alba o

    oxiresveratrol, um agente clareador com alta afinidade pela enzima tirosinase. O

    oxiresveratrol exibiu uma potente atividade de inibio sobre a tirosinase maior que o

    cido kjico, um agente clareador utilizado no tratamento de hiperpigmentao. Oefeito de despigmentao do oxiresveratrol ocorre devido a inibio reversvel da

    atividade da tirosinase (62, 111).

    Outro polifenol bastante estudado quanto a sua atividade de inibio sobre a

    enzima tirosinase o cido glico. Diversos derivados do cido glico foram isolados

    das espcies Galla rhois e Camellia sinensis (ch verde), e alguns deles foram

    identificados como potentes inibidores de tirosinase (31, 112). Alm disso, o cido

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    glico parece agir como um substrato para a enzima, sendo oxidado antes da L-

    Dopa (113).

    A aloesina isolada da folha de Aloe vera age como um potente inibidor

    competitivo da enzima tirosinase. Atualmente, aloesina e arbutina so usadas na

    indstria de cosmticos como agentes clareadores (31). Tratamentos combinados de

    arbutina e aloesina exibiram efeitos sinrgicos por apresentarem mecanismos de

    inibio competitiva e no-competitiva da tirosinase, respectivamente (81, 114). A

    arbutina um derivado de hidroquinona glicosilada, podendo ser encontrada em

    diversas espcies, comoArctostaphylos uva-ursi (Ericaceae), Orignanum majorana

    (Lamiaceae), Pyrus communis (Rosaceae) e Myrothamnus flabellifolia

    (Myrothamnaceae) (115). Estruturalmente relacionada a hidroquinona, a arbutina

    inibe a atividade da tirosinase pela interao com o cobre no stio ativo da enzima(69). Vrios estudos demonstram a atividade de inibio da arbutina sobre a enzima

    tirosinase e sua efetividade no tratamento da hiperpigmentao da pele (28, 69).

    2.3.4 Inibidores de acetilco linesterase

    Diversos estudos relatam a capacidade de plantas com atividade de inibio

    sobre a enzima AChE, demonstrando um potencial teraputico para o tratamento de

    doenas neurodegenerativas, como a doena de Alzheimer (36, 46, 116, 117).

    Abordagens etnofarmacolgicas e estudos fitoqumicos fornecem caminhos para a

    identificao de plantas e compostos isolados como inibidores de AChE, e

    conseqentemente levam descoberta de drogas relevantes para o tratamento da

    doena de Alzheimer (117, 118). A busca por novos compostos bioativos a partir de

    plantas medicinais levou ao isolamento e a elucidao de estruturas de uma grande

    quantidade de novos fitoconstituintes (117).A fisostigmina um alcalide indlico isolado da espcie Physostigma

    venenosum(Leguminosae), utilizada como um dos primeiros inibidores de AChE na

    teraputica. Devido ao seu curto tempo de meia vida, a fisostigmina no mais

    utilizada clinicamente, porm sua estrutura qumica foi til como modelo para o

    desenvolvimento de novos inibidores, como a rivastigmina, um inibidor de AChE

    aprovado para o tratamento de pacientes com doena de Alzheimer. Isso implica na

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    abertura de novos caminhos onde alcalides isolados de plantas com atividade de

    inibio da AChE podem ser importantes para o desenvolvimento de drogas mais

    adequadas para o tratamento da doena de Alzheimer (117).

    A galantamina um alcalide isolado primeiramente da espcie Galanthus

    nivalis(Amaryllidaceae), planta utilizada tradicionalmente na Bulgria e Turquia para

    o tratamento de condies neurolgicas (117). Atualmente, a galantamina pode ser

    isolada das espcies Narcisus confusese Lycorus radiate, tambm pertencentes

    famlia Amaryllidaceae, alm de ser obtida sinteticamente (37). A galantamina um

    inibidor seletivo de AChE e proporciona uma biodisponibilidade completa pela

    administrao via oral, alem de ser um modulador dos receptores nicotnicos

    cerebrais o que mostrou valor adicional para o tratamento da doena de Alzheimer

    (37, 117). Em 2001, o uso da galantamina foi aprovado para o tratamento da doenade Alzheimer em diversos pases (37), por ser uma droga bem tolerada e com uma

    significativa ao no melhoramento das funes cognitivas (117). Outros alcalides

    isolados de espcies da famlia Amaryllidaceae, tais como assoanina,

    epinorgalantamina, oxoassoanina, sanguinina, 11-hidroxigalantamina tambm

    demonstraram atividade de inibio sobre a enzima AChE (119).

    Vrios estudos foram realizados para avaliar o potencial de inibio de

    espcies da famlia Apocynaceae sobre a atividade da AChE. O gnero

    Tabernaemontanaapresenta muitos estudos realizados com relao ao potencial deinibio. Alcalides indlicos como coronaridina, voacangina, hidroxindolenina

    voacangina e rupicolinaisolados do extrato de T. australisapresentamatividade de

    inibio sobre a AChE nas mesmas concentraes quea fisostigmina e galantamina.

    Um levantamento de plantas utilizadas tradicionalmente na Tailndia mostrou que a

    espcie T. divaricata foi capaz de inibir 93,5% a atividade da enzima AChE (116).

    Alcalides obtidos das espcies T. laeta e T. hytrix (isovoacristina, olivacina,

    affinisina, ibogamina, affinina, conodurina e histrixnina) demonstraram atividade de

    inibio sobre a enzima AChE (120).A huperzina A, um alcalide quinolizidnico isolado da espcie Huperzia

    serrata (Lycopodiaceae), um potente inibidor da acetilcolinesterase e utilizado na

    China para o tratamento de pacientes com doena de Alzheimer. A huperzina A

    mais seletiva para a enzima AChE e menos txica que os inibidores sintticos

    donezepil e tacrina (117).

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    Entre as espcies de plantas investigadas para o tratamento de doenas

    neurodegenerativas, as espcies do gnero Salvia so as mais pesquisadas da

    famlia Lamiaceae e so capazes de inibir a AChE em 60% , alm de apresentarem

    atividade nicotnica (117). Um levantamento mostrou que espcies da famlia

    Fumariaceae, Papaveraceae e Ericaceae so potentes inibidores da enzima AChE,

    apresentando atividade de inibio entre 80 e 90% na concentrao de 1 mg/mL

    (36).

    As espcies pertencentes s famlias Amaryllidaceae, Apiaceae, Asteraceae,

    Leguminosae, Fumaraceae, Lamiaceae so as mais estudadas quanto a atividade

    de inibio sobre a AChE (46, 117). A alta atividade destas espcies pode estar

    relacionada sua rica composio em alcalides, pois a maioria dos inibidores de

    AChE apresentam nitrognio em sua estrutura (121).Atualmente, o alcalide leptomerina foi isolado do extrato etanlico do caule

    da espcie Esenbeckia leiocarpa (Rutaceae), um espcie nativa do Brasil e

    popularmente conhecida como goiabeira. A leptomerina apresentou elevada

    atividade anticolinestersica com um potencial de inibio sobre a AChE similar ao

    da galantamina (122).

    A pesquisa de novos compostos inibidores de AChE com ao prolongada,

    com maior potncia e com menores riscos de efeitos adversos, ainda permanece

    como foco de diversos pesquisadores.

    2.4 CERRADO

    O Brasil considerado como um dos pases de maior biodiversidade no

    mundo, pois se calcula que nada menos do que 10% de toda a biota terrestre

    encontram-se no pas (123).O Cerrado o segundo maior bioma brasileiro e possuiuma das maiores floras vegetais do mundo, estimada em aproximadamente 7 mil

    espcies, compondo um cenrio de exuberante diversidade biolgica (124). Cobre

    uma rea contnua de aproximadamente dois milhes de km2 que corresponde a

    cerca de 23 % do territrio nacional (125, 126).

    Com uma grande diversidade de espcies vegetais, as plantas do Cerrado

    so fontes de compostos com potencial farmacolgico e biotecnolgico (127). A

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    diversidade qumica presente e sua vegetao deve-se a diferentes maneiras de

    adaptao s condies climticas, de solo e geogrficas (123).

    Muitas dessas plantas so utilizadas na medicina popular na regio para o

    tratamento de vrias patologias, como malria, leishmaniose, lcera gstrica,

    diabetes, entre outras (126, 128, 129). No entanto, a rica flora do bioma Cerrado tem

    sido pouco estudada para avaliar os efeitos teraputicos dos seus extratos e

    compostos isolados (130). Muitas espcies vegetais no so utilizadas na medicina

    popular e no se conhece ainda seu potencial teraputico ou txico expondo a

    necessidade de maiores estudos que mostrem as caractersticas biolgicas dessas

    plantas (131).

    Espcies do gnero Pouteria (Sapotaceae) so encontradas no bioma

    Cerrado, correspondendo a mais de 400 espcies e so muito utilizadas na medicinapopular para o tratamento de vrias patologias. A espcie P. torta apresenta

    atividades biolgicas antimicrobiana e antioxidante (132, 133). Alm da atividade

    antioxidante, a espcie P. ramifloratambm apresenta propriedades antimicrobiana,

    antiinflamatria e antinociceptiva. O extrato das folhas de P. caimito tambm

    apresentam propriedades antioxidantes (134). Atividade contra o protozorio

    Trypanosoma cruzifoi encontrada no extrato da espcie P. gardneri (135).

    A famlia Apocynaceae encontra-se bem representada na vegetao do

    Cerrado. Existem no Brasil cerca de 850 espcies, sendo os gneros maisconhecidos representados por Allamanda, Aspidosperma, Plumeria, Rauwolfia,

    Tabernaemontanae Hancornia. Vrios compostos ativos isolados de espcies da

    famlia Apocynaceae apresentam diversas propriedades biolgicas, como

    leishmanicida, antimicrobiana, anticancergena e anti-HIV (131). Estas atividades

    esto relacionadas principalmente aos alcalides produzidos por essas plantas. A

    espcie Aspidosperma macrocarpon apresentou atividade antiparasitria contra o

    protozorio Trypanosoma cruzy (135). Atividades biolgicas tais como

    antimicrobiana, vasodilatadora e antiinflamatria so observadas na espcieHancornia speciosa. Estudos realizados com os extratos de Tabernaemontana

    catharinensismostraram que a atividade anticancergena ocorre devido a presena

    dos alcalides voacangina e coronaridina na espcie (131).

    Outra famlia encontrada no bioma Cerrado a Myrtaceae, possuindo cerca

    de 129 gneros e 4620 espcies. Um importante membro dessa famlia o gnero

    Eugenia, sendo constitudo por aproximadamente 500 espcies (136). No Cerrado,

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    essa famlia representada pelas espcies Eugenia uniflora, Eugenia jambolanae

    Eugenia dysenterica. Atividades antimicrobianas, antioxidantes, diurticas, anti-

    hipoglicemiante e anti-hipertensiva so relatadas em estudos com essas espcies

    (126, 131, 137).

    Stryphnodendron adstringens (Leguminosae), popularmente conhecido como

    barbatimo, est presente de forma abundante no Cerrado brasileiro. Estudos

    farmacolgicos mostraram que o extrato aquosos da casca do barbatimo possui

    propriedades antiinflamatria, analgsica, gastroprotetora e antimicrobiana (126,

    138). Essas atividades ocorrem principalmente pela presena de taninos na casa da

    espcie (139). Outro importante membro da famlia Leguminosae o gnero

    Bauhinia, conhecido como pata-de-vaca, e algumas espcies so utilizadas

    popularmente para diabetes. Estudos realizados com as espcies Bauhinia manca,Bauhinia divaricata, Bauhinia purpureae Bauhinia variegatademonstraram atividade

    hipoglicemiante em animais (140).

    Dessa forma, considerando as possveis atividades biolgicas que essas

    espcies presentes no bioma Cerrado podem apresentar, o estudo dessas plantas

    torna-se relevante para o desenvolvimento de novos agentes teraputicos.

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    3 OBJETIVOS

    Este trabalho tem como objetivo avaliar espcies vegetais presentes no bioma

    Cerrado do Distrito Federal e arredores, quanto atividade de inibio das enzimas

    -amilase, -glicosidase, tirosinase e acetilcolinesterase. Para que o objetivo

    proposto fosse alcanado, os seguintes objetivos especficos foram estabelecidos:

    - Identificar os extratos brutos de espcies vegetais do bioma Cerrado

    com provvel atividade de inibio enzimtica;

    - Estudar a interferncia dos solventes utilizados no processo de

    extrao na metodologia de quantificao enzimtica;- Determinar a concentrao capaz de inibir 50% da atividade mxima

    (IC50) dos extratos com atividade significativa;

    - Avaliar a capacidade de inibio das enzimas tirosinase,

    acetilcolinesterase, -amilase e -glicosidase pelos extratos bruto de

    espcies do bioma Cerrado.

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    4 MATERIAIS E MTODOS

    4.1 EXTRATOS OBTIDOS DE PLANTAS DO BIOMA CERRADO

    Os extratos das plantas do Cerrado, obtidos de folhas, caules e frutos, foram

    gentilmente cedidos pela Prof. Dmaris Silveira da Faculdade de Cincias da Sade

    da Universidade de Braslia UnB. As plantas foram coletadas no bioma Cerrado

    nos arredores de Braslia-DF e as exsicatas foram depositadas no Herbrio da UnB

    (UB) e no Herbrio da Unicamp (UEC) para assegurar a autenticidade da espcie

    coletada. A Tabela 1 apresenta as espcies vegetais que foram usadas para aavaliao da inibio das enzimas.

    Tabela 1 - Extratos vegetais de plantas do Cerrado avaliados quanto a inibio enzimtica

    FamliaEspcie

    Parte usada(solvente)

    Nmero deHerbrio

    ApocynaceaeAllamanda blanchettiA.DC. 1F(e,h), 2C(e), 3Fr(e,h) (UEC) 142021Hancornia speciosa Gomes F(e,h) (UEC) 142204Tabernaemontana solanifolia A.DC. F(e,h) (UB) 487

    MorceaMorus nigraL. F(a,e,h) (UB) 17837

    MyrtaceaeEugenia dysenterica DC. F(a,e,h) (UB) 914

    LeguminosaeStryphnodendron adstringens(Mart.) Coville 4CC(e) (UB) 911

    LamiaceaePlectranthus neochilusSchltr. F(a,e,h) (UB) 913

    RubiaceaeGenipa americanaL. Var. caruto (H.B.K) K. Shum. F(e,h), Fr(e,h), 5CF(e) (UB) 915

    SapotaceaePouteria gardneri (Mart. & Miq.) Baehni F(e,h) (UB) 3672Pouteria ramiflora Radlk. F(a,e,h) (UB) 3671Pouteria caimito Radlk. F(a,e,h) (UB) 27284Pouteria torta Radlk. F(a,e,h), Fr(e), CF(e) (UB) 3674

    CaryocaraceaeCaryocar cf. villosum(Aubl.) Pers. Fr(e) (UB) 907

    SapindaceaeSapindus saponariaL. variedade inaequalis (DC.) Radlk. Fr(e) (UB) 916

    1F: Folha, 2C: Caule, 3Fr: Fruto, 4CC: Casca do caule, 5CF: Casca do fruto.Solventes: h: hexano, e: etanol, a: gua.

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    4.2 DETERMINAO DA ATIVIDADE DE INIBIO SOBRE A -AMILASE

    4.2.1 Preparo das solues

    Soluo de -amilase 40,0U/mL

    -amilase pancretica de porco (Tipo VI, Sigma Aldrich) 15,0mg

    Tampo fosfato de sdio 20mM pH 6,9 10,0mL

    Soluo Tampo fosfato de sdio 20mM pH 6,9

    Fosfato de sdio monobsico 1,25g

    Fosfato de sdio dibsico 2,95g

    NaCl 0,388g

    gua destilada q.s.p. 1000mL

    Soluo de amido 1,0%

    Amido (Sigma Aldrich) 0,2g

    Tampo fosfato de sdio 20mM pH 6.9 q.s.p. 20,0mL

    Soluo reagente de cido dinit rosaliclico (DNS)

    cido 3,5-dinitrosaliclico (Sigma Aldrich) 10,6g

    Tartarato de potssio de sdio 306,0g

    NaOH 19,8g

    Bissulfito de sdio 8,3g

    gua destilada q.s.p 1000mL

    Soluo de acarbose 1mg/mL Contro le positivoAcarbose (Sigma Aldrich) 10,0mg

    Tampo fosfato de sdio 20mM pH 6,9 q.s.p. 10,0mL

    Soluo de Triticum aestivum 1mg/mL Controle positivo

    Triticum aestivum (Tipo I, Sigma Aldrich) 10,0mg

    gua destilada q.s.p. 10,0mL

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    Soluo de extrato vegetal

    Os extratos etanlicos e hexnicos foram diludos em etanol e DMSO (3:1), e os

    extratos aquosos foram preparados em gua destilada. A concentrao da soluo

    me de cada extrato foi ajustada para uma concentrao final no ensaio de 1mg/mL.

    4.2.3 Ensaio da atividade enzimtica da -amilase

    Vrias tcnicas de anlise esto disponveis na literatura para a determinao

    da atividade da -amilase. A maioria dos procedimentos quantitativos geralmente

    utilizados envolve a medio de acares redutores formados a partir da hidrliseamiloltica do amido. Dentre esses mtodos, o mtodo que utiliza o DNS o mais

    comumente usado devido sua confiabilidade e simplicidade (54). Neste ensaio, a

    atividade da -amilase avaliada atravs da formao de maltose resultante da

    ao desta enzima sobre o amido presente no meio. A maltose, um dissacardeo

    formado por duas molculas de glicose, reduz o DNS formando um produto de cor

    alaranjada caracterstica cuja absorbncia determinada a 540nm. A reao

    envolvida no ensaio a reduo do DNS (cido 3,5 dinitrosaliclico) para cido 3-

    amino-5-nitroslico, enquanto que os grupos aldedos da maltose so oxidados paragrupos carboxlicos (Figura 7) (141). Assim, para a verificao da atividade da

    enzima -amilase, optou-se por utilizar amido solvel como substrato e o DNS como

    reagente cromognico.

    Figura 7. Reao do DNS com o acar redutor (142).

    A atividade de inibio da -amilase foi determinada segundo o mtodo

    descrito por Bernfeld (1955), com adaptaes (143). A -amilase pancretica suna

    (EC 3.2.1.1, tipo VI, Sigma) foi dissolvida em tampo fosfato de sdio 20mM (pH 6,9)

    contendo cloreto de sdio 6,7mM para obter uma soluo com concentrao de

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    40U/mL. Um total de 40L de soluo do extrato em solvente apropriado e 100L da

    soluo da enzima foram incubados em banho-maria por 30 min a 25oC. Aps a pr-

    incubao, 500L do pr-incubado foram misturados com 1mL de amido 1% em

    tampo fosfato de sdio 20mM (pH 6,9). A mistura de reao foi ento incubada por

    20 min a 40oC em banho-maria. A reao foi interrompida com a adio de 1mL de

    soluo do reagente DNS. As amostras foram ento aquecidas em ebulio por 5

    min e resfriadas a temperatura ambiente. A mistura de reao foi diluda adicionando

    9mL de gua destilada. A atividade da amilase foi determinada pela absorbncia em

    espectrofotmetro a 540nm (Shimadzu, UV-1601).

    Foram preparadas solues denominadas branco do extrato, contendo

    soluo de amido, extrato vegetal e DNS, visando eliminar variaes relacionadas

    colorao caracterstica do extrato vegetal, alm da possibilidade de atividadeamiloltica do mesmo ou o teor de maltose e acares redutores presentes no

    extrato antes do experimento. Solues contendo DNS e tampo foram utilizadas

    para zerar o aparelho antes da leitura da absorbncia das amostras.

    4.2.3 Controle pos itivo para a atividade de inibio sobre a -amilase

    Como controles positivos de inibio da -amilase foram utilizados os

    inibidores acarbose e o Triticum aestivum. A acarbose um inibidor desta enzima

    atualmente comercializado como medicamento em diferentes concentraes e o

    Triticum aestivumum inibidor da atividade de -amilase, recomendado como padro

    de inibio pela Sigma Aldrich. A curva dose-resposta para acarbose foi construda

    com concentraes variando entre 1 e 80g/mL. A curva dose-resposta para o

    Triticum aestivum foi construda com concentraes variando entre 20 e 140g/mL.

    A soluo denominada branco do controle foi preparada subistituindo a enzima portampo fosfato de sdio 20mM (pH 6,9 com 6,7 mM cloreto de sdio).

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    4.3 DETERMINAO DA ATIVIDADE DE INIBIO SOBRE A -GLICOSIDASE

    4.3.1 Preparo das solues

    Soluo de -glicosidase 1,0U/mL

    -glicosidase de Saccharomyces cerevisiae(100U/mL,Sigma Aldrich) 100L

    Tampo fosfato e sdio 50 mM pH 6,8 q.s.p. 10mL

    Soluo de tampo fosfato de sdio 50mM pH 6,8

    Fosfato de sdio monobsico 1,77g

    Fosfato de sdio dibsico 3,28g

    gua destilada q.s.p. 1000mL

    Soluo de -nitrofenil--D-glicopiranosdeo (NPG) 1mM

    -nitrofenil--D-glicopiranosdeo (Sigma Aldrich) 57,25mg

    Tampo fosfato e sdio 50mM pH 6,8 q.s.p. 250mL

    Soluo de bicarbonato de sdio 10,0%

    Bicarbonato de sdio 50,0g

    gua destilada q.s.p. 500mL

    Soluo de desoxinojirimic ina 5mg/mL Controle posi tivo

    Cloridrato de 1-Desoxinojirimicina (Sigma Aldrich) 5,0mg

    gua destilada 1,0mL

    Soluo de extrato vegetalOs extratos etanlicos e hexnicos foram primeiramente diludos em DMSO e

    em seguida diludos em gua destilada, obtendo uma soluo de DMSO a 5%. Os

    extratos aquosos foram preparados em gua destilada. A concentrao da soluo

    me de cada extrato foi ajustada para uma concentrao final no ensaio de 1mg/mL.

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    4.3.2 Ensaio da atividade enzimtica da -glicosidase

    A atividade enzimtica de -glicosidase foi determinada segundo Shinde

    (2008) (62), atravs da estimativa do -nitrofenol (NP) liberado a partir do

    -nitrofenil--D-glicopiranosdeo (NPG). Este ensaio baseado na determinao da

    hidrlise contnua do NPG em NP. A formao do NP produz uma colorao

    amarela dependente de Na2CO3, que medida em espectrofotmetro a 405nm. O

    PNG utilizado como substrato para uma maior especificidade do mtodo de

    determinao da atividade da -glicosidase (144).

    Em microplacas de 96 poos, a enzima -glicosidase (10L) foi pr-incubada

    com 20L de extrato vegetal durante 5 min a 25oC. Foram adicionados 40L de

    soluo de NPG (1mM) em tampo fosfato de sdio 50mM (pH 6,8). A reao foi

    incubada a 37oC durante 30 min em banho-maria. Aps incubao, a reao foi

    interrompida pela adio de 100L de soluo 10% de bicarbonato de sdio e a

    absorbncia lida a 405nm (Leitor de microplacas - DTX 800 Multimode Detector

    Beckman Coulter).

    Para o branco do extrato, foram utilizadas amostras contendo o extrato

    vegetal e NPG, visando eliminar variaes relacionadas colorao caracterstica

    do extrato vegetal e possveis variaes relacionadas absorbncia da colorao do

    NPG.

    4.3.3 Controle pos itivo para a atividade de inibio sobre a -glicosidase

    Como controle positivo de inibio da -glicosidase fori utilizado o inibidor

    desoxinojirimicina. A curva dose-resposta para desoxinojirimicina foi construda com

    concentraes variando entre 1,95 e 4000g/mL. A soluo denominada branco do

    controle foi preparada substituindo a enzima por tampo fosfato de sdio 50mM (pH

    6,8).

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    4.4 DETERMINAO DA ATIVIDADE DE INIBIO SOBRE A TIROSINASE

    4.4.1 Preparo das solues

    Soluo de t irosinase 25U/mL

    Tirosinase de cogumelo (25KU/mL, Sigma Aldrich) 100L

    Tampo fosfato de sdio 50mM pH 6,5 q.s.p. 10mL

    Tampo fosfato de sdio 50mM pH 6,5

    Fosfato de sdio monobsico 2,38g

    Fosfato de sdio dibsico 2,11g

    gua destilada q.s.p. 1000mL

    Soluo de L-Tirosina 2mM

    L-Tirosina (Sigma) 9,0mg

    Tampo fosfato de sdio 50mM pH 6,5 q.s.p. 25,0mL

    Soluo de cido k jico Controle positivo

    cido kjico (Sigma Aldrich) 20,0mg

    gua destilada q.s.p 1,0mL

    Soluo de extrato vegetal

    Os extratos etanlicos e hexnicos foram diludos em DMSO e depois foram

    novamente diludos em gua destilada, obtendo uma soluo de DMSO a 5%. Os

    extratos aquosos foram preparados em gua destilada. A concentrao da soluo

    me de cada extrato foi ajustada para uma concentrao final no ensaio de 1mg/mL.

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    4.4.2 Ensaio da atividade enzimtica da tirosinase

    Os ensaios da atividade enzimtica da tirosinase foram realizados segundo o

    mtodo utilizado por Khatib (2005), com algumas modificaes (145). Em

    microplacas de 96 poos foram adicionados 30L de soluo de tirosinase 25U/mL,

    60 L de soluo tampo fosfato de sdio 50mM pH 6,5 e 10L da soluo de

    extrato. Essa mistura foi incubada por 5 min a 25oC. Ento foram adicionados 100L

    de soluo de L-tirosina para reao a 25oC. Aps 20 min, a absorbncia foi medida

    a 475nm (Leitor de microplacas BioTeK Synergy HT). Para o branco do extrato,

    foram utilizadas amostras contendo o extrato vegetal e L-tirosina, visando eliminar

    variaes relacionadas colorao caracterstica do extrato vegetal e variaes

    relacionadas absorbncia da colorao de L-tirosina.

    4.4.3 Controle pos itivo para a atividade de inibio sobre a tirosinase

    Como controle positivo de inibio da tirosinase foi utilizado o inibidor cido

    kjico. A curva dose-resposta para cido kjico foi construda com concentraes

    variando entre 0,24 e 1000g/mL. A soluo denominada branco do controle foi

    preparada substituindo a enzima por tampo fosfato de sdio 50mM (pH 6,5).

    4.4 DETERMINAO DA ATIVIDADE DE INIBIO SOBRE A

    ACETILCOLINESTERASE

    4.4.1 Preparo das solues

    Soluo de acetilcolinesterase

    A acetilcolinesterase de Electrophorus electricus (500U, Sigma Aldrich) foi

    diluda em 10mL de tampo base-Tris 50mM pH 8,0, aliquotada em microtubos e

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    armazenadas a 80oC. Para o ensaio, 100l da soluo estoque foram diludos em

    25mL de soluo de albumina de soro bovino a 0,1%.

    Soluo de Tampo A - Base-Tris 50 mM pH 8,0

    Base-Tris 6,0g

    gua destilada q.s.p. 1000mL

    HCl (ajuste pH)

    Soluo de acetiltiocolina 15mM

    Iodeto de acetiltiocolina (Sigma Aldrich) 21,7mg

    gua destilada q.s.p. 5,0mL

    Soluo de Tampo C

    NaCl 2,92g

    MgCl2 20,33g

    gua destilada q.s.p. 500mL

    Soluo de DTNB 3mM

    cido 5,5-ditiobis-2-nitrobenzico (Sigma Aldrich) 29,72mg

    Tampo A q.s.p. 250mL

    Soluo de Tampo B - albumina 0,1 %

    Albumina de soro bovino (Sigma Aldrich) 0,5g

    Tampo base-tris 50 mM pH 8,0 q.s.p. 500mL

    Soluo de eserina Contro le positi vo

    Eserina (Sigma Aldrich) 20mg

    Tampo A 1mL

    Soluo de extrato vegetal

    Os extratos etanlicos e hexnicos foram diludos em etanol na concentrao

    de 10mg/mL e depois foram diludos mais 10 vezes em Tampo A at a

    concentrao de 1mg/mL. Os extratos aquosos foram preparados em Tampo A na

    concentrao de 10mg/mL.

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    4.4.2 Ensaio da atividade enzimtica da acetilco linesterase

    O ensaio in vitro da atividade da acetilcolinesterase foi realizado em

    microplacas de 96 poos a partir do mtodo desenvolvido por Ellman (1961) (146). A

    enzima hidroliza o substrato acetiltiocolina resultando na produo de tiocolina, que

    reage com o DTNB para produzir 2-nitrobenzoato-5-mercaptotiocolina e 5-tio-2-

    nitrobenzoato, o qual pode ser detectado a 405nm. Em microplacas de 96 poos,

    25L de soluo de acetilcolinesterase, 125L de soluo de DTNB, 50L de

    Tampo B foram adicionados a 25L de cada amostra e a absorbncia foi medida a

    405nm a cada 13 segundos por cinco vezes (Leitor de microplacas - DTX 800

    Multimode Detector Beckman Coulter). Em seguida, foram adicionados 25L de

    soluo de iodeto de acetiltiocolina e absorbncia novamente determinada a cada

    13 segundos por oito vezes. Um possvel aumento na absorbncia devido hidrlise

    espontnea do substrato foi corrigido pela subtrao da absorbncia antes da adio

    da enzima pela absorbncia depois da adio da enzima.

    4.4.3 Controle posit ivo para a atividade de inib io sobre a acetlcolinesterase

    Como controle positivo de inibio da acetilcolinesterase foi utilizado o inibidor

    eserina, tambm chamado de fisostigmina. A curva dose-resposta para eserina foi

    construda com concentraes variando entre 0,007 e 2000g/mL. A curva de

    inibio foi obtida plotando a % de inibio versus o logaritmo da concentrao de

    eserina. Os parmetros de regresso no-linear foram traados para cada curva e

    os valores de IC50foram obtidos utilizando o software GraphPad Prism 5.0.

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    4.5 DETERMINAO DA PORCENTAGEM DE INIBIO ENZIMTICA

    As porcentagens de inibio sobre as enzimas foram calculadas comparando-

    se a absorbncia das amostras (ensaio contendo extrato + enzima + substrato) com

    a do controle da enzima (ensaio contendo tampo + enzima + substrato). Os valores

    correspondentes absorbncia do controle da enzima forneceram o referencial da

    atividade mxima da enzima utilizada para a realizao dos experimentos, ou seja,

    refere-se capacidade mxima da enzima para a formao dos produtos a partir dos

    seus substratos, tendo sido considerada a atividade da enzima igual a 100%. Dessa

    forma as porcentagens de inibio das amostras foram calculadas de acordo com a

    seguinte equao: % Inibio = [(C-A) x 100]/C, onde: C representa a absorbnciado controle da enzima, subtrada do branco do substrato e A representa a

    absorbncia da amostra subtrada do branco do extrato (extrato vegetal + substrato

    + tampo).

    4.6 DETERMINAO DOS VALORES DE IC50DOS EXTRATOS VEGETAIS

    Os extratos que apresentaram atividade de inibio foram selecionados para

    a avaliao do potencial de inibio em diluies seriadas. Foram construdas curvas

    dose-resposta para cada extrato selecionado determinando-se o valor do IC50. A

    concentrao capaz de inibir a metade da inibio mxima (IC50) a medida da

    eficcia de um composto na funo biolgica ou bioqumica de inib