Upload
dinhthuan
View
214
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
INOVAÇÃO EM EMPRESAS DE
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E
SISTEMAS: PROPOSTA DE UM
INSTRUMENTO DE MENSURAÇÃO
Lorenzo Sanfelice Frazzon (UFSC )
Flavio Issao Kubota (UFSC )
gabriela sanfelice frazzon (UNIFRA )
Antonio Cezar Bornia (UFSC )
Com o forte desenvolvimento do setor de serviços nos últimos anos,
particularmente os relacionados ao ramo de tecnologia da informação
e em linha com projetos de fomento voltados ao desenvolvimento do
setor, soma-se a isso, o fato da dificuldade de desenvolver e mensurar
a inovação em um setor tão dinâmico, assim, esse trabalho tem como
objetivo preencher uma lacuna no que tange a mensuração da
capacidade de inovação em empresas de tecnologia. Para alcançar os
objetivos propostos desenvolve-se um trabalho exploratório com base
na revisão de literatura e em testes empíricos realizados com pessoas
do ramo de software e inovação, um modelo para determinar a
capacidade de inovação com base em cinco dimensões de análise:
ideias, produtos, clientes, posicionamento e processos. Estas
dimensões visam cobrir todas as áreas essenciais ao desenvolvimento
de negócios inovadores, e balizam o instrumento de medida composto
de 35 itens que foram desenvolvidos para efetuar a mensuração de
forma fidedigna nas empresas do setor de sistemas e tecnologia da
informação. Conclui-se que o modelo proposto e o instrumento
desenvolvido possam ser o ponto de partida para mensuração da
inovação em empresas de tecnologia da informação e de trabalhos
mais robustos do ponto de vista da sua contribuição para a teoria, pois
se compreende as limitações do trabalho pela não aplicação prática
que permita o desenvolvimento de análises mais aprofundadas.
Palavras-chaves: Inovação, Tecnologia da informação, Mensuração,
Instrumento de medida
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
2
1. Introdução
É notável a crescente importância do setor de serviços na economia mundial e por
consequência na brasileira. Nesse sentido, o setor de tecnologia da informação (TI) ganha
destaque pelo seu desenvolvimento e potencial. No ano de 2011, o setor de TI correspondeu a
4,3% do PIB brasileiro, superando o valor de US$ 100 bilhões, e espera-se que no ano de
2020 esse valor alcance dobre de tamanho. Atualmente, o setor é composto por mais de 8.000
empresas que possuem atividades dedicadas ao mercado de TI e sistemas. Ressalta-se ainda o
fato que mais de 90% são classificadas como micro ou pequenas empresas (MCTI, 2012).
Conforme relatório do Boston Consulting Group (GILLILAND, WENZKY, 2012) a indústria
de TI passa atualmente por uma crise de “meia idade” em direção à maturidade. Isso é
refletido em perdas momentâneas de receita e baixo crescimento, o que expõe a necessidade
de fomentar a inovação nesse setor. Assim o escopo principal aqui delineado é o
desenvolvimento de um instrumento que possa mensurar a capacidade de inovação em
empresas de sistemas e TI. Para isso, foi realizada uma revisão bibliográfica com trabalhos
que possuíam escopo semelhante ao proposto neste estudo e que realizaram estudos empíricos
relacionados à mensuração da inovação e também foram realizados testes preliminares do
instrumento aqui proposto.
O desenvolvimento de um instrumento para avaliar a capacidade de inovação em empresas de
sistemas e TI vem a ser o ponto de partida para outros estudos empíricos em diversas
empresas do setor. Porque identificar a capacidade de inovação configura-se como algo
importante, pois o ato de inovar deve ser uma busca constante das organizações, e não algo
intuitivo. A inovação decorre de ações constantes, persistentes e sistemáticas nessa direção
(PALADINI, 2009), e ela deve estar difundida em todos os níveis hierárquicos.
O trabalho está estruturado conforme a sequência a seguir: primeiramente, apresenta-se um
referencial teórico sobre inovação e mensuração ressaltando-se os modelos que balizaram o
desenvolvimento do instrumento. Posteriormente, é apresentado o método de trabalho adotado
na pesquisa e na sequência, apresentam-se os resultados do trabalho conforme a seguir:
primeiro apresentando os constructos do instrumento por meio do framework denominado
pentágono da inovação, que é comparado com trabalhos semelhantes de outros autores. Em
seguida, é apresentado o instrumento de medida com todos os itens após verificação dos
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
3
especialistas. Por fim, as conclusões decorrentes do trabalho e as recomendações para
trabalhos futuros são expostas.
2. Referencial teórico
Nesta seção, objetiva-se definir a inovação e mensuração no contexto do trabalho. Em seguida
os constructos base do instrumento proposto são tratados.
2.1. Inovação e mensuração
Observa-se que definir inovação não é algo simples como pode ser observado no estudo de
Edison et al. (2013), que identificou 41 definições de inovação onde podem ser identificados
os vários aspectos que a inovação pode possuir e também podem ser o ponto de partida para o
delineamento de instrumentos de mensuração.
O Manual de Oslo, considerado um marco na definição e classificação da inovação em sua
primeira edição, focava em classificar a inovação com base em desenvolvimento de produtos
e processos de base tecnológica. A segunda edição expandia o conceito para uso no setor de
serviços. Na terceira edição, foi incluída a inovação em marketing e também a inovação
organizacional, isso se deu pelo crescente consenso da importância da inovação não
tecnológica. Conforme o Manual de Oslo em sua terceira edição, o conceito de inovação é
definido desta maneira (OECD, 2005):
“Uma inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou
significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou
um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de
trabalho ou nas relações externas.”
Conforme identificado na literatura, a definição de inovação tem um caráter construtivista, e
nesse sentido pode ser considerado um avanço no conceito o que foi desenvolvido pelo The
Advisory Committee on Measuring Innovation in the 21º Century Economy e relatado pelo
American Secretary of Commerce (2008), o qual adiciona e dá ênfase ao termo “criação de
valor” para clientes e organização. O conceito é definido desta forma: inovação é o design,
invenção, desenvolvimento ou implementação de um novo ou alterado produto, serviço,
estrutura organizacional ou modelo de negócio, com a finalidade de criar valor para os
clientes e retorno financeiro para a organização (ACMI, 2008).
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
4
A priorização do longo prazo nas decisões pode acarretar perdas de curto prazo, porém a
medição pode ajudar a contornar esse paradoxo. Assim, um grande número de métricas tem
sido abordado na literatura atualmente para medir a inovação. O trabalho de Edison et al.
(2013) identificou 232 métricas que avaliam a inovação no contexto da firma, da região e do
setor industrial.
Com isso, medir a inovação sob novas óticas é uma ação importante para fornecer melhor
realidade de como se encontra a inovação no Brasil, pois ao utilizar somente indicadores
tradicionais como investimento em P&D, pode-se constatar que praticamente não houve
aumento entre os anos de 2000 e 2010, assim como o número de funcionários com PhD. na
indústria manteve-se o mesmo (FLEURY, 2013).
É importante definir os construtos utilizados no desenvolvimento do instrumento. Neste caso
foram escolhidos como base teórica os estudos de Sawhney et al. (2006) e Hansen e
Birkinshaw (2007), que tratam respectivamente do radar da inovação e da cadeia de valor da
inovação. Estes estudos foram escolhidos por tratarem de avaliar a inovação sob diferentes
perspectivas e por possuírem complementaridades entre si.
2.2. Radar da inovação
A pesquisa de Sawhney et al. (2006) buscou identificar e classificar nos sistemas empresariais
12 dimensões de atuação das empresas, as quais foram denominadas de radar da inovação.
Cada uma dessas dimensões representa um ponto em que as empresas deveriam focar suas
estratégias de inovação. Para operacionalizar o radar da inovação, medidas para avaliar cada
dimensão da inovação foram desenvolvidas. Esse construto foi validado por meio da
aplicação com 765 gerentes de grandes corporações americanas, e os resultados mostraram o
caráter multidimensional da inovação defendido pelas 12 dimensões que são expostas a
seguir.
A inovação em oferta é definida como o desenvolvimento de produtos e serviços inovadores;
a inovação de plataforma envolve o uso de componentes comuns para criar ofertas de
produtos derivativos; a inovação em soluções refere-se à criação e oferta de serviços
integrados e personalizados que resolvem os problemas dos clientes de ponta a ponta; a
inovação em clientes envolve descobrir as necessidades dos clientes não atendidas ou
identificar segmentos de clientes carentes; a inovação na experiência do cliente incide na
reformulação das interações com os clientes em todos os pontos de contato e de todos os
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
5
momentos; a inovação na captura de valor implica a redefinição de como a empresa é paga ou
na criação de novos fluxos de receitas; a inovação em processos envolve o redesenho de
processos operacionais para melhorar a eficiência e eficácia da empresa; a inovação na
organização refere-se a mudanças no escopo da forma, função ou atividade da empresa; a
inovação da cadeia de suprimentos envolve o desenvolvimento de arranjos inovadores para
abastecimento e cumprimento das entregas; a inovação na presença envolve a criação de
novos canais de distribuição ou pontos de presença inovadores, incluindo os lugares onde as
ofertas podem ser compradas ou usadas por clientes; a inovação do ecossistema refere-se à
criação de parcerias inovadoras e relacionamentos colaborativos com fornecedores, parceiros,
fornecedores, revendedores, etc. e; a inovação de marca envolve as formas de alavancar uma
marca em novos domínios.
2.3. Cadeia de valor da inovação
A pesquisa desenvolvida por Hansen & Birkinshaw (2007) trata da visão sob a inovação
como uma cadeia de valor composta de três fases. A cadeia de valor da inovação surgiu de
diversos projetos de pesquisa em inovação, que abordaram mais de 130 executivos de trinta
multinacionais localizadas na América do Norte e Europa. Também foram abordados 4.000
empregados e foram analisados 120 desenvolvimentos de novos produtos.
Por meio das fases da cadeia de valor da inovação, seis pontos críticos devem ser abordados
pelos gestores, como será visto a seguir. Durante toda a cadeia, as atividades que a companhia
exerce devem estar ligadas, principalmente nos pontos em que ela é mais vulnerável para que
ela possa diminuir sua vulnerabilidade. As três etapas da cadeia de valor são relatadas a
seguir, (HANSEN; BIRKINSHAW, 2007):
a) Geração de ideias: esta etapa é composta da originação de ideias por três formas:
dentro das unidades de negócio, entre as unidades de negócio e via fontes externas.
Uma forma atual de fomentar as fontes externas é por meio da inovação aberta
defendida por Chesbrough (2003);
b) Conversão de ideias: gerar ideias é parte integrante de uma ação mais complexa, como
convertê-las em algo realmente importante. Para uma maior eficácia dessa ação, pode-
se dividir esse processo em duas subfases: seleção e desenvolvimento;
c) Difusão de ideias: as ideias que foram originadas, selecionadas, financiadas e
desenvolvidas precisam tornar-se conhecidas e compartilhadas com toda a organização.
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
6
As empresas podem formar grupos dentro da organização para apoiar e difundir os
frutos do processo de geração e desenvolvimento de ideias em todos os locais, canais e
unidades.
Existem outros trabalhos que apresentam conceitos semelhantes com o proposto no modelo da
cadeia de valor da inovação defendido por Hansen e Birkinshaw (2007). No entanto, esses
estudos abordam somente partes do processo de inovação (VARANDAS JR. et al., 2012).
3. Procedimentos metodológicos
Este estudo é composto por dois tipos de procedimentos, que por sua vez são as duas
principais etapas da pesquisa. Inicialmente, desenvolveu-se a estrutura teórico-conceitual e
posteriormente a etapa empírica, para posterior comparação com a literatura vigente no tema e
ampliação das contribuições empíricas com a realização do teste piloto. A Figura 1 apresenta,
sucintamente, o delineamento da pesquisa.
Figura 1 – Etapas da pesquisa
Fonte: desenvolvidos pelos autores
A etapa teórica consiste da revisão de literatura para contextualizar do conceito de inovação e
também sobre os desafios da mensuração. Em seguida é tratado das ferramentas que foram
utilizadas para elaboração dos constructos do instrumento, que são o radar da inovação e a
cadeia de valor da inovação. Assim, foi possível definir as dimensões principais que
embasaram a construção do instrumento de avaliação.
Na sequência, realiza-se uma revisão de literatura sobre trabalhos que abordam a mensuração
da inovação com o uso de instrumentos de medidas e realização de surveys como método de
coleta de dados. Essa análise permitiu a confirmação teórica dos construtos previamente
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
7
estabelecidos no instrumento e abriu perspectivas para futuros refinamentos e
aperfeiçoamentos do instrumento de medida.
Outra fase da parte teórica é a proposta de um modelo que demonstre os constructos-alvo de
mensuração. Para isso é proposto o Pentágono da Inovação. A elaboração de um modelo
teórico é importante, pois fornece a determinação dos construtos e definições nominais,
estabelece proposições, explana as expectativas do pesquisador e define fronteiras da
pesquisa. Antes da realização de uma survey com o objetivo de testar a teoria, recomenda-se
desenvolver um modelo teórico (FORZA, 2002).
A última fase do levantamento teórico é apresentada nos resultados, que é a comparação do
modelo proposto com trabalhos de outros autores que possuem escopo semelhante. Isso
possibilita identificar relações dos constructos apresentados com trabalhos já publicados em
periódicos internacionais, confirmando-se algumas proposições aqui relatadas. E também
permite avançar com mais segurança para a etapa empírica do trabalho (FORZA, 2002).
Entra-se então na etapa empírica, que no presente trabalho é composta de duas partes:
definição do instrumento e teste com especialistas. Uma verificação com uma pessoa
envolvida no processo de inovação em uma empresa de sistemas e tecnologia da informação
foi efetuada. Ainda, foi realizado um teste piloto com especialistas e com um membro de uma
empresa de desenvolvimento de software. O teste permitiu adequar a semântica dos itens, bem
como eliminar itens não adequados a uma organização de tecnologia da informação.
O instrumento resultante dos constructos definidos consiste de um questionário composto
inicialmente de 60 itens. Porém, para uma melhor obtenção de respondentes, este número foi
reduzido a 40 itens, e posteriormente, em uma verificação com colaborador no nível de
gerência de uma grande empresa de software, definiu-se um instrumento final com 35 itens.
Para obter melhor refinamento , uma análise de semântica e conteúdo por três especialistas em
inovação foi realizada, que também possuíam conhecimentos do setor de TI. A etapa de
elaboração dos itens buscou assegurar que o questionário tivesse ligação com o que se
procurava aferir (HINKIN, 1995). Para oferecer maior confiabilidade, procedeu-se com a
avaliação do conteúdo por especialistas, atividade importante para testar se o instrumento
realmente mede o que se deseja (HENSLEY, 1999).
4. Modelo proposto
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
8
A elaboração de um modelo conceitual retratado por uma figura ou diagrama esquematizado
pode facilitar a comunicação e dar suporte para um melhor entendimento da teoria
apresentada (FORZA, 2002). Aqui, teve-se como objetivo retratar claramente a inovação por
meio da abordagem de cinco dimensões a serem avaliadas. Para aprimorar a gestão da
inovação, o diagrama foi denominado conforme ilustra a Figura 2 (Pentágono da Inovação).
As cinco dimensões abordadas foram as ideias de valor, produtos, clientes, posicionamento e
processos.
Figura 2 – Pentágono da inovação
Fonte: desenvolvido pelos autores
As ideias de valor têm origem no desenvolvimento da cadeia de valor e sua integração com as
outras áreas visa potencializar a disseminação da atitude inovadora em todas as demais
dimensões do modelo, potencializando a estruturação da inovação de forma contínua.
A dimensão produtos aborda como a organização desenvolve seus produtos, que ferramentas
utilizam e como resolve os problemas dos consumidores. Isso possibilita identificar o
desenvolvimento de melhores soluções para seus consumidores e potenciais clientes. Essa
dimensão deve possuir forte correlação com as ideias de valor, pois podem induzir a
inovações nos produtos.
A dimensão processos engloba as atividades de negócio que conduzem as operações internas.
Para inovar nessa dimensão os processos devem ser redefinidos para gerar a maior eficiência,
com qualidade e num curto período. Essa dimensão pode otimizar as inovações por meio da
participação dos funcionários.
O posicionamento da organização é composto pelos seus canais de distribuição,
relacionamentos e marca. Os canais são utilizados para levar seus produtos ao mercado, em
conjunto com seu networking e marca, desenvolvendo um melhor posicionamento. A
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
9
inovação nesse ponto envolve criar novos pontos de presença ou desenvolver novas formas de
usar os existentes.
Os clientes são as pessoas ou empresas que consomem os produtos para satisfazer
determinadas necessidades. A inovação nesse campo se refere à empresa encontrar novos
segmentos de clientes. Aqui, desenvolve-se também a experiência do cliente, assim como
melhores formas de agregar valor.
Considerando-se que os constructos utilizados no desenvolvimento do Pentágono da Inovação
cobrem cinco dimensões, buscou-se na literatura trabalhos semelhantes que trataram de
avaliar a inovação sob determinadas perspectivas. Esses trabalhos possuem métodos
empíricos robustos que necessitaram da realização de levantamentos tipo survey, que é o
passo seguinte recomendado para a sequência do presente trabalho.
A pesquisa realizada por Dobni (2007) trata da elaboração de um construto para avaliar a
cultura da inovação em uma empresa do ramo financeiro. Para isso, foi desenvolvido com
base na literatura um instrumento de medida que aborda quatro pontos importantes para
fomentar a cultura da inovação: intenção de inovar, infraestrutura para inovação, orientação
para o mercado da inovação e contexto para implementação da inovação.
O trabalho de Menor e Roth (2007) aborda o New Service Development (NSD) como um pré-
requisito crítico no desenvolvimento da inovação organizacional e define as competências
organizacionais como um construto multidimensional que não pode ser diretamente
observável. Assim, para identificar e diagnosticar as competências organizacionais
necessárias para fomentar a inovação, é desenvolvida uma escala a partir da realização de uma
survey com empresas do setor financeiro.
A pesquisa desenvolvida por Armbuster et al. (2008) aborda a inovação organizacional no
âmbito da realização de survey em larga escala. Para isso, primeiramente conceitua inovação
organizacional e faz uma revisão de literatura sobre alguns trabalhos realizados com essa
característica. Depois parte para o trabalho empírico, com a realização de uma survey com
mais de 1.400 empresas de manufatura da Alemanha.
O trabalho desenvolvido por Cheng e Shiu (2012) aborda o tema da eco-inovação com uso de
survey e desenvolvimento de escala. O instrumento é voltado para medir a implantação da
eco-inovação e para isso considera as dimensões produto, processo e organizacional. Para
definir as três dimensões, foi necessário realizar 24 entrevistas e um focus group, pois não
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
10
havia base teórica na literatura para sua construção. O questionário construído foi respondido
por 298 empresas de diversos setores de Taiwan que pertencem ao grupo das 1.000 maiores
em faturamento. O instrumento composto de 25 itens resultou em 17 com validade e
confiabilidade. Esse trabalho também identifica a relação entre implementação da eco-
inovação, com a estratégia de inovação e a performance da empresa.
A inovação é tratada no trabalho de Edison et al. (2013) como processo não-linear que
necessita ser gerenciado e guiado. Como a inovação produzida depende dos contextos e dos
determinantes que podem induzi-la, o modelo de Edison et al. 2013 identifica os elementos-
chave para medir a inovação. Assim o processo de inovação é representado em três fases:
Fase de pesquisa: inclui a geração de conceitos e avaliação. A principal meta da fase é
a identificação de novas oportunidades;
Fase de desenvolvimento: realiza-se o planejamento de projeto, design, programação e
testes. É baseada no desenvolvimento do produto com base em um conceito inovador;
Produção e comercialização: esta fase é caracterizada por assegurar a introdução do
produto no mercado ou a implementação de processos na organização.
Posteriormente, após percorrer as fases do processo de inovação, necessita-se do uso de
métricas para medir a inovação, assim o autor defende três dimensões que pode ser medidas:
capacidades, saídas e sucesso. Nas capacidades encontram-se as entradas, determinantes e os
processos; as saídas podem ser de produtos, processos, mercados e organizacional; a
performance se refere a medir o impacto da inovação.
O trabalho desenvolvido por Fleury et al. (2013) trata da relação das competências
organizacionais com as capacidades e o tipos de inovação desenvolvidas pelas multinacionais
brasileiras. Para isso, uma survey com dezessete itens para avaliar os quatro tipos de
competências foi desenvolvida: produção, marketing, tecnologia e administrativa. Após isso,
relacionou-se os resultados com a abordagem da inovação sob a ótica do produto, processo ou
gestão, que são formas não excludentes de inovar.
A Tabela 1 demonstra uma síntese dos conceitos principais dos trabalhos analisados
desenvolvidos por outros autores e que foram descritos anteriormente.
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
11
Tabela 1 – Síntese dos trabalhos
Fonte: desenvolvido pelos autores
A análise dos trabalhos permitiu identificar que trabalhos recentemente desenvolvidos
reforçam a relevância do modelo aqui proposto e suas respectivas dimensões. E também lança
desafios como o possível refinamento do modelo, com possível adaptação para outros setores
como, por exemplo, o setor de serviços financeiros e bancários, que atualmente é carente em
inovação e que é abordado em dois dos trabalhos analisados.
4.1. Instrumento de medida
Apresenta-se nessa etapa o questionário desenvolvido para avaliar as cinco dimensões do
Pentágono da Inovação. O Pentágono foi definido com 35 itens relativos às dimensões
analisadas e deve ser aplicado em escala Likert de 7 pontos (de 1 – Discordo Totalmente a 7 –
Concordo Totalmente). Recomenda-se sua aplicação via formulários Web, tipo Google®
Drive. Atualmente, esse instrumento encontra-se em fase de coleta em uma grande empresa
de TI. Portanto, no presente trabalho enfatiza-se o resultado do teste com especialistas,
instrumento apresentado na Tabela 2.
O teste com especialistas visou eliminar àqueles itens que não estavam de acordo com o que
se pretende medir, no caso a inovação no contexto de empresas de sistemas e software. Por
isso o refinamento proporcionado por três especialistas é importante, embora recomende-se o
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
12
teste com no mínimo seis especialistas (PASQUALI, 1998). Assim, as opiniões dos
especialistas refinou a semântica das questões, e eliminou itens que não estavam de acordo
com o tipo de empresas que são o alvo do trabalho.
Dessa forma, entende-se que o trabalho atinge seu objetivo principal de desenvolver um
instrumento para mensurar a inovação em uma organização de serviços em softwares e TI e
abre possibilidades de novos direcionamentos para futuras pesquisas em outros setores.
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
13
Tabela 2 – Itens do instrumento
Fonte: desenvolvido pelos autores
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
14
5. Conclusões
Pode-se entender que o modelo atende a uma necessidade primária em termos de mensuração
da inovação em uma empresa de TI, e torna-se também o ponto de partida para trabalhos
futuros. O instrumento proposto confere um caráter de simplicidade nos resultados, porém
atinge seu objetivo que é possibilidade de execução de uma survey que possa estabelecer
parâmetros para a elaboração de escalas de medidas da inovação. Recomenda-se o seu uso em
empresas de diversos portes para uma melhor analise de seus resultados.
Obtém-se como possível conclusão o fato desse estudo proporcionar a possibilidade de
expansão do número de itens de cada um dos cinco construtos já desenvolvidos. Isso
possibilitará uma mensuração mais robusta de cada ponto a ser analisado, como também o
fato de avaliar àqueles que são de maior interesse da organização em determinado momento.
Por fim, o trabalho contribui com o modelo de mensuração da inovação em indústrias de
softwares de TI, pois aqui a mensuração relativa às capacidades da empresa é aprofundada.
Ainda, pode-se considerar os determinantes da inovação com origem em fatores externos e/ou
internos. Um tópico recente que abre possibilidades de aprofundamento são as recentes teorias
de Lean Startup, que trabalham com desenvolvimento contínuo da inovação em empresas de
tecnologia.
Como limitações do trabalho entende-se o fato dele se restringir a um setor especifico como o
de TI e sistemas. E também o fato do teste utilizar somente três especialistas da área para
refinamento do instrumento, quando a literatura recomenda a avaliação por seis especialistas.
Agradecimentos
Os autores agradecem à CAPES e ao CNPq pelo apoio financeiro à pesquisa.
REFERÊNCIAS
ACMI. Innovation Measurement. Tracking the State of Innovation in the American Economy. The Advisory
Committee on Measuring Innovationa in the 21st Century Economy. EUA, 2008.
ARMBRUSTER, H.; BIKFALVI, A.; KINKEL, S.; LAY, G. Organizational innovation: The challenge of
measuring non-technical innovation in large-scale surveys. Technovation, v. 28, n. 10, p. 644-657, 2008.
GILLILAND, G.; WENZKY, H. Transforming the Business Model for IT Services. Boston Consulting Group,
2012
CHENG, C.C.; SHIU, E.C. Validation of a proposed instrument for measuring eco-innovation: An
implementation perspective. Technovation, v. 32, n. 10, p. 329-344, 2012.
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
15
DOBNI, C.B. Measuring innovation culture in Organizations: The development of a generalized innovation
culture construct using exploratory factor analysis. European Journal of Innovation Management, v. 11, n. 4,
p. 539-559, 2008.
EDISON, H.; ALI, N.B.; TORKAR, R. Towards innovation measurement in the software industry. Journal of
Systems and Software, v. 86, n. 5, p. 1390-1407, 2013.
FLEURY, A; FLEURY, M.T.L; BORINI, F.M. The Brazilian Multinationals' Approaches to Innovation.
Journal of International Management, v. 19, n. 3, p. 260-275, 2013.
FORZA, C. Survey research in operations management: a process-based perspective. International Journal of
Operations & Production Management, v. 22, n. 2, p. 152-194, 2002.
HANSEN, M.T.; BIRKINSHAW, J. The Innovation Value Chain. Harvard Business Review, v. 85, n. 6, p.
121-130, 2007.
HENSLEY, R.L. A review of operations management studies using scale development techniques. Journal of
Operations Management, v. 17, n. 3, p. 343-358, 1999.
HINKIN, T.R. A review of scale development practices in the study of organizations. Journal of Management,
v. 21, n. 5, p. 967–988, 1995.
MCTI. TI Maior Programa estratégico de Software e serviços de tecnologia da informação 2012 – 2015.
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Brasil, 2012
MENOR, L.J., ROTH, A.V. New service development competence in retail banking: Construct development and
measurement validation. Journal of Operations Management, 25 (4), pp. 825-846, 2007.
OECD. Manual de Oslo: Proposta de Diretrizes para Coleta e Interpretação de Dados sobre Inovação
Tecnológica. 3ª Ed. FINEP. 2005.
PALADINI, E.P., Gestão da Qualidade -Teoria e Prática - 2ª Ed. São Paulo: Atlas. 2009.
SAWHNEY, M.. WOLCOTT, R.C.; ARRONIZ, I. The 12 Different Ways for Companies to Innovate. MIT
Sloan Management Review, v. 47, n. 3, 2006.
VARANDAS JR, A.; MIGUEL, P.A.C.; SALERNO, M.S. Assessing innovation management in a company
from the steel industry. Vancouver. Proceedings of the PICMET, 2012.