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Analisando teoria e prática por meio de filmes Terapias Cognitivo-Comportamentais

Terapias Cognitivo-Comportamentais Analisando teoria e ... · grama de residência em Saúde Mental do Adulto pela Secretaria de Saúde do Distri-to Federal (SES-DF). Êdela Aparecida

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  • Analisando teoria e prtica por meio de filmes

    Terapias Cognitivo-Comportamentais

  • 315t Terapias cognitivo-comportamentais: analisando teoria e prtica por meio de filmes / organizado por Bruno Luiz Avelino Cardoso e Janana Bianca Barletta. Novo Hamburgo : Sinopsys, 2018.

    16x23 cm; 448p. ISBN 978-85-9501-080-2

    1. Psicologia cognitivo-comportamental Cinema Filmes. I. Cardoso, Bruno Luiz Avelino. II. Barletta, Janana Bianca. III. Ttulo.

    CDU 159.922:791.43

    Catalogao na publicao: Mnica Ballejo Canto CRB 10/1023

  • 2018

    Bruno Luiz Avelino CardosoJanana Bianca Barletta

    OrgAnizAdOres

    Analisando teoria e prtica por meio de filmes

    Terapias Cognitivo-Comportamentais

  • Sinopsys Editora e Sistemas Ltda., 2018Terapias Cognitivo-Comportamentais: analisando teoria e prtica por meio de filmesBruno Luiz Avelino Cardoso e Janana Bianca Barletta (Orgs.)

    Capa: Fabiana Franck Fotos Shutterstock: Human brain and its capabilities conceptual vision. Projetor Fer Gregory.

    Superviso editorial: Mnica Ballejo Canto

    Assistente editorial: Jade Arbo

    Editorao: Formato Artes Grficas

    Todos os direitos reservados Sinopsys EditoraFone: (51) 3066-3690E-mail: [email protected]: www.sinopsyseditora.com.br

  • Bruno Luiz Avelino Cardoso (org.). Psiclogo. Vice-delegado da Federa-o Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC) no Maranho, Doutorando em Psicologia (Comportamento social e processos cognitivos) pela Universi-dade Federal de So Carlos (UFSCar). Mestre em Psicologia (Processos cl-nicos e sade) pela Universidade Federal do Maranho (UFMA), com est-gio de pesquisa sobre violncia e habilidades sociais na UFSCar. Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental pelo Instituto WP (IWP/FACCAT). Diretor acadmico e scio-fundador do Instituto de Teoria e Pesquisa em Psicoterapia Cognitivo-Comportamental (ITPC). Membro do Grupo de Pesquisa Relaes Interpessoais e Habilidades Sociais (RIHS, UFSCar) e do Grupo de Estudos em Preveno e Promoo da Sade no Ciclo de Vida (GEPPSVida, Universidade de Braslia). Professor convidado de cursos de Especializao em Terapias Cognitivo-Comportamentais.

    Janana Bianca Barletta (org.). Psicloga. Doutora em Cincias da Sade pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), Mestre em Psicologia pela Uni-versidade de Braslia (UnB). Psicoterapeuta Cognitivo-Comportamental com certificao da Federao Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC). Es-pecialista em Psicologia Clnica da Sade pela UnB e em Psicoterapia Cog-nitivo-Comportamental pela Faculdade de Cincias Mdicas de Minas Ge-rais (FCMMG-CESSR). Possui Ttulo de Especialista em Psicologia Clnica

    Autores

  • pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP). Foi delegada da FBTC no DF entre os anos de 2015 e 2018. Participa do Grupo de Trabalho (GT) Rela-es Interpessoais e Competncia Social da Associao Nacional de Pesquisa e Ps-graduao em Psicologia (ANPEPP). pesquisadora colaboradora do Grupo de Estudos em Preveno e Promoo de Sade no Ciclo de Vida (GEPPSVida-UnB) e do Laboratrio de Pesquisa e Interveno Cogni-tivo-Comportamental (LaPICC). Supervisora da prtica clnica em TCC e de Psicologia da Sade.

    Adriana Munhoz Carneiro. Psicloga e Pesquisadora. Mestre em Psicologia pela Universidade So Francisco (USF), Especialista em Terapia Cognitivo-Comporta-mental pelo Ambulatrio de Ansiedade da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo (AMBAM-FMUSP) e em Neuropsicologia pelo Instituto de Neurolo-gia da Universidade de So Paulo. Doutoranda em Psiquiatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo (IPq-FMUSP). Membro do Programa de transtornos afetivos ProGruda IPq/HCFMUSP.

    Aline Henriques Reis. Possui graduao em Psicologia pela Universidade Federal de Uberlndia (UFU), Especializao em Psicologia clnica na abordagem Cogniti-vo-Comportamental pela Universidade Federal de Uberlndia (UFU), Mestrado em Psicologia pela Universidade Federal de Uberlndia (UFU). Formao em Terapia do Esquema pela Wainer e Piccoloto Centro de Psicoterapia (IWP) e Doutorado em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Tesourei-ra da Federao Brasileira de Terapias Cognitivo-Comportamentais na gesto 2011-2013. Terapeuta Cognitiva certificada pela Federao Brasileira de Terapias Cogniti-vas. Atualmente professora adjunta do curso de Psicologia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

    Alissandra Grego DAndrea. Psicloga clnica e organizacional, delegada da Fede-rao Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC) no Maranho. Especialista em Psi-cologia Organizacional pela Universidade de Salvador (UNIFACS), Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental pelo Centro de Terapia Cognitiva VEDA (CTC-VEDA). Scia fundadora da empresa Psiorg atendimento clnico & con-sultoria RH, e do Instituto de Teoria e Pesquisa em Psicoterapia Cognitivo-Com-portamental (ITPC).

    Ana Karina Curado Rangel de-Farias. Psicloga Clnica. Possui Graduao em Psicologia e Mestrado em Psicologia - Processos Comportamentais pela Universida-de de Braslia (UnB). Assessora Tcnica na Gerncia de Psicologia (GePsi), na Secre-taria de Estado de Sade do Distrito Federal. Atua principalmente nos temas Anli-se Comportamental Clnica e Psicologia da Sade. organizadora do livro Anlise

    vi Autores

  • Comportamental Clnica: Aspectos tericos e estudos de caso (Artmed, 2010), e co-or-ganizadora de Skinner vai ao cinema (ESETec, 2007, reeditado em 2014, pelo Insti-tuto Walden4), Skinner vai ao cinema: Volume 2 (Instituto Walden4, 2014); Skinner vai ao cinema: Volume 3 (Instituto Walden4, 2016), e Teoria e formulao de casos em Anlise Comportamental Clnica (Artmed, 2018).

    Andr Luiz Moreno. Psiclogo pela Universidade de So Paulo (USP-RP). Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Especia-lista em Terapia Cognitivo-Comportamental pelo Instituto WP (IWP), Doutoran-do em Sade Mental pela Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto - Universidade de So Paulo (FMRP-USP). Professor de cursos de especializao em Terapia Cog-nitivo-Comportamental.

    Brbara Maria Barbosa Silva. Psicloga. Mestre em Psicologia na rea de Desen-volvimento de Carreira pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Especialista em Psicoterapia Cognitivo Comportamental pelo Instituto Wainer e Piccoloto (WP/FACCAT). Desenvolveu atividades de coordenao de curso de gra-duao em Psicologia e do Ncleo de Orientao e Desenvolvimento de Carreira (NODeC). Supervisora de estgio e orientadora de trabalho de concluso de curso de graduao em Gesto de Pessosas e Psicologia Clnica na abordagem Cognitivo-Comportamental. Atualmente, desenvolve atividades como professora titular no curso de graduao em Psicologia da Faculdade SOBRESP. professora convidada no Instituto Cognitivo.

    Carlos Eduardo Portela. Graduado em Psicologia pela Universidade de Braslia (UnB) e ps-graduado em Sade Mental pela Fiocruz. Especialista em Terapia Cog-nitivo-Comportamental, Mestre em Psicologia Clnica pela UnB. Professor, Coor-denador pedaggico e Supervisor Clnico em Terapia Cognitivo-Comportamental pelo Centro de Terapia Cognitiva VEDA (CTC VEDA). Tutor e preceptor do pro-grama de residncia em Sade Mental do Adulto pela Secretaria de Sade do Distri-to Federal (SES-DF).

    dela Aparecida Nicoletti. Psicloga. Especialista em Terapia Cognitiva Compor-tamental e Mentora Tutora de Proficincia em Terapia Cognitiva. Tem Treinamento em Ensino e Superviso pelo Beck Institute, assim como Certificao em TEPT pelo mesmo Instituto. Diretora do Centro de Terapia Cognitiva VEDA. Professora honorria da equipe formadora da Equipe Formadora do The Nora Cavaco Institu-te de Portugal. Terapeuta Cogntiva certificada pela Federao Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC) e DGERT. Tem Formao em Terapia Racional Emotivo-Com-portamental pelo Albert Ellis Institute e Formao em Dialectical Behavior Therapy pelo Btech/Linehan Institute.

    Elane Barros Damasceno. Psicloga. Graduada pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Scia fundadora e diretora do Ncleo de Terapia Cognitivo-Compor-

    Autores vii

  • tamental (NUTCC) no Cear. Associada pela Federao Brasileira de Terapias Cog-nitivas (FBTC). Especialista em Neuropsicologia pelo Centro Universitrio Christus (UNICHRISTUS), Especialista em formao em Terapia Cognitivo-Comporta-mental pelo Instituto WP (IWP/FACCAT).

    Fillipe Rodrigues Santos Pereira. Graduando em Psicologia pela Universidade Federal do Maranho (UFMA). Monitor do Instituto de Teoria e Pesquisa em Psi-coterapia Cognitivo-Comportamental (ITPC), colaborador da pesquisa Invent-rio de habilidades de enfrentamento antecipatrio para a abstinncia de lcool e outras drogas (IDHEA-AD): estudos psicomtricos adicionais e elaborao de manual para aplicao, apurao e interpretao com o plano de trabalho Anli-se confirmatria de estrutura interna. Participante da Liga Acadmica de Psiquia-tria e Sade Mental (LAMP), membro do Grupo de Estudos em Terapia Cogniti-vo-Comportamental (GETCC), do Grupo de Estudos e Pesquisas em Psicometria e Avaliao Psicolgica (GEPPAP) e do Grupo de Estudos em Neuropsicologia (GENp), todos da UFMA.

    Gabrielle de Oliveira Freitas. Acadmica do curso de Psicologia da Universidade Federal do Maranho (UFMA). Membro do grupo de estudos em Terapia Cogniti-vo-Comportamental da UFMA.

    Heitor Pontes Hirata. Psiclogo com licenciatura plena pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e com Formao em Terapia Cognitivo-Comportamental. Espe-cialista em Psicologia Clnica (IPCS/CFP), Mestre e Doutor em Psicologia pelo Progra-ma de Ps-graduao em Psicologia do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IP/UFRJ). Terapeuta Cognitivo certificado pela Federao Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC). Membro da diretoria da Associao de Terapias Cogni-tivas do Estado do Rio de Janeiro (ATC-Rio), gestes 2014-2016 e 2016-2019. Primei-ro autor do livro infantil Preocupanda e Marrumina (Editora Sinopsys).

    Igor Lins Lemos. Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental avanada pela Universidade de Pernambuco (UPE). Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Doutor em Neuropsiquiatria e Cincias do Com-portamento (UFPE). Psicoterapeuta cognitivo-comportamental certificado pela Fe-derao Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC), palestrante, professor e pesquisa-dor na rea das dependncias tecnolgicas.

    Jssica de Assis Silva. Doutoranda em Psicologia Clnica pela Universidade de So Paulo (USP). Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de So Carlos (UFS-Car), Especialista em Terapia Comportamental e Cognitiva pela USP, Graduada em Psicologia pela Universidade Federal do Par (UFPA).

    Jssica Gomes Cordeiro. Psicloga Clnica. Formao Bsica em Anlise Compor-tamental Clnica pelo Instituto Brasiliense de Anlise do Comportamento (IBAC).

    viii Autores

  • Graduao em Psicologia pelo Centro Universitrio de Braslia (UniCEUB). For-mao Avanada em Anlise Comportamental Clnica, pelo IBAC. co-autora do captulo Mentiras e Seguimento de Regras em A vez da Minha Vida do livro Skin-ner vai ao cinema: Volume 3 (2016, Instituto Walden4).

    Jlia Gonalves. Psicloga. Doutoranda em Psicologia na rea de Psicologia das Organizaes e do Trabalho, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) com perodo sanduche no Departamento de Psicologia Social da Universidade Au-tnoma de Barcelona (UAB/Espanha). Mestre em Psicologia com nfase em Psico-logia da sade pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Especialista em Gesto de Pessoas e Marketing pela Universidade Franciscana (UFN), Especialista em Psicoterapia Cognitivo Comportamental pelo Instituto Wainer e Piccoloto (IWP/FACCAT). Experincia como consultora em Gesto de pessoas e como do-cente de cursos de graduao. Supervisora de estgio e orientadora de trabalho de concluso de curso. Professora convidada em cursos de Especializao. Atualmente docente da graduao na Faculdade Meridional IMED.

    Julia Luiza Schfer. Psicloga formada pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Mestre em Psicologia com nfase em Cognio Humana pela Ponti-fcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Possui treinamento em Terapia Comportamental Dialtica (DBT) pelo Behavioral Tech/EUA e Linehan Institute/EUA. Atua como psicloga clnica, colaboradora do Ncleo de Estudos e Pesquisa em Trauma e Estresse (NEPTE/PUCRS) e estudante de especializao em Terapia Cognitivo-Comportamental (PUCRS).

    Juliana Isola Vilar. Jornalista formada pela Universidade Catlica de Pernambuco (UNICAP). Especializao em andamento na rea de Comunicao e Marketing em Mdias Digitais pela Faculdade Estcio de S/FIR. Atua na rea corporativa, com foco em presena digital, produo e monitoramento de mdias digitais.

    Leonardo Martins Barbosa. Possui Graduao, Mestrado em Terapia de Aceita-o e Compromisso, mindfulness e valores; mecanismos de mudana do comporta-mento - e Doutorado na rea de preparao para a aposentadoria; envelhecimento saudvel; preveno e promoo em sade mental em Psicologia pela Universida-de de Braslia (UnB). Atende em consultrio como Psiclogo Clnico Cognitivo-Comportamental e em uma clnica de emagrecimento como facilitador de grupos. Autor de quatro captulos de livro e quatro artigos cientficos - dois nacionais e dois internacionais -, pesquisa preditores de ajustamento aposentadoria e desenvolveu programa de preparao aposentadoria focado em mudana de comportamento baseada em valores. Membro da Association for Contextual Behavioral Science (ACBS), Grupo de Estudos em Preveno e Promoo da Sade Mental no Ciclo da Vida (GEPPSVida) e associado-fundador da Associao Brasileira de Pesquisa em Preveno e Promoo da Sade (BRAPEP).

    Autores ix

  • Lvia Lira de Lima Guerra. Psicloga. Doutoranda e Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de So Carlos (UFSCar). Graduada e licenciada em Psicologia pela Universidade Estadual da Paraba (UEPB). Atua como pesquisadora na rea de Psicologia do Desenvolvimento, Relaes Interpessoais, Habilidades Sociais e copa-rentalidade. Tem experincia clnica na rea de Psicologia Cognitivo-Comporta-mental, com nfase em Psicologia Infantil.

    Mariana Gomes Ferreira Petersen. Possui graduao em Psicologia pela Pontifcia Uni-versidade Catlica do Rio Grande do Sul (PUCRS). especialista em Terapia Cogniti-vo-Comportamental pelo Centro de Psicoterapia Cognitivo-Comportamental Wainer e Piccoloto, com treinamento em Terapia Cognitiva pelo Beck Institute (Philadelphia, EUA). Mestre em Psicologia Clnica pela PUCRS. Atualmente trabalha como psicloga clnica em consultrio particular e pesquisadora colaboradora no Grupo de Pesquisa Violncia, Vulnerabilidade e Intervenes Clnicas (GPeVVIC) da PUCRS. coordena-dora do programa de emagrecimento Treinamento Vida Magra. Tem experincia na rea de Psicologia Clnica, com nfase em Terapia Cognitivo-Comportamental.

    Marina Pante. Psicloga graduada pela Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental pelo Centro de Psicoterapia Cognitivo-Comportamental Wainer e Piccoloto, com treina-mento em Terapia Cognitiva pelo Beck Institute (Pennsylvania, EUA). Mestre em Cognio Humana (PUCRS) e Doutoranda em Psicologia no Programa de Ps-Gra-duao em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS Bol-sista CAPES), integrando o Laboratrio de Psicologia Experimental, Neurocincias e Comportamento (LPNeC). Atua como professora convidada dos cursos de Especiali-zao e Formao do Cognitivo IWP, como psicloga clnica em consultrio particu-lar e como psicloga no Centro de Recuperao e Estudo da Obesidade (CREEO).

    Nahara Rodrigues Laterza Lopes. Psicloga. Mestre e Doutora em Psicologia pela Universidade Federal de So Carlos (UFSCar). Atuou em diferentes pesquisas na rea de violncia intrafamiliar, especialmente maus-tratos infantis e Sndrome do Beb Sacudido. Atualmente faz especializao em Terapia Comportamental no Ins-tituto de Terapia por Contingncias de Reforamento (ITCR-Campinas) e psic-loga da Prefeitura Municipal de Valinhos, atuando com crianas e adolescentes.

    Patrcia Pasquali Godoy. Graduada em Psicologia pela Pontifcia Universidade Ca-tlica do Rio Grande do Sul (PUCRS). especialista em Terapia Cognitivo-Com-portamental pelo Centro de Psicoterapia Cognitivo-Comportamental Wainer e Pic-coloto. Tem Formao no Curso de Terapia do Esquema pela Wainer Psicologia Cognitiva credenciado junto International Society of Schema Therapy (ISST) e ao New Jersey/ New York Institute of Schema Therapy - USA. Atualmente trabalha como psicloga clnica em consultrio particular, e coordenadora do treinamento em psicologia do emagrecimento Vida Magra.

    x Autores

  • Samily Natania Alves Meireles Aquino. Psicloga. Membro da Federao Brasilei-ra de Terapias Cognitivas (FBTC). Mestranda em Psicologia (Avaliao e Clnica Psicolgica) pela Universidade Federal do Maranho (UFMA). Especialista em Psi-coterapia Cognitivo-Comportamental pelo Instituto WP (IWP/FACCAT). Scia fundadora do Instituto de Teoria e Pesquisa em Psicoterapia Cognitivo-Comporta-mental (ITPC).

    Tamires Pereira Macdo. Psicloga Clnica. Graduada pela Universidade de Forta-leza (UNIFOR). Scia fundadora e diretora do Ncleo de Terapia Cognitivo-Com-portamental (NUTCC) no Cear, associada pela Federao Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC). Especialista em Avaliao Psicolgica pelo Centro Universitrio Christus (UNICHRISTUS), Especialista em formao em Terapia Cognitivo-Com-portamental pelo Instituto WP (IWP/FACCAT).

    Tamires Pimentel Souza. Psicloga. Graduada pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), Mestranda em Psicologia com nfase em Psicologia Clni-ca pela UNISINOS, possui Formao em Terapias Comportamentais Contextuais pelo Instituto de Terapia Cognitivo-Comportamental (InTCC) e treinamento em Terapia Comportamental Dialtica (DBT) pelo Behavioral Tech/EUA e Linehan Ins-titute/EUA. Scia fundadora do Instituto do Comportamento (So Leopoldo/RS), onde coordena o Programa Caf com DBT. Atua como psicloga clnica nas Tera-pias Comportamentais Contextuais e supervisora clnica em DBT. membro do Laboratrio de Estudos em Psicoterapia e Psicopatologia (LAEPSI/UNISINOS).

    Yasmin Costa Barros Ribeiro. Acadmica do curso de Psicologia da Universidade Federal do Maranho (UFMA). Membro do grupo de estudos em Terapia Cog-nitivo-Comportamental da UFMA.

    Autores xi

  • Prefcio ............................................................................................ 17dela Aparecida Nicoletti

    Apresentao ................................................................................... 21Bruno Luiz Avelino Cardoso e Janana Bianca Barletta

    Parte ITerapias Cognitivo-Comportamentais de Terceira Gerao

    1 TerapiadeAceitaoeCompromissonofilmeDivertida Mente .. 27 Leonardo Martins Barbosa

    2 Voltando a Viver:avaliaoeintervenoa partirdaTerapiaCognitivaFocadaemEsquemas ...................... 49 Aline Henriques Reis

    3 Uma Mente Brilhante:contribuiesdaTerapiaMetacognitiva paracompreensoetratamentodaesquizofrenia .................... 81 Bruno Luiz Avelino Cardoso e Heitor Pontes Hirata

    4 Malvolavaiterapia:aceitao,dialticae mudananotratamentoemDBT ............................................... 103 Tamires Pimentel Souza e Julia Luiza Schfer

    Sumrio

  • 5 Afunoteraputicaderelaesdeintimidade em Um Senhor Estagirio ........................................................... 131 Jssica Gomes Cordeiro e Ana Karina C. R. de-Farias

    Parte IIPsicopatologia e Terapia Cognitivo-Comportamental

    6 As Faces de Helen:adepressosobaperspectiva daTerapiaCognitivo-Comportamental ...................................... 167 Bruno Luiz Avelino Cardoso, Elane Barros Damasceno, Tamires Pereira Macdo e Andr Luiz Moreno

    7 Mr. Jones:aplicabilidadedaTerapia Cognitivo-ComportamentalnoTranstornoAfetivoBipolar ........ 191 Adriana Munhoz Carneiro

    8 Maus Hbitos:aPsicoterapiaCognitivo-Comportamental paraosTranstornosAlimentares ................................................ 213 Marina Pante, Patrcia Pasquali Godoy e Mariana Gomes Ferreira Petersen

    9 O Aviador:anliseeintervenocognitivo-comportamental parapacientescomTranstornoObsessivo-Compulsivo ............. 237 Samily Natania Alves Meireles Aquino, Bruno Luiz Avelino Cardoso e Alissandra Grego DAndrea

    10 Como Estrelas na Terra:definio,avaliaoepossibilidades deintervenocognitivo-comportamentalparaadislexia ........ 259 Lvia Lira de Lima Guerra

    11 Primeiro socorro e interveno em crise na preveno dosuicdio:umaanlisedofilmePerfume de Mulher ............... 283 Carlos Eduardo Portela

    12 It: A Coisa:aorigemdomedosoboenfoque cognitivo-comportamental ......................................................... 303 Bruno Luiz Avelino Cardoso, Yasmin Costa Barros Ribeiro, Fillipe Rodrigues Santos Pereira, Gabrielle de Oliveira Freitas

    xiv Sumrio

  • Parte IIIIntervenes diversas sob o enfoque das

    Terapias Cognitivo-Comportamentais

    13 Black Mirroreasdependnciastecnolgicas: asmltiplastelashipnticas ...................................................... 329 Igor Lins Lemos e Juliana Isola Vilar

    14ATerapiaCognitivo-ComportamentaleaPsicologiada Sade:reflexesdaatuaoemcontextohospitalar apartirdofilmeUm Golpe do Destino ....................................... 351 Janana Bianca Barletta

    15 Procura da Felicidade:aresilinciaeootimismo nocontextodotrabalho ............................................................. 379 Jlia Gonalves e Brbara Maria Barbosa Silva

    16 Foi Apenas um Sonho:anlise,conceitualizaoe treinamentodehabilidadessociaisconjugais ............................ 403 Bruno Luiz Avelino Cardoso

    17 Intervenescognitivo-comportamentaiscomcrianas eadolescentesvtimasdeviolnciaintrafamiliarluz dofilmePreciosa: Uma Histria de Esperana ........................... 427 Nahara Rodrigues Laterza Lopes e Jssica de Assis Silva

    Sumrio xv

  • Em primeiro lugar, gostaria de expressar meu agradecimento aos colegas Janana Barletta e Bruno Cardoso pelo honroso convite para prefaciar esta obra, que sem dvida extremamente relevante no mbito da TCC, pois traz aos leitores no s uma atualizao das principais abordagens, como uma explanao terica, prtica e agradvel. Tenho contato com diversos autores deste livro h bas-tante tempo, podendo atestar as qualidades pessoais e profissionais dos mesmos, alm da abnegao, que se faz necessria para produ-zir um trabalho dessa envergadura no Brasil.

    Um time de profissionais extremamente habilidosos e com-petentes foi reunido, utilizando-se de uma abordagem bastante in-teressante (a analogia a situaes exibidas em filmes), para tornar um assunto, que de outra maneira poderia parecer rido e sobre-maneira tcnico, agradvel e palatvel para toda a comunidade psi-colgica, e ouso dizer, at para profissionais de outras reas inte-ressados em informar-se sobre as terapias cognitivas. Ao destrin-char teorias diversas de maneira clara e associ-las a situaes coti-dianas e, especialmente, ilustr-las com trechos de conhecidos fil-

    Prefcio

  • 18 Prefcio

    mes, apela no s para nosso lado profissional, como para as emo-es subjacentes que essas obras nos proporcionaram, criando um feliz vnculo que aumenta nossa receptividade e satisfao com a leitura. As dissertaes tcnicas sobre os trabalhos desenvolvidos nas teorias mais recentes da TCC so impecveis, demonstrando o pleno domnio dos autores sobre os temas discorridos, que so ri-camente ilustrados, seja pelos exemplos de filmes, seja pelas situa-es clnicas do dia a dia teraputico, como j bem experenciados por todos ns. A estruturao dos captulos, evidenciando temas e filmes correlatos, bastante didtica e atraente, convidando-nos leitura e reflexo.

    No obstante no seja uma grande cinfila (por falta de tem-po e disposio), concordo plenamene com a premissa de que, re-tratando frequentemente situaes de nossa vida cotidiana, seja com histrias e imagens reais ou metafricas, o cinema reveste-se, perfeio, de caractersticas que o credenciam a ilustrar princpios basilares de nossa profisso, pelo talento de diretores, atores e rotei-ristas que desenvolvem dramas, dilemas, iluses e sonhos que tor-nam inteligveis e transmitem as ideias que, de outra forma, soa-riam demasiado hermticas e acadmicas. Sou de opinio que, como instrutores e disseminadores das Terapias Cognitivas no pas, todos nossos esforos devem ser envidados para tornar essa teoria conhecida, compreendida e multiplicada em nossas plagas, assim como temos o compromisso de manter a atualizao cientfica para nossos colegas de todo o pas.

    Como corresponsvel pelo CTC Veda, cuja misso imple-mentar a formao e especializao de terapeutas cognitivos, s posso aplaudir entusiasticamente iniciativas desse quilate, pois sa-bemos co mo nosso pas carente de cincia e tecnologia de quali-dade, dependendo, frequentemente, de iniciativas individuais ou de grupos dedicados, para que no percamos o nvel de excelncia

  • Terapias Cognitivo-Comportamentais 19

    que se faz necessrio para o exerccio tico e competente de nossa profisso.

    Parabenizo todos os profissionais envolvivos na produo des-sa obra, desde j considerando-a uma expressiva contribuio para o entendimento e divulgao das tcnicas das TCs, e desejando que tenha grande sucesso junto ao pblico brasileiro.

    dela Aparecida Nicoletti

  • As terapias cognitivo-comportamentais (TCCs) fazem parte de um conjunto de sistemas psicoterpicos que tem contribudo signifi-cativamente para a prtica profissional. Diversos estudos que ampliam o modelo cognitivo desenvolvido por Aaron Beck tm sido desenvol-vidos. Esse fator resulta na abrangncia e na complexidade das teorias cognitivas para responder as diversas demandas cotidianas.

    Como um sistema de psicoterapia estruturado e baseado em evidncias, as TCCs alcanaram notoriedade por meio das suas diver-sas publicaes sobre diferentes temticas, sendo hoje a proposta tera-putica mais pesquisada no mundo. As TCCs apresentam como fun-damento central a compreenso da influncia da cognio sobre os as-pectos emocionais, comportamentais e fisiolgicos do indivduo, que, por sua vez, fortalecem a forma de interpretar as experincias, respal-dando a interrelao entre todas essas dimenses do funcionamento humano. Assim, compreendemos que o sofrimento ou bem-estar hu-mano est diretamente vinculado forma como processamos as infor-maes que esto contidas em nosso ambiente, forma como regula-mos nossa emoo, forma como expressamos e nos comportamos.

    Apresentao

  • 22 Apresentao

    Do mesmo modo que interpretamos um estmulo e podemos produzir diversos significados, os modelos teraputicos cognitivo-comportamentais apresentam uma variedade terica considervel. Destacam-se, nesta obra, as Terapias de Terceira Gerao e as suas contribuies para a compreenso do funcionamento humano. Esses modelos, alm de favorecerem uma viso holstica sobre o bem-estar e sofrimento, utilizam-se da aplicao de tcnicas e da consolidao do vnculo teraputico, a fim de fomentar o autoconhecimento e flexibi-lidade psicolgica/cognitiva mediante os desafios contemporneos.

    Essas premissas podem ser facilmente observadas por meio dos recursos cinematogrficos, que em diversos casos se aproximam da re-alidade. Cotidianamente, notamos em algumas situaes a identifica-o das pessoas com os personagens de tal filme ou srie. Esse tipo de semelhana coopera para o processo de psicoeducao tanto para os clientes que esto em terapia, quanto para os estudantes e profissio-nais da rea de sade mental que pretendem compreender os pressu-postos tericos e suas interfaces prticas das abordagens cognitivo- -comportamentais.

    Considerando a anlise de filmes uma ferramenta didtica para o ensino e compreenso da teoria e formulao de casos, notamos a aplicabilidade das TCCs nos mais diversos gneros cinematogrficos. Nesta obra sero destacadas algumas dessas contribuies para o apro-fundamento terico e atuao dos profissionais, a partir da anlise de filmes. Para tanto, diversos autores puderam colaborar com esta pro-posta, tornando este livro uma ferramenta de qualidade, pluralidade, conhecimento e aplicao prtica, recheado de entretenimento e di-verso dos filmes escolhidos. Assim, concretiza-se a proposta de refle-tir sobre as TCCs, de maneira significativa e leve ao mesmo tempo.

    Este livro foi organizado em trs partes e contm 17 captulos, que tm como elo as perspectivas cognitivo-comportamentais. Na pri-meira parte sero discutidos, em cinco captulos, os principais concei-

  • Terapias Cognitivo-Comportamentais 23

    tos das terapias de terceira gerao e os possveis encaminhamentos prticos para atuao profissional sob esses enfoques. Em segundo momento, com sete captulos, sero apontadas as compreenses do te-rapeuta e as estratgias de interveno cognitivo-comportamentais para algumas psicopatologias recorrentes ao setting de trabalho do te-rapeuta cognitivo-comportamental. Por fim, na terceira e ltima par-te, diversos tpicos especiais e aspectos da atualidade sero facilitados pela anlise dos contedos cinematogrficos por meio do olhar das TCCs, em cinco captulos.

    Desejamos a voc, leitor, que este livro possa ser de utilidade na sua prtica, no seu estudo e/ou no favorecimento da produo de no-vos conhecimentos. Desejamos ainda, que a leitura desta obra possa proporcionar um momento de lazer, prazer e satisfao. Por ltimo, gostaramos de agradecer aos colaboradores por acreditarem no nosso projeto e tornarem possvel a concretizao deste livro.

    Bruno Luiz Avelino CardosoJanana Bianca Barletta

  • Parte ITerapias Cognitivo-

    -Comportamentais de Terceira Gerao

    Discusso dos conceitos das Terapias Cognitivo-Comportamentais de

    Terceira Gerao e encaminhamentos para a atuao sob esses enfoques

  • A Tristeza vocs j viram: ela, ela... Eu no entendo bem o que ela faz. E eu j olhei e no posso mandar ela embora.

    (Alegria)

    Divertida Mente (Inside Out,2015)umfilmequemostraahistriadeumagarotaamericana,Riley,esuaagitadavidapsicolgica.Comotodasaspessoas,elatemcin-coemoesbsicas:Alegria,Tristeza,Nojo,MedoeRaiva.Emconjunto,elastraba-lham organizando as memrias e influenciando comportamentos. Quando Rileycompleta11anosdeidade,suafamliasemudadeMinnesotaparaSoFrancisco,ondeseupai conseguiuumempregonovo.Noentanto,avidananovacidadesemostramuitoabaixodasexpectativasdeRiley.Comisso,aAlegria,queatentoeraaemoodominante,comeaaenfrentarmuitosdesafiosparacontrolarasou-trasemoes.Emumadisputapelainflunciadasmemriasdelongoprazo,AlegriaeTristezaacabamseperdendonavastidodamente.Enquantoprocuramocami-nhodevolta,osoutrossentimentosassumemocomandodavidaemocional,masascoisassaemdocontroleeRileyenfrentaproblemascomospaisecolegas.De-poisdemuitasaventuras,quandoRileyestavaprestesafugirparaMinnesota,Ale-griaeTristezaconseguemretornarsededecomandodasemoeseRileyvoltaparacasa.Maismadura,noentanto,agoraelatemumavidapsicolgicamaiscom-plexa,capazdeformarmemriasqueabrangemdiferentesemoes.

    1Terapia de Aceitao e Compromisso

    no filme Divertida MenteLeonardo Martins Barbosa

  • 28 Terapia de Aceitao e Compromisso no filme Divertida Mente

    A Terapia de Aceitao e Compromisso (ACT; Barbosa & Mur-ta, 2014; Hayes, Strosahl, & Wilson, 1999, 2012) uma abordagem baseada em princpios comportamentais bsicos (Hayes & Wilson, 1994) e em uma teoria comportamental da cognio e da linguagem (Hayes, Barnes-Holmes, & Roche, 2001).

    No entanto, essa caracterizao pode ser mais complexa. Ana-lisando textos conceituais sobre o assunto, encontra-se que a ACT pertence terceira onda das terapias comportamentais (Hayes, 2004). Tambm pode ser considerada integrante da famlia das tera-pias cognitivo-comportamentais (Hayes et al., 1999), das aborda-gens contextualistas (Hayes, Luoma, Bond, Masuda, & Lillis, 2006) ou mesmo uma terapia cognitivo-comportamental contextualista (Hayes, Villatte, Levin, & Hildebrandt, 2011). E ainda possvel destacar sua sobreposio com tradies humanistas e holsticas (Hofmann, 2008). Descries to distintas podem confundir e difi-cultar a compreenso sobre o que exatamente trata a ACT.

    Parece incoerente integrar todos esses atributos em uma nica abordagem. Um princpio fundamental, no entanto, d sentido a essa diversidade: trata-se de uma abordagem contextualista, que identifica o sentido de uma situao no seu contexto e na sua fun-o, e no na sua aparncia. Por exemplo, imagine que um cliente questione sobre o que melhor, fazer terapia ou usar medicao psi-cotrpica. Antes de responder, uma terapeuta contextualista ques-tiona qual a demanda e quais so os objetivos esperados, pois essas informaes podem alterar a resposta. No se trata da coisa em si, mas do seu propsito (Carr, 1993). Isso explica como a ACT se mantm coerente enquanto integra elementos derivados de aborda-gens to distintas como psicanlise, gestalt, abordagem centrada na pessoa e existencialismo (Hayes et al., 2004). Preservando-se suas caractersticas bsicas, virtualmente qualquer tcnica de mudana de comportamento aceitvel e poderia ser caracterizada como ACT (Hayes et al., 1999, p. 258).

  • Terapias Cognitivo-Comportamentais 29

    A ACT se baseia em um modelo denominado flexibilidade psicolgica (Hayes et al., 2006), utilizado tanto para explicar o fun-cionamento humano quanto para orientar intervenes clnicas. Esse modelo representa a habilidade de conscientemente guiar o prprio comportamento em funo dos valores pessoais. A flexibi-lidade psicolgica resulta da interao entre trs estilos de habilida-des: aberto, presente e engajado. Cada estilo abrange dois compo-nentes que devem ser entendidos no como estados definitivos, mas como contnuos que variam entre um polo saudvel e outro psicopatolgico.

    O estilo aberto representa a habilidade de lidar com os eventos que a vida apresenta. Esse estilo envolve os componentes aceitao e desfuso cognitiva (Hayes et al., 1999). Aceitao implica lidar com a vida da forma como ela se apresenta, incluindo situaes agradveis e desagradveis. No extremo oposto est a evitao, tendncia a mini-mizar ou eliminar o sofrimento por meio de tentativas de modificar pensamentos, sentimentos ou sensaes fsicas, assim como de evitar situaes que possam despert-los. Imagine, por exemplo, que voc considera um cliente especialmente difcil e costuma terminar a sesso sentindo-se exausta. Ao pensar nesse cliente, voc se sente mal e tem vontade de cancelar a prxima sesso. Nesse contexto, experimentar o desconforto e manter a consulta um exemplo de aceitao, enquan-to cancelar um exemplo de evitao.

    Desfuso cognitiva a habilidade de experimentar pensamentos e sentimentos livremente, sem se apegar ao seu contedo (Hayes et al., 1999). O oposto da desfuso a fuso cognitiva, processo em que a pessoa interpreta seus eventos internos de forma literal e passa a tomar decises ou a agir a partir deles. Considere um cliente que se queixa de insegurana no namoro. Ele constantemente checa o celular espera de mensagens da namorada; se ela no fez contato, ele se sen-te abandonado. Embora seja dolorosa, a sensao de abandono leg-

  • 30 Terapia de Aceitao e Compromisso no filme Divertida Mente

    tima como qualquer evento interno e experiment-la de modo de-sapegado um exemplo de desfuso; por outro lado, escrever para a namorada questionando seu amor um exemplo de fuso.

    O estilo presente representa a ateno consciente sobre o que acontece no momento presente em relao ao mundo e a si. Esse esti-lo envolve os componentes ateno plena e self observador. Aten-o plena a habilidade de se concentrar conscientemente e sem jul-gamentos (Kabat-Zinn, 2003). Mesmo com as distraes provocadas pela constante estimulao externa (como a interao social) e interna (como pensamentos, sentimentos e sensaes fsicas), possvel reto-mar a ateno no presente. No outro extremo est a ateno rgida no passado ou no futuro: independente do que est acontecendo, o foco desviado para eventos que j aconteceram ou que ainda acontecero. Imagine, por exemplo, uma cliente que est muito ansiosa com a apresentao que far no trabalho. Reconhecer a preocupao, voltar a ateno ao presente e se dedicar preparao da atividade um exemplo de ateno plena; por outro lado, permanecer engajada em se arrepender de ter assumido essa responsabilidade, questionar a prpria capacidade ou visualizar o fracasso na apresentao um exemplo de ateno rgida no passado ou no futuro.

    Self observador uma forma de descrever o prprio self a partir do estado em que a pessoa se encontra (Hayes et al., 1999). As obser-vaes so momentneas, podendo divergir de caractersticas percebi-das no passado e abrindo espao para que mudanas ocorram no fu-turo. Sem o estabelecimento de caractersticas definitivas, a pessoa livre para experimentar pensamentos, sentimentos e sensaes varia-dos sem que isso represente uma ameaa ao prprio eu. Essa concep-o diverge da perspectiva tradicional de self como conceito: um con-junto de traos, caractersticas que definem uma pessoa de forma mais ou menos permanente ao longo do tempo. O apego a essa estabilida-de pode ser prejudicial quando a pessoa apresenta caractersticas com

  • Terapias Cognitivo-Comportamentais 31

    as quais no se identifica. Por exemplo, imagine um cliente que est com dificuldade para manter a ereo durante o sexo. Mesmo antes de comear, ele pensa sobre o desempenho na relao sexual e se sente inseguro e envergonhado. Nesse contexto, entender o self como um ponto de observao permite observar a prpria insegurana, reconhe-cer sua legitimidade e continuar a relao. Por outro lado, a concep-o de self como conceito ressalta a incoerncia entre a insegurana no sexo e a autoimagem, gerando mais sofrimento e desconfiana e ame-aando ainda mais a qualidade relao.

    O estilo engajado envolve a congruncia entre princpios pesso-ais e comportamentos. Esse estilo envolve os componentes valores e comprometimento. Valores so elementos simblicos que se mani-festam por meio de aes, tornando essas aes naturalmente refora-doras (Wilson & Dufrene, 2008). Por exemplo, imagine uma cliente que juza e que escolheu a tica como principal valor profissional: ela orienta suas aes no trabalho de acordo com a tica. Por outro lado, agir com base em valores indefinidos, que visam agradar outras pessoas ou evitar o sofrimento, no naturalmente reforador. O comprometimento indica se o comportamento est efetivamente ba-seado nos valores ou se a pessoa age de forma impulsiva, evitativa ou apenas deixa de agir quando seria importante fazer algo. Por exemplo, se a cliente juza coagida a cometer um ato ilegal e se recusa a cola-borar ou denuncia a coero, esses so comportamentos baseados em valores. Por outro lado, participar do ato ilcito por medo de receber crticas dos colegas um comportamento baseado na evitao, e no nos valores.

    Imagine os trs estilos como pilares: quando firmes, interagem e se influenciam mutuamente, favorecendo a expresso da flexibilidade psicolgica e contribuindo para uma vida consciente baseada nos va-lores pessoais (Hayes et al., 1999). Esclarecido o modelo clnico da ACT, agora vamos abordar seus fundamentos.

  • 32 Terapia de Aceitao e Compromisso no filme Divertida Mente

    Conhecer os fundamentos filosficos de uma abordagem psico-teraputica esclarece sua configurao e a diferencia de outros sistemas teraputicos. Por exemplo, imagine que voc est em uma festa e co-nhece um homem que tambm psiclogo clnico. Quando ele men-ciona qual abordagem teraputica usa, suficiente para voc imaginar como ele interage com os clientes, os resultados que ele espera do tra-tamento, as tcnicas que ele usa para isso e at mesmo sua concepo sobre o ser humano. O mesmo acontece ao se conhecer os fundamen-tos filosficos de uma abordagem: voc pode identificar seus objeti-vos, seu funcionamento e sua perspectiva do ser humano.

    A ACT se baseia em uma filosofia da cincia chamada contex-tualismo funcional (Hayes & Hayes, 1992), que possui trs caracters-ticas distintivas. A primeira se refere aos objetivos: predizer e influen-ciar o comportamento de forma to ampla, profunda e precisa quanto possvel (Hayes, Hayes, & Reese, 1988). Ou seja, se o seu cliente teve um episdio de pnico antes de realizar uma apresentao pblica, uma anlise bem-sucedida da situao precisa cumprir duas metas: ex-plicar o que aconteceu e orientar uma interveno para amenizar ou prevenir novas crises. A segunda se refere unidade de anlise e apon-ta que o psiclogo deve levar em conta aes contextualizadas. Consi-derando que o ser humano vive e interage em um contexto e com um contexto, a anlise de um comportamento deve considerar seu con-texto situacional e histrico. Por isso a informao de que o cliente teve um episdio de pnico to importante quanto outras informa-es, como o local onde ocorreu, quem estava presente e suas emoes e expectativas naquele instante. E a terceira caracterstica se refere causalidade dos comportamentos: escolhida como causa a situao que permite realizar uma interveno bem-sucedida. No caso do epi-sdio de pnico, mesmo que o cliente revele ter crescido em uma fa-mlia emocionalmente instvel e que seus pais tinham expectativas al-tas sobre seu desempenho, esses eventos no so passveis de interven-

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    o. Por outro lado, desenvolver suas habilidades de regulao emo-cional pode permitir uma interveno efetiva na reduo da frequn-cia ou da intensidade das crises.

    A ACT tambm se baseia na teoria dos quadros relacionais (TQR; Hayes et al., 2001), que apresenta uma explicao comporta-mental sobre o funcionamento da cognio e da linguagem humanas. Enquanto os fundamentos filosficos esclarecem os objetivos, o fun-cionamento e a concepo de ser humano da ACT, a fundamentao terica esclarece o funcionamento da mente, a natureza e a origem do sofrimento psicolgico.

    Segundo a TQR, o ato de pensar uma habilidade aprendida e influenciada pelo contexto (Hayes et al., 2001). Ela nos permite asso-ciar eventos, ou quadros, de forma espontnea e arbitrria e, depen-dendo dos eventos associados, seu sentido sua funo pode mu-dar. Por exemplo, imagine uma cliente que engravidou sem planejar. Inicialmente a gravidez lhe remete apenas frustrao dos planos pro-fissionais e s crticas familiares; por isso, ela se sente muito mal. Com o tempo, no entanto, comea a sonhar com a oportunidade de gerar uma nova vida e com as muitas possibilidades que a criana ter aps nascer; ento comea a se sentir muito bem. Nos dois momentos, a natureza imprevista da gravidez a mesma, mas os eventos aos quais se relaciona altera sua funo, deixando de eliciar sofrimento e passan-do a eliciar bem-estar.

    Essa habilidade saudvel de relacionar eventos pode, no entan-to, ter efeitos psicopatolgicos (Hayes et al., 2001). Imagine sua clien-te dizendo que engravidar sem planejamento uma irresponsabilidade e que as pessoas vo julg-la quando descobrirem; e que quanto mais sua barriga crescer, mais evidente ficar sua irresponsabilidade; sentin-do raiva e decepo por no ter se prevenido; e sentindo culpa por es-tar to abalada emocionalmente que pode arriscar a sade do beb, etc. Esse um exemplo de fuso cognitiva, a cliente interpreta seus

  • 34 Terapia de Aceitao e Compromisso no filme Divertida Mente

    pensamentos e emoes de forma literal e sofre em decorrncia dessas associaes. E o quadro se agrava quando esses eventos internos co-meam a controlar seus comportamentos: por exemplo, ela evita falar com as pessoas que podem julg-la, evitar os lugares que essas pessoas frequentam e evita situaes que podem despertar essas associaes e aumentar seu sofrimento. Deixa de ir igreja, pois seus amigos po-dem consider-la um mau exemplo; deixa de sair com as colegas do trabalho, pois podem pensar que engravidou porque se sentia incapaz de crescer profissionalmente. Esse um exemplo de evitao, a pessoa age visando minimizar o sofrimento. Assim, mesmo o funcionamento saudvel da cognio e da linguagem a habilidade de relacionar eventos espontnea e arbitrariamente, alterando suas funes pode resultar em uma condio psicopatolgica.

    A compreenso das dimenses teraputica, terica e filosfica esclarece situaes e estratgias pelas quais a ACT pode ser aplicada. Finalmente estamos prontos para analisar o filme sob essa perspectiva.

    EVITAO E ACEITAO ACEITAO

    Cena 1.1

    Tristeza, eu tenho um super trabalhinho para voc! Ento a Alegria desenha um crculo em torno dos ps da Tris-

    teza e diz: Esse o Crculo da Tristeza, o seu papel fazer com que toda

    a tristeza fique dentro dele!

    Cena 1.2

    Olha, eu entendo, no t nada fcil mas j foi pior. Va-mos fazer uma lista com as coisas boas daqui, somente as muito boas!.

  • Terapias Cognitivo-Comportamentais 35

    Ento os outros sentimentos relatam vrias coisas ruins e Ale-gria responde:

    Ah, vamos, podia ser pior. E os sentimentos apontam mais problemas. T bom, eu sei que foi ruim, mas tem sim umas coisas boas....

    Cena 1.3

    Em busca do caminho de volta para a sala de comando, Ale-gria diz:

    Tristeza, para! Voc pode mago-la! Se voc vier junto, as me-mrias vo ficar tristes Desculpa, a Riley precisa ser feliz e parte sozinha.

    As trs cenas so exemplos de comportamentos evitativos. Na tentativa de manter a Riley feliz, a Alegria age para neutralizar as emo-es aversivas. Na Cena 1.1, a Alegria tenta manter a Tristeza restrita a um espao pequeno, impedida de influenciar lembranas e compor-tamentos da Riley e prevenindo que ela se sinta triste. Na Cena 1.2, a Alegria ouve queixas dos outros sentimentos e responde com argu-mentos que poderiam minimizar os efeitos das queixas. E na Cena 1.3, a Alegria entra sozinha no tubo que d acesso de volta sala de comando carregando as memrias e abandona a Tristeza.

    A evitao envolve tentativas de reduzir ou eliminar o sofri-mento. Para isso, no entanto, a Alegria permanece sempre alerta, continuamente atenta a todas as situaes que possam despert-lo. Quando esse esforo bem-sucedido, traz uma agradvel sensao de alvio. O problema que, em seguida supresso, tende a pro-mover ainda mais sofrimento. Por exemplo, aps ser contida pela Alegria dentro crculo, a Tristeza escapa e assume o painel de co-mando, causando um impacto to grande que Riley comea a cho-rar em frente a sua turma na escola. Mais ainda, o sofrimento pode

  • 36 Terapia de Aceitao e Compromisso no filme Divertida Mente

    surgir por meio de lugares, pessoas e mesmo eventos internos sur-preendentes (Hayes et al., 2001), como na situao em que a Alegria se lembra da Riley recebendo o carinho dos pais, mas a Tristeza lem-bra que isso aconteceu porque Riley estava chateada com a derrota no jogo de hquei. Ou seja, a evitao consome muito esforo, res-tringe a liberdade e ainda assim fracassa.

    Os comportamentos de evitao podem ser abordados com intervenes que promovam aceitao. Em princpio, qualquer ati-vidade que favorea a habilidade de lidar com a vida como ela se apresenta pode ser considerada uma interveno promotora de acei-tao e permitir que o cliente no viva em funo de combater o sofrimento, mas busque o que lhe importa. o que acontece no fim do filme, quando Riley est fugindo de casa. Dentro do nibus, para Minnesota, aptica, ela s percebe o que est acontecendo e desce do nibus quando pensa nas boas memrias de infncia com os pais e se sente triste porque est prestes a se afastar deles. E tam-bm como termina o filme, quando a aceitao do desconforto permite criar memrias formadas por mais de um sentimento, como alegria e tristeza. As novas memrias so mistas e mostram que emoes, pensamentos e sensaes diversos podem coexistir de forma saudvel.

    Por exemplo, a metfora dos passageiros no nibus (Hayes et al., 1999) envolve lidar com os eventos internos aversivos como um motorista de nibus lida com os passageiros. Por um lado, o moto-rista transporta todos os passageiros que esto no nibus. Alguns so agradveis, outros fazem baguna e criam confuso mas so todos passageiros e tm lugar garantido. Por outro lado, o motorista quem dirige. Independentemente de quem so, ou do que fazem os passageiros que esto l atrs, do motorista a autonomia sobre a viagem. Assim como os passageiros so livres para serem como qui-serem, o motorista livre para decidir o destino.

  • Terapias Cognitivo-Comportamentais 37

    Outra metfora, a do Joo mendigo (Hayes et al., 1999), tem um efeito semelhante. Imagine que est inaugurando sua nova casa com uma festa aberta a toda a vizinhana. Mas de repente entra um mendigo. Voc se sente desconfortvel, no quer que ele atrapalhe a festa e pede que ele se retire. Algum tempo depois, voc est se diver-tindo e nota que o Joo est de volta. E isso se repete ao longo da fes-ta: voc o leva para fora, mas ele volta. Ou voc deixa de aproveitar a festa enquanto se dedica a expulsar o Joo e a evitar que ele retorne ou voc, ainda que desconfortvel, aceita sua presena, aproveita a festa e se diverte com os outros convidados.

    Uma das primeiras formas mencionadas na literatura da ACT (Hayes et al., 1999) sobre como experimentar sensorialmente a dife-rena entre a evitao e a aceitao a algema chinesa. Trata-se de um tubo do tamanho de uma caneta no qual se deve inserir um dedo em cada extremidade. Como o tubo estreito e composto de fios entrelaados, ele se comprime quando se tenta retirar os dedos; quanto mais a pessoa puxa os dedos para fora, mais o tubo se estrei-ta e prende os dedos. A soluo tolerar um pequeno aperto e se mexer delicadamente, assim os dedos ficam relativamente soltos e h espao para se mover dentro do tubo. possvel comprar a algema chinesa em sites como Mercado Livre e assistir vdeos sobre seu fun-cionamento no Youtube.

    FUSO

    Cena 1.4

    Essas so as memrias base. Cada uma de um momento su-per importante da vida da Riley. (...) E cada memria base molda um aspecto da personalidade da Riley, como a Ilha do Hckey, (...) a Ilha da Bobeira, (...) a Ilha da Amizade, (...) a

  • 38 Terapia de Aceitao e Compromisso no filme Divertida Mente

    Ilha da Honestidade, (...) a Ilha da Famlia (...). Enfim, as ilhas de personalidade so o que faz da Riley, a Riley.

    Nesse trecho, Alegria explica que a personalidade da Riley formada por conjuntos de memrias sobre temas comuns: as ilhas, que podemos imaginar como partes do ego. Por exemplo, as mem-rias na Ilha da Amizade informam quem a Riley em relao ami-zade e as memrias na Ilha da Famlia informam quem a Riley em relao famlia. Esses conjuntos so importantes porque criam uma referncia estvel sobre si mesma. Sem eles, imagine quanto trabalho Riley teria diariamente ao acordar: me levanto ou durmo s mais um pouquinho? Escovo os dentes ou tomo banho? Desejo um bom dia aos meus pais, abrao, beijo, fao tudo isso ou no fao nenhum? Alm de cansativo, so tantas decises que ela provavelmente se atrasaria para a aula...

    Por outro lado, as ilhas tambm podem criar problemas quando so acatadas de forma rgida. Por exemplo, imagine que parte da personalidade da Riley formada pela Ilha de Minnesota, um conjunto de memrias, emoes e sensaes sobre seu estado natal. Mais ainda, imagine que Riley se identifica intensamente com essas experincias, como se apenas os eventos relacionados a Minnesota fossem bons e os eventos relacionados a outros lugares fossem ruins ou desinteressantes. Essa identificao rgida com eventos internos um exemplo de fuso cognitiva: as experincias incompatveis com esses registros podem gerar desconforto. Nesse contexto, gostar de uma experincia na Califrnia seria uma amea-a s experincias vividas em Minnesota. Paradoxalmente, mesmo as boas experincias vividas em So Francisco poderiam gerar con-fuso e sofrimento ao ressaltar que Riley no est em Minnesota, seu lugar querido.

  • Terapias Cognitivo-Comportamentais 39

    As intervenes para abordar a fuso cognitiva e promover a desfuso envolvem a tomada de perspectiva. Essa categoria de inter-venes mostra que os eventos internos so passveis de interpretaes diversas e a diversidade natural, no uma ameaa ao indivduo, ao ego ou personalidade. Isso pode ser feito, por exemplo, apresentan-do a metfora do tabuleiro de xadrez (Hayes et al., 1999). Imagine que Riley sua cliente e est sofrendo muito com a mudana de cida-de. Para ajud-la, voc prope uma analogia que permite entender essa situao como um jogo de xadrez. Pensamentos e emoes so as peas do jogo. De um lado do tabuleiro, esto as peas boas, como lembranas dos jogos de hquei e passeios com os pais em Minnesota; do outro lado, esto as peas inimigas, como a pizza sabor brcolis e o atraso do caminho da mudana para So Francisco. O conflito cons-tante entre os dois grupos de peas tambm gera sofrimento constan-te, pois sempre h possibilidade de ataque pelas peas inimigas. A so-luo engenhosa para esse conflito que, na verdade, a Riley no est no jogo: o jogo que est na Riley, ela o tabuleiro onde as peas dis-putam. Dessa perspectiva, sequer interessa quais so as peas em jogo ou quais sero vencedoras, pois o tabuleiro apenas o lugar onde as peas se dispem. Houve diversos jogos antes e haver muitos outros ainda; as peas vencedoras de ontem podem ser derrotadas amanh. Enquanto isso, o tabuleiro permanece neutro, testemunhando de uma posio privilegiada as interminveis batalhas travadas entre pensa-mentos, sentimentos e emoes.

    Outras intervenes que promovem perspectivas alternativas sobre o mesmo problema (Mchugh, Barnes-Holmes, & Barnes-Holmes, 2004) e, consequentemente, reduzem a rigidez da perspectiva ori-ginal podem ser consideradas exerccios de desfuso. Por exemplo, registrar pensamentos e emoes agradveis e aversivos em post-its e colar no corpo do prprio cliente pode mostrar que os eventos internos so acessrios e arbitrrios, e no pedaos de si mesmo

  • 40 Terapia de Aceitao e Compromisso no filme Divertida Mente

    (Luoma, Hayes, & Walser, 2007). Perguntas que sugerem pontos de vista alternativos tambm tem funo de desfuso, como O que seu melhor amigo diria sobre isso? ou Imagine que daqui a 10 anos voc estivesse olhando para o passado, o que voc pensaria sobre isso? (Stoddard & Afari, 2014). Outro exerccio sugere elegante-mente lidar com os eventos internos de forma to delicada quanto voc lidaria com uma borboleta (Luoma, Hayes, & Walser, 2007). Imaginando que uma borboleta pousasse na sua mo, como voc a seguraria? Fechando a mo com fora, ela morre; abanando a mo abruptamente, ela se machuca. Ento a melhor forma de segurar essa borboleta estender a mo permitindo que ela pouse, ao mes-mo tempo permitindo que ela se movimente ou voe livremente. As-sim como lidaria com a borboleta, voc pode lidar com os eventos internos permitindo que eles ocorram e que eles desapaream, sem prend-los e sem lutar contra eles.

    ATENO PLENA

    Cena 1.5

    Depois de a Alegria tentar minimizar diversas queixas sobre os problemas com a mudana para So Francisco, a Raiva diz: Alegria, no tem o menor motivo para a Riley se sentir feliz

    agora. Pode deixar com a gente. E os outros sentimentos continuam: Eu voto em matar aula! No temos nem roupa, ela no pode ir pra escola! Eu vou chorar at no poder mais! Trancamos a porta e gritamos todos os palavres que aprende-

    mos!

  • Terapias Cognitivo-Comportamentais 41

    Nesse trecho, a Alegria mostra pouco contato com o momento presente o contrrio do que ateno plena. A cada comentrio, ela responde de imediato, e isso cria um grande risco: agir sem considerar o que est acontecendo agora pode criar problemas porque impede que a Riley se adapte a cada circunstncia.

    A dificuldade em manter contato consciente e sem julgamento com o momento presente coloca em risco a liberdade da Riley para es-colher como agir. Se ela considera apenas pensamentos e sentimentos sobre o passado ou sobre o futuro, ela permanece insensvel ao que acontece no presente. Se ela pensa durante todo o tempo sobre o passa-do em Minnesota, por exemplo, pode no perceber que em So Fran-cisco tambm h pessoas e atividades legais. Ou se ela pensa apenas so-bre o lado bom da mudana, pode no se preparar para os novos desa-fios, como conviver com a falta dos seus mveis e das suas roupas at a chegada da mudana; se no quer comer pizza de brcolis, precisar sa-ber onde h pizzarias que vendem seus sabores preferidos; tolerar o tem-po necessrio para fazer novos amigos e lidar com suas qualidades e pro-blemas diferentes dos amigos de Minnesota. A ateno plena no tem o objetivo de deix-la feliz, mas de conhecer o que ocorre momento a momento e tomar decises livremente (Kabat-Zinn, 2003).

    Assim como as outras habilidades, a ateno plena tambm definida funcionalmente: resulta de qualquer atividade que ajude o cliente a observar o momento presente de forma consciente e sem julgamentos (Hayes et al., 1999). Um exerccio simples envolve ape-nas dois passos: observar a respirao e o que acontece dentro de si. Preferencialmente em um local reservado, de olhos fechados e em uma posio confortvel, mantm-se o foco na respirao. Ao obser-var que a ateno foi desviada, o cliente apenas retoma o foco na respirao. Podem surgir pensamentos neutros, como Tenho de abastecer o carro antes de ir para casa; e podem surgir pensamentos negativos, como Talvez eu seja incapaz de mudar; e ainda podem

  • 42 Terapia de Aceitao e Compromisso no filme Divertida Mente

    surgir emoes e sensaes fsicas aversivas, como mgoa, tristeza, aperto no peito e dor no estmago. Em todos os casos, independen-temente do contedo e do desconforto gerado pelos eventos inter-nos, o exerccio simples: ao observar que a ateno foi desviada, o cliente apenas retoma o foco na respirao. Somos naturalmente preparados para prestar ateno em estmulos variados, ento o exer-ccio visa desenvolver a habilidade de tambm conseguir voltar a ateno para o foco desejado.

    Conhecer essa verso simplificada permite adaptar outras for-mas de ateno plena s preferncias de cada cliente. Desde que o exerccio envolva prestar ateno de forma consciente e sem julga-mentos, quaisquer adaptaes so bem-vindas. Por exemplo, observar a respirao uma referncia para manter a concentrao, mas algu-mas pessoas preferem se concentrar em uma meditao, um mantra ou mesmo um ponto na parede. Em uma verso ainda mais simples desse exerccio, escaneamento corporal (Walser & Westrup, 2007), o cliente mantm a ateno nas prprias sensaes fsicas e observa os estmulos presentes em cada parte do corpo, dos ps at a cabea. O essencial preservar estes dois passos: voluntariamente manter a aten-o em um foco e observar quaisquer eventos que distraiam a ateno, redirecionando a ateno para o foco inicial quantas vezes forem ne-cessrias (Kabat-Zinn, 2003).

    VALORES

    Cena 1.6

    Enquanto Alegria e Tristeza enfrentam desafios para retornar sala de comando, o amigo imaginrio Bing Bong sugere um atalho. A Tristeza alerta sobre o risco desse caminho, mas Bing Bong responde:

  • Terapias Cognitivo-Comportamentais 43

    Isso apenas um boato, eu passo aqui o tempo todo. Isso um atalho! T vendo? P-E-R-I-G-O: atalho! Eu vou provar para vocs!

    Ento Alegria diz para Tristeza: Se voc quer ir por a e andar mais, pode ir. Mas agora a Riley

    est precisando de mim! Eu no vou perder o trem.

    Nesse trecho, a Alegria demonstra mais uma vez sua responsabi-lidade pelo bem-estar da Riley. O problema que, algumas vezes, esse valor tambm tem uma funo evitativa. A Alegria mostra dificuldade em tolerar momentos em que a Riley fica mal e faz de tudo para eli-minar o desconforto. Essa funo evitativa to forte que Alegria ig-nora a advertncia da Tristeza, a nica que leu os manuais das mem-rias e conhecia os riscos do atalho. Em decorrncia, envolvem-se no descarrilamento do trem.

    Os valores so vivenciados momento a momento por meio de aes que os representem. Em primeiro lugar, necessrio ter clareza sobre quais so os valores do cliente. A descoberta ou definio dos valores pode ser feita, por exemplo, por meio do exerccio escrevendo sua autobiografia (Stoddard & Afari, 2014). O cliente deve escrever duas verses da prpria vida: na primeira, narra os fatos mais impor-tantes da sua histria real e identifica que valores se destacam nessa histria; na segunda, narra os fatos mais importantes imaginando que viveu exatamente a vida que gostaria e ento tambm identifica os principais valores expressos nessa histria. A comparao das verses pode esclarecer que valores so caros ao cliente e o quanto esto pre-sentes na sua vida. Uma verso mais curta, mas emocionalmente in-tensa, desse exerccio a redao da eulogia (Hayes et al., 1999): o cliente escreve um discurso para ser lido no prprio funeral. Diante da finitude, o cliente reavalia sua vida e seleciona os eventos mais im-

  • 44 Terapia de Aceitao e Compromisso no filme Divertida Mente

    portantes. A partir dessa descrio, pode identificar seus valores mais caros. Um ltimo exerccio de identificao dos valores a lista de valores (Cohen, Garcia, Apfel, & Master, 2006): o cliente l uma re-lao de palavras que podem ter a funo de valores (e. g., justia, ho-nestidade e carinho) e escolhe aquelas com que mais se identifica e que representam seus valores essenciais. Em todos os casos, impor-tante testar os valores no dia a dia do cliente e observar se eles se man-tm relevantes e teis ao longo de diferentes contextos. Isso pode con-tribuir para refinar e aprimorar a relao de valores.

    COMPROMETIMENTO

    O comprometimento indica a manuteno de comportamentos coerentes com os valores. Essa coerncia pode ser promovida por meio de tcnicas cognitivo-comportamentais tradicionais. Por exemplo, a tabela de ativao comportamental (Kanter, Busch, & Rusch, 2009). Trata-se de uma tabela com as seguintes colunas: O que, Quando, Com quem, Onde, Barreiras, Solues e Resultado. Geralmente usada no tra-tamento da depresso, a tabela pode ser usada para promover com-portamentos que representam os valores do cliente. Ela permite tanto o planejamento quanto a antecipao de problemas, favorecendo a re-alizao da atividade e a preparao para lidar com adversidades. Ou-tras variaes, como a tabela para Registro Dirio de Pensamentos Disfuncionais (RDPD), tambm so teis para identificar barreiras e estratgias de enfrentamento. De forma geral, o estabelecimento con-sensual de tarefas para casa favorece a realizao de aes comprome-tidas com os valores. Verses da tabela de ativao comportamental e do RDPD so encontradas gratuitamente na internet por meio de fer-ramentas de pesquisa, como o Google. Alm de usar uma das verses, voc tambm pode adapt-las conforme suas necessidades.

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    CONSIDERAES FINAIS

    A ACT uma abordagem teraputica contextual baseada filoso-ficamente no contextualismo funcional e em um modelo terico da cognio e da linguagem, a teoria dos quadros relacionais. Essas bases pressupem que todo o trabalho clnico deve se basear em anlises das circunstncias atuais e histricas. Mais importante do que sua classifi-cao como uma terapia comportamental ou cognitiva, a compreen-so do contexto do cliente que deve orientar a interveno. Alm de ser uma abordagem teraputica, a ACT tambm representa um mo-delo de funcionamento humano, a flexibilidade psicolgica, que se prope a explicar tanto sua condio de sade quanto sua condio psicopatolgica. Esse modelo se baseia em trs estilos de enfrentamen-to da vida aberto, presente e engajado que, interagindo de manei-ra harmnica, favorecem a realizao pessoal voluntria e consciente com base nos prprios valores.

    O filme Divertida Mente mostra de forma simples e clara que temos emoes divergentes e, algumas vezes, antagnicas. O conflito entre emoes permeia a adaptao de Riley vida em So Francis-co: a casa diferente do que esperava, as pessoas tem hbitos estra-nhos, no tem amigos na nova escola e surgem desavenas na fam-lia. Depois de uma grande aventura psicolgica, suas emoes final-mente passam a conviver harmonicamente. Perceber que todas as emoes no apenas so legtimas, mas necessrias, e tambm po-dem coexistir em equilbrio favorece seu amadurecimento psicolgi-co, com uma vida emocional mais complexa que permite gostar da vida antiga e se adaptar vida nova.

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    REFERNCIAS

    Barbosa, L. M., & Murta, S. G. (2014). Terapia de aceitao e com-promisso: Histria, fundamentos, mo -delo e evidncias. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 16(3), 3449.

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    Cohen, G. L., Garcia, J., Apfel, N., & Master, A. (2006). Reducing the racial achievement gap: A social-psychologi-cal intervention. Science, 313(5791), 130710.

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    Hayes, S. C., Barnes-Holmes, D., & Roche, B. (2001). Relational frame theory - A post-skinnerian account of human language and cognition. New York: Kluwer Academic/Plenum Pu-blishers.

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    Hayes, S. C., Hayes, L. J., & Reese, H. W. (1988). Finding the philoso-phical core: A review of Stephen C. Peppers world hypotheses: A study in

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    Hayes, S. C., Luoma, J. B., Bond, F. W., Masuda, A., & Lillis, J. (2006). Ac-ceptance and commitment therapy: Model, processes and outcomes. Beha-viour Research and Therapy, 44(1), 125.

    Hayes, S. C., Strosahl, K. D., & Wil-son, K. G. (1999). Acceptance and commitment therapy: An experiential approach to behavioral change. New York: Guilford Press.

    Hayes, S. C., Strosahl, K. D., & Wil-son, K. G. (2012). Acceptance and Commitment Therapy: The process and practice of mindful change (2nd ed.). New York: Guilford Press.

    Hayes, S. C., Strosahl, K., Wilson, K. G., Bissett, R. T., Pistorello, J., Polus-ny, M. A., McCury, S. (2004). Measuring experiential avoidance: A preliminary test of a working model. Psychological Record, 54, 553578.

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    Stoddard, J. A., Afari, N. (2014). The big book of ACT metaphors: A prac ti-tioners guide to experiential exercises and metaphors in acceptance and commit-ment therapy. Oakland, CA: New Har-binger.

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