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INSTITUTO CIENTÍFICO DE ENSINO SUPERIOR E PESQUISA CURSO DE MBA EXECUTIVO DE GESTÃO DE PESSOAS DIEL GOMES DA SILVA JUNIOR ANÁLISE DOS ELEMENTOS DE GESTÃO DO CONHECIMENTO ENCONTRADOS NA FUNDAÇÃO DE ENSINO E PESQUISA EM CIÊNCIAS DA SAÚDE - FEPECS Brasília – DF 2008

INSTITUTO CIENTÍFICO DE ENSINO SUPERIOR … de transmissão do conhecimento carece de um modelo completo de avaliação. A contratação de uma consultoria para orientar o planejamento

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INSTITUTO CIENTÍFICO DE ENSINO SUPERIOR E PESQUISA

CURSO DE MBA EXECUTIVO DE GESTÃO DE PESSOAS

DIEL GOMES DA SILVA JUNIOR

ANÁLISE DOS ELEMENTOS DE GESTÃO DO CONHECIMENTO

ENCONTRADOS NA FUNDAÇÃO DE ENSINO E PESQUISA EM CIÊNCIAS DA

SAÚDE - FEPECS

Brasília – DF

2008

DIEL GOMES DA SILVA JUNIOR

ANÁLISE DOS ELEMENTOS DE GESTÃO DO CONHECIMENTO

ENCONTRADOS NA FUNDAÇÃO DE ENSINO E PESQUISA EM CIÊNCIAS DA

SAÚDE - FEPECS

Monografia apresentada ao Curso de MBA Executivo

de Gestão de Pessoas do Instituto Científico de Ensino

Superior e Pesquisa – UNICESP como parte dos

requisitos para obtenção do título de Especialista em

Gestão de Pessoas.

Orientadora: Profª. M.Sc.Margarida Flora Silva Gonçalves

Brasília – DF

2008

PROPRIEDADE INTELECTUAL

CESSÃO DE DIREITOS DIEL GOMES DA SILVA JUNIOR ANÁLISE DOS ELEMENTOS DE GESTÃO DO CONHECIMENTO ENCONTRADOS NA FUNDAÇÃO DE ENSINO E PESQUISA EM CIÊNCIAS DA SAÚDE - FEPECS 2008: É concedida ao Instituto Científico de Ensino Superior e Pesquisa – UNICESP, permissão para reproduzir cópias deste trabalho ou emprestar tais cópias somente para propósitos acadêmicos e científicos. O autor reserva-se outros direitos de publicação.

_______________________ Diel Gomes da Silva Junior EPTG QE 3 bloco B2 aptº 106 Lucio Costa, Guará - DF [email protected]

DIEL GOMES DA SILVA JUNIOR

ANÁLISE DOS ELEMENTOS DE GESTÃO DO CONHECIMENTO

ENCONTRADOS NA FUNDAÇÃO DE ENSINO E PESQUISA EM CIÊNCIAS DA

SAÚDE - FEPECS

Banca Examinadora:

______________________________________________ Orientador: Profª. M.Sc. Margarida Flora Silva Gonçalves Unicesp – Instituto Científico de Ensino Superior e Pesquisa

______________________________________________ Avaliador: Profª Anelise Pereira Sihler Unicesp – Instituto Científico de Ensino Superior e Pesquisa

BRASÍLIA, DF

2008

Dedico este trabalho à minha amada esposa e aos

meus pais e irmãos igualmente queridos.

AGRADECIMENTOS

Deus, que me deu forças extras imprescindíveis para a conclusão desta realização.

A minha estimável orientadora, Margarida, que me deu parte daquilo que muito ama,

seu conhecimento, e que passarei igualmente adiante durante a minha vida com o mesmo

carinho recebido.

“A mais rica biblioteca, quando desorganizada, não é tão proveitosa

quanto uma bastante modesta, mas bem ordenada. Da mesma maneira,

uma grande quantidade de conhecimentos, quando não foi elaborada

por um pensamento próprio, tem muito menos valor do que uma

quantidade bem mais limitada, que, no entanto, foi devidamente

assimilada. Pois é apenas por meio da combinação ampla do que se

sabe, por meio da comparação de cada verdade com todas as outras, que

uma pessoa se apropria de seu próprio saber e o domina”.

Arthur Schopenhauer

RESUMO

Junior, Diel Gomes da Silva. Análise dos elementos de gestão do conhecimento encontrados

na Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde - FEPECS. Artigo (MBA Executivo

em Gestão de Pessoas). Instituto Científico de Ensino Superior e Pesquisa - UNICESP.

Professorª Orientadorª: Margarida Flora Silva Gonçalves. Setembro, 2008.

O presente trabalho teve como objetivo verificar como a Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal poderia se beneficiar de ações na área de Gestão do Conhecimento - GC. Para tanto, foram levantadas as características do ambiente da SES/DF e da Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde – FEPECS, mais especificamente; os elementos de gestão do conhecimento; os entraves para implantação da GC no âmbito administrativo. Tais itens foram analisados à luz dos pensamentos de autores especialistas em GC, de acordo com o processo de criação, armazenamento, transferência e utilização do conhecimento. O método de abordagem escolhido foi o dialético, que permitiu a realização da pesquisa, pois sua orientação está para a análise de elementos escritos e não-escritos, assim como possibilitou ao pesquisador lançar seu olhar para o fenômeno e estudá-lo como um processo dentro de um contexto. Na análise do processo, verificou-se que os elementos concernentes à GC encontrados na FEPECS não possuem uma estrutura completa e que faltam ferramentas para uma gestão ideal. O conhecimento tácito é o que prevalece, pois não há repositório desenhado para captar tal conhecimento e transforma-lo em conhecimento explícito. A falta do repositório também dificulta a reutilização do conhecimento existente na SES/DF. A metodologia de transmissão do conhecimento carece de um modelo completo de avaliação. A contratação de uma consultoria para orientar o planejamento estratégico caracteriza uma forma de geração de conhecimento, o aluguel. Conclui-se que a aplicação de ações planejadas para a GC se faz ímpar para aproveitar o capital intelectual em todo o seu potencial, transformando o conhecimento tácito em ação e fonte de reutilização. Sugere-se a implantação da GC como modelo de melhoria contínua e permanente, com um corpo funcional próprio; a melhoria na comunicação interna; e o investimento na capacitação das chefias.

PALAVRAS-CHAVE: gestão do conhecimento, Secretaria de Estado de Saúde do Distrito

Federal, FEPECS.

RESUMEN

Junior, Diel Gomes da Silva. Análise dos elementos de gestão do conhecimento encontrados

na Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde - FEPECS. Artigo (MBA Executivo

em Gestão de Pessoas). Instituto Científico de Ensino Superior e Pesquisa- UNICESP.

Professorª Orientadorª: Margarida Flora Silva Gonçalves. Setembro, 2008.

.

El actual trabajo tuvo como objetivo verificar como la Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal podría beneficiarse de acciones en el área de la Gestión del Conocimiento – GC. Por eso, hubieron sido presentadas las características del ambiente de la SES/DF e de la Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde – FEPECS, en especial; los elementos de gestión del conocimiento; las dificultades para implantación de la GC en el ámbito administrativo. Tales fueron analizados de acuerdo con los pensamientos de los autores especialistas en GC, conforme el proceso de creación, almacenamiento, transferencia e utilización de conocimiento. El método de abordaje elegido ha sido el dialéctico, lo cual permitió la realización de la pesquisa, pues orientación está para la analice de elementos escritos e no escritos, bien como posibilitó al investigador echar su mirada hacia el fenómeno e estudiadlo como un proceso dentro de un contexto. En el analice del proceso, ha sido verificado que los elementos de GC vistos en la FEPECS no tienen una estructura completa i que quedan herramientas para una gestión ideal. El conocimiento tácito es lo que prevalece, pues no hay repositorio hecho para captar tal conocimiento e transformadlo en conocimiento explicito. La carencia del repositorio también dificulta la reutilización del conocimiento existente en la SES/DF. La mitología de transmisión del conocimiento hace falta de un modelo de evaluación. La contratación de una empresa de consultaría para orientar el planeamiento estratégico caracteriza una forma de generar el conocimiento, el alquiler. En conclusión, la aplicación de acciones planeadas para la GC se hace sin impar para mejor aprovechar el capital intelectual en todo su potencial, transformando el conocimiento tácito en acción y fuente de reutilización. Sugeridse la implantación de la GC como modelo de mejora continua y permanente, con un cuerpo funcional propio; la mejora en la comunicación interna; y la inversión en capacitación de los jefes.

PALAVRAS-CHAVE: gestão do conhecimento, Secretaria de Estado de Saúde do Distrito

Federal, FEPECS.

LISTA DE TABELAS

TABELA 01 - Causas de atritos na transferência do conhecimento e suas possíveis soluções ................................................................................................................................

18

TABELA 02 - Comparação das duas abordagens para a administração do conhecimento 20

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 – Modelo de gestão para resultados ................................................................... 33

Figura 02 – Mapa genérico de scorecard ........................................................................... 34

Figura 03 – Modelo de painel de sala de situação: execução de projetos .......................... 35

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

FHDF - Fundação Hospitalar do Distrito Federal.

GDF - Governo do Distrito Federal.

ISDF - Instituto de Saúde do Distrito Federal.

CSDF – Conselho de Saúde do Distrito Federal.

FSDF – Fundo de Saúde do Distrito Federal.

FEPECS – Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde.

FHB – Fundação Hemocentro de Brasília.

SUPRAC – Subsecretaria de Programação, Regulação, Avaliação e Controle.

SAS – Subsecretaria de Atenção à Saúde.

SVS - Subsecretaria de Vigilância Sanitária.

SUS – Sistema Único de Saúde.

NEPS - Núcleo de Educação Permanente em Saúde.

CODEP – Coordenação de Desenvolvimento de Pessoas.

GC – Gestão do Conhecimento.

ESCS - Escola Superior de Ciências da Saúde.

ETESB - Escola Técnica de Saúde de Brasília.

CAO - Coordenação de Apoio Operacional.

GM/MS – Gabinete do Ministro do Ministério da Saúde.

GTIPE - Grupo de Trabalho de Implementação do Planejamento Estratégico.

EUA – Estados Unidos da América.

OMC - Organização Mundial do Comércio.

FMI - Fundo Monetário Internacional.

EAD – Ensino à Distância.

ECT - Empresa de Correios e Telégrafos.

DETRAN/AL – Departamento de Trânsito de Alagoas.

P&D – Pesquisa e Desenvolvimento.

Fedex – Federal Express.

IA – Inteligência Artificial.

MIT - Instituto Tecnológico de Massachusetts.

CBR - Case-Based Reasoning.

HP – Hewlett-Packard.

GE – General Eletric.

CV – Comunidade Virtual.

PNH – Política Nacional de Humanização.

MS – Microsoft.

DIVAL – Diretoria de Vigilância Ambiental

LACEN – Laboratório Central.

HBB – Hospital de Base de Brasília.

HRS – Hospital Regional de Sobradinho.

HRAS – Hospital Regional da Asa Sul.

HRAN – Hospital Regional da Asa Norte.

HRT – Hospital Regional de Taguatinga.

HRC – Hospital Regional da Ceilândia.

CD-ROM – Compact Disc of Read Only Memory.

DVD – Digital Versatile Disc.

VHS – Video Home System.

SEPLAG – Secretaria de Planejamento e Gestão.

EGov – Escola de Governo.

PMTUAS - Programa de Modernização Tecnológica das Unidades Assistenciais de Saúde.

SUMÁRIO

2 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 18

2.1 Apresentação do trabalho ............................................................................................ 18

2.1.1 Cenário Atual ...................................................................................................... 19

2.2 Situação problema ...................................................................................................... 19

2.2.1 Dados da situação ............................................................................................... 19

2.2.2 Problema de Pesquisa .......................................................................................... 21

2.2.3 Delimitação da Pesquisa...................................................................................... 21

2.3 Objetivos .................................................................................................................... 21

2.3.1 Geral ................................................................................................................... 21

2.4 Justificativa ................................................................................................................ 22

3 REFERENCIAL TEORICO ........................................................................................... 23

3.1 Dados sobre a FEPECS............................................................................................... 23

3.2 Marco teórico ............................................................................................................. 24

3.2.1 Origens e Instrumentos do Conhecimento ............................................................ 24

3.2.2 Tipologia do Conhecimento ................................................................................. 25

3.2.3 Gestão do Conhecimento: breve histórico ............................................................ 25

3.2.5.1 Criação de conhecimento .............................................................................................. 29

3.2.5.2 Armazenamento ............................................................................................................ 31

3.2.5.3 Transferência ................................................................................................................ 33

3.2.6 Conhecimento tácito e conhecimento explícito ..................................................... 35

3.2.6.1 Conhecimento Tácito .................................................................................................... 35

3.2.7 Caso de Sucesso na Administração Pública ......................................................... 37

4 DESENVOLVIMENTO .................................................................................................. 39

4.1 Metodologia ............................................................................................................... 39

4.1.1 Tipos de pesquisa ................................................................................................. 39

4.1.2 Método de análise ................................................................................................ 39

4.1.3 Análise dos dados coletados................................................................................. 40

4.1.3.1 Dos elementos de criação do conhecimento ................................................................. 41

4.1.3.2 Elementos de armazenamento ...................................................................................... 43

4.1.3.3 Transferência de conhecimento .................................................................................... 44

4.1.3.4 A utilização do conhecimento ...................................................................................... 45

4.1.3.5 Gestão do conhecimento na função administrativa ...................................................... 45

4.1.4 Caso: planejamento estratégico e o conhecimento alugado .................................. 46

4.1.4.1 Curso de agente de planejamento na modalidade Ensino à Distância – EAD .............. 47

4.1.4.2 GTIPE e Publix ............................................................................................................. 47

5 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 51

5.1 Quanto aos elementos ou fases da gestão do conhecimento aplicados pela FEPECS: .. 51

5.2 Sobre os entraves que dificultam a implementação da gestão do conhecimento no

âmbito administrativo ....................................................................................................... 52

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 55

1 INFORMAÇÕES SOBRE O AUTOR

Diel Gomes da Silva Junior

Bacharel em Administração (UNEB/DF); Especialista em Gestão e Consultoria de Conflitos

nas Organizações de Saúde (Universitat de Barcelona/Espanha); Pós-graduando em MBA em

Gestão Executiva de Pessoas (UNICESP/DF).

Gerência de telemarketing, de recuperação de crédito, de negócios pessoa física (UNIBANCO

SA), 1991 - 1998; Técnico de Saúde, coordenador de equipe administrativa, agente de

planejamento estratégico (SES/DF), desde 2001; professor em bioestatística e informática

aplicada a metodologia científica (UNIP/DF), 2004 – 2005. Membro de conselho e consultor

(Casa de Talentos/DF) 2008.

[email protected]

CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/5363518530178621

18

2 INTRODUÇÃO

2.1 Apresentação do trabalho

Em 17 de junho de 1.960 foi criada, por meio do Decreto 48.298, a Fundação

Hospitalar do Distrito Federal FHDF e pelo Decreto Nº 21.478, de 31 de agosto de 2.000 foi

extinta, dando lugar à Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal – SES/DF, que é o

órgão do Governo do Distrito Federal - GDF responsável pela gestão pública dos serviços

sanitários, atuando de forma preventiva e resolutiva e, quando couber, em projetos de parceira

com os outros órgãos do Governo. A SES/DF também incorporou as funções e o quadro de

servidores do Instituto de Saúde do Distrito Federal – ISDF, extinto pelo Decreto Nº 21.479

de 31 de agosto de 2.000.

Atualmente, a SES/DF se apresenta com o seguinte perfil estrutural:

Órgãos vinculados:

a) CSDF – Conselho de Saúde do DF: atua na formulação de estratégias e no controle

da execução da política de saúde na instância correspondente.

b) FSDF – Fundo de Saúde do DF: é um instrumento de administração e suporte

financeiro para as ações do Sistema Único de Saúde - SUS/DF.

c) FEPECS – Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde: “formular e

implantar a formação e desenvolvimento de pessoas, a gestão do conhecimento,

pesquisa e inovação tecnológica, conforme as políticas públicas de saúde”,

segundo sua missão.

d) FHB – Fundação Hemocentro de Brasília: responsável pela captação de doações

de sangue, da análise e distribuição.

Órgãos subordinados:

a) SUPRAC – Subsecretaria de Programação, Regulação, Avaliação e Controle:

administra as solicitações e marcações de consultas e exames feitas no DF;

b) SAS – Subsecretaria de Atenção à Saúde: desenvolve programas gerais ou

específicos de saúde à população como: saúde do trabalhador, da infância do

adulto, da mulher; de caráter permanente, temporário ou sazonal;

19

c) SVS - Subsecretaria de Vigilância Sanitária: focada na prevenção de doenças,

epidemias e imunização da população, assim como de animais domésticos.

2.1.1 Cenário Atual

A SES/DF vive a implementação do novo planejamento estratégico, modelado pelo

Governo do DF e sob a consultoria da Publix Instituto. Com uma missão e uma visão de

futuro claras, traça objetivos e ações focados em resultados e busca o envolvimento de 19.111

servidores concursados, da saúde e da administração: perfil de uma nova instituição em busca

de novas soluções em gestão.

Em 29 de janeiro de 2008, a SES/DF expôs a sua missão e visão de futuro, que contou,

em cerimônia oficial, com a presença do Governador do Distrito Federal. Ficaram assim

firmadas:

a) Missão da Secretaria de Saúde – Formular e adequar políticas de saúde, bem como

planejar, coordenar e executar ações de promoção, proteção e recuperação da

saúde, inclusive os processos de formação de profissionais de saúde, segundo os

princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde - SUS, contribuindo para a

melhoria da qualidade de vida da população do Distrito Federal.

b) Visão da Secretaria de Saúde – Ser excelência e referência na atenção integral à

saúde, apresentando os melhores indicadores de saúde do país.

2.2 Situação problema

2.2.1 Dados da situação

Na SES/DF existem focos desencontrados de tratamento do conhecimento.

Oficialmente, a SES/DF mantém um Núcleo de Educação Permanente em Saúde – NEPS, em

cada uma de suas unidades e, informalmente, existem alguns grupos de servidores que se

organizam para tentar processar o conhecimento.

Quanto aos NEPS, estes oferecem:

a) Apoio para levantamento de necessidade de cursos específicos;

b) Apoio na formalização do projeto do curso pretendido;

c) Acompanhamento dos cursos autorizados e avaliação dos participantes ao final de

cada curso;

20

d) Acompanhamento dos estagiários oriundos de instituições de nível técnico e

superior;

e) Acompanhamento dos treinandos em Serviços de Saúde.

Os NEPS são subordinados à Coordenação de Desenvolvimento de Pessoas - CODEP

da Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde - FEPECS. Segundo a Coordenação

da CODEP, não existe uma concentração de esforços voltados para a gestão do conhecimento

além do foco no treinamento, nem há um banco de talentos.

Existe na SES/DF um quadro de servidores da carreira administrativa de nível médio,

que parece não receber a devida importância da Secretaria, quiçá por que não é uma categoria

que faz parte do principal negócio desse Órgão de Governo e por isso não é fator estratégico

de relevância. Seja como for, ficam à margem da oferta de cursos de treinamento e

capacitação.

Outrossim, por não haver, no Plano de Cargos e Salários, o cargo administrativo de

nível superior, comumente conhecido por Analista Administrativo, a SES/DF poderia ficar

descoberta de pessoal capacitado para executar atividades que exigem conhecimentos mais

específicos. Essa lacuna de conhecimento pode impedir que a SES/DF seja mais eficiente, por

exemplo, na otimização de processos, na padronização de rotinas, no melhor atendimento ao

público, na melhora dos sistemas de informações, na qualidade do serviço prestado etc.

No entanto, mesmo não havendo o cargo de Analista Administrativo, existem técnicos

administrativos com graduação em Administração: pessoas capacitadas para desempenhar

atividades mais complexas na área administrativa.

Em que pese existirem pessoas capacitadas, o surpreendente é o fato da SES/DF não

utilizar seu capital intelectual administrativo de forma eficiente. Talvez por ser um órgão

político, os movimentos das peças podem sofrer influências inapropriadas e comprometer o

fluxo e o tratamento das informações, elemento-base para a construção do conhecimento

organizacional.

A SES/DF poderia se beneficiar se tivesse um plano para a gestão do conhecimento.

Segundo Davenport e Prusak (1998), a gestão do conhecimento ocorre por meio de processos

de criação, armazenamento, transferência e uso de conhecimentos na organização. Para

Angeloni (2008, p. XVI-XVII), “gestão do conhecimento é um conjunto de processos que

acontecem por meio de aquisição, criação, armazenamento, compartilhamento, uso e

mensuração do conhecimento na organização”. Stewart (1998, p. 98) ao citar um caso

21

ocorrido com Edvinsson, sobre a gestão do conhecimento, relata que “o capital humano é a

fonte da inovação de uma empresa”. Reconhecido o capital intelectual, as pessoas, como a

base para a construção do conhecimento, basta encontrar a melhor forma de se aproveitar essa

vantagem competitiva. Por ser fonte recente de discussão entre os autores da administração, a

gestão do conhecimento se vê aberta a várias teorias sobre o seu processo e confusões de

significado, como vem acontecendo entre Informação e Conhecimento.

2.2.2 Problema de Pesquisa

Considerado o exposto, questiona-se: como a SES/DF poderia se beneficiar de

ações na área de Gestão do Conhecimento?

2.2.3 Delimitação da Pesquisa

Considerando as limitações de tempo e de outros recursos, a pesquisa se limitará à

Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde – FEPECS, que é o órgão da SES/DF

responsável pela formação e desenvolvimento de pessoas, da gestão do conhecimento e de

pesquisa e inovação.

2.3 Objetivos

2.3.1 Geral

Verificar como a SES/DF poderia se beneficiar de ações na área de Gestão do

Conhecimento

2.3.2 Específicos

a) expor o que os autores dizem sobre gestão do conhecimento;

b) descrever qual (is) o (s) elemento (s) ou fase (s) da gestão do conhecimento que

são aplicados pela FEPECS;

c) verificar quais entraves dificultam a implementação da gestão do conhecimento no

âmbito administrativo;

d) apresentar sugestões para que a SES/DF possa se beneficiar do uso da gestão do

conhecimento.

22

2.4 Justificativa

É notória a busca da excelência na gestão do fator humano nas empresas privadas e a

dificuldade apresentada pelos órgãos públicos neste sentido. O presente trabalho apresenta

uma contribuição para a área de Gestão do Conhecimento no tocante a sistematização de um

processo eficiente, especificamente quanto ao uso do conhecimento existente nas

organizações públicas.

Quanto à SES/DF, o trabalho representa uma contribuição ao enfocar os servidores e

seu papel como capital estratégico, revelando como esse corpo pode representar um valor

maior do que o esperado. Como exemplo pode-se citar a melhoria: nos processos, no layout,

na tecnologia da informação, no atendimento ao público, no desenvolvimento de projetos, na

capacitação, na alocação e otimização de recursos, na comunicação institucional, no

compartilhamento do conhecimento explicito e estruturação do conhecimento implícito, na

gestão integral de pessoas e em todos os serviços prestados etc.

23

3 REFERENCIAL TEORICO

3.1 Dados sobre a FEPECS

A Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde – FEPECS é órgão vinculado

à Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal – SES/DF e foi criada pela Lei Nº 2.676,

de 12 de janeiro de 2001.

De acordo com o Artigo 3º da mesma Lei, “a Fundação de Ensino e Pesquisa em

Ciências da Saúde manterá:

I - cursos regulares formadores para a educação técnica e profissional graduado e pós-

graduado das ciências de saúde;

II - programas de formação pedagógica, para profissionais de nível superior e técnicos

dedicados à educação de profissionais de saúde;

III - programas de educação permanente para os profissionais de saúde em todos os

níveis do sistema de saúde;

IV - programas de pesquisa nas unidades prestadoras de serviços de saúde e de base

populacional”.

Pelo Artigo 2º do Decreto N° 21.941, de 06 de fevereiro de 2.001, que aprova o seu

estatuto, “a Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde tem caráter científico,

tecnológico e educacional, de formação profissional de nível básico, técnico, de graduação,

pós-graduação e de pesquisa”.

Subordinadas à FEPECS estão a Escola Superior de Ciências da Saúde – ESCS,

responsável pelos cursos de graduação em medicina, pós-graduação em residência médica,

residência não-médica e gestão de instituições de saúde e pela pesquisa e comunicação

científica. A Escola Técnica de Saúde de Brasília – ETESB oferece cursos de nível técnico

aos profissionais de todos os níveis de escolaridade. A Coordenação de Desenvolvimento de

Pessoas – CODEP coordena os estágios, assim como projetos de educação permanente para

os servidores da SES/DF. A Coordenação de Apoio Operacional – CAO disponibiliza o

suporte necessário para o melhor funcionamento da FEPECS.

Devido ao planejamento estratégico, por qual passa a SES/DF, a missão, a visão de

futuro e o negócio da FEPECS foram declarados da seguinte forma:

24

a) missão: “formular e implantar a formação e desenvolvimento de pessoas, a gestão

do conhecimento, pesquisa e inovação tecnológica, conforme as políticas públicas

de saúde”;

b) visão de futuro: “ser, até 2010, uma instituição de reconhecido grau de excelência

em pesquisa, em gestão de conhecimento e educação permanente em saúde”;

c) negócio: “desenvolvimento de recursos humanos, pesquisa e tecnologia em saúde

e suas políticas públicas em saúde”.

Pela Portaria nº 18, de 28 de junho de 2007, a Secretaria de Estado de Saúde do

Distrito Federal – SES/DF implantou o “Modelo de Gestão para Resultados do Governo do

Distrito, instituído por meio do Decreto nº 27.691, de 06 de fevereiro de 2007”. Também

segue orientações das diretrizes do Pacto pela Saúde, instituído pela Portaria nº 399 GM/MS,

de 22 de fevereiro de 2006 e das diretrizes do Sistema de Planejamento do Sistema Único de

Saúde – SUS, instituído pela Portaria GM/MS nº 3.085, de 1º de dezembro de 2006.

Tal dispositivo cria o Grupo de Trabalho de Implementação do Planejamento

Estratégico – GTIPE e determina que cada Diretoria Regional de Saúde – DRS forme seus

GTIPE’s para funcionar nos Hospitais Regionais e Unidades de Saúde do DF.

3.2 Marco teórico

3.2.1 Origens e Instrumentos do Conhecimento

O conhecimento tem origem a partir das sensações e estas, para Descartes, são geradas

por fatores externos ao observador, que por sua vez as percebe pelo uso dos sentidos. Já

Aristóteles acredita que o homem nasce vazio intelectualmente e só passa a obter

conhecimento pelo uso dos sentidos. Platão partilhava das idéias de seu tutor, Sócrates, que

acreditava que todos nasciam com um saber, mas que esse conhecimento permanecia no

esquecimento até ser revelado mediante a interação com o mundo (VIEGAS, 2007, p. 17-20).

Quanto aos instrumentos ou ferramentas do conhecimento, o autor explica que são o

sentimento e a razão os responsáveis pela geração dos conceitos ou resultados das sensações

percebidas pelo intelecto ou ainda, que as idéias são o resultado das sensações. Esses

instrumentos foram fisiologicamente identificados e demarcados, sendo o lado direito do

cérebro responsável pelas emoções, pela criatividade e o lado esquerdo pela razão, pela lógica

(p. 21-22).

25

3.2.2 Tipologia do Conhecimento

São cinco os tipos de conhecimentos: o ideológico, o religioso, o filosófico o

científico e a percepção extra-sensorial (VIEGAS, 2007, p. 23).

Esse autor informa que o conhecimento ideológico “é não racional e assistemático”,

pois não surge de uma construção “refletida da mente” e lhe falta um “padrão de

relacionamento entre os elementos que o compõem”. O conhecimento religioso nasce do lado

direito do cérebro, “é o sentimento em estado puro”, pois a fé tem sua base nas emoções. Sua

maior característica é a inexistência da dúvida, mesmo que suas afirmações não possam ser

verificáveis. Já o conhecimento filosófico, “busca uma resposta sobre a realidade refletida

pelo sujeito que especula sobre ela”, isto é, especula sobre a “razão última, a razão do ser”.

No conhecimento científico a orientação está no ver para crê, nas demonstrações que saciam

as dúvidas e o continuo duvidar, mas “não a dúvida do cético, que considera que a verdade é

intangível e incomunicável”. Por fim, um tipo que se encontra fora do eixo razão e

sentimento: a percepção extra-sensorial. Esta é reconhecida através de eventos paranormais,

no insights, nos pressentimentos (p. 23-33).

3.2.3 Gestão do Conhecimento: breve histórico

Como visto anteriormente, o estudo do conhecimento não é novo, mas seu estudo

dentro das organizações sim. Para melhor compreender a atualidade das empresas é

necessário repassar brevemente um pedaço da História ocidental, mas exatamente a partir da

Revolução Industrial.

Na segunda metade do séc. XVIII, James Watt deu o ponta-pé para o que seria a

transição da Idade Média para a Idade Moderna: a invenção da máquina à vapor e a então

Revolução Industrial. Esta por sua vez, marca a produção em massa, os primeiros estudos em

Administração, os estudos de Sociologia e Psicologia aplicados às relações humanas nas

empresas etc (CHIAVENATO, 2000).

A Primeira e a Segunda Grandes Guerras também contribuíram fortemente na

evolução tecnológica, principalmente na aviação e no controle da energia nuclear. Alias nunca

se reuniu, até então, tantos cientistas para se trabalhar em um único projeto, o Projeto

26

Manhattan. Projeto tal, que realizou uma seleção de pessoas para a criação, o armazenamento

do conhecimento e sua trágica aplicação (ROBERTS, 2002).

Após a última grande guerra, os EUA se levantaram como a nação líder, e capitalista.

Surge a Guerra Fria. O combate de nervos, as ameaças nucleares e as guerras transnacionais

marcaram 30 anos (1950-1980) na Historia. Segundo Roberts (2002, p. 640), “a ajuda

americana viabilizou a recuperação da Europa como grande centro mundial de produção

industrial” e ainda “as nações desejavam como nunca estabelecer instituições de cooperação

para regularem a economia internacional”. Tais organismos mundiais como a Organização

Mundial do Comércio – OMC, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional - FMI,

liderados pelo sonho americano, faziam bloqueios aos países declarados comunistas.

Enquanto o bloco capitalista se desenvolvia a passos largos, acreditando no fim

próximo dos comunistas logo após a Queda do Muro de Berlim, a China surpreendeu a todos,

mostrando o seu poderio bélico e despontando como futuro império mundial (ROBERTS,

2002, p. 733-799).

A Revolução Industrial mostrava-se cada vez mais forte. O homem do campo do

inicio do século migrava continuamente para as cidades, em busca de trabalho nos centros

industriais. De acordo com o mesmo autor (p. 641), nos EUA e na Europa “a força de trabalho

agrícola continuou a encolher, enquanto a produtividade por área aumentou”, pois o trator

havia chegado às fazendas.

Ainda em Roberts (2002), ao mencionar a importância das comunicações afirma que a

tecnologia da informação foi o carro-chefe na aceleração da indústria desde 1945. A

velocidade com que o processo de produção vinha para satisfazer um mercado que crescia em

tamanho e exigência qualitativa pediu das pessoas mais do que elas podiam produzir. “O

avanço intelectual nunca foi tão subitamente acelerado” (p. 641). Inicialmente parecia que a

informática seria o grande diferencial competitivo, mas aos poucos as empresas enxergaram,

como será visto mais a frente, que são as pessoas o diferencial definitivo como construtores

do conhecimento.

Para Stewart (1998, p. 6), a Era do Conhecimento, do Capital intelectual, do Intangível

Humano nas empresas como fator capaz de gerar diferença competitiva é recente e isso se

deve ao roteiro histórico apresentado anteriormente e mais especialmente:

a) à massificação dos instrumentos informatizados;

b) À globalização;

27

c) Ao aumento da concorrência;

d) Ao enxugamento da estrutura empresarial.

Esses elementos se desenvolveram de forma interdependente, revelando o que também

se pode chamar de Era da Informação. Isso altera a indústria tradicional baseada no trabalho

físico para a economia do conhecimento e da comunicação (STEWART, 1998, p. 6).

3.2.4 Elementos de Gestão do Conhecimento

Atualmente, entre os autores como Davenport e Prusak, Stewart, Carbone, Angeloni e

Terra, encontram-se vários elementos comuns quanto ao entendimento da gestão do

conhecimento nas organizações. Do mais amplo ao mais estrito, podem ser citados: as

competências humanas; os conhecimentos, as atitudes e as habilidades pessoais; a criação, o

registro, a transferência, a aplicação e a avaliação do conhecimento; a aprendizagem; o

sistema de informação; a inovação e a vantagem competitiva.

Corroborando a afirmação acima, Carbone (2006, p. 34-45) considera que “a

sustentação da vantagem competitiva depende de uma capacidade superior para identificar,

construir e alavancar novas competências” e que a “vantagem competitiva é obtida,

fundamentalmente, pela inovação”. O autor relaciona os três insumos da competência:

a) e utiliza-los em uma ação”;

b) a atitude do trabalhador, “que determina a sua conduta em relação aos outros, ao

trabalho ou a situações”;

c) o conhecimento, “que corresponde a informações que, ao serem reconhecidas e

integradas pelo individuo em sua memória, causam impacto sobre seu julgamento

ou comportamento”.

Quanto à criação do conhecimento nas empresas:

Criar novos conhecimentos não é apenas uma questão de aprender com outros ou adquirir conhecimentos externos. Além disso, o conhecimento deve ser construído internamente na empresa, passando pela conversão do conhecimento tácito em conhecimento explícito, sobretudo pelo processo de compartilhamento de experiência que a levem a rever ou a recriar modelos mentais ou habilidades técnicas, com o uso de comunicações escritas ou orais (NONAKA e TAKEUCHI, apud Angeloni (Org), 2008, p. 52).

28

Angeloni (p. 52.) ainda faz referência sobre o compartilhamento do conhecimento, que

deve haver a participação não só da gerência, mas de todos os funcionários, seja pela

utilização de banco de dados, de networks ou outras formas de socialização.

Outro fator fundamental é o uso de tecnologia como suporte à gestão do

conhecimento. Tal elemento cria facilidades ao longo do processo de gestão (TERRA (Org),

2003).

Esse autor cita alguns casos de uso da tecnologia voltados para a gestão do

conhecimento. Um desses casos ocorreu na Caixa Econômica Federal - CEF, quando em

agosto de 1996 uma equipe de funcionários da instituição apresentou o Projeto Onda Azul.

Este consistia na implantação do Ensino à Distância - EAD (p. 266) como instrumento de

ensino aprendizagem e disseminador do conhecimento. Outro exemplo é o da Empresa de

Correios e Telégrafos - ECT, que iniciou um projeto para informatizar a Memória

Organizacional e a Comunidade Virtual. Para a Memória Organizacional, tomou-se como

base a estrutura do website Exporta Fácil. Após as adaptações estruturais necessárias, as

informações já documentadas e temas de interesse geral, mas não inventados, foram reunidos

e publicados na intranet da empresa. Já à Comunidade Virtual completou a memória virtual,

pois possibilitou aos funcionários dos correios interagirem, discutindo soluções inerentes ao

trabalho da empresa, acumulando conhecimento de forma sistemática (p. 217-219).

Mais um exemplo do uso da tecnologia na iniciativa pública vem de Angeloni (2008).

A autora apresenta casos de sucesso em órgãos públicos brasileiros, assim como Terra. Um

dos casos é o do Departamento de Trânsito de Alagoas – DETRAN/AL, ao desenvolver, com

software livre, um portal corporativo para processar o conhecimento de seus colaboradores e

transformá-lo em conhecimento organizacional sistematizado.

Entre os objetivos da Gestão do Conhecimento estão: (1) formular uma estratégia de alcance organizacional para o desenvolvimento, visando à criação, aquisição, compartilhamento e o uso do conhecimento; (2) implantar estratégias orientadas ao conhecimento; (3) promover uma melhoria contínua dos processos de trabalho; (4) monitorar e avaliar os lucros obtidos mediante aplicação do conhecimento; (5) reduzir o tempo de ciclo de desenvolvimento de novos produtos e melhorias dos já existentes; (6) reduzir o tempo de duração dos processos decisórios (ANGELONI, (Org), 2008, p. 76).

A mesma autora informa que a capacidade que a uma empresa tem de inovar, sejam

em seus produtos, serviços ou processos, também passam, invariavelmente, pelo julgamento

das pessoas, ou seja, inovar é reflexo da criação de conhecimento, e a estratégia aplicada à

29

criação de conhecimento pode ser dividida em Estratégia de Avanço e Estratégia de

Sobrevivência (p. 7).

Segundo Angeloni (2008, p. 6-7), a estratégia de avanço na gestão do conhecimento

diz respeito a garantir o sucesso em negócios futuros de médio e longo prazo, pois tentam

reforçar pontos fortes e eliminar pontos fracos. Nesse sentido, a estratégia de avanço orienta a

criatividade e a inovação do seu capital humano para acontecimentos futuros. A estratégia de

sobrevivência, por sua, se preocupa com o ambiente de negócios atual, com as negociações

com clientes e fornecedores, com os relacionamentos que mantém com os grupos externos.

3.2.5 O processo

A abordagem processual segue o postulado por Davenport e Prusak (1998),

apresentando a criação, o armazenamento, a transferência e a utilização do conhecimento

disponível nas organizações, e o suportado por Stewart (2003).

3.2.5.1 Criação de conhecimento

Davenport e Prusak (1998, p. 64-81) apresentam cinco maneiras “de se gerar o

conhecimento”. São elas:

a) aquisição: refere-se ao conhecimento como sendo algo novo para a organização,

de origem externa e já existente. As formas mais usuais de aquisição são quando

ou a empresas contrata pessoas ou quando adquirem outras empresas. Na verdade,

comprar empresas quer dizer comprar pessoas e “talvez algum conhecimento

estruturado e documentado em papel ou computador”. O fator complicador é que

não há instrumento de avaliação perfeito para se medir o conhecimento de uma

empresa. Como medir os “conhecimentos tácitos e não-documentados”? Estima-

se “que o balanço de uma empresa reflete apenas 20 a 25 por cento de seu valor

real” (Schoefler, apud Davenport e Prusak, 1998, p. 66). Entretanto, não é

garantido que a empresa compradora integre todo o potencial da empresa

adquirida; “barreiras culturais e políticas podem impedir a plena aceitação e

absorção do conhecimento da empresa adquirida” (DAVENPORT e PRUSAK,

1998, p. 68);

30

b) aluguel: de acordo com os autores, o aluguel ou financiamento de conhecimento

se dá das seguintes maneiras: quando empresas investem em pesquisas, esperando

retorno parcial ou total dos “resultados promissores” (p. 68) ou; quando as

empresas contratam especialistas para realizarem consultoria. Neste caso, ocorre

certa transmissão de conhecimento do consultor para a empresa. De qualquer

forma, o aluguel tem a característica de temporariedade e de vínculo indireto entre

o portador do conhecimento e a empresa contratante;

c) recursos dirigidos: para Davenport e Prusak (1998, p. 68 – 70), além da compra e

do aluguel, as empresas também formam grupos de Pesquisa e Desenvolvimento -

P&D como forma de gerar conhecimento interno. Entretanto, caso a empresas não

tenha na sua missão a P&D, pode ocorrer a redução de investimentos nesta área.

“Uma vez que o retorno financeiro de pesquisa demora a se materializar e, quando

se materializa, pode ser difícil de mensurar, e a pressão por lucros imediatos pode

fazer o corte de custos recair na área de P&D”. Outro fator é que os resultados

obtidos em P&D podem não falar a mesma língua do resto da organização. “Para

evitar confusões desse tipo, os gerentes devem tomar providências explícitas no

sentido de assegurar que o conhecimento gerado pelos recursos da empresa esteja

disponível para a organização inteira”;

d) fusão: uma quarta opção de gerar conhecimento é a fusão entre empresas. Segundo

os mesmos autores, “a geração do conhecimento através da fusão introduz

propositalmente complexidade e até mesmo conflito para criar uma nova sinergia”.

Porém, “é necessário haver algum conhecimento compartilhado antes de se dar

início à colaboração”, pois “o caos total não é criativo” (p. 74). Os autores querem

dizer que na complexidade causada pela fusão, deve existir o mínimo de interação

entre as mentes criadoras de conhecimento.

e) adaptação: De acordo com os autores, as empresas precisão se adaptar

constantemente, mesmo que não estejam em crise ou em plena ascensão. Citam

como exemplo a Sears, que “ignorou as mudanças que a Wal-Mart estava fazendo

no ambiente varejista” (p. 66). Segundo Leonard-Barton (apud Davenport e

Prusak, 1998, p. 77) “A mente humana é o ativo mais flexível que uma empresa

tem, e também o mais rígido. Pessoas são capazes de ter os mais espantosos

arroubos de intuição e, ao mesmo tempo, de se apegar tenazmente aos detalhes das

mais insípidas e improdutivas rotinas”. Em meio aos processos de adaptação, o

31

importante é “começar a digerir e criar conhecimento novo antes da instalação de

uma crise nos negócios” (p. 79).

f) redes: A sexta e última variante como forma geradora do conhecimento. As redes

informais têm grande importância nas organizações. O agrupamento de

comunidades que partilham conhecimento continuamente “costumam gerar

conhecimento novo dentro das organizações”, afirmam os autores, e “na falta de

políticas e processos de conhecimento formais, as redes funcionam como

condutores fundamentais de grande volume de pensamento inovador” (p. 80). De

acordo com Stewart (1998, p. 90), “enquanto os empregadores enfraqueciam os

laços da segurança no emprego e da lealdade mais eles dependiam do capital

humano” e o mais preocupante, “os trabalhadores do conhecimento mais valiosos

são também os mais prováveis de sair da empresa”. Isso faz um alerta quanto à

outra necessidade que não seja só gerar conhecimento organizacional: a de retê-la,

a ela e a sua fonte.

3.2.5.2 Armazenamento

Em seu livro, Conhecimento Empresarial, Davenport e Prusak (1998) deixam claro

que todo o conhecimento tem origem nas pessoas, isto é, pessoas são depósitos naturais de

conhecimento. Ainda relatam que a tecnologia pode ser uma forma artificial de armazenagem

do conhecimento.

No intento de explicar esse papel da tecnologia, os autores abordam o Lotus Notes, a

Web e Sistemas Especializados, e seu uso em algumas empresas (p. 150-161).

Segundo Davenport e Prusak (1998, p.159), o Notes é o mais indicado para quem está

trabalhando com gestão do conhecimento na Web, pois essa ferramenta “se destaca

particularmente na forma de lições aprendidas da gestão do conhecimento que envolve

discussão”. São empresas que trabalham com o Notes, a Ernst & Young, a Andersen

Consulting, a Price Waterhouse. Os autores citam essas empresas por serem da área de

serviços e o Notes ser bem atraente para este ramo e mais, “as implementações da gestão do

conhecimento baseadas em Notes costumam ser acompanhadas de outras ferramentas,

particularmente quando houver o envolvimento do conhecimento externo” (p. 160). Stewart

(1998, p. 102) também faz referência a Andersen Consulting e ao seu Knowledge Xchange,

banco de dados para a intranet e a web. Na prática, o uso do Notes para a Andersen

32

Consulting resulta o seguinte: ”os bancos de dados de conhecimentos economizam à empresa

milhões por ano apenas na conta da Fedex”. O autor continua:

Um estudo de 1994, realizado com 64 empresas, órgãos governamentais e organizações sem fins lucrativos que utilizam o Lotus Notes revelou que, mesmo usando pressupostos conservadores, a organização média obtinha um retorno de três anos sobre o investimento de 179%, grande parte dele atribuível à redução do custo e do tempo das comunicações internas e a um melhor acompanhamento e administração de projetos” (STEWART, 1998, p. 102).

Já na operação de Sistemas Especializados e na Inteligência Artificial - IA, Davenport

e Prusak (1998, p. 152-156) concordam que apesar da gestão do conhecimento ser

relativamente novo, “tentativas de usar a tecnologia para captar e manipular o conhecimento

vêm sendo empreendidas há décadas”.

Entretanto, como eles mesmos afirmam, “nem os sistemas especializados e nem

qualquer outro ramo da inteligência artificial correspondeu a essa previsão”. Com isso, eles

criticam as previsões de Marvin Minsky, professor da MIT, feitas em 1970. Tais previsões

afirmavam que a IA, dentro de três a oito anos, seria capaz de pensar como um humano

mediano e expandir velozmente a tal nível de razão que sua capacidade intelectual seria

incalculável (p. 153).

Um tipo de IA, o “raciocínio baseado em casos (CBR)”, que extrai o conhecimento de

textos, casos, narrativas, se diferencia da tecnologia tradicional baseada em números (p. 154).

Atualmente é uma ferramenta focada no atendimento e suporte a clientes, pois apresenta em

sua base de dados soluções contextualizadas. Seu perfil atende a usuários que entendem o

problema, mas não são capazes de resolvê-los. A partir do problema informado pelo usuário o

CBR relata casos com as soluções mais apropriadas. Empresas como a HP, Compac,

PeopleSoft, Xerox utilizam o CBR, que é fornecido pela Inference Corporation.

(DAVENPORT E PRUSAK, 1998, p. 167).

Segundo Stewart (1998, p. 103), uma estratégia de guardar e organizar o

conhecimento é o uso das Páginas Amarelas da empresa. As Páginas Amarelas funcionam

assim, “um sistema simples conecta quem pergunta a especialistas, economiza tempo, reduz

erros e suposições e evita a reinvenção de incontáveis rodas”.

33

3.2.5.3 Transferência

De acordo com Davenport e Prusak (1998, p.107 - 113), o que as empresas deveriam

fazer, simplesmente, é “contratar pessoas perspicazes e deixar que elas conversem entre si”.

Esboços de comportamentos informais, que podem gerar conhecimentos novos, são as

conversas entre funcionários ocorridas em jantares, boates, bares ou, como se referem os

autores, nos bebedouros da empresa. Tais conversas nem sempre são sobre o trabalho. A

transferência espontânea e não estruturada do conhecimento é vital para o sucesso de uma

empresa. Embora o termo gestão do conhecimento implique a transferência formalizada, um

de seus elementos essências é o desenvolvimento de estratégias específicas para incentivar

essas trocas espontâneas.

Existem outras formas mais bem estruturadas para se transmitir conhecimento. Os

autores mencionam às feiras do conhecimento e às conferências e as compara.

Quanto às feiras Davenport e Prusak (1998, p. 114) relatam o caso CSIRO, que reuniu

cientistas de toda a Austrália para conversarem e trocarem conhecimento, in loquo; sem

agenda nem roteiro pré-determinado. Quanto às convenções, citam o exemplo de uma

empresa de alta tecnologia que realizou uma conferencia de três dias. Tudo minuciosamente

planejado, mas sem tempo para que os profissionais pudessem conversar de forma mais

espontânea, pois tinham uma agenda a cumprir.

Os autores compararam esses casos para explicar que um encontro planejado nos

mínimos detalhes e enrijecido pelos compromissos agendados impede a interação espontânea

entre os participantes. O resultado é o enfraquecimento dos vínculos pessoais e a redução da

capacidade de transferência de conhecimento.

Ainda assim, a tentativa de transferir o conhecimento, formalmente ou não, pode

sofrer atritos. Davenport e Prusak (1998, p.117-118) apresentam, conforme a Tabela 1, esses

atritos e suas possíveis soluções.

Os autores questionam o quanto do conhecimento é transferido e quanto deste é

absorvido. Afirmam que esta relação está no tempo do processo de aprendizagem e

denominam como “viscosidade” à “riqueza (ou espessura) do conhecimento transferido”.

Tanto a viscosidade quanto a velocidade são elementos determinantes e ás vezes conflitantes

na transferência do conhecimento: “aquilo que aumenta a velocidade pode diminuir a

viscosidade. A maioria dos esforços de transferência do conhecimento procura contemporizar

com esses dois fatores” (p. 124).

34

Um método de avaliar tal viscosidade é o modelo de kirkpatrick, apresentado por

Ferreira (apud Boog & Boog, 2008, p. 30):

a) reação e satisfação em relação ao curso: os participantes avaliam “o programa, o

conteúdo, o material didático, o local, a carga horária e o instrutor do programa de

treinamento”;

b) a aprendizagem: avaliação do que foi transmitido por parte dos participantes;

c) mudança de comportamento: o aprendizado deve levar a uma mudança

comportamental;

d) resultados: “Verificar os dados numéricos após os treinamentos realizados”.

Redução de custos, satisfação do cliente, melhoria da produção.

Tabela 1

CAUSAS DE ATRITOS NA TRANSFERÊNCIA DO CONHECIMENTO E SUAS

POSSÍVEIS SOLUÇÕES

Fonte: Davenport e Prusak, 1998, p.117-118, com adaptações.

3.2.5.4 Utilização

Davenport e Prusak (1998, p. 174-175) estudaram trinta e um projetos de gestão do

conhecimento em vinte empresas. Dos projetos estudados, identificaram três tipos de

objetivos em comum: “tentativas de criação de repositórios de conhecimento, tentativas de

ATRITO SOLUÇÃO

• Falta de confiança mútua • Construir relacionamentos e confiança mútua através de reuniões face a face.

• Diferentes culturas, vocabulários e quadros de referencia.

• Estabelecer um consenso através de educação, discussão, publicações, trabalho em equipe e rodízio de funções.

• Falta de tempo e de locais de encontro; idéia estreita de trabalho produtivo.

• Criar tempo e locais para transferência do conhecimento: feiras, salas de bate-papo, relatos de conferências.

• Status e recompensas vão para os possuidores do conhecimento.

• Avaliar o desempenho e oferecer incentivos baseados no compartilhamento.

• Falta de capacidade de absorção pelos recipientes. • Educar funcionários para a flexibilidade; propiciar tempo para aprendizagem; basear as contratações na abertura a idéias.

• Crença de que o conhecimento é prerrogativa de determinados grupos, síndrome do “não inventado aqui”.

• Estimular a aproximação não hierárquica do conhecimento; a qualidade das idéias é mais importante que o cargo da fonte.

• Intolerância com erros ou necessidade de ajuda. • Aceitar e recompensar erros criativos e colaboração; não há perda de status por não se saber tudo.

35

melhoria de acesso ao conhecimento e tentativas de melhoria da cultura e ambiente do

conhecimento”.

Dos repositórios estudados, afirmam os autores, foram encontrados os seguintes na

pesquisa realizada (p. 176-177):

a) conhecimento externo: a inteligência competitiva foi o exemplo observado. Uma

montadora reuniu “relatórios de analistas, artigos de publicações especializadas e

pesquisas externa de mercado sobre os concorrentes”.

b) conhecimento interno estruturado ou explicito: os autores referem-se ao saber

acumulado e organizado na empresa. Apoiados em sistemas informatizados e

documentos impressos.

c) conhecimento interno informal ou tácito: para criar repositório desse tipo de

conhecimento, a HP desenvolveu, em Notes, um banco de dados que acumulava

“dicas, macetes, insights, experiências e observações”. Os autores também citam o

caso de empresas que criaram comunidades de discussão virtual para acumular o

conhecimento tácito.

3.2.6 Conhecimento tácito e conhecimento explícito

Daft (2003, p. 239 – 246) faz duas abordagens para a gestão do conhecimento: o

conhecimento tácito e o conhecimento explícito. O autor relaciona o primeiro como sendo

“abordagem das pessoas para as pessoas” e o segundo como “abordagem das pessoas para os

documentos”. Essa relação é mais bem compreendida através da Tabela 2.

3.2.6.1 Conhecimento Tácito

“Baseia-se em experiência pessoal. Bom senso, intuição e juízo. Ele inclui know-how e

experiência profissional, insight e experiência individual e soluções criativas que muitas vezes

são difíceis de comunicar e transmitir para os demais”. Assim define Daft (2003, p. 239)

sobre o conhecimento implícito ou tácito.

De acordo com o autor, o conhecimento tácito se dá pela interação, face a face ou

virtualmente, entre as pessoas. O network dessas pessoas é uma preocupação dos gerentes,

que concentram esforços para desenvolvê-lo.

36

Entretanto, existem empresas dispostas a não só incentivar o networking, mas também

armazenar esses conhecimentos. Exemplos dessas tentativas são dados por Terra (2003) como

a General Eletric – GE e as Empresas de Correio e Telégrafos – ECT. Essas empresas

utilizam o Portal Corporativo para armazenar e compartilhar conhecimento tácito,

transformando-os em conhecimento estruturado. Também em Angeloni (2008) se podem

encontrar casos como a experiência em Comunidade de Prática da Prefeitura Municipal de

Curitiba ou no já citado caso do DETRAN/AL.

Tabela 2

COMPARAÇÃO DAS DUAS ABORDAGENS PARA A ADMINISTRAÇÃO DO

CONHECIMENTO

Fonte: Daft (2003, p. 241)

Contudo, nem sempre é simples captar o que está implícito, mesmo com a ajuda da

tecnologia. Existem conhecimentos que foram interiorizados “pelo conhecedor no decorrer de

um longo período de tempo”, que “é quase impossível de reproduzir num documento ou

banco de dados [...] porque simplesmente alguns tipos de conhecimento não podem ser

representados efetivamente fora da mente humana” (DAVENPORT E PRUSAK, 1998, p.

86).

EXPLÍCITO • Fornece sistemas de informação de alta qualidade confiáveis e rápidos para acesso de conhecimento codificado e reutilizável.

TÁCITO • Canaliza experiência individual para fornecer conselhos criativos sobre problemas estratégicos.

• Desenvolve um sistema de documentação eletrônica que codifica, armazena, dissemina e possibilita a reutilização do conhecimento.

Estratégia de

Administração do Conhecimento

• Desenvolve redes para interligar pessoas para que o conhecimento tácito possa ser compartilhado.

• Investe pesado em tecnologia da informação, com o objetivo de conectar pessoas com conhecimento codificado reutilizável.

Tecnologia

• Investe moderadamente em tecnologia da informação, com o objetivo de facilitar conversações e a troca de conhecimento tácito.

• Armazenamento de dados e exploração de dados.

Mecanismo • Diálogo

• Mapeamento do conhecimento. • Histórias de aprendizagem e relatos de casos.

• Bibliotecas eletrônicas. • Comunidades da prática.

37

3.2.6.2 Conhecimento Explícito

Para Daft (2003, p. 240), quando ocorre a documentação do conhecimento então se dá

o conhecimento explícito. A estruturação do conhecimento tem origem interna ou externa à

organização e o processo se dá com a “coleta e codificação do conhecimento e seu

armazenamento em banco de dados onde possam ser facilmente acessados e reutilizados”.

São de origem interna: o conhecimento tácito depois de estruturado; políticas e

procedimentos; propriedades intelectuais (patentes e licenças). São de origem externa:

“informações específicas sobre clientes, mercados, fornecedores ou concorrentes, relatórios

de inteligência competitiva [...]” (DAFT, 2003, p.240).

Segundo o autor, “algumas empresas estão empreendendo projetos de mapeamento do

conhecimento, que identificam onde o conhecimento está localizado na organização e como

acessa-lo” (p. 242). Em concordância com Davenport e Prusak (1998) e Stewart (2003), Daft

(2003) cita o uso do Lotos Notes. Neste caso, o uso do Notes se dá na Hughes Space &

Communications como instrumento facilitador de busca (acesso e compartilhamento) ao

conhecimento acumulado na organização.

3.2.7 Caso de Sucesso na Administração Pública

O caso apresentado a seguir é da experiência do Departamento de Trânsito de Alagoas

– DETRAN/AL, já citado no item 3.4. A autora, Angeloni (2008), relata como essa instituição

pública implantou um processo de Gestão do Conhecimento eficiente e de baixo custo.

Baseado no desenvolvimento de um portal corporativo, a Comunidade Virtual – CV

está voltada para o colaborador interno, mas “visando oferecer as condições necessárias para

prestação de melhor serviço à sociedade como um todo” (p. 82).

O sistema foi desenvolvido com base na ferramenta php Bulletin Board. Ela foi

escolhida pelo baixo custo de aquisição e ser um aplicativo livre. Sua estrutura, de acesso via

web, dividi-se “em fóruns e subfóruns, que foram criados de acordo com cada setor da

Instituição” (p. 83). A CV não é usada tão-somente para mensagens simples, mas também

para transmissão de memorandos, ofícios, imagens etc.

Para estimular o uso da CV e diminuir “os efeitos da exclusão” foram disponibilizados

outros recursos.

38

Recursos, como galeria de fotos e imagens, correio eletrônico interno e a veiculação de informações não-corporativas estão diminuindo a resistência entre os membros da instituição, resultando em uma primeira etapa para a construção de uma cultura de gestão do conhecimento plena (ANGELONI (Org), 2008, p. 83)

A CV tem a função de realizar o processo básico da gestão do conhecimento:

a) na criação, o usuário “cadastra uma determinada informação no ambiente” (p. 85).

Isso após uma busca no sistema referente à área desejada;

b) no armazenamento as informações inseridas pelo usuário são codificadas em

formato XML (eXtensible Markup Language). A informação também é vinculada

à identificação do usuário, data e hora de cadastro;

c) quanto ao compartilhamento, existem dois tipos disseminadores da informação

inserida: proativo e reativo. A forma proativa “se dará por meio do envio de

mensagens eletrônicas [...] mensagens de texto via celular [...]” (p. 85). A forma

reativa “será realizada através de destaque para a nova mensagem cadastrada na

página inicial do sistema, assim como dos resultados de busca realizadas pelos

colaboradores” (p. 85);

d) por fim, na utilização e reutilização do conhecimento que se dará quando o

colaborador “absorver a informação e transformá-la apenas em conhecimento

tácito, para posterior utilização” (p. 85) ou pelo conhecimento explicito,

“cadastrando novas mensagens no sistema, relacionadas com a mensagem inicial”

(p. 85).

Angeloni (2008, p. 85-86) conclui que a CV, como outras comunidades de prática,

exerce uma função estratégica na gestão do conhecimento, integrando os colaboradores e

gerando valor para as organizações.

39

4 DESENVOLVIMENTO

4.1 Metodologia

4.1.1 Tipos de pesquisa

Quantos aos fins, o método utilizado é a pesquisa descritiva, pois busca expor os

elementos de gestão do conhecimento existentes na FEPECS em função da SES/DF. Vergara

(2007, p. 47) explica que a pesquisa descritiva serve para expor “características de

determinada população ou de determinado fenômeno”.

Quanto a meios, foram realizadas:

a) pesquisa documental: as informações pesquisadas em documentos oficiais, de

publicação própria da FEPECS, impressas e digitais, assim como as ferramentas

tecnológicas utilizadas por este órgão foram as fontes que deram suporte a parte

documental. Marconi e Lakatos (2008, p. 43) corroboram ao explicarem que tais

documentos “englobam todos os materiais, ainda que não elaborados, escritos ou

não, que podem servir como fonte de informação para a pesquisa” e, segundo

Vergara (2007, p. 48) documentos como “registros, anais, regulamentos,

circulares, ofícios, memorandos, balancetes, comunicações informais [...] e outros”

podem constituir a pesquisa documental.

b) pesquisa bibliográfica: Em Marconi e Lakatos (2008, p. 44), “a pesquisa

bibliográfica pode [...] ser considerada também como o primeiro passo de toda a

pesquisa científica”. No presente artigo, a bibliografia selecionada focou algumas

das últimas publicações, nacionais e estrangeiras, de autores renomados por suas

contribuições no campo científico.

4.1.2 Método de análise

Para Vergara (2007, p. 12), “método é um caminho, uma forma, uma lógica de

pensamento. Basicamente, há três métodos: (a) hipotético-dedutivo; (b) fenomenológico; (c)

dialético”. Em Marconi e Lakatos (2008, p. 23), “analisar significa estudar, decompor,

dissecar, dividir, interpretar.” Pode-se afirmar, então, que o método de análise é uma forma de

se estudar uma ocorrência, um fenômeno.

40

Marconi e Lakatos (2008, p. 29) ainda comentam a análise de conteúdo e a análise

documental como modalidades de análise e apresentam o Artigo de Análise, como artigo

científico adequado para se fazer a “análise de cada elemento constitutivo do assunto e sua

relação com o todo” (p. 87).

O presente artigo segue a linha do método dialético por que “vê as coisas em constante

fluxo e transformação. Seu foco é, portanto, o processo” (VERGARA, 2007, p 14). Ao

utilizar este método o autor pôde obter as informações necessárias á construção deste

trabalho, pois no método dialético:

O pesquisador obtém dados de que necessita na observação, em entrevistas e questionários não estruturados, nas histórias de vida, em conteúdos de textos, na história de países, empresas, organizações em geral, enfim, em tudo aquilo que lhe permita refletir sobre processos e interações (VERGARA, 2007, p. 14).

A análise se baseou na divisão do processo de gestão do conhecimento e na descrição

de cada uma de suas partes, inter-relacionando cada parte com os elementos de gestão do

conhecimento encontrados na FEPECS, seguindo, assim, o proposto por Marconi e Lakatos

quanto ao tipo de artigo científico ideal: Artigo de Análise.

Como as informação obtidas não geraram dados quantitativos para análise estatística,

achou-se por bem não utilizar a “tradição positivista” também conhecida por método

quantitativo. “O método quantitativo enfatiza a utilização de dados padronizados que

permitem ao pesquisador elaborar sumários, comparações e generalizações; por isso mesmo, a

análise de dados é baseada no uso de estatísticas” (ROESCH, 1999, p. 122). O método

utilizado foi, como já mencionado, o dialético.

Para tratar o conteúdo pesquisado, utilizou-se, principalmente, a análise da estrutura

dinâmica por possibilitar a análise “das partes de um todo, procurando as relações existentes

entre elas” e “enumerar as partes constitutivas básicas e descrever seu funcionamento e

finalidade” (MARCONI E LAKATOS, 2008, p. 27). A análise textual também foi bastante

utilizada para levantamento “de todos os elementos importantes do texto”, assim como a

síntese pessoal, que possibilitou a “reunião dos elementos de um todo, após reflexão” (p. 28).

4.1.3 Análise dos dados coletados

Os dados coletados em documentos publicados pela própria Instituição constituem

documentos autênticos, sendo os mesmos indicados e autenticados pela Coordenação de

41

Desenvolvimento de Pessoas – CODEP, responsável por tais publicações. São documentos

com teor histórico e publicações atuais de uso corrente. Assim como os dados obtidos de

fontes sem publicações oficiais, mas da mesma forma captados diretamente nessa

coordenação ou no Hospital de Apoio de Brasília.

A pesquisa documental buscou apurar os elementos de gestão do conhecimento

instalados na Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal – SES/DF, sendo essa a

função da Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde – FEPECS. Bem como

verificar o que impede a instalação da Gestão do Conhecimento na SES/DF para, finalmente,

sugerir um plano de gestão.

4.1.3.1 Dos elementos de criação do conhecimento

No item 3.2.5.1, Davenport e Prusak (1998, p. 64-81) citam os seguintes meios para

gerar conhecimento: a aquisição, o aluguel, os recursos dirigidos, a fusão, a adaptação e as

redes informais. Destes, na SES/DF aparecem a aquisição, o aluguel, os recursos dirigidos e

as redes informais.

A aquisição se dá por meio de concurso público, com ou sem prova de títulos

conforme o cargo vago, segundo o Capítulo VII, Seção I, Art. 37, parágrafo I e II da

Constituição Federal do Brasil e pela Lei Nº 8.112 de 11 de novembro de 1.990.

O aluguel ocorre em casos restritos, como na contratação da empresa de consultoria

Publix, responsável por gerir o processo de planejamento estratégico do Governo do Distrito

Federal e dos seus órgãos vinculados. A Publix é especialista em órgãos de governo, focando

a gestão para resultados. Já atuou junto aos governos de Alagoas, São Paulo, Minas Gerais,

Sergipe, Pará, a órgãos do Governo Federal, em intuições internacionais e empresas privadas.

Os recursos dirigidos, por sua vez, aparecem tanto da iniciativa da FEPECS quanto de

iniciativa de alguma unidade de saúde ou administrativa ou de algum grupo de profissionais

de uma dessas unidades. As ações de desenvolvimento humano que envolvem diretamente a

FEPECS aparecem nos cursos de pós-graduação:

a) residência médica;

b) residência não-médica;

c) gestão de instituições de saúde.

42

Os cursos de capacitação e treinamento e palestras também são constantes e bem

diversificados. Em 2007 foram ministrados 269 cursos e palestras, capacitando 8.942 pessoas,

sendo 5.347 servidores da SES/DF e 3.595 servidores de outros órgãos e da comunidade em

geral. Dentre os cursos, a CODEP destacou os seguintes:

a) agente de planejamento na modalidade Ensino à Distancia – EAD;

b) acolhimento do novo servidor da SES/DF;

c) capacitação em Política Nacional de Humanização - PNH;

d) capacitação na construção e análise na sala de situação de saúde: ao final é

exigido a entrega de um trabalho de cada participante. Os melhores trabalhos são

apresentados em forma de seminário.

e) capacitação do agente comunitário de saúde para o programa de osteoporose;

f) capacitação de profissionais do sistema penitenciário (módulos I, II, III, IV V);

g) atualização na Língua Portuguesa;

h) introdução aos socorros de urgência.

Atualmente, a FEPECS oferece os cursos técnicos em enfermagem, em saúde bucal e

em biodiagnóstico.

Já dentre as ações que não envolvem diretamente a FEPECS, aparecem os grupos de

pesquisa, estudo e desenvolvimento humano. Tais grupos se organizam por conta própria, no

horário de trabalho. São exemplos desses grupos no Hospital de Apoio de Brasília:

a) grupo de estudo em Psicologia;

b) grupo de estudo de caso e aulas técnicas em medicina especializada em onco-

hematologia-pediátrica;

c) rede de Pesquisa Onconet.

As redes informais constituem uma forte marca na SES/DF. Ainda, a exemplo da

unidade observada pelo autor, o Hospital de Apoio de Brasília. Nesta unidade o autor pôde

perceber as relações entre certas pessoas na busca da inovação e da melhoria de processos,

desenvolvendo soluções à problemas que deveriam ser tratados pela SES/DF. São fontes de

conhecimentos não estruturados e que se perderão quando da saída de tais servidores. Como

exemplo, pode ser citado o desenvolvimento do sistema de marcação de consultas, programa

de computador baseado em MS Access e MS Visual Basic Aplication, para agendar as

43

consultas por dia, turno e especialidade. Bem como as soluções em MS Excel para

contabilizar a produção do Núcleo de Nutrição. E ainda, o Sistema de Controle de

Prontuários, também desenvolvido em MS Access, para controlar a saída e entrada de

prontuários do Núcleo de Registros, Controle e Avaliação.

4.1.3.2 Elementos de armazenamento

Atualmente, a única forma de armazenamento de conhecimento, além das pessoas da

SES/DF, são as Bibliotecas. A rede de bibliotecas da SES/DF é formada por 10 unidades:

a) Biblioteca Central – FEPECS;

b) Biblioteca Setorial – DIVAL;

c) Biblioteca Setorial – LACEN;

d) Biblioteca Setorial – HBB;

e) Biblioteca Setorial – HRS;

f) Biblioteca Setorial – HRAS;

g) Biblioteca Setorial – HRAN;

h) Biblioteca Setorial – HRT;

i) Biblioteca Setorial – Hemocentro;

j) Biblioteca Setorial – HRC.

Em sua maioria, o acervo é formado por temas voltados à saúde e disponibilizando

pouco conhecimento em outras áreas, principalmente da Administração, visto que esta é a

segunda área com maior número de servidores na SES/DF.

O programa de computador que dá suporte à pesquisa nas bibliotecas é baseado no

Sistema Thesaurus, módulo Web. Não há nenhum sistema que vislumbre a abertura à

conversação entre os servidores, a transferência de conhecimento, a troca de informações e

posterior armazenamento, como é o caso do sistema citado no item 3.2.5.2, onde Davenport e

Prusak (1998, p.159) aconselham o uso do Notes para empresas que estão trabalhando com a

gestão do conhecimento.

44

A rede física de bibliotecas disponibiliza, em seu acervo, livros; teses; apostilas;

produções científicas; separatas; mapas; folhetos; periódicos e meios em CD-ROM, DVD, K7,

VHS e em Slide.

4.1.3.3 Transferência de conhecimento

Davenport e Prusak (1998, p.107 - 113) discorrem sobre os meios estruturados e não

estruturados como formas de se transferir conhecimento, conforme mencionado no item

3.2.5.3.

Os meios não estruturados são processos naturais na SES/DF: bate-papos pelos

corredores, na hora do café, em visitas informais de servidores a outros núcleos. Esses

encontros fornecem muitas vezes trocas de conhecimento significativo para a instituição.

Um pouco mais estruturadas estão as reuniões periódicas dos núcleos para discutirem

sobre seus trabalhos, para trocarem experiências e buscarem soluções. Entretanto não

possuem instrumental eficiente para o armazenamento do que é gerado nessas reuniões a não

ser o livro ata. Os relatos são transcritos de forma resumida, perdendo a riqueza do conteúdo.

O ponto positivo está no fato dos participantes agregarem e gerarem novos conhecimentos

durante esses encontros.

Os programas de computador estão focados no armazenamento de informações e não

do conhecimento. Casos de sucesso e experiências pessoais não são armazenados para criar

um banco de conhecimento.

Mais bem estruturados são os cursos oferecidos pela FEPECS aos servidores da

SES/DF. Todavia não há um acompanhamento para saber se o conhecimento transferido esta

sendo utilizado efetivamente. Davenport e Prusak (1998, p. 124) também alertam para a

viscosidade do que foi transferido, isto é, o quanto foi retido pelo servidor no processo de

aprendizagem.

O item 3.2.5.3 ainda faz menção aos níveis avaliativos de kirkpatrick, os quais

poderiam ser utilizados para aumentar a efetividade no processo de aprendizagem e utilização

do novo conhecimento adquirido, resultando, no mínimo, em mais qualidade aos serviços

prestados à população. De acordo com a coordenadora do Núcleo de Educação Permanente

em Saúde – NEPS do Hospital de Apoio de Brasília, após cada curso é solicitado ao

participante que responda um questionário de avaliação. Tal questionário é análogo ao que o

45

Modelo Kirkpatrick descreve como o nível 1, isto é, sobre a avaliação de Reação e Satisfação

do participante em relação á estrutura do curso.

4.1.3.4 A utilização do conhecimento

Como já citado no item anterior, não há um método avaliativo pós-conclusão dos

cursos oferecidos pela FEPECS para saber o quanto do que foi transferido está sendo bem

aplicado. Outro problema é a forma de se guardar o conhecimento novo para utilizá-lo

futuramente. Na pesquisa de Davenport e Pruzak (1998, p. 176-177), apresentada no item

3.2.5.4, as fontes dos repositórios de conhecimentos para futura utilização tinham origem

externa, interna estruturada e interna tácita.

Foi encontrado na SES/DF fontes interna tácita e interna estruturada, mas ao contrário

do que fez a IBM para capturar o conhecimento tácito, ao utilizar o Notes, a SES/DF não

implantou nenhum sistema similar. O conhecimento tácito segue oculto ao resto da

organização, até aqueles oferecidos pela FEPECS, que mantém um acervo de conteúdo dos

cursos ministrados. Mesmo assim, a maioria são fontes objetivas (manuais de cursos) e não

subjetivas (experiências de sucesso dos servidores). As exceções são os trabalhos científicos

desenvolvidos por servidores, em pesquisas e cursos de pós-graduação. Não se pode incluir os

trabalhos desenvolvidos nos cursos de graduação, pois seus estudantes não são

necessariamente servidores da SES/DF.

O conhecimento estruturado é apresentado de forma complexa, de difícil acesso em

alguns casos e descentralizado, dificultando a utilização dos servidores. Os conhecimentos

produzidos pela FEPECS fogem a esta crítica por estarem disponíveis na rede de bibliotecas,

mas os produzidos em cada núcleo, em cada unidade administrativa ou hospitalar

permanecem, em regra, no anonimato para o resto da instituição por não haver um banco de

conhecimento único, aberto para consulta.

4.1.3.5 Gestão do conhecimento na função administrativa

Os esforços da FEPECS e principalmente da CODEP estão voltados para as áreas da

saúde, como cursos regulares de medicina e enfermagem. A CODEP explicou que não há

planejamento de cursos focados para atender às necessidades da área administrativa como são

feitos para as da saúde, mas que buscam oferecer o máximo de apoio às solicitações das

46

Regionais e Unidades de Saúde da SES/DF para realização de treinamento e capacitação aos

seus servidores de função meio. Na área administrativa foram constados esforços no sentido

de atingir os servidores dessa função, entretanto de forma muito tímida.

A explicação para essa ausência de ações focadas na área administrativa se dá por:

a) não ser uma área-fim da SES/DF;

b) existir uma secretaria de governo voltada à função administrativa, a Secretaria de

Planejamento e Gestão – SEPLAG, responsável, dentre outros, pelo planejamento,

gestão administrativa e pessoal do Distrito Federal; e sua Escola de Governo do

Distrito Federal – EGov, responsável por oferecer educação continuada aos

servidores do Governo do Distrito Federal.

De acordo com a CODEP, não está previsto nenhum projeto de implantação de gestão

do conhecimento na SES/DF, seja focado na área administrativa quanto nas áreas da saúde.

4.1.4 Caso: o planejamento estratégico e o conhecimento alugado

O caso a seguir descreve como a SES/DF construiu a base humana para a implantação

do planejamento estratégico, suas fases, ações e, principalmente, sobre a participação da

empresa de consultoria Publix como fonte de conhecimento externa ao Governo do Distrito

Federal, conforme esclarecido no item 3.2.5.1, alínea b) a respeito do aluguel do

conhecimento como forma de criação de conhecimento. Neste caso, a Publix funciona como

um agente de mudança, como explica Newstrong (2008, p. 340):

O agente de mudança normalmente age como catalisador, disseminando a mudança no interior do sistema ao mesmo tempo que permanece, de alguma forma, independente dele. Embora os agentes de mudança possam ser internos ou externos, geralmente são consultores externos. As maiores vantagens da utilização de um agente de mudança externo decorrem do fato de eles serem mais objetivos e de possuírem mais diversidade em suas experiências.

Ao seguir o dispositivo legal mencionado no item 3.1, para a formação dos GTIPE’s

contarão, principalmente, os diretores, gerentes, algumas chefias e um coordenador da Sala de

Situação de Saúde da Regional. Destes, o coordenador da Sala de Situação realiza o curso de

agente de planejamento na modalidade Ensino à Distância – EAD, conforme citado no item

4.1.3.1. Este curso prepara o coordenador para ser um representante de sua Unidade junto à

comissão de planejamento estratégico, assim como para acompanhar e avaliar o Plano

Regional de Saúde, visando a descentralização da gestão. O GTIPE/SES é dirigido pelo

47

Secretário Adjunto de Saúde e membros da Administração Central e das Regionais de Saúde,

sob a consultoria da Publix.

4.1.4.1 Curso de agente de planejamento na modalidade Ensino à Distância – EAD

A realização do curso de agente de planejamento na modalidade Ensino à Distância –

EAD foi o primeiro passo para capacitar pessoas de diversas áreas e funções na SES/DF. A

primeira turma foi formada em 2006, ocorrendo a segunda turma no ano seguinte, 2007. Com

a duração de quatro meses, os encontros se davam a cada quinze dias, nos períodos matutino e

vespertino. Ao final de cada encontro, trabalhos de pesquisa eram encomendados aos

participantes, os quais deveriam entregá-los no encontro seguinte.

Dentre os assuntos abordados estão em pauta: o Sistema único de Saúde – SUS, o

Programa de Modernização Tecnológica das Unidades Assistenciais de Saúde – PMTUAS,

orçamento público, o Sistema de Informações Ambulatoriais – SAI, o Sistema de Informações

Hospitalares, mas principalmente a Sala de Situação.

A Sala de Situação é, segundo Helvécio (apud Belaciano, 2005, p. 28), “instrumento

muito importante para fornecer diagnóstico dinâmico e atualizado da saúde da população,

permitindo avaliar os resultados da aplicação das políticas públicas de saúde e produzir planos

e programas para as necessidades detectadas”. O autor explica que a Sala de Situação

possibilita uma avaliação temporal, ou seja, analisar “os problemas que caracterizam a

situação presente” através do registro de ocorrências passadas; como esses problemas “se

relacionam entre si” na atualidade e; “para onde tenderá a situação” (p. 33-34). É um

ferramental que ajuda os gestores a tomarem as melhores decisões baseados em dados e

informações consistentes. A Sala de Situação é, portanto, fundamental na construção do

planejamento estratégico da SES/DF.

4.1.4.2 GTIPE e Publix

Após a formação da primeira de turma de agentes de planejamento criou-se a agenda

do comitê de planejamento estratégico da SES/DF, dirigidos pela empresa de consultoria

Publix Instituto. Os primeiros encontros entre os GTIPE’s e a Publix Instituto foram marcados

pelas Oficinas, onde os participantes-representantes das Regionais e Unidades de Saúde

recebiam o conhecimento necessário para construírem seus planejamentos. Os temas

48

abordavam elementos de planejamento estratégico: conceitos, processo, importância, atitudes

valorizadas, comunicação, programas de qualidade, controle e avaliação, objetivos,

indicadores, ações e metas, bem como a apresentação da construção do Modelo de Gestão

para Resultados no Distrito Federal e um mapa genérico de scorecard, de acordo com a

Figura 1 e 2, respectivamente.

Figura 1

MODELO DE GESTÃO PARA RESULTADOS

Fonte: Publix Instituto

49

Figura 2

MAPA GENÉRICO DE SCORECARD

Fonte: Publix Instituto

Após as oficinas, abriu-se o cronograma para construção do planejamento estratégico.

As Regionais e Unidades de Saúde tiveram que construir, por etapas, sua Missão, Visão de

Futuro, Perspectivas: objetivos, indicadores, ações e metas. O processo é construído com a

participação de todos os servidores e esta é a principal função do coordenador da Sala de

Situação, nesta etapa: mobilização.

Durante essas etapas a consultoria age junto aos coordenadores da Sala de Situação e à

Administração Central da SES/DF. Não realizam visitas técnicas nas Regionais e Unidades de

Saúde. A Publix ajuda na criação de conhecimento nos encontros periódicos do comitê de

planejamento estratégico, por consultas telefônicas ou outro meio de comunicação. Sua

experiência é transmitida na busca de soluções a problemas enfrentados pelos coordenadores.

A intenção é que os servidores não dependam tanto dos consultores e trabalhem baseados no

conhecimento recém adquirido na consultoria.

Atualmente, as metas já foram traçadas e até o final de 2008 aparecerão os primeiros

resultados para análise da SES/DF que, junto com a Publix Instituto e os GTIPE’s, ajustarão

50

novas metas para 2009. Até então, não foi instalada a Sala de Situação nas Regionais e

Unidades de Saúde, que transmitirá informações em tempo real ao Governador do Distrito

Federal e a seus Secretários sobre a situação das metas traçadas. A Figura 3 apresenta um

modelo de painel da sala de situação para controle gerencial.

Figura 3

MODELO DE PAINEL DE SALA DE SITUAÇÃO: EXECUÇÃO DE PROJETOS

Fonte: Publix Instituto

51

5 CONCLUSÃO

O presente trabalho teve como objetivo verificar como a FEPECS da SES/DF poderia

se beneficiar de ações na área de Gestão do Conhecimento. Para tanto, foram descritos os

elemento(s) ou fase(s) da gestão do conhecimento que são aplicados na FEPECS. Foram

ainda verificados quais entraves dificultam a implementação da gestão do conhecimento no

âmbito administrativo. Finalmente, foram apresentadas sugestões para que a SES/DF possa se

beneficiar do uso da gestão do conhecimento.

5.1 Quanto aos elementos ou fases da gestão do conhecimento aplicados pela FEPECS

Nesta primeira etapa foram encontrados elementos nos processos de criação,

armazenamento, transferência e utilização do conhecimento, mas como visto em todo o

desenvolvimento deste artigo de análise, os processos não se encontram interligados, isto é,

não é sistêmico a ponto de ser caracterizado como um ato de gestão planejado, intencional.

Os processos de treinamento e desenvolvimento comprovam a existência de ações

focadas no incremento do capital intelectual na SES/DF. Contudo, tais processos não possuem

um sistema de avaliação eficaz, o que prejudica a medição do que é transmitido nos cursos

com o que é realmente praticado pelos participantes em seu local de trabalho.

As equipes de estudo e pesquisa informais existente tentam melhorar suas práticas

através de ditas ações, embora não possuam ferramental adequado para a troca de

experiências. A falta de repositório para que outros profissionais possam acessar um banco de

conhecimento e evitar perda de tempo com a re-invenção da roda reduziria o custo humano e

estrutural.

A intensidade das relações pessoais dentro da SES/DF garante a existência de várias

redes informais, agregando valor aos serviços de determinados núcleos de trabalho e

justificando o conceito e a importância do conhecimento tácito, mas a falta de um sistema de

captação e disseminação deste conhecimento para futura reutilização prejudica a organização

como um todo, bem como o seu cliente externo.

52

5.2 Sobre os entraves que dificultam a implementação da gestão do conhecimento no

âmbito administrativo

Conforme citado no item 4.1.3.5, a área administrativa não exerce a função fim na

SES/DF, mas nem por isso tem menos importância que as outras áreas do órgão.

A falta de investimento neste corpo de servidores comprova a disfunção sistêmica. No

entendimento do autor, qualquer empresa, seja pública ou privada, deve equalizar esforços

para garantir que todas as áreas funcionais possam realizar seu trabalho com o mesmo nível

de qualidade. Esses esforços se traduzem em investimentos no fator humano, físico e

informático.

Infelizmente a área administrativa passa pelas mesmas dificuldades estruturais para a

implantação da gestão do conhecimento que as demais áreas da SES/DF, com um agravante: o

baixo investimento em capacitação profissional.

O autor observou falhas no modelo de alocação de pessoas em cargos de chefia

administrativa no âmbito da SES/DF, visto que a organização de pessoal é extremamente

importante na gestão do conhecimento. Essas falhas advém do modelo não-meritocrático, isto

é, servidores que são indicados para ocuparem funções de chefia, mas que não possuem o

perfil desejado para desempenhar tal papel: não há analise curricular, entrevista ou aplicação

de testes capazes de avaliar as competências da pessoa indicada em relação à função vacante.

Porém, esse tema não faz parte deste estudo.

Dessa forma, pode-se concluir que a FEPECS da SES/DF vem realizando as seguintes

ações na área de Gestão do Conhecimento:

a) em treinamento e desenvolvimento, realiza cursos técnicos, de extensão, de graduação

e pós-graduação nas áreas da saúde, principalmente;

b) oferece suporte humano, físico e tecnológico às Regionais e às Unidades de Saúde da

SES/DF para a realização de cursos desenvolvidos por estes, e aprovados pela

CODEP/FEPECS;

c) faz parcerias com outros órgãos no campo ensino-aprendizagem;

d) mantém uma biblioteca com grande acervo temático;

e) coordena os estágios e as residências na SES/DF;

f) aprova pesquisas e estudos no âmbito da SES/DF através do Comitê de Ética;

53

g) implanta tecnologia para melhoria de processos internos e para serviços bibliotecários

(thesaurus).

Tais ações estão voltadas para a formação e desenvolvimento de pessoas, o estímulo à

pesquisa e inovação tecnológica, mas ainda faltam fases do processo de gestão do

conhecimento como armazenamento para reutilização do conhecimento e avaliação eficiente

de aprendizagem (medição de viscosidade). Ainda assim, mesmo os elementos identificados

não possuem, entre si, conectividade estruturada, sistêmica.

Considerando o exposto, são apresentadas as seguintes sugestões para que a FEPECS

possa obter melhores benefícios com o uso da gestão do conhecimento:

a) formação de um corpo especialista, permanente, para planejamento, implantação e

avaliação da gestão do conhecimento;

b) melhoria do processo de comunicação interno, disponibilizando recurso

tecnológico e disseminando a importância do uso de tal tecnologia. A tecnologia

serviria como repositório do conhecimento dos próprios servidores, como meio de

transmissão de dados, informações e do próprio conhecimento, assim como acervo

digital da memória da SES/DF e suas unidades. Uma opção para se criar um

aplicativo web de discussão é o mesmo utilizado pelo Detran/AL, o phpBB, que é

gratuito e de fácil administração. O caso de sucesso do Detran/AL foi apresentado

no item 3.2.7 e no item 3.2.4.;

c) melhoria nas atitudes gerenciais. Por se tratar de um processo de mudança,

Newstrong (2008, p. 336) observa que “a mudança tem maiores chances de ser

bem-sucedida se os líderes que a introduzem expressarem altas expectativas de

sucesso”. Então o investimento na capacitação gerencial, aplicando modelos que

levem os líderes a ampliarem seus conhecimentos técnico-gerenciais resultaria em

mudança comportamental, transformando-os em verdadeiros exemplos de

profissionais.

Finalmente, sugere-se que os próximos trabalhos enfocando este tema levem em

consideração a análise de perfil atual dos servidores que ocupam cargos de chefia versus o

perfil ideal. O autor concorda com Newstrong (2008, p, 157) quando este traça um conceito

de liderança: “é o processo de influenciar e apoiar outras pessoas para que elas trabalhem

entusiasticamente para a obtenção de determinados objetivos. Ela é o fator crítico que auxilia

o indivíduo a identificar suas metas, para então motiva-los e ajuda-los na conquista dessas

54

metas”. A gestão do conhecimento também é um objetivo geral a ser alcançado nas

organizações púbicas e as metas individuais são etapas menores desse objetivo, que o servidor

em uma função de chefia deve influenciar e apoiar como líder que deve ser. Para tanto,

acredita-se que o modelo atual de alocação de pessoas em cargos de chefia na SES/DF deveria

mudar o quanto antes. Assim, o autor deixa aberto como problema de discussão para futuros

pesquisadores o tema, principalmente àqueles focados na análise do perfil do gestor do

conhecimento.

55

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