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INOVAÇÃO ORIENTADA PARA A SUSTENTABILIDADE: DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIA ASSISTIVA PARA PESSOAS COM MOBILIDADE REDUZIDA Bruno Turmina Guedes (UTFPR) [email protected] Gilson Ditzel Santos (UTFPR) [email protected] Gilson Adamczuk Oliveira (UTFPR) [email protected] A presente pesquisa pretende desdobrar as necessidades de usuários em qualidades de um novo produto, por meio da geração de ideias a partir da gestão da inovação orientada para a sustentabilidade. Este produto consiste em uma tecnologia assistiva, direcionada para pessoas com mobilidades reduzidas com o objetivo de adaptar ou substituir cadeiras de rodas tradicionais. A pesquisa abrangeu dois métodos, inicialmente realizou-se uma entrevista em grupo, método qualitativo, e em seguida utilizou-se um levantamento por questionário, sendo este um método quantitativo. Apresentou-se um quadro que traz informações relevantes para o time de projeto: informações de especialistas no produto, a voz do cliente e índices de priorização dos requisitos do produto. Este quadro apresenta uma classificação em relação a inovação orientada para a sustentabilidade, observou-se que o grau de sofisticação é ainda baixo, existem atividades de inovação e o projeto está orientado para a sustentabilidade, no entanto não se observa a relação entre as duas áreas. Palavras-chave: Desdobramento da Função Qualidade, Gestão da Inovação, Inovação Orientada para a Sustentabilidade XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

INOVAÇÃO ORIENTADA PARA A SUSTENTABILIDADE ...abepro.org.br/biblioteca/TN_STO_213_261_26745.pdf · tecnologia assistiva, é uma abordagem de projeto inclusiva, onde o projetista

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INOVAÇÃO ORIENTADA PARA A

SUSTENTABILIDADE:

DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIA

ASSISTIVA PARA PESSOAS COM

MOBILIDADE REDUZIDA

Bruno Turmina Guedes (UTFPR)

[email protected]

Gilson Ditzel Santos (UTFPR)

[email protected]

Gilson Adamczuk Oliveira (UTFPR)

[email protected]

A presente pesquisa pretende desdobrar as necessidades de usuários

em qualidades de um novo produto, por meio da geração de ideias a

partir da gestão da inovação orientada para a sustentabilidade. Este

produto consiste em uma tecnologia assistiva, direcionada para

pessoas com mobilidades reduzidas com o objetivo de adaptar ou

substituir cadeiras de rodas tradicionais. A pesquisa abrangeu dois

métodos, inicialmente realizou-se uma entrevista em grupo, método

qualitativo, e em seguida utilizou-se um levantamento por questionário,

sendo este um método quantitativo. Apresentou-se um quadro que traz

informações relevantes para o time de projeto: informações de

especialistas no produto, a voz do cliente e índices de priorização dos

requisitos do produto. Este quadro apresenta uma classificação em

relação a inovação orientada para a sustentabilidade, observou-se que

o grau de sofisticação é ainda baixo, existem atividades de inovação e

o projeto está orientado para a sustentabilidade, no entanto não se

observa a relação entre as duas áreas.

Palavras-chave: Desdobramento da Função Qualidade, Gestão da

Inovação, Inovação Orientada para a Sustentabilidade

XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

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Inovação Orientada para a Sustentabilidade: Desenvolvimento de Tecnologia Assistiva

para Pessoas com Mobilidade Reduzida

1. Introdução

Segundo Tidd, Bessant e Pavitt (2008) a inovação pode ser atingida através do

reposicionamento da percepção do consumidor final de um produto ou processo. Esta pode ou

não estar direcionada para a sustentabilidade, neste sentido pode-se definir níveis de

sofisticação desta orientação.

A presente pesquisa pretende desdobrar as necessidades de usuários em qualidades de um

novo produto, por meio da geração de ideias a partir da gestão da inovação orientada para a

sustentabilidade. Este produto consiste em uma tecnologia assistiva, direcionada para pessoas

com mobilidades reduzidas com o objetivo de adaptar ou substituir cadeiras de rodas

tradicionais.

O texto a seguir contém revisão de literatura relacionada aos conceitos de gestão da inovação,

inovação orientada para a sustentabilidade e tecnologia assistiva. No terceiro tópico são

explicitados os métodos de pesquisa, com instrumentos quantitativos e qualitativos. Os

resultados e discussões são apresentados no quarto tópico, e por fim, são feitas as conclusões.

2. Revisão de Literatura

Os conceitos apresentados a seguir norteiam o presente artigo. Serão abordados os conceitos

ligados à gestão da inovação, bem como a definição e classificação de inovação. A revisão de

literatura também contém uma abordagem em relação a tecnologia assistiva e seus

desdobramentos, trazendo atributos de dependability para a mesma.

2.1. Gestão da Inovação

Através do Manual de Oslo (2004) define-se a inovação tecnológica como as implantações de

produtos e processos tecnologicamente novos, e também, substanciais melhorias tecnológicas

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Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

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em produtos e processos. Os autores também afirmam que uma inovação é considerada

implantada se tiver sido introduzida no mercado (inovação de produto) ou usada no processo

de produção (inovação de processo).

Tidd, Bessant e Pavitt (2008) afirmam que a inovação é movida pela habilidade de estabelecer

relações, detectar oportunidades e tirar proveito das mesmas, no entanto, não consiste apenas

na abertura de novos mercados, pode significar novas formas de servir a mercados já

estabelecidos e maduros. Os autores afirmam também que a inovação pode ser atingida

através do reposicionamento da percepção de um produto ou processo, mesmo que este já

esteja estabelecido em um contexto de uso específico. Existem níveis de inovação, estas

podem ir desde inovações incrementais, onde melhorias de componentes e versões atualizadas

de componentes são renovadas, até inovações radicais, onde é transformada a forma como

vemos ou usamos as coisas.

Estes autores afirmam também que a inovação pode ser classificada em quatro formas,

inovação de: produto, processo, posição e paradigma. A inovação de produto consiste em

mudanças em produtos e serviços, já a inovação de processo resume-se às mudanças

relacionadas a forma que estes são entregues. As mudanças no contexto em que os produtos e

serviços são introduzidos definem a inovação de posição, e por fim, a inovação de paradigma

trata das mudanças nos modelos mentais subjacentes que orientam as organizações.

Barbieri et al. (2010) contrastam a relação entre inovação e sustentabilidade, pois devido às

pressões institucionais, as organizações estão buscando a inovação com eficiência em termos

econômicos, mas com responsabilidade social e ambiental. Neste sentido, Hansen (2009)

afirma que as organizações possuem inicialmente pouca ou nenhuma consciência da relação

entre inovação e sustentabilidade, no entanto quanto mais sofisticadas as empresas ficam em

relação à sustentabilidade, elas gradualmente integram a mesma com a inovação.

Proposto por Amini e Bienstock (2013), o Quadro 1 apresentado a seguir traz o grau de ações

e atividades sustentáveis que uma organização pode ter. Este quadro faz conexão entre

diversas áreas além da própria inovação, como estratégias de negócio, conformidade

regulatória e sustentabilidade.

Quadro 1 – Inovação Orientada para a Sustentabilidade.

Nív

el

de

Sofi

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ão

(I

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d

o) I Atividades de inovação não são orientadas para a sustentabilidade.

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II Alguma consciência da relação entre inovação e sustentabilidade.

III Atividades de inovação começam a envolver múltiplos stakeholders.

IV

Abordagem de resíduo tendendo a zero envolvendo significativos

esforços de inovação orientada para a sustentabilidade que envolvem

múltiplos stakeholders.

Autor: Adaptado de Amini e Bienstock (2014).

2.2. Tecnologia Assistiva

Segundo Cook e Polgar (2013) a tecnologia assistiva pode ser definida como uma ampla

gama de equipamentos, serviços, estratégias e práticas concebidas e aplicadas para minimizar

os problemas encontrados pelos indivíduos com deficiência.

No Brasil, o Comitê de Ajudas Técnicas – CAT (2007) define como tecnologia assistiva a

área do conhecimento com característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos,

metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade,

relacionada à atividade e participação de pessoas com deficiência, incapacidades ou

mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão

social.

Segundo Sandhu (2002) o conceito de design universal, que está em consonância com a

tecnologia assistiva, é uma abordagem de projeto inclusiva, onde o projetista tenta evitar

opções de design que excluem determinados grupos de usuários, como pessoas com

mobilidade reduzida. Esse autor defende que o intuito da tecnologia é assegurar a

confiabilidade ao usuário.

Todavia, para Sommerville e Dewsbury (2007), pode-se desdobrar uma determinada

tecnologia assistiva em grupos de atributos de dependability, os quais são: adequação à

finalidade, confiabilidade, aceitabilidade e adaptabilidade. A Figura 1 traz cada conjunto e

seus demais atributos. O cerne da definição é o modelo de dependability que pode ser

ramificado em atributos, meios e imparidades. Os autores ainda citam que o modelo proposto

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por eles, no qual os atributos de dependability são o objetivo primário, é bem visto pela

comunidade científica.

Figura 1. Atributos de Confiabilidade.

Fonte: Traduzido de Sommervile e Dewsbury (2007).

3. Metodologia

Segundo Richardson (1989) a pesquisa quantitativa é caracterizada pela utilização da

quantificação, assim, tanto na coleta de informações quanto no tratamento dessas utilizou-se

ferramentas estatísticas. O autor também afirma que o método qualitativo difere do

quantitativo por não empregar um instrumento estatístico como base de análise do problema,

não pretendendo medir ou numerar categorias.

Para Cheng et al. (1995) a técnica para se obter as informações a partir dos usuários pode ser

quantitativa ou qualitativa, no entanto prefere-se a utilização de métodos qualitativos. Neste

sentido, a pesquisa abrangeu os dois métodos, pois inicialmente realizou-se uma entrevista em

Estética

Configurabilidade

Abertura

Visibilidade

Reparabilidade do

Usuário

Capacidade de

Sobrevivência

Usabilidade

Aprendizibilidade

Custo

Compatibilidade

Eficiência

Capacidade de

Resposta

Requisitos

Disponibilidade e

Confiança

Segurança

Confidencialidade e

Integridade

Manutenabilidade

Adequação à Finalidade Confiabilidade Aceitabilidade Adaptabilidade

Transparência

Categorias

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grupo, ou grupo focal (método qualitativo), e em seguida utilizou-se um levantamento por

questionário, sendo este um método quantitativo.

3.1. Grupo Focal

Cheng et al. (1995) o define como um grupo com discussões abertas, composto por usuários

ou especialistas, estes guiados por um moderador que fornece o foco das discussões, dirigindo

o grupo para os itens de interesse, aprofundando no que parece superficial e mudando o tema

quando parecer exaurido.

Definindo os especialistas em tecnologia assistiva como: engenheiros, médicos e

fisioterapeutas, o grupo focal contou com dois engenheiros mecânicos (EM), dois engenheiros

eletricistas (EE), um médico (MED), um fisioterapeuta (FTP) e um acadêmico de engenharia

mecânica (AC). Os objetivos deste grupo focal concentraram-se em extrair a voz dos

especialistas, convertendo suas afirmações em requisitos para o produto.

O grupo focal ocorreu na sala H001A - Laboratório de Produção, nas dependências da

Universidade Tecnológica Federal do Paraná / Campus Pato Branco. Foi realizado às 18h do

dia 29 de outubro de 2014, com duração de aproximadamente 3 horas. Este foi conduzido

pelos autores desta pesquisa e foram feitos questionamentos aos especialistas e mostrou-se

exemplos construtivos para os mesmos opinarem. Realizou-se a transcrição deste grupo focal,

que foi gravado em áudio gerando aproximadamente 11 páginas de transcrição.

3.2. Questionário

Conforme afirma Cheng et al. (1995), o emprego de técnicas quantitativas é apropriado

quando se deseja obter informações numéricas, tais como o grau de importância das

necessidades, avaliação de produtos já existentes e preferência de usuários.

Para Ulrich e Eppinger (2012) é essencial um sentido de relativa importância em relação as

várias necessidades dos clientes, ou seja, baseando-se em questionários aplicados diretamente

aos consumidores. Sendo assim, realizou-se um questionário online destinado às pessoas com

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mobilidade reduzida dos membros inferiores usuários de cadeiras de rodas. O intuito deste é

definir as condições de contorno para o modelo conceitual de um Trike.

Composto de onze perguntas de múltipla escolha e quatro questões abertas, o questionário

baseou-se no critério de avaliação proposto por Kano et al. (1984) a fim de identificar os

atributos que provoquem reação ou satisfação dos usuários. As perguntas basearam-se nas

afirmações levantadas pelos especialistas. Neste sentido, as onze primeiras questões possuíam

perguntas adjacentes representando o seu oposto. Definindo a população como cadeirantes,

que é o público alvo da pesquisa, o questionário contou com 43 respostas, sendo que a idade

dos respondentes foi em média de 41 anos. Este questionário esteve disponível durante 4 dias,

entre 8 e 12 de Abril de 2015.

Quadro 2 – Perguntas realizadas no questionário.

Ques

tões

de

Múlt

ipla

Esc

olh

a

Em relação a aparência do trike, se existissem carenagens (lataria, plástico), como você

se sentiria?

Se o Trike tivesse regulagem de altura do guidão, como você se sentiria?

Se a fixação do frontbike for em um único ponto e central, conforme mostra a figura,

passasse entre as pernas do usuário, como você se sentiria?

Se o Trike contasse com opcionais que o permitissem andar em vias públicas (sistemas

de iluminação e sinalização), como você se sentiria?

Se conforme a velocidade aumentasse, a direção ficasse mais pesada (melhorando a

estabilidade do Trike), como você se sentiria?

Se o trike tivesse cinto de segurança, como você se sentiria?

Se o trike fosse na forma de acoplamento fixo à uma cadeira de rodas comercial, como

você se sentiria?

Se o trike fosse na forma de acoplamento móvel à uma cadeira de rodas comercial,

como você se sentiria?

Se em caso de colisão, o motor do Trike desligasse automaticamente, como você se

sentiria?

Se o trike tivesse duas baterias, como você se sentiria?

Se a bateria tivesse autonomia para 25 km (em condições normais de uso), como você

se sentiria?

Ques

tões

Aber

tas

No seu dia-a-dia, em quais momentos um trike seria útil?

Na sua opinião, qual deveria ser a velocidade máxima do trike?

No seu ponto de vista, qual deve ser o peso máximo do trike?

Quanto você estaria disposto a pagar em um trike?

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A fim de ser útil para o desdobramento da função qualidade (apresentado a seguir), ao final de

cada pergunta utilizou-se a escala de resposta psicométrica proposta por Likert (1932). A

seguir, o quadro contém as perguntas utilizadas no questionário.

Quadro 3 – Escala de respostas psicométricas.

Qual a importância desta questão para você?

Totalmente

desnecessária. ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

Extremamente

importante.

Fonte: Adaptado de Likert (1932).

O questionário foi realizado no modo online através do Google Docs, sendo publicado em

blog focado a pessoas com mobilidade reduzida, este também promoveu o questionário em

redes sociais. Definindo a população como cadeirantes, que é o público alvo da pesquisa, o

questionário contou com 43 respostas, sendo que a idade dos respondentes foi em média de 41

anos. Este questionário esteve disponível durante 4 dias, entre 8 e 12 de abril de 2015.

3.3. Desdobramento da Função Qualidade

Teorizado por Akao e Mizuno (1994) o QFD (ou Desdobramento da Função Qualidade) foi

criado para gerenciar o processo de gestão e desenvolvimento do produto – denominada ação

gerencial do planejamento da qualidade. Neste sentido, Akao (1988) afirma que a ferramenta

é utilizada para converter as necessidades do usuário em requisitos do produto. A seguir, o

Quadro 4 traz um resumo das etapas para a construção da matriz QFD.

Quadro 4 – Descrição das etapas para a construção da matriz QFD.

Etapa Nome Descrição

1 Necessidades do Cliente

A partir da identificação do cliente, identifica-se suas

necessidades. Para Cheng et al. (1995) a técnica para se

obter as informações a partir dos clientes pode ser

quantitativa ou qualitativa, no entanto prefere-se a

utilização de métodos qualitativos.

2 Requisitos do Cliente Desdobramento da linguagem primitiva em requisitos do

cliente.

3 Índices de Importância dos

Requisitos do Cliente

Grau de importância das necessidades do cliente, ou seja,

o peso de cada necessidade.

4 Especificações do Produto Segundo Akao (1988), nessa etapa o interesse é em

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estabelecer os requisitos de projeto, onde o objetivo é

identificar como os requisitos dos clientes podem ser

mensurados tecnicamente.

5 Matriz das Relações

Primeiro são realizadas as relações entre os requisitos do

produto e os requisitos do cliente, e em seguida é

realizado o cálculo da importância técnica do requisito

do produto. Segundo Ohfuji (1993) esta é uma das mais

importantes etapas, pois através dela que a importância

atribuída pelos clientes a cada qualidade exigida é

transferida às características da qualidade.

6 Orientação dos Requisitos de

Projeto

Consiste em definir a orientação dos requisitos do

projeto, este campo da matriz tem como objetivo

estabelecer e informar a equipe de projeto se o requisito

precisa ser minimizado, maximizado ou se é um padrão

alvo.

7 Correlações entre as

Especificações do Produto

Na sétima etapa é feito a relação entre os requisitos de

projeto, estes podem se relacionar de maneira positiva,

negativa ou neutra: se determinado requisito for

maximizado, outro requisito sofrerá positivamente ou

negativamente com sua maximização, ou ainda, será

indiferente.

8 Avaliação Competitiva

(Benchmarking)

Durante a oitava etapa é realizada a avaliação

competitiva dos clientes, ou benchmarking. Ou seja, os

requisitos do cliente são comparados com referências no

mercado.

9 Avaliação Competitiva

Técnica (Benchmarking)

Nesta etapa é semelhante a oitava, o que difere é o foco

das comparações, nesse momento o interesse é comparar

os requisitos de projeto com o mercado.

10 Avaliação Técnica Na última etapa, o objetivo é valorar os requisitos de

projeto com valores-meta. A existência de valores

objetivo orienta qual deve ser o foco do time de projetos.

Estas etapas constituem os passos a serem seguidos para a construção da matriz, a

representação gráfica desta é representada a seguir, na Figura 2. Cheng et al. (1995) teoriza

sobre como obter a voz do cliente, ou seja, primeiras etapas na construção da matriz casa da

qualidade. Assim, ao utilizar a ferramenta QFD para transformar efetivamente parâmetros

qualitativos em quantitativos, nem todas as necessidades dos clientes, representadas pelas

qualidades exigidas possuem a mesma relevância.

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Figura 2. Visão esquemática da matriz do QFD.

3.4. Critério de Kano

Conforme as pesquisas de Kano et al. (1984), o autor concebeu um método que busca

contribuir para a priorização das qualidades exigidas pelo cliente em uma técnica de

avaliação. Esta priorização influi diretamente nos índices de importância dos requisitos dos

clientes.

Sendo assim, Kano et al. (1984) afirmaram que a satisfação do usuário final pode ser

abruptamente aumentada adicionando-se apenas uma pequena melhoria no desempenho de

um determinado atributo. Enquanto que em outros atributos, mesmo que o desempenho seja

maximizado ao extremo, a satisfação do usuário não tem expressivo aumento. Esta afirmação

pode ser vista no Quadro 5 mostrado a seguir.

Quadro 5 – Avaliação das respostas.

1 2 3

4

5

5

6

7

8

9

10

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Resposta do Usuário

Questão Disfuncional (Negativa)

Eu

ad

ora

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isso

,

mas

não

é

impre

scin

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el.

Isso

é

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isso

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Ques

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unci

on

al (

Po

siti

va)

Eu adoraria isso,

mas não é

imprescindível.

Questionável. Atrativo. Atrativo. Atrativo. Unidimensional.

Isso é

imprescindível. Reverso. Neutro. Neutro. Neutro. Obrigatório.

Indiferente. Reverso. Neutro. Neutro. Neutro. Obrigatório.

Não gostaria, mas

posso conviver

com isso.

Reverso. Neutro. Neutro. Neutro. Obrigatório.

É inaceitável. Reverso. Reverso. Reverso. Reverso. Questionável.

Fonte: Kano et al. (1984)

4. Resultados e Discussões

Tidd, Bessant e Pavitt (2008) afirmam que a gestão da inovação é o agente capaz de manter as

organizações competitivas, e as ferramentas de qualidade, como o desdobramento da função

qualidade, são o artifício necessário para traduzir os anseios e necessidades dos usuários em

qualidades que o produto apresentará, pode-se estabelecer uma dinâmica de progresso

contínuo das organizações.

Já para Sommerville e Dewsbury (2014) é imprescindível que além de saber gerir a inovação,

as organizações devem introduzir as vertentes da sustentabilidade em suas estratégias. Assim,

tanto no quesito social, quanto ambiental e econômico, a sustentabilidade gerida juntamente

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com os conceitos de gestão da inovação são os agentes necessários para as organizações se

posicionarem no mercado.

Sendo assim, o quadro a seguir sintetiza as informações coletadas por meio do grupo focal e

do questionário. Primeiramente, as colunas do quadro são divididas conforme a classificação

de atributos que uma tecnologia assistiva deve possuir. Estes atributos de dependability se

traduzem em adequação à finalidade, confiabilidade, aceitabilidade e adaptabilidade. Os

excertos retirados da transcrição do grupo focal com os especialistas foram classificados

nestes atributos conforme Figura 1.

Os excertos retirados da transcrição do grupo focal com os especialistas foram classificados

também em termos de inovação e sustentabilidade, esta classificação encontra-se ao lado

esquerdo de cada excerto.

A partir do questionário realizado com os usuários, mensurou-se as afirmações dos

especialistas, através do critério proposto por Kano (1984). Outro aspecto relevante é a

priorização das afirmações através da escala proposta por Likert (1932).

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Quadro 6 – Classificação dos excertos.

Através deste conjunto de informações, o Quadro 6 sintetiza várias informações apresentadas

na matriz de desdobramento da função qualidade (QFD). Cada excerto apresentado no quadro

contém a orientação do estudo (inovação e sustentabilidade), além disso, é possível captar o

interesse do consumidor final em relação aos atributos propostos por Sommerville e

Dewsbury (2007) através da priorização proposta por Kano (1984).

5. Conclusão

Abordou-se nesta pesquisa os conceitos ligados à gestão da inovação, bem como a definição e

classificação de inovação. Segundo Tidd, Bessant e Pavitt (2008) a inovação é movida pela

habilidade de estabelecer relações, detectar oportunidades e tirar proveito das mesmas, no

entanto, esta não consiste apenas na abertura de novos mercados, pode significar novas

formas de servir a mercados já estabelecidos e maduros.

Visib

ilidad

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eA

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AdaptabilidadeAdequação à Finalidade Confiabilidade Aceitabilidade

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ade

EstéticaU

sabilid

ade

Cap

acidad

e de R

espo

sta

"Esse acoplamento ele tem

que ser meio instantâneo,

não é minutos, eu te digo

segundos," (MED)

"Então esso produto pode ter

um outro perfil, um outro

segmento, que é o idoso. Até

no futuro, não precisa ser

nem doente, é... Mas como

tem uma certa dificuldade e

tal, pela idade," (MED)

Ino

vaçã

o e

Su

st.

Ino

vaçã

oIn

ova

ção

Prioridade: 3Kano: Neutro

Prioridade: 4Kano: AtrativoPrioridade:

N/DPrioridade: 5Kano: N/D Kano: N/D

Prioridade: 3Kano:

QuestionávelTransp

arência

Cap

ac. de So

brev.

Prioridade: 4Kano:

Obrigatório

Kano: Atrativo Prioridade: 3

Kano: Neutro Prioridade: 2

"Por mais que ela não seja

vestível, me parece que o

usuário vai querer alguma

coisa nesse sentido. Que não

seja um “trambolho” né,"

(EE)

"Ele teria dificuldade, por

causa da parte, não sei, como

chamaria o meio ali...

Aquele... Aquela parte preta

ali. É! Um chassi. " (FTP)

"Se for um adolescente, que

ela possa acompanhá-lo,

também hoje está sendo

visto por causa do custo,"

(FTP)

"Aí você aproveitaria a

mesma cadeira, só acoplaria

num sistema diretamente na

cadeira. É... aí poderia ficar

fixo já, direto. Não precisa

ficar montando e

desmontando." (EM)

Ino

vaçã

o e

Su

sten

tab

ilid

ade

Ino

vaçã

oSu

sten

tab

ilid

ade

"Se for em vias públicas, acho

que a velocidade não pode

ser grande, essas bicicletas

que tem aqui vai acho que a

30 km/h, ou 20 km/h, isso não

dá para andar na calçada,"

(MED)

Kano:

ObrigatórioPrioridade: 4

Prioridade: 3Kano: Atrativo

"Ter um dispositivo, tipo do...

Do guidão, se quebrar o

negócio desliga o motor,

conforme a velocidade, aí ele

está seguro e se quebrar e

desliga o motor," (MED)

"Teria que talvez ser visto,

mas uma fixação de cinto,"

(FTP)

"O acoplamento alguns vão

ter praticidade e outros não,

por que aí você limita o

público também né, se tiver

essa dependência de quanto

tempo de... Não é que

praticamente os que usam 8,

9 ou 10 horas por dia uma

cadeira," (FTP)

Sust

enta

bili

dad

eIn

ova

ção

e S

ust

enta

bili

dad

eIn

ova

ção

Sust

enta

bili

dad

eIn

ova

ção

Ino

vaçã

o

"Se for a questão de

velocidade baixa, a

autonomia vai lá em cima,"

(EM)

Kano: Atrativo Prioridade: 1

Prioridade: 4Kano: Neutro

"De distância possível a ser

percorrida e velocidade

também que ele pode ir

nessa mesma distância, né.

De usabilidade eu acho que

teria diversas formas de se

implementar, tanto de duas

rodas, ou de quadro rodas."

(EE)

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A revisão de literatura trouxe uma abordagem em relação a tecnologia assistiva e seus

desdobramentos, trazendo atributos de confiabilidade para a mesma. Segundo Cook e Polgar

(2013) ela pode ser definida como uma ampla gama de equipamentos, serviços, estratégias e

práticas concebidas e aplicadas para minimizar os problemas encontrados pelos indivíduos

com deficiência.

Um dos métodos utilizados para a aquisição de dados foi o grupo focal que ocorreu na sala

H001A nas dependências da Universidade Tecnológica Federal do Paraná / Campus Pato

Branco. Este foi realizado às 18h do dia 29 de outubro de 2014, com duração de

aproximadamente 3 horas. Sendo que o autor deste artigo realizou a transcrição deste grupo

focal, que foi gravado em áudio gerando aproximadamente 11 páginas de transcrição.

O segundo método utilizado foi o questionário realizado de modo online através do Google

Docs, sendo publicado em blog focado a pessoas com mobilidade reduzida, este também

promoveu o questionário em redes sociais.

A partir destes dados, e com base nas definições do Desdobramento da Função Qualidade

(QFD), e na perspectiva fornecida pela gestão da inovação, gerou-se o Quadro 6. Este

sintetiza as informações oriundas de diferentes métodos de criação de um produto: QFD e

gestão da inovação.

Sendo assim, o Quadro 6 traz informações relevantes para o time de projeto, como:

informações oriundas de especialistas no produto (médicos, engenheiros e fisioterapeutas), a

voz do cliente (através do critério proposto por Kano) e índices de priorização dos requisitos

do produto (obtidos através da escala de Likert presente no questionário). Por fim, o quadro

apresenta uma classificação em relação a inovação orientada para a sustentabilidade.

Como observado no Quadro apresentado por Amini e Bienstock (2014), observa-se que o

grau de sofisticação de inovação orientado para a sustentabilidade é ainda baixo, ou seja,

existem atividades de inovação e o projeto está orientado para a sustentabilidade, no entanto

não se observa a relação entre as duas áreas. Todavia, em relação aos atributos apresentados

para um bom projeto de tecnologia assistiva, apresentado por Sommerville e Dewsbury

(2014), a maioria dos atributos possuem relação com os levantamentos apresentados pelos

especialistas e avaliados pelo consumidor final.

XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção

Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

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Os métodos apresentados neste trabalho ainda necessitam de aprofundamento, pois existiram

limitações: idealmente, entre os especialistas sugere a introdução de usuários de cadeiras de

rodas, a fim de se obter um grupo focal mais consistente. O questionário proposto aos

cadeirantes abrangeu de modo geral todas as formas de propulsão das cadeiras: manuais e

elétricas, sugere-se em trabalhos futuros clínicas mais específicas: um grupo focal com

usuários de cadeiras de rodas e um questionário com um maior número de stakeholders,

restringindo a usuários de cadeiras de rodas elétricas e com grau de instrução maior.

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