37
Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial Proposta IEDI Outubro 1998

Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Instituto de Estudos para oDesenvolvimento Industrial

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial

Proposta IEDI

Outubro 1998

Page 2: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial -–Proposta IEDI

CONSIDERAÇÕES INICIAIS ............................................................................................... 3

1 - A SOLUÇÃO PELA PRODUÇÃO ................................................................................... 3

CRISE: DESVANTAGENS E VANTAGENS BRASILEIRAS........................................... 3

CÂMBIO ................................................................................................................................... 5

DÉFICIT PÚBLICO E REFORMA TRIBUTÁRIA ............................................................ 5

TAXA DE JUROS .................................................................................................................... 6

INDÚSTRIA: DE PROBLEMA A SOLUÇÃO ..................................................................... 7

2 – IMPORTÂNCIA E NECESSIDADE DE UMA POLÍTICA DEDESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ................................................................................ 7

A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICADE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL.......................................................................... 8

FINANCIAMENTO E CAPITALIZAÇÃO ........................................................................ 11

REGIONALIZAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL................................. 12

O FORTALECIMENTO DAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS............................ 14

POLÍTICAS SETORIAIS ..................................................................................................... 16

3 - RELAÇÕES SETOR PÚBLICO E SETOR PRIVADO E ORGANIZAÇÃO DOESTADO.................................................................................................................................. 19

PARCERIA ENTRE SETOR PÚBLICO E SETOR PRIVADO....................................... 19

ORGANIZAÇÃO DO ESTADO PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL...... 20

4 - PRIORIDADES DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL .......... 22

POLÍTICA DE COMÉRCIO EXTERIOR.......................................................................... 24

POLÍTICA DE MERCADO INTERNO .............................................................................. 27

TECNOLOGIA....................................................................................................................... 32

TREINAMENTO E RETREINAMENTO DE RECURSOS HUMANOS ....................... 36

Page 3: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 3

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O IEDI, Instituto criado por empresários brasileiros com o objetivo de desenvolver trabalhosvoltados para o desenvolvimento da nossa Indústria não pretende deter verdade absoluta sobreo tema.

Com o presente trabalho, dirigido a todos aqueles interessados neste tema, apenas tem apretensão de apresentar os resultados de pesquisas realizadas e uma reflexão conjunta de seusconselheiros, pautada na ponderação, na experiência acumulada por décadas de dedicação aindustrialização do País e no esforço para posicionar-se sobre temas de extremacomplexidade. Entende que nesse momento o Brasil precisa definir posições, estabelecerações e perseguir metas para seguir adiante. Para superar o que poderia ser grave viés – umamilitância de vida profissional e preocupação quase obsessiva com os rumos da Indústria nanossa economia – buscou, no exemplo de outros países, alternativas e inspirações que aproximidade talvez impedisse de ver claramente para o Brasil.

Colheu também opiniões e sugestões de especialistas na grande variedade de temas que naatualidade podem ser considerados como integrantes de uma Política de DesenvolvimentoIndustrial. Ao divulgar as propostas contidas nos documentos “Agenda para um Projeto deDesenvolvimento Industrial” não é outra a intenção do IEDI senão a de contribuir para umdebate, o mais amplo possível, do presente e das potencialidades da Indústria Brasileira.

O IEDI ambiciona que este debate resulte em efetiva e competente implantação de uma novaPolítica de Desenvolvimento Industrial.

Se assim ocorrer, resultará na reação da nossa Indústria e teremos bem cumprido nossaMissão.

1 - A SOLUÇÃO PELA PRODUÇÃO

CRISE: DESVANTAGENS E VANTAGENS BRASILEIRAS

Há cerca de um ano o IEDI decidiu realizar uma ampla investigação sobre como diferentespaíses tratam o lado real – ou da produção – de suas economias. As razões que motivaram otrabalho foram:

� A convicção de que a estabilidade monetária é um objetivo necessário, mas não suficientepara garantir o avanço econômico e social;

� A suspeita de que, ao contrário da visão muito difundida no Brasil, as políticas einstituições voltadas para o estímulo da economia real, não foram abandonadas por outrospaíses;

� A convicção de que a opção de política econômica de não distinguir setores de atividades- e nem sequer distinguir o lado real do lado financeiro - constituía um sério equívoco.

O exame da experiência internacional deixou claro, que observadas as peculiaridades eidiossincrasias nacionais, as diferentes economias objeto da investigação (aí incluídas tantodesenvolvidas como em desenvolvimento) dispõem de instituições e instrumentos de ação quevisam alcançar objetivos tais como: elevação permanente da produtividade e dacompetitividade, promoção de setores considerados (sob diferentes pontos de vista)estratégicos, defesa do emprego e revitalização de áreas decadentes.

Page 4: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 4

Além disto, entre as mais claras lições da atual crise, destaca-se a evidência de que aeconomia não é homogênea, os setores produtivos não são idênticos, e muito especialmente, olado real da economia e as atividades financeiras apresentam marcantes diferenças naquiloque as impulsiona ou provoca o seu recuo.

Independentemente do quanto estavam ou não equivocadas, antes da crise, a prioridadebrasileira às importações e a opção de manter a política cambial à espera da reação positivadas empresas, esbarraram na crise internacional, de forma que correções terão que ser feitas.Sem exageros ou retórica e na medida em que uma nova fase de ajustamento revela-seinevitável, estamos mais uma vez diante de um quadro de estrangulamento da atividadeeconômica. Desta feita, além da deterioração esperada no âmbito doméstico, o quadro externose mostra adverso.

A economia apresenta-se, face ao novo quadro criado pela crise internacional, comdesvantagens e vantagens. No que toca às desvantagens convém destacar:

� O fato de que diversos setores e numerosas empresas industriais já entram na nova criseem dificuldade. Afinal, enquanto em outros países os juros foram, pela primeira vez,fortemente elevados (situação que, em muitos casos, já reverteu), no Brasil este fenômenoentrava e asfixia a produção, praticamente sem interrupções, desde o início dos anos 90;

� Face a uma situação em que um certo excesso de oferta e a retração dos mercados podeser tida como muito provável, o governo anuncia cortes e restrições de gasto para reduzirum déficit de 7% do PIB. Outros países, pelo contrário, chegam à nova crise com umasituação confortável do ponto de vista das finanças públicas – o que eqüivale a dizer quepoderão, em alguma medida, realizar políticas compensatórias a partir do gasto público;

� Por último, mas de decisiva importância, há que frisar que as economias do leste e sudesteasiático, à medida que se recuperem do choque a que foram submetidas, não poderãodeixar de traduzir em brutal maior poder competitivo, a modernidade de seus parquesprodutivos, bem como o esmagamento salarial a que acabam de ser submetidas e adesvalorização de suas moedas. Este é um aspecto bastante perverso do novo quadro queestá ainda por delinear-se nos mercados mundiais.

Entre as vantagens, cumpre destacar:

� As vultosas importações de equipamentos registradas nos últimos anos revelam aocorrência de um movimento de renovação de equipamentos por parte de um grandenúmero de empresas brasileiras. Este fato, aliado à difusão de novos métodosorganizacionais / gerenciais, significa que as empresas encontram-se hoje menosdefasadas diante de padrões internacionais do que no início da década dos 90;

� Como conseqüência do salto das importações brasileiras de produtos manufaturados nosúltimos quatro anos, abre-se uma oportunidade que só é possível a economias que, como abrasileira, desfrutam de um mercado interno importante: a produção com escala eeficiência (portanto, com capacidade também de exportar) de produtos e componentesindustriais atualmente importados;

� Finalmente, não tendo jamais conhecido um período de crescimento sustentável desde otérmino dos anos 70, e enfrentando juros em regra excepcionalmente elevados em termosinternacionais, as empresas brasileiras apresentam em geral coeficientes de endividamentomuito inferiores aos padrões internacionais – e muito particularmente ao quadrocaraterístico da Ásia. Sendo a atual crise um distúrbio, inicialmente pelo menos, centradona esfera financeira, é legítimo supor que as empresas integrantes do lado real da

Page 5: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 5

economia apresentem-se, em princípio, menos vulneráveis (o que por sua vez tende areduzir a vulnerabilidade dos bancos).

A partir das noções acima sumariamente apresentadas e tendo em vista a trajetória recente daindústria brasileira, o IEDI é levado a reafirmar que o Brasil - assemelhando-se com isto àsdemais economias, objeto da investigação recém concluída - deve possuir instituiçõesvoltadas para objetivos que sejam permanentes de Política de Desenvolvimento Industrial, eque, além disso, possam contribuir para superar os problemas criados pela crise atual.

A razão última da introdução das novas instituições e práticas (algumas das quais já vêmsendo ensaiadas), seria ingressar, por fim, numa fase de afirmação e consolidação de ummoderno e dinâmico parque produtivo - após os tormentos da década perdida, os choques,avanços e impasses reencontrados nos anos 90. As razões fundamentais pelas quais dispor deum ativo e dinâmico setor industrial é hoje mais importante do que nunca, são:

� O mundo atravessa um período de grande dinamismo e de intensa renovação tecnológica edispor de um forte e diversificado parque industrial é integrar-se a este movimento edeixar de ser passivo diante deste mundo em transformação;

� Ter um vigoroso e diversificado setor industrial é requisito para que o Brasil supere acondição de exportador de commodities industriais de baixo valor agregado. A crise atualtornou esta questão ainda mais decisiva. Retomar um processo de diversificação industrialé condição para promover o upgrade dos produtos, diversificar a pauta de exportação demanufaturados e enobrecê-la.

Além de perseguir objetivos permanentes de afirmação industrial, é obviamente necessárioque o lado real da economia seja considerado ao serem introduzidos os programas deemergência impostos pela crise. Há razões para isto, como evitar o rápido agravamento dodesemprego ou impedir o retrocesso de setores, áreas ou regiões.

CÂMBIO

Sempre foi opinião manifestada do IEDI que a taxa de câmbio foi incorretamente fixadaquando no início do Plano Real. Não obstante o esforço de correção gradual do câmbio,realizado de fins de 1996 até o início da crise asiática, não há evidências de que o problemativesse sido superado em agosto de 1997. Desde então as desvalorizações recentementeocorridas na Ásia e na própria América Latina agravaram o problema.

Mais precisamente, os últimos desdobramentos da crise colocam em prioridade absoluta aquestão do déficit do balanço de transações correntes, o qual terá que diminuir, significandoisto responsabilidades redobradas aos produtores de tradables. Em outras palavras, indústria eagribusiness terão pela frente o desafio de tornar superavitária a balança de comércio.

Entendendo a delicadeza e complexidade do tema, o IEDI, não tendo acesso às múltiplasvariáveis envolvidas, deixa de se posicionar a respeito do momento e da forma como seráobtida a correção da taxa de câmbio.

A perda de controle em qualquer tentativa de ajuste acarreta, como ocorrido em outros países,um ajuste na sua dimensão além do necessário e desejado, com trágicos reflexos para aorganização do sistema produtivo, empobrecimento da classe trabalhadora e da sociedade emgeral, isto associado à destruição de significativa parcela do patrimônio das empresas.

DÉFICIT PÚBLICO E REFORMA TRIBUTÁRIA

É consensual que o desequilíbrio das contas públicas precisa ser corrigido com urgência eprofundidade. Um grande ajuste, mediante um corte de despesas de custeio pelo enxugamentoda máquina administrativa, tornando-a mais eficiente, é medida acertada e prioritária. Por

Page 6: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 6

outro lado, é causa de preocupação o ajuste anunciado através de aumento de impostos,principalmente os de caráter cumulativo que oneram sobremaneira a produção e asexportações, em um momento em que a proximidade de uma recessão recomenda alívio fiscalsobre as empresas e estímulo às exportações.

Para minimizar os efeitos do ajuste sobre a produção e o emprego industrial, o IEDIrecomenda que os esforços sejam redobrados no sentido de um maior equilíbrio entre o ajustedo déficit primário e a redução dos encargos financeiros, obtida mediante a redução das taxasde juros, de forma a obter o mesmo resultado de redução do déficit global.

Recomenda ainda que em alternativa ao aumento de impostos que irá onerar produçãodoméstica e punir as exportações - estas, absolutamente imprescindíveis em um momento emque se impõe a reversão do déficit comercial -, sejam temporariamente majoradas as tarifas deimportação.

Quanto à reforma tributária, o que dela se espera é o oposto a pelo menos uma das medidasanunciadas (aumento da CPMF): a eliminação dos impostos em cascata e a desoneração daprodução, investimento e exportação.

O IEDI recomenda que a reforma também redistribua a carga tributária, particularmentefazendo refletir na arrecadação tributária a maior participação do setor de serviços no PIB,reduzindo em contrapartida a carga sobre o setor industrial.

O IEDI está convicto de que os procedimentos acima irão assegurar uma distribuição maisjusta e equilibrada do inevitável ônus do ajuste fiscal.

TAXA DE JUROS

As taxas de juros no País têm sido intensamente influenciadas pelas desvalorizações da taxade câmbio - devido à política de ajuste gradual para compensar a sobrevalorização anterior – epela sua utilização como instrumento de defesa das reservas cambiais e do valor externo damoeda contra a instabilidade e as crises financeiras externas.

Os traços resultantes - taxas de juros em média excessivamente elevadas e comcomportamento instável – são extremamente adversas para as contas públicas, para ocrescimento econômico e a competitividade da economia.

Há consciência sobre a complexidade da questão das taxas de juros no País, relacionada comoestá com a sobrevalorização da moeda, com a crise do setor externo e também agora com umacentuado déficit do setor público. Mas nada disto justifica o fato de que antes e depois daestabilização, antes, durante e depois de cada uma das crises externas dos últimos anos, astaxas de juros praticadas aqui se situarem em níveis tão mais elevados com relação a outrospaíses. Para o IEDI isto corresponde à prioridade financeira predominante na orientação daspolíticas econômicas adotadas, em detrimento da economia real.

É digno de registro a capacidade de resistir e sobreviver das empresas nacionais nestascondições, mas o outro lado é que elas não avançam o suficiente para alavancar ocrescimento. O objetivo de superar a atual crise decididamente não comporta as taxas de jurosatuais ou as que vigoraram no passado.

O IEDI é favorável, tão logo o Brasil disponha de condições de controle da crise financeira, aum rebaixamento geral das taxas de juros, que objetiva o financiamento público e ofinanciamento da produção, do investimento e das exportações em condições compatíveiscom o crescimento econômico interno e adequadas à competitividade internacional.

Enquanto não possa ser alcançado o objetivo, o IEDI recomenda o exame de açõesemergenciais para preservar os recursos destinados ao investimento, à exportação e à pequena

Page 7: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 7

e média empresa, e manter taxas de juros minimamente compatíveis com o retorno de longoprazo.

INDÚSTRIA: DE PROBLEMA A SOLUÇÃO

Como resultado, entre outras causas, do excesso de interferência dos poderes públicos naesfera real da produção, a opinião pública nacional foi induzida a crer que toda e qualquerinterferência no funcionamento dos mercados seria um mal. Os que tentaram resistir a estavisão foram vistos como meros defensores do passado ou de interesses menores. Como, alémdisto, a liquidez internacional que caracterizou os anos 90, parecia oferecer solução fácil eindolor para todos os problemas (os de balanço de pagamento muito particularmente), aresistência mostrou-se quase impossível. Tida em conta a drástica alteração do quadrofinanceiro internacional, é preciso entender que o setor produtivo nacional, do qual é parte osetor industrial, antes de ser pensado como problema, deve ser entendido como solução. Maisprecisamente, é através dele que o País poderá resistir a um período que se anuncia como deretração econômica, gerar superávit comercial, recuperar a trajetória de crescimento econcorrer para que o poder aquisitivo dos brasileiros possa ser sistematicamente acrescido.

2 – IMPORTÂNCIA E NECESSIDADE DE UMA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO

INDUSTRIAL

Os determinantes macroeconômicos favoráveis inegavelmente propiciam condições para ocrescimento industrial. Em particular, a estabilidade monetária conquistada pelo Brasil éimprescindível como um meio para o propósito do desenvolvimento econômico. É necessário,no entanto, ir além do bom ambiente econômico e da estabilidade de preços, em direção àdefinição de políticas que promovam o avanço industrial segundo uma estratégia que objetiveo desenvolvimento e a mudança estrutural.

Segundo as evidências reunidas na pesquisa das “Políticas Industriais em PaísesSelecionados”, tem sido precisamente este o significado das políticas macroeconômicas e deestabilidade perseguidas pelos mais diversos países: criar condições e meios para odesenvolvimento, o qual é promovido através da definição de objetivos e estratégias conjuntasde setor público e setor privado, de ações coordenadas de instituições e instrumentos dediversas modalidades e áreas, e de adequada organização do Estado para o desenvolvimento.

A regionalização dos mercados no plano internacional constitui uma razão a mais e umobjetivo adicional para uma Política de Desenvolvimento Industrial. A constituição doMERCOSUL, ao promover a unificação aduaneira e ao integrar os mercados nacionais, o queestá previsto para o ano de 2006, está demandando do Brasil a definição de uma estratégianacional de mais longo prazo. A negociação com os países-membros do MERCOSUL serámais frutífera, facilitada e positiva para o Brasil na medida em que seja orientada a partir deuma estratégia nacional. A negociação será beneficiada se, ainda, a carência da parceria entresetor público e setor privado na definição de objetivos, for devidamente superada.

Justamente devido a esta preocupação, o IEDI se manifesta contrário à aceleração dasnegociações relativas à ALCA, pois ela pressupõe a definição de objetivos estratégicos e amaior consolidação do MERCOSUL.

A Política de Desenvolvimento Industrial para o Brasil, deve buscar:

� O aumento da produção de bens industriais, sobretudo os de maior valor agregado econteúdo tecnológico;

� A maior participação brasileira na produção mundial do setor industrial;

� Contribuir para o crescimento continuado da economia, do emprego e da riqueza nacional.

Page 8: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 8

Está superado o conceito da política industrial como um conjunto de ações voltadas aoaumento indiscriminado da produção de setores da Indústria e ao amparo de segmentos eempresas improdutivas. Segundo as atuais práticas adotadas por vários países, a Política deDesenvolvimento Industrial consiste em ações coordenadas de políticas, envolvendo ocrescimento industrial, o comércio exterior e o desenvolvimento tecnológico.

Além da abrangência acima definida, a Política de Desenvolvimento Industrial deveconsiderar os seguintes aspectos relevantes:

� A empresa de capital privado nacional como vetor da política de desenvolvimentoindustrial;

� O financiamento e a capitalização como instrumentos do fortalecimento da empresanacional;

� A regionalização do desenvolvimento industrial;

� O fortalecimento das pequenas e médias empresas;

� As políticas setoriais.

A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE

DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL

O IEDI considera a empresa de capital privado nacional um vetor fundamental da Política deDesenvolvimento Industrial a empresa de capital privado nacional sem que isso signifique aimposição de restrições à participação da empresa de capital estrangeiro, ou que esta estejaausente do esforço de industrialização e desenvolvimento tecnológico.

É preciso sublinhar a assimetria quanto à relevância do mercado interno para a empresa decapital privado nacional e empresa de capital estrangeiro. Enquanto para essa última omercado interno representa uma fração – ainda que importante pelas dimensões do mercadointerno brasileiro – de seu mercado global, para a primeira constitui a razão de ser, a basepredominante de suas operações e o foco de suas decisões estratégicas, razão pela qual devaser a empresa de capital privado nacional a principal condutora e o vetor em torno ao qual sedesenvolve a política industrial.

Um argumento circunstancial, mas de decisiva importância a curto e médio prazo, diz respeitoà crise do balanço de pagamentos e, particularmente, do déficit da conta de serviços, para oqual concorre a remessa de lucros e dividendos. A empresa de capital privado nacional,considerada como sujeito e vetor da Política de Desenvolvimento Industrial, visa também nãoagravar a situação presente.

No entendimento do IEDI, a Política de Desenvolvimento Industrial não deve contemplarpolíticas específicas de incentivo para a atração de investimentos estrangeiros, nem mesmopara a associação de empresas estrangeiras com empresas de capital nacional. Os maioresatrativos à empresa de capital estrangeiro são o mercado interno brasileiro e a adoção de umapolítica de igualdade no campo tributário e de não restrição ao capital estrangeiro, quanto:

� À participação em setores industriais com ou sem associação com empresas nacionais, e

� Ao envio de lucros e dividendos.

Como regra geral, o IEDI é favorável a condicionalidades para a Indústria na concessão deincentivos, subsídios e financiamentos com fontes oficiais, tais como desempenho exportadore metas de crescimento de produtividade, por entender que à utilização de recursos públicosescassos deva corresponder compromissos por parte do setor privado.

Page 9: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 9

Para as empresas de capital estrangeiro, o IEDI é favorável a que quaisquer incentivos,subsídios e financiamentos com fontes oficiais sejam acompanhados de condicionantesrelacionadas relacionados às mais prementes necessidades da economia nacional, como asrelacionadas ao setor externo e ao desenvolvimento tecnológico.

Cabe enfatizar que as observações acima não excluem a empresa de capital estrangeiro dosobjetivos da Política de Desenvolvimento Industrial. A escala do mercado interno brasileiro eregional combinada com uma eventual estratégia de exportação, justifica ações de políticasetorial para a atração de investimentos, incluindo os investimentos externos diretos.

Também justificam ações da Política de Desenvolvimento Industrial os objetivos de reduzir oconteúdo de importações associado aos investimentos diretos e de ampliar as exportações porparte das empresas de capital estrangeiro. Entende-se também que os investimentos emcapacidade de produção devam ser ampliados em relação à participação dos investimentosdestinados à aquisição de empresas locais. Estas últimas transações deveriam ser objeto deregulamentação específica.

A seguir exemplos de prioridades ou condicionalidades para empresas nacionais eestrangeiras adotadas em outros países, bem como exemplos dos múltiplos tratamentos que,em função de suas orientações, os países adotam com relação ao capital estrangeiro.

Exemplos de Prioridades/Condicionalidades às Empresas Nacionais x EstrangeirasEUA� No campo das condicionalidades, cabe ilustrar com o seguinte exemplo: para receber apoio

financeiro do Advanced Technology Program ou do Energy Policy Act a empresa deveprovar que a sua participação será de interesse econômico dos EUA, o que seráevidenciado pelos investimentos feitos nos EUA em P&D e em produção e que seja umaempresa norte-americana ou incorporada nos EUA, cuja matriz se encontre em um país que:(i) permita às empresas norte-americanas oportunidades comparáveis àquelas permitidas aqualquer empresa para participar em programas semelhantes; (ii) permita às empresas norte-americanas oportunidades de investimento local comparáveis a aquelas permitidas a qualqueroutra empresa; (iii) permita adequados e efetivos direitos de propriedade intelectual àsempresas norte-americanas.

Alemanha� As filiais ou ramos de empresas estrangeiras que não estão estabelecidos legalmente como

companhias independentes estão excluídas da possibilidade de obtenção de subsídios ouassistência financeira oficial em alguns setores. As empresas estrangeiras legalmenteestabelecidas dispõem de acesso aos fundos de P&D financiados pelo governo, desde quecumpram certos requisitos, como a manutenção de uma determinada estrutura de P&Dno país e o cumprimento da legislação para transferência dos resultados da P&D para oexterior.

Políticas e Regulação do Capital EstrangeiroFrançaO governo francês tem uma longa tradição de intervenção e controle sobre os fluxos de capitaisexternos. A desregulamentação dos investimentos externos vem se processando desde 1987, deforma que atualmente, as limitações são muito menores, quando comparadas ao passado, masainda estão presentes. Os investimentos realizados por empresas de países da ComunidadeEuropéia estão dispensados de qualquer tipo de autorização prévia. O mesmo vale parainvestimentos provenientes de países de fora da CEE, quando estes se destinam à criação de umanova empresa ou quando envolvem participação em empreendimentos existentes num valorinferior a 50 milhões de FF, no que se refere a empresas com faturamento inferior a 500 milhõesde FF, ou quando se dirigem a uma participação inferior a 20% em uma empresa francesa cujasações são cotadas em bolsa. Em outros casos, uma autorização é necessária, mas a mesma ésuposta como dada no caso de não manifestação do governo num prazo de um mês.

Page 10: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 10

EspanhaA autorização prévia para investimentos diretos estrangeiros é requerida nos seguintes casos:� se o proprietário estrangeiro exceder ou passar a exercer (em função do investimento

realizado) o controle de mais de 50% do estoque de capital da empresa espanhola e,adicionalmente, o montante do investimento ultrapassar 500 milhões de pesetas;

� na formação ou aumento de capital de filiais ou estabelecimentos, quando o montantedestinado para estes fins exceder 500 milhões de pesetas, tanto previamente quanto comoresultado do investimento realizado;

� investimentos estrangeiros de empresas sediadas em paraíso fiscal.CoréiaA Coréia do Sul foi um dos países mais restritivos em relação ao Investimento Direto Externo (IDE)durante toda a fase de industrialização pesada, formulando uma estratégia de aprofundamento dascapacidades tecnológicas locais através da importação de bens de capital, contratos de licenciamentoe acordos de transferência tecnológica. Em 1984, o governo substituiu o “sistema de lista positiva”pelo “sistema de lista negativa”, no qual os setores industriais não relacionados nesta lista estariamautomaticamente aprovados para a realização de IDE. Em 1989, foram abolidas a exigência dedeterminado volume de exportação, o conteúdo local e os requisitos de transferência de tecnologia.Em 1996, o governo coreano anunciou o Five-Year Foreign Investment Liberalization Plan, atravésdo qual buscou-se ampliar o escopo de liberalização dos fluxos de IDE, reduzindo o número desetores restritos de 57 neste ano, para apenas 18 no ano 2000.ÍndiaO capital estrangeiro era visto no país com relativa desconfiança, de forma que vários mecanismosrestritivos à entrada das empresas estrangeiras foram adotados. O governo lançou mão de uma série deinstrumenos como licenças de operação, restrição acionária e limitação de participação no mercado,além de tributação incidente sobre as empresas estrangeiras superior à das nacionais. Houve umaalteração considerável no tratamento dado ao capital estrangeiro no período recente, embora aliberalização da economia não signifique a adoção de um modelo econômico liberal. No início da atualdécada o governo optou por abrandar o sistema de concessão de licenças para operação de empresasindustriais; eliminou-se, em 1991, a exigência de concessão de licenças para operação na maioria dossetores industrias, inclusive para empresas estrangeiras. Dentre os que ainda são exigidas licença estãoos setores automobilístico, linha branca e produtos de couro. Dentre as medidas para atrair o capitalestrangeiro, destacam-se: i) ampliação das licenças para expansão acionária em determinados setores;ii) permissão de controle acionário de empreendimentos numa série de setores; iii) acesso do capitalprivado a setores antes reservados de forma exclusiva ao capital estatal e/ou nacional.MéxicoA legislação ainda preserva restrições à participação estrangeira em determinadas atividadeseconômicas reservadas ao setor público, onde é proibida a realização de investimentos privados,nacionais ou estrangeiros: extração de petróleo e gás natural, refino de petróleo. No âmbito dosacordos comerciais, o NAFTA praticamente eliminou a distinção entre empresa nacional eempresa estrangeira.MalásiaDesde 1968 o governo adota uma política que incentiva a entrada de capital estrangeiro, limitandoporém a participação estrangeira geralmente a 30%, sendo permitido o controle integralcondicionado à exportação (pelo menos 80% da produção), volume de investimento (se efetuargrandes investimentos) e aporte de tecnologia (se gerar valor agregado de 50% e não venha aproduzir similar nacional). Outros níveis de participação de capital estrangeiro são autorizados,como até 79% se houver significativo valor agregado gerado ou aporte de tecnologia e entre 30 e51% se houver exportação de 20 a 50% da produção; se a exportação for menor que 20%, o capitalestrangeiro não pode ser superior a 30%;ChileNão existem restrições quanto à participação estrangeira nas empresas chilenas, é dado o status deempresa nacional à empresa estrangeira e o Comitê de Investimento Estrangeiro firma umcontrato junto a investidor estrangeiro provendo garantias contra alterações no arcabouço legal queregulamenta o investimento. As reservas de petróleo, gás natural, urânio e lítio são propriedades dogoverno chileno e podem ser exploradas mediante concessão com os investidores estrangeirospodendo participar como regra geral.Para os investimentos em carteira (portfólio), o governo impôs restrições até recentemente, nocaso, a exigência de um depósito de 30% do montante investido num fundo de reserva que nãorende juros, se o prazo de permanência dos recursos fosse inferior a um ano. O objetivo foiminimizar a circulação de capitais voláteis.

Page 11: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 11

FINANCIAMENTO E CAPITALIZAÇÃO

O IEDI considera fundamental tecer considerações específicas sobre este tema em razão desua decisiva relevância principalmente para a empresa de capital privado nacional. Ofinanciamento é instrumento básico da política de desenvolvimento e condicionante decisivodo porte, da capacidade de investimento e, portanto, da competitividade das empresasindustriais.

A situação atual apresenta as seguintes características:

� É excessivamente alto o diferencial de acesso a fontes de financiamento entre empresas decapital privado nacional e empresas estrangeiras, dadas as restrições e condicionantes domercado doméstico;

� No mercado de capitais brasileiro, que carece de um maior desenvolvimento, é baixo oacesso das empresas de capital privado nacional;

� Esses fatores impõem limites ao investimento em capital fixo e em tecnologia e diminuema competitividade das empresas nacionais;

� Esses mesmos fatores foram também responsáveis por induzir a desnacionalização e porlimitar fortemente a presença de grupos nacionais no processo de privatização deempresas brasileiras;

� O acesso ao financiamento foi também um componente indutor de importações. Emmagnitude não desprezível, as empresas e até consumidores brasileiros, foram levados acompras no exterior de matérias-primas, componentes, bens de capital e bens de consumo,devido aos prazos mais longos e ao custo mais baixo do financiamento, o que representauma evidente distorção dos conceitos de competitividade e de abertura comercial.

O Brasil, como outros países, adota um modelo de bancos oficiais ou de agênciasespecializadas, procurando suprir lacunas no sistema interno de financiamento e capitalizaçãodas empresas. Diferentemente de muitos outros países logrou atravessar fases de criseeconômica e financeira sem comprometer os ativos e o funcionamento de sua principalinstituição de fomento, que é o BNDES. Do contrário, não teria sido possível que essainstituição avançasse tanto como o fez nos últimos anos nos procedimentos operacionais, novolume de aplicações e na maior aproximação aos padrões internacionais das taxas de juros eprazos de financiamento.

O IEDI avalia como satisfatório, em seu conjunto, o desempenho do BNDES, mas apresentasugestões para melhorar sua atuação, além de ser favorável a um sistema mais diversificadode financiamento ao investimento industrial.

Comparações dos Sistemas de FinanciamentoPadrão Bancário� Existem diferenças significativas entre empresas norte-americanas e firmas japonesas e

européias, com essas últimas tendendo a financiar seus investimentos através de empréstimosjunto ao sistema bancário, relativamente ao financiamento via o mercado de capitais.

� Ainda nesses casos, como os bancos e companhias de seguros participam acionariamente dasempresas às quais eles emprestam recursos (inclusive com assento nos respectivos conselhosde administração), estabelecendo com elas relações comerciais de longo prazo, torna-sepossível financiar investimentos produtivos que requerem prazos de maturação mais longosem condições satisfatórias.

Padrão Mercado de Capitais� Nos EUA o mercado de capitais é mais relevante e as firmas têm no financiamento através do

lançamento de ações, uma poderosa e elástica fonte de recursos.

Page 12: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 12

� Por outro lado, sendo esse um mercado dominado por fundos mútuos de pensão, os quaisconcentram um volumoso portfólio de títulos que devem oferecer uma rentabilidadesatisfatória no curto prazo, o padrão norte-americano de financiamento requer das empresas aobtenção de retorno mais acelerado ou a curto prazo.

Padrão de Bancos Oficiais – Agências Especializadas� Preponderante em países em desenvolvimento e nos países de nova industrialização, onde o

problema do financiamento de longo prazo se coloca como uma barreira ao desenvolvimentoindustrial, devido à escassez e elevado custo. Desponta a Coréia com o maior número deinstituições especializadas. No Brasil, são exemplos, o BNDES e a FINEP, ambos contandocom recursos de poupança compulsória.

� As agências especializadas suprem lacunas no financiamento de longo prazo parainvestimentos, financiamento à exportação, seguro de crédito e equalização de taxas de jurosinternas às do mercado internacional, financiamento do desenvolvimento tecnológico e parapequenas e médias empresas. Muito freqüentemente estas instituições sofrem com cortes derecursos em virtude de problemas fiscais e com desajustes patrimoniais motivados peloacúmulo de créditos de pior qualidade.

O IEDI considera crucial que o modelo brasileiro de fontes oficiais de financiamento sejaaperfeiçoado e complementado pela oferta de financiamentos a longo prazo por parte dosbancos privados e pelo desenvolvimento do mercado de capitais. Considera ainda que apolítica de financiamento do desenvolvimento industrial requer um sistema fortalecido debancos nacionais.

� O IEDI considera necessário adotar uma política de direcionamento do crédito bancáriopara favorecer o investimento, a exportação e o desenvolvimento tecnológico.

� O IEDI recomenda que o governo avalie com prioridade a redução em geral da cargatributária sobre as operações de crédito do sistema bancário, e, em particular, dasoperações de médio e longo prazo.

� Uma nova oportunidade de desenvolvimento do mercado de capitais abre-se com areformulação pretendida pelo governo nos sistemas de aposentadorias e pensões. A par daprioridade que motiva a reforma nessa área é sugerido que sejam também prioridades:

� O desenvolvimento do mercado primário de capitais e o aperfeiçoamento de canais deacesso de empresas de capital privado nacional ao mercado.

� A destinação de parcela do crescimento dos recursos dos fundos para colocação detítulos representativos de investimentos em projetos de investimento, exportação eapoio a projetos que envolvam inovação tecnológica, inclusive em fases pre-competitivas.

Sugestões com relação ao BNDES:

� Dada a escassez de recursos, sugere a exclusividade de financiamentos para as empresasnacionais, para os setores industrial e de infra-estrutura, e para financiamentos de projetosde novos investimentos, condicionando os financiamentos para outros setores e àprivatização de empresas à disponibilidade de recursos;

� Considera-se uma exceção válida à norma acima a concessão de apoio financeiro aoinvestimento da empresa de capital estrangeiro em setores prioritários e segundo osobjetivos da Política de Desenvolvimento Industrial.

REGIONALIZAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL

A regionalização do desenvolvimento industrial é um tema que cresce de importância nãoapenas no Brasil, onde o processo já vem ocorrendo, mas de uma forma geral entre os países,

Page 13: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 13

incluindo os mais desenvolvidos. O levantamento realizado pelo IEDI sobre as políticasindustriais em vários países evidenciou esse fato, assim como uma articulação crescente dosincentivos e instrumentos de ação a níveis nacional e regional / estadual. A seguir, ilustraçõesde políticas de regionalização do desenvolvimento em países da Europa.

Políticas Regionais / Áreas em Declínio

AlemanhaSeguindo uma tendência da maioria das economias industrializadas, porém presente na Alemanhadesde muito cedo, as Länder (estados) e os governos locais assumem um papel fundamentalnas políticas de desenvolvimento econômico regional. Esse processo se desenvolve noplanejamento de ações, no financiamento do investimento industrial, constituição de infra-estrutura, criação de mecanismos de transferência de conhecimentos, etc.Ações para a reestruturação econômica dos novos Estados� promoção de investimentos privados e novos empreendimentos através do apoio financeiro

extensivo do governo;� construção e expansão da infra-estrutura ;� melhoria nas condições de promoção de vendas e marketing das empresas estabelecidas nas

novas Länder;� privatização e reorganização de empresas;� utilização de instrumentos de política pública para promoção do mercado de trabalho, visando

amortecer o impacto da reestruturação;� promoção de exportações;� reforço da capacidade de pesquisa e o apoio tecnológico às empresas com o objetivo de

ampliar a competitividade da indústria nos novos Estados.Áreas em DeclínioExistem programas de desenvolvimento regional que objetivam a recuperação de áreas industriaisem declínio, abrangendo os seguintes elementos/áreas: desenvolvimento de locais industriais ecomerciais; estabelecimento e modernização de infra-estrutura; pesquisa de mercado;investimentos objetivando a geração de emprego; transferência tecnológica; treinamentoprofissional; proteção ambiental; turismo; pesquisa e desenvolvimento.FrançaDuas linhas básicas de ação:� mobilização de créditos para a conversão de indústrias de determinadas regiões

afetadas desfavoravelmente pela concorrência externa; em algumas áreas, como nocaso de mineração, não há ajuda direta às empresas, mas medidas de caráter horizontalprocuram dinamizar o ambiente econômico e encorajar a criação de novas atividades; emoutras áreas, como as de construção naval, têm sido adotadas medidas diretas de apoio àprodução local e à reestruturação das empresas.

� criação de pólos tecnológicos.EspanhaFundos Estruturais da U.E.Os fundos estruturais da U.E. dirigem-se para o financiamento de iniciativas capazes de introduzirmelhorias estruturais nos países-membros mais pobres. Promovem, dessa forma, alguns objetivosbásicos como a reconversão de zonas afetadas pelo declínio industrial; o auxílio à restruturaçãoindustrial; o ajuste e modernização da agricultura e pesca; o desenvolvimento de zonas rurais; e ocombate a greves de larga duração. Atualmente está em vigor um programa para o período 1994-1999, com recursos de 141.000 milhões de ECUs (1US$ = 1,45 ECUs).A Espanha é o país que mais tem se beneficiado dos fundos estruturais. Os fundos estruturais paraos quais praticamente todas as regiões da Espanha se qualificam são: Fundo Social Europeu -destinado ao financiamento de treinamento e requalificação; Fundo Europeu de Garantia eOrientação Agrícola - voltado para a melhoria das condições de processamento e comercializaçãodos produtos agrícolas e pesqueiros; Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) -para o desenvolvimento de infra-estrutura industrial, redes de comunicação, P&D em regiõesselecionadas e infra-estrutura de educação e saúde.Em 1997, estavam sendo apoiados 470 programas em toda a UE, dos quais 55 na Espanha.Alguns setores da indústria espanhola têm sido beneficiados através dos fundos estruturais,usufruindo de incentivos de caráter vertical, embora sujeitos a distintas condicionalidades eprazos definidos para sua extinção. São os casos de carvão e siderurgia.

Page 14: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 14

A experiência recente tem demonstrado que são realidades a maior descentralização espacialdas políticas e da atividade industrial – as quais vieram ocupar um espaço deixado pelaausência de políticas estruturadas de âmbito nacional – e a viabilidade do desenvolvimentoindustrial fora do eixo regional mais dinâmico e tradicional da Indústria.

O IEDI considera que as Unidades da Federação devam dispor de condições de promoção doseu respectivo desenvolvimento industrial. É desejável, contudo, que a atuação dos governosestaduais se dê de forma coordenada com prioridades e estratégias nacionais, assim como édesejável que as políticas nacionais levem em consideração e sejam definidas a partir tambémda dimensão regional do desenvolvimento.

Em particular, duas ações ao nível federal seriam úteis aos objetivos acima: no planogovernamental de investimentos em infra-estrutura, complementá-lo com investimentos nainfra-estrutura de ciência e tecnologia, visando estimular a capacitação empresarial em torno avocações regionais; articular incentivos já existentes e financiamentos oficiais, no planofederal com os estaduais, para intensificar investimentos em setores de vocação regional, oadensamento das cadeias produtivas locais e o desenvolvimento de aglomerados industriais epólos tecnológicos.

O FORTALECIMENTO DAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS

Há um crescente reconhecimento internacional da importância das pequenas e médiasempresas industriais e de serviços produtivos na geração de empregos, no avanço tecnológicoe no desenvolvimento regional mediante a organização de pólos ou aglomerados industriais.Em alguns países, as pequenas e médias empresas têm ainda um papel destacado nasexportações. As políticas voltadas para as áreas acima são pertinentes e algumas delas serãoabordadas nos itens subsequentes. Duas questões de caráter geral devem necessariamentemerecer prioridade da Política de Desenvolvimento Industrial:

� Simplificação tributária;

� Acesso ao financiamento, propondo-se a criação de uma agência especializada nofinanciamento de pequenas e médias empresas.

Considerando que um passo na direção da simplificação tributária foi dado com a criação doSimples - impondo-se a mais rápida adoção adesão ao sistema por parte dos Estados –considera-se de fundamental importância a remoção da restrição do acesso a recursos definanciamento pelas pequenas e médias empresas.

� O modelo de agentes do BNDES não tem mais correspondido desde que virtualmentedesapareceram os bancos de desenvolvimento e as carteiras de desenvolvimento dosbancos estaduais. A conseqüência é a exclusão de um segmento inteiro de pequenas emédias empresas do financiamento oficial, um fato que se prolonga e que vem seagravando pela exigência de montantes mínimos de financiamento muito elevados paraoperações diretas com o BNDES, aliado ao pouco interesse dos bancos privados emoperações de repasse.

� A atuação da agência envolveria financiamentos diretos de projetos de investimento,exportação, tecnologia, etc., e operações de co-financiamento e participações em garantiascom o sistema de bancário.

� Um outro objetivo da agência seria o maior apoio à formação de aglomerados regionais ede indústrias de base tecnológica e formação de parcerias com os demais níveis degoverno; nesse sentido, a medida, além de destinar-se a apoiar o segmento de pequenas emédias empresas, passa a cumprir também a função de instrumento de desenvolvimento

Page 15: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 15

industrial regional. A representação a nível estadual da agência poderia servir melhor aesta sua função.

� Duas outras sugestões visam ampliar a participação do sistema bancário em repasses definanciamentos a pequenas e médias empresas: a ampliação da cobertura do fundo de avalpara projetos de investimentos de qualquer tipo (e não apenas ligados à exportação); e apermissão de constituição pelos bancos de maiores provisões dedutíveis contra créditos derepasses para pequenas e médias empresas.

A ênfase na simplificação tributária e uma ação decisiva na área do acesso aos recursos definanciamento pelas pequenas e médias empresas encontram correspondência na experiênciainternacional, onde também se destacam os incentivos e subsídios concedidos para odesenvolvimento tecnológico, promoção de exportações e programas vinculados aoaproveitamento de vocações industriais regionais.

Políticas Para Pequenas e Médias EmpresasJapãoEm função da significativa participação das PMEs na economia, têm sido tomadas medidas comoampliação dos recursos por instituições governamentais, rescalonamento dos empréstimos,ampliação dos limites da cobertura de seguros, promoção de reformas estruturais (diversificaçãodos canais financeiros, subsídios para o desenvolvimento tecnológico, utilização de sistemas deinformação avançados). O apoio às PMEs também expressa-se na disponibilização de crescentesrecursos para desenvolvimento tecnológico com ênfase nas empresas regionais, na criação deparques tecnológicos, na capacitação de recursos humanos, na reformulação do sistema fiscal ede crédito para atendimento às PMEs e no desenvolvimento de infra-estrutura.AlemanhaHá uma ampla variedade de programas e mecanismos de apoio ao segmento das pequenas emédias empresas, envolvendo mecanismos de apoio financeiro direto, como programasespecíficos voltados para atividades de Pesquisa e Desenvolvimento, incentivos fiscais ou mesmoauxílio não financeiro na forma de consultorias técnicas e treinamento gerencial. Tais programasresultam de ações planejadas e implementadas no âmbito do Governo Federal ou em formaconjunta com governos das Länder, governos locais ou mesmo através das iniciativas decooperação econômica desenvolvidas pela União Européia. Dentre as instituições e programasexistentes, caberia destacar:As diferentes linhas de crédito com juros subsidiados para as PMEs, muitas vezes com condiçõesespeciais que são aplicadas aos novos Estados, do Deutsche Ausgleichsbank (DtA) e do Kreditanstaltfür Wiederaufbau (KfW), onde os prazos de amortização podem chegar a 20 anos. Os programastambém contemplam a concessão de garantias para contratação de financiamentos e incentivos fiscaisExistem ainda programas de empréstimos ou capital de risco para estabelecimento de empresasintensivas em tecnologia, a cargo do European Investment Bank (os prazo de amortização podemchegar a 12 anos), programas para o desenvolvimento de capacidade de inovação nas PMEs doMinistério Federal de Educação, Ciência, Pesquisa e Tecnologia (BMBF) e também iniciativassub-nacionais e supra nacionais, no âmbito da União Européia.FrançaAs medidas de apoio a pequenas e médias empresas visam principalmente favorecer a realizaçãode investimentos associados ao incremento da capacitação produtiva e tecnológica e a melhoriado acesso ao crédito e a recursos de financiamento. Dentre as medidas, destacam-se o aumento dadotação de recursos concedidos pela Société français pour lássurance du capital-risque(SOFARIS) e a abertura de linhas de crédito a taxas de juros subsidiadas (CODEVI)reservadas a pequenas e médias empresas. Simultaneamente, o governo vem procurandosimplificar os procedimentos administrativos para que essas empresas tenham acesso ao crédito.ItáliaA contribuição das pequenas e médias empresas italianas ao emprego e PIB é estimada em cercade 40%. Em alguns setores tradicionais, como produtos têxteis, as PMEs são responsáveis por 86%do total das exportações, 77% em vestuário, 90% em couro e calçados, 95% em madeira emobiliário, 80% em metais não ferrosos e cerca de 77% no setor alimentício. Os incentivosbuscam reduzir as desvantagens da produção de pequena escala facilitando o suporte financeiro,através das seguintes medidas:

Page 16: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 16

� modernização dos equipamentos de produção e apoio a processos de transferência detecnologia, para aumentar a competitividade e produtividade das pequenas empresas;

� promoção de pesquisa básica e pesquisa aplicada;� estabilização ou aperfeiçoamento da posição das PMEs em mercados externos;� aumento da qualidade e diversidade de serviços de apoio oferecidos para as PMEs,

principalmente através de serviços de assessoria e cursos de treinamento;� desregulação das leis de trabalho com objetivo de aumentar o emprego e reduzir o mercado

negro de trabalho; e� internacionalização e desenvolvimento de comércio externo.Política Regional Para PMEEm nível regional, a Itália adota políticas relatadas como exemplos de desenvolvimentoindustrial e tecnológico das PMEs, como no caso de Emília-Romana. As ações do governoregional são realizadas através da Autoridade Regional para o Desenvolvimento Econômico daEmília-Romana (ERVET), fundada em 1974. A agência coordena oito centros de serviços(desenvolvimento tecnológico, cerâmica, têxteis, calçados, metrologia, equipamentosfarmacêuticos, automação flexível e construção).A agência também opera na organização do apoio a programas regionais, implementando projetose oferecendo serviços de assistência técnica a administrações locais e outras entidades públicas. Osprincipais serviços oferecidos pela agência são: pesquisa industrial, disseminação de informaçõessobre mercado, tendências da moda, padrões e regulações, serviços para aperfeiçoamentos etransferência de tecnologia, treinamento, ensaios e serviços de certificação, além de atuar napesquisa e desenvolvimento e projetos pilotos com escopo nacional e internacional, com parcelade fundos de fora da região, inclusive da União Européia.EspanhaA nova política industrial dedica uma atenção especial às PMEs, destacando-se as seguintes metas:� disseminação do design industrial e da qualidade, bem como apoio financeiro e tecnológico para

atividades voltadas para o aumento do valor agregado dos bens e serviços produzidos por PMEs;� aumentar o volume de recursos e adaptar o sistema financeiro espanhol para as

necessidades de capitalização, financiamento de longo prazo e capital de risco para asPMEs, incluindo prover o ICO (Instituto Oficial de Crédito) de linhas de crédito específicaspara as PMEs, tornar a ENISA (Cia. Nacional de Inovação) a principal operadora pública decapital de risco e a CERSA (Cia. Espanhola de Resseguro), o foco da rede nacional doSistema de Garantias Mútuas;

� simplificar procedimentos legais e administrativos;� modificar as regras tributárias em vigor de forma a introduzir incentivos específicos para as

PMEs (esquemas de redução de impostos para lucros retidos, livre depreciação ligada àcriação de empregos, etc.);rever, atualizar e fortalecer os Parques Tecnológicos existentes.

POLÍTICAS SETORIAIS

O IEDI é favorável às políticas que combinem objetivos e instrumentos de políticashorizontais com políticas e prioridades para cadeias e setores produtivos da Indústria.

� As políticas genéricas (também chamadas de políticas horizontais) são sempre essenciais,uma vez que formam a política de estímulo geral à Indústria, refletindo, portanto, o graude prioridade atribuído ao setor;

� As políticas horizontais e setoriais (ou políticas verticais) não são excedentes excludentes,e sim complementares;

� O significado da eleição de setores prioritários para efeito da Política de DesenvolvimentoIndustrial está no objetivo legítimo de um país buscar maximizar suas potencialidadespresentes, antecipar potencialidades futuras e construir as bases de uma nova Indústria.

O IEDI opta por selecionar critérios de prioridades, entendendo que a seleção desetores/cadeias prioritários é decisiva para a Política de Desenvolvimento Industrial e quedeve resultar da parceria e cooperação entre setor público e setor industrial.

� Setores portadores de novas tecnologias e/ou cujo dinamismo em termos de crescimento e

Page 17: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 17

comércio internacional se revelam promissores e onde se apresentam potencialidades deexportação. A dimensão relevante aqui é a do futuro, no qual o desenvolvimentotecnológico está no centro do dinamismo industrial.

� Setores com desempenho exportador significativo, e onde nos quais o estímulo às cadeiasprodutivas e à maior agregação de valor, permitam resultados positivos de exportações;

� Setores para os quais a escala permitida pelo mercado brasileiro e regional(MERCOSUL), associado à perspectiva de exportação, abra possibilidade de produçãolocal, voltada para o mercado interno e para exportação;

� Setores em processo ou com perspectiva de reestruturação produtiva e gerencial;

Considerando o presente momento de dificuldades financeiras do País, e excetuando-se osegmento de tecnologia avançada, a ação de políticas setoriais não deve requererinstrumentos de incentivo adicionais aos que já existem, dentre estes, os instrumentos dofinanciamento de longo prazo, incentivos para investimentos em P&D e os incentivos delocalização regional e estadual. A dimensão do mercado interno associado à sua perspectivade crescimento a longo prazo, no Brasil e no âmbito do MERCOSUL, é considerado como oprincipal atrativo de investimentos internos e de origem externa.

A pesquisa “Políticas Industriais em Países Selecionados” mostrou que ao lado da maiorutilização de políticas horizontais por diversos países, a ênfase setorial é marcante, sobretudonos campos do desenvolvimento tecnológico e da aplicação de novas tecnologias pelasempresas, em políticas para segmentos e setores tradicionais ou em declínio e na políticacomercial e de exportação. Alguns exemplos de políticas setoriais:

Políticas Horizontais X Políticas Verticais – A Experiência de Outros Países

EUANa área tecnológica os exemplos de política e prioridades setoriais se multiplicam. Apenas paracitar alguns exemplos:� O projeto Sematech, formado em 1988, com apoio governamental, com o objetivo de

aumentar a competitividade da indústria norte-americana de semicondutores. O Ministérioda Defesa, que contribuiu com cerca de US$ 500 milhões para sua implementação, exercia aação coordenadora do projeto, reunindo um conjunto expressivo de grandes empresas norte-americanas: Intel, AT&T, Texas Instruments, Hawlett-Packard, IBM, National Semicondutor,NCR Corporation, Motorola e Advance Micro Devices. Dele resultou a recuperação daliderança norte-americana no mercado de semicondutores em 1992.

� O Supercar Project que beneficiou-se de uma ajuda governamental de aproximadamente US$1 bilhão, alocados do orçamento do Departamento de Energia. Os três maiores fabricantesnacionais de veículos - através da coordenação exercida pelo US Council for AutomotiveResearch - vem estabelecendo relações de parceria - sob a coordenação promovida peloDepartamento de Comércio (o equivalente ao Ministério da Indústria em outros países) – como objetivo de viabilizar o desenvolvimento de uma nova geração de veículos baseada emmétodos mais modernos de fabricação e no desenvolvimento de modelos mais seguros e commenor nível de emissão de poluentes.. Em conseqüência destes esforços, os EUA retomam,em 1994, a posição de maior produtor mundial de automóveis.

Japão� O reconhecimento de que o modelo até então adotado e apoiado em indústrias intensivas em energia e

outros insumos materiais, não se adequava ao país, se impõe na passagem da década de 60 para a de70. Ademais, já no início da década de 70, a “paridade tecnológica” foi alcançada nos setores de aço equímica, e um pouco mais tarde no setor de maquinaria. Na busca de uma sociedadetecnologicamente avançada surgem novas prioridades, cujos objetivos foram dar um salto em termosde capacitação tecnológica e a formação de indústrias intensivas em conhecimento, não-poluidoras ecom alto valor agregado. Inicialmente, foram eleitas pela política industrial, a microeletrônica,aviação, desenvolvimento de recursos marítimos e energéticos e, num segundo momento,biotecnologia, novos materiais e tecnologias da informação e comunicação.

Page 18: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 18

Alemanha:� Setores aeroespacial e construção naval - No início da década de 90, o governo concedeu

forte ênfase a esses setores. Neste último, os programas já existentes e voltados para a parteocidental foram ampliados para incentivar a construção naval nas novas Länder. O governoconsiderava que as distorções existentes no mercado internacional de construção naval,demandavam a manutenção de um apoio financeiro especial, na forma de subsídios e outrasformas de apoio à competição para as empresas situadas no lado oriental. No caso da indústriaaeroespacial, o governo procurou fortalecer a cooperação internacional, principalmente noâmbito da União Européia, através da participação em programas como da Airbus, Columbuse Hermes.

� Biotecnologia - Tendo em vista atrasos diagnosticados na capacitação tecnológica ecompetitiva da indústria alemã, o governo iniciou, desde 1995, um programa setorial para aárea de Biotecnologia, enfocado sob a ótica da dinâmica inovativa regional. Consiste naseleção de três regiões que receberão apoio do Governo Federal através em financiamentosque poderão cobrir até 50% dos custos de investimento para estabelecimento de uma infra-estrutura de P&D voltada à Biotecnologia. No decorrer de cinco anos, as regiões selecionadasreceberão um tratamento preferencial do Governo Federal para o financiamento de projetosque envolvam instituições de pesquisa e empresas no desenvolvimento de produtos eprocessos em Biotecnologia.

França� O governo atuou como sinalizador do processo de investimento industrial através de grandes

projetos, concebidos a partir de recursos públicos e de uma articulação efetiva com grandesempresas privadas, direcionados para áreas dinâmicas de caráter estratégico. No passado, asprioridades foram as áreas energéticas (elétrica e nuclear, em especial) e militar; no períodomais recente, os setores de telecomunicações e aeroespacial. Nesse sentido, a políticaindustrial francesa apresenta um conteúdo “vertical”, embora medidas adotadas nos últimosanos tenham enfatizado a dimensão horizontal.

Coréia� Décadas de 60 e 70 - A política industrial pode ser caracterizada como uma política de

substituição de importações com seletividade setorial e subordinada à estratégia de conquistade competitividade internacional. Nos anos 60, o setor têxtil e a siderurgia receberamsignificativos incentivos e subsídios.

� Década de 90 - A política industrial ainda estrutura-se a partir de prioridades setoriais,mantendo suas características essenciais de proteção, promoção de exportação, estímulos àatualização tecnológica e oferta de crédito em condições favoráveis. No entanto, reduziram-seos setores priorizados, mas ainda são prioritários semicondutores, telecomunicações e aindústria automobilística. De uma forma ou de outra, tais setores ainda são objeto deestímulos por parte do governo, como, por exemplo: o setor de semicondutores mantémcrédito subsidiado através dos bancos de desenvolvimento; a política tecnológica favorecesetores específicos como eletricidade e telecomunicações, com fortes subsídios nos seusinvestimentos de P&D. Por outro lado, é crescente o apoio e estímulo do governo coreano às“funções” genéricas – políticas horizontais - como apoio às pequenas e médias empresas einvestimento em pesquisa e desenvolvimento.

Malásia� O Plano Industrial para o período de 1986 a 1995, definiu 12 setores industriais como

prioritários, sendo sete deles baseados em recursos naturais e outros cinco: elétrica eeletrônica, têxtil, siderurgia, máquinas e equipamentos e material de transportes. Em termosgerais a política industrial ao mesmo tempo procurou atrair e liberar o comércio externo paraalguns desses setores, mas, por outro lado, teve postura protecionista em relação a outros.

� O Segundo Plano Industrial– 1996 –2205, baseado na concepção de aglomerados (clusters)definiu prioridades para os setores de eletrônica e têxtil, que por si próprios tem um grandepotencial em se tornarem aglomerados, química, transportes, máquinas e equipamentos,novos materiais, , agroindústria e indústria de alimentos e transformação de recursosnaturais.

Page 19: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 19

3 - RELAÇÕES SETOR PÚBLICO E SETOR PRIVADO E ORGANIZAÇÃO DO

ESTADO

O IEDI atribui máxima importância à parceria nas relações entre setor público e setor privadoe à organização do Estado e do setor empresarial para a coordenação da política dedesenvolvimento industrial. São dois os motivos principais:

� A política de desenvolvimento industrial concebida na atualidade pressupõe a parceria jáque sua eficácia está associada à reunião de vários instrumentos – da área industrialpropriamente, tecnológica, comercial, regional, etc.- e coordenação de esforços de setorpúblico e setor privado;

� A alternativa, a política amparada na utilização generalizada de incentivos, subsídios eproteção, além de pertencer ao passado, não seria de qualquer forma recomendável oufactível no atual momento de dificuldades fiscais e financeiras do País. Como é oportunoobservar, os incentivos, subsídios e mesmo a proteção ainda são utilizados comoinstrumentos de política em vários países, embora de forma mais seletiva e condicionada àobtenção de resultados (relativos ao emprego, ao desenvolvimento tecnológico, etc.). Apropósito, um estudo da OCDE concluiu que “os resultados apontam claramente amanutenção dos subsídios como instrumento importante nas políticas estruturais adotadasna área da OECD.” (The OECD Observer, março/1997)

PARCERIA ENTRE SETOR PÚBLICO E SETOR PRIVADO

O Brasil em seu processo de industrialização adotou uma política industrial cujo modelo seesgotou. Como conseqüência, foram desestruturados os instrumentos desta política, e, o que émais grave, também se perdeu a orientação pró-produção nacional das políticas econômicas.

As políticas econômicas passaram cada vez mais a priorizar a estabilização macroeconômica,em detrimento do desenvolvimento industrial. Nos anos 90, a própria concepção de políticaorientada a promover o desenvolvimento geral e o desenvolvimento industrial desaparece,subordinada às políticas voltadas à estabilidade.

Não é desejável, nem está sendo proposta a predominância de uma sobre outra política; muitomenos o retorno ao modelo antigo, mas sim a articulação entre as duas dimensões daspolíticas públicas. É em períodos de instabilidade e de dificuldade macroeconômica que se fazmais necessária a Política de Desenvolvimento Industrial.

É entendimento do IEDI que o pressuposto a ser observado para a formulação e execução deuma Política de Desenvolvimento Industrial no Brasil é a reconstrução das relações entre setorpúblico e setor privado, em bases de parceria e de estratégias conjuntas, em torno a objetivose prioridades da produção.

A Política de Desenvolvimento Industrial deve ser fruto da parceria e da definição deobjetivos comuns do governo e setor industrial, detendo este a vivência e o conhecimentoespecífico sobre a produção, o investimento, as tecnologias e processos competitivos.

A parceria que se faz necessária envolve distintos níveis e agentes econômicos:

� A parceria e coordenação no interior do próprio aparelho de Estado, decorrentes daabrangência na atualidade da concepção da Política de Desenvolvimento Industrial;

� A parceria entre setor público e setor privado; a participação deste na definição eimplementação da Política de Desenvolvimento Industrial é considerada fundamental.

As parcerias são comuns em experiências internacionais, abrangendo os níveis nacional eestaduais / regionais de governo e entre setor público e setor privado. No Brasil, algumas

Page 20: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 20

iniciativas do BNDES e, mais recentemente da CAMEX, além de iniciativas estaduais, têmprocurado explorar os benefícios da ação conjunta.

Parceria e Relações Setor Público / Setor Privado.� Nos EUA é expressiva a participação dos interesses privados junto aos poderes executivo e

legislativo para influenciar o arcabouço institucional-regulatório; importância dos lobbiesempresariais como forma institucionalizada de representação destes interesses. Dentre osmuitos casos que poderiam ser aventados para ilustrar o significado deste modelo de relaçãosetor público/setor privado para a indústria norte-americana, cabe lembrar a defesa dosinteresses comerciais do empresariado do país e a parceria em projetos conjuntos setorpúblico e empresas nacionais na área de desenvolvimento tecnológico, como nos programasjá citados.

� No Japão a ênfase é na interdependência dos laços ligando setores privados e públicos,onde se destaca o papel coordenador do governo, assim como seu processo de contínuaadaptação e redefinição de políticas, e o intenso nível de colaboração entre a burocraciaestatal e as empresas. A parceria reflete-se em maior competitividade da indústria. Ailustração são os são os programas de pesquisa colaborativa apoiados pelo governo, ondeum dos objetivos é o de fortalecer as empresas potencialmente mais competitivas e defacilitar as necessárias conexões na cadeia de informação técnico-científica e de produçãoe comercialização de novos bens. O caráter de colaboração/parceria é também ilustradopelos programas lançados nos anos 70 e 80, que focalizavam o desenvolvimento depesquisas de longo prazo nas áreas de tecnologias da informação, biotecnologia e novosmateriais, enquanto os desenvolvimentos de processos e produtos específicos eramdeixados para as empresas decidirem por si mesmas. Os novos programas dos anos 90aprofundam a cooperação em algumas destas áreas e também em novas áreas de fronteiracientífica, ampliando a cooperação para o nível internacional. Ainda sobre a experiênciajaponesa, o envolvimento de associações industriais na definição e promoção da políticatecnológica e industrial tem sido considerado importante pela contribuição para ampliar acapacidade de identificar pontos de estrangulamento e de resolver diferenças, aliviando-seo peso de se agregar as diversas demandas do setor privado. Adicionalmente, o papel dasassociações de pesquisa estabelecidas para resolver problemas tecnológicos comuns temsido crucial.

� Na Espanha, o governo vem empreendendo esforços para gerar maior aproximação com osetor empresarial, a fim de identificar fragilidades e implementar iniciativas comuns eprogramas de fomento de exportações. Uma das medidas previstas no Plano 2000 é a criaçãodo Conselho Assessor de Comércio e Investimento Externo, composto por representantesdo governo e do setor empresarial. Outra iniciativa é a criação de uma Comissão Consultivapara Negociações Comerciais, voltada para defender os interesses das empresas espanholasnas negociações comerciais junto a UE e informar o setor exportador sobre seus direitos eoportunidades.

� No México, o Programa de Política Industrial y Comércio Exterior enfatiza os esforços decoordenação entre o setor público e o setor privado, mediante o Conselho Nacional da Micro,Pequena e Media Empresa, presidido pela SECOFI (Secretaría de Comércio y FomentoIndustrial), com participação de diversos organismos empresariais (Conselho CoordenadorEmpresarial, Confederação das Câmaras Industriais, etc.) e os Programas de SetoresProdutivos, um instrumento de coordenação no atendimento às demandas dos setoresindustriais, com direção da SECOFI e participação dos bancos de desenvolvimento e derepresentantes dos setores produtivos na elaboração de diagnósticos setoriais com fixação eacompanhamento de metas qualitativas e quantitativas. A COMPEX (Comissão Mista para aPromoção de Exportações) é o principal instrumento de coordenação entre o setor público e asassociações empresarias na elaboração da política de exportações.

ORGANIZAÇÃO DO ESTADO PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL

Procurando contribuir com o tema da coordenação entre diferentes órgãos do governo, entredistintas esferas de governo e entre setor público e setor privado, bem como para odesenvolvimento de definições e ações conjuntas, o IEDI sugere a estruturação de órgãos

Page 21: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 21

colegiados: O Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial, formado por Ministrosde Estado, por um representante dos secretários estaduais responsáveis pelodesenvolvimento industrial e por empresários; o Fórum da Produção Industrial, formadopor empresários; e de Grupos Estratégicos, constituídos por representantes do setorpúblico e do setor privado.

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial caberia a definição de diretrizes eestratégias da Política de Desenvolvimento Industrial, aí incluídas as diretrizes relativas aosetor industrial em suas várias dimensões (políticas setoriais, comércio exterior,desenvolvimento tecnológico, regionalização do desenvolvimento industrial, pequenas emédias empresas, etc.).

O IEDI reconhece que a abrangência da Política de Desenvolvimento Industrial torna nãoplausível e não desejável que todos os instrumentos de ação pública estejam concentrados emum único ministério. Daí a necessidade de ação coordenada.

No entanto, no desempenho de suas funções de coordenação e avaliação das políticas e deproponente da Política de Desenvolvimento Industrial, é necessário que o ministérioresponsável pela área industrial deva estar estruturado do ponto de vista técnico e deterinstrumentos adequados. Nesse sentido, o IEDI considera adequada a incorporação doBNDES ao ministério responsável pela Indústria.

A presença de empresários industriais no Conselho Nacional tem por objetivo aprofundar acooperação e a divisão de tarefas entre setor público e setor privado. Convém ressaltar que aparticipação empresarial não se prende à defesa de interesses específicos e sim à cooperaçãopara a promoção dos interesses da Nação.

Quanto à representação dos secretários estaduais responsáveis pelo desenvolvimentoindustrial esta justifica-se pela relevância do tema da regionalização do desenvolvimentoindustrial.

O Fórum da Produção Industrial

Visando ainda contribuir para o estabelecimento da cooperação e de iniciativas coordenadasentre setor público e setor privado é sugerida a criação do Fórum da Produção Industrial,composto por empresários industriais, sendo que aqueles pertencentes ao Conselho Nacionalsão seus membros natos. Além destes, o setor industrial deverá eleger outros representantes,com mandatos temporários. O objetivo é constituir um locus de discussão empresarial,independentemente de associações de classe e de setores de atuação das suas empresas.Portanto, ao Fórum da Produção Industrial também caberia encaminhar propostas de Políticade Desenvolvimento Industrial e acompanhar e avaliar a execução das políticas na perspectivaempresarial.

O IEDI sugere uma outra função para o Fórum da Produção Industrial: promoverdebates e coordenar a elaboração de um documento anual sobre as tendências daindústria, no Brasil e no mundo, procurando vislumbrar o futuro da indústria, seudesenvolvimento tecnológico e a evolução do comércio internacional de manufaturas.O objetivo é fornecer subsídios para a Política de Desenvolvimento Industrial emquestões como novos setores, novas tecnologias, novos mercados e novas formas deconcorrência.

Page 22: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 22

Visões do FuturoAs “visões do futuro” desenvolvidas em vários países têm sido decisivas para a antecipação dedecisões e definição prévia de estratégias� No Japão o uso dos sistemas de previsão tecnológica denominados visions of the future tem

baseado tanto a seleção dos setores estratégicos a longo prazo e prioritários em termos daspolíticas industrial e tecnológica, como tem servido para eleger medidas de reestruturação dossetores tradicionais ou em declínio. O sistema foi bem sucedido em reconhecer ainda nos anos60 e 70 o papel fundamental do desenvolvimento das tecnologias da informação nas décadassubsequentes. Uma de suas característica é a contínua interação e consulta através de meiosformais e informais das agências do governo, as comunidades industrial, científica etecnológica, e outras esferas.

� Nos EUA existem grupos integrando agências governamentais, instituições acadêmicas eempresas industriais, com o intuito de mapear coletivamente a evolução tecnológica dedeterminadas indústrias - no campo de semicondutores, aeroespacial, telecomunicações,motores elétricos e opto-eletrônica - gerando, desse modo, road maps que sinalizem asdireções no esforço de capacitação produtiva e tecnológica.

Os Grupos Estratégicos

O IEDI considera um instrumento privilegiado de formulação, coordenação e avaliação depolíticas os Grupos Estratégicos, compostos por representantes do setor público e do setorprivado, estes indicados pelo Fórum da Produção Industrial.

Sugere que os Grupos Estratégicos devam ser:

� Organizados por grandes temas ou setores prioritários;

� Temporários, com duração definida pelo horizonte de tempo da formulação e execução daPolítica de Desenvolvimento Industrial;

� Uma oportunidade para o trabalho conjunto e articulado interinstitucionalmente.

4 - PRIORIDADES DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL

Foram selecionadas quatro prioridades da Política de Desenvolvimento Industrial, tendo comoreferências a necessidade de reorganizar a produção industrial brasileira como requisito de seudesenvolvimento de longo prazo, e fazê-lo o mais rapidamente possível para que a Política deDesenvolvimento Industrial atenda ao desafio presente de superação da crise. As prioridadestambém seguem o critério de promover a elevação da competitividade da produção nacional.

� Promover o avanço de indústrias integrantes da nova revolução industrial

A segunda prioridade focaliza o extremo atraso da indústria brasileira no que se refere àsindústrias integrantes da chamada nova revolução industrial. Não é preciso insistir aqui noretardamento neste campo e sim aceitar ou admitir que é chegada a hora de reduzir o atraso.Este bloco consiste de um grande número de indústrias mas caberia destacar entre elas osegmento vasto e diversificado usualmente referido como sendo o complexo eletrônico.

A privatização recente das telecomunicações reconhecidamente detonará um violentoprocesso de expansão deste complexo. Por outro lado, nas novas circunstâncias impostas pelacrise do setor externo, a sobrecarga que isto acarretaria sobre a balança do comércio seriainadmissível. Há portanto de concentrar esforços em um vigoroso processo de afirmação detodo este segmento, desde a infra-estrutura de P&D até os ramos de produção dos bens finais.

É importante frisar que não se trata de montar o bloco eletrônico à maneira do processo desubstituição de importações, mas sim de eleger segmentos especialmente da área de

Page 23: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 23

componentes em que o Brasil por diferentes razões, tem chances de se afirmar e dispõe depotencial de mercado interno e exportação.

� Agregar valor às exportações de manufaturados

O IEDI sempre compartilhou das demandas empresariais para que a política econômicaintensificasse a promoção de exportações e considera positiva a recente ênfase dada pelogoverno na política de exportação. Contudo, pondera que a reversão das condições externasrepresenta uma limitação ao tardio despertar da política econômica para a questão. Amudança, cujos sinais já se apresentam no comércio internacional, fundamenta a dúvida deque o quantum de exportações brasileiras, ressalvadas certas exceções, poderá crescer, aopasso que a tendência dos preços é de declínio, dado o quadro de competição potencializada ede sobre-oferta dos mercados que certamente se agravará devido à necessidade de exportaçãodos países emergentes mais atingidos pela crise.

Nesse contexto previsível, não obstante o esforço que deve ser renovado e ampliado paraaumentar o valor das exportações, torna-se ainda mais prioritária a política de exportações,mas também torna-se estratégico um outro objetivo cuja justificativa não encontracorrespondência tão-somente no momento atual, mas é parte da necessária reorganização daprodução industrial, que é elevar por todos os meios o valor agregado dos produtosexportados pelo País.

� Adensar as cadeias produtivas

Não é destituída de significado a hipótese de que o esforço necessário para a reversão dedéficit para saldo comercial possa exceder aquilo que se pode obter mediante as vendas para omercado externo. Resta, por conseguinte, trabalhar do lado das importações, em uma outralinha de política industrial apenas episodicamente abordada pela política econômica. Trata-sede amplo campo, onde se pode divisar pelo menos três caminhos.

A ampliação dos mercados após a estabilização e a sobrevalorização cambial induziramnumerosas empresas a importar de forma excepcional. A rigor, pode-se afirmar que emmuitos casos de empresas, chegou-se a fazer política de auto-proteção via importações. Partedo esforço de sobrevivência feito através deste tipo de recurso tendeu naturalmente a revertere já está revertendo em diversos casos. Ocorre que agora torna-se uma questão de interessenacional que as importações de diversos produtos recuem para níveis mais sensatos, menosocasionais e não excepcionais. Em grande medida expontâneo, pode este processo seracelerado pela ação de políticas.

O segundo caminho, já percebido pelo BNDES, está relacionado ao programa deprivatizações. A onda de investimentos a ele associados, por razões que tem a ver mais comos vínculos internacionais das novas empresas do que por critérios estritos de mercado, levaráa uma acentuação indevida das compras do exterior. Há aqui um outro espaço no sentido decapturar para produtores e mercados boa parte destas encomendas.

Por fim, a dimensão de fronteira. Dada a evolução recente da indústria, sua reestruturação e arequalificação dos produtores nacionais, foi adquirido potencial antes em muitos casos nãodisponível, de avançar sobre produtos com um conteúdo tecnológico maior, jamaisproduzidos no mercado interno. Neste caso trata-se de formular políticas amparadas nopotencial do mercado doméstico e regional (MERCOSUL), e sempre que possível, ampliar oobjetivo para exportação.

� Completar a reestruturação da Indústria

No que se refere às indústrias que concluíram ou que estejam concluindo processos dereestruturação, a preocupação consiste em que a eficiência adquirida ou em vias de ser

Page 24: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 24

alcançada através da modernização se perca em função da exposição dessas indústrias adificuldades que não poderiam ser previstas, decorrentes da crise internacional e da queda dademanda no plano doméstico. Não faria qualquer sentido que após ou em meio a tão profundoesforço de renovação, empresas e setores inteiros fossem sacrificados pelas excepcionaisdificuldades de mercado que se anunciam.

Em tais casos seria plenamente justificável abrir discussões em torno a uma possível elevaçãotemporária de tarifas de importação para que ao menos no mercado interno elas possamrealizar o seu potencial produtivo ampliado ou em vias de acréscimo como resultado dareestruturação.

A orientação acima deve estar estritamente subordinada à avaliação das condições específicasde cada setor e o apoio da política industrial condicionado à existência de problemasgenéricos ao setor decorrentes da grave conjuntura macroeconômica, significando isto dizerque a justificativa jamais deve ser encontrada ao nível microeconômico, ou seja, da empresasingular.

POLÍTICA DE COMÉRCIO EXTERIOR

A revisão da Política de Comércio Exterior brasileira objetiva redistribuir as prioridades entreexportações e importações, aumentar a competitividade das exportações, valorizar o mercadointerno e garantir a utilização eficaz dos instrumentos de controle de importações predatóriasutilizados no mundo todo. A mudança de prioridade da importação a todo custo para a ênfasee o incentivo à exportação tem sido promovida pelo próprio governo e, exceto devido ao seuatraso, apresenta aspectos inovadores e pontos que vêm ao encontro das necessidades do País– exemplos do modelo adotado pela CAMEX de consulta ao setor privado exportador atravésde gerências setoriais e a fixação de regras e controles para impedir a concorrência predatória.

Tomando aspectos permanentes e de longo prazo e os novos condicionantes da crise atual, apolítica de comércio exterior desejada envolve:

� Política cambial que assegure competitividade à produção nacional;

� Ativa política de promoção de exportações de manufaturados;

� Articulação com a política industrial;

� Revisão das tarifas de importação, precedida de medidas transitórias de aumento seletivode tarifas de importação;

� Execução de rigorosa política nas áreas de valoração aduaneira, direitos anti-dumping eoutros direitos, controles técnicos e sanitários e fitossanitários de importações.

Como convém reafirmar, as linhas de política acima não se confundem com a defesa depráticas protecionistas e não encontram justificativa exclusivamente na situação de crise atual,embora a gravidade da situação presente, aliado ao fato de não terem sido aplicadas nomomento adequado, as torne ainda mais urgentes. Em suas linhas gerais, são orientações queo IEDI tem sugerido ao longo dos últimos anos e que correspondem aos anseios de que oBrasil desfrute:

� De uma economia competitiva pela produtividade que suas empresas alcançaram, emcondições de neutralidade da taxa de câmbio;

� De uma economia aberta não só do lado das importações mas também das exportações,contando estas com parcela expressiva de produtos de qualidade, alto valor agregado eproduzidos com escala e eficiência;

Page 25: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 25

� Uma economia em que as importações contribuam para o abastecimento interno, aredução de custos e o aumento da produtividade da produção brasileira, mas não paradeslocar a produção doméstica, destruir empregos e sonegar impostos mediante aconcorrência desleal, o subfaturamento e o dumping, o que justifica as políticas decontrole e punição das importações predatórias.

Na promoção de exportações, o IEDI considera fundamental, com as qualificações já feitas, oajuste da taxa de câmbio e ainda as seguintes prioridades:

� Desoneração fiscal na exportação de manufaturados;

� Financiamento às exportações e aos investimentos para projetos de exportações emcondições compatíveis com as vigentes nos mercados internacionais;

� Seguro de exportação;

� Melhora da infra-estrutura para exportação e redução dos custos portuários.

Convém assinalar que as políticas de promoção de exportações de manufaturados sãocorrentemente adotadas por outros países, e, ainda, que as prioridades e medidas sugeridasnessa área não envolvem subsídios e novos incentivos fiscais. São sugeridas as seguintesmedidas:

� Enquanto medidas definitivas não são implementadas, é imprescindível que o governofaça valer e desburocratize a desoneração do PIS/COFINS e que torne efetiva adesoneração do ICMS para exportações, devolvendo de fato os saldos credores. Érecomendado ainda, nessa área, a revisão, em uma perspectiva setorial, do índice docrédito presumido de desoneração do PIS/COFINS, e que este seja acrescido da incidênciadireta e indireta da CPMF. As ações acima não configuram aumento de incentivos, mastão-somente buscam neutralizar em parte as atuais distorções tributárias e tornar efetivasdecisões anteriores destinadas também a assegurar isonomia.

� Na área do financiamento das exportações, é necessário avançar na aproximação das taxasdos financiamentos às condições internacionais, adequar prazos de carência e deamortização às características setoriais dos segmentos exportadores e ampliar a coberturae os recursos para o financiamento à exportação, incluindo financiamentos de projetosvoltados ou com contrapartida de exportação.

� Nas áreas do seguro de crédito e de infra-estrutura e portos, as ações governamentaisprecisam ser aceleradas. A criação da Companhia de Seguro de Crédito à Exportaçãoconstitui um primeiro passo para o desenvolvimento do instrumento seguro de crédito. Ainfra-estrutura para exportação e os custos portuários, a despeito dos investimentos e dosavanços efetivados nos últimos anos, ainda são inadequados para a competitividade dosprodutos nacionais.

A seguir, são relacionados para alguns países, as práticas de políticas e incentivos paraexportação.

Políticas de Promoção de ExportaçõesEspanhaA política objetiva manter o apoio ao investimento externo das empresas espanholas e promoversuas exportações através de políticas nas áreas institucional, financeira, fiscal, de informação etreinamento:� coordenar, simplificar e conferir maior eficiência aos instrumentos de promoção de

exportações existentes, bem como sintonizá-los com as diretrizes de políticaindustrial;

� estimular as exportações de alto conteúdo tecnológico e valor agregado;

Page 26: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 26

� estimular a divisão de riscos nas atividades exportadoras através de instrumentos financeirosoficiais para projetos de importância particular para a política industrial e comercialgovernamental;

� estimular a formação de consórcios de exportação e de acordos de cooperação internacionalnas áreas comercial, industrial e tecnológica;

O Plano 2000 de ExportaçãoO Plano define um conjuntos de medidas, envolvendo modalidades diferenciadas de subvençõese a oferta de diversos serviços de apoio às atividades de exportação e investimento externo dasempresas.Instrumentos Financeiros de PromoçãoOs instrumentos financeiros de promoção às exportações na Espanha são o CARI - Contrato deAjuste Recíproco de Juros, os créditos FAD - Fundo de Ayuda al Desarrollo e o seguro de creditoà exportação. Os CARIs permitem a subscrição de cada entidade financeira junto ao ICO -Instituto Oficial de Credito, de forma a viabilizar a concessão de crédito ao exportador espanhol.O FAD oferece créditos governo a governo para financiar exportações de bens de capital e deserviços de infra-estrutura para países de baixo nível de renda per capita. As medidas previstaspara o fomento na área envolvem:� a agilização do sistema CARI, de forma a encurtar o período de tramitação da análise dos

financiamentos;� o apoio oficial à exportação através do sistema CARI para operações com período de

amortização inferior a dois anos;� a criação de uma linha de financiamento para estudos de viabilidade de projetos e

programas de empresas espanholas em países em desenvolvimento;� a equiparação das condições de crédito a compradores e fornecedores;� a cobertura de risco político (reapropriação) para operações de leasing;� redução das tarifas prêmio para operações de médio e longo prazos;Medidas de Promoção ao Investimento no ExteriorDestacando-se os APPRIs - Acordos de Promoção e Proteção Recíproca de Investimentos, osseguros de investimento externo, o PAPI - Programa de Apoio a Projetos de Investimento, as açõesdo COFIDES, além do recém criado PROINVEX - Programa ICO de Financiamento deInvestimentos no Exterior. Os APPRIs são acordos bilaterais, realizados sobretudo com países nãoOCDE, dirigidos a potencializar e minimizar os riscos do investimento espanhol no exterior. OsAPPRIs proporcionam maior segurança jurídica ao investidor, através do reconhecimento dedireitos e concessão de garantias adicionais aos estabelecidos na legislação do país signatário.Atualmente existem APPRIs assinados com 44 países.Além das medidas acima, o Programa contempla medidas nas éreas de Promoção Comercial,Assistência Técnica, Informação e Capacitação.CoréiaA Coréia sempre se valeu dos tipos de subvenções sob restrição pelo Acordo sobre Subsídios eMedidas Compensatórias da OMC, como forma de promoção de exportações, utilizando osseguintes instrumentos principais: fundo de investimentos de equipamentos para indústriasexportadoras; fundo de reserva para perdas das exportações; créditos especiais paraexportações e importações; depreciação acelerada de ativos fixos que geram divisasexternas. Recentemente, o governo anunciou que substituirá todos estes subsídios por segurosàs exportações, créditos de longo prazo para exportações, sistema de reintegração de direitos eum sistema de letras de câmbio comerciais, estritamente em conformidade com as regras daOMC.MéxicoA política de promoção de exportações envolve os seguintes aspectos:Serviços de informação, assessoria e capacitação em comércio exterior.Através do Centro de Serviços ao Comércio Exterior e do SIMPEX (Sistema Mexicano dePromoção Externa) busca-se difundir informações especializadas sobre comércio exterior, taiscomo: negociações comerciais, sistemas de comercialização e aspectos técnicos de produção,sistemas aduaneiros, cotações internacionais, sistemas de transporte internacional, etc.Desenvolvimento de mercadosO Banco Nacional de Comércio Exterior presta serviços de investigação para o desenvolvimentoe promoção de mercados e produtos. Dispõe ainda de um programa destinado a apoiar aparticipação de empresas mexicanas em feiras e eventos internacionais.Fomento às Exportações e CoordenaçãoAtravés dos seguintes programas:

Page 27: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 27

� programa PITEX - permite que exportadores não-petrolíferos realizem a importação deprodutos sem pagamento de tarifas, desde que gere um saldo comercial positivo;

� programa ALTEX - possibilita o reembolso do imposto sobre o valor agregado numperíodo máximo de cinco dias e a agilização de trâmites aduaneiros; as empresas devemter um nível mínimo de exportações de US$ 2 milhões ou 40% das vendas totais.

� em 1992, com a persistência do déficit comercial manufatureiro e com as restriçõesmacroeconômicas as políticas acima foram alteradas em direção a políticas setoriais; nessemesmo ano, a SECOFI criou uma variedade de programas, promovendo a competitividadeindustrial através da COMPEX (Comissão Mista para a Promoção de Exportações) em 34setores manufatureiros: couro e calçados, têxtil, madeira, alumínio, química, farmacêutica,plásticos, bens de capital, entre outros.

Apoio FinanceiroO BANCOMEXT (Banco Nacional de Comércio Exterior) oferece, diretamente e através dosbancos comerciais e de desenvolvimento, empréstimos, serviços financeiros, garantias e avais aosetor exportador. O financiamento envolve as várias etapas da cadeia de exportação: pré-exportação, investimentos, aumentos de capacidade produtiva, importação de produtos básicos,comercialização e crédito internacional aos compradores.MalásiaO governo concede incentivos fiscais à atividade exportadora, principalmente desde 1988, noinício da quarta fase do processo de desenvolvimento. As medidas de estímulo são:� governo permite o abatimento do faturamento das empresas 50% do valor das suas

exportações, para efeitos de cálculo do imposto de renda;� é permitida a dedução em dobro dos gastos destinados à promoção comercial e as

despesas relativas ao pagamento de prêmio de seguro de crédito para exportação;� concessão de crédito à exportação tanto na modalidade pré como pós venda, com taxas

subsidiadas.Para 1998, foram concedidos incentivos adicionais, dada a situação do balanço de pagamento.Para os bens exportados com valor agregado de pelo menos 30% do valor da produção, foipermitido um desconto adicional do faturamento para efeitos do cálculo do imposto de rendareferentes a 15% do incremento de exportação (10% para os bens exportados com valoragregado de pelo menos 30%).ChileA política de exportação não especifica a promoção de setores ou atividades específicas. Osprincipais mecanismos utilizados foram incentivos tributários, facilidades de financiamento,redução de custos de transporte e política macroeconômica consistente com uma taxa de câmbioreal favorável às exportações, e a busca de novos mercados através de acordos bilaterais deredução de tarifas. Os mecanismos de incentivos às exportações utilizados podem ser classificadosem aduaneiros, tributários e financeiros. O principal mecanismo aduaneiro utilizado consiste nadesoneração da tarifa de importação de insumos se comprovada a utilização para a produção debens direcionados ao mercado externo. O governo chileno também concede redução do IVA(Imposto sobre o Valor Agregado) - incentivo tributário - comprovado o uso para fins deexportação. O governo chileno criou um sistema de drawback simplificado para incentivar asexportações não tradicionais. O exportador, por este sistema, não precisa comprovar a utilizaçãode insumos importados e recebe uma restituição de até 10% do valor FOB exportado.. A concessãodo incentivo via reintegração simplificada depende do seguinte critério: se as exportações emqualquer ano anterior não tenham atingido valores de US$ 11,6 milhões, US$ 17,4 milhões e US$20,9 milhões, obtêm-se uma restituição da ordem de 10%, 5% e 3% do valor FOBrespectivamente.

POLÍTICA DE MERCADO INTERNO

Na política de importação, o IEDI recomenda como prioridades:

� A revisão da estrutura tarifária;

� A Política anti-dumping e de valoração aduaneira;

� A imposição de controles e normas técnicas às importações;

� A política de compras da produção nacional.

Page 28: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 28

Revisão da Estrutura Tarifária:

� É entendimento do IEDI que as inúmeras modificações de tarifas de importação –motivadas por distintos objetivos como a adequação à TEC MERCOSUL e alteraçõesdeterminadas pela política de estabilização, regimes especiais etc., e que nos últimos 4anos virtualmente envolveram todos os itens importados – justificam a revisão emprofundidade da estrutura tarifária. A curto prazo, sugere o exame cuidadoso de umaumento temporário de tarifas, negociado com os parceiros do MERCOSUL, e deabrangência estritamente seletiva e subordinada à estratégia de Política deDesenvolvimento Industrial, segundo os critérios já assinalados.

� No caso dos ex-tarifários, o seu número deve ser limitado e seu uso restrito apenas aoscasos absolutamente imprescindíveis.

Controles e Restrições à Concorrência Predatória.

A ausência de controles e restrições da concorrência desleal em termos de preços,condições de financiamento e qualidade dos produtos importados concorreu decisivamentenos últimos anos para o aumento das importações em prejuízo da produção, do emprego e,em alguns casos, também do consumidor brasileiro. Desde o início da abertura deimportações, passando pela fase mais recente em que a estabilização e a sobrevalorizaçãocambial conferiram um redobrado estímulo às importações, o IEDI vem se pronunciandopela necessidade de medidas de restrição da concorrência predatória.

� O IEDI reafirma que a sua abordagem do tema da concorrência predatória é hojerigorosamente o mesmo de anos atrás: avalia como imperiosa a necessidade doscontroles e restrições através da valoração aduaneira, direitos anti-dumping, controlesde caráter técnico, sanitário e fitossanitário. Por isso, avalia as medidas que, comgrande atraso, o governo vem tomando na área como passos iniciais em direção aoobjetivo que é neutralizar por completo a concorrência desta natureza.

� Sugere como instrumento complementar à ação governamental na aplicação dessescontroles a parceria com o setor privado, através das representações empresariais, como jáse desenvolve para a valoração aduaneira de alguns produtos.

� Sugere ainda que através da abertura de informações do Siscomex, não só as associações erepresentações empresariais, como todos os segmentos da sociedade possam acompanhare informar às autoridades as eventuais práticas de subfaturamento e dumping nasimportações. A divulgação das informações poderia omitir a identificação do importador eser liberada com uma defasagem de, por exemplo, 60 dias, resguardando o sigilo e aconcorrência comercial.

Não se propõe que os controles acima, internacionalmente aceitos, destinem-se a outropropósito que não prevenir e punir a concorrência desleal, embora as próprias exportaçõesbrasileiras encontrem nesses mesmos controles exercidos por outros países verdadeirasbarreiras de natureza não-tarifária. Os exemplos a seguir reunidos pela pesquisa de PolíticasIndustriais em Países Selecionados realizada pelo IEDI, são referentes a controles não-tarifários, em alguns deles, consistindo em reais barreiras às importações.

Page 29: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 29

Controles e Barreiras Não-Tarifárias às ImportaçõesEUADentre as principais barreiras não-tarifárias nos EUA, pode-se destacar na legislação de comércio:Seção 201: baseia-se no estabelecimento de uma proteção temporária - na forma de restrições aocomércio - a indústrias desfavoravelmente afetadas pela concorrência de produtos importados,mesmo que estes não incorporem qualquer tipo de subsídio que facilite a sua colocação no mercadoamericano. Este tipo de proteção pode ser estabelecida em função de declínio de vendas, produção,lucros e emprego. As petições de proteção são avaliadas pela International Trade Comission (ITC), querecomenda alguma linha de ação para a Presidência. O Omnibus Trade and Competitiveness Act de1988 fortaleceu a abrangência da seção 201, ao criar a possibilidade de proteção em função da perda demarket-share por empresas norte-americanas em indústrias específicas.Seção 301: envolve a regulamentação de ações especificamente para contrarrestar práticasdiscriminatórias implementadas por outros países contra produtos ou empresas norte-americanas. Neste sentido, o Omnibus Trade and Competitiveness Act de 1988 delegouautoridade ao US Trade Representative (USTR) para adotar medidas neste sentido, que podemenvolver medidas tomadas por outros países que violam acordos internacionais de comércio, comotambém ações de outros governos que toleram medidas anticompetitivas no plano doméstico e queresultam em restrições a compras de produtos norte-americanos.Seção 701 e 731: A seção 701 emendada ao Tariff Act de 1930 autoriza o Departamento deComércio a examinar reclamações contra importações que tenham recebidos subsídios naprodução ou exportação de governos do exterior, enquanto a seção 731 do Antidumping Act de1921 o autoriza a investigar reclamações quanto a práticas de dumping realizadas por empresasque exportam para os EUA.Sobre estas importações podem incidir tarifas adicionais que compensem as práticas decompetição predatória. As solicitações para a imposição de penalidades desta natureza sãoencaminhadas por firmas, associações empresariais, sindicatos ou pelo próprio Departamento deComércio. Uma vez feito o pedido, o International Trade Administration (ITA) do Departamentode Comércio, se encarrega de verificar se as importações foram, de fato, subsidiadas, enquanto aInternational Trade Comission (ITC) investiga se a indústria doméstica foi efetivamente afetadapelas práticas predatórias adotadas.JapãoO sistema de controle de importações expresso em autorizações e licenças, regras, regulamentos edecisões governamentais é extremamente complexo e sujeito a permanentes alterações e diferentesinterpretações que dificultam enormemente as compras ao exterior. Os produtores locais, através desuas associações, trabalham em sintonia com o governo na determinação dos procedimentos legais epadrões dos produtos, o que lhes confere grandes vantagens. A estes obstáculos se somam ostradicionais sistemas de distribuição japoneses - keiretsu (networks entre produtores e distribuidoresligados por antigas relações e interesses comuns, muitas vezes caracterizados pela propriedade acionáriacruzada), o sistema de compras do governo, os altos custos da terra, o sistema de patentes, o registro demarcas, serviços financeiros, disposições legais, entre outros.FrançaCertas barreiras não-tarifárias, estruturadas de forma a proteger ou beneficiar a indústriadoméstica, podem ser identificadas no caso francês. A utilização de padrões técnicos pode ser ummeio de proteção. Os produtos importados devem se adequar aos requisitos do sistema denormalização do país, o qual se baseia em normas relativamente complexas - sobretudo em termosde performance e segurança - envolvendo a realização de testes sofisticados. Estes, devendo serrealizados em território francês, acarretam um custo adicional para os importadores. Dentre osprodutos mais afetados por este tipo de controle, destacam-se: produtos eletrônicos, equipamentosde telecomunicação e produtos agrícolas sujeitos a normas de controle fitossanitário.EspanhaAproveita-se o caso da Espanha para comentários sobre políticas atinentes à União Européia.Acordos de Preço Mínimo e Restrição VoluntáriaEsses acordos resultam de negociações para evitar a imposição de direitos anti-dumping ou demedidas compensatórias. Existem diversos acordos desse tipo com a União Européia, através doquais as exportações ficam sujeitas a vigilância ou limitação. São exemplos os acordos sobreveículos automotores, magnetoscópios, tecidos de algodão, objetos de porcelana e roupasrealizados com o Japão. Com o Brasil, foram realizados compromissos de preços mínimos paraexportações de ferro fundido, produtos semi-manufaturados de aço fundido e corda de sisal.

Page 30: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 30

Normas, Regulamentos Técnicos, Certificações e EtiquetagemHá a exigência de teste para a homologação de determinados produtos de acordo com padrõesdefinidos internamente. Esse procedimento de certificação é exigido para monitores e tecladospara computadores, impressoras matriciais, equipamento médico, máquinas de escrever elétricas,equipamento de telecomunicação, veículos motores, bicicletas, barcos de passeio, entre outros. Ospadrões nacionais definidos para a certificação deverão, entretanto, ser progressivamentedesativados quando as normas da UE entrarem em vigor.A Espanha exige também procedimentos de teste e etiquetagem para produtos alimentícios,bebidas, têxteis, produtos farmacêuticos, cosméticos e remédios, fertilizantes e fungicidas, metaispreciosos, motores de veículos, cabos e tubos, além das armas de fogo. Os requisitos exigidos paracada uma das categorias de produtos é variável. Embora não se constituam propriamente barreirastécnicas à entrada, muitas vezes a complexidade dos procedimentos exigida causa dificuldades aoexportador.Restrições de Caráter Sanitário e FitossanitárioEstas restrições recaem sobretudo sobre as importações de carne bovina e frutas. Na Espanha, aimposição de regras de controle sanitário e fitossanitário é descentralizada, sendo de competênciados governos estaduais e, em alguns casos, até de competência municipal.CoréiaOs procedimentos aduaneiros ainda envolvem um tempo superior ao tempo exigido para aefetivação das importações em outros mercados, sobretudo em bens de consumo, elevando oscustos indiretos das importações.A valoração aduaneira utiliza o “método do valor de transação”, estritamente de acordo com asregras da OMC. No entanto, para indústrias domésticas relevantes, a valoração aduaneira utiliza o“método dedutivo”, envolvendo o uso de standard profit margins.Este método reflete médias de rentabilidade marginais e resulta sistematicamente em crescimentodo valor das importações e dos impostos a pagar.Em função dos déficits comerciais bilaterais com o Japão, a Coréia do Sul ainda possui umesquema de proibição de importações de187 produtos originários daquele país.O sistema coreano de padronização técnica ainda impõe significativos impedimentos de acessoao seu mercado doméstico através da existência de uma forte sobreposição de diferenteslegislações, cujas competências são operadas por distintas agências governamentais. Outra barreiratécnica considerável é a extensão do período de tempo exigido para teste e aprovação, o qualenvolve todas as partes e componentes de um determinado produto. Os exemplos mais notóriossão alguns produtos da indústria eletro-eletrônica (rádio, entre outros) e também os componentesquímicos da indústria de alimentação.Estabelecido em 1987, o Korean Trade Commission (KTC) objetiva a proteção à indústriadoméstica afetada por importações desleais. A KTC na prática subordinada ao ministérioindustrial - até 1992 era ao Ministério das Finanças - pode recusar o pedido de processo, porimprocedência, ou ainda se a margem de dumping é inferior a 2% do preço ou se os produtos queestariam sendo afetados por importações desleais contabilizam menos que 25% da produçãodoméstica. Durante o período de investigações, quando existem indícios de danos à indústriadoméstica, são aplicadas medidas anti-dumping provisórias sob a forma de um seguro-depósito.ÍndiaTodas as importações devem ser registradas junto ao governo e devem apresentar um códigoque mostra sua legalidade. Com base numa legislação editada na década de sessenta, o governopode estabelecer um preço mínimo de importações com base na análise dos preços dos similaresno mercado internacional. Atualmente o governo tem mostrado a intenção de não utilizar de formaampla este mecanismo. A autorização de importações é administrada através de uma Lista“Negativa”, ou seja, os bens constantes desta lista sofrem algum tipo de restrição à entradaexigindo-se licença de importação. Incluem-se neste item todos os bens de consumo de usocorrente e outros bens como eletroeletrônicos (componentes e bens finais); produtos químicos efarmacêuticos, entre outros. A Índia tem justificado a imposição de fortes barreiras não tarifáriasem seu comércio com base no artigo XVIII:B do GATT, qeue trata dos países com fortesrestrições no balanço de pagamentos e sua utilização de mecanismos não tarifários para equilibraras contas externas.

Page 31: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 31

MalásiaCabe a observação de que 65% das posições tarifárias da agricultura e 57% da indústria são livresde impostos de importação. Mas cabe também destacar que para diversos produtos o governoainda aplica controle não tarifário de importação: é exigida a licença prévia de importação ou aautorização de importação segundo critérios específicos. A licença prévia de importação atingecerca de 17% dos itens importados. Segundo a OMC, o país utiliza-se de diversos expedientescomo barreiras ambientais e fito sanitárias, para proteger a indústria local, as indústrias nascentes eaquelas consideradas estratégicas. Para o ano de 1998, o governo anunciou restrições àsimportações de bens de capital e de veículos automotores com o objetivo de reduzir as importaçõese estimular a substituição dessas importações. Outras medidas que podem ser consideradas comomedidas de proteção, seriam a política industrial que induz à compra de pelo menos 30% deinsumos locais; os projetos incentivados pelo governo com redução fiscal que devem observaríndices de nacionalização de produtos.México� O México possui, atualmente, um dos sistemas antidumping mais ativos do mundo. Os

direitos antidumping ponderados pelo valor das importações mexicanas são equivalentes aodobro dos mesmos direitos estabelecidos pelos EUA. Cabe observar que, em parte, odesenvolvimento das políticas antidumping se deu no contexto da apreciação da taxa decâmbio real no período anterior à crise de 1994, da qual resultou a diminuição dacompetitividade da indústria mexicana e o aumento da propensão à importação.

Compras da Produção Nacional

Compõe a política de valorização do mercado interno a implantação de uma política decompras da produção nacional.

� O IEDI considera oportuno em um momento em que circunstâncias críticas afetam o setorexterno da economia brasileira, que seja constituídas institucionalidades análogas àsexistentes nos EUA e em outros países, cujo significado consiste em, acatados certosprincípios, privilegiar o produtor doméstico nas compras governamentais.

Exemplos de Políticas de Compras GovernamentaisEUAA legislação básica é o Buy America Act de 1933, que tem sido progressivamente emendado demaneira a alargar o suporte à indústria doméstica. Esta legislação define uma série de medidasdiscriminatórias - genericamente denominadas Buy America restrictions - que são aplicadas àscompras do governo visando privilegiar empresas locais, as quais assumem diferentes formas, taiscomo: proibição de agências do governo comprarem bens e serviços de empresas estrangeiras;definição dos requisitos de conteúdo local da produção a ser atendido nas compras; definição determos preferenciais de preços para empresas locais. No caso de contratos de suprimento ouconstrução de agências governamentais, os termos do Buy America Act exigem que a totalidade demateriais e bens não-processados sejam adquiridos de firmas norte-americanas, enquanto osprodutos manufaturados devem ter pelo menos 50% de conteúdo local. O Buy America Acttambém define medidas de incentivo à realização de compras de pequenas e médias empresas, bemcomo daquelas firmas localizadas em áreas onde os níveis de desemprego são mais elevados. Alémdisso, a legislação pode ser utilizada como justificativa para rejeitar lance de empresas estrangeirasem concorrências públicas realizadas por agências governamentais, o que também pode ocorrerpor razões de interesse ou segurança nacional.Além disso, o Congresso usualmente utiliza algumas regulamentações implícitas no Buy AmericaAct para definir determinadas provisões orçamentárias a serem atendidas em programasfinanciados por recursos governamentais. Como conseqüência, as preferências em termos depreços atribuídas a firmas locais usualmente se eleva de um valor padrão (definido pela legislação)de 6% para algo em torno da faixa de 10 a 25%. Dentre os programas nos quais este tipo depreferência se faz presente, é possível citar aqueles direcionados para os setores de água,transporte (vias urbanas, estradas e aeroportos), energia e telecomunicações.

Page 32: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 32

À regulamentação mais geral definida pelo Buy America Act, é possível acrescentar restriçõessimilares presentes em outros instrumentos, tais como: (i) o National Security Act de 1947 e oDefence Production Act de 1950, especificamente relacionados à área de defesa; (ii) o Programade Balanço de Pagamentos do Departamento de Defesa, que estabelece uma correção de 50% nospreços oferecidos por empresas estrangeiras, quando comparadas a empresas locais; (iii) oCompetition in Contracting Act de 1984, que permite às agências governamentais orientarem suascompras com base em objetivos de “mobilização industrial”, a partir de uma análise caso a caso;(iv) o National Space Policy Directive de 1990, o qual estabelece que os satélites governamentais(que representam 80% do mercado norte-americano de satélites) serão lançados apenas através deveículos espaciais fabricados nos EUA.

TECNOLOGIA

A política de desenvolvimento científico e tecnológico é o principal instrumento parafortalecer no futuro o setor industrial brasileiro, introduzir na estrutura industrial novossetores e novas tecnologias, e assegurar o crescimento da produtividade a longo prazo.

Neste contexto, é fundamental para o País o estabelecimento de uma base de criação edesenvolvimento de novas tecnologias, em particular pela constituição de uma rede eficientede centros de P&D nas empresas e de institutos e centros de pesquisa públicos e privados,assim como a adoção de políticas orientadas de difusão de tecnologias.

A pesquisa “Políticas Industriais em Países Selecionados” realizada pelo IEDI mostrou seresta uma das áreas mais ativas das políticas industriais, em que metas setoriais explícitas searticulam com políticas de corte horizontal e em que incentivos, subsídios monetários efinanciamentos com retorno condicionado ao êxito são concedidos ao setor privado, em umreconhecimento de que nesta área nem mesmo o setor empresarial das economias maisavançadas é capaz de mobilizar a totalidade dos recursos necessários.

Amparado nas observações acima o IEDI é favorável, dado o quadro de dificuldadesfinanceiras do País, a que somente para esta área, cuja dimensão é a do futuro do País, sejamconcedidos subsídios e seja restabelecido, além de aperfeiçoado, o incentivo fiscal para gastosem P&D das empresas. Cumpre ressaltar a necessidade de uma intervenção rápida parareconstituir os centros de pesquisa nas empresas e sinalizar que o desenvolvimentotecnológico assume papel estratégico na política de desenvolvimento industrial. No mesmosentido, coloca-se a necessidade de revitalização da engenharia nacional.

Dentre as ações de corte horizontal, são pertinentes ao objetivo acima:

� Incentivos fiscais à P&D:

� Desburocratizar a concessão de incentivos, normatizando para efeito de balanço o queé gasto em P&D e estabelecendo um critério de fiscalização a posteriori dos direitosao incentivo;

� Restabelecer o limite de 8% de abatimento do IRPJ para investimentos em tecnologiae benefícios aos empregados (que em dezembro de 1997 foi reduzido para 4%) eintroduzir um incentivo adicional temporário incidindo sobre o crescimento dos gastosem P&D;

É sugerido prioridade também para investimentos em formação de recursos humanos paraP&D e, na área de financiamento, a articulação da FINEP com o BNDES para a organizaçãode um conjunto de programas unificado de financiamento ao setor industrial.

Para setores selecionados são necessários programas mais arrojados em articulação com osinstrumentos horizontais e ações que visam aproximar oferta e demanda por informações e

Page 33: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 33

inovações tecnológicas. Nesse sentido, é sugerida a criação dos “programas de ação”, àsemelhança do programa Sematech (EUA), que definam setores, cadeias produtivas ou áreasespecíficas e desafios para a indústria, envolvendo cooperação do setor público e setor decapital privado nacional inclusive em pesquisas no âmbito pré-competitivo.

Quanto aos setores / cadeias / áreas específicas, estes devem ser selecionados pelo ConselhoNacional de Desenvolvimento Industrial, sugerindo-se os critérios de:

� Maximizar vantagens e minimizar carências atuais em segmentos em que a economiadetém escala de produção – os objetivos são ampliar a competitividade de setoresexportadores, estimular a produção doméstica de bens e componentes importados emelhorar a qualidade de equipamentos e serviços de ampla utilização (Exemplo:desenvolvimento e aplicação de tecnologias em áreas como saúde e educação);

� Desenvolver novos materiais e novos setores/produtos de tecnologia de ponta, envolvendocooperação setor público / setor privado no nível pré-competitivo.

Ações para objetivos setoriais:

� Criação dos Programas de Ação em Tecnologia;

� Estímulos à formação de arranjos cooperativos entre instituições públicas e privadas.

� Criação de programas setoriais de difusão de tecnologias, contribuindo para a maiorarticulação entre a infra-estrutura científica e tecnológica e as empresas;

� Financiamentos subsidiados, incluindo financiamentos sem retorno ou com retornocondicionado ao êxito, em associação com o capital privado;

� Investimentos públicos em infra-estrutura científica e tecnológica, em cooperação com osetor privado, revitalizando, sobretudo, os principais centros de pesquisa do País;

� Incentivos à exportação e à formação de venture capital para produtos de tecnologia deponta;

� Para o desenvolvimento da infra-estrutura de P&D no setor privado, ampliar o exemplodas ETS (entidades tecnológicas setoriais) que podem melhorar o foco de ação do setorprivado e fornecer serviços tecnológicos;

� Estimular a constituição de sistemas regionais / locais de inovação / difusão detecnologias; estes arranjos procuram articular agentes / instituições regionais paraobjetivos mais localizados e aderentes às estruturas produtivas regionais.

Exemplos Internacionais de Prioridades e Políticas de P&DEUAA administração Clinton reforçou a ativação das políticas industrial e tecnológica, com base noseguinte diagnóstico: “...tem se limitado a dar apoio a ciência básica e à pesquisa orientadas peloDepartamento de Defesa, NASA e outras agências. Esta estratégia foi adequada para as geraçõesanteriores mas não é mais, para os grandes desafios da atualidade. Nós não podemos depender daaplicação da tecnologia de defesa ao setor privado. Nós devemos lidar diretamente com estesdesafios e focalizar nossos esforços nas novas oportunidades, reconhecendo que o governo podeassumir o papel principal auxiliando o desenvolvimento das firmas privadas e da inovaçãolucrativa” .Ações para Revitalização da Política Industrial e Tecnológica:� a criação de estímulos a P&D de natureza civil através do Departamento de Comércio - Naadministração Clinton o Departamento de Comércio tornou-se uma agência central nogerenciamento de programas de desenvolvimento tecnológico conjunto entre firmas apoiadas pelogoverno.

Page 34: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 34

� iniciativas orientadas ao reforço do caráter dual use das atividades de P&D com fins militares,com destaque para a. menor utilização de especificações estritamente militares, de forma aacomodar especificações de caráter econômico-comercial.Dentre os instrumentos ativados, é importante citar a extensão por três anos dos créditostributários para atividades de pesquisa e experimentação, a redução da taxação sobre ganhos decapital provenientes de pequenas firmas e a eliminação de barreiras da legislação anti-truste aoestabelecimento de joint-ventures.Em termos da dimensão diffusion oriented das políticas sobressai a intenção de criar-se uma redecom mais de 100 centros de “extensão industrial”, direcionados ao aperfeiçoamento dastecnologias de fabricação utilizadas por pequenas e médias empresas.Destaca-se também a montagem de grupos integrando agências governamentais, instituiçõesacadêmicas e empresas industriais, no intuito de mapear coletivamente a evolução tecnológica dedeterminadas indústrias - no campo de semicondutores, aeroespacial, telecomunicações, motoreselétricos e opto-eletrônica - gerando, desse modo, road maps que sinalizem as direções no esforçode capacitação produtiva e tecnológica.Em indústrias tradicionais de maior porte – com destaque para a automobilística - têm sidorealizados esforços no sentido de viabilizar a elevação do nível tecnológico dos produtos geralAlemanhaEm 1994 o Ministério da Educação e Ciência e o Ministério da Pesquisa e Tecnologia foramintegrados no Ministério Federal de Educação, Ciência, Pesquisa e Tecnologia (BMBF). Areestruturação foi realizada a partir do diagnóstico sobre a perda de competitividade da indústria eda queda verificada a partir de 1990, dos gastos totais do setor privado em P&D. A estratégia geralé aumentar os gastos públicos em P&D e, ao mesmo tempo, estimular o setor privado a elevar osseus gastos.Programas do BMBF:O BMBF lançou diversos programas de pesquisa a partir de 1994-95 incluindo o New MaterialsProgramme e um programa multidisciplinar denominado Building and Living que explora novassoluções para problemas de habitação (conservação de energia, construção, etc.). Outrosprogramas são o Marine Technology Research Concept, que proporciona fundos para melhorar atecnologia de produção em construção naval, e um programa de pesquisas em aviação civilvisando o desenvolvimento de uma nova geração de aeronaves.Em 1995 foi criado um Conselho para Pesquisa, Tecnologia e Inovação, ligado ao gabinete doprimeiro-ministro, com representantes de alto nível de instituições privadas, institutos de pesquisae trabalhadores para discutir especificamente os obstáculos à inovação nos setores de altatecnologia (particularmente tecnologias de informação e comunicações). Como resultadopublicou-se o Info 2000: Germany’s Road to the Information Society.A ação das políticas tem sido orientada para programas dirigidos especificamente a informática,sistemas e aplicativos, conduzidos conjuntamente por empresas, universidades e instituições depesquisa.Também em 1995, o BMBF lançou o principal de seus programas de difusão tecnológica, oProduction 2000 que apoia particularmente a avaliação das necessidades tecnológicas da indústria,especialmente no que se refere às tecnologias de informação e comunicações e promove onetworking entre empresas industriais e de serviços no que se refere à melhoria de processosprodutivos.Programas de Apoio a Empresas – P&D:Dentre os programas genéricos destacam-se:� contribuição para gastos de P&D ligados a pessoal de pesquisa - subsídio para o pessoal de

P&D das empresas em até 40% do salário bruto;� contribuição para investimentos em P&D - com subsídios para a aquisição de capital intangível

(por exemplo, patentes), bens móveis e imóveis no montante de 20% do custo total;� promoção de empresas Technology-oriented - apoio variável segundo a fase do projeto: na

fase de estudos a contribuição chega a 90% dos custos; fase de P&D: 75% dos custos; fasefinal de lançamento do produto: até 50% dos custos;

� apoio financeiro por três anos a empresas que empreguem pesquisadores quedesenvolvam projetos de seu interesse em institutos de pesquisa em áreas ligadas às novastecnologias (eletrônica, biotecnologia, robótica, etc.);

� Instituto de Crédito para a Reconstrução - fornece empréstimos a taxas preferenciais aempresas, apoiando investimentos de longo prazo para criação, manutenção ou expansão defirmas, despesas de materiais e mão-de-obra para projetos de melhoria de produção e/ouintrodução de novos produtos.

Page 35: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 35

No que se refere ao apoio a setores específicos:� Programa para o Desenvolvimento da Tecnologia Industrial - apoio para o desenvolvimento

de sistemas aplicativos baseados em computadores (até 40% do custo total), de robots esistemas operativos (mesmo percentual de limite);

� Project Forderung - o governo federal, via o setor financeiro, concede subsídios a P&Dindustrial em setores de novas tecnologias (energia, informática, biotecnologia, etc.); acontribuição é de 50% do custo previsto, mas se o projeto é considerado de interesse público acontribuição pode ser maior;

� Programa para a automação de fábrica Productik - apoia a indústria na introdução detecnologias avançadas; financiamento de até 40% de custos de pessoal de P&D, pesquisa econsultoria externa e realização de protótipos; o programa abrange áreas como CAD/CAM erobótica; setores de automação flexível e controle de qualidade e estudos de viabilidade;

� Programa Aplicações de Microeletrônica - visa incentivar a aplicação e difusão damicroeletrônica em produtos industriais de setores específicos (eletrônica, robótica,biotecnologia, etc.); empresas que desenvolvam novos produtos, em tais setores, queincorporem componentes eletrônicos, com pelo menos 400 horas de pesquisa, obtêmfinanciamento (40% dos gastos em P&D e 20% do custo de investimento);

� Programa Tecnologia Física (PPT) - objetiva sustentar a pesquisa básica em física e acelerarsua aplicação; este programa tem caráter de apoio direto, sem condições a priori e édirecionado a empresas e institutos de pesquisa;

� Programa Especial para Tecnologia de Produção Fertigungstechnik - programa que visaautomação de escritórios e fábricas do ponto de vista organizacional; financia até 50% doscustos para empresas e 75% para institutos de pesquisa.

JapãoPaís onde a importância ao desenvolvimento tecnológico como parte dos planos dedesenvolvimento industrial já foi observada, estabeleceu no plano de 1996 (Science andTechnology Basic Plan), metas para o período 1996 / 2000, onde é atribuída ênfase à pesquisabásica e aplicada em tecnologias da próxima geração, particularmente, as tecnologias dainformação. O governo planeja ampliar fortemente os recursos para área de P&D, enfocando aconservação de energia e ambiente. Outras áreas específicas de interesse são asupercondutividade, novos materiais, biotecnologia, eletrônica, informação e comunicação,máquinas, aeroespacial, recursos naturais, ciências sociais e médicas. Destacam-se os esforçosimplementados desde o início da década dos 90, visando avançar o conhecimento em áreasidentificadas como importantes fronteiras científicas no próximo milênio. Como principal exemplode tais esforços, pode-se lembrar o Human Frontier Science Program.FrançaÉ uma tradição a utilização de recursos públicos no financiamento da infra-estrutura científico-tecnológia, através do comprometimento de recursos com universidades e institutos de pesquisa,da aceleração da transferência de tecnologias geradas no meio acadêmico para o setorempresarial e da participação crucial de alguns institutos no processo de capacitação em áreasestratégicas.Programas de P&D Voltados ao Setor Empresarial:O suporte oferecido pelo governo francês a programas de P&D realizados pelo setorempresarial envolve três grandes linhas de ação: (i) programas internacionais de carátercooperativo (responsáveis por aproximadamente 10% do orçamento de P&D do país) onde sedestacam os programas concebidos no plano intra-europeu, como o programa Eureka,destinado a aumentar a produtividade e a competitividade de indústrias européias emáreas estratégicas; (ii) suporte a programas de desenvolvimento tecnológico realizados nosetor privado, especialmente os que buscam incentivar a transferência de tecnologias parapequenas e médias empresas; (iii) programas nacionais de pesquisa em áreas estratégicas,com ênfase nas áreas espacial, ciências físicas, aeronáutica, telecomunicações, eletrônica,nuclear e de pesquisa em engenharia.EspanhaIniciativa ATYCA.É o novo plano do país motivado pela definição do Primeiro Plano para a Inovação na Europa,apresentado pela União Européia em dezembro de 1996. Está estruturado em dois programas, comos seguintes objetivos:� promover ações ou projetos empresariais de P&D;� fomentar o desenvolvimento, a incorporação do design e a utilização de novas tecnologiashorizontais de caráter difusor com capacidade de penetração em todos os setores industriais;

Page 36: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 36

� incentivar a criação e a consolidação de infra-estrutura para P&D, de utilização coletiva, tantoem empresas como em centros e institutos de pesquisa;� promover estratégias empresariais para o estabelecimento de planos e programas de P&D amédio e longo prazos;� promover a incorporação de pessoal dedicado a P&D nas empresas, favorecendo as atividadesde formação tecnológica contínuas.Os instrumentos financeiros utilizados pela Iniciativa ATYCA abrangem subvenções a fundoperdido, diversas modalidades de crédito, bem como subvenções via taxas de jurospreferenciais.CoréiaO governo tem utilizado um conjunto de medidas de incentivos fiscais e financeiros para oinvestimento em centros de pesquisa por parte de empresas privadas e subsídios a gastos deP&D. Além disso, a política tecnológica tem estimulado a formação de centros de pesquisa depequenas e médias empresas, através de associações destas empresas. Como resultado, osgastos em P&D cresceram significativamente (atualmente é de cerca de 2,6%) com o setor privadorespondendo por mais de 80%. A composição dos gastos entre pesquisa básica (14%), pesquisaaplicada (24%) e desenvolvimento (62%) indica a prioridade concedida às etapas finais dainovação tecnológica.Os principais incentivos fiscais e financeiros para gastos em P&D, são os seguintes� Reserve Fund for Technology Development permite uma determinada dedução fiscal por trêsanos às empresas privadas que constituam fundos para desenvolvimento tecnológico, informaçãotécnica, recursos humanos em P&D e instalações, etc. A máxima dedução permitida é de 5% dototal do faturamento.� as empresas privadas podem se beneficiar de uma dedução fiscal de até 15% do total degastos em treinamento e formação de mão-de-obra em colégios técnicos.� as empresas privadas também podem obter uma dedução fiscal de até 10% do total deinvestimentos em equipamentos de pesquisa.� permite-se a depreciação do investimento total em pesquisa e testes de máquinas a uma taxade até 90% ao ano.Apoio Financeiro Para P&D:� através do R&D Subsidy by Government, o governo proporciona um subsídio de até 50% dototal de gastos em P&D, desde que as instituições privadas estejam envolvidas em projetos deP&D nacionais.� as corporações governamentais como a Korea Eletric Power Corporation (KEPCO) ou aKorea Telecommunication Corporation (KTC) têm um subsídio de até 80% do total de gastos emP&D.� bancos como o Korea Development Bank e o Industrial Bank of Korea ofertam crédito delongo prazo a baixas taxas de juros para atividades de P&D.� Predomina nos programas de difusão tecnológica os esforços de cooperação em P&D entre

a indústria e o os institutos de pesquisa governamentais (GRIs) através de consórciospara a condução de projetos nacionais. Além disso, diversos programas buscam odesenvolvimento de capacidades tecnológicas de pequenas e médias empresas. Os esforços decooperação entre os vários agentes, a coordenação exercida pelo Estado através de instituiçõespróprias e alocação de recursos públicos, direcionando-os para setores específicos, aindacaracterizam a política tecnológica coreana, possibilitando a manutenção de seu up gradingtecnológico e competitividade internacional de suas principais empresas..

O procedimento adotado pelo IEDI, de buscar simultaneamente caminhos e soluções para odesenvolvimento de longo prazo da Indústria e da economia e de contribuir com respostas daprodução à atual crise, no campo da tecnologia encontra correspondência na ênfase tanto naretomada de um esforço voltado para tarefas específicas (mission oriented), quanto naintensificação do esforço de difusão de novas soluções tecnológicas. A propósito, cabelembrar o exemplo norte-americano, quando sob pressão da competição asiática, reforçoutanto uma quanto outra fase da política tecnológica.

TREINAMENTO E RETREINAMENTO DE RECURSOS HUMANOS

O IEDI considera que a qualificação dos recursos humanos é um elemento vital para aconstrução de uma indústria competitiva. Além da defesa de uma educação geral

Page 37: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial · A EMPRESA DE CAPITAL PRIVADO NACIONAL COMO VETOR DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL ... deixar de traduzir em brutal

Agenda para um Projeto de Desenvolvimento Industrial – Proposta IEDI 37

universalizada e de boa qualidade, é fundamental a criação de condições adequadas para odesenvolvimento do ensino profissionalizante, articulado com uma rede escolar de boaqualidade. Neste contexto, enfatiza-se que:

� Os cursos profissionalizantes devem merecer prioridade máxima nos próximos anos,visando sua expansão quantitativa e qualitativa, promovendo a diversificação de áreas deatuação e sua adequação às demandas do mercado de trabalho. Em particular, enfatiza-se anecessidade de estabelecer parcerias entre os sistemas público e privado e ampliar a ofertade vagas no ensino técnico;

� Os programas de retreinamento específicos para algumas categorias profissionais, taiscomo o PLANFOR – Plano Nacional de Qualificação do Trabalhadores, que tem porobjetivo conceder treinamento e retreinamento voltados para setores com maior potencialde geração de emprego e para grupos e setores mais afetados pelo desemprego, devem serpriorizados.

� O IEDI recomenda que o governo estude a concessão de um incentivo, tal como existe emoutros países, para os programas de treinamento e retreinamento promovidos pelasempresas, e o aplique tão logo as condições financeiras permitam. O incentivo, voltadosobretudo para a manutenção de empregos em setores tradicionais ou que promovemprocessos de reestruturação, consiste na dedução em dobro das despesas em treinamento eretreinamento de recursos humanos pelas empresas para efeito de cálculo do IRPJ.