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REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E NEGOCIAÇÃO COLETIVA NOS ANOS 90 Angela Maria Carneiro Araújo Daniela Maria Cartoni Carolina Raquel D. Mello Justo RBCS Vol. 16 n o 45 fevereiro/2001 Introdução O processo de modernização e reestruturação na indústria e no setor bancário brasileiros teve início no final dos anos 70, intensificou-se em meados dos 80 e acelerou-se bastante nos anos 90, alterando pro- fundamente as características do trabalho. Assim, ao longo das duas últimas décadas, assistimos a um processo de mudanças sucessivas no interior das empresas e bancos que se referem tanto à adoção de inovações tecnológicas e organizacionais, em graus variados de profundidade e extensão, quanto à per- cepção e reação dos atores envolvidos. A reestruturação da indústria e do sistema bancário brasileiros, nos anos 80, ocorreu em um contexto de crise econômica, marcado pela reces- são e pelo crescimento do desemprego, e ao mes- mo tempo de redemocratização política e fortaleci- mento do movimento sindical no país, na contra- mão das tendências de enfraquecimento e crise do sindicalismo internacional. Ao longo do processo de redemocratização política, sob a pressão da mobilização de base e da intensificação da luta grevista, o funcionamento e o papel dos sindicatos oficiais foram alterados, com a progressiva liberali- zação do controle do Estado sobre a sua atividade e a substituição do “peleguismo” por lideranças mais atuantes. Neste contexto, as greves e a prática da negociação coletiva foram os principais instrumen- tos de reconstrução do movimento sindical, bem como de redefinição das relações de trabalho no país. Através delas os sindicatos conquistaram seu reconhecimento como interlocutores legítimos jun- to ao empresariado e ao Estado, além de espaço político na sociedade. Nos anos 90, a adoção de políticas de corte neoliberal, 1 que promoveram a abertura comercial e a internacionalização da economia, aprofundou o processo de introdução de inovações tecnológicas e de novos métodos de gestão da força de trabalho. Acrescentam-se a isso, mais recentemente, as tenta- tivas de desregulamentação do mercado de traba- lho, principalmente mediante a flexibilização dos contratos. Este conjunto de transformações teve como conseqüências sociais importantes a precari- zação e informalização do trabalho e o crescimento do desemprego, que ampliaram a fragmentação dos coletivos de trabalhadores e tiveram forte im- pacto sobre as relações de trabalho e sobre as organizações sindicais. Estas transformações e as grandes alterações nas condições do mercado de trabalho que elas

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REESTRUTURAÇÃOPRODUTIVA E NEGOCIAÇÃOCOLETIVA NOS ANOS 90

Angela Maria Carneiro AraújoDaniela Maria CartoniCarolina Raquel D. Mello Justo

RBCS Vol. 16 no 45 fevereiro/2001

Introdução

O processo de modernização e reestruturaçãona indústria e no setor bancário brasileiros teve iníciono final dos anos 70, intensificou-se em meados dos80 e acelerou-se bastante nos anos 90, alterando pro-fundamente as características do trabalho. Assim,ao longo das duas últimas décadas, assistimos a umprocesso de mudanças sucessivas no interior dasempresas e bancos que se referem tanto à adoção deinovações tecnológicas e organizacionais, em grausvariados de profundidade e extensão, quanto à per-cepção e reação dos atores envolvidos.

A reestruturação da indústria e do sistemabancário brasileiros, nos anos 80, ocorreu em umcontexto de crise econômica, marcado pela reces-são e pelo crescimento do desemprego, e ao mes-mo tempo de redemocratização política e fortaleci-mento do movimento sindical no país, na contra-mão das tendências de enfraquecimento e crise dosindicalismo internacional. Ao longo do processode redemocratização política, sob a pressão damobilização de base e da intensificação da lutagrevista, o funcionamento e o papel dos sindicatosoficiais foram alterados, com a progressiva liberali-zação do controle do Estado sobre a sua atividade e

a substituição do “peleguismo” por lideranças maisatuantes. Neste contexto, as greves e a prática danegociação coletiva foram os principais instrumen-tos de reconstrução do movimento sindical, bemcomo de redefinição das relações de trabalho nopaís. Através delas os sindicatos conquistaram seureconhecimento como interlocutores legítimos jun-to ao empresariado e ao Estado, além de espaçopolítico na sociedade.

Nos anos 90, a adoção de políticas de corteneoliberal,1 que promoveram a abertura comerciale a internacionalização da economia, aprofundou oprocesso de introdução de inovações tecnológicase de novos métodos de gestão da força de trabalho.Acrescentam-se a isso, mais recentemente, as tenta-tivas de desregulamentação do mercado de traba-lho, principalmente mediante a flexibilização doscontratos. Este conjunto de transformações tevecomo conseqüências sociais importantes a precari-zação e informalização do trabalho e o crescimentodo desemprego, que ampliaram a fragmentaçãodos coletivos de trabalhadores e tiveram forte im-pacto sobre as relações de trabalho e sobre asorganizações sindicais.

Estas transformações e as grandes alteraçõesnas condições do mercado de trabalho que elas

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provocaram mudaram a correlação de forças demodo desfavorável aos trabalhadores. Neste con-texto, grande parte dos sindicatos ligados à CentralÚnica dos Trabalhadores (CUT) foram sendo debi-litados pela perda crescente de membros, decor-rente principalmente da redução dos postos detrabalho e do movimento de terceirização, e peladificuldade de mobilização de suas bases, expressana queda do número de greves, bem como naredução de sua duração e extensão ao longo dadécada.

O objetivo deste artigo é discutir os impactosdo processo de reestruturação da indústria metal-mecânica e química e do setor bancário na regiãode Campinas sobre os trabalhadores destes setorese sobre a atuação e o poder de barganha dossindicatos que os representam, enfocando princi-palmente, de uma perspectiva comparativa, osprocessos de negociação coletiva ocorridos nodecorrer da década de 90. Estes setores foramescolhidos por estarem entre os mais importantesna região,2 tanto do ponto de vista do seu impactoeconômico (rentabilidade, volume de negócios)quanto do volume do emprego, mas também pelofato de os sindicatos a eles vinculados estaremligados à CUT e se destacarem no movimentosindical da região pela sua combatividade.

A reestruturação nas indústriasmetal-mecânica e química

O setor metal-mecânico foi pioneiro, no Bra-sil, na introdução de novas tecnologias e das novaspráticas de gestão identificadas com o “modelojaponês”. O processo de mudanças iniciou-se nofinal dos anos 70 com a adoção dos Círculos deControle de Qualidade (CCQ), em resposta a umasituação econômica recessiva e à crescente mobili-zação dos trabalhadores neste setor. Mas é a partirde meados da década de 80, com a retomada docrescimento econômico, que observamos umamaior presença, ainda que seletiva e pontual, nasindústrias do setor, de equipamentos de automa-ção microeletrônica, principalmente máquinas-fer-ramentas de controle numérico computadorizado(CNC), bem como a adoção crescente dos Progra-mas de Qualidade Total e o uso, ainda que locali-

zado, de técnicas de programação e controle daprodução como o just-in-time e o kanban (Leite,1994).

Nos anos 80, portanto, a reestruturação reali-zou-se como um processo defensivo. A racionali-zação das empresas deu-se via inovações organiza-cionais e investimentos em “gargalos” da produçãoe concentrou-se no complexo automotivo. Apenasa partir do final da década foi possível encontrar“um conjunto cada vez maior de empresas emprocesso de profunda reestruturação a partir deuma decisão da direção, introduzindo um conjuntode inovações articuladas entre si”, em geral, a partirda introdução de algum tipo de Programa deQualidade Total (Araújo e Gitahy, 1998).

Por essa época inicia-se também o processode certificação de fornecedores e intensifica-se aexternalização dos serviços de apoio, como ali-mentação, limpeza, vigilância etc.

A introdução deste conjunto de inovaçõestem impactos importantes nas políticas de gestãodo trabalho. Principalmente nas empresas de pon-ta dos setores automotivo e de máquinas, já épossível observar esforços iniciais de redução dosníveis hierárquicos e mudança de postura daschefias, o aumento dos requisitos de escolaridadee a introdução de programas participativos.

No entanto, como observam vários autoresque estudaram este período (Carvalho e Schmitz,1990; Humphrey, 1993; Posthuma, 1995), estariahavendo uma “brasilianização” do uso das técnicasjaponesas, que seria responsável pelas mudançaspouco significativas na organização do trabalho nopaís. Salerno (1993), por exemplo, chama a aten-ção para a rígida divisão do trabalho, a padroniza-ção e definição individual de tarefas e a ausênciade autonomia dos trabalhadores que acompanha-vam, em várias empresas, a introdução do just-in-time e do sistema de células.

Nos anos 90, sob o incentivo da abertura demercado, da pressão pela modernização das em-presas e das políticas neoliberais inauguradas pelogoverno Collor de Mello e adotadas como orienta-ção predominante principalmente a partir de 1994,a reestruturação se generaliza nas cadeias produti-vas do setor metal-mecânico, com a intensificaçãodo movimento pela qualidade.

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Na região de Campinas, o setor metal-mecâ-nico engloba principalmente as indústrias de auto-peças (que concentra o maior número de empresase de trabalhadores), de máquinas-ferramentas, deaparelhos domésticos de linha branca e de compu-tadores. Estudos realizados sobre o setor na re-gião3 mostram que nos anos 80 teve início umprocesso de desverticalização das grandes empre-sas e de criação de uma rede de pequenas empre-sas, estimulada, em grande parte, pelo movimentode externalização de atividades produtivas.

O movimento de reorganização das empre-sas da região de Campinas aprofundou-se ao longoda década de 90 por meio do aumento dos inves-timentos na automação do processo produtivo,através da utilização mais generalizada de máqui-nas CNC, computadores e sistemas CAD/CAM, e daintrodução de novos métodos de gestão da produ-ção e do trabalho, como a implantação de célulase minifábricas, a adoção dos programas de melho-rias contínuas e a generalização do just-in-timeinterno e do kanban. Estas mudanças acarretaramuma redefinição na divisão e no conteúdo dotrabalho, com maior ênfase na multifuncionalidadedo trabalhador da produção, para o qual foramtransferidas atividades mais rotineiras de manuten-ção e de controle da qualidade. Isto implicou aconstrução de um novo perfil de trabalhador emudanças nas políticas de gestão de recursoshumanos, como a elevação dos requisitos de esco-laridade como critério de seleção e recrutamento,a organização de programas de treinamento e aintrodução de programas participativos visando aum maior envolvimento dos trabalhadores com osobjetivos da empresa, bem como a introdução denovas estruturas de cargos e salários e de progra-mas de participação nos resultados (Araújo e Gi-tahy, 1998).

O aprofundamento do processo de terceiri-zação4 das atividades produtivas foi o resultado dareestruturação das grandes empresas, na qual foca-lização, flexibilização e redução de custos aparece-ram fortemente associados ao movimento pelaqualidade. A externalização de atividades produti-vas e auxiliares (alimentação, vigilância, transpor-te, limpeza etc.) logo tornou-se um fenômenogeneralizado, afetando não somente grandes,

como também pequenas e médias empresas (Gi-tahy, Cunha, Previtalli e Rachid, 1997).

A introdução deste conjunto de inovaçõestambém teve impacto importante sobre a estruturado emprego, tanto no interior das empresas, ondeas mudanças no conteúdo e na organização dotrabalho levaram à redefinição das habilidades equalificações e à elevação da produtividade comuma redução expressiva do volume do emprego,quanto entre elas, uma vez que os processos decertificação de fornecedores e de terceirizaçãolevaram a uma redefinição da estrutura do empre-go na cadeia produtiva.

Na região de Campinas, assim como emoutros lugares, este processo de reestruturação deu-se, no entanto, de forma contraditória e heterogê-nea, tanto no interior das grandes empresas quantoao longo das cadeias produtivas. Nas grandes e emparte das médias empresas, onde o processo dereestruturação se deu de forma mais extensa, pormeio de um conjunto integrado de inovações tec-nológicas e gerenciais, ainda é possível observar aconvivência, na mesma planta, de setores cujoambiente e processo de trabalho foram modificadospela introdução de novos equipamentos, de novosmétodos de gestão e pelo trabalho em grupo, comoutros nos quais predominam equipamentos anti-gos e formas de organização do trabalho quemantêm o trabalho repetitivo e monótono, cujoritmo intenso é, muitas vezes, controlado pelacadência de uma esteira rolante. Esta mesma dife-renciação pode ser encontrada ao longo das cadei-as produtivas e das redes de subcontratação. Umconjunto maior de mudanças pode ser verificadonas grandes empresas, na ponta da cadeia, ao passoque ao longo dela observa-se uma gradação quecombina o novo e o velho em termos de tecnologiae de formas de organização do processo de traba-lho. A presença de aparatos produtivos com baixoconteúdo tecnológico e de práticas tayloristas en-volvendo o uso intensivo de mão-de-obra poucoqualificada torna-se mais significativa à medida quenos aproximamos dos níveis “inferiores” da cadeiade fornecedores.

A contraditoriedade deste processo expres-sa-se, igualmente, na combinação de efeitos quali-ficadores sobre o trabalho, principalmente nas

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empresas de ponta — que transferem para ostrabalhadores maiores responsabilidades na con-dução do processo produtivo e buscam seu envol-vimento e participação —, com uma significativaintensificação do ritmo de trabalho, o aumento dodesemprego, a precarização das condições e rela-ções de emprego, bem como a degradação dascondições de saúde, principalmente quando nosdeslocamos para os sucessivos níveis “inferiores”da cadeia produtiva (Leite e Rizek, 1998; Abramo,1998).

A reestruturação no setor químicoO setor químico implantou-se no Brasil como

um parque produtor de insumos básicos destina-dos a cobrir um dos principais pontos de estrangu-lamento de uma industrialização baseada na “subs-tituição de importações”. Na região de Campinas, oparque químico e petroquímico conta com 240fábricas, das quais 25 representam os setores dequímica fina, abrasivos e farmacêutico e são res-ponsáveis por quase 90% da produção. O restante,em geral pequenas empresas, representa principal-mente a indústria de plástico, de produtos paralimpeza, desinfetantes, inseticidas etc. Este parqueteve um crescimento significativo na década de 80,decorrente da expressiva interiorização da indús-tria química do Estado de São Paulo, o que possi-bilitou que o setor alcançasse, nos anos 90, umpatamar três quartos superior àquele do início dadécada anterior. Campinas hoje lidera a produçãono interior paulista no que diz respeito ao valorgerado pelas indústrias farmacêuticas, de produtosplásticos e de borracha (Silva, 1997).

Como dependeu, em geral, da aquisição depacotes desenvolvidos no exterior, o progressotécnico neste setor ocorreu de modo muito lento.No início da década de 70, a indústria químicabrasileira ainda estava baseada numa tecnologiapneumática de controle de processo que se manti-nha estável desde os anos 50. Sob pressão da criseeconômica, ela foi desafiada a aumentar sua efici-ência produtiva e já a partir de meados dos anos 80as empresas começaram a se reestruturar e a seguiras tendências internacionais de modo a poderemse manter competitivas. As transformações de mai-or repercussão foram as decorrentes da introdução

da automação microeletrônica para o aprimora-mento de processos, já que o ritmo da produção,neste tipo de indústria , não depende totalmente doritmo do trabalho, mas da produtividade resultantedo rendimento global das instalações, da perfo-mance dos equipamentos e da redução do númerode horas paradas para sua manutenção.

Assim, as mudanças nas indústrias químicasresultaram, inicialmente, num esforço generaliza-do de renovação tecnológica pela introdução dosSistemas Digitais de Controle Distribuído (SDCD),que podiam ser acoplados a computadores paraagilizar o envio de dados na análise do processa-mento (Castro e Guimarães, 1991; Rizek, 1994).Após a substituição dos equipamentos obsoletos,seguiu-se a implantação dos programas de contro-le avançado e da otimização on line, para raciona-lizar custos (especialmente no balanço energético)e atingir padrões técnicos mais estáveis, adquirin-do condição para atuar no mercado exportador.

Com a introdução do SDCD, parte do contro-le humano cedeu lugar a formas de controle maiseficientes e rigorosas, através desses equipamentosmicroeletrônicos. Os operadores passaram a ope-rar simultaneamente várias máquinas e, a partir deum único painel, a controlar, por exemplo, ovolume, temperatura e pressão de vários compar-timentos. Estas mudanças, aliadas a modificaçõesnas estruturas administrativas, trouxeram impactosnegativos sobre o emprego, atingindo primeira-mente os operadores menos experientes, cuja ati-vidade se restringia à operação de campo (Castro eGuimarães, 1991).

Na busca de melhor qualidade e produtivida-de e da redução dos custos associados à produção,a renovação tecnológica foi acompanhada da ado-ção de novas práticas de gestão, com a introduçãode Programas de Qualidade Total, do CEP (Contro-le Estatístico de Processo), assim como de mudan-ças na organização da produção, com a formaçãode “grupos de trabalho” e a redução de níveishierárquicos. Observa-se um incremento da focali-zação da produção para permitir maior integraçãoentre as áreas e a externalização de atividades(Castro, 1998).

Na década de 90, com a intensificação daabertura comercial e a reorientação das políticas

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econômica e industrial brasileiras, as indústriasquímicas — que se haviam beneficiado por muitotempo de um mercado protegido — viram-se ex-postas à competição internacional e passaram a sepreocupar de forma mais profunda com a reestrutu-ração e em melhorar a qualidade de seus produtos.No entanto, grande parte das empresas respondeu aesta situação com estratégias de ajuste defensivo,concentrando esforços em medidas que visavam aredução de custos a curto prazo. As despesas compessoal foram fortemente reduzidas mediante de-missões, cortes de salários e eliminação de níveishierárquicos, o que levou a uma intensificação daadoção de novas estratégias organizacionais e deaproveitamento de mão-de-obra “sobrevivente”(Castro, 1998; Druck, 1999).

Apesar da recuperação da economia mundiale da estabilização econômica do país no biênio1994-1995, que permitiram o reaquecimento dasindústrias química e petroquímica domésticas, asempresas procuraram manter os resultados do ajus-te defensivo efetuado: as estruturas de P&D nãoforam reconstituídas e o nível de emprego manteve-se estacionado em um patamar baixo. As decisõesde investimentos para aumento da capacidade pro-dutiva foram marginais e resultaram apenas emintroduções pontuais de novos equipamentos.

Observou-se, ainda, a ampliação das iniciati-vas de terceirização, atingindo crescentemente osetor de manutenção (Druck, 1997 e 1999). Redu-ziu-se o número de trabalhadores empregadosdiretamente e acelerou-se a implantação de progra-mas de melhoria contínua, do trabalho em grupo edos chamados “programas participativos”. Tudoisso gerou uma mudança no perfil da categoria.Passou-se a exigir uma maior “polivalência” dostrabalhadores, maior responsabilidade e autonomiano “gerenciamento” da produção, e a privilegiar oestreitamento de relações entre operários e chefias.Estes mecanismos permitiram a eliminação de vári-os cargos (principalmente postos de supervisão) e aredução do número de trabalhadores nos laborató-rios, com a transferência de partes mais simples dasanálises para os operadores de campo. Tais mudan-ças desencadearam também uma “reestruturaçãodas carreiras” que, segundo Castro (1998), envolveuuma reorganização das tarefas, gerando alterações

importantes nas estratégias de tomada de decisões eno perfil interno das empresas, com a redistribuiçãodo efetivo já existente.

Como no setor metalúrgico, o processo demodernização no complexo químico deu-se deforma heterogênea no interior das grandes empre-sas, entre seus diferentes subsetores, bem como aolongo da cadeia produtiva (Castro, 1998; Druck,1999). A indústria de plásticos, composta por umgrande número de pequenas empresas que pagamos salários mais baixos do setor químico, é uma daspontas desta cadeia, na qual a reestruturação vemocorrendo de forma mais lenta e restritiva, movidapela redução de custos a curto prazo. Neste setor 5

é possível observar ainda uma grande presença deequipamentos obsoletos e o predomínio de formastayloristas de organização do trabalho, baseadasno controle autoritário das chefias. A introdução dealguns dos novos métodos de gestão, como célulasou times de produção, e a agregação de tarefas nospostos da produção têm levado a uma intensifica-ção do ritmo de trabalho, em ambientes muitasvezes insalubres, acarretando um aumento doscasos de doenças ocupacionais como as LER.

A reestruturação no setor bancáriobrasileiro

O setor bancário brasileiro iniciou seu pro-cesso de automação no final da década de 60,através da introdução dos Centros de Processa-mento de Dados, que alteraram a rotina dos servi-ços de retaguarda dos bancos. Este processo tevecontinuidade nos anos 70, mas foi nos anos 80 queos sistemas automatizados alcançaram o atendi-mento ao público, inicialmente nos bancos priva-dos e, mais no final da década, também nos bancospúblicos (Blass, 1993). Os lucros auferidos pelosbancos neste período, em função das altas taxasinflacionárias, foram muito importantes para oinvestimento maciço e generalizado em automa-ção ocorrido em todo o setor. Desse modo, a partirdo final dos anos 80, generalizaram-se no país asagências on-line, o uso dos caixas automáticos, osbancos eletrônicos e os bancos 24 horas.

Na década de 90, com a crescente concentra-ção do capital financeiro e a desregulamentação do

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mercado decorrentes do papel central adquiridopelo sistema financeiro na nova dinâmica do capita-lismo, o sistema bancário perdeu o monopóliosobre o crédito e o sistema de pagamentos e, emconseqüência, a concorrência tornou-se muito maisacirrada (Braga, 1993, p. 47).

A inserção do Brasil neste novo quadro teveinício no governo de Fernando Collor de Mello(1990-1992). A partir de 1995, o governo FernandoHenrique Cardoso deu novo impulso à adoção demedidas neoliberais, acelerando o processo deprivatizações e aprofundando a desregulamentaçãodo mercado financeiro. Neste período, a estabiliza-ção econômica, que reduziu a rentabilidade dosbancos, e a permissão para o aumento da participa-ção de instituições estrangeiras no país desencadea-ram a quebra de vários bancos e um processo defusões/aquisições e de privatizações de bancospúblicos, resultando numa concentração do siste-ma bancário nacional, no interior do qual tambémocorreu uma maior concentração de poder porparte dos bancos estrangeiros (Freitas, 1998).

Nesta situação, a reestruturação do sistemabancário tomou um novo rumo. No seu esforço deadaptação ao novo contexto, os bancos modifica-ram suas estruturas internas, na maioria das vezes,optando pela especialização em certos nichos demercado, pela venda de uma gama diferenciada deprodutos e pela introdução de inovações organiza-cionais. Em 1994, por exemplo, a Federação Brasi-leira dos Bancos (Febraban) lançou o projeto “Quali-dade em Atendimento”, que orientava os bancospara o oferecimento de um atendimento personali-zado aos seus clientes, principalmente aos conside-rados especiais. Suas diretrizes sugeriam a revisãodo layout das agências, a diminuição das filas, o re-curso ao marketing, a melhor utilização da estruturatecnológica instalada, combinada com investimen-tos em formação e treinamento dos funcionários.

Seguindo essas orientações, na segunda me-tade dos anos 90, a principal inovação promovidapela maioria dos bancos foi a passagem de umaestratégia baseada na aquisição de clientes (segun-do a lógica da quantidade) para uma baseada nocultivo de clientes (segundo a lógica da qualidade),cujo objetivo passou a ser o da captação do maiorvolume possível de recursos. Com isso, o layout

das agências foi modificado, os bancários (quepassaram a ser considerados “polivalentes”) torna-ram-se também vendedores de diversos produtos,tais como títulos de capitalização, cartões de crédi-tos e seguros, e sua atenção voltou-se para osclientes médios e grandes, potencialmente investi-dores. Na busca de uma maior produtividade dotrabalho, o conceito de qualidade total, o trabalhoem equipe e as metas de desempenho passaram afazer parte da rotina dos bancários.

Assim, os investimentos em gestão vieramcomplementar aqueles realizados em automaçãodesde o final dos anos 60. Segundo dados daFebraban, os investimentos em tecnologia, quechegaram a US$ 4,1 bilhões em 1994, caíram paraUS$ 1 bilhão em 1995, enquanto os investimentosem formação e treinamento de funcionários, aindaque muito menos vultosos, tiveram um aumentode 100% entre 1993 e 1996 (Febraban, 1994; Laran-geira, 1997).

Conseqüências importantes deste processo,o fechamento de um grande número de agências,o enxugamento das que restaram e a intensificaçãoda terceirização de serviços bancários modificaramprofundamente a configuração do setor e tiveramimpacto decisivo sobre o emprego, alterando otamanho e o perfil da categoria bancária. 6

Impactos da reestruturação sobre ostrabalhadores e sobre os sindicatos

Analisando comparativamente a reestrutura-ção nos três setores, percebemos que tanto o setorbancário quanto o químico apresentaram, nos anos80 e início dos 90, um movimento mais acentuadode automação, com a introdução de equipamentosmicroeletrônicos e sistemas digitais. Também nosetor metal-mecânico verifica-se uma intensificaçãoda introdução novas tecnologias, mas que apareceassociada ao início de um movimento pela qualida-de, e da adoção de novos métodos de gestão daprodução, como o CEP, o just-in-time e o kanban.Nos anos 90, o processo de reestruturação seaprofunda e se generaliza nos três setores. Há umacontínua expansão da modernização tecnológica,mas o foco do processo de mudanças desloca-separa as inovações gerenciais, principalmente medi-

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ante a adoção de Programas de Qualidade Total,em geral associados ao estabelecimento de metasde desempenho, dos grupos de trabalho, de pro-gramas de formação e treinamento e de programasde incentivo à participação dos trabalhadores.

O enxugamento das grandes fábricas e ban-cos e a utilização da terceirização em larga escalaforam características fundamentais da reestrutura-ção nos anos 90. No início da década, a terceiriza-ção se limitava, nos três setores estudados, às áreasde apoio, como alimentação, limpeza, vigilância etransporte. Já em meados da década ela atingiu aschamadas atividades-fim das empresas: setores deprodução, como usinagem, ferramentaria, fabrica-ção de peças e montagens de subconjuntos inte-grados, na indústria metal-mecânica; a produçãode alguns insumos e a área de manutenção nosetor químico; centros de processamento de dados(CPDs), compensação e microfilmagem de che-ques, digitação, atendimento de portaria e substi-tuição dos escriturários, no caso dos bancos. Con-juntamente, esses dois processos levaram, nossetores estudados, a demissões em massa e àproliferação de pequenos estabelecimentos.

Além disso, o processo de reestruturaçãoteve como conseqüência uma mudança significati-va no perfil da mão-de-obra que permaneceuempregada e a ampliação da heterogeneidadeinterna entre os trabalhadores. A introdução desteconjunto de mudanças tecnológicas e organizacio-nais afetou a estrutura do emprego nos três setoresestudados, modificando a divisão e o conteúdo dotrabalho e redefinindo as qualificações dos traba-lhadores.

No que se refere ao volume do emprego,verificou-se, no setor metal-mecânico, uma redu-

ção importante de postos de trabalho, que ocorreuparalelamente a uma elevação da produtividade edo faturamento das empresas. A elevação da pro-dutividade está associada tanto à difusão das ino-vações tecnológicas e organizacionais ao longodas cadeias produtivas quanto ao movimento deterceirização de atividades, que promove umaredefinição da divisão do trabalho entre as empre-sas da cadeia. Estes dois movimentos provocamuma enorme redução do emprego em númerosabsolutos e relativos e a mudança na distribuiçãodo emprego entre empresas de portes diferentes.

Na região de Campinas, o número de empre-gos na indústria metalúrgica passou de 63.554, em1986, para 46.390 em 1997, o que corresponde auma redução de 17.164 postos de trabalho (27%)(ver Tabela 1). Verifica-se também mudança signi-ficativa na distribuição do emprego, com seu des-locamento para empresas de menor porte, emfunção da intensificação do processo de terceiriza-ção e do enxugamento das grandes empresas.Assim, de acordo com os dados da Tabela 2, se em1986 somente 27,9% dos trabalhadores metalúrgi-cos trabalhavam em empresas de até 249 funcioná-rios, em 1997 eles correspondiam a 46,2% doemprego total no setor, ao passo que nas empresascom mais de mil empregados, que concentravam50% do emprego em 1987, ocorreu o movimentoinverso, pois apenas 26% dos trabalhadores esta-vam empregados nestas empresas em 1997.

No setor químico não ocorreu uma reduçãosignificativa de postos de trabalho nos últimosanos. Ao contrário, ocorreram oscilações no em-prego e um crescimento do número de trabalhado-res, que passou de 11.072 em 1986 para 14.116 em1997, um acréscimo de 27,5% (Tabela 1).

Tabela 1

Evolução do Emprego entre Químicos, Metalúrgicos e

Bancários da Região de Campinas (1986-1997)

Anos

Categorias 1986 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997Químicos 11.072 13.542 12.780 12.524 11.905 12.719 15.223 14.466 14.095 14.116Metalúrgicos 63.554 71.095 62.929 57.502 50.591 49.600 55.059 49.570 43.919 46.390Bancários 15.038 16.609 14.774 13.819 13.011 13.378 11.023 11.373 9.849 9.007

Fonte: Elaboração própria a partir do banco de dados da RAIS/Ministério do Trabalho.

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Este aumento do emprego em Campinas, nomesmo período em que o emprego no conjunto dacadeia petroquímica reduziu-se de modo significa-tivo no país, indica que esta é uma região derelocalização do emprego neste setor. Este cresci-mento deveu-se principalmente à expansão dossetores farmacêutico e de plástico, 7 corresponden-do também ao aumento das pequenas empresas.

No caso da indústria química, por ser um setorde capital intensivo, a introdução de novos equipa-mentos não teve um impacto tão decisivo sobre ovolume do emprego. No pólo químico de Campi-nas, a elevação da produtividade e a reorganizaçãoda composição do emprego ao longo da cadeiaparecem estar associadas não só à inovação tecno-lógica, mas também ao intenso movimento deterceirização de serviços e atividades produtivas.

Como se pode observar na Tabela 2, o núme-ro de trabalhadores empregados nas empresas des-te setor com até 249 empregados sobe de 43%, em1986, para 56,4% em 1997. Mas é nas empresas queempregam de 100 a 249 trabalhadores que o au-mento do emprego foi mais significativo: a porcen-tagem de trabalhadores do setor empregados neste

tipo de empresa passou de 19,4%, em 1986, para30,3% em 1997. Em contraposição, o empregodiminuiu de modo significativo nas empresas com250 a 499 empregados, passando de 22% em 1986para 11,6% em 1997, e naquelas com mais de miltrabalhadores, nas quais a proporção do empregocaiu de 35% para 20,3% no período.

Apesar de a direção do Sindicato dos Quími-cos de Campinas perceber a redução do empregocomo uma das causas centrais da redução de suacapacidade de mobilização e do seu poder debarganha, esses efeitos não se devem a uma perdaquantitativa de postos de trabalho na categoriacomo um todo. Provavelmente, eles se devem aoenxugamento das grandes empresas, onde o sindi-cato tem maior penetração e um maior número desindicalizados, mas também ao deslocamento doemprego para as empresas de menor porte, nasquais os sindicalistas encontram maior dificuldadeem organizar e representar os trabalhadores, devi-do à presença, em muitas delas, de chefias autori-tárias e pouco dispostas a negociar.

A reestruturação do setor bancário foi acom-panhada, nos anos 90, de um grande enxugamento

Tabela 2

Evolução do Emprego por Porte da Empresa entre os Metalúrgicos e

Químicos da Região de Campinas (1986-1997)

Número de Empregados

Metalúrgicos (%) Químicos (%)

Anos De 1 De 50 De 250 De 500 1000 De 1 De 50 De 250 De 500 1000

a 49 a 249 a 499 a 999 ou mais a 49 a 249 a 499 a 999 ou mais

1986 8,8 19,1 9,9 12,5 49,6 13,4 29,6 22,0 0,0 35,0

1987 8,7 17,4 12,0 11,8 50,1 12,3 29,7 23,7 0,0 34,2

1988 - - - - - 10,6 29,6 25,1 4,1 30,5

1989 9,0 17,3 13,5 12,1 47,9 10,7 33,7 23,4 3,7 30,4

1990 10,8 18,4 11,8 11,9 48,0 10,2 32,5 21,9 4,3 28,4

1991 10,1 20,0 11,8 11,7 47,1 10,4 36,2 13,9 8,7 30,3

1992 10,4 19,9 11,0 10,4 48,2 12,8 36,4 18,5 4,5 29,8

1993 11,7 21,7 8,2 12,2 46,2 12,3 34,5 21,3 8,9 27,8

1994 13,5 21,7 12,4 12,0 40,3 14,7 34,6 23,9 7,0 23,5

1995 18,4 24,8 9,9 16,4 32,4 13,9 38,0 24,2 3,8 19,9

1996 17,7 26,3 12,8 14,0 28,3 14,6 41,2 17,1 7,6 19,4

1997 19,6 26,6 12,9 18,1 26,1 14,7 41,7 11,6 11,7 20,3

Fonte: Elaboração própria a partir do banco de dados da RAIS/Ministério do Trabalho.

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dos bancos, com grande redução do emprego. Senos anos 80 o emprego cresceu de 15.038 empre-gados em 1986 para 16.609 em 1989 (apesar daintensificação do processo de automação), na dé-cada de 90 verificou-se uma perda de cerca de 40%dos postos de trabalho, que chegaram a 9.007 em1997 (ver Tabela 1).

Nos bancos, a tendência de deslocamento doemprego para estabelecimentos de menor porteocorre de forma ainda mais significativa, pois osestabelecimentos com mais de 500 funcionários,que detinham 14,8% do total do emprego em 1985,desaparecem na região de Campinas a partir de1996. Em compensação, os estabelecimentos comaté 49 empregados, que em 1986 detinham 38,5%do total do emprego no setor, passaram a represen-tar 66,4% desse total em 1997, mostrando a existên-cia de um processo de enxugamento das grandesagências, o impacto do desaparecimento dos gran-des centros de processamento de dados e a in-tensificação do processo de terceirização dos servi-ços bancários nos anos 90 (Tabela 3).

Tabela 3

Evolução do Emprego por Porte da Empresa

entre os Bancários da Região de Campinas

(1986-1997)

(%)

Nº de Empregados

Anos Até De 50 De 250 500

49 a 249 a 499 ou mais

1986 38,58 41,34 5,23 14,85

1989 36,32 37,20 6,95 19,53

1990 42,46 34,41 8,03 15,10

1991 46,85 28,40 10,82 13,93

1992 45,81 29,36 15,24 9,59

1993 47,48 24,43 15,59 12,51

1994 51,65 24,96 12,30 11,09

1995 51,26 22,69 20,13 5,92

1996 57,23 22,43 20,34 0,00

1997 66,40 23,17 10,43 0,00

Fonte: Elaboração própria a partir do banco de dados da

RAIS/Ministério do Trabalho.

A reorganização do trabalho no interior dasfábricas e dos bancos tem provocado mudançassignificativas na composição da mão-de-obra, como

um processo de feminização crescente e o predomí-nio de uma mão-de-obra mais escolarizada e commaior estabilidade. Os dados da Tabela 4 mostramuma elevação da escolaridade em todos os níveis,destacando-se o crescimento da proporção de tra-balhadores com 1o grau completo ou mais anos deescolaridade, que passa de 37,1% em 1986 para64,7% em 1997 no setor metalúrgico, e de 47,2%para 70,6%, no mesmo período, na indústria quími-ca. No setor bancário, os trabalhadores com 2 o graucompleto ou mais passam de 63% em 1986 para82% em 1997. Estes dados refletem, por um lado, aexigência desse nível de escolaridade como critériode recrutamento e os efeitos dos programas detreinamento que proliferaram nas empresas e ban-cos ao longo do período e, por outro, a seletividadedas empresas nos processos de demissão, cortandoos trabalhadores menos escolarizados.

Cabe destacar, nos três setores estudados, aredução da rotatividade, que se reflete na evoluçãoda distribuição do emprego por tempo de serviço(Tabela 5). Na indústria metal-mecânica, os traba-lhadores com três anos ou mais de permanência naempresa passam de 36,6% em 1986 para 48,6% em1997, e a categoria com até 2,9 meses de permanên-cia (que oculta o uso de trabalho temporário paraenfrentar picos de produção) passa de 63,5% em1986 para 51% em 1997. No setor bancário, aestabilização da mão-de-obra parece ter ocorridode forma ainda mais acentuada, pois os bancáriosque têm mais de cinco anos de serviço passaram de42,4% para 73,9% do conjunto dos trabalhadores dosetor entre 1986 e 1997.

A indústria química diferencia-se dos outrosdois setores, pois nela os trabalhadores com trêsanos ou mais de permanência no emprego man-têm, no período, a mesma participação de cerca de47%, enquanto os que têm de 1 a 2,9 anos depermanência apresentaram um aumento mais sig-nificativo — de 21,2% em 1986 para 27,6% em 1997—, refletindo o processo de relocalização e expan-são recente do emprego, principalmente em novasempresas que se instalaram na região.

Finalmente, cabe destacar a ocorrência deum processo de feminização nos três setores. De1986 a 1997, a participação feminina cresceu de12,8% para 14,2% entre os metalúrgicos, de 40,84%

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para 49,6% no sistema bancário de 18,5% para23,2% na indústria química (Tabela 6).

Além disso, no que diz respeito à divisão econteúdo do trabalho, observamos que, em decor-rência do processo de reestruturação, houve umaredução das hierarquias (principalmente níveisintermediários de chefia e supervisão) tanto nos

bancos quanto nos dois setores industriais, com aconseqüente agregação de tarefas e de novasresponsabilidades aos postos de trabalho. Estesfatores parecem indicar, à primeira vista, umatendência mais acentuada nos setores estudadospara a predominância da multifuncionalidade epara a qualificação dos trabalhadores. No entanto,

Tabela 4Evolução do Emprego por Escolaridade entre os Metalúrgicos,

Químicos e Bancários de Campinas (1986-1997)

Escolaridade

Metalúrgicos (%) Químicos (%) Bancários (%)

Anos Até De 1o grau De Superior Até De 1o grau De Superior Até De 1o grau De Superior1o grau incom- 2o grau completo 1o grau incom- 2o grau completo 1o grau incom- 2o grau completoincom- pleto completo incom- pleto completo incom- pleto completopleto até até pleto até até pleto até até

2o grau superior 2o grau superior 2o grau superiorincom- incom- incom- incom- incom- incom-pleto pleto pleto pleto pleto pleto

1986 62,6 20,2 12,0 4,9 52,3 21,4 17,1 8,7 6,57 30,34 48,60 14,571989 60,1 22,5 11,7 5,4 48,6 23,9 21,1 9,1 6,05 30,11 49,47 14,261990 58,5 23,0 11,2 6,0 42,9 24,1 21,0 11,8 5,36 27,61 49,75 17,231991 56,1 24,0 12,9 6,9 40,7 25,6 21,6 12,2 4,70 25,44 51,15 18,701992 54,0 24,4 12,8 6,7 38,2 25,2 22,0 13,6 3,67 24,20 50,98 20,111993 50,8 29,4 13,0 5,7 38,3 26,2 21,9 12,8 3,83 21,73 52,19 21,031994 48,9 30,2 14,1 6,9 39,1 25,6 22,5 12,8 5,81 21,89 48,83 23,481995 44,8 31,5 17,0 6,7 36,0 26,2 24,1 13,2 2,91 32,40 46,41 18,281996 40,6 34,0 18,9 6,5 33,1 26,6 25,9 14,3 3,70 15,62 54,18 26,511997 35,2 35,8 20,8 8,1 29,3 27,4 28,2 15,0 2,55 15,22 54,17 28,06

Fonte: Elaboração própria a partir do banco de dados da RAIS/Ministério do Trabalho.

Tabela 5Evolução do Emprego segundo o Tempo de Serviço entre os Metalúrgicos,

Químicos e Bancários da Região de Campinas (1986-1997)

Tempo de ServiçoMetalúrgicos (%) Químicos (%) Bancários (%)

Anos Até De 1 a De 3 a 5 anos Até De 1 a De 3 a 5 anos Até De 1 a De 3 a 5 anos1 ano 2,9 anos 4,9 anos ou mais 1 ano 2,9 anos 4,9 anos ou mais 1 ano 2,9 anos 4,9 anos ou mais

1986 34,3 29,2 6,8 29,8 30,9 21,2 8,4 39,5 19,59 27,18 11,00 42,431989 27,2 25,3 18,5 29,1 29,0 24,5 14,2 32,1 17,17 26,46 14,95 39,641990 22,3 26,0 18,0 22,7 20,2 26,3 14,7 36,1 9,26 27,12 15,62 48,001991 18,1 27,1 15,4 39,3 22,0 23,2 16,8 40,2 10,46 20,92 17,94 50,681992 13,3 25,5 17,6 43,6 14,3 25,8 15,9 43,0 7,97 15,85 20,18 56,011993 16,7 19,4 19,3 44,6 19,2 21,9 14,8 43,0 6,71 14,75 16,81 61,741994 20,2 18,0 16,3 45,5 23,5 20,5 12,1 41,1 8,96 13,29 14,13 63,621995 22,1 20,8 11,0 46,0 25,6 22,4 9,8 39,9 12,47 8,31 10,31 68,911996 23,8 25,5 10,5 40,2 27,0 25,4 9,0 37,9 12,93 6,28 7,78 73,011997 28,2 22,8 11,2 37,4 25,2 27,6 11,5 35,9 15,59 4,96 5,55 73,90

Fonte: Elaboração própria a partir do banco de dados da RAIS/Ministério do Trabalho.

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esta tendência supostamente qualificadora precisaser analisada com mais cuidado.

No caso dos bancários, convém mencionar,em primeiro lugar, que a diminuição do número deescriturários e o aumento da estabilidade no em-prego podem significar que foram as funções maisdesqualificadas o principal alvo das ondas dedemissões implementadas durante a década. Noentanto, o desempenho destas funções passou aser absorvido por outros funcionários, que comesta agregação de funções não se tornaram neces-sariamente mais qualificados, mas tiveram seuritmo de trabalho intensificado. Assim, ainda quealguns cargos tenham passado por um processo dequalificação no decorrer da década, como pode sero caso das gerências, 8 este processo não se esten-deu para a maioria dos bancários, principalmentepara digitadores, caixas e aqueles encarregados doprimeiro atendimento aos clientes.

Tabela 6 Evolução do Emprego por Gênero

entre Metalúrgicos, Químicos e Bancários daRegião de Campinas (1986-1997)

SexoMetalúrgicos (%) Químicos (%) Bancários (%)

Anos Mascu- Femi- Mascu- Femi- Mascu- Femi-nino lino nino lino nino lino

1986 87,2 12,8 81,5 18,5 59,16 40,841989 86,5 13,5 79,7 20,3 55,45 44,551990 86,3 13,7 79,3 20,7 54,28 45,721991 86,5 13,5 77,9 22,1 53,32 46,681992 87,0 13,0 77,1 22,9 52,75 47,251993 86,9 13,1 77,4 22,6 53,27 46,731994 85,4 14,6 77,2 22,8 51,74 48,261995 84,6 15,4 77,0 23,0 51,31 48,691996 85,1 14,9 76,5 23,5 50,99 49,011997 85,8 14,2 76,8 23,2 50,35 49,65

Fonte: Elaboração própria a partir do banco de dados daRAIS/Ministério do Trabalho.

Por outro lado, a elevação dos níveis deescolaridade, observada de forma significativa entreos bancários, pode significar não uma necessidadepara o bom desempenho de cada cargo ou função,mas uma mudança nos critérios de seleção dianteda grande disponibilidade de mão-de-obra escolari-zada, decorrente das altas e crescentes taxas de

desemprego no país. Ou seja, para a categoria ban-cária, a questão da qualificação parece surgir maiscomo um discurso destinado a garantir o compro-metimento dos funcionários com os objetivos dobanco do que como uma prerrogativa ou necessida-de real dos novos conteúdos do trabalho.

A exigência, cada vez mais presente nasfábricas e nos bancos, de maior responsabilidade eenvolvimento do empregado com a qualidade e asmetas de produção ou de vendas tem levado a umacirramento da competitividade entre os trabalha-dores, devido à busca do aumento da produtivida-de do trabalho. A intensificação do ritmo de traba-lho e a extensão da jornada de trabalho decorrentedeste processo têm resultado em um aumentosignificativo das doenças ocupacionais na últimadécada, com destaque para as Lesões por EsforçosRepetitivos (LER), principalmente entre metalúrgi-cos e bancários.

Nos anos 80, a redução da jornada de trabalhoera uma forte bandeira do movimento sindical naluta por melhores condições de trabalho. Nos anos90, contrariando as reivindicações dos trabalhado-res, ocorreu um aumento na utilização das horasextras, principalmente após as grandes levas de de-missões. Neste contexto, as grandes empresas quí-micas e metal-mecânicas, bem como vários bancos,valeram-se do Banco de Horas como mecanismopara dissimular a maior extensão da jornada de tra-balho. No caso dos bancos, a extensão da jornadasem o pagamento devido foi muitas vezes estabele-cida em contratos individuais de compensação dehoras extras. Outro mecanismo foi o recurso àsubcontratação de empresas terceiras, cujos traba-lhadores, em grande parte dos casos, recebem porhora trabalhada e não têm jornada fixa.

A terceirização tem sido normalmente asso-ciada à precarização do trabalho porque, atravésdela, tem se disseminado a exclusão de parte dostrabalhadores do mercado regular de trabalho,além de, na maioria das vezes, os empregados dasterceiras receberem salários menores do que o pisoda categoria, sem terem direito aos benefíciosconquistados por ela em anos de lutas, estabeleci-dos nos acordos coletivos, e trabalharem sob pio-res condições de segurança e salubridade, sendomais ameaçados pela instabilidade do emprego.

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O recurso à terceirização tem sido utilizado,nos três setores estudados, com o intuito primordi-al de reduzir custos, num contexto de acirramentoda competitividade. Mas, além disso, tem tambémcontribuído para o enfraquecimento do movimen-to sindical, pois muitos dos trabalhadores que sãodemitidos passam a trabalhar para as empresasterceiras, exercendo, freqüentemente, as mesmasfunções de antes, mas deixando, em muitos casos,de pertencer à categoria.

Convém destacar o caso do setor químico, noqual se verificou, na década de 90, uma tendênciade crescimento do emprego, principalmente naspequenas empresas,9 em parte decorrente de umintenso processo de externalização de atividades,o que contribuiu para a preservação da base dosindicato da categoria, apesar da continuidade dasdemissões durante a década. É interessante obser-var, no caso deste sindicato, que apesar de onúmero de trabalhadores na sua base ter aumenta-do, as estimativas indicam a queda do índice desindicalização entre os anos 1980 e 1997, provavel-mente como reflexo da grande redução do empre-go no começo dos anos 90 e do enxugamentosobretudo das grandes empresas do setor. Mas esteíndice volta a crescer principalmente no final dadécada, passando de cerca de 18% em 1996 paracerca de 22% em 1998 (tomando apenas os sóciosativos).10

No caso dos metalúrgicos, a expressiva redu-ção de postos de trabalho e a intensificação doprocesso de terceirização nos anos 1990 levaram auma redução da base sindical da categoria emCampinas de 27% entre 1986 e 1997, e de 6,5%entre 1995 e 1997, mas o nível de sindicalizaçãoapresentou uma queda proporcionalmente superi-or neste último período, passando de 46,4%, em1995, para 36,4% em 1997, uma perda de 9 milassociados (Araújo e Gitahy, 1998). Isto significaque no caso dos metalúrgicos e, em menor grau,dos químicos houve uma tendência de diminuiçãodos índices de sindicalização, indicando uma redu-ção do prestígio dos sindicatos junto aos seusrepresentados.

Para o movimento sindical bancário da regiãode Campinas, a reestruturação também tem sidonegativa, em função das novas estratégias gerenci-

ais. De um lado, tem levado, nos anos 90, a umacentralização dos serviços nos principais centrosfinanceiros do país, como São Paulo, o que acarre-tou, em 1995, o fechamento da Câmara de Compen-sação Eletrônica do Banco do Brasil em Campinas,levando à demissão de cerca de 400 bancários, 11

além de resultar em transferências de funcionáriospara outras unidades e cidades. De outro lado, asinovações organizacionais, ao reduzirem as chefiasintermediárias, bem como o número de escriturá-rios e caixas (que são os bancários mais participan-tes nas atividades sindicais), levaram ao desmante-lamento do plano de cargos e salários estabelecidoem acordo coletivo e, juntamente com o fechamen-to de locais de alta concentração de trabalhado-res,12 contribuíram para a diminuição da capacida-de de resistência dos bancários e para o enfraqueci-mento da organização sindical.

No entanto, diversamente do que ocorreunos outros dois sindicatos, entre os bancários aqueda do número de sindicalizados foi proporcio-nal à redução do emprego e o Sindicato dosBancários conseguiu manter um alto índice desindicalização durante a década (oscilando emtorno de 65%), apesar da enorme diminuição donúmero de trabalhadores na sua base.

As negociações coletivas nos anos 90

A negociação direta entre empresários e sin-dicatos que se generalizou no Brasil na década de1980 constituiu instrumento privilegiado na buscados trabalhadores por melhores salários e condi-ções de trabalho, bem como na sua luta pelademocratização das relações de trabalho. O padrãode relacionamento que se desenvolveu entre essesatores para a negociação dos contratos coletivosindicava a consolidação de um sistema articuladoque combinava o estabelecimento de acordoscoletivos por categoria, muitas vezes antecedidosde movimentos grevistas envolvendo o conjuntodos sindicatos representados na negociação, comconflitos e acordos por empresa através dos quaisos trabalhadores procuravam ampliar os ganhosobtidos nas convenções (Silva, 1992).

As transformações políticas, econômicas esociais que caracterizaram os anos 1990 contribuí-

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ram para enfraquecer o movimento sindical, que-brando sua unidade, e para abalar o sistema articu-lado de barganha coletiva que ele logrou estabele-cer. As mudanças vivenciadas pelo sindicalismobrasileiro — visíveis na diminuição do ímpetogrevista e na dificuldade em mobilizar os trabalha-dores — incidiram também sobre a prática danegociação coletiva. Em face da mudança na con-juntura, parte importante dos sindicatos foi levadaa repensar a “estratégia do confronto”, predomi-nante na década anterior, passando a enfatizar anecessidade da negociação com o empresariado ecom o Estado e de intervir, com propostas própri-as, no debate das questões nacionais.

Uma das conseqüências desta mudança deprática e de estratégia, assumida pela correntemajoritária da CUT, foi o aprofundamento dasdivergências internas à Central e a crescente difi-culdade para a manutenção da unidade entre ossindicatos a ela vinculados na condução das cam-panhas salariais e na negociação com o patronato.

Muitos sindicatos, fragilizados pelo cresci-mento do desemprego, pela perda de membros epor uma divisão marcada pelo acirramento dasdivergências políticas entre correntes da CUT, ado-taram uma postura defensiva e não foram capazesde reagir de forma articulada a essa nova estratégia.

As negociações coletivas dos metalúrgicosO Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas, 13

maior e mais importante sindicato da região, passoupor um importante processo de renovação após aconquista de sua diretoria pela Oposição Sindicalem 1984, contribuindo para a formação de umsindicalismo combativo na região (Possan, 1997).Nos anos 90, esta organização manteve um papelde destaque no cenário do sindicalismo brasileiro,seja por preservar uma importante base de apoioentre os metalúrgicos da região, apesar da expressi-va redução tanto da categoria (devido à reduçãodos postos de trabalho) como do número de traba-lhadores sindicalizados, seja por adotar, a partir dafiliação de sua diretoria à corrente Fórum Socialista(antiga CUT pela Base), uma posição crítica àorientação negociadora e propositiva, hoje majori-tária na CUT, e de forte oposição a certas propostasfeitas pela Central, como a das Câmaras Setoriais,

bem como às suas tentativas de negociar com ogoverno, como no caso da reforma da Previdência.

Esta postura teve repercussões importantessobre a maneira como este sindicato veio enfren-tando o conjunto de transformações associadas aoprocesso de reestruturação produtiva e suas impli-cações sobre o mundo do trabalho.

As negociações coletivas dos metalúrgicostornaram-se mais complexas e desagregadas nosanos 90. A partir de 1993, quatro diferentes gruposde sindicatos patronais passaram a estabelecernegociações e acordos em separado com os sindi-catos representados pela Federação dos Metalúrgi-cos da CUT: setor automotivo (montadoras e auto-peças), setor de máquinas e material eletroeletrôni-co (Grupo 8), setor de equipamento elétrico (Gru-po 10) e fundição e não-ferrosos. A partir de 1995,no entanto, houve nova divisão, com a exclusão doSindipeças (setor de autopeças — Grupo 5) dosacordos negociados pelas montadoras (Anfavea).

Alegando a grande heterogeneidade e diver-sidade de condições entre os setores e a pressãopor redução de custos numa conjuntura de criseeconômica, os empresários adotaram a estratégiade se dividir para negociar com os trabalhadores, oque impediu o estabelecimento de convençõescoletivas válidas para o conjunto da categoria,criando, deste modo, dificuldades para a unifica-ção dos metalúrgicos e para a realização de grevesgerais durante as negociações anuais. 14

Um primeiro exame dos acordos coletivosassinados pela categoria metalúrgica nos anos 90 15

permite observar que as mudanças mais importan-tes ocorreram nas cláusulas econômicas e princi-palmente naquelas diretamente relacionadas comas questões salariais. Os acordos mostram que osmetalúrgicos conseguiram, até 1995, reajustes desalários que, de certa forma, garantiam a reposiçãoda inflação do período, além de índices de aumen-to real variando entre 5% e 6%. Além disso, umaconquista estabelecida na Convenção de 1990 emantida nos anos seguintes, até o início do PlanoReal, foi a antecipação mensal do reajuste salarial.No entanto, o estabelecimento de acordos separa-dos dentro do setor acarretou também índices dereajuste e pisos salariais diferenciados entre osgrupos.16

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A partir de 1994, com a introdução do PlanoReal e a redução dos índices de inflação, asquestões salariais começaram paulatinamente aperder peso nas negociações e os reajustes men-sais foram abolidos. Em 1995, os metalúrgicosconquistaram a unificação da data-base (em no-vembro) de toda a categoria no Estado de SãoPaulo. No entanto, as negociações realizadas apartir deste ano foram mais difíceis para os traba-lhadores. Em 1997 não houve nenhuma mobiliza-ção durante a campanha salarial no Estado de SãoPaulo e os acordos assinados foram consideradosos piores de toda a década. Em 1998, nenhumacordo havia sido assinado até dezembro, poisalém de oferecer reajuste zero, parte das grandesempresas estava propondo redução da jornada detrabalho com redução de salários, o que foi consi-derado inaceitável pelos sindicatos cutistas envol-vidos na negociação.

Quanto às chamadas cláusulas sociais, 17 cabesalientar que elas foram incluídas nos acordos aolongo dos anos 80 e não sofreram, nos anos 90,nenhuma modificação significativa, nem foramacrescidas de novos benefícios. Isto significa que,em vez da conquista de melhorias nas condições erelações de trabalho, o que se verificou nos anos 90foi o esforço dos sindicatos metalúrgicos para man-ter o que já tinha sido conquistado diante dastentativas constantes do patronato de reduzir essasconquistas. Nas negociações de 1997, os sindicatospatronais do ramo metalúrgico, com exceção da-queles das montadoras e autopeças, insistiram econseguiram a retirada de algumas destas cláusulas.Mas foi no ano de 1998, em meio à crise que atingiuo país em decorrência da especulação financeira edesvalorização da moeda, que os trabalhadoressofreram as maiores perdas, com a retirada de 40cláusulas sociais, dentre as quais direitos importan-tes como a estabilidade do trabalhador acidentadoou portador de doença profissional.

Chama a atenção, além das perdas que ostrabalhadores vêm sofrendo, o fato de que asintensas transformações ocorridas no interior dasempresas com a introdução das inovações tecnoló-gicas e de novas formas de gestão do trabalho nãose refletiram nas negociações coletivas da catego-ria metalúrgica. Ao longo de toda a década nenhu-

ma cláusula relativa às novas questões colocadaspelo processo de reestruturação foi incorporadaaos acordos com validade para toda a categoria.

A diminuição da importância da barganhacoletiva centralizada e o crescimento substancialdas negociações realizadas no âmbito das empre-sas já foram apontados por alguns autores comosendo a tendência predominante no plano interna-cional (Baglioni, 1994). No Brasil, esta tendênciatambém passou a ser predominante nos anos 1990.Estudos recentes (Bresciani, 1994; Gitahy e Bresci-ani, 1997) têm mostrado que a negociação dascondições de implantação e desenvolvimento dosnovos processos associados à reestruturação pro-dutiva tem avançado principalmente na indústriaautomobilística do ABC paulista, onde o sindicatotem forte presença no interior das empresas atravésde comissões de fábrica organizadas desde os anos80. As comissões de fábrica têm desempenhadoum papel essencial na negociação de questõescomo terceirização, programa de melhorias contí-nuas, células de produção e trabalho em equipe,sistema de apoio logístico, redução da jornada comtempo flexível e participação nos resultados. Noentanto, este tipo de negociação coletiva permane-ce restrita ao ABC, pois, como observa Bresciani(1994, p. 205), “o volume da ação sindical em faceda questão tecnológica/organizacional é extrema-mente reduzido, se considerarmos o conjunto daindústria brasileira. No que diz respeito à negocia-ção, ainda que uma série de pautas sindicais possaabordar o tema, acordos efetivos (mesmo quetácitos) são ainda exceções.”

No Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas,a tendência às negociações por empresa pode serobservada desde os anos 80. No entanto, a maioriados temas negociados é ainda relativa à questãosalarial (reajuste, reposição de perdas, aumentoreal, piso salarial) e às condições de trabalho(refeitório, convênio médico, condições de traba-lho insalubres e perigosas, renovação de benefí-cios sociais). Um outro conjunto de temas, noentanto, refere-se às conseqüências do processode reestruturação produtiva, e aqui é a questão damanutenção do emprego que aparece com maisfreqüência (estabilidade temporária no emprego,suspensão de demissões, reintegração e garantias

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aos demitidos). A questão da indenização a porta-dores de LER foi negociada somente em 1997 e emapenas quatro empresas.

Os temas mais diretamente relacionados comas transformações no processo de trabalho negoci-ados por este sindicato foram: plano de cargos esalários, horário flexível e participação nos lucros eresultados (PLR). Mas os próprios dirigentes sindi-cais reconhecem que muitas empresas estabele-cem o pagamento da PLR sem consultar o sindicatoe o condicionam ao alcance de metas de produção,à redução de absenteísmo etc.

A inexistência de formas de representaçãodos trabalhadores no interior das empresas, o fatode o sindicato atuar na porta de fábrica e terdificuldade de se fazer presente em uma parteimportante das empresas de sua base, certamenteconstitui um grande empecilho para que os traba-lhadores organizados possam exercer influênciasobre o processo de reestruturação e avançar nasnegociações das questões a ele relacionadas. Noentanto, as dificuldades encontradas pelo Sindica-to dos Metalúrgicos de Campinas em concretizaresta influência estão não só relacionadas à dificul-dade de mobilização dos trabalhadores em face domedo do desemprego, mas também à intransigên-cia patronal em aceitar o sindicato como interlocu-tor na discussão das questões relativas ao processode reestruturação e, provavelmente, à orientaçãopolítica assumida pelos sindicalistas de confrontocom o patronato e recusa da postura negociadorahoje predominante nos sindicatos da CUT. A estesfatores soma-se, ainda, a dificuldade destes sindi-calistas em compreender o que estava ocorrendonas fábricas e sua postura diante do processo dereestruturação. Nas palavras de um dos diretorespor nós entrevistados:

Eu diria que nós estamos numa posição que oscila

da omissão à crítica. Omissão por ignorância,

porque o sindicato não enxergou este fenômeno

antes e pegou atrasado o bonde. Em geral de

crítica [...] porque, você sabe, esta reestruturação

tem uma carga ideológica grande [...] Eles convo-

cam o trabalhador para vestir a camisa, para ser

parte integrante da empresa [...] então eles criam

este ambiente de convencimento, de ganhar a

cabeça do cara [...] o sindicato enfrenta isto criti-

cando, questionando.18

Este depoimento mostra que a estratégia dosindicato tem sido privilegiar a crítica à posturaideológica envolvida na reestruturação e o combateaos seus efeitos mais perversos. Sua atuação noenfrentamento destas questões tem se pautado,predominantemente, pela resistência a determina-dos expedientes como a terceirização, a flexibiliza-ção da jornada de trabalho, o fechamento de postosde trabalho, e pela defesa dos trabalhadores contraa redução e/ou flexibilização de seus direitos.

Este tipo de atuação tem sido importante natentativa de reduzir os impactos negativos dastransformações produtivas sobre os trabalhadores,mas tem se mostrado restrita e pouco eficaz no quediz respeito à luta sindical pela democratização dasrelações de trabalho no espaço fabril. A contrapo-sição entre a “estratégia do confronto” e a “estraté-gia propositiva” tem também criado entraves paraque o sindicato se capacite a apresentar reivindica-ções e propostas concretas voltadas para umaparticipação efetiva dos trabalhadores nas decisõesrelativas à introdução de novas tecnologias e deprogramas de gestão da força de trabalho.

As negociações coletivas dos químicosDiferentemente dos outros sindicatos anali-

sados, a oposição assumiu a direção do Sindicatodos Químicos de Campinas somente em 1992.Além de se deparar com uma categoria sem tradi-ção de luta e acomodada a uma prática sindicalassistencialista, a nova direção teve de enfrentar osefeitos perversos do processo de reestruturaçãonas empresas da região, o que afetou seu poder debarganha nas negociações.

Mesmo com a postura mais combativa adota-da, a nova diretoria enfrentou dificuldades paramobilizar a categoria, deflagrar greves e estar maispróxima do chão-de-fábrica, acompanhando asmudanças tecnológicas e organizacionais. Além dofantasma do desemprego, o sindicato teve de lutarcontra o avanço da terceirização (que fragmenta abase ao levar para dentro da fábrica trabalhadoresde categorias diferenciadas e filiadas a outrossindicatos) e enfrentar os chamados “programas

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participativos”, através dos quais as gerências con-correm com o sindicato na busca da adesão dostrabalhadores às metas da empresa. 19

Tais fatores geraram uma crescente insegu-rança entre os trabalhadores, o que se refletiu nadiminuição das taxas de sindicalização e das gre-ves,20 e alteraram a dinâmica da negociação nosanos 90. Fragilizado, o sindicato passou a ver comocada vez mais distante a possibilidade de incorpo-ração de novas cláusulas. Mas, diferentemente dosetor metalúrgico, que se dividiu em subgruposnas negociações anuais da categoria, os sindicatosquímicos conquistaram alguns benefícios por te-rem mantido suas negociações unificadas em âm-bito estadual através do grupo Ceag-10 da FIESP,uma prática que vem desde os anos 1980. Ademais,os sindicatos químicos vinculados à CUT passarama ser representados nas negociações pela Confede-ração Nacional dos Químicos (CNQ), com campa-nhas salariais unificadas a partir de 1992.

O exame desse processo mostra que, nosprimeiros anos da década de 1990, as medidasadotadas pelo governo Collor afetaram a indústriaquímica, levando os sindicatos a privilegiarem, nasnegociações, a questão salarial, reivindicando re-posição de perdas, aumento real, reajustes men-sais, e a questão das demissões motivadas pelaintrodução de novas tecnologias.

Analisando o conjunto das cláusulas econô-micas, é possível perceber que, pelo menos até1993, os químicos conseguiram reajustes salariaisque repunham integralmente a inflação a cada ano,embora não tenha sido possível negociar as perdasacumuladas nos sucessivos planos econômicos. Acategoria tampouco conseguiu vencer a resistênciapatronal à reivindicação de reajustes mensais. Ape-sar disso, antecipações (geralmente semestrais)foram concedidas por empresas do setor, o que,entretanto, nunca foi estabelecido em acordos outermos aditivos da categoria, ao contrário do queocorreu com os metalúrgicos, que conseguiramnegociar este item na Câmara Setorial.

A partir da vigência do Plano Real, os reajustesalcançados não conseguiram recompor o poder decompra dos salários. A comparação entre os reajus-tes salariais obtidos pelos metalúrgicos e pelos quí-micos (Tabela 7) a partir de 1994 permite perceber

que estes últimos obtiveram índices ligeiramente in-feriores aos obtidos por aqueles. Em 1994 os quími-cos receberam um reajuste equivalente ao do Gru-po 5 (autopeças), com a vantagem do acréscimo deum abono, mas inferior aos concedidos pelas mon-tadoras e pelos setores de fundição e de máquinas(Grupo 8). A diferença mais importante verificou-seem 1995, quando, além de um reajuste maior, os di-ferentes setores da indústria metalúrgica concede-ram 6% de aumento real a título de produtividade.

De maneira sistemática ao longo desta déca-da, os sindicalistas da categoria química lutarampara melhorar estes índices de reajuste mediantenegociações por empresa. Em Campinas, forambem-sucedidos em alguns anos, principalmentenas grandes empresas do pólo.

Tabela 7Índices de Reajuste Salarial Obtidos

nas Negociações Coletivas dos Metalúrgicos,Químicos e Bancários do Estado de São Paulo,

1994-1997

Índices de reajusteCategorias 1994 1995 1996 1997

Metalúrgicos 15,6% 35,3% 8% 4%(Gr-5)* (10% em (15,3% em

dez. 1994, abr. 1995 e3,6% em 14,07% + jan. 1995 6% produ-e 1,5% em tividade emfev. 1995) nov. 1995)

Químicos 15,6% + 25% 8% 3,7%abono deR$ 100,00

Bancários 16% 30% 10,8% + 5%(Fenaban) abono de

45% desalário

*O Grupo 5 (autopeças) foi tomado como parâmetro, poisos reajustes por ele concedidos aproximavam-se da médiados diferentes reajustes obtidos nos demais grupos daindústria metalúrgica.

Fonte: Convenções coletivas e termos aditivos assinadospelos Sindicatos dos Metalúrgicos e dos Químicos do Estadode São Paulo e pelos sindicatos dos bancários em âmbitonacional.

Os pisos salariais dos químicos também fo-ram reajustados anualmente de acordo com oreajuste salarial e acompanharam de perto os pisosrecebidos pelos metalúrgicos, tendo sido superioraos destes em 1991, 1992 e 1996 (Tabela 8). A partir

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de 1994, com a eliminação do piso de admissão, osquímicos tiveram um ganho em relação aos meta-lúrgicos por terem unificado o piso para toda acategoria, no momento em que aqueles ampliavama diferenciação dos pisos nas pequenas, médias egrandes empresas.

A partir do Plano Real, portanto, as negocia-ções tornaram-se cada vez mais difíceis, marcadaspor conquistas menos expressivas. A crescentedificuldade em alcançar reajustes integrais de salá-rio fez com que o Sindicato de Campinas passasse ainsistir em outras questões, como o pagamento daPLR. Os dirigentes sindicais consideram que anegociação da PLR abre a possibilidade de ampliarsua representação junto aos trabalhadores, de obterinformações mais precisas sobre as empresas, alémde ser uma das poucas oportunidades de influenci-ar na reestruturação produtiva. Sua luta tem sidopara que a proposta patronal de pagamento da PLRnão implique o estabelecimento de metas de pro-dução ou de condições relativas a absenteísmo.

No que se refere às cláusulas sociais, é possí-vel perceber que os sindicatos dos químicos, dife-rentemente dos sindicatos dos metalúrgicos, tive-

ram alguns ganhos com a inclusão de novas cláusu-las nas convenções coletivas, mas que também seconcentraram nos primeiros anos da década, quan-do foram organizadas algumas greves mais amplas.

Foram incorporadas cláusulas importantesrelativas ao combate de alguns dos impactos nega-tivos da reestruturação produtiva, principalmenterelativas à saúde do trabalhador, como a preven-ção de acidentes com equipamentos, a instalaçãode mecanismos de proteção nas máquinas e aexigência de treinamento na introdução de novastécnicas de produção. Foram também negociadascláusulas limitando o emprego de mão-de-obratemporária e estendendo a estes trabalhadores asmedidas de proteção, além de uma cláusula relati-va à garantia de “salário igual para trabalho igual”,considerada pelos sindicalistas como uma impor-tante contrapartida à polivalência. Além disto, ob-teve-se o aumento dos índices do pagamento dashoras extras e do adicional noturno, a ampliaçãoda licença-maternidade para mães adotantes e agarantia de emprego em caso de aborto legal.

Embora estes ganhos possam ser justificadospelo maior índice de produtividade do setor no

Tabela 8Pisos Salariais Estabelecidos nas Convenções dos Metalúrgicos,

Químicos e Bancários(1990-1997)

Categoria 1990(b) (Cr$) 1991(b) (Cr$) 1992(c) (Cr$) 1993(d) (Cr$) 1994(e) (R$) 1995 (R$) 1996 (R$) 1997 (R$)Metalúrgicos Até 700 20.000,00 79.780,00 1.133.372,00 46.000,00 178,00 (fev.) 260,00(f) 260,00 293,00

empregadosMais de 700 25.000,00 103.714,00 1.391.310,00 56.000,00 220,84 296,00 296,00 333,00empregados

Químicos(a) Admissão 19.208,00 122.012,00 1.700.000,00 39.900,00 215,00 285,00 308,00 320,00Efetivação 21.215,00 131.213,00 1.850.000,00 43.410,00 - - - -

Bancários Admissão 28.000,00 126.405,00 1.566.000,00 32.000,00 274,13 373,00 418,00 438,90(Fenaban) Efetivação - - - 35.200,00 301,54 410,00 460,00 483,00

(a) Os químicos têm sua data-base no mês de novembro de cada ano.(b) Nestes dois anos, baseamo-nos no termo aditivo assinado pelos sindicatos dos metalúrgicos no mês de novembro, atualizando osvalores acordados na convenção coletiva da categoria assinada em abril.(c) Neste ano, tomamos como parâmetro para os metalúrgicos o termo aditivo assinado em novembro pelo Grupo 8.(d) Em 1993, os dados para os metalúrgicos são da convenção coletiva assinada em novembro pelas montadoras, Grupos 5 e 8.(e) De 1994 em diante tomamos como base as convenções assinadas pelos Grupos 5 e 8. Apenas para 1994 os dados são relativosa fevereiro. A partir deste ano os químicos eliminaram o piso de admissão.(f) A partir de 1995 as convenções dos metalúrgicos passaram a estabelecer três pisos diferenciados: para empresas de até 50funcionários, de 51 a 500 e com mais de 500 funcionários. Para esta comparação estamos considerando apenas os dois últimos.

Fontes: Convenções coletivas e termos aditivos assinados pelos sindicatos dos metalúrgicos e dos químicos do Estado de São Pauloe convenções coletivas assinadas pelo conjunto dos sindicatos dos bancários, em nível nacional (representando todos os trabalhadoresdos bancos privados), e pela Federação Nacional dos Bancos (Fenaban).

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período, é também importante observar que estasconquistas decorreram muito mais da resistênciados sindicatos durante as negociações. Apesar dafragilidade do Sindicato de Campinas, as novasconquistas refletiram a força dos grandes sindica-tos da categoria (ABC e São Paulo), que consegui-ram manter, nesta década, uma certa capacidadede pressão e garantir, através das negociaçõesunificadas, melhorias para todos os químicos noâmbito do Estado de São Paulo.

A partir de 1995, diante de um cenário macro-econômico desfavorável à organização sindical, asnegociações realizaram-se sem grandes mobiliza-ções dos trabalhadores, dificultando a conquistade novos direitos e benefícios. As reivindicaçõesvoltaram-se para a reposição das perdas com amudança da moeda, o acesso dos trabalhadores àinformação sobre a produção e a introdução denovas tecnologias, a organização em locais detrabalho, a eleição de delegados sindicais e ocombate à terceirização.

Com negociações cada vez mais difíceis,marcadas por impasses devido à insistência patro-nal na eliminação de diversos benefícios, o Sindi-cato dos Químicos de Campinas procurou negoci-ar por empresa. Assim, como foi observado para osmetalúrgicos, também entre os químicos as nego-ciações por empresa assumiram um papel impor-tante nos anos 1990, tanto como mecanismo deencaminhamento de reivindicações específicas esolução de conflitos internos a cada empresa,quanto como forma de melhoria das cláusulasacordadas nas negociações gerais da categoria.

Acompanhando os boletins do Sindicato deCampinas, é possível perceber que tal estratégia foiintensificada a partir de meados da década, e que osprincipais temas discutidos foram: aumento desalário, questões relativas ao ambiente de trabalho eimplantação do quinto turno ininterrupto. O ano de1996 foi um ano significativo para as negociaçõespor empresa. O sindicato conseguiu mobilizar ostrabalhadores a partir de pautas que incluíam ques-tões específicas das empresas, organizando váriasassembléias e paralisações localizadas que tiveramcomo resultado o fechamento de vários acordos. 21

Embora questões relativas ao processo dereestruturação constassem tanto das pautas unifi-

cadas entregues à FIESP quanto das pautas especí-ficas enviadas às empresas, elas não chegaram aser objeto das negociações do período, devido àresistência patronal. Da mesma forma, os delega-dos sindicais e as comissões de fábrica estiveramausentes dos acordos assinados, contribuindo paradistanciar ainda mais o sindicato da base e dificul-tando o acompanhamento das transformações emcurso no âmbito fabril e a elaboração de estratégiasde resistência.

Isto evidencia o enfraquecimento dos sindi-catos químicos em geral e do de Campinas emespecial, sua dificuldade em se fazerem presentesnas empresas e em negociar, como representantesdos interesses dos trabalhadores, as condições deintrodução de mudanças tecnológicas e organiza-cionais.

As negociações coletivas dos bancários nos anos 90O sindicalismo bancário apresenta uma forte

tradição de luta no Brasil. Neste movimento, oSindicato de Campinas possui uma presença desta-cada desde 1983, quando sua direção passou àsmãos de um grupo de oposição. Durante a décadade 1980, este sindicato consolidou uma atuaçãomais propositiva, defendendo a negociação per-manente com os bancos como a melhor forma deobter direitos e benefícios para a base.

O movimento sindical bancário fortaleceu-seao longo dos anos 80 apoiado sobretudo pelosbancos públicos, onde a mobilização era maior, oque repercutiu na conquista de uma série debenefícios para a categoria. O maior destaque domovimento na década foi a greve nacional de 1985,que conseguiu paralisar por três dias todo o siste-ma bancário brasileiro. Desde este ano, as negoci-ações coletivas dos bancários passaram a ser reali-zadas de forma unificada em âmbito nacional, umasingularidade no país, embora os bancos públicosassinem acordos separadamente dos privados.

Nos primeiros anos da década de 1990, pre-dominava um cenário que se assemelhava ao dosanos 1980. Em função da corrosão salarial promovi-da pela inflação, predominavam entre os bancários,como nas outras categorias, as reivindicações eco-nômicas. As altas taxas inflacionárias contribuíampara a alta rentabilidade dos bancos que, pressiona-

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dos pela mobilização da categoria, apresentaramuma postura mais receptiva à negociação.

Em 1990 e 1991, durante o governo deFernando Collor, ocorreu a primeira grande ondade demissões no setor, especialmente nos bancospúblicos federais. O crescente descontentamentodos bancários levou à realização de greves tanto narede pública quanto na privada, o que contribuiupara a melhoria dos reajustes salariais. Mas iniciou-se também, neste período, a ofensiva dos dirigen-tes dos bancos públicos federais, que retiraram asgarantias concedidas aos dirigentes sindicais, nointuito de enfraquecer o movimento dos trabalha-dores.

Nos anos 1990, diferentemente da décadaanterior, foram os bancos privados que passaram acomandar as negociações dos bancários. A situa-ção econômica mais favorável à rentabilidade des-tes bancos foi um dos motivos que propiciou aconcordância da Fenaban com reajustes maioresque os previstos na legislação salarial, pelo menosaté 1995, quando passou a prevalecer, por iniciati-va do governo, a livre negociação. Quanto aosbancos públicos, a Nossa Caixa e o Banespaacompanharam a Fenaban. Já os bancos federais(Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal), quevinham passando por intensa reforma administra-tiva com a finalidade de se adequarem ao contextode maior competitividade, não concederam, du-rante toda a década, nenhum reajuste que superas-se a legislação salarial. 22

A partir de 1995, o impacto do fim dastransferências inflacionárias sobre a rentabilidadedos bancos refletiu-se sobre as negociações coleti-vas dos bancários, que passaram a ser muito maislongas, sem que seus resultados significassem gran-des avanços. Foram freqüentes os ajuizamentos dedissídios coletivos, principalmente por parte dosbancos públicos federais.

Do ponto de vista econômico, conforme aestabilidade foi se tornando uma realidade maisduradoura, as campanhas voltaram-se para outrasreivindicações, como aumento dos pisos, produti-vidade e PLR. No caso dos bancos privados, oresultado das negociações foi positivo em termoseconômicos para os bancários nesta segunda meta-de da década. 23 Já os públicos federais apresenta-

ram-se ainda mais intransigentes nas negociações.Além das perdas já acumuladas na primeira metadeda década, os funcionários destes bancos nãoreceberam reajustes salariais depois de 1995, masapenas abonos.

Assim, durante o governo de Fernando Hen-rique Cardoso, da mesma forma que os bancostiveram de se adaptar rapidamente a uma série demedidas que aceleraram a reestruturação financei-ra, também o movimento sindical sentiu a necessi-dade de reformular suas estratégias de atuação, demodo a enfrentar o contexto de flexibilização e dedesregulamentação do trabalho. Em 1994 e 1995foram realizadas pequenas paralisações nos ban-cos, mas isto não resultou em melhorias nas nego-ciações. Em 1995, a situação mostrava-se bastantedesfavorável aos bancários, em função da crise noMéxico e conseqüente fragilização de todo o siste-ma financeiro brasileiro, tendo ocorrido uma ex-plosão nas demissões. O Banco do Brasil vinhaapresentando prejuízos desde 1994 e, na segundametade de 1995, já havia lançado o primeiroPrograma de Demissões Voluntárias (PDV), dei-xando seus funcionários ainda mais apreensivos.

Desde 1996 a rentabilidade dos bancos vol-tou a crescer bastante, mas nem por isso as nego-ciações melhoraram e cessaram de crescer aspressões para a eliminação de vários benefícios dacategoria, dentre eles o anuênio, uma conquista demais de 50 anos. Ainda neste ano, o Sindicato dosBancários de Campinas tomou iniciativas no senti-do de reverter esse quadro, como a realização deuma “greve pipoca” que atingiu 12 bancos. Em1997 foi lançada a “Caravana Agita Bancário”, quepercorreu o Estado de São Paulo promovendoparalisações nas agências de várias cidades. Amanifestação incluiu a paralisação da matriz cen-tral do Bradesco, em Osasco, com a presença desete mil bancários e de mil dirigentes sindicais.Neste mesmo ano, também a sede central doBanco do Brasil, em Brasília, foi paralisada, com apresença de quatro mil funcionários.

Apesar desta mobilização, as negociaçõescontinuaram difíceis. Embora tenha sido mantido oanuênio e obtidas algumas outras pequenas con-quistas, elas foram mais fruto da resistência domovimento sindical durante as negociações do

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que da elaboração de uma estratégia efetiva quelhe permitisse recuperar o poder de barganha dadécada anterior. Como disse o presidente do Sindi-cato de Campinas: “Não há mais a ilusão quanto aoque se possa obter pelas mobilizações.” 24 Estequadro de fragilidade do movimento sindical temfortalecido os bancos em seu intuito de retirardireitos e benefícios dos bancários, que, diante daspressões que vêm sofrendo pelas transformaçõesno mercado de trabalho, têm se contentado com apreservação de qualquer forma de emprego.

Nos primeiros anos da década, a mobilizaçãoda categoria concorreu para a melhoria das pro-postas dos bancos não somente quanto aos reajus-tes salariais, como também em relação à ampliaçãode benefícios conquistados na década anterior,como auxílios e proteção à saúde do trabalhador.Chama a atenção, nos acordos do Banespa, ainclusão de cláusulas referentes ao pagamento dotratamento de doenças ocupacionais, o aumentoda estabilidade provisória na volta ao trabalhoapós afastamento por licença-saúde e a implanta-ção de uma política de prevenção às LER e dereadaptação profissional dos lesionados.

Na segunda metade da década, entretanto,diante das pressões dos bancos, sobretudo nospúblicos, o movimento sindical não conseguiuimpedir a perda de alguns benefícios (como aisenção de tarifas, o adicional de transferência, aproteção nos casos de fechamento de unidades, alicença-prêmio, o auxílio-educação para novas ad-missões etc.), ainda que esta perda não tenha sidotão significativa quanto a verificada nas últimasnegociações dos metalúrgicos e químicos.

As questões relativas aos impactos da reestru-turação financeira começaram a ser fortementereivindicadas pelo movimento sindical bancárioprincipalmente a partir de 1993, mas estiveramrestritas, de um modo geral, aos problemas dofechamento de postos de trabalho, da participaçãonos lucros e resultados (PLR), da terceirização e dasaúde, que foi afetada pela intensificação do traba-lho e pelo uso mais freqüente de computadores. Apartir de 1994, mas sobretudo nos anos posterio-res, quando a questão salarial teve sua importânciadiminuída, foram estes os principais pontos trata-dos nas campanhas salariais.

Assim, a luta contra as demissões foi a princi-pal bandeira do sindicalismo bancário nesta déca-da. Mas, apesar de ter conseguido estabelecercláusulas obrigando os bancos a pagarem multascaso ocorressem demissões sem justa causa, talmedida não conseguiu evitar o crescimento dodesemprego no setor, 25 possivelmente pelo baixocusto das demissões sem justa causa no Brasil.

A questão da saúde apareceu com freqüêncianas negociações coletivas dos bancários, sobretu-do o problema das LER, doença que cresceuenormemente na década de 1990 e que está dire-tamente relacionada com o processo de automa-ção e com a intensificação do trabalho no setor.Dentre os resultados positivos destas negociaçõesestão cláusulas como a constituição de uma comis-são de saúde, o pagamento de cesta-alimentaçãoaos afastados por LER e o aumento do tempo depagamento da complementação de auxílio-doen-ça, nos acordos da Fenaban; ou o direito doslesionados ao recebimento de remuneração porprazo indeterminado e ao pagamento do tratamen-to da doença, além do aumento da estabilidadeapós o seu retorno ao trabalho, na CEF. 26 Todasestas conquistas, entretanto, são paliativos que nãoirão resolver o problema do crescimento aceleradodos casos de LER entre os bancários, já que nãointerferem nas condições de trabalho que provo-cam a doença.

Da mesma forma, não surgiram cláusulas quetratassem da questão da terceirização, tanto nosacordos dos bancos públicos quanto nos dosprivados. Exceto a criação de uma comissão paritá-ria para discutir o assunto, instaurada desde 1995,não houve qualquer medida que visasse à inter-rupção deste processo que tem significado a ex-pansão da desregulamentação e da precarizaçãodo emprego. De um modo geral, a luta do sindicatotem sido pela incorporação dos trabalhadores dasempresas subcontratadas à categoria bancária.

Por outro lado, destaca-se nas negociaçõescoletivas dos bancários, desde 1995, a presença dacláusula sobre PLR. Esta negociação é importanteporque a PLR está diretamente relacionada à intro-dução dos programas de metas e de avaliação dedesempenho. No entanto, a forma como a cláusulada PLR aparece nos acordos dos bancários de-

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monstra que o seu pagamento tem significado umaforma de aumentar os ganhos econômicos dosbancários, quando a discussão sobre reajuste sala-rial tornou-se quase obsoleta. As decisões sobrePLR têm sido tomadas de forma unilateral pelosbancos. Em geral, representam a concessão deabonos e não de uma porcentagem dos lucros,como reivindicam os sindicatos, pois para isto osbancos teriam de abrir as informações sobre a suasituação financeira, questão que eles se recusam,de forma peremptória, a negociar. 27

É possível concluir que, ao longo dos anos1990, as conseqüências da reestruturação financei-ra sobre o trabalho bancário, que se mostraram,acentuadamente, na diminuição significativa dospostos de trabalho e na mudança do perfil dacategoria, refletiram-se perversamente sobre a ca-pacidade de mobilização do sindicato. Além disso,a velocidade com que as transformações ocorre-ram durante a década atropelou as possibilidadesde o movimento sindical acompanhar e compre-ender as mudanças, dificultando a execução deestratégias de resistência e retardando a formula-ção de contrapropostas.

Com isso, apesar de o Sindicato dos Bancá-rios de Campinas adotar uma postura favorável àsnegociações, os resultados da barganha coletivatêm sido desfavoráveis aos bancários, em conse-qüência da assimetria de forças das partes envolvi-das. Esta assimetria tende a se aprofundar em umcontexto de transformações profundas e acelera-das, devido tanto às tentativas de flexibilização dalegislação trabalhista e sindical e de privatizaçãodos bancos públicos, quanto ao fato de os sindica-tos não conhecerem e não controlarem a totalidadedo processo de reestruturação.

Entretanto, se enfatizamos as dificuldades daatuação do sindicalismo bancário no contexto dosanos 1990, não devemos nos esquecer de que a elacontrapomos, como parâmetro, a atuação verifica-da na década de 1980, que foi extremamentepositiva para o movimento sindical brasileiro, comenorme expansão das negociações, do poder debarganha dos sindicatos e, em conseqüência, dosacordos coletivos, enriquecidos com uma série denovas cláusulas, direitos e benefícios. Por isso,analisando com mais cautela os resultados das

negociações da categoria bancária na última déca-da, e comparando-os com os das outras categoriasaqui estudadas, podemos perceber que, apesar deos bancos terem se posicionado gradativamente demaneira mais intransigente nas negociações, pres-sionando para a eliminação de algumas conquistasdos bancários, estes conseguiram manter a maioriadelas, além de ampliar algumas, principalmente ascláusulas sociais, o que não aconteceu nos outrossetores aqui considerados. Além disso, do pontode vista salarial, os bancários foram a categoria quemenos perdeu com a corrosão inflacionária dosprimeiros anos da década e que também no perío-do pós-estabilização econômica obteve reajustessalariais razoáveis, diferentemente do que ocorreucom a maioria dos trabalhadores do país, excetu-ando-se, é claro, o caso dos funcionários dosbancos públicos federais, que constituiu uma exce-ção importante na década de 1990, em função daintensa reestruturação administrativa por que pas-saram estes bancos, visando à sua efetiva e com-pleta inclusão em um mercado mais competitivo eà sua provável privatização.

Considerações finais

Nos anos 1990, a crise econômica e a acele-ração do processo de modernização das empresase bancos, com suas conseqüências perversas sobreo mercado de trabalho, fragilizaram os sindicatos,minando seu poder de barganha e levando-os aassumir uma posição defensiva no plano das nego-ciações coletivas. A abertura da economia, o avan-ço das políticas neoliberais, a flexibilização doscontratos de trabalho, a intensificação do processode terceirização e o aumento do desempregocontribuíram para ampliar a fragmentação do mer-cado de trabalho e acirrar a concorrência entre ostrabalhadores, reduzindo a sua capacidade demobilização. Como conseqüência, é possível ob-servar a redução do número de greves e a quedanos índices de sindicalização. Adotando uma posi-ção cada vez mais defensiva, os sindicatos tiveramde lutar para ao menos preservar os direitos ebenefícios conquistados nos anos 80.

Nos três setores estudados, observamos queo processo de reestruturação das fábricas e bancos

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caracterizou-se pela combinação de inovações tec-nológicas com novas formas de gestão que, con-juntamente, tiveram impacto decisivo sobre o per-fil dos trabalhadores “sobreviventes”, sobre a atu-ação dos sindicatos e sobre as negociações coleti-vas destas categorias no decorrer dos anos 90.Queremos ressaltar que a utilização de computa-dores e de equipamentos de base microeletrônica,ou seja, o recurso às novas tecnologias, teve umimpacto negativo importante sobre o nível deemprego, devido à sua natureza poupadora demão-de-obra. Entretanto, quando tais equipamen-tos são combinados com a introdução de novosmétodos de gestão da produção, os resultadossobre a redução do emprego e sobre a alteração doconjunto das relações de emprego são muito maissignificativos.

Nos setores metalúrgico, químico e bancário,em que pesem suas diferenças, observamos que autilização de programas participativos foi acompa-nhada de uma redução das chefias intermediárias ede uma agregação de funções aos cargos, o quetornou os trabalhadores multifuncionais e levou àmaior intensificação do ritmo de trabalho, resultan-do tanto no aumento das demissões quanto noenvolvimento e maior dedicação dos trabalhadores.

Observamos uma grande ampliação das ex-periências com o trabalho em grupo, que acompa-nharam a introdução de programas participativos,principalmente nas indústrias químicas e metal-mecânicas, como uma forma de as empresas bus-carem um maior comprometimento dos trabalha-dores e o aumento da produtividade. O maiorenvolvimento com a qualidade e a maior responsa-bilidade dos trabalhadores no chão-de-fábrica enos bancos levaram a um crescimento da compe-tição entre eles (pois o trabalho em equipe visa aocomprometimento com a empresa, e não à solida-riedade entre os trabalhadores), com reflexos per-versos sobre a representatividade e a capacidadede mobilização dos sindicatos, que se viram com-petindo com as gerências pela adesão dos traba-lhadores.

A redução do poder de barganha dos sindica-tos deveu-se também, em grande medida, à inten-sificação do processo de terceirização, que seg-menta os trabalhadores e exclui parte significativa

dos trabalhadores terceirizados das categorias pro-fissionais a que deveriam pertencer em função dasatividades que exercem e, portanto, do direito deserem representados nas negociações pelos sindi-catos destas categorias.

Temos de considerar, enfim, o impacto deci-sivo do temor do desemprego sobre a capacidadede mobilização dos trabalhadores, que adotamuma postura mais defensiva e deixam de respon-der aos apelos e estímulos dos sindicatos, preferin-do, a tudo, a preservação do seu emprego. Istocontribui, também, para que acordos pouco vanta-josos sejam aceitos com maior facilidade pelostrabalhadores, o que acaba incentivando o patro-nato em suas investidas pela redução de benefíciose a desregulamentação e precarização das relaçõesde emprego. Assim, se observamos, por um lado,que o processo de reestruturação contribuiu para amodificação do perfil das três categorias, que setornaram mais estáveis, mais escolarizadas e comuma maior presença feminina, também observa-mos, por outro lado, além do crescimento dodesemprego, a deterioração das condições de tra-balho (especificamente pelo crescimento alarman-te dos casos de LER) e de vida daqueles quecontinuam empregados.

Ao longo dos anos 90, pudemos verificar queos resultados das negociações coletivas foram sen-do gradativamente piores para os trabalhadores,mas principalmente para os metalúrgicos e quími-cos. Nos acordos destas categorias, realizados des-de o início da década, os reajustes salariais conce-didos foram menores do que os obtidos pelosbancários (com exceção dos bancos públicos fede-rais, sobretudo no final da década), que, alémdisso, tiveram mais êxito nas cláusulas referentesaos benefícios sociais. Esta diferença de poder debarganha entre os sindicatos destas categoriasdeve-se, em grande medida, à peculiaridade daforma como são realizadas as negociações dosbancários.

Comparando as três categorias quanto à for-ma como são organizadas suas negociações coleti-vas, constatamos que, enquanto os metalúrgicosforam segmentados em subgrupos para realizar asnegociações anuais com distintos sindicatos patro-nais, o complexo químico do Estado de São Paulo,

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apesar de sua grande heterogeneidade interna,manteve ao longo dos anos 90 negociações unifi-cadas com o conjunto dos sindicatos de trabalha-dores desta categoria. De forma semelhante, acategoria bancária também realizou suas negocia-ções de forma unificada nacionalmente, emboraseparada entre os bancos públicos e privados.

No caso dos químicos, a manutenção denegociações unificadas significa que se para osempresários de um ramo tão heterogêneo a repre-sentação unificada perante os trabalhadores nemsempre é interessante, não partiu deles nenhumainiciativa de realizar negociações em separado porsubsetores, como ocorreu no ramo metalúrgico.

No caso dos bancários, as conseqüências doprocesso de automação e reestruturação dos ban-cos, principalmente a enorme perda de postos detrabalho, tornaram muito mais difícil mobilizar acategoria, tanto no que diz respeito aos funcioná-rios de um mesmo banco (o Banco do Brasil, porexemplo) ou setor (público ou privado), quanto noque se refere ao conjunto da categoria em nívelnacional. Em conseqüência, as estratégias de mo-bilização do movimento sindical bancário forammais restritas e não conseguiram superar a separa-ção que se estabeleceu nas negociações realizadaspara cada um dos bancos públicos (estaduais oufederais) e para o conjunto dos bancos privadosrepresentados pela Fenaban. Esta fragmentaçãodas negociações foi prejudicial para o sindicalismobancário, assim como para os metalúrgicos, atin-gindo principalmente os trabalhadores dos bancospúblicos, atacados como “privilegiados” pelo dis-curso de corte neoliberal predominante ao longodesta década.

Entretanto, comparando a situação dos ban-cários com a das outras duas categorias estudadas,que vêm sendo cada vez mais pressionadas para arealização de negociações pontuais no âmbito decada empresa, é possível perceber que aquelesconseguiram manter uma situação mais vantajosa,se bem que também no setor privado já se delineieuma tendência maior de negociação por banco.

No início da década, quando as condições denegociação já haviam piorado significativamente,os bancos privados passaram a ser o “carro-chefe”do movimento, a servir de parâmetro e a direcionar

as negociações dos bancos públicos, invertendo atendência predominante na década anterior. Mas,diferentemente dos anos 80, este papel não signi-ficou uma aceleração das possibilidades de ganhosque então poderiam ser estendidos aos demaisbancos. Significou, ao contrário, apesar das inúme-ras perdas, a manutenção de um certo padrão degarantias trabalhistas, que de outra forma poderiater sido diminuído brutalmente nos bancos públi-cos. Entretanto, a partir de meados da décadapode-se perceber que nem mesmo este padrãoconseguiu ser mantido, pois verificou-se um agra-vamento ainda maior das condições de negociaçãonos bancos públicos, que paulatinamente tambémse estendeu para os bancos privados. Portanto, anegociação em separado realizada nos bancosproduziu um nivelamento “por baixo”.

No entanto, a comparação dos resultados dasnegociações nestas três categorias permite afirmarque, ainda que os bancários tenham sofrido perdasnesta década, sobretudo nos bancos públicos, ofato de apresentarem, pelo menos no setor priva-do, uma estrutura de negociação unificada nacio-nalmente contribuiu em grande medida para queesta categoria alcançasse melhores resultados doque as demais no contexto dos anos 90. Assim, sea fragmentação das negociações por subsetoresteve impactos negativos para a categoria metalúrgi-ca, e se, no caso dos químicos, as negociaçõesunificadas no âmbito estadual e puxadas pelasempresas mais dinâmicas resultaram em perdasmenores, pelo menos até 1995, no caso dos bancá-rios, ainda que as negociações se tenham pautadopelo setor no qual o movimento sindical foi se tor-nando mais enfraquecido — o setor público —, ossindicatos conseguiram evitar perdas maiores nosbancos públicos e até uma ampliação de cláusulassociais nos bancos privados devido, fundamental-mente, à negociação nacional conseguida, prova-velmente também em razão da existência de me-nores divergências políticas entre os sindicatosdeste ramo.

Podemos concluir que o retrocesso observa-do nas negociações destas três categorias na déca-da de 90 mostra o debilitamento dos sindicatos,como decorrência dos impactos negativos do pro-cesso de reestruturação destes setores e principal-

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mente do crescimento assustador do desemprego.Mas isto não significa, necessariamente, o fracassoou a total inadequação das práticas de negociaçãounificadas por categoria e da forma sindical deorganização dos trabalhadores diante das novascondições do mundo do trabalho. Pois se, de umlado, há indícios de uma crise destas práticas, deoutro, as experiências dos químicos e bancáriosnos anos 90, como as de muitas outras categoriasno país, indicam que não há muita disposição desetores importantes do patronato — enquanto há,sim, grande resistência entre os sindicatos de traba-lhadores — de romper com as negociações porcategoria e substituí-las por negociações por em-presa ou por local de trabalho.

A fragilização e perda de poder de barganhados sindicatos, que é real, não parece apontarnecessariamente para uma tendência de crise irre-versível e desaparecimento desta forma de organi-zação, pois a capacidade de resistência que verifi-camos nestas categorias ao longo da década, con-forme a conjuntura foi se tornando gradativamentemais desfavorável aos trabalhadores, deveu-se,fundamentalmente, à presença de sindicatos com-bativos. Assim, ainda que não tenham ocorridoavanços nas negociações, com a ampliação dedireitos e conquistas, foi o trabalho efetivo dossindicatos contra a ofensiva patronal e do gover-no28 que conseguiu evitar perdas maiores e incor-porar aos acordos, mesmo que de forma pontual,algumas novas garantias. Portanto, esta capacidadede resistência dos sindicatos, mesmo por meio deuma estratégia predominantemente defensiva, éum fator que os legitima como representantes dostrabalhadores “sobreviventes”, que têm sido efeti-vamente protegidos diante das dificuldades e per-versidades colocadas pela reestruturação financei-ra e produtiva. É verdade que, como resultado deestratégias defensivas, esta proteção está muitasvezes aquém das demandas e interesses destestrabalhadores, mas tem surtido melhores resulta-dos do que os observados no caso de categoriascujos sindicatos inexistem ou são acomodados oumuito pouco organizados.

Cabe considerar, no entanto, que o cresci-mento exponencial do desemprego e do trabalhoinformal e terceirizado impõe um amadurecimento

do movimento sindical, no sentido de repensar oseu formato corporativista e suas estratégias derecrutamento, de organização e de enfrentamentodas questões postas pelas aceleradas mudançaseconômicas, tecnológicas e gerenciais, que redefi-nem o papel, o lugar e as formas do trabalho nestavirada do milênio.

NOTAS

1 Entendemos por políticas neoliberais um conjunto demedidas econômicas inspiradas no liberalismo econô-mico contemporâneo, que rejeita a intervenção doEstado na economia e defende a superioridade domercado, a concorrência e a liberdade de iniciativacomo mecanismos capazes de assegurar a soberania doconsumidor, o crescimento da riqueza e o desenvolvi-mento humano. Boito Jr. (1999) distingue no discursoneoliberal a ideologia teórica da ideologia prática. Estaúltima corresponde ao modo como os governos inspira-dos na doutrina neoliberal selecionam as áreas e ativida-des nas quais seus princípios devem ser aplicados;corresponde, portanto, às políticas neoliberais. No Bra-sil, as idéias neoliberais passaram a ter influência cres-cente nas políticas governamentais desde o começo dadécada de 90. As políticas neoliberais adotadas desde ogoverno Collor até o atual governo podem ser identifi-cadas principalmente na redução da atividade econômi-ca do Estado através das privatizações, na aberturacomercial, na desregulamentação financeira e na desre-gulamentação do mercado de trabalho, juntamente coma redução de direitos sociais (Boito Jr., 1999; ver tambémWainwright, 1994).

2 A macrorregião de Campinas é formada por 83 municí-pios e é a mais importante área econômica do Estado deSão Paulo após a Região Metropolitana de São Paulo(Negri, 1990, p. 88). Em 1990, a população da regiãoatingiu 4,5 milhões de habitantes (13% da população doEstado de São Paulo). A região caracteriza-se pelaexistência de um setor industrial extremamente dinâmi-co, que cresceu mesmo durante os anos 80, e por ser asegunda maior praça bancária do Brasil. Sua estruturaindustrial reúne uma enorme variedade de setores eatividades e seus principais segmentos são, em ordemdecrescente, química, metal-mecânica, têxtil e alimen-tos.

3 Pesquisas realizadas nos setores de autopeças, máqui-nas-ferramentas e computadores: Rabelo (1989); Gitahye Rabelo (1988 e 1992); Gitahy, Rabelo e Costa (1992);Ruas, Gitahy, Rabelo e Antunes (1994); Rachid (1994);Rachid e Gitahy (1995); Gitahy, Cunha, Previtalli eRachid (1997).

4 Neste texto, definimos terceirização como o ato de umaempresa transferir a provisão de serviços ou de ativida-des produtivas, antes desenvolvidas pela própria em-

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presa nas suas próprias instalações, para uma terceiraparte, que assume a responsabilidade da execuçãodestas atividades para a empresa contratante sob deter-minadas condições contratuais (Reilly e Tamkin, 1996;Young, 2000). Esta definição inclui a possibilidade deque a execução das atividades terceirizadas seja realiza-da no interior da empresa contratante, mas supõe que aterceira parte (seja ela uma empresa ou trabalhadoresautônomos) esteja fora das relações e condições deemprego que governam os empregados da contratante.Assim definida, a noção de terceirização permite distin-guir o fenômeno mais recente de externalização deatividades de formas tradicionais de subcontratação,como as que se encontram na provisão de materiais daindústria da construção civil e de partes da produção naindústria de confecção.

5 De acordo com entrevistas realizadas em 1988 comtrabalhadores e diretores do Sindicato dos Químicos deCampinas ligados a este setor.

6 Assim, se em 1990 uma primeira medida de ajuste àperspectiva de término da inflação acarretou a demissãode quase 80 mil bancários em todo o país, de 1994 a1996 o aprofundamento da reestruturação levou à de-missão de mais 140 mil bancários.

7 Como pode ser observado na tabela abaixo, há umcrescimento do setor farmacêutico no país e também emCampinas. Mas no setor de plástico verifica-se umaqueda no emprego no plano nacional e um crescimentodeste em Campinas.

Indústria Química Indústria Indústriae Petroquímica Farmacêutica de Plástico

Anos Brasil Campinas Brasil Campinas Brasil Campinas1986 247.554 9.516 53.500 1.841 193.120 3.3621996 200.801 8.330 71.760 4.023 187.917 5.246

Fonte: RAIS/Ministério do Trabalho.

8 Liliana Segnini questiona a qualificação das gerências,que, segundo ela, passaram a trabalhar com informa-ções e dados normatizados em softwares, não dispondode autonomia para decidirem e lidarem com situaçõesque ultrapassem as opções preestabelecidas nestes pro-gramas. Cf. palestra proferida no IFCH/Unicamp em 9/6/1999. Ver também Segnini (1996).

9 As indústrias químicas deslocaram-se para a região deCampinas nos últimos anos em busca de novas oportu-nidades de negócios, custos mais baixos, e tambémdevido à forte tradição de luta do movimento sindical nacapital e no ABC paulista.

10 Informações obtidas no Sindicato dos Químicos deCampinas, a partir do Boletim Sindical de janeiro de1983, da ata de apuração das eleições de maio de 1996e do Cadastro Financeiro do Sindicato de julho de 1998.

11 De acordo com dados obtidos no boletim sindical OBancário.

12 A paralisação dos centros de processamento de dados edos centros de compensação era um forte instrumentode pressão dos bancários em prol de suas demandas nascampanhas salariais dos anos 80, pois comprometia o

funcionamento de todo o sistema financeiro nacional,que já era interligado.

13 O sindicato representa, atualmente, cerca de 1.500empresas e 40 mil operários, sendo 14 mil deles sindica-lizados.

14 A mudança no padrão da negociação coletiva foi tam-bém afetada pela redução do número de greves. Estudorecente (Noronha, Gebrim e Elias Jr., 1998) mostra quea partir de 1992 houve uma diminuição sensível nonúmero, extensão e impacto político dos movimentosgrevistas. Entre os metalúrgicos não ocorreram grevesde toda a categoria na década de 90, mas apenas grevesrestritas a grupos de empresas.

15 Análise elaborada a partir do exame das convençõescoletivas estabelecidas entre os sindicatos dos metalúr-gicos e os sindicatos patronais do setor no Estado de SãoPaulo de 1990 a 1998.

16 Por exemplo, em julho de 1992, enquanto as montado-ras acordaram 11,3% de reajuste em julho mais ainflação do mês e antecipações mensais, o Grupo 5 e oGrupo da Fundição deram 6% em julho, 4% em setem-bro e 4% em outubro, mais a variação do INPC. OsGrupos 8 e 10 concederam 6,8%, mais o INPC em julho,agosto e outubro.

17 As cláusulas que os sindicalistas e empresários chamamde “sociais” correspondem, na verdade, àquelas referen-tes às condições de trabalho (transporte, alimentação,auxílios, licenças, estabilidades especiais etc.), às condi-ções ambientais, de saúde e segurança no trabalho(atendimento médico, convênio médico, prevenção deacidentes etc.), às relações de trabalho (admissão, estru-tura de cargos e promoções, rescisão de contrato) e aosdireitos sindicais (acesso dos dirigentes às empresas,quadro de aviso, sindicalização, informações das em-presas, contribuição assistencial etc.).

18 Entrevista com Eliezer Mariano da Cunha, diretor doSindicato dos Metalúrgicos de Campinas, concedida aCarolina R. M. Justo e Angela M.C. Araújo em maio de1998.

19 Entrevistas com Jorge Rodrigues e Sávio Domingues,diretores do Sindicato dos Químicos de Campinas eRegião, concedidas a Daniela M. Cartoni e Angela M.C.Araújo, respectivamente, em novembro e dezembro de1997.

20 Como aconteceu entre os metalúrgicos, com exceçãodos primeiros anos da década, quando ocorreram movi-mentos grevistas mais amplos, não houve, nos anos 90,nenhuma greve que tenha atingido o conjunto dacategoria no estado; os poucos movimentos grevistasregistrados atingiram apenas grupos de empresas.

21 Um acordo importante foi assinado neste ano com aRhodia, tendo como pontos principais: duração médiada jornada de trabalho de 36 horas semanais para ostrabalhadores de turnos ininterruptos; permanência doquinto turno; cláusulas sobre o controle do trabalho eintervalo para refeições e descanso; valor da hora extra;cursos de formação e de aperfeiçoamento profissional.

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22 Em 1991, dos 301,17% reivindicados, a Fenaban conce-deu um reajuste de 99,05%. No Banco do Brasil e naCEF, onde a reivindicação era maior, de 510,14%, emfunção das perdas acumuladas desde o ano anterior, oreajuste foi de apenas 100%. Em 1995, quando a políticasalarial (ainda existente) previa um reajuste de 21%, aFenaban concedeu 30% (dos 48,67% reivindicados), aopasso que na CEF e no Banco do Brasil foi seguida apolítica salarial, por decisão do Tribunal Superior doTrabalho (TST).

23 Em 1996, a Fenaban e o Banespa concederam umreajuste de 10,8%, dos 21,08% reivindicados, e em 1997mais 5%, dos 22,68% reivindicados.

24 Entrevista com A.L.S. realizada em 15/5/1998.

25 Com exceção da CEF e do Banco do Brasil, cujosacordos de 1997 proibiram as demissões durante suavigência. Mas isto ocorreu depois de uma imensa redu-ção no quadro funcional empreendida por estes bancos.

26 Já o Banco do Brasil concordou com o pagamento dagratificação de caixa por um ano aos bancários queretornassem ao trabalho após afastamento por LER ecom a realização de rodízio entre as funções que exigemesforços repetitivos.

27 Convém mencionar, no entanto, as negociações emtorno da reestruturação realizadas com a Nossa Caixa,que minimizaram perdas para os funcionários. Em 1990foram interrompidas demissões no CPD do banco; em1995, a Nossa Caixa concordou com a prorrogação datransferência do setor de compensação para São Pauloe aceitou discutir com os sindicatos a introdução denovas formas de gestão. Em 1997, as negociaçõespermitiram a manutenção da quantidade de agências ede funcionários do banco e aprovaram a contrapropostados sindicatos de substituição da licença-prêmio poruma gratificação variável.

28 Os governos de Fernando Collor de Mello e FernandoHenrique Cardoso tentaram introduzir legislação desre-gulamentadora do mercado de trabalho e que visavatambém mudar a estrutura sindical e a prática danegociação coletiva centralizada, obtendo um certosucesso, até o momento, quanto à flexibilização doscontratos e da jornada de trabalho e à introdução deformas de salário variável.

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