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A negociação coletiva no cenário municipal
pós eleições 2008
Estudo elaborado por
MARIA SILVIA PORTELA DE CASTROSocióloga - Consultora da ISP Brasil
2
Publicação da
Internacional de Serviços PúblicosISP Brasil
São Paulo, dezembro de 2008
INTERNACIONAL DE SERVIÇOS PÚBLICOS - ISP
Presidenta: Ylva Thörn
Secretário Geral: Peter Waldorff
Endereço: 45, Avenue Voltaire, BP 9, F-01211 Ferney-Voltaire Cedex, France
Telefone: + 33 (0) 4 50 40 64 64. Fax: + 33 (0) 4 50 40 73 20
Web site: http://www.world-psi.org E-mail: [email protected]
Secretário Regional das Américas: Jocélio DrummondOficina Regional da ISP
Endereço: 1100 H St NW., Suíte 650Washington, D.C. 20005, USA
E-mail: [email protected]
No Brasil
Diretor: Jesus Francisco Garcia
Representante no Comitê Mundial de Mulheres: Junéia Batista
Secretária Sub-regional: Mônica Valente
Coordenadora de Projetos: Élida Cruz
Endereço: Rua Sete de Abril, 105 – conjunto 5B - CentroSão Paulo - SP - CEP 01043-000
E-mail: [email protected]
Criação e diagramação: InformProdução Gráfica: InformTiragem: 500 exemplares
EXPEDIENTE
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ÍndiceÍndice
Objetivos ....................................................................................................................... página 04
1. Indicadores e universo da pesquisa .................................................................... página 05
2. O novo mapa político partidário na esfera municipal ......................................... página 11
3. O novo cenário eleitoral municipal e as possibilidades de realização de negociações coletivas .............................................................página 17
Conclusões ................................................................................................................... página 27
4
ObjetivosObjetivos
Realizar um levantamento dos resultados das eleições municipais brasileiras de 2008
para mapear o perfil político das administrações que instalarão a partir de janeiro de
2009, fornecendo insumos para a formulação de um plano de atuação das entidades afi-
liadas da ISP, que representam os trabalhadores e trabalhadoras do serviço público mu-
nicipal, com vistas à implementação de sistemas de negociações coletivas municipais, o
fortalecimento da organização sindical nesse âmbito e a campanha por Serviços Públicos
de Qualidade.
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1. Indicadores e universo da pesquisa
1. Indicadores e universo da pesquisa
Para definir nosso universo de pesquisa utilizamos dois indicadores: o número de mu-
nicípios existentes (suas dimensões e localização) e os partidos políticos registrados.
Os municípios brasileirosDe acordo com a estimativa do IBGE1 a população brasileira está em torno de 190 mi-
lhões de pessoas, distribuídas por 5.564 municípios, dos quais 89% (4.986) têm ate 50 mil
habitantes; pouco mais de 5% (311) têm entre 50 e 100 mil habitantes; cerca de 4,3% (231)
têm entre 100 e 500 mil habitantes e 36 cidades têm mais de 500 mil habitantes.
1 Dados de 27/1/2008 - População Estimada: 190.268.707-http://www.ibge.gov.br/home/
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fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa de Informações Básicas Municipais 2006.
Deste conjunto numeroso e fragmentado estabelecemos como universo de análise
as cidades com população acima de 50 mil habitantes, tendo em vista que os muni-
cípios menores têm orçamentos e estruturas reduzidas e, portanto, teriam muito maiores
dificuldades de absorver um processo de contratação coletiva entre a administração e o
funcionalismo municipal2.
Em seguida tratamos de averiguar como se distribuíam geograficamente esses muni-
cípios com 50 mil habitantes ou mais. Esse aspecto é importante para cruzar a informação
com o mapa eleitoral estadual. Nas grandes cidades, como por exemplo São Paulo, Rio de
Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, etc. - pesa pouco a orientação do(s) partido(s) que
2 Na grande maioria das cidades menores os reajustes de salários e benefícios se dão através de decreto administrativo aprovado pelo legislativo municipal.
Gráfi co 1Distribuição de total de municípios por número de habitantes.
7
ocupa(m) a administração estadual, tendo em vista o grau de independência dessas. O
mesmo não ocorre quando analisamos as cidades medias e menores, visto que essas têm
maior dependência de recursos e de apoio dos governos estaduais.
Resumindo: nas cidades menores e médias, poderá haver maior influência (positiva
ou negativa) do partido e/ou aliança partidária que ocupar a administração estadual, sobre
a realização de um processo de negociação coletiva entre a Prefeitura e os sindicatos de
municipais; o mesmo dificilmente ocorrerá em se tratando de cidades mais populosas e com
orçamentos importantes.
Gráfi co 2Distribuição por grandes regiões dos municípios com
mais de 50 mil habitantes
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa de Informa-ções Básicas Municipais 2006 - elaboração própria
O gráfico acima nos mostra que as regiões norte e centro-oeste têm pouco mais de
16% dos municípios do país, enquanto que sudeste e o nordeste concentram dois terços
dos mesmos. Quando analisamos a distribuição dos municípios com 50 mil ou mais ha-
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E na faixa das cidades acima de 500 mil habitantes o sudeste e o nordeste concentram
cerca de 79% dessas grandes cidades.
Gráfi co 3Municípios de 100 a 500 mil habitantes
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa de Informações Básicas Municipais 2006 - elaboração própria
Número (absoluto) de municípios de mais de
500 mil habitantesRegiões
norte
nordeste
sudeste
sul
centro-oeste
2
11
17
2
4
bitantes vemos que a concentração se acentua ainda mais no sudeste, que tem quase a
metade dos municípios com essas dimensões.
Em relação as cidades mais populosas - entre 100 e 500 mil habitantes- a concentração
é ainda maior no sudeste, que concentra a metade, seguido do sul, com 20%.
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Mas além do porte populacional é preciso destacar também a posição dos municípios
nas estruturas dos estados em que se localizam, ou seja se são cidades de interior, ou ca-
pital, ou integram as zonas metropolitanas dos mega centros. Essa distinção é importante
pois mais importante que o tamanho da cidade é sua maior ou menor proximidade com
o raio de decisão política mais importante. Não é o mesmo analisar as possibilidades de
realização de um processo de contratação coletiva em uma cidade de 100 mil habitantes
distante da capital política do estado e outra de 70 mil, mas incrustada no anel metropolita-
no. Obviamente a segunda, apesar de menor, será muito mais vulnerável e/ou influenciável
politicamente.
Universo da pesquisa - A conjugação desses três indicadores nos deu um universo de
pesquisa que abarca 578 municípios com uma população igual ou superior a 50 mil habi-
tantes, metade dos quais situados na região sudeste; 20% no sul e 18% no nordeste. Desse
total temos 36 cidades com mais de 500 mil habitantes e 26 capitais.
- Partidos políticos
Segundo o TSE, em março de 2008 estavam registrados 26 partidos políticos. De acor-
do com as fontes de imprensa e do Congresso Nacional, 16 desses partidos estavam n
base de apoio do governo do Presidente Lula - PT, PMDB, PSB, PDT, PC do B, PRB, PR,
PP, PTB, PV, PSC, PMN, PHS, PT do B, PTC e PRTB3.
3 Sendo que alguns deles fazem parte do arco de aliança política que apoia o governo Lula
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Base apoio ao atual
governo federal
PT PC do B
PMDB PV
PT do B PSC
PSB PMN
PTB PHS
PDT PRTB
PP PRB
PR PTC
Partidos de oposição ao atual
governo federal
DEM
PSDB
PSTU
PSL
PPS
PSDC
PRP
PTN
PCO
PCB
Fonte: Tribunal Superior Eleitoral- http://www.tse.gov.br, elaboração própria
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2. O novo mapa político partidário na esfera municipal
2. O novo mapa político partidário na esfera municipal
De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral-TSE, o Colégio Eleitoral de pessoas aptas
a votar nas eleições municipais realizadas em outubro de 2008, era de 128,9 milhões
de eleitores.
Para averiguar o peso eleitoral real de cada partido tomamos os resultados da votação
do primeiro turno, pois além das eleições em segundo turno terem ocorrido em apenas 76
municípios4, nos pleitos eleitorais de segundo turno sempre há uma ampliação da aliança
partidária que apóia o/a candidato/a, distorcendo, portanto seu poder real. Como podemos
ver o PMDB e o PT sozinhos tiveram cerca de 30% do total de votos.
4 Artigo 29 da Constituição Federal só estabelece a possibilidade de segundo turno para municípios com mais de 200 mil eleitores. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apenas 76 dos 5.564 municípios brasileiros poderiam ter segundo turno.
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Gráfi co 4Número de votos por partido no 1º turno
em milhões
Fonte: Tribunal Superior Eleitoral- http://www.tse.gov.br, elaboração própria
Os gráficos seguintes mostram o número de Prefeituras que cada partido vai governar
(somando os eleitos/as no 1o. e 2o. turnos) e quantos eleitores terão sob sua administração.
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Gráfi co 5Número de prefeitos/as eleitos/as por partido
Fonte: Tribunal Superior Eleitoral- http://www.tse.gov.br, elaboração própria
Somando o número de Prefeituras conquistadas pelos 16 Partidos Políticos que inte-
gram a base de apoio do governo federal, chegaremos a 2.911 municípios, cerca de 53% do
total e abarcando quase 70% do total de votantes (89,7 milhões eleitores).
O Partido Democrático Brasileiro - PMDB foi o partido que mais prefeituras conquistou
(a maioria de pequeno porte) e governará 28,8 milhões de eleitores. O segundo colocado em
número de Prefeitos/as eleitos/as foi o Partido da Social Democracia Brasileira - PSDB, que
somadas representam 17,5 milhões de eleitores, menos que o Partido dos Trabalhadores - PT,
que governará 19,9 milhões de eleitores, apesar de ter conquistado cerca de 40% menos mu-
nicípios. O quarto colocado em número de eleitores foi o Democratas - DEM (antigo Partido da
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Frente Liberal-PFL) que governará 15,9 milhões, apesar de ter vencido menos eleições que o
PP, que foi o 4o. colocado em número de vitorias. O adensamento do número de eleitores do
DEM deve-se à manutenção da Prefeitura de São Paulo (o maior colégio eleitoral do Brasil).
Gráfi co 6Número de eleitores que os partidos vão governar
Fonte: Tribunal Superior Eleitoral- http://www.tse.gov.br, elaboração própria
- Capitais e grandes centrosOs partidos de apoio ao governo federal vão comandar 20 das 26 capitais brasileiras,
sendo que o PMDB e o PT administrarão 6 capitais cada um. O PMDB foi vitorioso no Rio
de Janeiro, Salvador, Porto Alegre, Florianópolis, Goiânia e Campo Grande. E o PT venceu
em Recife, Fortaleza , Vitória, Rio Branco, Porto Velho e Palmas.
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A mesma performance repete-se nas cidades com mais de 200 mil habitantes. De acor-
do com o gráfico seguinte, 50 prefeituras de municípios com esse perfil serão administradas
por três partidos - o PT, o PMDB e o PSDB. Somente o PT encabeçará 40% das mesmas.
Gráfi co 7Prefeitos/as eleitos/as por partido nas capitais
Fonte: Tribunal Superior Eleitoral- http://www.tse.gov.br, elaboração própria
16
Fonte: Tribunal Superior Eleitoral- http://www.tse.gov.br, elaboração própria
Esses dados nos dão uma visão genérica do novo cenário eleitoral e nos indicam al-
gumas tendências do ponto de vista político, que sem dúvida podem influenciar – positiva
ou negativamente – na viabilidade de instalação de um sistema de contratação coletiva nas
esferas municipais.
Mas, seria enganoso tirar conclusões sobre as potencialidades existentes utilizando-
se apenas da análise da performance dos partidos que apóiam o governo e dos que
estão na oposição. Isto porque as alianças eleitorais, principalmente no plano municipal
atendem a critérios outros que não apenas a identidade programática. Além disso existem
diferenças entre os partidos que compõem a base de apoio ao governo, principalmente
em se tratando de temas dessa natureza – a instauração de um processo de contratação
coletiva no setor público.
Para se ter um quadro real das possibilidades e potencialidades é preciso construir outro
cenário, agrupando os partidos por sua maior proximidade política em determinados temas.
Traçar o mapa de possibilidades e dificuldades será o centro de preocupações do pró-
ximo capítulo.
Gráfi co 8Prefeitos eleitos, por partido, nas
cidades de mais de 200 mil eleitores - n°. absoluto
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3. O novo cenário eleitoral municipal e as possibilidades de realização de negociações coletivas
3. O novo cenário eleitoral municipal e as possibilidades de realização de negociações coletivas
Devido à história político-partidária brasileira, poucos os partidos políticos podem exibir
um perfil ideológico homogêneo e nem uma história mais longa de existência.
Os atuais partidos políticos são resultantes do processo de redemocratização da vida
política do país e da legislação eleitoral aprovada na Constituição de 1988, várias vezes
emendada no decorrer dos últimos 20 anos. Tanto os partidos que atuavam como “situação”,
como os que atuavam como “oposição” durante o Regime Militar se dividiram e depois se
subdividiram em vários partidos. Os antigos agrupamentos hoje estão representados pelo
PMDB, PSDB, DEM, PTB, PP e PR.
Os antigos Partidos Comunistas se legalizaram, mas para crescer tiveram que aliar-se
a outros partidos maiores. Um deles, o Partido Comunista do Brasil-PC do B pode se afir-
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5 Na oposição existem também partidos de oposição que se caracterizam por uma posição marxista, como é o caso do PSOL, do PSTU, do PCO,. Mas como não conquistaram Prefeituras, apenas elegeram vereadores, não entraram em nosso mapeamento.
mar e crescer, o outro, PPS, aliou-se ao PSDB e hoje está em vias de diluir-se completa-
mente dentro dele.
O único partido com um perfil claro e homogêneo, surgido no final do regime autoritário,
foi o Partidos dos Trabalhadores – PT que se construiu a nível nacional, criando diretórios
e núcleos em várias regiões do país e, desde 1982, apresentando candidatos em todas
as eleições – seja para o legislativo, seja para o Executivo, nos planos municipal, estadual
e federal. O coroamento desse processo foi a eleição do Presidente Lula em 2002 e sua
reeleição em 2006. Com essa trajetória o PT tem logrado um score em torno de 25% dos
votos do país. Mas o PT soube construir uma frente com partidos de origem de esquerda
ou democrática social, que tem lhe garantido mais de 30% dos votos nas eleições.
Mas esse importante coeficiente eleitoral e o capital político do Presidente Lula (que
extrapola as fronteiras de seu partido) não são suficientes para governar o país. O poder
atribuído pela constituinte de 1988 ao legislativo impede que o Executivo governe se não
tiver a maioria nas duas casas. Neste sentido o PT teve que construir um leque de alianças
mais amplo, incluindo também, partidos mais tradicionais, contra os quais se confrontou em
eleições anteriores. Esse mesmo quadro repete-se nos planos estadual e municipal.
Essas particularidades políticas e a concepção da legislação eleitoral – que está
voltado/a para o/a candidato/a e não o partido - podem tornar enganosas análises que
tomem como referência apenas o corte de partidos de situação e de oposição. Um dos re-
flexos desse quadro é a existência de profundas diferenças no interior das próprias alianças
partidárias, seja na base de apoio do governo federal, seja na oposição, ou seja os dois
agrupamentos tratados nesse estudo.5
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A legislação brasileira permite que um partido integre uma aliança eleitoral no plano
federal e faça coligações fora dessa aliança nos planos estaduais e municipais. Além disso,
no plano local, as alianças partidárias são fruto muito mais dos interesses e realidades lo-
cais, que de afinidades programáticas e ideológicas. Tudo isso torna muito elástico o progra-
ma de algumas chapas eleitorais, que tiveram que ser acordadas para derrotar candidatos/
as e/ou frentes partidárias mais conservadores.
Por isso, apesar dos partidos que integram a base de apoio do governo federal terem
obtido em conjunto uma votação tão expressiva, não significa que a concepção política
defendida pelo PT e outros partidos de esquerda, com os quais tem se aliado (PC do B,
PSB, PDT, PV, etc.) será hegemônica em todas as administrações que os partidos de apoio
ao governo federal conquistaram. Essa dificuldade será maior ainda relação aos temas do
trabalho e direitos trabalhistas.
Se fizermos uma análise aprofundada do perfil, histórico e comportamental dos 16
partidos políticos que compõem a base de apoio do governo Lula, encontraremos profun-
das diferenças em vários temas. Mesmo dentro de grandes partidos como, por exemplo, o
PMDB e –Partido Trabalhista Brasileiro - PTB, há posturas diferentes no plano regional e
sobre uma conjunto de temas. Não se pode dizer que haja uma posição semelhante entre
as diferentes administrações que serão dirigidas pelos partidos que integram a base alia-
da do governo Lula, principalmente no que se refere às colocações e posturas relativas à
modernização de um sistema de relações trabalhistas para o funcionalismo público. Mas,
se analisarmos os partidos de apoio ao governo, provenientes de correntes políticas de
esquerda e que tenham vínculos com o movimento sindical, veremos que mesmo havendo
diferenças em alguns temas políticos e econômicos, há sintonia quanto à necessidade de
se instalar um sistema de negociações coletivas entre as administrações municipais e o
funcionalismo público dessa esfera.
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Os partidos de oposição estão concentrados em uma aliança que foi a base princi-
pal do período Fernando Henrique Cardoso, um agrupamento que poderíamos classificar
de mais liberalizante e privatista, constituído pelo PSDB, o DEM (ex-PFL) e o PPS. Foi
no período de 1990 a 2002 que mais fielmente foram aplicadas as regras de ajuste liberal
determinadas pelo FMI (o mesmo organismo que contribuiu para a quebra da Argentina em
2001 e monumental crise econômica originada nos EEUU e rapidamente globalizada) para
garantir a manutenção de um alto superávit primário e o pagamento dos juros da dívida
externa. Medidas que provocaram uma profunda redução do tamanho e do papel do Esta-
do através das privatizações, da eliminação de políticas públicas essenciais e do arrocho
dos salários e benefícios dos trabalhadores e trabalhadoras do serviço público. Durante a
gestão Collor de Mello (1990/92) e FHC – as relações trabalhistas entre o governo federal e
o funcionalismo regrediram e, nos 8 anos de gestão do PSDB/PFL (hoje DEM) o funciona-
lismo público federal não obteve reajuste de salários.
Alguns dos partidos que hoje estão na base de apoio do governo Lula também integra-
ram o governo Fernando Henrique Cardoso (como por exemplo o PMDB, o PTB, o PSC,
etc). Mas se diferenciavam do núcleo partidário principal do período mencionado, no quesito
relacionado ao papel do Estado. Ou seja, muitas vezes não estiveram de acordo com as
privatizações e apoiavam uma maior participação e intervenção do Estado na gestão eco-
nômica e social do país.
Foi com base nesses aspectos que construímos os indicadores que seguem, onde
agrupamos os partidos com maior proximidade em suas políticas relativas ao estado e ao
relacionamento com os trabalhadores e trabalhadoras do serviço público municipal (utilizan-
do critérios o menos subjetivos possíveis).
Desta forma construímos o seguinte quadro:
21
Bloco 1 - Partido e/ou partidos que valorizam o papel do Estado, dos serviços públicos e são afirmativos à construção de um processo de contratação coletiva com os municipiários/as. Integrado pelos seguintes partidos – PT, PSB, PC do B, PDT e PV.
Bloco 2 - Partido e/ou partidos que são favoráveis a reforçar a estrutura e poder de inter-venção do Estado na economia, que têm pouca ou nenhuma proximidade com as teses da contratação coletiva no serviço público, mas que podem ser sensíveis às mesmas tendo em vista sua inserção num espectro político mais amplo como a base aliada que apoia o governo federal. Situamos nessa faixa os seguintes partidos: PMDB, PTB, PP, PR.
Bloco 3 - Que tem como prioridade a oposição ao governo federal, na sua maioria se opõem as políticas de reforço da estrutura e papel do Estado e que mesmo tendo alguma familiari-dade com os projetos de contratação coletiva no setor público, teriam muita resistência em aceitar um processo como esse em seu município para não reforçar o sindicalismo (que em sua maioria apóia o Presidente Lula).
Bloco 4 - Partidos que integram a base de apoio ao governo mas tem posições conservado-ras e refratarias a processos de negociação coletiva entre a administração publica (federal, estadual e municipal)
A seguir reagruparemos os dados pelos blocos mencionados.
Somando o total de municípios e eleitores vemos que o Bloco 1 será responsável pela
administração de 39,1 milhões de eleitores, distribuídos por 1.254 municípios; o Bloco 2
administrará um total de 48,5 milhões de eleitores distribuídos por 2007 municípios e o
Bloco 3 governará 35,4 milhões de pessoas, distribuídos por 1413 municípios.
A leitura desse primeiro quadro já nos aponta uma situação potencialmente favorável
ao avanço da qualidade e do formato das relações trabalhistas no plano municipal. É inte-
ressante analisar que nessa faixa de cidades vêm crescendo mais os partidos dos blocos 1
e 2. O PT foi o que mais cresceu, aumentou 359% o número de prefeituras de mais de 50
mil habitantes. O PMDB aumentou em 28%, mas o PTB diminuiu em 4,5% o número de mu-
nicípios administrados nessa faixa. Enquanto que os blocos 3 e 4 vêm diminuindo o numero
de prefeituras nessas faixas. O PSDB reduziu em 28% e o DEM perdeu 58% das prefeituras
com mais de 50 mil habitantes que administrava em 1996.
22
Por outro lado, a análise com base no universo definido para a pesquisa – ou seja pre-
feituras de municípios acima de 50 mil habitantes- temos o seguinte quadro.
Gráfi co 9Percentual do total de eleitores que cada bloco
governará em municípios acima de 50 mil eleitores
Fonte: Tribunal Superior Eleitoral- http://www.tse.gov.br, elaboração própria
Bloco 1
23
Fonte: Tribunal Superior Eleitoral- http://www.tse.gov.br, elaboração própria
Fonte: Tribunal Superior Eleitoral- http://www.tse.gov.br, elaboração própria
Bloco 2
Bloco 3
24
Fonte: Tribunal Superior Eleitoral- http://www.tse.gov.br, elaboração própria
Resumindo essa avaliação temos a seguinte situação: os partidos agrupados no bloco
1, com tendências favoráveis a possíveis negociações coletivas entre as administrações
municipais e as entidades sindicais representativas dos trabalhadores e trabalhadoras do
serviço público municipal administrará 184 municípios, ou seja 32% dos municípios acima
de 50 mil habitantes. O Bloco 2, que pode apresentar várias possibilidades de implemen-
tação avanços trabalhistas como este que analisamos, será responsável por 25% do total
do universo pesquisado. O mesmo percentual do bloco 3, mais refratário à idéia. E o bloco
mais conservador administrará apenas 12% dos municípios acima de 50 mil habitantes, o
universo de nossa pesquisa.
Bloco 4
25
Gráfi co 10
Prefeituras com mais de 50 mil habitantes
por agrupamento de partidos - 2008
Fonte: Tribunal Superior Eleitoral- http://www.tse.gov.br, elaboração própria
Os dados falam por si próprios e nos indicam uma situação bastante favorável para um
avanço no sistema de relações trabalhistas do setor público municipal. A maioria alcançada
pelo bloco 1 não quer dizer que necessariamente essas administrações promoverão a de-
mocratização e modernização das relações trabalhistas que mantêm com o funcionalismo.
Não se pode desconsiderar uma importante parte das candidaturas dos partidos do bloco
1 foram vitoriosas porque construíram alianças mais amplas num segundo turno e muitas
vezes o partido do candidato/a vencedor/a não tem maioria na Câmara Municipal, mesmo
se compondo com outros partidos, para aprovar mudanças no tema da contratação coletiva
no setor público, uma questão ainda bastante controverso.
26
No Bloco 2 há administrações gerenciadas por partidos do bloco de apoio ao governo
federal que podem ser sensíveis a essas propostas de modernização do sistema de rela-
ções trabalhistas, ou por que tenham na vice-prefeitura militantes dos partidos do bloco 1,
ou porque sejam mais sensíveis a uma influência do governo federal e/ou estadual em que
o governo esteja sob a administração de partidos do bloco 1.
Do ponto de vista das capitais e cidades importantes de algumas regiões metropolita-
nas, teremos também um quadro favorável.
O Bloco 1 administrará 11 capitais e várias cidades importantes, tais como: a maior par-
te da região metropolitana paulistana (São Bernardo do Campo, Mauá, Guarulhos, Osasco,
Diadema, etc.) e do interior do estado de SP, como por exemplo Campinas. Também nos
estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Bahia e Minas Gerais, o Bloco 1 adminis-
trará importantes cidades, seja porque integram a região metropolitana, seja porque estão
localizadas em importantes pólos econômicos. No Rio de Janeiro o Bloco 1 tem presença
forte na Baixada fluminense; na Bahia, apesar de não ter ganho a capital, administrará mu-
nicípios que integram a região metropolitana de Salvador e ao mesmo tempo concentram
pólos industriais de grande importância, como é o caso de Lauro de Freitas.
27
ConclusõesConclusões
O mapeamento realizado indica uma situação bastante favorável para os sindicatos tentarem
avançar na modernização e democratização do sistema de relações trabalhistas na esfera
da administração pública. Na esfera federal têm sido realizadas várias experiências e, pelo menos
há 4 anos, vem funcionando uma mesa nacional de negociações entre o Executivo Federal e as
entidades sindicais nacionais do funcionalismo público. Outra experiência importante, que tem
introduzido importantes mecanismos de avanço nas negociações coletivas no setor público, é a
Mesa Nacional da Saúde. Também no plano federal, mas que tem se reproduzido em vários esta-
dos. Todas essas experiências têm que ser aproveitadas e, na medida do possível, reproduzidas
nos municípios, principalmente os maiores.
Neste sentido, seria importante que as entidades sindicais nacionais filiadas a ISP, e que
representam o funcionalismo municipal, mapeassem os 184 municípios que serão administrados
pelos partidos agrupados no bloco 1 e os 147 municípios que serão governados pelos partidos
agrupados no bloco 2, verificando a existência ou não de sindicatos locais, para poder traçar uma
estratégia de organização e ação visando a regulamentação da negociação coletiva nesses muni-
cípios, que pode ser obtida através de projetos de lei municipais, decretos municipais, protocolos.
Todos instrumentos que deverão ser aprovados no legislativo municipal.
28
Neste sentido, o segundo passo que as entidades poderiam dar seria solicitar reuniões com
as direções partidárias locais (municipais e/ou estaduais) dos partidos do blocos 1 e 2 para tratar
do tema e sensibilizar as lideranças desses partidos sobre o significado de um processo de ne-
gociação coletiva entre a Prefeitura e as entidades sindicais do funcionalismo local, a importância
que esse processo pode ter, inclusive para a melhoria da qualidade de serviços e funcionamento
administrativo, etc.
Seria interessante traçar-se uma ordem de prioridades em função da composição político
partidárias das administrações-alvo e o relacionamento com os sindicatos, porque os avanços se
constroem com vitórias. O efeito demonstração funciona bem na propaganda e na política também.
Obviamente essas considerações não podem significar restringir a ação sindical a apenas esse
universo de pouco mais de 300 municípios. A dificuldade interposta por uma administração refratária
a avanços pode ser suplantada por uma ação sindical bem organizada e com poder de pressão. Isso
ocorre muito nas grandes cidades. São Paulo, por exemplo, vem de uma experiência importante de
negociação coletiva realizada durante a administração do PT no período 2000/2004. Um processo
que deixou marcas e resultados que não podem ser apagados, mesmo nos últimos 4 anos a admi-
nistração dos partidos PSDB e DEM não tenha dado continuidade ao processo anterior. O mesmo
pode-se dizer em relação a Porto Alegre, ou a Santo Andre. A memória coletiva do sindicalismo deve
ser sempre uma alavanca importante para construir uma organização mais forte.
Finalmente vale a pena lembrar que apesar do quadro favorável estampado pelo mapea-
mento partidário que fizemos, o novo cenário econômico desencadeado pela crise financeira nos
Estados Unidos pode, temporariamente limitar essa potencialidade constatada. Com a redução
do consumo e de investimentos, reduz-se a produção e aumenta o desemprego, gerando mais
compressão no consumo. Tudo isso leva a uma queda de arrecadação, que pode se refletir nega-
tivamente nos orçamentos municipais, terminando por ser uma desculpa para limitar os processos
negociais. O Brasil começa a ser afetado agora pela crise e a tendência é que inicialmente os
maiores impactos recaiam sobre os municípios maiores, onde as principais fontes de recolhimento
fiscal são a indústria e serviços. Mas isto não estabelece uma contradição porque são justamente
nessas regiões que existem mais recursos para a implementação de políticas de promoção de
emprego e consumo e, principalmente onde a organização sindical, em geral, tem mais força.
São Paulo, 18 de dezembro de 2008