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Estudos de Psicologia I Campinas I 23(4) I 359-367 I outubro - dezembro 2006
11111 Doutoranda em Psicologia do Desenvolvimento Humano e Educao, Faculdade de Educao, Universidade Estadual de Campinas. Campinas, SP, Brasil.22222 Professora, Curso de Psicologia, Universidade So Francisco. Rua Alexandre Rodrigues Barbosa, 45, Itatiba, SP, Brasil. Correspondncia para/Correspondence
to: K.L. OLIVEIRA. E-mail: .33333 Professora Doutora, Curso de Psicologia e do Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Psicologia, Universidade So Francisco. Itatiba, SP, Brasil.44444 Professora, Curso de Psicologia, Universidade de Alfenas. Alfenas, MG, Brasil.
Instrumentos psicolgicos: estudocomparativo entre estudantes e profissionaiscognitivo-comportamentais
Psychological instruments: comparative study betweencognitive-behavioral students and professionals
Katya Luciane de OLIVEIRA1,2,4
Ana Paula Porto NORONHA3
Marilda Aparecida DANTAS4
Resumo
Esta pesquisa analisou se h diferena entre os instrumentos psicolgicos mais conhecidos e utilizados por estudantes eprofissionais cognitivo-comportamentais. Participaram 40 estudantes, do ltimo ano do curso de Psicologia e 35 psiclogos. Foiutilizado instrumento composto de duas partes, a primeira contemplou questes que visavam caracterizao dos sujeitosquanto formao, atuao profissional, estratgias e instrumentos utilizados na avaliao. A segunda parte constava de umarelao contendo 152 instrumentos de avaliao psicolgica, na qual os sujeitos tinham que assinalar os conhecidos e osutilizados. Os resultados evidenciaram que tanto estudantes quanto profissionais utilizam com maior freqncia em suaavaliao as entrevistas. Os instrumentos mais conhecidos pelos sujeitos foram o Zulliger, a Escala de Maturidade MentalColumbia, o Teste de Apercepo Temtica e o WISC-III. Os mais utilizados foram o Bender Infantil, o Desenho da FiguraHumana e o Teste Wartegg. Sugere-se que novos estudos sejam realizados com o intuito de promover avanos na preparao dopsiclogo brasileiro.
Palavras-chave: avaliao comportamental; avaliao psicolgica; testes psicolgicos.
Abstract
This research analyzed if there was any difference between the well-known psychological instruments and the ones used bycognitive-behavioral students and professionals. 40 students and 35 psychologists participated in this study. This study material was composedby two parts. The first one comprised by questions about graduation, professional activity, strategy and instruments used in the assessment.The second part constituted a set of psychological assessment instruments, and the participants task was to assign if they were known orused. Results indicated the most of students and professionals uses the interview in the assessment. The most well-known instruments wereZulliger, Escala de Maturidade Mental Columbia, Teste de Apercepo Temtica and WISC-III. The most used instruments were BenderInfantil, Desenho da Figura Humana and Wartegg Test. Others studies should be made to promote the psychologists formationdevelopment .
Key words: behavioral assessment; psychological assessment; psychological tests.
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K.L. OLIV
EIRA
et al.
Estudos de Psicologia I Campinas I 23(4) I 359-367 I outubro -.dezembro 2006
No Brasil, autores tm se dedicado ao desen-volvimento da rea de avaliao psicolgica. Mesmoque com contribuies isoladas e com objetivosdistintos - como oferecer manuais atualizados com osfundamentos tcnicos dos instrumentos de avaliao,realizar pesquisas e incentivar a construo de novosmateriais -, tais instrumentos tornaram-se o foco dediversos estudos (Pasquali, 1999, 2001).
Ainda em mbito nacional, o Conselho Federalde Psicologia (CFP) promulgou resolues (ConselhoFederal de Psicologia, 2001, 2003) a fim de oferecerdefinies sobre o uso, a elaborao e a comercializaodos testes. Embora inicialmente a deciso tenha sidopolmica, considerando o impacto que ocasionou na
comunidade cientfica e entre leigos, acredita-se que o
processo promover a construo de instrumentos com
mais qualidade do ponto de vista psicomtrico.
Dentre os elementos definidos pelas resolues
como imprescindveis quando da construo de testes
encontram-se o desenvolvimento de estudos com
amostras nacionais e os estudos de evidncia de
validade e de preciso. Embora os aspectos apontados
paream elementares, pesquisas indicam que grande
parte dos instrumentos comercializados no Brasil ainda
no apresenta condies mnimas de comercializao
(Noronha, 2003). Poucos so os instrumentos que se
encontram com parecer favorvel do CFP para utili-
zao. Esse fato ocorre devido falta de parmetros
psicomtricos na maior parte dos instrumentos
avaliados (Conselho Federal de Psicologia, 2005),
diferente do que ocorre em pases mais desenvolvidos,
onde intenso o foco nos atributos psicomtricos de
um teste.
Nesse sentido, alguns estudos j evidenciaram anecessria ateno que deve ser dispensada aos instru-mentos de medida. Andriola (1995) destaca que os testespsicolgicos como instrumentos de avaliao merecem
mais esmero por parte dos profissionais responsveis
pela utilizao, principalmente pelo seu uso freqen-
temente indiscriminado. A nfase deve ser dirigida ao
rigor da qualidade cientfica, estudando os parmetros
psicomtricos e atualizando os contedos dos
instrumentos a fim de contribuir com a valorizao da
avaliao e do profissional que a realizou (Noronha, 2003;
Pasquali, 2001; Wechsler & Guzzo, 1999).
No parece ser novidade que os testes divulgame favorecem o reconhecimento social da profisso eque a m aplicao tende a gerar dificuldades noatendimento desses objetivos, considerando que oincio da testagem de alguma forma se confunde comos primrdios da Psicologia cientfica.
No que se refere s questes ticas e deonto-lgicas da avaliao (considerando-a como um processode aquisio de informaes, que faz uso de vriosmtodos, tcnicas e instrumentos, tendo como objetivoprincipal a compreenso do indivduo), Simes (1995)observa que a tica distinguida da deontologia, sendoa primeira relativa ordem de questionamento sobrevalores e a segunda moral profissional. Baseado nessaconcepo, o autor determina que compete ao psic-logo a responsabilidade da escolha e aplicao deinstrumentos com valor reconhecido. Nessa direo,tambm se faz necessrio que tal instrumento psico-lgico comungue com o referencial terico dopsiclogo; no h como fazer uso de um recurso cujofundamento terico seja dissonante daquele que suaabordagem de atuao preconiza.
Quanto escolha dos instrumentos mais ade-quados para as diferentes situaes profissionais nasquais os psiclogos se deparam ao longo de suasatividades, deve-se evidenciar a eleio de mtodos ede instrumentos que tenham pesquisas relacionadasaos parmetros tcnicos cientficos (preciso, validadee normas). Tal assero corroborada pelos estudos deOliveira, Noronha, Beraldo e Santarem (2003) e Oliveira,Noronha, Dantas e Santarem (2005), no sentido de que imprescindvel que haja coerncia entre a abordagemterica que norteia a prtica profissional do psiclogo eos construtos dos instrumentos utilizados, de modoque a leitura de homem adotada esteja em consonnciacom a que o instrumento preconiza.
No que tange avaliao comportamental, valeressaltar que h diferenas em relao a outras abor-dagens, principalmente no que concerne ao conjuntode princpios e elementos conceituais. Alguns dosprincpios da avaliao comportamental so comuns aqualquer sistema de avaliao, outros, porm, soespecficos e refletem os princpios comportamentaisde base, muitos dos quais so derivados da anliseexperimental do comportamento (Matos, 1999;Santarem, 2001).
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Estudos de Psicologia I Campinas I 23(4) I 359-367 I outubro - dezembro 2006
A avaliao comportamental pode ser consi-derada um termo genrico ou um paradigma daavaliao psicolgica que abriga diferentes abordagensou subparadigmas, como, por exemplo, anlisefuncional e cognitivo-comportamental. O termocomportamento implica a relao do organismo como ambiente num processo contnuo e dinmico (Delitti,2001; Meyer, 2001; Rang & Guilhardi, 1998; Tors, 1997).
Meyer (2001) observa que o psiclogo compor-tamental pode recorrer aos testes e inventrios em umaavaliao. Todavia, de acordo com Piotrowski e Lubin(1990) e Haynes e OBrien (2000), tais instrumentos devemser entendidos como recursos auxiliares ao processode coleta de dados, j que so construdos tendo comobase a teoria psicomtrica.
Keepe, Kopel e Gordon (1980) esclarecem que ostestes e tcnicas projetivas no devem ser utilizadosem nenhuma instncia pelos terapeutas comporta-mentais. Estudos destinados a avaliar a coerncia tericae filosfica entre a abordagem adotada e os instru-mentos utilizados na avaliao so quase inexistentes.Cabe questionar, portanto, se tal coerncia vem sendorespeitada.
O estudo de Oliveira, Noronha, Dantas e Santarem
(2005) desenvolvido com psiclogos comportamentais
evidenciou que os instrumentos mais utilizados so os
de base analtica e ainda so os mais ensinados na
universidade. Fato semelhante foi observado por
Watkins, Campbell e McGregor quando em 1990
realizaram um estudo sobre o assunto. Na verdade, a
comparao entre os mais usados e aprendidos s foi
possvel ao analisar os estudos de Alves, Alchieri e
Marques (2001), cujo objetivo foi mapear o ensino da
avaliao psicolgica no Brasil, inclusive no que dizrespeito aos instrumentos preferencialmente minis-trados nas universidades.
Observando especialmente a formao pro-fissional, h que se ressaltar a situao do ensino de
testes psicolgicos brasileiros. Noronha (2003) afirma
que preciso repensar a formao do profissional de
Psicologia de modo que o psiclogo tenha umabagagem terica mais consistente e faa um uso ticoe consciente dos instrumentos.
A formao profissional tem sido tema freqenteem discusses promovidas por rgos e associaes
de classe. Recentemente, o Conselho Regional dePsicologia - 6 Regio, em consonncia com outrasentidades, organizou um encontro cujo foco era o ensinoda avaliao psicolgica (Conselho Regional dePsicologia, 2004). Embora eventos nem sempre possamoferecer solues imediatas para as questesemergentes, vale ressaltar que tais discusses fomentamreflexes e tendem a gerar pesquisas.
A formao em avaliao psicolgica no Brasil
ainda incipiente e o reflexo disso recai na prtica
profissional. Muito se tem discutido sobre a melhor
forma de ensinar instrumentos especficos ou a ava-
liao mais amplamente definida. As tendncias so as
mais diversas possveis, variando desde a construo
de um currculo mnimo para a rea (Jacquemin, 1995),
at a insero do ensino da avaliao do desenvolvi-
mento em outras disciplinas afins (Kroeff, 1988), como,
por exemplo, na disciplina Psicologia do Desenvolvi-
mento, ou ainda ensinar a construo dos testes
(Pasquali, 2001).
As discusses, embora ainda no tenham gerado
encaminhamentos definitivos, so extremamente posi-
tivas, pois possibilitam outras anlises acerca das prticas
ora existentes. Alchieri e Bandeira (2002) enfatizam que
em grande parte dos cursos de Psicologia no Brasil, a
opo de ensino de avaliao ainda se d por meio de
informaes sobre a aplicao, a avaliao e a inter-
pretao de instrumentos. Pouco se fala em construo
de testes ou em parmetros psicomtricos.
Da forma como o contedo de avaliao vem
sendo passado no tem sido possvel desenvolver
anlises mais crticas a respeito dos instrumentos, do
uso e, sobretudo, das limitaes. O resultado desse
processo equivocado a formao de profissionais comconhecimento bastante restrito, dominando apenas aaplicao e a correo de poucos instrumentos. Guzzo(2001) aponta que aprender tcnicas do examepsicolgico de forma isolada e pontual no assegura ascompetncias necessrias, como, por exemplo, para,dentre outras tarefas, chegar a concluses ou elaborarlaudos. Sob essa perspectiva da formao profissional,
o objetivo desse estudo foi analisar se h diferena entre
os instrumentos psicolgicos mais conhecidos e
utilizados por estudantes e profissionais cognitivo--comportamentais.
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K.L. OLIV
EIRA
et al.
Estudos de Psicologia I Campinas I 23(4) I 359-367 I outubro -.dezembro 2006
Mtodo
Participantes
Participaram 75 sujeitos, sendo 40 (53,3%)estudantes de Psicologia que haviam optado pelo
estgio em clnica comportamental e 35 (46,7%)
psiclogos, cuja abordagem de atuao era a cognitivo-
-comportamental. A mdia de idade foi de 28 anos e 8
meses (DP=9,3), com um mnimo de 21 anos e o mximo
de 60. O sexo feminino representou 88% (n=66) dossujeitos e o masculino 12% (n=9).
Instrumentos
Utilizou-se um instrumento composto de duas
partes. A primeira continha questes que visavam
caracterizao dos sujeitos quanto formao,
abordagem teraputica, atividades profissionais e
instrumentos utilizados na avaliao.
A segunda parte constituiu-se de uma relao
contendo instrumentos de avaliao psicolgica
especficos. Na relao estavam presentes 152
instrumentos das seguintes editoras: Cepa, Vetor, Casa
do Psiclogo, Edites, Cetepp, Artes Mdicas, Editorial
Psy, Mestre Jou, Melhoramentos, Entreletras, Grfica MNJ
Ltda e Martins Fontes, alm de dez testes estrangeiros edois testes de editoras no localizadas. Os sujeitostiveram duas possibilidades de resposta para cadainstrumento listado, a saber: C para os instrumentosconhecidos e U para os utilizados. Caso o instrumentono fosse utilizado ou conhecido, o sujeito no deveriafazer nenhuma anotao.
Procedimentos
A coleta de dados ocorreu em universidades dos
estados de Minas Gerais e de So Paulo, no VI Congresso
Brasileiro de Psicologia Escolar e Educacional e no I
Congresso Nacional de Psicologia. Em todas as ocasies
a aplicao foi individual, e o instrumento auto-aplic-
vel. Aqueles que optaram por participar da pesquisa
respondiam ao instrumento, entregando-o, em seguida,
s pesquisadoras. Destaca-se que esta pesquisa foi
aprovada pelo comit de tica em pesquisa da
instituio qual est vinculada.
Resultados e Discusso
Aps a coleta, os dados foram organizados emplanilhas e submetidos estatstica descritiva, de acordocom os objetivos do estudo. A anlise foi realizada apartir da freqncia das respostas e das respectivasporcentagens.
Quanto atuao profissional dos estudantes,57,5% (n=23) exerciam alguma atividade profissional,no tendo respondido questo 42,5% (n=17). No casodos profissionais uma parte tinha somente graduaoem Psicologia (31,4%; n=11), os demais (68,6%; n=24)tinham algum curso de especializao ou mestrado edoutorado. A atuao em clnicas particulares foiapontada por 48,6% (n=17) e 51,4% (n=18) indicaramque atuam no contexto universitrio como docentes eno tm atuao em clnica.
Embora seja um estudo com estudantes eprofissionais que atuam na rea cognitivo-comporta-mental, salienta-se que este trabalho contou com umaamostra coletada em universidades e principalmenteem congressos no especficos dessa rea. Desse modo,o vis da amostra pode ser evidenciado pelo elevadopercentual de docentes, considerando que tais eventos
so bastante freqentados por professores e pesqui-
sadores.
O modelo comportamental cognitivo foi o mais
citado pela maioria dos estudantes (85%; n=34) e dos
profissionais (68,6%; n=24). Sob esse aspecto Rang
e Guilhard (1998) apontam que a terapia cognitivo-
-comportamental uma prtica crescente com uma
aceitao progressiva.
A Tabela 1 apresenta as consideraes sobre a
utilizao de estratgias e instrumentos gerais naavaliao realizada pelos estudantes e profissionais.Nessa questo, os participantes tinham que assinalarcom que freqncia recorria ao uso das estratgias e
instrumentos em sua avaliao.
Evidencia-se que tanto estudantes (50%; n=20)
quanto profissionais (88,6%; n=31) utilizavam com maior
freqncia em sua avaliao as entrevistas, seguidas
pela tcnica de observao realizada por observadores
externos no ambiente natural (42,5%, n=17; 54,3%, n=19,
respectivamente). Em terceiro lugar como mais utilizadapara os estudantes aparece a observao qualitativa
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durante entrevistas ou sesses teraputicas (27,5%;n=11), e para os profissionais, o mais utilizado foi oquestionrio (42,8%; n=15).
Nesse sentido, observa-se que na abordagemcomportamental o psiclogo busca outros recursospara testar suas hipteses acerca do fenmenoobservado (Matos, 1999). Desse modo, os dadosmostraram que tanto estudantes como profissionaisrecorrem a alguns recursos e tcnicas (entrevistas,observao por observadores externos no ambientenatural, observao qualitativa durante entrevistas ousesses teraputicas e questionrios) para submeteremsuas hipteses verificao.
Visando identificar quais instrumentos psico-lgicos especficos eram conhecidos e utilizados pelossujeitos, foi apresentada uma relao de instrumentospsicolgicos especficos de avaliao, na qual estudantese profissionais tinham que assinalar C (se conhecia oinstrumento) e U (se o instrumento era utilizado). Osdados descritos na Tabela 2 apresentam os resultadosde instrumentos que so conhecidos por pelo menosdez participantes, destacando que os demais instru-mentos ou tiveram pontuaes menores do que acitada ou no foram escolhidos.
Os instrumentos mais conhecidos pelos partici-pantes foram em primeiro lugar o Zulliger (42,5%, n=17estudantes e 57,5%, n=23 profissionais), em segundo
lugar a Escala de Maturidade Mental Columbia e o Testede Apercepo Temtica (51,3%, n=20 estudantes e48,7%, n=19 profissionais, respectivamente) e em terceirolugar a Escala de Inteligncia Wechsler para Crianas(WISC-III) (60,5%, n=23 estudantes e 39,5%, n=15profissionais). O teste Qui-quadrado mostrou que adistribuio das citaes sobre os instrumentospsicolgicos mais conhecidos pela amostra como umtodo era eqitativa. Os dados no evidenciaramdiferena significativa entre as citaes.
O instrumento mais citado pelos estudantescomo conhecido foi o WISC-III. Tal dado pode serjustificado em razo da padronizao do instrumentono Brasil ter sido feita em 2002, realizada por Vera LciaMarques de Figueiredo. Nessa direo, provvel que omaior conhecimento de estudantes se justifique emrazo da aprendizagem mais recente nos cursos dePsicologia. Vale destacar que a educao continuada eo aperfeioamento profissional nem sempre estopresentes na prtica psicolgica.
No caso dos profissionais o instrumento maisconhecido foi o Zulliger. Esse dado talvez estejarelacionado avaliao clnica tradicional que muitasvezes recorre ao Teste de Rorschach, instrumentobastante utilizado em diversos pases, ou ao prprioZulliger, que pode ser considerado uma verso reduzidado Rorschach com aspectos semelhantes entre si.
Tabela 1. Distribuio das freqncias e porcentagens de utilizao de estratgias e instrumentos gerais de avaliao (n=75).
Entrevistas
Escalas de classificao do comportamento
Inventrios de personalidade
Observao participante
Observao por meio de instrumentos (ex.gravao dediscusso famlia)
Observao por observadores externos no ambientecontrolado
Observao por observadores externos no ambiente natural
Observao qualitativa durante entrevistas ou sessesteraputicas
Questionrios
Registros de auto-observao do cliente
Tcnicas projetivas grficas
Testes psicolgicos
51
16
14
21
8
14
36
21
22
37
10
15
68,0
21,3
18,7
28,0
10,6
18,7
48,0
28,0
29,3
49,4
13,3
20,0
14
29
32
13
14
22
14
16
36
16
21
28
18,7
38,7
42,6
17,3
18,7
29,3
18,7
21,2
48,0
21,3
28,0
37,3
Estratgias e Instrumentos
0
17
14
21
33
21
10
19
7
19
23
15
0
22,7
18,7
28,0
44,0
28,0
13,3
25,4
09,4
25,3
30,7
20,0
10
13
15
20
20
18
15
19
10
3
21
17
13,3
17,3
20,0
26,7
26,7
24,0
20,0
25,4
13,3
04,0
28,0
22,7
Norespondentes
%F
Nunca
%F
Ocasionalmente
%F
Sempre
%F
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Estudos de Psicologia I Campinas I 23(4) I 359-367 I outubro -.dezembro 2006
Na Tabela 3 foram elencados os resultados dosinstrumentos utilizados por pelo menos oito sujeitos.Os demais instrumentos ou tiveram pontuaesmenores dos que as citadas ou no foram escolhidos.
No caso dos instrumentos mais utilizados pelosparticipantes observou-se que em primeiro lugarapareceu o Bender Infantil (48,5%, n=17 estudantes e51,5%, n=18 profissionais), em segundo o Desenho daFigura Humana (51,7%, n=15 estudantes e 48,3%, n=14profissionais) e em terceiro o Teste Wartegg (65,4%, n=17estudantes e 34,6%, n=9 profissionais). Ao utilizar o testeQui-quadrado, verificou-se que a distribuio entre asdez primeiras citaes da amostra como um todo sobreos instrumentos psicolgicos mais utilizados no eraeqitativa [2(9, 192)=30,40; p0,04].
O Bender Infantil e o Teste Wartegg apareceramcomo os mais citados como utilizados pelos estudantese o Bender Infantil tambm foi o mais citado comousado pelos profissionais. Salienta-se que na ocasio dacoleta esses instrumentos ainda estavam disponveispara a comercializao, mostrando o quadro atual queambos os instrumentos ainda no esto aprovados peloCFP. sabido, contudo, que o Bender Infantil encontra--se em processo de avaliao, o que pode resultar na
Tabela 2. Distribuio das freqncias e porcentagens referentesaos instrumentos psicolgicos mais conhecidos porestudantes e psiclogos comportamentais (n=75).
53,352,052,050,748,048,048,045,345,344,041,341,341,340,040,037,337,334,734,733,333,333,332,030,730,729,329,328,028,026,725,324,024,024,022,722,722,721,321,321,318,718,7
18,717,317,317,316,016,016,014,714,714,713,313,313,313,313,313,3
403939383636363434333131313030282826262525252423232222212120191818181717171616161414
14131313121212111111101010101010
Teste ZulligerTeste de Apercepo Temtica (TAT)Escala de Maturidade Mental ColumbiaEscala de Inteligncia Wechsler 3 edioDesenho da Figura HumanaEscala de Inteligncia Wechsler Crianas 1 edioDezesseis Fatores de PersonalidadeTeste de RorschachTeste de Apercepo Infantil CAT-ATeste de Apercepo Infantil CAT-HTeste de Inteligncia No Verbal G36Teste das FbulasBateria CEPAEscala de Stress AdultoBender InfantilTeste WarteggInventory Multiphasic Minnesota Personality (MMPI)Supl. Teste Apercepo Infantil CAT-SMatrizes Progressivas escala geralTeste de Inteligncia No Verbal G38Matrizes Progressivas escala avanadaAteno ConcentradaMatrizes Progressivas ColoridasO Teste Gestltico Bender para crianasInventrio Interesses Angelini e ThustoneInventrio de Interesses ProfissionaisDomins D-48Teste das Pirmides ColoridasInventrio Fatorial de PersonalidadeBateria de Testes de Aptido (BTAG)Cubos de KohsTeste Psicodiagnstico Miocintico (PMK)Teste de Aptides Especficas (DAT)BPR-5Teste das Pirmides das Cores 24M PfisterLIP Levantamento de Interesses ProfissionaisInventrio de Ansiedade (IDATE)Teste PalogrficoKuder Inventrio Interesses ProfissionaisInventrio de Habilidades SociaisTeste MetropolitanoEscala de Transtorno de Dficit deAteno/HiperatividadeEscala de Stress Infantil (ESI)Questionrio Vocacional de InteressesInventrio de Atitudes de Trabalho (IAT)INVTeste No verbal de Inteligncia R-1Programao Hbitos e Desempenho (PHD)Como Chefiar?Teste Raven Operaes Lgicas (RTLO)Figuras Complexas de ReyDiagnstico OrganizacionalTeste Coletivo Inteligncia Adultos (CIA)Quati Questionrio Avaliao TipolgicaLista de Problemas Pessoais AdultosInventrio de Ansiedade IDATE-CEscala de Maturidade Escolha profissionalAteno Concentrada 15
Testes mais conhecidos F %
Tabela 3. Distribuio das freqncias e porcentagens referentesaos instrumentos psicolgicos mais utilizados porestudantes e psiclogos comportamentais (n=75).
Bender InfantilDesenho da Figura HumanaTeste WarteggAteno ConcentradaEscala de Maturidade Mental ColumbiaO Teste Gestaltico Bender para CrianasTeste de RorschachDezesseis Fatores de PersonalidadeInventrio de Interesses Angelini e ThustoneTeste ZulligerLIP Levantamento de Interesses ProfissionaisTeste de Apercepo Temtica TATTeste Psicodiagnstico Miocintico PMKBateria CEPABPR-5Escala de Inteligncia Wechsler Crianas 3 edioInventory Multiphasic Minnesota Personality (MMPI)Teste de Apercepo Infantil CAT-AInventrio de Habilidades SociaisINVSupl. Teste Apercepo Infantil CAT-S
3529261817161513131312121211111111111088
46,738,734,724,022,721,320,017,317,317,316,016,016,014,714,714,714,714,713,310,710,7
Testes mais Utilizados F %
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Estudos de Psicologia I Campinas I 23(4) I 359-367 I outubro - dezembro 2006
publicao de um parecer favorvel para a utilizao
do teste em 2006.
Watkins, Campbell e McGregor (1990), Oliveira,
Noronha, Beraldo e Santarem (2003) e Oliveira et al. (2005)
observam que diversos psiclogos no apresentam uma
coerncia terica na escolha do instrumento, visto que
optam por utilizar testes cuja fundamentao difere da
abordagem adotada por esses profissionais. Assim, os
resultados evidenciaram que no houve coerncia entre
a abordagem terica dos estudantes e dos profissionais
e a utilizao de instrumentos psicolgicos, tendo em
vista que surpreendentemente os trs testes mais
utilizados pelos estudantes e psiclogos comportamen-
tais, nesta pesquisa, possuem fundamentao na teoria
tradicional da personalidade (Bender Infantil, Desenho
da Figura Humana e Teste Wartegg).
Meyer (2001) destaca que se pode utilizar testes
psicolgicos para compor o diagnstico comporta-
mental. Contudo no se deve esquecer o que professa
Keepe et al. (1980): os testes projetivos no devem ser
utilizados na composio diagnstica do psiclogo
comportamental, visto que possuem fundamentao
filosfica, metodolgica e terica divergentes da que
preconiza uma avaliao comportamental.
Talvez essa falta de coerncia entre a abordagem
adotada e a escolha do instrumento esteja relacionada
ao ensino dos instrumentos nas universidades e
formao falha nessa rea. H que ensinar aos estu-dantes as propriedades psicomtricas do teste e suafundamentao (Oakland, 1999) e no apenas suaaplicao e correo. Outro aspecto a ser destacado que uma parte dos profissionais atuava em consultriosparticulares e tambm em universidades, contudo nose havia graduado no mestrado ou doutorado na rea,
o que certamente poderia fazer a diferena na apren-
dizagem do estudante.
Consideraes Finais
Este estudo teve como objetivo verificar se h
diferena entre os instrumentos psicolgicos mais
conhecidos e utilizados por estudantes e profissionais
da clnica comportamental. Observa-se que nos ltimosanos a Psicologia no Brasil tem se focado nos estudos
relacionados aos instrumentos psicolgicos; emborano tenha sido objetivo abordar a questo da validadedos instrumentos pesquisados, parece estar claro quemuitas das discusses recentes em Psicologia passampor esse mbito. Nesse sentido, levantar as possveisdiferenas entre os instrumentos conhecidos e utili-zados por estudantes e profissionais j um passo paraestabelecer se os instrumentos que aparecem com maiscitaes de utilizao encontram-se com parecerfavorvel do CFP. As diretrizes elaboradas pelo ConselhoFederal de Psicologia (2005) em relao aos atributosque um teste bem construdo deve apresentar para quea avaliao seja vlida esto sendo divulgadas nos maisdiferentes mbitos profissionais.
Este trabalho pretendeu discutir a falta de com-
preenso por parte de estudantes e profissionais, muitas
vezes docentes, em relao aos instrumentos de medida
e abordagem adotada, no caso, a cognitivo-comporta-
mental. Tal falta de compreenso pode ser evidenciada
na alta freqncia de uso de instrumentos projetivos
entre os estudantes e psiclogos comportamentais. Tal
fato remete a duas consideraes importantes relaciona-das especialmente aos instrumentos e formaoprofissional.
No que diz respeito aos instrumentos, a avaliao
psicolgica brasileira encontra-se em um momento
especial provocado pelas resolues recentemente
promulgadas pelo Conselho Federal de Psicologia. A
medida tende a proporcionar aos psiclogos, em um
futuro prximo, uma possibilidade de avaliao mais
eficaz ao se considerar que os instrumentos utilizados
tero os requisitos mnimos exigidos quando da
construo de materiais cientficos, embora inicial-
mente possa ter provocado algum tipo de polmica.
Os ltimos dois anos tm sido altamente produtivos,
uma vez que pesquisadores e editores se viram
obrigados a adotar os critrios exigidos pelas resolues,
gerando um maior nmero de pesquisas na rea.
Em contrapartida, esse avano no auxiliar
nenhuma rea particular da Psicologia, como a
Psicologia Comportamental, ou a Psicanaltica, dentre
outras. Isso significa que a aparente incoerncia entre a
leitura de abordagem adotada e o uso de instrumentos
no se resolver com a melhora das caractersticastcnicas dos recursos de avaliao, mas sim com uma
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conduta pessoal de cada um em relao a suaabordagem.
Para que ocorra essa minimizao da incoern-cia, h que se melhorar a formao profissional. Essaquesto no parece ser novidade nos meios acadmicose cientficos. Eventos especficos tm sido realizadoscom o intuito de promover reflexes e avanos na pre-parao do psiclogo brasileiro. H crticas contundentesem relao aos cursos, s ementas, aos programas, metodologia de ensino ou ainda aos contedosministrados nas disciplinas de avaliao psicolgica dasuniversidades brasileiras. fato que ainda se prioriza asinformaes sobre a aplicao, a avaliao e a inter-pretao de instrumentos em detrimento da anlisecrtica ou de elementos pertinentes construo e aosparmetros psicomtricos.
O resultado desse processo equivocado, comoos dados que encontramos neste estudo, a formaode profissionais com conhecimento bastante restrito,que dominam apenas a aplicao e a correo depoucos instrumentos. Alguns outros fatores podem seraventados, como falta de disponibilidade de instru-mentos adequados, falta de produo de conheci-mentos relativos avaliao psicolgica comporta-mental, dentre outros tantos fatores que atingem no
somente o psiclogo comportamental como a cate-goria profissional como um todo. O psiclogo compor-
tamental no exceo diante desse quadro, j que
tambm vem comungando dessa formao ecompartilhando das dificuldades presentes na rea.
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Recebido em: 27/9/2005Verso final reapresentada em: 17/5/2006Aprovado em: 5/6/2006
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