36
EXEMPLAR CORTESIA ANO 2 | N O 15 | NOVEMBRO 2011 NANOTECNOLOGIA: esquenta o debate entre cientistas, empresários e governo FERNANDO FIGUEIREDO: para o presidente da Associação Brasileira da Indústria Química setor só irá se recuperar no médio prazo R$ 12,00

INOVA15

Embed Size (px)

DESCRIPTION

ed15 - revista INOVA

Citation preview

Page 1: INOVA15

EXEMPLARCORTESIA

novavida

noIPT

ANO 2 | NO 15 | NOVEMBRO 2011

NaNotecNologia: esquenta o debate entre cientistas, empresários e governo

FerNaNdo Figueiredo: para o presidente da Associação Brasileira da Indústria Química setor só irá se recuperar no médio prazo

R$ 12,00

Page 2: INOVA15
Page 3: INOVA15

NOVEMBRO 2011 | INOVA 3

O otimismo do mundo todo, ricos e pobres, ocidentais e orientais, em torno do Brasil tem razão de ser. Principalmente ao se justapor, como faz INOVA, a realidade da crise internacional às perspectivas promissoras dos projetos nacionais de investimentos em inovação e pesquisa.

O contexto da crise financeira mundial, cujo epicentro agora se concentra sobre a Itália e a Espanha, depois de passar pela Grécia, aparece esboçada na avaliação do correspondente em Berlim, Flávio Aguiar, em torno dos dilemas energéticos da Alemanha (página 30). A hipocrisia alemã, que não consegue equacionar seu drama energético potencializado pela crise financeira europeia, contrasta com a segurança de instituições brasileiras como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), a Agência Nacional da Inovação.

Presidente da poderosa agência, o professor Glauco Arbix dá conta do volume crescente de investimentos do país em inovação e conhecimento e anuncia mais R$ 40 bilhões para 2014 (página 34). É uma revolução nas políticas nacionais de governança.

Sinais positivos de que o futuro promete abrir novos horizontes à inovação no Brasil também aparecem em outras reportagens desta edição. E a que ocupa o destaque principal na capa, sobre o IPT, é um sinal claro de que os esforços nessa direção não se limitam às iniciativas do governo federal. Alcançam unidades importantes da federação, como o estado de São Paulo, também mantenedor da Fapesp cujo aniversário de 50 anos foi comemorado em Washington, conforme relato do correspondente no Texas, João Valentino (página 32).

Outra pá dessa hélice que impulsiona a pesquisa, como defende o presidente do IPT, João Fernando Gomes de Oliveira, está na empresa. Histórias como a da Marcopolo (página 28) são apenas exemplos de sucesso internacional de empresas brasileiras. Depoimento carregado de certezas quanto à conquista de competitividade da indústria faz o presidente da Associação Brasileira da Indústria Química, Fernando Figueiredo, entrevistado desta edição (página 6).

São todos sinais que justificam o otimismo internacional – que também é o de INOVA – em torno do futuro do Brasil no contexto de um mundo em profunda crise.

CELSO HORTA

SINAIS DE OTIMISMOeditorial

EXPEDIENTE

DIRETOR DE REDAçãOCelso Horta

EDITORSérgio Pinto de Almeida

EDITORES ASSISTENTEsCecília ZioniDenise Natale

SECRETARIA DE REDAçãOSonia Nabarrete

REPóRTERES Clébio CantaresJoana Horta

SuCuRSAL RIO DE JANEIROMaurício Thuswohl

CORRESPONDENTESFlávio Aguiar (Alemanha)João Valentino (Estados Unidos)

DIREçãO DE ARTELigia Minami

fOTOgRAfIAAmanda Perobelli

TRATAMENTO DE IMAgENSFabiano Ibidi

COLABORARAM NESTA EDIçãOAna ValimAndris BovoMichelly Cyrillo

fOTOS DE CAPAIPT: DivulgaçãoFernando Figueiredo: Amanda Perobelli

CONTATO COM A REDAçã[email protected]

DEPARTAMENTO COMERCIAL(11) 4335-6017

PuBLICIDADEJader Reinecke

ASSINATuRASJéssica D’Andréa

IMPRESSãOLeograf

TIRAgEM25 mil exemplares

INOVA é uma publicação da MIDIA PRESS Editora Ltda.

Travessa Monteiro Lobato, 95Centro | São Bernardo do Campo FONE (11) 4128-1430

INOVA não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados.

ANO 2 | NO 15 | NOVEMBRO 2011

AMAN

DA

PER

OB

ELLI

Page 4: INOVA15
Page 5: INOVA15

NOVEMBRO 2011 | INOVA 5

8 Notas Os rumos da inovação; o camarão; a casa na Lua; a cana-de-açúcar e o carro elétrico

14 SaúdeOs robôs que ajudam na reabilitação de pacientes com fraturas ósseas

28 ÔnibusMarcopolo inova na criação e produção de veículos, conquista mercado internacional e continua em expansão

30 Internacional | BerlimO uso da energia solar na Sardenha e a falta de política energética na Alemanha

32 Internacional | TexasFapesp Week, o encontro entre cientistas brasileiros e norte-americanos

34 Ponto de vistaO presidente da Finep, Glauco Arbix, revela o salto que o país precisa dar em matéria de inovação

16 Capa

Padrão de excelênciaO tradicional IPT, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo, é um dos centros selecionados pela Embrapii para gerar inovação industrial

6

12

10

EntrevistaDiante do maior déficitcomercial do setor químico, Fernando Figueiredo, presidente da Abiquim, aposta na recuperação

LixoNo Morro DonaMarta, no Rio de Janeiro,lixo reciclável garante descontos na conta de luz de seus moradores

NanotecnologiaApesar de muitas dúvidas e incertezas, e ainda sem um marco regulatório, o Brasil estuda, produz, investe e lucra

AMAN

DA

PER

OB

ELLI

AMAN

DA

PER

OB

ELLI

DIV

ULG

AÇÃO

DIV

ULG

AÇÃO

Page 6: INOVA15

6 INOVA | NOVEMBRO 2011

INOVA – Quais os principais problemas da indústria química nacional neste cenário de déficit? Fernando Figueiredo – O problema da indús-tria química é o baixo investimento em rela-ção ao potencial de mercado, por conta da falta de competitividade. Isso está atrelado a uma série de fatores. De acordo com estudos que fizemos, o setor tem potencial de mercado para investir US$167 bilhões até 2020. Porém, a previsão para efetivação de investimentos, até 2015, é de apenas US$ 2,3 bilhões.

INOVA – E por que não há interesse ou condições de os empresários investirem, já que existe esse potencial de mercado?FF – O motivo é a falta de competitivida-de do setor químico. Nos últimos 12 meses, esse mercado cresceu 10% enquanto a pro-dução caía 2%, perdendo espaço para os importados, que avançaram 33%. Agosto foi o mês recorde da importação. A questão do câmbio é adicional, mas não é o proble-ma fundamental da indústria química. O problema é realmente a falta de competi-tividade. Muitos optam por fechar plantas no Brasil e importar.

INOVA – E qual é a base da falta de competi-tividade para as empresas químicas do país?FF – Um dos fatores que influenciam direta-mente é o custo de produção. De acordo com alguns estudos, no Brasil, o preço do gás é três vezes maior que nos Estados Unidos, por exemplo. Em alguns setores, até 70% do custo de produção se refere à energia. As tarifas de energia brasileiras são das mais caras no mun-do. Então, gás e energia não são combinações muito atraentes para investir aqui.

INOVA – Que expectativas o setor tem para os próximos anos?

FF – No nosso cenário, até 2020, contan-do com a perspectiva de o Brasil crescer 4% ao ano, a indústria química crescerá pou-co mais de 5%. Só para acompanhar essa expansão, os investimentos precisam ser de US$ 80 bilhões, dos quais US$ 20 bilhões para a química de renováveis. Como espe-ramos que a indústria química seja supera-vitária com a exploração de óleo no pré-sal, então será necessário investimento de mais US$ 45 bilhões nessa área. E para aprovei-tar a matéria prima do pré-sal, mais US$ 15 bilhões. Isso parece pouco, mas é que a pro-dução do pré-sal está prevista para 2016 e o setor espera o surgimento de muitas opor-tunidades na área, daqui até lá.

INOVA – Há investimentos para a inovação?FF – Esse é outro problema do setor. A in-dústria química é movida à pesquisa e de-senvolvimento, e nós também precisamos ter uma política de incentivo, como existe em outros países. Lá fora, plantas-pilotos, próprias para testar se o produto funciona em larga escala e se, de fato, há mercado para cada inovação, recebem financiamen-to e subsídios enormes dos governos, que praticamente dividem com a indústria o risco da inovação. Esse é um dos temas que temos de tratar. Precisamos conseguir uma política para instalação de plantas-pilotos para facilitar a transposição da pesquisa para o mercado. Por enquanto, o investi-mento para pesquisas no Brasil é muito baixo. Nas universidades, as pesquisas são raras. E os empresários preferem não assu-mir os riscos aqui.

INOVA – O Plano Brasil Maior prevê incen-tivos para as indústrias que investirem em inovação. Esse não é o momento para in-vestir em plantas-pilotos?

fernando figueiredo preside a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) desde maio deste ano. Antes, fazia parte da Comissão de Economia da entidade e coordenara outras comissões, como a de assuntos jurídicos e de assuntos legislativos. À frente da associação, que reúne 150 das principais indústrias químicas no país, enfrenta uma fase pouco favorável para o setor, às voltas com o que se anuncia o maior déficit comercial da história, uS$ 25 bilhões este ano, superando até o registrado em 2008, ano da eclosão da crise financeira global (uS$ 23,2 bilhões).Em entrevista à INOVA, figueiredo comenta a perda de competitividade e aposta suas fichas em recuperação no médio prazo. É que, com a recente criação do Conselho de Competitividade da Indústria Química, previsto no Plano Brasil Maior, as principais recomendações do setor químico começam a ser analisadas pelo governo. A primeira reunião está marcada para o final de novembro.Advogado formado pela faculdade de Direito da universidade de São Paulo, figueiredo iniciou a carreira em 1978, como gerente do Departamento Legal da glasurit do Brasil. Até o final do ano passado, foi vice-presidente e membro do comitê executivo do grupo Basf na América do Sul, com responsabilidades nas áreas de plásticos, poliuretanos, catalisadores e produtos químicos industriais, entre outros. É professor de Comunicação Corporativa no Programa de Educação Continuada da fundação getulio Vargas e participa do Conselho Superior de Tecnologia e Competitividade da federação das Indústrias do Estado de São Paulo.

entrevista Fernando Figueiredo

Michelly [email protected]

INDúSTRIA QuíMICA NÃO CRESCE COMO O PAíSCom déficit comercial este ano de US$ 25 bilhões, o setor poderia investir US$ 167 bilhões até 2020, mas só investirá US$ 2,3 bilhões até 2015. Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria Química falta competitividade

Page 7: INOVA15

NOVEMBRO 2011 | INOVA 7

FF – O Plano Brasil Maior prevê crédito para financiamento de pesquisa e desen-volvimento. Nós achamos que não basta aumentar os recursos porque, se o projeto não der certo, o empresário tem de pagar do mesmo jeito. Precisamos de recursos a fundo perdido, como existe em outros países e não aqui. Uma planta-piloto não é barata. Hoje, o projeto sai da bancada para a produção comercial e o empresário assume o risco de arcar com os prejuízos. Ou ele resolve acabar com a pesquisa já na bancada.

INOVA – E em que áreas de pesquisa há mais necessidade de investimento?FF – Como disse, o setor químico é movido à pesquisa e desenvolvimento. Investe-se em todas as áreas, de uma forma geral. Mas o destaque é a química verde, porque no Bra-sil falamos em produtos da agricultura, em produtos renováveis. Pesquisamos mais em produto que em processos e é necessário pesquisar como melhorar os processos, por exemplo, para economizar água, poupar energia, recursos escassos ou caros.

INOVA – E como a Abiquim vê a nego-ciação desses pontos com o governo fe-deral?FF – No começo de outubro, tivemos reu-nião com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e conseguimos aprovar a criação de um grupo de trabalho encar-regado de levar as propostas ao Conselho Nacional de Política Energética. O grupo tem 60 dias para apresentar as propostas. Outra noticia é que o governo resolveu criar o Conselho de Competitividade da Indústria Química, como prevê o Plano Brasil. A primeira reunião está marcada para o final de novembro.

INOVA – E o que será abordado nesse Conselho de Competitividade da Indústria Química?FF – Pretendemos discutir todos esses pontos importantes para o setor e o regime especial para desoneração de investimen-tos na indústria química, apresentado no começo do ano. Nele, se prevê a criação de condições especiais para a inovação e para a construção de fábricas, com desoneração tributária para empresas que invistam em pesquisa e desenvolvimento. Nós calcula-mos um potencial de pesquisa de US$ 32 bilhões no parque da indústria química até 2020, pois é característico do setor o longo prazo. Com o Conselho, estamos otimistas de conseguir avanços nos itens fundamen-tais. Outro ponto incluído trata do trans-porte de produtos químicos nas ferrovias, visando reduzir os riscos de acidentes. Hoje, muitas concessionárias não aceitam transporte de carga química, preferindo grãos e minerais, onde o risco é nulo e o lucro mais seguro.

INOVA – E é nesse cenário que o setor es-pera voltar a ser superavitário. FF – O Brasil pode ser líder na área quí-mica e hoje não consegue ser. Este ano, com certeza, o déficit será acima de US$ 25 bilhões, e não tende a acabar no ano que vem e nem no outro. Tudo é de longo prazo neste setor: uma unidade construí-da agora só começará a operar em 2015, no mínimo. Por isso, o déficit continuará nesses anos. O importante é que há essa preocupação e precisamos tomar medidas urgentes. Esperamos definir o rumo para o setor com o Conselho. Estamos conver-sando muito com o governo e com os sin-dicatos de trabalhadores.

Nos últimos 12 meses o mercado cresceu 10% enquanto a produção caiu 2%, perdendo espaço para os importados, que avançaram 33%. A questão do câmbio é adicional, mas não é o problema fundamental da indústria química. O problema é realmente a falta de competitividade.”

AMAN

DA

PER

OB

ELLI

Page 8: INOVA15

8 INOVA | NOVEMBRO 2011

notas

Os caminhos da inovação no país foram a pauta do seminário Desafios da Inovação no Brasil e no ABC, realizado em 17 de outubro na Universidade Federal do ABC (UFABC), parte da série Diálogos Capitais, promovida pela revista Carta Capital em parceria com a universidade e a revista INOVA.O seminário abriu a Semana Nacional de Ciên cia e Tecnologia, que teve atividades de divulgação científica em todo o país. Entre os participantes, Mauro Borges Lemos, presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento In-dustrial (ABDI), e Carlos Eduardo Calmanovici, presidente da Associação Nacional de Pesqui-sa e Desenvolvimento das Empresas Inovado-ras (Anpei). Calmanovici informou que a Anpei pretende quadriplicar o número de seus asso-ciados, em dois anos, por meio de incentivos à inovação a partir do Plano Brasil Maior. “Temos 250 empresas filiadas, o que representa ape-nas dois terços das empresas com esforço em inovação no país. Elas precisam perceber que se não inovarem, não haverá futuro.” Borges Lemos, da ABDI, destacou a importância de novos estímulos para os setores produtivos. “Os empresários precisam sentir a necessidade

EVENTOS

de inovar. Esse é o nosso grande desafio. O Pla-no Brasil Maior é a retomada do crescimento da indústria brasileira, uma vez que estimula inves-timento em inovação”, ressaltou. Ricardo Abramovay, professor da Universida-de de São Paulo, enfatizou a urgência de no-vas tecnologias que reduzam a poluição e o consumo de energia. “O aspecto ambiental é fundamental nesse processo. Os materiais são escassos e, por isso, é preciso rever o proces-so de produção e os novos produtos. Inovação não é para produzir mais e sempre, mas para oferecer bens e serviços que contribuam para o bem estar da sociedade”, disse.O debate dos Desafios da Inovação em São Paulo e no ABC foi mediado pelo diretor da revista INOVA, Celso Horta. No encontro, o secretário executivo do Consórcio Intermuni-cipal, Luís Paulo Bresciani, falou sobre as leis municipais, como a de São Bernardo e São Caetano, de incentivo à inovação. “Temos as incubadoras tecnológicas em alguns municí-pios, os arranjos produtivos em alguns seto-res, como o metalmecânico, e o desejo por um polo tecnológico”, disse. Assim, “nossos desafios estão em fortalecer a articulação de

OS RUMOS DA INOVAçãO EM DEBATE

acesso aos recursos disponíveis, desenvolver a capacidade de aprendizagem tecnológica empresarial, criar suporte para a difusão e ge-ração da inovação, ter políticas públicas em comum entre os municípios e uma agenda es-pecifica para o ABCD sobre o tema”, explicou.Para o professor Carlos Reis, do Núcleo de Inovação Tecnológica da UFABC, a contribuição da universidade para a inovação deve ser gerar conhecimento sobre todos os diversos âmbitos que englobam o tema. “A UFABC pode incenti-var a ampliação neste cenário com a formação de recursos humanos orientados para o surgi-mento de novas tecnologias”, afirmou.Fausto Cestari, assessor de Inovação da Pre-feitura de São Caetano, considerou que os incentivos não estão ao alcance de boa parte das empresas. “As medidas do Plano Brasil Maior contemplam um pequeno percentual delas. Não adianta o empresário querer inves-tir se ele não se enquadrar nessas medidas. Para o micro e pequeno empreendedor fica mais complicado arriscar em inovação.”O evento reuniu cerca de 800 pessoas, e foi transmitido ao vivo para outras 500, por meio da internet.

Seminário promovido pelas revistas INOVA e Carta Capital atrai 800 participantes

AND

RIS

BO

VO

Page 9: INOVA15

NOVEMBRO 2011 | INOVA 9

Camaçari ganha controle ambientalInaugurado na Bahia o primeiro Centro de Inovação e Tecnologia Ambiental (Cita) privado do país, instalado no Polo Industrial de Camaçari. O centro, investimento da Cetrel, Empresa de Proteção Ambiental, dispõe de equipamentos analíticos e de testes de desempenho ambiental de produtos feitos a partir de resíduos. Tem laboratórios para simulação de processos de reuso de água, valorização de resíduos em matrizes cerâmicas, poliméricas, metálicas e em produtos que utilizam fi-bras naturais na estrutura. O centro prevê ainda o de-senvolvimento de pesquisas sobre aproveitamento de resíduos industriais para novos produtos, como a cha-mada madeira de plástico, destinada à construção civil.

Mais criatividade e mais empregosA economia criativa, ou economia da cultura, movimen-ta bilhões de reais todos os anos no Brasil. Dados do Banco Mundial indicam que a economia da cultura já responde por 7% do PIB mundial e o Ministério da Cultura criou secretaria dedicada ao setor. Uma pes-quisa sobre economia criativa feita pela Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap), a pedido da Prefeitura de São Paulo, revela a importância da área na economia paulista e nacional. Segundo o estudo, a participação do emprego formal criativo é de 1,87% do total do emprego formal no Brasil. Comparada com outros setores que são importantes empregadores, a economia criativa destaca-se não só pela capacidade de gerar empregos, mas também pela qualidade e re-muneração desses empregos. De 2006 a 2009, a taxa média anual de crescimento do emprego formal no se-tor chegou a 8,3% no estado de São Paulo e a 9,1% no município. Os setores que se destacam são arquitetura e design, artes visuais, audiovisual, edição e impressão, publicidade e propaganda, informática, pesquisa e de-senvolvimento, além de artes perfomáticas.

a Nasa já testou como será a casa do futuro na lua ou em Marte, daqui a dez anos, segundo a tecnology rewiew, publicação do Mti. os testes incluíram dormir e simular algumas tarefas no protótipo, que foi instalado no deserto do arizona. a casa tem um formato cilíndrico, com quatro aposentos em seu interior, dois anexos externos para eliminação de poeira e higiene, e uma parte inflável onde ficam os quartos e a área de lazer.

CAMARÃO CAI NA REDE DE PESQuISA15 institutos brasileiros se unem para estudar a biodiversidade marinha

Daqui até 2014 um grupo de 20 pesquisadores, docentes e alunos da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), vai trabalhar na identificação e delimitação de po-pulações de camarões peneídeos, projeto que acaba de ser aprovado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para integrar-se à rede do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia do Mar. A rede é formada por centenas de pesquisadores de 15 institutos de ensino superior que, em todo o Brasil, estudam a bio-diversidade marinha, sob coordenação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A escolha do camarão, explica o professor Pedro Manoel Galetti Júnior, um dos coordena-dores do grupo de pesquisadores, se deve ao grande interesse de exploração econômica e à necessidade de levantar informações genéticas para direcionar a legislação sobre o manejo e exploração pesqueira. Isso é fundamental para conservar a atividade e evitar a extinção dos animais, acrescenta.

BIODIVERSIDADE

DIV

ULG

AÇÃO

Pesquisadores da UFSCAR: de olho nos camarões penídeos

Page 10: INOVA15

10 INOVA | NOVEMBRO 2011

SH

UTT

ERS

TOC

k

10

notas

Setor antecipa sustentabilidadeSondagem feita pela Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel (ABTCP) mostra que o setor tem se antecipado às exigências legais e de mer-cado no que se refere a metas de redução de emis-sões de CO2. Entre as empresas entrevistadas as práticas mais comuns são as de gerenciamento de resíduos sólidos (reuso e compostagem), troca de óleos combustíveis por gás natural ou biomassa, re-dução de perdas térmicas no processo, adoção de tecnologias para maior produtividade das planta-ções e otimização da queima de licor negro, resíduo poluidor da celulose. Na pesquisa, foram ouvidas 57 companhias, cuja produção equivale a mais de 40% do total nacional de celulose e papel.

Boas práticas agora têm código digitalComo conduzir atividades de pesquisa para que delas resulte a melhor contribuição à ciência? A resposta a essa e outras dúvidas rotineiras de pesquisadores pode ser encontrada no Código de Boas Práticas Científicas, recém lançado pela Fun-dação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Desenvolvido para servir de base a pesquisadores beneficiários de auxílios e bolsas da Fapesp e para o exercício da avaliação cientí-fica pelos assessores da fundação, o código tam-bém pode ser utilizado por instituições públicas e privadas que sediam experiências científicas. O manual foi elaborado para disseminar uma cultura sólida de integridade ética de pesquisa assentado em três pilares: educação, prevenção, e investiga-ção e sanções. Define como boas práticas cientí-ficas aquelas baseadas no bom senso de pesqui-sadores e gestores de instituições de pesquisa, na veracidade dos resultados por eles apresentados e na instituição de programas de treinamento.

Inovação, a Arte de Steve Jobs, de Carmine GalloEditora Lua de Papel, 256 páginas, R$ 29,00Mostra como Steve Jobs usou sua arte empreendedora para superar concorrentes, atrair clientes e desenvolver pro-dutos revolucionários. E como é possível a qualquer pessoa fazer o mesmo em sua vida profissional e pessoal.

O Mundo segundo Steve Jobs – As frases mais inspiradoras do visionário líder da Apple, de George BeahmEditora Campus Elsevier, 120 páginas, R$ 29,90Você quer passar o resto da vida vendendo água com açú-car ou quer ter a chance de mudar o mundo? Esta foi a pergunta feita por Jobs a John Sculley, presidente da Pepsi, e que motivou uma virada na sua carreira. Essa e outras frases estão reunidas nesta antologia.

FOCO NOS ESTUDOS DA CANA-DE-AçúCARDepois de avaliar todas as pesquisas referentes a cana-de-açúcar em andamento nas diversas unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a estatal decidiu concentrar os estudos em algumas frentes de trabalho. Segundo o diretor-geral da Embrapa Agroenergia, Manoel Teixeira Souza, as pesquisas atuais estão muito dispersas e a ideia é definir as prioritárias e investir nelas, entrando com força nessas áreas. Duas das primeiras escolhas: uma espécie de cana que fixa o fósforo de maneira mais eficiente no solo e a expansão da canavicultura em regiões onde hoje é pouco desenvolvida.

PESQUISA

a frota brasileira de carros elétricos é de pouco mais de 70 veículos e sua produção não conta com política de incentivos governamentais. No mundo circulam cerca de três milhões de carros elétricos, sendo 11% no Japão e 2,5% nos estados unidos. os dados são da associação Brasileira do Veículo elétrico.

JOBS EM DOIS LIVROS

DIV

ULG

AÇÃO

Page 11: INOVA15

NOVEMBRO 2011 | INOVA 11

PETROBRAS SAI EM DEFESA DA INFâNCIA E DA ADOLESCêNCIAA Petrobras vai destinar R$ 48,6 milhões a projetos ligados à criança e ao adolescente, desenvolvidos em 219 municípios bra-sileiros. Os recursos, destinados ao Fundo para a Infância e a Adolescência, têm de ser aplicados em projetos de defesa dos direitos de crianças e adolescentes em situação de risco social ou pessoal, de combate ao trabalho infantil, de apoio à profissionali-zação de jovens e de orientação e apoio sociofamiliar. As cidades foram selecionadas pela empresa considerando os municípios do entorno e região de influência de suas unidades de negócio e as que integram as rotas de abuso e exploração sexual infantil ou regiões com baixo Índice de Desenvolvimento Humano.

CYRELA APOIA PROJETO PARA JOVENS EM SITUAÇÃO DE RISCOA construtora Cyrela firmou convênio de R$ 212 mil com a prefeitura de São Bernardo do Campo, através da Fundação Criança, que prevê a implantação do Projeto República Jovem e Qualificação Profissional, que beneficiará 44 jovens de 18 a 21 anos. O projeto visa atender jovens recolhidos em abrigos e que, ao completar 18 anos e sem ter vínculos familiares, pela lei, não podem mais permanecer na casa de acolhimento. O convênio vai permitir aluguel de duas casas para 12 adolescentes em situação mais emergencial, e que receberão bolsa-auxílio, vale--transporte e orientação de educadores sociais. O projeto ofere-ce ainda formação profissional nas áreas de hidráulica e elétrica para esses residentes e outros 32 adolescentes em situação de risco e vulnerabilidade.

C&A INVESTE R$ 15 MILHÕES JUNTO A ORGANIZAÇÕES SOCIAISNo balanço do biênio 2010/2011, o Instituto C&A informa que in-vestiu R$ 15 milhões em 133 ações voltadas à educação de crian-ças e adolescentes. As atividades foram realizadas em parceria com 126 organizações sociais e beneficiou 101.726 crianças e 35.876 adolescentes. No mesmo período, o instituto destinou R$ 200 mil do imposto de renda devido aos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente dos municípios paulistas de Barueri e São Paulo. Entre as ações permanentes do instituto, está o Projeto Bazar, pelo qual vo-luntários comercializam, de forma beneficente, mercadorias doadas, envolvendo organizações sociais situadas no entorno das lojas C&A.

INOVAçãO SOCIAL

SONDA SuPERMERCADOS ARRECADA ALIMENTOSO Mutirão de Arrecadação de Alimentos, parceria entre a Rede Son-da Supermercados e a ONG Banco de Alimentos coletou 14 tonela-das de alimentos, entre os dias 8 e 9 de outubro. Realizado desde 2006, ele marca o Dia Mundial da Alimentação, celebrado no dia 16 de outubro. Neste ano, nas lojas da rede, voluntários convida-ram os clientes a comprar alguns gêneros alimentícios para doar a pessoas necessitadas. Entre os produtos, recomendaram leite em pó, farinha láctea, enlatados (milho, ervilha, sardinha etc.), lentilha, óleo, mel, farinha de trigo, de mandioca e de milho. Os alimenta-dos arrecadados serão destinados a 23 mil pessoas atendidas por instituições sociais.

3M ABRE INSCRIÇÕES PARA PRêMIO UNIVERSITÁRIOO prazo para inscrição ao 4º Prêmio Instituto 3M para Estudantes Universitários está aberto até 5 de dezembro. Criado pelo Instituto 3M de Inovação Social, o objetivo do prêmio é incentivar e reco-nhecer trabalhos acadêmicos voltados à promoção do desenvol-vimento social, com propostas inovadoras, nas áreas da saúde, educação ou meio ambiente. O melhor projeto receberá R$ 30 mil, para sua viabilização, durante um ano. As inscrições (individuais ou em equipes, com orientação de um professor da mesma instituição de ensino) podem ser feitas através do site www.3m.com/intl/br/mkt/instituto_3m_premio.

REPóRTERES COMuNITÁRIOS FORMA COMUNICADORESO Projeto Repórteres Comunitários, composto por integrantes do movimento de moradia e estagiários de Serviço Social da Facul-dade de Mauá, em parceria com o movimento de moradia da área do Chafick, em Mauá (SP), e a Associação para o Desenvolvimen-to da Habitação no Brasil, forma comunicadores para cobrir os acontecimentos locais e, com isso, valorizar os pontos positivos da região. A proposta é dar visibilidade ao processo de organi-zação popular na busca da regulamentação fundiária. O Projeto Repórteres Comunitários também produz e apresenta o programa de rádio O Outro Lado da Cidade, que vai ao ar aos sábados, das 10 às 11 horas, pela Rádio Z FM de Mauá (87.5), e também é transmitido pela internet em www.radizfm.org e disponível em www.intermidia.org.br .

Ana Valim [email protected]

Page 12: INOVA15

12 INOVA | NOVEMBRO 2011

sustentablilidade

Maurício [email protected]

verbo inovar remete, de ime-diato, ao universo da ciência, da tecnologia e das inven-

ções. Mas inovação pode surgir também em hábitos e procedimentos e, quando isso ocor-re, faz avançar a relação dos seres humanos com o meio ambiente e consigo mesmo.

Um exemplo disso aconteceu, há alguns meses, no Rio de Janeiro, e alia uma política inovadora de segurança pública a uma práti-ca socioambiental inovadora. Na segurança pública, a instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em comunidades antes controladas pelos traficantes de drogas. Na prática socioambiental, a coleta e venda de lixo reciclável.

Responsável pelo fornecimento de ener-gia elétrica no Morro Dona Marta, o pri-meiro a receber uma UPP na zona sul do Rio, a Light lançou, em parceria com a pre-feitura, o Light Recicla, projeto-piloto pelo qual são dados descontos nas contas de luz a moradores da comunidade que entrega-rem lixo reciclável em dois pontos de coleta, especialmente colocados para isso.

Nesses locais, batizados de Ecopontos, a empresa recebe materiais como plásticos (sa-colas, embalagens, filmes e garrafas PET), papéis (incluindo embalagens longa-vida), vidros, metais (incluindo cds e dvds) e mate-

rial pvc, além de óleo de cozinha.Em pouco tempo, o acerto da ini-

ciativa ficou demonstrado. Do lan-çamento, no dia 11 de agosto até 27

de outubro, 981 dos 1.568 clientes da Light no Dona Marta já haviam feito alguma entrega de resíduos recicláveis –

que somaram nada menos de 17 tonela-das de lixo e 426 litros de óleo de cozinha.

O valor de todo esse material no mercado de reciclagem foi calculado e revertido em desconto na conta de luz de cada doador. A

escola de samba Mocidade Unida do San-ta Marta trocou tanto lixo reciclável nesses primeiros 40 dias que já tem um bônus equi-valente ao valor de seu consumo de energia pelos dois meses seguintes.

José Mário Hilário, presidente da As-sociação de Moradores do Dona Marta, comenta a boa receptividade e as expecta-tivas das famílias em relação a iniciativas inovadoras como essa: “Futuramente, toda comunidade estará pagando suas contas de luz com o próprio lixo. Vamos aumentar in-diretamente nossa renda e, ainda por cima, resolver o problema histórico que é o acú-mulo de lixo no morro”.

O sistema funciona desta forma: o mora-dor do Dona Marta comparece a um dos dois Ecopontos e comprova seu endereço apresen-tando a conta de luz. O lixo entregue é pesado e seu valor é calculado de acordo com o preço de cada material no mercado de recicláveis.

Na cotação do mês de setembro, por exem-plo, materiais como plásticos, vidros e papéis proporcionavam descontos que variavam en-tre R$ 0,10 e R$ 0,25 por quilo. As garrafas pet renderam R$ 1 de desconto por quilo, e o óleo de cozinha, de R$ 0,70 por litro. Ma-teriais metálicos, como alumínio e chumbo, foram os mais bem cotados, entre R$ 2,30 e R$ 2,50 de desconto por quilo entregue.

A adesão inicial dos moradores superou as expectativas da Light, que já sonha es-tender o projeto a todos os clientes no Dona Marta: “A comunidade tem 1,6 mil mora-dores, que produzem cerca de três toneladas de lixo por mês. Nossa meta é transformar pelo menos duas toneladas desses resíduos sólidos em mais dinheiro no bolso do con-sumidor que, pagando menos pela conta de luz, pode usar o dinheiro poupado em ou-tras coisas e melhorar a sua qualidade de vida”, afirma Fernanda Mayrink, gerente de Atendimento às Comunidades da Light.

Com a chegada da UPP, a comunidade do Dona Marta foi também a primeira a ser

LIXO PAGA A CONTA DE LUZMoradores do Morro Dona Marta, no Rio de Janeiro, recolhem lixo reciclável e ganham descontos

futuramente, toda comunidade estará pagando suas contas de luz com o próprio lixo. Vamos aumentar indiretamente nossa renda e, ainda por cima, resolver o problema histórico que é o acúmulo de lixo no morro.”JOSÉ MÁRIO HILÁRIO, presidente da Associação de Moradores do Dona Marta

SH

UTT

ERS

TOC

k

Page 13: INOVA15

NOVEMBRO 2011 | INOVA 13

LIXO PAGA A CONTA DE LUZMoradores do Morro Dona Marta, no Rio de Janeiro, recolhem lixo reciclável e ganham descontos

formalizada pela Light, que modernizou a rede elétrica e promoveu a regularização de clientes, com cadastramento de consumido-res novos. Essas e outras ações, segundo a empresa, visaram a adaptação do consumo e a possibilidade de pagamento da conta de luz, a melhoria da qualidade do fornecimen-to de energia e o “resgate da cidadania da sociedade ali inserida”, segundo a empresa.

O PULO DO GATOAntes, o que imperava era a lógica da li-

gação clandestina, o popular gato, mas essa realidade mudou: “Até a chegada da UPP, apenas 24 clientes pagavam a conta de luz. Hoje, 97% dos 1.586 clientes da Light no Dona Marta pagam suas contas e em dia”, diz o presidente da empresa, Jerson Kelman.

A segurança na comunidade e a oportu-nidade de implementação de um modelo de sucesso estão na origem do projeto, diz a di-reção da Light: “O cenário no Dona Marta já era favorável, e a Light optou pela implan-tação do projeto-piloto nessa comunidade para melhorar a qualidade de vida de seus moradores, a partir de ações sustentáveis, incorporando, inclusive, o conceito de pre-servação do meio ambiente pela reciclagem de lixo”, afirma Fernanda Mayrink.

Ainda segundo ela, as próximas comunida-des beneficiadas pelo projeto deverão ser as dos morros da Babilônia e do Chapéu Man-gueira, situadas no bairro do Leme, também na zona sul do Rio.

Além disso, moradores dos bairros de Botafogo e Humaitá, adjacentes ao morro, também podem aderir ao projeto Light Re-cicla. Por se tratar de dois bairros tradicio-nais de classe média e com renda per capita relativamente alta, é dada aos clientes da área a opção de fazer uma ação solidária e doar seus descontos para uma instituição social da comunidade previamente cadas-trada pela Light.

o Valor do lixoMATERIAL DESCONTO

papel, vidro ou plástico De R$ 0,10 a R$ 0,25 por quilo

garrafa pet R$ 1,00 por quilo

óleo de cozinha R$ 0,70 por litro

materiais metálicos (alumínio, chumbo, entre outros) De R$ 2,30 a R$ 2,50 por quilo

teM descoNto Não teM descoNto pet – refrigerante e água plástico duro – embalagens de xampu, detergente, margarina, baldes, bacias, etc.

plástico flexível – sacolas plásticas, embalagens de arroz, feijão, açúcar, etc.

cds embalagens plásticas metalizadas

pvc – canos, forros, etc. papel – branco, misto (revistas, encartes, etc.), papelão, jornal

metais – latas de cerveja e refrigerante, ferros em geral, arames, pregos, bateria de carro, etc.

vidro – embalagens, garrafas de cerveja e refrigerante, copos, etc.

embalagens longa vida (leites, sucos e achocolatados)

óleo de cozinha usado

lâmpadas em geral pilhas espelhos e vidros planos papel carbono ou plastificado isopores esponjas de aço cerâmicas e porcelanas madeiras fraldas descartáveis espumas óleos lubrificantes cabos e fios tintas tecidos couros pneus

QUANTO VALE O LIXO

Ecopontos: em três meses, 17 toneladas de lixo e 426 litros de óleo de cozinha

DIV

ULG

AÇÃO

Page 14: INOVA15

14 INOVA | NOVEMBRO 2011

ergunte a um adolescente qual é o lado positivo em quebrar um osso de seu próprio corpo. Provavelmente, as respostas serão do tipo: faltar às aulas e ficar em casa em frente ao

videogame. É possível que, num futuro próxi-mo, esse adolescente acabe mesmo tendo de permanecer em uma clínica, mas bem perto de jogos e joysticks. É o que indicam os resul-tados de um projeto interdisciplinar realizado por cientistas das áreas de engenharia e saúde na Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo (USP).

O método, desenvolvido por um time de especialistas e coordenado pelo engenheiro Glauco Caurin, pretende auxiliar pacientes em reabilitação por fraturas na extremidade distal do rádio, ou seja, o osso do antebraço que liga o cotovelo ao punho. A iniciativa, pioneira no Brasil, consiste na integração de um sistema mecatrônico e interativo que utiliza robôs, computadores, câmeras, sen-sores, estrutura de rede e internet, ao pro-cesso de reabilitação.

“O braço do paciente é ligado a um dis-positivo robótico que faz o acompanha-mento de exercícios indicados por um te-rapeuta ou clínico”, explica o engenheiro. Ao jogar videogame com um joystick, o paciente realiza movimentos terapêuticos de forma lúdica e sensores do dispositivo monitoram a execução desses gestos. En-quanto a terapia é realizada, dados sobre os exercícios são enviados a um computador, para que o fisioterapeuta avalie a amplitude do movimento, a velocidade e a aceleração. “As avaliações são feitas por dados grava-dos em tempo real e o histórico do trata-mento fica registrado de forma organizada e acessível”, acrescenta o pesquisador.

Recém chegado dos Estados Unidos, Caurin trouxe na bagagem a experiência acumulada ao vivenciar o tratamento de pacientes americanos com sistemas ro-bóticos. Nos laboratórios da Engenharia de São Carlos ele realizou experimentos com o aparelho brasileiro e, depois, este-

ve por um ano no Newman Laboratory for Biomechanics Human Rehabilitation, instalado no Massachusets Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, para desenvolver a aplicação do sistema em hospitais. “O Newman Lab já faz o uso clínico de seus robôs em mais de 600 pa-cientes. Dessa experiência, buscamos res-postas para questões como protocolos de segurança do paciente”, conta.

Para o médico especialista em mão, Fábio Imoto, que compõe o corpo clínico do Ifor, pronto-socorro especializado em ortopedia, traumatologia e reabilitação instalado em São Bernardo do Campo, trata-se de inova-ção no campo da reabilitação e complementa o uso da robótica no campo da cirurgia, que já é uma realidade. “Acredito que seja uma boa associação, principalmente para tornar mais atraente o tratamento. Não penso que um sistema como esse substitua o terapeuta, mas é uma ferramenta a mais para o bom de-sempenho das terapias”, avalia.

COOPERAÇÃOCaurin ressalta que o conceito de robó-

tica do projeto se volta justamente para a cooperação e não para a substituição. “O robô coopera com o terapeuta, se torna um auxiliar. O papel do terapeuta é indispensá-vel no processo”, comenta. O robô brasi-leiro trabalha especificamente movimentos para o punho com a utilização de três jo-gos, também desenvolvidos internamente. No MIT, o pesquisador pôde observar a introdução da robótica para os tratamentos de braços e tornozelos, além do desenvolvi-mento de um robô que auxilia a realização de caminhadas.

O equipamento ainda é produzido em escala reduzida e seu preço é estimado em R$ 100 mil. Fábio Imoto, do Ifor, não con-sidera o custo um obstáculo para a implan-tação do sistema em hospitais e clínicas de reabilitação. “É o preço que se paga pela in-formatização, pela tecnologia. Os aparelhos são muito modernos, com corpos menores,

A TERAPIA DOS ROBÔSPesquisadores usam mecatrônica, jogos e internet para reabilitar pacientes com fra turas no osso do antebraço

saúde

Reabilitação: informática e robótica

Page 15: INOVA15

NOVEMBRO 2011 | INOVA 15

A TERAPIA DOS ROBÔSPesquisadores usam mecatrônica, jogos e internet para reabilitar pacientes com fra turas no osso do antebraço

e tudo isso exige pesquisa, estudo, inovação, e tem seu custo”.

TRATAMENTO COM GAMESO futuro das reabilitações tem base na

inserção de novas tecnologias, interativas e lúdicas, diz o fisioterapeuta Fabio Navarro Cyrillo, responsável pela introdução de vi-deogames na clínica de fisioterapia da Uni-versidade Cidade de São Paulo (Unicid). Ele comprova a obtenção de resultados mais positivos com o sistema, principal-mente no que diz respeito à dedicação dos pacientes ao tratamento. “O conhecimento humano e a boa formação do profissional são indispensáveis, não há mais razão para ter medo das tecnologias. O uso de robôs para reabilitação já é realidade no exterior e o Brasil não pode ficar para trás.”

Desde 2008, o uso do Wii, videogame da japonesa Nintendo, que ganhou popu-laridade entre os jovens por divertir e ao mesmo tempo ajudar a suar a camisa, é um recurso da clínica universitária em terapia de reabilitação. De lá para cá, mais de 200 de seus pacientes se beneficiaram com a incorporação de games aos tratamentos e, recentemente, a Unicid adquiriu um Xbox Kinect, da Microsoft. “O Xbox Kinect é uma evolução do Wii, já que o equipamento não necessita de controle, pois o sistema faz a leitura do corpo do jogador. Além disso, o movimento é mais preciso, completo e mais semelhante aos realizados nas atividades di-árias”, explica Cyrillo.

Na área médica, a pesquisa do robô brasileiro tem apoio de duas professoras, Helenice Coury e Iracema Serrat Vergot-ti Ferrigno, ambas doutoras da USP, e do fisioterapeuta Emygdio José L. de Paula. Também tem colaboração do Instituto Na-cional de Ciência e Tecnologia em Sistemas Embarcados Críticos (INCT-SEC), criado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, e sediado no Instituto de Ciências Matemá-ticas e da Computação de São Carlos, da USP. (JH)

Game Xbox kinect: o sistema faz a leitura do corpo

FOTO

S: D

IVU

LGAÇ

ÃO

Page 16: INOVA15

16 INOVA | NOVEMBRO 2011

especial pesquisa

IPTum novo

momento

DIV

uLg

ãO

Page 17: INOVA15

NOVEMBRO 2011 | INOVA 17

os estudos para im-plantação do gás de iluminação nas ruas de São Paulo, na década de 1930, ao desenvolvimento de expertises em enge-

nharia naval e oceânica, que permitiram ao Brasil caminhar rumo à era do pré-sal, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) esteve e está presente nas principais etapas do desenvolvimento tecnológico nacional. Não é à toa que, ao anunciar a recém--criada Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), o ministro Aloisio Mercadante, da Ciência, Tecnolo-gia e Inovação (MCTI), convidou a insti-tuição para participar do projeto desde a experiência-piloto, com o objetivo de gerar inovação industrial.

Com estrutura enxuta, o orçamento ini-cial da Embrapii é de R$ 90 milhões, para os 18 meses da etapa experimental, sendo R$ 30 milhões em 2011 e R$ 60 milhões em 2012. A verba deste ano será dividida igual-mente entre os três institutos selecionados para a fase: o Instituto Nacional de Tecno-logia (INT), do MCTI, o Serviço Nacio-nal de Aprendizagem Industrial da Bahia (Senai Cimatec) e o IPT, em São Paulo.

À frente do IPT, João Fernando Gomes de Oliveira sente-se à vontade para tocar a experiência. “Estamos acostumados a desen-volver tecnologia em suas fases de teste. O desenvolvimento da gestão da Embrapii está nessa etapa”, afirma. “O diálogo com o mi-nistério é para a criação de um grupo gestor, da sua operacionalização a partir de centros de pesquisas já existentes, novos investimen-tos, sem a criação de mais uma estatal.”

A Embrapii deve seguir o modelo de ges-tão da Fundação Fraunhofer, organização alemã de pesquisa, cujos 58 institutos espa-lhados pela Alemanha empregam mais de 12 mil pessoas, com trabalhos em diferentes campos de pesquisa. Como na Fraunhofer, os institutos brasileiros foram selecionados por áreas de competência: bionanotecnolo-gia, no IPT, que investe R$ 50 milhões no

Centro de Bionanomanufatura, no Senai, processos e automação, e no  Instituto Na-cional de Tecnologia, o complexo de petró-leo e gás.

O ministro Aloizio Mercadante destaca ter o IPT a experiência de um centro de excelência voltado à inovação, com foco no atendimen-to das demandas da indústria. “O IPT faz um trabalho importante nessa área. Sabemos de sua capacidade e já estamos trabalhando com a instituição na área de gaseificação do etanol, uma das vertentes para aumentar a eficiência energética do combustível”, disse o ministro, durante a assinatura do memorando de inten-ções para a criação da Embrapii, com a Confe-deração Nacional da Indústria.

MARCO HISTóRICOO IPT faz parte do complexo de faculdades

e institutos que compõem a Universidade de São Paulo. Composto por dezenas de prédios e vários laboratórios em área do campus uni-versitário, foi fundado em 1899 e tem na sua história seu maior aliado. A competência de seus pesquisadores permitiu resistir aos anos de baixos investimentos e construir um pre-sente atrativo, através de um plano de parce-rias para investimentos e desenvolvimento. Na década de 1970, foi transformado em sociedade anônima vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tec-nologia do Estado de São Paulo.

No início dos anos 2000, já não conseguia mais acompanhar as intensas transforma-ções nas ciências e no escopo industrial nacional: sem investimentos, até 2007, caminhava a passos lentos. No entan-to, um buraco de 80 metros de pro-fundidade, próximo às instalações do instituto, levou o Estado a lhe conferir a atenção devida. O acidente, ocorrido no começo de 2007 nas obras da Estação Pinheiros do Metrô, é relem-brado por seus funcionários como um marco histórico,

A injeção de recursos, a contratação de pessoal e uma nova política de pesquisas revitalizam o tradicional instituto de São Paulo. Prova disso é que ele foi selecionado pela recém-criada Embrapii para atuar na área de bionanotecnologia

Joana [email protected]

Precisamos inverter o jogo e nos colocarmos mais como agentes de inovação do que apenas coadjuvantes das empresas contratantes.” JOÃO FERNANDO G. DE OLIVEIRA, diretor presidente do IPT

AMAN

DA

PER

OB

ELLI

Page 18: INOVA15

18 INOVA | NOVEMBRO 2011

ponto de partida para um grande plano de reorganização de seus recursos humanos. É que, contratado pelo Metrô para investigar as causas do desastre, o IPT pôde recuperar o atraso sofrido nos anos anteriores.

Em 2008, sob nova direção, o instituto iniciou a elaboração de um plano de aper-feiçoamento de gestão, infraestrutura e di-recionamento de suas pesquisas. À frente do IPT desde então, Oliveira tem se empe-nhado pelas transformações e pelos novos rumos da instituição.

Engenheiro por vocação e artista de cora-ção, João Fernando Gomes de Oliveira so-nha voltar a tocar jazz e a tirar fotos, como na juventude. Enquanto isso não se torna realidade, mantém a mente aberta em busca de inovação. “Nós assumimos o desafio de colocar mais criação dentro da organização, com foco na prestação de serviços de testes e certificações. Precisávamos inverter o jogo e nos colocarmos mais como agentes de inova-ção do que apenas coadjuvantes das empre-sas contratantes”, revela o executivo.

Os novos rumos não foram escolhidos aleatoriamente, mas seguem propostas de seu conselho estratégico, composto por no-mes “da pesada”, como os define Oliveira. Entre eles estão o empresários Paulo Gui-lherme Aguiar Cunha, do Grupo Ultra, Carlos Tadeu da Costa Fraga, da Petrobras, Edmundo José Correia Aires, da Braskem, Pedro Luiz Barreiros Passos, da Natura, e Carlos Henrique de Brito Cruz, da Fapesp.

“Havia um diagnóstico e a conclusão

especial pesquisaFO

TOS

: AM

AND

A PE

RO

BEL

LI

1899antônio Francisco de Paula souza cria o gabinete de resistência dos Materiais, que realiza estudos sobre a qualidade e a resistência de materiais em construção civil.

1910Pesquisas sobre as propriedades do cimento e do concreto de produção nacional. estudos para as primeiras galerias de águas pluviais de são Paulo.

1920estudos de materiais e de fundação que deram origem ao primeiro arranha céu do Brasil, o edifício Martinelli.

1930apoio tecnológico para grandes empresas ferroviárias de são Paulo como a são Paulo railway, Paulista, Mogiana, sorocabana e central do Brasil.

DIV

uLg

ãO

Page 19: INOVA15

NOVEMBRO 2011 | INOVA 19

de que o instituto precisava melhorar sua gestão, ser mais ágil”, comenta Oliveira. Com o replanejamento em mãos, o IPT foi ao governo do Estado, à época, o governa-dor José Serra, e pediu financiamento para fazer as mudanças. Deu certo, e recebeu uma considerável injeção de recursos. “Até então, dependíamos de investimentos de fi-nanciadoras científicas, como Capes, CNPq e BNDES. Em 2008, o governo paulista as-sinou liberação de R$ 150 milhões para o triênio 2008-2010.”

Com esse aporte, conseguiu atrair novos contratos das financiadoras e elevou de R$ 108,6 milhões, recebidos em 2007, para R$ 165,5 milhões a verba disponível para 2010 e a R$ 204 milhões para 2011. “Sem essa revitalização, provavelmente não estaría-mos no plano-piloto da Embrapii”, pontua Oliveira. “Os investimentos são a prova de que, na esfera federal, estadual e no setor empresarial – as três pás da hélice que mo-vem o desenvolvimento –, há uma visão muito mais esclarecida sobre a importância da ciência inovadora. Isso significa que te-mos chances reais de crescer.”

A partir de 2008, o IPT buscou também novas competências, abriu concurso, con-tratou cerca de 230 funcionários e aumen-tou o número de pesquisadores. Ancorado no estreitamento de relações corporativas e institucionais, passou a desenvolver um programa de capacitação no exterior e en-viou 25 pesquisadores para diferen-tes países.

1934o laboratório de ensaios de Materiais dá origem ao instituto de Pesquisas tecnológicas, sob o comando de ary torres. são realizados ensaios com o gás de iluminação na cidade de são Paulo.

1940 Participação no projeto e construção de rodovias como a Via anchieta e anhanguera. apoio tecnológico para grandes siderurgias nacionais: companhia siderúrgica Nacional, Vale do rio doce, usiminas, entre outras. cria equipamentos para a indústria aeronáutica. ganha sede no campus da universidade de são Paulo.

1950estudos dão origem à indústria da cerâmica. apoio para a construção de hidrelétricas como a usina de Paulo afonso e Jupiá. estudos geológicos no centro do país para a construção de Brasília.

Nahus, a memória viva do IPTA trajetória do IPT tem muito da história de vida de seus pesquisadores. Trabalhando há 42 anos nos laboratórios de pesquisa com madeiras, Marcio Augusto Rabelo Nahuz representa uma das principais referências do instituto: ele é sua memória viva.

Engenheiro florestal, graduou-se no Paraná onde, durante um congresso, em 1969, conheceu o então diretor da divisão de madeiras do IPT, que o convidou para integrar sua equipe. “Na época, a chamada Divisão Madeiras queria desenvolver inventários florestais. Sabíamos muito pouco sobre quanta madeira existia em diferentes tipos florestais e de que forma essa floresta era constituída”, lembra o pesquisador.

Por considerar a madeira um dos principais recursos naturais do Brasil, o instituto esteve sempre à frente das pesquisas sobre o tema. “Eu diria que, em termos de Brasil, na madeira tudo começou aqui. A indústria brasileira trabalhou muito com madeira e a maior fonte de informação sobre esse material, além das universidades, tem sido o IPT”, diz ele.

Analisando essa forte atuação do instituto, Nahuz cita algumas conquistas, como a descoberta das fibras curtas do pinheiro, possibilitando cultivo de árvores mais adequadas para a produção de papel. Destaca também a criação de tecnologias para a pesquisa em biodeterioração de materiais, e o fortalecimento das áreas de sustentabilidade.

Hoje, a antiga Divisão de Madeiras transformou-se em Centro Tecnológico Florestal, que abrange o laboratório de preservação de madeiras e biodeterioração de materiais, laboratório de papel e celulose, laboratório de madeira e produtos derivados, além de uma seção de sustentabilidade de recursos florestais.

Para Nahuz, o ambiente fértil do IPT capacita seus pesquisadores a evoluírem na pesquisa e desenvolvimento. “O crescimento está no DNA do instituto. A diversidade e o estímulo para que o pesquisador se desenvolva são aplicados nos projetos internos e nos contratados. Nossas pesquisas são úteis e têm um fim positivo. Isso é tudo para um cientista.”

Segundo o pesquisador, desde a década de 1930, o IPT mantém a maior xiloteca da América Latina. “Temos um verdadeiro laboratório vivo, uma biblioteca composta de pedaços de madeira, que nos permite comparar e buscar alternativas e soluções para o setor”, informa Nahuz. É a Xiloteca Calvino Mainieri, com base de dados de mais de 17 mil amostras de madeiras brasileiras e estrangeiras, disponível em www.ipt.br.

42 anos de IPT: Rabelo Nahuz garante que o crescimento está no DNA do instituto

Page 20: INOVA15

20 INOVA | NOVEMBRO 2011

RETORNO GARANTIDOA previsão do instituto é obter do go-

verno estadual investimentos de R$ 230 milhões para os próximos quatro anos. Apenas para o BNDES foram elaboradas 12 novas propostas, no valor de R$ 177 mi-lhões. Além da Embrapii, acordos como os firmados com a Petrobras têm fomentado a modernização do instituto.

Em meados de agosto, em parceria com a Petrobras, foi inaugurado o novo Labo-ratório de Motores, que atua na pesquisa e desenvolvimento de combustíveis, adi-tivos e motores de combustão, com foco em motores e veículos do ciclo diesel. O laboratório, integrante da Rede Temática de Desenvolvimento Veicular, recebeu in-vestimentos de R$ 5 milhões, a serem apli-cados na modernização da infraestrutura e aquisição de equipamentos.

Carlos Tadeu da Costa Fraga, gerente executivo do Centro de Pesquisa e De-senvolvimento da Petrobras, considera a nova unidade mais uma etapa na busca pela liderança em fontes alternativas de energia. “Este laboratório representa, den-tro do tema desenvolvimento de produtos e motores, o que há de mais moderno em aparato experimental”, afirmou, durante a cerimônia de inauguração do centro.

Os investimentos possibilitaram a reno-vação da bancada de dinamômetro dinâ-mico do laboratório, onde serão realizados

especial pesquisa

os ensaios de emissões de motores de com-bustão, necessários para o desenvolvimen-to de combustíveis e motores. Na bancada também será possível preparar as certifica-ções de veículos comerciais de acordo com as novas legislações ambientais, como o Euro V do Programa de Controle da Po-luição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), que entrará em vigor em janei-ro próximo, visando diminuir os níveis de poluição emitidos por caminhões e ônibus.

O novo laboratório conta com um siste-ma embarcado com GPS para medição de emissões gasosas regulamentadas. O siste-ma deve avaliar veículos em condições de uso, elaborar inventários de emissões vei-culares e também avaliar novos combustí-veis e novas tecnologias veiculares, como veículos híbridos.

De acordo com Silvio Figueiredo, pes-quisador do laboratório, a renovação na bancada para ensaios de motores transien-tes coloca o IPT à frente de qualquer outro instituto público de pesquisa da América Latina. “Ainda não estamos em pleno fun-cionamento. Precisamos agora investir no treinamento da equipe e em novas contra-tações para efetivar o potencial do labora-tório. Esperamos estar em pleno funciona-mento em 2012”, afirma.

Outro laboratório beneficiado com re-cursos é o de Corrosão e Proteção, que, desde 2009, recebe investimentos diretos do governo de São Paulo e da Petrobras,

também por meio do projeto de Redes Te-máticas. Com aporte de R$ 15 milhões, a infraestrutura passou por completo pro-cesso de modernização.

Os estudos de corrosão estão ligados aos diversos setores da economia e são impor-tantes para evitar o colapso de materiais metálicos. Esse conhecimento fornece sub-sídios, por exemplo, para especificações e regulamentações de chapas de tanques de armazenagem a parafusos e conectores. O trabalho do IPT nessa área tem contri-buído para o desenvolvimento de normas internacionais, como é o caso do tema de corrosividade de dutos destinados a deri-vados de petróleo.

O pesquisador Neusvaldo Lira Almeida calcula que, modernizado, o laboratório do setor de corrosão e proteção poderá elaborar cerca de 900 laudos ao ano. Nos diversos setores espalhados em seus dois andares, atualmente são desenvolvidos 12 projetos de diferentes áreas. “Temos vários tipos de trabalho. São ensaios para empre-sas que nos procuram para atestar a viabi-lidade e apontar ajustes em seus projetos, por exemplo. Há ainda demanda por inves-tigação de causas de erros de maquinário ou acidentes, nos quais o IPT aponta me-didas para evitar novos incidentes. Além de experimentos de longa duração, como a criação de materiais para a exploração do pré-sal, ou um novo revestimento para a indústria automobilística.”

1980Participação no plano de recuperação da serra do Mar. tecnologias na área de segurança contra incêndios e em problemas de assoreamento e erosão. Pesquisa em madeiras de reflorestamento para mobiliário e construção civil. Faz estudos sobre a cravação de estacas off-shore.

1970controle tecnológico da usina de ilha solteira. Participa da construção da rodovia dos imigrantes e da Ponte rio-Niterói. apoia a indústria de calçados paulista. desenvolve projetos de combustíveis renováveis, o Pró-Álcool. apoio a itaipu Binacional. desenvolve e produz peças para a embraer.

1960apoio à indústria naval. torna-se referência internacional em estudos de rochas. apoio na construção das rodovias castelo Branco e Via dutra.

DIV

uLg

ãO

Page 21: INOVA15

1990construção da primeira centrífuga para ensaios de modelos reduzidos, em parceria com a Fapesp. estudos de corrosão para recuperar a Ponte Pênsil, em são Vicente (sP), e Viaduto santa ifigênia, em são Paulo (sP). estudos de plástico biodegradável e controle de qualidade de embalagens.

2000enriquecimento da farinha de trigo no combate a anemia ferropriva. apoio tecnológico ao Programa Pré-sal da Petrobras. estudos de impacto ambiental no trecho sul do rodoanel, em são Paulo. apoio tecnológico para restauração e conservação do patrimônio histórico – catedral de Brasília (dF) e estação da luz (sP).

Temos vários tipos de trabalho. São ensaios para empresas que nos procuram para atestar a viabilidade e apontar ajustes em seus projetos, por exemplo. Há ainda demanda por investigação de causas de erros de maquinário ou acidentes, nos quais o IPT aponta medidas para evitar novos incidentes.”NEUSVALDO LIRA ALMEIDA, pesquisador do IPT

A VEZ DA BIONANOTECNOLOGIA

Ainda que a verdadeira cidade tecnoló-gica instalada no campus do USP esteja se modernizando, o futuro da instituição também está pautado em novas inicia-tivas. O Centro de Bionanomanufatura, que acaba de ficar pronto, está sendo equipado, enquanto recebe os últimos acabamentos para a inauguração, previs-ta para o início de 2012. Até agora foram investidos mais de R$ 50 milhões nesse projeto.

A bionanotecnologia é a área de pesqui-sa capaz de manipular materiais milhares de vezes menores que a espessura de um fio de cabelo. Hoje, estima-se em mais de mil o número de produtos que contêm na-nomateriais disponíveis no mercado mun-dial. O novo laboratório do IPT estudará o desenvolvimento de organismos vivos, tec-nologia de partículas (microencapsulação de componentes químicos e terapia medi-cinal, como em cosméticos), micromanufa-tura de equipamentos e metrologia. E uma de suas propostas é privilegiar a busca de soluções sustentáveis.

“A minha menina dos olhos, no IPT, é a modernização. E a bionanotecnologia é um símbolo dessa modernidade. Temos um novo prédio, com o que há de mais moder-no no mundo”, diz Oliveira, presidente do instituto. AM

AND

A PE

RO

BEL

LI

O tamanho

do IPT

sede

CIDADE UNIVERSITáRIASão Paulo (SP)

uNidades

FRANCA (SP)SãO JOSÉ DOS CAMPOS (SP)

uNidades técNicas

13 centros

3laboratórios

10seções

colaBoradores

1.000pesquisadores

160estagiários e bolsistas

275funcionários administrativos

Produção cieNtíFica

36.805documentos técnicos emitidos em 2009

Page 22: INOVA15

22 INOVA | NOVEMBRO 2011

Page 23: INOVA15

NOVEMBRO 2011 | INOVA 23

Page 24: INOVA15

24 INOVA | NOVEMBRO 2011

Sonia [email protected]

xiste consenso entre os cien-tistas que a nanotecnologia é uma ferramenta indispensável

para aumentar a competitividade da in-dústria brasileira no mercado global, e que permite a criação de itens realmente inova-dores em toda a cadeia do setor produtivo.

Entre os exemplos de sua aplicação no Brasil estão as roupas fabricadas com teci-do que equilibra a temperatura do corpo à do ambiente, um nanotubo de carbono de grande resistência e capaz de fazer perfura-ções a oito quilômetros abaixo do nível do mar, em campos de petróleo e gás, ou o ci-mento mais leve que o convencional e com funções de isolante acústico.

Mas, entre os empresários, na prática, não existe consenso sobre a nanotecnolo-gia, vista como um remédio maravilhoso, do qual ainda pouco se conhecem os efeitos colaterais. Sua aplicação depende de alian-ças entre a academia, a indústria e o gover-no. E a falta de garantia da segurança de pesquisadores, produtores, consumidores e até do meio ambiente, é outro grande entra-ve à sua expansão.

Os prós e contras da aplicação industrial da nanotecnologia foram o ponto central de debate promovido pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), em outubro. Ligada ao Ministério do Desen-volvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), a entidade coordena o Projeto Es-tratégia Nacional de Nanotecnologia, que dá ênfase à aproximação do governo com o setor privado com o objetivo de fazer o plano avançar. Para isso, deu o nome de “Nanotecnologias: da ciência ao mundo dos negócios” ao workshop que realizou em São Bernardo do Campo, em São Paulo, e

que reuniu representantes dos principais se-tores industriais em que a nova tecnologia já é usada.

Durante o encontro, os pontos obscuros e de atrito que envolvem a questão foram discutidos visando o encaminhamento de soluções. E, embora tenha ficado evidente a insegurança a respeito de nanotecnologia, a relação das vantagens elencadas foi desta-que entre os debatedores.

A nanotecnologia é um moderno ve-tor da inovação industrial e de segmentos como a microeletrônica e a biotecnologia, com grande potencial, na opinião de Mauro Borges de Lemos, presidente da ABDI. A nanotecnologia, acrescenta Nelson Fujimo-to, secretário de inovação do MDIC, per-mite fabricar produtos com maior eficiência e a menor custo, revolucionando o cenário produtivo. Por isso, diz Mario Reali, prefei-to de Diadema e presidente do Consórcio Intermunicipal do ABC, essa é a porta de entrada para o desenvolvimento de novos produtos e de diferentes setores, contribuin-do para diminuir a dependência da região ao trio indústria automobilística-autope-ças-petroquímica.

João Alfredo Saraiva Delgado, da Asso-ciação Brasileira da Indústria de Máqui-nas e Equipamentos (Abimaq), segue na mesma linha: “As descobertas da nanotec-nologia permitirão redução significativas no consumo de matérias primas e de ener-gia”. Delgado sugere a elaboração de uma agenda para o setor de bens de capital nos próximos 20 anos, focada no potencial da nanotecnologia.

José Ricardo Roriz, da Associação Bra-sileira de Indústria do Plástico (Abiplast), informa que metade das 13 mil empresas do setor dedica-se à produção de embalagens que poderão passar por transformações sur-preendentes, com a aplicação da tecnologia.

A CIêNCIA MINúSCuLA EM QUE OS GRANDES ESTÃO DE OLHOCientistas, empresários e governo discutem uma aliança em torno da nanotecnologia, ferramenta indispensável para o aumento da competitividade do país. E sentem falta de um marco regulatório que dê segurança às pesquisas

nanotecnologiaPA

ULO

SEG

UR

AD

IVU

LGAÇ

ÃO

FERNANDO PIMENTEL

JOSÉ RICARDO RORIZ

JOÃO ALFREDO SARAIVA DELGADO

Page 25: INOVA15

NOVEMBRO 2011 | INOVA 25

SH

UTT

ERSTO

Ck

A CIêNCIA MINúSCuLA EM QUE OS GRANDES ESTÃO DE OLHOCientistas, empresários e governo discutem uma aliança em torno da nanotecnologia, ferramenta indispensável para o aumento da competitividade do país. E sentem falta de um marco regulatório que dê segurança às pesquisas

Por exemplo, embalagens com ação antimi-crobiana e barreira a gases, além de mais re-sistentes que as atuais. “A embalagem vai pro-teger mais o alimento, o que pode mudar até a logística de exportação. O que hoje tem de seguir de avião, poderá ir de navio”, afirma.

Fernando Pimentel, da Associação Bra-sileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), diz que o Brasil conseguiu enfrentar a forte concorrência asiática, mantendo sua posição no ranking setorial global de 2010, elaborado pelo Fibber Organon, do Institu-to de Estudos e Marketing Industrial: é o quarto maior, no mundo, entre as confec-ções e o quinto entre as indústrias têxteis.

Isso é, em parte, efeito do Projeto Têxtil, que, lançado em 2008, pela Abit em parceria com a ABDI, introduz essa tecnologia, além de outras estratégias, como percepção do mer-cado e integração entre governo, associação e companhias. Pimentel menciona, como um de seus primeiros resultados concretos, a cria-ção de uniformes de trabalho, com caracterís-ticas específicas para cada atividade, para a qual a nanotecnologia contribuiu fortemente apontando esses diferenciais.

Tomas Casanova, diretor da Rodhia Têx-til na área de fibras, plásticos e engenharia para a América do Sul, cita outro exemplo prático: as inovações aplicadas em roupas para atletas, contribuindo para melhorar o desempenho em competições. “Com a na-notecnologia, podemos desenvolver novas matérias primas e novos processos”, explica.

É na indústria automobilística que a na-notecnologia encontra a maior área de apli-cação. Marcus Vinícius Aguiar, da Associa-ção Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e responsável pela área de engenharia de produtos da Fiat, enu-mera itens de um veículo com nanotecnolo-gia embutida: “Ela está presente nos motores de combustão interna, para

o que é NaNotecNologiaAs lagartixas andam sobre qualquer superfície e em qualquer direção, até de ca-

beça para baixo, porque em suas patas existem nanoventosas, que proporcionam fortíssima adesão. As folhas de algumas plantas possuem nanoestruturas que repe-lem a água. Nanoestruturas presentes nas asas da borboleta azul, ao interagir com a luz, modulam o índice de refração causando o efeito ótico no qual a cor muda com o ângulo de observação ou iluminação.

Por nanotecnologia se entende a criação, manipulação e exploração de materiais com escala nanométrica – e nanômetro (cuja abreviatura é nm) é igual a 1 metro dividi-do por 1 bilhão. O termo nanotecnologia foi cunhado por um professor da Universidade de Tóquio, Norio Taniguchi, em 1957, e referia-se a máquinas que tivessem níveis de tolerância inferiores a 1 micron (1.000 nm). Hoje, quando se fala em um manômetro, trata-se de um bilionésimo do metro. Isso é 100 mil vezes menos que o diâmetro de um fio de cabelo e 30 mil vezes menos que um dos fios de uma teia de aranha.

O caminho da lagartixa, a refração da luz nas asas da borboleta – esses e outros efeitos presentes na natureza podem ser obtidos em laboratório e aplicados a produ-tos e processos, graças à nanotecnologia. Com ela, é possível conferir a um produto novas qualidades como aderência, impermeabilidade, leveza, resistência, cor, entre muitas outras.

Ao contrário do se pode imaginar, essa história é antiga. Começa no quinto século antes de Cristo, com Leucipo de Mileto, considerado o mestre de Demócrito, que de-senvolveu a teoria de que “tudo seria composto de partículas minúsculas indivisíveis e invisíveis a olho nu”, os átomos.

Há cerca de 30 anos, laboratórios de todo o mundo realizam pesquisas na direção da miniaturização e, agora, em mais de 60 países desenvolvem-se iniciativas ligadas ao estudo das nanociências e da nanotecnologia, em investimento global que ultra-passa os US$ 5 bilhões.

Calcula-se que o mercado global de nanotecnologia, desde a produção até a co-mercialização de produtos e equipamentos, chegue a algo entre US$ 1 trilhão e US$ 3,5 trilhões em 2015. Os campeões em patentes de produtos nanotecnológicos são os Estados Unidos (540), seguidos pela ásia (240) e a Europa (154).

Uma das características da nanotecnologia é sua multidisciplinaridade, pois é um encontro da química, física, engenharia e biologia. Mas, na escala manométrica, mui-tas propriedades dessas ciências mudam radicalmente, o que obriga especialistas das diferentes áreas a trabalhar em conjunto para compreender e utilizar as propriedades dos nanossistemas.

Os setores que mais têm lançado produtos obtidos por via nanotec-nológica ou contendo nanotecnologia embarcada são os de energia, iluminação, automobilismo, embalagens, cosméticos, tecidos, fár-maco e esportes.

O setor de ciências da vida merece recorte especial: além da área de fármacos, já existe no mercado, aprovados ou em vias de aprovação, diversos produtos nanotecnológicos, entre eles os materiais implantáveis, materiais bioabsorvíveis, materiais para reparação óssea, sensores implantáveis (pressão), siste-mas de drug-delivery com sensores e autodosadores (insulina) sistemas de processamento de alta performance e multianálise (DNA), implantes de retina e sistemas de audição. O setor ele-trônico de alto desempenho também continua em forte ativida-de, informa a Cartilha sobre Nanotecnologia, editada pela ABDI, em parceria com a Fundação de Desenvolvimento da Universidade de Campinas (Funcamp).

Page 26: INOVA15

26

reduzir a emissão de poluentes. Nos vidros eletrocrômicos, para controle da luminosida-de dentro do veículo. Na superfície dos vi-dros, para impedir acúmulo de água e poeira, podendo dispensar limpadores. Na pintura, dando-lhe maior resistência. Nos pneus, que ganharam aderência. Nos estofados, que re-cebem tratamento antibactericida”.

MARCO REGULATóRIOComeçam aqui a aparecer os contras. Essas

inovações, por enquanto, só estão presentes nos automóveis importados, e de luxo. Nos fabricados no país, a nanotecnologia é ape-nas incipiente, comenta Aguiar, pois “falta uma plataforma de fornecedores e, além dis-so, o foco do mercado é o carro popular, com produção barata.” Ele acredita que, no setor automotivo, essa tecnologia será introduzida gradativamente, começando pelos compo-nentes eletroeletrônicos. “A nanotecnologia pode facilitar a reciclagem de componentes e ajudar na redução do peso total do veículo, diminuindo os níveis de emissão de gases po-luentes e gastos com combustíveis.”

O que mais tem retardado a adoção da na-notecnologia nos processos de produção tem sido a falta de um marco regulatório e de es-tudos que tornem mais seguros a pesquisa, a fabricação e o consumo de produtos nano-

tecnológicos. Marcelo Kós, da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), resumiu bem essa preocupação geral: “Fal-ta uma regulamentação que defina o que é nanotecnologia. Hoje, tudo pode ser e tudo pode não ser. A nanotecnologia precisa ser uma solução segura, dentro das práticas de boa fabricação e da política de atuação res-ponsável que preconizamos”, afirma.

A questão da segurança também é preo-cupação de Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo do Campo, que sugere em todos os projetos de investimentos em nanotecno-logia, que seja reservada uma parcela para estudos e avaliação de seus impactos sobre a saúde humana e o meio ambiente.

Daniel Minozzi, da Nanox, empresa pio-neira no setor, considera natural o temor dos efeitos da nanotecnologia ao ser huma-no e ao meio ambiente. “O desconhecido é duvidoso e nanotecnologia é desconhecida para a maioria das pessoas. Na Nanox, sofremos com o retardo de lançamento de produtos pela falta de legislação e regula-ção específica. Talvez esse seja o preço do pioneirismo”, diz ele.

Por se tratar de uma tecnologia emergen-te, não existem ainda padrões consensuais ao redor do mundo, o que torna o debate mais complexo. Nos últimos três anos, vá-rias agências internacionais, organizações e

A nanotecnologia está presente nos motores de combustão interna, para reduzir a emissão de poluentes. Nos vidros eletrocrômicos, para controle da luminosidade dentro do veículo... Na pintura, dando-lhe maior resistência. Nos pneus, que ganharam aderência.” MARCUS VINíCIUS AGUIAR, da Anfavea e responsável pela área de engenharia de produtos da Fiat

Laboratórios da Nanox: primeira

empresa de nanotecnologia do

país fatura R$ 2 milhões por ano e

exporta 40% de sua produção

Page 27: INOVA15

governos passaram a elaborar recomenda-ções, normas e procedimentos. Procuram chegar a uma definição na linha da Reach (cujo nome é formado pelas iniciais de re-gistro, avaliação, autorização e restrição a produtos químicos – em inglês, registration, evaluation, authorisation e restriction –, os chemicals), conjunto de normas para pro-dutos químicos na área da União Europeia, em vigor desde 2007.

RECEITA PARA AVANÇARHoje, o Brasil precisa exportar 21.445 to-

neladas de minério de ferro ou 1.742 tone-ladas de soja para importar 1 tonelada de circuitos integrados. Com esta comparação, Glauco Arbix, presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), defende a aplicação de novas tecnologias no processo industrial. Para sustentar o crescimento, diz ele, as empresas precisam diversificar sua produção e serviços, o que só ocorre quan-do há ampliação de suas competências.

Arbix informa que, para investimentos em nanotecnologia, de 2009 a 2011, a Fi-nep liberou R$ 143 milhões para auxílio a instituições de pesquisa e desenvolvimen-to e universidades, sendo R$ 104 milhões para projetos e R$ 40 milhões para subven-ções a empresas.

Maior eMPresa de NaNotecNologia Brasileira quer aMPliar Mercado

Em 2004, Gustavo Simões, André Araújo e Daniel Minozzi, pesquisadores--graduandos de eletroquímica e cerâmica da Universidade São Carlos e da Universidade Estadual de São Paulo, decidiram passar da teoria à prática: transformar pesquisas em soluções para a vida cotidiana e oferecer tec-nologia de qualidade às empresas brasileiras. Criaram então a Nanox, a primeira empresa de nanotecnologia do Brasil.

Sete anos depois, a Nanox é a maior empresa de nanotecnologia do país, com faturamento anual de mais de R$ 2 milhões e exporta 40% de sua produção. Seus 20 funcionários têm nível de gradu-ação, mestrado ou doutorado, e dedicam 75% de seu tempo ao desenvolvimento de novos produtos e aplicações. A linha de pro-dutos da empresa tem como característica a capacidade de matar microorganismos, como fungos e bactérias. Foi batizada de Nanox Clean e é aplicada aos mais diversos materiais: plásticos, vidros, cerâmicas, tintas e vernizes, por exemplo.

O impulso inicial foi dado pela aprovação de um projeto para desenvol-vimento de coatings, tintas destinadas a revestimentos nanoestruturados, dentro do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas, da Funda-ção de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O segundo apoio importante veio com o aporte financeiro de uma empresa de capital de risco, por meio do fundo Novarum, em 2006.

Daniel Minozzi, diretor de negócios, afirma que difícil não foi inovar e criar uma linha de produtos. Difícil, segundo ele, tem sido conquistar o mercado. “As dificul-dades iniciais ainda persistem, porque são poucos os setores que investem em tecnologias e apostas futuras. Agora, com a estabilização da economia, acredita-mos que o perfil do empresário comece a mudar.”

O primeiro cliente da Nanox foi a Taiff, fabricante de secadores para cabelos e artigos similares. Ela escolheu o produto como um diferencial de seus aparelhos para evitar proliferação de bactérias durante o uso. Com a mesma finalidade, a tecnologia foi adotada nos bebedouros fabricados pela IBBC, nos materiais e equipamentos odontológicos da Dabi Atlante, na linha branca da multinacional mexicana Mabe, e na linha premium da General Electric.

“Passamos agora por uma reestruturação do foco do negócio. Queremos aumen-tar nossa capacidade comercial, com a transformação de soluções tecnológicas personalizadas em produtos que possam ser mais capitalizados e distribuídos ao mercado. Estamos finalizando a negociação com um grande player internacional, interessado em distribuir mundialmente alguns de nossos produtos”, diz Minozzi.

A empresa também desenvolve a aplicação de nanotecnologia antimicrobiana em embalagens de alimentos, com financiamento da Finep. Para iniciar o trabalho, foi necessário obter aprovação da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), que re-alizou rigorosos testes para comprovar a segurança do pro-duto. Os produtos da empresa também têm uso em centros cirúrgicos e outros locais onde a con-taminação por microorganismos é grande. São clientes da Nanox alguns produtores de cerâmicas e revestimentos, tintas, metais sanitários e instrumentos.

Para Minozzi, a mercado tende a se ampliar com o aumento da consci-ência da segurança que um ativo bactericida oferece. E, se o mer-cado nanotecnológico crescer, os resultados serão sentidos até na balança comercial brasileira.

FOTO

S: D

IVU

LGAÇ

ÃO

Page 28: INOVA15

28 INOVA | NOVEMBRO 201128 INOVA | SETEMBRO 2011

Clébio [email protected]

aulo Bellini, presidente do Conselho de Administração da Marcopolo, tem 82 anos

e uma rotina inabalável: todo dia percorre a fábrica e conversa com os trabalhadores. Para ele, é desse contato direto que surgem muitas ideias que acabam sendo acatadas pela direção da empresa. E os números indi-cam que essa postura não será alterada, isso porque a Marcopolo não só é a primeira fa-bricante brasileira de ônibus, mas a terceira do mundo.

Criada há 62 anos e sediada em Caxias do Sul, na serra gaúcha, desde seu surgimento a empresa tem um caráter inovador, e até visionário. Em 2000, por exemplo, a com-panhia criou o teto removível para veículos. A encomenda era de um cliente do Oriente Médio e os veículos seriam usados na pe-regrinação para as cidades de Meca e Me-dina. “Por causa da tradição e religião, os ônibus não poderiam ter teto, já que nada deve existir entre a cabeça dos fieis e o céu”, conta o empresário. Entre os casos curio-sos, lembra os veículos com acabamentos em ouro encomendados por xeiques árabes, e veículos com estrutura em aço inoxidável,

para circular em áreas aonde a temperatura chega a 50 graus Celsius negativos.

INOVAR NA PRODUÇÃO“Nosso maior legado é o investimento na

formação e profissionalização dos colabo-radores. Quanto maior o aprimoramento profissional e social da comunidade onde a empresa está, melhor para todos”. Com este princípio em mente, Bellini passou boa parte de cada ano, nas últimas décadas, em viagens para visitar clientes, estreitar o relacionamento e captar suas especificida-des, necessidades e desejos. Muitas vezes, ia acompanhado por alguns de seus execu-tivos.

De volta à fábrica, era hora de implemen-tar, na linha de produção, o que fosse ne-cessário para atender à demanda”, continua Bellini. Ele destaca, como característica de seus produtos, a qualidade e a flexibilidade no atendimento a cada pedido.

Foi esse o caminho trilhado para inovar e produzir carrocerias “personalizadas”, desenvolvidas de acordo com as caracterís-ticas do cliente e do local onde seriam uti-lizadas. “A empresa construiu seu port fólio sempre com foco nas necessidades do clien-te. A velocidade, a flexibilidade e a qualida-

ÔNIBuS BRASILEIROS RODAM O PLANETACom estratégia diferenciada na produção de veículos, fabrica nte brasileira de ônibus torna-se a terceira maior do mundo

empreendedorismo

Nosso maior legado é o investimento na formação e profissionalização dos colaboradores. Quanto maior o aprimoramento profissional e social da comunidade onde a empresa está, melhor para todos” PAULO BELLINI, presidente do Conselho de Administração da Marcopolo

Modelo criado para circular em corredores: adotado para a Copa do Mundo de 2014 e Jogos Olímpicos de 2016

Page 29: INOVA15

29

Marcos da MarcoPoloSão 62 anos de atividades e 20 mil funcionários em todo o mundo, 12.600 no Brasil. Em 2010 a maior empresa nacional do setor alcançou 46% do mercado nacional e entre 6 e 7% do mercado mundial. A receita líquida em 2010 foi de quase R$ 3 bilhões e a previsão para 2011 é de R$ 3,25 bi-lhões, com produção de 30 mil ônibus em todas as suas unidades (Brasil, Ar-gentina, Colômbia, México, Egito, áfrica do Sul, Índia e China).As duas fábricas de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, fabricam 55 ôni-bus/dia, entre rodoviários, urbanos e micro/miniônibus. Já a Ciferal, locali-zada em Xerém, Rio de Janeiro, produz 25 ônibus/dia. Do total previsto para 2011, cerca de 19,5 mil veículos serão feitos no Brasil e os restantes no exte-rior (na Índia estão duas unidades que, juntas, produzem 25 mil ônibus/ano, a maior estrutura do gênero no mundo). A partir de 2012 a fábrica da China – responsável pela exportação para a Rússia – fará carrocerias de ônibus que serão montadas sobre chassis da em-

presa Nefaz, do grupo russo Kamaz, com quem a Marcopolo formou joint venture em setembro passado.

de foram possíveis graças ao investimento que sempre foi feito em treinamento e na motivação dos colaboradores para que o resultado fosse sempre o melhor: ônibus perfeitos e no prazo solicitado”, afirma.

PREOCUPAÇÃO AMBIENTALA partir dos anos 90 a Marcopolo já do-

minava cerca de 50% da produção nacional, e buscou a internacionalização, até para enfren-tar as crises econômicas pelas quais o Brasil passava. Expandiu-se, então, instalando uni-dades em diversos países, como Argentina, Colômbia, México, África do Sul, Índia e Egi-to. Com os novos mercados, a empresa teve de ser ainda mais competitiva e oferecer maior velocidade na resposta aos pedidos dos clien-tes, conta Bellini. “Tivemos de nos reinventar para resistir e pudemos desenvolver tecnolo-gia própria. Evoluímos e conquistamos a ima-gem de excelência em qualidade dos nossos produtos”, afirma.

A busca da inovação se faz em cada detalhe, com foco no conforto e na segurança dos usuá-rios e na preservação ambiental e sustenta-bilidade dos produtos.

ÔNIBuS BRASILEIROS RODAM O PLANETACom estratégia diferenciada na produção de veículos, fabrica nte brasileira de ônibus torna-se a terceira maior do mundo

São mais de 300 profissionais, em várias partes do mundo, envolvidos no trabalho de desenvolver processos, materiais e produtos. Segundo Bellini, o objetivo é dar mais ra-pidez à montagem do ônibus, com menor agressão ao ambiente. Por isso, é crescente o uso de materiais recicláveis e reciclados, vi-sando também a redução de peso do veículo e assim baixar o consumo de combustível e a emissão de poluentes.

Neste final de ano, a empresa conclui um plano de investimentos de R$ 350 milhões, para atender o aumento da demanda pre-vista até 2015. “A Copa do Mundo no Bra-sil, em 2014, e os Jogos Olímpicos de 2016 são dois impulsionadores do mercado bra-sileiro e demandarão grande investimento em infraestrutura viária e transporte cole-tivo, com aumento de produção e demanda de ônibus. Estamos preparados e esperando por esse crescimento”, afirma Bellini.

fábrica em Caxias do Sul, unidade Ana Rech: produção de ônibus rodoviário,

urbanos, micro e mini

FOTO

S: D

IVU

LGAÇ

ÃO

Page 30: INOVA15

30 INOVA | NOVEMBRO 2011

Nas ruas da Alemanha: eram só caixas de lixo, agora são caixas coletoras de energia

DIRETO DE BERLIM

interesse pelo tema “ener-gia” me foi renovado, re-centemente, numa viagem de férias à Sardenha, na Itália. Lá encontrei má-quinas que dão cartões de

estacionamento, movidas por um peque-no coletor de energia solar sobre elas. A quantidade de hotéis e restaurantes que usam energia solar é muito grande. Muito original, pensei. De volta à Alemanha, me pus a pesquisar sobre o tema, aqui sempre candente, da substituição da energia pro-duzida em usinas nucleares ou a partir de fósseis (como carvão e petróleo) por ener-gias renováveis. Aparentemente simples, o quadro é para lá de complicado.

Na Alemanha a preocupação com energia é tamanha que ela chegou às caixas coletoras de lixo. Estas, aliás, são um caso à parte, pois são decoradas por gente especializada em humor. Encontra-se, por exemplo, numa de-las, escrito: “Depósito para todos os corpos de delito”. No caso da energia, encontram-se pela cidade caixas com a palavra “Stromkas-ten” que, em tradução livre, quer dizer “caixa coletora de energia”. Interessante, como po-lítica educativa. Porque a questão é urgente, de um lado, e de longo prazo, de outro.

O vai e vem da política energética da AlemanhaMaior consumidor de eletricidade da Europa, o país vive um dilema na questão energética

flávio Aguiarcorrespondente em [email protected]

Em primeiro lugar, em matéria de energia os números alemães são impressionantes. A Alemanha é a quinta economia do mundo, em termos de PIB, e é também o quinto país consumidor de energia per capita. Antes do acidente nuclear de Fukushima, no Japão, depois da tsunami de 11 de março deste ano, 23% da energia elétrica consumida no país vinha de suas usinas nucleares (um percentual quase igual ao dos Estados Uni-dos). Ao lado disso, a Alemanha é o quar-

to maior consumidor de carvão do mundo e o terceiro de gás natural, sendo o maior consumidor de eletricidade da Europa. É o quinto consumidor de petróleo no mundo, e seus maiores fornecedores são a Rússia, a Noruega e a Grã-Bretanha. Mexer com um gigante desses não é fácil.

Assim mesmo, os planos são ousados. A política energética do país prevê, por exemplo, reduzir as emissões de CO² em 40% em relação ao nível de 1990 até 2020, e 80% até 2050. A meta para as energias renováveis é que elas representem 18% da energia produzida até 2020, subindo a 30% em 2030 e a 60% em 2050. Quanto ao consumo de eletricidade a meta é que as energias renováveis sejam responsáveis por 35% em 2020 e 80% em 2050.

O setor vem crescendo e hoje gera 370 mil empregos na Alemanha. Na produ-ção atual, 11,8% vem de biogás, 19,8% de biomassa, 6,6%, de energia solar, as hidrelétricas representam 20,3% e a eólica – considerada a forma mais promissora – 40,4%, vindo o restante de outras fontes.

A política energética na Alemanha sofreu duas reviravoltas dramáticas recentemente.

Em 2000, o governo federal, então for-mado por uma coalizão entre o Partido

Sob o sol da Sardenha:cresce o uso de energia solar

fLÁ

VIO

Ag

uIA

R

Page 31: INOVA15

NOVEMBRO 2011 | INOVA 31

Social Democrata (SPD) e o Partido Verde (PV), previra o fechamento das 17 usinas nucleares do país até 2021. Entretanto, em 2010, a nova coalizão governamental, da União Democrata Cristã (CDU), o Parti-do Democrático Liberal (FDP) e a União Social Cristã (CSU), da Baviera, determi-nou a ampliação do prazo para 2035.

Logo depois do desastre de Fukushima o governo voltou atrás: fechou seis usinas, decidiu não reabrir duas que estavam fe-chadas por problemas técnicos e determi-nou o fechamento das demais até 2022. Isso não impediu sua popularidade de desabar, tendo a coalizão enfrentado der-rotas importantes em eleições regionais.

SOBE A TEMPERATURAPorém o movimento trouxe novas preo-

cupações, entre elas a de aumentar a depen-dência do país em relação às importações de gás e petróleo russos. Para completar, o verão deste ano, considerado muito frio face à média, retardou a expansão da pro-dução de energia solar. Houve um aumen-to de 10%, nos últimos meses, no preço da energia elétrica e a demanda não parou de crescer, com a entrada do outono e a proxi-

midade do inverno pressionando a situação. Como se não bastasse tudo isso, a tempera-tura política no país e na Europa aumentou consideravelmente, com o aprofundamento da crise do euro e o risco de uma recessão profunda trovejando no horizonte.

Para contrabalançar esse quadro assus-tador, a Alemanha passou a importar mais energia de vizinhos próximos: França, Re-pública Tcheca e Polônia. Novos problemas se acumularam no horizonte já carregado. Na França, 75% da energia consumida é produzida por usinas nucleares: é óbvio que daí provém a energia exportada para a Ale-manha. Na República Tcheca existem duas usinas nucleares, a de Temelin e a de Duko-vany, responsáveis pela exportação, e onde, ao contrário da Alemanha as usinas nuclea-res estão em expansão, com o apoio da po-pulação. Ocorre que Temelin é considerada uma das usinas mais inseguras da Europa, tendo já registrado 130 acidentes, embora nenhum de monta, como os de Fukushima e Chernobyl.

Ou seja, de momento, a Alemanha ter-ceirizou o problema das usinas nuclea-res, o que, no dizer do professor Konrad Kleinknecht, ex-membro da direção da Sociedade Alemã de Física, a maior or-

ganização no gênero em todo o mundo, corresponde ao que ele chama de “a hi-pocrisia alemã” (“Germany Energy Re-volution depends on Nuclear Imports”, em www.spiegel.de/international), com-pletando: “A única diferença é que outros países agora correm o risco”. Afirmação relativa, já que Temelin fica a apenas 100 quilômetros da fronteira alemã.

A situação, portanto, está longe de es-tar politicamente resolvida, e até mesmo a atual resolução do governo pode sofrer pressões para ser novamente mudada, em-bora tenha amplo apoio partidário e da maior parte da população (pelo menos 51%, de acordo com as últimas pesquisas).

“Last, but not least”, há o problema do custo. O governo orça o preço da mudan-ça em 55 bilhões de euros (US$ 76,67 bi-lhões), em dez anos. Porém outras fontes, entre elas o Banco de Desenvolvimento Alemão (KfW, equivalente ao nosso BN-DES, mas sem o mesmo porte), orçam a mudança em 250 bilhões (US$ 348,4 bi-lhões), uma diferença assustadora.

Enquanto isso, para voltarmos à bela Sardenha, o uso de energia solar por lá cres-ce a 14% ao ano, taxa ainda considerada insuficiente diante do potencial da ilha.

SH

UTT

ERS

TOC

k

Page 32: INOVA15

32 INOVA | NOVEMBRO 2011

DIRETO DO TEXAS

pesquisa brasileira foi um dos importantes as-suntos em debates recen-tes na academia dos Es-tados Unidos. Entre os dias 24 e 26 de outubro,

em Washington DC, o Woodrow Wilson International Center for Scholars (Centro Internacional para Acadêmicos Woodrow Wilson), que tem o objetivo de estimular o desenvolvimento de pesquisas locais e internacionais, sediou a Fapesp Week (Se-mana da Fapesp – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

O evento, parte das comemorações dos 50 anos da agência paulista fundada em 1962, teve a participação de dezenas de pesquisadores brasileiros e norte-ameri-canos, e, além de apresentar um panora-ma do estudo científico no Brasil, tinha entre as metas intensificar a parceria en-tre os dois países na área. Como parte do evento, foi aberta a exposição Natureza Brasileira – Mistério e Destino, com uma série de gravuras da expedição do pesqui-sador alemão Carl Friedrich von Martius

Uma semana de ciência brasileira em Washington

Fapesp Week marca início das comemorações dos 50 anos da agência paulista de financiamento e aproxima cientistas brasileiros e norte-americanos

João Valentinocorrespondente no [email protected]

ao Brasil, feita no início do século 19.Alguns dos mais destacados cientis-

tas brasileiros, ligados a USP, Unicamp, Unesp, Inpe e Instituto Butantan, e que desenvolvem trabalhos financiados pela Fapesp, participaram do evento como palestrantes. Entre os debatedores norte-americanos, havia representantes de insti-tuições como o Museu de História Natu-ral e das universidades de Ohio, Cornell, George Mason, da Pensilvânia, da Cali-fórnia, do Arizona, do Texas, e City Col-lege, de Nova York.

Os temas que ganharam mais destaque foram os relacionados a biodiversidade, biocombustíveis, novos medicamentos e engenharia genética. Para o presidente da Fapesp, Celso Lafer, um simpósio dessa magnitude mostra a força da instituição em seu meio século de existência e estimu-la “o fortalecimento da interação entre cientistas no mundo globalizado”.

As mudanças globais no clima foram assunto do diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Gilberto Câmara. Ele apresentou os métodos usa-

dos pelo instituto brasileiro para coleta de dados da ação humana sobre o meio ambiente e a sua utilização na prevenção de desmatamentos e na redução de emis-são de gases poluentes. O destaque ficou por conta da eficiência do sistema com-putadorizado para esse fim, que está em desenvolvimento no instituto. O tema foi complementado pelo professor Reynaldo Victoria, do Centro de Energia Nuclear Aplicada à Agricultura, da USP, que fa-lou sobre o Programa de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais, que tem in-vestimentos da ordem de US$ 30 milhões feitos pela Fapesp, e que conta com um supercomputador, comprado em parceria pela Fapesp e pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, instalado no Inpe. Em sua apresentação, Victoria anunciou a ampliação desse programa, por ele coorde-nado, de 40 para 60 pesquisas, até março próximo. Assim, como disse o pesquisa-dor, será possível cobrir novas áreas, como “saúde, paleoclimatologia e o papel do Atlântico Sul nas mudanças climáticas”.

Outra apresentação bastante concorri-

Da esquerda para a direita: professores Mayana Zatz (USP),

Carlos Alfredo Joly (Unicamp), Ricardo Renzo Brentani (USP) e Thomas Lovejoy (George Mason

University).

Foto maior: professor Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor

científico da Fapesp

Page 33: INOVA15

NOVEMBRO 2011 | INOVA 33

da foi a do biólogo Carlos Joly, da Uni-camp, que falou do Programa de Pes-quisas em Caracterização, Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo, mais conhecido como Biota/Fapesp. O levantamento de dados feitos pelo programa é usado pelo governo paulista na definição de políticas ambientais e é, ao mesmo tempo, volta-do para o treinamento de pesquisadores e técnicos do setor, além de fazer mape-amento e análise da origem e da distri-buição da fauna e da flora de São Paulo. “O programa é um exemplo importante de como traduzir o conhecimento adqui-rido em políticas públicas e tem ajudado a aproximar cientistas de formadores de políticas públicas no Estado de São Pau-lo”, disse o pesquisador.

No entanto, apesar de haver um núme-ro considerável de projetos ambientais no Brasil, o professor Thomas Lovejoy, da Universidade George Mason, do Estado americano de Virgínia, reiterou a adver-tência de que a Amazônia está perto de atingir um estado de degradação sem

Uma semana de ciência brasileira em Washingtonretorno. Para Lovejoy, que desenvolveu continuada pesquisa na região, o desma-tamento e as queimadas, associadas ao aquecimento global, estão arruinando o sistema hidrogeológico amazônico. Se alguns fatores dependem de acordos in-ternacionais, outros devem ser atacados exclusivamente pelo Brasil, como o des-florestamento, que, ao alcançar 20% de sua área original, lançaria a floresta num processo de degradação irreversível. E hoje, segundo ele, esse índice já é de 17%.

O Programa de Pesquisa em Bioener-gia, que recebe US$ 130 milhões da Fa-pesp, apresentado por Glaucia Silva, pes-quisadora da USP, teve o detalhe de tocar em questão crucial aos Estados Unidos. O tema vem sendo insistentemente discu-tido no país, que busca meios para evitar crises de energia e reduzir sua dependên-cia dos produtores de petróleo. O ponto de maior interesse foi o desenvolvimento de um bioquerosene para aviões. O está-gio atual da pesquisa exige inovações em processos de reações químicas e de sepa-ração de partículas, para garantir elevado

grau de pureza ao combustível, condição para seu uso em elevadas altitudes.

A pesquisadora também falou do es-tudo estratégico para sua produção des-centralizada, em vários polos brasileiros, com vistas à redução dos custos de trans-porte. O Brasil se encontra em estágio avançado em pesquisas do gênero, o que proporcionou a assinatura de um acordo entre Fapesp, Embraer e a norte-ameri-cana Boeing, líder mundial em produção de aeronaves, para impulsionar pesqui-sas no setor (assunto abordado na edição 14 de INOVA).

Entre as dezenas de outras pesquisas apresentadas na Fapesp Week, também foram debatidos os estudos de células tronco, expostos pela professora Maya-na Zatz, da USP, que focou em especial a utilização da pesquisa para tratamento de doenças neuromusculares e caranifaciais; e de produção de medicamentos e vacinas a partir de peçonha e secreções de peixes, aranhas, carrapatos, cobras e lagartos, pelo pesquisador Hugo Armelin, do Ins-tituto Butantan.

JVIN

FAN

TE P

HO

TOG

RAP

Hy

Page 34: INOVA15

34 INOVA | NOVEMBRO 2011

egundo a agência Reu-ters, a China está em vias de implementar um plano de investimentos de mais de US$ 1 tri-lhão nos próximos cinco

anos. Ele visa superar a atual condição do país de fornecedor de produtos ba-ratos ao mundo para se transformar em provedor de tecnologias de alto valor agregado. As pretensões do governo chinês de catalisar uma mudança estru-tural em sua economia assusta os paí-ses avançados e coloca o debate sobre o futuro dos países emergentes em um novo patamar. Tanto pelo volume de recursos, ou pela alteração do padrão de relacionamento da China com os pa-íses em desenvolvimento, quanto pela mudança de sua demanda global e pelo desequilíbrio a ser gerado na formação dos preços internacionais. Entre os se-tores em foco estariam: energias alter-nativas, biotecnologia, tecnologias da informação equipamentos industriais de alta tecnologia, materiais avançados, carros movidos a combustíveis alterna-tivos e tecnologias para poupar energia e não agressivas ao ambiente. Como se vê, áreas críticas que, de imediato, fa-zem-nos salivar de inveja, pois, como os chineses, ainda somos frágeis em todas essas dimensões.

O dinamismo das economias mais avançadas tem por base as relações en-tre conhecimento e inovação gestadas no interior das empresas, as vezes expli-citadas em departamentos específicos de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Além dessa dimensão estritamente pri-vada e interna às firmas, existem ainda articulações com centros e instituições de ciência e tecnologia (C&T), além de um fundamental sistema educacional com largo acesso da população.

O conhecimento adquiriu uma fun-ção chave nos processos produtivos e nos serviços modernos de tal forma que o padrão de acumulação de ca-

PONTO DE VISTA | Glauco Arbix

O esforço pela tecnologiapital contemporâneo é caracterizado pela chamada economia baseada no conhecimento. Nesta, as atividades de P&D são consideradas como a fonte especialmente relevante para a gera-ção de conhecimento novo, e envolve um processo amplo de capacitações da empresa, como a qualidade coletiva de seus recursos humanos, a capacidade de aprendizado coletivo de sua força de trabalho, a presença permanente de cientistas e engenheiros em centros in-ternos de pesquisa e a vinculação a re-des de conhecimento relevantes para o aprimoramento de suas competências.

Assim, é amplo o consenso sobre a estreita associação entre desenvolvi-mento econômico e conhecimento e a inovação tecnológica, e o papel especial das empresas na introdução e difusão de inovações no processo produtivo. No entanto, o consenso não é tão amplo sobre como fazer e difundir inovação tecnológica, especialmente em condi-ções históricas de desenvolvimento eco-nômico de países como o Brasil.

Existem duas questões básicas nesse debate. A primeira está relacionada às características das empresas líderes es-tabelecidas e sua capacidade de acumu-lar recursos e competências em intensi-dade e densidade suficientes para puxar ou difundir capacidades e progresso por todo o sistema produtivo. A segunda questão diz respeito ao papel das polí-ticas públicas no fomento às atividades de P&D das empresas.

As visões do papel das políticas de fomento variam do puro liberalismo de que o sistema de preços é capaz de alocar e estimular eficientemente os recursos de P&D, até a necessidade de intervenção do Estado por meio de po-líticas de incentivos direcionadas e foca-lizadas, e mesmo a criação de empresas e instituições de C&T em setores inten-sivos em tecnologia.

O governo da presidente Dilma Roussef foi eleito baseado na segunda

visão, seguida por todas as nações de-senvolvidas e por aquelas em processo acelerado de desenvolvimento, indepen-dendo da retórica ideológica adotada pelos seus governos.

É com essa inspiração que a FINEP se coloca no debate sobre a aplicação dos recursos para a inovação. A institui-ção investiu cerca de R$ 300 milhões em 2003, e apoiou 70 empresas. Em 2010, executou R$ 4 bilhões e alcançou quase duas mil empresas, um salto gigantesco. E só não aparece maior diante do desafio de investir R$ 40 bilhões em 2014, cifra que estimula o atual debate na FINEP e em todo o governo para a sua plena transformação em instituição financei-ra. A meta não é mística, mas se baseia na parcela do investimento que o país necessita aplicar, caso pretenda se trans-formar efetivamente em uma potência energética, alimentar e ambiental. Esse esforço, porém, não deve partir apenas das instituições públicas, mas tem de se localizar nas intersecções com a socie-dade, as empresas e centros de pesquisa, nas dimensões regionais e nacional.

Superar a dependência do Brasil das commodities é o desafio maior. Por isso mesmo, o desafio chave diz respeito a necessidade premente de desenvolver a qualificação da mão de obra e melhorar a qualidade da educação, sem as quais a capacitação tecnológica das empresas continuará sendo exceção.

O país vive um momento especial e, diferentemente de outros momentos da história, há condições reais para uma evolução acelerada a um patamar su-perior de civilização. No que depender da FINEP como a Agência Nacional da Inovação, esse salto deixará o reino dos sonhos e se tornará parte constitu-tiva da nova economia brasileira, muito mais inovadora e sustentável.

Glauco Arbix é professor da USP e presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (FI-NEP), a Agência Nacional da Inovação.

DIV

ULG

AÇÃO

Page 35: INOVA15
Page 36: INOVA15

36 INOVA | NOVEMBRO 2011