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INSTITUTO FEDERAL CATARINENSE
Pró Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação
Programa de Pós-Graduação em Produção e Sanidade Animal
Dissertação
ALTERAÇÕES NA COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL DURANTE O ARMAZENAMENTO
DE NÚCLEO PARA ALIMENTAÇÃO DE LEITÕES
Alcione Cella
Araquari - SC, 2019
Alcione Cella
ALTERAÇÕES NA COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL DURANTE O ARMAZENAMENTO
DE NÚCLEO PARA ALIMENTAÇÃO DE LEITÕES
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Produção e Sanidade Animal do
Instituto Federal Catarinense, como requisito
parcial à obtenção do título de Mestre em Ciências
(área de concentração: Produção e Sanidade
Animal).
Orientador:
Ivan Bianchi, Médico Veterinário, Dr., Instituto Federal Catarinense
Coorientadores:
Jorge Vitor Ludke, Engenheiro Agrônomo, Dr., Embrapa Suínos e Aves
Arlei Coldebella, Engenheiro Agrônomo, Dr., Embrapa Suínos e Aves
Araquari - SC, 2019
Alcione Cella
ALTERAÇÕES NA COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL DURANTE O ARMAZENAMENTO
DE NÚCLEO PARA ALIMENTAÇÃO DE LEITÕES
Dissertação aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em
Ciências, Curso de Pós-Graduação Produção e Sanidade Animal, Pró-reitora de Pesquisa, Pós-
Graduação e Inovação, Instituto Federal Catarinense.
Data da Defesa: 26/07/2019.
Banca examinadora:
Prof. Dr. Ivan Bianchi (Orientador)
Doutor em Biotecnologia Agrícola pela Universidade Federal de Pelotas.
Prof. Dr. João Dionísio Henn
Doutor em Zootecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Prof. Dr. Juahil Martins de Oliveira Jr.
Doutor em Ciências Veterinárias pela Universidade Federal do Paraná.
Dedicatória
Aos meus pais Dorvalino Alberto e Neive Maria, meu porto seguro, pelo exemplo de vida e
superação;
Ao meu marido Ivânio Ricardo, pela paciência, companheirismo e carinho;
Às minhas filhas Luísa e Júlia, meus maiores presentes, minhas motivações diárias e minha
luz para viver;
À minha irmã Rosenei, pelo grande exemplo, apoio e incentivo incansável;
Ao meu irmão Dirceu, trabalhador e pai exemplar;
À minha família, minha raiz, porque sem ela, com certeza, não teria caminhado até aqui.
Agradecimentos
Ao Instituto Federal Catarinense, Programa de Pós-Graduação em Produção e
Sanidade Animal, pela oportunidade e incentivo à pesquisa.
À Direção da Agroindústria e Gerência da Fábrica, pela cessão da fábrica de rações e
premixes, equipamentos e laboratório utilizados neste trabalho. Agradeço a confiança e
apoio possibilitando o meu desenvolvimento profissional com esta pesquisa.
Ao professor Ivan Bianchi, grande exemplo de profissional, pela amizade, orientação
e confiança depositada desde o início do projeto, e que foram imprescindíveis para o êxito
na conclusão de mais esta importante etapa acadêmica.
Ao Pesquisador da Embrapa Suínos e Aves (Concórdia/SC) Jorge Vitor Ludke, pela
solicitude e empenho, pela orientação e confiança depositada, desde o início do projeto,
fundamentais para esta conclusão.
Ao Pesquisador da Embrapa Suínos e Aves (Concórdia/SC) Arlei Coldebella, pelas
orientações e discussão das análises estatísticas empregadas neste trabalho.
A todos os professores que enriqueceram meu fascínio pelo aprendizado e
agregaram preciosos valores à minha vida profissional.
Aos queridos colegas de disciplinas, das companhias que já sinto falta, pelos
ensinamentos compartilhados e pela amizade. Eliete, amiga querida, obrigada pela acolhida
em sua casa! Como não sentir-se bem com uma sopa quente num dia frio? Obrigada por
tudo!
Aos meus familiares, em especial meu marido Ivânio Ricardo, minhas filhas Luísa e
Júlia e minha irmã Rose, que me acompanharam diariamente, encorajando-me. Vocês foram
luz, força e ombro amigo quando mais necessitei e hoje aqui estou, comemorando com
vocês este momento único. Amo vocês e obrigada!
Aos meus colegas do laboratório, Douglas W. R., Katiana, Bruna, Patrícia e Adriana,
que sempre atenderam as minhas solicitações prontamente, proporcionando-me novos
aprendizados e amigos. Agradeço também ao Sidnei do laboratório CBO, que sempre
atendeu as minhas solicitações com atenção e cuidado.
Aos meus colegas de trabalho Arielson, Daiane, Alexandre, Clodoaldo, Daniela,
Estefânia, Gabriela, Adenize, Sandro, Odirlei, Marcelo, Ricardo, Arlindo, Alamir, Darlei, Diego,
Anestor, Joann, Eleandra, Pâmela e demais que de alguma forma auxiliaram na execução
deste trabalho que é muito importante para mim. Obrigada pelo apoio!
Ao Rodrigo Santana Toledo, mentor deste projeto, agradeço por tantos
ensinamentos e pela longa parceria.
Ao amigo Giovanne Mendonça Araújo, futuro Médico Veterinário, obrigada e sucesso
em sua jornada.
Rosana e Vitória, obrigada pela acolhida e amizade nas estadas em Concórdia/SC.
Pelo aconchego e pelo bom chimarrão! Já sinto saudades, inclusive do Floquinho (cãozinho
danado)!
Aos meus filhos de pêlos, Otto e Mano, que me acompanharam nas longas noites de
estudos. Sim, quero eternizá-los aqui, pelo seu amor incondicional, pois nós humanos temos
muito o que aprender com eles!
Aos meus sogros e cunhados, pelos conselhos e por muitas vezes cuidarem de nossas
pequenas para que eu pudesse estudar, obrigada!
E finalmente, aos meus pais, obrigada pela educação, pelos ensinamentos dos valores
da vida e como vivê-la com humildade e simplicidade. Ainda podemos nos juntar à mesa e
compartilhar de uma boa conversa, em voz alta, claro! Sempre acompanhada de uma
excelente comida da mãe, feita no fogão à lenha! Que privilégio, estamos todos aqui!
A todos que ajudaram direta ou indiretamente, meus sinceros agradecimentos.
“Entre as pequenas coisas que não fazemos e as grandes que não podemos fazer, o perigo
está em não tentarmos nenhuma”.
(Confúcio)
Resumo
CELLA, Alcione. Alterações na composição nutricional durante o armazenamento de núcleo para alimentação de leitões. 2019. 56p. Dissertação (Mestrado em Ciências) - Curso de Pós-Graduação em Produção e Sanidade Animal, Pró-reitora de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação, Instituto Federal Catarinense, Araquari, 2019. A qualidade nutricional e organoléptica dos ingredientes utilizados para elaboração das dietas de leitões é fundamental para o desempenho. O objetivo deste estudo foi analisar as possíveis causas de variação para que o núcleo para leitões não atenda o padrão previamente definido. Foram estabelecidos cinco tratamentos: “Controle” (T1), com formulação padrão; “PxMais5” (T2), com 5% a mais de premix vitamínico mineral de leitões na formulação; “PxMenos5” (T3), retirado 5% da dosagem padrão do premix vitamínico mineral de leitões na formulação. Esses três tratamentos foram produzidos em misturador com capacidade de 400 kg; “MistRação” (T4), formulação do T1 produzida em uma batelada de 4.000 kg; “MistPremix” (T5), formulação do T1 produzida em uma batelada de 1.200 kg. Para cada tratamento foram armazenadas três sacas de 20 kg em três ambientes distintos, nos quais foram realizados os registros de temperatura e umidade da sala. Nos dias 0, 7, 15 e após quinzenalmente até os 120 dias, foram coletadas amostras de cada tratamento para análise bromatológica, minerais, índice de peróxido (mEq/kg) e acidez (mg NaOH/g). Quinzenalmente foram coletadas amostras para análise de atividade de água (Aw). Na cidade de Chapecó-SC, nos dias 0, 45, 90 e 120 foi coletada amostra para análise microbiológica (mesófilos aeróbios viáveis UFC/g). Na análise do efeito local as diferenças de temperatura e umidade relativa do ar afetaram a atividade de água dos núcleos. Na análise do efeito do tipo de misturador foi verificado que o tratamento “MistPremix” apresentou maior variação na concentração de proteína bruta, resíduo mineral, cobre, zinco e selênio. São necessários ajustes nos procedimentos de manejo e uso deste tipo de misturador para atender os requisitos de qualidade demandados na produção do Núcleo. Na análise do efeito do nível de Premix não foi possível estabelecer nenhuma diferença estatística nos parâmetros avaliados. Com relação aos níveis de garantia valores críticos foram verificados somente para a concentração do cromo. Palavras-chave: Processo de mistura; Bromatologia; Acidez; Índice de Peróxidos; Umidade e Temperatura.
Abstract
CELLA, Alcione. Changes in the nutritional composition of piglet Nucleus during storage. 2019. 56p. Dissertation (Master degree in Science) - Curso de Pós-Graduação em Produção e Sanidade Animal, Pró-reitora de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação, Instituto Federal Catarinense, Araquari, 2019.
The nutritional and organoleptic quality of the ingredients used to make piglets diets is fundamental to animal performance. The objective of this study was to analyze the possible causes of variation so that the standards of the product designed for piglets does not meet the previously defined requirements. Five treatments were established: "Control" (T1), with standard formulation; "PxMais5" (T2), with 5% more premix vitamin mineral of piglets in the formulation; "PxMenos5" (T3), removed 5% of the standard dosage of the premix vitamin mineral of piglets in the formulation. These three treatments were produced in a mixer with a capacity of 400 kg; “MistRação” (T4), formulation of T1 produced in a batch of 4,000 kg changing the type of mixer; “MistPremix” (T5), formulation of T1 produced in a batch of 1,200 kg using another kind of mixer. For each treatment, three bags of 20 kg were stored in three different environments where room temperature and relative humidity was recorded. On days 0, 7, 15 and after fortnightly up to 120 days, samples of each treatment were collected for centesimal analysis, minerals, peroxide index (mEq/kg) and acidity (mg NaOH/g). Samples for water activity analysis (Aw) were collected every two weeks and samples were collected at 0, 45, 90 and 120 days for microbiological analysis (counting of viable aerobic mesophiles CFU/g). In the analysis of local effect the differences of temperature and air relative humidity induced to water activity variation of the Nucleus. In the analysis of the effect of the mixer type, in the “MistPremix” treatment was detected the largest variation in the concentration of crude protein, mineral residue, copper, zinc and selenium. Adjustments are required in the handling and use procedures of this type of mixer to meet the quality requirements required in the production of the final product. In analyzing the effect of the Premix level, no statistical difference could be defined with the evaluated parameters. Regarding the guarantee levels, critical value was verified only for the chrome concentration. Keywords: Mixing Process, Bromatology, Acidity, Peroxide value, Humidity and Temperature.
Lista de Figuras
Figura 1 Fases da reação de oxidação lipídica......................................................... 4
Figura 2 Evolução da atividade de água em função do tempo de prateleira........ 22
Figura 3 Representação gráfica da temperatura e umidade relativa do ar nas
localidades................................................................................................ 26
Figura 4 Progressão da acidez e índice de peróxidos.............................................. 26
Figura 5 Atividade de água do núcleo...................................................................... 27
Figura 6 Contagem de Mesófilos Aeróbios Viáveis.................................................. 28
Lista de Tabelas
Tabela 1 Recalls do núcleo durante o período de 2016 a 2018................................ 3
Tabela 2 Composição do núcleo para leitões........................................................... 15
Tabela 3 Composição da pré-mistura utilizada na elaboração do núcleo para
leitões......................................................................................................... 16
Tabela 4 Níveis de garantia do núcleo para leitões.................................................. 17
Tabela 5 Valores médios, erro padrão da média (EPM), número de análises (N) e
probabilidade (Pr) para atividade de água (Aw), umidade (%), acidez
(mg NaOH/g), proteína bruta (PB, %) e extrato etéreo (EE, %) de acordo
com os tratamentos................................................................................. 23
Tabela 6 Valores médios e erro padrão da média para extrato etéreo (%) e acidez
(mg NaOH/g) de acordo com o tempo de prateleira do
produto...................................................................................................... 24
Tabela 7 Valores médios e erro padrão da média para temperatura (°C) e
umidade relativa do ar (URA, %) de acordo com a localidade onde o
produto foi armazenado............................................................................ 25
Tabela 8 Médias e erros-padrão da porcentagem de diferença absoluta entre o
valor observado e o valor calculado.......................................................... 28
Tabela 9 Médias e erros-padrão da porcentagem de diferença absoluta entre o
valor observado e o valor calculado para resíduo mineral e macro-
minerais...................................................................................................... 29
Tabela 10 Médias e erros-padrão da porcentagem de diferença absoluta entre o
valor observado e o valor calculado para alguns micro-minerais.............. 30
Tabela 11 Porcentagem de resultados de análises que alcançaram o valor
estabelecido no rótulo em função do tratamento aplicado e a
frequência absoluta em atendimento às especificações........................... 30
SUMÁRIO
1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA E ESTADO DA ARTE .............................................. 1
1.1 Mecanismo da Oxidação dos Alimentos .................................................................. 3
1.2 Oxidação de Vitaminas ............................................................................................ 5
1.3 Oxidação de Lipídios ............................................................................................... 5
1.4 Fatores de Risco na Oxidação .................................................................................. 6
1.5 Antioxidantes .......................................................................................................... 8
1.6 Influência dos misturadores .................................................................................... 9
2 OBJETIVOS................................................................................................................... 11
2.1 Geral ..................................................................................................................... 11
2.2 Específicos ............................................................................................................ 11
3 VARIAÇÕES NA COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL DE NÚCLEO UTILIZADO NA
ALIMENTAÇÃO DE LEITÕES ................................................................................................. 12
3.1 Introdução ............................................................................................................ 12
3.2 Material e Métodos .............................................................................................. 15
3.3 Resultados ............................................................................................................ 21
3.4 Discussão .............................................................................................................. 31
3.5 Conclusão ............................................................................................................. 36
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 38
5 REFERÊNCIAS............................................................................................................... 39
1
1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA E ESTADO DA ARTE
O Brasil conquistou seu espaço na produção de carne suína, e para manter-se
como referência, é necessário produzir com qualidade, segurança alimentar e baixo
custo, podendo assim competir nos mercados internacionais. Quanto às exportações, as
projeções atualizadas para o período 2017/2018 a 2027/2028 indicam que a taxa anual de
crescimento prevista para a carne suína é de 3,4%, e o Brasil é classificado em quarto
lugar, atrás apenas da União Europeia, Estados Unidos e Canadá (MAPA/2018).
Segundo TAVARES (2017), Santa Catarina possui o maior rebanho de suínos do
Brasil, estimado em quase sete milhões de cabeças, sendo responsável por cerca de 25%
de toda a produção brasileira e é o maior exportador nacional deste produto. O Brasil é
um país de importante contribuição na produção de proteína de origem animal. Na
suinocultura exporta 15% da produção, sendo o restante consumido internamente,
representando um consumo per capita de 15 kg/habitante/ano (KRABBE, 2017).
De acordo com CONEGLIAN et al. (2011), a alimentação corresponde a um
percentual de 60 a 70% dos custos da produção animal, pois ela necessita ter níveis
adequados de nutrientes para explorar a melhor capacidade do animal e alcançar a sua
lucratividade. Portanto, é imprescindível o uso de uma ração balanceada de acordo com
as particularidades de cada espécie animal. Aumentar a produtividade é um desafio para
se manter competitivo, pois cada vez é necessário produzir mais a um custo menor.
O processo de fabricação das dietas tem por fim obter a eficiência animal máxima,
portanto, o equilíbrio dos nutrientes tem como resposta o ganho econômico. A exigência
nutricional é a quantidade mínima de um determinado nutriente que deve ser fornecida
aos animais para satisfazer suas necessidades de mantença e produção. As exigências
nutricionais dos suínos variam de acordo com o potencial genético, a idade, o sexo, o
peso e a fase produtiva em que os animais se encontram (LIMA & ZARDO, 1999). Na
nutrição dos suínos, deve-se levar em conta estas diferenças, para se obter a máxima
eficiência produtiva (LIMA & ZARDO, 1999). A seleção de animais para que apresentem
melhores taxas de produção tem demandado o uso de rações com maior concentração
de nutrientes (LIMA, 2001) e a busca por novas tecnologias e alternativas determinam
uma nutrição animal exemplar, visto que se deve levar também em consideração o bem-
estar animal.
2
A qualidade é essencial para qualquer tipo de produção e contempla todos os
estágios, desde a escolha dos melhores ingredientes e suas relações com o produto
acabado. A Instrução Normativa Nº 4 (IN04), de 23 de fevereiro de 2007, é o regulamento
técnico sobre as condições higiênico-sanitárias e de boas práticas de fabricação para
estabelecimentos fabricantes de produtos destinados à alimentação animal. A IN04
descreve que os responsáveis pelo Controle da Qualidade devem ter treinamento e
conhecimento suficientes sobre as boas práticas de fabricação, de modo a identificar os
perigos relacionados à inocuidade e qualidade dos produtos destinados à alimentação
animal e estabelecer os processos de controle, pois a qualidade do produto final se torna
um diferencial importante na competitividade.
Todos os estabelecimentos fabricantes ou fracionadores de alimentos destinados
a animais tem que se adequar às Boas Práticas de Fabricação (BPF), contidas no
regulamento técnico e roteiro de inspeção da IN04. Além da IN04, existem atualmente
diversos sistemas de qualidade, entre os quais destacam-se o sistema da família ISO
(International Organization for Standardization), PPHO (Procedimentos Padrão de Higiene
Operacional), GMP (Good Manufacturing Practices) que no Brasil é conhecida como BPF,
HACCP (Hazard Analysis Critical Control Points) que no Brasil é conhecido como APPCC
(Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle), entre outros. Essas ferramentas
contribuem para a redução de perdas, custos, além de aumentar a segurança.
As BPF tornaram-se requisitos básicos para atender às exigências do mercado
consumidor e da legislação brasileira, bem como a garantia da qualidade na produção e
fornecimento de alimentos mais seguros (ZAMBONI, 2008). Ainda, segundo Zamboni
(2008), a implementação das BPF reduz perdas e prejuízos na produção, elevando a
qualidade dos produtos e a segurança sobre “o que, como, quando, onde e para quem”
eles foram feitos.
O recall (recolha de produto) é uma ferramenta da qualidade que vem para
proteger o consumidor. A rastreabilidade permite visualizar um histórico das informações
registradas referentes à produção de um item. É uma forma de assegurar a garantia de
todo o fluxo de produção, da qualidade do ingrediente utilizado até o produtor que
recebeu a ração para seus animais. Caso alguma anomalia seja observada em tempo
hábil, ações de recall são evitadas. Os processos de recall necessitam de bases precisas,
3
pois causam prejuízos tais como: ocorrência de descarte de produto e/ou reprocesso; a
rejeição de alimentos pelos animais devido às alterações organolépticas; prejudica o
rendimento do lote; afeta a confiança da marca pelo cliente/consumidor.
Através de pesquisa em arquivos de controle da produção, durante os anos de
2016 e 2018, foram registrados recalls do produto, conforme apresentado na Tabela 1.
Na segunda coluna consta a produção total da planta estudada por ano (kg). Na terceira
coluna é demonstrado o percentual total de recalls que a fábrica recebeu entre todos os
itens produzidos. Já na quarta coluna consta o percentual de devolução do núcleo com
relação aos demais itens devolvidos, ou seja, em 2017 o núcleo representou 23,37% de
todos os itens devolvidos. Na quinta e última coluna, consta o percentual de devolução
do núcleo com relação à sua produção, demostrando que em 2018 ocorreu uma queda
considerável nos recalls do item (somente 0,30%).
Tabela 1: Recalls do núcleo durante o período de 2016 a 2018
Ano Produção
total (kg)
% Devolução
total com
relação ao total
produzido (R$)
% Devoluções do
núcleo em relação ao
total devolvido de
todos os itens (R$)
% Devoluções do
núcleo com relação
ao total produzido
do item (R$)
2016 175.255.019,60 0,177 9,67 0,81
2017 164.225.791,14 0,075 23,37 0,92
2018 196.409.998,23 0,070 3,40 0,30
1.1 Mecanismo da Oxidação dos Alimentos
O principal produto da degradação de lipídios são os ácidos graxos poli-
insaturados (PUFAs), que também podem se formar a partir das vitaminas A e E (OLIVEIRA
& BIANCHI, 2009). O processo oxidativo leva à produção de radicais livres e esta reação
também pode ser chamada de rancidez ou rancificação podendo modificar estruturas
físicas e químicas dos alimentos, assim, a peroxidação pode participar de reações
envolvendo radicais livres alterando a cor dos alimentos (OLIVEIRA & BIANCHI, 2009). A
decomposição oxidativa gera diversos produtos voláteis como aldeídos, cetonas, ésteres
e terpenos (OLIVEIRA & BIANCHI, 2009).
4
Os ácidos poli-insaturados são susceptíveis a degradação lipídica, sendo sensíveis
aos danos causados por radicais livres, pois suas duplas ligações são instáveis (WANG,
1996). Como demonstrado na Figura 1, a peroxidação lipídica possui três fases: 1.
Iniciação; 2. Propagação; 3. Terminação. Inicialmente formam-se hidroperóxidos capazes
de gerar produtos como aldeídos, cetonas, álcoois, hidrocarbonetos e ácidos orgânicos.
Na iniciação, um átomo de hidrogênio (H) é retirado do grupo metileno do ácido graxo
insaturado (AGI), formando um radical livre ou peróxido. Na propagação, ocorre a adição
de uma molécula de oxigênio (O2) no radical alila formado anteriormente e retira
novamente uma molécula de H de um AGI adjacente, retroalimentando a reação e
formando hidroperóxidos. A terminação é quando os radicais livres atingem níveis
suficientes para interagirem entre si, formando compostos estáveis (SHURSON et al.,
2015; OLIVEIRA & BIANCHI, 2009).
Figura 1: Fases da reação de oxidação lipídica. Adaptada de RAMALHO & JORGE, 2006;
SHURSON et al., 2015.
5
1.2 Oxidação de Vitaminas
Vitaminas são geralmente adicionadas nas rações por meio de uma pré-mistura,
onde são introduzidas as vitaminas necessárias para suínos, como as vitaminas A, D, B12 e
E (FOSTER, 1970). Estas devem ser adicionadas em quantidade suficiente para atender os
requisitos mínimos necessários na alimentação (FOSTER, 1970). As pré-misturas de
vitaminas em certa quantidade, devem ser misturadas primeiramente a farinha de soja
ou milho, antes de despejar completamente no misturador, para um melhor
aproveitamento posterior (FOSTER, 1970).
A vitamina E é um antioxidante que, quando utilizado, pode ser consumido
rapidamente no alimento (COELHO, 2002). A presença de um grupo hidroxi, protegido
pela formação de um éster, torna o composto resistente à oxidação, tornando-se estável
em condições de pH neutro ou levemente ácido (COELHO, 2002). Em alimentos em que
são adicionadas substâncias mais alcalinas, que tenham presença de calcário ou óxido de
magnésio, os grupos protetores da vitamina E podem se separar na forma de tocoferol
livre, oxidando mais rapidamente (COELHO, 2002).
Em pré-misturas, as vitaminas sofrem principalmente efeitos de oxirredução pela
presença de traços de minerais, como cobre, zinco e ferro, e em menor grau, manganês e
selênio (COELHO, 2002). O grupo hidroxi é altamente sensível à oxidação, e a vitamina A é
significativamente mais estável em uma pré-mistura vitamínica do que em uma pré-
mistura mineral vitamínica, pois a presença de minerais afetou a estabilidade da vitamina
A catalisando as duplas ligações (COELHO, 2002).
1.3 Oxidação de Lipídios
A produção de gorduras vegetais provém de matérias-primas como soja, palma,
canola e girassol (KERR et al., 2015). Os lipídios estão disponíveis na indústria de
alimentos e são utilizados como fontes de energia (KERR et al., 2015). A produção de
gorduras vegetais inclui produtos como gorduras secas, mono, diglicerídeos e
emulsificantes. Dentro dessa indústria a gordura não comestível pode ser reciclada e
utilizada como uma fonte de energia altamente concentrada na alimentação animal
(KERR et al., 2015).
6
Lipídios são estruturas químicas que possuem anéis e cadeias de hidrocarbonetos
como ácidos graxos e esteroides (KERR et al., 2015). Os lipídios, na composição de
produtos alimentares, possuem o papel de melhorar as características físicas do produto,
favorecendo pontos como cor, odor e sabor dos alimentos (OLIVEIRA & BIANCHI, 2009).
Contudo, estão sujeitos à oxidação e rancificação, alterando suas características, fazendo
com que as propriedades organolépticas, funcionais e toxicidade sejam alteradas
(OLIVEIRA & BIANCHI, 2009).
1.4 Fatores de Risco na Oxidação
Fatores como a luz, ácidos graxos livres, metais e compostos oxidados maximizam
o processo de oxidação dos compostos lipídicos (CHOE & MIN, 2009). As formas de evitar
essa deterioração incluem evitar a exposição a esses fatores, embalar o alimento a vácuo
ou adicionar redutores de oxigênio (CHOE & MIN, 2009). Porém, não são métodos fáceis
de serem aplicados, logo, são comumente utilizados os antioxidantes nos alimentos
(CHOE & MIN, 2009).
Segundo COELHO (2002), no processo de misturas perdem-se grandes quantidades
de vitaminas, mesmo quando aplicadas sob pulverização nas rações já peletizadas. O
coeficiente de variação aceitável para a quantidade de vitamina no alimento para aves e
suínos, por exemplo, gira em torno de 15-40%, sendo muito pobre na maioria das vezes,
tornando os desempenhos dos animais muito variados dentro do rebanho (COELHO,
2002). Para reduzir as perdas de vitaminas no processo de fabricação, discute-se a
redução do tempo de armazenamento dos premixes, redução da temperatura da
granulação, tempo de condicionamento e tempo de armazenamento (COELHO, 2002).
A temperatura pode fazer com que a oxidação seja mais rápida que a oxidação
enzimática, contudo, os mecanismos pelos quais isso ocorre ainda não são bem
conhecidos, mas sabe-se que compostos voláteis (aldeídos, cetonas, lactonas, álcoois,
ésteres e hidrocarbonetos de cadeia curta) e compostos polares não-voláteis, dímeros e
polímeros de triacilgliceróis são produzidos quando os lipídios são oxidados pela
temperatura (CHOE & MIN, 2009). Para avaliar as características dos ingredientes
alimentares são realizadas pesquisas qualitativas e quantitativas, que são análises físicas
(cor, odor e sabor dos ingredientes das dietas dos animais), químicas (quantitativos) e
7
biológicas, a fim de identificar potenciais fatores que podem levar a um desempenho
animal abaixo do ideal (KERR et al., 2015). Este último tem elevado custo, além da
demora, e envolve experimentos in vivo, por mais que se trate de uma medida de valor
significativa para avaliar ingredientes de dietas, o mais utilizado é realizar rotineiramente
um programa de controle de qualidade nas fabricações de rações (KERR et al., 2015).
É importante conhecer e estudar mais profundamente os diferentes estágios de
peroxidação nos alimentos para verificar em que ponto o desempenho do animal que
está recebendo a dieta está sendo prejudicado (SHURSON et al., 2015). Embora os
antioxidantes tenham se mostrado úteis na prevenção da peroxidação, o tipo de
antioxidante e as condições de peroxidação da dieta ainda precisam ser conhecidos e
definidos (SHURSON et al., 2015).
A atividade de água (Aw) é um dos parâmetros mais importantes na conservação
dos alimentos, tanto no aspecto biológico como nas transformações físicas (NETO et al.,
1976). Dessa forma, podem ser previstas reações de oxidação lipídica, escurecimento não
enzimático, atividade enzimática, desenvolvimento de microrganismos, assim como o
comportamento de misturas de alimentos com diferentes valores de Aw e sistemas de
embalagens (NETO et al., 1976).
Alimentos com Aw inferior à umidade relativa (URA) do ambiente em que estão
armazenados tendem a absorver água do ambiente até que Aw e URA estejam em
equilíbrio. Da mesma forma, alimentos com Aw superior à umidade ambiental irão
desidratar até que o equilíbrio seja atingido. Tais alterações na Aw do alimento irão
modificar o ritmo de multiplicação dos micro-organismos ali presentes, além de alterar as
características organolépticas do alimento pela desidratação ou absorção da água do
ambiente.
É relevante avaliar as condições de armazenamento, que normalmente se dá em
temperatura (T) ambiente e a região Oeste de Santa Catarina sofre os efeitos de uma
sazonalidade atípica, dispersa e variada. A umidade relativa influencia diretamente a
atividade de água do alimento. Se o alimento for estocado em condições de baixa
atividade de água em ambiente com alta umidade relativa, a Aw do alimento aumentará,
podendo ocorrer deterioração. O binômio UR e T não pode ser desprezado, geralmente
quanto mais baixa a temperatura de estocagem, menor deverá ser a URA.
8
1.5 Antioxidantes
Para BELLAVER (2000), a oxidação de óleos e gorduras provoca odor e paladar
desagradáveis e torna os alimentos menos nutritivos. Além de gorduras, os pigmentos e
vitaminas ficam sujeitos à oxidação quando em contato com o ar (BELLAVER, 2000). Os
fatores umidade e calor são responsáveis pela aceleração da oxidação durante o
processamento, o qual pode ser minimizado pela adição de antioxidantes (BELLAVER,
2000).
Dentre os antioxidantes mais utilizados estão o ácido ascórbico, os tocoferóis,
butil-hidroxi-anisol (BHA) e o butil-hidroxi-tolueno (BHT) (PARKE & LEWIS, 1992). O ácido
ascórbico é um antioxidante eliminador de oxigênio, que reduz os radicais peroxil,
reponsáveis pela propagação da peroxidação (PARKE & LEWIS, 1992). Os tocoferóis são
amplamente utilizados como antioxidantes na alimentação, o BHA, e o BHT são
antioxidantes sintéticos amplamente utilizados, mas possuem mecanismos de ação
diferentes (PARKE & LEWIS, 1992), sendo recomendada a utilização destes dois produtos
na dose de 200 ppm para segurança do alimento (CONEGLIAN et al., 2011).
Segundo RUTZ & LIMA (1994), a atuação dos antioxidantes pode ser explicada por
um ou mais dos seguintes mecanismos: doação de H (Hidrogênio) pelo antioxidante;
doação de elétron pelo antioxidante; incorporação do lipídio ao antioxidante; formação
de um complexo entre o lipídio e o antioxidante. Os principais mecanismos de ação dos
antioxidantes são a doação de H e de elétrons (RUTZ & LIMA, 1994). Cabe ressaltar que
alguns compostos (ácido cítrico, ácido tartárico e ácido fosfórico) apresentam efeito
sinérgico com antioxidantes, prevenindo a oxidação de óleos e gorduras (RUTZ & LIMA,
1994). Portanto, é possível fazer uma mistura de antioxidantes e compostos sinérgicos a
fim de reduzir oxidação (RUTZ & LIMA, 1994). A formação de radicais livres, geralmente
catalisada por íons metálicos, não pode ser impedida pelos antioxidantes, mas a
incorporação de um agente quelante dá condições para tal, pois este se complexa com os
íons metálicos (RUTZ & LIMA, 1994).
Para a inibição do início da oxidação, os antioxidantes devem ser adicionados aos
alimentos e rações o mais breve possível, pois uma vez iniciado o processo de oxidação,
ele não pode ser revertido (RUTZ & LIMA, 1994). Entretanto, os antioxidantes podem
retardar o processo oxidativo de maiores consequências (RUTZ & LIMA, 1994). A vitamina
9
E e o ácido ascórbico são exemplos de antioxidantes naturais, enquanto BHT, BHA e
Etoxiquim são exemplos de antioxidantes sintéticos (RUTZ & LIMA, 1994). O BHT, o
etoxiquim e o BHA são utilizados na concentração de 100 a 150 g/t com a finalidade de
antioxidante, podendo agregar-se ao ácido cítrico apresentando um comportamento
sinérgico (RUTZ & LIMA, 1994).
A oxidação do alimento é inevitável, portanto, descobrir como controlá-la e evitar
prejuízos é fundamental. Alguns ingredientes são mais susceptíveis à degradação que
outros, justificando a necessidade do conhecimento das características individuais, bem
como seu comportamento com relação ao meio ambiente de exposição e
armazenamento.
Formulações de dietas para suínos requerem uma série de requisitos nutricionais
a serem atendidos. Formular composições com diferentes compostos torna-se um
desafio, uma vez que eles podem interagir entre si e com o ambiente durante sua vida
útil, podendo promover a oxidação dos premixes e núcleos inseridos nas rações,
interferindo na qualidade do produto. Os ingredientes utilizados sofrem influência tanto
das matérias-primas como dos períodos de armazenagem, da umidade relativa do ar e da
temperatura a que são submetidos, sendo o último o que se mostra mais importante na
peroxidação de aditivos deste estudo.
1.6 Influência dos misturadores
Para o fornecimento de um alimento completo para os animais, a mistura dos
ingredientes é uma operação primordial na fabricação de rações e necessária quando os
ingredientes são combinados (MCCOY et al., 1994). Seu objetivo é obter uma distribuição
uniforme dos componentes por meio de um fluxo gerado ordinariamente por processos
mecânicos (BÜHLER & DEGUSSA, 2006). Quanto mais similares forem a densidade, a
granulometria e a facilidade de fluxo dos ingredientes, melhor será a qualidade e a
estabilidade da mistura (BÜHLER & DEGUSSA, 2006).
A homogeneidade da ração apresenta importância significativa nos sistemas da
produção animal, pois proporciona a todos os animais o consumo das mesmas
proporções dos nutrientes que constituem a ração, atendendo assim às suas exigências
nutricionais (TEIXEIRA et al., 2012).
10
As indústrias aceitam como parâmetro técnico de dispersão dos ingredientes um
coeficiente de variação (CV) igual ou menor a 10% (JOHNSTON & SOUTHERN, 2000),
porém o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), através da
Instrução Normativa nº 65 (2006), alterada pela Instrução Normativa nº 14 (2016), institui
que a eficiência de homogeneização do misturador possua um CV não superior a 5%.
Valores superiores a 5% deverão ser investigados e corrigidos. A avaliação da eficiência de
homogeneização pode ser conduzida por meio de indicadores indiretos, tais como
microtracers, microminerais, entre outros.
O tempo de mistura é considerado o principal fator que afeta a eficiência de
mistura, porém, outros fatores tais como o tamanho das partículas dos ingredientes, uso
e desgaste dos componentes de mistura do equipamento, limpeza e modelo do
misturador, número de giros em um ciclo de mistura, velocidade dos helicóides, pás, ou
roscas elevadoras, amostragem e escolha do indicador também podem influenciar, por
conseguinte, um tempo de mistura específico não é aconselhável para todos os
equipamentos (CIFTCI & ERCAN, 2003; CLARK et al., 2007).
Os misturadores de helicoides utilizados neste estudo possuem somente um eixo,
porém esse eixo possui duas cintas metálicas que se cruzam dentro do misturador,
fazendo com que a matéria prima farelada dentro dele faça um movimento de vai e vem,
ou seja, além de revirar, o produto vai ao centro e volta às paredes para fazer a
homogeneização. O misturador de helicóide permite grau de enchimento de 50% a 100%
enquanto o misturador de pás possui como principais vantagens o tempo de batida (mais
rápido), além de poder trabalhar com somente 30% da capacidade do volume do
misturador (grau de enchimento 30 a 100%).
11
2 OBJETIVOS
2.1 Geral
Avaliar as alterações de composição do núcleo para leitões com relação ao tempo
de armazenamento.
2.2 Específicos
Verificar a influência do tipo de misturador sobre os parâmetros bromatológicos,
microbiológicos e níveis de garantia;
Avaliar se o percentual de inclusão dos minerais contribuiu para a oxidação;
Monitorar os resultados de bromatologia e microbiologia em diferentes regiões de
destino do suplemento durante o tempo de armazenamento.
12
3 VARIAÇÕES NA COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL DE NÚCLEO UTILIZADO NA
ALIMENTAÇÃO DE LEITÕES
3.1 Introdução
A alimentação corresponde de 79 a 84% dos custos da produção de leitões (FRIGO
& MIELE, 2014), pois ela necessita ter níveis adequados de nutrientes para explorar a
melhor capacidade do animal e alcançar a sua lucratividade (CONEGLIAN et al., 2011).
Para tanto, é imprescindível o uso de uma ração balanceada, de acordo com as
particularidades de cada espécie animal. Aumentar a produtividade é um desafio para
manter-se competitivo, pois cada vez mais é necessário produzir mais a um custo menor.
A seleção de animais para que apresentem melhores taxas de produção tem
demandado o uso de rações com maior concentração de nutrientes (LIMA, 2001). Além
disso, a busca por novas tecnologias e alternativas determinam uma nutrição animal
exemplar, visto que também se deve levar em consideração o bem-estar animal.
A oxidação das rações pode levar a perdas significativas, tanto financeiras como
no desempenho dos animais, na segurança alimentar e, por consequência, danos à a
saúde humana (LUDKE, 2002). A carne suína é a carne mais consumida em boa parte dos
países do mundo (com exceção da América do Sul e dos países de religião muçulmana), e
as ocorrências ligadas à segurança alimentar causam intranquilidade para os
consumidores (LUDKE, 2002). A nutrição animal possui as ferramentas adequadas e a
meta de interagir de modo eficaz com a área de sanidade, com o objetivo comum da
produção com qualidade e segurança alimentar (LUDKE, 2002).
Os principais produtos da degradação de lipídios são os ácidos graxos poli-
insaturados (PUFAs), que também podem se formar a partir das vitaminas A e E (OLIVEIRA
& BIANCHI, 2009). O processo oxidativo leva à produção de radicais livres e essa reação
também pode ser chamada de rancidez ou rancificação, podendo modificar estruturas
físicas e químicas dos alimentos, assim, a peroxidação pode participar de reações
envolvendo radicais livres, alterando a cor dos alimentos (OLIVEIRA & BIANCHI, 2009). A
decomposição oxidativa gera diversos produtos voláteis como aldeídos, cetonas, ésteres
e torpenos (OLIVEIRA & BIANCHI, 2009).
13
Em pré-misturas, as vitaminas sofrem principalmente efeitos de oxirredução pela
presença de traços de minerais, como cobre, zinco e ferro, e em menor grau, manganês e
selênio (COELHO, 2002). O grupo hidroxi é altamente sensível à oxidação, e a vitamina A é
significativamente mais estável em uma pré-mistura vitamínica do que em uma pré-
mistura mineral vitamínica, pois a presença de minerais afetou a estabilidade da vitamina
A catalisando as duplas ligações (COELHO, 2002).
Para BELLAVER (2000) a oxidação de óleos e gorduras provoca odor e paladar
desagradáveis e torna os alimentos menos nutritivos. Além de gorduras, os pigmentos e
vitaminas ficam sujeitos à oxidação quando em contato com o ar (BELLAVER, 2000). Os
fatores umidade e calor são responsáveis pela aceleração da oxidação durante o
processamento, o qual pode ser minimizado pela adição de antioxidantes (BELLAVER,
2000).
A oxidação do alimento é inevitável, portanto, descobrir como controlá-la e evitar
prejuízos é fundamental. Alguns ingredientes são mais susceptíveis à degradação que
outros, justificando a necessidade do conhecimento das características individuais, bem
como seu comportamento com relação ao meio ambiente de exposição e
armazenamento.
Formulações de dietas para suínos requerem uma série de requisitos nutricionais a
serem atendidos. Formular composições com diferentes compostos, tornou-se um
desafio, uma vez que eles podem interagir entre si e com o ambiente durante sua vida
útil, podendo promover a oxidação dos premixes e núcleos inseridos nas rações
interferindo na qualidade do produto. Os ingredientes utilizados sofrem influência tanto
das matérias primas, como dos períodos de armazenagem, da umidade relativa do ar e da
temperatura a que são submetidos, sendo o último, o que se mostra mais importante na
peroxidação.
Para o fornecimento de um alimento completo para os animais, a mistura dos
ingredientes é uma operação primordial na fabricação de rações e necessária quando os
ingredientes são combinados (MCCOY et al., 1994). O tempo de mistura é considerado o
principal fator que afeta a eficiência de mistura, porém, outros fatores tais como o
tamanho das partículas dos ingredientes, uso e desgaste dos componentes de mistura do
equipamento, limpeza e modelo do misturador, número de giros em um ciclo de mistura,
14
velocidade dos helicóides, pás, ou roscas elevadoras, amostragem e escolha do indicador
também podem influenciar, por conseguinte, um tempo de mistura específico não é
aconselhável para todos os equipamentos (CIFTCI & ERCAN, 2003; CLARK et al., 2007).
O objetivo do trabalho foi monitorar, em condições controladas, as alterações que
podem determinar as variações da qualidade de um núcleo utilizado na alimentação de
leitões e que podem ter influência na não conformidade e condicionar a incidência de
recalls.
15
3.2 Material e Métodos
Este trabalho foi desenvolvido em uma Fábrica de Rações para Suínos e Premixes
(Suínos e Aves) pertencente a uma agroindústria da região Oeste de Santa Catarina, no
período de 26/12/2017 a 26/04/2018.
Após ser fabricado, o núcleo é destinado aos produtores integrados das regiões Sul
e Centro-Oeste do Brasil. A formulação do núcleo está apresentada na Tabela 2 e a pré-
mistura na Tabela 3. Os níveis de garantia do suplemento estão descritos na Tabela 4.
Tabela 2: Composição do núcleo para leitões
Ingredientes % Quantidade (kg)
Soro de leite em pó 45,00 1.800,00
Farinha de soja micronizada 16,88 675,00
Farelo de soja moído 13,75 550,00
Pré-mistura para o suplemento (Tabela 3) 11,25 450,00
Concentrado energético proteico (levedura) 8,13 325,00
Plasma sanguíneo 5,00 200,00
TOTAL 4.000,00
Para testar as hipóteses foram estabelecidos cinco tratamentos conforme segue:
Controle: produção de uma batelada do suplemento para suínos no misturador de
helicoide manual de 400 kg (INTECNIAL, Brasil), com sua formulação padrão utilizada na
rotina da fábrica (Tabela 2 e Tabela 3);
PXMais5 (Px+5): dieta “Controle” com a inclusão de 5% a mais de “Premix vitamínico
mineral leitões” (DSM, Brasil);
PXMenos5 (Px-5): dieta “Controle” com a retirada de 5% da inclusão do “Premix
vitamínico mineral leitões” (DSM, Brasil);
Misturador Ração (MistRação): composição da dieta “Controle” utilizando uma batelada
de 4.000 kg no misturador de helicoide da linha de rações (IMOTO, Brasil);
Misturador Premix (MistPremix): composição da dieta “Controle” utilizando uma
batelada de 1.200 kg em misturador de pás (MUYANG, China).
16
Tabela 3: Composição da pré-mistura utilizada na elaboração do núcleo para leitões
Ingredientes % Quantidade (kg)
Fosfato bicálcico granulado 18,14 326,60
Calcário calcítico 15,24 274,40
Lisina HCl 99% 12,35 222,36
Óxido de Zinco 80% 7,41 133,33
Farelo de soja moído 7,32 131,77
Ácido benzoico 6,67 120,00
Premix vitamínico mineral leitões 6,67 120,00
DL- Metionina 99% 5,62 101,24
L-Treonina 98,50% 4,60 82,88
Sal granulado iodado 3,38 60,80
Aditivo antiaglutinante 2,67 48,00
Concentrado para suínos 2 (levedura) 2,22 40,00
Cloreto de colina 60% 1,49 26,88
Antioxidante (BHT, Propil Galato e Ácido
Cítrico) 1,33 24,00
Aditivo aromatizante 1,22 22,00
L-Triptofano 99% 1,08 19,48
Aditivo palatabilizante 0,67 12,00
Zinco 16% 0,56 10,00
Cromo orgânico 3,4% 0,44 8,00
Enzima protease 0,44 8,00
Ferro 22% 0,30 5,45
Enzimas betaglucanase e xilanase 0,11 2,00
Enzima fitase 0,04 0,80
Total
1.800,00
17
Tabela 4: Níveis de garantia do núcleo para leitões
Parâmetros Nível esperado
Umidade Máx. 100,00 g/kg
Proteína Bruta Mín. 216,00 g/kg
Extrato Etéreo Mín. 35,00 g/kg
Fibra Bruta Máx. 15,00 g/kg
Resíduo Mineral Máx. 130,00 g/kg
Cálcio Máx. 28,00 g/kg
Cálcio Mín. 14,00 g/kg
Fósforo Mín. 7.000,00 mg/kg
Cobre Mín. 40,00 mg/kg
Ferro Mín. 310,00 mg/kg
Manganês Mín. 120,00 mg/kg
Iodo Mín. 3,00 mg/kg
Zinco Mín. 5.000,00 mg/kg
Selênio Mín. 0,50 mg/kg
Cromo Mín. 0,40 mg/kg
Lisina Mín. 20,00 g/kg
Metionina Mín. 5.400,00 mg/kg
Vitamina A Mín. 30.000,00 UI/kg
Vitamina D3 Mín. 4.000,00 UI/kg
Vitamina E Mín. 200,00 UI/kg
Vitamina K3 Mín. 7,50 mg/kg
Vitamina B1 Mín. 8,00 mg/kg
Vitamina B2 Mín. 20,00 mg/kg
Vitamina B6 Mín. 15,00 mg/kg
Vitamina B12 Mín. 70,00 mcg/kg
Ácido pantotênico Mín. 40,00 mg/kg
Niacina Mín. 70,00 mg/kg
Ácido fólico Mín. 6,00 mg/kg
Biotina Mín. 0,20 mg/kg
Colina Mín. 700,00 mg/kg
18
O misturador horizontal INTECNIAL (helicoides), utilizado nos três primeiros
tratamentos, possui capacidade total de 400 kg, com tempo de mistura indicado de 300
segundos para um CV máximo de 5%. O misturador horizontal IMOTO (helicoides),
utilizado no tratamento quatro, com capacidade total de 5.000 kg, possui indicação de
tempo de mistura de 210 segundos para um CV máximo de 5%. O misturador horizontal
MUYANG SJHS8 (pás), utilizado no tratamento cinco, com capacidade total de 2.000 kg,
possui indicação de tempo de mistura de 60 a 90 segundos (sem a adição de líquidos)
para um CV máximo de 5%.
Não foram realizados testes de mistura neste estudo, pois os equipamentos
utilizados possuem um histórico, com curvas de mistura por equipamento. O misturador
horizontal INTECNIAL (helicoides), utilizado nos três primeiros tratamentos, possui
eficiência de mistura testada em 300 segundos com CV = 2,94%. O misturador horizontal
IMOTO (helicoides), utilizado no tratamento quatro, possui mistura testada de 120
segundos com CV = 3,92%. O misturador horizontal MUYANG (pás), utilizado no
tratamento cinco, possui mistura testada de 90 segundos com CV = 4,47%. Estes
resultados dos testes de mistura foram os apresentados ao MAPA/SC.
A inclusão dos produtos, de acordo com cada tratamento, foi realizada na fábrica
de rações no momento da formulação das dietas. O ensaque dos tratamentos foi
efetuado em sacarias valvuladas de 20 kg cada. Após a produção e ensaque, três sacarias
de cada tratamento foram enviadas via transporte terrestre para as cidades de São
Gabriel do Oeste/MS (SGO) e Araquari/SC. Os recalls mais comuns do suplemento eram
provenientes destas regiões, que possuem agravantes climáticos (temperatura e umidade
relativa do ar elevadas). As demais sacarias permaneceram na fábrica de rações de
Chapecó/SC, armazenadas em ambiente arejado, ao abrigo da luz e do calor.
As coletas em cada cidade foram realizadas sempre na mesma sacaria, exceto para
as coletas microbiológicas na cidade de Chapecó, que possuíam sacarias exclusivas por
tratamento para cada período de coleta.
Foram coletadas três amostras de 300 g de cada tratamento e enviadas para
análise bromatológica em laboratório próprio (Xaxim/SC), para os seguintes
parâmetros: proteína bruta (PB); fibra bruta (FB); extrato etéreo (EE); resíduo mineral
(RM); cálcio (Ca); fósforo (P); umidade (Um); índice de peróxidos (IDP) e acidez (Ac).
19
Foram analisados também os seguintes minerais no laboratório CBO (Valinhos/SP):
Cobre (Cu), Ferro (Fe), Manganês (Mn), Zinco (Zn), Selênio (Se), Cromo (Cr), Sódio (Na),
Magnésio (Mg) e Potássio (K). Uma amostra contraprova permaneceu arquivada na sala
de amostras da unidade.
Foram efetuadas análises de Aw (Aqua Lab Series 3TE, Decagon Devices, USA) para
os cinco tratamentos do suplemento para suínos e dos lotes dos ingredientes.
Para os lotes dos ingredientes utilizados na produção do suplemento para suínos
foram avaliados os mesmos parâmetros bromatológicos. As análises foram realizadas via
química tradicional em laboratórios próprios ou de terceiros.
Análises de química tradicional, em laboratório próprio:
PROTEÍNA BRUTA (PB): MÉTODO KJELDAHL, Compêndio Brasileiro de Alimentação
Animal (CBAA), método N° 46, emissão 2013.
Fibra Bruta (FB): AOCS, Ba 6-84, 6° edição. Reaprovado 2009.
Extrato Etéreo (EE): CBAA, método N° 14, emissão 2013.
Resíduo Mineral (RM): CBAA, método N° 05, emissão 2013.
Cálcio (Ca): Oxidimetria, CBAA, Método N° 04, emissão 2013.
Fósforo (P): Colorimetria, CBAA, método N° 23, emissão 2013.
Umidade e Voláteis (Um): CBAA, método N° 53, emissão 2013.
Índice de Peróxido em Farinha e Rações (IDP): CBAA, método N° 32, emissão 2013.
Índice de Acidez em Farinhas e Rações (Ac): CBAA, método N° 27, emissão 2013.
Proteína solúvel em KOH para soja e derivados (SOL): CBAA, método N° 50,
emissão 2013.
Atividade ureática para soja e derivados (Ure): CBAA, método N° 02, emissão
2013.
Análises de química tradicional, em laboratório terceiro (CBO):
Minerais (Cu, Fe, Mn, Zn, Se, Cr, Na, Mg e K): determinação de metais por
Espectrofotometria de Absorção Atômica (EAA) ou Plasma de Argônio
Indutivamente Acoplado (ICP), CBAA, método N° 38, emissão 2009.
Quinzenalmente, durante o armazenamento total de 120 dias (antigo prazo de
validade do suplemento, hoje são 90 dias), foram coletadas duas amostras para análises
20
de PB, EE, FB, RM, Um, Ca, P, IDP, Ac e Aw para todos os tratamentos nas três cidades
(São Gabriel do Oeste/MS, Araquari/SC e Chapecó/SC). Nos dias 0 (zero), 45, 90 e 120 dias
foram realizadas também as análises de minerais, portanto, foram coletadas três
amostras nesses períodos.
Para as amostras armazenadas na cidade de Chapecó realizaram-se também as
análises de IDP e Ac nos dias 5, 10 e 15. Foram efetuadas as análises do progresso da
oxidação nos dias 0, 5, 10 e 15.
Nos dias 0, 45, 90 e 120 foi realizado também o acompanhamento microbiológico,
através da contagem de microrganismos mesófilos aeróbios viáveis (AOAC OMA 990.12.
20th ed., 2016 – SENAI/Chapecó-SC) pela técnica contagem em placa incubada a 37°C por
48 horas. Os resultados foram expressos em log10 UFC / g de produto.
Durante o período experimental (120 dias) também foram avaliadas as condições
de temperatura e umidade de estocagem em cada uma das cidades, através do
equipamento termohigrômetro (AKSO, modelo AK28, Brasil), três vezes ao dia.
3.2.1 Análise Estatística
Para realização das análises, primeiramente foram calculados os percentuais da
diferença absoluta entre os valores calculados e os valores observados dos nutrientes
avaliados. Os percentuais de diferença absoluta do dia 0 de prateleira foram
apresentados em uma tabela. Posteriormente, foram calculadas as médias dos
percentuais da diferença absoluta (desconsiderando o valor do dia 0 de prateleira), por
tratamento e local de armazenagem, sendo o local considerado como repetição. Essas
médias foram submetidas à análise da variância para o modelo contendo os efeitos de
local e tratamento. O detalhamento do efeito de tratamento foi realizado por meio do
teste de Tukey para comparação múltipla de médias, sempre que o teste F detectou
efeito significativo (p≤0,05). As análises foram realizadas por meio do procedimento GLM
do SAS (2012).
21
O modelo avaliado na análise da variância foi:
Y ij = µ + L i + T j + e ij,
Sendo que: Y ij é a média do percentual de diferença absoluta entre o valor
calculado e o valor observado do i-ésimo local com o j-ésimo tratamento; µ é o efeito fixo
da média geral; L i é o efeito do i-ésimo local; T j é o efeito da j-ésimo tratamento; e ij é o
erro experimental, suposto aleatório, normal, homocedástico e independentemente
distribuído.
Para avaliar o efeito dos tratamentos sobre o percentual de amostras dentro dos
níveis de garantia foi aplicado o Teste Exato de Fischer.
3.3 Resultados
Foram realizadas diversas melhorias no processo de produção deste núcleo nos
últimos anos, contribuindo para a redução dos recalls (Tabela 1). Dentre elas destacam-se
cinco estratégias: 1) a adesão ao uso de embalagem da cor preta internamente; 2) foram
adicionados diversos filtros manga nos moinhos que contribuíram para uma queda em
torno de 10°C na temperatura do farelo de soja moído; 3) alterações de formulação, com
destaque para: 3.1) a retirada da levedura, 3.2) retirada de um dos componentes lácteos
e 3.3) adição de um “blend” de antioxidantes de maior eficiência para as condições de
produção empregadas; 4) não é realizada a produção do item em dias chuvosos ou de alta
umidade relativa do ar; 5) o ingrediente soro de leite em pó passou o ser o segundo a ser
submetido à dosagem, logo após a dosagem do calcário calcítico.
A Aw teve efeito significativo de Local (P=0,0257), Tempo de Prateleira (P<0,0001)
e de Tratamento (P<0,0001). A Aw determinada nas amostras dos tratamentos mantidos
em Araquari (0,4271 ± 0,00339) diferiu (P<0,05) da Aw das amostras mantidas em SGO
(0,4158 ± 0,00339). A Aw das amostras armazenadas em Chapecó (0,4203 ± 0,00285)
apresentou um valor médio intermediário às duas outras localidades e não foi
estatisticamente diferente (P>0,05) de nenhuma das outras.
Foi verificada uma evolução significativa (P<0,05) nos valores de Aw em função do
tempo de prateleira (X, dias) conforme apresentado na Figura 2. A Aw foi aumentando
desde o valor mais baixo no tempo de prateleira 1 (0,3753 ± 0,00855) até o máximo no
tempo de prateleira 120 dias (0,4584 ± 0,00355). Foi observado um incremento em
22
10,93% na Aw nos 30 primeiros dias de prateleira [100 x (0,416-0,375)/0,375] e nos
últimos 30 dias de prateleira este incremento na Aw foi de 5,94% [100 x (0,4584-
0,4327)/0,4327]. Nos Tempos de Prateleira intermediários (60 e 90 dias) os aumentos
embora constantes, foram menos acentuados, respectivamente, de 1,68% e 2,31%.
0,375±0,009D
0,416±0,003C
0,423±0,003BC0,433±0,003B
0,458±0,003Ay = 1,597.10-7x3 - 3,1227.10-5x2 + 2,1578.10-3x +3,736.10-1
R² = 0,9974
0,370
0,390
0,410
0,430
0,450
0,470
0 30 60 90 120
Tempo de Prateleira (dias)
Atividade de Água
Figura 2: Evolução da Atividade de água em função do Tempo de Prateleira.
Os tratamentos “PxMais5” e “PxMenos5” não diferiram (P>0,05) do tratamento
“Controle” para nenhum dos parâmetros avaliados apresentados na Tabela 5. Os
resultados de Aw e umidade para o tratamento “MistRação” diferiram dos demais,
porém, esta diferença não representou risco de alteração, visto que a umidade máxima
aceitável para o produto é de 10% e a Aw encontrada não permite o desenvolvimento de
fungos e bactérias (Tabela 5). A correlação entre estes dois parâmetros (Aw e Umidade) é
alta (r=0,9681) e indica que alterações mesmo que pequenas nos valores de umidade
apresentam uma relação direta com a estabilidade do núcleo através da Aw. No intervalo
avaliado cada 1% no acréscimo na umidade gera um aumento de 0,128 unidades na Aw.
Para o parâmetro acidez o tratamento “MistPremix” obteve índice maior que os
demais (3,0851 ± 0,0566; P<0,05), porém, não há limite de acidez definido e/ou
recomendado para o produto (Tabela 5). De forma semelhante este tratamento
apresentou uma concentração de Proteína Bruta menor (23,20 ± 0,1338; P<0,05) que os
demais tratamentos. Existe uma forte correlação negativa (r=-0,9951) entre o índice de
Acidez e a Proteína Bruta indicando que algum componente proteico usado na mistura
23
(que provavelmente seja um produto lácteo) possui alto valor tamponante controlando o
índice de acidez e desta forma a maior ou menor presença deste componente no núcleo
pode interferir no índice de acidez. O núcleo possui em sua composição um aditivo
acidificante que pode deixar o pH ácido, sendo que consome base para neutralizar na
análise (Tabela 5), portanto, analisou-se acidez e pH em um lote recente de composição
idêntica (lote 190319) e os resultados obtidos foram: índice de acidez = 2,72 mg NaOH/g
e pH = 6,25 e estas são condições intrínsecas do produto que são o referencial para todos
os cinco tratamentos.
Tabela 1: Valores médios, erro padrão da média (EPM), número de análises (N) e probabilidade (Pr) para Atividade de água (Aw), Umidade (%), Acidez (mg NaOH/g), Proteína Bruta (PB, %) e Extrato Etéreo (EE, %) de acordo com os tratamentos
Tratamento Aw Umidade Acidez PB % EE %
Controle 0,4145b 4,806b 2,166b 26,08ab 4,41
PxMais5 0,4170b 4,768b 2,077b 26,09ab 4,49
PxMenos5 0,4189b 4,883b 2,073b 26,43a 4,48
MistRação 0,4446a 5,192a 2,248b 25,86b 4,36
MistPremix 0,4103b 4,801b 3,085a 23,20c 4,52
EPM 0,00486 0,0452 0,0566 0,1338 0,596 N 25 25 25 25 25
Pr > F < 0,0001 < 0,0001 < 0,0001 < 0,0001 0,3011
A proteína bruta (%) do tratamento “PxMenos5” (26,432 ± 0,1338) diferiu (P<0,05)
do “MistRação” (25,869 ± 0,1338) que por sua vez diferiu (P<0,05) do “MistPremix”
(23,200 ± 0,1338) e o percentual desejado é de no mínimo 21,6%, sendo que todos os
tratamentos apresentaram um percentual mais alto. O tratamento “MistPremix”
apresentou o resultado mais próximo do desejado (Tabela 5).
Para o extrato etéreo, todos os tratamentos atingiram o percentual desejado de
no mínimo 3,5% (Tabela 5). A análise para o tempo de armazenamento indicou que, com
o passar dos dias, o valor do extrato etéreo foi alterado, apresentando redução no valor
após 38 dias de Tempo de Prateleira do núcleo (Tabela 6). Este valor foi calculado
mediante a aplicação de equação quadrática com ajuste 7,47x10-5X2+5,775x10-3X+4,4889
(R2=0,6512) onde X é o tempo de prateleira. Os valores determinados de Extrato Etéreo
refletem a dinâmica de instabilidade e transformação das gorduras presentes no núcleo.
24
No processo de oxidação três fases são observadas: iniciação, propagação e terminação.
Os produtos primários de natureza lipídica presentes na etapa inicial durante o
transcorrer do processo de oxidação podem ser transformados e decompostos ou
polimerizados. Simultaneamente a acidez do núcleo também foi atenuada, porém de
forma linear e contínua com o passar do tempo de prateleira. Existe uma correlação
positiva (r= 0,546) entre o extrato etéreo e a acidez que é calculada considerando a
evolução dos valores com o tempo de prateleira. Isto pode significar que a um tempo de
prateleira estabelecido a redução na concentração de extrato etéreo coincidiu com uma
simultânea neutralização dos radicais de oxidação gerados através de reações de
oxidação lipídica autocatalítica, reduzindo a demanda por bases.
Tabela 6: Valores médios e erro padrão da média para Extrato Etéreo (%) e Acidez (mg NaOH/g) de acordo com o tempo de prateleira do produto
Prateleira (dias) N Extrato Etéreo - % Acidez - mg NaOH/g
0 5 4,48 ± 0,1269b 2,31 ± 0,1179ab
7 5 - 2,76 ± 0,1179a
15 15 4,51 ± 0,715b 2,27 ± 0,0654b
30 15 4,55 ± 0,715ab 2,15 ± 0,0654b
45 15 4,86 ± 0,715a 2,64 ± 0,0654a
60 15 4,56 ± 0,715ab 2,12 ± 0,0654b
75 15 4,30 ± 0,715bc 2,32 ± 0,0654ab
90 15 4,37 ± 0,715bc 2,20 ± 0,0654b
105 15 4,34 ± 0,715bc 2,25 ± 0,0654b
120 15 4,12 ± 0,715c 2,23 ± 0,0654b
Pr > F < 0,0001 < 0,0001
Extrato Etéreo (%) =-7,47x10-5X2+5,775x10-3X+4,4889 (R2=0,6512) onde X representa os dias e Acidez (mg NaOH/g) =-0,002X+2,4344 (R2=0,1624).
Na Tabela 7 estão apresentadas as médias para temperatura e umidade relativa
do ar por local de armazenamento e observou-se que a maior temperatura média
registrada foi em SGO (27,19 ± 0,2949), enquanto a maior umidade média relativa foi em
Araquari (80,88 ± 0,937).
25
Em Araquari as maiores temperaturas e umidade relativa do ar foram observadas
em janeiro. Em Chapecó a maior temperatura foi observada em janeiro e a maior URA foi
observada em março. Enquanto em SGO as maiores temperaturas e URA ocorreram em
março. Desta forma considerando a data de mistura do núcleo as condições mais
extremas foram observadas nos diferentes locais ou no primeiro mês (Araquari) ou no
terceiro mês (SGO). Em Chapecó os valores máximos foram observados no primeiro mês
(temperatura) ou no terceiro mês (URA) e neste caso os dois parâmetros não
apresentaram expressão máxima ao mesmo tempo (Figura 3). O valor médio de Aw em
Araquari (0,4271) foi diferente (P<0,05) do valor médio de Aw em SGO (0,4158), porém
ambos os valores não diferiram do valor médio analisado nas amostras de Chapecó
(0,4203). Apesar das condições ambientais e evolução dos valores de Aw não houve
consequência ou efeito prático sobre a alteração visual das misturas e não houve
demanda de recall. Assim, em condições controladas de manejo do produto, visando o
acompanhamento detalhado nos diferentes ambientes, não foram observados efeitos
que determinassem a possiblidade de ocorrência de recall.
Tabela 7: Valores médios e erro padrão da média para Temperatura (°C) e Umidade Relativa do Ar (URA, %) de acordo com a localidade onde o produto foi armazenado
Local Mês/Ano n Temperatura (°C) n URA (%)
Araquari Janeiro/18 81 24,87 ± 0,2264cd 81 80,88 ± 0,937a
Araquari Fevereiro/18 84 23,54 ± 0,2223e 84 80,26 ± 0,9758a
Araquari Março/18 93 24,19 ± 0,2113de 93 80,67 ± 0,9273a
Araquari Abril/18 102 22,15 ± 0,2017f 102 80,13 ± 0,8855a
Chapecó Janeiro/18 66 26,65 ± 0,2593ab 51 58,50 ± 1,1380cd
Chapecó Fevereiro/18 60 25,73 ± 0,2631bc 44 54,73 ± 1,1548d
Chapecó Março/18 61 25,72 ± 0,2609bc 48 61,29 ± 1,1451bc
Chapecó Abril/18 54 24,94 ± 0,2772cd 58 57,75 ± 1,2170cd
SGO Janeiro/18 51 26,63 ± 0,2859ab 66 78,05 ± 1,2549a
SGO Fevereiro/18 58 25,93 ± 0,2676abc 54 76,44 ± 1,1747a
SGO Março/18 48 27,19 ± 0,2949a 61 78,41 ± 0,12944a
SGO Abril/18 44 26,54 ± 0,3076ab 60 66,22 ± 1,3502bc
Pr > F < 0,0001 < 0,0001
26
22
23
24
25
26
27
28
JAN FEV MAR ABR
Tem
per
atu
ra,
°C
SGO Chapecó Araquari
52
57
62
67
72
77
82
87
JAN FEV MAR ABR
Um
idad
e R
elat
iva
do
Ar,
%
SGO Chapecó Araquari
Figura 3: Representação gráfica da Temperatura e Umidade Relativa do Ar nas
localidades.
Foi efetuada a análise do progresso da oxidação nos dias 0, 5, 10 e 15 para índice
de peróxidos (IDP) e acidez (Figura 4), com os resultados obtidos das coletas realizadas
especificamente na cidade de Chapecó/SC, pois foram realizadas coletas iniciais extras. O
IDP manteve-se estável e os resultados da acidez permaneceram dentro da normalidade.
Considerando esta localidade a Aw do tratamento “MistRações” apresentou o maior valor
(Aw=0,4363) porém não foi diferente dos tratamentos “PxMais5” (Aw=0,4172) e
“PxMenos5” (Aw=0,4215) mas foi diferente dos tratamentos “Controle” (Aw=0,4055) e
“MistPremix” (Aw=0,4043). Todos os valores de Aw observados em Chapecó são
relacionados às condições ambientais com temperatura amena e URA baixa sem
apresentar condições de ocorrência simultânea de altas temperaturas e altas URA
conforme já apresentado na Figura 3.
Figura 4: Progressão da Acidez e Índice de Peróxidos (Chapecó – SC)
27
Na Figura 5 estão demonstrados os valores de Aw do núcleo para os cinco
tratamentos armazenados nas três cidades e ao nível de Aw detectado não existe
possibilidade de desenvolvimento de fungos e micotoxinas após a mistura uniforme de
todos os ingredientes que compõe o núcleo. Da mesma forma o desenvolvimento de
mofos, leveduras e bactérias não é verificado na faixa de Aw (0,375 a 0,458) que foi
detectada durante o acompanhamento nos 120 dias pós-mistura. Isto é corroborado
através dos resultados obtidos através da determinação do número de unidades
formadoras de colônias de mesófilos aeróbios viáveis. Nas contagens de mesófilos
aeróbios viáveis (Figura 6), houve uma queda na concentração com o tempo de
prateleira.
Figura 5: Atividade de água do Núcleo (três locais em diferentes cidades).
O efeito na redução da contagem é reflexo da alta concentração inicial de células
de mesófilos aeróbios viáveis nos ingredientes de origem vegetal e de origem animal
usados nas formulações do núcleo.
28
Figura 6: Contagem de Mesófilos Aeróbios Viáveis em função do Tempo de Prateleira.
O resultado do decaimento ainda está associado ao índice salino dos produtos
minerais, às propriedades intrínsecas de alguns ingredientes e aos produtos de
estabilização usados que oferecem condições desfavoráveis para a formação de colônias
e auxiliam nos processos de degradação.
Nas Tabelas 8 até 10 foram expressos os valores médios que representam a
porcentagem de diferença entre o valor analisado para cada tratamento e o valor
calculado para diferentes parâmetros. Em todos os parâmetros avaliados não foi
possível estabelecer uma diferença significativa (P>0,05) entre o tratamento “Controle”
e os tratamentos com adição de 5% de premix ou retirada de 5% de premix.
Tabela 8: Médias e erros-padrão da porcentagem de diferença absoluta entre o valor observado e o valor calculado.
Variável, % Umidade Proteína Bruta Extrato Etéreo Fibra Bruta Controle 5,922±0,759 12,83±0,18B 5,771±0,633 9,322±0,292
PxMais5 5,852±0,650 13,33±0,47B 5,930±0,507 8,717±0,637
Pxmenos5 5,515±0,390 11,93±0,28B 5,703±0,408 10,48±0,54
MistRação 3,311±0,608 13,34±0,45B 3,748±0,516 9,746±1,024
MistPremix 5,321±1,273 24,21±0,24A 5,377±0,678 12,76±1,57
Média 5,184±0,395 15,13±1,23 5,306±0,300 10,20±0,51
Prob>F 0,1251 <0,0001 0,0621 0,0884
Médias seguidas por letras distintas nas colunas diferem significativamente pelo teste de Tukey (p≤0,05).
29
Este fenômeno também é especialmente válido para os Micro-Minerais (Tabela
10). Admitindo uma amostragem perfeita, padrão e uniforme além de uso de técnicas
de análises em condições padronizadas a variabilidade calculada representa,
teoricamente, os efeitos dos tratamentos aplicados. Para a Proteína Bruta foi
constatado que o misturador “MistPremix” ofereceu maior (P<0,05) variabilidade
(Tabela 8), e da mesma forma para Resíduo Mineral (Tabela 9) e especialmente para
Cobre, Zinco e Selênio (Tabela 10).
Para os casos do resíduo mineral o tratamento “MistPremix” apresentou mais
altas variações (P<0,05) nas concentrações, porém um efeito oposto foi verificado para
a variabilidade do Cálcio enquanto outros macro-minerais avaliados não apresentaram
diferença significativa (P>0,05).
A variação da porcentagem da diferença entre o valor observado e o valor
calculado para os parâmetros Fibra Bruta, Resíduo Mineral e os micro-minerais
apresentam alta correlação positiva (valores de r sempre acima de 0,90) entre si, isto é,
quando o valor do desvio de um parâmetro mais varia também mais varia o outro
parâmetro. Por exemplo: correlação entre os desvios do Cobre e Zinco (0,9928), Cobre e
Selênio (0,9357) e Zinco e Selênio (0,9542). Porém, para o cromo ocorre o inverso, isto
é, quanto maior a variabilidade do valor determinado de um parâmetro observa-se
menos variabilidade nos desvios do cromo.
Tabela 9: Médias e erros-padrão da porcentagem de diferença absoluta entre o valor observado e o valor calculado para resíduo mineral e alguns macro-minerais.
Variável, % Resíduo Mineral Cálcio Fósforo Sódio
Controle 3,735±0,373B 17,17±0,53AB 8,114±1,264 11,73±1,33
PxMais5 4,463±0,096B 20,33±0,38A 9,737±0,832 16,53±1,87
Pxmenos5 4,306±0,258B 17,81±2,08A 6,674±0,482 11,11±0,94
MistRação 4,328±0,799B 12,69±0,51B 9,442±1,090 13,78±2,23
MistPremix 16,45±1,04A 7,250±0,794C 8,261±0,497 18,67±1,89
Média 6,656±1,331 15,05±1,30 8,446±0,445 14,36±1,00
Prob>F <0,0001 <0,0001 0,1442 0,0647
Médias seguidas por letras distintas nas colunas diferem significativamente pelo teste de Tukey (p≤0,05).
30
Por exemplo: correlação entre Selênio e Cromo (-0,9197), Cobre e Cromo (-
0,8922) e entre Zinco e Cromo (-0,9192). Desta forma o Cromo, segundo os dados
analisados, apresenta um desafio tecnológico, pois para a máxima uniformidade nos
parâmetros o Cromo apresentará alta variabilidade na sua concentração. E assim algum
procedimento tecnológico deverá ser adotado para sanar estas ocorrências.
Tabela 10: Médias e erros-padrão da porcentagem de diferença absoluta entre o valor observado e o valor calculado para alguns micro-minerais.
Variável, % Cobre Zinco Selênio Cromo
Controle 13,25±5,09B 26,09±4,57B 112,74±18,3AB 30,69±10,3
PxMais5 13,10±4,97B 17,43±3,10BC 77,57±20,6B 30,92±5,93
Pxmenos5 11,52±1,43B 21,73±4,28B 73,88±21,2B 36,44±4,27
MistRação 4,784±1,316B 6,906±2,779C 76,30±9,31B 39,78±2,59
MistPremix 195,18±5,89A 119,27±3,69A 175,56±19,5A 18,97±1,65
Média 47,57±19,8 38,29±11,0 103,21±12,5 31,36±2,90
Prob>F <0,0001 <0,0001 0,0036 0,2307
Médias seguidas por letras distintas nas colunas diferem significativamente pelo teste de Tukey (p≤0,05). Tabela 11: Porcentagem de resultados de análises que alcançaram o valor estabelecido no rótulo em função do tratamento aplicado e a frequência absoluta em atendimento às especificações Análise Sig Controle PxMais5 PxMenos5 MistRação MistPremix Freq
Cálcio* NS 96,0 100,0 92,0 96,0 100,0 121/125
Cobre NS 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 46/46
Fibra Bruta* NS 92,0 92,0 84,0 88,0 100,0 113/124
Prot. Bruta* NS 100,0 100,0 100,0 100,0 95,5 119/120
FósforoTotal NS 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 125/125
Res. Mineral* NS 100,0 100,0 100,0 100,0 88,0 122/125
Umidade NS 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 123/123
Zinco NS 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 46/46
Cromo* S 33,3 b 25,0 b 30,0 b 30,0 b 88,9 a 19/46
Extr. Etéreo NS 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 124/124
Selênio* NS 75,0 42,9 66,7 55,6 88,9 28/42
31
Freq indica a relação entre o número de análises, atendendo a especificação em relação ao número total de análises realizadas. *Porcentagens seguidas de letras distintas nas linhas diferem significativamente pelo Teste Exato de Fischer (p≤0,05).
A alta correlação entre os desvios de distribuição dos micro-minerais entre si
indica que efetivamente que se o premix é uniformemente distribuído quando a mistura
é realizada todos os minerais nele contidos estarão uniformemente distribuídos. Observa-
se que, para maioria dos parâmetros, o percentual de amostras que estão dentro da faixa
de garantia foi elevado evidenciando uma boa qualidade de mistura. Os parâmetros mais
críticos foram cromo e selênio, sendo que apenas nas concentrações de cromo houve
diferença significativa entre os tratamentos, com o “MistPremix” diferindo dos demais.
3.4 Discussão
Os resultados de Aw e umidade demonstraram que o tratamento “MistRação”
diferiu dos demais, porém, visto que a umidade máxima aceitável para o produto é de
10% e a Aw encontrada não permite o desenvolvimento de fungos e bactérias. Segundo
GARCIA (2004), o valor mínimo de Aw para crescimento fúngico é de 0,78 e para
produção de aflatoxinas é 0,86.
Quanto maior o valor de Aw, maior é a deterioração do alimento. Isso ocorre
tanto pela ação de fungos que se desenvolvem em valores de Aw mais baixos quanto pelo
desenvolvimento de bactérias que crescem em valores mais altos (MENDES et al., 2014).
Salmonella sp. desenvolve-se em Aw a partir de 0,92-0,95 (BEAUCHAT, 1981). O
conhecimento preciso dos valores de Aw e das isotermas de sorção dos alimentos é de
grande importância por estar relacionado com a estabilidade dos alimentos. Esse
conhecimento indica as condições nas quais os produtos alimentícios devem estar
armazenados para aumentar a vida útil e servir como parâmetro de controle, durante o
processamento de alimentos, já que cada alimento tem um valor ótimo de Aw onde as
reações de deterioração microbiológicas, enzimáticas ou químicas são minimizadas
(GARCIA, 2004).
A oxidação dos lipídios utilizada neste trabalho foi mensurada através de testes de
IDP e pelo nível de peroxidação lipídica, avaliada por meio do índice de acidez. Estes dois
testes podem possibilitar uma maior compreensão sobre a qualidade do EE presente nos
alimentos, e assim pode-se verificar a estabilidade do núcleo.
32
Para o parâmetro acidez, o tratamento “MistPremix” obteve índice maior que os
demais (3,0851 ± 0,0566; P<0,05), porém não há padrão de acidez aceitável e/ou
recomendado para o produto (Tabela 5).
O núcleo possui em sua composição um aditivo acidificante, e pode deixar o pH
ácido, sendo que consome base para neutralizar na análise (Tabela 5). Portanto, analisou-
se acidez e pH em um lote recente (lote 190319) e os resultados obtidos foram: acidez =
2,72 mg NaOH/g e pH = 6,25.
No estudo realizado por BUENO (2012), em um concentrado para bovinos, o pH
encontrado foi de 6,39 e a acidez 2,94%. LOPES et al. (2011) observaram a acidez inicial
(2,026 meq/kg) no farelo de coco para rações de poedeiras ao chegar à fábrica de rações
e constataram o aumento de mais de 65% no índice de acidez após armazenado por um
período de 35 dias. Na avaliação realizada por MENDES et al. (2014), a acidez aumentou
com o passar do tempo. Na ração para cães, apresentou uma estabilização e
posteriormente um pequeno declínio na quantidade de ácidos graxos livres, porém, na
ração de gato, aumentou gradativamente.
Segundo RECH et al. (2010), com a identificação da acidez determina-se a
quantidade de ácidos graxos livres, os quais são facilmente oxidados quando expostos ao
oxigênio, portanto, quanto maior o valor do índice de acidez maior a quantidade de
ácidos graxos livres para reagir com o oxigênio e dar continuação na reação de oxidação
da gordura.
Nós utilizamos um núcleo com alto teor de proteína bruta (> 23%) em sua
composição. As amostras apresentaram resultado acima do mínimo desejado de 21,60%.
Com o passar dos dias, o percentual do EE reduziu (Tabela 6). Como as sacarias do
suplemento estavam fechadas, acredita-se que isto ocorreu devido à variação analítica do
método e do laboratório. A equação estabelecida para o fenômeno estima uma variação
máxima em 2,49% (variando de 4,49% até 4,60%) na concentração do extrato etéreo
desde a mistura do núcleo até 38 dias após a mistura ocorrendo nova queda a partir
deste tempo de prateleira. Segundo Guelden (2005) certos ingredientes e produtos
processados através do método “spray dried” e os derivados lácteos e suas misturas
necessitam de técnicas especiais de hidrólise para uma completa extração dos lipídios.
Pois sempre existe a possibilidade que em determinado momento inicial da mistura do
33
Núcleo as condições analíticas não proporcionassem total extração dos lipídios. Porém,
na medida em que se dinamizam e completam as interações entre os componentes do
Núcleo nas análises realizadas em tempos de prateleira após o período inicial é possível
então que possa ocorrer uma completa extração e os valores muito próximos dos reais
podem ser estabelecidos. A queda no teor de extrato etéreo após 38 dias pode indicar
que no transcorrer do tempo ocorreram interações de estabilização nos quais foram
formados produtos secundários estabilizados não lipídicos no período pós-oxidação.
MENDES et al. (2014) também constataram alterações nos níveis de EE no decorrer do
tempo. O contato da ração com o oxigênio atmosférico pode ocasionar uma aceleração
no processo de oxidação dos lipídios presentes na ração, justificando a queda do EE a
cada dia de exposição ao ambiente na ração de gatos. Já na ração de cães, o teor de EE
apresentou declínio até 30 dias de exposição, mas posteriormente houve o aumento
deste, portanto, pode ser justificado devido às variações de análises (metodologia
utilizada - EE por hidrólise ácida).
A oxidação lipídica é responsável pelo desenvolvimento de sabores e odores
desagradáveis tornando os alimentos impróprios para consumo, além de também
provocar outras alterações que irão afetar não só a qualidade nutricional, devido à
degradação de vitaminas lipossolúveis e de ácidos graxos essenciais, mas também a
integridade e segurança dos alimentos (RAMALHO & JORGE, 2006; SILVA et al., 1999;
KUBOW, 1993). O alto índice de íons metálicos potencialmente reativos presentes no
produto elaborado proporciona um ambiente propício para a dinâmica da oxidação dos
lipídios em misturas complexas compostas por proteínas, carboidratos, vitaminas,
minerais, antioxidantes e estabilizantes que apresentam diferentes graus de estabilidade
quando interagem entre si na mistura complexa. Neste ambiente de forma significativa a
evolução dos valores de Aw de 0,375 até 0,416 no primeiro mês de Tempo de Prateleira
deve ter contribuído para criar um ambiente propício favorecendo a dinâmica para a
oxidação dos lipídios.
A temperatura pode fazer com que a oxidação seja mais rápida que a oxidação
enzimática, contudo, os mecanismos pelos quais isso ocorre ainda não são bem
conhecidos, mas sabe-se que compostos voláteis (aldeídos, cetonas, lactonas, álcoois,
ésteres e hidrocarbonetos de cadeia curta) e compostos polares não-voláteis, dímeros e
34
polímeros de triacilgliceróis, são produzidos quando os lipídios são oxidados pela
temperatura (CHOE & MIN, 2009). Os concentrados bovinos acondicionados a 40°C
apresentaram no 5º dia de experimento, aumento de 54% do índice de peróxidos, em
relação ao primeiro dia, aumento este mantido até o final dos 15 dias (BUENO, 2012).
Estudos mostram que peróxidos são rapidamente decompostos em aldeídos,
cetonas, álcoois, hidrocarbonetos, ésteres, furanos e lactonas, acarretando a perda da
qualidade de óleos e gorduras presentes nos alimentos, mesmo quando submetidos à
temperatura ambiente (25±2°C) (VAN EYS, 2015; O’BRIEN, 2004). A Umidade Relativa do
Ar e a Temperatura não podem ser desprezadas, visto que a região litorânea do estado de
Santa Catarina, representada pela cidade de Araquari, corresponde ao maior percentual
de recalls.
GABBI et al. (2011) concluíram que as condições ambientais na estocagem
influenciaram os aspectos microbiológicos e físico-químicos das rações comerciais
destinadas à alimentação animal. É importante ressaltar que atualmente no Brasil não há
legislação que regulamente os procedimentos e/ou monitorias industriais referentes ao
aspecto microbiológico na produção de rações. Nas contagens de mesófilos aeróbios
viáveis (Figura 6) houve uma queda com o passar dos dias. VAN EYS (2015) afirmou que,
durante o processo de oxidação (Figura 1), existem produtos secundários sendo formados
a partir da decomposição de hidroperóxidos lipídicos, produzindo um número de
compostos que podem ter efeitos biológicos e causar deterioração do sabor na ração. Os
compostos gerados podem influenciar os resultados verificados no presente estudo.
As bactérias mesófilas constituem um grupo capaz de se multiplicar entre 10ºC e
45ºC, sendo a temperatura ideal em torno de 30ºC. Esse grupo é importante porque
inclui a maioria dos contaminantes dos alimentos de origem animal, podendo atingir altas
contagens quando o alimento é mantido à temperatura ambiente. Segundo a ICMSF
(International Commission on Microbiological Specifications for Foods), o número de
microrganismos aeróbios mesófilos encontrados em um alimento têm sido um dos
indicadores microbiológicos da qualidade dos alimentos mais comumente utilizados,
indicando se a limpeza, a desinfecção e o controle da temperatura durante os processos
de tratamento industrial, transporte e armazenamento foram realizados de forma
adequada. Esta determinação permite também obter informação sobre a alteração
35
incipiente dos alimentos, sua provável vida útil, a falta de controle no descongelamento
dos alimentos ou desvios na temperatura de refrigeração estabelecida (SILVA, 2002).
A técnica de contagem em placas de bactérias aeróbias mesófilas é comumente
utilizada para indicar a qualidade sanitária dos alimentos, pois mesmo que os patógenos
estejam ausentes e que não tenham ocorrido alterações nas características sensoriais do
alimento, um número elevado desses microrganismos, contagem acima de 10⁶ UFC/g,
indica que o alimento é insalubre (FORSYTHE, 2002). Estes micro-organismos são
indicadores de qualidade, e sua quantidade definirá se há risco ou não para o consumo do
alimento. Neste estudo, nenhuma contagem ultrapassou o valor considerado insalubre.
As maiores modificações observadas na avaliação de MENDES et al. (2014), para a
qualidade das rações de cães e gatos, foram com as expostas ao ambiente. Todos os
parâmetros avaliados apresentaram alterações acentuadas nas rações que
permaneceram 60 dias em contato com oxigênio, umidade e temperatura variada. No
estudo realizado por ZANFERARI (2011), com 12 rações comercializadas a granel e duas
embaladas, foi constatada elevada quantidade de fungos Aspergillus sp.
Os diferentes misturadores utilizados nesta pesquisa indicam que potencialmente
há um efeito sobre a qualidade da mistura, conforme observado com os resultados da
análise dos minerais, porém considerando o procedimento operacional padrão utilizado
no presente estudo esses efeitos são minimizados.
Os três misturadores utilizados pela fábrica passam por constantes testes de
eficiência de homogeneização, utilizando principalmente o manganês (Mn) como
marcador. Os resultados estão dentro do exigido pelas instruções normativas do MAPA.
O processo de mistura é essencial para a fabricação de ração animal, e devido ao
aumento uso de ingredientes de baixa inclusão, sua eficiência se torna ainda mais
importante, assim como os métodos para avaliar essa eficiência. O estudo realizado por
ROCHA et al. (2015), indicou que o uso de aminoácidos industriais, nas formas pó e/ou
líquida, são adequados como indicadores internos para avaliar a eficiência da mistura.
Mn, Cu, Zn e Cloro, como são intrínsecos nos ingredientes da ração, o uso de MnSO4
(Sulfato de Manganês), CuCl2 (Cloreto de Cobre), ZnSO4 (Sulfato de Zinco) e NaCl (Cloreto
de Sódio) podem causar erros na interpretação dos resultados e não são indicados para o
36
uso como indicadores. Porém, testes de mistura com o uso de aminoácidos são onerosos,
dificultando sua adesão na rotina de qualidade.
Neste estudo ficou demonstrado que o acompanhamento do controle de
qualidade, bem como suas rotinas, dentre elas a rastreabilidade, possibilita visualizar um
histórico das informações registradas referentes à produção de um produto. É uma forma
de assegurar a garantia de todo o fluxo de produção, da qualidade do ingrediente
utilizado até o produtor que recebeu a ração para seus animais. Caso alguma anomalia
seja observada em tempo hábil, ações de recall são evitadas. Os processos de recall
necessitam de bases precisas, pois causam prejuízos altos, como: ocorrência de descarte
de produto e/ou reprocessos; a rejeição de alimentos pelos animais devido às alterações
organolépticas; prejudica o rendimento do lote; afeta a confiança da marca pelo
cliente/consumidor.
Aumentar (ou manter) a qualidade do produto exige racionalização do processo
de produção e acompanhamento constante para atender aos parâmetros de qualidade
definidos, visando a segurança alimentar.
3.5 Conclusão
Os fatores avaliados que podem ter efeito sobre o padrão de qualidade do núcleo
indicaram que nas condições controladas de manejo e produção os eventos de recall não
serão verificados em função do tipo de componentes e ingredientes usados para compor
o produto final, visto que não houve perda da qualidade do núcleo no decorrer dos 120
dias do estudo.
Na análise do efeito do tipo de misturador foi verificado que o tratamento
“MistPremix” apresentou maior variação na concentração de proteína bruta, resíduo
mineral, cobre, zinco e selênio. São necessários ajustes nos procedimentos de manejo e
uso deste tipo de misturador para atender os requisitos de qualidade demandados na
produção do núcleo.
Na análise do efeito do nível de premix não foi possível estabelecer nenhuma
diferença estatística nos parâmetros avaliados.
37
Na análise do efeito local as diferenças de temperatura e umidade relativa do ar
afetaram a atividade de água do núcleo, porém esta variação não resultou em efeitos
sobre a estabilidade do produto.
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O núcleo foi exposto a diversas condições adversas de clima, com
acompanhamento de 120 dias (a validade é de 90 dias), reforçando a necessidade da
manutenção do produto em armazenamento em local arejado, ao abrigo da luz, calor e
umidade.
Sugere-se a realização de novos estudos para verificação da qualidade da mistura
utilizando outros marcadores, a exemplo dos aminoácidos, objetivando-se a verificação
dos desvios encontrados.
É necessária a avaliação dos métodos analíticos utilizados pelos laboratórios, visto
que a grande variabilidade analítica reflete diretamente nos resultados de um estudo.
Recomenda-se a adoção prioritária do sistema de qualidade denominado APPCC
(Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle).
A bibliografia encontrada é insuficiente, necessitando de mais estudos nessa área.
39
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