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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA A VISIBILIDADE DOS ESCONDIDOS – A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO E SEUS REFLEXOS SOBRE A SAÚDE DOS TRABALHADORES NO SERVIÇO DE ENFERMAGEM DE UMA UNIDADE PÚBLICA DE SAÚDE. Daniel de Oliveira Costa Orientadora: Profa. Dra. Anamaria Testa Tambellini Rio de Janeiro 2007

INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA · INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA ... Alonso Solon Costa e Eunice de Oliveira Costa; ... (GITAHY,1994 e HELOANI,2003)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA

MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA

A VISIBILIDADE DOS ESCONDIDOS – A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO E SEUS REFLEXOS SOBRE A SAÚDE DOS TRABALHADORES NO SERVIÇO DE ENFERMAGEM DE UMA UNIDADE PÚBLICA DE SAÚDE.

Daniel de Oliveira Costa

Orientadora: Profa. Dra. Anamaria Testa Tambellini

Rio de Janeiro 2007

A VISIBILIDADE DOS ESCONDIDOS – A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO E SEUS REFLEXOS SOBRE A SAÚDE DOS

TRABALHADORES NO SERVIÇO DE ENFERMAGEM DE UMA UNIDADE PÚBLICA DE SAÚDE.

Daniel de Oliveira Costa

Dissertação de mestrado apresentada ao Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva.

Orientadora: Profa. Dra. Anamaria Testa Tambellini

Rio de Janeiro 2007

AGRADECIMENTOS

A Deus, em primeiro lugar, por ter estado sempre presente dando-me paz,

tranqüilidade e persistência em todos os momentos desta trajetória.

Aos professores; Dr. Volney de Magalhães Câmara, Dra. Anamaria Tambellini

e Dra. Marisa Palácios, pela ajuda durante o mestrado.

Em especial, aos professores; Dr. Eduardo Navarro Stotz, Dra. Maria Cláudia Vater e Dra. Regina Helena Simões; pelo carinho, estímulo e apoio; para que a versão final deste trabalho fosse concluída, bem como a minha continuidade na trajetória acadêmica.

Aos funcionários técnico-administrativos do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva – IESC, pela compreensão demonstrada ao longo de toda esta caminhada.

Aos colegas do mestrado, em especial a Márcia Regina de Oliveira Costa, Cláudia Almeida de Oliveira e Maria da Conceição Lopes Buarque; pelo companheirismo, incentivo, solidariedade e encorajamento nos momentos difíceis de minha vida.

A Professora Dra. Letícia Fortes Legay, diretora do IESC/UFRJ, pelo incentivo,

força e principalmente compreensão.

Costa, Daniel de Oliveira

A visibilidade dos escondidos: a precarização do trabalho e seus reflexos sobre a saúde dos trabalhadores no serviço de enfermagem de uma unidade pública de saúde, localizada na cidade do Rio de Janeiro, vinculada ao Ministério da Saúde / Daniel de Oliveira Costa. – Rio de Janeiro: UFRJ / Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, 2007.

100 f. : il. ; 31 cm Orientador: Anamaria Testa Tambellini

Dissertação (mestrado) -- UFRJ, Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva, 2007.

Referências bibliográficas: f. 92-96 1. Trabalho - economia. 2. Trabalho – tendências. 3. Mercado de trabalho. 4. Força de trabalho. 5. Condições de trabalho. 6. Condições sociais. 7. Saúde do trabalhador. 8. Recursos humanos de enfermagem. 9. Seguridade social. 10. Fatores socioeconômicos. 11. Pesquisa qualitativa. 12. Questionários. 13. Saúde Coletiva - Tese. I. Tambellini, Anamaria Testa. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva. III. Título.

DEDICATÓRIA

Dedico esta, bem como todas as minhas demais conquistas, aos meus amados

pais; Alonso Solon Costa e Eunice de Oliveira Costa; a minha irmã Ismeracy de

Oliveira Costa - que falta vocês me fazem!!!

Aos meus dois preciosos filhos; Nathália Solon Mathias Netto Costa e Yan

Solon Mathias Netto Costa - meus melhores e maiores presentes!!!

Aos 194 profissionais cooperativados que vendem sua força de trabalho no

Instituto Fernandes Figueiras, pessoas pelas quais e para as quais esse

trabalho existiu.

A todos os trabalhadores brasileiros que aguardam por igualdade de direitos.

RESUMO

Esta dissertação aborda as manifestações atuais da precarização do

trabalho como uma nova e complexa questão social. Procuramos descrever as

dimensões humanas implicadas nesse processo de trabalho, traduzindo o nível

de exploração de suas relações precárias.

Discutimos a atual reorganização social da produção, em virtude da crise

e reestruturação do capitalismo, no último quartel do Século XX que repercutiu

sobre o mundo do trabalho, desordenando as relações que conformaram o

Estado de Bem-Estar Social e reordenando-as sob a égide da regulação pelo

mercado.

Nesta dissertação, procuramos analisar a questão da saúde do

trabalhador, frente ao processo de precarização do trabalho, identificando a

sua percepção em relação a este processo.

A pesquisa foi realizada junto a 112 trabalhadores terceirizados por

cooperativa, lotados no Serviço de Enfermagem, dentro de uma Unidade

Pública de Saúde, localizada na Cidade do Rio de Janeiro, vinculada ao

Ministério da Saúde.

Palavras-chave: Reestruturação Produtiva, Trabalho, Precarização, Saúde do

Trabalhador, Neoliberalismo e Estado de Bem-Estar Social.

ABSTRACT

This master thesis approaches the manifestations current of the labor

precarious relations as a new and complex social matter. We look for to

describe the dimensions human beings implied in this process of work,

translating the level of exploration of its labor precarious relations.

We argue the current social reorganization of the production, in virtue of

the crisis and reorganization of the capitalism, in the last quarter of Century XX,

that it reflect on the world of the labor, disordering the relations that had

conformed the Welfare State and rearranging them under the regulation for the

market.

In this study, we look for to analyze the question of the health of the worker, front to the process of the labor precarious relations, identifying its perception in relation to this process.

The research was carried through together the 112 workers for

cooperative, crowded in the Service of Nursing, inside of a Public Unit of Health,

located in the City of Rio de Janeiro, tied with the National Health Department.

Key-Words: Productive reorganization, Work, Health of the worker,

Neoliberalism and Welfare State.

Aos preteridos pelo mercado de trabalho

formal, cujas vozes não são ouvidas nas ações

dos governos.

SUMÁRIO

Resumo

Introdução Página 01

Justificativa Página 07

Objetivos Página 08

Revisão Bibliográfica Página 11

Capítulo I Página 16

Capítulo II Página 17

Metodologia Página 35

Aspectos Éticos Página 47

Resultados Página 60

Discussão Página 75

Considerações Finais Página 81

Referências Bibliográficas Página 90

Anexos Página 95

A.1- Questionário para os Trabalhadores Página 96

A.2- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Página 97

INTRODUÇÃO

Os temas déficit público e dívida pública há muito tempo permeiam

as discussões sobre política econômica, tanto no meio acadêmico quanto na

sociedade. Realmente, déficits públicos persistentes e o acúmulo de dívida que

deles resultam são fatores de preocupação pelo efeito que produzem sobre a

economia. Um desses efeitos é a necessidade de se aumentar os juros,

aumentando a incerteza quanto à capacidade de os governos honrarem seus

compromissos(Giubert,2005).

No Brasil, esta situação pode ser ilustrada pelo alto nível de

endividamento do setor público – os dados do Banco Central mostram que a razão

Dívida Líquida/PIB do setor público consolidado se manteve acima dos 50% nos

últimos três anos, e pela crise de endividamento enfrentada pelos Estados que

culminou, em 1997, no refinanciamento da dívida de 25 dos 27 Estados brasileiros

pelo Governo Federal.

Neste contexto que foi promulgada, em maio de 2000, a Lei

Complementar nº 101, conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) que

visa o equilíbrio do gasto público e a redução dos níveis de endividamento, e para

tanto estabelece dois limites para controlar os gastos públicos: limite de

endividamento e limite de gasto com pessoal.

Em relação ao limite de gasto com pessoal, a LRF estabelece tanto para

Estados quanto para municípios que não devem ultrapassar 60% da receita

corrente líquida. O controle sobre este item de despesa tem por finalidade

contribuir para a redução do déficit orçamentário, o que, no caso dos Estados,

estava ligado ao histórico de gastos com pessoal bastante elevado,

equivalente, em média, a 79,1% da receita corrente líquida em 1995; 65,4% em

1996; 59,8% em 1997 e, superando 100% no caso do Rio de Janeiro entre

1995 e 1996.

Entretanto, é interessante observar que a LRF trouxe um “trade-off”

associado à imposição de uma regra, pois, ao mesmo tempo que limitar o

gasto público pode trazer benefícios para a sociedade, pode também limitar as

políticas à disposição dos governantes para enfrentar crises econômicas e

melhor atender ao incremento da demanda por serviços públicos.

Nesse sentido, o planejamento e a gestão de recursos humanos na

administração pública têm uma importante tarefa de médio e longo prazo que é

a de responder às necessidades criadas pelas funções exercidas por uma

instituição. Por função entende-se um campo de ações específico e relevante

que faz parte da missão institucional. Para cada função é estabelecida uma

relação fundamental entre a instituição e os cidadãos que dela se servem. Por

exemplo, um hospital público tem uma função de assistência médica, uma

escola tem uma função de ensino, e assim por diante(NOGUEIRA et all,2006).

O objetivo desta dissertação será descrever, em uma Instituição Pública

de Saúde, as conseqüências sobre a saúde de um grupo de trabalhadores,

frente ao processo de precarização do trabalho e suas relações com o atual

modelo de reorganização social da produção e do trabalho, preconizados pela

doutrina neoliberal.

A compreensão do processo de precarização do trabalho, tomado

isoladamente, destitui a análise que se pretende fazer dele como indissociável,

interligado e interdependente do processo histórico que busca redefinir a

própria dinâmica da atividade econômica, pela reorganização social da

produção e do trabalho.

Para melhor estruturar esse trabalho, o iniciamos com uma discussão

sobre a nova centralidade que assume o trabalho, após a segunda metade da

década de setenta do século passado. Em seguida, procuramos relacionar

como essa nova concepção de trabalho, precário, associado às questões de

natureza políticas; sociais e econômicas, acarretou problemas à gestão de

recursos humanos bem como às macro-funções exercidas pelo Ministério da

Saúde, nas duas últimas décadas do século passado.

Por fim, apresentamos os resultados da pesquisa feita em uma unidade

pública de saúde, das precárias relações de trabalho de um grupo de 112

trabalhadores de uma cooperativa.

Visto que, a constante renovação tecnológica, política, social, econômica

e cultural tem levado a grandes mudanças no setor de serviços, refletindo em

diversas transformações na organização do trabalho, a reestruturação da

atividade produtiva consiste em um processo que procura compatibilizar

mudanças institucionais e organizacionais nas relações de produção e de

trabalho, bem como redefinição de papéis dos Estados nacionais

(TAVARES,1993 e TEIXEIRA,2000).

A reestruturação das atividades produtivas começou a se delinear, mais

nitidamente, no final da década de setenta, redefinindo as estratégias do capital

no que diz respeito às relações de trabalho, abrindo novas linhas de

investigação. Nesse novo contexto, estudar as transformações do trabalho

significa observá-las sob diversos ângulos, considerando que para

compreender a atual conjuntura mundial, é preciso considerar uma sociedade

global, com extraordinário crescimento do desemprego, em meio a profundas

transformações estruturais (CHILLIDA e COCCO,2004).

Segundo Teixeira (2000), os anos oitenta marcaram o acirramento desse

processo, onde os países de tradição anglo-saxônica, notadamente a Grã-

Bretanha e os Estados Unidos, adotaram estratégias de desregulamentação

orientadas para o mercado. No caso da Grã-Bretanha, as transformações

foram interpretadas como radicais, visto se tratar de um país pioneiro do bem-

estar social e fortemente comprometido com as políticas de pleno emprego.

Essas transformações encetaram diferentes formas de concepções do

trabalho que vão, desde a eliminação de proteções sociais até a flexibilização

do trabalho e salários. De qualquer modo, o objetivo principal dessas políticas

era enfrentar o declínio econômico e o desemprego internos com uma maior

flexibilidade do mercado de trabalho, por meio da redução da carga de

encargos sociais e impostos ( TAVARES,1993).

No Brasil, com a crise do Estado desenvolvimentista, cujo ciclo não se

completara, dá-se início a uma reforma do aparelho de Estado, que aponta

para a privatização de empresas públicas, terceirização, estímulo à

produtividade e competitividade em setores monopolizados. O Estado buscou

reorientar-se no sentido de ampliar sua capacidade gerencial, desenvolvendo

estruturas regulatórias. As mudanças propostas levaram a burocracia estatal,

de um perfil organizacional ao profissional, seguindo os moldes norte

americanos (ANDERSON,1995).

Portanto, o processo de reestruturação das atividades produtivas, no

Brasil, é mais marcado por mudanças na organização da produção e no

mercado de trabalho do que pelas inovações tecnológicas. Os novos

processos que derivam dessa reorganização da produção induzem à

flexibilização da estrutura de ocupações, agudizando as relações precárias de

trabalho (GITAHY,1994 e HELOANI,2003).

A situação dos trabalhadores do setor público de saúde sob relações

precárias, no atual mercado de trabalho, traz à tona sua condição de

profissionais informais submetidos à disciplina e à lógica das relações

capitalistas privadas, essencialmente no que diz respeito à disponibilidade de

uso da sua mão-de-obra por parte do capital.

Além de estarem sujeitos às condições de trabalhos precárias,

desprovidos de garantias sociais e de, em alguns casos, receberem salários

mais baixos, são também mais instáveis no mercado de trabalho, detendo

menos oportunidades de promoção e treinamento.

Portanto, diante do avanço das doutrinas neoliberais no campo político e

das relações precárias de trabalho na reorganização social da produção e do

trabalho, aumenta a necessidade de apreensão da realidade vivida pelos

trabalhadores não só no ambiente interno de trabalho, como também em seu

cotidiano, nos locais de convívio e moradia, ampliando o leque de

interrogações e incorporando enfoques que colaborem para a apreensão das

desigualdades e heterogeneidades produzidas (BRITO,2000).

A complexidade, a amplitude e a suposta irreversibilidade desse

processo vêm exigindo a construção de novas formas interpretativas, que

procurem, com um adequado tratamento teórico, dar conta de tão complexa

interação, que dificilmente poderia ser tratada sob um aspecto quantitativo

dessa visão de mundo. Portanto, faz-se necessário, o recurso às múltiplas e

interdisciplinares contribuições de pesquisadores na área das ciências

econômicas, sociais e de profissionais de saúde, a fim de produzir novas

formas de se pensar a atual realidade.

Não consideramos irrelevante a herança deixada pela abordagem

quantitativa, mas são decisivos novos nexos e inter-relações, que somente esta

abordagem parece não considerar.

Portanto, a expansão da informalidade e da precarização das relações

de trabalho têm gerado uma desarticulação progressiva do tecido social. As

transformações econômicas e sociais que estamos presenciando representam

parte do processo de reestruturação das atividades produtivas que subverte as

relações entre a lógica econômica do capitalismo e as aspirações dos

trabalhadores a uma vida mais decente. Sob o manto desse processo, a

esfera econômica define as normas e os valores que vão presidir os destinos

coletivos e individuais (ESPING-ANDERSEN,1995).

JUSTIFICATIVA:

O processo de precarização da relação de trabalho no setor público de

saúde brasileiro bem como em outros setores da atividade pública constituiu-se

numa estratégia para enfrentamento de alguns problemas imediatos (ex.

contratação de pessoal), sem atentar para suas conseqüências. Uma reflexão

crítica acerca de como esse processo se deu e como o setor está organizado

na atualidade e suas conseqüências para o Estado e os demandatários dos

serviços públicos pode contribuir para a melhoria da qualidade do serviço

prestado.

OBJETIVOS:

- Geral:

Descrever o processo de precarização das relações de trabalho em uma

Instituição Pública de Saúde, localizada no município do Rio de Janeiro,

vinculada ao Ministério da Saúde.

- Específicos:

1 – Argumentar sobre os contextos políticos, econômicos e

administrativos que dificultaram a modernização da estrutura de carreiras e

quadros de pessoal das unidades públicas de saúde, empurrando-as à adoção

de formas precárias de trabalho.

2 – Identificar a percepção dos profissionais, sob vínculos precários de

trabalho, acerca do conceito de precarização das relações de trabalho.

3 – Descrever, como os profissionais do Serviço de Enfermagem, sob

vínculos precários, percebem as conseqüências da precarização na sua

saúde.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Introdução:

A palavra trabalho vem do latim Tripalium, termo que designava um

instrumento de tortura, ao qual eram submetidos os condenados. A etimologia

serviu de base para vincular-se trabalho a sofrimento (SILVA,2002,p. 441).

Na Grécia Antiga, o trabalho era associado a fardo e sacrifício, desprezado

pelos cidadãos livres. No início do Cristianismo, o trabalho era considerado tarefa

penosa e humilhante, uma punição ao pecador. Adão, ao pecar, foi castigado a

trabalhar para ganhar o pão com o suor do seu próprio rosto. Somente a partir do

Renascimento, o trabalho adquire concepção de auto-realização humana e fonte

de identidade. Portanto, o trabalho apresenta dois aspectos diferentes. O primeiro

relacionado a um caráter negativo; o segundo a uma categoria mais positiva. Pode

representar tanto um castigo divino, uma punição, algo esgotante para quem o

realiza, como também um espaço de criação, realização, crescimento pessoal,

possibilidade de o homem construir a si mesmo e marcar sua existência no mundo

(RIBEIRO e LEDA,2004).

Karl Marx, que é considerado por muitos como um dos maiores estudiosos

desse assunto, foi quem melhor definiu trabalho, para ele o trabalho é um

processo entre o homem e a Natureza, um processo em que o homem, por sua

própria ação, media, regula e controla seu metabolismo com a Natureza. Ele

mesmo se defronta com a matéria natural como uma força natural. Ele põe em

movimento as forças naturais pertencentes a sua corporalidade, braços e

pernas, cabeça e mão, a fim de apropriar-se da matéria natural numa forma útil

para sua própria vida. Ao atuar, por meio desse movimento, sobre a Natureza

externa a ele e ao modificá-la, ele modifica, ao mesmo tempo, sua própria

natureza. Ele desenvolve as potências nela adormecidas e sujeita o jogo de

suas forças a seu próprio domínio. Então, trabalho é o momento da realização

pessoal e a condição fundamental para a existência do ser social, pois é

através da interação com a natureza que o homem produz o necessário para a

satisfação de suas necessidades, independente da sociedade em que viva

(CAVAIGNAC, 2004).

A década de 80 do século passado pode ser considerada como o marco

dos estudos acerca da temática “precariedade no trabalho”. Esses estudos

procuram explorar as mudanças decorrentes da falta de regras e do

afrouxamento da legislação sobre as relações de trabalho e não o seu fim, uma

vez que, ainda há pessoas e trabalho a ser feito, embora diferente do conceito

de trabalho que construímos (TELLES,2006).

Telles (2006) assinala que, durante os anos 90 do século XX pensou-se

que a liberalização dos mercados e a flexibilidade nas políticas econômicas

gerariam um desenvolvimento que seria refletido imediatamente na qualidade

de vida da população. Entretanto, não foi assim. Lamentavelmente, se

comprovou que o desenvolvimento econômico assim alcançado não implicava,

por exemplo, em empregos de melhor qualidade e, consequentemente, um

melhor nível de vida dos cidadãos.

Entre 1987 e 1994, o Brasil viveu um processo de concentração de

renda e de mudanças nas relações de trabalho com aumento do desemprego e

da informalidade. Vale assinalar que em 1987, todo o setor industrial aglutinava

35,9% dos assalariados, o que representava cerca de 9,4 milhões de

trabalhadores (PIMENTEL,1998).

A partir de 1994, assinala Pimentel (1998), a taxa de desemprego

aberto, medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE,

registrou que, dos 70 milhões que integravam a população em idade de

trabalhar, 48,5% conseguiam algum emprego formal e os demais ocupavam-se

no setor informal.

Para Pimentel (1998), juntamente com a redução do volume e da

participação do emprego formal no Brasil, diversas transformações redefiniram

o próprio perfil do trabalho.

O trabalho existe há mais tempo que a própria raça humana e ganhou

sua forma organizada com as práticas de nossos ancestrais primitivos. Parece

que consideramos a necessidade do trabalho como um fato preestabelecido.

Alguns dizem que se trata de uma necessidade psicológica. Outros

argumentam que trabalhamos por subsistência. Mas, se definirmos

subsistência como; uma renda suficiente para abrigar, vestir e alimentar uma

pessoa ou família; veremos que a renda média da classe intermediária da

sociedade urbano-industrial moderna proporciona um padrão de vida que

excede essa definição. Sendo assim, talvez trabalhemos para progredir de

alguma forma (DONKIN,2003).

A Criação do Trabalho:

Segundo Donkin (2003), para descobrir as origens do trabalho,

precisamos recuar bastante, já que nossos ancestrais aperfeiçoaram suas

habilidades desde muito antes da Idade da Pedra, quando os hominídeos

partiram em direção ao norte europeu, a fim de colonizá-lo. Não eram

carniceiros oportunistas, reagindo casualmente às circunstâncias. Mas,

caçadores com uma certa sofisticação e organização na forma como lidar com

o trabalho. Se retrocedermos a esses tempos primitivos, verificamos que o

trabalho em si tem uma história e que ele muda em natureza e concepção ao

longo do tempo.

Em algum ponto da sua história, o homem reconheceu que o que fazia

para sustentar-se e melhorar a qualidade de sua vida podia ser considerado

trabalho. Quando os homens perceberam que, através do trabalho de outros

homens podiam fazer frente às necessidades de trabalho extra onde havia um

excedente de produção para sustentar esse trabalho, criou-se as condições

para o desenvolvimento da escravidão.

A economia das duas maiores civilizações – a grega e a romana – eram

fundadas na escravidão. Por centenas de anos esse foi o modo mais comum

de trabalho. Na Grécia e Itália, até o trabalho especializado era realizado por

escravos, que ocupavam cargos profissionais como médicos e professores.

Entretanto, o traço mais comum do trabalho escravo, em todas as suas

manifestações ao longo da história, foi na agricultura (DONKIN,2003).

Ao longo do tempo, argumenta Donkin (2003), é possível que as

pressões econômicas, mais do que políticas e humanitárias, tenham levado

essa modalidade de trabalho a cessar, uma vez que o trabalho livre mostrou-se

mais barato do que o realizado por escravos. Os trabalhadores livres da antiga

sociedade grega trabalhavam sozinhos. Aqueles que, em grupos, submetiam

seu trabalho ao controle de outros, eram considerados escravos. Hoje, um

escravo grego em visita às empresas modernas, concluiria que o regime

escravo evoluiu bastante nesses 2.500 anos.

Na verdade, o que mudou foi o conceito de liberdade, redefinindo-se

para apropriar-se do trabalho humano. Por mais que se fale em liberdade

ninguém está livre do medo nem da carência. E são esses dois, os principais

fatores que conduzem o empregado moderno a sujeitar-se aos diferentes e

cruéis sistemas de recrutamento e administração do seu trabalho. Em uma

sociedade dominada pelo trabalho, onde a necessidade de trabalhar se mostra

maior a cada dia, a liberdade passa a ser definida como a nossa disposição ou

não de realizar um determinado trabalho (DONKIN,2003).

O autor salienta que sob o modo de produção capitalista atual, o

trabalho árduo e de longas horas, são vitais para a manutenção do nosso

padrão de vida. Somos escravos do trabalho.

Observando-se retratos de múmias egípcias, cujo processo de

mumificação data dos três primeiros séculos d.C. nota-se uma evolução

constante das habilidades dos artistas. Examinando-se com mais atenção

percebe-se que o retrato mais recente é também o de mais simples técnica.

Parece ter havido algum tipo de regressão em vez de progressão das

habilidades (DONKIN,2003).

Para Donkin (2003), a criatividade nunca abandonou totalmente a

humanidade, mas certas coisas acabaram se perdendo. O conceito das

formas, dominado pelos pré-históricos e mais tarde redescoberto e

aperfeiçoado pelos gregos decaiu na passagem para a civilização romana.

Perderam-se técnicas também na construção e na medicina. O embalsamento,

ainda não conseguiu retomar o ápice de sofisticação a que chegou, por volta

de 1000 a. C.

Parece haver uma conspiração, envolvendo inovação e preço que

contribui para a perda de técnicas e habilidades à medida que se dirigem a um

público maior. Talvez, pela competição gerada pela entrada de novos

praticantes no mercado que empurram a qualidade de determinadas coisas

para baixo.

Na época em que os ofícios de artesãos e artistas eram controlados

pelas corporações de ofícios, os trabalhadores dispunham de algum

mecanismo para resistir às forças do mercado que impunham formas de

sujeição ao trabalho que comprometessem a qualidade do serviço, bem como

a relação de trabalho do artesão (DONKIN,2003).

Nesse sentido, afirma Donkin (2003), as corporações de ofício foram de

enorme importância na evolução do trabalho por que regularizavam não

somente o trabalho, como também ajudava a firmar salários, relações de

trabalho e padrões de qualidade dos serviços.

Contudo, a virada na balança do poder econômico em favor das cidades

e enfraquecimento do sistema feudal, não foi totalmente tranqüila. As cidades

sofreram turbulências devido a uma das primeiras formas de indústrias

mecanizadas medieval: os moinhos de acabamento têxteis. As pessoas, cuja

subsistência dependia do trabalho manual de finalização de roupas, embora

clamassem por algum tipo de restrição ao uso da nova tecnologia tiveram seus

apelos ignorados (DONKIN,2003).

Mais tarde, com a Revolução Industrial, no século XVIII,

ocorreu um progresso absurdo nos instrumentos de produção,

o qual se fez acompanhar de uma também absurda

desarticulação na vida das pessoas. Uma desarticulação que

explorou os trabalhadores, transformando-os em meros fatores

de produção (Polanyi,2000).

Segundo Pochmann (2004), o emprego assalariado na

indústria trouxe inseguranças constantes diante do intenso

ritmo de produção em grande escala e da introdução de novas

tecnologias de gestão mais racional da mão-de-obra, que

acarretou numa redefinição das relações de trabalho, como;

obsolescência ocupacional para pessoas de baixa

escolaridade, de subocupação para crianças e adolescentes,

de desemprego de adultos e chefes de família, entre outros.

A partir de então, um novo tipo de religião introduz-se no seio da

sociedade; um tipo que reverenciava os ensinamentos bíblicos, combinando-os

à devoção e sujeição a um código de ética que incensa as virtudes do trabalho

árduo e intenso. Até hoje, no mundo industrializado ocidental, constitui-se em

uma poderosa ferramenta de controle para reprimir toda e qualquer forma de

julgamento. É como se trabalhássemos como se nossos corpos tivessem

recebido algum tipo de programação, desde a Reforma Protestante, a qual nos

rendemos em sacrifícios diários de labuta (HOBSBAWN,2000).

Talvez seja o momento de reconsiderarmos o problema, no início da

história industrial da Inglaterra, da quebra de máquinas. Tal acontecimento

deveu-se, dentre outras coisas, à introdução de maquinaria nas indústrias, no

começo do século XIX ( HOBSBAWN,2000).

Segundo esse autor, esse acontecimento foi uma expressão de

hostilidade da classe trabalhadora à introdução de novas máquinas, uma vez

que representavam diminuição de mão-de-obra. O autor assinala que os

trabalhadores não estavam preocupados com o progresso técnico, mas em

impedir o desemprego, mantendo seus padrões de vida, que incluía aspectos

de natureza não-monetária; como, liberdade e dignidade. Portanto, não eram

as máquinas os inimigos, mas qualquer ameaça a esse padrão de vida.

Principalmente as mudanças nas relações sociais de produção.

Para Hobsbawn (2000), os trabalhadores que não gozam da proteção

natural, característica dos pequenos grupos, cujas habilidades garantem sua

entrada no mercado pela via do monopólio de contratação são obrigados a ficar

na defensiva. Nesses casos, embora os tumultos, como podem ser vistos pela

história, não detenham o progresso técnico, representam alguma arma à

disposição desses desprotegidos.

Por menos que saibamos, a respeito das melhorias entre as classes

trabalhadoras, no período anterior à década de 1840, há consenso de que

essas melhorias não foram devidas a salários, visto que este permaneceu

estável durante anos. Mas, à ascensão dos trabalhadores, de empregos mal

remunerados para outros menos mal pagos e, também, a um declínio no

desemprego seguido de uma regularidade maior no emprego

(HOBSBAWN,2000).

Nesse sentido, segundo Hobsbawn (2000), os mais afetados pelo

desemprego estrutural foram os pequenos artesãos independentes, cuja

reflexo foi sentido na queda dos preços por peças e no subemprego, em vez de

na cessação do trabalho.

Modificações do Trabalho:

A economia capitalista moderna, depois de romper o compromisso social

do pós-guerra e exposta ao livre jogo das forças de mercado, tem reduzido

rapidamente, dentro do seu novo desenho de organização social da produção,

a incorporação do trabalho vivo (PIMENTEL,1998).

Há muito se discute os efeitos excludentes das atuais modificações do

trabalho, sob o impacto da reestruturação produtiva em tempos de revolução

tecnológica e globalização da economia. No entanto, pouco se sabe sobre as

configurações sociais elaboradas dentro dessas transformações. E é isso

justamente que situa o terreno em que ganha pertinência relançar a discussão

sobre os sentidos e os lugares do trabalho no contexto do mundo social

contemporâneo. Se o trabalho não mais estrutura as promessas de progresso

social e os coletivos "de classe" foram desfeitos sob as injunções do trabalho

precário, porquê o trabalho não deixa de ser uma dimensão estruturante da

vida social (TELLES,2006).

Para Telles (2006) essas são mudanças de fundo, onde é preciso

reconhecer que as relações entre trabalho e sociedade são alteradas, seja no

registro do trabalho que se descola dos dispositivos do emprego para se

desdobrar nas formas variadas de trabalho precário, intermitente, descontínuo,

e que tornam inoperantes as diferenças entre o formal e o informal; seja no

registro das miríades de expedientes de sobrevivência que mobilizam os

excluídos do mercado de trabalho, mas que também operam como outros

tantos circuitos por onde a riqueza social globalizada circula e produz valor,

tornando igualmente indiscerníveis as diferenças entre emprego e desemprego,

entre trabalho e não-trabalho. É uma situação que está a exigir um giro em

nossas categorias, de modo a construir um plano de referência que permita

colocar em perspectiva e figurar esses processos, ressituar os problemas,

levantar outros tantos e perceber nas redefinições e desagregações do

"modelo fordista" outros diagramas de relações, campos de força que também

circunscrevem os pontos de tensão, resistências ou linhas de fuga pelas quais

podemos perceber a pulsação do mundo social.

Porém, servem como indicação de que talvez tenhamos que mudar o

foco das atenções, deslocando o jogo de referências para ressituar o trabalho

no momento atual. Não tanto as relações que construíram o trabalho nas

formas conhecidas e suas regulações centralizadas, mas as relações que

articulam o trabalho, a cidade e seus espaços, outros agenciamentos sociais e

também outros eixos em torno dos quais desigualdades, controles e dominação

se processam, afetando formas e sentidos da vida (TELLES,2006).

A Aristocracia do Trabalho:

A expressão “Aristocracia do Trabalho” é utilizada por Hobsbawn (2000),

a fim de descrever uma camada superior da classe trabalhadora; mais bem

paga, mais bem tratada e geralmente considerada como politicamente mais

moderada em relação à massa do proletariado.

Os critérios que definem as condições de participação nessa aristocracia

são: nível de regularidade dos ganhos do trabalhador, perspectivas de

seguridade social, condições de trabalho, relações com a camada social acima,

condições gerais de vida e perspectivas de progresso futuro. Destes, o mais

importante é o primeiro.

A Relação de Emprego e as Regras de Trabalho:

A relação de emprego é a instituição social e econômica central nos

mercados de trabalho e o alicerce da firma moderna como organização

empregadora. Ela resolve um problema de coordenação bastante difícil: como

assegurar os ganhos que derivam da cooperação entre partes auto-

interessadas, dado que cada uma delas sabe mais do que a outra a respeito de

aspectos importantes de seu trabalho comum e que a separação entre elas é

custosa (MARSDEN,2004).

Segundo este autor, durante a maior parte do século XIX, a

subcontratação funcionou bem, nos casos em que o produto podia ser

facilmente definido e monitorado. Entretanto, ela atingiu seus limites à medida

que a mudança técnica e a crescente complexidade da produção levaram as

firmas a desejar um controle mais direto sobre o processo de trabalho e a

definir as tarefas de forma mais articulada com suas próprias necessidades

organizacionais. Isso significava habilitar-se a redefinir as tarefas prescritas aos

trabalhadores sem nenhuma renegociação ou com uma negociação muito

restrita.

Para Hobsbawn (2000), a outra abordagem ao imperativo da

obrigatoriedade consiste em atribuir tarefas de trabalho tomando por base as

funções. Estas, na maioria das vezes, transcendem os cargos dos

trabalhadores individuais e, assim, dependem fortemente de uma dinâmica

estável no âmbito dos grupos de trabalho. Há evidências de que uma regra de

ordenamento baseada na competência pode dar sustentação a uma alocação

flexível de tarefas no interior de um grupo de trabalho. Do mesmo modo,

competências reconhecidas podem ser usadas como critério para atribuir tipos

de trabalho que possuem demandas técnicas similares. Compelir à obrigação

com base em regras centradas nas funções é mais engenhoso do que com

base em regras centradas nas tarefas, que requerem um grau mais alto de

cooperação entre trabalhadores e gerências. Entretanto, essas regras são mais

vulneráveis à quebra de confiança, e não se sustentam em qualquer rede de

proteção que assegure um mínimo de responsabilização, como no caso das

regras associadas a tarefas; essa vulnerabilidade é um forte incentivo a que os

empregadores se comportem cooperativamente.

De fato, em parte como imperativo da globalização dos mercados e em

parte pelo caminho natural de uma sociedade que busca continuamente,

mesmo com pouco sucesso, crescer permanentemente, o país tem

experimentado várias transições, entre as quais, a abertura comercial, a

reforma do papel do Estado, a estabilidade de preços, o avanço tecnológico, a

integração em blocos econômicos, o surgimento de formas atípicas de contrato

de trabalho, o avanço da negociação coletiva, a busca da flexibilidade nas

relações de emprego, as quais, entre outras, têm afetado significativamente o

mercado de trabalho (MARSDEN,2004).

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Segundo Alves (2000), é a partir da mundialização do capital que desenvolve-se um processo de reestruturação produtiva com impactos estruturais no mundo do trabalho. Os desdobramentos desse processo, sob a era neoliberal, sobrepõe-se à fragilidade histórica que permeia o estatuto do trabalho no Brasil.

A partir dos anos 90, a política neoliberal se apresenta como capaz de recuperar a reprodução interna do capital, debilitada no decorrer dos anos 80, pela incapacidade do Estado, de modelo desenvolvimentista, ir além das amarrasa criadas por ele mesmo (ALVES,2000).

O padrão de desenvolvimento capitalista do Brasil, sob o modelo desenvolvimentista, fundamentou-se na substituição de importações, seguindo um padrão de industrialização vinculados aos setores de bens de produção.

Portanto, como argumenta Alves (2000) e Pimentel (1998), no Brasil, os investimentos externos diretos aumentaram a partir do Plano Real, mas de uma forma diferente, pois, não era mais um investimento direto produtivo, similar ao que ocorreu nos anos 50 e 60 que aumentou a oferta de empregos. O atual investimento, caracterizou-se por ser intensivo em capital e não em trabalho.

Para Alves (2000), passa a ser introduzida uma nova lógica de acumulação do capital – a acumulação flexível – que, dentre outras coisas, institui um novo e precário mundo do trabalho.

Entretanto, Nogueira et all (2006) observam que a partir da primeira metade da década de 2000, em países da América e da Europa, iniciou-se um movimento de reversão da tendência histórica de diminuição do estoque de trabalhadores do setor público.

Acompanhando os processos de ajuste fiscal e de reforma do Estado em diversos países, motivos distintos levaram a uma

diminuição da oferta total de novos trabalhadores no setor público nos anos 1980 e 1990. Em primeiro lugar, o diagnóstico político de que existia um excesso de trabalhadores no setor e de que o Estado poderia fazer mais com menos gente. Em segundo lugar, o entendimento de que parte das funções exercidas diretamente pelo Estado poderia ser executada, a um menor custo global, através da privatização de empresas estatais ou de contratos com entidades privadas ou, ainda, mediante entidades autônomas de interesse público, mas com caráter jurídico privado. Finalmente, adotou-se uma diretriz organizacional que preconizava a reestruturação das funções e das divisões internas do setor público, de tal modo a diminuir o número de instâncias burocráticas na realização dos processos específicos de cada órgão e na relação com os cidadãos. Neste caso, pressupunha-se que uma boa parte das atividades de apoio administrativo e técnico, a cargo das gerências de tipo burocrático havia perdido sua razão de ser, devido ao avanço crescente dos recursos computacionais e tecnológicos, e também devido à ênfase no trabalho em equipe e com foco no usuário final dos serviços públicos. Atuando em conjunto, esses três motivos eram suficientes para evidenciar e justificar as expectativas de ganhos de eficiência para o conjunto do Estado.

Atualmente, segundo os autores, as evidências apontam

para uma retomada do crescimento do estoque de servidores

do Estado em diversos países, incluindo o Brasil, o que

significa um processo político-institucional de revalorização

dos aspectos qualitativo e quantitativo da oferta de pessoal no

setor público.

Por fim, a avaliação de Pimentel (1998) que encontra

relação com a observação de Nogueira et all (2006), é a de que

os problemas que levaram a um processo de precarização do

trabalho no Brasil, não estão relacionados à inovação

tecnológica nem tampouco à globalização da economia. Mas à

maneira subserviente, desprovida de mecanismos econômicos

próprios e defensivos à concorrência externa, como se deu a

inserção do país na economia mundial.

24

25

A NOVA CENTRALIDADE DO TRABALHO

Neste capítulo, é nossa proposta, apresentar as transformações por que

passa o mundo do trabalho na nova organização social da produção, face ao

processo de precarização do trabalho.

Em suas mais diversas perspectivas e concepções de mundo, os autores

clássicos do pensamento econômico, cada um a seu modo, apontaram a

importância do trabalho e das relações que, a partir dele, se construíram para o

entendimento da sociedade (SANTANA e RAMALHO,2004).

Analisar o processo de precarização do trabalho pressupõe compreender a

crise estrutural do capitalismo no plano internacional em sua fase mais profunda e

prolongada, iniciada na segunda metade da década de 70 (ABRAMIDES e

CABRAL,2003).

Essas mudanças encetaram diferentes formas de concepções de proteção

social que vão, desde a redução da proteção até a flexibilização do trabalho e

salários. De qualquer modo, o objetivo principal dessas políticas era enfrentar o

declínio econômico e o desemprego com uma maior flexibilidade do mercado de

trabalho, por meio da redução da carga de encargos sociais e impostos.

Com a crise do Estado desenvolvimentista, de controle direto sobre os

setores secundário e terciário, dá-se início a uma reforma do aparelho de Estado,

que aponta para a privatização de empresas públicas, estímulo à produtividade e

competitividade em setores monopolizados.

O Brasil aprofundou mais esse perfil após 1994, com o governo do

Presidente Fernando Henrique Cardoso e o seu desenho institucional foi

expresso no Plano Diretor do Aparelho do Estado, do qual o fator dominante foi

a privatização de empresas públicas(TEIXEIRA,2000).

Segundo Pochmann(2004), com a implantação das

reformas neoliberais no Brasil, os efeitos de regressão

socioeconômica foram se manifestando. Inicialmente,

constatou-se a presença de fortes sinais de desestruturação do

mercado de trabalho.

Em outras palavras, o aparecimento de elevado desemprego aberto, o

dasassalarimento e a geração de postos de trabalho precários.

Entre 1989 e 1999, a quantidade de desempregados ampliou-se de 1,8

milhões para 7,6 milhões, com aumento da taxa de desemprego aberto

passando de 3,0% da População Economicamente Ativa para 9,6%.

Da mesma forma, houve também uma redução do emprego assalariado

no total da ocupação. Em 1989, 64% do total da ocupação brasileira era de

assalariados e, em 1999, passou para 58,7%.somente no mercado formal de

trabalho, 3,2 milhões de trabalhadores assalariados perderam o emprego.

Portanto, a fase do Estado brasileiro que se inicia em 1989 merece ser

pensada com o recurso da história.

Mapeando o Contexto Histórico:

A rejeição generalizada ao mercado que teve lugar na primeira

metade do século XX, não foi por acaso, muito menos predomínio ideológico.

O capitalismo de mercado, livre de controles já havia provado que era

instável, injusto e ineficaz. As conseqüências da Grande Depressão de 1929 e

a Segunda Guerra Mundial foram eventos devastadores do ponto de vista

econômico, social, moral e político.

Segundo Teixeira(2000), nos anos vinte e trinta, a economia mundial foi

palco de acontecimentos entre nações que se desenvolveram sem freios, na

ausência de um núcleo hegemônico, bem como de mecanismos capazes de

impedir tentativas de defesa das economias nacionais.

Com vistas a estabelecer limites de atuação, a intervenção estatal

foi o núcleo das políticas que deram origem a uma era de crescimento e bem-

estar. Esta intervenção destinava-se a impedir flutuações bruscas na

economia, garantindo a segurança dos mais fracos e prevenindo as incertezas

do mercado. O pleno emprego foi colocado como uma meta a ser alcançada e

o sistema financeiro estava, de certa forma, voltado para o financiamento do

crescimento econômico.

A primeira ação orquestrada apontou para a criação de modelos de

Estados Nacionais, diferente daqueles até então propostos. Essa ação resulta

da crise do capital, ocorrida no início dos anos setenta, que impôs a

necessidade da retomada dos níveis de acumulação observada em períodos

anteriores à crise. Para assumir um novo modelo era necessário desconstruir o

modelo de Estado anterior, até então em funcionamento, ainda que em alguns

países não estivesse pleno.

O modelo anterior baseava-se na concepção de um Estado pós-segunda

guerra mundial, que assimilava, dentre outras coisas, as reinvidicações da

classe trabalhadora. Esse modelo, conhecido como Estado de Bem-Estar

Social, face à crise do capital, sobretudo no que diz respeito à manutenção dos

níveis de emprego, já não servia aos interesses de uma elite burguesa,

encastelada nos organismos do aparelho estatal.

O antigo modelo, agora se constituía como um entrave às necessidades

de retomada do padrão de acumulação capitalista que precederam os anos

setenta. Cabe ressaltar que o Estado de bem-estar social nunca alcançou a

maturidade no Brasil, mas o pensamento Keynesiano, através da Comissão de

Estudos para a América Latina – CEPAL, influenciou o pensamento político

estatal na região, que apostava em programas de desenvolvimento com

geração de empregos, de grande envergadura, o que se constituía em

elemento básico para a manutenção do antigo modelo.

A segunda ação diz respeito à cultura político-ideológica que perpassa a

história brasileira. Caracterizada por um Estado patrimonialista e patriarcal,

cujas características de fisiologismo, empreguismo e autoritarismo não

permitiram que o modelo promovesse as reformas centrais e necessárias à sua

manutenção. Pois, durante o pós-segunda guerra, os países periféricos

estiveram à margem do processo de modernização tecnológica que permitisse

adequar suas demandas sociais à sua inserção no comércio internacional.

Repentinamente, foram “obrigados” a aderirem ao atual modelo em condições

desiguais.

Por isso, as mudanças ocorridas no Brasil, no plano político, econômico

e social no último quartel do século passado tiveram um efeito desastroso

sobre o tecido social, não significando democratização nem tampouco

desenvolvimento.

No mundo contemporâneo, a integração implica em abertura das

economias domésticas. Entretanto, essa abertura não deve levar os sistemas

de proteções sociais, em nome da produtividade e competitividade, à

destruição.

Além disso, não devemos perder de vista que a crise dos sistemas de

proteção social, sobretudo nos países em desenvolvimento, foi agravada por

mudanças nas condições econômicas, dentre elas, destacam-se o crescimento

mais lento e a “desindustrialização” (Esping-Andersen,1994).

No período mercantilista, o comércio era considerado pelos europeus

como ato de império, inseparável do poder das nações que o praticavam,

associado ainda à idéia de uma missão civilizadora que imaginava através da

integração de outros povos às suas práticas comerciais estarem contribuindo

para o seu desenvolvimento, bem como libertá-los de tradições obscurantistas

(ANDERSON,1995).

Segundo o autor, essa doutrina foi desconstruída a partir de meados do

século XVIII e, progressivamente, substituída pela doutrina liberal, iniciada na

primeira metade do século seguinte. Segundo o pensamento liberal, a

especialização entre países leva à divisão social do trabalho, cujos efeitos

sobre a produtividade são notórios. Segundo essa doutrina, o comércio

internacional conduz a uma melhor utilização dos recursos produtivos em cada

país e põe em marcha um processo onde todos os países participantes têm

acesso aos frutos dos aumentos da produtividade que cada um ajudou a gerar.

Entretanto, para o Brasil bem como outros países Latino Americanos,

a realidade foi de um processo de modernização tecnológica e capitalismo

tardios. Portanto, ainda nos é necessário um Estado amplo e dirigente que

assuma a principal função de condutor da economia. Ao contrário do que

preconiza o atual modelo, deixando o controle por conta do Mercado.

As mudanças que se iniciaram timidamente no Brasil, na década de

oitenta, alcançaram um movimento intenso na década seguinte. A eleição

presidencial de Fernando Henrique Cardoso foi um divisor de águas entre um

Estado que vacilava entre assumir um modelo neoliberal ou sócio-protecionista.

A partir de 1995, teve início todo um processo de desmonte de um

Estado que, bem ou mal, conseguiu manter características sociais-

protecionistas. As privatizações, criação de agências reguladoras, parcerias

público-privadas, flexibilização de leis trabalhistas em nome da redução de algo

que se convencionou chamar de “Custo Brasil”; dentre outras medidas, foram

mudanças que afetaram a sociedade, bem como o mundo do trabalho em um

país onde a etapa anterior não havia sido concluída. Como resultado, esse

modelo aprofundou um desenvolvimento dependente, agravando problemas

sociais históricos.

Mais uma vez, o Estado optou pela simples adesão a um modelo

concebido a partir de fora.Tal modelo, dentre outras propostas, liquida o

estatuto do trabalho, incentiva a formação de cooperativas de trabalho, institui

o emprego temporário com rendimentos e encargos sociais diminuídos,

desobriga o acordo coletivo de trabalho e abandona a formulação de uma

política salarial clara e definida. Essas medidas constituem exemplos de um

encaminhamento das questões do trabalho que contribuem muito mais para

agudizar as relações sociais nas ocupações ainda existentes do que para a

geração de mais e melhores empregos(ANDERSON,1995).

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

A idéia de desenvolvimento, na pós-modernidade, tem ocupado o

centro dos debates, tanto nas esferas públicas quanto na análise econômica

clássica. Em ambas, como diz Amartya Sen(2004), esse processo é tido como

“feroz”, construído com suor e lágrimas. Nessa idéia se funda o processo de

invenção que permite ao homem ser visto como um agente transformador

desse mundo.

Como o desenvolvimento traduz a realização das potencialidades

humanas, é natural que se atribua à idéia um sentido positivo. Pois,

entendemos que uma sociedade é considerada desenvolvida à medida que

seu povo satisfaça suas necessidades e renove suas aspirações. Mas, a

insuficiência na reflexão desse processo tem conduzido, freqüentemente, a

um modelo de “desenvolvimento” construído sobre um reducionismo

econômico que se impõe como alternativa única (FURTADO,2000).

Nas sociedades capitalistas, o trabalho adquiriu uma significativa

centralidade. Portanto, mudanças nessa esfera social devem repercutir de

modo importante nos diferentes âmbitos das relações sociais, razão pela qual

o papel desempenhado pelo trabalho na nova organização social da produção

passa a ser repensado, redimensionado e questionado. E são precisamente

as implicações sociais atribuídas às mudanças nas formas de organizar e de

gerir o trabalho, associadas ao processo de precarização do trabalho nas

últimas décadas que buscamos evidenciar.

Entre as características principais dessa centralidade destaca-se o fato

de ter associado ao trabalho proteção social e cidadania, porém, não qualquer

tipo de trabalho, mas especificamente o trabalho assalariado de vínculo

formal.

Esse modelo, construído no interior do sistema capitalista de produção,

visava regular as relações entre o capital e o trabalho, por meio da mediação

do Estado, buscando soluções coletivas que se sobrepusessem à estrita

relação contratual privada de compra e venda de força de trabalho no mercado,

inscrita nos moldes do contrato de trabalho assalariado de cunho liberal, típico

do capitalismo em suas fases iniciais(RIFKIN,2004).

Antunes(1998) assinala que o emprego estável, cada vez mais, é

assegurado apenas a um reduzido núcleo de trabalhadores qualificados

e experientes. Com isso, a outra parcela da mão-de-obra tende a

desempenhar tarefas desqualificadas, e a ocupar cargos instáveis e mal

remunerados.

Nesse sentido, as mudanças nas formas de organização social do

trabalho, na atualidade, constituem-se estratégias pelas quais o capitalismo

busca superar a crise do seu padrão de acumulação que prevaleceu, em

especial no período pós II Guerra Mundial, durante o qual, diferentemente do

que se observa nos dias atuais, a organização social da produção permitia uma

articulação com os movimentos dos trabalhadores, fortalecendo o Estado de

Bem-Estar Social (GITAHY e BRISOLLA,1997).

Pode-se dizer que as formas precárias de relações de trabalho

multiplicam fontes de insegurança e expõe contingentes expressivos de

trabalhadores aos riscos da existência social(TONI,2003).

Segundo a autora, as transformações no mundo do trabalho, desde os

anos 80, são mudanças que apontam para uma nova centralidade, com novas

relações sociais e uma nova construção identitária dos indivíduos.

Santana e Ramalho (2004), assinalam que a exigência de maior

competitividade, como um dos fatores constitutivos da nova organização do

trabalho nessa redefinição, vem introduzindo estratégias de racionalização e

redução de custos, com sérias conseqüências para os níveis de emprego.

Postos de trabalho, historicamente estáveis, reduziram-se

drasticamente. A insegurança passou a fazer parte do cotidiano do assalariado

com um vínculo formal de emprego. Formas precárias de trabalho agora são a

norma. O desemprego adquiriu dimensões mais amplas, mudando hábitos e

trazendo pobreza e desesperança, tornando o trabalho informal uma alternativa

freqüente, principalmente nos países em desenvolvimento.

Santana e Ramalho (2004), vêem novos conceitos como “qualificação e

desqualificação” que foram introduzidos e postos sobre os trabalhadores como

responsabilidade pelo seu desempenho na atual forma de organização da

produção.

Portanto, segundo esses novos conceitos, o desemprego é entendido

como o resultado das inadequações dos trabalhadores às exigências de

qualificação no novo paradigma produtivo. Para esse paradigma, a oferta de

trabalho é garantida, desde que haja adaptação, do trabalhador, ao novo

paradigma, bem como às demandas por ele impostas.

Cabe ressaltar que no Brasil, das novas formas de racionalidade da

gestão da produção e do trabalho, a mais utilizada tem sido a terceirização,

embora experimentada de modo desigual pelas unidades produtivas. Na

maioria dos casos, pode-se constatar que essa forma de gestão tem se voltado

muito mais para a redução de custos, deterioração das relações de trabalho e

eliminação de postos de trabalho do que para alcançar níveis melhores de

eficiência(SANTANA e RAMALHO,2004).

A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO NO SETOR SAÚDE

Neste capítulo desejamos abordar o processo de precarização do trabalho

no setor saúde. Pois, esse processo reflete-se sobre o trabalho, os trabalhadores

e a população demandatária dos serviços públicos de saúde.

No decorrer das duas últimas décadas do século passado, os países da região das Américas implementaram amplas mudanças nos seus sistemas de saúde.

Em que pesem as diferenças quanto aos diversos processos, ao tipo de

instituições criadas e à forma dessas mudanças. Um ponto comum à quase todas

as experiências é a mudança nos papéis relativos ao Estado, aos mercados de

trabalho, as profissões de saúde e às próprias comunidades no que concerne ao

financiamento, regulação, organização e provisão dos serviços de saúde.

De uma maneira geral observou-se a redução da participação do Estado na

provisão e no financiamento direto dos serviços de saúde com transferência

paulatina destas funções para agentes constituídos no âmbito dos mercados e das

próprias comunidades. Ao mesmo tempo preconizou-se a focalização da ação do

Estado em aspectos de regulação do sistema como o controle de custos, a

promoção da eficiência no uso dos recursos, a descentralização dos processos de

decisão, o estímulo à privatização da provisão, entre outros(GIRARDI,1999).

Segundo o Relatório sobre Políticas de Desprecarização das Relações de

Trabalho no SUS(2003), a precarização do trabalho faz parte de um conjunto de

tendências muito fortes da economia as quais, em última instância, decorrem do

processo de globalização. De um modo geral, o tema da precarização do trabalho

costuma ser discutido em conjunto com a questão da flexibilização das leis

trabalhistas.

No caso do setor saúde, a precarização dos vínculos de trabalho no

setor público tem algumas particularidades, que decorrem da desestruturação

do Estado e de suas carreiras, ocorrida na última década do século passado e

das consequências impostas pelo contexto de restrição fiscal e orçamentárias

do Governo Brasileiro.

Por trabalho precário entendemos aquele que é exercido na ausência

dos direitos trabalhistas e de proteção social, ou seja, o que é desprovido da

devida cobertura por normas legais e que não garante os benefícios de

segurança e qualidade de vida ao trabalhador, que inclui, entre outros, a

aposentadoria, o gozo de férias anuais, décimo-terceiro salários, coberturas por

acidentes de trabalho e as licenças remuneradas de diversos tipos (SUS,

2003).l

De acordo com o Relatório citado anteriormente, o aumento do número

de pessoas que se encontram em condições de trabalho precário no SUS, nos

últimos anos, tem preocupado bastante os gestores e lideranças dos

trabalhadores do setor. Estão envolvidos trabalhadores que são contratados

diretamente pelo órgão público mediante um vínculo temporário ou informal

que se renova sistematicamente; ou ainda, trabalhadores que se incorporam à

força de trabalho do setor público por meio de entidades terceirizadas tais

como cooperativas e atuam como se fossem autônomos.

Conforme o Relatório, os dados oficiais estão longe de poder detectar

claramente os tipos e o percentual de postos de trabalho do SUS que se

enquadram nessas condições de precariedade. Alguns inquéritos foram

realizados para identificar a proporção deste problema nas secretarias

municipais de saúde, nos hospitais e no Programa de Saúde da Família, mas

não se dispõe de um quadro completo da situação nacional. O que é sabido é

que a precariedade do trabalho alcança desde o Agente Comunitário de Saúde

até o médico especialista.

A precarização do trabalho está presente, com características e

incidências diversas, nos três níveis de governos(federal, estadual e municipal).

Praticamente nenhuma instituição pública vinculada ao SUS pode se vangloriar

de não abrigar trabalhadores em situação de precariedade.

A Constituição de 1988 consagrou o modelo estatutário para os

servidores

públicos, posteriormente regulamentados pelo Regime Jurídico Único (RJU),

obrigando também sua adoção pelas autarquias e fundações, ao mesmo tempo

em que extinguiu a alternativa de vinculação celetista, praticada amplamente,

até então, em vários setores governamentais. Esse modelo foi seguido por

estados e municípios, que também sufragaram a relação estatutária do

trabalho no setor público.

A partir da segunda metade da década de 90, entretanto, devido às

propostas de reformas estruturais do Estado que entraram em discussão,

conduzidas principalmente pelo então Ministério da Administração e Reforma

do Estado (MARE), presenciou-se o surgimento de idéias contrárias ao

processo de vinculação dos servidores pelo regime estatutário.

A promulgação da Emenda Constitucional Nº 19 de 1998 deu nova

redação ao art. 37, flexibilizando a forma de vínculo de trabalho na

administração pública. Dessa forma, viu-se o surgimento no país de uma

política que colocava o modelo estatutário, cada vez mais, não como um

modelo apropriado e único para todos servidores públicos, mas aplicado

apenas àquelas funções inerentes ao próprio Estado, ou seja, funções

consideradas do “núcleo estratégico” de Estado, reservado aos funcionários

que exercem funções regulatórias e administrativas de alto nível, como definido

na proposta de reforma do Estado pelo Ministro Bresser Pereira.

Nesta nova concepção, a Saúde não foi considerada núcleo estratégico

de Estado, mas sim, como fazendo parte das funções “não exclusivas de

Estado”. Ao longo dos anos 90, passou-se a adotar no SUS a política da

flexibilização e da precarização das relações de trabalho, adotando diversas

modalidades de vinculação. Tal política preconizada pelo Governo Federal

acabou sendo seguida em boa parte dos estados e municípios, provocando um

enorme processo de precarização do trabalho no SUS.

Atualmente, como conseqüência desse processo, um grande

contingente de profissionais do setor público de saúde, que é calculado em,

aproximadamente, 800 mil trabalhadores estão precarizados, o que equivale a

quase 40% da força de trabalho inserida no setor, envolvendo as mais diversas

modalidades contratuais: cooperativas, sistemas de bolsas de trabalho,

contrato temporário, pagamento por reconhecimento de dívida, prestação de

serviços por meio da CLT, etc. Todas essas modalidades de relações precárias

de trabalho, além de contrariarem os preceitos constitucionais previsto no art. 6

da Constituição Federal, colocam em franca situação de desconforto e de

insegurança trabalhista e social, aqueles que prestam assistência à

população(SUS,2003).

À exceção do regime celetista, que assegura garantias trabalhistas ao

trabalhador, as demais formas de contratações constituem mecanismos

precários de contratação. Mesmo o contrato pelo regime CLT, quando

temporário, não representa para o Sistema de Saúde e nem para o trabalhador,

sinônimo de trabalho com garantias, uma vez que o mesmo poderá ser

interrompido, prejudicando, em muitas vezes, a continuidade das atividades de

saúde. Situação ainda mais grave é que, na ausência de servidores públicos

efetivos nos locais de trabalho, esses prestadores de serviços passam a ser

responsáveis não só pelas atividades assistenciais, como também pela própria

gerência das Unidades de Saúde, sob contrato de gestão com o gestor público,

como ocorre com algumas cooperativas.

O Problema da Terceirização:

Segundo Girardi(1999), a chamada "terceirização" figura entre os

problemas que extrapolam o campo dos recursos humanos, como problema

específico de regulação do trabalho ou das profissões para situar-se, nos dias

de hoje, no cerne da problemática da gestão dos serviços de saúde.

Uma série de manifestações disfuncionais que se apresentam aos

gerentes dos serviços e sistemas de saúde como a proliferação dos contratos e

da burocracia para sua administração; o crescimento da concorrência e dos

conflitos entre grupos; a diminuição da disposição à cooperação entre

profissionais e especialidades entre o trabalho e a gerência; as crescentes

dificuldades dos diretores e gerentes de serviços em gerenciarem a qualidade

técnica e ética do trabalho profissional pela proliferação de núcleos atomizados

de mando e decisão; a diminuição da participação e a perda do interesse dos

trabalhadores na missão dos serviços de saúde; o descompromisso com a

continuidade e a integralidade dos cuidados de saúde e a desumanização do

atendimento aos usuários; entre outras; decorrem, em larga medida, da relativa

escassez de critérios e a forma desordenada como vem sendo conduzida a

terceirização dos serviços de saúde.

Estas situações produzem crescente insatisfação dos usuários com

relação à qualidade e a resolutividade dos serviços de saúde.

O problema da terceirização como questão importante entre as relações de trabalho se deve a dois motivos. Em primeiro lugar por que a terceirização, nas suas diferentes formas, foi a resposta que a doutrina neoliberal encontrou para escapar da pressão dos custos indiretos do trabalho, sob o argumento de proporcionar mais eficiência e vantagens competitivas para os estabelecimentos. Em segundo lugar, a terceirização demandou processos de reforma flexibilizadora dos sistemas de relações de trabalho e regulação profissional que necessitaram se adaptar às formas emergentes de propriedade e controle dos empreendimentos setoriais que a terceirização tratava de revelar.

Nesse sentido a aparente solução da terceirização colocou problemas graves que requerem, até hoje, mudanças nos sistemas de regulação das relações de trabalho e das profissões.

Segundo Girardi(1999), de uma maneira genérica, a terceirização pode ser definida como a contratação de agentes terceiros em lugar da contratação direta de empregados assalariados ou, de forma alternativa, da contratação ou "credenciamento" de autônomos, para provisão de serviços profissionais ou qualquer outro tipo, dentro de uma organização. Estes agentes terceiros podem funcionar simplesmente como intermediários na oferta de força de trabalho à instituição contratante, como é o caso das

agências de emprego, ou podem proporcionar-lhes um pacote inteiro de serviços.

Em todo processo de terceirização o que se estabelece é uma relação contratual entre um principal (contratante) e seu agente (o contratado) na qual o segundo age em nome e por determinação do primeiro. A existência de conflitos de interesses entre as partes contratantes torna necessário o estabelecimento de todo um conjunto de normas para definir as regras contratuais bem como para efetivar seu cumprimento e repactuar, quando necessário, os termos do contrato.

O processo de terceirização nos serviços de saúde, inicialmente esteve

localizado em funções de apoio operacional, serviços gerais e administrativos,

serviços de hotelaria e outros considerados não essenciais, bem como

algumas áreas de apoio diagnóstico e terapêutico.

O aumento da produtividade e da eficiência na produção de serviços, via transferência dos custos dos passivos trabalhistas e da administração dos conflitos para os agentes terceiros contratados se colocava entre as principais vantagens comparativas da terceirização. A delegação de funções não essenciais a terceiros permitia que a gerência se ocupasse mais integralmente dos temas de excelência do setor em questão o que trazia ganhos de qualidade.

Inicialmente, o que ocorria era apenas a transferência de obrigações

com o passivo trabalhista do contratante (principal) para o contratado (agente)

diminuindo-se, no curto prazo, o problema da desproteção social do trabalho

que somente veio a se apresentar de forma considerável com o passar do

tempo.

Hoje, este quadro está bastante mudado. A terceirização ganhou espaço e já atinge, de forma crescente, áreas antes protegidas, como os serviços profissionais especializados e essenciais, a gerência dos serviços e inclusive a gestão financeira(Girardi,1999).

É cada dia mais evidente as diferenças entre, a terceirização via

subcontratação de pequenas empresas de profissionais liberais, cooperativas

de profissionais e profissionais organizados em rede - nas quais os

participantes são cotistas, co-proprietários ou parceiros - e a terceirização via

contratação de serviços temporários e agências de emprego - onde persiste a

clara distinção entre proprietários e empregados.

A terceirização via subcontratação de empresas, tende a incorporar os custos indiretos do trabalho, inclusive das demissões e esta é a vantagem comparativa que oferecem às empresas contratantes com relação à alternativa da relação salarial. A terceirização via contratação de cooperativas, transfere para cada um dos trabalhadores o financiamento de sua proteção em termos de benefícios e proteção social do trabalho.

Outro aspecto de grande relevância para a análise do processo no setor saúde é a diferenciação entre a terceirização do trabalho e dos serviços profissionais e a terceirização da gestão financeira e da gestão dos serviços.

Embora em ambos os casos o que se estabeleça é uma relação entre um principal (o contratante) e seus agentes (os terceiros contratados), os instrumentos e mecanismos de regulação e as implicações da desregulação são bastantes diferentes em cada caso. Pode-se dizer que os processos de mudança e reforma dos sistemas de

saúde não constituíram fato isolado, estando em geral associados a esforços

globais de ajuste econômico e reorientação das relações entre o Estado e a

sociedade implementados nos diversos países num contexto marcado por uma

crise que tem três aspectos.

No plano econômico, pela combinação das crises fiscal-financeira do

Estado e da dívida externa; no plano político, pela chamada transição para a

democracia experimentada pelo país a partir de meados da década de 80; e no

plano administrativo pela generalização da crença de crise do modo de

intervenção burocrático do estado caracterizado pela rigidez dos

procedimentos e pelo excesso de normas e regulamentações.

A transição democrática, mesmo numa situação de enfraquecimento dos

sindicatos, tendeu a favorecer a proliferação de demandas de universalização

das políticas sociais pressionando a elevação dos gastos públicos.

Por seu turno, a combinação das crises econômica e fiscal, determinaram

severas restrições ao crescimento dos gastos do Estado e impuseram a

adoção de soluções custo-efetivas na maior parte das vezes bloqueadas pelo

modelo burocrático de intervenção do Estado no setor.

Segundo Girardi(1999), a reforma setorial da saúde coincidiu com um

cenário de múltiplas reformas institucionais: a reforma da seguridade social, a

reforma administrativa do Estado, a reforma educacional, a reforma do

emprego e etc. Sendo por estas diretamente influenciada.

Apesar das especificidades de cada um destes processos pode-se dizer

que eles têm em comum:

1- O apelo aos mercados, quer dizer, a preferência por escolhas descentralizadas, tomadas por agentes mais ou menos autônomos coordenados em suas decisões pelos mecanismos auto-reguláveis da oferta e da procura e dos preços - em detrimento do planejamento centralizado e da oferta definida pelas agências centrais dos governos;

2- O apelo à eficiência na entrega dos serviços, quer dizer, a preferência por arranjos que otimizam soluções custo-efetivas em detrimento de arranjos beneficistas que representaram em muitas ocasiões as opções do passado para aquelas regiões ou zonas da economia caracterizadas pela existência de falhas de mercado ou para a produção de bens públicos como é o caso da saúde, da educação e do emprego, entre outras;

3- O apelo à flexibilidade em detrimento de arranjos institucionais formais de maior durabilidade temporal e com maiores "obstáculos" para ajustes mais imediatos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Segundo Alves(2000), a classe trabalhadora vem se degradando face ao aumento do processo de precarização do trabalho. Para o autor, o surgimento destas modalidades de terceirização e subcontratação representa mais uma arma do capital para aumentar sua rentabilidade às custas da exploração dos trabalhadores.

Para Girardi (1999), os problemas modificam de acordo com os diferentes tipos de processo de terceirização. Nas Instituições onde os processos de terceirização avançaram, para além da terceirização dos serviços e da força de trabalho, atingindo a própria gestão e gerência dos serviços e mesmo a gestão e a gerência de recursos (inclusive financeiros, tecnológicos e da informação), identificou-se problemas peculiares a esse tipo de terceirização.

Pode-se dizer que o grau de preocupação com o problema da

terceirização está relacionado com seu escopo de abrangência, conforme visto,

mas também com a capacidade que a Instituição ou setor tenham com o seu

manejo.

No caso do Brasil, os problemas da terceirização na área da saúde são crescentes, seja no setor privado conveniado com o SUS, onde o processo já é antigo mas, muito discretamente regulado e em muitas áreas mesmo desregulado; seja no setor público, que para fugir ao formalismo e à rigidez das normas de contratação e remuneração, tem ensaiado formas de terceirização que muitas vezes se situam na informalidade e mesmo na ilegalidade(SUS,2003).

Os hospitais privados, os do segmento filantrópico e beneficente conveniados do SUS, ao invés de contratar médicos sob o regime salarial ou de utilizar a tradicional alternativa de vinculação do profissional como autônomo, têm demonstrado crescente preferência pela

terceirização. Com a proliferação dos seguros, planos e convênios, os hospitais têm estimulado a que os médicos se organizem sob a forma de sociedades de cotistas (micro e pequenas empresas de profissionais liberais) e cooperativas médicas - entre outras formas institucionais.

Girardi (1999) assinala que no setor público, a contratação de serviços

via cooperativas de profissionais de saúde vem sendo largamente utilizada

como alternativa para fugir à rigidez das normas que regulam a contratação e

remuneração do trabalho, figurando nos dias de hoje, no cerne da problemática

da gestão dos serviços de saúde.

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METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa descritiva, com abordagem qualitativa, realizada

junto a trabalhadores sob vínculos precários de relações de trabalho, cuja

modalidade de contratação é a Cooperativa, dentro de uma Unidade Pública

Federal de Saúde, no âmbito do município do Rio de Janeiro.

Este estudo, inicialmente, apresenta os dados de faixa salarial, etária, sexo

e profissão, de 112 trabalhadores lotados no Serviço de Enfermagem, obtidos

junto ao Departamento Pessoal da Unidade. Em seguida, atendendo aos

pressupostos de uma abordagem qualitativa da pesquisa, propomos ao grupo de

112 trabalhadores do Serviço, o preenchimento voluntário de um questionário.

O objetivo das perguntas foi obter informações relativas à sua percepção

sobre a precariedade de seu vínculo de trabalho e seus impactos sobre a sua

saúde.

O Instituto Fernandes Figueira foi criado em 1924, por Carlos Chagas e pelo fundador da Sociedade Brasileira de Pediatria, o médico Antônio Fernandes Figueira, foi incorporado à Fundação Instituto Oswaldo Cruz – Fiocruz, em 1970. O Instituto é um pólo gerador e difusor de tecnologias, além de Centro de Referência para o Município e para o Estado do Rio de Janeiro, em Genética Médica, Neonatologia de Alto Risco, Patologia Perinatal e Doenças Infecto-Parasitárias Pediátricas.

Por se tratar de um instituto, reúne as atribuições de um hospital e de um Centro Científico, realizando atividades de pesquisa, ensino e assistência à saúde da mulher, da criança e do adolescente.

Preencheram o questionário, dentre enfermeiros e

técnicos em enfermagem, 18 trabalhadores lotados no Serviço

de Enfermagem. A opção pelo Serviço de Enfermagem se deu

em função de que este Serviço demanda o maior quantitativo

de pessoal cooperativado, a saber; dos 194 trabalhadores sob

regime de cooperativa, 112 exercem suas funções no referido

Serviço.

Julgamos importante informar alguns problemas

encontrados na aplicação dos questionários. Tais problemas

relacionam-se ao concurso público realizado pela Instituição, a

fim de reduzir os quadros de trabalhadores precários. Vários

desses profissionais que não conseguiram aprovação no

referido concurso negaram-se a preencher o questionário, pela

revolta à iminência da demissão.

Além disto, a chefia do Serviço de Enfermagem, não

dispôs de tempo para acompanhar a aplicação dos

questionários, pois, encontrava-se envolvida na tarefa de

receber os novos concursados.

Esses problemas, além de acarretarem um atraso

superior a cinqüenta dias, entre a entrega dos questionários e

o seu recebimento, contribuiu, por razões de natureza

subjetiva, para que somente 18 pessoas se dispusessem a

preencher o referido questionário.

O critério de inclusão foi:

- Trabalhar sob a modalidade de cooperativa no Instituto

Fernandes Figueira,

- Estar lotado no Serviço de Enfermagem e

- Aceitar participar da pesquisa, preenchendo o questionário e

o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

A coleta de dados foi realizada por meio de questionário, a fim de captar

as percepções desses trabalhadores, segundo sua atividade, acerca do

processo de precarização das relações de trabalho e seus reflexos sobre sua

saúde. Por fim, com vistas a responder ao primeiro dos nossos objetivos

específicos, nos baseamos em informações teóricas expressas no segundo

capítulo deste trabalho, para discutir sobre aspectos político, administrativos e

econômicos que contribuíram para a contratação desses profissionais sob o

vínculo de trabalho precário.

A interpretação qualitativa dos dados de pessoal cooperativado, que se propôs a

preencher o questionário, foi feita através de duas perguntas, de natureza subjetiva. A primeira, a fim de percebermos a apreensão desses trabalhadores sobre o processo de precarização das reIações de trabalho. A outra, para percebermos o seu entendimento dos reflexos desse processo sobre a sua saúde.

Esclarecemos que para os salários e idade, estabelecemos faixas, a fim de facilitar a confecção e interpretação das tabelas. No caso dos salários; criamos quatro faixas: a primeira, para salários abaixo de R$500,00; a segunda, para salários entre R$500,01 e R$1.000,00; a terceira, para os salários situados entre R$1.000,01 e R$1.500,00. Por fim, a última faixa, para os salários acima de R$1.500,01.

No caso das idades, também mantivemos quatro faixas. Na primeira faixa estão as idades abaixo de 25 anos; na segunda, as idades entre 26 e 35 anos; seguida da terceira faixa, cujas idades situam-se entre 36 e 45 anos. Por último, encontram-se as idades acima de 46 anos.

A discussão sobre as variáveis constituir-se-ão em elementos que

ajudarão a encontrar respostas às indagações feitas nos objetivos específicos,

entendendo como essa Instituição, nas suas diferentes formas de utilização da

mão-de-obra se inclui no atual processo de relações precárias de trabalho face

à redefinição, do modelo de Estado neoliberal, em relação à organização social

da produção e do trabalho.

Espera-se, como resultados, através desses questionários, diversas

percepções acerca do trabalho precário que revelem, em parte, a

complexidade das influências sobre a saúde dos trabalhadores na atual fase de

reorganização social da produção.

Diante da dificuldade de dimensionar, por meio de instrumental

estatístico, as implicações do processo de precarização do trabalho sobre a

saúde, bem como a compreensão desses trabalhadores sobre o universo das

inter-relações entre economia, trabalho e saúde; optamos por utilizar a

Economia Política de viés marxista, como uma ferramenta metodológica que

fornecesse subsídios para analisar este estudo.

Thompson (1995), ao interpretar o pensamento marxista entendeu que o

materialismo, enquanto concepção filosófica, assume a premissa de que toda a

existência se manifesta enquanto matéria em movimento. Desta forma, os

processos sociais, não são idéias abstratas, mas reais e específicos, em lugar

e tempo determinados, sob condições particulares de existência e em processo

de mudança permanente.

Com base na interpretação do autor assumimos que há um mundo

formado por pensamentos e idéias, compondo o mundo simbólico, capaz,

através da interação prática, de apreender o mundo concreto, compreendê-lo e

agir sobre ele, transformando-o. Mas também pode mistificá-lo, encobrindo as

causas reais, concretas, materiais da persistência de desigualdades sociais.

A opção pela utilização da economia política de viés marxista como uma

ferramenta de análise se dá em função da necessidade de melhor

compreender o sistema de idéias dominantes, a cada época, como dependente

e derivado das condições econômicas e das relações sociais de produção.

Nesse sentido, os dados foram interpretados como transformações

históricas do processo produtivo, bem como suas técnicas de controle e

apropriação da força de trabalho. Pois, na verdade, assumimos que não

existem verdades universais, neutras nem atemporais. As representações da

verdade são ideológicas, ou seja, pretendem legitimar e manter sistemas

sociais que se apóiam na exploração da maior parte da humanidade para

assegurar o privilégio de uma elite dominante (THOMPSON,1995).

ASPECTOS ÉTICOS

Esta pesquisa, na sua fase de aplicação dos questionários aos

trabalhadores sob relações precárias na Instituição, foi executada com o devido

esclarecimento, mediante leitura e posterior assinatura de autorização do

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE.

Cabe informar que o projeto de qualificação que precedeu à presente

pesquisa foi devidamente submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa – CEP,

do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva – IESC, da Universidade Federal do

Rio de Janeiro – UFRJ, sob o nº de processo 30/2006 e parecer nº 69/2006.

Portanto, o trabalho que ora se apresenta está em conformidade com a

Resolução CNS 196/96.

RESULTADOS

O Instituto Fernandes Figueira, cujos trabalhadores sob vínculos precários constituem-se em sujeito desta dissertação, contava, em 30 de Julho de 2006, com a seguinte distribuição de pessoal:

- 659 servidores estatutários - 191 trabalhadores por empresa - 194 trabalhadores terceirizados por cooperativa

Como vemos, na ocasião da pesquisa,

58,42% da força de trabalho da Instituição era composta por trabalhadores não pertencentes ao quadro funcional da União. Dos 194 trabalhadores terceirizados por cooperativa, 112 trabalhavam no Serviço de Enfermagem, na ocasião da pesquisa, representando mais da metade do grupo de profissionais sob essa modalidade. Por isso, decidimos desenvolver a pesquisa dentro do Serviço de Enfermagem.

De agora em diante, trataremos apenas do grupo de 112 trabalhadores, terceirizados por cooperativa.

No presente estudo foram observadas as variáveis de sexo, faixa salarial, faixa etária e ocupação.

Para facilitar a análise da faixa salarial e etária, definimos quatro faixas, explicadas na metodologia do presente trabalho.

Segue abaixo, as tabelas de distribuição dos trabalhadores terceirizados por cooperativa, lotados no serviço de enfermagem do Instituto Fernandes Figueiras.

Tabela 1: Distribuição por Sexo SEXO FREQUÊNCIA PERCENTUAL

FEMININO 102 91,07%

MASCULINO 10 8,93%

TOTAL 112 100%

Fonte: Departamento Pessoal/Fiocruz-MS De acordo com a tabela acima, trata-se de

um grupo cuja força de trabalho feminina, com 91,07%, predomina em relação à masculina, com 8,93%.

Tabela 2: Distribuição por ProfissãoPROFISSÃO FREQUÊNCIA

ENFERMEIRO 31

TÉCNICO EM ENFERMAGEM 70

INSTRUMENTADOR CIRÚRGICO 06

TÉCNICO EM RADIOLOGIA E IMAGENOLOGIA 05

TOTAL 112

Fonte: Departamento Pessoal/Fiocruz-MS

O grupo é composto de 31 enfermeiros, 70 técnicos de enfermagem, 06 instrumentadores cirúrgicos e 05 técnicos em radiologia e imagenologia.

Tabela 3: Distribuição por Faixa Salarial FAIXA SALARIAL FREQUÊNCIA

ABAIXO DE R$500,00 0

R$500,01 A R$1.000,00 82

R$1.000,01 A R$1.500,00 0

ACIMA DE R$1.500,01 30

TOTAL 112

Fonte: Departamento Pessoal/Fiocruz-MS

Como podemos observar, na tabela 3 encontramos registros de 82 trabalhadores na faixa salarial entre R$500,01 e R$1.000,00 e de 30, na faixa salarial acima de R$1.500,01. Não há registros de trabalhadores nas faixas abaixo de R$500,00 e de R$1.000,01 a R$1.500,00.

Tabela 4: Distribuição por Faixa EtáriaFAIXA ETÁRIA FREQUÊNCIA

ABAIXO DE 25 ANOS 3726 a 35 ANOS 4536 a 45 ANOS 23ACIMA DE 46 ANOS 07TOTAL 112

Fonte: Departamento Pessoal/Fiocruz-MS

Observando-se a distribuição desses trabalhadores por faixa etária, identificamos 37 trabalhadores com idade abaixo dos 25 anos, 45 situados entre 26 e 35 anos de idade, 23 na faixa dos 36 aos 45 anos. Por fim, somente 7 trabalhadores com idade superior a 46 anos. Passaremos aos resultados qualitativos, obtidos através da aplicação de um questionário, voluntariamente respondidos por 18 trabalhadores do Serviço de Enfermagem.

A primeira pergunta, tem por objetivo percebermos qual a percepção desses trabalhadores sobre as relações de trabalho precárias. A segunda, a intenção de captar como esses trabalhadores associam os danos a sua saúde com o trabalho sob vínculo precário. Por se tratar de duas perguntas de natureza subjetiva, vamos transcrever as respostas da maneira como foram respondidas.

PERCEPÇÃO SOBRE O TRABALHO PRECÁRIO:

1) “...o trabalho precário é ainda muito encontrado, apesar de tantas leis. As necessidades e falta de oportunidades nos faz aceitar, mesmo sabendo dos prejuízos e da insegurança...”

2) “...acho que o trabalho precário é um método muito inseguro e estressante, pois, nós cooperados não temos direitos do trabalhador, principalmente a longo prazo...”

3) “...é ruim, pois, trabalhar sem estar amparado pela lei ficamos à mercê da sorte, pois, ao adoecer não temos a quem recorrer...”

4) “...não é o ideal, porém, quando não se encontra uma oportunidade com direitos recorremos a uma cooperativa, que nos emprega imediatamente...”

5) “...vamos analisar a situação: o profissional que se vincula ao trabalho precário, por falta de opção, tem consciência que pode ficar doente um dia, mas se afastar do trabalho no fim do mês não tem salário. Se um filho, mulher ou mãe ficar doente, o trabalhador nem pode pensar em tirar alguns dias para ficar em casa com o seu ente querido...”

6) “...é uma falta de respeito, por que não temos nenhum valor...”7) “...esse vínculo só contribui para que os trabalhadores da área de saúde

se acomodem, mesmo sabendo que a qualquer momento podem perder o trabalho e sair do mesmo jeito que entrou, quer dizer, sem nada, desetruturado física e psicologicamente...”

8) “...não temos hora para sair e, em quase todos os plantões só almoçamos às 14:00h ou 15:00h ...”

9) “...é horrível, pois dá uma sensação de insegurança e muito desconforto...”

PERCEPÇÃO DOS DANOS À SAÚDE RELACIONADOS AO TRABALHO PRECÁRIO:

1) “...o trabalho precário gera um estresse excessivo, pelo mêdo. Também uma sensação de inferioridade...”

2) “...percebo que a insegurança que vivo gera problemas fisiológicos e emocionais à minha saúde...”

3) “...tenho enxaquecas com freqüência, insônia, prisão-de-ventre e dor na coluna, acho que é pelo nervoso...”

4) “...sinto-me diminuído em relação à equipe, a chefia e etc ...”5) “...tenho tendinite e dor na coluna, mas mesmo assim tenho que vir

trabalhar todo dia...”6) “...cansaço devido à sobrecarga horária, varizes internas e

hipertensão...”7) “...falta de estímulo, taquicardia e obesidade. Deve ser perda da auto-

estima...”

Os resultados quantitativos e qualitativos apresentados serão analisados, com mais profundidade, no capítulo dessa dissertação destinado à discussão.

DISCUSSÃO

Talvez, nos dias de hoje, o maior desafio a ser enfrentado é equacionar desenvolvimento social e econômico sem ceder às imposições de um modelo de Estado que aprofunda as desigualdades sociais, excluindo dos benefícios desse desenvolvimento, a cada dia, parcelas maiores da sociedade.

No Brasil, a adesão a esse modelo tem provocado um processo de

pauperização nos trabalhadores já integrados ao mercado formal de trabalho e,

naqueles que fora dele estão, observa-se como porta de entrada os vínculos

laborais à margem da legalidade, marcando assim a sociedade trabalhadora pela

insegurança, instabilidade, degradação das condições materiais de vida e

ausência de mecanismos de proteção social (ABRAMIDES e CABRAL, 2003).

Esse processo, que deve ser entendido como mais uma arma do Capital

para aumentar a sua rentabilidade às custas da exploração dos trabalhadores, tem

construído novas identidades, geradas em torno da nova organização social da

produção e do trabalho, configurando, em toda a sua complexidade, uma nova

questão social que deveria estar na agenda dos governos ( ALVES, 2000).

Segundo Sobrinho et al (2005), as características do trabalho em saúde e as formas de inserção dos profissionais desse setor no mercado de trabalho apontam para a urbanização, especialização, redução da remuneração, multiplicidade de vínculos empregatícios, participação crescente de mulheres na categoria, elevada número de plantões entre as formas de trabalho, informalização crescente das relações de trabalho. Isso indica que o mercado de trabalho no

setor saúde, no Brasil, vem reproduzindo a tendência geral da economia contemporânea de utilizar, cada vez mais, o expediente da flexibilização da contratação da força de trabalho.

Cerca de 30% da força de trabalho do SUS têm vínculos de trabalho de relações

precárias. Essa situação torna-se mais evidente ao longo dos anos 90, o que reflete

negativamente na qualidade dos serviços ofertados à população demandatária e na

regularidade do trabalho do profissional (JAEQUER ET AL., 2004).

As repercussões na saúde desses trabalhadores é percebida de

diversas maneiras, afetando os trabalhadores formalmente inseridos no

mercado, mas sobretudo, refletindo-se no grande contingente de

trabalhadores informais, em contínua expansão (OLIVEIRA, 1998).

Diante dessa constatação surgem duas questões a serem discutidas: A

percepção desses profissionais acerca do processo de precarização e os

reflexos desse processo em sua saúde.

Os resultados a serem discutidos têm como cenário as limitações de

uma Unidade Pública de Saúde, onde foram desenvolvidas as pesquisas

desse trabalho. Também são limitados para uso como elemento para dar

respostas a qualquer questionamento a ações trabalhistas ou previdenciárias.

Portanto, representam uma fotografia de um determinado momento,

primeiramente para um grupo de 112 trabalhadores e, depois, para 18

voluntários que responderam, com vistas a atender a proposta de abordagem

qualitativa expressa em nosso projeto.

Como assinalamos anteriormente, nossa pesquisa é uma fotografia da

realidade dos trabalhadores de uma Unidade Pública de Saúde. Portanto,

inicialmente apresentamos as características desse grupo de trabalhadores,

tais como; sexo, profissão, faixa etária e faixa salarial. Entretanto, em nossa

pesquisa, alguns resultados, quantitativos e qualitativos, tornaram-se

relevantes e serão aqui discutidos.

O grupo que se constitui em sujeito dessa pesquisa é composto,

majoritariamente, pelo sexo feminino. Talvez, essa composição tenha sua

explicação em função da orientação assistencial da Unidade ser no campo

materno-infantil de assistência à saúde da mulher, da criança e do

adolescente. Mas, podemos entendê-la também como uma tendência geral da

doutrina neoliberal em se apropriar da força de trabalho feminina,

incorporando contingentes femininos no mundo operário, através do

pagamento de salários baixos, trabalho de tempo parcial, temporário e

precário; uma vez que, em função das circunstâncias sociais, a mulher tem

assumido funções de chefe do lar, vendendo sua força de trabalho no

mercado.

Esse incremento feminino no contingente da força de trabalho é um

traço marcante das transformações em curso no mundo do trabalho. Hoje, a

presença feminina em diversos setores da economia, onde no passado

predominava a presença masculina, caracteriza uma enorme mudança na

estrutura produtiva e no mercado de trabalho, possibilitando com essa

incorporação o aumento da exploração dessa força de trabalho (ANTUNES,

2006).

Na distribuição por faixa etária, notamos que as três primeiras faixas

respondem por mais de 93% do total de trabalhadores. Consideramos

relevante ressaltar que, nas duas primeiras faixas, que representa uma

população jovem e altamente produtiva, temos 82 registros de trabalhadores.

Portanto, esse modelo de trabalho precário, além de incorporar de forma

maciça a mão-de-obra feminina, exclui os mais velhos.

Segundo Abramides e Cabral (2003), o modelo de Estado, no qual se

circunscreve, dentre outras coisas, a reorganização social da produção e do

trabalho, os jovens, ainda que com algum grau de qualificação, não têm

conseguido adentrar ao mercado de trabalho pelas vias formais, ou seja, as

formas de ingresso oferecidas são à margem da legalidade, o que no setor

saúde assume uma conotação preocupante, pois, reflete-se diretamente na

qualidade dos serviços ofertados à população demandatária dos serviços

públicos de saúde (JAEQUER ET AL, 2004).

Quando observamos a faixa salarial, há 82 registros na faixa de salário

que vai de R$500,01 a R$ 1.000,00. Se pensarmos que se trata de um grupo

jovem e majoritariamente feminino; podemos inferir que o discurso clássico da

classe capitalista brasileira, apontando o custo do trabalhador como o

impeditivo a sua contratação por vias formais é uma grande falácia.

Observamos, nesse grupo de trabalhadores, a marca da doutrina neoliberal:

precariedade do emprego e da remuneração, exploração da força de trabalho

feminina e jovem.

Tendo em vista o modelo de organização social da produção e do

trabalho anteriormente construído no interior do sistema capitalista de

produção, modelo este que visava regular as relações entre o capital e o

trabalho, por meio da mediação do Estado, buscando soluções coletivas que se

sobrepusessem à estrita relação contratual privada de compra e venda de força

de trabalho no mercado, inscrita nos moldes do contrato de trabalho

assalariado de cunho liberal típico do capitalismo em suas fases iniciais

(RIFKIN, 2004).

O que encontramos ao observar as faixas salariais e etárias, com base

no autor acima citado, permite-nos criticar o atual modelo de reorganização

social da produção e do trabalho. Pois, o Estado, através de uma política

monetária austera que reduz, dentre outras coisas, os custos com a

contratação de pessoal próprio na administração pública, subordina toda a

complexidade da prestação dos serviços públicos à lógica mercantil de venda

da força de trabalho, explorando a força de trabalho jovem e feminina, sob

formas precárias de contratação com baixos salários, a fim de manter o

sistema minimamente em funcionamento.

Quanto à percepção desse trabalhador sobre a forma de sua inserção

no mercado de trabalho, vimos pelos depoimentos que ele sabe da

inexistência de garantias sociais e trabalhistas à sua atividade profissional e,

principalmente, na exploração que é praticada no seu ambiente de trabalho

em relação aos outros trabalhadores que gozam de mais e melhores garantias

sociais e trabalhistas.

Outro aspecto importante que perpassa as respostas dos entrevistados

é com respeito à interpretação que tem do processo de precarização das

relações de trabalho. Ao meu ver, como um processo de legitimação de

relações de poder da classe empregadora sobre a trabalhadora, onde o

processo de precarização das relações de trabalho está inserido num contexto

sócio-histórico de respostas do modo de produção capitalista a um modelo

anterior, embora de base capitalista, mas que dava direitos aos

trabalhadores(THOMPSON, 1995).

Nesse sentido, acho conveniente pensarmos a “precarização” do

trabalho como algo que solapou a capacidade de organização da classe

trabalhadora e rearrumou as relações trabalhistas de maneira a conceder

amplos poderes à classe empregadora, legitimando, pela via da fragmentação

dessa classe trabalhadora, o poder do capital sobre o trabalho.

É importante ressaltar a preocupação desse trabalhador quando se

refere a sua possível condição social e material no longo prazo. Ou seja, hoje

ele tem forças para trabalhar, ainda que sem garantias sociais. Mas, no futuro,

quando não mais for útil a esse modelo de exploração da sua força de

trabalho, que mecanismos terá para sobreviver?

Ao observarmos a relação que os trabalhadores faziam entre seus

sintomas de saúde e o seu vínculo de trabalho; entendemos que, alguns dos

sintomas, como: insônia, obesidade, medo, insegurança e sensação de

inferioridade; contribuem para a construção da perda da auto-estima.

A interpretação que faço das manifestações desses sintomas de saúde

com o vínculo de trabalho, circunscrito aos moldes das atuais relações

precárias de trabalho diz respeito a aspectos subjetivos do processo saúde-

doença que, na maioria das vezes, torna difícil definir o seu nexo causal. Pois,

quando predominavam as relações de trabalho de natureza industrial, a forma

de adoecer e morrer guardava íntimas relações com o trabalho desenvolvido

pelos trabalhadores ao longo de sua trajetória laboral. Hoje, com a

predominância do setor de serviços sobre o industrial, associado à

precariedade das relações de trabalho, as doenças assumiram formas mais

subjetivas, tornando difícil associar o acometimento pela doença com o

trabalho. Se pensarmos numa possível contra-argumentação desse

empregador a um recurso judicial de um cooperativado sobre indenização

trabalhista por doença do trabalho. Quem pode afirmar, sem probabilidade de

erros que; insônia, obesidade, medo e insegurança, dentre outros sintomas

dessa natureza, foram “adquiridos” através do ambiente de trabalho nos

moldes de uma relação precária?

Nos dias atuais, o contexto sócio-histórico de produção do trabalho,

onde o trabalho precário é uma das formas de apresentação, não permite que

se afirme sobre um sintoma de saúde como exclusivo do trabalho. Pois, dada

as condições sócio-econômicas do grupo, o que garante que trabalhos outros

não sejam realizados, a fim de complementar a renda obtida no trabalho da

cooperativa?

Esse grupo de trabalhadores, reproduzindo as características gerais do

modelo de precarização do trabalho, é um grupo heterogêneo e fragmentado,

dividindo-se entre formais e informais; qualificados e desqualificados,

considerada na exata medida em que é imprescindível à reprodução do

capital, deixando claro a prevalência deste sobre a força humana de trabalho.

As conseqüências desse processo evidenciam que, sob o modo de

produção capitalista, ao contrário do que alguns possam imaginar, não se

deseja o fim do trabalho nem do trabalhador, mas mudanças qualitativas

desse último. O modo de produção capitalista necessita, por um lado, de um

trabalhador altamente qualificado; por outro, no limite das formas de

exploração, um trabalhador que mantenha apenas suas funções vitais em

funcionamento, para dar funcionalidade ao sistema (ANTUNES,2006).

Como vimos nas respostas dos trabalhadores, há consciência do nível

de exploração. Mas, essa forma de apropriação da força de trabalho busca a

adesão involuntária do trabalhador ao projeto do capital.

Portanto, a desmontagem dos direitos sociais dos trabalhadores, o

combate ao sindicalismo classista (e ajuda ao sindicalismo de resultados) e

um individualismo exacerbados, são traços marcantes desse projeto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O capitalismo, na forma como tem se configurado nas três últimas décadas

do século passado, acentuou sua lógica destrutiva. Duas delas, ao meu ver,

constituem-se em respostas do capital à sua própria crise. Primeiro, as relações

de trabalho que caracterizaram o padrão produtivo fordista, vem sendo substituída

por formas produtivas flexibilizadas e desregulamentadas. Segundo, o papel do

Estado mediador que deu sustentação ao chamado Estado de Bem-Estar Social

vem sendo, insistentemente, destruído e substituído por ações privatizantes e anti-

sociais que caracterizam o modelo neoliberal de condução do Estado.

Dentre as duas respostas do capital à crise, a primeira é mais grave, pois,

as formas precárias de trabalho e compra da força humana que, a cada dia, são

implementadas só encontram paralelo nos primórdios da Revolução Industrial.

Destrói-se a força humana de trabalho, os direitos sociais e degradam-se as

condições de vida de enormes contingentes de homens e mulheres que tem no

trabalho o seu sustento(ANTUNES, 2006).

No setor de saúde, a baixa remuneração afeta duplamente a sociedade.

Por um lado compromete a qualidade da assistência prestada aos demandatários

dos serviços públicos de saúde, por outro, desprotege das garantias sociais

mínimas aqueles que prestam os serviços à sociedade. Isto, além de um

problema de natureza monetária é um problema social e político. Social por que,

o resultado final dessa massa de trabalhadores informais recairá, no longo prazo,

sobre o sistema previdenciário. Político por que, embute uma enorme contradição

dentro do próprio modelo, que não conseguiu, através da remuneração livre

da força de trabalho, nos moldes liberais do século XIX, substituir as garantias

sociais pela econômica.

Segundo Toni (2003), no modelo anterior de organização da produção,

cujo trabalho era assalariado de vínculo formal, destacava-se, dentre as suas

características principais, o fato de ter a ele associado proteção social e

cidadania.

Portanto, a desarticulação que hoje assistimos na sociedade do trabalho,

tem seu início nos anos 70, com a crise estrutural do capital que se abateu

sobre o conjunto das economias capitalistas. Sua intensidade é tão profunda

que levou a classe capitalista a desenvolver práticas destrutivas de reprodução

do capital, em vez de alterar o modo de produção capitalista, a fim de satisfazer

as necessidades humanas.

Com base nas respostas à pergunta sobre a percepção dos

trabalhadores em relação ao trabalho precário, observamos que tem

consciência desse tipo de vínculo, a sua influência negativa na assistência aos

demandatários dos serviços de saúde ofertados pela Instituição, os reflexos na

sua atuação profissional e as conseqüências desse tipo de vínculo em relação

a sua satisfação profissional.

Como vimos, no que depender do profissional, dada a percepção acerca

do seu vínculo de trabalho, ele tem a dimensão da perda de garantias sociais e

trabalhistas, bem como da exploração da sua força de trabalho. Tem noção de

que alguns sintomas de saúde podem ter como causa as diferentes formas de

pressão a que está sujeito em seu vínculo de trabalho, que desrespeitam os

limites do seu corpo. Portanto, submete-se a esse tipo de vínculo consciente de

que é algo maior que sobre ele se impõe, não lhe restando nenhuma opção.

Segundo Mattoso (1995), essa flexibilização das relações trabalhistas e,

principalmente, da flexibilidade nas formas de contratação, não é uma coisa nova, pois

já se fizeram presente em momentos pretéritos do desenvolvimento capitalista. Mas, o

próprio autor admite que, embora estas formas correspondam a formas anteriormente

existentes de subutilização da força de trabalho, foram pouco utilizadas no período do

pós-guerra.

Segundo Cardoso e Lage (2005), essa flexibilização das leis trabalhistas

surgiu com o propósito de reativar o crescimento econômico, aumentar a

produtividade das empresas e a competitividade dos países latino-americanos

e, dessa maneira, facilitar sua adaptação às exigências da globalização.

A assistência à saúde que, no princípio, se caracterizava como atividade “artesanal”, individualizada e autônoma, transformou-se progressivamente, nos moldes do sistema de produção capitalista, em uma mercadoria socialmente valorizada. Então devemos entendê-la como a incorporação do modelo Toyotista ao campo de trabalho dos profissionais em saúde. Esses profissionais passaram a se submeter às regras desse sistema, desenvolvendo suas atividades em serviços públicos (estatais) e privados (lucrativos e não lucrativos). Dessa forma, foram submetidos às regras impostas aos demais trabalhadores de qualquer empresa capitalista, tais como: instabilidade no emprego, flexibilização, ritmo intenso de trabalho, jornadas de trabalho prolongadas. Tudo isso somado às históricas particularidades do trabalho em saúde, como aliviar a dor e o sofrimento, e ter a morte como situação rotineira (SOBRINHO et al., 2005).

Conforme expresso nos objetivos específicos deste trabalho, propusemos abordar os contextos políticos, econômicos e administrativos que dificultaram a

modernização da estrutura de carreiras e quadros de pessoal das Unidades Públicas de Saúde, empurrando-as à adoção de formas precárias de trabalho.

Entendemos que o processo neoliberal tem avançado e, independente de setores da atividade econômica, subordina toda a lógica social com seus desdobramentos e complexidade, à lógica mercantil. No setor Público de Saúde, não tem sido diferente. O contexto econômico, sob a doutrina neoliberal, impõe a restrição de gastos públicos, inclusive para contratação de pessoal; o contexto político dava subsídios a esse processo, uma vez que o país aderiu ao modelo neoliberal de gestão do Estado. Por fim, ações administrativas, como por exemplo, a extinção de quadros de carreiras dentro do funcionalismo público, serviram para acelerar o processo de não-modernização da estrutura de carreiras e terceirização das atividades laborais, uma vez que, a demanda pelos seus serviços, face à perda do poder aquisitivo da população, sofria incrementos constantes. Não havendo resposta do Governo, dentre outras coisas, com aporte de pessoal, as Unidades Públicas de Saúde adotaram formas precárias de relações de trabalho, dentre elas, a terceirização por cooperativas, cuja precariedade nas relações de trabalho são mais agudas. Pois, esse grupo oferece uma flexibilidade numérica alta que podem ser “contratados” em tempo parcial, temporário e sem garantias sociais.

Portanto, embora possam ser vistas como três variáveis distintas, elas se articulam entre si com vistas a consolidar o Estado Neoliberal.

Os autores clássicos do pensamento econômico, cada um a seu modo,

apontaram a importância do trabalho e das relações que, a partir dele, se construíram

para o entendimento da sociedade.

Entretanto, nos dias atuais, com as grandes mudanças pelas quais

passa o mundo contemporâneo, a investigação econômica e sociológica

permanece um instrumento essencial para lançar luz sobre tais mudanças e

seus impactos sociais. As profundas transformações que ocorreram no mundo,

a partir do último quartel do século passado, constituíram-se em um evento

histórico interpretado como de mesma envergadura que a Revolução Industrial

do Século XVIII.

Nesse sentido, as mudanças nas formas de organização social do

trabalho, na atualidade, constituem-se estratégias pelas quais o capitalismo

busca superar a crise do seu padrão de acumulação que prevaleceu, em

especial no período pós II Guerra Mundial, durante o qual, diferentemente do

que se observa nos dias atuais, a organização social da produção permitia uma

articulação com os movimentos dos trabalhadores, fortalecendo o Estado de

Bem-Estar Social (GITAHY e BRISOLLA,1997).

Quando olhamos o mundo à nossa volta, podemos entender seus

grandes contrastes, com indústrias despejando novos produtos e serviços em

tempo tão rápido que sequer nos permitem assimilar produtos e tecnologias

anteriores. Essas ofertas de produtos e serviços colocam o mundo ao nosso

alcance. Algo inconcebível há apenas um século. O outro lado, vagamente

mencionado pelos meios de comunicação, é diametralmente oposto, repleto de

vítimas desse progresso desenvolvimentista de base tecnológica, onde

trabalhadores vivenciam níveis crescentes de insegurança nos ambientes de

trabalho, em virtude das relações precárias a que estão submetidos nesses

ambientes. A cada dia, nos mais diversos setores da atividade econômica,

trabalhadores perdem seus empregos, submetendo-se à relações informais e

inseguras de trabalho. Enquanto outros, já adentram ao mercado de trabalho

sob essas condições(RIFKIN,2004).

Os elementos que apresentamos nos permitem indicar que há uma

tendência à fragmentação da classe trabalhadora. Por um lado, há um apelo no

sentido de qualificação dos trabalhadores, diante dos avanços tecnológicos que

foram incorporados ao setor de serviços, dentre eles o de saúde. Por outro, em

sentido radicalmente inverso, uma desqualificação presente no trabalho

precário, informal e temporário que, ao meu ver, está plenamente em sintonia

com o modo de produção capitalista, em sua lógica neoliberal.

Então, há um elemento central da crise atual que precisa ser

acrescentado. Com a grande expansão da doutrina neoliberal, a partir de fins

da década de 70 e a conseqüente crise do Estado de Bem-Estar Social, deu-se

um processo de regressão dos movimentos sindicais, que passaram a atuar

sob uma lógica de resultados, em sintonia com a agenda neoliberal. O

neoliberalismo passou a ditar o ideário e o programa a serem implementados

pelos países de economias capitalistas, inicialmente os centrais e logo depois

os da periferia do sistema. Esse ideário, dentre outras coisas, contemplava a

reestruturação das atividades produtivas, privatização acelerada, enxugamento

do Estado, políticas fiscais e monetárias definidas por organismos mundiais

como Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial (ANTUNES, 2006).

Vimos que há uma significativa incorporação do trabalho feminino nesse

setor de serviços, que somado ao já existente, expande essa classe

trabalhadora dentro de um processo de assalariamento precário que tem

reflexos sobre a família e a sociedade. Além dos problemas de organização

sindical, uma vez que, pelas características circunscritas ao trabalho precário,

os sindicatos encontram dificuldades de incorporar os trabalhadores de tempo

parcial, principalmente do setor de serviços.

Considero de fundamental importância afirmar que não acredito no fim

da classe trabalhadora, como alguns autores advogam. Para mim, a eliminação

dessa classe colocaria sob risco a própria economia capitalista, sem falar em

outras conseqüências que viriam dessa situação. Então, enquanto

permanecerem os pilares que constituem o modo de produção capitalista não é

possível prever a eliminação da classe trabalhadora. Afinal, os robôs não

podem participar do mercado como consumidores.

Portanto, a precarização do trabalho é para mim parte de um processo

complexo que pode ser resumido em três grandes eixos de reflexão. O primeiro

deles é que, em função da crise estrutural do capital acentuaram-se os seus

efeitos destrutivos. Segundo, o alvo principal desse efeito destrutivo era a

desmontagem do Estado de Bem-Estar Social. Por fim, em substituição a esse

modelo de Estado, a implementação de um o projeto econômico, social e

político de natureza neoliberal que atingisse o mundo do trabalho,

reorganizando as relações de compra e venda da força humana de trabalho.

Nesse sentido, a precarização do trabalho constitui-se, ao meu ver, num

problema de saúde coletiva. Pois, seus efeitos não se restringem somente aos

trabalhadores, mas a toda a sociedade.

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ANEXOS

Anexo I : Questionário para os Trabalhadores

Anexo II : Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

QUESTIONÁRIO PARA OS TRABALHADORES

1)Sexo: Masc. ( ) Fem. ( )

2)Estado Civil: Casado( ) Solteiro( ) Separado( )

3)Escolaridade:Superior( ) Médio( ) Fund.Completo( ) Fund. Incompleto( )

4) Percepção Sobre o Trabalho Precário:

...............................................................................................................................

.....

...............................................................................................................................

.....

...............................................................................................................................

.....

5) Percepção dos Danos à Saúde Relacionados ao Trabalho Precário:

...............................................................................................................................

.....

...............................................................................................................................

.....

...............................................................................................................................

.....

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

O Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio

de Janeiro – NESC/UFRJ, está realizando um estudo intitulado “Precarização do

Trabalho no Setor Público de Saúde, vinculado ao Ministério da Saúde –

Reflexões Sobre seus Efeitos na Saúde dos Trabalhadores do Setor”,

desenvolvido pelo mestrando Daniel de Oliveira Costa.

O objetivo deste estudo é analisar o processo de reestruturação produtiva

no setor de saúde público de saúde, identificando as percepções dos profissionais

sob vínculos precários de trabalho com o processo saúde/doença. Cabe ressaltar

que o presente estudo também pretende identificar as condicionantes político-

econômicas que contribuíram para a atual organização social da produção dos

serviços de saúde sob formas precárias de relações de trabalho.

A participação nesta pesquisa é voluntária. Os procedimentos se resumem

ao preenchimento de questionários e entrevistas gravadas, não oferecendo riscos

para a saúde dos participantes, tampouco danos à integridade física, moral ou

intelectual dos participantes. Além disso, a qualquer momento os participantes

poderão recusar-se a continuar participando da pesquisa, contactando o Comitê

de Ética em Pesquisa – CEP/NESC e o pesquisador responsável através dos

telefones: (21)2598-9328, (21)2598-9277, (21)8153-2426 e E-Mail:

[email protected].

Os dados colhidos através dos questionários individuais serão mantidos sob

absoluto sigilo, analisados apenas pelo pesquisador e sua orientadora. Quaisquer

dados que permitam a identificação dos participantes do estudo será ocultado,

entretanto, os resultados serão apresentados e validados com os sujeitos e

publicados em literatura científica especializada.

Terminada a pesquisa, será marcada uma data para apresentação dos

resultados aos participantes da mesma, a fim de que a pesquisa possa ser

divulgada amplamente.

Atenciosamente,

Daniel de Oliveira Costa

Reg. Profissional: 23.932-1/Conselho Regional de Economia - CORECON-RJ

Economista

Mestrando em Saúde Coletiva do NESC – UFRJ

Orientadoras: Profas. Dra. Anamaria Tambellini e Dra. Marisa Palácios

Eu,________________________________,RG no :_______________, certifico

que tendo lido as informações acima, concordo com o que foi exposto e autorizo

a minha participação na pesquisa.

Rio de Janeiro, ____ de _____________________ de 2006.

_____________________________

Assinatura do Entrevistado

___________________________ ________________________

Assinatura da Orientadora Assinatura do Mestrando