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INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA - AJES ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL - LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Terezinha Gomes de Oliveira Camargo Orientador: Prof. Ilso Fernandes do Carmo NOVA XAVANTINA/2014

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INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA - AJES

ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL - LETRAMENTO E

ALFABETIZAÇÃO

LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Terezinha Gomes de Oliveira Camargo

Orientador: Prof. Ilso Fernandes do Carmo

NOVA XAVANTINA/2014

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INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA - AJES

ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL - LETRAMENTO E

ALFABETIZAÇÃO

LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Terezinha Gomes de Oliveira Camargo

Orientador: Prof. Ilso Fernandes do Carmo

“Trabalho apresentado como exigência parcial para a obtenção do Título de Especialização em Educação Infantil - Letramento e Alfabetização .”

NOVA XAVANTINA/2014

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AGRADECIMENTO

Agradeço a Deus primeiramente por ter me dado essa oportunidade de

crescer em conhecimento, por ter estado do meu lado nos momentos em que

sucumbi e quase deixei passar essa chance que considero única na minha vida.

Ainda agradeço a minha família que não me deixou desistir e foi

compreensiva nos momento que estive ausente para concretizar mais essa etapa da

minha vida.

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DEDICATÓRIA

Dedico essa minha vitoria a Deus meu companheiro de cada dia, aos meus

familiares por me dar força e me incentivar até o fim.

Dedico ainda ao professores que vieram nos orientar em cada etapa desse

estudo, dando o melhor de cada um para contribuir com o nosso crescimento.

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“Pode se dizer que,na educação infantil ler com os ouvidos é mais fundamental do

que ler com os olhos”.

BRITTO (1994)

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RESUMO

O presente trabalho consiste numa metodologia bibliográfica onde traz um

breve histórico da Educação Infantil no Brasil mencionando que as escolas infantis

sofreram, no decorrer dos tempos, diferentes mudanças em suas funções, as quais

passaram pelo assistencialismo, custódia e privação cultural até a função educativa.

O presente trabalho fala ainda sobre o processo de alfabetização e

letramento na educação infantil. Antes, porém, busca-se entender um pouco dessa

palavra, “letramento”, que mudou o sentido e a importância da alfabetização,

buscando assim atender às novas demandas sociais. Enfatiza, ainda, a

diferenciação entre alfabetizar e letrar, embora os dois termos sejam indissociáveis,

funcionando como complemento um do outro. Tendo em vista que na sociedade em

que vivemos, é comum ver crianças muito pequenas ou até bebês manipulando

livros, olhando ilustrações e/ou letras, passando páginas, como se realizassem

leitura, é assim que começa a se formar um leitor. No momento de trabalhar com

crianças menores, é preciso assumir alguns cuidados para inseri-las neste mundo

letrado.

Os resultados da pesquisa apontam que, do ponto de vista histórico, houve

um avanço significativo da legislação quando esta reconheceu a criança como

cidadã, como sujeito de direitos, inclusive o direito à educação de qualidade desde o

nascimento.

Palavras chave: Educação Infantil. Alfabetização. Letramento.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 07

1.0 DESENVOLVIMENTO DA INFÂNCIA E A ORIGEM DA EDUCAÇÃO INFANTIL

NO BRASIL. .............................................................................................................. 09

1.1 OS AVANÇOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL APÓS A CONSTITUIÇÃO FEDERAL

DE 1988 .................................................................................................................... 12

2. ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL UM PROCESSO

..................................................................................... Erro! Indicador não definido.

CONCLUSÃO.............................................................................................................26

BIBLIOGRAFIAS ....................................................................................................... 30

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INTRODUÇÃO

Nos dias de hoje, em que as sociedades do mundo inteiro estão cada vez

mais centradas na escrita, ser alfabetizado, isto é, saber ler e escrever, tem se

revelado condição insuficiente para responder adequadamente às demandas

contemporâneas. É preciso ir além da simples aquisição do código escrito, é preciso

fazer uso da leitura e da escrita no cotidiano, apropriar-se da função social dessas

duas práticas; é preciso letrar-se.

O conceito de letramento, embora ainda não registrado nos dicionários

brasileiros, tem seu aflorar devido à insuficiência reconhecida do conceito de

alfabetização. E, ainda que não mencionado, já está presente na escola, traduzido

em ações pedagógicas de reorganização do ensino e reformulação dos modos de

ensinar, como constata a professora Magda Becker Soares, que, há anos, vem se

debruçando sobre esse conceito e sua prática.

O trabalho com as crianças deve partir do cotidiano em que estão inseridas.

O professor deve perceber a necessidade da criança e provocar nela o desejo para

a aprendizagem. Portanto, as atividades a serem oferecidas devem ser motivadoras,

de curiosidades e indagações para futuras descobertas.

[...] fazer um gesto, uma maquete, uma escultura, brincar de faz-de-conta, confeccionar um desenho, uma pintura, uma gravura, fazer um movimento, uma dança, ouvir histórias, elaborar listas, decifrar rótulos, seriar códigos, discutir impressões de notícias de jornal, elaborar cartas, trabalhar com receitas, realizar visitas a bancos, museus e supermercados, conviver e interagir com gibis, livros, poesias, parlendas, ouvir música, é essencial e antecede as formas superiores da linguagem escrita. (MARTINS FILHO, 2009).

O ambiente na educação infantil deve estimular na criança o desejo de

querer aprender a ler e a escrever. A sala deve ser bem colorida, provida de

materiais diversos como: alfabeto fixado nas paredes, cartazes, livros, revistas,

exposição dos trabalhos das crianças etc. Tal ambiente deve ser preparado com

atividades permanentes, construção de projetos com assuntos variados do interesse

das crianças e uma seqüência de atividades pensada de maneira que supra os

diferentes níveis de dificuldade. Portanto, trabalhar do mais simples ao mais

complexo, do concreto ao abstrato, é essencial para melhor compreensão do mundo

pela criança.

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O papel da escola e do professor torna-se, então, de suma importância, pois

é tarefa de ambos mostrarmos o quanto são grandes as possibilidades de escrita e

como ela está presente socialmente nas suas várias funções. Isso contextualiza a

aprendizagem e desperta na criança o sentimento da importância de ser inserida na

sociedade.

O educador como mediador, que parte da observação da realidade para, em

seguida, propor respostas diante dela, estará contribuindo para a formação de

pessoas críticas e participativas na sociedade e para uma prática significativa, em

que o professor planeja suas aulas com coerência, visando à construção de

conhecimentos com os alunos.

Uma criança que compreende quando o adulto lhe diz “olha o que a fada madrinha trouxe hoje!” está fazendo uma relação com um texto escrito, o conto de fadas: assim, ela está participando de um evento de letramento (porque já participou de outros, como o de ouvir uma historinha antes de dormir); também está aprendendo uma prática discursiva letrada, e, portanto, essa criança pode ser considerada letrada, mesmo que ainda não saiba ler e escrever. (KLEIMAN, 1995, p. 18).

Para que o processo de letramento ocorra, é preciso, portanto, levar em

consideração a cultura em que a criança está inserida, adequando-a aos conteúdos

a serem trabalhados, às produções de diferentes gêneros textuais e à sua utilização

social, tendo como estratégia uma linguagem interativa, criativa e descobridora,

abandonando os métodos repetitivos e descontextualizados.

Ao utilizar as práticas sociais para aquisição da leitura e da escrita, a criança

vivencia o conhecimento, interpretando diferentes contextos que circulam

socialmente, aprendendo, dessa forma, a relacioná-los com diferentes situações.

Diante desse contexto a pesquisa elaborada, aborda no primeiro capitulo um

breve histórico da Educação Infantil no Brasil, iniciando com uma abordagem sobre

criança. Traz ainda os avanços da educação infantil após a constituição de 1998.

Apresentando ainda no segundo capitulo o processo de Letramento e alfabetização

na educação Infantil na visão de Magda Soares e outros pensadores. Concluímos

esse trabalho de investigação bibliográfica de que as mudanças são necessárias e

que novas metodologias são apresentadas todos os dias para buscar uma

aprendizagem mais completa e de qualidade e significativa para o aluno.

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1.0 DESENVOLVIMENTO DA INFÂNCIA E A ORIGEM DA EDUCAÇÃO INFANTIL

NO BRASIL.

Segundo o historiador ÁRIES (1978), o censo comum, a idéia de infância

como um período peculiar de nossas vidas simplesmente não existia não era um

sentimento natural ou inerente a condição humana. Essa concepção, esse olhar

diferenciado sobre a criança teria começado a se formar com o fim da Idade Média,

sendo inexistente na sociedade desse período, as crianças eram “adultos em

miniaturas” à espera de adquirir a estatura normal.

ÁRIES (1978) nos diz que é interessante notar que as primeiras

demonstrações são caracterizadas pela paparicação, ou seja, a criança era vista

como um ser inocente e divertido; servindo como meio de entreter os adultos. O

“mimo” tão criticado na época por diversos educadores não era sua única forma de

expressão, também observada em situações de morte infantil, antes considerada

inevitável, e até previsível, era agora recebida com muita dor e abatimento. É no

século XVII, com a intensificação das críticas, que as perspectivas e ações em

relação à infância começam a se deslocar para o campo moral e psicológico: é

preciso conhecê-la e não paparicá-la, para corrigir suas imperfeições.

ÁRIES (1978), afirma que durante a Era Moderna, séculos XVI e XIX, a

escola embora por muito tempo ignore as diferenciações de idade, se concentra na

disciplina, que tem uma origem religiosa e extremamente rígida. Esse aspecto moral

e de vigilância seria cuidadosamente responsável pelo direcionamento das escolas à

questão dos jovens e crianças, contudo, esse não era um fenômeno generalizado,

enquanto alguns tinham sua infância delimitada pelo ciclo escolar, outros ainda se

“transformavam” em adultos e mal tinham condições físicas para isso.

Ainda segundo o autor, a utopia do ensino universal não era defendida pela

grande maioria dos educadores do século XVIII, que propunham uma educação

diferenciada de acordo com o status social, condizente com o pensamento

tradicional de separação entre o trabalho manual/braçal e o intelectual condenado a

pertencerem a mundos diferentes. Na realidade, o desenvolvimento acelerado do

capitalismo e o uso crescente da mão de obra infantil, principalmente nas fábricas,

contribuíam ainda para aumentar esse abismo. ÁRIES (1978), diz que o olhar

diferenciado em relação a criança não é algo comum na Idade Média, o sentimento

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de família começa a se desenvolver a partir dos séculos XV e XVI, a família em si

não existia. O que se observa nessa época é a família como algo público, onde a

intimidade não era preservada.

Segundo SANCHES (2004), a idéia de creche surge na Europa, no final do

século XVIII e início do século XIX, a creche propunha-se guardar crianças de 0 a 3

anos, durante o período de trabalho das famílias, a instituição creche nasce de uma

necessidade atrelada ao nascente capitalismo e urbanização. Ainda segundo a

autora, no Brasil, a creche surge no final do século XIX, decorrente do processo de

industrialização e urbanização do país. Nesse período ocorre o crescimento das

cidades localizadas nas regiões ricas, pela migração das áreas mais pobres que

buscavam trabalho e melhores condições de vida.

SANCHES (2004), afirma que os problemas agravam-se com o aumento da

população pobre, do desemprego e subemprego. Na busca de alternativas para

contenção do desenvolvimento desordenado dos pólos de atração, segmentos da

sociedade civil, entre eles, médicos, juristas, Igrejas Católicas, articulam como o

Estado um plano de assistência às populações menos favorecidas. Para garantir a

dominação do capital, a filantropia torna-se uma adaptação da antiga caridade que

se preocupava com a diminuição do custo social, com a reprodução da classe

trabalhadora e com o controle da vida dos pobres. Por iniciativa dos donos das

indústrias são construídas vilas operárias, próximas às fábricas, com mercearias,

escolas, creches, clubes esportivos, com o patrocínio de instituições filantrópicas,

mulheres da alta sociedade e do estado.

SANCHES (2004), afirma que o pressuposto era que, atendendo bem o filho

do operário, este trabalharia mais satisfeito e produziria mais.

A Lei de Diretrizes de Base da Educação Nacional, Lei nº 9394 de 20 de

Dezembro de 1996, (LDB), coloca a criança como sujeito de direitos em vez de tratá-

las, como ocorria nas leis anteriores a esta, como objeto de tutela. A mesma lei,

proclama pela primeira vez na história das legislações brasileiras a Educação Infantil

como direito das crianças de 0 a 6 anos e dever do Estado. Ou seja, todas as

famílias que desejarem optar por partilhar com o Estado a educação e o cuidado de

seus filhos deverão ser contempladas com vagas em creches e pré-escolas

públicas.

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Outro objetivo contemplado pela Lei 9394/96, é o de que as instituições de

Educação Infantil (creches e pré-escolas) fazem parte da Educação Básica,

juntamente com o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, em vez de permanecerem

ligadas às Secretarias de Assistência Social. Nessa passagem das creches para as

Secretarias de Educação dos Municípios esta articulada à compreensão de que as

instituições de Educação Infantil têm por função educar e cuidar de forma

indissociável e complementar das crianças de 0 a 6 anos.

Afirmam CAMPOS, ROSEMBERG e FERREIRA (1995), a subordinação do

atendimento em creches e pré-escolas à área da Educação representa, pelo menos

no nível do texto constitucional, um grande passo na direção da superação do

caráter assistencialista predominante nos anos anteriores a Constituição. No caso

especifico das creches, tradicionalmente vinculadas às áreas de assistência social,

essa mudança é bastante significativa e supõe uma integração entre creches e pré-

escolas.

1.1 OS AVANÇOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL APÓS A CONSTITUIÇÃO

FEDERAL DE 1988

Verifica-se que, até meados do final dos anos setenta, pouco se fez em

termos de legislação que garantisse a oferta desse nível de ensino. Já na década de

oitenta, diferentes setores da sociedade, como organizações não governamentais,

pesquisadores na área da infância, comunidade acadêmica, população civil e outros,

uniram forças com o objetivo de sensibilizar a sociedade sobre o direito da criança a

uma educação de qualidade desde o nascimento. Do ponto de vista histórico, foi

preciso quase um século para que a criança tivesse garantido seu direito à

educação na legislação, foi somente com a Carta Constitucional de 1988 que esse

direito foi efetivamente reconhecido.

De acordo com BITTAR (2003, p. 30), o esforço coletivo dos diversos

segmentos visava assegurar na Constituição, “[...] os princípios e as obrigações do

Estado com as crianças.” Assim, foi possível sensibilizar a maioria dos

parlamentares e assegurar na Constituição brasileira o direito da criança à

educação. A pressão desses movimentos na Assembleia Constituinte possibilitou a

inclusão da creche e da pré-escola no sistema educativo ao inserir, na Constituição

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Federal de 1988, em seu em seu artigo 208, o inciso IV: “[...] O dever do Estado para

com a educação será efetivado mediante a garantia de oferta de creches e pré-

escolas às crianças de zero a seis anos de idade” (BRASIL, 1988).

A partir dessa Lei, as creches, anteriormente vinculadas à área de

assistência social, passaram a ser de responsabilidade da educação. Tomou-se por

orientação o princípio de que essas instituições não apenas cuidam das crianças,

mas devem, prioritariamente, desenvolver um trabalho educacional.

Na Constituição Federal de 1988, a educação das crianças de 0 a 6 anos,

concebida, muitas vezes, como amparo e assistência, passou a figurar como direito

do cidadão e dever do Estado, numa perspectiva educacional, em resposta aos

movimentos sociais em defesa dos direitos das crianças. Nesse contexto, a proteção

integral às crianças deve ser assegurada, com absoluta prioridade, pela família, pela

sociedade e pelo poder público. A Lei, afirma, portanto, o dever do Estado com a

educação das crianças de 0 a 6 anos de idade. A inclusão da creche no capitulo da

educação explicita a função eminentemente educativa desta, da qual é parte

intrínseca a função do cuidar. Essa inclusão constitui um ganho, sem precedentes,

na historia da Educação Infantil em nosso país.

A Educação Infantil, segundo FARIA (2007), embora tenha mais de um

século de história, como cuidado e educação extradomiciliar, somente na década de

90 foi reconhecida como direito da criança, das famílias, como dever do Estado e

como primeira etapa da Educação Básica.

Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB

evidenciou a importância da Educação Infantil, que passou a ser considerada como

primeira etapa da Educação Básica. Dessa forma, afirma MACHADO (2005), o

trabalho pedagógico com a criança de 0 a 6 anos adquiriu reconhecimento e ganhou

uma dimensão mais ampla no sistema educacional: atender às especificidades do

desenvolvimento das crianças dessa faixa etária e contribuir para a construção e o

exercício de sua cidadania.

A Constituição representa uma valiosa contribuição na garantia de nossos

direitos, visto que, por ser fruto de um grande movimento de discussão e

participação da população civil e poder público, “[...] foi um marco decisivo na

afirmação dos direitos da criança no Brasil.” (LEITE FILHO, 2001, p. 31). Na

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realidade, foi somente com a Constituição que a criança de zero a seis anos4 foi

concebida como sujeito de direitos.

Dois anos após a aprovação da Constituição Federal de 1988, foi aprovado

o Estatuto da Criança e do Adolescente5 – Lei 8.069/90, que, ao regulamentar o art.

227 da Constituição Federal, inseriu as crianças no mundo dos direitos humanos. De

acordo com seu artigo 3º, a criança e o adolescente devem ter assegurados os

direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, para que seja possível, desse

modo, ter acesso às oportunidades de “[...] desenvolvimento físico, mental, moral,

espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.” (BRASIL, 1994a).

Como visto, pode-se perceber que a educação infantil surge numa

sociedade que relutou em reconhecer a criança como ser pensante e sujeito de

direitos, e dessa forma, reluta até os dias atuais para reconhecer a transformação

garantida que a primeira etapa da educação básica promove na vida das crianças. O

fato de a pré-escola ser vista pela maioria dos pais de alunos de comunidades

carentes como simples local seguro onde depositar os filhos enquanto vão ao

trabalho, é algo histórico visivelmente explícito por Sonia Kramer quando esta expõe

a história da educação infantil e sua política intrinsecamente compensatória. É

cultural pensar na creche e pré-escola como ambiente puramente dedicado ao

cuidar e não ao educar.

Já nos anos seguintes à aprovação do Estatuto da Criança e do

Adolescente, entre os anos de 1994 a 1996, foi publicada pelo Ministério da

Educação uma série de documentos importantes intitulados: “Política Nacional de

Educação Infantil”. Tais documentos estabeleceram as diretrizes pedagógicas e de

recursos humanos com o objetivo de expandir a oferta de vagas e promover a

melhoria da qualidade de atendimento nesse nível de ensino: “Critérios para um

atendimento em creches que respeite os direitos fundamentais das crianças”, que

discute a organização e o funcionamento interno dessas instituições; “Por uma

política de formação do profissional de educação infantil”, que reafirma a

necessidade e a importância de um profissional qualificado e um nível mínimo de

escolaridade para atuar nas instituições de educação infantil; “Educação infantil:

bibliografia anotada” e “Propostas pedagógicas e currículo em educação infantil”.

Esses documentos foram importantes no sentido de garantir melhores possibilidades

de organização do trabalho dos professores no interior dessas instituições.

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Além da Constituição Federal de 1988, do Estatuto da Criança e do

Adolescente de 1990, destaca-se a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

de 1996, que, ao tratar da composição dos níveis escolares, inseriu a educação

infantil como primeira etapa da Educação Básica. Essa Lei define que a finalidade

da educação infantil é promover o desenvolvimento integral da criança até seis anos

de idade, complementando a ação da família e da comunidade (BRASIL, 1996). De

acordo com o Ministério da Educação, o tratamento dos vários aspectos como

dimensões do desenvolvimento e não áreas separadas foram fundamentais, já que

“[...] evidencia a necessidade de se considerar a criança como um todo, para

promover seu desenvolvimento integral e sua inserção na esfera pública.” (BRASIL,

2006, p. 10).

BARRETO (1998), ressalta que, apesar do avanço da legislação no que diz

respeito ao reconhecimento da criança à educação nos seus primeiros anos de vida,

também é importante considerar os inúmeros desafios impostos para o efetivo

atendimento desse direito, que podem ser resumidos em duas grandes questões: a

de acesso e a da qualidade do atendimento. Quanto ao acesso, a autora enfatiza

que, mesmo tendo havido, nas últimas décadas, uma significativa expansão do

atendimento, a entrada da criança na creche ainda deixa a desejar, em especial

porque as crianças de famílias de baixa renda estão tendo menores oportunidades

que as de nível socioeconômico mais elevado. Sobre a qualidade do atendimento,

ressalta:

As instituições de educação infantil no Brasil, devido à forma como se expandiu, sem os investimentos técnicos e financeiros necessários, apresenta, ainda, padrões bastantes aquém dos desejados [...] a insuficiência e inadequação de espaços físicos, equipamentos e materiais pedagógicos; a não incorporação da dimensão educativa nos objetivos da creche; a separação entre as funções de cuidar e educar, a inexistência de currículos ou propostas pedagógicas são alguns problemas a enfrentar. (BARRETO, 1998, p. 25).

A falta de uma metodologia adequada para o desenvolvimento de cada

atividade, a excessiva escolarização ou a alfabetização precoce e a inexistência de

um currículo que integre os cuidados à educação da criança, a pouca autonomia

sobre a própria ação e a baixa remuneração também são questões que impedem

um trabalho de mais qualidade. É importante destacar que a concretização de um

bom trabalho junto às crianças se inicia pela maneira como os professores

apropriam-se de modelos pedagógicos ao longo da carreira, haja vista que o

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contexto pedagógico requer estruturas curriculares abertas e flexíveis. Isso envolve

nova concepção de currículo, entendido como trajetória de exploração partilhada de

objetos de conhecimento de determinada cultura, por meio de atividades

diversificadas, constantemente avaliadas (OLIVEIRA, 2002). Nessa perspectiva, o

currículo não pode ser entendido como um plano individual, mas como um projeto

coletivo que deve ser pensado e elaborado para o crescimento tanto do professor

como das crianças. O planejamento do currículo inclui a organização de uma série

de elementos que vai enriquecer o universo da escola infantil. Questões como a

rotina, o tempo, o espaço, os materiais disponíveis, os brinquedos devem permear

todo o desenvolvimento das atividades junto às crianças.

Não é tarefa fácil discutir sobre questões que tratam do trabalho pedagógico

em instituições de educação infantil, uma vez que o cotidiano aponta para as muitas

dificuldades do professor na organização desse trabalho, especialmente no que

tange à rotina das crianças. Em geral, a própria literatura, quando aborda esta

questão, centra-se mais no recorte de um ou outro aspecto que envolve o cotidiano

da instituição, mas não fornece aos professores uma visão mais globalizante dos

elementos que constituem o seu trabalho diário. No entanto, apesar de toda a

problemática que ainda permeia uma grande maioria de instituições de atendimento

à criança e apesar de terem tido no seu início uma função mais voltada para as

questões assistenciais, apresentando, ainda hoje, muitos desses problemas,

avançaram ao longo das décadas, apresentando diferentes funções no seu interior,

até se consolidar como um espaço de educação para a criança pequena.

É conveniente ressaltar que a qualidade tem muitas leituras e pode ser

analisada sob diferentes perspectivas. O importante é que a educação de qualidade

da criança pequena possa ser reconhecida não só no plano legislativo e nos

documentos oficiais, mas pela sociedade como um todo. Afinal essa modalidade

educacional é de responsabilidade pública e, como tal, deve prioritariamente ser

assumida por todos; esse é o nosso maior desafio.

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2. ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL UM

PROCESSO

Segundo KRAMER e ABRAMOVAY (1985.p. 104-106), a alfabetização não

é um momento que se inicia repentinamente, mas é um processo em construção.

Processo que, ao contrário do que hegemonicamente se acredita, não se inicia na

escola. Para PEREZ (1992, p. 66):

A alfabetização é um processo que, ainda que se inicie formalmente na escola, começa, de fato, antes de a criança chegar à escola, através das diversas leituras que vai fazendo do mundo que a cerca, desde o momento em que nasce e, apesar de se consolidar nas quatro primeiras séries, continua pela vida a fora. Este processo continua apesar da escola, fora da escola, paralelamente à escola. A criança vai construindo conhecimentos sobre o mundo em que vive. Nesse processo de construção está inserida a escrita, como um objeto cultural socialmente construído.

Desta forma, a alfabetização não é um momento estanque que ocorre em

um determinado período da vida escolar do educando, ela é um processo que

acontece antes, durante e depois da vida escolar.

De acordo com FERREIRO e TEBEROSKY (1999, p. 5), a alfabetização

inicia-se muito antes do que a escola imagina, transcorrendo por insuspeitados

caminhos. Para as autoras nenhuma criança entra na escola regular sem nada

saber sobre a escrita. (ibidem, p. 8)

Alfabetizar ou não na educação infantil, foi e vem sendo tema para muitas

discussões. Alguns educadores receiam que tal processo seja uma antecipação de

práticas pedagógicas tradicionais e que de algum modo haverá a perda do lúdico. A

relação educação infantil e alfabetização: é um jogo de descobertas de desenhar…

rabiscar… representar… escrever… encontrar sons… formas… Ensinar ou não as

crianças a ler e a escrever é uma questão polêmica que precisa ser desmistificada

na educação infantil e especialmente ser compreendida neste processo de

alfabetização. A criança aprende a ler e a escrever da mesma forma que aprende a

falar, dependendo da influência e motivação do meio ambiente em que vive.

Ao contrário do que se pensa a alfabetização e o letramento devem ter sua

presença na educação infantil, pois mesmo pequenos, os alunos terão um espaço

propício para experiências significativas, de forma prazerosa com a linguagem oral e

escrita cuja função e responsabilidade são garantir a todas as crianças o acesso aos

saberes linguísticos necessários para o exercício da cidadania.

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É na segunda metade da década de 1980 que surge o termo “letramento” no

discurso dos especialistas das áreas da educação e das ciências linguísticas.

Segundo SOARES (1998), a palavra letramento foi usada pela primeira vez em

português por KATO (1986) e surgiu com a finalidade de nomear um novo fenômeno

relacionado aos usos sociais da leitura e da escrita. Dois anos depois TFOUNI

(1988), faz uma distinção entre letramento e alfabetização.

Para SOARES (1998), alfabetizado é o indivíduo que aprendeu a ler e a

escrever, ou seja, apropriou-se do código escrito. Enquanto o indivíduo letrado faz

uso da escrita envolvendo-se em práticas sociais de leitura e de escrita,

respondendo adequadamente às demandas sociais. Assim enquanto o primeiro

termo “refere-se à aquisição da escrita enquanto aprendizagem de habilidades para

leitura, escrita e chamadas práticas de linguagem, o segundo focaliza os aspectos

sócio históricos da aquisição da escrita.” (p. 9 -10).

É possível perceber que as novas demandas das sociedades grafocêntricas

trazem novas exigências sociais em relação ao uso da leitura e da escrita

determinando a necessidade do desenvolvimento de novas habilidades, ou seja, é

necessário saber fazer uso dos diversos textos em diferentes contextos.

Segundo Magda Soares (2001), a palavra letramento fez-se necessária por

causa da impossibilidade de dar um sentido mais amplo à palavra alfabetização.

“Não basta aprender a ler e a escrever. As pessoas se alfabetizam, aprendem a ler e

escrever, mas não necessariamente incorporam a pratica da leitura e da escrita.”

Assim o indivíduo, sem letramento se alfabetiza, porém não adquiri competências

para usar esta ferramenta que lhe foi ensinada.

A autora destaca ainda, que pesquisas feitas pelas estudiosas Emília

Ferreiro e Ana Teberoski, comprovam que as crianças da faixa dos 4 aos 6 anos,

alunos da educação infantil, quando orientados e incentivados por meio de práticas

lúdicas e adequadas, evoluem rapidamente em direção ao nível alfabético.

No entanto, alguns pesquisadores preferem continuar a utilizar o termo

alfabetização para designar tanto a (de) codificação do sistema alfabético quanto a

compreensão e o uso social do mesmo.

Aprender uma língua não é apenas aprender letras, palavras, mas é também

entender os significados que expressam as diferentes formas como as pessoas

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vivem, interpretam e representam a realidade. A escrita se faz presente de diversas

formas, cumprindo diversas funções.

Segundo SOARES (2009, p. 7):

Na impossibilidade de determinar que a palavra alfabetização passe a significar, não só a aprendizagem do sistema alfabético, mas também a aprendizagem dos usos sociais e culturais desse sistema, é que a “invenção” da palavra letramento tornou-se necessária.

O trabalho com letramento amplia o contato com a criança com diversos

suportes e gêneros discursivo-textuais, em que a mesma compreende sua função

social, ampliando suas experiências com a linguagem oral e escrita. A criança,

diante das situações vivenciadas consegue se expressar com clareza e criticamente,

pois, por meio da leitura, ela pode ir à busca de suas indagações, curiosidades,

problemas, reflexões, concordando ou não com o que leu, desenvolvendo seu

espírito crítico, compreendendo a si mesma e o mundo em que vive.

Para a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, nº 9394/96, em seu artigo 29

a educação infantil “tem como finalidade o desenvolvimento integral, da criança em

seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da

família e da comunidade.”

O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, RCNEI,

(BRASIL, 1998, vol. 1, p. 17) parece concordar com a LDB sobre a necessidade do

desenvolvimento integral da criança ao afirmar que:

Embora haja um consenso sobre a necessidade de que a educação para as crianças pequenas deva promover a integração entre os aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivos e sociais da criança, considerando que esta é um ser completo e indivisível, as divergências estão exatamente no que se entende sobre o que seja trabalhar com cada um desses aspectos.

Ainda segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil

(BRASIL, 1998, p. 117), a educação infantil, ao promover experiências significativas

de aprendizagem da língua, por meio de um trabalho com a linguagem oral e escrita,

se constitui em um dos espaços de ampliação das capacidades de comunicação e

expressão e de acesso ao mundo letrado, pelas crianças.

O letramento representa os diversos meios da prática social em que a escrita se faz presente, e, se pensarmos sobre essa perspectiva, de que as crianças vivem em uma sociedade letrada, percebemos que é quase impossível imaginar que durante muito tempo aprenderam decorando e formando palavras desconexas do contexto em que vivem. (LUIZATO, 2003, p. 72).

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Segundo D’ESPÍNDOLA (2010), o letramento é cultural, por isso muitas

crianças já vão para a escola com o conhecimento obtido de maneira informal,

absorvido no cotidiano, fazendo com que o aprendizado deixe de ser automático e

repetitivo baseado na descontextualizacão.

Ao construir o conceito de letramento, SOARES (2003), decompõe a

palavra: letra + mento, estabelecendo os significados dos termos: letra como forma

portuguesa da palavra latina littera e, - mento como sufixo, que indica resultado de

uma ação. Portanto, letramento é o resultado da ação de “letrar-se”, se dermos ao

verbo “letrar-se” o sentido de “tornar-se letrado”. Resultado da ação de ensinar e

aprender as práticas sociais de leitura e escrita, o estado ou condição que adquire

um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita

e de suas práticas sociais. (SOARES, 2003, p. 38).

No dizer de SOARES (2001, p. 47), a alfabetização é definida como “ação

de ensinar a ler e a escrever”, já o termo letramento é caracterizado como o “estado

ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce práticas

sociais que usam a escrita.” Para CARVALHO (2008), a alfabetização é

caracterizada como ato de ensinar o código alfabético; e letrar, para a autora, é

familiarizar o aprendiz com os diversos usos sociais da leitura e da escrita. Percebe-

se, então, que a alfabetização e o letramento são processos diferentes, mas de igual

importância, relacionados entre si.

O entendimento dos usos e funções sociais da escrita envolve a utilização,

na sala de aula, de diversos textos e gêneros, valorizando os conhecimentos prévios

das crianças, de modo a possibilitar deduções e descobertas em prol da aquisição

do novo conhecimento.

Portanto, acredita-se que, nas sociedades urbanas modernas, não existe grau zero de letramento, pois as pessoas, em todos os momentos, participam, de alguma forma, de algumas dessas práticas, ou seja, desde pequenas estão em contato com a linguagem escrita por meio de seus diferentes portadores de texto, como livros, jornais, embalagens, cartazes, placas de ônibus, etc., iniciando-se no conhecimento desses materiais gráficos antes mesmo de ingressarem na instituição educativa, não esperando permissão dos adultos para começarem a pensar sobre a escrita e seus usos. (LUIZATO, 2003, p. 71).

Tais experiências serão maiores ou menores de acordo com o contexto em

que a criança estiver inserida. Se viver onde a escrita se faz presente, maior será

seu interesse em compreender e dominar o sistema escrito.

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Na interação com os outros e o mundo, segundo SMOLKA (1985, p. 48), a

criança significa o mundo, ampliando suas experiências, construindo conjuntamente

o conhecimento, conduzindo-se à conscientização e participação na vida em

sociedade. Como parte deste processo, a linguagem escrita é um “instrumento” de

comunicação, culturalmente construído a ser adquirido e compartilhado.

Para as crianças que possuem pouco acesso ao universo escrito, cabe à

escola proporcionar tal contato, oferecendo aos pequenos um espaço diverso, de

modo a vivenciarem situações variadas de leitura. As atividades que o professor

realizava fora da sala, como preparação de convites para reuniões de pais, bilhetes

escritos aos pais pela ausência de uma criança, confecção de cartazes etc., podem

ser partilhadas com as crianças, de modo que percebam os diversos usos da

escrita, ampliando aos pequenos o acesso ao mundo letrado e possibilitando a

igualdade de oportunidades.

Segundo TERZI (1995), os benefícios de um ambiente familiar rico em

eventos de letramento resultam em maior sucesso no desenvolvimento inicial da

leitura e, consequentemente, maior sucesso na construção do conhecimento

vivenciado pela criança.

Já segundo BRITTO (2005), na primeira infância, ler com os ouvidos é mais

fundamental que ler com os olhos. Ao ler com os ouvidos a criança não apenas se

insere na interlocução com o discurso escrito organizado numa sintaxe, num léxico e

numa prosódia diferentes, como passa a compreender as modulaçõesde vida que se

enunciam num texto escrito. Ela experimenta a voz escrita. (p.15).

Faz-se necessário um trabalho sistemático, oportunizando experiências com

diferentes textos, a fim de ultrapassar as formas de produções oral utilizadas no

cotidiano para novas produções institucionalizadas. Fala-se ou escreve-se de

maneira diferente em situações diferentes, porque cada situação exige um tipo de

comunicação. (DOLZ; SCHNEUWLY; HALLER 2004:171). Os autores mencionam

que "a ação de falar realiza-se com a ajuda de um gênero, que é um instrumento

para agir linguisticamente", que possibilita a comunicação.

Uma metodologia que pode ser utilizada para realizar este trabalho é a

sequência didática, que "é um conjunto de atividades escolares organizadas, de

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maneira sistemática, em torno de um gênero textual oral ou escrito". (DOLZ,

NOVERRAZ, SCHEUWLY, 2004: 97).

Assim estaremos nos referindo a alfabetização como processo de aquisição

de leitura e da escrita e o letramento no que se refere às práticas sociais.

Este ambiente cultural letrado faz com que a criança sinta necessidade de

aprender a ler e escrever, como uma forma de compreender, de se apropriar do

mundo e da sociedade em que vive. Assim, ao chegar à escola ou às instituições de

Educação Infantil, a criança, já participante de um mundo letrado, como um sujeito

imerso na linguagem desde o nascimento, tem muitos conhecimentos e opiniões

sobre leitura e escrita, e seus efeitos entre seus colegas e entre os adultos.

Antes de qualquer análise mais aprofundada sobre como a alfabetização e o

letramento devem ocorrer, devemos refletir de fato como os espaços oferecidos na

Educação Infantil vem sendo utilizado para que haja o acesso ao mundo letrado,

pois estes espaços necessitam muito do lúdico para que a aprendizagem ocorra. A

prontidão para a alfabetização vai se desenvolvendo a partir do momento em que a

criança forma suas primeiras concepções a respeito da leitura e da grafia, percebe a

relação entre a fala e a escrita. Quando reconhece seu nome, o nome dos seus

colegas, algumas palavras de propaganda e imitam os adultos com rabiscos, ela

está iniciando o seu processo de leitura. A criança descobre a escrita através do

contato com o material escrito, jornais, revistas, embalagens, placas indicativas,

televisão, computador e, especialmente, através da escrita do seu nome.

No Parecer das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil de

2009 (lei de caráter normativo da área), está explicita essa constatação de práticas:

Contudo, há que se apontar que essa temática não está sendo muitas vezes adequadamente compreendida e trabalhada na educação infantil. O que se pode dizer é que o trabalho com a língua escrita com crianças pequenas não pode decididamente ser uma pratica desprovida de sentido e centrada na decodificação do escrito. (p.15).

O incentivo para conhecer o mundo letrado deve se apresentar já na

Educação Infantil, por meio de leituras, para que, mais adiante, na sua vida escolar,

as crianças sejam capazes de estabelecer relações, assumir uma posição crítica,

confrontar ideias. Quanto à leitura de histórias para as crianças, SOARES afirma

que:

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Para que a leitura oral de histórias atinja esses objetivos, não basta que a história seja lida. É necessário que o objeto portador da história seja analisado com as crianças e sejam desenvolvidas estratégias de leitura, tais como: que a leitura seja precedida de perguntas de previsão a partir do título e das ilustrações; que seja propositadamente interrompida, em pontos pré-escolhidos, por perguntas de compreensão e de inferência; que seja acompanhada, ao término, por confronto com as previsões inicialmente feitas, por meio da avaliação de fatos, personagens, seus comportamentos e suas atitudes. (2009, p.1).

O desafio da Educação Infantil não é de ensinar a desenhar e juntar letras, e

sim o de oferecer condições para que as crianças possam se desenvolver como

pessoas plenas e de direito e, dessa maneira poder participar criticamente da

sociedade de cultura escrita.

O desenvolvimento de tais atividades levará as crianças a entender a

importância e o funcionamento da escrita em nossa sociedade, desenvolvendo

capacidades necessárias para a sua apropriação. Isso poderá motivá-las a querer

conhecer mais, querer aprender a ler e escrever de maneira prazerosa e satisfatória.

Acredito que no processo ensino-aprendizagem da leitura e da escrita o

primeiro passo é dar sentido a essa aprendizagem. Por que é importante aprender a

ler e a escrever? Qual é a função da leitura e da escrita? É através de situações

concretas que espero que ocorra uma aprendizagem efetiva: um bilhete para os

responsáveis na agenda, um cartão de aniversário para o aniversariante do dia, um

convite para uma festa da escola, etc. Assim,

A alfabetização desenvolve-se no contexto de e por meio de práticas sociais de leitura e de escrita, isto é, através de atividades de letramento, e este, por sua vez, só se pode desenvolver no contexto da e por meio da aprendizagem das relações fonema-grafema, isto é, em dependência da alfabetização. (...) (SOARES, 2004, p.13).

Afirmam DELEUZE e GUATTARI (1995), que a realidade é composta de

multiplicidades e de heterogeneidades. Logo, não é possível falar da leitura da

palavra e da leitura do mundo senão no plural. Então o processo de alfabetização

envolve, diferentes leituras e, consequentemente, diferentes interpretações das

palavras escritas e do mundo que apesar de ser apenas um é composto de

diferentes realidades. Mas alfabetizar-se não diz respeito somente as leituras de

códigos, sejam verbais ou não verbais, mas também às escritas. Portanto, ser

alfabetizado não envolve apenas as leituras do mundo e as leituras das palavras,

envolve também as escritas do/com/para o mundo e as escritas das palavras.

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Proponho a alfabetização como as leituras, as escritas e as interpretações

das mais diversas linguagens verbais e não verbais: artísticas, plásticas, musicais,

teatrais, fotográficas, simbólicas, gestuais, etc. E nessa perspectiva a alfabetização

engloba e vai além do letramento de Magda Soares por entender que alfabetizar

envolve principalmente uma questão de identidade e comunicação. Utilizamos as

diversas linguagens para nos comunicar. Quando nos comunicamos dizemos ao

mundo o que pensamos, como o lemos e o interpretamos, e ao falar, escrever,

cantar, desenhar, pintar, dançar, encenar, apresentar, ou seja, através do uso das

diferentes linguagens nos escrevemos no mundo, com o mundo e para o mundo. De

acordo com SAMPAIO (1993, p. 53), para discutir a alfabetização na educação

infantil é necessário não apenas refletir sobre sua função, mas também sobre os

conceitos de alfabetização. Alfabetização entendida, nesta monografia, como um

processo em construção permanente que se inicia desde o primeiro dia de vida da

criança, concebendo como o ato (e também a reflexão sobre) o ler e o escrever as

diferentes linguagens do/com/para o mundo.

Assim, concordo com GOMES (1993, p. 127 e 133) ao entender que:

A escola precisa ser um espaço de acesso a todas as linguagens preparando a criança não somente para a aprendizagem da escrita, mas também como uma forma de ampliar sua capacidade comunicativa”.

As escolas deveriam: tratar a leitura de uma forma bastante ampla, ensinando seus alunos a ler e a escrever sons, imagens e não apenas letras. E para isso, deve estimular a escrita com vários materiais (pincéis, argila, sucatas, partituras, máquina fotográfica, etc.) e não apenas com lápis. (ibidem, p. 136 e 137).

Nessa perspectiva, em um ambiente alfabetizador na educação infantil:

(...) a criança encontra a oportunidade de exercitar com segurança seu potencial criativo e sua capacidade expressiva. Através do uso de várias linguagens a criança expande sua atividade, libera suas fantasias, exercita a imaginação, ao mesmo tempo em que constrói conhecimentos sobre a leitura e a escrita, num universo particular repleto de sentido e significado. (PEREZ, 1993, p. 101).

Acredito, como KRAMER e ABRAMOVAY (1985, p. 105), que:

A alfabetização na pré-escola extrapola o saber as vogais, o escrever o nome, ou o contar de zero a dez, da mesma forma que vai além da mera formação de hábitos e da abstrata proposta de desenvolver globalmente a criança.

Desta maneira, a alfabetização na educação infantil, extrapolando o saber as

vogais, a escrita do nome..., deve dar sentido à aprendizagem da leitura e da escrita

possibilitando o aluno perceber o sentido nesta forma de comunicação e

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compreender a função social da escrita (SAMPAIO, 1993, p. 60), ou seja, a

educação infantil além de alfabetizar, deve também letrar.

A partir desta perspectiva, a educação infantil constitui-se como um espaço

de produção de conhecimentos: “(...) cada descoberta cria possibilidade para novas

descobertas cada conhecimento novo capacita a aquisição de novos

conhecimentos, cada leitura abre novas leituras.” (GARCIA, apud SAMPAIO, 1993,

p. 76). O que deve ter primazia, segundo FREINET (1996), é a expressão livre e a

criatividade que, através do registro, permitem que a “tomada de consciência”

aconteça, fato tão importante, segundo ele, no processo de aprendizagem na escola

e na vida.

Como produto da humanidade, a linguagem escrita, na Educação Infantil se

apresenta também como produção cultural das crianças, em suas curiosidades e

anseios, bem como surge da necessidade de comunicação entre os integrantes de

sua própria turma, e outras turmas, constituindo um instrumento social de

comunicação pelo qual a criança se apropria deste valor cultural, segundo SMOLKA

(1985), que é a linguagem escrita.

Portanto, as possibilidades com a prática de letramento com a escrita ainda

nos mostra, o quanto ainda precisamos nos libertar dos velhos pensamentos, nos

quais só se escreve quem escreve “direito” (grifo nosso), ou seja, alfabeticamente,

passando por cima do fato de que a criança, ao ser colocado na posição de escriba,

ou, como afirma BOSCO (2005), na posição de sujeito escrevente, assume o papel

de escritora de sua própria história, assumindo também a responsabilidade e a

possibilidade da aprendizagem e apropriação da leitura e escrita, de forma mais

prazerosa e significativa, deixando de ser esta mecânica e descontextualizada. Por

esta razão, a aprendizagem da escrita não se faz naturalmente, pois é pela

mediação com o outro, que tal aprendizagem acontece, sendo, portanto, “cultural” e

“histórica”. Nas palavras de ROJO (2006, p. 56):

As imagens, os desenhos, os jogos de faz de conta, as conversas, as histórias, os escritos, as aulas, introduzidos no mundo da criança por meio das interações com adultos e outras crianças, são formas de representação e simbolização muito importantes na constituição de um indivíduo ativo, letrado e criativo e, como tal, devem ter lugar de destaque na escola.

Assim o trabalho pedagógico nas instituições de educação infantil deve ser

organizado de forma a considerar a perspectiva da criança que aprende,

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possibilitando que desde pequena ela seja estimulada a interagir com a linguagem

escrita por meio de seus diferentes portadores de texto e, ao mesmo tempo, vivencie

atividades de reflexão sobre as palavras e as unidades que as constituem, de modo

a elaborarem diferentes hipóteses sobre a escrita. (BRANDÃO e LEAL, 2010; p.6).

Defendemos, assim, o desenvolvimento de mais estudos que analisem as

propostas e as práticas pedagógicas desenvolvidas na Educação Infantil, a fim de

que possamos garantir que as nossas crianças se desenvolvam, construam e

adquiram conhecimento e se tornem autônomas e cooperativas.

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CONCLUSÃO

Este estudo nos permitiu trazer elementos para pensar a prática pedagógica

desenvolvida no interior das escolas infantis e, sobretudo, chamar a atenção para a

complexidade das relações que ocorrem no interior dessas instituições. Sua

consolidação só aconteceu nas últimas décadas, em função dos movimentos sociais

de luta e reivindicação pelos direitos humanos, dentre eles, o direito de todas as

pessoas a uma educação de qualidade desde a mais tenra idade.

A partir todas as reflexões feitas até agora e de diferentes metodologias o

processo de letramento na Educação Infantil, vem dando um novo sentido ao

trabalho na sala de aula. Letrar é entrar no mundo da criança e, junto com ela,

aprender a leitura e a escrita que seu contexto oferece. À medida que se conhece

seu mundo, é possível ampliá-lo, oferecendo novas propostas, maneiras e diferentes

tipos textuais.

Para que o processo de letramento ocorra, é preciso, portanto, levar em

consideração a cultura em que a criança está inserida, adequando-a aos conteúdos

a serem trabalhados, às produções de diferentes gêneros textuais e à sua utilização

social, tendo como estratégia uma linguagem interativa, criativa e descobridora,

abandonando os métodos repetitivos e descontextualizados.

Ao utilizar as práticas sociais para aquisição da leitura e da escrita, a criança

vivencia o conhecimento, interpretando diferentes contextos que circulam

socialmente, aprendendo, dessa forma, a relacioná-los com diferentes situações.

O papel da escola e do professor torna-se, então, de suma importância, pois

é tarefa de ambos mostrarmos o quanto são grandes as possibilidades de escrita e

como ela está presente socialmente nas suas várias funções. Isso contextualiza a

aprendizagem e desperta na criança o sentimento da importância de ser inserida na

sociedade.

O educador como mediador, que parte da observação da realidade para, em

seguida, propor respostas diante dela, estará contribuindo para a formação de

pessoas críticas e participativas na sociedade e para uma prática significativa, em

que o professor planeja suas aulas com coerência, visando à construção de

conhecimentos com os alunos.

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Nessa perspectiva, a aquisição do código escrito passa a ser compreendida

como atividade de expressão, comunicação e registro de experiências, conectando a

escrita ao mundo real da criança, sem separar algo que está social e culturalmente

interligado.

O ensino da leitura e da escrita deve ser entendido como prática de um

sujeito agindo sobre o mundo para transformá-lo, afirmando, dessa forma, sua

liberdade.

É o adulto atento à importância de organizar o ambiente, provocar outras

ações e desafia interações.

O professor pode, e deve, no início do ano, definir, a partir da proposta

pedagógica da escola, da observação das crianças da turma e de suas histórias,

metas de longo prazo, porém, o dia-a-dia é que trará elementos para efetivar

planejamento e que fará a diferença em seu trabalho. Não podemos perde de vista

que é a partir da vivencia do nosso aluno que se inicia o nosso fazer pedagógico.

Pensando dessa forma é que vimos que não se pode querer tirar a criança

de dentro do seu contexto social mais sim valorizar e dar sentido a tudo que eles

vivenciam e criando assim um mundo onde cada criança faz a diferença dentro do

seu ciclo social e cultural.

Diante disso o letramento juntamente com alfabetização significativa trará

para as salas de educação infantil mais sentido e mais conhecimento que dará para

o aluno condições de crescer um ser critico ético e transformador do mundo através

de suas vivencias e mediado pelo conhecimento que ira construindo ao longo de

suas vidas.

O trabalho com as crianças deve partir do cotidiano em que estão inseridas.

O professor deve perceber a necessidade da criança e provocar nela o desejo para

a aprendizagem. Portanto, as atividades a serem oferecidas devem ser motivadoras,

de curiosidades e indagações para futuras descobertas.

O dia a dia de nossas vidas é atravessado por diferentes práticas de

linguagem nas quais a criança já ocupa um lugar, participando delas e incluindo-se

(ou sendo incluída) nelas, de alguma maneira, como sujeito. Sua ida ao parque, ao

supermercado, à igreja (participando dos cultos e louvores em que folhetos escritos

circulam bem como a reprodução do louvor na parede), são experiências que a põe

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no palco de interações com variados textos, e estes promovem efeitos sobre a

criança, possibilitando a constituição de um “saber fazer” da linguagem escrita que

se reflete na fala e na escrita infantil. Na Educação Infantil, os educadores

necessitam considerar esse “saber” da linguagem escrita em seu planejamento

diário, uma vez que este se constitui como efeito da interação da criança com textos

diversos em seu cotidiano, tendo o outro/adulto, de início, como intérprete. Mesmo

que não leia ou escreva – no sentido convencional destes termos –, a criança já está

sob os efeitos desses textos que atravessam a sua vida. Seus rabiscos e garatujas

dispostos em uma folha de papel revelam sua relação com a linguagem escrita; seu

“saber” da linguagem escrita se expõe em suas manifestações de linguagem e,

mesmo que ainda não “alfabetizadas”, já realizam certa leitura e escrita, que, nas

concepções de BOSCO (2005), permite ao professor sustentar um lugar de

escuta/leitura de outros textos para a criança, além de constituir uma rede a partir da

qual a escrita infantil se organiza de uma maneira que lhe é própria.

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