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1 INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL – IPHAN UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO - UFPE UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO - UFRPE FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO - FJN FUNDAÇÃO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO DA UFPE – FADE RELATÓRIO FINAL FORMAS DE EXPRESSÃO DA CULTURA IMATERIAL EM PERNAMBUCO. 2008

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INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL – IPHAN

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO - UFPE

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO - UFRPE

FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO - FJN

FUNDAÇÃO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO DA UFPE – FADE

RELATÓRIO FINAL

FORMAS DE EXPRESSÃO DA CULTURA IMATERIAL EM

PERNAMBUCO.

2008

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EQUIPE:

COORDENAÇÃO

ISABEL CRISTINA MARTINS GUILLEN

PESQUISADORES

CIBELE BARBOSA DA SILVA ANDRADE (FUNDAJ)

ISABEL CRISTINA MARTINS GUILLEN (UFPE)

MARIA ANGELA DE FARIA GRILLO (UFRPE)

SYLVIA COSTA COUCEIRO (FUNDAJ)

JOÃO PAULO FRANÇA

BARTYRA QUEIROZ

CÍCERA PATRÍCIA ALCÂNTARA BEZERRA

CONSULTORIA:

BARTOLOMEU DE MEDEIROS TITO FIGUEIROA (UFPE)

CARLOS SANDRONI (UFPE)

JOANILDO BURITY (FUNDAJ)

RITA DE CÁSSIA BARBOSA DE ARAÚJO (FUNDAJ)

JANIRZA CAVALCANTI

ASSISTENTES DE PESQUISA/BOLSISTAS

AMANDA MORAES DE SOUZA

DÉBORA HALIDE CLAIZONI

DEBORAH CALLENDER

FRANK SÓSTHENES DA SILVA SOUTO MAIOR JÚNIOR

JOSÉ BEZERRA DE BRITO NETO

INGRID DE MOURA COSTA

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LEOCÁDIA MARIA DE OLIVEIRA FERREIRA

SANAE SOUTO

VANESSA MARINHO

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INTRODUÇÃO

É inquestionável que o patrimônio imaterial ou intangível tem estado em evidência na

contemporaneidade. Alicerçado em uma concepção antropológica de cultura, ele é também o

resultado de um longo e complexo debate tanto nacional quanto internacional acerca da

noção de patrimônio e no alargamento do seu sentido. Uma reflexão fundamental tem surgido

desse debate: “a escolha do que constitui o patrimônio de uma nação – seja ele material ou

intangível – é uma das operações políticas mais importantes para a consolidação de uma

determinada história, memória e cultura comuns.” 1

As questões suscitadas em torno do debate do pattrimônio são extremamente

complexas e não têm uma resposta pronta e rápida, já que estas estão sendo construídas na

prática, no fazer-se das manifestações culturais e em sua relação com as instituições

governamentais e com o mercado. Mas o oque importa para nossa discussão é destacar que

estamos sendo obrigados a repensar a idéia de patrimônio nacional e que este não é

constituído apenas de monumento, igrejas e prédios antigos.

Temos a oportunidade de constatar que estamos diante de novas políticas da memória

e de novas formas de administração institucional do passado. O que é fundamental, destacar é

o fato de que novas políticas da cultura têm nos dado a oportunidade de criar novas culturas

políticas para a construção da identidade, memória e história nacional. Diferentes grupos

sociais estão tendo a oportundiade pela primeira vez na história do Brasil de registrar uma

memória do seu passado fundamental para a definição das identidades. E são aqueles grupos

em sua maioria considerados como tradicionais e que foram em grande medida silenciados na

construção da memória nacional. Tem se criado novos canais de expressão cultural e

oportunidade ímpar de colocar em discussão as políticas de construção da memória nacional.

Esse processo não tem se dado evidentemente sem tensões, conflitos, resistências e adesões,

e pleno de ambiguidades. O que não se pode, é banalizar nem o processo, nem as

manifestações culturais de têm sido objeto de discussão, registro e inventário.

Em Pernambuco, o debate também tem sido intenso. À imagem de Pernambuco

associam-se, como que naturalmente, uma série de outras referenciadas em práticas da

1 ABREU, Martha. Cultura imaterial e patrimônio histórico nacional. In: ABREU, M.; SOIHET, R.; GONTIJO, R. Cultura

política e leituras do passado. Historiografia e ensino de história. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2007, p. 353.

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cultura popular: o carnaval do Recife com seus clubes e blocos de frevo, os maracatus e os

caboclinhos, a literatura de cordel e a xilogravura de J. Borges, os bonecos de barro de mestre

Vitalino, a feira de Caruaru, as bandas de pífanos, o xote, xaxado e baião, dentre outras, que

conferem ao conjunto identidade cultural e histórica. Da mesma forma não se dissocia da

construção imagética de Nordeste referências à cultura popular. Se por muito tempo essas

manifestações foram naturalmente consideradas como constitutivas de uma tradição, hoje

passam por um processo de intensa discussão que tem redundado na patrimonialização de

alguns bens culturais, como a feira de Caruaru e o Frevo - já registrados como patrimônio da

cultura imaterial do Brasil -, enquanto o Maracatu Nação, o Maracatu Rural, Caboclinho e

Cavalo Marinho encontram-se em processo de reconhecimento. No âmbito estadual, desde

2002, a lei 12.196 instituiu o Registro do Patrimônio Vivo do Estado de Pernambuco, que

reconheceu os saberes e as práticas de mestres e mestras da cultura popular como

fundamentais para a memória e cultura estadual, a exemplo de Mestre Salustiano, Ana das

Carrancas, Lia de Itamaracá, Manoel Eudócio, dentre outros.

Assiste-se, na sociedade contemporânea, um complexo processo que tem resultado na

patrimonialização da cultura popular, processo este que tem uma história na qual uma série de

debates sobre a cultura popular redundou em políticas públicas de reconhecimento, nas quais

uma memória histórica e cultural também tem sido discutida. Estas políticas públicas, ainda

que não se coloquem a reboque dos debates suscitados pelas ações da UNESCO, estão em

consonância com as discussões levadas a efeito mundialmente sobre a necessidade de criar

instrumentos para que antigas tradições tenham condições de deixar para as gerações futuras

esse saber-fazer que constitui a experiência da “humanidade”. 2 Nesse sentido, a UNESCO

recomenda que se envidem esforços para criar instituições que preservem e tornem disponível

amplamente documentação sobre o patrimônio cultural imaterial do país e/ou região.

Inserido nesse contexto, o projeto “Formas de expressão da cultura imaterial de

Pernambuco” realizado de forma interinstitucional entre o IPHAN, a Fundação Joaquim

Nabuco, a Universidade Federal de Pernambuco e a Universidade Federal Rural de

Pernambuco tem o objetivo de realizar um mapeamento bibliográfico e audiovisual das

2BRASIL. GOVERNO FEDERAL. 2000. Decreto 3.551, de 04 de agosto de 2000. Disponível em:

http://www.minc.gov.br ; BRASIL.Ministério da Cultura. 2006. Edital PNPI nº 001/2006 . Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. UNESCO. 2003. Convenção para Salvaguarda do patrimônio cultural

imaterial. Paris, 17 de outubro de 2003. Disponível em: http://unesdoc.unesco.org ; Lei 12 196, disponível em: www.sare.pe.gov.br/Juridico/Leis_Ordinarias/2002/12196020502RegistroPatrimonioVivoEstadoPe.doc

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manifestações da cultura imaterial presentes em Pernambuco. A pesquisa atende ao Edital do

Programa Nacional do Patrimônio Imaterial- PNPI/2006, que no âmbito da pesquisa,

documentação e informação, tem suas principais linhas de ação voltadas para: a) Realização de

pesquisa, levantamentos, mapeamentos e inventários; b) Apoio à instrução de processos de

Registro; c) Sistematização de informações, constituição e implantação de banco de dados; d)

Apoio à produção, conservação de acervos documentais e etnográficos, considerados fontes

fundamentais de informação sobre patrimônio cultural imaterial.

Em consonância com essas linhas de ação, o Edital apresentava a proposta de

“levantamento documental de saberes e modos de fazer, formas de expressão, festas e

celebrações, e lugares ou espaços de práticas culturais coletivas, por Unidade da Federação, e

conjuntamente diagnóstico da situação das instituições que abrigam esses acervos

documentais”.(PNPI, 2006. p.01)

Desde o final do século XIX os estudos sobre folclore e cultura popular estiveram

presentes na produção bibliográfica pernambucana se estendendo até os dias de hoje,

resultando numa farta produção documental. Essa produção extensa pode ser explicada pela

estreita relação das culturas tradicionais com a constituição imagético-discursiva da região

Nordeste, em que o folclore adquiriu um status central enquanto referência identitária da

região. A experiência folclórica tornou-se o cimento do ethos nordestino. Como afirma

Albquerque : “A identidade regional permite costurar uma memória, inventar tradições,

encontrar uma origem que religa os homens do presente a um passado(...)”.3 A busca dessas

“origens” enraizadas na tradição fomentou a produção de discursos de intelectuais, artistas e

políticos, nos quais a idéia de cultura popular representava uma das marcas da sociedade rural

e pré-capitalista do Nordeste. Sem nos atermos a uma análise mais profunda das intenções e

linhas de pensamento dos intelectuais do século passado, o fato é que a construção das

tradições nordestinas por eles inventariadas permitiram-lhes compor uma soma de

documentos textuais, iconográficos, visuais e sonoros tendo o folclore “como um elemento

decisivo na esfera da autenticidade regional” 4

A vinculação entre a cultura popular e a construção simbólica da identidade regional e,

em particular, à memória do estado, produziu um grande acervo sobre bens da cultura

3 ALBUQUERQUE, Durval M. 1999. A invenção do Nordeste e outras artes. Recife: FJN, Massangana; São Paulo:

Cortez, 1999, p. 77. 4 Idem.

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imaterial. Há um sem número de obras com temáticas relacionadas ao folclore pernambucano,

sem contar a produção de artigos dirigidos ao tema, que não estão sendo objeto de análise do

levantamento. Vale ressaltar que, nos últimos anos, a cultura popular pernambucana vem

alcançando cada vez mais projeção, ultrapassando a expressão local e expandindo-se tanto em

âmbito nacional como internacional, através do processo de globalização, do renovado

interesse que diversos atores sociais têm demonstrado pela cultura popular devido às novas

formas de mídia atuando na disseminação das expressões culturais. Diante da diversidade

cultural presente nas manifestações da cultura imaterial no estado e da necessidade de

identificação das práticas existentes, a demanda pelo levantamento documental sobre o

patrimônio imaterial exige uma mobilização de vários atores sociais dentre os quais

pesquisadores, estudantes, produtores culturais, artistas, instituições governamentais e não-

governamentais com a finalidade de “ampliar o repertório das práticas de preservação” que,

neste caso, constituem-se dos registros dessas manifestações.

O esforço de levantar e sistematizar dados sobre os diversos bens da cultura imaterial

em Pernambuco pode ser pensado como uma ação cultural que tem como foco uma visão da

cultura como produtora e criadora de oportunidade de inserção social e política (cidadã) dos

grupos detentores de saber tradicional. Nesse sentido, o banco de dados surge como um

instrumento de empoderamento desses grupos e da sociedade civil ao fornecer subsídios para

pedidos de registro dos bens como patrimônio imaterial. O banco de dados deve facilitar os

primeiros passos para quem deseja ter acesso aos registros documentais sobre os bens

culturais com objetivos diversos. Sem esquecer os impasses e implicações políticas

decorrentes da patrimonialização de conhecimentos tradicionais, em que as diversas formas

de apropriação desse conhecimento sem que direitos intelectuais sejam postos em discussão

são questionáveis e questionadas, o reconhecimento desse patrimônio pode igualmente ser

pensada como um esforço dos grupos e comunidades para se manter na condição de sujeitos

em negociação com a sociedade como um todo. Principalmente as ações de salvaguarda

podem proporcionar garantia de continuidade de um saber do grupo e/ou comunidade para as

gerações futuras. 5

5 COELHO, Teixeira. Banco de dados: do inerte cultural à cultura da vida in: CANCLINI, Néstor (e outros) Políticas

culturais para o desenvolvimento. Brasília, UNESCO, 2003; ANDRELLO, Geraldo; FERREIRA, Pedro P. Conhecimento tradicional como patrimônio imaterial: mito e política entre os povos indígenas do Rio Negro. Ciência e Cultura, v. 60, n. 01, 2008.

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PATRIMÔNIO IMATERIAL: A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DE UM CONCEITO

Resguardar a memória de uma época, de acontecimentos e figuras importantes a

partir de marcos físicos que possam representá-las é uma característica comum a grupos

sociais de várias partes do mundo. Noção universal, a idéia de monumento trabalha e mobiliza

a memória coletiva da emoção e da afetividade, fazendo vibrar um passado selecionado com

vistas a “preservar a identidade de uma comunidade étnica, religiosa, nacional, tribal ou

familiar.”6

Enquanto a idéia de monumento está presente nas mais variadas sociedades, a noção

de patrimônio histórico e artístico da forma como conhecemos hoje remete ao final do século

XVIII e tem ligação direta com o surgimento da idéia de ‘nação’. Utilizado com finalidades

políticas, visando unir grupos econômica e culturalmente diferentes, integrar facções

politicamente divergentes, no sentido de consolidar um projeto de nação, o conceito de

patrimônio histórico nacional começou a ser forjado durante a Revolução Francesa. No

decorrer das lutas revolucionárias, buscando defender da agressão e da pilhagem imóveis e

obras de arte pertencentes às elites francesas, grupos interessados começaram a discutir os

meios necessários para defender a integridade e manutenção desses símbolos.

A partir desse período e durante todo século XIX, várias nações européias, em

processo de consolidação das suas fronteiras e na luta pelo fortalecimento do sentimento

nacionalista, iniciaram ações voltadas para a escolha e preservação do que se estabelecia na

época como patrimônio nacional. Os princípios renascentistas de beleza e importância

histórica, a idéia de representação da nação a partir da grandiosidade e singularidade de

construções e objetos de arte, norteavam, então, a noção do que deveria ser considerado

como patrimônio. Instituições públicas, especialistas no tema e uma legislação específica

foram sendo criadas ao longo do século XIX pelos países da Europa, em especial pela França,

no sentido de identificar, conferir autenticidade e proteger bens avaliados como verdadeiros

“tesouros nacionais”.

Ao longo da primeira metade do século XX, a concepção de patrimônio e a

conceituação de bens culturais se consolidaram no mundo ocidental como uma referência

6 Ver SANT’ANNA, Márcia. A face imaterial do patrimônio cultural: os novos instrumentos de reconhecimento e

valorização. In: Memória e patrimônio. Org. Regina Abreu e Mário Chagas. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.

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ligada a bens tangíveis, os chamados “pedra e cal”, só começando a ser questionada de modo

mais amplo no período pós-Segunda Guerra. Com o final do conflito as críticas ao nacionalismo

imperialista e a derrota dos regimes nazi-fascistas, que pregavam um uso racista e excludente

do passado, os debates em torno do tema geraram novos questionamentos. Instituições como

a ONU - Organização das Nações Unidas -, e a Unesco - Organização das Nações Unidas para a

Educação, a Ciência e a Cultura -, criadas após o término da Guerra, deram visibilidade a

diferentes demandas que surgiam por partes dos chamados países dos Terceiro Mundo, das

colônias e dos movimentos sociais que começavam a se organizar em prol dos direitos civis.

Nessa nova conjuntura político-econômica, a compreensão da noção de bem cultural

começa a ser revista. É importante destacar que a associação entre patrimônio a ser

resguardado e a materialidade do bem, dificultaram a ampliação da conceituação de bem

cultural passível de ser salvaguardado, levando os especialistas a impasses e muitas

divergências. A relevância da cultura imaterial, questionamentos relativos à sua pertinência e

legitimidade enquanto nova categoria a compor as agendas das políticas públicas na área da

cultura, passaram a nortear os debates, sobretudo os congressos e convenções promovidas

em nível mundial pela Unesco.

No Brasil o processo não se deu de forma muito diferente. Ainda nos dias de hoje,

quando a expressão “patrimônio histórico e artístico” é mencionada, a primeira idéia que vem

à mente da maioria das pessoas é um conjunto de edificações ou monumentos antigos, como

igrejas, prédios públicos, casarões, que por sua antiguidade, pela importância artística ou pela

relação com fatos e personagens históricos importantes, são merecedores de serem

preservados.

A idéia de considerar danças, manifestações, aspectos ligados à culinária, ofícios e

diversos costumes de comunidades específicas, como merecedores de ações especiais de

proteção e salvaguarda por parte das políticas governamentais é uma idéia com presença

relativamente recente nos debates nacionais acerca do tema.

Como na esfera mundial, o conceito de patrimônio imaterial ou intangível, não surgiu

no Brasil sem polêmicas. Construído ao longo de 70 anos, passando por precursores como

Mário de Andrade nos anos 1930 e Aloísio Magalhães na segunda metade do século XX, a idéia

de bem imaterial acompanhou, ao longo de décadas, as discussões do extinto Serviço do

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Patrimônio Histórico Nacional – SPHAN e do seu sucessor, o Instituto do Patrimônio Histórico e

Artístico Nacional – IPHAN.

Mário de Andrade, figura das mais destacadas das artes no Brasil, ativo participante da

Semana de Arte Moderna de 1922, foi um dos primeiros intelectuais a reconhecer a

importância que os costumes, comportamentos cotidianos e outras manifestações populares

têm para a compreensão da cultura de um povo, inaugurando as discussões sobre o tema

cultura imaterial no país. Sua concepção de patrimônio, engendrada nas décadas de 1920 e

1930, foi fruto das viagens pelo interior do país e da experiência à frente do Departamento de

Cultura de São Paulo. No período em que dirigiu o órgão, Mário de Andrade desenvolveu uma

proposta inovadora e pioneira de recolha e registro do patrimônio não tangível, utilizando-se

das novas tecnologias de gravação e filmagem para coleta e salvaguarda de documentação

sobre as mais diversas formas de expressão da cultura popular brasileira.

Mario de Andrade também esteve envolvido na criação do Serviço de Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), cujo projeto orientava-se no sentido de aproximar e

democratizar o acesso aos bens culturais, mantendo sempre o respeito quanto às suas

peculiaridades. Foi a partir dessas discussões levantadas por Andrade que a idéia de bem

patrimonial e a necessidade da sua preservação, começou a ser implantada no Brasil,

resultando na assinatura, no governo de Getúlio Vargas, do Decreto Lei 25 de 30/11/1937. O

Decreto estabelecia a lei de tombamento de edificações consideradas de excepcional valor

para a cultura nacional. No artigo 1º o Patrimônio Histórico e Artístico Nacional era definido

como:

O conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e

cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação

a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional

valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico.

Para a preservação do que se considerava então como patrimônio histórico e artístico

– as construções monumentais e outras obras de arte – o decreto instituía a criação de quatro

“Livros de Tombo”, onde oficialmente ficariam registrados os bens de reconhecido valor para a

cultura nacional:

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Do Tombamento

Art. 4º - O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico

Nacional possuirá quatro Livros de Tombo, nos quais serão inscritas

as obras a que se refere o art. 1º desta lei, a saber:

1º) no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e

Paisagístico, as coisas pertencentes às categorias de arte

arqueológica, etnográfica, ameríndia e popular e, bem assim, as

mencionadas no § 2º do citado art. 1º;

2º) no Livro do Tombo Histórico, as coisas de interesse

histórico e as obras de arte histórica;

3º) no Livro do Tombo das Belas-Artes, as coisas de arte

erudita nacional ou estrangeira;

4º) no Livro do Tombo das Artes Aplicadas, as obras que se

incluírem na categoria das artes aplicadas, nacionais ou estrangeiras.

As atividades dos sucessores de Mário de Andrade, nos anos 50, estiveram ligadas à

Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, criada em 1947, durante o governo do General

Eurico Gaspar Dutra. Desse movimento nasceu o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular

em 1958.

Nesse contexto, outra personalidade de grande importância na ampliação da visão de

bem patrimonial no Brasil foi Aloísio Magalhães. Ao criar no país, ainda nos finais da ditadura

militar, o Centro Nacional de Referências Culturais – (CNRC), Magalhães trazia para o debate

temas como a homogeneização cultural, a assimilação de práticas culturais externas, a

influência das transformações advindas com as inovações tecnológicas nos diversos aspectos

da cultura nacional, dentre outros. Para Aloísio Magalhães, era urgente repensar alguns

critérios e conceitos estabelecidos acerca do que deveria ser preservado no país, sob pena de,

aos poucos, o país perder o contato com o que ele considerava as “autênticas raízes da

nacionalidade brasileira”.

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Um dos grandes feitos de Aloísio Magalhães foi a de ter contribuído para uma nova

concepção de patrimônio cultural, que incluía segundo o mesmo, “o gesto, o hábito, a maneira

de ser da nossa comunidade”7. Ele, portanto, conseguiu estender a proteção do Estado ao

patrimônio não-consagrado, relacionado à cultura popular e aos cultos afro-brasileiros.

A emergência da cultura imaterial na agenda patrimonial.

O início dos anos 70 marca uma página importante no processo de ampliação da

agenda de políticas patrimoniais no mundo. O desafio da Unesco, naquele momento, consistia

em garantir um acordo internacional de proteção aos bens que ultrapassasse o já desgastado

conceito de patrimônio, cuja caracterização estava assentada nos bens materiais. A 17ª

Convenção pela Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural de 1972, foi um passo

importante no processo de ampliação da noção dos bens a serem protegidos, ao incluir o meio

ambiente no seu texto. No entanto a parte relativa aos bens culturais considerava como

patrimônio apenas os bens móveis e imóveis. Como atesta o artigo 1º da Convenção, eram

considerados como patrimônio cultural:

� Os monumentos. – Obras arquitetônicas, de

escultura ou de pintura monumentais, elementos de

estruturas de caráter arqueológico, inscrições, grutas e grupos

de elementos com valor universal excepcional do ponto de

vista da história, da arte ou da ciência;

� Os conjuntos. – Grupos de construções isoladas

ou reunidas que, em virtude da sua arquitetura, unidade ou

integração na paisagem têm valor universal excepcional do

ponto de vista da história, da arte ou da ciência;

� Os locais de interesse. – Obras do homem, ou

obras conjugadas do homem e da natureza, e as zonas,

incluindo os locais de interesse arqueológico, com um valor

7 MAGALHÃES, Aloísio. E Triunfo?: A questão dos bens culturais no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; [Brasília]:

Fundação Nacional Pró-Memória, 1985, p. 63.

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universal excepcional do ponto de vista histórico, estético,

etnológico ou antropológico.

Na esteira da Convenção de 1972, representantes da Bolívia apresentaram à Unesco

uma proposta voltada para a regulamentação da proteção e da promoção do folclore. É

importante lembrar que, na época, o termo “bem imaterial ou intangível” não compunha a

pauta dos documentos oficiais nem despontava como um conceito.

Desse modo, o princípio que norteou as ações voltadas para o patrimônio imaterial, no

início das atividades da Unesco, se inseria no propósito das Nações Unidas em proporcionar os

meios para a sobrevivência da diversidade cultural em todos os países. Esse intuito

relacionava-se à necessidade de evitar que culturas locais e grupos étnicos fossem alvo de

perseguições políticas e mesmo religiosas, fato que se sucedera ao longo do século XX. Outras

preocupações voltavam-se para efeitos da globalização na uniformização das culturas. Diante

desse quadro etnocêntrico e homogeneizante, era necessário desenvolver propostas que

fomentassem a diversidade e a liberdade das manifestações culturais em diversas partes do

mundo.

Em 1982, durante a Conferência sobre as Políticas Culturais ocorrida no México, a idéia

de cultura imaterial passou a integrar os textos oficiais da Unesco. Nessa ocasião, a cultura era

compreendida como “a totalidade dos traços distintivos espirituais e materiais, intelectuais e

afetivos”. 8 No entanto, as ações mais efetivas com vistas à regulamentação dos bens

imateriais só foram levadas a êxito no documento Recomendação sobre a Salvaguarda da

Cultura Tradicional e Popular da Unesco em 1989.

Foram os países orientais e os do chamado “Terceiro Mundo” os principais

responsáveis pelas reivindicações em prol da ampliação do conceito de patrimônio. Como

afirma Sant´Anna, “quando nos anos 50, o Japão instituiu uma primeira legislação de

preservação do seu patrimônio cultural, não foram obras de arte e edificações o seu alvo, mas

o incentivo e o apoio a pessoas e grupos.”9 Em países da Ásia, da América Latina e da África, as

culturas tradicionais e orais desempenham um papel decisivo na formação das identidades

8 Cf. Conferência Mundial sobre as Políticas Culturais, México, 1982.

9 SANT´ANNA, Márcia. A face imaterial do patrimônio cultural: os novos instrumentos de reconhecimento e

valorização. In. ABREU, Regina e CHAGAS, Mário(orgs). Memória e patrimônio. Ensaios contemporâneos.p 49.

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locais. Desse modo, esses países exerceram avanços na legislação de proteção às culturas

tradicionais face à Europa que mantinha a concepção clássica de patrimônio.

O Brasil, antes mesmo da Recomendação Internacional de 1989, trazia no texto da sua

Constituição de 1988, referências ao patrimônio cultural brasileiro entendido como “os bens

de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de

referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos (...)”.10 Apesar do texto

constitucional prezar pela abrangência do patrimônio, as interpretações em torno dos bens

passíveis de serem tombados ainda suscitavam debates e muitas vezes geravam obstáculos

aos avanços da legislação em torno do patrimônio imaterial. Porém em 2000, o Brasil deu um

importante passo através do Decreto 3.551 o qual estabeleceu o Registro de Bens Culturais de

Natureza Imaterial que constituem patrimônio cultural brasileiro.

O Decreto de 3.551 foi uma das ações pioneiras de registro de bens imateriais no

mundo, antecipando-se à Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial,

realizada em Paris no ano de 2003, considerada um marco das ações de salvaguarda no mundo

inteiro. O patrimônio imaterial é definido na Convenção como o conjunto de:

Práticas, representações, expressões, conhecimentos e

técnicas - junto com os instrumentos, objetos, artefatos e

lugares culturais que lhes são associados - que as comunidades,

os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como

parte integrante de seu patrimônio cultural.

Umas das preocupações dos relatores desse documento era de esclarecer a aplicação

do termo “salvaguarda”. Aparentemente o significado dessa expressão levaria a uma

compreensão clássica do conceito de patrimônio,em que salvaguardar significa resgatar e

preservar. No entanto a palavra preservação poderia levar a interpretações que se aproximam

da idéia de museificação. No caso da cultura imaterial, por se tratarem de manifestações

mutáveis, ressignificadas ao fio dos tempos, o adjetivo preservação adquiria um tom

10

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.

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inadequado. Para evitar esse tipo de conceituação, a Convenção da Unesco definiu como

salvaguarda:

As medidas que visam garantir a viabilidade do

patrimônio cultural imaterial, tais como a identificação, a

documentação, a investigação, a preservação, a proteção, a

promoção, a valorização, a transmissão – essencialmente por

meio da educação formal e não-formal - e revitalização deste

patrimônio em seus diversos aspectos.

Dessa forma a salvaguarda se dedica a garantir a integridade dos “ meios” que

possibilitem a manifestação e a produção dos bens imateriais. A intenção é garantir os meios

de existência e propagação desse patrimônio. Nesse aspecto, um dos primeiros passos do

processo de salvaguarda é o da criação de mecanismos que garantam o acesso à informação e

à documentação sobre essas manifestações culturais. No caso brasileiro, essas ações de

salvaguarda se intensificaram com o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial, implantado

pelo Governo Federal em parceria com instituições dos governos estaduais e municipais,

universidades, organizações não-governamentais, agências de desenvolvimento e

organizações privadas ligadas à cultura, à pesquisa e ao financiamento.

O texto produzido na Convenção de 2003 foi aprovado pelo Congresso Nacional

brasileiro e promulgado pelo Governo Federal através do Decreto 5.753 de 2006. Apesar de

ser um passo importante para a inclusão desse patrimônio na agenda jurídica, há um longo

caminho a ser trilhado no campo das políticas públicas, bem como na elaboração de

conhecimentos sobre a cultura imaterial no Brasil.

O INRC e os procedimentos de identificação: as categorias do patrimônio imaterial.

Um dos principais instrumentos para identificação, documentação e salvaguarda de

bens culturais no Brasil é o Inventário Nacional de Referências Culturais – INRC. Elaborado nos

finais dos anos 1990 sob a coordenação de Antônio Augusto Arantes, o INRC se constitui em

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um instrumento que visa: “identificar e documentar bens culturais de qualquer natureza, para

atender à demanda pelo reconhecimento de bens representativos da diversidade e pluralidade

culturais dos grupos formadores da sociedade”, 11. Além disso o INRC visa perceber as

representações e significados que os bens culturais assumem para os “moradores de sítios

tombados”, reconhecendo-os enquanto importantes atores no processo de preservação.

Construído com base em experiências anteriormente desenvolvidas, a exemplo do

extinto Centro Nacional de Referências Culturais (1975-1979) e outros projetos de

levantamento realizados pelo país, o INRC se constitui em um conjunto de procedimentos

metodológicos a serem aplicados sob a constante supervisão do IPHAN. Um dos seus

principiais objetivos é subsidiar conceitual e tecnicamente grupos e entidades interessados na

sistematização de dados e na produção de inventários que promoverão políticas de

salvaguarda de bens culturais, sejam eles de natureza material ou imaterial.

A partir de instruções que abrangem diversas etapas do processo, desde a

identificação do bem até o preenchimento de formulários para a estruturação do inventário, a

metodologia proposta no INRC visa identificar, inventariar, documentar e registrar bens

culturais, com vistas a garantir as condições de produção e reprodução do patrimônio, sua

proteção e/ou sua preservação.

Etapa fundamental desse processo, o ‘inventário’ se baseia em uma investigação

sistemática e exaustiva de todos os dados que possam colaborar na montagem de uma espécie

de dossiê sobre determinado bem patrimonial. Segundo o documento, um inventário deverá

ser estruturado a partir das seguintes categorias de bens culturais:

� Celebrações - Rituais e festas ligadas à religião, à civilidade, ao

calendário, etc, que marcam a vivência coletiva de grupos. Ex: carnaval, São

João, festas religiosas como a do Divino Espírito Santo ou a lavagem da

escadaria do Bonfim na Bahia;

� Formas de expressão - Manifestações literárias, musicais,

plásticas, cênicas e lúdicas que são marcadas por normas, expectativas, e

11

Ver Inventário Nacional de Referências Culturais. INRC 2000 - Manual de Aplicação. Brasília: IPHAN, 2000, p. 08.

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padrões construídos a partir do costume, reconhecidas por uma

comunidade. Ex: o cordel, a xilogravura, os maracatus, a ciranda, as

cantorias dos repentistas, etc

� Ofícios e modos de fazer - Conhecimentos de modos de fazer

que identificam um determinado grupo a partir de técnicas de produção ou

pela utilização de matérias primas específicas. Ex: a forma de cozinhar um

alimento, o benzimento contra doenças e mal olhado, o modo de entalhar

a madeira ou de fazer renda por diferentes comunidades;

� Edificações - Espaços construídos que, independente da sua

qualidade artística e/ou arquitetônica, concentram e reproduzem práticas

culturais coletivas de significados para um grupo. Ex: mercados, praças,

sede de um terreiro ou bloco carnavalesco;

� Lugares - espaços apropriados por atividades e práticas de

natureza variadas por determinada comunidade. Pode ser uma árvore

sagrada ou outro lugar da natureza considerado como referência para um

grupo, ou espaços como feiras e mesmo bairros inteiros.

Alicerçada na noção de bens culturais enquanto “produtos históricos dinâmicos e

mutáveis”, a metodologia do INRC busca entender a abrangência dos processos culturais e das

transformações dos padrões e práticas em curso, percebendo que as tradições se transformam

e se reiteram como condição necessária à sua permanência. O estabelecimento de ações de

salvaguarda e a participação da comunidade são fatores ressaltados como fundamentais ao

longo do processo.

Assim, a noção de patrimônio imaterial, idealizada enquanto sistema complexo de

significados marcantes que os indivíduos reconhecem como parte de seu patrimônio cultural,

abre novos caminhos, na medida em que rompe com a idéia limitada de bem patrimonial,

ampliando as questões referentes à sua proteção e preservação.

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Contudo os desafios enfrentados no cotidiano pelas políticas públicas e pela legislação

criada não são poucos. Lidar com bens culturais sujeitos a uma dinâmica de constantes e

permanentes mudanças, elaborar diferentes formas de salvaguardá-los, implementar, na

prática, critérios para bens tão complexos e subjetivos não são tarefas fáceis. Outras questões,

referentes à disposição, de certa forma, dicotômica, entre as noções de patrimônio material e

imaterial, continuam alimentando os debates entre os estudiosos e interessados no tema:

Como separar de forma inequívoca o que seria um bem material e um imaterial? Como

“preservar” bens intangíveis, quando os mesmos estão sujeitos a tantas transformações?

Como lidar com a idéia corrente de manutenção de uma suposta “autenticidade” desses bens

intangíveis? Com a ampliação da área de abrangência do conceito, como decidir sobre a

escolha do que deve ser preservado?

O momento é de discussão e aprendizado diante das novas perspectivas que foram

abertas. A metodologia do inventário, longe de encerrar o debate, se constitui em experiência

importante nos sentido de viabilizar ações oficiais e a destinação de recursos em programas

governamentais para o setor cultural.

Patrimônio Imaterial. Limites e apropriações conceituais.

Conforme foi ressaltado, a polissemia do conceito de cultura imaterial tem suscitado

vários debates, desde os anos oitenta quando a expressão adquiriu força nas convenções da

Unesco. O termo imaterial também chamado de “intangível” na versão inglesa (intangible

heritage), a princípio foi criado no intuito de distinguir o patrimônio que ela recobre

(imaterial), dos que já faziam parte das convenções da Unesco, os patrimônios materiais

(físicos) e naturais. Desse modo, as diferentes maneiras pelas quais as comunidades e grupos

se representam e representam o mundo que os cerca, seriam também um patrimônio a ser

zelado pela humanidade. Ritos, crenças, festejos e formas artísticas seriam apenas alguns

exemplos da variedade de manifestações que entrariam na definição de cultura imaterial. No

entanto, o uso do termo apresenta alguns limites de aplicação. A questão que se coloca é a

seguinte: por que há a necessidade de se dividir a cultura em bens tangíveis e intangíveis se

todas as crenças, hábitos e representações presentes possuem um anteparo material ? O

próprio texto da Convenção da Unesco nos revela a resposta: essa divisão nasce da

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necessidade de incluir e ampliar as categorias de bens sujeitos às políticas patrimoniais. Para

tanto, era preciso garantir a especificidade de determinados bens a fim de que recebessem

uma maior atenção das ações de salvaguarda.

No entanto, apesar dos limites do termo imaterial, o sentido que ele carrega,

apresenta algumas considerações que vão de encontro ao conceito de monumentalidade,

próprio à noção clássica de patrimônio. A noção de cultura intangível permite considerar que

não são os objetos os elementos mais importantes da cadeia do patrimônio, mas o processo

envolvido na sua produção. Quando se afirma que uma determinada iguaria culinária, tal como

o acarajé, pode ser considerada um bem imaterial, essa afirmação não se refere ao alimento

em si, mas à teia de significados e tradições envolvidas no seu preparo. Desse modo, é a

relação que os grupos estabelecem com seus artefatos, com o meio ambiente ou com os

indivíduos que se constitui a dimensão “intangível” da cultura. Essas considerações revelam

um novo instrumental de valorização de elementos que, durante muitos anos, sobretudo no

Ocidente, estiveram relegados ao segundo plano. Elementos como as expressões corporais, os

cânticos, a oralidade, os ritos etc. Nesse sentido, pensar a dimensão imaterial da cultura, é

perceber a importância da contribuição de aspectos como a oralidade e os gestos e o papel

dos atores. Os indivíduos se tornam também um patrimônio. Essa concepção permite uma

maior valorização do subjetivo face ao objetivo, dos produtores face aos produtos, da pessoa

face ao objeto.

Desse modo, as considerações acerca do patrimônio imaterial permitem uma

apreensão horizontal da cultura, colocando no mesmo patamar das ações de salvaguarda

tanto as culturas escritas e monumentais como aquelas fundadas nas tradição dos gestos e da

voz. Trata-se, portanto, de desfazer as hierarquias impostas pelas políticas patrimoniais e

permitir um olhar mais plural e menos etnocêntrico sobre a cultura.

Cultura imaterial e cultura popular.

É comum haver a associação entre a definição de cultura imaterial e a cultura popular.

De fato, boa parte dos bens inscritos nessa categoria fazem parte do rol de manifestações

próprias às comunidades tradicionais, cujas práticas estão assentadas na tradição oral e nas

manifestações lúdicas.

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Historicamente as expressões das culturas tradicionais, foram alvo de diferentes

perseguições e em vários casos, a liberdade de exercerem suas práticas esteve cerceada por

impositivos políticos e em alguns casos religiosos. Várias referências culturais de diferentes

comunidades tradicionais estiveram, sob diversas situações, reprimidas a ponto de perderem-

se ao longo do tempo. Com vistas a evitar sobreposições culturais e cerceamentos políticos,

órgãos nacionais e internacionais, esforçam-se em garantir as condições para que as culturas

tradicionais possam se manifestar.

No entanto, a noção de patrimônio relacionada às culturas populares , deve levar em

consideração a teia de relações envolvida na geração, transmissão e consumo dos bens

culturais. Além disso, o grande desafio é evitar que essas manifestações se tornem

padronizadas ou mesmo “petrificadas”. Para isso, o conceito de patrimônio imaterial permite

considerar a mobilidade dos atores envolvidos, as diversas recriações e ressignificações desses

bens a partir das diferentes gerações e camadas sociais. O objetivo é evitar o intervencionismo

governamental e permitir uma maior autonomia dos atores na apropriação de suas

manifestações culturais. Essa dinâmica requer um equilíbrio de forças entre a ação do Estado,

no sentido de patrimonializar esses bens, e as práticas e expressões das comunidades. A

solução desse impasse é garantir uma política patrimonial cujo escopo seja o de fomentar,

documentar e acompanhar as manifestações da cultura imaterial a partir dos próprios valores

que as comunidades portam sobre seus bens.

Apesar da íntima relação entre os bens imateriais e as culturas populares, no plano

conceitual, os bens intangíveis referem-se a todas as práticas culturais que se constituem

como marcos identitários de quaisquer indivíduos e/ou grupos sociais.

METODOLOGIA

Objetivos previstos no projeto, o que foi acordado com o Iphan e o que foi realizado.

A equipe do projeto incorporou as definições contidas no Inventário Nacional de

Referências Culturais, INRC, lançado em 1999, que se baseou nas categorias de bens culturais

estabelecidas pelo decreto nº 3.551, assim dispostas: formas de expressão (manifestações

literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas), saberes (modos de fazer), celebrações (rituais

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e festas), edificações e lugares (espaços onde se concentram e reproduzem práticas culturais

coletivas).

Devido à elasticidade da aplicação dessas categorias e à grande quantidade de fontes e

de registros existentes nos acervos de Pernambuco, optou-se por priorizar o levantamento dos

registros das “formas de expressão” da cultura imaterial, seleção esta já apontada no projeto.

Essa escolha está relacionada à existência de uma grande concentração de documentos sobre

essa categoria de bem cultural no estado de Pernambuco. Uma possível explicação para tanto

se deve ao fato dos folcloristas do século passado - em parte responsáveis pelos registros

documentais e bibliográficos sobre o tema existente nos acervos – terem dado destaque às

manifestações que eram mais visíveis e que vão constituir a tradição cultural do povo

pernambucano a ser preservada. Dessa forma, o trabalho de levantamento documental se

concentrou nas formas de expressão prioritariamente, sem que as demais categorias de bens

culturais imateriais tenham sido negligenciadas. Foi acordado com o Iphan, em reunião

realizada no dia 22/03/2007, que a equipe elaboraria uma lista de trabalhos “clássicos” onde

prioritariamente seriam levantados os bens das demais categorias. Essa lista de clássicos foi

constituída pelas principais obras dos seguintes autores: Gilberto Freyre; Câmara Cascudo;

Mário de Andrade; Pereira da Costa, Waldemar Valente, Mário Souto Maior e Mário Sette.

Formação da equipe

A equipe de trabalho constou de 9 pesquisadores, sendo que 5 destes colaboraram

prestando assessoria em momentos diversos do projeto e na realização dos seminários (Carlos

Sandroni, Frei Bartolomeu Tito, Rita de Cássia Barbosa de Araújo, Joanildo Burity e Janirza

Cavalcanti). Ficaram diretamente responsáveis pelo levantamento documental: Isabel Cristina

Martins Guillen, Sylvia Couceiro, Cibele Barbosa e Maria Angela de Faria Grillo. É importante

ressaltar que toda a pesquisa se desenvolveu de forma colegiada, havendo sempre a constante

participação de todos com justa distribuição de trabalho. Cada um dos pesquisadores de

campo ficou responsável pelo acompanhamento dos bolsistas e do trabalho que

desenvolveram em diversas bibliotecas.

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Também foram selecionados 2 pesquisadores para o trabalho de campo a ser realizado

nas cidades do interior do Estado e que também ficaram responsáveis pelo levantamento dos

livros “clássicos”, e que foram auxiliados por um pesquisador voluntário.

Após a seleção dos bolsistas/ auxiliares de pesquisa (6 bolsistas e dois voluntários),

estando já a equipe montada, a mesma passou por um processo de formação e discussão

acerca dos instrumentos teórico-metodológicos necessários para a execução do projeto. Essa

formação deu-se de modo continuado e diverso, constando de:

• Leitura de textos e discussão de conceitos e procedimentos

metodológicos envolvendo as políticas públicas voltadas para a cultura

imaterial; conceituação, categorização e definição bens culturais;

• Realização de um seminário inicial com a participação em

mesa-redonda de coordenadores de inventários culturais (Frei Bartolomeu

Tito e Carmem Lelis, respectivamente responsáveis pelos dossiês da Feira de

Caruaru e do Frevo), técnicos do IPHAN e demais especialistas;

• Treinamento com técnicos do Iphan para orientações sobre as

normas e regulamentação do edital, discussão das experiências de outros

estados e a alimentação do Banco de Dados. Destaque-se que a Fundação

Joaquim Nabuco colaborou nesse processo de formação da equipe com um

mini-curso sobre o estado de conservação de acervos, ministrado por técnico

do “Laboratório de Pesquisa, Conservação e Restauração de Documentos e

Obras de Arte” – Laborarte da Fundaj.

O treinamento com o IPHAN com toda a equipe ocorreu nos dias 22 e 23 de março e

coordenado por Teresa Paiva, do IPHAN de Brasília que apresentou desde as políticas públicas

mais gerais sobre o patrimônio imaterial, até instruções de preenchimento das fichas que

constariam do banco de dados. Destaque-se também que durante todo o período de trabalho

de campo contamos com a colaboração de outros técnicos do IPHAN – 5ª. Superintendência

para dirimir dúvidas e que acompanharam as reuniões da equipe (Elaine Muller, Mabel Leite

Maia Neves Baptistae Maria das Graças Carvalho Villas). Segundo avaliação dos

alunos/bolsistas envolvidos esse treinamento foi importante não só para dirimir dúvidas

quanto às tarefas a serem executadas, mas principalmente por desconstruir uma série de

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conceitos e pressupostos acerca da cultura imaterial. Nesse sentido, as discussões em torno

da noção de referências culturais e da categorização dos bens culturais foram importantes

para direcionar o olhar dos pesquisadores.

Pesquisa de campo e questões suscitadas.

O passo seguinte foi criar uma série de critérios que refinassem o campo de busca nos

acervos selecionados. A equipe foi dividida para que houvesse uma cobertura ampla dos

acervos. Os alunos bolsistas foram designados para trabalhar cada um em uma biblioteca ou

com documentos diversos (levantamento de livros; documentos sonoros e áudios-visuais;

fotografias). Em se tratando da bibliografia (livros e teses – os periódicos não foram incluídos)

sobre os bens a serem descritos, a abordagem dos acervos foi determinada por palavras

chaves que orientaram os pesquisadores nos acervos informatizados. As bibliotecas da

Fundação Joaquim Nabuco, da Universidade Federal de Pernambuco e a Biblioteca Pública do

Estado de Pernambuco foram instituídas como os principais acervos a serem pesquisados pois

possuíam sistema de busca informatizado. Num primeiro momento elaborou-se uma lista de

livros que existiam em cada uma dessas bibliotecas, a partir de palavras chave básicas, como

folguedos, cultura popular, etc., e em seguida as listas foram homogeneizadas para se formar

uma lista única para que houvesse então a divisão de trabalho entre a equipe. O processo de

definição dessa lista de livros a ser inventariada não foi automático; a partir de reuniões

semanais com a equipe a lista foi-se aprimorando com a inclusão de novas palavras chave para

se proceder a novas buscas. No decorrer do processo houve a incorporação de revistas e teses

que tratavam de bens que foram parcamente registrados em livro ou que não apareciam nessa

lista nem nas obras clássicas da historiografia pernambucana.

A pesquisa sobre os bens culturais na lista de livros “clássicos”, em que se levantaria

todos os bens e não exclusivamente as formas de expressão, foi feita por dois pesquisadores,

os mesmos contratados para fazer o levantamento nos acervos das bibliotecas do interior do

Estado, e por uma pesquisadora voluntária.

O processo de elaboração da lista, e as constantes reuniões, por outro lado, fizeram

com que a equipe de bolsistas e pesquisadores fosse se afinando metodologicamente, bem

como possibilitando que se construísse uma análise de como o tema da cultura imaterial

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aparece nos diversos acervos pesquisados (ou melhor, como é classificado). No início do

trabalho de campo nos acervos, rapidamente os bolsistas perceberam que o tema cultura

imaterial não se constituía em novidade apenas para eles. As bibliotecas também

desconheciam o tema ou não o valorizavam. A palavra-chave cultura imaterial redundava

sempre em resultados pífios, para quem se atreve a fazer uma busca nas bibliotecas

mencionadas. Devemos destacar que isso se deve, em parte, ao fato das discussões sobre o

tema serem recentes, o mesmo ocorrendo em relação à produção bibliográfica. A grande

maioria das obras foi localizada sob a denominação de folclore, e podemos considerar que

este é o denominador comum que unifica ou que alinha os bens culturais a serem

inventariados. Esse denominador também define o modo como muitos desses bens foram

descritos na bibliografia levantada, mesmo em livros editados recentemente. A cultura e arte

populares freqüentemente aparecem na forma de mitos, lendas, ritos populares, músicas e

danças, artesanato, desconectadas daqueles que as fazem, dos sentidos que lhes são

atribuídos no tempo ou mesmo como resultado de tensões e conflitos sociais. Raramente as

formas de expressão apareceram descritas como referências culturais, formadoras de

identidade, mas como folclore regional, em seu sentido clássico e conservador. Os bolsistas

diretamente envolvidos com a pesquisa de campo afirmaram diversas vezes que os

funcionários das bibliotecas desconhecem o tema “cultura material” reiterando a existência de

um estereótipo sobre esses bens culturais (folclore). Sempre que os bolsistas perguntavam aos

bibliotecários sobre o assunto, estes invariavelmente lhes forneciam material sobre os

mesmos velhos temas: carnaval – frevo e maracatu, e alguma coisa sobre artesanato.

Definida portanto, uma listagem única de livros, os bolsistas passaram então a ler e

preencher as fichas designadas pelo Iphan, procurando registrar as formas de expressão

descritas. Alguns problemas sérios surgiram de imediato. Contudo, a prática de fazer reuniões

semanais e a criação de um grupo de discussão no provedor Yahoo facilitou a comunicação

entre os pesquisadores e bolsistas. Todos os arquivos de dados foram armazenados nesse

grupo facilitando o acesso e preservando o trabalho já realizado.

Vale destacar aqui alguns problemas de acesso aos acervos previstos para serem

pesquisados no projeto inicial. A Biblioteca da Fundação Joaquim Nabuco encontra-se, ainda,

em reforma, e a maior parte de seu acervo não está disponível para consulta ao público.

Esperávamos, quando elaboramos a proposta, que as obras no setor fossem concluídas ao

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longo da pesquisa, o que possibilitaria o acesso aos livros antes do fim do projeto, previsão

que não se concretizou. Assim, os livros que não estavam disponíveis para consulta na Fundaj

foram procurados em outros acervos.

A pesquisa de campo começou ainda em abril, mas em maio de 2007 um outro fato

inesperado prejudicou os trabalhos: as bibliotecas da Universidade Federal de Pernambuco e

Universidade Federal Rural de Pernambuco entraram em greve. Dessa forma, os acervos de

maior interesse para o tema da pesquisa, existentes nas Bibliotecas do Centro de Filosofia e

Ciências Humanas e do Centro de Artes e Comunicação, ficaram inacessíveis em função da

paralisação dos funcionários, enquanto a equipe optava por continuar os trabalhos nas

bibliotecas específicas dos programas de pós-graduação e na Biblioteca Central, que

continuavam a funcionar precariamente.

Ficamos, portanto, reduzidos a um único grande acervo disponível na sua totalidade: o

da Biblioteca Pública Municipal. Tais imprevistos levaram a equipe a se decidir por incorporar

novas bibliotecas no rol das previstas inicialmente, como a da FIAM-FIDEM e Universidade

Católica de Pernambuco. No final de setembro foi a vez da Biblioteca Pública do Estado de

Pernambuco fechar para reforma também! É importante destacar que esses percalços

abalaram o planejamento do trabalho de campo e atrasaram a pesquisa, que acabou

ocupando muito mais tempo do que o previsto. No entanto, os livros que constavam da lista

elaborada foram registrados em sua quase totalidade, em uma biblioteca ou outra. Alguns

outros problemas acabaram também por dificultar e atrasar os trabalhos de campo: a grande

quantidade de livros desaparecidos das prateleiras das bibliotecas, a morosidade no

atendimento, principalmente nas bibliotecas dos programas de pós-graduação que guardam as

teses defendidas na UFPE (nossa principal fonte de trabalho para uma visão mais atual das

formas de expressão), o péssimo estado de conservação das obras, além das dificuldades de

localização do material solicitado, dentre outros. Essas teses e monografias, principalmente as

conservadas no Programa de Pós-Graduação em Antropologia e no Núcleo de Antropologia,

permitiram um levantamento da cultura imaterial dos grupos indígenas, da religião afro-

descendente, do catolicismo popular, dentre outros grandes temas que não são devidamente

contemplados nos trabalhos publicados.

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Levantamento dos registros fotográficos, sonoros e áudios-visuais.

O levantamento fotográfico - uma vez que as bibliotecas onde estão conservadas as

fotografias não possuem sistema de busca individual - foi feito a partir de coleções, a exemplo

da Fundação Joaquim Nabuco (acervo Katarina Real, José de Paiva Crespo, etc). Em cada

registro (ficha) das coleções levantadas há a observação dos bens culturais contemplados

naquela coleção. Foram pesquisados os acervos da Fundação Joaquim Nabuco, Museu da

Imagem e do Som, Museu do Estado e Museu da Cidade do Recife.

Um levantamento preliminar efetuado no acervo de documentos sonoros da Fundação

Joaquim, a Fonoteca, apresentou à equipe um problema que exigiu que definíssemos critérios

de seleção do material a ser inventariado. O acervo da Fundação Joaquim Nabuco, um dos

mais ricos do Nordeste em se tratando de registros sonoros, contém registros sonoros em

diversas mídias (discos de rotações diversas, CDs, fitas, por exemplo) e contempla diversas

formas de expressão. A Fonoteca desta instituição possui um acervo de 12.000 discos (2000

CD, 4000 LP e 6000 78 rpm, dentre os quais muitos da Rosemblit, gravadora pernambucana

que cumpriu importante papel no estimulo à produção local, extinta nos anos 1970 em função

de uma enchente que dizimou todo seu acervo e instalações). Um levantamento preliminar

nos mostrou que, apenas de frevo havia mais de mil registros! Outro tanto para o forró!

Acrescente-se as emboladas, músicas do Movimento Armorial, samba e choro

pernambucanos.

Essa constatação nos conscientizou que nem tínhamos equipe suficiente para registrar

essa quantidade de documentos, nem contávamos com o tempo necessário para isso. Depois

de muito discutir internamente (inclusive se poderíamos classificar o “Movimento Mangue” e

as “apropriações” que fizeram como formas de expressão da cultura imaterial) definimos

como critério para o registro minucioso no banco de dados apenas das formas de expressão

consideradas mais “tradicionais”, que têm como modo de transmissão a oralidade, e que ainda

não adentraram fortemente no mercado e na mídia, fazendo com que o levantamento fosse

mais rico e minuciosos (já que corríamos sério risco de nos perdermos na quantidade de

registros s ser efetuada). Ressaltamos que esses são os bens que precisam com mais urgência

de um inventário sistemático e de trabalhos que registrem suas características e importância

para os brincantes como os maracatus, caboclinhos ou cavalo-marinho. Desse modo, a partir

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dos novos critérios estabelecidos, as formas de expressão que foram comercial e amplamente

registradas não entraram no nosso levantamento. Cumpre salientar que o frevo passou

recentemente por um processo de inventário, e presumivelmente esse inventário fez o

levantamento necessário dos registros sonoros existentes ou mais significativos de sua

história. Mas não é demais registrar a importância do forró, que necessita de uma pesquisa

específica para dar conta de sua complexidade musical. Quanto aos vídeos, filmes, etc.,

decidimos priorizar aqueles que tinham passado por um processo mínimo de edição.

Os documentos sonoros e audiovisuais foram pesquisados nos seguintes acervos:

Fundação Joaquim Nabuco, TV Viva, Núcleo de Etnomusicologia da UFPE, Departamento de

Extensão e Comunicação (DEC) da- UFPE, Museu da Imagem do Som do Pernambuco (MISPE),

Casa do Carnaval e Comissão Pernambucana de Folclore.

� A Fundação Joaquim Nabuco sem dúvida possui o maior e melhor

acervo no campo sonoro. A Instituição é a que melhor atende ao público nos mais

diferentes requisitos, que vão da organização e catalogação do material, atendimento

ao público, informatização do sistema, conservação, etc. Atualmente o setor, abriga

um conjunto de aproximadamente 15 mil discos de 78 rpm, 2.500 discos LP's, 3.000

partituras nacionais e estrangeiras (algumas datam do final do século XIX), 600 fitas

rolos e 500 fitas cassetes. Muito desse acervo está ligado ao tema de interesse desse

projeto, como as gravações em fita rolo da rara pesquisa sobre Manifestações

Folclóricas do Nordeste. Destaca-se preservado nesse acervo o trabalho de recolha

que recebeu a denominação de “Manifestação Folclórica do Nordeste”. Organizado

pelo folclorista Mário Souto Maior, do então Centro de Estudos Folclóricos da

Fundação Joaquim Nabuco, é o resultado de uma pesquisa realizada por força de um

convênio firmado entre o então Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, a

Universidade de Brasília, o Instituto Interamericano de Etnomusicologia y Folclore de

Caracas (Venezuela), sob os auspícios da OEA. A pesquisa contou com a participação

dos investigadores sociais Jorge Carvalho, Rita Segato, Cristina Machado e Emerson

Muniz e revelou, aos estudiosos do folclore, um mundo maravilhoso de músicas e

cantos. Consta desse acervo gravações dos toques e cantos dos terreiros do

Candomblé em Recife e Olinda, e dentre eles de pais de santo muito conhecidos e que

já morreram, a exemplo de Apolinário. O grupo de pesquisa ainda registrou outras

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manifestações como cirandas, desafios, incelenças (inclusive de anjos), benditos,

reisado, bumba-meu-boi, forrós, estórias de Trancoso, cocos, emboladas, bandas de

pífanos (tocando, além de baiões dobrados, marchas de procissão, etc.), cantos de

maneiro-pau e tantas outras peças que constituem uma riqueza enorme. Para melhor

preservação dos originais e salvaguarda das informações neles contidas foi

providenciada a reprodução dos originais para fita cassete e para suporte digital,

totalizando 104 CDs, que se encontram disponíveis à consulta do público no Centro de

Documentação e de Estudos da História Brasileira – Cehibra, da Diretoria de

Documentação da Fundação Joaquim Nabuco.

� A TV Viva, localizada em Olinda, dispõe de um acervo de mais de 500

vídeos editados, resultado de 20 anos de atuação/produção fílmica.

� Na UFPE, O Núcleo de Etnomusicologia, coordenado pelo Prof. Carlos

Sandroni, também possui um excelente acervo, no qual se destaca a pesquisa que

percorreu o mesmo itinerário da Missão Folclórica coordenada por Luis Saia sob os

auspícios de Mário de Andrade.12 Há um rico material sobre os rituais indígenas, como

toré, coco, etc, mas que se encontram em material bruto, ou seja, sem edição.Nossos

agradecimentos ao pesquisador Gustavo Villar pela inestimável colaboração para a

inserção desse material no banco de dados. Ainda na UFPE, há o acervo do

Departamento de Extensão Cultural – DEC, que possui importantes registros de

músicas populares católicas. Resultado de um projeto de pesquisa iniciada na década

de 1960 por José Maria de Andrade na gestão de Hermilo Borba Filho, e continuada

por Ariano Suassuna a partir de 1974 quando assumiu a direção do DEC. O material

gravado por esses pesquisadores consiste em 33 fitas de rolo, em que há uma grande

quantidade de benditos e cantadores. Essas fitas foram transpostas para CD e

encontram-se disponíveis para consulta no Núcleo de Etnomusicologia.

� Um dos acervos que maior preocupação causou aos pesquisadores foi

o do Museu da Imagem e do Som de Pernambuco - MISPE, uma vez que parte

significativa da documentação lá depositada não pode ser consultada, seja pela falta

de equipamento para sua reprodução, seja pelas péssimas condições de conservação

do acervo. Depoimentos de importantes mestres da cultura popular não puderam

12

Veja-se o resultado dessa pesquisa no CD “Responde a Roda”.

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entrar no banco de dados porque não há equipamento para ouvi-los (uma série de

entrevistas feitas nos anos 1970-1980 estão registradas em fita de rolo). No entanto,

há que se mencionar a boa vontade de seus funcionários em atender o público.

� A Comissão Pernambucana de Folclore foi incluída no rol das

bibliotecas pesquisadas pela importância histórica de seu acervo. Lá estão depositadas

parte da correspondência de Katarina Real e alguns vídeos que ela filmou dos

maracatus do Recife. Existe também um grande número de fitas de vídeos filmados

pelo pesquisador Roberto Benjamin durante o carnaval, registrando uma diversidade

de formas de expressão, como maracatus, burrinhas, caboclinhos, etc. Existe, também,

na Comissão Pernambucana de Folclore um conjunto importantíssimo de fitas cassetes

registrando as bandas de pífanos da década de 1970, por exemplo. No entanto, apesar

a enorme boa vontade dos pesquisadores, o acervo da Comissão Pernambucana de

Folclore só pode atender ao público muito precariamente, já que seu acervo não se

encontra catalogado (só coordenadores da Comissão sabem onde procurar e o que o

acervo contém). Seria sem dúvida de grande valia que o acervo em questão passasse

por um processo de organização, que garantisse sua conservação e o acesso e

atendimento do público interessado.

Levantamento nas bibliotecas das cidades de Goiana, Vitória, Garanhuns, Petrolina e

Caruaru.

Como estava previsto no projeto, a equipe também fez um extenso levantamento nas

cidades acima mencionadas. Em Vitória, Goiana e Caruaru o levantamento foi efetuado pelos

bolsistas, que se dirigiam a essas cidades próximas do Recife todos os dias. Pelo menos duas

bibliotecas, com acervos disponíveis ao público, foram consultadas, em cada uma das cidades.

Enquanto que em Vitória encontramos excelentes bibliotecas (destacando-se a biblioteca do

Instituto Histórico e Geográfico), em Goiana é literalmente assustadora a pobreza dos acervos,

já que nada de significativo sobre a enorme diversidade de bens culturais existentes na cidade

encontra-se registrado, ou se foram, não se encontram nas bibliotecas. Em Caruaru

incorporamos ao banco de dados uma coleção de recortes de jornais existentes na FAFICA,

uma vez que era a única forma em que se encontrava documentada a mazurca.

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Em Garanhuns e Petrolina, o levantamento foi efetuado pelos pesquisadores: João

Paulo e Bartyra Queiroz. Esse levantamento buscou cobrir quase todas as bibliotecas

existentes nas duas cidades. Destacamos que a pesquisa de campo foi efetuada na mesma

semana em que se promoveu os seminários de sensibilização nas referidas cidades.

O levantamento nas cidades do interior do Estado trouxe para a pesquisa alguns dados

fundamentais. O primeiro deles refere-se à enorme disparidade entre a riqueza de bens

culturais existentes nas regiões abrangidas pelas cidades e a pobreza ou inexistência total de

registros documentais desses bens. Apenas para citar um exemplo, a Confraria de Nossa

Senhora do Rosário dos Pretos de Floresta, cidade da região do Médio São Francisco, promove

há quase 150 anos a coroação de rei e rainha do Congo. Este ano, a Confraria recebeu o título

de Patrimônio Vivo. Não obstante, não há absolutamente nenhum registro documental dos

bens a eles associados, seja a coroação, os rituais que a envolvem, as festas, etc. Sabemos da

existência de uma pequena monografia de conclusão do curso, mas que não localizamos em

nenhuma das bibliotecas pesquisadas. Registramos os diversos bens associados à Confraria a

partir de pequenos indícios, perceptível nas descrições que fizemos, indubitavelmente pobres.

Nesse sentido, é imensa a diferença entre os bens existentes na região metropolitana

do Recife, documentados em alguns casos com fartura, e a quase que completa ausência de

documentação de alguns bens existentes no interior. De alguma forma isto deve sinalizar para

que as políticas públicas sobre o patrimônio imaterial sejam dirigidas para essas cidades

também!

Os clássicos e a diversidade de bens levantados.

Como foi acordado no início do projeto com a equipe do Iphan, para abordar outros

bens além das formas de expressão compusemos uma lista de obras clássicas, de autores

consagrados, e que tinham tratado do tema, tais como: Gilberto Freyre, Câmara Cascudo,

Pereira da Costa, Mário de Andrade, Waldemar Valente, Mário Souto Maior e Mário Sette. A

leitura e levantamento dos bens descritos nessas obras ficou a cargo de 3 pesquisadores

contratados, os mesmos responsáveis pelo levantamento documental no interior do Estado.

Os autores analisados pertencem a diversas áreas das ciências humanas, tendo em comum a

preocupação com a cultura popular. Escreveram em tempos diversos, e este aspecto foi

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considerado na pesquisa, para que não nos prendêssemos exclusivamente a uma visão do

passado. Como exemplo podemos citar a Cruz do Patrão, descrita por Gilberto Freyre ou os

maracatus analisados por Mário de Andrade. A leitura dos clássicos foi importante para nos

dar uma dimensão histórica dos bens, mas sempre que possível incorporamos informações

mais atuais com o objetivo de apreender a dinâmica do bem em sua historicidade.

Catalogação ou alimentação do banco de dados fornecido pelo Iphan. Descrição dos

bens culturais levantados.

Após o término do trabalho de campo a equipe de pesquisadores fez um levantamento

exaustivo dos bens culturais que apareceram descritos na documentação, com o objetivo de

descrevê-los. Alguns critérios foram acordados: a descrição do bem seria sintética, tipo

verbete de dicionário, apontando suas características básicas e sempre que possível sua

dinâmica histórica. O importante era remetermos o usuário do banco de dados à

multiplicidade de documentos levantados. Não é demais ressaltar que o desejo de fazermos

descrições mais apuradas e densas foi colocado em questão, mas isso demandaria muito mais

tempo do que o previsto/programado e não se constitui nos objetivos de um banco de dados.

Tomamos como exemplo para as descrições que fizemos o Dicionário do Folclore, de Câmara

Cascudo, e o Tesauro do Folclore e Cultura Popular

(http://www.cnfcp.com.br/tesauro/index.html). A descrição dos bens também foi

acompanhada de reuniões semanais da equipe em que as descrições foram lidas e discutidas

em grupo, modificadas, outros bens incorporados, outros retirados, etc. É importante salientar

que em algumas reuniões a presença dos técnicos do Iphan foi fundamental para consolidar

nossos critérios e apoiar nossas decisões.

SEMINÁRIOS

Para melhor andamento da pesquisa de campo bem como para a divulgação e

fomento das políticas públicas sobre o patrimônio imaterial do Estado de Pernambuco, o início

da pesquisa de campo em cada uma das cidades definidas foi precedido de um seminário de

sensibilização para a temática do patrimônio imaterial. Tais seminários congregaram não só os

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órgãos públicos das cidades envolvidas na implementação de políticas para a cultura local,

como também professores e alunos das faculdades existentes. Dos seminários surgiram

parcerias que impulsionaram o levantamento dos dados na região, lembrando que todos os

municípios selecionados para a pesquisa possuem Bibliotecas Municipais, Museus e

Faculdades da área de Ciências Humanas.

Os Seminários foram organizados no seguinte formato: Mesas Redondas compostas

pelos componentes da equipe do projeto e convidados, seguidos de debates abertos ao

público presente. Nas cidades do interior houve sempre um contato prévio com os

representantes dos órgãos públicos da cultura local, inclusive com visitas e reuniões de

trabalho para para melhor elaboração dos Seminários.

É importante destacar que em alguns dos seminários foram exibidos filmes sobre

cultura imaterial e documentários que integraram os inventários do frevo e da feira de

Caruaru, com a participação de técnicos/professores que formaram as equipes responsáveis

pela coleta de material dos dois dossiês.

SEMINÁRIO DE ABERTURA

O Seminário de abertura do Projeto foi realizado no dia 27 de abril de 2007, na Sala

Calouste Gulbenkian da Fundação Joaquim Nabuco, situada na Av. 17 De Agosto, 2187, em

Casa Forte, na cidade do Recife. Contando com a participação e colaboração de toda a equipe

do Projeto, a programação foi assim desenvolvida:

As 8:30h foi aberto o Credenciamento.

No período de 9:00 às 10:00 h. Mesa Redonda : Políticas públicas para a cultura

imaterial.

Coordenação: Joanildo Buriti (FUNDAJ)

Debatedores : Tarciana Portella (MINC)

João Roberto Peixe (Secretaria de Cultura da Cidade do Recife)

As palestras apresentadas abordaram os seguintes temas:

� Apresentação do projeto “Formas de expressão da cultura imaterial em

Pernambuco”, com explanação de como será seu andamento nas diversas cidades e acervos a

serem pesquisados;

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� Apresentação do Edital de Patrimônio de Cultura, e debatido os desafios sobre

diversidade cultural de acordo com a Unesco;

� Valorização da Cultura local e dinamização da cultura da cidade do Recife

como um todo.

No período de 10:30 às 12:00 h – Mesa Redonda : Patrimônio imaterial

Coordenação: Ângela Grillo (UFRPE)

Palestrantes: Isabel Guillen (UFPE)

Teresa Paiva Chaves (IPHAN – Brasília)

As palestras apresentadas abordaram os seguintes temas:

� A importância de se mapear as manifestações da cultura imaterial de

Pernambuco através de levantamento bibliográfico e arquivístico (iconográfico, fonográfico e

áudio visual);

� As novas culturas políticas;

� Ações do IPHAN sobre o Patrimônio Imaterial.

Ao término de cada uma dessas mesas foi aberto um espaço para perguntas,

sugestões, críticas e debates com a ampla participação da platéia. Muitas questões foram

dirigidas aos componentes da mesa. Nas discussões surgiram perguntas sobre o projeto, seus

objetivos e metodologia e sobre os acervos a serem pesquisados.

No período de 14:00 às 17:00 – Mesa Redonda: Experiências Pernambucanas de

inventários da cultura imaterial de Pernambuco

Coordenação: Cibele Barbosa (FUNDAJ)

Palestrantes: Carmem Lélis (Casa do Carnaval)

Neide Fernandes (FUNDARPE)

Frei Bartolomeu Tito Figueiroa de Mendonça (UFPE)

As palestras apresentadas abordaram os seguintes temas:

� Inventário de salvaguarda do Frevo;

� Bens tangíveis e intangíveis existentes em Pernambuco a partir de mapa

cultural elaborado pela FUNDARPE;

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� Inventário de salvaguarda da Feira de Caruaru.

Para concluir este encontro foi apresentado o vídeo Feira de Caruaru, documentário

integrante do inventário encaminhado ao Iphan para registro da Feira como patrimônio

Imaterial. Ao final dessa exibição, novos debates aconteceram em torno do projeto de

salvaguarda do Frevo e da Feira de Caruaru. O público presente a este Seminário de Abertura

era composto de professores das Universidades e Faculdades locais, alunos de cursos de

graduação, representantes de entidades e grupos culturais, jornalistas, universitários, e outras

pessoas interessadas no assunto.

SEMINÁRIO DE GOIANA

Localizada na Região de Desenvolvimento da Mata Norte, na mesorregião da Mata

Pernambucana, aproximadamente 10 km da divisa de Pernambuco com a Paraíba, a cidade de

Goiana, situa-se a apenas 60 km da cidade do Recife, foi marcada por um rico passado

histórico. O município de Goiana teve, durante séculos, a economia voltada exclusivamente à

monocultura da cana-de-açúcar. Agora, apresenta uma tendência à diversificação de

atividades. Entre elas destacam-se as indústrias de transformação, o comércio varejista, a

pesca e a prestação de serviços. Com uma economia agrícola predominante, essa região possui

como atividade principal a produção de cana-de-açúcar. É nessa área de cultivo onde está

empregada a maior parte da mão-de-obra local.

Vários monumentos religiosos podem ser conferidos em Goiana. Entre as igrejas

destacam-se a de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, a de Nossa Senhora do

Amparo dos Homens Pardos e a Matriz de Nossa Senhora dos Homens Brancos; essas igrejas

figuram na lista das mais antigas do Brasil, além da Igreja de São Lourenço de Tejucupapo que

é hoje um bem tombado do Estado de Pernambuco. Os principais pontos turísticos dos

romeiros é o Conjunto Carmelita, que possui a Igreja de Nossa Senhora do Carmo e o Cruzeiro

esculpido em pedra calcária.

A cidade de Goiana também tem marca forte no artesanato, com a produção de peças

feitas em cerâmica, que ilustram cangaceiros, santos e outros personagens que compõem o

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imaginário nordestino. Devido ao seu solo rico em argila os artesãos utilizam o barro como

matéria-prima para a confecção da cerâmica figurativa de Goiana.

No Carnaval, a cidade é marcada pela apresentação de grupos de Maracatus Rurais e

de Caboclinhos. Na terça-feira, mais de 30 grupos de Caboclinhos se encontram na cidade para

celebrar a cultura indígena, presença forte nos antepassados da região.

Para desenvolver a pesquisa foram visitados o acervo do Museu de Arte Sacra de

Goiana, da Biblioteca Pública Municipal Des. Francisco Luiz , além da biblioteca da Faculdade

de Formação de Professores de Goiana.

Organização do Seminário:

O Seminário de Goiana foi realizado em conjunto com o Núcleo de Estudos Folclóricos

Mário Souto Maior, da Fundação Joaquim Nabuco, sob a coordenação de Rúbia Lócio, e foi

inserido na programação da II Feira da Tradição Popular, ocorrida nos dias 27 e 28 de agosto

de 2007, conforme consta da programação anexa.

Dia : 28 de agosto de 2007 (Terça-feira)

Local: Auditório da Prefeitura de Goiana

Horário: 9:00 às 12:00h

Palestrantes: Isabel Guillen (UFPE) Elaine Müller (IPHAN-PE)

Carlos Sandroni (UFPE)

As palestras apresentadas abordaram os seguintes temas:

� Apresentação do Projeto “Formas de expressão da cultura imaterial em

Pernambuco”, com explanação sobre e seu andamento nos acervos pesquisados, em especial

os de Goiana;

� Ações do IPHAN com relação ao Patrimônio Imaterial focando a emergência

histórica do conceito e sua importância;

� Missão do folclore

Terminada as palestras foram abertos os debates com varias questões dirigidas aos

componentes da mesa. Nas discussões surgiram perguntas sobre o projeto, seus objetivos e

metodologia e sobre os acervos a serem pesquisados. Foi, ainda, objeto de discussão as

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manifestações existentes na cidade e no seu entorno, dúvidas e questões sobre parcerias e

processos de assessoramento à elaboração de projetos culturais. Na oportunidade, os

componentes da mesa destacaram um fato importante em relação aos acervos da cidade,

observando que muito pouco se tem registrado sobre as manifestações existentes na cidade e

regiões vizinhas.

Na platéia estavam presentes a Secretária de Cultura de Goiana, Professores da

Faculdade de Formação de Professores de Goiana e de outras Instituições, universitários, além

de representantes de vários grupos culturais.

Dos integrantes da equipe do projeto, estavam presentes no evento: Isabel

Guillen (UFPE), Ângela Grillo (UFRPE) ; Sylvia Couceiro(Fundaj), Carlos Sandroni (UFPE), além

de Janirza da Rocha Lima (Fundaj - responsável pela articulação e parte operacional dos

Seminários) e Elaine Müller (Iphan, que acompanhou o desenvolvimento dos trabalhos de

pesquisa).

SEMINÁRIO DE VITÓRIA DE SANTO ANTÃO

Distante 51 km do Recife, Vitória de Santo Antão está localizada na Zona da Mata Sul

do Estado. O município tem como principal atividade econômica a agroindústria, com maior

potencialidade de desenvolvimento para agricultura, sobretudo para o cultivo da cana-de-

açúcar. Vitória é uma grande produtora de aguardente, exportando a cachaça para diversos

continentes (a Pitu, uma das maiores empresas produtoras de cachaça do Brasil, tem sua sede

em Vitória). Na agropecuária o destaque do município é a criação de gado Nelore.

A cidade tem belas igrejas sendo a mais conhecida a de Nossa Senhora do Rosário dos

Pretos (que foi palco de um conflito político ocorrido no ano de 1880).

O Carnaval de Vitória de Santo Antão é um dos mais animados da Zona da Mata Norte

pernambucana. A tradição carnavalesca na cidade é a rivalidade entre os grupos de carnaval,

reunindo cerca de 100 agremiações. A disputa maior ocorre entre os clubes O Camelo e O

Leão. O amarelo e azul do Leão e o vermelho e verde do Camelo não se misturam. Na festa, os

moradores dividem as opiniões e se transformam em verdadeiros torcedores fanáticos. Há

quem se pinte, se vista ou enfeite a fachada da casa com a cor do clube predileto. Os desfiles

acontecem no domingo e na terça de carnaval.

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A cidade ainda tem a Festa das Tabocas, a Exposição de Animais e também a festa do

padroeiro, Santo Antão. Outra atração do município é a vaquejada do Parque Major Expedito,

uma das maiores e mais conhecidas do estado.

Um passeio histórico também pode ser uma das opções para quem visita o município. No

Monte das Tabocas (onde os brasileiros venceram uma batalha contra os holandeses em 1645)

está construída a capela para Nossa Senhora de Nazaré onde existe o Museu Regional, com

exposições arqueológicas e folclóricas.

Em Vitória de Santo Antão foram pesquisados o acervo do Instituto Histórico e

Geográfico de Vitória de Santo Antão, da Biblioteca Pública Municipal Cônego Américo Pita,

bem como da biblioteca das Faculdades Integradas de Vitória de Santo Antão.

Organização do Seminário:

Dia: 31de agosto de 2007 (sexta-feira)

Local: SILOGEU – Praça Diogo de Braga s/n Matriz

Horário: 14:00 às 17:00 h.

Coordenação: Janirza Cavalcante(Fundaj)

Palestrantes: Isabel Guillen (UFPE)

Graça Mello (IPHAN-PE)

Carmem Lélis (PMR)

As palestras apresentadas abordaram os seguintes temas:

� Apresentação do Projeto “Formas de expressão da cultura imaterial em

Pernambuco”, com explanação sobre e seu andamento nas diversas cidades e acervos

pesquisados, em especial o de Vitória de Santo Antão;

� Ações do IPHAN com relação ao Patrimônio Imaterial focando a emergência

histórica do conceito e sua importância;

� Apresentação do inventário de salvaguarda do Frevo.

Após as apresentações da Mesa foi exibido o documentário integrante do inventário

encaminhado ao Iphan para registro da Frevo como patrimônio Imaterial.

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. Seguindo a programação, foi facultada a palavra ao público assistente que era

composto por professores da faculdade local, alunos de cursos universitários, além de alunos

do nível médio.

Mais uma vez foram debatidos e esclarecidos alguns pontos sobre o projeto, as ações

do IPHAN , assim como se processa um plano de salvaguarda de cultura imaterial.

Dos integrantes da equipe do projeto, estavam presentes no evento: Isabel

Guillen (UFPE), Ângela Grillo (UFRPE) ; Sylvia Couceiro(Fundaj), Carlos Sandroni (UFPE), além

de Janirza da Rocha Lima (Fundaj - responsável pela articulação e parte operacional dos

Seminários) e Graça Mello (Iphan, que acompanhou o desenvolvimento dos trabalhos de

pesquisa).

SEMINÁRIO DE PETROLINA

O município de Petrolina, localizado na região do Submédio São Francisco, dista 714

km do Recife. Sua produção de vinhos é uma das fortalecedoras do desenvolvimento do setor

no Vale do São Francisco, onde são empregadas técnicas avançadas de agricultura irrigada.

Além do vinho, a região contempla atualmente grande produção de frutos de alta qualidade.

Aproveitando as características propícias para a produção das frutas tropicais,

Petrolina passou a plantar flores características do clima tropical. A produção da cidade, junto

a de mais oito municípios próximos, colocam Pernambuco como o primeiro produtor nacional

de flores desta espécie. O turismo de negócios e o artesanato, onde destaca-se a produção de

carrancas, são outros potenciais de Petrolina.

Em pleno sertão pernambucano está Petrolina, banhada pelo rio São Francisco que faz

divisa com Juazeiro da Bahia, a cidade tem uma orla urbana bem estruturada e uma tradição

no artesanato com a fabricação de carrancas. A maior representante desse artesanato é Ana

das Carrancas, com um acervo diversificado de peças em barro e madeira. Em 2000, a artesã

foi homenageada com o Museu Ana das Carrancas , que atualmente é um dos principais

pontos de visitação turística. Outro local de rico acervo é o Museu do Sertão, que possui de

mais de três mil peças, que contam a história da cultura indígena, do artesanato, da religião e

da política da região, além de um destaque especial para os pertences particulares de

Lampião.

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Em Petrolina, foram pesquisados os acervos do Centro de Arte e Cultura Ana das

Carrancas, o Museu do Sertão, a Biblioteca Pública Municipal Cid de Almeida Carvalho e a

Biblioteca da Faculdade de Formação de Professores de Petrolina.

Para a preparação do Seminário contamos com forte apoio da Secretaria de Turismo e

Cultura de Petrolina, junto a Gerente de Marketing e Turismo, Sra. Roberta Duarte de Oliveira,

que nos forneceu todos os equipamentos e atenção que precisávamos.

Organização do Seminário:

Dia: 20 de setembro 2007 (Quinta-feira)

Local: Auditório do Centro de Convenções

Horário 9:00 às 12:00 h.

Palestantes: Isabel Guillen (UFPE) (Coordenação)

Elaine Müller (IPHAN-PE )

Ângela Grillo (UFRPE)

As palestras apresentadas abordaram os seguintes temas:

� Apresentação do Projeto “Formas de expressão da cultura imaterial em

Pernambuco”, com explanação sobre e seu andamento nas diversas cidades e acervos

pesquisados, em especial o de Petrolina;

� Ações do IPHAN com relação ao Patrimônio Imaterial focando a emergência

histórica do conceito e sua importância;

� Cultura imaterial, sua importância enquanto emergência histórica e os novos

caminhos.

Após as palestras, dando seqüência a programação, foi facultada a palavra ao público

assistente que era composto por professores das faculdades locais, jornalistas, representantes

de grupos locais e alunos de cursos universitários. Surgiram então algumas questões sobre os

objetivos, a metodologia e a dinâmica do projeto com relação aos acervos a serem

pesquisados. As ações do IPHAN também foram observadas . Ainda dentro dos debates, foram

objeto de discussão as manifestações culturais existentes na cidade e no seu entorno, dúvidas

e questões sobre parcerias e processos de assessoramento para a elaboração de projetos de

salvaguarda dessas manifestações culturais. Os componentes da mesa alertaram para um fato

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importante em relação aos acervos da cidade, observando que muito pouco se tem registrado

sobre as manifestações existentes na cidade e regiões vizinhas.

Dos integrantes da equipe do projeto, estavam presentes no evento: Isabel Guillen

(UFPE), Ângela Grillo (UFRPE), João Paulo França e Bartira Queiroz de Souza (pesquisadores

contratados pelo projeto) e Elaine Müller (Iphan, que acompanhou o desenvolvimento dos

trabalhos de pesquisa).

SEMINÁRIO DE CARUARU

A cidade de Caruaru, situada a 130 km do Recife, é o maior centro urbano do agreste e

por essa razão a cidade é conhecida popularmente como a Capital do Agreste. Graças à sua

localização privilegiada, a cidade é um centro distribuidor de bens e serviços para mais de

quarenta cidades do interior. Atualmente Caruaru tem se desenvolvido bastante devido às

atividades das médias e pequenas empresas e do pólo de confecções. Por essa razão é

considerada um dos centros econômicos mais importantes do Nordeste. A cidade também é

um pólo médico e educacional, contando com várias empresas do ramo farmacêutico e

instituições de ensino médio e superior que recebem centenas de alunos das cidades vizinhas.

Além dessas atribuições o município destaca-se pelas suas atividades artísticas e culturais. O já

consagrado São João de Caruaru rendeu à cidade o título de Capital do Forró. Os festejos

começam no início de junho e estendem-se durante todo o mês. O evento é responsável pelo

intenso fluxo turístico na cidade e pelo aquecimento da economia na região. Durante as

festividades apresentam-se quadrilhas juninas e bacamarteiros, formas de expressão da

cultura imaterial, e são comercializadas iguarias típicas da culinária nordestina, como canjica,

pamonha, bolo pé-de-moleque, dentre outros.

A cidade de 284 mil habitantes tem como um dos seus símbolos de maior expressão

popular, a Feira de Caruaru, tombada pelo IPHAN em 2006 como patrimônio cultural imaterial

do Brasil. Trata-se de um complexo de várias feiras onde centenas de barracas distribuem–se

por mais de dois quilômetros nas ruas da cidade. Nelas são comercializados os mais diversos

itens derivados das atividades agrícolas, tais como verduras e frutas, das atividades pecuárias:

couro e carnes, das atividades artesanais: produtos de barro, brinquedos, utensílios em

cerâmica e madeira, rendas e redes, além de ervas, raízes e preparos da medicina popular.

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Além desses produtos são comercializadas confecções oriundas das atividades de empresas da

região, bem como eletrodomésticos e outros utensílios. Há o setor de comércio de gado e o

de “ troca-troca”, no qual são negociados os mais diferentes produtos. Destacam-se ainda os

bens culturais associados, como a rádio instalada durante a feira(sábados) e o Alto do Moura,

localidade que concentra as oficinas de artesãos.

A Feira é, portanto, um lugar onde se misturam as mais diferentes atividades

relacionadas à cultura imaterial. Nela fervilham modos de fazer tradicionais, representados

pelos objetos de artistas populares, pelas iguarias e remédios preparados com saberes

tradicionais bem como as formas de expressão da cultura imaterial representadas pelos

cordéis, pelos repentes, pela arte em barro, pela bandas de pífanos que executam canções ao

longo da feira, dentre outros.

A Feira também apresenta uma importância histórica. Com mais de duzentos anos, é

inseparável da origem da cidade. No princípio era um ponto de encontro de vaqueiros que

traziam o gado do Sertão para o Litoral e um entreposto de comerciantes que saíam da capital

para o interior. No entorno dessas atividades comerciais a cidade foi se constituindo. Ao longo

das décadas foram sendo agregadas as demais feiras. Em 1992, a feira foi transferida do Largo

da Igreja da Conceição para o Parque 18 de Maio, na área central da cidade.

Juntamente com a Feira, outros espaços compõem o cenário cultural da cidade de

Caruaru. O Alto do Moura, bairro que abriga uma comunidade de artistas, cuja tradição

figurativa do barro é transmitida de geração em geração. Nas peças de barro são retratados

pessoas e animais e situações do cotidiano, bem como cangaceiros, trios de tocadores,

quadrilhas, cavalos-marinhos, cirandas, além de figuras imaginárias etc. Em 2003 o Alto do

Moura foi reconhecido pela Unesco como o maior Centro de Artes Figurativas das Américas.

No local há o museu do Mestre Vitalino, grande inspirador dos artesãos e que produziu um

estilo próprio, hoje reproduzido por vários artistas. Atualmente há um pequeno museu em seu

nome.

Pelas razões acima expostas, a cidade de Caruaru constituiu-se em um roteiro

indispensável para as atividades do projeto. Devido às potencialidades da cidade e pelo grande

número de estudantes, a cidade integrou a agenda de seminários do projeto.

Em Caruaru, os lugares pesquisados privilegiaram os acervos do Memorial de Caruaru,

Memorial da Feira de Caruaru, Museu da Cidade Celso Galvão, Museu do Forró; Biblioteca da

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Universidade Federal de Pernambuco, campus Caruaru; Fundação de Cultura e Turismo de

Caruaru, Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Caruaru e Sociedade Caruaruense de

Ensino Superior.

Organização do Seminário:

Dia: 27 de setembro 2007 (Quinta-feira)

Local: Auditório da FAFICA

Horário 19:00 às 22:00 h.

Palestantes: Isabel Guillen (UFPE) (Coordenação)

Cibele Barbosa (FUNDAJ)

Teresa Paiva Chaves (IPHAN – Brasília)

Frei Bartolomeu Tito Figueiroa de Mendonça (UFPE)

As palestras apresentadas abordaram os seguintes temas:

� Apresentação das atividades do Projeto “Formas de expressão da cultura

imaterial em Pernambuco”, com explanação sobre e seu andamento nas diversas cidades e

acervos pesquisados, em especial o de Caruaru;

� Histórico do patrimônio imaterial no Brasil;

� Atividades do Iphan relacionadas ao trato do patrimônio imaterial, tais como a

estrutura organizacional, a legislação, os bens tombados e os que estão em processo de

registro e tombamento etc.

� Pesquisa que forneceu as bases para o processo de tombamento da Feira de

Caruaru.

Em seguida foi apresentado o Vídeo: Feira de Caruaru documentário integrante do

inventário encaminhado ao Iphan para registro da Feira como patrimônio Imaterial.

O auditório, além de ter a capacidade para mais de 200 pessoas, oferecia a vantagem

de estar situado em uma faculdade, o que facilitaria o acesso ao público universitário das áreas

de interesse do projeto. A articulação do evento ocorreu através da pesquisadora Janirza

Cavalcanti (Fundaj) e contou com o apoio do FAFICA e da Prefeitura de Caruaru. Para

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divulgação foram distribuídos cartazes e folders além de uma nota no jornal online Caruaru

Notícias13, no site do Ministério da Cultura 14 e no site da Prefeitura de Caruaru.15

Os professores da FAFICA liberaram os alunos durante o seminário, para que

pudessem assistir ao evento. Além dos universitários, o seminário contou com a participação

de professores, arquitetos, antropólogos, historiadores, e representantes da prefeitura da

cidade além dos demais interessados no tema. Ao todo o seminário teve a participação de

aproximadamente 300 pessoas.

Após as palestras e a projeção do vídeo, foi aberta ao público a sessão de debates e

perguntas. Surgiram várias questões a respeito da feira de Caruaru que suscitaram debates

acerca dos desafios enfrentados pelos feirantes. Surgiram também questões a respeito da

metodologia e estrutura do IPHAN, as atividades do projeto Formas de expressão da cultura

imaterial e sobre as definições vigentes sobre patrimônio imaterial no Brasil.

Dos integrantes da equipe do projeto, estavam presentes no evento: Isabel

Guillen (UFPE), Janirza Cavalcanti (Fundaj); Cibele Barbosa (FUNDAJ);

Frei Bartolomeu Tito Figueiroa de Mendonça (UFPE) ; João Paulo França e Bartira Queiroz de

Souza (pesquisadores contratados pelo projeto) e Teresa Paiva Chaves (IPHAN – Brasília que

acompanhou o desenvolvimento dos trabalhos de pesquisa).

SEMINÁRIO GARANHUNS

O município de Garanhuns que faz parte da Região de Desenvolvimento do Agreste

Meridional, localizada na Mesorregião do Agreste Pernambucano, distante 229 quilômetros do

Recife, é também conhecido como a Cidade das Flores. Famoso por ser o maior centro de

captação de leite do estado, é um dos principais centros de comércio, turismo e lazer da

região.

O Festival de Inverno é a festa que atrai o maior número de pessoas à cidade. São nove

dias de muita agitação com as atrações que se apresentam, diariamente, nos vários pólos de

animação. Neste período várias oficinas culturais que acontecem durante o dia. O Relógio das

Flores e os parques Euclides Dourado e Pau Pombo são as principais atrações da cidade. A

13

http://www.caruarunoticias.com.br/v2/noticias.php?id=48 14

http://www.cultura.gov.br/noticias/na_midia/index.php?p=30047&more=1&c=1&pb=1 15

http://www.caruaru.pe.gov.br/interna.asp?idmat=1553

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visita ao Cristo do Magano, durante a Semana Santa, e a Festa de São Sebastião, em janeiro,

fazem parte do roteiro religioso da cidade, atraindo mais milhares romeiros para Garanhuns.

A existência de um campus da Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE, do

Centro Cultural Alfredo Leite Cavalcante, da Biblioteca Pública Municipal Luiz Brasil; da

Biblioteca da Faculdade de Formação de Professores de Garanhuns – UPE, fez com que a

cidade fosse escolhida para a pesquisa de acervos e a realização de um dos seminários do

projeto.

O seminário de Garanhuns foi organizado pela equipe do projeto, com a articulação de

Janirza Cavalcanti da Rocha Lima (Fundaj), contando com a colaboração da Secretaria de

Turismo de Garanhuns. O apoio da Secretária de Turismo da cidade, Gabriela Fernanda de

Alcântara Valença Paiva e da equipe que compõe a pasta foi fundamental para a realização do

evento, uma vez que foram os reponsáveis pela reserva e cessão do auditório, equipamentos

de som e projeção, além da identificação do público e divulgação do material promocional do

evento.

Organização do Seminário:

Dia: 04 de outubro de 2007

Local: Auditório do SENAC/Garanhuns

Horário: 14:00 – 17:30h

Palestrantes: Isabel Guillen (UFPE)

Sylvia Couceiro (FUNDAJ)

Elaine Müller (IPHAN-PE)

As palestras apresentadas abordaram os seguintes temas:

� O projeto “Formas de expressão da cultura imaterial em Pernambuco”, com

explanação sobre e seu andamento nas diversas cidades e acervos pesquisados, em especial o

de Garanhuns;

� Cultura imaterial, focando a emergência histórica do conceito, sua importância

e os novos caminhos abertos;

� A estrutura do Iphan e a metodologia implantada pela Instituição no trato dos

assuntos e manifestações ligadas à cultura imaterial no Brasil hoje.

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O público presente era composto de professores das faculdades locais, alunos de

cursos universitários, além de alunos do nível médio. Após as palestras, foram abertos os

debates com o público presente e muitas questões foram dirigidas aos componentes da mesa.

Nas discussões surgiram perguntas sobre o projeto, seus objetivos e metodologia, sobre os

acervos pesquisados, o que gerou um debate acalorado e avaliações sobre os acervos

pesquisados na cidade e seu estado de conservação.

Foram também objeto de discussão as manifestações existentes na cidade e no seu

entorno, e apresentadas pela platéia dúvidas e questões sobre parcerias e processos de

assessoramento à elaboração de projetos culturais. Na oportunidade, os componentes da

mesa destacaram um fato importante em relação aos acervos da cidade, observando que

muito pouco se tem registrado sobre as manifestações existentes na cidade e regiões vizinhas.

Tal afirmação gerou intenso debate entre os presentes, que constataram após o depoimento

dos pesquisadores João Paulo França e Bartira Queiros, responsáveis pela pesquisa de campo

nas bibliotecas da cidade, a quase inexistente bibliografia sobre a cultura imaterial da região

nos acervos abertos ao público da cidade. A mesa ressaltou a importância do papel do

professor no estímulo ao estudo e produção da cultura imaterial local, lembrando que o

registro escrito, gravado em som e imagem são fundamentais para a montagem de projetos

culturais na região e para salvaguarda das diversas manifestações culturais da região.

Dos integrantes da equipe do projeto, estavam presentes no evento: Isabel Guillen

(UFPE), Sylvia Couceiro(Fundaj), João Paulo França e Bartira Queiroz de Souza (pesquisadores

contratados pelo projeto), além de Janirza da Rocha Lima (Fundaj - responsável pela

articulação e parte operacional dos Seminários) e Elaine Müller (Iphan, que acompanhou o

desenvolvimento dos trabalhos de pesquisa).

SEMINÁRIO DE ENCERRAMENTO

Dia: 13 de dezembro de 2007

Local: Auditório do CFCH da UFPE

Horário: 10:00 às 12:00h

Palestrantes: Sylvia Couceiro (FUNDAJ))

Ângela Grillo (UFRPE)

Elaine Müller (IPHAN-PE)

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As palestras apresentadas abordaram os seguintes temas:

� O projeto “Formas de expressão da cultura imaterial em Pernambuco”, com

explanação sobre e seu andamento nas diversas cidades e acervos pesquisados;

� Cultura imaterial, focando a emergência histórica do conceito, sua importância

e os novos caminhos abertos;

� A estrutura do Iphan e a metodologia implantada pela Instituição no trato dos

assuntos e manifestações ligadas à cultura imaterial no Brasil hoje.

Após as palestras foi facultada a palavra ao público assistente. Surgiram então algumas

questões sobre os objetivos, a metodologia e a dinâmica do projeto com relação aos acervos

pesquisados. As ações do IPHAN também foram observadas. Ainda dentro dos debates, foram

objeto de discussão as manifestações culturais existentes, dúvidas e questões sobre parcerias

e processos de assessoramento para a elaboração de projetos de salvaguarda de

manifestações culturais. Dos integrantes da equipe do projeto, estavam presentes no evento:

Ângela Grillo (UFRPE), Sylvia Couceiro(Fundaj), Amanda Morais, José Brito, Leocádia, João

Paulo França e Bartira Queiroz de Souza (pesquisadores contratados pelo projeto) e Elaine

Müller (Iphan, que acompanhou o desenvolvimento dos trabalhos de pesquisa).

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BIBLIOTECAS PESQUISADAS

1. Arquivo Público Antônio Guimarães - Olinda

2. Biblioteca Amélia Rodrigues - Escola Nossa Senhora Auxiliadora -

Petrolina

3. Biblioteca Blanche Knopf - FUNDAJ | Recife

4. Biblioteca Central da Universidade Federal Pernambuco - Recife

5. Biblioteca Central Pe. Aloísio Môsca de Carvalho S.J. - UNICAP -

Recife

6. Biblioteca Central Prof. Mário Coelho de Andrade Lima - UFRPE -

Recife

7. Biblioteca Conselheiro Souza Barros - CONDEPE-FIDEM - Recife

8. Biblioteca da Faculdade de Formação de Professores de

Garanhuns - FFPG-UPE

9. Biblioteca da Faculdade de Formação de Professores de Goiana -

FFPG

10. Biblioteca da Faculdade de Formação de Professores de Petrolina -

FFPP

11. Biblioteca da Fundação de Patrimônio Histórico e Artístico de

Pernambuco - FUNDARPE - Recife

12. Biblioteca do Núcleo de Pós-graduação em Etnomusicologia - CAC-

UFPE - Recife

13. Biblioteca do Programa de Pós-graduação em Antropologia -

CFCH-UFPE - Recife

14. Biblioteca do Programa de Pós-graduação em História - CFCH-

UFPE - Recife

15. Biblioteca do SESC Petrolina

16. Biblioteca Joãozinho do Pharol – Museu do Sertão - Petrolina

17. Biblioteca Joaquim Cardozo do Centro de Artes e Comunicação -

UFPE

18. Biblioteca Nestor de Holanda - FAINTVISA - Vitória de Santo Antão

19. Biblioteca Prof. Roberto Amorim do Centro de Filosofia e Ciências

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Humanas - UFPE

20. Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco - Recife

21. Biblioteca Pública Municipal Álvaro Lins - Caruaru

22. Biblioteca Pública Municipal Cid Carvalho - Petrolina

23. Biblioteca Pública Municipal Luiz Brasil - Garanhuns

24. Biblioteca Universitária Dom Augusto Carvalho - FAFICA - Caruaru

25. Centro de Artes Ana das Carrancas - Petrolina

26. Centro de Estudo e Pesquisa em Cultura Popular - Casa do

Carnaval - Recife

27. Comissão Pernambucana de Folclore - Recife

28. Instituto Histórico e Geográfico da Vitória de Santo Antão

29. MISPE - Museu da Imagem e do Som de Pernambuco - Recife

30. TV Viva - Olinda

CONCLUSÃO

Indo além das conclusões óbvias sobre a diversidade de manifestações culturais

existentes em Pernambuco, como resultados da pesquisa podemos apontar algumas questões,

sem ordem de importância ou prioridade.

Surpreendeu a equipe a diversidade de bens culturais existentes no interior do Estado

e que não foram documentalmente registrados, que não foram objetos de estudo mais

sistemático seja pelo folclore no seu sentido amplo, seja pelas ciências sociais ou mesmo dos

historiadores locais. Poderíamos citar o “samba de veio” da ilha do Massangano, Petrolina,

vários tipos de coco e samba da região de Garanhuns, a Confraria do Rosário da cidade de

Floresta, que mantém a tradição de eleição de rei congo, dentre outras. Esperamos e

recomendamos um direcionamento das políticas públicas do Iphan para o inventário dessas

manifestações existentes no interior e não documentadas. Se a política do patrimônio se

presta a preservar a memória dos grupos que têm esses bens como referências culturais, ou se

presta apenas para celebrar a diversidade cultural e nobilitar para o mercado novos bens, eis

um dilema a ser discutido e questionado.

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Dentre os bens levantados pela pesquisa alguns merecem destaque. Foi

surpreendente constatar, durante a redação das descrições dos bens levantados, a forte

presença da cultura indígena no interior do Estado. Ainda que sejam considerados como

“remanescentes” dos antigos grupos que ocupavam a região durante o período colonial,

estudos promovidos por teses e dissertações têm apontado para a complexidade identitária

desses grupos bem como o papel central da cultura imaterial na sua afirmação. 16 Dentre os

grupos indígenas existentes em Pernambuco destacam-se:

Fulni-Ô: vivem no município de Águas Belas. Conservam o idioma Yathê e alguns

rituais como o Ouricuri.

Pankararu: vivem entre os municípios de Tacaratu, Jatobá e Petrolândia, conservando

algumas de suas festas tradicionais como a Festa do Menino do Rancho e o Flechamento do

Umbu.

Xucuru: vivem na região da Serra do Ororubá, município de Pesqueira, conservam

algumas festas religiosas como a de Nossa Senhora da Montanha.

A cultura imaterial destes grupos tem sido documentada em teses e dissertações

desenvolvidas nas universidades, destacando-se os programas de Antropologia e

Etnomusicologia da UFPE. Notadamente este último núcleo conserva em seu acervo uma rica

documentação sonora e visual, resultante de pesquisas em grupo coordenadas pelo prof.

Carlos Sandroni.

Forte presença africana na cultura pernambucana traduzida no sucesso dos maracatus

na contemporaneidade, no reconhecimento dos afoxés como grupos culturais pernambucanos

que têm suas peculiaridades e especificidades, na importância de terreiros de xangô, como o

Sítio de Pai Adão e o Ilê Axé Oyá Mengué - ou Seita Africana Santa Bárbara da Nação Xambá -

tidos como guardiões de suas tradições religiosas e culturais, sem falar na capoeira, nas

16

OLIVEIRA, João Pacheco de. Ensaios em Antropologia Histórica. Rio de Janeiro, UFRJ, 1999; Oliveira,

João Pacheco de. Uma etnologia dos "índios misturados"? Situação colonial, territorialização e fluxos

culturais. Mana, Abr 1998, vol.4, no.1, p.47-77.

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escolas de samba e outras manifestações culturais em que a presença de negros e negras tem

sido fundamental. Começam a aparecer teses e dissertações sobre a cultura afro-descendente,

delineando as diferenças entre os grupos e a complexidade das manifestações apontadas, o

que indica a necessidade de em alguns anos se atualizar o banco de dados.

A Lei do Registro do Patrimônio Vivo (Lei nº 12.196, de 2 de maio de 2002) tem como

objetivo preservar as manifestações populares e tradicionais da cultura pernambucana, bem

como propiciar condições para que os artistas repassem seus conhecimentos às novas

gerações. Dentre as formas de expressão existentes no Estado, e que têm atraído muita

atenção da mídia de modo amplo, destacam-se o maracatu rural e o cavalo marinho,

secundado pelo caboclinho. É interessante observar que, apesar de intensamente referidos, a

documentação levantada não reflete a complexidade dessas formas de expressão bem como

sua inserção no mercado cultural contemporâneo. Muitos dos trabalhos levantados limitam-se

a repetir um saber consagrado retirado de alguns poucos autores que estudaram essas

manifestações no passado. Esperamos que as políticas públicas sobre a cultura imaterial

consigam enfrentar o desafio de provocar inventários que registrem a complexidade dos

diversos bens levantados, e não apenas apontar novos “bens culturais” a serem absorvidos

pelo mercado. Que essas políticas públicas possam realmente transformar a memória social

que suporta as referências culturais dos grupos em patrimônio imaterial.

Referências Bibliográficas.

ABREU, Regina. A emergência do patrimônio genético e a nova configuração do campo do

patrimônio. In: ABREU, Regina, CHAGAS, Mário (orgs.). Memória e patrimônio: ensaios

contemporâneos. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. p.30-45.

ALBUQUERQUE , Durval Muniz. A invenção do Nordeste e outras artes. Recife: FJN, Ed.

Massangama; São Paulo: Ed. Cortez, 1999.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:

Senado, 1988.

BRASIL. GOVERNO FEDERAL. Decreto n.3.551, de 4 de agosto de 2000 - institui o Registro de

Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem patrimônio cultural brasileiro, cria o

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Programa Nacional do Patrimônio Imaterial e dá outras providências. Fonte: Website do

Ministério da Cultura (http://www.minc.gov.br).

BENJAMIM, Roberto Emerson Câmara. Folguedos e dancas de Pernambuco. 2ed.Recife :

Fundacao de Cultura Cidade do Recife, 1989.

CASCUDO, Luis da Camara. Dicionario do folclore brasileiro.3.ed. rev. e aum. Brasilia : INL,

1972. 2v.

_____., Antologia do folclore brasileiro. 3.ed. São Paulo : Martins, 1965. 2v.

CHARTIER, Roger. Práticas da leitura. São Paulo : Unesp. 2002

CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. Lisboa: Edições 70, 2000.

COSTA, F.A. Pereira da . Folk-lore pernambucano: subsidios para a historia da poesia popular

em Pernambuco / prefacio de Mauro Mota. Recife : Arquivo Publico Estadual, 1974.

MAIOR, Mário Souto ; VALENTE, Valdemar. Antologia Pernambucana do Folclore. Recife:

Fundação Joaquim Nabuco. Ed. Massangana, 1988.

FONSECA, Maria Cecília Londres. O Patrimônio em processo. Trajetória da política federal de

preservação no Brasil . IPHAN; Editora UFRJ, 2005

ORTIZ, Renato. Cultura Brasileira e identidade nacional. São Paulo : Brasiliense, 1985.

PÉCAUT, Daniel. Os intelectuais e a política no Brasil; entre o povo e a nação. São Paulo: Ática,

1990.

LONDRES, Cecília. 2005. O patrimônio em processo.Trajetória da política federal de

preservação no Brasil. Belo Horizonte: UFMG.

UNESCO. 2003. Convenção para Salvaguarda do patrimônio cultural imaterial. Paris, 17 de

outubro de 2003. Disponível em: < http://unesdoc.unesco.org >

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ANEXOS

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UFPE/FUNDAJ/UFRPE/IPHAN

Roteiro para Diagnóstico dos A cervos

Responsável :

Nome da Instituição :

Endereço :

Contato :

1. ACESSIBILIDADE AO ACERVO

1.1 Acesso às estantes .

Livre Restrito

Obs : Os pesquisador faz o pedido e o funcionário pega o disco solicitado.

1.2 Existem Coleções Especiais(Obras Raras) ?

Sim Não

Obs : Entresvista com mestres e figuras da cultura popular gravado em fita de rolo e fita cassete.

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1.3 .Todas as obras que constam no catálogo estão disponíveis para consulta ?

Sim Não

1.4.Há disponibilidade de empréstimo para público em geral ?

Sim Não

Obs : As obras são disponíveis para consulta interna.

1.5 Mecanismo de Busca:

Fichário Manual Digital Web

1.6 Todas as obras estão catalogadas ?

Sim Não

2. HIGIENIZAÇÃO DO ACERVO :

2.1 Estado de conservação das obras (Possibilidade de Manuseio)

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Ótimo Bom Precário Péssimo

Obs : A maioria das obras estavam em bom estado de conservação.

2.2 Condições de limpeza das obras :

Ótimo Bom Precário Péssimo

3. INFRA-ESTRUTURA

3.1 Diagnóstico do Local ( Observar a luminosidade, temperatura, infiltrações, goteiras,

mofo nas paredes etc)

Ótimo Bom Precário Péssimo

3.2 Condições de pesquisa (Observar se há quantidade satisfatória de mesas e

cadeiras, se há lugar separado para livros e usuários, se há permissão para a entrada

com alimentos etc)

Ótimo Bom Precário Péssimo

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Obs : Havia poucas cadeiras, uma única mesa, porem suficiente os

discos ficam nas salas classificadas. Não é permitido a entrada com

alimentos.

3.3 Equipamentos ( Observar se há ar-condicionados, desumidificadores e outros

equipamentos de manutenção dos acervos)

Ótimo Bom Precário Péssimo

Obs : Não há ar-condicionado, e evidentemente o espaço está com

poeira.

3.4 Equipe de atendimento ( Observar a qualificação dos funcionários, número de

atendentes, horário de atendimento etc)

Ótimo Bom Precário Péssimo

Obs : Um único funcionário, Pedro Arrão disponibiliza-se para atender o

publico em geral das 8hs as 14hs.

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ANEXO_____ FOLDER DO PROJETO. REALIZADO PELA EQUIPE DO MUSEU DO HOMEM DO NORDESTE DA FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO, SOBRE TEXTO REDIGIDO PELA EQUIPE DE PESQUISA.

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ANEXO CARTAZ SOBRE OS SEMINÁRIO DO PROJETO. REALIZADO PELA EQUIPE DO MUSEU DO HOMEM DO NORDESTE DA FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO.

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ANEXO_____ CONVITE DOS SEMINÁRIOS, ENVIADO PARA A MALA DIRETA DA FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO E OUTROS ENDEREÇOS ELETRÕNICOS.

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ANEXO ______ PROGRAMAÇÃO DO SEMINÁRIO DE TURISMO DA CIDADE DE VITÓRIA DE SANTO ANTÃO, REALIZADO NO DIA

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ANEXO ____

PROGRAMAÇÃO DA II FEIRA DA TRADIÇAO POPULAR, REALIZADA PELO NÚCLEO DE

ESTUDOS FOLCLÓRICOS MÁRIO SOUTO MAIOR, DA FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO,

SOB A COORDENAÇÃO DE RUBIA LOCIO.

27 de agosto 9h30 ABERTURA OFICIAL Auditório da Prefeitura Municipal de Goiana Caboclinhos Caetés Pretinhas do Congo Maracatu, as burras, e o boi doido Prefeito de Goiana | Henrique Fenelon Secretário de Cultura e Turismo de Goiana | Cássio Andrei Graça Rolim Moura Secretária de Educação de Goiana |Rosimery Sotero Viegas Presidente da Fundação Joaquim Nabuco| Fernando Lyra MINC | Tarciana Portela FUNDARPE | Luciana Azevedo IPHAN | Elaine Muller Comissão Pernambucana de Folclore | Roberto Benjamin Participação especial com palestra do Rabequeiro | Maciel Salú 14h Praça do Carmo Oficinas: artes, teatro e caboclinho Participação das escolas locais 20h Praça do Carmo Lia de Itamaracá, Sebastião Grosso, Caboclinhos: Caetés, Sete Flechas, Tabajaras e Tupinambás, Macumbá, Brasa viva, Ciranda dos Cangaceiros e Coco da 3ª Idade Feira de Artesanato 28 de agosto 9h Auditório da Prefeitura Municipal de Goiana Palestra | Tradições e traduções: a cultura imaterial em Pernambuco Elaine Muller | Iphan Carlos Sandroni | UFPE Isabel Guillen | UFPE

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14h Praça do Carmo Apresentações de quadrilhas 20h Praça do Carmo Homenagem aos brincantes de Goiana Retreta musical Espetáculo teatral do Grupo TNT Feira de artesanato INFORMAÇÕES FUNDAJ 81 3073.6511 Secretaria de Cultura de Goiana 81 3626.0171 81 3626.8361

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ANEXO _____

PROGRAMAÇÃO DO FESTIVAL DA PRIMAVERA, REALIZADO NO PERÍODO DE 13 A 23 DE

SETEMBRO DE 2007 EM PETROLINA, PROMOVIDO PELA SECRETARIA DE CULTURA E

TURISMO DA PREFEITURA MUNICIPAL.

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